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DE IPATINGA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
ANTIGA, MEDIEVAL E DO
BRASIL
JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO
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Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do
conteúdo aplicado ao longo do livro, você irá encontrar ícones ao lado dos
textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do
conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir:
2
UNIDADE
01
do tamanho avassalador do natural, o sujeito compreende a necessidade da
diminuição da distância entre o homem e o natural e, consequentemente, inicia um
processo de superação do medo inicial da natureza. Portanto, as narrativas
mitológicas possuem a função inicial de superação do medo do desconhecido, isto
é, de superação do medo originário proveniente da natureza. Tal superação ocorre,
sobretudo, com a antropomorfização dos poderes naturais, em outros termos, são
conferidas à natureza características físicas e psíquicas típicas do ser humano, por
exemplo, os deuses se enfurecem, sentem-se enciumados, sofrem e desejam como
os seres humanos.
A mitologia configura-se como uma atividade inventiva de caráter
narrativo/literário que procura fornecer os primeiros princípios organizacionais do
mundo, da realidade e, sobretudo, da natureza para os seres humanos constituírem-
se enquanto seres sociais e, deste modo, iniciarem o processo de significação do
mundo e das coisas.
Karl Kerényi (2015, p. 12) aponta que a “mitologia precisa transcender o
indivíduo, e precisa exercer sobre os seres humanos um poder que tenha influência
sobre a alma e enche-a de imagens”, isto é, como atividade inventiva, a mitologia
supera o caráter individual da narração e dirige-se à vida social dos seres humanos
em aspectos práticos e espirituais, preenchendo os recônditos da vida humana com
histórias (mythoi) plenas de significações.
Em sua plenitude de significações e de relações diretas com as organizações
sociais dos seres humanos em contato com a natureza, a mitologia institui-se como
uma religião politeísta, em outros termos, como uma organização religiosa dotada
de um panteão de deuses e deusas, ou conforme compreendida por Yuval N. Harari,
em “Sapiens”, como a ideia de que:
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[...] o mundo era controlado por um grupo de deuses poderosos,
como a deusa da fertilidade, o deus da chuva e o deus da guerra. Os
humanos podiam rogar a esses deuses, e os deuses podiam, se
recebessem devoções e sacrifícios, dignar-se a trazer chuva, vitória e
saúde (HARARI, 2017, p. 221).
Nesse sentido, não havia nenhum aspecto da vida grega que não fosse
regido pela relação ritualística com os deuses, ao passo que, a figura do poeta (o
rapsodo) institui-se como o narrador, o intérprete e o tradutor da mensagem divina
para os demais seres humanos.
É justamente o poeta inspirado pelas musas que narra o mito e,
consequentemente, aquele que possui uma relação de proximidade com os deuses
algo que, por sua vez, lhe confere uma aura de autoridade. Tal autoridade se dá na
atividade da narração pública do mito, fazendo deste um discurso compartilhado
entre o narrador e os ouvintes. Diante disso, é de suma importância frisar que a
narrativa mitológica se constitui enquanto uma narrativa oral, ou seja, no espaço
comunitário preenchido pela oralidade.
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A vitória dos deuses olímpicos, sob o comando de Zeus, não instaura tão
somente uma nova ordem cósmica, mas, sobretudo, ela destaca o
surgimento de um mundo novo no qual as forças primordiais da natureza
encontram-se dominadas e, para tanto, segundo Vernant (2002), torna-se
possível avistar os processos de racionalização que, posteriormente, atuarão
sobre a natureza dominando-a e instrumentalizando-a segundo os desígnios
do logos.
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Para Jaeger (1994), as poesias de Homero destacam a vasta e complexa
formação educacional do grego e, consequentemente, contribuem para a
fundamentação da sociedade arcaica enquanto categorias fundamentais “da vida
e do pensamento”. Deste modo, a Ilíada e a Odisseia conferem referências
fundamentais para a formação do sujeito, revelando configurações das relações
sociais na Grécia Clássica.
Fonte: Wikimedia1
1Disponívelem:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Peter_Paul_Rubens_-_Achilles_slays_Hector.jpg, acessado
em 06/02/20.
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“Odisseia” difere de Aquiles, herói da Ilíada, uma vez que Ulisses é um simples mortal
sem relação imediata com os deuses. Entretanto, o mundo de Ulisses também se
entrelaça ao mundo dos deuses, pois, sua sina se dá, justamente, pelo seu desdenho
com relação aos deuses olímpicos.
Na areia das praias de Troia encontra-se um cavalo de madeira, plano bolado
pelo astuto Ulisses para, finalmente, derrotarem a cidade, uma vez que as suas
muralhas se fazem impenetráveis. Dentro do cavalo há uma série dos melhores
guerreiros gregos. Interpretado como uma oferenda logo após Poseidon, o deus dos
mares, enviar um monstro marinho para dar cabo do sacerdote que aconselhava o
soberano de Troia a incendiar o cavalo, o “presente de grego” é levado para dentro
da cidade troiana. No cair da noite, os guerreiros saem do cavalo, abrem os portões
de Troia e, finalmente, a cidade é destruída.
Ulisses, motivado pela genialidade de seu plano, renega os deuses e coloca-
se como, de fato, o vencedor de Troia. Nesse ínterim, Poseidon amaldiçoa Ulisses e
sentencia-o a vagar no mar sem ser capaz de retornar à Ítaca, seu reino. Após vagar
anos a fio e enfrentar as intempéries do mar, os ciclopes, as feiticeiras, enganar as
sereias e todos os perigos que os deuses colocaram em seu caminho, Ulisses, com a
ajuda de Atena, consegue retornar à sua cidade, libertar Penélope e, retomar o seu
reinado.
Para o pensador Theodor W. Adorno, o personagem de Ulisses tem um
significado muito importante para a filosofia, pois, ele exemplifica a chegada da
racionalidade como superação dos saberes mitológicos na resolução dos
problemas. Adorno afirma que a astúcia de Ulisses antecipa a busca do humano
pela tentativa de colocar-se acima da natureza e, consequentemente, dominá-la,
conforme ocorre, por exemplo, no episódio das sereias, narrado na Odisseia. Ali, com
a sua racionalidade, Ulisses domina o mito (o natural) ao ser capaz de escutar o
canto das sereias sem ser arrastado para o fundo do mar.
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Figura 6: Odisseu fugindo da caverna de Polifemo (1593–1678) - Jacob Jordaens
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proporcionar que o sujeito se reconheça na peça e, consequente, realize a catarse,
isto é, purifique/purgue os sentimentos tortuosos que não são saudáveis para a vida
social.
Como o mais famoso gênero da literatura grega, a tragédia revela as
peripécias do herói para a fuga impossível das determinações pré-estabelecidas
pelas profecias do destino (as Moiras). Nesse sentido, os dramaturgos Sófocles, autor
de “Édipo Rei”, e Eurípedes, autor de “Medeia”, destacam-se como os grandes
autores trágicos da Grécia Clássica.
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FIXANDO O CONTEÚDO
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3. Leia o texto abaixo e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola –
Adaptado).
“ (…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa região exterior do
desconhecido, englobando o pequeno campo do conhecimento concreto
comum. O sobrenatural está em todas as partes, dentro ou além do natural; e o
conhecimento do sobrenatural que o homem acredita possuir, não sendo da
experiência direta comum, parece ser um conhecimento de ordem diferente e
superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado ou (como diziam
os gregos) ‘divino’ — o mágico e o sacerdote, o poeta e o vidente”.
CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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e) como modelo de racionalidade orientada em direção à superação do mito.
6. UNICENTRO (Adaptado).
“Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e
coerente. Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em relação com ela
tudo quanto cantam de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação
que se define seu caráter particular. Nós chamamos de religiosa essa cosmovisão,
embora ela se distancie muito da religião de outros povos e tempos. Essa
cosmovisão da poesia homérica é clara e coerente. Em parte alguma ela enuncia
fórmulas conceituais à maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo
que sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor muitas coisas
resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial, os testemunhos não se
contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los, fazer-lhes o
cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e a
morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (…). ”
OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. São Paulo: Odysseus
Editora, 2005.
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia
arcaica, assinale a alternativa correta.
a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada poderiam interferir no
destino dos humanos e, assim, a determinação divina (ananque) se colocava em
segundo plano, uma vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía
a função de ensinar ao homem o que este deveria escolher no momento de sua
livre ação.
b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego
para o pleno exercício da atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma
vez que, de acordo com historiadores e helenistas, não houve uma ruptura na
passagem do mito para o logos; mas, sim, um processo gradual e contínuo de
enraizamento histórico que culminou no advento da filosofia.
c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, formação e visão de
mundo que o homem grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero justapõe
conceitos importantes como harmonia, proporção e questionamentos a respeito
dos princípios, das causas e do porquê das coisas. Embora todas essas instâncias
apresentavam-se como tal, os mitos não deixaram de lado o caráter mágico,
fictício e fabular em que eram narrados.
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d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura
uma modalidade literária bem singular no Ocidente. As ações dos deuses e dos
homens, por exemplo, sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a
qual sempre revelou uma lógica racional em funcionamento.
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação do homem grego,
pois o caráter teórico e abstrato da cultura grega apagou em grande parte os
aspectos que se revelariam relevantes na poesia grega.
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tem toda uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas
satisfatórias. Depende de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito
que assumiu a direção do nosso mundo – e está desatualizada. A quarta função
do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam tentar se
relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer
circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso. ”
CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990.
17
O SURGIMENTO DO LOGOS UNIDADE
02
lógico, crítico, reflexivo e sistemático de compreensão/organização do mundo e da
natureza. Trata-se, portanto, da eleição do logos (da racionalidade) como motor
explicativo da realidade e, consequentemente, da superação da narrativa
mitológica em seu papel de organização/conhecimento do mundo.
Tem-se, deste modo, a consideração por um outro modo de conhecimento
que, diferentemente da narrativa oral mitológica, adota como fundamento a busca
pela verdade das coisas. Assim, o descompromisso mítico com a verdade, isto é, a
consolidação de um saber desvinculado dos processos lógicos de compreensão da
realidade, é superado pela construção de uma teoria (de um logos / de uma lógica)
cujo principal direcionamento é o de fornecer aspectos racionalmente construídos
para obtenção do conhecimento do mundo, da natureza e das coisas.
Segundo Chauí (2016, p. 33),
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ao conhecimento de novas culturas exige da sociedade grega a formulação de
novos modos de compreensão do mundo e da realidade.
Faz-se necessária, portanto, a eclosão de um novo modo de organização do
mundo e, finalmente, tal modelo é fornecido pela razão filosófica enquanto um
conjunto de conhecimentos e procedimentos reflexivos racionalmente orientados,
em outros termos, saberes e regras sistematizadas através da razão e do sujeito.
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2.2 COSMOLOGIAS: FILOSOFIAS NATURALISTAS
20
pensamento pré-socrático, é a investigação de “princípios únicos a partir dos quais
a natureza como um todo poderia ser constituída e/ou gerada, bem como seus
diversos fenômenos explicados” (POLITO; FILHO, 2013, p. 334). Tais princípios, como
dito anteriormente, encontram-se no conceito de physis, a determinação originária
das coisas.
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Falando ainda dos filósofos pré-socráticos detentores de um pensamento
monista, isto é, da ideia de que através da observação de um elemento da natureza
seria possível determiná-lo como o princípio natural imperecível e originário de todas
as coisas, temos Anaxímenes (588 a.C. – 524 a.C.) que, por sua vez, determinou que
a physis seria o ar.
Pitágoras de Samos (570 a.C. – 490 a.C.), filósofo, astrônomo e matemático,
pensa a physis como uma complexa organização numérica, atribuindo ao número
1 (um) a ideia de origem, isto é, de ponto de partida para a fundação do Universo.
