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UNIDADE I
GÊNESE HISTÓRICA E CONCEITUAL DO
TRABALHO, DA EDUCAÇÃO E DA ESCOLA
ITEM 02:
CONCEITO DE TRABALHO ALIENADO,
ESTRANHADO
INTRODUÇÃO
Pelo processo de trabalho o ser humano exterioriza suas criações mentais, seus
desejos subjetivos, fixa no objeto (objetiva) aquilo que primeiramente existia em sua
mente apenas como representação ideal, como pensamento, objetivando-o, fazendo
existir o que não existia, criando o novo e que não existiria sem a ação humana, a isto
conhecemos pelo nome: Trabalho.
Porém, isto que em princípio era para ser a marca principal da diferença entre os
seres humanos e os demais animais, como aquilo que identificaria a espécie humana, e
que definiria o que é o homem, ou seja, que “o homem é um animal que trabalha” (Homo
Faber) e pelo trabalho ele produz a sua própria existência e se humaniza, veremos como
isto foi transformado numa atividade que degrada o ser do homem que trabalha,
desumanizando-o.
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Nesta parte iremos mostrar o lado, o mais vil, do processo de trabalho em relação
as consequências que este provoca sobre o homem que vive-do-trabalho ao se organizar
o processo de produção não mais como uma atividade de produção de subsistência para
si, para a satisfação de uma carência sua, e sim, quando se passa a trabalhar para um
“outro” e para a satisfação das carências deste “outro”, que não ele mesmo, o trabalhador,
por obrigação e não por escolha.
Para tratar deste tema iremos adotar como referência a noção de “alienação” e de
“trabalho alienado” em Karl Marx1, a partir da análise que este faz das condições de vida
e de trabalho da classe trabalhadora submetidos à lógica do capitalismo, por ser o
Capitalismo o atual Modo de Produção material da existência humana, mas veremos
também que esse processo de alienação antecede o Capitalismo e que teve origem desde
que a sociedade criou a divisão do trabalho entre quem concebe, quem executa e quem
fica com os frutos do trabalho, donde surgirão as noções de: divisão de classe, propriedade
privada, exploração do homem, privilégio, pobreza, Estado, exército etc.
Iremos refletir que apesar de o trabalho ser a práxis humana mais importante no
processo de humanização, nem todos os indivíduos da espécie humana trabalham para
sustentar a si mesmo. Seja por motivo de saúde, devido às suas condições motoras e/ou
mentais, por sua idade (muito novo ou muito idoso) etc. Há, porém, outros que não
trabalham, mesmo podendo trabalhar, não tendo nada que os impeça fisicamente para o
trabalho, pois, organizaram um modo de vida em sociedade que os ajuda a viverem da
exploração do trabalho de outros seres humanos, depois de subjugados, e não do próprio
trabalho. Criaram leis que sustentam este modo de vida, bem como forjaram ideias que
justificam este estado das coisas, como forma de convencer aos demais seres humanos
que trabalham, que tudo isto é justo, bom e inevitável.
Esses outros indivíduos que vivem do próprio trabalho e trabalham para sustentar
os indivíduos que não precisam trabalhar para sobreviver, são aqueles que produzem e
criam tudo que existe no mundo humano, são os autênticos criadores de toda a riqueza e
produção humana (a classe trabalhadora), mas muito pouco dessa riqueza eles podem
desfrutar, pois, quase tudo o que é produzido é apropriado privadamente por aqueles que
não trabalham e nada produzem com as próprias mãos (os donos do trabalho). “Estes, na
1
Cf. Vida e Obra de Karl Marx em (p. 460 ss):
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_pedagogicos/caderno_filo.pdf
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Imagens do Tripalium:
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Esta situação irá provocar nos produtores diretos, nos trabalhadores, uma sensação
de estranhamento com o trabalho que executam, pois nada nele, ou quase nada, tem que
seja positivo e agradável. Realizam o seu trabalho por pura necessidade e obrigação, por
uma questão de sobrevivência. Perdeu-se completamente a noção do trabalho como a
atividade de satisfação de uma carência, como meio de produção da existência humana.
O ser humano que precisa trabalhar para sobreviver não vê satisfação no que faz, no seu
trabalho. Por isto ele irá buscar essa satisfação fora do trabalho.
E mais ainda:
Além do sofrimento que representa o ter que trabalhar para um outro por sua
sobrevivência e da sua família, o trabalho, nestas condições, o trabalho como exploração,
tem o aspecto de ser um trabalho alienado, o que se opõe ao trabalho como criação e
produção do novo, que faz existir o que não existia, mas feito por opção e não por
obrigação.
E mais ainda:
deste objeto. Se ele se relaciona com a sua própria atividade como uma
(atividade) não-livre, então ele se relaciona com ela como a atividade a
serviço de, sob o domínio, a violência e o jugo de um outro homem (o
capitalista) [...] ou como se queira nomear o senhor do trabalho.
(MARX, 2006, p. 86-87).
REFERÊNCIAS:
FRIGOTTO, Gaudêncio. “Trabalho” (p. 399-404). In: PEREIRA, Isabel Brasil; LIMA,
Júlio César França. Dicionário da educação profissional em saúde. Rio de Janeiro:
EPSJV, 2008. Disponível em:
<http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=Material&Tipo=8&Num=43>. Acesso
em: 18.07.2014.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I, vol. 01. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.
MARX, Karl. “Vida e obra” – (p. 460 ss). In: MARÇAL, Jairo (org.). Antologia de
Textos Filosóficos. Curitiba, PR: SEED-PR, 2009. Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_pedagogicos/caderno_
filo.pdf. Acesso em: 15.02.2019.