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O que é a Filosofia?
Quando o ser humano começa a exigir provas e justificativas racionais para validar
(acreditar) ou invalidar as crenças do dia-a-dia, dizemos que está tomando uma atitude
filosófica. Ou seja, uma atitude crítica.
Atitude crítica ou filosófica tem duas (02) características: uma NEGATIVA e outra
POSITIVA.
O Mito se opõe ao Logos como a fantasia se opõe à razão, como a palavra narrada se
opõe à palavra que demonstra experimentalmente.
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- O Mito: é a narrativa, podendo ser construída por meio tanto da oralidade (falado, ensinado
oralmente) como da escrita.
- O Logos: é uma explicação, um estudo, que pretende convencer como as coisas são
racionalmente.
OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
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conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto, no século VII a.C.,
até o surgimento de Sócrates, no século V a.C. Os pré-socráticos eram também chamados de
filósofos da natureza.
É difícil conhecer o pensamento desse período em toda a sua dimensão, pois são
poucos os escritos encontrados dos seus pensadores, e até mesmo as datas de nascimento e
morte são incertas.
No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na
Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por
um rico comércio, Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem
atribuímos a denominação filósofos: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
Destaca-se, entre os objetivos desses primeiros filósofos, a construção de uma
cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo), que
substituísse a antiga cosmogonia (narrativa sobre a origem do universo baseada em mitos),
sendo essa uma narrativa e não explicação racional.
Assim, tentaram descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio
substancial ou substância primordial (arché, em grego) existente em todos os seres materiais.
Ou seja, pretendiam encontrar a “matéria-prima” de que são feitas todas as coisas. Qual era,
portanto, a arché para cada pensador pré-socrático? É o que estudaremos a seguir, na página
4.
ATIVIDADE:
Questão 1 – Explique as duas características presentes em uma atitude filosófica (ou crítica).
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Tales de Mileto (c. 623-546 a.C.) é tido como o pensador que deu
início à indagação racional sobre o universo. Inspirando-se
provavelmente em concepções egípcias, acrescidas de suas
próprias observações de corpos hídricos (rios e mares), bem como
da vida animal e vegetal, ele dizia: “Tudo é água”.
Para ele, a água – por permanecer basicamente a mesma, em todas
as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados
(sólido, líquido e gasoso) – seria a arché, a substância primordial,
a origem única de todas as coisas, presente em tudo o que existe.
Como princípio vital, a água penetraria todas as coisas e tudo seria animado por ela, de
tal modo que tudo teria alma (isto é, anima ou psyché). Por isso, tudo seria divino (ou “cheio
de deuses”), não havendo separação entre o sagrado e o mundano. O universo seria uno e
homogêneo.
Apesar da simplicidade da afirmação de Tales a respeito da água – e considerando que
a água não representava para ele o mesmo que ela representa hoje para nós –, pela primeira
vez tentava-se explicar a multiplicidade da realidade de maneira sintética e simples,
empregando um elemento natural e concreto, visível para todos.
Anaximandro – o indeterminado
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Anaxímenes – o ar
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Vamos estudar, agora, mais 02 (dois) filósofos pré-socráticos muito importantes para a
filosofia moderna: Pitágoras e Demócrito.
Pitágoras – os números
Demócrito – o átomo
ATIVIDADE:
Questão 1 – Para Tales de Mileto, a substância primordial do universo seria a água (“Tudo é
água”). Como ele chegou a essa conclusão?
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Questão 2 – Explique a “Teoria das formas das esferas”, defendida por Pitágoras.
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Filosofia e atualidade
Em nossas aulas passadas aprendemos como surgiu a filosofia, logo, como surgiu o
pensamento racional (uso da razão). O uso da razão de maneira pouco reflexiva, para alcançar
maior lucro possível, para a manipulação política ou para o mantenimento do poder, pode
trazer consequências múltiplas, tanto para o indivíduo, quanto para o mundo e a sociedade em
que ele está inserido. É pensando nessas consequências do progresso e da evolução
tecnológica para o mundo, que a bioética vai se situar como uma importante área da filosofia
e da ciência ao longo do século XX.
Essa área engloba vários conteúdos e temas, sendo estudada não apenas pela filosofia,
mas pela medicina, pela biologia, pelas ciências da natureza, entre outras. Na reflexão
filosófica, a bioética busca repensar as principais convenções e atos que levaram nossa
civilização ao ponto que estamos atualmente, em especial quanto ao uso indiscriminado da
natureza e de sua matéria prima. Mas, nada é mais importante e, ao mesmo tempo, mais vago
e amplo do que “defender a vida”. Assim, a bioética se apresenta de maneira aberta, com
várias frentes de estudo e vários temas diferentes entre si, já que são inúmeras as relações que
podem ser feitas entre a tecnologia e a natureza.
Na tentativa de propor uma “ética” (do grego ethos, que significa “modo de ser” ou
“hábito”) diante da “vida” (“bio”, em grego), a bioética vai estudar as normas que devem
reger nossa ação de domínio técnico e produtor sobre o mundo natural, avaliando eticamente
o impacto da intervenção humana sobre a própria vida humana e propondo uma “ética de
responsabilidade com o mundo”.
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Hannah Arendt, foi um dos grandes filósofos que trataram do tema da bioética. Sua filosofia é
voltada para questões humanitárias e sua preocupação é a preservação do planeta e da vida.
Jonas defende que um dos grandes problemas a ser pensados pela contemporaneidade
é a impossibilidade de a vida ser mantida na Terra em decorrência da irresponsabilidade e da
magnitude das ações humanas. Para ele, o homem está caminhando para sua própria
destruição, portanto é urgente uma nova atitude frente às ações humanas que destroem o meio
ambiente e ao uso indiscriminado de tecnologias que degradam a natureza ano após ano, em
uma velocidade cada vez maior.
