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Aula 1. Do mito à Filosofia.

coisas (arché), identificando-o com a


água. Entretanto, anterior ao
O mito. pensamento filosófico temos outra
Umas das primeiras formas do homem forma de pensamento denominado de
organizar a natureza e superar as mítico ou mitológico. Com isso, vamos
dificuldades que os cerca foi o mito. O inicialmente explicar como se constitui
mito apresenta-se como um mecanismo o mito e sua importância para
de ordem e significação de um mundo formulação da consciência social.
que até então se apresenta nebuloso, Compreende-se por mito uma narrativa
mesmo que ele ainda guarde os seus de criação, relato de como algo, que até
mistérios. então não era, tornou-se a ser. O mito é
sempre acompanhado do seu aspecto
Eis que temos uma das origens coletivo, passado de geração a geração
de uns dos símbolos mais expressivo da que constituindo a memória dos povos e
mitologia ocidental, a cornucópia: relatando as coisas do mundo. E assim
vai ordenando e explicando o real aos
Os antigos compraziam-se em encontrar um
sentido oculto em suas lendas mitológicas. homens. Quando se propõe a explicar o
Explicam esse combate de Aquelau com mundo e o homem o mito não o faz de
Hércules dizendo que o Aquelau era um rio que maneira lógica. Ele opera antes, como
transbordava de seu leito, na estação chuvosa e, afirma Junior Brandão, de modo
quando a lenda diz que ele amava Dejanira e
ilógico, irracional “Abre-se como uma
procurava a ela se unir, isso quer dizer que o rio,
em seus meandros, corria através do reino de janela a todos os ventos; presta-se a
Dejanira. Dizia-se que tomava a forma de uma todas as interpretações. Decifrar o mito
serpente por causa de seu curso sinuoso e de um é, pois, decifrar-se. E, como afirma
touro pela sua violência e fragor de suas águas. Roland Barthes, o mito não pode,
Nas cheias, o rio corria por outro canal. Assim,
conseqüentemente, “ser um objeto, um
sua cabeça tinha chifres. Hércules impediu a
ocorrência dessas inundações periódicas, por conceito ou uma idéia: ele é um modo
meio de barragens e canais, e foi dito, assim, de significação, uma forma”. Assim,
que vencera o rio-deus e lhe arrancara um não se há de definir o mito “pelo objeto
chifre. Finalmente, as terras sujeitas à inundação de sua mensagem, mas pelo modo como
tornaram-se, depois de protegidas, fertilíssimas
a profere” ”2.
e isso é explicado pela cornucópia.1

Mito em latim. Mythus: Além de


A cornucópia representa fertilidade, sua definição geral de narrativa é
riqueza e abundância. possível acentuar três
significações. 1. Como forma
atenuada de intelectualidade. 2.
Segundo os estudos Históricos, a Como forma autônoma de
Filosofia surge nas colônias gregas por pensamento e de vida. 3. Como
instrumento de estudo social.
volta do século VI a.C com Tales
nascido em Mileto, antiga colônia
grega, na Ásia menor. Tales propôs a Alguns têm a compreensão do
explicação de realidade última das mito entendido como fantasia, mentira,
1 2
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da BRANDÃO, Junior. Mitologia Grega –
mitologia. 2002, p. 216. Volume 1.
no entanto, como ressalta o mesmo diariamente era regenerado, e
autor, o mito tem sua verdade profunda ciclicamente se repetia até que o herói
em nossas mentes e poucos se dão o Hércules o resgata dos grilhões
trabalho de buscá-la, limitando-se substituindo-o pelo centauro Quíron.
somente as ilusões que o mesmo
contém. E o que seria essa verdade dos Arché, physis e logos.
mitos? Brandão afirma que muitos se Em contrapartida a esse saber
restringem a ver somente o significante, mítico teremos o surgimento da
que consiste na parte concreta dos mitos Filosofia que se propõe investigar a
(sua mera representação figurativa), realidade (phýsis), no entanto, tomando
enquanto que sua verdade encontra-se como princípio explicativo o logos
em seus significados só são encontrados (discurso racional) não mais sobre a
quando vamos mais além, em sua parte perspectiva da narrativa do mito.
mais abstrata e mais profunda.

Physis: Deriva de um verbo, que


significa fazer crescer, fazer brotar,
produzir.

Logos: in latim Verbum. Razão


enquanto substância ou causa do
mundo.

A Filosofia surge, num primeiro


momento, como explicação do princípio
último (arché) das coisas, tal como os
mitos se propunham a explicar. Dessa
Prometeu leva o fogo à humanidade. forma, então, a Filosofia emerge como
Fonte: Wikipédia questionamento das crenças cotidianas
de forma racional, que até então
Na cultura grega temos o mito buscavam explicar o que era a realidade.
do Prometeu Acorrentado, relatado por Crença aqui, entendida em seu sentido
autores gregos dentre os quais o mais mais amplo como todos os valores que
conhecido é Ésquilo. Segundo este nos são dados sem passar pelo crivo da
mito, Prometeu (em grego: antevisão) é razão. Isto acontece, quando os homens
considerado o pai da humanidade, começam a exigir critérios racionais
porque rouba dos deuses o fogo para dar para os fenômenos que os cercam.
aos homens, que até então sofriam com
o frio e com os alimentos crus para dar Segundo Chauí3 eles são
aos que foi dado aos homens. Como racionais por três motivos: 1. Por que
punição pelo roubo, Zeus, o líder dos racional significa argumentado,
deuses, condenou, Prometeu a ficar debatido e compreendido, 2. Ao
acorrentado em um rochedo e ter o argumentar e debater queremos
fígado comido todos os dias por uma
3
águia. Por ser imortal, seu órgão CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 2010,
p. 18.
conhecer as condições e os pressupostos pessoas que pensam sobre a vida moral,
de nossos pensamentos e o dos outros, dedicando-se à contemplação do mundo
3. Que por fim, racional significa e dos outros seres humanos para
respeitar certas regras do pensamento aprender e ensinar controlar os desejos,
para que um debate ou argumento faça sentimentos e impulsos de sua vida de
sentido. Chegando a conclusões que modo ético e sábio.
possam ser aceitas por todos.
3. O esforço racional para se conceber
“Afinal o que é Filosofia?” o Universo como uma totalidade
ordenada e dotada de sentido. Nessa
[...] a Filosofia e um produto da cultura grega,
devendo-se reconhecer que se trata de uma das
definição, atribui-se à Filosofia a tarefa
mais importantes contribuições daquele povo de conhecer a realidade inteira,
antigo ao mundo ocidental. 4 provando que o Universo é uma
totalidade, algo estruturado e ordenado
Logo ao adentrarmos aos
por relações de causa e efeito, e que
estudos filosóficos somos tomados pela
essa totalidade é racional (...).”
pergunta, segundo um adágio de Gilles
Deleuze e Felix Guatarri5: “afinal o que Questões:
é a filosofia?”. Pergunta no mínimo
difícil de respondê-la dado o longo 1. “Zeus ocupa o trono do universo.
tempo já percorrido desde o seu Agora o mundo está ordenado. Os
surgimento na Grécia antiga no séc. VI deuses disputaram entre si, alguns
a.C, seu percurso pelo mundo ocidental triunfaram. Tudo o que havia de ruim
e oriental com os árabes e chegando até no céu etéreo foi expulso, ou para a
nos tempos hodiernos. Dessa forma, prisão do Tártaro ou para a Terra, entre
temos no decorrer da história da os mortais. E os homens, o que acontece
Filosofia várias definições, de maneira com eles? Quem são eles?”
que não podemos reuni-las todas em (VERNANT, Jean-Pierre. O universo,
uma única definição. Chauí6 apresenta os deuses, os homens. Trad. de Rosa
três definições de filosofia, que são as Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia
mais recorrentes: das Letras, 2000. p. 56.)

