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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo
Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos
alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS VIVENCIANDO


De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico
volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi-
nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina culta a compreensão de determinados conceitos e impede
em todo o território nacional. o aprofundamento nos temas para além da superficial me-
morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na
aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi-
venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo-
cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
TEORIA
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co- contato em seu dia a dia.
leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu-
ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil
compreensão, completos e organizados. Além disso, contam
com imagens ilustrativas que complementam as explicações APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em
cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa-
abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos
à rotina intensa de estudos. compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re-
solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça
abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e
de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas
MULTIMÍDIA resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica-
ções dadas em sala de aula.
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui-
dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar
o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a
compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa-
cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem-
de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati- penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa
vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e
ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção
seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
o conhecimento do nosso aluno. dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento
do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas
resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e
descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no
dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é prova e a resolvê-las com tranquilidade.
elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que
trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co-
nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina.
DIAGRAMA DE IDEIAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso,
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma- orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de
temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte-
com essa realidade por meio de explicações que relacionam údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de mentais e fluxogramas.
outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta
forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a
mundo em que ele vive. organização dos estudos e até a resolução dos exercícios.
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Letícia de Brito Ferreira
Matheus Franco da Silveira

projeto gráfiCo e Capa


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ISBN: 978-65-88825-97-6

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SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA 5
AULAS 1 E 2: FORMAÇÃO DE PALAVRAS 7
AULAS 3 E 4: ARTIGOS, SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS 15
AULAS 5 E 6: VERBOS: NOÇÕES PRELIMINARES E MODOS INDICATIVO E SUBJUNTIVO 23
AULAS 7 E 8: VERBOS: MODO IMPERATIVO E VOZES VERBAIS 30

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 33
AULA 1: FUNÇÕES DA LINGUAGEM I 35
AULA 2: FUNÇÕES DA LINGUAGEM II 38
AULA 3: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA I 40
AULA 4: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA II 42

LITERATURA 43
AULAS 1 E 2: FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO LITERÁRIO: ARTE E TÉCNICA 45
AULAS 3 E 4: TROVADORISMO E HUMANISMO 54
AULAS 5 E 6: RENASCIMENTO: CLASSICISMO E LUÍS VAZ DE CAMÕES 63
AULAS 7 E 8: QUINHENTISMO E ESTÉTICA BARROCA 70
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM

Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida.
Competência 1

H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.

Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais.
Competência 2

H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.


H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.

Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade.
Competência 3

H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.

Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade.
Competência 4

H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e
H14
étnicos.

Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
Competência 5

organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.


H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construçãodo texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.

Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constitu-
Competência 6

ição de significados, expressão, comunicação e informação.


H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional.

Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
Competência 7

H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.

Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da
Competência 8

própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.

Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social,
Competência 9

no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tec-
nologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem.
ENTRE
LETRAS

GRAMÁTICA
LINGUAGENS
CÓDIGOS
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Dentre os temas abordados neste ca- As maiores ocorrências no vestibular da


derno, o de maior incidência no ENEM Fuvest são regência verbal e normas pa-
é o uso de tempos verbais. Os demais drão e coloquial. É comum que a prova
temas são de aplicação bastante es- exija do candidato conhecimentos sobre
porádica. aspectos morfossintáticos. Convém aten-
tar-se sobre advérbios, tempos e vozes
verbais.

Como uma prova transversal, a exigência Vê-se maior incidência de temas que se Bastante objetivo, o vestibular da Unesp
de conhecimentos tende a se alargar a orientam sobre os processos de forma- exige domínio acerca dos sentidos deno-
outros assuntos. Dessa maneira, é com- ção de palavras e a utilização das vozes tativos e conotativos que uma palavra
preensível que se veja os significados verbais. No mais, assuntos como a apli- pode ter em determinado contexto, além
textuais que a mudança de classes de cação de classes de palavras em determi- da compreensão de classes gramaticais.
palavras, a pontuação ou mesmo aspec- nados contextos surgem com frequência. Tempos verbais e suas aplicações tam-
tos coesivos podem provocar bém são frequentes.
no texto.

Nesse vestibular, aspectos semânticos de Os temas de maior incidência são a com- Concordâncias verbal e nominal, regên- Bastante direto e objetivo, o vestibular
um termo dentro de seu contexto são o preensão conotativa e denotativa de ter- cia e aspectos sintáticos na dinâmica da Santa Casa faz exigências de com-
ponto de partida para a resolução das mos no âmbito de determinado texto e de um texto aparecem com frequência preensão sobre vozes verbais e classes
questões. Também, poderá ser exigido do o uso das pontuações para a construção nas provas. De igual modo, as diferentes gramaticais. É seguro, então, entender os
candidato compreender as possibilidades de sentido. Além disso, temas que atra- situações que conduzem a pontuação procedimentos textuais que configuram
de variação linguística. vessam conhecimentos a respeito das também aparecem com frequência. as especificidades destes temas. Tam-
classes gramaticais. bém, a atenção à pontuação
é uma constante.

UFMG
A prova da UEL cobra conhecimentos A Semântica é trabalhada em contexto, Questões que exigem conhecimentos
gramaticais apenas na segunda fase. sempre em comparação e por relações de sobre elementos coesivos e figuras de
Questões que associam a semântica à equivalência. Além disso, questões objeti- linguagem, bem como aspectos se-
interpretação de textos literários são co- vas que abordem a Morfologia do portu- mânticos que podem aparecer em um
muns, além de um trabalho mais direcio- guês podem, também, aparecer com uma texto, seja por expressões denotativa ou
nado à formação de palavras e às classes grande incidência. conotativa.
gramaticais (substantivo, adje-
tivo e verbo).
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

O uso de vozes verbais e os processos Os temas de maior incidência são classes Essa prova é bastante flexível no que diz
de formação de palavras. Igualmente, o de palavras e pontuação. Por isso, com- respeito aos temas que aborda. Faz exi-
sentido de determinado tempo verbal na preender aspectos morfológicos e recur- gências sobre tempos e modos verbais,
dinâmica textual, bem como os prejuízos sos coesivos é essencial para a resolução elementos coesivos e funções sintáticas.
que a mudança de um modo verbal a de suas questões. Apesar disso, de modo geral, suas questões
outro pode provocar a um texto. são bastante objetivas.

6
Podem aparecer antes do radical (prefixos) ou depois
do radical (sufixos).

Exemplos:

FORMAÇÃO DE desfazer (radical com encaixe de um prefixo)


recentemente (radical com encaixe de um sufixo)
PALAVRAS § Desinências: são os morfemas que indicam flexões de
palavras variáveis. São subdivididas em desinência-
-nominal (em que ocorrem flexões de gênero e de nú-
mero) e desinência-verbal (com flexão modo-tempo
e número pessoa).

LC AULAS
1E2 Exemplos:
a) desinência-nominal: garota / garotas / exaus-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) ta / exaustas
1e8 1, 2, 3, 4, 26 e 27 b) desinência-verbal: derrubar / derrubamos
/ derrubassem / derrubaria
§ Vogal temática: é um morfema vocálico que se
1. Morfologia: acrescenta aos radicais antes das desinências. Temos
dois tipos:
formação de palavras a) Vogal temática nominal
Neste tópico, estudaremos os processos de estruturação e
Em radicais nominais (paroxítonos ou proparoxítonos) são
formação de uma palavra em língua portuguesa.
acrescentadas as vogais átonas “-a”, “-e” ou “-o” que in-
dicarão classe gramatical.
Palavra: unidade linguística de som e significado que
entra na composição dos enunciados da língua. Exemplo:
revista / inteligente
Embora representem uma totalidade, as palavras podem b) Vogal temática verbal
ser decompostas de modo que reconheçamos as unida-
des menores que as compõem. Esses elementos menores Indicam a conjugação dos verbos. Funcionam da seguinte
são todos dotados de significação e recebem o nome de maneira: Vogal “-a” = (1ª conjugação) / Vogal “-e” = (2ª
morfemas. conjugação) / Vogal “-i” = (3ª conjugação)

Exemplo:
Morfema: unidades mínimas de uma palavra, que pos-
convida / escreve / sorri
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

suem significação.

Palavras primitivas e derivadas


1.1. Morfemas
O conceito de palavras primitivas e derivadas é bastan-
§ Radical (morfema lexical): é a parte da palavra que
te complexo e maleável, dependendo de uma observa-
contém o seu significado básico e também é comum
ção cuidadosa de determinadas palavras.
às palavras chamadas de cognatas (que pertencem à
mesma família etimológica). No geral, palavras primitivas são aquelas que não de-
rivam de outras; já as palavras derivadas, originam-se
Exemplos: de palavras primitivas. Em geral, são consideradas pala-
vras primitivas substantivos que designam objetos, es-
terra; terreiro; terrestre; enterrar.
paços, materiais ou circunstâncias (Exemplos: flor, pedra,
§ Afixos (morfemas gramaticais): são elementos banana, avião, tempo, ano, dia, mar, ferro, chuva, entre
que se juntam ao radical para formar novas palavras.

7
§ Derivação sufixal: acréscimo de sufixo à palavra
outras palavras). São dessas palavras anteriormente primitiva.
citadas que surgem as palavras derivadas (Exemplos:
florista, pedreiro, bananeiro, temporal, diário, marítimo, Exemplo:
chuvoso, entre outras).
papel-aria.
Também temos tempos verbais primitivos. Em geral,
§ Derivação prefixal + sufixal: acrescenta-se um prefi-
são verbos no infinitivo onde não seja possível pres-
xo e um sufixo a um mesmo radical de modo sequencial,
supor a existência de um substantivo que se refira a
ou seja, os afixos não são encaixados ao mesmo tempo.
algum objeto (Exemplo: falar, dançar, cair, correr, seriam
Percebe-se facilmente, ao remover um dos afixos, a pre-
verbos primitivos. Já um verbo como “ancorar” nos per- sença de uma palavra com sentido completo.
mite recuperar um substantivo primitivo que designa
um objeto: “âncora”). Exemplo:
in-feliz-mente.
§ Vogal e consoante de ligação § Derivação parassintética: acréscimo simultâneo de um
prefixo e de um sufixo a um mesmo radical ou à palavra
As vogais e consoantes de ligação são elementos que
primitiva. Em geral, as formações parassintéticas originam-
unem determinados radicais a certos sufixos que facilitam
-se de substantivos ou adjetivos para formarem verbos.
ou, ainda, possibilitam a leitura de uma palavra. Não são
considerados morfemas, uma vez que não possuem se-
Exemplo:
mântica / sentido.
en-triste-cer.
Exemplo 1: § Derivação regressiva: ocorre redução da palavra pri-
trico – t – ar (a letra “t” é a consoante que liga mitiva. Nesse processo, formam-se substantivos abstra-
o radical “tricô” ao sufixo formador de verbos no tos por derivação regressiva de formas verbais.
infinitivo “-ar”.
Exemplo:
Exemplo 2: ajudar >>> (a) ajuda.
gas – ô – metro (a letra “o” é a vogal que liga o § Derivação imprópria: ocorre a alteração da classe
radical “gás” ao sufixo formador de substantivos gramatical da palavra primitiva.
“-metro”.
Exemplo:
1.2. Processos de formação olhar (verbo) >>> (o) olhar (substantivo).
Basicamente, as palavras da língua portuguesa são for­madas
pelos processos de derivação e composição. Além des- 1.2.2. Formação por composição
ses, também temos outros processos que contribuem para a Nos processos de formação de palavras por composição,
criação de novas palavras, como a onomatopeia, o neolo­ ocorre a junção de dois ou mais radicais. Palavras com
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

gismo e o hibridismo. significados distintos formam uma nova palavra com um


novo significado.
1.2.1. Formação por derivação São dois os processos de formação por composição:
Em geral, no processo de formação por derivação, a pala- § Composição por justaposição: quando não ocorre
vra primiti­va (primeiro radical) sofre acréscimo de afixos. a alteração fonética das palavras. A justaposição tam-
Há também outros processos que não envolvem encaixe bém pode ocorrer por hifenização.
de prefixo ou sufixo. Vejamos:
§ Derivação prefixal: acréscimo de prefixo à palavra Exemplos:
primitiva. girassol (gira + sol); guarda-chuva (guarda + chuva).
§ Composição por aglutinação: quando ocorre alte-
Exemplo:
ração fonética, em decorrência da perda de elementos
in-capaz. das palavras.

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Exemplos: É comum formar verbos a partir de palavras do
meio da informática, como googlar (procurar
aguardente (água + ardente); embora (em + boa
no Google), twittar (escrever no Twitter) ou
+ hora).
resetar (de reset).

1.3. Outros processos


1.3.1. Hibridismo
No processo de formação por hibridismo, as palavras
compostas ou derivadas são constituídas por elementos
originários de línguas diferentes:
multimídia: poema • poesia
§ grego + latim: automóvel e monóculo
§ latim + grego: sociologia, bicicleta Neste poema, o autor joga com os diferentes sentidos
§ árabe + grego: alcaloide, alcoômetro produzidos por morfemas iguais ou semelhantes.
Diversonagens suspersas (Paulo Leminski)
§ tupi + grego: caiporismo
Meu verso, temo, vem do berço.
§ africano + latim: bananal Não versejo porque eu quero,
versejo quando converso
§ africano + grego: sambódromo e converso por conversar.
§ francês + grego: burocracia Pra que sirvo senão pra isto,
pra ser vinte e pra ser visto,
pra ser versa e pra ser vice,
1.3.2. Neologismo pra ser a super-superfície
onde o verbo vem ser mais?
Neologismo é o nome dado ao processo de criação de
novas palavras. São três tipos: Semântico (a palavra já Não sirvo pra observar.
existe no dicionário, mas adquire um novo significado); Le- Verso, persevero e conservo
xical (criação de uma palavra nova, sem necessariamente um susto de quem se perde
seguir regras formais); Sintático (construção sintática que no exato lugar onde está.
passa a ter um significado específico).
Onde estará meu verso?
Em algum lugar de um lugar,
Exemplos: onde o avesso do inverso
Originalmente, a palavra bonde significava certo começa a ver e ficar.
veículo utilizado como meio de transporte. Hoje, Por mais prosas que eu perverta,
na variedade linguística utilizada por falantes inse- não permita Deus que eu perca
meu jeito de versejar.
ridos no estilo do funk carioca, foi dado um novo
significado para a palavra bonde: turma, galera. (Paulo Leminski, in: Toda Poesia)
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

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VIVENCIANDO

A tabela abaixo traz significados de prefixos e radicais, alguns frequentemente usados no dia a dia.
Prefixos latinos Significados Exemplos
a–, ab–, abs– afastamento, separação abstenção, abdicar

a–, ad–, ar–, as– aproximação, direção adjunto, advogado, arribar, assentir

ambi– ambiguidade, duplicidade ambivalente, ambíguo

ante– anterioridade anteontem, antepassado

aquém– do lado de cá aquém-mar

bene–, bem– excelência, bem beneficente, benfeitor

bis–, bi– dois, duas vezes, repetição bípede, binário, bienal

com– (con–), co– (cor–) companhia, contiguidade compor, conter, cooperar

contra– oposição controvérsia, contraveneno

cis– posição, aquém de cisandino, cisalpino


separação, privação, negação, movimento
de–, des– deportar, demente, descrer, decair, decrescer, demolir
de cima para baixo
dis– separação, negação dissidência, disforme

e– ,en– ,em– introdução, superposição engarrafar, empilhar

e–, es–, ex– movimento para fora, privação emergir, expelir, escorrer, extrair, exportar, esvaziar, esconder, explodir

extra– posição exterior, excesso extraconjugal, extravagância

intra–, posição interior intrapulmonar, intravenoso

i–, im–, in– negação, mudança ilegal, imberbe, incinerar

infra– abaixo, na parte inferior infravermelho, infraestrutura

justa– posição ao lado justalinear, justapor

o–, ob– posição em frente, oposição obstáculo, obsceno, opor, ocorrer

per– movimento através de perpassar, pernoite

pos– ação posterior, em seguida pós-datar, póstumo

pre– anterioridade, superioridade pré-natal, predomínio

pro– antes, em frente, intensidade projetar, progresso, prolongar

preter–, pro– além de, mais para frente prosseguir

re– repetição, para trás recomeço, regredir

retro– movimento mais para trás retrospectivo

Radicais latinos Significados Exemplos


VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

aristo– melhor, nobre aristocracia

arqueo– antigo arqueologia, arqueólogo

anthos– flor antologia, crisântemo, perianto

atmo– ar atmosfera

auto– mesmo, próprio autoajuda, autômato

baro– peso, pressão barômetro, barítono

biblio– livro bibliófilo, biblioteca

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VIVENCIANDO

Radicais latinos Significados Exemplos


bio– vida biologia, anfíbio

caco– mau cacofonia, cacoete

cali– belo caligrafia, calígrafo

carpo– fruto pericarpo

céfalo– cabeça cefalópodes, cefaleia, acéfalo

cito– célula citoplasma, citologia

copro– fezes coprologia, coprófagas

cosmo– mundo microcosmo, cosmonauta

crono– tempo cronômetro, diacrônico

dico– em duas partes dicotomia, dicogamia

eno– vinho enologia, enólogo

entero– intestino enterite, disenteria

etno– povo étnico, etnia, etnografia

filo–, filia– amigo, amizade filósofo, filantropia

fono– som, voz fonética, disfônica

gastro– estômago gastrite, gastronomia

hemo– sangue hemorragia, hemodiálise

hidro– água hidravião, hidratação

higro– úmido higrófito, higrômetro

hipo– cavalo hipódromo, hipopótamo

–ambulo que anda noctâmbulo, sonâmbulo

–cida que mata fraticida, inseticida

–cola que habita arborícola, silvícola

–cultura que cultiva triticultura, vinicultura

–evo idade longeva, longevidade

–fero que contém ou produz mamífero, aurífero

–fico que faz ou produz benéfico, maléfico

–forme que tem a forma cordiforme, uniforme

–fugo que foge vermífugo, centrífugo


VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

–grado grau, passo centígrado

–luquo que fala ventríloquo

–paro que produz ovíparo

–pede pé velocípede, bípede

–sono que soa uníssono

–vago que vaga noctívago

–voro que come carnívoro, herbívoro, onívoro

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VIVENCIANDO

Prefixos gregos Significados Exemplos


acro– alto acrobata, acrópole

aero– ar aerodinâmica

agro– campo agrônomo, agricultura

antropo– homem antropofagia, filantropo

homo– igual homônimo, homógrafo

idio– próprio idioma, idioblasto

macro–, megalo– grande, longo macronúcleo, megalópole

metra– mãe, útero endométrio, metrópole

meso– meio mesóclise, mesoderma

micro– pequeno micróbio, microscópio

mono– um monarquia, monarca

necro– morto necrópole, necrofilia, necropsia

nefro– rim nefrite, nefrologia

odonto– dente odontalgia, odontologia

oftalmo– olho oftalmologia, oftalmoscópio

onto– ser, indivíduo ontologia

orto– correto ortópteros, ortodoxo, ortodontia

pneumo– pulmão pneumonia, dispneia

Radicais gregos Significados Exemplos


–agogo o que conduz demagogo, pedagogo

–alg, –algia sofrimento, dor analgésico, cefalalgia, lombalgia

–arca o que comanda monarca, heresiarca

–arquia comando, governo anarquia, autarquia, monarquia

–cracia autoridade, poder aristocracia, plutocracia, gerontocracia

–doxo que opina paradoxo, heterodoxo

–dromo corrida, pista hipódromo

–fagia ato de comer antropofagia, necrofagia

–fago que come antropófago, necrófago

–filo, –filia amigo, amizade bibliófilo, xenófilo, lusofilia


VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

–fobia inimizade, ódio, temor xenofobia

–fobo aquele que odeia xenófobo, hidrófobo

–gamia casamento monogamia, poligamia

–gene que gera, origem heterogêneo, alienígena

–gênese geração esquizogênese, metagênese

–gine mulher andrógino, ginecóforo

–grafia descrição, escrita caligrafia, geografia

12
VIVENCIANDO

Radicais gregos Significados Exemplos


–gono ângulo pentágono, eneágono

–latria que cultiva idolatria

–log, –logia que trata, estudo psicólogo, andrologia

–mancia adivinhação cartomante, quiromancia

–mani loucura, tendência megalomaníaco

–mania loucura, tendência cleptomania

–metro que mede barômetro, termômetro

–morfo forma, que tem a forma amorfa, zoomórfico

–onimo nome sinônimo, topônimo

–polis, –pole cidade metrópole

–potamo rio mesopotâmia, hipopótamo

–ptero asa helicóptero

–scopia o que faz ver endoscopia, telescópio

–sofia sabedoria, saber filosofia, teosofia

–soma corpo cromossomo

–stico verso monóstico, dístico

–teca lugar, coleção biblioteca, hemeroteca

–terapia cura, tratamento hidroterapia

–tomia corte, divisão vasectomia, anatomia

–topo lugar topografia, topônimo

–tono tom barítono, monótono

VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

13
DIAGRAMA DE IDEIAS

GRAMÁTICA
NORMATIVA CLASSES DE
PALAVRAS

ESTUDO DOS PROCESSOS DE ARTIGO


MORFOLOGIA
FORMAÇÃO DE PALAVRAS SUBSTANTIVO
ADJETIVO
VERBO
ADVÉRBIO
FORMAÇÃO DE PRONOME
PALAVRAS NUMERAL
PREPOSIÇÃO
CONJUNÇÃO
INTERJEIÇÃO
DERIVAÇÃO COMPOSIÇÃO

FORMAÇÃO DE PALAVRAS A FORMAÇÃO DE PALAVRAS


PARTIR DE UM ÚNICO RADICAL COM MAIS DE UM RADICAL

• SUFIXAL • JUSTAPOSIÇÃO
• PREFIXAL • AGLUTINAÇÃO
• IMPRÓPRIA
• REGRESSIVA
• PARASSINTÉTICA
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

14
Artigos
Preposições um,
o, os a, as * uma, umas
uns

ARTIGOS, a ao, aos à, às * — —

de
SUBSTANTIVOS
dum,
do, dos da, das duma, dumas
duns
em
E ADJETIVOS
num,
no, nos na, nas numa, numas
nuns
por pelo,
pela, pelas — —
pelos

* A junção de “a” (preposição) + “a” (artigo) é o que dá origem


ao fenômeno da crase, que será discutido em momento oportuno.

