Você está na página 1de 61

PREFEITURA DE SÃO LUÍS

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED


SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

APOSTILA DE FILOSOFIA – 9º ANO (UEB Gomes de Sousa)

O que é a Filosofia?
Quando o ser humano começa a exigir provas e justificativas racionais para validar
(acreditar) ou invalidar as crenças do dia-a-dia, dizemos que está tomando uma atitude
filosófica. Ou seja, uma atitude crítica.

 Atitude crítica ou filosófica tem duas (02) características: uma NEGATIVA e outra
POSITIVA.

- NEGATIVA: dizer não aos preconceitos e aos prejuízos da sociedade.

- POSITIVA: questionar, perguntar sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, os


comportamentos, sobre quem somos.

FILOSOFIA ANTIGA: FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS

A passagem do Mito para o Logos

Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce na Grécia entre os séculos VII e


VI a.C. passagem do saber mítico (alegórico) ao pensamento racional (Logos).

O Mito se opõe ao Logos como a fantasia se opõe à razão, como a palavra narrada se
opõe à palavra que demonstra experimentalmente.

1
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

- O Mito: é a narrativa, podendo ser construída por meio tanto da oralidade (falado, ensinado
oralmente) como da escrita.

- O Logos: é uma explicação, um estudo, que pretende convencer como as coisas são
racionalmente.

Os gregos cultuavam uma série


de deuses (Zeus, Hera, Ares, Atena
etc.), além de heróis e semideuses
(Hércules, Teseu, Perseu etc.).
Relatando a vida desses deuses e
heróis e seus envolvimentos com os
humanos, foi criada uma rica
Mitologia, ou seja, um conjunto de
lendas e crenças que, de modo
simbólico, apresentam narrativas a
respeito da realidade universal.

O momento histórico da Grécia antiga em que se afirma a utilização do Logos (a


Razão) para resolver os problemas da vida estaria vinculado ao surgimento da pólis: cidade-
Estado grega. A pólis foi uma nova forma de organização social e política desenvolvida entre
os séculos VIII e VI a.C. Nela, eram os cidadãos que dirigiam os destinos da cidade. Como
criação dos cidadãos, e não dos deuses, a polis estava organizada e poderia ser explicada de
maneira racional, isto é, de acordo com a razão.
A prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos –
especialmente em Atenas – contribuiu para que o raciocínio bem formulado e convincente se
tornasse, com o tempo, o modo adotado para refletir sobre todas as coisas, não só questões
políticas. Portanto, a razão é filha da polis, e o nascimento da filosofia relaciona-se de
maneira direta com o espírito universal que surgia na época.

OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida


como período pré-socrático (isto é, anterior a Sócrates). Assim, esse período abrange o

2
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto, no século VII a.C.,
até o surgimento de Sócrates, no século V a.C. Os pré-socráticos eram também chamados de
filósofos da natureza.
É difícil conhecer o pensamento desse período em toda a sua dimensão, pois são
poucos os escritos encontrados dos seus pensadores, e até mesmo as datas de nascimento e
morte são incertas.
No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na
Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por
um rico comércio, Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem
atribuímos a denominação filósofos: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
Destaca-se, entre os objetivos desses primeiros filósofos, a construção de uma
cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo), que
substituísse a antiga cosmogonia (narrativa sobre a origem do universo baseada em mitos),
sendo essa uma narrativa e não explicação racional.
Assim, tentaram descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio
substancial ou substância primordial (arché, em grego) existente em todos os seres materiais.
Ou seja, pretendiam encontrar a “matéria-prima” de que são feitas todas as coisas. Qual era,
portanto, a arché para cada pensador pré-socrático? É o que estudaremos a seguir, na página
4.

ATIVIDADE:

Questão 1 – Explique as duas características presentes em uma atitude filosófica (ou crítica).
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Diferencie MITO de LOGOS.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Questão 3 – Explique por que os pensadores de Mileto (Tales, Anaximandro e Anaxímenes)


foram considerados filósofos e chamadas de pré-socráticos.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Tales de Mileto – a água

Tales de Mileto (c. 623-546 a.C.) é tido como o pensador que deu
início à indagação racional sobre o universo. Inspirando-se
provavelmente em concepções egípcias, acrescidas de suas
próprias observações de corpos hídricos (rios e mares), bem como
da vida animal e vegetal, ele dizia: “Tudo é água”.
Para ele, a água – por permanecer basicamente a mesma, em todas
as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados
(sólido, líquido e gasoso) – seria a arché, a substância primordial,
a origem única de todas as coisas, presente em tudo o que existe.
Como princípio vital, a água penetraria todas as coisas e tudo seria animado por ela, de
tal modo que tudo teria alma (isto é, anima ou psyché). Por isso, tudo seria divino (ou “cheio
de deuses”), não havendo separação entre o sagrado e o mundano. O universo seria uno e
homogêneo.
Apesar da simplicidade da afirmação de Tales a respeito da água – e considerando que
a água não representava para ele o mesmo que ela representa hoje para nós –, pela primeira
vez tentava-se explicar a multiplicidade da realidade de maneira sintética e simples,
empregando um elemento natural e concreto, visível para todos.

Anaximandro – o indeterminado

4
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Anaximandro (c. 610-547 a.C.), discípulo de Tales, procurou


aprofundar as concepções do mestre sobre a origem única de
todas as coisas e resolver os problemas que este lançara.
Em meio aos diversos elementos observáveis e determinados no
mundo natural, pares de contrários que se “devoram entre si”
(água, terra, ar e fogo), Anaximandro acreditava não ser possível
eleger uma substância material única como princípio primordial
de todos os seres, a arché. Ele dizia que tinha de ser alguma
substância diferente, ilimitada, infinita, e que dela nascessem o
céu e todos os mundos nele contidos.
Assim, para esse filósofo, o princípio primordial deveria ser algo que transcendesse os
limites do observável, ou seja, não se situaria em uma realidade ao alcance dos sentidos, como
a água, por exemplo. Por isso, denominou-o ápeiron, termo grego que significa “o
indeterminado”, “o infinito” no tempo.

Anaxímenes – o ar

Anaxímenes (c. 588-524 a.C.), discípulo de Anaximandro,


concordava que a origem de todas as coisas é indeterminada.
Entretanto, recusou-se a atribuir a essa indeterminação o caráter de
arché.
Para ele, esta não poderia ser um elemento situado fora dos limites
da observação e da experiência sensível, como o ápeiron de
Anaximandro.
Discordando de aspectos do pensamento dos dois mestres
anteriores, mas buscando uma síntese entre eles, Anaxímenes incorporou argumentos de
ambos e propôs o ar como princípio de todas as coisas: “Como nossa alma, que é ar,
soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmo é mantido pelo sopro e pelo
ar”.
O ar seria um elemento mais sutil que a água, quase inobservável, mas que nos
animaria, nos daria vida, como testemunha nossa respiração. Infinito e ilimitado, penetrando
todos os vazios do universo, o ar constituiria uma arché mais determinada que o ápeiron.
Também seria um princípio ativo, gerador de movimento, como nos ventos.

5
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Vamos estudar, agora, mais 02 (dois) filósofos pré-socráticos muito importantes para a
filosofia moderna: Pitágoras e Demócrito.

Pitágoras – os números

Profundo estudioso da matemática, Pitágoras defendeu a tese de


que todas as coisas são números.
Conta-se que, para chegar a essa tese, primeiro teria percebido
que a harmonia dos acordes musicais correspondia a certas
proporções aritméticas. Supôs, então, que as mesmas relações
se encontrariam na natureza. Unindo essa suposição aos seus
conhecimentos de astronomia – que podia, por exemplo,
calcular antecipadamente o deslocamento dos astros –,
concebeu a ideia de um cosmo harmônico, regido por relações matemáticas, o que
denominamos Teoria das formas das esferas.
Se para Pitágoras “tudo é número”, isso quer dizer que o princípio fundamental (a
arché) seria a estrutura em números. Os pitagóricos entendiam, por exemplo, que os corpos
eram constituídos por pontos e que a quantidade de pontos de um corpo definiria suas
propriedades. Se atribui a Pitágoras o uso da palavra filosofia pela primeira vez.

Demócrito – o átomo

Demócrito foi responsável pelo desenvolvimento de uma


doutrina conhecida pelo nome de atomismo, segundo a qual
todas as coisas que formam a realidade são constituídas por
partículas invisíveis (porque são muito minúsculas) e
indivisíveis. Denominou-as, por isso, átomos, palavra de origem
grega que significa “não divisível” (a = negação; tomo = parte,
divisão).
Os átomos seriam homogêneos entre si, ou seja, teriam o mesmo
ser, a mesma natureza fundamental. No entanto, seriam infinitos
em número por sua figura ou configuração. Neste sentido, seriam heterogêneos e nunca se
converteriam uns nos outros, razão pela qual o atomismo é considerado uma doutrina
pluralista por grande parte dos autores. Portanto, a arché para Demócrito era o átomo.
6
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

ATIVIDADE:

Questão 1 – Para Tales de Mileto, a substância primordial do universo seria a água (“Tudo é
água”). Como ele chegou a essa conclusão?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Explique a “Teoria das formas das esferas”, defendida por Pitágoras.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Explique a doutrina do atomismo, defendida por Demócrito.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

7
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Filosofia e atualidade

FILOSOFIA E MEIO AMBIENTE: A BIOÉTICA

Em nossas aulas passadas aprendemos como surgiu a filosofia, logo, como surgiu o
pensamento racional (uso da razão). O uso da razão de maneira pouco reflexiva, para alcançar
maior lucro possível, para a manipulação política ou para o mantenimento do poder, pode
trazer consequências múltiplas, tanto para o indivíduo, quanto para o mundo e a sociedade em
que ele está inserido. É pensando nessas consequências do progresso e da evolução
tecnológica para o mundo, que a bioética vai se situar como uma importante área da filosofia
e da ciência ao longo do século XX.
Essa área engloba vários conteúdos e temas, sendo estudada não apenas pela filosofia,
mas pela medicina, pela biologia, pelas ciências da natureza, entre outras. Na reflexão
filosófica, a bioética busca repensar as principais convenções e atos que levaram nossa
civilização ao ponto que estamos atualmente, em especial quanto ao uso indiscriminado da
natureza e de sua matéria prima. Mas, nada é mais importante e, ao mesmo tempo, mais vago
e amplo do que “defender a vida”. Assim, a bioética se apresenta de maneira aberta, com
várias frentes de estudo e vários temas diferentes entre si, já que são inúmeras as relações que
podem ser feitas entre a tecnologia e a natureza.
Na tentativa de propor uma “ética” (do grego ethos, que significa “modo de ser” ou
“hábito”) diante da “vida” (“bio”, em grego), a bioética vai estudar as normas que devem
reger nossa ação de domínio técnico e produtor sobre o mundo natural, avaliando eticamente
o impacto da intervenção humana sobre a própria vida humana e propondo uma “ética de
responsabilidade com o mundo”.

