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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo
Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos
alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS VIVENCIANDO


De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico
volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi-
nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina culta a compreensão de determinados conceitos e impede
em todo o território nacional. o aprofundamento nos temas para além da superficial me-
morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na
aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi-
venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo-
cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
TEORIA
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co- contato em seu dia a dia.
leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu-
ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil
compreensão, completos e organizados. Além disso, contam
com imagens ilustrativas que complementam as explicações APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em
cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa-
abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos
à rotina intensa de estudos. compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re-
solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça
abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e
de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas
MULTIMÍDIA resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica-
ções dadas em sala de aula.
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui-
dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar
o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a
compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa-
cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem-
de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati- penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa
vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e
ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção
seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
o conhecimento do nosso aluno. dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento
do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas
resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e
descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no
dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é prova e a resolvê-las com tranquilidade.
elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que
trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co-
nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina.
DIAGRAMA DE IDEIAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso,
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma- orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de
temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte-
com essa realidade por meio de explicações que relacionam údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de mentais e fluxogramas.
outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta
forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a
mundo em que ele vive. organização dos estudos e até a resolução dos exercícios.
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Letícia de Brito Ferreira
Matheus Franco da Silveira

projeto gráfiCo e Capa


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ISBN: 978-85-9542-192-9

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SUMÁRIO
GEOGRAFIA
GEOGRAFIA 1 5
AULAS 1 E 2: MOVIMENTOS DA TERRA 7
AULAS 3 E 4: COORDENADAS GEOGRÁFICAS E FUSO HORÁRIO 15
AULAS 5 E 6: NOÇÕES DE CARTOGRAFIA 23
AULAS 7 E 8: ELEMENTOS DO CLIMA E FATORES CLIMÁTICOS 35

GEOGRAFIA 2 45
AULAS 1 E 2: INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO 47
AULAS 3 E 4: GEOLOGIA 57
AULAS 5 E 6: GEOLOGIA DO BRASIL E EXPLORAÇÃO MINERAL 67
AULAS 7 E 8: GEOMORFOLOGIA: FORÇAS ESTRUTURAIS E ESCULTURAIS 77
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM

Compreender os elementos culturais que constituem as identidades


Competência 1

H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.


H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspectoda cultura.
H5 - Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.

Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
Competência 2

H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.


H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.

Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, con-
flitos e movimentos sociais.
Competência 3

H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.


H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica
H14
acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na
vida social.
Competência 4

H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.

Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
Competência 5

H21 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H22 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construçãodo texto literário.
H23 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos.
Competência 6

H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
GEOGRAFIA

GEOGRAFIA 1
CIÊNCIAS
HUMANAS
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Esses são temas que o Enem adora ex- Os temas abordados neste caderno são
plorar, e nessas questões podem apare- pedidos com frequência nas provas da
cer de tudo: textos-base, mapas e gráfi- FUVEST. É muito importante que o aluno
cos, principalmente aqueles que chamam compreenda bem os conceitos de locali-
atenção para situações do cotidiano. zação e cartografia.

A Unicamp costuma abordar esses temas Pede em seus exercícios os principais


Este vestibular explora os temas desta
em seus vestibulares com o auxílio de conceitos, utilizando, muitas vezes, tex-
frente de maneira bastante tradicional,
mapas e esquemas, para que o aluno tos-base para sua resolução. É vital que
principalmente no que tange a cartogra-
raciocine para além do enunciado. o aluno não saio do texto, pois a Unesp
fia, onde as projeções cartográficas são
recorrentes nas provas. quer saber se o candidato compreendeu
por que aquele texto foi escolhido.

Embora as provas versem sobre assuntos As questões não apresentam surpresas, Essa prova presa sempre pela objetivida- As últimas provas mostraram um do-
da atualidade, os temas desta frente principalmente quando se trata de geo- de com relação aos temas desta frente, mínio de conteúdo relacionado, prin-
aparecem vez por outra, apresentando grafia física, como climatologia, que apa- na qual cartografia e clima merecem cipalmente, a fuso horário e noções de
um nível médio de dificuldade, e sempre rece em quase todas as provas. destaque especial. cartografia, além de trazer elementos do
com material de apoio, como mapas e clima e fatores climáticos...
gráficos.

UFMG
Os candidatos precisam explorar os Este vestibular não apresenta em seu
Clima é um tema certeiro nas provas
temas desta frente e relacioná-los às edital mais recente e nem exige nas
da Federal do Paraná. Estudar bem os
questões regionais, pois é assim que os provas dos últimos vestibulares questões
conceitos e aplicá-los em escala local é
exercícios costumam aparecer. relacionadas à disciplina de Geografia.
a chave para um bom resultado.

A UERJ é um vestibular que utiliza muitos Essa prova é bastante tradicional e con- O vestibular Souza Marques apresentou,
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

mapas, para a maioria dos temas deste teudista, orientada para todos os temas nos últimos anos, uma tendência a inserir
caderno, principalmente em questões desta frente, ou seja, astronomia, carto- questões relacionadas à geografia física,
discursivas. Para um bom desempenho grafia e clima estão sempre presentes. de forma bem equilibrada. Observa-se
nas provas, o aluno não pode deixar de uma concentração de temas sobre os
exercitar leituras e exercícios com mapas. elementos do clima e fatores climáticos.

6
MOVIMENTOS
DA TERRA multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Série “Cosmos”. Produzida pelo
astrônomo Carl Sagan Productions
O segredo dessa série de treze horas foi o talento de

CH AULAS comunicador de Sagan, capaz de desmistificar o que até

1E2 então fora informação científica inacessível. A versão


escrita desse programa continua a ser o livro de divul-
gação científica mais vendido da história.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
2 6

2.1. Movimento de rotação

1. Introdução
É notável o fascínio que as pessoas sentem pelo céu. Quem
nunca admirou um pôr do sol ou ficou impressionado com
uma tempestade? Contudo, ainda hoje, os fenômenos ce-
lestes que fazem parte do cotidiano não são compreendi-
dos por grande parte da humanidade. O interesse pelos
mistérios do Universo faz parte da natureza humana desde
o começo da civilização. Ao mesmo tempo em que a exten-
são e beleza do Universo é admirada, o desafio de conhe- O movimento de rotação ocorre quando a Terra gira em torno
cê-lo é instigante, pois, ao investigar o Cosmos, a humani- de si mesma, de oeste para leste, isto é, em torno de um eixo
dade está indagando também sobre a sua própria origem. imaginário que passa por seus polos. A duração do chamado
A luz e o calor do Sol durante o dia, o luar e as estrelas à dia sideral, ou seja, o tempo necessário para a Terra comple-
noite, o ciclo das estações, a necessidade de se orientar nos tar uma volta em torno de seu eixo (360º exatos), é de 23
percursos de um lugar a outro e de estabelecer uma cro- horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 décimos. Em relação ao
nologia para os acontecimentos foram motivos suficientes Sol, o tempo de rotação médio, o chamado dia solar médio, é
para o homem tentar equacionar o Universo. de 24 horas. O dia solar é compreendido como o período en-
tre duas passagens sucessivas do Sol sobre o meridiano local
e varia ao longo do ano, sendo sempre superior ao dia sideral.
2. Movimentos da Terra
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

É devido a isso que existe a sucessão de dias e noites, fa-


Do ponto de vista da ciência, a Terra possui um único mo- tor que desempenha um papel fundamental no equilíbrio da
vimento, que pode, dependendo de suas causas, ser divi- temperatura e da composição química da atmosfera. A rota-
dido nos seguintes componentes: ção provoca a sensação de que o Sol se movimenta em rela-
ção à Terra, de leste (nascente – levante) para oeste (poente);
§ movimento de rotação em torno de seu eixo;
entretanto, é a Terra que se movimenta em relação ao Sol.
§ movimento de translação em torno do Sol;
A velocidade desse movimento é de aproximadamente
§ movimentos de precessão e de nutação; 1.666 km/h, ou 465 m/s, que é bastante elevada, porém
§ movimento dos polos; muito inferior à de outros astros do Universo. É interessan-
te notar que a velocidade aumenta nas áreas próximas à
§ movimento em torno do centro de nossa galáxia.
linha do equador, região em que o raio terrestre é maior.
Os dois primeiros são os principais, pois suas influências Na cidade de Porto Alegre, por exemplo, a velocidade da
podem ser sentidas diariamente. rotação terrestre cai para 1.450 km/h.

7
Outros efeitos do movimento de rotação são: o formato A órbita terrestre é elíptica, onde o Sol está ligeiramente des-
geoide da Terra, isto é, ela é achatada nos polos e expan- locado em relação ao centro do movimento.
dida no equador, não formando uma esfera perfeita; as
A Terra está mais próxima do Sol entre 4 a 7 de janeiro e
correntes marinhas; a circulação atmosférica e o desnível
mais distante entre 4 e 7 de julho.
entre os oceanos.
Na verdade, a Terra, assim como os demais planetas sola-
res, gira em torno do próprio eixo porque não existe ne-
nhum tipo de força ou resistência capaz de parar a sua
rotação, que se perpetua. Acredita-se que, depois do sur-
gimento do Universo, os corpos celestes colidiram-se (e
ainda colidem-se) por várias vezes, o que fez com que os
elementos constituintes dos planetas se mantivessem em
movimentos giratórios. É importante considerar que nem multimídia: música
sempre a rotação dos planetas é no sentido anti-horário, a Fonte: Youtube
exemplo de Urano e Vênus, que giram no sentido horário. A ciência em si – Gilberto Gil

2.3. Periélio e afélio


O periélio é o ponto da órbita de um corpo, seja ele
planeta, asteroide ou cometa, que está mais perto do
Sol. Quando um corpo está no periélio, ele tem a maior
velocidade de translação de toda a sua órbita. A distân-
multimídia: livro cia entre a Terra e o Sol no periélio é de cerca de 147,1
milhões de quilômetros.
O ABCD da Astronomia e Astrofísica - J. E. Horvath O afélio, por sua vez, é o ponto da órbita em que um plane-
A Astronomia constitui um “ponto de encontro” da ta ou um corpo está mais distante do Sol. Quando se trata
Física com a Matemática e com outras disciplinas. O de um objeto que orbita uma estrela que não o Sol, esse
presente trabalho oferece uma visão breve e atualiza- ponto é denominado apoastro. A distância entre a Terra e
da de praticamente todas as áreas da Astronomia, com o Sol no afélio é de cerca de 152,1 milhões de quilômetros.
especial ênfase na Astrofísica Estelar, Cosmologia e a Quando um astro está no afélio, ele tem a menor veloci-
nascente Astrobiologia. dade de translação de toda a sua órbita, proporcionando
invernos mais longos no HS e verões mais longos no HN.
2.2. Movimento de translação Movimento acelerado TERRA

SOL
Periélio Afélio

Movimento retardado
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

É comum que esses pontos sejam confundidos como a


causa das estações do ano, com o verão sendo relacionado
ao periélio e o inverno ao afélio. No entanto, as estações do
ano ocorrem em função do movimento de translação as-
sociado à inclinação do eixo de rotação, gerando variações
na luminosidade.
A Terra, ao mesmo tempo em que gira em torno do seu eixo, O plano formado pela órbita terrestre é denominado pla-
também realiza o movimento de translação, que consiste em no da elíptica. O eixo de rotação da Terra tem inclinação
dar uma volta completa em torno do Sol. Para realizar esse de, aproximadamente, 23º em relação à perpendicular
movimento, ela utiliza cerca de 365 dias – ou precisamente desse plano. Esse fato faz com que a luz do Sol atinja o
365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. O trajeto per- planeta de forma desigual, iluminando e aquecendo he-
corrido com esse movimento é denominado órbita terrestre. misférios e regiões em épocas diferentes, o que causa,

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por sua vez, a ocorrência das estações do ano: primavera,
verão, outono e inverno. § Lua minguante: a Lua está a oeste do Sol, quase
formando um ângulo de 90° entre eles. A atração
É também o movimento de translação da Terra o responsá-
é quase nula e causa a menor elevação da maré
vel pelo ano bissexto, que tem a duração de 366 dias. Isso
(maré de quadratura).
ocorre porque a duração do ano é sempre arredondada para
365 dias, excluindo as 5 horas, 48 minutos e 46 segundos § Lua cheia: o Sol, a Lua e a Terra estão alinhados
que restam. A diferença é acertada a cada quatro anos com novamente, só que agora a Terra está entre o Sol
o ano bissexto, incluindo o dia 29 de fevereiro no calendário. e a Lua. A atração causa novamente grandes ele-
vações das marés (maré de sizígia).
§ Lua crescente: a Lua está a leste do Sol, quase
A influência da Lua na Terra formando um ângulo de 90°. Nessa fase, a gravi-
Até onde se sabe, a Terra é o único planeta do Sistema tação da Lua se opõe à gravitação do Sol. Como a
Solar em condições de abrigar vida da forma como ela Lua está mais próxima da Terra, o Sol não consegue
é conhecida. A Terra está a uma distância adequada do anular totalmente a força gravitacional da Lua, e a
Sol, possui uma atmosfera rica em oxigênio e tem gran- maré ainda apresenta uma ligeira elevação (maré
des quantidades de água. A partir do Sol, é o primeiro de quadratura).
planeta que tem um satélite natural, a Lua. § Entretanto, esse jogo de forças não é igual em toda
Quando se fala sobre esse satélite, logo é lembrada sua parte, pois o contorno da costa e as dimensões do
influência no movimento de subida e descida das águas fundo do mar também alteram a dimensão das
do mar, que é explicado pela lei da gravidade de Isaac marés. Em certas regiões abertas, a água se espalha
Newton. A Lua não exerce sozinha essa influencia na por uma grande área e sobe só alguns centímetros
maré. O Sol também tem um papel importante nesse nas marés máximas. Em outras, como um braço de
movimento, embora sua influência seja menor do que a mar estreito, o nível pode se elevar vários metros.
da Lua, pois ele está mais distante da Terra. Não raro, é possível ver a Lua durante o dia. Em algu-
mas vezes pela manhã, em outras pela tarde. É impor-
tante esclarecer que a Lua está sempre presente no
céu, tanto durante o dia quanto durante a noite. O que
ocorre é que, devido ao fato de a Lua não apresentar
luz própria, só é possível vê-la quando ela, de algum
modo, reflete a luz emitida pelo Sol.

Assim como o Sol e a Terra, a Lua não está em repou-


so. Ela gira ao redor da Terra, que, por sua vez, gira
ao redor do Sol. E, da mesma forma que a Terra atrai
a Lua, a Lua atrai a Terra, mas com menos intensida-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

de. O efeito da atração da Lua não exerce nenhuma


influência nos continentes, mas afeta os oceanos. A
influência da Lua provoca correntes marítimas que Durante a fase da lua nova, como o Sol está iluminan-
geram duas marés altas e duas baixas diariamente. do o lado oculto do satélite natural, a Lua não pode
A diferença entre marés pode ser quase impercep- ser vista nem durante o dia e nem durante a noite.
tível ou muito notável, dependendo principalmente Na fase da lua cheia, ela só aparece no horizonte ce-
da posição dos astros em relação à Terra, isto é, das leste quando já está anoitecendo. Isso significa que a
fases da Lua, que são as seguintes: Lua pode ser vista de dia durante as fases minguan-
§ Lua nova: Sol, Lua e Terra estão alinhados, o Sol te e crescente. A primeira só aparece pela manhã, e
e a Lua estão na mesma direção. A força de atra- a segunda, depois do meio-dia, porque a minguan-
ção é somada e causa elevação máxima da maré te nasce imediatamente após o período da cheia, à
(maré de sizígia). meia-noite, permanecendo nos céus durante 12 horas.

9
perpendicularmente no equador. Dias 21 ou 22 de março e
Já a Lua em sua fase crescente, mais comum, só pode 23 de setembro são datas que marcam, respectivamente, o
ser vista durante as tardes porque ela só nasce na início do outono e da primavera no Hemisfério sul e o início
metade do dia, quando fica iluminada em cerca de da primavera e do outono no Hemisfério norte.
50% de sua superfície durante as mesmas 12 horas. A
iluminação, além da reflexão da luz do Sol, depende,
sobretudo, do grau de inclinação dos raios solares.
As diferenças dos horários de surgimento da Lua no
céu são explicadas pelo fato de, a cada dia, ela nascer
48 minutos mais tarde. Assim, à medida que a posição
da Lua em relação aos raios do Sol vai se alterando,
mudam também as suas fases e o horário de seu apa-
recimento no horizonte.

Já os solstícios são os momentos nos quais os raios sola-


res incidem perpendicularmente sobre um dos trópicos. Eles
ocorrem em 22 de junho, no Trópico de Câncer (no hemisfé-
rio norte), e em 21 de dezembro, no Trópico de Capricórnio
(hemisfério sul). Essas duas datas marcam, respectivamente,
o início do inverno e do verão no hemisfério sul, e o início do
verão e do inverno no hemisfério norte. No dia de solstício,
os raios solares tangenciam um dos polos, fazendo com que
multimídia: sites este tenha 24 horas de luz, e o outro, 24 horas de escuridão.

www.iag.usp.br

3. Equinócio, solstício
e estações do ano
As estações do ano têm duração aproximada de três me- multimídia: livro
ses. A Terra recebe variadas quantidades de radiação solar
por conta da sua inclinação e da sua órbita ao redor do Sol. Decifrando a Terra - Wilson Teixeira, Thomas Rich,
Assim, existem diferentes estações ao longo do ano, o que Maria Cristina Motta de Toledo, Fabio Taioli
influencia diretamente o tipo de vegetação e o clima de
O novo Decifrando a Terra interessa não só aos estudan-
todas as regiões da Terra.
tes universitários de diversas especialidades científicas,
mas também a todos que desejam compreender os in-
trincados processos geológicos que ocorrem no planeta
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

há 4,56 bilhões de anos.

O fenômeno do sol da meia-noite


multimídia: música O “sol da meia-noite” é um fenômeno natural obser-
Fonte: Youtube vável ao norte do Círculo Polar Ártico (hemisfério nor-
te) e ao sul do Círculo Polar Antártico (hemisfério sul),
Linha do Equador – Djavan
regiões onde o Sol é visível por 24 horas do dia, nas da-
tas próximas ao solstício de verão. A rotação da Terra,
Quatro pontos do trajeto de translação são significativos ao sua inclinação e a órbita solar fazem com que uma das
longo do ano: dois solstícios e dois equinócios. Os dois equi- extremidades do planeta permaneça constantemente
nócios são os momentos nos quais os raios solares incidem

10
iluminada. Enquanto no Círculo Polar Ártico o Sol não Uma vez que no hemisfério sul não há assentamentos
se põe durante seis meses, no Círculo Polar Antártico é permanentes suficientemente próximos do polo (salvo
a noite que dura mais tempo: de 20 de março a 23 de as bases antárticas, habitadas por uns poucos cientistas
setembro. Nesse período, o polo norte está totalmente e militares), apenas Estados Unidos, Canadá, Groen-
voltado para a luz. Quanto mais próximo dos polos, lândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia e o extremo
maior é o número de dias em que o Sol não se põe. norte da Islândia podem desfrutar desse fenômeno.
Durante esse fenômeno, o Sol se aproxima da linha No norte da Noruega, por exemplo, nunca anoitece
do horizonte como se fosse o pôr ou o nascer do Sol, completamente no verão. Apesar de o Sol não estar ao
mas não desaparece totalmente. O fenômeno opos- alto no céu, ele nunca chega a desaparecer total-
to é chamado de noite polar, em que o Sol não se mente e se mantém acima da linha do horizonte.
encontra visível durante 24 horas. Quando o “sol da
meia-noite” ocorre no polo norte, a noite polar ocorre
no polo sul e vice-versa.

“Sol da meia-noite” em alta, Noruega

A noite civil polar, ou seja, quando é necessário man- A natureza criou suas estratégias para sobreviver à noi-
ter por mais de 24 horas consecutivas a iluminação te e ao dia prolongado. Em diversas regiões habitadas,
artificial para atividades no exterior, não ocorre em quando o Sol aparece, os pássaros e peixes se reprodu-
nenhum local da Europa continental ou do estado zem, o gelo formado no inverno evapora e a vegetação
norte-americano do Alasca, pois não existe qualquer aproveita a luz e o calor, frutificando. No inverno, os ani-
parte dessas regiões com latitude superior a 72° 33’ mais migram ou hibernam, o gelo volta a cobrir uma
N. A noite polar astronômica, ou seja, com escuridão ampla área e somente as espécies adaptadas permane-
total, não ocorre em qualquer terra do hemisfério cem. Apesar de ser dia durante meses, nos extremos da
norte, limitando-se ao oceano Ártico central. Terra, porém, o gelo nunca some.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS


VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

A Astronomia é o segmento da ciência que estuda os corpos celestes utilizando os conhecimentos científicos
disponíveis. Com exceção da Lua e de alguns planetas do Sistema Solar, todos os demais astros só podem ser
estudados por meio da luz que enviam para a Terra. Pelo estudo dessa luz é que que os astrônomos conseguem
obter informações e elaborar os modelos e as teorias que procuram explicar os comportamentos, as estruturas
físicas e as composições químicas dos astros no Universo.
O estudo e a análise da luz recebida dos astros na forma de micro-ondas, ondas de rádio, radiação infraver-
melha, luz visível, luz ultravioleta, raios X e raios Gama são feitos por meio da aplicação dos conhecimentos
de Física, Matemática, Química, etc.

11
Glossário:
§ Geoide: concebido idealmente como a forma da Terra, que não é esférica e sim achatada nos polos e bojuda no equador.
§ Meridional ou austral: localizado ao sul.
§ Setentrional ou boreal: localizado ao norte.
§ Movimento de precessão: fenômeno físico que consiste na mudança do eixo de rotação, causando um efeito giroscó-
pico, observado nos movimento dos ponto de referência celeste.
§ Movimento de nutação: pequena oscilação periódica do eixo de rotação da Terra, com um ciclo de 18,6, anos causada
pela força gravitacional da Lua sobre a Terra.
§ Zênite: ponto imaginário interceptado pelo eixo vertical imaginário, traçado a partir da cabeça de um observador (locali-
zado sobre a superfície terrestre), que se prolonga até a esfera celeste.

VIVENCIANDO

O Planetário Professor Aristóteles Orsini, também conhecido


como Planetário do Ibirapuera, está localizado no Parque do
Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Primeiro planetário do Bra-
sil, foi inaugurado em 26 de janeiro de 1957. O observatório do
Ibirapuera é uma grande atração para os fãs do espaço side-
ral, pois todas as imagens de estrelas, planetas, constelações e
nebulosas são captadas por telescópios; trata-se, portanto, de
imagens com brilho e cores reais. É um excelente passeio para
aqueles que desejam ter uma noção melhor de astronomia.

O Museu Cósmico, também conhecido como


Planetário de Santa Cruz, é um museu brasilei-
ro dedicado à Astronomia. Foi inaugurado em
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

2008 no bairro de Santa Cruz, na zona oeste


da cidade do Rio de Janeiro. Abriga uma cúpula
equipada com um planetário moderno que si-
mula fielmente imagens em movimento de um
céu semelhante ao que podemos observar du-
rante uma noite clara, em local livre de poluição
atmosférica, auxiliado por dezenas de equipa-
mentos periféricos. Depois de sua inauguração,
o Rio de Janeiro tornou-se a “Capital Nacional
de Cultura Planetária”, por possuir três museus administrados pela Fundação Planetários do Rio de Janeiro.
Localizado na Estrada do Guandu, 4278-4282, é um ótimo passeio para os amantes da Astronomia.

12
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 6
Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.

As representações gráficas, especialmente mapas e gráficos, são elementos importantes na aplicação de conteú-
dos geográficos; no entanto, às vezes podem se tornar entraves à aprendizagem devido às dificuldades que os
alunos enfrentam em manipular esses instrumentos. O contexto mundial que ora se apresenta é caracterizado por
uma intensa gama de tecnologias que tem provocado transformações na economia, na política e na educação.
Essas mudanças trazem novas formas de ver e sentir o espaço geográfico, influenciando o ensino da Geografia,
uma vez que essa disciplina tem a preocupação de fornecer ao aluno subsídios para que ele possa “entender” o
mundo e fazer uma leitura crítica ou mais atenta dessa “reorganização espacial e social”.
Considerando o espaço geográfico como objeto de estudo da Geografia, é interessante destacar alguns pontos
relevantes na aplicação dessa linguagem. Seu papel não é de ilustrar uma aula e não se deve usar o gráfico pelo
gráfico ou o mapa como passatempo para os alunos. Ela deve ser um recurso de mediação para o melhor enten-
dimento dos conteúdos geográficos e, consequentemente, para a aquisição desses conhecimentos.

MODELO 1

(Enem) Um leitor encontra o seguinte anúncio entre os classificados de um jornal:

VILA DAS FLORES


Vende-se terreno plano medindo
200 m2. Frente voltada para
o sol no período da manhã.
Fácil acesso.
(443)0677-0032

Interessado no terreno, o leitor vai ao endereço indicado e, lá chegando, observa um painel com a planta a seguir,
onde estavam destacados os terrenos ainda não vendidos, numerados de I a V:

VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Considerando as informações do jornal, é possível afirmar que o terreno anunciado é o

13
a) I.
b) II.
c) III.
d) IV.
e) V.

ANÁLISE EXPOSITIVA

Esse exercício é um bom exemplo de como o Enem explora e mescla conceitos cartográficos e físicos,
colocando-os em situações do cotidiano.
Dadas as condições geográficas do loteamento e observando a escala da planta, entre os terrenos vol-
tados para o leste, II, IV e V estão fazendo frente para o sol nascente, apenas o terreno IV possui 200 m2
(10 m × 20 m).

RESPOSTA Alternativa D

DIAGRAMA DE IDEIAS

MOVIMENTO
DA TERRA
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

ROTAÇÃO TRANSLAÇÃO

• DIAS E NOITES • SOLSTÍCIO


• FORMATO GEOIDE • EQUINÓCIO
• CORRENTES MARINHAS • ZONAS DE ILUMINAÇÃO
• CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA

14
1.1. Meridianos
Os meridianos são linhas imaginárias que ligam os polos
norte e sul, formando “meias circunferências” na Terra.
COORDENADAS Também se fez necessária a escolha do meridiano de zero
grau (0°), por isso convencionou-se, para início da conta-
GEOGRÁFICAS E gem, o meridiano que passa pela torre do observatório
astronômico de Greenwinch, que é uma localidade na
FUSO HORÁRIO área metropolitana de Londres, capital da Inglaterra.
O meridiano de Greenwich divide a Terra em dois hemis-
férios: ocidental e oriental. A partir dele, é possível traçar
diversos meridianos, até o limite de 180°, tanto para oeste

CH AULAS quanto para leste, o que totaliza os 360° da “circunferência”

3E4
da Terra. Ao lado do número do meridiano, deve-se indicar
leste (E ou L) ou oeste (W ou O). No ponto de 180º (seja leste
ou oeste), tem-se a linha internacional de data (ou Linha In-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
ternacional de Mudança de Data). É o meridiano oposto ao
2 6
meridiano de Greenwich, atravessando o Pacífico.

1.2. Paralelos
1. Coordenadas geográficas A linha imaginária traçada na parte mais larga da Terra é o
Ao longo da história, o ser humano sempre sentiu a neces- paralelo de zero grau (0°), cujos pontos são equidistantes
sidade de se orientar e se localizar. Foi a partir do advento dos polos. Ele foi denominado equador, o principal paralelo,
da escrita e dos mapeamentos que os recursos para orien- e divide o planeta em dois hemisférios, norte e sul.
tação se desenvolveram com maior precisão. Os outros paralelos são traçados seguindo a linha do equa-
Esses recursos são indicados por números que represen- dor, tanto para o norte quanto para o sul. A cada um deles é
tam graus de circunferência, resultado do “fatiamento” atribuído o número correspondente ao ângulo formado com
do globo terrestre, segundo a divisão sexagesimal. É im- a linha do Equador, considerando o centro da Terra como
portante lembrar que uma circunferência apresenta 360°; centro da “circunferência”. Assim, os polos estão a 90° do
além disso, cada grau tem sessenta minutos (60’), e cada equador. Indica-se norte (N) ou sul (S) ao lado do número do
minuto, sessenta segundos (60”). paralelo. Além do equador, existem quatro paralelos notáveis:
no hemisfério norte, há o Círculo Polar Ártico (90° N) e o
As coordenadas geográficas baseiam-se em diversas linhas Trópico de Câncer (23° N); no hemisfério sul, há o Círculo
imaginárias horizontais e verticais traçadas sobre o globo Polar Antártico (90° S) e o Trópico de Capricórnio (23° S).
terrestre: os paralelos e os meridianos.
MERIDIANOS PARALELOS
antimeridiano Polo norte 90º N Latitudes
180º
de Greenwich norte
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Greenwich

Equador
© César da Mata/Schäffer Editorial

Latitudes
0º sul

multimídia: livro Longitudes


oeste
Longitudes
leste

Cartografia básica – Paulo Roberto Fitzi 1.3. Latitude e longitude


O uso de mapas e imagens de satélite é cada vez mais É necessário usar duas indicações para localizar qualquer
frequente no nosso dia a dia. A sua correta interpreta- lugar na superfície terrestre de forma exata: as latitudes e
ção, no entanto, exige o domínio de conceitos básicos as longitudes.
nem sempre acessíveis na literatura disponível em lín-
Fornecer as coordenadas geográficas de uma cidade sig-
gua portuguesa.
nifica informar sua latitude e sua longitude.

