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UNIDADE I
GÊNESE HISTÓRICA E CONCEITUAL DO
TRABALHO, DA EDUCAÇÃO E DA ESCOLA

ITEM 02:
CONCEITO DE TRABALHO ALIENADO,
ESTRANHADO

Prof. Dr. Dalton Alves


Pedagogia/UNIRIO/LIPEAD
Departamento de Fundamentos da Educação
Disciplina: Educação e Trabalho

 A transformação do processo de trabalho em atividade de exploração do homem


sobre o homem; de alienação do homem no trabalho.

INTRODUÇÃO

Prezados/as discentes nesta parte damos prosseguimento à análise e compreensão


do conceito do trabalho como atividade específica de produção da existência humana.
Conforme já visto, pelo trabalho (atividade teórico-prática) os seres humanos produzem
tudo aquilo de que necessitam para viver: vestuário, alimentação, abrigo, transporte,
instrumentos, técnicas etc.

Pelo processo de trabalho o ser humano exterioriza suas criações mentais, seus
desejos subjetivos, fixa no objeto (objetiva) aquilo que primeiramente existia em sua
mente apenas como representação ideal, como pensamento, objetivando-o, fazendo
existir o que não existia, criando o novo e que não existiria sem a ação humana, a isto
conhecemos pelo nome: Trabalho.

Porém, isto que em princípio era para ser a marca principal da diferença entre os
seres humanos e os demais animais, como aquilo que identificaria a espécie humana, e
que definiria o que é o homem, ou seja, que “o homem é um animal que trabalha” (Homo
Faber) e pelo trabalho ele produz a sua própria existência e se humaniza, veremos como
isto foi transformado numa atividade que degrada o ser do homem que trabalha,
desumanizando-o.
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Nesta parte iremos mostrar o lado, o mais vil, do processo de trabalho em relação
as consequências que este provoca sobre o homem que vive-do-trabalho ao se organizar
o processo de produção não mais como uma atividade de produção de subsistência para
si, para a satisfação de uma carência sua, e sim, quando se passa a trabalhar para um
“outro” e para a satisfação das carências deste “outro”, que não ele mesmo, o trabalhador,
por obrigação e não por escolha.

Para tratar deste tema iremos adotar como referência a noção de “alienação” e de
“trabalho alienado” em Karl Marx1, a partir da análise que este faz das condições de vida
e de trabalho da classe trabalhadora submetidos à lógica do capitalismo, por ser o
Capitalismo o atual Modo de Produção material da existência humana, mas veremos
também que esse processo de alienação antecede o Capitalismo e que teve origem desde
que a sociedade criou a divisão do trabalho entre quem concebe, quem executa e quem
fica com os frutos do trabalho, donde surgirão as noções de: divisão de classe, propriedade
privada, exploração do homem, privilégio, pobreza, Estado, exército etc.

Portanto, nesta Disciplina você conhecerá um pouco da relação histórica e


conceitual entre o Trabalho/Processo de Trabalho como Humanização, já visto, e, nesta
parte, estudaremos o Trabalho/Processo de Trabalho como Desumanização – Alienação.
Você irá analisar e refletir sobre o processo de trabalho como fator de humanização
(sentido ontocriativo, como atividade de criação humana) e sobre como o processo de
trabalho em determinadas condições históricas sofre uma metamorfose e torna-se causa
de destruição da própria vida, humana e da natureza em geral, fator de alienação e de
desumanização (aspecto negativo do trabalho, como exploração do homem sobre o
homem), em especial na sociedade contemporânea, capitalista, já mencionado.

Iremos refletir que apesar de o trabalho ser a práxis humana mais importante no
processo de humanização, nem todos os indivíduos da espécie humana trabalham para
sustentar a si mesmo. Seja por motivo de saúde, devido às suas condições motoras e/ou
mentais, por sua idade (muito novo ou muito idoso) etc. Há, porém, outros que não
trabalham, mesmo podendo trabalhar, não tendo nada que os impeça fisicamente para o
trabalho, pois, organizaram um modo de vida em sociedade que os ajuda a viverem da
exploração do trabalho de outros seres humanos, depois de subjugados, e não do próprio
trabalho. Criaram leis que sustentam este modo de vida, bem como forjaram ideias que
justificam este estado das coisas, como forma de convencer aos demais seres humanos
que trabalham, que tudo isto é justo, bom e inevitável.

