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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva
metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material
didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos
livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e trans-
versal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar
a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA VIVENCIANDO


NAS PRINCIPAIS PROVAS
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreen-
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos são de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras.
o território nacional. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvol-
vida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há
uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato
em seu dia a dia.
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção
tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua-
APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compila-
dos, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e co-
mentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difí-
cil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento
aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever,
a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula.

MULTiMÍDiA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado-
sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper-
tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen-
são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. ÁREAS DE
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- CONHECiMENTO DO ENEM
fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol-
vê-las com tranquilidade.
CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-
borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos
conteúdos de cada área, de cada disciplina. DiAGRAMA DE iDEiAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran-
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão,
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Mate-
suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles
mática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com
que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de
essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do
esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros,
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da
sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue
aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos princi-
entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz
pais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos
parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
estudos e até a resolução dos exercícios.

HERLAN FELLiNi
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021
Todos os direitos reservados.

Autor
Márcio Cavalcanti de Andrade

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenado-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
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Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN:978-65-88825-25-9

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legis-
lação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do
qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para
o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e
localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição
para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
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SUMÁRIO

ENTRE SOCIEDADES: SOCIOLOGIA

Aula 1: Surgimento da Sociologia: Auguste Comte 6


Aula 2: Sociologia clássica: Émile Durkheim I 12
Aula 3: Sociologia clássica: Émile Durkheim II 18
Aula 4: Sociologia clássica: Max Weber 24
Aula 5: Sociologia clássica: Karl Marx I 31
Aula 6: Sociologia clássica: Karl Marx II 38
Aula 7: Sociologia contemporânea: Pierre Bourdie 45
Aula 8: O processo civilizador: Norbert Elias 53
Aula 9: Estratificação Social e suas formas 61
Aula 10: Cultura e patrimônio cultural 67
Aula 11: Etnocentrismo e relativismo cultural 75
Aula 12: Indústria cultural e sociedade do espetáculo 82
Aula 13: Michel Foucault 88
Aula 14: O problema da violência 95
Aula 15: A questão de gênero 103
Aula 16: Movimentos Sociais 110
Aula 17: Identidade 117
Aula 18: Sociologia brasileira: Gilberto Freyre 123
Aula 19: Sociologia brasileira: Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda 129
Aula 20: Sociologia brasileira: Florestan Fernandes 136
Aula 21: Sociologia brasileira: Darcy Ribeiro e Herbert de Souza 143
Aula 22: Sociologia brasileira: Roberto DaMatta 151
Aula 23: Modernidade líquida: Zygmunt Bauman 157
Aula 24: O meio ambiente como problema social 164
Aula 25: As novas formas de comunicação e tecnologia: Pierry Lévy 172
Aula 26: As novas formas de comunicação e tecnologia: Manuel Castells 179
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

A prova contém interdisciplinaridade nas Ci- A abordagem do vestibular da USP é interdis-


ências Humanas, com poucas questões diretas ciplinar, de forma que a Sociologia é tratada
na área da Sociologia, tendo preferência por mais como um alicerce para a compreensão
questões temáticas. da realidade e suas transformações.

A prova apresenta uma relação da Sociologia A prova apresenta uma temática sociológica A prova trata a Sociologia com um olhar
com a Geografia. Diante disso, o candidato relacionada com literatura, exigindo do candi- independente, não relacionando com História.
precisa relacionar as transformações do dato a interpretação do assunto abordado. O seu enfoque é relacionar teorias e correntes
espaço e do próprio homem em filosóficas associadas ou contrárias.
conjunto com as teorias
sociológicas.

A prova cobra a disciplina de Sociologia de A prova é direcionada para a prática da Medi- A prova cobra a disciplina de Sociologia de A prova direciona diretamente para a Sociolo-
forma indireta nas temáticas de redação. cina. Assim, a Sociologia é cobrada de maneira forma indireta nas temáticas de redação. gia, com conceitos sociológicos, e é abordada
indireta, principalmente nos temas de redação, de forma indiretamente nas temáticas de
que podem auxiliar os candidatos a redação.
elaborarem melhor os seus
argumentos.

UFMG

A prova trata a Sociologia com um olhar A prova é apresentada conforme seu edital A prova cobra a disciplina de Sociologia de
específico, possuindo um edital diferenciado específico, na qual são relacionados alguns forma indireta nas temáticas de redação.
com autores específicos. livros ou trechos de obras de sociólogos e
antropólogos.

A prova apresenta a Sociologia de forma sutil, A prova segue diretamente a disciplina de A prova não aborda a Sociologia.
apontando alguns aspectos culturais e étnicos. Sociologia, com questões específicas, podendo
também fazer uma abordagem nas temáticas
de redação
AULA 1

SURGIMENTO multimídia: livro


DA SOCIOLOGIA:
O que é Sociologia
AUGUSTE COMTE Para alguns ela representa uma poderosa arma a serviço
dos interesses dominantes; para outros é a expressão teó-
rica dos movimentos revolucionários. Como compreender
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 as diferentes avaliações que a Sociologia recebe? Deba-
tendo a dimensão política dessa ciência, o autor reflete
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, em que medida as teorias sociológicas contribuem para
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, manter ou alterar as relações de poder da sociedade.
23, 24 e 25

Os primeiros teóricos que desenvolveram um método e


definiram um objeto próprio da Sociologia foram os posi-
O surgimento da ciência Sociologia se deu em meio a um
tivistas. Essa corrente de pensamento, denominada de “fí-
contexto de diversas transformações da sociedade euro-
sica social”, surgiu com Auguste Comte, que se dedicava
peia na passagem do século XVIII para o XIX, período de
a estudar a sociedade a partir de métodos científicos das
difusão da Revolução Industrial e dos desdobramentos da
Ciências Naturais.
Revolução Francesa (1789). A partir do desenvolvimento
da razão, da ciência e da sociedade industrial, era neces- Observando as transformações da sociedade pós-Revolução
sário desenvolver um conjunto de explicações racionais Industrial, Auguste Comte contribuiu para a formação dessa
e científicas oriundo da investigação empírica metódica nova ciência, que, seguindo as diretrizes da racionalidade,
que conseguisse analisar os novos fenômenos sociais que seria a mais elevada de todas as ciências.
apontavam para a formação de uma nova sociedade.
O positivismo, corrente filosófica que buscava uma reorga-
nização intelectual, moral e política da ordem social, nasceu
1. Auguste Comte (1798-1857) com fins práticos de criar uma ordem social estável. O seu
pensamento consistia em três estágios, contidos em seu Cur-
Auguste Comte nasceu em 1798, na França, onde viveu so de filosofia positiva: teológico, metafísico e positivo.
toda a sua vida. Dedicou seus estudos ao que foi definido
como filosofia positivista. Comte foi o primeiro a utilizar ƒ Estado teológico: corresponde à infância da humani-
o termo Sociologia, considerando-a como a ciência mais dade, pois a mente humana se baseia em um conhe-
complexa e profunda. Sua principal obra ficou conhecida cimento provisório e ilusório, ou seja, tenta explicações
como Curso de filosofia positiva (1842). da realidade por meio de entidades sobrenaturais. Se-
gundo Comte, a religião se encaixa nesse estado, pois
ela inicia o processo do conhecimento; porém, é um
tipo de conhecimento não muito confiável.
ƒ Estado metafísico: as explicações dos fenômenos da re-
alidade são feitas por entidades abstratas, mas contêm
traços de elementos teológicos. Trata-se de um estado
intermediário para o conhecimento definitivo.
ƒ Estado positivo: representa a realidade, sendo a forma
definitiva. Aqui a ciência predomina, de modo que se
buscam os fatos e não as causas ou princípios; preocu-
pa-se com o processo do conhecimento, e não com os
motivos dessas causas.

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pensamento positivista foi o Império Austro-Húngaro, que
difundiu esse pensamento.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Comte – As leis dos três Estados
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
1.1. Positivismo O positivismo de Auguste Comte
O pensamento científico e experimental é o único guia
para o ser humano, de forma que a ciência é a base dessa
doutrina, com o intuito de organizar todos os elementos da 1.2. Positivismo no Brasil
sociedade, inclusive a área religiosa. Com o início da República, no século XIX, o positivismo
Em sua obra Sistema de política positiva (1854), Comte cria ganhou força, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
a religião da humanidade ou a religião positivista, que tem Com suas características de que existe uma hierarquia, a
como diretrizes: "O amor por princípio, a ordem por base; qual deve seguir uma ordenação científica, o positivismo
e o progresso por fim". Acreditando fielmente na ciência, ganhou muitos adeptos do alto oficialato do Exército e en-
Comte defende um processo de progresso contínuo e evo- tre a camada burguesa. Diante disso, a nova bandeira do
lutivo da humanidade. Brasil ganhou um lema positivista.

multimídia: livro

Positivismo: reabrindo o debate - Hermas Gonçalves


Arana. Campinas: Autores Associados, 2007.
Questionando chavões e invocando textos de pouca cir-
culação entre nós, o autor busca determinar o núcleo
teórico das principais doutrinas positivistas, em sua mul- BANDIRA DO IMPÉRIO BRASILEIRO
tiformidade, tomando como fio condutor o conceito de
dado empírico.

Esse processo evolutivo também recairia entre as ciências


positivas – Matemática, Física, Astronomia, Química, Biolo-
gia – e teria como a maior entre essas ciências uma nova
ciência – a Sociologia –, que englobaria todas elas.
Pensando no controle da sociedade, Comte estruturou que
todos os elementos deveriam ter a razão científica como
norteador dessas ações. Esse pensamento ganhou força na
Europa durante o século XIX, entre governos monárquicos
e republicanos. Uma nação que seguiu com toda ênfase no BANDEIRA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

7
Entre aqueles que receberam influência do pensamento
positivista, podemos destacar os primeiros presidentes da
República, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, os mi-
litares Benjamin Constant e Cândido Rondon e o escritor
Euclides da Cunha.

TEMPLO POSITIVISTA E DETALHE DO ALTAR, COM A IMAGEM DA DEUSA HUMANIDADE,


INSPIRADA EM TRAÇOS DE CLOTILDE DE VAUX, MUSA INSPIRADORA DE AUGUSTE
COMTE, NA IGREJA POSITIVISTA DO BRASIL, LOCALIZADA NO RIO DE JANEIRO

Acerca da expansão do positivismo no continente america-


no, Comte destacou que: “Originadas da mesma civilização
ocidental, mas sem os obstáculos retrógrados que no velho
mundo protelam a vitória da nova fé [...] essas nações apre-
sentam, tanto no temporal como no espiritual, as melhores
disposições para aceitarem a doutrina regeneradora”.

DIAGRAMA DE IDEIAS

REVOLUÇÃO TRANSFORMAÇÕES SURGE A


INDUSTRIAL SOCIAIS SOCIOLOGIA

COMTE

POSITIVISMO

DOMINAÇÃO O AMOR POR


SOCIAL PRINCÍPIO
3 ESTÁGIOS

PELO USO A ORDEM


• ESTADO POSITIVO
CIENTÍFICO POR BASE
• ESTADO METAFÍSICO
• ESTADO TEOLÓGICO

O PROGRESSO
POR FIM

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e, portanto, a interferência humana é incapaz de alterar
Aplicando para sua direção ou velocidade.
d) O progresso da sociedade, em conformidade com
Aprender (A.P.A.) as leis naturais, é resultado da competição entre os
1. (UFF) O positivismo foi um sistema filosófico criado indivíduos, com base no princípio de justiça de que os
no século XIX por Augusto Comte e que exerceu gran- mais aptos recebem as maiores recompensas.
de influência no Brasil, especialmente entre militares, e) O progresso da sociedade é a lei natural da dinâmica
médicos, cientistas e em algumas correntes de republi- social e, considerado em sua fase intelectual, é expres-
canos que participaram diretamente da proclamação so pela evolução de três estados básicos e sucessivos:
da República e ocuparam postos de governo no início o doméstico, o coletivo e o universal.
do novo regime.
4. (Unimontes) O positivismo foi uma corrente de pen-
Dentre as inovações adotadas no início do regime republi- samento filosófico predominante no século XIX e iní-
cano brasileiro, sob influência de ideias positivistas, estão: cio do século XX. Seu mais eminente representante foi
a) sufrágio universal, direito de voto do analfabeto e Auguste Comte (1798-1857), que é considerado o pre-
das mulheres. cursor da Sociologia. No que tange às características
b) estatização das fábricas, coletivização da agricultu- fundamentais do positivismo, pode-se afirmar, exceto:
ra e partido único. a) Para o positivismo, o conhecimento científico é a
c) liberdade sindical, leis trabalhistas e salário mínimo. “bússola da sociedade”. Nesse sentido, é imprescin-
d) separação da igreja e do estado, liberdade religiosa dível que se tenha o conhecimento acerca dos fenô-
e casamento civil. menos sociais, para que se consiga prever os mesmos
e) indenização aos proprietários de escravos, desestímu- e agir com eficácia.
lo à pequena propriedade e abolição de impostos rurais. b) O positivismo persegue um objetivo principal: des-
cobrir as leis gerais que regem os fenômenos sociais.
2. (UEG 2020) A sociologia nasce no contexto da con- c) O positivismo é uma doutrina filosófica que enfatiza
solidação da ciência enquanto forma de pensamento a busca pelo conhecimento das singularidades sociais,
dominante. Com o desenvolvimento do capitalismo e dando ênfase ao estudo interpretativo das ações de
a progressiva urbanização, alguns pensadores come- indivíduos em uma determinada coletividade.
çaram a refletir sobre os problemas da sociedade em d) O positivismo preza pela regularidade, estabilidade
transformação, como a fome, o saneamento básico, as e bom funcionamento das instituições sociais.
longas e fatigantes jornadas de trabalho etc. A partir
desse momento, emerge a sociologia, como uma ciên- 5. (UEL) O lema da bandeira do Brasil, “Ordem e Pro-
cia com objeto e método específicos, e surgem os pri- gresso”, indica a forte influência do positivismo na for-
meiros sociólogos. Um destes sociólogos foi Auguste mação política do Estado brasileiro. Assinale a alterna-
Comte, que fundamentou a sociologia a partir do méto- tiva que apresenta ideias contidas nesse lema.
do positivista. O positivismo de Comte defende
a) Crença na resolução dos conflitos sociais por meio do
a) que as ideias são desenvolvidas por seres humanos estímulo à coesão social e à evolução natural da nação.
reais e históricos. b) Ideais de movimentos juvenis, que visam superar
b) o estudo dos fatos sociais enquanto coisas exterio- os valores das gerações adultas.
res aos indivíduos. c) Denúncia dos laços de funcionalidade que unem as
c) a unidade metodológica entre ciências naturais e instituições sociais e garantem os privilégios dos ricos.
ciências sociais. d) Ideal de superação da sociedade burguesa através
d) que o conjunto das ações individuais constitui a da revolução das classes populares.
sociedade. e) Negação da instituição estatal e da harmonia cole-
e) a formulação de tipos ideais vazios de conteúdo tiva baseada na hierarquia social.
histórico.
6. (UEL) Até o século XVIII, a maioria dos campos de co-
3. (UEL) A ordem e o progresso constituem partes fun- nhecimento, hoje enquadrados sob o rótulo de ciências,
damentais da Sociologia de Auguste Comte. Com base era ainda, como na antiguidade clássica, parte integral
nas ideias comteanas, assinale a alternativa correta. dos grandes sistemas filosóficos. A constituição de sa-
a) A ordem social total se estabelece de acordo com beres autônomos, organizados em disciplinas específi-
as leis da natureza, e as possíveis deficiências exis- cas, como a Biologia ou a própria Sociologia, envolverá,
tentes podem ser retificadas mediante a intervenção de uma forma ou de outra, a progressiva reflexão filo-
racional dos seres humanos. sófica, como a liberdade e a razão.
b) A liberdade de opinião e a diferença entre os indiví-
duos são fundamentos da solidariedade na formação da QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M.L.O.; OLIVEIRA,
M.G.M. UM TOQUE DE CLÁSSICOS: MARX, DURKHEIM E
estática social; essa diversidade produz vantagens para a WEBER. BELO HORIZONTE: UFMG, 2002, P. 12.
evolução, em comparação com a homogeneidade.
c) O desenvolvimento das forças produtivas é a base Com base nos conhecimentos sobre o surgimento da
para o progresso e segue uma linha reta, sem oscilações Sociologia, assinale a alternativa que apresenta, corre-

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tamente, a relação entre conhecimento sociológico de a realidade, Comte procurou estabelecer os princípios
Auguste Comte e as ideias iluministas. que deveriam nortear os conhecimentos humanos. Seu
a) A ideia de desenvolvimento pela revolução social foi ponto de partida era a ciência e o avanço que ela vi-
defendida pelo iluminismo, que influenciou o positivismo. nha obtendo em todos os campos de investigação. (...)
O advento da sociologia representava para Comte o
b) A crença na razão como promotora do progresso
coroamento da evolução do conhecimento científico,
da sociedade foi compartilhada pelo iluminismo e
já constituído em várias áreas do saber.
pelo positivismo.
c) O iluminismo forneceu os princípios e as bases teóri- MARTINS, CARLOS BENEDITO. O QUE É SOCIOLOGIA.
cas da luta de classes para a formulação do positivismo. SÃO PAULO: BRASILIENSE, 2006, P. 44.
d) O reconhecimento da validade do conhecimento TEXTO II
teológico para explicar a realidade social é um ponto
comum entre o iluminismo e o positivismo. O conjunto da nova filosofia tenderá sempre a fazer
e) Os limites e as contradições do progresso para a sobressair, tanto na vida ativa como na especulativa, a
liberdade humana foram apontados pelo iluminismo ligação de cada um a todos, sob uma série de aspectos
e aceitos pelo positivismo. diversos, de modo a tornar involuntariamente familiar
o sentimento íntimo da solidariedade social, (...) Não
7. (UFUB adaptada) Sobre o surgimento da Sociologia, somente a ativa busca do bem público será sempre pri-
podemos afirmar que: vada, será sempre representada como a maneira mais
I. A consolidação do sistema capitalista na Europa no conveniente de assegurar a felicidade privada; mas, por
século XIX forneceu os elementos que serviram de uma influência (...) dos pendores generosos, se tornará
base para o surgimento da Sociologia enquanto ciên- a principal fonte da felicidade pessoal.
cia particular.
COMTE, AUGUST. DISCURSO SOBRE O ESPÍRITO
II. O homem passou a ser visto, do ponto de vista so- POSITIVO. SÃO PAULO: ESCALA, S/D, P. 74.
ciológico, a partir de sua inserção na sociedade e nos
grupos sociais que a constituem. A Revolução Industrial e a Revolução Francesa impul-
III. Aquilo que a Sociologia estuda constitui-se histori- sionaram o surgimento da Sociologia como ciência
camente como o conjunto de relacionamentos que os voltada para compreender as novas relações entre as
homens estabelecem entre si na vida em sociedade. pessoas. Essas relações envolviam agora um complexo
de hábitos e costumes e eram provocadas por causa da
IV. Interessa para a Sociologia, não indivíduos isolados, maneira de se produzirem e se consumirem os exce-
mas inter-relacionados com os diferentes grupos sociais dentes na Europa do século XIX. Sobre esse período da
dos quais fazem parte, como a escola, a família, as clas- Sociologia e com base na concepção apresentada nos
ses sociais etc. textos I e II, é CORRETO afirmar que
a) II e III estão corretas. a) a Sociologia foi chamada de física social e deveria
b) Todas as afirmativas estão corretas. utilizar os métodos da filosofia teológica como instru-
c) I e IV estão corretas. mento de compreensão da sociedade.
d) I, III e IV estão corretas. b) as investigações sociológicas deveriam utilizar os
e) II, III e IV estão corretas. mesmos procedimentos das ciências naturais, ou seja,
a observação, a experimentação e a comparação.
8. (UEM 2018) Auguste Comte (1798-1857), a quem se c) o positivismo foi a corrente filosófica, que funda-
atribui a formulação do termo Sociologia, foi o prin- mentou o surgimento da Sociologia como ciência da
cipal representante e sistematizador do Positivismo. sociedade, pois tinha uma visão metafísica das rela-
Acerca do pensamento comteano, é correto afirmar que ções entre as pessoas.
01) considerava os problemas sociais malefícios do de- d) o principal representante da Sociologia nesse pe-
senvolvimento econômico das sociedades industriais. ríodo foi August Comte, que tinha uma visão positiva
02) teve grande influência sobre o pensamento social de sociedade, ou seja, uma reflexão sobre a essência
brasileiro do século XIX e início do XX. e o significado abstrato das relações sociais.
04) a inspiração para o método de investigação dos fe- e) as ideias de Comte tinham como objetivo encontrar
nômenos sociais de Comte veio das ciências da natureza. leis universais para explicar as relações sociais, com
08) era uma tentativa de constituição de um método base nos princípios de subjetividade e parcialidade,
objetivo para a observação dos fenômenos sociais. utilizados pelas ciências da natureza.
16) considerava o progresso e a evolução social um 10. (Unimontes) O positivismo foi a corrente de pensa-
princípio da história humana. mento que teve forte influência sobre o método de in-
vestigação na Sociologia, por propor um sistema geral do
9. (UPE-SSA 1 2018) Leia os textos a seguir:
conhecimento com a pretensão de “organizar” a socie-
dade. São aspectos fundamentais do positivismo, exceto:
TEXTO I
a) Para o positivismo clássico, é impossível conhecer
Convicto de que a reorganização da sociedade exigi- o estado de um fenômeno social particular se não for
ria a elaboração de uma nova maneira de conhecer considerado cientificamente o todo social.

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b) Na concepção positivista, graças à aplicação da a) Qual a razão dessa importância?
ciência à organização do trabalho, a humanidade de- b) Esse tipo de argumento continua sendo válido?
senvolve suas potencialidades.
c) As ideias na Sociologia positivista tentam descobrir
qual é a ordem social que orienta a história humana.
d) O positivismo fundamenta-se na concepção dialéti-
Gabarito
ca de Georg Wilhelm F. Hegel (1770-1831), originária 1. D 2. C 3. A 4. C 5. A
do Idealismo alemão. Propõe um método interpreta-
tivo de sociedade baseado na ideia de contrato social. 6. B 7. B 8. 02 + 04 + 08 + 16 = 30
11. (Unesp 2018) 9. B 10. D
Texto 1
11.
O positivismo representa amplo movimento de pensa- a) Eurocentrismo corresponde a um etnocentrismo eu-
mento que dominou grande parte da cultura europeia, ropeu, ou seja, à forma de considerar o mundo tendo
no período de 1840 até às vésperas da Primeira Guerra como princípio a ideia de que a Europa corresponde
Mundial. Nesse contexto, a Europa consumou sua trans- ao ápice do desenvolvimento humano. O positivismo é
formação industrial, e os efeitos dessa revolução sobre eurocêntrico na medida em que desenvolve uma teoria
a vida social foram maciços: o emprego das descober- de desenvolvimento humano baseada nas transforma-
tas científicas transformou todo o modo de produção. ções que a própria Europa estava sofrendo.
Em poucas palavras, a Revolução Industrial mudou radi- b) O relativismo corresponde à atitude de considerar a
calmente o modo de vida na Europa. E os entusiasmos sua cultura como sendo uma entre outras, e não como
se cristalizaram em torno da ideia de progresso huma- superior às demais, exatamente como Lévi-Strauss pro-
no e social irrefreável, já que, de agora em diante, pos- põe. Isso se opõe ao positivismo porque se abstém de
suíam-se os instrumentos para a solução de todos os criar uma escala evolutiva das culturas, na medida em
problemas. A ciência pelos positivistas apresentava-se que qualquer critério de julgamento cultural será sem-
como a garantia absoluta do destino progressista da pre, de alguma forma, etnocêntrico.
humanidade.
12.
(GIOVANNI REALE E DARIO ANTISERI. HISTÓRIA DA FILOSOFIA, 1991. ADAPTADO.) a) Para Comte, a Sociologia deveria ser responsável
Texto 2 por aplicar os princípios científicos do positivismo na
sociedade, para solucionar seus problemas e garantir
O “progresso” não é nem necessário nem contínuo. A a coesão social. Segundo ele, a Sociologia seria a úl-
humanidade em progresso nunca se assemelha a uma tima e mais importante das ciências.
pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada b) Não. O positivismo foi em grande parte abandonado
um dos seus movimentos um novo degrau a todos aque- pela Sociologia. Isso porque ele parte de premissas cien-
les já anteriormente conquistados. Nenhuma fração da tificistas, que consideram a sociedade como um corpo
humanidade dispõe de fórmulas aplicáveis ao conjunto. físico, por exemplo. Atualmente, sabe-se que a Sociolo-
Uma humanidade confundida num gênero de vida único gia é apenas mais uma entre outras ciências e que ela
é inconcebível, pois seria uma humanidade petrificada. é incapaz de, por si só, solucionar os problemas sociais.
(CLAUDE LÉVI-STRAUSS. A NOÇÃO DE ESTRUTURA
EM ETNOLOGIA, 1985. ADAPTADO.)

a) Considerando o texto 1, explique o que significa


“eurocentrismo” e por que o conceito de progresso
pressuposto pelo positivismo é eurocêntrico.
b) Por que o método empregado pelo autor do texto 2
é considerado relativista? Como sua concepção de pro-
gresso se opõe ao conceito de progresso positivista?

12. Segundo Augusto Comte, a sociedade humana deve


passar por três estados: o teológico, o metafísico e, por
último, o positivo. É nesse último estado que, para Com-
te, a Sociologia se torna tão importante.

11
Émile Durkheim sofreu uma forte influência do positivismo
AULA 2 comteano, contendo traços do funcionalismo social, em
que considera as funções sociais contidas em seu objeto
de pesquisa, trabalhando a moral, a religião, etc.
Ele compreende a “cultura” como algo coletivo, um ele-
mento vivo, por assim dizer, que acaba se transformando
SOCIOLOGIA CLÁSSICA: ao longo do tempo. Assim, a sociedade se constrói me-
diante essas transformações culturais, consolidando ou
ÉMILE DURKHEIM I rejeitando princípios morais e éticos.
Durkheim preocupou-se em definir um método e um obje-
to próprio da Sociologia para consolidá-la como uma ciên-
cia. Para isso, ele define o conceito de fato social, que seria
o objeto de análise do cientista social.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 1.1. O fato social


HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que
23, 24 e 25 existem independentemente das manifestações individu-
ais, isto é, são ações exteriores ao indivíduo, sendo gene-
ralizados na sociedade, de modo que são dotados de uma
Nas últimas décadas do século XIX, a Europa vivia um perío- força imperativa e coercitiva perante os indivíduos.
do que ficou conhecido como Belle Époque, em que surgiram Já as características dos fatos sociais devem ter traços de:
diversos avanços tecnológicos, como telefone, telégrafo sem
fio, cinema, automóvel, avião, fotografia, bonde elétrico, en- ƒ generalidade: comum a todos ou à maioria dos inte-
grantes desse grupo social;
tre outras novidades. Diante dessa efervescência tecnológica,
ocorreu uma grande transformação nos hábitos das pessoas, ƒ exterioridade: não depende do indivíduo; e
que direcionou os indivíduos para a aquisição de bens de ƒ coercitividade: se impõe de diversas formas.
consumo, além de promover a crença em certa concepção
de progresso no desenvolvimento da ciência como solução
para os males da sociedade.

1. Émile Durkheim (1858-1917)


multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Na íntegra – Émile Durkheim
Entrevista com Raquel Weiss, doutora em Filosofia pela
USP, especialista em Émile Durkheim. Nesse progra-
ma, Raquel apresenta alguns conceitos da sociologia
durkheimiana.

O devoto, ao nascer, encontra as crenças e as práticas da


vida religiosa; existindo antes dele, é porque existem fora
Émile Durkheim nasceu na Alsácia em 1858. Iniciou seus dele. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir
estudos em Filosofia na Escola Normal Superior de Paris, meus pensamentos, o sistema de moedas que emprego
para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que
migrando, mais tarde, para a Alemanha. Foi professor da
utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas segui-
primeira cátedra de Sociologia da França; em 1902, foi das na profissão etc. funcionam independentemente do
transferido para a Sorbonne, onde, junto com outros cien- uso que delas faço.
tistas, formou um grupo que seria conhecido como Escola (DURKHEIM, E. AS REGRAS DO MÉTODO. SÃO
Sociológica Francesa. PAULO: EDITORA NACIONAL, 1974, P. 2).

12
Pode-se considerar como um exemplo de fato social: dé- dor suprimir todos os seus juízos de valores pessoais para
cadas atrás, um homem só se fazia respeitado por suas que conclusões não sejam precipitadas. Entretanto, essa
vestimentas, em que a cartola era requisito fundamental, investigação precisa apresentar um retrato fiel do objeto
ao passo que um indivíduo que não tinha esse elemen- analisado, observando todos os elementos que compõem
to não era considerado um homem distinto. Atualmente, esse fato social. Nesse momento, Durkheim apresenta a
esse utensílio não faz parte das vestimentas de um ho- importância da Sociologia como ciência.
mem moderno. Um outro exemplo de fato social são as Nesse processo metodológico, é importante notar que
modas que as mídias direcionam para os seres, criando Durkheim aponta alguns direcionamentos:
costumes ou hábitos que são reproduzidos por parte da
sociedade. Diante disso, o fato social pode ser modificado ƒ o processo deve ser objetivo;
ao longo do tempo, podendo não ser mais reproduzido ƒ os fatos analisados podem ser normais ou anômicos; e
ou ser gerado um novo fato social.
ƒ deve-se analisar como esses fatos se interligam ou afe-
Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao tam os integrantes desse grupo estudado.
vestir-me, não levo em conta os costumes observados
em meu país e em minha classe, o riso que provoco, o Assim, aconteceram fatos corriqueiros, que serão caracte-
afastamento em relação a mim produzem, embora de rizados como normais; e também fatos que fogem desse
maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma estereótipo de normalidade, que acarretarão anomias so-
pena propriamente dita. ciais, caracterizando uma espécie de desregramento social.
(ÉMILE DURKHEIM. AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO.
SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2007, P. 3.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
multimídia: livro
Pequeno cidadão - Arnaldo Antunes.
2009. Álbum: A curva da cintura
Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Nessa canção, nos deparamos com uma sequência de
Weber - Carlos Eduardo Sell ordens, totalmente vigiadas por um adulto, que, de uma
Esse livro apresenta o pensamento dos fundadores da forma coercitiva, controla tudo de maneira a estabelecer
Sociologia a partir de três eixos básicos: teoria socioló- as regras e as normas.
gica; teoria da modernidade; teoria política: problemas
e desafios da realidade social. Esse método, além de
permitir uma análise comparativa das teorias de Marx, 1.3. A religião para Durkheim
Durkheim e Weber, possibilita também uma compre-
Na intenção de investigar o ser humano, Émile Durkheim
ensão da Sociologia enquanto ciência e uma reflexão
nota que o elemento primordial que entrelaça todos os
sobre a natureza e as perspectivas da vida social em
seres é a religião, sejam monoteístas ou politeístas, todas
tempos modernos. Retomando a visão desses autores,
as religiões separam o mundo profano do mundo sagrado.
o leitor é convidado a exercitar sua "imaginação socio-
Ele considera todas as religiões como iguais, pois são “es-
lógica", adentrando, assim, no rico debate sociológico
pécies de um mesmo gênero”, contendo um sistema de
sobre as diferentes maneiras, métodos e perspectivas de
crenças e de cultos, conjuntos de atitudes rituais, nas quais
pesquisa e interpretação da sociedade.
os seus “movimentos são estereotipados”. A religião cons-
trói a sociedade, na qual “as divisões em dias, semanas [...]
correspondem à periodicidade dos ritos, das festas”, sendo
1.2. O método científico assim uma manifestação natural da atividade humana.
Durkheim inaugura o processo de investigação sobre os Vimos que o totemismo coloca em primeiro lugar, en-
fenômenos sociais pautado na observação dos fatos so- tre as coisas que reconhece como sagradas, as repre-
ciais. Esse procedimento deve ser guiado por uma análise sentações figuradas do totem; a seguir vêm os animais
neutra do pesquisador, pois é necessário a esse observa- ou os vegetais que dão seu nome ao clã e, finalmente,

13
os membros desse clã. Como todas essas coisas são A religião, para Durkheim, é uma espécie de especulação
igualmente sagradas, embora em diferentes graus, seu de tudo que escapa à ciência, ou seja, o sobrenatural, pos-
caráter religioso não pode depender de nenhum dos suindo assim na sua essência um conjunto de símbolos (os
atributos entrar no domínio das conjeturas arbitrárias e
inverificáveis. Se quisermos permanecer em concordân-
ritos). O homem é um ser social, porque pensa por concei-
cia com os resultados anteriormente obtidos, devemos, tos. A concepção de mito é entendida como a representa-
ao mesmo tempo que afirmamos a natureza religiosa do ção de uma espécie de herói histórico.
totemismo, impedir-nos de reduzi-lo a uma religião dife-
rente de si mesmo. Não que seja o caso de atribuir-lhe
como causa de ideias que não seriam religiosas.
ÉMILE DURKHEIM. AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA.
SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2000, P. 187-188.

