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Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo
Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos
alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:
Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta
editoração eletrôniCa
Felipe Lopes Santos
Letícia de Brito Ferreira
Matheus Franco da Silveira
imagenS
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)
Pixabay (https://www.pixabay.com)
ISBN: 978-65-88825-97-6
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vo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
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SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA 5
AULAS 1 E 2: FORMAÇÃO DE PALAVRAS 7
AULAS 3 E 4: ARTIGOS, SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS 15
AULAS 5 E 6: VERBOS: NOÇÕES PRELIMINARES E MODOS INDICATIVO E SUBJUNTIVO 23
AULAS 7 E 8: VERBOS: MODO IMPERATIVO E VOZES VERBAIS 30
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 33
AULA 1: FUNÇÕES DA LINGUAGEM I 35
AULA 2: FUNÇÕES DA LINGUAGEM II 38
AULA 3: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA I 40
AULA 4: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA II 42
LITERATURA 43
AULAS 1 E 2: FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO LITERÁRIO: ARTE E TÉCNICA 45
AULAS 3 E 4: TROVADORISMO E HUMANISMO 54
AULAS 5 E 6: RENASCIMENTO: CLASSICISMO E LUÍS VAZ DE CAMÕES 63
AULAS 7 E 8: QUINHENTISMO E ESTÉTICA BARROCA 70
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM
Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida.
Competência 1
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais.
Competência 2
Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade.
Competência 3
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade.
Competência 4
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e
H14
étnicos.
Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
Competência 5
Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constitu-
Competência 6
Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
Competência 7
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da
Competência 8
própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social,
Competência 9
no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tec-
nologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem.
ENTRE
LETRAS
GRAMÁTICA
LINGUAGENS
CÓDIGOS
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
Como uma prova transversal, a exigência Vê-se maior incidência de temas que se Bastante objetivo, o vestibular da Unesp
de conhecimentos tende a se alargar a orientam sobre os processos de forma- exige domínio acerca dos sentidos deno-
outros assuntos. Dessa maneira, é com- ção de palavras e a utilização das vozes tativos e conotativos que uma palavra
preensível que se veja os significados verbais. No mais, assuntos como a apli- pode ter em determinado contexto, além
textuais que a mudança de classes de cação de classes de palavras em determi- da compreensão de classes gramaticais.
palavras, a pontuação ou mesmo aspec- nados contextos surgem com frequência. Tempos verbais e suas aplicações tam-
tos coesivos podem provocar bém são frequentes.
no texto.
Nesse vestibular, aspectos semânticos de Os temas de maior incidência são a com- Concordâncias verbal e nominal, regên- Bastante direto e objetivo, o vestibular
um termo dentro de seu contexto são o preensão conotativa e denotativa de ter- cia e aspectos sintáticos na dinâmica da Santa Casa faz exigências de com-
ponto de partida para a resolução das mos no âmbito de determinado texto e de um texto aparecem com frequência preensão sobre vozes verbais e classes
questões. Também, poderá ser exigido do o uso das pontuações para a construção nas provas. De igual modo, as diferentes gramaticais. É seguro, então, entender os
candidato compreender as possibilidades de sentido. Além disso, temas que atra- situações que conduzem a pontuação procedimentos textuais que configuram
de variação linguística. vessam conhecimentos a respeito das também aparecem com frequência. as especificidades destes temas. Tam-
classes gramaticais. bém, a atenção à pontuação
é uma constante.
UFMG
A prova da UEL cobra conhecimentos A Semântica é trabalhada em contexto, Questões que exigem conhecimentos
gramaticais apenas na segunda fase. sempre em comparação e por relações de sobre elementos coesivos e figuras de
Questões que associam a semântica à equivalência. Além disso, questões objeti- linguagem, bem como aspectos se-
interpretação de textos literários são co- vas que abordem a Morfologia do portu- mânticos que podem aparecer em um
muns, além de um trabalho mais direcio- guês podem, também, aparecer com uma texto, seja por expressões denotativa ou
nado à formação de palavras e às classes grande incidência. conotativa.
gramaticais (substantivo, adje-
tivo e verbo).
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
O uso de vozes verbais e os processos Os temas de maior incidência são classes Essa prova é bastante flexível no que diz
de formação de palavras. Igualmente, o de palavras e pontuação. Por isso, com- respeito aos temas que aborda. Faz exi-
sentido de determinado tempo verbal na preender aspectos morfológicos e recur- gências sobre tempos e modos verbais,
dinâmica textual, bem como os prejuízos sos coesivos é essencial para a resolução elementos coesivos e funções sintáticas.
que a mudança de um modo verbal a de suas questões. Apesar disso, de modo geral, suas questões
outro pode provocar a um texto. são bastante objetivas.
6
Podem aparecer antes do radical (prefixos) ou depois
do radical (sufixos).
Exemplos:
LC AULAS
1E2 Exemplos:
a) desinência-nominal: garota / garotas / exaus-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) ta / exaustas
1e8 1, 2, 3, 4, 26 e 27 b) desinência-verbal: derrubar / derrubamos
/ derrubassem / derrubaria
§ Vogal temática: é um morfema vocálico que se
1. Morfologia: acrescenta aos radicais antes das desinências. Temos
dois tipos:
formação de palavras a) Vogal temática nominal
Neste tópico, estudaremos os processos de estruturação e
Em radicais nominais (paroxítonos ou proparoxítonos) são
formação de uma palavra em língua portuguesa.
acrescentadas as vogais átonas “-a”, “-e” ou “-o” que in-
dicarão classe gramatical.
Palavra: unidade linguística de som e significado que
entra na composição dos enunciados da língua. Exemplo:
revista / inteligente
Embora representem uma totalidade, as palavras podem b) Vogal temática verbal
ser decompostas de modo que reconheçamos as unida-
des menores que as compõem. Esses elementos menores Indicam a conjugação dos verbos. Funcionam da seguinte
são todos dotados de significação e recebem o nome de maneira: Vogal “-a” = (1ª conjugação) / Vogal “-e” = (2ª
morfemas. conjugação) / Vogal “-i” = (3ª conjugação)
Exemplo:
Morfema: unidades mínimas de uma palavra, que pos-
convida / escreve / sorri
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
suem significação.
7
§ Derivação sufixal: acréscimo de sufixo à palavra
outras palavras). São dessas palavras anteriormente primitiva.
citadas que surgem as palavras derivadas (Exemplos:
florista, pedreiro, bananeiro, temporal, diário, marítimo, Exemplo:
chuvoso, entre outras).
papel-aria.
Também temos tempos verbais primitivos. Em geral,
§ Derivação prefixal + sufixal: acrescenta-se um prefi-
são verbos no infinitivo onde não seja possível pres-
xo e um sufixo a um mesmo radical de modo sequencial,
supor a existência de um substantivo que se refira a
ou seja, os afixos não são encaixados ao mesmo tempo.
algum objeto (Exemplo: falar, dançar, cair, correr, seriam
Percebe-se facilmente, ao remover um dos afixos, a pre-
verbos primitivos. Já um verbo como “ancorar” nos per- sença de uma palavra com sentido completo.
mite recuperar um substantivo primitivo que designa
um objeto: “âncora”). Exemplo:
in-feliz-mente.
§ Vogal e consoante de ligação § Derivação parassintética: acréscimo simultâneo de um
prefixo e de um sufixo a um mesmo radical ou à palavra
As vogais e consoantes de ligação são elementos que
primitiva. Em geral, as formações parassintéticas originam-
unem determinados radicais a certos sufixos que facilitam
-se de substantivos ou adjetivos para formarem verbos.
ou, ainda, possibilitam a leitura de uma palavra. Não são
considerados morfemas, uma vez que não possuem se-
Exemplo:
mântica / sentido.
en-triste-cer.
Exemplo 1: § Derivação regressiva: ocorre redução da palavra pri-
trico – t – ar (a letra “t” é a consoante que liga mitiva. Nesse processo, formam-se substantivos abstra-
o radical “tricô” ao sufixo formador de verbos no tos por derivação regressiva de formas verbais.
infinitivo “-ar”.
Exemplo:
Exemplo 2: ajudar >>> (a) ajuda.
gas – ô – metro (a letra “o” é a vogal que liga o § Derivação imprópria: ocorre a alteração da classe
radical “gás” ao sufixo formador de substantivos gramatical da palavra primitiva.
“-metro”.
Exemplo:
1.2. Processos de formação olhar (verbo) >>> (o) olhar (substantivo).
Basicamente, as palavras da língua portuguesa são formadas
pelos processos de derivação e composição. Além des- 1.2.2. Formação por composição
ses, também temos outros processos que contribuem para a Nos processos de formação de palavras por composição,
criação de novas palavras, como a onomatopeia, o neolo ocorre a junção de dois ou mais radicais. Palavras com
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
8
Exemplos: É comum formar verbos a partir de palavras do
meio da informática, como googlar (procurar
aguardente (água + ardente); embora (em + boa
no Google), twittar (escrever no Twitter) ou
+ hora).
resetar (de reset).
9
VIVENCIANDO
A tabela abaixo traz significados de prefixos e radicais, alguns frequentemente usados no dia a dia.
Prefixos latinos Significados Exemplos
a–, ab–, abs– afastamento, separação abstenção, abdicar
a–, ad–, ar–, as– aproximação, direção adjunto, advogado, arribar, assentir
e–, es–, ex– movimento para fora, privação emergir, expelir, escorrer, extrair, exportar, esvaziar, esconder, explodir
atmo– ar atmosfera
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VIVENCIANDO
11
VIVENCIANDO
aero– ar aerodinâmica
12
VIVENCIANDO
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DIAGRAMA DE IDEIAS
GRAMÁTICA
NORMATIVA CLASSES DE
PALAVRAS
• SUFIXAL • JUSTAPOSIÇÃO
• PREFIXAL • AGLUTINAÇÃO
• IMPRÓPRIA
• REGRESSIVA
• PARASSINTÉTICA
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
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Artigos
Preposições um,
o, os a, as * uma, umas
uns
de
SUBSTANTIVOS
dum,
do, dos da, das duma, dumas
duns
em
E ADJETIVOS
num,
no, nos na, nas numa, numas
nuns
por pelo,
pela, pelas — —
pelos
LC AULAS
3E4 1.2. Artigo aplicado ao texto
O artigo talvez seja uma das classes gramaticais mais su-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) bestimadas da língua portuguesa, e isso ocorre, principal-
1e8 1, 2, 3, 4, 26 e 27 mente, pelo fato de, em âmbito escolar, ser apresentado
apenas em suas características estruturais mais básicas,
sem o devido aprofundamento semântico ou textual que
os vestibulares costumam abordar. Por esse motivo, apre-
1. Artigo sentaremos a seguir as aplicações textuais do artigo.
Artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um
marcador pré-nominal), com a função inicial de determiná- 1.2.1. Artigo como marcador de quantidade
-lo ou indeterminá-lo. Subdivide-se em dois grupos: defini- A presença ou ausência do artigo pode servir como quan-
dos e indefinidos. tificador de elementos.
§ Artigos definidos: determinam o substantivo de ma-
neira precisa. São eles: o(s), a(s). Exemplos:
Casa de câmbio da Rua do Ouvidor foi assalta-
Exemplo:
da. (A ausência de artigo indica que há mais de
Preciso que você me traga a cadeira branca. (O uma casa de câmbio na rua).
artigo definido marca a necessidade de se pegar
uma cadeira determinada.) A casa de câmbio da Rua do Ouvidor foi assal-
tada. (A presença de artigo indica que há apenas
§ Artigos indefinidos: dão ao substantivo um caráter uma casa de câmbio na rua).
vago / impreciso. São eles: um(uns), uma(s).
1.2.2. Artigo como marcador
Exemplo: de convívio/intimidade
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
15
1.2.3. Artigo marcando conhecimento Nesse segundo exemplo, a coerência textual é definida
ou desconhecimento de substantivos quando é apresentado um substantivo definido que nosso
interlocutor conhece. Para satisfazer a demanda de expli-
Os artigos definido e indefinido podem marcar o conheci-
cação, o interlocutor abre sua explicação marcando o subs-
mento ou o desconhecimento de certos assuntos conduzi-
tantivo com artigo indefinido.
dos por substantivos.