Esses outros indivíduos que vivem do próprio trabalho e trabalham para sustentar
os indivíduos que não precisam trabalhar para sobreviver, são aqueles que produzem e
criam tudo que existe no mundo humano, são os autênticos criadores de toda a riqueza e
produção humana (a classe trabalhadora), mas muito pouco dessa riqueza eles podem
desfrutar, pois, quase tudo o que é produzido é apropriado privadamente por aqueles que
não trabalham e nada produzem com as próprias mãos (os donos do trabalho). “Estes, na

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Cf. Vida e Obra de Karl Marx em (p. 460 ss):
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_pedagogicos/caderno_filo.pdf
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expressão de Gramsci, podem ser considerados ‘mamíferos de luxo’ – seres de outra


espécie que acham normal explorar seres humanos” (FRIGOTTO, 2008, p. 402).

1. Trabalho e Alienação: De Como Se Forja O Ser Alienado.

 Entendemos o trabalho alienado como o aspecto negativo do processo de trabalho


quando este passa a ser realizado com base na exploração do homem (proprietário)
sobre o homem trabalhador (não-proprietário).

Marx irá mostrar que sob a lógica do Capital o trabalhador é submetido


ao “reino da necessidade” e o trabalho assume um aspecto
profundamente negativo para o trabalhador (de alienação e
estranhamento) à medida que ele passa a não mais reconhecer no
processo de trabalho que realiza a fonte e a base da sua existência, a
razão de ser do seu bem-estar no mundo, ao contrário, ele enxerga no
trabalho a fonte de todos os seus males, a razão de todo o seu
sofrimento. (ALVES e RODRIGUES, 2015, p. 66).

Para bem entender o significado do conceito de alienação em Marx é preciso


recuperar, mesmo que brevemente, a origem etimológica da palavra trabalho.

Imagens do Tripalium:
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Deste modo, essa atividade humana de transformação da natureza pela qual o


homem se faz plenamente homem, produzindo sua própria vida, conhecida como
trabalho, é sentida pelo trabalhador como sofrimento, dor, castigo. Esta percepção é
correta, mas devemos salientar que nem sempre foi assim. Esta noção negativa do
trabalho está associada ao surgimento da divisão do trabalho e da propriedade privada e
a consequente divisão da sociedade em classes sociais, principalmente a divisão entre os
proprietários e os não-proprietários. Cabendo aos não-proprietários a incumbência de
trabalhar para sustentar a si e aos proprietários. Este sofrimento vem daí. Desde então
toda a experiência histórica que se tem do trabalho produtivo está associada a exploração
de muitos seres humanos por uns poucos homens, beneficiados pelo trabalho daqueles.

Esta situação irá provocar nos produtores diretos, nos trabalhadores, uma sensação
de estranhamento com o trabalho que executam, pois nada nele, ou quase nada, tem que
seja positivo e agradável. Realizam o seu trabalho por pura necessidade e obrigação, por
uma questão de sobrevivência. Perdeu-se completamente a noção do trabalho como a
atividade de satisfação de uma carência, como meio de produção da existência humana.
O ser humano que precisa trabalhar para sobreviver não vê satisfação no que faz, no seu
trabalho. Por isto ele irá buscar essa satisfação fora do trabalho.

Vejamos, quanto a isto, o que nos diz Marx:


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E mais ainda:

Conforme afirmam ALVES e RODRIGUES (Texto 03, p. 66),

O trabalhador, no Capitalismo, não vê a hora que chegue ao final de


semana para fazer o que gosta e se angustia no domingo à noite quando
percebe que a segunda-feira se aproxima. Por isto, dirá Marx, o
trabalhador se sente mais humano (livre e ativo) fora do trabalho, posto
que no trabalho ele se sente uma espécie de animal, um “burro-de-
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carga”. Daí o caráter desumanizador do trabalho nas condições atuais,


capitalistas.