O filósofo alemão Hans Jonas


(1903-1993), contemporâneo de
outros importantes pensadores
alemães como Martin Heidegger e

8
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Hannah Arendt, foi um dos grandes filósofos que trataram do tema da bioética. Sua filosofia é
voltada para questões humanitárias e sua preocupação é a preservação do planeta e da vida.

Jonas defende que um dos grandes problemas a ser pensados pela contemporaneidade
é a impossibilidade de a vida ser mantida na Terra em decorrência da irresponsabilidade e da
magnitude das ações humanas. Para ele, o homem está caminhando para sua própria
destruição, portanto é urgente uma nova atitude frente às ações humanas que destroem o meio
ambiente e ao uso indiscriminado de tecnologias que degradam a natureza ano após ano, em
uma velocidade cada vez maior.
No seu livro “O princípio responsabilidade”, lançado no ano de 1979, Jonas afirmou
que nós vivemos em uma era impressionante, jamais vista em outro período da história: a
técnica moderna se especializou e se desenvolveu de tal forma que assumiu proporções
inimagináveis. A questão colocada por ele é que tal “super desenvolvimento” está ligado não
apenas a fatores positivos, mas também a consequências devastadoras para o mundo.
A era da tecnologia moderna avança de modo a colocar em risco a vitalidade do
planeta e sua capacidade de autorregeneração, e os marcos reguladores da ética, que outrora
podem ter sido o suficiente para balizar a relação do homem com o mundo e com os outros, se
mostram cada vez mais ineficazes no contexto pós-moderno do século XX adiante: a ideia de
Deus ou Divindade (marco regulador religioso), o amor ao próximo, o respeito, a justiça, a
bondade, a caridade, a honra. O homem esgota cada vez mais os recursos naturais tendo em
vista favorecer-se com o progresso científico e o consumo dos bens que este possibilita, sem
se atentar ou respeitar nenhum marco regulador, limite ou “mandamento” ético e bioético.
É por isso que Jonas desenvolve a ideia de que a técnica moderna começa a ganhar
vida e se soltar do poder e do domínio humano. O homem perde cada vez mais o lugar de
sujeito da ação e a técnica ganha vida própria, tornando-se sujeito no lugar do homem, que se
transforma em objeto. A técnica se torna autônoma e dita os procedimentos que devem ser
seguidos pelas sociedades. Tornamo-nos um Homo faber, deixando de sermos Homo sapiens.
Isto é, há uma ausência de reflexão na ação do homem que se torna um mero fabricante, não
mais um ser pensante. Não existe mais separação entre o saber teórico e o saber prático.

Dicionário:

Homo faber: aquele que tem capacidade de fabricar utensílios e modificar a natureza;
Homo sapiens: aquele que conhece a realidade e tem consciência do mundo.

9
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Em “O princípio
responsabilidade”, Hans
Jonas explica que o marco
inicial do domínio irrestrito do
homem sobre a natureza foram
as bombas atômicas lançadas
pelo governo estadunidense
(EUA) sobre Hiroshima e
Nagazaki (Japão), em 1945, que vitimaram imediatamente cerca de 200.000 mil pessoas, além
das incontáveis mortes e doenças causadas posteriormente pelo efeito da radiação. Para Jonas,
a bomba atômica representa o poder máximo do homem sobre a natureza, a possibilidade de
criação de um artefato que pode acabar com a própria vida do homem, e isso deveria gerar em
nós um novo questionamento que precisa se fundamentar na ideia do perigo da nossa própria
existência.

Por essa razão, torna-se necessária uma nova postura ética. A ideia que se tinha
anteriormente sobre ética era direcionada a relação interpessoal, de pessoa para pessoa em
uma sociedade. Agora, é preciso uma nova ética: uma ética global que contemple, também, a
natureza. Para essa nova postura ética, Jonas faz uma reinterpretação do imperativo categórico
do filósofo Immanuel Kant. No pensamento de Kant, o imperativo era “age de tal modo
que a sua ação seja uma máxima universal”; mas Jonas busca a sua reformulação da
seguinte forma: “age de tal modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a
permanência da vida humana” ou ainda, “age de tal modo que a tua ação não ponha em
risco a continuidade indefinida do ser humano na Terra”.
Tal imperativo fica ainda mais urgente de se tornar uma regra de pensamento (e,
sobretudo, de se tornar um guia para políticas públicas de preservação ambiental e de
fiscalização da ação privada e empresarial sobre a natureza) quando percebemos que as
consequências da degradação ambiental do planeta, por mais que possam ser sentidas por
todas as pessoas em qualquer país, incidem principalmente sobre as populações mais pobres e
vulneráveis.
Seja pela falta de moradia e alimentação adequadas, pela falta de condições de
saneamento, atendimento médico e assistência social, as populações que carecem de
condições econômicas básicas de se precaver ou de, em caso de desgraças e intempéries, se
reerguer, como a maior parte dos habitantes da África e América Latina e boa parte dos

10
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

asiáticos, acabam por ser as mais atingidas pelas mudanças climáticas e pela poluição
ambiental.

Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS),
aproximadamente 23% das mortes
prematuras no mundo são causadas por
problemas de degradação ambiental,
com números estimados em 12,6
milhões de mortes no ano de 2012.
Outra pesquisa, de 2018, mostrou que
91% das mortes por poluição do ar ocorrem em países de baixa e média rendas do Pacífico e
Sudeste Asiático, enquanto no Brasil as mortes em decorrência da poluição atmosférica
aumentaram 14% em dez anos, segundo dados do Ministério da Saúde.

UMA ÉTICA DE RESPONSABILIDADE

Ao buscar o estabelecimento de uma nova ética para guiar a ação humana, Hans Jonas
afirma que essa ética deve ser baseada em um temor, que cria uma responsabilidade maior. É
a partir do temor que as pessoas devem se questionar sobre a possibilidade do caos dentro do
planeta e sobre os modos de evitar que o pior aconteça. É por meio do temor que o ser
humano pode ser “obrigado” a refletir sobre o futuro da humanidade.
Para Jonas, a humanidade está apostando na produção tecnológica do presente,
utilizando de modo irresponsável a matéria prima de que dispõe, colocando em risco a
possibilidade de um futuro para as novas gerações. É importante lembrar que o temor do qual
fala Jonas não é uma doença patológica que paralisa a pessoa, mas um sentimento que
impulsiona à reflexão das ações desenvolvidas, tendo em vista o seu melhoramento e a
preservação do futuro.
Para entender essa ideia, leia o que o próprio filósofo escreveu:

“O sacrifício do futuro em prol do presente não é logicamente mais refutável do que o


sacrifício do presente em favor do futuro. A diferença está apenas em que, em um caso, a
série segue adiante e, no outro, não”

11
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

(Jonas, Hans. O princípio responsabilidade. Rio de Janeiro: contraponto, 2006, p. 47).

Indicação de vídeo:
Curta de animação de Steve Cutts sobre o homem e uso da natureza da maneia irresponsável:
https://www.youtube.com/watch?v=RbpL5xGCXx8

A novidade do pensamento de Jonas é exatamente a ideia de uma ética voltada para


um espaço ainda por fazer, mas pensado previamente e como condição para a vida das
próximas gerações: o futuro. É um chamado para o dever que todos têm de assumir a
responsabilidade que lhe cabe com a vida futura, preocupando-se com o presente e refletindo
sobre as ações e suas consequências no espaço em que estamos inseridos. Assim, as ações
devem ser observadas em curto, médio e longo prazo para garantir o direito à vida daqueles
que virão. É imprescindível que o ser humano aprenda a conviver, de maneira minimamente
harmoniosa, com os demais seres vivos que existem e pare de pensar e agir como se fosse a
última geração da vida no planeta. É preciso coexistir e não apenas existir.

JEAN BOSCO KAKOZI: UMA NOVA BIOÉTICA A PARTIR DA FILOSOFIA


AFRICANA

Em seu livro Lições sobre a Filosofia da História, o filósofo alemão Georg Hegel
diz que a África não tem interesse histórico próprio e é um local em que os homens “vivem na
barbárie e na selvageria, sem se ministrar nenhum ingrediente da civilização”. A África, para
Hegel, não é um lugar habitado pela História nem pela Razão (“os africanos são crianças
eternas, envoltos na negrura da noite sem a luz da história consciente”, diz ainda).
Tratada hoje como um preconceito datado e anacrônico, a visão hegeliana sobre a
relação do continente africano com a razão e com o próprio conceito de “humanidade”
permanece viva no presente, segundo o filósofo Jean Bosco Kakozi, natural da República do
Congo. Kakozi afirma que a racista passagem de Hegel, exposta anteriormente, mostra que o
problema da Filosofia na África é o problema da luta pela razão, uma luta que se aplica
também aos povos indígenas e outros povos excluídos pela civilização ocidental moderna na
África, na
América Latina e na Ásia: uma luta por reconhecimento.
Por que ele fala de luta pela razão? A filosofia ocidental excluiu muitos povos do
mundo do uso desse atributo humano que é a razão. Foram excluídos povos indígenas,
12
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

africanos e asiáticos. Hegel, na Fenomenologia do Espírito, diz que a África é uma região
que não é de muito interesse para a humanidade pois é uma região que está fora da História. A
luz da razão, como ele diz, nasceu no Oriente, na Ásia, e foi caminhando para o Oeste, na
direção da Europa, sem passar pela África. O Egito, para ele (assim como acontece em muitos
filmes e novelas sobre o tema), não teria nada a ver com a África, sendo uma espécie de
preâmbulo da Europa.
Para o filósofo congolês, a Filosofia na África tem uma tarefa e uma responsabilidade muito
importante que é lutar pela razão. A Filosofia deve começar também por esse problema,
dizendo que a razão está presente na África e que as pessoas usam a razão. Todo o ser
humano usa a razão. Ao reconhecer uma razão eminentemente africana, o ocidente poderia
aprender com um modo de vida radicalmente diferente do seu e que está fundamentalmente
ligado a uma bioética.