“1. Visão de mundo de um povo [...] O texto acima é parte de uma narrativa
um conjunto de ideias, valores e mítica. Considerando que o mito pode
práticas pelas quais uma sociedade ser uma forma de conhecimento,
apreende e compreende o mundo e a si assinale a alternativa correta.
mesma, definido para si o tempo e o a) A verdade do mito obedece a
espaço, o sagrado e o profano, o bom e critérios empíricos e científicos de
o mau, o justo e injusto, o belo e o feio. comprovação.
2. Sabedoria de vida. A filosofia é b) O conhecimento mítico segue um
identificada com a atividade de algumas rigoroso procedimento lógico-analítico
para estabelecer suas verdades.
4
BORNHEIM. Gerd. Os Filósofos Pré c) As explicações míticas constroem-se
Socráticos. 1999, p. 6.
5 de maneira argumentativa e autocrítica.
DELEUZE, Gilles. O que é Filosofia.
6
CHAUÍ. 2012, p. 23/24.
d) O mito busca explicações definitivas 3. (Unb 2012). No início do século XX,
acerca do homem e do mundo, e sua estudiosos em mostrar a continuidade, na
verdade independe de provas. Grécia Antiga, entre mito e filosofia,
e) A verdade do mito obedece a regras
opondo-se a teses anteriores, que
universais do pensamento racional, tais
como a lei de não-contradição. advogavam a descontinuidade entre
ambos.
2. (Ueg 2013) O ser humano, desde sua
A continuidade entre mito e filosofia,
origem, em sua existência cotidiana, faz
no entanto, não foi entendida
afirmações, nega, deseja, recusa e aprova
univocamente. Alguns estudiosos, como
coisas e pessoas, elaborando juízos de
Cornford e Jaeger, consideraram que as
fato e de valor por meio dos quais
perguntas acerca da origem do mundo e
procura orientar seu comportamento
das coisas haviam sido respondidas
teórico e prático. Entretanto, houve um
pelos mitos e pela filosofia nascente,
momento em sua evolução histórica
dado que os primeiros filósofos haviam
social em que o ser humano começa a
suprimido os aspectos antropomórficos e
conferir um caráter filosófico às suas
fantásticos dos mitos.
indagações e perplexidades,
questionando racionalmente suas Ainda no século XX, Vernant, mesmo
crenças, valores e escolhas. aceitando certa continuidade entre mito
Nesse sentido, pode-se afirmar que a e filosofia, criticou seus predecessores,
filosofia: ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas
a) é algo inerente ao ser humano desde afirmava, de outra maneira, o mesmo que
sua origem e que, por meio da elaboração o mito. Assim, a discussão sobre a
dos sentimentos, das percepções e dos especificidade da filosofia em relação ao
anseios humanos, procura consolidar mito foi retomada.
nossas crenças e opiniões.
b) existe desde que existe o ser humano, Considerando o breve histórico acima,
não havendo um local ou uma época concernente à relação entre o mito e a
específica para seu nascimento, o que nos filosofia nascente, assinale a opção que
autoriza a afirmar que mesmo a expressa, de forma mais adequada, essa
mentalidade mítica é também filosófica e relação na Grécia Antiga.
exige o trabalho da razão.
a) O mito é a expressão mais acabada da
c) inicia sua investigação quando
religiosidade arcaica, e a filosofia
aceitamos os dogmas e as certezas
corresponde ao advento da razão liberada
cotidianas que nos são impostos pela
da religiosidade.
tradição e pela sociedade, visando educar
b) O mito é uma narrativa em que a
o ser humano como cidadão.
origem do mundo é apresentada
d) surge quando o ser humano começa a
imaginativamente, e a filosofia
exigir provas e justificações racionais
caracterizam-se como explicação
que validam ou invalidam suas crenças,
racional que retoma questões presentes
seus valores e suas práticas, em
no mito.
detrimento da verdade revelada pela
c) O mito fundamenta-se no rito, é
codificação mítica.
infantil, pré-lógico e irracional, e a
filosofia também fundamentada no rito, b) II e IV.
corresponde ao surgimento da razão na
Grécia Antiga. c) III e IV.
d) O mito descreve nascimentos d) I, II e III.
sucessivos, incluída a origem do ser, e a
filosofia descreve a origem do ser a partir e) I, III e IV.
do dilema insuperável entre caos e
medida. GABARITO
4. Sobre a passagem do mito à filosofia, 1.d 2.d 3.b 4.e
na Grécia Antiga, considere as
afirmativas a seguir. Dica de filmes:

