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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo
Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos
alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS VIVENCIANDO


De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico
volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi-
nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina culta a compreensão de determinados conceitos e impede
em todo o território nacional. o aprofundamento nos temas para além da superficial me-
morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na
aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi-
venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo-
cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
TEORIA
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co- contato em seu dia a dia.
leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu-
ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil
compreensão, completos e organizados. Além disso, contam
com imagens ilustrativas que complementam as explicações APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em
cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa-
abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos
à rotina intensa de estudos. compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re-
solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça
abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e
de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas
MULTIMÍDIA resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica-
ções dadas em sala de aula.
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui-
dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar
o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a
compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa-
cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem-
de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati- penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa
vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e
ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção
seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
o conhecimento do nosso aluno. dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento
do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas
resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e
descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no
dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é prova e a resolvê-las com tranquilidade.
elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que
trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co-
nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina.
DIAGRAMA DE IDEIAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso,
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma- orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de
temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte-
com essa realidade por meio de explicações que relacionam údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de mentais e fluxogramas.
outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta
forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a
mundo em que ele vive. organização dos estudos e até a resolução dos exercícios.

Coordenação de Material Didático


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SUMÁRIO
BIOLOGIA
MORFOLOGIA VEGETAL 5
AULAS 45 E 46: MORFOFISIOLOGIA VEGETAL V 7
AULAS 47 E 48: HORMÔNIOS VEGETAIS 17
AULAS 49 E 50: MOVIMENTOS VEGETAIS 26
AULAS 51 E 52: FOTOPERIODISMO 32

SISTEMAS FISIOLÓGICOS E ISTs 37


AULAS 45 E 46: DROGAS E SISTEMA NERVOSO CENTRAL 39
AULAS 47 E 48: SISTEMA ENDÓCRINO I 46
AULAS 49 E 50: SISTEMA ENDÓCRINO II E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS 56
AULAS 51 E 52: INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS 65

BIOTECNOLOGIA E GENÉTICA 71
AULAS 45 E 46: HERANÇA QUANTITATIVA 73
AULAS 47 E 48: MUTAÇÕES 78
AULAS 49 E 50: GENÉTICA DE POPULAÇÕES 85
AULAS 51 E 52: BIOTECNOLOGIA E ENGENHARIA GENÉTICA 89
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM

Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de
produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade.
Competência 1

H1 Reconhecer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em diferentes contextos.
H2 Associar a solução de problemas de comunicação, transporte, saúde ou outro, com o correspondente desenvolvimento científico e tecnológico.
H3 Confrontar interpretações científicas com interpretações baseadas no senso comum, ao longo do tempo ou em diferentes culturas.
Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida humana ou medidas de conservação, recuperação ou utilização
H4
sustentável da biodiversidade.

Identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais em diferentes contextos.


Competência 2

H5 Dimensionar circuitos ou dispositivos elétricos de uso cotidiano.


H6 Relacionar informações para compreender manuais de instalação ou utilização de aparelhos, ou sistemas tecnológicos de uso comum.
Selecionar testes de controle, parâmetros ou critérios para a comparação de materiais e produtos, tendo em vista a defesa do consumidor, a saúde
H7
do trabalhador ou a qualidade de vida.

Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumentos ou ações
científico-tecnológicos.
Identificar etapas em processos de obtenção, transformação, utilização ou reciclagem de recursos naturais, energéticos ou matérias-primas, con-
H8
Competência 3

siderando processos biológicos, químicos ou físicos neles envolvidos.


Compreender a importância dos ciclos biogeoquímicos ou do fluxo energia para a vida, ou da ação de agentes ou fenômenos que podem causar
H9
alterações nesses processos.
Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e(ou) destino dos poluentes ou prevendo efeitos em sistemas naturais, produ-
H10
tivos ou sociais.
H11 Reconhecer benefícios, limitações e aspectos éticos da biotecnologia, considerando estruturas e processos biológicos envolvidos em produtos biotecnológicos.
H12 Avaliar impactos em ambientes naturais decorrentes de atividades sociais ou econômicas, considerando interesses contraditórios.

Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos,
aspectos culturais e características individuais.
Competência 4

H13 Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos seres vivos.
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente,
H14
sexualidade, entre outros.
H15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos.
H16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos

Entender métodos e procedimentos próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos.
Competência 5

Relacionar informações apresentadas em diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências físicas, químicas ou biológicas,
H17
como texto discursivo, gráficos, tabelas, relações matemáticas ou linguagem simbólica.
H18 Relacionar propriedades físicas, químicas ou biológicas de produtos, sistemas ou procedimentos tecnológicos às finalidades a que se destinam.
Avaliar métodos, processos ou procedimentos das ciências naturais que contribuam para diagnosticar ou solucionar problemas de ordem social,
H19
econômica ou ambiental.

Apropriar-se de conhecimentos da física para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas.
Competência 6

H20 Caracterizar causas ou efeitos dos movimentos de partículas, substâncias, objetos ou corpos celestes.
H21 Utilizar leis físicas e (ou) químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da termodinâmica e(ou) do eletromagnetismo.
Compreender fenômenos decorrentes da interação entre a radiação e a matéria em suas manifestações em processos naturais ou tecnológicos,
H22
ou em suas implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais.
Avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de energia em ambientes específicos, considerando implicações éticas, ambientais,
H23
sociais e/ou econômicas.

Apropriar-se de conhecimentos da química para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas.
Competência 7

H24 Utilizar códigos e nomenclatura da química para caracterizar materiais, substâncias ou transformações químicas.
Caracterizar materiais ou substâncias, identificando etapas, rendimentos ou implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais de sua
H25
obtenção ou produção.
Avaliar implicações sociais, ambientais e/ou econômicas na produção ou no consumo de recursos energéticos ou minerais, identificando transfor-
H26
mações químicas ou de energia envolvidas nesses processos.
H27 Avaliar propostas de intervenção no meio ambiente aplicando conhecimentos químicos, observando riscos ou benefícios.

Apropriar-se de conhecimentos da biologia para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas.
Competência 8

Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou com seus limites de distribuição em diferentes ambientes, em
H28
especial em ambientes brasileiros.
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a saúde, a produção de alimentos, matérias
H29
primas ou produtos industriais.
Avaliar propostas de alcance individual ou coletivo, identificando aquelas que visam à preservação e a implementação da saúde individual,
H30
coletiva ou do ambiente.
BIOLOGIA

6
CIÊNCIAS DA
MORFOLOGIA
VEGETAL
NATUREZA
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

No Enem, o foco em botânica é o conjunto As questões de botânica, do ponto de vista


de adaptações dos órgãos vegetais em re- da morfofisiologia, envolvem principalmen-
lação aos ambientes em que vivem. te as adaptações dos diferentes tecidos e
órgãos relacionadas ao ambiente em que
as plantas vivem.

Em morfofisiologia vegetal, as questões Botânica é um assunto que cai frequente- O assunto dominante na área de botânica
costumam envolver os principais tecidos mente, com exercícios abordando abertura é fisiologia vegetal, com grande destaque
que compõem o corpo das plantas, bem e fechamento de estômatos e dinâmica de para o transporte de seiva, assunto que
como a dinâmica de transporte de seiva. seiva bruta e elaborada. aparece com frequência.

Vestibular bastante recente, o que dificul- Pela recente aquisição de um novo formato Nessa prova, há maior incidência de ques- Os principais assuntos são fotossíntese,
ta analisar a incidência temática a longo de prova, encontra-se em situação seme- tões envolvendo os diversos ciclos de vida sua relação com a respiração vegetal e
prazo. Na área da botânica, há destaque lhante ao Albert Einstein. As últimas provas e a diversidade vegetal, em especial das transporte nos vasos condutores (xilema
para o ciclo de vida das plantas e a ação de focaram em ciclos de vida e diversidade angiospermas. e floema).
hormônios vegetais. dos vegetais.

UFMG
Os temas mais comuns são o desenvol- Possui questões mais direcionadas à diver- Trata-se de uma prova bastante abrangen-
vimento das sementes e o transporte de sidade e anatomia vegetal, sendo assim, te, mas destaca-se a importância de saber
seiva. é importante atentar-se às aulas sobre os ler e interpretar figuras relacionadas a plan-
diversos tecidos. Há também cobrança de tas, bem como a compreensão de fisiologia
assuntos pouco comuns, como fotoperio- e anatomia vegetais.
dismo.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A morfofisiologia vegetal não é um assun- O candidato deve se preparar para encon- São recorrentes questões envolvendo os
to muito presente; as questões envolvem, trar questões com alto nível de especifici- ciclos de vida e a diversidade vegetal, ou
principalmente, a anatomia das estruturas dade em botânica, especialmente quanto seja, é importante atentar-se às diferentes
vegetativas, bem como a ação dos estô- à fisiologia vegetal e aos processos fotos- características de cada grupo.
matos. sintetizantes.

6
O transporte de água nos vegetais tem início na transpi-
ração, quando a planta perde umidade para o ambiente.
A consequência é o movimento da água em direção ao
ápice, tornando a região das raízes mais concentrada (hi-
pertônica) em relação ao solo (hipotônico) e estimulan-
MORFOFISIOLOGIA do a absorção de água por osmose. Ou seja, há grande

VEGETAL V
potencial hídrico devido à diferença de concentração de
solutos entre o sistema radicular e o solo adjacente.
Portanto, para que seja possível a retirada de água do
solo, é necessário que o potencial hídrico daz raízes seja
menor que o do ambiente ao seu redor. Algumas plantas,
por exemplo, são capazes de aumentar a concentração de

CN AULAS solutos por meio de transporte ativo, diminuindo o po-


tencial hídrico em comparação ao solo e promovendo a
45 E 46 entrada de água no organismo.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4e8 15, 16 e 29 1.1. Relações ecológicas
e absorção vegetal
Nos tecidos das raízes das plantas há grande disponibili-
1. Introdução dade de nutrientes e um ambiente propício para a instala-
ção e sobrevivência de alguns seres vivos. Um exemplo de
Considerando que a água é absorvida na raiz e deve chegar ao relação ecológica muito famosa é a micorriza. Os fungos
principal órgão fotossintético, a folha, o transporte desse sol- se associam às raízes de plantas protegendo-as contra fun-
vente precisa ser eficiente e percorrer um conjunto de canais. gos patogênicos e aumentando sua área de alcance e seu
Esses canais são formados por células alongadas e sobrepostas potencial de absorção. Os vegetais, por sua vez, oferecem
de maneira a construir os vasos condutores xilema e floema. substâncias orgânicas essenciais para a sobrevivência do
fungo. Apesar de ser uma associação de grande ocorrência,
O sistema vascular das plantas também é visível nas folhas
ela não costuma ocorrer em ambientes com alta disponibi-
e em suas nervuras, que correspondem aos vasos condu-
lidade de minerais.
tores. Assim, esse órgão recebe os componentes da seiva
bruta (água e sais) pelo xilema e produz substâncias or- Outra relação mutualística muito comum acontece com as
gânicas por meio de sua maquinaria fotossintética, distri- espécies de leguminosas e bactérias dos gêneros Rhizo-
buindo a seiva elaborada pelo floema que percorre o bium e Bradyrhizobium. As bactérias nódulos nas raízes e
corpo do organismo. são capazes de fixar nitrogênio atmosférico no solo, con-
vertendo-o em amônia − molécula que pode ser aproveita-
da pelas plantas. Dessa forma, as leguminosas conseguem
viver em solos pobres em nitrogênio em que outros orga-
nismos não conseguiriam.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

1.2. Plantas carnívoras


Muito famosas, as plantas carnívoras despertam interesse
dos curiosos. Seu nome é devido ao mecanismo de captura
de insetos por meio de estruturas especializadas que variam
entre as espécies. Esses organismos utilizam proteínas pro-
venientes dos animais para complementar sua absorção de
compostos nitrogenados, uma vez que, em geral, vivem em
solo carente de nitrogênio.
Vale ressaltar que as plantas carnívoras são autótrofas e reali-
Desenho representativo do sentido do deslocamento da seiva bruta zam fotossíntese. A captura de insetos não substitui essa for-
e elaborada. A água segue a sequência solo-planta-atmosfera:
é absorvida pelo sistema radicular, transportada pelo vasos
ma de obtenção de matéria orgânica, apenas complementa a
condutores e eliminada por transpiração pelo organismo. nutrição do organismo em relação a compostos nitrogenados.

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Foto de Drosera sp, espécie de planta carnívora com secreção pegajosa que possui a finalidade de aprisionar
e grudar pequenos insetos para serem digeridos vagarosamente por enzimas lisossômicas.

2. Absorção de água
O sistema radicular é composto por muitos tecidos especializados em absorver água, processo que ocorre principalmente na
zona dos pelos absorventes.

A pressão necessária para que o solvente entre na raiz é chamada pressão osmótica (PO). Quando há pressão suficiente,
a água entra no corpo da planta por osmose (transporte passivo). O movimento continua até que as células se tornem
túrgidas e o vacúolo saturado de água. Nesse ponto, a parede celular começa a exercer pressão no sentido contrário por
meio da força denominada pressão de turgor (PT).
Dessa forma, a entrada de água é proporcional à diferença existente entre os valores de PO e PT. A essa diferença, dá-se o
nome de deficit de pressão de difusão (DPD). Essa relação pode ser expressa pela seguinte equação:
DPD = PO – PT

3. Absorção dos minerais


A assimilação dos elementos essenciais depende de uma série de fatores. No geral, ocorre com a solução presente no solo e se
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

encontra na forma iônica. A passagem dos íons para o interior da planta depende do fluxo de água em seu corpo, da densidade
da raiz, bem como de outros mecanismos fisiológicos e características morfológicas. Se porventura alguns minerais estiverem
em maior quantidade no interior das raízes do que no meio externo, a absorção desses elementos pode ocorrer com gasto de
energia e contra o gradiente de concentração (transporte ativo).

3.1. Elementos essenciais e nutrientes


Profissionais da área devem ter conhecimento sobre as condições necessárias para o crescimento e desenvolvimento saudá-
vel das plantas, seja para interesse econômico e/ou bem-estar do vegetal.
Com as pesquisas recentes, sabe-se quais elementos são essencias para esses organismos e que, na ausência de determina-
do composto, a planta não completa o seu desenvolvimento. Além disso, o componente em questão deve compor alguma
molécula fundamental, como o magnésio existente na molécula de clorofila.
Os chamados elementos essenciais são divididos em macronutrientes e micronutrientes, de acordo com a quantidade ne-
cessária para a planta.

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§ Macronutrientes – elementos necessários em grandes quantidades para a planta: N, P, K, Ca, Mg e S.

§ Micronutrientes – elementos necessários em menores quantidades para a planta: B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn.

Ademais, os elementos C, O, H são considerados macronutrientes, uma vez que compõem a maior parte da biomassa vegetal
e são necessários em quantidades superiores do que os demais. Contudo, a planta deve retirá-los do ar (CO2) e da água (H2O).
A deficiência de determinado mineral compromete o crescimento, metabolismo e desenvolvimento da planta. Assim como
as deficiências nutricionais humanas são diagnosticadas por um conjunto de sintomas, os vegetais também podem ter suas
carências nutricionais detectadas por determinados indícios.
Elemento Funcionalidade Sintomas de deficiência
Deformação nas paredes celulares das células que
Integridade da parede celular e membrana plasmática,
Boro compõem o ápice das raízes, retardo do cresci-
produção de ácidos nucleicos e utilização do Ca2+.
mento e necrose nas folhas mais jovens.

Compõe a lamela média (divisão celular), funcionalidade da


Necrose no meristema, sistema radicular preju-
Cálcio membrana plasmática, mensageiro secundário que sinaliza
dicado: acastanhado, ramificado e curto.
mudanças externas. Papel em diversos processos metabólicos.

Essencial em trocas iônicas e osmose. Fo- Murchamento das folhas e prejudicial


Cloro
tólise (quebra) da água do PSII. crescimento das raízes.

Cobre Compõe a estrutura de algumas enzimas de oxirredução. Folhas verdes escuras contendo manchas necróticas.

Componente de coenzimas (vitaminas)


Enxofre Em geral clorose em folhas jovens e maduras.
e aminoácidos.
Ferro Biossíntese de citocromos e clorofila. Clorose em folhas jovens.
Elemento estrutural dos ácidos nucleicos (DNA e
Crescimento reduzido nas plantas jovens, coloração escura
Fósforo RNA) e das membranas celulares (fotolipídeos). Par-
nas folhas. Folhas com manchas de tecido morto (necrose).
ticipa de reações na respiração e fotossíntese.
Magnésio Síntese de DNA e RNA, estrutura da clorofila. Clorose nas nervuras e necrose nas folhas.
Reação de fotossíntese. Ativação de enzi- Clorose internervuras. Em leguminosas cau-
Manganês
mas descarboxilares e desidrogenases. sa nas sementes manchas e rupturas.

Componente da nitrato redutase e nitrogenase, en- Clorose generalizada entre as nervuras e ne-
Molibdênio
zimas envolvidas na absorção do Nitrogênio. crose nas folhas mais velhas.

Níquel Componente da uréase. Acúmulo de ureia nas folhas, apresentando necrose na ápice foliar.

Clorose generalizada nas folhas mais ve-


Nitrogênio Constituinte de aminoácidos, ácidos nucleicos, clorofilas.
lhas, senescência das folhas jovens.

Redução da área foliar e alteração do me-


Zinco Componente de enzima.
tabolismo dos carboidratos.

Tabela com dinâmica de cada nutriente fundamental para a planta. VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

3.2. Fatores que afetam a assimilação


A absorção salina é dependente de fatores internos, relacionados à planta ou ao tecido em questão, e externos, tais como:

§ Aeração: o oxigênio atmosférico é essencial para a respiração das raízes, por isso é necessário que essa estrutura esteja
em solo com condições que facilitem a penetração, o deslocamento e o armazenamento do ar.

§ Temperatura: a faixa entre 0 e 30ºC aumenta a disponibilidade de íons e também a atividade metabólica.

4. Condução vegetal
O surgimento de tecidos especializados em transportar seiva é a novidade evolutiva e principal característica das traqueófitas.
Ao contrário do lento transporte célula a célula, seus vasos condutores possibilitam um transporte rápido e eficiente para toda a
planta, nutrindo-a por completo. As células do sistema vascular possuem formato alongado e cilíndrico, importante para a função
que exercem. Além disso, estão dispostas de modo a formar túbulos contínuos, responsáveis por ligar regiões da planta.

9
(inorgânica). Dessa forma, a seiva pode fluir tanto no sen-
tido longitudinal quanto lateral, já que essas células estão
dispostas em feixes, com as extremidades ligadas entre si.

§ Elementos de vaso: menores e mais largos que as cé-


lulas anteriores, também dotados de pontoações. Essas
células se unem formando um tubo similar a uma traqueia.

Esquema representando a estrutura interna de um tipo de caule

Desenhos comparativos entre o elemento de vaso e a traqueíde.

4.1.1. A condução da seiva inorgânica


multimídia: vídeo
Fonte: Youtube A penetração da água se inicia através dos pelos radi-
culares, evaginações da epiderme das células da raiz.
Transporte pelo Xilema
Essas estruturas aumentam a área de superfície de con-
tato com o solo, permitindo maior absorção de água e
sais minerais. Após absorvida, a água atravessa a raiz,
4.1. Xilema radialmente, até o xilema.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

É o tecido responsável pela condução de água e sais mine- Existem dois caminhos possíveis: o apoplasto, no qual
rais absorvidos do solo. Por conta do depósito de lignina, a água se move entre as células e suas membranas, e o
suas células são mortas, rígidas e ocas e também auxiliam segundo é o transporte via simplasto, no qual a água
na sustentação da planta. Os componentes celulares con- penetra na célula e passa pelo citoplasma através dos
dutores desse tecido são de dois tipos: plasmodesmos das células adjacentes.
§ Traqueídes: células delgadas, curtas e com peque- A passagem pela endoderme sempre ocorre via simplasto,
no diâmetro. Sua principal característica é a presença pois essas células possuem estrias de suberina, denomi-
de pontoações − pequenos orifícios que permitem a nadas estrias de Caspary, que formam uma espécie de
comunicação intercelular e a passagem de seiva bruta “cinturão” impedindo a passagem via apoplasto.

10
estria de Caspary

endoderme

floema

A periciclo
xilema

x
rte

epiderme
B

O movimento de água através da raiz é resultante de um mecanismo osmótico.


A água pode seguir via simplasto (trajeto A) ou via apoplasto (trajeto B).

A entrada da água na raiz só ocorre graças ao gradiente formado pelo fluxo desse solvente, o qual é decrescente do solo
ao xilema. Tal gradiente aumenta com a pressão negativa formada devido à transpiração dos estômatos. A água, então,
é transportada em virtude da pressão formada na raiz e impulsionada pela transpiração da folha, formando uma coluna
d’água na planta.
De maneira geral, os mecanismos que auxiliam no transporte de seiva inorgânica estão descritos a seguir:

§ Pressão de raiz: a osmose tem início graças ao transporte ativo para a captação de sais, tornando a concentração
interna hipertônica em relação ao meio e estabelecendo uma pressão positiva (impulso da raiz). Assim, é possível
que o fluxo de água ocorra através de osmose para o interior das células epidérmicas radiculares. Esse deslocamento
ocorre até o interior do xilema, atravessando as células do córtex e a endoderme. Não é toda planta que apresenta
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

esse mecanismo.

§ Capilaridade: propriedade acerca do deslocamento de líquido por entre os vasos finos (capilares) do xilema
devido à existência da coesão entre as moléculas de água e sua adesão às paredes do sistema vascular lenhoso.
Porém, essa característica seria, por si só, insuficiente para promover o movimento de água em uma planta de
grande porte.

§ Transpiração-tensão-coesão-adesão: série de eventos que explica o movimento ascendente da água ao longo


da planta. Nesse modelo, a transpiração através das folhas promove uma tensão (pressão hidrostática negativa)
nos vasos do xilema, com consequente formação de uma coluna líquida, enquanto a capilaridade − coesão entre
as moléculas de água e sua adesão aos vasos xilemáticos − garante a permanência dessa coluna contra a força
da gravidade. Além disso, as propriedades das células lignificadas do xilema impedem o colapso dos vasos. Quanto
maior o nível de transpiração, em decorrência dos estômatos abertos, maior será a tensão provocada no xilema e o
estímulo à absorção radicular de água. Essas formulações foram inicialmente organizadas por Dixon e Joy (1895)
sob o nome de teoria da coesão-tensão.

11
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Para compreender como ocorre o transporte de seiva bruta nos vegetais, são necessários conhecimentos sobre con-
ceitos químicos, como força de coesão e adesão, o que resulta na capilaridade observada no vaso condutor xilema.
A força de coesão é a formação de atração entre os átomos de moléculas de mesma espécie (por exemplo, atração
entre uma molécula de água e outra molécula de água). Já a força de adesão é a força de atração entre átomos de
moléculas de naturezas distintas. A capilaridade, que é a propriedade que explica o transporte de água nos vegetais,
dá-se através da somatória das forças de adesão e coesão.

4.1.2. Gutação
Há situações em que determinadas plantas, embora saturadas de água, continuam a absorvê-la. A eliminação do exces-
so é feita sob a forma de gotas secretada através dos hidatódios, estruturas localizadas nos bordos das folhas, onde
terminam as nervuras. Isso acontece, por exemplo, quando a umidade do ar está alta impedindo que ocorra a evapo-
transpiração (perda de água na forma de vapor). A expulsão de água, em conjunto com sais minerais e outros compostos,
é decorrente da pressão de raiz. Assim, à medida que a água evapora, a folha fica coberta com cristais das diversas
substâncias que também foram liberadas. Gutação é diferente de orvalho – água atmosférica na superfície das folhas.

Gutação em folhas

4.1.3. Anéis anuais de crescimento


Em plantas de regiões temperadas e/ou estações bem definidas, é possível calcular a idade de uma árvore através da
contagem dos anéis anuais de crescimento, identificados nos círculos claros e escuros no interior do tronco.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Foto com os aneís de crescimento observados no xilema secundário de certas plantas.

12
Os anéis escuros são formados nas estações mais frias, sua coloração é justificada pelo metabolismo mais lento do
vegetal nesse período. As células se expandem pouco e as paredes celulares ficam menos espaçadas e mais eviden-
ciadas. Os anéis claros são desenvolvidos nas estações mais quentes, que possuem condições propícias para permitir
o maior desenvolvimento das células.

Desenho representativo da anatomia de um caule. Os vasos lenhosos ativos constituem o alburno, ao passo que os inativos formam o cerne.

4.2. Floema
O floema é o responsável pela condução de seiva orgâ-
nica (elaborada), constituída de elementos produzidos na
fotossíntese. Diferente do xilema, suas células são vivas e
anucleadas. A comunicação intercelular é mantida atra-
vés de placas crivadas nas paredes celulares terminais e
multimídia: vídeo plasmodesmos (expansões citoplasmáticas) que atraves-
Fonte: Youtube sam os crivos. Graças a essas estruturas e organização, a
[ Experimento ] Transporte de substâncias nos vegetais seiva orgânica flui através das células. Os tubos crivados
são acompanhados por células companheiras nucleadas e
indispensáveis ao seu funcionamento metabólico.
Placa crivada

Elementos do
tubo crivado Áreas
crivadas

Áreas
crivadas Calose
Poros
Célula anexa

TUBO CRIVADO
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Corte longitudinal e transversal do floema mostrando tubos crivados (formados por células chamadas de
elementos de tubos crivados) e células companheiras.

4.2.1. Condução de seiva orgânica


A partir dos vasos liberianos, a seiva orgânica e seus componentes sintetizados nos órgãos produtores ou armazenados em estru-
turas de reserva são transportados até outras partes consumidoras, como caule em crescimento, frutos, sementes e raiz.
A hipótese do fluxo por pressão ou do fluxo em massa, proposta pelo botânico Münch, estabelece que o transporte de
seiva elaborada é impelido pela força do curso da água.
As células fotossintetizantes do parênquima foliar produzem substâncias orgânicas que são bombeadas ativamente para os
vasos liberianos. O interior dos componentes celulares do floema torna-se hipertônico em comparação às células vizinhas
e passa a absorver água proveniente do xilema. Dessa forma, se estabelece um fluxo de água que, por arraste, transporta
moléculas orgânicas para os demais tecidos da planta. Devido à absorção de tais substâncias pelos órgãos consumidores, a
pressão osmótica do floema diminui e permite a perda de água, produzindo um fluxo entre as regiões envolvidas.

13
água glicose
água

Soluçaõ
Soluçaõ Diluída
Concentração

vaso de floema
vaso de xilema

o
transpiração

pressã
água água

Nesse modelo, a solução concentrada representa a folha, sede de produção de


moléculas orgânicas, e a solução difusa representa a raiz, um local com células
consumidoras, sede de armazenamento de moléculas orgânicas. O reservatório
de água representa o xilema, e o duto de ligação representa o floema.
água glicose

Esquematização do fluxo de água que promove o deslocamento da seiva elaborada nos vasos floemáticos.