Ademais, o pensamento pitagórico oferece contribuições determinantes não
apenas para a consolidação da geometria (o teorema de Pitágoras) e da filosofia,
mas também acrescenta ao entendimento da música ao descobrir uma nova
escala de tons (a escala pitagórica). Ademais, a influência de Pitágoras pode ser
observada em grandes pensadores futuros, tais como Galileu Galilei e Isaac Newton.
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Quadro 1: Alguns pensadores pré-socráticos e a physis
Pré-socráticos Physis
Anaximandro (610 a.C.-546 a.C.) O infinito / o ilimitado (apeíron)
Empédocles (490 a.C. - 430 a.C.) Terra, fogo, água e ar
Anaxágoras (500 a.C. - 428 a.C.) Sementes, amor e ódio
Demócrito (460 a.C. - 370 a.C.) Átomos
Zenão (490 a.C. - 430 a.C.) Imobilidade
Fonte: Elaborada pelo autor
Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470 a.C.) e Parmênides de Eleia (530 a.C. - 460
a.C.) são dois dos mais importantes pensadores pré-socráticos, cujas reflexões vieram
a influenciar toda a filosofia subsequente. Opositores no que diz respeito ao
entendimento da physis, ambos os filósofos determinaram aspectos fundamentais
para o desdobramento da razão como modo de reflexão humana.
Heráclito, o Obscuro, determina o fogo como elemento originário, não em
uma perspectiva monista, conforme pensado por Tales, mas, pelo contrário, o fogo
encontra-se em um movimento perpétuo de purificação e transformação dos outros
elementos. Diante disso, a noção de movimento (devir) assume a primazia do
pensamento heraclitiano.
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Figura 14: Heráclito (1630) - Johannes Moreelse
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Quadro 2: O ser segundo Parmênides
O ser é imóvel/imutável.
O ser é eterno/indestrutível.
O ser é uno/unitário.
O ser é indivisível.
O ser é pleno.
2.4 FIXA
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O CONTEÚDO
28
b) tentativas de organização do cosmos através da palavra poética.
c) tentativas de organização do cosmos por meio da racionalidade separada do
natural.
d) tentativas de organização do cosmos por meio da intervenção dos deuses na
realidade dos seres humanos.
e) tentativas de organização do cosmos por meio da racionalidade a partir da
investigação empírica/racional da natureza.
4. (UEG) – Adaptada
A influência de Sócrates na filosofia grega foi tão marcante que dividiu a sua
história em períodos: período pré-socrático, período socrático e período pós-
socrático. O período pré-socrático é visto como uma época de formação da
filosofia grega, na qual predominavam os problemas cosmológicos. Ele se
desenvolveu em cidades da Jônia e da Magna Grécia. Grandes escolas filosóficas
surgem nesse período e muitos pensadores se destacam.
Entre eles, um jônico, que ficou conhecido como pai da filosofia. Seu nome é:
a) Sócrates de Atenas.
b) Parmênides de Eleia.
c) Heráclito de Éfeso.
d) Tales de Mileto.
e) Demócrito de Abdera.
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Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995. p.43-44.
30
Para Demócrito, a physis é composta:
a) pelo fogo.
b) pela água.
c) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio.
d) pelo ilimitado
e) pelos átomos.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre mito e filosofia,
seguem as seguintes proposições:
I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da physis porque as
explicações racionais do mundo por eles produzidas apresentam não apenas o
início, o princípio, mas também o desenvolvimento e o resultado do processo
pelo qual uma coisa se constitui.
II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da origem e do
desenvolvimento do universo, antes deles já existiam cosmogonias, mas estas
eram de tipo mítico, descreviam a história do mundo como uma luta entre
entidades personificadas.
III. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e físico, é considerado
filósofo – o fundador da filosofia, segundo Aristóteles – porque em sua proposição
“A água é a origem e a matriz de todas as coisas” está contida a proposição
“Tudo é um”, ou seja, a representação de unidade.
IV. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-socráticos seguem o
mesmo esquema de orientação das narrativas mitológicas, pois, ao fim e ao
cabo, os pré-socráticos constroem cosmogonias.
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b) Apenas as proposições III e IV estão corretas.
c) Apenas as proposições II e III estão corretas.
d) Apenas as proposições I, II e III estão corretas.
e) Todas estão corretas.
COLUNA 1
1. A physis é o átomo.
2. A realidade encontra-se em constante devir.
3. Tudo é uno/imutável.
4. A physis corresponde a uma organização numérica.
5. Aquiles e a tartaruga.
COLUNA 2
( ) Heráclito de Éfeso.
( ) Zenão de Eleia.
( ) Pitágoras de Samos.
( ) Demócrito de Abdera.
( ) Parmênides de Eleia.
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O SOFISTA E A PALAVRA
33
Diante disso, as decisões políticas e legislativas tomadas no âmbito da pólis são
realizadas na Ágora, isto é, nas Assembleias coletivas realizadas nas praças públicas,
nas quais os “bem-nascidos” (Eupátridas) exerciam o papel de cidadão ao discutirem
os direcionamentos políticos e legais da pólis.
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Superando as imposições da narrativa mítico/religiosa e transformada em
sinônimo de poder, a palavra racional passa a ser disputada no âmbito da pólis
grega. Frente a isso, o campo discursivo da pólis torna-se múltiplo e,
consequentemente, dotado dos seguintes discursos: a) o mítico/religiosos que,
mesmo desprovido de sua antiga tarefa de organização do real, ainda existe na pólis
com papel de manutenção do aspecto ritualístico do mundo; b) o filosófico,
ancorado na busca racional pela verdade das coisas; e c) o discurso do sofista, cujo
aspecto central é o manejo da palavra racional em prol do efeito de persuasão e
convencimento.
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sofista irão se caracterizar, sobretudo, pela defesa do relativismo ao afirmar que não existem
verdades absolutas, diferentemente do filósofo, cuja preocupação principal é, justamente, a
busca pela verdade. Frente a isso, destacam-se três posicionamentos centrais da atividade
sofística:
a) O relativismo: a verdade é relativa.
b) O ceticismo: não existe verdade absoluta, mas, caso ela exista, o homem
não pode conhecê-la.
c) O convencionalismo: as normas, as leis e os costumes não são instâncias
fixas e imutáveis, pelo contrário, as normas, as leis e os costumes são
acordos/convenções travadas frente às necessidades.
Peritos na arte retórica, isto é, na arte do bem falar e, consequentemente, no
manejo do discurso em prol de obtenção de ganhos políticos, sociais e econômicos,
os sofistas destacam-se como professores remunerados pelos ensinamentos da arte
do convencimento destinada aos aristocratas atenienses. Deste modo, segundo
Chauí (2002), a expertise dos sofistas se dava, principalmente, pela:
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Ademais, destaca-se, ainda, que o discurso sofista se funda por meio da
defesa de opiniões (dóxa) divergentes, direcionando a tarefa da persuasão rumo
àquele que mais o pagar, ou, como dito por Chauí (2002), os sofistas “não se
interessam pela verdade (alétheia), que é sempre igual a si mesma e a mesma para
todos. Sendo professores de opiniões, são mentirosos e charlatães” (CHAUÍ, 2002, p.
163 – grifos nossos), são considerados os falsos-filósofos e, diferem-se, sobretudo, no
que diz respeito aos direcionamentos conferidos à palavra racional por Sócrates e
Platão, como veremos adiante.
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GÓRGIAS DE LEONTINOS
[...] pela primeira vez, com clareza, é quebrada a identidade entre ser-
pensar-dizer, contida na palavra logos, e é estabelecida a diferença,
a separação e autonomia entre realidade, pensamento e linguagem.
(...) ao afirmar a diferença e a separação entre realidade,
pensamento e linguagem, Górgias simplesmente quebrou o antigo
conceito da verdade como alétheia e forçará a filosofia a redefinir o
conceito de verdade, a reformular as relações entre ser, pensar e dizer
e, portanto, a própria ideia de conhecimento. (CHAUÍ, 2002, p. 175)
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Sócrates e Platão irão se declarar como inimigos dos sofistas na tentativa de restaurar
a primazia do logos racional e na tentativa de fornecer as bases para a condução
de uma reflexão em busca da verdade ideal das coisas, distanciando-se, portanto,
das simples opiniões provindas do senso comum.
39
Figura 20: Helena e Páris (1788) – Jacques-Louis David
40
discursiva que a convence a fugir; 3) uma força maior que a leva, contra sua
vontade, a Troia; e, 4) a influência dos deuses que são mais fortes que os humanos.
Com efeito, o sofista apresenta causas incontornáveis às quais o puro espírito de
Helena não era suficientemente forte para oferecer resistência, procurando,
portanto, convencer os ouvintes da inocência de Helena.
41
FIXANDO O CONTEÚDO
4. (UESPI) – Adaptada
A construção da história requereu lutas contra as dificuldades naturais e grande
capacidade de invenção. Muitas reflexões filosóficas foram importantes para
pensar a condição da cultura. Os sofistas contribuíram com essas reflexões,
quando:
43
que sua opinião é a melhor e Sócrates ensinava a dialética, que através de
questionamentos (só sei que nada sei) levava ao conhecimento verdadeiro.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2004, p. 42-48. Adaptado.
De acordo com o texto acima, Sócrates não era um sofista, pois ele:
a) era cético, seu lema era “só sei que nada sei”, enquanto os sofistas defendiam
uma verdade.
b) ensinava nas praças públicas apenas de Atenas, enquanto os sofistas eram
itinerantes.
c) buscava a verdade da episteme, enquanto os sofistas despertavam a verdade
dentro de cada um.
d) defendia a existência de uma verdade universal, enquanto os sofistas eram
relativistas.
e) persuadia através da retórica de que estava certo, enquanto os sofistas eram
dialéticos.
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IV. Há periculosidade do pensamento no ponto de vista moral, bem como
inconsistência teórica.
V. Os sofistas representam um fenômeno imprescindível. É impensável a filosofia sem
eles.
A respeito do pensamento direto dos principais socráticos sobre os sofistas, estão
corretas apenas as afirmativas:
a) I e IV.
b) I e V.
c) II e III.
d) III e IV.
e) IV e V.
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UNIDADE
A FILOSOFIA DE PLATÃO
4.1 SÓCRATES
04
UNIDADE
Com a entrada de Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.) no cenário da pólis grega, a
palavra racional desloca-se, sobretudo, para o entendimento do homem, do
04
conhecimento e da ética visando – diferentemente do sofista que compreende a
palavra do logos como um instrumento de persuasão e de relativismo – encontrar o
conhecimento verdadeiro (a episteme) das coisas.
A perspectiva socrática é a da constante busca pela sabedoria a partir da
emblemática certeza inicial de que a única coisa certa é a ignorância, formalizada
pela seguinte expressão: “Só sei que nada sei”. Deste modo, Sócrates salienta a
necessidade de superação das certezas pré-concebidas para, finalmente, adentrar
na busca pelo conhecimento verdadeiro. Ademais, conforme ressaltado por Chauí
(2002), a missão do filósofo Sócrates consiste em:
46
método de parir a verdade através do jogo de pergunta e resposta, assim, “Sócrates
é aquele que faz vir à luz a verdade dos conceitos” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p.
15), colocando em contradição as falsas verdades de seu interlocutor, uma vez que
elas são advindas da opinião e do senso comum.
Fonte: Wikipédia
4.2 PLATÃO
Platão (428 a.C.-347 a.C.), discípulo de Sócrates, coloca-se como um dos mais
importantes pensadores da história da humanidade. Aprofundando os ensinamentos
de seu mestre, o pensamento platônico busca conhecer a verdade através da razão.
Dando início ao período antropológico da filosofia, o pensamento de Platão
debruça-se sobre o humano procurando conhecê-lo, sobretudo, segundo suas
atuações morais (éticas; justas; livres), políticas e metafísicas. Desse modo, tal como
Sócrates, o platonismo, ao adotar a palavra racional como meio/modo de alcance
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do conhecimento verdadeiro, tem os sofistas como principais inimigos.