Além do sofrimento que representa o ter que trabalhar para um outro por sua
sobrevivência e da sua família, o trabalho, nestas condições, o trabalho como exploração,
tem o aspecto de ser um trabalho alienado, o que se opõe ao trabalho como criação e
produção do novo, que faz existir o que não existia, mas feito por opção e não por
obrigação.

O trabalho como atividade de transformação e criação de coisas úteis aos seres


humanos carece de um sentido em si, de significado para aquele que atua na produção. O
trabalho nesta acepção foi reduzido a emprego, sobretudo nas sociedades atuais,
capitalistas. Trabalha-se por um salário, não importando o que se faz, o trabalho em si.
Podemos recordar aqui do Mito de Sísifo, muito ilustrativo do tipo de relação que se tem
com o trabalho nas sociedades baseadas na exploração da força-de-trabalho de outro ser
humano.
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A rotina da maioria daqueles-que-vivem-do-trabalho pode ser comparada ao


castigo ao qual fora condenado Sísifo, acordar cedo e ir trabalhar (empurrar o rochedo
colina acima), após a jornada de trabalho voltar para casa (o rochedo rola depois até ao
sopé, e de novo teria de ser empurrado até ao cume), de novo acordar cedo e ir trabalhar
(esta tarefa foi-lhe destinada até a eternidade), uma coisa que parece não ter fim. Mesmo
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depois de aposentado, que seria o momento de conquistar a “liberdade” deste tipo de


atividade para então poder gozar a vida, não se consegue, pois, o “reino da necessidade”
continua a exigir o seu tributo do trabalhador, o seu esforço. Até o fim!
O Mito de Sísifo representa bem, assim, o conceito de alienação do trabalhador
conforme o estamos caracterizando. Em outros termos, segundo Silvio Gallo, com base
em Marx,
Se o trabalho é a atividade pela qual o homem se faz plenamente
homem, transformando a natureza e produzindo sua própria vida, ele é
a condição de realização do ser humano. Mas como falar em trabalho
que realize o homem diante das situações existentes atualmente, como
desemprego, mecanização da mão-de-obra, informatização das
fábricas, falência de empresas, expulsão do homem do campo,
crescimento da economia informal e desrespeito para com os avanços
conquistados com a organização das classes trabalhadoras? [...] o
trabalho, quando não é fator de realização humana é, ao contrário,
fator de escravidão e alienação (GALLO, 2002, p. 45).

Bem, usamos até agora em vários momentos o termo “alienação” ou “trabalho


estranhado”, mas, para entender o sentido de estranhamento ou de trabalho
estranhado/alienado atribuído por Marx precisamos explicitar melhor o significado do
conceito de alienado. Este termo vem de alienação e a palavra alienação significa,
etimologicamente, tornar-se estranho a si próprio. Deriva do latim “alienare”, “alienus”,
que significa que pertence a um outro. Alienar também é um termo muito utilizado no
mercado imobiliário e de automóveis, no sentido de alienar um imóvel ou carro, ou seja,
vender ou passar para um outro a propriedade do seu imóvel ou carro. Está associada,
portanto, ao direito de propriedade. É certo que Marx não faz uso explícito do termo
“alienação” neste sentido jurídico e econômico, ele o utiliza num sentido mais profundo,
existencial, ontológico, porém, em última instância até neste sentido jurídico, mais
restrito, podemos compreender a sua noção de “trabalho alienado”.

