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APOSTILA DE FILOSOFIA – 2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO – PROF. JOSSIVALDO A.

DE MORAIS

PROFo: MORAIS
TEMÁTICA:
a
2 SÉRIE – ENSINO MÉDIO 3o BIMESTRE

1 – O QUE É IDEOLOGIA: VISÃO GERAL


“Uma vida não questionada não merece ser vivida.”
PLATÃO

Sentido amplo
1) Conjunto de ideias, concepções, opiniões ou crenças
sobre determinado assunto sujeito a discussão e que visa
um determinado objetivo;
2) Sistema de crenças de uma classe ou grupo social que
inclui em sua concepção valores, ideias e projetos de
grupos ou classes sociais específicas.

Sentido restrito
Gramsci e a visão positiva sobre ideologia
Antonio Gramsci acredita que as ideologias são historicamente necessárias porque organizam as
massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência
de sua posição, lutam etc.
Portanto, para Gramsci, a ideologia, em um ponto de vista positivo, tem a função de atuar como
cimento (aquilo que une e dá solidez) da estrutura social. Quando a ideologia for incorporada ao
senso comum, ela ajudará a estabelecer o consenso, conferindo hegemonia a determinada classe, a
qual passará a ser dominante.

Karl Marx e a visão negativa sobre ideologia


Segundo a concepção marxista, a ideologia adquire um sentido
negativo quando passa a ser usada como instrumento de dominação.
Isso quer dizer que a ideologia tem papel importantíssimo nos jogos de
poder e na manutenção dos privilégios que moldam o modo de pensar e
agir dos indivíduos da sociedade.
Ideologia é um conjunto de ideias e representações articuladas
coerentemente sobre as coisas, capaz de provocar ação. Tem origem nas
relações históricas de produção material (relações de trabalho) e seu
objetivo é justificar a ordem social estabelecida.

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2 – A LÓGICA DA IDEOLOGIA
"Os homens nascem ignorantes mas são necessários anos de escolaridade para torná-los estúpidos."
GEORGE BERNARD SHAW

Frases incorporadas à cultura do povo, como por exemplo: “O trabalho é necessário”, “O


trabalhador é preguiçoso”; “Todos ganham com trabalho”;
“Quem não trabalha não come”; “O trabalho engrandece o
homem” – afetam a prática e a ideia de trabalho em nossa
sociedade. Esse conteúdo ideológico resulta em controle
do processo de trabalho através de operações de vigilância
sobre o trabalhador, sobre sua produtividade, seu ritmo de
trabalho e até sobre suas necessidades primárias básicas
(comer, dormir, ir ao banheiro etc.).
Quando o trabalho
não proporciona uma vida
digna ao trabalhador, vale
perguntar: qual trabalho engrandece o homem mesmo? O que
induz os homens a aceitarem essa realidade e submeter-se à sua
dinâmica, fazendo-os parecerem mais objetos que sujeitos das
atividades? O que leva o cidadão brasileiro a não demonstrar sua
revolta, quando o equivalente a milhões e milhões de dólares é
subtraído dos cofres públicos e utilizado para atender a interesses e
caprichos particulares?
Há uma resposta que dá fundamento a essa indagação e indignação: a ideologia – um não saber,
fruto da falta de informações completas e verdadeiras, que nos leva a identificar o social com uma
realidade pasteurizada (modificada e empobrecida), livre da dominação, dos conflitos e das
contradições.
Essa é a lógica da ideologia: se, por um lado, ela esconde e
disfarça a realidade dos fatos, por outro, pode, também, revelar as
armadilhas da dominação social.
A ideologia não se impõe de modo absoluto, pois em seu modo
de agir ela procura provocar a nossa capacidade crítica. Porém o que
ocorre é que inúmeras vezes preferimos permanecer alheios a certas
verdades e problemas sociais.
É preciso aprender a linguagem
da ideologia e aprender a sua lógica,
pois a ideologia reúne ideia e prática
em uma lógica dissimuladora (que
disfarça e oculta certas verdades e
informações), e, para enfrentá-la, é preciso desenvolver o espírito
crítico.

