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(Artigo que saiu na Revista Thot nº 80, publicada pela Editora Palas Athena, em abril de 2004)
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Mircea Eliade. O Sagrado e o Profano, p. 109.
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Joseph Campbell. O Poder do Mito, Introdução XI.
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eficiente, atribuímos ao seu caráter esses adjetivos. Um grego diria que ele
transita de forma adequada pelo âmbito de Atena e é, portanto, caro à deusa.
Os deuses olímpicos são representações de forças e níveis da realidade que
os gregos sentiam como transcendentes. Para nós, o mundo é algo objetivo e
concreto sobre o qual atuamos e modificamos conforme nossos interesses. Para o
homem antigo, o mundo era povoado por deuses que atuavam sobre sua vida a
cada momento. A ele cabia buscar viver da melhor forma possível conforme os
desígnios divinos.
Todo e qualquer campo de atividade humana era regido por uma
determinada divindade. O segredo de se viver bem consistia em saber, em cada
situação da vida, no âmbito de qual deus se estava e, então, agir de forma piedosa
a ele. Os antigos gregos acreditavam, por exemplo, que quando se apaixonavam
entravam na esfera de Afrodite. Então procuravam compreender a natureza dessa
deusa para poder honrá-la de forma propícia. Pois, caso contrário, a proximidade
de Afrodite poderia ser extremamente perturbadora e complicada. É só
lembrarmos, por exemplo, do fim trágico de Hipólito, na tragédia homônima de
Eurípides, por negligenciar a deusa. Dentro da visão de mundo mítica, o sagrado
perpassa todo tipo de experiência. Compreender o significado e a natureza de um
deus significava compreender como funcionava um determinado campo da
existência.
Para Campbell, os deuses “são manifestações e provimento de uma
energia que é, na verdade impessoal. Eles não são a fonte dessa energia por eles
representadas. São o veículo dela. É a força ou qualidade da energia por eles
representada que determina o caráter e a função do deus... São personificações da
energia posta em jogo. Mas a fonte última da energia permanece um mistério.”3
De forma mais pragmática, J. K. Davis define os deuses como
“representações coletivas, cristalizações através dos séculos, senão de milênios,
de tentativas da imaginação humana para identificar, descrever, compreender e
tentar controlar os inumeráveis aspectos do que é ser humano. Isto ocorre através
da substancialização de uma ou mais entidades (usualmente antropomórficas),
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J. Campbell. O Poder do Mito, pág. 217 / 218.
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cada uma com uma bagagem de poderes próprios. Os nomes dos deuses
significam um resumo para esse porta-fólio de poderes imaginados e atribuídos”.4
4
J. K. Davis. The moral dimension of Pythian Apolo, em What is a God ?, pág. 43.
5
Ilíada, XXI. 462-467. Tradução de Haroldo de Campos.
6
H. G. Liddell and R. Scott, Greek- English Lexicon, p.1841.
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Heródoto, História, 1.32.6; cf. 3.40.6 e 7.46.18.
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