LC AULAS
3E4 1.2. Artigo aplicado ao texto
O artigo talvez seja uma das classes gramaticais mais su-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) bestimadas da língua portuguesa, e isso ocorre, principal-
1e8 1, 2, 3, 4, 26 e 27 mente, pelo fato de, em âmbito escolar, ser apresentado
apenas em suas características estruturais mais básicas,
sem o devido aprofundamento semântico ou textual que
os vestibulares costumam abordar. Por esse motivo, apre-
1. Artigo sentaremos a seguir as aplicações textuais do artigo.
Artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um
marcador pré-nominal), com a função inicial de determiná- 1.2.1. Artigo como marcador de quantidade
-lo ou indeterminá-lo. Subdivide-se em dois grupos: defini- A presença ou ausência do artigo pode servir como quan-
dos e indefinidos. tificador de elementos.
§ Artigos definidos: determinam o substantivo de ma-
neira precisa. São eles: o(s), a(s). Exemplos:
Casa de câmbio da Rua do Ouvidor foi assalta-
Exemplo:
da. (A ausência de artigo indica que há mais de
Preciso que você me traga a cadeira branca. (O uma casa de câmbio na rua).
artigo definido marca a necessidade de se pegar
uma cadeira determinada.) A casa de câmbio da Rua do Ouvidor foi assal-
tada. (A presença de artigo indica que há apenas
§ Artigos indefinidos: dão ao substantivo um caráter uma casa de câmbio na rua).
vago / impreciso. São eles: um(uns), uma(s).
1.2.2. Artigo como marcador
Exemplo: de convívio/intimidade
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Preciso que você me traga uma cadeira branca. (O


A presença ou ausência do artigo pode servir como algo
artigo indefinido marca a possibilidade de se pegar
que marca certos afetos em relação aos indivíduos.
uma cadeira qualquer, indeterminada.)
Exemplos:
1.1. Artigo combinado com preposições
A gerência será assumida por Gerson Soares,
A contração de artigos com preposições é um movimento do almoxarifado. (A ausência de artigo indica
essencial para a demarcação de sentido em construções distanciamento de Gerson, marcando o fato de
textuais. Muitas vezes, fazer ou não fazer a contração do
que, possivelmente, nem todos o conheçam.)
artigo com a preposição pode alterar significativamente o
entendimento que se tem de um texto. Esses eventos tex- A gerência será assumida pelo Gerson Soares, do
tuais serão discutidos no próximo tópico (o artigo aplicado almoxarifado. (A presença de artigo indica intimida-
ao texto). Ficaremos aqui com as possibilidades de contra- de com Gerson, podendo demarcar a ideia de que
ção do artigo com a preposição. muitas pessoas da empresa conhecem o Gerson.)

15
1.2.3. Artigo marcando conhecimento Nesse segundo exemplo, a coerência textual é definida
ou desconhecimento de substantivos quando é apresentado um substantivo definido que nosso
interlocutor conhece. Para satisfazer a demanda de expli-
Os artigos definido e indefinido podem marcar o conheci-
cação, o interlocutor abre sua explicação marcando o subs-
mento ou o desconhecimento de certos assuntos conduzi-
tantivo com artigo indefinido.
dos por substantivos.

Exemplos:
Foi localizado, ontem, o jovem serial-killer que
havia fugido da cadeia. (O artigo definido nos
transmite a ideia de que a notícia da fuga do jo-
vem era de conhecimento dos leitores, ou seja, o
substantivo era conhecido.)
multimídia: letra e música
Foi localizado, ontem, um jovem serial-killer que
havia fugido da cadeia. (O artigo indefinido nos Fonte: Youtube
transmite a ideia de que a fuga do jovem era no- A canção, em seu refrão, recorre às propriedades semân-
vidade para os leitores, ou seja, o substantivo era ticas do emprego dos artigos: “Ele é o homem /Eu sou
desconhecido.) apenas uma mulher”.
Esse cara (Caetano Veloso)
1.2.4. Artigo como particularizador ou generalizador Ah! Que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Exemplos: Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Garfield é um gato. (O artigo indefinido marca a Ele está na minha vida porque quer
ideia de que Garfield é mais um entre os vários ga- Eu estou pra o que der e vier
tos no mundo, ou seja, generaliza o substantivo.) Ele chega ao anoitecer
Garfield é o gato. (O artigo definido marca a ideia Quando vem a madrugada ele some
Ele é quem quer
de que Garfield é um gato especial em relação a
Ele é o homem
outros gatos, ou seja, particulariza e destaca o Eu sou apenas uma mulher
substantivo.)

1.2.5. Artigo como marcador de coerência textual 2. Substantivo


Para marcarmos coerência textual, muitas vezes nos vale- Classe de palavras variável que dá nome a seres reais ou
mos das capacidades de determinação e indeterminação
imaginários (pessoas, animais ou objetos), lugares, quali-
dos artigos.
dades, ações ou sentimentos. Em suma, que pode ter exis-
tência concreta ou abstrata.
Exemplos:
Uma feira de livros usados terá início nesse fim
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

de semana, em Sorocaba. A feira contará com a É importante, pensando em provas de vestibular, que
participação de sebos e livrarias da região... consigamos entender que os conhecimentos a respeito
de elementos mais básicos de classificação de substanti-
No exemplo apresentado, constatamos que, quando pre­
cisamos introduzir uma informação que nosso interlocu- vos (ligados à morfologia) não são efetivamente exi-
tor desconhece, utilizamos primeiro um artigo indefinido gidos em provas de vestibulares. Hoje em dia, as pro-
e, depois de apresentado o substantivo, (no caso, “feira”) vas esperam que os alunos saibam localizar substantivos
começamos a demarcá-lo a partir do artigo definido. Há com precisão, a fim de que sejam capazes de resolver
também outra possibilidade de organização: exercícios de compreensão textual (por exemplo, enten-
der as funções textuais de um substantivo) ou mesmo de
Exemplos: sintaxe. Em suma, dividiremos o conteúdo a seguir en-
tre os conteúdos de baixa incidência em provas de
— Então, como é o sítio?
vestibular e os conteúdos de maior incidência em
— Bem, é um sítio antigo, retiramos a água do provas de vestibular. Vejamos então:
poço, mas é bastante tranquilo...

16
I. Conteúdos de baixa incidência em provas de Exemplos:
vestibular.
escrivão – escrivães; cão – cães;
alemão – alemães.
2.1. Classificação de substantivos
§ Fazem o plural em “–ões”.
§ Próprio: nomeia determinados indivíduos de uma es-
pécie (designação específica), como um homem, um Exemplos:
país ou uma cidade específicos.
canção – canções; gavião – gaviões; botão –
Exemplos: botões.

Paulo; Pedro; Roma; Folha de S.Paulo.


§ Comum: nomeia, sem distinção, todos os seres de uma
espécie (designação genérica).

Exemplos:
cadeira; porta; sala; cidade; homem.
multimídia: letra e música
§ Concreto: nomeia os seres de existência concreta,
Fonte: Youtube
real, palpável “a pedra” ou “a porta”, por exemplo e
também seres dos quais já se constituiu uma imagem A canção é composta por substantivos de diferentes
histórica “a bruxa” ou “a fada”, por exemplo. naturezas.
Nome das coisas (Karnak)
§ Abstrato: nomeia elementos não palpáveis, como sen-
timentos, sensações, qualidades, estados, noções e ações. Nomes se dão às coisas / Nomes se dão
Nomes se dão às pessoas / Nomes se dão

Exemplos: Nomes se dão aos deuses / na imensidão do céu


Nomes se dão aos barquinhos / na imensidão do mar
maldade; compaixão; beijo; largura. Nomes se dão às doenças / na imensidão da dor
Nomes se dão às crianças / na imensidão do amor
2.2. Flexão dos substantivos You and me
Salame / Batata / Barata / Bigorna / Casa / Comida / Bicho
2.2.1. Número / Paçoca /Tampinha de caneta / Bolinha de sabão / Rabo de
galo /Circo / Pão / Conchinha de galinha / Coxinha do mar /
Os substantivos podem se flexionar em número, indi- Linha / Palito / Terra / Água / Ar / Seriema / Tatu / Mertiolate /
cando quantidades de certos termos/elementos. Existe, a Saci / Rocambole de laranja / Revista / Gibi / Pipoca / Margari-
princípio, uma regra geral, e também algumas variantes na / Lentilha / Leitão / Carrinho de feira / Terremoto / Furacão
que são apresentadas a seguir: / Centopeia / Isqueiro / Cefaleia / Blefarite / Cimento / Colar
/ Rissole / Rinite / Armário / Geladeira / Furadeira / Cobertor
§ Regra geral: o plural dos substantivos terminados em / Ladeira / Pedreira / Fogueira / Extintor / Jetom / Bazuca /
vogal ou ditongo exige o acréscimo do sufixo marcador Suporte / Argamassa / Fio de nylon / Lamparina / Chocolate /
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

de plural “–s”. Queratina / Juliana / Cadarço / Picareta / Beija-flor / Convida-


dos / Esfiha / Chupeta / Fruta-cor /Trompete / Arame / Hepa-
tite / Fac-símile / Chocalho / Geleia / Biga / Mocreia / Apolo /
Exemplos:
Nostradamus / Filarmônica / Marisa / Biriba / Pelé / Afrodite /
cadeira – cadeiras; mãe – mães; José / Filho / Veleiro / Alá / Deus / Salomão / Peixe / Pão
perna – pernas.
Substantivos terminados em consoantes
Substantivos terminados em ”–ão”
§ “r“, “z“ e “n“ fazem o plural em “–es“.
§ Fazem o plural em “–ãos”.
Exemplos:
Exemplos:
mar – mares; rapaz – rapazes.
cidadão – cidadãos; irmão – irmãos; órgão – órgãos.
§ Substantivos oxítonos terminados em “–s“ e “–z“ fa-
§ Fazem o plural em “–ães”. zem o plural em “–es“.

17
Exemplos: Exemplos:
país – países; raiz – raízes. homem – mulher; cavalheiro – dama.

§ Substantivos paroxítonos terminados em “–s“ são


Substantivos uniformes
invariáveis.
São aqueles que apresentam uma única forma para mar-
Exemplos: cação de gênero:

atlas – atlas; lápis – lápis. § Epicenos: usados para nomes de animais de um só


gênero que designam ambos os sexos.
§ Substantivos terminados em “–al“, “–el“, “–ol“ e
“–ul“ substituem no plural o “–l“ por “–is“. Exemplos:
a águia; a mosca; o condor; o gavião.
Exemplo:
§ Comuns de dois: a marcação de gênero é feita ex-
animal – animais. clusivamente pelos artigos. O substantivo se mantém.
§ Substantivos oxítonos terminados em “–il“ fazem o
plural em “–s“. Exemplos:
o agente – a agente; o gerente – a gerente.
Exemplos:
§ Sobrecomuns: apresentam um só termo para os gê-
ardil – ardis; funil – funis. neros masculino e feminino.
§ Substantivos paroxítonos terminados em “–il“ fazem o
plural em “–eis“. Exemplos:
a criança; a testemunha; o cônjuge.
Exemplos:
fóssil – fósseis. Observação
Caso haja necessidade de especificar o sexo do ani-
2.2.2. Gênero mal, juntam-se aos substantivos os adjetivos macho
Há dois gêneros na língua portuguesa: o masculino e o ou fêmea:
feminino. Também existe uma regra geral e algumas va-
riantes a serem observadas: Exemplos:
§ Regra geral: são masculinos os substantivos que po- gavião macho – gavião fêmea; tatu
dem ser precedidos pelo artigo “–o” e femininos os que macho – tatu fêmea.
podem ser precedidos pelo artigo “–a”.
2.2.3. Grau
Exemplos:
Os substantivos se flexionam em grau, que marca aumento
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

o poema; o pão (masculinos); a mão; a fruta ou diminuição:


(femininos).
§ Grau normal: homem; boca.
Substantivos biformes § Grau aumentativo: homenzarrão; bocarra.
Possuem duas formas diferentes para designação de gê- § Grau diminutivo: homenzinho; boquinha.
nero e geralmente são formados pela substituição da desi-
§ Grau diminutivo / aumentativo sintético (subs-
nência “–o” pela desinência “-a”.
tantivo acrescido de um sufixo que indica aumento ou
diminuição): chapeuzinho, chapelão; homúnculo, ho-
Exemplos: menzarrão; boquinha, bocarra.
menino – menina; garoto – garota. § Grau diminutivo / aumentativo analítico (subs-
Há também substantivos biformes formados por radicais tantivo acompanhado de um adjetivo que indica au-
diferentes. mento ou diminuição): boca grande; homem pequeno.

18
II. Conteúdos de maior incidência em provas de objeto indireto, complemento nominal, entre ou-
vestibular tras. Vejamos alguns exemplos:
a) Lembrar que o substantivo é chamado também de
“nome”
Exemplos:
O agricultor cuida do solo
Nos estudos gramaticais, em geral, alguns elementos que
não fazem parte da categoria “verbos” são denominados
como elementos nominais. No entanto, vale ressaltar
Substantivo é núcleo do sujeito
que o elemento nominal “por excelência” é o substanti-
vo, pois ele é o elemento “nomeador” da língua. Embora
seja uma informação simples (lembrar que o substantivo é O agricultor cuida do solo
chamado de “nome”), tal informação será essencial para a
melhor organização dos estudos em sintaxe. Por exemplo,
a categoria conhecida como adjunto adnominal é com- Substantivo também é núcleo do objeto indireto
posta por itens que “acompanham”, que “estão juntos”, d) O substantivo possui funções de organização textual
que “estão ao lado” de um elemento nominal (em ter-
mos mais práticos, um “adjunto adnominal” é um item que A construção de um texto depende essencialmente dos
fica “junto” do “nome”, ou “junto” do “substantivo”). substantivos, pois é deles que parte o processo de refe-
Ter essa noção, ajuda a diluir a confusão que comumente rencialidade.
ocorre quando precisamos, mais adiante, nomear determi- Entende-se por referencialidade a capacidade que os subs-
nadas categorias sintáticas. tantivos têm de apontar para os elementos do mundo que
b) Saber que o substantivo é precedido de artigo (e que compõem sentido, e também de fazer com que esses sen-
pode vir também precedido ou acompanhado de outras tidos sejam construídos à medida que novos substantivos
categorias gramaticais) apareçam no texto. O movimento de referencialidade parte
de três pressupostos importantes:
O método mais prático para confirmarmos se uma palavra
§ Introdução/construção: apresenta um ou mais
é, ou não, um substantivo consiste em inserirmos diante
substantivos no texto que servirão não apenas de intro-
dela um artigo (o, a, um, uma ou as formas plurais desses
dução, mas também como elementos que constituem /
itens). Por exemplo, desejo saber se “floresta” é um subs-
fundamentam uma ideia. É a partir desse(s) substanti-
tantivo. Pronuncio, então: “a floresta”. Funcionando, te-
vo(s) que o texto e seu sentido são construídos.
nho a confirmação de que “floresta” é um substantivo.
Tal procedimento não funcionaria, por exemplo, diante de § Retomada/manutenção: usam-se outros substan¬-
um “verbo” (por exemplo, a construção “a dormir”, não tivos muito similares ao(s) primeiro(s) apresentados no
existe em português). início do texto, que permitirão reto¬mar a ideia inicial-
mente apresentada (o que contribui para a manuten-
Outro ponto relevante é que, embora seja comum utilizar-
ção de sentido).
mos artigos com elementos que precedem substantivos,
também podemos ter outras categorias que “acompanham” § Desfocalização: é o momento do texto em que en-
substantivos, como pronomes (“essa floresta”), numerais tram em cena novos substantivos que tomam o foco
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

(“duas florestas”) e adjetivos (“florestas imensas”). para si e ampliam os sentidos do texto.

c) Saber que o substantivo será o núcleo diversas funções


sintáticas que serão estudadas em tópicos futuros 3. Adjetivo
Muitas vezes saímos da escola “abarrotados” de nomen- Classe de palavras variável que acompanha e modifica o
claturas sintáticas na cabeça, que muitas vezes temos di- substantivo, podendo caracterizá-lo ou qualificá-lo.
ficuldade em organizar e dominar. Algo que ajudará nes-
se processo é entender que, uma vez que você se torne Assim como alertamos mais acima, pensando em pro-
um bom “localizador” de substantivos, você está a meio vas de vestibular, é importante que consigamos enten-
caminho de se tornar um bom “localizador” de determi- der que os conhecimentos a respeito de elementos mais
nadas categorias sintáticas. Isso porque o substantivo é básicos de classificação de adjetivos (ligados à morfolo-
núcleo (parte essencial de uma categoria sintática, que gia) não são efetivamente exigidos em provas de
comporta maior carga de sentido) de categorias que es- vestibulares. Hoje em dia, as provas esperam que os
tudaremos mais adiante como sujeito, objeto direto,

19
Exemplos:
alunos saibam localizar adjetivos e locuções adjetivas
clínicas médico-dentárias; institutos ítalo-brasileiros.
com precisão, a fim de que sejam capazes de resolver
exercícios de compreensão textual (por exemplo, en-
tender as funções textuais de um adjetivo) ou mesmo
de sintaxe. Desse modo, aqui no tópico de “Adjetivos”,
também dividiremos o conteúdo a seguir entre os con-
teúdos de baixa incidência em provas de vestibu-
lar e os conteúdos de maior incidência em provas
de vestibular. Vejamos então: multimídia: livro
I. Conteúdos de baixa incidência em provas de ves-
Memórias Póstumas de Brás
tibular.
Cubas (Machado de Assis)
No primeiro capítulo, o autor trabalha com os sentidos
3.1. Nomes substantivos das palavras “autor” e “defunto” em diferentes classes
e nomes adjetivos gramaticais.
No contexto de uma frase, é possível identificar palavras de Capítulo I - ÓBITO DO AUTOR
outras classes, entre elas os adjetivos, que se transformam
[...] Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
em nomes (substantivos) desde que precedidas de um artigo.
duas considerações me levaram a adotar diferente mé-
todo: a primeira é que eu não sou propriamente um au-
Exemplos: tor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa
o jovem desempregado; um desempregado jovem. foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim
mais galante e mais novo. [...]
§ Adjetivos Pátrios e Gentílicos
Derivados de substantivos, os adjetivos que in-
dicam a nacionalidade de pessoas e coisas são
3.1.2. Grau dos adjetivos
chamados pátrios. Exemplos: brasileiro; mineiro; § Comparativo: indica determinada qualidade em grau
paranaense; paulista; português. igual, superior ou inferior a outra (Comparativo de
Igualdade, de Superioridade e de Inferioridade).
Os que indicam etnias e povos são os adjetivos
gentílicos. Exemplos: israelita; semita; europeu; Exemplos:
africano; curdo.
Pedro é tão estudioso como (ou quanto) Rodrigo.
§ Adjetivos pátrios e gentílicos compostos
Pedro é mais estudioso do que Rodrigo.
Exemplos: Pedro é menos estudioso do que Rodrigo.

luso-brasileiro; euro-asiático; teuto-brasileiro; afro- § Superlativo: expressa determinada qualidade em grau


-americano; franco-suíço; hispano-americano; aus- elevado. Pode ser Superlativo Absoluto ou Relativo.
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

tro-húngaro; indo-europeu, anglo-americano. O Superlativo Absoluto se apresenta como Sinté-


tico (com o acréscimo de sufixos) e Analítico (com o
3.1.1. Flexão do adjetivo auxílio de advérbios que dão ideia de intensidade).

§ Número: o adjetivo toma a forma singular ou plural Exemplos:


do substantivo que ele determina.
Pedro é inteligentíssimo. (Superlativo Absolu-
to Sintético).
Exemplos:
Rodrigo é muito inteligente. (Superlativo Ab-
aluno estudioso – alunos estudiosos; aluna apli-
soluto Analítico).
cada – alunas aplicadas; perfume francês – per-
O Superlativo Relativo indica qualidade em
fumes franceses.
grau mais ou menos elevado em comparação à
§ Plural dos adjetivos compostos: apenas o último totalidade dos seres. Pode ser: Relativo de Su-
elemento vai para o plural. perioridade e de Inferioridade.

20
Exemplos:
João é o aluno mais estudioso da classe. (Superlativo Relativo de Superioridade).
João é o aluno menos estudioso da classe. (Superlativo Relativo de Inferioridade).