15
§ Latitude é a distância, medida em graus, que separa aquecimento. Temperaturas médias ocorrem nas latitudes
a linha do equador de um ponto qualquer da superfície médias (entre os trópicos e os círculos polares).
terrestre. Ela varia de 0° a 90° ao norte e ao sul.
1. Zona Tropical ou Tórrida (ou de baixas latitudes) –
§ Longitude é a distância, medida em graus, do meridi- situada entre os trópicos.
ano de Greenwich a um ponto qualquer da superfície
2. Zona Temperada do Norte (ou de médias latitudes) –
da Terra. Ela varia de 0° a 180° a leste ou a oeste.
situada entre o Trópico de Câncer e o Círculo Glacial Ártico.
3. Zona Temperada do Sul (ou de médias latitudes) –
situada entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Glacial
Antártico.
4. Zona Glacial Ártica (ou de altas altitudes) – situada
ao Norte do Círculo Glacial Ártico.
5. Zona Glacial Antártica (ou de altas latitudes) – situ-
ada ao Sul do Círculo Glacial Antártico.
LONGITUDES LATITUDES

2. Zonas de iluminação
É usual substituir essa denominação por zonas climáticas, o
que é um equívoco, pois o clima não é o simples resultado de
maior ou menor exposição aos raios solares. A denominação
“zonas de iluminação” é preferida por geógrafos mais rigo-
rosos. A diferença de temperatura que se verifica do equador
aos polos é resultante da inclinação dos raios solares.

3. Fuso horário
No passado, a hora era uma característica extremamen-
multimídia: livro te local. Os antigos viajantes precisavam acertar o relógio
toda vez que chegavam a uma cidade nova. O acerto de
Mapas da Geografia e Cartografia horas era feito através do Sol: o meio-dia representava o
Temática – Marcelo Martinelli ponto mais alto que a estrela alcançava. A partir da Re-
O livro introduz o leitor no domínio das representações volução Industrial, com o barco e a locomotiva à vapor, as
gráficas e apresenta os fundamentos metodológicos da distâncias se encurtaram, causando dificuldades para a de-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

cartografia temática e da Geografia em bases ligadas terminação da hora.


à comunicação visual. É uma proposta inovadora que Em 1884, representantes de 25 países se reuniram, em
considera o mapa da Geografia não apenas como uma Washington, para determinar um sistema padronizado de
ilustração de texto, mas um meio capaz de revelar o horas, e, assim, foram criados os fusos horários.
conteúdo da informação.
Dividindo-se os 360º da “esfera” terrestre pelo número de
horas que a Terra leva para completar seu movimento de
Nas áreas próximas aos polos, onde a curvatura da Terra é rotação, tem-se 15º (quinze graus), ou seja, a cada hora, a
mais acentuada, os raios do sol se distribuem por uma su- Terra gira 15º. Partindo desse raciocínio, o planeta foi divi-
perfície menor, determinando menor concentração de calor. dido em 24 fusos horários, correspondentes às 24 horas do
Nas baixas latitudes (próximas ao Equador), os raios solares dia e limitados por meridianos, distantes 15º uns dos outros.
tocam perpendicularmente a superfície do planeta, deter- O meridiano 0º tem como referência o observatório de Gre-
minando maior concentração e, consequentemente, maior enwich, localizado no subúrbio de Londres, que passou a

16
simbolizar o primeiro meridiano internacional, base para a seguem o contorno e os limites entre países ou entre as uni-
determinação do horário legal, adotado em todo o mundo. dades administrativas em que alguns países se dividem, os
Como a Terra gira de oeste para leste, os fusos à leste de chamados fusos legais.
Greenwich têm as horas adiantadas em relação ao fuso Polo Norte
inicial. Os fusos situados à oeste, por sua vez, têm as horas
atrasadas em relação à hora de Greenwich.
DIA

Oeste

Leste
NOITE

© Rafael Schäffer Gimenes/Schäffer Editorial


Polo Sul

3.2. Calculando os fusos: a lei de Aldrin


É possível calcular a hora em certas localidades sem a uti-
lização de um mapa, desde que se saiba sua longitude e o
horário e a longitude de outro local, que será tomado como
Meridiano 0, marcado no Observatório Real
de Greenwich, a leste de Londres
referência. O calculo é feito da seguinte maneira:

Outra questão abordada na Conferência do Meridiano foi § determina-se a diferença entre as longitudes dos
estabelecer um marco para a mudança do dia no planeta. dois lugares;
A partir de então, definiu-se o antimeridiano de Greenwich, § somam-se as duas longitudes caso estejam em hemis-
ou seja, a linha de longitude 180º, oposta ao meridiano férios diferentes;
inicial, chamada Linha Internacional de Mudança de
§ subtraem-se as longitudes caso estejam no mesmo he-
Data. Esse meridiano divide um fuso em que todos os lu-
misfério;
gares têm a mesma hora, mas, a oeste da linha, a data está
um dia na frente da data a leste. § o resultado deve ser dividido por 15º;
§ o resultado dessa divisão será a diferença entre os ho-
rários de dois lugares. Esta deverá ser subtraída se o
local estiver à oeste, ou somada, para leste.
O método conhecido como lei de Aldrin determina a dife-
rença de fusos horários entre dois locais.

Principais siglas

Sigla Significado Tradução Descrição


Refere-se a
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Greenwich, onde
Tempo
Greenwich ficou definida por
GMT Médio de
Mean Time convenção a base
Greenwich
para cálculo inter-
nacional de horário.
Tempo Hora oficial em
ST Standard Time
Padrão cada fuso horário.

Alteração do
3.1. Fuso horário legal horário de uma
região, designado
No mapa-múndi é possível observar que os limites dos me- Daylight apenas durante
Horário de
DST Saving Time ou uma porção do
ridianos não são respeitados estritamente. Existem variações Verão
Summer Time ano, adiantando-se
de acordo com cada país. Ou seja, o horário de determinadas em geral uma hora
no fuso horário
áreas em alguns países não corresponde ao horário do fuso oficial local.
ao qual pertencem. Há um limite prático entre os fusos, que

17
Principais siglas de 2008 a 2013 esse fuso horário foi excluído, passan-
do a ser incorporado pelo terceiro fuso (UTC 4).
Sigla Significado Tradução Descrição
Tempo Brasil: fuso horário
Coordinated Universal Os fusos horários
UTC
Universal Time Coordenado, são relativos a ele.
tempo civil
Usado em astrono-
Tempo
UT Universal Time mia, tem por base
Universal
a rotação da Terra.
Tempo
International Sua base são os
IAT Atômico
Atomic Time relógios atômicos.
Internacional
Antes do Usados por povos
Ante Meridiem/
A.M./ meio-dia/ que consideram
Post Meridiem
P.M. Depois do um ciclo de
(do latim)
meio-dia 12 horas.
Hora oficial
HL — Hora Legal
do país.

Jet lag
O jet lag (também conhecido como doença do fuso
multimídia: música horário) é a perda de ritmo e concentração ao se
Fonte: Youtube passar por fusos horários diferentes em pouco tem-
Mapas do acaso – Engenheiros do Hawaí po. Seus sintomas consistem em irritabilidade, cefa-
leia, taquicardia e alteração dos padrões de sono e
fome. Esse tipo de alteração ocorre devido às mu-
3.3. Fusos horários do Brasil danças de hábitos (hora de comer e de dormir, por
exemplo). Quando a diferença de horário entre o
O Brasil possui quatro fusos horários devido à sua grande
extensão longitudinal. A maior parte do território fica no se- ponto de saída e o destino é superior a quatro horas,
gundo fuso (atrasado em 3 horas em relação a Greenwich), os efeitos do jet lag se tornam mais evidentes.
que corresponde à hora oficial do Brasil – ou horário de
Brasília. Nesse fuso, estão incluídas as regiões Sul, Sudeste, Fonte: IBGE. Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/
politico-administrativo>. Acesso em: nov. 2014.
Nordeste e parte das regiões Norte e Centro-Oeste. Para
evitar a existência de dois fusos dentro do mesmo estado,
o limite prático dos fusos acompanha a divisão política do 3.4. Horário de verão
país. Os fusos do Brasil são: O chamado horário de verão foi criado para aproveitar os dias
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ primeiro fuso (UTC-2): Atol das Rocas, Fernando mais longos do verão nas regiões de média e alta latitudes.
de Noronha, Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Cerca de 50 dias antes do solstício de verão, adianta-se o
Trindade e Martim Vaz; relógio em 1 hora. Com essa mudança, as pessoas passam a
§ segundo fuso – horário de Brasília (UTC-3): regi- acordar mais cedo do que fariam normalmente. Uma pessoa
ões Sul, Sudeste e Nordeste; estados de Goiás, Tocan- que acorda às 8 horas, por exemplo, passa a acordar, no ho-
tins, Pará e Amapá; e o Distrito Federal; rário de verão, o equivalente às 7 horas sem essa mudança.
§ terceiro fuso (UTC-4): estados do Mato Grosso, Como os dias são mais longos, já há iluminação natural
Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e a parte do nesse horário. Dessa forma, a claridade do dia é aprovei-
Amazonas que fica a leste da linha que interliga Taba- tada desde seu início. No final da tarde, o Sol, que se poria
tinga e Porto Acre; normalmente às 19 horas, passa a se pôr às 20 horas.
§ quarto fuso (UTC-5): estado do Acre e a porção do A Alemanha, em 1916, foi o primeiro país a adotar o ho-
Amazonas que fica a oeste da linha. Durante os anos

18
rário de verão. A partir daí, devido à Primeira Guerra Mun- 1.840 MW no subsistema Sudeste/Centro-Oeste e 610 MW
dial, diversos países na Europa o adotaram. A economia de no subsistema Sul. O horário de verão aumenta a segurança
energia elétrica foi vista como um esforço de guerra, pro- e diminui os custos de operação do sistema, possibilitando a
piciando a economia de carvão, principal fonte de energia redução da tarifa de energia elétrica para o consumidor.
da época. Nos Estados Unidos foi mais difícil implementar No entanto, a prática recebeu tanto aplausos quanto críticas.
o horário de verão devido à coincidência com a implanta- Adiantar os relógios traz benefícios para o varejo, os esportes
ção do sistema de fusos horários em 1918 (por ocasião da e outras atividades que exploram a luz do Sol depois da jor-
Primeira Guerra Mundial). No Brasil, ele foi adotado pela nada de trabalho, mas pode trazer problemas para o entendi-
primeira vez em 1931, também com o objetivo de econo- mento da tarde e para outras atividades ligadas diretamente
mizar energia elétrica. à luz solar, como a agricultura, por exemplo. Embora alguns
Em abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro assinou o dos primeiros proponentes do horário de verão tenham pen-
decreto que acabou com o horário de verão no Brasil. sado que ele reduziria o uso de lâmpadas incandescentes
durante a tarde – uma vez que a iluminação era o principal
uso da eletricidade –, o clima moderno e os padrões de uso
de aparelhos para refrigeração diferem bastante. As pesqui-
sas em relação a como o horário de verão atualmente afeta
o uso de energia têm sido limitadas e contraditórias.
Às vezes, as mudanças causadas pela medida complicam
a cronometragem e podem atrapalhar viagens, faturamen-
multimídia: vídeo tos, manutenção de registros, dispositivos médicos, equi-
pamentos pesados e padrões de sono. Os softwares dos
Fonte: Youtube
dispositivos contemporâneos podem frequentemente alte-
Documentário - “Todo mapa tem um discurso” rar o horário automaticamente, mas as mudanças de po-
Levanta as principais questões simbólicas e práticas líticas por várias jurisdições de datas e horários do horário
sobre as regiões marginalizadas que não pertecem ao de verão podem ser confusas. No ano de 2019, o Governo
mapa oficial da cidade. Federal extinguiu o horário de verão no Brasil.

Internacionalmente os estudos apontam três benefícios do


horário de verão: economia de energia, redução de aciden-
tes nos horários de pico do trânsito (que durante esse perí-
odo possuem mais iluminação natural) e redução de assal-
tos e crimes. No caso brasileiro, é possível acrescentar um
importante benefício: a possibilidade de armazenamento
de água nos reservatórios das hidrelétricas durante o verão multimídia: sites
para que essa água seja utilizada mais tarde, durante os
meses secos do inverno.
www.inpe.br
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

3.5. Horário de verão no mundo


As sociedades industrializadas geralmente seguem um cro-
nograma baseado em relógios nas atividades do dia a dia
que não mudam no decorrer do ano. A coordenação do
multimídia: música transporte público e os horários de início do trabalho e da
escola, por exemplo, mantêm-se constantes durante o ano.
Fonte: Youtube
Por outro lado, as rotinas de trabalho e conduta pessoal
Terra – Caetano Veloso
dos agricultores são geralmente governadas pelo tempo
em que a luz solar está visível e pelo horário solar aparente,
No Brasil, a economia chegou a R$ 160 milhões, resultados que pode mudar sazonalmente devido à inclinação axial
verificados durante o horário de verão 2011/2012, uma redu- da Terra. A luz do dia dos trópicos norte e sul dura mais no
ção da demanda de ponta da ordem de 2.555 MW – sendo verão e menos no inverno, com o efeito tornando-se maior

19
à medida que nos afastamos dos trópicos.

Regiões que adotam o horário de verão


Regiões que já adotaram horário de verão, mas não usam atualmente
Regiões que nunca adotaram horário de verão

Ao redefinir simultaneamente todos os relógios de uma região para uma hora adiante ao horário padrão, os indivíduos que
seguem essa rotina vão acordar uma hora antes do que acordariam de outro modo; eles vão iniciar e completar as rotinas de
trabalho uma hora antes e terão sessenta minutos extras da luz do dia depois da jornada de trabalho. No começo de cada dia,
entretanto, haverá uma hora de luz a menos, o que torna a política menos prática.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

20
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 6
Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.

As representações gráficas há muito tempo são usadas pela disciplina geográfica, mas nem sempre propor-
cionam resultados satisfatórios. Isso é decorrente, entre diversas razões, do uso de metodologias inadequadas
para o ensino-aprendizagem. Às vezes, os mapas são usados para pintura ou até mesmo como meras ilus-
trações de um texto, deixando de ser um material pedagógico. No caso dos gráficos, são pouco explorados
por serem vistos como um material de difícil compreensão pelos alunos. A Geografia é uma ciência que utiliza
mapas e gráficos para o estudo do espaço, assim, quanto melhor esse espaço for representado, melhor será en-
tendido. De acordo com Passini, os ensinos de Geografia e de Cartografia são indissociáveis e complementares:
a primeira é conteúdo e a outra é forma. Não há possibilidade de se estudar o espaço sem representá-lo, assim
como não podemos representar um espaço vazio de informações (2007, p.148).
As representações gráficas são significativas para entender textos, ideias e dados de forma eficaz e sintetizada. As-
sim, elas devem comunicar as informações instantaneamente, através de imagens visuais de forma monossêmica,
isto é, sem ambiguidade, permitindo uma única leitura.

MODELO 1

(Enem) Os moradores de Utqiagvik passaram dois meses quase totalmente na escuridão


Os habitantes desta pequena cidade no Alasca – o estado dos Estados Unidos mais ao norte – já estão
acostumados a longas noites sem ver a luz do dia. Em 18 de novembro de 2018, seus pouco mais de 4 mil
habitantes viram o último pôr do sol do ano. A oportunidade seguinte para ver a luz do dia ocorreu no dia
23 de janeiro de 2019, às 13h04 min (horário local).
Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 16 maio 2019 (adaptado).

O fenômeno descrito está relacionado ao fato de a cidade citada ter uma posição geográfica condicionada pela
a) continentalidade;
b) maritimidade;
c) longitude;
d) latitude;
e) altitude.

ANÁLISE EXPOSITIVA
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

A alternativa correta é [D], porque em razão da inclinação do eixo da Terra, as áreas de altas latitudes
sofrem máxima variação de luminosidade nos solstícios de verão e inverno, resultando, dessa forma, em
longas noites no inverno. As alternativas incorretas são: [A] e [B], porque maritimidade e continentalidade
são reguladores térmicos e não de variação da incidência solar; [C], porque longitude é usada para cálculo
de fuso horário; [E], porque altitude é um fator que não define a variação da incidência solar.

RESPOSTA Alternativa D

21
DIAGRAMA DE IDEIAS

FUSO HORÁRIO

PADRONIZAÇÃO DO
HORÁRIO MUNDIAL

BRASIL

1º FUSO: -2 HORAS GREENWICH 0º


2º FUSO: -3 HORAS (MERIDIANO CENTRAL)
3º FUSO: -4 HORAS
4º FUSO: -5 HORAS

OESTE LESTE

A HORA A HORA
DIMINUI AUMENTA

COORDENADAS
GEOGRÁFICAS

LATITUDE LONGITUDE

PARALELOS MERIDIANOS
• EQUADOR • GREENWICH
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

• TRÓPICO DE CÂNCER • LINHA INTERNACIONAL


• TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO DE MUDANÇA DE DATA
• CÍRCULO POLAR ÁRTICO • FUSO HORÁRIO
• CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO

22
É possível distinguir dois ramos dentro da cartografia: a
sistemática e a temática. A cartografia sistemática tem
como objetivo produzir mapas com o máximo de precisão
possível, ou, ao menos, com distorções controladas. Os ma-
pas topográficos, por exemplo, são produzidos pela carto-
NOÇÕES DE grafia sistemática. A cartografia temática, por sua vez, tem

CARTOGRAFIA como objetivo a utilização de mapas de base, geralmente


produzidos pela cartografia sistemática, para a representa-
ção de temas variados da geografia física ou humana. Para
expressar os dados são utilizados símbolos, cores, gráficos
e as próprias formas e tamanhos das áreas representadas.

CH AULAS 1.1. Histórico


5E6
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
2 6

1. Cartografia
A cartografia é a ciência da representação gráfica da super-
fície terrestre e tem como produto final o mapa. Entretan-
to, os mapas e outros produtos realizados pela cartografia
não são cópias fiéis da realidade. Eles só seriam a reprodu-
ção fiel da realidade caso fossem exatamente do tamanho Mapa-múndi de Ptolomeu, 1486
real da área mapeada, o que os tornaria inúteis e inviáveis. Desde épocas remotas até os dias atuais, o desenvolvimento
Com efeito, os mapas são sempre a representação de parte da cartografia acompanhou o próprio progresso da civilização.
da realidade. É sempre necessário se perguntar o que um
mapa quer representar e qual é o seu objetivo. Com isso,
os cartógrafos utilizam alguns recursos que visam facilitar
o entendimento e a interpretação das cartas.

Mapa-múndi babilônico
O primeiro mapa de que se tem registro foi feito numa
tábua redonda de argila por volta de 2300 a.C. na re-
gião da Mesopotâmia (atual Iraque). Era apenas uma
representação de um rio, provavelmente o rio Eufra-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

tes, circundando montanhas. Outros registros, datan-


do de 1000 a.C., foram encontrados em tumbas no
Egito e representavam paisagens locais, trilhas e rios.

A representação feita pelos


babilônios é considerada o
primeiro mapa-múndi da his-
tória, por representar o mun-
do na concepção de seus au-
tores, mesmo que, na verdade,
a Terra seja bem diferente do
que foi registrado.

23
As guerras, as descobertas científicas, o desenvolvimento Não existe uma diferença rígida entre os conceitos de mapa
das artes e ciências e os movimentos históricos que exi- e carta, o que torna difícil estabelecer uma separação defini-
giam maior precisão na representação gráfica da superfície tiva entre o significado dessas designações.
da Terra impulsionaram a evolução da cartografia. Mas foi
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
na Grécia Antiga que se lançaram os primeiros fundamen- tica (IBGE), “carta é a representação no plano, em escala
tos da ciência cartográfica, quando Hiparco (160-120 a.C.) média ou grande, dos aspectos artificiais e naturais de uma
utilizou, pela primeira vez, métodos astronômicos para área tomada de uma superfície planetária, subdividida em
determinar a superfície da Terra e deu a primeira solução folhas delimitadas por linhas convencionais – paralelos e
do problema relativo ao desenvolvimento da superfície da meridianos – com a finalidade de possibilitar a avaliação
Terra sobre um plano, idealizando a projeção cônica. de pormenores, com grau de precisão compatível com a
Todo o conhecimento geográfico e cartográfico da Grécia escala”. Ainda segundo o IBGE, “mapa é a representação
Antiga se condensa nos escritos do geógrafo e cartógrafo no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos
grego Cláudio Ptolomeu de Alexandria (90-168 d.C.). geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área to-
Sua extraordinária obra em seis volumes apresenta os mada na superfície de uma figura planetária, delimitada
princípios da cartografia matemática, das projeções e dos por elementos físicos, político-administrativos, destinadas
métodos de observação astronômica. aos mais variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos”.
Mais tarde, com o advento da agulha magnética, tornou-se A distinção entre mapa e carta é um tanto convencional e
possível a exploração dos mares e se intensificou o comér- subordinada à ideia de escala. Nota-se, contudo, certa pre-
cio para o Leste. Deu-se início, então, à epopeia portuguesa ferência pelo uso da palavra carta. Na verdade, o mapa é
dos descobrimentos. Além disso, Gutenberg inventou a im- apenas uma representação ilustrativa e pode perfeitamen-
prensa e foi fundada a Escola de Sagres. te ser considerado um caso particular de carta.
No século XIX, iniciou-se o levantamento hidrográfico do Dessa forma, o mapa é a representação da Terra, nos seus
litoral brasileiro, um dos maiores destaques da história da aspectos geográficos, naturais ou artificiais, que se destina
cartografia náutica do Brasil. Já no século XX, o emprego a fins culturais ou ilustrativos. Assim, ele não tem caráter
da aerofotogrametria e a introdução da eletrônica no ins- científico especializado e é geralmente construído em esca-
trumental necessário para os levantamentos determinaram la pequena, cobrindo um território mais ou menos extenso.
uma grande revolução na cartografia. Carta, por sua vez, é a representação dos aspectos naturais
A cartografia contemporânea busca acompanhar o progres- ou artificiais da Terra, destinada a fins práticos da atividade
so em todos os ramos da atividade humana. Uma das princi- humana, permitindo a avaliação precisa de distâncias, dire-
pais características do século XXI é uma produção em massa, ções e localizações geográficas de pontos, áreas e detalhes.
no menor tempo possível e com precisão cada vez maior. É, portanto, uma representação similar ao mapa, mas de
caráter especializado, construída com uma finalidade espe-
1.2. Definições de mapas e cartas cífica e geralmente em escalas maiores.
O mapeamento é o conjunto de operações de levantamen-
to, construção e reprodução das cartas de determinado
projeto. De acordo com a escala, é possível classificar os
mapas e as cartas em:
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ cadastrais – escalas de 1:500 a 1:10.000;


§ topográficos – escalas de 1:25.000 a 1:250.000;
§ geográficos – escalas de 1:500.000 a 1:1.000.000.

1.3. Escala
Uma enorme literatura discorre sobre a questão da es-
cala em geografia e, amiúde, converge para alimentar
um debate circular e tautológico. Atônitos, debruçamo-
-nos sobre esse problema – será um problema? – e
descobrimos a recorrência de três premissas centrais:
a crítica à analogia da escala geográfica com a carto-
Mapa do Brasil – regiões gráfica e, com frequência, a ausência ou recusa à ela-

24
boração de uma proposta metodológica alternativa; a Assim, em um mapa de escala 1:200.000, se a distância em
afirmação de que o valor da variável muda com a esca- linha reta entre dois pontos é de 20 cm (pode ser medida
la e, por fim, a aceitação da escala como uma definição
com a régua), qual a distância real entre esses pontos?
a priori na pesquisa geográfica.
SILVEIRA, Maria Laura. Escala geográfica: da ação ao D = 200.000 × 20 = 4.000.000 cm ou 40 km
império? Revista Terra Livre, Goiânia, Ano 20.
Para saber a distância no mapa, aplica-se a fórmula d = D : E.
Pode-se definir escala como a relação entre o tamanho do fato
d = 4.000.000 ÷ 200.000 = 20 cm
geográfico representado no mapa e o seu tamanho real na
superfície da Terra. Os mapas apresentam dois tipos de escala: Quanto maior a escala, menor a área representada, o que
§ Escala numérica: representada por uma fração, na possibilita a visualização de uma quantidade maior de
qual o numerador indica a distância no mapa, e o deno- detalhes. Veja alguns exemplos utilizados em mapas com
minador indica a distância na superfície real. Uma escala suas escalas correspondentes:
1:100.000 (um por cem mil) significa que a superfície re- § Mapas de plantas cadastrais, usadas para
presentada foi reduzida 100 mil vezes. Nesse caso, 1 cm identificação de lotes no espaço urbano:
no mapa = 100.000 cm = 1.000 m = 1 km na realidade. 1:1.000 a 1:2.000.
§ Escala gráfica: é uma linha reta graduada, por meio da § Mapas topográficos municipais:
qual se indica a relação da distância real com as distâncias 1:5.000 a 1:20.000.
representadas no mapa. Por exemplo: 1 cm = 100 km.
§ Mapas topográficos regionais:
2 1 0 2 4 1:50.000 a 1:250.000.
§ Mapas de grandes regiões brasileiras:
km © César da Mata/
Schäffer Editorial
1:500.000 a 1:2.000.000.
§ Mapas de grandes países como o Brasil:
A fórmula para calcular a distância real entre dois pontos escalas menores que 1:5.000.000.
em um mapa é D = E × d, em que D é distância real, d é
a distância no mapa e E é a escala.

COMPARAÇÃO ENTRE ESCALAS


Nível de análise
Tamanho Área de território
Aplicação Área representada (número e quantidade
da escala representado
dos pormenores)
1:100
plantas de casas
1:200
1:500
plantas de arruamentos
1:1.000
1:1.000
plantas de bairros, grande escala pequena (menor
1:2.000
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

cidades ou aldeias (igual ou superior grande (muitos pormenores) área representada)


1:5.000 a 1:100.000) escala descritiva
1:10.000
mapas de grandes 1:25.000
propriedades (rurais
1:50.000
ou industriais),
províncias ou regiões 1:75.000
1:100.000
1:800.000
1:10.000.000 pequena escala grande (maior área
mapas de estados, países,
(inferior a pequena (poucos pormenores) representada) escala
continentes ou do mundo 1:90.000.000 1/100000) explicativa
1:600.000.000

25
2. Construção e 2.3. Representação do relevo
interpretação dos mapas Tanto o relevo terrestre quanto o submarino podem ser
representados de várias formas – por cores (altitudes), ha-
churas, blocos-diagramas, etc. No entanto, as formas mais
2.1. Orientação no mapa usuais são as curvas de nível e o perfil topográfico.
A maioria dos mapas traz uma rosa dos ventos ou uma seta As cores convencionadas pela Carta Internacional do Mundo
indicando o norte. Quando não há essa indicação, conven- (CIM) para mostrar as altitudes são as hipsométricas (verde,
cionou-se que o norte está na parte superior do mapa. amarelo, marrom, violeta, violeta-escuro e branco), que indi-
N cam as cotas acima do nível do mar, e as batimétricas (tom
azul), que indicam as cotas abaixo do nível do mar.
Alagoas: mapa hipsométrico

2.2. Elementos de um mapa


Um mapa representa o espaço a partir da visão vertical. Os
mapas do tipo topográfico representam todos os elementos
visíveis do espaço, como área urbana, agricultura, vias de
transporte, hidrografia, tipos de vegetação, etc. Eles são ela-
borados a partir de levantamentos topográficos realizados
por empresas privadas ou órgãos governamentais, como o Fonte: Governo do Estado de Alagoas. Acesso: Nov. 2014.

IBGE, e servem de base para outro tipo de mapa, o temático.


Fonte: Governo do Estado de Alagoas. Acesso: nov. 2014.
Os mapas temáticos são representações de fenômenos na-
turais (clima, relevo, rochas, etc.) ou socioeconômicos (popu-
lação, indústria, urbanização etc.) mostrando seus aspectos 2.4. Topografia e curvas de nível
quantitativos e/ou qualitativos. Um mapa deve conter: Em cartografia, curvas de nível, também denominadas
§ Título: informa o tema que está sendo representado. isoípsas, são linhas que unem pontos de igual altitude na
superfície representada. Os intervalos existentes entre es-
§ Legenda: mostra o significado dos símbolos e é impor- sas linhas são equidistantes, ou seja, sempre possuem a
tante para explicar o que o mapa comunicou visualmente. mesma medida.
§ Escala: indica quantas vezes o mapa foi reduzido,
possibilitando o cálculo das distâncias e das dimensões
reais do espaço representado.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Exemplo de curva de nível e perfil topográfico

A interpretação das curvas de nível exige o conhecimento


de algumas noções básicas:
§ Quanto maior a declividade do terreno representado,
mais próximas são as curvas de nível; elas são mais afas-
tadas na representação de terrenos pouco íngremes.