Jean Bosco Kakozi, professor


da Universidade Federal da Integração
Latino-americana (Unila) e
pesquisador de temas variados ligados
ao pensamento filosófico e sociológico
africano, defende a ideia de que a
filosofia africana se adequa
perfeitamente a uma bioética moderna,
por se basear em um pensamento
diferente do pensamento eurocêntrico, que desenvolve a noção da natureza como algo
“disponível” para o homem, como uma “propriedade” do homem.
O filósofo congolês afirma que a filosofia africana, ao contrário do antropocentrismo
que marca a tradição ocidental, caminha na direção de uma cosmovisão biocêntrica, que está
sempre voltada para fortalecer, cuidar, gerar e transmitir a vida, respeitando todos os seres
vivos, humanos e não humanos e tratando os ancestrais como elo entre os vivos, os mortos e
os que ainda não nasceram. Essa “visão de mundo” que coloca a “bio” (no sentido amplo de
“todas as formas de vida”) no centro da investigação, e não mais o homem (como acontece
em uma cosmovisão antropocêntrica), é fundamentada no conceito de UBUNTU, termo base
para toda a filosofia de matriz africana e que tem origem na língua Zulu, significando uma
cosmovisão ética e humanista baseada no “nós”, e não no “eu”, baseada na “humanidade”
(entendida como o conjunto dos homens) e não no “homem” (entendido como indivíduo).
13
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Para Kakozi, se o ocidente buscasse aprender um pouco mais com a cultura africana e
oriental, haveria outras possibilidades de enxergar a realidade e a natureza que poderiam
promover um cuidado maior com o mundo em que vivemos, uma radicalmente nova bioética.
Uma visão de mundo que se baseasse no conceito do ubuntu, poderia buscar uma mudança
na forma como o ocidente enxerga a si mesmo e ao outro.

A filosofia ocidental está


baseada na ideia do cogito, de
Descartes. Eu penso, logo
existo. Ou seja, “eu penso”, “eu
existo”. O ego pensante é
condição de possibilidade da
existência de uma pessoa. Essa
ideia do “eu” é chave na filosofia
moderna ocidental. Toda a cultura ocidental pode ser entendida a partir dessa visão. Já a
cosmovisão africana é diferente. Ela diz: eu sou porque pertenço (a uma comunidade): eu sou
porque nós somos.
Há uma forte relação entre o nós e o eu. Há alguns pensadores mais categóricos que
afirmam que, na cosmovisão africana, é o nós que prevalece. Isso não implica excluir o eu. Há
algumas críticas que afirmam que essa visão representaria uma tirania da comunidade sobre o
indivíduo, um coletivismo comunismo. Mas não é bem assim.
O “eu” encontra seus interesses dentro do “nós”. O “nós” significa vida em
comunidade com a presença de vários “eu”. A vontade de uma só pessoa, porém, não deve
prevalecer, mas sim a vontade da comunidade. Essa valorização da comunidade não aparece
somente na África. O filósofo canadense Charles Taylor também trabalha a questão do
comunitarismo, de uma perspectiva ocidental. Os alemães também valorizam muito essa ideia
de comunidade.
O pensador senegalês Léopold Sédar Senghor disse que, embora a cultura ocidental
considere o comunitarismo, o indivíduo acaba prevalecendo em relação ao “nós”. Na África,
mesmo existindo também a ideia de indivíduo, o “nós” acaba prevalecendo. Aliás, nesta
visão, o indivíduo que não cabe dentro de um “nós” representa a morte social. Se você não se
considera pertencente a alguma comunidade, você não existe. A pobreza extrema não é não
ter dinheiro ou riquezas, mas sim não pertencer a nenhuma comunidade.

14
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Dessa forma, pensar a realidade com base no ubuntu é pensar a realidade pensando
primeiro na humanidade, para depois pensar no indivíduo. Isso não significa deixar de lado os
indivíduos em nome do coletivo, mas incluí-los no todo que é a humanidade na qual ele está
inserido, é pensar em todos e que todos nós, como membros de uma sociedade ou do conjunto
de sociedades que formam o mundo, temos um lugar em comum que precisamos cuidar, por
nós e pelos outros: o planeta.
Isso poderia favorecer o desenvolvimento de uma ética da responsabilidade com o
mundo e com o outro. Uma forma de estar no planeta que não acabe com a própria Terra, ao
deixar para as gerações futuras problemas que nem sequer foram criados exatamente por eles.
A bioética de matriz africana pode nos ensinar, destarte, que só poderemos cuidar do “eu” se
cuidarmos do “nós”, e que cuidando do “nós”, cuidaremos ao mesmo tempo, do “eu”.

ATIVIDADE:

Questão 1 – Explique o que é a Bioética.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Em sua opinião, é possível construir um mundo com base em uma “ética da
responsabilidade”? Justifique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Por que Hans Jonas afirma que a técnica moderna parece se soltar do domínio
humano?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 4 – Qual o marco inicial do domínio humano sobre a natureza, segundo Jonas?

15
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 5 – O filósofo Jean Bosco Kokazi afirma que “se o ocidente buscasse aprender um
pouco mais com a cultura africana e oriental, haveria outras possibilidades de enxergar a
realidade e a natureza que poderiam promover um cuidado maior com o mundo”. Explique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 6 – Com base no conceito ubuntu da filosofia africana, o que significa afirmar que
“o eu encontra seus interesses dentro do nós”?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 7 – Qual a diferença entre uma visão de mundo antropocêntrica e uma visão de
mundo biocêntrica?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

16
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

A sociedade de consumo
Ao ligar a televisão, ler uma revista ou jornal, entrar nas redes sociais ou em qualquer
site e até mesmo ao caminhar pelas ruas, você se depara com diversos anúncios publicitários.
São dezenas, centenas de produtos anunciados que, diariamente, procuram atrair sua atenção e
despertar o desejo de consumo.
Você já reparou que na sociedade em que vivemos as pessoas valorizam a aquisição de bens
materiais, o acúmulo de riquezas e a posse de determinados objetos que lhes dão um certo
status quo? Todos querem obter os últimos lançamentos da moda, os carros do ano mais
sofisticados, o aparelho celular da última geração ou o tablet mais avançado. O desejo de
consumo aumenta ano após ano e toma conta da vida e da mente das pessoas.
Essa sociedade de consumo leva muitas vezes as pessoas para o individualismo e as
educa (pelos meios de comunicação, nas relações humanas e sociais) para a ambição e a
competição, para uma disputa de “quem tem mais”. Ainda apresenta como medida para ser
feliz e realizado somente o sucesso econômico e o acúmulo de bens materiais. É claro que
isso pode sim fazer parte do sucesso pessoal, mas será que ter “sucesso” se restringe a isso? O
consumo é importante por uma série de fatores pessoais, sociais e econômicos, mas e as
consequências para o mundo, para o indivíduo e para a sociedade, de um consumo
desenfreado? E as consequências ambientais trazidas por toda a poluição que a produção
industrial acarreta? E o acúmulo de riqueza na mão de uma pequena parcela da sociedade?

17
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Na década de 1970, o sociólogo e psicanalista Erich Fromm (1900-1980), em seu


livro “Ter ou ser?”, afirmou que a sociedade teria convertido o indivíduo em mero
consumidor de mercadorias (o que guarda estreita relação com as ideias desenvolvidas pelos
pensadores da Escola de Frankfurt, da qual Fromm também foi integrante), reduzindo a
essência do ser humano ao que ele tem, e não ao que ele é. As pessoas, na sociedade de
consumo, seriam exatamente aquilo que possuem ou que parecem possuir, o que conseguem
adquirir. O grau de “ser” delas (ou a sua essência) seria quantificado de acordo com os bens
que ela possui.
Assim, os grandes proprietários, a minoria da população global, teriam uma existência
em grau elevado, o que a faria reconhecida por todos, como se a vida deles valessem mais que
a vida dos que têm pouco. Enquanto a imensa maioria das pessoas que lutam diariamente para
garantir as condições mínimas de sobrevivência, como moradia e alimentação, padeceriam de
uma existência irrelevante, imperceptível.

 Saiba mais:

Para percebermos o
abismo de poder
econômico que separa
essas duas “classes
sociais” citadas por
Erich Fromm, um
relatório da organização
Oxfam, de 2020, aponta
que o 1% mais rico do
mundo detém mais que o
dobro da riqueza de 6,9
Bilhões de pessoas. Os 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza que cerca de 60% de

18
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

toda a população mundial, ou seja, pouco mais de 2 mil pessoas têm mais riqueza que 4,6
bilhões de pessoas juntas.

A VULNERABILIDADE DO SER

Se na sociedade de consumo uma pessoa é somente aquilo que tem, sua identidade está
sempre ameaçada, pois existe a possibilidade de perder todas as coisas que adquiriu e, com
isso, também aquilo que ela é. Dito de outro modo, o indivíduo pode, a qualquer momento,
deixar de ser o que é e se transformar em nada ou ninguém.
Por essa razão, se o que motivou a pessoa durante toda a vida foi a busca incessante de
bens materiais, se esse objetivo se tornou uma verdadeira paixão e um desejo insaciável, a
perda do que foi adquirido virá acompanhada de uma grande angústia e infelicidade. Além
dessa triste consequência para o indivíduo, a ambição pelo “ter” desencadeia uma série de
desigualdades sociais, pois surge como um desejo egoísta de não partilhar aquilo que se tem.
Nessa lógica, à medida que o outro adquire o mesmo bem de consumo que eu, a minha
felicidade fica comprometida, pois há uma perda do sentimento de “exclusividade” que o
poder econômico traz.

Erich Fromm defendeu outra forma de


existência, baseada não no “ter”, mas no “ser”.
Ser, para esse pensador, significa exercer a
humanidade de maneira plena, isto é, sentir,
pensar, amar, observar, ficar triste etc., dando
expressão às faculdades e aos talentos próprios
do sujeito, e não do objeto adquirido. Ser é viver
a experiência humana de forma crítica, reflexiva
e independente, sem reproduzir padrões da sociedade de consumo, sem fazer apenas aquilo
que todo mundo faz. Uma existência questionadora e crítica não estaria tão vulnerável a ser
reduzida a nada.

19
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

A IRRACIONALIDADE DO SISTEMA SOCIAL E A ANULAÇÃO DO INDIVÍDUO

Outro importante filósofo que refletiu a respeito da influência da sociedade capitalista


sobre o indivíduo foi Herbert Marcuse (1898-1979), teórico alemão que se tornou um dos
principais mentores dos movimentos estudantis que aconteceram na década de 1960, na
Europa e nos Estados Unidos. De acordo com esse filósofo, a participação cada vez maior da
tecnologia na vida das pessoas criou a aparência de que a razão estaria no controle de todo o
sistema no qual os consumidores estão envolvidos. Essa impressão, para Marcuse, estaria
equivocada, pois, apesar de ter suas técnicas apoiadas na ciência, o sistema é profundamente
irracional, na medida em que caminha contra as necessidades primordiais do ser humano.

“[...] essa sociedade é irracional como um todo. Sua produtividade é destruidora do livre
desenvolvimento das necessidades e faculdades humanas”
(Marcuse, Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1973, p. 14).