1. O açúcar entra nas células do vaso liberiano e provoca aumento de concentração do soluto – hipertonia.
A água é absorvida especialmente pelo vaso xilemático através de osmose.
2. A entrada de água gera pressão que impulsiona a seiva elaborada pelo vaso de floema.
3. Quando a solução chega à raiz, o açúcar penetra nas células radiculares e a água retorna ao xilema.
4. Por fim, o xilema novamente transporta a água em direção aos centros produtores de seiva orgânica.

Anel de Malpighi
Teste que visa demonstrar a posição do cilindro que forma o floema, localizado na
região mais externa do tronco da árvore, a partir da extração de uma camada em
forma de anel ao longo da casca. Após certo período, as raízes morrem pela falta
Xilema
de chegada de substâncias orgânicas na região. Esse experimento foi idealizado intacto Anel de Malpighi

pelo italiano Marcello Malpighi. Floema

Observe o espessamento do tronco na região acima do anel. Esse fato se rela-


ciona ao aumento da atividade meristemática na região devido ao acúmulo de
composto orgânico.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

14
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 29
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a
saúde, a produção de alimentos, matérias-primas ou produtos industriais.

Os alunos devem analisar situações-problema e aplicar os conhecimentos adquiridos em sala para prever
os impactos que serão gerados, como também desenvolver hipóteses de soluções que podem ser aplicadas.
Desse modo, o estudo da fisiologia vegetal tem sua importância devido à aplicação desses conhecimentos
no desenvolvimento da agricultura.

MODELO 1
(Enem) A lavoura arrozeira na planície costeira da região Sul do Brasil comumente sofre perdas elevadas devido
à salinização da água de irrigação, que ocasiona prejuízos diretos, como a redução de produção da lavoura.
Solos com processo de salinização avançado não são indicados, por exemplo, para o cultivo de arroz. As plantas
retiram a água do solo quando as forças de embebição dos tecidos das raízes são superiores às forças com que
a água é retida no solo.
WINKEL, H.L.; TSCHIEDEL, M. Cultura do arroz: salinização de solos em cultivos de arroz.
Disponível em: <http//agropage.tripod.com/saliniza.hml>. Acesso em: 25 jun. 2010 (adaptado).

A presença de sais na solução do solo faz com que seja dificultada a absorção de água pelas plantas, o que
provoca o fenômeno conhecido por seca fisiológica, caracterizado pelo(a):
a) aumento da salinidade, em que a água do solo atinge uma concentração de sais maior que a das células
das raízes das plantas, impedindo, assim, que a água seja absorvida;
b) aumento da salinidade, em que o solo atinge um nível muito baixo de água, e as plantas não têm força
de sucção para absorver a água;
c) diminuição da salinidade, que atinge um nível em que as plantas não têm força de sucção, fazendo com
que a água não seja absorvida;
d) aumento da salinidade, que atinge um nível em que as plantas têm muita sudação, não tendo força de
sucção para superá-la;
e) diminuição da salinidade, que atinge um nível em que as plantas ficam túrgidas e não têm força de
sudação para superá-la.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A presença de sais na solução do solo faz com que seja dificultada a absorção de água pelas plantas
(devido ao processo de osmose), o que provoca a seca fisiológica. Esse fenômeno é caracterizado pelo
aumento da salinidade, em que a água do solo atinge uma concentração de sais maior que a das células
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

das raízes das plantas, impedindo, assim, que a água seja absorvida.

RESPOSTA Alternativa A

15
DIAGRAMA DE IDEIAS

TRANSPORTE
DE SEIVAS

ÁGUA:
- OSMOSE
- VIAS: SIMPLASTO E APOPLASTO
ABSORÇÃO
SAIS MINERAIS:
- MACRONUTRIENTES (N, P, K, Ca, Mg, S)
- MICRONUTRIENTES (B, C, Cu, Fe)

SEIVA BRUTA
XILEMA:
- CÉLULAS MORTAS
- TRAQUEÍDES E ELEMENTOS DO VASO

CONDUÇÃO
MECANISMOS:
- PRESSÃO DE RAIZ
- CAPILARIDADE
- TRANSPIRAÇÃO-TENSÃO-COESÃO-ADESÃO

FOTOSSÍNTESE:
PRODUÇÃO - PARÊNQUIMA CLOROFILIANO (FOLHA)
- BOMBEAMENTO ATIVO PARA O FLOEMA

FLOEMA:
SEIVA ELABORADA
- CÉLULAS VIVAS
- TUBOS CRIVADOS E CÉLULAS COMPANHEIRAS
CONDUÇÃO
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

MECANISMOS:
- FLUXO DE MASSA
- DO ÓRGÃO PRODUTOR (FOLHAS) PARA
OS CONSUMIDORES (CAULE, FRUTOS, RAIZ)

16
Meristema
apical

HORMÔNIOS
VEGETAIS
Meristema
fundamental

Meristema

CN AULAS
fundamental

Meristema 47 E 48
apical

COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4e8 13, 14, 15 e 29

Meristema
apical

Meristema

1. Introdução fundamental

As plantas possuem seu desenvolvimento mediado por Cortes histológicos da gema apical caulinar e da radicular,
fitormônios, hormônios vegetais de natureza química va- com suas respectivas zonas meristemáticas.

riável. Em quantidades adequadas e somadas à influência O mesmo hormônio pode desencadear respostas diferen-
do ambiente, essas substâncias modulam o metabolismo tes de acordo com o tecido de ação e com as diferentes
da planta. As classes de hormônios que merecem destaque fases do desenvolvimento da planta. Alguns atuam juntos
são as auxinas, as citocininas, as giberelinas, o abscísico e para um mesmo fim, como os do crescimento e do alon-
o etileno. gamento celular.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

No estudo dos hormônios vegetais é fundamental o conhecimento de certos conceitos de química, como fórmulas e
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

estruturas químicas. A compreensão desses conteúdos auxilia nos estudos dos hormônios, de como eles agem e de
quais são suas características.

1.1. Crescimento e desenvolvimento vegetal


É preciso ressaltar que existe diferença entre os termos crescimento e desenvolvimento, embora com frequência eles sejam tratados
como sinônimos. Crescimento é o resultado do alongamento e da divisão celular, levando a um aumento no tamanho da planta
ou da estrutura em questão. Desenvolvimento, por sua vez, é a formação e a diferenciação de tecidos e órgãos especializados.
Assim como nos animais, os hormônios possuem diferentes respostas de acordo com sua concentração e são produzidos em um
ou mais locais determinados. No entanto, sua ação em órgãos-alvo pode ser a longas distâncias, pois essas sustâncias viajam pelo
sistema vascular. As ações são diversas e podem inibir ou estimular, além de alterar a velocidade de reações químicas do metabolismo.

17
Hormônio Principais funções Local de produção
Estimula o elongamento das células recém-formadas pelos meriste- Meristemas do caule, primórdios foliares, folhas jo-
Auxina mas, promovendo o crescimento de raízes e caules. vens, frutos e sementes
Citocinina Estimula as divisões celulares e o desenvolvimento das gemas. Acredita-se que seja a extremidade das raízes
Estimula o amadurecimento de frutos; juntamente com as auxinas,
Etileno Diversas partes da planta
atua na abscisão das folhas.
Promove a germinação das sementes e o desenvolvimento dos frutos;
Giberelina Meristemas, frutos e sementes
estimula a floração.
Inibe o crescimento; induz o fechamento dos estômatos; promove a
Ácido abscísico dormência de gemas e de sementes; induz o envelhecimento vegetal Folhas, coifa e caule
(folhas, frutos e flores).

Tabela com os principais fitormônios, suas funções e locais de produção.

2. Auxinas
As auxinas formaram o primeiro grupo de hormônios vegetais que foi isolado e identificado. Desde os estudos de Charles
Darwin já existiam hipóteses acerca da existência de alguma substância influente em plântulas de grama que se curvavam
em função da luz. Contudo, somente em meados do século XX a natureza química das auxinas foi descrita. Esse fitormônio
compõe uma ampla família de compostos químicos, cuja molécula mais comum é o ácido 3-indol-acético (AIA).

Desenho das estruturas em uma plântula de gramínea

2.1. Experimentos
Em 1881, Charles Darwin e seu filho, Francis Darwin, demonstraram que a região privada de luz de uma plântula crescia
mais rapidamente quando em comparação com locais que receberam radiação luminosa. Para a pesquisa, diversas plantas
em condições distintas foram observados ao longo do tempo.
O controle, sem qualquer modificação, alongou-se rumo à luz. O grupo com topo seccionado e o com ápice revestido de
uma capa opaca não apresentaram crescimento, enquanto o com ápice coberto de um envoltório transparente e o com um
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

forro opaco em sua base seguiram o crescimento do controle. Portanto, foi possível deduzir que há uma tendência do ápice
do caule de crescer em direção a luz.

controle sem a ponta ponta base


ponta com capa com capa com capa
opaca transparente opaca

Representação do experimento realizado por Darwin e seu filho.

18
As auxinas foram descobertas pelo biólogo holandês Frits Went A partir do gráfico, é possível concluir que:
(1863-1935). Durante suas pesquisas, Went utilizou plantas
jovens de aveia. Os coleóptilos (folhas embrionárias) foram sec- § diferentes tecidos ou órgãos respondem de maneira dis-
cionados e os ápices (local de produção de AIA) foram removi- tinta à mesma quantidade de determinado hormônio;
dos e colocados sobre blocos de ágar (gelatina proveniente de § o valor ótimo de concentração para o crescimento da raiz
algas). Depois de algum tempo, esses blocos foram posiciona- é menor do que a dose ótima para o crescimento do caule;
dos nas laterais do ápice de um coleóptilo seccionado.
§ o valor ótimo de concentração para estimular o cresci-
Como resultado, o lado do coleóptilo que entrou em conta-
mento do caule pode inibir o crescimento das gemas
to com o bloco de ágar cresceu, curvando-se. A partir disso,
laterais e da raiz, que são mais sensível ao AIA.
Went pôde concluir que o resultado obtido ocorreu devido
a uma substância estimuladora de crescimento, posterior-
mente denominada auxina. 2.3. Dominância apical
Em seu experimento, Went manteve um grupo de controle, A dominância apical ocorre quando a produção na gema
cuja função foi servir de parâmetro para comparação com apical do caule inibe a produção de auxina pelas gemas axi-
os demais resultados obtidos. Como as plantas “controle” lares, impedindo o crescimento lateral. Esse fenômeno acon-
não entraram em contato com blocos de ágar proveniente tece porque os meristemas localizados na ponta superior do
dos ápices de coleóptilos, não houve curvatura nesse grupo. caule e dos ramos sintetizam auxinas que, ao se transporta-
rem para as regiões mais inferiores, inibem o desenvolvimen-
to de gemas laterais.
A poda das regiões mais apicais é uma técnica que visa
aumentar o desenvolvimento lateral das plantas, para, por
exemplo, explorar o potencial de sombreamento das árvores
(quebra da dominância apical).
Gema apical Lanolina pura Lanolina +
auxina

Gema Ramo
lateral lateral

Esquema do experimento de Went. Em A, o bloco de ágar que esteve


em contato com a ponta do coleóptilo é colocado sobre um dos lados
de um coleóptilo seccionado. Já em B, observa-se o grupo controle.
I II III

As gemas axilares são inibidas pela produção de auxina na


2.2. Propriedades gema apical (I). Ao retirá-la, estimula-se o crescimento
de ramos laterais (II). Com uma nova inserção de auxina
O ácido indolacético (AIA) é o representante mais estudado na gema apical, a dominância é restabelecida (III).

das auxinas. Sua síntese ocorre em tecidos jovens e de in-


tenso crescimento, como nos embriões, no tubo polínico, no 2.4. Curvatura em relação à luz
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

interior de sementes, nas células da parede do ovário e de


gemas do caule e da raiz. O transporte dele é polar, ou seja, O auxina é um hormônio que se desloca para os locais com
parte das regiões de síntese (ápice) em direção aos locais ausência de luz. Assim, coleóptilos expostos à iluminação
onde exercerá seus efeitos. unilateral curvam-se em direção aos raios luminosos – lem-
bre-se de que esse hormônio é responsável pelo crescimento
O AIA tem capacidade de estimular ou inibir o crescimento de
da planta, portanto a curva do coleóptilo será formada do
acordo com sua concentração e local de ação.
lado iluminado devido à ausência ou baixa concentração do
hormônio na região.
O crescimento da curvatura dos coleóptilos será proporcio-
nal ao período de iluminação, pois maior quantidade de
auxina alcança o lado oposto. No caso de o coleóptilo re-
ceber iluminação uniforme, seu crescimento será em linha
Gráfico da sensibilidade de diferentes estruturas de reta. A mesma situação será encontrada caso a estrutura
uma planta a diferentes concentrações de AIA cresça no escuro.

19
Auxinas também atuam no processo de divisão e elongação celular de raízes, caules e folhas.

Esquema do efeito da auxina de acordo com a luz. O fitormônio se acumula em locais com baixa iluminação, promovendo o alongamento celular

e a curvatura da planta em direção aos raios (fototropismo). monocotiledôneas, pois a superfície da folha das primeiras
é geralmente maior.
2.5. Enraizamento de estacas Assim, nas situações em que essa substância é colocada
Para a comercialização de plantas, é interessante que em grande quantidade num campo de cultivo de monoco-
as características desejadas passem de geração em ge- tiledôneas (como o arroz e o milho), ela não causa danos
ração. Para isso, no cultivo, é realizada a reprodução as- ao crescimento dessas culturas. Entretanto, inibe o pleno
sexuada, formando clones geneticamente idênticos ao desenvolvimento de eudicotiledôneas, como as ervas da-
organismo progenitor. ninhas, que causam prejuízos nas lavouras de grande inte-
resse econômico para a indústria alimentícia e comercial. 2,4 - D
Uma maneira simples de se fazer reprodução assexuada
é por meio de estaqueamento, processo que consiste
em fazer um corte no sentido transversal em pequenos
caules (estacas) na região dos entrenós. Então, esses
segmentos devem ser colocados no solo para, a partir
do desenvolvimento do tecido meristemático, ocorrer
enraizamento e produção de novos ramos, originando
uma nova muda da planta. Aplicação de ácido 2,4 dic

Ao se aplicar pequenas doses de AIA nessas estacas, o 2,4 - D


enraizamento sucede rápida e vigorosamente, amplian-
do a chance de sobrevivência da estaca em relação aos
segmentos que não foram tratados com o hormônio.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Aplicação de ácido 2,4 diclorofenoxiacético


Esquema demonstrativo dos efeitos da auxina sintética em uma
eudicotiledônea (primeira planta) e em uma monocotiledônea (segunda).

500 mg L-1 1000 mg L-1 2000 mg L-1 4000 mg L-1

Foto com experimentos de estímulo da formação de raízes


adventícias de acordo com a concentração de auxina.

2.6. Efeito herbicida


O ácido 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) é uma auxina sin-
tética muito utilizada na agricultura. As plantas eudicoti- multimídia: vídeo
ledôneas são mais sensíveis a esse composto do que as Fonte: Youtube
Abscisão foliar
20
2.7. Partenocarpia 3. Giberelinas
Quando um gameta feminino se desenvolve sem que ocor- Esse hormônio é produzido principalmente nos meristemas,
ra a fecundação, ocorre a partenocarpia. Esse fenômeno é mas também em folhas jovens, sementes imaturas e frutos em
observado naturalmente em determinadas plantas, como desenvolvimento. Seu transporte ocorre do ápice para a base
em bananeiras e laranjas-da-bahia, nas quais a produção e vice-versa. As giberelinas promovem o crescimento de fo-
de auxina na parede do ovário estimula o desenvolvimento lhas e caules, pois agem na divisão e no elongamento celular.
do fruto sem a formação de sementes.
Além disso, estimulam a quebra da dormência e aceleram a
Na agricultura, é possível estimular esse processo artificial- germinação de sementes, fazem certas plantas florescerem
mente por meio da aplicação de auxinas na face externa independentemente das condições ambientais e, como as au-
dos ovários ainda não fecundados. Para isso, também é xinas, podem viabilizar a formação de frutos partenocárpicos.
interessante realizar a retirada dos estames, pois essas
estruturas são responsáveis por produzir grão de pólen e,
dessa forma, evita-se a polinização. A estratégia é comum 4. Citocininas
no cultivo de uvas, melancias e espécies do gênero Citrus. As citocininas regulam processos de divisão e diferencia-
ção celular. Portanto, ocorrem em tecidos com divisão celu-
lar ativa, como nas sementes em germinação, nos frutos e,
principalmente, no meristema apical da raiz. As citocininas
sintetizadas no ápice das raízes são levadas para todas as
regiões da planta.
Quando indiferenciadas, células vegetais podem passar por
sucessivos eventos de crescimento e multiplicação, como
em meristemas, ou podem sofrer elongamento sem que
Foto com o desenvolvimento de um tomate sem sementes (partenocárpico)
ocorra divisão – situação característica das células que se
diferenciarão.
2.8. Abscisão de folhas e frutos A citocina é produzida quando a semente inicia o cresci-
A concentração de auxinas nas diferentes regiões da mento, assim, pode-se dizer que ela resulta da germinação.
planta é de extrema importância. As folhas e frutos jo- Existem sementes de certas variedades de plantas que ne-
vens apresentam uma quantidade de auxinas parecida cessitam de luz para germinar. No entanto, se tratadas com
àquela encontrada nos seus ramos. Contudo, durante sua citocininas, germinarão mesmo no escuro.
maturidade (evelhecimento) a produção vai diminuindo
gradualmente. As citocininas também inibem a senescência (envelheci-
mento) foliar, tanto em plantas prestes a morrer quanto no
Por meio dessa mudança na concentração do hormônio, é período de queda cíclica das folhas.
produzido um tecido denominado meristema de absci-
são. Ele ocorre entre os ramos e os pecíolos que seguram e
sustentam as folhas e frutos. Esse novo tecido, com caracte-
4.1. Interações
rísticas peculiares, é responsável por romper a estrutura que Uma suposição é que as citocinas e as auxinas são libe-
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

une o pecíolo e as folhas/frutos, promovendo sua queda. radas durante a desintegração do endosperma através de
enzimas sintetizadas por influência da giberelina. Observe
que, em diversas situações, os hormônios agem em conjun-
to, levando a um diferente comportamento e/ou reação da
planta, região ou órgão em questão.
Assim como a auxina, a citocina influencia a dominância
Pecíolo apical, mas de modo oposto: à medida que as auxinas ini-
bem o desenvolvimento das gemas laterais (dominância
apical), as citocininas agem estimulando-as.
Camada de
abscisão
Em situações na qual há razão citocinina/auxina maior, pro-
move-se o desenvolvimento das gemas laterais e,consequen-
temente, das ramificações. Por outro lado, quando tal razão
Imagem com a camada de abscisão formada no pecíolo de uma planta. é menor, observa-se o estímulo para a formação de raízes.

21
indicado que fruticultores armazenem frutos em câmaras
CITOCININA
que não acumulem o etileno no ambiente, a fim de retar-
2 3 3 dar o amadurecimento dos frutos.

1 1 2

AUXINA

Esquema da formação de raízes ou de ramos, conforme Imagens com o processo de amadurecimento da


a quantidade relativa de citocina e auxina. banana, graças à presença de etileno

Quando há maior concentração de auxina do que de cito- As características da maturação dos frutos são: o amoleci-
cinina, as células crescem em comprimento. Por outro lado, mento da consistência e a mudança na cor da casca (epicar-
quando há maior quantidade de citocinina do que de auxi- po), o aumento da concentração de água, açúcares, proteí-
na, as células sofrem mitose. nas e lipídios, além de um notável aumento da suculência do
mesocarpo e do surgimento de novos odores, mais atrativos
aos animais responsáveis por dispersar sementes.

Maturação e desenvolvimento de tomates

O etileno também tem efeito na abscisão das folhas e frutos.


Esse processo, como visto anteriormente, inicia-se com a re-
dução da concentração de AIA na folha em relação ao pecí-
olo, mas sua continuidade depende do etileno, que estimula
a síntese de celulase, substância responsável por digerir as
Imagem representativa dos estímulos de fitormônios em células vegetais. paredes celulósicas da região de abscisão. Assim, ocorrerá
organização celular e produção de uma “cicatriz” para fe-
5. Etileno char a lacuna proveniente da ausência do fruto ou folha.

O etileno é o único fitormônio que se encontra na forma


gasosa em condições normais. Trata-se de um hidrocar-
boneto insaturado. Todas as regiões da planta sintetizam auxina auxina separação na camada
etileno; no entanto, sua produção é mais intensa em flores digerida
amarelecido
polinizadas e em frutos em processo de amadurecimento,
etileno
além de células danificadas.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Devido a sua natureza gasosa, exerce efeitos em outras


plantas que se encontram próximas. Por esse motivo, é À esquerda: fase de manutenção da folha. No meio: fase
de indução da queda. À direita: fase da queda.

22
VIVENCIANDO

Um procedimento simples para auxiliar no amadurecimento consiste em colocar frutas maduras junto com frutas
não maduras. Isso ocorre porque plantas maduras liberam hormônios, como o gás etileno, que têm a função de
estimular o desenvolvimento dos frutos.

6. Ácido abscísico Além disso, possui importante função nas alterações so-
fridas pelo vegetal em resposta a situações desfavoráveis.
O ácido abscísico (ABA) é produzido nas folhas, no caule Um exemplo seria o fechamento dos estômatos em ocasi-
e no ápice radicular, possuindo ação inibidora no cresci- ões de falta de água.
mento vegetal. Outro efeito do ABA é o impedimento da
germinação prematura de sementes, principalmente em
condições adversas, mantendo-as dormentes.

ácido abscísico +

+ citocinina

Sementes dormentes no inverno devido Indução ou inibição da senescência foliar de acordo com a concentração
à ação do ABA. de citocina e de ABA.gura com o papel de diversos hormônios vegetais ao
longo do ciclo de vida uma planta.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

23
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

O reino vegetal é abordado no Enem principalmente com enfoque nos quatro grandes grupos e suas interações
com o ambiente, assim como suas relações evolutivas. A fisiologia vegetal, que abrange também a atuação dos
fitormônios, é fundamental por ter aplicação direta no aprimoramento da agricultura.

MODELO 1
(Enem) O Brasil tem investido em inovações tecnológicas para a produção e comercialização de maçãs. Um
exemplo é a aplicação do composto volátil 1-metilciclopropeno, que compete pelos sítios de ligação do hormô-
nio vegetal etileno nas células desse fruto.
Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br>. Acesso em: 16 ago 2012 (adaptado).

Com base nos conhecimentos sobre o efeito desse hormônio, o 1-metilciclopropeno age retardando o(a):
a) formação do fruto;
b) crescimento do fruto;
c) amadurecimento do fruto;
d) germinação das sementes;
e) formação de sementes no fruto.

ANÁLISE EXPOSITIVA
O etileno é o único hormônio vegetal gasoso e atua principalmente no processo de amadurecimento dos frutos.
O composto volátil 1-metilciclopropeno, ao competir pelos sítios de ligação do hormônio vegetal etileno nas
células das maçãs, age retardando o amadurecimento dos frutos.

RESPOSTA Alternativa C
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

24
DIAGRAMA DE IDEIAS

HOMÔNIOS
VEGETAIS

- PROMOVE ALONGAMENTO CELULAR


AUXINA - SINTETIZADA EM TECIDOS JOVENS E EM CRESCIMENTO. EX.: GEMAS
- RELACIONA-SE TAMBÉM COM A PARTENOCARPIA E A ABSCISÃO DE FOLHAS E FRUTOS

- SINTETIZADA EM SEMENTES E FRUTOS


GIBERELINA - QUEBRA DE DORMÊNCIA E GERMINAÇÃO DE SEMENTES
- ESTIMULA PARTENOCARPIA

- PROMOVE DIVISÃO E DIFERENCIAÇÃO CELULARES


- OCORRE EM TECIDOS COM INTENSA DIVISÃO CELULAR:
CITOCININA
SEMENTES EM GERMINAÇÃO, FRUTOS E MERISTEMAS
- INIBE SENESCÊNCIA FOLIAR

- PROMOVE AMADURECIMENTO DE FRUTOS


ETILENO - ABSCISÃO DE FOLHAS E FRUTOS
- ÚNICO FITORMÔNIO GASOSO

- INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO VEGETAL


ÁCIDO
- ATUA EM CONDIÇÕES DE ESTRESSE AMBIENTAL: MANTÉM
ABSCÍSICO
DORMÊNCIA DAS SEMENTES E INDUZ FECHAMENTO ESTOMÁTICO

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

25
1. Introdução
Estímulos externos − gravidade, pressão, toque mecânico
(contato) e luz − desencadeiam respostas fisiológicas espe-
cíficas nas plantas. A depender do fator, o organismo pode
MOVIMENTOS apresentar diversas mudanças, como murchamento, entu-

VEGETAIS mescimento ou crescimento diferenciado (para se afastar ou


se aproximar do estímulo) do órgão em questão.
Assim, as plantas reagem a estímulos ambientais por meio
de movimentos sutis denominados tactismo, tropismo
e nastismo.

CN AULAS
49 E 50
Movimentação em direção à origem do estímulo = positiva.
Movimentação oposta à origem do estímulo = negativa.

COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4e8 13, 14 e 28
2. Tactismos
Os tactismos são movimentos com deslocamento. É de-
nominado quimiotactismo, quando a origem do estímu-
lo para a locomoção é química.

Os anterozoides de briófitas e pteridófitas, por exemplo, são células com capacidade de natação que respondem a fatores
químicos para chegar a oosfera. Outro caso são as euglenas (algas unicelulares) que se movem rumo à luz. Por irem em
direção ao estímulo, ambos apresentam fototactismo positivo.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Deslocamento do anterozoide em direção à oosfera

O movimento de organismos em relação ao gás oxigênio é denominado aerotactismo e pode ser observado em bactérias.
As aeróbicas se movimentam em direção à fonte de O2 (positivo), ao passo que as anaeróbicas se deslocam no sentido de
afastamento da fonte (negativo).

3. Tropismos
Tropismos são movimentos de crescimento da planta com direção orientada por um determinado fator ambiental. Quando
alguma região da planta – como um ramo – aproxima-se do estímulo, o tropismo é positivo. Por outro lado, quando ocorre
o afastamento, o tropismo é negativo.

26
3.1. Fototropismo
Nesse movimento, como o nome sugere, o estímulo é a
energia luminosa. O fototropismo ocorre devido à dimi-
nuição da concentração de auxina na região iluminada da
planta, pois o AIA migra para o lado sombreado. Além dis-
so, acontece uma possível fotodestruição e/ou inativação
do AIA quando exposto à luz intensa.
Assim, vale ressaltar que o sistema caulinar e o radicular
respondem de maneira diferente à concentração de AIA:
é comum que os caules apresentem fototropismo positivo,
e as raízes, negativo. A orientação de flores é outro caso
desse tipo de movimento, como os girassóis que se voltam
em direção à luz do sol.

O caule (a) de uma planta envasada colocada horizontalmente sobre uma


mesa vai crescer curvado para cima; e sua raiz (b) vai crescer curvada para
baixo. Observe a participação da auxina no processo.