26
§ Há sempre a mesma diferença de altitude entre duas tros recursos utilizados também pela cartografia, como a
curvas de nível. topografia, a geodésia e a aerofotogrametria, juntamente
com novas técnicas de sensoriamento remoto, o GPS e o
§ Pontos situados na mesma curva de nível têm a mesma
Sistema de Informação Geográfica (SIG). Ou seja, a geomá-
altitude.
tica utiliza dados coletados por satélites e por trabalho de
§ Os rios nascem nas áreas mais altas e correm para as campo que são reunidos e processados em computadores,
áreas mais baixas. gerando produtos como mapas digitais ou bases de dados.
As curvas de nível raramente se cruzam e tendem a ser pa- O resultado mais completo obtido com o uso das técnicas
ralelas entre si. O cruzamento só ocorre quando há algum da geomática é o geoprocessamento ou SIG, que permite a
tipo de acidente geográfico incomum, como um barranco, superposição e o cruzamento de informações. Sua principal
ou seja, quando elas se tocam, é porque uma determinada característica é integrar, em uma base única, informações
altitude encontra-se sobre a outra. diversas – imagens, dados cartográficos, populacionais, etc.
Além dessas características, é possível notar que as curvas – de forma que seja possível consultar, comparar e analisar
de nível jamais se bifurcam. Observe no exemplo abaixo: essas informações, além de produzir mapas.

2.6. Aerofotogrametria
Também denominada fotogrametria, é a técnica de ela-
boração de cartas com base em fotografias aéreas e com
a utilização de aparelhos e métodos estereoscópicos, que
permitem a representação de objetos em um plano e sua
visão em três dimensões.
Alguns detalhes são essenciais para a representação de
fotografias aéreas, como o tamanho e a forma da área es-
tudada ou a tonalidade e as sombras existentes nas fotos.
Os tipos de fotografias aéreas mais usados são os mosai-
Exemplo de uma área maior representada em curvas de nível
cos cartográficos, as montagens de fotografias aéreas e as
Produzir mapas topográficos em curvas de nível, principal- ortofotocartas, imagens com escala precisa em que podem
mente de áreas extensas, requer muito trabalho na coleta de estar representadas curvas de nível, ruas, limites, etc.
dados, como o das altitudes, envolvendo uma rigorosa pre-
cisão matemática. Entretanto, com os avanços tecnológicos no
campo da cartografia, tanto com a aerofotogrametria quanto
com as projeções de satélites, muitas vezes esse tipo de mapa
é produzido quase que automaticamente, o que facilita estu-
dos geológicos e geomorfológicos da superfície terrestre.

2.5. Geomática: a cartografia


computadorizada
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

O século XXI traz consigo o uso generalizado da geomá-


tica, definida pela International Standards Organization
como “o campo de atividade que integra todos os meios
Técnica de aerofotogrametria
utilizados para a aquisição e o gerenciamento de dados
espaciais necessários às operações científicas, administrati- Embora muito utilizado para fins de mapeamento, esse mé-
vas, legais e técnicas envolvidas no processo de produção todo, assim como qualquer outro método de representação
e gerenciamento da informação espacial”. da superfície terrestre, oferece algumas limitações. Nesse
caso, as limitações se referem à interpretação das imagens
Em outras palavras, é possível definir a geomática como a
obtidas, que exigem perícia do intérprete para reconhecer
ciência e a tecnologia de coletar, interpretar e utilizar infor-
e diferenciar objetos, principalmente porque a forma dos
mações geográficas. objetos (meio pelo qual se faz o reconhecimento) pode ser
Embora não seja um campo novo, a geomática representa alterada de acordo com a perspectiva da máquina na hora
uma evolução das técnicas cartográficas, abrangendo ou- do registro da imagem (fotografia) ou mesmo devido às

27
características de interação da radiação eletromagnética
com o alvo ou o conjunto observador-sensor. Satélites artificiais
Outra dificuldade dessa técnica está na instabilidade do voo, Sensores remotos podem ser colocados em aero-
principalmente quando feito em uma região onde venta naves, foguetes e balões para obter imagens da
constantemente. Quando a aerofotogrametria é feita com o superfície da Terra; contudo, essas plataformas são
objetivo de mapear o local, é traçado um plano de voo, de for- operacionalmente caras e limitadas. Uma solução
ma que as fotos sejam tiradas “em faixas” que cubram, para- para esse caso é utilizar satélites artificiais para
lelamente, todo o terreno. Para isso, o ideal seria manter o voo instalar esses sistemas. Um satélite pode girar em
em linha reta e a uma altura constante, mas isso nem sempre órbita da Terra por um longo tempo e não preci-
é possível, o que causa pequenas distorções nas fotos. sa de combustível para isso; alem do mais, a sua
altitude permite que sejam obtidas imagens de
No Brasil, o levantamento aerofotogramétrico deve ser pre- grandes extensões da superfície terrestre de forma
viamente autorizado pelo Ministério da Defesa. Além disso, repetitiva e a um custo relativamente baixo. Os sa-
ele só pode ser realizado por empresas especializadas em tal télites artificiais são plataformas estruturadas para
finalidade ou por entidades do governo, devendo ser informa- suportar o funcionamento de instrumentos de di-
das a localização e a área de abrangência do levantamento. versos tipos, e, por essa razão, elas são equipadas
com sistemas de suprimento de energia (painéis
solares que convertem a energia radiante do Sol
2.7. Sensoriamento remoto em energia elétrica e a armazena em baterias),
O sensoriamento remoto é uma tecnologia de obtenção de de controle de temperatura, de estabilização, de
imagens e dados da superfície terrestre por meio da capta- transmissão de dados, etc.
ção e registro da energia refletida/emitida pela superfície,
sem que haja contato físico entre o sensor e a superfície
estudada (por isso é denominado remoto).
2.8. Tecnologia de posicionamento
Os sensores óptico-eletrônicos usados para a captura dessa
energia funcionam como se fossem uma câmera fotográfi-
global (GPS)
ca (captam e registram a radiação – luz – emitida/refletida GPS é a abreviatura de Global Positioning System, em
pelo objeto) que tirasse fotos da superfície terrestre, só que português, Sistema de Posicionamento Global. Trata-se
os sensores são um pouco mais sofisticados. de um sofisticado sistema de navegação e posiciona-
As câmeras fotográficas convencionais captam apenas o mento global que informa com precisão a latitude, a
espectro de luz visível (de ondas longas), já os sensores uti- longitude e a altitude de um local, permitindo o ma-
lizados no sensoriamento remoto costumam captar outras peamento de rotas marítimas e terrestres, redes de
bandas (uma delas é o infravermelho, que é muito impor- transmissão de energia elétrica, correntes marítimas,
tante para o estudo das vegetações, por exemplo). ecossistemas, bem como o monitoramento de desastres
Quando a imagem for capturada, ela será analisada, ambientais em qualquer ponto.
transformada em mapas ou constituirá um banco de da- O GPS é constituído por três segmentos: espacial, de
dos georreferenciados, caracterizando o que é chamado
controle e utilizador. O espacial é composto por 24 saté-
de geoprocessamento.
lites distribuídos em seis planos orbitais. O segmento de
O satélite é o veículo mais utilizado para captura de ima- controle é responsável pelo monitoramento das órbitas
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

gens em sensoriamento remoto. Isso ocorre devido a sua dos satélites. Por fim, o segmento do utilizador é o recep-
melhor relação de custo-benefício, uma vez que ele pode tor GPS, responsável pela captação dos sinais fornecidos
passar anos em órbita da Terra.
pelos satélites. Esse sistema de navegação possibilita,
por meio de satélites artificiais, a obtenção de informa-
ções sobre a localização geográfica em qualquer lugar
da superfície terrestre e em qualquer hora do dia. Atu-
almente existem dois sistemas de posicionamento por
satélite em pleno funcionamento: o GPS, desenvolvido
e mantido pelos Estados Unidos, e o Glonass, desenvol-
vido na Rússia. A China está desenvolvendo um sistema
denominado Compass. O Galileo europeu é outro siste-
ma em fase de implantação.

28
problemática é a representação com exatidão do planeta
sobre uma superfície plana.
A Terra é “esférica”, mas os papéis são planos. Com isso,
representar em um desenho a superfície do planeta obri-
ga a fazer ajustes para que um objeto tridimensional seja
representado de forma bidimensional. Em outras palavras,
toda e qualquer tentativa de representar uma geoide em
uma superfície plana causa algum tipo de deformação.
2.9. Sistema de Informações Geográficas (SIG) De modo geral, é possível afirmar que a única forma rigorosa
de representar a superfície da Terra é por meio de globos,
Trata-se de sistemas destinados ao tratamento de dados re-
nos quais se conservam exatamente as posições relativas
ferenciados espacialmente. Esses sistemas manipulam diver-
de todos os pontos, e as dimensões são apresentadas em
sas fontes, como mapas, imagens de satélites, cadastros, etc., uma escala única. Contudo, a representação “perfeita” da
permitindo a recuperação e a combinação de informações, Terra e os detalhes que o mundo moderno exige obrigariam
além da realização dos mais diversos tipos de análises. a construção de um globo de proporções gigantescas, tendo
A sobreposição de mapas é uma maneira de se obter in- praticamente o mesmo tamanho da Terra, o que impossibili-
formações comparadas colocando um mapa sobre o outro. ta o processo de tal representação.
A sobreposição de um ou mais mapas é um recurso inte- Os cartógrafos, buscando solucionar ou amenizar as mais
ressante quando se busca apresentar e comparar diferen- diversas deformidades nas representações cartográficas
tes dados e informações referentes a uma mesma região, da Terra, criaram as projeções cartográficas, que consis-
em um único mapa. A representação de informações em tem em um conjunto de linhas que forma uma rede de
mapas diferentes não impede a comparação entre elas; coordenadas, sobre a qual são representados os elementos
entretanto, a vantagem de sobrepô-las em um só mapa se do mapa: terras, cidades, mares, rios, etc. Os sistemas de
deve à possibilidade de verificar exatamente os pontos ou projeções cartográficas são classificados quanto ao tipo de
as áreas de ocorrência de cada informação, facilitando a superfície adotada e ao grau de deformação da superfície.
comparação visual entre elas. Entretanto, é importante ressaltar que nenhum tipo de
projeção escolhida para representar a Terra evitará deforma-
Fontes de Dados Camadas de Dados ções. Elas valorizarão alguns aspectos da superfície represen-
Arruamento
tada e farão com que as distorções sejam conhecidas.

Edificações 4. Principais projeções


cartográficas
Cobertura Vegetal
4.1. Quanto à superfície

Dados Integrados 4.1.1. Projeção cônica


A superfície terrestre é representada num cone envolvendo
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

o globo terrestre. Os paralelos formam círculos concêntri-


Fonte: Governo dos EUA, 2015.
cos, e os meridianos são linhas retas que convergem para
Esquema de um SIG os polos. As deformações ocorrem à medida que se afas-
tam do paralelo padrão (paralelo de contato com o cone).
A projeção é utilizada para representar áreas continentais
3. A representação da Terra (como regiões e continentes).
sobre uma superfície plana
e sua problemática
Ainda hoje, a cartografia se depara com um grande de-
safio: mesmo considerando todos os processos científicos
e tecnológicos de representações espaciais da Terra, a
© César da Mata/Schäffer Editorial

29
§ Projeção afilática: não conserva propriedades, mas

© César da Mata/Schäffer Editorial


minimiza as deformações em conjunto (ângulos, áreas
e distâncias).
§ Projeção equidistante: as distâncias se preservam,
e as áreas e os ângulos (consequentemente, a forma)
são deformados.

4.2.1. Projeção de Mercator ou cilíndrica conforme


4.1.2. Projeção cilíndrica
Conserva a forma dos continentes, direções e ângulos, mas
altera a proporção das superfícies, principalmente as regiões
de alta latitude. Essa projeção é a mais apropriada à navega-

© Pearson Prentice Hall, Inc.


ção marítima. É denominada eurocêntrica (imperialista), uma
vez que exagera de modo estratégico as latitudes de 60º N/S,
causando, assim, uma deformidade de quase 100%.

© César da Mata/Schäffer Editorial

A superfície terrestre é representada num cilindro envolven-


do o globo terrestre. Os paralelos e os meridianos são linhas
retas que convergem entre si. As deformações ocorrem à
medida que se aumentam as latitudes. É geralmente utiliza-
da para representações do globo, como mapas-múndi.

4.1.3. Projeção azimutal, plana ou polar


Também denominada projeção plana, é uma projeção
usada geralmente para a representação das áreas pola-
res, pois parte sempre de um ponto para a representação Projeção de Mecator
da(s) área(s) – por isso é usada para pequenas áreas.
Pode ser de três tipos: polar, equatorial e oblíqua (chama- 4.2.2. Projeção de Peters ou cilíndrica equivalente
da também de horizontal).
Conserva as áreas das superfícies representadas, apesar de
distorcer suas formas. O alemão Arno Peters (1916-2002)
considerava que os mapas eram uma das manifestações
simbólicas da submissão dos países do Terceiro Mundo.
Peters combateu a imagem de superioridade dos países do
© César da Mata/Schäffer Editorial

Norte representada nos planisférios derivados da projeção


VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Equador

de Mercator. A sua argumentação era a de que todos os


Eq
ua
do
r
países deveriam ser retratados no mapa-múndi de forma
fiel à sua área, isto é, de forma equivalente.
© César da Mata/Schäffer Editorial

4.2. Quanto às propriedades


E possível minimizar as deformações ocorridas pela planifi-
cação da superfície terrestre no que se refere às áreas, às dis-
tâncias e aos ângulos, mas nunca aos três ao mesmo tempo.
§ Projeção conforme: preserva os ângulos e deforma
as áreas.
§ Projeção equivalente: preserva as áreas e altera os
ângulos. Projeção de Peters

30
altera as suas formas. Nessa projeção, os paralelos são linhas
retas, e os meridianos, linhas curvas. Sua área é proporcional
à da esfera terrestre, tendo a forma elíptica. As zonas cen-
trais apresentam grande exatidão, tanto em área quanto
em configuração, mas as extremidades apresentam grandes
distorções. Karl Mollweide, muito conhecido não somente
pela projeção que elaborou, mas também pelas grandes rea-
multimídia: sites lizações no campo das equações matemáticas, buscava uma
forma de corrigir a projeção de Mercator, uma vez que essa
www.inpe.br era muito útil para navegações, porém pouco recomendada
para análises sobre os continentes por alterar as suas escalas.

4.2.3. Projeção de Robinson ou afilática


Com o intuito de aperfeiçoar as características da projeção
de Mercator nas superfícies das regiões de alta latitude, Ar-
thur H. Robinson (1915-2004) criou, em 1963, a sua pro-
jeção. Trata-se uma projeção afilática, que não preserva as
áreas, as formas ou as distâncias. No entanto, as distorções
não são muito extremas, produzindo assim um planisfério
bem equilibrado em termos visuais. Observe que os me- Projeção de Mollweide
ridianos são linhas curvas e os paralelos são linhas retas.
4.2.5. Projeção de Goode, que altera
a de Mollweide
Trata-se de uma projeção descontínua, uma vez que ten-
© César da Mata/Schäffer Editorial

ta eliminar várias áreas oceânicas. Goode (1862-1932)


coloca os meridianos centrais da projeção corresponden-
do aos meridianos quase centrais dos continentes para
alcançar maior exatidão.

Projeção de Robinson

Projeção de Goode

4.2.6. Projeção de Holzel


VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

multimídia: livro
Projeção equivalente, seu contorno elipsoidal faz referência
à forma aproximada da Terra, que tem um ligeiro achata-
Gráficos e mapas – Marcelo Martinelli
mento nos polos.
A proposta básica dessa obra volta-se para o ensino-
-aprendizagem de gráficos e mapas. Destina-se, fun-
damentalmente, aos estudantes de graduação interes-
sados nessa temática.

4.2.4. Projeção de Mollweide


A projeção elaborada por Karl Mollweide (1774-1825) é do
tipo equivalente, ou seja, conserva o tamanho das áreas, mas Projeção de Holzel

31
VIVENCIANDO

Mapoteca – Biblioteca Mário de Andrade


A Mapoteca é formada por uma coleção especial com cerca de sete mil cartas geográficas e mapas políticos, histó-
ricos, físicos e geológicos e ainda por cerca de 4.300 volumes de atlas históricos e geográficos.
Vale destacar a coleção de 34 mapas e planos manuscritos do final do século XVIII, de várias partes do Brasil. Tam-
bém estão disponíveis as plantas da cidade de São Paulo do período de 1810 a 1870, que constituem importante
fonte de pesquisa para estudos históricos.
O atendimento ou visitação voltado a essa coleção está localizado em sala do 1.º andar da Biblioteca Mário de
Andrade, localizada na Rua da Consolação, número 94, no centro de São Paulo.

Sala de consulta de mapas. Acervo da Biblioteca Mário de Andrade

A Mapoteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é formada por um acervo em que o foco é a cartografia
histórica, principalmente do Brasil. Ela retrata os traços geográficos que foram se delineando e definindo pelos
grandes geógrafos, cartógrafos e viajantes.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

A maior parte do acervo foi doada pelo Imperador Dom Pedro II, chamada Coleção Teresa Cristina, tendo como
principal destaque o Livro que dá razão do Estado do Brasil, de Diogo de Campos Moreno, ilustrado pelo cos-
mógrafo João Teixeira Albernaz; e a segunda das maiores coleções foi doada pelo político e historiador Manuel
Barata, enriquecida por mapas manuscritos, cartas náuticas e atlas de Gerard Van Keulen. Localizada na Avenida
Augusto Severo, n.º 8, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Trata-se de um lugar fascinante para quem deseja
se aprofundar nos estudos cartográficos.

32
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Qualquer mapa é uma representação geométrica plana bastante simplificada da superfície terrestre ou de uma
parte dela, isto é, qualquer mapa é uma representação matemática da superfície terrestre geográfica.
O
N

P M
 i
A’
n

R
m
A
A

Calculando as medidas da Terra

Nos últimos tempos, a Matemática tornou-se mais relevante na Geografia para o desenvolvimento dos Sistemas
de Informação Geográfica (SIG). A modelagem matemática de diversos fenômenos na superfície da Terra abriu,
por meio do SIG, um importante campo da disciplina, o que permitiu uma maior interação com outros ramos da
Geografia, como hidrologia, climatologia, geomorfologia e geografia econômica.

Ordenada

6
y
A
G 5

B
3

C 2

1
F
x
abscissa
-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

-1

-2
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

D -3

-4 E

-5

-6

Cálculo cartográfico

33
DIAGRAMA DE IDEIAS

CARTOGRAFIA

ELEMENTOS
DO MAPA
GEOMÁTICA

• SIG
• GPS
TÍTULO LEGENDA ESCALA
• SENSORIAMENTO REMOTO
• AEROFOTOGRAMETRIA
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

34
de curta duração. Tempo é a condição atmosférica de um de-
terminado lugar em um dado momento.
Contudo, quando se afirma que Manaus é uma cidade

ELEMENTOS DO quente e úmida, o intuito é se referir ao clima dessa cidade,


ou seja, ao seu modo permanente de ser. Manaus é e con-
CLIMA E FATORES tinuará sendo uma cidade quente e úmida. O clima é algo
duradouro, permanente, que não muda de um momento
CLIMÁTICOS para outro. Clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo
num determinado lugar da superfície terrestre. Para tentar
estabelecer o clima de um local, é preciso observar os pa-
drões do tempo durante, no mínimo, trinta anos, o que é
chamado de normal climatológica.

CH AULAS
7E8
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
6 30

O clima, entendido como a manifestação habitual da at-


mosfera num determinado ponto, é um dos importantes
recursos naturais à disposição do homem e foi conside-
rado matéria de interesse comum da humanidade por
decisão da ONU em 1989. É um dos principais fatores
responsáveis pela repartição dos animais e vegetais sobre
o globo. É importante conhecer cada vez mais sobre as condições
CONTI, José Bueno; ANGELO-FURLAN, Sueli. do tempo de uma determinada região, cidade ou país.
Hoje em dia, aparelhos ultraprecisos e o uso de imagens
de satélite indicam as condições do tempo dentro de um
certo período. Assim, é possível prever a formação de fu-
racões e seu deslocamento, a chegada de frentes frias,
as tempestades de neve, os períodos de estiagem ou de
chuvas intensas, as geadas e muitos outros fenômenos.
Isso possibilita que se tomem atitudes preventivas para
minimizar os efeitos de tais fenômenos, além de permitir
multimídia: livro que se saiba a intensidade com que eles se darão. Por
exemplo, em 1975, o Brasil teve uma grande quebra na
Clima e Meio Ambiente – José Bueno Conti safra de café devido a uma geada fortíssima que arrasou
os cafezais no Sudeste e áreas do Centro-Oeste. Os pre-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

juízos foram incalculáveis.


1. Clima e tempo
É possível dizer que clima e tempo são a mesma coisa?
Quando, em determinado momento do dia, afirma-se que
está nublado ou abafado, o objetivo é se referir ao tempo,
isto é, às condições atmosféricas ou meteorológicas num
determinado momento.
Como se sabe, as condições atmosféricas podem mudar de
um instante para outro, e, nesse caso, o tempo já não será o multimídia: música
mesmo. Em São Paulo, no verão, é muito comum o céu estar Fonte: Youtube
limpo às duas horas da tarde e desabar uma grande chuva às Segue o seco – Marisa Monte
quatro horas. Isso significa que o tempo é algo momentâneo,

35
O que é a normal climatológica?
Normal climatológica é o valor padrão reconhecido
de um elemento meteorológico, considerando a mé-
dia de sua ocorrência em uma determinada região,
por um número determinado de anos. “Normal” sig-
nifica a distribuição dos dados dentro de uma faixa
multimídia: música
de incidência habitual. Os parâmetros podem incluir Fonte: Youtube

temperaturas, pressão, precipitação, ventos, tempo- Chove chuva – Jorge Ben Jor
rais, quantidade de nuvens, porcentagem de umidade
relativa, entre outros. As normais compreendem até
então três momentos:
1.1. Elementos do clima
§ 1901-1930: primeira normal climatológica Os elementos do clima são grandezas (variáveis) que cons-
tituem o estado da atmosfera. Esse conjunto de variáveis
§ 1931-1960: segunda normal climatológica
descreve as condições atmosféricas em uma dada região e
§ 1961-1990: terceira normal climatológica instante. São eles:
§ 1991-2020: quarta normal climatológica (ainda
em avaliação e registro) 1.1.1. Radiação solar
Sempre que se afirma que determinado dia, mês, esta- Uma parte da energia em forma de radiação eletromagné-
ção ou ano foi seco ou úmido, é preciso comparar com tica emitida pelo Sol é interceptada pelo sistema Terra-at-
a média climatológica do local. mosfera e convertida em outras formas de energia, como
calor e energia cinética da circulação atmosférica. A ener-
gia solar não é distribuída igualmente sobre a Terra. Cada
camada absorve uma quantidade diferente de radiação
solar. Ao chegar à Terra, a radiação é parcialmente absorvi-
da pelos gases que compõem a atmosfera, pelo vapor de
água e por partículas sólidas em suspensão. Outra parcela
é absorvida pela superfície e irradiada para a atmosfera na
forma de calor que aquece a troposfera.
Essa distribuição desigual é responsável pelas correntes
oceânicas e pelos ventos que, transportando calor dos
Atualmente, a ocorrência de geadas é previsível pelos servi- trópicos para os polos, procuram atingir um balanço de
ços de meteorologia, e o alerta faz com que os agricultores energia. As causas dessa distribuição desigual são: os mo-
tomem providências para que elas não destruam as plan- vimentos da Terra em relação ao Sol, a distribuição das
tações. Apesar do aperfeiçoamento da técnica da previsão superfícies sólidas e líquidas (a água absorve e libera calor
meteorológica, ainda não é possível obter informações e mais lentamente) e a configuração do relevo.
dados que permitam fazer previsões de longa duração. As estações são causadas pela inclinação do eixo de rota-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

ção da Terra. Essa inclinação faz com que a orientação da


O que é tempo atmosférico? Terra em relação ao Sol mude continuamente enquanto a
Terra gira em torno do Sol. Por exemplo, o hemisfério sul
Tempo atmosférico ou meteorológico é o estado atual
se inclina para longe do Sol durante o inverno brasileiro
da atmosfera em uma determinada região e instante,
e em direção ao Sol durante o verão. Isso significa que a
sendo caracterizado pelas condições de temperatura,
altura do Sol, ou seja, o ângulo de elevação do Sol acima
umidade, nebulosidade, deslocamento do ar (vento),
do horizonte, para uma dada hora do dia (ao meio-dia, por
radiação, chuva, etc. Como essas variáveis são dinâ- exemplo) varia no decorrer do ano. No hemisfério de verão
micas, o tempo sofre constantes modificações. as alturas do Sol são maiores, os dias mais longos e há
A palavra “clima“ deriva do grego e significa “inclina- mais radiação solar. No hemisfério de inverno, as alturas do
ção”, referindo-se à curvatura da Terra, que condiciona Sol são menores, os dias mais curtos e há menos radiação
em grande parte os diferentes tipos climáticos terrestres. solar. A quantidade total de radiação recebida depende
não apenas da duração do dia como também da altura do

36
Sol. Como a Terra é curva, a altura do Sol varia com a lati-
tude. Quanto menor a altura solar, mais dispersa e menos
intensa será a radiação.

multimídia: sites

www.inmet.gov.br

1.1.2. Temperatura do ar
Calor e temperatura são conceitos distintos. Calor é defini-
do como a energia cinética total dos átomos e moléculas
que compõem uma substância. Temperatura é a medida da
energia cinética média das moléculas ou átomos individuais.
Outro fator importante que determina a distribuição desigual A temperatura de um copo de água fervente, por exemplo,
de energia solar pela superfície é o albedo. é a mesma que a da água fervente de um balde. Entretanto,
o balde de água fervente possui mais energia que o copo de
água, ou seja, a quantidade de calor depende da massa do
Albedo material, a temperatura não. A temperatura do ar é variável
Ao incidir sobre qualquer corpo, a radiação solar vai, de acordo com os seguintes fatores: radiação solar, massas
em maior ou menor quantidade, sofrer uma mudança de ar, aquecimento diferencial do continente e da água, cor-
de direção, sendo reenviada para o espaço por refle- rentes oceânicas, altitude e posição geográfica.
xão. A fração de energia refletida por uma superfície
em relação ao total de energia nela incidente (expres-
so em percentagem) é conhecida como albedo. No inverno, o desconforto humano com o frio é inten-
sificado pelo vento, que afeta a sensação de tempera-
Veja os albedos de diferentes superfícies: tura. O vento não apenas aumenta o resfriamento por
evaporação, mas também aumenta a taxa de perda
Tipos de Albedos Albedos
superfície mínimos máximos de calor sensível devido à constante troca de ar aque-
Água profunda 0,04 0,08
cido junto ao corpo por ar frio.
Solo úmido escuro 0,05 0,15
Solo claro 0,15 0,25
Solo seco 0,20 0,35
Área branca 0,30 0,40
Grama,
0,15 0,25
vegetação baixa
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Savana 0,20 0,30


Floresta 0,10 0,25
Neve 0,35 0,90
multimídia: música
A variabilidade do albedo pode ser explicada pelo uso Fonte: Youtube
do solo ou pela composição das superfícies. Dessa for- Felicidade – Marcelo Jeneci
ma, a neve tem um dos maiores índices de albedo,
devido à sua superfície branca, que reflete de maneira
eficiente os raios solares incidentes. Já o asfalto tem 1.1.3. Umidade do ar
um dos menores índices de albedo devido à sua co-
loração e composição. Isso faz com que ambientes Trata-se da presença de vapor de água no ar. As principais
urbanos sejam muito desconfortáveis termicamente. maneiras de descrever quantitativamente a presença de
vapor d’água no ar são a umidade absoluta e a umidade
relativa (U.R.), que é a relação entre a quantidade de água

37
existente no ar (umidade absoluta) e a quantidade máxima
que poderá haver na mesma temperatura (saturação). Isso § Stratus: muito baixas, em camadas uniformes e
significa que, em vez de indicar a real quantidade de vapor suaves, cor cinza; coladas à superfície formam o
de água no ar, esse índice indica quão próximo o ar está de nevoeiro; apresentam topo uniforme (ar estável)
se tornar saturado. Quando o ar está saturado, a umidade e produzem chuvisco (garoa).
relativa é de 100%. Veja o gráfico:
§ Cumulus: são massas individuais com contornos
bem definidos; apresentam precipitação em for-
Variação diurna de temperatura e da U.R. ma de pancadas.
16
80%
14
12
Relati
a de va 10 1.1.5. Tipos de chuvas

TEMPERATURA (°C)
70% ra
UMIDADE RELATIVA

Umid tu
ra
pe 8
m
Te 6 A quantidade de vapor de água que o ar é capaz de reter
60% 4 antes de ele condensar (ou seja, transformar-se em gotícu-
2
0
las de água e formar nuvens, nevoeiros ou chuva) depende
50% -2 da temperatura do próprio ar: quanto mais quente, maior
12 2 4 6 8 10 2 4 6 8 10 12
a quantidade de vapor de água que o ar suporta sem con-
AM PM
densar. Quando o ar condensa e forma nevoeiro (próximo
O gráfico mostra que em temperaturas mais elevadas é ne- à superfície) ou uma nuvem (em alturas mais elevadas), a
cessário mais vapor d’água para atingir a saturação. umidade relativa do ar é 100%, pois ele já está saturado,
isto é, já tem todo o vapor de água que pode conter naque-
1.1.4. Precipitação la temperatura. À medida que o ar esquenta, sem a adição
de mais vapor de água, a quantidade de vapor que o ar
Em meteorologia, precipitação descreve qualquer tipo de comporta antes de condensar também aumenta e, assim,
fenômeno relacionado à queda de água do céu. Isso inclui a umidade relativa do ar cai.
neve, chuva e chuva de granizo. A precipitação é uma parte
fundamental do ciclo hidrológico, sendo responsável por
retornar a maior parte da água doce ao planeta.