Marcuse defendia que o sistema


social havia se tornado uma grande
máquina tecnológica de controle e
dominação. Que o ser humano nesse
sistema teria abdicado da satisfação
plena de suas necessidades e desejos,
subordinando seus interesses aos da
sociedade tecnológica, que tudo controlaria e manipularia. Esse controle teria sido introduzido
com o uso de máquinas nas fábricas, substituindo a mão de obra dos operários, e teria se
estendido a todas as formas de organização de vida, passando a controlar também o lazer, as
relações entre as pessoas e até mesmo a sexualidade.
Os valores humanos teriam assumido a forma dos valores da sociedade consumista.
Nessa sociedade, nada despertaria com maior intensidade o interesse do homem do que o
conforto, o descanso, a distração e o consumo. O sujeito teria perdido sua individualidade em
prol do totalitarismo da sociedade tecnológica e da máquina produtiva.

20
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

ATIVIDADE:

Questão 1 – Com base nas ideias do filosofo Erich Fromm, analise a charge e responda às
questões:

a) Na sociedade contemporânea, qual dos personagens dessa charge seria mais valorizado?
Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

b) Qual o equívoco cometido nessa valorização?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

21
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Questão 2 – Estabeleça uma comparação entre a tira abaixo, de André Dahmer, e o


pensamento de Herbert Marcuse.

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Observe a tirinha abaixo, de Fabio Moon e Gabriel Bá, e responda as questões
seguintes:

a) Quem é o personagem central da tirinha e como e se enxerga?


22
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

b) Qual o estranhamento vivido pelo personagem?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

c) Que relação pode ser feita entre a tirinha e as ideias de Erich Fromm e/ou Marcuse?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

O valor da interpretação de texto:

A moda como modelo da sociedade de consumo

“Pode-se caracterizar empiricamente a ‘sociedade de consumo’ por diferentes traços: elevação


do nível de vida, abundância das mercadorias e dos serviços, culto dos objetos e dos lazeres,
moral hedonista e materialista etc. Mas, estruturalmente, é a generalização do processo de
moda que a define propriamente. A sociedade centrada na expansão das necessidades é, antes
de tudo, aquela que reordena a produção e o consumo da massa sob a lei da obsolescência, da
sedução e da diversificação, aquela que faz passar o econômico para a órbita da forma da
moda. ‘Todas as indústrias se esforçam com copiar os métodos dos grandes costureiros. Essa
é a chave do comércio moderno’: o que escrevia L. Cheskin nos anos 1950 não foi
desmentido pela evolução futura das sociedades ocidentais, o processo de moda não cessou de
alargar sua soberania. A lógica organizacional instalada na esfera das aparências na metade do
século XIX difundiu-se, com efeito, para toda a esfera dos bens de consumo: por toda parte,
são instâncias burocráticas especializadas que definem os objetos e as necessidades; por toda
parte, impõe-se a lógica da renovação precipitada da diversificação e da estilização dos
modelos”
23
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

(LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Companhia das letras, 2009, p. 184).

Com base no texto acima, responda:

Questão 1 – Qual é a tese ou a ideia central defendida no texto?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Quais são as características da moda comuns às da sociedade de consumo?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Você concorda que a lógica da moda realmente está presente na sociedade de
consumo? Justifique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

GILLES LIPOVETSKY E O SURGIMENTO DA SOCIEDADE CONSUMISTA

Se o consumo excessivo é um fato reconhecido, a questão é saber: por que isso


acontece? A resposta mais imediata é dizer que se adquirem coisas para satisfazer certas
necessidades. Mas isso só em parte é verdadeiro.
O consumo esteve presente em toda história da humanidade. Para sobreviver, o ser
humano precisa consumir. Porém, devemos investigar por que passamos do consumo para o
consumismo, e também esclarecer o que significa dizer que somos uma sociedade consumista.
Quais são as singularidades dessa sociedade? Por que desejamos tanto consumir?
24
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

A mentalidade consumista da sociedade contemporânea não surgiu de repente nem se


desenvolveu espontaneamente. Sobre isso, podemos nos apoiar nas reflexões do filósofo
francês Gilles Lipovetsky. Para ele, o processo de consumo em massa do capitalismo ocorreu
em três fases. Vejamos.
A primeira fase – a criação do consumidor moderno – teria iniciado no final do
século XIX com as técnicas industriais que possibilitavam a produção de mercadorias em alta
escala, com o aprimoramento dos transportes para escoar as mercadorias, com o
estabelecimento de grandes magazines, isto é, estabelecimentos que vendem ampla variedade
de produtos, e com a formação de mercadorias nacionais.
A segunda fase – a sociedade do consumo de massa – tem início por volta de 1950 e
vai até o final da década de 1970. Com novas técnicas – padronização, automatização,
repetição, linhas de montagem –, a produtividade aumentou e o preço dos produtos diminuiu,
o que permitiu que se ampliasse cada vez mais a base de consumidores. Foram criados os
supermercados e, pouco depois, os hipermercados. O tempo de vida dos produtos torna-se
cada vez menor e estimula-se no consumidor o desejo pelo novo, sobretudo através das
propagandas.
Na terceira fase, a que viveríamos hoje e que Lipovetsky chama de hiperconsumo, as
características da fase anterior foram acentuadas e surgiram outras, exaltando-se ainda mais os
desejos e os prazeres individuais dos consumidores em busca da felicidade privada imediata.
Viver melhor, desfrutar aqui e agora de satisfações de todo tipo – corporais,
emocionais, estéticas, sensitivas –, usufruir de momentos lúdicos, de lazer, viagens e
distração, ter saúde e prolongar a juventude são alguns dos alvos para os quais o consumismo
atual estaria voltado.
Não é à toa que, nessa fase,
os orçamentos com propaganda e
marketing aumentaram e o perfil dos
anúncios mudou. Presentes cada vez
mais em todas as mídias, as
campanhas publicitárias buscam
menos ressaltar as qualidades do
produto do que estabelecer vínculos
entre o consumidor e as marcas por
meio de apelos sensíveis e emocionais – não é preciso mais dizer na propaganda que
determinado refrigerante é bom por certas características como seu gosto ou sua composição
25
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

química, basta dizer que, ao tomá-lo, você estará “abrindo a felicidade”; não é mais preciso
dizer o nome de determinada marca de roupas na propaganda, basta colocar famosos cantores
e jogadores de futebol usando uma camisa ou chuteira com seu logotipo, que todos vão
conhecer a marca mesmo que o comercial não cite em nenhum momento seu nome.
Esse “consumo emocional”, no dizer do filósofo francês, não vende apenas uma
mercadoria, mas um estilo de vida: jovem, bonito, dinâmico, esportivo, preocupado com o
corpo, que anseia mudanças, busca o novo, desprende-se instantaneamente das coisas que
deixaram de ser inovadoras, dá importância ao lúdico, ao humor e à informação rápida. A
busca de identidade e felicidade individual estaria diretamente relacionada, então, ao
consumismo.

OS PROBLEMAS DO CONSUMO COMO FIM

O consumo exacerbado baseia-se, então, na procura de prazer individual imediato e na


criação incessante de necessidades e desejos. A produção de mercadorias é voltada para essa
lógica e os produtos e serviços são criados para serem consumidos rapidamente, pois logo
serão substituídos por uma novidade que prometa uma nova experiência. Nessa sociedade, as
mercadorias são usufruídas como novidade por pouquíssimo tempo, e seu horizonte pós-
imediato é o descarte, implicando desperdício. O consumo não é mais uma ação que visa à
sobrevivência, mas é em si um modo de existência.
(Segundo a
Organização Mundial da Saúde
(OMS), somente na América
Latina, são desperdiçadas, em
média, 127 milhões de
toneladas de alimentos a cada
ano, ao mesmo tempo em que o
continente tem cerca de 40
milhões de pessoas com
desnutrição).

26
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Tal consumo desenfreado e individualista acentua vários problemas, dois deles


evidentes: a devastação ambiental e a desigualdade social. O primeiro, é decorrente do fato
de os recursos naturais serem esgotáveis e sua intensa utilização irresponsável coloca sob
risco a satisfação das nossas necessidades básicas; o segundo problema, a desigualdade social,
é reforçado em uma sociedade centrada no individualismo, pois cada qual busca seu prazer,
sem se importar com o outro.
Dessa maneira, enquanto alguns podem consumir bens de luxo, serviços supérfluos e
gastar com frivolidades, outros, por falta de dinheiro, não têm acesso nem mesmo a coisas
essenciais, como remédios ou saneamento básico. Nesse aspecto, o capitalismo consumista é
ao mesmo tempo a sociedade do desperdício e da falta.

A INDÚSTRIA DA FRUSTRAÇÃO

Outro problema, não tão evidente, é a promessa de felicidade consumista e o não


cumprimento dessa promessa. Ou seja, o consumo não significa felicidade e a frustração da
felicidade faria parte do mecanismo de consumo. Vejamos como o pensador polonês
Zygmunt Bauman explica esse processo.
Em nossa sociedade, a felicidade está relacionada à satisfação dos desejos por meio do
consumo de produtos. No entanto, Bauman defende que a promessa de satisfação só
permanece sedutora enquanto o desejo não é plenamente alcançado. Isto é, o consumidor se
mobiliza comprando coisas à medida que busca satisfazer um desejo, algo que ele não tem e
quer. Se estiver satisfeito, não há desejo ou impulso para comprar mais.
Dessa maneira, é a não satisfação dos desejos que impulsiona a economia consumista.
Quer dizer, para esse tipo de sociedade, o ideal é a perpétua insatisfação dos consumidores.
Quanto mais insatisfeito alguém estiver, mais ela vai consumir. Como isso seria feito? Por
meio da desvalorização rápida das mercadorias. Os produtos são adquiridos e, logo depois,
são depreciados e tornam-se obsoletos. Adquire-se algo e logo em seguida surge uma
demanda por outra coisa mais moderna, mais na moda.
Como a produção em excesso e o desperdício, a criação e a frustração de desejos
seriam necessárias ao consumismo. Por esses motivos, Bauman afirma que vivemos em uma
economia do engano, pois ela estimula as emoções consumistas e não cultiva a razão.

VIDAS CONSUMIDAS NO CONSUMO

27
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Quando estudamos alguns aspectos das ideias de Erich Fromm, vimos que esse
pensador criticava a existência humana baseada na aquisição de coisas. Ele questionava a
ideia de que o ser humano é aquilo que “tem” e de que deveria, portanto, levar uma vida
voltada para acumular bens.
A situação do consumismo atual, no entanto, parece diferente e além, pois já não se
trata mais de acumular coisas, tampouco de achar que a essência de um indivíduo é o que ele
tem. A existência em nossa sociedade teria como foco o próprio consumo em si: o ato
compulsivo de comprar coisas e descartá-las em um processo sem fim. Isto é, a vida se
consumiria pelo consumo.
Se somos organizados em torno do consumo e o ato de consumir compulsivamente é
uma característica nossa, então a existência individual e social estaria empobrecida e
comprometida, havendo necessidade de repensá-la. Por que não começamos esse processo
evitando reproduzir os padrões consumistas em nossas vidas? Ou isso é impossível?

