Você está na página 1de 186

Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva
metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material
didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos
livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e trans-
versal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar
a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA VIVENCIANDO


NAS PRINCIPAIS PROVAS
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreen-
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos são de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras.
o território nacional. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvol-
vida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há
uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato
em seu dia a dia.
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção
tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua-
APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compila-
dos, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e co-
mentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difí-
cil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento
aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever,
a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula.

MULTiMÍDiA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado-
sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper-
tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen-
são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. ÁREAS DE
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- CONHECiMENTO DO ENEM
fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol-
vê-las com tranquilidade.
CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-
borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos
conteúdos de cada área, de cada disciplina. DiAGRAMA DE iDEiAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran-
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão,
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Mate-
suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles
mática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com
que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de
essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do
esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros,
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da
sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue
aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos princi-
entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz
pais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos
parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
estudos e até a resolução dos exercícios.

HERLAN FELLiNi
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021
Todos os direitos reservados.

Autor
Márcio Cavalcanti de Andrade

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenado-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-65-88825-24-2

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legis-
lação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do
qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para
o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e
localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição
para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para
fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou
empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2021
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
SUMÁRIO

ENTRE PENSAMENTOS: FILOSOFIA

Aula 1: Introdução à filosofia grega 6


Aula 2: Filosofia de Atenas 14
Aula 3: Alegoria da caverna 20
Aula 4: Aristóteles 27
Aula 5: Filosofia medieval 34
Aula 6: Filosofia política 41
Aula 7: Filosofia moderna 49
Aula 8: Racionalismo 56
Aula 9: Empirismo 62
Aula 10: Iluminismo francês 71
Aula 11: Rousseau 79
Aula 12: Iluminismo alemão 85
Aula 13: A ética do dever - imperativo categórico 92
Aula 14: Tempestade e ímpeto 99
Aula 15: Hegel 104
Aula 16: Ética utilitarista 110
Aula 17: Materialismo filosófico 118
Aula 18: Schopenhauer 124
Aula 19: Nietzsche 130
Aula 20: Filosofia da ciência - Popper 137
Aula 21: Fenomenologia do conhecimento 144
Aula 22: Existencialismo 151
Aula 23: Escola de Frankfurt 158
Aula 24: Hannah Arendt 166
Aula 25: Habermas 172
Aula 26: A filosofia e o poder 179
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Há predominância na interdisciplinaridade e, No vestibular da USP as propostas de redação


em menor frequência, questões temáticas da costumam tratar de temas que dialogam com as
própria disciplina de filosofia. discussões filosóficas. Há questões interdiscipli-
nares e obras literárias com conceitos
filosóficos.

Temas como liberdade, religiosidade, eutanásia, Nos últimos anos, pode-se notar a presença
sanidade/insanidade, egoísmo/altruísmo, política de temas ligados à ética, contratualismo,
A Unicamp também utiliza conceitos e temas e cidadania, justiça, entre outros, estão presentes estética, filosofia da ciência, dogmatismo,
filosóficos em suas propostas de redação. na coletânea de redação dos últimos anos. As epistemologia, liberdade, teoria política. Des-
Algumas obras literárias podem estabelecer questões de literatura também contêm alguns tacam-se os pensadores e temas da filosofia
interdisciplinaridade com a filosofia. desses temas apresentados. clássica, moderna e iluminista.

Nas propostas de redação aparecem temas, como: Nas questões de língua portuguesa dos últimos As propostas dos últimos anos apresentaram Conteúdos e temas filosóficos nas questões dis-
uberização (precarização do trabalho), realidade vestibulares, nota-se a presença de temas como temas como: desigualdade social, liberdade de cursivas e propostas de redação: pós-verdade;
e ficção nas obras de arte (filosofia da estética), natureza humana (o que define o ser humano expressão, imigração, vigilância e sociedade de racismo e democracia racial; liberdade e socie-
as fronteiras entre a vida pública e privada do enquanto ser humano), ética, cultura, cidadania controle, direitos civis e sociais, política e bem-es- dade de controle. Para esses temas, pensadores
profissional médico, ética e medicina, corrupção e direitos – esses também presentes na prova tar social. Pensadores como Marx, Voltaire, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Nietzsche,
e ética no cenário político brasileiro, de História, em especial a cidadania Rousseau, Foucault, Kant e Hans Foucault, Kant, Rousseau, Voltaire
entre outros assuntos. na Antiguidade. Jonas são fundamentais. são fundamentais.

UFMG

Na Universidade Estadual de Londrina os Nos últimos anos, os autores exigidos na


principais temas são: problemas políticos e bibliografia de leitura básica de filosofia foram:
éticos na Filosofia; problemas epistemológicos Habermas, Hume e Kant; Hume, Kant e Platão; A prova cobra a disciplina de Filosofia de
na Filosofia; problemas estéticos na Filosofia. Kant, Platão e Foucault; Tales, Platão, Descartes, forma indireta nas temáticas de redação.
Hobbes e Foucault; Hannah Arendt, Heráclito,
Locke, Maquiavel e Platão.

A área de “Ciências Humanas” inclui os con- A prova não aborda a Filosofia. A prova não aborda a Filosofia.
teúdos das disciplinas de Geografia, História,
Sociologia e Filosofia, dialogando com as
demais áreas das Ciências Sociais.
AULA 1

INTRODUÇÃO À multimídia: livro


FILOSOFIA GREGA
Os pré-socráticos - Coleção “Os
pensadores”. São Paulo: Abril, 1999.
Nessa compilação de textos dos primeiros filósofos da
Grécia antiga, temos uma percepção das teorias desses
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 pensadores.

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25 2. Período pré-socrático
ou cosmológico
Sendo uma explicação racional e sistemática diante da ori-
1. Introdução gem e da transformação da Natureza, a cosmologia (enten-
O mundo helenístico (mundo grego) se beneficiou do mo- dimento racional do universo) afasta-se da mitologia (explica-
mento histórico, quando as cidades-Estados na Grécia antiga ção sobrenatural da natureza e de seus eventos), pois esses
eram prósperos centros comerciais e culturais. Conjuntamen- pensadores buscavam um princípio fundador para todas as
te, o desenvolvimento da cidadania participativa obrigou os coisas, uma origem comum, uma arché (princípio/fundamen-
gregos a debaterem e formularem propostas racionais de ad- to). Os pensadores desse período tiveram a preocupação de
ministração da vida social. Desse modo, favoreceu-se o desen- compreender a physis, ou seja, os aspectos da Natureza ou
volvimento do pensamento humano, isto é, ocorreu a supre- da nossa realidade, que se encontra em movimento. A palavra
macia do logos, que significa “palavra”, “discurso”, “razão”. "filosofia" deriva dos termos gregos philos (amor) e sophia
(sabedoria). Assim, o filósofo, "aquele que ama a sabedoria",
torna-se o verdadeiro investigador da Natureza.

multimídia: vídeo
MAPA DO MUNDO HELENÍSTICO FONTE: YOUTUBE
Descobrindo a Filosofia com Pondé
- Ep.02: Os Pré-Socráticos

2.1. Tales de Mileto (624-546 a.C.)


Tales foi um famoso matemático, mas pouco se conhece
sobre seus escritos, pois muitos se perderam ao longo do
tempo. Ele foi o primeiro a afirmar que a água era a ori-
VISTA DO PARTENON, TEMPLO DEDICADO À DEUSA ATENA,
CONSTRUÍDO NO SÉCULO V A.C., NA ACRÓPOLE DE ATENAS gem (arché) de todas as coisas, sendo a fonte originária

6
de explicação da physis. Infelizmente, só temos interpre-
tações de outros filósofos perante o seu pensamento.

multimídia: livro

Introdução à história da Filosofia - CHAUÍ, Marilena.


São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
No primeiro volume desenvolvido pela filósofa brasileira
Marilena Chauí, é apresentada, de forma didática, a filo-
sofia dos primeiros pensadores na Grécia antiga.

Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser água [o princípio]


(é por este motivo também que ele declarou que a terra 2.3. Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)
está sobre água), levado sem dúvida a esta concepção por
Heráclito preocupou-se com a questão da transformação,
ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o
ou seja, da physis, e por sua forma tão concisa de escrita,
próprio quente dele procede e dele vive (ora, aquilo de que
ganhou o cognome de “o Obscuro”. A base de seu pensa-
as coisas vêm é, para todos, o seu princípio). Por tal ob-
mento consiste no caráter transitório e mutável das coisas
servar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes
– para explicar esse pensamento, emerge a metáfora que
de todas as coisas terem a natureza úmida; e a água é o
“não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes”.
princípio da natureza para as coisas úmidas.
ARISTÓTELES
METAFÍSICA, 1, 3. 983B (DK 11 A 12)

2.2. Anaximandro (610-547 a.C.)


De sua vida pouco se sabe. Foi-lhe atribuída a confecção de
um mapa do mundo habitado. Anaximandro foi o primeiro
a formular o conceito de uma lei universal presidindo o multimídia: vídeo
processo cósmico total, numa clara ampliação da visão de FONTE: YOUTUBE
Tales. Anaximandro afirmava que o princípio de tudo (ar- Heráclito e o mundo como um eterno devir
ché) seria o ápeiron (o infinito).
Nos mesmos rios entramos e não entramos. Somos e não so-
mos. O fogo, segundo Heráclito, é o elemento da mudança,
o símbolo da transformação e do movimento constante. O
princípio é devir (vir a ser, tornar-se), o princípio é a mudança.

HERÁCLITO

7
são movidos, são o Amor e o Ódio. Pois é preciso que os
elementos permaneçam alternadamente em movimento,
sendo ora misturados pelo Amor, ora separados pelo Ódio.
ARISTÓTELES
METAFÍSICA, 1, 3. 984A 8 (DK 31 A 28)

multimídia: livro 2.6. Demócrito (460-370 a.C.)


Filósofo nascido na cidade de Mileto ou Abdera, Demócrito
A sabedoria grega (III): Heráclito - Giorgio foi o maior expoente do atomismo. Segundo seu pensa-
Colli. São Paulo: Paulus, 2013. mento, tudo o que existe na physis, ou seja, na Natureza,
é composto por átomos, que eram partículas indivisíveis e
Nessa obra bilíngue, idealizada pelo professor Giorgio
eternas. Seu método foi a observação.
Colli, são apresentados todos os fragmentos associados
ao filósofo Heráclito, para compreendermos na sua ple- Demócrito é o primeiro que excluiu rigorosamente todo
elemento mítico. E o primeiro racionalista.
nitude a filosofia do pensador de Éfeso.
NIETZSCHE
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA NA ÉPOCA DA TRAGÉDIA GREGA. VOL. XIX.
2.4. Parmênides de Eleia (530-460 a.C.)
O filósofo Parmênides concentrou seu pensamento no imo-
bilismo universal, indo contra o mobilismo de Heráclito. Seu
único trabalho conhecido foi um poema intitulado “Sobre a
Natureza”, que sobreviveu apenas na forma de fragmentos.
Segundo Parmênides, o ser (a essência/o ontos) era uno, in-
divisível, pleno e eterno, de modo que não há espaço para o
não ser. Visto que, para o pensador, as coisas não surgiram
do nada, isto é, tudo que existe sempre existiu. Para Parmê-
nides, o ser é e o não ser não é.
Parmênides parece, neste ponto, raciocinar com mais
penetração. Julgando que fora do ser o não ser nada é,
forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser,
e nenhuma outra.
ARISTÓTELES
METAFÍSICA, 1, 5. 986B 18 (DK 28 A 24)

2.5. Empédocles (490-430 a.C.)


Empédocles foi um filósofo da cidade de Agrigento, na Si-
cília, e seu pensamento consistia em que as coisas eram
constituídas por quatro elementos: fogo, terra, água e ar.
Ele observa que o amor e o ódio aproximam e afastam os indi-
víduos, caracterizando-os como forças antagônicas cósmicas.
Isso quer dizer que o semelhante atrai o semelhante e o des-
semelhante repulsa o dessemelhante, num movimento eterno
– assim, ao se ter harmonia, o amor prevalece, e, caso tenha
desequilíbrio, o ódio está atuando. Diante disso, o filósofo
inaugura o pluralismo, que orienta e ordena a Natureza; não
mais um único elemento, como pensavam os outros filósofos.
Este (Empédocles) estabelece quatro elementos corporais,
fogo, ar, água e terra, que são eternos e que mudam au-
mentando e diminuindo mediante mistura e separação;
mas os princípios propriamente ditos, pelos quais aqueles

8
DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
PRÉ-SOCRÁTICA

OS PRIMEIROS
PENSADORES NA TALES EMPÉDOCLES
GRÉCIA ANTIGA:
SEPARAÇÃO TUDO É ÁGUA.
GRADUAL A MISTURA DOS
ENTRE MITO E ELEMENTOS
PENSAMENTO FORMAM A
RACIONAL PHYSIS
HERÁCLITO OS ELEMENTOS
(FILOSÓFICO).
SÃO TERRA,
FOGO, AR
TUDO FLUI E ÁGUA.
TUDO É DEVIR
(VIR A SER/
SÃO
MUDANÇA).
INVESTIGADORES DA
DEMÓCRITO
NATUREZA (PHYSIS).

PARMÊNIDES TUDO É
COMPOSTO
BUSCAM EXPLICAR
POR ÁTOMOS.
OS FENÔMENOS DA O SER É E O NÃO
NATUREZA COM SER NÃO É.
UMA ÚNICA
DEFINIÇÃO:
ARCHÉ (PRINCÍPIO/
FUNDAMENTO).

DE UMA FORMA
ONTOLÓGICA E
COSMOLÓGICA.

9
que as sucederam, evitavam o recurso às forças sobrena-
Aplicando para turais como fonte de explicação da existência.
Aprender (A.P.A.) A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) F, V, V, F.
1. (Unesp 2020) Em 4 de julho de 2012, foi detectada b) V, F, V, F.
uma nova partícula, que pode ser o bóson de Higgs. Tra-
c) F, V, F, V.
ta-se de uma partícula elementar proposta pelo físico
teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do modelo d) V, F, F, V.
padrão, segundo a qual o bóson de Higgs seria a partí- 4. (Unifesp) “Vamos, vou dizer-te – eu tu escuta e fixa o
cula elementar responsável pela origem da massa de relato que ouviste quais os únicos caminhos de investi-
todas as outras partículas elementares. gação que há para pensar: um que é, que não é para não
(JEAN JÚNIO M. PIMENTA ET AL. “O BÓSON DE HIGGS”. IN: REVISTA ser. é caminho de confiança (pois acompanha a realida-
BRASILEIRA DE ENSINO DE FÍSICA, VOL. 35, NO 2, 2013. ADAPTADO.) de); o outro que não, que tem de não ser, esse te indico
ser caminho em tudo ignoto, pois não poderá conhecer
O que se descreve no texto possui relação com o con- o não ser, não é possível, nem indicá-lo [...]”
ceito de arqué, desenvolvido pelos primeiros pensado-
res pré-socráticos da Jônia. A arqué diz respeito PARMÊNIDES. DA NATUREZA. SÃO PAULO: LOYOLA, 2002.

a) à retórica utilizada pelos sofistas para convenci- Com base no fragmento, o autor:
mento dos cidadãos na pólis.
a) faz um contraponto em relação aos pensamentos de
b) a uma explicação da origem do cosmos fundamen- Heráclito, no qual contradiz a teoria de que tudo está em
tada em pressupostos mitológicos. uma constância perpétua de movimento e mudanças.
c) à investigação sobre a constituição do cosmos por b) faz um contraponto em relação aos pensamentos
meio de um princípio fundamental da natureza. do não ser, pois ser pode não ser, possibilitando o
d) ao desenvolvimento da lógica formal como habili- conhecimento do não se conhecer.
dade de raciocínio. c) defende a teoria de que tudo está em uma cons-
e) à justificação ética das ações na busca pelo enten- tância perpétua de movimento e mudanças.
dimento sobre o bem. d) fundamenta que o ser, somente pode ser o que é,
entretanto, pode possibilitar o conhecimento da re-
2. (UFPR 2020) De acordo com Tales de Mileto, a água
alidade através do que não se sabe, fomentando o
é origem e matriz de todas as coisas. Essa maneira de
conhecimento do não ser.
reduzir a multiplicidade das coisas a um único elemento
foi considerada uma das primeiras expressões da Filo- e) faz um contraponto a não identidade, pois o ser é
sofia, porque: impossível de saber ou compreender o que o constitui.

a) é um questionamento sobre o fundamento das coisas. 5. (Enem) Na antiga Grécia, o teatro tratou de questões
b) enuncia a verdade sobre a origem das coisas. como destino, castigo e justiça. Muitos gregos sabiam
c) é uma proposição que se pode comprovar. de cor inúmeros versos das peças dos seus grandes au-
d) é uma proposição científica. tores. Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, Shakespeare
produziu peças nas quais temas como o amor, o poder,
e) é um mito de origem.
o bem e o mal foram tratados.
3. (Uece 2020) Antes do surgimento do pensar racional- Nessas peças, os grandes personagens falavam em ver-
-filosófico, os povos antigos possuíam outra forma de so e os demais em prosa. No Brasil colonial, os índios
explicação do mundo: o pensamento mítico. aprenderam com os jesuítas a representar peças de
Considerando as características do conhecimento míti- caráter religioso. Esses fatos são exemplos de que, em
co, atente para o que se afirma a seguir e assinale com diferentes tempos e situações, o teatro é uma forma de
V o que for verdadeiro e com F o que for falso. a) manipulação do povo pelo poder.
( ) A mitologia foi a segunda forma de explicação so- b) diversão e de expressão dos valores e problemas
bre o mundo, sucedendo as explicações fornecidas pe- da sociedade.
las ciências dos antigos povos, como a agrimensura e a c) entretenimento popular.
astrologia. d) manipulação do povo pelos intelectuais que com-
( ) Os mitos eram transmitidos por gerações, principal- põem as peças.
mente através da forma narrativa e faziam parte da e) entretenimento, que foi superada e hoje é substitu-
tradição cultural de um povo, não sendo originários da ída pela televisão.
criação por parte de um indivíduo específico.
( ) A mitologia explicava a origem do mundo e depen- 6. Em relação ao fenômeno religioso e à história do de-
dia da adesão, pelas pessoas, de um conjunto de verda- senvolvimento do homem, é correto afirmar que:
des tidas como inquestionáveis e imunes à crítica. a) a manifestação do sagrado envolve os aspectos
( ) Baseado, principalmente, nas forças da natureza – religiosos, que precedem a razão.
physis –, as mitologias antigas, ao contrário das religiões b) a razão possibilitou o desenvolvimento da religião.

10
c) o sagrado é invenção para apenas conduzir as massas. na natureza e, a partir da observação, buscavam des-
d) o discurso racional criou a religião. cobrir leis naturais que fossem eternas.
e) a moral é inata ao âmago do homem e precede ao fenô- c) Os teóricos da natureza, que desenvolveram seus
meno do sagrado, que está coligado à estrutura religiosa. sistemas de pensamento por volta do século VI a.C.,
partiram da ideia unânime de que a água era o prin-
7. (UEL) Há, porém, algo de fundamentalmente novo cípio original do mundo por sua enorme capacidade
na maneira como os gregos puseram a serviço do seu de transformação.
problema último – da origem e essência das coisas – as
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem
observações empíricas que receberam do Oriente e enri-
homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do
queceram com as suas próprias, bem como no modo de
mundo dos deuses em detrimento de uma explicação
submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mi-
natural e regular acerca dos primeiros princípios que
tos, fundado na observação das realidades aparentes do
originam todas as coisas.
mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.
e) Para os pensadores jônicos da natureza – Tales,
JAEGER, W. PAIDEIA. 3. ED. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 1995, P. 197. Anaxímenes e Heráclito –, há um princípio originário
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação único denominado “o ilimitado”, que é a reprodução
entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar: da aparência sensível que os olhos humanos podem
observar no nascimento e na degeneração das coisas.
a) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação
de interdependência, uma vez que o pensamento fi- 9. (UEAP) (...) que é e que não é possível que não seja,/ é
losófico necessita do mito para se expressar. a vereda da Persuasão (porque acompanha a Verdade);
b) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se o outro diz que não é e que é preciso que não seja,/ eu
desvincula dos mitos, de forma gradual. te digo que esta é uma vereda em que nada se pode
c) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aprender. De fato, não poderias conhecer o que não é,
aos mitos, representando uma nova forma de pensa- porque tal não é fatível./ nem poderia expressá-lo.
mento plenamente racional, desde as suas origens.
NICOLA, UBALDO. ANTOLOGIA ILUSTRADA DE
d) Em que pese ser considerada como criação dos gre- FILOSOFIA. SÃO PAULO: GLOBO, 2005.
gos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da
religião e apenas posteriormente chega à Grécia. O texto anterior expressa o pensamento de qual filósofo?
e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava res- a) Aristóteles, que estabelecia a distinção entre o
postas para problemas que até hoje são objetos da mundo sensível e o inteligível.
pesquisa filosófica.
b) Heráclito de Éfeso, que afirmava a unidade entre
8. (UEL) De onde vem o mundo? De onde vem o univer- pensamento e realidade.
so? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, c) Tales de Mileto, que afirmava ser a água o princípio
em algum momento, o universo também tinha de ter de todas as coisas.
surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo d) Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade
de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, en- de todas as coisas e a unidade entre ser e pensar, ser
tão essa outra coisa também devia ter surgido de algu- e conhecimento.
ma outra coisa algum dia.
e) Protágoras, que afirmava que o homem é a medida
Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de de todas as coisas, que o ser é e o não ser não é.
lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha
de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a 10. (Unicentro) Leia o fragmento de um texto pré-socrático.
partir da qual tudo é feito? A grande questão para os “Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para ne-
primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nhuma das coisas mortais, como não há fim na morte
nada. O que os instigava era saber como a água podia
funesta, mas somente composição e dissociação dos
se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem
elementos compostos: nascimento não é mais do que
vida podia se transformar em árvores frondosas ou flo-
um nome usado pelos homens.”
res multicoloridas.
EMPÉDOCLES. APUD ARANHA; MARTINS. FILOSOFANDO:
GAARDER, J. O MUNDO DE SOFIA. SÃO PAULO: COMPANHIA INTRODUÇÃO À FILOSOFIA. 3. ED. SÃO
PAULO: MODERNA, 2006, P. 86.
DAS LETRAS, 1995. P. 43-44 (ADAPTADO).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgi- A respeito da relação entre mythos e logos (razão) no
mento da Filosofia, assinale a alternativa correta. início da filosofia grega, analise as assertivas e assinale
a alternativa que aponta as corretas.
a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenô-
menos e as transformações da natureza e porque a I. O fragmento acima denota a “luta de forças” opostas
vida é como é, tendo como limitador e princípio de na massa dos membros humanos, que ora unem-se pelo
verdade irrefutável as histórias contadas acerca do amor – no início todos os membros que atingiram a cor-
mundo dos deuses. poreidade da vida florescente –, ora
b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convic- divididos pela força da discórdia, erram separados nas
ção de que havia alguma substância básica, uma causa linhas da vida. Assim ocorre também com todos os ou-
oculta que estava por trás de todas as transformações tros seres na natureza.

11
II. A verdade filosófica apresenta-se no pensamento d) A expressão “devir” é adequada para compreen-
de Empédocles através de uma estrutura lógica muito dermos a doutrina de Heráclito.
distante da “verdade” expressa nos relatos míticos dos
gregos arcaicos. 13. (UFU) O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito
de Éfeso.
III. Nascimento e morte, no texto de Empédocles, são
apresentados por meio de representações míticas que “O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dor-
o filósofo retira de uma tradição religiosa presente mindo, novo e velho; pois estes, tombados além, são
ainda em seu tempo. Essas imagens, consequentemen- aqueles e aqueles de novo, tombados além, são estes”.
te, se transpõem, sem deixarem de ser místicas, em OS PRÉ-SOCRÁTICOS. 1. ED. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL. 1973, P. 93.
uma filosofia que quer captar a verdadeira essência
da realidade física. A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que
IV. O fragmento denota continuidade do pensamento melhor representa o pensamento de Heráclito.
mítico no início da filosofia, pois estão presentes ainda a) Não existe a noção de “oposto” no pensamento de
o uso de certas estruturas comuns de explicação. Heráclito, pois todas as coisas constituem um único
a) Apenas II, III e IV estão corretas. processo de mudança que expressa a concórdia e a
b) Apenas I, III e IV estão corretas. harmonia do “fluxo” contínuo da natureza.
c) Apenas I e II estão corretas. b) A equivalência de estados contrários com “o
d) Apenas I e IV estão corretas. mesmo” exprime a alternância harmônica de polos
e) Apenas I, II e IV estão corretas. opostos, pela qual um estado é transposto no outro,
numa sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as
11. A filosofia ocidental teve início com os pensadores Coisas são “Um”, toda a multiplicidade dos opostos
anteriores a Sócrates, por isso chamados de pré-socrá- constitui uma unidade, e todos os seres estão num
ticos, dos quais a maioria viveu em colônias gregas dis- fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra.
tantes de Atenas. Sobre esses pensadores, pode-se dizer: c) Se o morto é vivo, o velho é novo e o dormente
a) Com os pré-socráticos, a filosofia se constitui numa ci- é desperto, então não existe o múltiplo, mas apenas
ência particular, e não mais no estudo da realidade total. o como verdade profunda do mundo. A unidade pri-
b) A mitologia tradicional grega fazia parte das suas mordial é a própria realidade da physis e a multiplici-
doutrinas. dade, apenas aparência.
c) Pitágoras e os seus discípulos dedicaram-se ao es- d) A alternância entre polos opostos constitui um fluxo
tudo da política e recusaram a interferência da mate- eterno, regido pela “guerra” e pela “discórdia”, que
mática no estudo da cosmologia. ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre
d) Heráclito defendeu a ideia de permanência subs- contrários evidencia que a physis é caótica e denota o
tancial e constante do ser, contra a noção de devir. fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista.
e) Os naturalistas, ou fisiólogos da Jônia, dedicavam-se,
14. Os fragmentos abaixo representam três temas fun-
sobretudo, ao estudo do cosmo, e muitos deles busca-
damentais que configuram o pensamento de Heráclito
vam o princípio constitutivo do mundo em algum de
de Éfeso.
seus elementos: ar, água, terra, ou fogo.
“O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, sacieda-
12. (UFU) Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI de fome; mas se alterna como fogo, quando se mistura
e V a.C. e sua doutrina, apesar de criticada pela filo- a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada.”
sofia clássica, foi resgatada por Hegel, que recuperou
“Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo por todas,
sua importante contribuição para a dialética. Os dois
tal como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro.”
fragmentos a seguir nos apresentam este pensamento.
“Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e OS PRÉ-SOCRÁTICOS. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1973,
P. 85 E 87. COLEÇÃO “OS PENSADORES”.
nenhum dos homens o fez; sempre foi, é e será um fogo
eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se confor- A partir das citações acima:
me a medida.”
a) explicite quais são esses temas;
“Para as almas, morrer é transformar-se em água; para
b) comente cada um deles, de modo a caracterizar a
a água, morrer é transformar-se em terra. Da terra, con-
filosofia de Heráclito.
tudo, forma-se a água, e da água a alma.”
De acordo com o pensamento de Heráclito, marque a
alternativa incorreta.
Gabarito
a) As doutrinas de Heráclito e de Parmênides estão
em perfeito acordo sobre a imutabilidade do ser. 1. C 2. A 3. A 4. A 5. B
b) Para Heráclito, a ideia de que “tudo flui” significa
que nada permanece fixo e imóvel. 6. A 7. B 8. B 9. D 10. A
c) Heráclito desenvolve a ideia da harmonia dos con- 11. E 12. A 13. B
trários, isto é, a permanente conciliação dos opostos.

12
14.
a) O eterno devir (fluxo); a luta dos contrários (opostos);
o fogo (símbolo da filosofia heraclitiana e do logos).
b) De acordo com Heráclito, tudo está em eterno devir,
toda a realidade é um processo constante de mudanças,
em que nada, a não ser a própria mudança, permanece.
A luta entre os contrários é o que mantém o eterno fluxo
de todas as coisas, fazendo, através da luta dos opostos,
com que nada seja igual ao que foi antes. No entanto,
a mudança não é caótica, pois há uma lei que rege o
fluxo eterno de todas as coisas, esta lei é o logos, que,
segundo Heráclito, percebe como unidade aquilo que se
apresenta como multiplicidade. A unidade dada e perce-
bida pelo logos é uma unidade de tensões opostas que
provoca a harmonia. Finalmente, Heráclito afirma que o
fogo é o símbolo de sua filosofia, pois representa como o
fundamento e princípio (arché) de todas as coisas.

13
as técnicas de oratórias e da persuasão para qualquer cida-
AULA 2 dão. Os sofistas eram relativistas e céticos, não consideravam
verdades objetivas e universais. Para os sofistas, as verdades
eram convenções e construções discursivas. Devido a isso,
muitos jovens procuravam os sofistas para alcançarem status
na cidade, onde o logos era elemento fundamental. Afinal,
FILOSOFIA DE ATENAS numa cidade democrática, o cidadão precisava saber falar e
ser capaz de persuadir os outros com o auxílio das palavras.
Em Atenas, as palavras tinham poder.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

PARTHENON
1. Introdução
A cidade-Estado de Atenas tornou-se um centro cultu- 2.1. Sócrates (470-399 a.C.)
ral, feito este ocorrido no século de Péricles (séc. V a.C.),
época de maior florescimento da democracia ateniense
durante o Período Clássico. Com o controle de quaisquer
ataques de outras cidades, com uma vasta capacidade
náutica, Atenas se favoreceu econômica e culturalmente,
desenvolvendo a Filosofia.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Filosofia (composição de Noel Rosa
e execução de Maria Gadú)
multimídia: vídeo
2. Sofismo FONTE: YOUTUBE
Sócrates: o homem que perguntava (parte 1)
Com o crescimento da pólis grega, surgiu uma prática educa-
Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de
cional, em que os seus integrantes eram chamados de sofis-
470 a.C., e tornou-se um dos principais pensadores da
tas, sábios que vendiam o conhecimento, mas direcionavam
Grécia antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o
esse conhecimento conforme as suas próprias convicções.
que conhecemos hoje por Filosofia ocidental.
Os principais sofistas foram Protágoras de Abdera (490-421
a.C.), Górgias de Leontinos (487-380 a.C.), Pródico de Ceos
(465-395 a.C.), dentre outros. Apresentavam-se como mes- O filósofo ateniense foi um dos maiores críticos à prática
tres da oratória, de modo que, para eles, era possível ensinar do sofismo, pelo direcionamento da verdade pelo sofista,

14
além de discordar que eram filósofos, visto que não inves- seu modo de investigação, Sócrates questionava os vícios e a
tigavam nada, apenas criavam discursos e retóricas des- corrupção na cidade grega buscando a virtude e o conheci-
compromissadas com a Democracia, com a Verdade e com mento (epistéme). Dizia Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo",
a Ética. Os sofistas, para Sócrates, estavam comprometidos afinal "uma vida não examinada não é digna de ser vivida".
com a doxa (opinião) e não com a epistéme (conhecimento
Acabou sendo preso, com o pretexto de ofender os deu-
verdadeiro). Sócrates foi um marco na história da Filoso-
ses da cidade e corromper a juventude – esse momento é
fia, por modificar a investigação do pensamento, preten-
contado na obra Apologia de Sócrates, do filósofo Platão.
dendo direcioná-la para uma análise do indivíduo, e não
Foi condenado à morte tomando um cálice de cicuta, um
mais para a compreensão da physis.
veneno extraído da planta Conium maculatum.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Para ler... Mario Sergio Cortella fala sobre Sócrates
Sócrates é um dos personagens mais intrigantes da fi-
losofia grega e conhecido pelos escritos de seus segui- “LA MORT DE SOCRATE”. PINTURA DE JACQUES-LOUIS DAVID (1787)
dores, já que ele mesmo nunca escreveu um livro. Para A figura de Sócrates é bem mítica, pois nada escreveu em
falar sobre o pensamento do filósofo e indicar leituras vida. Tudo o que sabemos dele é derivado dos relatos de seu
para quem deseja saber mais do autor do pensamento discípulo mais famoso, o filósofo Platão, e de Aristófanes, um
"conhece-te a ti mesmo", o professor de teologia e fi- dramaturgo grego que ridicularizava a figura de Sócrates
lósofo Mario Sergio Cortella falou sobre os escritos de contra os sofistas. A filosofia socrática visava à maiêutica, que
Platão, talvez aquele que mais tenha reproduzido os significa "o parto das ideias". Para Sócrates, as ideias eram
pensamentos de Sócrates. Para saber mais, leia A Apo- inatas (inatismo) e cabia ao filósofo ajudar as pessoas a libe-
logia de Sócrates. rarem as ideias puras e verdadeiras por meio da maiêutica.

2.2. Dialética socrática


O método de investigação desenvolvido por Sócrates, co-
nhecido como dialética, consistia em alcançar a verdade
por meio do diálogo. A dialética consiste no confronto de
argumentos (tese x antítese) que resultam numa aproxima-
ção do conhecimento verdadeiro (síntese). O objetivo dessa multimídia: vídeo
dialética era desmascarar a falsa sabedoria, chegando a um
FONTE: YOUTUBE
conhecimento da natureza do homem.
CONVITE A PLATÃO: FÉDON E A IMORTALIDADE
Dessa maneira, Sócrates dialogava com o intuito de justifi- DA ALMA | Maurício Marsola
car os conhecimentos, as virtudes ou as habilidades que lhe
eram atribuídos. Com os seus diálogos, ele acabava fazendo
com que o interlocutor expressasse suas opiniões, utilizando- 2.3. Das aparências ao mundo das ideias
-se de questionamentos (ironia socrática). O resultado dessas Com o pensador ateniense Platão (428-347 a.C.), a Filo-
conversas era apresentar a fragilidade das opiniões alheias. sofia ganhou uma característica epistemológica. Após a
Apesar de sua postura questionadora, Sócrates propagava morte de seu mestre, Platão fundou a Academia, um re-
que era o cidadão mais ignorante da Grécia e, mediante isso, cinto onde se discutiam diversos temas, da Matemática,
era necessário aprender com os outros, de forma que lhe foi passando pela Astronomia até a Música. Na Academia,
atribuído a frase “só sei que nada sei”. Por conta de suas o conhecimento deveria ser baseado numa episteme, ou
conversas, realizadas nas praças públicas de Atenas, junto ao seja, numa ciência, com o intuito de ultrapassar o plano

15
instável da opinião. Logo na entrada desse recinto, exis-
tia um escrito: “Que aqui não entre quem não souber
geometria”.
Essa frase tinha uma definida intenção de valorização da
ciência, que se iniciava na Grécia, mas também era uma
forma de afastar os críticos que poderiam ter alguma in-
tenção negativa em relação aos seus métodos filosóficos.
Essa valorização da abstração e do potencial da razão será
um elemento fundante da filosofia platônica.

2.4. Reminiscência
Segundo o filósofo grego, o ato de conhecer as coisas sig-
nifica, necessariamente, o ato de lembrar (anamnese), sus-
tentando a hipótese da reminiscência (lembrança), contida
no diálogo Ménon. Nesse diálogo, Sócrates demonstra que
o homem só precisa recordar as coisas que sua alma um
dia aprendeu. Nesse momento, Platão salienta que a alma é
eterna. Sendo a alma eterna (metafísica) e o corpo matéria
perecível (físico), nota-se uma dualidade humana – somos
parte existência e parte essência.
Na obra de Platão, nota-se que o autor estabelece ob-
servações críticas quanto ao apego humano àquilo que é
material, imperfeito e mutável. Esse apego ao mundo ma-
terial pode ser notado nas artes plásticas que se valem da
mímesis. Para o filósofo, a concepção de mímesis significa
imitação, cópia do mundo material.
Sócrates: [...] ora, diz-me: aprender não é tornar-se mais sá-
bio acerca daquilo que se aprende?
Teeteto: Como não?
Sócrates: E é pela sabedoria, eu penso, que os sábios são sábios.
Teeteto: Sim.
Sócrates: E isto difere em algo do conhecimento?
Teeteto: Isto o quê?
Sócrates: A sabedoria. Ou será que os que conhecem tais coi-
sas não são sábios?
Teeteto: Como não?
Sócrates: Então são o mesmo, o conhecimento e a sabedoria?
Teeteto: Sim.
PLATÃO
TEETETO. 1903. [145D-E]

16
DIAGRAMA DE IDEIAS

A FILOSOFIA
DE ATENAS

SÓCRATES PLATÃO

CRÍTICO AOS
SOFISTAS
O CONHECIMENTO
É EPISTÉME.
É PRECISO
COMPREENDER O
INDIVÍDUO:
"CONHECE-TE A TI MESMO." FUNDA A
ACADEMIA.

MAIÊUTICA, DIALÉTICA
E IRONIA SOCRÁTICA.
APRENDER É
RECORDAR
UM MODO DE (REMINISCÊNCIA).
INVESTIGAÇÃO O CONHECIMENTO
A BUSCA PELA EPISTÉME ESTÁ EM NOSSA
(CONHECIMENTO ALMA PENSANTE
VERDADEIRO COMPROVADO (INATISMO).
PELO USO DA RAZÃO).

QUESTIONA OS VÍCIOS A ARTE É MIMÉTICA


E A CORRUPÇÃO. (MÍMESIS).
BUSCA PELA VIRTUDE.

É CONDENADO À MORTE.

17
a) Parmênides afirma: “Em primeiro lugar, criou (a di-
Aplicando para vindade do nascimento ou do amor) entre todos os
deuses, a Eros (...)”.
Aprender (A.P.A.) b) Platão propõe algumas teses, como a teoria da re-
1. (UEM 2020) O período da história da filosofia grega miniscência e a transmigração das almas.
que cobre os séculos V e IV a.C. é entendido como o c) Heráclito afirma: “As almas aspiram o aroma do Hades”.
despertar de um ideal consciente de educação e cultura. d) Aristóteles divide a ciência em três ramos: o teoré-
Dele fazem parte, além de Sócrates e de seu discípulo tico, o prático e o poético.
Platão, os chamados sofistas. A propósito dos sofistas,
assinale o que for correto. 5. (PUC) Leia os enunciados abaixo a respeito do pensa-
01) Os sofistas foram responsáveis pelo desenvolvi- mento filosófico de Sócrates.
mento da reflexão antropológica e da reflexão ética I. O texto “Apologia de Sócrates”, cujo autor é Platão,
na filosofia. apresenta a defesa de Sócrates diante das acusações
02) Os sofistas foram os mestres da nova areté (vir- dos atenienses, especialmente os sofistas, entre os
tude, excelência) política, e o instrumento desse pro- quais está Meleto.
cesso foi a retórica. II. Sócrates dispensa a ironia como método para refu-
04) Os sofistas eram comumente vistos como especialis- tar as acusações e calúnias sofridas no processo de seu
tas do pensamento e não propriamente como filósofos. julgamento.
08) Sócrates adotou uma postura bastante compla- III. Entre as acusações que Sócrates recebe, está a de
cente com os sofistas na Atenas do século V a.C. “corromper a juventude”.
16) Ao afirmar que “o homem é a medida do que é IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e
e do que não é”, Protágoras confirmou o papel do
terrenas, a não acreditar nos deuses e a tornar mais for-
subjetivismo na sua concepção filosófica.
te a razão mais débil.
2. O surgimento da Filosofia entre os gregos está asso- V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e
ciado à passagem do pensamento mítico ao pensamen- resolutos e, em grande número, falam de forma persua-
to racional. A grande preocupação nesse momento era siva e persistente contra ele.
com questões: Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirma-
a) à história. tivas corretas.
b) à tristeza humana. a) II, IV e V.
c) ao cosmo. b) I, III e IV.
d) à religião. c) I, III e V.
e) à política. d) II, III e V.
3. Sócrates inaugurou o período clássico da filosofia gre- e) I, II e III.
ga, também chamado de período antropológico. O pro-
blema do conhecimento passou a ser uma problemática 6. (Unicamp) Apenas a procriação de filhos legítimos,
central na filosofia socrática, pois “a briga” de Sócrates embora essencial, não justifica a escolha da esposa. As
com os sofistas tinha por objetivo resgatar o amor pela ambições políticas e as necessidades econômicas que
sabedoria e a valorização pela busca da verdade. Nesse as subentendem exercem um papel igualmente podero-
contexto, Sócrates inaugurou seu método que se funda- so. Como demonstraram inúmeros estudos, os dirigen-
mentava em dois princípios básicos, que são: tes atenienses casam-se entre si, e geralmente com o
parente mais próximo possível, isto é, primos coirmãos.
a) a indução e a dedução das verdades lógicas.
É sintomático que os autores antigos que nos informam
b) a doxa e o logos convergindo para o conceito racional.
sobre o casamento de homens políticos atenienses omi-
c) a ironia e a maiêutica enquanto caminhos para co- tam os nomes das mulheres desposadas, mas nunca o
nhecer a verdade através do autoconhecimento (co-
nome do seu pai ou do seu marido precedente.
nhecer-te a ti mesmo).
d) o diálogo e a dúvida dialética. CORBIN, ALAIN; ET AL. HISTÓRIA DA VIRILIDADE.
VOL. 1. PETRÓPOLIS: VOZES, 2014, P. 62.
e) a amizade e a justiça social.
Considerando o texto e a situação da mulher na Atenas
4. (UFU) A relação entre mito e filosofia é objeto de po-
clássica, podemos afirmar que se trata de uma sociedade:
lêmica entre muitos estudiosos ainda hoje. Para alguns,
a filosofia nasceu da ruptura com o pensamento mítico a) na qual o casamento também tem implicações po-
(teoria do “milagre grego”); para outros, houve uma líticas e sociais.
continuidade entre mito e filosofia, ou seja, de alguma b) que, por ser democrática, dá uma atenção especial
forma os mitos continuaram presentes – seja como for- aos direitos da mulher.
ma, seja como conteúdo – no pensamento filosófico. c) em que o amor é o critério principal para a forma-
A partir destas informações, assinale a alternativa que ção de casais da elite.
não contenha um exemplo de pensamento mítico no d) em que o direito da mulher se sobrepõe ao interes-
pensamento filosófico. se político e social.

18
7. (UEA) “O sofista” é um diálogo de Platão do qual par- d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer
ticipam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. distante dos problemas concretos, preocupando-se
Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estran- apenas com causas abstratas.
geiro a que método ele gostaria de recorrer para definir
o que é um sofista. 10. (UEL) Para esclarecer o que seja a imitação, na re-
Sócrates: Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese lação entre poesia e o Ser, no Livro X de A República,
que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o Platão parte da hipótese das ideias, as quais designam
método interrogativo? a unidade na pluralidade, operada pelo pensamento.
Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua arte,
Estrangeiro: Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócra-
tes, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como
contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo. modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a
sua ideia. O poeta pertence à mesma categoria: cria um
PLATÃO. “O SOFISTA”. 1970 (ADAPTADO). mundo de mera aparência.
É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates esco- Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
lheu, do ponto de vista metodológico, adotar: das ideias de Platão, é correto afirmar:

a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, en-
argumentos. quanto coparticipante da criação divina, alcança a
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos verdadeira causa das coisas, a partir do reflexo da
contendores. ideia ou do simulacro que produz.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao b) A participação das coisas às ideias permite admi-
saber por meio dos sentidos. tir as realidades sensíveis como as causas verdadeiras
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão huma- acessíveis à razão.
na na prova de existência de Deus. c) Os poetas são imitadores de simulacros e, por in-
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possi- termédio da imitação, não alcançam o conhecimento
bilidade do saber humano. das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas.
d) As coisas belas se explicam por seus elementos fí-
8. (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra baseada sicos, como a cor e a figura, e na materialidade deles
em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar encontram sua verdade: a beleza em si e por si.
os seus ensinamentos sob a forma de perguntas e res- e) A alma humana possui a mesma natureza das coi-
postas. Sócrates considerava o diálogo como a forma sas sensíveis, razão pela qual se torna capaz de co-
por excelência do exercício filosófico e o único caminho nhecê-las como tais na percepção de sua aparência.
para chegarmos a alguma verdade legítima.
De acordo com a doutrina socrática: 11. (FCC) Sócrates é um dos personagens mais conheci-
dos e influentes do pensamento ocidental. Embora não
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma tenha deixado nada escrito, suas ideias foram redigidas
visão antropocêntrica da filosofia. por um de seus discípulos, Platão, que lhe atribui a se-
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação guinte máxima: “a única coisa que sei é que nada sei”.
filosófica. Com essa máxima, Sócrates expressa que o caminho do
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do conhecimento
autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística.
a) é impossível e todo o saber possível é uma ilusão.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas hu-
b) depende da experiência e não de proposições teóricas.
manos é sanada pelo homem, medida de todas as coisas.
c) desconsidera a opinião sobre assunto que se ignora.
9. (Unicamp) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense d) pressupõe dar opinião sobre assunto que se ignora.
que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de par- e) é limitado porque a razão humana não pode saber
tida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra tudo.
Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que
afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após
interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou
à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por
Gabarito
reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada 1. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 2. C 3. C 4. D
sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois:
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se 5. B 6. A 7. A 8. A 9. A 10. C
mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
11. E
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos
sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia
era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Fi-
losofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas
a partir de métodos rigorosos.

19
AULA 3

ALEGORIA DA CAVERNA multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE
MATRIX: IMPACTO FILOSÓFICO

ƒ Mundo inteligível: as formas puras, as ideias originais.


Essas essências são eternas, imutáveis e únicas. Essas
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 ideias são recordadas por nossa psiquê (alma pensante).
ƒ Mundo sensível: o mundo da materialidade, das có-
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
pias imperfeitas que são percebidas pelos sentidos.
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
O mundo físico nos ilude constantemente com a sua
22, 23, 24 e 25
aparência de realidade.

1. O mundo das ideias:


dualismo platônico
A teoria platônica é fundamentada no dualismo: há uma
realidade verdadeira (mundo das ideias) e uma aparente re-
alidade que é falsa (mundo sensível). Platão apresenta que
o conhecimento é elaborado quando o indivíduo alcança a
ideia, rompendo com as aparências, enquanto a opinião nas-
ce da percepção da aparência. O mundo sensível é o mundo
percebido pelos sentidos, das aparências, das cópias e dos
enganos, da materialidade existente (física). O mundo inteli-
gível é o mundo original e eterno, nele estão as formas puras
e verdadeiras, as essências (metafísica).

multimídia: livro

Platão. Coleção “Os Pensadores”.


São Paulo: Abril Cultural, 1999.
Nessa obra, o filósofo ateniense apresenta a teoria du-
alista e o governo dos reis filósofos. Nessa obra está
presente a Alegoria da Caverna.

Diante disso, existe um mundo conceitual, onde existem


as ideias dos elementos que constituem o mundo que co-
nhecemos. Como exemplo, podemos imaginar um carro

20
branco estacionado na esquina; cada indivíduo vai acabar Um homem consegue escapar das correntes e sai da ca-
elaborando uma ideia fixa desse tal carro branco, algo verna. Lá fora, ele vê um mundo bem diferente, o mundo
semelhante a uma ideia primária. Desse modo, o mundo real. Ele volta à caverna para contar a novidade ao resto
inteligível (conceitual) existe de uma forma anterior e mais das pessoas, porém, ofuscado pela luz (da verdade), parece
efetiva do que no mundo sensível. abobado. Com isso, os outros prisioneiros não acreditam
Com essa concepção, Platão questiona a realidade do na sua versão maluca e acabam matando o pobre infeliz.
mundo sensível, pois esse universo está em constante
transformação, o que nos leva ao mundo das incertezas.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
multimídia: música A CAVERNA DE PLATÃO NA ERA DA
FONTE: YOUTUBE SELFIE | LUIS MAURO SÁ MARTINO
Sombras da caverna - Dead Fish.
Ponto Cego. Desk, 2019.
2.1. A felicidade, segundo Platão
Para o filósofo grego Platão, o conceito de felicidade consistia
no resultado final de uma vida dedicada a um conhecimento
2. Alegoria da caverna progressivo. Numa valorização pelo conhecimento, Platão
vai interligar a felicidade com a ciência (conhecimento).
Dessa maneira, o homem só atingirá a felicidade quando
abandonar o mundo sensível em direção ao mundo inteli-
gível. Isso ocorre, pois no mundo inteligível estão as ideias
perfeitas, como a beleza, a coragem, a justiça, a felicidade,
a verdade e o bem.

2.2. Política
Para o filósofo, todos os tipos de governo existentes no
Segundo Platão, o filósofo é o sujeito que consegue enxer- mundo são degenerados por natureza, pois a sua forma
gar as coisas mais claramente do que as outras pessoas. original tende a ter uma versão degenerada, como pode-
Para ilustrar essa ideia, surge a alegoria da caverna, conti- mos observar abaixo.
do no Livro VII de A República:
Forma original Forma degenerada
Um grupo de pessoas acorrentado numa caverna só vê
Aristocracia Oligarquia
sombras e julga que elas são a realidade.
Monarquia Tirania
Democracia Anarquia

Diante disso, Platão defende que o melhor sistema de


governo deveria ser a monarquia, associada com o saber
filosófico, visto que somente indivíduos que detêm o co-
nhecimento podem atuar com melhor desempenho para
o coletivo, sem sofrerem as interferências do pensar e agir
multimídia: vídeo particular. Sendo assim, os melhores governantes seriam
FONTE: YOUTUBE os reis-filósofos. Platão é, portanto, um crítico do regime
A caverna de Platão - EJA MUNDO DO TRABALHO democrático da Antiga Atenas. Sua proposta de sociedade
é pautada na epistocracia (o governo dos sábios).

21
Sócrates: Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um Glauco: Certamente.
tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um Sócrates: Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho
destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à
a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e bra-
tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslum- dos de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo
braria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o
Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que comum dos homens tem por serem reais?
até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da Glauco: A princípio nada veria.
realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Sócrates: Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade
Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfi- da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as som-
lavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece bras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos
que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via nas águas; finalmente erguendo os olhos para a Lua e as estre-
era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados? las, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno
Glauco: Sem dúvida nenhuma. resplendor do dia.
Sócrates: Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos dolo- PLATÃO
ridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consi- A REPÚBLICA
deraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?

DIAGRAMA DE IDEIAS

PLATÃO

MUNDO DAS IDEIAS MITO DA CAVERNA POLÍTICA

ALEGORIA
MUNDO INTELIGÍVEL TODOS OS TIPOS
PARA ILUSTRAR
DE GOVERNOS SÃO
QUE POUCOS
DEGENERADOS
RAZÃO (LUZ) ALCANÇAM O
POR NATUREZA
MUNDO INTELIGÍVEL

DUALISMO E
MUNDO SENSÍVEL FORMA FORMA
REMINISCÊNCIA
ORIGINAL DEGENERADA

SENTIDOS ARISTOCRACIA OLIGARQUIA


(SOMBRAS)
MONARQUIA TIRANIA
DEMOCRACIA ANARQUIA

GOVERNO IDEAL:
REIS FILÓSOFOS

22
c) O artífice do mundo, por ser bom, cria uma obra
Aplicando para plenamente bela, que é a realidade percebida pelos
sentidos.
Aprender (A.P.A.) d) O olhar do demiurgo deve se dirigir ao que perma-
1. (Unicamp 2020) As reflexões de Aristóteles e Platão nece, pois este é o modelo a ser inserido na realidade
revelam uma descrença em relação ao regime demo- sensível.
crático. O cidadão, diz Aristóteles, é quem toma parte e) O demiurgo deve observar as perfeições no mundo
na experiência de governar e de ser governado. Para o sensível para poder reproduzi-las em sua obra.
filósofo, o animal falante é um animal político. Mas o
escravo, mesmo sendo falante, não é um animal polí- 4. (Uncisal) No contexto da Filosofia clássica, Platão e
tico. Os artesãos, diz Platão, não podem participar das Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas concep-
coisas comuns porque não têm tempo para se dedicar ções, que se opõem, mas não se excluem, são ampla-
a outra atividade que não seja o seu trabalho. Assim, mente estudadas e debatidas devido à influência que
ter esta ou aquela “ocupação” define competências ou exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento oci-
incompetências para a participação nas decisões sobre dental. Todavia, é necessário salientar que o produto
a vida comum. dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição
filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e que
(ADAPTADO DE FLÁVIA MARIA SCHLEE EYLER, HISTÓRIA
influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os
ANTIGA: GRÉCIA E ROMA. PETRÓPOLIS: EDITORA VOZES/
RIO DE JANEIRO: EDITORA PUC-RIO, 2014, P.15.) racionalistas, empiristas, Kant e Hegel.
Observando o cerne da filosofia de Platão, assinale nas
A partir do texto e de seus conhecimentos sobre a Anti- opções abaixo aquela que se identifica corretamente
guidade Clássica, responda às questões. com suas concepções.
a) Segundo Aristóteles e Platão, como se define o “ani- a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível vs. mundo
mal político” no contexto da cidadania ateniense? inteligível) se opõe radicalmente às concepções de
b) Identifique e explique uma crítica dos filósofos ci- caráter empírico defendidas por Platão.
tados ao regime democrático. b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo
2. (UFPR 2020) Em determinado momento do diálogo e pragmatismo, afastando-se do misticismo e de con-
de Hípias Menor, de Platão, Sócrates declara que en- ceitos transcendentais.
controu dificuldade para responder à pergunta “qual o c) Segundo Platão, a verdade é obtida a partir da
critério para reconheceres o que é belo e o que é feio?”. observação das coisas, por meio da valorização do
De acordo com Platão, a dificuldade está em que: conhecimento sensível.
a) os juízos de Beleza são subjetivos, sendo relativos d) Para Platão, a realidade material e o conhecimento
a quem os enuncia. sensível são ilusórios.
b) o belo e o feio não se distinguem realmente. e) As concepções platônicas negam veementemente
c) é preciso conhecer o que é Beleza para que se pos- a validade do inatismo.
sam identificar as coisas belas. 5. (Unisc) Nos Livros II e III, Platão, através de Sócra-
d) o critério de Beleza não é acessível aos homens, tes, discute sobre as artes no contexto da educação
mas apenas aos deuses. dos guardiães. Já no Livro X, ele trata de vários tipos
e) a Beleza é uma mera aparência. de práticas artísticas, que devem ser consideradas na
cidade como um todo, não somente nas instituições
3. (UEL 2020) Leia o texto a seguir.
pedagógicas. Nesse último livro, Sócrates é duro ao
Quando o artista [demiurgo] trabalha em sua obra, a afirmar que a poesia (imitativa) deve ser inteiramente
vista dirigida para o que sempre se conserva igual a si excluída da cidade (595a).
mesmo, e lhe transmite a forma e a virtude desse mode-
Em que obra essa recusa de Sócrates está registrada?
lo, é natural que seja belo tudo o que ele realiza. Porém,
se ele se fixa no que devém e toma como modelo algo a) No diálogo “Banquete”, de Platão, em que Sócra-
sujeito ao nascimento, nada belo poderá criar. [...] Ora, tes trata dos diversos tipos de arte.
se este mundo é belo e for bom seu construtor, sem b) No diálogo “Teeteto”, de Platão, em que Sócra-
dúvida nenhuma este fixará a vista no modelo eterno. tes e esse personagem discutem sobre a natureza da
arte, especialmente da poesia.
PLATÃO. TIMEU. 28 A7-10; 29 A2-3. TRAD. CARLOS
A. NUNES. BELÉM: UFPA, 1977. P. 46-47. c) No diálogo “Timeu”, de Platão, em que Sócrates
discorre sobre o tema da arte, reportando-se à natu-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso- reza da pintura e da poesia.
fia de Platão, assinale a alternativa correta. d) No diálogo “Político”, de Platão, em que Sócrates
a) O mundo é belo porque imita os modelos sensíveis, apresenta a arte da política aos cidadãos atenienses.
nos quais o demiurgo se inspira ao gerar o mundo. e) No diálogo “República”, de Platão, no qual Sócra-
b) O sensível, ou o mundo que devém, é o modelo no tes afirma que a poesia pode levar à corrupção do
qual o artista se inspira para criar o que permanece. caráter humano.

23
6. (UENP) Platão foi um dos filósofos que mais influencia- d) O elemento mimético cultivado pela poesia é jus-
ram a cultura ocidental. Para ele, a filosofia tem um fim tamente aquele que estimula, na alma humana, os
prático e é capaz de resolver os grandes problemas da elementos irracionais: os instintos e as paixões.
vida. Considera a alma humana prisioneira do corpo, vi- e) A reflexividade crítica presente nos elementos mi-
vendo como se fosse um peregrino em busca do caminho méticos das narrativas poéticas permite ao indivíduo
de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do corpo alcançar a visão das coisas como realmente são.
e contemplar o inteligível.
8. (Unesp) O que é terrível na escrita é sua semelhança
Assinale a alternativa correta.
com a pintura. As produções da pintura apresentam-se
a) A teoria das ideias não pode ser considerada uma como seres vivos, mas se lhes perguntarmos algo, man-
chave de leitura aplicável a todo pensamento platônico. têm o mais solene silêncio. O mesmo ocorre com os es-
b) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma ética racio- critos: poderíamos imaginar que falam como se pensas-
nalista que desconsiderava a vontade como elemento sem, mas se os interrogarmos sobre o que dizem (...) dão
fundamental entre os motivadores da ação. Ele acredi- a entender somente uma coisa, sempre a mesma (...). E
tava que o conhecimento do bem era suficiente para quando são maltratados e insultados, injustamente, têm
motivar a conduta de acordo com essa ideia (agir bem). sempre a necessidade do auxílio de seu autor porque são
c) Platão propõe um modelo de organização política incapazes de se defenderem, de assistirem a si mesmos.
da sociedade que pode ser considerado estamental e
PLATÃO. FEDRO OU DA BELEZA.
antidemocrático. Para ele, o governo não deveria se
pautar pelo princípio da maioria. As almas têm natu- Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com
reza diversa, de acordo com sua composição, isso faz a pintura, contrapondo-os à sua concepção de filosofia.
com que os homens devam ser distribuídos de acordo Assinale a alternativa que permite concluir, com apoio
com essa natureza, divididos em grupos encarregados do fragmento apresentado, uma das principais caracte-
do governo, do controle e do abastecimento da polis. rísticas do platonismo.
d) Platão chamava o conhecimento da verdade de doxa a) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de
e o contrapõe a outra forma de conhecimento (inferior) pequenas sentenças com sentido completo, as quais, no
denominada episteme. seu entender, esgotam o conhecimento acerca do mundo.
e) Para Platão, a essência das coisas é dada a partir b) A forma de exposição da filosofia platônica é o
da análise de suas causas material e final. diálogo, e o conhecimento funda-se no rigor interno
das argumentações, produzido e comprovado pela
7. (UEL) Platão, em A República, tem como objetivo prin-
confrontação dos discursos.
cipal investigar a natureza da justiça, inerente à alma,
que, por sua vez, manifesta-se como protótipo do Estado c) O platonismo se vale da oratória política, sem com-
promisso filosófico com a busca da verdade, mas diri-
ideal. Os fundamentos do pensamento ético-político de
gida ao convencimento dos governantes das Cidades.
Platão decorrem de uma correlação estrutural com cons-
tituição tripartite da alma humana. Assim, concebe uma d) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias
organização social ideal que permite assegurar a justiça. platônicas, sendo a filosofia uma sabedoria alcança-
Com base neste contexto, o foco da crítica às narrativas da na velhice e ensinada pelos mestres aos discípulos.
poéticas, nos Livros II e III, recai sobre a cidade e o tema e) O discurso platônico tem a mesma natureza do dis-
fundamental da educação dos governantes. No Livro X, curso religioso, pois o conhecimento filosófico modifi-
na perspectiva da defesa de seu projeto ético-político ca-se segundo as habilidades e a argúcia dos filósofos.
para a cidade fundamentada em um logos crítico e re- 9. (UFPI) A respeito da cultura grega, leia as sínteses
flexivo que redimensiona o papel da poesia, o foco desta filosóficas abaixo.
crítica se desloca para o indivíduo ressaltando a relação
com a alma, compreendida em três partes separadas, se- I. A ciência, a moral e os credos religiosos eram criações
gundo Platão: a racional, a apetitiva e a irascível. humanas válidas para determinados grupos sociais em
um determinado período.
Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter
II. Sua principal contribuição filosófica foi a Teoria das
mimético das narrativas poéticas e sua relação com a
Ideias, segundo a qual as ideias são a essência dos con-
alma humana, é correto afirmar:
ceitos e das coisas e, portanto, transcendentes ao ho-
a) A parte racional da alma humana, considerada mem, que delas tem apenas um pálido reflexo.
superior e responsável pela capacidade de pensar, é
III. Defendia a existência de um conhecimento estável e
elevada pela natureza mimética da poesia à contem-
válido para todos. Sua grande preocupação era o auto-
plação do Bem.
conhecimento que poderia ser obtido através da ironia
b) O uso da mímesis nas narrativas poéticas para con- e da maiêutica.
trolar e dominar a parte irascível da alma é considera-
As sínteses que você acabou de ler podem ser associa-
do excelente prática propedêutica na formação ética
das, respectivamente, a:
do cidadão.
c) A poesia imitativa, reconhecida como fonte de racio- a) Platão, Aristóteles e Sócrates.
nalidade e sabedoria, deve ser incorporada ao Estado b) Platão, sofistas e Aristóteles.
ideal que se pretende fundar. c) Sócrates, sofistas e Platão.

24
d) sofistas, Platão e Sócrates. artista um fazer nobre, imprescindível para o engrande-
e) Platão, sofistas e Sócrates. cimento da pólis e da filosofia.
c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à
10. (IFSP) – Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princí- reprodução de objetos existentes, o que veda o poder
pio que de entrada estabelecemos que devia observar-se do artista de invenção do real e impossibilita a função
em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os
esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das modelos de maneira distorcida.
suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo d) Aristóteles concebe a mimesis artística como uma
suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, atividade que reproduz passivamente a aparência das
que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, coisas, o que impede ao artista a possibilidade de re-
aquela para qual a sua natureza é mais adequada. criação das coisas segundo uma nova dimensão.
PLATÃO. A REPÚBLICA. 7. ED. LISBOA: CALOUSTE-GULBENKIAN, 2001, P. 185. e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é
imitação e entende que a música, o teatro e a poesia
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a con- são incapazes de provocar um efeito benéfico e puri-
cepção platônica de justiça na cidade ideal, assinale a ficador no espectador.
alternativa correta.
12. (Enem)
a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou
seja, a que respeita o princípio de igualdade natural
entre todos os seres humanos, concedendo a todos os
indivíduos os mesmos direitos perante a lei.
b) Platão defende que a democracia é fundamento
essencial para a justiça, uma vez que permite a todos
os cidadãos o exercício direto do poder.
c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado
natural das ações de cada indivíduo na perseguição
de seus interesses pessoais, desde que esses interes-
ses também contribuam para o bem comum.
d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado
possível se cada cidadão executar, da melhor maneira apontando para o alto. Esse gesto significa que o co-
possível, a sua função própria, ou seja, se cada um fizer nhecimento se encontra em uma instância na qual o
bem aquilo que lhe compete, segundo suas aptidões. homem descobre a:
e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada a) suspensão do juízo como reveladora da verdade.
membro do organismo social tiver condições de per- b) realidade inteligível por meio do método dialético.
seguir seus ideais, exercendo funções que promovam c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.
sua ascensão econômica e social. d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino.
e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.
11. (UEL) Leia os textos a seguir.
“A arte de imitar está bem longe da verdade, e se exe- 13. (Enem) Trasímaco estava impaciente porque Sócra-
cuta tudo, ao que parece, é pelo fato de atingir apenas tes e os seus amigos presumiam que a justiça era algo
uma pequena porção de cada coisa, que não passa de real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu enten-
uma aparição.” der, as pessoas acreditavam no certo e no errado ape-
nas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da
PLATÃO. A REPÚBLICA. 7.ED. LISBOA: CALOUSTE- sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam
GULBENKIAN, 1993. P. 457 (ADAPTADO).
de invenções humanas.
“O imitar é congênito no homem e os homens se com- RACHELS, J. PROBLEMAS DA FILOSOFIA. LISBOA: GRADIVA, 2009.
prazem no imitado.”
O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálo-
ARISTÓTELES. POÉTICA. 4. ED. SÃO PAULO: NOVA CULTURAL,
go A República, de Platão, sustentava que a correlação
1991. P. 203. COLEÇÃO “OS PENSADORES” (ADAPTADO).
entre justiça e ética é resultado de
Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética a) determinações biológicas impregnadas na nature-
e a questão da mimesis em Platão e Aristóteles, assinale za humana.
a alternativa correta. b) verdades objetivas com fundamento anterior aos
a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomê- interesses sociais.
nicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequa- c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das
do e inferior, tanto em relação aos objetos representados tradições antigas.
quanto às ideias universais que os pressupõem. d) convenções sociais resultantes de interesses huma-
b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pinto- nos contingentes.
res e escultores representam perfeitamente a verdade e) sentimentos experimentados diante de determina-
e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do das atitudes humanas.

25
14. (UFU) Leia o trecho abaixo extraído do diálogo pla- perecível, sendo uma cópia do mundo inteligível ou das
tônico O banquete. ideias. Já a afirmação “em vista daquele belo” refere-se
Eis, com efeito, em que consiste o proceder corretamente ao mundo das ideias ou formas, o inteligível, das essên-
nos caminhos do amor, ou por outro se deixar conduzir: cias eternas, imutáveis e perfeitas.
em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, b) Esta ciência é a dialética. Nesse caso, a dialética sig-
subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um nifica o processo de busca e aquisição do conhecimento
só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos verdadeiro ou o percurso da alma que vai das aparências
belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as ou “sombras” do mundo sensível até as essências ou
belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, formas puras do mundo inteligível, culminando na ideia
que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conhe- do Bem, a mais perfeita e causa de todas as outras.
ça enfim o que em si é belo.
PLATÃO. O BANQUETE. SÃO PAULO: EDITORA 34, P. 147.

Em conformidade com a teoria platônica das ideias, res-


ponda:
a) As afirmações “do que é belo aqui” e “em vista
daquele belo” designam o quê, respectivamente?
b) Que ciência é esta que se encarrega “daquele pró-
prio belo” e conhece “enfim o que é em si belo”?

Gabarito
1.
a) Na concepção da filosofia clássica produzida por
Platão e Aristóteles, a atividade política é própria dos
homens livres, únicos aptos a participar da gestão da
vida coletiva. Assim, a ideia de “animal político” não
está dissociada de uma concepção moral, pois a políti-
ca está relacionada ao ócio e às qualidades da virtude
e da justiça. O ócio é considerado por esses filósofos
atividade considerada hierarquicamente superior ao
labor, sendo esse último tipo de atividade própria dos
artesãos e dos escravos. Assim, o “animal político” se-
ria o cidadão, indivíduo com atribuições morais e inte-
lectuais próprias para a prática política.
b) A crítica à forma de governo democrática está direta-
mente ligada à noção de “animal político” descrita na
letra [A], pois parte de uma concepção que hierarquiza
as aptidões, consideradas naturais, dos indivíduos, de
modo que alguns seriam “naturalmente” aptos à ativi-
dade de pensar e gerir a pólis, enquanto outros seriam
“naturalmente” aptos à guerrear ou a trabalhar. Para
Aristóteles, a sociedade justa seria aquela em que cada
indivíduo realiza a atividade própria da sua “natureza”.
A democracia, portanto, ao igualar os cidadãos, permiti-
ria que indivíduos sem as qualidades morais e intelectu-
ais para exercer a atividade política o fizessem. Portanto,
Aristóteles defende que a melhor forma de governo seria
uma aristocracia em que a sociedade delega a atividade
política àqueles “naturalmente” aptos para exercê-la.

2. C 3. D 4. D 5. E 6. C 7. D
8. B 9. D 10. D 11. A 12. B 13. D
14.
a) A afirmação “do que é belo aqui” designa o mundo
sensível ou dos sentidos, aquele caracterizado pela doxa
(opinião) e que possui caráter transitório, imperfeito e

26
Com a subida de Alexandre ao poder, Aristóteles retornou a
AULA 4 Atenas e, em 335 a.C., fundou sua própria escola, o Liceu, que
foi muito superior à Academia. Aristóteles ensinava caminhan-
do e, por causa desse hábito, os alunos do Liceu ficaram co-
nhecidos como peripatéticos, que significa “os que passeiam”.

ARISTÓTELES

multimídia: vídeo
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
FONTE: YOUTUBE
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, Grandes Pensadores: Aristóteles
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, Aristóteles é considerado o primeiro cientista da História.
22, 23, 24 e 25

O filósofo deixou muitos escritos, sendo a maioria tratados


bem fundamentados. Foi o primeiro a dividir e subdividir áre-
1. Aristóteles (384-322 a.C.) as de investigação, sendo o primeiro a fazer uma classifica-
Aristóteles foi o último e mais influente dos grandes filó- ção do conhecimento, de modo que versou perante diferen-
sofos clássicos. Nascido em Estagira, antiga Macedônia, tes áreas, como biologia, retórica, lógica, ética, dentre outras.
atualmente região da Grécia, foi mandado por seu pai à
Academia de Platão, onde permaneceu por cerca de 20
anos. Depois, viajou muito e começou a desenvolver e a sis-
tematizar as suas próprias ideias. Tornou-se o crítico mais
feroz do pensamento platônico.
Em 343 a.C., Filipe da Macedônia chamou Aristóteles à
corte e confiou-lhe importante missão: a de educar seu fi-
lho, Alexandre. Durante sete anos, o filósofo encarregou-se
dessa missão, até a subida do jovem Alexandre ao poder.
O jovem imperador da Macedônia, já ganhando as titula-
ções de senhor do mundo conhecido, afirmou: “Se a meu
pai devo a minha existência, a meu preceptor devo à arte REPRESENTAÇÃO DE PLATÃO (À ESQUERDA, APONTANDO PARA
CIMA) E DE ARISTÓTELES (QUE APONTA PARA BAIXO)
de me saber conduzir. Se governo com alguma glória, a
ele sou devedor”.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Ação e Razão – Aristóteles
Marco Zingano, professor da Faculdade de Filosofia da
USP, trata das origens do conceito de razão na filosofia
clássica ateniense.
ALEXANDRE, O GRANDE, FOI EDUCADO POR ARISTÓTELES.

27
A crítica em relação a Platão consiste em analisar correta- ƒ Ética a Nicômaco: nesse texto direcionado ao seu fi-
mente os fenômenos da natureza, indo além da superfi- lho, Nicômaco, Aristóteles apresenta que a ética é algo
cialidade inteligível, construindo uma nova concepção de palpável, não sendo um elemento abstrato. Seguindo a
conhecimento. Aristóteles considera que só há, portanto, o teoria da justa medida, ou seja, do equilíbrio, o filósofo
mundo material, dos fenômenos naturais. Não há mundo apresenta que, ao seguirmos esse equilíbrio em nossos
ideal, não há dualismo. Platão estaria, portanto, equivoca- atos particulares (uma vida entre o excesso e a falta, fora
do em sua análise da realidade. Entre seus textos temos: dos extremos), conseguimos atingir a felicidade (eudai-
ƒ A Física: a relação dos quatro elementos (terra, água, monia), sendo que existe uma inclinação para essa fina-
ar e fogo) com o planeta Terra. Seus princípios não são lidade última do ser humano. Entretanto, o conceito de
corretos, de modo que não descrevem nada com exa- felicidade varia de indivíduo para indivíduo e de como é
tidão. Porém, essas estruturas auxiliaram outros expe- sua vida. Para o filósofo, existem três tipos de vida:
rimentos e tecnologias, como o método científico, que 1. Vida dos prazeres: onde o ser se torna refém daquilo
viria a ser criado na História Moderna. que deseja.
ƒ A Metafísica: textos compilados que foram batizados 2. Vida política: onde o ser busca a honra pelo con-
após a morte do filósofo por seu discípulo Andrônico vencimento.
de Rodes. Aristóteles trata da ciência das causas pri-
meiras do ser enquanto ser geral. Na natureza, segun- 3. Vida contemplativa: onde o ser busca os elementos
do Aristóteles, tudo está em uma dinâmica racional a dentro de si, o prazer intelectual – essa vida contém a es-
partir de quatro causas: sência da felicidade. Para Aristóteles, a finalidade da vida
humana é a realização plena de nossas potências, entre
1. causa formal (a forma da coisa);
elas o uso da razão, bem como as capacidades que a
2. causa material (matéria de que uma coisa é feita); natureza nos deu com alguma finalidade a ser realizada.
3. causa eficiente (a origem da coisa); e
4. causa final (a finalidade do objeto e do ser).
Podemos utilizar como exemplo a obra O pensador, do es-
cultor francês Auguste Rodin. Aristóteles chegou à conclusão
de que, para que ocorram várias causas seguindo uma racio-
nalidade e visando a uma realização final, seria necessário
pensar numa causa primeira e perfeita: A Causa de Todas as multimídia: livro
Causas. Essa causa suprema seria o Motor Imóvel, também
chamado de Deus. Uma razão perfeita, o Supremo Bem que
gera dinâmica a tudo pela atração. Tudo visa ao aperfeiçoa- Ética a Nicômaco
mento e ao bem, pois é atraído pelo primeiro motor.
ƒ A Lógica: a lógica não é uma ciência, mas um instru-
mento para o correto pensar. Aristóteles disse que o blo-
co de construção básico de qualquer argumento era o
silogismo (estrutura lógica de ordenação do raciocínio);
constituído por premissas e uma conclusão, desenvol-
vendo um primeiro estudo da linguagem de argumenta-
ção baseada na coerência lógica. Logo, a lógica assim se
torna uma ferramenta na busca do conhecimento.