A Odisséia. Francis Ford Cappola e


I. Os poemas homéricos, em razão dirigido por Andrei Konchalovsky,
de muitos de seus componentes, 1997.
já contêm características
essenciais da compreensão de Ulisses. Mario Bava, 1954.
mundo grega que,
posteriormente, se revelaram Tróia. Wolfgang Petersen, 2004.
importantes para o surgimento
Pi. Darren Aronofsky, 1998.
da filosofia.
II. O naturalismo, que se manifesta
Solaris. Andrei Tarkovsky, 1972.
nas origens da filosofia, já se
evidencia na própria Referências
religiosidade grega, na medida
em que nem homens nem deuses ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de
são compreendidos como Filosofia, Tradução: Alfredo Bosi, 2a.
perfeitos.
ed, São Paulo: Mestre Jou, 1982.
III. A humanização dos deuses na
religião grega, que os entende BULFINCH, Thomas. O livro de ouro
movidos por sentimentos
da mitologia. 26 ed. Rio de Janeiro:
similares aos dos homens,
contribuiu para o processo de 2002.
racionalização da cultura grega,
BORNHEIM. Gerd. Os Filósofos Pré
auxiliando o desenvolvimento
do pensamento filosófico e Socráticos. 15 ed. São Paulo: Editora
científico. Cultrix. 2010.
IV. O mito foi superado, cedendo
lugar ao pensamento filosófico, BRANDÃO, Junior. Mitologia Grega –
devido à assimilação que os Volume 1. São Paulo: Vozes. 2009.
gregos fizeram da sabedoria dos
povos orientais, sabedoria esta CHAUÍ, Marilena. Iniciação à
desvinculada de qualquer base Filosofia. São Paulo: Ática 2010.
religiosa.
DELEUZE, Gilles. O que é Filosofia.
São Paulo: Editora 34. 1992.
Estão corretas apenas as afirmativas:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda.
a) I e II. Martins, Maria Helena Pires,
Filosofando, Introdução à Filosofia, 2ª princípio fundamental de todas as
ed. São Paulo: Moderna, 1993. coisas). Seus escritos, poucos chegaram
a nós, quase tudo se perdeu, restando
Aula 2. Os pensadores da physis. escassos fragmentos de seus
Em determinado momento da ensinamentos.
história do pensamento ocidental,
tivemos homens que buscaram se Os pensadores da phýsis.
apartar daquela estrutura explicativa
mítica em busca de outra forma de
ordem da natureza. Esses pensadores
foram chamados de naturalistas. Eles
buscaram explicar o princípio de todas
as coisas (arché) e que esse princípio
seria um só, daí sua característica
monista.
O pensamento pré-socrático oferece momentos
que devem ser considerados como um dos
pontos culminantes da História da Filosofia. Ilustração de
Longe de poderem ser empalidecidos sob o Volume I: Tales.
epíteto de precursores, encontramos em sua Fonte: Wikipédia.
fragmentada obra os fundamentos que
determinaram o próprio curso do pensamento
ocidental.7 Tales de Mileto (640-548 a.C.) é
considerado como o primeiro dos
Como vimos, na unidade filósofos. Para ele a água seria o
anterior, a Filosofia surge como outra elemento primordial (a arché) de tudo o
forma de compreender o princípio de que existe. É atribuída a Tales a
todas as coisas (arché) utilizando-se do demonstração do primeiro teorema de
pensamento racional (logos). Os geometria, mesmo que os estudos da
pensadores que se dedicaram na busca geometria têm iniciado com os
desse princípio são chamados de pré- pitagóricos.
socráticos, apesar de nem todos viveram Para Anaximandro de Mileto
antes de Sócrates. Em grande parte, (610-547 a.C.) o princípio que geraria
estes pensadores eram tidos como todas as coisas, seria o apeiron
cosmólogos, ou seja, buscavam uma constituído como ilimitado,
causa para a totalidade. E vários deles indeterminado e infinito. Assim, o
trabalharam em um sentido mônista apeíron seria o princípio originário de
tentando encontrar uma substância todos os seres, tanto do seu
única, ou força exclusiva, ou princípio aparecimento quanto de sua dissolução.
básico e primordial do cosmos. Os
filósofos Pré-socráticos (Ou filósofos da Anaxímenes de Mileto (588-524
Natureza) voltaram suas investigações a.C.) afirmava que, o elemento gerador
para a origem (racional) do mundo, de tudo era o ar. Por meio da rarefação e
dedicavam-se a buscar a arché (o da condensação, o ar forma tudo o que
existe.
7
BORNHEIM. 1999, p. 15.
sentidos. Ou seja: o ser é imutável,
Pitágoras de Samos (570 -595 a. C). eterno, permanente das coisas, é o único
Enquanto os filósofos acreditavam que existe, enquanto o não-ser é
que o princípio de tudo era um elemento mudança, não existe.
físico ou mesmo o infinito como falava
Anaximandro, o pensador defendia que Questões:
os números eram o motivo de tudo.
Até o cosmos poderia ser quantificado 1. “Tales foi o iniciador da filosofia da
de acordo com Pitágoras. Entretanto, os physis, pois foi o primeiro a afirmar a
números eram diferentes dos nossos existência de um princípio originário
algarismos. Não eram abstratos e único, causa de todas as coisas que
tomavam uma dimensão espacial, em existem, sustentando que esse princípio
desenhos de quadrados e triângulos. é a água. Essa proposta é
Outra noção do pensador foi a da importantíssima... podendo com boa
música cósmica. Para Pitágoras, os dose de razão ser qualificada como a
astros tocavam uma melodia primeira proposta filosófica daquilo que
perfeitamente divina durante seu se costuma chamar civilização
movimento celeste. Mortais não seriam ocidental.” (REALE, Giovanni. História
capazes de ouvir a tal canção porque os da filosofia: Antigüidade e Idade Média.
sons contínuos passam despercebidos São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
pelos nossos sentidos. A filosofia surgiu na Grécia, no século
VI a.C. Seus primeiros filósofos foram
Heráclito de Éfeso (séc. VI e V) os chamados pré-socráticos. De acordo
conhecido como o filósofo do devir, da com o texto, assinale a alternativa que
mudança. De acordo com o pensador, o expressa o principal problema por eles
logos governa todas as coisas, e está investigado.
associado ao fogo, que gera todo o a) A ética, enquanto investigação
processo da realidade. Tudo está em racional do agir humano.
incessante mudança (tudo flui). As b) A estética, enquanto estudo sobre o
coisas estão, pois, em constante belo na arte.
movimento, nada permanece o mesmo é c) A epistemologia, como avaliação dos
dele o adágio “não nos banhamos duas procedimentos científicos.
vezes no mesmo rio”. Todavia, não se d) A cosmologia, como investigação
deve deduzir dessa afirmação que acerca da origem e da ordem do mundo.
Heráclito defendeu uma teoria da e) A filosofia política, enquanto análise
mudança contínua desregrada. Ao do Estado e sua legislação.
contrário, ele entendia que havia uma
lógica - o logos contínuo. 2. “Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter
positivo invadiu de chofre a totalidade
Segundo Parmênides de Eléia (544-524 do ser. Nada existe que não seja
a.C.) ser é uno, imóvel, eterno, natureza, physis. Os homens, a
imutável. Nesse sentido, a mudança, o divindade, o mundo formam um
devir seria ilusão dada à aparência das universo unificado, homogêneo, todo
coisas, e assim engana os nossos
ele no mesmo plano: são as partes ou os segundo lugar, porque o faz sem
aspectos de uma só e mesma physis que imagem e fabulação; e enfim, em
põem em jogo, por toda parte, as terceiro lugar, porque nela, embora
mesmas forças, manifestam a mesma apenas em estado de crisálida, está
potência de vida. As vias pelas quais contido o pensamento:
essa physis nasceu, diversificou-se e Tudo é um.
organizou-se são perfeitamente
acessíveis à inteligência humana: a NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-
socráticos. São Paulo:
natureza não operou ‘no começo’ de Nova Cultural, 1999.
maneira diferente de como o faz ainda,
cada dia, quando o fogo seca uma O que, de acordo com Nietzsche,
vestimenta molhada ou quando, num caracteriza o surgimento da filosofia
crivo agitado pela mão, as partes mais entre os gregos?
grossas se isolam e se reúnem.” a) O impulso para transformar,
mediante justificativas, os elementos
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do
sensíveis em verdades racionais.
pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da
Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. b) O desejo de explicar, usando
p.110.) metáforas, a origem dos seres e das
coisas.
Com base no texto, assinale a c) A necessidade de buscar, de forma
alternativa correta. racional, a causa primeira das coisas
a) Para explicar o que acontece no existentes.
presente é preciso compreender como a d) A ambição de expor, de maneira
natureza agia “no começo”, ou seja, no metódica, as diferenças entre as coisas.
momento original. e) A tentativa de justificar, a partir de
b) A explicação para os fenômenos elementos empíricos, o que existe no
naturais pressupõe a aceitação de real.
elementos sobrenaturais.
c) O nascimento, a diversidade e a 4. TEXTO I
organização dos seres naturais têm uma
Fragmento B91: Não se pode banhar
explicação natural e esta pode ser
duas vezes no mesmo rio, nem
compreendida racionalmente.
substância mortal alcança duas vezes a
d) A razão é capaz de compreender
mesma condição; mas pela intensidade
parte dos fenômenos naturais, mas a
e rapidez da mudança, dispersa e de
explicação da totalidade dos mesmos
novo reúne.
está além da capacidade humana.
3. (Enem 2015). A filosofia grega HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza)
parece começar com uma ideia absurda, São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).
com a proposição: a água é a origem e a TEXTO II
matriz de todas as coisas. Será mesmo
necessário deter-nos e levá-la a sério? Fragmento B8: São muitos os sinais de
Sim, e por três razões: em primeiro que o ser é ingênito e indestrutível, pois
lugar, porque essa proposição anuncia é compacto, inabalável sem fim; não foi
algo sobre a origem das coisas; em nem será, pois é agora um todo
homogêneo, uno, contínuo. Como
poderia o que é perecer? Como poderia Juntamente com os sofistas
gerar-se? Sócrates representou um grande marco
no pensamento filosófico. Trazendo
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo:
Loyola, 2002 (adaptado). novas questões para o campo da
investigação filosófica, com: o que é o
Os fragmentos do pensamento pré- homem?
socrático expõem uma oposição que se
insere no campo das Destes divergiu o escultor, um tagarela sobre
leis que encantou os helenos, mestre em
a) investigações do pensamento argumentos sutis, bom de olfato, sarcástico em
sistemático relação aos retóricos refinados, meio ático e
b) preocupações do período mitológico irônico.8
c) discussões de base ontológica Sócrates não escreveu nada
d) habilidade da retórica sofística sobre sua doutrina ela nos é descrita por
e) verdades do mundo sensível Xenofonte e por seu discípulo Platão,
que faz dele personagem central em
seus diálogos. Nasceu em Atenas. Filho
GABARITO de mãe parteira e pai escultor. Teve uma
educação clássica embasada em
1. d 2. c 3. c 4. c Homero. Conheceu as doutrinas
filosóficas anteriores e contemporâneas
Dica de Filmes: de Parmênides e Heráclito, foi ativo no
movimento de renovação da cultura
Quem somos nós? 2004. helênica iniciada pelos sofistas, contudo
(Documentário) mais tarde se revelou um oponente
destes. Convidado a fazer parte do
Alexandria. Alejandro Amenábar.
Conselho dos 500, combatendo as
2009.
medidas que julgava injustas.
Referências. Acreditando obedecer a uma voz
interior (daemon), realizou uma tarefa
DIÔGENES LAÊRTIOS. Vidas e de educador público e gratuito. Postou
doutrinas dos filósofos ilustres. 2.ed. aos homens a seguinte questão: as
Brasília: Editora Universidade de opiniões não são verdades, pois não
Brasília, 1987. resistem ao diálogo crítico. Elas são,
SOUZA, JOSÉ CAVALCANTE DE portanto, contraditórias. Acreditamos
(Coord.). Col. Os pré-socráticos: saber, mas precisamos descobrir que
fragmentos, doxografia e comentários. não sabemos. A verdade, que está
2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. escondida em cada um de nós, só é
visível aos olhos da razão.
Acusado de não reconhecer os
deuses na pólis, introduzir novas
Aula 3. Sócrates e os Sofistas

Sócrates (c.470-399 a.C.) 8


LAÊRTIOS, Diôgenes. A vida e doutrinas dos
filósofos ilustres. 1977, p. 52.
divindades e de corromper a juventude, filósofos da physis ou naturalistas
dessa maneira foi condenado pela estavam preocupados em explicar o
cidade à morte. Ao tomar cicuta, veneno fundamento último de todas as coisas, a
extremamente poderoso produzido nas arché, os intentos dos sofistas e de
plantas nativas da Europa. Sócrates voltam-se para as questões
propriamente do campo do homem,
como por exemplo: “o que é a realidade
última do homem? o que são as virtudes
humanas?”

