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Resumo
O atual contexto socioambiental cria diversas exigências e requer novas habilidades de
diferentes tipos de organizações. Isto implica na redefinição e adaptação de processos e
atividades desenvolvidas pelas várias áreas internas das empresas. Sendo o setor de
supermercado um importante grupo de empresas varejistas, há uma crescente pressão para que
assumam posturas de negócio mais consistentes com as expectativas da sociedade. Desta
forma, este artigo objetiva apresentar uma proposta de gestão estratégica da responsabilidade
social em supermercados envolvendo diferentes stakeholders e áreas de negócio, baseada
numa ampliação do modelo de Porter e Kramer (2006). A contribuição esperada está em
subsidiar o processo decisório de supermercados para a definição, integração e a articulação
de políticas socialmente responsáveis tendo como pressuposto o foco e a sustentabilidade do
negócio. Para tanto destaca, nas considerações finais, o importante papel da aprendizagem
individual e organizacional na assimilação e incorporação da dimensão social e ambiental aos
valores e atitudes corporativas.
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1. Introdução
Os gestores enfrentam novos desafios ocasionados por expectativas intensificadas e
maior volume de informações disponíveis aos consumidores e à sociedade. Há necessidade de
balancear baixo custo, alto padrão de qualidade e incremento da competitividade com a
análise de questões éticas, ambientais e sociais. Neste contexto a responsabilidade social
tornou-se um fator de competitividade e sustentabilidade para os negócios.
No passado, o que identificava uma empresa competitiva era basicamente o preço de
seus produtos. Depois veio a onda da qualidade, mas ainda focada nos produtos e serviços.
Hoje, consumidores e a sociedade começam a priorizar as organizações com inserção social
mais ampla, em detrimento daquelas que advêm de uma postura meramente legal e
essencialmente comercial, financeira e trabalhista. Tais mudanças começam a apontar para
estratégias organizacionais que visam manter um diálogo constante e transparente com a
sociedade. Assim, as empresas devem investir permanentemente no aperfeiçoamento de suas
relações com todos os públicos que depende e se relaciona: clientes, fornecedores,
empregados, parceiros e colaboradores, governo e comunidade.
Profissionais de empresas estão sendo pressionados a procurar novas filosofias de
gestão que aliem os interesses da sociedade onde atuam aos interesses da própria empresa
(VOLTOLINI, 2007). Não existe mais uma linha divisória entre problemas que estão fora e
dentro das empresas (BORGER e KRUGLIANSKAS, 2002). Não se pode esquecer que o
ambiente é dinâmico e dessa forma, cria novas exigências, modificando os objetivos,
propósitos e métodos organizacionais de forma a se tornar consistentes com as expectativas da
sociedade. Transformam-se assim as necessidades de atuação das organizações, considerando-
as, posteriormente, mais legitimadas do que as outras (MEYER e ROWAN, 1992).
Sendo a responsabilidade social empresarial, no contexto brasileiro, um tema recente e
relativamente incipiente quanto ao seu conhecimento teórico e empírico, a assimilação do
conceito e o engajamento, não se dão igualmente entre as empresas de setores variados.
As empresas varejistas, por estarem próximas dos consumidores e, portanto, com
processos e atividades expostos para avaliação, necessitam adaptar e reavaliar sua gestão
expressando as mudanças contextuais, sob o risco de serem questionadas, processadas e
cobradas por seus atos. Por ser o elo da cadeia de valor onde termina a produção e inicia-se o
consumo, os varejistas que expressarem preocupações ambientais e sociais serão percebidos
como comprometidos com uma nova sociedade e, talvez, até mais estimados. Estudos
brasileiros já indicam esta tendência, mostrando a evolução da percepção do consumidor em
relação ao papel das empresas (ETHOS, 2005; AKATU, 2006).
Uma pesquisa realizada no ano passado pela Market Analysis, em parceria com
o Instituto Akatu, com 1.275 adultos residentes em 11 cidades brasileiras revela
que (...) 33% dos consumidores adotam atitudes conscientes na hora das
compras e 37% aceitam pagar mais por materiais não-nocivos ao meio ambiente
- sendo que, deste grupo, oito em cada dez entrevistados aceitariam um sobre-
preço entre 25% e 35% pela mercadoria com selo ambiental (TIAGO, 2007).
É importante destacar que a representatividade e proximidade do agente de varejo com
a região na qual atua, se estende para além do mundo dos negócios e influencia o dia-a-dia da
comunidade local (LEVY, 2000; MACEDO, 2005). Desta forma, além de conquistar clientes,
o varejo contemporâneo deve buscar diferenciais e ser reconhecido como um elo de ações
corporativas e individuais.
