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Capítulo

1
Gestão ambiental
e responsabilidade social


O movimento socioambientalista cresce em escala mundial.

1.1. Visão geral


Por meio da leitura diária de jornais, revistas especializadas e mídia em geral,
nota-se que a crescente tendência do exercício da responsabilidade social corporativa
por parte das organizações deve continuar de forma permanente e definitiva.
Os resultados econômicos passam a depender cada vez mais de decisões empre-
sariais que levem em conta que: a) não há conflito entre lucratividade e a questão
socioambiental; b) o movimento de sustentabilidade cresce em escala mundial; c)
clientes e comunidade em geral passam a valorizar cada vez mais a adoção das práti-
cas socioambientais por parte das organizações; d) o faturamento das empresas sofre
pressões do comportamento de consumidores que enfatizam, cada vez mais, suas
preferências por produtos e organizações ambientalmente corretas.
A responsabilidade socioambiental é a resposta natural das empresas ao novo
cliente, o “consumidor verde” e ecologicamente correto. A “empresa verde” passou
a ser sinônimo de bons negócios e, no futuro, será a principal forma de empreen-
der negócios de forma duradoura e lucrativa. Em outras palavras, quanto antes as
organizações começarem a enxergar a sustentabilidade como seu principal desafio e
como oportunidade competitiva, maior será a chance de que sobrevivam. A expansão
da consciência coletiva com relação ao meio ambiente e a complexidade das atuais
demandas sociais que a comunidade repassa às organizações induzem um novo po-
sicionamento por parte dos empresários e executivos diante de tais questões. Um dos
efeitos da competição global foi o redirecionamento do poder para as mãos do com-
prador. Em muitos setores econômicos, o mercado comprador existe simplesmente
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porque há mais concorrentes e um excesso de oferta. O comprador está aprendendo


a usar esse novo poder.

1.2. Responsabilidade socioambiental


O comportamento dos consumidores está criando novas relações com as empre-
sas no mundo inteiro e delineando os contornos de uma nova ordem econômica. Na
Europa, questões de segurança envolvendo os direitos dos consumidores já estão na
pauta das negociações comerciais, e suas conclusões certamente vão influenciar no
sistema de trocas mundiais. Já é natural levar em conta os direitos dos consumidores
nas diversas formas de regulação das relações econômicas. O mais provável é que essa
tendência marque o perfil da economia globalizada nas próximas décadas.
O novo contexto econômico se caracteriza por uma rígida postura dos clientes
voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, que tenham boa
imagem institucional no mercado e que atuem de forma socioambientalmente res-
ponsável. Diante de tais transformações econômicas e sociais, uma indagação pode-
ria emergir, ela foi a questão central da pesquisa desenvolvida pelos autores: a questão
socioambiental seria um mero surto passageiro de preocupações que demandariam
medidas com pesado ônus para as empresas que a adotarem?
Os resultados dessa pesquisa, que constituíram os fundamentos do presente livro,
abrangeram as questões de sustentabilidade e uso de instrumentos socioambientais
na gestão das empresas na forma de balanço social, governança corporativa, normas
ISO/ABNT, norma de Social Accountability – SA e norma tipo AccountAbility - AA
e equivalentes. Esses instrumentos gerenciais, que complementam as demonstrações
financeiras legalmente estabelecidas pela legislação na forma de balanços contábeis,
podem se constituir em fatores de monitoramento e tomada de decisões empresariais
de extrema influência nos resultados corporativos. Nessa pesquisa foram inventaria-
dos, ainda, elementos relevantes para a concepção de indicadores de desenvolvimento
socioambiental – IDS. Se os balanços contábeis, por um lado, evidenciam os resultados
econômicos, por outro, o IDS está centrado no ser humano e na comunidade em geral
como razão de ser desse desenvolvimento econômico. Ou seja, o IDS reflete o desen-
volvimento da organização sob o prisma das dimensões humanas, interpretando a rea-
lidade vivida pelos colaboradores da empresa e pela sociedade na qual está inserida.
A pesquisa nacional desenvolvida pelos autores, que elegeu organizações como
referência nacional em sustentabilidade, revelou que as práticas de responsabilidade
socioambiental são incipientes devido a sua complexidade, variedade e recente valo-
rização nas atividades produtivas.
Outras conclusões relevantes da pesquisa foram: os procedimentos associados às
práticas da sustentabilidade variam de acordo com o setor econômico ao qual as em-
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presas se vinculam; o porte da organização é outro fator de influência, pois, enquanto