DIAGRAMA DE IDEIAS

DURKHEIM

MÉTODO SOLIDARIEDADE
CIENTÍFICO MECÂNICA

FATO SOCIAL SIMPLES

• NORMAL
• PATOLÓGICO
• ANÔMICO
PROCESSO DE SOLIDARIEDADE
INVESTIGAÇÃO ORGÂNICA

COMPLEXA

14
viciados em redes sociais que não suportam ficar des-
Aplicando para conectados. Uma parte da população acha que, se não
estiver conectada, perde alguma coisa. E se perdemos al-
Aprender (A.P.A.) guma coisa, ou se não podemos responder imediatamen-
1. (UFU) A concepção da Sociologia de Durkheim se ba- te, desenvolvemos formas de ansiedade ou nervosismo.
seia em uma teoria do fato social. Seu objetivo é de- O MEDO DE NÃO TER O CELULAR À DISPOSIÇÃO CRIA NOVA FOBIA.
monstrar que pode e deve existir uma Sociologia obje- DISPONÍVEL EM: <EXAME.ABRIL.COM.BR/ESTILO-DEVIDA/COMPORTAMENTO/
tiva e científica, conforme o modelo das outras ciências, NOTICIAS/O-MEDO-DE-NAO-TER-O-CELULAR-ADISPOSICAO-CRIA-
NOVA-FOBIA>. ACESSO EM: 9 ABR. 2012 (ADAPTADO).
tendo por objeto o fato social.
ARON, R. AS ETAPAS DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO. Com base no texto e nos conhecimentos sobre sociali-
SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 1995. P. 336. zação e instituições sociais, na perspectiva funcionalista
de Durkheim, assinale a alternativa correta.
Em vista do exposto, assinale a alternativa correta.
a) A nomofobia reduz a possibilidade de anomia social na
a) Durkheim demonstrou que o fato social está des- medida em que aproxima o contato em tempo real dos
conectado dos padrões de comportamento culturais indivíduos, fortalecendo a integração com a vida social.
do indivíduo em sociedade e, portanto, deve ser usa- b) As interações sociais via tecnologias digitais são
do para explicar apenas alguns tipos de sociedade. uma forma de solidariedade mecânica, pois os indiví-
b) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui duos uniformizam seus comportamentos.
pequena divisão do trabalho social, como pode ser de- c) O que faz de uma rede social virtual uma insti-
monstrada pela análise dos fatos sociais da sociedade. tuição é o fato de exercer um poder coercitivo e ao
c) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fun- mesmo tempo desejável sobre os indivíduos.
damental, é considerar os fatos sociais como coisas d) O uso de interações sociais por recursos tecnológi-
para serem analisadas. cos constitui um elemento moral a ser compreendido
d) O estado normal da sociedade para Durkheim é o como fato social.
estado de anomia, quando todos os indivíduos exer- e) Para a nomofobia ser considerada um fato social,
cem bem os fatos sociais. faz-se necessário que esteja presente em uma diver-
2. (UEG) O objeto de estudo da Sociologia, para Durkheim, sidade de grupos sociais.
é o fato social, que deve ser tratado como “coisa” e o 5. (Enem) A Sociologia ainda não ultrapassou a era das
sociólogo deve afastar suas prenoções e preconceitos. A construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir
construção durkheimiana do objeto de estudo da Socio- a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do cam-
logia pode ser considerada: po social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades
a) positivista, pois se fundamenta na busca de objeti- em que todas as questões são levantadas sem que ne-
vidade e neutralidade. nhuma seja expressamente tratada. Não é com exames
b) dialética, pois reconhece a existência de uma reali- sumários e por meio de intuições rápidas que se pode
dade exterior ao pesquisador. chegar a descobrir as leis de uma realidade tão comple-
xa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão
c) kantiana, pois trata da “coisa em si” e realiza a
apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.
coisificação da realidade.
d) nietzschiana, pois coloca a “vontade de poder” DURKHEIM, ÉMILE. O SUICÍDIO: ESTUDO DE SOCIOLOGIA.
como fundamento para a pesquisa. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2000.
e) weberiana, pois aborda a ação social racional atri- O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em cons-
buída por um sujeito. truir uma sociologia com base na
3. (UFU) A tirinha de Quino abaixo ilustra a concepção a) vinculação com a filosofia como saber unificado.
de fato social, segundo Durkheim. b) reunião de percepções intuitivas para demonstração.
Para o autor, é característica do fato social: c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social.
d) adesão aos padrões de investigação típicos das
a) ser geral e igual em todas as sociedades. ciências naturais.
b) dar liberdade ao indivíduo, em uma dada sociedade, e) incorporação de um conhecimento alimentado
de praticar ações e atitudes ligadas ao seu senso crítico. pelo engajamento político.
c) ser particular de cada indivíduo, sem interferência
do grupo social no qual está inserido. 6. (UEL) O positivismo foi uma das grandes correntes
de pensamento social, destacando-se, entre seus princi-
d) exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior.
pais teóricos, Augusto Comte e Émile Durkheim. Sobre
4. (UEL) Leia o texto a seguir. a concepção de conhecimento científico, presente no
positivismo do século XIX, é correto afirmar:
Sentir-se muito angustiado com a ideia de perder seu ce-
lular ou de ser incapaz de ficar sem ele por mais de um a) A busca de leis universais só pode ser empreendida
dia é a origem da chamada “nomofobia”, contração de no interior das ciências naturais, razão pela qual o co-
no mobile phobia, doença que afeta principalmente os nhecimento sobre o mundo dos homens não é científico.

15
b) Os fatos sociais fogem à possibilidade de constitu- c) É exterior ao indivíduo, tem poder de generalização
írem objeto do conhecimento científico, haja vista sua e exerce coerção social.
incompatibilidade com os princípios gerais de objeti- d) É coletivo, coercitivo e pessoal.
vidade do conhecimento e a neutralidade científica.
c) Apreender a sociedade como um grande organis- 9. (Interbits) Brasil vive momento de "anomia", diz FHC
mo, a exemplo do que fazia o materialismo históri- O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita
co, é rejeitado como fonte de influência e orientação que o Brasil vive um "momento de anomia" - estado
para as investigações empreendidas no âmbito das que se caracteriza pela ausência de regras - e que é pre-
ciências sociais. ciso "botar ordem na casa". "Há falta de sentido de
d) A ciência social tem como função organizar e racio- organização e autoridade. Em toda a parte”. Questiona-
nalizar a vida coletiva, o que demanda a necessidade do sobre o que faria se estivesse no lugar do presiden-
de entender suas regras de funcionamento e suas ins- te Michel Temer, FHC disse que "a essa altura, estaria
tituições forjadas historicamente. considerando o futuro do Brasil e pensando bem: será
e) O papel do cientista social é intervir na construção que eu tenho condições de governar?". Na sequência,
do objeto, aportando à compreensão da sociedade o tucano foi perguntado quanto tempo levaria para fa-
os valores por ele assimilados durante o processo de zer essa reflexão. "Não muito. As coisas vão variar com
socialização obtido no seio familiar. muita velocidade, vão se mover com muita rapidez, eu
acho. Sem julgar, mas em termos das condições do Bra-
7. (Unespar) Na produção sociológica do francês Émi- sil, estamos passando por um momento de... Vou falar
le Durkheim, fatos sociais são maneiras coletivas de em sociologuês, mas é simples... De anomia."
agir, pensar e sentir que são exteriores ao indivíduo e
NUCCI, JOÃO PAULO. BRASIL VIVE MOMENTO DE ‘ANOMIA’, DIZ FHC.
exercem pressão ou coerção social, ainda que não se O ESTADO DE S.PAULO. 22 MAI. 2017. DISPONÍVEL EM: <HTTP://
perceba, sobre sua consciência. Também apresentam a POLITICA.ESTADAO.COM.BR/NOTICIAS/GERAL,BRASIL-VIVE-MOMENTO-DE-
característica de serem gerais na extensão de uma so- ANOMIA-DIZ-FHC,70001804232> ACESSO EM 25 MAI. 2017.
ciedade, na medida em que são comuns à maioria dos
indivíduos. Durkheim considera que os fatos sociais não Considerando o contexto político apresentado na notí-
se confundem com as manifestações das consciências cia acima, assinale a alternativa que apresenta, de for-
individuais, eles são uma realidade sui generis, uma re- ma correta, uma interpretação sociológica do contexto
alidade peculiar. brasileiro.
a) O Brasil vive em uma anomia pela pobreza e des-
ARAUJO, SILVA MARIA; BRIDI, MARIA APARECIDA;
MOTIM, BENILDE LENZI. SOCIOLOGIA. ENSINO MÉDIO, nutrição de sua população.
VOLUME ÚNICO. SÃO PAULO: SCIPIONE, 2013, P. 50. b) Ao utilizar o conceito de anomia, Fernando Henri-
que Cardoso faz referência a uma corrente de pensa-
Considerando o pensamento sociológico de Durkheim e mento sociológico que tem origem no positivismo de
com base na assertiva acima, assinale a alternativa correta. Auguste Comte, que valoriza ideais como a ordem e
o progresso.
a) Os fatos sociais se configuram como ideias, tipos
c) Fernando Henrique Cardoso é um ex-presidente do
ideias, que representam a realidade.
Brasil, do PSDB. Sua análise da política tem como ob-
b) Os fatos sociais se definem como coisas e objetos jetivo evitar que Lula chegue ao poder nas próximas
que advém da mente humana, mais precisamente, da eleições.
ideia que o indivíduo formula da realidade.
d) Há uma clara intenção do ex-presidente de criti-
c) Os fatos sociais são coisas e por isso podem se car o atual presidente, Michel Temer. Assim, Fernando
definir partir da consciência do indivíduo. Henrique demonstra que seu objeto é assumir o país
d) Os fatos sociais se caracterizam como coisa e por através de eleições indiretas.
isso devem atender às características de generalida- e) Ao criticar a governabilidade de Michel Temer e
de, de externalidade e de coercitividade. defender o sentido de organização e autoridade, FHC
e) Fato social é o método utilizado por Durkheim para demonstra que tem uma visão política baseada nas
explicar os fenômenos sociais que, quase sempre, re- ideias de John Locke, ou seja, de que o homem é na-
sultam de ideias e de crenças. turalmente livre.

8. (Uece 2019) Durkheim afirmou que os acontecimentos 10. A montagem acima faz uma sátira a respeito do uso
sociais – como os crimes, os suicídios, a família, a escola, do Facebook, uma das principais redes sociais da con-
as leis – poderiam ser observados como coisas, pois as- temporaneidade. Tendo em conta essa crítica, responda:
sim seria mais fácil de estudá-los pela Sociologia. Esses
fenômenos são por ele denominados de fatos sociais.
Assinale a opção que apresenta corretamente caracte-
rísticas do fato social.
a) É subjetivo, aleatório e coercitivo.
b) É individual, exterior e representa homogeneiza-
ção social.

16
a) O uso de redes sociais na internet pode ser consi-
derado um fato social? Justifique sua resposta.
b) A qual dos três aspectos do fato social a figura faz
referência de forma mais marcante? Por quê?

Gabarito
1. C 2. A 3. D 4. D 5. D
6. D 7. D 8. C 9. B
10.
a) Sim. O uso de redes sociais como o Facebook tem
se mostrado geral, coercitivo e exterior aos indivídu-
os; uma vez que seu uso é cada vez mais intenso, as
pessoas se sentem coagidas a participar dessas redes
e isso independe do gosto delas por essa forma de
comunicação.
b) Ao caráter coercitivo. Uma vez fazendo parte dessa
rede social, a pessoa encontra grandes dificuldades
para deixar de utilizá-la. Isso está presente, na figura,
pela ausência da porta de saída.

17
a vida social. Tem como causa fundamental o excesso
AULA 3 de individualismo. Esse tipo de suicídio predomina nas
sociedades modernas.
ƒ Altruísta: ato desencadeado pelo indivíduo tomado
pela obediência coercitiva do coletivo. Um exemplo
desse altruísmo são os terroristas, chamados “ho-
SOCIOLOGIA CLÁSSICA: mens/mulheres-bombas”, que, por uma ideologia,
tiram as suas próprias vidas em prol de um ideal.
ÉMILE DURKHEIM II
ƒ Anômico: ato que representa uma mudança abrupta
em um contexto de desregramento social, em que se
observa um aumento dos índices de suicídio. Pode ser
motivado por uma crise social, como o desemprego
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 ou por processos de transformações sociais, como a
modernização, que substituiu o homem no mercado
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, de trabalho.
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

1. O suicídio
Em sua obra intitulada O suicídio, de 1897, Durkheim pre-
tende provar que o suicídio é um fato social ocasionado multimídia: vídeo
pela coerção exterior e independente do indivíduo.
FONTE: YOUTUBE
O suicídio
O vídeo aborda a temática do suicídio segundo a visão
de Émile Durkheim.

2. A divisão do trabalho social


Durkheim, em sua tese de doutorado de 1893, chamada
“Da divisão social do trabalho”, analisa as formas de coe-
são social existentes nas diferentes sociedades.

Colocando em prática o seu método científico, unindo a


observação e o processo empírico, o sociólogo francês bus-
multimídia: livro
cou relacionar as taxas de suicídio em diversos países do
Ocidente. Em sua conclusão, define esse fenômeno como Sociologia
um fato social. Émile Durkheim. José Albertino Rodrigues (Org.). São
Construindo uma definição útil do suicídio, classifica-o em Paulo: Ática, 1978.
três tipos:
ƒ Egoísta: resultado da não integração dos indivíduos A sociedade existe pela reprodução dos fatos sociais,
às instituições, grupos ou redes sociais que permeiam transcendendo um consenso entre seus membros. Essa

18
sociedade é constituída por duas formas de solidarieda-
de, que distinguem dois tipos de sociedade.
ƒ Sociedades tradicionais: consolidadas pela solidariedade
mecânica, esse tipo de solidariedade está presente em
sociedades pré-capitalistas. A solidariedade mecânica
seria o estágio em que o grupo tem total predomínio
sobre o indivíduo e há uma forte semelhança entre todos
os membros da sociedade: todos se identificam através
da mesma religião, dos mesmos costumes, das tradições
familiares, os quais são responsáveis pela coesão social.
ƒ Sociedades modernas ou contemporâneas: consoli-
dadas pela solidariedade orgânica, as funções dos in-
divíduos no grupo se tornam diferenciadas e eles se
integram à sociedade porque um passa a depender do
outro. Nesse tipo de sociedade, a divisão do trabalho é
crescente. Exercer diferentes funções na sociedade, a
partir da especialização, gera um novo tipo de solida-
riedade, em que, por serem diferentes, um complemen-
ta o outro, criando uma relação de interdependência e
garantindo a coesão social.

multimídia: vídeo multimídia: música


FONTE: YOUTUBE FONTE: YOUTUBE

Bicho de Sete Cabeças - Brasil: 2000 (80 min) Senhor Cidadão - Tom Zé. 1972. Álbum: Tom Zé
O filme discute possibilidades e limites das instituições Nessa canção, Tom Zé aponta os fatos sociais que cons-
de socialização (religiosas, escolares e familiares), ins- tituíram a sociedade, utilizando-se de uma crítica.
tituições totais (manicômios, instituições carcerárias
e hospitais), além da violação dos direitos humanos e
Uma disciplina só pode ser chamada ciência se tiver um
construção da cidadania. campo definido a explorar. A ciência trata de coisas, re-
alidades. Se não tiver um material definido a descrever
e interpretar, existe um vácuo. Além da descrição e da
interpretação da realidade, ela não pode ter função real.
Solidariedade mecânica Solidariedade orgânica A aritmética trata de números; a geometria, de espaços
e figuras; as ciências naturais, de corpos animados e ina-
Sociedade simples Sociedade complexa nimados; e a psicologia, da mente humana. Antes que
a ciência social pudesse começar a existir, era preciso
Com inúmeras formas de divisão
Menor divisão do trabalho atribuir-lhe um assunto definido.
do trabalho
À primeira vista, esse problema não apresenta dificuldade:
Seres iguais Seres diferentes
o assunto da ciência social são as “coisas” sociais, ou seja,
leis, costumes, religiões etc. Todavia, se olharmos para a
Funções iguais Funções especializadas
história, percebemos que, até bem recentemente, nenhum
filósofo jamais encarara esses assuntos sob essa luz.
Consciência coletiva maior Consciência individual maior
ÉMILE DURKHEIM
Coerção pela força e violência Coerção pelo controle formalizado MONTESQUIEU E ROUSSEAU: PIONEIROS DA SOCIOLOGIA.
SÃO PAULO: MADRAS, 2008, P. 17

19
DIAGRAMA DE IDEIAS

DURKHEIM

DIVISÃO DO
SUICÍDIO
TRABALHO SOCIAL

• EGOÍSTA
• ALTRUÍSTA
• ANÔMICO

FRUTO DE
REPRODUÇÃO DOS
FATOS SOCIAIS

SOCIEDADES SOCIEDADES
TRADICIONAIS MODERNAS

VALORES VALORES
SEMELHANTES DIFERENTES

MENOR DIVISÃO MAIOR DIVISÃO


DO TRABALHO DO TRABALHO

20
“jogo” Baleia Azul, que propõe 50 desafios aos partici-
Aplicando para pantes e sugere o suicídio como última etapa.
Aprender (A.P.A.) DISPONÍVEL EM: <WWW.TRIBUNAPR.COM.BR/NOTICIAS/CURITIBA-
REGIAO/JOGO-BALEIA-AZUL-DEIXA-CURITIBA-EM-ALERTA-OITO-JA-
1. (UPE-SSA 3) Leia o texto a seguir: BRINCARAM-COM-MORTE/>. ACESSO EM: 22 ABR. 2017.

O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de Esse foi um dos alertas, nos últimos meses, relacionados
algum modo; o saber próprio dos homens e das mulhe- ao “jogo Baleia Azul” e à possibilidade de suicídios de
res, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o adolescentes (13 a 17 anos) ligadas a ele. Pode-se reali-
saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, zar uma relação desses possíveis suicídios com os tipos
o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos es- de suicídios de Durkheim, pois, para esse pensador, os
pecialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas in- indivíduos são determinados pela realidade coletiva.
terpessoais, familiares e comunitárias, em que ainda não
Assim, o suicídio gerado pelo “jogo” seria classificado
surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas
como:
de seus profissionais de aplicação exclusiva.
a) suicídio egoísta.
BRANDÃO, CARLOS RODRIGUES. O QUE É EDUCAÇÃO?
SÃO PAULO: BRASILIENSE, 2007, P. 20. b) suicídio anômico.
c) suicídio etnocêntrico.
d) suicídio cultural.

3. (Unioeste) “Solidariedade orgânica” e “solidarieda-


de mecânica” são conceitos propostos pelo sociólogo
francês Émile Durkheim (1858-1917) para explicar a
“coesão social” em diferentes tipos de sociedade. De
acordo com as teses desse estudioso, nas sociedades
ocidentais modernas, prevalece a “solidariedade orgâ-
nica”, onde os indivíduos se percebem diferentes em-
bora dependentes uns dos outros. A lógica do mercado
capitalista, entretanto, baseada na competição indivi-
dualista em busca do lucro, pode corromper os vínculos
de solidariedade que asseguram a coesão social e con-
O tema discutido no texto é uma preocupação nos es- duzir a uma situação de “anomia”.
tudos da Sociologia desde a sua consolidação como
De acordo com os postulados de Durkheim, é correto
ciência. Nos trabalhos de Émile Durkheim, esse tema
dizer que o conceito de “anomia” indica:
ganhou um destaque por considerar uma forma de in-
tegração dos indivíduos e de perpetuação dos hábitos e a) a necessidade de todos demonstrarem solidarieda-
costumes do grupo, ou seja, dos fatos sociais. de com os mais necessitados.
Sobre isso, assinale a alternativa que NÃO indica uma b) uma situação na qual aqueles indivíduos porta-
característica do tipo de transmissão do conhecimento. dores de um senso moral superior devem se colocar
como líderes dos grupos dos quais fazem parte.
a) A aprendizagem acontece sem que haja um plane-
c) a condição na qual os indivíduos não se identificam
jamento específico e, muitas vezes, sem que os sujei-
como membros de um grupo que compartilha as mes-
tos se deem conta.
mas regras e normas e têm dificuldades para distinguir,
b) O processo de construção do conhecimento é per- por exemplo, o certo do errado e o justo do injusto.
manente, contínuo e não previamente organizado,
d) o consumismo exacerbado das novas gerações,
desenvolvendo-se ao longo da vida.
representado pelo aumento do número de shopping
c) O conhecimento transmitido permite ao sujeito centers nas cidades.
resolver situações referentes aos processos de so-
e) a solidariedade que as pessoas demonstram quan-
cialização e àqueles relacionados às imposições da
do entoam cantos nacionalistas e patrióticos em
natureza para sobrevivência do grupo.
manifestações públicas como os jogos das seleções
d) A percepção gestual, a moral e a comportamental,
nacionais de futebol.
provenientes de meios familiares de amizade, de tra-
balho e de socialização midiática, fazem parte do rol 4. (UEL) A cidade desempenha papel fundamental no
de aprendizagens e conhecimentos. pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o
e) O conhecimento e a habilidade são transmitidos desenvolvimento das formas de integração quanto por
por meio de um currículo pré-definido em ambientes intensificar a divisão do trabalho social a ela ligada.
especializados, num processo conhecido como esco- Com base nos conhecimentos acerca da divisão de tra-
larização. balho social nesse autor, assinale a alternativa correta.
2. (UFU) A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio
alerta pais e responsáveis por crianças e adolescentes livre de funções no espaço urbano torna obsoleta a
e os profissionais da educação e saúde em relação ao presença de instituições.

21
b) A solidariedade orgânica é compatível com a so- qual cada um dos membros dessa sociedade venha a
ciedade de classes, pois a vida social necessita de manifestá-la, porque tem uma realidade própria.
trabalhos diferenciados. II. A consciência coletiva recobre todas as áreas de
c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “ho- distintas dimensões na consciência das pessoas, inde-
mem massa”, as cidades recriam a solidariedade me- pendentemente de que esteja inserido numa sociedade
cânica em detrimento da solidariedade orgânica. simples ou mesmo uma sociedade complexa.
d) O efeito principal da divisão do trabalho é o au- III. Quanto mais simples é a sociedade mais extensa é
mento da desintegração social em razão de trabalhos
a consciência coletiva, maior é a coesão entre os parti-
parcelares e independentes.
cipantes da sociedade, o que faz com que todos se as-
e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela cres- semelhem e, por isso, os membros do grupo sintam-se
cente divisão do trabalho decorrem das vontades e atraídos pelas similitudes uns com os outros.
das consciências individuais.
IV. Na sociedade complexa, o ideal moral é imutável, e
5. (Unioeste) “Solidariedade orgânica” e “solidarieda- uma vez que ele surge, impossibilita a sua modificação
de mecânica” são conceitos propostos pelo sociólogo e evolução, por mais que se modifiquem as condições
francês Émile Durkheim (1858-1917) para explicar a de vida social.
'coesão social' em diferentes tipos de sociedade. De Estão corretas as afirmativas:
acordo com as teses desse estudioso, nas sociedades
ocidentais modernas, prevalece a 'solidariedade orgâ- a) I, II e IV, apenas.
nica', onde os indivíduos se percebem diferentes em- b) I, II e III, apenas.
bora dependentes uns dos outros. A lógica do mercado c) II, III e IV, apenas.
capitalista, entretanto, baseada na competição indivi- d) I, III e IV, apenas.
dualista em busca do lucro, pode corromper os vínculos e) Todas as alternativas corretas.
de solidariedade que asseguram a coesão social e con-
duzir a uma situação de 'anomia'. 7. (Unimontes) Segundo o sociólogo francês Émile
De acordo com os postulados de Durkheim, é CORRETO Durkheim (1858-1917), a consciência coletiva corres-
dizer que o conceito de “anomia” indica ponde ao conjunto das crenças e dos sentimentos co-
muns à média dos membros de uma mesma sociedade
a) a necessidade de todos demonstrarem solidarieda-
que forma um sistema determinado que possui dinâ-
de com os mais necessitados.
mica própria. Ou seja, existem certos padrões morais
b) uma situação na qual aqueles indivíduos porta-
estabelecidos pela sociedade aos quais as pessoas de-
dores de um senso moral superior devem se colocar
vem obedecer, como deveres por ela impostos, cuja
como líderes dos grupos dos quais fazem parte.
natureza obrigatória da moral caminha conjuntamen-
c) a condição na qual os indivíduos não se identifi- te à manifestação voluntária da vontade de segui-la.
cam como membros de um grupo que compartilha Considerando as reflexões do autor sobre esse tema,
as mesmas regras e normas e têm dificuldades para analise as afirmativas a seguir:
distinguir, por exemplo, o certo do errado e o justo
I. A consciência coletiva produz um mundo de sentimen-
do injusto.
tos, de ideias, de imagens e independe da maneira pela
d) o consumismo exacerbado das novas gerações,
qual cada um dos membros dessa sociedade venha a
representado pelo aumento do número de shopping
manifestá-la, porque tem uma realidade própria.
centers nas cidades.
II. A consciência coletiva recobre todas as áreas de
e) a solidariedade que as pessoas demonstram quan-
distintas dimensões na consciência das pessoas, inde-
do entoam cantos nacionalistas e patrióticos em
pendentemente de que esteja inserido numa sociedade
manifestações públicas como os jogos das seleções
simples ou mesmo uma sociedade complexa.
nacionais de futebol.
III. Quanto mais simples é a sociedade mais extensa é
6. (Unimontes) Segundo o sociólogo francês Émile a consciência coletiva, maior é a coesão entre os parti-
Durkheim (1858-1917), a consciência coletiva corres- cipantes da sociedade, o que faz com que todos se as-
ponde ao conjunto das crenças e dos sentimentos co- semelhem e, por isso, os membros do grupo sintam-se
muns à média dos membros de uma mesma sociedade atraídos pelas similitudes uns com os outros.
que forma um sistema determinado que possui dinâmi- IV. Na sociedade complexa, o ideal moral é imutável, e
ca própria. Ou seja, existem certos padrões morais esta- uma vez que ele surge, impossibilita a sua modificação
belecidos pela sociedade aos quais as pessoas devem e evolução, por mais que se modifiquem as condições
obedecer, como deveres por ela impostos, cuja natureza de vida social.
obrigatória da moral caminha conjuntamente à manifes-
tação voluntária da vontade de segui-la. Estão CORRETAS as afirmativas
Considerando as reflexões do autor sobre esse tema, a) I, II e IV, apenas.
analise as afirmativas a seguir: b) I, II e III, apenas.
I. A consciência coletiva produz um mundo de sentimen- c) II, III e IV, apenas.
tos, de ideias, de imagens e independe da maneira pela d) I, III e IV, apenas.

22
8. (Unicentro) As análises sociológicas de Émile Durkheim, biografia, uma vez que não deixa de ser um ato do
ao mesmo tempo que demonstram a intenção em eman- próprio indivíduo.
cipar a sociologia das outras ciências, indicam a preocu-
pação com as crises e problemas de sua época, ou o que 10. (UFPR) Normalmente, quando se fala de socialização,
esse autor denominou de estado de anomia da sociedade se pensa no processo de interiorização de normas e de
industrial. Em sua obra As regras do método sociológico, comportamentos sociais pela criança. Durkheim afirma
Durkheim estabelece o método e o objeto de estudo da que a socialização primária da criança, que ocorre nos
Sociologia. O domínio de toda a ciência deve correspon- primeiros anos de vida, é de responsabilidade da família,
der ao universo empírico e se preocupar apenas com essa e a socialização secundária se faz em instituições como
realidade, ou seja, o estudo metódico que conduz ao esta- a igreja e a escola. Considerando que vivemos no século
belecimento de leis explicativas dos fenômenos. A Sociolo- XXI, que outras instituições participam hoje da socializa-
gia seria uma ciência no meio de outras ciências positivas. ção da criança? Cite duas e justifique sua escolha.