No seu livro “O princípio responsabilidade”, lançado no ano de 1979, Jonas afirmou
que nós vivemos em uma era impressionante, jamais vista em outro período da história: a
técnica moderna se especializou e se desenvolveu de tal forma que assumiu proporções
inimagináveis. A questão colocada por ele é que tal “super desenvolvimento” está ligado não
apenas a fatores positivos, mas também a consequências devastadoras para o mundo.
A era da tecnologia moderna avança de modo a colocar em risco a vitalidade do
planeta e sua capacidade de autorregeneração, e os marcos reguladores da ética, que outrora
podem ter sido o suficiente para balizar a relação do homem com o mundo e com os outros, se
mostram cada vez mais ineficazes no contexto pós-moderno do século XX adiante: a ideia de
Deus ou Divindade (marco regulador religioso), o amor ao próximo, o respeito, a justiça, a
bondade, a caridade, a honra. O homem esgota cada vez mais os recursos naturais tendo em
vista favorecer-se com o progresso científico e o consumo dos bens que este possibilita, sem
se atentar ou respeitar nenhum marco regulador, limite ou “mandamento” ético e bioético.
É por isso que Jonas desenvolve a ideia de que a técnica moderna começa a ganhar
vida e se soltar do poder e do domínio humano. O homem perde cada vez mais o lugar de
sujeito da ação e a técnica ganha vida própria, tornando-se sujeito no lugar do homem, que se
transforma em objeto. A técnica se torna autônoma e dita os procedimentos que devem ser
seguidos pelas sociedades. Tornamo-nos um Homo faber, deixando de sermos Homo sapiens.
Isto é, há uma ausência de reflexão na ação do homem que se torna um mero fabricante, não
mais um ser pensante. Não existe mais separação entre o saber teórico e o saber prático.
Dicionário:
Homo faber: aquele que tem capacidade de fabricar utensílios e modificar a natureza;
Homo sapiens: aquele que conhece a realidade e tem consciência do mundo.
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Em “O princípio
responsabilidade”, Hans
Jonas explica que o marco
inicial do domínio irrestrito do
homem sobre a natureza foram
as bombas atômicas lançadas
pelo governo estadunidense
(EUA) sobre Hiroshima e
Nagazaki (Japão), em 1945, que vitimaram imediatamente cerca de 200.000 mil pessoas, além
das incontáveis mortes e doenças causadas posteriormente pelo efeito da radiação. Para Jonas,
a bomba atômica representa o poder máximo do homem sobre a natureza, a possibilidade de
criação de um artefato que pode acabar com a própria vida do homem, e isso deveria gerar em
nós um novo questionamento que precisa se fundamentar na ideia do perigo da nossa própria
existência.
Por essa razão, torna-se necessária uma nova postura ética. A ideia que se tinha
anteriormente sobre ética era direcionada a relação interpessoal, de pessoa para pessoa em
uma sociedade. Agora, é preciso uma nova ética: uma ética global que contemple, também, a
natureza. Para essa nova postura ética, Jonas faz uma reinterpretação do imperativo categórico
do filósofo Immanuel Kant. No pensamento de Kant, o imperativo era “age de tal modo
que a sua ação seja uma máxima universal”; mas Jonas busca a sua reformulação da
seguinte forma: “age de tal modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a
permanência da vida humana” ou ainda, “age de tal modo que a tua ação não ponha em
risco a continuidade indefinida do ser humano na Terra”.
Tal imperativo fica ainda mais urgente de se tornar uma regra de pensamento (e,
sobretudo, de se tornar um guia para políticas públicas de preservação ambiental e de
fiscalização da ação privada e empresarial sobre a natureza) quando percebemos que as
consequências da degradação ambiental do planeta, por mais que possam ser sentidas por
todas as pessoas em qualquer país, incidem principalmente sobre as populações mais pobres e
vulneráveis.
Seja pela falta de moradia e alimentação adequadas, pela falta de condições de
saneamento, atendimento médico e assistência social, as populações que carecem de
condições econômicas básicas de se precaver ou de, em caso de desgraças e intempéries, se
reerguer, como a maior parte dos habitantes da África e América Latina e boa parte dos
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asiáticos, acabam por ser as mais atingidas pelas mudanças climáticas e pela poluição
ambiental.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS),
aproximadamente 23% das mortes
prematuras no mundo são causadas por
problemas de degradação ambiental,
com números estimados em 12,6
milhões de mortes no ano de 2012.
Outra pesquisa, de 2018, mostrou que
91% das mortes por poluição do ar ocorrem em países de baixa e média rendas do Pacífico e
Sudeste Asiático, enquanto no Brasil as mortes em decorrência da poluição atmosférica
aumentaram 14% em dez anos, segundo dados do Ministério da Saúde.
Ao buscar o estabelecimento de uma nova ética para guiar a ação humana, Hans Jonas
afirma que essa ética deve ser baseada em um temor, que cria uma responsabilidade maior. É
a partir do temor que as pessoas devem se questionar sobre a possibilidade do caos dentro do
planeta e sobre os modos de evitar que o pior aconteça. É por meio do temor que o ser
humano pode ser “obrigado” a refletir sobre o futuro da humanidade.
Para Jonas, a humanidade está apostando na produção tecnológica do presente,
utilizando de modo irresponsável a matéria prima de que dispõe, colocando em risco a
possibilidade de um futuro para as novas gerações. É importante lembrar que o temor do qual
fala Jonas não é uma doença patológica que paralisa a pessoa, mas um sentimento que
impulsiona à reflexão das ações desenvolvidas, tendo em vista o seu melhoramento e a
preservação do futuro.
Para entender essa ideia, leia o que o próprio filósofo escreveu:
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Indicação de vídeo:
Curta de animação de Steve Cutts sobre o homem e uso da natureza da maneia irresponsável:
https://www.youtube.com/watch?v=RbpL5xGCXx8
Em seu livro Lições sobre a Filosofia da História, o filósofo alemão Georg Hegel
diz que a África não tem interesse histórico próprio e é um local em que os homens “vivem na
barbárie e na selvageria, sem se ministrar nenhum ingrediente da civilização”. A África, para
Hegel, não é um lugar habitado pela História nem pela Razão (“os africanos são crianças
eternas, envoltos na negrura da noite sem a luz da história consciente”, diz ainda).