O setor supermercadista é um importante grupo dentre as empresas varejistas pois,
entrar, comprar e sair de um supermercado é uma rotina entre os brasileiros (CAPRARIO,
2006). Além disso, a opção dos supermercados em participar comprometidamente com
políticas sócio-ambientais é condição indispensável para que a responsabilidade social se
firme na cultura de gestão brasileira uma vez que o setor vem apresentando um crescimento
real. Segundo a ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados, os supermercados
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registraram faturamento de R$ 124,1 bilhões no ano de 2006, sendo que em 2007 tiveram um
aumento de 6,6%. Em 2006, os supermercados tiveram uma participação de 5,3% do Produto
Interno Bruto brasileiro. Segundo o Indicador Serasa de Atividade do Comércio, no mês de
janeiro de 2008 as vendas dos estabelecimentos formados por hipermercados, supermercados
e varejo de alimentos e bebidas apontaram avanço de 6,5% na comercialização, em relação ao
mesmo período de 2007.
Segundo a ABRAS, 52% das redes de supermercados realizaram ações de
responsabilidade social em 2005 (CAPRARIO, 2006). Embora um grande número de gestores
já tenha despertado para a necessidade de mudança, muitos ainda não sabem ao certo como
agir. Adotam ações filantrópicas ou abordagens dominantes de responsabilidade social
empresarial que são fragmentadas e desvinculadas da empresa e da estratégia, ocultando
oportunidades. Isto ocorre porque uma empresa é instigada a abordar centenas de questões
sociais, mas apenas algumas trazem a verdadeira oportunidade de fazer diferença real para a
sociedade ou de conferir vantagem competitiva (PORTER e KRAMER, 2006). O teste
essencial a nortear a responsabilidade social não é se a causa é digna, mas se traz
oportunidade de geração de valor compartilhado – ou seja, benefício relevante para a
sociedade e valioso também para a empresa.
É importante ressaltar que ações socialmente responsáveis não serão produtivas se
forem encaradas de modo genérico. Assim, como no caso do movimento pela qualidade total,
a responsabilidade social deve estar alinhada e integrada às operações de negócio para
proporcionar um efeito transformador a longo prazo. Enxergar a responsabilidade social como
a geração de valor compartilhado, e não como contenção do prejuízo ou campanha de relações
públicas, vai exigir um raciocínio radicalmente distinto na empresa.
Esse novo olhar implica na redefinição das atividades, redesenho de processos e
reavaliação dos resultados pelos gerentes de diferentes áreas organizacionais, com o intuito de
proporcionar legitimidade, crescimento e sustentabilidade da corporação.
Neste sentido, o presente artigo tem como objetivo discutir e apresentar políticas de
responsabilidade social estratégica para os super e hipermercados brasileiros, a partir do
modelo de Porter e Kramer (2006) ampliado para diferentes áreas de negócio e envolvendo os
stakeholders. Destaca-se que o modelo proposto não pretende abranger a totalidade das
práticas a serem abordadas em cada uma das áreas organizacionais e em cada uma das
dimensões, objetiva apenas contribuir para o preenchimento de uma lacuna teórica e ser uma
ferramenta de subsídio na definição de possíveis políticas para uma gestão socialmente
responsável mais consistente.
2. Referencial Teórico
2.1 A Construção de uma Gestão Sustentável
Está cada vez mais evidente que toda iniciativa de negócio tem um impacto sobre o
lucro e sobre o mundo (SAVITZ, 2007). Observam-se, assim, conseqüências significativas
sobre a gestão das organizações, criando novas exigências sobre as empresas. Amplia-se a
busca por formular novos modelos, indicadores e pressupostos de gestão, tornando-os mais
consistentes com as expectativas da sociedade (ALIGLERI, CAMARA e ALIGLERI, 2002;
FISCHER, 2002; GRAYSON e HODGES, 2002).
Savitz (2007, p.6) resume este contexto afirmando que nas últimas décadas, as
empresas ingressaram na ‘Era da Responsabilidade’. Desta forma, os desafios
socioambientais da atualidade influenciam as estratégias empresarias para garantir
legitimidade, crescimento e sustentabilidade organizacional.