nas grandes empresas se destacam procedimentos típicos de controle ambiental, nas
empresas de menor porte verifica-se maior incidência de procedimentos associados
a custos, que reduzem a intensidade de matéria-prima por produto; as exigências
de licenciamento e a legislação ambiental são mais importantes que as motivações
associadas à redução de custos; o tempo gasto pelo gestor nas questões socioam-
bientais tende a aumentar (mudança no processo decisório das organizações); os
efeitos socioambientais nas organizações e as estratégias de sustentabilidade a serem
adotadas podem ser diferenciados em função do tipo de empresa; a responsabilidade
socioambiental deixou de ser uma função exclusiva de proteção para tornar-se uma
função estratégica; o selo verde (rotulagem ambiental) tende a se transformar em
estratégica ferramenta gerencial; a identificação dos fatores de influência da sustenta-
bilidade auxilia na redução do uso de energia, de recuperação ou reciclagem de água
por quantidade de produto fabricado; e melhoria da imagem perante a sociedade.
E o que vem a ser responsabilidade socioambiental? Seria simplesmente publicar
balanços sociais para assegurar a transparência das ações da empresa perante seus
diferentes públicos?
Segundo o Instituto Ethos, que utiliza os critérios da Social Accountability –
SA8000 e da AccountAbility – AA1000, balanço social seria apenas um subconjunto
de um todo maior, chamado de responsabilidade social.
A exemplo do que ocorreu com a ISO9000, de qualidade, e com a ISO14000, para
meio ambiente, as certificações sociais surgiram há poucos anos nos Estados Unidos
com o objetivo de atestar que a organização, além de ter procedimentos internos
corretos, participa de ações não lucrativas em áreas como cultura, assistência social,
educação, saúde, proteção do meio ambiente e defesa de direitos comunitários.
As empresas, segundo essas certificações sociais, devem enfocar:

• processo produtivo: relações trabalhistas; respeito aos direitos humanos; contra-


tação de mão de obra, inclusive de fornecedores; gestão ambiental; natureza do
produto ou serviço;
• relações com a comunidade: natureza das ações desenvolvidas; problemas so-
ciais solucionados; beneficiários; parceiros; foco das ações;
• relações com os empregados: benefícios concedidos, inclusive às famílias; clima
organizacional; qualidade de vida no trabalho; ações para aumento da emprega-
bilidade.

A própria Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico


(OCDE) recomenda que as organizações, públicas e privadas, adotem princípios fo-
cados na transparência de suas ações. O balanço social como uma ferramenta ainda
pouco utilizada pelas empresas, embora a quantidade de publicações cresça ano a
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ano, se insere nesse contexto de transparência e disseminação de informações junto


aos seus diferentes públicos.
O Instituto Ethos de Responsabilidade Social sugere um padrão de balanço social,
que explicite os impactos da atividade da empresa na sociedade e evidencie o relacio-
namento com os seus diferentes públicos. O modelo Ethos considera, ainda, a apresen-
tação do relatório sugerido pelo Ibase (descrição dos projetos sociais e detalhamento
de programas ou parcerias). Publicada de forma independente, o padrão sugerido pelo
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), constitui uma alternati-
va de evidenciação das atividades empresariais através de balanço social.
O balanço social é a principal forma de evidenciação das ações empresariais de
sustentabilidade junto à comunidade. Considerando que os balanços sociais publi-
cam apenas resultados e não enfocam o processo utilizado para sua obtenção, qual-
quer que seja o modelo de gestão adotado (que focaliza o processo), resulta em uma
perfeita coexistência e complementação de informações para fins de evidenciação e
divulgação externa.
A Bolsa de Valores de São Paulo, diante do crescente interesse dos investidores
em migrar para os portfólios verdes, e em resposta à demanda de bancos, fundos
de pensão e gestores de recursos, organizou um índice de responsabilidade social
e sustentabilidade (índice de sustentabilidade empresarial – ISE) baseado no Dow
Jones Sustainability Indexes da Bolsa de Nova York – DJSI. Primeiro indicador global
de sustentabilidade, o DJ-SI monitora o desempenho financeiro das companhias de
capital aberto que têm seu negócio orientado pela referência da sustentabilidade. O
DJ-SI, na sua composição, pondera a importância da integração dos fatores econô-
micos, ambientais e sociais na estratégia da empresa e avalia aspectos como inovação
tecnológica, governança corporativa, interesse dos investidores, expectativas dos pú-
blicos de interesse, liderança e capacidade de resposta às mudanças sociais.
O compromisso pela sustentabilidade junto aos públicos de interesse (stakehol-
ders), investidores, clientes, fornecedores, consumidores, ONGs e comunidade em
geral contribui para a redução do custo dos prêmios de seguros e incremento do
valor dos bens intangíveis da organização. Para atender à tendência universal de cres-
cimento do papel das empresas no aprimoramento das sociedades, cada uma das
melhores empresas em sustentabilidade que foram apontadas como referência na
pesquisa desenvolvida pelos autores, encontrou seus próprios rumos de atuação con-
forme evidenciado neste livro.