RODRIGUES, J.A. (ORG.). ÉMILE DURKHEIM: SOCIOLOGIA. 11. (UFU) A industrialização e o surgimento concomitan-
SÃO PAULO: ÁTICA, 1978, P. 19-21; te de grandes centros urbanos com seus aglomerados
MARTINS, C.B. O QUE É SOCIOLOGIA. SÃO
populacionais e um crescente processo de individuali-
PAULO: BRASILIENSE, 1982, P. 50-51.
zação constituíram temas recorrentes na investigação
Com base no texto e nos conhecimentos sociológicos sociológica clássica. Discorra a respeito da relação en-
de Durkheim sobre o estado de anomia da sociedade tre os processos de urbanização e individuação, a partir
industrial, assinale a alternativa correta. da abordagem sociológica de Émile Durkheim

a) Para Durkheim, a situação de anomia das socie-


dades industriais tem como explicação os programas
de mudança na distribuição de riquezas esboçados Gabarito
pelos socialistas.
1. E 2. A 3. C 4. B 5. C
b) Segundo Durkheim, o estado de anomia da socie-
dade industrial moderna tem como origem a reprodu- 6. B 7. B 8. D 9. B
ção das crises do estágio anterior de desenvolvimen-
to da sociedade. 10. As instituições que participam da sociabilização das
c) As análises de Durkheim demonstram que os anta- crianças são a família, a escola e a igreja. Além disso, como
gonismos entre as classes são os fatores determinan- o primeiro exemplo, tem-se a influência que os meios de
tes da anomia, dos problemas e das crises da moder- comunicação de massa exercem na formação das crianças.
na sociedade industrial. A entrada da mulher no mercado de trabalho também é
d) Durkheim demonstra que a raiz da anomia, dos um exemplo, pois não permite que a mulher esteja custo-
problemas e das crises da sociedade industrial é a diando integralmente a educação de seus filhos, deixando
fragilidade dos valores morais e o relaxamento dos
para a creche ou para a TV a responsabilidade dos cuida-
laços sociais.
e) Durkheim define que o aumento da produtividade
dos com as crianças.
é o aspecto determinante para explicar a anomia em 11. Segundo Durkheim, o processo de individuação, me-
que a sociedade industrial de sua época se encontrava. diante o qual a consciência individual tende a se sobrepor
9. (UFU) Durkheim caracteriza o suicídio – até então à consciência coletiva, de modo que as regras de compor-
considerado objeto de estudo da epidemiologia, da psi- tamento passem a se basear cada vez mais em interesses
cologia e da psiquiatria – como fato social e, por isso, particulares, constitui característica marcante dos meios
dotado das características da coercitividade, da exte- urbanos das sociedades modernas. O suicídio egoísta é o
rioridade, da generalidade. É tomado, pois, como objeto tipo de suicídio característico desse tipo de sociabilidade,
de estudo sociológico, em virtude do fato de:
definindo‐o como aquele “que resulta de uma individua-
a) variar na razão inversa ao grau de integração dos gru- ção excessiva”, levando a um enfraquecimento da socie-
pos sociais de que faz parte o indivíduo, ou seja, quanto
dade nos indivíduos, portanto, à falta de “uma razão para
maior o grau de integração ao grupo social, mais eleva-
da é a taxa de mortalidade – suicídio da sociedade.
suportarem com paciência as misérias da existência”. Não
b) ser possível observar uma certa predisposição so- se sabe mais "o que é possível e o que não é, o que é justo
cial para fornecer determinado número de suicidas, e injusto, quais são as reivindicações e as aspirações legíti-
ou seja, uma tendência constante, marcada pela per- mas, quais são aquelas que passam da medida". Tal estado
manência, a despeito de variações circunstanciais. de desregramento ou anomia é acompanhado de um surto
c) configurar-se como uma morte que resulta direta de paixões indisciplinadas e ímpetos incontrolados e, desse
ou indiretamente, consciente ou inconscientemente modo, também de aumento na curva de suicídios.
de um ato executado pela própria vítima.
d) depender, exclusivamente, do temperamento do sui-
cida, de seu caráter, de seu histórico familiar, de sua

23
AULA 4

SOCIOLOGIA CLÁSSICA: multimídia: vídeo


MAX WEBER FONTE: YOUTUBE
Na íntegra - Max Weber 2/2
Entrevista com Gabriel Cohn, professor da faculdade de
Ciências Sociais da USP. Discutindo os conceitos da so-
ciologia weberiana.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

1. Max Weber (1864-1920)


Maximilian Karl Emil Weber nasceu em 1864, na Ale-
manha. Sua formação é multidisciplinar, tendo realizado
estudos em Direito, Filosofia, Sociologia e História. Teve
participação política significativa, participando da comis- 1.1. Ação social
são autora da Constituição de Weimar. Suas obras mais A primeira grande contribuição de Weber é a quebra dos
importantes são aquelas que relacionam formações po- pressupostos positivistas por meio de uma forte crítica e,
líticas a crenças religiosas, como A ética protestante e o também, pelo desenvolvimento de um novo método. En-
espírito do capitalismo. Weber morre em 1920, vítima de quanto para Comte e Durkheim prevalecia o primado do
uma pneumonia. objeto, para Weber o caminho da Sociologia é o primado
Weber contribuiu para a consolidação da ciência socioló- do sujeito: o indivíduo é elemento fundamental na expli-
gica, analisando os processos do capitalismo na sociedade cação da realidade social. Dessa maneira, Weber inaugura
contemporânea. Grande parte de seus estudos se preocu- um novo caminho de interpretação da realidade social: a
pou com o capitalismo e seu processo racionalizado. Seus Teoria Sociológica Compreensiva.
trabalhos desenvolveram descobertas do papel da subjeti- Segundo Weber, a Sociologia é uma ciência que pretende
vidade na ação e na pesquisa social, acreditando que não compreender a ação social. Para o sociólogo, essa ação so-
existe uma lei preexistente que regule o desenvolvimento cial seria a conduta humana dotada de sentido, um com-
da sociedade. portamento planejado, uma atuação direcionada a outros
na sociedade.
Toda ação social segue certos requisitos:
ƒ o ser lhe dá um sentido;
ƒ esse sentido se remete ao outro.
A grande inovação de Weber em sua interpretação da re-
alidade é dotar o indivíduo de significado e especificidade,
multimídia: vídeo dando sentido à sua ação social e estabelecendo conexões
FONTE: YOUTUBE entre os motivos de sua ação, o ato propriamente dito e
suas consequências.
Na íntegra - Max Weber 1/2
A ação social pode se encaixar em quatro tipos:

24
Para Weber, a ética protestante contribuiu para o desenvol-
Ação afetiva Determinada por sentimentos
vimento do capitalismo. Como exemplo, são citadas as má-
Determinada por ximas de Benjamin Franklin: “Lembra-te de que tempo é di-
Ação tradicional costumes ou hábitos
nheiro; lembra-te de que crédito é dinheiro; lembra-te de que
Ação racional com Ações guiadas por certas
convicções (morais, religiosas, dinheiro gera mais dinheiro; lembra-te de que o bom pagador
relação a valores políticas, estéticas, etc.) é senhor da bolsa alheia; guarda-te de pensar que tudo o que
Ação racional com Determinada pelos fins que possuis é propriedade tua e de viver como se fosse; por seis
perseguem, predominantemente libras por ano podes fazer uso de cem libras, contanto que
relação a fins na vida econômica
sejas reconhecido como um homem prudente e honesto.”
Segundo Weber, a Sociologia precisa desenvolver procedi- Outra questão abordada por Weber nessa obra é que o
mentos de investigação que permitam verificar os valores protestantismo e a doutrina da predestinação represen-
e as motivações que condicionam as ações humanas. Com tam o ponto final do processo de desencantamento do
isso, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão mundo. No processo de desencantamento do mundo, o
das sociedades. homem deixa de acreditar que o mundo é povoado por
forças divinas e impessoais. A eliminação da magia começa
no judaísmo antigo até chegar ao protestantismo ascético,
completando-se com o surgimento da ciência. Através do
saber racional, o homem “des-diviniza” a natureza, vista
agora como um mecanismo causal carente de sentido e
que pode ser controlada pela técnica.

multimídia: livro

A ética protestante e o espírito do capitalismo.


WEBER, Max. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
1.2. A ética protestante e o
espírito do capitalismo 1.3. Política, poder e dominação
Weber empreendeu análises comparativas entre as religiões
Weber define política como o conjunto dos esforços feitos
com o objetivo de compreender as razões do desenvolvi-
com vistas a participar do poder ou influenciar a divisão
mento do capitalismo europeu. Diante de seus estudos, ele do poder. Já o poder seria a capacidade de impor a pró-
concluiu que o mundo oriental não oferecia condições para pria vontade dentro de uma relação social. Dominação
esse tipo de organização econômica, pois pregava valores significa a probabilidade de encontrar obediência a um
de harmonia, enquanto as religiões cristãs incentivavam o determinado mandato.
trabalho e a competição.
Weber define o Estado como uma comunidade humana
No seu estudo sobre modernidade, Weber procura enten- que, dentro dos limites de um determinado território, rei-
der a relação que existe entre o protestantismo e a mo- vindica o monopólio legítimo da violência física.
derna conduta econômica capitalista. No protestantismo
Para Weber, o capitalismo é dominado pela ascensão da
é possível encontrar uma visão ascética com a valorização
ciência e da burocracia. Weber não acredita que a luta
religiosa do trabalho como uma tarefa ordenada por Deus. de classes condicionará o capitalismo. Assim, a burocra-
Essa ética vocacional do trabalho acabou dando suporte cia racional e impessoal é o meio de organizar grandes
para um comportamento indispensável para a origem da quantidades de pessoas. A partir disso, Weber aponta
conduta de vida capitalista: a busca ordenada do lucro uma relação entre dominantes e dominados constituída
através do trabalho metódico e racional. por bases legítimas.

25
Essas diferenças têm um papel específico na determi-
nação da forma e destino das comunidades políticas.
Nem todas as estruturas políticas são igualmente “ex-
pansivas”. Não lutam todas por uma expansão exte-
rior de seu poder, ou mantêm sua força pronta para
a aquisição de poder político sobre outros territórios
e comunidades, pela sua incorporação ou tornando-
-os dependentes. Por isso, como estruturas do poder,
multimídia: música as organizações políticas variam na medida em que se
voltam para o exterior. A estrutura política da Suíça é
FONTE: YOUTUBE
“neutralizada” através de uma garantia coletiva das
Toda forma de poder - Engenheiros do Hawaii. Grandes Potências. Por várias razões, a Suíça não é
Álbum: Longe demais das capitais. RCA,1986. muito desejada como objeto de incorporação. Os ciú-
mes mútuos existentes entre comunidades vizinhas, de
Essa canção mostra como a dominação pelo uso da
igual força, a protegem dessa sorte. A Suíça, bem como
força pode controlar a sociedade com sistemas polí- a NorUEGa, está menos ameaçada do que a Holanda,
ticos distintos. que possui colônias; e esta sofre menos ameaça do que
a Bélgica, pois as possessões coloniais belgas ficariam
muito expostas, como a própria Bélgica, no caso de
Weber analisa os fundamentos que tornam legítima a
uma guerra entre seus vizinhos poderosos. A Suécia
autoridade, as razões que justificam a dominação, distin- também está muito exposta.
guindo três tipos puros: dominação tradicional, dominação
WEBER, MAX.
carismática e dominação legal. ENSAIOS DE SOCIOLOGIA. RIO DE JANEIRO: LTC EDITORA, 1982, P.187

- É a dominação burocrática no Estado.


- Constituída por formas legais, hie-
Dominação legal rárquicas, mediante uma formação
eleita ou nomeada.
- Deve seguir um estatuto.
- Dominação patriarcal.
Dominação - Controle feito pelo “senhor” perante
seus “súditos”.
tradicional - Não é possível criar novos direitos
diante das normas da tradição. multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
- Dominação por uma devoção afetiva.
Dominação - Sendo um “líder” que constrói uma Vida de inseto - Estados Unidos: 1998 (96 min)
carismática imagem de adoração, controlando seus
“súditos”. O filme conta a história de uma colônia de formigas que
vivem às voltas com uma árdua tarefa. Todos os anos,
elas precisam juntar alimentos para si e para os gafa-
1. O Prestígio e o Poder das “Grandes Potências” nhotos, que exigem delas uma elevada quantia de co-
Todas as estruturas políticas usam a força, mas diferem mida. Conforme a ideia de dominação de Weber, as for-
no modo e na extensão com que a empregam ou ame- migas cumprem com o dever por medo dos gafanhotos.
açam empregar contra outras organizações políticas.

26
DIAGRAMA DE IDEIAS

MAX WEBER

A SOCIOLOGIA A DOMINAÇÃO
COMPREENDE AS SOCIAL
AÇÕES SOCIAIS A RELIGIÃO

LEGAL
CONDICIONA OS
FATOS SOCIAIS E OS
VALORES MORAIS BUROCRACIA

DIRECIONA PARA TRADICIONAL


UMA COMPETIÇÃO
PATRIARCAL

CONSOLIDA
O SISTEMA CARISMÁTICA
CAPITALISTA

DEVOÇÃO
AFETIVA

27
despesa; gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora,
Aplicando para cinco xelins a mais.
Aprender (A.P.A.) WEBER, M. A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO.
SÃO PAULO: PIONEIRA; BRASÍLIA: UNB, 1981, P.29.
1. (Enem) A crescente intelectualização e raciona-
lização não indicam um conhecimento maior e ge- O conselho de Benjamin Franklin é analisado por Max
ral das condições sob as quais vivemos. Significa a Weber (1864-1920) na obra A Ética Protestante e o Espí-
crença em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse rito do Capitalismo. Com base nessa obra, assinale a al-
conhecimento a qualquer momento. Não há forças ternativa que apresenta, corretamente, a compreensão
misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as weberiana sobre o sentido da conduta do indivíduo na
coisas pelo cálculo. formação do capitalismo moderno ocidental:
a) Racionalidade.
WEBER, M. A CIÊNCIA COMO VOCAÇÃO. IN: GERTH, H.;
MILLS, W. (ORG.). MAX WEBER: ENSAIOS DE SOCIOLOGIA. b) Utilitariedade.
RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 1979 (ADAPTADO). c) Tradicionalidade.
d) Organicidade.
Tal como apresentada no texto, a proposição de Max
Weber a respeito do processo de desencantamento do e) Funcionalidade.
mundo evidencia o(a): 4. (UEG) O desenvolvimento do racionalismo econômi-
a) progresso civilizatório como decorrência da expan- co é parcialmente dependente da técnica e do direito
são do industrialismo. racionais, mas é ao mesmo tempo determinado pela ha-
b) extinção do pensamento mítico como um desdo- bilidade e disposição do homem em adotar certos tipos
bramento do capitalismo. de conduta racional prática […]. As forças mágicas e re-
ligiosas e as ideias éticas de dever nelas baseadas têm
c) emancipação como consequência do processo de
estado sempre, no passado, entre as mais importantes
racionalização da vida.
influências formativas de conduta.
d) afastamento de crenças tradicionais como uma ca-
racterística da modernidade. WEBER, MAX. A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO
CAPITALISMO. SÃO PAULO: PIONEIRA, 1981. P. 09.
e) fim do monoteísmo como condição para a consoli-
dação da ciência. Uma das mais conhecidas explicações sobre a origem do
capitalismo é a do sociólogo alemão Max Weber, que pos-
2. (Enem) O impulso para o ganho, a perseguição do
tula a afinidade entre a ética religiosa e as práticas capi-
lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de di-
talistas. Essa relação se mostra claramente na ética do:
nheiro não tem, em si mesma, nada que ver com o ca-
pitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu. Pode-se a) Anglicanismo britânico, que, ao desestimular as
dizer que tem sido comum a toda sorte e condição hu- esmolas, permitiu o incremento da poupança nas fa-
manas em todos os tempos e em todos os países, sem- mílias burguesas.
pre que se tenha apresentada a possibilidade objetiva b) Luteranismo alemão, que defendia que cada pessoa
para tanto. O capitalismo, porém, identifica-se com a devia seguir a sua vocação profissional para conseguir
busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio da a salvação.
empresa permanente, capitalista e racional. Pois as- c) Puritanismo calvinista, que concebe o sucesso eco-
sim deve ser: numa ordem completamente capitalista nômico como indício da predestinação para a salvação.
da sociedade, uma empresa individual que não tirasse d) Catolicismo ortodoxo, que, ao abrir mão dos luxos
vantagem das oportunidades de obter lucros estaria nas construções arquitetônicas, canalizou capital para
condenada à extinção. investimentos econômicos.
WEBER, M. A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO. e) Catolicismo romano, que por meio da cobrança de
SÃO PAULO: MARTIN CLARET, 2001 (ADAPTADO). dízimos e vendas de indulgências estimulou a acumu-
lação de capital.
O capitalismo moderno, segundo Max Weber, apresenta
como característica fundamental a: 5. (UFU) Weber procura analisar os fundamentos que
tornam legítima a autoridade e as razões internas que
a) competitividade decorrente da acumulação de capital.
justificam a dominação, que ele distingue conforme três
b) implementação da flexibilidade produtiva e comercial. tipos puros: a dominação tradicional, a dominação ca-
c) ação calculada e planejada para obter rentabilidade. rismática e a dominação racional-legal.
d) socialização das condições de produção. Sobre as características da dominação racional-legal é
e) mercantilização da força de trabalho. incorreto afirmar que:
3. (UEL) Lembra-te de que tempo é dinheiro; aquele que a) a obediência ao soberano não é entendida como
pode ganhar dez xelins por dia por seu trabalho e vai uma obediência a sua pessoa, mas a uma ordem
passear, ou fica vadiando metade do dia, embora não impessoal.
dependa mais do que seis pence durante seu diverti- b) existe uma separação entre o patrimônio público
mento ou vadiação, não deve computar apenas essa e o patrimônio privado, de modo que os funcionários

28
não se apropriam dos cargos e estão sujeitos à pres- tem um conhecimento incomparavelmente maior sobre
tação de contas. suas ferramentas.
c) o soberano exerce o mandato segundo seu arbítrio,
WEBER, M. A CIÊNCIA COMO VOCAÇÃO. IN: GERTH, H.; MILLS, W. MAX
mas está subordinado a leis conforme as quais pauta WEBER. ENSAIOS DE SOCIOLOGIA. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 1979. P. 165.
os seus atos.
d) exige-se dos funcionários um saber profissional, Com base no texto e nos conhecimentos sobre a socie-
e o recrutamento desses funcionários é realizado de dade moderna, conforme Max Weber, assinale a alter-
modo competitivo, tendo-se em vista o mérito e a ca- nativa correta.
pacidade dos candidatos. a) A secularização da vida moderna e o consequente
desencantamento do mundo são expressões da racio-
6. (Unicentro) A teoria social contemporânea tem como
nalização ocidental.
um de seus principais teóricos o cientista social alemão
Max Weber e seus estudos sobre a moderna sociedade b) O homem moderno detém menor controle sobre as
capitalista ocidental. forças da natureza, em comparação com o domínio
que possuía o “selvagem”.
Com base nas análises sociológicas weberianas sobre as
c) O avanço da racionalidade produz, também, uma
ações sociais, assinale a alternativa correta:
maior revitalização da cultura clássica, dado que am-
a) Busca compreender, pela interpretação, os sentidos plia o alcance das escolhas efetivas disponíveis.
atribuídos pelos indivíduos às ações sociais. d) O desencantamento do mundo é um fato social que
b) Consegue explicar a totalidade das ações sociais atua como força coercitiva sobre as vontades individu-
por meio de verdades científicas. ais, visando à construção da consciência coletiva.
c) Determina o caráter imperativo da esfera econômi- e) O desencantamento do mundo destitui o Ocidente
ca sobre as ações sociais dos diferentes grupos. de um elemento diferenciador em relação ao Oriente:
d) Enfatiza o estudo das contradições das ações so- as ações sociais dotadas de sentido.
ciais a partir das vontades das classes sociais.
e) Procura definir a existência de uma lei histórica ge- 9. (UEM) “A dominação, ou seja, a probabilidade de en-
contrar obediência a um determinado comando, pode
ral de desenvolvimento das ações sociais.
fundar-se em diversos motivos de submissão. Pode
7. (Unimontes) De acordo com Max Weber (1964-1920), depender diretamente de uma situação de interesses,
poder é a capacidade verificada dentro de uma relação ou seja, de considerações utilitárias de vantagens e
social que permite a alguém impor a sua própria vonta- inconvenientes por parte daquele que obedece. Pode
de, mas que, para se tornar uma forma de dominação, também depender de mero ‘costume’, do hábito obtuso
precisa ser legitimada pelos indivíduos que lidam com de um comportamento inveterado. Ou pode fundar-se,
esse poder. Para compreensão da ação humana, Weber finalmente, no puro afeto, na mera inclinação pessoal
propõe tipos de dominação. Relacione as colunas, esta- do dominado. Não obstante, a dominação que repou-
belecendo as correspondências indicadas pelo sociólo- sasse apenas nesses fundamentos seria relativamente
go alemão. instável. Nas relações entre dominantes e dominados,
por outro lado, a dominação costuma apoiar-se interna-
1 – Dominação legal mente em bases jurídicas, nas quais se funda a ‘legitimi-
2 – Dominação carismática dade’, e o abalo dessa crença na legitimidade costuma
3 – Dominação tradicional acarretar consequências de grande alcance.”
( ) Um tipo de dominação é aquele baseado no dom da (WEBER, MAX. OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA. IN: CASTRO,
graça ou na qualidade pessoal, determinando relação CELSO. TEXTOS BÁSICOS DE SOCIOLOGIA. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2014, P.58).
de afetividade.
Considerando o texto e conhecimentos sobre o conceito
( ) Dominação em valores e hábitos. de dominação de Max Weber, assinale o que for correto.
( ) Dominação baseada em regras instituídas.
01) A obediência é uma força coercitiva que se impõe
A sequência correta é: sobre os indivíduos como uma forma de lei natural
a) 3, 1, 2. que assegura a perpetuação histórica das formas de
b) 2, 3, 1. dominação.
c) 1, 2, 3. 02) As ações sociais orientadas pela obediência à tra-
d) 1; 3; 2. dição são as que melhor caracterizam as relações de
dominação na Sociedade moderna.
e) 3; 2; 1.
04) A racionalidade jurídica expressa a forma mais
8. (Uel 2019) Leia o texto a seguir. elevada de pensamento humano; portanto, é rara-
A menos que seja um físico, quem anda num bonde não mente questionada pelos indivíduos.
tem ideia de como o carro se movimenta. E não precisa 08) A dominação é uma relação social, portanto en-
saber. Basta-lhe poder contar com o comportamento volve ações sociais recíprocas entre dominantes e
do bonde a orientar sua conduta de acordo com sua dominados.
expectativa; mas nada sabe sobre o que é necessário 16) As ações humanas são orientadas por diversas
para produzir o bonde ou movimentá-lo. O selvagem motivações e finalidades que envolvem tanto relações

29
de afeto quanto cálculos que avaliam ganhos e per-
das de determinadas atitudes. Gabarito
10. (UFU) Nas Ciências Sociais, particularmente na Ci- 1. D 2. C 3. A 4. C 5. C
ência Política, definir o Estado sempre foi uma tarefa
prioritária. As tentativas nesta direção fizeram com que
6. A 7. B 8. A 9. 08 + 16 = 24 10. A
vários intelectuais vissem o Estado de formas diferen- 11.
tes, com naturezas diferentes. Numa palestra intitula- a) De acordo com Weber, o conceito de dominação é
da Política como vocação, Max Weber nos adverte, por a probabilidade de encontrar obediência, isto é, legi-
exemplo, que o Estado pode ser entendido como uma timidade (consentimento / adesão) a uma ordem de
relação de homens dominando homens. No trecho da determinado conteúdo, entre determinadas pessoas
canção d´O Rappa, Tribunal de Rua, dominação é o que indicáveis. De acordo com seu pensamento, a função é
se percebe, também, na relação entre cidadãos e poli- o estabelecimento de determinadas relações sociais de
ciais (braço armado do Estado). dominações entendidas através das tipologias sociais.
A viatura foi chegando devagar b) A dominação tradicional tem poderes de mando
E de repente, de repente resolveu me parar herdados pela tradição, em que os dominados são
Um dos caras saiu de lá de dentro companheiros ou súditos do senhor, sendo o tipo mais
Já dizendo, aí compadre, você perdeu puro a dominação patriarcal, geralmente exercida pe-
Se eu tiver que procurar você tá fodido los anciões. Conforme o humor do chefe tradicional,
Acho melhor você ir deixando esse flagrante comigo [...]. pode-se obter favores ou cair em desgraça. Já a do-
minação racional-legal tem a legitimidade do direito
O RAPPA. LADO A LADO B. WARNER, 1999. estatuído (regulamento ou conjunto de regras de orga-
A partir da perspectiva weberiana, relacionada ao tre- nização e funcionamento de uma coletividade), onde o
cho da canção acima, evidencia se que a dominação soberano está sujeito à lei e a ordem é de caráter im-
do Estado: pessoal. Quem obedece não obedece à pessoa do so-
berano, mas obedece ao direito e o faz como membro
a) é exercida pela autoridade legal reconhecida, daí da associação. Quadro administrativo hierarquizado e
caracterizar-se fundamentalmente como dominação profissional, se caracterizando pela existência da buro-
racional legal. cracia. Quanto à dominação carismática, a obediência
b) é estabelecida por meio da violência prioritaria- é obediência ao líder enquanto portador de carisma,
mente exercida contra grupos e classes excluídos so- personalidade considerada sobrenatural, sobre-huma-
cial e economicamente. na, com uma devoção afetiva. Cria ou anuncia novos
c) ocorre a partir da imposição da razão de Estado, mandamentos (direitos, normas, punições, etc.) pela
ainda que contra as vontades dos cidadãos que, nor- “revelação” ou por sua vontade de organização. Não
malmente, àquela resistem. há quadro administrativo, sem regras fixas, hierarquia
d) a exemplo da dominação de outras instituições, ou competências.
opera de forma genérica, exterior e coercitiva.

11. (UFU) Uma vez que Weber entende que o social se


constrói a partir das ações individuais, cria-se um pro-
blema teórico: como é possível a continuidade da vida
social? A resposta para tais questões encontra-se no
fundamento da organização social, chave do verdadeiro
problema sociológico: a dominação ou a produção da
legitimidade, da submissão de um grupo a um mandato.
QUINTANEIRO, TÂNIA, BARBOSA, MARIA LIGIA DE OLIVEIRA E
OLIVEIRA, MÁRCIA GARDÊNIA. UM TOQUE DE CLÁSSICOS: MARX,
DURKHEIM E WEBER. 2.ED. BELO HORIZONTE: EDUFMG, 2003. P. 119.

Com base no texto, faça o que se pede:


a) Defina o conceito de dominação e a sua função
para Weber.
b) Weber conceitua três formas de dominação legí-
tima: a tradicional, a racional-legal e a carismática.
Explique e comente essas formas.

30
O filósofo alemão analisou as transformações ocorridas na
AULA 5 sociedade durante a Revolução Industrial no século XIX,
quando as máquinas começaram a substituir o trabalho
manual dos homens, modificando radicalmente as relações
humanas e os seus hábitos na sociedade. Com isso, Marx fo
um dos responsáveis por promover uma discussão crítica da
sociedade capitalista, bem como da origem dos problemas
SOCIOLOGIA CLÁSSICA: sociais que esse tipo de organização social originou.
KARL MARX I

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

TIPO DE FÁBRICA DO SÉCULO XIX


1. Karl Heinrich Marx
(1818-1883)

multimídia: livro

Manifesto do Partido Comunista


Marx, Karl; ENGELS, Friedrich. Porto Alegre: L&PM
Pocket, 2001.

Segundo Marx, nas sociedades capitalistas, a forma prin-


cipal de conflito ocorre entre duas classes sociais funda-
mentais: a burguesia e o proletariado. Essa formação assim
se constitui porque a classe assalariada (o proletariado),
não possuindo os meios de produção, cede a sua força de
trabalho em troca de benefício econômico, sendo parte
fundamental do enriquecimento da burguesia, ou seja, os
donos dos meios de produção exploram aqueles que não
multimídia: vídeo detêm os artifícios, pois só vendem o seu trabalho humano.

FONTE: YOUTUBE Desse modo, o conflito entre essas duas classes acaba ge-
O jovem Karl Marx - França/Alemanha/ rando uma mudança na história da humanidade, pois um
Bélgica, 2017 (118 min) grupo, o operariado, pretende conquistar novas condições,
enquanto a burguesia não pretende ceder essas condições,
Conta a juventude de Karl Marx, período quando ele
modificando-se a consciência e as próprias relações hu-
luta para expor sua ideologia, o início de seu casamento
manas. Entretanto, a classe dominante (a burguesia) tem
com Jenny von Westphalen e a sua amizade com Frie-
drich Engels. maiores chances de construir a história como deseja, visto
que possui o poder econômico e político nas mãos; algo

31
bem diferente da classe proletária, que não detém esses tariado à luta pelo socialismo. Nesse contexto na Europa,
meios de produção. ocorreram diversas manifestações de cunho liberal, socia-
lista e democrático denominadas Primavera dos Povos.
Em 1864, Marx fundou a Associação Internacional dos
Trabalhadores – depois chamada de Primeira Internacional
dos Trabalhadores –, com o objetivo de organizar a con-
quista do poder pelo proletariado em todo o mundo. Em
1867, publicou o primeiro volume de sua obra mais impor-
tante, O capital, na qual faz uma crítica ao capitalismo e à
multimídia: vídeo sociedade burguesa.
FONTE: YOUTUBE
A classe operária vai ao Paraíso
- Itália, 1971 (125 min)
Adorado por seus superiores, por ser um trabalhador
extremamente dedicado, e odiado pelo mesmo motivo
por seus colegas de trabalho, Lulu vive entregue aos so-
nhos de consumo da classe média, alienado em meio
aos movimentos de protesto de sua classe, até que um multimídia: música
acontecimento põe em xeque suas opiniões. FONTE: YOUTUBE
Vida de operário - Patu Fu. 1995.
Diante disso, Marx observa que no capitalismo o mercado Álbum: Gol de quem?
é o centro das relações sociais, sendo que a força de traba- A canção identifica o conceito da mais-valia, das de-
lho é vista como mercadoria. Quando o trabalhador excede sigualdades sociais que favorecem sempre uma classe
o tempo de trabalho necessário, ele cria uma riqueza para dominante em detrimento de uma classe dominada
os donos da produção denominada mais-valia. justamente pelo fato de o excedente produzido pelo
Segundo Marx, o trabalhador acaba sendo alienado pelo trabalho ir concentrando-se nos “bolsos do patrão”.
próprio processo de produção, de modo que esse trabalha-
dor não tem consciência do seu próprio papel na socieda- Marx é o principal idealizador do socialismo e do comunismo
de, pois ele, devido às suas necessidades, constitui toda a revolucionário. O marxismo – conjunto das ideias político-fi-
sua vida em torno do seu trabalho. losóficas de Marx – propõe a derrubada da classe dominan-
te (a burguesia) por uma revolução do proletariado. Marx
critica o capitalismo e seu sistema de livre empresa que, se-
gundo ele, pelas contradições econômicas internas, levaria a
classe operária à miséria. Propõe uma sociedade na qual os
meios de produção sejam de toda a coletividade.
A história de toda sociedade até nossos dias é a história
da luta de classes.
multimídia: música Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e es-
FONTE: YOUTUBE cravo, mestre e oficial, em suma, opressores e oprimi-
dos; empenhados numa luta sem trégua, ora velada,
Pão nosso de cada dia - Gabriel, o Pensador. ora aberta, luta que a cada etapa conduziu a uma
1995. Álbum: Ainda é só o começo. transformação revolucionária de toda a sociedade ou
A canção apresenta algumas contradições que per- ao aniquilamento das duas classes em confronto.
meiam o senso comum em relação ao dinheiro e ao Nos primórdios da História encontramos, quase a toda a
mundo do trabalho na atualidade. parte, uma organização completa da sociedade em dife-
rentes grupos, uma série hierárquica de situações sociais.

Em 1848, Marx redigiu com Friedrich Engels o Manifesto A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas
da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de
do Partido Comunista, primeiro esboço da teoria revolu-
classes. Não fez senão substituir novas classes, novas
cionária que, mais tarde, seria chamada de marxismo. No condições de opressão, novas formas de luta às que
Manifesto do Partido Comunista, Marx convoca o prole- existiram no passado.

32
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes.
A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a bur-
guesia e o proletariado.
MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA. PORTO ALEGRE: L&PM, 2002, P. 23-24.