Exemplos:
Foi localizado, ontem, o jovem serial-killer que
havia fugido da cadeia. (O artigo definido nos
transmite a ideia de que a notícia da fuga do jo-
vem era de conhecimento dos leitores, ou seja, o
substantivo era conhecido.)
multimídia: letra e música
Foi localizado, ontem, um jovem serial-killer que
havia fugido da cadeia. (O artigo indefinido nos Fonte: Youtube
transmite a ideia de que a fuga do jovem era no- A canção, em seu refrão, recorre às propriedades semân-
vidade para os leitores, ou seja, o substantivo era ticas do emprego dos artigos: “Ele é o homem /Eu sou
desconhecido.) apenas uma mulher”.
Esse cara (Caetano Veloso)
1.2.4. Artigo como particularizador ou generalizador Ah! Que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Exemplos: Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Garfield é um gato. (O artigo indefinido marca a Ele está na minha vida porque quer
ideia de que Garfield é mais um entre os vários ga- Eu estou pra o que der e vier
tos no mundo, ou seja, generaliza o substantivo.) Ele chega ao anoitecer
Garfield é o gato. (O artigo definido marca a ideia Quando vem a madrugada ele some
Ele é quem quer
de que Garfield é um gato especial em relação a
Ele é o homem
outros gatos, ou seja, particulariza e destaca o Eu sou apenas uma mulher
substantivo.)
de semana, em Sorocaba. A feira contará com a É importante, pensando em provas de vestibular, que
participação de sebos e livrarias da região... consigamos entender que os conhecimentos a respeito
de elementos mais básicos de classificação de substanti-
No exemplo apresentado, constatamos que, quando pre
cisamos introduzir uma informação que nosso interlocu- vos (ligados à morfologia) não são efetivamente exi-
tor desconhece, utilizamos primeiro um artigo indefinido gidos em provas de vestibulares. Hoje em dia, as pro-
e, depois de apresentado o substantivo, (no caso, “feira”) vas esperam que os alunos saibam localizar substantivos
começamos a demarcá-lo a partir do artigo definido. Há com precisão, a fim de que sejam capazes de resolver
também outra possibilidade de organização: exercícios de compreensão textual (por exemplo, enten-
der as funções textuais de um substantivo) ou mesmo de
Exemplos: sintaxe. Em suma, dividiremos o conteúdo a seguir en-
tre os conteúdos de baixa incidência em provas de
— Então, como é o sítio?
vestibular e os conteúdos de maior incidência em
— Bem, é um sítio antigo, retiramos a água do provas de vestibular. Vejamos então:
poço, mas é bastante tranquilo...
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I. Conteúdos de baixa incidência em provas de Exemplos:
vestibular.
escrivão – escrivães; cão – cães;
alemão – alemães.
2.1. Classificação de substantivos
§ Fazem o plural em “–ões”.
§ Próprio: nomeia determinados indivíduos de uma es-
pécie (designação específica), como um homem, um Exemplos:
país ou uma cidade específicos.
canção – canções; gavião – gaviões; botão –
Exemplos: botões.
Exemplos:
cadeira; porta; sala; cidade; homem.
multimídia: letra e música
§ Concreto: nomeia os seres de existência concreta,
Fonte: Youtube
real, palpável “a pedra” ou “a porta”, por exemplo e
também seres dos quais já se constituiu uma imagem A canção é composta por substantivos de diferentes
histórica “a bruxa” ou “a fada”, por exemplo. naturezas.
Nome das coisas (Karnak)
§ Abstrato: nomeia elementos não palpáveis, como sen-
timentos, sensações, qualidades, estados, noções e ações. Nomes se dão às coisas / Nomes se dão
Nomes se dão às pessoas / Nomes se dão
17
Exemplos: Exemplos:
país – países; raiz – raízes. homem – mulher; cavalheiro – dama.
18
II. Conteúdos de maior incidência em provas de objeto indireto, complemento nominal, entre ou-
vestibular tras. Vejamos alguns exemplos:
a) Lembrar que o substantivo é chamado também de
“nome”
Exemplos:
O agricultor cuida do solo
Nos estudos gramaticais, em geral, alguns elementos que
não fazem parte da categoria “verbos” são denominados
como elementos nominais. No entanto, vale ressaltar
Substantivo é núcleo do sujeito
que o elemento nominal “por excelência” é o substanti-
vo, pois ele é o elemento “nomeador” da língua. Embora
seja uma informação simples (lembrar que o substantivo é O agricultor cuida do solo
chamado de “nome”), tal informação será essencial para a
melhor organização dos estudos em sintaxe. Por exemplo,
a categoria conhecida como adjunto adnominal é com- Substantivo também é núcleo do objeto indireto
posta por itens que “acompanham”, que “estão juntos”, d) O substantivo possui funções de organização textual
que “estão ao lado” de um elemento nominal (em ter-
mos mais práticos, um “adjunto adnominal” é um item que A construção de um texto depende essencialmente dos
fica “junto” do “nome”, ou “junto” do “substantivo”). substantivos, pois é deles que parte o processo de refe-
Ter essa noção, ajuda a diluir a confusão que comumente rencialidade.
ocorre quando precisamos, mais adiante, nomear determi- Entende-se por referencialidade a capacidade que os subs-
nadas categorias sintáticas. tantivos têm de apontar para os elementos do mundo que
b) Saber que o substantivo é precedido de artigo (e que compõem sentido, e também de fazer com que esses sen-
pode vir também precedido ou acompanhado de outras tidos sejam construídos à medida que novos substantivos
categorias gramaticais) apareçam no texto. O movimento de referencialidade parte
de três pressupostos importantes:
O método mais prático para confirmarmos se uma palavra
§ Introdução/construção: apresenta um ou mais
é, ou não, um substantivo consiste em inserirmos diante
substantivos no texto que servirão não apenas de intro-
dela um artigo (o, a, um, uma ou as formas plurais desses
dução, mas também como elementos que constituem /
itens). Por exemplo, desejo saber se “floresta” é um subs-
fundamentam uma ideia. É a partir desse(s) substanti-
tantivo. Pronuncio, então: “a floresta”. Funcionando, te-
vo(s) que o texto e seu sentido são construídos.
nho a confirmação de que “floresta” é um substantivo.
Tal procedimento não funcionaria, por exemplo, diante de § Retomada/manutenção: usam-se outros substan¬-
um “verbo” (por exemplo, a construção “a dormir”, não tivos muito similares ao(s) primeiro(s) apresentados no
existe em português). início do texto, que permitirão reto¬mar a ideia inicial-
mente apresentada (o que contribui para a manuten-
Outro ponto relevante é que, embora seja comum utilizar-
ção de sentido).
mos artigos com elementos que precedem substantivos,
também podemos ter outras categorias que “acompanham” § Desfocalização: é o momento do texto em que en-
substantivos, como pronomes (“essa floresta”), numerais tram em cena novos substantivos que tomam o foco
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
19
Exemplos:
alunos saibam localizar adjetivos e locuções adjetivas
clínicas médico-dentárias; institutos ítalo-brasileiros.
com precisão, a fim de que sejam capazes de resolver
exercícios de compreensão textual (por exemplo, en-
tender as funções textuais de um adjetivo) ou mesmo
de sintaxe. Desse modo, aqui no tópico de “Adjetivos”,
também dividiremos o conteúdo a seguir entre os con-
teúdos de baixa incidência em provas de vestibu-
lar e os conteúdos de maior incidência em provas
de vestibular. Vejamos então: multimídia: livro
I. Conteúdos de baixa incidência em provas de ves-
Memórias Póstumas de Brás
tibular.
Cubas (Machado de Assis)
No primeiro capítulo, o autor trabalha com os sentidos
3.1. Nomes substantivos das palavras “autor” e “defunto” em diferentes classes
e nomes adjetivos gramaticais.
No contexto de uma frase, é possível identificar palavras de Capítulo I - ÓBITO DO AUTOR
outras classes, entre elas os adjetivos, que se transformam
[...] Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
em nomes (substantivos) desde que precedidas de um artigo.
duas considerações me levaram a adotar diferente mé-
todo: a primeira é que eu não sou propriamente um au-
Exemplos: tor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa
o jovem desempregado; um desempregado jovem. foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim
mais galante e mais novo. [...]
§ Adjetivos Pátrios e Gentílicos
Derivados de substantivos, os adjetivos que in-
dicam a nacionalidade de pessoas e coisas são
3.1.2. Grau dos adjetivos
chamados pátrios. Exemplos: brasileiro; mineiro; § Comparativo: indica determinada qualidade em grau
paranaense; paulista; português. igual, superior ou inferior a outra (Comparativo de
Igualdade, de Superioridade e de Inferioridade).
Os que indicam etnias e povos são os adjetivos
gentílicos. Exemplos: israelita; semita; europeu; Exemplos:
africano; curdo.
Pedro é tão estudioso como (ou quanto) Rodrigo.
§ Adjetivos pátrios e gentílicos compostos
Pedro é mais estudioso do que Rodrigo.
Exemplos: Pedro é menos estudioso do que Rodrigo.
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Exemplos:
João é o aluno mais estudioso da classe. (Superlativo Relativo de Superioridade).
João é o aluno menos estudioso da classe. (Superlativo Relativo de Inferioridade).
Observação 1
São invariáveis os adjetivos referentes a cores se o último elemento ou ambos forem substantivos: blusas vermelho-sangue;
vestidos cor de rosa; blusas verde-limão.
Exemplos
Ele é um atleta pobre (sem recursos financeiros / sem dinheiro)
Ele é um pobre atleta (um atleta medíocre / sem grandes habilidades)
Embora a posição mais tradicional de inserção do adjetivo seja posterior ao substantivo, a gramática normativa autoriza
a inversão de posições; desde que, é claro, estejamos atentos sobre possíveis mudanças de sentido. Nos exemplos apresen-
tados acima, a mudança de posição entre as palavras “atleta” e “pobre” criou nuances variadas de sentido. É importante
ressaltar que isso não ocorrerá sempre. Por exemplo, dizer que “o Brasil precisa de um jornalismo novo” e dizer que “o
Brasil precisa de um novo jornalismo” (em que modificamos as posições do adjetivo “novo” em relação ao substantivo
“jornalismo”) não muda efetivamente nada do ponto de vista do sentido.
b) O adjetivo possui funções de organização textual
Os adjetivos exercem o importante papel de auxiliar nos processos descritivos de um texto. Em termos mais claros, os adjeti-
vos são responsáveis por compor sentenças que, por exemplo, caracterizem os personagens de uma narrativa (suas roupas,
atitudes, etc.) ou que apresentem detalhes a respeito de uma localização (detalhes de uma cidade, ou ambiente florestal),
entre outras caracterizações. Em textos literários brasileiros do período romântico, por exemplo, havia a necessidade de se
evidenciar características que valorizassem a nação. Por esse motivo, encontramos obras em que há grandes processos de
adjetivação caracterizando o ambiente brasileiro (o livro Iracema, de José de Alencar, é um grande exemplo).
c) A locução adjetiva
A locução adjetiva é uma categoria morfológica em que utilizamos duas estruturas (em geral, uma preposição + um substan-
tivo) que, no final, funcionam como um único adjetivo (caracterizando um substantivo). Um detalhe importante é que a es-
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
trutura que funciona locução adjetiva nos permite, em alguns casos, “enxergar” um adjetivo por trás dela. Vejamos exemplos:
Exemplos
Preciso imprimir a fatura do mês
21
DIAGRAMA DE IDEIAS
GRAMÁTICA
NORMATIVA
CLASSE DAS
PALAVRAS
SUBSTANTIVO ADJETIVO
22
lhe são permitidos. Existem três conjugações verbais na lín-
gua portuguesa:
§ 1.a conjugação: indicada pela vogal temática –a–
VERBOS:
amar, brincar, falar
NOÇÕES PRELIMINARES § 2.a conjugação: indicada pela vogal temática –e–
E MODOS INDICATIVO nascer, crescer, morrer
E SUBJUNTIVO § 3.a conjugação: indicada pela vogal temática –i–
LC AULAS
5E6
O verbo pôr e seus derivados são considerados de 2.ª
conjugação por conta de um processo fonológico ao
longo da história que suprimiu a vogal temática –e–.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) Em um estágio anterior da língua portuguesa, a sua
1e8 1, 2, 3, 4, 26 e 27 forma original era poer.
