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TRABALHO, CONSUMO E FELICIDADE

O trabalho sempre fez parte da vida dos seres humanos. Foi através dele que as civilizações
conseguiram se desenvolver e alcançar o nível atual. O trabalho é qualquer atividade física ou intelectual,
realizada pelo ser humano, cujo objetivo é fazer, transformar ou obter algo para realização pessoal e
desenvolvimento econômico.

1 - Explique a relação entre trabalho, consumo e felicidade.

O conceito de trabalho é formado por elemento teológico que teve influência no ocidente greco-
romano-helenista chegando até os nossos dias. Como mostra o Livro do Gênesis (3, 17); depois de pecar o
homem foi amaldiçoado, ficando condenado a extrair seu sustento do suor, do cansaço, do labor de seu
trabalho: “comederes maledicta terra in opere tuo in laboribus comedes eam cunctis diebus vitae tuae”.
A concepção de trabalho sempre esteve predominantemente ligada a uma visão negativa. Na Bíblia,
Adão e Eva vivem felizes até que o pecado provoca sua expulsão do Paraíso e a condenação ao trabalho com
o “suor do seu rosto”. A Eva coube também o “trabalho” do parto.
O termo trabalho é originário do latim tripalium, que designa instrumento de tortura. Por extensão,
significa aquilo que fatiga ou provoca dor. Na etimologia da palavra trabalho, ou tripalium), do Latim , um
instrumento romano de tortura, espécie de tripé formado por três estacas cravadas no chão, onde eram
supliciados os escravos: “tri” (três) e “palus” (pau) - literalmente, “três paus”. Daí o verbo tripaliare (ou
trepaliare), que significava, inicialmente, torturar alguém no tripalium.
Será que trabalhar é uma condição essencial ao homem? Ou o homem só trabalha por necessidade e
pela ameaça de extinção se não trabalhar?

2 - Como era o trabalho na antiguidade?

Dizia Aristóteles, sobre o trabalho: “Todos aqueles que nada tem de melhor para nos oferecer que o
uso de seu corpo e dos seus membros são condenados pela natureza à escravidão. É melhor para eles servir
que serem abandonados a si próprios. Numa Palavra, é naturalmente escravo quem tem tão pouca alma e tão
poucos meios que deve resolver-se a depender de outrem […] O uso dos escravos e dos animais é
aproximadamente o mesmo” (RIBEIRO, L. p.196).
Na cultura grega, cabiam aos cidadãos a organização e o comando da polis. As funções dos escravos
eram restritas a atividades inferior de transformação da natureza em um bem determinado pelas camadas
superiores.
Em Roma, permaneceu a divisão entre a arte de governar e o trabalho braçal. Sendo o império
fundado na escravidão, o trabalho braçal era visto como degradante e destinados aos povos dominados, tidos
como seres inferiores.

3 - Quais as características do trabalho na economia de mercado?