1.3. Mercado verde e rotulagem ambiental


Um dos efeitos da competição global foi o redirecionamento do poder para
as mãos do comprador. O comportamento dos consumidores está criando novas
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relações com as empresas no mundo inteiro e delineando os contornos de uma


nova ordem econômica. Na Europa, questões de segurança envolvendo os direitos
dos consumidores já estão na pauta das negociações comerciais, e suas conclusões
certamente vão interferir no sistema de trocas mundial. No continente, que movi-
menta 20% do comércio mundial e exporta US$2,3 trilhões (37% do planeta) ao
ano, já é natural levar em conta os direitos dos consumidores em tudo o que se faz
para regular as relações econômicas. O mais provável é que essa tendência marque
o perfil da economia globalizada num futuro próximo. E qual será o perfil desse
consumidor?
O consumidor do futuro, inclusive no Brasil, passará a privilegiar não apenas
preço e qualidade dos produtos, mas, principalmente, o comportamento social das
empresas fabricantes desses produtos. A Danone é um exemplo de atuação em sinto-
nia fina com os consumidores, que são ouvidos antes de cada lançamento de produto,
diferentemente daquela empresa que lança o produto com campanha de marketing,
de forma exclusiva. Como resultado dessa tendência, o conceito de programas de ro-
tulagem ambiental e a instituição do selo verde para determinadas categorias de pro-
dutos são perspectivas muito fortes, e assim deverão continuar. Os programas de ro-
tulagem ambiental adotados em diferentes países foram criados com base em análise
de ciclo de vida e conferidos por instituições independentes, sejam governamentais
ou não governamentais. Os programas não governamentais de rotulagem ambiental
são: Green Seal (organização não governamental independente dos Estados Unidos,
onde não existe um programa governamental de rotulagem ambiental); Bra Miljöval
(Suécia); e Marca AENOR Médio Ambiente (Espanha).
A primeira iniciativa para o estabelecimento de um selo verde brasileiro se si-
tua na década de 1990, quando a ABNT propôs ao Instituto Brasileiro de Proteção
Ambiental a implementação de uma ação conjunta. Seu objetivo foi estabelecer um
esquema voluntário de certificação ambiental, a ser iniciado por um programa-pi-
loto aplicado a uma categoria de produto pré-selecionada (papel; calçados e couros;
eletrodomésticos; cosméticos e artigos de toucador; aerossóis livres de CFC; baterias
de automóveis; detergentes biodegradáveis; lâmpadas; móveis de madeira e produtos
para embalagem).
O programa tem duas diretrizes básicas: ser desenvolvido de forma adequada
à realidade brasileira, com vistas a desempenhar papel de instrumento de educação
ambiental no mercado interno; e ser compatível com modelos internacionais, para
que possa se transformar em instrumento de apoio aos exportadores brasileiros.
Os princípios, definidos nas normas da série ISO, são: caráter voluntário; consi-
deração da legislação pertinente; seletividade onde apenas uma pequena parcela do
mercado obterá o selo; revisão periódica de critérios; transparência; financiamento
transparente; procedimentos de avaliação de conformidade; acesso amplo ao programa;
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objetividade dos estudos de apoio; custos não discriminatórios para pequenas e mé-
dias empresas; aptidão para o uso; e características ambientais do produto.
O mercado de negócios ambientais, ou de negócios verdes, oferece um imenso
leque de oportunidades rentáveis para a iniciativa privada. Primeira indústria no Ca-
nadá e segunda na Alemanha, o meio ambiente representa um mercado potencial de
US$6 bilhões no país, com possibilidade de crescimento de 30% ao ano.
Tecnologias limpas, projetos de desenvolvimento sustentável, gestão de resíduos
sólidos industriais e a reciclagem de materiais transformaram-se, na última década,
no principal foco de negócios de empresas como Latasa, Resotec, Plantar, entre ou-
tras, atraindo a atenção de novos investidores para a área.
A Latasa, líder na fabricação de embalagens metálicas para cervejas e refrigeran-
tes no Brasil, na Argentina e no Chile, mantém programa de coleta permanente de
sucata como estratégia para proteger a imagem do produto, e sua previsão é faturar
apenas com a reciclagem US$15 milhões anuais.
Outro nicho rentável do mercado ambiental é o reaproveitamento de resíduos
industriais. Essa tecnologia é a alma do negócio da Resotec, divisão do grupo Hol-
dercim do Brasil (grupo suíço Holcim). A empresa coprocessa lixo industrial (bor-
ras oleosas, tintas, vernizes, pneus, produtos fotográficos e catalisadores usados) que
alimenta seus fornos de cimento. O serviço é prestado para clientes como Petrobras,
Fiat, Copene, Mercedes-Benz e General Motors, totalizando o coprocessamento de
40 mil toneladas anuais de resíduos. Assim essas empresas gerenciam seus resíduos e
eliminam seus passivos ambientais.
A instalação de projetos de sequestro de carbono (CO2), com a utilização do
mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), previsto no Protocolo de Quioto, é a
principal estratégia da Plantar para faturar US$30 milhões a curto e médio prazo. A
empresa produz ferro-gusa a partir da queima de carvão vegetal, com a contrapartida
do plantio de 23 mil hectares de florestas com financiamento do Banco Mundial.
Para o futuro, há muito espaço a ser explorado, um cenário promissor que se
abre no Brasil e na América Latina para empreendimentos empresariais ligados ao
meio ambiente. A região possui graves problemas ambientais, como a geração de 350
mil toneladas de resíduos sólidos por dia, e com apenas 49% da população tendo
acesso a saneamento básico.
A indústria de reciclagem no mundo já movimenta, anualmente, 600 milhões
de toneladas de lixo e fatura US$160 bilhões. Ainda em desenvolvimento no Brasil,
esse setor gera recursos da ordem de US$1,2 bilhão por ano, apenas 20% do potencial
existente.
A gestão socioambiental, portanto, torna-se um importante instrumento geren-
cial para capacitação e criação de condições de competitividade para as organizações,
qualquer que seja o seu segmento econômico. Dessa maneira, empresas siderúrgicas,
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montadoras automobilísticas, de papel e celulose, química e petroquímica investem,