DIAGRAMA DE IDEIAS

KARL MARX

OBSERVOU A
EXPLORAÇÃO
EXCESSIVA DO
HOMEM PELO MANIFESTO DO
HOMEM MAIS-VALIA
PARTIDO COMUNISTA

CONTEXTO DA EXCEDENTE DO OS TRABALHADORES


II REVOLUÇÃO TRABALHO DO PRECISAM SE
INDUSTRIAL PROLETARIADO ORGANIZAR

AUMENTA AS
REVOLUÇÃO
DESIGUALDADES
SOCIALISTA
ENTRE OS HOMENS

33
3. (UEM) Em termos sociológicos, assinale o que NÃO
Aplicando para for correto sobre o conceito de classes sociais.
Aprender (A.P.A.) a) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais
as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas
1. (UFRRJ) Sobre as primeiras ações socialistas, Karl Marx sociedades.
e Friedrich Engels, no Manifesto Comunista de 1848, afir- b) De acordo com Karl Marx, as relações entre as
maram o seguinte: classes sociais transformam-se ao longo da história
conforme a dinâmica dos modos de produção.
“As primeiras tentativas do proletariado para impor di-
c) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo,
retamente o seu próprio interesse de classe, num tem-
pelas relações de cooperação que se desenvolvem en-
po de agitação geral, no período da revolução que pôs
tre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo.
termo à sociedade feudal, falharam necessariamente
por não estar ainda desenvolvida a figura do próprio d) A formação de uma classe social, como os proletá-
proletariado e por faltarem ainda condições materiais rios, só se realiza na sua relação com a classe oposi-
da sua libertação, que são precisamente o produto da tora, no caso do exemplo, a burguesia.
época burguesa.” e) A afirmação “a história da humanidade é a história
das lutas de classes” expressa a ideia de que as trans-
Em relação aos primórdios do movimento operário na formações sociais estão profundamente associadas
Europa, é correto afirmar que: às contradições existentes entre as classes.
a) se organizou em torno de um programa político 4. (UEM) Escrito há quase duzentos anos, por Karl Marx
revolucionário que tinha nos bolcheviques russos a e Friedrich Engels, o Manifesto Comunista denunciava
referência fundamental. as desigualdades sociais vividas pelos homens na so-
b) foi denominado, em sua forma mais violenta, lu- ciedade capitalista. Leia trecho dessa obra, reproduzido
ddismo e é associado à resistência dos operários ao a seguir, e assinale o que for correto sobre o desenvol-
capitalismo por meio da quebra de máquinas. vimento econômico.
c) se originou na Inglaterra e buscava superar as ma-
zelas do capitalismo por meio de um programa de “A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas
inspiração claramente socialista. da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos das
classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de
d) surgiu por iniciativa de partidos políticos socialde-
opressão, novas formas de luta no lugar das antigas [...]
mocratas com atuação regular em diversos parlamen-
A manufatura já não era suficiente. Em consequência
tos europeus e grande base entre os operários.
disso, o vapor e as máquinas revolucionaram a produ-
e) propunham como forma de acabar com o capita- ção industrial. O lugar da manufatura foi tomado pela
lismo um regime socialista ditatorial conhecido como indústria gigantesca moderna, o lugar da classe média
“ditadura do proletariado”. industrial, pelos milionários da indústria, líderes de todo
o exército industrial, os burgueses modernos”
2. (Uel 2020) Em museus como o Louvre, encontram-se
objetos produzidos em diversos e determinados modos MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA. RIO
DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 1998, 10ª EDIÇÃO, P. 9 E 11 (COLEÇÃO LEITURA).
de produção: utensílios, esculturas, pinturas, entre ou-
tras manifestações. I. A passagem da manufatura para indústria gerou um
Com base nos conhecimentos sobre modos de produ- processo de modificação do espaço natural que foi bas-
ção, no pensamento de Marx, considere as afirmativas tante equilibrado, sem prejuízos ao meio ambiente.
a seguir. II. O trecho acima se refere ao contexto de formação da
I. O primeiro modo de produção existente na história foi sociedade capitalista e à composição dos antagonismos
baseado na estrutura homens livres e escravos. de classe, os quais opõem proprietários dos meios de
produção e proprietários da força de trabalho.
II. Modos de produção específicos produzem superestru-
turas que mantêm íntima ligação com a infraestrutura. III. As relações estabelecidas pelas classes sociais na
sociedade burguesa moderna são pautadas pela coo-
III. O modo de produção capitalista é a última estrutura
peração, a qual conduz ao desenvolvimento econômico
produtiva de classes antes do processo de constituição gerador de melhor condição de vida para todos.
da sociedade comunista.
IV. As relações de troca se revolucionaram em virtude
IV. Os modos de produção possuem leis próprias e exis- de o crescimento da burguesia moderna ter ocorrido na
tem independentemente das vontades individuais dos mesma proporção do crescimento da produção industrial.
homens.
V. O desenvolvimento da indústria está assentado no
Assinale a alternativa correta. emprego do trabalho humano, o único detentor de co-
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. nhecimento para alterar a matéria-prima, a partir do
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. uso de instrumentos que ele mesmo produz.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. Estão corretas:
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. a) II, IV e V.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. b) I, II e V.

34
c) III, IV e V. opõe como um ser estranho, como uma força independente
d) I, IV e V. do produtor.
e) I, II e III. MARX, KARL. MANUSCRITOS ECONÔMICOS-FILOSÓFICOS. (PRIMEIRO
MANUSCRITO). SÃO
PAULO: BOITEMPO EDITORIAL, 2004 (ADAPTADO).
5. (UFU) Em uma passagem de As aventuras do barão
de Munchausem, personagem do folclore alemão, ele Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo
e seu cavalo encontram-se atolados em um pantanal de produção capitalista é:
e, para sair dessa situação, o barão puxa a si mesmo a) baseada na desvalorização do trabalho especia-
pelo cabelo, levantando-se, com sua montaria, do ter- lizado e no aumento da demanda social por novos
reno movediço. Em mais de uma ocasião, os sociólogos postos de emprego.
usaram essa metáfora para aludir ao modo pelo qual b) fundada no crescimento proporcional entre o nú-
os positivistas procuravam um método objetivo, neutro, mero de trabalhadores e o aumento da produção de
livre das ideologias. bens e serviços.
Em oposição a essa suposta objetividade, Marx criticou c) estruturada na distribuição equânime de renda e
veementemente os positivistas, uma vez que, para o autor: no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata.
a) o método possui uma objetividade parcial, pois d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de
na escolha do objeto entra em ação a ideologia do classes e da criação da economia solidária.
autor, que não interfere, entretanto, na análise dos e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da
acontecimentos. exploração do trabalhador.
b) a análise social, a partir da perspectiva do opera- 7. (Enem) Na produção social que os homens realizam,
riado, deve contribuir para a harmonia das relações eles entram em determinadas relações indispensáveis e
sociais de produção. independentes de sua vontade; tais relações de produ-
c) a análise das condições de vida do proletariado eu- ção correspondem a um estágio definido de desenvol-
ropeu do século XIX deve incidir sobre a crítica social, vimento das suas forças materiais de produção. A totali-
com vistas à reforma da sociedade burguesa. dade dessas relações constitui a estrutura econômica da
d) o método deve contribuir não só para a interpre- sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as
tação, mas igualmente para a transformação social. superestruturas política e jurídica, e ao qual correspon-
dem determinadas formas de consciência social.
6. (Enem)
MARX, KARL. PREFÁCIO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA.
Texto I IN: MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. TEXTOS 3. SÃO
PAULO: EDIÇÕES SOCIAIS, 1977 (ADAPTADO).
Cidadão
Para o autor, a relação entre economia e política esta-
Tá vendo aquele edifício, moço?
belecida no sistema capitalista faz com que:
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição a) o proletariado seja contemplado pelo processo de
Eram quatro condução mais-valia.
Duas pra ir, duas pra voltar b) o trabalho se constitua como o fundamento real da
Hoje depois dele pronto produção material.
Olho pra cima e fico tonto c) a consolidação das forças produtivas seja compatível
Mas me vem um cidadão com o progresso humano.
E me diz desconfiado d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional
“Tu tá aí admirado ao desenvolvimento econômico.
Ou tá querendo roubar?” e) a burguesia revolucione o processo social de for-
Meu domingo tá perdido mação da consciência de classe.
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber 8. (Unimontes) Fundador do materialismo histórico, Karl
E pra aumentar meu tédio Marx (1818-1883) defendia que a tendência do modo
Eu nem posso olhar pro prédio capitalista de produção é separar cada vez mais o traba-
Que eu ajudei a fazer. lhador e os meios de produção. Na perspectiva teórica de
BARBOSA, L. IN: ZÉ RAMALHO. 20 SUPER SUCESSOS. Marx, é incorreto afirmar que:
RIO DE JANEIRO: SONY MUSIC, 1999 (FRAGMENTO). a) a sociedade capitalista é a fase final da história
da humanidade, em que as classes sociais – especial-
Texto II
mente o proletariado – desenvolvem toda sua poten-
O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais ri- cialidade por meio da revolução tecnológica, assegu-
queza e sua produção cresce em força e extensão. O traba- rando mais liberdade aos indivíduos modernos.
lhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida b) o postulado básico do marxismo é o determinismo
que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que econômico, segundo o qual as condições econômicas
o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe são fundamentais no desenvolvimento da sociedade.

35
c) a divisão social do trabalho reproduz modos de seg- c) A caracterização da sociedade capitalista como ju-
mentação da sociedade, resultando em desigualdades rídica e socialmente igualitária.
e exploração de uma classe social sobre a outra. d) O princípio de que a história é movida pela luta de
d) a procura do lucro é intrínseca ao capitalismo, cujo classes e a defesa da revolução proletária.
objetivo do capital não é apenas satisfazer determi- e) O temor perante a ascensão da burguesia e o apoio
nadas necessidades, mas produzir mais-valia. à internacionalização do modelo soviético.
9. (Unespar) O cordel, gênero literário desenvolvido na 11. (UFPR 2020) Considere a passagem abaixo:
região do Nordeste, configura-se como instrumento po- O ponto de vista de Marx estava fundado no que ele
ético que, por meio da rima, da métrica e dos versos, chamava de concepção materialista da história. De
expressa a cultura popular. Nesse sentido, o cordel, si- acordo com essa concepção, não são as ideias ou os va-
nônimo de poesia, canta e conta histórias de lutas, de lores que os seres humanos guardam as principais fon-
amores e, quase sempre, tematiza questões sociais e tes da mudança social. Em vez disso, a mudança social é
políticas do país e do mundo. estimulada primeiramente por influências econômicas.
[...] Os conflitos de classe proporcionam a motivação para
O que vale é a mais-valia o desenvolvimento histórico [...]. Nas palavras de Marx:
Disse Marx na teoria “toda a história humana até aqui é a história da luta
Da exploração nasce o lucro de classes”.
O proletariado é quem sofria (GIDDENS, ANTHONY. SOCIOLOGIA. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2005, P. 32.)
[...]
Marx e Engels já diziam Por que, para Marx, a luta de classe é a expressão con-
No manifesto comunista creta da concepção materialista da história?
O fim dessas diferenças
É a sociedade socialista. 12. (UFU 2019)
JANE RIBEIRO DIDEK. IN: FILOSOFIA & SOCIOLOGIA: REFLEXÕES
CORDELISTAS. ALMEIDA, A.C.S.; NOVAIS, V.A.; NOYAMA, S.;
SCHNORR, G.M. (ORGS.). CURITIBA: INTERSABERES, 2015.

No que compreende o marxismo, é correto afirmar:


a) O proletariado configura-se como classe média,
cuja missão é a derrubada da burguesia e a instaura-
ção do comunismo.
b) A pequena burguesia ou camada lúmpen é revolucio-
nária e tem como propósito a instauração do comunismo. Segundo Marx (1988, p.46-47), “a mercadoria é, antes
c) A mais-valia é a diferença entre o valor da força de de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas
trabalho e o valor do produto do trabalho. suas propriedades satisfaz necessidades humanas de
d) Karl Marx nunca tratou de mais-valia, pelo contrário, qualquer espécie. O valor de troca aparece, de início,
o termo foi utilizado equivocadamente pelos marxistas. como a relação quantitativa, a proporção na qual valo-
e) A lei da mais-valia é a responsável pelo asseguramento res de uso de uma espécie se trocam contra valores de
salarial do trabalhador na venda de sua força de trabalho. uso de outra espécie, uma relação que muda constante-
mente no tempo e no espaço.”
10. (Unesp) A condição essencial da existência e da supre- MARX, K. O CAPITAL: CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA. 3.ED.
macia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas SÃO PAULO: NOVA CULTURAL, 1988. (ADAPTADO)
mãos dos particulares, a formação e o crescimento do ca-
pital; a condição de existência do capital é o trabalho as- A transcrição acima é o início de uma das obras mais
salariado. […] O desenvolvimento da grande indústria so- conhecidas de Marx, na qual ele tem por objetivo ex-
cava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime plicar o modo de funcionamento, a estrutura social e a
de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia história do regime capitalista.
produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a a) Com base na Teoria de Marx, explique a função
vitória do proletariado são igualmente inevitáveis. da mercadoria, seu valor de uso e seu valor de troca
dentro do funcionamento do capitalismo.
MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. MANIFESTO
COMUNISTA – OBRAS ESCOLHIDAS, VOL. 1, S/D. b) Considerando-se a charge, discorra sobre duas
questões do capitalismo nas relações ambientais que
Entre as características do pensamento marxista, é motivariam a criação de Latuff e, na sequência, rela-
correto citar: cione-as ao debate marxista.
a) O reconhecimento da importância do trabalho da bur- 13. (UFU) Leia a citação a seguir.
guesia na construção de uma ordem socialmente justa.
b) A celebração do triunfo da revolução proletária eu- [...] o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do
ropeia e o desconsolo perante o avanço imperialista. mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a

36
sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a re- formas sociais de produção. Portanto, o desenvolvi-
ligião, uma consciência invertida do mundo, porque eles mento histórico está atrelado a uma sucessão de for-
são um mundo invertido. mas de intercâmbio e de modos de produção. Nessa
MARX, KARL. CRÍTICA DA FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL. perspectiva, identifica o reino das relações econômi-
SÃO PAULO: BOITEMPO EDITORIAL, 2013, P. 151. cas enquanto base de toda história da humanidade.
b) De acordo com Karl Marx, os homens propuse-
a) Quando Marx afirma que “o homem não é um ser
ram ideias falsas a respeito de si mesmos de modo
abstrato”, ele aponta para a condição efetiva da existên-
a conceberem ideias que os dominavam. Para esse
cia humana e para a sua historicidade. Então, quais re-
pensador, a questão das Ideias se fazia presente no
lações são responsáveis pela vida concreta do homem?
sistema hegeliano, que, de modo geral, concebe a
b) Explique o que é a “consciência invertida do mun- ideia como o sujeito, cujas objetivações são a natu-
do”, segundo Marx. reza e as formas históricas da realidade social. Por
outro lado, Marx parte da premissa de que a história
é constituída por indivíduos “reais”, isto é, sua ação.
Gabarito Sendo assim, são os agrupamentos e as condições
reais de vida que distinguem os indivíduos e deter-
1. B 2. E 3. C 4. A 5. D minam sua consciência. Sendo assim, aquilo que os
indivíduos são coincide com as condições materiais
6. E 7. B 8. A 9. C 10. D
de produção. É mediante esse pressuposto que Marx
11. A análise marxista da sociedade parte das relações estabelece uma relação entre Ser e Consciência. Por-
materiais de produção para descrever as relações huma- tanto, segundo a óptica de Karl Marx, não é a consci-
ência que determina a vida, mas a produção material
nas. Por essa lógica, pode-se perceber como determinada
(vida) que determina a consciência.
classe se beneficia do trabalho alheio para manter seu po-
der. Descrever essa apropriação do trabalho é exatamente
fazer aparecer a luta de classes ao longo da história.
12.
a) A mercadoria se insere em uma relação de valor. O
valor de uma mercadoria corresponde, materialmente,
ao quanto de trabalho humano nela se materializou.
Existem, basicamente, dois tipos de valor para uma
mercadoria: o valor de uso corresponde ao valor que
ela possui enquanto bem utilizável para satisfazer
uma necessidade humana. No entanto, existe outro
valor: o valor de troca, que corresponde a quanto de
moeda ou outro tipo de mercadoria ela corresponde
em um processo de relação capitalista.
b) A necessidade de produção do lucro faz com que
os recursos naturais do planeta sejam extraídos de
forma excessiva, prejudicando o ambiente. Além dis-
so, o custo ambiental não é incorporado no valor das
mercadorias, dando a impressão de que esses recur-
sos são infinitos. Como exemplos concretos podemos
citar a utilização de combustíveis fósseis e, conse-
quentemente, o aumento da temperatura do planeta;
e os desastres ambientais, como Brumadinho, que
prejudicam ecossistemas e a vida humana. Do ponto
de vista teórico, isso está relacionado aos processos
de alienação, que separam o ser humano do fruto do
seu trabalho, sendo visto somente como mercadoria
que produz lucro e, também, à luta de classes, dado
que os grandes produtores são os grandes benefici-
ários desse sistema, mas pouco se responsabilizam
pelos efeitos negativos por ele produzido.
13.
a) Valendo-se do conhecimento historiográfico, Karl
Marx expõem uma síntese do desenvolvimento his-
tórico dando uma ênfase às mudanças de formas de
propriedade, em conformidade com as mudanças das

37
AULA 6

SOCIOLOGIA CLÁSSICA: multimídia: vídeo


KARL MARX II FONTE: YOUTUBE
O que é a ideologia da competência
A filósofa Marilena Chauí explica o que é a ideologia
da competência, tema de seu segundo livro da coleção
Escritos de Marilena Chauí.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
Essas propagandas têm a tarefa de conquistar o outro
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, para vender o produto, estimulando um comportamento
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
social consumista. As propagandas condicionam o consu-
23, 24 e 25
midor a acreditar na obrigatoriedade de adquirir o produ-
to e o fascinam ao ponto de criar a ilusão de que, ao fa-
zê-lo, ele viverá uma experiência de satisfação imediata.
1. Ideologia Segundo Karl Marx, a ideologia dominante, consolidada
O processo de dominação social se utiliza de artifícios que pela classe dominadora em cada período histórico, é res-
iludem a população. Esse encantamento se perfaz com o ponsável por repassar ideias, formas de pensar e explicar
auxílio das propagandas, que disseminam imagens e men- o mundo. Com isso, acredita-se num determinado estilo de
sagens para um condicionamento social. As propagandas vida, que é reproduzido por essa sociedade. Marx questio-
veiculadas na TV e na internet condicionam diversas for- na que, ao seguir uma ideologia, os indivíduos não fazem
mas de vida, vendendo um estilo de vida ou simplesmente uma crítica de seus atos, sejam eles do âmbito das relações
um determinado produto. trabalhistas ou da vida cotidiana. A ideologia é interpreta-
da por Marx como uma espécie de falsa consciência, refor-
çando um condicionamento social.

multimídia: livro

O que é ideologia?
CHAUÍ, Marilena. São Paulo: Editora Brasiliense (Cole-
ção Primeiros Passos), 2001.

1.1. Alienação
multimídia: música Para Marx, no processo de alienação, os indivíduos sofrem
FONTE: YOUTUBE um processo de exteriorização de uma essência humana e
Ideologia - Cazuza. Álbum: Ideologia. um não reconhecimento de sua atividade. Marx atrela a alie-
Universal Music,1988. nação ao trabalho, que condiciona o ser a não pensar sobre
os seus atos, vivendo uma situação de estranhamento.

38
mesmo, sem se importar com as outras pessoas. Aqui o
sujeito não é mais um ser humano e se transfigura apenas
no trabalhador reificado.
O último tipo representa um sujeito que não se reconhece
no trabalho e nem é reconhecido como parte essencial da
vida humana, não tendo significado no cotidiano e nem no
multimídia: música trabalho realizado.
FONTE: YOUTUBE
Wish you were here - Pink Floyd. 1975. 1.2. Fetiche da mercadoria
Álbum: Wish you were here. O conceito de fetichismo da mercadoria foi desenvolvido por
A canção trata da ausência pensando a sociedade: o Marx em sua obra O Capital, atrelado ao conceito de aliena-
que realmente somos, a questão da representação, o ção. O produto perde a relação com o produtor e parece ga-
capitalismo, nosso modo de produção e de vida. nhar vida própria, assumindo novas utilidades e um novo sta-
tus, que dá ao produto não necessariamente o uso original.
Marx retrata a alienação em quatro tipos: Para compreendermos esse processo de fetichismo, é preci-
ƒ em relação ao produto do trabalho; so retornar a uma definição de mercadoria.
ƒ no processo de produção; Segundo Marx, todo e qualquer objeto, no sistema capita-
lista, possui um valor de mercadoria, tendo uma utilidade
ƒ em relação à existência do indivíduo enquanto mem-
pensada originalmente para a sua produção.
bro do gênero humano;
Por sua vez, o valor de TROCA do produto representa, no
ƒ em relação aos outros indivíduos.
sistema capitalista, um valor mercadológico.
A estranheza de não se reconhecer no produto criado re-
Assim, as mercadorias adquirem uma forma fantástica,
presenta o primeiro tipo. Um exemplo disso é quando um
ganhando mais de uma utilidade ao indivíduo, podendo
trabalhador, numa linha de produção, não se reconhece no ser status, poder ou felicidade. Nesse processo, o sujeito
produto final. acaba atribuindo novos elementos à mercadoria de for-
ma a humanizá-la; em consequência, a própria mercado-
ria coisifica o indivíduo.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
1984 - Reino Unido: 1956 (90 min)
Primeira adaptação do livro de George Orwell, um homem
perde sua identidade vivendo sob um regime repressivo e
de uma ideologia totalitária. Ele é um funcionário público
cuja função é reescrever a história de forma a colocar os
líderes de um país fictício sob uma luz positiva. A forma inicial da consciência é, portanto, a alienação.
E porque a alienação é a manifestação inicial da consci-
ência, a ideologia será possível: as ideias serão tomadas
No segundo tipo, essa alienação está no próprio proces- como anteriores à práxis, como superiores e exteriores a
so do trabalho, que condiciona o indivíduo a viver pelo ela, como um poder espiritual autônomo que comanda
trabalho, deixando de viver apenas para satisfazer às ati- a ação material dos homens. A divisão social do tra-
vidades laborais. Um exemplo disso são as atividades do balho torna-se completa quando o trabalho material e
cotidiano que levam o sujeito a só pensar no trabalho. o espiritual se separam. Somente com essa divisão a
consciência pode realmente imaginar ser diferente da
O terceiro tipo, por sua vez, representa o individualismo, consciência da práxis existente, representar realmente
que considera as atividades do trabalho referentes a si algo, sem representar algo real. Desde esse instante,

39
a consciência está em condições de emancipar-se do
mundo e entregar-se à construção da teoria, da teolo-
gia, da filosofia, da moral etc., "puras". Nasce agora a
ideologia propriamente dita, isto é, o sistema ordenado
de ideias ou representações e das normas e regras como
algo separado e independente das condições materiais,
visto que seus produtos – os teóricos, os ideológicos,
os intelectuais – não estão diretamente vinculados à
produção material das condições de existência. multimídia: vídeo
CHAUÍ, MARILENA. FONTE: YOUTUBE
O QUE É IDEOLOGIA. SÃO PAULO: BRASILIENSE, 1991, P.63.
Tempos Modernos - Estados Unidos: 1936 (87 min)
O filme retrata a vida urbana nos Estados Unidos, de-
monstrando os modos de produção industrial baseados
na divisão e especialização do trabalho na linha de
montagem. O filme é uma crítica ao sistema capitalista
e ao modo de produção industrial.

DIAGRAMA DE IDEIAS

FETICHE DA
IDEOLOGIA
MERCADORIA

FORMAS DE O PRODUTO
DOMINAÇÃO FABRICADO GANHA
HUMANA UM NOVO STATUS

COM O OBJETIVO
DE CONTROLE TENDO UMA NOVA
SOCIAL E “FUNÇÃO”
ECONÔMICO

DIRECIONADO PELO
ORQUESTRADO PELA
“NOVO USO” DO SER
CLASSE DOMINANTE
HUMANO

40
3. (UEG) Para Marx, diante da tentativa humana de expli-
Aplicando para car a realidade e dar regras de ação, é preciso conside-
rar as formas de conhecimento ilusório que mascaram
Aprender (A.P.A.) os conflitos sociais. Nesse sentido, a ideologia adquire
um caráter negativo, torna-se um instrumento de do-
1. (UEL) Analise a figura a seguir:
minação na medida em que naturaliza o que deveria
ser explicado como resultado da ação histórico-social
dos homens, e universaliza os interesses de uma classe
como interesse de todos. A partir de tal concepção de
ideologia, constata-se que:
a) a sociedade capitalista transforma todas as formas
de consciência em representações ilusórias da reali-
dade conforme os interesses da classe dominante.
b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a
considera um elemento fundamental no processo de
emancipação da classe trabalhadora.
c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ide-
ologia é um produto do esforço individual principal-
A figura ilustra, por meio da ironia, parte da crítica que mente dos indivíduos da classe dominante.
a perspectiva sociológica baseada nas reflexões teóri-
d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de
cas de Karl Marx (1818-1883) faz ao caráter ideológico
uma noção genérica e abstrata de trabalho, masca-
de certas noções de Estado. Sobre a relação entre Esta-
rando as reais condições do trabalho alienado no
do e sociedade segundo Karl Marx, é correto afirmar: modo de produção capitalista.
a) A finalidade do Estado é o exercício da justiça en-
tre os homens e, portanto, é um bem indispensável à 4. (UEMA) A palavra ideologia, criada por Destutt de Tra-
sociedade. cy (1754-1836), significa estudo da gênese e do desen-
volvimento das ideias. Com Karl Marx, o termo ideologia
b) O Estado é um instrumento de dominação e re-
adquiriu um significado crítico e negativo. Identifique,
presenta, prioritariamente, os interesses dos setores
nas opções abaixo, a única que contém informação cor-
hegemônicos das classes dominantes.
reta sobre a concepção de Marx sobre ideologia:
c) O Estado tem por finalidade assegurar a felicidade
dos cidadãos e garantir, também, a liberdade indivi- a) Conjunto de ideias que apresenta a sociedade
dual dos homens. dividida em duas classes, dominantes e dominados,
visando à conscientização dos indivíduos.
d) O Estado visa atender, por meio da legislação, a
vontade geral dos cidadãos, garantindo, assim, a har- b) Conjunto de ideias que mostra a totalidade da re-
monia social. alidade, levando os indivíduos a compreenderem-na
em si mesma.
e) Os regimes totalitários são condição essencial para
c) Conjunto de ideias que dissimula e oculta a reali-
que o Estado represente, igualmente, os interesses
dade, mostrando-a de maneira parcial e distorcida em
das diversas classes sociais.
relação ao que de fato é.
2. (UFU) Conforme Marx e Engels: “O modo pelo qual d) Conjunto de ideias que esclarece de forma contun-
os homens produzem seus meios de vida depende, dente a realidade, mostrando que apenas pessoas da
antes de tudo, da própria constituição dos meios de classe dominante podem governar.
vida já encontrados e que eles têm de reproduzir. Esse e) Conjunto de ideias que estimula a classe dominada
modo de produção não deve ser considerado mera- a alcançar o poder.
mente sob o aspecto de ser a reprodução da existên-
cia física dos indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma 5. (Uel 2020) Leia a charge e o texto a seguir.
determinada de sua atividade, uma forma determina-
da de exteriorizar sua vida, um determinado modo de
vida desses indivíduos”.
MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. A IDEOLOGIA
ALEMÃ. SÃO PAULO: HUCITEC, 1999, P. 27.

Da leitura do trecho, conclui-se que:


a) As ideologias políticas possuem autonomia em re-
lação ao desenvolvimento das forças produtivas.
b) A base da estrutura social reside no seu modo de
produção material.
c) O modo de produção é determinado pela ideologia
dominante.
d) Toda atividade produtiva é uma forma desumanização.

41
O conceito de ideologia, nos termos propostos por Karl c) A democracia representativa é instrumento de alie-
Marx (1818-1883), refere-se, também, àquela ideia ou nação das classes trabalhadoras, na medida em que
declaração “(...) que em algum aspecto significativo ela o Estado representa apenas os interesses das classes
é falsa, enganosa ou um relato parcial da realidade e, dominantes.
portanto, uma ideia que pode e deve ser corrigida.” d) A recuperação da condição humana só poderá
ocorrer por meio da transformação e evolução con-
GIDDENS, A.; SUTTON, P. W. CONCEITOS ESSENCIAIS DA
SOCIOLOGIA. SÃO PAULO: EDITORA DA UNESP, 2016, P. 229. tínua do capitalismo.

A charge sugere a presença de uma “ideologia do méri- 8. (UEG)


to” quando está em pauta a discussão da desigualdade
social na sociedade de tipo capitalista.
Com base na charge e no texto, explique como a “ide-
ologia do mérito” justifica a desigualdade social no ca-
pitalismo e, em seguida, identifique os motivos que a
caracterizam como enganosa ou um relato parcial da
realidade.

6. (UFU) Conforme Marx e Engels:


“O modo pelo qual os homens produzem seus meios
de vida depende, antes de tudo, da própria constituição
dos meios de vida já encontrados e que eles têm de Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas
reproduzir. Esse modo de produção não deve ser consi- sociedades – mais dinheiro, mais prestígio, mais poder,
derado meramente sob o aspecto de ser a reprodução mais vida, e tudo aquilo que os homens valorizam. Tais
da existência física dos indivíduos. Ele é, muito mais, desigualdades criam divisões na sociedade – divisões
uma forma determinada de sua atividade, uma forma com respeito a idade, sexo, riqueza, poder e outros re-
determinada de exteriorizar sua vida, um determinado cursos. Aqueles no topo dessas divisões querem manter
modo de vida desses indivíduos”. sua vantagem e seu privilégio; aqueles no nível inferior
querem mais e devem viver em um estado constante
MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. A IDEOLOGIA de raiva e frustração [...]. Assim, a desigualdade é uma
ALEMÃ. SÃO PAULO: HUITEC, 1999, P. 27.
máquina que produz tensão nas sociedades humanas. É
Da leitura do trecho, conclui-se que: a fonte de energia por trás dos movimentos sociais, pro-
testos, tumultos e revoluções. As sociedades podem, por
a) As ideologias políticas possuem autonomia em re-
um período de tempo, abafar essas forças separatistas,
lação ao desenvolvimento das forças produtivas.
mas, se as severas desigualdades persistem, a tensão e o
b) A base da estrutura social reside no seu modo de
conflito pontuarão e, às vezes, dominarão a vida social.
produção material.
c) O modo de produção é determinado pela ideologia TURNER, JONATHAN H. SOCIOLOGIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES.
SÃO PAULO: PEARSON, 2000. P. 111. (ADAPTADO).
dominante.
d) Toda atividade produtiva é uma forma desumanização. A observação da figura e a leitura do texto permitem
inferir:
7. (UNB) Quando se fala em ideologia como visão dis-
torcida das relações sociais, forma alienada de ver a a) no plano social, a igualdade humana está explícita
realidade, queremos mostrar, por meio do pensamento em dois setores bem definidos: na Justiça, segundo
marxiano, que “a função principal da ideologia é ocul- a qual todos são iguais perante a lei, e na educação,
tar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes em que todos devem ter oportunidades iguais; essas
a aparência de indivisões e de diferenças naturais entre práticas são vivenciadas pela sociedade brasileira.
os seres humanos”. Quando Chauí refere-se a dar falsas b) segundo Karl Marx, aqueles que possuem ou contro-
aparências e dissimular relações sociais, ela, sobretudo, lam os meios de produção têm poder, sendo capazes de
ressalta a concepção marxista de ideologia construída manipular os símbolos culturais através da criação de
em cima principalmente de uma crítica às visões sobre
ideologias que justifiquem seu poder e seus privilégios.
o mesmo tema que tinham os jovens hegelianos.
c) a estratificação de classes existe quando renda, po-
MARCELO DORNELES MICHEL. IDEOLOGIA E OCULTAMENTO NO der e prestígio são dados igualmente aos membros
PENSAMENTO MARXIANO. INTERNET: HTTP://WWW.UCPEL.TCHE.BR/ de uma sociedade, gerando, portanto, grupos cultu-
rais, comportamentais e organizacionais semelhantes.
A partir desse texto, assinale a opção correta a respeito
das ideias de Marx: d) a estratificação, na visão de Karl Marx, mostra que
a luta de classes não se polariza entre o ter e o não
a) O conceito de alienação da produção refere-se
ter e envolve mais do que a ordem econômica.
apenas à ocultação dos lucros obtidos a partir da ex-
ploração do trabalho assalariado. 9. (UEG) A Filosofia e a Sociologia são disciplinas que
b) A alienação filosófica acontece quando o Estado promovem uma reflexão crítica sobre os mais varia-
representa os interesses da burguesia hegemônica. dos temas, particularmente o da ideologia. Partindo de

42
uma análise crítica e utilizando o conceito de ideologia d) socialismo utópico, que defende a reforma do ca-
desenvolvido por Marx e outros pensadores, é correto pitalismo, com o fim da exploração econômica e a
afirmar que o cartum: abolição do Estado por meio da ação direta.