23
§ reaver (composto de haver, tem apenas as formas em § Infinitivo
“v“): reavemos, reavia, reaverá;
O comer demais faz mal. (substantivo)
§ precaver: precavemos, precavia, precavi; O viver é bom. (substantivo)
§ latir: lates, late, latimos; § Gerúndio
§ colorir: colores, colore, colorimos, coloris. Ela bebeu chá fervendo. (advérbio)
Fervendo, desligue. (advérbio)
OBSERVAÇÃO: Entre os verbos defectivos estão inclu- § Particípio
ídos os chamados verbos impessoais, usados apenas
A feira foi inaugurada. (adjetivo)
na terceira pessoa do singular: chover, trovejar, ventar,
haver (existir), fazer (refere-se ao clima: faz frio; ao tem- O parque foi inaugurado. (adjetivo)
po: faz dez anos).
1.4. Locução verbal
1.2.5. Verbos auxiliares Expressão formada por mais de um verbo, O primeiro verbo
da sequência é chamado de auxiliar e pode apresentar
Os verbos auxiliares formam os tempos compostos ou lo-
flexões (de tempo, modo e pessoa); o segundo é chamado
cuções verbais com os verbos principais:
de principal e assumirá alguma das formas nominais (in-
§ ser (pago); finitivo, gerúndio ou particípio).
§ estar (curado);
Exemplos:
§ ter (estudado);
Eu irei estudar mais tarde.
§ haver (prometido).
Ele está pensando que é adulto.
1.2.6. Verbos abundantes Estamos preocupados com a situação.
Os verbos abundantes apresentam mais de uma forma,
especificamente de particípio: 1.5. Modos verbais
Os modos verbais têm como objetivo indicar o “com-
§ cozido e cozinhado;
portamento” dos verbos em relação aos tempos (exce-
§ morto e morrido; to no modo imperativo, que será estudado na próxima
§ imprimido e impresso. aula). São os modos verbais que nos permitem saber
se tempo utilizado em uma sentença refere-se a uma
situação de certeza dos acontecimentos (modo indicati-
Os particípios abundantes são classificados em regula-
vo) ou incerteza dos acontecimentos (modo subjuntivo).
res e irregulares.
Vamos conhecê-los:
a) As formas regulares terminadas em –ado e –ido,
não contraídas, acompanham os verbos auxiliares
ter e haver.
1.5.1. Tempos do modo indicativo
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
24
Exemplo:
Em 1970, O Brasil vence a Copa do México
Exemplo:
Pode deixar, amanhã eu falo com o Roberto.
Exemplo:
Sempre viajamos com nossos pais para Aparecida do Norte
Exemplo:
A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.
Exemplo:
O gerente indicou um candidato para a vaga.
Exemplo:
O novo filme de Almodóvar tem agradado crítica e público.
25
b) Pretérito imperfeito: em sua designação mais comum, indica ação passada não encerrada, mas também apresenta
outras nuances de sentido. Vejamos:
Exemplo:
Ele caminhava quando o foi atingido por uma bicicleta.
Exemplo:
Enquanto existiram, as Lojas Arapuã abriam as portas às 10 horas.
Exemplo:
Pretendíamos ir à Bahia, mas os preços subiram muito.
Exemplo:
O avião já decolara quando o passageiro atrasado chegou.
Exemplo:
O avião já tinha / havia decolado quando o passageiro atrasado chegou.
Exemplo:
O medicamento estará disponível no mercado em setembro.
26
Exemplo:
Conseguirá o grande varejista manter-se no topo?
Exemplo:
Na África, quantos não estarão mortos de fome!
Exemplo:
Em dois anos, você terá terminado o seu mestrado.
b) Futuro do pretérito: indica ação futura que não se concretizará por conta de uma relação com fato passado. Sua
estrutura apresenta também alguns outros usos particulares que veremos a seguir:
Exemplo:
Eu participaria da São Silvestre se não tivesse torcido o tornozelo.
Exemplo:
O suspeito teria sido visto próximo à residência da vítima alguns dias antes.
Exemplo:
Poderia me passar os talheres, por gentileza?
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
27
1.5.2. Tempos do modo subjuntivo
O modo subjuntivo indica, em qualquer tempo que atue, nuances de incerteza (hipóteses, suposições, fatos duvidosos, etc.).
Sua adequada conjugação depende de algum elemento que, além de reafirmar a incerteza, contribua para a expressão verbal.
Não há a mesma quantidade de conjugações que vimos no modo indicativo. Trabalha-se, habitualmente, com
três: Presente, Pretérito Imperfeito e Futuro (há formas compostas, menos usadas, mas que também serão apresentadas).
Presente
Exemplo: Ainda que eu compre um novo carro, não sei se seria mesma coisa
Formas compostas
As formas compostas do subjuntivo também indicam nuances de incerteza e dependem de algum elemento de suporte
para realização da conjugação. São apenas três tempos utilizados: Pretérito perfeito composto, Pretérito mais-que-
-perfeito composto e Futuro composto. Vejamos:
Exemplo: É essencial que tenham discutido esse problema na reunião.
28
DIAGRAMA DE IDEIAS
MORFOLOGIA
VERBOS VOZES
MODOS
TEMPOS TEMPOS
• PRESENTE • PRESENTE
• PRETÉRITO • PRETÉRITO IMPERFEITO
PERFEITO • FUTURO
IMPERFEITO
MAIS-QUE-PERFEITO
• FUTURO
DO PRESENTE
DO PRETÉRITO
29
2. Vozes
As vozes verbais indicam o comportamento do sujeito (ati-
vo, passivo ou reflexivo) em relação ao verbo apresentado.
VERBOS: Vejamos alguns exemplo iniciais:
LC AULAS
7E8
§ João cortou-se com o machado.
O sujeito (João) é agente e também alvo da ação
de cortar. Portanto, o verbo está na voz reflexiva.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1e8 1, 2, 3 e 27 2.1. Voz ativa
Como vimos nos exemplos iniciais, na voz ativa, o sujeito da
construção pratica a ação verbal. Trata-se de uma estrutura
1. Modo imperativo que ocorre prioritariamente com verbos transitivos diretos
(VTD) ou a parte direta dos verbos bitransitivos (VTDI). Ve-
O modo imperativo manifesta ordem, conselho, súplica ou jamos a estrutura:
exortação do emissor e pode ser imperativo afirmativo ou
imperativo negativo.
§ Se beber, não dirija! Filomena comprou mais plantas.
vós comprais comprai vós* compreis vós estrutura preposicionada, chamada de agente da passiva.
vós compreis
(ainda que)
eles compram comprem vocês comprem vocês
eles comprem
Edson foi incentivado pelos colegas.
*As duas passagens do Presente do Indicativo para
o Imperativo Afirmativo implicam na perda do “S”
final que compõe a construção verbal.
30
2.3. Voz passiva (sintética) 2.4. Voz reflexiva
Temos um outro modelo de voz passiva em língua portu- A voz reflexiva, como vimos anteriormente, é um fenô-
guesa, conhecido como voz passiva sintética. Esse ou- meno em que sujeito pratica e sofre a ação realizada. É
tro modelo é originário de um fenômeno conhecido como estruturada a partir de um verbo pronominalizado (verbo
partícula apassivadora, resultado da junção de um verbo + pronomes “me”, “te”, “se”, “nos” e “vos”). Vejamos:
transitivo direto (VTD) + uma partícula “se”. Dessa junção,
surge um fenômeno que nos permite visualizar um sujeito
Exemplo:
“paciente” (que sofre a ação verbal). Vejamos a estrutura. Acidentalmente, ele se feriu com o aparelho.
Exemplo:
Consertam-se televisores. pronome reflexivo verbo
VIVENCIANDO
DIAGRAMA DE IDEIAS
MORFOLOGIA
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
VERBOS VOZES
• ATIVA
• PASSIVA
• REFLEXIVA
MODOS
AFIRMATIVO
NEGATIVO
31
ANOTAÇÕES
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VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
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32
ENTRE
LETRAS
INTERPRETAÇÃO
LINGUAGENS
DE TEXTOS
CÓDIGOS
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
Textos críticos e literários são colocados Uma vez que a interpretação não ocorre Conduz a interpretação de texto em
em discussão, de modo que não basta isolada, é preciso que o aluno repare nos paralelo aos textos literários, majorita-
reconhecer os recursos linguísticos. Por- contextos e nos recursos utilizados para riamente. Crônicas, poemas e pequenos
tanto, notar o contexto é essencial. alcançar os efeitos de sentido, identifi- trechos canônicos podem ser cobrados
cando-os e validando-os pelo vestibular, exigindo, do aluno, não
a leitura integral da obra, mas a capa-
cidade de análise e avaliação
do texto.
Questões que demandam do aluno o Saber ler não só as questões da frente de A interpretação de textos ocorre de ma- As questões de interpretação se tornam
conhecimento sobre os recursos linguís- Português, mas também as questões ge- neira direcionada, focada, sobretudo, aos bastante direcionadas. Conhecer os con-
ticos costumam aparecer, bem como uma rais, ainda que em linhas bastante curtas recursos linguísticos (como figuras de lin- ceitos por trás da produção dos textos
interpretação de texto basilar ao desen- e diretas, será um diferencial. Os recursos guagem e funções linguísticas). Trabalhar (literários ou não), será uma ferramenta
volvimento leitor. linguísticos ligados à produção de textos de forma atenta, lembrando e aplicando interessante para que o vestibulando
não devem ser esquecidos no momento os conceitos aprendidos em aula será possa atuar.
da leitura. fundamental.
UFMG
Alinha a interpretação de texto às obras Além de conhecer os recursos linguís- O exame CMMG é objetivo. Exige do
literárias que costuma exigir na sua lista ticos, é importante lembrar que uma candidato uma capacidade leitora funda-
obrigatória. O conhecimento sobre os re- leitura atenta pode render ao candidato mental, que demonstre aptidão em reco-
cursos literários adquiridos no estudo das pontos em questões não apenas na área nhecer os recursos linguísticos dentro das
obras será fundamental. de Português, mas nas variadas áreas do questões. Assim, lembrar e compreender
conhecimento. serão as duas principais habilidades tra-
balhadas por esse vestibular.
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Diversos gêneros textuais podem ser Ter em mente os conceitos de denotação Ler atentamente, tendo em vista as carac-
pedidos, de modo que conhecer os fun- e conotação renderá, ao aluno, um ponto terísticas dos principais recursos linguísti-
damentos da produção textual (figuras de de segurança na hora de iniciar a sua in- cos e dos variados gêneros textuais, é um
linguagem e funções da linguagem) pode terpretação. Lembrar que a interpretação bom modo de mergulhar na prova. Além
ser um diferencial. A prova conta ainda se liga ao contexto pode ser a chave para disso, saber interpretar o comando das
com textos literários, o que demanda a aprovação. questões se mostrará de grande ajuda.
uma interpretação de senti-
do conotativo.
34
§ Fática ou de contato: foco no canal de comunicação
ou a partir da abertura de contato (físico ou psicológi-
co) com terceiros;
§ Poética: foco nos modos de elaboração da mensagem
FUNÇÕES DA e do texto que a compõe;
§ Metaliguística: foco no código comunicativo (nas
LINGUAGEM I bases prévias de comunicação, sejam elas verbais ou
não verbais).
A partir dessas definições, Roman Jakobson propôs o se-
guinte sistema organizativo:
dos por seis funções da linguagem, que seriam determi- E nestes versos de angústia rouca,
nadas a partir de um “foco” (ou uma ênfase) que recai Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
em pontos específicos da mensagem observada. As fun-
ções seriam as seguintes: – Eu faço versos como quem morre.