Todos os homens são mortais. ƒ premissa 1, premissa maior


Sócrates é homem. ƒ premissa 2, premissa menor

Logo, Sócrates é mortal.


ƒ conclusão derivada das pre-
missas anteriores

A causa formal é o formato dessa obra, de um homem ƒ Arte Poética: o filósofo, na Poética, examina as for-
sentado; a causa material é o bronze; a causa eficiente é mas de poesia – epopeia, comédia e tragédia –, que
o escultor Rodin; e a causa final é a significação da obra. tentam imitar a realidade, porém, de modos diferentes.

28
A poesia é o gênero literário que mais se aproxima da ƒ A Arte: o filósofo entende que o Belo é o resultado
filosofia, pois tende para o conhecimento do universal, da justa medida, da simetria. Assim, o Belo faz parte
que é o objetivo máximo da filosofia. O Teatro Trágico, do ser humano, podendo imitar a natureza, mas tam-
para Aristóteles, possuía um papel educacional de for- bém abordar o impossível e o inverossímil, podendo
mação política dos cidadãos. Assim, a arte, embora seja completar o que falta na natureza. Platão e Aristóteles
mimética, não é alienante e mero artifício de engano discordam com relação ao tema Estética – estudo da
dos sentidos, como considerava Platão. beleza e das artes.
ƒ Arte Política: o homem é um animal político – poli-
tikón zoón – que vive naturalmente em sociedade. Ao
tratar do tema em Política, Aristóteles, ao contrário de
Platão, não se interessa por idealizar uma cidade justa.
Ele classifica as formas de governo em três: o governo
de um só indivíduo (monarquia), de alguns (aristocra-
cia) e de todos (democracia). Cada um desses regimes
políticos apresenta vantagens e desvantagens, formas multimídia: música
boas e corrompidas. Conjuntamente, no que diz res- FONTE: YOUTUBE
peito ao modo de organização social do mundo grego, Happiness - Needtobreathe. Hard
Aristóteles não questionou a organização escravista ou Love. Atlantic, 2016.
mesmo a exclusão das mulheres da esfera pública, pois A canção questiona as nossas escolhas na busca da
não seriam naturalmente adequadas para essas ações felicidade.
tipicamente masculinas.

DIAGRAMA DE IDEIAS

ARISTÓTELES

NOVA CONCEPÇÃO
NA BUSCA DO BEM DO CONHECIMENTO:
AS QUATRO CAUSAS DIVERSAS ÁREAS DO
SABER CONECTADAS
ENTRE SI
O SER HUMANO
PRECISA BUSCAR O MOTOR IMÓVEL • RETÓRICA
A JUSTA MEDIDA • FÍSICA
• METAFÍSICA
• LÓGICA
A FINALIDADE DA • POÉTICA
VIDA HUMANA: • ÉTICA E POLÍTICA
O EQUILÍBRIO EM
TODOS OS CAMPOS A EUDAIMONIA
(FELICIDADE)

29
em vistas de algo, evidentemente também o são as coi-
Aplicando para sas conforme à natureza.
Aprender (A.P.A.) ARISTÓTELES, FÍSICA I E II. 194 A20; 199 A13-18. TRADUÇÃO ADAPTADA
DE LUCAS ANGIONI. CAMPINAS: IFCH/UNICAMP, 1999. P.47; 58.
1. (Uece 2020) Leia atentamente os trechos a seguir,
que são fragmentos das análises de Platão e Aristóteles Com base no texto e nos conhecimentos sobre mímesis
sobre os sistemas de governo – suas opiniões sobre a (imitação) em Aristóteles, assinale a alternativa correta.
democracia: a) O artista deve copiar a natureza, retirando suas imper-
“A democracia se divide em várias espécies. Nas cidades feições ao imitá-la com base no modelo que nunca muda.
que se tornaram maiores ela exibe a igualdade absolu- b) O procedimento do artista resulta em imitar a natu-
ta, a lei coloca os pobres no mesmo nível que os ricos e reza de maneira realista, típica do naturalismo grego.
pretende que uns não tenham mais direitos do que os
c) A arte, distinta da natureza, produz imitações des-
outros. O Estado cai no domínio da multidão indigente.
ta, mas são criações sem finalidade ou utilidade.
Tal gentalha desconhece que a lei governa, mas onde as
leis não têm força pululam os demagogos”. d) A arte completa a natureza por ser a capacidade hu-
mana para criar e produzir o que a natureza não produz.
ARISTÓTELES. A POLÍTICA. TRAD. ROBERTO L. F. SÃO e) A arte produz o prazer em vista de um fim, e a natu-
PAULO: MARTINS FONTES, 1998. ADAPTADO.
reza gera em vista do que é útil.
“A passagem da democracia para a tirania não se fará
3. (Enem 2020) Vemos que toda cidade é uma espécie
da mesma forma que a da oligarquia para a democra-
de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas
cia? Do desejo insaciável de riquezas? De tão-somente
a algum bem, pois todas as ações de todos os homens
ganhar dinheiro, proveio a ruína da oligarquia. E o que
destruiu a democracia, não foi a avidez do bem que ela são praticadas com vistas ao que lhe parece um bem;
a si mesma propusera? Qual foi o bem a que ela se pro- se todas as comunidades visam algum bem, é evidente
pôs? – A liberdade. Da extrema liberdade nasce a mais que a mais importante de todas elas e que inclui todas
completa e selvagem servidão”. as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao
mais importante de todos os bens.
PLATÃO: AS GRANDES OBRAS. A REPÚBLICA. LIVRO VIII.
TRADUÇÃO CARLOS A. NUNES, MARIA L. SOUZA, A. M. ARISTÓTELES. POLÍTICA. BRASÍLIA: UNB,1988.
SANTOS. EDIÇÃO DO KINDLE, 2019. ADAPTADO.
No fragmento, Aristóteles promove uma reflexão que
Considerando o trecho acima, e o pensamento político associa dois elementos essenciais à discussão sobre a
dos dois filósofos da antiguidade, atente para o que se vida em comunidade, a saber:
diz a seguir e assinale com V o que for verdadeiro e com
a) Ética e política, pois conduzem à eudaimonia.
F o que for falso.
b) Retórica e linguagem, pois cuidam dos discursos
( ) Para Platão, a melhor forma de governança era a
na ágora.
aristocracia, na qual os melhores, por serem mais sá-
bios, deveriam governar; entretanto, esta poderia se c) Metafísica e ontologia, pois tratam da filosofia primeira.
corromper e tornar-se uma timocracia. d) Democracia e sociedade, pois se referem a relações
( ) Aristóteles considerava a monarquia a pior das for- sociais.
mas de governo. O governo de um só seria errado por e) Geração e corrupção, pois abarcam o campo da physis.
corromper a natureza política dos indivíduos, um desvio
para o governante. 4. (Enem) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais no-
bre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos
( ) Diferente de Platão, Aristóteles entendia que a de-
não devem estar separados como na inscrição existen-
mocracia era a melhor forma de governo, desde que não
te em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa,
se corrompesse e se transformasse em uma demagogia.
e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que
( ) Tanto Platão como Aristóteles buscaram estabelecer, amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas
cada um a seu modo, os parâmetros de um bom e justo
mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós
governo. Nenhum deles, entretanto, tinha admiração
a identificamos como felicidade.
pela democracia, sobretudo em seu formato puro.
A sequência correta, de cima para baixo, é: ARISTÓTELES. A POLÍTICA. SÃO PAULO: CIA. DAS LETRAS, 2010.

a) V, F, V, F. Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais exce-


b) V, F, F, V. lentes atributos, Aristóteles a identifica como
c) F, V, F, V.
a) a busca por bens materiais e títulos de nobreza.
d) F, V, V, F.
b) a plenitude espiritual e ascese pessoal.
2. (UEL 2020) Leia o texto a seguir. c) a finalidade das ações e condutas humanas.
[...] a arte imita a natureza [. . . ] Em geral a arte perfaz d) o conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
certas coisas que a natureza é incapaz de elaborar e a e) a expressão do sucesso individual e reconheci-
imita. Assim, se as coisas que são conforme a arte são mento público.

30
5. (Enem) Segundo Aristóteles, “na cidade com o me- c) a política é a ciência que precede todas as demais
lhor conjunto de normas e naquela dotada de homens na organização da cidade.
absolutamente justos, os cidadãos não devem viver d) a educação visa formar a consciência de cada pes-
uma vida de trabalho trivial ou de negócios – esses soa para agir corretamente.
tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as e) a democracia protege as atividades políticas neces-
qualidades morais –, tampouco devem ser agricultores sárias para o bem comum.
os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável
ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática 7. (Enem) Ninguém delibera sobre coisas que não podem
das atividades políticas”. ser de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível
fazer. Por conseguinte, como o conhecimento científico
VAN ACKER, T. GRÉCIA: A VIDA COTIDIANA NA CIDADE- envolve demonstração, mas não há demonstração de
ESTADO. SÃO PAULO: ATUAL. 1994.
coisas cujos primeiros princípios são variáveis (pois todas
O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, per- elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível
mite compreender que a cidadania deliberar sobre coisas que são por necessidade, a sabe-
doria prática não pode ser ciência, nem arte: nem ciência,
a) possui uma dimensão histórica que deve ser criti- porque aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferente-
cada, pois é condenável que os políticos de qualquer mente, nem arte, porque o agir e o produzir são duas es-
época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o pécies diferentes de coisa. Resta, pois, a alternativa de ser
resto dos cidadãos tem de trabalhar. ela uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir com
b) era entendida como uma dignidade própria dos respeito às coisas que são boas ou más para o homem.
grupos sociais superiores, fruto de uma concepção
política profundamente hierarquizada da sociedade. ARISTÓTELES. ÉTICA A NICÔMACO. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1980.
c) estava vinculada, na Grécia antiga, a uma percep- Aristóteles considera a ética como pertencente ao cam-
ção política democrática, que levava todos os habi- po do saber prático. Nesse sentido, ela difere-se dos ou-
tantes da polis a participarem da vida cívica. tros saberes, porque é caracterizada como
d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela
a) conduta definida pela capacidade racional de escolha.
qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado
às atividades vinculadas aos tribunais. b) capacidade de escolher de acordo com padrões
científicos.
e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles
que se dedicavam à política e que tinham tempo para c) conhecimento das coisas importantes para a vida
resolver os problemas da cidade. do homem.
d) técnica que tem como resultado a produção de
6. (Enem) Se, pois, para as coisas que fazemos existe boas ações.
um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é e) política estabelecida de acordo com padrões de-
desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim mocráticos de deliberação.
será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o co-
nhecimento, porventura, grande influência sobre essa 8. (UFPA) Tendemos a concordar que a distribuição iso-
vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda nômica do que cabe a cada um no estado de direito é o
que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual que permite, do ponto de vista formal e legal, dar esta-
das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém bilidade às várias modalidades de organizações institu-
duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais pres- ídas no interior de uma sociedade. Isso leva Aristóteles
tigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a a afirmar que a justiça é “uma virtude completa, porém
arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza,
não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo”
pois é ela que determina quais as ciências que devem
ser estudadas num Estado, quais são as que cada cida- ARISTÓTELES. ÉTICA A NICÔMACO. SÃO PAULO:
dão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as ABRIL CULTURAL, 1973, P. 332.
faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a
economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como De acordo com essa caracterização, é correto dizer que
a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, a função própria e universal atribuída à justiça, no es-
legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, tado de direito, é:
a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, a) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias
de modo que essa finalidade será o bem humano. racionais com poder normativo positivo e irrestrito.
ARISTÓTELES. ÉTICA A NICÔMACO. LN: PENSADORES. b) instituir um ideal de liberdade moral que não exis-
SÃO PAULO: NOVA CULTURAL, 1991 (ADAPTADO). tiria se não fossem os mecanismos contidos nos sis-
temas jurídicos.
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organi- c) determinar, para as relações sociais, critérios legais
zação da polis pressupõe que tão universais e independentes que possam valer por
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perse- si mesmos.
guir seus interesses. d) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são entre as necessidades do Estado e as de cada cidadão
os portadores da verdade. individualmente.

31
e) estabelecer a regência na relação mútua entre os 11. (UEA) A sabedoria do amo consiste no emprego que
homens, na medida em que isso seja possível por ele faz dos seus escravos; ele é senhor, não tanto por-
meio de leis. que possui escravos, mas porque deles se serve. Esta
sabedoria do amo nada tem, aliás, de muito grande ou
9. (UFU) Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão de muito elevado; ela se reduz a saber manda o que o
“ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois mo- escravo deve saber fazer. Também todos que a ela se
dos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opos- podem furtar deixam os seus cuidados a um mordomo,
tos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência até e vão se entregar à política ou à filosofia.
mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao
ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato. ARISTÓTELES. A POLÍTICA. SÃO PAULO: CIA. DAS LETRAS, 2010.

REALE, GIOVANNI. HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA. O filósofo Aristóteles dirigiu, na cidade grega de Atenas,
VOL. II. SÃO PAULO: LOYOLA, 1994, P. 349. entre 331 e 323 a.C., uma escola de filosofia chamada de
Liceu. No excerto, Aristóteles considera que a escravidão:
A partir da leitura do trecho acima e em conformidade
a) é um empecilho ao florescimento da filosofia e da
com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale
política democrática nas cidades da Grécia.
a alternativa correta.
b) permite ao cidadão afastar-se de obrigações econômi-
a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capaci- cas e dedicar-se às atividades próprias dos homens livres.
dade de se transformar em algo diferente dele mes- c) facilita a expansão militar das cidades gregas à me-
mo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em dida que liberta os cidadãos dos trabalhos domésticos.
relação à estátua (ser-em-potência).
d) é responsável pela decadência da cultura grega,
b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência pois os senhores preocupavam-se somente em domi-
explica o movimento percebido no mundo sensível. nar os escravos.
Tudo o que possui matéria possui potencialidade (ca-
e) promove a união dos cidadãos das diversas pólis
pacidade de assumir ou receber uma forma diferente
gregas no sentido de garantir o controle dos escravos.
de si), que tende a se atualizar (assumindo ou rece-
bendo aquela forma). 12. (Unioeste) “A excelência moral, então, é uma dis-
c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas posição da alma relacionada com a escolha de ações e
o ser-em-ato. Isto ocorre porque o movimento verifi- emoções, disposição esta consistente num meio-termo
cado no mundo material é apenas ilusório, e o que (o meio-termo relativo a nós) determinado pela razão
existe é sempre imutável e imóvel. (a razão graças à qual um homem dotado de discerni-
d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo mento o determinaria)”.
sensível (das coisas materiais) e a potência se en- ARISTÓTELES
contra tão-somente no mundo inteligível, apreendido
apenas com o intelecto. Sobre o pensamento ético de Aristóteles e o texto aci-
ma, seguem as seguintes afirmativas:
10. (Enem) Texto I
I. A virtude é uma paixão consistente num meio-termo
Aquele que não é capaz de pertencer a uma comunida- entre dois extremos.
de ou que dela não tem necessidade, porque se basta a II. A ação virtuosa, por estar relacionada com a escolha,
si mesmo, não é em nada parte da cidade, embora seja é praticada de modo involuntário e inconsciente.
quer um animal, quer um deus. III. A virtude é uma disposição da alma relacionada com
ARISTÓTELES. A POLÍTICA. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2002. escolha e discernimento.
IV. A virtude é um meio-termo absoluto, determinado
Texto II pela razão.
V. A virtude é um extremo determinado pela razão e
Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida de um ere- pelas paixões de um homem dotado de discernimento.
mita em meio à natureza selvagem, é possível sem um
Das afirmativas feitas acima:
mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a pre-
sença de outros seres humanos. a) somente a afirmação I está correta.
b) somente a afirmação III está correta.
ARENDT, H. A CONDIÇÃO HUMANA. RIO DE JANEIRO: FORENSE, 1995.
c) as afirmações II e III estão corretas.
Associados a contextos históricos distintos, os frag- d) as afirmações III e IV estão corretas.
mentos convergem para uma particularidade do ser e) as afirmações IV e V estão corretas.
humano, caracterizada por uma condição naturalmente
13. (UEL) Leia o texto a seguir.
propensa à
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada
a) atividade contemplativa. com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a media-
b) produção econômica. nia relativa a nós, a qual é determinada por um princípio
c) articulação coletiva. racional próprio do homem dotado de sabedoria prática.
d) criação artística. ARISTÓTELES. ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO II. SÃO
e) crença religiosa. PAULO: ABRIL CULTURAL, 1973, P. 273.

32
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada
ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética:
a) reside no meio termo, que consiste numa escolha
situada entre o excesso e a falta.
b) implica na escolha do que é conveniente no exces-
so e do que é prazeroso na falta.
c) consiste na eleição de um dos extremos como o
mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta.
d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em
razão de preferências pragmáticas.
e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com
o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos.

Gabarito
1. B 2. D 3. C 4. A 5. B
6. C 7. A 8. E 9. B 10. C
11. B 12. B 13. A

33
AULA 5

FILOSOFIA MEDIEVAL multimídia: livro

Filosofia medieval - STORCK, Alfredo de.


São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2003.
Esse livro oferece um panorama da filosofia no período
medieval e analisa sua transmissão, principais caracte-
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 rísticas e formas literárias de expressão, mostrando que
ela não se resume à filosofia cristã.
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

1. Introdução
Durante o período que corresponde ao Império Romano e
à Idade Média, a filosofia sofreu um processo de reclusão
ao acesso popular, estando cada vez mais reservada a
poucos nichos intelectuais. Desse modo, entre os sécu-
los V e XV, a filosofia e a religião estiveram interligadas
intimamente, tendo diversas correntes filosófico-católicas
que monopolizaram o conhecimento nesse período.
RETRATO DE SANTO AGOSTINHO POR PHILIPPE DE CHAMPAIGNE, SÉCULO XVII.

Tendo imensa influência dos neoplatônicos – uma escola filo-


sófica com doutrina platônica –, Agostinho propôs uma con-
ciliação entre fé e razão. Com a dualidade platônica, o pen-
sador medieval ressaltou que o conhecimento se consolida
quando o homem tem acesso ao eterno, ao divino, ou seja,
tem acesso ao mundo inteligível platônico. Dentro de nós há
a centelha divina que ilumina nosso entendimento (racional)
e nossa crença (espiritual). Agostinho considerava que era
preciso crer para entender e entender para crer. Fé e Razão
são atributos divinos complementares e não adversários.

SANTO AGOSTINHO. IGREJA AGOSTINIANA, VIENA.

2. Agostinho (354-430 d.C.)


Com Agostinho – figura mundana que, já adulto, se con- multimídia: vídeo
verteu de livre vontade para o mundo espiritual –, a filo- FONTE: YOUTUBE
sofia se mesclou com o cristianismo. Aurelius Augustinus Descobrindo a Filosofia com Pondé
nasceu em Tagaste, atual Argélia, região que fazia parte do - Ep.09: Santo Agostinho
Império Romano.

34
Para o pensador, Deus é eterno, portanto, está fora do É desta Cidade da Terra que surgem os inimigos dos quais
tempo; porém, para o homem, o tempo começou quando tem que ser defendida a cidade de Deus. Muitos deles,
o mundo foi criado, enquanto para Deus, sempre existiu, afastando-se dos seus erros de impiedade, tornaram-
-se cidadãos bastante idôneos da Cidade de Deus. Mas
num eterno presente. muitos outros ardem em tamanho ódio contra ela e são
Com o intuito de ilustrar esse procedimento, Agostinho pro- tão ingratos aos manifestos benefícios do Redentor, que
pôs uma cidade de Deus, feita com as virtudes do homem, e hoje não moveriam contra Ele a sua língua senão porque
encontraram nos seus lugares sagrados, ao fugirem das
uma cidade do Diabo, constituída pelos vícios do ser huma-
armas inimigas, a salvação da vida de que agora tanto
no. Essa ideia está contida em sua obra mais famosa, intitu- se orgulham. Não são na verdade estes romanos en-
lada A cidade de Deus. Nesse instante, o filósofo direciona os carniçados contra o nome de Cristo aqueles a quem os
hábitos das pessoas, com o intuito de conseguir a iluminação bárbaros pouparam a vida por amor de Cristo? Disto dão
divina, isto é, ter acesso ao mundo inteligível platônico. testemunho os santuários dos mártires e as basílicas dos
Apóstolos que acolheram quantos aí se refugiaram, tanto
cristãos como estranhos, durante a devastação da Urbe l.
AGOSTINHO
A CIDADE DE DEUS. LISBOA: CALOUSTE GULBELKIAN, 1996, P. 99.

2.1. Patrística
A patrística é a doutrina religiosa elaborada pelos pais
ou padres da Igreja (por isso o nome), dos séculos II ao
VIII, que tinha como objetivo ordenar as verdades da fé,
para defender-se dos ataques dos hereges. Para consoli-
dar o dogma religioso, parte de uma construção lógica
das ideias e do uso da razão para alicerçar argumentos
teológicos. Os inúmeros textos dessa doutrina almejavam
orientar as ações dos indivíduos de dentro e de fora dos
ILUSTRAÇÃO DO LIVRO A CIDADE DE DEUS, DE AGOSTINHO muros da Igreja católica.

Essa cidade de Deus só pode ser conhecida através da


autoridade infalível da Igreja. Assim, Agostinho comenta 3. Pedro Abelardo (1079-1142)
que o Estado deve subjugar-se ao poder do clero, demons-
Na Idade Média, significou uma mudança do pensamento
trando que o ser humano pode atingir o entendimento
mediante as leituras das Escrituras Sagradas, fato este que dos dominantes, seguindo o ideal de ora et labora (reza e
propicia a esse indivíduo a felicidade. Entretanto, nem to- trabalha). Assim, iniciou-se a “querela dos universais”, a
dos os homens recebem a graça das mãos de Deus, sendo qual discutia a relação entre o nome e a coisa, a linguagem
que somente alguns são predestinados à salvação. Agosti- e a realidade.
nho se tornou o principal filósofo da patrística. Para Agosti-
nho, o mal não existe, o que existe é a ausência de Deus. O 3.1. O nome da rosa
homem possui o livre-arbítrio para escolher viver de acordo
A palavra “rosa” pode sobreviver à morte ou ao desapare-
com a vontade divina ou para viver de acordo com suas
cimento da própria rosa; então, a palavra fala até de coisas
vontades próprias (pecado). Dessa forma, os indivíduos são
inexistentes. Como podemos entender isso? Nesse instan-
responsáveis por suas escolhas.
te, acontece uma questão ou querela de como os nomes
dos objetos não estão atrelados aos objetos. Os nomes são
elementos arbitrários que rotulam as coisas, não tendo ne-
nhuma relação direta com o próprio objeto. Um exemplo
disso são os nossos nomes de batismo, que foram escolhi-
dos por outras pessoas, de forma arbitrária.
Segundo Pedro Abelardo, os universais só existem no
multimídia: vídeo intelecto, mas, ao mesmo tempo, mantêm relação com
FONTE: YOUTUBE as coisas particulares, à medida que lhes dão significado.
Orgulho Nosso de Cada Dia | Leandro Karnal Desse modo, é como significado que os universais subsis-
tem (permanecem) às coisas.

35
Em sua Summa contra gentilles, Aquino propõe-se a pro-
var para um não cristão, mediante um raciocínio natural,
a importância do cristianismo e a existência de Deus. Essa
obra é considerada um manual de teologia destinado a
converter os muçulmanos, evitando, assim, o avanço do
islã. Uma das preocupações de Aquino é a demonstração
racional da existência divina. Seria possível comprovar
que Deus existe pelo uso da filosofia aristotélica associa-
da aos ensinos cristãos.
O intelecto humano, que das coisas sensíveis recebe o
conhecimento que é conatural, para intuir em si mes-
mo a essência divina, que transcende infinitamente
todas as coisas sensíveis, e até todos os entes, por si
PEDRO ABELARDO mesmo não é capaz de atingir a essência divina. Como,
no entanto, o bem perfeito do homem consiste em co-
Sua obra mais conhecida é Sic et Non (Sim e Não), a qual
nhecer a Deus de algum modo, e para que uma tão
revitaliza a dialética, afirmando que esse processo era a nobre criatura não fosse considerada totalmente vã por
via para a verdade e fazia bem à mente. Ficou famoso por não poder atingir o seu fim, foi-lhe dado um caminho
seu caso de amor com Heloísa e acabou sendo castrado pelo qual pudesse elevar-se ao conhecimento de Deus,
como penalidade. a saber: como todas as perfeições das coisas descem
de Deus ordenadamente, de Deus que é o vértice su-
premo de todas elas, também o homem, partindo das
4. Tomás de Aquino (1225-1274) coisas inferiores e subindo gradativamente, deve pro-
gredir no conhecimento de Deus, pois também nos mo-
Com Tomás de Aquino, existe um domínio comum à razão vimentos corpóreos há o caminho pelo qual se desce
e à fé. Diante de uma forte influência de Aristóteles, buscou e o caminho pelo qual se sobe, distintos em razão do
organizar todos os ramos do conhecimento em um sistema princípio e do fim.
completo. Foi um dos principais representantes da escolás- TOMÁS DE AQUINO
tica, uma das escolas medievais. SUMA CONTRA OS GENTIOS. PORTO ALEGRE: SULINA, 1990, P. 689.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Descobrindo a Filosofia com Pondé
- Ep.10: São Tomás de Aquino

TOMÁS DE AQUINO

O pensamento de Aquino procura apresentar o equilíbrio 5. Escolástica


entre a fé e a razão. Para ele, quando há algum desacordo, A escolástica foi o método utilizado nos recintos educacio-
a razão é sempre o elemento que se apresenta em equívo- nais da Idade Média, durante o século XI, principalmente
co, pois a razão que se excede torna-se indiscreta e invade nas universidades. Seguindo um modelo romano de en-
o terreno exclusivo da fé, que são os mistérios divinos –
sino, eram ensinadas pelo Trivium (Gramática, Retórica e
fato que provoca, devido à desconfiança, a impossibilidade
Dialética/Lógica) e pelo Quadrivium (Geometria, Aritméti-
de demonstrar a existência de Deus. Tomás de Aquino será
ca, Astronomia e Música).
o representante máximo da escolástica.
Com isso, o seu pensamento assumiu a condição de dou- A influência do aristotelismo na escolástica adentra no sé-
trina oficial do catolicismo. O doctor angelicus acabou culo XII, salientando a concepção de divisão de matérias,
canonizado em 1323. em que existem diversos tipos de conhecimento.

36
DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
MEDIEVAL

A RAZÃO ESTÁ
SUBORDINADA AOS
PRECEITOS DA FÉ.
FÉ E RAZÃO SÃO
COMPLEMENTARES. TOMÁS DE AQUINO
AGOSTINHO

PEDRO INFLUÊNCIA
ABELARDO ARISTOTÉLICA
INFLUÊNCIA
PLATÔNICA

O NOME NÃO ESTÁ A FÉ NUNCA PODE


ASSOCIADO SER QUESTIONADA.
AO OBJETO
A ILUMINAÇÃO HU-
MANA OCORRE PELO
CONTATO DIVINO. A RAZÃO PODE SER
NOMINALISMO E QUESTIONADA.
A QUESTÃO DOS
UNIVERSAIS
DUALISMO
PLATÔNICO E É PRECISO
CRISTIANISMO: A DIVULGAR O
CIDADE DE DEUS. PENSAMENTO
CRISTÃO.

O MAL NÃO EXISTE,


ELE É O ESTADO DE EVITANDO
DISTANCIAMENTO O AVANÇO
DO BEM (DEUS). MUÇULMANO
NA EUROPA.

O LIVRE- É POSSÍVEL PROVAR A


-ARBÍTRIO E A EXISTÊNCIA DE DEUS
RESPONSABILIDADE POR MEIO DA RAZÃO
HUMANA. E DAS ANÁLISES
ARISTOTÉLICAS.

37
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O conteúdo de filosofia medieval costuma ser relacionado ao conteúdo de história medieval. O estudante deve
relacionar o contexto sociocultural medieval da Alta e Baixa Idade Média. A mentalidade medieval ocidental
era teocêntrica e esse olhar de mundo pode ser visto nas mais variadas manifestações culturais do período, das
artes até a filosofia. O papel da Igreja na mentalidade medieval não deve ser analisado de forma displicente nos
estudos de Filosofia e de História.

antes criara, como pode haver verdadeira eternidade,


Aplicando para se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?”

Aprender (A.P.A.) AGOSTINHO. CONFISSÕES. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1984.

1. (UEM 2020) “Se é verdade que a verdade da fé cristã A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor,
ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por é um exemplo de reflexão filosófica sobre a(s)
isso os princípios inatos naturalmente à razão podem a) essência da ética cristã.
estar em contradição com esta verdade sobrenatural. b) natureza universal da tradição.
É um fato que estes princípios naturalmente inatos à
c) certezas inabaláveis da experiência.
razão humana são absolutamente verdadeiros; são
d) abrangência da compreensão humana.
tão verdadeiros, que chega a ser impossível pensar
que possam ser falsos. Tampouco é possível considerar e) interpretações da realidade circundante.
falso aquilo que cremos pela fé, e que Deus confirmou 3. (Enem) Se os nossos adversários, que admitem a exis-
de maneira tão evidente. Já que só o falso constitui o tência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo
contrário do verdadeiro, [...] é impossível que a verdade Bem, quisessem admitir que essas considerações estão
da fé seja contrária aos princípios que a razão humana certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a
conhece em virtude de suas forças naturais. [...] Todavia, de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos
já que a palavra de Deus ultrapassa o entendimento, al- males, pois sendo Ele fonte suprema de Bondade, nunca
guns acreditam que ela esteja em contradição com ele. poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza.
Isto não pode ocorrer.”
AGOSTINHO. A NATUREZA DO BEM. RIO DE
(AQUINO, T. DE. SUMA CONTRA OS GENTIOS. APUD ARANHA, M. JANEIRO: SÉTIMO SELO, 2005 (ADAPTADO).
L DE. FILOSOFANDO. SÃO PAULO: MODERNA, 2ª ED. P. 103).
Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem
A partir do texto citado e de conhecimentos do pensa- do mal porque
mento filosófico de Tomás de Aquino, assinale o que for
correto. a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus.
b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe
01) Fé e razão não se opõem, porque seus princípios
de Deus.
são verdadeiros.
c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por na-
02) Tomás de Aquino tomou por tarefa compatibilizar,
tureza, má.
a partir da relação fé e razão, a filosofia aristotélica
com a verdade cristã. d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é opos-
to, o mal.
04) O âmbito do racionalmente demonstrável é restrito
se comparado com a imensidão dos mistérios divinos. e) Deus se limita a administrar a dialética existente
entre o bem e o mal.
08) Para Tomás de Aquino, o conteúdo da fé é reve-
lado por Deus aos homens, segundo a sua sabedoria. 4. Pedro Abelardo foi um filósofo medieval que parti-
16) A existência de Deus para Tomás de Aquino é tão so- cipou de uma acirrada disputa filosófica no século XII.
mente afirmada pela fé, jamais reconhecida pela razão. Essa disputa centrava-se sobre:
2. (Enem) Não é verdade que estão ainda cheios de ve- a) a existência de Deus.
lhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus b) o predomínio da fé sobre a razão.
antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada c) a questão da existência dos universais.
realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre as- d) a presença do mal no mundo.
sim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, e) a morte da alma.
de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento,
uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca

38
5. (Enem) “(...) de modo particular, quero encorajar os PEPIN, JEAN. SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICA OCIDENTAL. IN: CHÂTELET, FRANÇOIS
crentes empenhados no campo da filosofia para que ilu- (ORG.). A FILOSOFIA MEDIEVAL. RIO DE JANEIRO: ZAHAR EDITORES, 1983, P. 77.
minem os diversos âmbitos da atividade humana, graças
Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Pla-
ao exercício de uma razão que se torna mais segura e
tão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de
perspicaz com o apoio que recebe da fé.”
Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado
PAPA JOÃO PAULO II. CARTA ENCÍCLICA FIDES ET RATIO AOS BISPOS DA ao pensamento de Platão. Assinale a alternativa que
IGREJA CATÓLICA SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE FÉ E RAZÃO. 1998. apresenta, corretamente, uma dessas diferenças.
“As verdades da razão natural não contradizem as ver- a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o co-
dades da fé cristã.” nhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a ver-
dade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
SANTO TOMÁS DE AQUINO (PENSADOR MEDIEVAL) b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se
Refletindo sobre os textos, pode-se concluir que no mundo das ideias, enquanto para Agostinho não
existe nenhuma realidade além do mundo natural em
a) a encíclica papal está em contradição com o pen- que vivemos.
samento de santo Tomás de Aquino, refletindo a dife- c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para
rença de épocas. Platão a alma não é imortal, já que é apenas a for-
b) a encíclica papal procura complementar santo To- ma do corpo.
más de Aquino, pois este colocava a razão natural d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, remi-
acima da fé. niscência, a alma reconhece as ideias que ela con-
c) a Igreja medieval valorizava a razão mais do que a templou antes de nascer; Agostinho diz que o conhe-
encíclica de João Paulo II. cimento é resultado da Iluminação divina, a centelha
d) o pensamento teológico teve sua importância na de Deus que existe em cada um.
Idade Média, mas, em nossos dias, não tem relação
com o pensamento filosófico. 8. (Unesp) A vida cultural europeia, na Baixa Idade Média
(dos séculos XI ao XV), pode ser caracterizada pelo(a):
e) tanto a encíclica papal como a frase de santo To-
más de Aquino procuram conciliar os pensamentos a) esforço de Ptolomeu para estruturar os conceitos
sobre fé e razão. geográficos.
b) multiplicação das universidades e difusão da ar-
6. (UFF) A grande contribuição de Tomás de Aquino para quitetura gótica.
a vida intelectual foi a de valorizar a inteligência huma- c) deslocamento, de Córdoba para Paris, do centro de
na e sua capacidade de alcançar a verdade por meio da gravidade da cultura muçulmana.
razão natural, inclusive a respeito de certas questões da d) difusão do dogma escolástico baseado na negação
religião. Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir da união entre a fé e a razão para a busca da verdade.
a verdade divina”, ele diz que há duas modalidades de e) decadência do ensino urbano seguido de sua
verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades ruralização.
da revelação que a razão humana não consegue alcan-
çar, por exemplo, entender como é possível Deus ser uno 9. Para Tomás de Aquino, filosofia e teologia são ciên-
e trino. A segunda modalidade é composta de verdades cias distintas porque:
que a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe. a) a filosofia se funda no exercício da razão humana
A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor e a teologia na revelação divina.
expressa o pensamento de Tomás de Aquino. b) a filosofia é uma ciência complementar à teologia.
a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade. c) a filosofia nos traz a compreensão da verdade que
b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à será comprovada pela teologia.
revelação da verdade que Deus lhe concede. d) a revelação é critério de verdade, por isso não se
c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcan- pode filosofar.
çar certas verdades por seus meios naturais. e) a teologia é a mãe de todas as ciências e a filo-
d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades sofia serve apenas para explicar pontos de menor
acerca de Deus. importância.
e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser
10. Durante a Idade Média, a questão dos universais foi
humano nada pode conhecer d’Ele.
um dos grandes problemas debatidos pelos filósofos da
7. (UFU) A filosofia de Agostinho (354-430) é estreita- época. Realismo, conceitualismo e nominalismo foram
mente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas as soluções típicas do problema.
traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Ploti- Outra preocupação da época foi o da possibilidade ou
no e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agosti-
do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influen- nho, sobre a relação fé e razão, protagonizou uma tese
ciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas que se pode resumir na frase Credo ut intelligam (Creio
resistências (de tornar-se cristão). para entender).

39
A partir dos seus conhecimentos sobre a questão dos
universais e da filosofia medieval, identifique as propo-
sições verdadeiras.
I. O apogeu da patrística aconteceu no século XIII com
santo Tomás de Aquino (1225-1274), que, retomando o
pensamento de Platão, fez a síntese mais bem elaborada
da filosofia com o cristianismo durante a Idade Média.
II. O pensamento filosófico medieval, a partir do sécu-
lo IX, é chamado de escolástica. A filosofia escolástica
tinha por problema fundamental levar o homem a com-
preender a verdade revelada pelo exercício da razão,
contudo apoiado na Auctoritas, seja da Bíblia, seja de
um padre da Igreja.
III. Para os nominalistas, o universal é apenas um con-
teúdo da nossa mente, expresso por um nome. O que
significa dizer que os universais são apenas palavras,
sem nenhuma realidade específica correspondente.
IV. No conceitualismo de Pedro Abelardo, os universais
são conceitos, entidades mentais, que não existem na
realidade, nem são meros nomes.
V. De acordo com a teoria da iluminação de santo Agos-
tinho, o ser humano recebe de Deus o conhecimento
das verdades eternas. Tal como o sol, Deus ilumina a
razão e torna possível o pensar correto.
Em verdade, santo Agostinho não conflita a fé com a ra-
zão, sendo esta última auxiliar e subordinada da fé. Assi-
nale a alternativa que contém as afirmativas verdadeiras.
a) I, II e III.
b) I, III e V.
c) II e V.
d) I, II e IV.
e) II, III, IV e V.

11. (ESPM) No século XIII, surgiu a escolástica, corren-


te filosófica que, a partir de então, dominou o pensa-
mento medieval.
AQUINO, RUBIM SANTOS LEÃO DE. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES:
DAS COMUNIDADES PRIMITIVAS ÀS SOCIEDADES MEDIEVAIS.

A escolástica:
a) teve em santo Agostinho seu maior expoente e era
teocêntrica.
b) teve em Alberto Magno seu maior expoente e re-
futava o teocentrismo, pregando o antropocentrismo.
c) teve em Tomás de Aquino seu principal expoente
e foi uma tentativa de harmonizar a razão com a fé.
d) considerava que a razão podia proporcionar uma vi-
são completa e unificada da natureza ou da sociedade.
e) pregava o recurso racional da força, sendo este mais
importante do que o exercício da virtude ou da fé.

Gabarito
1. 01 + 02 + 04 + 08 = 15 2. D 3. D 4. C
5. E 6. C 7. D 8. B 9. A 10. E
11. C

40
AULA 6

FILOSOFIA POLÍTICA

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25
ESTÁTUA DE MAQUIAVEL, DE LORENZO BARTOLINI, NA
GALLERIA DEGLI UFFIZI, EM FLORENÇA

Em sua obra mais conhecida, O príncipe (1513), Maquiavel


1. Introdução tinha como pretensão propiciar a união das províncias ita-
lianas para garantir a paz nessas terras.
Diante das transformações sociais e políticas que a Europa
passava durante a Baixa Idade Média – em conjunto com os
ideais e as ações do Renascimento Cultural, que privile-
giava o ser humano e as suas próprias criações –, surgiu um
novo ramo na área da filosofia – a filosofia política –, que se
debruçou perante os limites e a organização do Estado fren-
te ao indivíduo. O termo “política” já existia na pólis grega;
porém, essa nova concepção representava um novo olhar
perante as relações da sociedade. Os pensadores com maior multimídia: livro
destaque nessa área foram Maquiavel e Hobbes.
O príncipe - MAQUIAVEL, Nicolau.
São Paulo: Editora 34, 2017.

Tendo uma experiência de análise histórica, em conjunto


com uma orientação de valorização do governante, Ma-
quiavel tem a preocupação de saber como os governantes
agem de fato e como essas atitudes podem garantir ou
não a sua permanência no poder.

2. Nicolau Maquiavel (1469-1527)


O filósofo da região de Florença é considerado um teórico multimídia: vídeo
da política. Com uma observação perspicaz da história dos FONTE: YOUTUBE
governos, Maquiavel analisa as atitudes dos governantes e
Maquiavel e a Arte de Enganar-se | José Alves de Freitas
como esse Estado é organizado.

41
2.1. A estrutura do poder para Maquiavel
O poder, segundo Maquiavel, pode ser obtido de diversas for-
mas, dentre elas, pode ser obtido por meio da herança ou por
meio do uso da força. Entretanto, não significa que esse poder
ficará eternamente para esse ser, pois o que vai garantir tal
poder são suas ações no agrupamento social. Desse modo, o
principal objetivo desse governante é perpetuar-se no poder.
Assim, para o pensador, a figura mais importante dessa
sociedade é o governante. Isso ocorre, pois esse indivíduo
possui algo que poucos têm: a virtù.
A virtù representa as qualidades que esse indivíduo terá
em determinadas situações, sendo ações ou atitudes que
devem ser tomadas rápidas, sem prejuízos ao seu maior ob-
jetivo, sem precisar seguir qualquer moral religiosa. O gover-
nante deve ter a capacidade de se adaptar de acordo com MAQUIAVEL, PINTURA DE SANTI DI TITO, SÉCULO XV
as eventualidades. A moral do governante deve ser flexível Origina-se aí a questão aqui discutida: se é preferível ser
e pragmática, não visando a ideais. Maquiavel inaugura o amado ou temido. Responder-se-á que se preferiria uma
realismo político moderno. e outra coisa; porém, como é difícil unir, a um só tem-
po, as qualidades que promovem aqueles resultados, é
muito mais seguro ser temido do que amado, quando
se veja obrigado a falhar numa das duas. Os homens
costumam ser ingratos, volúveis, dissimulados, covardes
e ambiciosos de dinheiro; enquanto lhes proporcionas
benefícios, todos estão contigo, oferecem-te sangue,
bens, vida, filhos, como se disse antes, desde que a ne-
cessidade dessas coisas esteja bem distante.
NICOLAU MAQUIAVEL
multimídia: vídeo
O PRÍNCIPE. SÃO PAULO: COLEÇÃO “OS PENSADORES”, 1999, P. 106.
FONTE: YOUTUBE
Maquiavel, com o professor da USP Renato Janine Ribeiro
3. Thomas Hobbes (1588-1679)
Só que esse governante também precisa ter a seu favor
a fortuna, ou seja, a sorte, de modo que ele não pode, de
forma alguma, renegar as situações de sorte que podem
surgir em seu caminho. Assim, para conseguir perpetuar-
-se no poder, o bom governante precisa, necessariamente,
unir a virtù e a fortuna .Como a fortuna é a eventualidade,
o acaso, o imprevisível, cabe ao governante ter virtù para
lidar com as situações inesperadas da vida.

O filósofo inglês Thomas Hobbes explanou a sua teoria


sobre a formação da sociedade. Foi um pensador jusna-
turalista, isto é, acreditava que os princípios e direitos dos
homens derivam da ideia universal e imutável de justiça.
multimídia: livro O jusnaturalismo considera que há direitos naturais e não
meramente convenções sociais. Hobbes foi uma das bases
filosóficas para a consolidação do absolutismo europeu.
O príncipe (em quadrinhos) - Maquiavel. Roteiro
de André Diniz. São Paulo: Escala, 2008. Em seu livro O Leviatã (1651), ele pretende compreender a
formação da sociedade. Segundo o filósofo, no início, os ho-
A obra do filósofo Maquiavel foi adaptada em quadrinhos.
mens viviam no Estado de natureza (Estado Natural), se-

42
gundo o qual os seres sobrevivem numa guerra de todos con-
tra todos, na qual a regra máxima era a lei da sobrevivência.
Nesse instante, a competição entre os indivíduos fazia com
que a paz ficasse cada vez mais longe do convívio humano.
Para romper essa situação de guerra, os homens deci-
dem sair do estado de natureza e partir para a sociedade
civil, criando um pacto social (contrato social) entre os
integrantes dessa comunidade, visando à tranquilidade
e à paz. O que fundamentará esse pacto é o temor da CAPA DA OBRA O LEVIATÃ DE THOMAS HOBBES.
morte, ou seja, visando a uma preservação da vida, os
integrantes do grupo decidem ceder suas forças (ou ar-
mas) para um líder soberano, que deveria cumprir com
alguns deveres, como trazer a paz para o grupo e o bem
comum. Diante desse pacto, os homens não devem se
rebelar contra o governante escolhido, com a intenção de
fomentar a tranquilidade desejada. O Estado garantirá a
paz pelo exercício do poder soberano e pelo monopólio multimídia: vídeo
da violência. Em troca da liberdade civil (limitada e com
FONTE: YOUTUBE
segurança) os súditos abandonam a liberdade natural (ili-
mitada e marcada pela violência). Leviatã | A Bíblia, a Política e o Filme

Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão


de homens concordam e pactuam, cada um com cada
um dos outros, que a qualquer homem ou assembleia de
homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de
representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu
representante ), todos sem exceção, tanto os que votaram
a favor dele como os que votaram contra ele, deverão au-
torizar todos os atos e decisões desse homem ou assem-
multimídia: vídeo bleia de homens, tal como se fossem seus próprios atos
e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outro e
FONTE: YOUTUBE
serem protegidos dos restantes homens. É desta institui-
Leviatã e as Lógicas da Força e da ção do Estado que derivam todos os direitos e faculdades
Punição | Yara Frateschi daquele ou daqueles a quem o poder soberano é conferi-
do mediante o consentimento do povo reunido. [...]
Pois uma doutrina contrária à paz não pode ser verda-
3.1. O Leviatã: o perigo do monstro deira, tal como a paz e a concórdia não podem ser con-
trárias à lei da natureza. É certo que, num Estado onde,
Hobbes aponta que, nessa sociedade civil construída pelas devido à negligência ou incapacidade dos governantes
ações humanas, insurge um líder supremo que precisa uti- e dos mestres, venham a ser geralmente aceites falsas
doutrinas, as verdades contrárias podem ser geralmen-
lizar-se da força para se manter no poder. te ofensivas. Mas mesmo a mais brusca e repentina ir-
O problema apontado nesse momento é que, tendo o poder rupção de uma nova verdade nunca vem quebrantar a
paz: pode apenas às vezes despertar a guerra. Porque
legal nas mãos, o governante, se não tiver destreza, incli-
aqueles que são tão desleixadamente governados que
nará para um poder incontrolável, absoluto, transforman- chegam a ousar pegar em armas para defender ou im-
do-se num monstro com poderes ilimitados. Aqui, Hobbes por uma opinião, esses se encontram ainda em condição
compara esse governante incontrolável, tendo o aval das leis de guerra. Sua situação não é a paz, mas apenas uma
criadas por ele próprio, com o monstro que dá título à sua suspensão de hostilidades por medo uns aos outros. É
como se vivessem continuamente num prelúdio de ba-
obra, o leviatã (um monstro marinho que simboliza uma for-
talha. Portanto compete ao detentor do poder soberano
ça natural incontrolável citado no Antigo Testamento), que ser o juiz, ou constituir todos os juízes de opiniões e dou-
deve concentrar todo o poder em torno de si, para, assim, trinas, como uma coisa necessária para a paz, evitando
ordenar todas as decisões da sociedade. Isso prejudica com- assim a discórdia e a guerra civil.
pletamente a consolidação do pacto social, perdendo com THOMAS HOBBES
isso o objetivo de preservação da paz entre os homens. O LEVIATÃ

43
DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
POLÍTICA

MAQUIAVEL HOBBES

O PRÍNCIPE OBJETIVA A MONARQUIA


OBTER O PODER E É O MELHOR
MANTER O PODER. SISTEMA POLÍTICO.

PRECISA TOMAR DECISÕES:


O ESTADO CIVIL
O GOVERNANTE
EVITA A GUERRA DE
DEVE CONTROLAR OS
TODOS CONTRA TODOS.
SÚDITOS E MANTER A
ORDEM DO ESTADO.

O GOVERNANTE
(ABSOLUTO) GARANTE
O PRÍNCIPE DEVE AGIR COM
A PAZ E EXERCE
VIRTÙ E ESTAR PREPARADO
O MONOPÓLIO
PARA AS EVENTUALIDADES
DA VIOLÊNCIA.
DA FORTUNA (ACASO).

É MELHOR SER TEMIDO


DO QUE AMADO.

44
a) Os estudos de Maquiavel sobre o reino do ser na
Aplicando para política levam em consideração a tradição idealista de
Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino e rejeitam
Aprender (A.P.A.) as interpretações de historiadores antigos, como Táci-
1. (UEL 2020) Leia os textos a seguir. to, Políbio, Tucídides e Tito Lívio.
b) Em sua obra, Maquiavel coloca em relevo a di-
Nos principados completamente novos, onde há um
mensão efetivamente social, histórica e política das
novo príncipe, existe maior ou menor dificuldade para
relações humanas, explicitando que sua regra meto-
mantê-lo, conforme seja maior ou menor a virtú de
dológica implica o exame da realidade tal como ela é
quem o conquistou. Aquele que depende menos da for-
e não como se gostaria que ela fosse.
tuna consegue melhores resultados. Consideremos Ciro
e os demais conquistadores ou fundadores de reinos: c) A política, segundo Maquiavel, tem correspondên-
acharemos todos admiráveis. Examinando suas ações e cia com as ideias inatistas, ou seja, de que os indiví-
suas vidas, veremos que não receberam da fortuna mais duos são predestinados a um tipo de condição que
do que a ocasião, que lhes deu a matéria para introdu- lhes é inerente, não havendo possibilidade de mudan-
zirem a forma que lhes aprouvesse. E sem a ocasião a ça ou qualquer outra forma de alterar as estruturas de
virtú de seu ânimo se teria perdido, assim como, sem a poder, por ele denominada de “maquiavélicas”.
virtú, a ocasião teria seguido em vão. d) Segundo Sadek, ao formular uma explicação sobre
essa questão, Maquiavel não rompeu com os para-
ADAPTADO DE: MAQUIAVEL, N. O PRÍNCIPE, CAPÍTULO VI. 2.ED. TRADUÇÃO digmas que fundavam a política de seu tempo, por
DE MARIA JÚLIA GOLDWASSER. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 1996. P.24.
conseguinte, favorecendo a perpetuação de tiranias
Como a vida de um príncipe não é duradoura, o Estado nos séculos XV e XVI.
inevitavelmente se arruinará logo que a virtú deste vier e) Para Maquiavel, o problema central da política foi
a faltar. Disto decorre que os reinos, cuja sorte depende a democracia, e sua construção implicava o fortale-
da virtú de um único homem, são pouco duráveis, por- cimento de governos descentralizados, o que apro-
que aquela virtú se extingue com a morte deste e, raras ximava seus estudos de liberais como John Locke e
vezes, acontece que seja recuperada pelo seu sucessor. Thomas Hobbes.

ADAPTADO DE MAQUIAVEL, N. COMENTÁRIOS SOBRE A PRIMEIRA 3. (UEL) A República de Veneza e o Ducado de Milão ao
DÉCADA DE TITO LÍVIO. LIVRO I, CAPÍTULO XI. 3. ED. REV. TRADUÇÃO norte, o reino de Nápoles ao sul, os Estados papais e a
DE SÉRGIO BATH. BRASÍLIA: EDITORA UNB, 1994. PP. 58-59. república de Florença no centro formavam ao final do
século XV o que se pode chamar de mosaico da Itália su-
Com base na leitura dos textos de Maquiavel, disserte
jeita a constantes invasões estrangeiras e conflitos inter-
sobre o significado da virtú na ação política do príncipe
nos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel desenvolveu
diante das vicissitudes da fortuna.
reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a ordem
necessária para a unificação e a regeneração da Itália.
2. (UFPR 2020) Considere a passagem abaixo:
A substituição do reino do dever ser, que marca a fi- SADEK, M.T. NICOLAU MAQUIAVEL: O CIDADÃO SEM FORTUNA, O
INTELECTUAL DE VIRTÙ. IN: WEFORT, F.C. (ORG.). CLÁSSICOS DA
losofia anterior, pelo reino do ser, da realidade, leva
POLÍTICA. V. 2. SÃO PAULO: ÁTICA, 2003. P. 11-24 (ADAPTADO).
Maquiavel a se perguntar: como fazer reinar a ordem,
como instaurar um Estado estável? O problema central Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso-
de sua análise política é descobrir como pode ser resol- fia política de Maquiavel, assinale a alternativa correta.
vido o inevitável ciclo de estabilidade e caos. Ao formu- a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas
lar e buscar resolver esta questão, Maquiavel provoca com a existência de um príncipe que age segundo a
uma ruptura com o saber repetido pelos séculos. Trata- moralidade convencional e cristã.
-se de uma indagação radical e de uma nova articulação b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas
sobre o pensar e fazer política, que põe fim à ideia de concretas que pretendem evitar a barbárie, mesmo que
uma ordem natural eterna. A ordem, produto necessá- a realidade seja móvel e a ordem possa ser desfeita.
rio da política, não é natural, nem a materialização de c) A história é compreendida como retilínea, portanto,
uma vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo a ordem é resultado necessário do desenvolvimento e
de dados do acaso. Ao contrário, a ordem tem um impe- aprimoramento humano, sendo impossível que o caos
rativo: deve ser construída pelos homens para se evitar se repita.
o caos e a barbárie, e, uma vez alcançada, ela não será d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o
definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em âmbito dos assuntos humanos é resultante da mate-
negativo, isto é, a ameaça de que seja desfeita. rialização de uma vontade superior e divina.
(SADEK, MARIA TEREZA. NICOLAU MAQUIAVEL: O CIDADÃO SEM FORTUNA, e) Há uma ordem natural e eterna em todas as questões
O INTELECTUAL DE VIRTÙ. IN: WEFFORT, FRANCISCO (ORG.). CLÁSSICOS humanas e em todo o fazer político, de modo que a es-
DA POLÍTICA, VOL. 01. SÃO PAULO: ÁTICA, 2001. P. 17-18.) tabilidade e a certeza são constantes nessa dimensão.
Considerando o argumento de Maria Tereza Sadek, em 4. (Enem) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser
seu texto intitulado Nicolau Maquiavel: o cidadão sem amado que temido ou temido que amado. Responde-
fortuna, o intelectual de virtù, é correto afirmar: -se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque

45
é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos
amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos definidores do seu tempo.
homens se pode dizer, duma maneira geral, que são in- b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
gratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lu- c) afirmar a confiança na razão autônoma como fun-
cro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, damento da ação humana.
oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quan- d) romper com a tradição que valorizava o passado
do, como acima disse, o perigo está longe; mas quando como fonte de aprendizagem.
ele chega, revoltam-se.
e) redefinir a ação política com base na unidade entre
MAQUIAVEL, NICOLAU. O PRÍNCIPE. RIO DE JANEIRO: BERTRAND, 1991. fé e razão.

A partir da análise histórica do comportamento huma- 7. “Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que
no em suas relações sociais e políticas, Maquiavel defi- temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser
ne o homem como um ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las,
parece-me muito mais seguro ser temido do que ama-
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar do, se só se pode ser uma delas [...]”
o bem a si e aos outros.
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para MAQUIAVEL, NICOLAU. O PRÍNCIPE. PORTUGAL:
PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, 1976, P. 89.
alcançar êxito na política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são A respeito do pensamento político de Maquiavel, é cor-
imprevisíveis e inconstantes. reto afirmar que:
d) naturalmente racional, vivendo em um estado a) mantinha uma nítida vinculação entre a política e
pré-social e portando seus direitos naturais. os princípios morais do cristianismo.
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas b) apresentava uma clara defesa da representação
com seus pares. popular e dos ideais democráticos.
5. (UFU) Em seus estudos sobre o Estado, Maquiavel bus- c) servia de base para a ofensiva da Igreja em con-
ca decifrar o que diz ser uma verità effettuale, a “ver- fronto com os poderes civis na Itália.
dade efetiva” das coisas que permeiam os movimentos d) sustentava que o objetivo de um governante era a
da multifacetada história humana/política através dos conquista e a manutenção do poder.
tempos. Segundo ele, há certos traços humanos comuns e) censurava qualquer tipo de ação violenta por parte
e imutáveis no decorrer daquela história. Afirma, por dos governantes contra seus súditos.
exemplo, que os homens são “ingratos, volúveis, simu-
8. (Unesp) A China é a segunda maior economia do mun-
ladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro”. (O do. Quer garantir a hegemonia no seu quintal, como fize-
príncipe, cap. XVII) ram os Estados Unidos no Caribe depois da guerra civil.
Para Maquiavel: As Filipinas temem por um atol de rochas desabitado que
a) a “verdade efetiva” das coisas encontra-se em pla- disputam com a China. O Japão está de plantão por umas
no especulativo e, portanto, no “dever-ser”. ilhotas de pedra e vento, que a China diz que lhe perten-
cem. Mesmo o Vietnã desconfia mais da China do que
b) fazer política só é possível por meio de um moralis-
dos Estados Unidos. As autoridades de Hanói gostam de
mo piedoso, que redime o homem em âmbito estatal.
lembrar que o gigante americano invadiu o México uma
c) fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer vez. O gigante chinês invadiu o Vietnã dezessete.
influência, que distribui bens de forma indiscriminada.
d) a virtù possibilita o domínio sobre a fortuna. Esta PETRY, ANDRÉ. O SÉCULO DO PACÍFICO. VEJA, 24.04.2013 (ADAPTADO).
é atraída pela coragem do homem que possui virtù.
A persistência histórica dos conflitos geopolíticos des-
6. Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que critos na reportagem pode ser filosoficamente compre-
o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo endida pela teoria:
acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devi- a) iluminista, que preconiza a possibilidade de um es-
do às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem tado de emancipação racional da humanidade.
diariamente, os quais escapam à conjectura humana. b) maquiavélica, que postula o encontro da virtude
Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso com a fortuna como princípios básicos da geopolítica.
livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte de- c) política de Rousseau, para quem a submissão à von-
cida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos tade geral é condição para experiências de liberdade.
permite o controle sobre a outra metade.
d) teológica de santo Agostinho, que considera que o pro-
MAQUIAVEL, NICOLAU. O PRÍNCIPE. BRASÍLIA: EDUNB, 1979 (ADAPTADO). cesso de iluminação divina afasta os homens do pecado.
e) política de Hobbes, que conceitua a competição e a des-
Em O príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do confiança como condições básicas da natureza humana.
poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demons-
tra o vínculo entre o seu pensamento político e o huma- 9. (UFU) Porque as leis de natureza (como a justiça, a
nismo renascentista, ao: equidade, a modéstia, a piedade ou, em resumo, fazer

46
aos outros o que queremos que nos façam) por si mes- V. O poder soberano instituído mediante o pacto de
mas, na ausência do temor de algum poder capaz de le- submissão é um poder limitado, restrito e revogável,
vá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões pois no estado civil permanecem em vigor os direitos
naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, naturais à vida, à liberdade e à propriedade, bem como
o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. o direito à resistência ao poder soberano.
HOBBES, THOMAS. O LEVIATÃ. CAP. XVII. SÃO
Das afirmações acima:
PAULO: NOVA CULTURAL, 1988, P. 103. a) somente a I está correta.
b) somente a I e III estão corretas.
Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que: c) somente a II e IV estão incorretas.
a) o seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce d) somente a III e V estão incorretas.
com o advento do contrato social deve assiná-lo, para e) somente a II, III e IV estão corretas.
submeter-se aos compromissos ali firmados.
b) a condição natural do homem é de guerra de todos 11. (Enem) A importância do argumento de Hobbes está
contra todos. Resolver tal condição é possível apenas em parte no fato de que ele se ampara em suposições
com um poder estatal pleno. bastante plausíveis sobre as condições normais da vida
humana. Para exemplificar: o argumento não supõe que
c) os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a
todos sejam de fato movidos por orgulho e vaidade para
criação do Estado deve servir como instrumento de buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma supo-
realização da isonomia entre tais homens. sição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida
d) a guerra de todos contra todos surge com o Estado por Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o
repressor. O homem não deve se submeter de bom argumento assustador e lhe atribui importância e força
grado à violência estatal. dramática é que ele acredita que pessoas normais, até
mesmo as mais agradáveis, podem ser inadvertidamente
10. (Unioeste) “Com isto se torna manifesto que, durante lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em
o tempo em que os homens vivem sem um poder comum um estado de guerra.
capaz de os manter a todos em respeito, eles se encon-
tram naquela condição que se chama guerra; e uma guer- RAWLS, J. CONFERÊNCIAS SOBRE A HISTÓRIA DA FILOSOFIA
POLÍTICA. SÃO PAULO: WMF, 2012 (ADAPTADO).
ra que é de todos os homens contra todos os homens. [...]
E os pactos sem a espada não passam de palavras, sem O texto apresenta uma concepção de filosofia política
força para dar segurança a ninguém. Portanto, apesar conhecida como
das leis da natureza (que cada um respeita quando tem
a) alienação ideológica.
vontade de respeitá-las e quando pode fazê-lo com se-
b) microfísica do poder.
gurança), se não for instituído um poder suficientemente
grande para nossa segurança, cada um confiará, e pode- c) estado de natureza.
rá legitimamente confiar apenas em sua própria força e d) contrato social.
capacidade, como proteção contra todos”. (Hobbes) e) vontade geral.
Considerando o texto citado e o pensamento político de 12. (UFPA) “Desta guerra de todos os homens contra to-
Hobbes, seguem as afirmativas abaixo: dos os homens também isto é consequência: que nada
I. A situação dos homens, sem um poder comum que os pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça
mantenha em respeito, é de anarquia, geradora de inse- e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder
gurança, angústia e medo, pois os interesses egoísticos comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na
são predominantes, e o homem é lobo para o homem. guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais.
A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades
II. As consequências desse estado de guerra generaliza- do corpo ou do espírito.
da são as de que, no estado de natureza, não há lugar
Se assim fosse, poderiam existir num homem que es-
para a indústria, para a agricultura nem navegação, e há
tivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus
prejuízo para a ciência e para o conforto dos homens.
sentidos e paixões.”
III. O medo da morte violenta e o desejo de paz com
segurança levam os indivíduos a estabelecerem entre HOBBES, O LEVIATÃ. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1979, P. 77.
si um pacto de submissão para a instituição do estado
civil, abdicando de seus direitos naturais em favor do Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a
soberano, cujo poder é limitado e revogável por causa injustiça como não pertencentes às faculdades do cor-
do direito à resistência que tem vigência no estado civil po e do espírito, considere as afirmativas:
assim instituído. I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos
IV. Apesar das leis da natureza, por não haver um po- homens em sociedade, e não na solidão.
der comum que mantenha a todos em respeito, garan- II. No estado de natureza, o homem é como um animal:
tindo a paz e a segurança, o estado de natureza é um age por instinto, muito embora tenha a noção do que é
estado de permanente temor e perigo da morte vio- justo e injusto.
lenta, e “a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é
embrutecida e curta”. instituído o poder do Estado.

47
IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em
conformidade com o poder soberano; ele favorece os
mais fortes.
Estão corretas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

Gabarito
1. Em O Príncipe, ao dedicar sua atenção à análise dos prin-
cipados novos, Maquiavel nos remete à importância da virtú
e seu confronto com os caprichos da fortuna na política. Essa
relação virtú-fortuna constitui o lugar por excelência para in-
terpretar o pensamento maquiaveliano sobre a manutenção
do poder do príncipe e a segurança do Estado diante da ins-
tabilidade do mundo e da condição humana. A virtú, cuja
compreensão se apresenta desvinculada de uma hierarquia
a priori de valores e virtudes morais elevados segundo mo-
delos tradicionais de legitimação, determina a ação política
do governante no enfrentamento das vicissitudes da realida-
de (a fortuna) tendo em vista resultados que assegurem seu
propósito de conservar o poder conquistado e evitar as ar-
madilhas que corroam sua reputação e reconhecimento pelo
povo (honra e glória). Assim, de um lado, por essa orientação
pragmática, a noção de virtú implica compreender a ação
política determinada por uma racionalidade instrumental. O
príncipe deve usar todos os meios necessários para a eficácia
da ação. Por sua vez, para Maquiavel, a ação política mo-
ve-se sempre na mutabilidade e na transitoriedade de uma
realidade marcada por incertezas e conflitos de interesses.
Nesse sentido, de outro lado, a noção de virtú implica con-
ceber que a política transita no domínio da contingência. O
príncipe, pelo contínuo exercício da virtú, deve estar prepa-
rado para alterar sua conduta quando os ventos da fortuna
e a variação das circunstâncias o forçam a isso. O sucesso
do príncipe não depende da virtuosidade de seu caráter ou
da hereditariedade a que pertença por uma eventual linha-
gem. Tampouco submete-se ao determinismo da sorte. Para
alcançar o propósito de manter seu domínio, não basta a
força que lhe permitiu conquistá-lo. É preciso que o príncipe
possua a virtú: a capacidade de controlar e de antecipar os
efeitos da fortuna, isto é, enfrentar e aproveitar as circuns-
tâncias concretas que se lhe apresentam na arena política,
de modo a interferir nelas, como lhe aprouver, forjando a
ocasião e atuando na necessidade.

2. B 3. B 4. C 5. D 6. C 7. D
8. E 9. B 10. D 11. C 12. B

48
considerado o homem mais erudito de sua época. Erasmo
AULA 7 era amigo de Thomas Morus.
Embora os homens costumem ferir a minha reputação
e eu saiba muito bem quanto o meu nome soa mal aos
ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que
esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a úni-
ca capaz de alegrar os deuses e os mortais. [...]
FILOSOFIA MODERNA Todos sabem que a infância é a idade mais alegre e agra-
dável. Mas, que é que torna os meninos tão amados? Que
é que nos leva a beijá-los, abraçá-los e amá-los com tanta
afeição? Ao ver esses pequenos inocentes, até um inimigo
se enternece e os socorre. Qual é a causa disso? É a natu-
reza, que, procedendo com sabedoria, deu às crianças um
certo ar de loucura, pelo qual elas obtêm a redução dos
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 castigos dos seus educadores e se tornam merecedoras
do afeto de quem as tem ao seu cuidado. Ama-se a pri-
meira juventude que se sucede à infância, sente-se prazer
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, em ser-lhe útil, iniciá-la, socorrê-la. Mas, de quem recebe
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, a meninice os seus atrativos? De quem, se não de mim,
22, 23, 24 e 25 que lhe concedo a graça de ser amalucada e, por conse-
guinte, de gozar e de brincar? Quero que me chamem de
mentirosa, se não for verdade que os jovens mudam in-
teiramente de caráter logo que principiam a ficar homens
1. Erasmo de Roterdã e, orientados pelas lições e pela experiência do mundo,
entram na infeliz carreira da sabedoria.
(1466-1536) ERASMO DE ROTERDÃ
Nascido Herasmus Gerritzsoon, o pensador humanista ne- ELOGIO DA LOUCURA
erlandês faz uma crítica mordaz e feroz sobre a insensibi-
lidade dos detentores do poder, sobre a perda dos valores
da vida, com uma sátira da sociedade dos séculos XV e
XVI. Assim, ele redigiu o seu Elogio da Loucura.

multimídia: livro

Elogio da loucura - Erasmo de Roterdã.


Porto Alegre: L&PM, 2013.

2. Michel de Montaigne
RETRADO DE ERASMO DE ROTERDÃ.

Nesse caso, a Loucura é uma deusa que se apresenta como


(1533-1592)
condutora das ações humanas, ou seja, a Loucura domina O filósofo francês Michel de Montaigne faz filosofia como
o mundo, do modo que a felicidade suprema do homem quem conversa com um amigo. Reintroduzindo a ideia de
está nas loucuras que comete. Com isso, Loucura é o pró- investigação crítica permanente, concebeu uma nova ma-
prio mundo que o homem construiu, pois os seres se tor- neira de descobrir o conhecimento.
nam medíocres e hipócritas.
Com formação em Direito, acabou adentrando na política,
A crítica maior recai sobre a Igreja, sua hierarquia e suas sendo prefeito de Bordeaux, entre 1580 e 1581. No fim
instituições. Erasmo era um humanista que combatia os da vida, escolheu a reclusão, a fim de escrever a sua maior
abusos e obscurantismos clericais. Assim, Erasmo propõe obra, intitulada Ensaios, uma compilação de textos de di-
o retorno da Igreja à simplicidade dos tempos iniciais. Foi versas temáticas abordadas, que foi iniciada em 1572.

49
desviamos da ordem comum, estão os que deveríamos
antes chamar de selvagens. Naqueles estão vivas e vi-
gorosas as verdadeiras e mais úteis e naturais proprie-
dades, as quais abastardamos nestes, apenas acomo-
dando-as ao prazer de nosso gosto corrompido.
MICHEL DE MONTAIGNE
DOS CANIBAIS. SÃO PAULO: ALAMEDA, 2009, P. 51-52.

3. René Descartes (1596-1650)


O francês René Descartes é considerado o pai da filosofia
moderna. Na intenção de encontrar a certeza de alguma coi-
RETRATO DE MICHEL DE MONTAIGNE sa, o filósofo utiliza a sua maior arma – a dúvida –, procu-
rando, assim, uma base de certeza em suas próprias faculda-
Em seu ensaio mais famoso, intitulado Dos canibais, Mon- des racionais. Descartes é considerado, conjuntamente, um
taigne apresenta uma crítica aos europeus em relação às filósofo racionalista, pois pensava ser a razão a única fonte
práticas com os povos do Novo Mundo. Para o filósofo, os de saberes confiáveis e seguros. Descartes era um inatista (o
povos ameríndios são menos bárbaros que os europeus, conhecimento está presente em nossa mente).
apontando, pela primeira vez, um respeito cultural a ou-
tros povos e demonstrando que a única diferença entre os
povos do Novo Mundo e os europeus era que aqueles não
usavam calças. Dessa forma, Montaigne é um precursor do
relativismo cultural e um crítico do etnocentrismo europeu
(eurocentrismo).
Analisa o cotidiano constituído por homens “estranhos”
e “absurdos”, mas também “milagres”. O homem é um
ser verdadeiro em sua contínua mutação; equívocas são as
teorias e as convenções sociais e políticas que pretendem
aprisioná-lo em uma única imagem.

RETRATO DE RENÉ DESCARTES

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Leviatã e as Lógicas da Força e da
Punição | Yara Frateschi
multimídia: livro

Ora, eu acho, para retomar meu assunto, que não há Discurso do método & Ensaios - DESCARTES,
nada de bárbaro e selvagem nessa nação, pelo que René. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
dela me relataram, senão que cada um chama de bár-
baro o que não é de seu uso – como, em verdade, não
parece que tenhamos outro padrão de verdade e de O ceticismo cartesiano consiste numa formulação sistemá-
razão que o exemplo e a ideia das opiniões e usanças tica, em que não se trata mais de duvidar por duvidar, mas
do país de onde somos. Lá sempre a religião perfeita, o de examinar criteriosamente todas as coisas, a fim de nelas
regime político perfeito, o emprego perfeito e acabado descobrir elementos sobre os quais possa recair alguma sus-
de todas as coisas. Eles são selvagens do mesmo modo peita. A dúvida de Descartes é uma metódica, ou seja, con-
que chamamos de selvagens os frutos que a natureza,
duzida por um método rigoroso. As regras são as seguintes:
de si e de seu curso ordinário, produziu. Lá onde, na
verdade, estão os que alteramos por nosso artifício e 1. Só aceitar ideias claras e definidas.

50
2. Dividir cada problema em tantas partes necessárias maligno. Se Deus é perfeito por ter uma causa, o homem,
à solução. por possuir inúmeros defeitos, não pode ser essa causa. As-
3. Ordenar os pensamentos do simples ao complexo. sim, Deus deve ser a causa de nossa ideia de perfeição dele.
4. Verificar exaustivamente se existe alguma falha revi- Desse modo, os sentidos fornecem primeiro a existência do
sitando as etapas anteriores. corpo, porém, a razão evidencia antes a certeza do cogito.
Portanto, diante esse enorme poder da mente, os homens
se tornam “como que senhores e possuidores da natureza”.
As obras de Descartes são escritas em francês, rompendo com
a tradição medieval da língua latina nos textos filosóficos.
Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo
que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se ne-
cessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao
multimídia: vídeo notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão
sólida e tão correta que as mais extravagantes suposi-
FONTE: YOUTUBE ções dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo,
Filosofia da Educação – Descartes julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o
primeiro princípio da filosofia que eu procurava.

Esse pensamento está contido no Discurso do método, em Mais tarde, ao analisar com atenção o que eu era, e ven-
do que podia presumir que não possuía corpo algum e
que nota-se o caminho intelectual de Descartes: o homem
que não havia mundo algum, ou lugar onde eu existis-
deve desconfiar de seus sentidos, pois eles podem se, mas que nem por isso podia supor que não existia;
nos enganar; diante da dúvida, posso desconfiar do que e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em
estou a fazer agora. Posso estar a sonhar ou, então, um duvidar da verdade das outras coisas, resultava com bas-
gênio maligno poderia estar a me iludir. Diante disso, como tante evidência e certeza que eu existia [...]
posso encontrar a verdade? Ademais, com todo esse ceti- RENÉ DESCARTES
cismo, Descartes notou que o único momento do qual não DISCURSO DO MÉTODO. SÃO PAULO: COLEÇÃO
se pode duvidar é quando se está pensando, mesmo que “OS PENSADORES”, 1999, P. 62.
se pense estar sonhando ou se iludindo. Assim, se duvido,
penso e, ao pensar, logo existo. Essa dúvida metodológica
e exagerada, que nos conduz a saberes racionalmente se-
guros, é chamada de dúvida hiperbólica.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
RENÉ DESCARTES (2) – RELAÇÃO MENTE
multimídia: vídeo E CORPO | PERÍODO RENASCENTISTA

FONTE: YOUTUBE
RENÉ DESCARTES (1) – PENSO, LOGO
EXISTO | PERÍODO RENASCENTISTA

Com isso, Descartes supôs que a essência do ser era o


pensamento, e que a mente (res cogitans) era separada
do corpo (res extensa). Surgira, assim, o problema mente–
corpo (dualismo), em que o corpo tinha os seus próprios
princípios de movimento, agindo de forma mecânica.
Em seguida, era necessário comprovar a existência de Deus,
para garantir que nossas ideias claras e definidas são ver-
dadeiras e que não estamos sendo iludidos por um gênio

51
DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
MODERNA

ERASMO DE
DESCARTES
ROTERDÃ
MONTAIGNE

CRÍTICA FEROZ À
CETICISMO EM
INSENSIBILIDADE
BUSCA DA VERDADE.
DOS PODERES. INVESTIGAÇÃO
CRÍTICA
PERMANENTE.