Os sofistas.
Na Grécia clássica, os sofistas
foram professores de retórica e oratória,
itinerantes que ensinavam aos cidadãos
A morte de Sócrates, por Jacques- Louis interessados em dominar a técnica do
David, 1787.
discurso, que era instrumento político
Fontes: Wikipédia.
imprescindível para os debates e
Tudo isso nos é relatado na obra discussões públicas, entendendo que na
de seu discípulo Platão (528- 348 a. C) pólis grega as deliberações políticas
a Apologia de Sócrates. Sócrates é eram tomadas nas assembleias.
conhecido por seu famoso método Contemporâneos de Sócrates, Platão e
maiêutico (arte de interrogar), que Aristóteles, que o combatiam,
consiste em forçar aos interlocutores a defenderem o relativismo e a ideia de
desenvolver seu pensamento sobre uma que a verdade é o resultado da
questão que o mesmo pensa em persuasão e do consenso dentre os
conhecer, para guiá-lo, de indagação em homens. A tradição metafísica
indagação, a contradizer-se, e, por fim, constituída por Sócrates, Platão e
a confessar que, de fato, nada sabe. Aristóteles se compõe assim como
oposição às teses sofísticas. Devido à
visão desses filósofos ficou-se a
Maiêutica: Arte da parteira. Sócrates
compara seus ensinamentos a essa arte, imagem negativa dos sofistas como
porquanto consiste em dar à luz produtores da falsidade, tal como Platão
conhecimentos que se forma na mente no diálogo O sofista faz, e
de seus discípulos.
manipuladores de opiniões. Entretanto,
A famosa expressão “conhece- pesquisas recentes buscam resgatar de
te a ti mesmo”, usada pelo o maneira mais imparcial o pensamento
personagem Sócrates nos diálogos de dos sofistas, mostrando que seu
Platão, não é uma investigação relativismo funda-se em sua concepção
psicológica, mas antes um método para de natureza humana e na relação com o
se adquirir os valores que todo homem real. Com isso, indicando a importância
traz em si. Assim como os sofistas, e contribuição dos sofistas para os
Sócrates é responsável por promover estudos de gramática, retórica, oratória,
uma ruptura sem precedentes no e do conhecimento da língua grega.
pensamento grego. Enquanto que os Dentre os principais sofistas destacam-
se Protágoras e Hípias de Elida, Gorgias Questões:
de Leontinos, Trasímaco. Suas obras
principais só chegaram até nós como 1. (Enem 2015). Trasímaco estava
fragmentos e citações por meio de seus impaciente porque Sócrates e os seus
adversários, como Platão. amigos presumiam que a justiça era
Protágoras (séc. V a.C.). algo real e importante. Trasímaco
negava isso. Em seu entender, as
pessoas acreditavam no certo e no
errado apenas por terem sido
ensinadas a obedecer às regras da sua
sociedade. No entanto, essas regras não
passavam de invenções humanas.

RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa:


Gradva, 2009.