Observação 1

Há uma exceção: surdo-mudo / surdos-mudos.


Observação 2

São invariáveis os adjetivos referentes a cores se o último elemento ou ambos forem substantivos: blusas vermelho-sangue;
vestidos cor de rosa; blusas verde-limão.

II. Conteúdos de maior incidência em provas de vestibular


a) Lembrar que a posição de um adjetivo em relação a um substantivo “pode” modificar as relações de sentido.

Exemplos
Ele é um atleta pobre (sem recursos financeiros / sem dinheiro)
Ele é um pobre atleta (um atleta medíocre / sem grandes habilidades)
Embora a posição mais tradicional de inserção do adjetivo seja posterior ao substantivo, a gramática normativa autoriza
a inversão de posições; desde que, é claro, estejamos atentos sobre possíveis mudanças de sentido. Nos exemplos apresen-
tados acima, a mudança de posição entre as palavras “atleta” e “pobre” criou nuances variadas de sentido. É importante
ressaltar que isso não ocorrerá sempre. Por exemplo, dizer que “o Brasil precisa de um jornalismo novo” e dizer que “o
Brasil precisa de um novo jornalismo” (em que modificamos as posições do adjetivo “novo” em relação ao substantivo
“jornalismo”) não muda efetivamente nada do ponto de vista do sentido.
b) O adjetivo possui funções de organização textual
Os adjetivos exercem o importante papel de auxiliar nos processos descritivos de um texto. Em termos mais claros, os adjeti-
vos são responsáveis por compor sentenças que, por exemplo, caracterizem os personagens de uma narrativa (suas roupas,
atitudes, etc.) ou que apresentem detalhes a respeito de uma localização (detalhes de uma cidade, ou ambiente florestal),
entre outras caracterizações. Em textos literários brasileiros do período romântico, por exemplo, havia a necessidade de se
evidenciar características que valorizassem a nação. Por esse motivo, encontramos obras em que há grandes processos de
adjetivação caracterizando o ambiente brasileiro (o livro Iracema, de José de Alencar, é um grande exemplo).
c) A locução adjetiva
A locução adjetiva é uma categoria morfológica em que utilizamos duas estruturas (em geral, uma preposição + um substan-
tivo) que, no final, funcionam como um único adjetivo (caracterizando um substantivo). Um detalhe importante é que a es-
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

trutura que funciona locução adjetiva nos permite, em alguns casos, “enxergar” um adjetivo por trás dela. Vejamos exemplos:

Exemplos
Preciso imprimir a fatura do mês

substantivo locução adjetiva (equivale ao adjetivo “mensal”)


Eu levantei uma parede de concreto

substantivo locução adjetiva (não há adjetivo equivalente)

21
DIAGRAMA DE IDEIAS

GRAMÁTICA
NORMATIVA

ESTUDO DOS PROCESSOS DE


MORFOLOGIA
FORMAÇÃO DE PALAVRAS

CLASSE DAS
PALAVRAS

SUBSTANTIVO ADJETIVO

ARTIGO PALAVRA VARIÁVEL QUE PALAVRA VARIÁVEL


DÁ NOME A SERES REAIS, QUE ESPECIFICA
IMAGINÁRIOS OU IDEIAS O SUBSTANTIVO,
PALAVRA VARIÁVEL CARACTERIZANDO-O
QUE SE ANTEPÕE
AO SUBSTANTIVO,
DETERMINANDO-O
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

22
lhe são permitidos. Existem três conjugações verbais na lín-
gua portuguesa:
§ 1.a conjugação: indicada pela vogal temática –a–
VERBOS:
amar, brincar, falar
NOÇÕES PRELIMINARES § 2.a conjugação: indicada pela vogal temática –e–
E MODOS INDICATIVO nascer, crescer, morrer
E SUBJUNTIVO § 3.a conjugação: indicada pela vogal temática –i–

dormir, sorrir, partir

LC AULAS
5E6
O verbo pôr e seus derivados são considerados de 2.ª
conjugação por conta de um processo fonológico ao
longo da história que suprimiu a vogal temática –e–.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) Em um estágio anterior da língua portuguesa, a sua
1e8 1, 2, 3, 4, 26 e 27 forma original era poer.

1. Verbo 1.2. Classificação dos verbos


Verbo é a classe de palavras que, do ponto de vista se- 1.2.1. Verbos regulares
mântico e morfológico, contém as noções de ação, proces-
so, estado, mudança de estado e manifestação de fenôme- Os verbos regulares não sofrem alteração do radical e das
nos da natureza. É variável e suas flexões marcam: desinências nos diferentes tempos, modos e pessoas. O
radical do verbo é obtido pela supressão das terminações
§ pessoa: indica o emissor, o destinatário ou o ser do do infinitivo (–r):
qual se fala. Os pronomes pessoais do caso reto in-
dicam as pessoas do verbo – eu, tu, ele(a), nós, vós, eu mand(o) / tu mand(as) / ele mand(a) / nós
eles(as); mand(amos)

§ número: indica se o sujeito gramatical está no singu- 1.2.2. Verbos irregulares


lar ou no plural;
Os verbos irregulares sofrem alteração do radical e das de-
§ tempo: localiza a ação, o processo ou o estado em sinências nos diferentes tempos, modos e pessoas.
relação ao momento do enunciado. Os tempos verbais
são seis: presente, pretérito perfeito, pretérito imper- § fazer: faço, faria, fazia;
feito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e § estar: estou, estive, estarei;
futuro do pretérito;
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

§ saber: sei, soubera, saiba.


§ modo: indica a atitude do emissor quanto ao fato por
ele enunciado, que pode ser de certeza, dúvida, temor, 1.2.3. Verbos anômalos
desejo, ordem, etc. Os modos verbais são: indicativo,
subjuntivo e imperativo; Os verbos anômalos apresentam radicais diferentes ao lon-
go da conjugação:
§ voz: indica o comportamento do sujeito em rela-
ção ao verbo (agente, paciente ou ambos, simulta- § ser: sou, é, fomos;
neamente). § ir: vou, fui, ia.

1.1. Conjugações verbais 1.2.4. Verbos defectivos


Conjugar um verbo compreende adicionar ao seu radical Os verbos defectivos não possuem todas as as formas para
a vogal temática da conjugação ou classe a que pertence conjugação (não costumam apresentar, por exemplo pri-
somada aos sufixos modo-temporal e número-pessoal que meira pessoa do singular):

23
§ reaver (composto de haver, tem apenas as formas em § Infinitivo
“v“): reavemos, reavia, reaverá;
O comer demais faz mal. (substantivo)
§ precaver: precavemos, precavia, precavi; O viver é bom. (substantivo)
§ latir: lates, late, latimos; § Gerúndio
§ colorir: colores, colore, colorimos, coloris. Ela bebeu chá fervendo. (advérbio)
Fervendo, desligue. (advérbio)
OBSERVAÇÃO: Entre os verbos defectivos estão inclu- § Particípio
ídos os chamados verbos impessoais, usados apenas
A feira foi inaugurada. (adjetivo)
na terceira pessoa do singular: chover, trovejar, ventar,
haver (existir), fazer (refere-se ao clima: faz frio; ao tem- O parque foi inaugurado. (adjetivo)
po: faz dez anos).
1.4. Locução verbal
1.2.5. Verbos auxiliares Expressão formada por mais de um verbo, O primeiro verbo
da sequência é chamado de auxiliar e pode apresentar
Os verbos auxiliares formam os tempos compostos ou lo-
flexões (de tempo, modo e pessoa); o segundo é chamado
cuções verbais com os verbos principais:
de principal e assumirá alguma das formas nominais (in-
§ ser (pago); finitivo, gerúndio ou particípio).
§ estar (curado);
Exemplos:
§ ter (estudado);
Eu irei estudar mais tarde.
§ haver (prometido).
Ele está pensando que é adulto.
1.2.6. Verbos abundantes Estamos preocupados com a situação.
Os verbos abundantes apresentam mais de uma forma,
especificamente de particípio: 1.5. Modos verbais
Os modos verbais têm como objetivo indicar o “com-
§ cozido e cozinhado;
portamento” dos verbos em relação aos tempos (exce-
§ morto e morrido; to no modo imperativo, que será estudado na próxima
§ imprimido e impresso. aula). São os modos verbais que nos permitem saber
se tempo utilizado em uma sentença refere-se a uma
situação de certeza dos acontecimentos (modo indicati-
Os particípios abundantes são classificados em regula-
vo) ou incerteza dos acontecimentos (modo subjuntivo).
res e irregulares.
Vamos conhecê-los:
a) As formas regulares terminadas em –ado e –ido,
não contraídas, acompanham os verbos auxiliares
ter e haver.
1.5.1. Tempos do modo indicativo
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Presente: em sua designação padrão, indica ação simul-


Ele já havia pagado a dívida.
tânea ao momento de fala.
Tínhamos aceitado o convite.
b) As formas irregulares, contraídas, acompanham os
Exemplo:
verbos auxiliares ser e estar.
Só passa ônibus lotado! Por isso o ponto con-
O feijão foi cozido na panela de pressão.
tinua cheio.
A lâmpada foi acesa.
Também é utilizado para exprimir outras situações além da
anteriormente mencionada:
1.3. Formas nominais do verbo a) Presente histórico ou narrativo: é articulado com
O infinitivo, o particípio (regular e irregular) e o gerúndio informações no passado. Muito usado em narrativas para
são chamados formas nominais do verbo porque podem criar uma aproximação entre o fato passado e o leitor /
funcionar como nomes – substantivo, adjetivo, advérbio. espectador do presente.

24
Exemplo:
Em 1970, O Brasil vence a Copa do México

evento passado verbo no presente


b) Presente com valor de futuro: é articulado com informações no futuro. Encontramos em situações variadas, desde
construções literárias mais sofisticadas, até construções mais oralizadas.

Exemplo:
Pode deixar, amanhã eu falo com o Roberto.

evento passado verbo no presente


c) Presente frequentativo ou habitual: é articulado com “marcadores linguísticos de hábito” (elementos como “todo
dia”, “toda hora”, “a todo o momento”, “sempre”, entre outros). Dá ao verbo no presente a sensação de ação que é realizada
frequentemente, como um hábito.

Exemplo:
Sempre viajamos com nossos pais para Aparecida do Norte

marcador verbo no presente


de hábito
d) Presente durativo ou universal: é articulado em fenômenos pontuais em que conseguimos perceber uma situação
que seria “imutável”. É muito comum em sentenças que apontam verdades universais, provérbios e teoremas. Ocorre fre-
quentemente com verbo “ser”, mas admite outras construções.

Exemplo:
A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Presente durativo (verdade universal / imutável)


Pretérito: indica ação anterior ao momento de fala. No modo indicativo, temos três modalidades:
a) Pretérito perfeito: ação passada pontual, encerrada, já concluída. Não apresenta referência a outra ação anterior ou
contemporânea. VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Exemplo:
O gerente indicou um candidato para a vaga.

pretérito perfeito (ação passada concluída)

Apresenta forma composta!


O pretérito perfeito composto é estruturado a partir de verbo “ter” + “particípio” e exprime um passado que continua
a se repetir no presente.

Exemplo:
O novo filme de Almodóvar tem agradado crítica e público.

25
b) Pretérito imperfeito: em sua designação mais comum, indica ação passada não encerrada, mas também apresenta
outras nuances de sentido. Vejamos:

Exemplo:
Ele caminhava quando o foi atingido por uma bicicleta.

pretérito imperfeito (ação passada não encerrada / interrompida)

Exemplo:
Enquanto existiram, as Lojas Arapuã abriam as portas às 10 horas.

pretérito imperfeito (ação habitual / frequente no passado)

Exemplo:
Pretendíamos ir à Bahia, mas os preços subiram muito.

pretérito imperfeito (ação idealizada / imprecisa / vaga / não realizada)


c) Pretérito mais-que-perfeito: trata-se de uma ação passada anterior a outra ação também passada. Vejamos:

Exemplo:
O avião já decolara quando o passageiro atrasado chegou.

pretérito mais-que-perfeito (simples) outra forma de passado

Apresenta forma composta!


O pretérito mais-que-perfeito composto é estruturado a partir dos verbos “ter” ou “haver” + “particípio” e indica o
mesmo que a forma simples, no entanto, é mais frequentemente usado na linguagem cotidiana.

Exemplo:
O avião já tinha / havia decolado quando o passageiro atrasado chegou.

pretérito mais-que-perfeito (composto) outra forma de passado


VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Futuro: indica ação posterior ao momento de fala.


a) Futuro do presente: indica ação futura (de realização material certa ou incerta) em relação ao presente. Apresenta
também alguns usos particulares que veremos a seguir:

Exemplo:
O medicamento estará disponível no mercado em setembro.

futuro do presente (ação futura enunciada)

26
Exemplo:
Conseguirá o grande varejista manter-se no topo?

futuro do presente (usado estilisticamente para indicar incerteza)

Exemplo:
Na África, quantos não estarão mortos de fome!

futuro do presente (usado para enfatizar fato futuro aproximado)

Apresenta forma composta!


O futuro do presente composto é estruturado a partir de verbo “ter” + “particípio” e exprime um fato que estará
concluído antes de outro.

Exemplo:
Em dois anos, você terá terminado o seu mestrado.

b) Futuro do pretérito: indica ação futura que não se concretizará por conta de uma relação com fato passado. Sua
estrutura apresenta também alguns outros usos particulares que veremos a seguir:

Exemplo:
Eu participaria da São Silvestre se não tivesse torcido o tornozelo.

futuro do pretérito ação passada que compromete ação futura

Exemplo:
O suspeito teria sido visto próximo à residência da vítima alguns dias antes.

futuro do pretérito (indicando incerteza / condição subentendida)

Exemplo:
Poderia me passar os talheres, por gentileza?
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

futuro do pretérito (recurso de polidez / delicadeza)

Apresenta forma composta!


O futuro do pretérito composto é estruturado a
partir de verbo “ter” + “particípio” e exprime um fato
que poderia ter acontecido após outro fato passado.

Exemplo: multimídia: vídeo


a crise teria quebrado a empresa, se não fos- Fonte: Youtube
se o auxílio dos investidores. Jornalista - Veja o uso do futuro do pretérito

27
1.5.2. Tempos do modo subjuntivo
O modo subjuntivo indica, em qualquer tempo que atue, nuances de incerteza (hipóteses, suposições, fatos duvidosos, etc.).
Sua adequada conjugação depende de algum elemento que, além de reafirmar a incerteza, contribua para a expressão verbal.
Não há a mesma quantidade de conjugações que vimos no modo indicativo. Trabalha-se, habitualmente, com
três: Presente, Pretérito Imperfeito e Futuro (há formas compostas, menos usadas, mas que também serão apresentadas).
Presente
Exemplo: Ainda que eu compre um novo carro, não sei se seria mesma coisa

elemento de suporte presente do subjuntivo


Pretérito Imperfeito
Exemplo: Se houvesse tempo, eu também iria ao show

elemento pretérito imperfeito do subjuntivo


de suporte
Futuro
Exemplo: Quando mudar de ideia, ligue para o seu gerente.

elemento futuro do subjuntivo


de suporte

Formas compostas
As formas compostas do subjuntivo também indicam nuances de incerteza e dependem de algum elemento de suporte
para realização da conjugação. São apenas três tempos utilizados: Pretérito perfeito composto, Pretérito mais-que-
-perfeito composto e Futuro composto. Vejamos:
Exemplo: É essencial que tenham discutido esse problema na reunião.

elemento de suporte pretérito perfeito composto do subjuntivo


Exemplo: Se você tivesse comprado na semana passada, teria pago mais barato.

elemento de suporte pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo


VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Exemplo: Daremos a resposta assim que tivermos recebido o orçamento da reforma.

elemento de suporte futuro composto do subjuntivo

28
DIAGRAMA DE IDEIAS

MORFOLOGIA

VERBOS VOZES

MODOS

INDICATIVO SUBJUNTIVO IMPERATIVO

TEMPOS TEMPOS

• PRESENTE • PRESENTE
• PRETÉRITO • PRETÉRITO IMPERFEITO
PERFEITO • FUTURO
IMPERFEITO
MAIS-QUE-PERFEITO
• FUTURO
DO PRESENTE
DO PRETÉRITO

VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

29
2. Vozes
As vozes verbais indicam o comportamento do sujeito (ati-
vo, passivo ou reflexivo) em relação ao verbo apresentado.
VERBOS: Vejamos alguns exemplo iniciais:

MODO IMPERATIVO § João cortou árvores.


O fato (cortou) é praticado pelo sujeito (João).
E VOZES VERBAIS Portanto, o verbo está na voz ativa.
§ Árvores foram cortadas por João.
O sujeito (árvores) é alvo, ou seja, sofre a ação de
João. Portanto, o verbo está na voz passiva.

LC AULAS
7E8
§ João cortou-se com o machado.
O sujeito (João) é agente e também alvo da ação
de cortar. Portanto, o verbo está na voz reflexiva.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1e8 1, 2, 3 e 27 2.1. Voz ativa
Como vimos nos exemplos iniciais, na voz ativa, o sujeito da
construção pratica a ação verbal. Trata-se de uma estrutura
1. Modo imperativo que ocorre prioritariamente com verbos transitivos diretos
(VTD) ou a parte direta dos verbos bitransitivos (VTDI). Ve-
O modo imperativo manifesta ordem, conselho, súplica ou jamos a estrutura:
exortação do emissor e pode ser imperativo afirmativo ou
imperativo negativo.
§ Se beber, não dirija! Filomena comprou mais plantas.

§ Dorme, que já está na hora!


sujeito agente VTD objeto direto
TABELA PARA CONJUGAÇÃO DO MODO IMPERATIVO
presente
do indicativo
imperativo
afirmativo
imperativo
negativo
presente
do subjuntivo
2.2. Voz passiva (analítica)
eu compro x x
(ainda que) Também vimos anteriormente, na voz passiva, o sujeito da
eu compre
construção sofre a ação verbal. Em língua portuguesa, te-
(ainda que)
tu compras compra tu* compres tu
tu compres
mos dois modelos de voz passiva. Primeiramente, veremos
(ainda que)
a voz passiva analítica, que se trata de uma construção
ele compra compre você compre você
ele compre que, além de constatarmos um sujeito “paciente”, que sofre
nós compramos compremos nós compremos nós
(ainda que) a ação verbal, visualizamos uma estrutura de locução verbal
compremos nós formada por verbo “ser” + verbo no particípio, além de uma
(ainda que)
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

vós comprais comprai vós* compreis vós estrutura preposicionada, chamada de agente da passiva.
vós compreis
(ainda que)
eles compram comprem vocês comprem vocês
eles comprem
Edson foi incentivado pelos colegas.
*As duas passagens do Presente do Indicativo para
o Imperativo Afirmativo implicam na perda do “S”
final que compõe a construção verbal.

sujeito verbo “ser” agente


Embora a palavra “imperativo” esteja ligada à ideia de co-
paciente + da passiva
mando e ordem, os verbos que compõem essa modalidade
verbo no particípio
também são empregados para designar pedido, convite,
sugestão, conselho ou súplica.
Atenção
§ Faça isso agora, amor! (pedido) Em casos mais raros, podemos encontrar construções
§ Faça-nos uma visita! (convite) passivas analíticas com o verbo “estar” + “particípio”
§ Meu filho, faça sempre o melhor! (conselho) Exemplo: Os criminosos estavam cercados pelas au-
§ Senhor, faça-nos esse milagre! (súplica) toridades.

30
2.3. Voz passiva (sintética) 2.4. Voz reflexiva
Temos um outro modelo de voz passiva em língua portu- A voz reflexiva, como vimos anteriormente, é um fenô-
guesa, conhecido como voz passiva sintética. Esse ou- meno em que sujeito pratica e sofre a ação realizada. É
tro modelo é originário de um fenômeno conhecido como estruturada a partir de um verbo pronominalizado (verbo
partícula apassivadora, resultado da junção de um verbo + pronomes “me”, “te”, “se”, “nos” e “vos”). Vejamos:
transitivo direto (VTD) + uma partícula “se”. Dessa junção,
surge um fenômeno que nos permite visualizar um sujeito
Exemplo:
“paciente” (que sofre a ação verbal). Vejamos a estrutura. Acidentalmente, ele se feriu com o aparelho.

Exemplo:
Consertam-se televisores. pronome reflexivo verbo

VTD partícula sujeito paciente


“se”

VIVENCIANDO

O imperativo é usualmente empregado no universo publicitário. Procure identificar em


qual pessoa gramatical os verbos presentes nas imagens abaixo estão empregados.

DIAGRAMA DE IDEIAS

MORFOLOGIA
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

VERBOS VOZES

• ATIVA
• PASSIVA
• REFLEXIVA
MODOS

INDICATIVO SUBJUNTIVO IMPERATIVO

NÃO ARTICULA TEMPO

AFIRMATIVO
NEGATIVO

31
ANOTAÇÕES

____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
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VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

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32
ENTRE
LETRAS

INTERPRETAÇÃO
LINGUAGENS
DE TEXTOS
CÓDIGOS
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

A interpretação de texto é primordial para No vestibular Fuvest a interpretação de


a resolução da prova, devendo o aluno texto acontece de forma mais prática.
focar não apenas na interpretação dos Muitas vezes ligada aos textos literários
textos literários, mas sobre os mais varia- ou críticos, a temática aborda de figuras
dos gêneros. Além disso, saber interpretar de linguagem à projeções sobre o senso
o comando das questões, que podem dar comum.
pistas sobre a resposta correta.