A LOUCURA DÚVIDA METÓDICA


DOMINA AS AÇÕES. DÚVIDA HIPERBÓLICA
NÃO SOMOS ANALISA O
GUIADOS APENAS HOMEM MEDIANTE
PELAS REFLEXÕES AS SUAS AÇÕES.
RACIONAIS.
PENSO, LOGO
EXISTO.
CONSIDERAMOS
ANORMAL
TRAZENDO COISAS
AQUILO QUE NÃO
NOVAS. SEPARAÇÃO
PRATICAMOS EM
NOSSA TERRA. MENTE-CORPO:
CRÍTICA AO RES COGITANS E RES
ETNOCENTRISMO EXTENSA – DUALISMO
HUMANISMO CARTESIANO.
EUROPEU.
E CRÍTICA AOS
ABUSOS CLERICAIS.

RACIONALISMO: OS
CONHECIMENTOS
CONFIÁVEIS
ESTÃO NA RAZÃO.
INATISMO.

52
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de
Aplicando para todas as opiniões a que até então dera crédito, e co-
meçar tudo novamente a fim de estabelecer um saber
Aprender (A.P.A.) firme e inabalável.”
1. (UFRN) Erasmo de Roterdam, autor de Elogio da Lou- DESCARTES, RENÉ. MEDITAÇÕES CONCERNENTES À PRIMEIRA
cura (1511), obra em que criticava valores dominantes FILOSOFIA. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1973 (ADAPTADO).
na sociedade de seu tempo, assim escreveu:
Texto II
No presente, o homem se faz pela posse da razão. Se
as árvores e as bestas selvagens crescem, os homens, “É o caráter radical do que se procura que exige a ra-
creiam-me, moldam-se. [...] E aquele que não permite dicalização do próprio processo de busca. Se todo o
que seu filho seja instruído de forma conveniente, não é espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que
homem, nem seu filho se tornará um homem. aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada
A natureza, ao dar-vos um filho, vos presenteia com uma pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma
criatura rude, sem forma, a qual deveis moldar para que daquelas que foram anteriormente varridas por essa
se converta em um homem de verdade. mesma dúvida.”
(SILVA, F.L. DESCARTES: A METAFÍSICA DA MODERNIDADE.
Esse fragmento textual sugere a vinculação de Erasmo
SÃO PAULO: MODERNA, 2001 (ADAPTADO).
de Roterdam ao:
a) escolasticismo, que tentava conciliar as verdades da re- A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam
velação com aquelas formuladas pela pesquisa empírica. que, para viabilizar a reconstrução radical do conheci-
b) liberalismo, que pregava a necessidade de uma so- mento, deve-se
ciedade em que os homens construíssem, livremente, a) retomar o método da tradição para edificar a ciên-
seu destino. cia com legitimidade.
c) renascimento, que valorizava a pessoa humana e b) questionar de forma ampla e profunda as antigas
acreditava no poder de suas capacidades intelectuais. ideias e concepções.
d) universalismo, que desejava descobrir leis que c) investigar os conteúdos da consciência dos homens
pudessem explicar, cientificamente, o mundo. menos esclarecidos.
d) buscar uma via para eliminar da memória saberes
2. (Unesp) Todas as coisas humanas têm dois aspectos (...)
antigos e ultrapassados.
para dizer a verdade todo este mundo não é senão uma
sombra e uma aparência; mas esta grande e interminá- e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dis-
vel comédia não pode representar-se de um outro modo. pensam ser questionados.
Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que 4. (Unicamp) A dúvida é uma atitude que contribui para
não podemos nos assegurar de nenhuma verdade. o surgimento do pensamento filosófico moderno. Nes-
ERASMO DE ROTERDÃ. ELOGIO DA LOUCURA. te comportamento, a verdade é atingida através da su-
pressão provisória de todo conhecimento, que passa a
Erasmo de Roterdã foi um dos primeiros pensadores a ser considerado como mera opinião.
contribuir para o surgimento da modernidade. Nesse A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da
texto, de 1509, pode-se considerar moderno: Filosofia.
a) o elogio da loucura, vista como uma forma sofisti-
BORNHEIM, GERD. INTRODUÇÃO AO FILOSOFAR. PORTO
cada de sensibilidade.
ALEGRE: EDITORA GLOBO, 1970, P. 11 (ADAPTADO).
b) o caráter obscuro e sombrio da vida, na qual o ho-
mem deve mover-se pela fé. A partir do texto, é correto afirmar que:
c) a ausência de verdades absolutas, em contraste com a) a Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e
as verdades do clero. verdade são conceitos equivalentes.
d) a ideia de que o mundo é uma comédia, e nós ho- b) a dúvida é necessária para o pensamento filosófico,
mens devemos nos divertir. por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico.
e) a ideia de que o mundo é aparência, mera represen- c) o espírito crítico é uma característica da Filosofia e
tação do plano divino. surge quando opiniões e verdades são coincidentes.
d) a dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito críti-
3. (Enem)
co são fundamentos do pensamento filosófico moderno.
Texto I
5. (Enem) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exem-
“Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde plo, embora nossa memória possua todas as demonstra-
meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões ções feitas por outros, se nosso espírito não for capaz
como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fun- de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaría-
dei em princípios tão mal assegurados não podia ser mos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão
senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre

53
o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter 9. (UEL) O principal problema de Descartes pode ser for-
aprendido, não ciências, mas histórias. mulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir
que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?”
DESCARTES, RENÉ. REGRAS PARA A ORIENTAÇÃO DO ESPÍRITO.
Como o cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário do
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera cético, não permanece nela. Na Meditação Terceira, Des-
o conhecimento, de modo crítico, como resultado da cartes afirma: “[...] engane-me quem puder, ainda assim
jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar
a) investigação de natureza empírica.
que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha
b) retomada da tradição intelectual. jamais existido, sendo verdade agora que eu existo [...]”
c) imposição de valores ortodoxos.
d) autonomia do sujeito pensante. DESCARTES. RENÉ. MEDITAÇÕES METAFÍSICAS. MEDITAÇÃO TERCEIRA. SÃO
PAULO: NOVA CULTURAL, 1991. P. 182. COLEÇÃO “OS PENSADORES”.
e) liberdade do agente moral.
Com base no enunciado e considerando o itinerário se-
6. (UFSJ) Ao analisar o cogito ergo sum – “penso, logo,
guido por Descartes para fundamentar o conhecimento,
existo”, de René Descartes, conclui-se que:
é correto afirmar:
a) o pensamento é algo mais certo que a própria
matéria corporal. a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser dis-
cerníveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos
b) a subjetividade científica só pode ser pensada a
são falhos e limitados, portanto, o conhecimento se-
partir da aceitação de uma relação empírica fundada
em valores concretos. guro detém-se nas opiniões que se apresentam certas
e indubitáveis.
c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e repre-
sentativa da ética que insurgia já no século XVI. b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apre-
d) ele consegue infirmar todos os sistemas científicos senta-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às
e filosóficos ao lançar a dúvida sistemático-indutiva próprias coisas que são percebidas de acordo com as cir-
respaldada pelas ideias iluministas e métodos inci- cunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados.
pientes da revolução científica. c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingên-
cia do conhecimento, uma vez que somente as coisas
7. (UFU) Em O discurso sobre o método, Descartes afirma: percebidas por meio da experiência sensível possuem
existência real.
“Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que
não se reconhece ser tal pela evidência, ou seja, evitar acu- d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões
radamente a precipitação e a prevenção, assim como nun- que se pode observar no debate perpétuo e universal
ca se deve abranger entre nossos juízos aquilo que não se sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência
apresente tão clara e distintamente à nossa inteligência a de Deus a única certeza que se pode alcançar.
ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida.” e) A condição necessária para alcançar o conheci-
mento seguro consiste em submetê-lo sistematica-
REALE, G.; ANTISERI, D. HISTÓRIA DA FILOSOFIA: DO HUMANISMO
A DESCARTES. SÃO PAULO: PAULUS, 2004. P. 289.
mente a todas as possibilidades de erro, de modo que
ele resista à dúvida mais obstinada.
Após a leitura do texto acima, assinale a alternativa correta.
10. (Unioeste) Considerando-se as primeiras linhas das
a) A evidência, apesar de apreciada por Descartes, Meditações sobre a filosofia primeira, de René Descartes:
permanece uma noção indefinível.
b) A evidência é a primeira regra do método carte- “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus
siano, mas não é o princípio metódico fundamental. primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por ver-
c) Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias dadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre
evidentes. princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito
d) A evidência não é um princípio do método cartesiano. duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar se-
riamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de to-
8. (FGV) Erasmo de Roterdã (1467-1536) foi um dos das as opiniões que recebera até então em minha cren-
pensadores mais influentes de sua época, sobretudo ça e começar tudo novamente desde os fundamentos,
porque em sua obra Elogio da Loucura defendeu, entre se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de
outros aspectos: constante nas ciências. (...) Agora, pois, que meu espíri-
a) a tolerância, a liberdade de pensamento e uma te- to está livre de todas as preocupações e que obtive um
ologia baseada exclusivamente nos Evangelhos. repouso seguro numa solidão tranquila, aplicar-me-ei
b) a restauração da teologia nos termos da ortodoxia seriamente e com liberdade a destruir em geral todas
escolástica, na linha de Tomás de Aquino. as minhas antigas opiniões”.
c) a reforma eclesiástica da Igreja segundo a proposta
de Savonarola, conforme sua pregação em Florença. É correto afirmar, sobre a teoria do conhecimento car-
d) o comunismo dos bens, teoria que influenciaria o tesiana, que:
pensamento de Rousseau no século XVIII. a) Descartes não utiliza um método ou uma estraté-
e) a supremacia da razão do Estado sobre as regras gia para estabelecer algo de firme e certo no conhe-
definidas nos princípios da moral cristã. cimento, já que suas opiniões antigas eram incertas.

54
b) Descartes considera que não é possível encontrar 11.
algo de firme e certo nas ciências, pois até então esse a) Em Descartes, a dúvida expressa a tentativa de esta-
objetivo não foi atingido. belecer um princípio firme e constante nas ciências. Se-
c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica guindo a ordem das razões, serão submetidos à crítica
considerou como conhecimento, busca fundamentar os fundamentos do conhecimento, partindo do sensível
nos sentidos uma base segura para as ciências. (argumento dos sentidos), passando pela imaginação
d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o (argumento do sonho) e chegando às verdades ma-
conhecimento, Descartes inicia rejeitando suas anti- temáticas (argumento do deus enganador e do gênio
gas opiniões e utiliza o método da dúvida até encon- maligno). Sendo metódica, a dúvida converter-se-á em
trar algo de firme e certo. universal, e se dela não resultar um princípio positivo
para fundamentar o sistema da ciência, pelo menos
e) Descartes necessitou de solidão para investigar as
não se tomará por verdadeiro o que for dubitável.
suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela
que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento. b) Para Descartes, o pensamento aparece como uma
evidência, resultante como logicamente necessária, do
11. (UEL) Mas há algum, não sei qual, enganador mui método da dúvida. O pensamento não é instituído pela
poderoso e mui ardiloso que emprega toda sua indús- universalização da dúvida, pois ele é a própria con-
tria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida algu- dição de duvidar. Após estender a dúvida a todos os
ma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me fundamentos do conhecimento, dos mais incertos aos
engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, mais aparentemente seguros, o pensamento surgirá
enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, como uma evidência, cuja certeza é tão irrefutável, que
após ter pensado bastante nisto e de ter examinado sequer o gênio maligno poderá fazer com que eu nada
cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir seja, enquanto pensar ser algo. A solidez desta certeza
e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu exis- servirá de fundamento ao sistema das ciências.
to, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a 12. Para Descartes, a forma tradicional de adquirir o conhe-
enuncio ou que a concebo em meu espírito.
cimento não deveria mais se fundamentar, mas sim seguir
DESCARTES, RENÉ. MEDITAÇÕES. COLEÇÃO “OS PENSADORES”. um ceticismo metodológico, com o intuito de atingir-se um
SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1973. P. 100.
saber universal e válido. O fundamento matemático conso-
A partir do texto e dos conhecimentos acerca de Descartes: lida o pensamento de Descartes, com a lógica matemática,
a) apresente o propósito e os graus da dúvida metódica; e as análises e sua investigação, para se atingir o verdadeiro
b) demonstre como Descartes descobre que o pensa- conhecimento.
mento é a verdade primeira.

12. (Unesp) Para René Descartes, o que fundamenta o


método universal para conhecer o mundo é a reta ra-
zão, que pertence a todos os homens, sendo “a coisa
mais bem distribuída do mundo”. Mas o que é essa reta
razão? “A faculdade de julgar bem e distinguir o ver-
dadeiro do falso é propriamente aquilo que se chama
bom senso ou razão, que é naturalmente igual em todos
os homens”. A unidade das ciências remete à unidade
da razão. E a unidade da razão remete à unidade do
método. O saber deve basear-se na razão e repetir sua
clareza e distinção, que são os únicos pressupostos irre-
nunciáveis do novo saber.
REALE, GIOVANNI; ANTISERI, DARIO. HISTÓRIA
DA FILOSOFIA. 1990 (ADAPTADO).

Com base no texto, justifique por que o método de Des-


cartes aspira à universalidade. Explique a importância
da matemática para a produção de conhecimentos do-
tados de clareza e distinção.

Gabarito
1. C 2. C 3. B 4. D 5. D
6. A 7. C 8. A 9. E 10. D

55
AULA 8

RACIONALISMO multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE
Baruch Espinoza
Baruch Spinoza foi um dos grandes racionalistas da Filo-
sofia moderna. Nasceu na cidade de Amsterdã, nos Países
Baixos, em 1632, e faleceu na cidade de Haia, em 1677.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 Ele cresceu na Holanda, em família judia e foi criado para
se tornar um rabino. Naquela época, a Holanda era um
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, dos principais centros da liberdade intelectual na Europa,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, atraindo pensadores como Descartes e Locke.
22, 23, 24 e 25

Segundo Espinoza, existe uma só substância, que é um


princípio científico unificador, figurando-se em Deus ou
1. Introdução Natureza, do modo que a mente e a matéria são apenas
Racionalismo é a doutrina filosófica que defende o pri- atributos da substância única. Espinoza costuma ser cate-
mado da razão para a fundamentação do conhecimento gorizado como um panteísta, afinal, em sua análise Deus é
confiável e para a compreensão última da realidade. A toda a Natureza, tudo é, portanto, Deus.
razão seria a grande ferramenta de obtenção do entendi- Deus é a causa primeira e eficiente de todas as coisas, porém,
mento das coisas, dos seres, da natureza. isso não significa que seja o criador, pois, sendo Deus a única
substância, nada pode existir fora dele. Assim, Deus é a causa
do mundo, mas o mundo existe em Deus, que é, por isso, cau-
2. Racionalismo sa imanente, isto é, causa que produz efeito em si mesma. Em
O filósofo holandês Espinoza foi um dos grandes raciona- outras palavras, Deus é Natureza (Deus sive Natura).
listas do século XVII. Em sua obra Tratado teológico-polí-
A filosofia de Espinoza tinha como propósito esclarecer a
tico (1670), o filósofo submete o Velho Testamento a uma
rigorosa crítica, baseando-se numa análise gramatical da identidade existente entre nossa mente e a natureza. Essa
língua hebraica e na história do povo judeu. A conclusão identidade só acontece, quando conhecemos a nós mes-
foi que o conteúdo bíblico não se refere à verdade, mas mos e a própria natureza, como uma coisa una. Diante
apenas estabelece preceitos de conduta para guiar os ho- disso, o conhecimento da natureza se concretiza quando
mens, o que reduz a nada todo o esforço da teologia. entendemos a essência dos objetos.
Por causa de seu pensamento perante a religião, Espino-
za sofreu dois atentados à sua vida (sobreviveu a ambos),
sendo um deles realizado por um religioso extremista.
Espinoza foi um daqueles raros filósofos que, além de acre-
ditar no que dizia, era fiel a seus princípios. Chegou a recusar
uma cátedra de Filosofia em Heidelberg, posição que, por ser
oficial, implicava aceitar ideias e limitações oficiais. Para a
sua subsistência, trabalhava com polimentos de lentes.

2.1. Definições de Espinoza


I. Por sua causa entendo aquilo cuja essência implica
a existência e cuja natureza só pode ser concebida
RETRATO DE ESPINOZA como existente.

56
II. Diz-se finita no seu gênero uma coisa que pode ser DEMONSTRAÇÃO
limitada por uma outra da mesma natureza. Por exem-
Chamamos mau o que é causa de Tristeza, isto é, o que
plo, dizemos que um corpo é finito porque concebemos
diminui ou reduz nossa potência de agir. Se portanto
sempre um outro maior. Do mesmo modo, um pensa- uma coisa, pelo que tem de comum conosco, fosse má
mento é limitado por um outro pensamento. Mas nem para nós, essa coisa poderia diminuir ou reduzir o que
um corpo pode ser limitado por um pensamento nem tem de comum conosco, o que é absurdo. Coisa alguma
um pensamento por um corpo. portanto pode ser má para nós pelo que tem de comum
III. Por substância entendo aquilo que existe em si e por conosco, mas, ao contrário, na medida em que é má, isto
si é concebido, isto é, aquilo cujo conceito, para ser for- é, na medida em que pode diminuir ou reduzir nossa
mado, não precisa do conceito de uma outra coisa. potência de agir, ela nos é contrária. CQD.

IV. Por atributo entendo aquilo que o intelecto percebe PREPOSIÇÃO XXXI
como a essência da substância. Na medida em que uma coisa está de acordo com nossa
V. Por modo entendo aquilo que existe em outra coisa natureza, ela é necessariamente boa.
pela qual também é concebido. DEMONSTRAÇÃO
VI. Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto Na medida em que uma coisa está de acordo com nos-
é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada sa natureza, ela não pode ser má. Ela será portanto
um dos quais exprime uma essência eterna e infinita. necessariamente ou boa ou indiferente. Nesse último
caso, ou seja, que nãp é boa nem má, nada portanto
Pois tal existência, da mesma forma como a essência
derivará de sua natureza que sirva à conservação de
de uma coisa, é concebida como uma verdade eterna
nossa natureza, isto é, à conservação da natureza da
e, por isso, não pode ser explicada pela duração ou pelo
coisa mesma; mas isso é absurdo; logo, na medida em
tempo, mesmo que por uma duração sem início ou fim.
que esteja de acordo com nossa natureza, será portan-
O TEXTO TODO FAZ PARTE DA OBRA: ÉTICA DEMONSTRADA to necessariamente boa. CQD.
SEGUNDO A ORDEM DOS GEÔMETRAS
SPINOZA, IN MARCONDES, DANILO. TEXTOS BÁSICOS
DE FILOSOFIA. RIO DE JANEIRO: ZAHAR.

3. Gottfried Wilhelm
Leibniz (1646-1716)
O filósofo alemão Leibniz é uma figura central na histó-
ria da matemática e da filosofia, que concebeu as ideias
de cálculo diferencial e integral, sem sofrer influência dos
estudos de Isaac Newton, interlocutor e adversário intelec-
tual de Leibniz.

ESTÁTUA REPRESENTADO O FILÓSOFO HOLANDÊS

Destinada aos homens livres, o filósofo trata também sobre


a Ética, obra escrita em axiomas, no ano de 1677. Para Es-
pinoza, o que os indivíduos pensam reflete diretamente na
sua maneira de viver, colhendo frutos positivos ou negati-
vos de suas ações. Seguindo uma lógica racional, o filósofo
tenta provar a natureza racional de Deus. RETRATO DE LEIBNIZ

PREPOSIÇÃO XXX Leibniz escreveu prodigiosamente sobre muitos temas das


Nenhuma coisa pode ser má pelo que tem de comum áreas filosófica e matemática. O filósofo procurou a harmo-
com nossa natureza, mas é má para nós na medida em nia entre elementos aparentemente díspares: o mundo na-
que nos é contrária. tural e o mundo moral; o corpo e a alma; Platão e Aristóteles.

57
Em sua maior obra filosófica intitulada Monadologia, Teod. §10 [Discurso preliminar, §10]: “[...] há necessaria-
o pensador apresenta como a natureza é constituída, de mente substâncias simples e sem extensão, espalhadas
modo a salientar uma lógica racional. A força motora da por toda a natureza [...]”
natureza é acionada por Deus, que também está contida E é preciso que haja substâncias simples, visto que há
na própria natureza. compostos. Efetivamente, o composto não é outra coisa
senão uma amálgama (amas) ou aggregatum dos simples.
Ora, onde não há partes, não há extensão, nem figu-
ra nem divisibilidade possível. E estas Mônadas são os
verdadeiros Átomos da Natureza e, numa palavra, os
Elementos das coisas.
Também não há dissolução a temer, e não há nenhuma
maneira concebível pela qual uma substância simples
possa perecer naturalmente.
multimídia: vídeo GOTTFRIED LEIBNIZ
FONTE: YOUTUBE MONADOLOGIA. LISBOA: EDIÇÕES COLIBRI, 2016, P. 39.
Monadologia
Leibniz foi um filósofo e matemático alemão, nascido
em 1646 e falecido em 1716. Ele desenvolveu o cálculo
integral e diferencial, mais ou menos na mesma época
que Newton. Leibniz também foi contemporâneo de
Hobbes, Spinoza e Locke.

Segundo Leibniz, todos os elementos da natureza são com-


multimídia: música
postos por mônadas (do grego monas, que significa “uni- FONTE: YOUTUBE
dade”, o que é uno), concebidas como verdadeiros átomos Gita - Raul Seixas. Gita. Universal Music, 1974.
da natureza, elementos das coisas, fechadas, sem janelas, Na canção de Raul Seixas, notamos a essência indireta
reguladas, em seu funcionamento pela harmonia preesta- da monadologia de Leibniz, em que os elementos da
belecida, de modo que cada mônada é diferente e reflete o criação estão em todos os elementos.
universo inteiro; porém, não está no espaço e nem no tempo.

multimídia: livro

A monadologia e outros escritos - LEIBNIZ,


Gottfried. São Paulo: Hedra, 2008.

Cada elemento que existente no universo é composto por


inúmeras mônadas, sendo que alguns possuem mais que
outras. Deus, por exemplo, também é composto por môna-
das, sendo uma substância infinita, perfeita, criadora de to-
das as coisas e da harmonia preestabelecida. As mônadas
que compõem Deus criam as mônadas da natureza.
A Mônada de que vamos falar aqui não é outra coisa se-
não uma substância simples, que entra nos compostos;
simples, quer dizer, sem partes.

58
DIAGRAMA DE IDEIAS

RACIONALISMO

ESPINOZA LEIBNIZ

EXISTE UMA A NATUREZA


DEUS É NATUREZA HARMONIA ENTRE É CONSTITUÍDA
ELEMENTOS POR MÔNADAS
DÍSPARES

TODAS AS MÔNADA
SUBSTÂNCIAS NO CORPO-ALMA =
MUNDO ESTÃO UNIDADE
INTERLIGADAS PLATÃO-ARISTÓTELES
NATUREZA-
MORALIDADE
DEUS TEM
TUDO É UM MÔNADAS
PERFEITAS

PANTEÍSMO QUE GERAM AS


MÔNADAS
IMPERFEITAS DOS
SERES DA NATUREZA

59
não tem partes. O composto é a reunião das substân-
Aplicando para cias simples ou Mônadas. Monas é uma palavra grega
que significa unidade ou o que é uno. Os compostos ou
Aprender (A.P.A.) os corpos são Multiplicidades, e as Substâncias simples,
1. (UEM 2020) “Concebei agora, se quiserdes, que a pe- as Vidas, as Almas, os Espíritos são unidades. É preciso
dra, enquanto continua a mover-se, saiba e pense que que em toda parte haja substâncias simples porque sem
se esforça tanto quanto pode para continuar a mover- as simples não haveria as compostas, nem movimento.
-se. Seguramente, essa pedra, visto não ser consciente Por conseguinte, toda natureza está plena de vida.
senão de seu esforço e não ser indiferente, acreditará LEIBNIZ, G.W. DISCURSO DE METAFÍSICAS E OUTROS TEXTOS.
ser livre e perseverar no movimento apenas porque SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2004 (ADAPTADO).
quer. É essa a tal liberdade humana que todos se jac-
tam de possuir e que consiste apenas em que os seres Dentre suas diversas reflexões, Leibniz voltou sua aten-
humanos são cônscios [conscientes] de seus apetites ção para o tema da metafísica, que trata basicamente
[desejos], mas ignorantes das causas que os determi- do fundamento de realidade das coisas do mundo. A
nam. É assim que uma criança crê apetecer livremente busca por esse fundamento muitas vezes é resumida a
o leite; um rapazinho, se irritado, querer vingar-se, mas partir do conceito de substância, que para ele se refere
fugir quando intimidado.” a algo que é

(ESPINOSA. CARTA 58. APUD SAVIAN FILHO, J. FILOSOFIA E FILOSOFIAS. a) complexo por natureza, constituindo a unidade mí-
EXISTÊNCIA E SENTIDO. BELO HORIZONTE: AUTÊNTICA, 2016, P. 213). nima do cosmo.
b) estabilizador da realidade, dada a exigência de
A partir do fragmento citado e do pensamento ético de permanência desta.
Espinosa, assinale o que for correto.
c) desdobrado no composto, em vez de gerá-lo unin-
01) A passagem acima aponta a crítica de Espinosa à do-se a outras substâncias simples.
concepção tradicional de livre-arbítrio. d) considerado simples e múltiplo a um só tempo, por
02) A imagem da pedra, segundo o texto, sugere que ser um todo indecomponível constituído de partes.
o seu “querer” provém de sua “consciência”. e) essencial na estrutura do que existe no mundo,
04) O homem, para Espinosa, imagina-se livre porque sem deixar de contribuir para o movimento.
acredita que é a origem ou o princípio de suas ações.
08) Para Espinosa, as paixões ou os desejos não in- 3. (UFPA) No contexto da cultura ocidental e na história
fluenciam na tomada de nossas decisões. do pensamento político e filosófico, as considerações
16) Espinosa defende uma definição de liberdade na sobre a necessidade de valores morais prévios na or-
qual existe a possibilidade de cooperação entre razão ganização do Estado e das instituições sociais sempre
foi um tema fundamental devido à importância, para
e paixão.
esse tipo de questão, dos conceitos de bem e de mal,
1. (UEL) A ideia ilusória da vontade livre deriva de per- indispensáveis à vida em comum. Diante desse fato da
cepções inadequadas confusas; a liberdade, entendida história do pensamento político e filosófico, a afirma-
corretamente, no entanto não é o estar livre da necessi- ção de Espinosa, segundo a qual “Se os homens nas-
dade, mas sim a consciência da necessidade. cessem livres, não formariam nenhum conceito de bem
e de mal, enquanto permanecessem livres” (ESPINOSA,
SCRUTON, ROGER. ESPINOSA. SÃO PAULO: UNESP, 2000. P. 41.
1983, p. 264), quer dizer o seguinte:
Com base no texto e nos conhecimentos sobre liberda- a) O homem é, por instinto, moralmente livre, fato que
de em Espinosa, considere as afirmativas a seguir. condiciona sua ideia de ética social.
I. A liberdade identifica-se com escolha voluntária. b) Assim como o indivíduo é anterior à sociedade, a
liberdade moral antecede noções como bem e mal.
II. A liberdade significa a capacidade de agir espontane-
amente, segundo a causalidade interna do sujeito c) Os valores morais que servem de base para nossa
socialização são tão naturais quanto nossos direitos.
III. A liberdade e a necessidade são compatíveis.
d) Não poderíamos falar de bem e de mal se não nos
IV. A liberdade baseia-se na contingência, pois se tudo colocássemos além da liberdade natural.
no universo fosse necessário não haveria espaço para e) Não há nenhum vínculo necessário entre viver livre
ações livres. e saber o que são bem e mal.
Estão corretas apenas as afirmativas:
4. (Searh-RN) “Baruch Spinoza acreditava que os dog-
a) I e II. mas rígidos e os rituais vazios eram as únicas coisas que
b) I e IV. ainda mantinham o cristianismo e o judaísmo vivos. Não
c) II e III. acreditava que cada palavra da Bíblia fosse realmente
d) I, III e IV. inspirada por Deus, mas que deveriam ser analisadas à
e) II, III e IV. luz de seu contexto genealógico. Dessa forma, Spinoza
foi o primeiro a aplicar o que foi denominado de inter-
2. (Enem) A substância é um Ser capaz de Ação. Ela é pretação _______________ da Bíblia.”
simples ou composta. A substância simples é aquela que Assinale a alternativa que completa corretamente a

60
lacuna da afirmativa anterior. os homens, efetivamente, não tais como são, mas como
a) semântica eles próprios gostariam que fossem.
b) universalista ESPINOSA, B. TRATADO POLÍTICO. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1973.
c) histórico-crítica
d) histórico-canônica No trecho, Espinosa critica a herança filosófica, no que
diz respeito à idealização de uma
5. (UEM) Diz Spinoza: “Proposição XXX: Nenhuma coisa a) estrutura da interpretação fenomenológica.
pode ser má pelo que tem de comum com nossa nature-
b) natureza do comportamento humano.
za, mas é má para nós na medida em que nos é contrária.
Demonstração: Chamamos mau o que é causa de Tristeza, c) dicotomia do conhecimento prático.
isto é, o que diminui ou reduz nossa potência de agir. Se, d) manifestação do caráter religioso.
portanto, uma coisa, pelo que tem de comum conosco, e) reprodução do saber tradicional.
fosse má para nós, essa coisa poderia diminuir ou reduzir
o que tem de comum conosco, o que é absurdo. Coisa 8. (Seduc-RJ) Para Spinoza (MARCONDES, 1997), o ho-
alguma portanto pode ser má para nós pelo que tem de mem livre se caracteriza como aquele que, ao contem-
comum conosco, mas, ao contrário, na medida em que é plar a substância infinita, reconhece a necessidade do
má, isto é, na medida em que pode diminuir ou reduzir curso natural das coisas e a ação livre é aquela que está
nossa potência de agir, ela nos é contrária.” de acordo com:
SPINOZA. IN: MARCONDES, DANILO. TEXTOS BÁSICOS a) a indignação do sujeito.
DE FILOSOFIA. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2007, P. 93. b) o isolamento do indivíduo.
c) a utilidade do pensamento.
A partir do texto é correto afirmar:
d) a determinação das coisas.
01) Segundo o filósofo, é absurdo que uma coisa má e) o princípio da universalidade.
tenha algo de comum conosco.
02) As coisas são consideradas más em função de sua 9. (Idecan-RN) Os filósofos racionalistas representaram
própria natureza. uma das vertentes da filosofia moderna. Dentre eles,
04) As coisas más não reduzem a nossa potência de agir. Baruch Spinoza possui um pensamento peculiar a res-
08) A tristeza é causada pelos efeitos das coisas más. peito de Deus. Assinale a alternativa referente à con-
16) O filósofo demonstra a contrariedade entre natu- cepção teológica de Spinoza.
reza humana e maldade. a) Deus está morto, e ainda há pessoas que não acre-
ditam e nem compreenderam isso.
6. (UEM) (...) muitas vezes lamentamos as nossas ações
b) Deus é um pai maldoso e intolerante, ao mesmo
e que, frequentemente, quando somos dominados por
tempo que ama e age com misericórdia.
afecções contrárias, vemos o melhor e fazemos o pior,
nada os impediria de crer que todas as nossas ações são c) Deus não é uma causa externa à realidade, pois se
livres. [...] Um homem embriagado julga também que é manifesta através das leis da natureza e só através delas.
por uma livre decisão da alma que conta aquilo que, mais d) Deus é um ser que vive somente nas concepções da
tarde, em estado de sobriedade, preferiria ter calado. alma humana. É transcendente à natureza antropológica.

ESPINOSA, B. ÉTICA III. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1983, P. 179. 10. (Fepese-SC) Sobre a ética em Espinosa, é correto afirmar:
a) Apresenta como seus fundamentos um conjunto de
Acerca da compreensão da liberdade para Espinosa, as-
virtude e vícios que reforçam os princípios do cristianismo.
sinale o que for correto.
b) Não menciona o pecado e o dever, mas fala em
01) Espinosa se contrapõe à ideia de um ato comple- fraqueza e força para pensar, ser e agir.
tamente gratuito. c) Fundado em Aristóteles afirma que a ética está sujeita
02) Ser livre, para Espinosa, é ser causa adequada de aos limites estabelecidos pelas fragilidades humanas.
seus atos. d) Na sua obra Depois da Virtude procurou divulgar a
04) O espinosismo, assim como o historicismo, ofere- ideia de virtude na sociedade contemporânea.
ce-nos um meio de converter a liberdade em neces- e) Responsável pela tradição filosófica do racionalismo
sidade inelutável. ético na qual a razão humana ocupa lugar de destaque
08) O livre-arbítrio para Espinosa é o poder que temos na vida ética.
de escolher.
16) É livre o homem que atua pela única necessidade
de sua natureza. Gabarito
7. (Enem) Os filósofos concebem as emoções que se
1. 01 + 02 + 04 + 16 = 23
combatem entre si, em nós, como vícios em que os ho-
mens caem por erro próprio; é por isso que se habitua- 1. C 2. E 3. D 4. C 5. 01 + 08 + 16 = 25
ram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quan-
do querem parecer mais morais, detestá-los. Concebem 6. 1 + 2 + 4 + 16 = 23 7. B 8. D 9. C 10. B

61
Inglaterra e seus principais nomes são os ingleses John Lo-
AULA 9 cke, Francis Bacon e David Hume.
ƒ Indução: parte de muitos casos particulares para se
chegar a uma lei geral.
ƒ Dedução: parte de um uma lei geral para se prever
casos particulares.
EMPIRISMO
2. John Locke (1632-1704)
Considerado o pai do empirismo e do liberalismo político,
o inglês John Locke apresentou que a experiência é a única
fonte das ideias. Para o filósofo, a mente humana é como
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 uma tábula rasa (folha em branco) que, aos poucos, é
preenchida pelos dados da experiência.
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

1. Introdução
O empirismo é uma teoria do conhecimento que se de-
senvolveu na Idade Moderna, tendo como o seu princi-
pal direcionamento a experiência na evidência para a
formação de algum tipo de conhecimento e numa níti- RETRATO DE JOHN LOCKE
da oposição ao pensamento racionalista, que emerge no
mesmo período histórico. O conhecimento é o resultado das operações que a mente
realiza com as ideias, tanto da sensação como da reflexão,
procurando perceber o acordo ou o desacordo entre elas.

multimídia: livro
multimídia: vídeo
Empirismo - MEYERS, Robert G.
FONTE: YOUTUBE
São Paulo: Vozes, 2017.
John Locke
Essa obra traz uma introdução à tradição empirista em
filosofia. O livro examina as mais importantes questões John Locke é um dos principais pensadores modernos.
filosóficas sobre o tema, mantendo distância suficiente Liberal e teórico empirista, considerava a experiência
das complexidades acadêmicas acerca de Locke, Berke- sensorial a fonte geradora do conhecimento humano.
ley e Hume, para permitir aos leitores uma visão geral
clara do empirismo, sem se perder em detalhes de dis- 2.1. A política para Locke
putas exegéticas sobre filósofos específicos.
Locke afirma que o trabalho justifica a propriedade privada,
que ele considerava natural. Essa ideia se baseava na noção
Assim, os pensadores adeptos do empirismo valorizavam as de que, desde que o trabalho do homem lhe pertencia, tudo
experiências sensoriais, constituindo um método cientificista o que ele transformava com seu trabalho deveria tornar-se
com um processo indutivo. O empirismo desenvolveu-se na seu. De fato, a propriedade é a principal razão porque os

62
1
homens deixam o estado de natureza e estabelecem o go- Koinai énoiai: termo grego platônico que significa "sen-
verno civil, com governo e regras preestabelecidas. so comum"; ideias em comum, ou seja, ideias compartilha-
Assim, a ideia de se ter um contrato social seria a de pre- das por todos.
servar a propriedade privada, ou seja, o direito natu-
ral (jusnaturalismo) dos seres do grupo. Esse contrato
foi feito de modo consentido, assim, nenhum membro da
3. Francis Bacon (1561-1626)
sociedade estaria acima do contrato social. Considerado como o “primeiro dos modernos e último dos
antigos”, o inglês Francis Bacon desenvolveu uma ciência ex-
Portanto, eis a razão de se ter um rei, leis e uma socieda-
perimental, na intenção de descobrir ideias que pudessem ser
de civil regidos que usufruem de seus direitos inalienáveis,
úteis, tendo como principal referência a filosofia de Aristóteles.
ordenados por Deus. Os quatro direitos inalienáveis são:
1. direito à vida;
2. direito à liberdade;
3. direito à propriedade; e
4. direito de revoltar-se contra leis e governantes injustos.
O direito de rebelião só pode ser exercido em casos de ti-
rania (governos autoritários que usurpem direitos naturais)
Por ser aristocrático, Locke não defendia esses direitos aos
pobres e nem às mulheres.
Não há princípios inatos na mente humana.
A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento
RETRATO DE FRANCIS BACON
constitui suficiente prova de que não é inato. Consiste
numa opinião estabelecida entre alguns homens que o Para o filósofo, é necessário eliminar os “ídolos”, isto é,
entendimento comporta certos princípios inatos, certas no- as falsas noções, mediante a observação de um método
ções primárias, koinai énoiai1, caracteres, os quais estariam
seguro e rigoroso, na intenção de desenvolver a ciência. Os
estampados na mente do homem, cuja alma os receberá
em seu ser primordial e os transportará consigo ao mundo. ídolos para Bacon são:
Seria suficiente para convencer os leitores sem preconceito ƒ ídolos da caverna: dificuldades da própria pessoa;
da falsidade desta hipótese se pudesse apenas mostrar (o
que espero fazer nas outras partes deste tratado) como os ƒ ídolos da tribo: tendências do grupo que direcionam
homens, simplesmente pelo uso de suas faculdades natu- o indivíduo;
rais, podem adquirir todo conhecimento que possuem sem
a ajuda de impressões inatas e podem alcançar a certeza ƒ ídolos do foro: significado atrelados às palavras, in-
sem nenhuma destas noções ou princípios originais. fluenciando como entendemos o mundo;
O assentimento geral consiste no argumento mais im- ƒ ídolos do teatro: limitações que fazem com que de-
portante. Não há nada mais ordinariamente admitido do fendamos uma única visão de um fato.
que a existência de certos princípios, tanto especulativos
como práticos (pois referem-se aos dois), com os quais Em seu livro Novum organum, Bacon pretende desenvolver
concordam universalmente todos os homens. A vista uma reforma total do conhecimento humano, baseando-se
disso, argumentam que devem ser uniformes as impres- na observação dos fenômenos naturais e do cumprimento
sões recebidas pelas almas dos homens em seus seres das seguintes etapas:
primordiais, que, transportadas por eles ao mundo, mos-
tram-se tão necessárias e reais como o são quaisquer de ƒ observação da natureza para a coleta de informações;
suas faculdades inatas.
ƒ organização racional dos dados recolhidos empirica-
O acordo universal não prova o inatismo. O argumento mente;
derivado do acordo universal comporta o seguinte incon-
veniente: se for verdadeiro que existem certas verdades ƒ formulação de explicações gerais (hipóteses) destina-
devido ao acordo entre todos os homens, isto deixará de das à compreensão do fenômeno estudado; e
ser uma prova de que são inatas, se houver outro meio
qualquer para mostrar como os homens chegam a uma ƒ comprovação da hipótese formulada mediante experi-
concordância universal acerca das coisas merecedoras mentações repetidas.
de sua anuência. Suponho que isso pode ser feito.
No seu pensamento, os “homens devem saber que, neste
JOHN LOCKE
ENSAIO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO. SÃO teatro da vida humana, apenas Deus e os anjos podem ser
PAULO: NOVA CULTURAL, 1999, P. 37. espectadores”. Assim, saber é poder.

63
Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto
humano e nele se acham implantados não somente o
obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade,
como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerra-
do, poderão ressurgir como obstáculo à própria instaura-
ção das ciências, a não ser que os homens, já precavidos
contra eles, se cuidem o mais que possam.
São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente multimídia: vídeo
humana. Para melhor apresentá-los, lhes assinamos no-
mes, a saber: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos FONTE: YOUTUBE
do Foro e Ídolos do Teatro. David Hume
A formação de noções e axiomas pela verdadeira indu- David Hume foi um filósofo e historiador escocês nas-
ção é, sem dúvida, o remédio apropriado para afastar e cido em 1711 e falecido em 1776. Está entre os pen-
repelir os ídolos. Será, contudo, de grande préstimo indi- sadores que mais contribuíram para o surgimento da
car no que consistem, posto que a doutrina dos ídolos Psicologia como ciência. Hume estudou na universidade
tem a ver com a interpretação da natureza o mesmo que
de Edimburgo e, ao contrário da maioria dos filósofos
a doutrina dos elencos sofísticos com a dialética vulgar.
de seu tempo, nunca foi professor universitário. Ele tra-
FRANCIS BACON
balhou brevemente no comércio, depois se tornou pro-
NOVUM ORGANUM. SÃO PAULO: NOVA CULTURAL, 1999.
fessor particular, bibliotecário e secretário profissional.
Foi indicado duas vezes para trabalhar no ensino supe-
rior, mas o clero escocês fez oposição, pois Hume era cé-
tico em relação às crenças religiosas e seus atritos com
a igreja eram constantes.
Nesse vídeo, conheceremos as ideias fundamentais da
filosofia de Hume.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Francis Bacon
Francis Bacon foi um filósofo e cientista britânico nasci-
do na cidade de Londres em 1561 e falecido no ano de
1626. Bacon viveu na mesma época que Galileu e era um
empirista radical. O empirismo afirma que a natureza só
pode ser compreendida através do estudo direto e obje-
tivo. Explicações baseadas em fé, tradição ou autoridades
filosóficas só atrapalham o esforço para entendermos
como o mundo realmente funciona.
RETRATO DE DAVID HUME
Nesse vídeo, conheceremos a filosofia de Francis Bacon.
O conhecimento só pode ser resultado da associação de
ideias, isto é, da conexão de várias impressões por meio de
4. David Hume (1711-1776) suas cópias, formando ideias complexas. A certeza só pode
ser uma crença, ou seja, uma repetição de experiências se-
Nascido na Escócia e considerado o mais importante e melhantes. Assim, o ceticismo, que sempre se guiou pela
influente dos empíricos britânicos, levando o empirismo à razão, tem bases não racionais, como a crença e o hábito.
sua conclusão lógica, David Hume indica que os homens
Isso significa que, desconfiando das convicções arraigadas
associam ideias e acreditam nessa associação por força
pelo hábito, o cientista deve apresentar suas teses como
do hábito ou costume.
probabilidades lógicas, e não como certezas irrefutáveis.
Desse modo, Hume conclui que “o costume (hábito) é, Tal atitude epistemológica, estendida ao convívio social,
pois, o grande guia da vida humana”. Diante disso, ocor- tornaria os homens mais tolerantes, democráticos e aber-
re a destruição de todos os raciocínios baseados em hipó- tos. Para Hume, a mente humana opera de acordo com a
teses, pois, sem o apoio da experiência, esses raciocínios causalidade. A mente humana realiza a associação entre
tornam-se dogmáticos. eventos, no entanto, sugere Hume, as associações mentais

64
podem não ter correspondência na realidade, gerando-nos ou grandeza de alma, que profundidade de raciocínio e
conclusões e expectativas que podem ser irreais. reflexão. Contentou-se em representar o senso comum
humano sob a mais viva luz e com a melhor forma de
pensamento e expressão, sem seguir sistematicamente
uma cadeia de proposições, nem organizar as várias
verdades em uma ciência rigorosa. No entanto, vale a
pena ao menos perguntar se a ciência do homem não
comporta a mesma precisão de que se julgam suscetí-
veis várias partes da filosofia natural. Parece haver toda
a razão do mundo para supor que ela pode ser levada ao
mais alto grau de exatidão.
multimídia: vídeo DAVID HUME
FONTE: YOUTUBE RESUMO DE UM TRATADO DA NATUREZA HUMANA. PORTO
ALEGRE: PARAULA, 1995, P. 35-37.
DAVID HUME (2) – IMAGINAÇÃO, ASSOCIAÇÃO
E CAUSAÇÃO | EMPIRISMO BRITÂNICO

Empirista convicto e conhecedor da evolução científica de


sua época, Hume insiste sobre a impossibilidade do conhe-
cimento ir além da experiência. A crítica à religião e a pos-
tura cética lhe valeram a acusação de ateísmo. A novidade
do seu pensamento influenciou decisivamente os filósofos
posteriores, seja para rejeitá-lo, seja para levar em conta
sua crítica à metafísica.

ESTÁTUA DE DAVID HUME NA ESCÓCIA.


Este livro parece ter sido escrito obedecendo ao mesmo
plano de vários outros trabalhos, que têm tido grande
voga na Inglaterra, nos últimos anos. O espírito filosófico,
que tanto se desenvolveu nestas oito décadas em toda
a Europa, neste reino foi levado tão longe quanto em
qualquer outro. Nossos autores parecem até ter inaugu-
rado um novo tipo de filosofia, que promete mais en-
tretenimento e proveito à humanidade do que qualquer
outro conhecido pelo mundo. A maioria dos filósofos da
Antiguidade que trataram da natureza humana mostrou
mais delicadeza de sentimentos, senso justo da moral,

65
DIAGRAMA DE IDEIAS

EMPIRISMO

O CONHECIMENTO É
ORIGINADO A PARTIR
DA EXPERIÊNCIA
SENSORIAL

LOCKE HUME

BACON

A MENTE É UMA O HÁBITO (COSTUME)


TÁBULA RASA É O GUIA DA
(FOLHA EM BRANCO) BUSCA VIDA HUMANA
REORGANIZAR O
CONHECIMENTO

A EXPERIÊNCIA
QUE É PREENCHIDA
VALIDA O
PELA EXPERIÊNCIA PARA ISSO É CONHECIMENTO
PRECISO ELIMINAR
OS ÍDOLOS QUE
ATRAPALHAM O
O SER HUMANO CONHECIMENTO
A CAUSALIDADE
POSSUI DIREITOS
É ENGANOSA
NATURAIS
(JUSNATURALISMO)

SABER É PODER

66
Segundo o autor, qual é a origem do conhecimento
Aplicando para humano?
Aprender (A.P.A.) a) A potência inata da mente.
b) A revelação da inspiração divina.
1. (Uece 2020) Observe as seguintes citações, que re- c) O estudo das tradições filosóficas.
fletem posições divergentes, colocadas por empiristas
d) A vivência dos fenômenos do mundo.
e racionalistas, sobre o método que deveria ser usado
e) O desenvolvimento do raciocínio abstrato.
para o estabelecimento do correto processo de conhe-
cimento da realidade: 3. (Enem) Os produtos e seu consumo constituem a
“Primeiramente, considero haver em nós certas noções meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa
primitivas, as quais são como originais, sob cujo padrão meta foi proposta pela primeira vez no início da Mo-
formamos todos os nossos outros conhecimentos”. dernidade, como expectativa de que o homem poderia
dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, con-
DESCARTES, R. CARTA A ELISABETH. SÃO PAULO:
ABRIL CULTURAL, 1973. COL. OS PENSADORES. vertida em programa anunciado por pensadores como
Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não
“De onde a mente apreende todos os materiais da razão surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperia-
e do conhecimento? A isso respondo numa palavra, da lismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem
experiência. Todo o conhecimento está nela fundado, e e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.
dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento”.
CUPANI, A. A TECNOLOGIA COMO PROBLEMA FILOSÓFICO: TRÊS ENFOQUES.
LOCKE, J. ENSAIO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO. SÃO SCIENTIAE STUDIA, SÃO PAULO, V. 2, N. 4, 2004 (ADAPTADO).
PAULO: ABRIL CULTURAL, 1973. COL. OS PENSADORES.
Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e
Considerando o que propunham o empirismo e o racio- Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como
nalismo, atente para o que se afirma a seguir e assinale uma forma de saber que almeja libertar o homem das
com V o que for verdadeiro e com F o que for falso. intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação
científica consiste em
( ) O racionalismo é a forma de compreensão do conhe-
cimento que prioriza a razão e recorre à indução como a) expor a essência da verdade e resolver definitiva-
método de análise. mente as disputas teóricas ainda existentes.
( ) O empirismo, ao contrário do racionalismo, parte da b) oferecer a última palavra acerca das coisas que
experiência para a construção de afirmações gerais a existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.
respeito da realidade. c) ser a expressão da razão e servir de modelo para
( ) Para o racionalismo, sobretudo o cartesiano, a ver- outras áreas do saber que almejam o progresso.
dade deveria ser buscada fora dos sentidos, visto que d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar
eles são enganosos e podem nos equivocar em qual- a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos.
quer experiência de percepção. e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos
( ) O empirismo, vertente de compreensão da qual Lo- naturais e impor limites aos debates acadêmicos.
cke fazia parte, aproxima-se do modelo científico carte- 4. (Enem) Texto I
siano, ao negar a existência de ideias inatas.
A sequência correta, de cima para baixo, é: Experimentei algumas vezes que os sentidos eram en-
a) V, F, V, F. ganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente
em que já nos enganou uma vez.
b) V, V, F, V.
c) F, F, F, V. DESCARTES, R. MEDITAÇÕES METAFÍSICAS. SÃO
PAULO: ABRIL CULTURAL, 1979.
d) F, V, V, F.
Texto II
2. (Enem 2020) Adão, ainda que supuséssemos que
suas faculdades racionais fossem inteiramente perfei-
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma
tas desde o início, não poderia ter inferido da fluidez
ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado,
e transparência da água que ela o sufocaria, nem da
precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva
luminosidade e calor do fogo que este poderia consu-
esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qual-
mi-lo. Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades
quer impressão sensorial, isso servirá para confirmar
que aparecem aos sentidos, nem as causas que o pro-
nossa suspeita.
duziram, nem os efeitos que dele provirão; e tampouco
nossa razão é capaz de extrair, sem auxílio da experiên- HUME, D. UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENTENDIMENTO.
cia, qualquer conclusão referente à existência efetiva SÃO PAULO: UNESP, 2004 (ADAPTADO).
de coisas ou questões de fato.
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a
HUME, D. UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENTENDIMENTO natureza do conhecimento humano. A comparação dos
HUMANO. SÃO PAULO: UNESP 2003. excertos permite assumir que Descartes e Hume

67
a) defendem os sentidos como critério originário para I. O homem deve agir como intérprete da natureza para
considerar um conhecimento legítimo. melhor conhecê-la e dominá-la em seu benefício.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende
de uma ideia na reflexão filosófica e crítica. da experiência guiada por método indutivo.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem
gênese do conhecimento. que parte de proposições gerais para, na sequência e à
d) concordam que conhecimento humano é impossí- luz destas, clarificar as premissas menores.
vel em relação às ideias e aos sentidos.
IV. Os homens de experimentos processam as informa-
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos ções à luz de preceitos dados a priori pela razão.
no processo de obtenção do conhecimento.
Assinale a alternativa correta.
5. (Unicamp) A maneira pela qual adquirimos qualquer co- a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
nhecimento constitui suficiente prova de que não é inato. b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
LOCKE, JOHN. ENSAIO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
SÃO PAULO: NOVA CULTURAL, 1988, P. 13 d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte,
a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua 8. (UEL) [...] é necessário, ainda, introduzir-se um método
aquisição deriva da experiência. completamente novo, uma ordem diferente e um novo
b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os conhe- processo, para continuar e promover a experiência. Pois
cimentos possam ser obtidos. a experiência vaga, deixada a si mesma [...] é um mero
c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao tateio, e presta-se mais a confundir os homens que a in-
negar a existência de ideias inatas. formá-los. Mas quando a experiência proceder de acordo
d) defende que as ideias estão presentes na razão com leis seguras e de forma gradual e constante, poder-
desde o nascimento. -se-á esperar algo de melhor da ciência. [...]
A infeliz situação em que se encontra a ciência humana
6. (Unesp) Sendo os homens, conforme (...) dissemos, transparece até nas manifestações do vulgo. Afirma-se
por natureza, todos livres, iguais e independentes, nin- corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas
guém pode ser expulso de sua propriedade e submeti- causas. E, não indevidamente, estabelecem- se quatro
do ao poder de outrem sem dar consentimento. coisas: a matéria, a forma, a causa eficiente, a causa fi-
JOHN LOCKE. SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO. nal. Destas, a causa final longe está de fazer avançar as
ciências, pois na verdade as corrompe; mas pode ser de
O patrimônio do pobre reside na força e destreza de interesse para as ações humanas.
suas mãos, sendo que o impedir de utilizar essa força e
essa destreza da maneira que ele considerar adequada, BACON, F. NOVO ORGANUM OU VERDADEIRAS INDICAÇÕES
ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA NATUREZA. SÃO PAULO:
desde que não lese o próximo, constitui uma violação ABRIL CULTURAL, 1973, P. 72; 99-100.
pura e simples dessa propriedade sagrada.
Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon
ADAM SMITH. A RIQUEZA DAS NAÇÕES.
acerca da verdadeira indução experimental como inter-
A partir da leitura dos textos, é correto afirmar que: pretação da natureza, é correto afirmar:
a) John Locke defende a democracia, isto é, a igual- a) Na busca do conhecimento, não se podem encon-
dade política entre os homens, ao passo que Adam trar verdades indubitáveis, sem submeter as hipóteses
Smith privilegia o trabalho, portanto a desigualdade. ao crivo da experimentação e da observação.
b) John Locke funda sua teoria política liberal na defe- b) A formulação do novo método científico exige sub-
sa da propriedade privada, em sintonia com a defesa meter a experiência e a razão ao princípio de autori-
da livre iniciativa proposta por Adam Smith. dade para a conquista do conhecimento.
c) o consentimento para evitar o poder centralizado c) O desacordo entre a experiência e a razão, prevale-
do rei, em John Locke, choca-se com a necessidade de cendo esta sobre aquela, constitui o fundamento para
intervenção econômica, segundo Adam Smith. o novo método científico.
d) a monarquia absolutista é a base da teoria política d) Bacon admite o finalismo no processo natural, por
de John Locke, enquanto o Estado não intervencionis- considerar necessário ao método perguntar para que
ta é o suporte da teoria econômica de Adam Smith. as coisas são e como são.
e) para John Locke, o consentimento é garantido pela e) O estabelecimento de um método experimental,
divisão dos poderes harmonizando-se com a defesa baseado na observação e na medida, aprimora o mé-
da propriedade coletiva de Adam Smith. todo escolástico.

7. (UEL) A figura do homem que triunfa sobre a natu- 9. (Enem) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada
reza bruta é significativa para se pensar a filosofia de mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar
Francis Bacon (1561-1626). Com base no pensamento ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e
de Bacon, considere as afirmativas a seguir. a experiência. Quando pensamos em uma montanha de

68
ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consis- Considerando o trecho citado, assinale a alternativa
tentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos verdadeira.
conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de a) O texto faz referência à influência de Aristóteles
conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimen- no pensamento de Tomás de Aquino, que se opõe,
tos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cava- em muitos pontos, à tradição agostiniana, que tinha
lo, animal que nos é familiar. influência de Platão.
HUME, D. INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENTENDIMENTO b) O texto expõe a doutrina da iluminação, formulada
HUMANO. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1995. por Tomás de Aquino para explicar a origem de nosso
conhecimento.
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e im-
pressão ao considerar que c) Para Tomás de Aquino, a realidade sensível é ape-
nas uma cópia enganosa da verdadeira realidade que
a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na se encontra na mente divina.
sensação.
d) Tomás de Aquino substitui a doutrina da ilumi-
b) o espírito é capaz de classificar os dados da percep- nação pela teoria da abstração aristotélica, a fim de
ção sensível.
mostrar que a fé em Deus é incompatível com as ver-
c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais dades científicas.
determinadas pelo acaso.
d) os sentimentos ordenam como os pensamentos 12. (UEM) Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão.
devem ser processados na memória. Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel em
e) as ideias têm como fonte específica o sentimento branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer
cujos dados são colhidos na empiria. ideias; como ela será suprida? (...) De onde apreende to-
dos os materiais da razão e do conhecimento?
10. (Unioeste) John Locke afirma em Ensaio acerca do
entendimento: A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o
nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva
“(...) é de grande utilidade para o marinheiro saber a fundamentalmente o próprio conhecimento.
extensão de sua linha, embora não possa com ela son-
LOCKE, JOHN. ENSAIO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO.
dar toda a profundidade do oceano. É conveniente que SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1973, P. 165.
saiba que ela é suficientemente longa para alcançar o
fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, Assinale o que for correto.
e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem des- 01) Para John Locke, embora nosso conhecimento se
truí-lo. Não nos diz respeito conhecer todas as coisas,
origine na experiência, nem todo ele deriva da experi-
mas apenas as que se referem à nossa conduta. Se pu-
ência. No entendimento, existem ideias inatas abstra-
dermos descobrir aquelas medidas por meio das quais
ídas das coisas pela reflexão.
uma criatura racional, posta nesta situação do homem
02) Como seguidor de Descartes, John Locke assume a
no mundo, pode e deve dirigir suas opiniões e ações
diferença entre conhecimento verdadeiro, que é pura-
delas dependentes, não devemos nos molestar por que
mente intelectual e infalível, e conhecimento sensível,
outras coisas escapam ao nosso conhecimento”.
que, por depender da sensação, é suscetível de erro.
Tendo em conta o texto acima e a teoria do conheci- 04) John Locke é o iniciador da teoria do conhecimento
mento de Locke, é incorreto afirmar que: em sentido estrito, pois se propôs, no Ensaio acerca do
a) o homem, utilizando suas faculdades racionais, entendimento humano, a investigar explicitamente a na-
pode conhecer tudo sobre todas as coisas do mundo. tureza, a origem e o alcance do conhecimento humano.
b) o homem deve saber os limites da razão para ter 08) Para John Locke, todo nosso conhecimento pro-
conhecimento certo daquilo que é possível conhecer. vém e se fundamenta na experiência. As impressões
formam as ideias simples; a reflexão sobre as ideias
c) há certas coisas que a razão do homem não pode
simples, ao combiná-las, formam ideias complexas,
conhecer.
como substância, Deus, alma etc.
d) assim como o marinheiro guia sua viagem por uma
16) John Locke distingue as qualidades do objeto em
sonda de tamanho conhecido, o homem deve orien-
qualidades primárias (solidez, extensão, movimento
tar sua conduta por aquilo que conhece.
etc.) e qualidades secundárias (cor, odor, sabor etc.);
11. (UFU) Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aqui- as primeiras existem realmente nas coisas, as segun-
no substitui a doutrina da iluminação divina pela da abs- das são relativas e subjetivas.
tração, de raízes aristotélicas: a única fonte de conheci-
13. (UFU) Suponha-se, agora, que esse homem adquiriu
mento humano seria a realidade sensível, pois os objetos mais experiência e viveu no mundo o tempo suficiente
naturais encerrariam uma forma inteligível em potência, para ter observado uma conjunção constante entre ob-
que se revela, porém, não aos sentidos que só podem jetos ou acontecimentos familiares: qual é o resultado
captá-la individualmente – mas ao intelecto. desta experiência? Ele infere imediatamente a existência
INÁCIO, INÊS C.; LUCA, TÂNIA REGINA DE. O PENSAMENTO de um objeto do aparecimento do outro. E, sem embar-
MEDIEVAL. SÃO PAULO: ÁTICA, 1988, P. 74. go, nem toda a sua experiência lhe deu qualquer idéia

69
ou conhecimento do poder secreto pelo qual um obje-
to produz outro; e tampouco é levado a fazer essa infe-
rência por qualquer processo de raciocínio. No entanto,
é levado a fazê-la. (...) Há algum outro princípio que o
determina a tirar essa conclusão.
HUME, DAVID. INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENTENDIMENTO HUMANO.
COLEÇÃO “OS PENSADORES”. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1978.

Qual é o princípio a que Hume se refere acima? De acor-


do com o texto, aponte a sua relevância para a teoria
do conhecimento.

Gabarito
1. D 2. D 3. C 4. E 5. A 6. B 7. A
8. A 9. A 10. A 11. A 12. 04 + 08 + 16 = 28
13. Hume apresenta a noção de hábito. A relevância dessa
noção para a teoria do conhecimento é que ela está se
contrapondo à noção de casualidade. Ele crê que o hábito
é de extrema importância para o conhecimento humano.

70
seu nome: “Posso não concordar com nenhuma das pala-
AULA 10 vras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de
você dizê-las”.
A filosofia, para o Voltaire, deveria ser útil, modificando o
comportamento das pessoas.

ILUMINISMO FRANCÊS

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

1.Introdução
O século XVIII costuma ser chamado de Idade do Iluminis-
mo, por causa da disseminação de ideias racionais, pro- RETRATO DE VOLTAIRE
gressistas, liberais e científicas. Surgido com o enfraqueci-
mento do absolutismo, o iluminismo vem para combater
todos os elementos atrelados ao sistema absolutista e a
influência da Igreja no comportamento das pessoas.
O iluminismo francês despontou como um movimento na
história da filosofia com características sociopolíticas que de-
sencadearam inúmeras transformações históricas e sociais.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
TRATADO SOBRE A TOLERÂNCIA, DE VOLTAIRE

2.1. Cândido ou O otimismo (1758)


multimídia: vídeo Em seu livro mais famoso, intitulado Cândido, o homem
não é um ser maldoso, “torna-se mau tal como se torna
FONTE: YOUTUBE
doente”. O mal deixa de ser uma questão metafísica e teo-
ILUMINISMO: POLÍTICA E FILOSOFIA | EDUARDO WOLF lógica para assumir uma dimensão humana.
Sendo um retrato satírico de seu tempo, essa obra situa al-
guns fatos históricos, como o terremoto em Lisboa (1755)
2. Voltaire (1694-1778) e a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), ao passo que faz
Um dos mais famosos pensadores do iluminismo, o filóso- críticas, com bom humor, às regalias da nobreza, à intole-
fo francês François-Marie Arouet, conhecido como Voltaire, rância religiosa e aos absurdos da Santa Inquisição. O per-
destacou-se pelas críticas que fez ao clero católico, à into- sonagem Mestre Pangloss é uma representação sarcástica
lerância e à prepotência dos poderosos. da filosofia otimista do pensador Gottfried Leibniz.
Tornou-se marcante sua posição em defesa da liberda- Assim, a história é a história do progresso, que avança à
de de pensamento. Existe uma frase que é atribuída ao medida que os homens vão se esclarecendo pelas luzes

71
da razão. Por isso, o filósofo luta contra os dogmas, a su- tornar-se seu prisioneiro, pois a razão não é apenas a imi-
perstição e o fanatismo. Em sua obra intitulada Tratado So- tação da natureza, mas a capacidade de criação.
bre a Tolerância, Voltaire defende a tolerância e o respeito
Seu projeto enciclopedista, em parceria com D'Alembert,
entre os homens. O livro trata de conflitos de intolerância
visava a ampliar o acesso ao conhecimento ilustrado e pro-
religiosa na Europa e Voltaire propõe soluções racionais de
mover a continuidade do projeto iluminista de esclareci-
convívio com as diferenças.
mento da vida humana.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Diderot
Roberto Romano, professor da Unicamp, comenta a filo-
sofia de Diderot.

4. Montesquieu (1689-1755)
RETRATO DE VOLTAIRE. O objetivo de Charles-Louis de Secondat, o barão de Mon-
tesquieu, é claro: destacar e analisar separadamente o
aspecto propriamente político e social do homem. Assim,
3. Denis Diderot (1713-1784) Montesquieu quer demarcar o domínio próprio da política
Denis Diderot foi o principal expoente do projeto da Enci- e de sua ciência, que não se confunde com o da religião ou
clopédia – uma obra que sintetiza as luzes: trata de filoso- o da moral. Para muitos que o interpretam, ele inaugura a
fia, ciências, artes, política, economia, geografia e técnicas. sociologia política.

RETRATO DE DENIS DIDEROT. RETRATO DE MONTESQUIEU.

Concebia a Natureza como um grande processo criativo, Sua obra mais famosa, Do espírito das leis (1748),
com o homem como parte de um todo. O filósofo ressalta procura a “natureza e o princípio” subjacentes a diferen-
a relatividade da cultura e a necessidade de mudança – o tes tipos de lei. Classificou formas de governo, de acordo
homem pode ser bom e feliz, contanto que se liberte das com seu “princípio animador”, de modo que o importan-
imposições das autoridades religiosas, metafísicas, filosó- te não é julgar os governos existentes, mas compreen-
ficas ou políticas que teimam em contrariar a razão e a der a natureza e o princípio de cada espécie de governo.
natureza. Porém, seguir as leis da natureza não significa Montesquieu afirmava que:

72
ƒ a virtude é o princípio de uma república; Existe, portanto, uma razão primitiva; e as leis são as re-
lações que se encontram entre ela e os diferentes seres,
ƒ a honra, o de uma monarquia; e e as relações destes diferentes seres entre si.
ƒ o medo, o do despotismo. Deus possui uma relação com o universo, como criador
e como conservador: as leis segundo as quais criou são
aquelas segundo as quais conserva. Ele age segundo
estas regras porque as conhece; conhece-as porque as
fez, e as fez porque elas possuem uma relação com sua
sabedoria e sua potência.
Como observamos que o mundo, formado pelo movimen-
to da matéria e privado de inteligência, ainda subsiste, é
necessário que seus movimentos possuam leis invariáveis;
e se pudéssemos imaginar um mundo diferente deste ele
possuiria regras constantes ou seria destruído.
MONTESQUIEU
DO ESPÍRITO DAS LEIS. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2000, P. 11.

EXPERIMENTO COM UM PÁSSARO NUMA BOMBA DE AR,


OBRA DO ARTISTA JOSEPH WRIGHT OF DERBY.

As leis, em seu significado mais extenso, são as relações


necessárias que derivam da natureza das coisas; e, neste
sentido, todos os seres têm suas leis; a Divindade possui multimídia: livro
suas leis, o mundo material possui suas leis, as inteligên-
cias superiores ao homem possuem suas leis, os animais
possuem suas leis, o homem possui suas leis. Do espírito das leis - Montesquieu.
Aqueles que afirmaram que uma fatalidade cega pro- São Paulo: Saraiva, 2008.
duziu todos os efeitos que observamos no mundo pro- Nessa obra, Montesquieu apresenta as bases estru-
feriram um grande absurdo: pois o que poderia ser mais turais da divisão dos poderes, analisando uma nova
absurdo do que uma fatalidade cega que teria produzi- conjuntura política.
do seres inteligentes?