crescentemente, em gestão socioambiental e marketing ecológico.
Ações voltadas a melhorar a qualidade de vida ou a preservar o meio ambiente
já não são bandeiras exclusivas das organizações não governamentais. A iniciativa
privada descobriu na “onda verde” um excelente filão de negócios e se tornou po-
derosa aliada das ONGs. Multiplicam-se no mercado as novas gerações de produtos
e de empresários “ecologicamente corretos”. Unibanco, Bradesco, Banco Real, Lojas
Renner, Melhoramentos, Gazeta Mercantil, Grupo Abril, Rede Globo, Rede Bandei-
rantes, Brinquedos Estrela, Marisol, TAM, Kodak, General Motors e McDonald’s são
algumas empresas que atuam em parceria com organizações do terceiro setor, que
abriga as iniciativas privadas com fins públicos.
Nesse contexto inserem-se as parcerias de empresas com ONGs ecológicas como
a cadeia de Lojas Renner que, com o aval do Greenpeace, lançou uma coleção de rou-
pas com um sistema de tingimento natural. A TAM, com aprovação do Greenpeace, e
com selo de qualidade do Instituto Biodinâmico, utiliza açúcar orgânico (produzido
sem agrotóxicos) a bordo de suas aeronaves. Essa empresa planeja, ainda, implemen-
tar refeições mais saudáveis e com menos calorias e gorduras. A Indústria Gráfica
Jandaia produz cadernos ecologicamente corretos dentro da filosofia de considerar
a ecologia como uma ação constante de agregar valor à marca. A Free Way Boots &
Shoes trabalha com uma linha de sapatos especial com couro tratado com vegetal
de tronco das árvores e sola de látex puro da Amazônia. As duas empresas fizeram
contratos de licenciamento com o Greenpeace, uma das organizações não governa-
mentais mais ativas do planeta. No Brasil, o caráter de contestação cedeu parte do
espaço para a arte de fazer negócios. Produtores de feijão, arroz, geleias, massa de
tomate, CDs, objetos de vidro e cerâmica para decoração fecharam contratos para
comercializar produtos com o selo Greenpeace.
O Unibanco lançou o cartão de crédito Mastercard com o selo do Greenpeace. O
plástico usado na fabricação da tarjeta é feito à base de amido de milho, alternativa-
mente ao PVC utilizado nos tradicionais cartões de crédito. O Unibanco repassa à ONG
uma taxa de contribuição e certo percentual do valor das compras de seus clientes.
A Fundação SOS Mata Atlântica tem procurado seus próprios caminhos para
difundir a marca e fazer negócios. Há uma parceria nas salas do complexo cinemato-
gráfico Cinemark, no shopping Villa-Lobos em São Paulo que, além do filme sobre
devastação da mata que é exibido antes de algumas sessões, tem funcionários treina-
dos sobre o tema para esclarecer as dúvidas do público. Para difundir suas ideias, a
entidade fechou parceria com o laboratório Boehringer Ingelheim, cujo xarope Mu-
cosolvam patrocina campanha de conscientização ambiental junto a várias univer-
sidades do país. Empresas como Bradesco, Carbono21, Hopi Hari, Abril, Embratur,
Kolynos, entre outras, integram o grupo de patrocinadores.
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Na tentativa de saber o que realmente acontece com as florestas, a SOS Mata