Tratada hoje como um preconceito datado e anacrônico, a visão hegeliana sobre a
relação do continente africano com a razão e com o próprio conceito de “humanidade”
permanece viva no presente, segundo o filósofo Jean Bosco Kakozi, natural da República do
Congo. Kakozi afirma que a racista passagem de Hegel, exposta anteriormente, mostra que o
problema da Filosofia na África é o problema da luta pela razão, uma luta que se aplica
também aos povos indígenas e outros povos excluídos pela civilização ocidental moderna na
África, na
América Latina e na Ásia: uma luta por reconhecimento.
Por que ele fala de luta pela razão? A filosofia ocidental excluiu muitos povos do
mundo do uso desse atributo humano que é a razão. Foram excluídos povos indígenas,
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africanos e asiáticos. Hegel, na Fenomenologia do Espírito, diz que a África é uma região
que não é de muito interesse para a humanidade pois é uma região que está fora da História. A
luz da razão, como ele diz, nasceu no Oriente, na Ásia, e foi caminhando para o Oeste, na
direção da Europa, sem passar pela África. O Egito, para ele (assim como acontece em muitos
filmes e novelas sobre o tema), não teria nada a ver com a África, sendo uma espécie de
preâmbulo da Europa.
Para o filósofo congolês, a Filosofia na África tem uma tarefa e uma responsabilidade muito
importante que é lutar pela razão. A Filosofia deve começar também por esse problema,
dizendo que a razão está presente na África e que as pessoas usam a razão. Todo o ser
humano usa a razão. Ao reconhecer uma razão eminentemente africana, o ocidente poderia
aprender com um modo de vida radicalmente diferente do seu e que está fundamentalmente
ligado a uma bioética.
Para Kakozi, se o ocidente buscasse aprender um pouco mais com a cultura africana e
oriental, haveria outras possibilidades de enxergar a realidade e a natureza que poderiam
promover um cuidado maior com o mundo em que vivemos, uma radicalmente nova bioética.
Uma visão de mundo que se baseasse no conceito do ubuntu, poderia buscar uma mudança
na forma como o ocidente enxerga a si mesmo e ao outro.
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Dessa forma, pensar a realidade com base no ubuntu é pensar a realidade pensando
primeiro na humanidade, para depois pensar no indivíduo. Isso não significa deixar de lado os
indivíduos em nome do coletivo, mas incluí-los no todo que é a humanidade na qual ele está
inserido, é pensar em todos e que todos nós, como membros de uma sociedade ou do conjunto
de sociedades que formam o mundo, temos um lugar em comum que precisamos cuidar, por
nós e pelos outros: o planeta.
Isso poderia favorecer o desenvolvimento de uma ética da responsabilidade com o
mundo e com o outro. Uma forma de estar no planeta que não acabe com a própria Terra, ao
deixar para as gerações futuras problemas que nem sequer foram criados exatamente por eles.
A bioética de matriz africana pode nos ensinar, destarte, que só poderemos cuidar do “eu” se
cuidarmos do “nós”, e que cuidando do “nós”, cuidaremos ao mesmo tempo, do “eu”.
ATIVIDADE:
Questão 2 – Em sua opinião, é possível construir um mundo com base em uma “ética da
responsabilidade”? Justifique.
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Questão 3 – Por que Hans Jonas afirma que a técnica moderna parece se soltar do domínio
humano?
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Questão 4 – Qual o marco inicial do domínio humano sobre a natureza, segundo Jonas?
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Questão 5 – O filósofo Jean Bosco Kokazi afirma que “se o ocidente buscasse aprender um
pouco mais com a cultura africana e oriental, haveria outras possibilidades de enxergar a
realidade e a natureza que poderiam promover um cuidado maior com o mundo”. Explique.
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Questão 6 – Com base no conceito ubuntu da filosofia africana, o que significa afirmar que
“o eu encontra seus interesses dentro do nós”?
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Questão 7 – Qual a diferença entre uma visão de mundo antropocêntrica e uma visão de
mundo biocêntrica?
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A sociedade de consumo
Ao ligar a televisão, ler uma revista ou jornal, entrar nas redes sociais ou em qualquer
site e até mesmo ao caminhar pelas ruas, você se depara com diversos anúncios publicitários.
São dezenas, centenas de produtos anunciados que, diariamente, procuram atrair sua atenção e
despertar o desejo de consumo.
Você já reparou que na sociedade em que vivemos as pessoas valorizam a aquisição de bens
materiais, o acúmulo de riquezas e a posse de determinados objetos que lhes dão um certo
status quo? Todos querem obter os últimos lançamentos da moda, os carros do ano mais
sofisticados, o aparelho celular da última geração ou o tablet mais avançado. O desejo de
consumo aumenta ano após ano e toma conta da vida e da mente das pessoas.
Essa sociedade de consumo leva muitas vezes as pessoas para o individualismo e as
educa (pelos meios de comunicação, nas relações humanas e sociais) para a ambição e a
competição, para uma disputa de “quem tem mais”. Ainda apresenta como medida para ser
feliz e realizado somente o sucesso econômico e o acúmulo de bens materiais. É claro que
isso pode sim fazer parte do sucesso pessoal, mas será que ter “sucesso” se restringe a isso? O
consumo é importante por uma série de fatores pessoais, sociais e econômicos, mas e as
consequências para o mundo, para o indivíduo e para a sociedade, de um consumo
desenfreado? E as consequências ambientais trazidas por toda a poluição que a produção
industrial acarreta? E o acúmulo de riqueza na mão de uma pequena parcela da sociedade?