Neste aspecto, o trabalhador e o capitalista, perante a lei, ambos são proprietários


e livres. Ocorre que o capitalista é o proprietário dos meios de produção (fábrica, loja,
maquinários, prédio, terras etc.) e do capital. O trabalhador, por sua vez, é também
proprietário, mas apenas da sua própria força de trabalho, da sua capacidade de trabalhar,
manual e intelectualmente. Nas relações de produção que se estabelecem sob a lógica do
capital, o capitalista compra a força de trabalho do trabalhador, por exemplo na indústria
para movimentar as máquinas. E o trabalhador vende livremente para o capitalista da sua
“escolha” esta sua capacidade de operar tais máquinas por uma quantidade “x” de salário.
Esta venda da força de trabalho do trabalhador para o capitalista é o que se chama de
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alienação. O trabalhador “aliena”, “vende”, a sua capacidade de trabalhar em troca de


um salário. Neste processo, o trabalhador não é dono, proprietário, de mais nada. Não é
o dono dos instrumentos de trabalho, da matéria prima, dos produtos por ele produzidos
com o seu trabalho, bem como não tem mais o domínio sobre o regime, o ritmo e a jornada
de trabalho. Todo o controle sobre o processo produtivo e a posse dos produtos
produzidos é de quem o contratou, do capitalista.

Antes do capitalismo, o trabalhador, por exemplo, o Mestre Artesão, “(...) se


constitui em produtor independente, dono da matéria-prima e das ferramentas de
produção, que vende diretamente o produto de seu trabalho e não sua força de trabalho”
(SAVIANI apud ALVES, 2018, p. 02).

O trabalhador do campo, no ambiente rural, o servo no feudalismo,


também detinha certa propriedade sobre os meios de produção, mesmo
que “emprestada”, por assim dizer, pois em última instância era o
Senhor Feudal o fiel proprietário de tais meios, o servo tinha o direito
de ter sua casa, sua oficina, pequenos animais, um quinhão de terra onde
poderia cultivar produtos de subsistência para si e sua família etc. A
jornada de trabalho, o ritmo, as decisões sobre o processo de trabalho
em si era ele quem decidia, não havia em geral ingerência externa sobre
isto. [...] A partir de então alteram-se radicalmente estas condições e as
relações de produção vigentes. Opera-se uma expropriação do
trabalhador, retirando dele a propriedade de quaisquer meios de
produção, o domínio sobre as decisões em relação ao conjunto do
processo produtivo, passando o controle para as mãos do capitalista, o
dono dos meios de produção. (ALVES, 2018, p. 03).

E mais ainda:

A classe trabalhadora foi reduzida no capitalismo à essa condição de


quase completamente expropriada de quaisquer meios de produção do
trabalho num processo histórico que compreende a expulsão dos
pequenos proprietários rurais de suas terras e a falência das oficinas de
artesanato, do Mestre-Artesão, do sistema doméstico, levando a um
aumento significativo de uma população sem dinheiro, sem
propriedade, apenas possuindo seu corpo e cérebro, ou seja, sua
capacidade de trabalhar (força-de-trabalho) a qual passou a oferecer ao
capitalista, dono das fábricas, das terras, em troca de um salário, para a
sua subsistência. (Idem, p. 04, grifos nossos).
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Como isto é possível? Para responder precisamos recuperar, mesmo que


brevemente, as características da produção capitalista, baseadas na
manufatura/maquinofatura, divisão do trabalho e heterogestão.
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Nesta perspectiva, segundo Gallo, a alienação implica, em linhas gerais, que


A pessoa alienada, de certa forma, não se reconhece em suas atividades,
essas atividades constituem uma ação automática, não reflexiva,
não criativa. O alienado não se realiza em suas atividades, pois estas
lhes são totalmente estranhas. (GALLO, 2002, p. 47).

Então vejamos, o trabalhador alienado estranha o trabalho que executa, não o


reconhece mais como seu, pois, de fato, não é mais seu. O processo produtivo não é ele
quem decide, a jornada de trabalho também não e nem mesmo o produto do trabalho é
seu. Tudo é de outro.