É possível comprovar o mecanismo do geotropismo por


meio de um experimento simples. Sob um eixo rotatório,
que gira uniformemente, coloca-se uma planta no pla-
no horizontal. Depois de um certo tempo, verifica-se que
não ocorreu qualquer curvatura em direção ao estímulo
da gravidade, pois a rotação faz com que a auxina seja
(a) resposta do caule à luz (fototropismo positivo); (b) resposta da raiz distribuída uniformemente.
(fototropismo negativo)
Desde a germinação das sementes, é possível observar o
3.2. Geotropismo geotropismo positivo da raiz e o negativo do caule:

Nesse caso, o crescimento é estimulado pela gravidade.


Em geral, os caules apresentam geotropismo negativo e as
raízes, positivo. Em razão da força gravitacional, a auxina
desce e se concentra nas regiões inferiores da planta.

Por um lado, os caules retêm um menor teor de auxina do


VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

que aquele considerado ótimo para o seu crescimento. Por


outro lado, nas raízes, a concentração de AIA é maior do
que o valor considerado ótimo. Dessa forma, quando uma
Sequência de uma semente de ervilha em germinação
planta é colocada na posição horizontal, a auxina que se
encontra na região superior do caule se desloca para baixo.
Por isso, a região inferior do caule cresce com maior veloci- 3.3. Quimiotropismo
dade do que outros locais. No quimiotropismo, o crescimento do vegetal é guia-
Entretanto, se as raízes forem colocadas na posição hori- do por substâncias químicas. As raízes vegetais são
zontal, ocorrerá diminuição do excesso de AIA, pois, graças bons exemplos de estruturas que apresentam quiomo-
à gravidade, ocorrerá migração para a região inferior. A alta tropismo positivo se direcionado à água e aos sais mi-
concentração de auxina na parte inferior da raiz inibe seu nerais. O tubo polínico que se desenvolve no grão de
crescimento, enquanto o crescimento na região superior é pólen também, uma vez que trata-se de uma estrutura
estimulado, fazendo com que a raiz cresça recurvada em com crescimento orientado pelo óvulo das flores que
resposta à gravidade. liberam substâncias químicas.

27
4.1. Tigmonastismo
No tigmonastismo, é o contato mecânico (toque) entre
a planta e outro objeto ou animal que estimula o nastismo.
Um exemplo famoso desse movimento ocorre nas plantas
carnívoras que, ao serem tocadas, fecham-se para “captu-
rar” o objeto ou animal. Além dessa primeira resposta, o
Corte histológico de uma extremidade terminal de um tubo de pólen em
flor de tomate aumentada 100 vezes
organismo também acelera o encerramento da presa, em
resposta a estímulos químicos liberados pelas vítimas.

multimídia: vídeo Fotos da captura de uma Drosera sp por uma planta carnívora

Fonte: Youtube 4.2. Seismonastismo


Movimentos Vegetais - M3A O seismonastismo é um movimento realizado pela planta
dormideira, também conhecida como sensitiva (Mimosa
pudica). Ao ser encostada, o organismo recolhe seus folío-
3.4. Tigmotropismo los por meio da variação de turgor em suas células. As es-
No tigmotropismo, o crescimento vegetal é orientado por truturas responsáveis estão localizadas na base dos folíolos
estímulos mecânicos, como o contato ou a pressão exer- e são denominadas pulvinos.
cida sobre uma região da planta. É recorrente em plantas
trepadeiras com caules volúveis e gavinhas. Quando esses
caules interagem com uma estrutura sólida e permanecem
assim durante o seu desenvolvimento, eles crescem na di-
reção dessa estrutura.
Fotos demonstrativas da retração dos folíolos de uma Mimosa pudica
após o estímulo mecânico

4.3. Fotonastismo
O fotonastismo é observado na abertura e no fechamento
das flores. O agente ambiental que o influencia é a luz.
Para que a flor desabroche, ocorre um crescimento maior
Fotos com exemplos de caules que se enrolam em na face superior das pétalas do que em sua região inferiror.
outras estruturas por meio de tigmotropismo.
Esse movimento pode ocorrer irreversivelmente ou se repe-
tir em ciclos, como em flores de vitória-régia.
4. Nastismos
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Os nastismos são consequência do ganho ou da perda de


água de tecidos adaptados. Como resposta, promovem a
rápida abertura ou o fechamento de alguns órgãos ou Vitória-régia, planta cuja flor abre apenas durante a noite.
regiões da planta. É importante ressaltar que os movimentos
são reversíveis e independem da direção do estímulo. 4.4. Termonastismo
O ciclo alternante dos dias e das noites está entre os princi- No termonastismo, o fator ambiental influenciador é a
pais estímulos que envolvem nastismos. Podem ocorrer, por temperatura. Um bom exemplo disso são as tulipas. Suas
exemplo, mecanismos de controle da fenda estomática ou flores se abrem à medida que a temperatura se eleva e se
de florações exclusivamente no período noturno (flor da rai- fecham quando o ambiente se torna mais frio. É impor-
nha-da-noite). Outro caso que merece destaque são as folhas tante salientar que essa amplitude térmica varia de uma
da azedinha e de algumas outras leguminosas que murcham espécie para outra e deve ocorrer dentro das temperaturas
durante o dia e se tornam túrgidas e viçosas à noite. limites para a planta em questão.

28
A influência do meio na germinação das sementes
Para que ocorra a germinação, é necessário um conjunto de fatores ambientais, como luz, temperatura, umidade e arejamento,
criando um ambiente favorável. Enquanto o meio não é propício para o desenvolvimento, a semente permanece dormente ou
quiescênte. Entretanto, não só essas condições adversas mantêm a dormência de sementes; aspectos fisiológicos também contri-
buem por meio do bloqueio da atividade metabólica embrionária. Outros fatores internos, como a impermeabilidade da casca e a
quantidade de ABA, provocam a quebra dessa dormência.

VIVENCIANDO
O movimento dos vegetais depende de fatores endógenos, como hormônios vegetais, e exógenos, como a luz
solar. Alterações ambientais que modificam os fatores exógenos podem interferir no movimento das plantas,
mudando sua fisiologia.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

29
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 28
Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou com seus limites de distri-
buição em diferentes ambientes, em especial em ambientes brasileiros.

O reino vegetal é abordado no Enem principalmente com enfoque nos quatro grandes grupos, suas interações
com o ambiente e suas relações evolutivas. A fisiologia vegetal, que abrange também a atuação dos fitormô-
nios e suas influências no movimento vegetal, é de grande importância por ter aplicação direta no aprimora-
mento da agricultura, além de ser estudada a fim de prever e prevenir os impactos ambientais.

MODELO 1
(Enem) A produção de hormônios vegetais (como a auxina, ligada ao crescimento vegetal) e sua distribuição
pelo organismo são fortemente influenciadas por fatores ambientais. Diversos são os estudos que buscam
compreender melhor essas influências. O experimento seguinte integra um desses estudos.

O fato de a planta do experimento crescer na direção horizontal, e não na vertical, pode ser explicado pelo
argumento de que o giro faz com que a auxina se:
a) distribua uniformemente nas faces do caule, estimulando o crescimento de todas elas de forma igual;
b) acumule na face inferior do caule e, por isso, determine um crescimento maior dessa parte;
c) concentre na extremidade do caule e, por isso, iniba o crescimento nessa parte;
d) distribua uniformemente nas faces do caule e, por isso, iniba o crescimento de todas elas;
e) concentre na face inferior do caule e, por isso, iniba a atividade das gemas laterais.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

ANÁLISE EXPOSITIVA
O efeito de crescimento e curvatura do vegetal, em resposta a um estímulo ambiental, é denominado
tropismo e depende da distribuição desigual de auxinas. Esses hormônios podem acelerar ou inibir o cres-
cimento de um órgão vegetal, dependendo da concentração em que se encontram no local onde atuam.

RESPOSTA Alternativa A

30
DIAGRAMA DE IDEIAS

MOVIMENTOS
VEGETAIS

- MOVIMENTO COM DESLOCAMENTO

TACTISMO
- QUIMIOTACTISMO
- AEROTACTISMO

- MOVIMENTO DE CRESCIMENTO COM DIREÇÃO ORIENTADA


POR UM DETERMINADO ESTÍMULO AMBIENTAL

TROPISMO
- FOTOTROPISMO (LUZ)
- GEOTROPISMO (GRAVIDADE)
- QUIMIOTROPISMO (QUÍMICO)
- TIGMOTROPISMO (MECÂNICO/CONTATO)

- MOVIMENTOS NÃO SÃO ORIENTADOS NA DIREÇÃO DO ESTÍMULO


E PROVOCAM ABERTURA E FECHAMENTO DE ESTRUTURAS
NASTISMO
- TIGMONASTISMO
- SEISMONASTISMO
- FOTONASTISMO
- TERMONASTISMO

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

31
1. Introdução
Como foi visto nas últimas aulas, o funcionamento
das plantas depende de fatores internos e externos.
A luminosidade e a temperatura são as condições am-
bientais mais importantes e significativas para o seu
FOTOPERIODISMO metabolismo. Fotoperiodismo, então, é o fenômeno
em que as plantas são expostas a distintos períodos
de claro e escuro.
O tempo de incidência dos raios solares varia de acor-
do com a posição da Terra em relação ao Sol, resul-
tando em diferenças na duração do dia e no estabele-

CN AULAS cimento das estações do ano. Assim como os demais


seres vivos, as plantas desenvolveram durante a
51 E 52 evolução mecanismos que as permitem suportar mu-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) danças do meio. Por exemplo, conseguem antecipar
4 13 e 14 as estações e se preparar para variações ambientais
antes que elas ocorram.

2. Fotoperiodismo e floração
As plantas indiferentes ou neutras são aquelas em que o fotoperíodo não exerce influência na floração, o que a torna
independente da periodicidade da iluminação.
As plantas de dia curto (PDC) florescem depois de expostas à iluminação por períodos menores do que um determi-
nado intervalo de horas, denominado fotoperíodo crítico. Já as plantas de dia longo (PDL) florescem depois de
expostas à iluminação por um tempo maior do que o crítico.
Fotoperíodo
crítico
24
horas

A Plantas de dia curto B Plantas de dia longo


VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Esquema demonstrativo da floração de plantas de dia curto e longo, em relação ao seu fotoperíodo crítico.

Na hipótese de uma PDC apresentar fotoperíodo crítico de 11 horas, ela florescerá caso o comprimento dos dias seja inferior
a essa quantia. Nessa mesma lógica, uma possível PDL com fotoperíodo crítico de 15 horas florescerá caso receba luminosi-
dade por um tempo superior a esse número.

32
Plantas de dia-longo
Plantas de dia-curto
Fotoperíodo crítico da espécie = 15 hs
Fotoperíodo crítico da espécie = 11 hs
Verão Inverno
Verão Inverno Dia Noite Dia Noite

Dia Noite Dia Noite 16 hs 8 hs 8 hs 16 hs


16 hs 8 hs 8 hs 16 hs Dia longo Dia curto
Dia longo Dia curto

Não florece Floresce Floresce Não florece

Floresce quando submetida a um Floresce quando submetida a um


período de luminosidade inferior ao período de luminosidade superior ao

seu fotoperíodo crítico. seu fotoperíodo crítico.

Nessas plantas, o período contínuo de escuridão é mais importante para a floração do que o de iluminação. Graças à influ-
ência da ausência de luz no fotoperiodismo, as PDC também podem ser chamadas de plantas de noite longa e as PDL
de plantas de noite curta.
Por esse motivo, caso o intervalo de tempo escuro seja interrompido, haverá chance de ter mudanças na floração – isso
dependerá do momento que ocorreu a interrupção e do tipo de planta envolvida.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Planta de dia curto (PDC) (planta de noite longa) Planta de dia longo (PDL) (planta de noite curta)

Legenda geral das duas imagens: Figura representativa das alterações na floração de PDC e PDL, devido
a mudanças na exposição à luz e, consequentemente, no seu fotoperíodo crítico.

A presença de luz é fundamental ao processo fotossintético, pois possibilita a produção de carboidratos, com-
ponente necessário para a produção de energia na respiração celular. Para que consigam produzir energia para
sobreviver e crescer, as plantas devem produzir quantidade de glicose superior àquela consumida, ou seja, a
taxa fotossintética deve ser maior do que o ponto de compensação fótico (PCF) – valor no qual a fotossíntese
e a respiração se igualam. De acordo com o valor de seu PCF, as plantas são classificadas em heliófitas (plantas
de sol), que possuem PCF relativamente elevado, ou em umbrófitas (plantas de sombra), que apresentam PCF
relativamente baixo.

33
VIVENCIANDO
O fotoperiodismo é a resposta de um organismo à variação na duração do dia. A compreensão do fotoperiodismo faci-
lita no cuidado com as plantas domésticas e também na agricultura. Cada planta possui uma necessidade de luz solar
diferente. Por esse motivo, compreender essas características dos vegetais fornece suporte para seu desenvolvimento.

3. Fitocromos FLORAÇÃO SÍNTESE DE


FLORÍGENO

A hipótese mais defendida para explicar o fotoperiodismo vermelho “curto”


é a de que as plantas possuem um pigmento denomina- Fitocromo R Fitocromo F
do fitocromo. Apesar de ser distribuído em pequenas vermelho “longo” ou
quantidades por toda a planta, existe em maior quanti- escuro

dade no meristema apical das raízes e dos caules. Além NÃO HÁ SÍNTESE NÃO HÁ
DE FLORÍGENO FLORAÇÃO
disso, possui duas formas distintas: P660 (ou fitocromo
R − Red) e P730 (ou fitocromo F). Esquema do funcionamento do fitocromo em uma planta de dia longo.

O nome da variedade P660 se refere ao comprimento A percepção luminosa também influencia na germinação
de onda vermelha que esse pigmento consegue absor- de sementes. Nesse processo, a luz pode favorecer a que-
ver, para então ser convertido para a sua forma ativa bra de dormência, como ocorre com as sementes de al-
(P730). A conversão pode ocorrer à luz do dia ou até face, que germinam somente se receberem luminosidade.
mesmo à luz de uma lâmpada incandescente, em am- Esses casos são denominados fotoblastismo positivo.
bas o espectro vermelho curto é predominante sobre Por outro lado, também existem sementes que germinam
o vermelho longo. na ausência de luz, por isso são denominadas fotoblás-
ticas negativas. Vale ressaltar que a maior parte das
A forma P730 pode ser reconvertida para a P660 após
espécies vegetais é indiferente e germina tanto na luz
um período de horas no escuro − como ocorre lentamen-
quanto no escuro.
te na natureza − ou por meio da exposição ao vermelho
longo, com comprimento de onda ao redor de 730nm. Em geral, as sementes fotoblásticas positivas são rela-
Enquanto nas PDC a P730 inibe a floração que geralmen- tivamente menores e não possuem reservas. As negati-
te aconteceria, nas PDL ela estimula. vas, por sua vez, são grandes e dotadas de reservas. Do
ponto de vista ecológico, a importância da fotoblastia
Forma inativa: Fitocromo R (660 nm)
está em evitar que sementes de plantas pequenas ger-
vermelho “curto” minem em locais com pouca luz. Por fim, plantas um-
brófilas usualmente possuem sementes neutras e ricas
Fitocromo R Fitocromo F
em reservas.
vermelho “longo” ou
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A existência de sementes fotoblásticas positivas ocorre


escuro
pela atuação dos fitocromos. Nesses casos, a luz vermelha
Forma ativa: Fitocromo F (730 nm) (660nm) estimula a germinação, enquanto a luz de espec-
A onda de espectro vermelho longo está presente na luz tro vermelho longo (730nm) inibe o processo. Assim, é a
branca, mas em quantidade muito pequena. Quando as forma P730 que promove a germinação de sementes fo-
plantas são expostas a essa luz, ambas as formas do fito- toblásticas positivas.
cromo se transformam uma na outra, embora o predomí- As sementes que se desenvolvem enterradas no solo ori-
nio seja da forma P730. ginam plântulas estioladas. Estas apresentam as seguintes
Quando expostas ao correto fotoperíodo, as folhas sinteti- características: caule muito alongado com folhas peque-
zam o florígeno e, em seguida, o enviam aos botões flo- nas, cor amarelada e manutenção do gancho de germi-
rais. O florígeno é uma substância química pouca conheci- nação (proteção). O que contribui para tais aspectos é a
da (provavelmente um hormônio) que promove a floração. ausência do fitocromo P730.

34
4. Termoperiodismo
A temperatura é fundamental para a bioquímica do
metabolismo de todos os seres vivos. Assim, cada espé-
cie é adaptada para suportar uma determinada faixa de
temperatura.
Altas temperaturas podem desnaturar enzimas − cada
uma possui um valor ideal para seu funcionamento −
e provocar perda excessiva de água, comprometendo
a sobrevivência do indivíduo. Baixas temperaturas, por
sua vez, podem congelar a seiva das plantas e a água
presente no ambiente, ocasionando a morte dos orga-
nismo por falta de água assimilável, processo denomi-
À esquerda, planta que que se desenvolveu na ausência
de luz (estiolada); à direita, planta germinada
nado seca fisiológica.
em condições naturais de luminosidade.
A temperatura é influente também em processos mais
complexos, como a floração. Esse fenômeno é denomi-
nado termoperiodismo. Em geral, os botões florais são
ativados ao término das estações frias. Portanto, a elevação
da temperatura é um estímulo para o florescimento das
plantas. A necessidade de uma planta ser submetida a
baixas temperaturas para induzir a floração recebe o nome
de vernalização.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Fotoperiodismo

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

35
DIAGRAMA DE IDEIAS

RESPOSTA FISIOLÓGICA AO PERÍODO


FOTOPERIODISMO
DE EXPOSIÇÃO À LUZ. EX.: FLORAÇÃO.

- É O PERÍODO DE ILUMINAÇÃO DE REFERÊNCIA


FOTOPERÍODO
PARA QUE OCORRA A FLORAÇÃO. A QUANTIDADE
CRÍTICO
DE HORAS VARIA PARA CADA ESPÉCIE.

- FLORESCEM QUANDO EXPOSTAS A DIAS LONGOS


PLANTAS DE DIA
(NOITES CURTAS) → ILUMINAÇÃO POR PERÍODO
LONGO (PDL)
SUPERIOR AO SEU FOTOPERÍODO CRÍTICO.

- FLORESCEM QUANDO EXPOSTAS A DIAS CURTOS (NOITES LONGAS).


PLANTAS DE DIA - PERÍODO DE ILUMINAÇÃO É INFERIOR AO FOTOPERÍODO CRÍTICO.
CURTO (PDC) - PERÍODO DE ESCURIDÃO NÃO PODE SOFRER INTERRUPÇÃO.

- PIGMENTO RELACIONADO À PERCEPÇÃO DA LUZ


- FITOCROMO R (P660): ABSORVE LUZ VERMELHA E SE CONVERTE EM
FITOCROMOS
FITOCROMO F, SUA FORMA ATIVA.
- FITOCROMO F (P730): NO ESCURO, RETORNA PARA OUTRA CONFORMAÇÃO

FITOCROMO R  FITOCROMO F
(P660) (P730)
LUZ VERMELHA

- PDC PREDOMINA O FITOCROMO R, A FORMA P730 INIBIRÁ A FLORAÇÃO


VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

- PDL PREDOMINA O FITOCROMO F, A FORMA P660 INIBIRÁ A FLORAÇÃO

36
BIOLOGIA

6
CIÊNCIAS DA
SISTEMAS
FISIOLÓGICOS E ISTs
NATUREZA
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Esses assuntos aparecem em poucas ques- Costuma trazer questões bem distribuídas
tões, que abordam questionamentos do entre os sistemas, bem como comparação
cotidiano de forma investigativa. Exige ra- com outros filos e classes.
ciocínio e dedução lógica. Os últimos anos
trazem foco no sistema digestório.

Fisiologia é um tema pouco cobrado, Nos últimos anos, questões de fisiologia Aborda aspectos relacionados à fisiologia
aparecendo, no geral, em questões con- humana não são frequentes, mas, quan- das células que compõem os diferentes
textualizadas, que exigem compreensão do aparecem, são relacionadas com a órgãos.
de gráficos. citologia.

Diferentemente dos demais, é um vestibu- Pela recente aquisição de um novo formato Questão envolvendo os diversos sistemas Os mais diferentes sistemas estão forte-
lar bastante recente, o que dificulta anali- de prova, encontra-se em situação seme- se fazem presentes nessa prova, havendo mente presentes e bem distribuídos nessa
sar a incidência temática a longo prazo. Há lhante ao Albert Einstein. Questões mais destaque para o digestório, endócrino e prova, ou seja, é possível deparar-se com
possibilidade das questões envolveram a gerais de sistemas podem aparecer. reprodutor. questões sobre qualquer um deles.
comparação entre os diversos sistemas e as
propriedades de suas células.

UFMG
Costuma apresentar questões sobre sis- Nesse vestibular, há questões sobre fisiolo- Fisiologia é um tema recorrente, destacan-
temas, especialmente urinário, nervoso e gia, porém, costumam aparecer associadas do-se os sistemas cardiorrespiratório e o
endócrino. às protozooses e verminoses; o foco é o digestório.
sistema digestório.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

É uma prova que utiliza gráficos e figuras Trata-se de um vestibular no qual é comum É uma prova que privilegia os sistemas car-
para elaborar suas questões de Biologia ocorrerem questões integrando sistemas. diovascular, nervoso e excretor.
que, assim como o Enem, exigem raciocí-
nio lógico e investigativo. Os sistemas mais
presentes são digestório e nervoso.

38
1. Introdução
Assim como ocorre no cotidiano, o título desta aula abre espa-
ço para diversas interpretações sobre o que seriam as drogas. O
termo “droga” se refere a um conjunto amplo de substâncias
DROGAS E SISTEMA que podem alterar condições e características do nosso corpo.

NERVOSO CENTRAL Há aquelas que são lícitas, ou seja, com uso e comercialização
permitidos e regulados pela legislação vigente, e aquelas que
são ilícitas, com uso e/ou comercialização proibidos legalmente.
Assim como outras leis, há diferenças entre países quanto às
drogas lícitas e ilícitas, de forma que uma mesma substância
pode ter uso e comércio proibidos em um país, pode ter ambos

CN AULAS liberados em outro país e apenas o uso legalizado em outro.

45 E 46 Portanto, o uso, o comércio e os efeitos das drogas são


fonte infinita de discussões sob as apectos social, psicoló-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) gico, físico, religioso. O enfoque desta aula, no entanto, é
4 14 e 15 explicar os efeitos biológicos ligados a esse tema. Para tal,
vamos estudar as drogas psicoativas ou psicotrópicas
que agem no sistema nervoso e provocam alterações nas
emoções, no grau de consciência e no estado emocional, de forma intencional ou não.
A via de administração da droga é o primeiro elemento que determina sua resposta biológica. Pode ser por via oral,
através de absorção cutânea – muito comum em mucosas –, por injeção ou por inalação. Quanto mais rápido a droga
atingir a corrente sanguínea, mais instantâneo será o seu efeito. Dessa forma, injetar e inalar as drogas são as formas
que causam os efeitos mais fortes e rápidos, pois atingem seus receptores específicos, geralmente localizados no cérebro.
Atente para o fato de que os neurotransmissores se ligam aos receptores de forma específica.
Ao alcançar o sistema nervoso central (SNC), essas substâncias interferem na atividade neuronal de alguma forma, po-
dendo ser divididas e estudadas a partir do seu mecanismo de ação:

§ Drogas agonistas: mimetizar ou aumentar o efeito de um neurotransmissor. Um exemplo é o LSD (ácido lisérgico),
um agonista de serotonina; outro exemplo é a nicotina, uma agonista da acetilcolina.

§ Drogas antagonistas: bloquear uma ação de um neurotransmissor. Um exemplo é a cafeína, que é antagonista
da adenosina.

§ Algumas drogas não se encaixam na divisão agonista e antagonista e podem afetar a reabsorção de determinada subs-
tância. Esse mecanismo é essencial, pois ocorre depois do estímulo da membrana pós-sináptica. Um exemplo é a cocaína,
pois impede a reabsorção de norepinefrina e de dopamina, portanto sua ação pode ser continuada.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Esquema de Sinapse do SNC

39
Outra classificação das drogas é a partir do seu efeito no
SNC: drogas estimulantes, depressoras ou calmantes e alu-
cinógenas ou pertubadoras.
§ Drogas estimulantes: aumentam a atividade do SNC.
Seus efeitos imitam os efeitos da adrenalina, hormônio
responsável pelas reações de luta/fuga. Isso provoca
dimunição da fadiga e do apetite e melhora o humor. Ao multimídia: vídeo
mesmo tempo, esses efeitos podem ficar exarcebados de
Fonte: Youtube
acordo com a dose e o estado físico e emocional, geran-
do irritabilidade, insônia e ansiedade. Exemplos: cocaína, Mecanismo da Dependência Química no Cérebro ...
crack, cafeína, nicotina e anfetaminas.
§ Drogas calmantes: diminuem a atividade do SNC. Isso Depressoras Estimulantes
Pertubadoras da
gera a diminuição da velocidade da formação de pensa- da atividade da atividade
atividade do SNC
do SNC do SNC
mentos e da atividade física. Assim como as estimulantes,
os efeitos também podem ser intensificados, gerando le- Modificam qualitativa-
Aumentam a mente a atividade do
targia, sonolência, amnésia e comprometendo funções vi- Diminuem a ativida-
atividade do nosso cérebro; não au-
tais do metabolismo − como a diminuição da respiração. de do nosso cérebro.
nosso cérebro. mentam nem diminuem
Há também as drogas bifásicas, que estimulam o orga- a atividade cerebral.

nismo inicialmente e depois apresentam efeitos depres- Álcool, soníferos Origem vegetal:
sores. Exemplos: álcool, inalantes, opioides, barbitúricos (barbitúricos), ansiolí- Mescalina, THC
Anorexígenos
ticos, opiáceos ou (maconha), psilocibina
e solventes. Vale lembrar que o uso conjunto de drogas (anfetaminas),
narcóticos (morfina, (cogumelos), lírio.
cocaína.
diferentes pode gerar resultados inesperados e potencial- heroína), inalantes Sintéticos: LSD, ecstasy,
ou solventes. anticolinérgicos.
mente perigosos. Por exemplo, combinar barbitúrico com
álcool pode causar a supressão dos centros respiratórios Abaixo está esquematizado o mecanismo de ação de um
(bulbo) e levar à morte. Os barbitúricos possuem função neurotransmissor na sinapse.
no tratamento de convulsões e na indução da anestesia
geral. Já o grupo dos opioides, que tem como principais
(2)
representantes a morfina e a heroína, são potentes anal-
gésicos. Os efeitos dos opioides mimetizam as endorfinas,
que são opioides naturais, responsáveis por auxiliar o ba-
lanceamento das sensações de dor e prazer.
§ Drogas alucinógenas: não potencializam ou ameni-
zam as atividades do SNC, porém podem desequilibrá-las,
causando alterações na percepção sensorial e alucinações
(3)
auditivas e visuais. Exemplos: maconha (THC), LSD, ecs-
Ação normal da sinapse. A figura esquematiza a comunicação
tasy, mescalina e alguns tipos de cogumelos. A maconha sináptica entre dois neurônios. O neurônio pré-sináptico produz
é a droga mais usada no mundo de acordo com Relatório e armazena em vesículas (1) neurotransmissores (2). Mediante
o estímulo apropriado, o neurotransmissor é liberado no espaço
Mundial sobre Drogas de 2018 da UNODC. sináptico e liga-se aos receptores (3) no neurônio pós-sináptico,
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

desencadeando diversas repostas metabólicas. Depois de exercer sua


Ainda há a divisão entre drogas naturais e sintéticas. As ação, parte dos neurotransmissores volta para o neurônio pré-sináptico
graças ao sistema de recaptação (4) e outra parte é degradada.
primeiras são extraídas de uma fonte natural, enquanto as
segundas são feitas a partir de processos químicos. Para explicar mais profundamente o efeito das drogas no SNC,
iremos utilizar a cocaína e o neurotransmissor dopamina (DA):
O quadro de dependência física e psicológica pode a droga bloqueia o sistema de recaptação, aumentando a con-
ocorrer de maneira rápida, de acordo com o potencial centração de DA no espaço sináptico, intensificando os efeitos
viciante de cada substância. Nesses casos, a depen- metabólicos da droga no neurônio pós-sináptico. Depois de
dência é acompanhada de tolerância às drogas, que o neurotransmissor ter sido passado ao neurônio pós-sináp-
resulta em busca por doses cada vez maiores pelos tico, é impedido de retornar ao seu neurônio de origem, por
usuários. Caso a droga seja descontinuada, aparecem
os efeitos de abstinência, que, dependendo da droga,
isso fica na fenda sináptica repetindo a neurotransmissão. A
podem incluir respiração rápida, náusea e vômito, pâ- recaptação é um mecanismo muito importante para o correto
nico e, claro, o intenso desejo pela substância. funcionamento do SNC, pois o neurotransmissor deve ser
reciclado a cada uso, para ser capaz de reagir eficientemente a
novas exigências do corpo.