Ademais, é com Platão que as Academias de filosofia têm o seu início,
demarcando o modelo de formação educacional (Paideia) direcionado ao corpo e
à mente, conforme desenvolvido por Platão. Não obstante, é com o pensamento de
Platão que a filosofia, de fato, torna-se uma investigação sistemática acerca de
todos os âmbitos de atuação dos seres humanos, investigando desde concepções
ontológicas/metafísicas até determinações práticas da pólis, tal como o caminho
político/formativos dos cidadãos.
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Quadro 3: Os principais Diálogos de Platão
DIÁLOGO TEMÁTICA
República Idealismo/Dualismo/Polis/ Paideia/
Conhecimento
Apologia de Sócrates Acusação/morte de Sócrates
Láques Coragem
Hípias menor Verdade/Mentira/Justiça
Górgias Retórica
Fédon Alma/Metafísica
O banquete Bem/Amor
Crátilo Linguagem/Conhecimento
Fonte: Adaptado de “Platão”
O idealismo de Platão
50
realidade, ou seja, de uma realidade metafísica (transcendental / idealista) para
além da materialidade física da realidade compreendida pelos sentidos e que,
consequentemente, só pode ser alcançada pela ação do pensamento racional. E,
deste modo, enquanto vinculada a razão, o mundo das ideias de Platão afirma os
processos de racionalidade como procedimentos referentes às disciplinas
intrinsecamente racionais (de puro pensamento), tais como a matemática e,
principalmente, a filosofia, como demonstrados na alegoria da linha:
←---------------------------→ ←----------------------------------→
A República de Platão
Figura 24: Platão apontando para o mundo ideal (Trecho da pintura “A escola de
Atenas” (1509 – 1511) – Rafael Sanzio)
52
O diálogo platônico procura fundamentar o que seria a essência da bondade,
da ética, da legalidade, da justiça e da formação tendo em vista o direcionamento
de cidadãos racionalmente conduzidos. Em outros termos, a cidade ideal, para
Platão, fundamentar-se-ia na afirmação da racionalidade em detrimento dos
aspectos advindos da sensibilidade e, consequentemente, na busca pela verdade
essencial das coisas.
Ademais, tendo Sócrates como personagem principal, Platão empreende
uma crítica aos posicionamentos políticos existentes na pólis, procurando, para tanto,
demonstrar as contradições existentes nos discursos relativistas proferidos pelos
Sofistas que, ao fim e ao cabo, determinavam os rumos políticos da cidade-estado.
É justamente na República que Platão fornece as principais alegorias
(ilustrações) que fundamentam a sua filosofia procurando, sobretudo, exemplificar a
soberania das ideias sobre a sensibilidade. Desse modo, podemos ressaltar,
principalmente, a alegoria da Caverna, apresentada no Livro VII, como ponto central
da fundamentação da filosofia idealista, no qual, a superação do conhecimento
falso proveniente dos sentidos se dá por meio da elevação racional do sujeito em
busca da verdade, ou, em outros termos, em busca do conhecimento verdadeiro
(episteme).
Com efeito, no diálogo platônico, a busca pela verdade se desdobra por meio
53
do método dialético, isto é, na oposição entre discursos contrários visando à
contemplação do conhecimento verdadeiro alcançado racionalmente. Tal
dialética consiste na superação do caráter relativo/opinativo do discurso por meio
da reflexão racional e sistemática que, não obstante, conduz o sujeito à
contemplação das ideias.
Podemos ressaltar ainda que o interesse fundamental de Platão, conforme dito
na República, reside na construção de um direcionamento educativo centrado na
soberania da racionalidade. Assim, a educação platônica possuiu um caráter
formativo geral, configurando-se, portanto, uma Paideia, isto é, um processo
educativo que procura formar o sujeito integralmente no que diz respeito a uma
educação voltada para o corpo e para a alma (mente).
A Paideia de Platão – apresentada, sobretudo, no Livro III, da República –
relaciona-se diretamente com a suas teorias sobre a política e sobre as almas. De
acordo com o filósofo, a alma seria dividida em três partes: a alma racional; a alma
irascível (emotiva/afetiva) e a alma apetitiva (desejosa/objetal), sendo que cada
uma dessas almas corresponderia a uma classe social habitante da polis e,
consequentemente, a cada uma delas corresponderia um modelo
educacional/formativo ideal. Nesse sentido, a alma racional corresponderia à
educação filosófica direcionada aos governantes, que Platão denominará como
Reis Filósofos. Já a alma irascível seria de posse dos guerreiros e, portanto, a
educação/formação seria destinada ao controle das emoções e à elevação da
coragem para a defesa militar da pólis; por sua vez, a alma apetitiva corresponderia
aos trabalhadores (comerciantes; lavradores; artesões e camponeses) e o seu
modelo educacional seria fundamentado, prioritariamente, no controle racional dos
desejos e na consequente manutenção da pólis.
54
centrada na liderança do Rei Filósofo, cuja educação é estritamente voltada à
elevação racional e, consequentemente, ao conhecimento do mundo das ideias.
Diante disso, no Livro III, a Paideia de Platão é finalizada com uma alegoria que ilustra
a densidade do controle político idealista preconizado na cidade ideal de Platão, a
saber, a alegoria (ou fábula) na nobre mentira.
Em termos gerais, Sócrates revela a Glauco, o seu interlocutor, que visando à
manutenção da ordem e à organização em classes sociais distintas, na cidade ideal,
é permitida aos governantes a utilização de uma nobre mentira, composta do
seguinte conteúdo: em cada uma das almas descritas acima estaria contido um
elemento mineral imutável que conferiria às classes o seu local social estratificado,
por exemplo, na alma racional dos governantes estaria contido o ouro; na alma
irascível dos guardiões estaria contida a prata e, na alma apetitiva dos trabalhadores
estaria contido o bronze.
55
FIXANDO O CONTEÚDO
2. UNCISAL – (Adaptada)
Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e
fazer perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto.
Mas, durante o diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada,
levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de sua atuação,
Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a
juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar certos valores religiosos.
Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela
qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia:
a) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica.
b) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo
Platão.
c) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade.
d) transmitia conhecimentos de natureza científica.
e) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população
ateniense.
56
3. UNICAMP - Adaptada
A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra
o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra
Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o
mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates
chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua
própria ignorância.
5. UFU – (Adaptada)
No pórtico da Academia de Platão, havia a seguinte frase: “não entre quem não
souber geometria”. Essa frase reflete sua concepção de conhecimento: quanto
menos dependemos da realidade empírica, mais puro e verdadeiro é o
conhecimento tal como vemos descrito em sua Alegoria da Caverna.
“A ideia de círculo, por exemplo, preexiste a toda a realização imperfeita do
57
círculo na areia ou na tábula recoberta de cera. Se traço um círculo na areia, a
ideia que guia a minha mão é a do círculo perfeito. Isso não impede que essa ideia
também esteja presente no círculo imperfeito que eu tracei. É assim que aparece
a ideia ou a forma. ”
JEANNIÈRE, Abel. Platão. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 170 p.
58
7. A teoria das almas de Platão fundamenta-se como necessária para a organização
político-social da cidade ideal. Diante disso, organize as colunas abaixo
evidenciando a disposição correta.
Coluna 1:
1. Alma Racional.
2. Alma Irascível.
3. Alma Apetitiva.
Coluna 2:
( ) Guerreiros.
( ) Governantes.
( ) Trabalhadores.
a) 2,3,1.
b) 1,3,2.
c) 2,1,3.
d) 3,2,1.
e) 1,2,3.
8. ENEM – (Adaptado)
Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de
conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer
uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o
primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das
Ideias formava-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).
59
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES UNIDADE
5.1 ARISTÓTELES
05
O filósofo Aristóteles (384 a. C. – 322 a.C.) apresenta-se como um dos mais
UNIDADE
importantes pensadores de todos os tempos. ‘Mestre daqueles que sabem’, o
pensamento aristotélico determina-se como a primeira grande sistematização do
saber filosófico.
05
Nascido na cidade fronteiriça de Estágira, próximo à Macedônia, aos dezoito
anos, Aristóteles dirigiu-se à cidade de Atenas com o propósito de tornar-se discípulo
de Platão em matéria de filosofia. Não obstante, após os ensinamentos do
platonismo, Aristóteles fundamentou o seu próprio sistema filosófico divergindo de seu
mestre em questões centrais para a apresentação e o direcionamento da filosofia.
61
Física / História dos animais Filosofia Natural
Sobre a alma / Metafísica Metafísica
Ética a Nicômaco / Política Ética/Política
Poética / Retórica Arte e Linguagem
Fonte: Adaptado de REALE, G.; ANTISERI, D. (1990. P. 175 – 176)
O conhecimento e a lógica
63
de sua validade. Posteriormente, na modernidade, a indução aristotélica será alvo
de crítica devido a sua insegurança como método científico, justamente, porque,
por meio dela, pode-se chegar a conclusões errôneas. Diante disso, o método
indutivo foi aprimorado pelo pensador Francis Bacon na formulação do método
científico empírico.
A metafísica
64
encontram inseridos demarcando, enfim, um afastamento do modelo
dualista platônico de horizonte metafísico. Assim, as elaborações da
metafísica aristotélica estão ancoradas numa relação de
reciprocidade com a Natureza. (TEODORO, 2020, p. 72 – grifos nossos)
A ética e a poética
65
Figura 30: Aristóteles apontando para a materialidade. (Trecho da pintura “A escola
de Atena” (1509 –1511) – Rafael Sanzio)
Aristóteles definiu a sua doutrina ética como uma ética das virtudes, ou seja,
trata-se de um modelo doutrinário de conduta que possui como fundamento a
educação das virtudes para que o sujeito seja capaz de atuar politicamente na
cidade visando o bem comum.
O alcance do bem comum ocorre por meio da educação virtuosa que
procura equilibrar as demandas das paixões e os ditames da razão procurando,
sobretudo, efetivar a elevação da temperança entre o excesso e a falta como
modelo ético de vida ativa. O bom cidadão seria, portanto, aquele sujeito capaz de
equilibrar as paixões e as razões para o exercício do trato político e, finalmente,
alcançar a finalidade visada pela ética aristotélica: a felicidade (eudaimonia).
Na Poética, o filósofo preocupa-se com o local da arte na pólis, pois, se o
pensamento de Platão impõe uma condenação à arte ao considerá-la afastada da
verdade por imitar a realidade sensível, Aristóteles, por sua vez, reabilita a arte e,
consequentemente, a mímesis (imitação) como parte fundamental do humano e da
vida social.
Segundo Aristóteles, a mímesis tem um papel determinante na constituição do
sujeito que, inicialmente, apreende o mundo através da imitação, isto é:
67
FIXANDO O CONTEÚDO
2. UEL – (Adaptado)
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste
numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um
princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles, pode-
se dizer que a virtude ética:
a) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é
que nos torna mais perfeitos.
b) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o
excesso ou a falta.
c) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências
pragmáticas.
68
d) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na
falta.
e) reside no equilíbrio, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta.
69
a) uma filosofia sistemática em direção a um método rigoroso de argumentação.
b) uma filosofia dialógica fundamentada na busca por um mundo ideal.
c) uma filosofia empírica direcionada ao entendimento da realidade como algo
ausente de materialidade.
d) uma filosofia retórica fundada na capacidade de persuasão.
e) uma filosofia idealista e metafísica.
Adaptado de: ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1984. p.16. (Coleção Os
Pensadores.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa que
indica, corretamente, a ordem em que Aristóteles apresentou as causas primeiras.
a) Causa final, causa eficiente, causa material e causa formal.
b) Causa formal, causa material, causa final e causa eficiente.
c) Causa formal, causa material, causa eficiente e causa final.
d) Causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.
e) Causa material, causa formal, causa final e causa eficiente.