ATIVIDADE:

Questão 1 – O que caracteriza a sociedade consumista atual, segundo Lipovetsky?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Qual é o papel da propaganda no consumismo?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – O que significa dizer que a vida é consumida pelo consumo?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

28
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 4 – Em que medida os desejos consumistas atingem você? Explique.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

A Filosofia e o mundo atual


A filosofia é uma atividade que sempre se renova. Qual é, então, a importância dela
atualmente? A filosofia ajuda a superar os impasses cotidianos? Em certa medida, pode-se
afirmar que a reflexão filosófica é mais necessária atualmente do que foi em sua origem. A
sociedade contemporânea, complexa e contraditória, intensificou antigos problemas e criou
desafios. Os impactos decorrentes da crescente intervenção do ser humano na natureza, a
intolerância étnica e cultural e os efeitos das novas tecnologias nas relações humanas são
apenas alguns dos temas contemporâneos que exigem nossa reflexão.
Daí a importância da filosofia: ela pode contribuir para a análise cuidadosa e embasada
de todas essas questões e ajudar o ser humano a construir um novo modelo de vida, de
desenvolvimento e de relação com os outros e com a natureza.

O SENTIDO DA VIDA

Na sociedade em que vivemos, parece que o indivíduo perdeu consistência e se


fragmentou. Ele não é capaz de se opor à poderosa estrutura da chamada “sociedade de
massa”, cada vez mais globalizada, na qual é intensa a presença da tecnologia e do consumo.

29
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

É como se o humano perdesse as características que compõem sua identidade e se diluísse no


interior de um padrão homogêneo imposto a todos, bem como falou Herbert Marcuse no
capítulo anterior.

Além disso, o avanço científico-tecnológico e o desenvolvimento econômico parecem


não ter tornado as pessoas mais felizes. Ao contrário, muitas são afligidas pela angústia e se
sentem sozinhas mesmo cercadas de pessoas e bens, outras tantas desenvolvem sérias
patologias psicológicas e/ou psiquiátricas, como depressão, ansiedade e síndrome do pânico,
enquanto nunca foram vendidos tantos remédios e outros fármacos para esse fim como
atualmente.

 Dica:

O filme “Ela” (Her), produção de 2013 do diretor Spike Jonze (classificação


indicativa: 14 anos), conta a história de um escritor solitário, Theodore (Joaquim Phoenix),
que se apaixona pelo sistema operacional do seu computador, uma voz que é uma espécie de
“namorada virtual” para pessoas sozinhas. Será que essa ficção está muito distante da
realidade de nossa sociedade?
Em nossa sociedade, muitos indivíduos frequentemente sofrem por não encontrar
sentido para sua existência. Nesse aspecto, a reflexão crítica sobre as condições de nossa
civilização pode levar as pessoas a estabelecer um novo significado para o viver e o conviver.
Uma das chaves para usufruir uma vida minimamente tranquila e prazerosa estaria, então, em
30
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

pensar os limites e possibilidades de nossa existência por meio da filosofia e do


autoconhecimento.

CHARLOTTE BLEASE: A FILOSOFIA PODE ENSINAR O QUE O GOOGLE NÃO


PODE

A filósofa Charlotte Blease, do Reino Unido, escreveu um artigo para o jornal


britânico The Guardian, onde expõe sua visão sobre a importância da filosofia no século XXI.
Para a pensadora, a filosofia “é uma das ferramentas mais poderosas que temos à nossa
disposição para capacitar as crianças a atuar como sujeitos livres e responsáveis em um
mundo cada vez mais complexo, interconectado e incerto”, mesmo em um mundo onde “a
maioria das pessoas prefere morrer a pensar”. Vejamos o texto de Blease.

A filosofia pode ensinar o que o Google não pode

Seja com a invenção de carros sem motorista, ou nos telefones quando ligamos para o banco
ou para uma loja: todos sabemos que os robôs estão chegando, e em muitos casos já estão
aqui. Em 2013, economistas da Oxford University’s Martin School estimaram que, nos
próximos 20 anos, mais de metade de todos os empregos serão substituídos por tecnologias
inteligentes. Como essa perspectiva de uma vida auxiliada por robôs, é tolo negar que as
crianças que estão na escola hoje entrarão num local de trabalho muito diferente amanhã - e
isso se tiverem sorte. [...] Os futurólogos preveem que os trabalhos administrativos e
burocráticos serão cada vez mais terceirizados para "máquinas", bem como os trabalhos
manuais. Diante disso, como os educadores devem preparar os jovens para a vida cívica e
profissional numa era digital? [...] Redobrar o investimento em ciência, tecnologia,
engenharia e matemática não vai resolver o problema, pois: o treinamento em altas
tecnologias tem suas limitações imaginativas. Num futuro próximo, os que abandonaram a
escola precisarão de outras habilidades. Em um mundo onde o conhecimento técnico é cada
vez mais restrito, as habilidades e a confiança para percorrer disciplinas será recompensado.
Precisaremos de pessoas que estejam preparadas para perguntar e responder às perguntas que
não são encontradas no Google, como: Quais são as ramificações éticas da automação das
máquinas? Quais são as consequências políticas do desemprego em massa? Como devemos
distribuir a riqueza em uma sociedade digitalizada? Como sociedade nós precisaremos estar
mais familiarizados com a Filosofia para discutirmos tais questões. Em meio às incertezas
políticas de 2016, o presidente irlandês Michael D Higgins lançou uma luz nesta área. "O
ensino da filosofia", disse ele em novembro, "é uma das ferramentas mais poderosas que
temos à nossa disposição para capacitar as crianças a atuar como sujeitos livres e responsáveis
em um mundo cada vez mais complexo, interconectado e incerto". A sala de aula, ele
enfatizou, oferece um "caminho para uma cultura democrática humanista e vibrante". Em
2013, enquanto a Irlanda lutava contra os efeitos da crise financeira, Higgins lançou uma
31
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

iniciativa nacional que pedia um debate sobre o que a Irlanda valorizava como sociedade. O
resultado é que em setembro, pela primeira vez, a filosofia foi introduzida nas escolas
irlandesas. O curso para jovens de 12 a 16 anos provoca os jovens a refletirem sobre questões
que - até agora - estavam ausentes dos currículos escolares. No Reino Unido, uma rede de
filósofos e professores ainda está tentando implantar algo parecido. E na Irlanda, uma nação
que já foi considerada "o país mais católico", já está explorando reformas para estabelecer a
filosofia para as crianças como um assunto dentro das escolas primárias. Esta expansão da
filosofia no currículo é algo que Higgins e sua esposa Sabina, graduada em filosofia, pediram
expressamente. As opiniões de Higgins estão à frente de seu tempo. Se alguns educadores
assumem que a filosofia é inútil, é justo dizer que muitos filósofos acadêmicos ainda são
territoriais ou ignorantes sobre a viabilidade de tratarem do assunto para além da academia. Se
por um lado os educadores precisam ficar sábios, por outro lado os filósofos precisam superar
a si mesmos. O pensamento e o desejo de compreender não vêm naturalmente - ao contrário
do que Aristóteles acreditava. Diferentemente, digamos, da fome e da fofoca, a filosofia não é
um interesse universal. Bertrand Russell aproximou-se disso quando disse: "A maioria das
pessoas prefere morrer do que pensar; na verdade, é isso que fazem ". Embora possamos
todos ter a capacidade de filosofar, é uma capacidade que requer treinamento e "cutucões"
culturais. Se a busca da ciência requer algum andaime cognitivo, como argumenta o filósofo
estadunidense Robert McCauley, então o mesmo vale para a filosofia. A filosofia é difícil.
Abrange a dupla exigência de trabalho árduo e um supervisor sério. Isso nos obriga a superar
os preconceitos pessoais e as armadilhas no raciocínio. Para isso é necessário o diálogo
tolerante, e imaginar pontos de vista divergentes enquanto os avalia. A filosofia ajuda as
crianças - e os adultos - a articular perguntas e a explorar respostas que não são facilmente
extraídas pela introspecção ou pelo Twitter. No seu melhor, a filosofia coloca ideias, não
egos, na frente e no centro. E é a própria fragilidade - a não-naturalidade – da filosofia que
exige que ela seja incorporada, não apenas nas escolas, mas nos espaços públicos. A filosofia
não vai trazer de volta os trabalhos perdidos para os robôs. Não é uma cura para todos os
problemas atuais ou futuros do mundo. Mas pode construir uma imunidade contra
julgamentos descuidados, e certezas não avaliadas. A filosofia em nossas salas de aula poderia
nos preparar melhor para perceber e desafiar os conhecimentos convencionais da nossa era.
(Texto publicado em 09/01/2017 no jornal The Guardian).

Assim, a filosofia, mais do que um instrumento utilizado para resolver uma


necessidade imediata e específica, deve ser compreendida como um caminho que não leva a
nenhum lugar preciso do mapa humano, mas que, no entanto, tem o poder de mudar o
caminhante e que, ao fazê-lo, muda o próprio mapa, enriquecendo-o com novas e infindáveis
possibilidades. A filosofia, em si mesmo, não vai mudar a mundo. Mas ela pode contribuir
para a mudança do pensamento das pessoas, e são essas mesmas pessoas que serão os agentes
de alguma possível
transformação do mundo.

32
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Bertrand Russell, ao defender a necessidade do ensino de filosofia, afirmava que os


problemas filosóficos alargavam o horizonte humano, ampliando as nossas concepções do que
é possível, enriquecendo a imaginação intelectual e diminuindo o dogmatismo, que fecha a
nossa mente para diversas possibilidades e novos entendimentos.
Desse ponto de vista, a filosofia e seu exercício podem trazer vantagens tanto ao
indivíduo filosofante – para Sócrates, por exemplo, a vida não questionada não valeria a pena
ser vivida –, quanto à humanidade, pois a filosofia é um exercício que põe em evidência o
próprio ser humano e toda a maravilhosa e complexa teia que é a sua vida e o seu lugar no
mundo.