Atlântica lançou com o Bradesco/Visa um cartão de crédito de afinidade. Um per-
centual dessa operação é direcionado para fazer, em parceria com o Instituto Na-
cional de Pesquisas Espaciais – INPE, o Atlas remanescente da mata. Os recursos
patrocinam fotos de satélite de diversas áreas que são disponibilizadas em mapas,
relatórios e na Internet (através do site, o internauta pode doar mudas de árvores
nativas para projetos de reflorestamento). Com o patrocínio da Embratur, foi criado
o Polo Ecoturístico do Lagamar (roteiros de ecoturismo na região de Cananeia, Igua-
pe, Ilha Comprida e Pariquera-Açu, no estado de São Paulo), baseado na utilização
sustentável dos recursos naturais. A parceria com a pasta dental Sorriso Herbal (cre-
me e fio dental, além do refrescante bucal), da fabricante Colgate Palmolive, desti-
nada à consolidação da consciência ecológica, viabiliza outros projetos de educação
ambiental. Em parceria com o Grupo Abril e o Instituto Ambiental Vidágua, há um
original programa de reflorestamento que permite que qualquer internauta plante
uma árvore, custeado por empresas patrocinadoras. São árvores da Mata Atlântica,
e o plantio pode ser acompanhado por seu site. Maior entidade conservacionista
do mundo, com mais de 4,5 milhões de afiliados, o World Wide Fund for Nature
(WWF) investe em projetos de conservação e desenvolvimento sustentável nas re-
giões da Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado. Tornou-se conhecida no
Brasil pelo seu apoio ao projeto Mico-Leão-Dourado. Em parcerias com a iniciativa
privada, a WWF-Brasil obteve radiocomunicadores da Motorola, papéis da Suzano
Papel e Celulose, patrocínio do Banco Real para o relatório de atividades e espaço
publicitário na Gazeta Mercantil. Firmou parcerias, ainda, com as empresas: Alcan,
Bank of America, Brinquedos Estrela, Citizen, Editora Abril, Editora Caras, Editora
Globo, Rede Bandeirantes, Rede Globo, TV Cultura/SP, General Motors do Brasil,
Kodak, McDonald’s, PriceWaterhouse, Ogilvy & Mather Publicidade, entre outras.
A WWF-Brasil é a primeira ONG a ter o certificado NBR ISO9002 para gestão de
recursos financeiros, gestão de contratos, programa de afiliação e venda de produtos
WWF, concedido pelo Inmetro.
Outro exemplo emblemático do “mercado verde” é o da Natura, maior fabri-
cante brasileiro de cosméticos. O lançamento de sua linha Ekos representou um dos
maiores saltos de inovação da empresa. O uso da biodiversidade brasileira como
plataforma tecnológica (que introduziu nos produtos ingredientes como andiroba,
castanha e buriti) representou um marco para o setor de cosméticos. A compra de
ativos extraídos de maneira ambientalmente correta por comunidades tradicionais,
algumas delas encravadas no interior da Amazônia, adicionou um fator de comple-
xidade à operação que a empresa jamais havia experimentado. Além da mensagem
de originalidade e sofisticação, os sabonetes, óleos e xampus carregavam uma outra,
talvez ainda mais importante; a de que a Natura sabia fazer negócios de mãos dadas
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com a natureza. As vendas cresceram rapidamente, e a linha ajudou a consolidar na