No capitalismo o trabalho se transforma em valor de troca onde o homem vende sua força de trabalho
para realizar a reprodução social – consumir e produzir. É um trabalho alienado onde o trabalhador não se
reconhece naquilo que produz, não domina todo o processo de produção. O trabalhador não é o dono dos
meios de produção e de trabalho, estes pertencem ao capitalista, que se baseia no lucro e na mais-valia, ou
seja, no excedente do trabalho humano, que não é repassado ao trabalhador.
Ocorreu a separação entre o trabalhador e a propriedade dos meios de produção. Desse modo
podemos afirmar que a essência do sistema capitalista se encontra na separação entre o capital e o trabalho.
No século XVII, Pascal inventa a primeira máquina de calcular; Torricelli constrói o barômetro;
aparece o tear mecânico. A máquina exerce tal fascínio sobre a mentalidade do homem moderno que
Descartes explica o comportamento dos animais como se fossem máquinas, e vale-se do mecanismo do
relógio para explicar o modelo característico do universo (Deus seria o grande relojoeiro!).
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Para Kant, o homem é o único animal voltado ao trabalho. É necessária muita preparação para
conseguir desfrutar do que é necessário à sua conservação. Mesmo que todas as condições existissem para que
não houvesse necessidade de o homem trabalhar, este precisa de ocupações, ainda que lhe sejam penosas. A
ociosidade pode ser ainda um maior tormento para os homens.
Michel Foucault tem outra perspectiva: em todos os momentos da história, a humanidade só trabalha
perante a ameaça de morte, qualquer população que não encontre novos recursos está voltada à extinção e,
inversamente, à medida que os homens se multiplicam, empreendem trabalhos mais numerosos, mais difíceis
e menos fecundos. O trabalho deve crescer de intensidade quanto maior for a ameaça de morte e, por todos os
meios, terá de se tornar mais rentável, quanto menos acesso as subsistências existirem.
Para Marx, o trabalho é o prolongamento da atividade natural do homem, mais tarde conclui que a
força de trabalho é uma mercadoria e que, para viver, o proletário vende ao capital.
Segundo Marx, o trabalho denuncia uma exploração econômica e uma situação em que o homem não
se revê no seu trabalho mecanizado e repetitivo, ou seja, não obtém a realização profissional que deveria
obter, referindo-se a uma essência do homem que seria suposto o trabalho completar.

4 - O que são civilização e barbárie?

Aristóteles afirmava que tudo o que o homem precisava para ter uma vida cômoda já havia sido
descoberto. Encontrava-se materialmente realizado e só lhe restava dedicar-se à elevação do espírito.
É comum ouvirmos que a realização significa “vencer na vida”. E esse “vencer” é basicamente
acumular bens materiais e ostentar poder, ou seja, só é “vencedor” aquele que possui bens materiais de última
moda e que frequentam lugares badalados. Assim, na economia de mercado o trabalhador só se realiza
consumindo.
A sociedade de consumo se caracteriza por ser organizada predominantemente pelas relações de
consumo e valores associados, condicionando a produção de bens e serviços. O consumidor, tem como ideal
de vida preponderante sua potência de consumo, e se realiza consumindo. O sucesso social e a felicidade
pessoal são identificados pelo nível de consumo que o indivíduo tem. O “somos o que temos” é elevado à
condição de ideal social: Se não temos, não somos. O potencial de consumo determina o grau de inclusão ou
de exclusão social, de felicidade ou de infelicidade. A sociedade do espetáculo (Debord, 1997), que decorre
desse equacionamento, faz da manipulação da aparência o trampolim social para o ter: o excluído sonha com
ser celebridade, e quem já é não vive sem ser, para não perder o status. É a realização convicta do somos o que
consumimos. Subverte-se a equação shakespeariana – “ser ou não ser”, transformando a questão existencial
vital em ter ou não ser, isto é, consumir ou não ser, associado a um jogo de espelhos de aparentar ser.
Antigamente o objeto de comércio era o intermediário na relação entre seres humanos. O esquema da
relação era pessoa-mercadoria-pessoa. Atualmente esse esquema foi pervertido para mercadoria-pessoa-
mercadoria. Se chego à uma festa de Mercedes meu valor é superior ao de quem vai em carro popular. Isso
vale para o terno que uso ou para o anel que trago no dedo. Note que é o produto, revestido de “magia”, que
me imprime valor, aumentando a minha cotação “no mercado das relações sociais”. Se Descartes estivesse
vivo hoje declararia: “Consumo, logo existo”. Para os sacerdotes do mercado, fora do mercado não há
salvação...
Este consumismo produz a barbárie, em quem as relações sociais se transformam em um ringue de
boxe – vence o mais forte ou o mais esperto.
Para a maioria da população, a possibilidade de vencer de acordo com as regras do mercado
consumidor é uma ilusão construída e incentivada pela sociedade de consumo, dita agora de globalizada.
Tanto para o pensador polonês Adam Schaff e para Aristóteles, o homem já conquistou tudo o que
precisa para ser feliz. Mas, porém, a pergunta do poeta japonês Toshitsugu Yagi nos revela o outro lado da
mesma moeda: “Será que os trabalhadores assalariados do Japão de hoje não vivem uma vida pior do que a
dos escravos antigos?
Agora, então vamos aplicar esta pergunta ao Brasil, e vejamos a resposta do sociólogo Herbert de
Souza: “O Brasil tem uma indústria com duas caras – e a mesma moeda. Moderna na tecnologia, atrasada nas
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relações de trabalho. Sua classe média espreme-se entre a ideologia do senhor e as agruras dos pobres. Teme o
destino de um e respeita o poder de outro. Os senhores viraram empresários, mas continuam a viver em novas
versões da casa-grande. Os escravos viraram trabalhadores, mas continuam morando na senzala, em
dormitórios feitos para isolar o pobre depois do serviço” (ARANHA, p. 96).
Na sociedade moderna, o trabalho, da mesma forma que é realização, ele também nos rouba nossa
liberdade e a nossa vontade própria. Confinados, nos transforma, alienando o indivíduo. “...ao mesmo tempo
que o trabalho humaniza a natureza, desumaniza o homem” (Octavio Paz).
O conflito entre trabalho e realização dá-se ao fato de o homem ter organizado a sociedade de tal
modo que, para a maioria dos indivíduos, o trabalho que fazem não são projetos seus, como também não são
seus os frutos dos esforços. Mas por que trabalho e realização perecem viver um eterno conflito? Se a
realização do homem se encontra no trabalho, por que ele necessita ser educado para o trabalho? Por que é
necessário convencê-lo muitas vezes até pela força a necessidade do trabalho?
Adam Smith, distingue o valor de uso do valor de troca. O primeiro designa a utilidade do produto
ou a satisfação que se encontra no seu consumo ou na sua utilização. O segundo refere-se ao destino comercial
da mercadoria enquanto destinada a ser trocada num mercado. É o valor de troca que dita o preço das
mercadorias. Numa perspectiva marxista, o trabalho tem sempre um valor inferior àquele pelo qual é
remunerado.