ATIVIDADE:

Questão 1 – Segundo o que foi exposto no capítulo 3, quais os temas contemporâneos que
exigem nossa reflexão?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Em sua opinião, a internet mais aproxima ou afasta as pessoas? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
33
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Questão 3 – Você concorda com a ideia de Charlotte Blease, que a filosofia pode ensinar
coisas que o Google não pode. Justifique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 4 – O filósofo argentino Dario Sztajnszrajber afirma que a filosofia “não faz
perguntas para encontrar respostas, mas sim para questionar as respostas já estabelecidas”.
Explique e dê um exemplo do que o filósofo quer dizer.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 5 – Segundo o texto de Blease, por que o filósofo Russel afirmava que "a maioria
das pessoas prefere morrer do que pensar”? Explique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

34
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Filosofia: muito além da razão


Os filósofos que
estudaremos nesta
unidade defenderam
uma filosofia que se
voltasse à existência
individual de cada ser
humano. Kierkegaard
acreditava que a
filosofia deveria tratar
do indivíduo, de suas reflexões subjetivas, dos sentimentos e emoções que acompanham sua
vida. Schopenhauer destacou a existência de uma força irracional presente em tudo no
Universo, a qual ele chamou de Vontade. Nietzsche também ressaltou a existência de uma
força instintiva, a vontade de potência muito superior à razão e ao conhecimento racional e
consciente. Para esses filósofos, o mundo não era um todo ordenado racionalmente, como
pretendiam os sistemas filosóficos anteriores, e a vida não teria um sentido preestabelecido. A
vida seria repleta de dor, sofrimento, degeneração e morte.
35
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Começando o capítulo

E se a vida fosse um salto?


Se a vida fosse um salto,
seria um salto de olhos fechados.
Durante a escuridão da queda,
até chegar a um destino improvável,
você percorreria mentalmente as possibilidades.
E a angústia de um fracasso
tomaria conta de seu espírito,
fazendo tremer todo seu corpo.
Nos instantes da queda,
seriam só as possibilidades,
esse nada profundo,
e a eterna solidão.

Questão 1 – No poema acima, a vida é comparada a quê? Explique.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Segundo o eu poético, o que causaria angústia e como ela se manifestaria?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Por que percorrer mentalmente as possibilidades da vida poderia causar tanto
sofrimento?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

36
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

KIERKEGAARD E SCHOPENHAUER: O SENTIMENTO E A VONTADE

Neste capítulo vamos travar um diálogo com o dinamarquês Sören Kierkegaard


(1813-1855), para quem a filosofia deveria tratar do indivíduo, de sua vida e seus sofrimentos,
como a angústia. Também estudaremos o alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) e sua
teoria da Vontade, uma força ou energia irracional do Universo que estaria presente em tudo.

Kierkegaard: o indivíduo e sua trajetória

Existem mais de 7 bilhões de


pessoas ao redor do mundo. Só no
Brasil há mais de 200 milhões. Todas
essas pessoas apresentam entre si
características comuns, afinal somos
da mesma espécie. No entanto, cada
pessoa é um ser singular, com
aspectos físicos, emocionais e

37
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

psicológicos particulares. Além disso, cada pessoa tem uma experiência de vida, um jeito de
ser e uma história que é única.
Para o filósofo cristão Sören Kierkegaard, a filosofia deveria se preocupar, em
primeiro lugar, com a existência real das pessoas. Por isso, Kierkegaard foi um crítico mordaz
do idealismo alemão, especialmente do sistema de Hegel.

Olhar para a existência humana

A filosofia de Hegel considerava que os fatos históricos não aconteciam por acaso,
mas pertenciam a um plano racional. Para Hegel, haveria uma racionalidade que governaria o
mundo e a vida humana.
Kierkegaard se opôs a esse pensamento. Segundo ele, a tentativa de explicação
genérica da totalidade do mundo deixava de lado o mais importante: a existência humana
concreta. Em outras palavras, a marcha do Espírito seria uma especulação de Hegel que nada
teria a ver com a existência real e cotidiana das pessoas.
Em vez de criar sistemas totalizantes e ilusórios de compreensão do mundo,
Kierkegaard defendia que o trabalho do filósofo deveria ser o de olhar para a existência
humana e tentar compreendê-la. A verdadeira realidade do ser humano (isto é, seus mais
íntimos desejos e seus sofrimentos) estaria na existência concreta de cada indivíduo.

O ser humano diante das possibilidades da existência

Para Kierkegaard, ao contrário do que pregavam as filosofias racionalistas e idealistas,


a realidade concreta dos indivíduos não seguiria uma racionalidade ou um plano ideal. O
destino de cada pessoa estaria aberto a múltiplas possibilidades e seria influenciado por cada
uma de suas decisões e escolhas. Quer dizer, a vida humana poderia ser um fracasso ou um
sucesso, toda a nossa vida era um salto no escuro, um enorme mar de possibilidades.

38
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Assim, por exemplo, decisões como estudar ou não, escolher essa ou aquela amizade,
essa ou aquela escola, frequentar ou não uma igreja, trabalhar ou não, procurar um novo
emprego ou permanecer no mesmo, tudo isso de alguma forma influenciaria o destino do
indivíduo. Além do mais, nenhuma decisão poderia garantir necessariamente uma vida bem-
sucedida.
Como dizem as palavras do poema que introduz este capítulo, a vida seria um salto no
escuro e ninguém teria certeza dos acontecimentos. Haveria sempre a possibilidade do
desfavorável, do infortúnio, da miséria, do engano ou do fatal. A possibilidade de
adversidades sempre acompanharia a existência humana. E essa situação e iminência do
infortúnio ou do fracasso provocaria angústia, um sentimento de aflição, opressão e tristeza.
Kierkegaard também refletiu sobre outros sentimentos, como o desespero e a solidão.
Inicialmente, sua filosofia foi pouco aceita pelos pensadores da época; posteriormente, foi
retomada por filósofos do século XX, contribuindo para originar uma importante escola de
pensamento, o existencialismo, desenvolvido por pensadores como Martin Heidegger,
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

Schopenhauer: a vontade cega e a irracionalidade da vida

O filósofo Arthur Schopenhauer foi


contemporâneo de Kierkegaard e, da mesma
forma que este, se opôs à filosofia
racionalista e idealista. Schopenhauer, como
os românticos, refletia a respeito do infinito
e da unidade de todo o Universo. Entretanto,
para ele, o infinito não era racional e
organizador da realidade, como defendiam
os idealistas alemães. Ao contrário,
Schopenhauer defendia a existência de uma

39
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

força ou energia presente em toda natureza, que o filósofo considerava cega, irracional. Ele
chamou essa força de Vontade.
A Vontade estaria presente na ação de um pássaro fazendo um ninho, de uma aranha
tecendo sua teia, de uma abelha produzindo mel, ou de qualquer outra atividade animal. Todas
essas ações não são racionais; elas não resultam de um movimento consciente e racionalmente
planejado, pois os animais agem apenas impulsionados pela Vontade.
A Vontade seria, então, responsável pelo nascimento e pelo desenvolvimento dos seres
vivos, pelas forças de atração e de repulsão dos corpos, pela gravidade e por tudo que existe.
A Vontade seria a essência íntima do Universo, que abarcaria a natureza, os seres animados e
inanimados, e, portanto, também o ser humano, seus desejos, pensamentos e ações. Esse
conceito ocupa o centro da investigação filosófica empreendida pelo filósofo alemão. Ele será
apropriado e modificado por filósofos posteriores, como Friedrich Nietzsche.

O corpo humano e a Vontade

Você talvez esteja se perguntando: “Mas o ser humano não é um ser que age
racionalmente”? É verdade, o ser humano, por meio da razão, aprende a refletir, conceituar e
analisar as coisas, os fatos e as pessoas, e adquire, dessa forma, o conhecimento. Mas, para
Schopenhauer, esse fato racional seria apenas um aspecto menor da característica humana.
No ser humano, a força infinita da Vontade se manifestaria não apenas nas ações
conscientes, racionais ou voluntárias, como ir à escola, ler um livro, jogar futebol ou ver TV,
mas também nas ações inconscientes dos processos vitais, como o crescimento, a digestão, o
batimento cardíaco ou as mudanças químicas do corpo.
Pense, por exemplo, no que está acontecendo neste exato momento com seu corpo
enquanto lê esta apostila. Seu coração pulsa, você respira, a circulação sanguínea irriga seu
corpo, sua musculatura tem uma tensão suficiente para que você consiga ficar sentado, e
assim por diante. Nesse momento, seu corpo – seus órgãos e sistemas orgânicos – está
trabalhando incessantemente, seu organismo está fazendo centenas ou milhares de operações
para que você possa viver, pensar e sentir.
Tudo isso acontece sem que você perceba. Não é necessário dar uma ordem ao seu
coração para que ele funcione, tampouco impor ao seu diafragma que pressione seu pulmão e,
assim, você possa respirar. Tudo isso, segundo Schopenhauer, acontece por causa dessa força
universal infinita e irracional.

40
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

“Em nós, também, a vontade é cega em todas as funções do nosso corpo, que nenhum
conhecimento rege, em todos os processos vitais ou vegetativos, na digestão, secreção,
crescimento, reprodução”
(SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 2001, p.
124).

O mundo como Vontade e representação

“O mundo como Vontade e representação” é a principal obra de Schopenhauer.


Neste livro, o filósofo sustenta que, assim como afirmava Kant, nós podemos conhecer apenas
os fenômenos ou as representações, isto é, só podemos conhecer o que aparece em nossa
mente. Mas os fenômenos, para Schopenhauer, não passavam de aparências ou ilusões que
encobririam a verdadeira realidade. E qual seria a verdadeira realidade? O mundo, ou a
realidade, mais do que fenômeno ou representação, seria Vontade. O intelecto humano
conheceria o mundo como representação, enquanto o corpo humano saberia e sentiria que há
uma energia universal em tudo o que existe, incluindo ele próprio.

A vida é marcada pelo sofrimento

41
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Fidelidade (1869), pintura de Briton Riviére. A tela mostra alguém que parece padecer de um grande sofrimento,
acompanhado fielmente por um cachorro.

Sendo a Vontade cega, sua presença no Universo não determina nenhuma ordem
racional. Diferentemente do que afirmava Hegel, os acontecimentos não seriam explicados
por algum tipo de projeto ou atividade racional. Assim, o universo não seria harmonioso.
O mesmo aconteceria com a vida de cada pessoa, pois não teria um sentido
preestabelecido. Para Schopenhauer, o ser humano vive preso à força irracional e infinita da
Vontade, de um desejo que não é satisfeito por completo. Sendo a Vontade um sentimento
infinito e insaciável, o prazer e a felicidade seriam meras ilusões. A vida, então, seria marcada
por adversidades, como o sofrimento, a doença, a miséria, a guerra, a dor e a morte.
Bem como ocorre com outros animais, o humano sofreria sem nenhum motivo
específico. Sua situação seria ainda pior que a de outros animais, porque ele tem consciência
de que caminha em direção à morte, ele tem a capacidade de não apenas sofrer (de maneira
instintiva e não explicada), mas de conseguir pensar profundamente no seu sofrimento e na
sua angústia.
O pessimismo de Schopenhauer pode ser sintetizado em suas próprias palavras: “A
vida é um negócio que não cobre seus custos”.