40
A ação da cocaína induz o usuário à euforia, altera o humor e o estado de alerta, além de reduzir a fadiga.
Níveis muito altos de dopamina devido à ação das drogas prejudicam e chegam a destruir áreas importantes do cérebro.
Na fisiologia do organismo como um todo, os efeitos que podem surgir a longo prazo são inúmeros e nem todos são conhe-
cidos. Por isso, vamos destacar aqueles decorrentes das drogas mais usadas.

VIVENCIANDO

Droga pode ser definida como qualquer substância que, ao ser introduzida no organismo, altera a estrutura ou a
função desse organismo. Já medicamento é o tipo específico de droga que é tomado com o fim específico de curar
ou prevenir uma doença. Existem várias drogas legalizadas que podem ser administradas para se obter um efeito
específico, como os estimulantes, casos do café e da nicotina. E algumas depressivas, como é o caso do álcool, que
está associado culturalmente a socialização. Além disso, apresenta importante impacto na economia nacional por
meio da sua produção e comercialização.

2. Álcool efeitos são a diminuição de reações ao estresse, ao apetite,


além de induzir o aumento da vivacidade.
Como mencionado anteriormente, o álcool é uma droga
O uso contínuo de cigarros aumenta as chances de ocor-
bifásica, pois num primeiro momento os efeitos, no geral,
rência de cânceres, como o de pulmão, além de outras
são estimulantes: comportamento desinibido, euforia, o
regiões que entram em contato com a fumaça – órgãos
usuário fica falante (loquacidade). Num segundo momen-
do sistema respiratório, no geral – em adição, pode de-
to, os efeitos são depressores e podem ser intensificados se
sencadear problemas coronarianos, bronquite, pneumonia,
o consumo for exagerado, chegando a levar o usuário ao
dentre outras doenças.
coma. Há outros riscos que envolvem o uso de álcool, ca-
racterizados pela dependência e uso cotidiano dessa dro- O cigarro também oferece riscos às gestantes, pois ofe-
ga. Com isso, os usuários podem desenvolver patologias rece maiores chances de complicações durante o período
ligadas ao fígado que metaboliza o álcool no organismo gestacional. As substâncias tóxicas presentes no cigarro
(cirrose, esteatose hepática e hepatite alcoólica), ao apare- são capazes de atravessar a barreira placentária, sendo,
lho digestivo (gastrite) e ao sistema cardiovascular devido portanto, capazes de atingir o feto, causando aumento
ao enrijecimento das artérias (hipertensão). da frequência cardíaca. No recém-nascido pode ocorrer
Assim como outras drogas, o álcool oferece risco em re- diminuição de peso, menor estatura relativa, além de im-
lação à interação com outras drogas. O uso atrelado de portantes e relevantes alterações neurológicas.
drogas com ação no mesmo sistema de neurotransmissao,
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

como álcool e ansiolíticos, pode provocar forte depressão 4. Benzodiazepínicos


no SNC até a condição de coma. Vale lembrar que o uso de
álcool na gravidez prejudica o feto. Influenciam a ansiedade e a tensão, sendo, portanto, tam-
bém conhecidos por ansiolíticos ou tranquilizantes. O uso
dessas substâncias deve ocorrer somente sob prescrição
3. Nicotina médica. Quando consumidos em pequenas doses, redu-
A nicotina é um dos princípios ativos do tabaco e, no cigar- zem a ansiedade; aumentando um pouco a dose, atuam
ro, gera dependência quimica. Além da nicotina, a fumaça como sedativos; porém, em doses elevadas, desencadeiam
do cigarro possui, dentre outras diversas substâncias tóxi- efeitos anestésicos e até mesmo o coma.
cas, o CO e o alcatrão Também são usados no tratamento contra a insônia, por
Ao fumar um cigarro, essa substância química prontamen- isso são denominados drogas hipnóticas, o que significa
te penetra em diversos tecidos do corpo. No sistema neuro- que induzem o sono. Sua ingestão ocorre via oral ou endo-
muscular, promove efeito de relaxamento muscular. Outros venosa (mais comum em hospitais).

41
Além do grande risco de causar dependência, o uso não O cloreto de cocaína é a substância em pó branca que é
recomendado e acompanhado por um médico especia- geralmente usada através de aspiração nasal ou diluída
lista dessas substâncias pode desencadear problemas de em água para ser injetada na veia. Se submetida a um
aprendizado e memória, retardo no tempo a estímulos e determinado tratamento, a cocaína empedra e produz o
processamento de informações, problemas psicomotores, crack, fumado num cachimbo – portanto, o efeito ocorre
dentre outros. de maneira mais rápida, bem como sua duração, por isso
o usuário sente a necessidade de consumir a droga nova-
mente e com maior frequência. Quanto menor o tempo
5. Maconha entre o consumo da droga e o efeito no corpo, maior será
É obtida das folhas e flores da planta Canabis sativa, po- o risco de vício (potencial de adicção). Sendo assim, drogas
rém seus efeitos são provenientes do princípio ativo con- que atingem o SNC com maior velocidade, como o crack,
tido no vegetal: o tetrahidrocanabinol (THC). O THC tem oferecem maior potencial de dependência.
sua concentração variada na planta, pois é dependente da Se consumida em ciclos intermitentes e em elevadas doses,
variadade, bem como da forma de cultivo e preparação, pode desencadear fácil irritabilidade, tremores e paranoia,
pois a substância pode ser danificada. Tal concentração também pode causar alucinações, distorções na visão e
afeta diretamente os efeitos provenientes do uso da droga. delírios; ainda, pode gerar depressões graves após o uso
A maconha pode ser ingerida ou fumada. Essas diferentes ou quando os ciclos são interrompidos pela diminuição dos
vias de administração possuem relação direta com a veloci- neurotransmissores na fenda.
dade que os efeitos aparecem. Quando fumada, os efeitos As consequências no corpo são diversas, porém, aquelas
ocorrem mais rapidamente, porém menos duradouros que mais intensas ocorrem no sistema cardiovascular, através
quando ingerida. do aumento da pressão arterial, taquicardia e aumento da
temperatura corpórea; também pode inteferir nos centros
A maconha pode desencadear sensações de bem-estar,
de controle da respiração. O uso crônico pode afetar os
riso e euforia; no entanto, diminui os níveis de atenção e
músculos esqueléticos.
causa alteração da consciência, lentidão motora e distor-
ção do tempo e do espaço. Devido a esses efeitos, o uso da
maconha oferece risco a algumas atividades, como dirigir.
Sabe-se também que a maconha agrava os sintomas de
7. Opiáceos
pessoas esquizofrênicas. Os opiáceos são substâncias derivadas do ópio, que con-
siste num extrato das sementes de papoula utilizado há
Os efeitos crônicos desencadeados pelo uso dessa dro-
milhares de anos por pessoas que buscavam euforia ou
ga são problemas de memória e respiratórios causados
alívio de dores. Porém, essa droga também desencadeia
pela fumaça.
crises de diarreia e tosse. Tanto a morfina quanto a codeína
A maconha é ilegal em muitos países, como no Brasil. são extraídas do ópio, enquanto a heroína é sintetizada
Quando usado em baixas doses, o THC oferece efeitos se- à partir da morfina, substância que possui intensa aplica-
dativo-hipnóticos moderados e é benéfico no tratamento ção médica pelo seu efeito analgésico poderoso. A codeína
de algumas doenças. Dentre os efeitos benéficos do uso também é muito usada pela medicina, pois é um medica-
controlado dessa droga estão: alívio da dor e da náusea mento contra a tosse. Narcóticos são um grupo de drogas
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

associadas à quimioterapia em pacientes com câncer, con- que possuem efeito analgésico (aliviam a dor) e hipnótico
trole de convulsões cerebrais sintomáticas de epilepsia e (induzem o sono). Também proporcionam sensação de
redução da pressão intraocular em pacientes com glauco- prazer e bem-estar, justificando o seu uso “recreativo”. Es-
ma. Por isso, há um aumento na defesa do uso dessa droga sas drogas, como já mencionado, possuem alto poder de
na área médica. dependência, sendo que o usuário crônico pode tornar-se
passivo e apático, desligado da realidade e letárgico.

6. Cocaína O SNC possui receptores específicos para a endorfina,


porém os opiáceos também se ligam a essas estruturas.
Essa droga, em especial, possui elevado risco de depen-
dência devido ao poder de aumentar a disponibilidade de
dopamina nas fendas sinápticas no SNC. A cocaína, bem 8. Inalantes
como a anfetamina, bloqueia a recaptação da dopamina. São químicos com características que possibilitam sua ina-
Os efeitos agudos são comportamentos de ansiedade, eu- lação, como solventes muito voláteis. Os efeitos causados
foria e estado de alerta. por essas drogas ocorrem rapidamente e duram pouco.

42
Exemplos: lança-perfumes, removedores e vernizes, cola de pequenas doses são capazes de desencadear grandes altera-
sapateiro e combustíveis. ções, justificando sua venda na forma de cartões, selos, etc.
Os primeiros efeitos são estimulantes, como euforia e ex- Dentre seus efeitos estão ilusões, alucinações, percepção de
citação, mas podem também desencadear desorientação, cores brilhantes e sons incomuns. Porém, essas percepções po-
alucinações auditivas e visuais e tonturas. Após os efeitos dem levar a atos inesperados e perigosos. Além disso, já foram
estimulantes, os depressivos vêm à tona, podendo levar à relatados casos de flashbacks, onde o efeito surge retardado:
inconsciência. após semanas ou meses do uso da droga, incluindo sintomas
O consumo de tais substâncias pode acarretar dependên- mentais, até na ausência do uso da substância.
cia e tolerância. Dentre os efeitos crônicos, estão apatia,
O principal risco decorrente do uso dessa droga são pertur-
lesões a órgãos como rins e fígado, além de prejuízo ao SN,
bações psíquicas que prejudicam a percepção de situações
que pode ser irreversível. que oferecem risco ao usuário, pois ele pode se julgar com
capacidades que não possui e se expor a situações de risco.
9. Anfetaminas e derivados
Essas drogas sintéticas são usadas para estimular o SN, ou
seja, fazê-lo trabalhar mais depressa, mantendo o usuário
mais alerta, “elétrico” e com menos sono. São popularmen-
te conhecidas como rebite e bolinha, usadas principalmente
por estudantes, motoristas e outras pessoas que não querem
ter sono. Também são usadas na medicina para tratamento
de déficit de atenção e outros distúrbios. Os efeitos são o multimídia: livro
nervosismo, a irritação e a ausência de sono.
O ecstasy é derivado da anfetamina, denominado MDMA.
Almanaque das drogas (2ª edição) –
Os usuários sentem euforia, hipertermia (acompanhada de
muita transpiração e, por isso, desidratação), além de ele- Tarso Araujo
var a pressão arterial. Edição atualizada que acompanhou o lançamento do
As anfetaminas também geram tolerância e dependência. filme. Lançado inicialmente em 2012, a Editora LeYa
Quem faz uso crônico dessa substância pode sentir irrita- publica a edição atualizada do Almanaque das drogas,
bilidade, tremores, alucinações, confusão mental, dentre o maior e mais completo livro publicado no Brasil sobre
outros sintomas. substâncias psicoativas – lícitas e proibidas, sintéticas
e naturais, estimulantes, depressoras e alucinógenas.
10. Alucinógenos sintéticos Nele, é possível encontrar tudo sobre a história, a eco-
nomia, a influência na saúde e as políticas de controle
O dietilamida do ácido lisérgico (LSD) é uma droga sintética e dessas substâncias que encantam, divertem e preocu-
alucinógena que foi descoberta por acaso. Era usada em trata- pam a humanidade desde a Idade da Pedra.
mento contra doenças mentais, mas caiu em desuso por diver-
sos motivos. Como possui potencial de ação rápida no cérebro,
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

As drogas são consideradas substâncias químicas e são classificadas de acordo com seus efeitos no organismo e seus
compostos orgânicos. Assim, a química orgânica é importante para compreender o funcionamento e os efeitos das drogas.

43
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

O estudo dos diferentes sistemas do organismo humano é de suma importância e frequentemente abordado,
de forma aplicada, junto a algum assunto de interesse ou abordagem de uma situação familiar ao aluno. Assim,
é necessário fazer associações dos conteúdos estudados com questões da vida cotidiana, como a compreensão
do sistema nervoso e os impactos causados pela utilização de substâncias que afetam seu funcionamento.

MODELO 1
(Enem) A cafeína atua no cérebro, bloqueando a ação natural de um componente químico associado ao sono,
a adenosina. Para uma célula nervosa, a cafeína se parece com a adenosina e combina-se com seus receptores.
No entanto, ela não diminui a atividade das células da mesma forma. Então, ao invés de diminuir a atividade
por causa do nível de adenosina, as células aumentam sua atividade, fazendo com que os vasos sanguíneos do
cérebro se contraiam, uma vez que a cafeína bloqueia a capacidade da adenosina de dilatá-los. Com a cafeína
bloqueando a adenosina, aumenta a excitação dos neurônios, induzindo a hipófise a liberar hormônios que
ordenam às suprarrenais que produzam adrenalina, considerada o hormônio do alerta.
Disponível em: <http://ciencia.hsw.uol.com.br>. Acesso em: 23 abr. 2010 (adaptado).

Infere-se do texto que o objetivo da adição de cafeína em alguns medicamentos contra a dor de cabeça é:
a) contrair os vasos sanguíneos do cérebro, diminuindo a compressão sobre as terminações nervosas;
b) aumentar a produção de adrenalina, proporcionando uma sensação de analgesia;
c) aumentar os níveis de adenosina, diminuindo a atividade das células nervosas do cérebro;
d) induzir a hipófise a liberar hormônios, estimulando a produção de adrenalina;
e) excitar os neurônios, aumentando a transmissão de impulsos nervosos.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A dor de cabeça é uma condição associada à dilatação dos vasos sanguíneos cerebrais. A cafeína presente
nos medicamentos que combatem as dores de cabeça provoca vasoconstrição dos vasos cerebrais, dimi-
nuindo os sintomas desse tipo de algesia (dor).

RESPOSTA Alternativa A
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44
DIAGRAMA DE IDEIAS

DROGAS E SISTEMA
NERVOSO CENTRAL

- ÁLCOOL
- SONÍFEROS (BARBITÚRICOS)
DEPRESSORAS
- ANSIOLÍTICOS (BENZODIAZEPÍNICOS)
DO SNC
- OPIOIDES (NARCÓTICOS)
- INALANTES (SOLVENTES)

- CAFEÍNA
ESTIMULANTES - NICOTINA
DO SNC - COCAÍNA
- ANFETAMINAS

NATURAIS:
- MESCALINA
- MACONHA (THC)
PERTURBADORAS
- COGUMELOS (PSILOCIBINA)
DO SNC (ALUCINÓGENAS)
SINTÉTICAS:
- LSD
- ECSTASY

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45
A atividade, ou seja, a quantidade de hormônios liberada
pelo sistema endócrino é regulada por um mecanismo de-
nominado feedback ou retroalimentação. Esse mecanismo
pode ser feedback negativo ou feedback positivo. No pri-
meiro caso, o organismo, ao detectar altas concentrações
SISTEMA do hormônio em questão, diminui ou cessa a secreção,

ENDÓCRINO I buscando a homeostase. O feedback positivo, por sua


vez, funciona de forma contrária, ou seja, quanto maior a
concentração circulante do hormônio, mais ele será secre-
tado. A ação hormonal ocorre por meio da presença de
receptores de membrana das células que formam os teci-
dos-alvo. Os hormônios possuem receptores específicos e,

CN
ao se ligarem, induzem modificações em suas estruturas
AULAS moleculares, o que causa a comunicação do receptor com
47 E 48 “mensageiros” celulares, desencadeando diversas reações
moleculares no metabolismo.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4 14 e 15 Na figura a seguir, está esquematizado um mecanismo de
ação hormonal, comum nos hormônios esteroides (com-
postos por colesterol), que passam (a) pela membrana
plasmática e se ligam (b) à proteína receptora no núcleo
(c). O complexo formado proteína-esteroide é capaz de ati-
1. Introdução var a síntese do RNA mensageiro (d), molécula que deixa
o núcleo para executar sua função na síntese de moléculas
O sistema endócrino é formado por glândulas e tecidos
de proteínas (e).
especializados em liberar secreções responsáveis pelo
controle de muitos processos metabólicos. Essas secre- Esteroide

ções são os hormônios, mensageiros químicos de com-


esteroide.
posição proteica ou lipídica que são secretados para agir
em tecidos-alvo, capazes de se ligarem a receptores es-
pecíficos. As glândulas que compõem esse sistema são
aquelas com função endócrina, uma vez que liberam os
hormônios na corrente sanguínea.

Capilares sanguíneos
Mecanismo de ação de hormônios esteroides
Hormônios na
corrente sanguinea Em mamíferos, o sistema nervoso e o sistema endócrino são
interligados por meio do hipotálamo, região do encéfalo en-
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

carregada de regular as atividades da hipófise, que é a glân-


dula mestra do organismo. Os mecanismos e ações do siste-
ma endócrino, quando comparados à coordenação nervosa,
produzem ações que possuem efeito lento e duradouro.
Células endócrinas

Produção e liberação de hormônios na corrente 2. Principais glândulas


sanguínea por células endócrinas.

endócrinas humanas
Assim, os hormônios são responsáveis pela regulação Na figura a seguir, estão esquematizadas as principais
do metabolismo de forma geral, atuando no crescimen- glândulas endócrinas presentes no corpo humano, cujas
to, no funcionamento e em outras regulações orgâni- ações são reguladas pelo sistema nervoso, principalmente
cas, influenciando na maioria das características sexuais pelo hipotálamo, criando um mecanismo complexo e sen-
masculinas e femininas. sível de inter-relações neuroendócrinas.

46
(em pessoas do
sexo feminino)

(em pessoas do
sexo masculino)
As glândulas endócrinas humanas

2.1. Hipotálamo e hipófise


O hipotálamo compreende a região localizada acima da hipófise, compondo o sistema nervoso central (SNC). Devido à sua
propriedade de estimular ou inibir as secreções de hormônios provenientes da hipófise, o local é responsável por realizar a
integração entre os sistemas nervoso e endócrino. A ação – inibir ou estimular a secreção – varia de acordo com as informa-
ções detectadas no corpo pelo sistema nervoso. A hipófise, também denominada glândula pituitária, possui tamanho
parecido a um grão de ervilha e se localiza na base do encéfalo. Essa glândula possui duas regiões: adenoipófise (região an-
terior), regulada pelo hipotálamo, e neuroipófise (lobo posterior), responsável por armazenar e liberar hormônios produzidos
no hipotálamo. Os hormônios da adenoipófise são chamados de “trofinas” e estimulam a atividade dos órgãos ou glândulas.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Hormônios produzidos pelo hipotálamo e pela hipófise e seus locais de ação

47
A tabela a seguir relaciona os hormônios liberados pelas regiões da hipófise, bem como seus locais de ação.
Hormônios Atuação
Atua no crescimento de vários tecidos e órgãos, particularmente nos os-
sos. Na infância, a deficiência desse hormônio pode levar ao quadro de
Crescimento – GH (somatotrofina)
nanismo; e o excesso dele, ao gigantismo. No adulto, o excesso provoca
acromegalia (aumento das extremidades – mãos, pés, mandíbulas).
(porção anterior)

Atua na região cortical das glândulas adrenais, estimulando-as a produ-


Adenoipófise

Adrenocorticotrófico – ACTH
zirem os hormônios cortisol e aldosterona.
Folículo estimulante –FSH Atua nos ovários, estimulando o desenvolvimento dos folículos ovaria-
(gonadotrofina) nos. No homem, estimula a formação dos espermatozoides.
Atua nas gônadas femininas e masculinas. Nos ovários, age na ruptura
Luteinizante – LH
dos folículos ovarianos, que resulta na liberação do óvulo. No homem,
(gonadotrofina)
age nos testículos, estimulando a síntese de testosterona.
Tireotrofina – TSH Atua estimulando a síntese dos hormônios tireoidianos.
Atua estimulando a produção de leite pelas glândulas mamárias e a se-
Prolactina
creção de progesterona pelos ovários.
A porção posterior libera dois hormônios produzidos pelo hipotálamo: a
oxitocina e o hormônio antidiurético. O primeiro estimula a contração ute-
(porção posterior)
Neuroipófise

rina durante o trabalho de parto e a contração dos músculos lisos das glân-
Oxitocina e Antidiurético (ADH) dulas mamárias para expulsão do leite. O segundo, cuja sigla é ADH, atua
ou vasopressina nos ductos coletores dos néfrons, promovendo a reabsorção de água, e nas
glândulas sudoríparas, diminuindo a sudorese. Em elevadas concentrações
provoca aumento da pressão sanguínea. A produção deficiente desse hor-
mônio leva ao quadro de diabetes insípido.

2.2. Glândula pineal 2.3. Glândula tireoide


A glândula pineal apresenta formato ovoide e se encontra A glândula tireoide é fundamental para o correto funcio-
entre os dois hemisférios cerebrais e também sobre o tálamo. namento do metabolismo. Ela está localizada no pescoço,
Ela é responsável por secretar a melatonina, pois a pineal sendo uma comprida glândula posicionada na região ven-
é responsiva a estímulos luminosos do ambiente. Dessa ma- tral da traqueia. A tireoide produz três hormônios: a calci-
neira, a melatonina é secretada, por exemplo, quando o Sol tonina, o T4 (tiroxina ou tetraiodotironina) e o T3 (triiodo-
se põe. As informações sobre o ambiente, como a lumino- tironina), sendo os dois últimos provenientes da tirosina e
sidade, atingem a glândula por meio de impulsos nervosos unidos, respectivamente, a quatro e a três átomos de iodo.
que foram originados na retina. Em consequência aos estí- O T3 e T4 estimulam o metabolismo, promovendo o au-
mulos luminosos, a pineal diminui a secreção de melatonina. mento da taxa respiratória das células. Durante a infância,
Assim, o hormônio atinge sua concentração máxima à noite, a deficiência nos níveis desses hormônios causa o creti-
com o sono. Desse modo, pode-se inferir que a melatonina nismo, caracterizado por retardamento mental e físico; já
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

regula os mecanismos dependentes do dia/noite (ciclo cir- na fase adulta, o hipotireoidismo (baixa produção de
cadiano), além de outros eventos cíclicos que ocorrem no hormônios tireoidianos) causa redução da atividade meta-
corpo, como o ciclo menstrual. bólica, redução da temperatura corporal, maior sonolência,
além de inchaço característico, conhecido como mixedema.
Hipotálamo Por outro lado, o hipertireoidismo é caracterizado por
maior produção desses hormônios, acarretando na acelera-
Pineal ção do metabolismo. Os sintomas são hiperatividade, ner-
voso, excesso de fome devido ao rápido gasto energético,
perda de peso e aumento da temperatura corporal.
Pituitária
Pituitaria
O iodo é um componente desses hormônios, por isso é
necessário para a síntese dos mesmos. A falta de iodo na
alimentação leva a um aumento no tamanho da glândula
Legenda: Localização da glândula pineal no Encéfalo tireoide; em consequência, o pescoço fica visivelmente in-

48
chado, caracterizando o quadro de bócio carencial. No Bra- xina pela tireoide. Uma substância sintetizada no hipotála-
sil, criou-se uma lei que determina a adição de iodo no sal mo, denominada fator de liberação ou hormônio de libe-
de cozinha, visando a diminuir a ocorrência desse quadro. ração, estimula a síntese de TSH pelas células hipofisárias.
Quando atinge a glândula tireoide, o TSH causa estímulos
A calcitonina, por sua vez, permite a deposição acelera-
para a produção de tiroxina. À medida que o teor de tiro-
da de sais de cálcio nos ossos. Assim, o teor de cálcio no
xina aumenta na circulação sanguínea, o hipotálamo e a
sangue diminui. A calcitonina atua em conjunto com o pa-
hipófise detectam esse alto nível do hormônio, inibindo a
ratormônio, regulando a quantidade de cálcio sanguíneo.
produção de TSH. Esse mecanismo é denominado feedba-
ck negativo. Por outro lado, como os tecidos consomem ti-
2.3.1. Hormônios tireoidianos e o mecanismo roxina, a consequência é a diminuição de sua concentração
de feedback (retroalimentação) sanguínea. Nesse caso, a produção de TSH é estimulada
Para facilitar a compreensão do mecanismo de feedback pela hipófise, que novamente estimula a glândula tireoide,
(retroalimentação), será utilizado o caso do TSH (produzido que passa a produzir tiroxina. Esse processo é denominado
na adenoipófise), hormônio que regula a produção de tiro- feedback positivo.

TSH

Tireoide

Mecanismo de feedback que compreende o controle do hormônio TSH


VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

VIVENCIANDO

A melatonina é um hormônio ligado ao ciclo circadiano, isto é, à forma como o organismo organiza suas funções durante a vigí-
lia e durante o sono. Para ajudar o organismo a se preparar para dormir, a substância começa a ser produzida na glândula pineal
quando o dia escurece. Ela atinge seu nível máximo durante o sono. Com o nascer do sol e a volta da claridade, a glândula reduz
a produção de melatonina, sinalizando que é o momento de acordar. Por regular as funções do sono em todo o organismo, a
maior parte dos órgãos possuem receptores para ela. Portanto, é bem possível que ela atue de formas diversas no organismo.