As empresas preocupam-se em adquirir posturas socialmente corretas, ambientalmente
sustentáveis e economicamente viáveis, isto é, o tríplice resultado. Tal posicionamento parte
da premissa de que as organizações fazem parte do ambiente social do qual são dependentes
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De acordo com Borger e Kruglianskas (2002), as companhias estão sendo cada vez
mais pressionadas para olhar o impacto de suas operações para além de suas paredes
institucionais sob o risco de serem cobradas pela estreita visão sistêmica. Desta forma, nos
últimos anos, a responsabilidade social das organizações vem perdendo relação direta e única
com projetos e ações filantrópicas e assistenciais restritos a sentimentos de boa vontade, de
favor e ajuda aos mais necessitados (RODRIGUES, 2007). O que se verifica é que não
adianta uma empresa desenvolver uma série de projetos sociais para a comunidade, sejam eles
ligados ao esporte, educação, cultura ou saúde, se na realização de suas atividades, polui
mananciais, submete funcionários a situações inseguras de trabalho, mantêm contrato com
fornecedores que utilizam mão de obra infantil, não paga os impostos devidos, envolve-se em
cartéis ou paga salários menores às suas executivas (SOUZA e MARCON, 2002; ALIGLERI,
CÂMARA e ALIGLERI, 2002; PEREIRA e PINTO, 2004).
Assim, o comportamento socialmente responsável passa a ser vislumbrado por um
grande número de autores a partir de uma visão de redes de relacionamentos, isto é, a teoria
dos stakeholders (FREEMAN, 1984; DONALSON e PRESTON, 1995; CARROL e
BUCHHOLTZ, 2000; ZADEK, 1998; ASHLEY, 2002; BORGER, 2001; KREITLON e
QUINTELLA, 2001; GRAYSON e HODGES, 2002; MACHADO FILHO, 2002). De acordo
com Cardoso e Silva (2000), esta perspectiva para responsabilidade social faz com que a
organização sinta-se responsável por suas ações perante todos que possam legitimamente
reclamar como “parte interessada na atividade da empresa” como acionistas, empregados,
comunidade, ONGs, consumidores, fornecedores, concorrentes e governo. Santos et al (2000)
enfatiza que esta nova atitude por parte das organizações não depende exclusivamente de
adaptações internas ou de requisitos técnicos, mas passa pela construção de novas relações.
(...) as empresas precisam identificar ampla gama de stakeholders perante os
quais sejam responsáveis, com quem desenvolvam relacionamentos abertos e
em relação aos quais descubram maneiras de trabalhar, em busca de benefícios
mútuos. (SAVITZ, 2007, p.3).
Nesta visão, a responsabilidade social confunde-se com sustentabilidade
organizacional, sendo conceituada como “aquela que gera lucro para o acionista, ao mesmo
tempo em que protege o meio ambiente e melhora a qualidade de vida das pessoas com que
mantém relações” (SAVITZ, 2007). Já o Instituto Ethos amplia o conceito ao abordar o
componente da gestão, caracterizando-a como:
forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com
todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras,
respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.
Portanto, analisar as políticas de responsabilidade social de uma organização abre a
oportunidade para avaliar a performance sustentável da empresa uma vez que se trata de uma
reflexão da organização e suas relações com o mercado, equilibrando responsabilidades
econômicas, sociais e ambientais. No século XXI a empresa sustentável é aquela que
ultrapassa as relações clássicas da administração, impulsionando a co-responsabilidade em
substituição à manipulação e o confronto entre os diversos agentes sociais.
Um teórico importante que avança na contribuição para a conceituação é Carroll
(1991) que propõe um modelo embasado em uma pirâmide de envolvimento com quatro
dimensões na definição: responsabilidade econômica, legal, ética e filantrópica. É interessante
destacar que a pirâmide da responsabilidade social desenvolvida por Carroll integra a maioria
dos argumentos do debate em um único modelo teórico por propor um conjunto de
componentes interdependentes na relação entre empresa e sociedade.
Assim, responsabilidade social não deve, portanto, ser interpretada como uma peça à
parte da gestão de uma empresa, mas ser sua extensão. Questões emergentes como a ecologia
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e meio ambiente, saúde e bem estar, diversidade e direitos humanos, bem como o
relacionamento com a comunidade passam a ter um efeito cumulativo e próprio nas decisões
de negócio. A preocupação com o impacto social de sua atuação deve estar presente em todas
as decisões e rotinas gerenciais do negócio, isto é, na contratação e demissão de pessoal, nas
políticas de compra, no consumo de recursos não renováveis, na política de marketing e
comunicação ao consumidor, na segurança e condições de trabalho, na relação com a
concorrência, entre outros (GRAYSON e HODGES, 2002). Savitz (2007, p.77) chega a
afirmar que é difícil imaginar um gestor de uma unidade de negócio que, de alguma maneira,
não se envolverá nas iniciativas.