73
DIAGRAMA DE IDEIAS

ILUMINISMO
FRANCÊS

PENSAMENTO
BURGUÊS QUE
SERÁ CONTRA O
ABSOLUTISMO

VOLTAIRE MONTESQUIEU

DIDEROT

NENHUM
LIBERDADE DE
GOVERNANTE OU
EXPRESSÃO
INSTITUIÇÃO DEVE
O CONHECIMENTO
CONCENTRAR
DEVE SER DIFUNDIDO
TODOS OS PODERES
DE UM ESTADO
NINGUÉM DEVE
SER PUNIDO POR
EXPRESSAR A SURGE A
SUA OPINIÃO ENCICLOPÉDIA DIVISÃO DOS
PODERES

• JUDICIÁRIO
DEFESA DA • EXECUTIVO
TOLERÂNCIA E • LEGISLATIVO
DO RESPEITO ÀS
DIFERENÇAS

74
divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes
Aplicando para Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma in-
dependente para a efetivação da liberdade, sendo que
Aprender (A.P.A.) esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer
1. (Unesp 2020) Cada um de nós põe em comum sua os referidos poderes concomitantemente.
pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da MONTESQUIEU, B. DO ESPÍRITO DAS LEIS. SÃO
vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada PAULO: ABRIL CULTURAL, 1979 (ADAPTADO).
membro como parte indivisível do todo. [...] um corpo
moral e coletivo, composto de tantos membros quantos A divisão e a independência entre os poderes são con-
são os votos da assembleia [...]. Essa pessoa pública, dições necessárias para que possa haver liberdade em
que se forma, desse modo, pela união de todas as ou- um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo
tras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o político em que haja
de república ou de corpo político, o qual é chamado por a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
seus membros de Estado [...]. b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
(JEAN-JACQUES ROUSSEAU. OS PENSADORES, 1983.) c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-
-científicas.
O texto, produzido no âmbito do Iluminismo francês, d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às
apresenta a doutrina política do instituições do governo.
a) coletivismo, manifesto na rejeição da propriedade e) reunião das funções de legislar, julgar e executar
privada e na defesa dos programas socialistas de es- nas mãos de um governante eleito.
tatização.
4. (Enem) É verdade que nas democracias o povo parece
b) humanismo, presente no projeto liberal de valorizar fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste
o indivíduo e sua realização no trabalho. nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é
c) socialismo, presente na crítica ao absolutismo mo- independência e o que é liberdade. A liberdade é o direi-
nárquico e na defesa da completa igualdade socioe- to de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão
conômica. pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais
d) corporativismo, presente na proposta fascista de unir liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
o povo em torno da identidade e da vontade nacional.
MONTESQUIEU. DO ESPÍRITO DAS LEIS. SÃO PAULO:
e) contratualismo, manifesto na reação ao Antigo Re-
NOVA CULTURAL, 1997 (ADAPTADO).
gime e na defesa dos direitos de cidadania.
A característica de democracia ressaltada por Montes-
2. (Unesp 2020) Do nascimento do Estado moderno
quieu diz respeito
até a Revolução Francesa, ou seja, do século XVI aos
fins do século XVIII, a filosofia política foi obrigada a a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao
reformular grande parte de suas teses, devido às mu- tomar as decisões por si mesmo.
danças ocorridas naquele período. O que se buscou na b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à
modernidade iluminista foi fortalecer a filosofia em conformidade às leis.
uma configuração contrária aos dogmas políticos que c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e,
reforçavam a crença em uma autoridade divina. nesse caso, livre da submissão às leis.
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que
(THIAGO RODRIGO NAPPI. “TRADIÇÃO E INOVAÇÃO NA TEORIA DAS é proibido, desde que ciente das consequências.
FORMAS DE GOVERNO: MONTESQUIEU E A IDEIA DE DESPOTISMO”.
IN: HISTORIÆ, VOL. 3, NO 3, 2012. ADAPTADO.) e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acor-
do com seus valores pessoais.
O filósofo iluminista Montesquieu, autor de Do espírito
das leis, criticou o absolutismo e propôs 5. (Enem) Observe as duas afirmações de Montesquieu
(1689-1755) a respeito da escravidão:
a) a divisão dos poderes em executivo, legislativo e
judiciário. A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao
b) a restauração de critérios metafísicos para a esco- senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode fazer
lha de governantes. por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos
c) a justificativa do despotismo em nome da paz social. toda sorte de maus hábitos e se acostuma insensivel-
d) a obediência às leis costumeiras de origem feudal. mente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se
orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel. Se
e) a retirada do poder político do povo.
eu tivesse que defender o direito que tivemos de tornar
3. (Enem) Para que não haja abuso, é preciso organi- escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os povos da
zar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo Europa exterminado os da América, tiveram que escravi-
poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o zar os da África para utilizá-los para abrir tantas terras. O
mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos
exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de execu- cultivassem a planta que o produz.
tar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as (MONTESQUIEU, DO ESPÍRITO DAS LEIS)

75
Com base nos textos, podemos afirmar que, para Mon- 8. (UFF) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no
tesquieu, século XVIII, é considerado um dos grandes pensadores
a) o preconceito racial foi contido pela moral religiosa. do iluminismo ou século das luzes. Ele afirma o seguinte
sobre a importância de manter acesa a chama da razão:
b) a política econômica e a moral justificaram a escravidão.
c) a escravidão era indefensável de um ponto de vista “Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão,
econômico. ainda renascem algumas cabeças da hidra do fanatismo.
d) o convívio com os europeus foi benéfico para os Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas
escravos africanos. goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda
e) o fundamento moral do direito pode submeter-se subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-
às razões econômicas. -se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas
trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja
6. (Fuvest) “A autoridade do príncipe é limitada pelas e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tan-
leis da natureza e do Estado... O príncipe não pode, por- ge, acredito que a verdade não deve mais se esconder
tanto, dispor de seu poder e de seus súditos sem o con- diante dos monstros e que não devemos abster-nos do
sentimento da nação e independentemente da escolha alimento com medo de sermos envenenados.”
estabelecida no contrato de submissão (...)”
Identifique a opção que melhor expressa esse pensa-
DIDEROT, ARTIGO “AUTORIDADE POLÍTICA”, ENCICLOPÉDIA, 1751. mento de Voltaire.
Tendo por base esse texto da Enciclopédia, é correto a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não
afirmar que o autor: é um sábio, pois corre um risco desnecessário.
b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse
a) pressupunha, como os demais iluministas, que os
sempre se impõe sobre os seres humanos.
direitos de cidadania política eram iguais para todos
os grupos sociais e étnicos. c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade
deve munir-se da coragem para enfrentar o obscuran-
b) propunha o princípio político que estabelecia leis
tismo e o fanatismo.
para legitimar o poder republicano e democrático.
d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do pas-
c) apoiava uma política para o Estado, submetida aos
sado e por isso a razão não precisa mais estar alerta.
princípios da escolha dos dirigentes da nação, por
meio do voto universal. e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo.
d) acreditava, como os demais filósofos do Iluminis- 9. Montesquieu (1689-1755), na obra Do espírito das
mo, na revolução armada como único meio para a leis, afirma:
deposição de monarcas absolutistas.
e) defendia, como a maioria dos filósofos iluministas, “Quando os poderes legislativo e executivo ficam reuni-
os princípios do liberalismo político que se contrapu- dos numa mesma pessoa ou instituição do Estado, a li-
nham aos regimes absolutistas. berdade desaparece [...] Não haveria também liberdade
se o poder judiciário se unisse ao executivo, o juiz pode-
7. (UFPR) A respeito do iluminismo, movimento filosófi- ria ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se
co que se difundiu pela Europa ao longo do século XVIII, uma mesma pessoa ou instituição do Estado exercesse
considere as seguintes afirmativas: os três poderes: o de fazer leis, o de ordenar a sua execu-
I. Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, ção e o de julgar os conflitos entre os cidadãos.”
Voltaire e Diderot, foram leitores, admiradores e divul-
A partir dessas informações sobre a filosofia política de
gadores da filosofia política produzida pelos ingleses,
Montesquieu e a divisão que propõe do poder, é correto
como John Locke com sua crítica ao absolutismo.
afirmar:
II. Quanto à organização do Estado, os filósofos ilu-
ministas não eram contra a monarquia, mas contra as a) O poder judiciário aplica as leis; o poder legislativo cria
ideias de que o poder monárquico fora constituído e aprova as leis; o poder executivo executa normatiza-
pelo direito divino e de que ele não poderia ser sub- ções e deliberações referentes à administração do Estado.
metido a nenhum freio. b) O poder judiciário tem força para administrar o execu-
tivo; o poder executivo tem força para conduzir o judiciá-
III. A descoberta da perspectiva e a valorização de te-
rio; o poder legislativo tem força para tutelar o judiciário.
mas religiosos marcaram as expressões artísticas du-
rante o iluminismo. c) O poder legislativo aplica as leis; o poder executivo
gerencia as normatizações e deliberações relacionadas à
IV. Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu gran- administração do Estado; o poder judiciário aprova as leis.
de impulso das descobertas marítimas.
d) O poder executivo cria as leis; o poder judiciário san-
Assinale a alternativa correta. ciona as leis; e o poder legislativo efetiva as leis na
a) Somente a afirmativa I é verdadeira. administração do Estado.
b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. 10. (Unesp) Governos que se metem na vida dos outros
c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras. são governos autoritários. Na história temos dois gran-
d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. des exemplos: o fascismo e o comunismo. Em nossa épo-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. ca existe uma outra tentação totalitária, aparentemente

76
mais invisível e, por isso mesmo, talvez, mais perigosa: fator de liberdade e do poder de Estado e a proprie-
o “totalitarismo do bem”. A saúde sempre foi um dos dade ligada à desigualdade.
substantivos preferidos das almas e dos governos auto- b) crê, como filósofo iluminista do século XVIII, nas
ritários. Quem estudar os governos autoritários verá que igualdades social e política, pois a filosofia burguesa
a “vida cientificamente saudável” sempre foi uma das elabora uma doutrina universalista que confunde a
suas maiores paixões. E, aqui, o advérbio “cientificamen- causa da burguesia com a de toda a humanidade.
te” é quase vago porque o que vem primeiro é mesmo c) critica a centralização do poder na medida em que
o desejo de higienização de toda forma de vício, sujeira, ela breca a liberdade, impedindo o progresso das téc-
enfim, de humanidade não correta. Nosso maior pecado nicas e a expansão do comércio que geram riqueza,
contemporâneo é não reconhecer que a humanidade do e, ao mesmo tempo, aceita a propriedade como fun-
humano está além do modo “correto” de viver. E vamos damento da igualdade.
pagar caro por isso porque um mundo só de gente “sau- d) considera que a burguesia não se constitui em uma
dável” é um mundo sem Eros. classe no século XVIII, e ela precisa do poder do Estado
LUIZ FELIPE PONDÉ. GOSTO QUE CADA UM SENTE NA BOCA NÃO É DA centralizado para garantir a sua riqueza e, nessa medi-
CONTA DO GOVERNO. FOLHA DE S.PAULO, 14.03.2012 (ADAPTADO). da, aproxima-se da nobreza para obter apoio político.
e) defende, como representante da Ilustração, a li-
Na concepção do autor, o totalitarismo: berdade ligada à ausência da propriedade e elabora
a) é um sistema político exclusivamente relacionado princípios universais, com direitos e deveres para to-
com o fascismo e o comunismo. dos os homens, o que faz a igualdade econômica ser
b) inexiste sob a égide de regimes políticos institucio- o fundamento da sociedade.
nalmente democráticos e liberais.
13. (Unicamp) O pensamento iluminista do século XVIII
c) depende necessariamente de controles de natureza tem na Enciclopédia, dirigida por Diderot e d’Alembert,
policial e repressiva dos comportamentos. uma obra de 35 volumes, editada entre 1751 e 1780,
d) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de na- que reúne a totalidade dos conhecimentos da época.
tureza biopolítica sobre a vida. Por usarem os princípios da razão para questionar os
e) estabelece regras de comportamento subordinadas fundamentos da sociedade em que viviam, os enciclo-
à autonomia dos indivíduos. pedistas foram considerados defensores de um pensa-
mento revolucionário.
11. (UFF) Nos séculos XVI e XVII os conflitos religiosos
se disseminaram por toda a Europa provocando guerras a) Qual a característica principal do pensamento das
e impondo um ambiente de perseguição e fanatismo. luzes?
Diante desse contexto, o aparecimento de alternativas b) O que significa afirmar que esses pensadores usa-
de paz envolveu o “princípio de tolerância” que pode vam em suas críticas sociais os princípios da razão?
ser associado à seguinte opção: c) Contra quais valores da época se dirigiam as críti-
cas dos pensadores iluministas?
a) As crenças e opiniões devem ser expressas somen-
te na intimidade. 14. (Fuvest) Quando na mesma pessoa, ou no mesmo
b) Os seres humanos devem respeitar as crenças e corpo de magistrados, o poder legislativo se junta ao
opiniões uns dos outros. executivo, desaparece a liberdade (...). Não há liberda-
c) O Estado tem o dever de impedir que os seres hu- de se o poder judiciário não está separado do legisla-
manos adotem crenças e opiniões falsas. tivo e do executivo (...). Se o judiciário se unisse com o
d) A opinião verdadeira tem o direito de se impor a executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E
todos os seres humanos. tudo estaria perdido se a mesma pessoa ou o mesmo
e) A minoria deve adotar as opiniões e crenças da maioria. corpo de nobres, de notáveis, ou de populares, exerces-
se os três poderes: o de fazer as leis, o de ordenar a exe-
12. (FGV) “O gênero humano é de tal ordem que não cução das resoluções públicas e o de julgar os crimes e
pode subsistir, a menos que haja uma grande infinidade os conflitos dos cidadãos.
de homens úteis que não possuam nada.”
(MONTESQUIEU, DO ESPÍRITO DAS LEIS, 1748)
(DICIONÁRIO FILOSÓFICO, VERBETE “IGUALDADE”)
a) Qual o tema do texto?
“O comércio, que enriqueceu os cidadãos na Inglaterra, b) Explique o contexto histórico em que foi produzido.
contribuiu para os tornar livres, e essa liberdade deu
por sua vez maior expansão ao comércio; daí se formou
o poderio do Estado.” Gabarito
(CARTAS INGLESAS) 1. E 2. A 3. D 4. B 5. E 6. E
Sobre os trechos de Voltaire, é correto afirmar que o autor:
7. B 8. C 9. A 10. D 11. B 12. A
a) define, com suas ideias, os interesses da burguesia
como classe, no século XVIII: o comércio como con- 13.
dição para a acumulação de capital, a riqueza como a) Racionalismo

77
b) Significa que defendiam que deixassem de utilizar
preceitos da religião para interferir na política, educa-
ção, entre outros. Defendiam a liberdade de expressão.
c) Os pensadores iluministas dirigiam suas críticas ao po-
der soberano, que eram a Igreja e o monarca absolutista.
14.
a) A formação do Estado moderno e da divisão dos
poderes.
b) Este texto está inserido na consolidação do Estado
burguês moderno e mudança do pensamento político.

78
texto que a desigualdade entre os homens origina-se
AULA 11 com o início da propriedade privada, fato que provoca
as disputas entre os seres.
No estado de natureza, por sua vez, os homens vivem
isolados, porém são basicamente iguais. Nesse estado, os
homens vivem por duas paixões: o desejo de autoconser-
ROUSSEAU vação e a piedade.
Desse modo, Rousseau demonstra que o homem primitivo
(o bom selvagem) parecia viver em unidade orgânica con-
sigo mesmo, em total harmonia, ao passo que o homem
moderno vivia afastado da igualdade, apontando todos os
passos que o homem deu desde a liberdade no estado de
natureza até a vida desregrada e servil em sociedade.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

1. Jean-Jacques multimídia: vídeo


Rousseau (1712-1778) FONTE: YOUTUBE
Jean-Jacques Rousseau é o filósofo de maior destaque no Filosofia da Educação - Rousseau
Iluminismo francês – uma figura inconformista, inquieta,
individualista, mas também coletivista. Ele aponta que o homem, no estado civil, está preso às amar-
ras do Estado, às regras que direcionam o embate do homem
contra o homem, de maneira a fomentar a ganância e a inve-
ja entre os pares, caracterizando uma desigualdade legaliza-
da entre os homens. Assim, a crítica de Rousseau se faz pelas
amarras proporcionadas pelas leis civis, que condicionam e
perpetuam a existência da desigualdade entre os homens.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Jean-Jacques Rousseau

Assim, Rousseau critica todos os elementos desse estado


civil, inclusive as ciências e as artes, que condicionam os há-
RETRATO DE ROUSSEAU.
bitos viciosos dos homens, destruindo as virtudes humanas,
No livro Discurso sobre a origem e os fundamentos não apontando para uma valorização da racionalidade hu-
da desigualdade entre os homens, a figura do homem, mana. Isso não quer dizer que o filósofo é contrário às ciên-
para Rousseau, constitui um ser bom que, diante das insti- cias e às artes, ele só aponta que essas estruturas precisam
tuições do estado civil, acaba corrompido. Demonstra nesse impedir a corrupção humana.

79
1.1. O contrato social (1762) 1.2. Emílio ou Da Educação (1762)
Rousseau tenta estabelecer as condições de possibilidade de Estruturado nessa nova conjuntura social, Rousseau de-
uma sociedade legítima, estabelecendo, desde a sua origem, fende, no livro Emílio ou Da Educação, que, para a criação
as condições de uma sociedade legitimamente constituída. de uma nova sociedade, era preciso criar um novo indi-
víduo, pensando na sua primeira formação – a infância.
Assim, a obediência às leis não poderá nunca se configurar
Assim, a criança deveria ser preparada seguindo o acordo
como a obediência a um homem ou a um grupo de homens,
com a Natureza, visando a um desenvolvimento progres-
mas como obediência a si mesmo, desde que as leis tenham
sivo de seus sentidos e de sua razão, com o intuito de
sido o resultado de uma decisão comum, que envolva a to-
reduzir a desigualdade social.
dos os membros da associação política. Pelo contrato social,
todos os membros da associação assumem a responsabi- Nesse livro, ele expõe um direcionamento pedagógico para
lidade pelas deliberações públicas. O povo adquire a sua cada estágio da vida, seguindo a dinâmica do livro, dividido
soberania e cada membro da associação se transforma em nos cinco capítulos. Nos dois primeiros capítulos, o filósofo
um cidadão. Dessa maneira, o soberano é o povo, pois os descreve que é preciso enfatizar o lado físico de sua educa-
indivíduos, ao se submeterem pelo contrato social, criam-se ção até os doze anos, com o objetivo de aprender um ofício
a si mesmos como povo. Dessa forma, Rousseau resgata o manual. Nos capítulos III e IV, apresenta os estágios tran-
ideal clássico da cidadania participativa, em especial o regi- sitórios da adolescência, instante em que as faculdades da
me democrático de participação direta. razão do indivíduo começam a se consolidar. Já no capítulo V,
descreve a idade adulta, na qual emerge a Era da Sabedoria.
Essa estrutura pensada por Rousseau serviu para o nasci-
mento do conceito moderno de infância, pois começou a
serem direcionadas ações específicas para diferentes eta-
pas do jovem em sua formação, de modo a desencadear
um abandono da pedagogia escolástica tradicional, que
moldava o homem, independentemente da idade.
multimídia: livro
1.3. O patrono da Revolução Francesa
O contrato Social - ROUSSEAU, Jean- Durante os anos que constituíram a Revolução Francesa
Jacques. São Paulo: L&PM, 2007. (1789), as ideias e os textos de Rousseau permearam as
mentes e os debates dos representantes do Terceiro Esta-
Com isso, Rousseau propôs reformular a sociedade, que do, principalmente durante a convenção republicana. Essas
precisa criar seus regimentos internos, mas que visa a ideias inovadoras de mudanças sociais serviram de motiva-
respeitar a natureza humana, ou seja, a conservação da ção para que os burgueses pudessem mudar o sistema de
governo e transformassem a sociedade francesa.
liberdade e a igualdade entre os homens. A fórmula rou-
sseauniana consiste em fomentar que o povo deve ser o
principal agente do Estado, e o governo deveria ser o re-
presentante desse povo. Assim, as formas clássicas de go-
verno – monarquia, aristocracia e democracia – teriam um
papel secundário em relação à representatividade do povo.
A soberania popular deveria ser o fundamento do novo
contrato social, pois os modelos convencionais não são go-
vernos de fato, mas formas de dominação e de opressão.

“A LIBERDADE GUIANDO O POVO”, QUADRO DO


FRANCÊS EUGÈNE DELACROIX (1830)

O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de


dizer: "Isso é meu", e encontrou pessoas bastante simples
250 ANOS DO NASCIMENTO DE ROUSSEAU. para crê-los, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.

80
Quantos crimes, guerras, mortes, quantas misérias e hor- ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que
rores não teria poupado ao gênero humano aquele que, nos afetam é a educação das coisas. Cada um de nós é,
arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse grita- portanto, formado por três espécies de mestres. O aluno
do aos seus semelhantes: "Guardai-vos de escutar este em quem as diversas lições desses mestres se contrariam
impostor; estais perdidos se esquecerdes que os frutos são é mal educado e nunca estará de acordo consigo mes-
para todos, e que a terra é de ninguém!" Mas existem um mo; aquele em quem todas visam ao mesmos pontos e
grande indício de que as coisas aí já tivessem chegado ao tendem para os mesmos fins, vai sozinho a seu objetivo
ponto de não poder mais continuar como estavam: pois e vive em consequência. Somente esse é bem educado.
esta ideia de propriedade – provindo de muitas ideias an-
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
teriores, que não puderam nascer senão sucessivamente EMÍLIO OU DA EDUCAÇÃO. SÃO PAULO: DIFEL, 1979.
– não se formou repentinamente no espírito humano [...]
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
DISCURSO SOBRE A ORIGEM E DOS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS
HOMENS. IN: OS CLÁSSICOS DA POLÍTICA. SÃO PAULO: ÁTICA, 2008, P. 201.

Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos des-


providos de tudo, temos necessidade de assistência; nas-
cemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não
temos ao nascer, e de que precisamos adultos, é-nos
dado pela educação. Essa educação nos vem da natu-
reza, ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento
multimídia: música
interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a FONTE: YOUTUBE
educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer
Eu sou favela - Bezerra da Silva
desse desenvolvimento é a educação dos homens; e o

DIAGRAMA DE IDEIAS

ROUSSEAU

A SOCIEDADE CIVIL
A SOCIEDADE É FORMADA
CONSOLIDA A
DESIGUALDADE ENTRE
OS SERES HUMANOS
POR UM
CONTRATO SOCIAL
(CONTRATUALISMO) POIS TEM A PROPRIEDADE
PRIVADA COMO BASE

QUE ORDENA AS REGRAS


CIVIS DESSE GRUPO NASCEMOS LIVRES,
MAS A SOCIEDADE NOS
APRISIONA E CORROMPE
QUE PODE SER MODIFICADO
AO LONGO DO TEMPO PELA
VONTADE DOS MEMBROS
DA SOCIEDADE CIVIL

81
c) Rousseau defendia a necessidade de o homem vol-
Aplicando para tar a seu estado natural, para assim garantir a sobre-
vivência da sociedade.
Aprender (A.P.A.) d) O livro, inspirado pelos acontecimentos da Inde-
1. (UEM 2020) “[....] uma observação que deverá ser- pendência Americana, chegou a ser proibido e quei-
vir de base a todo sistema social: o pacto fundamental, mado em solo francês.
em lugar de destruir a igualdade natural, pelo contrário 3. (UEL 2018) Leia o texto a seguir.
substitui por uma igualdade moral e legítima aquilo que
a natureza poderia trazer de desigualdade física entre Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil?
os homens, os quais, podendo ser desiguais na força ou [...] O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o pri-
no gênio, todos se tornam iguais por convenção e di- meiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de
reito. Afirmo, pois, que a soberania, não sendo senão dizer, isto é, meu e encontrou pessoas suficientemente
o exercício da vontade geral, jamais pode alienar-se, simples para acreditá-lo.
e que o soberano, que nada é senão um ser coletivo,
ROUSSEAU, JEAN-JACQUES. DISCURSO SOBRE A ORIGEM E
só pode ser representado por si mesmo. O poder pode OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS. 3. ED.
transmitir-se; não, porém, a vontade.” SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1983. P. 243 E 259.
(ROUSSEAU, J. J. DO CONTRATO SOCIAL. APUD ARANHA, M. L. Com base nos conhecimentos sobre sociedade civil,
DE A. FILOSOFANDO. SÃO PAULO: MODERNA, 1993, P. 229).
propriedade e natureza humana no pensamento de
A partir desse fragmento e do pensamento político de Rousseau, assinale a alternativa correta.
Rousseau, assinale o que for correto. a) A instauração da propriedade decorre de um ato legí-
01) O contrato social para Rousseau se origina do timo da sociedade civil, na medida em que busca aten-
consentimento unânime, em que cada associado se der às necessidades do homem em estado de natureza:
aliena de todos os seus direitos. b) A instauração da propriedade e da sociedade civil
02) Ao alienar-se em favor da comunidade, cada as- cria uma ruptura radical do homem consigo mesmo e
sociado nada perde, pois, como povo incorporado, de distanciamento da natureza.
mantém sua soberania. c) A fundação da sociedade civil é legitimada pela
04) A soberania do povo para Rousseau é inalienável, racionalidade e pela universalidade do ato de instau-
ou seja, não pode ser representada. ração da propriedade privada.
08) Como a vontade geral é a soma da vontade de d) O sentimento mais primitivo do homem, que o leva a
todos (considerados individualmente), ela não pode instituir a propriedade, é o reconhecimento da necessi-
ser a expressão da lei. dade da propriedade para garantir a subsistência.
16) O homem, no pensamento político de Rousseau, e) A sociedade civil e a propriedade são expressões
é livre na medida em que oferece o livre consenti- da perfectibilidade humana, ou seja, da sua capaci-
mento à lei. dade de aperfeiçoamento.

2. (Unicamp) Leia o trecho a seguir. 4. (UFU) O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o
primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de
“O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente
ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de ser simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, as-
mais escravo do que eles. (...) A ordem social, porém, é um sassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero
direito sagrado que serve de base a todos os outros. (...) humano aquele que, arrancando as estacas ou enchen-
Haverá sempre uma grande diferença entre subjugar uma
do o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defen-
multidão e reger uma sociedade. Sejam homens isolados,
dei-vos de ouvir esse impostor; estarei perdidos se es-
quantos possam ser submetidos sucessivamente a um só,
quecerdes que os frutos são de todos e que a terra não
e não verei nisso senão um senhor e escravos, de modo
pertence a ninguém!”
algum considerando-os um povo e seu chefe. Trata-se,
caso se queira, de uma agregação, mas não de uma as- ROUSSEAU, JEAN-JACQUES. DISCURSO SOBRE A ORIGEM E OS FUNDAMENTOS DA
sociação; nela não existe bem público, nem corpo político. DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS. SÃO PAULO: NOVA CULTURAL, 1997, P. 87.

ROUSSEAU, JEAN-JACQUES. DO CONTRATO SOCIAL. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa-
[1762]. SÃO PAULO: ABRIL, 1973, P. 28 E 36.
mento político de Rousseau, é correto afirmar:
Sobre Do contrato social, publicado em 1762, e seu au- a) A desigualdade é um fato natural autorizada pela
tor, é correto afirmar que: lei natural, independentemente das condições sociais
a) Rousseau, um dos grandes autores do Iluminismo, decorrentes da evolução histórica da humanidade.
defende a necessidade de o Estado francês substituir b) A finalidade da instituição da sociedade e do go-
os impostos por contratos comerciais com os cidadãos. verno é a preservação da individualidade e das dife-
b) A obra inspirou os ideais da Revolução Francesa, renças sociais.
ao explicar o nascimento da sociedade pelo contrato c) A sociabilidade tira o homem do estado de natureza
social e pregar a soberania do povo. onde vive em guerra constante com os outros homens.

82
d) Rousseau faz uma crítica ao processo de socializa- votos da assembleia [...]. Essa pessoa pública, que se for-
ção, por ter corrompido o homem, tornando-o egoísta ma, desse modo, pela união de todas as outras, tomava
e mesquinho para com os seus semelhantes. antigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou
e) Rousseau valoriza a fundação da sociedade civil, de corpo político, o qual é chamado por seus membros
que tem como objetivo principal a garantia da posse de Estado [...].
privada da terra.
(JEAN-JACQUES ROUSSEAU. OS PENSADORES. 1983.)
5. (Mackenzie) Assinale a alternativa em que aparecem O texto, produzido no âmbito do iluminismo francês,
as principais ideias de Jean-Jacques Rousseau, em sua apresenta a doutrina política do:
obra O contrato social.
a) coletivismo, manifesto na rejeição da propriedade priva-
a) Cada homem é inimigo do outro, está em guerra da e na defesa dos programas socialistas de estatização.
com o próximo e por esta razão cria o Estado para sua
b) humanismo, presente no projeto liberal de valorizar
própria defesa e proteção.
o indivíduo e sua realização no trabalho.
b) O Estado é uma realidade em si e é necessário conser-
c) socialismo, presente na crítica ao absolutismo monár-
vá-lo, reforçá-lo e eventualmente reformá-lo, reconhecen-
quico e na defesa da completa igualdade socioeconômica.
do uma única finalidade: sua prosperidade e grandeza.
d) corporativismo, presente na proposta fascista de unir
c) O governante deve dar um bom exemplo para que
o povo em torno da identidade e da vontade nacional.
os súditos o sigam. Através da educação e de rituais,
e) contratualismo, manifesto na reação ao Antigo Re-
os homens de capacidade aprenderiam e transmiti-
gime e na defesa dos direitos de cidadania.
riam os valores do passado.
d) Que as classes dirigentes tremam ante a ideia de 8. (Enem PPL) O homem natural é tudo para si mesmo; é a
uma revolução! Os trabalhadores devem proclamar unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona
abertamente que seu objetivo é a derrubada violenta consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil
da ordem social tradicional. é apenas uma unidade fracionária que se liga ao deno-
e) A única esperança de garantir os direitos de cada minador, e cujo valor está em sua relação com o todo,
indivíduo é a organização da sociedade civil, cedendo que é o corpo social. As boas instituições sociais são as
todos os direitos à comunidade, para que seja politi- que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua
camente justo o que a maioria decidir. existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir
o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular
6.(Unesp) Encontrar uma forma de associação que de- não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da
fenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado unidade, e só seja percebido no todo.
com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-
ROUSSEAU, JEAN-JACQUES. EMÍLIO OU DA EDUCAÇÃO.
-se a todos, só obedece, contudo, a si mesmo, perma- SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 1999.
necendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema
fundamental cuja solução o contrato social oferece. [...] A visão de Rousseau em relação à natureza humana,
Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o conforme expressa o texto, diz que
seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua
recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte própria natureza.
indivisível do todo. b) as instituições sociais formam o homem de acordo
(JEAN-JACQUES ROUSSEAU. DO CONTRATO SOCIAL, 1983.) com a sua essência natural.
c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as
O texto apresenta características: instituições sociais dependem dele.
a) iluministas e defende a liberdade e a igualdade so- d) o homem é forçado a sair da natureza para se tor-
cial plenas entre todos os membros de uma sociedade. nar absoluto.
b) socialistas e propõe a prevalência dos interesses e) as instituições sociais expressam a natureza huma-
coletivos sobre os interesses individuais. na, pois o homem é um ser político.
c) iluministas e defende a liberdade individual e a ne-
9. (Unioeste) “Através dos princípios de um direito na-
cessidade de uma convenção entre os membros de
tural preexistente ao Estado, de um Estado baseado
uma sociedade.
no consenso, de subordinação do poder executivo ao
d) socialistas e propõe a criação de mecanismos de
poder legislativo, de um poder limitado, de direito de
união e defesa de todos os trabalhadores.
resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais do
e) iluministas e defende o estabelecimento de um Estado liberal.”
poder rigidamente concentrado nas mãos do Estado.
(BOBBIO)
7. (Unesp 2020) Cada um de nós põe em comum sua pes-
soa e todo o seu poder sob a direção suprema da von- Considerando o texto citado e o pensamento político
tade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro de Locke, seguem as afirmativas abaixo:
como parte indivisível do todo. [...] um corpo moral e I. A passagem do estado de natureza para a sociedade
coletivo, composto de tantos membros quantos são os política ou civil, segundo Locke, é realizada mediante

83
um contrato social, através do qual os indivíduos singu- 11. “A passagem do estado de natureza para o estado
lares, livres e iguais dão seu consentimento para ingres- civil determina ao homem uma mudança muito notável,
sar no estado civil. substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dan-
II. O livre consentimento dos indivíduos para formar a do às suas ações a moralidade que antes lhe faltava. É só
sociedade, a proteção dos direitos naturais pelo gover- então que, tomando a voz do dever o lugar do impulso fí-
no, a subordinação dos poderes, a limitação do poder e sico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até aí levan-
o direito à resistência são princípios fundamentais do do em consideração apenas a sua pessoa, vê-se forçado
liberalismo político de Locke. a agir baseando-se em outros princípios e a consultar a
III. A violação deliberada e sistemática dos direitos natu- razão antes de ouvir suas inclinações.”
rais e o uso contínuo da força sem amparo legal, segundo
ROUSSEAU. O CONTRATO SOCIAL. LIVRO I. CAP. VIII.
Locke, não são suficientes para conferir legitimidade ao
direito de resistência, pois o exercício de tal direito cau- Nesse fragmento, Rousseau sublinha as implicações da
saria a dissolução do estado civil e, em consequência, o passagem do estado de natureza para o estado civil.
retorno ao estado de natureza. Explique por que seria impossível para o homem sobre-
IV. Os indivíduos consentem livremente, segundo Lo- viver em um estado de natureza.
cke, em constituir a sociedade política com a finalida-
de de preservar e proteger, com o amparo da lei, do 12. O homem natural é tudo para si mesmo: ele é a uni-
arbítrio e da força comum de um corpo político uni- dade numérica, o inteiro absoluto que só tem relação
tário, os seus inalienáveis direitos naturais à vida, à com ele próprio ou com seu semelhante. O homem civil
liberdade e à propriedade. é apenas uma unidade fracionária que depende do de-
V. Da dissolução do poder legislativo, que é o poder no nominador cujo valor está em sua relação com o inteiro,
qual “se unem os membros de uma comunidade para que é o corpo social. As boas instituições são aquelas
formar um corpo vivo e coerente”, decorre, como con- que melhor sabem desnaturar o homem, tirar-lhe sua
sequência, a dissolução do estado de natureza. existência absoluta para lhe dar uma relativa, e trans-
Das afirmativas feitas acima portar o eu para a unidade comum: de tal modo que
a) somente a afirmação I está correta. cada particular não se creia mais um, mas parte da uni-
dade, e apenas seja sensível no todo.
b) as afirmações I e III estão corretas.
c) as afirmações III e IV estão corretas. ROUSSEAU, JEAN-JACQUES, OEUVRES COMPLÈTES.
d) as afirmações II e III estão corretas. PLEIADE, 1964 (FRAGMENTO).
e) as afirmações III e V estão incorretas. Tomando como referência as ideias do texto, explique a
10. (UFSM) Sem leis e sem Estado, você poderia fazer diferença entre estado de natureza e estado civil.
o que quisesse. Os outros também poderiam fazer com
você o que quisessem. Esse é o “estado de natureza”
descrito por Thomas Hobbes, que, vivendo durante as Gabarito
guerras civis britânicas (1640-60), aprendeu em primei-
ra mão como esse cenário poderia ser assustador. Sem 1. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 2. B 3. B 4. D
uma autoridade soberana não pode haver nenhuma se-
gurança, nenhuma paz. 5. E 6. C 7. E 8. A 9. E 10. C
LAW, STEPHEN. GUIA ILUSTRADO ZAHAR: FILOSOFIA. 11. Segundo o filósofo Rousseau, é impossível sobreviver no
RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2008. estado de natureza, apesar do ser humano ter uma liber-
Considere as afirmações: dade, depois de vivenciar o estado civil, com regras – esse
I. A argumentação hobbesiana em favor de uma autorida- indivíduo não consegue mais retornar a um estado primitivo.
de soberana, instituída por um pacto, representa inequi- 12. Para Rousseau, existem muitas diferenças entre o es-
vocamente a defesa de um regime político monarquista. tado de natureza e o estado civil. No estado de natureza,
II. Dois dos grandes teóricos sobre o estado de nature- o ser humano tem plena liberdade de agir, sem se limitar
za”, Hobbes e Rousseau, partilham a convicção de que
ou ser punido de forma civil; enquanto no estado civil, o
o afeto predominante nesse “estado” é o medo.
ser humano ganha uma liberdade vigiada, o poder de ter a
III. Um traço comum da filosofia política moderna é a
idealização de um pacto que estabeleceria a passagem propriedade privada, e se acostuma com as desigualdades
do estado de natureza para o estado de sociedade. entre os homens.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) apenas II e III.

84
AULA 12

ILUMINISMO ALEMÃO

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

RETRATO DE KANT.

1. Introdução Para o filósofo alemão, o processo de obter conhecimento


pode ser adquirido tanto de forma empírica como racional,
O processo histórico que expandiu o conhecimento huma-
unindo, pela primeira vez, correntes que caminhavam sepa-
no na região da Alemanha, entre os séculos XVII e XIX,
radas na história da filosofia. A filosofia kantiana é conhecida
teve um aparato mais ideológico, não desencadeando para
como criticismo. Segundo o autor, o conhecimento é for-
futuras transformações sociais, como ocorreu no iluminis-
mado pela interação entre o sujeito pensante e o fenômeno
mo francês. Com um viés nacionalista, questionou o abso-
observado. Há ideias a priori (antes da experiência) e ideias a
lutismo e a Igreja. O conceito “Iluminismo”, na Alemanha,
posteriori (após a experiência). O conhecimento é formado a
surgiu com o filósofo Immanuel Kant.
partir da interação dessas ideias.

multimídia: vídeo
“KANT E SEUS COMPANHEIROS NA MESA”, PINTURA DE EMIL DOERSTLING FONTE: YOUTUBE
Kant – a priori e a posteriori
Immanuel Kant categoriza o conhecimento, definindo
2. Immanuel Kant (1724-1804) duas formas: a priori e a posteiori.
O filósofo Immanuel Kant nasceu na cidade de Königsberg
(atual Kaliningrado). Ele foi responsável por desenvolver
uma síntese entre duas correntes filosóficas: o racionalis- 2.1. A importância dos sentidos e da razão
mo e o empirismo. Kant apresenta que os sentidos e a razão desempenham pa-
A análise kantiana afirma que existia uma incompetência pel fundamental na maneira de o ser humano experimentar
no racionalismo para demonstrar a existência, contrarian- o mundo. Para o filósofo, as experiências nos proporcionam
do, em parte, a solução dada por Descartes para tal; e tam- um tipo de conhecimento, como pensam os empiristas. En-
bém uma incompetência no empirismo para demonstrar tretanto, a razão também apresenta pressupostos relevantes
como a experiência tornava-se conhecimento. para a maneira como podemos descobrir o mundo.

85
Só que existem fatores condicionantes que determinam Kant salienta que a razão é inata, mas é uma estrutura
como analisamos essa realidade – fatores racionalistas. esvaziada e sem conteúdo, que não depende da experiên-
Um exemplo é se nos imaginarmos utilizando óculos com cia para existir. A razão fornece a forma do conhecimento
lentes azuis, de modo que tudo o que vemos teria tons e a matéria é fornecida pelo conhecimento. Diante disso,
azulados. As lentes azuis seriam a razão: fatores que condi- esse conhecimento é racional e verdadeiro.
cionam nossa percepção da realidade. Afirma também que não podemos conhecer a realidade
Porém, nessa conjuntura de pensamento, o filósofo afirma das coisas e do mundo, o que ele trata de noúmeno (nú-
que esses pressupostos são subjetivos, isto é, referem-se mero) (a coisa em si). Isso ocorre porque a razão huma-
na só pode conhecer aquilo que recebe em formas, como
ao sujeito, a quem usa os óculos. Esses pressupostos são
cor e tamanho, e em categorias, como os elementos que
o tempo e o espaço, ou seja, a experiência que praticamos
organizam o conhecimento.
desencadeará a formação do nosso conhecimento. Essa
valorização do sujeito racional pensante será fundamental Com isso, Kant afirma que a realidade não está nas coi-
para o idealismo alemão. Kant fará uma revolução co- sas, mas em nós. Assim, vemos o mundo pela nossa razão,
pernicana do pensamento ao mudar o olhar a respeito da depois que as percepções passaram pelas categorias.
epistemologia: nossas ideias não são somente inatas e
não são somente adquiridas.
O filósofo distingue duas formas básicas do ato de conhecer:
ƒ O conhecimento empírico (a posteriori), fruto da experi-
ência – aquele que se refere aos dados fornecidos pelos
sentidos, isto é, que é posterior à experiência. Exemplo:
“Este livro tem a capa verde.”
ƒ O conhecimento puro (a priori), fruto apenas do racio-
cínio independente da experiência – aquele que não A revolução kantiana consiste em mostrar que o objeto
depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que se regula pela faculdade de conhecer, ao invés de admi-
é anterior à experiência. Nasce puramente de uma ope- tir que a faculdade de conhecer se regula pelo objeto. A
ração racional. Exemplo: “Duas linhas paralelas jamais filosofia, assim, deveria investigar a possível existência de
certos princípios a priori que seriam responsáveis pela sín-
se encontraram no espaço.”
tese dos dados empíricos. Estes, por sua vez, deveriam ser
encontrados nas duas fontes de conhecimento, que seriam
a sensibilidade e o entendimento.
As ideias puras não são o conhecimento, pois são ferra-
mentas que precisam dos fenômenos para interpretá-los
e organizá-los conceitualmente. Do mesmo modo, as ex-
periências dos fenômenos não são o conhecimento, pois
precisam de um ser pensante para a formulação de inter-
multimídia: vídeo pretações e conceitos. A ideia sem o fenômeno é estéril,
FONTE: YOUTUBE pois não tem o que pensar, e o fenômeno sem as ideias
Kant e a razão pura puras não pode ser compreendido. O transcendental – as
O professor de Filosofia da Unicamp Daniel Omar Perez formas de intuição (espaço e tempo) e do entendimento
ressalta a crítica da razão pura e a razão prática. (as categorias) – é apenas a forma da objetividade e não o
próprio objeto; é vazio de conteúdo e não significa em si.
A metafísica, então, não é nem sequer falsa ou fictícia, é pro-
2.2. A revolução copernicana priamente ilusão, esse vazio do não conhecimento, que é pro-
Em seu questionamento lógico-transcendental, Kant atin- duzido pelo uso ilegítimo dos conceitos. É por tal ilegitimida-
ge, pela primeira vez, consciência de si mesmo. A solução de que a metafísica deve ser condenada no tribunal da razão.
apresentada por ele para a oposição entre o racionalismo
e o empirismo é chamada de “revolução copernicana da 2.3 Kant e a questão do conhecimento
filosofia”, numa alusão ao paradigma feito por Copérnico Para Immanuel Kant, há dois pares de modalidades de
na astronomia. conhecimento: o conhecimento puro é o conhecimento

86
a priori (independente da experiência); o conhecimento
empírico é o saber a posteriori (dependente da experi-
ência sensorial diante dos fenômenos do mundo ao nosso
redor); os julgamentos analíticos (juízos analíticos) e os
julgamentos sintéticos (juízos sintéticos).
Os juízos são ordenações lógicas que conectam o sujeito ao
seu predicado. Quando o predicado está implicitamente con-
tido no sujeito, temos um juízo analítico. Um exemplo disso
é a sentença o quadrado possui quatro lados congruentes
e quatro ângulos internos retos – o predicado é uma mera
descrição do sujeito, pois o sujeito (quadrado) é necessaria-
mente uma estrutura geométrica de quatro lados idênticos
e com ângulos internos de 90°. Temos condição de saber
sobre a estrutura geométrica do quadrado, pois nossa men-
te possui atributos racionais e lógicos para o entendimento
geométrico. Não precisamos observar ou tocar em estruturas
que sejam quadradas, podemos deduzi-las mentalmente
com os recursos matemáticos da razão.
Chama-se juízo sintético a ordenação lógica na qual o
predicado não está contido necessariamente no sujeito, é
uma condição acidental e variável. Um exemplo de juízo
sintético é a sentença o sapato é verde, pois nem todos os
sapatos são verdes, essa é uma característica não inerente
ao sujeito sapato. Temos condição de saber a cor de um
sapato ao realizarmos o contato visual com o fenômeno
observado: a cor do sapato.
A partir dessas possibilidades, Kant apresenta os juízos
analíticos (a priori), os juízos sintéticos (a posteriori) e, con-
juntamente, os juízos sintéticos a priori. Este último pode
ser verificado em áreas científicas como a física, por exem-
plo. Adquirimos conhecimentos novos a partir da experi-
ência sensorial. Esses conhecimentos permitiram antever
novos fenômenos e criar projeções para novos saberes e
possibilidades. A metodologia científica permite a compre-
ensão do mundo e a organização de fórmulas matemáticas
que podem ser úteis para antevermos fenômenos naturais
e compreendermos o mundo sem necessariamente termos
que experimentá-lo novamente. Podemos criar normas uni-
versais a partir desses juízos.
A mente humana possui limites. Só compreendemos o que
apresenta-se como fenômeno. A coisa em si (objeto) é
inacessível para nós, pois dela temos apenas o fenômeno
interpretado pelos sentidos. A mente compreende o que a
razão pode compreender e que o corpo pode sentir. A razão
por si só não tem como afirmar nada sem os fenômenos.
E os fenômenos sentidos nada terão a dizer se não houver
categorias de entendimento para interpretar esses eventos.
Por isso, conclui-se que o conhecimento é construído na in-
teração entre o sujeito pensante e o fenômeno percebido.

87
DIAGRAMA DE IDEIAS

KANT

UNE O REVOLUÇÃO
RACIONALISMO COPERNICANA
COM O EMPIRISMO
(CRITICISMO)

O OBJETO SE
O PROCESSO DE REGULA PELA
OBTENÇÃO DO FACULDADE DE
CONHECIMENTO CONHECER
TEM VÁRIAS
FORMAS:
HÁ INTERAÇÃO ENTRE
O SUJEITO PENSANTE O INDIVÍDUO
E O FENÔMENO APLICA SUA
PERCEBIDO PELOS ANÁLISE
SENTIDOS PERANTE O
FENÔMENO

A PRIORI (ANTES
DA EXPERIÊNCIA)

PELA RAZÃO

A POSTERIORI (DEPOIS
DA EXPERIÊNCIA)

PELA
EXPERIÊNCIA

88
a) assumem pontos de vista opostos acerca da natu-
Aplicando para reza do conhecimento.
Aprender (A.P.A.) b) defendem que o conhecimento é impossível, res-
tando-nos somente o ceticismo.
1. (UFSC 2020) Em relação ao prefácio e à introdução c) revelam a relação de interdependência entre os da-
à segunda edição da Crítica da Razão Pura, escrita por dos da experiência e a reflexão filosófica.
Imannuel Kant, é correto afirmar que, para Kant: d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia,
01) ao longo da história, a metafísica alcançou o ca- na primazia das ideias em relação aos objetos.
minho seguro da ciência. e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nos-
02) ao longo da história, a metafísica foi dogmática, so conhecimento e são ambas recusadas por Kant.
portanto não foi capaz de produzir conhecimento.
4. (UFSJ) Sobre a questão do conhecimento na filosofia
04) os juízos a priori dependem fundamentalmente kantiana, é correto afirmar que:
da experiência para serem elaborados.
08) os juízos analíticos são aqueles nos quais os atri- a) o ato de conhecer se distingue em duas formas bá-
butos do predicado já estão contidos no sujeito. sicas: conhecimento empírico e conhecimento puro.
16) a matemática e a física atingiram, ao longo de b) para conhecer, é preciso se lançar ao exercício do
sua história, o caminho seguro da ciência. pensar conceitos concretos.
32) os juízos sintéticos a priori são aqueles que pos- c) as formas distintas de conhecimento, descritas na obra
suem uma ligação universal e necessária entre sujeito Crítica da razão pura, são denominadas, respectivamen-
e predicado. te, juízo universal e juízo necessário e suficiente.
64) os juízos sintéticos a priori não são possíveis no d) o registro mais contundente acerca do conhecimen-
campo da investigação metafísica. to se faz a partir da distinção de dois juízos, a saber:
juízo analítico e juízo sintético ou juízo de elucidação.
2. (UEMA) Fraqueza e covardia são as causas pelas
quais a maioria das pessoas permanece infantil mesmo 5. (Unioeste) “Em todos os juízos em que for pensada
tendo condição de libertar-se da tutela mental alheia. a relação de um sujeito com o predicado (se considero
Por isso, fica fácil para alguns exercer o papel de tuto- apenas os juízos afirmativos [...]), essa relação é possí-
res, pois muitas pessoas, por comodismo, não desejam vel de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito
se tornar adultas. Se tenho um livro que pensa por mim; A como algo contido (ocultamente) nesse conceito A,
um sacerdote que dirige minha consciência moral; um ou B jaz completamente fora do conceito A, embora es-
médico que me prescreve receitas e, assim por diante, teja em conexão com o mesmo”.
não necessito preocupar-me com minha vida. Se posso (KANT)
adquirir orientações, não necessito pensar pela minha
cabeça: transfiro ao outro esta penosa tarefa de pensar. Considerando o texto acima e a teoria do conhecimento
de Kant, é incorreto afirmar que:
KANT, IMMANUEL. O QUE É A ILUSTRAÇÃO. IN: WEFFORT, F. (ORG.).
OS CLÁSSICOS DA POLÍTICA. V. 2, 6 ED. SÃO PAULO: SARAIVA, 2006. a) os juízos sintéticos a posteriori são os mais impor-
tantes para a teoria do conhecimento de Kant, pois são
Esse fragmento compõe o livro de Kant que trata da contingentes e particulares, estando ligados a casos
importância da(o): empíricos singulares.
a) juízo. b) Kant denomina o primeiro modo de relacionar sujeito e
b) razão. predicado de juízo analítico e o segundo, de juízo sintético.
c) cultura. c) o problema do conhecimento para Kant envolve res-
d) costume. ponder “como são possíveis os juízos sintéticos a priori?”.
e) experiência. d) os juízos analíticos, embora universais e necessários, não
fazem progredir o conhecimento, pois são tautológicos.
3. (Enem) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento e) o juízo “Todos os corpos são extensos” é analítico,
se devia regular pelos objetos; porém todas as tenta- pois não há como pensar o conceito de corpo sem o
tivas para descobrir, mediante conceitos, algo que am- conceito de extensão.
pliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse
pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar 6. (Uncisal) Contrapondo ceticismo e dogmatismo, o cri-
se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, ticismo se apresenta como única saída para se repensar
admitindo que os objetos se deveriam regular pelo às questões pertinentes à metafísica. O criticismo deno-
nosso conhecimento. mina a filosofia de:
KANT, IMMANUEL. CRÍTICA DA RAZÃO PURA. LISBOA: a) Hume.
CALOUSTE-GULBENKIAN, 1994 (ADAPTADO). b) Hegel.
O trecho em questão é uma referência ao que ficou co- c) Kant.
nhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, d) Marx.
confrontam-se duas posições filosóficas que: e) Rousseau.

89
7. (UEL) Leia o texto a seguir. a) A razão estabelece as condições de possibilidade
Na primeira secção da Fundamentação da metafísica do conhecimento; por isso independe da matéria do
dos costumes, Kant analisa dois conceitos fundamen- conhecimento.
tais de sua teoria moral: o conceito de vontade boa e b) O conhecimento é constituído de matéria e forma.
o de imperativo categórico. Esses dois conceitos tradu- Para termos conhecimento das coisas, temos de orga-
zem as duas condições básicas do dever: o seu aspecto nizá-las a partir da forma a priori do espaço e do tempo.
objetivo, a lei moral, e o seu aspecto subjetivo, o aca- c) O conhecimento é constituído de matéria, forma
tamento da lei pela subjetividade livre, como condição e pensamento. Para termos conhecimento das coisas
necessária e suficiente da ação. temos de pensá-las a partir do tempo cronológico.
d) A razão enquanto determinante nos conhecimen-
DUTRA, D.V. KANT E HABERMAS: A REFORMULAÇÃO DISCURSIVA DA
MORAL KANTIANA. PORTO ALEGRE: EDIPUC-RS, 2002, P. 29.
tos fenomênicos e noumênicos (transcendentais)
atesta a capacidade do ser humano.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria e) O homem conhece pela razão a realidade fenomêni-
moral kantiana, é correto afirmar: ca porque Deus é quem afinal determina este processo.
a) A vontade boa, enquanto condição do dever, consis- 10. (Unioeste) “Já desde os tempos mais antigos da filo-
te em respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação sofia, os estudiosos da razão pura conceberam, além dos
a simples conformidade à lei. seres sensíveis ou fenômenos, que constituem o mundo
b) O imperativo categórico incorre na contingência de dos sentidos, seres inteligíveis particulares, que consti-
um querer arbitrário cuja intencionalidade determina tuiriam um mundo inteligível, e, visto que confundiam (o
subjetivamente o valor moral da ação. que era de desculpar a uma época ainda inculta) fenô-
c) Para que possa ser qualificada do ponto de vista meno e aparência, atribuíram realidade unicamente aos
moral, uma ação deve ter como condição necessária seres inteligíveis. De fato, se, como convém, considerar-
e suficiente uma vontade condicionada por interesses mos os objetos dos sentidos como simples fenômenos,
e inclinações sensíveis. admitimos assim que lhe está subjacente uma coisa em
si, embora não saibamos como ela é constituída em si
d) A razão é capaz de guiar a vontade como meio para
mesma, mas apenas conheçamos o seu fenômeno, isto
a satisfação de todas as necessidades e assim realizar
é, a maneira como os nossos sentidos são afetados por
seu verdadeiro destino prático: a felicidade. este algo desconhecido”.
e) A razão, quando se torna livre das condições sub-
jetivas que a coagem, é, em si, necessariamente con- (KANT)
forme a vontade e somente por ela suficientemente
Sobre a teoria do conhecimento kantiana, conforme o
determinada. texto acima, seguem as seguintes afirmativas:
8. (Uncisal) No século XVIII, o filósofo Emanuel Kant I. Desde sempre, os filósofos atribuíram realidade tanto
formulou as hipóteses de seu idealismo transcenden- aos seres sensíveis quanto aos seres inteligíveis.
tal. Segundo Kant, todo conhecimento logicamente II. Podemos conhecer, em relação às coisas em si mes-
válido inicia-se pela experiência, mas é construído mas, apenas seu fenômeno, ou seja, a maneira como
internamente por meio das formas a priori da sensi- elas afetam nossos sentidos.
bilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas III. Porque podemos conhecer apenas seus fenômenos,
do entendimento. Dessa maneira, para Kant, não é o as coisas em si mesmas não têm realidade.
objeto que possui uma verdade a ser conhecida pelo IV. Os filósofos anteriores a Kant não diferenciavam
sujeito cognoscente, mas sim o sujeito que, ao conhe- fenômeno de aparência, e, assim, consideravam que o
cer o objeto, nele inscreve suas próprias coordenadas fenômeno não era real.
sensíveis e intelectuais. De acordo com a filosofia kan- V. As intuições puras da sensibilidade e os conceitos
tiana, pode-se afirmar que: puros do entendimento incidem apenas em objetos de
a) a mente humana é como uma tabula rasa, uma uma experiência possível; sem as primeiras, os segun-
folha em branco que recebe todos os seus conteúdos dos não têm significação.
da experiência. Das afirmativas feitas acima:
b) os conhecimentos são revelados por Deus para a) apenas II e IV estão corretas.
os homens. b) apenas II, IV e V estão corretas.
c) todos os conhecimentos são inatos, não dependen- c) apenas II, III, IV e V estão corretas.
do da experiência. d) todas as afirmativas estão corretas.
d) Kant foi um filósofo da antiguidade. e) todas as afirmativas estão incorretas.
e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é
11. (UEL) “O imperativo categórico é, portanto só um
o sujeito, não o objeto.
único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal
9. (UEMA) Na perspectiva do conhecimento, Immanuel que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne
Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empi- lei universal.”
rismo. Entre as alternativas abaixo, a única que contém KANT, IMMANUEL. FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS
informações corretas sobre o criticismo kantiano é: COSTUMES. LISBOA: EDIÇÕES 70, 1995, P. 59.

90
Segundo essa formulação do imperativo categórico por
Kant, uma ação é considerada ética quando: Gabarito
a) privilegia os interesses particulares em detrimento 1. 02 + 08 + 16 + 32 = 58 2. B 3. A 4. A
de leis que valham universal e necessariamente.
b) ajusta os interesses egoístas de uns ao egoísmo 5. A 6. C 7. A 8. E 9. B 10. B
dos outros, satisfazendo as exigências individuais de
11. E
prazer e felicidade.
c) é determinada pela lei da natureza, que tem como 12. A oposição entre menoridade e maioridade (ou autono-
fundamento o princípio de autoconservação. mia) é o recurso alegórico utilizado para falar sobre o estado
d) está subordinada à vontade de Deus, que preesta- do homem e o movimento iluminista, que buscava retirar o
belece o caminho seguro para a ação humana. homem deste estado. O homem, segundo Kant, está aco-
e) a máxima que rege a ação pode ser universalizada, modado. Preguiçoso e covarde, o homem continua, mesmo
ou seja, quando a ação pode ser praticada por todos,
depois de adquirir plenas capacidades de ser autônomo (de
sem prejuízo da humanidade.
se dar a própria lei), servo da consciência de outros, das pres-
12. (Unesp) Preguiça e covardia são as causas que ex- crições de terceiros. Além da sua própria preguiça e covardia,
plicam por que uma grande parte dos seres humanos, o ato mesmo de se tornar maior é visto como perigoso, o
mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da que faria a libertação da tutoria uma escolha ainda menos
orientação alheia, ainda permanecem, com gosto, e por
provável. Enfim, passar da menoridade para a maioridade é
toda a vida, na condição de menoridade. É tão confortá-
vel ser menor! Tenho à disposição um livro que entende
um ato de libertação do homem das relações de tutela que
por mim, um pastor que tem consciência por mim, um direcionam opressivamente o seu comportamento.
médico que prescreve uma dieta etc.: então não preciso 13. Para o filósofo Kant, o termo menoridade refere-se à
me esforçar. A maioria da humanidade vê como muito
“incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia
perigoso, além de bastante difícil, o passo a ser dado
rumo à maioridade, uma vez que tutores já tomaram
de outro”, ou seja, a incapacidade do pensamento de se
para si de bom grado a sua supervisão. Após terem pre- desenvolver fora de um quadro de restrições institucionais
viamente embrutecido e cuidadosamente protegido representadas, ou seja, de desenvolver uma crítica ou uma
seu gado, para que estas pacatas criaturas não ousem reflexão perante a realidade. No final do século XVIII, no
dar qualquer passo fora dos trilhos nos quais devem contexto do iluminismo e do processo revolucionário fran-
andar, os tutores lhes mostram o perigo que as ame- cês, a Igreja perdeu influência e o Estado leigo ascendeu,
aça caso queiram andar por conta própria. Tal perigo,
criando-se, assim, as condições sociais para a superação da
porém, não é assim tão grande, pois, após algumas que-
das, aprenderiam finalmente a andar; basta, entretanto,
“menoridade”.
o perigo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las
por completo para que não façam novas tentativas.
IMMANUEL KANT APUD DANILO MARCONDES. TEXTOS BÁSICOS
DE ÉTICA – DE PLATÃO A FOUCAULT, 2009 (ADAPTADO).

O texto se refere à resposta dada pelo filósofo Kant à


pergunta sobre “O que é o iluminismo?”. Explique o
significado da oposição por ele estabelecida entre “me-
noridade” e “autonomia intelectual”.

13. (Unesp) O iluminismo é a saída do homem de um


estado de menoridade que deve ser imputado a ele
próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do
próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si
próprios é esta menoridade se a causa dela não depen-
de de um defeito da inteligência, mas da falta de deci-
são e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem
ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de
servires de tua própria inteligência!
(IMMANUEL KANT, 1784)

Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais


sintéticas e adequadas definições acerca do Iluminismo.
Justifique essa importância comentando o significado
do termo religião e da política.

91
Kant afirma que a comodidade e a covardia são os
AULA 13 grandes motivos pelos quais tantos homens continuam
presos à menoridade – e frisa que, caso seja de sua vonta-
de (e caso não haja barreiras para isso, como restrições à
liberdade), todo e qualquer homem é capaz de abandonar
a menoridade e concluir o processo de esclarecimento.

A ÉTICA DO DEVER - Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para ha-
ver esclarecimento, a liberdade é condição fundamental:
IMPERATIVO CATEGÓRICO só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for
amplamente garantido. O filósofo reconhece, contudo, que
as restrições às liberdades são bastante comuns (ainda
mais em sua época). Finalmente, o filósofo conclui que
ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 profundo conhecimento sobre determinado tema, mas sim
combinar esse conhecimento à conquista da autonomia e
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, da emancipação humana.
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25
1.1. O uso público e o uso privado da razão
Kant considera que a razão pode ter modalidades de uso,
ou seja, a razão pode ser útil publicamente e particularmen-
1. A maioridade intelectual te. O uso público da razão é a condição na qual o conhe-
Em sua obra O que é o esclarecimento?, o filósofo Imma- cimento humano, a ciência e a filosofia, é apresentado ao
nuel Kant esclarece que, quando o indivíduo consegue pos- interesse do grande público letrado. O progresso científico
tular suas próprias ideias e críticas, ele atinge a maiorida- e filosófico depende do compartilhamento de ideias e de
de intelectual, saindo de um estágio de menoridade, debates a respeito dos saberes apresentados. Por isso, os
ou seja, esse ser consegue sair da condição de incapacida- doutos, os letrados, os especialistas, os esclarecidos devem
de de fazer uso da razão sem a orientação de outro indiví- apresentar os saberes da razão para a sua crítica. Quando
duo. Esse alcance do esclarecimento não tem uma ligação ocupamos algum cargo privado ou um posto público, exer-
direta com a idade biológica desse sujeito. cendo uma tarefa que nos foi dada, devemos cumprir as
ordens daquele cargo e daquela instituição em que pres-
tamos um serviço. Eis o uso privado da razão, somos como
parte de um todo, uma engrenagem no funcionamento de
um maquinário institucional, obrigados a obedecer a or-
denamentos. Podemos raciocinar se concordamos ou não
com as tarefas que nos foram submetidas, mas, enquanto
exercemos o dever, devemos nos ater ao procedimento ao
qual fomos requeridos. Há momentos, situações e espaços
para a realização de críticas, sugestões e melhorias. Esses
momentos e espaços destinados à mudanças e críticas são
da esfera pública da sociedade.

O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condi-


2. A paz perpétua (1795)
ção pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua motivação Em 1795, Kant escreveu essa obra, com o objetivo de apre-
ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mes- sentar como os Estados nacionais poderiam estabelecer en-
mo. Para o filósofo, todo indivíduo vive uma situação de tre si um quadro de paz perpétua, tendo como força motriz
menoridade em algum momento de sua vida: nesse caso, a racionalidade, conjunto com os requisitos da maioridade
a menoridade é natural, pois é o mesmo que imaturidade. intelectual. Diante disso, todos os países devem respeitar
O filósofo diz que nenhum ser humano nasce inteiramente um pacto de não agressão, visando a uma ética universal,
pronto para o raciocínio; uma criança demora até atingir a que respeita todos os seres humanos existentes no plane-
autossuficiência, por exemplo. ta, sem violar as regras locais de seus respectivos países.

92
O filósofo vai além: a capacidade de discernimento é tão
inata quanto qualquer outra faculdade da razão – tal afir-
mação tem desdobramentos importantes. O mais óbvio é
o fato de a ética kantiana ser baseada na ideia de que
há algo como uma lei moral universal, tão absolu-
ta quanto qualquer lei natural. Tal lei seria, segundo
Kant, válida para qualquer momento histórico, sociedade
multimídia: livro e situação, e seria também imperativa, pois não se pode
escapar dela. Kant a formula, portanto, como um impera-
A paz perpétua - Immanuel Kant. tivo categórico, e um de seus maiores pressupostos, jun-
Porto Alegre: L&PM, 2016. tamente com a ideia de que a moralidade está relacionada
à maneira universal de se agir, é a proibição de se utilizar
outrem como meios para atingir quaisquer objetivos: todos
Com essas teorias, Kant antevê as ações da Organização
devem ser tratados como um fim em si mesmo.
das Nações Unidas (ONU), que visa a assegurar que os
Estados compactuem um acordo de paz e não iniciem Pode-se entender a lei moral kantiana como a manifestação
um conflito armado. A formulação da União Europeia, da própria consciência humana – que também é intrínseca
após II Guerra Mundial e declínio da Guerra Fria, dá-se, a todo homem e não pode ser comprovada racionalmente,
em grande medida, pelas contribuições de autores como apesar de ser possível conhecê-la. Kant diz que muito mais
Kant, principalmente nas áreas do direito e diplomacia. importante para a moralidade do que se perguntar o que
fazer é se perguntar o motivo pelo qual se faz alguma coisa.
Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa é abordada
na rua por um pedinte e, ao sentir pena de sua situação,
lhe dá uma esmola. Uma segunda pessoa também é abor-
dada pelo pedinte e, apesar de não se compadecer de sua
situação, lhe oferece ajuda mesmo assim. Kant diria que a
segunda pessoa agiu mais moralmente do que a primeira.
Por quê? Simplesmente porque a segunda pessoa agiu de
BANDEIRA DAS NAÇÕES UNIDAS. maneira descolada de suas próprias emoções. Ela ofereceu
ajuda ao pedinte porque sabia que aquilo era o certo a se
fazer, porque era seu dever (por essa razão, inclusive, a
3. A ética kantiana ética kantiana também é chamada de ética do dever); a
(ou a ética do dever) primeira pessoa, por sua vez, ofereceu ajuda por pena, pela
maneira como se sentiu. Da mesma forma, Kant veria al-
Kant também dedicou grande parte de sua obra a questões guém que pratica boas ações para se promover socialmen-
relativas à esfera moral. Segundo o filósofo, todo ser huma- te ou ficar bem aos olhos de Deus. Se essa é a motivação
no sabe o que é certo e o que é errado: esse conhecimento de suas boas ações, ele diria, elas de nada valem. A ética
é intrínseco à condição humana. Isso ocorre porque Kant do dever (imperativo categórico) é guiada por princípios
diz que todos somos dotados de uma razão prática, isto racionais que visam à universalidade, não permite adap-
é, de uma capacidade racional inata de discernir sobre o tações circunstanciais e não é pautada pelos resultados. A
que é certo e o que é errado. deontologia (estudo do dever) é fundamental para a com-
preensão de sua obra Crítica da Razão Prática.

4. A liberdade para Kant


A concepção de liberdade para Kant não se liga à felici-
dade nem é determinada por um bem externo a ela – a
liberdade está atrelada ao homem. Diante disso, o bem é o
multimídia: vídeo que resulta da razão, à medida que ela determina a ação.
FONTE: YOUTUBE Assim, o homem precisa submeter-se às leis éticas, que vi-
Immanuel kant | O imperativo sem a um respeito universalista e que condicionem a esse
categórico | Resumo Musica ser uma maioridade. Por isso, a liberdade para Kant é
uma autonomia para o sujeito.

93
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
O caminho do bem - Tim Maia. Álbum:
Racional Vol. 1. Seroma, 1976.
A música de Tim Maia salienta o dever kantiano, de
que se utilizando de ações racionais, chegaremos ao
bem universal.

Dessa forma, a liberdade é a autonomia de cumprir seu


dever, de acordo com as leis da natureza – com isso, somos
donos de nós mesmos e de nossas ações.
Compreendo, porém, como uso público da razão aquele
que é feito por alguém, como douto, perante o mundo
letrado. Por uso privado, entendo aquele que o douto
pode fazer em um posto civil ou público. Contudo, para
algumas ocupações, que lidam com assuntos de inte-
resse geral, faz-se necessário um mecanismo por meio
do qual alguns membros da comunidade precisam se
comportar passivamente, para que, com uma unanimi-
dade artificial, possam ser conduzidos pelo governo em
prol de fins públicos, ou para que ao menos estes fins
públicos sejam preservados. Neste caso, seguramente,
não é permitido raciocinar; é necessário obedecer. Mas,
a medida em que essa peça de engrenagem se veja
simultaneamente como membro de uma comunidade,
ou mesmo da própria sociedade civil mundial, que,
como douto, dirige-se ao público, seguindo seu próprio
entendimento por meio de seus escritos, ele pode ra-
ciocinar o quanto quiser, sem que sejam prejudicadas
as ocupações em que está inserido parcialmente como
membro passivo. Seria muito prejudicial se um oficial,
ao receber uma ordem de seu superior, começasse a
questionar explicitamente a conveniência ou utilidade
dessa ordem; ele deve obedecer.
KANT, IMMANUEL. RESPOSTA À PERGUNTA: O QUE É ESCLARECIMENTO?
RETIRADO DE: MARCONDES, DANILO. TEXTOS
BÁSICOS DE ÉTICA. ZAHAR. RJ - 2007.

94
DIAGRAMA DE IDEIAS

KANT

O SER HUMANO DEVER EM SI NA


PODE CONSEGUIR BUSCA DE UM
IMPERATIVO
SER INDEPENDENTE BEM UNIVERSAL
CATEGÓRICO

O HOMEM,
ATINGINDO A
UTILIZANDO
MAIORIDADE ÉTICA DO DEVER SUA RAZÃO, TEM
INTELECTUAL
O DEVER

DE CONSTRUIR
COMEÇA A TER UM RAZÃO PRÁTICA UM CAMINHO
POSICIONAMENTO
SEGURO, QUE
CRÍTICO
RESPEITE A TODOS

ESSE ESTADO CONDICIONANDO


NÃO DEPENDE DA PARA UMA PAZ
IDADE BIOLÓGICA UNIVERSAL

95
e) O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na
Aplicando para razão prática pura, e as leis morais devem ser independen-
tes de qualquer condição subjetiva da natureza humana.
Aprender (A.P.A.)
3. (UEL) Kant, mesmo que restrito à cidade de Königs-
1. (UEL 2020) Leia o texto a seguir. berg, acompanhou os desdobramentos das Revoluções
Dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei. Americana e Francesa e foi levado a refletir sobre as
[...] devo proceder sempre de maneira que eu possa convulsões da história mundial. Às incertezas da Eu-
querer também que a minha máxima se torne uma lei ropa plebeia, individualista e provinciana, contrapôs
universal. algumas certezas da razão capazes de restabelecer, ao
KANT, IMMANUEL. FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES. TRAD.
menos no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as
PAULO QUINTELA. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1974. P. 208-209. nações com vista à constituição de uma federação de
povos – sociedade cosmopolita.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
ANDRADE, R.C. KANT: A LIBERDADE, O INDIVÍDUO E A
kantiana do dever, assinale a alternativa correta. REPÚBLICA. IN: WEFORT, F.C. (ORG.). CLÁSSICOS DA POLÍTICA.
a) A máxima de uma ação moral universalizável pode V. 2. SÃO PAULO: ÁTICA, 2003, P. 49-50 (ADAPTADO).
ter como fundamento os efeitos da ação, sendo con-
Com base nos conhecimentos sobre a filosofia política
siderada moralmente boa uma ação cujos efeitos
de Kant, assinale a alternativa correta.
causam o bem.
b) A obrigação incondicional que a lei moral impõe a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do
prejudicial torna imperativo um governo paternal para
advém do reconhecimento da possibilidade de uni-
indicar a felicidade.
versalização das máximas da ação
b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sen-
c) A mentira pode, em certas circunstâncias, ser le-
do considerados cidadãos ativos também as mulheres
gitimada moralmente quando dela resulta uma ação e os empregados.
benéfica ou impede o prejuízo a outrem.
c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os
d) A máxima incondicional de uma ação moral pode membros da comunidade e o chefe de Estado.
ter como fundamento a experiência, pois os costumes d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade
fornecem elementos suficientes para ela. de ação em conformidade com a lei universal da liberdade.
e) O imperativo categórico, princípio dos imperativos e) Os súditos estão autorizados a transformar em vio-
do dever, escolhe, dentre os estímulos fornecidos à lência o descontentamento e a oposição ao poder le-
vontade, o que lhe é mais adequado. gislativo supremo.
2. (UEL) As leis morais juntamente com seus princípios 4. (UFU) Autonomia da vontade é aquela sua proprieda-
não só se distinguem essencialmente, em todo o conhe- de graças à qual ela é para si mesma a sua lei (indepen-
cimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento dentemente da natureza dos objetos do querer). O prin-
empírico qualquer, mas toda a Filosofia moral repousa cípio da autonomia é, portanto: não escolher senão de
inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao ho- modo a que as máximas da escolha estejam incluídas
mem, não toma emprestado mínimo que seja ao conhe- simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal.
cimento do mesmo (Antropologia). KANT, IMMANUEL. FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS
COSTUMES. LISBOA: EDIÇÕES 70, 1986, P. 85.
KANT, IMMANUEL. FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS
COSTUMES. SÃO
PAULO: DISCURSO EDITORIAL, 2009. P. 73.
De acordo com a doutrina ética de Kant:
Com base no texto e na questão da liberdade e autono- a) O imperativo categórico não se relaciona com a ma-
mia em Immanuel Kant, assinale a alternativa correta. téria da ação e com o que deve resultar dela, mas com
a) A fonte das ações morais pode ser encontrada atra- a forma e o princípio de que ela mesma deriva.
vés da análise psicológica da consciência moral, na b) O imperativo categórico é um cânone que nos leva
qual se pesquisa mais o que o homem é, do que o que a agir por inclinação, vale dizer, tendo por objetivo a
ele deveria ser. satisfação de paixões subjetivas.
b) O elemento determinante do caráter moral de uma c) Inclinação é a independência da faculdade de apeti-
ação está na inclinação da qual se origina, sendo as ção das sensações, que representa aspectos objetivos
inclinações serenas moralmente mais perfeitas do baseados em um julgamento universal.
que as passionais. d) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os
c) O sentimento é o elemento determinante para a desejos pessoais do homem. Trata-se de fundamento
determinante do agir, para a satisfação das inclinações.
ação moral, e a razão, por sua vez, somente pode dar
uma direção à presente inclinação, na medida em que 5. (Unioeste) A necessidade prática de agir segundo este
fornece o meio para alcançar o que é desejado. princípio, isto é, o dever, não assenta em sentimentos,
d) O ponto de partida dos juízos morais encontra-se impulsos e inclinações, mas, sim, somente na relação
nos “propulsores” humanos naturais, os quais se dire- dos seres racionais entre si, relação essa em que von-
cionam ao bem próprio e ao bem do outro. tade de um ser racional tem de ser considerada sempre

96
e simultaneamente como legisladora, porque de outra que faz às vezes de minha consciência; um médico, que
forma não podia pensar-se como fim em si mesmo. A ra- decide por mim a dieta etc.; assim não preciso eu mes-
zão relaciona, pois, cada máxima da vontade concebida mo dispensar nenhum esforço. Não preciso necessaria-
como legisladora universal com todas as outras vonta- mente pensar, se posso apenas pagar.”
des e com todas as ações para conosco mesmos, e isto KANT, IMMANUEL. RESPOSTA À QUESTÃO: O QUE É ESCLARECIMENTO? IN:
não em virtude de qualquer outro móbil prático ou de ANTOLOGIA DE TEXTOS FILOSÓFICOS. CURITIBA: SEED-PR, 2009, P. 407.
qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia da
dignidade de um ser racional que não obedece à outra A partir do texto de Kant, é correto afirmar que:
lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente dá a 01) liberdade é não precisar de ninguém para nada.
si mesmo. [...] O que se relaciona com as inclinações e 02) riqueza não é sinônimo de liberdade, como pobre-
necessidades gerais do homem tem um preço venal [...],
za não é sinônimo de escravidão.
aquilo, porém, que constitui a condição só graças a qual
04) a justificativa para a falta de liberdade é a pouca
qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem
somente um valor relativo, isto é, um preço, mas um idade dos seres humanos.
valor íntimo, isto é, dignidade. 08) a liberdade é, primeiramente, liberdade de pensamento.
16) a liberdade é resultado de um esforço pessoal in-
(KANT) cômodo para libertar-se das amarras do pensamento.
Considerando o texto citado e o pensamento ético de 7. (Enem) Esclarecimento é a saída do homem de sua
Kant, seguem as afirmativas abaixo. menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menorida-
I. Para Kant, existe moral porque o ser humano e, em ge- de é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento
ral, todo o ser racional, fim em si mesmo e valor abso- sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio
luto, não deve ser tomado simplesmente como meio ou culpado dessa menoridade se a causa dela não se en-
instrumento para o uso arbitrário de qualquer vontade. contra na falta de entendimento, mas na falta de deci-
II. Fim em si mesmo e valor absoluto, o ser humano são e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção
é pessoa e tem dignidade, mas uma dignidade que é, de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio en-
apenas, relativamente valiosa, por se encontrar em de- tendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça
pendência das condições psicossociais e político-econô- e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande
micas nas quais vive. parte dos homens, depois que a natureza de há muito
III. A moralidade, única condição que pode fazer de um os libertou de uma condição estranha, continuem, no
ser racional fim em si mesmo e valor absoluto, pelo entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
princípio da autonomia da vontade, e a humanidade,
KANT, IMMANUEL. RESPOSTA À PERGUNTA: O QUE É
enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que ESCLARECIMENTO?PETRÓPOLIS: VOZES, 1985 (ADAPTADO).
têm dignidade.
IV. As pessoas têm dignidade porque são seres livres e au- Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento,
tônomos, isto é, seres que se submetem às leis que se dão fundamental para a compreensão do contexto filosófi-
a si mesmos, atendendo imediatamente aos apelos de co da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empre-
suas inclinações, sentimentos, impulsos e necessidades. gado por Kant, representa:
V. A autonomia da vontade é o fundamento da dignidade a) a reivindicação de autonomia da capacidade racio-
da natureza humana e de toda natureza racional e, por nal como expressão da maioridade.
esta razão, a vontade não está simplesmente submetida b) o exercício da racionalidade como pressuposto me-
à lei, mas submetida à lei por ser concebida como von- nor diante das verdades eternas.
tade legisladora universal, ou seja, se submete à lei na c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter
exata medida e que ela é a autora da lei (moral). objetivo, de forma heterônoma.
Das afirmativas acima: d) a compreensão de verdades religiosas que libertam
a) somente a I está incorreta. o homem da falta de entendimento.
b) somente a III está incorreta. e) a emancipação da subjetividade humana de ideo-
logias produzidas pela própria razão.
c) II e IV estão incorretas.
d) II e III estão incorretas. 8. (Enem) Um Estado é uma multidão de seres humanos
e) II, III e V estão incorretas. submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três
poderes dentro de si, isto é, a vontade unida em geral
6. (UEM) O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) esta-
consiste de três pessoas: o poder soberano (soberania)
belece uma íntima relação entre a liberdade humana e
na pessoa do legislador; o poder executivo na pessoa
sua capacidade de pensar autonomamente, ao afirmar:
do governante (em consonância com a lei) e o poder ju-
“Esclarecimento é a saída do homem da menoridade diciário (para outorgar a cada um o que é seu de acordo
pela qual é o próprio culpado. Menoridade é a incapaci- com a lei) na pessoa do juiz.
dade de servir-se do próprio entendimento sem direção KANT, IMMANUEL. A METAFÍSICA DOS COSTUMES. BAURU: EDIPRO, 2003.
alheia. [...] É tão cômodo ser menor. Possuo um livro que
faz as vezes do meu entendimento; um guru espiritual, De acordo com o texto, em um Estado de direito:

97
a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois b) forma o indivíduo autônomo, uma vez que amplia a
é ele que tem o verdadeiro poder. sua capacidade de fazer uso da própria razão para agir
b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a autonomamente.
representação da vontade geral. c) impede que o indivíduo pense de forma restrita, pois,
c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, mesmo estando cercado por tutores, facilmente rompe
pois é ele que outorga a cada um o que é seu. com a menoridade.
d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, d) proporciona esclarecimento político das massas,
pois depende dele para validar suas determinações. pois tais eventos promovem o aprendizado crítico me-
e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, diante a afirmação da ideia de nacionalidade.
na pessoa do governante, pois ele que é soberano. e) confere liberdade às massas para superar a depen-
dência gerada pela aceitação da tutela de outrem.
9. (UEL) O desenvolvimento não é um mecanismo cego
que age por si. O padrão de progresso dominante des- 11. (UEMA) No texto Que é “Esclarecimento”? (1783),
creve a trajetória da sociedade contemporânea em busca o que significa, conforme Kant, a saída do homem da
dos fins tidos como desejáveis, fins que os modelos de menoridade da qual ele mesmo é culpado?
produção e de consumo expressam. É preciso, portanto, a) O uso da razão crítica, exceto quando se tratar de
rediscutir os sentidos. Nos marcos do que se entende
doutrinas religiosas.
predominantemente por desenvolvimento, aceita-se re-
b) A capacidade de aceitar passivamente a autoridade
ver as quantidades (menos energia, menos água, mais
científica ou política.
eficiência, mais tecnologia), mas pouco as qualidades:
que desenvolvimento, para que e para quem? c) A liberdade para executar desejos e impulsos confor-
me a natureza instintiva do homem.
LEROY, JEAN PIERRE. ENCRUZILHADAS DO DESENVOLVIMENTO. O IMPACTO d) A coragem de ser autônomo, rejeitando, portanto,
SOBRE O MEIO AMBIENTE. LEMONDE DIPLOMATIQUE BRASIL. JUL. 2008, P. 9.
qualquer condição tutelar.
Tendo como referência a relação entre desenvolvimen- e) O alcance da idade apropriada para uso da raciona-
to e progresso presente no texto, é correto afirmar que, lidade subjetiva.
em Kant, tal relação, contida no conceito de Aufklärung
(Esclarecimento), expressa:
a) A tematização do desenvolvimento sob a égide da Gabarito
lógica de produção capitalista.
1. B 2. E 3. D 4. A 5. C
b) A segmentação do desenvolvimento tecno-científico
nas diversas especialidades. 6. 02 + 08 + 16 = 26 7. A 8. B 9. C 10. A
c) A ampliação do uso público da razão para que se
desenvolvam sujeitos autônomos. 11. D
d) O desenvolvimento que se alcança no âmbito técni-
co e material das sociedades.
e) O desenvolvimento dos pressupostos científicos na
resolução dos problemas da filosofia prática.