FONTE:

ARANHA, Maria Lúcia de A.; MARTINS, Maria Helena P. Filosofando – introdução à filosofia. 3. ed. revista. São Paulo:
Moderna, 2007. p. 61-63.
CORDI, Cassiano et all. Para filosofar. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2002. p. 161-163.
MARCONDES FILHO, Ciro. Ideologia. 8. ed., São Paulo: Global, 1994. (Coleção Para Entender: 01)
TOMAZI, Nelson Dácio (coord.). Iniciação à sociologia. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Atual, 2005. p. 180-183.

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ATIVIDADE 1

1) Usando unicamente suas palavras, procure definir o que é ideologia.


2) Para que serve a ideologia?
3) A ideologia serve aos interesses de qual grupo social?
4) O que está por trás de um discurso ideológico?
5) É possível fugirmos da ideologia? Há algum lugar em que possamos ficar sem que sejamos
abordados por um discurso ideológico?
6) O que precisamos desenvolver para entendermos a ideologia e não sermos manipulados
ingenuamente?

LENDO E REFLETINDO A REALIDADE


Nada como a instrução!
Moacyr Scliar

O senhor não me arranja um trocado? Perguntou o esfarrapado garoto com um olhar súplice.
Outro daria o dinheiro ou seguiria adiante. Não ele. Não perderia aquela oportunidade de ensinar a
um indigente uma lição preciosa:
Não, jovem – respondeu -, não vou lhe dar dinheiro. Vou lhe
transmitir um ensinamento. Olhe para você, olhe para mim. Você é pobre,
você anda descalço, você decerto não tem o que comer. Eu estou bem
vestido, moro bem, como bem. Você deve estar achando que isso é obra do
destino. Pois não é. Sabe qual é a diferença entre nós, filho? O estudo. As
estatísticas estão aí: Pobre estuda cinco anos menos do que o rico.
O menino o olhava assombrado.
Ele continuou:
Pessoas como eu estudaram mais do que as pessoas de sua gente. Em
média, cinco anos mais. Ou seja: passamos cinco anos a mais em cima dos livros. Cinco anos sem
nos divertir, cinco anos queimando pestanas, cinco anos sofrendo na véspera dos exames. E sabe
por que, filho? Porque queríamos aprender. Aprender coisas como o teorema de Pitágoras. Você
sabe o que é o teorema de Pitágoras? Não, seguramente você não
sabe o que é o teorema de Pitágoras, Se você soubesse, eu não só lhe
daria um trocado, eu lhe daria muito dinheiro, como homenagem a
seu conhecimento. Mas você não sabe o que é o teorema de
Pitágoras, sabe?
Não. - disse o menino. E virando as costas foi embora.
Com o que ele ficou muito ofendido. O rapaz simplesmente não
queria saber nada acerca do teorema de Pitágoras. Aliás- como era
mesmo, o tal teorema? Era algo como o quadrado da hipotenusa é
igual à soma dos quadrados dos catetos. Ou: o quadrado do cateto é igual à soma dos quadrados da
hipotenusa. Ou ainda, a hipotenusa dos quadrados é a soma dos catetos quadrados. Enfim, algo que
só aqueles que têm cinco anos a mais de estudo conhecem.

In: CORDI, Cassiano. Para filosofar. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2002. p. 167.

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3 – O DISCURSO IDEOLÓGICO
“Acho que para encontrar as verdades, você deve primeiro descobrir as mentiras.”
TUPAC AMARU SHAKUR