71
A FILOSOFIA HELENISTA UNIDADE
06
UNIDADE
6.1 A CULTURA HELENISTA
06
O termo helenista demarca um período histórico que engloba o imperador
macedônio Alexandre Magno (356 a.C. - 323 a.C.), o Grande, até a anexação da
Grécia pelo Império Romano. Com efeito, por meio da expansão das relações dos
gregos com outros povos, tem-se a configuração de uma estrutura cosmopolita4.
Nesse sentido, tem-se a noção de que os sujeitos não se restringem apenas ao
espaço delimitado pela pólis grega; mas, pelo contrário, são cidadãos do mundo
capazes de se relacionarem com diversas culturas.
72
A cultura helenista é marcada pela difusão dos modos de vida e cultura
gregos colocados em diálogo com a pluralidade de outros saberes advindos dos
povos que preenchiam a extensão do Império de Alexandre, dando ensejo, portanto,
a uma cultura híbrida, ou seja, helenística que, consequentemente, atuou como
influência à formação do Império Romano.
O cinismo
Criada pelo filósofo Antístenes (445 a.C. – 365 a.C.), a Escola Cínica
fundamenta-se como um modo de vida que se opõe à acumulação de bens
materiais e ao exercício pleno do prazer. Com efeito, o modo de vida cínico rejeita
a “vida que se baseia na investigação científica, bem como também aquilo que os
homens em geral consideram indispensável: as regras, a vida em sociedade, a
propriedade, o governo, a política, etc.” (CABRAL) Não obstante, a palavra “cinismo”
tem como significado viver como um cão, ou seja, viver completamente livre de
quaisquer determinações sociais ou materiais.
De acordo com Braga Júnior e Lopes (2015), o movimento delimitado como
cinismo difunde a ideia de que não é possível buscar os conhecimentos nos saberes
científicos, mas, sim, no autoconhecimento promovido pelo desprezo dos bens
materiais e na vida simples, isto é, na vida vivida como um cão, completamente
desprovida de conforto material.
Diógenes de Síncope (413 a.C. – 323 a.C.) é considerado o maior expoente da
escola cínica e defensor da vida segundo as suas próprias convicções.
74
Figura 33: Diógenes sentado em seu barril cercado por cães (1860) - Jean-Léon
Gérôme
Fonte: (GÉRÔME, 1824–1904)
75
ser humano, aquelas que finalmente o levam, segundo o Cínico, ao encontro com a
sua animalidade.
Trata-se ainda do posicionamento cínico com relação às afirmações
científicas provenientes do logos filosófico / matemático, isto é, para Diógenes, trata-
se de viver segundo os meios fáceis da vida, distantes dos modelos filosóficos,
matemáticos, astronômicos, platônicos, aristotélicos fundamentais à vida na Grécia
Clássica.
O epicurismo
76
Figura 35: O Jardim dos filósofos (1834) - Antal Strohmayer
77
Figura 36: Busto de Epicuro
78
O estoicismo
O estoicismo, fundado por Zenão de Cítio (333 a.C. – 263 a.C.), destaca-se no
período helenista como uma filosofia que afirma as virtudes através dos
comportamentos ao invés das palavras, em outros termos, as ações devem ser
tomadas de acordo com as crenças dos sujeitos que as realizam.
Por ser estrangeiro, a Zenão de Cítio não foi permitida a posse de um imóvel
no território ateniense, portanto, ele ministrava seus ensinamentos no pórtico (stoá)
da cidade. Diante disso, os discípulos de Zenão foram chamados de os da Estoá ou,
simplesmente, estoicos.
Com efeito, tem-se como determinação central de um estoicismo inicial
pensado por Zenão a ideia de que: “Não podemos mudar este mundo, mas
podemos compreender e viver segundo o que essa Razão Universal propõe,
mediante a filosofia” (BRAGA JÚNIOR; LOPES, 2015, p. 208), ou seja, há uma
determinação traçada pela racionalidade, em consonância com as virtudes morais
e com a natureza, que permite ao sujeito adequar-se à realidade racional à qual
todos os sujeitos pertencem.
De acordo com Reale e Antiseri (1990), no Pórtico de Zenão, diferentemente
do Jardim de Epicuro, “admitia-se a discussão crítica em torno dos dogmas
fundadores da escola, fazendo com que tais dogmas ficassem sujeitos a
aprofundamentos, revisões e reformulações” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 252), deste
modo, o estoicismo, em relação às demais filosofias helenistas, beneficia-se por meio
da constante evolução de seu modelo de pensar.
79
Apesar de ter sido fundada na Grécia como uma filosofia da ação é
precisamente em Roma que a filosofia estoica irá se destacar, sobretudo, através dos
ensinamentos de Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C – 65 d.C.) que se destacou como
membro de Senado Romano.
80
Finalmente, na filosofia de Sêneca, trata-se da consolidação do ser humano
como capaz de aceitar os desmandos da fortuna, isto é, pensa-se na construção de
um homem de ataraxia e de resiliência capaz de, com serenidade, absorver os
revezes da sorte e das coisas que se colocam como exteriores e distantes das suas
possibilidades de determinação.
81
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (Enem 2014)
Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários;
outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que
não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode
ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem
geradores de dano.
EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia.
Rio de Janeiro: Eduff, 1974.
2. UENP (Adaptada)
Julgue as afirmações sobre a filosofia helenista.
I. É o último período da filosofia antiga, quando a pólis grega desaparece em razão
de invasões sucessivas, por persas e romanos, sendo substituída pelo
cosmopolitismo, categoria de referência que altera a percepção de mundo do
grego, principalmente no tocante à dimensão política.
II. É um período constituído por grandes escolas filosóficas que apresentam
explicações situadas no âmbito da vida e dos comportamentos dos sujeitos.
III. Surgem nesse período a filosofia estoica, o epicurismo, o ceticismo e o cinismo.
82
3. Quais das correntes filosóficas abaixo podem ser consideradas helenistas?
a) Epicurismo; Marxismo; Cinismo.
b) Platonismo; Estoicismo; Epicurismo.
c) Cinismo; Epicurismo; Estoicismo.
d) Cinismo; Platonismo. Estoicismo.
e) Materialismo; Platonismo; Estoicismo.
a) Materialismo e epicurismo.
b) Cinismo e idealismo.
c) Estoicismo e epicurismo.
d) Existencialismo e cinismo.
e) Epicurismo e platonismo.
83
a) que o ser humano deve resignar-se à fortuna e desesperar-se diante dos
acontecimentos exteriores.
b) que o ser humano deve aceitar os desmandos da fortuna e possuir resiliência e
serenidade para compreender que os acontecimentos exteriores ocorrem
independentemente da sua vontade.
c) que o ser humano deve ater-se à fortuna que lhe impõe os valores materiais como
determinações infalíveis.
d) que a vida do ser humano pode ser estritamente controlada segundo as
determinações exteriores.
e) que não há direcionamento que não possa ser remediado pelas ações de homens
não virtuosos.
84
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAVID, J.-L. A morte de Socrátes. 1787. Óleo sobre tela, 129 cm × 196 cm.
Disponível em: https://www.metmuseum.org/pt/art/collection/search/436105.
Acesso em: 19 jun. 2020.
86
GONÇALVES, F.; BATISTA, L. A educação grega na poesia de Homero.
Educação na Antiguidade, 2017. Disponível em:
https://educacaonantiguidade.wordpress.com/2017/02/05/a-educacao-
grega-na-poesia-de-homero/. Acesso em: 20 fev. 2020.
87
POLITO, A. M. M.; SILVA FILHO, O. L. D. A filosofia da natureza dos Pré-Socraticos.
Cad. Bras. Ens. Fís., Florianópolis, v. 30, n. 2, p. 323-361, ago. 2013. Disponível
em: https://bit.ly/36XvRtt. Acesso em: 04 fev. 2020.
88
A IDADE MÉDIA UNIDADE
0
Nesse sentido, conforme ressalta Costa (2016, p. 06, grifo nosso), a “Idade Mé-
dia foi o período da História no qual se consumou a mescla de povos já romanizados
DADE
com os outros que irromperam pelas fronteiras naturais da parte ocidental da Eu-
ropa”. A mescla de povos, ainda em proximidade com o fim do Império Romano, foi
determinante para a potencialização de um modelo de pensamento e, consequen-
temente, da fundação de um modo de vida propriamente medieval.
1
Como veremos mais adiante, o modo de vida central nos períodos compreen-
didos como Alta Idade Média (sécs. V a X) e Baixa Idade Média (sécs. X a XV), é o
modo feudal, pautado pelo feudalismo, isto é, pela determinação de uma economia
rural. Os aspectos do feudalismo caracterizam-se como um modelo sócio-político de
organização da realidade/sociedade tendo como premissa fundamental o regime
de servidão, isto é, trata-se da organização social delimitada pela existência dos ser-
vos e dos senhores feudais.
6
É importante pensarmos a configuração da relação feudal existente entre os
servos e os senhores partindo, sobretudo, do entendimento de que tal relação se ins-
titui como uma relação de exploração na qual o senhor do feudo, isto é, o senhor das
terras (a aristocracia) nas quais os alimentos (como cereais, verduras e frutas) eram
cultivados e os animais (como gado e ovelhas) eram criados, cedia aos servos (os
camponeses) – em um regime de arrendamento – um espaço territorial no qual eles,
os servos, trabalhariam – cultivariam a terra/ cuidariam e criariam os animais – e, em
consequência de tal trabalho, eles estariam em um regime de proteção concedido
pelo senhor feudal e retirariam de sua produção uma pequena parcela para a sua
subsistência na faixa de terra (manso servil) que lhe era concedida pelo senhor feu-
dal.
Sobre o feudalismo, Silva (2019a, p. 45, grifo nosso), na obra História Medieval:
Feudo: o Feudo é uma terra conferida por um Rei ou Suserano a um vassalo, o senhor
feudal, em troca de ajuda militar e constante fidelidade. Essa prática se desenvolveu na
segunda metade da Idade Média e foi a base da economia europeia medieval. Vale
ressaltar ainda que os feudos eram autossuficientes, isto é, produziam alimentos para a sua
subsistência.
Manso servil: o manso servil era a faixa terra concedida ao servo para que ele, mediante
o pagamento de tributos (uma parte de sua produção), obtivesse o seu sustento.
Fundiária: relativo às terras; propriedades de terras.
7
Antes, contudo, de adentrarmos na organização social do período medievo
e, consequentemente, no imaginário determinante de tal período, é importante
compreendermos, em termos de periodização histórica, a divisão proposta no enten-
dimento da Idade Média em Alta Idade Média e Baixa Idade Média.
Na Alta Idade Média (Séc. V ao Séc. X), têm-se não apenas consolidação do
modo de produção servil (o feudalismo/senhorio) e da ruralização da Europa, como
também a ampla hegemonia das doutrinas do Cristianismo como modelos de vida,
de conduta e de entendimento da realidade cultural e sociais, além das determina-
ções monasteriais como espaços destinados à produção do saber tutelado pelas de-
terminações eclesiásticas que, finalmente, determinavam, uma boa utilidade para
as riquezas e o desempenho na salvação dos que a detinham. Não obstante, é jus-
tamente na Alta Idade Média que, conforme discutiremos mais adiante, que a dou-
trina da Patrística se consolida, principalmente, nos dizeres de Agostinho de Hipona
(Santo Agostinho) (354 - 430) que propõe uma releitura/reapropriação da filosofia
grega clássica (Platão e Aristóteles) em prol da fortificação da doutrina cristã.