O sofista Trasímaco, personagem


imortalizado no diálogo A República,
de Platão, sustentava que a correlação
entre justiça e ética é resultado de
Protágoras (no centro) e a) determinações biológicas
Demócrito (à direita). Por Salvador
impregnadas na natureza humana.
Rosa. Museu Ermitage, São
Peterburgo b) verdades objetivas com fundamento
anterior aos interesses sociais.
Protágoras nascido em Abdera c) mandamentos divinos
foi um filósofo sofista preocupado não inquestionáveis legados das tradições
com as cosmogonias, mas com certo antigas.
tipo de “humanismo”. Em suas d) convenções sociais resultantes de
doutrinas há um princípio de interesses humanos contingentes.
relativismo ou mesmo subjetivismo. É e) sentimentos experimentados diante
de Protágoras a frase: “O homem é a de determinadas atitudes humanas.
medida de todas as coisas, do ser
daquilo que é, do não-ser daquilo que 2. A filosofia de Sócrates se estrutura
não é”. Quer dizer: todo conhecimento em torno da sua crítica aos sofistas, que,
depende da relatividade dos indivíduos segundo ele, não amavam a sabedoria
que as conhecem; o vento só é frio para nem respeitavam a verdade. O ataque de
mim e no momento em que sinto frio; as Sócrates à sofística NÃO tem como
perspectivas do real mudam com os pressuposto a ideia de que:
próprios indivíduos; o aspecto do
a) o conhecimento verdadeiro só pode
mundo não é sempre o mesmo; não há
ser resultado de um diálogo contínuo do
verdade nem erro só há apenas
homem com os outros e consigo
representações.
mesmo.
b) o confronto de opiniões na política
democrática afasta a possibilidade de se
alcançar a sabedoria. políticos e poetas, Sócrates chegou à
c) a verdade das coisas é obtida na vida conclusão de que ele se diferenciava dos
cotidiana dos homens e, portanto, pode demais por reconhecer a sua própria
ser múltipla e inacabada. ignorância.
d) o autoconhecimento é a condição
primária de todos os outros O “sei que nada sei” é um ponto de
conhecimentos verdadeiros. partida para a Filosofia, pois
e) a ciência (epistéme) é acessível a a) aquele que se reconhece como
todos os homens, contanto que estejam ignorante torna-se mais sábio por querer
dispostos a renunciar ao mundo das adquirir conhecimentos.
sensações. b) é um exercício de humildade diante
da cultura dos sábios do passado, uma
3. Os Sofistas foram acusados por vez que a função da Filosofia era
Platão e por Aristóteles de serem reproduzir os ensinamentos dos
comerciantes do saber, mas hoje se filósofos gregos.
reconhece suas contribuições em c) a dúvida é uma condição para o
diversas áreas do conhecimento, como, aprendizado e a Filosofia é o saber que
por exemplo, para a retórica. É correto estabelece verdades dogmáticas a partir
afirmar que os Sofistas: de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e
a) eram em grande parte estrangeiros e permanecer distante dos problemas
desenvolveram a educação em ambiente concretos, preocupando-se apenas com
artificial, tendo em vista o êxito do causas abstratas.
educando na política.
b) advindos em grande parte das GABARITO
colônias chegam a Atenas, ajudando 1. d 2. c 3. a 4. a
Sócrates a reformar o regime
democrático da polis. Dica de Filmes:
c) fundamentaram o conhecimento pela Sócrates. Roberto Rossellini, 1971.
razão, aprimorando pelo discurso, o
pensamento pitagórico. Referências.
d) após enriquecerem passaram a ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de
ministrar aulas gratuitas, modificando Filosofia, Tradução: Alfredo Bosi, 2a.
todo o sistema de ensino da Grécia ed, São Paulo: Mestre Jou, 1982.
Antiga.
DIÔGENES LAÊRTIOS. Vidas e
4. (Unicamp 2013) A sabedoria de doutrinas dos filósofos ilustres. 2.ed.
Sócrates, filósofo ateniense que viveu Brasília: Editora Universidade de
no século V a.C., encontra o seu ponto Brasília, 1987.
de partida na afirmação “sei que nada
PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad.
sei”, registrada na obra Apologia de
Manuel de Oliveira Pulquério. Lisboa:
Sócrates. A frase foi uma resposta aos
Edições 70, 2009.
que afirmavam que ele era o mais sábio
dos homens. Após interrogar artesãos,
SOUZA, JOSÉ CAVALCANTE DE reminiscência, que consiste em
(Coord.). Col. Os pré-socráticos: relembrar esse contato que nosso
fragmentos, doxografia e comentários. espírito já teve com as ideias, com isso,
2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. conhecer e relembrar essas essências.
Desse contato, conservamos uma
mudança confusa; nós só a
Aula 4. Platão e sua teoria das ideias. reencontramos esses ideias trabalhando
Platão estudou com Sócrates, a nossa inteligência, a partir dos dados
teve uma vida ativa na política de sua sensíveis, por reminiscência.
época. É responsável por elaborar um
dos grandes sistemas filosóficos com
A alegoria da caverna de Platão
sua teoria das ideias e por meio de seus Trata-se de uma alegoria ou
diálogos demonstra como podemos parábola que se encontra no livro VII da
ascender das opiniões falsas às verdades obra de Platão A Republica. Onde o
imutáveis. mesmo trata-se de diferencia o
Discípulo de Sócrates e mestre conhecimento sensível que vem dos
de Aristóteles, Platão deixou Atenas sentidos e da opinião (Doxa) do
depois da condenação e morte de conhecimento inteligível fruto do nosso
Sócrates. Caminhou doze anos mundo a intelecto. Para explicar como se dar essa
fora. Conheceu, dentre outras vertentes diferença Platão propõe a seguinte
do pensamento filosófico, o situação de um prisioneiro: inserido
pitagorismo. Uma de suas grandes numa caverna, cuja entrada é aberta à
concepção filosófica é sobre a teoria das luz, encontram-se algumas pessoas
ideias. A ideia não é somente um acorrentadas que nasceram e crescera lá,
conhecimento verdadeiro, ela é antes o com os olhos voltados para o fundo, não
próprio ser das coisas, a realidade podendo locomover-se nem virar suas
verdadeira, que existe afora de nós, cabeças. Uma fogueira brilha no
onde os objetos visíveis são apenas exterior, iluminando toda a caverna.
cópias e reflexos dessa realidade. Platão Entre o fogo e a caverna há um muro,
distingue a realidade em dois mundos: o onde passam pessoas carregando
sensível ou mundo da corrupção, onde objetos, conversando e levando em suas
tudo está em mudança, e o mundo cabeças replicas de homens e de
inteligível ou das ideias. Platão utiliza- animais, que se projetada em imagens
se de seu método dialético, consistindo no fundo da caverna. Dessa forma,
em elevar o espírito do mundo sensível todos que os estão ali acorrentados
ao mundo verdadeiro, ou mundo conhecem somente as sombras de
inteligível. Por etapas, passando das objetos. Entretanto, como não sabem o
coisas simples aparências dos objetos e que se passam atrás deles, tomam essas
em seguida dos objetos às ideias sombras como seres reais. O processo
abstratas e, enfim, dessas ideias as dialético é o meio através do qual o
ideias verdadeiras que são seres fora de prisioneiro pode se liberta, lutando
nosso espírito. contra o hábito que tornava mais
Para Platão já contemplamos o cômoda sua situação de prisioneiro das
mundo das essências. Daí sua teoria da coisas sensíveis. Saindo em busca do
conhecimento da essência das coisas, conceito que se desdobra todos os
passando por graus de conversão de seu pressupostos de sua concepção política.
espírito, até chegar à visão da idéia do Do conhecimento do bem para a
Bem supremo. Quando contemplado as instituição da polis (O Estado) as