A ideologia surge das instituições em geral – escola, família, Estado, religião, empresas,
associações etc. –, as quais estabelecem normas para as relações sociais.
Por meio de agentes definidos – políticos, professores, patrões, pais,
padres e pastores etc. -, a ideologia manifesta seu discurso a funcionários,
alunos, empresários, filhos e leigos (fiéis).
A ideologia fala sobre as coisas e as situações, sempre fazendo
interpretações. Cada vez mais nos
acostumamos a receber de pessoas, grupos e
meios de comunicação informações prontas
(interpretadas), maneiras de agir já
elaboradas. Isso nos poupa tempo, mas, nos
leva a seguir ideias e praticar ações que não
foram planejadas por nós!
Vivemos envolvidos por ideologias e quase nunca nos damos
conta disso. Ora aceitamos, ora resistimos em colocá-la em prática,
mas não as identificamos como tais.
A ideologia está presente no nosso dia-
a-dia justificando as nossas ações e as exigências dos grupos ou classes.
Por isso é muito comum ouvirmos expressões do tipo: “Você sabe com
quem está falando?” ou “É assim mesmo, esse país não tem jeito!” ou
ainda: É...a vida é assim mesmo, uns nascem pra perder, outros pra
ganhar...”
A ideologia é isso: um processo muitas
vezes contraditório de manipulação da
realidade. Ela nunca explica tudo, pretende
tão-somente que nos contentemos com meias-verdades. E se fala a
verdade, nós nem percebemos ou questionamos.
O discurso ideológico é muito envolvente, lindo e cheio de vazios,
as suas justificativas são explicações dadas pelas classes dominantes.

3 – COMO SE CONSTRÕEM AS IDEOLOGIAS


"Viver é a coisa mais rara que há no mundo. A grande maioria existe, nada mais."
OSCAR WILDE

Numa certa tribo primitiva da Austrália, o ritual de passagem


da infância para a vida adulta era cercado de crueldades, para
provar a força, resistência e coragem dos jovens. Entre outras
coisas, o jovem era fechado numa cabana, junto a um enxame de
furiosas abelhas. O jovem deveria suportar todas as ferroadas
sem soltar um ai. Depois ele deveria enfrentar feras no mato
com instrumentos precários de autodefesa (paus, pedras, cipós
etc.)... Enfim, somente após um ritual de atrocidades é que ele

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poderia ser considerado membro adulto da tribo, com todos os privilégios reservados apenas aos
guerreiros.
Só os filhos dos chefes religiosos da tribo, que presidiam tais rituais, é que estavam isentos
dessas práticas, porque só pelo fato de serem de descendência sagrada, eles já partilhavam da força
dos deuses, o que os habilitava para posições privilegiadas. Foram os
próprios deuses que, no princípio, assim estabeleceram as coisas!
Nem é preciso dizer, que num passado muito distante, foram os
religiosos que criaram e regulamentaram os rituais de passagem.
A ideologia é um conhecimento elaborado a partir de valores que
beneficiam mais a um grupo que outro. Quem tem mais poder na
sociedade, tem mais possibilidade de impor sua ideologia. Isso
porque eles têm um pensamento mais elaborado e têm à sua
disposição melhores meios para difundi-la. Os membros sagrados da tribo, devido sua posição
privilegiada tinham maiores condições de impor sua cosmovisão a todo o grupo. Afinal, seu papel é
altamente legitimado pela crença generalizada no seu poder sobrenatural.
Precisam, portanto, justificar a necessidade da permanência da realidade como ela é, mantendo
um quadro de ideias para convencer os outros disso. A ideologia, nesse sentido, é a justificação das
posições sociais. A realidade é transformada em mito e o dominado crê no
mito.
No século XVII, os “cientistas” da Igreja tinham que acreditar e ensinar
que a Terra era o Centro do Universo (teoria geocêntrica), pois assim faziam
impor as Sagradas Escrituras, interpretadas pelos Santos Padres e pela
Hierarquia da Igreja (cardeais, arcebispos, bispos, monsenhores). Mesmo
tendo apontado o telescópio para os céus e comprovado que o Sol era o
centro do nosso sistema, Galileu foi obrigado a abjurar, em 1633, para não
ser queimado vivo, como acontecera com Giordano Bruno, em 1600.
Galileu ficou em prisão domiciliar até o final da vida. Só em 1992 a Igreja
reconheceu publicamente que Galileu estava certo.
Principalmente em Estados Totalitários, a ciência é muito usada para
fins de justificação do regime. Por isso há controle e censura à produção
científica. Hitler, por exemplo, queria provar, cientificamente, a superioridade da raça ariana sobre
todas as outras raças. Uma ditadura pode usar “explicações científicas” para reforçar a necessidade
de sua forma de governar. Recorrer à ciência, às estatísticas, dá uma maior importância, uma
aparência de certeza da verdade.
Até os dominados "defendem" a ideologia dominante! Veja a situação a seguir:
- Foi Deus quem quis assim. Quando ele quiser, ele manda chuva para nós. Não podemos
reclamar, não. Uma pobre mulher nordestina dizia isso em junho
de 2001.
- Minha senhora, não foi Deus, não! O
dinheiro que já foi enviado para a SUDENE
daria para ter inundado o Sertão. O Sertão
poderia ter virado mar... Grande parte da culpa
é dos corruptos que ficam com nosso suado
dinheirinho... que, juntado, dá um dinheirão!