O sofrimento voluntário

Apesar de a vida ser uma experiência de dor e sofrimento sem fim, o ser humano
deseja viver. Schopenhauer considerava essa vontade de viver a expressão da Vontade infinita
ou cósmica no homem. Segundo o filósofo, a única maneira de acabar com a dor e o
sofrimento seria sufocando a vontade de viver, isto é, aniquilando esse desejo.

42
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Capacho (2017), obra de Jorge Fonseca. O título dessa obra, que foi feita em formato de coração e com grama
sintética, brinca com a frase “pode pisar, eu deixo”. Parece que o artista fala de uma dor voluntária sentida por
alguém que ama.

Para negar o querer viver, o filósofo defendia que o ser humano deveria se flagelar,
renunciar voluntariamente aos prazeres e as paixões e realizar jejuns prolongados. O exemplo
de negação do desejo vital escolhido por Schopenhauer é o dos santos e religiosos místicos
hindus, que aplicavam castigos e suplícios terríveis a si mesmos. A cultura e a filosofia
oriental foram grandes influenciadoras do pensamento do filósofo alemão, sobretudo a
filosofia vedanta, que é o fundamento de algumas formas das religiões hindu e budista na
Índia.

ATIVIDADE:

Questão 1 – Na filosofia de Kierkegaard, qual é a relação entre possibilidade e angústia?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Por que Schopenhauer afirma que a vida humana é marcada pelo sofrimento?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
43
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Com base no pensamento de Kierkegaard ou de Schopenhauer, redija uma breve


reflexão a respeito da tela a seguir, chamada O grito, do pintor norueguês Edvard Munch.

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 4 – Observe o quadro Retirantes (1944), do pintor Cândido Portinari.

44
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

a) Que impressões a pintura desperta em você? A que elementos da tela essas impressões
estão associadas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

b) Você tem ideia da situação de vida das pessoas representadas nessa tela? Qual seria a
relação entre essa situação e o título da pintura?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

c) Relacione a pintura ao pensamento do filósofo Sören Kierkegaard a respeito da vida.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 5 – Segundo o pensamento de Kierkegaard, qual deveria ser a primeira preocupação


da filosofia?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

45
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 6 – Na citação a seguir, a filósofa Marilena Chauí descreve dois importantes


conceitos lógicos.

“Princípio de identidade – (A é A, isto é, uma coisa é sempre e necessariamente idêntica a si


mesma)”;
“Princípio da não-contradição – (A é A e não pode ser não-A, isto é, é impossível que uma
coisa seja idêntica a si mesma e contrária a si mesma, ao mesmo tempo e na mesma relação)”.
(CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das letras, 2002, p. 365).

Agora, identifique se as frases I e II contrariam o princípio da não-contradição e da


identidade. Justifique.

I. Meu time ganhou o jogo de futebol ontem, mas fez menos gols válidos que o adversário na
partida.
II. Vi um quadrado com cinco lados.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 7 – Uma frase contraditória é necessariamente falsa, mas nem toda frase falsa é
contraditória. Sabendo disso, analise as frases a seguir e marque “S” para a frase apenas falsa
sem contradição e “C” para frase falsa com contradição.

( ) O filósofo Platão não existiu.


( ) Ele é solteiro, mas está casado.
( ) Deus existe e não existe ao mesmo tempo.
( ) Todo gato tem sete pernas.
46
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

( ) A terra é plana.
( ) Vitória é uma cidade capixaba do estado de São Paulo.

Nietzsche: a transformação de todos os valores

Fotografia da série Bailarinas do Cairo (2017), de Mohamed Taher. O fotógrafo registra mulheres que se
expressam por meio da dança nas ruas da capital egípcia para lutar contra o assédio.

47
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Quem disse que a vida tem razão?

Quero cada gota de vida. Que eu sinta a corrente sanguínea evoluindo em quedas e
cachoeiras, inundando todas as praias de meu corpo. Quero a verdade, a ira cruel da natureza,
a violência animal e humana, a fúria que está escondida em cada um de nós. Quem disse que a
vida tem razão? Não há racionalidade na árvore que brota, no bote da cobra, na guerra ou na
doença. Há a embriaguez da vida que palpita com força, querendo mais vida.
Uma potência para ser mais e abraçar o vento do mundo. Força que gera força. Vida
que transborda vida. E, quando o bonzinho der lugar ao verdadeiro, quando a vida crua e
áspera rasgar o véu e mostrar a sua beleza e feiura por inteiro, então surgirá um novo homem,
que, olhando para a terra, cantará o seu destino.

Começando o capítulo

Questão 1 – Que relação o “eu” poético do texto mantém com a vida?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Explique a oposição estabelecida no texto entre “racionalidade” e “embriaguez”.


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Segundo o eu poético, qual a condição para surgir um “novo homem”? Você
concorda com essa ideia?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
48
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

A necessidade de um novo ser humano

A declaração do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) transcrita a seguir revela


muito sobre o seu pensamento.

“Eu encontrei em todas as coisas esta certeza feliz: elas preferem dançar sobre os pés do
acaso”
(NIETZSCHE, Friedrich. História da filosofia. 4 Ed. Lisboa: Presença, 2004, p. 166).

Assim como Schopenhauer, Nietzsche defendeu que não existe ordem ou razão no
mundo determinando os acontecimentos. A vida, para ele, consiste em irracionalidade. Ela
não se desenvolve de maneira progressiva e ordenada, não tem objetivo ou finalidade. A vida
se apresenta ao acaso com toda sua força e trágica realidade: é luta, incerteza e afirmação.
Algumas vezes, é dor e sofrimento; outras, é alegria, paixão e prazer.
Refletindo sobre a realidade trágica da vida, Nietzsche a exaltou e a aceitou em sua
totalidade, independentemente das adversidades enfrentadas pelo ser humano. Ele combatia
qualquer pensamento que, a seus olhos, negasse a vida terrena e o mundo concreto, por isso
criticava severamente a tradição filosófica racionalista e o cristianismo, que seriam contrários
à vida efetiva. Os cristãos, os racionalistas e os idealistas teriam criado sistemas metafísicos
que desvalorizavam nossas vivências concretas e humanas.
Para Nietzsche, os valores humanos se desenvolveram amparados nesse tipo de
pensamento, que negava a realidade e o corpo. Por isso, ele defendia a inversão de todos os
valores e a constituição de uma nova humanidade. Nietzsche se considerava um filósofo à
frente de seu tempo, responsável por anunciar a necessidade de um novo homem (o super-
homem, ou além-homem), para ultrapassar todos os valores que considerava falidos e
antiquados.

“Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo que deve ser superado. Que fizeste para
superá-lo? Todos os seres, até agora, criaram algo acima de si mesmos; [...] eu vos rogo, meus
irmãos, permanecei fiéis à terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças
49
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

ultraterrenas! Envenenadores são eles, que o saibam ou não. Desprezadores da vida, são eles
[...] O homem é apenas uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda
sobre um abismo”
(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Círculo do livro, s/d, p. 29-31).

Você concorda que as religiões e as filosofias metafísicas são uma fuga da realidade?
Justifique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

A crítica ao racionalismo

Nietzsche combateu o racionalismo e se opôs à ideia de que a razão é a principal


característica do ser humano e de que só ela é capaz e compreender a realidade. Para ele, a
realidade do mundo e do homem é muito mais ampla do que a nossa razão pode dar conta e
compreender. Tentar reduzi-la à razão ou a critérios puramente racionais é empobrecê-la e
deformá-la.
Por exemplo, pense na frase “o ser humano é um ser racional”. Se tomássemos essa
frase como uma definição completa do ser humano, estaríamos partindo de uma visão muito
estreita ou limitada. Também são atributos humanos a emoção, o sentimento, o desejo, o
corpo e uma quantidade quase infinita de manifestações e possibilidades. Para Nietzsche, o
ser humano é essencialmente uma força instintiva e suas manifestações incompreensíveis são
muito mais poderosas e definidoras de quem nós somos e nos tornamos do que as
manifestações conscientes e racionais.
Nietzsche acusou o pensamento racional de abandonar a sabedoria instintiva e de
pretender, mais do que compreender o mundo, corrigi-lo a partir de seu próprio ponto de
vista. Em outras palavras, o filósofo alemão condenou o uso da razão como critério único para
conhecer o que é verdadeiro e real. Para ele, o que a razão não pode conhecer é justamente a
parte mais ampla e rica da realidade.

50
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Na obra Assim falou Zaratustra, Nietzsche descreve as três metamorfoses do homem: primeiramente um
camelo submisso e usado para carregar fardos, ele se tornaria um forte leão capaz de romper suas amarras e
correntes para, por fim, vir a ser livre, ativo e criativo como uma criança, o símbolo maior da pura liberdade e
criatividade humanas.

A origem da tragédia

A crítica de Nietzsche ao racionalismo foi iniciada tendo como modelo a arte, na obra
O nascimento da tragédia. Nesse trabalho, o filósofo defendeu que a arte era a mais
importante manifestação humana, pois ela poderia exaltar a vida e ajudar o indivíduo a
enfrentar as adversidades e o sofrimento do existir.
Para ele, a tragédia grega teria surgido de duas tendências artísticas distintas que
expressavam duas forças contrárias no mundo: a tendência apolínea e a dionisíaca. Apolo, que
deu origem ao termo apolíneo, é o deus da ordem, da razão, da aparência e da beleza.
Dionísio, que deu origem ao termo dionisíaco, é o deus da força instintiva, da paixão, da
embriaguez, da alegria, da liberdade e dos prazeres.
Enquanto houve equilíbrio entre essas duas forças, a arte pôde prosperar e a cultura
grega atingiu seu auge. No entanto, quando o apolíneo predominou, quando a razão e a ordem
aprisionaram os instintos e a paixão, a arte e a sociedade grega foram entrando em declínio.
Sócrates e Platão foram considerados por Nietzsche os filósofos que iniciaram essa crise.

51
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Sócrates e a racionalização do mundo

Segundo Nietzsche, Sócrates impulsionou o processo de racionalização do mundo ao


exaltar o saber e considerá-lo a principal virtude humana e a única maneira de alcançar a
verdade. Para Sócrates, o erro e a injustiça seriam resultados da ignorância, do não saber; tudo
o que não passasse pelo julgamento da razão, ou que não pudesse ser compreendido
racionalmente, seria ilusão e ignorância.

“Para onde dirige seu olhar inquisidor, lá ele [Sócrates] vê a falta de entendimento e a força
da ilusão, e conclui dessa falta que o que existe é intrinsecamente pervertido e repudiável. A
partir desse único ponto acreditava Sócrates ter de corrigir a existência [...]”
(NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia. São Paulo: Abril cultural, 1983, p. 12).