10. (UEL)

90 milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu coração.


Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, salve a seleção.
De repente é aquela corrente pra frente.
Parece que todo o Brasil deu a mão.
Todos ligados na mesma emoção.
Tudo é um só coração.
Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, Brasil,
Salve a seleção.
CANÇÃO: PRA FRENTE BRASIL/ COPA 1970
AUTOR: MIGUEL GUSTAVO

Na obra “Resposta à questão: o que é o esclarecimen-


to?”, Kant discute conceitos como uso público e pri-
vado da razão e a superação da menoridade. À luz do
pensamento kantiano, o fenômeno contemporâneo do
uso político dos eventos esportivos:
a) torna o indivíduo dependente, já que a sua meno-
ridade impede o esclarecimento e a possibilidade de
pensar por si próprio.

98
AULA 14

TEMPESTADE E ÍMPETO multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE
Romantismo

Destacam-se nesse período: os poetas alemães Schlegel


(1772-1829), Novalis (1772-1801); os escritores alemães
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 Schiller (1759-1805) e Goethe (1749-1832); os composi-
tores alemães Beethoven (1770-1827), Schumann (1810-
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 1856) e Brahms (1833-1897), o austríaco Schubert (1797-
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, 1828) e o polonês Chopin (1810-1849).
22, 23, 24 e 25

1. O sentimento vence a razão


No século XVIII, o movimento cultural que predominava na
Europa era o Iluminismo, que colocava a razão acima de
tudo. Diante da sombra da Aufklärung (Iluminismo/Escla-
recimento), desenvolve-se na Alemanha (e em outras regi-
ões da Europa), no final do século XVIII e início do XIX, uma
nova forma de sensibilidade e de valores artísticos – surge PINTURA COM OS RETRATOS DE GOETHE E SCHILLER.
o Romantismo, cuja versão conceitual é o idealismo.
Tudo começou com o Sturm und drang (Tempestade
e ímpeto), um movimento de jovens poetas alemães
que reagiu violentamente contra a aridez racionalista da
Aufklärung, enaltecendo o sentimento contra a razão. O
nome Sturm und drang deriva da peça homônima de Frie-
drich Klinger (1752-1831).
multimídia: livro

Sofrimentos do jovem Werther - GOETHE, Johann


Wolfgang. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2001.
Ao escrever Werther, em 1774, Johann Wolfgang Goe-
the alcançava sua primeira obra de sucesso e dava início
à prosa moderna na Alemanha. Uma das mais célebres
obras de Goethe, trata-se da história de uma paixão lite-
ralmente devastadora. Com enorme repercussão quan-
do do seu lançamento, Werther foi um testemunho de
PEÇA DE KLINGER - TEMPESTADE E ÍMPETO.
como a literatura tinha poder de agir na sociedade.
Esse movimento ficou marcado por combater a influência
francesa na cultura alemã. Com uma oposição ao Classi- As principais características desse movimento cultural são:
cismo francês, a essência do movimento alemão consiste
na criação baseada no impulso irracional, valorizan- ƒ liberdade política, de expressão e de pensamentos;
do o sentimento. ƒ individualismo e subjetivismo;

99
ƒ gosto pelo mistério;
ƒ imaginação e sonho;
ƒ culto pelo exótico;
ƒ nacionalismo;
ƒ valorização do passado;
ƒ desejo de reforma e engajamento político.
A literatura alemã passa a ser original com esse movimen-
to, espalhando uma nova forma de arte para o mundo. O
movimento romântico será fundamental para a formação
dos processos revolucionários nacionalistas, destacando a
Primavera dos Povos (1848) e as unificações nacionais da
Itália (1870) e da Alemanha (1871).

FRIEDRICH SCHILLER

Para o filósofo, só a arte pode reconciliar essas duas


forças (natureza e razão), porém, a arte, que não pode
mais ser ingênua – como era na Grécia antiga – deve ser,
multimídia: música agora, sentimental.
FONTE: YOUTUBE
Sentimental significa para Schiler o ato da reflexão pelo
Marcha Fúnebre - Frédéric Chopin
qual o sujeito, ao voltar-se para si mesmo, reconcilia-se
As músicas de Chopin expressam um forte sentimento, com a harmonia da totalidade.
com diversas variações.
Em sua obra Cartas sobre a educação estética do homem,
de 1794, apresenta essa ideia de educar o homem com
2. Da arte à liberdade o auxílio da arte.

O poeta e filósofo Friedrich Schiller (1759-1805) acredi-


tava que os homens não estavam preparados para a li-
berdade, pois não sabiam, de forma inata, como lidar em
plenitude com ela. Assim, é preciso educar o homem
para a liberdade através da arte. O ser humano é um
indivíduo que participa tanto do mundo sensível como do
inteligível, de modo que existe uma oposição entre ma-
téria e forma, necessidade e liberdade – e esses conflitos
geram um jogo de caráter lúdico que os reconcilie, tendo
como objetivo o belo. A arte, nessa medida, prenuncia a
possibilidade da realização da liberdade, pois ela possibili-
ta os meios para alcançá-la.
Segundo Schiller, a harmonia entre o homem e o mundo foi
rompida quando o ser humano decidiu se ver diferente da or-
dem natural, com a ordenação racional e iluminista de querer
transformar e dominar a natureza. Nesse momento, a crítica
aos racionalistas e aos iluministas é bem nítida e direta. Essa
postura radical refere-se ao instante em que o ser humano, ao
acreditar cegamente no poderio da razão, sente-se superior
aos outros seres e acima da própria natureza, criando uma
dicotomia – de um lado, a natureza e, de outro, a razão. MONUMENTO GOETHE-SCHILLER.

100
subjetiva. Como resposta a esse pensamento, emergem os
3. O problema da estética românticos alemães, que apresentam a arte como
A problemática da arte na filosofia não é um assunto sur- um caminho para reordenação do mundo, guiando
gido no período pós-iluminismo. Desde a Grécia antiga, os para um mundo sensível, onde o sentimento é algo bom
pensadores tratavam em discutir essa temática. para o ser humano.
Platão, por exemplo, criticava veementemente a arte, É mediante a cultura ou educação estética, quando se
propagando-a como um elemento inferior à natureza, pois encontra no “estado de jogo” contemplando o belo, que
tenta imitar a própria natureza por meio da mimésis. Aris- o homem poderá desenvolver-se plenamente, tanto em
suas capacidades intelectuais quanto sensíveis [...] “Pois,
tóteles, por sua vez, acreditava que o belo não pode para dizer tudo de vez, o homem joga somente quando
ser desligado do homem, e o que representa a arte é a é homem no pleno sentido da palavra, e somente é ho-
simetria, a proporção, ou seja, a justa medida. Entretanto, mem pleno quando joga”. No “impulso lúdico”, razão e
para o filósofo Kant, o questionamento da arte é diferen- sensibilidade atuam juntas e não se pode mais falar da
te – ele não questiona em que medida uma obra de arte tirania de uma sobre a outra. Através do belo, o homem
pode nos comunicar ou se a arte tem um compromisso com é como que recriado em todas as suas potencialidades e
recupera sua liberdade.
as coisas pensadas. Para Kant, os juízos de gosto, que
MÁRCIO SUZUKI
seriam a opinião das pessoas sobre a beleza, são
relevantes, tornando o belo uma forma sensível e A EDUCAÇÃO ESTÉTICA DO HOMEM. SÃO PAULO: ILUMINURAS, 2014, P. 14.

DIAGRAMA DE IDEIAS

TEMPESTADE NÃO TER MEDO


E ÍMPETO DE EXPRESSAR O
(STURM UND DRANG) SENTIMENTO

MOVIMENTO
A HUMANIDADE
CULTURAL ALEMÃO
TEM A RAZÃO,
ROMANTISMO
MAS TAMBÉM É
GOETHE E SCHILLER SENTIMENTO

CONTRÁRIO ÀS RESPOSTA AO
LIMITAÇÕES MOVIMENTO
DA RAZÃO ILUMINISTA
FRANCÊS.

É PRECISO
VALORIZAR O
SENTIMENTO

101
d) o dever, por si só, não tem acesso ao homem sen-
Aplicando para sível, dependendo da beleza para que possa ter sobre
ele uma força determinante.
Aprender (A.P.A.)
4. (Coaero) Friedrich Schiller (1759-1805), autor de Sobre
1. Há muito que dizer em favor das regras; quase os a educação estética da humanidade, diz que existe no ser
mesmos argumentos que se poderão fazer a respeito humano um impulso que o liga a matéria, sujeitando-o
das leis da sociedade civil: um artista que se formar se- à natureza e um outro impulso, de ordem superior, que
gundo estas mesmas regras não produzirá jamais uma eleva o ser humano ao nível do pensamento racional e
coisa absolutamente má; da mesma forma, aquele que que aspira à permanência e à imutabilidade. Para supe-
se regular pelas leis e atender ao decoro, nunca será um rar o dualismo matéria e espírito que tal divisão sugere,
vizinho muito insuportável nem um velhaco decidido. Schiller admite a existência de um terceiro impulso.
Contudo, diga-se embora o que quiserem; as regras não Assinale a alternativa cuja afirmação se relaciona cor-
servem senão para destruir o verdadeiro sentimento e retamente com o terceiro impulso admitido por Schiller.
a expressão da natureza. Não, o que digo não é em de-
masia; as regras não fazem senão constranger; podem a) Impulso do equilíbrio: busca manter uma neutralida-
tirar, é verdade, alguma coisa supérflua etc. de entre matéria e razão, possibilitando a boa capaci-
dade do julgar.
GOETHE. OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER. [CARTA 8] 26 DE MAIO. b) Impulso da realidade: faz o ser humano perceber a
tensão dialética existente entre forma e matéria, pos-
Identifique a característica romântica mais evidente do
sibilitando assim, a construção do real.
fragmento:
c) Impulso crítico: responsável por elaborar o senso
a) egocentrismo. crítico humano, capacitando o homem a conhecer
b) rejeição a regras e modelos. o mundo possível de forma racional. Percebido por
c) valorização da vida burguesa. Kant, não foi por ele conceituado.
d) valorização do amor como sentido da vida. d) Impulso lúdico: concilia a matéria, presente aos sen-
e) inadaptação à realidade, desejo de evasão. tidos, com a forma, ato do pensamento, que parece
excluir o que é material e sensível. Exerce-se acima das
2. Sobre os pressupostos históricos e filosóficos do Ro- necessidades naturais e independe dos interesses prá-
mantismo, considere as seguintes afirmações: ticos. Apresenta-se como jogo estético.
I. Teve base no iluminismo, de modo que as obras român-
5. A noção de estética, quando formulada e desenvolvi-
ticas são sempre despidas de subjetividade e baseiam-se
da nos séculos XVIII e XIX, concebia as artes como be-
tão somente na produção de conhecimento racional.
las-artes e pressupunha que:
II. Valoriza as emoções e as experiências sensoriais e, por
I. A arte é uma atividade humana dependente da políti-
conseguinte, da objetividade, característica que fez o mo-
ca, visto que a sua finalidade é servir os grupos econo-
vimento romântico ser conhecido como anti-iluminista.
micamente dominantes e dirigentes, isto é, aqueles que
III. Teve como marca inicial, em termos mundiais, a pu- podem pagar pelas obras de arte.
blicação de Os sofrimentos do jovem Werther, de Goe-
II. A arte é produto da experiência sensorial ou percep-
the, romance escrito em cartas.
tiva (sensibilidade), da imaginação e da inspiração do
Estão corretas as afirmativas: artista como criador autônomo ou livre
a) I. III. A finalidade da arte é desinteressada (não utilitária)
b) I e II. ou contemplativa. Em outras palavras, a obra de arte não
c) I e III. está a serviço do culto, nem da prática moral das virtudes,
d) II e III. assim como não está destinada a produzir objetos de uso
e) III. e de consumo, e sim a propiciar a contemplação da beleza.
IV. O belo é diferente do bom e do verdadeiro. O bem é
3. Schiller, em A educação estética do homem numa sé- objeto da ética; a verdade, objeto da ciência e da meta-
rie de cartas, afirma que a cultura estética torna possí- física; e a beleza, o objeto próprio da estética.
vel ao homem “aprender a desejar mais nobremente, Estão corretas apenas as afirmativas:
para não ser forçado a querer de modo sublime”.
a) I, III e IV.
A esse respeito, segundo o autor, é correto afirmar que:
b) I, II e III.
a) o homem pode ir além do dever e cultivar sua c) II, III e IV.
sensibilidade a ponto de seus desejos coincidirem ao d) III e IV.
máximo com as exigências da moral.
e) II e IV.
b) as exigências da sensibilidade devem valer também
no âmbito da moralidade, matizando a exigência da lei 6. (Unioeste) No curso dos séculos, reconheceu-se a exis-
moral e reconciliando dever e felicidade. tência de coisas belas e agradáveis e de coisas ou fenô-
c) as leis da natureza sensível e da natureza racional menos terríveis, apavorantes e dolorosos (...). No século
devem ser ambas submetidas às leis da beleza, reali- XVIII o universo do prazer estético divide-se em duas
zando plenamente a natureza humana. províncias, a do Belo e a do Sublime (...). Tudo aquilo que

102
pode despertar ideias de dor e perigo, isto é, tudo aquilo d) A Estética não cabe apenas ocupar-se com o sentimen-
que seja, em certo sentido, terrível ou que diga respeito a to de beleza, mas também com o sentimento de sublime.
objetos terríveis, ou que atue de modo análogo ao terror e) Considerando que tanto o gosto do artista quanto
é uma fonte de Sublime, ou seja, é aquilo que produz a os gostos do público são individuais e incomparáveis e
mais forte emoção que o espírito é capaz de sentir (...). que, portanto, “gosto não se discute”, a Estética como
[Mas, o terror] só é deleitável quando há um distancia- disciplina da filosofia está destinada ao fracasso, pois
mento da coisa que faz medo, donde, uma espécie de não é possível dar universalidade ao juízo de gosto.
desinteresse em relação à ela. Dor e terror são causa de
Sublime se não são realmente nocivos. 8. (Unesp) A fonte do conceito de autonomia da arte é o
pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que
(UMBERTO ECO) fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois
Acerca do Sublime, é correto afirmar que: praticamente tudo o que fazemos serve para alguma coi-
sa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquan-
a) refere-se, exclusivamente, a puras criações da ima- to objeto de apreciação estética, uma coisa não obedece
ginação, sem a presença de objetos externos. a essa razão instrumental: enquanto tal, ela não serve
b) ele se opõe ao Belo, por isso não é um problema para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram em
da Estética. jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto
c) este sentimento leva nossa natureza sensível a per- é, nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo
ceber seus próprios limites, uma vez que a experiên- nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim,
cia do Sublime, diante dos espetáculos da natureza, a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter
ultrapassa nossa sensibilidade. também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim
d) terremotos, tempestades, rochedos arrojados, fu- recusar também à arte a dimensão em virtude da qual,
racões, vulcões em toda sua violência destrutiva e o sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma,
oceano enfurecido são exemplos de Sublime e, quan- da luta pelo empobrecimento do mundo.
to maior for o perigo, quanto mais próximo dele esti-
ver o espectador mais intensa será a experiência, uma ANTÔNIO CÍCERO. “A AUTONOMIA DA ARTE”. FOLHA
DE SÃO PAULO, 13.12.2008 (ADAPTADO).
vez que a sensação de possuir o horror será maior.
e) nenhum artista tentou representar a experiência do De acordo com a análise do autor:
sentimento do Sublime por saber de antemão que ele
é da ordem do irrepresentável. a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista
da filosofia de Kant, fornece os fundamentos para a
7. (Unioeste) O nascimento da estética como disciplina apreciação estética.
filosófica está indissoluvelmente ligado à mutação ra- b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocor-
dical que intervém na representação do belo quando re o esvaziamento do campo estético de suas quali-
este é pensado em termos de gosto, portanto, a partir dades intrínsecas.
do que no homem irá logo aparecer como a essência c) a transformação da arte em espetáculo da indústria
mesma da subjetividade, como o mais subjetivo do su- cultural é um critério adequado para a avaliação de
jeito. Com o conceito de gosto, efetivamente, o belo é sua condição autônoma.
ligado tão intimamente a subjetividade humana que d) o critério mais adequado para a apreciação esté-
se define, no limite, pelo prazer que proporciona, pelas tica consiste em sua validação pelo gosto médio do
sensações ou pelos sentimentos que suscita em nós. público consumidor.
(...) Com o nascimento do gosto, a antiga filosofia da arte e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte
deve, portanto, ceder lugar a uma teoria da sensibilidade. está prioritariamente subordinada à sua valorização
(LUC FERRY)
como produto no mercado.

Assinale a alternativa que não está relacionada com a 9. (UEMA) A concepção de arte tem mudado ao longo
dos séculos. A arte como imitação da natureza e a arte
Estética como disciplina filosófica.
como expressão e construção são, respectivamente, con-
a) Estética e a tradução da palavra grega aisthetiké que cepções dos seguintes períodos:
significa “conhecimento sensorial, experiência sensível,
a) antigo e contemporâneo.
sensibilidade”; só na modernidade, por volta de 1750,
foi utilizada para referir-se aos estudos das obras de b) antigo e medieval.
artes enquanto criações da sensibilidade tendo como c) medieval e moderno.
finalidade o belo. d) antigo e moderno.
b) Desde seu nascimento como disciplina específica e) moderno e contemporâneo.
da filosofia, a Estética afirma a autonomia das artes
pela distinção entre beleza, bondade e verdade.
c) Ainda que a obra de arte seja essencialmente par- Gabarito
ticular, em sua singularidade única ela oferece algo
universal. Eis a peculiaridade do juízo de gosto: proferir 1. B 2. D 3. A 4. D 5. C
um julgamento de valor universal tendo como objeto
algo singular e particular. 6. C 7. E 8. B 9. A

103
Vivenciando as mudanças históricas de seu tempo,
AULA 15 como a Revolução Francesa (1789), Hegel observou o
dinamismo das coisas e como os atos e as ideias estão
interligados, de modo que não podemos separar tais
elementos. Entretanto, esses elementos podem sofrer
alterações, por não serem fixos, ao passo que o momen-
HEGEL to histórico carrega consigo elementos culturais e ideais
de tal período, sofrendo mudanças ao longo do tempo.
Assim, segundo o filósofo, cada época tem seu próprio
tipo de sabedoria, na qual não podemos menosprezar o
conhecimento do passado. Aqui, vemos que, para Hegel,
a filosofia e a história estão entrelaçadas, sem
uma separação nítida.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

1. Georg Wilhelm Friedrich multimídia: livro


Hegel (1770-1831)
10 lições sobre Hegel - Deyve Redson; editora Vozes
O livro apresenta os pontos fundamentais da filosofia
de Hegel.

Tendo uma influência kantiana, Hegel salienta que a histó-


ria da humanidade é a história da emancipação dos indiví-
duos, diante de uma elevação gradual de suas liberdades
individuais, atingindo uma maioridade intelectual. Porém,
o que move essa elevação gradual é ocasionada pelo “es-
pírito do tempo” (zeitgeist, em alemão), que impulsiona
as ações e as ideias, algo como um movimento que atinge
a humanidade. O filósofo entende a realidade como es-
pírito, como substância, mas também como sujeito.

RETRATO DE HEGEL.

Friedrich Hegel nasceu na cidade alemã de Stuttgart, em


1770. O seu pensamento foi determinante para a filosofia
contemporânea, apesar de difundi-lo de modo rebuscado
e num grau de complexidade elevada, sendo construído
no racionalismo – faz parte do círculo que corresponde ao
idealismo alemão. SELO COM O RETRATO DE HEGEL.

104
1.2. O espírito se expressa na arte
Na arte, o saber se configura como expressão sensível do
espírito. O homem se liberta de sua sujeição natural, da fi-
nitude entendida como submissão à natureza. O espírito
vê-se livre para criar, e essa criação manifesta uma
disposição para o absoluto.
multimídia: livro
Mas a arte, segundo Hegel, é ainda dependente da maté-
ria. Na escultura, arte simbólica por excelência, a liberdade
Compreender Hegel do espírito encontra o limite no material bruto. A liberdade
Livro didático que busca estabelecer uma compreensão já é bem maior na música e na pintura, nas quais o grau
acessível aos conceitos e pensamentos hegelianos. de abstração permite ao espírito uma ampla variabilidade
de formas expressivas. Mas é no domínio da palavra que se
realiza a liberdade expressiva da arte: a palavra não é som
1.1. A dialética hegeliana ou grafia, mas o sentido que veicula. Na palavra atinge-se
Para Hegel, o movimento da história é o confronto de ideias o grau máximo de abstração, e o alcance das construções
diferentes, sendo um contínuo devir composto por três mo- espirituais é praticamente infinito.
mentos: tese, antítese e síntese. Assim, a arte é um momento do espírito, em que este procu-
ra adequar-se ao elemento sensível para expressar o saber.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo
Hegel | A Dialética Hegeliana FONTE: YOUTUBE
Hegel
É um movimento circular que não se fecha, ou seja, um mo-
vimento em espiral, pois cada momento final, que seria a sín-
tese, se torna a tese de um movimento posterior, de caráter
mais avançado. Sendo que, para compreender essa dialética,
é necessário buscar o Absoluto, superando o entendimento
comum atingindo a certeza completa e global.

105
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Após a morte de Hegel, seus seguidores dividiram-se em dois campos contrários:


ƒ os hegelianos de direita – discípulos diretos do filósofo, na Universidade de Berlim, que defenderam o conservado-
rismo político do período posterior à restauração napoleônica. Alguns chegaram a defender, inclusive, o nazismo,
nas décadas de 1930 e 1940, na Alemanha.
ƒ os hegelianos de esquerda – interpretaram Hegel em um sentido revolucionário, o que os levou a se aproxima-
rem do ateísmo, na religião, e do socialismo, na política. Entre os hegelianos de esquerda, encontram-se Ludwig
Feuerbach, David Friedrich Strauss, Max Stirner e, o mais famoso de todos, Karl Marx, que viria a desenvolver o
materialismo histórico dialético, desprendendo-se do idealismo hegeliano
Podemos compreender a dialética hegeliana como analogia
a uma soma vetorial. Quando somamos dois vetores, gera-
mos um terceiro, que conserva, de alguma forma, as pro-
priedades dos originais. Podemos pensar na soma de um
vetor A (tese) com um vetor B (antítese), gerando um novo
vetor S (síntese), tal como representado na imagem ao lado.

DIAGRAMA DE IDEIAS

EXISTE UM DIALÉTICA
DINAMISMO NO HEGEL
HEGELIANA
MUNDO
• TESE
• ANTÍTESE
A ARTE COMO
• SÍNTESE (TESE)
PRODUTO DO
UM MOVIMENTO ESPÍRITO
O ESPÍRITO, O
ZEITGEIST: ABSOLUTO.
ESPÍRITO DO EXPRESSÃO
TEMPO SENSÍVEL DA IDEIA
A HISTÓRIA
CAMINHA PARA O
PROGRESSO, PARA
A REALIZAÇÃO
DA LIBERDADE.

106
qualificado como ideia de liberdade. Ao mesmo tempo
Aplicando para em que tem a pretensão de analisar a liberdade segun-
do um modo conceitual (lógico-ontológico), quer, tam-
Aprender (A.P.A.) bém, compreendê-la como uma forma histórica de sua
1. (Uece 2020) Relacione, corretamente, os pensadores manifestação. Ou, dito de outro modo, sem abandonar
com seus respectivos pensamentos acerca da forma como o seu caráter autorreferencial (subjetivo), o filósofo pre-
o conhecimento da realidade se verifica, numerando os tende efetivá-la na sua necessária forma institucional
parênteses abaixo, de acordo com a seguinte indicação: (objetiva). (...) Se a liberdade subjetiva não alcançar essa
1. Immanuel Kant dimensão e se circunscrever no âmbito dos interesses e
desejos particulares dos indivíduos nas suas relações pri-
2. Karl Marx
vadas, o próprio princípio da liberdade se vê ameaçado.”
3. Renè Descartes
MARÇAL, J. (ORG.). ANTOLOGIA DE TEXTOS FILOSÓFICOS.
4. G.W.F Hegel
CURITIBA: SEED-PR, 2009. P. 309.
( ) A reflexão filosófica deve partir de um exame da for-
mação da consciência e a experiência da consciência não Com base na citação anterior, assinale o que for correto.
é só uma experiência teórica: é necessariamente histórica. 01) O livre arbítrio constitui uma ameaça para a rea-
( ) Não é a consciência que determina a vida, mas a lização da liberdade.
vida que determina a consciência. É a ideologia a res- 02) A liberdade deve ser pensada em dois planos dis-
ponsável por produzir uma alienação da consciência tintos: o primeiro, autorreferencial ou subjetivo, e o
humana de sua situação real. segundo, institucional ou objetivo.
( ) É sempre possível duvidar de um princípio, questio- 04) A efetividade do Estado e das instituições sociais
nar as bases de uma teoria. É preciso colocar em ques- constitui um obstáculo para os desejos particulares
tão todo o conhecimento adquirido. dos indivíduos.
( ) O conhecer é um ato de autodeterminação do sujei- 08) O exercício da liberdade é característico de um
to, é anterior a toda experiência, e trata não tanto dos processo historicamente definido.
objetos, mas dos conceitos a priori sobre os objetos. 16) A liberdade é uma síntese da religião com o au-
A sequência correta, de cima para baixo, é: toconhecimento.
a) 1, 3, 2, 4. 4. (UEM) “Marx e Hegel têm em comum a crítica à exacer-
b) 3, 1, 4, 2. bação do individualismo egoísta moderno, bem como das
c) 4, 2, 3, 1. suas consequências, porém discordam quanto às possibi-
d) 2, 4, 1, 3. lidades de solução da questão. Um dos elementos funda-
mentais desse debate é a questão da soberania política.”
2. (UEM) O filósofo alemão Hegel (1770-1831) afirma que
MARÇAL, J. (ORG.). ANTOLOGIA DE TEXTOS FILOSÓFICOS.
“É tarefa da filosofia conceber o que é, pois, aquilo que CURITIBA: SEED-PR, 2009, P. 466.
é é a razão. No que concerne ao indivíduo, cada um é, de
todo modo, um filho de seu tempo; do mesmo modo que Sobre as relações entre indivíduo e Estado, assinale o
a filosofia é seu tempo apreendido em pensamentos”. que for correto.
HEGEL, G.W.F. EXCERTOS E PARÁGRAFOS TRADUZIDOS. IN: 01) Karl Marx considera que a emancipação humana re-
MARÇAL, J. (ORG.). ANTOLOGIA DE TEXTOS FILOSÓFICOS. alizar-se-á na sociedade comunista, pois, nessa socieda-
CURITIBA: SEED-PR, 2009, P. 314. de, o indivíduo não será mais submetido a um Estado e à
divisão social do trabalho, podendo, dessa forma, passar
A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) do reino da necessidade ao reino da liberdade.
correta(s). 02) Para Karl Marx, a liberdade do indivíduo, como
01) A razão de algo é o conceito desse algo concebi- concebida pelo Estado burguês, não passa de um for-
do filosoficamente pelo seu tempo. malismo jurídico; é uma ficção da lei, pois o indivíduo
02) Aquilo que é, a essência de algo, é para o filósofo só pode ser livre quando a esfera da produção estiver
um conceito racional. sujeita ao controle daqueles que produzem.
04) O indivíduo, que é filho de seu tempo, do ponto 04) Para Hegel, o Estado deveria ser substituído pela
de vista filosófico, pensa os seus problemas a partir sociedade civil, pois essa pode representar os interes-
de seu momento histórico. ses coletivos e é capaz de garantir os interesses de
08) Os conceitos filosóficos, por serem determinados cada indivíduo.
historicamente, estão restritos ao seu tempo e à sua 08) Hegel critica as teorias políticas contratualistas, segun-
época, não sendo, pois, universais. do as quais os indivíduos isolados abandonam o estado
16) A reflexão filosófica está intimamente ligada ao de natureza para se reunirem em sociedade, por meio de
seu momento histórico, visto que leva esse mundo ao um pacto, a fim de formar artificialmente o Estado e ga-
plano do conceito. rantir a liberdade individual e a propriedade privada.
16) A filosofia política de Karl Marx fundamenta-se
3. (UEM) “A filosofia de Hegel constitui, assim, exemplo numa nova antropologia, segundo a qual a natureza hu-
de um grandioso e radical investimento especulativo, mana varia historicamente, pois o indivíduo se produz à

107
medida que transforma a natureza pelo trabalho dentro 08) A arte sacra (música-coral, arquitetura gótica, es-
de certas relações sociais de produção. culturas e afrescos) é, segundo Hegel, uma forma de
arte perfeita, pois a religião é a base do artista.
5. (UEG) Para Hegel, a razão é a relação interna e neces-
16) De acordo com o processo de autoconsciência do
sária entre as leis do pensamento e as leis do real. Assim,
espírito, Hegel classifica a arte em três momentos ou
ela é a unidade entre a razão subjetiva e a razão objeti-
formas: simbólica, clássica e romântica.
va. Hegel denominou essa unidade de espírito absoluto.
Dessa forma, um evento real pode expressar e ser resul- 8. (Unicentro) Analise as assertivas e assinale a alter-
tado das ideias que o precedem. Um exemplo da objeti- nativa que aponta a(s) correta(s). Em seu livro História
vação dessas ideias é o seguinte evento: da Filosofia, Hegel (1770-1831) declara que a filosofia
a) A subida de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, moderna pode ser considerada o nascimento da filoso-
representando os ideais sionistas germânicos. fia propriamente dita, porque nela, segundo Hegel, pela
b) A queda de Dom Pedro I do trono brasileiro, repre- primeira vez, os filósofos afirmam que:
sentando a crise do sistema colonial português. I. a filosofia é independente e não se submete a ne-
c) A ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, re- nhuma autoridade que não seja a própria razão como
presentando o ideal iluminista de igualdade social. faculdade plena de conhecimento. Isto é, os modernos
são os primeiros a demonstrar que o conhecimento ver-
d) A coroação de Dom Pedro II no trono brasileiro,
dadeiro só pode nascer do trabalho interior realizado
representando a vitória dos ideais puritanos de moral.
pela razão, graças a seu próprio esforço. Só a razão co-
6. (UEM) Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o nhece e somente ela pode julgar a si mesma.
kantismo. Endereçou a todos a mesma crítica, a de não II. a filosofia moderna realiza a primeira descoberta da
terem compreendido o que há de mais fundamental e subjetividade propriamente dita porque nela o primei-
essencial à razão: o fato de ela ser histórica. Com base ro ato do conhecimento, do qual dependerão todos os
nessa afirmação, assinale o que for correto. outros, é a reflexão e consciência de si reflexiva.
01) Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel consi- III. a filosofia moderna é a primeira a reconhecer que,
dera a razão como sendo relativa, isto é, não possui sendo todos os seres humanos seres conscientes e ra-
um caráter universal e não pode alcançar a verdade. cionais, todos têm igualmente o direito ao pensamento
02) Não há para Hegel nenhuma relação entre a ra- e a verdade. Segundo Hegel, essa afirmação do direito
zão e a realidade. Submetida às circunstâncias dos ao pensamento, unida à ideia da recusa de toda censura
eventos históricos, a razão está condenada ao ceticis- sobre o pensamento e palavra, seria a realização filosó-
fica do princípio da individualidade como subjetividade
mo, isto é, “ao duvidar sempre”.
livre que se relaciona livremente com a verdade.
04) A identificação entre razão e história conduz
Hegel a desenvolver uma concepção materialista da IV. a filosofia moderna está tão intimamente vinculada
história e da realidade, negando entre ambas a possi- aos fundamentos da práxis humana que a ação não pode
bilidade de uma relação dialética. ser ignorada na determinação de seus critérios filosóficos.
Para Hegel, os modernos foram os primeiros a entender
08) No sistema hegeliano, a racionalidade não é mais
que esta prática, no entanto, não deve ser considerada
um modelo a ser aplicado, mas é o próprio tecido do
apenas no sentido restrito da conduta pessoal, mas na
real e do pensamento. O mundo é a manifestação da
acepção mais abrangente de experiência humana em seus
ideia, o real é racional, e o racional é o real. vários aspectos, desde histórico até o nível psicológico.
16) Karl Marx, ao afirmar, na ideologia alemã, que
Considerando as afirmações acima:
não é a história que anda com as pernas das ideias,
mas as ideias é que andam com as pernas da história, a) apenas I, III e IV são corretas.
critica, ao mesmo tempo, o idealismo e a concepção b) apenas I, II e III são corretas.
da história de Hegel e dos neo-hegelianos. c) apenas I é correta.
d) apenas II, III e IV são corretas.
7. (UEM) Segundo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a rea-
e) apenas IV é correta.
lidade é a manifestação do espírito infinito ou absoluto,
que é necessariamente histórico, dialético e realizador 9. (Unicentro) Relacione os fragmentos e argumentos
da unidade entre pensamento e mundo. Sobre a ma- abaixo identificando-os com o pensamento político de
nifestação do espírito na arte, segundo a filosofia de seu respectivo autor.
Hegel, assinale o que for correto. I. Na obra Filosofia do Direito, em que são desenvolvi-
01) A arte, para Hegel, é a manifestação sensível do das as teorias sobre o Estado, encontramos uma crítica
espírito, isto é, a primeira forma de expressão do ab- à tradição jurisnaturalista típica dos filósofos contratu-
soluto, sucedida pela religião e pela filosofia. alistas. Ao contrário destas teorias, a obra em questão
02) Entre as obras de arte, a poesia é a mais espiritual nega a anterioridade dos indivíduos na formação da so-
de todas, segundo Hegel, pois a matéria que utiliza é ciedade, pois é o Estado que fundamenta a sociedade,
a linguagem. ou seja, não existe o homem em estado de natureza,
04) Para Hegel, a arte sempre renasceu e renascerá pois o homem é sempre um indivíduo social.
eternamente, pois seu conteúdo histórico deve ser atu- CF. ARANHA; MARTINS. FILOSOFANDO: INTRODUÇÃO À
alizado ao longo do tempo. FILOSOFIA. 2. ED. SÃO PAULO: MODERNA, 1993, P. 234.

108
II. É verdade que nas democracias o povo parece fazer 10. (UFU) Hegel, em seus cursos universitários de Filoso-
o que quer, mas a liberdade política não consiste nisso. fia da História, fez a seguinte afirmação sobre a relação
Num Estado, isto é, numa sociedade em que há leis, a entre a filosofia e a história: “O único pensamento que
liberdade não pode consistir senão em poder fazer o que a filosofia aporta é a contemplação da história”.
se deve querer não ser constrangido a fazer o que não
HEGEL, G.W.F. FILOSOFIA DA HISTÓRIA. 2. ED.
se deve desejar. Deve-se ter sempre em mente o que é BRASÍLIA: EDITORA DA UNB, 1998, P. 17.
independência e o que é liberdade. A liberdade é o direi-
to de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar que:
pudesse fazer tudo o que elas proíbem não teria mais I. a razão governa o mundo e, portanto, a história uni-
liberdade, porque os outros também teriam tal poder. versal é um processo racional.
FRAGMENTO RETIRADO DA OBRA: DO ESPÍRITO DAS II. a ação dos homens obedece a vontade divina que
LEIS. SÃO PAULO: DIFEL, 1962, P. 179. preestabelece o curso da história.
III. A ideia central da obra Segundo tratado sobre o go- III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao
verno gira em torno do conceito de propriedade privada. real existente.
Inicialmente, este conceito é usado num sentido muito IV. a ideia ou a razão se originam da força material de
amplo, indicando tudo o que pertence a cada indivíduo, produção e reprodução da história.
isto é, seu corpo, suas capacidades, seu trabalho, seus Assinale a alternativa que contém somente assertivas
bens, sua vida e liberdade. Segundo essa concepção, corretas.
todos são proprietários, mesmo quem não possui bens,
pois todos são proprietários de sua vida, de seu corpo, a) III e IV.
de seu trabalho. Nessa obra, aparece a distinção entre o b) I e II.
público e o privado, que devem ser regidos por leis dife- c) II e III.
rentes, de tal modo que o Estado não deve intervir, mas d) I e III.
sim garantir e tutelar o livre exercício da propriedade.
11. (UFU) Segundo Hegel, “Na história universal só se
CF. ARANHA; MARTINS. FILOSOFANDO: INTRODUÇÃO À pode falar dos povos que formam um Estado. É preciso
FILOSOFIA. 2. ED. SÃO PAULO: MODERNA, 1993, P. 219.
saber que tal Estado é a realização da liberdade, isto
IV. Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as é, da finalidade absoluta, que ele existe por si mes-
relações jurídicas – assim como as formas de Estado – mo: além disso, deve-se saber que todo valor que o
não podem ser compreendidas por si mesmas, nem pela homem possui, toda realidade espiritual, ele só o tem
dita evolução geral do espírito humano (...). A conclusão mediante o Estado”.
geral a que cheguei (...) pode formular-se resumidamente
HEGEL. FILOSOFIA DA HISTÓRIA. 2. ED. BRASÍLIA:
assim: na produção social de sua existência, os homens EDITORA DA UNB. 1998. P. 39-40.
estabelecem relações determinadas, necessárias, inde-
pendentes da sua vontade, relações de produção que A interpretação do trecho citado permite afirmar que:
correspondem a um determinado grau de desenvolvi- a) o Estado é realidade espiritual, que ao mesmo tempo
mento das forças produtivas materiais. (...) O modo de
é a garantia dos valores humanos, sendo a liberdade a
produção da vida material condiciona o desenvolvimen-
realização suprema da existência humana, pois ela é
to da vida social, política e intelectual em geral. Não é a
a síntese da vontade universal e da vontade subjetiva.
consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu
ser social que, inversamente, determina sua consciência. b) o Estado resulta da ação abstrata produzida por
uma força divina absoluta e superior às vontades hu-
FRAGMENTO RETIRADO DA OBRA: CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA manas que a ela se submetem.
POLÍTICA. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 1977, P. 23.
c) o Estado é a limitação da liberdade, que é cerceada
Os fragmentos e argumentos acima correspondem ao para que o Estado se coloque acima e à frente dos
pensamento político de quais filósofos? Preencha os cidadãos no curso da história.
parênteses com o número do argumento ou fragmento d) o Estado é a recondução do indivíduo e da espécie
que lhe é correspondente. às condições naturais de existência, únicas capazes
de garantir a liberdade como valor absoluto.
( ) Karl Marx
( ) Friedrich Hegel
( ) John Locke Gabarito
( ) Montesquieu
Assinale a alternativa correta. 1. C 2. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 3. 02 + 08 = 10
a) I, II, III e IV. 4. 01 + 02 + 08 + 16 = 27 5. C
b) II, III, I e IV.
c) IV, III, II e I.
6. 08 + 16 = 24 7. 01 + 02 + 16 = 19
d) III, I, IV e II. 8. B 9. E 10. D 11. A
e) IV, I, III e II.

109
AULA 16

ÉTICA UTILITARISTA

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
RETRATO DE JEREMY BENTHAM.
22, 23, 24 e 25
As características de sua filosofia são:
ƒ maior princípio de felicidade: promove a felicidade em
1. Introdução geral, sendo o princípio que aprova ou desaprova a ação;
ƒ o egoísmo universal: prevalece o pensar numa ação vol-
O utilitarismo é considerado como uma doutrina que afir-
tada para o coletivo, seguindo uma lógica utilitarista; o
ma que as ações são boas quando tendem a promover a
utilitarismo visa a imparcialidade para vencer os interes-
felicidade, ao passo que também podem produzir ações
ses particulares que afetam a felicidade coletiva.
negativas quando não propiciam a felicidade.
ƒ identificação artificial dos interesses de alguém: diante
desta característica, o indivíduo entenderá o outro como
relevante na sociedade, ou seja, os interesses de um é o
mesmo de todos.
Segundo a filosofia de Bentham, o princípio da utilidade
é algo que não admite provas diretas, não sendo neces-
sariamente um problema, pois alguns princípios explica-
multimídia: vídeo tivos devem começar em algum lugar, tendo como base
a observação.
FONTE: YOUTUBE
Esse pensamento utilitarista apresenta vantagens numa
Utilitarismo
filosofia moral, pois permite que as decisões sejam discu-
tidas por todos, com o mesmo interesse coletivo, o in-
teresse do bem, visando à felicidade. Aqui, notamos
2. Jeremy Bentham (1748-1832) uma orientação de que todos os sujeitos da sociedade são
relevantes e iguais na construção de um bem coletivo. Com
O filósofo inglês Bentham salientava que a natureza huma- isso, a filosofia moral, ou a ética, pode ser descrita como
na era governada por dois elementos soberanos – prazer uma orientação que dirige a ação do homem para
e dor –, num movimento constante de busca pelo prazer maior quantidade possível de felicidade.
e de fuga da dor.
A filosofia utilitarista dialoga com princípios hedonistas do
O pensador promulgou o princípio da utilidade como pa- epicurismo, pois visa a maximização da felicidade e a dimi-
drão de ação correta por parte dos indivíduos e pelo Es- nuição das dores. O utilitarismo preocupa-se com decisões
tado, de modo que essas ações ganham uma validade/ que resultem em ações concretas para a alegria do maior
aprovação, quando desencadeiam a felicidade, enquanto número possível de pessoas. É uma ética consequencialista
outras ações são inválidas/reprovadas, quando causam a e pragmática, diferente da ética kantiana do dever e dos
infelicidade ou a própria dor. princípios universalistas do idealismo alemão.

110
A liberdade, para o filósofo, consistia na ausência da restri-
ção, podendo ter uma liberdade plena, sem o impedimen-
to dos outros, sendo que essa liberdade não é “natural”
(no sentido de existir antes da vida social), pois as pessoas
sempre viveram em sociedades, isto é, essa liberdade surge
com o próprio sujeito.
A utilização das leis arbitrárias se torna negativa porque,
por natureza, restringe a liberdade do sujeito, sendo, na
sua essência, prejudicial ao indivíduo. Entretanto, a lei é
necessária para orientar a ordem social, e as boas leis se-
rão essenciais. Isso ocorre quando o controle pelo Estado
é limitado, deixando o indivíduo livre, pois o protegerá de RETRATO DE STUART MILL.
qualquer dano em sua liberdade e na própria liberdade co-
letiva. Isso dá uma utilidade positiva, pois expressa a von-
tade do soberano, que o próprio grupo social.

2.1. Pensamento contra a Declaração


dos Direitos do Homem e do Cidadão
Bentham foi contrário às declarações do ideal contratua-
lista da Revolução Francesa – ao firmar um pacto de di-
multimídia: vídeo
reitos, limitando valores morais e éticos, priva o indivíduo FONTE: YOUTUBE
de viver a vida na sua totalidade, pois não há escolha Liberdade de expressão, uma
consciente e coletiva. Segundo Bentham, a Revolução conversa sobre Stuart Mill
Francesa, principalmente em sua fase jacobina, apegou- Os filósofos Paulo Ghiraldelli e Francielle Chies conver-
-se aos ideais abstratos dos direitos e afastou-se da rea- sam sobre o tema “liberdade de expressão”, da obra
lidade dos indivíduos. Liberdade, de Stuart Mill.

3.1. O princípio do dano


O princípio do dano assegura que cada indivíduo tem o di-
reito de agir como quiser, desde que suas ações não prejudi-
quem as outras pessoas. Se a ação afeta diretamente apenas
a pessoa que a está realizando, então a sociedade não tem
o direito de intervir. Entretanto, Mill argumenta que os indi-
multimídia: vídeo
víduos devem ser prevenidos (alertados) de fazer algo ruim
FONTE: YOUTUBE para si mesmos, afinal, não vivemos plenamente isolados e
O dilema do Super-Herói | Nerdologia nossas ações podem afetar outros indivíduos.

3.2. A liberdade do indivíduo


3. John Stuart Mill (1806-1873) A liberdade de expressão, oral e escrita, é proeminente
entre as condições de um bom governo. Só que essa liber-
O filósofo inglês Stuart Mill foi seguidor de Bentham, em-
dade, num governo popular, baseado no voto, não garante
bora discordasse de algumas de suas afirmações. a liberdade, pois um governo baseado na vontade popular
Para Mill, os prazeres possuem um quadro de satisfação, pode exercer a tirania. Assim, as restrições impostas ao in-
como numa escala de valores. Por exemplo, o prazer intelec- divíduo, seja pela lei ou pela opinião, deveriam ser basea-
tual é de um tipo melhor que os prazeres que são sensuais das num princípio coletivo.
ou instintivos. Essa condição é direcionada indutivamente, A liberdade é um bem em si mesmo como num meio para
pois Mill questiona: “Quem preferiria ser um jabuti feliz, vi- a felicidade e o progresso. O Estado e suas instituições não
vendo uma vida extremamente longa, do que ser uma pes- devem, pois, ditar regras sobre a vida dos indivíduos e cer-
soa vivendo numa vida normal?”. cearem suas liberdades. A liberdade é um bem maior e só

111
deve possuir alguma sanção segundo o princípio do dano, Uma simples observação deveria bastar contra a confusão
evitando males para outros indivíduos. dos ignorantes que supõem que aqueles que defendem
a utilidade como teste do certo e do errado usam este
termo no sentido restrito e meramente coloquial em que
o útil se opõe ao prazer. Devemos desculpas aos filósofos
opositores do utilitarismo por confundi-los, ainda que mo-
mentaneamente, com pessoas capaz de uma concepção
tão absurdamente errada; o que se torna ainda mais ex-
traordinário na medida em que a acusação contrária, de
remeter tudo ao prazer, e isso da forma mais grosseira, é
uma das mais comuns contra o utilitarismo. ... Aqueles que
multimídia: livro sabem um pouco sobre essa questão estão cientes de que
todos os autores, de Epicuro a Bentham, que defenderam
o princípio da utilidade o entenderam não como algo a ser
Menino do Engenho - José Lins do Rego. contraposto ao prazer, mas sim como o próprio prazer, jun-
Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. tamente com a ausência de dor. E ao invés de opor o útil
ao agradável ou ao ornamental, sempre declararam que o
Trata-se do romance apresentado no início do capítulo, útil também significa essas eentre outras coisas. E, contu-
que traz uma série de questões que podem ser debati- do, o rebanho, inclusive o "rebanho dos escritores", não
das a partir da ética e da moral. apenas em jornais e outros periódicos, mas em livros de
peso e pretensão, estão perpetuamente cometendo esse
erro superficial. Tomam a palavra utilidade e não sabem
3.3. A crítica sobre ela nada além de seu som. Habitualmente, expres-
sam por meio dela a rejeição, ou o descuido, do prazer em
O pensamento de Mill sofre uma crítica porque, em seu zelo
algumas de suas formas: a beleza, o ornamento, a diver-
pela liberdade e em sua oposição à extensão da interferência são. E o termo não é apenas mal aplicado por ignorância
do Estado, ele deu pouca importância à justiça e ao bem-es- em sentido depreciativo, mas ocasionalmente até mesmo
tar, elementos que podem comprometer a liberdade. como um cumprimento, como se significasse algo de su-
perior à frivolidade ou aos meros prazeres momentâneos.
Stuart Mill viu com entusiasmo o surgimento do socialis- Este uso pervertido é o único pelo qual essa palavra é po-
mo e considerava que aspectos dessa ideologia poderiam pularmente conhecida, e é desse uso que a nova geração
ser úteis para o aprimoramento da sociedade. No entan- está adquirindo seu único entendimento desta palavra.
to, Mill possuía posições criticas ao ideal de uma socie-
...
dade comunista. Seu entusiasmo estava mais próximo de
certos aspectos do socialismo utópico. O credo que aceita como fundamento da moral o Útil ou
Princípio da Máxima Felicidade, considera que uma ação é
Embora Bentham e Mill partam de um entendimento se- correta na medida em que tende a promover a felicidade,
melhante em relação ao conceito de utilidade, o utilitaris- e errada quando tende a gerar o oposto da felicidade. Por
mo de Bentham enfatiza a moralidade da ação, enquanto felicidade entende-se o prazer e a ausência da dor; por
o de Mill busca entender em que consistiria a avaliação infelicidade, dor, ou privação do prazer; Para proporcionar
uma visão mais clara do pradrão moral estabelecido por
moral da ação e a moralidade das próprias normas.
essa teoria, é preciso dizer muito mais; em particular, o
que as ideias de dor e prazer incluem e até que ponto
essa questão fica em aberto. Mas as explicações suple-
mentares não afetam a concepção de vida em que essa
teoria da moral se fundamenta: a saber, que o prazer e a
ausência de dor são as únicas coisas desejáveis como fim,
e que todas as coisas desejáveis (que são numerosas no
esquema utilitarista, como em qualquer outro) o são ou
porque o prazer é inerente a elas, ou porque consistem em
meios de promover o prazer e evitar a dor.
multimídia: vídeo
STUART MILL
FONTE: YOUTUBE
TEXTOS BÁSICOS DE ÉTICA, EDITORA ZAHAR, 4ª
Gattaca, a experiência genética - Estados Unidos, 1997. EDIÇÃO, AUTORIA DE DANILO MARCONDES.
Filme de ficção científica ambientado no futuro, que
apresenta uma situação bastante interessante: a per- 3.3.1. Mill e o sufrágio feminino
sonagem principal viola as principais regras morais da
sociedade na qual vive, mas, apesar disso, suas ações Muitos volumes dos escritos de Mill tratam de assuntos de
são legítimas, do ponto de vista ético. interesse social e político. Estes incluem escritos sobre pro-
blemas políticos específicos na Índia, América, Irlanda, Fran-

112
ça e Inglaterra, sobre a natureza da democracia e sobre a igualdade, não admitindo poder ou privilégio de um lado,
civilização, sobre escravidão, sobre direito e jurisprudência, nem incapacidade de outro. Isso mostra como Mill apela
sobre o local de trabalho e sobre a família e o status das tanto para a patente injustiça dos arranjos familiares con-
mulheres, um importante trabalho na história do feminísmo. temporâneos quanto para o impacto moral negativo desses
arranjos sobre as pessoas dentro deles. Em particular, ele dis-
A natureza radical da reivindicação de Mill pela igualdade
cute as maneiras pelas quais a subordinação das mulheres
das mulheres é, muitas vezes, esquecida para nós depois
afeta negativamente não apenas as mulheres, mas também
de mais de um século de protestos e mudanças de atitudes
os homens e as crianças da família. Essa subordinação difi-
sociais. No entanto, a subordinação das mulheres aos ho-
culta o desenvolvimento moral e intelectual das mulheres ao
mens, quando Mill estava escrevendo, continua marcante.
restringir seu campo de atividades, empurrando-as para o
Entre outros indicadores dessa subordinação estão os se-
autossacrifício ou para o egoísmo e a mesquinhez.
guintes: (1) as mulheres britânicas tinham menos motivos
para o divórcio que os homens até 1923; (2) os maridos Os homens, por sua vez, tornam-se brutais através de seus
controlavam as propriedades de suas esposas como se fos- relacionamentos com mulheres ou se afastam de projetos
sem deles até 1882; (3) as crianças eram consideradas do de crescimento pessoal para buscar a "consideração" so-
marido; (4) o estupro era visto como impossível dentro de cial que as mulheres desejam.
um casamento; e (5) as esposas careciam de características
É importante notar que a preocupação de Mill com o status
cruciais da personalidade jurídica, uma vez que o marido
das mulheres se encaixa com o restante de seu pensamen-
era considerado o representante da família (eliminando,
to – não é um problema desconectado. Por exemplo, seu
assim, a necessidade do sufrágio feminino).
apoio à igualdade das mulheres foi reforçado pelo asso-
ciacionismo, que afirma que as mentes são criadas por leis
associativas que operam na experiência. Isso implica que,
se mudarmos as experiências e a educação das mulheres,
suas mentes mudarão.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Filosofia política: o utilitarismo
Curso Livre de Humanidades, com o professor Luis Al-
berto Peluso, da PUC-Campinas.

CARTAZ DO MOVIMENTO DAS MULHERES ALEMÃS


REIVINDICANDO O DIREITO AO VOTO, 1914.

O objetivo do ensaio foi mostrar que o princípio que regula


as relações sociais existentes entre os dois sexos - a subordi-
nação legal de um sexo ao outro - é errado em si mesmo, e
um dos principais obstáculos para o desenvolvimento huma-
no e que deveria ser substituído por um princípio de perfeita

113
DIAGRAMA DE IDEIAS

UTILITARISTA

AS AÇÕES
SÃO BOAS, POIS
PROMOVEM A
FELICIDADE
BENTHAM STUART MILL

A ÉTICA DAS
CONSEQUÊNCIAS,
O SER HUMANO DOS RESULTADOS, OS PRAZERES
BUSCA O PRAZER DO PRAGMATISMO DO HOMEM TÊM
UM QUADRO DE
SATISFAÇÕES

PROCURA
EVITAR A DOR
PRINCÍPIO
DO DANO

A ÉTICA DEVE VISAR


AO BEM COMUM
TODOS TÊM O
DIREITO DE AGIR SEM
PROVOCAR DANOS
O RESULTADO DE A OUTRAS PESSOAS
NOSSAS ESCOLHAS
DEVE VISAR À
FELICIDADE DA
MAIORIA

114
civilizada, contra a vontade dele, consiste em prevenir
Aplicando para danos a terceiros. Não basta que se leve em conta o pró-
prio bem, físico ou moral, da pessoa”.
Aprender (A.P.A.)
MILL, JOHN STUART. DA LIBERDADE. SÃO PAULO: IBRASA, 1963.
1. (Enem PPL) O povo que exerce o poder não é sempre
o mesmo povo sobre quem o poder é exercido, e o fala- Este princípio, muito caro ao liberalismo político ra-
do self-government [autogoverno] não é o governo de dical, ficou conhecido como “princípio da liberdade”.
cada qual por si mesmo, mas o de cada qual por todo Com base na leitura do enunciado de Mill, escolha a
o resto. Ademais, a vontade do povo significa pratica- alternativa correta.
mente a vontade da mais numerosa e ativa parte do a) Os indivíduos têm total liberdade de ação e a socieda-
povo – a maioria, ou aqueles que logram êxito em se de jamais pode legitimamente reprimi-los, mesmo quan-
fazerem aceitar como a maioria. do suas ações venham a provocar danos aos demais.
MILL, JOHN STUART. SOBRE A LIBERDADE.
b) A vontade do indivíduo é soberana, mas a sociedade
PETRÓPOLIS: VOZES, 1991 (ADAPTADO). tem o direito legítimo de reprimir os vícios e os compor-
tamentos autodestrutivos por parte de seus membros.
No que tange à participação popular no governo, a ori- c) Os indivíduos movidos por seus interesses pessoais
gem da preocupação enunciada no texto encontra-se na: agem de forma egoísta e a sociedade tem o direito
a) conquista do sufrágio universal. legítimo de regular suas ações em função dos valores
estabelecidos pelos bons costumes.
b) criação do regime parlamentarista.
d) Os indivíduos têm o direito de fazer suas escolhas
c) institucionalização do voto feminino.
pessoais, mesmo quando estas colidem com a visão de
d) decadência das monarquias hereditárias. mundo dominante e a sociedade só pode coibir tais es-
e) consolidação da democracia representativa. colhas quando estas provocarem danos a terceiros.
2. (Unesp) Tradição de pensamento ético fundada pelos e) A salvaguarda do bem-estar físico ou moral do in-
divíduo é o fundamento para que o poder possa ser
ingleses Jeremy Bhentam e John Stuart Mill, o utilitarismo
legitimamente exercido sobre qualquer membro de
almeja muito simplesmente o bem comum, procurando
uma sociedade civilizada, mesmo contra a sua vontade.
eficiência: servirá aos propósitos morais a decisão que
diminuir o sofrimento ou aumentar a felicidade geral da 4. (UEM) Entre o final do século XVII e o final do século
sociedade. No caso da situação dos povos nativos brasi- XIX, desenvolvem-se duas grandes concepções refe-
leiros, já se destinou às reservas indígenas uma extensão rentes à organização social e à ordem política, isto é,
de terra equivalente a 13% do território nacional, quase o liberalismo e o socialismo. Essas duas doutrinas di-
o dobro do espaço destinado à agricultura, de 7%. Mas a ferenciam-se tanto pelos princípios que fundamentam
mortalidade infantil entre a população indígena é o dobro a organização social e a ordem política, quanto por
da média nacional e, em algumas etnias, 90% dos inte- pretenderem atender aos interesses de classes sociais
grantes dependem de cestas básicas para sobreviver. Este divergentes. Assinale o que for correto.
é um ponto em que o cômputo utilitarista de prejuízos
01) Ao formular a teoria da propriedade privada
e benefícios viria a calhar: a felicidade dos índios não é
como direito natural, o filósofo inglês John Locke es-
proporcional à extensão de terra que lhes é dado ocupar.
tabeleceu um dos princípios que fundamentaram a
VEJA, 25 OUT. 2013 (ADAPTADO). organização social e a ordem política do liberalismo.
02) A revolta da Comuna de Paris, em 1871, foi uma
A aplicação sugerida da ética utilitarista para a popula- insurreição dos liberais contra o Estado que, ao de-
ção indígena brasileira é baseada em cretar leis para regulamentar o mercado, infringia o
a) uma ética de fundamentos universalistas que de- princípio do “deixai fazer, deixai passar”, ou seja, da
precia fatores conjunturais e históricos. não intervenção do Estado na economia.
b) critérios pragmáticos fundamentados em uma rela- 04) Karl Marx e Friedrich Engels ficaram conhecidos
ção entre custos e benefícios. como representantes do socialismo científico. Eles criti-
c) princípios de natureza teológica que reconhecem o caram os socialistas utópicos, tais como Charles Fourier e
direito inalienável do respeito à vida humana. Robert Owen, que acreditavam ser possível mudar a rea-
d) uma análise dialética das condições econômicas lidade social de maneira idealista e voluntarista, criando
geradoras de desigualdades sociais. comunidades-modelo.
e) critérios antropológicos que enfatizam o respeito 08) John Stuart Mill foi um dos poucos liberais que criti-
cou as desigualdades sociais e políticas, a ponto de de-
absoluto às diferenças de natureza étnica.
fender o sufrágio universal contra o voto censitário e ser
3. (Unioeste) Segundo John Stuart Mill, a autoridade da um dos pioneiros na defesa da emancipação da mulher.
sociedade sobre o indivíduo deveria ser claramente limi- 16) Karl Marx e Friedrich Engels criticaram a democracia
tada. Visando estabelecer o justo limite da soberania do burguesa fundada no liberalismo, que, para eles, dissi-
indivíduo sobre si mesmo, ele afirma que “(...) o único mulava o poder político do capitalista proprietário dos
objetivo a favor do qual se possa exercer legitimamente meios de produção e legitimava o domínio sobre o ope-
pressão sobre qualquer membro de uma comunidade rariado expropriado.

115
5. (UEL) Leia o trecho a seguir. utilitarismo de regras ensina que são corretas as ações
O objeto deste ensaio é defender [que] o único propó- que se conformam a regras de cuja observância geral re-
sito com o qual se legitima o exercício do poder sobre sulta um estado de coisas pelo menos tão bom quanto o
algum membro de uma comunidade civilizada contra a resultante de regras alternativas. (...). Para o consequen-
sua vontade é impedir dano a outrem. cialismo, o bem é logicamente anterior ao correto, no
sentido de que nenhum critério de correção pode ser es-
MILL, JOHN STUART. SOBRE A LIBERDADE [1859]. PETRÓPOLIS: VOZES, 1991. tabelecido antes que uma concepção de bem tenha sido
delineada. (...) Para o utilitarismo, o bem é a utilidade (...)
O trecho expressa:
(M.C.M. DE CARVALHO)
a) o argumento jusnaturalista, encontrado também em
autores como Thomas Hobbes, para a criação do contra- Com base no texto, seguem as seguintes afirmativas:
to social que fundaria as bases de um Estado soberano.
I. Na concepção moral utilitarista, é necessário, nos ju-
b) a visão fascista, na qual o Estado surge como solu- ízos morais, levar em consideração as consequências
ção para os conflitos e problemas existentes no inte- resultantes das ações praticadas.
rior da sociedade civil.
II. Para o utilitarismo de regras, são consideradas boas
c) a análise influenciada por Marx e Engels, na medi-
as ações conforme a regras cuja observância resulta
da em que se baseia nas classes sociais para identifi-
num estado de coisas tão bom, ou melhor, do que o es-
car o raio de ação dos indivíduos na sociedade.
tado de coisas resultante de regras alternativas.
d) o ideário positivista do século XIX, no qual há uma forte
crítica à visão utilitarista da moral e da vida em sociedade. III. Na concepção ética utilitarista, o princípio funda-
mental é o princípio da utilidade.
e) uma preocupação característica do liberalismo do
século XIX, que buscava pensar os limites da ação do IV. Na concepção ética utilitarista, nenhum critério de
Estado em relação à vida particular dos indivíduos. correção no agir moral pode ser estabelecido com base
numa determinada concepção de bem.
6. (Enem) O edifício é circular. Os apartamentos dos V. Há, em termos morais, apenas, uma única concepção uti-
prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode cha- litarista, por esta ser uma concepção moral deontológica.
má-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor
Assinale a alternativa correta.
ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser, de alo-
jamento do inspetor. A moral reformada; a saúde pre- a) Apenas I e IV estão corretas.
servada; a indústria revigorada; a instrução difundida; b) Apenas II e IV estão corretas.
os encargos públicos aliviados; a economia assentada, c) Apenas IV e V estão incorretas.
como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei so- d) Apenas III e IV estão corretas.
bre os Pobres não cortado, mas desfeito – tudo por uma e) Todas as afirmativas estão incorretas.
simples ideia de arquitetura!
8. (Ifam) O filósofo liberal John Stuart Mill, um dos prin-
BENTHAM, JEREMY. O PANÓPTICO. BELO HORIZONTE: AUTÊNTICA, 2008.
cipais expoentes do utilitarismo, colocou a liberdade
Essa é a proposta de um sistema conhecido como pa- como a “pedra de toque” de sua teoria política. Esta se
nóptico, um modelo que mostra o poder da disciplina baseia no princípio de que:
nas sociedades contemporâneas, exercido preferencial- a) os interesses da maioria não podem ser conciliados
mente por mecanismos com os da minoria, já que no sistema democrático
a) religiosos, que se constituem como um olho divino esta é governada por aquela.
controlador que tudo vê. b) a esfera da liberdade individual deve ser ampliada,
b) ideológicos, que estabelecem limites pela aliena- em nome do interesse próprio, a despeito de causar
ção, impedindo a visão da dominação sofrida. danos à sociedade como um todo.
c) repressivos, que perpetuam as relações de domina- c) a liberdade se restringe ao direito do indivíduo de
participar como cidadão dos negócios públicos (do
ção entre os homens por meio da tortura física.
Estado), através da elaboração da lei.
d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo
d) o governo deve visar à felicidade para um número
por meio do olhar como instrumento de controle.
cada vez maior de pessoas.
e) consensuais, que pactuam acordos com base na
e) a liberdade, entendida como a não interferência do
compreensão dos benefícios gerais de se ter as pró-
Estado na esfera privada, é inconciliável com a igual-
prias ações controladas.
dade entre os indivíduos na esfera pública.
7. (Unioeste) O utilitarismo é um tipo de teoria teleoló-
9.(IFG) Na contramão das previsões que anunciaram a
gica (de telos que, em grego, significa “fim”) ou conse-
morte da filosofia moral utilitarista, essa doutrina con-
quencialista porque sustenta que a qualidade de um ato/
tinua sendo um tema privilegiado no campo de estudos
regra de ação é função das consequências produzidas
sobre a ética. A que se deve atribuir a vitalidade atual
pelo ato/regra em questão. O utilitarismo de atos estatui
dos estudos sobre o utilitarismo?
que uma ação é correta se sua realização dá origem a
estados de coisas pelo menos tão bons quanto aqueles a) É possível afirmar que, se o utilitarismo continua fe-
que teriam resultados de cursos alternativos de ação. O cundando a reflexão ética em nossos dias, é porque,

116
à luz dessa doutrina, os direitos têm prioridade sobre tras possam sê-lo em casos particulares). Elas devem, por
o bem. Por isso, na “era dos direitos”, para falar com isso, ser protegidas, como de fato naturalmente o são, por
Norberto Bobbio, é compreensível que as éticas dos di- um sentimento diferente não só em grau mas em quali-
reitos busquem inspiração no utilitarismo. dade, distinto, tanto pela natureza mais definida de seus
b) Os utilitaristas chegaram a um consenso na inter- ditames como pelo caráter mais severo de suas sanções,
pretação do conceito de utilidade. Um conceito que do sentimento mais moderado que se liga à simples ideia
privilegia o interesse individual em detrimento do de promover o prazer ou a conveniência dos homens.
interesse geral e que leva a sério a pessoa humana.
IBIDEM, P. 94.
c) Não se pode ignorar que justiça e equidade estão
suficientemente asseguradas na teoria utilitarista. Com base na leitura desses dois trechos e considerando
Daí a importância que essa teoria adquire no cenário outros elementos presentes no capítulo citado da obra
atual. O utilitarismo não admite que minorias sejam de Mill, responda:
oprimidas e direitos humanos violados. a) Qual é o obstáculo ao princípio de utilidade que,
d) Qualquer sistema ético deve promover o bem-estar segundo o autor, tem sido extraído da ideia de justiça?
e preocupar-se com a minimização do sofrimento. Daí b) Qual é o argumento utilizado pelo autor para en-
a pertinência do utilitarismo, uma doutrina sensível às frentar esse obstáculo e demonstrar que não há incom-
preocupações distributivas, que não opõe princípio de patibilidade entre as regras da justiça e o princípio da
utilidade e princípio de equidade. maior felicidade?
e) O utilitarismo é um modelo ético desafiante que nos
leva a pensar sobre importantes questões da ética nor-
mativa, da metaética e da teoria da ação. A doutrina
tem o mérito de considerar e ao mesmo tempo avaliar a
Gabarito
importância das consequências da ação humana, como 1. E 2. B 3. D 4. 01 + 04 + 08 + 16 = 29
também de colocar em primeiro plano a satisfação das
necessidades e dos interesses humanos da maioria. 5. E 6. D 7. C 8. D 9. E 10. D
10. (Enem) A moralidade, Bentham exortava, não é uma 11.
questão de agradar a Deus, muito menos de fidelidade a) O obstáculo é a ideia de justiça, que é vista como
a regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a um valor superior ao útil ou ao conveniente. Neste
maior quantidade de felicidade possível neste mundo. caso, a justiça tem de ser encarada como um senso
Ao decidir o que fazer, deveríamos, portanto, perguntar natural, próprio do ser humano.
qual curso de conduta promoveria a maior quantidade b) Stuart Mill considera que a noção de justiça é um
de felicidade para todos aqueles que serão afetados. conjunto de componentes de ordem emocional, como
RACHELS, J. OS ELEMENTOS DA FILOSOFIA MORAL. no caso do ser humano defender-se de um mal, e ra-
BARUERI-SP: MANOLE, 2006. cional, que está estritamente fundamentada na ideia
de justiça que acarreta aos seres humanos sentimen-
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em tos mais intensos, como a segurança, aspectos dos
conformidade com uma mais desejáveis.
a) fundamentação científica de viés positivista.
b) convenção social de orientação normativa.
c) transgressão comportamental religiosa.
d) racionalidade de caráter pragmático.
e) inclinação de natureza passional.

11. (UFMG) Leia estes dois trechos:


Trecho 1

Em todas as épocas do pensamento, um dos mais for-


tes obstáculos à aceitação da utilidade ou da felicidade
como critério do certo e do errado tem sido extraído da
ideia de justiça.
MILL, JOHN STUART. O UTILITARISMO. SÃO PAULO:
ILUMINURAS, 2000. CAP. V, P. 69.

Trecho 2

A justiça segue sendo o nome adequado para certas utili-


dades sociais que são muito mais importantes e, portan-
to, mais absolutas e imperativas do que quaisquer outras
consideradas como classe (embora não mais do que ou-

117
tica. Em 1815, surgiu o Congresso de Viena, com o objetivo
AULA 17 de redesenhar o mapa político do continente, em conjunto
com uma onda de revoluções de cunho liberal e naciona-
listas, como as revoluções de 1830 (Revoluções Liberais) e
1848 (Primavera dos Povos). Assim, a filosofia precisava
associar-se com a realidade, precisava sair do cam-
po das ideias e ir para o mundo prático.
MATERIALISMO
FILOSÓFICO 3. A filosofia materialista
Feuerbach propõe que a filosofia deveria partir do concreto,
da realidade, de forma que o ser humano precisava ser con-
siderado como um ser natural e social, e não só no campo
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 ideológico. Só que, apesar de conter esse caráter mais práti-
co, essa filosofia ainda não atinge completamente as ações
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, práticas, sendo uma relação menos abstrata, porém, ainda
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, longe da praticidade real.
22, 23, 24 e 25 Sua estrutura filosófica consiste em valorizar o indivíduo
como elemento criador das ideias, ou seja, o pensa-
mento surge do homem, e não o ser humano que
surge do pensamento.
1. Introdução
O seu interesse filosófico está no processo de formação da
Tendo como uma recusa do idealismo de Hegel, emergiu o
ideia de Deus no pensamento humano. A religião, para Feuer-
materialismo, uma visão material da realidade. Entre
bach, representa o reflexo fantástico da natureza humana. O
os contestadores, o pensador que teve maior destaque foi
seu pensamento pode ser resumido na máxima: “Não é Deus
o alemão Ludwig Feuerbach. quem cria o homem, mas o homem quem criou Deus”.

2. Ludwig Feuerbach (1804-1872)


O pensamento do filósofo alemão Feuerbach se caracteriza
pelo materialismo, ateísmo e humanismo. O pensador ata-
ca a ideia de imortalidade e afirmava que, após a morte, o
ser humano é absorvido pela natureza.

multimídia: livro

A essência do cristianismo - Ludwig


Feuerbach. São Paulo: Vozes, 2007.
Nesse livro, o autor revela que o verdadeiro sentido da
teologia é a antropologia, que não há diferença entre a
essência divina e a humana, ou o sujeito, e que a dife-
rença que se estabelece entre os predicados teológicos
e antropológicos não tem razão de ser.
RETRATO DE FEUERBACH.

