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O papel da empresa e seu poder de transformação social e ambiental têm sido, de fato, tema
de discussão por várias décadas. Um dos temas mais frequentes no mundo dos negócios e nas
discussões intersetoriais diz respeito às formas como as empresas podem trazer para o centro
das estratégias (e não para a periferia dos seus negócios), por exemplo, a qualidade de vida
dos consumidores; a perpetuação dos serviços ecossistêmicos vitais ao negócio; a viabilidade
e longevidade dos fornecedores essenciais; e o combate à vulnerabilidade social.
Em outras palavras, o Valor Compartilhado traz uma linguagem muito voltada à realidade
empresarial, pois a transformação social é reconceituada dentro das estratégias e das
estruturas e sistemas de gestão das empresas. O foco social é naquelas necessidades das
comunidades que estão intimamente relacionadas ao contexto empresarial. Dessa forma, a
empresa consegue contribuir com aquilo que ela tem de melhor para oferecer e, ao fazer isso,
ela gera mais valor social do que se investisse em projetos que não possuem relação com o
seu core business.
Conectando o social com o econômico de forma íntima, é possível gerar valor que,
isoladamente, não seria gerado. Ou seja, projetos filantrópicos dissociados da realidade
empresarial não seriam apropriados, não apenas porque não se traduzem em ganhos diretos
para a empresa, mas também porque gerariam menor valor social do que se fossem ligados
ao core business da empresa. A Nestlé, investindo em Nutrição, consegue oferecer
competências ligadas ao seu core business. Se ela focasse seus esforços sociais em combater
a prostituição infantil, por exemplo, ela poderia contribuir com dinheiro, mas não com suas
competências – aquilo que ela tem de melhor para oferecer. A Nestlé não possui vocação e
capacitações internas para otimizar a condução desse tipo de projeto social. Além disso, nesse
caso, os ganhos para os negócios não seriam tão grandes quanto investir em Nutrição.
Vejam que esse alinhamento contextual provê, portanto, uma melhora no cenário
competitivo, com melhores resultados tanto para as empresas quanto do ponto de vista
social. A empresa deve sempre se questionar: como a empresa pode redefinir suas estratégias
para criar o maior valor de negócios e social, de forma que nenhuma outra empresa
conseguiria? Essa resposta, inevitavelmente, leva as empresas a repensarem como definem
suas estratégias e conduzem suas operações, abrindo novas possibilidades para diferenciação
competitiva e, simultaneamente, contribuindo para um mundo ambientalmente mais
resiliente e socialmente mais inclusivo. Essa diferenciação pode levar a empresa a se tornar
líder em seu setor, a garantir a perenidade dos negócios, ou até mesmo a identificar novas
oportunidades e mercados acessíveis somente pela integração da sustentabilidade nos
negócios. Várias empresas no mundo já perceberam e usufruem disso.
Em 2005, a General Electric, por exemplo, colocou em ação o projeto Ecomagination, com o
objetivo claro de reduzir preventivamente o impacto ambiental de seus produtos. Além de
gerar inovações, o projeto reduziu a pegada de carbono da empresa e criou novas fontes de
receita. Em 2012, com investimentos de US$ 2 bilhões, e empresa obteve uma receita de US$
25 bilhões em vendas. Já a Unilever lançou o projeto Shakti, cuja estratégia é oferecer
treinamento e microcrédito para mulheres de baixa renda na Índia, para que se tornem
vendedoras dos produtos da empresa. Já são mais de 70.000 empreendedores, em sua
maioria mulheres, mas agora também incluindo homens, em mais de 165.000 vilas indianas.
Como resultado, a Univeler redefiniu seus métodos tradicionais de distribuição e melhorou
sua penetração na Índia rural, e o Shakti já ultrapassa os 5% da receita total da empresa no
país. Os benefícios sociais foram aumento da renda familiar dos empreendedores e acesso a
produtos básicos de higiene, até então inacessíveis a essa população carente de condições
sanitárias mínimas.
Dentre as ferramentas que podem ser utilizadas para pensar estratégias de sustentabilidade
Para enfrentar o desafio da integração não existem receitas prontas, cada empresa deve
determinar as estratégias que funcionam para si, ao invés de simplesmente replicar a de
outras empresas ou adotar critérios de certificações. Para tal, é necessário entender o
contexto de negócios em que a empresa está inserida, entender como a sustentabilidade
afeta a empresa, e então mapear as fontes e a magnitude dos riscos e oportunidades
sinalizados pela sustentabilidade. A partir desse levantamento, a empresa deve explorar as
várias opções estratégicas e definir suas prioridades, estabelecendo objetivos claros,
consistentes e que permitam a evolução constante. Os objetivos estratégicos da
sustentabilidade devem ser transmitidos com clareza, para que o público interno possa se
engajar e para garantir uma governança transparente. É importante ainda que a empresa
busque influenciar mudanças além das fronteiras organizacionais e trabalhe com outros
stakeholders, criando redes colaborativas para buscar objetivos comuns, incluindo sua cadeia
produtiva e até mesmo concorrentes. Como em toda definição de estratégia, este deve ser
um processo contínuo e em constante evolução.