FONTE:
CORDI, Cassiano et all. Para Filosofar. 4. ed., São Paulo: Scipione, 2002. p. 152-154.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 13. ed., São Paulo: Brasiliense, 1983.

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5 – A GENERALIZAÇÃO DO PARTICULAR
"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo"
NIETZSCHE

Generalizar ou universalizar o que é particular é uma das artimanhas da ideologia. A ideologia


orienta e legitima a ação dos seres humanos na história, por intermédio de realidades genéricas
chamadas de universais, tais como: Pátria, Família, Nação, Ciência, Igreja, Estado, Escola etc.
Essas ideias nascem de situações reais e passam o ordenar toda a vida em sociedade. É como base
nessas ideias que os seres humanos constroem o imaginário social (aquelas ideias que guiam a vida
de grande parte das pessoas).
A ideologia ao empregar
frequentemente o termo
“Família Brasileira”, está
escondendo e justificando
especificidades da realidade
social brasileira. Esconde,
por exemplo, a diversidade
de relacionamentos
familiares na sociedade atual, que vão desde laços extensivos de sangue até a situação de pessoas
agregadas vivendo sob o mesmo teto. E isso ela faz, também, com relação à Pátria, ao Estado, à
Escola etc.
Os universais ou realidades genéricas são formas de vivência social que já não se identificam
com a realidade social atual. O Estado, por exemplo, constitui uma “comunidade ilusória”, na
afirmação da filósofa Marilena Chauí, porque organiza
interesses específicos de grupos e frações das classes
dominantes como se fossem os interesses de todos. Assim,
na função de presidente, senador, deputado, juiz,
governador, prefeito, vereador, diretor, indivíduos se
servem dessas entidades, agem como “representantes” da
Nação, do Partido, do Congresso, do Tribunal, do Estado,
do Município, da Empresa, da Escola etc. As leis
elaboradas, as nomeações efetuadas, os impostos
cobrados, os salários fixados expressam, algumas vezes, a
ação de lobbies (grupos com interesses próprios).

LENDO E REFLETINDO A REALIDADE

Quem gosta de estudar não é admirado no Brasil, afirma chinês


Ricardo Mioto

Guo Qiang Hai, 48, físico chinês que mora em São Carlos
(SP) desde 1993, veio para o Brasil sem conhecer ninguém, atrás
de uma bolsa na Universidade Federal de São Carlos. Desde 2003
é professor da USP.