§ Emotiva ou expressiva: foco no emissor, locutor ou Teresópolis, 1912.
enunciador (a pessoa que fala ou escreve); (Manuel Bandeira)
35
de maneira persuasiva, nos sentimentos do interlocutor. Nela indicação do governo americano, também ques-
prevalece a 2.ª pessoa do discurso (representada, em portu- tionado sobre a sua avaliação da ameaça iraquia-
guês, pelos pronomes tu e você). na, de que um inquérito pode ser aberto no país,
reforçou o argumento dos críticos de Blair. O Parti-
do Conservador britânico deverá apresentar nesta
semana uma moção pedindo a investigação.”
Fonte: Folha de S. Paulo - 02-02-2004
Exemplo:
“Aumenta a pressão sobre o primeiro-ministro
britânico, Tony Blair, para que ele permita uma in-
vestigação independente sobre os aparentes erros
dos seus serviços de inteligência no que se refere
às armas de destruição em massa do Iraque. A
36
DIAGRAMA DE IDEIAS
DESTINATÁRIO
EMISSOR LOCUTOR CANAL MENSAGEM
INTERLOCUTOR
CÓDIGO
Função referencial
Função metalinguística
CONTEXTO REFERENTE
37
“tudo certo?”; para manutenção comunicativa, existem
os marcadores conversacionais, que são usados para
“testar” o funcionamento do canal, como “né”, “en-
tendeu?”, “viu?”, “aí”, “tipo”, etc.; e, para fechamen-
to comunicativo, existem recursos de despedida, como
FUNÇÕES DA “tchau”, “adeus”, “até logo”, etc.
LC AULA
2
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
5 15, 16 e 17
1. Funções da linguagem
(continuação)
Nesta aula, as funções da linguagem de Roman Jakobson
continuarão a ser estudadas. Lembrando que, das seis exis-
tentes, três foram vistas na aula anterior. As três restantes
serão abordadas agora.
38
Trata-se de uma função que, para atingir seus objetivos, contemporâneo, ele estará usando o “código crônica”
manipula figuras de linguagem, trocadilhos e quebras ou para falar sobre crônica. Trata-se de um gesto também
distorções de sequências sintáticas. Parte-se do pressupos- metalinguístico (verbal).
to que todo o poema já é uma função poética. Não obs-
A função metalinguística é facilmente encontrada nas artes
tante, é possível encontrar tal função em prosas poéticas
em geral; e também em alguns textos instrucionais de de-
(como os textos de Guimarães Rosa, por exemplo), ou em
terminadas áreas, como os livros de língua portuguesa que
textos publicitários que manipulam trocadilhos nas mensa-
ensinam o que é a língua portuguesa, caracterizando-se
gens de suas propagandas.
como instrumentos que operam uma metalinguagem.
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
Preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
39
§ uso frequente da omissão de palavras;
Exemplo:
Eu vou com minha mãe e com meu pai; empresta
VARIAÇÃO o seu caderno?
§ formas contraídas;
LINGUÍSTICA I
Exemplo:
prof, med, refri, facul
§ afastamento das regras gramaticais;
LC AULA
3
Exemplo:
Eu vi ele.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) § possibilidade de adequar o discurso de acordo com as
5 15, 16 e 17 reações dos ouvintes.
b. Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de
acentuação para exprimir os recursos rítmicos e melódicos
40
1.4. Variação diacrônica
Também conhecida como variação histórica, ocorre quan-
do percebemos que a linguagem apresenta variações de
acordo com o tempo em que ela é operada. Parte-se do
pressuposto que a linguagem é um sistema vivo, constan-
temente mutável, e que seu uso apresenta variações em
três âmbitos:
§ na passagem entre gerações (avós, pais e filhos que uti-
lizam linguagens diferentes);
§ na evolução tecnológica (as novas tecnologias fazem
com que as pessoas passem a utilizar novos termos
linguísticos);
§ nos textos arcaicos (textos que, mesmo pertencendo a
nosso idioma, nos trazem certa dificuldade de compre-
ensão pelo fato de estarem muito afastados temporal-
mente. Um exemplo disso seria o texto Auto da barca
do inferno, de Gil Vicente, que por estar escrito em por-
tuguês medieval, apresenta muitas diferenças fonológi-
cas em relação ao português contemporâneo).
41
§ A linguagem escrita costuma ser entendida como um
sistema normalmente organizado, em que, por mais que
pensemos, por exemplo, em repetições de alguma pa-
lavra, efetivamente elas não se materializam na escrita.
Além disso, ao produzir um texto, costumamos organizar
VARIAÇÃO como vamos distribuir certas informações (parágrafos de
LC AULA
4
linguística, especialmente as regionais (envolvendo diale-
tos, socioletos, regionalismos, gírias e sotaques). Também
é gerado em menor grau pelos outros tipos de variação.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
O preconceito linguístico tem sido muito praticado na atu-
5 15, 16 e 17
alidade (de modo voluntário e involuntário), sendo forte
marcador de exclusão social.
Na obra Preconceito linguístico: o que é, como se faz (1999),
1. Variação linguística o professor, linguista e filólogo Marcos Bagno aborda sobre
os diversos aspectos da língua, especialmente o preconceito
(continuação) linguístico e suas implicações sociais.
Nessa aula, continuaremos a estudar as variações linguísticas. Segundo ele não existe uma forma “certa“ ou “errada“
dos usos da língua e que o preconceito linguístico, gerado
1.1. Variação diafásica pela ideia de que existe uma única língua correta (baseada
na gramática normativa), colabora com a prática da exclu-
Também conhecida como variação situacional, ocorre quan- são social. No entanto, devemos lembrar que a língua é
do percebemos que a linguagem apresenta variações de mutável e vai se adaptando ao longo do tempo de acordo
acordo com o contexto/situação em que ela é usada. É veri- com ações dos falantes.
ficável quando um indivíduo, adaptado a um tipo de uso lin-
Além disso, as regras da língua, determinada pela gramá-
guístico, é obrigado a fazer uma alteração momentânea em
tica normativa, não inclui expressões populares e variações
seu registro por conta de uma situação de mundo específica.
linguísticas, por exemplo as gírias, regionalismos, dialetos,
Por exemplo, alguém que use muitas gírias em seu dia a dia
dentre outros.
(registro informal) e que é obrigado a usar um registro mais
formal por conta de uma entrevista de emprego.
42
ENTRE
LETRAS
LITERATURA
LINGUAGENS
CÓDIGOS
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
Como o Enem não possui uma lista A maior parte das questões de literatura
obrigatória de livros, as questões con- se refere às obras de leitura obrigató-
templam o conhecimento acerca dos di- ria. Neste livro, encontram-se algumas
ferentes gêneros literários e das escolas questões de anos anteriores sobre o
literárias, bem como de seus principais Humanismo, bem como sobre gêneros
representantes. literários e as estéticas medieval e qui-
nhentista.
A maior parte das questões de literatura As questões da UNIFESP contemplam o Como a Unesp não possui uma lista obri-
da Unicamp se refere às obras de leitura conhecimento das escolas literárias, bem gatória de livros, as questões contemplam
obrigatória. Neste livro, encontram-se como de seus principais representantes. o conhecimento das escolas literárias,
algumas questões de anos anteriores Neste livro, estão presentes questões so- bem como de seus principais representan-
sobre Humanismo e Classicismo, bem bre gêneros literários, Trovadorismo, Hu- tes. Neste livro, estão presentes questões
como sobre gêneros literários e as es- manismo, Classicismo e Quinhentismo. sobre gêneros literários, Trovadorismo,
téticas medieval, clássica e Humanismo, Classicismo e
quinhentista. Quinhentismo.
A prova em questão exige seus conhe- A maior parte das questões de literatura Como a PUC-Camp não possui uma lista A prova da Santa Casa exige seus conhe-
cimentos acerca dos gêneros literários se refere às obras de leitura obrigatória. obrigatória de livros, as questões con- cimentos acerca dos gêneros literários
e dos movimentos literários no Brasil e Neste livro, encontram-se algumas ques- templam o conhecimento acerca dos di- e dos movimentos literários no Brasil e
em Portugal. Neste livro, estão presentes tões de anos anteriores sobre gêneros ferentes gêneros literários e das escolas em Portugal. Neste livro, estão presentes
questões sobre gêneros literários, Tro- literários e as estéticas medieval, clássica literárias, bem como de seus principais questões sobre gêneros literários, Tro-
vadorismo, Humanismo, Classicismo e e quinhentista. representantes. vadorismo, Humanismo, Classicismo e
Quinhentismo. Quinhentismo.
UFMG
Estão presentes questões sobre gêneros A maior parte das questões de literatu- A maior parte das questões de literatura
literários, Trovadorismo, Humanismo, ra da UFPR se refere às obras de leitura se refere às obras de leitura obrigatória.
Classicismo e Quinhentismo. obrigatória. Neste livro, estão presentes Neste livro, encontram-se algumas ques-
questões sobre gêneros literários, Tro- tões sobre gêneros literários e as esté-
vadorismo, Humanismo, Classicismo e ticas medieval, clássica e quinhentista.
Quinhentismo.
O vestibular da Uerj não exige os con- Como a Ungranrio não possui uma lista A Souza Marques exige seus conheci-
teúdos contidos neste livro, exceto os das obrigatória de livros, as questões con- mentos acerca dos gêneros literários e
aulas 1 e 2. templam o conhecimento acerca dos di- dos movimentos literários brasileiros.
ferentes gêneros literários e das escolas Neste livro, estão presentes questões so-
literárias, bem como de seus principais bre gêneros literários e sobre a estética
representantes. quinhentista.
apresentada seja consideravelmente rasa, ela possui seu
fundo de verdade, já que esboça dois lados dessa relação:
expressão e técnica. A arte, assim, pode ser entendida
como uma forma de representação da realidade (feita a
FUNDAMENTOS PARA ressalva de que essa realidade, é claro, sempre perpassa
a maneira como cada indivíduo percebe e experimenta o
O ESTUDO LITERÁRIO: mundo). Por conta disso, a arte costuma ser conjugada,
ARTE E TÉCNICA também, com o conceito de mimesis.
Na Antiguidade Clássica, tanto Platão como Aristóteles tra-
balhariam para o desenvolvimento do conceito. Primeiro,
Platão o tenta definir como uma forma de discussão acerca
do que se extrai do mundo das ideias. Contudo, é só com a
LC AULAS
1E2
famosa Poética de Aristóteles que o termo ganha força ao
ser apresentado como imitação / emulação da realidade.
Nesse mesmo livro, Aristóteles associa o conceito à Lite-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) ratura, observando que as diferentes formas de expressão
5 15, 16 e 17 literária tendiam a mimetizar a realidade a partir de dife-
rentes perspectivas.
A imitação (mimese) de uma ação é o mito (fábula)...
A parte mais importante é a da organização dos fatos,
1. Arte: representação pois a tragédia é a imitação, não de homens, mas de
ações, da vida, da felicidade e da infelicidade (pois a
e resistência infelicidade resulta também da atividade)... Daí resulta
serem os atos e a fábula a finalidade da tragédia. Sem
“A literatura é uma transfiguração da realidade”
ação, não há tragédia.
– Antonio Candido
(ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Antônio Carvalho.
São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1959.)
45
O direito à literatura 1.1. A prosa
Antonio Candido (1918 – 2017) foi um importante so- A prosa é uma das duas formas mais comuns da manifes-
ciólogo e crítico literário do Brasil. Seu nome ecoa forte até tação literária. Normalmente, é oposta à poesia pela ma-
os dias hojes no que tange à área da Literatura, da Edu- neira como se estrutura, já que apresenta o que chamamos
cação e do que fizer do ser humano ainda mais humano. de “texto corrido”, organizado da esquerda pela direita.
Seu famoso texto Direito à Literatura norteia as percepções Nela, costuma imperar a narrativa, isto é, o uso de deter-
contemporâneas do que envolve a ideia de Arte. minada referencialidade para organizar eventos dentro de
“a literatura tem sido um instrumento poderoso de determinado tempo e espaço – fictícios ou não.
instrução e educação, entrando nos currículos, sendo Biografias, resenhas, resumos, textos ficcionais, contratos, en-
proposta a cada um como equipamento intelectual e tre outros gêneros textuais, são exemplos de textos em pro-
afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que
sa. Os textos em prosa considerados literários são, portanto,
considera prejudiciais, estão presentes nas diversas ma-
aqueles em que há uma preocupação com o valor artístico
nifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A
literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e do material, a exemplo dos romances de Machado de Assis
combate, fornecendo a possibilidade de vivermos diale- ou, contemporaneamente, os contos de Jarid Arraes.
ticamente os problemas.”
(CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In.: “Vários escritos”. 1.2. A poesia
3ª ed.. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.)
A poesia, nome que deriva do termo grego poiesis e que
Para ele, a arte de escrever é um elemento a ser encara- significa criar, é um dos modos de constituição literária. An-
do como um potencial humanizador, isso porque o seu terior à prosa, a poesia sempre adequou-se ao longo do
produto final não apenas concatena os valores de uma tempo à lógica dos versos, das estrofes e da musicalidade.
sociedade, mas também, cristaliza as contradições desse Na poesia, há uma grande força sobre cada uma das pa-
mesmo núcleo no qual se insere. Assim, a literatura passa lavras que a compõe, por isso ela faz-se valer de rimas, de
a atuar como direito, já que é direito, previsto na DUDH rompimentos com a lógica padrão de uso da língua.
(Declaração Universal dos Direitos Humanos), o indivíduo
Nesse sentido, analisar um poema é, também, em alguma
ter acesso a meios que o permitam se posicionar e se reco-
medida, romper com o modo padrão de organização da
nhecer no mundo; ciente de si, daqueles que o cercam e do língua. Em um poema, a polissemia, as figuras de lingua-
contexto que o engloba. gem, a musicalidade, o tempo de leitura, tudo que pode ter
Para tanto, é preciso que entendamos que a literatura tem a ver com a linguagem é bastante explorado.
como matéria-prima a linguagem e que esta é a nossa Catar feijão
capacidade de produzir significação dentro de uma deter-
minada língua. Uma metáfora que auxilia no entendimen- 1.
Catar feijão se limita com escrever:
to da questão é proposta por Roland Barthes, na medida Jogam-se os grãos na água do alguidar
que em sua concepção a língua e suas regras é por si só E as palavras na folha de papel;
tanto instrumento necessário a nossa comunicação como e depois, joga-se fora o que boiar.
preconizadora de uma realidade opressora, na medida em Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
que estabelece um modo de ver o mundo quase sempre
pois catar esse feijão, soprar nele,
utilitarista e fomentador das desigualdades sociais e da
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
46
O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados Teoria dos gêneros. Trata-se, pois, de perceber características
(orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos in- cruciais a cada uma dessas formas, analisando como elas
tegrantes desse ou daquele campo da atividade huma-
permaneceram e/ou se desdobraram em tantas outras nas
na. Esses enunciados refletem as condições específicas
e as finalidades de cada referido campo não só por seu formas mais modernas da arte literária. Afinal, quando Aris-
conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, tóteles propôs tal organização, apenas os textos em versos
pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gra- eram conhecidos.
maticais da língua mas, acima de tudo, por sua constru-
ção composicional.[...] Evidentemente, cada enunciado
particular é individual, mas cada campo de utilização da
língua elabora seu tipos relativamente estáveis de enun-
ciados, os quais denominamos gêneros do discurso.
(BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso)
47
metáforas, e o ritmo, a partir das rimas, por exemplo, são
A estrutura do poema épico elementos que ajudam a nortear a análise desses textos.
É dividido em partes, chamadas cantos, que, por sua
1.3.2.1. O ritmo do poema
vez, são divididos em:
Podemos entender como ritmo a sucessão de tempos for-
§ Proposição: O texto apresenta o tema e o herói.
tes e fracos em determinado verso, poema ou canção. Na
§ Invocação: O texto pede inspiração à musa (divin- literatura, esse ritmo, contudo, passa a ganhar uma maior
dade inspiradora da poesia). significação, na medida que atua como elemento constitu-
§ Narração: Narração das aventuras do herói. tivo do texto.
§ Conclusão ou Epílogo: Encerramento das aventu- As rimas são caracterizadas normalmente como um dos
ras e conclusão dos feitos heroicos. principais fatores que corroboram para a rítmica do poe-
ma. Elas são, por definição, a repetição de sons ao final de
dois ou mais versos. É claro que isso não implica que todo
1.3.1.1. A narrativa poema possua uma rima, ou que elas estejam sempre ao
final do verso, há quem classifique os sons fortes do verso
O gênero épico dá origem às formas narrativas mais co-
como rimas internas. Assim, quando as rimas acontecem
nhecidas, como o conto, a novela, a crônica e, é claro, o
ao final do verso, são chamadas de rimas externas, quando
romance. Todos esses gêneros têm em comum o seu cará-
dentro do verso, rimas internas. Vejamos alguns exemplos
ter narrativo, isto é, a organização de fatos que se sucedem
e classificações para as rimas:
dentro de um tempo-espaço específico.
“A narrativa está presente em todos os tempos, em to- Tipos de rimas
dos os lugares, em todas as sociedades, começa com a § Ricas – entre palavras de classes gramaticais diferentes:
própria história da humanidade. (...) é fruto do gênio do
narrador ou possui em comum com outras narrativas Cristina e ensina
uma estrutura acessível à análise”.
§ Pobres – entre palavras de mesma classe gramatical:
– BARTHES, Roland. A aventura semiológica, pp. 103-104.
Precisava esconder sua afeição...
A narrativa fará sempre parte das sociedades e, por isso,
é importante instrumento não apenas de análise formal a Na Idade Média, uma imortal paixão
respeito dos seus aspectos literários, mas como matéria- § Toantes – entre sons vocálicos repetidos:
-prima para compreensão de mundo.
hora e bola; saltava e mata
1.3.2. O gênero lírico § Aliterantes – entre sons consonantais idênticos ou
semelhantes:
O gênero lírico surge, também, na Grécia Antiga. Trata-se
de poemas que eram declamados, normalmente, acompa- vozes, veladas, veludosas, vozes
nhados pela lira, instrumento musical, concatenando as-
sim, em uma primeira camada, dois importantes elemen- vagam nos velhos vórtices velozes
tos: o som e a imagem. § Consoantes – entre sons e letras repetidos:
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
48
§ Preciosas – entre palavras combinadas: § Dissílabos – duas sílabas:
múmia e resume-a; réstea e veste-a; Tu,/ on/tem
na/ dan/ça
águia e alague-a; estrela e vê-la que/ can/sa
§ Versos brancos – verso sem rimas. vo/a/vas
com as/ fa/ces
Disposição das rimas no poema em/ ro/sas
for/mo/sas
§ Mistas – sem posição regular:
de/ vi/vo
De uma, eu sei, entretanto 1,
car/mim
Que cheguei a estimar 2
Por ser tão desgraçada 3! (Casimiro de Abreu)
Tive-a hospedada 3 a um canto 1 § Trissílabos – três sílabas:
Do pequeno jardim 4; Vem/ a au/ro/ra
Era toda riscada 3 pre/ssu/ro/sa
De um traço cor de mar 2 cor/ de/ ro/sa
E um traço carmesim 4. que/ se/co/ra
(Alberto de Oliveira) de/ car/mim
as/ es/tre/las
§ Emparelhadas (AABB): que e/ram/ be/las
No rio caudaloso que a solidão retalha A, têm/ des/mai/os
na funda correnteza na límpida toalha A,
já/ por/ fim
deslizam mansamente as garças alvejantes B;
(Gonçalves Dias)
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes B...
(Fagundes Varela) § Tetrassílabos – quatro sílabas:
O in/ver/no/ bra/da
§ Interpoladas ou opostas (ABBA): for/çan/do as/ por/tas
Mais de mil anos-luz já separado A, Oh!/ Que/ re/voa/da
Naquela hora, do meu pensamento B. de/ fo/lhas/ mor/tas
O filme de uma vida, ínfimo momento B, o/ ven/to es/pa/lha
O derradeiro instante havia impregnado A. por/ so/bre o/ chão/...
(Alphonsus de Guimarães)
§ Alternadas ou cruzadas (ABAB):
Amor, essência da vida A, § Pentassílabos ou redondilha menor – cinco sílabas:
é uma expressão de Deus B. Meu/ can/to/ de/ mor/te,
Alma, não fique perdida A! Gue/rrei/ros/ ou/vi
Ele luz os dias seus B. Sou/ fi/lho/ das/ sel/vas
Nas/ sel/vas/ cres/ci;
1.3.2.2. A sílaba poética Gue/rrei/ros/ des/cen/do
Da/ tri/bo/ tupi
A sílaba poética dialoga com o que chamamos de métrica (Gonçalves Dias)
do poema. É importante estabelecer que elas são diferentes
das sílabas gramaticais, já que sua divisão não se atenta à § Hexassílabos – seis sílabas:
E o/ ca/va/lei/ro/ pa/ssa
morfologia, mas à fonologia. Em outras palavras, a sílaba é
an/te a/ som/bria/ por/ta
contada a partir das unidades sonoras do verso. Além disso, da/ lú/gu/bre/ des/gra/ça
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
a contagem vai apenas até a última sílaba tônica do verso. (Alphonsus de Guimarães)
A partir dessa contagem, os poemas são classificados pelo § Heptassílabos ou redondilha maior – sete sílabas:
seu número de sílabas. Assim, quando você ouve que um An/tes/ de a/mar,/ eu/ di/zi/a
poema apresenta uma métrica decassílaba, estamos nos pa/ra/ cor/tar/ na/ ra/iz
referindo a um poema com versos de 10 (dez) sílabas poé- es/ta/ cons/tan/te a/go/ni/a
ticas. Vejamos alguns exemplos: pre/ci/so a/mar/ al/gum/ di/a
a/man/do,/ se/rei/ fe/liz.
As diferentes métricas que o poema pode assumir (Menotti del Picchia)
§ Monossílabos – uma única sílaba: § Octossílabos – oito sílabas:
Ru/a No ar/ so/sse/ga/do, um/ si/no/ can/ta
tor/ta Um/ si/no/ can/ta/ no ar/ som/bri/o
Lu/a
(Olavo Bilac)
mor/ta
Tu/a § Eneassílabos – nove sílabas:
por/ta Ó/ gue/rrei/ros/ da/ ta/ba sa/gra/da,
49
Ó/ gue/rrei/ros/ da/ tri/bo tu/pi nada / Nunca serei nada / Não posso querer ser nada / À
Fa/lam/ deu/ses/ nos/ can/tos/ do/ Pia/ga! parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Os
Ó/ gue/rrei/ros,/ meus/ can/tos/ ou/vi! versos, extraídos do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa,
(Gonçalves Dias) estão separados por vírgulas, já que foram realocados den-
§ Decassílabos ou Medida Nova – dez sílabas: tro do texto corrido. Além disso, lembre-se de que quando
A/mo/-te, ó/ cruz, /no/ vér/ti/ce/ fir/ma/da um verso é muito longo para uma página, ele deve ser des-
(Alexandre Herculano) locado para a linha seguinte e indicado com um recuo e/ou
§ Hendecassílabos – onze sílabas: um sinal gráfico, como o [ (colchete).
Não/ te/nho/ na/da/ com i/sso/ nem/ vem/ fa/lar Além do soneto, outros nomes que você encontrará nos
Eu/ não/ con/si/go en/ten/der/ sua/ ló/gi/ca
seus estudos serão: a trova, o vilancete, a esparsa, a ode
Mi/nha/ pa/la/vra/ can/ta/da/ po/de es/pan/tar
E a/ seus/ ou/vi/dos/ pa/re/cer/ e/xó/ti/ca. etc. Essas outras formas, por vezes, são classificadas como
subgêneros poéticos, já que costumam ser usadas em con-
(Caetano Veloso)
textos específicos. A ode, como poema de glória, a Elegia,
§ Dodecassílabos ou Alexandrinos – doze sílabas: como um poema triste ou fúnebre, entre outros. Cada qual,
A/ ca/sa/ que/ foi/ mi/nha,/ ho/je é/ ca/sa/ de/ Deus.
Traz/ no/ topo u/ma/ cruz./ A/li/ vi/vi/ com os/ meus
irá seguir as suas respectivas normas no que tange a métri-
ca, a versificação e a estrofação.