Ele qualificou o idealismo de Hegel como uma “especula-


ção vazia”, pois não trata do ser real, das coisas reais e dos 3.1. O elo intermediário
homens concretos, sendo um pensamento muito abstrato
O pensamento de Feuerbach constitui o elo intermediário
e fora da realidade necessária para o período histórico.
entre a filosofia de Hegel e a de Marx. O materialismo de
Essa estrutura de pensamento se fez pelo momento histórico Feuerbach seria um materialismo metafísico, pois, repudia-
em que vivia o filósofo alemão, pois a Europa estava passan- va a dialética hegeliana; entretanto, não compreendia a
do por uma turbulenta mudança ideológica e de ordem prá- importância da atividade prática revolucionária.

118
Esse pensamento de Feuerbach influenciou a filosofia de O modo de produção da vida material condiciona o pro-
Karl Marx e Friedrich Engels, que se utilizou da essência cesso da vida social, política e intelectual. Não é a cons-
fundamental do materialismo transformando-o em uma ciência dos homens que determina o seu ser; ao con-
trário, é o seu ser social que determina sua consciência.
teoria prática denominada materialismo histórico.
MARX, KARL. CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA.
EDITORA EXPRESSÃO POPULAR, SÃO PAULO, 2008.

RETRATO DE ENGELS, MARX E FEUERBACH.

A principal qualidade do pensamento de Feuerbach, des-


tacada por Marx e Engels, foi ir contra as instituições po-
líticas existentes na época, como a religião, a teologia e a
metafísica, sendo um crítico dessas instituições pela força
da alienação diante dos indivíduos em sociedade, que
condicionam de forma negativa os seres.
Entretanto, Marx e Engels se desencantaram com esse mate-
rialismo, pois observaram que a crítica de Feuerbach perante
a religião não passava de uma simples luta contra frases, não
tendo uma efetividade concreta, a fim de destruir completa-
mente essa dominação perante o ser humano.
Segundo Marx e Engels, Feuerbach compreende o homem
como máquina, tornando-se incapaz de perceber o mundo
como processo, como matéria em via de desenvolvimen-
to histórico. Feuerbach foi um importante adversário do
idealismo alemão e abriu possibilidades para o retorno ao
debate filosófico da materialidade como fundamento das
relações humanas. Marx e Engels avançaram essa discus-
são para as bases econômicas do funcionamento da vida
humana. Por isso, em sua obra A Ideologia Alemã, Marx
afirma que os filósofos, até então, haviam se preocupado
em entender o mundo e em descrevê-lo; para Marx, era
preciso modificar o mundo e não apenas compreendê-lo.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Deus é Burguês e a Religião é o Ópio do
Proletariado - Clóvis de Barros Filho

119
DIAGRAMA DE IDEIAS

MATERIALISMO
FILOSÓFICO

FEUERBACH

A FILOSOFIA PRECISA INFLUENCIARÁ O


TRATAR DE FATOS AS IDEIAS SÃO MATERIALISMO
CONCRETOS FORMADAS A PARTIR HISTÓRICO
DA REALIDADE
MATERIAL CONCRETA

A RELIGIÃO DOMINA MARX


O SER HUMANO

É PRECISO MUDAR
ALIENAÇÃO O MUNDO E
RELIGIOSA: NÃO APENAS
DEUS É UMA COMPREENDÊ-LO
CRIAÇÃO HUMANA

É PRECISO
QUESTIONAR ESSA
ALIENAÇÃO

120
3. (UFSM) O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-
Aplicando para 1872) afirmou a tese materialista de que o “homem é
aquilo que come”. Uma concepção semelhante foi de-
Aprender (A.P.A.) fendida posteriormente por Karl Marx. Qual(is) asser-
1. (Uece 2020) Atente para o seguinte trecho, que apre- ção(ões) a seguir expressa(m) corretamente essa ideia
senta o pensamento de Karl Marx sobre a realidade: materialista no pensamento de Marx?
“O concreto é concreto porque é a síntese de muitas I. A exploração do trabalhador pelos donos dos meios
determinações, unidade do diverso. Por isso o concre- de produção é mantida pela consciência de classe.
to aparece no pensamento como resultado, não como II. A classe dominante tem como fim último a tomada
ponto de partida efetivo. Por isso é que Hegel caiu na do poder através da ação do proletariado.
ilusão de conceber o real como resultado do pensamen- III. As relações econômicas determinam a consciência
to que se sintetiza a si e se move por si mesmo. Mas do homem como ser social.
este não é de modo nenhum o processo da gênese do Está(ão) correta(s):
próprio concreto”.
a) apenas III.
MARX, KARL. MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS E OUTROS TEXTOS. b) apenas I e II.
OS PENSADORES. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1978. ADAPTADO.
c) apenas II e III.
Sobre a forma como Karl Marx entendia o seu método d) I, II e III.
de análise da realidade, é correto afirmar que
4. Leia o texto abaixo, de autoria de Karl Marx.
a) contra o pensamento burguês, Marx propunha
O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluí-
uma análise que chamava de ideal-propositiva, que
do o de Feuerbach) consiste em que o objeto, a realidade,
se opunha ao idealismo puro, cuja visão de realidade a sensibilidade, só é apreendido sob a forma de objeto
era excessivamente idealizada. ou de percepção, mas não como atividade humana sensí-
b) tal método era denominado de materialismo histó- vel, como práxis, não subjetivamente. Eis porque ocorreu
rico e se propunha a fazer uma análise da realidade que o aspecto ativo, em oposição ao materialismo, foi
concreta que, em si, era contraditória; as contradições desenvolvido pelo idealismo – mas apenas abstratamen-
eram da realidade e não do pensamento. te, pois o idealismo, naturalmente, desconhece a ativida-
c) seu método estava em concordância com o que de real, sensível, como tal. Feuerbach quer objetos sen-
defendiam os jovens hegelianos, sobretudo com o síveis – realmente distintos dos objetos do pensamento,
materialismo de Ludwig Feuerbach, a quem dedicou mas não apreende a própria atividade humana como
um livro de análise. atividade objetiva. Por isso, em A essência do cristianis-
d) seguia os passos de seu maior influenciador, Frie- mo, considera apenas o comportamento teórico como
drich Hegel, aderindo ao pensamento dialético, cuja o autenticamente humano, enquanto que a práxis só é
forma de abordagem da realidade era processual e se apreendida e fixada em sua forma fenomênica judaica e
expressava na contradição das ideias. suja. Eis porque não compreende a importância da ativi-
dade “revolucionária”, “prático-crítica”.
2. (UEM) Na obra A essência do cristianismo, Feuerbach
De acordo com essa tese de Marx, não é correto afir-
faz uma crítica à religião cristã. Para ele, o homem alie-
mar que:
na sua essência na religião, pois os seres humanos se
esquecem de que foram os criadores da divindade e in- a) o filósofo Feuerbach revela um desprezo pela prá-
vertem a relação quando acreditam que foram criados tica (dissocia teoria e prática), defendendo que o ca-
pelos deuses. Assinale o que for correto. minho para a revolução é a via teórica. Ele almeja a
transformação intelectual.
01) Para Feuerbach, o verdadeiro fundamento do ho-
b) a subjetividade é a força que move a realidade, e
mem é apenas ele mesmo; assim, o único fundamen-
esta não é só o que se apresenta aos nossos sentidos,
to absoluto de todo pensamento humano é o homem
mas é também resultado do trabalho humano.
como razão, como vontade, como coração.
c) o idealismo supera o realismo ingênuo do materialis-
02) A teoria da alienação religiosa de Feuerbach ofe-
mo tradicional, mas cai no erro de reduzir a realidade do
receu uma contribuição importante à filosofia políti-
conhecimento a resultado da atividade do pensamento.
ca, particularmente à de Marx.
d) o filósofo Feuerbach ignora o avanço operado pelo
04) Feuerbach critica a religião, todavia aceita a teo-
idealismo de conceber o objeto do conhecimento como
logia, pois acredita que ela pode nos conduzir a um
resultado da atividade (ainda que do pensamento), e re-
conhecimento racional da essência de Deus.
torna à concepção do materialismo tradicional anterior.
08) A crítica de Feuerbach à alienação religiosa levou
e) a filosofia/ideologia alemã (Kant/Hegel) não concebe
Marx a aderir à filosofia existencialista de Feuerbach.
a realidade do conhecimento como resultado da ativida-
16) Quando Marx declara que a religião é o ópio do de humana, mas tão somente sob a forma da percepção.
povo, ele concorda com Feuerbach que a religião é
uma alienação; para Marx, a religião amortece a com- 5. (UEG) Em sua 11ª tese sobre Feuerbach, Karl Marx
batividade dos oprimidos e dos explorados, porque lhes (1818-1883) afirma que “Os filósofos até hoje inter-
promete uma vida feliz no futuro e no outro mundo. pretaram o mundo, cabe agora transformá-lo”. Muitos

121
marxistas interpretaram mal a frase de Marx e abando- 01) Em virtude da defesa da Igreja católica, a fundação
naram livros, teoria e partiram para a prática, negligen- do Estado moderno de direito é essencialmente dog-
ciando o significado da noção de práxis em Marx. Nesse mática, já que os teóricos da Idade Média faziam da
sentido, tem-se que: união dos planos humano e divino a exigência central
a) a tese marxista estimulava a prática e não a teoria, do republicanismo.
já que a ideia de práxis privilegia o fazer em detrimen- 02) O debate político em torno dos ideais liberais e
to do pensar, o que levaria à condenação da filosofia socialistas se dá no interior de questões religiosas, pois
como teoria pura. nem John Locke nem Thomas Hobbes desvinculam o
b) a noção de práxis em Marx exige que a filosofia debate político das questões metafísicas e morais.
sempre permaneça nos limites do conhecimento te- 04) A importância do projeto de Ludwig Feuerbach
órico, pois a práxis humana deve ser conduzida por para a filosofia da época é seu profundo apego ao
peritos técnicos e não por filósofos. cristianismo de Hegel, razão pela qual defendeu, na
c) a tese marxista criticava a filosofia por não favo- essência do cristianismo, a tese espiritualista de que o
recer uma práxis revolucionária na qual toda prática Estado é o poder de Deus em nossas mãos.
suscita a reflexão, que por sua vez vai incidir sobre a 08) Para Karl Marx, não basta reivindicar a liberdade
prática reorientando uma ação transformadora. sem tomar decisões históricas e efetivas, capazes de
controlar os meios de produção e formar a consciên-
d) a ideia de práxis em Marx foi desvirtuada por aque-
cia de classe dos trabalhadores.
les que não perceberam que existe uma ruptura entre
teoria e prática, e que o trabalho intelectual deve pre- 16) São conceitos fundamentais do marxismo os con-
valecer sobre o trabalho manual. ceitos de fetiche da mercadoria, alienação política,
ação política transformadora e emancipação humana.
6. (Funece) Marx, em sua 11ª tese, ad Feuerbach, ao afir-
mar que “Os filósofos não fizeram mais que interpretar 9. (Seduc) A noção de que nossas próprias habilidades,
o mundo de maneiras diferentes, o que importa é trans- enquanto seres humanos, são assumidas por outras
formá-lo” evidencia a filosofia como: entidades. O termo foi originalmente empregado por
Marx em referência à projeção dos poderes humanos
a) explicação verdadeira, que objetiva uma transforma-
sobre os deuses. Mais tarde, ele empregou o termo para
ção social.
se referir à perda do controle por parte dos trabalhado-
b) elemento do espírito absoluto, que se caracteriza res sobre a natureza da tarefa desempenhada e sobre
como puro idealismo. os resultados de seu trabalho. Feuerbach utilizou esse
c) interpretação do mundo, que é dispensável ao pro- termo em referência à instituição de deuses ou forças
cesso revolucionário. divinas distintas dos seres humanos.
d) proposição platônica, que considera como verda- O texto se refere corretamente ao conceito de:
deiro, o mundo das ideias.
a) ideologia.
7. A teoria sociológica de Marx é marcada pela obser- b) anomia.
vação do modo de produção como determinante para a c) alienação.
organização social. Sobre as principais influências sofri-
d) magia.
das por este autor para o desenvolvimento de seu pen-
e) simulacros.
samento sociológico, analise as seguintes sentenças:
I. Para Hegel, o movimento parte da ideia, do pensa- 10. (UFPR) Ligia Marcia Martins (2008) afirma que é
mento, para então desenvolver a matéria e gerar histó- impossível divorciar uma matriz psicológica do siste-
ria, para Marx esta ordem é invertida. ma filosófico que media suas proposições. No caso da
II. Para Feuerbach, a alienação do ser humano estava psicologia histórico-cultural, também conhecida como
na religião, e para Marx estava na alienação material psicologia sócio-histórica, a formulação filosófica que
originada pelo sistema capitalista. lhe serve de esteio é a epistemologia marxiana, desen-
III. Marx desenvolve o materialismo dialético, onde a volvida inicialmente por Karl Marx (1818-1883) e Frie-
realidade existe a partir do mundo material, e não a derich Engels (1820-1895). Em relação à essa epistemo-
partir do pensamento, pois este também é determinado logia, considere as seguintes afirmativas:
pelas condições materiais. I. O pressuposto do sistema filosófico proposto por
Assinale a alternativa correta. Marx e Engels é o materialismo e a lógica é a dialética.
a) Somente a afirmativa III está correta. II. Esse sistema filosófico se opõe à lógica formal, fun-
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas. dada numa série de princípios e elementos já presentes
em Aristóteles e que alcançam seu apogeu no século XVII
c) As afirmativas I, II e III estão corretas.
com Francis Bacon e René Descartes. Entre esses princí-
d) As afirmativas I e III estão corretas.
pios está o da não identidade e o princípio da contradição.
8. (UEM) A Filosofia apresentou como debate político, ao III. Com Hegel a dialética se constitui como método para
longo da história, as questões da liberdade do indivíduo pensar o mundo enquanto movimento, na tentativa de
na sociedade, teorizando a finalidade do Estado e das superar a tradição intelectual que vem de Aristóteles.
instituições sociais. Sobre a natureza do debate filosófico Mas é com Marx que a dialética aparece concretizada
acerca das questões políticas, assinale o que for correto. historicamente sobre fundamentos materialistas, já que

122
para Hegel o primado é o espírito e a realidade encar-
nação das ideias.
IV. Em sua segunda tese sobre Feuerbach, texto de
1845, Marx afirma a “prática como critério da verda-
de”, isso significa que a partir da prática se constrói
o conhecimento, prescindindo das categorias e instru-
mentos heurísticos para entender a realidade.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa I é verdadeira.
b) Somente a afirmativa II é verdadeira.
c) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.

11. Na obra A ideologia alemã, Marx e Engels realizam


uma crítica às concepções idealistas de Feuerbach e lan-
çam as bases para sua compreensão marxista da história.
Assinale a alternativa que indica o primeiro pressu-
posto da análise histórica, sobre os quais os demais se
constroem.
a) A produção de ideias.
b) A criação de uma propriedade comunal.
c) O desenvolvimento da propriedade privada.
d) A organização dos homens e sua relação com a
natureza.
e) A divisão do trabalho como organização dos homens.

Gabarito
1. B 2. 01 + 02 + 16 = 19 3. A 4. E 5. C
6. A 7. C 8. 08 + 16 = 24 9. C 10. D
11. D

123
AULA 18

SCHOPENHAUER multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE
O pensamento de Schopenhauer
O professor de Filosofia Leandro Chevitarese fala sobre
o pensamento de Arthur Schopenhauer.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
Seus escritos só causaram algum impacto na filosofia ale-
mã no fim do século XIX, pois o pensamento vigente era o
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, hegeliano. Tendo influência kantiana, mediante o proces-
22, 23, 24 e 25 so de uma crítica permanente, Schopenhauer critica
a filosofia de Kant em relação à coisa em si, de modo
que a realidade consiste em fenômenos e na coisa em
si, sendo que, para Kant, a coisa em si jamais será
1. Arthur Schopenhauer conhecida. Em sua filosofia, Arthur Schopenhauer
apresenta que o fenômeno é uma manifestação
(1788-1860) da própria coisa em si.
Arthur Schopenhauer nasceu em Gdansk, atual Polônia,
outrora parte do território alemão. Schopenhauer foi criado
para ser um homem de negócios, com estudos de línguas
e viagens a outros países, como seu pai; porém, após o
falecimento do pai, o jovem polonês escolheu a Filosofia,
para o desalento de sua mãe.
Enfrentando diversas críticas maternas devido às suas es-
colhas, Schopenhauer adentrou em diversos embates com multimídia: livro
a progenitora, alguns se tornaram públicos e degradantes
para ambas as partes, recheados de insultos.
O mundo como vontade e como representação -
Arthur Schopenhauer. São Paulo: Unesp, 2015.
A obra máxima de Arthur Schopenhauer, que associa a
dialética de Kant com a visão platônica para definir suas
constantes filosóficas.

1.1. O filósofo da representação


e da vontade
Em 1818, surge uma de suas maiores obras, intitulada O
mundo como vontade e representação. Para o pensador
polonês, tudo o que existe para mim é o que eu percebo,
diante das formas a priori da minha própria consciência.
Numa relação subjetiva entre o objeto e o indivíduo, a qual
criamos a nossa representação diante do mundo. Assim,
não existe uma única resposta, nem uma única representa-
ção dos fenômenos, isto é, do mundo. Com isso, o mundo
RETRATO DE SCHOPENHAUER. é um conjunto de representações.

124
1.2. Reflexões sobre a Psicologia
Schopenhauer apresenta em seu pensamento que o ser
humano não é um ser em que a razão domina todas as
suas ações, sendo um ser passional e fragmentado, sofren-
do ações de forças que fogem de seu controle.
Essa sua postura de não domínio racionalizado das ações
humanas, que abrangem as nossas paixões, seja no campo
do “inconsciente”, procura resgatar uma definição humanís-
tica do ser em si. Schopenhauer seria útil para o desenvolvi-
mento do pensamento de Nietzsche e de Freud.

SELO COM O RETRATO DE SCHOPENHAUER. A vontade, manifestada na vida humana na forma de de-
sejo, gera sofrimento ao não ser obtida e gera tédio ao ser
Numa aproximação com o pensamento oriental, o filósofo
realizada. Por isso, "viver é sofrer". Assim como os estói-
polonês é o primeiro pensador ocidental a valorizar essa cos, que buscavam a apatia (ausência de paixões), Scho-
filosofia. Não seguindo uma dualidade cartesiana entre penhauer defende a busca de estratégias para aplacar o
razão e vontade, Schopenhauer define que a vontade é a desejo que se manifesta em nossa vida.
essência da subjetividade, ou seja, é a própria essência do
“eu”, isso para os animais se expressa como instinto. Von-
tade é a força que movimenta a vida, o mundo, a 1.3.A arte como libertadora da vontade
natureza. Vontade é a potencialidade que está em todos Schopenhauer foi um dos filósofos que mais valorizou a
os seres e objetos da natureza, é a força originária presente arte, pois é a arte que fornece um ponto de tranquilidade,
na natureza e que quer se manifestar. de modo que, durante um curto período, conseguimos es-
Para ele, essa vontade é a essência do mundo, cau- capar do ciclo infinito da luta e do desejo.
sando a dor no indivíduo. Sendo fruto de um desconten- A contemplação estética, para o filósofo, seria uma forma
tamento do próprio estado do ser, impulsionando uma de escapar do sofrimento da realidade. A contemplação
realização que não será alcançada, gerando, com isso, um leva o indivíduo a uma identificação com a essência do
arrependimento, uma espécie de sofrimento. Para inter- mundo, desencadeando nesse ser uma ruptura com a dor.
romper essa ordenação de vontade que gera sofrimento, Schopenhauer valoriza a música como o maior condutor da
Schopenhauer aponta a arte como ferramenta de anu- vontade, de uma forma individualizada e própria. Segundo
lação da vontade no homem, o que faz ele esquecer o pensador: “A música exprime a mais alta filosofia numa
do seu sofrimento, e não extingui-lo. linguagem que a razão não compreende.” Assim, a música é
Com isso, o filósofo não extingue o sofrimento, ele apre- a melhor forma da arte.
senta que é preciso saber que a razão não tem controle
total perante a vontade, mas é preciso saber conviver e
observar as coisas boas desse sofrimento.
Para Schopenhauer, causar mal às outras pessoas é tam-
bém causar mal a si próprio. Com isso, a moral básica scho-
penhaueriana consiste em ensinar a compaixão.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Schopenhauer
Esse vídeo apresenta como o pensamento de Scho-
penhauer sofreu influência do budismo e analisa uma
nova postura sobre a vida.
multimídia: vídeo
Coisa em si significa aquilo que está presente indepen-
FONTE: YOUTUBE
dentemente de nossa percepção, portanto, aquilo que
Schopenhauer e o mundo como propriamente é. Para Demócrito, ela era a matéria dota-
vontade e representação da de forma: e, no fundo, era-o ainda para Locke; para
Kant, era = x; para mim, ela é vontade.

125
[...] termina o fenômeno, consequentemente também a re-
presentação, e, com ela, a compreensão. Aqui, porém,
Assim como conhecemos apenas a superfície do globo
entra em seu lugar a própria essência, a qual se torna
terrestre, mas não a grande massa sólida de seu interior,
consciente de si mesma como vontade.
também não conhecemos absolutamente nada das coi-
sas e do mundo de maneira empírica, além de sua mera SCHOPENHAUER, ARTHUR. SOBRE O SOFRIMENTO
DO MUNDO E OUTROS ENSAIOS. L&PM.
manifestação fenomênica, isto é, sua superfície.
[...]
A explicação física é feita sempre a partir da causa; a
metafísica, a partir da vontade: pois é esta que se apre-
senta como força da natureza na natureza desprovida
de cognição, num patamar mais elevado como força vi-
tal, mas que apenas no animal e no ser humano recebe
o nome de vontade.
[...] multimídia: vídeo
Todo entender é um ato de representar e permanece, FONTE: YOUTUBE
por isso, essencialmente no território da representação: QUEM SOMOS NÓS? | Pensadores Parte II - Arthur
ora, uma vez que esta só fornece fenômenos, o entender Schopenhauer com Flamarion Caldeira Ramos
encontra-se limitado a eles. Onde a coisa em si começa,

DIAGRAMA DE IDEIAS

SCHOPENHAUER

O SER HUMANO É RAZÃO O MUNDO É VISTO


E IMPULSO (DESEJO) DIANTE DA MINHA
VONTADE, SENDO UMA
REPRESENTAÇÃO
MAS A RAZÃO NEM
SEMPRE CONSEGUE
CONTROLAR OS NOSSOS EXISTEM INÚMERAS
IMPULSOS (DESEJOS) REPRESENTAÇÕES
DO MUNDO

O QUE LEVA AO
SOFRIMENTO O MUNDO É REGIDO
PELA VONTADE

A ARTE AJUDA O
HOMEM A SE LIBERTAR
PROVISORIAMENTE
DA VONTADE

126
d) essência do mundo, solução para o enigma do universo.
Aplicando para e) essência do mundo, a coisa em si que Kant tanto
Aprender (A.P.A.) problematizava.

4. (Enem) “Sentimos que toda satisfação de nossos de-


1. Schopenhauer considerou ser a “vontade” a última e
sejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que
mais fundamental força da natureza, que se manifesta
mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã
em cada ser no sentido da sua total realização e sobrevi-
a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à
vência. O conceito de vontade deste filósofo diz respeito:
fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas
a) a algo infinito, uno, indizível. as preocupações.”
b) a uma vontade finita, individual, ciente.
SCHOPENHAUER, ARTHUR. AFORISMO PARA A SABEDORIA
c) ao mundo e que não seria mais do que represen- DA VIDA. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2005.
tações, como síntese entre o subjetivo e o objetivo.
d) aos fundamentos transcendentais (assentados em O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradi-
Deus) dos valores mais caros de nossas vidas. ção filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se
e) à moral e aos valores existentes na sociedade que mostra indissociavelmente ligada à
lhe é contemporânea. a) consagração de relacionamentos afetivos.
2. De acordo com o conjunto dos nossos pontos de vis- b) administração da independência interior.
ta, a vontade é não somente livre, mas também oni- c) fugacidade do conhecimento empírico.
potente; e produz não somente a sua conduta, como d) liberdade de expressão religiosa.
também o seu mundo; tal a vontade qual a ação e qual e) busca de prazeres efêmeros.
o seu mundo; ambas não são senão vontade consciente
de si própria e nada mais; a vontade se determina a si 5. Para Schopenhauer, a vontade é a raiz do mundo e da
mesma e determina com isto a conduta e o mundo, por conduta humana e, ao mesmo tempo, é a fonte de todos
isso que sem ela nada existe: Compreendida assim, a os sofrimentos. Isso ocorre porque a vontade é:
vontade é verdadeiramente autônoma; compreendida a) um querer irracional, que acaba por gerar a dor.
doutro modo, é heterogênea. b) algo racional, que proporciona o sofrimento.
SCHOPENHAUER, ARTHUR. O MUNDO COMO VONTADE c) um desejo antigo, que abarca a dor.
E REPRESENTAÇÃO. TOMO IV (ADAPTADO). d) um prazer, que quando atingido gera dor.
Segundo o pensamento de Schopenhauer, podemos in- e) um desejo suprimido, que proporciona o sofrimento.
ferir que: 6. Uma das máximas da filosofia de Schopenhauer con-
a) a vontade se manifesta no homem como um desejo. siste em dizer que “viver é sofrer”. Essa afirmação é
b) a vontade é só uma manifestação da consciência correta, pois o prazer:
em si e do mundo. a) nunca surge na vida do ser humano, só o sofrimento.
c) o desejo é uma autopreservação desvinculada da espécie. b) sempre surge na vida do homem, igual ao sofrimento.
d) a vontade é um querer consciente do mundo. c) é um momento de curta duração na vida do ho-
e) o desejo é representado como uma força controla- mem, ao contrário do sofrimento.
da totalmente pela razão. d) é um momento de média duração na vida do ho-
3. Apresentado no primeiro livro como pura representa- mem, enquanto o sofrimento tem curta duração.
ção, objeto para um sujeito, consideramos o mundo no e) é um momento passageiro na vida humana, tal qual
segundo livro por sua outra face e verificamos como esta o sofrimento.
é vontade, que unicamente se mostrou como o que aque-
le mundo é além da representação; em conformidade, 7. Buscando argumentar a sua tese de que a vida do ser
denominávamos o mundo como representação, no todo humano é construída, em sua maior parte, pelo sofri-
ou em suas partes, a objetividade da vontade, quer dizer: mento, Schopenhauer afirma que:
a vontade tornada objeto, isto é, representação. a) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar;
SCHOPENHAUER, ARTHUR. O MUNDO COMO
VONTADE E REPRESENTAÇÃO (ADAPTADO).
os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas.
b) a história nos mostra a vida dos povos e só encon-
O conceito de representação na filosofia de Schope- tramos pequenos conflitos para nos relatar; os anos
nhauer significa: de paz nos parecem em longos períodos.
a) a forma que o homem se espelha no mundo, vejo c) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
aquilo que quero ver, ouço aquilo que quero ouvir. contramos a não ser momentos de tranquilidade; os
b) a forma que o homem se relaciona com o mundo, anos de conflitos nos parecem apenas curtas pausas.
utilizando-se de valores e moral. d) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
c) a forma que o homem é capaz de representar o contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar;
mundo por intermédio de seus sentidos e intelecto. os anos de paz não existem.

127
e) a história nos mostra a vida dos povos e só encon- abordando o mundo pelo pessimismo da Vontade. Para
tramos guerras e conflitos, na mesma maneira a qual ele, a vontade é:
encontramos momentos de paz. a) a interação entre a percepção e o nôumeno, ou
8. Na filosofia do alemão Arthur Schopenhauer, tido seja, o fenômeno.
como o arauto do pessimismo, podemos encontrar uma b) a essência do mundo, a coisa em si kantiana, percebi-
das melhores compreensões do que seja a felicidade. da imediatamente por intermédio de meu próprio corpo.
Entre as cinquenta regras que se encontram esparsas c) a essência do mundo, amor, ódio, salvação.
pela obra do filósofo, destacam-se três: Primeira: estar d) o querer racional de preservação dos outros mani-
ciente de que só a dor é verdadeira. Ou seja, não requer festa pela reprodução.
nenhuma ilusão acessória para existir. Usufruir um pre- e) a angústia que guia o homem à felicidade a partir
sente sem dor, em vez de procurar o prazer num futuro do impulso do instinto de sobrevivência.
improvável, é já uma forma de ser feliz, por mais que
isso possa parecer sem graça aos olhos da civilização 10. “No espaço infinito, inumeráveis esferas brilhantes.
hedonista. “O homem sábio não aspira ao deleite, e sim Em torno de cada uma delas giram aproximadamente
à ausência de sofrimento”, escreveu Schopenhauer, ci- uma dúzia de outras esferas menores iluminadas pelas
tando o grego Aristóteles. Segunda: evitar a inveja: ela primeiras e que, quentes em seu interior, estão cobertas
tortura quem a nutre e, por esse motivo, causa infelici- de uma crosta rígida e fria sobre a qual uma cobertura
dade. “Você nunca será feliz enquanto se torturar por lodosa deu origem a seres vivos que pensam; – eis aí a
alguém ser mais feliz”, resumiu Sêneca. A crueldade verdade empírica, o real, o mundo”.
apontada por Schopenhauer: “E, no entanto, nós esta- SCHOPENHAUER, ARTHUR. O MUNDO COMO
mos constantemente preocupados em despertar inve- VONTADE E COMO REPRESENTAÇÃO (ADAPTADO).
ja” Terceira: ser fiel a si próprio. Seguir as características
e os pensamentos que o forjaram, assim como aceitar Para Schopenhauer, ao contrário da tradição socrático-
as suas limitações, é essencial para o indivíduo resguar- -cartesiana, a razão nada mais é do que uma ilusão. Mes-
dar-se de frustrações. Trata-se de algo difícil, porque mo que usemos a razão para organizar as representações
não raro somos tentados a enveredar por caminhos do mundo, a verdade nunca será cognoscível. Tendo isso
estranhos a nós mesmos, mais adaptados às condições em vista, o que significa a representação para o filósofo?
de quem invejamos. Diz o filósofo alemão: “Quando re- a) A representação é a interpretação pessimista da realida-
conhecemos, claramente, e de uma vez por todas, nos- de, que, a partir da vontade não satisfeita, gera angústia.
sas qualidades e forças, bem como nossos defeitos e b) A representação é manifestação, nos indivíduos, de
fraquezas, conseguimos fixar os nossos objetivos e nos suas vontades, onde cada um arremeda, dissimula e
resignamos com o inatingível. Escapamos, dessa manei- encena ações em busca de sua satisfação.
ra, à mais terrível de todas as dores: a insatisfação com
c) Para Schopenhauer a representação são o conheci-
nós mesmos, essa insatisfação que é a consequência
mento que obtemos a partir da experiência do mundo
inelutável da ignorância da própria individualidade”.
a partir de juízos estéticos.
MARIO SABINO, A ARTE DE SER FELIZ, VEJA, 23.07.2014 (ADAPTADO). d) A representação se manifesta, para Schopenhauer,
como fenômenos sensíveis, considerados como enga-
É correto afirmar que as ideias de Schopenhauer sobre nosos pelo pensador e que devem ser ignorados em
a felicidade: nome da busca da verdade absoluta.
a) estão dissociadas da busca por prazer e vinculadas e) Na concepção da realidade dualista do autor (coisa
ao conhecimento das próprias limitações. em si e fenômenos) a representação é a manifestação
b) dependem principalmente de fatores externos à da vontade (que é una e transcendental) objetivada no
vontade do indivíduo, os quais ele não pode afastar. mundo das ideias. Ou seja, a representação é o que a
c) baseiam-se em princípios éticos moralmente questio- mente e a consciência nos permitem ver da coisa-em-si.
náveis, embora grande parte da sociedade os condene.
11. “Pensamentos no papel são como as pegadas de um
d) afastam preocupações com o presente, para focar-
homem na areia. É certo que podemos ver o caminho
-se no futuro, como forma de evitar frustrações.
que ele tomou; mas para ver o que ele viu no trajeto,
e) recusam o sofrimento, entendido como antinatural precisamos usar os nossos próprios olhos.”
e negativo, apesar de inevitável nos dias atuais.
(MICHEL DE MONTAIGNE)
9. “Onde se descreve o procedimento mais original e mais
importante de minha filosofia, qual seja, a passagem, que “Quanto mais claro é o conhecimento do homem, quan-
Kant declarara impossível, do fenômeno à coisa em si.” to mais inteligente ele é, mais sofrimento ele tem; o ho-
mem que é dotado de gênio sofre mais do que todos.”
SCHOPENHAUER, ARTHUR. O MUNDO COMO
VONTADE E COMO REPRESENTAÇÃO (ADAPTADO). (ARTHUR SCHOPENHAUER)

Apesar de ser grande devedor do pensamento kan- Estabeleça uma relação entre os textos de Michel de
tiano, Schopenhauer abandona o otimismo da razão Montaigne e de Arthur Schopenhauer.

128
Gabarito
1. A 2. A 3. C 4. B 5. A
6. C 7. A 8. A 9. B 10. E
11. Ambos acreditam que o conhecimento é construído
pelo próprio indivíduo por meio de conteúdo e pelas ex-
periências. Assimila mais aquele que é despertado para o
saber e que se limita ao conhecimento por imposição. O
indivíduo precisa vivenciar para aprender.

129
Nietzsche escreveu, sob a forma de aforismos (máximas
AULA 19 ou sentenças curtas que exprimem um conceito), a maior
parte de suas obras. O conjunto de suas obras revela como
preocupação básica uma crítica profunda e impiedosa à ci-
vilização ocidental, crítica à massificação, à visão de mundo
burguesa e ao conservadorismo cristão.

NIETZSCHE

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, Friedrich Nietzsche, por Scarlett Marton
22, 23, 24 e 25 A professora da USP Scarlett Marton, umas das maiores
estudiosas do alemão Nietzsche, conversa sobre o pen-
samento intempestivo do filósofo.

1. Friedrich Nietzsche
1.1. Sócrates: o início da decadência
(1844-1900)
Nietzsche acrescenta que a sociedade permanece nesse es-
Após a leitura das obras de Schopenhauer, Friedrich Nietzs-
tado doentio devido à continuidade de hábitos consolidados
che empreendeu uma crítica radical à moral. Desenvolven-
pelos filósofos iniciados por Sócrates. A crítica perante os
do uma crítica intensa dos valores morais, chegou à
pensadores atenienses aprofunda-se quando estes demons-
conclusão de que não existem as noções absolutas
traram que era preciso seguir uma espécie de moral, um con-
de bem e de mal. Para ele, as concepções morais surgem
junto pré-definido de valores, condicionando o belo, o certo e
com os homens, a partir das necessidades dos homens. As-
o errado para todos os integrantes da sociedade.
sim, os seres humanos são os verdadeiros criadores dos
valores morais, sobretudo nas religiões. De modo que foi com Sócrates o começo da decadência
Portanto, ao compreendermos que os valores presentes em humana, pois foi o pensador ateniense, com sua dialética,
nossa vida são construções humanas, temos o dever de re- que direcionou as conversas e moldou conforme os seus
fletir sobre nossas concepções morais e enfrentar o desafio próprios valores o rumo das falas, julgando os valores mo-
de viver por nossa própria conta e risco. rais dos seus interlocutores, colocando como o caminho
correto do pensamento a sua interpretação dos fatos, Além
de conduzir o interlocutor a calar-se perante as imposições
ilusórias revestidas de verdade.

RETRATO DE NIETZSCHE.

Entretanto, Nietzsche considerava que era preciso superar


essa dependência metafísica da verdade, essa fraqueza

130
humana ancorada nos valores morais. Seria preciso trans- Enquanto a moral do escravo, também denominada moral
valorar os valores, revelar esses falsos ídolos de pés de bar- do rebanho caracteriza-se como os valores de rebaixa-
ro e derrubá-los – uma filosofia à marteladas! O filósofo mento coletivo, ressaltando uma essência de desqualifi-
deveria aprender a "filosofar com um martelo". Mas essa cação perante o outro. Nesses valores está a obediência,
categoria de filósofo era baseada nos pensadores que acei- o desqualificar-se, humilhando-se perante os mandos dos
tam as críticas como algo positivo, como “investigadores”, outros. Nietzsche define essa moral como a ação ressenti-
e não como a visão do filósofo construída após Sócrates, da de “dar a outra face”, de aceitar passivamente os man-
como o dono da verdade absoluta. Seria numa concepção dos e desmandos dos outros.
de filósofo como o próprio Zaratustra, personagem criado
por Nietzsche para ilustrar esse médico da sociedade. Para o filósofo, essa luta entre a moral do senhor e a moral
dos escravos está presente nos nossos dias. E para superar
Glossário Filosófico: essa dicotomia era preciso reavaliar a moral, para corrigir
Niilismo – termo que deriva do latim nihil, cujo significado as inconsistências de ambas as morais. Num movimento de
é nada, vazio. Na obra de Nietzsche, o termo está associado transvaloração de todos os valores, ou seja, repensar
à “doença de nosso tempo” promovida pelo platonismo e nos valores morais, sem recair num dualismo que arruinou
cristianismo – filosofias que se fundamentam na metafísi- a sociedade anteriormente.
ca, nos ideais, em mundos imaginários para além do único
mundo possível, o mundo que vivemos. Para Nietzsche, é ne- 1.3. Filosofar com martelo
cessário revelar que a verdade não existe, o mundo ideal não
existe, precisamos parar de criar ficções e novos mitos, pois A filosofia nietzschiana consistia em filosofar com o
eles são vazios, eles não são nada além de ilusões. martelo nas mãos, isto é, um filosofar com o intuito de
destruir os ídolos, todos ilusórios, criados para o ser huma-
Metafísica – aquilo que está além do físico, além do ma-
no, como as morais religiosas.
terial, aquilo que é transcendente. Inclui o estudo do ser e
do divino. Esses ídolos ilusórios foram impostos às pessoas indefesas
Essência – aquilo que é, o ser. Na tradição platônica, a por um poder opressor. Todos esses ídolos são moldados e er-
essência é a forma pura, eterna e verdadeira. Aquilo que guidos para serem cultuados e adorados; porém, só mediante
algo é ou que faz desse algo o que se é. o ato de filosofar com o martelo, destruindo esses falsos ído-
los, é que os homens podem se encontrar em sua comple-
Amor Fati – amor à vida como ela de fato é, amor ao “des-
tude, retirando de sua mente as falsas “verdades” que
tino”. Aceitar a vida sem idealizações.
constituem a nossa sociedade. Com essa postura, Nietzsche
Vontade de Potência – a força afirmativa da vida. Essa nos indica que a filosofia precisa se voltar para a sua origem,
força é cega e busca expansão, afirmação e triunfo. que é de se questionar constantemente, sem receio de errar.
Eterno Retorno – como a tradição ocidental é ancora-
da na idealização da eternidade, seria preciso valorizar a
vida finita como a única possível e existente. Dessa forma,
seria adequado viver a vida da melhor forma possível. O
que faríamos diante da pergunta: Você viveria a mesma
vida eternamente? Viveríamos a mesma vida que retorna
sempre ao mesmo? É preciso viver a única vida possível da
melhor forma possível em sua imanência. multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
1.2. A moral do senhor e a moral do escravo O Eterno Retorno e o além do homem
Ao se debruçar sobre os valores que regem a sociedade, - De Oswaldo Giacóia Júnior
Nietzsche analisa a existência de dois tipos de moral: a O professor da Unicamp Oswaldo Giacóia Júnior co-
moral do senhor e a moral do escravo. menta sobre a filosofia do alemão Nietzsche.
Seguindo uma polaridade, a moral do senhor consiste
numa moral da força de vontade, voltada para um grupo
dominante, que almeja controlar e se impor perante os 1.4. O Apolíneo e o Dionisíaco
outros. Numa clara valorização de si, tendo um orgulho Segundo Nietzsche, em A origem da Tragédia, existe um
imenso de seus atos. Seria uma vontade de agir, de domi- fundamento para a norma cultural, mediante os elementos
nar as ações coletivas. do dionisíaco e do apolíneo.

131
Com um olhar estético, o filósofo alemão apresenta que çar se souber viver bem, querendo sempre conhecer mais.
o dionisíaco é a afirmação triunfal da realidade. Sendo o O übermensch (homem além do homem; o super-homem)
caráter dionisíaco mais impulsivo, desorganizado, disfor- é a condição daquele que não depende mais dos falsos
me e intenso – o símbolo do excesso e da desordem. As ídolos criados pela metafísica. Super-homem é aquele que
formas dionisíacas são a tragédia e a música. A tragédia é transvalora os valores e a moral dos fracos, emancipa-se da
a transformação da realidade em um fenômeno estético, fraqueza de negar o mundo como ele é: amor fati – amor à
mas sem cobrir a realidade. vida como ela é, sem ideais, sem ilusões.

multimídia: livro

Assim falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche.


São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
DIONÍSIO (BACO) E APOLO (FEBO).
Nessa obra o leitor reconhecerá, na linguagem metafó-
Enquanto o apolíneo é racional, organizado, equilibrado e rica e alegórica dos discursos e diálogos de Zaratustra,
ponderado – o símbolo do limite e da ordem. De modo que muitas das ideias de valorização do ser humano, com
nos faz resistir ao pessimismo através de uma ilusão da re- uma ideia de transmutação dos valores.
alidade criada pela arte. A forma apolínea são a mitologia,
as artes épicas e as artes plásticas. Uma coisa sou eu, outra são meus escritos... Aqui, antes
de chegar a falar deles mesmos, quero tocar a questão
1.5. O Eterno Retorno da compreensão ou da não-compreensão desses escri-
tos. Eu o faço de maneira tão relaxada quanto me pa-
O conceito do eterno retorno representa aos ciclos repeti- rece ser conveniente: pois o tempo para essa questão
tivos da vida; pois estamos sempre presos aos fatos do fato, por certo ainda não chegou. O tempo não chegou nem
que acontecem no presente e terão uma repetição no futuro. mesmo para mim; alguns apenas nascem postumamen-
Com esse conceito, o filósofo questiona a ordem das coi- te... Um dia serão necessárias instituições, nas quais será
sas, não existindo uma bipolaridade dos elementos. O eter- ensinando e vivido como eu compreendo o ensino e a
vida; quem sabe não serão instituídas, também, algumas
no retorno é a reflexão nietzscheana de afirmação da vida
disciplinas para a interpretação do Zaratustra.
imanente e superação da vida transcendente, apegada aos
ideais eternos e imutáveis que negam a vida e a realidade. Quando chegou aos trinta anos, Zaratustra deixou sua
pátria e o lago de sua terra natal e partiu para as mon-
tanhas. Lá permaneceu, nutrindo-se de seu espírito e de
1.6. Assim falou Zaratustra sua solidão, sem se cansar. Dez anos se passaram. Seu
coração, porém, mudou e, uma manhã, tendo-se levan-
Por volta de 1883, Nietzsche escreveu, segundo ele próprio,
tado com a aurora, pôs-se frente ao sol e assim lhe falou:
a sua maior contribuição para a humanidade, o livro Assim
Falou Zaratustra – um livro para todos e para ninguém. Tu, grande astro! Que seria de tua sorte, se te faltassem
aqueles a quem iluminas? [...]
Nesse livro, o filósofo busca apresentar a necessidade da
mudança na sociedade, alertando sobre a hipocrisia que Quando Zaratustra chegou à cidade mais próxima, situ-
constitui o homem e a sociedade. ada à beira da floresta, encontrou uma grande multidão
reunida na praça pública porque havia sido anunciado
Com uma linguagem repleta de metáforas, guiada pelo que seria apresentado o espetáculo de um equilibrista
choque de paradoxos, o livro retrata o ermitão Zaratustra, na corda-bamba. Zaratustra se dirigiu então ao povo
um personagem que, após dez anos isolado nas monta- com estas palavras:
nhas, decide contar para a sociedade a boa nova: “Deus Eu vos anunciou o além-do-homem. O homem existe
está morto, e é a vez dos seres humanos”. para ser superado. Que fizestes para o superar? [...]
Zaratustra também é o anunciador do “além do homem” Entretanto, Zaratustra olhava a multidão e ficava assom-
(übermensch), um estágio que o ser humano pode alcan- brado. A seguir, assim falou:

132
O homem é uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem. Uma corda sobre o abismo.
Perigosa para percorrê-la, é perigoso ir por esse caminho, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é grande no
homem é ele ser uma ponte e não uma meta. O que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um declínio.
NIETZSCHE, FRIEDRICH. ASSIM FALAVA ZARATUSTRA - UM LIVRO PARA TODOS E PARA NINGUÉM. SÃO PAULO: EDITORA ESCALA, 2000, PP.15,17 E 19.

DIAGRAMA DE IDEIAS

NIETZSCHE

A SOCIEDADE O SER HUMANO


MODERNA ESTÁ PRECISA ELEVAR
DOENTE CRÍTICA À
O SEU ESTADO
FILOSOFIA

PORQUE O SER ATINGINDO O


POR DIRECIONAR
HUMANO NÃO VIVE "ALÉM DO HOMEM"
A VERDADE AOS
HOMENS

SÓ OBEDECE
ATUA COM A
AOS VALORES DE
É PRECISO PRÓPRIA VONTADE
ORIGEM RELIGIOSA
QUESTIONAR INDEPENDENTE
DAS MASSAS

COM O INTUITO
DE DOMINAÇÃO FILOSOFAR COM UM
É PRECISO AFIRMAR
SOCIAL MARTELO NA MÃO
A VONTADE
DE POTÊNCIA E
ROMPER COM OS
IDEAIS METAFÍSICOS.
PARA QUEBRAR AS
IDEIAS IMPOSTAS

133
secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se
Aplicando para querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!
Aprender (A.P.A.) NIETZSCHE. F. ASSIM FALOU ZARATUSTRA. RIO DE JANEIRO: EDIOURO, 1977.

1. (Uece 2020) O texto exprime uma construção alegórica, que traduz


um entendimento da doutrina niilista, uma vez que:
a) reforça a liberdade do cidadão.
b) desvela os valores do cotidiano.
c) exorta as relações de produção.
d) destaca a decadência da cultura.
e) amplifica o sentimento de ansiedade.

3. (UFSJ) "A filosofia a golpes de martelo" é o subtítulo


que Nietzsche dá à sua obra Crepúsculo dos ídolos. Tais
golpes são dirigidos, em particular, ao(s):
a) conceitos filosóficos e valores morais, pois eles são
A refilmagem, deste ano, do clássico personagem “Co-
os instrumentos eficientes para a compreensão e o
ringa” provocou discussões sobre seus significados no norteamento da humanidade.
plano sociopolítico. Analisando as várias versões inspi-
b) existencialismo, ao anticristo, ao realismo ante a se-
radas no HQ da DC Comics,
xualidade, ao materialismo, à abordagem psicológica de
Fabrício Moraes descreve o Coringa como o id, o impul- artistas e pensadores, bem como ao antigermanismo.
so destrutivo e caótico, mas também criativo e artístico. c) compositores do século XIX, como, Wolfgang Ama-
Batman seria o superego, o juiz punitivo e ordenador da deus Mozart, compositor de uma ópera de nome "Cre-
cidade, o arquétipo do guardião que afronta e interpõe púsculo dos deuses", parodiada no título.
limites a um território. O Coringa seria a face da co- d) conceitos de razão e moralidade preponderantes
média, Batman não se livra da face da tragédia. Neste nas doutrinas filosóficas dos vários pensadores que o
sentido, o filme Coringa nos mostraria que o aspecto antecederam e seus compatriotas e/ou contemporâ-
lúdico só tem pleno sentido se coexiste com a vida da neos Kant, Hegel e Schopenhauer.
sobriedade. Coringa e Batman são indissociáveis.
4. (UFSJ) Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é funda-
VER: MORAES, FABRÍCIO. ‘CORINGA’: A RAIVA DE CALIBAN POR SE
VER NO ESPELHO. IN REVISTA AMÁLGAMA. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.
mental entender a crítica que ele faz à metafísica. Nes-
REVISTAAMALGAMA.COM.BR/10/2019/RESENHA-CORINGA/. 2019. se sentido, é correto afirmar que essa crítica:
a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contenta-
Considerando a análise acima, é correto dizer que está mento, plenitude.
amparada teoricamente
b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem
a) na noção estético-moral de Nietzsche em O nasci- metafísica através do método genealógico.
mento da tragédia, onde ordem e caos se equilibram c) é o discernimento proposto por Nietzsche para le-
e fazem nascer o humano: Coringa e Batman são in- var à supressão da tendência que o homem tem à
dissociáveis como Dionísio (loucura) e Apolo (razão). individualidade radical.
b) na teoria política marxista, que concebe as rela- d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua
ções sociais mascaradas pela ideologia de classe, o razão, tem como conceber uma metafísica qualquer,
que necessariamente provoca o conflito social: Corin- que não tenha recebido a chancela da observação.
ga e Batman são representações da luta de classes.
c) na definição de arte dos filósofos gregos como Aris- 5. (UFSJ) Ao declarar que "a moral e a religião pertencem
tóteles, cuja ideia fundamental era a de mímesis, ou inteiramente à psicologia do erro", Nietzsche pretendeu:
seja, de imitação ou representação da realidade: Co- a) destruir os caminhos que "a psicologia utiliza para
ringa e Batman são representações do ser e do não ser. negar ou afirmar a moral e a religião".
d) na concepção moral agostiniana, na qual o bem e o b) criticar essa necessidade humana de se vincular a va-
mal, o pecado e a graça, a cidade dos homens e a cida- lores e instituições herdados, já que "o Homem é forjado
de de Deus coabitam no interior de cada indivíduo: Co- para um fim e como tal deve existir".
ringa e Batman são representações dessa contradição. c) denunciar o erro que tanto a moral quanto a religião
cometem ao confundir "causa com efeito, ou a verda-
2. (ENEM) Vi os homens sumirem-se numa grande triste- de com o efeito do que se considera como verdade".
za. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou- d) comprovar que "a moral e a religião estão no ima-
-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é ginário coletivo, mas para se instalarem enquanto
oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inú- verdade elas precisam ser avalizadas por uma ciência
til; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado ama- institucionalizada".
releceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e
se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam 6. (Unimontes) O pensamento de Nietzsche (1844-1900)
em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes orienta-se no sentido de recuperar as forças inconscien-

134
tes, vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante d) ao comparar a vida humana com a vida de uma mos-
séculos. Para tanto, critica Sócrates por ter encaminha- ca, Nietzsche corrobora os fundamentos de diversas teo-
do, pela primeira vez, a reflexão moral em direção ao logias, não se limitando ao ponto de vista cristão.
controle racional das paixões. Nietzsche faz uma crítica e) para o filósofo, a vida humana é eterna.
à tradição moral desenvolvida pelo ocidente. Marque a
alternativa que indica as obras que melhor representam 9. (UFU) Friedrich Nietzsche (1844-1900) opõe à moral
a crítica nietzscheana. tradicional, herdeira do pensamento socrático-platôni-
a) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, co e da religião judaica-cristã, a transvaloração de to-
Crepúsculo dos ídolos. dos os valores.
b) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, Conforme Aranha & Arruda (2000): “Ao fazer a crítica da
República. moral tradicional, Nietzsche preconiza a ‘transvaloração
c) Leviatã, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos. de todos os valores’. Denuncia a falsa moral, ‘decaden-
d) Microfísica do poder, Genealogia da moral, Crepús- te’, ‘de rebanho’, ‘de escravos’, cujos valores seriam a
culo dos ídolos. bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próxi-
mo”. Desta forma, opõe a moral do escravo à moral do
7. (UFSJ) Nietzsche estampa a sua inconformidade e in- senhor, a nova moral.
dignação quanto ao homem que se deixa levar pelos
valores morais e religiosos instituídos. Assinale a alterna- ARANHA, M.L. DE A.; MARTINS, M.H.P. FILOSOFANDO:
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA. SÃO
PAULO: MODERNA, 2000, P. 286.
tiva que corretamente corrobora essa afirmação:
a) "Hoje, não desejamos o gado moral nem a Assinale a alternativa que contenha a descrição da “mo-
ventura gorda da consciência". ral do senhor” para Nietzsche:
b) "O verme se retrai quando é pisado. Isso indica sa- a) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação
bedoria. Dessa forma ele reduz a chance de ser pisado da alegria.
de novo. Na linguagem da moral: a humildade".
b) É negativa, baseada na negação dos instintos vitais.
c) "À força de querer buscar as origens nos tornamos
c) É transcendental; seus valores estão no além-mundo.
caranguejos. O historiador olha para trás e acaba cren-
do para trás". d) É positiva, baseada no sim à vida.
d) "Há um ódio contra a mentira e a dissimulação que 10. (UFSJ) Nietzsche identificou os deuses gregos Apolo e
procede duma sensível noção de honra; há outro ódio Dionísio, respectivamente, como
semelhante por covardia, já que a mentira é interdita
pela lei divina. Ser covarde demais para mentir...". a) complexidade e ingenuidade: extremos de um mesmo
segmento moral, no qual se inserem as paixões humanas.
8. (Unesp) "Em algum remoto rincão do sistema solar b) movimento e niilismo: polos de tensão na existên-
cintilante em que se derrama um sem-número de sis- cia humana.
temas solares, havia uma vez um astro em que animais
c) alteridade e virtu: expressões dinâmicas de inter-
inteligentes inventaram o conhecimento.
venção e subversão de toda moral humana.
Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da história
d) razão e desordem: dimensões complementares da
universal: mas também foi somente um minuto. Passa-
realidade.
dos poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os
animais inteligentes tiveram de morrer. Assim poderia al- 11. (UFFS – FEPESE) Para lidar com o tratamento dos va-
guém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado lores no pensamento de Nietzsche, o conceito da “morte
suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico de Deus” é essencial.
e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto
humano dentro da natureza. Houve eternidades em que Assinale a alternativa que reflete esse conceito.
ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada a) A morte de Deus desvaloriza o mundo.
terá acontecido. Ao contrário, ele é humano, e somente b) A morte de Deus gera necessariamente o super-homem.
seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como c) A morte de Deus implica a perda das sanções so-
se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudésse- brenaturais dos valores.
mos entender-nos com a mosca, perceberíamos então
d) A morte de Deus exige o retorno a Apolo e a Dionísio.
que também ela boia no ar (...) e sente em si o centro
voante deste mundo". e) A morte de Deus impossibilita a superação dos va-
lores hoje aceitos.
NIETZSCHE. O LIVRO DAS CITAÇÕES. 2008.
12. (UFU/2 2a Fase): Leia atentamente o texto a seguir.
Sobre o texto, é correto afirmar que:
“O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou
a) seu teor acerca do lugar da humanidade na história completamente o homem, e o mergulhou como que
do universo é antropocêntrico. em um profundo lamaçal: então, no sentimento de to-
b) o autor revela uma visão de mundo cristã. tal abjeção, fazia brilhar de repente o esplendor de
c) o autor apresenta uma visão cética acerca da impor- uma piedade divina, de tal modo que o surpreendido,
tância da humanidade na história do universo. atendido pela graça, lançava um grito de embeveci-

135
mento e por um instante acreditava carregar o céu
inteiro em si.”
NIETZSCHE, F. HUMANO, DEMASIADO HUMANO. COL. OS
PENSADORES. SÃO PAULO: NOVA CULTURAL, 1987. P. 59.

Com base no texto de Nietzsche, responda as seguintes


questões:
A) O cristianismo pode ser considerado "moral do es-
cravo" ou "moral do senhor"?
B) Selecione uma frase do texto que apresenta a carac-
terística fundamental do cristianismo para Nietzsche.
C) Com base na frase selecionada, explique se, para
Nietzsche, o cristianismo é uma doutrina que nega ou
que valoriza a força, a saúde e a vida.

Gabarito
1. A 2. D 3. D 4. B 5. C 6. A
7. A 8. C 9. D 10. D 11. C
12.
a) "Moral de escravo”: este é um dos conceitos-chave
do pensamento nietzschiano, conforme o programa do
vestibular: "a moral do escravo é caracterizada pelo
ódio dos impotentes".
b) Há mais de uma frase ou expressão que pode ser
retirada do texto para responder a esta pergunta, se-
guem abaixo alguns exemplo:
1) "O cristianismo, por sua vez, esmagou e alque-
brou completamente o homem, e o mergulhou
como que em um profundo lamaçal";
2) "[...] no sentimento de total abjeção, fazia brilhar
de repente o esplendor de uma piedade divina";
3) "[...] de tal modo que o surpreendido, atendido
pela graça, lançava um grito de embevecimento e
por um instante acreditava carregar o céu inteiro
em si". Observa-se, nesta frase, que o "surpreen-
dido" é o fraco que se acredita forte por "carre-
gar o céu inteiro dentro de si".
c) O cristianismo, para Nietzsche, nega o valor vida.
Nesse sentido, nega igualmente tudo o que a ele se
relaciona (saúde, criatividade, força). O objetivo de
Nietzsche é revalorizar o equilíbrio entre as forças
instintivas e vitais do homem que foram subjugadas
pela filosofia socrático-platônica e pelas religiões.

136
A ciência consiste em grande parte em solucionar os
AULA 20 problemas. Para o filósofo, uma teoria é científica so-
mente se for refutável por um evento concebível. Assim,
todo teste é uma tentativa de refutá-la ou falsificá-la.
De modo que, o filósofo estabelece uma distinção clara
entre a lógica da falseabilidade e sua metodologia apli-
cada. A lógica utilizada é simples: se um único metal
FILOSOFIA DA ferroso não é afetado por um campo magnético, não
CIÊNCIA - POPPER é possível que todos os metais ferrosos sejam afetados
por campos magnéticos.
Dessa forma, enquanto defende a falseabilidade como o
critério de demarcação para a ciência, Popper afirma a
possibilidade de que, na prática, uma única prova conflitante
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 ou contrária nunca é metodologicamente suficiente para re-
futar uma teoria. Esse fato condiciona que teorias científicas
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, sejam frequentemente mantidas, embora tenham sofrido o
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, processo de refutação.
22, 23, 24 e 25
O filósofo enfatiza que não existe um único caminho para
a teoria científica. A ciência se inicia com problemas e não
com observações, a observação seria o segundo passo do
1. Karl Raimund Popper método científico. Seguindo um critério de Popper, a física,
a química, entre outras, são ciências; enquanto a psicologia
(1902-1994) é pré-ciência, e a astrologia é uma pseudociência.
O filósofo austro-britânico Karl Popper apresenta a ideia de
que as ciências empíricas nunca podem ser provadas, mas
podem ser falsificadas, isso significa que podem e devem
ser examinadas por diversos experimentos decisivos. Uma
ciência empírica é aquela que pode ser falseada (tornada
falsa) pelos fatos, ou seja, pode ser desmentida pelos fatos.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Karl Popper, Science, & Pseudoscience:
Crash Course Philosophy #8

1.1. O Conhecimento
O crescimento do conhecimento humano procede de nos-
sos problemas e de nossas tentativas de resolvê-los. Essas
tentativas devem ir além do conhecimento existente, re-
querendo um salto da imaginação. Por essa razão, Popper
dá ênfase especial ao papel desempenhado pela imagina-
ção criativa independente na formulação da teoria.
FOTOGRAFIA DE KARL POPPER. Os cientistas, para o filósofo, são solucionadores de proble-
Popper faz uma distinção entre ciência e não ciência, de mas, pois apresentam uma centralidade e uma prioridade
modo que afirma que a indução nunca é realmente uti- dos problemas, de modo que o solucionar o problema será
lizada na ciência e a indução está contida na não o primeiro passo para o início da ciência, seguindo um pro-
ciência. Segundo o filósofo, não existe uma metodologia cesso dedutivo.
única específica para a ciência. Esse processo dedutivo é formulado seguindo quatro etapas:

137
1. O primeiro é formal, um teste da consistência interna,
para que não ocorra nenhuma contradição.
2. Thomas Samuel
2. A semiformal da teoria, buscando distinguir entre seus Kuhn (1922-1996)
elementos empíricos e lógicos. De modo que fique atento O físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn
para distinguir elementos analíticos (a priori) e sintéticos desenvolveu estudos diante o procedimento científico.
(a posteriori).
3. A comparação da nova teoria com as já existentes para
constituir um avanço. Caso não tenha tal progresso, a nova
teoria não será adotada.
4. O último passo é o teste de uma teoria pela aplicação
empírica das conclusões derivadas dela. Caso se mostre
verdadeiras, essa teoria é validada; caso o contrário, o cien-
tista começa sua busca por uma teoria melhor, o que não
significa que será totalmente abandonada essa teoria.
Para Popper não existe um único método para alcançar o
conhecimento científico, sendo que esse procedimento crí- RETRATO DE THOMAS KUHN.
tico seria a essência da racionalidade, para assim eliminar Segundo o filósofo, existe uma pré-ciência, período em que
as falsas categorias. não há um paradigma racional e científico organizado. Entre-
Um cientista, seja teórico ou experimental, formula enun- tanto, para ter uma ciência estruturada é preciso possuir um
ciados ou sistemas de enunciados e verifica-os um a um. único paradigma.
No campo das ciências empíricas, para particularizar, ele
formula hipóteses ou sistemas de teorias, e submete-os Para Kuhn,o desenvolvimento de uma ciência não é unifor-
a teste, confrontando-os com a experiência, através de me, alternando entre fases “normal” e “revolucionária”. A
recursos de observação e experimentação. ciência normal parece com a imagem cumulativa padrão
A tarefa da lógica da pesquisa científica, ou da lógica do progresso científico, pelo menos na superfície. A ciência
do conhecimento, é, segundo penso, proporcionar uma normal desenvolve-se perante um paradigma, seja mecâ-
análise lógica desse procedimento, ou seja, analisar o nica newtoniana ou de qualquer outra; enquanto a ciência
método das ciências empíricas. revolucionária representa um novo paradigma, não sendo
Que são, entretanto, esses "métodos das ciências empíri- acumulativa, proporcionando uma revolução no desen-
cas"? A que damos o nome de "ciência empírica"? volvimento científico.
O Problema da Indução Só que um paradigma pode gerar crises, quando
Segundo concepção amplamente aceita – a ser contes- começamos a enfrentar problemas no enfrentamento de
tada nesse livro – , as ciências empíricas caracterizam-se dados observacionais ou experimentais. Cada paradigma
pelo fato de empregarem os chamados "métodos indu- apresenta um modelo de problemas e de soluções aceitáveis
tivos". De acordo com essa maneira de ver, a lógica da
pela comunidade científica, que realiza pesquisas em uma
pesquisa científica com a Lógica Indutiva, isto é, com a
análise lógica desses métodos indutivos. determinada área.

É comum dizer-se “indutiva” uma inferência, caso ela con-


duza de enunciados singulares (por vezes denominados
também enunciados “particulares”), tais como descrições
dos resultados de observações ou experimentos, para
enunciados universais, tais como hipóteses ou teorias.
Ora, está longe de ser óbvio, de um ponto de vista ló-
gico, haver justificativa no inferir enunciados universais
de enunciados singulares, independentemente de quão multimídia: vídeo
numerosos sejam estes; com efeito, qualquer conclusão
colhida desse modo pode revelar-se como falsa: inde- FONTE: YOUTUBE
pendentemente de quantos casos de cisnes brancos Paradigma, ciência e quebra-cabeça em Kuhn
possamos observar, isso não justifica a conclusão de que
todos os cisnes são brancos.
A LÓGICA DA PESQUISA CIENTÍFICA. KARL R. POPPER. Kuhn rejeitou as visões tradicionais e as visões de Popper. Isso
SÃO PAULO: CULTRIX, 1978, P.27 ocorre pois a ciência só pode ter sucesso se houver

138
um forte compromisso da comunidade científica re-
levante com suas crenças, valores e técnicas.
A constelação de compromissos compartilhados, é denomi-
nada de “matriz disciplinar”, que se torna um pré-requisito
para o sucesso da ciência normal. Esse conservadorismo da
atitude do cientista distingue Kuhn de Popper.

multimídia: livro

A Estrutura das Revoluções Científicas - Thomas


S. Kuhn. São Paulo: Perspectiva, 2018.
Um dos aspectos mais interessantes de A Estrutura das
Revoluções Científicas é a análise do papel dos fato-
res exteriores à ciência na erupção desses momentos
de crise e transformação do pensamento científico e da
prática correspondente.

Se o historiador segue, desde a origem, a pista do co-


nhecimento científico de qualquer grupo selecionado de
fenômenos interligados, provavelmente encontrará algu-
ma variante menor de um padrão ilustrado aqui a partir
da História da Óptica Física. Os manuais atuais de Física
ensinam ao estudante que a luz é composta de fótons,
isto é, entidades quântico-mecânicas que exibem algumas
características de ondas e outras de partículas. A pesquisa
é realizada de acordo com este ensinamento, ou melhor,
de acordo com as caracterizações matemáticas mais ela-
boradas a partir das quais é derivada esta verbalização
usual. Contudo, esta caracterização da luz mal tem meio
século. Antes de ter sido desenvolvida por Planck, Einstein
e outros no começo deste século, os textos de Física ensi-
navam que a luz era um movimento ondulatório transver-
sal, concepção que em última análise derivava dos escritos
ópticos de Young e Fresnel, publicados no início do século
XIX. Além disso, a teoria ondulatória não foi a primeira da
concepções a ser aceita pelos praticantes da ciência ópti-
ca. Durante o século XVIII, o paradigma para este campo
de estudos foi proporcionado pela Óptica de Newton, a
qual ensinava que a luz era composta de corpúsculos de
matéria. Naquela época os físicos procuravam provas da
pressão exercida pelas partículos de luz ao colidir com os
corpos sólidos, algo que não foi feito pelos primeiros teó-
ricos da concepção ondulatória.
Essas transformações de paradigmas da Óptica Física
são revoluções científicas e a transição sucessiva de um
paradigma a outro, por meio de uma revolução, é padrão
usual de desenvolvimento da ciência amadurecida.
KUHN, THOMAS. A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES
CIENTÍFICAS. SÃO PAULO: PERSPECTIVA, 5ª EDIÇÃO.

139
DIAGRAMA DE IDEIAS

POPPER THOMAS KUHN

AS CIÊNCIAS PODEM A CIÊNCIA PRECISA


SER FALSIFICADAS TER UM PARADIGMA

OS PARADIGMAS
EXISTE A CIÊNCIA PASSAM POR
E A NÃO CIÊNCIA CRISES E SÃO
SUBSTITUÍDOS POR
NOVOS PARADIGMAS
CIENTÍFICOS:
A INDUÇÃO NÃO REVOLUÇÃO
É CONFIÁVEL. O CIENTÍFICA
CAMINHO DEDUTIVO
É MAIS ADEQUADO

DE MODO QUE AS
CRISES DIRECIONAM
O ANDAMENTO
DA CIÊNCIA

A VALIDADE DA
CIÊNCIA SURGE COM
O COMPROMISSO
CIENTÍFICO

140
zes por escrito. Pode então tentar encontrar brechas
Aplicando para em qualquer uma dessas hipóteses, criticando-a experi-
mentalmente, ajudado por seus colegas cientistas, que
Aprender (A.P.A.) ficarão deleitados se puderem encontrar uma brecha
nela. Se a hipótese não suportar essas críticas e esses
1. (UEL 2020) Leia o texto a seguir.
testes pelo menos tão bem quanto suas concorrentes,
Esta é uma concepção de ciência que considera a abor- será eliminada".
dagem crítica sua característica mais importante. Para
avaliar uma teoria o cientista deve indagar se pode ser (POPPER, KARL. CONHECIMENTO OBJETIVO. TRAD. DE MILTON
criticada - se se expõe a críticas de todos os tipos e, em AMADO. SÃO PAULO: EDUSP & ITATIAIA, 1975. P. 226.)
caso afirmativo, se resiste a essas críticas. Com base no texto e nos conhecimentos sobre ciência e
POPPER, KARL. CONJECTURAS E REFUTAÇÕES. TRAD. método científico, é correto afirmar:
SÉRGIO BATH. BRASÍLIA: UNB, 1982. P. 284. a) O método científico implica a possibilidade constante
de refutações teóricas por meio de experimentos cruciais.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso-
fia de Popper, assinale a alternativa correta. b) A crítica no meio científico significa o fracasso do
cientista que formulou hipóteses incorretas.
a) A concepção de ciência da qual fala Popper é aque-
c) O conflito de hipóteses científicas deve ser resolvido
la que possui o princípio de verificabilidade, com pro-
por quem as formulou, sem ajuda de outros cientistas.
posições rigorosas que procuram corrigir as teorias
d) O método crítico consiste em impedir que as hipó-
científicas.
teses científicas tenham brechas.
b) A ciência busca alcançar o conhecimento de tipo
e) A atitude crítica é um empecilho para o progresso
essencial, pois ele garante a verdade de uma teoria
científico.
científica, permitindo o desenvolvimento em direção
à verdade objetiva visada pela ciência. 4. (UEL) Leia o texto a seguir.
c) Uma teoria científica é verdadeira se suas propo- […] não exigirei que um sistema científico seja suscetí-
sições são empiricamente falsificáveis via testes, per- vel de ser dado como válido, de uma vez por todas, em
mitindo que sejam autocorrigidas e desenvolvidas na sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica
direção de uma verdade objetiva. seja tal que se torne possível validá-lo através de recur-
d) Os testes empíricos nas ciências humanas, tais so a provas empíricas em sentido negativo […].
como psicologia e sociologia, visam confirmar seu va-
lor de cientificidade, pois suas teorias são falsificáveis. (POPPER, K. A LÓGICA DA PESQUISA CIENTÍFICA. TRAD. L. HEGENBERG
E O. S. DA MOTA. SÃO PAULO: CULTRIX, 1972. P. 42.)
e) A concepção de ciência que Popper sustenta é a pas-
sivista ou receptacular, na qual as teorias científicas são Assinale a alternativa que corresponde ao critério de
elaboradas por meio dos sentidos e o erro surge ao avaliação das teorias científicas empregado por Popper.
interferirmos nos dados obtidos da experiência.
a) Falseabilidade
2. (Unesp 2020) Diariamente somos inundados por b) Organicidade
inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de c) Confiabilidade
leitura ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem es- d) Dialeticidade
forço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio,
e) Diferenciabilidade
ou simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A
grande maioria desses milagres cotidianos é vestida 5. (UEL) Considerando a solução apresentada por Karl
com alguma roupagem científica: linguagem um pouco Popper ao problema da indução nos métodos de inves-
mais rebuscada, aparente comprovação experimental, tigação científica, é correto afirmar que, para ele o mé-
depoimentos de “renomados” pesquisadores, utiliza- todo científico:
ção em grandes universidades. São casos típicos do que
a) é indutivo e racional.
se costuma definir como “pseudociência”.
b) é dedutivo e irracional.
(MARCELO KNOBEL. “CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIA”. IN: c) é indutivo e irracional.
FÍSICA NA ESCOLA, VOL. 9, NO 1, 2008.)
d) não segue os padrões de racionalidade impostos
Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pela lógica.
pseudocientíficos por meio e) é dedutivo e racional.
a) da imposição de novos sistemas ideológicos. 6. Karl Popper, em "A lógica da investigação científica",
b) da confiança em teorias fundamentadas no senso se opõe aos métodos indutivos das ciências empíricas.
comum. Em relação a esse tema, diz Popper: "Ora, de um ponto
c) da ampla divulgação de ideias individuais. de vista lógico, está longe de ser óbvio que estejamos
justificados ao inferir enunciados universais a partir
d) da preservação de saberes populares.
dos singulares, por mais elevado que seja o número
e) da demonstração de ausência de evidências empíricas. destes últimos".
3. (UEL) "As experiências e erros do cientista consistem FONTE: POPPER, K. R. A LÓGICA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA. TRADUÇÃO
de hipóteses. Ele as formula em palavras, e muitas ve- DE PABLO RUBÉN MARICONDA. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1980, P.3.