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APOSTILA DE FILOSOFIA – 2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO – PROF. JOSSIVALDO A. DE MORAIS
Adora o país, mas está preocupado. Tem uma filha de um ano com uma brasileira e acha que
as escolas que ela vai frequentar não são tão boas quanto as chinesas.
"Na China a escola é em tempo integral, o aluno sempre volta com tarefa. Se precisar, ele
estuda no sábado."
Para Hai, a escola chinesa não é melhor apenas que a brasileira. Ele tem outra filha, que
estudava na China até o ano passado. Com dificuldades em matemática, tinha um professor
particular.
Quando a menina se mudou com a mãe (também chinesa) para a Austrália, se tornou a melhor
da turma na matéria. "Todos falam para ela ‘nossa, como você é inteligente'", conta Hai, rindo.
"Além de o professor chinês ganhar bem, os alunos respeitam. Existe uma cultura que valoriza
o conhecimento. Aqui não é bem assim. Na TV, parece que só se admira quem participou do Big
Brother, tem dinheiro, é modelo. A sociedade não põe na cabeça das crianças que elas têm de
estudar."
Isso se reflete na qualidade da pesquisa brasileira, diz Hai. Ainda assim, ele diz que a
valorização da ciência tem melhorado: "Em São Paulo, não falta financiamento".
Folga
Para o pesquisador é estranho sofrer pouca cobrança. "O docente aqui é funcionário público,
não tem tanta pressão como nos EUA ou na China. Aqui existem muitos que se dedicam dia e noite,
mas quem não faz nada continua na universidade."
Existem problemas, mas é preciso ressaltar as qualidades do país, diz. "As pessoas são legais,
é fácil fazer amizade. Eu gosto muito, gosto do clima. Só
português eu achei meio complicado", brinca.
Hai acompanha com otimismo as notícias de seu país.
"Quando saí da China para a Europa, em 1988, ela era bem
fechada. Hoje mudou muito. Ainda não existem jornais
particulares, a TV é estatal. Mas você pode falar com os seus
amigos o que quiser. Não é que nem a gente vê na televisão
aqui."
Diz se impressionar com o crescimento econômico
chinês. "Todo mundo está querendo ficar rico. Deus é grana", brinca. "Se você tem dinheiro, faz o
que quiser."

FONTE:
Folha.com. São Paulo, 19 out 2010. Caderno Ciência. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/769028-quem-
gosta-de-estudar-nao-e-admirado-no-brasil-afirma-chines.shtml> Acesso em 16 ago 2011.

ATIVIDADE 2

1) Baseada em que as ideologias são criadas? E para atender a que interesses?


2) Na sua opinião, todos os discursos que ouvimos diariamente são discursos ideológicos?
Justifique seu pensamento através de exemplos de discursos ideológicos.
3) Por que se diz que o discurso ideológico é lacunar?

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6 – INVERSÃO DA REALIDADE

"A ideologia do grupo alienante é fazer o individuo alienado sentir-se vencedor mesmo sem conhecer a vitória"
GERALDO DOS REIS M. FONTES

Em sua leitura da realidade, a ideologia omite a


maneira de os seres humanos se associarem para
sobreviver. Aí está a origem da ideologia: nas relações
sociais básicas para obter a subsistência.
Analisemos a “ideologia do trabalhador livre”: o
trabalhador é considerado livre para vender sua força de
trabalho a quem o pague. Entretanto, embora essa
condição seja diferente do trabalho escravo, o trabalhador,
hoje, está submetido às normas capitalistas de
organização do trabalho e à lógica da acumulação de
riqueza material. Portanto, não é tão livre assim!
As condições para que o trabalho se realize, as suas
razões e seu valor não dependem de quem produz (o
trabalhador), mas, sim, dos proprietários das máquinas,
equipamentos, edificações, insumos, recursos financeiros
(os patrões). Pagam salários ao trabalhador e veem-no com
parte de uma engrenagem de produção.
Ouvimos e reproduzimos sempre: “Os pobres não
enriquecem porque não se esforçam” ou “Fulano não
aprende porque não é inteligente”. Na verdade, a causa real
de os pobres e os miseráveis não enriquecerem são as suas
condições sociais, que lhes impedem de ascender
socialmente. De modo semelhante, a causa de as
crianças não aprenderem não é, propriamente, a falta de
inteligência e, sim, a desnutrição e o próprio sistema
escolar, inadequado às crianças das classes
desprivilegiadas.
Graças ao poder de inverter a realidade, a ideologia
troca de posição o produto e o produtor, a causa e o
efeito. As relações de trabalho que estão embutidas nas
mercadorias, por exemplo, aparecem aos homens como
relações entre coisas. O salário esconde as horas e horas
de trabalho necessárias para comprar o produto
pretendido. Parece uma relação entre mercadorias e, não, entre trabalhadores que se desgastam no
processo produtivo e o produto de seu esforço.
Ao circularem no mercado de compra e venda, as mercadorias adquirem vida própria
(fetichismo da mercadoria), tornam-se independentes de seus produtores e parecem dominá-los. Os
indivíduos parecem viver em função das coisas, se não as tiverem são capazes até de ficarem
doentes ou morrerem.
Ao lado da fetichização da mercadoria há a reificação (coisificação), na qual o valor da
mercadoria aparece aos homens como um atributo natural, algo que ele traz desde sempre consigo.
Através da ideologia, a classe dominante impõe a sua visão de mundo, ao universalizar a
particularidade de sua posição social, a classe dominante aceita como “natural” a sua dominação, a
tal ponto que a ordem estabelecida não lhe parece ser ideologia. Prevalecem os interesses dos que