(Aberto de Oliveira)
§ Bárbaros – mais de doze sílabas: Vejamos alguns exemplos:
Nun/ca /co/nhe/ci /quem/ ti/ve/sse/ le/va/do/ po/rra/da. § Soneto – forma lírica bastante conhecida, é composta
To/dos os/ meus/ co/nhe/ci/dos/ têm/ si/do/ cam/pe/ões/
de catorze versos, com dois quartetos e dois tercetos.
em/ tudo.
(Fernando Pessoa) Soneto da fidelidade
(Vinicius de Moraes)
Ressalta-se, ainda, que um poema sem métrica, isto é, com
De tudo ao meu amor serei atento
versos de métrica irregular, é comumente conhecido como Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
um verso livre. Que mesmo em face do maior encanto
II. Dele se encante mais meu pensamento.
Você não diz porém o vosso corpo está delindo no ar, Quero vivê-lo em cada vão momento
Você apenas esconde os olhos no meu braço e encontra a E em seu louvor hei de espalhar meu canto
paz na escuridão. E rir meu riso e derramar meu pranto
A noite se esvai lá fora serena sobre os telhados, Ao seu pesar ou seu contentamento
Enquanto o nosso par aguarda, soleníssimo, E assim, quando mais tarde me procure
Radiando luz, nesse esplendor dos que não sabem mais pra Quem sabe a morte, angústia de quem vive
onde ir. Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
(Mário de Andrade. “Girassol da madrugada”) Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
1.3.2.3. A forma poética
§ Elegia – poema em tom triste e fúnebre originado na
Durante seus estudos pela história da Literatura você verá Grécia antiga. Caracterizam as digressões moralizan-
que a forma poética bastante se altera, afinal, o número de tes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar
versos, o número de estrofes, o número de sílabas poéticas
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
50
Nesta hora inútil, apagada e extrema? Oh pequeno
Os heróis resplandecem a distância imperador sem orbe,
Num passado impossível de se ver conquistador sem pátria,
Com os olhos da fé ou os da ância. mínimo tigre de salão, nupcial
Lembramos névoa, sombras a esquecer. sultão do céu
Que crime outrora feito, que pecado das telhas eróticas,
Nos impôs esta estéril provação o vento do amor
Que é indistintamente nosso fado na intempérie
Como o pressente nosso coração? reclamas
(...) quando passas
Como – longínquo sopro altivo e humano! – e pousas
Essa tarde monótona e serena quatro pés delicados
Em que, ao morrer, o imperador romano no solo,
Disse: Fui tudo, nada vale a pena. cheirando, desconfiando
de todo o terrestre,
§ Ode – poema lírico de exaltação e homenagem, tam- porque tudo
bém originado na Grécia antiga, destinado ao canto. é imundo
Composto de estrofes e de versos iguais em tom ale- para o imaculado pé do gato.
gre, entusiástico e de louvação. Oh fera independente
da casa, arrogante
Ode do gato vestígio da noite,
(Pablo Neruda) preguiçoso, ginástico
Os animais foram e alheio,
imperfeitos, profundíssimo gato,
polícia secreta
compridos de rabo, tristes
dos quartos,
de cabeça.
insígnia
Pouco a pouco se foram
de um desaparecido veludo,
compondo,
certamente não há
fazendo-se paisagem,
enigma na tua maneira,
adquirindo pintas, graça voo.
talvez não sejas mistério,
O gato,
todo o mundo sabe de ti e pertences
só o gato
ao habitante menos misterioso
apareceu completo
talvez todos o acreditem,
e orgulhoso: todos se acreditem donos,
nasceu completamente terminado, proprietários, tios
anda sozinho e sabe o que quer. de gato, companheiros,
O homem quer ser peixe e pássaro, colegas,
a serpente quisera ter asas, discípulos ou amigos do seu gato.
o cachorro é um leão desorientado, Eu não.
o engenheiro quer ser poeta, Eu não subscrevo.
a mosca estuda para andorinha, Eu não conheço o gato.
o poeta trata de imitar a mosca, Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
mas o gato o mar e a cidade incalculável,
quer ser só gato a botânica
e todo gato é gato o gineceu com os seus extravios,
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
51
A beleza, é em nós que ela existe. O texto dramático traz algumas características marcantes,
A beleza é um conceito. como a sua estruturação por meio do diálogo, realizado
E a beleza é triste. em discurso direto. No texto teatral, não há um narrador
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
a relatar fatos, o tempo é dado no diálogo e nas ações
O que eu adoro em ti, das personagens. Além disso, o texto conta ainda com as
Não é a tua inteligência. rubricas, notações do dramaturgo, normalmente em itálico,
Não é o teu espírito sutil, com direcionamentos para o autor ou para a composição
Tão ágil, tão luminoso, da cena. Esse elemento deixa bem clara a noção de que no
– Ave solta no céu matinal da montanha. teatro a relação entre o palco e o espectador é constante-
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
mente pensada.
O que eu adoro em ti, O gênero dramático expõe dois subgêneros principais em
Não é a tua graça musical, sua gênese: a tragédia e a comédia.
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
§ Écloga – poema ambientado no campo, pastoril e bu-
cólico. 1.3.3.1. A tragédia
Écloga IV (v. 52-59) A tragédia é uma forma dramática marcada pelo enfren-
tamento do indivíduo em relação a questões superiores
Vê como, com os séculos por vir, tudo se alegra.
A última parte desta vida seja-me tão longa,
ao seu próprio entendimento: os deuses ou o destino. Traz
que para dizer os feitos não me falte alento! como característica o final destrutivo e irremediável, no in-
O trácio Orfeu não poderá vencer-me nestes cantos, tuito de provocar no espectador a catarse e o assombro.
nem Lino, ainda que a Orfeu a mãe Calíope socorra Em sua essência, a tragédia aborda personagens de classes
e por seu turno a Lino dê assistência o belo Apolo. sociais ou homens superiores (heróis), pressupondo serie-
Se competir comigo o próprio Pã, por juiz a Arcádia, dade, já que as comédias são, normalmente, vinculadas às
dar-se-á por vencido o próprio Pã, por juiz a Arcádia. classes sociais inferiores.
52
DIAGRAMA DE IDEIAS
TEORIA DOS
GÊNEROS
53
conjunto de práticas e relações sociais que moldaram a
concepção de indivíduo e sociedade sob o manto de um
pensamento teocêntrico. É, nesse contexto, afinal, que tem
início o que consideramos como o primórdio da literatura
em língua portuguesa.
TROVADORISMO
E HUMANISMO 1.1. Nasce Portugal
A nação portuguesa começa a se consolidar a partir de
1128, quando D. Afonso Henriques enfrenta uma luta pelo
trono e sai vitorioso. O mesmo homem, anos mais tarde, iria
se proclamar o primeiro rei de Portugal, como Afonso I, inau-
gurando a dinastia de Borgonha. Centena de anos depois,
LC AULAS
3E4
a Revolução de Avis ajudaria a consolidar a história do país.
Portugal, assim, emerge na Península Ibérica e, consequen-
temente, uma língua comum passa a ajudar a modelar o
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
pequeno país situado entre a Espanha (e o restante da Eu-
5 15, 16 e 17
ropa) e o continente Africano para além do mediterrâneo.
Nesse momento, o modo de organização do trabalho é o
feudalismo, a Igreja católica possui forte influência na so-
1. Trovadorismo: ciedade e o teocentrismo impera como corrente do pensar.
54
Cantiga da Ribeirinha Cantiga da Ribeirinha (tradução)
No mundo non me sei parelha, Não há no mundo ninguém que se compare
mentre me for’ como me vay, a mim em infelicidade, enquanto a minha vida
ca já moiro por vos e ay! continuar assim, porque morro por vós e, ai,
mia senhor branca e vermelha, minha senhora branca e de faces rosadas,
queredes que vos retraya quereis que vos retrate quando vos vi sem manto.
quando vus eu vi em saya! Mau dia foi esse em que me levantei,
Mao dia me levantei porque vos vi tão bela! [ou seja: melhor seria
que vus enton non vi fea! se vos tivesse visto feia].
E, mia senhor, des aquel di’, jay! E, minha senhora, desde aquele dia, ai,
me foi a mi muyn mal, tudo para mim foi muito mal,
e vos, filha de don Paay
mas vós, filha D. Paio
Moniz, e ben vus semelha
Moniz, parece-vos muito bem que eu tenha
d’aver eu por vós guarvaya
e vós uma garvaia [manto de luxo] quando
pois eu, mia senhor, d’alfaya
nunca de vos ouve nem ei nunca recebi de vós o simples
valia dua correa. valor de uma correia.
(Paio Soares de Taveiros)
55
2. Cantigas Trovadorescas
As cantigas trovadorescas são divididas em categorias
dentro do gênero: as cantigas líricas e as satíricas. O pri-
meiro tipo (líricas) corresponde às cantigas que tem como
temática os sentimentos, em especial, o amor e a saudade.
Já as cantigas satíricas são textos com caráter cômico e crí-
tico, a categoria apresenta, ainda, duas subclassificações,
as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.
Cantigas
Satíricas Líricas
56
Esses que veem tristemente Vós perguntais pelo vosso namorado?
desamparada sua paixão E eu bem vos digo que está são e vivo:
querendo morrer, loucos estão. Ai, Deus, onde está?
Minha fortuna não é diferente; Vós perguntais pelo vosso amado?
porém eu digo constantemente: E eu bem vos digo que está vivo e são.
vivendo assim eu quero estar Ai, Deus, onde está?
e esperar e esperar! E eu bem vos digo que está são e vivo
e estará convosco antes do prazo combinado:
Ai, Deus, onde está?
2.1.2.Cantigas de Amigo E eu bem vos digo que está vivo e são
§ Apresentam um eu lírico feminino; e estará convosco antes de terminar o prazo:
Ai, Deus, onde está?
§ Cantam a saudade/desejo do amigo (levam a crer que
a relação amorosa acontece e/ou aconteceu);
§ O amigo corresponde ao namorado ou amado;
§ Trazem uma estrutura simples, de refrões e paralelismo;
§ Dialogam com o espaço social destinado à mulher.
Cantiga de amigo
– Ai flores, ai flores do verde piño, multimídia: site
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo, https://cantigas.fcsh.unl.pt/
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo, 2.2. Cantigas Satíricas
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é? As cantigas satíricas criticam os comportamentos sociais
Se sabedes novas do meu amado, da época, fazendo uso do humor e do vocabulário de baixo
aquel que mentiu do que mi á jurado? calão para denunciar as ações dos nobres e das damas.
Ai, Deus, e u é?
– Vós me perguntades pelo voss’ amigo?
E eu ben vos digo que é san’e vivo
2.2.1. Cantigas de Escárnio
Ai, Deus, e u é?
Vós me perguntades pelo voss’ amado?
E eu ben vos digo que é viv’ e sano:
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san’e vivo,
e será vosc’ant’o prazo saído.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv’e sano,
e será vosc’ant’o prazo passado.
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Ai, Deus, e u é?
(Dom Dinis)
57
3. As novelas de cavalaria
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Cruzada - Direção: Ridley Scott - 2005
Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que
guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe
a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que
é também um conceituado barão do rei de Jerusalém e
dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa.
As novelas de cavalaria surgem como narrativas que, de-
rivadas do gênero épico, passam a compor o imaginário
medieval. Trata-se das novelas de reis e rainhas, condes e
princesas, e costumam ser divididas em ciclos e temas.
4. Humanismo: um
Por serem longos poemas, as novelas de cavalaria, quando período de transição
a cultura escrita começa a emergir, passam a ser escritas
em prosa. Portugal, França e Inglaterra tiveram grande in-
fluência dessas narrativas.
§ Ciclo Bretão (ou Arturiano): ciclo inglês, são as
narrativas mais famosas, envolvendo o Rei Arthur e os
cavaleiros da távola redonda.
§ Ciclo Carolíngio: ciclo francês, são menos conheci-
das, Carlos Magno e seus cavaleiros são os heróis da
narrativa.