141
Com base no texto e nos conhecimentos sobre Popper, Sobre a concepção de ciência de Kuhn, é incorreto afir-
assinale a alternativa correta: mar que
a) Para Popper, qualquer conclusão obtida por infe- a) o desenvolvimento científico não se dá de modo
rência indutiva é verdadeira. linear, cumulativo e progressivo.
b) De acordo com Popper, o princípio da indução não b) o desenvolvimento científico possui momentos de re-
tem base lógica porque a verdade das premissas não volução, de ruptura, nos quais há mudança de paradigma.
garante a verdade da conclusão. c) a ciência normal é o período em que a pesquisa
c) Uma inferência indutiva é aquela que, a partir de científica é dirigida por um paradigma.
enunciados universais, infereenunciados singulares. d) um exemplo de mudança de paradigma (revolução)
d) A observação de mil cisnes brancos justifica, segundo na Astronomia e a substituição do sistema geocêntri-
Popper, a conclusão de que todos os cisnes são brancos. co aristotélico-ptolomaico pelo sistema heliocêntrico
e) Para Popper, a solução para o problema do princí- copernicano-galilaico.
pio da indução seria passar a considerá-lo não como e) a ciência não está submetida, de forma alguma, às
verdadeiro, mas apenas como provável. condições históricas.
7. (Unicentro) Consideremos o campo da epistemologia 9. Qual era a formação inicial de Thomas Kuhn antes de
contemporânea; sob esse aspecto, podemos afirmar se interessar pela história e filosofia da ciência?
que a posição de Thomas Kuhn (1922-1996), em relação
à ciência, se contrapôs à concepção científica de Karl a) Física Teórica
Popper (1902-1994)? Assinale a alternativa correta. b) História
a) Sim, Kuhn se contrapôs à teoria de Popper ao negar c) Filosofia
que o desenvolvimento da ciência se dê mediante o ide- d) Química
al de refutação. Ao contrário, Kuhn afirma que a ciência
10. Qual foi a principal obra de Thomas Kuhn e que cau-
progride pela tradição intelectual representada pelo pa-
radigma que é a visão de mundo expressa numa teoria. sou uma grande revolução na história e filosofia da ci-
ência?
b) Não, Kuhn absorve a teoria da refutabilidade de
Popper ao desenvolver sua concepção de paradigma a) História Filosófica da Ciência
científico. Para ambos, o que garante a verdade de um b) A quebra dos paradigmas na história da ciência
discurso científico é sua condição de justificação, ou c) A estrutura das Revoluções Científicas
seja, quando uma teoria é justificada ela é corroborada. d) A Física de Aristóteles
c) Não, Kuhn argumentou que uma teoria, como para-
digma, deve ser desenvolvida em vez de criticada, mo- 11. (Ufma) Identifique as afirmativas que contêm pro-
tivo pelo qual ele não poderia opor-se ao pensamento posições corretas quanto à objetividade requisitada
de Popper. Sua tentativa será outra: tentar harmonizar pelo conhecimento científico. A seguir, marque a op-
aqueles pontos de vista que divergem do seu. ção correta.
d) Sim, Kuhn cedo abandonou o empirismo, classifican- I. A neutralidade científica necessária para a efetivação
do-se como anarquista epistemológico. Dessa forma, da objetividade não pode ser pensada de forma absoluta.
opôs-se não apenas à concepção metodológica de Po-
II. O evento investigado pelo cientista possibilita sua
pper como também de outros contemporâneos seus,
plena compreensão e, portanto, a obtenção de um co-
como Lakatos, por exemplo. Diferentemente de Popper,
nhecimento infalível e verdadeiro.
Kuhn anuncia que as teorias não são nem verdadeiras,
nem falsas, mas úteis. III. A ciência avança por uma série de aproximações para
e) Sim, diferentemente de Popper, para quem a física uma verdade objetiva jamais alcançada, sendo possível
newtoniana era considerada a imagem verdadeira do afirmar apenas que há um certo grau de objetividade.
mundo, tendo como pressupostos o mecanicismo e IV. O uso de métodos, testes, amostras significativas,
o determinismo, Kuhn estabelece como paradigma preservaria o rigor, garantindo por si só a objetividade
de sua concepção de ciência o irracionalismo de Hei- do conhecimento científico.
senberg e seu princípio da incerteza. Estão corretas apenas:
8. (Unioeste) "Segundo o filósofo da ciência Thomas a) II e III
Kuhn, paradigma é um conjunto sistemático de métodos, b) I, II e IV
formas de experimentações e teorias que constituem um c) I e III
modelo científico, tornando-se condição reguladora da d) I e IV
observação. […] A ciência normal, conforme Kuhn, fun-
e) II, III e IV
ciona submetida por paradigmas estabelecidos historica-
mente num campo contextual de problemas e soluções 12. (UEL) Uma das afirmações mais conhecidas e citadas
concretas. […] Os paradigmas são estabelecidos nos mo- de Galileu, que reflete o novo projeto da ciência da natu-
mentos de revolução científica […] Portanto, para Kuhn, reza, é a seguinte: "A filosofia está escrita neste grandís-
a ciência se desenvolve por meio de rupturas, por saltos simo livro que aí está aberto continuamente diante dos
e não de maneira gradual e progressiva". (E. C. Santos) olhos (digo, o universo), mas não se pode entendê-lo se

142
primeiro não se aprende a entender a língua e conhecer
os caracteres nos quais está escrito.
Ele está escrito em língua matemática, e os caracteres
são triângulos, círculos e outras figuras geométricas,
meios sem os quais é humanamente impossível enten-
der-lhe sequer uma palavra; sem estes trata-se de um
inútil vaguear por obscuro labirinto."
(NASCIMENTO, CARLOS ARTHUR R. DE TOMÁS DE AQUINO A
GALILEU. 2. ED. CAMPINAS: UNICAMP, 1998. P. 176.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a con-


cepção de ciência em Galileu, é correto afirmar:
a) Ciência é o conhecimento fixo, estável e perene
da essência constitutiva da realidade, alcançável por
meio da abstração.
b) A autonomia da explicação científica baseia-se em
argumentos de autoridade e princípios metafísicos
que justificam a verdade imutável do mundo natural.
c) A verdade natural é conhecida independente de
teorias e da realização de experiências, já que o fator
primordial da ciência é o uso da matemática para de-
cifrar a essência do mundo.
d) A compreensão da natureza por meio de caracte-
res matemáticos significa decifrar a obra da criação e,
consequentemente, ter acesso ao conhecimento do
próprio criador.
e) A ciência busca construir o conhecimento assenta-
do na razão do sujeito e no controle experimental dos
fenômenos naturais representados matematicamente.

Gabarito
1. C 2. E 3. A 4. A 5. E 6. B
7. A 8. E 9. A 10. C 11. C 12. E

143
linguagem qualquer tipo de incerteza. Seu estilo filosófico
AULA 21 é direcionado para o interrogatório, o radicalismo e o ina-
cabamento essencial do fenômeno.

FENOMENOLOGIA DO
CONHECIMENTO

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25
FOTOGRAFIA DE HUSSERL.

1. O que é Fenomenologia? 2.1. O método fenomenológico


A Fenomenologia é o estudo da consciência e dos O Primeiro passo dessa corrente é ter ciência de que, para
objetos da consciência. De modo que o processo pelo compreender o fenômeno, é preciso estar próximo dele, ou
qual somos informados pelos sentidos sofre uma mudança seja, deve-se ir às coisas mesmas, tendo uma atitu-
em uma experiência de consciência em um fenômeno. de intelectual. Após isso, a próxima etapa seria a redução
transcendental ou redução fenomenológica, que consiste
Fenômeno: termo de origem grega que significa "apare-
em reduzir o problema para compreendê-lo melhor. Com
cer", "aparência". O fenômeno não é o objeto, mas a sua
isso, ocorre um entendimento, que se funda no rigor, valo-
manifestação e, até mesmo, ilusão. É o processo de manifes-
rizando o ser na sua singularidade, tendo uma relevância
tação dos eventos e dos objetos que gera a percepção e in-
com o que se manifesta. A busca pelo retorno às coisas nos
terpretação humana a partir dos sentidos e do uso da razão.
leva a considerar que o sujeito gera uma certa "contami-
A Fenomenologia é uma corrente filosófica que concebe ao nação" sobre os objetos, ou seja, a consciência do sujeito
pensamento a certeza de reter só o essencial do fenômeno projeta nas coisas componentes próprios de percepção (as-
em questão, seguindo de um método que alcance essa es- pectos sociais, psicológicos, culturais, entre outros). Seria
sência. Apesar de conter traços existencialistas, a Fenomeno- necessário recuperar de forma metodológica a realidade,
logia tem como objetivo ter uma solução prática para todo o que é comprometida por nossas subjetividades. Seria ne-
subjetivismo intelectual. Essa corrente foi inaugurada pelo fi- cessário "purificar" a relação sujeito-objeto.
lósofo Edmund Husserl, com o propósito de solucionar o caos
O principal objetivo dessa corrente foi identificar os aspec-
intelectual do final do século XIX e do início do século XX.
tos invariáveis da percepção do objeto.
Num primeiro momento, duvida-se de se uma tal ciência
2. Edmund Husserl (1859-1938) é em geral possível, Se põe em questão todo o conhe-
cimento escolhido como ponto de partida é, enquanto
O filósofo e matemático alemão Edmund Husserl rompe conhecimento, posto em questão?
com uma orientação positivista e desenvolve uma estrutu-
No entanto, esta é uma dificuldade meramente aparen-
ra mais objetiva, a Fenomenologia, definindo-a como uma te. O conhecimento não se nega nem se declara em todo
filosofia transcendental-idealista. o sentido como algo de duvidoso pelo facto de se pôr em
questão. Questionam-se certas realizações que lhe são
Husserl sofre influência de Platão e Descartes, com uma
atribuídas, mas fica ainda em aberto se as dificuldades
análise de uma psicologia descritiva dos atos, implicando concernem a todos os tipos possíveis de conhecimen-
uma nova concepção da subjetividade. A Fenomenologia to. Em todo o caso, se a teoria do conhecimento quiser
de Husserl é uma meditação lógica, sem conter as incer- concentrar-se na possibilidade do conhecimento, tem de
tezas da própria lógica, excluindo mediante o uso de uma ter conhecimentos sobre possibilidades cognitivas que,

144
como tais, são indubitáveis e, claro está, conhecimentos
no sentido mais estrito, a que cabe a apreensibilidade, e
acerca a sua própria possibilidade cognitiva, cuja apre-
ensibilidade é absolutamente indubitável.
A IDEIA DA FENOMENOLOGIA. EDMUND HUSSERL. RIO
DE JANEIRO: EDIÇÕES 70, 1989, PP.22-23.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Merleau-Ponty: Filosofia e Percepção
O professor de Filosofia da USP Franklin Leopoldo e Sil-
va comenta sobre a teoria de Merleau-Ponty.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE 3.1. O Corpo para Merleau-Ponty
Café Filosófico: Fenomenologia e existencialismo O corpo é a fonte de conhecimento, pois o corpo e
o mundo são constituídos da mesma matéria, mas é me-
diante o corpo que percebemos o mundo. E diante disso,
conseguimos perceber tudo que está ao redor do mundo, e
3. Maurice Merleau- assim podemos realizar operações mentais, fantasiar, dese-
-Ponty (1908-1961) jar e atribuir significados às coisas.

O filósofo francês Merleau-Ponty desenvolve sua teoria Merleau-Ponty desejava combater os empiristas e intelec-
sobre a Fenomenologia, tendo grande influência do pen- tualistas de sua época, que acreditavam numa separação
samento de Edmund Husserl. Entretanto, ao desenvolver a mente-corpo. Para o filósofo francês, a percepção é ativa e
sua própria filosofia, nega a doutrina de Husserl. representa a primeira abertura do ser ao mundo da vida. Pois
não existe uma separação independente de corpo
e mente, o nosso corpo pode nos propiciar conhecimento,
isso ocorre porque não estamos no espaço e no tempo, mas
somos no espaço e no tempo. Com a mediação do corpo, as
nossas experiências são classificadas e organizadas, sendo
um processo que ocorre antes mesmo de nossa linguagem.
Seguindo essa lógica, para Merleau-Ponty não devemos
pensar numa dicotomia (interior/exterior, corpo/mente);
mas precisamos compreender uma unidade, a qual o corpo
expressa e capta sensações desse mundo e reflete outros
tipos de sentimentos para o mundo. Com esse posiciona-
mento o filósofo ultrapassou as visões de sua época, de
modo que o ser humano não possui um corpo, ele é corpo.
Assim, a verdade não está contida somente no interior do
homem, ela está em toda parte, sendo a base da consciên-
cia. O corpo se torna meio de comunicação com o mundo,
enquanto a experiência motora representa uma forma de
RETRATO DE MERLEAU-PONTY.
acessarmos esse mundo. A percepção é o contato imedia-
to com o mundo e o corpo é fonte sensorial de interação
Para Merleau-Ponty, a construção teórica se faz na ma- e compreensão do mundo. A racionalidade consciente é
neira de se portar do corpo e na captação de impressões uma ação posterior à percepção. Merleau-Ponty contraria
dos sentidos. De modo que o corpo é um organismo como o dualismo cartesiano e afirma a integração mente-corpo.
uma configuração integral a ser explorada. Com isso, o O corpo não é uma entidade material separada de uma
homem seria o núcleo de debates sobre o conhecer, como mente abstrata transcendente. A mente é corpo e o corpo
é criado e percebido em seu corpo. Merleau-Ponty con- é mente – em oposição ao dualismo, afirma-se a unidade.
verte o processo fenomenológico para uma mo- Não somos uma consciência pura, somos uma consciência
dalidade existencial. corpórea, um corpo animado por uma consciência.

145
Concluímos que o corpo humano não é apenas um suspenso, para compreendê-las, as afirmações da ati-
objeto estudado pela ciência; ele se torna base e tude natural, mas é também uma filosofia para a qual
o mundo já está sempre ‘ali’, antes da reflexão, como
condição para a existência. Existe uma ligação dialética
uma presença inalienável, e cujo esforço todo consiste
e inseparável da mente com o corpo. No processo de apren- em reencontrar este contato ingênuo com o mundo,
dizagem do ser humano, o movimento do corpo está inti- para dar-lhe enfim um estatuto filosófico. É a ambição
mamente interligado às habilidades da mente. Um exemplo de uma filosofia que seja uma 'ciência exata', mas é
disso: para uma criança, mover-se é pensar. também um relato do espaço, do tempo, do mundo 'vi-
vidos'. É a tentativa de uma descrição direta de nossa
experiência tal como ela é, e sem nenhuma deferência
à sua gênese psicológica e às explicações causais que
o cientista, o historiador ou o sociólogo dela possam
fornecer, e todavia Husserl, em seus últimos trabalhos,
menciona uma 'fenomenologia genética' e mesmo
uma 'fenomenologia construtiva'.
MERLEAU-PONTY, M. FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO.
SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 199, P.1.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Merleau-Ponty
A filósofa Marilena Chauí apresenta o pensamento de
Merleau-Ponty e seus estudos sobre o corpo.

Pode parecer estranho que ainda se precise colocar


essa questão meio século depois dos primeiros traba-
multimídia: livro
lhos de Husserl. Todavia, ela está longe de estar resolvi-
da. A fenomenologia é o estudo das essências, e todos
O Visível e o Invisível - Maurice Merleau-
os problemas, segundo ela, resumem-se em definir es-
sências: a essência da percepção, a essência da cons- Ponty. São Paulo: Perspectiva, 2009.
ciência, por exemplo. Mas a fenomenologia é também Dirigir o leitor para um domínio que os seus hábitos de
uma filosofia que repõe as essências na existência, e pensamento não tornam imediatamente acessível. Nessa
não pensa que se possa compreender o homem e o obra, a relação sujeito e objeto é explorada, bem como as
mundo de outra maneira senão a partir de sua ‘facti-
possibilidades interpretativas fenomenológicas.
cidade’. É uma filosofia transcendental que coloca em

146
DIAGRAMA DE IDEIAS

FENOMENOLOGIA

ESTUDO DA
CONSCIÊNCIA E MERLEAU-PONTY
DOS OBJETOS DA HUSSERL
CONSCIÊNCIA

PARA
COMPREENDERMOS
É PRECISO VOLTAR PAR ENTENDER OS OS FENÔMENOS
ÀS COISAS MESMAS FENÔMENOS DO MUNDO

É PRECISO O CORPO VIRA


INTERAGIR COM FONTE DO
O OBJETO CONHECIMENTO

NÃO EXISTE
BUSCANDO UM SEPARAÇÃO
INTERROGATÓRIO MENTE-CORPO

NÃO EXISTE UMA TUDO FAZ PARTE


ÚNICA DEFINIÇÃO DE UM MESMO
DO OBJETO FENÔMENO

147
diata e clara: eu sinto o vermelho, o azul, o quente, o frio
Aplicando para (...) A sensação pura será a experiência de um 'choque'
indiferenciado, instantâneo e pontual. Não é necessá-
Aprender (A.P.A.) rio mostrar, já que os autores concordam com isso, que
essa noção não corresponde a nada de que tenhamos
1. (Enem 2020) TEXTO I
experiência, que as mais simples percepções de fato que
Os meus pensamentos são todos sensações. conhecemos, em animais como o macaco e a galinha,
Penso com os olhos e com os ouvidos versam sobre relações e não sobre termos absolutos".
E com as mãos e os pés MAURICE MERLEAU-PONTY
E com o nariz e a boca.
PESSOA, F. O GUARDADOR DE REBANHOS – IX. IN: GALHOZ. M. A. (ORG.). O trecho acima resume as linhas gerais da análise que
OBRAS POÉTICAS. RIO DE JANEIRO: NOVA AGUILAR, 1999 (FRAGMENTO). o fenomenólogo Merlau-Ponty faz da percepção e, mais
especificamente, da noção de "sensação", cara à filoso-
TEXTO II fia moderna. A partir dele é correto inferir que:
a) Merleau-Ponty retoma integralmente a noção mo-
Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o
derna de sensação adaptando-a sutilmente ao qua-
sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência dro conceitual da fenomenologia.
do mundo sem a qual os símbolos da ciência não pode-
b) Merleau-Ponty nega a noção moderna de sensa-
riam dizer nada.
ção, pois, para ele, não há percepção "pura" e toda a
MERLEAU-PONTY, M. FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO. percepção inclui a apreensão de relações.
SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 1999 (ADAPTADO). c) Para Merleau-Ponty a noção de sensação dos mo-
dernos é apenas um erro de linguagem sem maiores
Os textos mostram-se alinhados a um entendimento conseqüências.
acerca da ideia de conhecimento, numa perspectiva que
d) Para Merlau-Ponty a percepção tem início com im-
ampara a
pressões sensíveis puras, desconectadas e sem rela-
a) anterioridade da razão no domínio cognitivo. ções umas com as outras.
b) confirmação da existência de saberes inatos. e) Para Merleau-Ponty nossas sensações são dadas iso-
c) valorização do corpo na apreensão da realidade. ladamente à percepção e as relações entre elas são es-
d) verificabilidade de proposições no campo da lógica. tabelecidas a posteriori pela imaginação e pela fantasia.
e) possibilidade de contemplação de verdades atemporais.
4. (SEE)“A metafísica não é uma construção de concei-
2. (Enem-2018) O filósofo reconhece-se pela posse inse- tos graça aos quais poderíamos tomar nossos parado-
parável do gosto da evidência e do sentido da ambigui- xos menos sensíveis - é a experiência que temos deles
dade. Quando se limita a suportar a ambiguidade, esta se em todas as situações da história pessoal e coletiva
chama equívoco. Sempre aconteceu que, mesmo aqueles e das ações que, ao assumi-los, os transformaram em
que pretenderam construir uma filosofia absolutamente razão. É uma interrogação que não comporta respos-
positiva, só conseguiram ser filósofos na medida em que, tas que a anulem, mas somente ações resolutas que a
simultaneamente, se recusaram o direito de se instalar no transladam sempre para mais longe. Não é o conheci-
saber absoluto. O que caracteriza o filósofo é o movimen- mento que viria a terminar o edifício dos conhecimen-
to que leva incessantemente do saber à ignorância, da ig- tos; é o saber lúcido daquilo que os ameaça e a consci-
norância ao saber, e um certo repouso neste movimento. ência aguda de seu preço.”

MERLEAU-PONTY, M. ELOGIO DA FILOSOFIA. (MAURICE MERLEAU-PONTY, O METAFÍSICO NO HOMEM)


LISBOA; GUIMARÃES, 1998 (ADAPTADO).
Assinale a alternativa que expressa a concepção de me-
O texto apresenta um entendimento acerca dos ele- tafísica formulada por Merleau-Ponty no texto.
mentos constitutivos da atividade do filósofo, que se a) A metafísica é uma ciência exata.
caracteriza por b) A metafísica é impossível como conhecimento objetivo.
a) reunir os antagonismos das opiniões ao método c) A metafísica é o coroamento de todo o sistema do saber.
dialético. d) A metafísica é um método para solucionar ques-
b) ajustar a clareza do conhecimento ao inatismo das tões que estão além das fronteiras da ciência.
ideias. e) A metafísica é uma constante interrogação pela
c) associar a certeza do intelecto à imutabilidade da qual o homem enfrenta os paradoxos que estão en-
verdade. volvidos no conhecimento e na ação.
d) conciliar o rigor da investigação à inquietude do
questionamento. 5. (UEM) "O pensamento moderno, não por objeção fron-
e) compatibilizar as estruturas do pensamento aos tal, mas pelo desenvolvimento do próprio saber, leva a
princípios fundamentais. uma revisão das categorias clássicas, a uma reforma da
ontologia clássica do sujeito e do objeto. O núcleo desse
3. (SME-) "Iniciando o estudo da percepção, encontra- desenvolvimento – que deve levar, por sua vez, a uma
mos na linguagem a noção de sensação que parece ime- nova filosofia – consiste na descoberta de que a situação,

148
seja do 'objeto', seja do 'sujeito', não é mais passível de fato de eu a ver, por certo se segue bem mais evidente-
exclusão da trama do conhecimento. Dito de outra for- mente que eu próprio sou, ou que eu existo, pelo fato de
ma: o objeto 'verdadeiro', aquele de que a ciência tra- eu a ver; pois pode ocorrer que o que vejo não seja, de
ta, não é mais aquele objeto absoluto de que falavam fato, cera; pode ocorrer também que eu nem sequer te-
os clássicos, mas se torna, intrinsecamente, relativo. Em nha olhos para ver coisa alguma; mas não pode ocorrer,
suma, não há mais um objeto puro, em si, um objeto tal quando vejo ou (o que não mais distingo) quando penso
como o próprio Deus (isto é, um observador absoluto) o ver, que eu, que penso, não seja alguma coisa."
veria. Também não há mais esse sujeito absoluto, aquele
que começava por afastar toda manifestação sensível, (DESCARTES. MEDITAÇÕES METAFÍSICAS. SEGUNDA MEDITAÇÃO, §16)
isto é, que começava por afastar, correlativamente, seu "Quando eu acredito ver a cera com os meus olhos, eu
próprio corpo para colocar-se como puro espírito". apenas penso, por meio das qualidades que meus sen-
(MOUTINHO, L. D. MERLEAU-PONTY: ENTRE O CORPO E A ALMA. IN: tidos apreendem, a cera pura e sem qualidades que é a
ANTOLOGIA DE TEXTOS FILOSÓFICOS. CURITIBA: SEEDPR, 2009, P. 494.) fonte comum delas. Para Descartes, portanto, (...) a per-
cepção é apenas um começo de ciência ainda confusa."
Sobre a nova filosofia de que fala o texto, assinale o
que for correto. MERLEAU-PONTY. PRIMEIRA CONVERSA
01) A fenomenologia critica as distinções clássicas, Decorre da interpretação de Merleau-Ponty da análise
tais como alma e corpo, sujeito e objeto, matéria e do pedaço de cera feita por Descartes que:
espírito, coisa e representação.
a) o conhecimento humano consiste fundamental-
02) O ponto de vista de Deus não é mais possível,
mente em sua capacidade epistemológica sensível.
nem necessário, para a renovação da filosofia.
b) a relação entre a percepção e a ciência correspon-
04) O positivismo é esta filosofia nova, pois revoga a
de à relação entre a aparência e a realidade.
ontologia clássica.
c) não é possível qualquer remissão à inteligência para
08) Merleau-Ponty privilegia o corpo, pois, através
que ela descubra qualquer verdade sobre o mundo.
dele, o homem constitui-se de uma consciência fática
ou concreta. d) a totalidade das manifestações sensíveis está in-
cluída necessariamente em todo e qualquer "objeto
16) A situação do objeto e do sujeito é relativa, pois a
verdadeiro".
fenomenologia é o retorno à isegoria dos gregos e ao
"meio termo" de Aristóteles. 8. Julgue os itens abaixo sobre o conceito de “corpo
próprio” de Merleau-Ponty.
6. (UEM) A fenomenologia é um dos fundamentos da Fi-
losofia de Maurice Merleau-Ponty. No âmbito da escola I. Muda o foco da teoria cartesiana que afirma que o
da fenomenologia, ele contesta princípios basilares da pensamento dá a certeza da existência.
Psicologia clássica, de cunho mecanicista-racionalista. II. Desbanca teorias mecanicistas que entendem que o
Com base na afirmação acima, assinale o que for correto. corpo só tem sentido se for recheado com uma alma
01) A sensação é concebida, por Merleau-Ponty, pelos III. O conceito de corpo próprio é ideia de que cada pes-
efeitos que os estímulos externos dos objetos exer- soa é um corpo que percebe, pensa e atua no mundo e
cem sobre os sentidos. O campo visual, por exemplo, sobre si mesmo.
é concebido como um mosaico de sensações desper- IV. Para Merleau-Ponty corpo próprio é a sede da per-
tadas pelos estímulos do objeto sobre a retina. cepção da percepção do mundo e de mim mesmo pos-
02) Para Merleau-Ponty, a percepção é o conhecimen- sibilidade única de existência concreta.
to sensorial de formas ou de totalidades organizadas V. Merleau-Ponty concorda com a máxima cartesiana
e dotadas de sentido. que afirma categoricamente “penso, logo existo”.
04) Conforme um dos princípios da fenomenologia Dentre as alternativas:
de Edmund Husserl, a consciência, para Merleau-Pon-
a) Todas as alternativas estão corretas.
ty, não exerce nenhuma atividade na produção de co-
nhecimentos científicos. b) Apenas I e II estão corretas
08) Para Merleau-Ponty, a consciência de si é o re- c) Apenas I, II, III e IV estão corretas
sultado de um esforço intelectual de conhecimento e d) Apenas III e IV estão corretas
não depende da facticidade de nosso engajamento. e) Apenas III, IV e V estão corretas
16) Para Merleau-Ponty, imanência e transcendência
9. "Nascer é, simultaneamente, nascer do mundo e nascer
são conceitos antitéticos que se comunicam, dada a
para o mundo. Sob o primeiro aspecto, o mundo já está
configuração de nosso corpo no mundo.
constituído e somos solicitados por ele. Sob o segundo
7. "Que declararei, digo eu, sobre mim que pareço con- aspecto, o mundo não está inteiramente constituído e es-
ceber com tanta nitidez e distinção esse pedaço de cera? tamos abertos a uma infinidade de possíveis. Existimos,
Não conheço a mim mesmo não só com muito mais ver- porém, sob os dois aspectos ao mesmo tempo. Não há,
dade e certeza, mas ainda com muito maior distinção e pois, necessidade absoluta nem escolha absoluta, jamais
nitidez? Com efeito, se julgo que a cera é ou existe pelo sou como uma coisa e jamais uma pura consciência [...].

149
Há um campo de liberdade e uma 'liberdade condicio-
nada', porque tenho possibilidades próximas e distantes
[...]. A escolha de vida que fazemos tem sempre lugar
sobre a base de situações dadas e possibilidades aber-
tas. Minha liberdade pode desviar minha vida do sentido
espontâneo que teria, mas o faz deslizando sobre este
sentido, esposando-o inicialmente para depois afastar-se
dele, e não por uma criação absoluta".
(MERLEAU-PONTY, M. FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO. IN: CHAUÍ,
M. CONVITE À FILOSOFIA. SÃO PAULO: ÁTICA, 2011. 14.ª ED., P. 421).

Conforme a citação acima, é correto afirmar que a li-


berdade:
a) Identifica-se com o determinismo
b) Não depende de um campo de possibilidades concretas.
c) Está relacionada apenas ao mundo físico.
d) É a única verdade espírito humano.
e) É absoluta e incorruptível.

10. (UEA) O existencialismo foi um movimento filosófico


do século XX. Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Mauri-
ce Merleau-Ponty escreveram e publicaram livros sobre
o existencialismo. Embora houvesse diferenças entre
pensamentos e pensadores existencialistas, um princípio
filosófico lhes era comum, segundo o qual
a) o homem está no topo da vida animada, depois de
ter passado por um longo processo de transformação
e de evolução.
b) o homem alcança a sabedoria quando adquire o
conhecimento das leis que regem a sua existência.
c) o prazer é o bem mais soberano do homem; os
prazeres naturais e necessários à existência devem
ser favorecidos.
d) a existência precede a essência; o homem é o que
ele faz de si mesmo por meio de seus atos.
e) o homem existe porque pensa; ele é, desde o início de
sua existência, um ser caracterizado pela racionalidade.

Gabarito
1. C 2. D 3. B 4. E 5. 01+02+08=11
6. 02+16=18 7. B 8. C 9. A 10. D

150
Em sua obra, o filósofo procurou analisar os problemas da
AULA 22 relação existencial do homem com o mundo, consigo mes-
mo e com Deus.
As relações do homem com o mundo são domina-
das pela angústia. A angústia é entendida como o sen-
timento profundo que temos ao perceber a instabilidade
EXISTENCIALISMO de viver num mundo de acontecimentos possíveis, sem ga-
rantia de que nossas expectativas sejam realizadas. Assim,
vivemos num mundo onde tanto é possível a dor como o
prazer, o bem como o mal, o amor como o ódio.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25

1. Introdução
O Existencialismo é uma corrente filosófica, cunhada pelo
filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, que trata da con- RETRATO DE KIERKEGAARD.
dição da existência humana e da busca das realizações das
A relação do homem consigo mesmo é marcada pela in-
escolhas do indivíduo.
quietação e pelo desespero. Isso ocorre por duas razões: ou
O pensamento existencialista defende, em primei- porque o homem nunca está plenamente satisfeito com as
ro lugar, que a existência vem antes da essência. De possibilidades que realizou ou porque não conseguiu realizar
modo que o homem é livre para fazer as suas escolhas. o que pretendia, fracassando diante de suas expectativas.
A relação do homem com Deus seria a única via para a
superação da angústia e do desespero.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Human - Rag’n’Bone Man. Human. Sony, 2017. multimídia: vídeo
Nessa canção de Rag’n’Bone, a ideia do existencia-
FONTE: YOUTUBE
lismo está presente, pois nossas ações intensificam
Kierkegaard – Razão e Fé: Existencialismo
consequências para os outros, e não podemos culpar
ninguém por isso. Vídeo que apresenta a filosofia existencialista de
Kierkegaard.

2. Søren Kierkegaard (1813-1855) Kierkegaard apresenta três estádios (estágios) da vida


O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard contestou a humana:
supremacia da razão como único instrumento capaz de ƒ Estádio estético - a submissão da vida aos sentidos,
estabelecer a verdade, defendendo o conhecimento da fé desejos e impulsos. O esteta vive para o momento, para
contra a supremacia da razão. o prazer imediato e efêmero.

151
ƒ Estádio ético - a condição de uma vida regrada por afaste o homem da autenticidade de sua existência e o
códigos morais de conduta. É a substituição do prazer coloque na impessoalidade neutra de uma existência nive-
pelo dever. lada pela mediocridade.
ƒ Estádio religioso - a vida humana guiada por Deus. Só que, para Heidegger, a vida cotidiana faz do homem um
O indivíduo se realiza nesse estágio. É preciso realizar o ser preguiçoso e cansado de si próprio, que, acovardado
salto de fé e a confiança no infinito (Deus). diante das pressões sociais, acaba preferindo vegetar na
Dessa forma, a filosofia de Kierkegaard procura com- banalidade e no anonimato, pensando e vivendo por meio
preender a existência do ser humano, a sua angústia e de ideias e sentimentos acabados e inalteráveis.
o seu desespero. O ente que temos a tarefa de analisar somos nós mes-
mos. O ser deste ente é sempre cada vez meu. Em seu
ser, isto é, sendo, este ente se comporta com o seu ser.
3. Martin Heidegger (1889-1976) Como um ente deste ser, a presença se entrega à res-
ponsabilidade de assumir seu próprio ser. O ser é o que
O filósofo alemão Martin Heidegger buscou compreender neste ente está sempre em jogo. Desta caracterização da
o sentido do ser, a sua essência. Para ele, o ente é a exis- presença resultam duas coisas:
tência, o modo de ser do homem. O ser é a essência, aquilo
1. A "essência" deste ente está em ter de ser. A qüidi-
que determina a existência ou o modo de ser do homem. dade (essentia) deste ente, na medida em que se pos-
sa falar dela, há de ser concebida a partir de seu ser
(existência). Neste propósito, é tarefa ontológica mostrar
que, se escolhemos a palavra existência para designar
o ser deste ente, esta não tem nem pode ter o signifi-
cado ontológico do termo tradicional existentia. Para a
ontologia tradicional, existentia designa o mesmo que
ser simplesmente dado, modo de ser que não pertence
à essência do ente dotado do caráter de presença. Evi-
ta-se uma confusão usando a expressão interpretativa
ser simplesmente dado (N8) para designar existência e
reservando-se existência como determinação ontológica
exclusiva da presença.
A "essência" da presença está em sua existência.
HEIDEGGER, MARTIN. SER E TEMPO. EDITORA VOZES: 15ª EDIÇÃO, 2005.

4. Jean-Paul Sartre (1905-1980)


O filósofo francês Jean-Paul Sartre consegue ser um pensador
cujas análises técnico-conceituais alcançam um rigor e uma
RETRATO DE HEIDEGGER. sistematicidade que se revestem muitas vezes de grande ari-
Assim, o homem é um ente para o qual o seu próprio ser dez, o que não o impediu de ser, paradoxalmente, o mais
está constantemente em jogo. Isso significa que o homem popular dos filósofos contemporâneos e, como romancista,
não é algo definido, mas algo que se define num projeto um escritor de forte imaginação e profunda originalidade.
sempre retomado. O homem é um ente inacabado (um
projeto a ser realizado) e a sua essência confunde-se com o
seu existir. Sendo que o estar no mundo não é um aciden-
te, mas algo que efetivamente o constitui. Ao passo que o
modo de ser do homem é o poder-ser, isto é, fazer da vida
sempre um projeto.
Porém, o fato de estar no mundo compreendido como pos- multimídia: vídeo
sibilidade de ser gera a angústia, que pode ser entendida FONTE: YOUTUBE
como sentir-se no mundo em estado de carência ou de
Sartre e o existencialismo
temor indeterminado. A angústia é a compreensão
Nesse vídeo temos a filosofia existencialista do francês
da precariedade da condição humana. A maneira de
Jean-Paul Sartre.
evitar a angústia é mergulhar num cotidiano habitual que

152
Dessa forma, o futuro está sempre aberto, e no próprio cur-
so da existência é que o homem vai decidir acerca de seu
próprio destino. O homem é livre na exata medida em que
introduz o nada no mundo, e pode a partir disso construir
o seu presente. Daí a célebre frase: "O homem está con-
denado a ser livre".
O existencialismo de Sartre indica que tudo está por fazer,
e o homem será o futuro que puder construir. Não é, pois,
surpreendente que, diante da relevância da tarefa, se
tenha podido extrair do existencialismo a consequência
ética do desespero.

RETRATO DE SARTRE.

Em sua filosofia Sartre, desenvolve que no homem a exis-


tência vem antes da essência. Isso significa que não
há uma predefinição do homem, como existe uma prede- multimídia: livro
finição de um objeto fabricado. Assim, o homem nada é
enquanto não fizer de si alguma coisa, ou seja, o homem O existencialismo é um humanismo - Jean-
é um projeto que pode vir a ser, mas que só será realizado Paul Sartre. São Paulo: Vozes, 2014.
conforme suas escolhas e decisões em sua vida.
O existencialismo é um humanismo é um texto circuns-
tancial no percurso intelectual de Sartre. Ele antecede
um novo ciclo em sua investigação filosófica. As obje-
ções à sua obra, que ele procura inventariar nessa con-
ferência, por mais confusas e hostis que sejam, provoca-
rão novas questões que serão tratadas mais tarde, após
um livre amadurecimento, testemunhado, entre outras
coisas, por seus escritos póstumos.
multimídia: livro
Dostoiévski escreveu: Se Deus não existisse, tudo se-
A Náusea, de Jean-Paul Sartre ria permitido. Aí se situa o ponto de partida do exis-
tencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não
A náusea é o primeiro romance de Jean-Paul Sartre, existe, fica o homem, por conseguinte, abandonado,
considerado pela crítica e pelo próprio autor o mais já que não se encontra em si, nem fora de si, uma
perfeito de sua sempre inquieta e inovadora carreira. possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada,
O protagonista dessa história é o intelectual peque- não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência
no-burguês Antoine Roquentin, símbolo de uma gera- precede a essência, não será nunca possível referir
ção que descobre, horrorizada, a ausência de sentido uma explicação a uma natureza dada e imutável; por
outras palavras, não há determinismo, o homem é li-
da vida. Em um diário, o personagem passa, então, a
vre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus
catalogar impiedosamente todos os seus sentimentos, não existe, não encontramos diante de nós valores
que culminam em uma sensação penetrante e avassa- ou imposições que nos legitimem o comportamento.
ladora: a náusea. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de
nós, no domínio luminoso dos valores, justificações
Publicado pela primeira vez em 1938, o livro foi um
ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. É o que
marco na ficção existencialista e é até hoje um dos traduzirei que o homem está condenado a ser livre.
textos mais famosos da literatura francesa do século Condenado, porque não se criou a si próprio; e no
XX. Essa edição conta com prefácio inédito de Caio entanto livre, porque uma vez lançado ao mundo é
Liudvik, pós-doutor em Filosofia e autor de Sartre e o responsável por tudo quanto fizer.
pensamento mítico. SARTRE, JEAN-PAUL. O EXISTENCIALISMO É UM
HUMANISMO. SÃOPAULO: ABRIL, 1973, PP.15-16

153
situação singular que ocupam os machos na humanidade.
5. Simone de Beauvoir Se quero definir-me, sou obrigada inicialmente a declarar:
"Sou uma mulher". Essa verdade constitui o fundo sobre
(1908-1986) o qual se erguerá qualquer outra afirmação. Um homem
A filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir desen- não começa nunca por se apresentar como um indivíduo
volve um importante pensamento a favor da mulher na de determinado sexo: que seja homem é natural. É de
maneira formal, nos registros dos cartórios ou nas decla-
sociedade.
rações de identidade que as rubricas, masculino, feminino,
aparecem como simétricas. A relação dos dois sexos não
é a das duas eletricidades, de dois pólos. O homem re-
presenta a um tempo o positivo e o neutro, a ponto de
dizermos "os homens" para designar os seres humanos,
tendo-se assimilado ao sentido singular do vocábulo vir o
sentido geral da palavra homo. A mulher aparece como o
negativo, de modo que toda determinação lhe é imputada
como limitação, sem reciprocidade.
BEAUVOIR, SIMONE DE. O SEGUNDO SEXO. SÃO
PAULO: DIFUSÃO EUROPÉIA DO LIVRO.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
QUEM SOMOS NÓS? | Lugar de Mulher É | Maria
Lygia Quartim de Moraes. (Simone de Beauvoir)
RETRATO DE SIMONE DE BEAUVOIR.

Beauvoir formula a relação que há milênios estrutura a re-


lação homem e mulher: o homem vê, a mulher é vista;
o homem é sujeito, a mulher é irremediavelmente objeto.
Crítica dos discursos existentes (biologia, psicanálise, ma-
terialismo histórico), crítica da história, que mostra que “os
homens sempre detiveram todos os poderes con-
cretos”, crítica das representações literárias (os propaga-
dos “mitos” que veiculam imagens contraditórias, da mãe
e da prostituta), crítica das atitudes adotadas e nas quais
a mulher se aliena (o narcisismo, o amor), Beauvoir apela
enfim à alforria, à independência, enfatizando o anseio de
um dia ver reinar não uma igualdade na diferença, mas
uma igualdade verdadeira.
Seu livro mais famoso, intitulado Segundo Sexo, consiste
em denunciar o caráter sócio-histórico vinculado à noção
de "mulher" e impedir qualquer redução desta última a
alguma natureza presumível. Segundo Beauvoir, "não se
nasce mulher, torna-se mulher". É o ato de existir que
cria condições para as formações identitárias.
O próprio enunciado do problema sugere-me uma primei-
ra resposta. É significativo que eu coloque esse problema.
Um homem não teria a ideia de escrever um livro sobre a

154
DIAGRAMA DE IDEIAS

EXISTENCIALISMO

A EXISTÊNCIA VEM
ANTES DA ESSÊNCIA

KIERKEGAARD HEIDEGGER SARTRE

O HOMEM SOFRE O HOMEM É UM SOMOS FRUTOS DE


PORQUE NUNCA ENTE INACABADO NOSSAS ESCOLHAS
ESTÁ SATISFEITO

ESTAMOS
ELE PODE-SER
SE SENTE CONDENADOS
IMPERFEITO A SER LIVRES

A VIDA É SEMPRE
A RELAÇÃO COM UM PROJETO O FUTURO ESTÁ
DEUS FAZ O HOMEM SEMPRE ABERTO
SUPERAR A SUA
ANGÚSTIA

BEAUVOIR

SER MULHER NÃO


A MULHER ESCOLHE A MULHER PRECISA
SIGNIFICA SER
O SEU FUTURO SE TORNAR MULHER
SUBMISSA

155
4. (UFSJ) Sobre a interferência de Jean-Paul Sartre na
Aplicando para filosofia do século XX, é CORRETO afirmar que ele
Aprender (A.P.A.) a) reconhece a importância de Diderot, Voltaire e Kant
e repercute a interferência positiva destes na noção de
1. O filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard iden- que cada homem é um exemplo particular no universo.
tificou três estádios distintos ou modos de existência. b) faz a inversão da noção essencialista ao apregoar
São eles: que o Homem primeiramente existe, se descobre, sur-
a) Estádio empírico, estádio racionalista, estádio exis- ge no mundo e só após isso se define. Assim, não há
tencialista; natureza humana, pois não há Deus para concebê-la.
b) Estádio científico, estádio religioso, estádio jurídico; c) inaugura uma nova ordem político-social, segundo
c) Estádio estético, estádio ético, estádio religioso. a qual o Homem nada mais é do que um projeto que
se lança numa natureza essencialmente humana.
d) Estádio ético, estádio jurídico, estádio existencialista;
d) diz que ser ateu é mais coerente apesar de reco-
e) Estádio estético, estádio técnico, estádio filosófico;
nhecer no Homem uma virtu que o filia, definitiva-
2. (Ufu) Para J.P. Sartre, o conceito de “para-si” diz respeito mente, a uma consciência a priori.
a) a uma criação divina, cujo agir depende de princí- 5. (UFSJ) A angústia, para Jean-Paul Sartre, é
pio metafísico regulador.
a) tudo o que a influência de Shopenhauer determina
b) apenas à pura manutenção do ser pleno, completo,
em Sartre: a certeza da morte. O Homem pode ser livre
da totalidade no seio do que é.
para fazer suas escolhas, mas não tem como se livrar
c) ao nada, na medida em que ele se especifica pelo da decrepitude e do fim.
poder nadificador que o constitui.
b) a nadificação de nossos projetos e a certeza de que
d) a algo empastado de si mesmo e, por isso, não se pode a relação Homem X natureza humana é circunstancial,
realizar, não se pode afirmar, porque está cheio, completo. objetiva, e pode ser superada pelo simples ato de se
3. (Ufu) Leia o excerto abaixo e assinale a alternativa que fazer uma escolha.
relaciona corretamente duas das principais máximas do c) a certificação de que toda a experiência humana é
existencialismo de Jean-Paul Sartre, a saber: idealmente sensorial, objetivamente existencial e de-
terminante para a vida e para a morte do Homem em
"a existência precede a essência" si mesmo e em sua humanidade.
"estamos condenados a ser livres" d) consequência da responsabilidade que o Homem
tem sobre aquilo que ele é, sobre a sua liberdade,
Com efeito, se a existência precede a essência, nada po- sobre as escolhas que faz, tanto de si como do outro
derá jamais ser explicado por referência a uma natureza e da humanidade, por extensão.
humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinis-
mo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, 6. (Unioeste) “O que significa aqui o dizer-se que a exis-
se Deus não existe, não encontramos já prontos, valores tência precede a essência? Significa que o homem pri-
meiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que
ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. […]
só depois se define. O homem, tal como o concebe o exis-
Estamos condenados a ser livres. Estamos sós, sem descul-
tencialista, se não é definível, é porque primeiramente
pas. É o que posso expressar dizendo que o homem está
não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si
condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou
próprio se fizer. (…) O homem é, não apenas como ele se
a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi
concebe, mas como ele quer que seja, como ele se conce-
lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.
be depois da existência, como ele se deseja após este im-
SARTRE, JEAN-PAUL. O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO. pulso para a existência; o homem não é mais que o que
3ª. ED. S. PAULO: NOVA CULTURAL, 1987.
ele faz. (…) Assim, o primeiro esforço do existencialismo
a) Se a essência do homem, para Sartre, é a liberdade, é o de por todo o homem no domínio do que ele é e de
então jamais o homem pode ser, em sua existência, lhe atribuir a total responsabilidade de sua existência.
condenado a ser livre, o que seria, na verdade, uma (…) Quando dizemos que o homem se escolhe a si, que-
contradição. remos dizer que cada um de nós se escolhe a si próprio;
b) A liberdade, em Sartre, determina a essência da mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-
natureza humana que, concebida por Deus, precede -se a si próprio, ele escolhe todos os homens. Com efeito,
necessariamente a sua existência. não há de nossos atos um sequer que, ao criar o homem
c) Para Sartre, a liberdade é a escolha incondicional, à que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma ima-
qual o homem, como existência já lançada no mundo, gem do homem como julgamos que deve ser”.
está condenado, e pela qual projeta o seu ser ou a SARTRE.
sua essência.
d) O Existencialismo é, para Sartre, um Humanismo, por- Considerando a concepção existencialista de Sartre e o
que a existência do homem depende da essência de sua texto acima, é incorreto afirmar que
natureza humana, que a precede e que é a liberdade. a) o homem é um projeto que se vive subjetivamente.

156
b) o homem é um ser totalmente responsável por sua A despeito de suas diversas configurações – liberal, so-
existência. cialista, radical, pós-moderna etc., são bandeiras comuns
c) por haver uma natureza humana determinada, no às diversas agendas feministas
homem a essência precede a existência. a) a luta contra a discriminação sexual no trabalho,
d) o homem é o que se lança para o futuro e que é o combate à violência de gênero e a elaboração de
consciente deste projetar-se no futuro. uma grande teoria capaz de aglutinar as mulheres e
e) em suas escolhas, o homem é responsável por si pró- unificá-las no bojo da categoria universal “mulher”.
prio e por todos os homens, porque, em seus atos, cria b) a luta contra as desigualdades assentadas sobre as
uma imagem do homem como julgamos que deve ser. diferenças sexuais dos sujeitos sociais; a igualdade de
oportunidades para mulheres e homens; o combate à
7. (UFSJ) “Subjetividade” e “intersubjetividade” são con- violência de gênero.
ceitos com os quais Sartre pontua o seu existencialismo. c) o combate à violência de gênero; a luta pela pre-
Nesse contexto, tais conceitos revelam que servação de guetos ocupacionais femininos e mascu-
a) o cogito cartesiano desabou sobre o existencialismo linos; a defesa de direitos sexuais e reprodutivos.
na mesma proporção com que a virtu socrática precipi- d) o combate à propriedade privada como mecanismo
tou-se sobre o materialismo dialético do século XX. de opressão de gênero; a defesa de direitos sexuais e
b) “Penso, logo existo” deve ser o ponto de partida reprodutivos; a luta contra a discriminação no trabalho.
de qualquer filosofia. Tal subjetividade faz com que o
Homem não seja visto como objeto, o que lhe confere
verdadeira dignidade. A descoberta de si mesmo o leva, Gabarito
necessariamente, à descoberta do outro, implicando
uma intersubjetividade. 1. C 2. C 3. C 4. B 5. D
c) o Homem é dado, é unidade, é união e é intersubjetivi- 6. C 7. B 8. C 9. B
dade; portanto, a sua existência é agregadora e desape-
gada da tão apregoada subjetividade clássica, por isso
mesmo tão crucial para Sartre.
d) não há um só lampejo de subjetividade que não tenha
se reinaugurado na intersubjetividade, isto é, na ideali-
dade que instrui as prerrogativas para se instalarem as
escolhas do sujeito, definindo-o.

8.(Enem) Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Ne-


nhum destino biológico, psíquico, econômico define a
forma que a fêmea humana assume no seio da socieda-
de; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado que qualifi-
cam o feminino.
BEAUVOIR, S. O SEGUNDO SEXO. RIO DE JANEIRO: NOVA FRONTEIRA, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beau-


voir contribuiu para estruturar um movimento social
que teve como marca o(a)
a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência
sexual.
b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla
jornada de trabalho.
c) organização de protestos públicos para garantir a
igualdade de gênero.
d) oposição de grupos religiosos para impedir os ca-
samentos homoafetivos.
e) estabelecimento de políticas governamentais para
promover ações afirmativas.

9. (Ufu) A sociedade contemporânea abriga inúmeros


e diversificados movimentos sociais, dentre eles, os
movimentos feministas que visam à transformação da
situação feminina e das relações entre mulheres e ho-
mens na sociedade, em diversos aspectos.

157
burguesa, que desse conta das questões suscitadas pelo ad-
AULA 23 vento do fascismo, no campo capitalista, e do stalinismo, no
campo socialista. Entre os temas presentes em suas análises,
destacam-se o autoritarismo, a origem da sociedade burgue-
sa, a indústria cultural, o processo de desumanização do
homem, entre outros.
ESCOLA DE FRANKFURT De um modo geral, essa escola pretende exercer um papel
de denúncia da realidade, e não apresenta uma pretensão
de fechar uma teoria ou criar um pensamento único. Seu ob-
jeto é, assim, muito mais o de suscitar um tema para a análi-
se conjunta, podendo ser reaberto a qualquer instante. Essa
proposta de inacabamento do assunto proposto se reflete na
maneira pela qual o Instituto desenvolve seus trabalhos, ou
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
seja, a forma de ensaios, artigos e resenhas.
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25
2. Horkheimer (1895-1973)
e Adorno (1903-1969)
1. Escola de Frankfurt

INSTITUTO DE PESQUISA SOCIAL DE FRANKFURT.

O Instituto de Pesquisa Social, denominado tardiamente RETRATO DE HORKHEIMER.


como Escola de Frankfurt, foi fundado em 1923 pelo eco-
nomista Carl Grunberg, com o intuito de integrar a questão
social no âmbito das reflexões acadêmicas, numa integra-
ção do pensamento de Karl Marx e do psicanalista
Sigmund Freud.
Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder alemão em
1933, o Instituto foi fechado na Alemanha, e os intelec-
tuais foram perseguidos. Devido as suas análises críticas
a respeito do autoritarismo nazista, a Escola de Frankfurt
teve de continuar seus estudos em outros países. Muitos RETRATO DE ADORNO
de seus colaboradores se refugiaram nos Estados Unidos e
Os filósofos Theodor W. Adorno e Max Horkheimer elabo-
na Inglaterra, só retornando em 1950, após o término da
raram a Dialética do Esclarecimento, publicada em 1947.
Segunda Guerra Mundial.
Essa obra sustenta a tese de que os conceitos de mito e
A proposta básica desse grupo era formular uma teoria crí- esclarecimento não traçam uma simples relação de oposi-
tica da sociedade vigente, uma análise crítica da sociedade ção, mas antes uma relação dialética, uma vez que o mito

158
já comporta algum elemento da racionalidade do escla- os amigos. Como se vê, todas as emoções estão à venda,
recimento, enquanto no esclarecimento ainda permanece mas duram pouco para que voltemos a comprar outras.
um conteúdo de irracionalidade mítica, que termina por
A filosofia dos frankfurtianos é conhecida como te-
encaminhá-lo à barbárie.
oria crítica, em oposição à teoria tradicional, representada
Trata-se de uma crítica à ilusão do racionalismo, fun- pelos filósofos desde Descartes e cujo racionalismo atingiu
dada no Iluminismo, que seguindo apenas atos racionais seu melhor momento no Iluminismo. O que eles criticam?
tendem a atos contra a humanidade. Isso representa uma Sendo leitores de Marx, Nietzsche, Freud e Heidegger, os
crítica da razão instrumental. De modo que a racionali- pensadores de Frankfurt sabem que não se adere à razão
dade mercadológica ilude o indivíduo, dando-lhe uma falsa inocentemente. Concluem que a razão, exaltada tradicional-
esperança de sucesso e uma falsa condição de liberdade de mente por ser "iluminada", também traz sombras em seu
escolhas, perante as poucas opções que temos. bojo, quando se torna instrumento de dominação.

2.2. Educação contra a barbárie


Adorno argumenta que, para evitar a barbárie, a socieda-
de precisa ser pautada numa educação humanizadora, que
condicione os seres humanos a serem emancipados e autô-
nomos. De modo que o passado não deve ser esquecido, é
preciso lembrar-se dele para que o horror não aconteça mais.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
A teoria crítica de Herbert Marcuse
| Franklin Leopoldo e Silva

2.1. A indústria cultural


Com a indústria cultural, nota-se que quase todas as merca-
multimídia: livro
dorias que estão à venda – música, dança, imagens, roupas
– trazem consigo a ideia de um estilo, que deve ser compra- Educação e Emancipação - Adorno, Theodor
do ou – se isso não for possível – imitado. W. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
Nesse livro, uma compilação de diversas conversas do
filósofo Theodor W. Adorno fez via rádio, comentando
sobre como a Educação precisava combater a barbárie.

3. Walter Benjamin (1892-1940)


multimídia: música O filósofo alemão Walter Benjamin discorre sobre a Arte,
que, mesmo num mundo materialista e de puro consumo,
FONTE: YOUTUBE contém ainda uma aura de singularidade. Dessa forma, a
Titãs - A melhor banda de todos os Arte precisa se desvincular do processo de reproduções que
tempos da última semana. visam apenas ao lucro e se direcionar para humanizar o ser
humano, mediante provocações que desencadeiem uma au-
Assim, além das artes, a religião e o esporte também vira- tonomia nesse indivíduo, ou seja, uma iluminação interna.
ram produtos. As pessoas deixam de praticar a religião e Benjamin afirma que o conhecimento é assegurado pelo
o esporte para assisti-los pela televisão. Para encontrar o despertar do homem, pela via da arte, em toda as suas ins-
sagrado, não é mais necessário estar juntos com os demais tâncias, na literatura, no cinema ou nas artes plásticas. Em
fiéis e fazer orações com eles, basta ligar a televisão ou o seu ensaio A obra de arte na era da reprodutibilidade técni-
rádio no horário marcado e será possível ter o sagrado em ca, Benjamin realiza uma reflexão sobre as mudanças esté-
domicílio. Com o esporte, é mais fácil comer pipoca à frente ticas da sociedade contemporânea. Enquanto Adorno vê a
da TV do que ir a um estádio, ou jogar aquela partida com indústria cultural de maneira negativa e alienante, Benjamin

159
constata que a industrialização e a modernidade criaram A diversão é o prolongamento do trabalho sob o ca-
alterações estéticas significativas para a produção artística. pitalismo tardio. Ela é procurada pelos que querem se
Se antes o contato estético com obras de arte era restrito e subtrair aos processos de trabalho mecanizados, para
que estejam de novo em condições de enfrentá-lo. Mas,
elitizante, a indústria cultural retira o caráter único das obras ao mesmo tempo, a mecanização adquiriu tanto poder
de arte (a aura da obra). Novas possibilidades estéticas são sobre o homem em seu tempo de lazer e sobre sua fe-
possíveis a partir das mudanças criadas na modernidade. licidade, determinada integralmente pela fabricação dos
produtos de divertimento, que ele apenas pode captar as
cópias e as reproduções do próprio processo de trabalho.
O pretenso conteúdo é só uma pálida fachada; aquilo
que se imprime é a sucessão automática de operações
reguladas. Do processo de trabalho na fábrica e no es-
critório só se pode fugir adequando-se a ele mesmo no
ócio. Disso sofre incuravelmente toda diversão. O prazer
congela-se no enfado, pois que, para permanecer prazer,
não deve exigir esforço algum, daí que deva caminhar
estreitamente no âmbito das associações habituais.
ADORNO, T; HOHKHEIMER, M.
A INDÚSTRIA CULTURAL – O ILUMINISMO COMO MISTIFICAÇÃO
DAS MASSAS. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 2009, PP.19

RETRATO DE WALTER BENJAMIN.

4. Herbert Marcuse (1898-1979) multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE
O filósofo alemão é o frankfurtiano que carrega mais proxi- A ESTÉTICA DO CINEMA POR WALTER
midade com Freud. No seu livro Eros e Civilização (1955), o BENJAMIN | Paulo Niccoli Ramirez
autor revisita as ideias da psicanálise, de modo a criticá-la
e relacioná-la a uma sociedade de classes que se entorpece
com a visão mercadológica.
Nesse livro, Marcuse apresenta que Eros, um deus rela-
cionado à beleza, assume um significado de instinto à
vida, sendo também uma luta contra os princípios de civi-
lização, as normas da sociedade vigente, que representa
o próprio capitalismo. Assim, viver é ir contra as nor-
mas de civilidade humana.

RETRATO DE MARCUSE.

160
DIAGRAMA DE IDEIAS

ESCOLA DE
FRANKFURT

TEORIA CRÍTICA PRIMEIRA GERAÇÃO


A INDÚSTRIA
CULTURAL
• ADORNO
• HORKHEIMER
ANALISE CRÍTICA • MARCUSE
DA SOCIEDADE • BENJAMIN
TUDO VIROU
DO SÉCULO XX
MERCADORIA

SENDO PRODUZIDO
EM MASSA

A PROPAGANDA
ENCANTA O
PRODUTO PARA
SER VENDIDO

ADORNO: A INDÚSTRIA
CULTURAL PRODUZ ALIENAÇÃO.
BENJAMIN: A OBRA DE
ARTE PERDEU SUA AURA.

161
b) A música representa um domínio particular, quase
Aplicando para autônomo, das produções sociais, pois se baseia no
livre jogo da imaginação, o que impossibilita estabe-
Aprender (A.P.A.) lecer um vínculo entre arte e sociedade.
1. (UEL 2020) Leia o texto e analise a imagem a seguir. c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade
de manifestar criticamente conteúdos racionais ex-
pressos no modo típico do comportamento percep-
tivo inato às massas.
d) A tensão resultante da concentração requerida
para a apreciação da música é uma exigência ex-
tramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente
mais próxima da desconcentração.
e) Audição concentrada significa a capacidade de
apreender e de repetir os elementos que constituem
a música, sendo a facilidade da repetição o que con-
cede poder crítico à música.
Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, com-
3. (Ufma)
posta de elementos espaciais e temporais: a aparição
única de uma coisa distante, por mais perto que esteja. "A rua era das mais animadas da cidade; por todo o
Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia dia estivera cheia de gente. Mas agora, ao anoitecer, a
de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta multidão crescia de um minuto para outro; e quando se
sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas acenderam os lampiões de gás, duas densas, compactas
montanhas, desse galho. correntes de transeuntes cruzavam diante do café. Ja-
mais me sentira num estado de ânimo como o daquela
BENJAMIN, W. OBRAS ESCOLHIDAS. MAGIA E TÉCNICA, ARTE
E POLÍTICA. SÃO PAULO: BRASILIENSE, 1996, P. 170.
tarde; e saboreei a nova emoção que de mim se apossa-
ra ante o oceano daquelas cabeças em movimento. Pou-
Walter Benjamin, integrante da Escola de Frankfurt, no co a pouco perdi de vista o que acontecia no ambiente
texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade em que me encontrava e abandonei-me completamente
técnica, desenvolve o conceito de “aura”, fundamental à contemplação da cena externa."
para sua compreensão da obra de arte. (WALTER BENJAMIN – SOBRE ALGUNS TEMAS EM BAUDELAIRE)
Com base na interpretação do texto e da imagem refe-
rente ao quadro decorativo de Marilyn Monroe, expli- O texto nos leva a uma compreensão de estética como:
que o conceito de aura e as consequências da reprodu- a) uma concepção de que o belo não está em uma
tibilidade técnica. forma definida, mas na plasticidade do cotidiano.
b) um estudo do caos humano representado pela
2. (UEL) Leia o texto a seguir. O modo de comportamen- multidão e suas relações econômicas.
to perceptivo, através do qual se prepara o esquecer e o
c) estabelecimento de um padrão de beleza para a
rápido recordar da música de massas, é a desconcentra-
obra de arte.
ção. Se os produtos normalizados e irremediavelmente
semelhantes entre si, exceto certas particularidades d) técnica de reprodução da obra de arte em massa.
surpreendentes, não permitem uma audição concen- e) imitação do mundo sensível.
trada, sem se tornarem insuportáveis para os ouvintes, 4. (UEL) Analise as imagens a seguir.
estes, por sua vez, já não são absolutamente capazes
de uma audição concentrada. Não conseguem manter a
tensão de uma concentração atenta, e por isso se entre-
gam resignadamente àquilo que acontece e flui acima
deles, e com o qual fazem amizade somente porque já o
ouvem sem atenção excessiva.
ADORNO, T. W. O FETICHISMO NA MÚSICA E A REGRESSÃO DA
AUDIÇÃO. IN: ADORNO ET ALL. TEXTOS ESCOLHIDOS. SÃO PAULO:
ABRIL CULTURAL, 1978, P.190 (COLEÇÃO OS PENSADORES.)

As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memo-


rização e com forte apelo à cultura de massa. A respeito
do tema da regressão da audição na Indústria Cultural As imagens I e II representam duas formas artísticas
e da relação entre arte e sociedade em Adorno, assinale de um fenômeno que provocou mudanças significati-
a alternativa correta: vas na arte, sobretudo a partir do século XX: a repro-
a) A impossibilidade de uma audição concentrada e dutibilidade técnica.
de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de Com base nas imagens e nos conhecimentos sobre a
que a música tornou-se um produto de consumo, en- reprodutibilidade técnica em Walter Benjamin, é cor-
cobrindo seu poder crítico. reto afirmar:

162
a) A reprodução das obras de arte começa no final uma audição concentrada, sem se tornarem insuportá-
do século XIX com o surgimento da fotografia e do veis para os ouvintes, estes, por sua vez, já não são ab-
cinema, pois até então as obras não eram copiadas, solutamente capazes de uma audição concentrada. Não
por motivos religiosos e místicos. conseguem manter a tensão de uma concentração aten-
b) Na passagem do período burguês para a sociedade ta, e por isso se entregam resignadamente àquilo que
de massas, o declínio da aura que ocorre na arte pode acontece e flui acima deles, e com o qual fazem amizade
ser creditado a fatores sociais, como o desejo de ter somente porque já o ouvem sem atenção excessiva.
as coisas mais próximas e superar aquilo que é único.
(ADORNO, T. W. O FETICHISMO NA MÚSICA E A REGRESSÃO DA
c) A perda da aura retira da arte o seu papel crítico no AUDIÇÃO. IN: ADORNO ET ALL. TEXTOS ESCOLHIDOS. SÃO PAULO:
interior da sociedade de consumo, isto ocorre porque ABRIL CULTURAL, 1978, P.190. COLEÇÃO OS PENSADORES.)
a reprodutibilidade técnica destrói a possibilidade de
exposição das obras. As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memo-
d) Desde o período medieval, o valor de exposição rização e com forte apelo à cultura de massa.
das obras de arte é fator preponderante, visto que A respeito do tema da regressão da audição na Indús-
o desempenho de sua função religiosa exigia que a tria Cultural e da relação entre arte e sociedade em
arte aparecesse de forma bem visível aos espectado- Adorno, assinale a alternativa correta.
res que a cultuavam.
a) A impossibilidade de uma audição concentrada e
e) O cinema desempenha um importante papel políti- de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de
co de conscientização dos espectadores, uma vez que que a música tornou-se um produto de consumo, en-
seu caráter expositivo tornou-se cultual ao recuperar cobrindo seu poder crítico.
a dimensão aurática.
b) A música representa um domínio particular, quase
5. (UEL) autônomo, das produções sociais, pois se baseia no li-
vre jogo da imaginação, o que impossibilita estabelecer
"Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, com- um vínculo entre arte e sociedade.
posta de elementos espaciais e temporais: a aparição úni- c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade
ca de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. de manifestar criticamente conteúdos racionais ex-
Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia pressos no modo típico do comportamento percep-
de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta tivo inato às massas.
sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas d) A tensão resultante da concentração requerida para
montanhas, desse galho. Graças a essa definição, é fácil a apreciação da música é uma exigência extramusical,
identificar os fatores sociais específicos que condicionam pois nossa sensibilidade é naturalmente mais próxima
o declínio atual da aura. Ele deriva de duas circunstâncias, da desconcentração.
estreitamente ligadas à crescente difusão e intensida- e) Audição concentrada significa a capacidade de apre-
de dos movimentos de massas. Fazer as coisas ‘ficarem ender e de repetir os elementos que constituem a músi-
mais próximas’ é uma preocupação tão apaixonada das ca, sendo a facilidade da repetição o que concede poder
massas modernas como sua tendência a superar o caráter crítico à música.
único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade".
7. (UEL) Leia o texto a seguir.
FONTE: BENJAMIN, W. “A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA REPRODUTIBILIDADE
TÉCNICA”. IN: MAGIA E TÉCNICA, ARTE E POLÍTICA. OBRAS ESCOLHIDAS. TRADUÇÃO Francis Bacon, em sua obra Nova Atlântida, imagina uma
DE SÉRGIO PAULO ROUANET. SÃO PAULO: BRASILIENSE, 1985, P. 170. utopia tecnocrática na qual o sofrimento humano pode-
ria ser removido pelo desenvolvimento e pelo aperfei-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre Benja- çoamento do conhecimento científico, o qual permitiria
min, assinale a alternativa correta: uma crescente dominação da natureza e um suposto
a) Ao passar do campo religioso ao estético, a obra de afastamento do mito. Na obra Dialética do Esclarecimen-
arte perdeu sua aura. to, Adorno e Horkheimer defendem que o projeto ilumi-
b) Ao se tornarem autônomas, as obras de arte perde- nista de afastamento do mito foi convertido, ele próprio,
ram sua qualidade aurática. em mito, caindo no dogmatismo e em numa forma de
c) O declínio da aura decorre do desejo de diminuir mitologia. O progresso técnico-científico consiste, para
a distância e a transcendência dos objetos artísticos. Adorno e Horkeheimer, no avanço crescente da raciona-
lidade instrumental, a qual é incapaz de frear iniciativas
d) O valor de culto de uma obra de arte suscita a
que afrontam a moral, como foram, por exemplo, os cam-
reprodutibilidade técnica.
pos de concentração nazistas.
e) O declínio da aura não tem relação com as trans-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o desen-
formações contemporâneas.
volvimento técnico-científico, é correto afirmar:
6. (UEL) Leia o texto a seguir. a) Bacon pensava que o incremento da racionalida-
O modo de comportamento perceptivo, através do qual de instrumental aliviaria as causas do sofrimento
se prepara o esquecer e o rápido recordar da música de humano, apesar de a razão, a longo prazo, sucumbir
massas, é a desconcentração. Se os produtos normaliza- novamente ao mito.
dos e irremediavelmente semelhantes entre si, exceto b) Adorno e Horkheimer concordavam que o progresso
certas particularidades surpreendentes, não permitem científico não consegue superar o mito, mas se torna

163
um tipo de concepção mítica incapaz de discriminar o veu tal noção e, com ela, a dimensão critica da arte.
que é certo do que é errado moralmente. Para Benjamin, a perda da aura destruiu a unicidade e a
c) Adorno e Horkheimer sustentavam que o crescente singularidade da obra de arte, que perde o seu valor de
avanço da racionalidade instrumental consistia num in- culto e se torna acessível.
cremento da capacidade humana de avaliar moralmente. IV. Adorno vê positivamente a reprodutibilidade da arte,
d) Bacon apontava que o aumento da capacidade de já que a obra de arte se transforma em mercadoria pa-
domínio do homem sobre a natureza conduziria os dronizada que possibilita a todos o acesso e o desenvol-
seres humanos a uma forma de dogmatismo. vimento do gosto estético autônomo; para Benjamin, a
e) Tanto Adorno e Horkheimer quanto Bacon viam o pro- reprodução tem como dimensão negativa essencial o
gresso técnico e científico como a solução para os sofri- fato de impossibilitar às massas o acesso às obras.
mentos humanos e para as incertezas morais humanas. Assinale a alternativa correta.

8. (UEL) Leia o texto de Adorno a seguir. a) Somente as afirmativas I e II são corretas.


b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
Se as duas esferas da música se movem na unidade da
sua contradição recíproca, a linha de demarcação que c) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
as separa é variável. A produção musical avançada se d) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
independentizou do consumo. O resto da música séria e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
é submetido à lei do consumo, pelo preço de seu con-
10. (Ufpa) Desde Platão se discute a função sociocultu-
teúdo. Ouve-se tal música séria como se consome uma
ral da arte, o que confere à sua autonomia uma certa
mercadoria adquirida no mercado. Carecem totalmente
relatividade. Recentemente, com a Escola de Frankfurt,
de significado real as distinções entre a audição da mú-
cunhou-se para a determinação social da arte termos
sica "clássica" oficial e da música ligeira.
como “indústria cultural” e “cultura de massa”, porque,
(ADORNO, T. W. O FETICHISMO NA MÚSICA E A REGRESSÃO como diz Theodor Adorno, no regime econômico capita-
DA AUDIÇÃO. IN: BENJAMIN, W. ET ALL. TEXTOS ESCOLHIDOS. lista sacrifica-se “o que fazia a diferença entre a lógica
2. ED. SÃO PAULO: ABRIL CULTURAL, 1987. P. 84.) da obra [de arte] e a do sistema social.” Com relação à
interpretação de Adorno sobre a função social da arte no
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa-
regime capitalista, considere as afirmativas abaixo:
mento de Adorno, é correto afirmar:
I. Na sociedade capitalista, o desenvolvimento técnico-
a) A música séria e a música ligeira são essencialmente -industrial conduziu à padronização do gosto em bene-
críticas à sociedade de consumo e à indústria cultural. ficio do mercado.
b) Ao se tornarem autônomas e independentes do con-
II. Não há gozo da arte, na sociedade liberal, se a cria-
sumo, a música séria e a música ligeira passam a real-
ção for massificada.
çar o seu valor de uso em detrimento do valor de troca.
c) A indústria cultural acabou preparando a sua pró- III. Ao sacrificar a lógica da obra às determinações do
pria autorreflexividade ao transformar a música ligei- sistema, o artista está garantindo não só seu lucro
ra e a séria em mercadorias. como a própria sobrevivência da arte, já que a nossa
d) Tanto a música séria quanto a ligeira foram transforma- economia é capitalista.
das em mercadoria com o avanço da produção industrial. IV. Com a indústria cultural, ocorre a perda completa da
e) As esferas da música séria e da ligeira são separa- ideia de autonomia da arte.
das e nada possuem em comum. V. Adorno não concorda com Platão quanto à ideia de
que a experiência estética, como acontece hoje em dia,
9. (UEL) Com base no pensamento estético de Adorno e
necessita de um nexo funcional para cumprir seu papel
Benjamin, considere as afirmativas a seguir.
na vida social e política do homem.
I. Apesar de terem o mesmo ponto de partida, a saber,
Estão corretas as afirmativas:
a análise crítica das técnicas de reprodução, Adorno e
Benjamin chegam a conclusões distintas. Adorno enten- a) I e II
de que a reprodutibilidade das obras de arte é algo ne- b) II e V
gativo, pois transforma esta última em mercadoria; para c) I e IV
Benjamin, apesar de a reprodutibilidade ter aspectos d) II, III, V
negativos, uma forma de arte como o cinema pode ser e) I, III, IV e V
usada potencialmente em favor da classe operária.
II. Para Adorno, o discurso revolucionário na arte torna 11. (ENEM)
esta forma de expressão humana instrumentalista, e isto Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória
significa abolir a própria arte. Por seu turno, Benjamin da democracia de pioneiros e empresários, que tampou-
considerava que os novos meios de comunicação não de- co desenvolverá uma fineza de sentido para os desvios
veriam ser substituídos, mas sim transformados ou sub- espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir
vertidos segundo os interesses da comunicação burguesa. do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da
III. Para Adorno, a noção de aura na obra de arte pre- religião, são livres para entrar em qualquer uma das inú-
servava a consciência de que a realidade poderia ser meras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia,
melhor, mas o processo de massificação da arte dissol- que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em

164
todos os setores como a liberdade de escolher o que é
sempre a mesma coisa.
ADORNO, T; HORKHEIMER, M. DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO:
FRAGMENTOS FILOSÓFICOS. RIO DE JANEIRO; ZAHAR, 1985

A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acor-


do com a análise do texto, é um(a):
a) legado social.
b) patrimônio político.
c) produto da moralidade.
d) conquista da humanidade.
e) ilusão da contemporaneidade

Gabarito
1. Em seu texto A obra de arte na era de sua reprodutibili-
dade técnica, Walter Benjamin procura demonstrar que, na
obra de arte, o que atrofia com a reprodutibilidade técnica
é a aura. A aura é aquilo que é dado apenas uma vez, ou
seja, como está demonstrado na passagem do texto, o que
configura a aura é sua singularidade, que se materializa na
espacialidade e na temporalidade. Uma obra é única, assim
como o é um pôr do sol ou a sombra ou a percepção de
uma cadeia de montanhas. Esse caráter único da obra, isto
é, sua identidade, é o que se perde com a reprodução em
série de um quadro vendido em lojas de departamentos. O
declínio da aura ocorre, segundo Benjamin, em razão do
desejo das massas de terem próximo aquilo que deveria
ser único. O que se quer é ter uma cópia reproduzida para
estar em todos os ambientes. Portanto, a reprodutibilidade
acaba com aquilo que é único. Ao longo da história, as
obras sempre foram reproduzidas, porém não da forma e
com as consequências como na era da reprodutibilidade
técnica. A cópia produzida em série e vendida na loja com
milhares de exemplares idênticos afeta o “aqui e agora”,
que é único na obra e que constitui a sua história. Ou seja,
cada obra é única e sua autenticidade não se deixa repro-
duzir nas cópias colocadas à venda na loja ou na Internet,
sem história, sem tempo, sem saber quem foram seus pro-
prietários. Em suma, sem autenticidade.