49
2.4. Glândulas paratireoides As glândulas paratireoides também podem se situar no interior
da tireoide. Cada paratireoide é envolta por uma cápsula forma-
Trata-se de um conjunto de quatro glândulas situadas na da por tecido conjuntivo. O hormônio produzido pelas parati-
região posterior da tireoide. reoides é o paratormônio, cuja função é regular os níveis de íons
tireoide tireoide
fosfato e cálcio do plasma sanguíneo. A queda da taxa de cálcio
no plasma causa estímulo das paratireoides, que inicam a llibe-
ração do seu hormônio. O paratormônio atua nas células do te-
cido ósseo, promovendo o aumento do número de osteoclastos,
responsáveis por reabsorver cálcio da matriz óssea, elevando o
cálcio plasmático. O paratormônio também eleva a taxa de íon
fosfato no plasma sanguíneo, mas não se mantém dessa forma,
paratireoides porque esse hormônio estimula a excreção de fosfato pelos rins.
Glândulas paratireoides situadas na porção Observe a seguir um esquema para compreender o papel das
posterior da glândula tireoide paratireoides, bem como do paratormônio no organismo.

2. Aumenta a
reabsorção de
cálcio pelos rins.

1. Baixa concentração de cálcio


estimula a liberação de
paratormônio pelas
paratireoides.
paratireóideas.

Baixa Concentração
concentração normal
de Ca2+ de Ca+2
5. Concentração de
4. Os rins produzem mais cálcio no sangue chega
vitamina D ativa que auxilia na
a condições normais.
absorção de cálcio no intestino.

3. Libera cálcio dos ossos.

Mecanismo de regulação do cálcio pelo paratormônio

2.5. Pâncreas
O pâncreas é uma glândula considerada anfícrina (mista), pois possui ação endócrina e exócrina. A região com função exócri-
na do pâncreas sintetiza os componentes do suco pancreático, que são liberados no duodeno, enquanto a porção endócrina
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

produz os hormônios responsáveis pelo metabolismo da glicose. Observe o esquema a seguir:

LEGENDA: Esquema do pâncreas destacando as funções endócrina e exócrina

50
As ilhotas de Langerhans são a porção endócrina do substância de reserva e insolúvel –, que tem papel oposto
pâncreas e se encontram como aglomerados arredonda- à glicose. Além disso, a insulina também inibe a gliconeo-
dos de células. Em cada uma das ilhotas de Langerhans, gênese, ou seja, a transformação de aminoácidos, lactato e
existem dois tipos de células responsáveis pela produção glicerol em glicose, processo realizado pelo fígado.
dos hormônios produzidos no pâncreas: as células alfa,
responsáveis por produzir o glucagon, e as outras células
denominadas beta, responsáveis pela produção de insuli-
na. A insulina e o glucagon são importantes na regulação
do metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras.
A insulina possui ação anabólica, por isso, aumenta o ar-
mazenamento de glicose, mas também de ácidos graxos
multimídia: vídeo
e aminoácidos. O glucagon possui ação catabólica, mobi-
liza a glicose e também os ácidos graxos e os aminoáci- Fonte: Youtube
dos, provenientes dos depósitos para a corrente sanguí- Hormônios
nea. Assim, ambos os hormônios são contrários em sua
ação final. O glucagon, pelo contrário, caracteriza-se por ser um
A insulina é hipoglicemiante, uma vez que, depois de sua hormônio hiperglicemiante, isto é, favorece a hidrólise de
ação, a concentração de glicose no sangue diminui, pois a glicogênio hepático, processo denominado glicogenólise.
insulina facilita a internalização da glicose do sangue em Em consequência, ocorre a liberação de glicose na corren-
direção aos diversos tipos de células, especialmente as mus- te sanguínea. O glucagon atua em condições regulares e
culares e as hepáticas, locais onde as moléculas de glicose também em situações de estresse ou emergenciais, sendo
encontram-se armazenadas na forma de glicogênio – que o seu efeito é reforçado pela adrenalina.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

suprarrenais.

Ações antagônicas da insulina e do glucagon na taxa de glicose no sangue.


O excesso de insulina causa hipoglicemia, que pode produzir convulsões e coma. A deficiência de insulina no corpo é deno-
minada diabetes.

2.5.1. O pâncreas e o teor de glicose no sangue

§ Diabetes mellitus tipo I – a produção em quantidade insuficiente de insulina aumenta a glicemia. Em razão da deficiência
ou da produção defeituosa desse hormônio, o paciente precisa adquiri-lo de fonte externa (produzido atualmente pela indústria,
por bactérias). Essa doença manifesta-se especialmente na infância e na adolescência.

51
§ Diabetes mellitus tipo II – o segundo tipo da doença é mais frequente. Mesmo havendo níveis normais de insulina,
os órgãos-alvo são incapazes de responder a ela, elevando a quantidade de glicose sanguínea. O paciente deve evitar a
ingestão de alimentos ricos em glicose. Em geral, essa doença é detectada em pessoas acima dos 40 anos.
Nesse quadro, as células param de absorver a glicose e buscam outras fontes de energia, como ácidos graxos e proteínas.
Como os rins são incapazes de reabsorver o excesso de glicose, o resultado é a eliminação de glicose através da urina, junto
com grande quantidade de água.

Transporte de glicose. O receptor de glicose da membrana é do tipo insulina/dependente.


Sem insulina, não há transporte de glicose para as células.

2.6. Suprarrenais
As glândulas suprarrenais ou adrenais se localizam no polo superior de cada rim. Assim, existem duas suprarrenais. Essas
glândulas possuem o formato de meia-lua achatada, mas seu tamanho é variável de acordo com a idade e as condições
fisiológicas da pessoa.
As glândulas são recobertas por uma cápsula conjuntiva e formadas por uma camada cortical ou córtex da adrenal e uma
segunda camada denominada medular ou medula da adrenal. As duas camadas possuem morfologia e funções diferentes.

§ Medula adrenal – as principais secreções dessa região são: adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina). As células dessa
região são estimuladas pelo sistema nervoso.

§ Córtex adrenal – as principais secreções dessa região são: cortisol (glicocorticoides), esteroides de ampla ação no
metabolismo de carboidratos e proteínas, e uma segunda substância denominada aldosterona (mineralocorticoides),
essencial na manutenção do equilíbrio de sódio e do volume do líquido extracelular.
Nos rins, devido à presença da aldosterona, os túbulos renais realizam a reabsorção de íons Na+, favorecendo a retenção de
água nos vasos, bem como a elevação da pressão sanguínea. Esse mesmo hormônio possibilita a eliminação de íons K+. O
cortisol (hidrocortisona) é um famoso hormônio anti-inflamatório que atua em bronquites, sinusites e alergias, diminuindo os
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

efeitos inflamatórios nos tecidos.


A modulação principal da secreção adrenocortical é realizada pela hipófise por meio do ACTH. No entanto, a secreção de al-
dosterona está sujeita a uma outra modulação independente, através de outras substâncias, dando destaque à angiotensina II,
produzida na corrente sanguínea por ação da renina (enzima secretada pelos rins). A angiotensina II também possui uma função
fisiológica importante: a manutenção de níveis saudáveis da pressão sanguínea (pressão arterial).

Glândula suprarrenal ou adrenal

52
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A natureza química dos hormônios está associada ao local em que se encontra o receptor hormonal, além do seu
transporte pela corrente sanguínea. Hormônios lipossolúveis, como os esteroides, precisam de um carreador na
corrente sanguínea, e seu receptor é intracelular, uma vez que esse hormônio atravessa a membrana lipossolúvel
com facilidade. Os hormônios polares, por sua vez, podem se dissolver no plasma sanguíneo, e seu receptores
são de membrana celular.

2.7. Timo
O timo é um órgão linfoide que também possui função de glândula endócrina. Ele produz hormônios muito importantes para
o sistema imune, pois estão relacionados à maturação dos linfócitos T, que ocorre no timo.
A tabela a seguir apresenta um resumo dos principais hormônios vistos nesta aula, com exceção dos hormônios produzidos
pelo hipotálamo e pela hipófise, já estudados anteriormente.

Glândula Hormônio Modo de ação


Relaciona-se às modificações no comportamento observadas em decorrência dos
Pineal Melatonina ciclos de claro/escuro.
Estimulam o metabolismo e são fundamentais para o pleno crescimento e desen-
Triiodotiroxina – T3
volvimento. A diminuição da quantidade leva ao hipotireoidismo no adulto e ao
e tiroxina – T4 cretinismo na criança; o aumento ocasiona o hipertireoidismo.
Tireoide
Atua na regulação dos teores de cálcio e fósforo sanguíneos. Estimula a deposi-
Calcitonina ção de cálcio nos ossos.
Tem ação antagônica à da calcitonina. Atua na regulação do teor de cálcio san-
Paratireoides Paratormônio guíneo liberando cálcio dos ossos; também favorece a reabsorção de cálcio pelos
rins.
Epinefrina e Também denominadas adrenalina e noradrenalina, são liberados em situações de
norepinefrina estresse e de emergência (luta/fuga). Atuam acelerando os batimentos cardíacos
(medula) e a taxa metabólica.
Suprarrenal
Proporciona resistência ao estresse (por isso se encontra alto nessas situações);
Cortisol (córtex) atua como anti-inflamatório. Deprime a resposta imunológica.
Aldosterona (córtex) Atua estimulando a reabsorção de água e íons sódio nos túbulos renais.
Reduz o teor de glicose sanguínea e estimula o seu armazenamento, na forma de
Insulina glicogênio no fígado. A ação deficiente desse hormônio ou sua baixa produção
Pâncreas resultam em diabetes.
Glucagon Eleva o teor de glicose no sangue a partir da quebra de glicogênio hepático.
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53
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

Os diferentes sistemas são estudados de modo a compreender a interação que ocorre entre os órgãos forma-
dos pelos quatro principais tipos de tecido. Assim, é possível compreender a fisiologia do organismo humano e
suas implicações na saúde. Para isso, é importante que o aluno conheça os mecanismos normais de funciona-
mento dos sistemas e consiga prever o dano decorrente de alguma patologia ou situação cotidiana extrema e,
desse modo, fazer intervenções visando a promoção da saúde.

MODELO 1
(Enem) O metabolismo dos carboidratos é fundamental para o ser humano, pois a partir desses compostos or-
gânicos obtém-se grande parte da energia para as funções vitais. Por outro lado, desequilíbrios nesse processo
podem provocar hiperglicemia ou diabetes.
O caminho do açúcar no organismo inicia-se com a ingestão de carboidratos que, chegando ao intestino, sof-
rem a ação de enzimas, “quebrando-se” em moléculas menores (glicose, por exemplo) que serão absorvidas.
A insulina, hormônio produzido no pâncreas, é responsável por facilitar a entrada da glicose nas células. Se
uma pessoa produz pouca insulina, ou se sua ação está diminuída, dificilmente a glicose pode entrar na célula
e ser consumida.
Com base nessas informações, pode-se concluir que:
a) o papel realizado pelas enzimas pode ser diretamente substituído pelo hormônio insulina;
b) a insulina produzida pelo pâncreas tem um papel enzimático sobre as moléculas de açúcar;
c) o acúmulo de glicose no sangue é provocado pelo aumento da ação da insulina, levando o indivíduo a
um quadro clínico de hiperglicemia;
d) a diminuição da insulina circulante provoca um acúmulo de glicose no sangue;
e) o principal papel da insulina é manter o nível de glicose suficientemente alto, evitando, assim, um quadro clínico
de diabetes.

ANÁLISE EXPOSITIVA
O próprio enunciado da questão descreve o metabolismo e a ação do hormônio. Desse modo, basta ao aluno anali-
sar as informações apresentadas e compreender que a redução na produção de insulina ou a resistência das células
à sua ação provoca a hiperglicemia, típica de doenças como diabetes mellitus.
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RESPOSTA Alternativa D

54
DIAGRAMA DE IDEIAS

- REGULA O METABOLISMO (HOMEOSTASE)


SISTEMA
- SECRETA HORMÔNIOS QUE ATUAM EM TECIDOS-ALVO (RECEP-
ENDÓCRINO
TORES ESPECÍFICOS)

MECANISMO DE POSITIVO: A AÇÃO DO HORMÔNIO ESTIMULA MAIS SECREÇÃO DO MESMO


“FEEDBACK” NEGATIVO: ALTAS CONCENTRAÇÕES DO HORMÔNIO INIBEM SUA SECREÇÃO

- INTEGRA O SISTEMA ENDÓCRINO E O SNC


HIPOTÁLAMO - REGULA AÇÃO DA ADENOIPÓFISE
- PRODUZ OXITOCINA E ANTIDIURÉTICO (ADH)

- REGIÃO ANTERIOR
ADENOIPÓFISE
- PRODUZ OS HORMÔNIOS GH, ACTH, FSH, LH, TSH E PROLACTINA
HIPÓFISE
(PITUITÁRIA) - REGIÃO POSTERIOR
NEUROIPÓFISE
- ARMAZENA E SECRETA OS HORMÔNIOS DO HIPOTÁLAMO

MELATONINA
PINEAL REGULA O CICLO CIRCADIANO

T3 E T4 (TRI-IODOTIRONINA E TIROXINA) CALCITONINA


TIREOIDE
REGULA O METABOLISMO ENERGÉTICO ↓ [CÁLCIO] NO SANGUE; DEPOSITA-O NOS OSSOS

PARATORMÔNIO
PARATIREOIDE
↑ [CÁLCIO] NO SANGUE; RETIRA-O DOS OSSOS

CÉLULAS BETA: INSULINA CÉLULAS ALFA: GLUCAGON


PÂNCREAS
↓ [GLICOSE] NO SANGUE; ↑ [GLICOGÊNIO] ↑ [GLICOSE] NO SANGUE; ↓ [GLICOGÊNIO]
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- MEDULA: - ADRENALINA E NORADRENALINA


SUPRARRENAIS - CÓRTEX: - CORTISOL (RELACIONADO AO ESTRESSE)
- ALDOSTERONA (ABSORÇÃO DE NA+ NOS RINS)

55
1. Controle hormonal na
reprodução humana
SISTEMA O hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio
ENDÓCRINO II luteinizante (LH), produzidos pela adenoipófise, atuam
regulando a atividade das gônadas femininas (ovários)
E MÉTODOS e masculinas (testículos). Esses órgãos, por sua vez, pro-
CONTRACEPTIVOS duzem hormônios que atuam estimulando a expressão
de caracteres sexuais secundários (engrossamento da voz
e pelos na face em pessoas do sexo masculino e alarga-
mento dos quadris em pessoas do sexo feminino) e no

CN
processo de reprodução humana.
AULAS
No sexo masculino, o FSH estimula a espermatogênese e
49 E 50 o LH favorece a produção de testosterona pelo testículo.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
No sexo feminino, o FSH e o LH participam do ciclo mens-
4e8 14, 15 e 29
trual. No organismo feminino, a ação hormonal relaciona-
da à reprodução se inicia ainda na vida intrauterina e se
desdobra em eventos complexos a partir da puberdade.
Nesse período, o estrógeno estimula o desenvolvimento
dos caracteres sexuais secundários.

1.1. Ciclo menstrual e as estruturas associadas


1.1.1. Ovários
O número total de folículos ovarianos nos dois ovários da criança recém-nascida é estimado em dois milhões. No
entanto, a maioria sofrerá um processo degenerativo. Dessa forma, restarão apenas cerca de 300.00 folículos na
puberdade. Essa regressão folicular ocorre durante toda a vida, desde a menarca (primeira menstruação) até a
menopausa (interrupção da menstruação). Como em geral apenas um ovócito é liberado pelos ovários em cada
ciclo menstrual (duração média 28 dias), e a vida reprodutiva da mulher varia de 30 a 40 anos, o total de ovócitos
liberados é de aproximadamente 450. Todos os demais folículos, com seus ovócitos, degeneram e desaparecem.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Ciclo ovariano

56
O começo de cada ciclo menstrual coincide com o início da menstruação. O FSH atua estimulando o crescimento de folículos
ovarianos. Dentro de cada folículo há um ovócito em formação, mas, em geral, apenas um folículo atinge maior desenvolvimento
e se torna maduro (ou folículo de Graaf). À medida que um folículo cresce, ele produz estrógeno, que, como o FSH, apresenta
aumento progressivo. O papel do estrógeno é promover o cresci- mento da parede uterina interna, o endométrio, rico em glân-
dulas e vasos sanguíneos.
Em determinado ponto do ciclo, a alta concentração de estrógeno na corrente sanguínea estimula a hipófise a liberar FSH e
LH em elevadas quantidades. Com o pico de LH, ocorre a ovulação, que causa a ruptura do folículo maduro e a liberação do
ovócito II, resultando numa queda da taxa de estrógeno. A ovulação ocorre aproximadamente no meio do ciclo menstrual,
ou seja, por volta do décimo quarto dia, considerando o ciclo médio de 28 dias. O ciclo menstrual pode apresentar mais ou
menos dias de acordo com as características fisiológicas e genéticas de cada mulher. Na pós-ovulação, devido ao estímulo
do LH, as células foliculares dão origem a uma glândula endócrina temporária, denominada corpo lúteo (corpo amarelo),
localizada no ovário e secretora de progesterona e estrógeno. Esses hormônios atuam sobre a mucosa uterina, estimulando
a secreção de suas glândulas. Além disso, a progesterona impede o desenvolvimento de outros folículos ovarianos e nova
ovulação. A elevada quantidade de estrógeno e progesterona inibe a hipófise, que reduz a síntese de FSH e LH.
Observe na figura a seguir os níveis hormonais e o aspecto do folículo ovariano e do endométrio durante o ciclo menstrual.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

O ciclo menstrual na mulher, com duração aproximada de 28 dias

Quando não ocorre gravidez, devido à falta de hormônio luteinizante, o corpo lúteo degenera e se transforma no corpo
branco ou albicans, parando de produzir hormônios. Em consequência, as quantidades de estrógeno e progesterona caem
repentinamente, causando a descamação da mucosa uterina (menstruação) e também a produção de FSH pela hipófise,
reiniciando o ciclo.
Quando ocorre a gravidez, a gonadotrofina coriônica (HCG) produzida pelo sinciciotrofoblasto, tecido do embrião, estimula
o corpo lúteo, que se mantém durante a gestação. Esse hormônio pode ser detectado na urina e no sangue, por isso sua
presença é indicativo de processo gestacional. A produção de progesterona permanece alta e constante, mantendo o en-
dométrio crescido. Por volta do quarto mês de gravidez, o corpo lúteo degenera. É a própria placenta, já completamente
formada, que passa a produzir estrógeno e progesterona, garantindo a continuidade da gravidez.

57
1.1.2. Tubas uterinas
Cada tuba uterina é uma estrutura tubular musculomembranosa de grande mobilidade com cerca de 12 cm de comprimento.
Quando ocorre a ovulação, a tuba uterina recebe o ovócito liberado pelo ovário e o conduz na direção do útero. A fertilização
ocorre habitualmente no interior da tuba, e a secreção ali contida contribui para a proteção e a nutrição do ovócito, bem como
para a ativação do espermatozoide. Na época da ovulação, a tuba movimenta-se de modo regular devido à contração de sua
musculatura. Essas ondas, auxiliadas pela atividade ciliar do epitélio, são importantes na movimentação do embrião em direção
ao útero.

1.1.3. Útero
O útero é um órgão muscular cuja parede é relativamente espessa e constituída, principalmente, pelo miométrio (túnica de
músculo liso) e pelo endométrio (mucosa). O miométrio é a camada mais espessa do útero e, durante a gravidez, cresce
significativamente, diminuindo depois do parto. O endométrio secreta glicoproteínas (muco) e, sob a ação dos hormônios
ovarianos (estrógeno e progesterona), sofre modificações estruturais cíclicas que constituem o ciclo menstrual. As modifi-
cações estruturais do endométrio durante o ciclo menstrual são graduais e podem ser divididas em três fases: proliferativa,
secretória e menstrual.
Na fase proliferativa, a mucosa uterina se reduz para ser reconstruída. Na fase secretória, após a ovulação, o endométrio
atinge sua espessura máxima (5 mm) devido ao acúmulo de secreções nutritivas. Por fim, na fase menstrual, quando não
há fertilização do óvulo expelido pelo ovário, ocorre uma queda brusca dos níveis de estrógenos e progesterona no sangue.
Em consequência, o endométrio, que estava desenvolvido pelo estímulo desses hormônios, entra em colapso, sendo parcial-
mente destruído. O sangue da menstruação é principalmente de origem venosa, pois as artérias, ao se romperem, contraem
suas paredes, fechando a extremidade rompida. O endométrio se destaca por partes, e o grau de perda endometrial varia de
pessoa para pessoa; daí o motivo de a menstruação durar aproximadamente 3 dias ou mais.
Observe no fluxograma a seguir a regulação hormonal do ciclo menstrual.

HIPOTÁLAMO

HORMÔNIO LIBERADOR DE
GONADOTROFINAS (GnRH)

FSH HIPÓFISE ANTERIOR LH

ESTIMULA O MATURAÇÃO DO FOLÍCULO-


DESENVOLVIMENTO DO OVULAÇÃO-DESENVOLVIMENTO
FOLÍCULO DO CORPO LÚTEO
OVÁRIO

ESTRÓGENO CORPO PROGESTERONA


VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

LÚTEO

MATURAÇÃO DOS ÓRGÃOS PREPARAÇÃO E MANUTENÇÃO


REPRODUTORES - DESENVOLVIMENTO DO ENDOMÉTRIO PARA O
CARACTERES SEXUAIS 2º ESPESSAMENTO GESTAÇÃO
DO ENDOMÉTRIO

Fluxograma da regulação hormonal do ciclo menstrual

1.1.4. Placenta
A placenta é um órgão que se desenvolve no revestimento interno do útero durante a gravidez. A placenta desenvolve-se a
partir de material fetal e de material materno. A função primária da placenta é permitir trocas materno-fetais, ou seja, possi-
bilitar que substâncias dissolvidas no sangue do feto difundam para o sangue materno e vice-versa.
A implantação e o desenvolvimento do embrião ocorrem depois da fecundação (que acontece na tuba uterina) e sua seg-
mentação ocorre à medida que ele se desloca passivamente na direção do útero. Por mitoses sucessivas, forma-se a mórula,

58
e, depois, forma-se a blástula ou blastocisto. O blastocisto permanece livre na cavidade uterina por apenas um ou dois dias;
depois desse período, ele se implanta na parede do útero e é envolvido pela secreção das glândulas endometriais.

Início do desenvolvimento embrionário humano. O blastocisto – formado por massa celular interna e pelo trofoblasto – implanta-se no
endométrio uterino. As células do trofoblasto, que formam a camada de revestimento, organizam a parte embrionária da placenta.

VIVENCIANDO

Os métodos contraceptivos podem refletir no bem-estar da mulher, uma vez que estão associados aos hormônios
que alteram a fisiologia do corpo. Esse assunto é importante para a compreensão de como o corpo responde a
processos do cotidiano, como humor, ganho e perda de músculos e identificação de gravidez.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

1.2. Glândulas mamárias


As glândulas mamárias são estruturas glandulares
exócrinas formadas por vários lobos com função
secretora de leite para nutrição de recém-nascidos.
Embora o conjunto de lobos seja chamado frequen-
temente de glândula mamária, cada lobo é de fato
uma glândula mamária, com sua parte secretora e
seu ducto excretor próprio. Observe na figura a se-
guir a estrutura da mama. LEGENDA: Estrutura da mama

59
Quando atingem a maturidade sexual na puberdade, as mamas aumentam de tamanho, assumindo uma forma hemisférica, e
o mamilo torna-se proeminente. Durante o ciclo menstrual, são observadas pequenas variações na estrutura histológica dessas
glândulas, que se caracterizam por uma proliferação dos ductos e das partes secretoras na época da ovulação e que coincidem
com o maior teor de estrógeno circulante. Além disso, ocorre maior acúmulo de tecido adiposo e hidratação do tecido conjun-
tivo na fase pré-menstrual, causando o aumento do volume das mamas.
A ação sinergética de hormônios é responsável pelo crescimento das glândulas mamárias durante a gravidez. Entre esses
hormônios é possível destacar os estrógenos, a progesterona, a prolactina, o hormônio mamotrófico placentário, a tiroxina
e o hormônio somatotrófico.
A lactação se caracteriza pelo desencadeamento dos processos de secreção do leite produzido dentro das células epiteliais
das porções secretoras. As proteínas constituem aproximadamente 1,5% do leite humano; a lactose constitui cerca de 7%. A
sucção da criança funciona em lactantes como estímulo nos receptores tácteis que existem em abundância ao redor do mamilo
e que são os responsáveis pelo desencadeamento de um reflexo que promoverá a liberação da oxitocina (hormônio da hipófise
posterior). Esse hormônio promove a contração das células mioepiteliais presentes na glândula, possibilitando a ejeção do leite.
Em período de lactação, os estímulos emocionais e sexuais também podem determinar a liberação de oxitocina, fazendo com
que o leite brote nos mamilos. Depois da menopausa, inicia-se a involução climatérica da mama, que é caracterizada por
uma redução do seu tamanho, consequência da atrofia dos ductos, das porções secretoras e do tecido conjuntivo.
Observe na tabela a seguir um resumo dos hormônios associados à reprodução humana.

Glândula Hormônio sexual Natureza química Modo de ação


Determina as características sexuais secundárias no sexo feminino.
Estrógeno (estradiol) Esteroide
Determina o crescimento inicial do endométrio no ciclo menstrual.
Ovário
Atua completando a preparação do endométrio para a recep-
Progesterona Esteroide
ção do embrião e também na manutenção da gravidez.
Determina as características sexuais secundárias no sexo masculino.
Testículos Testosterona Esteroide
Estimula a maturação dos espermatozoides.

2. Métodos contraceptivos Os preservativos são popularmente conhecidos como cami-


sinhas. O preservativo masculino é formado por uma fina
As diversas formas de prevenção da gravidez são denomi- borracha e reveste o pênis quando ereto. É importante que,
nadas métodos contraceptivos, que podem atuar como: antes de revesti-lo, deixe-se um espaço livre na ponta do
§ uma barreira física, impedindo a fecundação; preservativo, que vai servir para depósito do esperma depois
da ejaculação. Por esse motivo, trata-se de um processo de-
§ uma barreira hormonal, evitando a ovulação ou a fixa- nominado método de barreira, pois impede a passagem de
ção do “zigoto”; espermatozoides do pênis para o corpo da parceira.
§ uma barreira esterilizadora, obstruindo a passagem do O preservativo feminino é de plástico e é mais largo do que
gameta (feminino ou masculino); o preservativo masculino. Ele é alocado na vagina, com a
extremidade fechada posicionada ao fundo do canal vagi-
§ uma forma de identificação das fases do ciclo mens-
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

nal, e a extremidade aberta posicionada do lado externo


trual, em especial a janela fértil a fim de evitá-lo.
do órgão genital feminino.
A seguir serão abordados os seguintes métodos contracep-
Depois da relação sexual, os preservativos devem ser
tivos: preservativos, pílula anticoncepcional, DIU, diafrag-
descartados. É importante destacar que esses preser-
ma, vasectomia, laqueadura de tubas uterinas e tabelinha.
vativos não devem ser usados simultaneamente numa
relação sexual, uma vez que eles podem se romper ou
2.1. Preservativos masculinos e femininos se deslocar, pondo em risco sua eficácia.
A camisinha é o método contraceptivo mais importante
por ser eficaz para prevenção não apenas da gravidez,
mas também de Infecções sexualmente transmissíveis.
Esta proteção é proporcionada apenas por este método,
por isso o uso de preservativos pode acontecer conjun-
Preservativo masculino Preservativo feminino tamente a de outros métodos.