mente dos consumidores a imagem ecológica e socialmente responsável da Natura.
A Natura, em seu projeto de se tornar “carbono neutro”, procura reduzir as emis-
sões de CO2 em toda a sua cadeia produtiva. Diferentemente da abordagem sim-
plista de outras empresas de se tornar “carbono neutro” simplesmente por calcular
suas emissões de gases do efeito estufa e plantar árvores para compensá-las, a Natura
procura levar em consideração a necessidade de provocar mudanças na operação de
forma a efetivamente reduzir as emissões de gases poluentes.
Na redução de emissões de CO2 em sua cadeia produtiva, a Natura procura atuar
desde a extração da matéria-prima até o descarte do produto pelo consumidor. Seu
ciclo produtivo pode ser resumido em quatro etapas e, em cada uma delas, há ações
pertinentes à melhoria de sua sustentabilidade. Na primeira etapa da cadeia, de compras
junto aos seus fornecedores, a empresa investe na substituição de matéria-prima mine-
ral e animal por vegetal, visando reduzir as emissões de CO2 (os fornecedores procuram
reduzir a liberação de CO2, com o uso de energia limpa e a melhoria dos processos de
produção). Adicionalmente, o uso de combustível verde no transporte, desde o forne-
cedor até a planta de produção da Natura, contribui para essa redução na emissão de
poluentes. Na segunda etapa, de fabricação de cosméticos, a empresa procura inovar
tecnologicamente para a criação de novos produtos, processos e embalagens menos
poluentes. Sua terceira etapa, de transporte dos produtos finais, constitui outra fonte de
redução da emissão de poluentes através do uso de combustíveis renováveis e a melho-
ria da logística de distribuição. Na quarta etapa da cadeia, as embalagens viram lixo na
casa do consumidor, que pode contar com a ajuda das vendedoras para retornar e reu-
tilizar seus frascos vazios, já que a Natura incentiva tais práticas de sustentabilidade.
A Natura, em síntese, considera que, em seu processo produtivo, a redução das
emissões depende de mudanças nas formulações (que permitam diminuir a quanti-
dade de ingredientes derivados do petróleo), de alterações nas embalagens, de mu-
danças na logística e, o que é ainda mais complicado, da colaboração de seus 250
fornecedores, que precisam demonstrar disposição para mudar seus processos. Para
compensar o que não for passível de redução, a empresa deve recorrer ao refloresta-
mento e a projetos de energia limpa.
O projeto implementado pela Natura evidenciou que as emissões de CO2 de sua
cadeia de negócios, que, em essência, é a totalidade da poluição causada pelo seu pro-
cesso produtivo, são bem menores do que as emissões de gases poluentes de indús-
trias como a petroquímica ou a siderúrgica. Esses impactos ambientais, diferenciados
de acordo com cada tipo de empresa, são a proposta conceitual desta obra, conforme
apresentado nos capítulos seguintes.
Os programas de rotulagem ambiental adotados em diferentes países foram cria-
dos com base em análise de ciclo de vida e foram conferidos por instituições inde-
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pendentes, sejam governamentais ou não governamentais. Os programas não gover-


namentais de rotulagem ambiental são: Green Seal (Estados Unidos), Bra Miljöval
(Suécia) e Marca AENOR Médio Ambiente (Espanha). Os critérios para a concessão
do selo em diversos programas podem, segundo Tachizawa (2008), ser atendidos por
muitas empresas brasileiras que necessitam conhecer os requisitos ou as possibilida-
des de melhorias em suas posições de competitividade. Os programas criados na esfe-
ra governamental são descritos a seguir com base no trabalho de Tachizawa (2008).

1.3.1. Alemanha – Blau Engel


O programa de rotulagem ambiental da Alemanha, criado em 1977, de respon-
sabilidade do Ministério de Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança
Nuclear, foi pioneiro na implementação de selos verdes e serviu de modelo para as ini-
ciativas de outros países. O rótulo ambiental alemão é representado pelo “anjo azul”,
símbolo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e contém a descrição
da razão pela qual o selo foi conferido: pelo baixo nível de contaminação ou de ruído,
conteúdo 100% reciclado ou outros parâmetros sob os quais tenha sido avaliado.
A Alemanha, como membro da União Europeia, também participa do programa
comunitário de rotulagem ambiental. O selo comunitário, entretanto, não substitui
o Anjo Azul, havendo uma coexistência proveitosa dos dois rótulos, favorecendo a
fabricação de produtos menos prejudiciais ao meio ambiente em seu território.