Somente a preocupação da empresa com as práticas e os impactos da sua gestão,
demonstrada por seus atos, é que dará imagem legitima, consistência do posicionamento
adotado e diferenciará uma empresa envolvida com a sociedade daquelas que praticam
atividades de cunho social sem maior compromisso.
Neste sentido, a responsabilidade social como fator de sustentabilidade do negócio
passa a ser um novo modelo de gestão, assim como a gestão pela qualidade, pela eficiência e
pela produtividade, já que as decisões e atividades passam sempre pelo crivo do impacto de
tais ações para a sociedade.
Uma empresa socialmente responsável torna-se sustentável no mercado pois as
práticas empreendidas, além de melhorar a qualidade de vida da sociedade, podem gerar
inúmeros benefícios, tais como melhoria da imagem corporativa, motivação do público
interno, vantagem competitiva, fidelização de clientes, retenção de funcionários, melhoria do
clima organizacional e facilidade no acesso ao capital e financiamento (MARTINELLI, 1997
apud MENDONÇA e GONÇALVES, 2002; ROCHLIN, 2005). Ademais, na medida em que
a empresa cumpre algumas exigências implícitas e adotam um comportamento pró-ativo, tais
como respeito ao meio ambiente, por exemplo, os órgãos governamentais responsáveis
poderão criar mecanismos menos rígidos de punição e de intervenção, que deixam de
constituir-se em custos não explícitos. De acordo com Campanhol e Breda (2005, p.5): “em
suma, a responsabilidade social é uma ação estratégica da empresa, que visa o retorno
econômico, social, institucional, tributário fiscal”.
A redução de custos ocorre na medida em que as ineficiências dos recursos utilizados
e as falhas no processo produtivo começam a ser identificadas e corrigidas como por exemplo,
a diminuição do absenteísmo no trabalho pela melhoria da segurança do trabalhador, redução
no consumo e energia e água, bem como reaproveitamento e reciclagem de materiais e
embalagens anteriormente descartados (ALIGLERI, CÂMARA e ALIGLERI, 2002). É
possível perceber que a melhoria da questão social e da competitividade andam juntas. Na
grande maioria das vezes, tem se focalizado na progressão dos custos decorrentes da adoção
de um posicionamento socialmente responsável, ignorando os efeitos compensadores mais
importantes que impulsionam a competitividade, resultantes da inovação (PORTER e LINDE,
1999).
Porter e Kramer (2006, p.54) reafirmam essa premissa ao dizer que se fossem usados
arcabouços norteadores das principais decisões empresariais para analisar políticas de
responsabilidade social, a empresa descobriria que estas práticas podem ser muitos mais do
que um custo ou entrave, tornando-se “fonte de oportunidades, inovação e vantagem
competitiva”. Os autores apresentam um modelo a ser adotado pelas empresas argumentando
que embora muitas já tenham despertado para o risco da inação, um grande número ainda não
sabe como agir na perspectiva da integração das ações e processos internos da empresa.
No modelo, Porter e Kramer (2006) propõem a necessidade de avaliar o contexto
competitivo de cada organização para classificá-las como:
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Questões Genéricas: podem ser importantes para a sociedade, mas não são
•
significativamente afetadas pelas operações da empresa nem influenciam sua
competitividade a longo prazo;
• Impactos Sociais da Cadeia de Valor: questões que são significativamente
afetadas pelas atividades da empresa no curso normal das operações; e
• Dimensões Sociais do Contexto Competitivo: fatores do ambiente externo que
afetam a competitividade da empresa nos locais onde opera.
Além disso, para priorizar as questões, segmentam as possíveis ações no que
denominam de responsabilidade social responsiva e responsabilidade social estratégica. A
primeira consiste em atuar como bom cidadão corporativo mitigando os impactos adversos da
atividade da empresa. Já a segunda implica em fazer algo distinto das adversárias para cortar
custos ou melhor atender certas necessidades dos clientes, isto é, identificar as oportunidades
de valor compartilhado (PORTER e KRAMER, 2006).
Transformar atividades da
RSE RESPONSIVA cadeia de valor para beneficiar RSE ESTRATÉGICA
a sociedade e ao mesmo tempo
fortalecer a estratégia.
Fonte: PORTER, M; KRAMER, M. Estratégia e sociedade. Harvard Business Review, dez, 2005. p.52-66.