60
2.2. Pílula anticoncepcional O diafragma é uma estrutura circular de borracha alocada
– geralmente junto com um espermicida – na região mais
profunda da vagina. Seu objetivo é “tampar” a entrada de
espermatozoides, impedindo a chegada desses gametas
no ovócito. A estrutura deve ser introduzida antes da re-
lação sexual e pode ser retirada até algumas horas depois.

2.5. Método do calendário ou tabelinha


O método conhecido como tabelinha consiste na abstinên-
Exemplo de uma pílula anticoncepcional cia sexual durante o período fértil – três a quatro dias antes
e depois da provável ovulação. Como todos os ciclos do
Existem hoje diversos métodos contraceptivos à base de hor-
corpo, o ciclo menstrual não é rigorosamente regulado e
mônios, como adesivos e injeções, mas a pílula ainda é a mais
pode ser afetado por motivos emocionais, respostas fisio-
popular. A pílula anticoncepcional é considerada um método
lógicas e até mesmo ingestão de medicamentos ou outras
contraceptivo bastante eficaz. Trata-se de um comprimido que
substâncias. Portanto, a abstinência apresenta baixa eficá-
contém hormônios sintéticos (produzidos em laboratório), qui-
cia e a tabelinha é um instrumento importante para que a
micamente similares ao estrógeno e à progesterona. Sua atua-
pessoa conheça seu corpo e seu ciclo − permitindo plane-
ção baseia-se no mecanismo de feedback, por meio do qual a
jamentos como quando se deseja engravidar.
presença desses hormônios sintéticos bloqueiam a síntese de
FSH e de LH pela hipófise. Em consequência, a ovulação não
acontece. Esse tipo de contraceptivo à base de hormônios deve 2.6. Vasectomia
sempre ser utilizado com acompanhamento médico, uma vez A vasectomia é um processo no qual é realizada a este-
que há restrições ao seu uso e uma série de efeitos colaterais rilização masculina, de modo que uma parte dos ductos
que envolvem características particulares de cada organismo. deferentes é seccionada, impedindo a eliminação dos es-
permatozoides durante a ejaculação. Dependendo do caso,
2.3. DIU o seccionamento pode ser revertido.
Os ductos deferentes são cortados em dois pontos e cada
ponta é cauterizada:

exemplo de um dispositivo intrauterino (DIU)


O dispositivo intrauterino (DIU) é uma estrutura plástica cober-
ta de cobre, cuja função é impedir a chegada de espermato-
zoides às tubas uterinas. Existem dois tipos de DIU: um apenas
de cobre e atua apenas como barreira e outro que apresenta
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

um reservatório do hormônio progesterona, que é liberado em


doses baixas (em comparação a pílula) e também atua como
barreira. Sua implantação deve ser feita por um médico e só Representação esquemática da vasectomia
deve ser utilizado sob orientação dele. Trata-se de um método A vasectomia não altera a produção hormonal e nenhuma
que apresenta eficácia elevada (quase 100%). alteração é perceptível, nem mesmo no volume de sêmen
expelido durante a ejaculação.
2.4. Diafragma
2.7. Laqueadura de tubas uterinas
Também denominada ligação das tubas, a laqueadura é
um método de esterilização feminina. Numa cirurgia, as
tubas uterinas são amarradas ou seccionadas, impedindo
Mecanismos de ação do diafragma
a passagem dos espermatozoides até o óvulo e impossibi-
litando a fecundação.

61
Representação esquemática da laqueadura

Por se tratar de um método definitivo e irreversível, esse


procedimento é investigado até mesmo por psicólogos an-
tes de ser realizado.
Cada método contraceptivo possui indicações particulares
e adequadas a cada tipo de organismo, idade, contexto fa-
miliar e social, entre outros fatores. Por isso, recomenda-se
a busca de orientações médicas que indicarão a melhor
opção para cada caso.

Aborto e ética
Poucas questões em medicina têm despertado debates
tão acalorados quanto a questão do aborto. Se, por um
lado, há os que defendem a descriminalização do abor-
to, há aqueles que se apoiam em argumentos morais,
políticos e religiosos para continuar favoráveis à sua
proibição.
No Brasil, está na lei que o abortamento é permitido em
duas situações: quando a gravidez representa risco de
morte para a mãe e nos casos de estupro, se a mulher
desejar interromper a gravidez. Mais recentemente, os
juízes têm deferido favoravelmente aos pedidos de in-
terrupção da gravidez dos fetos anencéfalos.
Apesar da polêmica e das restrições, o número de abor-
tamentos realizados clandestinamente no nosso país é
enorme. A julgar apenas pelos índices expressivos de
complicações decorrentes de abortamentos realizados
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

em condições precárias nas mulheres atendidas pelo


Sistema Único de Saúde (SUS), fica evidente que a atual
lei brasileira sobre o assunto não está sendo respeitada.
Portanto, é chegada a hora de rediscutir um problema
que envolve todos os segmentos sociais.
Leia mais sobre os aspectos éticos do aborto na entrevista
com o Dr. William Saad Hossne, professor de Medicina e
coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa,
disponível em: < http://drauziovarella.com.br/mulher-2/
gravidez/abortamento-e-etica/>. Acesso em: 01 set. 2016

*A anencefalia é uma malformação congênita originada de


uma neurulação anormal, que leva o feto à morte logo após o
nascimento ou após algumas horas ou dias.

62
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 29
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a
saúde, a produção de alimentos, matérias-primas ou produtos industriais.

O estudo dos diferentes sistemas do organismo humano é frequentemente abordado, de forma aplicada, junto
a algum assunto relacionado a alguma situação familiar ao aluno. Assim, cabe ao aluno realizar associações
dos conteúdos estudados para a adequada interpretação de experimentos.

MODELO 1
(Enem) A pílula anticoncepcional é um dos métodos contraceptivos de maior segurança, sendo constituída
basicamente de dois hormônios sintéticos semelhantes aos hormônios produzidos pelo organismo feminino,
o estrogênio (E) e a progesterona (P). Em um experimento médico, foi analisado o sangue de uma mulher que
ingeriu ininterruptamente um comprimido desse medicamento por dia durante seis meses.
Qual gráfico representa a concentração sanguínea desses hormônios durante o período do experimento?
a) b) c)

d) e)

ANÁLISE EXPOSITIVA
O ciclo menstrual feminino se organiza pela atuação de dois hormônios hipofisários (FSH e LH) e outros dois
ovarianos (progesterona e estrogênio), que se regulam pelo mecanismo de feedback. A ingestão contínua do
anticoncepcional hormonal fará com que os níveis sanguíneos dos componentes estrogênio e progesterona
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

mantenham-se constantes durante o período de utilização, inibindo a secreção dos hormônios hipofisários
e, consequentemente, impossibilitando o estímulo para a ovulação.

RESPOSTA Alternativa A

63
DIAGRAMA DE IDEIAS

REGULAÇÃO ENDÓCRINA
DA REPRODUÇÃO

ESTIMULA AS CÉLULAS FOLICULARES DO OVÁRIO
FSH

ESTIMULA A ESPERMATOGÊNESE
SECRETA
HIPÓFISE ♀
ESTIMULA A FORMAÇÃO DO CORPO LÚTEO (OVULAÇÃO)
LH

ESTIMULA A PRODUÇÃO DE TESTOSTERONA

- SECRETADO PELAS CÉLULAS FOLICULARES


ESTROGÊNIO
- PROMOVE ESPESSAMENTO DO ENDOMÉTRIO
OVÁRIO
- SECRETADO PELO CORPO LÚTEO
PROGESTERONA
- MANTÉM O ESPESSAMENTO DO ENDOMÉTRIO
- INIBE NOVA OVULAÇÃO

CÉLULAS DO SINCIOTROFOBLASTO
HCG
GESTAÇÃO ESTIMULA O CORPO LÚTEO

PLACENTA PRODUZ PROGESTERONA E ESTROGÊNIO

MÉTODOS CONTRACEPTIVOS

- CAMISINHAS MASCULINA E FEMININA


VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

BARREIRA - DIAFRAGMA
FÍSICA - DIU

- PÍLULA ANTICONCEPCIONAL
HORMONAL
- DIU HORMONAL

- VASECTOMIA
ESTERILIZADORA
- LAQUEADURA

TABELINHA

64
INFECÇÕES
SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS Símbolo universal da luta pela erradicação da AIDS

Durante a fase aguda da infecção, isto é, em seu início,


alguns pacientes podem ser assintomáticos; no entanto,
os sintomáticos podem apresentar quadros similares aos
da gripe, embora os sintomas possam desaparecer em

CN AULAS alguns dias.

51 E 52 Depois de alguns anos da contração, a infecção, que é crôni-


ca, causa a queda da taxa dos leucócitos. O sistema imuno-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) lógico torna-se muito debilitado. O organismo fica sujeito à
4e8 13, 14 e 30 invasão e ao ataque de muitos patógenos, que podem levar
ao desenvolvimento das chamadas doenças oportunistas,
que normalmente não se manifestam em pessoas saudáveis.
Essas doenças podem desencadear severas infecções e até
1. Infecções sexualmente mesmo levar o infectado à morte. Febre, emagrecimento,
transmissíveis diarreias, inchaço dos linfonodos e fadiga acentuada são
sintomas comuns nessa fase da doença.
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como o nome
indica, podem ser transmitidas, dentre outras formas, através
de relações sexuais, pois o patógeno se encontra em grandes
quantidades nas secreções sexuais e regiões íntimas. Atual-
mente chamamos de ISTs em vez de DSTs, devido ao fato de
que há a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma
infecção, mesmo sem sintomas que caracterizariam de fato
uma doença. A seguir serão estudadas a AIDS, o condiloma multimídia: vídeo
acuminado (HPV), o herpes genital, as hepatites, a gonorreia, Fonte: Youtube
a sífilis, o cancro mole e a tricomoníase. A principal forma de
Vamos falar sobre IST com dr. Esper Kallás
prevenção contra as ISTs é o uso de preservativos (femini-
no e/ou masculino) nas relações sexuais. Outros cuidados que
devem ser tomados como forma de prevenção contra as ISTs: O vírus HIV, além da contaminação via sexual, pode ul-
§ uso de agulhas e seringas descartáveis; trapassar a barreira placentária, contaminando o feto da
§ não compartilhar instrumentos cortantes, como nava- mãe portadora do vírus. Além disso, pode ser transmitido
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

lhas, lâminas de barbear e alicates de unha; através da amamentação. Por esse e outros muitos moti-
§ realizar exames pré-natais em mulheres grávidas – fun- vos, mães soropositivas necessitam de acompanhamento
damental para evitar e cuidar possíveis ISTs (de mãe médico constante. Atualmente, a vacina contra o vírus en-
para filho); contra-se em fase de testes no Centro estadual de DST/
§ vacinação contra hepatite B e HPV; Aids de São Paulo, fazendo com que o Brasil integre o
projeto internacional “Mosaico” que desenvolve a vaci-
§ controle do sangue usado em transfusões.
na. Os coquetéis antirretrovirais já foram estudados nas
aulas sobre Vírus.
1.1. AIDS É importante ressaltar que um paciente pode ser soroposi-
A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) é uma do- tivo, isto é, portador do vírus HIV, mas não ter AIDS. Nesse
ença causada pelo vírus HIV, um retrovírus capaz de invadir caso, a pessoa não chegou ao estágio de manifestação de
e destruir os linfócitos TCD4, fundamentais para a defesa do sinais e sintomas clínicos indicativos que acusam falha do
corpo. Por esse motivo, essa infecção causa uma acentuada sistema imunológico. Ainda assim, esse paciente soroposi-
debilitação do sistema imune. tivo pode transmitir o vírus HIV.

65
1.2. Condiloma acuminado
Desencadeado pelo papilomavírus humano (HPV), o condiloma acuminado é transmitido por relações sexuais, mas tam-
bém pode ser transmitido de mãe para filho. Em geral, as infecções mais comuns estão presentes nas regiões das genitálias.
Ao todo, são 40 tipos de HPV que infectam essa área e a maioria das infecções são inaparentes e de caráter transitório. Entre-
tanto, quando há manifestações, podem surgir dois tipos de lesões. O primeiro tipo de lesão aparece na pele com aspecto de
altas verrugas dotadas de uma “crista ou “cume”.
Por esse motivo, a doença é popularmente chamada de “crista de galo” ou “verruga genital”. Essas verrugas podem ser retiradas
por meio de administração de substâncias químicas. O segundo tipo de lesão pode ser invisível a olho nu e pode ser precursor de
câncer de colo de útero no caso de infecções em pessoas do sexo feminino. A vacina contra a infecção por HPV é composta de três
doses e disponibilizada na rede pública para meninos e meninas com idades entre 9 e 15 anos.

Folder da campanha de vacinação contra o HPV. <portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/hpv>.

1.3. Herpes genital sível. O contágio pelo vírus C pode ocorrer mais raramente
através de relações sexuais, bem como pelo tipo D, que
A herpes é uma doença viral causada especialmente pelo
necessita da presença do vírus B, cuja transmissão pode
herpes vírus tipo 2 (HSV-2). Ela se manifesta principalmen-
ocorrer mais comumente via sangue contaminado, relação
te nos órgãos genitais. Os sintomas são o aparecimento
sexual e também de mãe para filho, durante o período ges-
de vesículas (bolhas) cheias de líquido, que, quando se
rompem, causam feridas. Esses sintomas podem desa- tacional e a amamentação.
parecer por algumas semanas ou meses, mas costumam No início, a hepatite B é assintomática. Caso os sintomas
reaparecer com menos severidade. Em geral, as pessoas apareçam, manifestam-se através de sinais de cansaço,
contaminadas por esse vírus são assintomáticas, o que não tontura, enjoo, febre, dor abdominal, vômitos, além de pele
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

significa que elas não podem transmiti-lo. Durante o parto, e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras.
o vírus também pode ser passado para o bebê. Nesse caso,
é necessária assistência médica imediata, pois a contami- A hepatite B desenvolve-se através de duas formas: agu-
nação pode ocasionar graves danos, inclusive ao sistema da – cuja infecção é de curta duração – e crônica – cuja
nervoso central. infecção é de longa duração, perdurando por mais de seis
meses. Necessita de atenção e tratamento específico, pois
Não existe cura para a herpes, mas existem medicamentos
pode evoluir para cirrose ou até mesmo câncer hepático.
que minimizam os sintomas (quando utilizados no início
da doença, podem até mesmo evitar o aparecimento dos A vacina de três doses é disponibilizada gratuitamente pelo
sintomas). SUS.

1.4. Hepatite B 1.5. Gonorreia


Existem 5 tipos de hepatites virais: A, B, C, D, E, sendo que A gonorreia é causada pela bactéria Neisseria gonor-
a hepatite B é aquela considerada sexualmente transmis- rheae, que pode ser transmitida através de relações

66
sexuais e também de mãe para filho durante o parto. Caso contaminação e perdurar por até duas semanas. Num primeiro
a patologia não seja tratada e curada, pode causar esterili- momento, surgem pequenas lesões nas genitálias – comuns na
dade. A manifestação dos sintomas ocorre diferentemente glande do pênis (homem) e no pudendo, no caso das mulheres
entre os sexos. Em indivíduos do sexo masculino, a manifes- –; porém, podem rapidamente evoluir para feridas dolorosas de
tação ocorre poucos dias depois da contaminação e apre- consistência mole na base – daí o nome popular cancro mole.
senta corrimento uretral e ardor ao urinar; em mulheres,
pode haver pacientes assintomáticos, embora seja comum 1.8. Tricomoníase
o corrimento vaginal esbranquiçado.
É desencadeada pelo protozoário flagelado Trichomonas
No tratamento dessa e demais doenças bacterianas que são vaginalis. Sua transmissão pode ocorrer de mãe para filho
sexualmente transmissíveis, é possível utilizar antibióticos. durante o parto. Em pessoas do sexo masculino, o parasi-
ta costuma infectar a uretra e a bexiga urinária, e embora
1.6. Sífilis quase sempre seja assintomática, pode levar à produção de
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum, cuja corrimento uretral e dores ao urinar. Em pessoas do sexo fe-
transmissão ocorre através de relações sexuais e também de minino, pode levar à inflamação na vagina, com consequen-
mãe para filho durante a gestação. te produção de secreção de cor amarelo-esverdeada e de
odor fétido, também dores ao urinar. Existe tratamento com
A evolução do quadro da doença pode ser dividida em três uso de medicamentos, que deve ser indicado por um médico.
estágios: no primeiro deles, por volta de um mês depois da
contaminação, aparecem nas genitálias o “cancro duro”,
uma lesão de aspecto ulcerosa, praticamente indolor, mas
que desaparece posteriormente; o segundo estágio apresen-
ta lesões cutâneas e que também se manifestam nas muco-
sas; no terceiro estágio, podem aparecer lesões que se alas-
tram por todo o corpo, atingindo inclusive o SNC, resultando
em provável cegueira e paralisia que pode levar à morte. multimídia: vídeo
1.7. Cancro mole Fonte: Youtube
Outras ISTs
Trata-se de uma doença causada pela bactéria Haemophilus
ducreyi. A manifestação pode ocorrer após poucos dias da

VIVENCIANDO

São comuns as propagandas incentivando o uso de preservativos. O Ministério da Saúde apresenta uma Campanha
Nacional de Prevenção às Infecções Sexualmente Transmissão, voltada ao público jovem com idade entre 15 e 29
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

anos, e que apresenta como maior momento de divulgação o Carnaval.

67
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

Os diferentes sistemas são estudados, de modo a compreender a interação que ocorre entre os órgãos. Desse
modo, é possível compreender a fisiologia do organismo humano e, principalmente, suas implicações na nossa
saúde. Para tanto, é importante que o aluno conheça os mecanismos normais de funcionamento dos sistemas e
consiga prever o dano decorrente de alguma patologia ou fazer intervenções visando a promoção da saúde.

MODELO 1
(Enem) A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS, em inglês) é a manifestação clínica da infecção pelo
vírus HIV, que leva, em média, oito anos para se manifestar. No Brasil, desde a identificação do primeiro caso de
AIDS, em 1980, até junho de 2007, já foram identificados cerca de 474 mil casos da doença. O país acumulou,
aproximadamente, 192 mil óbitos devido à AIDS até junho de 2006, sendo as taxas de mortalidade crescentes
até meados da década de 1990 e estabilizando-se em cerca de 11 mil óbitos anuais desde 1998. [...] A partir
do ano 2000, essa taxa se estabilizou em cerca de 6,4 óbitos por 100 mil habitantes, sendo esta estabilização
mais evidente em São Paulo e no Distrito Federal.
Disponível em: <www.aids.gov.br>. Acesso em: 01 maio 2009 (adaptado).

A redução nas taxas de mortalidade devido à AIDS, a partir da década de 1990, é decorrente:
a) do aumento do uso de preservativos nas relações sexuais, que torna o vírus HIV menos letal;
b) da melhoria das condições alimentares dos soropositivos, a qual fortalece o sistema imunológico deles;
c) do desenvolvimento de drogas que permitem diferentes formas de ação contra o vírus HIV;
d) das melhorias sanitárias implementadas nos últimos 30 anos, principalmente nas grandes capitais;
e) das campanhas que estimulam a vacinação contra o vírus e a busca pelos serviços de saúde.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A AIDS é uma IST que não possui vacina nem cura; no entanto, o desenvolvimento de novos medicamentos e
terapias contribuiu para a diminuição do número de óbitos causados pelo HIV, que é o vírus da síndrome da
imunodeficiência adquirida.

RESPOSTA Alternativa C
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

68
DIAGRAMA DE IDEIAS

INFECÇÕES SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS

AIDS (HIV)

CONDILOMA ACUMINADO (HPV)


VIRAIS
HERPES GENITAL (HSV-2)

HEPATITE B

GONORREIA (NEISSERIA GONORRHOEAE)

BACTERIANAS SÍFILIS (TREPONEMA PALLIDUM)

CANCRO MOLE (HAEMOPHILUS DUCREYI)

PROTOZOÁRIO TRICOMONÍASE (TRICHOMONAS VAGINALIS)

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

69
ANOTAÇÕES

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VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

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70
BIOLOGIA

6
CIÊNCIAS DA
BIOTECNOLOGIA
E GENÉTICA
NATUREZA
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Apesar das questões estarem vinculadas Genética é uma área com presença garan-
a um texto de apoio, é necessário conhe- tida, em particular questões que abordam
cimento prévio dos conceitos; as questões herança e sexo e interações gênicas, como
de genética normalmente envolvem análise epistasia, além de questões atuais como o
desses textos, e não raciocínios matemáti- uso de células-tronco.
cos.

Genética é um tema corriqueiro, em es- Importante conseguir interpretar correta- A genética não é muito cobrada; quando
pecial a segunda lei de Mendel. Questões mente heredogramas e identificar o tipo aparece, está relacionada a processos
sobre manipulação genética e organismos de herança presente. Há também questões celulares, como as divisões meióticas, ou
transgênicos também estão presentes. relacionadas à terapia gênica e engenharia assuntos de engenharia genética, como a
genética. tecnologia do DNA recombinante.

Diferentemente dos demais, é um vestibu- Pela recente aquisição de um novo formato Dentre os tópicos de genética, há destaque É um assunto de grande incidência. É pos-
lar bastante recente, o que dificulta analisar de prova, encontra-se em situação seme- para os cruzamentos e mecanismos de re- sível que o candidato se depare com ques-
a incidência temática a longo prazo. Mes- lhante ao Albert Einstein. Aparecem ques- gulação da expressão gênica. tões envolvendo leitura de heredograma,
mo assim, aparecem questões envolvendo tões com cruzamentos e os experimentos expressão gênica e cálculos com mais de
a leitura de heredogramas e estratégias de de Mendel. um gene envolvido.
engenharia genética como a clonagem.

UFMG
Foco principalmente em conceitos como Genética é um assunto recorrente nessa Para essa prova, é importante dominar a
leitura de cariótipo e expressão gênica; prova, em que há questões sobre a segun- leitura de cariótipos e conhecer bem os cru-
aspectos de biotecnologia, como o Projeto da lei de Mendel e herança ligada ao sexo. zamentos da primeira lei de Mendel.
Genoma, também estão presentes.

A genética se faz presente, mas em propor- A prova costuma cobrar conceitos rela- O candidato deve encontrar questões
ção menos expressiva. Há questões de co- cionados à genética, focando na natureza envolvendo cruzamentos e leituras de he-
nhecimento mais aplicado, como em testes do DNA e do RNA, leitura de cariótipos e redogramas.
de paternidade. conceitos básicos.
1.1. Herança de tamanho em frutos
Suponhamos um modelo que propõe explicar o tamanho
de frutos em uma espécie de angiosperma. Nesse mode-
lo, o tamanho e o peso dos frutos são determinados pela
HERANÇA ação de dois pares de alelos (AaBb). Ambos os genes A e
B determinam a produção da mesma quantidade de massa
QUANTITATIVA no fruto e têm efeito aditivo. Logo, é possível concluir que
existem cinco tamanhos distintos de frutos nessa espécie,
segundo a quantidade de genes A e B. Veja, a seguir, a pro-
posta desse modelo:

CN
Genótipos Fenótipos
AULAS
45 E 46
aabb Fruto muito pequeno (50g)
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4e8 13, 14, 15 e 29
Aabb, aaBb Fruto pequeno (75g)

1. Herança quantitativa AAbb, aaBB, AaBb Fruto médio (100g)

A herança quantitativa ou poligênica é um exemplo de in-


teração gênica em que os genes relacionados a uma carac- AABb, AaBB Fruto grande (125g)

terística apresentam efeito aditivo na sua composição. Isso


significa que o número de alelos em forma dominante de-
AABB Fruto muito grande (150g)
termina a expressão fenotípica, que mostra, entre indivídu-
os de uma população, variações graduais de um fenótipo
mínimo até chegar a um máximo. Algumas características
Note que, quanto mais alelos dominantes, maior é o fru-
sujeitas a esse tipo de herança são de importância eco-
to. Por isso, uma planta AABB produz frutos de massa de
nômica, como a biomassa na produção de gado de corte,
a quantidade de leite e o tamanho de espigas de milho. 150g, enquanto que aquele aabb apresenta frutos de mas-
Na espécie humana, podemos destacar a estatura e a cor sa de 50g. Observe os resultados genotípicos e fenotípicos
da pele, como exemplos de herança quantitativa. A ma- que seriam obtidos a partir do cruzamento de plantas que
nifestação dessas heranças, a partir do fenótipo, também produzem frutos médios:
depende de fatores ambientais, como a alimentação, para Fruto médio   x   Fruto médio
a estatura, e a exposição à luz solar, para a cor da pele. AaBb         AaBb VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

AB Ab aB ab

AABB AABb AaBB AaBb


AB Fruto muito grande (150g) Fruto grande (125g) Fruto grande (125g) Fruto médio (100g)

AABb AAbb AaBb Aabb


Ab Fruto grande (125g) Fruto médio (100g) Fruto médio (100g) Fruto pequeno (75g)

AaBB AaBb aaBB aaBb


aB Fruto grande (125g) Fruto médio (100g) Fruto médio (100g) Fruto pequeno (75g)

AaBb Aabb aaBb aabb


ab Fruto médio (100g) Fruto pequeno (75g) Fruto pequeno (75g) Fruto muito pequeno (50g)

fenótipos: ​  1  ​
___ ​  4  ​
___ ​  6  ​
___ ​  4  ​
___ ​  1  ​
___
16 16 16 16 16
Fruto muito pequeno (50g) Fruto pequeno (75g) Fruto médio (100g) Fruto grande (125g) Fruto muito grande (150g)

73
Caso haja 9 fenótipos na prole, então subtraindo 1 (9 - 1),
teremos que 8 alelos, dispostos em quatro pares, atuam
em tal herança.
Em herança quantitativa, a proporção fenotípica, por sua
vez, para cruzamento entre indivíduos heterozigotos, pode
ser calculada a partir do triângulo de Pascal. Considerando
dois heterozigotos para dois pares de genes, e partindo do
número de fenótipos igual a 5, montamos um triângulo
A B C
com essa quantidade de linhas:
Frutos da espécie Hancornia speciosa 1
Observamos que os frutos naturalmente apresentam tama- 1 1
nhos diferentes, mesmo pertencendo à mesma espécie e ao 1 2 1
mesmo estado de maturação. Esse efeito se dá devido aos 1 3 3 1
efeitos da herança quantitativa. No nosso exemplo, o fruto 1 4 6 4 1
A representa o fruto muito pequeno (aabb), enquanto o
Na primeira linha, é colocado o número 1, pelo qual tam-
fruto B representa os frutos médios (AaBb, AAbb ou aaBB)
bém todas as demais linhas são iniciadas e terminadas. Os
e o fruto C representa os frutos muito grandes (AABB).
números seguintes ao inicial de cada linha são resultados
da soma do número imediatamente acima com aquele à
1.2. Calculando o número de fenótipos esquerda (caso não haja um número acima ou à esquerda,
sem o quadro de cruzamentos é considerado zero). A proporção apontada na quinta linha
é 1:4:6:4:1. Confira esse resultado com aquele da tabela
Simplesmente acrescentando 1 ao número de alelos envol-
de cruzamento entre indivíduos mestiços-médio, conforme
vidos na expressão de dado caráter, chega-se ao número
visto anteriormente.
de fenótipos possíveis na prole. Por exemplo: se quatro ale-
los estiverem envolvidos (A_B_), então 5 (4 + 1) serão os Acompanhe, na tabela, o resumo com os tipos de he-
tipos de fenótipos. Inversamente, a partir da quantidade de rança estudados e a proporção fenotípica clássica em
fenótipos, é possível saber o número de genes da herança. que aparecem:

Tipos de herança Proporção fenotípica

2.ª lei de Mendel Duas características ​  9  ​ : ___


___ ​  3  ​: ___
​ 3 ​ : ___
​  1  ​
16 16 16 16

​ 9  ​ : ___
___ ​ 3  ​ : ___
​ 3  ​ : ___
​ 1  ​
Interação gênica Forma da crista nas aves 16 16 16 16
noz rosa ervilha simples
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

​  9  ​ :
___ ​ 6
___ ​ 1  ​
: ___
Interação gênica Forma dos frutos em abóbora 16 16 ​ 16
discoide esférica alongada

Interação gênica ​  9 : ___


___ ​ 7  ​
Cor da flor em ervilha-de-cheiro 16 ​ 16
(ação complementar) púrpura branca

___ ​ 3 ​ : ___


​ 12 ​ : ___ ​ 1  ​
Epistasia dominante Cor da pelagem nos cães 16 16 16
branca preta marrom

​  9  ​ : ___
___ ​ 3  ​ : ​ 4  ​
___
Epistasia recessiva Cor da pelagem nos ratos 16 16 16
aguti albino preto

74
VIVENCIANDO

A herança da cor de pele em humanos é um exemplo clássico de herança quantitativa. Muitas vezes, para fins
didáticos, esse exemplo é apresentando como dois pares de genes; porém, na realidade há muitos pares de genes
envolvidos nessa herança, de modo que temos muitos fenótipos de cor de pele possíveis em nossa espécie.
Outras características como altura, cor de cabelos e olhos também são heranças quantitativas com muitos alelos
envolvidos na formação de cada fenótipo.

