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PROFo: MORAIS

TEMÁTICA:
3a SÉRIE – ENSINO MÉDIO BIMESTRE: PRIMEIRO

1 – CONFLITO ENTRE TRABALHO E REALIZAÇÃO


O ser humano durante toda sua vida persegue um único
objetivo: ser feliz, sentir-se realizado. Mas a realização humana é
algo desde sempre incompleto, é um eterno vir-a-ser.
É essa constante busca de realização que permite ao ser
humano transformar o seu meio natural e, com isso, fazer história.
Assim, toda a vida em sociedade, assim como o progresso e o
retrocesso são resultado dessa transformação que ele coloca em
prática sempre buscando a “felicidade”.
É nessa ação de transformar a realidade à sua volta que o ser humano encontra momentos de
satisfação, de realização de seus projetos, ainda que, paralelamente a isso, esteja gerando novos desejos e
ansiedades. A realização de um sonho, de um projeto é um estímulo para o início de um outro. E toda
realização humana se faz por meio do trabalho. Trabalho esse entendido como ação transformadora
(material ou intelectual) do ser humano, realizada na natureza e na
sociedade em que vive.
Mas apesar de a realização (a felicidade) somente vir por meio do
trabalho, há uma enorme distância entre realização e trabalho. Se analisarmos
a etimologia da palavra trabalho, descobriremos que ela tem o sentido de
tortura. Trabalho tem origem no vocábulo latino tripalium, um antigo
aparelho de tortura formado por três paus que servia tanto para castigar
escravos quanto para imobilizar animais difíceis de ferrar.
O conflito gerado entre trabalho e realização deve-se, além de ser
associado à tortura e ao sofrimento, ao fato de que na sociedade os trabalhos
realizados pelos trabalhadores não são projetos seus e nem mesmo são seus os
frutos de seus esforços. Longe de ser sinônimo de criação e de transformação, o trabalho que desenvolvem
torna-se opressivo e estafante.
Mas será que o ser humano está, nesse sentido, eternamente infeliz? A resposta é não, porque o ser
humano, mesmo quando se sente impotente, é inventivo e produz seus espaços de liberdade e criação, onde
encontra um grau de felicidade. É dessa maneira que se explica a existência de espaços próprios desse ou
daquele segmento social, que são verdadeiros guetos de resistência que possibilitam o prazer.

2 – HISTÓRIA DO TRABALHO
O trabalho na antiguidade greco-romana
“Todos aqueles que nada têm de melhor para nos oferecer que o uso do seu
corpo e dos seus membros são condenados pela natureza à escravidão. É
melhor para eles servir que serem abandonados a si próprios.” (Aristóteles)

Para o filósofo Aristóteles a diferença social entre os homens era natural, não
havendo contradição alguma na divisão que se impunha entre o trabalho manual e as
atividades intelectuais e políticas.
Na cultura grega, cabia aos cidadãos a organização e o comando da polis. Ao
cidadão era proibido o trabalho braçal, já que ele deveria ter o tempo livre – ócio–
para se dedicar à reflexão e ao exercício da cidadania e do bem-governar.
As funções dos escravos, entretanto, eram restritas à atividade inferior de
transformação da natureza em um bem determinado pela vontade das camadas
superiores. Por ser rotineiro e não exigir capacidade reflexiva, o trabalho manual era

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considerado atividade degradante (indigna), relegada a escravos e não-cidadãos.
Em Roma, permaneceu a divisão entre a arte de governar e o trabalho braçal. Sendo o império
fundado na escravidão, o trabalho braçal era visto como degradante e destinado aos povos dominados, tidos
como seres inferiores. Trabalhar, para o cidadão romano, era negar o ócio (negotium), negar o tempo livre e
o lazer.

O trabalho na Idade Média


A Idade Média ocidental-cristã não alterou substancialmente o conceito
de trabalho. Organizada com base numa economia de subsistência, grande
parcela da população, apesar de livre em relação aos senhores proprietários,
encontrava-se presa à terra, em luta pela sobrevivência.
O trabalho era visto como meio de subsistência, de disciplina do corpo
e de purificação da mente. Assim, servia de instrumento de dominação social
e de condenação a qualquer rebeldia à ordem instituída. Se entre os gregos a
escravidão era justificada como algo natural, na Idade Média cristã a servidão
era justificada pela ordem divina.
A ociosidade entre as classes senhoriais, assim como ocorrera na Antiguidade greco-romana, não era
sinônimo de preguiça, mas de abstenção às atividades manuais para se dedicar a funções mais nobres, como
a política, a guerra, a caça esportiva, o sacerdócio, enfim, ao exercício do poder.