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APOSTILA DE FILOSOFIA – 2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO – PROF. JOSSIVALDO A. DE MORAIS
dominam, seja na aplicação das leis, seja no uso e investimento dos recursos públicos.
A indústria publicitária, por exemplo, usa métodos persuasivos para anunciar roupas, aparelhos
eletrônicos, ou mesmo alimentos. Cria um ambiente propício para o consumidor identificar-se e,
assim, desejar possuir algo que satisfaça sua necessidade de vestir-se, informar-se ou alimentar-se,
ao mesmo tempo em que, supostamente, suprirá, também, alguma
carência íntima, afetiva ou social.
As ideias da classe dominante tendem a ser as ideias dominantes
de uma determinada sociedade e podem estar concentradas, por
exemplo, na Constituição dos países. É o caso do artigo 5o de nossa
Constituição: “Todos são iguais perante a lei”. Ele faz apenas um
reconhecimento teórico da igualdade social. Na prática, sabemos que
alguns são “mais iguais” que outros. Como o artigo não faz essa
distinção fica-nos a impressão de que não existem relações sociais desiguais. A ideologia se serve
dessa lacuna para mascarar as injustiças do dia-a-dia.
A ideologia não deixa a realidade das classes sociais aparecer na crueza de seus interesses
antagônicos: uma classe busca o lucro; a outra, o salário para a sobrevivência. A inter-relação das
classes tem a aparência de integração, que nos induz a crer na existência de uma sociedade justa,
sem conflitos: “Sempre foi assim, é natural que existam pobres e ricos...”.
À medida que a ideologia nos apresenta a realidade sem contradições, passamos a ver como
“natural” a complementaridade dos opostos, como se fora da própria natureza dos processos sociais
desenvolverem-se desse modo e não de outro.

ATIVIDADE 3

1) Identifique a ideologia presente nas afirmações:


a) “Os pobres não enriquecem porque não trabalham o suficiente”.
b) “As crianças pobres não aprendem porque não são inteligentes”.

2) O que é “mercadoria fetichizada”?


3) Como a ideologia torna “natural” as desigualdades sociais?

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LEITURA COMPLEMENTAR

Se os tubarões fossem homens


Bertold Brechet
Se os tubarões fossem homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais
amáveis para com os peixinhos?
Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubarões fossem homens,
construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com
todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para
que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adaptariam todas as
medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a
barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não
morresse antes do tempo.
Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria
grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os
tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam
como nadar alegremente em direção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo,
para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.
O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados
de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se
sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo
quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos
saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente.
Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa,
materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões
aqueles que apresentassem tais tendências.
Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si,
para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam
lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença
entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos,
mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que
matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com
uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói.
Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos
quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde
se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com
entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os
peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-
iam nas goelas dos tubarões.
Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira
vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.
Se os tubarões fossem homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre
si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente
maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais
frequentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos,
cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores
de gaiolas, etc. Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.

FONTE:
CORDI, Cassiano et all. Para filosofar. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2002. p. 168-169.

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INDICAÇÕES PARA INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR

LIVROS:

EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Trad.: Luís Carlos B. S. Vieira. São Paulo: UNESP, 1997.p. 15-40.
RICOEUR, Paul. Critérios do fenômeno ideológico. In: Hermenêutica e ideologias. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

MÚSICA:

NÃO PENSO, NÃO EXISTO, SÓ ASSISTO. Leonardo Moreno.


Texto Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=BJ8lfaGxh_0

FILME:

A NEGAÇÃO DO BRASIL – Joel Zito Araújo – Brasil, 2000.

VÍDEOS:

SE OS TUBARÕES FOSSEM HOMENS. Bertold Brechet.


Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=PJnM03vBM_E

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