Textos críticos e literários são colocados Uma vez que a interpretação não ocorre Conduz a interpretação de texto em
em discussão, de modo que não basta isolada, é preciso que o aluno repare nos paralelo aos textos literários, majorita-
reconhecer os recursos linguísticos. Por- contextos e nos recursos utilizados para riamente. Crônicas, poemas e pequenos
tanto, notar o contexto é essencial. alcançar os efeitos de sentido, identifi- trechos canônicos podem ser cobrados
cando-os e validando-os pelo vestibular, exigindo, do aluno, não
a leitura integral da obra, mas a capa-
cidade de análise e avaliação
do texto.

Questões que demandam do aluno o Saber ler não só as questões da frente de A interpretação de textos ocorre de ma- As questões de interpretação se tornam
conhecimento sobre os recursos linguís- Português, mas também as questões ge- neira direcionada, focada, sobretudo, aos bastante direcionadas. Conhecer os con-
ticos costumam aparecer, bem como uma rais, ainda que em linhas bastante curtas recursos linguísticos (como figuras de lin- ceitos por trás da produção dos textos
interpretação de texto basilar ao desen- e diretas, será um diferencial. Os recursos guagem e funções linguísticas). Trabalhar (literários ou não), será uma ferramenta
volvimento leitor. linguísticos ligados à produção de textos de forma atenta, lembrando e aplicando interessante para que o vestibulando
não devem ser esquecidos no momento os conceitos aprendidos em aula será possa atuar.
da leitura. fundamental.

UFMG
Alinha a interpretação de texto às obras Além de conhecer os recursos linguís- O exame CMMG é objetivo. Exige do
literárias que costuma exigir na sua lista ticos, é importante lembrar que uma candidato uma capacidade leitora funda-
obrigatória. O conhecimento sobre os re- leitura atenta pode render ao candidato mental, que demonstre aptidão em reco-
cursos literários adquiridos no estudo das pontos em questões não apenas na área nhecer os recursos linguísticos dentro das
obras será fundamental. de Português, mas nas variadas áreas do questões. Assim, lembrar e compreender
conhecimento. serão as duas principais habilidades tra-
balhadas por esse vestibular.
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Diversos gêneros textuais podem ser Ter em mente os conceitos de denotação Ler atentamente, tendo em vista as carac-
pedidos, de modo que conhecer os fun- e conotação renderá, ao aluno, um ponto terísticas dos principais recursos linguísti-
damentos da produção textual (figuras de de segurança na hora de iniciar a sua in- cos e dos variados gêneros textuais, é um
linguagem e funções da linguagem) pode terpretação. Lembrar que a interpretação bom modo de mergulhar na prova. Além
ser um diferencial. A prova conta ainda se liga ao contexto pode ser a chave para disso, saber interpretar o comando das
com textos literários, o que demanda a aprovação. questões se mostrará de grande ajuda.
uma interpretação de senti-
do conotativo.

34
§ Fática ou de contato: foco no canal de comunicação
ou a partir da abertura de contato (físico ou psicológi-
co) com terceiros;
§ Poética: foco nos modos de elaboração da mensagem
FUNÇÕES DA e do texto que a compõe;
§ Metaliguística: foco no código comunicativo (nas
LINGUAGEM I bases prévias de comunicação, sejam elas verbais ou
não verbais).
A partir dessas definições, Roman Jakobson propôs o se-
guinte sistema organizativo:

LC AULA 1.2. Função emotiva ou expressiva


1 Foco: emissor / locutor / enunciador
A função emotiva, centralizada na figura daquele que fala,
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
expressa algumas particularidades do enunciador, como
5 15, 16 e 17 emoções, sentimentos, opiniões a respeito de determinadas
situações, crenças e até mesmo concordâncias e discordân-
cias em relação a certos assuntos. Nela prevalece a 1.ª pes-
soa do singular (eu), podendo, em alguns casos mais raros,
1. Funções da linguagem ocorrer com a 1.ª pessoa do plural (casos em que emoções
ou opiniões são mobilizadas de modo coletivo).
1.1. Introdução Trata-se de uma função que é facilmente identificada nos
O estudo das funções da linguagem está vinculado ao que processos comunicativos falados. Nos processos escritos,
os linguistas denominam teoria da comunicação. As teo- por sua vez, ela se torna evidente pela presença, no texto,
rias da comunicação têm como objetivo observar o funcio- de interjeições, exclamações, reticências ou outros sinais
namento de processos comunicativos tanto no campo da que demonstrem a subjetividade do falante. É a linguagem
fala como no campo da escrita, inclusive observando os das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor.
gestos de transposição entre os dois campos; por exem- Desencanto
plo: que elementos do sistema de fala são encontrados no Eu faço versos como quem chora
sistema de escrita? De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
O linguista russo Roman Jakobson (1896-1982) foi o
Não tens motivo nenhum de pranto.
responsável por desenvolver a teoria das funções da lin-
guagem. De acordo com o estudioso, a linguagem apre- Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
sentaria funções mais amplas do que simplesmente as de Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
caráter informativo. A partir desse pressuposto, Jakobson
Cai, gota a gota, do coração.
determina que os sistemas comunicativos seriam pauta-
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

dos por seis funções da linguagem, que seriam determi- E nestes versos de angústia rouca,
nadas a partir de um “foco” (ou uma ênfase) que recai Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
em pontos específicos da mensagem observada. As fun-
ções seriam as seguintes: – Eu faço versos como quem morre.
§ Emotiva ou expressiva: foco no emissor, locutor ou Teresópolis, 1912.
enunciador (a pessoa que fala ou escreve); (Manuel Bandeira)

§ Apelativa ou conativa: foco no receptor ou interlo-


cutor (a pessoa para quem se fala ou escreve, ou, em 1.3. Função apelativa ou conativa
algumas abordagens, aquele com quem se conversa); Foco: receptor / ouvinte / interlocutor
§ Referencial ou denotativa: foco no contexto ou na
referência de mundo (o assunto, situação ou objeto so- A função apelativa, centralizada na figura daquele que ouve,
bre o qual se fala); expressa a tentativa de um falante de interferir, geralmente

35
de maneira persuasiva, nos sentimentos do interlocutor. Nela indicação do governo americano, também ques-
prevalece a 2.ª pessoa do discurso (representada, em portu- tionado sobre a sua avaliação da ameaça iraquia-
guês, pelos pronomes tu e você). na, de que um inquérito pode ser aberto no país,
reforçou o argumento dos críticos de Blair. O Parti-
do Conservador britânico deverá apresentar nesta
semana uma moção pedindo a investigação.”
Fonte: Folha de S. Paulo - 02-02-2004

Trata-se de uma função que, para atingir seus objetivos,


manipula formas imperativas, vocativos e, em casos menos
frequentes, pronomes demonstrativos e possessivos de se-
gunda pessoa. É facilmente identificada em textos publici-
tários, discursos políticos, textos religiosos (sermões), além
de parágrafos específicos de textos argumentativos, como
artigos de opinião e editoriais.

1.4. Função referencial ou denotativa


Foco: referente
A função referencial, centralizada na figura daquilo que
Roman Jakobson definiu como “referente”, consiste no
uso objetivo da linguagem em duas instâncias:
§ indica/aponta elementos que estão no mundo;
§ indica/aponta situações ou acontecimentos no mundo.
Trata-se de uma função que não envolve expressão de
sentimentos (há a neutralização do emissor e do recep-
tor); por isso, diz-se que ela é centrada na 3.ª pessoa do
discurso e transmite uma informação objetiva e direta
sobre um assunto.
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

É identificada em muitos tipos de texto, como nos téc-


nicos ou científicos (artigos acadêmicos, matérias de
revistas científicas, livros didáticos), nas bulas de re-
médio, nas placas informativas, e também em alguns
subgêneros e gêneros jornalísticos, como a notícia e a
reportagem.

Exemplo:
“Aumenta a pressão sobre o primeiro-ministro
britânico, Tony Blair, para que ele permita uma in-
vestigação independente sobre os aparentes erros
dos seus serviços de inteligência no que se refere
às armas de destruição em massa do Iraque. A

36
DIAGRAMA DE IDEIAS

Função emotiva Função fática Função poética Função conativa

DESTINATÁRIO
EMISSOR LOCUTOR CANAL MENSAGEM
INTERLOCUTOR

CÓDIGO

Função referencial
Função metalinguística

CONTEXTO REFERENTE

VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

37
“tudo certo?”; para manutenção comunicativa, existem
os marcadores conversacionais, que são usados para
“testar” o funcionamento do canal, como “né”, “en-
tendeu?”, “viu?”, “aí”, “tipo”, etc.; e, para fechamen-
to comunicativo, existem recursos de despedida, como
FUNÇÕES DA “tchau”, “adeus”, “até logo”, etc.

LINGUAGEM II Trata-se de uma função que encontrada em muitos luga-


res. Basta que, em determinado espaço comunicativo, seja
esboçado algum gesto linguístico que dê margem para o
início de uma conversa (e, posteriormente, outros gestos
que mantenham sua progressão e também a encerrem).

LC AULA
2
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
5 15, 16 e 17

1. Funções da linguagem
(continuação)
Nesta aula, as funções da linguagem de Roman Jakobson
continuarão a ser estudadas. Lembrando que, das seis exis-
tentes, três foram vistas na aula anterior. As três restantes
serão abordadas agora.

1.1. Função fática


Foco: canal de comunicação
A função fática, centralizada no canal de comunicação,
opera em duas instâncias:
§ Verifica o modo como a linguagem opera dentro de de-
terminados canais de comunicação: Roman Jakobson
sugere que, ao se observar pessoas conversando em
determinado canal, é preciso estar atento a particulari-
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

dades que surgem na manipulação da linguagem. Para


isso, recomenda-se verificar a abertura (como a conversa
começa), a manutenção (quais são as características de
progressão) e seu fechamento (como os falantes encer-
ram a conversa). Um exemplo claro disso é a comunica-
1.2. Função poética
ção por telefone, em que a abertura é feita a partir de Foco: mensagem
um sinal que não é usado em interações frente a frente A função poética, centralizada na mensagem, promove
(alô?). Também é perceptível no telefone a emissão de alterações na estrutura da referida mensagem, com o in-
sinais sonoros durante a conversa que indicam a manu- tuito de modificar as relações do ouvinte com o conteúdo
tenção/progressão da comunicação (aquele que ouve, expresso. Por exemplo, um poema feito em estrutura de so-
por exemplo, costuma usar sinais como ahã! ahã! ahã!). neto caracteriza-se como função poética pelo fato de usar
§ Verifica estratégias gerais para abertura, manutenção e uma forma/estrutura comunicativa que difere do modelo
encerramento de comunicação. Para abertura comunica- direto (em prosa) habitual. Assim, entende-se que a função
tiva, por exemplo, há as saudações “olá”, “boa tarde!”, poética suplementa o sentido da mensagem.

38
Trata-se de uma função que, para atingir seus objetivos, contemporâneo, ele estará usando o “código crônica”
manipula figuras de linguagem, trocadilhos e quebras ou para falar sobre crônica. Trata-se de um gesto também
distorções de sequências sintáticas. Parte-se do pressupos- metalinguístico (verbal).
to que todo o poema já é uma função poética. Não obs-
A função metalinguística é facilmente encontrada nas artes
tante, é possível encontrar tal função em prosas poéticas
em geral; e também em alguns textos instrucionais de de-
(como os textos de Guimarães Rosa, por exemplo), ou em
terminadas áreas, como os livros de língua portuguesa que
textos publicitários que manipulam trocadilhos nas mensa-
ensinam o que é a língua portuguesa, caracterizando-se
gens de suas propagandas.
como instrumentos que operam uma metalinguagem.
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
Preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

(Propaganda com trocadilho)


(Paulo Leminski)
Sem
Mim
Ando
Com
Igo
Sigo
Sem
Com
Ando
(Arnaldo Antunes)

1.3. Função metalinguística


Foco: código
A função metalinguística, centralizada no código, ocorre
quando se usa um código (algum modelo comunicativo)
por meio do próprio código. É importante salientar que os
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

referidos códigos (modelos comunicativos) podem ser de


cunho verbal ou não verbal. Assim, é possível chegar às
seguintes conclusões:
§ A pintura, por exemplo, é um tipo de arte que estabele-
ce comunicação. Elas é, portanto, um código. Caso um
pintor deseje registrar em seu quadro um outro pintor
trabalhando, ele estará fazendo referência ao “código
pintura” por meio da própria pintura, o que caracteriza
um gesto metalinguístico (não verbal).
§ Uma crônica, por exemplo, é um gênero que comu-
nica algo. É, portanto, um código. Caso um cronista,
em vez de discutir um fato cotidiano, prefira falar so-
bre a dificuldade de se fazer uma crônica no momento

39
§ uso frequente da omissão de palavras;

Exemplo:
Eu vou com minha mãe e com meu pai; empresta
VARIAÇÃO o seu caderno?
§ formas contraídas;
LINGUÍSTICA I
Exemplo:
prof, med, refri, facul
§ afastamento das regras gramaticais;

LC AULA
3
Exemplo:
Eu vi ele.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) § possibilidade de adequar o discurso de acordo com as
5 15, 16 e 17 reações dos ouvintes.
b. Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de
acentuação para exprimir os recursos rítmicos e melódicos

1. Variação linguística da oralidade:


§ uso de descrições ricas;
A variação linguística é a diversificação dos sistemas de uma
língua em relação às possibilidades de mudança de seus ele- § obedece às regras gramaticais com maior rigor;
mentos (vocabulário, fonologia, morfologia, sintaxe). § sinais de pontuação e acentuação para transmitir a ex-
pressividade oral;
1.1. Linguagem formal versus § frases longas, apesar de também poder usar frases curtas;
linguagem informal § uso de vocabulário mais amplo e cuidadoso;
a. Norma culta/padrão: é a denominação dada à varieda- § conectivos e estruturas sintáticas para garantir a coe-
de linguística dos membros da classe social de maior prestí- são textual.
gio dentro da classe literária.
Observação: não se trata da única forma correta. 1.3. Variação diatópica
b. Linguagem informal/popular: é a denominação dada Também conhecida como variação regional ou variação
à variedade linguística utilizada no cotidiano e que não exige geográfica, ocorre quando percebemos que a linguagem
a observância total da gramática. apresenta variações de acordo com o espaço em que ela
é operada. É verificável não apenas entre estados (Rio de
1.2. Língua falada versus língua escrita
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Janeiro × São Paulo), mas também entre regiões em um


mesmo estado (interior de São Paulo × periferia de São
a. Língua falada/oral: dispõe de um número incontável de
Paulo × litoral de São Paulo). É por meio dessa variação
recursos rítmicos e melódicos – entonação, pausas, ritmo, flu-
que estudamos também os sotaques ou dialetos interiora-
ência, gestos – porque, claro, o emissor (pessoa que fala ou
nos (como o dialeto caipira).
transmite uma mensagem numa dada linguagem) está pre-
sente fisicamente. Algumas das características principais são:
Exemplos:
§ frequência da ocorrência de repetições, hesitações e bor-
I. Diferença de nomes entre regiões para um mes-
dões de fala (“Pois, eu aaa... eu acho que... pronto, não
mo objeto/item (mandioca × macaxeira × aipim).
sei...“, “Cara, o que é isso, cara?“);
II. Diferença de caracteres morfológicos, sintáti-
§ frases curtas;
cos ou semânticos entre regiões (usos de “tu”
§ frases inacabadas, porque foram cortadas ou inter- no litoral de São Paulo × usos de “você” na ca-
rompidas; pital de São Paulo).

40
1.4. Variação diacrônica
Também conhecida como variação histórica, ocorre quan-
do percebemos que a linguagem apresenta variações de
acordo com o tempo em que ela é operada. Parte-se do
pressuposto que a linguagem é um sistema vivo, constan-
temente mutável, e que seu uso apresenta variações em
três âmbitos:
§ na passagem entre gerações (avós, pais e filhos que uti-
lizam linguagens diferentes);
§ na evolução tecnológica (as novas tecnologias fazem
com que as pessoas passem a utilizar novos termos
linguísticos);
§ nos textos arcaicos (textos que, mesmo pertencendo a
nosso idioma, nos trazem certa dificuldade de compre-
ensão pelo fato de estarem muito afastados temporal-
mente. Um exemplo disso seria o texto Auto da barca
do inferno, de Gil Vicente, que por estar escrito em por-
tuguês medieval, apresenta muitas diferenças fonológi-
cas em relação ao português contemporâneo).

1.5. Variação diastrática


Também conhecida como variação social, ocorre quando
percebemos que a linguagem apresenta variações por con-
ta de dois fatores mais gerais:
§ fatores socioeconômicos (uma pessoa que, por ques-
tões financeiras, é obrigada a abandonar o espaço es-
colar para trabalhar e ajudar no sustento do lar, pode
apresentar, no futuro, dificuldades no uso da gramática
normativa, por exemplo).
§ uso de socioleto (na linguística, um socioleto é a va-
riante de uma língua falada por um grupo social, uma
classe social ou subcultura. É também entendida como
cada uma das variedades de uma língua usada pelos
grupos de indivíduos que, tendo características sociais
em comum (profissão, passatempos, geração etc.),
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

usam termos técnicos, ou gírias, ou fraseados que os


distinguem dos demais falantes na sua comunidade).

41
§ A linguagem escrita costuma ser entendida como um
sistema normalmente organizado, em que, por mais que
pensemos, por exemplo, em repetições de alguma pa-
lavra, efetivamente elas não se materializam na escrita.
Além disso, ao produzir um texto, costumamos organizar
VARIAÇÃO como vamos distribuir certas informações (parágrafos de

LINGUÍSTICA II introdução, argumentação e conclusão).

1.3. Preconceito linguístico


Denomina-se preconceito linguístico aquele gerado pe-
las diferenças linguísticas existentes dentre de um mesmo
idioma. Ele está associado a diversas diferenças de base

LC AULA
4
linguística, especialmente as regionais (envolvendo diale-
tos, socioletos, regionalismos, gírias e sotaques). Também
é gerado em menor grau pelos outros tipos de variação.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
O preconceito linguístico tem sido muito praticado na atu-
5 15, 16 e 17
alidade (de modo voluntário e involuntário), sendo forte
marcador de exclusão social.
Na obra Preconceito linguístico: o que é, como se faz (1999),
1. Variação linguística o professor, linguista e filólogo Marcos Bagno aborda sobre
os diversos aspectos da língua, especialmente o preconceito
(continuação) linguístico e suas implicações sociais.
Nessa aula, continuaremos a estudar as variações linguísticas. Segundo ele não existe uma forma “certa“ ou “errada“
dos usos da língua e que o preconceito linguístico, gerado
1.1. Variação diafásica pela ideia de que existe uma única língua correta (baseada
na gramática normativa), colabora com a prática da exclu-
Também conhecida como variação situacional, ocorre quan- são social. No entanto, devemos lembrar que a língua é
do percebemos que a linguagem apresenta variações de mutável e vai se adaptando ao longo do tempo de acordo
acordo com o contexto/situação em que ela é usada. É veri- com ações dos falantes.
ficável quando um indivíduo, adaptado a um tipo de uso lin-
Além disso, as regras da língua, determinada pela gramá-
guístico, é obrigado a fazer uma alteração momentânea em
tica normativa, não inclui expressões populares e variações
seu registro por conta de uma situação de mundo específica.
linguísticas, por exemplo as gírias, regionalismos, dialetos,
Por exemplo, alguém que use muitas gírias em seu dia a dia
dentre outros.
(registro informal) e que é obrigado a usar um registro mais
formal por conta de uma entrevista de emprego.

1.2. Variação diamésica


VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Ocorre quando percebemos que a linguagem apresenta


variações de acordo com os diferentes “meios” em que ela
usada, entendendo esses “meios” como espaços de uso
oral da linguagem (fala) e uso escrito. Em geral, consiste
em verificarmos as seguintes possibilidades:
§ A linguagem falada costuma ser entendida como um
sistema normalmente desorganizado, marcado por he-
sitações, reformulações, correções etc. Por conta disso, é
comum encontrarmos recursos diferentes do que vemos
no espaço escrito (alguns, inclusive, não seriam transpo-
níveis, sendo exclusivos do espaço falado, como os mar-
cadores conversacionais).

42
ENTRE
LETRAS

LITERATURA
LINGUAGENS
CÓDIGOS
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Como o Enem não possui uma lista A maior parte das questões de literatura
obrigatória de livros, as questões con- se refere às obras de leitura obrigató-
templam o conhecimento acerca dos di- ria. Neste livro, encontram-se algumas
ferentes gêneros literários e das escolas questões de anos anteriores sobre o
literárias, bem como de seus principais Humanismo, bem como sobre gêneros
representantes. literários e as estéticas medieval e qui-
nhentista.