Figura 1- Envolvimento da empresa na sociedade: abordagem estratégica
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Conforme apresentado, há inúmeras ações que podem ser praticadas para tornar um
supermercado mais socialmente responsável em diferentes níveis de abrangência e
envolvendo diversas áreas internas. Destaca-se, contudo, a argumentação de Savitz (2007)
sobre a necessidade de concentrar-se nas melhores idéias inovadoras que ajudam a construir
novos negócios.
Dessa forma, num processo estratégico de gerenciamento é importante adquirir
habilidade organizacional para priorizar ações, uma vez que há muitos públicos de
relacionamento que competem por atenção, interesses e recursos da empresa (SAVITZ, 2007,
p.149). Assim, a prevalência de uma ação em relação à outra depende de como a empresa é
percebida pelos diferentes stakeholders.
É estratégico, também, que as ações propostas para cada um dos stakeholders,
envolvam diferentes áreas organizacionais, pois assim transmitem congruência e modelagem
interna da empresa para resolver as falhas e reconstruir a relação.
4. Considerações Finais
Amplia-se a discussão sobre a forma como os bens são produzidos e consumidos.
Neste contexto, as empresas tentam conciliar a multiplicidade de interesses e começam a
responder aos anseios sociais com novas posturas, atitudes e valores organizacionais.
Todavia, a questão não é somente a velocidade de mudança. Também envolve a
freqüência e a magnitude da mudança, bem como a necessidade de aprender. Para tanto, faz-
se necessário à construção de novas competências e modelos mentais (SENGE, 1999), na
organização e no mercado para incrementar a eficácia das respostas e a legitimidade. A
aprendizagem organizacional é a chave para incorporar a dimensão social e ambiental no
contexto empresarial (ANTONELLO, 2005).
Assim, faz-se imprescindível o aprendizado individual, ou seja, que cada membro da
empresa tenha compromisso com o futuro e contribua para o mundo que se quer ter. Para
tanto é necessário que os colaboradores percebam-se como agentes ativos no processo de
mudança e, com senso de propósito, internalizem novas atitudes e valores para minimizar os
impactos ambientais e sociais negativos gerados pela sua rotina de trabalho e de vida. Praticar
pequenas ações diárias de cidadania e comprometer-se com elas é fundamental para uma
sociedade mais justa e sustentável. O aprendizado individual que se impõe nos novos tempos
não é apenas profissional, mas também cidadão para que comportamentos socialmente
responsáveis fazem parte dos valores do indivíduo.
Entretanto, para que uma organização avance na estruturação de uma gestão
sustentável é importante transforma-la em um valor corporativo. Desta forma, os indivíduos
precisam socializar experiências, conhecimentos e atitudes sócio-ambientais já adotadas com
outros membros ou grupos da empresa. A organização deve criar mecanismos para que se
tenha uma visão e propósitos compartilhados, criando uma identidade comum (SENGE,
1999). Para tanto é preciso desenvolver condições propícias a aquisição, retenção e
transferência das posturas e práticas implementadas para outros agentes organizacionais
(ABBAD e ANDRADE, 2004). Davenport e Prusak (1998) abordam a importância da
existência de sistemas e repositórios formais e informais para a transferência do conhecimento
e das ações tomadas, que no caso de um supermercado poderia ocorrer por meio de centros de
treinamento e desenvolvimento, fóruns de discussão internos e grupos auto-organizados nas
lojas. Um comitê global de trabalho também se faz necessário para a definição de políticas de
gestão socialmente responsáveis alinhadas com a estratégia de negócio. A equipe precisa ser
composta por representantes dos funcionários da linha de frente, gerentes de nível médio e
altos executivos da empresa inseridos em diferentes setores internos pois, os temas sócio-
ambientais e as práticas a serem delineadas envolvem mais de uma área organizacional.
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Todavia, fazer com que as políticas colocadas no papel sejam de fato internalizadas
por diferentes pessoas e setores exige que os distintos grupos internos cooperem para atingir
objetivos comuns. Assim, a alta administração deve criar mecanismos de retribuição ou
gratidão aos órgãos e pessoas já engajadas como elogios públicos, destaque em informativos
internos da empresa, promoções, gratificações e outros. Segundo Davenport e Prusak (1998,
p.57) “comportamentos reconhecidos e recompensados tendem a florescer, enquanto aqueles
que são ignorados ou penalizados tendem a definhar”.
O denominador comum de todo esse esforço é para que a gestão sustentável seja
efetivamente incorporada ao negócio e ao alcançá-la estará contribuindo também para a
aprendizagem da comunidade e do contexto mais amplo do qual faz parte. Desta forma,
impulsiona um espiral crescente de desenvolvimento para uma sociedade mais sustentável.
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