Assim, Sócrates ignorou ou negou aspectos fundamentais da existência. Ele teria


recusado o que há de trágico na vida, como o sofrimento, a dor, a crueldade e a incerteza,
cobrindo a vida com o véu da ilusão racional. Sócrates teria acreditado na correção do mundo
pelo saber e em uma vida guiada pela ciência.

Platão e o “mundo perfeito”

Grande parte da filosofia platônica teria seguido o caminho aberto pelas considerações
de Sócrates. Na Teoria das Formas, por exemplo, Platão explicou a realidade a partir do
mundo inteligível, isto é, de uma realidade que só poderia ser conhecida por meio do
pensamento e na qual se encontraria as verdades eternas e imutáveis.
Para o discípulo de Sócrates, a realidade visível seria uma cópia imperfeita de uma
realidade superior, a inteligível, chamada de “Mundo das ideias”. Dessa maneira, Platão
teria tentado eliminar da vida o erro, a imperfeição e a mortalidade, já que, no mundo das
formas ou mundo das ideias, tudo seria eterno e perfeito.
Nietzsche combateu a racionalização do mundo e a negação das experiências tais
como elas são por nós vivenciadas. Para ele esse processo iniciado por Sócrates e
acompanhado por Platão, teria sido aprofundado com o desenvolvimento da ciência e da
filosofia ocidental.
52
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

A crítica ao cristianismo

A crítica “nietzschiana” endereçada a Platão foi estendida ao cristianismo, que,


segundo o filósofo alemão, era uma espécie de platonismo para o povo. De modo semelhante
à teoria de Platão, o cristianismo serviria de consolo ao ser humano para ajudá-lo a suportar a
vida. Como a realidade é cruel, teria sido criada uma moral religiosa judaico-cristã para dar
sentido à existência humana defendendo a ideia reconfortante da vida após a morte e de
resignação diante das adversidades da vida.
Para Nietzsche, o cristianismo negava a vivência concreta do ser humano no tempo e
seu caminho em direção a morte. O pensador alemão discordava da doutrina cristã, segundo a
qual a imortalidade e a felicidade estavam reservadas em outro mundo para os que seguissem
os mandamentos de Jesus. Essa era a base do cristianismo, que representava, para Nietzsche,
uma pregação de renúncia à vida terrena e concreta, ao corpo e a tudo de material que
circunda a vida humana e seria trocado pela promessa imaterial de uma pós vida.

“A fé cristã é, desde seus primórdios, sacrifício, sacrifício de toda liberdade, de toda


independência do espírito; ao mesmo tempo, escravização e escárnio de si mesmo, mutilação
de si.”
(NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal. São Paulo: Hemus, 2001, p. 58).

Vontade de potência

Nietzsche, ao exaltar a vida, ressaltou o que seria a tendência ou o elemento


fundamental da natureza humana: a vontade de potência. A vontade de potência seria a
energia da existência humana, a vontade de ser, de persistir, de se desenvolver e de
intensificar a vida e seus atributos. Consistia, para Nietzsche, na pluralidade de forças
presentes no Universo, que está sempre em movimento, passando por criações e destruições,
gerações e degenerações incessantes.
A vontade de potência seria o mais forte de todos os instintos, integraria todas as
funções orgânicas do corpo e da mente, da consciência e do inconsciente, impulsionando não
só a sobrevivência, mas também um “ir além”. A vontade de potência despertaria no ser
humano o desejo de poder e a necessidade de crescer e expandir-se, vencendo todas as
resistências e obstáculos.
53
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Para Nietzsche, o cristianismo e as filosofias metafísicas, além do pensamento


racionalista, teriam negado a vida e se tornado uma barreira para a afirmação da força vital do
universo no homem, sufocando essa vontade instintiva.

A morte de Deus e o surgimento do super-homem

Na obra A gaia ciência, Nietzsche anunciou a morte de Deus. Qual seria o significado
dessa afirmação? Ao declarar isso, o filósofo estava apontando o fim de um período marcado
pela filosofia socrático-platônica e pela tradição judaico-cristã. Para ele, o século XIX estava
presenciando o desaparecimento de um modo de pensar e de viver. Em outras palavras, o ser
humano deixava de estruturar sua vida com base em verdades eternas e absolutas, não mais se
orientando pela fé em um ser divino que traria harmonia ao Universo e sentido ao viver.
Para Nietzsche, com a morte de Deus e o fim das explicações sobrenaturais a respeito
da vida e da realidade terrena, o antigo conjunto de valores humanos desabaria. Segundo ele,
era chegada a hora de o indivíduo assumir o controle de sua existência, sem subterfúgios, sem
ilusões, sem o devaneio do além-mundo, sem os valores morais que oprimiam seus instintos e
vontades mais primitivas.
Para a realização dessa tarefa que aparecia em breve, seria preciso um outro tipo de ser
humano, um super-homem (ou além-homem), que não fosse pessimista em relação à vida e,
portanto, não a negasse ou fugisse dela em nome de promessas no além-mundo. Ao contrário,
um super-homem que a amasse, que constituísse sua existência baseando-se em sua natureza,
em sua vontade de potência.

54
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Em poucas palavras, um super-


homem que se apoiasse não em um
mundo celeste inexistente, mas na Terra e
nas coisas terrenas, em seu corpo e em
seus instintos. Alguém que deixasse a
vida de camelo e de leão (como o
pensador expõe no livro Assim falou
Zaratustra), para ser uma eterna criança, que simboliza, na filosofia de Nietzsche, a inocência
e o frescor de quem quer criar valores inteiramente novos, de quem quer viver de maneira
livre e criativa, de maneira nova, como um novo e super-homem que abandonaria os valores e
modos de vida do homem comum, racionalista e metafísico, superando-o através de uma vida
baseada nos instintos, nas emoções e nas paixões humanas.

“Inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, uma roda que gira por si mesma,
um movimento inicial, um sagrado dizer ‘sim’. Sim, meus irmãos, para o jogo da criação é
preciso dizer um sagrado ‘sim’: o espírito, agora, quer a sua vontade, aquele que está perdido
para o mundo conquista o seu mundo.”
(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Círculo do livro, s/d, p. 44-45).

ATIVIDADE:

Questão 1 – Indique o autor de cada texto, colocando (N) para Nietzsche, (K) para
Kierkegaard e (S) para Schopenhauer.
( ) “Assim como talvez não haja ninguém completamente são, também se pode dizer que
nem um só existe que esteja isento de desespero, que não tenha lá no fundo uma inquietação,
uma perturbação, uma desarmonia [...]”.
( ) “A Vontade é o núcleo tanto da coisa particular como do conjunto; é ela que se manifesta
na força natural cega [...]”.
( ) “Vontade de potência é o esforço para triunfar do nada, para vencer a morte... vontade de
durar, de crescer, de vencer, de estender e intensificar a vida”.

55
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Questão 2 – Por que Nietzsche afirmava que o cristianismo e as religiões negavam o corpo e
as vivências humanas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Com base na citação a seguir, explique a crítica de Nietzsche ao pensamento


socrático.
“O surgimento da escola socrática, com a extrema valorização do pensamento lógico, racional
e dialético, representaria não um progresso em relação à Grécia pré-socrática, porém o
contrário disso. [...] [Pois] não estariam mais à altura da experiência trágica do mundo, não
conseguindo suportar o racionalmente incompreensível – o absurdo da existência”
(GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Nietzsche. São Paulo: Publifolha, 2000, p. 33).
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 4 – Diferencie as duas forças contrárias que agem no mundo, segundo Nietzsche: O
apolíneo e o Dionisíaco.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

56
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Questão 5 – Explique o que Nietzsche entende com o termo “super-homem” (ou além-
homem).
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 6 – Com base no que na diferenciação feita por Nietzsche sobre o apolíneo e o
dionisíaco, analise as pinturas abaixo, responda em qual dessas denominações elas se
encaixam e justifique sua resposta.

a)

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

b)

57
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 7 – Há um tipo de argumento conhecido como raciocínio circular ou círculo vicioso.


Isso acontece quando a conclusão já está em uma das premissas. Por exemplo: “Você está
errado porque não está certo”. Nesse caso, a conclusão (“você está errado”) tem o mesmo
sentido da premissa (“você não está certo”). É como se dissesse: “Você está errado porque
está errado”. Agora, explique por que o argumento a seguir é circular.
“Deus existe porque a bíblia diz que existe e a bíblia não mente porque foi escrita por Deus”
(BRANQUINHO, João. MURCHO, Desidério. Enciclopédia de termos lógico-filosóficos. São Paulo: Martins
Fontes, 2006, p. 145).
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Compreendendo um texto

58
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Fotografia de Sigmund Freud na década de 1920. O médico austríaco é uma das personalidades mais influentes
do Século XX, tendo contribuído com áreas como a medicina, a filosofia, literatura e a psicologia. No entanto,
seu principal feito foi a criação da psicanálise.

O futuro de uma ilusão

“Em meu trabalho O futuro de uma ilusão, estava muito menos interessado nas fontes mais
profundas do sentimento religioso do que naquilo que o homem comum entende como sua
religião – o sistema de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste
mundo com perfeição invejável, e que, por outro, lhe garantem que uma Providência
cuidadosa velará por sua vida e o compensará, numa existência futura, de quaisquer
frustrações que tenha experimentado aqui na Terra.
O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente
engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos
homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão
aparentemente infantil tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma
atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais
nunca será capaz de superar essa visão de vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é
vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é
insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de
lamentáveis atos retrógrados.
Gostaríamos de nos mesclar às fileiras dos crentes, a fim de encontrarmos aqueles filósofos
que consideram poder salvar o Deus da religião, substituindo-o por um princípio impessoal,
obscuro e abstrato, e dirigirmos-lhes as seguintes palavras de advertência: ‘Não tomarás o
nome do Senhor teu Deus em vão!’. E se alguns dos grandes homens do passado agiram da
mesma maneira, de modo nenhum se pode invocar seu exemplo: sabemos por que foram
obrigados a isso”
(FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 2002, p. 21).

Interpretando o texto:

Questão 1 – Explique o título do texto de Freud.

59
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 2 – Comente a afirmação: “O homem comum só pode imaginar essa Providência sob
a figura de um pai ilimitadamente engrandecido”.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 3 – Relacione o texto com a ideia defendida por Nietzsche no livro A gaia ciência.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 4 – Faça uma pesquisa e responda: o que é a psicanálise?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Questão 5 – Em sua opinião, como o inconsciente ou o subconsciente influenciam em quem


você é e em como você age?
60
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

61

Você também pode gostar