Como se formam as nuvens?


As nuvens são formadas por gotículas de água conden-
sada, oriunda da evaporação da água na superfície do
planeta, ou cristais de gelo que se formam em torno
de núcleos microscópicos, geralmente de poeira sus-
pensa na atmosfera. Depois de formadas, as nuvens
podem ser carregadas pelo vento, tanto no sentido
ascendente quanto descendente. Quando a nuvem é Representação dos diferentes tipos de chuva
forçada a se elevar, ocorre um resfriamento e as gotí-
§ As chuvas convectivas ou de convecção (I) são
culas de água podem ser total ou parcialmente conge-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

típicas da região intertropical, principalmente na Zona


ladas. Quando os ventos forçam a nuvem para baixo,
Equatorial, e de verão, no interior dos continentes, de-
ela pode se dissipar pela evaporação das gotículas de
vido às altas temperaturas. O calor do Sol esquenta o
água. Dessa forma, a constituição da nuvem depende
ar, que tende a subir e a esfriar enquanto sobe. Dessa
de sua temperatura e altitude. Ela pode ser formada
forma, o vapor de água contido no ar esfria e precipi-
por gotículas de água e cristais de gelo ou, exclusiva-
ta. A evaporação também é intensa; assim, esse ar que
mente, por cristais de gelo em suspensão no ar úmido.
sobe carrega muita umidade; à medida que aumenta a
Existem vários tipos de nuvem, entre eles: quantidade de vapor no ar, aumenta também a instabi-
§ Cirrus: aspecto delicado, sedoso ou fibroso, cor lidade, ou seja, o ar está à beira de atingir o ponto de sa-
branca brilhante. Ficam a 8 mil metros de altitu- turação. A umidade elevada de tal forma atingirá níveis
de, numa temperatura a 0 °C. Por isso são cons- muito altos por volta das 15/16 horas, desencadeando
tituídas de microscópicos cristais de gelo. tempestades e aguaceiros. A chuva manifesta-se inten-
samente e é de curta duração, sendo fácil identificá-la,

38
pois decorrem de nuvens brancas, densas e algodoadas,
os cúmulos. Quando há muita umidade, o branco torna- § Neblina ou nevoeiro: forma-se quando o ar
-se cinza-escuro e a nuvem ganha o nome de cumulo- quente e úmido entra em contato com o solo frio
nimbus, que verterá sua carga de modo particularmente e perde calor em forma de vapor. Na neblina, é
intenso, acompanhada de tormenta, raios e, às vezes, possível ter uma visibilidade para além de 1 km.
granizos. As chuvas são ditas de convergência, pois as No nevoeiro, a visibilidade é menor.
massas de ar sobem com a ajuda de ventos alísios, que
convergem para as áreas equatoriais.
1.1.6. Pressão atmosférica
§ As chuvas frontais (II) resultam do encontro de duas
massas de ar com características distintas de temperatura Trata-se da força exercida pelo ar em um determinado
e umidade. A partir desse choque, a massa de ar quente ponto da superfície. Está intimamente relacionada à tem-
sobe e o ar esfria, aproximando-se do ponto de satu- peratura, ao vapor d’água, à altitude e à latitude. As altas
ração, originando nuvens e, é claro, chuva. São do tipo pressões resultam da descida do ar frio. A rotação da Terra
faz o ar, ao descer, circular à volta do centro de alta pressão.
chuvisco, à passagem de uma frente quente; e do tipo
Quanto mais baixa a altitude, maior a pressão atmosféri-
aguaceiro, de frente fria. Essas precipitações são típicas
ca. As baixas pressões são causadas pela elevação do ar
em áreas de baixa pressão, principalmente nas zonas
quente. À medida que o ar, ao subir, arrefece, o seu vapor
dos trópicos ou temperadas, onde ocorrem o encontro
de água transforma-se em nuvens, que podem produzir
das massas de ar polares com as massas de ar tropicais.
chuva, neve ou tempestade. Quando o ar quente se eleva,
Caracteriza-se uma frente fria quando ocorre precipita-
cria-se, por baixo dele, uma zona de baixa pressão. Baixas
ção pelo ar frio procedente dos polos. Contudo, também
pressões normalmente significam tempestades. Ao mesmo
poderá ser causada por um processo oposto: uma frente
tempo, existe ar superior que se desloca para substituir o ar
quente e úmida que atropela massas de ar em região fria.
quente em elevação, o que dá origem aos ventos.
§ As chuvas orográficas ou de relevo (III) são as
que derivam de uma subida forçada do ar, quando, no
seu trajeto, apresenta-se uma cadeia de montanhas. Força de Coriolis
Ao subir, o ar esfria, o ponto de saturação diminui, a
A força de Coriolis é provocada pelo movimento de
umidade relativa aumenta e dá-se a condensação e,
rotação da Terra. Ela altera o movimento de um corpo
consequentemente, a formação de nuvens e chuva.
para a direita, no hemisfério norte, e para a esquerda,
Essas chuvas são frequentes nas áreas de relevo aci-
no hemisfério sul. Como isso ocorre? É que o planeta
dentado, ao longo de serras, de onde sopram ventos
gira com uma velocidade angular constante. Assim,
úmidos. Um bom exemplo de obstáculo orográfico é
quando um objeto que não esteja conectado à Terra
a Serra do Mar em São Paulo.
se move para o norte ou para o sul, a velocidade de
rotação do planeta vai interferir na posição final do
objeto. Por exemplo, imagine uma viagem de avião
Processos de saturação em baixos níveis em linha reta de São Paulo a Brasília. Como o planeta
§ Orvalho ou sereno: é um fenômeno físico que gira de oeste para leste, se a rotação da Terra não for
resulta da condensação de vapores d’água pre- compensada e o voo prosseguir numa trajetória retilí-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

sentes no ar; os vapores formam gotículas quando nea, a aeronave poderá chegar a Goiânia, cidade que
entram em contato com superfícies de temperatu- está à esquerda do destino original, e não a Brasília.
ra mais baixa.
§ Geada: quando a temperatura do ar está abai-
xo da temperatura de congelamento, o vapor d’
água sublima (passa do estado gasoso direto
para o sólido) e forma uma fina camada de cris-
tais de gelo nas superfícies ou nas folhagens ex-
postas. As condições ideais para a formação de
geada são: advecção da Massa Polar Atlântica
(mPa), relevo baixo (ar frio acumulado), céu sem
nuvens, sem vento e ar limpo.

39
VIVENCIANDO

Uma dica importante para facilitar a compreensão dos temas estudados é observar e procurar entender, durante
uma viagem para a praia ou para altitudes elevadas, alguns fatores climáticos e como eles influenciam nas
atividades do dia a dia dos moradores das diferentes localidades observadas. Outra dica é observar os mapas
meteorológicos dos telejornais.

1.1.7. Velocidade e direção do vento quente, a pressão atmosférica é mais baixa. Assim, a varia-
ção latitudinal estabelece uma divisão do globo em cinco zo-
O vento consiste na circulação da atmosfera. Os ventos são
nas térmicas: zona tropical, temperada do norte, temperada
denominados a partir da direção de onde eles sopram. Um
do sul, glacial Ártica e glacial Antártica.
vento norte sopra do norte para o sul; um vento leste sopra de
leste para oeste. Assim, a direção do vento é o ponto cardeal
de onde vem o vento: N, NE, E, SE, S, SW, W e NW. As medidas 2.2. Altitude
básicas do vento referem-se à sua direção e velocidade. A altitude interfere nas condições climáticas à medida que
varia. Quando há um aumento da altitude, a temperatura
2. Fatores climáticos cai a uma razão de 0,5º a 1º a cada 100 metros aproxima-
damente. A pressão atmosférica também diminui com o
Os fatores climáticos são os agentes causais que condicio- aumento da altitude, isso porque ocorre uma rarefação do
nam os elementos do clima. Fatores geográficos como lati- ar, que, mesmo sendo mais frio, exerce pequena pressão
tude, altitude, continentalidade/maritimidade e tipos de cor- sobre a superfície.
rente oceânica (fria ou quente) interferem nos elementos do
clima. A radiação solar, embora anteriormente considerada
como um elemento do clima, também pode ser considerada
como um fator climático, uma vez que pode influenciar na
variação diária da temperatura do ar.

2.1. Latitude
Quanto maior a latitude (distanciamento do equador), mais
baixa a temperatura e maior a pressão atmosférica. Como
no equador os raios solares incidem perpendicularmente à O aumento da altitude faz com que o ar se torne mais ra-
superfície, o aquecimento do ar é maior e, sendo ele mais refeito e frio.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Apesar de os dois ramos do conhecimento possuírem um caráter interdisciplinar, a Meteorologia costuma


estar mais atrelada à Física, enquanto a Climatologia é mais relacionada à Geografia. Entretanto, um bom
climatologista e um bom meteorologista precisam possuir um amplo conhecimento sobre ambas as áreas.

40
2.3. Massas de ar mais rapidamente que os oceanos. A consequência disso
é que as variações de temperatura (amplitude térmica)
As massas de ar são grandes porções atmosféricas que pos- nos primeiros são mais acentuadas do que nos segun-
suem características próprias de temperatura e umidade. A dos, que aquecem e perdem calor mais lentamente. Nas
formação das massas de ar está relacionada à influência que regiões próximas ao litoral, por exemplo, o calor liberado
recebem das áreas onde se originam. Por exemplo, se uma pelos oceanos ajuda a manter as temperaturas mais ele-
grande porção atmosférica tem sua origem no oceano, ela vadas durante a noite nas estações mais frias, quando a
será úmida e, se ainda for uma região tropical, será quente. insolação é menor. Esse fenômeno é denominado efeito
Essas grandes massas de ar se deslocam dos locais de maior de maritimidade. Já as regiões afastadas do mar sofrem
pressão para os locais de menor pressão, o que produz o o efeito de continentalidade: a superfície, por irradiação,
encontro delas. Nesse encontro, elas não se misturam, isto perde rapidamente o calor recebido da insolação, por isso
é, uma empurra a outra de tal forma que aquela que avança registra amplitudes térmicas maiores.
com mais intensidade faz com que a outra retroceda, impon-
do ao meio ambiente suas características. A zona de contato
entre duas massas de ar distintas recebe o nome de frente O mar funciona como um verdadeiro regulador térmi-
ou superfície frontal. co devido à sua grande capacidade de aquecimento
e perda de calor muito mais lento que o das áreas
continentais.
2.4. Correntes marítimas
Correntes marítimas são porções dos oceanos que possuem
velocidade, salinidade, temperatura e densidade próprias. Essas diferenças de temperatura, entre as massas de águas
São muito importantes, pois são responsáveis pelo equilí- oceânicas e os continentes, e a velocidade de aquecimento
brio térmico (distribuição da temperatura) na Terra. Podem e resfriamento, são fundamentais para a mecânica de mo-
vimentação do ar na atmosfera e das águas nos oceanos,
ser quentes ou frias, dependendo da região geográfica em
que recobrem dois terços do planeta.
que se originam. As correntes quentes correm das regiões
tropicais para as altas latitudes, amenizando o clima nessas
regiões, e as correntes frias originam-se nas áreas polares
e correm para as zonas quentes, causando queda de tem-
peratura. Elas interferem também na umidade do ar, pois,
quando as massas de ar quente passam sobre uma corren-
te fria, resfriam-se, ocorrendo condensação e chuvas. Veja a
figura a seguir.
À noite ocorre um processo inverso ao que se
verifica durante o dia: a brisa marítima.

2.6. Relevo
A configuração e a disposição do relevo (efeito orográfico)
podem causar interferências sobre o clima, na medida em
que facilitam ou dificultam a circulação do ar atmosférico.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Em algumas regiões do planeta, são encontrados verdadei-


ros obstáculos à penetração das massas de ar.
Todas as regiões litorâneas são banhadas por correntes
marinhas. O mar realiza uma função termorreguladora so-
bre o clima do litoral.

2.5. Maritimidade e continentalidade


A distribuição das massas líquidas (oceanos) e das mas-
sas sólidas (continentes) às vezes exerce influência inten-
sa na temperatura, pois o comportamento térmico das
rochas (meio sólido) é diferente do comportamento da
água (meio líquido). Os continentes aquecem e esfriam

41
Nos EUA, por exemplo, a costa oeste é ocupada pelas ca-
deias orogênicas terciárias das montanhas Rochosas, que
dificultam a penetração de umidade do Pacífico, tornando
o clima do oeste estadunidense árido e semiárido. Outro
exemplo da interferência do relevo ocorre na América do
Sul. O corredor formado pelas planícies e pelas terras bai-
xas situadas entre os Andes e os planaltos do Leste, como
o Pantanal e a Amazônia, facilita a passagem de ar polar
durante o inverno no hemisfério sul, causando o fenômeno
da friagem na Amazônia ocidental.

2.7. Vegetação
As florestas tropicais, como a floresta Amazônica, são um
exemplo de como a vegetação influencia no clima. Por cau-
sa da umidade, elas propiciam um maior índice de chuvas
nessas regiões fazendo baixar as temperaturas. Além disso,
quanto mais densa for a vegetação, mais dificuldade have-
rá para os raios solares chegarem à superfície.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

42
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 30
Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.

Desde quando a humanidade passou a se organizar em grandes comunidades, ela alterou a natureza de forma a
assegurar a sobrevivência e garantir o próprio conforto. A agricultura, a pecuária e a construção de cidades, por ex-
emplo, modificam diretamente a natureza. Dessa forma, transformam características geográficas, como vegetação,
permeabilidade do solo, absortividade e refletividade da superfície terrestre, além de alterar as características do
solo, do ar atmosférico e das águas, tanto pluviais e fluviais como subterrâneas. A alteração do espaço preexistente
para a habitação humana, na criação de cidades e grandes metrópoles, causa variação climática de diversas formas.
As grandes cidades e metrópoles possuem diferenças climáticas fundamentais das áreas de campo próximas. As
temperaturas de verão e inverno são maiores, a umidade relativa é menor, a quantidade de poluentes no ar é muitas
vezes maior, a quantidade de nuvens e nevoeiro e as precipitações são maiores do que em áreas de campo próxi-
mas; já a velocidade dos ventos e a radiação diminuem. Assim, pode-se concluir que as modificações no ambiente
para a instalação de cidades densamente povoadas causam alterações no clima e na qualidade ambiental percebi-
da. Problemas como chuvas intensas e torrenciais, inundações, queda de morros, ventania em determinados locais,
assim como a instabilidade climática são efeitos da alta densidade populacional e das transformações ambientais.

MODELO 1

(Enem) Em 1872, Robert Angus Smith criou o termo “chuva ácida”, descrevendo precipitações ácidas em Man-
chester após a Revolução Industrial. Trata-se do acúmulo demasiado de dióxido de carbono e enxofre na atmosfera
que, ao reagirem com compostos dessa camada, formam gotículas de chuva ácida e partículas de aerossóis. A
chuva ácida não necessariamente ocorre no local poluidor, pois tais poluentes, ao serem lançados na atmosfera,
são levados pelos ventos, podendo provocar a reação em regiões distantes. A água de forma pura apresenta pH 7,
e, ao contatar agentes poluidores, reage modificando seu pH para 5,6 e até menos que isso, o que provoca reações,
deixando consequências.
Disponível em: http://www.brasilescola.com. Acesso em: 18 maio 2010 (adaptado).

O texto aponta para um fenômeno atmosférico causador de graves problemas ao meio ambiente: a chuva
ácida (pluviosidade com pH baixo). Esse fenômeno tem como consequência
a) A corrosão de metais, pinturas, monumentos históricos, destruição da cobertura vegetal e acidificação
dos lagos.
b) A diminuição do aquecimento global, já que esse tipo de chuva retira poluentes da atmosfera.
c) A destruição da fauna e da flora e redução de recursos hídricos, com o assoreamento dos rios.
d) As enchentes, que atrapalham a vida do cidadão urbano, corroendo, em curto prazo, automóveis e fios
de cobre da rede elétrica.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

e) A degradação da terra nas regiões semiáridas, localizadas, em sua maioria, no Nordeste do nosso país.

ANÁLISE EXPOSITIVA
O exercício demonstra como o fenômeno da chuva ácida é um grave problema de degradação ambiental
que teve origem a partir do grande crescimento dos centros urbanos altamente industrializados.
A produção industrial tem sido crescente desde o século XIX, e, com isso, a atmosfera recebe quanti-
dades crescentes de gases do efeito estufa e resíduos industriais variados. A chuva ácida é um exemplo
desse tipo de poluição.

RESPOSTA Alternativa A

43
DIAGRAMA DE IDEIAS

ELEMENTOS DO CLIMA FATORES CLIMÁTICOS


(VARIÁVEIS) (MODIFICAM OS ELEMENTOS)

RADIAÇÃO SOLAR LATITUDE

TEMPERATURA ALTITUDE

PRESSÃO
MASSA DE AR
ATMOSFÉRICA

CORRENTES
VENTO
MARINHAS

MARITIMIDADE E
CONTINENTALIDADE
UMIDADE

RELEVO
PRECIPITAÇÃO

VEGETAÇÃO
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

44
GEOGRAFIA

GEOGRAFIA 2
CIÊNCIAS
HUMANAS
e suas tecnologias

TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

É importantíssimo que o aluno considere Atentem-se ao tema “recursos minerais”


todos os temas possíveis de exercícios, combinado com macroestructuras geoló-
sempre, é claro, dando ênfase às relações gica, a FUVEST adora essa relação.
destes temas com o cotidiano.

Podemos esperar da Unicamp questões A Unesp explora muito bem os principais


Para a UNIFESP, geografia física não é
para todos esses temas. O candidato conceitos, chamando atenção para as
uma surpresa. Temas como geologia
deve, entretanto, atentar-se mais nos questões ambientais relacionadas aos
aparecem em questões que também
conceitos de geologia.. temas das aulas.
traram de meio ambiente e recursos
minerais

Os temas desta frente não aparecem Dois temas importantes que são pe- Essa prova costuma propor questões As últimas provas demonstraram pouco
bem distribuídos na prova do Einstein, didos neste vestibular são geologia e que relacionam os fenômenos físicos aos interesse nesta frente, com raras ques-
mas mesclados em uma mesma questão, geomorfologia. É importante estudar os impactos ambientais. Leituras, interpreta- tões relacionadas à geologia e solos, de
como em questões cuja base conceitual principais conceitos sobre relevo e base ções de notícias e textos científicos se so- modo geral.
é geologia e as alternativas pedem um geológica, pois as alternativas exigem mam às questões com muita frequência.
conhecimento de pedologia. um entendimento bem específico que
podem levar o candidato ao
erro.s.

UFMG
A base de formulação das questões da Este vestibular não apresenta em seu
Como a Geografia tem um perfil mul-
UEL quase sempre está em tópicos re- edital mais recente e nem exige nas
tidisciplinar, é importante dedicar-se
gionais, muitas vezes se sobrepondo às provas dos últimos vestibulares questões
aos conceitos desta frente, de maneira
de geografia física de outras regiões do relacionadas à disciplina de Geografia.
integrada, sempre compreendendo os
Brasil e do mundo.
conteúdos em escala local.

Dos temas desta frente, os mais recor- A dica para o conteúdo desta frente é O vestibular Souza Marques apresentou,
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

rentes em provas da UERJ são Geomor- compreender os elementos físicos e esta- nos últimos anos, uma tendência a inserir
fologia e Geologia, sendo que, neste belecer uma conexão com os problemas questões relacionadas à geografia física,
último, o aluno necessita compreender ambientais. de forma bem equilibrada. Observa-se
uma carga conceitual muito extensa, uma concentração de temas sobre as
principalmente no que se refere à escala forças estruturais e esculturais da geo-
geológica e aos acontecimentos morfologia.
mais importantes.

46
vida. Uma ambição que está associada principalmente à
necessidade de sobrevivência, presente ao longo da histó-
ria da humanidade.
INTRODUÇÃO A primeira gênese da Geografia surgiu na Grécia antiga,
À HISTÓRIA DO onde se desenvolveu como ciência e método de pensa-
mento filosófico. No início, era conhecida como História
PENSAMENTO Natural ou Filosofia Natural. Os maiores contribuintes do
início do desenvolvimento dessa disciplina foram Tales de
GEOGRÁFICO Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estra-
bão e Ptolomeu. Com a expansão grega promovida por
Alexandre da Macedônia (Alexandre, o Grande), o interes-
se pelo estudo das novas terras colonizadas cresceu bas-

CH AULAS tante devido aos fatores práticos que o conhecimento da

1E2 matéria proporcionava, como o incremento das técnicas de


navegação, que contribuiriam para uma atividade comer-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) cial mais intensa, bem como as melhorias que a Geografia
6 26
adicionava à agricultura, indicando épocas, climas e solos
ideais a um melhor cultivo.
No período do auge do Império Romano, a Geografia contri-
buiu com mais uma série de conhecimentos, como o “péri-
1. Ciência e Geografia plo”, ou seja, a descrição dos portos, rotas e escalas que os
[...] a Geografia foi no início tanto uma filosofia como navegantes da época dispunham para realizar o comércio,
uma ciência, filosofia de que os geógrafos alemães, tão necessário ao funcionamento do Império, e que também
como os historiadores, se serviram com fins políticos. Ela lhes garantia uma proteção mililtar mais eficaz.
foi muitas vezes utilizada como um meio de propaganda
nacional ou internacional, uma arma de combate entre Durante a Idade Média, árabes como Edrisi, Ibn Battuta e
Estados e Impérios, talvez mais ainda que a História. Ibn Khaldun aprofundaram e mantiveram os antigos conhe-
Seja como for, ela ainda arca com as consequências de cimentos gregos. As viagens de Marco Polo espalharam pela
sua juventude e das condições econômicas, sociais e po- Europa o interesse pela Geografia. Durante a Renascença e
líticas nas quais se desenvolveu. Pelo fato de ter seus
ao longo dos séculos XVI e XVII, as grandes viagens de ex-
próprios métodos, a geografia, mais que nenhuma outra
ciência, sofreu as influências ideológicas em curso [...] ploração reviveram o desejo de bases teóricas mais sólidas
e de informações mais detalhadas. A Geographia Generalis,
Jean Dresch
de Bernardo Varenius, e o mapa-múndi, de Gerard Mercator,
são exemplos importantes disso.
A segunda gênese resultou da institucionalização da Geogra-
fia como ciência, e isso não se deu por acaso na Alemanha.
Algumas condições propiciaram o surgimento da Geografia
moderna na Alemanha: um território fragmentado em deze-
nas de pequenos reinos e o desejo de expansão imperialista,
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

constitutivo do capitalismo. A origem científica da Geogra-


multimídia: vídeo fia se deu na Alemanha do século XIX, à luz dos trabalhos
Fonte: Youtube de Alexander Von Humboldt e Karl Ritter, que contribuíram
As Montanhas da lua para que a Geografia se estabelecesse em bases científicas.
Mountains of the moon é um filme de 1990 que narra a Apesar de Humboldt não ser geógrafo e tampouco ter se
verídica história da expedição de dois oficiais britânicos preocupado em sistematizar seus conhecimentos geográ-
– Richard Francis Burton e John Hanning Speke – em ficos, sua contribuição foi importante para a Geografia. Os
busca da fonte do Rio Nilo. alemães têm sua importância na consolidação da Geografia
enquanto ciência, especialmente por estabelecerem funda-
mentos científicos autênticos, ou seja, a Geografia deixou de
O homem, impulsionado por fins de sobrevivência, econô- ser uma simples descrição do planeta para se transformar
micos ou políticos e até por curiosidade, sempre se pre- em uma ciência baseada na investigação das relações entre
ocupou em conhecer o meio em que se desenvolve sua natureza e sociedade.