11. (Interbits) A ideologia da meritocracia não subsis-


te no Brasil sem o racismo. Porque para acreditar que
o patrão é aquele que estudou e se esforçou mais e o
empregado é aquele que estudou e se esforçou menos,
é necessário acreditar que, de modo geral, brancos es-
tudam e se esforçam mais do que negros.
As duas crenças pré-conscientes — da meritocracia e
da superioridade intelectual intrínseca dos brancos —
jamais entram em choque. Isso é ideologia. A ideologia
é continuar acreditando na meritocracia, mesmo quan-
do a realidade dá incontáveis exemplos de gente que
foi mal na escola e nem por isso virou gari — gente de
uma cor e de uma classe social bem específicas.
Vale repetir que estou falando neste texto de crenças
pré-conscientes — coisas nas quais acreditamos sem
nem saber que acreditamos. É claro que todos sabemos
que a capacidade intelectual nada tem a ver com a cor
da pele ou quaisquer outras características físicas. Ja-
mais afirmaríamos o contrário. Estamos perfeitamente
cientes de que não faz sentido associar inteligência e
raça. Mas estou falando aqui justamente de coisas das
quais não estamos cientes. De dados e informações que
contextualizam nossa visão de mundo sem nos darmos
a) revela que, independentemente dos indivíduos e das conta. Dados, sensações, percepções que compõem o
classes sociais, todos pertencemos ao povo brasileiro. pano de fundo sobre o qual o mundo se destaca. Já
b) mostra que, diante da televisão, todos os brasilei- imaginou a bagunça que nossa vida seria, pergunta
ros são iguais nesse momento. Merleau-Ponty, se conseguíssemos ver, como coisas, os
c) sugere que há um crescimento quantitativo dos te- intervalos entre as coisas?
lespectadores com o passar do tempo.
PAVANELLI, C. L. GARIS QUE ESCREVEM BEM. CONFEITARIA. 8 MAR.
d) mostra que o discurso sobre “povo brasileiro” é ide- 2014. ADAPTADO. DISPONÍVEL EM: <HTTP://CONFEITARIAMAG.COM/
ológico, falso, abole as divisões e desigualdades sociais. CONVIDADO/GARIS-QUE-ESCREVEM-BEM/> ACESSO EM 05 MAI. 2014.

10. (Unicamp) A história de todas as sociedades tem sido Segundo Karl Marx, o que é a ideologia? O autor do
a história das lutas de classe. Classe oprimida pelo des- texto utiliza o conceito de ideologia de forma similar à
potismo feudal, a burguesia conquistou a soberania polí- Marx? Justifique sua resposta.
tica no Estado moderno, no qual uma exploração aberta
e direta substituiu a exploração velada por ilusões reli-
giosas. A estrutura econômica da sociedade condiciona
as suas formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
Gabarito
filosóficas. Não é a consciência do homem que determina 1. B 2. B 3. D 4. C
o seu ser, mas, ao contrário, são as relações de produção
que ele contrai que determinam a sua consciência. 5. Dentre os argumentos utilizados para a “ideologia do
mérito”, encontra-se a sugestão de que as posições sociais
K. MARX E F. ENGELS, OBRAS ESCOLHIDAS. SÃO PAULO: ALFAÔMEGA,
S./D., VOL 1, P. 21-23, 301-302. (ADAPTADO)
resultam de uma sequência de escolhas e decisões toma-
das pelos próprios indivíduos autônomos e livres, numa
As proposições dos enunciados acima podem ser asso- sociedade cuja economia é baseada, por sua vez, na livre
ciadas ao pensamento conhecido como: concorrência/disputa pelos lugares/posições mais valoriza-
a) materialismo histórico, que compreende as socie- dos pelo mercado. Seria, principalmente, da diversidade de
dades humanas a partir de ideias universais indepen- talentos, de capacidades e de preparação técnica que de-
dentes da realidade histórica e social.
rivaria a desigualdade social, como resultado da forma de
b) materialismo histórico, que concebe a história a
distribuição de renda baseada na diferenciação de preços
partir da luta de classes e da determinação das for-
mas ideológicas pelas relações de produção. e salários pagos a bens e serviços com valor agregado dife-
c) socialismo utópico, que propõe a destruição do ca- rente. De modo que a desigualdade social seria, em grande
pitalismo por meio de uma revolução e a implantação parte, consequência dos esforços individuais demonstrados
de uma ditadura do proletariado. por meio da qualificação e do trabalho. A explicação da

43
“ideologia do mérito” para a desigualdade social apresen-
ta-se como enganosa, pois há obstáculos sociais iniciais,
como a posse e a propriedade de bens, o acesso a serviços,
como a educação qualificada, que afetam a mobilidade so-
cial ascendente dos indivíduos, mesmo que haja alguma
variação de talento ou disposição ao esforço.

6. B 7. C 8. B 9. D 10. B
11. Para Marx, ideologia corresponde a uma visão equivo-
cada e invertida da realidade, que oculta a exploração do
homem pelo homem e os conflitos de classe, além de legiti-
mar o modo de pensar burguês. Sim, podemos dizer que o
autor usa o conceito de ideologia no sentido marxista. Isso
porque, segundo ele, a meritocracia e o racismo criam ideias
que condenam determinada parcela da população à subor-
dinação e ao fracasso, ainda que essas pessoas não se deem
conta dessa situação de submissão.

44
AULA 7

SOCIOLOGIA multimídia: vídeo


CONTEMPORÂNEA: FONTE: YOUTUBE
Quem foi Pierre Bourdieu?
PIERRE BOURDIEU O professor do Museu Nacional da UFRJ, José Sérgio Lei-
te Lopes fala sobre o trabalho do pensador e sociólogo
Pierre Bourdieu.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
O bem simbólico é um conjunto de práticas sociais regidas
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, pelo poder, consolidando uma dominação social que con-
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, tém hierarquias e subdivisões, propagando uma desigual-
23, 24 e 25 dade na sociedade – em que a existência de titularização
simbólica condiciona um controle social.

1. Pierre Bourdieu (1930-2002)


Um dos mais importantes intelectuais da segunda metade
do século XX, o francês Pierre Bourdieu conseguiu absorver
as teorias de Durkheim, Marx e Weber.

REPRESENTAÇÃO DO MODELO ESCOLAR, QUE REPRODUZ


UM TIPO LIMITADO DE CONHECIMENTO.

1.1. Capital humano


O capital é um conceito que discute a quantidade de acú-
mulo de forças dos agentes em suas posições no campo
social. Bourdieu compreende o campo social como o espa-
ço onde ocorrem as relações de poder entre os indivíduos,
as disputas para ocupar posições sociais, evidenciando a
existência de desigualdade de capitais sociais. Para o autor,
os quatro tipos de capital humano são:

Capital
Com uma análise das sociedades capitalistas que privilegia Atrelado aos meios de produção e renda.
econômico
a reprodução social, Bourdieu denota a presença de trocas
simbólicas fazendo uma crítica às leituras marxistas, que Saber: institucionalizado, com títulos e diplomas.
não contemplavam as relações simbólicas, pois estavam Capital Incorporado pela forma da expressão oral.
presas às relações materiais. cultural
As questões desenvolvidas por Bourdieu tratam de com- Posse de quadros ou obras de arte.
preender como a ordem social é mantida. A sociedade é
formada por conjuntos, que são modificados por grupos, Capital O conjunto das relações sociais de que dispõe
classes e categorias sociais; porém, a sociedade transfigura social um indivíduo, a reprodução das relações sociais.
os agentes sociais.

45
Capital
1.3. Habitus
Atrelado ao reconhecimento, correspondendo ao
simbólico conjunto de rituais, como etiquetas e protocolos. O habitus, para Bourdieu, condiciona os indivíduos a con-
viverem em um mesmo agrupamento social, tendo estilos
Diante disso, um indivíduo que possui o capital econômi- de vida parecidos, onde os “fatos sociais” se assemelham.
co teria mais oportunidades de adquirir e se apropriar dos O habitus qualifica a relação do sujeito com a sociedade,
demais capitais. tendo uma base de estratificação de poder.
O habitus é compreendido como um padrão social de sensi-
bilidade e de comportamento que orienta a ação desse ser
de maneira inconsciente. Esse padrão regulariza as ações so-
ciais dos indivíduos em grupos, mas não são eternos.

1.4. A violência simbólica


Segundo Bourdieu, a violência simbólica é uma violência
multimídia: vídeo “invisível”, concretizada por formas de comunicação, ten-
FONTE: YOUTUBE do uma relação de subjugação e submissão numa típica
Pierre Bourdieu - Brasil Escola situação de dominação.
A violência simbólica se funda na construção contínua de
crenças no processo de socialização, seguindo os padrões
1.2. A escola do discurso dominante.
Para Bourdieu, a instituição escolar é um exemplo de ti-
tularização de bens simbólicos devido a seu caráter de
reprodutora de costumes desiguais. Isso ocorre porque a
escola transmite aos estudantes a forma de conhecimen-
to da classe dominante, tendo um discurso aparentemen-
te neutro e oficial.
A escola reproduz uma desigualdade de uma forma dupli-
cada, sendo feita pela continuidade da desigualdade social multimídia: livro
e fazendo-o de uma forma simbólica, pois, antes de aden-
trar no recinto escolar, os indivíduos já passam por uma A dominação masculina - Pierre Bourdieu.
desigualdade econômica, além das inúmeras desigualda- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019
des existentes entre os sujeitos, que o sociólogo denomina Bourdieu analisa a dominação masculina que sobrevi-
como um capital, para caracterizar as diferenças de experi- ve na sociedade atual, denuncia um modo de pensar
ências entre os seres. pautado pelas dicotomias e oposições e faz o leitor
refletir sobre o tema com olhar crítico indispensável.
O autor inverte a relação causa-efeito, afirmando que
essa dominação não é biológica, mas uma construção
arbitrária do biológico que fundamenta as divisões
sexuais aparentemente espontâneas; a biologia e o
corpo seriam espaços onde as desigualdades entre os
sexos seriam naturalizadas.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE Quando observamos a relação entre homem e mulher,
Capital Cultural por exemplo, notamos essa violência simbólica, pois,
A metáfora criada pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu quando associamos repetidamente ao gênero feminino
busca explicar como a escola, ao não levar em conta o ca- caraterísticas de fraqueza e sensibilidade, apresentamos
pital cultural de alunos vindos de diferentes meios sociais, uma dimensão de poder que condiciona uma redução
ajuda a manter essas diferenças e estratificar a sociedade. das ações desse gênero, atrelando um poder simbólico ao
gênero masculino. A partir disso, emerge uma violência

46
simbólica, que será reproduzida em falas e ações pejorati- Em seus estudos, caracterizou quatro classes sociais, que
vas atreladas ao gênero feminino, como uma reprodução seguem a mesma lógica do capital humano de Bourdieu:
do discurso dominante.
A violência simbólica pode ser tomada pelas instituições da Camada da população que comanda o mercado.
sociedade, como o Estado, a mídia e a escola, consolidando
uma forma de opressão entre os segmentos da sociedade. Endinheirados Características:
O poder simbólico como poder de construir o dado pela Possuem elevado capital cultural e elevado
capital econômico.
enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de
Controlam e condicionam as ações sociais.
transformar a visão do mundo e, desse modo, a ação
sobre o mundo, portanto o mundo, poder quase mágico
que permite obter o equivalente daquilo que é obtido Classe que possui capital cultural e parte do
pela força (física ou econômica) graças ao efeito especí- capital econômico.
fico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer Classe média
dizer, ignorado como arbitrário. Isto significa que o po- tradicional Características:
der simbólico não reside nos «sistemas simbólicos» em Possui a ilusão da meritocracia.
forma de uma «illocutionary force» mas que se define Domina a classe subalterna (os trabalhadores).
numa relação determinada – e por meio desta – entre
os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer
Camada popular da sociedade, mas consegue
dizer, isto é, na própria estrutura do campo em que se
melhorar a sua renda.
produz e se reproduz a crença. O que faz o poder das
palavras e das palavras de ordem, poder de manter a
Trabalhadores Características:
ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das
palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produ- Não desenvolveram e consolidaram o capital
cultural.
ção não é da competência das palavras.
Trabalham em 2 ou 3 empregos.
BOURDIEU, PIERRE.
O PODER SIMBÓLICO. 10 ED. RIO DE JANEIRO:
São as pessoas que estão abaixo da linha de
BERTRAND BRASIL, 2007, P.14-15.
dignidade.

Características:
Ralé Serviços braçais, não são valorizados e nem
reconhecidos.
Correspondem a 1/3 da população brasileira.
Precisam de proteção do Estado para uma
mínima dignidade.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
A vida é um desafio – Álbum: Racionais Mc’s. Nada
como um dia após o outro. Boogie Naipe, 2002.
A canção diz sobre a desigualdade e como é difícil com-
petir entre brancos e negros, pois falta o capital humano.

multimídia: livro
2. Jessé Souza (1960) A elite do atraso: da escravidão a Lava Jato
O sociólogo brasileiro recebeu grande influência de Bourdieu, – Jessé Souza. São Paulo: Leya, 2019.
desenvolvendo uma pesquisa empírica da realidade brasilei- A elite do atraso se tornou um clássico contemporâneo
ra, fato que resultou numa nova percepção sociológica. da sociologia brasileira, um livro fundamental de Jessé
Souza, o sociólogo que ousou colocar na berlinda as
obras que eram consideradas essenciais para se enten-
der o Brasil. Por meio de uma linguagem fluente, irônica
e ousada, Jessé apresenta uma nova visão sobre as cau-
sas da desigualdade que marca nosso país e reescreve a
história da nossa sociedade.

47
O sociólogo pretende analisar e explicar o Brasil, suas estruturas políticas e desigualdades sociais existentes. Segundo suas
análises, as desigualdades socioculturais ainda existentes são frutos de uma reprodução de costumes ordenados por uma elite
dominante, surgida durante o período colonial, que visava a sua manutenção do poder. Assim, evidencia uma continuidade
da segregação cultural e socioespacial de boa parte da população.

DIAGRAMA DE IDEIAS

BOURDIEU JESSÉ SOUZA

O CAPITAL
HUMANO
A SOCIEDADE A SOCIEDADE
É FORMADA POR BRASILEIRA SEGUE
TROCAS SIMBÓLICAS A LÓGICA DO
FORMAS DE PODER CAPITAL HUMANO
ADQUIRIDAS
PELO HOMEM • ENDINHEIRADOS
• CLASSE MÉDIA
• ECONÔMICO TRADICIONAL
• CULTURAL • TRABALHADORES
• SOCIAL • RALÉ
• SIMBÓLICO

48
3. (UEL) Observe a tabela a seguir elaborada por Pierre
Aplicando para Bourdieu:
Aprender (A.P.A.)
1. (Enem 2019) Para Pierre Bourdieu, "a dominação
masculina seria uma forma particular de violência sim-
bólica. Por esse conceito, o autor compreende o poder
que impõe significações, impondo-as como legítimas,
de forma a dissimular as relações de força que susten-
tam a própria força. O sociólogo quis dizer com isso que
a dominação masculina se dá justamente pela manu-
tenção de um poder que se mascara nas relações, que
se infiltra no nosso pensamento e na nossa concepção
de mundo. Para ele, uma relação desigual de poder com-
porta uma aceitação dos grupos dominados, não sendo
necessariamente uma aceitação consciente e delibera-
da, mas principalmente de submissão pré-reflexiva".
ADRIANO SENKEVICS, DISPONÍVEL EM: HTTPS://ENSAIOSDEGENERO.
WORDPRESS.COM/2012/05/21/O-CONCEITO-DE-GENERO-
POR-PIERRE-BOURDIEU-A-DOMINACAO-MASCULINA/ Com base na tabela, é correto afirmar:
a) A pesquisa sobre as classes sociais indica as simi-
Sobre a "dominação masculina" nas relações de gênero
litudes e simetrias dos gostos e práticas sociais das
em nossa sociedade podemos afirmar que:
classes baixas, médias e superiores.
a) Bourdieu acreditava que tanto homens como mu- b) A pesquisa sobre as classes baixas, médias e altas
lheres contribuem para a manutenção da dominação revela o quanto a dimensão cultural dificilmente coin-
masculina e da submissão feminina nesta relação. cide com a dimensão econômica das diferenças.
b) no momento que a dominação masculina é simbó- c) A pesquisa sobre a dimensão cultural das classes
lica, ela é mais fácil de ser combatida.
sociais demonstra que há diferenças nos seus estilos
c) as mulheres são as principais responsáveis pela do- de vida e de consumo.
minação masculina.
d) A pesquisa sobre as classes sociais e suas hierar-
d) para Bourdieu a dominação masculina é eviden-
quias desautorizam as afirmações sobre possíveis as-
te e, portanto, possível de ser facilmente percebida e
simetrias nas escolhas de consumo.
exercida tanto por homens como por mulheres.
e) A pesquisa sobre o consumo e as práticas sociais
e) para Bourdieu, a dominação masculina conta com
das três classes denuncia a apropriação da cultura
tamanho poder simbólico que é impossível de ser
combatida. popular pelas classes superiores.

2. (FGV) Ao estudar as relações de poder na socieda- 4. (UEL 2020) Com base na charge:
de contemporânea, Pierre Bourdieu distinguiu quatro
diversos tipos de capital: o econômico, o social, o cul-
tural e o simbólico.
Com relação aos diversos tipos de recursos associados
a cada forma de capital, segundo Bourdieu, assinale V
para a afirmativa verdadeira e F para a falsa.
( ) O capital social é constituído pelo conjunto de re-
cursos a que um indivíduo tem acesso em função das
redes de relações nas quais se insere.
( ) O capital cultural se baseia exclusivamente na ins-
trução formal e nas habilidades intelectuais adquiridas
por um indivíduo ao longo da vida escolar.
( ) O capital simbólico é a visão de mundo da classe so- Texto I
cial hegemônica que transforma seus recursos materiais
em símbolos de força e poder. Assim como [...] [Mário de Andrade] reconhece e afir-
As afirmativas são, respectivamente: ma que há uma gota de sangue em cada poema, assim
também, parafraseando o poeta, queremos reconhecer e
a) F, V e F. sustentar que há uma gota de sangue em cada museu.
b) F, V e V. [...] Admitir a presença de sangue no museu significa tam-
c) V, F e F. bém aceitá-lo como arena, como espaço de conflito, como
d) V, V e F. campo de tradição e contradição. Toda a instituição muse-
e) F, F e V. al apresenta um determinado discurso sobre a realidade.

49
Este discurso, como é natural, não é natural e compõe-se 6. (UEM-pas) Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu
de som e de silêncio, de cheio e de vazio, de presença e de (1930-2002), os agentes sociais estão inseridos na es-
ausência, de lembrança e de esquecimento. trutura da sociedade, ocupando posições hierárquicas
CHAGAS, MARIO SOUZA. HÁ UMA GOTA DE SANGUE EM
que dependem, em grande parte, das características
CADA MUSEU: A ÓTICA MUSEOLÓGICA DE
MARIO DE ANDRADE. culturais, sociais e comportamentais de cada indivíduo.
2. ED. CHAPECÓ: ARGOS, 2015. V. 1. P.19. Por isso, cada agente formula estratégias para se inserir
na sociedade e para a manutenção de sua posição na
No texto I e na teoria de Pierre Bourdieu, é correto afir- hierarquia social que contribuem tanto para a conser-
mar que museus expressam, também: vação da estrutura social como para a sua transforma-
a) o poder da ideologia dos que se impõem economi- ção. Para Bourdieu, “pode-se genericamente verificar
camente pela posse dos meios de produção. que quanto mais as pessoas ocupam uma posição fa-
vorecida na estrutura, mais elas tendem a conservar ao
b) a consciência coletiva do conjunto da sociedade e
mesmo tempo a estrutura e a sua posição, nos limites,
suas formas de solidariedade.
no entanto, de suas disposições (isto é, de sua trajetória
c) o arbitrário cultural ou leitura de mundo proposta social, de sua origem social) que são mais ou menos
pelos dominantes em uma estrutura específica. apropriadas à sua posição”.
d) a ação racional com relação a valores visando com-
bater a anomia social e preservar as instituições. (BOURDIEU, P. OS USOS SOCIAIS DA CIÊNCIA: POR UMA SOCIOLOGIA
CLÍNICA DO CAMPO CIENTÍFICO. SÃO PAULO: UNESP, 2004, P. 29).
e) o esforço da burguesia em demonstrar a existência
de vencidos e, sobretudo, vencedores na história. Considerando o trecho citado e os estudos sociológicos
sobre indivíduo e sociedade, assinale o que for correto.
5. (Uel 2020) Leia o texto a seguir.
Um dos atos fundadores da sociologia da arte, no início 01) O pensamento sociológico ensina que as relações
sociais são diferentes das relações políticas, pois na
dos anos 1960, terá consistido em aplicar à frequenta-
sociedade não há disputas e nem conflitos.
ção aos museus de Belas-Artes os métodos de pesquisa
estatística elaborados nos Estados Unidos, no período 02) A sociologia se dedica ao estudo das estruturas
entre guerras, por Paul Lazarsfeld. Essas sondagens de sociais, e não ao dos indivíduos, porque entende que
opinião, até então reservadas ao marketing comercial as pessoas não atuam com racionalidade.
ou político, revelaram-se instrumentos preciosos para 04) De acordo com Bourdieu, no trecho citado, as
mensurar a diferenciação das condutas em função das pessoas agem orientadas por disposições de classe e
estratificações sociodemográficas – idade, sexo, origem pela posição que ocupam na estrutura social.
geográfica, meio social, nível de estudos e financeiro – 08) Ao estudar as relações sociais, Bourdieu afirma
e, eventualmente, explicar as primeiras pelas segundas. que o esforço e a dedicação individual são a medida
do sucesso pessoal que alguém pode ter em sua vida.
HEINICH, N. A SOCIOLOGIA DA ARTE, SÃO PAULO: EDUSC, 2001, P.72. 16) As relações entre as trajetórias individuais e as
Com base no texto e nos conhecimentos sobre cultura, estruturas sociais permitem à sociologia estudar as
considere as afirmativas a seguir. mudanças e as permanências na ordem social.
I. Para Pierre Bourdieu, visitar museus indica gostos so- 7. (UEM) “Para explicar a conexão existente entre gos-
cialmente criados e incorporados pelos indivíduos ou to e acessibilidade, comparemos O Cravo Bem Tempe-
grupos de indivíduos sob a forma de disposições durá- rado, de Bach, com a Rapsody in Blue, do compositor
veis denominadas habitus. americano George Gershwin. Uma pesquisa conduzida
II. Enquanto nas Belas Artes o olhar volta-se para as pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu mostrou que
regras formais estéticas e técnicas, na Arte Moderna diferentes grupos sociais preferem uma dessas duas
passa a ser mais do que expressão e rompe com o aca- obras musicais (Bourdieu, 1984 [1979], p.17). Profissio-
demicismo. nais franceses com uma educação formal mais elevada,
III. Ao conferir um valor de mercado à obra de arte, a professores e artistas preferem O Cravo Bem Tempera-
“indústria cultural” cria obstáculos para a contempla- do; já profissionais com menos educação formal como
ção, pois sua singularidade é despontenciada na forma escriturários, secretários, executivos comerciais e admi-
mercadoria do objeto artístico. nistradores juniores preferem a Rhapsody in Blue. Por
quê? (...) De acordo com Bourdieu, durante sua educa-
IV. O Museu Nacional tem origem no Brasil com a fun-
dação da Primeira República e expressou, na época de ção, as pessoas adquirem gostos culturais específicos
sua criação, a preocupação com pesquisas baseadas no associados à sua posição social. Esses gostos ajudam a
modelo popular. distingui-las de pessoas de outras posições sociais. Mui-
tas delas chegam a olhar os apreciadores de Gershwin
Assinale a alternativa correta. com superioridade, assim como os apreciadores de Ger-
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. shwin chegam a considerar esnobes os entusiastas de
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. Bach. Essas duas atitudes diferentes fazem com que os
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. dois grupos de status permaneçam distintos.”
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. (BRYM, R. ET AL. SOCIOLOGIA. SUA BÚSSOLA PARA UM NOVO
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. MUNDO, SÃO PAULO: CENGAGE LEARNING, 2009, P. 201-202).

50
A partir desse texto aprendemos que a desigualdade grupos sociais que historicamente foram marginaliza-
social não se manifesta somente através de diferenças dos pela escola regular.
econômicas. Sendo assim, é correto afirmar que:
9. (Unioeste) Pierre Bourdieu trata da cultura no sentido
01) As categorias “bom gosto” e “mau gosto” não antropológico recorrendo a outro conceito, o habitus. Em
expressam preconceito ou juízos de valor. Ao contrá- sua obra O sentido prático, ele explica mais detalhada-
rio, elas são princípios muito claros de classificação mente sua concepção do habitus:
do que é bom e do que não é em termos de escolhas
exclusivamente individuais em relação à arte, à vesti- “Os habitus são sistemas de disposições duráveis e trans-
menta, à alimentação, à etiqueta e ao lazer. poníveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar
02) Educação formal e condições financeiras são como estruturas estruturantes, isto é, a funcionar como
fatores que têm grande capacidade de influenciar o princípios geradores e organizadores de práticas e de re-
gosto e o acesso aos bens e serviços disponíveis. presentações que podem ser objetivamente adaptadas a
04) As preferências pela “alta cultura” ou pela “baixa seu objetivo sem supor que se tenham em mira conscien-
cultura” não possuem explicações sociológicas satis- temente estes fins e o controle das operações necessárias
fatórias porque se referem exclusivamente à expres- para obtê-los.”
são do gosto individual. BOURDIEU, O SENTIDO PRÁTICO, 1980, P. 88.
08) O uso de roupas para a prática esportiva, para o
lazer ou para o trabalho diz respeito à capacidade de Sobre o conceito de habitus, é incorreto afirmar que:
o indivíduo fazer escolhas adequadas e não à sinali- a) não é interiorizado pelos indivíduos, implica em cons-
zação de diferenças de status social ou de riqueza. ciência dos indivíduos para ser eficaz.
16) Gostos distintos em termos de viagens e de lazer, b) funciona como a materialização da memória cole-
de música, de moda, de alimentação, de etiqueta e de tiva, que reproduz para os sucessores as aquisições
literatura manifestam diferenças materiais e simbóli- dos precursores.
cas entre os membros de uma sociedade. c) é o que caracteriza uma classe ou um grupo so-
cial em relação aos outros que não compartilham das
8. (UEM) “A escola exclui, como sempre, mas ela exclui
mesmas condições sociais.
agora de forma continuada, a todos os níveis de curso, e
mantém no próprio âmago daqueles que ela exclui, sim- d) explica porque os membros de uma mesma classe
plesmente marginalizando-os nas ramificações mais ou agem frequentemente de maneira semelhante sem
menos desvalorizadas. Esses ‘marginalizados por dentro’ ter necessidade de entrar em acordo para isso.
estão condenados a oscilar entre a adesão maravilhada à e) é o que permite aos indivíduos se orientarem em seu
ilusão proposta e a resignação aos seus veredictos, entre espaço social e adotarem práticas que estão de acordo
a submissão ansiosa e a revolta impotente” com sua vinculação social. Ele torna possível para o in-
divíduo a elaboração de estratégias antecipadoras, que
BOURDIEU, P. (ORG.). A MISÉRIA DO MUNDO. são guiadas por esquemas inconscientes, esquemas de
PETRÓPOLIS: VOZES, 1993, P. 485. percepção, de pensamento e de ação.
Considerando a citação e as abordagens sociológicas so- 10. (UEM) “A virilidade, como se vê, é uma noção emi-
bre o contemporâneo processo de escolarização, assinale nentemente relacional, construída diante dos outros
o que for correto: homens, para os outros homens e contra a feminilida-
01) O melhor desempenho escolar de certas pessoas de, por ser uma espécie de medo do feminino, e cons-
está ligado ao dom natural para os estudos que des- truída, principalmente, dentro de si mesmo.”
perta logo no nascimento, pois as aptidões intelec-
tuais facilitam o aprendizado e permitem conseguir BOURDIEU, P. A DOMINAÇÃO MASCULINA. RIO
DE JANEIRO: BERTRAND, 1999, P. 67.
notas mais altas.
02) Historicamente a escola tem sido uma instituição Considerando a citação e as contemporâneas perspec-
democrática que respeita as diferenças econômicas, so- tivas sociológicas sobre a homossexualidade, assinale o
ciais e culturais da sociedade e garante oportunidades que for correto:
iguais para as pessoas que se esforçam nos estudos.
04) Ao ocultar seu papel na legitimação e na repro- 01) Do ponto de vista sociológico, as relações sexuais
dução dos saberes, dos valores e das experiências são relações privadas, que não devem ser tratadas em
dos grupos dominantes, a instituição escolar esconde público, pois aquilo que ocorre com as famílias não
também os seus mecanismos “sutis” de exclusão dos tem consequências sociais e não merece ser estudado
grupos marginalizados. ou debatido pela sociedade.
08) A baixa qualidade do ensino oferecido pelas esco- 02) Apesar de se tratar de uma opção pessoal, as
las públicas no Brasil está diretamente relacionada ao relações de afeto entre homens devem ser evitadas
grande número de pessoas pobres que ela inclui, pois a do ponto de vista sociológico, porque elas diminuem
condição econômica determina o desempenho escolar. a virilidade dos jovens e impedem a reprodução da
16) Um dos principais desafios colocados para os atu- espécie humana.
ais sistemas de ensino no Brasil tem sido a necessidade 04) Atos de violência física ou simbólica contra gays,
de assegurar a inclusão educacional de indivíduos e de lésbicas, travestis etc. expressam formas de preconceito

51
que geram ódio e intolerância diante de comportamen- a formação educacional necessária para a concorrência com
tos que não se enquadram nos padrões socialmente os imigrantes. Com esses indivíduos exercendo atividades
aceitos de normalidade sexual. socialmente desvalorizadas ou incorrendo na criminalidade,
08) Ao invés de abordar a sexualidade em suas dimen-
reiterou-se a ideia de que os afrodescendentes – e, por ex-
sões puramente biológicas ou psicológicas, a sociolo-
gia estuda as identidades sexuais a partir de processos tensão, os pobres em geral – são uma ameaça aos membros
históricos e sociais que as produzem enquanto fenô- da “boa sociedade”. Daí serem eles os principais herdeiros
menos sociais. contemporâneos do ódio e do desprezo que os senhores de-
16) Ao reconhecer a existência de múltiplas formas votavam aos escravos nos séculos anteriores.
de vivenciar o amor, o afeto, o desejo e o prazer,
a sociologia contemporânea tem criticado as ações
sociais que tentam impor um único padrão de rela-
cionamento.