Na Baixa Idade Média (Séc. VI ao Séc. XV), por sua vez, têm-se o auge e tam-
bém o declínio do feudalismo e o surgimento de um novo modelo de organização
8
econômica pautada, principalmente, na dinamização das relações de trocas co-
merciais que, futuramente, irão delimitar as práticas mercantilistas. Nesse sentido,
tem-se início a superação do modo de produção feudal (produção de subsistência)
para o modelo de produção visando os excedentes que virão a serem comercializa-
dos. Frente a isso, é possível ressaltarmos que o direcionamento econômico na Baixa
Idade Média irá favorecer o surgimento da burguesia e, consequentemente, fomen-
tar as relações econômicas e sociais pautadas pela produção e pela troca de mer-
cadorias, ambos os fatores compreendidos como molas propulsoras da Idade Mo-
derna.
9
seu interim, buscavam ensinamentos mais específicos.
10
poder clerical, sobretudo, sobre a instituição da Igreja Católica, faz com que o cristi-
anismo funcione como a base fundamental sobre a qual, durante e após a queda
do Império Romano, a fé cristã se desenvolva no terreno fértil da mente dos povos da
Europa. Nesse sentido, salienta Silva (2019a, p. 14) que:
11
ocorre um processo de evangelização dos povos bárbaros e a determinação do La-
tim como língua oficial do cristianismo, tudo isso, tendo em vista, a disseminação do
cristianismo como matriz religiosa dominante e o enfrentamento das práticas dos an-
tigos modelos religiosos.
12
Pensando em consonância com Vieira (2019), é necessário salientarmos que a
organização da sociedade medieval, sobretudo, da vida do sujeito no período me-
dievo faz-se tributária da centralidade do poder da Igreja que se coloca como a
transmissora de uma teologia dogmática. Essa mesma teologia possui as premissas
de organização “disciplinar e jurisdicional” (VIEIRA, 2019, p. 132) concedendo, por-
tanto, as diretrizes para a vida moral organizada em torno dos desígnios da fé cristã.
Nesse sentido, o protagonismo da organização da vida não é, de fato, de posse do
senhor feudal e nem mesmo do rei, mas, principalmente, ele, o protagonismo, é de-
terminado pelas doutrinas da Igreja, capazes, inclusive, de ditar os rumos para as de-
terminações do conhecimento, conforme vermos com as doutrinas da Patrística e da
Escolástica.
Finalmente, o sujeito medieval delimita-se, efetivamente, pelo modo de vida
agrário e, especialmente, condicionado às determinações/direcionamentos/conhe-
cimentos fornecidos pela Igreja e pelas conjunções doutrinárias da fé cristã.
O filósofo Petrarca (1304 - 1374), cunhou o termo Idade das Trevas para delimitar o período
demarcado como posterior ao período greco-romano, sobretudo, no que diz, respeito a
um suposto declínio nos modelos de vida e de conhecimento insurgentes na Idade Média
(ou Idade das Trevas). No entanto, historiadores futuros consideram o termo depreciativo,
pois, ainda que o conhecimento, no período em questão, seja de tutela da Igreja, ainda
é possível apontar um florescimento das produções artísticas, literárias e arquitetônicas.
Ainda nesse sentido, no mundo islâmico – principal rival do mundo católico/europeu –
pode-se constatar um avanço continuo nos campos científicos e matemáticos.
13
FIXANDO O CONTEÚDO
2. A mescla de povos, ainda em proximidade com o fim do Império Romano, foi de-
terminante para a potencialização de um modelo de pensamento e, consequen-
temente, da fundação de um modo de vida propriamente medieval. Nesse sen-
tido, assinale abaixo o modelo de vida econômico delimitado na Idade Média.
a) O capitalismo.
b) O mercantilismo.
c) O comunismo.
d) O classicismo.
e) O feudalismo.
14
4. O modo de vida feudal, dominante na Idade Média, pode ser entendido como
15
e) relações de sociabilidade pautadas nas determinações de um trabalho exercido
socialmente por toda a comunidade.
a) Patrística e Idealismo.
b) Idealismo e monismo.
c) Patrística e Escolástica.
d) Escolástica e Cinismo.
e) Cristianismo e Ceticismo.
7. Para Silva (2019, p. 14), “A Europa medieval nasceu do mundo romano, ou melhor,
das transformações que esse mundo experimentou graças às migrações bárbaras,
à difusão do cristianismo, à descentralização do poder político e ao fortalecimento
da aristocracia rural”. Nesse sentido, devido, principalmente, à ampla difusão do
cristianismo, podemos compreender que
16
8. A centralidade do poder da Igreja na Idade Média assinala
17
DO ANTIGO AO MEDIEVO UNIDADE
08
8.1 O ANTIGO AO MEDIEVO: O NEOPLATONISMO DE PLOTINO
Daremos início a Segunda Unidade “Do antigo ao medievo” como uma ten-
tativa de explicação e de determinação das influências ou heranças da filosofia
grega no nascente pensamento medieval tomando, portanto, o pensamento de
Plotino (204 – 270) como um exemplo profícuo da permanência de Platão e de sua
recorrência na Idade Média, pois, como veremos mais adiante, o pensamento pla-
tônico será determinante para a fundamentação filosófica proposta pela Patrística
de Santo Agostinho.
Plotino, autor das Enéadas, foi discípulo de Amônio Sacas (175 – 242) – impor-
tante filósofo do período Alexandrino – e destaca-se como o principal pensador do
18
neoplatonismo que consistiria, sobretudo, em uma retomada do pensamento platô-
nico com a finalidade do estabelecimento de uma sociedade na qual “os habitan-
tes deveriam “observar as leis de Platão”, ou seja, de viver realizando a união com o
divino” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 340, grifo nosso).
Nesse sentido, é determinante no pensamento de Plotino, uma refundação
da metafísica clássica (Platão; Aristóteles) em direção à perspectiva de retomada e
fortalecimento do Uno como “princípio supremo de unidade” (REALE; ANTISERI, 1990,
p. 340) e originalidade de tudo e de todos.
Assim, a partir de Castro (2019, online, grifo nosso), o Uno, portanto, seria com-
preendido em Plotino como a:
1) O Uno (Deus) que se se autocriou encontra-se acima do ser, pois, Ele é, concomi-
tantemente, a fundamentação originária e o Bem supremo (agathón), aquilo que
é “Bem para todas as outras coisas que dele necessitam” (REALE; ANTISERI, 1990,
p. 341);
19
2) O intelecto (nous) que, em sua complexidade, propõe-se, incialmente, como o
pensamento do Uno sobre Ele mesmo e, deste modo, o intelecto seria a sua re-
presentação/contemplação de si mesmo;
3) A alma retira as suas determinações do intelecto (nous), contudo, à alma não se
atribui a atividade do puro pensar, tal como no caso do intelecto. Diante disso, a
alma no entendimento de Plotino, segundo Reale e Antisseri (1990, p. 344), possui
como atribuição de “dar vida a todas as outras coisas que existem, ou seja, a
todas as coisas sensíveis, ordenando-as, dirigindo-as e governando-as”.
20
8.2 OS PADRES APOSTÓLICOS: PAULO DE TARSO
Paulo de Tarso, São Paulo, foi o mais exitoso dos apóstolos, como judeu
de elite contestou a ordem estabelecida dentro de sua religião e no
Império Romano com um discurso humanista e universal, baseado em
uma nova mensagem. Foi a última testemunha do ressuscitado e se
tornou um líder em fé e atitudes colocando em prática seu pensa-
mento mobilizador (IESSUS, 2015, online).
Destarte, Paulo de Tarso (São Paulo) coloca-se como um dos principais mobili-
zadores/doutrinadores para a difusão da fé cristã lançando mão de uma estratégia
pedagógica com a finalidade da evangelização e, consequentemente, da determi-
nação das doutrinas professadas pelo cristianismo como centrais para a organização
da realidade e da vida dos seres humanos.
21
de filosofias enganosas e vãs, de acordo com tradições humanas, que se baseiam
nos elementos do mundo, e não em Cristo. (BÍBLIA SAGRADA, 2012, p. online, COL 2:8,
grifo nosso).
Desse modo, podemos compreender que a determinação vocacional pre-
sente nos dizeres/ensinamentos de Paulo de Tarso, com a finalidade de superar as
determinações das filosofias anteriores, dirige-se rumo à consolidação de uma con-
duta de vida moralmente direcionada para a primazia das doutrinas do nascente
cristianismo ou, como afirma Costa e Bordin (2008), que, a despeito de influências
filosóficas clássicas dominantes na comunidade natal de Paulo de Tarso, o Evangelho
ensinado por ele “não provém de homens, mas da revelação de Deus (Gl 1-11-12).
Portanto, negou qualquer influência da cultura clássica sob sua mensagem” (COSTA;
BORDIN, 2008, p. 01).
Ademais, na perspectiva delineada por Vasconcellos e Funari (2013), na obra
Paulo de Tarso: um apóstolo para as nações, é importante ressaltarmos o cenário
social/geográfico plural por onde Paulo de Tarso transitou demarcado, principal-
mente, pela “fluidez das identidades sociais, individuais ou coletivas”
(VASCONCELLOS; FUNARI, 2013, p. 07) e, consequentemente, delimitado pela plurali-
dade de discursos sociais, religiosos e culturais, fazendo, portanto, que as habilidades
linguísticas, discursivas e argumentativas de Paulo de Tarso fossem salutares para a
difusão dos ideários cristãos em comunidades tão diversas.
No sentido formativo, o cristianismo difundido pelas palavras de Paulo de Tarso,
possui, em sentido determinante, uma importante dimensão pedagógica, isto é,
trata-se da difusão de doutrinas fundamentais para a vida cristã. A partir dessa di-
mensão, o modo epistolar é salutar como forma de expressões fundamentais do cris-
tianismo do primeiro século. Nesse sentido, em consonância com o caráter plural do
cenário transitado por Paulo de Tarso e a sua consequente superação no sentido
espiritual, Barbaglio (1989, p. 50) salienta que:
22
como uma herança que irá perdurar e fortalecer as Escrituras do cristianismo en-
quanto uma perspectiva universalista, isto é, ao passo em que o cristianismo – munido
desse caráter de unidade da fé - “caminhou para uma resoluta universalização, na
medida em que aboliu as diferenças espirituais básicas entre os homens de diferentes
nacionalidades,” (KONDER, 1969, p. 69) ao considerar-se como uma religião de todos
nascidos de Deus.
Enfim, ao colocar-se como um dos primeiros pensadores do cristianismo no pri-
meiro século, Paulo de Tarso coloca-se como central para a difusão da fé cristã ao
centrá-la como modo de vida e de conduta central para os sujeitos que, na Idade
Média, terão o modelo de vida cristã como determinante para a sua vida social e
para as determinações da cultura, do pensamento e, sobretudo, do conhecimento.
Fonte: El Greco
(Domenikos Theotokopoulos)
Segundo Gilson (1995, p. 02), “Desde o século II da era cristã, os Padres Apolo-
gistas, ou Apologetas, assim chamados porque suas obras principais são apologias
da religião cristã”, forneceram o substrato determinante, jurídico e legal, para a de-
fesa, a exposição e a justificativa da fé cristã diante da ainda profunda determina-
ção social/política das matrizes religiosas pagãs.
Diante disso, passaremos a expor, entre os diversos Padres Apologistas que,
em seu núcleo, pensam seguindo algumas diretrizes da filosofia grega e que, não
muito distante, fornecem as bases para a Patrística, os pensamentos de Orígenes
23
(183 - 254) e de Tertuliano (160 - 222) procurando, sobretudo, fortalecer os direciona-
mentos que, na Idade Média, serão os responsáveis pela determinação da fé cristã
como o principal guia moral e social dos seres humanos. Contudo, antes de entrar-
mos nas determinações reflexivas de Orígenes e de Tertuliano, convêm alguns breves
apontamentos sobre o primeiro Apologista, Justino, o mártir (100 - 165).