47
O intuito aqui não foi fazer um resgate profundo da histó- compará-la com outras áreas buscando as semelhanças
ria do pensamento geográfico, mas apenas situá-lo sucin- e as diferenças existentes.
tamente no tempo e no espaço. Assim, é possível falar em
§ Princípio da causalidade: princípio formulado por
“Geografias” no plural, pois muitos estudantes aprende-
Alexander Von Humboldt, que propõe explicar as causas
ram essa ciência sob diferentes perspectivas.
do fato observado.
Entendendo a evolução das ciências sociais como resultado
das transformações da própria sociedade, fica fácil compre-
ender as mudanças conceituais que ocorreram na Geogra-
fia, que hoje pode ser hoje definida como uma ciência que
busca explicar o espaço como resultado da dinâmica social.
O espaço geográfico deve ser entendido como resultado
da relação entre homem, natureza e trabalho, elementos
considerados o tripé da Geografia.
A Geografia é definida por alguns autores como o estudo
das relações entre o homem e o meio ou, dito de outra for-
ma, entre a sociedade e a natureza. Dentro dessa concep-
ção, aparecem pelo menos três visões diferentes do objeto:
alguns autores vão apreendê-lo como sendo as influências
da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade; ou-
tros autores, mantendo a ideia da Geografia como estudo Alexander Von Humboldt
da relação entre o homem e a natureza, vão definir o objeto § Princípio da conexão ou interação: formulado
como a ação do homem na transformação desse meio. E pelo francês Jean Brunhes, esse princípio estabelece
tem aqueles autores que concebem o objeto como a rela- que os fatos geográficos, físicos ou humanos nunca
ção em si, com os dados humanos e os naturais possuindo aparecem isolados; estão sempre interligados por elos
o mesmo peso. Para esses, o estudo buscaria compreender de relacionamento. Seu objetivo é identificar e analisar
o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio as relações existentes.
entre o homem e a natureza. Isso mostra o quanto é com-
plexa a definição da Geografia. § Princípio da atividade: também formulado por Bru-
nhes, o princípio da atividade estabelece o caráter dinâ-
A Geografia renovada não se prende a uma visão tão estan- mico do fato geográfico que deve ser estudado em seu
que da visão das ciências, não coloca barreiras tão rígidas en-
passado para poder ser compreendido no presente e se
tre as disciplinas; logo, não possui uma necessidade tão pre-
ter uma imagem do seu futuro.
mente de formular uma definição formal de objeto. A situação
da Geografia tradicional é bem diferente, pois ela se apoia
totalmente nos fundamentos positivistas, que pedem para 1.2. Espaço geográfico
legitimar a autoridade de uma ciência, uma definição precisa O objeto de estudo da ciência geográfica nem sempre foi
do objeto. A Geografia Renovada busca sua legitimidade na fácil de ser definido. Essa disciplina de síntese, que reúne co-
operacionalidade ou na relevância social de seus estudos. nhecimento de diversas outras áreas, transitou, ao longo de
sua história, por diferentes leituras acerca de seu papel no
1.1. Princípios da Geografia
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

campo das ciências e na interpretação da realidade, fruto


de diferentes escolas filosóficas que a influenciaram. Como
Para a Geografia ser considerada como ciência, fez-se ne-
vimos anteriormente, podemos encontrar desde abordagens
cessária a fixação de princípios metodológicos que lhe con-
mais naturalistas e descritivas, herança do positivismo e do
feriram caráter científico. São eles:
determinismo alemão do século XIX, até da escola francesa,
§ Princípio da extensão: formulado por Friedrich Rat- do estudo dos diferentes gêneros de vida, também do século
zel. Segundo ele, o geógrafo, ao estudar um fato ou área, XIX, ambas fortemente marcadas pela perspectiva do impe-
deve proceder à sua localização e delimitação, utilizando rialismo e do neocolonialismo europeu da época.
os recursos da cartografia. Nesse princípio, o importante
Atualmente, sabe-se que há uma ciência geográfica que
é localizar fenômenos na superfície terrestre.
se propõe a superar o descritivismo e o localizacionismo.
§ Princípio da analogia ou geografia geral: formula- Seu arcabouço teórico e seu método de análise permitem
do por Paul Vidal de La Blache e Karl Ritter. Segundo eles, um leitura crítica do mundo, oferecendo elementos para o
após a área ser observada e delimitada, o geógrafo deve entendimento da realidade mais ampla nas escalas local,

48
nacional e global. Seu objeto de estudo é o espaço geo- industriais de alta tecnologia, como os de telecomunicação
gráfico, um produto social, fruto das interações sociais e (telefonia, robótica e transmissão televia), além do aeroespa-
naturais da superfície terrestre. cial (criação de satélites artificiais e aviões). O geógrafo defi-
niu-o como período técnico-científico-informacional.
Contudo, não há um consenso entre os geógrafos sobre o
que seria, exatamente, o espaço geográfico, haja vista que
muitos deles orientam-se a partir de diferentes correntes
de pensamento que apresentam perspectivas diversas.
Para a corrente da Nova Geografia, por exemplo, o espaço
geográfico corresponde à organização da sociedade e seus
elementos sobre o meio.
Certos autores, como Richard Hartshorne, defendem que
o espaço geográfico é apenas uma construção intelectual, multimídia: livro
não existe de fato na sociedade. No caso, seria uma con-
cepção da forma como nós enxergamos a realidade, no Por uma Geografia Nova – Milton Santos
sentido de apreender como acontece a espacialização da Por uma Geografia nova: da crítica da Geografia a uma
sociedade e tudo o que por ela foi construído. Geografia Crítica, escrito pelo Professor Doutor em
Para Milton Santos, o espaço geográfico é um conjunto de Geografia Milton Santos em 1978, é uma das obras
sistemas de objetos e ações, isto é, os itens e elementos mais amplas e bem acabadas sobre a Geografia Crí-
artificiais e as ações humanas que manejam tais instru- tica no mundo! O livro se tornou um clássico dentro
mentos no sentido de construir e transformar o meio, seja da ciência, continuando atual em nossos dias. O autor
ele natural ou social. aponta os problemas que impedem a construção de
uma Geografia orientada para uma problemática so-
Os geógrafos humanistas afirmam que o conceito de espaço
cial mais ampla e construtiva.
geográfico estaria atrelado à questão subjetiva, cultural e in-
dividual. Nesse sentido, o espaço é o local de morada dos se-
res humanos, o meio de vivência onde as pessoas imprimem
suas marcas diariamente, proporcionando novas leituras à
medida que a compreensão do mundo se modifica.
Podemos perceber, portanto, que dentro de algumas defi-
nições existentes, esse conceito possui várias visões confli-
tantes entre si. No entanto, há um consenso: o espaço ge-
ográfico representa a intervenção do homem sobre o meio,
ou seja, um produto (que, dependendo da abordagem,
pode também ser um produtor) das relações humanas e
suas práticas sobre o substrato natural. Milton Santos

Se ao longo de um rio, por exemplo, constrói-se uma pon-


te, estamos provocando a alteração da paisagem local, o
que representa a expressão do espaço geográfico. Se em
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

uma cidade adotam-se medidas de revitalização de áreas


degradadas, temos aí a transformação do espaço. Desse
modo, tudo o que é construído pelo homem é, notada-
mente, geográfico: hidrelétricas, cidades, campos agrícolas,
sistemas de irrigação, entre outros elementos, que são as multimídia: livro
construções mais visíveis do espaço geográfico.
Para o geógrafo Milton Santos, estamos vivenciando um pe- A Natureza do Espaço – Milton Santos
ríodo histórico de grandes avanços científicos e tecnológicos, Obra interdisciplinar que oferece um tratamento pioneiro
que teve início na década de 1950, chamado de Terceira às relações entre a técnica e o espaço e entre o espaço
Revolução Industrial. Esse período é caracterizado pela inte- e o tempo, bases para a construção de um sistema de
gração efetiva entre ciência, tecnologia e produção, ou seja, conceitos coerentemente formulado, objetivando definir
a descoberta científica passa a ter aplicação imediata no o espaço geográfico e seu papel ativo na dinâmica social.
processo produtivo. É a fase em que despontam segmentos

49
A revolução tecnológica, que conectou pessoas e mercados
em todo o mundo, provocando impactos econômicos, so-
Mesmo que alguns autores dissessem que o determi-
ciais, geográficos e culturais, também ampliou as desigual-
nismo era uma ideologia criada pelas classes dominan-
dades entre povos e territórios. A velocidade com que se tem
tes europeias para justificar o colonialismo, a tese de
acesso às informações cria novas formas de produzir e agir
que as condições ambientais determinam em larga me-
sobre o espaço, criando o que chamamos de ciberespaço.
dida os processos históricos era muito bem aceita entre
teóricos ligados à esquerda política. Esse foi o exemplo
1.3. Determinismo geográfico de Karl Marx, segundo o qual o capitalismo surgiu na
O determinismo foi a escola que surgiu no final do século Europa por causa das condições edáficas do continente,
XIX, no período de transição do capitalismo comercial para conforme a seguinte passagem:
a fase monopolista e imperialista. Para seus defensores, as Uma natureza pródiga demais "retém o homem
condições naturais, especialmente as climáticas e, dentro pela mão como uma criança sob tutela"; ela
delas, a variação de temperaturas ao longo das estações o impede de se desenvolver ao não fazer com
que seu desenvolvimento seja uma necessidade
do ano, determinam o comportamento do homem, interfe-
de natureza. A pátria do capital não se encontra
rindo na sua capacidade de progredir. E os países ou povos sob o clima dos trópicos, em meio a uma vege-
que estivessem localizados em áreas meteorológicas mais tação luxuriante, mas na zona temperada. Não é
favoráveis cresceriam mais. O homem é considerado um a diversidade absoluta do solo, mas sobretudo a
produto do meio, portanto, a natureza seria o fator deter- diversidade de suas qualidades químicas, de sua
minante do seu modo de vida. composição geológica, de sua configuração física,
e a variedade de seus produtos naturais que for-
Seu principal defensor e organizador foi o geógrafo alemão mam a base natural da divisão social do trabalho
Friedrich Ratzel. As ideias deterministas favoreceram as e que excitam o homem, em razão das condições
diferentes formas de dominação política e econômica. As multiformes ao meio em que se encontra situado,
teorias naturais de Lamarck, sobre hereditariedade dos a multiplicar suas necessidades, suas faculdades,
caracteres adquiridos, e as de Charles Darwin, sobre a so- seus meios e modos de trabalho.
brevivência e adaptação dos indivíduos mais bem-dotados
face ao meio natural, fortaleceram a base do determinismo.
1.4. Possibilismo geográfico
O possibilismo surgiu na escola francesa, com o geógrafo
Paul Vidal de La Blache. Seus defensores acreditam na pos-
sibilidade de haver influências recíprocas entre o homem e
o meio natural, e que o homem se adapta ao meio natural.
Como ser racional, o homem é elemento ativo e, portanto,
tem condições de modificar o meio natural e adaptá-lo às
suas necessidades.

Friedrich Ratzel
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Ratzel também elaborou o conceito de espaço vital, que


seria formado pelas condições espaciais e naturais para a
manutenção ou consolidação do poder do Estado sobre o
seu território. As condições naturais seriam para o fortaleci-
mento de uma dada sociedade ou povo, ou seja, aquelas po-
pulações que dispusessem de melhor espaço vital estariam
mais aptas a se desenvolver e a conquistar outros territórios.
Essa noção foi fundamental diante do contexto histórico da
Alemanha, que havia acabado de passar pelo seu processo
de reunificação e necessitava de uma base para se afirmar
enquanto Estado, com capacidade de crescimento, expan-
são e dominação. Paul Vidal de La Blache

50
O possibilismo surgiu na França em oposição ao determinismo
ambiental. Seu objetivo era desmascarar o expansionismo ale-
mão ao criticar o conceito de espaço vital e, ao mesmo tem-
po, viabilizar o colonialismo francês. Além disso, queria abolir
qualquer forma de determinação da natureza, adaptando a
ideia de que a ação humana é marcada pela contingência.
multimídia: sites
1.5. Método regional
Método que enfatiza a diferenciação de área não a partir http://geografia.fflch.usp.br/
das relações entre o homem e a natureza, mas a partir
da integração de fenômenos heterogêneos em uma dada
porção da superfície da Terra. Valorizado apenas a partir de 1.6. Nova Geografia
1940, esse pensamento geográfico já era abordado pelo
A Nova Geografia, que surgiu em meados da década de
filósofo Immanuel Kant e o geógrafo Karl Ritter no final do
1950, tentando superar as dicotomias e os procedimen-
século XVIII e na primeira metade do XIX, respectivamente.
tos metodológicos da Geografia Regional, desenvolveu-se
A Geografia Regional procurava estudar as unidades com- procurando incentivar e buscar um enquadramento maior
ponentes da diversidade areal da superfície terrestre. Em da Geografia no contexto científico global. O aparecimento
cada lugar, área ou região a combinação e a interação das de novas perspectivas de abordagem estava integrado na
diversas categorias de fenômenos refletiam-se na elabora- transformação profunda provocada pela Segunda Guerra
ção de uma paisagem distinta, que surgia de modo objetivo Mundial nos setores científico, tecnológico, social e econô-
e concreto. O estudo das regiões e das áreas favoreceu a mico. Essa transformação, que abrangia o aspecto filosófi-
expansão da perspectiva regional ou cronológica, que teve co e metodológico, foi chamada de “revolução quantitati-
como êmulo e padrão as clássicas monografias da escola va e teorética da Geografia”. Algumas das metas básicas
francesa. Preocupados em compreender as características re- propostas por essa Nova Geografia eram: maior rigor na
gionais, os geógrafos desenvolveram a habilidade descritiva, aplicação da metodologia científica, desenvolvimento de
exercendo a caracterização já estabelecida por La Blache em teorias e principalmente uso de técnicas estatísticas e ma-
1913. Defrontando-se com os casos, a explicação baseava-
temáticas para analisar os dados coletados e as distribui-
-se no destrinchar a evolução histórica e estabelecer a sequ-
ções espaciais dos fenômenos.
ência das fases que culminaram nas características atuais da
referida área ou região. Levando em conta as concepções Com a Geografia Quantitativa, os indicadores socioeco-
de que o globo era um organismo coerente, com as suas nômicos são suscetíveis de serem expressos em termos
partes funcionando de modo integrador, admitia-se que mui- numéricos, avaliando, assim, o grau de desenvolvimento
tas unidades areais executavam uma “função” em termos entre as nações, a análise de tabelas e de gráficos que
do conjunto. A cultura canavieira no nordeste brasileiro era explicam a pobreza e a possibilidade de esconder a real
desenvolvida para abastecer o mercado europeu, os países- causa do subdesenvolvimento. A estagnação econômica
-colônias forneciam matérias-primas para os países impe- do mundo subdesenvolvido é tratada como uma etapa
rialistas, e outras explicações similares podem ser arroladas necessária, que deve ser superada em curto prazo, desde
para os mais diversos aspectos e categorias de fenômenos. que essas nações adotem políticas que favoreçam a ex-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

pansão do capital externo e ampliem as disparidades de


desenvolvimento entre nações e camadas sociais.
O uso das técnicas de análise deve ser evidentemente in-
centivado, uma vez que elas são ferramentas e meios para
o geógrafo. O conhecimento dessas diversas técnicas (as
simples, as multivariadas e as relacionadas com a análise
seriada e espacial) é básico para o geógrafo. No entanto,
usar técnicas estatísticas, por mais sofisticadas que sejam,
não é fazer Geografia. Se o geógrafo coleta inúmeros da-
dos e informações e os analisa através do computador (por
exemplo, usando a análise fatorial ou a discriminante), sem
ter noção clara do problema a pesquisar e se não dispuser
Karl Ritter de arsenal teórico e conceitual que lhe permita adequa-

51
VIVENCIANDO

Espaços públicos de convivência e lazer são frequente-


mente abordados e estudados pela Geografia a partir
da ideia de lugar. Em alguns casos, estudos geográ-
ficos com base nessas premissas foram responsáveis
pela mudança na arquitetura de praças e espaços de
lazer, especialmente por adequar tais locais à com-
preensão e percepção das pessoas e à ideia que elas
tinham de como deveria ser o seu lugar. Se possível,
veja fotos e observe as transformações desses lugares
na atualidade.

damente interpretar os resultados obtidos, estará apenas mas socioeconômicos e com grande função ideológica. Des-
fazendo trabalho de mecanização, mas nunca um trabalho sa maneira, procurava analisar primeiramente os processos
geográfico. sociais, e não os espaciais, o oposto do que se costumava
praticar na geografia teórica quantitativa. Nessa focalização,
1.7. Geografia Crítica encontra-se implícito o esforço na tentativa de integrar os
processos sociais e os espaciais no estudo da realidade.
A Geografia Crítica, de orientação marxista, manifestou-se
entre as décadas de 1960 e 1970, num ambiente contes- A Geografia Radical interessava-se pela análise dos modos
tatório nos Estados Unidos por causa da Guerra do Vietnã, de produção e das formações socioeconômicas. Isso por-
da luta pelos direitos civis, do processo de descolonização que o marxismo considera como fundamental os modos
da África, da crise da poluição e da urbanização. Preocu- de produção, enquanto as formações socioeconômicas es-
pada em ser crítica e atuante, entendia que a produção paciais (ou formações econômicas e sociais) são as resul-
do espaço deriva do trabalho humano e assume formas tantes. As atividades dos modos de produção constroem e
diferentes em função da diversidade de combinações dos geram formações diversas. Cada modo de produção, capi-
modos de produzir, circular e pensar. talista ou socialista, por exemplo, reflete-se em formações
socioeconômicas espaciais distintas, cujas características
da paisagem geográfica devem ser analisadas e compreen-
didas. Uma corrente que propunha romper com a ideia de
neutralidade científica para fazer da Geografia uma ciência
apta a elaborar uma crítica radical à sociedade capitalista
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

pelo estudo do espaço e das formas de apropriação da na-


tureza. Nesse sentido, enfatizava a necessidade de engaja-
mento político dos geógrafos e defendia a diminuição das
disparidades socioeconômicas e regionais.

2. Conceitos importantes
A linguagem geográfica, além dos princípios e das escolas
Karl Marx geográficas, também necessita da formulação de alguns con-
A Geografia Crítica também visava a ultrapassar e substi- ceitos-chave como pré-requisito para a análise de seus fenô-
tuir a Nova Geografia. Seus autores consideravam a Nova menos. Esses conceitos são ferramentas de análise do espaço
Geografia como sendo pragmática, alienada, objetivada no e carregam forte grau de parentesco entre si, pois todos se
estudo dos padrões espaciais e não nos processos e proble- referem às ações humanas que transformam esse espaço.

52
e atrelada a fatores da expressão humana e pessoais, o que
lhe dá uma dimensão cultural.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Gente Humilde – Chico Buarque

2.1. Conceito de lugar


Paisagem natural
O homem não vê o universo a partir do universo, o ho-
mem vê o universo desde um lugar.
Milton Santos

Para a Geografia, esse conceito está, nas principais abor-


dagens, vinculado a uma análise compreensiva e, portanto,
não objetiva e nem racionalista da realidade. Nesse senti-
do, ele se articula a partir da relação ou compreensão do
ser diante do espaço geográfico, ou seja, o lugar é o espaço
apropriado ou percebido pelas relações humanas.
É sabido que cada pessoa enxerga o mundo de uma de-
terminada forma, porque isso se relaciona com o conjunto Paisagem modificada
de experiências dos indivíduos ao longo do tempo, suas
concepções culturais e seus valores morais e até religiosos. 2.3. Conceito de território
Assim sendo, as análises geográficas pautadas no conceito
[...] o território é um nome político para o espaço de um
de lugar concebem o espaço analisado não de uma manei- país. Em outras palavras, a existência de um país supõe
ra direta ou racional, mas por meio da compreensão hu- um território. Mas a existência de uma nação nem sempre
mana e, muitas vezes, com base em valores afetivos ou de é acompanhada da posse de um território e nem sempre
identidade. É um tipo de análise mais comum no âmbito da supõe a existência de um Estado. Pode-se falar, portanto,
Geografia Cultural e da Geografia da Religião, mas pode de territorialidade sem Estado, mas é praticamente im-
possível nos referirmos a um Estado sem território.
envolver outras áreas do saber em questão.
SILVEIRA, Maria Laura; SANTOS, Milton.
O Brasil, território e sociedade no início do século XXI.
2.2. Conceito de paisagem O território, um termo muito empregado no âmbito da po-
Tudo aquilo que nós vemos, que a nossa visão alcança, é lítica, é normalmente definido como uma área delimitada
a paisagem [...]. Não apenas formada de volumes, mas
por fronteiras. Entretanto, nem sempre essas fronteiras são
também de cores, odores, movimentos, sons, etc.
visíveis ou bem delineadas. Na maioria das abordagens ge-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Milton Santos
ográficas, o conceito de território está relacionado a uma
Em algumas análises, a paisagem é diretamente definida configuração de poder. É, por isso, uma área apropriada,
como “aquilo que a visão alcança” ou como o “mundo uma porção do espaço geográfico onde uma relação hie-
conforme a sua aparência externa”. Portanto, a paisagem rárquica se estabelece.
costuma ser definida como formas que se revelam diante O território possui uma característica importante, que é a sua
dos nossos olhos na produção do espaço geográfico. multiplicidade em termos de tipificações e de escala. Ele pode
Outras concepções desse modelo são apresentadas a par- abranger desde uma área muito restrita, como uma rua ou
tir da contestação desse conceito. Em muitas abordagens um terreno qualquer, até uma coalizão internacional compos-
acadêmicas, a paisagem é concebida não apenas a partir ta por forças militares de diversos países. Ao mesmo tempo,
da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da utilização seus tipos envolvem territorialidades militares, jurídicas (vin-
dos demais sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Além culadas ao Estado), naturais, culturais e até criminais, como
disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora de experiências os territórios de tráfico de drogas ou de grupos mafiosos.

53
2.4. Conceito de região mais ou menos delimitada. Na Geografia, a região é defini-
da como uma porção superficial designada a partir de uma
Faz referência a uma área ou espaço que foi dividido obe- característica que lhe é marcante ou que é escolhida por
decendo a um critério específico. Trata-se de uma elabo- aquele que concebe a região em questão. Assim, existem
ração racional humana para melhor compreender uma regiões naturais, econômicas, políticas, entre muitas outras.
determinada área ou um aspecto dela. Portanto, as regiões
podem ser criadas para realizar estudos sobre as caracte- Portanto, a região não existe diretamente, mas é uma cons-
rísticas gerais de um território (as regiões brasileiras, por trução intelectual humana. No âmbito da Literatura, essa no-
exemplo) ou para entender determinados aspectos do es- ção está vinculada ao conceito de regionalismo, que expres-
paço (as regiões geoeconômicas do Brasil, para entender a sa o conjunto de costumes, expressões linguísticas e outros
economia brasileira). valores que apresentam variação entre uma região e outra,
dando uma identidade coletiva para os diferentes lugares.
Esse conceito, amplamente utilizado no senso comum, é
geralmente empregado para designar uma área do espaço
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

54
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana
com a paisagem.

A Geografia é uma ciência humana que estuda o espaço geográfico e suas composições, analisando a intera-
ção entre sociedade e natureza. Essa área do conhecimento utiliza em suas abordagens uma série de conceitos
que são considerados básicos para a fundamentação de seus estudos. Em algumas análises, a paisagem é
diretamente definida como “aquilo que a visão alcança” ou o “mundo conforme a sua aparência externa”.
Portanto, a paisagem costuma ser definida como as formas que se revelam diante dos nossos olhos na produ-
ção do espaço geográfico.
Porém outras concepções desse modelo são apresentadas a partir da contestação desse conceito. Em muitas abor-
dagens acadêmicas, a paisagem é concebida não apenas a partir da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da
utilização dos demais sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Além disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora
de experiências e atrelada a fatores da expressão humana e pessoais, o que lhe dá uma dimensão cultural.

MODELO 1

(Enem) Portadora de memória, a paisagem ajuda a construir os sentimentos de pertencimento; ela cria uma
atmosfera que convém aos momentos fortes da vida, às festas, às comemorações.
CLAVAL, P. Terra dos homens: a geografia. São Paulo: Contexto, 2010 (adaptado).

No texto é apresentada uma forma de integração da paisagem geográfica com a vida social. Nesse sentido,
a paisagem, além de existir como forma concreta, apresenta uma dimensão
a) política de apropriação efetiva do espaço;
b) econômica de uso de recursos do espaço;
c) privada de limitação sobre a utilização do espaço;
d) natural de composição por elementos físicos do espaço;
e) simbólica de relação subjetiva do indivíduo com o espaço.

ANÁLISE EXPOSITIVA

Nesse exercício, o Enem busca mostrar as relações da vida humana com a paisagem e o quanto os ele-
mentos dessa paisagem estão carregados de uma dimensão simbólica, pois cada ser humano entende e
enxerga a mesma paisagem de maneiras diferentes.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

A paisagem constitui a aparência do espaço, é o que se pode visualizar no horizonte, sendo composta
por elementos naturais e elementos artificiais produzidos pelo homem. Além da dimensão concreta, os
elementos da paisagem carregam uma dimensão simbólica e cultural, uma vez que a percepção da paisa-
gem é individual e carregada de elementos subjetivos. Duas pessoas que visualizam a mesma paisagem
possivelmente não vão descrevê-la da mesma maneira.

RESPOSTA Alternativa E

55
DIAGRAMA DE IDEIAS

ESPAÇO
GEOGRÁFICO

PAISAGEM PAISAGEM
CULTURAL NATURAL

URBANA RURAL FLORESTAS, MATAS,


CAMPOS,
HUMANIZADO DESERTOS, ILHAS

LUGAR ESPAÇO
FÍSICO

DOMÍNIO
JURÍDICO DOMÍNIO
MORFOCLIMÁTICO

FAZENDAS CIDADES MONTANHAS


SÍTIOS BAIRROS PLANALTOS
CHÁCARAS TERRENOS PLANÍCIES
DEPRESSÕES

REGIÕES
GEOECONÔMICAS REGIÕES
NATURAIS

OCEANOS
TERRITÓRIO
MARES
PAÍSES PLANETA TERRA
CONTINENTES
ESTADOS
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

BACIAS

56
vam o Sol começaram a se unir em corpos maiores, conhe-
cidos como planetésimos, que continuaram a agregar-se
em planetas maiores. O material “restante” deu origem a
asteroides e cometas.
Como as colisões entre planetésimos grandes liberam mui-
GEOLOGIA to calor, a Terra e outros planetas seriam derretidos no co-
meço de sua história. A solidificação do material derretido
aconteceu enquanto a Terra começou a esfriar, ou seja, a
Terra começou a perder energia em forma de calor para o
espaço, processo que se desenvolve de fora para dentro.
Isso explicaria por que nosso planeta é envolvido por uma
espécie de casca sólida e contém em seu interior camadas

CH AULAS com elementos em estado de fusão.


3E4 Os meteoritos mais velhos e as rochas lunares têm, aproxi-
madamente, 4,5 bilhões de anos, mas a rocha mais antiga da
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) Terra, conhecida atualmente, tem 3,8 bilhões de anos. Por al-
6 26 gum tempo, durante os primeiros 800 milhões de anos de sua
história, a superfície da Terra mudou de líquido para sólido.
Visto que a rocha dura formou-se na Terra, sua história geo-
lógica começou. Isso aconteceu provavelmente antes de 3,8
1. Aspectos geológicos: bilhões de anos, mas a prova disso não está disponível, pois a
erosão e o tectonismo destruíram provavelmente toda a rocha
origem e evolução da Terra mais antiga que 3,8 bilhões de anos. O começo do registro de
Considerando que tenha havido uma única explosão, a Ter- rocha que existe atualmente na Terra é do Arqueano.
ra e os demais astros do Sistema Solar teriam se originado
de uma única massa homogênea que se fragmentou em
bilhões e bilhões de partes sob efeito da explosão.
Para a teoria que defende várias explosões, a massa inicial
era heterogênea e expandiu-se muito rapidamente com as
explosões. Entretanto, para outros astrônomos, essa massa Atração gravítica Acreção ProtoplanetaD Diferenciação
até poderia ser uniforme, mas, devido à queda brusca da Formação de
planetesimais
Colisão de
planetesimais

temperatura depois das explosões, ela teria ficado repleta


de fraturas que a fragmentaram em bilhões de pedaços. A temperatura aumenta devido:

• impacto dos planetesimais


Baseando-se nessas hipóteses, e reunindo dados fornecidos • compressão
• desintegração radioativa
pelas várias pesquisas realizadas na superfície lunar, os as-
trônomos elaboraram a Teoria da Acreção (ou acrésci- Diferenciação

mo) para explicar a formação da Terra e dos demais corpos Ilustração da Teoria da Acreção ou Acréscimo
do Sistema Solar. Esses corpos teriam se formado a partir
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

da agregação de várias partículas que estariam girando ao


redor de um Sol primitivo. O Sol então se formou dentro de
1.1. As eras geológicas
uma nuvem de gás e poeira, e começou a se submeter à A história geológica do planeta é dividida em fases chama-
fusão nuclear e a emitir luz e calor. As partículas que orbita- das eras geológicas, divididas em períodos.

Escala geológica
Datação (em
Era Período Eventos no planeta Eventos no Brasil
milhões de anos)
Solidificação dos minerais
e formação das primei-
Azoica - ras rochas cristalinas. - 4500 a 3800
Inexistência de vida.

57
Escala geológica
Datação (em
Era Período Eventos no planeta Eventos no Brasil
milhões de anos)
Formação das rochas
magmáticas e metamórficas. Formação das serras do
Arqueozoico 3800 a 2500
Formação dos escudos Mar e da Mantiqueira.
Pré-cambriana cristalinos.

Formação das primeiras Formação dos escudos


Proterozoico 2500 a 590
rochas sedimentares. brasileiro e guiano.

Cambriano 590 a 500

Ordoviciniano Glaciação e diastrofismo. 500 a 438


Formação das bacias sedimentares
Rochas sedimentares antigas, do varvito de Itu (SP), e do
Siluriano e metamórficas. 438 a 408
Paleozoica carvão mineral do sul do Brasil.
Devoniano 408 a 360
Início da formação da bacia sedimentar
Início do processo de formação do Paraná e do São Francisco.
Carbonífero 360 a 286
do carvão mineral.
Permiano - 286 a 248
Triássico Formação das bacias sedimentares 248 a 213
do Paraná, Sanfranciscana
Jurássico e do meio Norte. 213 a 144
Grande atividade vulcânica. Formação das ilhas de Trindade,
Mesozoica Martin Vaz e do arquipélago de
Formação de baciais Fernando de Noronha e Penedos
sedimentares. de São Pedro e São Paulo.
Cretáceo 144 a 65
Derrames basálticos na região Sul.
Fomação do planalto arenito basáltico.
Formação das grandes
Formação da bacia sedimentar (Ex.:
Terciário cadeias de montanhas 65 a 2
bacia sedimentar Amazônica).
Cenozoica (dobramentos modernos).
Formação da bacia
Quaternário Surgimento do homem moderno. 2 a hoje
sedimentar do Pantanal.

Pré-Cambriano ECHIPPUS MAMÍFEROS GIGANTES

MACACOS
Paleozóica
HIMALAIA E 60 milhões 36 milhões ALPES
MONTANHAS
PLANTAS
Mesozóica ROCHOSAS
TERRESTRES 400 milhões
65 milhões ANFÍBIOS
420 milhões PASTOS
Cenozóica
PEIXES
(Terciário) 350 milhões
ROCHAS 2,7 Bilhões 26 milhões
500 milhões MAIS INSETOS
Cenozóica
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

ANTIGAS FORMAS
(Quaternário) PRIMITIVAS
FORMAÇÃO SERRAS NEVADA
ROCHAS DA TERRA DA VIDA
ALGAS E 320 milhões E DAS CASCATAS
SEDIMENTARES 4,6 milhões BACTÉRIAS
ÚLTIMOS MAIS ANTIGAS 3,8 bilhões de anos RÉPTEIS
DINOSSAUROS PROTOZOÁRIOS 2 milhões
TRILOBITAS E ESPONJAS 1 bilhão
2 bilhões
APALACHES GRANDE CÃNION
PLANTAS COM FLORES 590 milhões 600 milhões
E URAIS
130 milhões PETRÓLEO
PLANTAS DE 230 milhões
E GÁS
SEMENTES
PÁSSAROS 150 milhões
180 milhões MAMÍFEROS
IDADES
GLACIAIS
DINOSSAUROS
MAMUTE

1 milhão

Escala geológica ilustrada em forma de espiral.

58
próxima da superfície terrestre (onde vive o homem e
ocorrem quase todos os fenômenos metereológicos).
§ Biosfera – é o conjunto de todos os ecossistemas da Ter-
ra; ela inclui a biota e os compartimentos terrestres com os
quais a biota interage (litosfera, hidrosfera e atmosfera).

multimídia: vídeo 2.1. As camadas da estrutura


Fonte: Youtube interna da Terra
Como nasceu nosso planeta A estrutura da Terra é formada por camadas de diferentes
formações químicas (modelo 1) e físicas (modelo 2).