11. (UEL) Leia o texto a seguir.

Como houve continuidade sem quebra temporal entre a


escravidão, que destrói a alma por dentro e humilha e re-
baixa o sujeito, tornando-o cúmplice da própria domina-
ção, e a produção de uma ralé de inadaptados ao mun-
do moderno, nossos excluídos herdaram, sem solução
de continuidade, todo o ódio e o desprezo covarde pelos
mais frágeis e com menos capacidade de se defender.
SOUZA, J. A ELITE DO ATRASO. RIO DE JANEIRO: LEYA, 2017. P.83.

Nas teorias sociais, um dos temas mais controversos


refere-se às relações entre o indivíduo e a sociedade. A
imensa maioria dos cientistas sociais demonstra a exis-
tência de complexas relações entre as características
sociais (classe social, renda, situação familiar etc.) que
envolvem o indivíduo e o seu comportamento. Consi-
derando esse texto, explique a relação entre o passado
escravocrata e a forte presença de afrodescendentes
entre os jovens presos e assassinados na atualidade no
Brasil. Em seguida, relacione esse cenário à discrimina-
ção que esses indivíduos sofrem por uma parcela subs-
tancial da população brasileira.

Gabarito
1. A 2. C 3. C 4. C 5. D
6. 04 + 16 = 20 7. 02 + 16 = 18
8. (04 + 16 = 20) 9. D 10. (04 + 08 + 16 = 28)
11. No Brasil, a escravidão ocupou a maior parte de nossa
história. Durante quatro séculos, pessoas foram trazidas da
África para serem aqui escravizadas. Com isso, tiveram seus
laços sociais e familiares rompidos, tendo sido submetidas
a condições drásticas de trabalho e exploração. Com o fim
da escravidão, ao invés de essa população recém-libertada
ter sido incentivada e formada para o exercício do trabalho
assalariado, a maioria dos postos de trabalho – e, claro, os
de melhor remuneração – foram ocupados por imigrantes de
origem europeia. O resultado disso foi o deslocamento dos
afrodescendentes para o desemprego ou subemprego de
péssima remuneração, empurrando-os para a pobreza, fra-
gilizando os vínculos familiares e tornando quase impossível

52
vidades dos indivíduos de diferentes maneiras, construindo
AULA 8 teias de interatividade e formando as instituições sociais,
como a família, a cidade, o Estado e as nações.
Esse seu pensamento analisa as estruturas sociais não de
uma forma estática, mas sempre em desenvolvimento.

O PROCESSO CIVILIZADOR:
NORBERT ELIAS

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, O senhor das moscas - Estados
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, Unidos, 1990 (90 min)
23, 24 e 25
O filme de 1990 é inspirado no livro de mesmo nome do
inglês William Golding, publicado em 1954. Depois de
um acidente de avião, um grupo de estudantes chega
1. Norbert Elias (1897-1990) a uma ilha. Eles acabam se dividindo em dois grupos.
Enquanto um é organizado, o outro recorre à selvageria
O sociólogo alemão inovou no desenvolvimento da teoria e usa o medo do desconhecido para controlar os outros.
social ao elucidar os processos sociais, isto é, os processos
de interação humana na sociedade.
1.1. O processo civilizador
Escrito na década de 1930, esse texto apresenta sua teoria
dos processos civilizadores, de modo que ocorre uma aná-
lise dos costumes da humanidade a partir da formação do
Estado Moderno, abrangendo também a cultura.
Norbert Elias salienta que o processo civilizador pode ser
entendido como um processo transformador de longo pra-
zo nas estruturas da personalidade e do comportamento
individuais. Traçando a evolução histórica dos costumes
humanos, que será codificada no termo habitus, segundo o
autor alemão, as estruturas psíquicas individuais são mol-
dadas por atitudes sociais.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Quem é Norbert Elias?

Tendo uma abordagem crítica, Elias demonstra que os con-


ceitos fundamentais foram construídos a partir da identi- Observando os padrões europeus medievais em relação a
ficação das limitações das perspectivas teóricas clássicas. diversos temas, como a violência, o comportamento sexual,
Isso quer dizer que os processos sociais baseiam-se nas ati- as funções corporais e os modos à mesa, Elias constata

53
que eles foram transformados de forma gradual, criando
repugnância e vergonha e condicionando novos costumes.
Dessa maneira, a concepção de processo civilizador reflete as
mudanças nas cadeias de interdependência humana. Assim,
os hábitos podem ser modificados ao longo do tempo, numa
observação histórica, num processo social civilizador.
multimídia: vídeo
1.2. Configuração e civilização FONTE: YOUTUBE

Norbert Elias ressalta o conceito de configuração, que pode Configuração e Civilização


ser entendido como um padrão criado pelos homens, de- Esse vídeo mostra os dois conceitos essenciais na dis-
sencadeando ações entre esses homens, sendo um padrão cussão teórica de Norbert.
flexível, que pode sofrer alterações constantemente, ajustan-
do-se conforme a criação da instituição social, servindo tanto O conceito de "civilização" refere-se a uma grande varie-
para o domínio externo como para o autodomínio individual. dade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras,
ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às
ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de
habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem
juntos, à forma de punição determinada pelo sistema ju-
diciário ou ao modo como são preparados os alimentos.
Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito
de forma "civilizada" ou "incivilizada". Daí ser sempre
difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode
descrever como civilização.
Mas se examinamos o que realmente constitui a função
geral do conceito de civilização, e que qualidade comum
FORMA ALIMENTAR DA IDADE MÉDIA leva todas essas várias atitudes e atividades humanas a
serem descritas como civilizadas, partimos de uma des-
coberta muito simples: este conceito expressa a consci-
ência que o Ocidente tem de si mesmo.
ELIAS, NORBERT.
O PROCESSO CIVILIZADOR. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 1994, P.23.

RITO DE ALIMENTAÇÃO NA VISÃO EUROPEIA PERANTE OS INDÍGENAS DA AMÉRICA. multimídia: livro


O processo civilizador encontra meios externos e internos de
controle social para limitar os impulsos animalescos. Com as O Processo Civilizador - Vol.1 - ELIAS,
formas das leis e do Estado, é uma compreensão civilizatória Norbert. São Paulo: Zahar, 1996.
para os indivíduos, ao passo que as regras de etiqueta são O volume traça a evolução histórica da Europa, habitus,
também uma representação dessa civilização. Tudo isso em ou "segunda natureza", as estruturas psíquicas indivi-
prol do convívio humano, seguindo um direcionamento de duais particulares moldadas por atitudes sociais. Elias
regras ou leis, para conter qualquer tipo de instinto e para traçou como os padrões europeus pós-medievais em
não prejudicar o coletivo. relação à violência, comportamento sexual, funções cor-
porais, modos à mesa e formas de discurso foram gra-
Essa civilidade vai criando um abismo entre o adulto e a dualmente transformados pelo aumento dos limiares de
criança, que ainda não assimilou os elementos civilizató- vergonha e repugnância, de dentro para fora a partir de
rios, as regras, e precisa ter o seu comportamento moldado um núcleo na etiqueta de corte.
para ser aceita nessa sociedade.

54
A modernidade, segundo o sociólogo, não tem apenas
2. Karl Mannheim (1893-1947) custos e malefícios ao ser humano, ela apresenta novas
Sociólogo húngaro, com grande influência do marxismo, esperanças e valores sociais solidários. A psicanálise, por
elaborou a sociologia do conhecimento. Sua análise con- exemplo, é responsável por um novo padrão de vida, per-
siste em identificar que o conhecimento está vinculado mitindo ao ser humano ficar livre das repressões sociais.
aos interesses sociais das classes. De modo que o conhe- Nunca a falta de uma ciência da sociedade foi mais
cimento é historicamente relativo. Assim, o conhecimento prejudicial que em nossa época. Para as sociedades an-
perante a realidade é condicionado socialmente, sendo in- teriores, o conhecimento da sociologia teria sido quase
fluenciado pela cultura do agrupamento social. um luxo, pois não dispunham do poder necessário para
aplicar seus resultados ao controle dos processos sociais.
Mas hoje, dá-se o oposto. O homem frequentemente
tem o poder político, mas não o conhecimento capaz de
impedir o abuso desse poder. Só poderemos substituir
o conceito de planejamento fundado na utilização das
forças espontâneas da sociedade, se lograrmos penetrar
a natureza dessas mesmas forças sociais.
MANNHEIN, KARL.
O IMPACTO DOS PROCESSOS SOCIAIS NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE,
IN: CARDOSO, FERNANDO HENRIQUE E IANNI, OTÁVIO. HOMEM E
SOCIEDADE. SÃO PAULO: COMPANHIA EDITORA NACIONAL, 1980, P.286.

multimídia: livro

Ideologia e Utopia - MANNHEIM, Karl.


3. Ed. São Paulo: Zahar, 1976.
Nessa obra, Mannheim afirma que todo ato de conhe-
Mannheim salienta que o pensamento social só pode expres- cimento não resulta apenas da consciência puramente
sar a vida, e não explicá-la em definitivo, sendo que existem teórica, mas também de inúmeros elementos de nature-
tendências em criar padrões para uma melhoria de vida. Os za não teórica, provenientes da vida social e das influên-
movimentos da juventude são responsáveis por desenvolver cias e vontades a que o indivíduo está sujeito.
um ideal de homem “sincero”, um modelo a ser seguido,
numa relação mais íntegra do homem com a natureza.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Não vou me adaptar - Titãs.
Volume dois. WEA, 1998.
Nessa canção, está contida uma referência à dominação
cultural que sofremos no nosso cotidiano.

55
DIAGRAMA DE IDEIAS

NORBERT KARL
ELIAS MANNHEIM

A SOCIEDADE É A REALIDADE É
FORMADA POR CONDICIONADA
HÁBITOS

SENDO
LIMITANDO O
DIRECIONADOS
CONHECIMENTO
ESSES HÁBITOS

POR UM GRUPO
DOMINANTE

COM UM INTUITO
DE DOMINAÇÃO
SOCIAL

56
Em sua obra mais conhecida, O processo civilizador, mos-
Aplicando para tra como lentamente os costumes vão moldando as con-
dutas, os corpos e os sentimentos dos indivíduos e dos
Aprender (A.P.A.) grupos sociais ao longo dos séculos. Sobre os conceitos
1. (IFB) De acordo com Norbert Elias (1994), o processo e proposições teóricas de Norbert Elias, assinale a alter-
de transição de um modo de pensar mais autônomo, ao nativa incorreta:
menos no tocante aos eventos naturais, esteve intima- a) Outra etapa do processo civilizatório se apresenta
mente ligado ao avanço mais generalizado da indivi- quando, por força da crescente divisão do trabalho e
dualização nos séculos XV, XVI e XVII. Sobre o conceito acirramento da competição social, o controle externo
de processo de individualização, julgue os itens abaixo. é substituído pelo controle interno.
I. A individualização é um processo contínuo e não pla- b) Para Norbert Elias, socialização e individualização
nejado, construído nos avanços e recuos do processo de um ser humano são, portanto, nomes diferentes
civilizador individual, no qual todos os indivíduos, como para o mesmo processo.
fruto de um processo civilizador social em construção a c) A sociologia não consiste, ou pelo menos não ex-
longo tempo, são automaticamente ingressos desde a clusivamente, no estudo das sociedades contemporâ-
mais tenra infância, em maior ou menor grau e sucesso. neas, mas deve dar conta das evoluções de longa, até
II. O processo de individualização se diferencia do pro- mesmo de muito longa duração, as quais permitem
cesso de civilização, visto que este último faz parte de compreender, por filiação ou diferença, as realidades
uma crescente interação com as atividades sociais, sem do presente.
qualquer relação com as atividades psíquicas dos indi- d) Uma Figuração é uma formação social, cujas di-
víduos no interior das configurações. mensões podem ser muito variáveis (os jogadores de
III. O conceito de individualização está intimamente um carteado, a sociedade de um café, uma classe es-
ligado com o de autocontrole, que é o processo que colar, uma aldeia, uma cidade, uma nação), em que os
vai da exteriorização à interiorização. O indivíduo in- indivíduos estão ligados uns aos outros por um modo
terioriza os sentimentos, paixões, emoções, controles específico de dependências recíprocas e cuja reprodu-
e representações produzidas nas relações sociais e em ção supõe um equilíbrio móvel de tensões.
suas atividades mentais, e depois ele exterioriza suas e) Diferentemente da tecnização o processo civilizador
representações através de comportamentos, hábitos e corresponde a um percurso de aprendizagem involun-
relações de poder. tária pelo qual passa a humanidade. Começou nos
IV. A ideia de individualização torna-se mais visível ao primórdios do gênero humano e continua em marcha.
passo que a história humana avança, demonstrando que 3. O conceito de indivíduo adquiriu maior força no sécu-
a humanidade, o indivíduo e a sociedade são processos
lo XVI com a Reforma Protestante, A partir da ideia de
sem início e fim à vista. Nessa história, torna-se percep-
que o indivíduo poderia relacionar-se diretamente com
tível a transferência cada vez maior de funções relativas
Deus, sem o intermédio de outra pessoa. Com a Revolu-
à proteção e ao controle do indivíduo, previamente exer-
ção Industrial, esta ideia firmou-se definitivamente, pois
cidas por pequenos grupos tradicionais e consanguíne-
se colocou a felicidade individual como objetivo princi-
os (tribo, feudo, igreja etc.), para os grupos densamente
pal da nova sociedade. Para Norbert Elias, o estudo do
habitados, como podemos perceber na configuração dos
indivíduo deverá ser realizado dinamicamente a fim de
Estados modernos altamente complexos e urbanizados.
compreendê-lo dentro do contexto social e, vice-versa.
V. Na individualização existe um indivíduo biológico e Para explicar essa relação de interdependência entre in-
individuado socialmente, que busca ser controlador das divíduo e sociedade, esse sociólogo utiliza o conceito de:
forças naturais. Desde os primeiros dias da humanida-
de até o século XXI, não foram somente as estruturas a) configuração.
sociais e as condições materiais de existência que mu- b) estrutura social.
daram. O biológico parece mais ‘sólido’ e ‘resistente’, c) relação social.
as forças naturais não-humanas parecem ser cada vez d) ação social
mais ‘controladas’ e ‘previstas’, enquanto o social pa-
rece mais ‘controlador’, ‘mutável’ e ‘vulnerável’ às mu- 4. (UFMT) Em “A sociedade dos indivíduos”, Norbert
danças ao longo da história humana. Elias discute um problema epistemológico da sociolo-
gia, que se localiza no enviesar dicotômico para leitura
Assinale a alternativa que apresenta apenas sentenças
dos fenômenos indivíduo e sociedade. De fato, o autor
corretas:
propõe uma análise do indivíduo e da sociedade na lon-
a) I, III, IV e V. ga cadeia de interdependência, entrelaçando estrutura
b) I, II, III e IV. social e estrutura psíquica. Leia atentamente o texto.
c) III, IV e V. [...] é um processo contínuo e não planejado, construído
d) I, IV e V. nos avanços e recuos do processo civilizador individual
e) I, II, IV e V. no qual todos os indivíduos, como fruto de um processo
civilizador social em construção a longo tempo, são au-
2. O sociólogo Norbert Elias é hoje uma das grandes re- tomaticamente ingressos desde a mais tenra infância,
ferências nas ciências sociais, numa acepção mais ampla. em maior ou menor grau e sucesso. Pois nenhum ser

57
humano chega civilizado ao mundo, o individual é obri- 32) tanto Elias e Scotson quanto Bourdieu conside-
gatoriamente social e vice-versa. ram que formar posses econômicas é o principal me-
canismo de hierarquização de grupos sociais.
ELIAS, N. INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA. EDIÇÕES 70. LISBOA: PAX, 1980.
64) Elias e Scotson e Bourdieu podem ser considera-
O texto acima define o conceito de: dos representantes de teorias sociológicas que bus-
cam realizar uma síntese teórica entre o papel das
a) Habitus. estruturas sociais e o papel dos agentes da vida so-
b) Individualização. cial, e isso se expressa na forma como esses autores
c) Civilização. entendem a luta por poder.
d) Configuração social.
6. (FGV) “Na sociedade aristocrática de corte, a vida
5. (UFSC 2019) Assim, nessa pequena comunidade, de- sexual era por certo muito mais escondida do que na
parava-se com o que parece ser uma constante univer- sociedade medieval. O que o observador de uma socie-
sal em qualquer figuração de estabelecidos-outsiders: dade industrializada-burguesa amiúde interpreta como
o grupo estabelecido atribuía a seus membros carac- ‘frivolidade’ da sociedade de corte nada mais é do que
essa orientação rumo à privacidade. Não obstante, me-
terísticas humanas superiores; excluía todos os mem-
didos pelo padrão de controle dos impulsos na própria
bros do outro grupo do contato social não profissional
sociedade burguesa, o ocultamento e a segregação da
com seus próprios membros; e o tabu em torno desses
sexualidade na vida social, tanto quanto na consciência,
contatos era mantido através de meios de controle so- foram relativamente sem importância nessa fase. Aqui,
cial como a fofoca elogiosa [praise gossip], no caso dos também, o julgamento de fases posteriores é com fre-
que o observavam, e a ameaça de fofocas depreciativas quência induzido em erro porque os padrões, da pessoa
[blame gossip] contra os suspeitos de transgressão. que julga e da aristocracia de corte, são considerados
ELIAS, NORBERT; SCOTSON, JOHN L. OS ESTABELECIDOS E OS como absolutos e não como opostos inseparáveis, e
OUTSIDERS. SOCIOLOGIA DAS RELAÇÕES DE PODER A PARTIR DE UMA também porque o padrão próprio é utilizado como me-
PEQUENA COMUNIDADE. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2000, P. 20. dida de todos os demais.”

Por conseguinte, o espaço dos estilos de vida, ou seja, o ELIAS, N. O PROCESSO CIVILIZADOR: UMA HISTÓRIA DOS COSTUMES. RIO
DE JANEIRO: JORGE ZAHAR ED., 1994, V. 1, P. 178. (ADAPTADO)
universo das propriedades pelas quais se diferenciam,
com ou sem intenção de distinção, os ocupantes das Em O Processo Civilizador, Norbert Elias analisa a his-
diferentes posições no espaço social não passa em si tória dos costumes, buscando compreender o curso das
mesmo de um balanço, em determinado momento, das transformações gerais da sociedade ocidental que, na
lutas simbólicas cujo pretexto é a imposição do estilo longa duração, contribuíram para um processo civiliza-
de vida legítimo e que encontram uma realização exem- tório. A esse respeito, com base no fragmento acima,
plar nas lutas pelo monopólio dos emblemas da “clas- assinale V para a afirmativa verdadeira e F para a falsa.
se”, ou seja, bens de luxo, bens de cultura legítima ou ( ) O autor examina a dinâmica civilizadora, entendida
modo de apropriação legítimo desses bens. como as reações dos indivíduos às condições materiais
de vida.
BOURDIEU, PIERRE. A DISTINÇÃO. CRÍTICA SOCIAL DO JULGAMENTO.
SÃO PAULO: EDUSP; PORTO ALEGRE: ZOUK, 2008, P. 233. ( ) O autor estuda os processos de naturalização de
hábitos e costumes, como os processos de controle
Com relação às teorias de Norbert Elias e John Scotson das emoções individuais.
e de Pierre Bourdieu, é correto afirmar que: ( ) O autor identifica representações sociais e hábitos
01) de acordo com Elias e Scotson, os grupos esta- analisando o processo cognitivo pelo qual lhe são atri-
belecidos mobilizam características naturais de supe- buídos significados.
rioridade a fim de se mostrarem mais valiosos do que As afirmativas são, respectivamente:
outros grupos. a) F, V e F.
02) de acordo com Bourdieu, a ocupação do espaço b) F, V e V.
social mais distinto por parte de certos grupos se ba- c) V, F e F.
seia em suas capacidades inatas de exprimir um gosto d) V, V e F.
cultural legítimo. e) F, F e V.
04) o par conceitual formado por valorização e exclu-
são é considerado por Elias e Scotson uma constante 7. (Unimontes) Norbert Elias (1897-1990), alemão de
das relações de poder. origem judaica, é considerado, na atualidade, um dos
08) a aquisição de símbolos distintivos cumpre uma mais importantes representantes da Sociologia. Elias
função de legitimação do estilo de vida que, segundo ganhou notoriedade, entre outros motivos, por fazer
Bourdieu, é parte de um conflito simbólico permanente. análises dos hábitos e costumes sobre o desenrolar do
“processo civilizatório”.
16) um traço comum a essas teorias é que elas assu-
mem que os mecanismos de exercício do poder não são No que se refere a esse assunto, é INCORRETO afirmar:
meras imposições das classes dominantes, mas expres- a) Segundo Elias, o termo “civilização” configura-se
sam relações entre os grupos dominantes e dominados. como um conjunto de hábitos, valores e costumes

58
internalizados pelos indivíduos que lhes dão o caráter época remota de sua própria sociedade, tal como o pe-
“social” ou “humano”. Os seres humanos, por nature- ríodo medievo-feudal, descobriria nele muito do que
za, não possuem aspectos civilizados, porém possuem julga “incivilizado” em outras sociedades modernas.
um potencial que lhes permite adquirir e aprender os Sua reação em pouco diferiria da que nele é desper-
modos civilizados de existência. tada no presente pelo comportamento de pessoas que
b) Um aspecto vital da civilização, para Elias, é a autor- vivem em sociedades feudais fora do Mundo Ociden-
regulação dos impulsos e pulsões, o autocontrole das tal. Dependendo de sua situação e de suas inclinações,
energias instintivas que brotam dos seres humanos. sentir-se-ia atraído pela vida mais desregrada, mais
Importante frisar que se trata de um “autocontrole”, descontraída e aventurosa das classes superiores dessa
ou seja, diferentemente de coações externas que eram sociedade ou repelido pelos costumes “bárbaros”, pela
antes necessárias para a convivência humana. pobreza e rudeza que nele encontraria. E como quer que
c) Os modos civilizados de ser têm relação estreita entendesse sua própria “civilização”, ele concluiria, da
com o refinamento dos costumes, que passam a ca- maneira a mais inequívoca, que a sociedade existente
racterizar os indivíduos ocidentais modernos. A lim- nesses tempos pretéritos da história ocidental não era
peza e a higiene pessoal são exemplos básicos desse “civilizada” no mesmo sentido e no mesmo grau que a
refinamento dos costumes. sociedade ocidental moderna.
d) Estudos sobre civilização e cultura não interessam à ELIAS, N. O PROCESSO CIVILIZADOR. V.1. 2.ED. RIO DE
Sociologia, por ser uma disciplina acadêmica vinculada JANEIRO: JORGE ZAHAR, 1994. P.13 (ADAPTADO)
apenas aos problemas de gestão do aparato estatal.
Com base no texto e nos conhecimentos de Norbert
8. (PUC-PR) Norbert Elias é um dos mais conhecidos so- Elias sobre as normas e as emoções disseminadas nas
ciólogos contemporâneos que desenvolveu uma mar- práticas cotidianas, especialmente no tocante à forma-
cante contribuição à sociologia da cultura ao refletir so- ção da civilização na sociedade moderna ocidental, as-
bre a sociogênese dos conceitos de cultura e civilização. sinale a alternativa correta.
Sobre sua abordagem é correto afirmar: a) A construção social do processo civilizador com-
a) De orientação evidentemente marxista, Elias mapeia prova que este é um fenômeno sem características
a noção de cultura como uma história da ideologia en- evolutivas, dadas as sucessivas rupturas e desconti-
quanto confere à civilização uma análise tecnológica dos nuidades observadas, por exemplo, em relação aos
processos de exploração do trabalho. controles das funções corporais.
b) A crítica de Elias recai no uso deliberado e extenso das b) Os estudos do processo civilizador comprovam que as
análises antropológicas acerca da cultura, demasiado emoções são inatas, com origem primitiva, o que garante
amplas, mantendo sua abordagem histórico-sociológica a empatia entre indivíduos de diversas sociedades e cultu-
na investigação da concepção francesa de civilização, ras, bem como de diferentes classes sociais.
com ênfase nas inovações tecnológicas. c) Os mecanismos de controle e de vigilância da so-
c) Contrariando análises anteriores, Elias identifica ciedade sobre as maneiras de gerenciar as funções
a origem da noção de cultura nos países asiáticos e corporais correspondem a um aparelho de repressão
demonstra a influência dessa noção para a tradição que se forma na economia política da sociedade, sen-
ocidental, em um amplo processo de difusão semân- do, portanto, exterior aos indivíduos.
tica que chega a sobrepujar a noção de civilização d) O modo de se alimentar, o cuidado de si, a relação
dominante na Europa. com o corpo e as emoções em resposta às funções
d) Atento ao significado dos conceitos ao longo do corporais são produtos de um processo civilizador, de
tempo e em diferentes contextos nacionais, Elias resga- longa duração, por meio do qual se transmite aos in-
ta a noção francesa de civilização como referente aos divíduos às regras sociais.
progressos das instituições e costumes ocidentais, uni- e) O processo civilizador propiciou sucessivas aproxima-
versalizáveis a toda humanidade, e demonstra como a ções sociais entre o mundo dos adultos e o das crianças,
visão alemã de cultura opunha-se à civilização, vista favorecendo a transição entre etapas geracionais e re-
como leviandade e superficialidade, em detrimento dos duzindo o embaraço com temas relativos à sexualidade.
valores de profundidade e autenticidade nacionais.
10. (Enem) Só num sentido muito restrito, o indivíduo cria
e) Resgatando influência do estruturalismo de Lé- com seus próprios recursos o modo de falar e de pen-
vi-Strauss, Elias procura demonstrar a dimensão in- sar que lhe são atribuídos. Fala o idioma de seu grupo;
consciente que perpassa e organiza tanto as práticas pensa à maneira de seu grupo. Encontra a sua disposição
culturais e simbólicas, associadas à noção de cultura, apenas determinadas palavras e significados. Estas não
quanto os processos inconscientes de formação das só determinam, em grau considerável, as vias de acesso
nacionalidades referentes à noção de civilização. mental ao mundo circundante, mas também mostram, ao
9. (UEL) O homem ocidental nem sempre se compor- mesmo tempo, sob o ângulo e em que contexto de ativi-
tou da maneira que estamos acostumados a conside- dade os objetos foram até agora perceptíveis ao grupo
rar como típica ou como sinal característico do homem ou ao indivíduo.
“civilizado”. Se um homem da atual sociedade civiliza- MANNHEIM, K. IDEOLOGIA E UTOPIA. PORTO
da ocidental fosse, de repente, transportado para uma ALEGRE: GLOBO, 1950 (ADAPTADO).

59
Ilustrando uma proposição básica da sociologia do co-
nhecimento, o argumento de Karl Mannheim defende Gabarito
que o(a):
1. A 2. E 3. A 4. B
a) conhecimento sobre a realidade é condicionado
socialmente. 5. 04 + 08 + 16 + 64 = 92 6. A 7. D
b) submissão ao grupo manipula o conhecimento do
8. E 9. D 10. A 11. D
mundo.
c) divergência é um privilégio de indivíduos excepcionais.
d) educação formal determina o conhecimento do idioma.
e) domínio das línguas universaliza o conhecimento.

11. (Enem)

TEXTO I

O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e


a manifestação da agressividade através da violência.
Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade,
que está presente em todos os redutos — seja nas áre-
as abandonadas pelo poder público, seja na política ou
no futebol. O brasileiro não é mais violento do que ou-
tros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhe-
cimento da cidadania e a ausência do Estado em vários
territórios do país se impõem como um caldo de cultura
no qual a agressividade e a violência fincam suas raízes.
ENTREVISTA COM JOEL BIRMAN. A CORRUPÇÃO É UM CRIME
SEM ROSTO. ISTOÉ. EDIÇÃO 2099; 3 FEV. 2010.

TEXTO II

Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as


pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle mui-
to específico de seu comportamento. Nenhum controle
desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham
limitações umas às outras, e todas as limitações são
convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo
de um ou outro tipo.
ELIAS, N. O PROCESSO CIVILIZADOR. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 1993.

Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal


como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acer-
ca da violência e agressividade na sociedade brasileira
expressa a:
a) incompatibilidade entre os modos democráticos
de convívio social e a presença de aparatos de con-
trole policial.
b) manutenção de práticas repressivas herdadas dos
períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos admi-
nistrativos.
c) inabilidade das forças militares em conter a vio-
lência decorrente das ondas migratórias nas grandes
cidades brasileiras.
d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em
institucionalizar formas de controle social compatí-
veis com valores democráticos.
e) incapacidade das instituições político-legislativas
em formular mecanismos de controle social específi-
cos à realidade social brasileira.

60
Essas divisões de estratificações estão interligadas, de
AULA 9 modo que não podemos separar essas modalidades. Isso
ocorre porque as pessoas que ocupam altas posições
econômicas acabam assumindo posições profissionais
valorizadas socialmente.
Essas divisões sociais são construídas socialmente, ou seja,
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL condicionadas pelo ser humano, configurando uma divisão
da sociedade, seguindo estratos ou camadas sociais. Essas
E SUAS FORMAS nomenclaturas podem ser modificadas conforme o agrupa-
mento social ou período histórico, como as castas na Índia,
os estamentos na Idade Média ou as classes sociais na so-
ciedade capitalista.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
1.1. Castas
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, Na sociedade indiana existe uma estratificação social mar-
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, cada pela impossibilidade de mobilidade social, ou seja, o
23, 24 e 2 indivíduo que está num patamar permanecerá eternamen-
te nesse segmento social. Em 1947, esse sistema de castas
foi abolido de forma oficial; porém, devido aos costumes
tradicionais, essa prática persiste até os dias atuais.
1. Estratificação social
A estratificação social indica a existência de diferenças e
desigualdades entre os indivíduos de um agrupamento
social. São três os principais tipos de estratificação social:

Estratificação Baseada na posse de bens materiais, fazendo


com que haja pessoas ricas, intermediárias e
Econômica pobres.
Estratificação Baseada na situação de mando na sociedade
Política (grupos que têm e grupos que não têm poder).
Baseada nos diferentes graus de importân-
Estratificação cia atribuídos a cada profissional pela so-
Profissional ciedade. Consolida uma diferenciação entre
as profissões.

1.2. Estamentos
Durante a Idade Média na Europa ocidental, a sociedade
estava estratificada em estamentos. Nessa sociedade es-
tamental, a mobilidade social era possível, mas acontecia
multimídia: vídeo raramente, ocorrendo por exemplo quando um nobre con-
feria o título de nobreza a um homem do povo, ou quando
FONTE: YOUTUBE a Igreja recrutava pessoas da classe mais baixa para faze-
O som ao redor - Brasil, 2013 (131 min). rem parte da instituição religiosa.
O filme apresenta diversos personagens e subtramas, que
se desenvolvem principalmente a partir de um olhar do 1.3. Classes sociais
protagonista, um corretor de imóveis. As interações entre
as personagens vão revelando de forma sutil as relações As camadas sociais na sociedade capitalista emergem com
entre patrão e empregado na atual sociedade – muitas uma divisão de classes econômicas: proprietários dos bens
vezes, uma mistura de afeto e paternalismo, sem deixar de produção e os não proprietários; numa visão marxista, a
de reforçar a posição de cada um na escala social. burguesia e o proletariado. Contendo uma valorização da
primeira classe em detrimento da segunda classe.