Para Justino, a propedêutica da conversão condiz na passagem da filosofia
grega – “uma filosofia animada por um espírito religioso” para a fé cristã, concebida
como “uma religião capaz de vistas filosóficas” (GILSON, 1995, p. 03). Assim, trata-se
de, em proximidade com a perspectiva da Patrística, colocar a racionalidade grega
a serviço das determinações da doutrina cristã, ou melhor, a serviço da fé.
Retornando a Orígenes de Alexandria, temos, portanto, o início de um impor-
tante diálogo entre a filosofia e o cristianismo. Nesse sentido:
24
centro de sua doutrina, sendo Ele (Deus), deste modo, instância incorpórea e, con-
sequentemente, impossível de ser conhecido. Contudo, Deus é a fonte de todo o
conhecimento e de toda inteligência. Por conseguinte, as Escrituras só podem ter
Deus como origem e, em consequência disso, a verdade presente Nelas é inquesti-
onável.
Em decorrência das colocações acima e, principalmente, da “Bondade ab-
soluta” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 413) de Deus, não é permitido aos seres humanos o
conhecimento de Deus, mas é permitido à exegese das Escrituras que, em seu mo-
vimento de revelação da verdade divina, apresenta-se em três níveis de compreen-
são: a) literal; b) moral; c) espiritual. A compreensão literal que diz respeito à leitura
mesma das palavras contidas nos Textos; a compreensão moral, tratando-se do en-
tendimento das doutrinações morais contidas nas Escrituras e como Elas repercutem
direcionando o modo de vida cristão na realidade; e a compreensão espiritual das
Escrituras é considerada por Orígenes a mais elevada e, portanto, mais difícil de ser
alcançada, uma vez que a verdade se faz revelada na dimensão espiritual dos seres
humanos.
25
Por isso, a pessoa individual não é livre para aceitar ou rejeitar o cristi-
anismo, segundo suas convicções pessoais, nem para abraçar algu-
mas de suas doutrinas e para rejeitar outras. A aceitação da fé cristã
implica na renúncia do direito de livre exame dessa fé. [...] Sendo a
fé um fato objetivo, que é preciso aceitar como tal, não é lícito acres-
centar-lhe ou subtrair-lhe o que quer que seja: cumpre aceitá-la em
sua integridade: “[…] sed nec eligere (licet), quod aliquis de arbitrio
suo induxerit”. (TERTULIANO apud SILVA, 2019b, online, grifo nosso)
A partir de tal condenação, faz-se visível que a fé não é matéria sujeita à ra-
zão, isto é, a fé não pode ser colocada à prova pela reflexão filosófica, pelo contrá-
rio a fé é um estado de espírito, um sentimento sentido pela alma simples do fiel.
Assim, filosofia e fé distanciam-se no pensamento do Apologeta, posição que difere-
se, como vimos anteriormente de Origines e que, posteriormente, irá diferenciar-se
da posição agostiniana, Tertuliano, segundo Reale e Antiseri (1990, p. 426, grifo
nosso), determina que: “Para chegar a Deus, basta uma alma simples: a cultura filo-
sófica não ajuda, até atrapalha”.
Nesse sentido, não se trata de um filosofar na fé (como proposto, por exem-
plo, por Justino, Origines e Agostinho), pelo contrário, trata-se de um distanciamento
fundamental entre a fé cristã e a filosofia, algo que, em proximidade com as deter-
minações propostas por Paulo de Tarso, propõe uma vida simples (distanciada das
reflexões filosóficas) devotada às doutrinas do nascente cristianismo.
Fonte: Wikimedia
Comonns (2011, online)
26
Segundo Tertuliano, no Da alma (De anima):
27
O pensamento de Tertuliano coloca-se a serviço das determinações e defesas iniciais do
surgimento do cristianismo. Nesse sentido:
28
FIXANDO O CONTEÚDO
a) Neomitologia.
b) Neoartistotelismo.
c) Neoplatonismo.
d) Neocartesianismo.
e) Neoepicurismo.
2. Para Plotino, os seres humanos deveriam viver em plena união com o divino, refun-
dando, portanto, uma importante tendência metafísica. Nesse sentido, o pensa-
mento de Plotino propõe
29
4. Sobre o pensamento plotiniano, é interessante destacarmos a sua delimitação em
uma espécie de Trindade. Deste modo, tal Trindade é composta do seguinte
modo:
5. A seguinte colocação de Paulo de Tarso (São Paulo): “Tende cuidado, para que
ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradi-
ção dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”, pode
ser compreendida como:
30
6. A unidade da fé centralizada na figura de Cristo, segundo o pensamento de Paulo
de Tarso acentua
8. Segundo Tertuliano, “a pessoa individual não é livre para aceitar ou rejeitar o cris-
tianismo, segundo suas convicções pessoais, nem para abraçar algumas de suas
doutrinas e para rejeitar outras. A aceitação da fé cristã implica na renúncia do
direito de livre exame dessa fé. [...] Sendo a fé um fato objetivo, que é preciso
aceitar como tal, não é lícito acrescentar-lhe ou subtrair-lhe o que quer que seja:
cumpre aceitá-la em sua integridade: “[…] sed nec eligere (licet), quod aliquis de
arbitrio suo induxerit”. A partir de tal colocação podemos deduzir que
31
d) a fé cristã é um produto exclusivo das mentes filosóficas.
e) a fé cristã não é um fato objetivo e, portanto, exige intensas reflexões filosóficas.
32
INTRODUÇÃO À PATRÍSTICA UNIDADE
09
9.1 A PATRÍSTICA: CONCILIAÇÃO ENTRE A RAZÃO E A FÉ
33
Ademais, para Chauí (2000, p. 53), a Patrística, no decorrer de sua elabora-
ção, adota como tema central “a possibilidade de conciliar razão e fé” mediante
três posicionamentos conflitantes:
Figura 10: Pintura de Adão retorno à desobediência original, uma vez que a:
34
do religioso conforme os fins delimitados pelas revelações contidas nas Escrituras. As-
sim, na Patrística, a defesa da fé cristã faz-se embasada pela argumentação filosó-
fica procurando, deste modo, a fundamentação de uma razão teológica ou, em
outros termos, uma racionalidade dependente e embasada pela fé.
35
autêntica vida espiritual, se conseguissem purificar seus dados doutri-
nários das deturpações de erros profanos (REALE; ANTISERI, 1990, p.
419).
36
Damasceno foi um dos responsáveis pelo fortalecimento e difusão do dogma
da Teologia Trinitária, isto é, da “compreensão sobre a natureza divina e a humana
de Jesus, a relação de mútua existência das três pessoas divinas” (SILVA, 2016, p. 478),
ou seja, a concepção da existência/relação mútua entre o Filho, o Pai e o Espírito
Santo. Em outros termos, a Teologia Trinitária, segundo o pensamento teológico de
João Damasceno pode ser entendida do seguinte modo:
Assim dizemos que o Filho está no Pai e no Espírito e que o Espírito está
no Pai e no Filho e o Pai está no Filho e no Espírito, sem nenhuma mis-
tura ou confusão. Um e idêntico é o movimento de ambas as pessoas.
Pois o impulso das três pessoas é o mesmo, o que não se pode observar
na natureza criada. Damasceno, enriqueceu o conteúdo da palavra
na doutrina sobre a Trindade com a declaração cristológica de Cal-
cedônia: inconfusa, imutável, indivisível, inseparável. (SILVA, 2016, p.
479).
37
Figura 11: Trindade (1411 - 1425)
Fonte: Rublev
[entre 1410 e 1420]
38
Assim, a busca pelo conhecimento é concebida, mais uma vez, como uma
determinação fundamental revelada pelas palavras contidas nos dogmas das Escri-
turas. Deste modo, torna-se permissível o conhecimento daquilo que se faz Revelação
sem, contudo, ser permitida a transgressão da tradição divina e, consequentemente,
pode-se compreender o motivo central da Patrística na passagem de Damasceno,
isto é, o conhecimento em vias do exercício racional encontra-se submetido ao exer-
cício da fé.
Conhecer segundo as determinações da fé cristã significa, principalmente,
dois direcionamentos: a) compreender segundo os desígnios da fé e; b) respeitar os
dogmas centralizadores da doutrina cristã, como adverte a colocação de Damas-
ceno: “Assim, fica evidente que Deus existe; mas aquilo que ele é por essência e por
natureza escapa completamente à compreensão e se torna incognoscível” (KEHL,
2016, online, grifo nosso), em outros termos, Deus existe, é fato, mas a sua compreen-
são não é matéria de conhecimento ou de racionalização humana e, para a fé
cristã, isso basta.
O pensamento de Damasceno apresenta ainda uma característica interes-
sante que irá se repetir no pensamento de Tomaz de Aquino, a saber, a argumenta-
ção filosófica em torno da comprovação da existência de Deus. Nesse sentido,
mesmo atestando a impossibilidade do conhecimento do Divino, Damasceno pro-
cura a demonstração teológica/filosófica da existência de um “só Deus e não mui-
tos” ( (KEHL, 2016), deixando claro, portanto, o perfil apologético de defesa da dou-
trinária cristã em combate as antigas religiões pagãs ou mitológicas. Deste modo, os
argumentos a favor da univocidade de Deus elencados por Damasceno, interpene-
tram-se e organizam-se da seguinte maneira:
39
ordenado perfeitamente pela bondade e justiça provindo de Deus, pois, existindo
uma mínima desavença entre os deuses o mundo cairia em caos e desordem.
Portanto, para o estabelecimento de uma governança ordeira, seria necessária
uma única instancia governante: Deus.
40
FIXANDO O CONTEÚDO
41
c) uma racionalidade empiricamente orientada.
d) uma racionalidade cientificamente orientada.
e) uma racionalidade dependente da fé.
5. De acordo com Reale e Antiseri, o pensamento de São Gregório destaca que: “[...]
filosofia grega é útil, mas só se oportunamente purificada: ‘A filosofia moral e a
filosofia política poderiam realmente favorecer uma autêntica vida espiritual, se
conseguissem purificar seus dados doutrinários das deturpações de erros profanos.
” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 419). Nesse sentido podemos compreender a passagem
como
a) uma proposição de distanciamento entre filosofia e fé, uma vez que, por vias da
filosofia, segundo Damasceno, é impossível argumentar a favor da existência de
Deus.
b) a construção de uma doutrina filosófico-teológica que procura duvidar da existên-
cia de Deus.
c) a sistematização da filosofia em direção à consolidação das verdades reveladas
pela fé.
d) a sistematização da fé em direção à dimensão politeísta da fé crista.
42
e) a proposta de fundamentação de uma fé religiosa incapaz de se filiar à compre-
ensão da natureza divina e humana de Jesus.
43
SANTO AGOSTINHO UNIDADE
44
com Deus e com as suas verdades.
A conversão preconizada por Agostinho dá-se justamente na busca e no en-
contro com a Iluminação das verdades divinas, capazes de superar os prazeres tran-
sitórios do corpo e conduzi-lo à plenitude e luminosidade acalentadora do amor di-
vino, superior aos supérfluos amores do corpo, sensível e terreno, como podemos in-
ferir na seguinte colocação das Confissões:
45
Com trinta e dois anos, após a conversão e o batismo, Agostinho dedica-se à
vida monástica e ao estudo e fundamentação das doutrinas do cristianismo e, pos-
teriormente, dirige-se a cidade de Hipona onde, no ano de 396, torna-se Bispo.
“Fomos outrora trevas; agora, porém, somos luz do Senhor.” (AGOSTINHO, 2015, p. 367, grifo
nosso)
NOGUEIRA, A. “De breaco a beato: há 1665 anos, nascia Santo Agostinho de Hipona” IN:
Revista Aventuras na História. Disponível em: https://bit.ly/3hdOc9F. Acesso em: 28 jul. 2020
No livro Paul Strathern, Santo Agostinho em 90 minutos, é possível encontrar uma interes-
sante organização cronológica da vida de Santo Agostinho, bem como uma introdução
capaz de fazer um necessário apanhado histórico da inserção do pensamento agostini-
ano nas fundações/defesas da doutrina cristã nascente. DISPONÍVEL EM:
https://bit.ly/32Hq3Cn
10.2 FILOSOFANDO NA FÉ
46
argumentos oferecidos pela racionalidade filosófica, mas, sobretudo, de enfatizar
dois direcionamentos que se interpenetram e que se completam, a saber: a obriga-
ção da racionalidade para o exercício da fé [compreender para crer (intellige ut
credas)] e a necessidade da fé para o exercício filosófico [crê para compreender
(crede ut intelligas)].