2. Pleiotropia: um par de genes, várias características


Damos o nome de pleiotropia à situação em que um par de genes alelos participa da expressão de várias características no
mesmo organismo. É um fenômeno que prova que a ideia de que cada gene afeta apenas uma característica nem sempre é
válida. É o caso, por exemplo, de certos ratos que nascem com costelas espessadas, traqueia estreita, pulmões com elasticida-
de diminuída e narinas bloqueadas, o que, fatalmente, os levará à morte. Como todas essas características estão relacionadas
a apenas um par de genes, podemos afirmar que é um caso de pleiotropia

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A herança quantitativa, como o próprio nome sugere, pode respeitar padrões e ser inferida por cálculos matemáticos.
O domínio de cálculos de combinação e probabilidade facilita a compreensão e a resolução dos exercícios, assim
como a maioria dos exercícios de genética.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

75
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 29
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a
saúde, a produção de alimentos, matérias-primas ou produtos industriais.

Os conceitos de genética são abordados principalmente aplicados no contexto médico e podem ser acompanhados
de um heredograma que precisará ser cuidadosamente analisado pelo aluno, ou ainda as informações podem ser
apresentadas no enunciado, exigindo que o aluno saiba montar as relações genéticas e aplicar os conceitos estudados.

MODELO 1
(Enem) Após a redescoberta do trabalho de Gregor Mendel, vários experimentos buscaram testar a universali-
dade de suas leis. Suponha um desses experimentos, realizado em um mesmo ambiente, em que uma planta
de linhagem pura com baixa estatura (0,6 m) foi cruzada com uma planta de linhagem pura de alta estatura
(1,0 m). Na prole (F1) todas as plantas apresentaram estatura de 0,8 m. Porém, na F2 (F1 × F1), os pesquisadores
encontraram os dados a seguir.
Altura da planta (em metros) Proporção da prole
1,0 63
0,9 245
0,8 375
0,7 255
0,6 62
Total 1000

Os pesquisadores chegaram à conclusão, a partir da observação da prole, que a altura nessa planta é uma
característica que:
a) não segue as leis de Mendel;
b) não é herdada e, sim, ambiental;
c) apresenta herança mitocondrial;
d) é definida por mais de um gene;
e) é definida por um gene com vários alelos.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A ocorrência de cinco fenótipos, na proporção de 1 : 4 : 6 : 4 : 1, indica que a altura das plantas é uma carac-
terística métrica determinada por dois pares de genes aditivos, transmitidos mendelianamente por segregação
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

independente com ausência de dominância.

RESPOSTA Alternativa D

76
DIAGRAMA DE IDEIAS

HERANÇA QUANTITATIVA

INTERAÇÃO GÊNICA EM QUE OS GENES


RELACIONADOS APRESENTAM EFEITO
ADITIVO.

VARIAÇÕES FENOTÍPICAS GRADUAIS

CADA ALELO DOMINANTE APRESENTA


EFEITO ADITIVO AO FENÓTIPO.

N.º DE FENÓTIPOS POSSÍVEIS = (N.º DE ALELOS) + 1

N.º DE ALELOS ENVOLVIDOS = (N.º DE FENÓTIPOS) – 1

PROPORÇÃO FENOTÍPICA ESPERADA DE UM CRUZAMEN-


TO ENTRE HETEROZIGOTOS PARA TODOS OS GENES; PODE
SER CALCULADA USANDO O TRIÂNGULO DE PASCAL.

UM GENE DETERMINA DIFERENTES CARAC-


PLEIOTROPIA
TERÍSTICAS AO MESMO TEMPO.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

77
§ Adição: inserção de um nucleotídeo à sequência já exis-
tente do DNA. Nesse caso, ocorre uma alteração na se-
quência do RNAm, e a cadeia de aminoácidos é afetada,
o que consequentemente afetará a proteína formada.

MUTAÇÕES

CN AULAS
47 E 48
§ Deleção: eliminação de um nucleotídeo da sequência
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
presente no DNA. Assim como na adição, esse processo
4 13, 14 e 16
também causa modificação na sequência do RNAm e
uma consequente mudança na ordem dos aminoáci-
dos, alterando a proteína formada.

1. Mutações
Uma mutação pode ser definida como qualquer alteração no
material genético. A ocorrência de mutações espontâneas,
não estimuladas por um agente mutagênico, apesar de rara,
é a fonte primária de variabilidade genética. Consideradas
fundamentais para a evolução – assim como a recombina-
ção gênica –, as mutações proporcionam variabilidade gené-
tica, pois, a partir de um alelo, podem surgir alelos mutantes
que, se não causarem danos letais ao organismo, serão pas-
sados adiante de forma hereditária para as futuras gerações,
estabelecendo-se assim novos alelos. A molécula de DNA § Substituição: troca de um nucleotídeo por outro. É
modificada continuará a se duplicar normalmente. possível ter substituição de transição, quando se troca
Uma mutação passará aos descendentes de um indivíduo uma base nitrogenada púrica por outra base púrica, ou
apenas se ocorrer em alelo que integre as células germinativas uma pirimídica por outra pirimídica. Além da transição,
ou gametas. Caso aconteça numa célula autossômica (epite- pode ocorrer a substituição por transversão, quando
lial, por exemplo), ela não será transmitida hereditariamente. É ocorre a troca de uma base púrica por uma pirimídica ou
vice-versa, ocorre a troca de um nucleotídeo por outro.
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importante ressaltar que nem sempre uma mutação alterará o


fenótipo, uma vez que o código genético é degenerado, isto é,
há mais de um códon para um mesmo aminoácido.
Existem dois tipos básicos de mutação: a gênica e a
cromossômica.

2. Mutações gênicas
As mutações gênicas se caracterizam por alterar apenas
um gene, ou seja, são mudanças em alguns pares de nu-
cleotídeos.
As mutações gênicas consistem na adição, deleção ou tro- Um caso clássico dessa condição é o que resulta em
ca de um nucleotídeo, como veremos a seguir. hemácias falciformes (com formato de foice). Observe a

78
substituição de timina por adenina, que causa a troca – no RNAm – de aminoácido glutâmico por valina. A hemácia com
formato de foice possui menor capacidade de transporte de gases, pois sua molécula de hemoglobina foi alterada, o que
causa prejuízos ao metabolismo da pessoa afetada.

VIVENCIANDO

Algumas características comuns podem ser o resultado de mutações que foram fixadas na população. Um gene que ex-
pressava uma certa proteína pode ter sofrido mutação e fez a característica final ser alterada. Assim, ocorre o surgimento
da variabilidade dentro da mesma espécie. Em geral, isso é observado em características recessivas, como a cor dos olhos.

3. Mutações cromossômicas estruturais


As mutações cromossômicas estruturais são alterações da morfologia do cromossomo resultantes de processos de deficiên-
cia, duplicação, inversão ou translocação (que incluem um número de genes variado). O rearranjo da ordem dos genes no
cromossomo pode produzir grandes modificações na expressão gênica.
Essas mutações acontecem no momento da divisão celular e, nos fenômenos de corte e translocação, podem es-
tar associadas a uma permuta entre cromossomos não homólogos. Para configurar uma mutação cromossômica,
é importante que essa troca ocorra entre cromossomos não homólogos, uma vez que a troca de fragmentos entre
cromossomos homólogos é conhecida como crossing-over. O crossing-over, apesar de gerar variabilidade de gametas,
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

não é um tipo de mutação, uma vez que não forma por si só novos alelos, apenas recombina os alelos já existentes.

Tipos de mutações estruturais

79
§ Duplicação: formação de um segmento adicional (re- Na espécie humana, as aneuploidias autossômicas mais
petido) em um cromossomo. Em princípio, as sequên- conhecidas são as trissomias. Nelas, os indivíduos portado-
cias de uma duplicação são bem toleradas. res são 45A + XX ou 45A + XY.

§ Inversão: inversão de 180° de um segmento cromossô- 4.2.1. Síndrome de Down


mico depois de sua quebra em dois lugares. Nesse caso,
as partes são unidas com as extremidades trocadas. Em Uma síndrome é um conjunto de sinais e sintomas que ca-
decorrência da ausência de perda de material genético, racterizam uma doença. Os indivíduos portadores da sín-
os efeitos no fenótipo são pouco perceptíveis. drome de Down apresentam uma cópia extra do cromos-
somo 21, resultado da fecundação de um gameta anômalo
§ Translocação: quebras em cromossomos não homólo- (com um cromossomo a mais) por um outro normal.
gos, que resultam em pedaços trocados entre si. Não se
trata de permutação ou crossing-over, pois este compre-
ende troca de pedaços entre cromossomos homólogos.

§ Deficiência: é a perda de um segmento de um cro-


mossomo, e, consequentemente, a perda dos genes
presentes nesse segmento.

4. Mutações cromossômicas
numéricas Cariótipo de um menino portador de síndrome de
Down. Observe os três cromossomos 21.
As mutações cromossômicas numéricas afetam o número
de cromossomos total na célula. Nessa condição, as características clínicas dos afetados
incluem microcefalia, pregas palpebrais, baixa estatura,
fissuras na língua, deformidades cardíacas, prega única na
4.1. Euploidia palma da mão (prega simiesca) e retardamento mental de
As euploidias são alterações em lotes haploides inteiros de moderado a grave.
cromossomos, resultado de falhas na separação cromossômi-
ca durante a divisão celular. Em resumo, elas ocorrem quando 4.2.2. Síndrome de Edwards
os cromossomos de uma célula se multiplicam sem que a cé-
lula se divida. Caso a quantidade de cromossomos seja de três O cromossomo 18 está envolvido na síndrome de
Edwards. Essa trissomia tem como principais caracte-
ou mais lotes cromossômicos completos, serão denominados
rísticas clínicas retardamento mental, atraso no cres-
poliploidias (comuns em vegetais), como triploidias (3n), tetra-
cimento e deformidades do aparelho auditivo. Podem
ploidias (4n), e assim por diante. Em animais, de modo geral,
ocorrer malformações graves no coração, espasticidade
as euploidias são incompatíveis com a vida; na espécie huma-
muscular (contraturas musculares) e anomalias renais
na, trata-se de uma das causas de aborto.
e oculares.
4.2. Aneuploidia
4.2.3. Síndrome de Patau
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A aneuploidia consiste no acréscimo (trissomia) ou na


perda de um cromossomo (monossomia). Caso ocorra a O cromossomo 13 está envolvido na síndrome de Patau.
perda dos dois cromossomos de um mesmo par, tem-se Dentre as múltiplas anomalias provocadas por essa tris-
a nulissomia. Essas alterações decorrem da não disjunção somia, estão as cardíacas, renais e cerebrais, que levam o
cromossômica durante a meiose. portador à morte nos primeiros meses de vida.

4.3. Aneuploidias em
n
cromossomos sexuais
As aneuploidias que envolvem cromossomos sexuais são re-
sultantes da falta de disjunções meióticas que podem ocor-
rer no sexo feminino e masculino. Observe na tabela a seguir
as aneuploidias em cromossomos sexuais mais comuns em
seres humanos.

80
Tipo de
Nome comum Fórmula cromossômica
aneuploidia
Síndrome de Turner monossomia 44A + X0 (óvulo sem X + espermatozoide com X)

Síndrome de Klinefelter trissomia 44A + XXY (óvulo com XX + espermatozoide com Y)

Síndrome do triplo X trissomia 44A + XXX (óvulo com XX + espermatozoide com X)

Síndrome do duplo Y trissomia 44A + XYY (óvulo com X + espermatozoide com YY)

Ausência de X monossomia 44A + Y0 (óvulo sem X + espermatozoide com Y) – indivíduo inviável

4.3.1. Síndrome de Turner (X0) tualmente férteis, embora apresentem certo grau de
retardamento mental.

Essa síndrome ocorre apenas em mulheres e decorre de uma


monossomia do cromossomo sexual X. Portanto, as afetadas
são X0, portadoras de apenas um cromossomo X, por isso o
0 (zero). Apresentam baixa estatura, pescoço alado (curto e
largo), órgãos sexuais internos e externos pouco desenvol- 4.3.4. Síndrome do duplo Y (XYY)
vidos, esterilidade e não desenvolvimento de características Os afetados são indivíduos com um cromossomo X e dois
sexuais secundárias. Y fenotipicamente do sexo masculino e férteis. Apresentam
elevada estatura e, durante a adolescência, apresentam
grande quantidade de acne no rosto.
4.3.2. Síndrome de Klinefelter (XXY)
Essa síndrome ocorre apenas em homens e decorre de uma
trissomia que envolve cromossomos sexuais. Os afetados
assemelham-se a homens normais, mas seus testículos são
pequenos e produzem pouco ou nenhum espermatozoide.
Em geral, são altos com seios um pouco desenvolvidos e
poucos pelos corporais e púbicos.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

multimídia: vídeo
4.3.3. Síndrome do triplo X (XXX) Fonte: Youtube
As afetadas são fenotipicamente mulheres (apresen- Somos todos mutantes | Nerdologia 97
tam corpúsculo de Barr) de aparência normal, even-

81
4.3.5. Ausência de X (Y0)
A ausência do cromossomo X é incompatível com a vida, pois os genes alocados nesse cromossomo são indispensáveis à
sobrevivência do indivíduo.

Mosaiscismo e quimerismo
Numa condição em que um indivíduo possui duas ou mais populações de células geneticamente diferentes, pode-se distinguir
duas definições: mosaicismo e quimerismo. Um mosaico acontece quando as populações celulares distintas provêm de um
único zigoto. Caso essas distintas populações celulares tenham se originado de zigotos diferentes, tem-se o quimerismo.
Mutações pós-zigóticas, que, apesar de frequentes nos seres humanos, não são clinicamente significantes, podem ser respon-
sáveis pelo mosaico. É necessário o surgimento de quantidade substancial de células mutadas para que haja consequências
clínicas por essa condição.
Existem duas maneiras de surgirem indivíduos quimeras: por meio de união (fusão) de dois zigotos geneticamente diferentes
num único embrião ou devido à parcial colonização de um gêmeo por células de um cogêmeo fraterno (geneticamente diferente).

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A alteração química da estrutura do DNA pode causar mutações. A semelhança química entre as bases nitrogenadas,
a adição de grupos orgânicos que desativam um gene e as reações oxidativas causadas por radicais livres são alguns
exemplos que os vestibulares podem comentar em suas questões, correlacionando química e biologia.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

82
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 13
Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos
seres vivos.

Os conceitos de genética são abordados principalmente no contexto médico ou experimental, sendo frequen-
temente acompanhados de um heredograma que precisará ser cuidadosamente analisado pelo aluno. Além
disso, as informações podem ser dadas no enunciado, exigindo que o aluno saiba montar as relações genéticas
e hereditárias apresentadas e aplicar os conceitos estudados.

MODELO 1
(Enem) A cariotipagem é um método que analisa células de um indivíduo para determinar seu padrão cromos-
sômico. Essa técnica consiste na montagem fotográfica, em sequência, dos pares de cromossomos e permite
identificar um indivíduo normal (46, XX ou 46, XY) ou com alguma alteração cromossômica. A investigação
do cariótipo de uma criança do sexo masculino com alterações morfológicas e comprometimento cognitivo
verificou que ela apresentava fórmula cariotípica 47, XY, + 18.
A alteração cromossômica da criança pode ser classificada como:
a) estrutural, do tipo deleção;
b) numérica, do tipo euploidia;
c) numérica, do tipo poliploidia;
d) estrutural, do tipo duplicação;
e) numérica, do tipo aneuploidia.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A criança com cariótipo 47, XY, + 18 apresenta um cromossomo autossômico extra (o de número 18), caracteri-
zando uma mutação cromossômica numérica denominada aneuploidia.

RESPOSTA Alternativa E

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

83
DIAGRAMA DE IDEIAS

-QUALQUER ALTERAÇÃO NO MATERIAL GENÉTICO


- PODEM SER ESPONTÂNEAS (RARAS) OU INDUZIDAS
MUTAÇÕES
POR UM AGENTE MUTAGÊNICO
- AUMENTAM A VARIABILIDADE GENÉTICA

ALTERAM A MORFOLOGIA (SEQUÊNCIA DE BASES)


DO CROMOSSOMO
CROMOSSÔMICAS
ESTRUTURAIS
- ADIÇÃO - DUPLICAÇÃO
- DELEÇÃO - INVERSÃO
- SUBSTITUIÇÃO - TRANSLOCAÇÃO

ALTERAÇÃO EM LOTES HAPLOIDES


EUPLOIDIAS INTEIROS DE CROMOSSOMOS
EX.: TRIPLOIDIA (3N)
CROMOSSÔMICAS
NUMÉRICAS PERDA (MONOSSOMIA) OU GANHO
ANEUPLOIDIAS (TRISSOMIA) DE UM CROMOSSOMO

SÍNDROME DE DOWN
- TRISSOMIA DO 21
SÍNDROME DE TURNER
- 44 + X0
SÍNDROME DE KLINEFELTER
- 44 + XXY

ALTERAÇÕES QUE AFETAM APENAS UM GENE, COMO


GÊNICAS INSERÇÃO, DELEÇÃO OU TROCA DE UM OU POUCOS
PARES DE BASES.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

84
evolutivo, como mutação, atua sobre determinada popu-
lação, as frequências gênicas e genotípicas não sofrem
alteração ao longo das gerações. Por exemplo, numa po-
pulação X, as frequências dos alelos A e a permaneceriam
iguais, mesmo depois de um longo período. Contudo, essa
GENÉTICA DE lei se aplica somente a populações que atendam alguns

POPULAÇÕES critérios, como:

§ serem infinitamente grandes; dessa forma não há influ-


ência de deriva gênica, eventos ao acaso que possam
alterar a frequência gênica sem considerar os genóti-
pos que ofereçam mais vantagens em dado meio;

CN AULAS § cruzamentos aleatórios (panmítica) e ausência de con-


sanguinidade; e
49 E 50
§ não atuação de fatores evolutivos – seleção natu-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) ral, migrações e mutações (com exceção de uma
4 13 e 15 taxa constante a partir da qual os genes alelos le-
tais são substituídos).
Assim, pode-se afirmar que uma população hipotética que
1. Genética de populações atenda a esses critérios está em equilíbrio gênico, sendo
possível inferir que todos os fatores mencionados são res-
Um conjunto de indivíduos de uma mesma espécie, viven- ponsáveis por alterar a frequência gênica.
do num determinado lugar e num determinado tempo, é
denominado população. No âmbito genético, uma popula- A frequência de um gene se refere à quantidade (dada
ção também pode ser definida pelo seu pool gênico, isto é, em %) de vezes que ele aparece em uma população.
pelo conjunto de alelos (de todos os genes) dos indivíduos.
A genética de populações estuda a distribuição dos Apesar de ser praticamente impossível a existência de
genes em populações e os fatores que podem alterar ou populações em equilíbrio gênico, o princípio de Hardy-
modificar a frequência gênica (ou alélica), bem como a fre- -Weinberg é importante para o estudo de populações reais,
quência genotípica ao passar de gerações. uma vez que ele estabelece um modelo para a compreen-
A frequência se refere à quantidade de vezes que um de- são de como os genes se comportam. A partir do teorema
terminado evento ocorre. No caso da frequência gênica, é possível estimar as frequências gênicas e genotípicas ao
trata-se do surgimento de um alelo. Por exemplo, um ale- longo de gerações e comparar os resultados ideais com
lo dominante não é necessariamente um alelo mais fre- os reais. Caso eles sejam significativamente diferentes dos
quente; portanto, o grau de abrangência ou aparecimento valores esperados, permitirão concluir que os fatores evo-
de um fenótipo ligado a esse tipo de alelo nem sempre é lutivos estão atuando sobre determinada população, que,
maior do que o ligado a um gene recessivo. portanto, está evoluindo. Por outro lado, caso os valores
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

reais não sejam significativamente distintos dos ideais, será


A predominância de certas características nas diferentes po- possível concluir que a população está em equilíbrio gêni-
pulações se deve à frequência do surgimento de genes domi- co, ou seja, não está evoluindo.
nantes ou recessivos. A braquidactilia (dedos curtos) é uma
herança de alelo dominante. Os dedos normais são condicio- A partir da equação de Hardy-Weinberg, é possível de-
nados por alelo recessivo. Entretanto, a frequência de pessoas monstrar a frequência genotípica de uma população em
com dedos curtos é baixa em relação ao fenótipo normal. equilíbrio gênico. De acordo com ela, considera-se um lo-
cus gênico com dois alelos (A e a), com frequências alélicas
p e q, respectivamente.
2. O princípio de Hardy-Weinberg Graças à reprodução sexuada, os genótipos possíveis serão
A Lei de Hardy-Weinberg, ou princípio do equilíbrio, foi de- AA, Aa e aa, e as frequências genotípicas em cada geração:
senvolvida pelo matemático inglês Godfrey Hardy (1877-
§ probabilidade de AA: p x p = p2
1947) e pelo médico alemão Wilhem Weinberg (1862-
1937). O princípio demonstra que, quando nenhum fator § probabilidade de aa: q x q = q2

85
§ probabilidade de Aa: com gameta feminino (A) e Com essa mesma fórmula, pode-se estimar a frequência de
gameta masculino (a): determinado par de alelos em uma população em equilí-
p x q = pq brio gênico, bem como conhecer o caráter fenotípico.
Considere que, em uma hipotética população em equilí-
§ probabilidade de Aa: com gameta feminino (a) e
brio gênico, 16% dos indivíduos são albinos, e o restante
gameta masculino (A) é:
possui pele com pigmentação normal. Qual a frequência
q x p = qp de genes recessivos e dominantes para esse caráter nessa
Observe no quadro de Punnet a representação do cruzamento. população, sabendo-se que o albinismo é determinado por
gene recessivo?
A a →A + a = 1
A+a=1 A AA Aa Pela fórmula de Hardy-Weinberg:
a Aa aa p2 + 2pq + q2 = 1
(p + q)2 = 1 ou p2 + 2pq + q2 = 1 Em que:
↓ ↓ ↓
p = frequência do gene A (normal)
AA + 2Aa + aa = 1
q = frequência do gene a (albino)
Uma vez que p + q = 1, logo: q = 1 – p.
q2 = 16% = 0,16
A fórmula de Hardy-Weinberg também pode ser escrita da
seguinte maneira: q = d​ 0,16 ​
XXXX = 0,4

p2 + 2p(1 – p) + (1 – p)2 = 1 q = 0,4


Como:
*Lembre-se de que o “1” ao final da fórmula representa 100%.
p+q=1
2.1. Aplicando a fórmula p=1–q

de Hardy-Weinberg p = 1 – 0,4
p = 0,6
Considere uma população com as seguintes frequências
gênicas: A frequência do gene a é 0,4 e a do gene A é 0,6.
Com isso, é possível estimar a frequência genotípica da
§ p = frequência do gene C = 0,9
seguinte maneira:
§ q = frequência do gene c = 0,1 p2 + 2pq + q2
É possível estimar a frequência genotípica dos descenden- ↓ ↓ ↓
tes a partir da fórmula de Hardy-Weinberg: (0,6)2 + 2 ⋅ (0,6) ⋅ (0,4) + (0,4)2
(p + q)2 ou p2 + 2pq + q2 = 1 Assim, a frequência genotípica é:
(0,9)2 + 2 ⋅ (0,9) ⋅ (0,1) + (0,1)2 = 1 AA = 0,36 = 36%
0,81 + 0,18 + 0,1 Aa = 0,48 = 48%
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

81% CC 18% Cc 1%cc = 100% aa = 0,16 = 16%

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Godfrey Harold Hardy foi um matemático inglês que se tornou reconhecido pincipalmente nas áreas de teoria dos números
e de análise matemática. A própria fórmula para o cálculo do equilíbrio gênico exige parte de um conteúdo matemático.

86
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 13
Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características
dos seres vivos.

Os conceitos de genética são abordados principalmente no contexto médico ou experimental, sendo frequen-
temente acompanhados de um heredograma que precisará ser cuidadosamente analisado pelo aluno. Além
disso, as informações podem ser dadas no enunciado, exigindo que o aluno saiba montar as relações genéticas
e hereditárias apresentadas e aplicar os conceitos estudados.