coisas em si, a realidade enquanto idéia, virtudes políticas e formação dos
alcançamos o seu conhecimento, e com indivíduos. Em Platão, o tipo de
isso o prisioneiro deve retornar à conhecimento é sumamente perfeito
caverna para ensinar o caminho aos para instituição da polis, sendo dessa
outros prisioneiros, arriscando inclusive forma, é necessário o mais perfeito
sua própria vida podendo ser rejeitado dentre eles que será regido por um sábio
por ele. ou, em termos platônicos, o rei filósofo.
Sobre a possibilidade da efetivação
Ideia: Esse termo foi entendido em dois desse Estado planejado por Platão ser
sentidos fundamentais diferentes. 1 possível, e se for possível como realizá-
Como a espécie única e imutável numa lo, o pensador credita sua realização à
multiplicidade de objetos , 2. Como um
objeto qualquer do pensamento justiça e moralidade dos cidadãos da
humano, ou seja, como uma polis e do caráter de seus membros.
representação em geral. No primeiro
Para isso, é importante a figura do sábio
significado, Platão empregava o seu
sentido de ideia. governante como aquele qualificado por
seu grau de conhecimento e disposição
A figura do prisioneiro é racional para realizar as ações devidas.
entendida por Platão como o sábio que As virtudes louvadas por Platão em sua
foi capaz de superar o estado sensível e obra são quatro: a coragem, a
contemplar o mundo das essências real temperança, a justiça, e a sabedoria.
das coisas, que são as ideias e o Vamos nos deter sobre o conceito de
fundamento de todas elas que é a ideia justiça por ser um conceito de
de Bem. Exposto na alegoria como o fundamental importância na
Sol que ilumina e dar vida a todas as organização política dos cidadãos.
coisas fora da caverna, e não mais a A justiça para Platão é entendida
fogueira que só projeta as sombras no como ordem e harmonia dos membros
fundo da caverna. da polis, condição imprescindível para a
felicidade em comunidade. Ela exige
que o Estado construa sua autoridade
compondo os distintos grupos sociais
em uma unidade. Onde os projetos de
todos sejam racionalmente efetivados, a
partir da ação de cada indivíduo, na
condição que visem o bem comum. Daí
Alegoria da Caverna. então a importância que cada um
desenvolva suas habilidades no que diz
A concepção de justiça para Platão. respeito à prática de suas virtudes. A
O assunto da justiça é um dos importância da educação é reveladora
temas centrais na obra A República de para esse intuito. O filósofo deve então
Platão. É a partir da discussão desse ser o legislador, por que ele foi
educação para apreender as ideias em contexto, o foco da crítica às narrativas
seu sentido inteligível e não sensível, poéticas, nos livros II e III, recai sobre a
entendendo assim a ideia de Bem, de cidade e o tema fundamental da
Justiça e de verdade. Tal tarefa parte de educação dos governantes. No Livro X,
uma formação epistêmica a qual é na perspectiva da defesa de seu projeto
necessária a formação moral e ético-político para a cidade
intelectual por meio da Paidéia fundamentada em um logos crítico e
platônica. Não tendo como critério a reflexivo que redimensiona o papel da
justiça, a formação da polis cairia em poesia, o foco desta crítica se desloca
interesses puramente particulares. Em para o indivíduo ressaltando a relação
suma, toda a formação do Estado com a alma, compreendida em três
platônico deve está fundamentada na partes separadas, segundo Platão: a
justiça. Não podemos esquecer que as racional, a apetitiva e a irascível.
repostas dos problemas políticos
expostos ao longo do dialogo tem suas Com base no texto e na crítica de Platão
respostas segundo a teoria da justiça. ao caráter mimético das narrativas
Nessa obra, Platão afirma que a justiça é poéticas e sua relação com a alma
o ponto fundamental de um Estado humana, é correto afirmar:
ideal. a) A parte racional da alma humana,
considerada superior e responsável pela
capacidade de pensar, é elevada pela
A obra principal de Platão é A
Republica, onde temos todo seu natureza mimética da poesia à
sistema metafísico e sua concepção contemplação do Bem.
política. Mas há outros diálogos de b) O uso da mímesis nas narrativas
Platão considerados como grandes
clássicos da literatura ocidental tal poéticas para controlar e dominar a
com o Banquete, que explica o que é parte irascível da alma é considerado
o amor (Éros). Parmênides trata-se
da questão do Ser. E As Leis que
excelente prática propedêutica na
também aborda as questões formação ética do cidadão.
políticas.
2. (Uel 2011) Leia o texto a seguir.
Questões: Para esclarecer o que seja a imitação, na
relação entre poesia e o Ser, no Livro X
1. (Uel 2011) Leia o texto a seguir. de A República, Platão parte da
Platão, em A República, tem como hipótese das ideias, as quais designam a
objetivo principal investigar a natureza unidade na pluralidade, operada pelo
da justiça, inerente à alma, que, por sua pensamento. Ele toma como exemplo o
vez, manifesta-se como protótipo do carpinteiro que, por sua arte, cria uma
Estado ideal. Os fundamentos do mesa, tendo presente a ideia de mesa,
pensamento ético-político de Platão como modelo. Entretanto, o que ele
decorrem de uma correlação estrutural produz é a mesa e não a sua ideia. O
com constituição tripartite da alma poeta pertence à mesma categoria: cria
humana. Assim, concebe uma um mundo de mera aparência.
organização social ideal que permite
assegurar a justiça. Com base neste
Com base no texto e nos conhecimentos a) suspensão do juízo como reveladora
sobre a teoria das ideias de Platão, é da verdade.
correto afirmar: b) realidade inteligível por meio do
método dialético.
a) Deus é o criador último da ideia, e o c) salvação da condição mortal pelo
artífice, enquanto co-participante da poder de Deus.
criação divina, alcança a verdadeira d) essência das coisas sensíveis no
causa das coisas a partir do reflexo da intelecto divino.
ideia ou do simulacro que produz. e) ordem intrínseca ao mundo por meio
b) A participação das coisas às ideias da sensibilidade.
permite admitir as realidades sensíveis
como as causas verdadeiras acessíveis à 4. (Uel 2013) Leia o texto a seguir.
razão. Tudo isso ela [Diotima] me ensinava,
c) Os poetas são imitadores de quando sobre as questões de amor
simulacros e por intermédio da imitação [eros] discorria, e uma vez ela me
não alcançam o conhecimento das perguntou: – que pensas, ó Sócrates,
ideias como verdadeiras causas de todas ser o motivo desse amor e desse desejo?
as coisas. A natureza mortal procura, na medida
d) As coisas belas se explicam por seus do possível, ser sempre e ficar imortal.
elementos físicos, como a cor e a figura, E ela só pode assim, através da
e na materialidade deles encontram sua geração, porque sempre deixa um outro
verdade: a beleza em si e por si. ser novo em lugar do velho; pois é nisso
e) A alma humana possui a mesma que se diz que cada espécie animal vive
natureza das coisas sensíveis, razão pela e é a mesma. É em virtude da
qual se torna capaz de conhecê-las imortalidade que a todo ser esse zelo e
como tais na percepção de sua esse amor acompanham.
aparência.
3. (Enem 2014) No centro da imagem, o (Adaptado de: PLATÃO. O Banquete. 4.ed. São
Paulo: Nova Cultural, 1987, p.38-39. Coleção
filósofo Platão é retratado apontando Os Pensadores.)
para o alto. Esse gesto significa que o
conhecimento se encontra em uma Com base no texto e nos conhecimentos
instância na qual o homem descobre a sobre o amor em Platão, assinale a
alternativa correta.