2. A estrutura da Terra
O planeta Terra é um corpo dinâmico, com uma superfí-
cie que serve de suporte para a sobrevivência dos seres
humanos e demais seres vivos. Nessa superfície, também
chamada de litosfera ou crosta terrestre, encontram-se os
recursos minerais energéticos que alimentam as comple-
xas organizações econômicas. Na litosfera estão também 1) Modelo baseado na 2) Modelo baseado na rigidez dos
composição dos materiais materiais do interior da Terra.
os solos, as águas oceânicas e continentais, as formas de do interior da Terra.
relevo e os fenômenos climáticos que, em conjunto, interfe- (B) magma pastoso
(A) litosfera ou crosta terrestre
rem na ocupação e organização do espaço físico-territorial
para a instalação de complexos industriais, a formação de
cidades, as práticas agrícolas, entre outras atividades. Os dados que se tem a respeito do interior da Terra
A superfície da Terra é composta por elementos diferentes: foram obtidos através de perfurações para extrair pe-
sólidos, líquidos e gasosos. São eles: tróleo, e não ultrapassam os 5 mil metros ou 6 mil
metros de profundidade. Essas perfurações são exe-
cutadas em bacias sedimentares, não alcançando as
estruturas rígidas mais profundas.
Atmosfera
Biosfera A divisão da estrutura da Terra foi baseada princi-
palmente nos estudos sobre abalos sísmicos, pois o
comportamento das ondas sísmicas altera-se na pas-
Hidrosfera sagem de uma camada para a outra em função da
natureza dos materiais.
Litosfera
O modelo atualmente aceito da estrutura interna do plane-
§ Litosfera – camada sólida da Terra formada por mi-
ta revela três grandes camadas: o núcleo (NiFe), o manto
nerais e rochas, também chamada de crosta terrestre.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

e a crosta terrestre (litosfera).


Para fins econômicos, sua utilização limita-se a poucos
quilômetros de profundidade, de onde são extraídas
algumas riquezas minerais.
2.1.1. Núcleo
Acredita-se que o núcleo da Terra, formado por níquel e
§ Hidrosfera – camada líquida formada por oceanos,
ferro, possua uma divisão entre núcleo externo e núcleo
mares, rios e aquíferos, lagos subterrâneos e água. Os
interno. Provavelmente o núcleo externo encontra-se no
interesses do homem limitam-se a mais ou menos mil
estado líquido, envolvendo o núcleo interno que, por estar
metros de profundidade.
submetido a altas pressões, esteja no estado sólido, exi-
§ Atmosfera – camada gasosa, formada por uma mis- bindo temperaturas superiores a 5.000 ºC. Desse modo, a
tura de gases (oxigênio, gás carbônico e nitrogênio). interação entre o núcleo externo e o interno parece ser a
Ela envolve a Terra e a protege. É dividida em cinco principal causa da formação do campo geomagnético da
camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionosfe- Terra. A alta densidade do núcleo indica que ele seria me-
ra e exosfera. A troposfera é a mais importante, mais tálico, talvez formado por níquel e ferro.

59
As principais subdivisões da Terra crosta continental predominam silicatos de alumínio (SIAL),
Espessura Densidade com espessura que varia de 30 a 70 quilômetros. É for-
Massa mada de rochas – granitos, migmatitos, basaltos e rochas
ou raio (Km) média (g/cm3)
Crosta
sedimentares –, semelhantes às que afloram na superfície.
7 7,0 × 1024 2,8 O que diferencia as rochas de cada subcamada da litosfera
oceânica
Crosta é a idade delas. As dos fundos oceânicos raramente ultra-
40 1,6 × 1025 2,7
continental passam 250 milhões de anos; as da crosta terrestre podem
Manto 2870 4,08 × 1027 4,6 chegar a 4,5 bilhões de anos.
Núcleo 3480 1,88 × 10 27
10,6
Oceanos 4 1,39 × 1024 1,0
Oceano
Atmosfera - 5,1 × 1021 - Crosta terrestre (sial)
Crosta oceânica (sima)
Terra 6371 5,98 × 1027 5,5
Fonte: Estrutura da Terra, S.P. Clark Jr., 1973 Manto

Crosta terrestre e crosta oceânica


2.1.2. Manto
A Terra está em constante movimento – um dinamismo
O manto, encontrado em estado pastoso ou magmático,
composto por duas forças opostas chamadas forças en-
é responsável por 80% do volume total do planeta. As per-
dógenas (internas), que ocorrem no interior do planeta,
turbações geológicas que atingem a crosta, como terremo-
no núcleo ou no manto, responsáveis pelas estruturas
tos e vulcanismos, são provocadas pela pressão exercida
que sustentam as formas superficiais da litosfera; e for-
por ele. Para entender melhor: o magma (composto essen-
ças exógenas (externas), que correspondem à ação dos
cialmente de silicatos de magnésio), que é expelido pelas
ventos, chuvas, geleiras e outros fenômenos externos, que
erupções vulcânicas, é componente do manto. O manto
produzem o desgaste e a modificação (modelagem) cons-
terrestre estende-se desde cerca de 30 km de profundi-
tante do relevo. A atual disposição das massas continen-
dade até 2.900 km abaixo da superfície (transição para o
tais e as movimentações ocorridas na superfície terrestre,
núcleo). Ele difere da crosta pelas suas características de
chamadas de tectonismo, relacionam-se intrinsecamente
composição química e de seu comportamento mecânico,
com a dinâmica interna do planeta, ou seja, dizem respei-
traduzido pela existência de uma alteração súbita (uma
to à teoria das placas tectônicas.
descontinuidade) nas propriedades físicas dos materiais,
que ficou conhecida como descontinuidade Mohoro-
vičić ou descontinuidade de Moho. Essa descontinuidade 3. A gênese das rochas
marca a fronteira entre a crosta e o manto.
As rochas são agregados naturais de minerais e formam a par-
te essencial da crosta terrestre. Sua origem pode ser orgânica
Evidências sísmicas mostram que, em algumas re- ou inorgânica e apresentam composição química definida.
giões cratônicas, a crosta continental está dividida em As rochas se classificam em três grandes grupos conforme
duas partes maiores pela descontinuidade de Con- sua origem e características minerais de textura:
rad, que marca um pequeno aumento das velocida-
des sísmicas nessa profundidade, e separa as rochas § magmáticas ou ígneas
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

de densidade menor na crosta superior das rochas de § sedimentares


maior densidade na crosta inferior.
§ metamórficas
Uma rocha pode se transformar em outra do mesmo tipo
2.1.3. Crosta terrestre ou de tipo diferente.

A crosta terrestre é subdividida em duas camadas ou


crostas: a crosta oceânica ou inferior (de constituição ba- 3.1. Rochas magmáticas ou ígneas
sáltica, com predomínio de silicatos de magnésio e ferro – Ao se formar, o planeta Terra era pouco mais do que uma
SIMA), que recobre toda a superfície do planeta, e a crosta bola de lava. Não havia a litosfera como a conhecemos
continental ou superior, que fica sobre a oceânica. Não hoje. As rochas magmáticas foram formadas em am-
existe crosta superior sobre os oceanos, apenas a crosta in- biente com temperaturas muito elevadas, o que permitiu a
ferior, com espessuras que variam de 4 a 8 quilômetros. Na existência de materiais rochosos em fusão (magma). Essas

60
rochas, como o próprio nome indica, formadas pela len- granular; os grãos dos minerais que compõem essa rocha
ta solidificação (cristalização) do magma pastoso, ficaram são bem perceptíveis: quartzo, mica, feldspato entre outros.
conhecidas como rochas ígneas (do latim ignis, fogo). A O granito é o tipo mais comum de rocha intrusiva na Terra.
maioria dos geólogos acredita que, durante certo tempo,
toda a crosta terrestre foi constituída desse tipo de rocha e
que todas as restantes originam-se delas.
Dentro das rochas ígneas existe uma diferença básica: des-
de o início, algumas se resfriaram rapidamente em contato
com a atmosfera primitiva do globo. Ainda hoje, o magma
lançado de vulcões ativos esfria rapidamente em contato
com a atmosfera. Por outro lado, houve uma parte do mag- multimídia: sites
ma que estava no interior do planeta, um pouco abaixo da
superfície, que também se solidificou, de modo muito mais https://www.historiadomundo.com.br/inca
lento do que a parcela em contato direto com a atmosfera.
O granito, o diabásio e o basalto, muito antigos e resisten-
tes, são exemplos desse tipo de rocha. § Rochas extrusivas ou vulcânicas

§ Rochas intrusivas ou plutônicas Rochas que resultam da solidificação rápida do material


magmático (lava) quando em contato com a atmosfera.
Durante sua ascensão à superfície, o magma vai abrindo es-
Nos vulcões, o magma atinge a superfície da crosta e en-
paço por entre a litosfera – intrusões magmáticas – e pode
tra em contato com a temperatura ambiente, resfriando-se
parar junto a câmaras magmáticas próximas à superfície
rapidamente. Como a solidificação é praticamente instan-
sem alcançá-la. Nessas câmaras, a lava esfria devagar e dá
tânea, os cristais não têm tempo para se desenvolver – são
origem às rochas plutônicas. Depois de muito tempo, a ero-
muito pequenos e invisíveis a olho nu. Eles têm textura afa-
são e o intemperismo acabam deixando expostas essas ro-
nítica (sem cristais macroscópicos): seus grãos só podem
chas que há milhões ou bilhões de anos eram subterrâneas.
ser observados com a ajuda do microscópio; ou textura
vítrea, cujos minerais não podem ser individualizados nem
mesmo se observados ao microscópio. Os basaltos são as
rochas vulcânicas mais comuns.

Granito

Quanto mais lento for o resfriamento do magma, maiores


serão os cristais de rocha – os minerais. As rochas ígneas
plutônicas são compostas por cristais de minerais macroscó-
picos, como o granito, cujo nome diz respeito à sua textura Basalto
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

VIVENCIANDO

As rochas estão mais presentes no nosso dia a dia do que imaginamos. O basalto (rocha magmática extrusiva),
por exemplo, é utilizado na produção de brita, usada na composição do asfalto de ruas e estradas. Procure saber
sobre uma aplicação econômica de alguns tipos de rochas.

61
3.2. Rochas sedimentares
As rochas da superfície terrestre são alteradas de forma
contínua por agentes naturais, como a água em seus vários
estados, os gases atmosféricos, a ação dos seres vivos e
as variações de temperatura. Os produtos resultantes da
alteração paisagística, por sua vez, poderão ser detríticos
multimídia: livro (pedras soltas, areia, fração fina dos solos), ou também se
dissolver na água. Em conjunto com a alteração das ro-
Geografia do Brasil - Jurandyr Luciano Sanchez Ross chas, acontece o processo erosivo, que arranca e desloca
os materiais rochosos previamente alterados. As rochas
Este livro é a mais moderna obra de referência no âmbito
sedimentares podem ser provenientes da erosão de rochas
dessa disciplina. Destaca-se pela abordagem interpretati-
preexistentes e da precipitação de substâncias – processo
va, que determinou a escolha de certos temas considera-
químico no qual se forma um sólido insolúvel dentro de
dos de suma importância no estudo da geografia.
uma solução química – ou, ainda, de material correspon-
dente a conchas e esqueletos de organismos mortos. Frag-
mentos de minerais e rochas, de animais e de vegetais ou
Cinzas vulcânicas
Rocha extrusiva de precipitados químicos em soluções aquosas são conhe-
Lava
Rocha intrusiva
cidos como sedimentos – detrito são carregados na erosão.
Nuvem piroclástica: torrente
de lava quente, poeira e gás

Fissura

Dique ou filão de magma


A lava escorre pelo
respiradouro lateral
Lacólito: massa de magma A lava sobe pela
que empurra as camadas chaminé central
de rocha

Sill: deposição do magma Câmara magmática extinta


entre camadas de rocha

multimídia: sites
Câmara magmática

Esquema ilustrando a formação das rochas


magmáticas (intrusivas e extrusivas) https://www.historiadomundo.com.br/asteca

Como os derrames ocorrem intermitentemente, a su- As áreas-fonte de sedimentos costumam ser porções eleva-
perposição de camadas assume o aspecto de planos das da superfície terrestre que regularmente se depositam
de estratificação. As vulcânicas dão respostas distintas e se acumulam em porções deprimidas da superfície, co-
aos processos de desgaste. A intensidade da rede de nhecidas como bacias sedimentares. Na maioria das vezes,
fraturas, falhas e planos de acamamento ou de posição são compostas de rios, lagos, lagoas, praias, fundos oceâ-
são fatores estruturais muito importantes na diminui- nicos e dos arredores desses locais. As bacias sedimentares
ção da resistência ao desgaste das rochas vulcânicas. tendem a afundar lentamente. Por causa disso, os sedimen-
Como exemplo, podem-se tomar os padrões de relevo tos mais novos são depositados sobre os mais antigos, que
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

que ocorrem no Sul do Brasil, nos derrames por fissuras ficam preservados da erosão que predomina na superfície.
de lavas vulcânicas da bacia do Paraná. Nessa área o Isso resulta em uma pilha de rochas de diferentes idades,
relevo é intensamente dissecado, apresentando-se com desenvolvidas pelas transformações que ocorrem com os
grande quantidade de vales fluviais estreitos e pro- sedimentos depois de soterrados. Elas revelam a história
fundos e vertentes em forma de patamares. A elevada da região na etapa do tempo em que houve subsidência
densidade de vales está associada às linhas de fratura e (deposição) e acumulação de sedimentos. Pelo fato de as
falhas, e os patamares, aos acamamentos dos diversos camadas mais profundas depositaram-se primeiro, pode-se
derrames vulcânicos. As rochas ígneas, em geral, ofe- estabelecer a cronologia dos eventos. Assim é possível tra-
recem grande resistência ao desgaste, tanto por ação çar a evolução das espécies de animais e plantas ao longo
física como pela ação química da água. do tempo e saber, por exemplo, quais dinossauros existiram
ROSS, J. L. S.: Geografia do Brasil. São simultaneamente em uma região, pelo conhecimento das
Paulo. Ed. 2005. Edusp. p. 40.
relações entre as camadas que contêm os fósseis que essas
formas de vida deixaram.

62
Esses processos sempre ocorreram na superfície terres- Grandes depósitos de carvão mineral foram formados de
tre; por isso existem rochas sedimentares de diferentes florestas que morreram e foram cobertas há milhões de
idades e de diversos ambientes de sedimentação. Cada anos. Nesses locais não havia oxigênio suficiente para a
ambiente resulta em rochas de variados tipos e aspectos, decomposição dos detritos. Dependendo da profundida-
que dependem também do material constituinte. A maior de, diferentes tipos de carvão foram compostos da tem-
parte das rochas sedimentares é do tipo clástico, em que peratura e das concludentes transformações químicas.
se destacam os arenitos, os argilitos e os conglomerados. Quanto mais antigos e escuros forem, pegarão fogo mais
Essas são as rochas principais na constituição das bacias facilmente. No Brasil, as reservas de carvão encontram-se
sedimentares e as que mais influenciam as formas de re- nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
levo nesse tipo de estrutura. Grande do Sul, apesar de o produto não ser considerado
de boa qualidade.

§ Rocha sedimentar dentrítica ou clástica: ro- Se os materiais provenientes de plantas e animais são en-
cha gerada por detritos ou partículas de material terrados em profundidade e temperatura suficientes, eles
sólido de rocha e solo, que são transportados, de- se transformam quimicamente em petróleo e gás natural.
positados e litificados em diversos ambientes de As rochas sedimentares oferecem informações sobre a
sedimentação. história do ambiente em que se encontram. O xisto, por
§ Rocha sedimentar química: pode ser orgânica exemplo, constituído por minúsculos grãos de lama e argi-
(calcário, dolomito e carvão) e inorgânica (sílex, la, forma-se exclusivamente em águas calmas ou no fundo
um precipitado de sílica, e concreções lateríticas, do mar. Já as rochas calcárias são formadas próximas de
precipitadas de ferro). recifes de corais ou onde há movimento nas águas que
trazem os sedimentos, como praias ou canais de rios. É im-
portante lembrar que um mar que existiu em outras épocas
Identificar uma rocha sedimentar é muito fácil. Ela é com- pode não existir mais nos dias de hoje. O Oriente Médio,
posta de sedimentos e de várias camadas – por isso é atualmente tão abundante em petróleo, já foi um fundo
também chamada de rocha estratificada. O arenito, por oceânico em eras geológicas anteriores.
exemplo, é empregado em construções e na pavimentação
de ruas. Se for pura, é formada apenas do mineral quartzo.
Sedimentação num lago
Outro tipo de rocha comum é a calcária, formada de con-
ou num mar
chas, esqueletos de animais e plantas. Os espaços entre es-
ses sedimentos são preenchidos por fluidos – água ou óleo
–, ou por calcita – carbonato de cálcio cristalizado –, que Mais recente
Mais antiga
funcionam como cimento. Regiões onde existem depósitos
de rochas calcárias já estiveram há muito tempo cobertas
pelo mar. São numerosas no Brasil e oferecem pouca resis- Ilustração de Bacia Sedimentar, local de ocorrência
tência à ação do vento e da água. das rochas sedimentares.

3.3. Rochas metamórficas


VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

As rochas metamórficas são rochas resultantes de um pro-


cesso de alteração das condições originais do ambiente
onde se deu sua gênese. Elas são provenientes das transfor-
mações (metamorfismos) sofridas pelas rochas magmáticas,
pelas rochas sedimentares ou por outras rochas metamórfi-
cas. Essas mudanças ocorrem em função das condições de
temperatura e pressão no interior da Terra. A rocha transfor-
mada adquire novas características, muda sua composição
e forma outros minerais estáveis nas novas condições vigen-
tes. Essas modificações equivalem basicamente a reajustes
da composição química e da textura das rochas em con-
sequência das novas condições físico-químicas – pressão e
Arenito em Paria Canyon-Vermillion Cliffs Wilderness, Arizona, EUA. temperatura – do meio.

63
Nessas rochas, uma das características que mais se desta-
As rochas se fundem ao longo de um determinado cam é o plano de xistosidade. As falhas e as fraturas são
intervalo de temperatura, visto que são compostas de linhas de menor resistência de massa rochosa e nelas os
vários minerais que possuem faixas de temperaturas processos erosivos atuam com maior intensidade. Dessa
de fusão diferentes. forma, os vales fluviais, serras e morros tendem a ficar ali-
nhados nas direções impostas pela rocha.

Um exemplo comum de rochas metamórficas são os már- Devido à sua origem e ao grau de transformação, algumas
mores, formados da pressão sobre rochas calcárias que se rochas podem ser mais ou menos resistentes. O quartzito,
recristalizam. Eles podem ser brancos ou coloridos e apre- por exemplo, oferece grande resistência à erosão, enquanto
sentam por base grãos de calcita. o gnaisse e o migmatito tem um grau de resistência menor.
Ciclo das rochas

Mármore

No esquema abaixo, é possível observar a chamada “au-


réola de metamorfismo”, em que as rochas preexistentes,
por pressão dos materiais superficiais, entram em contato
com essa porção do interior da Terra e acabam modifican-
do sua estrutura molecular.
Anel de metamorfismo

multimídia: música
Fonte: Youtube
Tempo rei - Gilbeto Gil

Transformação de rochas preexistentes


VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

em rochas metamórficas

64
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A química está presente diretamente no estudo das rochas, na composição química dos minerais e dos solos.

DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS GEOLÓGICOS DA TERRA

ESTRUTURA INTERNA NÚCLEO


DA TERRA

MANTO

CROSTA
TERRESTRE
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

PROVÍNCIAS
ROCHAS
GEOGRÁFICAS

• DOBRAMENTOS MODERNOS
• BACIA SEDIMENTAR
• ESCUDOS CRISTALINOS
METAMÓRFICA SEDIMENTAR MAGMÁTICA

• QUÍMICA • PLUTÔNICA
• CLÁSTICA • VULCÂNICA

65
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana
com a paisagem.

A importância da compreensão sobre o comportamento e a dinâmica da litosfera está no fato de ela ser o local de
atuação direta das atividades humanas, sendo transformadora e transformada por tais práticas. É sobre essa cama-
da que o homem constrói e reconstrói o seu espaço geográfico, retira os minerais, pratica o uso e a exploração dos
solos, entre outras coisas.

MODELO 1

(Enem) De repente, sente-se uma vibração que aumenta rapidamente; lustres balançam, objetos se movem
sozinhos e somos invadidos pela estranha sensação de medo do imprevisto. Segundos parecem horas, poucos
minutos são uma eternidade. Estamos sentindo os efeitos de um terremoto, um tipo de abalo sísmico.
ASSAD, L. Os (não tão) imperceptíveis movimentos da Terra. ComCiência: Revista Eletrônica de Jornalismo
Científico, no 117, abr. 2010. Disponível em: http://comciencia.br. Acesso em: 2 mar. 2012.

O fenômeno físico descrito no texto afeta intensamente as populações que ocupam espaços próximos às
áreas de
a) alívio da tensão geológica;
b) desgaste da erosão superficial;
c) atuação do intemperismo químico;
d) formação de aquíferos profundos;
e) acúmulo de depósitos sedimentares.

ANÁLISE EXPOSITIVA

O fenômeno físico descrito é chamado de abalo sísmico ou terremoto: um tremor da superfície terrestre
que acontece próximo às áreas de contato de placas tectônicas convergentes. O terremoto é um dos
fenômenos da natureza que mais causa preocupações no homem, pois suas consequências podem ser
extremamente profundas, tanto para as sociedades e suas construções como para a própria Terra, como o
tremor do solo, tsunamis, surgimento de falhas, deslizamentos de terra, além da destruição das construções
feitas pelas sociedades.
O “alívio de tensão geológica” refere-se a um abalo sísmico ou terremoto, cuja origem dá-se em profun-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

didade (hipocentro). As ondas sísmicas atingem a superfície (epicentro) e se propagam, podendo causar
danos socioeconômicos.

RESPOSTA Alternativa A

66
a importância dos recursos minerais. O apoio da população
às iniciativas de redução do desperdício de bens minerais
pode retardar os problemas de escassez ou exaustão dos
GEOLOGIA depósitos. Paralelamente, a demanda de bens minerais para
as futuras gerações é pauta de estudo dos governos, pois
DO BRASIL E as acumulações econômicas de substâncias minerais úteis

EXPLORAÇÃO constituem porções muito restritas nos continentes. Além do


mais, é necessário para a formação de qualquer bem mineral
MINERAL um período de tempo muito maior do que aquele decorrido
desde que começamos a utilizar as primeiras lascas de quart-
zo. Portanto, houve uma multiplicação de pesquisas e ações
governamentais e institucionais para otimizar a extração e

CH
prolongar a vida útil dos recursos, já que volumes gigantescos
AULAS
5E6
de bens minerais, que não são renováveis, estão sendo rapi-
damente extraídos de seus depósitos.

COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) A conservação do recurso mineral, ou melhor, o prolonga-


6 29
mento de sua vida útil para atendimento das necessidades
da crescente população mundial, evitando os excessos de um
consumo ambicioso, é uma atitude necessária para garantir
o suprimento de insumos minerais praticamente imprescin-
1. Uma breve história da díveis à manutenção de uma forma de desenvolvimento sus-
tentável. Dentro dessa perspectiva, muitos metais têm sido
exploração mineral atualmente produzidos por meio de técnicas de reciclagem
com a utilização de bens manufaturados sucateados, bem
A história da humanidade está ligada à utilização de re-
como outros, que são mais escassos na natureza, vêm sendo
cursos retirados da natureza. Sem os recursos de materiais
substituídos por metais mais abundantes. Essa atitude per-
minerais, incluindo a água e os solos, e os recursos energé-
mitirá que preservemos por mais tempo os recursos minerais,
ticos, a humanidade não teria como subsidiar seu crescente
diminuindo assim o impacto ao meio ambiente.
desenvolvimento tecnológico. No início da civilização, nos-
sos antepassados utilizavam lascas de quartzo para con- O registro geológico do Brasil evidencia ambientes férteis
feccionar instrumentos rudimentares de caça ou de luta. em todo o tempo geológico, do Arqueano ao Holoceno,
Hoje, esse mineral ainda é usado para transformar a natu- que contém importantes acumulações de bens minerais,
reza e produzir um amplo conjunto de objetos, alguns até algumas das quais já transformadas em minas. Por para-
sofisticados, como os transistores ou cabos de fibra óptica. doxal que possa parecer, são os atrasos, as deficiências e
demais dificuldades que vêm inibindo a exploração mine-
Desde a Idade da Pedra Lascada, a humanidade passou por
ral e impedindo o pleno desenvolvimento da mineração
vários estágios de desenvolvimento das técnicas de descober-
no Brasil até o momento, o que se permite afirmar que
ta de usos e transformações das substâncias naturais. Hoje
ainda é elevado o potencial para descobertas de novos
em dia, a aplicação de técnicas modernas, e muitas vezes bas-
depósitos minerais no Brasil. Dentre os pontos negativos
tante refinadas, permitiu descobrir, obter e transformar bens
destacam-se: baixo conhecimento geológico do território
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

minerais em bens manufaturados, tornando assim a vida mais


nacional e de nossas províncias minerais, pequenos inves-
confortável. E uma infindável diversidade de tipos de minerais
timentos realizados em pesquisa mineral no país, projetos
e rochas vem sendo utilizada em quantidade crescente.
de exploração mineral realizados apenas em superfície
As substâncias minerais, metálicas e não metálicas, os com- ou baixa profundidade, carência de infraestrutura viária,
bustíveis fósseis e as pedras preciosas passaram a fazer par- legislação mineral pouco amigável e alto custo no Brasil.
te inalienável da vida moderna. Essa dependência, às vezes Duas principais províncias metalogenéticas brasileiras e
imperceptível, mantém e aprimora nossa qualidade de vida. quatro conjuntos de distritos mineiros, dentre as centenas
Entretanto, algumas vezes a sociedade tem uma imagem existentes no país, são responsáveis pela maior parte das
nociva da mineração, porque ela transforma a paisagem ra- minas e depósitos minerais de porte significativo: Provín-
pidamente ao mobilizar imensas quantidades de material e cia Mineral Ferro-Aurífera do Quadrilátero Ferrífero (MG),
gerar uma enorme porção de resíduos não utilizados. Sendo Província Mineral Polimetálica de Carajás (PA), distritos de
assim, procura-se levar cada vez mais à população, por meio greenstones belts auríferos de Goiás, Bahia e Minas Gerais,
de programas de educação ambiental, o conhecimento sobre e distritos de maciços básico-ultrabásicos de Goiás, Bahia

67
e Pará. São essas províncias e distritos minerais que fazem Basicamente, é a porção das placas continentais que, du-
com que os estados de Minas Gerais, Pará, Goiás e Bahia rante um período mínimo de 100 milhões de anos, não
sejam responsáveis pela produção de 80%, em valor, das sofre ações diretas do tectonismo e do vulcanismo, o que
commodities minerais brasileiras. caracteriza a sua estabilidade. É composto de rochas cris-
Nesta aula, o recurso mineral será abordado do ponto de talinas (magmáticas e metamórficas).
vista essencialmente geológico, mostrando como se for-
mam as concentrações minerais. Também será visto o pa-
pel importante dos recursos minerais como fonte comer-
cial necessária a uma infinidade de produtos industriais.