Trata-se, portanto, de uma relação de reciprocidade entre a fé e a razão, isto
é, a razão coloca-se como uma prévia necessária para a adesão e o exercício cor-
reto da fé [a razão precede a fé (ratio ante fidem)] e a fé como uma determinante
para o exercício do pensar [a fé fundamenta/prepara a razão para a compreensão
daquilo em que se acredita (ratio post fidem)], uma vez que, as revelações ou Ilumi-
nações provêm da instância divina e, consequentemente, fundamentam-se como
atos de fé, isto é, de aceitação da doutrina. Diante disso, acentua Gilson que no
pensamento agostiniano: “Há que aceitar pela fé as verdades que Deus revela, se se
quiser adquirir em seguida alguma inteligência delas, que será a inteligência do con-
teúdo da fé acessível ao homem neste mundo” (GILSON, 1995, p. 144, grifo nosso).
Diante do exposto acima, filosofar na fé é um colocar-se no caminho de en-
contro à plenitude das verdades reveladas por Deus, isto é, conforme destaca Cam-
pos (2007, p. 12), “o filosofar na fé é uma espécie de prelibação da visão da gloria”,
ou seja, é um ato de prazer intelectual/teológico prévio às recompensas concedidas
pelas Revelações encontradas na Palavra de Deus.
Ademais, é justamente, a relação de reciprocidade entre a fé e a razão ou,
em outros termos, a atitude do filosofar na fé que concede a possibilidade da dou-
trina da Iluminação agostiniana. Posto que, é justamente na aceitação de uma vida
beata, isto é, de uma vida devotada à fé que, em tons platônicos, se é possível o
abandono das determinações materiais, inclusive da razão que se liga ao sensível,
para a condução de uma racionalidade (intelecto) ligada à fé e que, consequente-
mente, será iluminada pelo conhecimento enquanto iluminação divina. Em outros
termos, trata-se de uma luz divina, ou seja, de uma iluminação proporcionada pela
ação de Deus na mente humana, tratando-se, portanto, de um conhecimento ver-
dadeiro a ser contemplado pelos olhos da alma em um processo de interiorização
ou de direcionamento do humano para o seu próprio interior. Logo, descobrir as ver-
dades divinas é, consequentemente, um voltar-se para o interior de si mesmo e o
abandono da instabilidade do mundo exterior. Por fim, o conhecimento verdadeiro,
segundo a perspectiva do filosofar na fé, provém de fonte Divina. Deste modo, como
47
uma espécie de pedagogia da interioridade em busca da Iluminação Divina, na obra
O mestre (De magistro), Agostinho reflete que o discípulo não apreende a verdade
das coisas por meio das palavras dos mestres, “mas pelas próprias coisas que Deus a
ele revela em seu interior; interrogado sobre elas, sem mais, poderia responder”
(AGOSTINHO, 1995, p. 40).
Na obra A cidade de Deus e a cidade dos homens, Agostinho realiza uma forte
apologia da doutrina do cristianismo colocando em uma perspectiva dialética a exis-
tência de duas cidades: a cidade de Deus (De civitate Dei) e a cidade dos homens.
A perspectiva agostiniana é a de narrar o mundo segundo os desígnios da fé cristã
estabelecendo, sobretudo, uma importante distinção moral entre aqueles devotados
48
ao alcance do reino dos céus e os homens submetidos aos determinantes mundanos
dos prazeres terrenos.
Historicamente, a obra de Agostinho situa-se no período correspondente ao
ocaso do Império Romano, isto é, após os recorrentes saques e devastações de Roma
pelas invasões dos povos bárbaros, tem-se um grave declínio econômico e político
do Império atribuído, sobretudo, à elevação do cristianismo no cerne da cultura ro-
mana como religião oficial. Nesse sentido, acentua Leão (2014, p. 29)que:
49
Figura 14: De Civitae Dei (1375-1377) - Bibliothèque Nationale de France
[...] não amontoeis para vós tesouro escondido na terra, onde o verme
e a traça os devoram, donde os ladrões o tiram e roubam, mas amon-
50
toai para vós tesouros no céu, onde o ladrão, em absoluto não pene-
tra, onde o verme nada pode corromper, pois onde estiver teu te-
souro, aí estará também teu coração (AGOSTINHO, 2014, p. 54)
“[...] o mal é apenas a privação do bem, privação cujo último ter é o nada. ” (AGOSTINHO,
2015, p. 74)
Em suas reflexões acerca do problema do mal, Agostinho reitera que o mal não tem a sua
origem em Deus, sendo, portanto, um produto do homem que, consequentemente, peca
ao afastar-se da natureza do bem que provém de Deus. Em consonância com as deter-
minações agostinianas sobre o mal, existem as reflexões de Agostinho sobre o livre-arbítrio
como o “[...] dom concedido por Deus às criaturas excelentes, a saber, os espíritos racio-
nais que, se o quiserem, podem à corrupção [...]” (AGOSTINHO, 2005, p. 11). A saber, na
teoria agostiniana existem três modalidades do mal: 1) o mal metafísico (diz respeito à
ordem de hierarquia dos seres); 2) o mal moral (o uso indevido do livre-arbítrio dado por
Deus); e 3) o mal físico (a manifestação física dos descumprimentos do livre-arbítrio).
51
FIXANDO O CONTEÚDO
3. “Fomos outrora trevas; agora, porém, somos luz do Senhor. ” (AGOSTINHO, 2015, p.
367). O caminho para o conhecimento segundo Agostinho consiste
52
d) na transição do mundo interior para a iluminação do mundo exterior.
e) na transição do mundo exterior para a iluminação interior do sujeito.
a) não há reciprocidade entre a razão e fé, uma vez que a Patrística é um movimento
de superação do caráter racional do mundo.
b) a razão se determina desnecessária no uso da fé e, consequentemente, a fé se
faz como uma determinante para o exercício do pensar (ratio post fidem).
c) a razão coloca-se como uma prévia necessária para a adesão e o exercício cor-
reto da fé (ratio ante fidem) e, após isso, a fé determina-se como superação do
caráter racional.
d) a razão age independentemente da fé e, portanto, coloca-se como uma razão
após a fé.
e) a razão coloca-se como uma prévia necessária para a adesão e o exercício cor-
reto da fé (ratio ante fidem) e a fé como uma determinante para o exercício do
pensar (ratio post fidem).
53
6. Segundo Laet, “o filosofar na fé é uma espécie de prelibação da visão da gloria”
(LAET, 2010, p. 12). Nesse sentido, podemos compreender a ação de filosofar na fé
como
54
a) a espiritualidade da cidade terrena e a materialidade da cidade divina.
b) a materialidade pecaminosa da cidade terrena pautada na elevação dos praze-
res espirituais e a espiritualidade da cidade divina pautada na iluminação das ver-
dades filosóficas.
c) a espiritualidade da cidade de Deus pautada nas elevações dos espíritos fiéis ao
politeísmo e a materialidade da cidade terrena pautada nos prazeres mundanos.
d) a materialidade da cidade terrena pautada nos prazeres mundanos e a espiritua-
lidade da cidade divina pautada na iluminação espiritual.
e) a fundamentação material da cidade dos homens delimitada pelos prazeres car-
nais e a idealidade da cidade divina pautada no afastamento entre os fiéis e os
tesouros inteligíveis alcançados pela iluminação espiritual.
55
A ESCOLÁSTICA E SÃO TOMÁS UNIDADE
DE AQUINO
11.1 A ESCOLÁSTICA
11
A Escolástica (séc. IX e XII) surge no auge do cristianismo, isto é, ela determina-
se no período em que a doutrina cristão-católica não apenas domina a Europa,
como também se encontra dotada de estabilidade nos âmbitos institucional, intelec-
tual e cultural superando, portanto, o período de transição e de afirmação do cristi-
anismo conforme vimos na delimitação da Patrística.
Diante disso, trata-se, finalmente, da formação doutrinária de novos pensa-
dores e sacerdotes segundo as determinações eclesiásticas culminando, deste
modo, no fortalecimento das ordens monásticas, no surgimento das escolas e das
universidades. Podemos pensar a Escolástica, inicialmente, como um período de
ampla valorização do ensino e de mobilização da fé e da racionalidade para o
entendimento de questões filosófico-metafísicas tendo como base, sobretudo, a re-
tomada do pensamento aristotélico.
56
Ademais, segundo Diel, (2017) no artigo “As escolas dos mosteiros medievais: dinâmica
social, didática e pedagogia”: “O monasticismo é uma das instituições mais importante
do mundo medieval. O grande medievalista, Jaques Le Goff, não deixa de reconhecê-lo
como um dos três centros civilizacionais do mundo medieval, juntamente com as cidades
e as cortes”.
57
Ademais, Gilson (1995) acentua a impossibilidade da compreensão da Esco-
lástica e, consequentemente, de uma nova cultura na Idade Média controlada pelas
Instituições religiosas e demarcada pela experiência do conhecimento humano, sem
a “organização do ensino filosófico e teológico no século XII” demarcado pelo surgi-
mento das Universidades (Universitas) que, em seu interior, organizaram as contribui-
ções de mestres e de alunos na concepção de um novo conhecimento de mundo.
De acordo com Gilson (1995, p. 483):
58
A LECTIO E A DISPUTATIO
Além da Disputatio como método pedagógico de discussão e de compreensão dos textos
teológicos e filosóficos, há, também na Escolástica, o método da Lectio. Se a Disputatio
configura-se como uma disputa argumentativa/demonstrativa entorno de questões que
necessitam de entendimento, a Lectio, por sua vez, propõe uma atitude passiva diante
dos textos ou das questões, isto é, o mestre realiza a leitura dos textos sem o levantamento
de questões, uma vez que o argumento de autoridade conferido pela leitura do mestre
era suficiente.
59
de Aquino, “serviu-se da metafísica como método de argumentação teológica e
conseguiu desenvolver uma teodiceia para, com argumentos racionais, tentar de-
monstrar a existência de Deus”, em outros termos, a obstinação do pensamento to-
mista é a de provar racionalmente a existência de Deus, conforme veremos mais
adiante.
A obra central do pensamento de Tomás de Aquino, a Suma Teológica, trata-
se da elaboração complexa e sistemática de diversos conhecimentos, principal-
mente, da configuração teológica através de diversos questionamentos na forma
da Disputatio, tais como: responder a necessidade da filosofia na elaboração de
conhecimentos; discutir as relações entre ciência e fé; apresentar discussões/refle-
xões sobre a doutrina cristã; discutir as noções de bem e de bondade e, principal-
mente, aprofundar racionalmente as reflexões e os argumentos sobre a existência e
os atributos de Deus.
60
ramo filosófico se chama teologia ou ciência divina, como está no Filósofo. Logo,
não é preciso que haja outra doutrina além das filosóficas. ” (AQUINO, 1936, p. 117),
diante disso, podemos, de antemão, observar uma relação direta entre a filosofia e
a teologia que, em seu íntimo, faz da filosofia a única doutrina necessária. Contudo,
em contraposição à passagem acima, mais adiante, Aquino (1936, p. 117) afirma
que
61
escolástico, atue nas descobertas e reflexões sobre as revelações divinas, pois, de
fato, para o pensamento tomista, inclusive, a existência de Deus torna-se motivo da
argumentação filosófica, conforme veremos adiante.