A maior parte das questões de literatura As questões da UNIFESP contemplam o Como a Unesp não possui uma lista obri-
da Unicamp se refere às obras de leitura conhecimento das escolas literárias, bem gatória de livros, as questões contemplam
obrigatória. Neste livro, encontram-se como de seus principais representantes. o conhecimento das escolas literárias,
algumas questões de anos anteriores Neste livro, estão presentes questões so- bem como de seus principais representan-
sobre Humanismo e Classicismo, bem bre gêneros literários, Trovadorismo, Hu- tes. Neste livro, estão presentes questões
como sobre gêneros literários e as es- manismo, Classicismo e Quinhentismo. sobre gêneros literários, Trovadorismo,
téticas medieval, clássica e Humanismo, Classicismo e
quinhentista. Quinhentismo.

A prova em questão exige seus conhe- A maior parte das questões de literatura Como a PUC-Camp não possui uma lista A prova da Santa Casa exige seus conhe-
cimentos acerca dos gêneros literários se refere às obras de leitura obrigatória. obrigatória de livros, as questões con- cimentos acerca dos gêneros literários
e dos movimentos literários no Brasil e Neste livro, encontram-se algumas ques- templam o conhecimento acerca dos di- e dos movimentos literários no Brasil e
em Portugal. Neste livro, estão presentes tões de anos anteriores sobre gêneros ferentes gêneros literários e das escolas em Portugal. Neste livro, estão presentes
questões sobre gêneros literários, Tro- literários e as estéticas medieval, clássica literárias, bem como de seus principais questões sobre gêneros literários, Tro-
vadorismo, Humanismo, Classicismo e e quinhentista. representantes. vadorismo, Humanismo, Classicismo e
Quinhentismo. Quinhentismo.

UFMG
Estão presentes questões sobre gêneros A maior parte das questões de literatu- A maior parte das questões de literatura
literários, Trovadorismo, Humanismo, ra da UFPR se refere às obras de leitura se refere às obras de leitura obrigatória.
Classicismo e Quinhentismo. obrigatória. Neste livro, estão presentes Neste livro, encontram-se algumas ques-
questões sobre gêneros literários, Tro- tões sobre gêneros literários e as esté-
vadorismo, Humanismo, Classicismo e ticas medieval, clássica e quinhentista.
Quinhentismo.

O vestibular da Uerj não exige os con- Como a Ungranrio não possui uma lista A Souza Marques exige seus conheci-
teúdos contidos neste livro, exceto os das obrigatória de livros, as questões con- mentos acerca dos gêneros literários e
aulas 1 e 2. templam o conhecimento acerca dos di- dos movimentos literários brasileiros.
ferentes gêneros literários e das escolas Neste livro, estão presentes questões so-
literárias, bem como de seus principais bre gêneros literários e sobre a estética
representantes. quinhentista.
apresentada seja consideravelmente rasa, ela possui seu
fundo de verdade, já que esboça dois lados dessa relação:
expressão e técnica. A arte, assim, pode ser entendida
como uma forma de representação da realidade (feita a
FUNDAMENTOS PARA ressalva de que essa realidade, é claro, sempre perpassa
a maneira como cada indivíduo percebe e experimenta o
O ESTUDO LITERÁRIO: mundo). Por conta disso, a arte costuma ser conjugada,
ARTE E TÉCNICA também, com o conceito de mimesis.
Na Antiguidade Clássica, tanto Platão como Aristóteles tra-
balhariam para o desenvolvimento do conceito. Primeiro,
Platão o tenta definir como uma forma de discussão acerca
do que se extrai do mundo das ideias. Contudo, é só com a

LC AULAS
1E2
famosa Poética de Aristóteles que o termo ganha força ao
ser apresentado como imitação / emulação da realidade.
Nesse mesmo livro, Aristóteles associa o conceito à Lite-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) ratura, observando que as diferentes formas de expressão
5 15, 16 e 17 literária tendiam a mimetizar a realidade a partir de dife-
rentes perspectivas.
A imitação (mimese) de uma ação é o mito (fábula)...
A parte mais importante é a da organização dos fatos,
1. Arte: representação pois a tragédia é a imitação, não de homens, mas de
ações, da vida, da felicidade e da infelicidade (pois a
e resistência infelicidade resulta também da atividade)... Daí resulta
serem os atos e a fábula a finalidade da tragédia. Sem
“A literatura é uma transfiguração da realidade”
ação, não há tragédia.
– Antonio Candido
(ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Antônio Carvalho.
São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1959.)

É claro, porém, que a arte não deixa de dizer alguma coisa


e, por isso, faz valer também as análises sobre uma teoria
da comunicação. Nesse sentido, faz-se contundente pensar
o papel da arte sobre nós mesmos. Afinal, o que nos move
a buscar esse tipo de conteúdo (um filme, uma história em
quadrinhos, um bom livro, um poema, uma peça de teatro,
uma música, entre tantas outras expressões), e o que, no
contato com a mensagem que encontramos, é absorvido,
repelido e transformado por nós?

Estudar Literatura é estudar um objeto de conhecimento


VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

que há muito tem seu conceito discutido. A palavra Litera-


tura tem origem latina e é comumente lembrada como a
arte de escrever. Contudo, essa definição é menos esclare-
cedora do que propulsora de novas questões. Afinal, escre-
ver, isto é, o ato de grafar como letras e/ou ideogramas os
fonemas da comunicação de uma determinada língua, é multimídia: livro
um conceito de comum senso. Já a ideia de arte, até hoje,
faz-se constantemente motivo de discussões dentro de
O que é literatura – Marisa Lajolo
universidades até conversas corriqueiras entre amigos.
Definir o que é, o que não é e o que pode ser literatura
No dicionário, é comum encontrarmos verbetes que defi- depende do ponto de vista, do sentido que a palavra
nem arte nos seguintes termos: Aptidão inata para aplicar tem para cada um e da situação na qual se discute o
conhecimentos, usando talento ou habilidade, na demons- que é literatura.
tração uma ideia, um pensamento. Embora a definição

45
O direito à literatura 1.1. A prosa
Antonio Candido (1918 – 2017) foi um importante so- A prosa é uma das duas formas mais comuns da manifes-
ciólogo e crítico literário do Brasil. Seu nome ecoa forte até tação literária. Normalmente, é oposta à poesia pela ma-
os dias hojes no que tange à área da Literatura, da Edu- neira como se estrutura, já que apresenta o que chamamos
cação e do que fizer do ser humano ainda mais humano. de “texto corrido”, organizado da esquerda pela direita.
Seu famoso texto Direito à Literatura norteia as percepções Nela, costuma imperar a narrativa, isto é, o uso de deter-
contemporâneas do que envolve a ideia de Arte. minada referencialidade para organizar eventos dentro de
“a literatura tem sido um instrumento poderoso de determinado tempo e espaço – fictícios ou não.
instrução e educação, entrando nos currículos, sendo Biografias, resenhas, resumos, textos ficcionais, contratos, en-
proposta a cada um como equipamento intelectual e tre outros gêneros textuais, são exemplos de textos em pro-
afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que
sa. Os textos em prosa considerados literários são, portanto,
considera prejudiciais, estão presentes nas diversas ma-
aqueles em que há uma preocupação com o valor artístico
nifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A
literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e do material, a exemplo dos romances de Machado de Assis
combate, fornecendo a possibilidade de vivermos diale- ou, contemporaneamente, os contos de Jarid Arraes.
ticamente os problemas.”
(CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In.: “Vários escritos”. 1.2. A poesia
3ª ed.. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.)
A poesia, nome que deriva do termo grego poiesis e que
Para ele, a arte de escrever é um elemento a ser encara- significa criar, é um dos modos de constituição literária. An-
do como um potencial humanizador, isso porque o seu terior à prosa, a poesia sempre adequou-se ao longo do
produto final não apenas concatena os valores de uma tempo à lógica dos versos, das estrofes e da musicalidade.
sociedade, mas também, cristaliza as contradições desse Na poesia, há uma grande força sobre cada uma das pa-
mesmo núcleo no qual se insere. Assim, a literatura passa lavras que a compõe, por isso ela faz-se valer de rimas, de
a atuar como direito, já que é direito, previsto na DUDH rompimentos com a lógica padrão de uso da língua.
(Declaração Universal dos Direitos Humanos), o indivíduo
Nesse sentido, analisar um poema é, também, em alguma
ter acesso a meios que o permitam se posicionar e se reco-
medida, romper com o modo padrão de organização da
nhecer no mundo; ciente de si, daqueles que o cercam e do língua. Em um poema, a polissemia, as figuras de lingua-
contexto que o engloba. gem, a musicalidade, o tempo de leitura, tudo que pode ter
Para tanto, é preciso que entendamos que a literatura tem a ver com a linguagem é bastante explorado.
como matéria-prima a linguagem e que esta é a nossa Catar feijão
capacidade de produzir significação dentro de uma deter-
minada língua. Uma metáfora que auxilia no entendimen- 1.
Catar feijão se limita com escrever:
to da questão é proposta por Roland Barthes, na medida Jogam-se os grãos na água do alguidar
que em sua concepção a língua e suas regras é por si só E as palavras na folha de papel;
tanto instrumento necessário a nossa comunicação como e depois, joga-se fora o que boiar.
preconizadora de uma realidade opressora, na medida em Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
que estabelece um modo de ver o mundo quase sempre
pois catar esse feijão, soprar nele,
utilitarista e fomentador das desigualdades sociais e da
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.


violência. Nesse sentido, para o autor, o uso artístico da
linguagem – a literatura, portanto – faz-se essencialmen- 2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco,
te anti-poder, isto é, apresenta-se como uma possibilidade o de que, entre os grãos pesados, entre
anti-opressora, capaz de deslocar o olhar do indivíduo para um grão imastigável, de quebrar dente.
outras realidades que não a dele, a sua, a nossa. Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
Língua: conjunto regrado de elementos (sons e ima- açula a atenção, isca-a com risco.
gens) que permitem a comunicação. João Cabral de Melo Neto

Linguagem: capacidade de compreender e utilizar a


língua para comunicação e outras manifestações cria- 1.3. Teoria dos gêneros
tivas (a arte). Mikhael Bakhtin, importante estudioso da linguagem,
apresenta uma interessante definição de gênero textual;

46
O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados Teoria dos gêneros. Trata-se, pois, de perceber características
(orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos in- cruciais a cada uma dessas formas, analisando como elas
tegrantes desse ou daquele campo da atividade huma-
permaneceram e/ou se desdobraram em tantas outras nas
na. Esses enunciados refletem as condições específicas
e as finalidades de cada referido campo não só por seu formas mais modernas da arte literária. Afinal, quando Aris-
conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, tóteles propôs tal organização, apenas os textos em versos
pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gra- eram conhecidos.
maticais da língua mas, acima de tudo, por sua constru-
ção composicional.[...] Evidentemente, cada enunciado
particular é individual, mas cada campo de utilização da
língua elabora seu tipos relativamente estáveis de enun-
ciados, os quais denominamos gêneros do discurso.
(BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso)

Bakhtin, porém, não é nenhum precursor desse conceito,


que já era trabalhado na antiguidade clássica por Aristóte- multimídia: livro
les. Contudo, não se pode negar que seus estudos torna-
ram-se importante marco da Linguística e norteiam, hoje,
Gêneros Literários – Angélica Soares
nossa concepção desse conceito. Assim, entendemos que
As manifestações poéticas mais remotas já mostram a
os gêneros são reflexos de enunciados que são produzidos
tendência para classificar as obras literárias conforme
na interação humana. Em outras palavras, cada situação
a realidade que retratam, pelo uso de mecanismos de
contextual em que a linguagem é posta em pauta (situ-
estruturação semelhantes.
ação comunicativa) exigirá dos emissores a atenção para
produção de um discurso oral ou escrito que seja capaz de
abarcar as necessidades do momento em questão.
1.3.1. O gênero épico
Os gêneros, assim, ao longo do tempo, vão assumindo for- O gênero épico surge com as produções gregas atribuí-
mas mais ou menos fixas, suportes distintos e adequando- das a Homero, Ilíada e Odisseia. Épico deriva da palavra
-se aos contextos em que são produzidos. Como a carta, grega epos, que significa verso ou discurso. Há quem
que com o passar dos anos transformou-se no e-mail, pre- associe a palavra aos versos iniciais de uma epopeia –
servando a estrutura de um gênero anterior, mas cedendo nome dado aos grandiosos poemas épicos, ou seja, um
lugar a um outro contexto de veiculação, virtual e veloz. conjunto de epos.
A epopeia, assim, emerge como um ancestral do que co-
nhecemos hoje por narrativa (cinematográfica, em quadri-
nhos, um romance etc.). Contudo, ela traz algumas dife-
renças ímpares no que tange não apenas a sua forma e
estrutura, mas ao seu conteúdo. Afinal, a epopeia traz o
relato de um herói em um mundo cuja organização é total-
mente diferente da organização moderna. De tal modo, a
epopeia concentra algumas características particulares na
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

principal relação que norteia a literatura ao longo dos tem-


pos: o sujeito e o mundo.
Na epopeia, temos:
§ linguagem rebuscada e elevada, digna de glorificar os
feitos do herói.
§ imagem de herói que condensa os valores de uma
nação.
Penélope e Odisseu § destino a ser cumprido, normalmente traçado pelas
Em relação ao gênero literário, na Antiguidade, Aristóteles divindades.
cunhou que a literatura dividia-se em três deles: épico, dra- § cenário de guerra ou contexto de um grande aconteci-
mático e lírico. Anatol Rosenfeld, crítico literário, muito tempo mento histórico.
depois, também escreveria a respeito, em seu famoso ensaio

47
metáforas, e o ritmo, a partir das rimas, por exemplo, são
A estrutura do poema épico elementos que ajudam a nortear a análise desses textos.
É dividido em partes, chamadas cantos, que, por sua
1.3.2.1. O ritmo do poema
vez, são divididos em:
Podemos entender como ritmo a sucessão de tempos for-
§ Proposição: O texto apresenta o tema e o herói.
tes e fracos em determinado verso, poema ou canção. Na
§ Invocação: O texto pede inspiração à musa (divin- literatura, esse ritmo, contudo, passa a ganhar uma maior
dade inspiradora da poesia). significação, na medida que atua como elemento constitu-
§ Narração: Narração das aventuras do herói. tivo do texto.

§ Conclusão ou Epílogo: Encerramento das aventu- As rimas são caracterizadas normalmente como um dos
ras e conclusão dos feitos heroicos. principais fatores que corroboram para a rítmica do poe-
ma. Elas são, por definição, a repetição de sons ao final de
dois ou mais versos. É claro que isso não implica que todo
1.3.1.1. A narrativa poema possua uma rima, ou que elas estejam sempre ao
final do verso, há quem classifique os sons fortes do verso
O gênero épico dá origem às formas narrativas mais co-
como rimas internas. Assim, quando as rimas acontecem
nhecidas, como o conto, a novela, a crônica e, é claro, o
ao final do verso, são chamadas de rimas externas, quando
romance. Todos esses gêneros têm em comum o seu cará-
dentro do verso, rimas internas. Vejamos alguns exemplos
ter narrativo, isto é, a organização de fatos que se sucedem
e classificações para as rimas:
dentro de um tempo-espaço específico.
“A narrativa está presente em todos os tempos, em to- Tipos de rimas
dos os lugares, em todas as sociedades, começa com a § Ricas – entre palavras de classes gramaticais diferentes:
própria história da humanidade. (...) é fruto do gênio do
narrador ou possui em comum com outras narrativas Cristina e ensina
uma estrutura acessível à análise”.
§ Pobres – entre palavras de mesma classe gramatical:
– BARTHES, Roland. A aventura semiológica, pp. 103-104.
Precisava esconder sua afeição...
A narrativa fará sempre parte das sociedades e, por isso,
é importante instrumento não apenas de análise formal a Na Idade Média, uma imortal paixão
respeito dos seus aspectos literários, mas como matéria- § Toantes – entre sons vocálicos repetidos:
-prima para compreensão de mundo.
hora e bola; saltava e mata
1.3.2. O gênero lírico § Aliterantes – entre sons consonantais idênticos ou
semelhantes:
O gênero lírico surge, também, na Grécia Antiga. Trata-se
de poemas que eram declamados, normalmente, acompa- vozes, veladas, veludosas, vozes
nhados pela lira, instrumento musical, concatenando as-
sim, em uma primeira camada, dois importantes elemen- vagam nos velhos vórtices velozes
tos: o som e a imagem. § Consoantes – entre sons e letras repetidos:
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Tal gênero centra-se, sobretudo, na expressão dos senti- terra e serra;


mentos; isso não quer dizer, porém, que diz respeito aos
amoníaco e zodíaco;
sentimentos de quem o declama, mas do conceito de eu lí-
rico, ou voz poética, a voz que fala no poema. Por definição, rutilância e infância
compreendemos eu lírico como um importante elemento § Esdrúxulas – entre palavras proparoxítonas:
das análises de poemas, que corresponde ao sujeito (que
não é necessariamente o poeta) detentor dos sentimentos É um flamejador, dardânico
e sensações expressas no texto. uma explosão de rápidas ideias,
que com um mar de estranhas odisseias
O gênero lírico, assim, surge em consonância com a poe- saem-lhe do crânio escultural, titânico!...
sia e, por isso, traz como principal característica o verso: a
(Cruz e Sousa)
segmentação proposital e pensada de um texto levando
em conta o sentido e a sonoridade das palavras que com- § Agudas – entre palavras oxítonas:
põem o texto. Além disso, figuras de linguagem, como as dó e só; fez e vez; ti e vi

48
§ Preciosas – entre palavras combinadas: § Dissílabos – duas sílabas:
múmia e resume-a; réstea e veste-a; Tu,/ on/tem
na/ dan/ça
águia e alague-a; estrela e vê-la que/ can/sa
§ Versos brancos – verso sem rimas. vo/a/vas
com as/ fa/ces
Disposição das rimas no poema em/ ro/sas
for/mo/sas
§ Mistas – sem posição regular:
de/ vi/vo
De uma, eu sei, entretanto 1,
car/mim
Que cheguei a estimar 2
Por ser tão desgraçada 3! (Casimiro de Abreu)
Tive-a hospedada 3 a um canto 1 § Trissílabos – três sílabas:
Do pequeno jardim 4; Vem/ a au/ro/ra
Era toda riscada 3 pre/ssu/ro/sa
De um traço cor de mar 2 cor/ de/ ro/sa
E um traço carmesim 4. que/ se/co/ra
(Alberto de Oliveira) de/ car/mim
as/ es/tre/las
§ Emparelhadas (AABB): que e/ram/ be/las
No rio caudaloso que a solidão retalha A, têm/ des/mai/os
na funda correnteza na límpida toalha A,
já/ por/ fim
deslizam mansamente as garças alvejantes B;
(Gonçalves Dias)
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes B...
(Fagundes Varela) § Tetrassílabos – quatro sílabas:
O in/ver/no/ bra/da
§ Interpoladas ou opostas (ABBA): for/çan/do as/ por/tas
Mais de mil anos-luz já separado A, Oh!/ Que/ re/voa/da
Naquela hora, do meu pensamento B. de/ fo/lhas/ mor/tas
O filme de uma vida, ínfimo momento B, o/ ven/to es/pa/lha
O derradeiro instante havia impregnado A. por/ so/bre o/ chão/...
(Alphonsus de Guimarães)
§ Alternadas ou cruzadas (ABAB):
Amor, essência da vida A, § Pentassílabos ou redondilha menor – cinco sílabas:
é uma expressão de Deus B. Meu/ can/to/ de/ mor/te,
Alma, não fique perdida A! Gue/rrei/ros/ ou/vi
Ele luz os dias seus B. Sou/ fi/lho/ das/ sel/vas
Nas/ sel/vas/ cres/ci;
1.3.2.2. A sílaba poética Gue/rrei/ros/ des/cen/do
Da/ tri/bo/ tupi
A sílaba poética dialoga com o que chamamos de métrica (Gonçalves Dias)
do poema. É importante estabelecer que elas são diferentes
das sílabas gramaticais, já que sua divisão não se atenta à § Hexassílabos – seis sílabas:
E o/ ca/va/lei/ro/ pa/ssa
morfologia, mas à fonologia. Em outras palavras, a sílaba é
an/te a/ som/bria/ por/ta
contada a partir das unidades sonoras do verso. Além disso, da/ lú/gu/bre/ des/gra/ça
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a contagem vai apenas até a última sílaba tônica do verso. (Alphonsus de Guimarães)
A partir dessa contagem, os poemas são classificados pelo § Heptassílabos ou redondilha maior – sete sílabas:
seu número de sílabas. Assim, quando você ouve que um An/tes/ de a/mar,/ eu/ di/zi/a
poema apresenta uma métrica decassílaba, estamos nos pa/ra/ cor/tar/ na/ ra/iz
referindo a um poema com versos de 10 (dez) sílabas poé- es/ta/ cons/tan/te a/go/ni/a
ticas. Vejamos alguns exemplos: pre/ci/so a/mar/ al/gum/ di/a
a/man/do,/ se/rei/ fe/liz.
As diferentes métricas que o poema pode assumir (Menotti del Picchia)
§ Monossílabos – uma única sílaba: § Octossílabos – oito sílabas:
Ru/a No ar/ so/sse/ga/do, um/ si/no/ can/ta
tor/ta Um/ si/no/ can/ta/ no ar/ som/bri/o
Lu/a
(Olavo Bilac)
mor/ta
Tu/a § Eneassílabos – nove sílabas:
por/ta Ó/ gue/rrei/ros/ da/ ta/ba sa/gra/da,