1.3.2. Canadá – Environmental Choice Program


O programa de rotulagem ambiental do Canadá – Environmental Choice Pro-
gram (ECP) – foi criado em 1988 pelo Ministério do Meio Ambiente, sob a égide da
lei de proteção ambiental, com a cooperação alemã.
O ECP é um programa governamental administrado pela TerraChoice Environ-
mental Services Inc., empresa privada responsável, mediante delegação do Ministé-
rio do Meio Ambiente (que retém a propriedade, o controle e o gerenciamento do
programa) pela concessão do selo e financiamento do programa. O selo é conhecido
popularmente como “Ecólogo” e, como o selo alemão, contém dizeres que explicam
as razões pelas quais foi conferido.

1.3.3. Japão – EcoMark


O Programa de Promoção de Produtos Ecologicamente Saudáveis, conhecido
como EcoMark, foi criado em 1989 pela Associação Japonesa de Meio Ambiente, or-
ganização não governamental, sob a supervisão e orientação do Ministério do Meio
Ambiente. O selo concedido pelo Programa considera a análise do ciclo de vida e
uma participação pública da comunidade japonesa, além de conter descrição dos
benefícios ambientais da categoria do produto.
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1.3.4. Conselho Nórdico – NordicSwan, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia


O programa de rotulagem ambiental Nordic Swan foi adotado pelo Conselho
Nórdico de Ministros em 1989 e com aprovação dos critérios para concessão dos
selos em 1991. Por seu alcance, constitui o primeiro programa multinacional e o
único vigente até a adoção do selo comunitário. O logotipo do programa baseia-se
no símbolo do Conselho Nórdico, contendo a expressão “rótulo ambiental” e a cor-
respondente descrição do atributo ambiental.

1.3.5. Nova Zelândia – Environmental Choice


A Nova Zelândia iniciou seu programa de rotulagem ambiental em 1990, em
bases similares aos programas alemão e canadense. O logotipo contém o nome do
programa e uma marca de controle (checking mark).
Os princípios básicos do programa são promover produtos que contribuam para
diminuir o consumo de energia, reduzir a geração de subprodutos perigosos e pro-
mover a reciclagem e reutilização.

1.3.6. Índia – Ecomark Program


O programa de rotulagem ambiental foi criado em 1991 com a instituição de
um esquema voluntário de rotulagem para produtos ambientalmente saudáveis. Os
objetivos são incentivar produtores e importadores a reduzir os impactos ambientais
adversos de seus produtos; orientar consumidores a tornarem-se mais responsáveis
em sua vida quotidiana e encorajá-los a tomar decisões de compra à luz de conside-
rações ambientais, além de melhorar a qualidade do meio ambiente.

1.3.7. França – NF – Environment


O governo francês criou um programa nacional de rotulagem ambiental em
1991, com a instituição do Comitê de Rotulagem Ambiental. Concomitantemente, a
França participa da implementação do selo comunitário da União Europeia.
Os princípios básicos que orientam o programa são: os selos devem ser con-
feridos após rigorosa verificação de cumprimento dos critérios relevantes de certi-
ficação; os procedimentos de avaliação e monitoramento devem ser estabelecidos
para assegurar que os produtos rotulados atendam aos requisitos; e os consumidores
devem ter acesso a informações sobre o selo.

1.3.8. Áustria – Umweltzeichen


O Ministério Federal para Assuntos do Meio Ambiente, Juventude e Família
criou o Selo Ambiental Austríaco em 1991, em decorrência do crescente interesse dos
consumidores por questões ambientais e da falta de regulamentação que controlasse
as autodeclarações dos fabricantes.
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1.3.9. União Europeia – Ecolabel


O esquema de selo ambiental comunitário tem suas origens em 1987, quando o
Parlamento Europeu recomendou a criação de um rótulo europeu para produtos eco-
lógicos. Posteriormente, o Conselho da União Europeia aprovou o programa comu-
nitário em 1992, com o objetivo de “promover o desenho, produção, comercialização
e consumo de produtos com reduzido efeito ambiental durante todo o ciclo de vida e
informar melhor os consumidores sobre o impacto dos produtos ao meio ambiente”.
O Regulamento admite a continuidade de programas nacionais de selo ambiental e até
a implementação de novos esquemas, mas, em síntese, objetiva a criação de condições
para a adoção de um único rótulo ambiental em toda a União Europeia.