5 - Por que o consumismo gera uma felicidade maquiada?

Através de meios de comunicação como rádio, televisão, jornais, revistas, outdoors, internet, entre
outros, a mídia tem realizado o seu trabalho de convencer as pessoas a consumir. Para isso utiliza-se de
artistas famosos que incitam o público a comprar os produtos. O homem cresce vivenciando esse mundo
manipulado pela mídia, e acreditando que a felicidade possa ser encontrada quando se adquire determinada
marca de roupa, calçado, carro, joia, celular, entre outros. Divulga-se a ideia da felicidade comprada. O papel
da propaganda é nos deixar infelizes com que temos e criar o desejo de possuir o novo para ser feliz.
O indivíduo que cresce nesse ambiente consumista dificilmente aprende valores subjetivos que o
edificam como ser pensante e emotivo. Decorre disso a dificuldade de se preencher o vazio interior, o que é
buscado no consumo de bens concretos e superficiais. Tais bens são dispensáveis à felicidade? Difícil saber.
Eles trazem a realização pessoal buscada pelo homem?
Jonh Locke, disse que, ao vivermos em sociedade, somos de certa forma obrigados a nos moldar a
seus contornos. Vivemos em uma sociedade capitalista, uma sociedade em que o consumo desenfreado parece
ser a cada dia mais comum, seguindo uma lógica como: “compro, logo existo”. As pessoas perderam sua
individualidade, são agora simplesmente consumidores.
Agora, na era da informática, esse consumo foi até facilitado, por meio da internet. No cotidiano, o
consumismo é estimulado e vendido como felicidade.

Questionário

1) Qual o conceito de trabalho para Kant?


2) Como a mídia formada pela televisão, o rádio e a Internet manipulam e influenciam o consumo no Brasil?
3) Como é organizada a indústria brasileira segundo o sociólogo Herbert de Souza?
4) É possível alcançar a realização pessoal e profissional na sociedade só consumindo?
5) Qual a relação entre a educação, o conhecimento e a felicidade?

Fonte:
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http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=334#Topo

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