a) A aspiração humana de procriação,


inspirada por Eros, restringe-se ao corpo
e à busca da beleza física.
b) O eros limita-se a provocar os
instintos irrefletidos e vulgares, uma vez
que atende à mera satisfação dos
apetites sensuais.
c) O eros físico representa a vontade de
conservação da espécie, e o espiritual, a
ânsia de eternização por obras que
perdurarão na memória.
d) O ser humano é idêntico e constante
nas diversas fases da vida, por isso sua
identidade iguala-se à dos deuses.
e) Os seres humanos, como criação dos
deuses, seguem a lei dos seres infinitos,
o que lhes permite eternidade.

Busto de Aristóteles.
GABARITO Fonte: pt.wikipedia.org
1. d 2. c 3. b 4. c
Nasceu em Estagira, aluno de
Platão e preceptor de Alexandre Magno.
Dica de Filmes: Para Aristóteles, contrariamente a
Platão, a idéia não é separada dos
Matrix. Andy Wachowski e Lana objetos. Só são reais os indivíduos
Wachowski, 1999. concretos. O que existe são somente os
seres individuais. Preocupado com as
Muito além do jardim. Hal Ashby, causas e com os primeiros princípios de
1979. tudo, Aristóteles critica o ideal
Referências. platônico, dizendo que as idéias é o
PLATÃO. Diálogos: O Banquete – fundamento das coisas. De contra
partida, Aristóteles insiste no primado
Fédon – Sofista – Político (Coleção os
da experiência. O pensador afirma:
Pensadores). 5ª ed. São Paulo: Nova “Não há nada em nosso intelecto que
Cultural. 1991. não tenha passado pelos os nossos
sentidos.”
_______. A República. Tradução e
notas de Eleazar Magalhães Teixeira.
Fortaleza: Edições UFC, 2009. Forma: Essência necessária ou
substância das coisas que tem
matéria. Tal como Aristóteles
ZINGANO, Marco. Platão &
emprega forma, não somente se
Aristóteles: o fascínio da filosofia. 2. opõe a matéria, mas a pressupõe.
ed. São Paulo: Odysseus editora, 2005. Nesse sentido, Aristóteles usa esse
termo com referências as coisas
naturais que são compostas de
Aula 5. Aristóteles. matéria e forma. E o observa que a
Após Platão, temos um grande forma é mais natureza que a
pensador que buscou seguir os passos matéria.
da metafísica iniciada por Sócrates e
continuada por Platão. Aristóteles, Sua teoria fundamental é a
estudo na academia platônica, mas logo distinção entre ato e potência. O que
buscou outros fundamentos para sua leva à segunda distinção básica, entre
filosofia, que em partes divergia com a matéria e forma: a substância é
do mestre. entendida com forma. Com isso,
depreende-se sua concepção de Deus
como Ato puro, Primeiro Motor do
mundo, motor imóvel, Inteligência,
Pensamento que ignora o mundo e só animais. (dado sua capacidade racional).
pensa a si mesmo. Com relação ao Segundo Aristóteles a finalidade da
homem, é entendido como um animal ética é a felicidade (Eudaimonia).
político submetido ao Estado que, pela
educação, determina uma vida moral, No entanto, não se trata de uma
pela prática das virtudes. A felicidade felicidade perecível, mas da realização
suprema consiste na contemplação da de uma vida inteira, como diz o autor:
realização de nossa essência. A política “O bem ético pertence ao gênero da
surge como um prolongamento da ética. vida excelente e a felicidade é a vida
A virtude não se confunde com o plenamente realizada em sua excelência
heroísmo, mas é uma atividade racional máxima”. A virtude aristotélica (areté),
do exercício das excelências. O é a maior expressão da excelência do
equilíbrio da conduta só se realiza na homem. A paixão, de contra partida, o
vida social: a verdadeira humanidade só torna confuso, entre os desejos
é adquirida em sociedade. contrários e conflitantes. Aquele que
está sob o domínio da paixão pode se
Ato: Esse termo tem duas inclinar ao vicio, que é o excesso ou a
significações: 1. De ação, no sentido
restrito e específico desta palavra,
carência da paixão. A virtude
como operação que emana do compreende-se como um meio termo
homem ou de um poder específico entre o excesso e a carecia, segundo a
dele (verbo de ação). 2. Da
realidade que se realizou ou se vai razão. Isso é o que Aristóteles chamou
realizando, do ser que alcançou ou de meio termo ou mediania. A virtude
que vai alcançar sua forma plena.
ética em Aristóteles está ligada a razão
Ou mesmo, atualidade do ser.
e como o homem é dotado de uma razão
todo homem pode ser virtuoso. Basta
Potência: É o princípio ou a
possibilidade de uma mudança que ele identifique a paixão no qual está
qualquer. Aristóteles faz as submetido, reconhecendo os seus
seguintes pontuações sobre a
potência: 1. A capacidade de
extremos e por meio da razão alcançar o
realizar mudança em outra coisa ou seu meio termo. Dentre as virtudes,
em si mesmo, que é a potência ativa. Aristóteles identifica, sendo a maior de
2. Capacidade de sofrer mudança,
causado por outra coisa ou por si todas elas, a justiça. Sua força consiste
mesmo, que é entendido a potência em sua perfeição, na medida em que
passiva. quem é justo protege-se mais para o
outro do que a si mesmo. Dessa forma,
Ética sendo uma virtude que protege o
conjunto das pessoas, a sociedade, é
Aristóteles é considerado com o mais importante que do algo que
fundador da Ética. O pensador afirma, protege uma única pessoa. Por essa,
em sua obra Ética a Nicomaco, que todo razão em sociedade a injustiça é um dos
o conhecimento, tal como um trabalho grandes males, pois ela acaba com a
visa um determinado bem. O bem se ordem social.
trata da finalidade de toda ação. A busca
do bem é aquilo que possibilita o Política.
homem se diferenciar de todos os
No campo político Aristóteles irá (Adaptado de: VAZ, Henrique C. Lima. Escritos
analisar os diferentes tipos de governo: de Filosofia II. Ética e Cultura. 3ª edição. São
Paulo: Loyola. Coleção Filosofia - 8, 2000,
a monarquia, a aristocracia e a
p.11-12.)
república. Demonstrando suas formas
de degenerações: a monarquia em Com base no texto, é correto afirmar
tirania, a aristocracia em oligarquia, a que a noção de physis, tal como
democracia em anarquia. Para empregada por Aristóteles, compreende:
Aristóteles o melhor regime seria uma a) A disposição da ação humana, que
combinação do que há de melhor em ordena a natureza.
cada um desses regimes. O que há de b) A finalidade ordenadora, que é
melhor na república é a liberdade e a inerente à própria natureza.
igualdade, da monarquia é a capacidade c) A ordem da natureza, que determina
de criar riquezas, na aristocracia sua o hábito das ações humanas.
capacidade intelectual. d) A origem da virtude articulada,
segundo a necessidade da natureza.
e) A razão matemática, que assegura
Obras de Aristóteles:
ordem à natureza.
Retórica: Trata-se dos princípios da
retórica. 2. (Ufpa 2012) Tendemos a concordar
Ética a Nicômaco: Considerada a
primeira obra sobre ética, expõe que a distribuição isonômica do que
sobre as virtudes éticas. cabe a cada um no estado de direito é o
Órganon: conjunto de tratados da
lógica.
que permite, do ponto de vista formal e
Política: Se detém acerca dos tipos legal, dar estabilidade às várias
de governo. modalidades de organizações instituídas
Metafísica: Analisa o princípio do no interior de uma sociedade. Isso leva
motor imóvel.
Aristóteles a afirmar que a justiça é
“uma virtude completa, porém não em
Questões: absoluto e sim em relação ao nosso
próximo”
1. Uel 2012) Leia o texto a seguir.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo:
No ethos (ética), está presente a razão Abril Cultural, 1973, p. 332.
profunda da physis (natureza) que se De acordo com essa caracterização, é
manifesta no finalismo do bem. Por
correto dizer que a função própria e
outro lado, ele rompe a sucessão do
universal atribuída à justiça, no estado
mesmo que caracteriza a physis como
de direito, é
domínio da necessidade, com o advento
do diferente no espaço da liberdade a) conceber e aplicar, de forma
aberto pela práxis. Embora, enquanto incondicional, ideias racionais com
autodeterminação da práxis, o ethos se poder normativo positivo e irrestrito.
eleve sobre a physis, ele reinstaura, de b) instituir um ideal de liberdade moral
alguma maneira, a necessidade de a que não existiria se não fossem os
natureza fixar-se na constância do mecanismos contidos nos sistemas
hábito. jurídicos.
c) determinar, para as relações sociais, que tende a se atualizar (assumindo ou
critérios legais tão universais e recebendo aquela forma).
independentes que possam valer por si
mesmos. c) Para Aristóteles, a bem da verdade,
d) promover, por meio de leis gerais, a existe apenas o ser-em-ato. Isto ocorre
reciprocidade entre as necessidades do porque o movimento verificado no
Estado e as de cada cidadão mundo material é apenas ilusório, e o
individualmente. que existe é sempre imutável e imóvel.
e) estabelecer a regência na relação d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio
mútua entre os homens, na medida em do mundo sensível (das coisas
que isso seja possível por meio de leis. materiais) e a potência se encontra tão-
somente no mundo inteligível,
3. (Ufu 2012) Em primeiro lugar, é apreendido apenas com o intelecto.
claro que, com a expressão “ser
GABARITO
segundo a potência e o ato”, indicam-se
1. b 2. e 3. b
dois modos de ser muito diferentes e,
em certo sentido, opostos. Aristóteles, Dicas de Filmes:
de fato, chama o ser da potência até Alexandre. Oliver Stone, 2004
mesmo de não-ser, no sentido de que,
com relação ao ser-em-ato, o ser-em- Referências.
potência é não-ser-em-ato. ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco.
Trad. Leonel Vallandro e Gred
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga.
Vol. II. Trad. de Henrique Cláudio de Lima Vaz
Bornheim.( Os Pensadores). São Paulo:
e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. Nova Cultural. 1987.
349
____________, Metafísica. Trad. Edson
A partir da leitura do trecho acima e em Bini. São Paulo: Edipro, 2006.
conformidade com a Teoria do Ato e
Potência de Aristóteles, assinale a ZINGANO, Marco. Platão &
alternativa correta. Aristóteles: o fascínio da filosofia. 2.
ed. São Paulo: Odysseus editora, 2005.
a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser
em sua capacidade de se transformar em
algo diferente dele mesmo, como, por Aula 6. Fé e razão
exemplo, o mármore (ser-em-ato) em
relação à estátua (ser-em-potência). A religião cristã se limitaria ao
campo da fé, contrariamente à razão,
b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e que tem como princípio provas e
potência explica o movimento demonstrações. A fé, de contra partida,
percebido no mundo sensível. Tudo o é suficiente por si mesma. Porém, o
que possui matéria possui cristianismo não se contentou somente
potencialidade (capacidade de assumir com a fé. Adentrou no solo da filosofia.
ou receber uma forma diferente de si), E por mais de um milênio tomou a
forma de filosofia. Dessa forma, o credo
cristão assimilou elementos racionais.
Esse encontro marcou grandes conflitos Aurélio Agostinho, conhecido
entre fé e razão, que se iniciou no também por bispo de Hipona, nasceu
Império Romano, que possibilitou a em Tagaste, na Argélia, é um dos mais
mescla de diversos valores culturais, importantes iniciadores do platônismo
prolongando-se por toda a idade Média, para a filosofia cristã, sendo um dos
quando a Igreja se tornaria um dos principais responsáveis pela síntese
grandes poderes. entre o pensamento filosófico clássico e
O cristianismo origina-se com o cristianismo. Estudou em Cartago, e
Jesus de Nazaré pela Judéia. Onde depois em Roma e Milão, tendo sido
temos sua mensagem: amar ao próximo, professor de retórica. Reconverteu ao
praticar a bondade e desprezar os cristianismo, que fora a religião de sua
valores deste mundo, pois o verdadeiro infância, depois de ter passado pelo
lar do ser humano é o reino dos céus. maniqueísmo e pelo ceticismo.
Jesus se declarava filho de Deus,
enviado ao mundo para resgatar a
humanidade dos pecados. Sua Maniqueísmo: Doutrina dualista do
séc II que reparte o mundo segundo
crucificação simboliza, nesse sentido, o o princípio de bem e mau.
sacrifício do próprio Deus feito carne
para salvar os homens. Após a morte de
Jesus (e sua ressurreição), essas idéias Regressou então à África,
conquistaram inúmeros adeptos em fundando um povoado religioso. Santo
várias regiões do Império Romano. Agostinho sofreu grande influência do
Nessa difusão de sua mensagem pensamento grego, sobretudo o da
transferida de apostolo a apostolo tradição platônica, através da escola de
passou-se a se expressar em vários Alexandria e do neoplatonismo
idiomas, Tais como no grego e (Plotino).
tardiamente, no latim. Sua filosofia tem como escopo a
relação entre a fé e a razão, mostrando
Agostinho de Hipona (354-430). que sem a fé a razão é incapaz de
promover a salvação do homem e de lhe
trazer a felicidade.