§ Ciclo Clássico (ou Greco-Latino): ciclo da Anti-
guidade, narram eventos como a Guerra de Tróia e as
aventuras de Alexandre, o Grande. DORÉ, Gustave. Demônios confrontando Dante e Virgílio. Ilustração
para o livro A divina Comédia (Inferno), de Dante Alighieri,
publicado em 1885 – Biblioteca de Artes Decorativas (Paris,
França). A ilustração reflete a confiança dos humanistas. Dante
e Virgílio enfrentam os demônios por meio da razão, que os ajuda
a afastar as “trevas” do pensamento vinculado à Idade Média.
58
Desse modo, por toda a Europa transformações nos modos A importância de Fernão Lopes para a história da prosa
de produção da arte começam a aparecer. O Humanismo, é enorme. Assumindo a função de cronista-mor do reino,
assim, caracteriza-se por concentrar produções em um após alguns anos de trabalho na Torre do Tombo, o cro-
momento anterior ao estabelecimento da Idade Moderna, nista passa a ser responsável por notar o cotidiano das
mas que já assinalava a queda do feudalismo. Os mecenas, práticas reais e da sociedade portuguesa. Distanciando-se
patrocinadores da arte, e a expansão marítima portuguesa do clero, Fernão Lopes irá narrar as suas crônicas com uma
são importantes fatores do período. verossimilhança maior em relação à realidade.
Fernão Lopes, assim, contribuiu para o desenvolvimento
de uma visão de mundo antropocêntrica, tornando-se um
marco para a prosa portuguesa. O cronista tem como obra:
§ Crônica de El-Rei D. Pedro I: narra os eventos acon-
tecidos durante o reinado de D. Pedro I. É nesse volume
que encontra-se o famoso episódio da morte de Inês
de Castro (retomado no épico de Camões Os Lusíadas).
§ Crônica de El-Rei D. Fernando: reconstitui o reina-
do de D. Fernando a partir de seu casamento com Leo-
nor Teles. Encerra-se com a Revolução de Avis.
Lucca – Burgo (Itália)
§ Crônica de El-Rei D. João: narrativa dividida em
duas partes. Na primeira parte, iniciada na morte de
4.1. Produção literária portuguesa D. Fernando (1383), narra-se a revolução que leva D.
Posteriormente à Revolução de Avis (1383-1385), Portugal João ao trono de Portugal. A segunda parte descreve o
passou a acumular poder e riquezas, investindo não ape- reinado de D. João.
nas na expansão marítima, mas também na consolidação
cultural da sua nação. Assim, em 1418 é fundada a Torre 4.1.2. Garcia Resende: poesia palaciana
do Tombo, importante centro de arquivos históricos da na- A poesia palaciana representa uma desvinculação às raízes
ção portuguesa. das cantigas trovadorescas. Desse modo, a tradição oral pas-
Irão se destacar nesse período as produções de Fernão Lo- sa a dar lugar à tradição escrita, a cantiga falada, torna-se
pes, um dos cronistas-mor a trabalhar na Torre do Tombo; poesia, escrita – ainda que com o intuito da declamação.
a poesia de Garcia Resende, que passa a desvincular-se A circulação da poesia palaciana acontece nas cortes. O sur-
da tradição oral e começa a apresentar regras de escrita e gimento do material representa, também, um aumento no
composição; e o teatro de Gil Vicente, que traz peças hu- número de pessoas leitoras, o que faz com que alguns nomes,
moradas e críticas, em oposição às peças de ensino religio- como Nuno Pereira e Bernadim Ribeiro apareçam no papel
so até então vigentes na sociedade. de escritores. A língua portuguesa está se consolidando. O es-
critor mais famoso será Garcia Resende, sendo ele, também,
4.1.1. Fernão Lopes: crônica o responsável pela organização do Cancioneiro Geral. VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Inês de Castro
59
4.1.2.1. Principais características da poesia palaciana 4.1.3. Gil vicente: o teatro
§ Instauração de regras formais da escrita, como a medi-
da velha, com a forma fixa das redondilhas;
§ O sofrimento amoroso torna-se menos exagerado;
§ Vilancetes, esparsas e trovas surgem como novas for-
mas de composição;
§ Aperfeiçoamento linguístico de técnicas como a alitera-
ção e a ambiguidade.
Medida Velha
Redondilhas menores: versos com metrificação de 5
sílabas poéticas.
Redondilhas maiores: versos com metrificação de 7
sílabas poéticas.
60
Vicente percebe e atua sobre os comportamentos sociais,
ainda seguindo uma moral ligada a preceitos católicos,
mas muito mais crítica e atenta.
Por isso, a frase que costuma ser atribuída a sua obra Riden-
do castigat mores (rindo corrigem-se os costumes) – máxima
latina – é capaz de sintetizar o seu teatro. Gil Vicente analisa
em suas obras o comportamento social, como o Padre que multimídia: site
não segue os preceitos e deita-se com mulheres, o banqueiro
que só tem interesse no lucro, as traições da vida conjugal
Os textos vicentinos estão disponíveis, em sua maioria,
etc. Nesse sentido, sua obra tece críticas moralizantes direta-
no site do Domínio Público. Para acessá-lo, basta esca-
mente aos comportamentos humanos, isto é, aos tipos
near o QR Code.
sociais. Em outras palavras, é importante perceber que o
autor de O velho da horta não critica instituições, como a
igreja ou a burguesia, mas o comportamento individual de
membros pertencentes a essas classes.
Obras Medievais
61
DIAGRAMA DE IDEIAS
TEOCENTRISMO ANTROPOCENTRISMO
TRADIÇÃO ORAL TRADIÇÃO ESCRITA
CANTÍGAS LÍRICAS
TEATRO VICENTINO
• CANTIGAS DE AMOR
PROSA (CRÔNICA)
• CANTIGAS DE AMIGO
POESIA PALACIANA
CANTÍGAS SATÍRICAS
• CANTIGAS DE ESCÁRNIO
• CANTIGAS DE MALDIZER
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
62
dade na região da Itália, retoma os princípios dos autores
e pensadores da Antiguidade Clássica. Em outras palavras,
volta-se ao passado e lá encontra-se a filosofia e a arte
Grega, cujo um dos princípios era a busca pela perfeição e
RENASCIMENTO: o desenvolvimento das virtudes humanas.
NO VESTIBULAR
5E6
arte de forma geral, o Classicismo, bem como as ativi-
dades de todo o Renascimento, costumam ser utilizadas
como referência em questões de artes, história, literatura,
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
entre outros. Por conta disso, é importante e interessante
5 15, 16 e 17
situar outros artistas do período, como Leonardo Da Vin-
ci, famoso pelo La Gioconda (1503) [Mona Lisa].
Além disso, vale destacar Danti Alighieri, autor italia-
1. Classicismo: contexto no do século XIII, mas que em seu texto já anunciava
formas modernas para o período, como o decassílabo.
de produção
“Conhecer a história da nossa língua é conhecer uma
parte importante de nossa história como cidadão e
1.1. A chegada do clássico
como nação” É claro que não se pode deixar de incluir dentre as princi-
– Luiz Carlos Cagliari pais transformações da Idade Moderna para a nação por-
tuguesa a expansão marítima. Afinal, é dela que partirão
Os influxos renascentistas angariados na retomada do co-
importantes percepções para os sonetos de Camões a res-
mércio e no nascimento da burguesia contribuíram para
peito de Portugal. Não obstante, as navegações portugue-
que a Idade Média chegasse ao fim. Agora, o pensamento
sas serão ainda tematizadas no grande épico Os lusíadas
teocêntrico dá lugar a novas concepções de mundo, e, no
(1572). Contudo, é válido dizer que o Classicismo não tem
plano da Arte, uma nova estética toma conta das produ-
início com Luís Vaz de Camões, mas sim com um outro por-
ções: o Classicismo.
tuguês: Sá de Miranda.
multimídia: livro
O Classicismo alinha-se ao processo cultural denominado Sá de Miranda (1481-1558) foi um importante escritor portu-
Renascimento, o qual, fazendo-se valer com maior intensi- guês. Capaz de escrever em diversos estilos, Sá de Miranda é
63
um dos nomes que faz parte do Cancioneiro Geral, organiza-
do por Garcia Resende. É, porém, em 1521, quando vai estu-
2. Luís Vaz de Camões
dar na Itália, que Sá de Miranda toma contato com os versos
de Francesco Pretarca (1304-1374), poeta responsável por
aprimorar o soneto: a forma perfeita da poesia renascentista.
Assim, Sá de Miranda retorna a Portugal em 1527, publi-
cando uma obra já com ares bastante modernos chamada
“Os estrangeiros” (1527), uma comédia em prosa. A publi-
cação, então, passa a funcionar como marco do Classicis-
mo português, já que é no retorno de Sá de Miranda que o
Soneto chega e passa a ser difundido em Portugal.
O SOL É GRANDE
O sol é grande: caem co’a calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que de alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Petrarca#Filosofia
64
da coroa espanhola. Seus poemas são publicados em livro 2.1. Épico: Os Lusíadas
póstumo, intitulado Rimas (1595).
§ Poema épico aos moldes de Ilíada e Odisseia.
§ Épico secundário.
§ O herói concatena os valores do povo.
§ Tematiza as grandes navegações.
§ Explora tanto a mitologia cristã quanto a mitologia
grega.
multimídia: vídeo § 8.816 versos decassílabos;
Fonte: Rtp ensina § 1.102 estrofes de oitava rima;
Documentário português sobre a obra Os lusíadas § 10 cantos, adequados na estrutura do poema épico:
1. Proposição (canto I, estrofes 1 a 3)
– sem título – O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o tema
dos feitos heroicos dos ilustres barões de Portugal,
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente, o herói, Vasco da Gama, e o destino da viagem.
Repousa lá no Céu eternamente, As armas e os barões assinalados
E viva eu cá na terra sempre triste. Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Se lá no assento Etéreo, onde subiste, Passaram ainda além da Taprobana
Memória desta vida se consente, Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
Não te esqueças daquele amor ardente,
E entre gente remota edificaram
Que já nos olhos meus tão puro viste.
Novo reina, que tanto sublimaram;
E se vires que pode merecer-te barões = homens ilustres
Alg’a cousa a dor que me ficou
ocidental praia lusitana = Portugal
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Taprobana = ilha de Ceilão, limite orien-
Roga a Deus, que teus anos encurtou, tal do mundo conhecido
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou. 2. Invocação (canto I, estrofes 4 e 5)
CAMÕES, Luís Vaz de. In: Sonetos. O poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedin-
do a elas para inspirá-lo na composição da obra.
Na ocasião de retorno de Macau à Portugal, o navio de
Camões sofre um naufrágio, conta a lenda que entre E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
salvar o manuscrito de Os Lusíadas e sua amada Dina- Dai-me agora um som alto e sublimado,
mene… Bem, hoje o mundo todo conhece Os Lusíadas Um estilo grandíloquo e corrente,
como um grande épico português. No entanto, tal acon-
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
65
4. Narração (canto I, estrofe 19 até canto
X, estrofe 144)
O poeta relata a viagem propriamente dita dos
portugueses ao Oriente. Essa é, portanto, a parte
mais longa do relato e vários são os episódios que
nela se destacam. O desenrolar dos fatos começa
In Media Res, ou seja, no meio da ação, quando
Vasco da Gama e sua esquadra se dirigem ao Cabo
da Boa Esperança.
Dentro da narração, alguns episódios merecem
destaque:
§ Inês de Castro, amante do príncipe D. Pedro
assassinada a mando do rei (canto III); As Nereidas (Ninfas) da Ilha dos Amores
5. Epílogo
É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do can-
to X), em que o poeta demonstra cansaço e, em tom
melancólico e pessimista, aconselha ao rei e ao povo
português que sejam fiéis à pátria e ao cristianismo.
§ amor neoplatônico:
fruto da relação entre o mundo sensorial e o mundo
das ideias. O amor pleno só pode acontecer no mun-
do das ideias, portanto, é inacessível. A percepção
transforma o sentimento em uma coisa contraditória.
Torre de Belém, Lisboa, Portugal.
§ O desconcerto do mundo
§ O gigante Adamastor (canto V), que é
§ Surge na literatura a incongruência do eu em rela-
uma personificação dos perigos enfrentados ção ao mundo;
pelos navegantes ao transporem o Cabo das
§ Perspectiva pessimista de vida;
Tormentas.
§ Questões existenciais do próprio poeta.