A ética capitalista do trabalho


É da época do Renascimento a crença de que o trabalho é inerente ao ser
humano, isto é, faz parte da essência humana o desejo e a necessidade do
trabalho.
O fim da servidão medieval determinou ao homem a liberdade de
conquistar, com o suor de seu próprio rosto, o reconhecimento como cidadão. A
cidadania, a partir de agora, não era mais um privilégio natural ou “vontade
divina”. O trabalho era a forma legítima de conquistar a cidadania.
Nicolau Maquiavel afirmava que os seres humanos trabalham por
necessidade ou por escolha, afirmando haver mais virtude no trabalho realizado
por escolha. Maquiavel acreditava que o trabalho é capaz de promover a virtude
e a realização pessoal.
Uma outra inovação trazida pela nova ética introduzida pelo capitalismo, é
a de que a riqueza alcançada por meio do trabalho não é mais vista como pecado,
mas como realização da vontade divina. Com isso o trabalho deixa de existir
apenas para atender às necessidades humanas básicas e passa a ter como finalidade principal a geração de
riquezas, agora vista como sinônimo de realização e felicidade.
Martinho Lutero condenava o enriquecimento à custa dos outros, mas pregava a obediência e
conformação à situação de cada um na sociedade. Para Lutero o trabalho era uma forma de purificação e
adquiria sucesso na profissão aqueles que eram dignos da Providência Divina. O enriquecimento, nesse
sentido, era resultado do esforço pessoal e da graça de Deus.
Por conseqüência, a ociosidade (moleza, preguiça) passou a ser sinônimo de negação de Deus. Só se
mostrava a verdadeira fé pelo trabalho incessante e produtivo.
Adam Smith afirmava que a riqueza de uma nação dependia essencialmente da produtividade baseada
na divisão do trabalho. O que antes era executado por um único trabalhador, agora é decomposta e
executada por diversos trabalhadores, que se especializam em tarefas específicas e complementares.
O uso do tempo que não fosse de forma útil e produtiva, de acordo com o ritmo imposto pela fábrica,
passou a ser sinônimo de preguiça e degeneração (diminuição). Só o trabalho produtivo, fundado na máxima
utilização do tempo, dignificava o homem.

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ATIVIDADE 1

1) Que relação podemos fazer entre trabalho e realização humana ?


2) Explique baseado no texto por que se diz que entre Trabalho e Realização há um conflito constante?
3) “O pensar requer o ócio”. Analise essa frase de Aristóteles de acordo com o contexto da sociedade grega
antiga.
4) Comparando a sociedade grega antiga e a sociedade medieval, em que aspectos elas se diferenciam?
5) Analise e diferencie as sociedades grega, medieval e moderna (capitalista), no modo como lidam com o
trabalho.
6) Releia o texto acima: “A ética capitalista do trabalho” e sintetize (resuma) sua ideia principal.

3 – O MUNDO MODERNO E O VALOR DADO AO TRABALHO


“Cada homem vive do seu trabalho, e o salário que recebe
deve pelo menos ser suficiente para mantê-lo. (...)”
Adam Smith