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Saiba mais:
Para percebermos o
abismo de poder
econômico que separa
essas duas “classes
sociais” citadas por
Erich Fromm, um
relatório da organização
Oxfam, de 2020, aponta
que o 1% mais rico do
mundo detém mais que o
dobro da riqueza de 6,9
Bilhões de pessoas. Os 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza que cerca de 60% de
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toda a população mundial, ou seja, pouco mais de 2 mil pessoas têm mais riqueza que 4,6
bilhões de pessoas juntas.
A VULNERABILIDADE DO SER
Se na sociedade de consumo uma pessoa é somente aquilo que tem, sua identidade está
sempre ameaçada, pois existe a possibilidade de perder todas as coisas que adquiriu e, com
isso, também aquilo que ela é. Dito de outro modo, o indivíduo pode, a qualquer momento,
deixar de ser o que é e se transformar em nada ou ninguém.
Por essa razão, se o que motivou a pessoa durante toda a vida foi a busca incessante de
bens materiais, se esse objetivo se tornou uma verdadeira paixão e um desejo insaciável, a
perda do que foi adquirido virá acompanhada de uma grande angústia e infelicidade. Além
dessa triste consequência para o indivíduo, a ambição pelo “ter” desencadeia uma série de
desigualdades sociais, pois surge como um desejo egoísta de não partilhar aquilo que se tem.
Nessa lógica, à medida que o outro adquire o mesmo bem de consumo que eu, a minha
felicidade fica comprometida, pois há uma perda do sentimento de “exclusividade” que o
poder econômico traz.
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“[...] essa sociedade é irracional como um todo. Sua produtividade é destruidora do livre
desenvolvimento das necessidades e faculdades humanas”
(Marcuse, Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1973, p. 14).
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ATIVIDADE:
Questão 1 – Com base nas ideias do filosofo Erich Fromm, analise a charge e responda às
questões:
a) Na sociedade contemporânea, qual dos personagens dessa charge seria mais valorizado?
Por quê?
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Questão 3 – Observe a tirinha abaixo, de Fabio Moon e Gabriel Bá, e responda as questões
seguintes:
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c) Que relação pode ser feita entre a tirinha e as ideias de Erich Fromm e/ou Marcuse?
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(LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Companhia das letras, 2009, p. 184).
Questão 3 – Você concorda que a lógica da moda realmente está presente na sociedade de
consumo? Justifique.
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química, basta dizer que, ao tomá-lo, você estará “abrindo a felicidade”; não é mais preciso
dizer o nome de determinada marca de roupas na propaganda, basta colocar famosos cantores
e jogadores de futebol usando uma camisa ou chuteira com seu logotipo, que todos vão
conhecer a marca mesmo que o comercial não cite em nenhum momento seu nome.
Esse “consumo emocional”, no dizer do filósofo francês, não vende apenas uma
mercadoria, mas um estilo de vida: jovem, bonito, dinâmico, esportivo, preocupado com o
corpo, que anseia mudanças, busca o novo, desprende-se instantaneamente das coisas que
deixaram de ser inovadoras, dá importância ao lúdico, ao humor e à informação rápida. A
busca de identidade e felicidade individual estaria diretamente relacionada, então, ao
consumismo.
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A INDÚSTRIA DA FRUSTRAÇÃO
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Quando estudamos alguns aspectos das ideias de Erich Fromm, vimos que esse
pensador criticava a existência humana baseada na aquisição de coisas. Ele questionava a
ideia de que o ser humano é aquilo que “tem” e de que deveria, portanto, levar uma vida
voltada para acumular bens.
A situação do consumismo atual, no entanto, parece diferente e além, pois já não se
trata mais de acumular coisas, tampouco de achar que a essência de um indivíduo é o que ele
tem. A existência em nossa sociedade teria como foco o próprio consumo em si: o ato
compulsivo de comprar coisas e descartá-las em um processo sem fim. Isto é, a vida se
consumiria pelo consumo.
Se somos organizados em torno do consumo e o ato de consumir compulsivamente é
uma característica nossa, então a existência individual e social estaria empobrecida e
comprometida, havendo necessidade de repensá-la. Por que não começamos esse processo
evitando reproduzir os padrões consumistas em nossas vidas? Ou isso é impossível?
ATIVIDADE:
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O SENTIDO DA VIDA
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Dica:
Seja com a invenção de carros sem motorista, ou nos telefones quando ligamos para o banco
ou para uma loja: todos sabemos que os robôs estão chegando, e em muitos casos já estão
aqui. Em 2013, economistas da Oxford University’s Martin School estimaram que, nos
próximos 20 anos, mais de metade de todos os empregos serão substituídos por tecnologias
inteligentes. Como essa perspectiva de uma vida auxiliada por robôs, é tolo negar que as
crianças que estão na escola hoje entrarão num local de trabalho muito diferente amanhã - e
isso se tiverem sorte. [...] Os futurólogos preveem que os trabalhos administrativos e
burocráticos serão cada vez mais terceirizados para "máquinas", bem como os trabalhos
manuais. Diante disso, como os educadores devem preparar os jovens para a vida cívica e
profissional numa era digital? [...] Redobrar o investimento em ciência, tecnologia,
engenharia e matemática não vai resolver o problema, pois: o treinamento em altas
tecnologias tem suas limitações imaginativas. Num futuro próximo, os que abandonaram a
escola precisarão de outras habilidades. Em um mundo onde o conhecimento técnico é cada
vez mais restrito, as habilidades e a confiança para percorrer disciplinas será recompensado.