2. A 3. A 4. B 5. C 6. A
7. B 8. D 9. B 10. C 11. E

165
Sendo uma observadora do movimento nacionalista que
AULA 24 percorrerá a Europa, Arendt vivenciará as transformações
ocorridas na sociedade europeia, com o aumento da into-
lerância religiosa, o autoritarismo e a xenofobia. Esse pe-
ríodo histórico influenciará definitivamente a sua filosofia.

HANNAH ARENDT

multimídia: vídeo
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
FONTE: YOUTUBE

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, Hannah Arendt


HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, O professor Franklin Leopoldo e Silva apresenta a pro-
22, 23, 24 e 25 blemática apresentada pela filósofa Hannah Arendt.

Um dos principais temas analisados por Arendt foi o Tota-


1. Hannah Arendt (1906-1975) litarismo. O século XX apresentou novas formas de autori-
tarismo e sua manifestação mais extrema: o nazismo. Nos
regimes totalitários, a individualidade é suprimida pelo go-
verno autoritário, que controla a vida pública e a vida par-
ticular das pessoas. Em sua obra Origens do Totalitarismo,
Arendt sugere paralelismos totalitários entre os regimes
da Alemanha Nazista e da União Soviética Stalinista. Essa
aproximação proposta pela autora ainda mantém muitos
debates a respeito da categoria totalitarismo.

RETRATO DE HANNAH ARENDT multimídia: vídeo


A filósofa alemã de origem judia é uma das raras vozes FONTE: YOUTUBE
femininas no cenário da filosofia política. Iniciou muito jo- Para refletir sobre Hannah Arendt
vem os estudos, tendo contato com os filósofos clássicos, Um breve resumo do pensamento da filósofa alemã
como Kant, Rousseau e Marx. Sua educação foi pautada Hannah Arendt.
pelas boas condições financeiras da sua família. Foi expulsa
de uma instituição de ensino por liderar um boicote a um
professor que havia a insultado. Preparou-se sozinha para 1.1. A banalidade do mal
entrar na universidade.
Hannah Arendt trata da questão do horror na sociedade,
Adentra na Universidade de Berlim em 1924. Transfe- consolidada como uma mera repetição do homem. Essa per-
re-se para a Universidade de Marburg, onde conhece o da da consciência do indivíduo perante o seu semelhante
professor Martin Heidegger, que orientará seus estudos. propicia a esse ser uma prática do mal sem reflexão. Assim,
Os dois mantiveram um relacionamento, que foi dura- a filósofa argumenta que o mal está enraizado em quem
mente criticado devido ao apoio de Heidegger ao Partido o pratica, gerando uma não identificação com o próximo e,
Nazista e, consequentemente, ao antissemitismo. consequentemente, uma mera ação sem juízo.

166
Esse conceito de banalidade do mal está inserido na obra finalmente, exterminar os judeus. O horror do mundo
Eichmann em Jerusalém, em que Arendt analisa o julgamen- diante do resultado derradeiro, e, mais ainda, diante do
to do oficial nazista Adolf Eichmann, militar responsável por seu efeito, constituído pelos sobreviventes sem lar e sem
raízes, deu à "questão judaica" a proeminência que ela
organizar a logística do transporte de judeus para os campos passou a ocupar na vida política diária. O que os nazistas
de concentração. Em sua defesa, o oficial afirmou que fez só apresentaram como sua principal descoberta – o papel
por cumprir ordens e fazer o seu trabalho, e não por odiar dos judeus na política mundial – e o que propagavam
os judeus. Nesse caso, Arendt analisa que a falta de uma como principal alvo – a perseguição dos judeus no mun-
reflexão nas suas próprias ações faz o homem agir do inteiro – foi considerado pela opinião pública mero
sem consciência e tende a criar e reproduzir o mal, pretexto, interessante truque demagógico para conquis-
tar as massas.
ou seja, o próprio horror, como uma mera engrenagem me-
cânica, banalizando o mal nas ações cotidianas. É bem compreensível que não se tenha levado a sério o
que os próprios nazistas diziam. Provavelmente não existe
Diante disso, o mal banal fica caracterizado como a ausên- aspecto da história contemporânea mais irritante e mais
cia do pensamento, desencadeando a privação de respon- mistificador do que o fato de, entre tantas questões políti-
sabilidade. Com isso, é possível a compreensão da violên- cas vitais, ter cabido ao problema judaico, aparentemente
cia nas sociedades contemporâneas, que atinge grupos e insignificante e sem importância, a duvidosa honra de pôr
em movimento toda uma máquina infernal.
indivíduos nessa sociedade. Um processo de violência que
ARENDT, HANNAH.
aumenta significativamente nos últimos tempos.
ORIGENS DO TOTALITARISMO. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 2012, P.25

multimídia: livro

Entre o passado e o futuro - Hannah


Arendt. São Paulo: Perspectiva, 2011.
Nesse livro, a filósofa ilumina a reflexão política do século
XX, com inquietações sobre a memória e as ações huma-
nas no cotidiano.

Arendt apresenta em sua obra A Condição Humana três


atividades humanas fundamentais: o labor, o trabalho e a
ação. São atividades humanas que apresentam condições
da vida na Terra. O labor, atividade fundamental para a
vida, seria o processo biológico de sobrevivência do cor-
po, a própria vida. O trabalho (obra) corresponde à ação
humana de transformação da natureza, a artificialidade da
vida humana que não se confunde com o labor (biológi-
co e necessário). A ação é a atividade realizada entre os
homens em seu convívio, em sua pluralidade social. É no
campo da ação que se verifica a expressão máxima da vida
política, da vida pública. O mundo no qual se realiza a vita
activa, entre a vida e morte do ser humano, é o mundo das
atividades humanas, de sua sobrevivência, de sua criativi-
dade, de suas instituições e de sua história.
Muitos ainda julgam que a ideologia nazista girou em
torno do antissemitismo por acaso, e que desse acaso
nasceu a política que inflexivelmente visou perseguir e,

167
DIAGRAMA DE IDEIAS

HANNA ARENDT

BANALIDADE DO MAL REGIMES


VITA ACTIVA TOTALITÁRIOS

PERDA DA BUROCRATIZAÇÃO
CONSCIÊNCIA: LABOR, TRABALHO DA VIDA E
AUSÊNCIA DO (OBRA) E AÇÃO RACIONALIZAÇÃO
PENSAMENTO DA VIOLÊNCIA
CRÍTICO

OS ATOS REPETIDOS A VIOLÊNCIA


SEM PENSAR NOS INSTRUMENTALIZADA
OUTROS NA POLÍTICA
TOTALITÁRIA

OS REGIMES
TOTALITÁRIOS
VISAM AO
CONTROLE DA
VIDA PÚBLICA E
PARTICULAR DOS
CIDADÃOS

168
mente diferente de outras formas de opressão política
Aplicando para conhecidas, como o despotismo, a tirania e a ditadura.
Considerando as características e as expressões histó-
Aprender (A.P.A.) ricas do totalitarismo no século XX, assinale a afirma-
1. (SEDUC-RJ) Durante o século XX, a filósofa Hannah tiva incorreta:
Arendt afirmou que existe uma antiga resposta para a a) O totalitarismo procura reforçar a distinção entre
pergunta sobre o sentido da política tão simples e con- esfera pública e esfera privada.
cludente, que poderia dispensar outras respostas por b) Nazismo e stalinismo são dois exemplos históricos
completo. De acordo com o que explana Hannah Arendt de regimes totalitários.
em O que é política?, esse sentido da política é: c) A propaganda é um meio importante para a difu-
a) o poder são da ideologia oficial nos governos totalitários.
b) a administração d) terror é um princípio fundamental da ação política
c) a liberdade totalitária.
d) a igualdade
5. (Copasa) Um tema contemporâneo que faz parte das
e) o bem nossas reflexões é a cidade como espaço cívico. Segun-
2. (SEDUC-RJ) Hannah Arendt, em “A Condição Humana”, do Otília Arantes (1993), a principal inspiração de reva-
aponta que os modos pelos quais os seres humanos se lorização da vida pública vem de Hannah Arendt que
manifestam uns aos outros, não como meros objetos físi- foi buscar na polis grega o modelo a partir do qual é
cos, mas enquanto homens, são: possível julgar as transformações modernas da esfera
pública. A transição do antigo para o moderno desfez
a) arte e linguagem essa distribuição harmoniosa das funções sociais, alar-
b) ação e discurso gando indefinidamente o território privado conforme
c) liberdade e expressão se implantava a propriedade burguesa. Essa prática
d) trabalho e discurso não só debilitou como propiciou o declínio do caráter
e) ação e liberdade público da liberdade.
Assinale a alternativa que apresenta a definição correta
3. (SEDF) que Hannah Arendt dá para o "privado":
A pluralidade humana, condição básica da ação e do
a) É o cerceamento da coletividade, absoluto e restrito.
discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e da dife-
b) É o direito de usar, gozar e dispor de uma coisa,
rença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapa-
a princípio de modo absoluto, exclusivo e perpétuo.
zes de compreender-se entre si e aos seus ancestrais, ou
de fazer planos para o futuro e prever as necessidades c) É o que não aparece, é o reino do obscuro, do irre-
das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se levante, da mais aguda limitação.
cada humano não diferisse de todos os que existiram, d) É o que permanece em função de poucos, totalitário.
existem ou virão a existir, os homens não precisariam
6. Hannah Arendt foi o pensamento de enfrentamento
do discurso ou da ação para se fazerem entender.
aos regimes totalitarista no século XX. De maneira que
HANNAH ARENDT. A CONDIÇÃO HUMANA. RIO DE JANEIRO: esses regimes desencadeiam um (a):
FORENSE UNIVERSITÁRIA, 2003, P. 188 (ADAPTADO)
a) falta de humanidade entre os seres, feita pelo con-
Considerando o que diz Hannah Arendt nesse texto, as- tato constante em sociedade.
sim como a filosofia política contemporânea, as afirma- b) direcionamento ao crescimento da consciência co-
ções estão corretas, exceto a: letiva, para ordenação social.
a) Nas sociedades democráticas, o papel do Estado c) participação coletiva nas escolhas dos governantes,
é extinguir os conflitos para construir uma sociedade na preservação da sociedade.
igualitária. d) perigo devido ao isolamento dos seres humanos,
b) No mundo contemporâneo, o trabalho, se não aten- numa sociedade massificada.
de aos esquemas de exploração, rompe com os deter- e) mal para a sociedade, devido as atitudes e ações
minismos que podem ser visualizados nas leis naturais. democráticas na sociedade.
c) O neoliberalismo, em sua estrutura, guia-se pelas
7. “Nada caracteriza melhor os movimentos tota-
regras do livre mercado, pelo estado minimalista e
pela abolição de reservas de mercado. litários em geral — e principalmente a fama de que
desfrutam os seus líderes — do que a surpreendente
d) Em uma perspectiva ideológica, o liberalismo en-
facilidade com que são substituídos. Stálin conseguiu
tende a democracia como regime político que se uti-
legitimar-se como herdeiro político de Lênin à custa de
liza da lei e da ordem para garantir os interesses e as
amargas lutas intrapartidárias e de vastas concessões
liberdades individuais.
à memória do antecessor. Já os sucessores de Stálin
4. (Politec-MT) De acordo com a filósofa Hannah Aren- procuraram substituí-lo sem tais condescendências,
dt, o totalitarismo é uma forma de governo essencial- embora ele houvesse permanecido no poder por trin-

169
ta anos e dispusesse de uma máquina de propaganda, 9.
desconhecida ao tempo de Lênin, para imortalizar o
seu nome. O mesmo se aplica a Hitler, que durante toda
a vida exerceu um fascínio que supostamente cativava
a todos, e que, depois de derrotado e morto, está hoje
tão completamente.”
ARENDT, H. ORIGENS DO TOTALITARISMO (ADAPTADO)

Nesse trecho podemos perceber o pensamento de Han-


nah Arendt que remete a uma:
a) explicação dos regimes que se fundamentam em
uma ideologia, no terror e na mobilização das massas.
b) crítica aos regimes opressores existentes nas socie-
dades europeias.
c) reflexão sobre a banalidade dos horrores que o ho-
mem faz perante o próprio homem.
d) análise perante os horrores da Segunda Guerra
Mundial, se limitando a tratar das sensações humanas.
e) orientação para as futuras gerações das consequ-
ências desses regimes para a sociedade europeia. Conforme a definição de banalidade do mal, segundo
Hannah Arendt, o comportamento apontado na ima-
8. (UEL) gem acima é causado principalmente pela:

"O que era sem precedentes não era a perda do lar, a) não compreensão da dignidade do outro envolvido
mas a impossibilidade de encontrar um novo lar. De sú- na situação representada.
bito revelou-se não existir lugar algum na terra aonde b) incapacidade de se colocar no lugar do outro para
os emigrantes pudessem se dirigir sem as mais severas entender suas razões.
restrições, nenhum país ao qual pudessem ser assimi- c) descrença no Estado como apaziguador de proble-
lados, nenhum território em que pudessem fundar uma mas de convivência.
nova comunidade própria [...] A calamidade dos que d) falta de reflexão crítica na tomada de decisão de
não têm direitos não decorre do fato de terem sido punir o criminoso
privados da vida, da liberdade ou da procura da felici- e) ausência do senso de coletividade na solução do
dade, nem da igualdade perante a lei ou da liberdade problema da violência.
de opinião – fórmulas que se destinavam a resolver
10. Hannah Arendt reflete a respeito de três ativida-
problemas dentro de certas comunidades – mas do
des humanas que são vinculadas a três formas de vida
fato de já não pertencerem a qualquer comunidade
humana. Tal relação esquemática é central na filosofia
[...] A privação fundamental dos direitos humanos ma-
daquela pensadora e em sua crítica da sociedade con-
nifesta-se, primeiro e acima de tudo, na privação de um
temporânea. Assinale a alternativa que relaciona, corre-
lugar no mundo que torne a opinião significativa e a
tamente, aqueles modos de vida e atividades humanas.
ação eficaz. Algo mais fundamental do que a liberdade
e a justiça, que são os direitos do cidadão, está em jogo a) Ser político - trabalho; homo faber - fabricação;
quando deixa de ser natural que um homem pertença animal laborans - ação.
à comunidade em que nasceu." b) Ser político - ação; homo faber - trabalho; animal
laborans - fabricação.
ARENDT, HANNAH. ORIGENS DO TOTALITARISMO: ANTI-
SEMITISMO, IMPERIALISMO, TOTALITARISMO. SÃO PAULO: c) Ser racional - ação; homo economicus - trabalho;
COMPANHIA DAS LETRAS, 1989. P. 227, 229, 230 homo ludens - diversão.
d) Ser político - ação; homo faber - fabricação ; ani-
Com base no texto, é correto afirmar: mal laborans - trabalho.
a) Obter o reconhecimento por uma comunidade é e) Ser racional - contemplação; homo economicus -
condição básica para o gozo de direitos. ação; homo laborans - trabalho.
b) A condição em que se encontra o apátrida é igual
11. (UFMG)
à condição de escravo.
Leia este trecho: Eu quero dizer que o mal [...] não tem
c) Ser privado da vida é menos importante que ser
profundidade, e que por esta mesma razão é tão terri-
privado da liberdade.
velmente difícil pensarmos sobre ele [...] O mal é um
d) Ao apátrida é garantida ressonância às suas opini- fenômeno superficial [...] Nós resistimos ao mal em não
ões mais significativas. nos deixando ser levados pela superfície das coisas, em
e) Ser um apátrida é ser reconhecido como um indiví- parando e começando a pensar, ou seja, em alcançando
duo com direitos fora de seu país de origem. uma outra dimensão que não o horizonte de cada dia.

170
Em outras palavras, quanto mais superficial alguém for,
mais provável será que ele ceda ao mal.
ARENDT, H. CARTA A GRAFTON, APUD ASSY, B. EICHMANN,
BANALIDADE DO MAL E PENSAMENTO EM HANNAH ARENDT. IN: JARDIM,
E.; BIGNOTTO, N. (ORG.). HANNAH ARENDT, DIÁLOGOS, REFLEXÕES,
MEMÓRIAS. BELO HORIZONTE: EDITORA UFMG, 2001. P. 145.

A partir da leitura desse trecho, REDIJA um texto, argu-


mentando a favor de ou contra esta afirmativa:
Para se prevenir o mal, é preciso reflexão.

Gabarito
1. C 2. B 3. A 4. A 5. C
6. D 7. A 8. A 9. D 10. D
11. (UFMG) A resposta pode ser tanto positiva como ne-
gativa. De modo que se o argumento for a favor: O mal
é uma ação impulsiva própria de animais irracionais que
agem e reagem sem a mediação da inteligência. O que tor-
na o homem um ser humano é a sua capacidade de pensar
antes de agir, portanto, diante de uma situação adversa
é necessário refletir e, a partir desta reflexão, agir ponde-
radamente calculando as consequências e medindo todos
os passos para não se correr o risco de cometer alguma
maldade. Como disse Eurípedes, "A razão pode lutar corpo
a corpo com os terrores, e derrubá-los." E Caso o argu-
mento for contra: O mal não é uma intenção ou reflexão
racional, ele é uma ação efetiva que se dá entre os homens
no trato de suas relações. Contra ele, é necessário agir com
virtude moral praticando efetivamente a justiça, tomando
atitudes corajosas, decidindo com prudência no sentido de
restabelecer ou estabelecer uma ordem que permita a con-
vivência pacífica entre os homens. Todo avanço científico e
tecnológico, frutos do pensamento e da razão, já se mos-
traram produtores de guerras e ferramentas destruidoras
nas mãos de interesses escusos. Por isso, pensar, refletir,
contemplar boas ideias não extirparão o mal.

171
A crítica de Habermas se faz diante ao direcionamento pro-
AULA 25 posto por Adorno e Horkheimer, que orienta a um irraciona-
lismo industrial, por induzir a uma alienação em todos os
âmbitos na cultura humana, que só condiciona a uma prá-
tica repetitiva. Entretanto, segundo Habermas, seguir essa
ideia pode levar a se constituir uma sociedade vazia, sem
nenhuma perspectiva futura. Como se a vida estivesse fada-
HABERMAS da a um determinismo alienante, de modo a limitar a razão
humana, reduzindo a uma perversidade utilitarista.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20,
22, 23, 24 e 25
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Teoria do Discurso em Habermas

1. Jürgen Habermas (1929)


O filósofo alemão Habermas pertence à Segunda Geração Para o filósofo alemão, Adorno e Horkheimer confundiram
da Escola de Frankfurt. Com uma participação ativa no um tipo particular de racionalização com a própria razão.
campo acadêmico, Habermas também teve intensa parti- Pois a razão possui uma função comunicativa. Isso
cipação nos movimentos sociais de sua época. representa que, dentro do processo da Indústria Cultural,
não se restringe somente ao plano da dominação, mas
também ao processo da comunicação, que não contém
necessariamente um viés ideológico.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE

RETRATO DE HABERMAS.
Para entender o mundo contemporâneo: Habermas
O doutor Luís Mauro Sá Martinho comenta sobre o
Habermas demonstra articulações inovadoras em diversas
pensamento de Habermas.
teorias, como o campo do direito, da moral e da educação.

1.1. A crítica à Escola de Frankfurt A estrutura da linguagem cotidiana possui na sua essência
uma exigência racional, sendo a linguagem uma forma de
O filósofo alemão discordou de diversos pontos da Teoria Crí- ação coletiva, pois existe uma compartilhamento objetivo
tica, principalmente de Adorno e de Horkheimer, como o uso e subjetivo no campo social.
da razão, a cultura e a democracia. Porém, o que mais lhe in-
comodou foi o pessimismo contido na primeira geração frank-
furtiana, por salientar que a lógica capitalista entranhou toda 1.2. Teoria da Ação Comunicativa
a produção humana, caracterizando todos os elementos em A ação comunicativa é o uso da linguagem e da con-
Indústria Cultural, sem uma mudança drástica do ser humano. versação como meio de se conseguir o consenso.

172
A linguagem é criada coletivamente e compartilhada pelos Seguindo um movimento de que todos os campos do co-
seus agentes. Dessa forma, há regras no diálogo da ação nhecimento se conversam e se interagem ao mesmo tempo.
comunicativa: a não contradição, a clareza de argumentação
No campo político, por sua vez, sua teoria se torna a base
e a falta de constrangimento de ordem social.
de uma democracia representativa, de modo que a ação
comunicativa desenvolve ações efetivas de uma ação cole-
tiva e voltada para uma mudança social.
Uma vez que o mundo novo, o mundo moderno, se dis-
tingue do velho pelo fato que se abre para o futuro, o
início de uma época histórica repete-se e reproduz-se a
cada momento do presente, o qual gera o novo a partir
de si. Por isso, faz parte da consciência histórica da mo-
dernidade a delimitação entre o “tempo mais recente” e
a “época moderna”: o presente como história contem-
porânea desfruta de uma posição de destaque dentro
do horizonte da época moderna. Hegel também enten-
de o “nosso tempo” como o “tempo mais recente”. Ele
A AÇÃO COMUNICATIVA DEVE SER RACIONAL E VISAR O CONSENSO. data o começo do tempo presente a partir da censura
que o Iluminismo e a Revolução Francesa significaram
A verdade na ação comunicativa precisa ser com- para os seus contemporâneos mais esclarecidos no final
preendida como uma verdade intersubjetiva, e não do século XVIII e começo do XIX. Com esse “magnífico
mais uma verdade subjetiva, que se adequa a realidade. despertar” alcançamos, assim pensa ainda o velho He-
gel, “o último estágio da história, o nosso mundo, os
Perdendo assim, o seu valor absoluto, tão consolidado
nossos dias”. Um presente que se compreende, a partir
historicamente na filosofia. Isso significa que a verdade do horizonte dos novos tempos, como a atualidade da
ganhou aspectos de uma construção consensual época mais recente, tem de reconstituir a ruptura com o
entre as partes envolvidas, sendo aperfeiçoado passado como uma renovação contínua.
na prática democrática. HABERMAS, JÜRGEN. O DISCURSO FILOSÓFICO DA
MODERNIDADE. MARTINS FONTES, SP, 2002, PÁG. 11.
Com isso, a razão comunicativa se torna uma resistência
perante a razão instrumental, com o intuito de resgatar a
importância da razão para avanços na sociedade. Numa
mudança que possibilitará ao homem a abrir espaço para
ser convencido por ideias melhores, num processo demo-
crático. Esse agir comunicativo pode ser a base ética de
uma sociedade.

1.3. O rompimento com a multimídia: livro


Escola de Frankfurt
Habermas defende que o projeto de modernidade O discurso Filosófico da Modernidade - Jürgen
não se concretizou, havendo um potencial para a raciona- Habermas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
lização do mundo. Essa postura de uma valorização da razão Nessa obra, o autor reconstruí passo a passo o discurso
fez com que o filósofo rompesse com a Escola de Frankfurt. filosófico da modernidade, como ponto de partida a pers-
pectiva proposta pela crítica neoestruturalista da razão.
Em seus estudos fez várias críticas a vários pontos da teoria
marxista, como a centralidade do trabalho e a idealização
do proletariado como agente de transformação. Para ele,
as transformações na sociedade se fazem com uma centra-
lidade da razão e com a ação comunicativa.

1.4. O legado de Habermas


O pensamento de Habermas ressoa em nosso mundo con-
temporâneo, no âmbito educacional a ação comunicativa
elabora uma forma interdisciplinar, num movimento con-
trário às estruturas positivistas de divisão do conhecimento.

173
DIAGRAMA DE IDEIAS

HABERMAS

TEORIA DA AÇÃO SEGUNDA GERAÇÃO


COMUNICATIVA CRÍTICA À TEORIA DA ESCOLA DE
CRÍTICA FRANKFURT

A COMUNICAÇÃO
PODE GERAR A ESCOLA DE
CONHECIMENTO FRANKFURT
APEGOU-SE DEMAIS
AOS PROBLEMAS
DA MODERNIDADE
DIANTE DE
UMA PRÁTICA
DEMOCRÁTICA PLENA
O PROJETO
ILUMINISTA
AINDA NÃO FOI
FINALIZADO.

A DEMOCRACIA
DEVE SER
DEFENDIDA COM
O USO DA RAZÃO
E DO CONSENSO

174
A partir dos conhecimentos sobre a ação comunicativa
Aplicando para em Habermas, considere as afirmativas a seguir:
Aprender (A.P.A.) I. A manipulação das opiniões impede o consenso ao
usar os interlocutores como meios e desconsiderar o
1. (Uece 2020) Considere o trecho a seguir, que des- ser humano como fim em si mesmo.
creve uma definição sobre como se estabelecem as II. A validade do que é decidido consensualmente as-
normas de ação a partir de uma determinada situação senta-se na negociação em que os interlocutores se
vivida no mundo: instrumentalizam reciprocamente em prol de interesses
“O mundo vivido é considerado a partir do processo de particulares.
entendimento no qual diferentes pessoas se entendem
III. Como regra do discurso que busca o entendimento,
sobre algo no mundo objetivo dos fatos, no mundo so-
devem-se excluir os interlocutores que, de algum modo,
cial das normas de ação e mundo subjetivo das vivên-
são afetados pela norma em questão.
cias. O mundo vivido garante aos sujeitos de uma comu-
nidade de comunicação convicções a partir das quais IV. O projeto emancipatório dos indivíduos é construído
se forma o contexto dos processos de entendimento”. a partir do diálogo e da argumentação que prima pelo
entendimento mútuo.
OLIVEIRA, M. A. DE. REVIRAVOLTA LINGUÍSTICO-PRAGMÁTICA NA FILOSOFIA
CONTEMPORÂNEA. SÃO PAULO: EDIÇÕES LOYOLA, 1996. ADAPTADO.
Assinale a alternativa correta:
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
A passagem acima apresenta uma visão da moralidade,
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
sobre a qual é correto afirmar que
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
a) se trata da ideia de moral do iluminismo, sobretudo d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
da filosofia de Immanuel Kant, na qual o agir moral e
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
o princípio da eticidade se fundamentam na razão dos
sujeitos, que se universaliza após o entendimento. 4. (UEG) "Uma moral racional se posiciona criticamen-
b) representa uma eticidade nos moldes do pensa- te em relação a todas as orientações da ação, sejam
mento aristotélico, em que o sujeito moral só pode ser elas naturais, autoevidentes, institucionalizadas ou
compreendido como membro de uma comunidade de ancoradas em motivos através de padrões de sociali-
cidadãos, e a ética está intimamente ligada à política. zação. No momento em que uma alternativa de ação
c) expressa a visão marxista de moralidade, visto que e seu pano de fundo normativo são expostos ao olhar
esta define que qualquer perspectiva de uma moral crítico dessa moral, entra em cena a problematização.
autêntica requer a superação da moral de classe e a A moral da razão é especializada em questões de jus-
instituição de uma justiça social baseada no diálogo. tiça e aborda em princípio tudo à luz forte e restrita
d) define a conceituação de moral na perspectiva de da universalidade."
Jürgen Habermas, para quem a ética é discursiva e origi-
HABERMAS, JÜRGEN. DIREITO E DEMOCRACIA: ENTRE FACTICIDADE E VALIDADE. V. I.
na-se das relações intersubjetivas, da construção de con- TRAD. FLÁVIO BENO SIEBENEICHLER. RIO DE JANEIRO: TEMPO BRASILEIRO, 1997. P. 149
senso entre os indivíduos e de uma ação comunicativa.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a moral
2. (ENEM) "Uma norma só deve pretender validez quando em Habermas, é correto afirmar:
todos os que possam ser concernidos por ela cheguem
(ou possam chegar), enquanto participantes de um discur- a) A formação racional de normas de ação ocorre
so prático, a um acordo quanto à validade dessa norma". independentemente da efetivação de discursos e da
autonomia pública.
HABERMAS, J. CONSCIÊNCIA MORAL E AGIR COMUNICATIVO. b) O discurso moral se estende a todas as normas de
RIO DE JANEIRO: TEMPO BRASILEIRO, 1989. ações passíveis de serem justificadas sob o ponto de
Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser vista da razão.
estabelecida pelo (a): c) A validade universal das normas pauta-se no con-
teúdo dos valores, costumes e tradições praticados no
a) Liberdade humana, que consagra a vontade. interior das comunidades locais.
b) Razão comunicativa, que requer um consenso. d) A positivação da lei contida nos códigos, mesmo
c) Conhecimento filosófico, que expressa a verdade. sem o consentimento da participação popular, garan-
d) Técnica científica, que aumenta o poder do homem. te a solução moral de conflitos de ação.
e) Poder político, que se concentra no sistema partidário. e) Os parâmetros de justiça para a avaliação crítica
de normas pautam-se no princípio do direito divino.
3. (UEL) Leia o texto a seguir.
5. (UEL) Elaborada nos anos de 1980, em um contexto
A utilização da Internet ampliou e fragmentou, simul- de preocupações com o meio ambiente e o risco nu-
taneamente, os nexos de comunicação. Isto impacta no clear, a Ética do Discurso buscou reorientar as teorias
modo como o diálogo é construído entre os indivíduos deontológicas que a antecederam. Um exemplo está
numa sociedade democrática. contido no texto a seguir.
HABERMAS, J. O CAOS DA ESFERA PÚBLICA. FOLHA DE SÃO De maior gravidade são as consequências que um con-
PAULO, 13 AGO. 2006, CADERNO MAIS!, P.4-5 (ADAPTADO) ceito restrito de moral comporta para as questões da

175
ética do meio ambiente. O modelo antropocêntrico pa- receberíamos se disséssemos a verdade é um exem-
rece trazer uma espécie de cegueira às teorias do tipo plo de racionalidade comunicativa.
kantiano, no que diz respeito às questões da responsa- b) Realizar um debate entre os alunos de turma da
bilidade moral do homem pelo seu meio ambiente. faculdade buscando decidir democraticamente a me-
HABERMAS, JÜRGEN. COMENTÁRIOS À ÉTICA DO DISCURSO. TRAD. DE
lhor maneira de arrecadar fundos para o baile de for-
GILDA LOPES ENCARNAÇÃO. LISBOA: INSTITUTO PIAGET, 1999, P.212 matura é um exemplo de racionalidade instrumental.
c) Um adolescente que diz para seu pai que vai dormir na
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a Ética casa de um amigo, mas, na verdade, vai para uma festa
do Discurso, é correto afirmar que a ética: com amigos, é um exemplo de racionalidade comunicativa.
a) abrange as ações isoladas das pessoas visando ade- d) Alguém que decide economizar dinheiro durante
quar-se às mudanças climáticas e às catástrofes naturais. vários anos a fim de fazer uma viagem para os Esta-
b) corresponde à maneira como o homem deseja cons- dos Unidos da América é um exemplo de racionalida-
truir e realizar plenamente a sua existência no planeta. de instrumental.
c) compreende a atitude conservacionista que o siste- e) Um grupo de amigos que se reúne para decidir de-
ma econômico adota em relação ao ambiente. mocraticamente o que irão fazer com o dinheiro que
d) implica a instrumentalização dos recursos tecnoló- ganharam em um bolão da Mega Sena é um exemplo
gicos em benefício da redução da poluição. de racionalidade instrumental.
e) refere-se à atitude de retorno do homem à vida natu-
8. (UEL) Leia o texto a seguir:
ral, observando as leis da natureza e sua regularidade.
Na tradição liberal, a ênfase é posta no caráter impes-
6. (UEL) Leia o texto a seguir. soal das leis e na proteção das liberdades individuais,
O ser humano, no decorrer da sua existência na face da de tal modo que o processo democrático é compelido
terra e graças à sua capacidade racional, tem desenvol- pelos (e está a serviço dos) direitos pessoais que garan-
vido formas de explicação do que há no intuito de esta- tem a cada indivíduo a liberdade de buscar sua própria
belecer um nexo de sentido entre os fenômenos e as ex- realização. Na tradição republicana, a primazia é dada
periências por ele vivenciados. Essas vivências, à medida ao processo democrático enquanto tal, entendido como
que são passíveis de expressão através das construções uma deliberação coletiva que conduz os cidadãos à pro-
simbólicas contidas na linguagem, apresentam um cará- cura do entendimento sobre o bem comum.
ter eminentemente social.
ARAÚJO, L. B. L. MORAL, DIREITO E POLÍTICA. “SOBRE A TEORIA DO
(HANSEN, GILVAN. MODERNIDADE, UTOPIA E TRABALHO. DISCURSO DE” HABERMAS. IN: OLIVEIRA, M.; AGUIAR, O. A.;
LONDRINA: EDIÇÕES CEFIL, 1999. P.13 SAHD, L. F. N. DE A. E S. (ORGS.). FILOSOFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA.
PETRÓPOLIS: VOZES, 2003. P. 214-235 (ADAPTADO)
Com base na obra Molhe Espiral, no texto e nos conhe-
cimentos sobre o pensamento de Habermas, assinale a Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso-
alternativa correta: fia política na teoria do discurso, é correto afirmar que
Habermas:
a) A linguagem, em razão de sua dimensão material,
inviabiliza a (re)produção simbólica da sociedade. a) privilegia a ideia de Estado de direito em detrimen-
b) As construções simbólicas se valem do apreço ins- to de uma democracia participativa.
trumental e do valor mercantil. b) concede maior relevância à autonomia pública,
c) A importância do simbólico na sociedade decorre de opondo-se à autonomia privada.
sua adequação aos parâmetros funcionais e técnicos. c) ignora tanto a autonomia privada quanto a públi-
d) A dimensão simbólica da sociedade é inerente à ca, substituindo-as pela utilidade das normas morais.
forma como o homem assegura sentido à realidade. d) enfatiza a compreensão individualista e instrumen-
e) A forma de expressão dos elementos simbólicos na tal do papel do cidadão na lógica privada do mercado.
arena social deve atender a uma utilidade prática. e) concilia, na mesma base, direitos humanos e so-
berania popular, reconhecendo-os como distintos,
7. (UEL) Leia o texto a seguir: porém complementares.
Habermas distingue entre racionalidade instrumental
e racionalidade comunicativa. A racionalidade comuni- 9. (UEL) Leia o texto a seguir:
cativa ocorre quando os seres humanos recorrem à lin- Em Técnica e Ciência como “ideologia”, Habermas apre-
guagem com o intuito de alcançar o entendimento não senta uma reformulação do conceito weberiano de ra-
coagido sobre algo, por exemplo, decidir sobre a maneira cionalização pela qual lança as bases conceptuais de sua
correta de agir (ação moral). A racionalidade instrumen- teoria da sociedade. Neste sentido, postula a distinção
tal, por sua vez, ocorre quando os seres humanos utilizam irredutível entre trabalho ou agir instrumental e intera-
as coisas do mundo, ou até mesmo outras pessoas, como ção ou agir comunicativo, bem como a pertinência da
meio para se alcançar um fim (raciocínio meio e fim). conexão dialética entre essas categorias, das quais deri-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria va a diferenciação entre o quadro institucional de uma
da ação comunicativa de Habermas, é correto afirmar: sociedade e os subsistemas do agir racional com respei-
a) Contar uma mentira para outra pessoa buscando to a fins. Segundo Habermas, uma análise mais porme-
obter algo que desejamos e que sabemos que não norizada da primeira parte da Ideologia Alemã revela

176
que “Marx não explicita efetivamente a conexão entre municativa, que busca inspirar uma Nova Teoria Crítica.
interação e trabalho, mas sob o título nada específico da Ele, enquanto herdeiro da Escola de Frankfurt, dialoga
práxis social reduz um ao outro, a saber, a ação comuni- com as perspectivas dialética e fenomenológica, bus-
cativa à instrumental”. cando fundamentar a Ética do Discurso na teoria do
agir comunicativo. Nessa direção, Habermas nos remete
HABERMAS, J. TÉCNICA E CIÊNCIA COMO “IDEOLOGIA”.
LISBOA: EDIÇÕES 70, 1994. P.41-42 (ADAPTADO)
para a necessidade de construir uma nova racionalida-
de, mais ampla e radicalmente crítica, que ele denomi-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa- na de racionalidade ético-comunicativa.
mento de Habermas, é correto afirmar: Nessa perspectiva de Construção da Razão Comunicati-
a) O crescimento das forças produtivas e a eficiência va, Habermas concebe que a exigência primeira é:
administrativa conduzem à organização das relações a) a mudança do paradigma transitando da filosofia
sociais baseadas na comunicação livre de quaisquer da consciência para o paradigma da linguagem.
formas de dominação. b) a realização da Époche, colocando toda percepção
b) A liberação do potencial emancipatório do desen- do mundo natural em suspenso.
volvimento da técnica e da ciência depende da pre- c) o resgate da ética cristã, pautada na justiça e igual-
venção das disfuncionalidades sistêmicas que entra- dade social.
vam a reprodução material da vida e suas respectivas d) praticar a rivalidade de posições para vencer o ar-
formas interativas. gumento mais forte.
c) O desenvolvimento da ciência e da técnica, enquanto e) a disputa de teses contrárias para acirrar os conflitos.
forças produtivas, permite estabelecer uma nova forma
de legitimação que, por sua vez, nega as estruturas da 12. (Enem) “Na regulação de matérias culturalmente de-
ação instrumental, assimilando-as à ação comunicativa. licadas, como, por exemplo, a linguagem oficial, os cur-
rículos da educação pública, o status das Igrejas e das
d) Com base na irredutibilidade entre trabalho e in-
comunidades religiosas, as normas do direito penal (por
teração, a luta pela emancipação diz respeito tanto
exemplo, quanto ao aborto), mas também em assuntos
ao agir comunicativo, contra as restrições impostas menos chamativos, como, por exemplo, a posição da
pela dominação, quanto ao agir instrumental, contra família e dos consórcios semelhantes ao matrimônio, a
as restrições materiais pela escassez econômica. aceitação de normas de segurança ou a delimitação das
e) A racionalização na dimensão da interação social esferas pública e privada — em tudo isso reflete-se ami-
submetida à racionalização na dimensão do trabalho úde apenas o autoentendimento ético-político de uma
na práxis social determina o caráter emancipatório do cultura majoritária, dominante por motivos históricos.
desenvolvimento das forças produtivas e do bem-es- Por causa de tais regras, implicitamente repressivas, mes-
tar da vida humana. mo dentro de uma comunidade republicana que garanta
formalmente a igualdade de direitos para todos, pode
10. (ENEM) O conceito de democracia, no pensamento eclodir um conflito cultural movido pelas minorias des-
de Habermas, é construído a partir de uma dimensão prezadas contra a cultura da maioria.”
procedimental, calcada no discurso e na deliberação.
A legitimidade democrática exige que o processo de HABERMAS, J. A INCLUSÃO DO OUTRO: ESTUDOS DE
TEORIA POLÍTICA. SÃO PAULO: LOYOLA, 2002.
tomada de decisões políticas ocorra a partir de uma
ampla discussão pública, para somente então decidir. A reivindicação dos direitos culturais das minorias, como
Assim, o caráter deliberativo corresponde a um proces- exposto por Habermas, encontra amparo nas democra-
so coletivo de ponderação e análise, permeado pelo cias contemporâneas, na medida em que se alcança:
discurso, que antecede a decisão.
a) A secessão, pela qual a minoria discriminada obteria
VITALE, D. JÜRGEN HABERMAS, MODERNIDADE E DEMOCRACIA a igualdade de direitos na condição da sua concentra-
DELIBERATIVA. CADERNOS DO CRH (UFBA), V. 19, 2006 (ADAPTADO) ção espacial, num tipo de independência nacional.
b) A reunificação da sociedade que se encontra frag-
O conceito de democracia proposto por Jürgen Ha-
mentada em grupos de diferentes comunidades étni-
bermas pode favorecer processos de inclusão social. cas, confissões religiosas e formas de vida, em torno
De acordo com o texto, é uma condição para que isso da coesão de uma cultura política nacional.
aconteça o(a):
c) A coexistência das diferenças, considerando a pos-
a) participação direta periódica do cidadão. sibilidade de os discursos de autoentendimento se
b) debate livre e racional entre cidadãos e Estado. submeterem ao debate público, cientes de que esta-
c) interlocução entre os poderes governamentais. rão vinculados à coerção do melhor argumento.
d) eleição de lideranças políticas com mandatos tem- d) A autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida
porários. adulta, tenham condições de se libertar das tradições de
e) controle do poder político por cidadãos mais es- suas origens em nome da harmonia da política nacional.
clarecidos. e) O desaparecimento de quaisquer limitações, tais
como linguagem política ou distintas convenções de
11. (IFRS) Habermas figura como um dos filósofos mais comportamento, para compor a arena política a ser
discutidos na atualidade através da Teoria da Ação Co- compartilhada.

177
13. (UEL) Leia o texto a seguir:
Desde o início dos anos oitenta, a ética discursiva de
Jürgen Habermas teve como proposta reformular o
programa universalista da moral kantiana com base em
uma teoria da competência comunicativa. Ao substituir
a regra do imperativo categórico pelo princípio de uma
argumentação moral racional, a ética do discurso perse-
gue a redefinição dos traços dentontológico, cognitivis-
ta e formalista do ponto de vista moral.
LANGLOIS, L. DISCURSO MORAL E DISCURSO ÉTICO SEGUNDO
HABERMAS: UMA DISTINÇÃO FUNDADA? IN. ARAÚJO, L. B. L.;
BARBOSA, R. J. C. (ORG.) FILOSOFIA PRÁTICA E MODERNIDADE.
RIO DE JANEIRO: EDUERJ, 2003. P.53 (ADAPTADO)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Haber-


mas, apresente os princípios do cognitivismo e do for-
malismo que caracterizam a Ética do Discurso.

Gabarito
1. D 2. B 3. B 4. B 5. B 6. D
7. D 8. E 9. D 10. B 11. A 12. C
13. A ética do discurso, como o próprio Habermas afirma,
alia-se à razão prática kantiana. Em linhas gerais, a ética do
discurso implica as mesmas características da moral kantia-
na, a saber, o cognitivismo, o formalismo e o universalismo.
Destas características, a questão em tela cobra o cogniti-
vismo e o formalismo. O cognitivismo requer que as ques-
tões de ordem prático-moral possam ser fundamentadas
racionalmente. Isso implica que as questões práticas podem
ser justificadas, na medida em que o agente apresente as
razões pelas quais sua ação foi realizada em uma ou ou-
tra direção. Defende-se que há, no âmbito da ação, uma
pretensão de validade normativa análoga à pretensão de
verdade requerida para os fatos objetivos.
O aspecto formal da ética do discurso indica que ela não
fornece conteúdos materiais nem normas concretas, mas
apenas um critério formal para a averiguação, via discurso,
daquelas normas e regras que podem encontrar aceitabili-
dade entre os possíveis concernidos, ou seja, aqueles que
suportarão o peso de normas acordadas. Nesse aspecto,
valendo-se do discurso como condição de tematização da
validade normativa, a ética do discurso se ampara em re-
gras discursivas estabelecidas universalmente para validar
o consenso fático alcançado em relação a determinada
norma. Assim, o consenso fático alcançado tem sua valida-
de estendida aos concernidos.

178
O pensador surge, ainda jovem, posicionando-se contrário
AULA 26 ao fascismo, fato que o levaria à prisão por cerca de 20
meses. Bobbio era um socialista-liberal, defendendo princí-
pios liberais na política e princípios socialistas nas questões
sociais, portanto, um defensor da liberdade e da igualdade.
Bobbio analisa a política tentando romper todo e qualquer
autoritarismo e falta de democracia para se pensar o ho-
A FILOSOFIA E O PODER mem e o ambiente onde este vive.
O conceito de democracia para o filósofo consiste em um
sistema de regras que permitem a instauração e o desen-
volvimento da convivência pacífica. Tendo como base con-
solidada os direitos humanos e a paz, de modo que são
assegurados juridicamente todos os direitos desse homem.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 Quando isso não ocorre, não existe democracia, e conse-
quentemente não há espaços para que se possa resolver os
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, conflitos sociais de uma forma pacífica. A democracia seria,
HABILIDADES: 11, 12, 13, 15, 16, 20, portanto, um regime de governo em que todos são livres
22, 23, 24 e 25 porque são iguais.

1. Introdução
O campo filosófico teve ampla abertura para discutir diver-
sos temas. Tendo como referência as transformações da so-
ciedade e o dinamismo, os estudos filosóficos também pre-
cisaram se adequar à pós-modernidade, não perdendo
o seu caráter questionador, mas apontando novos pontos multimídia: vídeo
de análises e novas problemáticas. Com isso surgem novos FONTE: YOUTUBE
atores nesse campo, como o italiano Norberto Bobbio e o Norberto Bobbio
francês Gérard Lebrun.
Entrevista com o ex-ministro das Relações Exteriores e
atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do
2. Norberto Bobbio (1909-2004) Estado de São Paulo, Celso Lafer, sobre o livro que ele es-
creveu sobre a vida e a obra do filósofo italiano Norberto.
O filósofo italiano Norberto Bobbio conseguiu unir a sua
teoria com a sua ação cotidiana. Tendo uma postura críti-
ca, Bobbio terá atrelado aos seus atos a política, tal qual 2.1. A política
Aristóteles menciona na Grécia Antiga, numa associação
do zoon politikon. Vivenciou o autoritarismo, a ditadura co- Segundo Bobbio a política, entendida como prática hu-
munista e a bipolaridade partidária na Europa. mana, conduz ao poder. Esse poder estaria interligado às
ideias de posse dos meios para que um homem tenha van-
tagem perante o outro. Entretanto, é preciso pensar em sua
legitimação, seja no âmbito familiar (como o poder do pai
ou da mãe), na esfera governamental (como no autoritaris-
mo de um rei ou um déspota) ou pelo poder passado pela
própria população, que elege um governante temporário.
Isso possibilita que existam várias formas de poder: o poder
econômico, ideológico e político, ou seja, da riqueza, do
saber e da força.
Segundo Bobbio, essas três formas de poder funcionam
conjuntamente na instituição e manutenção de socieda-
des desiguais organizadas entre dominantes (superiores) e
RETRATO DE NORBERTO BOBBIO dominados (inferiores): segundo o poder político, divididos

179
entre fortes e fracos; segundo o poder econômico, divididos exaustão, mas para dialogar com alguns pensadores clássi-
entre ricos e pobres; segundo o poder ideológico, divididos cos, como Thomas Hobbes, Jean Bodin, Nicolau Maquiavel
entre sábios e ignorantes. e Michel Foucault.
A política não tem uma única finalidade ou um único aspec-
to, podem variar conforme as metas de cada grupo social.
Entretanto, aqui não é um relativismo simplório, mas uma
observação que pode ter inúmeras variações conforme o
tempo histórico. Porém, um fim mínimo à essa política é o
uso da força para assegurar a integridade nacional; mas não
pode ter como finalidade o poder pelo poder.
Para Bobbio existe uma relação entre política e moral, pois
ambas estão ligadas a práxis, ou seja, a ação humana. E
devido a isso, provocam crises no âmbito particular e no
âmbito coletivo, pois nem sempre o que é certo para um
lado é exatamente correto para o outro. Posso compreen-
der isso como ações morais que são apolíticas e ações po- RETRATO DE GÉRARD LEBRUN.
líticas que podem ser imorais. Segundo Lebrun, existem e subsistem diversas for-
Para o filósofo, a política seria a razão do Estado, enquanto mas de poder, que notamos durante o nosso cotidiano.
a moral seria a razão do indivíduo. De modo que é preciso Tendo com isso diferentes proporções conforme a nossa
pensar numa autonomia da ação política que não deve ser análise; porém, essas relações coexistem simultaneamente.
direcionada pela razão individual, com o intuito de realmen-
te refletir o coletivo, isto é, pensar no conceito de Estado.
Aquilo que “Estado” e “política” têm em comum (e é in-
clusive a razão de sua intercambialidade) é a referência
ao fenômeno poder. Do grego Kratos, “força”, “potên-
cia”, e arché, “autoridade” nascem os nomes das an-
tigas formas de governo, “aristocracia”, “democracia”,
“oclocracia”, “monarquia”, “oligarquia” e todas as
palavras que gradativamente foram sendo forjadas para multimídia: livro
indicar formas de poder, “fisiocracia”, “burocracia”,
“partidocracia”, “poliarquia”, “exarquia” etc. Não há
teoria política que não parta de alguma maneira, dire- O que é poder - LEBRUN, Gérard. São Paulo:
ta ou indiretamente, de uma definição de “poder” e de Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 2004.
uma análise do fenômeno do poder. Por longa tradição o "Em suma, a força é a canalização da potência, é a sua
Estado é definido como o portador da summa potestas:
determinação. E é graças a ela que se pode definir a
e a análise do Estado se resolve quase totalmente no
estudo dos diversos poderes que competem ao sobera- potência na ordem das relações sociais ou, mais espe-
no. A teoria do Estado apoia-se sobre a teoria dos três cificamente, políticas".
poderes (o legislativo, o executivo, o judiciário) e das re-
lações entre eles. Para ir a um texto canônico dos nossos
Em sua obra O que é poder, Lebrun apresenta uma discus-
dias, Poder e Sociedade de Lasswell e Kaplan [1952], o
processo político é ali definido como “a formação, a dis- são a respeito do poder e do Estado desde os primórdios
tribuição e o exercício do poder”. Se a teoria do Estado da civilização ocidental até a história contemporânea. Sua
pode ser considerada como uma parte da teoria da po- obra é dividida em cinco partes: "A apresentação do
lítica, a teoria política pode ser por sua vez considerada monstro", "O Leviatã contra a cidade grega", "O
como uma parte da teoria do poder. 'Leviatã' e o estado burguês", "A comédia liberal"
BOBBIO, NORBERTO. ESTADO, GOVERNO, SOCIEDADE; POR e "O último chefe".
UMA TEORIA GERAL DA POLÍTICA. RIO DE JANEIRO: PAZ E
TERRA, 1987, 18ª REIMPRESSÃO, PÁG. 76-77. Apresentação do monstro: o conceito do termo "po-
lítica" carrega consigo a força, canalizando a potên-
cia de uma ação. Com o passar do tempo, os homens se
3. Gérard Lebrun (1930-1999) acostumaram a obedecer a um líder, a tal ponto que "ser
O filósofo francês Gérard Lebrun desenvolve o seu pensa- cidadão = ser obediente", num adestramento foucaultia-
mento em volta do poder. Em sua maior obra, intitulada O no, que condiciona os cidadãos a seguirem normas e con-
que é o poder, o autor analisa esse conceito, mas não à dutas de obediência. Essa construção lógica consolidada

180
por Aristóteles na Política, em que os limites do cidadão se Um exemplo dessa relação de poder pode ser observado
dão dentro da cidade, ordenado pelo seu governante; que quando o indivíduo veste a camisa de um partido ou de um
depois seria ratificada por Hobbes, no Leviatã. No mundo movimento e sai para uma manifestação; porém, esse mes-
grego foi criado o conceito de cidadania e de cuidado da mo sujeito não sabe as reais reivindicações da manifestação.
vida pública, algo que seria alterado na Idade Moderna O Último Chefe: o individualismo contemporâneo
com o Estado Moderno, no qual o soberano teria a au- pode levar a passar o poder para os representantes legais,
toridade sobre seus súditos obedientes às suas funções que não se importaram com esses cidadãos. A problemáti-
dentro do Estado. ca apontada pelo autor é que o poder atual está revestido
No mundo grego, em especial no contexto da formação por forças econômicas, sociais e políticas que direcionam os
das cidades-estados (polis), a vida pública é a da comuni- cidadãos de um grupo a seguirem ideologias que apontam
dade dos iguais – o poder não se dá pela dominação, pela diversos “nortes” para esse ser, mas afastam esse indivíduo
imposição, mas pela legitimidade do poder constitutivo da de qualquer participação efetivamente política.
sociedade. Isso seria modificado no Estado Moderno, des- Um exemplo dessa relação de poder denota no indivíduo
crito e analisado por Thomas Hobbes. uma anulação plena nesse ser, a tal ponto que o sujeito
O Leviatã contra a cidade grega: A formação pensada não vê nenhuma possibilidade de interferirem em sua reali-
por Hobbes direciona que o poder do Soberano é superior aos dade. Isso ocorre porque o sujeito acredita que o seu papel
poderes existentes dos seus súditos. O poder grego estava não existe, devido às forças governamentais que tiraram
associado ao cidadão, que queria viver bem numa qualquer tipo de relevância individual na sociedade.
sociedade, pois vivia a cidade; entretanto, o homem
moderno não participa da cidade, só vive nela.
O direito remete à utilidade das coisas que quero. Desse
modo, a soberania é o único pilar de sustentação do corpo
político, visto que os homens se inclinam a seguir ordens,
a seguir a razão, mesmo que seja a razão do mais forte.
Um exemplo dessa relação pode ser notado na submissão multimídia: vídeo
completa do súdito diante das ações do governante atual.
FONTE: YOUTUBE
O "Leviatã" e o estado burguês: as mudanças que a O que é Poder – Parte 1
modernidade fez com os cidadãos transfigurou o Estado
Apresentação da obra de Gérard Lebrun e suas discus-
burguês, que modificou as relações sociais e políticas, asso- sões sobre o poder.
ciando-as com as relações econômicas. Um dos principais
autores que debateram os princípios liberais e a sua rela-
ção com o Estado foi o intelectual John Locke. Com efeito, o que é a política? "A atividade social que
se propõe a garantir pela força, fundada geralmente no
Separando esse cidadão de uma participação efetiva do Es- direito, a segurança externa e a concórdia interna de uma
tado, que é guiado por instituições. Diante disso, o indivíduo unidade política particular..." (Julien Freund, Qu'est-ce
se insere no “estado civil” e se prende às amarras impostas que la Politique?, p. 177). Não é dogmaticamente que
eu proponho esta definição (outras são possíveis), mas
pelas autoridades. Sendo que essa prisão é revestida de uma simplesmente para ressaltar que, sem o uso da noção da
liberdade “natural” para que esse ser permaneça anestesia- força, a definição seria visivelmente defeituosa. Se, numa
do e repetindo as ações condicionadas. democracia, um partido tem peso político, é porque tem
força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um
O exemplo típico desse poder, o sujeito acomodado em sindicato tem peso político, é porque tem força para defla-
associar todas as relações sociais sendo relações econômi- grar uma greve. Assim, força não significa necessariamen-
cas, se vê afastado de qualquer interferência política, acaba te a posse de meios violentos de coerção, mas de meios
condicionado a repetir as suas ações cotidianas. E quando que me permitam influir no comportamento de outra pes-
soa. A força não é sempre (ou melhor; é rarissimamente)
faz algo, é meramente uma troca de favores.
um revólver apontado para alguém; pode ser o charme
A Comédia Liberal: o liberalismo fomentou as liberdades de um ser amado, quando me extorque alguma decisão
civis, inserida numa esfera econômica. A crítica apontada (uma relação amorosa é, antes de mais nada, uma relação
de forças; cf. as Ligações Perigosas, de Laclos). Em suma, a
pelo autor é a ilusão construída pelo liberalismo, que
força é a canalização da potência, é a sua determinação.
ilude o cidadão de um Estado que ele não participa, só é E é graças a ela que se pode definir a potência na ordem
usado por este, sendo manipulado. das relações sociais ou, mais especificamente, políticas.

181
"Potência (Match) significa toda oportunidade de impor a sua própria vontade, no interior de uma relação social, até mesmo
contra resistências, pouco importando em que repouse tal oportunidade." Não conheço nenhuma definição do poder, enquanto
fator sociopolítico, que seja superior a esta fórmula de Max Weber.
LEBRUN, GÉRARD. O QUE É PODER. SÃO PAULO: EDITORA BRASILIENSE, PRIMEIRA EDIÇÃO EBOOK, 2017.

DIAGRAMA DE IDEIAS

BOBBIO LEBRUN

A POLÍTICA ESTÁ
ATRELADA AOS O QUE É O PODER?
NOSSOS ATOS

POLÍTICA ESTÁ A FORÇA É A CANALIZAÇÃO


RELACIONADA DA POTÊNCIA. POTÊNCIA É
AO PODER A IMPOSIÇÃO DE VONTADES
SOBRE UMA RELAÇÃO
SOCIAL. O PODER REALIZA A
HÁ TRÊS FORMAS OBEDIÊNCIA DOS MEMBROS
FUNDAMENTAIS DA COLETIVIDADE
DE PODER: PODER
ECONÔMICO, PODER
POLÍTICO, PODER
IDEOLÓGICO AS RELAÇÕES POLÍTICAS
FORAM ALTERADAS DURANTE
A HISTÓRIA. DESTACAM-SE A
A HUMANIDADE CIDADANIA NA ANTIGUIDADE
PRECISA PENSAR E GREGA, O ESTADO MODERNO
AGIR PARA O ABSOLUTISTA, O ESTADO
COLETIVO: LIBERAL BURGUÊS
A DEMOCRACIA
PRECISA SER
DEFENDIDA HÁ DESAFIOS PARA A
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
COMO CRIAR A EFETIVA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
DOS CIDADÃOS?

182
c) Em tempo de contradições e graves questões, a pre-
Aplicando para ocupação pela preservação dos direitos humanos é
uma que o filósofo político Norberto Bobbio aponta
Aprender (A.P.A.) para sinalizar a positiva construção de sociedades hu-
1. (Uece 2020) O trecho que se apresenta a seguir trata manas e democráticas.
da passagem da democracia política – garantidora de d) Contradições e graves questões atuais, como definidas
direitos políticos fundamentais – para a democracia so- pelo filósofo político Norberto Bobbio, são obstáculos na
cial, no mundo contemporâneo: construção de sociedades humanas e democráticas, que
tem de positivo o reconhecimento dos direitos humanos.
“O processo de alargamento da democracia na socieda-
de contemporânea não ocorre apenas através da inte- e) O pensamento dominante na maior parte da socie-
gração da democracia representativa com a democracia dade atual acerca do reconhecimento dos direitos hu-
direta, mas também e, sobretudo, através da extensão da manos, mesmo com contradições e graves questões,
democratização com a passagem da democracia na esfe- é sinal da positividade da busca da construção de so-
ra política, isto é, na esfera em que o indivíduo é conside- ciedades humanas e democráticas, pelo pensamento
rado como cidadão, para a democracia na esfera social, do filósofo político Norberto Bobbio.
onde o indivíduo é considerado na multiplicidade de seu 3. (Unespar) O debate em torno da esquerda e da direita,
status, na extensão das formas de poder ascendente”. no século XX, tem sido no sentido de caracterizar dois
BOBBIO, N. ESTADO, GOVERNO E SOCIEDADE: PARA UMA TEORIA GERAL blocos políticos, ou ainda, diferenciar ideologias parti-
DA POLÍTICA. RIO DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 1987. ADAPTADO. dárias, bem como posições políticas, sobretudo, no que
corresponde à dicotomia entre correntes reacionárias e
Sobre esse processo histórico, é correto afirmar que revolucionárias. Entretanto, existe um certo reducionis-
a) a construção do estado democrático moderno foi mo político quando se pensa política sobre essa divisão
capaz de assegurar direitos inalienáveis aos cidadãos, de direita e de esquerda. Com isso, pode se dizer que,
mas falhou em ampliar tais direitos ao longo dos sé- historicamente, tem-se a divisão ideológica de dois blo-
culos XIX e XX. cos políticos: o de direita e o de esquerda. Por direita,
b) os estados democráticos estabeleceram, logo em pode-se entender grupos políticos que sustentam discur-
seu início, formas bem amplas de participação dos in- sos conservadores, mas isso é, sobretudo no século XX,
divíduos, sendo este um diferencial importante iden- um reducionismo político. Norberto Bobbio, no texto que
tificado, por exemplo, na América do Norte. se intitula de Direita e Esquerda: razões e significados de
c) a conquista de direitos sociais foi gradual e se ve- uma distinção política, faz a seguinte observação:
rificou à medida que os modelos formais de partici-
"O homem de direita é aquele que se preocupa, aci-
pação foram sendo ampliados com o surgimento de
ma de tudo, em salvaguardar a tradição, o homem de
novas formas de participação.
esquerda, ao contrário, é aquele que pretende, acima
d) O reconhecimento da existência de direitos huma- de qualquer outra coisa, libertar seus semelhantes das
nos só se estabeleceu a partir da superação do mero cadeias a eles impostas pelos privilégios de raça, casta,
exercício dos direitos políticos, com a ampliação da classe etc".
democracia na contemporaneidade.
BOBBIO, NORBERTO. DIREITA E ESQUERDA: RAZÕES E SIGNIFICADOS DE
2. (PUC-Campinas) Segundo o filósofo político Norberto UMA DISTINÇÃO POLÍTICA. SÃO PAULO: EDITORA UNESP, 1995, P.97

Bobbio (1992), no meio das contradições e das graves


questões que atravessam o nosso tempo, a preocupa- I. Direita, segundo Norberto Bobbio, corresponde a uma
ção pelo reconhecimento dos direitos humanos consti- visão humanista que, dentre outras coisas, tem uma
tui um sinal positivo na busca da construção de socie- profunda influência do pensamento marxista, a saber,
dades humanas e democráticas. visão humanista e revolucionária.
II. Esquerda representa, segundo Norberto Bobbio, uma
VERA MARIA FERRÃO CANDAU. DIREITO À EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE visão conservadora, ou seja, tem por base a defesa das
E EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS. IN: EDUCAÇÃO & SOCIEDADE:
REVISTA DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO/CEDES − V. 33, N. 120, tradições e dos bons costumes.
JUL.− SET. 2012 − SÃO PAULO: CORTEZ; CAMPINAS: CEDES III. Direita e Esquerda representam, no pensamento de
Norberto Bobbio, disputas ideológicas que ultrapassam
A redação que, mantendo a correção e a clareza origi- os limites do reducionismo político e, acima de tudo, as-
nais, respeita o conteúdo da frase acima é: seguram uma maneira de se pensar a ciência política,a
a) Sob a perspectiva do filósofo político Norberto Bob- partir de uma realidade, que, desde os gregos aos dias
bio, entre contradições e graves questões de nosso atuais, é orquestrada de forma plena em todo o ocidente.
tempo, a grande atenção dada ao reconhecimento dos De acordo com os enunciados apresentados acima, as-
direitos humanos representa algo construtivo na busca sinale a alternativa correta:
da edificação de sociedades humanas e democráticas.
a) Apenas a alternativa I está correta.
b) É do nosso tempo a questão do reconhecimento dos
b) Apenas a alternativa II está correta.
direitos humanos, sinal que a construção de socieda-
des humanas e democráticas, das quais tratam o filóso- c) Apenas a alternativa III está correta.
fo Norberto Bobbio, está sendo buscada positivamente d) Todas as alternativas, I, II e III, estão corretas.
ainda que com contradições e graves problemas. e) Nenhuma das alternativas está correta.

183
4. (Unespar) Ainda de acordo com a discussão entre Di- 6. (UFPR) Segundo Norberto Bobbio (Estado, governo e
reita e Esquerda, a partir da discussão apresentada por sociedade), o “problema em determinar a origem e o apa-
Norberto Bobbio, no texto que se intitula de Direita e recimento do Estado...” implica nas seguintes condições:
Esquerda: razões e significados de uma distinção políti- I. A longevidade histórica do Estado é solucionável em
ca, assinale a alternativa correta. Para tanto, considere termos empíricos e sociológicos.
a seguinte assertiva de Norberto Bobbio:
II. A longevidade histórica do Estado não é solucionável
“Sempre me considerei um homem de esquerda, e por- em termos empíricos e sociológicos.
tanto sempre atribuí ao termo esquerda uma conotação III. A longevidade do Estado é determinada pela própria
positiva, mesmo agora em que a esquerda é cada vez definição conceitual do que se entende por Estado.
mais hostilizada, e ao termo direita, uma conotação ne-
IV. Quanto mais restrita a definição de Estado menor a
gativa, mesmo hoje em que a direita está sendo ampla-
longevidade do Estado e vice-versa.
mente revalorizada.”
Assinale a alternativa correta:
BOBBIO, NORBERTO. DIREITA E ESQUERDA: RAZÕES E SIGNIFICADOS DE
UMA DISTINÇÃO POLÍTICA. SÃO PAULO: EDITORA UNESP, 1995, P.140 a) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
a) Direita é, segundo Norberto Bobbio, algo negativo,
pois, do ponto de vista político, dentre muitas coisas, c) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
busca, por meio do ideário marxista, revolucionar as es- d) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
truturas sociais e políticas da sociedade contemporânea. e) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
b) Esquerda é, segundo Norberto Bobbio, algo po-
7. (UEL) De acordo com Norberto Bobbio, “ao lado do
sitivo, pois, do ponto de vista político, busca a con-
problema do fundamento do poder, a doutrina clássi-
servação da ordem e da estrutura social, a partir das
ca do Estado sempre se ocupou também do proble-
tradições e dos bons costumes.
ma dos limites do poder, problema que geralmente é
c) Direita e Esquerda são, segundo Norberto Bobbio,
apresentado como problema das relações entre direi-
construções ideológicas que, na sociedade contem-
to e poder (ou direito e Estado)”.
porânea, sobretudo depois da queda do Muro de
Berlim, não retratam a realidade política mas, espe- BOBBIO, N. ESTADO, GOVERNO E SOCIEDADE: PARA UMA TEORIA
cificamente, posições ideológicas que se caracterizam GERAL DA POLÍTICA. TRADUÇÃO DE MARCO AURÉLIO NOGUEIRA.

como conservadoras e revolucionárias. RIO DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 2000, P. 93-94


d) Norberto Bobbio se define como um pensador da Os limites do poder no Estado democrático de direito
direita e, por isso, atribui à direita uma conotação moderno são estabelecidos:
positiva, mesmo sabendo que, na sociedade contem-
I. Pela autonomia constitucional entre os poderes judi-
porânea, sobretudo no momento atual, há profundas
ciário, legislativo e executivo.
hostilizações para com a noção de direita.
II. Por normas legais, definidas por processos legítimos,
e) Não se pode falar de uma distinção entre direita e
que regulam e estabelecem direitos e deveres tanto para
esquerda, segundo Norberto Bobbio, pois tais concei-
governantes quanto para os indivíduos na sociedade.
tos são frutos da Revolução Francesa e serviram, exclu-
sivamente,para responder àquele momento histórico. III. Por normas legais que subordinam os poderes judi-
ciário e legislativo ao poder executivo e asseguram a
5. (UFPR) Segundo Norberto Bobbio (Estado, Governo e prevalência dos interesses do partido majoritário.
sociedade), o problema da relação entre direito e poder IV. Por normas legais que assegurem que todos os ci-
define os limites do exercício de poder pelo Estado. Isto dadãos tenham garantias individuais mínimas, como o
é, define que “leis” coagem o soberano na imposição direito à defesa, direito a ir e vir e direito a manifestar
de suas decisões sobre o povo. Para Bobbio, historica- suas opiniões.
mente, alguns “limites internos” ao exercício do poder
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
estatal foram constituídos.
Neste sentido, considere as seguintes afirmativas: a) I e III
b) II e IV
I. A relação dos Estados soberanos entre si (guerra, im-
perialismo, etc.). c) I, II e III
d) I, II e IV
II. A imposição de leis naturais.
e) I, III e IV
III. A divisão de poderes.
IV. A constitucionalização de leis fundamentais. 8. (ENEM) Um dos teóricos da democracia moderna,
Assinale a alternativa correta: Hans Kelsen, considera elemento essencial da democra-
cia real (não da democracia ideal, que não existe em
a) Somente a afirmativa III é verdadeira.
lugar algum) o método da seleção dos líderes, ou seja,
b) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. a eleição. Exemplar, neste sentido, é a afirmação de um
c) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos, por ocasião
d) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. de uma eleição de 1902: "A cabine eleitoral é o templo
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. das instituições americanas, onde cada um de nós é um

184
sacerdote, ao qual é confiada a guarda da arca da alian- uma capacidade de mobilização, consentimento e cons-
ça e cada um oficia do seu próprio altar". trução de hegemonia por quem deseja agir politicamen-
te. Assim, a força implica o poder de que se dispõe na
BOBBIO, N. TEORIA GERAL DA POLÍTICA. RIO DE
construção de maiorias políticas.
JANEIRO: EISEVIER, 2000 (ADAPTADO)
e) A relação entre política e força se expressa na des-
As metáforas utilizadas no texto referem-se a uma con- tituição do poder e na construção das resistências nos
cepção de democracia fundamentada no(a) movimentos sociais e nos sindicatos. A política e a
força física são instrumentos usualmente presentes
a) justificação teísta do direito.
na militância partidária como forma de questionar o
b) rigidez da hierarquia de classe.
exercício do poder.
c) ênfase formalista na administração.
d) protagonismo do Executivo no poder. 11. Nunca acreditei que um estudante pudesse orien-
e) centralidade do indivíduo na sociedade. tar-se para a filosofia porque tivesse sede da verdade: a
fórmula é vazia. É de outra coisa que o jovem tem neces-
9. (UEMA) Do exposto pelo filósofo Gérard Lebrun, po- sidade: falar uma língua de segurança, instalar-se num
de-se afirmar que, do ponto de vista político, o conceito vocabulário que se ajuste ao máximo às "dificuldades"
de poder e de força significa (no sentido cartesiano), munir-se de um repertório de to-
a) obter consenso das pessoas em torno de uma ideia. poi, em suma, possuir uma retórica que lhe permitirá a
b) insuflar os indivíduos na realização de suas ações. todo instante denunciar a "ingenuidade" do "cientista"
ou a "ideologia" de quem não pensa como ele.
c) delimitar o comportamento de um grupo social.
d) exigir o comando das relações sindicais. G. LEBRUN
e) conseguir subsídios junto aos partidos políticos.
Ao pensar o ensino de filosofia a partir dessa perspecti-
10. (UFPR-2019) Escreve Gerard Lebrun: “Com efeito, o va, Favaretto destaca que
que é política? A atividade social que se propõe a ga- a) todo aluno está apto a filosofar, já que se trata,
rantir pela força, fundada geralmente no direito, a se- fundamentalmente, de um exercício de retórica.
gurança externa e a concórdia interna de uma unidade b) a vivência dos alunos e o debate sobre suas ide-
política particular (conforme descreve Julien Freund em ologias constituem o ponto de partida de qualquer
Qu’estce que la Politique). Não é dogmaticamente que projeto atual de ensino de filosofia.
eu proponho esta definição (outras são possíveis), mas
c) os alunos, através da leitura e da interpretação fi-
simplesmente para ressaltar que, sem o uso da noção de
força, a definição seria visivelmente defeituosa. Se, numa losófica, educam-se para o domínio desta linguagem.
democracia, um partido tem peso político, é porque tem d) perdemos por completo a noção da história da
força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um filosofia como uma evolução na busca da verdade,
sindicato tem um peso político é porque tem força para restando-nos apenas a abordagem temática.
deflagrar uma greve. Assim, força não significa necessa- e) a filosofia deve progressivamente voltar-se para o
riamente a posse de meios violentos de coerção, mas de desenvolvimento das competências da retórica e da
meios que permitam influir no comportamento de outra expressão lingüística.
pessoa. A força não é sempre (ou melhor, é raríssimamen-
te) um revólver apontado para alguém”. 12. “Cheguei tarde à cultura militante. Pertenço a uma
geração que saiu do fascismo, que não deixava nenhu-
(LEBRUN, GERARD. O QUE É PODER. SÃO PAULO: BRASILIENSE, 1981, P. 04.) ma escolha entre a apologia e o silêncio...”
Qual é a relação entre força e política expressa pelo au- (FONTE: BOBBIO, NORBERTO. O TEMPO DA MEMÓRIA: DE
tor nesse excerto? SENECTUDE E OUTROS ESCRITOS AUTOBIOGRÁFICOS. TRAD. DANIELA
VERSIANI. RIO DE JANEIRO: CAMPUS, 1997, P. 91)
a) Não há relação direta entre força e política, pois nenhu-
ma se apresenta como componente essencial que permita A partir do depoimento acima apresentado, explique
explicar as diferentes formas de exercício do poder. como nos regimes totalitários se estabelecem as rela-
b) A política e a força anulam-se enquanto categorias ções entre:
que pretendem explicar as diferentes noções de poder a) O Estado e a organização da Sociedade Civil.
hoje existentes. O poder, por sua vez, é formado ex-
b) O Estado e os Meios de Comunicação de Massa.
clusivamente pela força, seja militar ou civil, pois ele
é manifestação simbólica das estruturas de repressão.
c) Significa afirmar que as estruturas de poder instru-
mentalizam a força e a política como forma de manter Gabarito
um determinado modelo de governança. A relação entre
1. C 2. A 3. E 4. C 5. C 6. B
elas se dá nessa condição: força e política só existem, de
fato, quando as estruturas de poder, ou seja, o governo, 7. D 8. E 9. A 10. D 11. C
considera tais estruturas necessárias para a manutenção
de uma determinada ordem institucional repressiva. 12.
d) Força e política não são conceitos excludentes ou a) Sob tal aspecto, podemos ver que o totalitarismo
contrários. Para que a política seja exercida, é necessária implanta a anulação das liberdades democráticas para

185
que, dessa forma, nenhum tipo de oposição tenha voz
na esfera pública. O cidadão passa a ser controlado
não apenas pelo aspecto universal e genérico das leis,
mas também é controlado em suas liberdades individu-
ais através do policiamento e a delação daqueles que
incorporam os ditamos do Estado Totalitário.
b) O lugar dos meios de comunicação no regime tota-
litário pode ser visto sobre duas perspectivas. Por um
lado, o totalitarismo implementa uma forte censura
interessada em evitar qualquer tipo de manifestação
crítica que se oponha ao regime. Por outro, utiliza
desses mesmos meios de comunicação para promo-
ver uma imagem positiva do governo e alicerçar o
apoio das maiorias através de textos, imagens e sons
de grande impacto.

186

Você também pode gostar