Fornecer ao trabalhador o mínimo necessário para sobreviver e procriar


novos operários. Assim como para os escravos da Antiguidade e os servos da
Idade Média, a realização que os trabalhadores assalariados deveriam esperar de
seus esforços na produção das fábricas era a de poder sobreviver e procriar.
Do mesmo modo como na sociedade greco-romana, os prazeres do espírito
ficam reservados à elite, e ao trabalhador, em geral, resta o exercício do trabalho
braçal.
O mundo moderno proporcionou exatamente o contrário daquilo que os
trabalhadores sempre desejaram. A máquina, que seria a libertadora do homem de
seu esforço físico, na verdade serviu para aumentar a produtividade, impor um ritmo e uma disciplina do
tempo e do esforço.
Taylorismo e Fordismo: domesticação do trabalhador
TAYLORISMO
Os princípios de produtividade pensados por Frederick Taylor,
pretendem ser um método científico de racionalizar a produção através da
economia de tempo e da minimização de gestos e atitudes improdutivas.
De acordo com Taylor, a produção dependia muito da boa vontade do
trabalhador. Como só trabalhava porque era obrigado, o trabalhador,
sempre que não estava sob o olhar do patrão ou de seu supervisor, fazia
“corpo mole” e “matava o serviço”.
Para aumentar a produção e garantir ao capitalista a expansão de seu
mercado e de seus lucros, era preciso quebrar a prática da indolência (negligência) e da preguiça entre os
trabalhadores. Era preciso aperfeiçoar a divisão entre o trabalho intelectual (planeja, interpreta e dirige) e o
trabalho manual (não deve pensar, mas obedecer e produzir). A partir
disso, criar o “operário bovino”: aquele que é forte, dócil, sabe obedecer a
ordens e não questiona a autoridade de seu superior.
FORDISMO
Criado por Henry Ford, o fordismo foi uma continuidade do
taylorismo. A principal inovação foi a linha de montagem, que consistia
na inclusão de uma esteira rolante que transportava as peças de
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montagem. Impedido de se movimentar, o trabalhador se confundia com a própria máquina e era obrigado a
manter um ritmo-padrão de tempo e produção. O método de Henry Ford exigia apenas atividade motora e
dispensava qualquer possibilidade de iniciativa própria.

ATIVIDADE 2

1) Segundo Adam Smith, qual é a verdadeira utilidade do trabalho para o operário?


2) Como você definiria o taylorismo?
3) Segundo sua opinião, qual o principal objetivo das teorias de Henry Ford (fordismo) e Frederick Taylor
(taylorismo)?
4) No mundo atual (século XXI), ainda encontramos “operários bovinos”? Como eles são chamados nos
dias atuais?

4 – TRABALHO E ALIENAÇÃO
“A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção
direta com a valorização do mundo das coisas.”
Karl Marx

O trabalho é criado com a intenção de tornar o ser humano mais


independente e mais satisfeito com as conquistas realizadas com seu esforço
e dedicação. Porém, a partir da revolução industrial e da evolução do
capitalismo mundialmente, o trabalho tem sido motivo de insatisfação e
dependência do ser humano em relação ao seu trabalho.
O trabalho que por tanto tempo garantiu a independência, a satisfação e
a manipulação (transformação) do meio natural e social pelo sujeito do
trabalho, agora vem roubando (limitando ou mesmo inviabilizando) a
liberdade e a vontade própria de cada indivíduo.
Como trabalhador (operário nas fábricas), o indivíduo não possui
vontade própria sobre o que e como produzir, esse poder de decisão não lhe
pertence, como também não pertence o fruto de seu trabalho. Em seu local de
trabalho, o trabalhador não decide seu ritmo de trabalho, seu salário, suas
condições de moradia, de alimentação, seu tempo de lazer etc. Transforma-se, portanto, no que Marx
chamou de sujeito alienado (alheio).
Sujeito alienado, para Marx, é aquele trabalhador que, diante daquele trabalho que realiza, torna-se
muito mais um objeto usado para fabricar mercadorias que gerarão riqueza para os capitalistas. O
trabalhador alienado tanto sente-se como objeto, quanto de fato é tratado como tal. Ele funciona nas fábricas
como se fosse mais uma peça de uma engrenagem de produção: deve agir como for instruído e produzir
tanto quanto for exigido; nada é seu, nem o que usa para produzir nem o produto de seu trabalho – tudo lhe
é alheio, isto é, tudo que produz pertence a outros.
O valor do trabalho humano, a partir do
capitalismo industrial, passa a ser determinado
não pelo trabalhador, mas pela própria
mercadoria que ele produz. Nesse sentido a
mercadoria é mais importante que o
trabalhador.
A alienação, diria Marx, é o processo de
coisificação do ser humano através do trabalho
que ele mesmo realiza: a mercadoria, que era
uma coisa sem vida, sem importância, ganha

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vida e passa a determinar o valor do seu próprio criador, o operário.
Quando o trabalhador se vê de fato como coisa nas mãos do mercado,
ele percebe que para se dar bem nesse jogo de interesses não é possível ser, a
todo o momento, ético e sociável. Como no jogo de interesses do mercado não
há valores, sobretudo morais e culturais, o indivíduo vai perdendo sua
identidade e, consequentemente, sua vontade, seus desejos e ansiedade.