Precisaremos de pessoas que estejam preparadas para perguntar e responder às perguntas que
não são encontradas no Google, como: Quais são as ramificações éticas da automação das
máquinas? Quais são as consequências políticas do desemprego em massa? Como devemos
distribuir a riqueza em uma sociedade digitalizada? Como sociedade nós precisaremos estar
mais familiarizados com a Filosofia para discutirmos tais questões. Em meio às incertezas
políticas de 2016, o presidente irlandês Michael D Higgins lançou uma luz nesta área. "O
ensino da filosofia", disse ele em novembro, "é uma das ferramentas mais poderosas que
temos à nossa disposição para capacitar as crianças a atuar como sujeitos livres e responsáveis
em um mundo cada vez mais complexo, interconectado e incerto". A sala de aula, ele
enfatizou, oferece um "caminho para uma cultura democrática humanista e vibrante". Em
2013, enquanto a Irlanda lutava contra os efeitos da crise financeira, Higgins lançou uma
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iniciativa nacional que pedia um debate sobre o que a Irlanda valorizava como sociedade. O
resultado é que em setembro, pela primeira vez, a filosofia foi introduzida nas escolas
irlandesas. O curso para jovens de 12 a 16 anos provoca os jovens a refletirem sobre questões
que - até agora - estavam ausentes dos currículos escolares. No Reino Unido, uma rede de
filósofos e professores ainda está tentando implantar algo parecido. E na Irlanda, uma nação
que já foi considerada "o país mais católico", já está explorando reformas para estabelecer a
filosofia para as crianças como um assunto dentro das escolas primárias. Esta expansão da
filosofia no currículo é algo que Higgins e sua esposa Sabina, graduada em filosofia, pediram
expressamente. As opiniões de Higgins estão à frente de seu tempo. Se alguns educadores
assumem que a filosofia é inútil, é justo dizer que muitos filósofos acadêmicos ainda são
territoriais ou ignorantes sobre a viabilidade de tratarem do assunto para além da academia. Se
por um lado os educadores precisam ficar sábios, por outro lado os filósofos precisam superar
a si mesmos. O pensamento e o desejo de compreender não vêm naturalmente - ao contrário
do que Aristóteles acreditava. Diferentemente, digamos, da fome e da fofoca, a filosofia não é
um interesse universal. Bertrand Russell aproximou-se disso quando disse: "A maioria das
pessoas prefere morrer do que pensar; na verdade, é isso que fazem ". Embora possamos
todos ter a capacidade de filosofar, é uma capacidade que requer treinamento e "cutucões"
culturais. Se a busca da ciência requer algum andaime cognitivo, como argumenta o filósofo
estadunidense Robert McCauley, então o mesmo vale para a filosofia. A filosofia é difícil.
Abrange a dupla exigência de trabalho árduo e um supervisor sério. Isso nos obriga a superar
os preconceitos pessoais e as armadilhas no raciocínio. Para isso é necessário o diálogo
tolerante, e imaginar pontos de vista divergentes enquanto os avalia. A filosofia ajuda as
crianças - e os adultos - a articular perguntas e a explorar respostas que não são facilmente
extraídas pela introspecção ou pelo Twitter. No seu melhor, a filosofia coloca ideias, não
egos, na frente e no centro. E é a própria fragilidade - a não-naturalidade – da filosofia que
exige que ela seja incorporada, não apenas nas escolas, mas nos espaços públicos. A filosofia
não vai trazer de volta os trabalhos perdidos para os robôs. Não é uma cura para todos os
problemas atuais ou futuros do mundo. Mas pode construir uma imunidade contra
julgamentos descuidados, e certezas não avaliadas. A filosofia em nossas salas de aula poderia
nos preparar melhor para perceber e desafiar os conhecimentos convencionais da nossa era.
(Texto publicado em 09/01/2017 no jornal The Guardian).
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ADULTOS
ATIVIDADE:
Questão 1 – Segundo o que foi exposto no capítulo 3, quais os temas contemporâneos que
exigem nossa reflexão?
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Questão 2 – Em sua opinião, a internet mais aproxima ou afasta as pessoas? Por quê?
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ADULTOS
Questão 3 – Você concorda com a ideia de Charlotte Blease, que a filosofia pode ensinar
coisas que o Google não pode. Justifique.
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Questão 4 – O filósofo argentino Dario Sztajnszrajber afirma que a filosofia “não faz
perguntas para encontrar respostas, mas sim para questionar as respostas já estabelecidas”.
Explique e dê um exemplo do que o filósofo quer dizer.
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Questão 5 – Segundo o texto de Blease, por que o filósofo Russel afirmava que "a maioria
das pessoas prefere morrer do que pensar”? Explique.
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ADULTOS
Começando o capítulo
Questão 3 – Por que percorrer mentalmente as possibilidades da vida poderia causar tanto
sofrimento?
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psicológicos particulares. Além disso, cada pessoa tem uma experiência de vida, um jeito de
ser e uma história que é única.
Para o filósofo cristão Sören Kierkegaard, a filosofia deveria se preocupar, em
primeiro lugar, com a existência real das pessoas. Por isso, Kierkegaard foi um crítico mordaz
do idealismo alemão, especialmente do sistema de Hegel.
A filosofia de Hegel considerava que os fatos históricos não aconteciam por acaso,
mas pertenciam a um plano racional. Para Hegel, haveria uma racionalidade que governaria o
mundo e a vida humana.
Kierkegaard se opôs a esse pensamento. Segundo ele, a tentativa de explicação
genérica da totalidade do mundo deixava de lado o mais importante: a existência humana
concreta. Em outras palavras, a marcha do Espírito seria uma especulação de Hegel que nada
teria a ver com a existência real e cotidiana das pessoas.
Em vez de criar sistemas totalizantes e ilusórios de compreensão do mundo,
Kierkegaard defendia que o trabalho do filósofo deveria ser o de olhar para a existência
humana e tentar compreendê-la. A verdadeira realidade do ser humano (isto é, seus mais
íntimos desejos e seus sofrimentos) estaria na existência concreta de cada indivíduo.
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Assim, por exemplo, decisões como estudar ou não, escolher essa ou aquela amizade,
essa ou aquela escola, frequentar ou não uma igreja, trabalhar ou não, procurar um novo
emprego ou permanecer no mesmo, tudo isso de alguma forma influenciaria o destino do
indivíduo. Além do mais, nenhuma decisão poderia garantir necessariamente uma vida bem-
sucedida.