§ A ilha dos amores (canto IX), com o erotismo
de seus símbolos, conclamando os portugueses
a contemplarem a “Máquina do Mundo”.
66
DIAGRAMA DE IDEIAS
67
DIAGRAMA DE IDEIAS
força de atração (amor carnal), Amor é fogo que arde sem se ver. In: CAMÕES,
Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976.
para a existência no mundo
sensorial. Assim, o puro amor é Transforma-se o amador na cousa amada,
algo desprovido de paixão e que por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
só pode ser experienciado no pois em mim tenho a parte desejada.
desenvolvimento das virtudes do ser.
Se nela está minha alma transformada,
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
68
DIAGRAMA DE IDEIAS
Artes Plásticas
Nos ombros de um Tritão... vai Dione, Os Portugueses e as Ninfas na Ilha dos Amores (ilustração do episódio
composição alusiva ao Canto II (est. do Canto IX de Os Lusíadas de Camões, de Bordalo Pinheiro
XXI) de Os Lusíadas de Camões,
figurando Dione e um grupo de
ninfas num mar revolto, perto de
uma caravela de Bordalo Pinheiro
69
temos que a literatura brasileira pode ser dividida em dois
grandes momentos: a literatura pré-independência e
a literatura pós-independência do Brasil, em 1822.
Ainda assim, não podemos afirmar que em 1500 os escritos
LC AULAS
7E8
Há, nessa literatura, que muito caracteriza-se como uma
literatura de informação, por meio das cartas ao rei e
das narrativas de viagens (temos, aqui, duas concepções de
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) gênero textual que se misturam), um valor documental e
5 15, 16 e 17 historiográfico que não pode ser esquecido. Por outro lado,
em meio ao período que chamamos de Quinhentismo, e
que compreende o século XVI nas terras portuguesas além
do Atlântico, encontramos também o que será dada como
1. Quinhentismo literatura de formação, uma vez que a expansão marí-
“Os descobrimentos e a astronomia copernicana provo- tima constituiu esse projeto de dominação leste-oeste dos
caram o descentramento da percepção bíblica medieval povos europeus e, nessa direção, trouxe consigo valores
de mundo. A Terra deixava de ser o centro do universo, morais associados à religião católica. De tal modo, esse
Jerusalém deixava de ser o centro da Terra e o homem segundo grupo constitui a produção textual voltada à ca-
deixava de estar no centro da criação. ( ... ) A crença
tequização dos povos nativos empreendida pelos jesuítas.
dominante no pensamento europeu era de que a totali-
dade da criação, incluindo a história da humanidade, se As produções desse período, portanto, merecem atenção
movia de leste para oeste.” literária, já que trabalham com os primeiros registros em
– Klaas Woortrnann língua portuguesa em território nacional. Não obstante,
Muitas transformações marcaram o século XVI e parte dos na história da Literatura no Brasil, sabe-se que os textos
anos anteriores. Várias foram as descobertas no campo das produzidos nesse período servirão de base e/ou serão re-
artes e das ciências. Hoje, somos uma espécie de legado des- tomados em futuras produções, de Gregório de Matos até
se momento, em que um grande golpe abateu o pensamento Oswald de Andrade.
teocêntrico e, de uma centrada visão de mundo, surgiram estu-
dos que comprovaram a esfericidade do planeta Terra, o Helio- 1.1. Literatura de informação
centrismo, entre outras percepções humanas e astronômicas. A literatura de informação diz respeito aos primeiros regis-
Assim, as grandes navegações conduziram à “descoberta” tros sobre a geografia, a fauna, a flora e os nativos do
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
de um Novo Mundo, que há muito já figurava no imaginário território brasileiro. Tem como marco inicial a “certidão de
europeu. Nesse ínterim, entender o que se chama de Litera- nascimento da literatura brasileira”, isto é, a Carta (1500)
tura Brasileira a partir de 1500 é, justamente, entender que de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei D. Manuel. Além
se trata de uma literatura que NÃO era produzida por brasi- disso, registros de viagens, diários e crônicas são outros
leiros. Nessa direção, é imprescindível rever o próprio concei- textos documentais do período.
to de brasileiro e pensar de que maneira a língua portuguesa
Sobretudo, portanto, narrativos, os textos de informação
foi utilizada diante do que foi o processo de colonização.
nos colocam diante de reflexões importantes, na medida
Grandes críticos literários brasileiros afirmam que a Lite- que exprimem a visão do colonizador, com sua moral e
ratura começa a tomar ares verdadeiramente brasileiros a costumes, diante do Novo Mundo. A tentativa, portanto, de
partir dos influxos do arcadismo, mas que somente a inde- adequar à nova realidade a uma visão já preestabelecida
pendência e, depois, no modernismo (e mesmo nos dias de pela moral cristã e pela ética europeia é nítida quando nos
hoje) é que a literatura começa a se consolidar no que tan- relatos vemos que os povos nativos são muitas vezes retra-
ge o pensar sobre o Brasil de forma aprofundada. Assim, tados como aqueles que precisam de salvação.
70
Além disso, em especial às cartas enviadas a Portugal, é lhe dá lume novo!
importante destacar a ausência de personalidade. Embo-
ra haja autoria, como Pero Vaz de Caminha, as cartas do Cordeirinha santa,
de Iesu querida,
período assumiam tons burocráticos, no sentido de que
Vossa santa vinda
o autor se transmutava em uma espécie de olho do rei e o diabo espanta
nada mais. Há, por fim, no final das cartas em alguns casos,
solicitações de favores ao rei, outro importante ponto para Por isso vos canta,
uma análise historiográfica do Brasil. com prazer, o povo,
porque vossa vinda
A seguir, observe a lista com alguns documentos importan- lhe dá lume novo.
tes relacionados à literatura de informação:
Nossa culpa escura
§ Carta, de Pero Vaz da Caminha, escrita em 1500; fugirá depressa,
§ Diário de navegação, de Pero Lopes de Souza, escrito pois vossa cabeça
vem com luz tão pura.
entre 1530 e 1532, durante a expedição de Martim
Afonso de Sousa; Vossa formosura
§ História da Província de Santa Cruz e Tratado da Terra honra é do povo,
porque vossa vinda
do Brasil, de Pero de Magalhães Gandavo, ou Gândavo,
lhe dá lume novo.
publicados, respectivamente, em 1576 e 1826;
§ Tratado descritivo do Brasil em 1587 ou Notícias do Virginal cabeça
pola fé cortada
Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, publicado em 1851.
com vossa chegada,
§ Diálogos das grandezas do Brasil (1618), atribuídos já ninguém pereça.
a Ambrósio Fernandes Brandão, e a História do Bra-
sil (1627), de Frei Vicente do Salvador, publicados Vinde mui depressa
no século XVII. ajudar o povo,
pois com vossa vinda
lhe dais lume novo.
1.2. Literatura de formação
Vós sois, cordeirinha,
A literatura de formação ou literatura de catequese compre-
de Iesu formoso,
ende o conjunto de textos produzidos no século XVI com o mas o vosso esposo
intuito de doutrinar os povos nativos aos dogmas da igreja ca- já vos fez rainha,
tólica. Nessa direção, é válido afirmar que se trata de uma for-
ma literária cujos produtores são essencialmente os jesuítas. Também padeirinha
sois de nosso povo,
É importante frisar que além de se conquistar mais fiéis, haja pois, com vossa vinda,
vista que a igreja católica vinha sofrendo com a Reforma Pro- lhe dais lume novo.
testante, os textos refletem a tentativa de estabelecer uma PORTELA, Eduardo (Org.). José de Anchieta:
poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1959.
comunicação. Afinal, processos diferentes são empregados
na catequização do branco europeu e do nativo indígena. Assim, características como linguagem simples, tom
VOLUME 1 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
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dro, áquila, sândalos e outros paus de bom olor e várias A fim de evitar a perda de poder, a Igreja Católica adotou
cores e tantas diferenças de folhas e flores que para a medidas a partir da convocação do Concílio de Trento, em
vista é grande recreação e pela muita variedade não se
1546. Outra importante ação foi a fundação dos grupos
cansa de ver.
jesuíticos, como a Companhia de Jesus, cujo papel histórico
José de Anchieta. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões.
Informação da Província do Brasil para nosso padre – 1585. extrapolou, inclusive, as fronteiras europeias. Tais medidas
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 430-431. ficaram conhecidas como contrarreforma católica.
Como os jesuítas também tinham contas a prestar para a
coroa, é possível, ainda, encontrar textos em que eles des-
crevem o Brasil em cartas. Ali, vale a pena perceber a visão
da Igreja para esse Novo Mundo: o deslumbramento diante
do cenário e, ao mesmo tempo, o caráter missionário que
davam a si mesmos na tentativa de “salvar” os indígenas.
5. somente a glória de Deus. Pelo fato de Portugal estar sob domínio espanhol no perí-
odo, a produção barroca, mesmo que vislumbre a língua
O protestantismo nasceu em decorrência da resistên- portuguesa, costuma ser associada à Espanha. Afinal, en-
cia à Igreja Católica, em especial, a partir da recusa tre as manifestações barrocas da Europa (o efuísmo inglês,
e da denúncia de abusos cometidos pela instituição: o marinismo italiano, o preciosismo francês, entre outros),
como a venda de indulgências aquela que dá nome e ecoa no primeiro poeta brasileiro é
o gongorismo espanhol – nome que advém do poeta Luís
de Gôngora (1561-1627).
72
Na Espanha, Gôngora era um grande poeta, porém, com ticas do cultismo estão:
uma desavença pessoal bastante significativa com Francis-
§ o rebuscamento formal da linguagem;
co de Quevedo (1580-1645). Enquanto o último recrimi-
nava as inovações propostas por Gôngora em seu excesso § amplo número de figuras de linguagens: metáforas,
de preciosismo, o poeta gongorista insinuava que Quevedo metonímias, antíteses, entre outras.
era um péssimo tradutor de literatura grega. O embate é § vernáculo preciosista;
bastante simbólico, haja vista que é a corrente quevedista
que irá influenciar o outro expoente literário do barroco Em outras palavras, a tendência cultista valorizava a men-
brasileiro: Padre Antônio Vieira. sagem, de modo que falar sobre algo era, em fato, descre-
ver esse mesmo algo por meio de uma linguagem capaz de
expor todas as sensações possíveis a respeito desse objeto.
Curiosidades Assim, a realidade é ocultada diante das palavras, tratada
de forma indireta. Gregório de Matos seguirá a tendência
O estilo barroco europeu do século XVII recebeu de-
cultista em muitos de seus poemas.
nominações particulares em cada país:
§ Espanha – gongorismo, originado do nome do po-
eta Luis de Gôngora (1561-1627). 3.2. Francisco de Quevedo: conceptismo
§ Inglaterra – eufuísmo, derivado do nome da obra Francisco de Quevedo foi um nome singular na defesa do
Euphues, or the anatomy of wit, do escritor John Lyly conceptismo, corrente que, muitas vezes, leva o nome de
(1554-1606). quevedismo. Diferentemente do cultismo, a vertente con-
§ Itália – marinismo, derivado do nome de Gianbat- ceptista do Barroco valoriza muito a clareza das ideias, ten-
tista Marino (1569-1625). do como principais características:
§ França – preciosismo, em razão do exagero da for- § clareza dos argumentos;
ma preciosista, afetada e extremamente rebuscada § valorização da lógica;
na corte do rei Luis XIV.
§ bom uso da retórica;
§ Alemanha – silesianismo, estilo característico dos
escritores da região da Silésia. § silogismos (duas proposições que geram uma terceira
proposição lógica);
§ sofismas (utiliza argumentos verdadeiros, mas associa-
-se a algo que apenas parece real).
3.1. Luis Gongora: cultismo No Brasil e em Portugal, Padre Antonio Vieira fará bastante
Luis de Gongora foi o expoente de uma tendência literária uso dessa forma de trabalhar o texto.
barroca chamada cultismo. Dentre as principais caracterís-
73
DIAGRAMA DE IDEIAS
QUINHENTISMO
LITERATURA DE LITERATURA DE
INFORMAÇÃO FORMAÇÃO
CARTAS /
CATEQUESE
NARRATIVAS
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