61
Com as transformações do sistema capitalista no século XX
e XXI, as divisões sociais se multiplicaram em inúmeras sub-
divisões de classes sociais, configurando maior mobilidade
social em comparação com a sociedade do sistema de castas
ou com a sociedade estamental do Antigo Regime.

ORGANOGRAMA DOS ESTRATOS SOCIAIS

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Divergente - Série: EUA, 2014.
Série baseada nos livros de Veronica Roth. Uma socie-
dade futurista distópica, onde cada habitante ocupa
um lugar bem específico, as facções moram em lugares
distintos, realizam trabalhos próprios e não existe muita multimídia: música
interação entre pessoas de facções diferentes, tirando
aqueles que estão no poder. FONTE: YOUTUBE
A banca do distinto - (1959). Dolores Duran.
Álbum: Dolores Duran no Michel de São Paulo.
2. Octavio Ianni (1926-2004) Essa canção, por meio da ironia, mostra as atitudes que
desumanizam e coisificam o outro, o diferente, mas a le-
O sociólogo brasileiro Octavio Ianni desenvolveu diversos es- veza musical pode criar a ilusão de que é fácil lutar contra
tudos sobre a temática da estratificação social. Porém, para a esse câncer social – o preconceito, base de estigmas, este-
compreensão dessa temática, temos que entender as estru- reótipos, discriminação, segregação e genocídio.
turas econômicas e políticas da sociedade analisada.
A sociologia nasce e desenvolve-se com o Mundo Moder-
no. Reflete as suas principais épocas e transformações. Em
certos casos, parece apenas a sua crônica, mas em outros
desvenda alguns dos seus dilemas fundamentais. Volta-
-se principalmente sobre o presente, procurando remi-
niscências do passado, anunciando ilusões do futuro. Os
impasses e as perspectivas desse Mundo tanto percorrem
a Sociologia como ela percorre o mundo. Se nos debruça-
multimídia: livro mos sobre temas clássicos da Sociologia, bem como sobre
as suas contribuições teóricas, logo nos deparamos com
as mais diversas expressões desse Mundo. Sob diversos
Teorias de Estratificação Social: leituras de Sociologia aspectos, ela nasce e desenvolve-se com ele. Mais do que
- IANNI, Otávio. São Paulo: Nacional, 1978. isso, o Mundo Moderno depende da Sociologia para ser
explicado, para compreender-se. Talvez se possa dizer que
sem ela esse Mundo seria mais confuso, incógnito. A So-
Os três tipos de estratificações (castas, estamentos e clas- ciologia não nasce do-nada. Surge em um dado momento
ses) contêm estruturas de poder (político e econômico). A da história do mundo Moderno. Mais precisamente, em
partir dessa elaboração complexa, essas sociedades seg- meados do século XIX, quando ele está em franco desen-
volvimento, realizando-se. Essa é uma época em que já se
mentam suas divisões e subdivisões, tendo uma classifica-
revelam mais abertamente as forças sociais, as configura-
ção. A principal diferença entre esses tipos de estratifica- ções de vida, as originalidades e os impasses da sociedade
ções consiste na abertura ou rigidez de suas estruturas, que civil, urbano-industrial, burguesa ou capitalista.
possibilitam ou não uma mobilidade social. IANNI, OCTAVIO.
A SOCIOLOGIA E O MUNDO MODERNO. IN: TEMPO
SOCIAL. SÃO PAULO, USP, 1.SEM, 1989.

62
DIAGRAMA DE IDEIAS

ESTRATIFICAÇÃO
OCTAVIO IANNI
SOCIAL
• ECONÔMICA
• POLÍTICA
• PROFISSIONAL ESTRATOS
SOCIAIS

DIVISÕES SOCIAIS
CASTAS
• CASTAS
• ESTAMENTOS SEM
• CLASSES SOCIAIS MOBILIDADE

CLASSES SOCIAIS

MUITA
MOBILIDADE

ESTAMENTOS

POUCA
MOBILIDADE

63
16) as formas de distinção social podem se realizar
Aplicando para por diferentes meios, sendo atualmente a distinção
econômica o menos relevante no contexto das socie-
Aprender (A.P.A.) dades modernas.
1. (UFSC 2019) A imagem que segue foi publicada com 32) no tempo decorrido desde a fotografia (1937), o
uma reportagem da qual constavam os seguintes trechos: acesso a bens de consumo serve como um contrapon-
to aos sinais explícitos de distinção e valorização da
tradição, mas não à estratificação e às desigualdades
de classe.

2. (UEL) De acordo com Octavio Ianni: “Para melhor com-


preender o processo de estratificação social, enquanto
processo estrutural, convém partirmos do princípio. Isto
é, precisamos compreender que a maneira pela qual se
estratifica uma sociedade depende da maneira pela
qual os homens se reproduzem socialmente”.
IANNI, O. ESTRUTURA E HISTÓRIA. IN IANNI, OCTAVIO (ORG).
TEORIAS DA ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL: LEITURA DE SOCIOLOGIA.
SÃO PAULO: CIA. EDITORA NACIONAL, 1978, P. 11.
“Em 1937, já fazia 132 anos que as duas escolas par-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre estratifi-
ticulares mais célebres da Inglaterra, Eton e Harrow,
cação social, considere as afirmativas a seguir:
vinham disputando jogos anuais de críquete, a modali-
dade de esporte coletivo com bola mais antiga e dura- I. Os estamentos são formas de estratificação baseadas
doura do mundo […]” em categorias socioculturais como tradição, linhagem,
vassalagem, honra e cavalheirismo.
“Quanto aos próprios alunos [...], cabia-lhes apresen-
tar-se de acordo com a norma de formalidade máxima II. As classes sociais são formas de estratificação basea-
exigida para a ocasião. Com pequenas variações de es- das em renda, religião, raça e hereditariedade.
tilo [...] os estudantes das duas escolas envergavam a III. As mudanças sociais estruturais ocorrem quando há
indumentária que em algum momento do século XIX ti- mudanças significativas na organização da produção e
nha se transformado no uniforme do gentleman inglês: na divisão social do trabalho.
cartola, casaca, colete de seda e bengala [...]” IV. As castas são formas de estratificação social basea-
“Hoje, o traje exigido para o público é descrito como das na propriedade dos meios de produção e da força
smart casual [esporte fino]. E, se um fotógrafo desejas- de trabalho.
se recriar a foto […] talvez flagrasse cinco meninos ves- A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
tidos praticamente da mesma maneira –jeans e camise-
tas de grife –, produzindo uma impressão superficial de a) I e II.
igualdade. Mas esta fotografia mentiria ainda mais que b) I e III.
a do passado.” c) II e III.
d) I, II e IV.
“RETRATO ÀS AVESSAS”, REVISTA PIAUÍ, EDIÇÃO 44, MAIO 2010.
DISPONÍVEL EM: HTTPS://PIAUI.FOLHA.UOL.COM.BR/MATERIA/RETRATO- e) II, III e IV.
AS-AVESSAS. [ADAPTADO]. ACESSO EM: 9 MAIO 2019.
3. (UEL) Em 1840, o francês Aléxis de Tocqueville (1805-
Considerando a fotografia e os trechos da reportagem, 1859), autor de A democracia na América, impressionado
é correto afirmar que: com o que viu em viagem aos Estados Unidos, escreveu
01) os jovens fotografados pertencem a universos so- que nos EUA, “a qualquer momento, um serviçal pode se
ciais distintos, simbolizados pela frequência ou não a tornar um senhor”. Por sua vez, o escritor brasileiro Luiz
uma escola particular. Fernando Veríssimo, autor de O analista de Bagé, disse,
em 1999, ao se referir à situação social no Brasil: “tem
02) os trajes formais envergados por alguns dos jo-
gente se agarrando a poste para não cair na escala social
vens retratados são descritos como mecanismos uti-
e sequestrando elevador para subir na vida”.
lizados por certas classes sociais para simbolizar sua
distinção social e seu apego às tradições. As citações anteriores se referem diretamente a qual
04) os processos de dominação também se realizariam fenômeno social?
por meio de dispositivos simbólicos, que permitiriam a) Ao da estratificação, que diz respeito a uma forma
às classes dominantes afirmarem seu lugar no mundo de organização que se estrutura por meio da divisão
social por meio de práticas, gostos e estilos de vida. da sociedade em estratos ou camadas sociais distin-
08) o pertencimento a classes sociais distintas é ame- tas, conforme algum tipo de critério estabelecido.
nizado pelo fato de que todos os jovens se encon- b) Ao de status social, que diz respeito a um conjunto
tram em um mesmo espaço de sociabilidade, o jogo de direitos e deveres que marcam e diferenciam a po-
de críquete. sição de uma pessoa em suas relações com as outras.

64
c) Ao dos papéis sociais, que se refere ao conjunto A charge remete a discussões que têm marcado o pen-
de comportamentos que os grupos e a sociedade em samento sociológico e a sociologia contemporânea.
geral esperam que os indivíduos cumpram de acordo Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, o
com o status que possuem. teor desses debates.
d) Ao da mobilidade social, que se refere ao movi-
mento, à mudança de lugar de indivíduos ou grupos a) O reconhecimento de que as classes sociais deixa-
num determinado sistema de estratificação. ram de existir com a implantação dos modos de pro-
dução comunistas na Europa e, desde então, perderam
e) Ao da massificação, que remete à homogeneização
sua importância histórica.
das condutas, das reações, desejos e necessidades
dos indivíduos, sujeitando-os às ideias e objetos vei- b) As classes existiram apenas como um fenômeno loca-
culados pelos sistemas midiáticos. lizado historicamente no tempo, de tal modo que hoje
mesmo os partidos de esquerda renunciaram a identifi-
4. (Uece 2019) Atente para o seguinte excerto: car sua permanência na sociedade contemporânea.
“Em 2017, as pessoas que compuseram o grupo do mais c) As classes sociais, assim como a estrutura social, são
rico da população brasileira obtiveram rendimento mé- construções conceituais ideológicas, de modo que não
dio mensal de enquanto a metade mais pobre da popu- existem empiricamente na vida social.
lação chegou à marca de menos que um salário mínimo d) As lutas de classes existiram enquanto se manti-
por mês. A desigualdade social entre os grupos chega a veram os partidos de esquerda tradicionais e, com a
vezes, entretanto, quando se separa por região, no Nor- morte desses, as lutas de classe foram substituídas por
deste, a diferença chega a vezes [...]”. embates identitários.
DISPONÍVEL EM: HTTPS://ECONOMIA.IG.COM.BR/2018- e) As classes deixaram de ser o referencial analítico privi-
04- 11/DESIGUALDADE-RENDA-IBGE.HTML legiado, mas conservam sua importância, pois as relações
entre capital e trabalho no mundo moderno se mantêm.
O texto acima informa dados sobre a situação de distri-
buição de renda no Brasil e a concentração de riqueza 6. (UEM) Assinale o que for correto a respeito do concei-
entre os mais ricos e a população pobre. to de estratificação social:
Com base nas informações apresentadas, é correto afir- 01) O filósofo Jean Jacques Rousseau afirmou, no sé-
mar que as desigualdades sociais culo XVIII, que as desigualdades sociais são o resulta-
a) caracterizam-se principalmente pela desigualdade do da desigualdade natural entre os homens, princípio
econômica decorrente da má distribuição de renda na que sustenta até hoje o conceito de estrutura social.
sociedade, ou seja, quando a renda é distribuída de 02) A estrutura estamental, dividida principalmente en-
forma desigual na sociedade. tre nobreza, clero e plebeus, predominou na Europa do
b) serão superadas pelas iniciativas individuais, sem Antigo Regime e esteve associada ao sistema feudal.
a necessidade de políticas públicas que favoreçam a 04) As classes sociais são estruturas típicas do siste-
distribuição de renda. ma de castas e caracterizam-se pela imobilidade.
c) são processos sociais próprios do funcionamento 08) A sociedade capitalista é uma forma histórico-so-
natural das sociedades e dizem respeito aos compor- cial que aboliu os processos de diferenciação econô-
tamentos e responsabilidades assumidos por cada um. mica; porém, manteve a hierarquia social baseada em
d) existem e se justificam porque há diferenças de princípios de prestígio político e profissional.
grupos sociais e de regiões, fazendo com que cada 16) O sistema escravista, adotado no Brasil entre os
um obtenha seus rendimentos conforme suas quali- séculos XVI e XIX, pode ser considerado uma forma de
dades e méritos individuais. estratificação social que estabelece distinções sociais
entre duas categoriais de pessoas: senhores e escravos.
5. (Uel 2018) Leia a charge a seguir.
7. (Unicentro) Em relação ao sistema de castas de uma
sociedade, assinale a alternativa correta:
a) Existe mobilidade social dentro de uma sociedade
de castas.
b) A exogamia faz parte dos casamentos realizados
em sociedades de castas.
c) Não existe mobilidade social dentro de uma socie-
dade de casta.
d) Dentro de um sistema de castas não é importante
a hereditariedade.
e) Em um sistema de casta não existe a divisão entre
castas superiores e inferiores.

8. Para Karl Marx o conceito de Classes Sociais se de-


senvolve com a formação da sociedade capitalista. Des-
sa forma, é correto afirmar que:

65
a) As classes sociais formadas no capitalismo esta-
belecem intransponíveis desigualdades entre os ho-
mens, relações de exploração e antagonismo.
b) Para Marx, a história humana é a história passiva
da luta de classes e da aceitação do antagonismo en-
tre burgueses e proletários.
c) As classes sociais são independentes entre si de tal
forma que a diferenças entre elas não são sentidas
pelos indivíduos de uma sociedade.
d) O capitalista divide com a classe de trabalhadores
a mais-valia produzida por seu trabalho sem que haja
a exploração de mão de obra.
e) As classes sociais não são opostas entre si, mais
sim complementares e interdependentes.

Gabarito
1. 01 + 02 + 04 + 32 = 39 2. B 3. D
4. A 5. A 6. E 7. C 8. A

66
costume de nos banharmos todos os dias deriva da cultura
AULA 10 indígena, assim como o costume de misturar a farinha na
comida diária; assim como notamos a presença das religi-
ões de matriz africana, entre tantos outros costumes.
A cultura resguarda a memória de um povo, constituindo
parcela importante da identidade desse povo, numa dialé-
CULTURA E PATRIMÔNIO tica passado-presente constante, reforçando a construção
desses laços identitários a todo o tempo.
CULTURAL
Ressalta-se que “ter cultura” não necessariamente está
relacionado a ter uma grande quantidade de livros ou fre-
quentar teatros e cinemas. O que denominamos cultura é
algo muito mais amplo e está diretamente relacionado ao
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 modo de vida de cada sociedade. Assim, o estudo da cultu-
ra pretende compreender esses costumes.
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

1. Introdução
A cultura é o conjunto de valores pertencentes a um agru- multimídia: vídeo
pamento social, composto por códigos, formas de expres- FONTE: YOUTUBE
sar e de se manifestar em grupo, conjunto de regras de
História: História e Antropologia
comportamentos, ritos simbólicos, ritos físicos e preconcep-
ções de valores. Toda sociedade tem uma cultura, podendo Entrevista com Lilia Schwarcz faz uma reflexão sobre
um mesmo país abrigar diversos tipos de culturas, não se como a Antropologia permite observar a História não ape-
limitando a um único conjunto de valores. nas como disciplina, no modelo Ocidental, mas também
como memória e temporalidade, entre outros conceitos.

1. As etnias
O termo "etnia" significa "povo", representando também
a consciência de um grupo de pessoas que se diferencia
dos outros. Essa diferenciação concretiza-se pelos aspectos
multimídia: livro culturais, históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos.
Uma etnia pode se modificar ao longo do tempo, tendo di-
versas motivações, como a mistura entre povos.
Cultura brasileira e identidade nacional -
Renato Ortiz. São Paulo: Brasiliense, 2006.
Analisa como e por que os intelectuais brasileiros, em
períodos distintos, enfrentaram o desafio de definir a
especificidade do brasileiro enquanto nação, para com-
preender a identidade brasileira. Essa definição está mais em voga, para substituir o termo
“raça”, que ganhou notoriedade no século XVIII, tendo
O caso brasileiro abrange diversos tipos de culturas. Temos como consequência uma ideia de superioridade europeia.
na formação do povo brasileiro as culturas de vários gru- Entretanto, com os diversos trabalhos científicos, apesar das
pos étnicos indígenas, dos africanos e dos europeus, cons- diferenças fenotípicas, como a cor dos olhos, da pele, do ca-
tituídas por diversos hábitos e valores que se agregam no belo, não existe uma tão grande diferença biológica entre os
espaço geográfico brasileiro, constituindo a cultura brasilei- seres humanos que permita hierarquizar os diferentes povos
ra, em que ocorre uma mistura de hábitos. Por exemplo, o com base em critérios de superioridade ou inferioridade.

67
O conceito de etnicidade é social, uma construção cultural Kabengele defende que o embate por justiça social não
de determinado agrupamento social. Os ritos desses grupos deve se limitar ao campo do discurso, precisa estender-se
compõem a sua etnicidade, como ritos de festividades e ritos ao campo das lutas políticas e práticas.
de passagens para a fase adulta. Só que essas ações podem
O processo de construção da identidade não se limita ape-
ser modificadas conforme as regiões, pois os grupos étnicos
nas à cor da pele, mas também é composto pela cultura e
que sofrem o processo de migração adquirem novos hábitos,
pela história da população negra, reforçando uma identi-
reestruturando a sua organização ao longo do tempo.
dade positiva em relação à negritude de uma parcela da
população brasileira.
Assim, o antropólogo observa que a valorização da etnia
negra não precisa passar por uma desvalorização de ou-
tra etnia. A negritude se torna um elemento de luta e de
combate, uma verdadeira postura política, com o intuito de
combater o racismo.
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Etnia - Chico Science & Nação Zumbi.
Álbum: Afrociberdelia (1996)
Canção que fala sobre a miscigenação do povo brasilei-
ro, dando exemplos de manifestações culturais presentes
como danças, folclore e músicas. multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
2. Kabengele Munanga (1942) Relações étnicas-raciais
O antropólogo brasileiro-congolês é uma das principais O professor Kabengele Munanga comenta sobre o
referências na questão da negritude na sociedade brasi- preconceito racial e, posteriormente, aborda a questão
leira. Com estudos iniciados na década de 1970, Munanga particularizando o negro ao recorrer a outros subtemas.
rompeu com a visão eurocêntrica, buscando repensar a
participação dos negros na história do país.

Identidade e Negritude são palavras e conceitos atualmen-


te muito corriqueiros entre os militantes dos movimentos
negros e os cientistas sociais que estudam as relações in-
terétnicas e inter-raciais no Brasil. Sente-se recentemente
que, graças às manifestações que acompanharam a co-
memoração do Centenário da Abolição da Escravidão no
Brasil, essas palavras e conceitos começam a sair um pou-
co dos círculos científico-acadêmicos e militantistas para
penetrar nos espaços mais populares. Essa mudança pode
ser positivamente interpretada como sinal do início de um
processo de conscientização popular sobre uma questão
multimídia: vídeo nacional da maior importância.
No mesmo momento que aumenta o interesse surgem
FONTE: YOUTUBE
nova pergunta e dúvidas. Afinal, o que significam a negri-
Kabengele Munanga: raça, racismo e etnia. tude e a identidade não apenas para as bases populares,
Vídeo que apresenta a teoria do professor Kabengele mas também para nossos alunos e jovens dos movimen-
Munanga. tos negros? Se alguns entendem a negritude e a identida-
de negras como um movimento político-ideológico, outros

68
se perguntam se não é uma forma de racismo do negro de estabelecer as formas de preservação desse patrimônio:
contra o branco, um racismo avesso. Neste sentido, se a o registro, o inventário e o tombamento.
negritude é um movimento de negros, não seria legítimo
que se falasse também da "branquitude" como movimen- O patrimônio material protegido pelo Instituto do Patrimô-
to de brancos e da "amarelitude" como movimento de nio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é composto por
amarelos? "Negritude", "Branquitude" e "Amarelitude" um conjunto de bens culturais classificados segundo sua
nos levariam ao conceito maior de raça negra, branca e natureza, como arqueológico, paisagístico e etnográfico;
amarela, conceito cientificamente fraco e biologicamente
histórico; belas artes; e artes aplicadas. Os bens tombados
inoperante. Há quem se pergunte se é possível, no Brasil, a
existência de uma identidade dos negros diferente da dos de natureza material podem ser imóveis, como as cidades
demais cidadãos; outros chegam até a indagar se as ditas históricas, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens indi-
negritude e identidade negras não podem ser vistas como viduais; ou móveis, como coleções arqueológicas, acervos
uma divisão de luta de todos os oprimidos? museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos,
Estas perguntas, dúvidas e preocupações merecem um videográficos, fotográficos e cinematográficos.
esclarecimento, ou melhor, uma discussão. Poderiam
O patrimônio cultural imaterial, de acordo com a Conven-
agrupar e alinhar as melhores definições do mundo
sobre esses conceitos. Acredito que isto ajudaria pouco ção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial,
para desvendar seus conteúdos. Portanto, sobra uma adotada pela UNESCO em 2003, é composto pelas práti-
perspectiva mais viável do meu ponto de vista: situar e cas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas
colocar a questão da negritude e da identidade dentro – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
do movimento histórico, apontar seus lugares de emer- culturais que lhes são associados – que as comunidades, os
gência e seus contextos de desenvolvimento. Se histori-
grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como
camente a negritude é, sem dúvida, uma reação racial
negra a uma agressão racial branca, não poderíamos parte integrante de seu patrimônio cultural.
entendê-la e cercá-la cientificamente sem aproximá-la Transmitido de geração a geração, o Patrimônio Cultural
com o racismo do qual é consequência e resultado.
Imaterial é constantemente recriado pelas comunidades e
MUNANGA, KABENGELE. grupos em função de seu ambiente, de sua interação com
NEGRITUDE AFRO-BRASILEIRA: PERSPECTIVAS E DIFICULDADES. PADE: REVISTA DO a natureza e de sua história, o que gera um sentimento
CENTRO DE REFERÊNCIA NEGRO-MESTIÇO, SALVADOR, V. 1, PP. 23-27, 1989.
de identidade e continuidade, contribuindo para promover
o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
São exemplos de patrimônio cultural imaterial no Brasil:
samba de roda no Recôncavo Baiano; Arte Kusiwa (pintura
corporal e arte gráfica Wajãpi); frevo "expressão artística
do Carnaval de Recife"; Círio de Nossa Senhora de Nazaré;
roda de capoeira.
multimídia: livro

Origens Africanas do Brasil Contemporâneo -


Kabengele Munanga. São Paulo: Global, 2009.

3. Patrimônio cultural
A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 216, defi-
ne o patrimônio cultural como formas de expressão, modos
de criar, fazer e viver. Também são assim reconhecidas as
criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, obje-
tos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais; e, ainda, os conjuntos
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, ar-
queológico, paleontológico, ecológico e científico.
Nos artigos 215 e 216, a Constituição reconhece a existên-
cia de bens culturais de natureza material e imaterial, além

69
DIAGRAMA DE IDEIAS

KABENGELE
CULTURA ETNIA
MUNANGA

CONJUNTO DE
GRUPO SOCIAL O NEGRO PRECISA
HÁBITOS E VALORES
QUE POSSUI UMA VALORIZAR A
DE UM GRUPO
MESMA IDENTIDADE ETNIA NEGRA
ÉTNICO-SOCIAL

PODE SOFRER
VARIAÇÕES AO CRÍTICA O
LONGO DO TEMPO ETNOCENTRISMO

É NECESSÁRIO
ROMPER COM
PRÁTICAS
PRECONCEITUOSAS

70
Illinois. Gays e lésbicas não podiam trabalhar no governo
Aplicando para federal. Não havia nenhum político abertamente gay. Al-
guns homossexuais não assumidos ocupavam posições
Aprender (A.P.A.) de poder, mas a tendência era eles tornarem as coisas
ainda piores para seus semelhantes.
1. (Enem) Parecer CNE/CP nº 3/2004, que instituiu as Di-
retrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Re- ROSS, A. “NA MÁQUINA DO TEMPO”. ÉPOCA, ED. 766, 28 JAN. 2013.
lações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cul-
tura Afro-Brasileira e Africana. Procura-se oferecer uma A dimensão política da transformação sugerida no tex-
resposta, entre outras, na área da educação, à demanda to teve como condição necessária a:
da população afrodescendente, no sentido de políticas a) ampliação da noção de cidadania.
de ações afirmativas. Propõe a divulgação e a produção b) reformulação de concepções religiosas.
de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas que c) manutenção de ideologias conservadoras.
eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento ét- d) implantação de cotas nas listas partidárias.
nico-racial — descendentes de africanos, povos indíge-
e) alteração da composição étnica da população.
nas, descendentes de europeus, de asiáticos — para in-
teragirem na construção de uma nação democrática, em 4. (Enem) A recuperação da herança cultural africana
que todos igualmente tenham seus direitos garantidos. deve levar em conta o que é próprio do processo cultu-
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. DISPONÍVEL EM: WWW.
ral: seu movimento, pluralidade e complexidade. Não se
trata, portanto, do resgate ingênuo do passado nem do
SEMESP.ORG.BR. ACESSO EM: 21 NOV. 2013 (ADAPTADO).
seu cultivo nostálgico, mas de procurar perceber o pró-
A orientação adotada por esse parecer fundamenta uma prio rosto cultural brasileiro. O que se quer é captar seu
política pública e associa o princípio da inclusão social a: movimento para melhor compreendê-lo historicamente.
a) práticas de valorização identitária.
MINAS GERAIS. CADERNOS DO ARQUIVO 1: ESCRAVIDÃO EM MINAS
b) medidas de compensação econômica. GERAIS. BELO HORIZONTE: ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 1988.
c) dispositivos de liberdade de expressão.
d) estratégias de qualificação profissional. Com base no texto, a análise de manifestações culturais
de origem africana, como a capoeira ou o candomblé,
e) instrumentos de modernização jurídica.
deve considerar que elas:
2. (Enem) No Brasil, a origem do funk e do hip-hop re- a) permanecem como reprodução dos valores e cos-
monta aos anos 1970, quando da proliferação dos cha- tumes africanos.
mados “bailes black” nas periferias dos grandes cen- b) perderam a relação com o seu passado histórico.
tros urbanos. Embalados pela black music americana, c) derivam da interação entre valores africanos e a
milhares de jovens encontravam nos bailes de final de experiência histórica brasileira.
semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em d) contribuem para o distanciamento cultural entre
cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, formavam- negros e brancos no Brasil atual.
-se equipes de som que promoviam bailes onde foi se e) demonstram a maior complexidade cultural dos
disseminando um estilo que buscava a valorização da africanos em relação aos europeus.
cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos
penteados. No Rio de Janeiro ficou conhecido como 5. (Enem) As mulheres quebradeiras de coco-babaçu
“Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o filão e, dos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, na
lançando discos de “equipe” com as músicas de sucesso sua grande maioria, vivem numa situação de exclusão
nos bailes, difundia a moda pelo restante do país. e subalternidade. O termo quebradeira de coco assume
o caráter de identidade coletiva na medida em que as
DAYRELL, J. A MÚSICA ENTRA EM CENA: O RAP E O FUNK NA
SOCIALIZAÇÃO DA JUVENTUDE. BELO
HORIZONTE: UFMG, 2005. mulheres que sobrevivem dessa atividade e reconhecem
sua posição e condição desvalorizada pela lógica da do-
A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se minação, se organizam em movimentos de resistência e
como uma forma de: de luta pela conquista da terra, pela libertação dos baba-
a) lazer gerada pela diversidade de práticas artísticas çuais, pela autonomia do processo produtivo. Passam a
nas periferias urbanas. atribuir significados ao seu trabalho e as suas experiên-
b) entretenimento inventada pela indústria fonográ- cias, tendo como principal referência sua condição pree-
fica nacional. xistente de acesso e uso dos recursos naturais.
c) subversão de sua proposta original já nos primeiros ROCHA, M. R. T. A LUTA DAS MULHERES QUEBRADEIRAS DE COCO-BABAÇU, PELA
bailes. LIBERTAÇÃO DO COCO PRESO E PELA POSSE DA TERRA. IN: ANAIS DO VII
CONGRESSO
d) afirmação de identidade dos jovens que a praticam. LATINO-AMERICANO DE SOCIOLOGIA RURAL, QUITO, 2006 (ADAPTADO)
e) reprodução da cultura musical norte-americana. A organização do movimento das quebradeiras de coco
de babaçu é resultante da:
3. (Enem) Tenho 44 anos e presenciei uma transformação
impressionante na condição de homens e mulheres gays a) constante violência nos babaçuais na confluência de
nos Estados Unidos. Quando nasci, relações homosse- terras maranhenses, piauienses, paraenses e tocantinen-
xuais eram ilegais em todos os Estados Unidos, menos ses, região com elevado índice de homicídios.

71
b) falta de identidade coletiva das trabalhadoras, migran- b) As histórias de assombração têm uma representação
tes das cidades e com pouco vínculo histórico com as áre- simbólica importante para os habitantes do interior,
as rurais do interior do Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí. sendo ofuscadas na Região Metropolitana do Recife.
c) escassez de água nas regiões de veredas, ambien- c) O texto apresenta uma história contada para crianças
tes naturais dos babaçus, causada pela construção de como uma maneira de controlar suas ações. Essa história
açudes particulares, impedindo o amplo acesso público é repassada de geração a geração, por meio da orali-
aos recursos hídricos. dade e refere-se às lendas criadas pela cultura popular.
d) progressiva devastação das matas dos cocais, em d) A cabra cabriola é o personagem destacado no tex-
função do avanço da sojicultura nos chapadões do to. Essa lenda hoje é bastante ouvida especialmente
Meio-Norte brasileiro. pelos jovens da região litorânea.
e) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros e) O folclore pernambucano é constituído de histórias
no acesso aos babaçuais localizados no interior de contadas por pessoas oriundas de outros Estados.
suas propriedades. Essas manifestações culturais têm sua origem na cul-
tura europeia, trazidas pelos imigrantes que se esta-
6.(Enem 2019) beleceram no Sul e Sudeste do país.