Entenda os termos

§ Depósito mineral – grande concentração de


qualquer substância mineral com teores e geo- Os escudos são estáveis, mas não significa dizer que eles
metria conhecida e com potencial interesse eco- não passam por transformações. Porém, neles, os agentes
nômico. endógenos ou internos de transformação do relevo prati-
§ Jazida – grande concentração de qualquer subs- camente não atuam. Por isso, as rochas são, externamente,
tância mineral com teores e geometria conhecida muito desgastadas em virtude da ação dos agentes exter-
e com valor econômico comprovado. nos ou exógenos, tais como a água, o vento e o clima. As-
§ Mina – uma jazida em lavra, ainda que paralisa- sim, o relevo das áreas onde se localizam os escudos
da (temporariamente). costuma abranger, em geral, regiões de planaltos com
§ Lavra – conjunto de operações coordenadas, ob- baixas altitudes e algumas depressões relativas.
jetivando o aproveitamento industrial da jazida
Os escudos são divididos em dois tipos principais de estru-
até o beneficiamento.
turas: os crátons cristalinos e as plataformas.
Os crátons são tipos de escudos que afloraram na superfície,
ou seja, não foram recobertos por outros tipos de estrutu-
ras geológicas. Neles ocorrem os minerais metálicos, princi-
palmente os que se formaram no Proterozoico. Os recursos
minerais são muito importantes por seu uso em processos
industriais, principalmente porque a natureza não repõe em
tempo humano o que as sociedades retiram. Quando uma
multimídia: música rocha contém um alto teor de algum mineral de valor econô-
mico, é chamada de minério. Quando os minérios se concen-
Fonte: Youtube
tram em um determinado ponto, temos uma jazida mineral.
Riquezas do meu Brasil – Candeia Aproximadamente 36% do território brasileiro é formado
por escudos cristalinos. Destes, 4% são do Proterozoico.
Essas estruturas geológicas estão distribuídas da seguinte
2. As macroestruturas e forma no planeta: no continente americano aparecem os
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

suas características escudos das Guianas, o brasileiro e o canadense; no conti-


nente africano, o Saariano; na Europa, o Russo-Fernosândi-
As macroestruturas do relevo terrestre estão representa- co; na Ásia, o siberiano, o chinês e o indiano; e na Austrália,
das pelos escudos cristalinos, pelas bacias sedimentares o escudo australiano.
e pelas cadeias orogenéticas; esta última não ocorre no
território brasileiro.
2.2. Bacia sedimentar
As bacias sedimentares começaram a se constituir efetiva-
2.1. Escudos cristalinos mente na era Paleozoica. Os territórios que compõem a Amé-
Tipo de estrutura geológica caracterizada, em geral, pela rica do Sul estavam em altitudes bem mais baixas naqueles
sua estabilidade e composição antiga, tendo se consti- tempos – há cerca de 500 milhões de anos. Hoje, nossas
tuído durante o período Pré-cambriano, há mais de dois bacias correspondem a 64% da estrutura geológica brasilei-
bilhões de anos. ra – Amazônica, Meio Norte (Maranhão e Piauí) e Paranaica

68
(Paraná) –, que no início eram formadas por depósitos de nas, apresentando uma profundidade de 4 km, em alguns
material marinho. Quando o fenômeno da epirogênese pro- trechos, e uma superfície de 2 milhões de km2. Essa bacia é
vocou o levantamento do continente superior ao mar, elas um espelho do ato de agentes do relevo – rios, temperatura
ficaram emersas e unidas em território contínuo, como tam- e chuvas. Por toda a extensão das margens do rio Amazonas
bém passaram a ser preenchidas com material continental. e de seus principais afluentes, as rochas sedimentares são
bem atuais, pois pertencem ao período quaternário da era
Cenozoica – fases pleistocênica e holocênica. Esses terrenos
pleistocênicos e holocênicos representam a verdadeira planí-
cie Amazônica e são mais conhecidos como várzeas. Quanto
mais distantes desses eixos fluviais, mais antigos serão os
terrenos sedimentares da bacia amazônica, ora do período
terciário (cenozoico), ora do paleozoico (áreas de contato
com os escudos cristalinos).
A bacia do Paraná sofreu, parcialmente, uma das glacia-
ções pelas quais passou a Terra, a permocarbonífera, que
corresponde a dois períodos do paleozoico – e foram
nesses terrenos que se formaram as jazidas carbonífe-
ras. Essa bacia também aparece separada em algumas
classificações, um terceiro tipo de terreno na estrutura
geológica brasileira: os vulcânicos. Assim são chamados
porque nessa mesma época de início da formação dos do-
bramentos modernos, na era mesozoica, abriram-se fraturas
Enquanto a formação das bacias sedimentares levou milhões na bacia sedimentar do Paraná, pelas quais subiram lavas
de anos para se materializar, as placas tectônicas continua- básicas – fluidas, que percorrem grandes extensões. Foi das
ram se movimentando e a dinâmica da Terra seguiu seu cur- macroerupções às formações de rochas extrusivas, como o
so. Áreas que antes se encontravam no fundo dos oceanos
diabásio e o basalto, que, por ação do intemperismo físico
transformaram-se em áreas continentais, inclusive as zonas
e químico ao longo do tempo geológico, originou-se o solo
em que se formaram as bacias sedimentares, apesar de a
fértil da terra roxa. O arenito, que já predominava antes da
maior parte delas ainda se encontrar no fundo dos oceanos.
atividade vulcânica, ficou rajado por manchas basálticas,
Durante esse processo de constituição das bacias sedi- razão do nome do altiplano que abrange o oeste paulista e
mentares, muitos corpos ou restos de animais mortos e a maior parte do Paraná: Planalto Arenito-Basáltico.
materiais orgânicos foram “enterrados” pelos sedimentos
que foram depositados no fundo dos oceanos. E, conforme
as condições de temperatura e pressão, parte dos restos No mesozoico (período cretáceo) ocorreu a última fase
desses materiais foi conservada e deu origem aos fósseis. de deposição extensiva nas bacias sedimentares do Bra-
Contudo, quando a pressão e as temperaturas (geralmente sil, com exceção da amazônica, que recebeu sedimen-
influenciadas pelo aquecimento provocado pelas camadas tos ao longo do Terciário. No Cenozoico (Terciário), o
mais baixas da Terra) são elevadas, a tendência é que esses continente sul-americano sofreu em seu conjunto soer-
restos orgânicos passem pelo processo de litificação e se tor- guimentos orogenéticos na borda ocidental (cordilheira
nem líquido. Assim, conforme as condições de armazenamen- dos Andes) e epirogenético em todo o restante. Esse so-
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

to, esse material acumula-se e transforma-se em petróleo. erguimento atingiu o território brasileiro de modo desi-
gual, sendo que algumas áreas foram mais levantadas e
Segundo alguns estudiosos, as bacias sedimentares com- outras bem menos. Esse processo, associado à tectônica
põem a memória do planeta, pois à medida que elas vão
de placas, soergueu tanto as áreas dos crátons como os
se formando, fragmentos do período em que elas se forma-
antigos cinturões orogenéticos e bacias sedimentares.
ram são conservados. Por isso, o estudo dessas formações
Por meio da epirogênese terciária que as bacias sedi-
rochosas torna-se fundamental para se conhecer um pou-
mentares ficaram em níveis altimétricos elevados e sur-
co mais sobre o passado geológico da Terra.
giram as escarpas das serras do Mar e da Mantiqueira
A disposição das camadas estratificadas horizontalmente por falhas geológicas. A partir desse processo tectônico
em quase todo o Brasil bem como as profundidades de- desencadeou-se um prolongado e generalizado desgas-
monstram a antiguidade de nossas bacias sedimentares. É te erosivo que atuou sobre as bordas das bacias sedi-
o caso evidente da bacia sedimentar do Amazonas, que se mentares provocando as depressões periféricas.
estende por cerca de 200 km pelas margens do rio Amazo-

69
2.3. Cadeias orogenéticas: Na figura A, podemos notar as consequências do encontro
entre placas convergentes, em que a mais pesada afunda e a
dobramentos modernos mais leve se eleva, formando, sobre essa última, enrugamen-
tos que dão origem aos dobramentos modernos e às cadeias
de montanhas. A figura B permite-nos visualizar mais de per-
to como os processos endógenos do tectonismo provocam
o soerguimento do relevo e a sua consequente ondulação.
É possível concluir que, por serem formações geologica-
mente recentes, os dobramentos modernos sofreram em
menor grau a ação dos agentes externos ou exógenos de
transformação da superfície, o que ajuda a explicar o fato
de seu relevo ser mais acidentado.
Cadeias do Himalaia
“Dobramentos antigos” é uma expressão não mais fre-
Os dobramentos modernos, também conhecidos como ca- quente para se referir aos crátons ou escudos cristalinos
deias orogênicas ou cinturões orogênicos, são estruturas geo- (conhecidos também por maciços antigos), ou seja, os es-
lógicas que resultaram das ações do tectonismo e correspon- cudos cristalinos nada mais são do que dobramentos com
dem à formação de cadeias montanhosas, que apresentam formação geológica antiga. Por esse motivo, eles tiveram
as maiores altitudes do planeta. Em geral, são compostos por mais tempo para sofrerem alterações em suas composi-
rochas magmáticas e metamórficas. Como exemplo temos a ções e passarem pelos efeitos das ações dos agentes exó-
Cordilheira dos Andes, na América do Sul, e a Cordilheira do genos de modelagem do relevo.
Himalaia, na Ásia, onde se encontra o monte Everest.
As cadeias orogênicas antigas do Brasil são provenientes
Do ponto de vista do tempo geológico, os dobramentos da ação de vários diastrofismos.
modernos são considerados de origem recente, com cerca
§ O diastrofismo Laurenciano, que atuou no nosso ter-
de 250 milhões de anos desde o início de sua formação.
ritório no final do Arqueozoico e deu origem às for-
Sua localização ocorre, na maior parte, em regiões com re-
mações elevadas das serras do Mar e da Mantiqueira,
lativa instabilidade geológica, devido ao fato de se origina-
localizadas na faixa Atlântica.
rem do choque e da interação entre duas placas tectônicas.
Observe os esquemas a seguir. § O diastrofismo Huronino, do final do Proterozoico, que
originou a serra do Espinhaço (MG) e a chapada Dia-
Figura A mantina (BA).
§ O diastrofismo Caledoniano, na era Paleozoica, que deu
origem ao dobramento antigo do Araguaia-Tocantins.

3. As riquezas econômicas
do Brasil numa abordagem
geológico-estrutural
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

3.1. Minerais metálicos


Figura B

Ações tectônicas das placas convergentes

70
3.1.1. Ferro
O ferro é o mais importante recurso mineral da economia
brasileira, do qual cerca de 70% destinam-se à exportação.
A maior extração desse produto ocorre em Minas Gerais,
numa área denominada Quadrilátero Ferrífero, que com-
preende as cidades de Belo Horizonte, Santa Bárbara, Ma-
riana e Congonhas do Campo. multimídia: vídeo
A maior jazida ferrífera do Brasil e do mundo, que ocupa a Fonte: Youtube

segunda posição de extração no cenário nacional, encon- Ouro, Riquezas da Terra... Como Surgiu
tra-se na serra dos Carajás (Pará). Para o escoamento e a
exploração do ferro de Carajás, foi criada uma infraestru-
tura: o porto de Itaqui (MA), a hidrelétrica de Tucuruí e a 3.1.2. Manganês
estrada de ferro de Carajás. O Brasil é o grande exportador desse produto de grande
O Maciço do Urucum (ou Morro do Urucum), no Mato Gros- utilização industrial na composição do aço e na fabricação
so do Sul, é outro local de extração cuja produção abastece de pilhas. Merecem destaque as seguintes localidades:
principalmente o Paraguai, a Argentina e a Bolívia. § Marabá, Itupiranga e Carajás (PA);
§ Quadrilátero Ferrífero (MG);
§ Maciço do Urucum (MS).
As infraestruturas criadas para dar suporte à produção de fer-
ro também são aproveitadas no escoamento do manganês.

BRASIL E MUNDO:
PRINCIPAIS ÁREAS EXTRATIVAS DE MANGANÊS
% do total % do total
No Brasil No mundo
nacional mundial
Pará 61,6 China 21,2

Minas Gerais 18,6 Ucrânia 20,3

Mato Grosso
15,8 África do Sul 13,8
do Sul

Outros 4,2 Brasil 9,9

A serra do Navio foi uma espécie de enclave ou possessão


minero-territorial dos EUA no Brasil. A Icomi, Indústria e
Comércio de Minério S.A., e a multinacional estadunidense
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Bethlehen Steel Corp, detiveram os direitos de exploração


do manganês da serra do Navio de 1957 a 2003. A Icomi
também controlava a estrada de ferro do Amapá e o porto
Santana, em Macapá, responsáveis pelo escoamento da
produção para o exterior.
No entanto, ao encerrar a concessão da exploração ante-
cipadamente em 1998, as jazidas já estavam esgotadas;
continham apenas resíduos e minérios de baixo teor.
Isso provocou a demissão em massa e resultou em um gran-
de desastre ambiental: o arsênio. Essa substância, oriunda
de rejeitos de manganês, contaminou o lençol freático e os
igarapés da Amazônia provocando muitas doenças.

71
3.1.3. Nióbio trocado por vanádio ou titânio, cujas reservas estão presen-
tes em outros países.
Nióbio, o elemento metálico de mais baixa concentração
na crosta terrestre, é encontrado na natureza a uma pro- Um ponto importante a considerar é que a indústria mun-
porção de 24 partes por milhão. Considerado o mais leve dial não tem necessidade de utilizar mais nióbio, pois
dos metais refratários, é utilizado principalmente em ligas poucas quantidades do metal são suficientes para que ele
ferrosas (tão poderoso que é utilizado na escala de 100 cumpra sua função. Logo, colocar mais nióbio no mercado
gramas para cada tonelada de ferro). Esse metal cria aços resultaria em queda do preço, já que não haveria mais au-
mento da demanda.
bastante resistentes que são utilizadas em tubos de ga-
sodutos, motores de aeroplanos, propulsão de foguetes e Outro limitador é que o Brasil não exporta produtos deriva-
outros chamados supercondutores, além de ser usado na dos do nióbio. “Nós repetimos nosso velho ciclo: vendemos
soldagem, na indústria nuclear, na eletrônica, nas lentes matéria-prima e compramos produtos prontos. Vendemos
ópticas, nos tomógrafos, etc. Cada vez mais essencial à nióbio e compramos fios de tomógrafos, por exemplo”,
tecnologia atual por ser altamente resistente às altas tem- explica o pesquisador Leandro Tessler, do Instituto de Fí-
peraturas e à corrosão, o Nióbio, número 41 na tabela pe- sica da Unicamp. O grande obstáculo, portanto, não é o
riódica, é alvo de muitas polêmicas. De vez em quando, a preço cobrado pelo nióbio. É o fato de a indústria brasileira
discussão sobre nióbio volta a público como uma possível não ter tecnologia para produzir mercadorias de alto valor
salvação para a economia brasileira. O fato de o nosso agregado a partir do metal.
país ter as maiores reservas de nióbio do mundo e vendê-
-lo muito barato é usado como argumento para colocá-lo 3.1.4. Bauxita
como esperança de aumento do Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro. E sendo o Brasil o maior exportador mun- PRINCIPAIS PRODUTORES DE BAUXITA
dial de nióbio, ele poderia aumentar os preços, e os outros % do total % do total
No Brasil No mundo
países poderiam ser obrigados a aceitar. De fato, o Brasil nacional mundial
tem 98% das reservas de nióbio atualmente conhecidas no
Pará 88,8 Austrália 35,3
mundo, que estão presentes no Amazonas, em Goiás e em
Minas Gerais. Realmente, conforme o Plano Nacional de Minas Gerais 10,8 Guiné 15,2
Mineração 2030 (PNM – 2030), publicado pelo Ministério
Outros 0,4 Jamaica 10,0
de Minas e Energia em 2011, o Brasil responde por 98%
da produção mundial desse metal. Brasil 9,2

Nos anos 1960, quando a primeira reserva de nióbio foi


descoberta no Brasil, sua aplicação ainda não era conhe- A maior jazida encontra-se no vale do rio Trombetas, no
cida. Hoje em dia ele é utilizado para tornar as ligas me- município de Oriximiná, no Pará. A bauxita é o principal
tálicas muito mais fortes e maleáveis. Praticamente, tudo minério de alumínio utilizado na indústria automobilística
o que é eletrônico ou leva aço fica melhor acrescido de e aeronáutica.
nióbio, como os carros, as turbinas de avião, os aparelhos
de ressonância magnética, os mísseis, os marcapassos, as 3.1.5. Cassiterita
usinas nucleares, os sensores de sondas espaciais... Os fo- Esse minério, que aparece em forma de cristais tetragonais,
guetes da empresa americana SpaceX (os mais avançados é utilizado como liga na fabricação de aço, folha de flandre
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

do mundo), o LHC (o maior acelerador de de partículas do e estanho, principalmente.


planeta) e o D-Wave (primeiro computador quântico) tam-
bém contêm nióbio. Todos querem nióbio, e o Brasil é o PRINCIPAIS PRODUTORES DE CASSITERITA
país que tem o equivalente a 842 milhões de toneladas
desse elemento metálico. % do total % do total
No Brasil No mundo
nacional mundial
Portanto, temos um metal raro, com importantes apli-
cações na indústria – uma matéria-prima essencial Amazonas 57,8 China 33,9
para produtos variados, inclusive para aqueles de alto
Rondônia 42,2 Indonésia 24,3
valor tecnológico.
O nióbio, no entanto, é substituível por outros metais. Se o Peru 11,1
Brasil passar a cobrar um valor que o mercado internacional Brasil 8,9
não esteja disposto a pagar, é possível que esse material seja

72
VIVENCIANDO

A tradição escolar se vale da fragmentação e da compartimentalização e incide sobre a maneira de interpretar o


mundo. De acordo com isso, para se aprender o objeto é preciso dividi-lo em partes, o que em muitos casos impos-
sibililta a reconstrução das peças, isto é, surge a dificuldade de remontagem do quebra-cabeça. Nesse sentido, o
todo se perde na atuação do detalhe em relação ao particular. Portanto, é preciso estudar exploração mineral, por
exemplo, e estabelecer as relações entre os diversos saberes oferecidos, como a Química, a História e a Biologia.

3.2. Outros recursos e a posição do COBRE (t)


Brasil na participação mundial PA 134.000
GO 15.937
POSIÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO BRASIL Brasil 149.937
NA PRODUÇÃO MUNDIAL

Mineral Posição Participação (%) NÍQUEL (t)


Nióbio 1.º 90,9 GO 1.647.938
MG 213.128
Ferro 2.º 18,3
Brasil 1.861.116
Manganês 2.º 14,8
Bauxita 3.º 10,8
PRATA (t)
Caulim 3.º 5,5
PA 15,7
Estanho 4.º 9,5
MG 1,8
Vermiculita 4.º 4,2
GO 3,5
Grafita 4.º 5,0
Brasil 41
Magnésia 5.º 10,5
Talco 5.º 8,0
SAL MARINHO (t)
Zinco 7.º 1,6
RN 4.050.000
Cromo 7.º 3,7
RJ 220.000
Fosfatados 8.º 2,9
Brasil 4.460.00

3.3. Principais minerais metálicos e não metálicos ALUMÍNIO (t)


PA 8.553.270
Produção beneficiada 2000
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MG 2.307.272
Brasil 13.846.272
FERRO (t)
MG 138.718.996 ESTANHO (t)
PA 43.231.882 AM 16.625
Brasil 214.610.000 RO 10.768
MG 79
MANGANÊS (t) Brasil 27.472
PA 1.366.906
MG 604.022 CHUMBO (t)
MG 11.611
MS 136.901
Brasil 13.400
Brasil 2.192.000

73
OURO (t)
PA 17.2
MG 16.4
Brasil 63.3

CALCÁRIO (t)
MG 25.376.464 multimídia: sites
SP 18.436.013
Brasil 71.914.433
http://www.igc.usp.br/
ÁGUA MARINHA (t)
http://www.sbgeo.org.br/
http://www.dnpm.gov.br/
SP 766.557
MG 149.056
Brasil 1.673.704

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Os sistemas naturais, ou o que é chamado de “natureza”, estão hoje completamente humanizados pelas socie-
dades. O uso que fazemos do que se convencionou chamar de “recursos naturais” transformou os objetos na-
turais em humanos, pois lhes atribuímos funções, utilidades e sentidos, sejam simbólicos (culturais ou políticos),
sejam econômicos ou práticos. No âmbito simbólico, temos a noção de território, um espaço pertencente a um
determinado povo, em que nem sempre há mudanças concretas na paisagem. No entanto, no campo econô-
mico ou prático, as modificações na paisagem são bastante visíveis. Uma vez que incorpora a natureza à sua
vida pelo desenvolvimento de sistemas técnicos, o homem diminui sua dependência em relação aos entraves
que essa natureza opõe a seu domínio técnico e, contraditoriamente, aumenta sua dependência em relação aos
recursos que ela oferece a sua sobrevivência. Observemos, por exemplo, como os minerais estão presentes no
nosso cotidiano, como o sal que adicionamos a nossa comida (proveniente da halita mineral), os comprimidos de
antiácido (feitos a partir do mineral calcite). São precisos muitos minerais para fazer algo tão simples como um
lápis de madeira. O “chumbo” é feito a partir de grafite e minerais de argila; o latão é uma liga metálica de cobre
e zinco, e as cores que a tinta tem são formadas por pigmentos e enchimentos feitos a partir de uma variedade
de minerais. Um telefone celular é feito de dezenas de diferentes minerais, originários de minas do mundo todo.
Os carros, as estradas em que nos deslocamos, os edifícios onde vivemos e os fertilizantes utilizados para produ-
zir os nossos alimentos são todos feitos com minerais. Nos Estados Unidos, cerca de três trilhões de toneladas de
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

commodities minerais são consumidos a cada ano para sustentar o padrão de vida de 300 milhões de cidadãos
– o que corresponde a cerca de dez toneladas de materiais minerais consumidos por pessoa a cada ano.

74
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 29

Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as
mudanças provocadas pelas ações humanas.

A extração de recursos da natureza é uma atividade muito antiga, baseada na necessidade de sobrevivência
do homem e no desenvolvimento da sociedade. A presença de recursos minerais em uma determinada área
está associada ao longo histórico geológico da terra. Normalmente os minerais encontram-se agregados
a rochas, entretanto em alguns casos aparecem em concentrações maiores, o que possibilita sua melhor
exploração no nível econômico.
A exploração das riquezas no solo do Brasil se confunde com a própria história nacional. Da busca por ouro
e pedras preciosas no leito dos rios a escavações gigantescas com toda tecnologia à disposição, lá se vão
séculos de uma atividade que colocou o país entre os maiores produtores de minério do mundo. A geologia
do Brasil tem destaque mundial pela quantidade e diversidade de recursos minerais encontrados no subsolo
brasileiro, o que faz do país um importante produtor de bens minerais.

MODELO 1

(Enem) As plataformas ou crátons correspondem aos terrenos mais antigos e arrasados por muitas fases de
erosão. Apresentam uma grande complexidade litológica, prevalecendo as rochas metamórficas muito antigas
(Pré-Cambriano Médio e Inferior). Também ocorrem rochas intrusivas antigas e resíduos de rochas sedimenta-
res. São três as áreas de plataforma de crátons no Brasil: a das Guianas, a Sul-Amazônica e a do São Francisco.
ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998.

As regiões cratônicas das Guianas e a Sul-Amazônica têm como arcabouço geológico vastas extensões de
escudos cristalinos, ricos em minérios, que atraíram a ação de empresas nacionais e estrangeiras do setor de
mineração e destacam-se pela sua história geológica por
a) apresentarem áreas de intrusões graníticas, ricas em jazidas minerais (ferro, manganês);
b) corresponderem ao principal evento geológico do Cenozoico no território brasileiro;
c) apresentarem áreas arrasadas pela erosão, que originaram a maior planície do país;
d) possuírem em sua extensão terrenos cristalinos ricos em reservas de petróleo e gás natural;
e) serem esculpidas pela ação do intemperismo físico, decorrente da variação de temperatura.

ANÁLISE EXPOSITIVA
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Os Escudos Cristalinos (Crátons) formaram-se no Éon Pré-Cambriano, sendo formados principalmente por
rochas magmáticas intrusivas (granito) e metamórficas. As porções que se originaram na Era Proterozoica
são muito ricas em minerais metálicos, como ferro e manganês. É o caso de áreas de exploração mineral,
como Carajás (PA) e Quadrilátero Ferrífero (MG).

RESPOSTA Alternativa A

75
DIAGRAMA DE IDEIAS

GEOLOGIA

PROVÍNCIAS GEOLÓGICAS

DOBRAMENTOS
ESCUDOS CRISTALINOS BACIAS SEDIMENTARES
MODERNOS

ROCHAS MAGMÁTICAS
ROCHAS SEDIMENTARES
E METAMÓRFICAS

MINERAIS
HIDROCARBONETOS
METÁLICOS
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

76
2. Agentes internos (estruturais)
Os agentes internos, endógenos ou endodinâmicos estru-
GEOMORFOLOGIA: turais, são responsáveis pela formação ou modificação da
fisionomia do relevo. Esses agentes estão ligados ao movi-
FORÇAS mento das placas tectônicas e aos fenômenos magmáticos.

ESTRUTURAIS E 2.1. Teoria da tectônica de


ESCULTURAIS placas: o tectonismo
As duas principais explicações sobre a dinâmica do planeta,
como a deriva continental e a teoria das correntes de con-

CH
vecção, foram questionadas por cientistas em meados do sé-
AULAS culo XX, provocando novas investigações com o objetivo de
7E8 encontrar mais evidências que comprovassem a proposta de
Alfred Lothar Wegener, ou seja, a teoria da deriva continental.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
A teoria das correntes de convecção e a deriva dos con-
6 26 e 29
tinentes apoiaram-se na hipótese de que o comporta-
mento do manto corresponde ao dos materiais líquidos
e gasosos, que tendem a subir para a superfície quando
1. A dinâmica do relevo aquecidos e ir para o fundo quando esfriados. O mesmo
acontece com o ar atmosférico e também com a água,
A crosta terrestre está em constante processo de mudança. quando submetida a aquecimento.
Diariamente, os sismógrafos registram mais de mil peque-
O material mais profundo do manto e do núcleo, que apre-
nos abalos sísmicos que, em sua maioria, não são sentidos
senta temperaturas mais altas, sobe em direção à superfí-
por nós, mas constituem uma prova da grande atividade no
cie, enquanto as camadas mais próximas da litosfera, es-
interior do planeta.
tando mais frias, são conduzidas por pressão para o interior
No âmbito do conhecimento geomorfológico, está inserida da Terra. Esse mecanismo faz com que os continentes, que
a ideia de que o modelado terrestre evolui como resulta- fazem parte da litosfera, sejam conduzidos de acordo com
do da influência exercida pelos processos morfogenéticos. esse movimento.
Nessa perspectiva, o relevo que percebemos e analisamos
é apenas uma etapa inserida em outra, mais longa, de fa-
ses passadas e futuras. As experiências em modelos redu-
zidos, por exemplo, a observação da ação marinha sobre
as praias, a ação pluvial sobre as vertentes, a do material
carregado pelos rios, demonstram os pontos que assinalam
a ativa esculturação das formas de relevo.
Depois da Segunda Guerra Mundial, com o aperfeiçoa-
Os agentes modificadores do relevo podem, certamente,
mento dos equipamentos para localizar submarinos, foi
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ser divididos em dois grandes grupos, de acordo com as


possível aprimorar os mapas do fundo oceânico e locali-
origens de suas ações: os agentes estruturais (internos) e
zar ambientes com forte atividade geológica, responsáveis
os agentes esculturais (externos).
pelo deslocamento de terras. Essa descoberta entrou em
Os agentes estruturais, como o tectonismo, o vulcanismo e conflito com o modelo vigente à época, que apresentava
os abalos sísmicos ocorrem no interior da Terra e atuam de a litosfera como sendo uma crosta rígida, fixa e contínua.
forma temporária e concentrada.
A partir daí, foi possível então identificar que a litosfera é
Os agentes esculturais, como o intemperismo, as águas cor- constituída por duas crostas: a oceânica e a continental,
rentes, o mar, o vento, os animais, o homem, modificam ex- que se situam em blocos ou placas que permitem movi-
ternamente a crosta terrestre e atuam de forma constante. mentos verticais e laterais.
O contínuo antagonismo das forças internas com as for- Assim nasceu a teoria da tectônica de placas, que vem ao
ças externas é que moldam e modificam constantemente encontro de uma outra, formulada por A. Wegener, no final
o relevo terrestre. do século XIX, quando, ao observar a coincidência do con-