Santo Agostinho.
Fonte: Wikipédia.
“Queda da Humanidade e a expulsão do
paraíso” Um dos temas retratados na obra de
Agostinho em sua concepção do pecado
original
Fonte: Wikipédia. Feito por Michelangelo no
teto da capela Sistina.

A razão funciona como


acessório da fé, permitindo esclarecer,
tornar inteligível, aquilo que a fé não é
capaz de revela de forma intuitiva. Daí a
célebre máxima agostiniana Credo ut
intelligam (Crer para entender). Na
São Tomás de Aquino.
Cidade de Deus, ele interpreta a história Fonte: Wikipédia.
da humanidade como conflito entre a
Cidade de Deus, inspirada no amor a Santo Tomás de Aquino (1227-1274).
Deus e nos valores cristãos, e a Cidade Nasceu na Itália, de família
Humana, baseada exclusivamente nos nobre, e entrou cedo na Ordem dos
fins e interesses do mundo e Dominicanos. Andou por toda a Europa
imediatistas. Ao final do processo medieval. Depois dos estudos em
histórico, a Cidade de Deus deveria Nápoles, Paris e Colônia (que teve
triunfar. Devido a esse tipo de análise, como mestre Alberto Magno), ensinou
Santo Agostinho é considerado um dos em Paris. Morreu quando se dirigia ao
primeiros filósofos da história, o Concílio de Lyon. Sua obra magma
precursor da formulação dos conceitos compreende duas Sumas: contra os
de historicidade e de tempo histórico. gentios e Suma teológica. Temos
Foi muito grande a influência do também vários tratados e comentários
pensamento agostiniano no período sobre Aristóteles, a Bíblia, Boécio. Seu
medieval, sobretudo na linha do pensamento está intrinsecamente ligado
platonismo. ao do filósofo grego Aristóteles.

Houve, nesse período, um processo


Obras principais de Agostinho. de batizarem Aristóteles que era
As confissões. um pensador pagão.
A cidade de Deus.
Do Livre Arbítrio.
.
Organizar as verdades da fé e
harmonizá-las com o pensamento de
Aristóteles, demonstrando que não há
ponto de conflito entre fé e razão. Sua
teoria do conhecimento pretende
estende-se a todos os conhecimentos e
determina os limites e as condições da
razão humana. O conhecimento
verdadeiro seria uma “adequação da
inteligência à coisa”. Buscando
inspiração em Aristóteles na física e na fosse dirigido ao porto; ora, tem o
metafísica estabelece as cinco vias das homem um fim, para o qual se ordenam
provas da existência de Deus: toda a sua vida e ação. Acontece,
porém, agirem os homens de modos
4. Grau de perfeição. Ela trata-se da diversos em vista do fim, o que a
comparação dos graus de perfeições que própria diversidade dos esforços e ações
são feitas a partir de um máximo (ótimo)
que contem o verdadeiro ser. Esse grau de
humanas comprova. Portanto, precisa o
perfeição se diz em referência de um homem de um dirigente para o fim.
máximo.
AQUINO. T. Do reino ou do governo dos
5. Governo supremo. Diz respeito a uma
homens: ao rei do Chipre. Escritos políticos de
ordem e finalidade que a suprema
Santo Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes,
inteligência governa todas as coisas.
1995 (adaptado).

No trecho citado, Tomás de Aquino


justifica a monarquia como o regime de
governo capaz de:
1. Motor imóvel: Está visão propões o a) refrear os movimentos religiosos
movimento do universo. Nessa perspectiva contestatórios.
um ser só pode ser movido por outro. No b) promover a atuação da sociedade
entanto, se retroagirmos ao infinito civil na vida política.
chegaremos a um ser que move todos os
outros e que não é movido.
c) unir a sociedade tendo em vista a
realização do bem comum.
2. Primeira causa eficiente. Está via diz d) reformar a religião por meio do
acerca do efeito que este motor imóvel retorno à tradição helenística.
acarreta. A concepção de ordenação das
coisas do mundo por meio da relação de
e) dissociar a relação política entre os
causa e efeito implica na afirmação que poderes temporal e espiritual.
não há um ser que não tenha causa. E no
mesmo princípio, se regredirmos a essas 2. (Espm 2014) Seu principal objetivo
causas chegaremos a concepção de uma
era demonstrar, por um raciocínio
causa eficiente que dá o início de todas as
coisas. lógico formal, a autenticidade dos
dogmas cristãos. A filosofia devia
3. Ser necessário e os seres possíveis. Nesta
via, é comparada a existência dos seres desempenhar um papel auxiliar na
que podem ser e os que não podem ser. O realização deste objetivo. Por isso a tese
fato de serem possível diz que esses seres
alguma vez este ser não foi e passou a ser e
de que a filosofia está a serviço da
ainda vem a não ser novamente, ou seja,
Questões: teologia.
sua existência está no campo do possível
ou mesmo contingente. Daí esses seres (Antonio Carlos Wolkmer – Introdução à
possíveis dependem da existência de um História do Pensamento Político)
1.ser
(Enem 2015).
necessário Ora,
para sua em todas as coisas
existência.
ordenadas a algum fim, é preciso haver O texto deve ser relacionado com:
algum dirigente, pelo qual se atinja
a) a filosofia epicurista.
diretamente o devido fim. Com efeito,
b) a filosofia escolástica.
um navio, que se move para diversos
c) a filosofia iluminista.
lados pelo impulso dos ventos
d) o socialismo.
contrários, não chegaria ao fim do
e) o positivismo
destino, se por indústria do piloto não
3. (Ufu 2011) Segundo o texto abaixo, conciliar FÉ e RAZÃO, bem como
de Agostinho de Hipona (354-430 d. IGREJA e ESTADO.
C.), Deus cria todas as coisas a partir de
modelos imutáveis e eternos, que são as De acordo com as ideias desse filósofo,
ideias divinas. Essas ideias ou razões a) o Estado deve subordinar-se à Igreja.
seminais, como também são chamadas, b) a Igreja e o Estado são mutuamente
não existem em um mundo à parte, incompatíveis.
independentes de Deus, mas residem na c) a Igreja e o Estado devem fundir-se
própria mente do Criador, numa só entidade.
d) a Igreja e o Estado são, em certa
[...] a mesma sabedoria divina, por medida, conciliáveis.
quem foram criadas todas as coisas, e) a Igreja deve subordinar-se ao
conhecia aquelas primeiras, divinas, Estado.
imutáveis e eternas razões de todas as
coisas, antes de serem criadas [...]. GABARITO
1. c 2. b 3. c 4.d
Sobre o Gênese, V
Dicas de filmes:
Considerando as informações acima, é
correto afirmar que se pode perceber:
Em Nome da Rosa. Jean-Jacques
a) que Agostinho modifica certas ideias Annaud, 1986.
do cristianismo a fim de que este seja O físico. Philipp Stolzl, 2014.
concordante com a filosofia de Platão, Referências.
que ele considerava a verdadeira. Agostinho. Confissões. Trad. J. Oliveira
b) uma crítica radical à filosofia Santos e A. Ambrósio de Pina;
platônica, pois esta é contraditória com Organização de José Américo Motta
a fé cristã. Pessanha. São Paulo: Nova Cultural,
c) a influência da filosofia platônica 1999. (Coleção Os pensadores).
sobre Agostinho, mas esta é modificada
BOEHNER, Ph; GILSON, E. História
a fim de concordar com a doutrina
da filosofia cristã: das origens a Nicolau
cristã.
de Cusa. Petrópolis: Vozes, 1970.
d) uma crítica violenta de Agostinho
contra a filosofia em geral.

(Uff 2011) Na Idade Média, se


considerava que o ser humano podia
alcançar a verdade por meio da fé e
também por meio da razão. Ao mesmo
tempo, o poder religioso (Igreja) e o
poder secular (Estado) mantinham
relacionamento político tenso e difícil.
O filósofo Tomás de Aquino
desenvolveu uma concepção destinada a

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