62
b) A via da causalidade eficiente: Deus é causa eficiente para todas as coisas, uma
vez que, para todas as coisas existe uma coisa primeira e eficiente, pois, todas as
demais coisas, com exceção de Deus, não podem ser eficientes por si mesmas.
Nesse sentido, perguntar “sobre essa possibilidade significa chegar a uma causa
primeira incausada, que, se existe, identifica-se com aquele ser que chamamos
Deus” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 564 – grifo nosso).
d) A via dos graus de perfectibilidade de Deus: “Há”, diz Reale e Antiseri (1990, p.
565), “um mais ou um menos ao nível do ser e, consequentemente [...] ao nível de
bondade, de unidade e de verdade”, assim, quanto maior forem os graus de bon-
dade, de unidade, de verdade do ser, mais próximo ele se situa da perfectibili-
dade. Diante disso, o máximo de tais atributos encontra-se em Deus que, com
efeito, é a Fonte do ser e a Suma Perfeição.
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Figura 17: São Tomás de Aquino
64
FIXANDO O CONTEÚDO
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c) a Escolástica conduz uma nova estrutura da transmissão do conhecimento e, con-
sequentemente, uma nova cultura que irá desdobrar-se na organização do co-
nhecimento por meio de instituições educativas, tais como, escolas e universida-
des.
d) a Escolástica busca uma concepção de conhecimento distanciada da filosofia e,
portanto, as referências ao pensamento de Aristóteles são insuficientes para a pro-
moção de uma reorganização do mundo.
e) a Escolástica parte do princípio de que o conhecimento é uma dádiva divina que
não pode ser transmitida e nem organizada em escolas e universidades, pois, a
revelação é um produto do individual.
4. Para Reale e Antiseri (1990, p. 482 – grifo nosso), a “razão coloca-se predominan-
temente em função da fé”. Diante disso, podemos complementar que
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a) A Lectio propõe uma contemplação ativa dos textos e dos comentários, determi-
nando um processo de afirmações e contra afirmações e a Disputatio, por sua vez,
é uma metodologia baseada na investigação experiencial dos textos.
b) A Disputatio se configura como um debate argumentativo e reflexivo com a fina-
lidade de solucionar questões por meio do debate dialógico ativo entre mestres e
alunos, já a Lectio propõe uma atitude passiva diante das questões sem o envolvi-
mento ativo dos alunos.
c) A Lectio é um método empírico de obtenção da verdade configurada nas Escri-
turas já a Disputatio se configura como um debate argumentativo que, em seu
interior, adota as máximas propostas pela religião cristã.
d) A Disputatio é um modelo metodológico de contemplação passiva dos textos sem
a intervenção reflexiva/argumentativa dos mestres e dos alunos, já a Lectio, por
sua vez, propõe a investigação racional dos textos e autores consagrados pela
tradição filosófica e teológica.
e) Os métodos da Disputatio e da Lectio são modelos metódicos de obtenção do
conhecimento. O primeiro deles trata da investigação sistêmica do mundo por
meio da ciência livre dos dogmas da religião cristã, já o segundo, a Lectio, é a
contemplação passiva da natureza em seu movimento de transfiguração do
mundo.
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d) a determinação de uma racionalidade filosófica que encontra-se como ciência
em separado da teologia e, consequentemente, das revelações das Escrituras e
de Deus.
e) a incapacidade da filosofia em, uma vez aliada à teologia e, consequentemente,
aos desígnios das revelações, demonstrar, racionalmente, a existência de Deus.
7. Na Suma teológica, Aquino afirma que: “Mas também naquilo em que Deus pode
ser investigado pela razão humana, foi necessário ser o homem instruído pela re-
velação divina. ” (AQUINO, 1936, p. 117). A partir da colocação tomista, podemos
deduzir o seguinte:
8. São Tomás de Aquino propõe cinco vias (cinco caminhos) racionais e argumenta-
tivas para provar a existência de Deus. Entre elas, encontra-se a via da causali-
dade eficiente que podemos defini-la como
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b) a via da causalidade eficiente é pensada como a determinação de Deus en-
quanto o Primeiro Motor, isto é, como a Força que coloca as coisas em movimento
e transmutação.
c) a via da causalidade eficiente é pensada como a determinação de Deus en-
quanto a causa incausada, ou seja, a determinação do Divino como aquilo que
é eficiente para todas as coisas.
d) a via da causalidade eficiente é pensada como a ideia de Deus enquanto a Suma
Perfeição, isto é, enquanto o nível máximo de bondade e, consequentemente, de
perfeição.
e) a via da causalidade eficiente é pensada como a ideia de Deus enquanto a fina-
lidade eficiente última de todas as coisas.
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GUILHERME DE OCKHAM UNIDADE
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mundo e não pelas afirmações e sentenças religiosas e metafísicas, pois, definitiva-
mente, no pensamento de Ockham – diferentemente de Agostinho e de Tomás de
Aquino – a razão “não pode proporcionar assistência e apoio para a fé, pois para as
coisas divinas a razão é ineficaz” (MARCONATTO, 2020a, online).
A partir dos direcionamentos propostos por Ockham, a filosofia começa a se
desprender das determinações da fé e, consequentemente, a se fundamentar como
uma metodologia de investigação racional e empírica da realidade natural. Con-
tudo, não significa que o pensamento do teólogo inglês ignore as revelações da fé,
pelo contrário, Ockham, em tons aristotélicos e tomistas, afirma Deus como a causa
eficiente para todas as outras coisas, entretanto, questionar-se sobre Deus não é te-
mática filosófica, mas sim, atributo da fé.
De acordo com Reale e Antiseri, mais “[...] do que ninguém, Ockham tinha
consciência da fragilidade teórica da harmonia entre a razão e a fé, bem como do
caráter subsidiário da filosofia em relação à teologia [...]” (REALE; ANTISERI, 1990, p.
615) e, diante disso, faz-se necessária a elaboração de um pensamento filosófico ló-
gico racional capaz de, finalmente, assentar-se como um campo do saber autô-
nomo e separado das determinações teológicas.
71
Frente a isso, Ockham irá priorizar o conhecimento empírico e o fortalecimento
do individual como primado do saber. Deste modo, não há a possibilidade, para o
frade franciscano da compreensão do conhecimento como um objeto universal,
mas sim, enquanto a constituição da investigação científica do conhecimento “cons-
tituído pelo objeto individual” e, finalmente, na determinação de um “universo frag-
mentado em inúmeros indivíduos isolados, absolutamente contingentes porque de-
pendentes da livre escolha divina” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 618).
Temos, portanto, a substituição da busca por uma determinação do conheci-
mento enquanto objeto universal dotado da afirmação originária de um Ser Pleno
(Deus), pela concepção do conhecimento fragmentário e individual encontrado,
tão somente, por meio de uma lógica racional dirigida à compreensão das experi-
ências fragmentadas do natural. Assim, reforçam Reale e Antiseri (1990, p. 618), “ [...]
na opinião de Ockham, é que Aristóteles afirmou que a ciência parte do conheci-
mento das coisas experimentáveis.”
A NAVALHA DE OCKHAM
“É um princípio científico e filosófico que propõe que, entre hipóte-
ses formuladas sobre as mesmas evidências, é mais racional acre-
ditar na mais simples. Ou seja: diante de várias explicações para
um problema, a mais simples tende a ser a mais correta. O filósofo
inglês William de Occam (1285-1347) não foi o primeiro a pregar
isso: Aristóteles já fazia o mesmo no século 4 a.C. Mas foi o nome
de Occam que “colou”, por causa do frequente uso que ele fazia
do argumento em debates filosóficos. Já o termo “navalha” ou “lâ-
mina” é uma metáfora que surgiu muito depois dele: sugere que,
com o uso da parcimônia, a hipótese mais complicada é “cor-
tada”. (LAZARETTI, 2014, online)
72
— as expressões de aplicação geral” (LOUX, 2006), isto é, segundo o frade francis-
cano os universais não existem, uma vez que é impossível determinar a sua existên-
cia para além da linguagem que o representa.
Deste modo, reforça Nauroski (2017, p. 135) que para Ockham, a partir do
filósofo e teólogo Roscelino:
73
O NOMINALISMO
“[...] o termo tem a sua raiz no seu uso mais comum, referindo-se a uma orientação teórica
geral face a questões sobre a existência e natureza de entidades abstractas, uma orien-
tação exemplificada pelo trabalho do próprio Ockham. Os que são nominalistas neste
sentido rejeitam uma interpretação platónica ou realista do discurso sobre coisas tão di-
versas como propriedades, géneros, relações, proposições, conjuntos, estados de coisas
e modalidade. Frequentemente se diz que o nominalista sustenta a ideia de que o tipo de
discurso em questão é metalinguístico e que a discussão sobre as chamadas entidades
abstractas é na verdade apenas uma discussão sobre nomina ou expressões linguísticas.
Caracterizado deste modo, o nominalismo é por vezes tomado em oposição ao concep-
tualismo, outra abordagem reducionista a questões ontológicas sobre entidades abstrac-
tas.” (LOUX, 2006, online).
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UMA NOVA ORGANIZAÇÃO DE MUNDO
Ao se desinteressar pelas questões metafísicas, abstratas e universais, Ockham inaugura
um processo metodológico de investigação da natureza e, consequentemente, uma de-
terminação visando à experiência de mundo que, ao fim e ao cabo, levará as determina-
ções e metodologias científicas da nascente modernidade. Nesse sentido, destacam Re-
ale e Antiseri (1990, p. 632) que: “Apesar das proibições e condenações, tal orientação vai
corroendo lentamente os antigos sistemas e fazer emergir instâncias e princípios que len-
tamente iriam se reunir em uma nova visão de mundo.”
75
FIXANDO O CONTEÚDO
2. Marconatto acentua que “a fé não pode fazer conhecer de maneira clara e ine-
quívoca as suas verdades. A fé não pode apresentar argumentos que possam ser
demonstrados. A verdade manifesta por Deus não pertence ao mundo racional.
A filosofia não pode se submeter à teologia porque a teologia não é uma ciência,
mas uma série de afirmações e sentenças que não se relacionam lógica e racio-
nalmente. O que une as afirmações da teologia é a fé e não a razão. ” Com base
na afirmação acima podemos afirmar que segundo Ockham
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a) perguntar-se pelas revelações da fé religiosa.
b) perguntar-se pelas configurações do saber metafísico.
c) perguntar-se pelas determinações racionais de Deus.
d) perguntar-se pelo caráter abstrato e universal do mundo.
e) perguntar-se pelo caráter lógico, natural e experimental do mundo.
4. De acordo com Reale e Antiseri, mais “do que ninguém, Ockham tinha consciên-
cia da fragilidade teórica da harmonia entre a razão e a fé, bem como do caráter
subsidiário da filosofia em relação à teologia” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 615). Nesse
sentido, podemos compreender que o pensamento de Ockham procura
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a) o princípio da parcimônia, no qual entre hipóteses formuladas sobre as mesmas
evidências, é mais racional acreditar na mais simples.
b) o princípio da universalidade, no qual a busca do saber Universal é a verdade a
ser buscada.
c) o princípio da fé, no qual a teologia determina os campos de investigação do
saber.
d) o princípio da revelação, no qual as verdades religiosas são definidas pelas Escri-
turas.
e) o princípio do maior esforço, no qual o cientista/teólogo deve exaurir todas as
hipóteses possíveis de compreensão.
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RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 07 UNIDADE 08
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 E QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 D
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 C
UNIDADE 09 UNIDADE 10
QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 D
UNIDADE 11 UNIDADE 12
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 A
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REFERÊNCIAS
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PAPA BENTO XVI. Audiência Geral. Libreria Editrice Vaticana, Quarta-feira, 30 maio
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VIEIRA, D. R. História da Igreja nas Idades Antiga e Média [livro eletrônico]. Curitiba:
Intersaberes, 2019.
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