49
Ó/ gue/rrei/ros/ da/ tri/bo tu/pi nada / Nunca serei nada / Não posso querer ser nada / À
Fa/lam/ deu/ses/ nos/ can/tos/ do/ Pia/ga! parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Os
Ó/ gue/rrei/ros,/ meus/ can/tos/ ou/vi! versos, extraídos do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa,
(Gonçalves Dias) estão separados por vírgulas, já que foram realocados den-
§ Decassílabos ou Medida Nova – dez sílabas: tro do texto corrido. Além disso, lembre-se de que quando
A/mo/-te, ó/ cruz, /no/ vér/ti/ce/ fir/ma/da um verso é muito longo para uma página, ele deve ser des-
(Alexandre Herculano) locado para a linha seguinte e indicado com um recuo e/ou
§ Hendecassílabos – onze sílabas: um sinal gráfico, como o [ (colchete).
Não/ te/nho/ na/da/ com i/sso/ nem/ vem/ fa/lar Além do soneto, outros nomes que você encontrará nos
Eu/ não/ con/si/go en/ten/der/ sua/ ló/gi/ca
seus estudos serão: a trova, o vilancete, a esparsa, a ode
Mi/nha/ pa/la/vra/ can/ta/da/ po/de es/pan/tar
E a/ seus/ ou/vi/dos/ pa/re/cer/ e/xó/ti/ca. etc. Essas outras formas, por vezes, são classificadas como
subgêneros poéticos, já que costumam ser usadas em con-
(Caetano Veloso)
textos específicos. A ode, como poema de glória, a Elegia,
§ Dodecassílabos ou Alexandrinos – doze sílabas: como um poema triste ou fúnebre, entre outros. Cada qual,
A/ ca/sa/ que/ foi/ mi/nha,/ ho/je é/ ca/sa/ de/ Deus.
Traz/ no/ topo u/ma/ cruz./ A/li/ vi/vi/ com os/ meus
irá seguir as suas respectivas normas no que tange a métri-
ca, a versificação e a estrofação.
(Aberto de Oliveira)
§ Bárbaros – mais de doze sílabas: Vejamos alguns exemplos:
Nun/ca /co/nhe/ci /quem/ ti/ve/sse/ le/va/do/ po/rra/da. § Soneto – forma lírica bastante conhecida, é composta
To/dos os/ meus/ co/nhe/ci/dos/ têm/ si/do/ cam/pe/ões/
de catorze versos, com dois quartetos e dois tercetos.
em/ tudo.
(Fernando Pessoa) Soneto da fidelidade
(Vinicius de Moraes)
Ressalta-se, ainda, que um poema sem métrica, isto é, com
De tudo ao meu amor serei atento
versos de métrica irregular, é comumente conhecido como Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
um verso livre. Que mesmo em face do maior encanto
II. Dele se encante mais meu pensamento.
Você não diz porém o vosso corpo está delindo no ar, Quero vivê-lo em cada vão momento
Você apenas esconde os olhos no meu braço e encontra a E em seu louvor hei de espalhar meu canto
paz na escuridão. E rir meu riso e derramar meu pranto
A noite se esvai lá fora serena sobre os telhados, Ao seu pesar ou seu contentamento
Enquanto o nosso par aguarda, soleníssimo, E assim, quando mais tarde me procure
Radiando luz, nesse esplendor dos que não sabem mais pra Quem sabe a morte, angústia de quem vive
onde ir. Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
(Mário de Andrade. “Girassol da madrugada”) Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
1.3.2.3. A forma poética
§ Elegia – poema em tom triste e fúnebre originado na
Durante seus estudos pela história da Literatura você verá Grécia antiga. Caracterizam as digressões moralizan-
que a forma poética bastante se altera, afinal, o número de tes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar
versos, o número de estrofes, o número de sílabas poéticas
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momentos difíceis da vida, como a morte de um ente


não irá permanecer igual no fazer literário. Algumas for- querido ou de uma personalidade pública.
mas, contudo, terão evidente impacto histórico na arte do
escrever, como é o caso do Soneto, forma que passa a ser Elegia na sombra
utilizada durante o Renascimento e até hoje vemos poetas, Fernando Pessoa (2 jun. 1935)
claro que com uma menor frequência, a empregando em Lenta, a raça esmorece, e a alegria
É como uma memória de outrem. Passa
seus livros – ou ainda músicos e compositores a empre-
Um vento frio na nossa nostalgia
gando em suas canções. E a nostalgia torna-se desgraça.
É válido destacar, assim, que a forma poética é muito im- Pesa em nós o passado e o futuro.
portante para a análise de um poema. Por isso, ao analisar Dorme em nós o presente. E a sonhar
A alma encontra sempre o mesmo muro,
um poema, é preciso certificar-se de que você entendeu E encontra o mesmo muro ao despertar.
onde começa e onde termina o verso. Caso o poema não Quem nos roubou a alma? Que bruxedo
esteja disposto em versos, a sepração pode ser feita por De que magia incógnita e suprema
meio da / (barra). Como no exemplo a seguir: Não sou Nos enche as almas de dolência e medo

50
Nesta hora inútil, apagada e extrema? Oh pequeno
Os heróis resplandecem a distância imperador sem orbe,
Num passado impossível de se ver conquistador sem pátria,
Com os olhos da fé ou os da ância. mínimo tigre de salão, nupcial
Lembramos névoa, sombras a esquecer. sultão do céu
Que crime outrora feito, que pecado das telhas eróticas,
Nos impôs esta estéril provação o vento do amor
Que é indistintamente nosso fado na intempérie
Como o pressente nosso coração? reclamas
(...) quando passas
Como – longínquo sopro altivo e humano! – e pousas
Essa tarde monótona e serena quatro pés delicados
Em que, ao morrer, o imperador romano no solo,
Disse: Fui tudo, nada vale a pena. cheirando, desconfiando
de todo o terrestre,
§ Ode – poema lírico de exaltação e homenagem, tam- porque tudo
bém originado na Grécia antiga, destinado ao canto. é imundo
Composto de estrofes e de versos iguais em tom ale- para o imaculado pé do gato.
gre, entusiástico e de louvação. Oh fera independente
da casa, arrogante
Ode do gato vestígio da noite,
(Pablo Neruda) preguiçoso, ginástico
Os animais foram e alheio,
imperfeitos, profundíssimo gato,
polícia secreta
compridos de rabo, tristes
dos quartos,
de cabeça.
insígnia
Pouco a pouco se foram
de um desaparecido veludo,
compondo,
certamente não há
fazendo-se paisagem,
enigma na tua maneira,
adquirindo pintas, graça voo.
talvez não sejas mistério,
O gato,
todo o mundo sabe de ti e pertences
só o gato
ao habitante menos misterioso
apareceu completo
talvez todos o acreditem,
e orgulhoso: todos se acreditem donos,
nasceu completamente terminado, proprietários, tios
anda sozinho e sabe o que quer. de gato, companheiros,
O homem quer ser peixe e pássaro, colegas,
a serpente quisera ter asas, discípulos ou amigos do seu gato.
o cachorro é um leão desorientado, Eu não.
o engenheiro quer ser poeta, Eu não subscrevo.
a mosca estuda para andorinha, Eu não conheço o gato.
o poeta trata de imitar a mosca, Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
mas o gato o mar e a cidade incalculável,
quer ser só gato a botânica
e todo gato é gato o gineceu com os seus extravios,
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do bigode ao rabo, o pôr e o menos da matemática,


do pressentimento à ratazana viva, os funis vulcânicos do mundo,
da noite até os seus olhos de ouro. a casca irreal do crocodilo,
Não há unidade a bondade ignorada do bombeiro,
como ele, o atavismo azul do sacerdote,
não tem mas não posso decifrar um gato.
a lua nem a flor Minha razão resvalou na sua indiferença,
tal contextura: os seus olhos têm números de ouro.
é uma coisa
só como o sol ou o topázio, § Madrigal – composição poética elegante cujos temas
e a elástica linha em seu contorno invocam atos heroicos e pastoris.
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave. Madrigal melancólico
Os seus olhos amarelos (Manuel Bandeira)
deixaram uma só ranhura O que eu adoro em ti,
para jogar as moedas da noite. Não é a tua beleza.

51
A beleza, é em nós que ela existe. O texto dramático traz algumas características marcantes,
A beleza é um conceito. como a sua estruturação por meio do diálogo, realizado
E a beleza é triste. em discurso direto. No texto teatral, não há um narrador
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
a relatar fatos, o tempo é dado no diálogo e nas ações
O que eu adoro em ti, das personagens. Além disso, o texto conta ainda com as
Não é a tua inteligência. rubricas, notações do dramaturgo, normalmente em itálico,
Não é o teu espírito sutil, com direcionamentos para o autor ou para a composição
Tão ágil, tão luminoso, da cena. Esse elemento deixa bem clara a noção de que no
– Ave solta no céu matinal da montanha. teatro a relação entre o palco e o espectador é constante-
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
mente pensada.
O que eu adoro em ti, O gênero dramático expõe dois subgêneros principais em
Não é a tua graça musical, sua gênese: a tragédia e a comédia.
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
§ Écloga – poema ambientado no campo, pastoril e bu-
cólico. 1.3.3.1. A tragédia
Écloga IV (v. 52-59) A tragédia é uma forma dramática marcada pelo enfren-
tamento do indivíduo em relação a questões superiores
Vê como, com os séculos por vir, tudo se alegra.
A última parte desta vida seja-me tão longa,
ao seu próprio entendimento: os deuses ou o destino. Traz
que para dizer os feitos não me falte alento! como característica o final destrutivo e irremediável, no in-
O trácio Orfeu não poderá vencer-me nestes cantos, tuito de provocar no espectador a catarse e o assombro.
nem Lino, ainda que a Orfeu a mãe Calíope socorra Em sua essência, a tragédia aborda personagens de classes
e por seu turno a Lino dê assistência o belo Apolo. sociais ou homens superiores (heróis), pressupondo serie-
Se competir comigo o próprio Pã, por juiz a Arcádia, dade, já que as comédias são, normalmente, vinculadas às
dar-se-á por vencido o próprio Pã, por juiz a Arcádia. classes sociais inferiores.

1.3.3. O gênero dramático 1.3.3.2. A comédia


A comédia é um gênero que também aparece na Grécia
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Antiga. Para Aristóteles, enquanto a Tragédia trata dos ho-


mens superiores, a comédia trata dos homens comuns. Em
outras palavras, reproduz com intuito humorísticos as re-
lações morais e sociais do cotidiano. A comédia, portanto,
é um gênero que iguala os homens, já que pressupõe na
sátira, a crítica dos costumes a tudo e a todos; na Grécia,
assim, era vista como ponto importante para a satíra, in-
clusive, política.
O drama tem origem na Grécia Antiga e a etimologia da A comédia dá origem a um outro subgênero dramático bas-
palavra nos leva ao sentido de ação. É, afinal, o gênero que tante conhecido: a farsa.
compreende o teatro, cuja característica principal é a ence-
nação, a representação de uma determinada realidade. No
teatro, os atores, o eu poético da ação, relacionam-se com
o tu-vós, a plateia.

52
DIAGRAMA DE IDEIAS

TEORIA DOS
GÊNEROS

ÉPICO LÍRICO DRAMÁTICO

– CONTA A HISTÓRIA DE UM – EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE – GÊNERO DA


HERÓI E SEUS EFEITOS. DE UM EU POEMÁTICO. REPRESENTAÇÃO: ESTABELECE
– AUXILIA O HOMEM A – UTILIZA O SOM E IMAGEM UMA RELAÇÃO ENTRE O
COMPREENDER A SUA DAS PALAVRAS PARA EU QUE REPRESENTA E O
HISTÓRIA E SUA RELAÇÃO COM COMPOR SENTIDO. PÚBLICO QUE ASSISTE.
O MUNDO QUE O CERCA. – PODE SER APRESENTADO – DIVIDE-SE EM DOIS
– DEU ORIGEM ÀS NARRATIVAS DENTRO DE ESTRUTURAS GRANDES SUBGÊNEROS: A
COMO CONHECEMOS HOJE. FORMAIS BEM DEFINIDAS, TRAGÉDIA E A COMÉDIA.
COMO O SONETO.

VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

53
conjunto de práticas e relações sociais que moldaram a
concepção de indivíduo e sociedade sob o manto de um
pensamento teocêntrico. É, nesse contexto, afinal, que tem
início o que consideramos como o primórdio da literatura
em língua portuguesa.
TROVADORISMO
E HUMANISMO 1.1. Nasce Portugal
A nação portuguesa começa a se consolidar a partir de
1128, quando D. Afonso Henriques enfrenta uma luta pelo
trono e sai vitorioso. O mesmo homem, anos mais tarde, iria
se proclamar o primeiro rei de Portugal, como Afonso I, inau-
gurando a dinastia de Borgonha. Centena de anos depois,

LC AULAS
3E4
a Revolução de Avis ajudaria a consolidar a história do país.
Portugal, assim, emerge na Península Ibérica e, consequen-
temente, uma língua comum passa a ajudar a modelar o
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
pequeno país situado entre a Espanha (e o restante da Eu-
5 15, 16 e 17
ropa) e o continente Africano para além do mediterrâneo.
Nesse momento, o modo de organização do trabalho é o
feudalismo, a Igreja católica possui forte influência na so-
1. Trovadorismo: ciedade e o teocentrismo impera como corrente do pensar.

contexto de produção 1.2. Nasce a Literatura Portuguesa


"A poesia traz, sob as espécies da figura e do som, aquela O trovadorismo tem origem no provençal e no galego
realidade pela qual, ou contra a qual, vale a pena lutar"
(regiões respectivamente localizadas na atual França e na
– Alfredo Bosi
atual península ibérica). Acontece durante o feudalismo,
dentro do período que engloba a Baixa Idade Média.
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Entende-se por Idade Média o período que compreende


do século V ao século XV na história. É claro que o termo
vai para além de uma mera delimitação temporal, assim Como marco inicial desse período, temos a Cantiga da
como carrega, comumente, uma significação especial no Ribeirinha ou Cantiga da Guarvaia, atribuída a Paio
que tange à uma história que serve a narrativa ocidental. Soares de Taveirós. Estima-se que a cantiga tenha sido com-
Nesse sentido, falar de um contexto de produção literária posta ou em 1189 ou 1198. Trata-se, assim, do mais antigo
nesse período é compreender a temporalidade como um texto em língua portuguesa: o marco incial do trovadorismo.

54
Cantiga da Ribeirinha Cantiga da Ribeirinha (tradução)
No mundo non me sei parelha, Não há no mundo ninguém que se compare
mentre me for’ como me vay, a mim em infelicidade, enquanto a minha vida
ca já moiro por vos e ay! continuar assim, porque morro por vós e, ai,
mia senhor branca e vermelha, minha senhora branca e de faces rosadas,
queredes que vos retraya quereis que vos retrate quando vos vi sem manto.
quando vus eu vi em saya! Mau dia foi esse em que me levantei,
Mao dia me levantei porque vos vi tão bela! [ou seja: melhor seria
que vus enton non vi fea! se vos tivesse visto feia].
E, mia senhor, des aquel di’, jay! E, minha senhora, desde aquele dia, ai,
me foi a mi muyn mal, tudo para mim foi muito mal,
e vos, filha de don Paay
mas vós, filha D. Paio
Moniz, e ben vus semelha
Moniz, parece-vos muito bem que eu tenha
d’aver eu por vós guarvaya
e vós uma garvaia [manto de luxo] quando
pois eu, mia senhor, d’alfaya
nunca de vos ouve nem ei nunca recebi de vós o simples
valia dua correa. valor de uma correia.
(Paio Soares de Taveiros)

1.3. O feudalismo Os servos, assim, estabeleciam para o senhor uma relação


de vassalagem. Essa relação consistia na serviência com
A sociedade medieval é caracterizada pela ausência do co- direitos e obrigações do servo ao seu suserano (o rei). A
mércio e, consequentemente, pela produção em latifúndios relação de suserania e vassalagem, desta forma, iria sus-
pertencentes aos senhores feudais. Nos campos do senhor tentar o grande pilar da literatura medieval: a serviência
feudal, então, as pessoas organizavam-se em uma divisão do eu lírico à figura da amada.
social e de trabalho atrelada à crença de que o senhor feu-
dal era o representante de Deus na Terra – crença também
alimentada pela igreja.

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1.4. Tradição Oral


Assim, a sociedade segmentava-se em castas imutáveis,
estando no topo dela o rei, seguido pelo clero, depois pela As manifestações culturais da Idade Média ligavam-se,
nobreza e, em última instância, os servos. sobretudo, à premissa religiosa de que Deus é o Todo Po-
deroso e, portanto, deve ser temido. Os trovadores, assim,
apresentavam-se nas cortes dos senhores feudais, exibindo
com música os seus jograis e as suas cantorias.
A literatura que se estuda aqui é vinculada à melodia e à
musicalidade, levando antes do nome de poesia o nome de
cantigas. Do francês, Trouver significa encontrar, o trovador,
portanto, é aquele que busca encontrar uma composição
capaz de unificar melodia e voz, isto é, uma cantiga, uma
canção.

55
2. Cantigas Trovadorescas
As cantigas trovadorescas são divididas em categorias
dentro do gênero: as cantigas líricas e as satíricas. O pri-
meiro tipo (líricas) corresponde às cantigas que tem como
temática os sentimentos, em especial, o amor e a saudade.
Já as cantigas satíricas são textos com caráter cômico e crí-
tico, a categoria apresenta, ainda, duas subclassificações,
as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.
Cantigas

Satíricas Líricas

Cantigas Cantigas Cantigas Cantigas


de maldizer de escárnio de amigo de amor Cantiga d’amor
Quantos an gran coita d’amor
2.1. Cantigas Líricas eno mundo, qual hoj’ eu ei,
querrían morrer, eu o sei,
Aqui, o termo remete ao uso da Lira como instrumento de o averrian én sabor.
acompanhamento e não, necessariamente, ao gênero lírico Mais mentr’ eu vos vir’, mia senhor,
como um todo. As cantigas líricas expressam sentimentos. sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!
Pero já non posso guarir,
ca já cegan os olhos meus
por vos, e non me val i Deus
nen vos; mais por vos non mentir,
enquant’eu vos, mia senhor, vir’,
sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!
multimídia: livro E tenho que fazen mal-sen
quantos d’amor coitados son
de querer sa morte, se non
A lírica trovadoresca. Segismundo Spina ouveron nunca d’amor ben
com’eu faç’. E, senhor, por én
Seria preciso, segundo Segismundo Spina, retomar o sempre m’eu querria viver,
mesmo entusiasmo com que o Romantismo abraçou o e atender e atender!
mundo encantado da poesia das catedrais e dos duelos (Garcia de Guilhade)
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

sarracenoda Idade Média, cujos trovadores formam, no


Cantiga de amor (tradução)
século XII, o primeiro capítulo da história literária da Eu-
ropa moderna. Quantos o amor faz padecer
penas que tenho padecido
querem morrer e não duvido
2.1.1. Cantigas de Amor que alegremente queiram morrer.
Porém enquanto vos puder ver,
§ Apresentam um eu lírico masculino; vivendo assim eu quero estar
§ A mulher amada é inacessível, pertence a uma casta e esperar, e esperar!
social superior; Sei que a sofrer estou condenado
e por vós cegam os olhos meus.
§ Tematizam o sofrimento (coita d’amor) e a servidão Não me acudis; nem vós, nem Deus
(vassalagem) amorosa; Mas, se sabendo-me abandonado,
ver-vos, senhora, me for dado.
§ Os pronomes utilizados costumam aparecer no mascu- vivendo assim eu quero estar
lino (mia senhor, mia fremosa senhor, mia don (dona); e esperar, e esperar!

56
Esses que veem tristemente Vós perguntais pelo vosso namorado?
desamparada sua paixão E eu bem vos digo que está são e vivo:
querendo morrer, loucos estão. Ai, Deus, onde está?
Minha fortuna não é diferente; Vós perguntais pelo vosso amado?
porém eu digo constantemente: E eu bem vos digo que está vivo e são.
vivendo assim eu quero estar Ai, Deus, onde está?
e esperar e esperar! E eu bem vos digo que está são e vivo
e estará convosco antes do prazo combinado:
Ai, Deus, onde está?
2.1.2.Cantigas de Amigo E eu bem vos digo que está vivo e são
§ Apresentam um eu lírico feminino; e estará convosco antes de terminar o prazo:
Ai, Deus, onde está?
§ Cantam a saudade/desejo do amigo (levam a crer que
a relação amorosa acontece e/ou aconteceu);
§ O amigo corresponde ao namorado ou amado;
§ Trazem uma estrutura simples, de refrões e paralelismo;
§ Dialogam com o espaço social destinado à mulher.
Cantiga de amigo
– Ai flores, ai flores do verde piño, multimídia: site
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo, https://cantigas.fcsh.unl.pt/
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo, 2.2. Cantigas Satíricas
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é? As cantigas satíricas criticam os comportamentos sociais
Se sabedes novas do meu amado, da época, fazendo uso do humor e do vocabulário de baixo
aquel que mentiu do que mi á jurado? calão para denunciar as ações dos nobres e das damas.
Ai, Deus, e u é?
– Vós me perguntades pelo voss’ amigo?
E eu ben vos digo que é san’e vivo
2.2.1. Cantigas de Escárnio
Ai, Deus, e u é?
Vós me perguntades pelo voss’ amado?
E eu ben vos digo que é viv’ e sano:
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san’e vivo,
e será vosc’ant’o prazo saído.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv’e sano,
e será vosc’ant’o prazo passado.
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Ai, Deus, e u é?
(Dom Dinis)

Cantiga de amigo (tradução)


§ Cantigas Indiretas, isto é, velava-se o nome da pessoa
– Ai, flores do verde pinheiro, referida;
sabeis notícias do meu namorado?
Ai, Deus, onde está? § Fazia uso do duplo sentido nas construções;
Ai flores, ai flores, do verde ramo,
Sabeis notícias do meu amado? § Declamada em ambiente palaciano.
Ai, Deus, onde está?
Sabeis notícias do meu namorado, 2.2.2. Cantigas de Maldizer
Aquele que mentiu sobre o que combinou comigo?
Ai, Deus, onde está? § Cantigas Diretas, isto é, identifica-se a pessoa crítica;
Sabeis notícias do meu amado, § Faz uso de um vocabulário agressivo;
Aquele que mentiu sobre o que jurou?
Ai, Deus, onde está? § Proferidas nas ruas e praças públicas.