Como dizem as palavras do poema que introduz este capítulo, a vida seria um salto no
escuro e ninguém teria certeza dos acontecimentos. Haveria sempre a possibilidade do
desfavorável, do infortúnio, da miséria, do engano ou do fatal. A possibilidade de
adversidades sempre acompanharia a existência humana. E essa situação e iminência do
infortúnio ou do fracasso provocaria angústia, um sentimento de aflição, opressão e tristeza.
Kierkegaard também refletiu sobre outros sentimentos, como o desespero e a solidão.
Inicialmente, sua filosofia foi pouco aceita pelos pensadores da época; posteriormente, foi
retomada por filósofos do século XX, contribuindo para originar uma importante escola de
pensamento, o existencialismo, desenvolvido por pensadores como Martin Heidegger,
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.
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força ou energia presente em toda natureza, que o filósofo considerava cega, irracional. Ele
chamou essa força de Vontade.
A Vontade estaria presente na ação de um pássaro fazendo um ninho, de uma aranha
tecendo sua teia, de uma abelha produzindo mel, ou de qualquer outra atividade animal. Todas
essas ações não são racionais; elas não resultam de um movimento consciente e racionalmente
planejado, pois os animais agem apenas impulsionados pela Vontade.
A Vontade seria, então, responsável pelo nascimento e pelo desenvolvimento dos seres
vivos, pelas forças de atração e de repulsão dos corpos, pela gravidade e por tudo que existe.
A Vontade seria a essência íntima do Universo, que abarcaria a natureza, os seres animados e
inanimados, e, portanto, também o ser humano, seus desejos, pensamentos e ações. Esse
conceito ocupa o centro da investigação filosófica empreendida pelo filósofo alemão. Ele será
apropriado e modificado por filósofos posteriores, como Friedrich Nietzsche.
Você talvez esteja se perguntando: “Mas o ser humano não é um ser que age
racionalmente”? É verdade, o ser humano, por meio da razão, aprende a refletir, conceituar e
analisar as coisas, os fatos e as pessoas, e adquire, dessa forma, o conhecimento. Mas, para
Schopenhauer, esse fato racional seria apenas um aspecto menor da característica humana.
No ser humano, a força infinita da Vontade se manifestaria não apenas nas ações
conscientes, racionais ou voluntárias, como ir à escola, ler um livro, jogar futebol ou ver TV,
mas também nas ações inconscientes dos processos vitais, como o crescimento, a digestão, o
batimento cardíaco ou as mudanças químicas do corpo.
Pense, por exemplo, no que está acontecendo neste exato momento com seu corpo
enquanto lê esta apostila. Seu coração pulsa, você respira, a circulação sanguínea irriga seu
corpo, sua musculatura tem uma tensão suficiente para que você consiga ficar sentado, e
assim por diante. Nesse momento, seu corpo – seus órgãos e sistemas orgânicos – está
trabalhando incessantemente, seu organismo está fazendo centenas ou milhares de operações
para que você possa viver, pensar e sentir.
Tudo isso acontece sem que você perceba. Não é necessário dar uma ordem ao seu
coração para que ele funcione, tampouco impor ao seu diafragma que pressione seu pulmão e,
assim, você possa respirar. Tudo isso, segundo Schopenhauer, acontece por causa dessa força
universal infinita e irracional.
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“Em nós, também, a vontade é cega em todas as funções do nosso corpo, que nenhum
conhecimento rege, em todos os processos vitais ou vegetativos, na digestão, secreção,
crescimento, reprodução”
(SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 2001, p.
124).
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Fidelidade (1869), pintura de Briton Riviére. A tela mostra alguém que parece padecer de um grande sofrimento,
acompanhado fielmente por um cachorro.
Sendo a Vontade cega, sua presença no Universo não determina nenhuma ordem
racional. Diferentemente do que afirmava Hegel, os acontecimentos não seriam explicados
por algum tipo de projeto ou atividade racional. Assim, o universo não seria harmonioso.
O mesmo aconteceria com a vida de cada pessoa, pois não teria um sentido
preestabelecido. Para Schopenhauer, o ser humano vive preso à força irracional e infinita da
Vontade, de um desejo que não é satisfeito por completo. Sendo a Vontade um sentimento
infinito e insaciável, o prazer e a felicidade seriam meras ilusões. A vida, então, seria marcada
por adversidades, como o sofrimento, a doença, a miséria, a guerra, a dor e a morte.
Bem como ocorre com outros animais, o humano sofreria sem nenhum motivo
específico. Sua situação seria ainda pior que a de outros animais, porque ele tem consciência
de que caminha em direção à morte, ele tem a capacidade de não apenas sofrer (de maneira
instintiva e não explicada), mas de conseguir pensar profundamente no seu sofrimento e na
sua angústia.
O pessimismo de Schopenhauer pode ser sintetizado em suas próprias palavras: “A
vida é um negócio que não cobre seus custos”.
O sofrimento voluntário
Apesar de a vida ser uma experiência de dor e sofrimento sem fim, o ser humano
deseja viver. Schopenhauer considerava essa vontade de viver a expressão da Vontade infinita
ou cósmica no homem. Segundo o filósofo, a única maneira de acabar com a dor e o
sofrimento seria sufocando a vontade de viver, isto é, aniquilando esse desejo.
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Capacho (2017), obra de Jorge Fonseca. O título dessa obra, que foi feita em formato de coração e com grama
sintética, brinca com a frase “pode pisar, eu deixo”. Parece que o artista fala de uma dor voluntária sentida por
alguém que ama.
Para negar o querer viver, o filósofo defendia que o ser humano deveria se flagelar,
renunciar voluntariamente aos prazeres e as paixões e realizar jejuns prolongados. O exemplo
de negação do desejo vital escolhido por Schopenhauer é o dos santos e religiosos místicos
hindus, que aplicavam castigos e suplícios terríveis a si mesmos. A cultura e a filosofia
oriental foram grandes influenciadoras do pensamento do filósofo alemão, sobretudo a
filosofia vedanta, que é o fundamento de algumas formas das religiões hindu e budista na
Índia.