Em relação a isto, dirá Marx:

Se minha própria atividade não me pertence, é uma atividade estranha,


forçada, a quem ela pertence então? A outro ser que não eu. Quem é
este ser? Os deuses? [...] O ser estranho ao qual pertence o trabalho e o
produto do trabalho, para o qual o trabalho está a serviço e para a fruição
do qual (está) o produto do trabalho, só pode ser o homem mesmo. Se o
produto do trabalho não pertence ao trabalhador, um poder estranho
(que) está diante dele então isto só é possível pelo fato de (o produto do
trabalho) pertencer a um outro homem fora o trabalhador. Se sua
atividade lhe é martírio, então ela tem de ser fruição para um outro e
alegria de viver para um outro. Não os deuses, não a natureza, apenas o
homem mesmo pode ser este poder estranho sobre o homem. [...] Se ele
se relaciona, portanto, com o produto do seu trabalho, com o seu
trabalho objetivado, enquanto objeto estranho, hostil, poderoso,
independente dele, então se relaciona com ele de forma tal que um outro
homem estranho a ele, inimigo, poderoso, independente dele, é o senhor
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deste objeto. Se ele se relaciona com a sua própria atividade como uma
(atividade) não-livre, então ele se relaciona com ela como a atividade a
serviço de, sob o domínio, a violência e o jugo de um outro homem (o
capitalista) [...] ou como se queira nomear o senhor do trabalho.
(MARX, 2006, p. 86-87).

Daí a razão de afirmarmos que o trabalho alienado se configura como o aspecto


negativo e desumanizador do trabalho. O processo de trabalho, de uma forma criativa de
produção da existência humana como uma atividade positiva, ontológica, definidora do
ser do homem, foi transformado em negação da própria vida a partir do momento que
passou a se basear na exploração do homem sobre o homem. Cumpre agora recuperar o
sentido originário do trabalho como princípio ontológico da existência humana, onde,
segundo Marx, seja abolida toda forma de exploração de uns sobre os outros, e instaurar
um novo tempo em que todos vivam do trabalho de todos e que todos tenham acesso aos
produtos do trabalho de uns e de outros em igualdade de condições.
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As relações de produção que regem o processo de trabalho atualmente submetem


a classe trabalhadora a esta atividade de alienação no trabalho explicitada anteriormente,
com todas as consequências disto sobre o trabalho e sobre o trabalhador. Além disto, para
que esta situação permaneça inalterada e perpetue-se tal como está, tais condições
precisam ser reproduzidas diariamente. Para atender a esta necessidade criaram-se
diversos mecanismos de reprodução social desse sistema, dentre eles, talvez o mais
importante, a escola. A qual atua como aparelho ideológico de reprodução dos
“funcionários” que estarão a serviço do sistema em todos os níveis e escalões do poder,
no âmbito dos serviços públicos e privados, bem como tem a função de contribuir para a
conquista e manutenção da hegemonia do status quo estabelecido convencendo a maioria
de que o modo de vida social atual é o melhor possível, quiçá o único e para todo o
sempre. Pretende-se, assim, conquistar a opinião pública favorável a este modelo de
sociedade.

No próximo texto, Item 03 – Do processo de trabalho à origem da educação e ao


surgimento da escola (Scholé), iremos aprofundar a compreensão sobre o que é a
educação e a escola e quais as suas finalidades sociais ao longo da história, da antiguidade
aos dias atuais. Ação necessária para entendermos o papel da educação escolar na
estrutura social existente e no interior das relações de produção que lhe dão sustentação.
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PARA SABER MAIS:

Caso se queira saber se é possível libertar-se de realizar um trabalho alienado ou