57
3. As novelas de cavalaria

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Cruzada - Direção: Ridley Scott - 2005
Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que
guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe
a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que
é também um conceituado barão do rei de Jerusalém e
dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa.
As novelas de cavalaria surgem como narrativas que, de-
rivadas do gênero épico, passam a compor o imaginário
medieval. Trata-se das novelas de reis e rainhas, condes e
princesas, e costumam ser divididas em ciclos e temas.
4. Humanismo: um
Por serem longos poemas, as novelas de cavalaria, quando período de transição
a cultura escrita começa a emergir, passam a ser escritas
em prosa. Portugal, França e Inglaterra tiveram grande in-
fluência dessas narrativas.
§ Ciclo Bretão (ou Arturiano): ciclo inglês, são as
narrativas mais famosas, envolvendo o Rei Arthur e os
cavaleiros da távola redonda.
§ Ciclo Carolíngio: ciclo francês, são menos conheci-
das, Carlos Magno e seus cavaleiros são os heróis da
narrativa.
§ Ciclo Clássico (ou Greco-Latino): ciclo da Anti-
guidade, narram eventos como a Guerra de Tróia e as
aventuras de Alexandre, o Grande. DORÉ, Gustave. Demônios confrontando Dante e Virgílio. Ilustração
para o livro A divina Comédia (Inferno), de Dante Alighieri,
publicado em 1885 – Biblioteca de Artes Decorativas (Paris,
França). A ilustração reflete a confiança dos humanistas. Dante
e Virgílio enfrentam os demônios por meio da razão, que os ajuda
a afastar as “trevas” do pensamento vinculado à Idade Média.

O humanismo é marcadamente um período de transição.


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Esse é, inclusive, um dos primeiros conceitos para se pen-


sar sobre as produções artísticas. Na decadência do feuda-
lismo e na retomada do comércio, em especial nas zonas
longes dos grandes centros feudais, muito em função das
cruzadas, surge a necessidade de se organizar as riquezas
que a mais nova classe social passa a possuir.
Assim, com a ascensão da burguesia, começa a despontar
um investimento na própria formação cultural. Essa forma-
ção, contudo, não está mais vinculada com tanta força ao
pensamento teocêntrico, pelo contrário, busca-se atentar
para uma retomada dos valores da Antiguidade Clássica
em que o homem, isto é, o pensamento antropocêntrico
norteava o desenvolvimento da sociedade.

58
Desse modo, por toda a Europa transformações nos modos A importância de Fernão Lopes para a história da prosa
de produção da arte começam a aparecer. O Humanismo, é enorme. Assumindo a função de cronista-mor do reino,
assim, caracteriza-se por concentrar produções em um após alguns anos de trabalho na Torre do Tombo, o cro-
momento anterior ao estabelecimento da Idade Moderna, nista passa a ser responsável por notar o cotidiano das
mas que já assinalava a queda do feudalismo. Os mecenas, práticas reais e da sociedade portuguesa. Distanciando-se
patrocinadores da arte, e a expansão marítima portuguesa do clero, Fernão Lopes irá narrar as suas crônicas com uma
são importantes fatores do período. verossimilhança maior em relação à realidade.
Fernão Lopes, assim, contribuiu para o desenvolvimento
de uma visão de mundo antropocêntrica, tornando-se um
marco para a prosa portuguesa. O cronista tem como obra:
§ Crônica de El-Rei D. Pedro I: narra os eventos acon-
tecidos durante o reinado de D. Pedro I. É nesse volume
que encontra-se o famoso episódio da morte de Inês
de Castro (retomado no épico de Camões Os Lusíadas).
§ Crônica de El-Rei D. Fernando: reconstitui o reina-
do de D. Fernando a partir de seu casamento com Leo-
nor Teles. Encerra-se com a Revolução de Avis.
Lucca – Burgo (Itália)
§ Crônica de El-Rei D. João: narrativa dividida em
duas partes. Na primeira parte, iniciada na morte de
4.1. Produção literária portuguesa D. Fernando (1383), narra-se a revolução que leva D.
Posteriormente à Revolução de Avis (1383-1385), Portugal João ao trono de Portugal. A segunda parte descreve o
passou a acumular poder e riquezas, investindo não ape- reinado de D. João.
nas na expansão marítima, mas também na consolidação
cultural da sua nação. Assim, em 1418 é fundada a Torre 4.1.2. Garcia Resende: poesia palaciana
do Tombo, importante centro de arquivos históricos da na- A poesia palaciana representa uma desvinculação às raízes
ção portuguesa. das cantigas trovadorescas. Desse modo, a tradição oral pas-
Irão se destacar nesse período as produções de Fernão Lo- sa a dar lugar à tradição escrita, a cantiga falada, torna-se
pes, um dos cronistas-mor a trabalhar na Torre do Tombo; poesia, escrita – ainda que com o intuito da declamação.
a poesia de Garcia Resende, que passa a desvincular-se A circulação da poesia palaciana acontece nas cortes. O sur-
da tradição oral e começa a apresentar regras de escrita e gimento do material representa, também, um aumento no
composição; e o teatro de Gil Vicente, que traz peças hu- número de pessoas leitoras, o que faz com que alguns nomes,
moradas e críticas, em oposição às peças de ensino religio- como Nuno Pereira e Bernadim Ribeiro apareçam no papel
so até então vigentes na sociedade. de escritores. A língua portuguesa está se consolidando. O es-
critor mais famoso será Garcia Resende, sendo ele, também,
4.1.1. Fernão Lopes: crônica o responsável pela organização do Cancioneiro Geral. VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Inês de Castro

59
4.1.2.1. Principais características da poesia palaciana 4.1.3. Gil vicente: o teatro
§ Instauração de regras formais da escrita, como a medi-
da velha, com a forma fixa das redondilhas;
§ O sofrimento amoroso torna-se menos exagerado;
§ Vilancetes, esparsas e trovas surgem como novas for-
mas de composição;
§ Aperfeiçoamento linguístico de técnicas como a alitera-
ção e a ambiguidade.

Medida Velha
Redondilhas menores: versos com metrificação de 5
sílabas poéticas.
Redondilhas maiores: versos com metrificação de 7
sílabas poéticas.

4.1.2.2. Formas Fixas


§ A trova: composta de duas ou mais quadras de versos
Sem dúvida, Gil Vicente é o nome mais conhecido do hu-
de sete sílabas e rimas ABAB;
manismo português. Além disso, é conhecido como o pai
§ O vilancete: composto de um mote (motivo de dois do teatro na terra lusitana. Embora pouco se saiba sobre a
ou três versos) seguido de voltas ou glosas (estrofes em sua vida privada, estima-se que o autor tenha nascido no
que o mote é desenvolvido) de sete versos; final do século XV. Sua obra é teatral é encarada como um
§ A cantiga: composta de um mote de quatro ou cinco vasto legado do início da dramaturgia portuguesa.
versos e de uma glosa de oito ou dez versos, com repe- Seus textos costumam dividir-se em autos (peças que envol-
tição total ou parcial do mote no fim da glosa; vem um plano de fundo religioso) e farsas (textos em que
§ A esparsa: composta de uma única estrofe de oito, os personagens fazem parte da vida cotidiana da época).
nove ou dez versos de seis sílabas métricas.
AUTOS E FARSAS
Cancioneiro GERAL § Autos Vicentinos: Os autos são peças com temáti-
ca religiosa, sejam elas sérias ou cômicas. Os princi-
pais autos vicentinos são: Auto da Barca do Inferno
(1517), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto
da Barca da Glória (1519), que compõem a Trilogia
das Barcas.
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

§ Farsas Vicentinas: As farsas são peças sem temá-


tica religiosa, com personagens e enredos baseados
nas situações do cotidiano. As principais farsas vicen-
tinas são: A farsa do velho da horta (1512) e A farsa
de Inês Pereira (1523).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cancioneiro_Geral#/
media/Ficheiro:Cancioneiro_Geral_001.jpg
4.1.3.1. Ridendo castigat mores
Trata-se de um compilado de poesias palacianas feito
As análises e classificações do teatro vicentino costumam
por Garcia Resende e publicado em 1516. Nele en-
envolver a maneira como ele retratava a sociedade na
contramos poemas do século XV e XVI, em português,
época. Em meio aos influxos renascentistas, a obra de
mas também em castelhano, sobre variados temas. Foi
Gil Vicente deixa para trás o teatro religioso como o te-
o primeiro compilado poético impresso da história de
atro do medo, por meio do qual os fiéis eram ensinados
Portugal.
a temer a figura divina. Agora, o olho humanista de Gil

60
Vicente percebe e atua sobre os comportamentos sociais,
ainda seguindo uma moral ligada a preceitos católicos,
mas muito mais crítica e atenta.
Por isso, a frase que costuma ser atribuída a sua obra Riden-
do castigat mores (rindo corrigem-se os costumes) – máxima
latina – é capaz de sintetizar o seu teatro. Gil Vicente analisa
em suas obras o comportamento social, como o Padre que multimídia: site
não segue os preceitos e deita-se com mulheres, o banqueiro
que só tem interesse no lucro, as traições da vida conjugal
Os textos vicentinos estão disponíveis, em sua maioria,
etc. Nesse sentido, sua obra tece críticas moralizantes direta-
no site do Domínio Público. Para acessá-lo, basta esca-
mente aos comportamentos humanos, isto é, aos tipos
near o QR Code.
sociais. Em outras palavras, é importante perceber que o
autor de O velho da horta não critica instituições, como a
igreja ou a burguesia, mas o comportamento individual de
membros pertencentes a essas classes.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS


Artes Plásticas

Obras Medievais

VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

“Madonna e o menino” de Duccio, pintor Sepultamento de Cristo


Italiano período gótico (c.1255-1319) (Iluminura Medieval)

61
DIAGRAMA DE IDEIAS

IDADE MÉDIA IDADE MODERNA

TROVADORISMO HUMANISMO CLASSICISMO

TEOCENTRISMO ANTROPOCENTRISMO
TRADIÇÃO ORAL TRADIÇÃO ESCRITA
CANTÍGAS LÍRICAS
TEATRO VICENTINO
• CANTIGAS DE AMOR
PROSA (CRÔNICA)
• CANTIGAS DE AMIGO
POESIA PALACIANA
CANTÍGAS SATÍRICAS
• CANTIGAS DE ESCÁRNIO
• CANTIGAS DE MALDIZER
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

62
dade na região da Itália, retoma os princípios dos autores
e pensadores da Antiguidade Clássica. Em outras palavras,
volta-se ao passado e lá encontra-se a filosofia e a arte
Grega, cujo um dos princípios era a busca pela perfeição e
RENASCIMENTO: o desenvolvimento das virtudes humanas.

CLASSICISMO E Nessa direção, na pintura, na arquitetura, na escultura, na


literatura, nas mais diversas áreas do conhecimento, um
LUÍS VAZ DE CAMÕES modo de pensar voltado à metodologia científica, racional
e universal, passa a ser desenvolvido.

NO VESTIBULAR

LC AULAS Por se tratar de um marco na história da Literatura e da

5E6
arte de forma geral, o Classicismo, bem como as ativi-
dades de todo o Renascimento, costumam ser utilizadas
como referência em questões de artes, história, literatura,
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
entre outros. Por conta disso, é importante e interessante
5 15, 16 e 17
situar outros artistas do período, como Leonardo Da Vin-
ci, famoso pelo La Gioconda (1503) [Mona Lisa].
Além disso, vale destacar Danti Alighieri, autor italia-
1. Classicismo: contexto no do século XIII, mas que em seu texto já anunciava
formas modernas para o período, como o decassílabo.
de produção
“Conhecer a história da nossa língua é conhecer uma
parte importante de nossa história como cidadão e
1.1. A chegada do clássico
como nação” É claro que não se pode deixar de incluir dentre as princi-
– Luiz Carlos Cagliari pais transformações da Idade Moderna para a nação por-
tuguesa a expansão marítima. Afinal, é dela que partirão
Os influxos renascentistas angariados na retomada do co-
importantes percepções para os sonetos de Camões a res-
mércio e no nascimento da burguesia contribuíram para
peito de Portugal. Não obstante, as navegações portugue-
que a Idade Média chegasse ao fim. Agora, o pensamento
sas serão ainda tematizadas no grande épico Os lusíadas
teocêntrico dá lugar a novas concepções de mundo, e, no
(1572). Contudo, é válido dizer que o Classicismo não tem
plano da Arte, uma nova estética toma conta das produ-
início com Luís Vaz de Camões, mas sim com um outro por-
ções: o Classicismo.
tuguês: Sá de Miranda.

VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

multimídia: livro

Os Lusíadas – Edição Comentada por Otoniel Mota


Os Lusíadas é uma obra poética do escritor Luís Vaz
de Camões, considerada a epopeia portuguesa por
excelência.
Detalhe do quadro O Nascimento da Vênus, de
Botticelli, Galeria degli Ufizzi, Florença.

O Classicismo alinha-se ao processo cultural denominado Sá de Miranda (1481-1558) foi um importante escritor portu-
Renascimento, o qual, fazendo-se valer com maior intensi- guês. Capaz de escrever em diversos estilos, Sá de Miranda é

63
um dos nomes que faz parte do Cancioneiro Geral, organiza-
do por Garcia Resende. É, porém, em 1521, quando vai estu-
2. Luís Vaz de Camões
dar na Itália, que Sá de Miranda toma contato com os versos
de Francesco Pretarca (1304-1374), poeta responsável por
aprimorar o soneto: a forma perfeita da poesia renascentista.
Assim, Sá de Miranda retorna a Portugal em 1527, publi-
cando uma obra já com ares bastante modernos chamada
“Os estrangeiros” (1527), uma comédia em prosa. A publi-
cação, então, passa a funcionar como marco do Classicis-
mo português, já que é no retorno de Sá de Miranda que o
Soneto chega e passa a ser difundido em Portugal.
O SOL É GRANDE
O sol é grande: caem co’a calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que de alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas todas vãs, todas mudaves,


Qual é tal coração que em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.
A biografia de Camões é esparsa e não pode ser dada como
Eu vira já aqui sombras, vira flores, certeira. O grande escritor português, afinal, não fora nenhum
Vi tantas águas, vi tanta verdura, nobre, em uma época em que apenas reis e pessoas de gran-
As aves todas cantavam de amores. de importância eram biografadas. O que se conta, porém, é
que o autor pode ter nascido em 1524 ou 1525, em Lisboa,
Tudo é seco e mudo; e, de mistura, ou em Coimbra, ou em Santarém. Embora essas informações
Também mudando-me eu fiz doutras cores.
não sejam precisas, o que se sabe é que Camões estuda na
E tudo o mais renova: isto é sem cura!
universidade de Coimbra, serve militarmente Portugal e, em
Sá de Miranda. In.: Poesias Escolhidas. Introdução, seleção e
crítica de José V. de
Pina Martins Editorial Verbo, Lisboa, 1969 1549, na luta contra os mouros, perde o olho direito.
Uma briga o fará ser preso, anos mais tarde. Solto, na con-
dição de exercer serviço militar, vai trabalhar em Macau,
colônia portuguesa. É lá, supostamente, que o manuscrito
dos Lusíadas começa a existir. O escritor só voltaria a nação
lusitana em 1569, depois de ter passado por Moçambique,
pagando pena por dívidas. Sua obra épica seria publicada
em 1572, o que rendeu uma pensão anual, oferecida pelo
rei D. Sebastião.
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Petrarca#Filosofia

Petrarca foi considerado o pai do Humanismo; sua


obra, além de alterar drasticamente a forma poéti-
multimídia: vídeo
ca vigente, fazendo valer-se do que seria conhecido Fonte: Rtp ensina
como Medida Nova, trata com um olhar mais filosófi- Documentário português sobre Camões
co e racional para temas como o amor e a existência
humana. Alguns poemas de Camões tecem paralelos
temáticos com a obra do italiano. Camões morre na pobreza, em 1580, coincidentemente, ano
em que Portugal começa a declinar, ficando sob o domínio

64
da coroa espanhola. Seus poemas são publicados em livro 2.1. Épico: Os Lusíadas
póstumo, intitulado Rimas (1595).
§ Poema épico aos moldes de Ilíada e Odisseia.
§ Épico secundário.
§ O herói concatena os valores do povo.
§ Tematiza as grandes navegações.
§ Explora tanto a mitologia cristã quanto a mitologia
grega.
multimídia: vídeo § 8.816 versos decassílabos;
Fonte: Rtp ensina § 1.102 estrofes de oitava rima;
Documentário português sobre a obra Os lusíadas § 10 cantos, adequados na estrutura do poema épico:
1. Proposição (canto I, estrofes 1 a 3)
– sem título – O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o tema
dos feitos heroicos dos ilustres barões de Portugal,
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente, o herói, Vasco da Gama, e o destino da viagem.
Repousa lá no Céu eternamente, As armas e os barões assinalados
E viva eu cá na terra sempre triste. Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Se lá no assento Etéreo, onde subiste, Passaram ainda além da Taprobana
Memória desta vida se consente, Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
Não te esqueças daquele amor ardente,
E entre gente remota edificaram
Que já nos olhos meus tão puro viste.
Novo reina, que tanto sublimaram;
E se vires que pode merecer-te barões = homens ilustres
Alg’a cousa a dor que me ficou
ocidental praia lusitana = Portugal
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Taprobana = ilha de Ceilão, limite orien-
Roga a Deus, que teus anos encurtou, tal do mundo conhecido
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou. 2. Invocação (canto I, estrofes 4 e 5)
CAMÕES, Luís Vaz de. In: Sonetos. O poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedin-
do a elas para inspirá-lo na composição da obra.
Na ocasião de retorno de Macau à Portugal, o navio de
Camões sofre um naufrágio, conta a lenda que entre E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
salvar o manuscrito de Os Lusíadas e sua amada Dina- Dai-me agora um som alto e sublimado,
mene… Bem, hoje o mundo todo conhece Os Lusíadas Um estilo grandíloquo e corrente,
como um grande épico português. No entanto, tal acon-
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

3. Dedicatória ou oferecimento (canto I, es-


tecimento não passou em branco e Camões escreve um
trofes 6 a 18)
poema em homenagem a sua amada falecida.
O poeta dedica seu poema a D. Sebastião, rei de
Portugal na época em que o poema foi publicado,
visto como a esperança de propagação da fé cristã
e continuação dos grandes feitos de Portugal.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo rei, se de tal gente.
superno = supremo

65
4. Narração (canto I, estrofe 19 até canto
X, estrofe 144)
O poeta relata a viagem propriamente dita dos
portugueses ao Oriente. Essa é, portanto, a parte
mais longa do relato e vários são os episódios que
nela se destacam. O desenrolar dos fatos começa
In Media Res, ou seja, no meio da ação, quando
Vasco da Gama e sua esquadra se dirigem ao Cabo
da Boa Esperança.
Dentro da narração, alguns episódios merecem
destaque:
§ Inês de Castro, amante do príncipe D. Pedro
assassinada a mando do rei (canto III); As Nereidas (Ninfas) da Ilha dos Amores
5. Epílogo
É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do can-
to X), em que o poeta demonstra cansaço e, em tom
melancólico e pessimista, aconselha ao rei e ao povo
português que sejam fiéis à pátria e ao cristianismo.

A morte de Inês de Castro, século XIX. multimídia: site


§ Velho do Restelo, velho que, simbolizando
as ideias medievais e conservadoras, critica as http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheO-
grandes navegações (canto IV); braForm.do?select_action=&co_obra=1870

2.2. Lírico: o amor e o desconcerto


§ Medida velha (redondilhas, trovas, esparsas etc.) e me-
dida nova (sonetos, oitavas, éclogas);
§ O amor sob dupla perspectiva:
§ amor sensual e pagão
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

§ amor neoplatônico:
fruto da relação entre o mundo sensorial e o mundo
das ideias. O amor pleno só pode acontecer no mun-
do das ideias, portanto, é inacessível. A percepção
transforma o sentimento em uma coisa contraditória.
Torre de Belém, Lisboa, Portugal.
§ O desconcerto do mundo
§ O gigante Adamastor (canto V), que é
§ Surge na literatura a incongruência do eu em rela-
uma personificação dos perigos enfrentados ção ao mundo;
pelos navegantes ao transporem o Cabo das
§ Perspectiva pessimista de vida;
Tormentas.
§ Questões existenciais do próprio poeta.
§ A ilha dos amores (canto IX), com o erotismo
de seus símbolos, conclamando os portugueses
a contemplarem a “Máquina do Mundo”.