ATIVIDADE:
Questão 2 – Por que Schopenhauer afirma que a vida humana é marcada pelo sofrimento?
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ADULTOS
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a) Que impressões a pintura desperta em você? A que elementos da tela essas impressões
estão associadas?
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b) Você tem ideia da situação de vida das pessoas representadas nessa tela? Qual seria a
relação entre essa situação e o título da pintura?
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I. Meu time ganhou o jogo de futebol ontem, mas fez menos gols válidos que o adversário na
partida.
II. Vi um quadrado com cinco lados.
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Questão 7 – Uma frase contraditória é necessariamente falsa, mas nem toda frase falsa é
contraditória. Sabendo disso, analise as frases a seguir e marque “S” para a frase apenas falsa
sem contradição e “C” para frase falsa com contradição.
( ) A terra é plana.
( ) Vitória é uma cidade capixaba do estado de São Paulo.
Fotografia da série Bailarinas do Cairo (2017), de Mohamed Taher. O fotógrafo registra mulheres que se
expressam por meio da dança nas ruas da capital egípcia para lutar contra o assédio.
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Quero cada gota de vida. Que eu sinta a corrente sanguínea evoluindo em quedas e
cachoeiras, inundando todas as praias de meu corpo. Quero a verdade, a ira cruel da natureza,
a violência animal e humana, a fúria que está escondida em cada um de nós. Quem disse que a
vida tem razão? Não há racionalidade na árvore que brota, no bote da cobra, na guerra ou na
doença. Há a embriaguez da vida que palpita com força, querendo mais vida.
Uma potência para ser mais e abraçar o vento do mundo. Força que gera força. Vida
que transborda vida. E, quando o bonzinho der lugar ao verdadeiro, quando a vida crua e
áspera rasgar o véu e mostrar a sua beleza e feiura por inteiro, então surgirá um novo homem,
que, olhando para a terra, cantará o seu destino.
Começando o capítulo
Questão 3 – Segundo o eu poético, qual a condição para surgir um “novo homem”? Você
concorda com essa ideia?
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“Eu encontrei em todas as coisas esta certeza feliz: elas preferem dançar sobre os pés do
acaso”
(NIETZSCHE, Friedrich. História da filosofia. 4 Ed. Lisboa: Presença, 2004, p. 166).
Assim como Schopenhauer, Nietzsche defendeu que não existe ordem ou razão no
mundo determinando os acontecimentos. A vida, para ele, consiste em irracionalidade. Ela
não se desenvolve de maneira progressiva e ordenada, não tem objetivo ou finalidade. A vida
se apresenta ao acaso com toda sua força e trágica realidade: é luta, incerteza e afirmação.
Algumas vezes, é dor e sofrimento; outras, é alegria, paixão e prazer.
Refletindo sobre a realidade trágica da vida, Nietzsche a exaltou e a aceitou em sua
totalidade, independentemente das adversidades enfrentadas pelo ser humano. Ele combatia
qualquer pensamento que, a seus olhos, negasse a vida terrena e o mundo concreto, por isso
criticava severamente a tradição filosófica racionalista e o cristianismo, que seriam contrários
à vida efetiva. Os cristãos, os racionalistas e os idealistas teriam criado sistemas metafísicos
que desvalorizavam nossas vivências concretas e humanas.
Para Nietzsche, os valores humanos se desenvolveram amparados nesse tipo de
pensamento, que negava a realidade e o corpo. Por isso, ele defendia a inversão de todos os
valores e a constituição de uma nova humanidade. Nietzsche se considerava um filósofo à
frente de seu tempo, responsável por anunciar a necessidade de um novo homem (o super-
homem, ou além-homem), para ultrapassar todos os valores que considerava falidos e
antiquados.
“Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo que deve ser superado. Que fizeste para
superá-lo? Todos os seres, até agora, criaram algo acima de si mesmos; [...] eu vos rogo, meus
irmãos, permanecei fiéis à terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças
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ultraterrenas! Envenenadores são eles, que o saibam ou não. Desprezadores da vida, são eles
[...] O homem é apenas uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda
sobre um abismo”
(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Círculo do livro, s/d, p. 29-31).
Você concorda que as religiões e as filosofias metafísicas são uma fuga da realidade?
Justifique.
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A crítica ao racionalismo
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Na obra Assim falou Zaratustra, Nietzsche descreve as três metamorfoses do homem: primeiramente um
camelo submisso e usado para carregar fardos, ele se tornaria um forte leão capaz de romper suas amarras e
correntes para, por fim, vir a ser livre, ativo e criativo como uma criança, o símbolo maior da pura liberdade e
criatividade humanas.
A origem da tragédia
A crítica de Nietzsche ao racionalismo foi iniciada tendo como modelo a arte, na obra
O nascimento da tragédia. Nesse trabalho, o filósofo defendeu que a arte era a mais
importante manifestação humana, pois ela poderia exaltar a vida e ajudar o indivíduo a
enfrentar as adversidades e o sofrimento do existir.
Para ele, a tragédia grega teria surgido de duas tendências artísticas distintas que
expressavam duas forças contrárias no mundo: a tendência apolínea e a dionisíaca. Apolo, que
deu origem ao termo apolíneo, é o deus da ordem, da razão, da aparência e da beleza.
Dionísio, que deu origem ao termo dionisíaco, é o deus da força instintiva, da paixão, da
embriaguez, da alegria, da liberdade e dos prazeres.
Enquanto houve equilíbrio entre essas duas forças, a arte pôde prosperar e a cultura
grega atingiu seu auge. No entanto, quando o apolíneo predominou, quando a razão e a ordem
aprisionaram os instintos e a paixão, a arte e a sociedade grega foram entrando em declínio.
Sócrates e Platão foram considerados por Nietzsche os filósofos que iniciaram essa crise.
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“Para onde dirige seu olhar inquisidor, lá ele [Sócrates] vê a falta de entendimento e a força
da ilusão, e conclui dessa falta que o que existe é intrinsecamente pervertido e repudiável. A
partir desse único ponto acreditava Sócrates ter de corrigir a existência [...]”
(NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia. São Paulo: Abril cultural, 1983, p. 12).
Grande parte da filosofia platônica teria seguido o caminho aberto pelas considerações
de Sócrates. Na Teoria das Formas, por exemplo, Platão explicou a realidade a partir do
mundo inteligível, isto é, de uma realidade que só poderia ser conhecida por meio do
pensamento e na qual se encontraria as verdades eternas e imutáveis.
Para o discípulo de Sócrates, a realidade visível seria uma cópia imperfeita de uma
realidade superior, a inteligível, chamada de “Mundo das ideias”. Dessa maneira, Platão
teria tentado eliminar da vida o erro, a imperfeição e a mortalidade, já que, no mundo das
formas ou mundo das ideias, tudo seria eterno e perfeito.
Nietzsche combateu a racionalização do mundo e a negação das experiências tais
como elas são por nós vivenciadas. Para ele esse processo iniciado por Sócrates e
acompanhado por Platão, teria sido aprofundado com o desenvolvimento da ciência e da
filosofia ocidental.
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A crítica ao cristianismo
Vontade de potência
Na obra A gaia ciência, Nietzsche anunciou a morte de Deus. Qual seria o significado
dessa afirmação? Ao declarar isso, o filósofo estava apontando o fim de um período marcado
pela filosofia socrático-platônica e pela tradição judaico-cristã. Para ele, o século XIX estava
presenciando o desaparecimento de um modo de pensar e de viver. Em outras palavras, o ser
humano deixava de estruturar sua vida com base em verdades eternas e absolutas, não mais se
orientando pela fé em um ser divino que traria harmonia ao Universo e sentido ao viver.
Para Nietzsche, com a morte de Deus e o fim das explicações sobrenaturais a respeito
da vida e da realidade terrena, o antigo conjunto de valores humanos desabaria. Segundo ele,
era chegada a hora de o indivíduo assumir o controle de sua existência, sem subterfúgios, sem
ilusões, sem o devaneio do além-mundo, sem os valores morais que oprimiam seus instintos e
vontades mais primitivas.
Para a realização dessa tarefa que aparecia em breve, seria preciso um outro tipo de ser
humano, um super-homem (ou além-homem), que não fosse pessimista em relação à vida e,
portanto, não a negasse ou fugisse dela em nome de promessas no além-mundo. Ao contrário,
um super-homem que a amasse, que constituísse sua existência baseando-se em sua natureza,
em sua vontade de potência.
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“Inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, uma roda que gira por si mesma,
um movimento inicial, um sagrado dizer ‘sim’. Sim, meus irmãos, para o jogo da criação é
preciso dizer um sagrado ‘sim’: o espírito, agora, quer a sua vontade, aquele que está perdido
para o mundo conquista o seu mundo.”
(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Círculo do livro, s/d, p. 44-45).
ATIVIDADE:
Questão 1 – Indique o autor de cada texto, colocando (N) para Nietzsche, (K) para
Kierkegaard e (S) para Schopenhauer.
( ) “Assim como talvez não haja ninguém completamente são, também se pode dizer que
nem um só existe que esteja isento de desespero, que não tenha lá no fundo uma inquietação,
uma perturbação, uma desarmonia [...]”.
( ) “A Vontade é o núcleo tanto da coisa particular como do conjunto; é ela que se manifesta
na força natural cega [...]”.
( ) “Vontade de potência é o esforço para triunfar do nada, para vencer a morte... vontade de
durar, de crescer, de vencer, de estender e intensificar a vida”.
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Questão 2 – Por que Nietzsche afirmava que o cristianismo e as religiões negavam o corpo e
as vivências humanas?
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Questão 4 – Diferencie as duas forças contrárias que agem no mundo, segundo Nietzsche: O
apolíneo e o Dionisíaco.
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Questão 5 – Explique o que Nietzsche entende com o termo “super-homem” (ou além-
homem).
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Questão 6 – Com base no que na diferenciação feita por Nietzsche sobre o apolíneo e o
dionisíaco, analise as pinturas abaixo, responda em qual dessas denominações elas se
encaixam e justifique sua resposta.
a)
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b)
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Compreendendo um texto
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Fotografia de Sigmund Freud na década de 1920. O médico austríaco é uma das personalidades mais influentes
do Século XX, tendo contribuído com áreas como a medicina, a filosofia, literatura e a psicologia. No entanto,
seu principal feito foi a criação da psicanálise.
“Em meu trabalho O futuro de uma ilusão, estava muito menos interessado nas fontes mais
profundas do sentimento religioso do que naquilo que o homem comum entende como sua
religião – o sistema de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste
mundo com perfeição invejável, e que, por outro, lhe garantem que uma Providência
cuidadosa velará por sua vida e o compensará, numa existência futura, de quaisquer
frustrações que tenha experimentado aqui na Terra.
O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente
engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos
homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão
aparentemente infantil tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma
atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais
nunca será capaz de superar essa visão de vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é
vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é
insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de
lamentáveis atos retrógrados.
Gostaríamos de nos mesclar às fileiras dos crentes, a fim de encontrarmos aqueles filósofos
que consideram poder salvar o Deus da religião, substituindo-o por um princípio impessoal,
obscuro e abstrato, e dirigirmos-lhes as seguintes palavras de advertência: ‘Não tomarás o
nome do Senhor teu Deus em vão!’. E se alguns dos grandes homens do passado agiram da
mesma maneira, de modo nenhum se pode invocar seu exemplo: sabemos por que foram
obrigados a isso”
(FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 2002, p. 21).
Interpretando o texto:
59
PREFEITURA DE SÃO LUÍS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
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Questão 2 – Comente a afirmação: “O homem comum só pode imaginar essa Providência sob
a figura de um pai ilimitadamente engrandecido”.
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Questão 3 – Relacione o texto com a ideia defendida por Nietzsche no livro A gaia ciência.
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