como alcançar a sua emancipação humana no trabalho, dizemos que sim, porém, de forma
plena isto só é possível num outro tipo de sociedade ou modo de produção, diferente do
atual, capitalista. Em todo o caso, até um trabalhador simples, sem estudos, pode alcançar
a percepção da sua situação e perceber o quanto é desvantajoso para si trabalhar sob as
condições de trabalho impostas pelo atual sistema. Todo trabalhador pode, por assim
dizer, “tomar consciência” da sua situação de trabalhador alienado, mesmo que não
chame por este nome. Todavia, a simples consciência do fato não o livra da alienação no
trabalho, mas é um passo importante para levá-lo a uma luta contra esta condição para
transformá-la. A alienação se dá no próprio processo de trabalho. Não é um dado de
consciência. Logo, é da transformação do modo de organização do trabalho que pode
acontecer a superação da alienação e não de outro.
Assim, indicamos o Poema “Operário em Construção”, de Vinícius de Moraes,
acessível completo no site do próprio autor, bem como com algumas versões encenadas,
vídeos, no Youtube.
Este Poema trata, principalmente, do processo de construção por parte do
trabalhador de sua consciência social de classe. Dito de outro modo, mostra como o
trabalhador forma sua “consciência de classe” e passa a pensar para além dos seus
interesses pessoais, egoístas e particulares, quando ele passa a pensar como parte de um
coletivo de homens e mulheres que vivem as mesmas condições, impostas a eles por
outros, beneficiários desta condição e que somente juntos poderão fazer qualquer coisa
para alterar este estado de coisas. Além disso, é importante fazer notar que tal consciência
de classe não se dá por um convencimento teórico, abstrato, depois de uma aula ou
palestra sobre o conceito de alienação, isto até pode acontecer, no entanto, em última
instância, é principalmente a partir das próprias vivências do trabalhador no seu processo
de trabalho concreto, que as contradições da sua real situação são percebidas de forma
mais firme, duradoura e verdadeira. Chegada à esta fase ele dificilmente voltará a ser
como antes, subalterno e submisso, aceitando passivamente o que lhe é imposto sem
“gritar”, “se dizer não”, sem luta.
Fonte: Texto completo do Poema “Operário em Construção”, de Vinícius de Moraes,
 No site do autor: http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/o-
operario-em-construcao
 Para uma análise geral do Poema consulte o link:
http://conversadeportugues.com.br/2013/06/operario/
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REFERÊNCIAS:

ALVES, Dalton. “Intelectuais Coletivos e o Projeto Nacional de Educação para a Classe


Trabalhadora forjado nas décadas de 1930 e 1940 no Brasil”. In: Revista online
Conversas e Pesquisas. Rio de Janeiro: UERJ; Linha de Pesquisa/CNPQ: Intelectuais e
Educação no Mundo Ibero-americano, v.1, n.1, 2018, p. 157-187. [ISSN: 2596-0083].
Disponível em: https://conversasepesquisas.files.wordpress.com/2019/01/conversas-e-
pesquisas-11-01-2019-espelhada.pdf. Acesso em: 15.02.2019.

ALVES, Dalton; RODRIGUES, Alexandre [Texto 06]. “Trabalho, Educação e


Emancipação Humana sob a Lógica do Capital: Emancipar de Quê?”. In: BATISTA, E;
BATISTA, R. (Org.). Trabalho, Educação e Emancipação Humana. Jundiaí, SP:
Paco Editorial, v.1, p. 59-78, 2015. [ISBN: 978-85-8148-725-0].

FRIGOTTO, Gaudêncio. “Trabalho” (p. 399-404). In: PEREIRA, Isabel Brasil; LIMA,
Júlio César França. Dicionário da educação profissional em saúde. Rio de Janeiro:
EPSJV, 2008. Disponível em:
<http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=Material&Tipo=8&Num=43>. Acesso
em: 18.07.2014.

GALLO, S. “Alienação: (Des) Humanização do homem no trabalho”. In: Ética e


cidadania: caminhos da filosofia. 9ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002.

KUENZER, Acácia Z. Pedagogia da fábrica: as relações de produção e a educação do


trabalhador. 8ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2011

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2006.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I, vol. 01. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.

MARX, Karl. “Vida e obra” – (p. 460 ss). In: MARÇAL, Jairo (org.). Antologia de
Textos Filosóficos. Curitiba, PR: SEED-PR, 2009. Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_pedagogicos/caderno_
filo.pdf. Acesso em: 15.02.2019.

NETTO e BRAZ. “Trabalho, sociedade e valor”. In: NETTO e BRAZ. Economia


Política: uma introdução crítica. 6ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2010, p. 30).

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