66
DIAGRAMA DE IDEIAS

Com o episódio de Inês de Castro,


fica clara a intenção de associar o
herói ao coletivo. É importante,
Traziam-na os horríficos algozes
pois, perceber que da história
Ante o Rei, já movido a piedade;
de amor ali narrada, emerge Mas o povo, com falsas e ferozes
uma lição muito importante: Razões, a morte crua o persuade,
Ela, com tristes e piedosas vozes,
o povo português é um povo Saídas só da mágoa e saudade
que sabe amar, valor nobre e Do seu Príncipe e filhos, que deixava
positivo que impulsionará Vasco Que mais que a própria morte magoava
da Gama em sua viagem. “Episódio de “Inês de Castro”
canto III
Estruturalmente, o episódio traz
um tom lírico, da profusão de
sentimentos, dentro do texto épico.

O episódio retrata o conflito Mas um velho, de aspeito venerado,


Que ficava nas praias, entre a gente,
ideológico a respeito das grandes Postos os olhos em nós, meneando
navegações. Para muitos, ela foi Três vezes a cabeça, descontente,
vista não como o símbolo da Idade A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós o mar ouvimos claramente,
Moderna e do engrandecimento Co’um saber só de experiências feito,
da nação portuguesa, mas como Tais palavras tirou do experto peito:
fruto dos interesses oligárquicos
Qual em cabelo: —”Ó doce e amado esposo,
que colocavam a vida de homens Sem quem não quis Amor que viver possa,
portugueses atrás da sua busca Por que is aventurar ao mar iroso
por riquezas, fama e glória. Essa vida que é minha, e não é vossa?
Como por um caminho duvidoso
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Como Portugal, de fato, adentra Nosso amor, nosso vão contentamento
Quereis que com as velas leve o vento?”
um período de derrocada a
partir de 1580, as falas do Velho “Episódio do “Velho do Restelo”
ganham um tom de profecia. Canto IV
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

67
DIAGRAMA DE IDEIAS

Tão temerosa vinha e carregada,


Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Trata-se de um episódio de Como se desse em vão nalgum rochedo.
superação. Nele, o homem vence – “Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
um gigante. Ali está simbolizada Este clima e este mar nos apresenta,
a coragem e a inteligência Que mor cousa parece que tormenta?”
do povo português. Vasco da [...]
Não acabava, quando uma figura
Gama vence o gigante ao não Se nos mostra no ar, robusta e válida,
se amedrontar, percebendo, na De disforme e grandíssima estatura;
história, que o gigante estava O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
petrificado e, por isso, poderia Medonha e má, e a cor terrena e pálida;
passar por ele sem contorná-lo (o Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
que levaria o navio à destruição).
Episódio “O gigante Adamastor”
canto V

Amor é fogo que arde sem se ver,


Na busca pela racionalidade, é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
sentimentos como o amor, é dor que desatina sem doer.
pouco explicáveis, mostram-se
É um não querer mais que bem querer;
como contraditórios ao poeta.
é um andar solitário entre a gente;
Camões retoma Platão e, a partir é nunca contentar-se de contente;
da grega filosofia que separa o é um cuidar que ganha em se perder.
mundo sensorial do mundo das É querer estar preso por vontade;
ideias, percebe o amor como é servir a quem vence, o vencedor;
um sentimento complexo que, é ter com quem nos mata, lealdade.
racionalmente, só pode existir Mas como causar pode seu favor
em sua plenitude no mundo das nos corações humanos amizade,
ideias, ainda que possua grande se tão contrário a si é o mesmo Amor?

força de atração (amor carnal), Amor é fogo que arde sem se ver. In: CAMÕES,
Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976.
para a existência no mundo
sensorial. Assim, o puro amor é Transforma-se o amador na cousa amada,
algo desprovido de paixão e que por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
só pode ser experienciado no pois em mim tenho a parte desejada.
desenvolvimento das virtudes do ser.
Se nela está minha alma transformada,
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

que mais deseja o corpo de alcançar?


O soneto Amor é fogo que arde Em si somente pode descansar,
sem se ver deixa bem claro as pois consigo tal alma está ligada.
contradições a que esse sentimento
Mas esta linda e pura semideia,
está submetido. Por outro lado, que, como um acidente em seu sujeito,
sonetos como Transforma-se o assim como a alma minha se conforma,
amador na cousa amada confirmam está no pensamento como ideia:
que quanto mais desprovido [E] o vivo e puro amor de que sou feito,
de paixão e sensorialidade, como a matéria simples busca a forma.
mais puro será o amor. CAMÕES, Luís de. Lírica – seleção, introdução e
notas de Massaud Moisés. São Paulo: Cultrix, 1972.

68
DIAGRAMA DE IDEIAS

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
A perenidade das coisas, o
conflito sobre o platonismo, o Continuamente vemos novidades,
mundo em desencanto, tudo Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
isso é tema da lírica camoniana, E do bem, se algum houve, as saudades.
sobretudo de seus sonetos.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
A temática é comumente E em mim converte em choro o doce canto.
expressa, assim, a partir de uma
E, afora este mudar-se cada dia,
visão pessimista do mundo
Outra mudança faz de mor espanto:
(visão particular e individual). Que não se muda já como soía.
CAMÕES, Luís Vaz de. 200 Sonetos.
Porto Alegre: L&PM. 1998.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Artes Plásticas

VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Nos ombros de um Tritão... vai Dione, Os Portugueses e as Ninfas na Ilha dos Amores (ilustração do episódio
composição alusiva ao Canto II (est. do Canto IX de Os Lusíadas de Camões, de Bordalo Pinheiro
XXI) de Os Lusíadas de Camões,
figurando Dione e um grupo de
ninfas num mar revolto, perto de
uma caravela de Bordalo Pinheiro

69
temos que a literatura brasileira pode ser dividida em dois
grandes momentos: a literatura pré-independência e
a literatura pós-independência do Brasil, em 1822.
Ainda assim, não podemos afirmar que em 1500 os escritos

QUINHENTISMO E de Pero Vaz de Caminha, comunicando ao rei o “achamento”


de novas terra, fosse uma literatura do Brasil, mas sim, uma li-
ESTÉTICA BARROCA teratura feita no Brasil (quem nem mesmo se chamava assim,
na época). Além disso, vale dizer que essa mesma literatura
não tinha, então, pretensões artísticas. Na verdade, eram car-
tas, diários, crônicas, narrativas, dessa grande empreitada ao
Novo Mundo. É claro, porém, que desse material é possível
extrair literatura e, também, a história que nos precede.

LC AULAS
7E8
Há, nessa literatura, que muito caracteriza-se como uma
literatura de informação, por meio das cartas ao rei e
das narrativas de viagens (temos, aqui, duas concepções de
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) gênero textual que se misturam), um valor documental e
5 15, 16 e 17 historiográfico que não pode ser esquecido. Por outro lado,
em meio ao período que chamamos de Quinhentismo, e
que compreende o século XVI nas terras portuguesas além
do Atlântico, encontramos também o que será dada como
1. Quinhentismo literatura de formação, uma vez que a expansão marí-
“Os descobrimentos e a astronomia copernicana provo- tima constituiu esse projeto de dominação leste-oeste dos
caram o descentramento da percepção bíblica medieval povos europeus e, nessa direção, trouxe consigo valores
de mundo. A Terra deixava de ser o centro do universo, morais associados à religião católica. De tal modo, esse
Jerusalém deixava de ser o centro da Terra e o homem segundo grupo constitui a produção textual voltada à ca-
deixava de estar no centro da criação. ( ... ) A crença
tequização dos povos nativos empreendida pelos jesuítas.
dominante no pensamento europeu era de que a totali-
dade da criação, incluindo a história da humanidade, se As produções desse período, portanto, merecem atenção
movia de leste para oeste.” literária, já que trabalham com os primeiros registros em
– Klaas Woortrnann língua portuguesa em território nacional. Não obstante,
Muitas transformações marcaram o século XVI e parte dos na história da Literatura no Brasil, sabe-se que os textos
anos anteriores. Várias foram as descobertas no campo das produzidos nesse período servirão de base e/ou serão re-
artes e das ciências. Hoje, somos uma espécie de legado des- tomados em futuras produções, de Gregório de Matos até
se momento, em que um grande golpe abateu o pensamento Oswald de Andrade.
teocêntrico e, de uma centrada visão de mundo, surgiram estu-
dos que comprovaram a esfericidade do planeta Terra, o Helio- 1.1. Literatura de informação
centrismo, entre outras percepções humanas e astronômicas. A literatura de informação diz respeito aos primeiros regis-
Assim, as grandes navegações conduziram à “descoberta” tros sobre a geografia, a fauna, a flora e os nativos do
VOLUME 1  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

de um Novo Mundo, que há muito já figurava no imaginário território brasileiro. Tem como marco inicial a “certidão de
europeu. Nesse ínterim, entender o que se chama de Litera- nascimento da literatura brasileira”, isto é, a Carta (1500)
tura Brasileira a partir de 1500 é, justamente, entender que de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei D. Manuel. Além
se trata de uma literatura que NÃO era produzida por brasi- disso, registros de viagens, diários e crônicas são outros
leiros. Nessa direção, é imprescindível rever o próprio concei- textos documentais do período.
to de brasileiro e pensar de que maneira a língua portuguesa
Sobretudo, portanto, narrativos, os textos de informação
foi utilizada diante do que foi o processo de colonização.
nos colocam diante de reflexões importantes, na medida
Grandes críticos literários brasileiros afirmam que a Lite- que exprimem a visão do colonizador, com sua moral e
ratura começa a tomar ares verdadeiramente brasileiros a costumes, diante do Novo Mundo. A tentativa, portanto, de
partir dos influxos do arcadismo, mas que somente a inde- adequar à nova realidade a uma visão já preestabelecida
pendência e, depois, no modernismo (e mesmo nos dias de pela moral cristã e pela ética europeia é nítida quando nos
hoje) é que a literatura começa a se consolidar no que tan- relatos vemos que os povos nativos são muitas vezes retra-
ge o pensar sobre o Brasil de forma aprofundada. Assim, tados como aqueles que precisam de salvação.

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Além disso, em especial às cartas enviadas a Portugal, é lhe dá lume novo!
importante destacar a ausência de personalidade. Embo-
ra haja autoria, como Pero Vaz de Caminha, as cartas do Cordeirinha santa,
de Iesu querida,
período assumiam tons burocráticos, no sentido de que
Vossa santa vinda
o autor se transmutava em uma espécie de olho do rei e o diabo espanta
nada mais. Há, por fim, no final das cartas em alguns casos,
solicitações de favores ao rei, outro importante ponto para Por isso vos canta,
uma análise historiográfica do Brasil. com prazer, o povo,
porque vossa vinda
A seguir, observe a lista com alguns documentos importan- lhe dá lume novo.
tes relacionados à literatura de informação:
Nossa culpa escura
§ Carta, de Pero Vaz da Caminha, escrita em 1500; fugirá depressa,
§ Diário de navegação, de Pero Lopes de Souza, escrito pois vossa cabeça
vem com luz tão pura.
entre 1530 e 1532, durante a expedição de Martim
Afonso de Sousa; Vossa formosura
§ História da Província de Santa Cruz e Tratado da Terra honra é do povo,
porque vossa vinda
do Brasil, de Pero de Magalhães Gandavo, ou Gândavo,
lhe dá lume novo.
publicados, respectivamente, em 1576 e 1826;
§ Tratado descritivo do Brasil em 1587 ou Notícias do Virginal cabeça
pola fé cortada
Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, publicado em 1851.
com vossa chegada,
§ Diálogos das grandezas do Brasil (1618), atribuídos já ninguém pereça.
a Ambrósio Fernandes Brandão, e a História do Bra-
sil (1627), de Frei Vicente do Salvador, publicados Vinde mui depressa
no século XVII. ajudar o povo,
pois com vossa vinda
lhe dais lume novo.
1.2. Literatura de formação
Vós sois, cordeirinha,
A literatura de formação ou literatura de catequese compre-
de Iesu formoso,
ende o conjunto de textos produzidos no século XVI com o mas o vosso esposo
intuito de doutrinar os povos nativos aos dogmas da igreja ca- já vos fez rainha,
tólica. Nessa direção, é válido afirmar que se trata de uma for-
ma literária cujos produtores são essencialmente os jesuítas. Também padeirinha
sois de nosso povo,
É importante frisar que além de se conquistar mais fiéis, haja pois, com vossa vinda,
vista que a igreja católica vinha sofrendo com a Reforma Pro- lhe dais lume novo.
testante, os textos refletem a tentativa de estabelecer uma PORTELA, Eduardo (Org.). José de Anchieta:
poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1959.
comunicação. Afinal, processos diferentes são empregados
na catequização do branco europeu e do nativo indígena. Assim, características como linguagem simples, tom
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moralizantes (teatro, prosa ou poesia), descritivismo e


Assim, a literatura jesuítica precisou transformar os ser-
a clara fundamentação religiosa imperam nesse tipo de
mões que eram proferidos em latim nas missas em poemas
literatura. São grandes nomes do período: Padre José An-
cantados, trovas, cantigas, tudo que pudesse aproximar e
chieta e Padre Manuel da Nóbrega.
facilitar a comunicação com os nativos. Por isso, muitos dos
textos podem soar infantis, mas, na verdade, carregam um Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se
vê em todo o ano árvores nem erva seca. Os arvoredos
tom didático e pedagógico.
se vão às nuvens de admirável altura e grossura e varie-
Leia abaixo A Santa Inês, um dos poemas mais conheci- dade de espécies. Muitos dão bons frutos e o que lhes
dos de José de Anchieta. dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande
formosura e variedade e em seu canto não dão vanta-
A Santa Inês gem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos, e canários de
Portugal e fazem uma harmonia quando um homem
Cordeirinha linda, vai por este caminho, que é para louvar ao Senhor, e
como folga o povo os bosques são tão frescos que os lindos e artificiais de
porque vossa vinda Portugal ficam muito abaixo. Há muitas árvores de ce-

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dro, áquila, sândalos e outros paus de bom olor e várias A fim de evitar a perda de poder, a Igreja Católica adotou
cores e tantas diferenças de folhas e flores que para a medidas a partir da convocação do Concílio de Trento, em
vista é grande recreação e pela muita variedade não se
1546. Outra importante ação foi a fundação dos grupos
cansa de ver.
jesuíticos, como a Companhia de Jesus, cujo papel histórico
José de Anchieta. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões.
Informação da Província do Brasil para nosso padre – 1585. extrapolou, inclusive, as fronteiras europeias. Tais medidas
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 430-431. ficaram conhecidas como contrarreforma católica.
Como os jesuítas também tinham contas a prestar para a
coroa, é possível, ainda, encontrar textos em que eles des-
crevem o Brasil em cartas. Ali, vale a pena perceber a visão
da Igreja para esse Novo Mundo: o deslumbramento diante
do cenário e, ao mesmo tempo, o caráter missionário que
davam a si mesmos na tentativa de “salvar” os indígenas.

2. Barroco: contexto de produção


Muito se discute sobre as produções artísticas e literárias
do século XVII, tendo-o como um período de relações entre
mais ou menos 1580 e 1680, para melhor especificar. Há
Pintura ilustra sessão do Concílio de Trento. Artista: Paolo Farinati.
quem julgue que tudo que se produziu nesse tempo é pouco (disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tridentinum.jpg)
relevante à história da literatura, como há quem observe no
período a raiz de grandes transformações culturais na litera- Entre os anos de 1580 e 1640, Portugal esteve anexado à
tura ocidental. Espanha, isto é, sob o domínio da mesma coroa, período
conhecido como União Ibérica. O motivo de tal imple-
É inegável, porém, que as transformações culturais e políti- mentação foi o desaparecimento de Dom Sebastião na
cas na Europa durante o período tiveram significativa impor- batalha de Alcácer-Quibir, na África. Como o parente mais
tância não apenas nos modos de vida e de se pensar, mas próximo do rei, logo, herdeiro do trono, fosse o rei da Espa-
também, na produção artística. Por isso, é válido pontuar que nha Felipe II, ele apenas unificou as coroas.
o Barroco pode ser lido como um movimento póstumo à
Reforma Protestante, isto é, que se faz a partir dos des-
dobramentos do embate religioso e político europeu. 3. Estética Barroca: o dualismo
O Barroco costuma ser estudado na literatura em língua
Reforma Protestante portuguesa a partir de dois principais autores: Gregório de
Matos e Padre Antônio Vieira. Contudo, diferente do que
A Reforma Protestante foi um movimento reformis- se pode pensar, a obra dos dois autores é bastante distinta,
ta cristão iniciado em 1517 por Martinho Lutero. Ele assemelhando-se sobretudo pela datação de seus textos
apresentou as 95 teses (1517) como forma de protes- e fazendo-se valer, justamente, pelo contraste. Em outras
to contra a doutrina da Igreja Católica. A reforma teve palavras, isto quer dizer que o Barroco não possui um apa-
como pilares 5 princípios. nhado direto de características estruturais para a literatura,
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1. somente a fé; mas que se manifesta a partir de algumas vertentes, como


um reflexo do embate religioso e político do período. Essa
2. somente a Escritura;
aparente falta de unidade foi, inclusive, um dos fatores que
3. somente Cristo; contribuiu para o estigma de ausência de boas produções
4. somente a graça; e literárias durante o século XVII.

5. somente a glória de Deus. Pelo fato de Portugal estar sob domínio espanhol no perí-
odo, a produção barroca, mesmo que vislumbre a língua
O protestantismo nasceu em decorrência da resistên- portuguesa, costuma ser associada à Espanha. Afinal, en-
cia à Igreja Católica, em especial, a partir da recusa tre as manifestações barrocas da Europa (o efuísmo inglês,
e da denúncia de abusos cometidos pela instituição: o marinismo italiano, o preciosismo francês, entre outros),
como a venda de indulgências aquela que dá nome e ecoa no primeiro poeta brasileiro é
o gongorismo espanhol – nome que advém do poeta Luís
de Gôngora (1561-1627).

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Na Espanha, Gôngora era um grande poeta, porém, com ticas do cultismo estão:
uma desavença pessoal bastante significativa com Francis-
§ o rebuscamento formal da linguagem;
co de Quevedo (1580-1645). Enquanto o último recrimi-
nava as inovações propostas por Gôngora em seu excesso § amplo número de figuras de linguagens: metáforas,
de preciosismo, o poeta gongorista insinuava que Quevedo metonímias, antíteses, entre outras.
era um péssimo tradutor de literatura grega. O embate é § vernáculo preciosista;
bastante simbólico, haja vista que é a corrente quevedista
que irá influenciar o outro expoente literário do barroco Em outras palavras, a tendência cultista valorizava a men-
brasileiro: Padre Antônio Vieira. sagem, de modo que falar sobre algo era, em fato, descre-
ver esse mesmo algo por meio de uma linguagem capaz de
expor todas as sensações possíveis a respeito desse objeto.
Curiosidades Assim, a realidade é ocultada diante das palavras, tratada
de forma indireta. Gregório de Matos seguirá a tendência
O estilo barroco europeu do século XVII recebeu de-
cultista em muitos de seus poemas.
nominações particulares em cada país:
§ Espanha – gongorismo, originado do nome do po-
eta Luis de Gôngora (1561-1627). 3.2. Francisco de Quevedo: conceptismo
§ Inglaterra – eufuísmo, derivado do nome da obra Francisco de Quevedo foi um nome singular na defesa do
Euphues, or the anatomy of wit, do escritor John Lyly conceptismo, corrente que, muitas vezes, leva o nome de
(1554-1606). quevedismo. Diferentemente do cultismo, a vertente con-
§ Itália – marinismo, derivado do nome de Gianbat- ceptista do Barroco valoriza muito a clareza das ideias, ten-
tista Marino (1569-1625). do como principais características:
§ França – preciosismo, em razão do exagero da for- § clareza dos argumentos;
ma preciosista, afetada e extremamente rebuscada § valorização da lógica;
na corte do rei Luis XIV.
§ bom uso da retórica;
§ Alemanha – silesianismo, estilo característico dos
escritores da região da Silésia. § silogismos (duas proposições que geram uma terceira
proposição lógica);
§ sofismas (utiliza argumentos verdadeiros, mas associa-
-se a algo que apenas parece real).
3.1. Luis Gongora: cultismo No Brasil e em Portugal, Padre Antonio Vieira fará bastante
Luis de Gongora foi o expoente de uma tendência literária uso dessa forma de trabalhar o texto.
barroca chamada cultismo. Dentre as principais caracterís-

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DIAGRAMA DE IDEIAS

QUINHENTISMO

LITERATURA FEITA NO BRASIL; OS VALORES


VIGENTES SÃO OS VALORES DO COLONIZADOR.
TOM DOCUMENTAL. ATENÇÃO À RELAÇÃO DAS
CARTAS COM A COROA E À POSTURA DA IGREJA.

LITERATURA DE LITERATURA DE
INFORMAÇÃO FORMAÇÃO

CARTAS /
CATEQUESE
NARRATIVAS

FAUNA FLORA NATIVOS POEMAS SERMÕES TEATRO


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