77
torno do continente africano e do americano, considerou a mesma dimensão nem são fixas. Seus limites são determi-
que esses já estiveram unidos e que, por deriva, teriam se nados, aproximadamente, pela presença de linhas de forte
separado. A concepção de Wegener foi reforçada pelas con- atividade sísmica e vulcanismo.
tribuições de H. Hess, em meados do século XX, a respeito da
Os limites dos continentes não coincidem necessariamente
expansão do assoalho oceânico, com a descoberta de Vine
com os limites das placas. O deslocamento dessas placas
Matheus referente ao magnetismo das rochas dos fundos
oceânicos e pelas informações obtidas de pesquisas dos fun- provoca várias deformações e fenômenos em seus contor-
dos oceânicos nas últimas décadas. A teoria da tectônica de nos, como o surgimento de cadeias montanhosas, falha-
placas surgiu com o argumento de que a litosfera (crosta mentos, vulcanismos e terremotos. As áreas geologicamen-
continental e oceânica) está dividida em doze placas tectô- te instáveis da crosta terrestre, como os Andes, as Rochosas
nicas que flutuam sobre o manto, um substrato pastoso, às e o Himalaia, nada mais são do que locais onde ocorrem
vezes mais fluido, que as movimenta. Essas placas não têm colisões ou seccionamentos de placas.
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78
Quando se movimentam na horizontal, as placas tectônicas
podem se aproximar (movimentos convergentes) ou se afas-
tar (movimentos divergentes). Os movimentos conver-
gentes correspondem ao choque de duas placas tectônicas
que se movimentam uma no sentido da outra, como é o caso
na cordilheira dos Andes, na América do Sul: a crosta oceânica
situada na placa de Nazca, no oceano Pacífico, movimenta-se
de encontro à crosta continental da placa Sul-Americana. A
placa de Nazca, que possui densidade maior e espessura me- Dorsal Mesoatlântica
nor em relação à placa Sul-Americana, mergulha sob ela em É possível verificar em um mapa-múndi físico que a distri-
direção ao manto – fenômeno denominado de subducção. buição das cordilheiras e das áreas vulcânicas não é caó-
Resultado: a crosta continental se eleva e forma uma cadeia tica ou puramente casual, ao contrário, obedecem a uma
de montanhas, a cordilheira. Como o manto encontra-se com determinada lógica. A maior parte das mais altas cadeias
temperaturas elevadas, a placa de Nazca funde-se à medida de montanhas do globo está posicionada nas bordas de
que afunda no manto, tornando-se parte dele e caracterizan- placas, nos oceanos. Nelas são encontradas as fossas sub-
do uma região de destruição de placas. No movimento di- marinas com 8,5 a 11 mil metros de profundidade – as
vergente, as placas tectônicas, quando se afastam, formam áreas mais profundas dos oceanos, praticamente encosta-
regiões geradoras de placas. A principal consequência disso é das nos continentes. As cadeias montanhosas submarinas
a abertura do oceano Atlântico. O Brasil afasta-se do conti- estão no meio dos oceanos, quase sempre na metade do
nente africano em média três centímetros ao ano. Qual seria caminho entre um continente e outro, distribuídas longi-
a razão disso? No meio do oceano Atlântico, no limite entre tudinalmente – como meridianos –, com picos que, às ve-
as placas Sul-Americana e Africana, há uma abertura na litos- zes, emergem e formam ilhas vulcânicas. O nome “Dorsal
fera que faz o assoalho oceânico movimentar-se. Isso faz com Meso-Oceânico” foi formado de: dorsal (dorso, espinha) e
que o magma, ao se solidificar em função das temperaturas meso-oceânico (no meio dos oceanos).
mais baixas do que as do interior da Terra, dê origem a uma
nova placa. Como esse processo de ascensão do magma é Rift Valley
frequente, formam-se cadeias montanhosas submarinas, as
O vale do Rift ou grande vale do Rift, também conhe-
dorsais Meso-Oceânicas. Nesse caso, a dorsal Mesoatlântica.
cido como vale da Grande Fenda, é um complexo de
falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de
Dorsal Oceânica, também chamada de dorsal Subma- anos com a separação das placas tectônicas africa-
rina, dorsal Meso-oceânica ou crista Média Oceânica, é na e arábica, um rift. Uma estrutura que se estende
a designação dada em Oceanografia Física às grandes no sentido norte-sul por cerca de 5.000 km, desde o
cadeias de montanhas submersas nos oceanos que re- norte da Síria até o centro de Moçambique, com uma
sultam do lento afastamento das placas tectônicas. São largura entre 30 e 100 km, e com uma profundidade
grandes elevações submarinas situadas na parte central de algumas centenas a milhares de metros.
dos oceanos da Terra, com uma altura média de 2.000 a
A seção norte forma o vale do rio Jordão, que se es-
3.000 metros acima dos fundos oceânicos circundantes.
tende do mar da Galileia (ao norte) até o mar Morto
Na sua região central apresentam um rift, cuja aparência
(ao sul). O vale do Rift continua para o sul, através
geral é a de um sulco axial percorrendo longitudinalmen-
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do Wadi Arabah, golfo de Ácaba e mar Vermelho. Na


te a dorsal, ao longo do qual são emitidas lavas prove-
desembocadura sul do mar Vermelho, o Rift tem uma
nientes da ascensão do magma do manto sublitosférico.
bifurcação, formando o Triângulo de Afar: o golfo de
Aden, ao leste, corresponde à divisão entre a penín-
sula da Arábia e África e continua como parte da
cordilheira Central do oceano Índico; o outro ramo
segue para o sudoeste através do Djibouti, para for-
mar o vale do Rift Oriental, que abrange a Etiópia,
o Quênia, a Tanzânia, o lago Niassa e o rio Chire,
terminando no Zambeze.
Na Tanzânia, um pouco ao norte do lago Niassa, o vale
Distribuição mundial das dorsais oceânicas divide-se mais uma vez, com um ramo que segue para

79
Além das placas convergentes e divergentes, existem os
o noroeste e depois para o norte, formando o lago chamados limites transformantes – um tipo de limite
Tanganyika, que faz a fronteira entre a República De- entre placas tectônicas em que elas deslizam e roçam uma
mocrática do Congo, a Tanzânia e o Burundi. A seguir na outra. Normalmente não há nem destruição nem cria-
tem o lago Kivu, que separa o Ruanda do Congo, o lago ção de crosta. Esse movimento classifica-se como horizon-
Eduardo e o lago Alberto, com uma das nascentes do te direito ou esquerdo. Boa parte dos limites transforman-
rio Nilo, que o separam do Uganda e que é chamado tes ocorrem nos fundos oceânicos, onde eles provocam o
Rift Ocidental ou Albertino, onde se encontra a maioria movimento lateral de cristas ativas. Porém, os limites trans-
dos grandes lagos africanos, já mencionados. O lago
formantes mais conhecidos encontram-se em terra, como
Vitória encontra-se entre os dois ramos do vale do Rift.
o complexo da falha de San Andreas, localizado na costa
As bordas do vale do Rift são formadas por cordilheiras da América do Norte.
onde se encontram os pontos mais altos do continente,
incluindo os montes Virunga, Mitumba e Ruwenzori.
Muitos dos seus picos têm (ou tiveram no passado) ati-
vidade vulcânica, como os montes Kilimanjaro, Quênia,
Karisimbi, Nyiragongo, Meru e Elgon, assim como as
Crater Highlands na Tanzânia. O vulcão Ol Doinyo Len-
gai, o único vulcão de natrocarbonatite no mundo, con-
tinua ativo. Outra zona vulcânica extremamente ativa é
o Triângulo de Afar, no Djibouti.
No Quênia, o vale é mais profundo a norte de Nairobi, e
possui lagos menos profundos, mas com elevado conte-
údo mineral, como o lago Magadi, é quase soda sólida
(carbonato de sódio) e os lagos Elmenteita, Baringo, Bo-
goria e Nakuru, extremamente alcalinos; o lago Naivasha
tem fontes de água doce, o que lhe permite ter uma A falha de San Andreas
elevada biodiversidade. A parte final do vale junta-se for-
mando o lago Niassa, um dos mais profundos do mundo, 2.2. Vulcanismo
alcançando os 706 metros de profundidade. Ele separa
o Malawi da província moçambicana do Niassa e logo Vulcanismo é a atividade geológica que envolve qualquer
chega ao vale do Rio Zambeze, onde acaba o vale do Rift. processo ou conjunto de fenômenos relacionados com o
derramamento ou movimentação do magma, gases e ou-
Se continuar a separação das placas, dentro de alguns
tros materiais advindos do interior da Terra para a superfí-
milhões de anos, a África Oriental será inundada pelo
cie. Suas atividades estão quase sempre relacionadas com
oceano Índico e uma grande ilha será formada com a
a movimentação das placas tectônicas, e são mais comuns
região leste da costa de África.
nas zonas de encontro entre duas placas diferentes.
No vale do Rift tem sido depositados, ao longo dos anos,
sedimentos provenientes da erosão das suas margens,
o que tornou o ambiente propício à conservação de des-
pojos orgânicos. Por isso, foram feitas nesse ambiente
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importantes descobertas antropológicas, especialmente


em Piedmont, no Quênia, onde foram encontrados os
ossos de vários hominídeos, considerados antepassados
do homem atual. O achado mais importante, de Donald
Johanson, foi um esqueleto quase completo de um aus-
tralopitecíneo, que foi chamado “Lucy”.

Esquema ilustrativo de um vulcão em atividade

80
É possível classificar o vulcanismo em: primário – ligado
diretamente aos vulcões, e secundário – ligado a ativida- Ilhas vulcânicas
des vulcânicas em geral, como gêiseres, fontes termais, etc.
§ Hotspot: consiste numa zona singularmente mais
Os vulcões são aberturas na crosta terrestre pelas quais quente no manto. A instabilidade da fronteira en-
uma grande quantidade de magma é liberada – material tre o núcleo e o manto nessa zona originou uma
extremamente aquecido formado por rochas quase líqui- coluna de matéria quente que sobe pelo manto,
das. As erupções acontecem devido à pressão oriunda do constituindo uma pluma térmica. Ao atingir a li-
interior da Terra que “empurra” o magma para cima. Em tosfera, o material da pluma funde e o magma re-
virtude dessa pressão, é comum haver alguns tremores nos sultante derrete a crosta oceânica, perde os seus
arredores de grandes vulcões pouco tempo antes de eles gases, virando lava, que se transforma em basalto.
entrarem em atividade.
As erupções vulcânicas são classificadas em três tipos prin-
cipais: as efusivas (que emitem lava), as explosivas (que
emitem fragmentos de rocha sólida, chamados de piroclas-
tos) e as mistas (que emitem lavas e piroclastos). É impor-
tante lembrar que magma e lava são termos diferentes: o
primeiro é o conjunto de materiais sólidos em estado de
fusão, localizados no manto terrestre; o segundo é a trans-
formação do magma quando chega à superfície, perdendo O Havaí, a Islândia e os Açores são três exemplos. Tanto
boa parte de seus gases. no Havaí como na Islândia, o hotspot continuou der-
ramando magma e uma montanha foi crescendo até
As erupções vulcânicas, quando emitem um material que
passar a superfície oceânica. A ilha de Kauai, no Havaí,
se encontra em maior quantidade abaixo da crosta ter-
foi a primeira a ser formada. Como a crosta oceânica
restres, auxiliam o ser humano a compreender melhor
está sempre sendo construída e destruída, e também
como o planeta Terra se estrutura abaixo da superfície,
se movendo, formaram-se outras ilhas: Oahu, Molokai,
em zonas onde o acesso e a obtenção de materiais para
Maui e a última, Havaí. O hotspot está por baixo do
estudo são dificultados. Dessa forma, muitas informa-
Havaí, com vulcões que ainda estão se formando.
ções sobre a estrutura interna do planeta e o seu pro-
cesso de formação advêm de dados coletados após as
atividades vulcânicas.
Alguns vulcões que não estão mais em atividade são cons-
tantemente chamados de “adormecidos”. No entanto, al-
guns deles podem simplesmente “acordar” sem maiores
dificuldades, o que se explica pelo fato de as atividades vul-
cânicas ocorrerem desde a formação do planeta, há mais
de 4,5 bilhões de anos. Portanto, sua escala temporal é ge-
ológica, bem diferente da escala temporal histórica: alguns Pluma abaixo da Islândia
vulcões não estão inativos, somente o seu ciclo de ativação
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é que é longo, envolvendo centenas ou até milhares de § Vulcão submarino: durante a erupção do vulcão
anos entre uma erupção e outra. submarino, ele expele a lava que arrefece e forma
uma ilha, como a recém-formada ao lado da ilha
de Nishinoshima, no Japão, ou a ilha de Surtsey,
na Islândia.

A ação dos vulcões no relevo costuma ser bastante eviden-


te: envolve tanto verdadeiras catástrofes como contribui
positivamente para as práticas humanas. As rochas oriun-
das da lava que se solidifica rapidamente na superfície são
chamadas de rochas ígneas ou magmáticas, das quais a
Solidificação de lava vulcânica, dando origem ao basalto mais comum é o basalto. Quando se decompõem, essas

81
rochas dão origem às “terras roxas”, que são muito férteis. produzindo por dobramentos e falhamentos resultantes do
Além disso, as cinzas emitidas nas erupções também aju- choque entre as placas, são considerados rápidos em termos
dam a fertilizar os solos. geológicos. O processo de orogenia andina, por exemplo, ini-
Além de modificar o relevo, os vulcões podem também alterar ciou-se no mesozoico e prolongou-se até o cenozoico.
o clima. Quando as cinzas são lançadas para muito alto, elas
podem sofrer uma menor influência da gravidade e pairar na 2.3.2. Epirogênese
atmosfera durante muitos anos, bloqueando parte dos raios Lento movimento de subida e descida de grandes porções
solares e contribuindo para a diminuição das temperaturas. da crosta – provocado pela compensação de pressão que
Em regiões oceânicas, as erupções podem provocar o aque- um bloco da litosfera exerce sobre as áreas mais próximas
cimento das águas e o surgimento de massas de ar quente. – causando sua elevação pelo princípio da isostasia.
A compreensão das ações e dos efeitos do vulcanismo no A orogênese e a epirogênese não podem ser considerados
relevo e nas sociedades nos ajuda a entender a comple- movimentos interdependentes e desarticulados. Os dois
xidade e a inter-relação entre os diversos fenômenos que movimentos resultam da deriva continental e do choque
acontecem no interior e no exterior da Terra.
de placas tectônicas convergentes; em ambos ocorrem fa-
Os assoalhos oceânicos, principalmente os das dorsais sub- lhamentos, fraturas de rochas e vulcanismo.
marinas, concentram parte significativa dos vulcões. Milha-
res de ilhas oceânicas se formaram por causa da atividade
vulcânica. A principal região vulcânica da Terra é o anel de
dobramentos que cerca o oceano Pacífico, conhecido como
Círculo de Fogo do Pacífico, uma área que vai da cordilheira
dos Andes às Filipinas, passando pela costa ocidental da
América do Norte e pelo Japão, onde se encontram cerca
de três quartos dos vulcões ativos do mundo.

Círculo de Fogo do Pacífico

2.3. Tectonismo ou diastrofismo


Tectonismo é um termo geral que abrange todos os movimen-
tos da crosta terrestre com origem em processos tectônicos,
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como formação de bacias oceânicas, continentes, planaltos e


cordilheiras. Os movimentos tectônicos resultam de pressões
vindas do interior da Terra e que agem na crosta terrestre.
Quando as pressões são verticais, os blocos continentais so-
frem levantamentos e rebaixamentos. O diastrofismo (distor-
ção) caracteriza-se por movimentos lentos e prolongados que
acontecem no interior da crosta terrestre e produzem defor-
mações nas rochas. Esse movimento pode ocorrer na forma
vertical (epirogênese) ou na horizontal (orogênese).

2.3.1. Orogênese O Horst e a Graben são os dois principais tipos de falhamentos.

São os movimentos geológicos que levam à formação de O processo de orogenia andina iniciou-se no Mesozoico e
montanhas ou cadeias montanhosas. Esses movimentos, prolongou-se até o Cenozoico. Durante este último ocorreu

82
a epirogenia do continente sul-americano. Acompanhando Embora a palavra terremoto seja mais utilizada para os
esses movimentos, aconteceram, por exemplo, falhamentos grandes eventos destrutivos, e que os menores sejam
como os que geraram a escarpa da serra do Mar, da serra geralmente chamados de abalos ou tremores de terra, to-
da Mantiqueira (Horst), o médio vale do Paraíba (Grabem), dos resultam do mesmo processo geológico de acúmulo
o vulcanismo e as intrusões ao longo do litoral Pacífico. lento e liberação rápida de tensões. A diferença principal
entre os grandes terremotos e os pequenos tremores é
o tamanho da área de ruptura, o que determina a inten-
sidade das vibrações emitidas.
O lento movimento da camada mais externa da Terra, cerca
de alguns centímetros por ano, produz tensões que vão
se acumulando em vários pontos. Essas tensões podem
ser compressivas ou expansivas, dependendo da direção
de movimento relativa entre as placas que compõem a
camada externa da Terra. Quando essas tensões atingem o
§ Horst: bloco de terra elevado em relação às áreas limite de resistência das rochas, ocorre uma ruptura.
vizinhas, devido ao movimento combinado de pla-
cas geológicas paralelas, cujo movimento provoca o
rebaixamento de terrenos vizinhos ou a elevação de
uma faixa de terreno entre elas.
§ Graben: depressão de origem tectônica, geralmente
com a forma de um vale alongado, com fundo plano,
formada quando um bloco de uma área fica rebaixado
em relação à área circundante.
multimídia: sites

https://volcano.si.edu/

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
O Inferno de Dante
No filme O Inferno de Dante, Harry Dalton (Pierce Bros-
nan), um vulcanologista (perito em fenômenos vulcâ-
nicos), e Rachel Wando (Linda Hamilton), a prefeita de
Dante, uma pequena cidade, tentam convencer o conse-
lho dos cidadãos e outros geólogos a declarar estado de
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

alerta, pois um vulcão muito próximo, que está inativo há


vários séculos, entrará em erupção. Mas interesses econô-
micos são contrariados com a notícia, que pode afastar
um grande empresário que pretende fazer investimentos
que iriam gerar 800 empregos diretos na cidade.
O movimento repentino entre os blocos de cada lado da rup-
tura gera vibrações que se propagam em todas as direções.
O plano de ruptura forma o que se chama de falha geoló-
2.4. Sísmicos gica. Os terremotos podem ocorrer quando há contato entre
Outro importante agente interno modelador do relevo são duas placas (caso mais frequente) ou no interior de uma de-
os abalos sísmicos. Terremoto ou abalo sísmico é uma vi- las, como indicado na figura acima, sem que a ruptura atinja
bração da superfície terrestre produzida por forças naturais a superfície. O ponto onde começa a ruptura e a liberação
situadas no interior da crosta a profundidades variáveis. das tensões acumuladas chama-se hipocentro, e a distância

83
do foco à superfície é a profundidade focal. O tamanho do Mapa das zonas sísmicas
terremoto é medido por meio de uma escala de magnitude 90 °
180 ° 150 ° 120 ° 90 ° 60 ° 30 ° 0° 30 ° 60 ° 90 ° 120 ° 150 ° 180 °
90 °

chamada escala Richter – uma escala logarítmica que varia


Nordvik

60 ° 60 °

de 0 a 10. Existe também a escala Mercalli, que classifica a


Vladivostok

Lanzhou

30 ° 30 °

intensidade do tremor a partir dos efeitos sobre as pessoas, 0° 0°

as construções e a natureza. Quando acontece uma ruptura


no interior da Terra, são geradas vibrações sísmicas que se
30 ° 30 °

Wellington

propagam em todas as direções em forma de ondas. O mes- 60 °


180 ° 150° 120° 90 ° 60° 30 ° 0° 30 ° 60 ° 90 ° 120 ° 150 ° 180 °
60 °

mo ocorre, por exemplo, com uma detonação de explosivos 0 0,2


Baixa
0,4 0,8
Média
1,6 2,4 3,2
Alta
4,0 4,8
Muito alta
5,6

Fonte: Global Seismic Hazard Program

em uma pedreira, cujas vibrações, tanto no terreno quanto no


ar (ondas sonoras), podem ser sentidas a grandes distâncias.
Essas ondas sísmicas é que causam danos perto do epicentro 3. Agentes externos (esculturais)
e podem ser registradas por sismógrafos em todo o mundo.
O relevo terrestre encontra-se em permanente desenvol-
vimento. Suas formas criadas por agentes internos estão
constantemente sofrendo a ação dos chamados agentes
externos do relevo, que realizam um trabalho de mode-
lagem da paisagem terrestre. Esse trabalho é contínuo e
incessante. As forças exógenas correspondem à ação de
agentes naturais, como águas correntes, ventos, mares, ge-
leiras, seres vivos, entre outros. Apesar de essa atividade
multimídia: música
abranger toda a superfície terrestre, é fundamental enten-
Fonte: Youtube der que, além do trabalho específico de cada um deles, a
Terremoto – João Bosco e Vinícius de Moraes participação de cada um difere bastante de acordo com a
área em que atuam.
Como se forma um tsunami Os agentes externos esculturais mostram seus trabalhos
em duas formas básicas: o intemperismo e a erosão. O in-
temperismo é responsável pelo desgaste e/ou fragmenta-
ção das estruturas e a erosão é responsável pelo transporte
do material desagregado pelo intemperismo.

3.1. Intemperismo
O intemperismo é classificado de três maneiras: físico, quími-
co e biológico. O físico corresponde às transformações físi-
cas, como a fragmentação, que posteriormente se depositará
numa outra região. Ele predomina em ambientes extremos,
como desertos ou áreas congeladas. Com as variações térmi-
cas, os corpos dilatam-se e contraem-se em curtos períodos
de tempo e acabam fragmentando-se, criando a possibilida-
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de de transporte desses fragmentos pela ação dos ventos ou


das águas, o que caracteriza a erosão.
O intemperismo químico se caracteriza pela alteração quí-
mica de rochas ou de solos em soluções aquosas. Embora a
Outro tipo de fenômeno relacionado com os abalos sísmicos, água da chuva seja naturalmente destilada, ela não é pura,
é o tsunami, fenômeno que provoca o aparecimento de on- pois há gases importantes do ar dissolvidos nela: oxigênio
das gigantes, longas e velocíssimas (900 km/h), que podem e gás carbônico. Esses gases, principalmente o carbônico,
atingir 50 metros de altura e avançar quilômetros adentro do em contato com a água, formam ácidos com ações corrosi-
continente. Um terremoto de nove graus na escala Richter, vas que alteram quimicamente os minerais que compõem
com epicentro no oceano Índico, provocou um tsunami que as rochas e os solos. O intemperismo químico ocorre em
atingiu, em dezembro de 2004, o litoral de treze países e regiões com alto índice pluviométrico, como as equatoriais,
deixou um saldo de mortes superior a 200 mil pessoas. onde as chuvas são mais intensas.

84
A ação biológica também compõe ações intempéricas. A
ruptura de solos e rochas pela força das raízes de uma árvore
compõe o intemperismo físico-biológico. As atividades orgâ-
nicas de bactérias e fungos, presentes na decomposição de
animais ou vegetais, transformam quimicamente as rochas
e os solos e caracterizam o intemperismo químico-biológico.

3.2. Erosão (tipos)


3.2.1. Eólica (ventos)
A erosão eólica acontece de duas maneiras: por deflação e
por corrosão. Na deflação, o vento faz uma varredura de uma
superfície e remove sedimentos soltos. Na corrosão, o vento
é pesado e carregado de partículas em suspensão, por isso Ilustração esquemática do processo erosivo pluvial
atua somente nas partes mais baixas formando figuras em com foco para a formação de ravinas

forma de “cogumelos” ou “taças”. A acumulação eólica, por


sua vez, é responsável pela formação de dunas e de loess 3.2.3. Fluvial (rios)
– sedimento fértil de coloração amarela. As dunas são mon-
A erosão fluvial é causada pelo desgaste provocado pelo
tanhas de areia formadas pela ação do vento e aparecem
percurso que as águas dos rios fazem. Ela favorece a
em litorais, áreas continentais e desertos. As dunas litorâne-
formação de planícies e ilhas em foz do tipo delta. As
as podem ser fixas ou móveis – podem até mesmo soterrar
correntes de água transportam materiais que são deposi-
grandes extensões de terra, até cidades inteiras.
tados em outros locais.
Essa erosão pode mudar o curso do rio, gerando os cha-
mados meandros. Um exemplo da erosão fluvial é o Grand
Canyon, localizado no Arizona, Estados Unidos. Ele é resul-
tado da erosão fluvial do rio Colorado. É importante lem-
brar, que essas alterações no relevo levam muito tempo
para acontecer, cerca de milhões de anos.

Taça ou cálice, em Ponta Grossa, Paraná

3.2.2. Pluvial (chuva)


A erosão pluvial é provocada pela retirada de material da
parte superficial do solo pelas águas da chuva. Essa ação
é acelerada quando a água encontra o solo desprotegido
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

de vegetação. A primeira ação da chuva ocorre por meio


do impacto das gotas d’água sobre o solo, provocando a
desagregação dos torrões e agregados do solo, lançando o
material mais fino para cima e para longe – fenômeno co-
nhecido como salpicamento. A força do impacto também O Grand Canyon é um exemplo de intemperismo físico com gênese fluvial.
força o material mais fino para ir abaixo da superfície, o
que provoca a obstrução da porosidade (selagem) do solo 3.2.4. Glacial (gelo)
e aumenta o fluxo superficial e a erosão. É o trabalho de formação do relevo feito pelas geleiras. Ao
A chuva é um dos agentes erosivos mais ativos. Provoca descer de áreas mais altas para outras mais baixas, o gelo
enchentes e enxurradas. Dependendo do grau de intensi- pode causar a abertura de vales normalmente chamados de
dade das águas das chuvas, acontece a erosão pluvial do fiordes, formados pela presença de antigas geleiras. Nas
tipo superficial, laminar, de sulcos ou de ravinamento. áreas de acumulação formam-se as morainas ou morenas.

85
VIVENCIANDO

Em grande parte dos casos, o vento modifica o relevo em regiões litorâneas e também desérticas. Ambas são áreas
de concentração de areia; assim sendo, o vento sopra deslocando-a de um lugar para outro. Tal fenômeno é res-
ponsável pela formação das dunas. No entanto, a ação dos ventos não se limita a isso. Ela também desempenha
influência em casos em que a poeira disposta no ar é lançada em direção às rochas. Então, de maneira gradativa e
lenta, o relevo vai sendo modelado dando origem a esculturas naturais intrigantes. Propomos aqui que cada aluno
observe os lugares por onde passa e identifique os agentes externos que mais esculpem o relevo.

Normalmente acontece quando, em épocas de temperaturas


muito frias, a água que no verão penetrou entre as rochas con-
gela e acaba por quebrá-las devido ao aumento de volume.

Formação de falésias

3.2.6. Erosão acelerada (Antrópica)


Essa erosão decorre do agravamento dos processos natu-
rais de erosão em razão do mau uso do solo, como o culti-
vo com técnicas inadequadas.
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Fiordes, na Noruega

3.2.5. Marinha ou abrasão


Um trabalho destrutivo ou construtivo como resultado da
ação do mar. Muito comum nos litorais de costas altas, é
provocado pela ação das ondas, que vão corroendo as ba-
ses e causando desabamentos.
O trabalho de acumulação marinha leva à formação de
restingas, recifes, tômbolos, lagunas, lagoas e praias – su-
perfícies cobertas de areia e localizadas em costa baixa. O
trabalho de destruição marinha provoca o surgimento de
barreiras e falésias, bem como a formação de praias. Erosão acelerada pela ação de mineradoras

86
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

É importante evidenciar a importância do estudo dos processos erosivos para a arquitetura, na medida em
que os edifícios são construídos sobre um terreno real, que tem uma modelagem geomorfológica específica,
fruto, entre outros aspectos, da ação das águas pluviais sobre a superfície do solo, que gera um processo que
não se interrompe com a conclusão das obras.

Causada pelo Causada por fluidos Causada pela gravidade


vento
Movimento de massa

Erosão eólica Avalanche Escorrega- Solifluxão Rastejo


Água Erosão gracial mento

Chuva Água de
Oceano
escoamento

Erosão por Erosão costeira


impacto das
gotas

Escoamento superficial Escoamento subsuperficial

Erosão Erosão em
Erosão Erosão Erosão em condutos
em
laminar em ravinas e subterrâneos
canais
sulcos voçorocas (”pipe”)
fluviais

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87
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana
com a paisagem.

Relevo e sociedade formam diferentes faces de uma mesma composição estrutural, que responde pela in-
teração das atividades humanas com a cadeia de elementos naturais. Sendo assim, é impensável considerar
um sem o outro, muito embora a maior parte das paisagens geomorfológicas do nosso planeta tenha se
constituído em períodos anteriores à formação das primeiras civilizações. Nesse sentido, se considerarmos a
influência e a mútua relação entre relevo e sociedade, perceberemos o quanto os elementos naturais condi-
cionam, em parte, as atividades humanas. Geralmente, os agrupamentos humanos optam por estabelecer
suas práticas em lugares planos ou naqueles menos inclinados possíveis. Entretanto, com o desenvolvimento
das diferentes técnicas, foram desenvolvidas formas de ocupar também esses espaços, embora tal ocorrên-
cia nem sempre seja realizada de maneira sustentável.

MODELO 1

(Enem) De repente, sente-se uma vibração que aumenta rapidamente; lustres balançam, objetos se movem
sozinhos e somos invadidos pela estranha sensação de medo do imprevisto. Segundos parecem horas, poucos
minutos são uma eternidade. Estamos sentindo os efeitos de um terremoto, um tipo de abalo sísmico.
ASSAD, L. Os (não tão) imperceptíveis movimentos da Terra. ComCiência: Revista Eletrônica de Jornalismo
Científico, n.o 117, abr. 2010. Disponível em: http://comciencia.br. Acesso em: 2 mar. 2012.

O fenômeno físico descrito no texto afeta intensamente as populações que ocupam espaços próximos às
áreas de
a) alívio da tensão geológica;
b) desgaste da erosão superficial;
c) atuação do intemperismo químico;
d) formação de aquíferos profundos;
e) acúmulo de depósitos sedimentares.

ANÁLISE EXPOSITIVA

O “alívio de tensão geológica” refere-se a um abalo sísmico ou terremoto, cuja origem se dá em profun-
didade (hipocentro). As ondas sísmicas atingem a superfície (epicentro) e se propagam, podendo causar
VOLUME 1  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

danos socioeconômicos.

RESPOSTA Alternativa A

88
DIAGRAMA DE IDEIAS

GEOMORFOLOGIA

RELEVO

AGENTES ESTRUTURAIS AGENTES ESTRUTURAIS


(INTERNOS) (EXTERNOS)

ABALOS
TECTONISMO VULCANISMO
SÍSMICOS

OROGÊNESE EPIROGÊNESE

EROSÃO
INTEMPERISMO
(TRANSPORTE)

• EÓLICA
• FLUVIAL
• PLUVIAL
FÍSICO QUÍMICO BIOLÓGICO • MARINHA
• GLACIAL
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ANOTAÇÕES

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