ATIVIDADE 3

1) Segundo o texto, por qual razão o trabalho surgiu?

2) Por qual motivo o trabalho não cumpre mais sua função original, a função a ele atribuída quando foi
criado?

3) De acordo com a leitura do texto acima, o que podemos entender por alienação?

4) Explique o que é um trabalhador alienado.

5) No jogo de mercado da atualidade, o que precisamos fazer para alcançarmos sucesso profissional?

5 – A REALIZAÇÃO NO MERCADO CONSUMIDOR


Em todos os períodos da História humana a realização sempre esteve ligada à satisfação material. Nas
economias de mercado a realização se reduz, geralmente, ao consumo de bens materiais ou para ostentar
aparência de poder, ou par proporcionar mais lazer (diversão).
É muito comum ouvirmos e pensarmos que realização
significa “vencer na vida”, entendendo “vencer” como acúmulo de
bens materiais e ostentação de poder. É vista como “pessoa de
sucesso” aquela que possui carro do ano, veste-se com as melhores
grifes e, de preferência, conheça pessoas “importantes” e frequente
lugares badalados.
A obsessão humana por vencer tornou-se nos últimos tempos
uma doença social. Ela destrói qualquer ética da convivência, nela
a vontade individual de vencer predomina, não importando os
meios usados para realizá-la. “Vence o mais forte ou o mais
esperto.”
Essa vitória oferecida pelo mercado não é uma vitória para
todos. As condições de vida e de acesso aos bens não é oferecida a
todos de maneira igual, gerando, assim um processo de exclusão.
Mas, ao lado dessa realidade prevalece a idéia de que todos podem
vencer de forma igual, basta se esforçar e ser competente, respeitando as regras do jogo. Está mais que
provado que através do respeito às regras não é possível a todos vencerem!

6 – OS CAMINHOS POSSÍVEIS PARA SE TORNAR REALIZADO

Como será que vivem hoje os trabalhadores assalariados no Brasil? O sociólogo Herbert de Souza
posiciona-se assim sobre esse assunto:
“O Brasil tem uma indústria com duas caras – e a mesma moeda. Moderna na tecnologia, atrasada nas
relações de trabalho. Sua classe média espreme-se entre a ideologia do senhor e as agruras [dificuldades] dos
pobres. Teme o destino de um e respeita o poder do outro.”

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“A industrialização brasileira não encurtou o abismo entre pobres e ricos.
Os senhores viraram empresários, mas continuam a viver em novas versões da
casa-grande. Os escravos viraram trabalhadores, mas continuam morando na
senzala, em dormitórios feitos para isolar o pobre depois do serviço.”
Diante dessa realidade até aqui posta, resta-nos não nos conformar com
o “jogo de mercado”. O ser humano durante toda sua história na Terra tem
mostrado que é um ser de inovação e resistência às dificuldades que a
natureza lhe impõe. Se o ser humano deixasse de lutar pela vida e por seus
objetivos, poderíamos decretar o fim da história humana! As revoluções,
revoltas populares, as passeatas, as mobilizações, os movimentos (hippies,
tropicalismo, caras-pintadas) mostram que o ser humano ainda não se
entregou e está ainda disposto a lutar por melhorias nas relações e condições de trabalho.
Uma relação de trabalho é dignificante (enobrecedora, honrada) quando possibilita ao homem
desenvolver de maneira autônoma formas de cultura e de lazer; quando lhe permite morar com decência e
educar seus filhos para a cidadania, e não para o mercado de trabalho; enfim, quando não desumaniza os
sujeitos e lhes dá oportunidade para conquistar a cidadania plena. Toda a sociedade só tem a ganhar com
isso: diminuem a violência, as doenças, as angústias.
E por que ainda não se colocou em prática essa concepção de
organização social? Por causa do egoísmo humano que sempre quer mais e
mais lucros, e pela impotência das massas, decorrente do processo de
alienação.
O rompimento desse impasse constitui um processo político de luta,
em que a igualdade social não será concedida, mas conquistada. Sabemos
que a felicidade plena (absoluta) é impossível, mas é possível viver com
mais dignidade e mais humanidade. Isso requer que haja entre todos os seres
humanos muito mais solidariedade (simpatia, ternura, cooperação).
Romper com o reinado da alienação e resgatar os princípios do
homem-cidadão, esse é o grande desafio. Transformar o debate sobre a
dignidade e a valorização do trabalho humano em uma questão política, pois
interessa a todos aqueles que não somente vivem do trabalho, mas com-
vivem em sociedade.