1.3.10. Países Baixos – Stichting Milieukeur


O Ministério de Habitação, Planejamento Físico e Meio Ambiente e o Ministério
para Assuntos Econômicos, junto a organizações industriais e varejistas e grupos de
consumidores, criaram, em 1992, um programa de rotulagem ambiental como parte
do National Environmental Policy Plan Plus. O Stichting Milieuker foi lançado com o
objetivo de responder às necessidades específicas do mercado holandês e se asseme-
lha aos programas da Alemanha e do Canadá.

1.3.11. Cingapura – GreenLabel


O programa GreenLabel foi lançado em 1992 pelo Ministério do Meio Ambiente.
Seu objetivo é tanto fornecer informações precisas aos consumidores, como assegu-
rar sua compatibilidade aos esquemas de rotulagem implementados em países indus-
trializados, buscando por intermédio da formulação de critérios similares facilitar
seu reconhecimento mútuo.
O princípio norteador da seleção de categorias de produtos é a existência de pro-
dutos concorrentes com impactos ambientais diferenciados, de forma a estimular os
consumidores a adquirirem produtos de menor dano relativo e os produtores a levar
em conta a variável ambiental em suas estratégias empresariais.

1.3.12. Coreia – Eco Label


O Ministério do Meio Ambiente criou em 1992 o programa de rotulagem ambien-
tal Eco-Label para quatro categorias de produtos com conteúdo reciclado. O princípio
básico do programa é a minimização de resíduos, levando em conta, ainda, na defini-
ção de critérios, a menor geração de poluição e a redução no consumo de energia.

1.3.13. Croácia – Environmentally Friendly


O selo ambiental da Croácia foi criado em 1993 pelo Ministério de Engenharia
Civil e Proteção Ambiental, seguindo os modelos do programa alemão e do progra-
Capítulo 1 | Gestão ambiental e responsabilidade social 13

ma comunitário. A iniciativa objetivou melhorar a qualidade dos bens produzidos e


comercializados no país e, sobretudo, facilitar o acesso dos produtos croatas junto aos
países da União Europeia.

1.3.14. República Tcheca – Environment Friendly Product


O governo da República Tcheca criou um programa nacional de rotulagem am-
biental em 1993. O programa prevê que a formulação de critérios esteja baseada em
análise de ciclo de vida. Para os produtos se qualificarem ao selo devem, também,
cumprir as normas de saúde, segurança e higiene existentes.

1.3.15. Brasil – ABNT – Qualidade Ambiental


A primeira iniciativa para o estabelecimento de um selo verde brasileiro data de
1990, quando a ABNT propôs ao Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental a imple-
mentação de uma ação conjunta. Após a Conferência do Rio, a FINEP selecionou o
Projeto de Certificação Ambiental para Produtos da ABNT. O objetivo do projeto era
estabelecer um esquema voluntário de certificação ambiental, a ser iniciado por um
programa-piloto aplicado a uma categoria de produto pré-selecionada.
O programa tem duas diretrizes básicas: ser desenvolvido de forma adequada
à realidade brasileira, com vistas a desempenhar papel de instrumento de educação
ambiental no mercado interno; e ser compatível com modelos internacionais, para
que possa se transformar em instrumento de apoio aos exportadores brasileiros. Se-
gue os princípios definidos na norma ISO14024.
A adoção da rotulagem ambiental, naturalmente, resulta em benefícios para as
empresas que as adotam, conforme inferência da pesquisa, na forma de:

• aumento da competitividade das exportações;


• atendimento do consumidor verde;
• atendimento da pressão de organizações ambientalistas;
• conformidade com a política social da empresa;
• melhoria da imagem perante a sociedade;
• atendimento de exigência licenciamento/regulamentação;
• aumento da lealdade e preferência do seu cliente;
• ajuda no acesso a novos mercados e na construção de uma marca mais forte;
• sustentação de sua estratégia de comunicação, reforçando os valores da orga-
nização;
• reforço da motivação e o comprometimento dos colaboradores, com melho-
ria na qualidade de seus produtos e processos;
• melhoria da gestão de sua cadeia produtiva; e
• redução dos custos dos processos industriais.

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