MODELO 1
(Unicamp) Uma população de certa espécie é constituída apenas por três tipos de indivíduos diploides, que diferem
quanto ao genótipo em um loco. No total, há um número NAA de indivíduos com genótipo AA, NAa de indivíduos com
genótipo Aa, e Naa de indivíduos com genótipo aa. Considerando apenas o loco exposto no enunciado, a frequência do
alelo A nessa população é igual a
NAA
a)
NAA + NAa
NAA + NAa
b)
NAA + NAa + Naa
c) NAA + NAa
2NAA + NAa
d)
2(NAA + NAa + Naa)

ANÁLISE EXPOSITIVA
A frequência de um alelo é dada pelo número de vezes que se apresenta em uma população sobre o total de
alelos presentes nela. Pode ser representada por:
NAa 1
f(A) = +
(NAA + NAa + Naa) 2

NAa 2NAA + NAa


=
(NAA + NAa + Naa) 2(NAA + NAa + Naa) VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

RESPOSTA Alternativa D

87
DIAGRAMA DE IDEIAS

GENÉTICA DE
DISTRIBUIÇÃO DE GENES E ALELOS DE UMA POPULAÇÃO
POPULAÇÕES

POPULAÇÃO EM EQUILÍBRIO GÊNICO:


- DEVE SER GRANDE
- OS CRUZAMENTOS DEVEM OCORRER AO ACASO
- FATORES EVOLUTIVOS NÃO DEVEM ESTAR ATUANDO
(SELEÇÃO NATURAL, MUTAÇÃO, MIGRAÇÃO)

FREQUÊNCIA ALÉLICA:
LEI DE - P(A) = P
HARDY-WEINBERG - P(A) = Q
-P+Q=1

FREQUÊNCIA GENOTÍPICA:
- P (AA) = P²
- P (AA) = 2PQ
- P (AA) = Q²
- P² + 2PQ + Q² = 1
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

88
carne para alimentação; de fibras vegetais para fabricação
de roupas, entre outros, todos produtos comercializáveis.
A engenharia genética ou tecnologia do DNA recombinan-

BIOTECNOLOGIA te é uma vertente mais moderna, resultado dos avanços no


estudo do funcionamento do material genético (DNA), como
E ENGENHARIA o mecanismo de replicação e participação na produção de
proteínas. Entretanto, graças às técnicas de manipulação in
GENÉTICA vitro do DNA, é possível modificar geneticamente organis-
mos vivos criando inúmeras combinações entres genes de
organismos diferentes, bem como selecioná-los em busca de
produtos úteis aos interesses humanos.
Graças ainda às técnicas de engenharia genética, um or-

CN AULAS
51 E 52
ganismo alvo é modificado a partir da introdução de genes
exógenos − que não existem neles, dotados de uma função
conhecida – com informação para síntese de determinada
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) proteína de interesse, que passa a existir no corpo do orga-
3, 4 e 8 11,13, 15 e 29 nismo receptor e, se necessário, a produzir essa substância
em grande quantidade.
Para aumentar a produção de proteínas de interesse de plan-
tas e animais, por exemplo, muitas vezes são utilizados micror-
1. Melhoramento genético ganismos, leveduras e bactérias denominados recombinantes,
com características que permitem o cultivo mais propício e a
e seleção artificial rápida multiplicação desses microrganismos. Isso possibilita a
As práticas de melhoramento genético não começaram a produção em larga escala de substâncias que primariamente
partir das descobertas mais recentes da Biologia Molecu- eram produzidas em pequena quantidade. Observe a seguir
lar. Essas práticas são realizadas há muito tempo, mesmo alguns exemplos das aplicações da engenharia genética.
antes dos avanços no campo molecular.
Bons exemplos de melhoramento genético são encontra-
dos no ramo da agricultura e da pecuária, nas quais são
cruzadas e posteriormente selecionadas as espécies com
características de interesse, cujo resultado é a melhora
na produtividade (gado leiteiro e de corte mais produti-
vos, grãos com maior valor nutritivo, etc.). Para garantir ao multimídia: vídeo
longo das gerações a manutenção das características de
Fonte: Youtube
interesse, é utilizada a reprodução assexuada, como a pro-
pagação vegetativa, responsável pela criação de clones a O que é biotecnologia? | #InstanteBiotec 01
partir de uma planta-mãe, evitando desse modo a variabili-
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

dade genética decorrente da reprodução sexuada.


2.1. Indústria farmacêutica
§ vacinas;
2. Biotecnologia e § interferon humano (antiviral natural);

engenharia genética § insulina humana;


§ hormônios do crescimento humano;
A biotecnologia consiste na realização de um conjunto
§ reagentes de diagnóstico;
de técnicas que utilizam organismos vivos ou partes de-
les (células e moléculas) para a geração de produtos ou § agentes antitumorais;
processos de utilização específica. Apesar de esse termo § novas drogas.
ter ganhado notoriedade pública apenas no último século,
essas técnicas são praticadas pelo homem há milhares de 2.2. Agropecuária
anos, como é caso de uso de microrganismos fermenta- § animais resistentes a doenças e plantas resistentes a
dores na produção de pães, iogurtes e vinhos; de grãos e vírus, herbicidas e tolerantes a insetos;

89
§ valor nutricional multiplicado de animais e plantas; verdadeira revolução na biologia molecular, uma vez que
§ plantas resistentes a pragas; permitiu a montagem de moléculas de DNA recombinante.
§ produção de espécies raras;
§ indústria alimentar;
§ novos ingredientes;
§ novos processos de manufatura;
§ novas enzimas.

2.3. Meio ambiente


§ produção de bactérias usadas na biorremediação ambiental.

3. Manipulação genética
Antes de abordar os conceitos e as aplicações da engenha-
ria genética, observe o esquema a seguir. Ele representa o
mecanismo natural de reparação de genes defeituosos na
molécula de DNA. A engenharia genética vale-se da atua-
ção dessas enzimas para realizar seus feitos.

Tipos de corte efetuados por enzimas de restrição

No DNA, ocorre repetição de sítios-alvos ao longo da molé-


cula. Assim, dependendo da quantidade de sítios, ela pode
ser cortada em vários fragmentos de tamanhos diferentes.

3.1. A técnica do PCR


Mecanismo de reparação de genes defeituosos.
A técnica do PCR consiste em uma reação em cadeia da
Para compreender como ocorre a manipulação dos genes, é polimerase (do inglês, polymerase chain reaction), que é
necessário conhecer os agentes envolvidos em cada etapa,
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

utilizada para multiplicar em milhares de cópias um único


como as enzimas de restrição, também denominadas pedaço de DNA. Essa técnica pode ser realizada em tubos
endonucleases de restrição. São enzimas produzidas de ensaio e vem se revelando mais vantajosa que a do
regularmente por bactérias, cujo papel é garantir a DNA recombinante, uma vez que não necessita da produ-
integridade da molécula de DNA, uma vez que permitem o ção de um plasmídeo recombinante, tampouco de bacté-
conserto de erros de pareamento e também degradam DNA rias para clonar os fragmentos de DNA.
virais invasores. Por cortarem a molécula de DNA sempre em
pontos específicos, produzem fragmentos dela que podem Quando uma molécula de DNA, originada de uma célu-
se ligar a outras pontas de moléculas de DNA também cor- la humana, é submetida a altas temperaturas (cerca de
90°C) ou a pHs extremos, as pontes de hidrogênio que
tadas pela mesma enzima.
unem suas fitas se desfazem, processo esse denominado
Uma das primeiras enzimas de restrição a ser isolada foi a desnaturação. Separadas as fitas, ocorre a produção de
Eco Ri, produzida pela bactéria Escherichia coli. Com a des- novas moléculas de DNA, o que aumenta a quantidade
coberta dessas enzimas, os pesquisadores puderam mani- de amostra. Se essas fitas forem alocadas em ambiente
pular o DNA com extrema precisão, o que provocou uma com a temperatura regular do organismo humano, ou em

90
pH regular da célula, elas tenderão a se unir novamente, ocorrendo, portanto, uma renaturação, também denominada
hibridização. Para que ocorra hibridização, é necessário que as duas fitas sejam dotadas de sequências complementares de
bases que permitam o pareamento.

Sob altas temperaturas ou pHs extremos, ocorre a separação das fitas de DNA. Em condições favoráveis,
ocorre novamente a hibridização dessas fitas.

A partir dessa técnica, é possível obter de um pequeno fragmento de DNA uma amostra suficiente para análise.

3.2. Eletroforese em gel e separação dos fragmentos de DNA


Os fragmentos de DNA formados com a ação das enzimas de restrição e, se necessário, multiplicados pela PCR, apresentam
tamanhos diferentes, o que torna possível separá-los e análisá-los individualmente por meio de uma técnica denominada
eletroforese em gel. Cada amostra (contendo fragmentos de moléculas de DNA) é colocada sobre um gel de agarose
(do ágar, de algas vermelhas), em pequenos espaços retangulares, uma ao lado da outra. Sabe-se que a molécula de DNA é
dotada de carga elétrica negativa; assim, ao ser submetida a um campo elétrico, ela migrará em direção ao eletrodo positivo.

VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Na eletroforese em gel, fragmentos maiores movem-se mais lentamente do que os menores e separam-se.

Para que seja possível visualizar os fragmentos, eles são tratados com um corante – brometo de etídio, que possui afinidade
pelo DNA e fluoresce, tornando-se visível quando em contato com a luz ultravioleta, sob a qual fotografa-se o gel para posterior
análise. A partir da medição da distância entre as bandas, é possível calcular o peso molecular e o tamanho dos fragmentos, bem
como localizar as bandas que compõem o DNA. Outra maneira de visualizar as bandas de DNA é a autorradiografia. No início do
processo, os fragmentos de DNA são marcados com radioisótopo p32 ou com um corante luminescente. Ao final, esse material
sensibiliza um filme fotográfico colocado sobre o gel. Quando esse filme é revelado, é possível visualizar a posição das bandas.

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multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Como funcionam os testes para Covid?

3.3. Criação de DNA recombinante


Um DNA recombinante é uma molécula de DNA for-
mada pela união de duas ou mais moléculas desse ácido
nucleico. Esses fragmentos de DNA não são encontrados
juntos na natureza, resultando de manipulação em labora-
tório. Na técnica para produção do DNA recombinante, as
moléculas dos organismos doador e receptor são clivadas
Para visualizar os fragmentos de DNA separados, cora-
se o material com brometo de etídio, que fluoresce sob por uma enzima de restrição e posteriormente unidas pela
luz ultravioleta, revelando as bandas de DNA. enzima DNA ligase. Observe:
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

O organismo receptor pode ser uma bactéria portadora de plasmídeo, um DNA circular com capacidade de replicação
autônoma. Nesse caso, o plasmídeo atua como um vetor transportando um gene de interesse. O gene, ao ser inserido no
plasmídeo bacteriano, pode ser transcrito várias vezes, uma vez que, a cada reprodução da bactéria, o DNA recombinante
também é replicado. A capacidade de reprodução rápida das bactérias contribui para a criação de várias cópias idênticas do
gene de interesse, caracterizando a clonagem de DNA.
O gene da insulina, por exemplo, pode ser inserido numa bactéria para a produção desse hormônio necessário aos diabéticos. Ou-
tros genes de interesse são aqueles para a produção de vacinas, de medicamentos e de fatores de coagulação para hemofílicos:
Sequência de etapas para produção do DNA recombinante:

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VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Uma satisfatória proliferação de bactérias portadoras do DNA recombinante pressupõe que elas sejam inseridas em um
meio nutritivo seletivo, com o objetivo de que apenas as portadoras do DNA recombinante cresçam e formem colônias.
Depois de muitas gerações de bactérias, os plasmídeos são retirados e os fragmentos de DNA clonados são isolados. Outra
possibilidade é retirar apenas os produtos de expressão do fragmento de DNA clonado, um hormônio, por exemplo, como
a insulina ou o hormônio do crescimento humano, bem como uma proteína que, isolada, poderá servir para a confecção de
uma vacina. Além dos plasmídeos, vírus animais e bacteriófagos também podem ser utilizados como vetores nessa técnica.

3.4. Terapia gênica


Trata-se da utilização de genes normais na substituição de genes alterados causadores de diversas doenças humanas. Esse
material genético é introduzido (por um vetor) no indivíduo afetado a fim de corrigir uma informação errada ou ausente no
DNA do indivíduo. Esse processo pode atenuar os sintomas da doença ou eliminá-los completamente.
Observe no esquema como ocorre a terapia gênica.

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Mecanismo de terapia gênica.

O medicamento Glybera foi o primeiro a ser aprovado para uso em terapia gênica na Europa. Ele se destina ao tratamento de
pessoas com deficiência da lipoproteína lipase, uma condição rara. Quem sofre dessa deficiência padece de graves ou repeti-
das crises de inflamação no pâncreas (pancreatite), ainda que submetidos a dieta com baixo teor de gordura.
Um vírus modificado é utilizado como vetor para o gene da lipase, alcançando as células do organismo receptor. O
Glybera é disponibilizado na forma de solução injetável. Ao ser inoculado nos músculos, corrige a deficiência da lipo-
proteína lipase, proporcionando às células musculares a produção eficaz da enzima, reduzindo a gravidade da doença.
Por se tratar de um medicamento de produção complexa, o valor do Glybera é de cerca de um milhão de dólares por
tratamento.

3.5. Transgênicos ou OGM


Os transgênicos são organismos geneticamente modificados (OGM). No Brasil, a lei de Biossegurança, sancionada em 2005,
permite a produção e venda de OGM. Os alimentos que contêm ingredientes transgênicos devem conter o seguinte símbolo
em sua embalagem:
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Apesar de serem alvo de muitas polêmicas, os trangênicos são amplamente utilizados hoje em dia, como a soja e o milho.
Possíveis impactos positivos dos OGM: Possíveis impactos negativos dos OGM:
§ diminui consideravelmente o custo da produção; § desencadeamento de alergia no consumidor;
§ aumenta as safras; § interação gênica no organismo transgênico (toxinas);
§ dispensa uso de agroquímicos. § aumento de variabilidade (mudança da seleção natural);
§ interações interespecíficas na natureza;
§ surgimento a médio prazo de pragas resistentes;
§ desequilíbrios nos ecossistemas;
§ aumento da quantidade de agrotóxicos nas plantas.

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VIVENCIANDO

Organismos transgênicos, testes de DNA e inseminação artificial são exemplos de aplicações das tecnologias gené-
ticas que podem impactar positivamente na vida humana e auxiliar no avanço de curas e na produção de remédios.

4. Bibliotecas de DNA ou genetecas


Uma biblioteca de DNA contém um agregado de fragmentos desse ácido nucleico, clonados e unidos aos vetores apropria-
dos. Esses segmentos de DNA são obtidos graças às enzimas de restrição. Caso o material da biblioteca seja constituído de
todo o genoma de uma célula ou organismo, tem-se uma biblioteca genômica. No entanto, o conjunto pode incluir somente
moldes de DNA complementar ou DNAc, caracterizando uma biblioteca de DNA complementar, que é produzido pela ação
de uma enzima denominada transcriptase reversa.
Numa biblioteca genômica, a localização de segmentos específicos de DNA é feita com a utilização de sondas dessa molé-
cula. As sondas são sequências de DNA de fita simples que se ligam à sequência complementar (de interesse), permitindo
sua identificação. Para isso, as sondas podem ser sinalizadas, por exemplo, a partir de uma substância fluorescente, de um
anticorpo ou de um isótopo radioativo. Esse procedimento permite uma detecção precisa de DNA.

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Geneteca

5. Projeto genoma
O Projeto Genoma Humano (PGH) foi um empreendimento internacional, iniciado formalmente em 1990 e concluído em
2003. Seus objetivos principais incluíram:
§ identificar os genes humanos;
§ determinar a sequência dos pares de bases nitrogenadas componentes do genoma humano;
§ manter as informações num banco de dados;
§ produzir ferramentas eficientes para a análise dos dados;
§ tornar os dados acessíveis a pesquisadores; e
§ suscitar a discussão sobre questões éticas, legais e sociais relacionadas ao projeto.

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As amostras utilizadas no projeto eram provenientes de As sequências do genoma humano compõem uma valiosa
doadores anônimos, representantes de diversos grupos fonte de informação. Pesquisadores ao redor do mundo
étnicos, compondo um genoma-referência. Veja alguns re- utilizam essa fonte para o desenvolvimento de diversas
sultados e conclusões do PGH: aplicações práticas. Dessa forma, o PGH serviu como ponto
de partida para inúmeros avanços na biologia molecular do
§ cerca de 3,2 bilhões de pares de nucleotídeos com- século XXI. Como exemplos de aplicações se destacam:
põem o genoma humano;
§ apenas cerca de 2% do genoma têm função de instruir § auxílio no aconselhamento genético;
a síntese de proteínas, constituindo os genes; § probabilidade de detecção na fase inicial de doenças
§ o número de genes foi estimado em 25.000; causadas ou influenciadas por genes;
§ em média, os genes são compostos por 3.000 bases § auxílio no desenvolvimento da proteômica, o conjunto de
nitrogenadas, que podem variar até milhões; técnicas utilizadas para análise de proteínas em larga escala;
§ a função de aproximadamente metade dos genes en- § análise do grau de parentesco evolutivo entre diferen-
contrados é desconhecida; tes espécies a partir da comparação genética;
§ todas as pessoas compartilham 99,9% da mesma se- § melhora da compreensão de como atuam os genes,
quência genômica; podendo interferir na sua expressão; e
§ sequências repetidas de nucleotídeos que não codi- § desenvolvimento de medicamentos específicos para
ficam proteínas compõem mais de 50% do genoma cada indivíduo com base em seu funcionamento meta-
humano; e bólico compreendido pelo estudo genético.
§ determinadas sequências gênicas foram associadas a
doenças e disfunções, como câncer de mama, surdez,
doenças musculares e cegueira.

6. Fingerprint
Trata-se da impressão digital molecular, que contribui decisivamente para identificar casos de paternidade duvidosa a partir
da análise no DNA, uma vez que cada indivíduo possui uma composição genômica única, com exceção dos gêmeos univi-
telinos (idênticos). Para essa análise e posterior comparação, é necessária uma amostra de DNA, que pode ser proveniente
de células da raiz de um fio de cabelo ou de células (leucócitos) sanguíneas. Essa amostra pode ser amplificada por meio da
técnica do PCR.
Para a efetiva determinação da fingerprint, os cientistas recorrem aos VNTR (do inglês, variable number of tandom repeats), repeti-
ções de pequenas sequências de nucleotídeos (entre 15 e 20 bases nitrogenadas) presentes em trechos do DNA.
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Representação de sequências de bases repetidas no DNA. Esse número é particular de cada indivíduo.

A quantidade de repetições em cada gene é bastante va-


riável entre os componentes de uma população. Por isso,
quando cromossomos homólogos de diferentes pessoas
são comparados, é pouco provável que o número de repe-
tições seja o mesmo, razão pela qual o VNTR é tido como
único para cada um, assim como a impressão digital.
Essas repetições podem ser visualizadas pela técnica
de eletroforese, que permite a observação de repeti-
ções particulares.
Esquema ilustrativo de eletroforese em gel de
amostras (DNA) de dois indivíduos diferentes:
(a) possui 12 repetições, e (b), 6 repetições.

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6.1. Uso do fingerprint na determinação de paternidade
Considere o caso de um casal com três filhos que, anos depois do nascimento do último filho, passa a suspeitar de que
ele tenha sido trocado por outro ainda na maternidade. Realizado o fingerprint dos pais e dos três filhos na tentativa
de resolver o problema, obteve-se o seguinte resultado:

Analisados os VNTR de determinado par de cromossomos homólogos do pai, notou-se a existência de cinco sequências
repetidas em um dos cromossomos e de quatro em outro. No caso da mãe, observou-se um cromossomo com sete sequ-
ências repetidas e, no homólogo, três repetições.
Na análise dos fingerprints dos dois primeiros filhos – da esquerda para a direita –, notou-se que o primeiro apresentou
cinco e três sequências (cinco derivadas do pai e três, da mãe); o segundo filho apresentou sete e cinco sequências repeti-
das (sete provenientes da mãe e cinco provenientes do pai). O resultado permitiu concluir que não houve troca de nenhum
dos dois primeiros filhos. No entanto, a análise do fingerprint do terceiro filho revelou que ele apresentou seis e duas
repetições, ou seja, ele não é filho biológico do casal, uma vez que os pais não apresentam esses VNTR.

7. Uso de células-tronco
Por se tratar de tipos celulares indiferenciados, as células-tronco são um assunto de interesse no meio científico. Devido à
ampla disseminação pela imprensa de temas relacionados a esses tipos particulares de células, esse interesse também é
compartilhado pela opinião pública. Alguns dos principais interesses envolvidos no uso de células-tronco são o estudo da
biologia do desenvolvimento, a terapia gênica (poderiam agir como vetores) e a produção de linhagens celulares específicas
para transplantes (quando do próprio indivíduo reduzem o risco de rejeição).
As células-tronco adultas são classificadas como multipotentes e podem originar apenas células do tecido de onde são
provenientes. Aquelas provenientes do tecido hematopoiético são utilizadas na reposição da medula óssea depois dos pro-
cessos de quimioterapia ou radioterapia, ambos adotados contra o câncer. Essa forma de aplicação terapêutica se enquadra
na medicina regenerativa.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Contudo, a maior esperança reside na adoção de procedimentos terapêuticos com células-tronco embrionárias, pois elas
podem originar uma variedade de tipos celulares. O uso dessas células embrionárias ainda carece de muitas pesquisas, que
vêm sendo desenvolvidas ao redor do mundo com o intuito de combater inúmeras patologias.
Os embriões excedentes resultantes da técnica de fertilização in vitro são fontes de células-tronco embrionárias passíveis de
uso em pesquisas. Esses embriões são armazenados congelados em nitrogênio líquido nas clínicas de fertilização in vitro.
No Brasil, a legislação dispõe que é permitida a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos pro-
duzidos por fertilização in vitro, mas não utilizados para tal, para fins de pesquisa e terapia. Entretanto, os embriões devem
ser inviáveis ou estarem congelados há três anos ou mais, sendo também exigido o consentimento dos pais.
Apesar de todas as esperanças em torno dos tratamentos com células-tronco, ainda há muito trabalho a ser feito e muitas
pesquisas a serem realizadas antes que muitos desses avanços prometidos ou esperados possam ser efetivamente aplicados
às necessidades dos indivíduos. No entanto, é inegável que a terapia com essas células é uma fonte de esperança para mi-
lhões de pessoas portadoras, por exemplo, de mal de Parkinson, diabetes, mal de Alzheimer, câncer, entre outros problemas
genéticos.
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8. Clonagem reprodutiva
A clonagem reprodutiva produz uma cópia de um indivíduo existente mediante uma técnica denominada transferência nu-
clear, que se baseia na remoção do núcleo de um óvulo que é substituído pelo núcleo de outra célula somática. Feita a fusão, as
células passam a se diferenciar. Ao alcançar o estado de blastocisto (fase em que ocorre a implantação do embrião na cavidade
uterina), a massa celular apresenta dois grupos celulares: a camada externa, que formará a placenta e o saco amniótico, e a
interna, que dará origem aos tecidos do feto. Depois do período de gestação, surge um indivíduo com material genético idên-
tico ao do doador da célula somática. O exemplo mais clássico de clonagem reprodutiva é a ovelha Dolly, clonada em 1996.

As células-tronco embrionárias podem ser utilizadas com


o objetivo de restaurar a função de um órgão ou tecido,
transplantando novas células para substituírem as células
lesionadas por doença ou com defeito genético. Esse é o
caso de doenças neurológicas, diabetes, cardiopatias, der-
rames, lesões da coluna cervical e doenças sanguíneas.
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

multimídia: site Essa técnica traz à tona diversas questões relacionadas à


bioética. Depois da coleta do material, qual destino deve
ser dado ao embrião? Quando precisamente tem início uma
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/07/
Clonagem reprodutiva nova vida? Até que ponto valeria a pena sacrificar “uma
como-foi-clonagem-da-ovelha-dolly.html
vida” para salvar outra?

Na clonagem terapêutica, os estágios iniciais são idênti-


cos à clonagem com fins reprodutivos, com exceção do blas-
tocisto, que não é introduzido em um útero, mas utilizado
em laboratório como fonte de células-tronco totipotentes
destinadas à produção de tecidos ou órgãos para transplan-
te. O objetivo dessa técnica é produzir uma cópia saudável
do tecido ou do órgão de um paciente para transplante.

98
ativada

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Algumas técnicas de teste de DNA utilizam correntes elétricas no final do experimento. As correntes, junto com a car-
ga de DNA, fazem as moléculas do DNA se deslocarem. Ao final, verifica-se se a corrida obteve o resultado esperado.
Assim, as técnicas dependem de uma diferença de potencial (ddp).

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 13
Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos
seres vivos.

Os conceitos de genética são abordados principalmente aplicados no contexto médico e tem sido constante no Enem
a aplicação de biotecnologia e engenharia genética. Assim, é importante que o aluno conheça as diferentes técnicas
empregadas nesse processo e sua aplicação nas diferentes áreas, como medicina, agricultura, alimentação, etc.

MODELO 1
A palavra “biotecnologia” surgiu no século XX, quando o cientista Herbert Boyer introduziu a informação res-
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ponsável pela fabricação da insulina humana em uma bactéria para que ela passasse a produzir a substância.
Disponível em: <www.brasil.gov.br>. Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado).

As bactérias modificadas por Herbert Boyer passaram a produzir insulina humana porque receberam:
a) a sequência de DNA codificante de insulina humana;
b) a proteína sintetizada por células humanas;
c) um RNA recombinante de insulina humana;
d) o RNA mensageiro de insulina humana;
e) um cromossomo da espécie humana.

ANÁLISE EXPOSITIVA
Ao receber a sequência de DNA codificante da insulina humana, as bactérias transgênicas (geneticamente modificadas
por Herbert Boyer) passaram a produzir o hormônio humano que regula a glicemia.

RESPOSTA Alternativa A

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DIAGRAMA DE IDEIAS

MANIPULAÇÃO GÊNICA COM OBJETIVO DE


BIOTECNOLOGIA
SELECIONAR CARACTERÍSTICAS DE INTERESSE

TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE


ENGENHARIA
GENÉTICA
ORIGINA ORGANISMOS GENETICAMENTE
MODIFICADOS (OGM)

VACINAS, PRODUÇÃO DE INSULINA


E HORMÔNIO DO CRESCIMENTO

ANIMAIS E PLANTAS MAIS RESISTENTES,


APLICAÇÕES
COM MAIOR VALOR NUTRICIONAL

BACTÉRIAS BIORREMEDIADORAS

ENZIMA DE RESTRIÇÃO:
- CORTA FRAGMENTOS DE DNA

TÉCNICA DO PCR:
- MULTIPLICA O TRECHO DE DNA RECORTADO
MANIPULAÇÃO
GENÉTICA
ELETROFORESE EM GEL:
- SEPARA OS DIFERENTES FRAGMENTOS DE DNA

DNA RECOMBINANTE:
- INSERÇÃO DE UM GENE (DOADOR) EM OUTRO ORGANISMO
VOLUME 6  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

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