ATIVIDADE 4

1) Na sociedade na qual vivemos (uma sociedade de consumo), o que quer dizer “vencer na vida”? Você
concorda com essa visão? Justifique sua opinião.

2) O que as pessoas são capazes de fazer para alcançarem o sucesso (vencer na vida)? O que você pensa a
respeito disso?

3) Leia a seguinte frase: “O sucesso prometido pelo mercado não é um sucesso que todos podem
alcançar”. Analise-a e diga o que ela quer dizer com isso. Qual sua opinião sobre esse assunto?

4) Segundo Herbert de Souza, qual é a situação atual dos trabalhadores e dos patrões no Brasil?

5) Acredita-se, popularmente, que “o trabalho dignifica o homem”, mas o que é dignidade no trabalho
segundo o texto?

6) De acordo com o texto, como é possível vencer a alienação e resgatar a dignidade e a valorização do
trabalho humano? E você, concorda ou não com a afirmação do texto? Comente sua maneira de pensar.

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LENDO E REFLETINDO A REALIDADE

A globalização e a crise do social

Haroldo Abreu

O atual padrão mundial de acumulação e desenvolvimento, assentado no


domínio das informações, do saber e das novas tecnologias - reduz a
oferta de empregos produtivos e reforça as tendências de exclusão de uma
parcela cada vez maior de seres humanos das condições e dos frutos do
desenvolvimento, agravando o desemprego, a miséria e as diversas
formas de alienação. Ao valorizar a competição que favorece o mais
poderoso e/ou mais apto (e nesse sentido revalorizando a desigualdade
em detrimento da solidariedade, da justiça e da equidade), a
reestruturação em curso vem estimulando novos e velhos preconceitos
sociais, religiosos, nacionais, étnicos.
O desenvolvimento capitalista - universalizador e diferenciador da
humanidade - é hoje soberano e reina em todos os quadrantes do planeta praticamente sem concorrência.
A globalização da sociedade humana se consuma sob a égide desse modo de produção e de seu estilo de
vida social. O planeta configura-se hoje como um espaço social unificado e desigualmente dividido. A
divisão do trabalho e da riqueza entre norte e sul articula-se com as profundas diferenças intra-regionais e
nacionais. Os indicadores de miséria e exclusão social são assustadores na Ásia, na África e na América
Latina. Mas também estão presentes, embora em outra escala, nas sociedades de capitalismo avançado,
de consumo de massa e welfare state.
Situação, aliás, que vem se agravando nas duas últimas décadas, marcadas
por períodos de recessão, endividamento internacional, concentração da
riqueza, reestruturação produtiva e liberalização indiscriminada dos mercados.
O desemprego e o subemprego, estruturalmente críticos e endêmicos no
chamado 'Terceiro Mundo', crescem em proporções ameaçadoras à
estabilidade sócio-política nas nações capitalistas. A OCDE (Organização de
Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) admite a existência de mais de
35 milhões de desempregados entre seus 24 países membros; outros tantos
perderam emprego com a reestruturação forçada no antigo bloco soviético;
enquanto mais da metade da população economicamente ativa na África, Ásia e América Latina situa-se
fora do mercado formal de trabalho e, assim, do acesso aos meios de desenvolvimento e de exercício dos
direitos de cidadania.
No caso brasileiro, esta crise/esgotamento do modelo de regulação do Estado
tornou-se ainda mais explícita com a exigência da sociedade civil e as
reivindicações de diferentes categorias e movimentos sociais por direitos de
cidadania. As instituições estatais-corporativas de controle e coerção perderam
progressivamente a sua eficácia, deixando, assim, de serem funcionais à
reprodução da ordem.
Por tudo isso, parece razoável supor que a crise do Estado brasileiro se insere
em uma crise dos Estados nacionais de suas formas objetivas de regulação.
Esta crise torna-se mais ampla e complexa quando a associamos à
desarticulação das entidades coletivas das classes subalternas, enquanto
atores sociais e políticos, e à restruturação da economia mundial e das relações internacionais.

(IN: Proposta: experiências em educação popular. Rio de Janeiro, ano 23, n.64, mar.1995. p.13-6)

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