8. (UFF)

EM 5 ANOS, NOVA ORLEANS RENASCE BRANCA

“A tragédia do furacão Katrina em Nova Orleans com-


pleta cinco anos neste mês com um legado que vai
muito além das casas ainda destruídas da cidade: o
equilíbrio de poder foi totalmente realinhado, a cliva-
gem racial, aprofundada. A maioria negra, que sofreu
retirada forçada durante a enchente ocorrida após o
furacão, viu sua dominância sobre a política das últimas
décadas ir se esvaindo até que praticamente todos os
órgãos eletivos locais “embranqueceram”. (...) Morado-
Produzida no Chile, no final da década de 1970, a ima- res e estudiosos afirmam que a virada é resultado de
gem expressa um conflito entre culturas e sua presença um esforço deliberado. O primeiro plano de reconstru-
em museus decorrente da ção da cidade previa fazer parques nos bairros negros
devastados. Pra onde os antigos moradores voltariam?
a) valorização do mercado das obras de arte. De referência, para lugar nenhum.”
b) definição dos critérios de criação de acervos.
FOLHA DE SÃO PAULO, 08/08/2010, P. A24.
c) ampliação da rede de instituições de memória.
d) burocratização do acesso dos espaços expositivos. Para além dos efeitos imediatos do furacão Katrina, a re-
e) fragmentação dos territórios das comunidades re- portagem focaliza a dinâmica de “embranquecimento”
presentadas. de Nova Orleans, diretamente associada a processos de:
7. (UPE-SSA 2 2018) As manifestações folclóricas de Per- a) nomadismo urbano.
nambuco representam a identidade cultural do Estado, b) densificação urbana.
transmitidas de geração em geração. Quando crianças, c) segregação espacial.
muitos habitantes escutam histórias de assombração, d) exploração demográfica.
que fazem parte do imaginário cultural. Sobre isso, leia e) migração sazonal.
o texto a seguir:
É uma lenda do Piauí e de Pernambuco, que data dos sé- 9. (UEG) Um dos grandes desafios do século XXI para
culos XIX e XX. Soltava fogo e fumaça pelos olhos, pelo tornar o mundo melhor é o de aprender a conviver com
nariz e pela boca. Atacava quem andasse pelas ruas de- os outros, aceitar e respeitar os que são diferentes na
sertas às sextas, à noite. Mas o pior era que [o animal] cultura, na religião, nos costumes, na sexualidade etc. A
entrava nas casas, pelo telhado ou porta, à procura de intolerância, os preconceitos, as discriminações e o ra-
meninos malcriados e travessos. A lenda conta que [...] cismo, no entanto, vêm crescendo. Sobre esse assunto,
era um animal monstruoso, além de que, mais uma vez, é correto afirmar:
comia crianças travessas. a) o princípio de que todos os seres humanos são iguais,
FONTE: <HTTP://WWW.ASSOMBRADO.COM.BR/2014/01/20-
independentemente de sexo, cor da pele, orientação
LENDAS-DO-ESTADO-DE-PERNAMBUCO.HTML> ADAPTADO. sexual, local de nascimento, valores culturais, existe de
direito e de fato nas sociedades democráticas.
Sobre essas manifestações folclóricas pernambucanas, b) o racismo consiste numa tendência a desvalorizar
assinale a alternativa CORRETA. certos grupos étnicos, sociais ou culturais, atribuin-
a) Essas são reflexo da cultura europeia, predominan- do-lhes características inferiores e manifesta-se na
tes em toda a vida social dos habitantes do Estado. segregação e rejeição de valores culturais.

72
c) os neonazistas, os carecas, os arianos, entre outros, Em um movimento crescente, que remete a uma luta
são grupos organizados que visam combater os pre- histórica do povo negro em países de todo o continente
conceitos, sobretudo contra migrantes pobres. americano, aos poucos a negritude tem começado a ser
d) a xenofobia e a homofobia atingem em maior grau concebida como algo positivo, uma herança a ser culti-
os indígenas, os negros e a mulher, considerados infe- vada e valorizada.
riores em determinadas sociedades.

10. (UEM) “É fácil constatar que o homem se coloca


face à natureza em função da sua cultura. No entanto,
o universo da cultura é multifacetado. Não há uma única
cultura, mas um conjunto delas. Dito de outro modo, os
homens de diferentes culturas (por exemplo, o europeu
moderno e o ameríndio) se afirmam frente à natureza
segundo diferentes formas de vida.”
FIGUEREIDO, V. DE. (ORG.) FILOSOFIA: TEMAS E PERCURSOS.
SÃO PAULO: BERLENDIS & VERTECCHIA, 2013. P. 28.

Com base no trecho citado e em estudos sobre cultura,


assinale o que for correto.
01) Se existem diferentes culturas, não podemos jul-
gá-las por uma única medida, que é a forma como Entendendo que tanto as estruturas racistas das socie-
elas compreendem a natureza. dades quanto os atuais movimentos em prol da valori-
02) Assumir a ideia de cultura única e universal impli- zação da cultura negra são fruto de processos sociais e
ca também admitir uma posição etnocêntrica. disputas políticas, responda aos itens a seguir.
04) A diversidade de culturas expressa os diversos a) A despeito das diferenças culturais existentes entre os
modos pelos quais a razão humana busca entender países do continente americano, o racismo é um elemento
a si e seu entorno. presente em todos esses lugares. Por que as sociedades
08) A compreensão dos fenômenos naturais resulta, em americanas têm um histórico de racismo tão acentuado?
diferentes contextos culturais, nas mesmas explicações.
b) Qual o papel dos movimentos negros e das ações
16) A ideia de natureza é culturalmente definida, logo afirmativas no combate ao racismo?
é plausível afirmar que diferentes culturas produzem
diferentes ideias de natureza.

11. (UFU) Os crimes de ódio – intolerância contra mi- Gabarito


norias étnicas e raciais, sexuais, religiosas ou políticas
que se caracterizam por insulto, destruição do patri- 1. A 2. D 3. A 4. C 5. E
mônio, agressão física e assassinato, praticados com
requintes de crueldade, como tortura [...] continuam 6. B 7. C 8. C 9. B
crescendo no Brasil. 10. 01 + 02 + 04 + 16 = 23.
DISPONÍVEL EM: HTTP://OGLOBO.GLOBO.COM/CIDADES/
MAT/2009/04/25/PERNAMBUCOLIDERA-ASSASSINATOS-DE-
11.
HOMOSSEXUAIS-NO-PAIS-755436103.ASP (ADAPTADO). a) Contradição aos direitos, há também a permanên-
a) As manifestações atuais do preconceito contra mulhe- cia de valores e conflitos discriminatórios, violando os
res, negros, índios e homossexuais podem ser vistas como direitos humanos.
uma contradição à democracia e à nossa Constituição? b) A contextualização (origem) histórica do precon-
b) Justifique a sua resposta, tomando como referência ceito na sociedade brasileira se dá a partir do patriar-
o lugar da suposta superioridade do homem e “das ra- calismo, da escravidão e das teorias científicas como
ças brancas” no quadro histórico-cultural da formação evolucionismo, darwinismo e teorias da mestiçagem.
da sociedade brasileira. 12.
12. (UEL) De acordo com vários estudos recentes sobre a) O continente americano, ou “Novo Mundo”, de-
a vivência do racismo, a descoberta da discriminação pendeu, em grande escala, do trabalho escravo que
racial, baseada em alguns aspectos físicos (como a co- era alimentado pelo lucrativo tráfico negreiro. A colo-
loração da pele e o cabelo encaracolado, por exemplo), nização das Américas se deu de duas formas: as co-
acontece ainda na infância para muitas crianças negras, lônias de exploração, nas quais a mão de obra negra
que primeiro percebem a negritude como algo ruim, a era fundamental, e as colônias de povoamento, que
ser escondida. No entanto, desde os anos 1960, vários visavam a aliviar conflitos religiosos e populacionais
movimentos sociais, entre eles o movimento negro e do “Velho Mundo”. No entanto, os Estados Unidos
os movimentos contraculturais, vêm contestando dura- da América importaram mão de obra escrava da
mente os padrões impostos socialmente como modelos África para atuar nas fazendas do sul, motivo pelo
únicos de beleza, cultura e religiosidade, por exemplo. qual esse país, apesar de ser visto como modelo de

73
ex-colônia de povoamento, possui um histórico de
escravidão da população advinda da África. Esse
passado comum, que liga África e América via tráfico
negreiro, foi responsável pela inclusão de povos afri-
canos na condição de escravos no “Novo Mundo”.
Nessa condição, até mesmo a humanidade de africa-
nos e afrodescentes era questionada. Em todo o con-
tinente americano, portanto, os negros precisaram (e
ainda precisam) lutar por liberdade e por direitos que
lhes eram negados, com base na prática racista que
advinha de um passado comum. Obviamente, essas
lutas ganharam contornos diferentes em contextos
distintos; enquanto nos EUA pode-se falar que houve
apartheid, no Brasil, a discussão é centralizada no ra-
cismo velado e em como vencer a ilusão da existência
de uma certa democracia racial.
b) Os movimentos negros têm um papel fundamental,
no que diz respeito a desvelar as práticas racistas que
ainda persistem, e são atores políticos importantes
para cobrar políticas públicas que tentem valorizar a
cultura e a ancestralidade negras, via promoção de
ações afirmativas, como, por exemplo, o sistema de
cotas nos vestibulares e nos concursos públicos. Além
disso, os movimentos negros têm se esforçado para
demonstrar que as populações africanas e afrodes-
centes foram e são sujeitos de sua própria história,
ressaltando personalidades que foram fundamentais
para a luta por liberdade e justiça social, como Zumbi
dos Palmares e Nelson Mandela.

74
AULA 11

ETNOCENTRISMO E multimídia: música


RELATIVISMO CULTURAL FONTE: YOUTUBE
Etnocentrismo - Fuerza de Voluntad.
Valor Humano, 2001.
A banda de hardcore punk chilena questiona a teoria et-
nocentrista.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 1. Lewis Henry Morgan


HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25 (1818-1881)
O antropólogo e etnólogo estadunidense Morgan é consi-
derado o fundador da antropologia moderna. Fez estudos
sobre a cultura dos iroqueses, um povo indígena que vivia
1. Introdução próximo a Nova York, fato que o fez sistematizar uma classi-
Segundo o antropólogo Everardo Rocha, “etnocentrismo é ficação de três estágios de evolução da humanidade.
uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é toma-
do como centro de tudo e todos os outros são pensados e
sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nos-
sas definições do que é a existência. No plano intelectual,
pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a dife-
rença, no plano afetivo, como sentimentos de estranheza,
medo, hostilidade, etc.”. Assim, a palavra etnocentrismo
significa uma forma de enxergar uma outra etnia diferente
com base nos valores de sua própria cultura.
Com isso, o etnocentrismo julga os outros povos e culturas
pelos padrões da própria sociedade. Salienta uma caracte-
rística de dominação, contendo uma matriz opressora, com
a produção de ideologias de negação do outro. Essas ideo-
logias justificam as práticas de discriminação e preconceito.
No campo antropológico surgiram diversas teorias etnocêntricas.
Esses três estágios foram denominados como: selvageria,
barbárie e civilização.
Para ele, todas as sociedades humanas passariam inevita-
velmente pelos três estágios:
Período onde os homens surgem no mundo,
Selvageria tendo uma dieta de subsistência, com o conheci-
mento do fogo e o uso de arco e flecha.
multimídia: vídeo Período onde os homens descobrem a cerâmica,
FONTE: YOUTUBE Barbárie domesticam os animais, praticam a agricultura e
começam a fundir o minério de ferro.
Ciências Sociais ou Antropologia?
A professora da USP Heloísa Buarque de Almeida fala Período onde os homens usam o alfabeto foné-
Civilização tico, com o uso da escrita até o tempo presente.
sobre a carreira de um antropólogo.

75
Nesse contexto histórico, desenvolve-se o darwinismo so- Segundo Malinowski, todas as partes da sociedade hu-
cial, com orientação evolucionista, colocando os europeus mana estão relacionadas entre si e cumprem uma função
no topo dessa visão de hierarquia cultural. dentro de um sistema. Diante disso, não podemos com-
parar as sociedades, somente podemos observar a sua
funcionalidade.
O trabalho de campo realizado por Malinowski marcou os
estudos da Antropologia ao inaugurar o método da obser-
vação participante. Em sua obra Os argonautas do Pacífi-
co Ocidental, o antropólogo descreve o período durante
o contexto da I Guerra Mundial, em que permaneceu nas
multimídia: vídeo Ilhas Trobriand, onde hoje se localiza a Papua Nova Guiné.
FONTE: YOUTUBE Conforme Malinowski observou, todas as atividades rea-
A Origem do Homem - Estados lizadas pelas tribos das Ilhas Trobriand estão articuladas
Unidos, 2002 (103 min) entre si, de maneira que todas as partes da sociedade são
interdependentes. Assim, nos agrupamentos trobriandeses,
Documentário realizado pelo Discovery Channel, onde
a instituição que melhor demonstra essa interligação entre
é feita uma abordagem diferente, porém semelhante às
partes sociais é o kula. O kula se refere ao sistema de tro-
teorias de Morgan, vemos uma crescente mudança nos
hábitos e costumes dos povos antigos (primitivos) quan- cas desenvolvido pelas tribos trobriandesas, que não visa
do esses precisam sair da sua terra de origem e explorar apenas o caráter econômico, mas também tem caráter ce-
os cantos mais recônditos do globo. Percebemos no filme, rimonial. Assim, consiste também uma forma de os nativos
assim como nas análises de Morgan, as mudanças nas se relacionarem e celebrarem os encontros. Como as popu-
três subdivisões dos estágios do estado de selvageria. lações pesquisadas vivem em ilhas, as trocas são realizadas
por meio de canoas, sendo que a construção de canoas e
as práticas religiosas estão relacionadas para a execução
do kula. O método científico de Malinowski apresenta uma
2. Bronislay Malinowski lógica rara na construção de uma etnografia, consolidando
(1884-1942) que o papel do antropólogo é observar o seu objeto, mas
também vivenciar os fatos relatados.
O antropólogo polonês Malinowski, fundador da escola
funcionalista, foi também um dos fundadores da antro- O funcionalismo recebeu esse nome justamente por consi-
pologia social. derar que uma sociedade é formada por partes interligadas
que se relacionam funcionalmente. No exemplo acima, a
fabricação de canoas se relaciona com a kula, ou seja, um
comportamento é realizado em função de outro. Desse
modo, a lógica dos comportamentos dentro de um grupo
se explica por ela mesma no momento em que está sendo
observada e não na comparação com outros grupos em
outros períodos históricos.

multimídia: vídeo multimídia: livro


FONTE: YOUTUBE
Estranhos no exterior: Fora da Varanda MALINOWSKI - Bronislaw. Argonautas do
Vídeo sobre os estudos de Malinowski, exibido nos anos pacífico ocidental. São Paulo: Abril Cultural,
de 1990. 1976. (Coleção Os Pensadores).

76
Nas Grandes Antilhas, alguns anos após a Descoberta
3. Lévi-Strauss (1908-2009) da América, enquanto os espanhóis enviavam comissões
O antropólogo belga Claude Lévi-Strauss fez parte da mis- de investigação para indagar se os indígenas possuíam
ou não alma, estes últimos dedicavam-se a afogar os
são francesa que auxiliou o governo de São Paulo, com a
brancos feitos prisioneiros para verificarem através de
fundação da Universidade de São Paulo em 1934. uma investigação prolongada se o cadáver daqueles
estava ou não sujeito à putrefação. Esta anedota simul-
taneamente barroca e trágica ilustra bem o paradoxo do
relativismo cultural: é na própria medida em que preten-
demos estabelecer uma discriminação entre as culturas e
os costumes, que nos identificamos mais completamen-
te com aqueles que pretendemos negar. Recusando a
humanidade àqueles que surgem como os mais "selva-
gens" ou "bárbaros" dos seus representantes, mais não
fazemos que copiar-lhes suas atitudes típicas. O bárbaro
é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie.
CLAUDE LÉVI-STRAUSS. RAÇA E HISTÓRIA. 1987.
Lévi-Strauss foi o criador da antropologia estrutural. A forma-
ção da sociedade é estrutural, ou seja, a sociedade é cons-
tituída por um sistema de relações: sistema de parentesco e
de filiação, sistema de comunicação linguística, sistema de
troca econômica, da arte, do mito e do ritual.
Com um estudo sobre as comunidades indígenas, emer-
ge uma de suas maiores obras, chamada Tristes Trópi-
cos, de 1955. Tendo uma ideia contrária de superiorida-
multimídia: vídeo
de, Lévi-Strauss acredita e enfatiza que a mente selvagem FONTE: YOUTUBE
e tribal é igual à mente civilizada. Não havendo distinção Claude Lévi-Strauss - cultura para principiantes
entre as comunidades civilizadas e não civilizadas, haven- Vídeo sobre a teoria culturalista do antropólogo Lévi-S-
do elementos muito semelhantes. trauss (em espanhol)

multimídia: livro

Tristes Tópicos. - LÉVI-STRAUSS, Claude. São


Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Livro que traz uma narrativa etnográfica romanceada,
com excertos curiosos sobre sociedades indígenas brasi-
leiras, foi publicado pela primeira vez em 1955.

77
DIAGRAMA DE IDEIAS

ANTROPOLOGIA ANTROPOLOGIA
ETNOCENTRISMO
FUNCIONALISTA ESTRUTURALISTA

VALORIZAÇÃO DE UM
MALINOWSKI LÉVI-STRAUSS
SÓ GRUPO ÉTNICO

TODA A SOCIEDADE SOCIEDADES TEM


HENRY MORGAN TEM UMA SISTEMAS SIMBÓLICOS
FUNCIONALIDADE DIFERENTES

A SOCIEDADE AS TROCAS CRÍTICA À


POSSUI ESTÁGIOS ORDENAM PERSPECTIVA
EVOLUTIVOS ESSAS SOCIEDADES ETNOCÊNTRICA

• SELVAGERIA
• BARBÁRIE
• CIVILIZAÇÃO CONSTÂNCIA DE
DETERMINADAS
ESTRUTURAS NA
VIDA HUMANA

78
capacidade de esquadrinhar com mais sobriedade, de
Aplicando para apreciar mais amorosamente, a nossa própria cultura.
Aprender (A.P.A.) (MEAD, MARGARET. ADOLESCÊNCIA EM SAMOA. IN: CASTRO,
CELSO (ORG.). CULTURA E PERSONALIDADE: RUTH BENEDICT, MARGARET
1. (UENP) Na madrugada de 1º de novembro de 2009, MEAD E EDWARD SAPIR. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2015, P. 28.)
morre na França o etnólogo e antropólogo Claude Lévi-
A partir dessa consideração feita pela autora, é correto
-Strauss aos 101 anos de idade. Sua morte teve grande
afirmar:
repercussão no Brasil, sobretudo porque foi um dos pri-
meiros professores de sociologia da Universidade de São a) A antropologia demonstra que as práticas culturais
Paulo, logo na sua fundação, tendo feito várias expedições da ilha de Samoa, situada no Pacífico Sul, foram im-
ao Brasil Central. Seu pensamento influenciou gerações prescindíveis na composição dos valores e da visão
de filósofos, antropólogos e sociólogos. É correto afirmar: de mundo que orientou a formação das sociedades
grega e romana.
a) A corrente estruturalista, da qual Lévi-Strauss é o
b) Uma cultura não ocidental será de extrema impor-
principal teórico, surgiu na década de 40 com uma
tância para os estudos antropológicos, pelo fato de
proposta diferente do funcionalismo, predominante o isolamento geográfico permitir ao antropólogo o
até então. O funcionalismo se preocupava com o fun- despojamento de seus referenciais e, por conseguin-
cionamento de cada sociedade e em saber como as te, produzir uma ciência neutra, sem viés ideológico.
coisas existiam na sua função social. O estruturalismo
c) O estudo de nossa própria cultura está estreita-
queria saber do trabalho intelectual. Olhar para os
mente vinculado aos padrões de sociabilidade das
povos indígenas e buscar uma racionalidade e uma
comunidades nativas aborígenes, daí a importância
reflexão propriamente nativa. dos habitantes da ilha de Samoa para os estudos an-
b) Lévi-Strauss não encontrou evidências de que os tropológicos no Ocidente.
povos nativos desenvolvessem um pensamento selva- d) Samoa constituiu um padrão importante de dinâmi-
gem, nem que ocorresse a passagem de homem na- ca social, e considerá-lo nas análises antropológicas é
tural para o homem cultural entre os povos indígenas. constatar que a etnografia precisa ser aprimorada, a
c) Lévi-Strauss acreditava que o homem não é uma es- fim de que a história das sociedades primitivas não seja
pécie transitória, e sugeriu uma visão essencialista do relegada ao esquecimento com o avanço da civilização.
ser humano, já que o mundo existe quando o homem o e) Observar as práticas culturais e todo o sistema de va-
interpreta, chegando a afirmar, em várias passagens, que lores de uma sociedade que estruturalmente diferencia-
o mundo começou com o homem e vai terminar com ele. -se dos padrões referenciais de quem observa permite
d) Lévi-Strauss concorda com Sartre que não existe oposi- não só compreender as dinâmicas sociais dos grupos
ção entre sociedades com história e sociedades sem histó- observados como também refletir sobre as categorias de
ria, sendo que isso é demonstrando pela sociologia e pela análise que possibilitam a mesma observação.
etnografia contemporâneas ao constatarem que toda so-
ciedade se desenvolve no curso de uma história específica. 3. (Enem) Claude Lévi-Strauss (2008) em As estruturas ele-
mentares do parentesco escreve o seguinte: “A proibição
e) Não pode ser atribuído ao legado de Lévi-Strauss o
do incesto não é nem puramente de origem cultural nem
respeito ao pensamento dos chamados povos primiti-
puramente de origem natural, e também não é uma do-
vos, em especial dos povos indígenas da América, pelas
sagem de elementos variados tomados de empréstimo
diferenças culturais e pela diversidade, sem as quais a
parcialmente à natureza e parcialmente à cultura. Cons-
criatividade humana cessa e, por tudo que há no mun-
titui o passo fundamental graças ao qual, pelo qual, mas
do, antes e depois da passagem do humano pela Terra. sobretudo no qual se realiza a passagem da natureza à
2. (UFPR 2020) Considere o seguinte excerto do texto cultura”. Vê-se que a temática com a cultura traz nesse
intitulado Adolescência em Samoa, da antropóloga embate enfoques disciplinares diferentes entre antropó-
Margaret Mead: logos, historiadores, sociólogos, psicólogos e filósofos.
Nesse contexto, escolha o item correto sobre cultura,
Nas partes mais remotas do mundo, sob condições his-
verificando (na afirmativa do item) tal noção entre as
tóricas muito diferentes daquelas que fizeram Grécia e
visões das disciplinas, assim como correspondem, ou não.
Roma florescer e declinar, grupos de seres humanos de-
senvolveram padrões de vida tão diferentes dos nossos a) Os filósofos, a partir do século XVIII, passam a con-
que não podemos arriscar a conjectura de que iriam che- siderar que os humanos não diferem da natureza.
gar algum dia às nossas próprias soluções. Cada povo b) Para muitos historiadores, o ponto de ação que de-
primitivo escolheu um conjunto de valores humanos e marca a instituição da cultura é o trabalho do homem.
moldou para si mesmo uma arte, uma organização so- Mas assim como os filósofos (e antropólogos) incluem as
cial, uma religião, que são sua contribuição singular para categorias: pensamento, linguagem e ação voluntária.
a história do espírito humano. Samoa é apenas um des- c) A antropologia estuda os seres humanos na condi-
ses padrões diversos e graciosos, mas, assim como via- ção de seres naturais.
jante que um dia se afastou de casa é mais sábio que o d) A diferença entre homem e natureza, que dá origem
homem que nunca foi além da soleira da própria porta, à cultura, surge com a lei da proibição do incesto, lei
o conhecimento de outra cultura deveria aguçar nossa existente entre os animais.

79
e) Os seres humanos dão sentido à sexualidade: ela 6. (Enem PPL 2019) É amplamente conhecida a grande
não é apenas a satisfação imediata de uma necessi- diversidade gastronômica da espécie humana. Frequen-
dade biológica. temente, essa diversidade é utilizada para classificações
depreciativas. Assim, no início do século, os americanos
4. (IFGO) O desenvolvimento dos conhecimentos pré- denominavam os franceses de “comedores de rãs”. Os
-históricos e arqueológicos tende a desdobrar no es- índios kaapor discriminam os timbiras chamando-os
paço formas de civilização que estávamos levados a pejorativamente de “comedores de cobra”. E a palavra
imaginar como escalonadas no tempo. Isso tem duas potiguara pode significar realmente “comedores de ca-
significações: primeiro, o “progresso […] não é nem marão”. As pessoas não se chocam apenas porque as
necessário, nem contínuo; ele se realiza por saltos, por outras comem coisas variadas, mas também pela ma-
pulos, ou, como diriam os biólogos, por mutações. Esses neira que agem à mesa. Como utilizamos garfos, sur-
saltos e esses pulos não consistem em ir sempre mais preendemo-nos com o uso dos palitos pelos japoneses
longe na mesma direção; são seguidos de mudanças de e das mãos por certos segmentos de nossa sociedade.
orientação, um pouco à maneira do cavalo do xadrez
que sempre dispõe de vários caminhos, porém nunca LARAIA, R. CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO.
no mesmo sentido. A humanidade em progresso não SÃO PAULO: JORGE ZAHAR, 2001 (ADAPTADO).
se parece com um personagem que sobe uma escada,
O processo de estranhamento citado, com base em um
acrescentando em cada um de seus movimentos um
conjunto de representações que grupos ou indivíduos
degrau novo a todos aqueles que conquistou; lembra
formam sobre outros, tem como causa o(a)
antes o jogador cuja sorte está partida entre vários da-
dos e que, cada vez que joga, vê-os espalharem se so- a) reconhecimento mútuo entre povos.
bre o tapete, produzindo tantos números diferentes. O b) etnocentrismo recorrente entre populações.
que ganha com um está sempre exposto a perder com c) comportamento hostil em zonas de conflito.
outro, e é somente em certas ocasiões que a história é d) constatação de agressividade no estado de natureza.
cumulativa, quer dizer, que os números se somam para
e) transmutação de valores no contexto da modernidade.
formar uma combinação favorável.
LEVI-STRAUSS, CLAUDE. RAÇA E HISTÓRIA. IN: ______. RAÇA 7. (UEM) “[...] Protegidos por sua retirada para regiões
E CIÊNCIA. V. 1. SÃO PAULO: PERSPECTIVA, 1970. P. 245. de difícil acesso, os Jê do Sul do Brasil sobreviveram por
alguns séculos aos Tupi, logo liquidados pelos coloniza-
A partir da leitura do excerto de Levi-Strauss, antropó- dores. Nas florestas dos estados meridionais, Paraná e
logo francês, é possível afirmar que: Santa Catarina, pequenos bandos selvagens mantive-
a) O estudo da pré-história assemelha-se ao jogo de xadrez. ram-se até o século XX; talvez ainda subsistissem alguns
b) Existe uma conexão lógica entre a biologia e a evo- em 1935, tão ferozmente perseguidos nos últimos cem
lução humana. anos que se mantinham invisíveis; porém, a maioria fora
aldeada e assentada pelo governo brasileiro, por volta
c) Os conhecimentos pré-históricos e arqueológicos
de 1914, em vários centros”.
permitem que reflitamos sobre a forma como ocorre-
ram as transformações das civilizações. LÉVI-STRAUSS, C. TRISTES TRÓPICOS. SÃO PAULO:
d) Existe uma linearidade a partir da qual decorre o pro- COMPANHIA DAS LETRAS, 1996, P. 144.
gresso histórico e os seus sucessivos desenvolvimentos.
A partir dos significados da cultura segundo a antro-
e) Nada se pode afirmar sobre a pré-história, pois não pologia, da história dos conflitos entre populações in-
existe certeza em relação aos processos de desenvol- dígenas e outros grupos humanos e do texto de Lévi-
vimento e progresso da humanidade.
Strauss, é correto afirmar que:
5. (Vunesp) Falar da contribuição das raças humanas 01) a inferioridade cultural dos índios Jê frente a ou-
para a civilização mundial poderia assumir um aspecto tros grupos humanos foi o principal fator que contri-
surpreendente numa coleção de brochuras destinadas a buiu para o seu desaparecimento.
lutar contra o preconceito racista. Resultaria num esforço 02) a perseguição feroz a grupos étnicos distintos do
vão ter consagrado tanto talento e tantos esforços para grupo socialmente dominante pode levar à invisibili-
demonstrar que nada, no estado atual da ciência, permi- dade social dos grupos perseguidos.
te afirmar a superioridade ou a inferioridade intelectual
04) a perseguição e o massacre dos índios Jê no Sul
de uma raça em relação a outra […].
do Brasil foram fortemente motivados por pontos de
CLAUDE LÉVI-STRAUSS. RAÇA E HISTÓRIA. 3A EDIÇÃO. vista etnocêntricos, interesses de Estado e ação de
LISBOA: EDITORIAL PRESENÇA,1980. (ADAPTADO) grupos sociais diversos.
O que determina a diferença cultural entre os povos? 08) já não existiam grupos indígenas no Sul do Brasil
no início do século XX.
a) Herança genética.
16) o etnocentrismo, o preconceito, os interesses eco-
b) História cultural. nômicos e as relações de poder influenciaram a maio-
c) Variação do ambiente físico. ria dos estados modernos no desrespeito aos direitos
d) Traços psicológicos inatos. e às culturas das populações nativas que habitam
e) Relativismo cultural. seus territórios.

80
8. (UEM) Leia a descrição que Claude Lévi-Strauss fez do 11. (Unesp) Nas Grandes Antilhas, alguns anos após
modo de vida adotado pelas populações indígenas da re- a Descoberta da América, enquanto os espanhóis en-
gião Sul do Brasil, quando da ocupação capitalista dessa viavam comissões de investigação para indagar se os
parte do território nacional, e assinale o que for correto: indígenas possuíam ou não alma, estes últimos dedi-
cavam-se a afogar os brancos feitos prisioneiros para
“De sua experiência efêmera de civilização, os indígenas verificarem através de uma investigação prolongada
só conservaram as roupas brasileiras, o machado, a faca se o cadáver daqueles estava ou não sujeito à putre-
e a agulha de costura. Quanto ao resto, foi um fracasso. fação. Esta anedota simultaneamente barroca e trági-
Haviam lhes construído casas, e eles viviam do lado ca ilustra bem o paradoxo do relativismo cultural: é na
de fora. Esforçaram-se para fixá-los nas aldeias, e eles própria medida em que pretendemos estabelecer uma
permaneciam nômades. As camas, quebraram-nas para discriminação entre as culturas e os costumes, que nos
fazer lenha e dormiam diretamente no chão. Os reba- identificamos mais completamente com aqueles que
nhos de vacas mandadas pelo governo vagavam ao léu, pretendemos negar. Recusando a humanidade àqueles
já que os indígenas rejeitavam com nojo a sua carne e o que surgem como os mais ‘selvagens’ ou ‘bárbaros’ dos
seu leite. Os pilões de madeira, movidos mecanicamente seus representantes, mais não fazemos que copiar-lhes
pelo encher e esvaziar alternados de um recipiente preso suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o
a um braço de alavanca (dispositivo frequente no Brasil, homem que crê na barbárie.
onde é conhecido pelo nome de ‘monjolo’, e que os por- CLAUDE LÉVI-STRAUSS. RAÇA E HISTÓRIA, 1987
tugueses talvez tenham importado do Oriente), apodre-
ciam, inutilizados, mantendo-se a prática generalizada Considerando o texto do antropólogo Lévi-Strauss, res-
de moagem a mão.” ponda se os critérios que definem o grau de progresso
LÉVI-STRAUSS, CLAUDE. TRISTES TRÓPICOS. SÃO de determinada civilização ou cultura são absolutos ou
PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1996, P.144. relativos.
01) O trecho mostra que os indígenas brasileiros não Explique o conceito de “bárbaro” para o autor e indi-
possuíam regras básicas de moradia e de alimentação. que as implicações de seu pensamento para a análise
02) Lévi-Strauss apresenta um cenário da diversidade da justificação ideológica da dominação da civilização
cultural brasileira, quando registra que as populações in- ocidental sobre outras civilizações na história.
dígenas por ele encontradas na região Sul do Brasil não
comiam carne de vaca e não bebiam o leite desse animal.
04) O Estado brasileiro manteve uma postura etno-
cêntrica quando tentou fixar as populações indígenas
Gabarito
em aldeias, desconsiderando o modo de vida nômade 1. A 2. E 3. E 4. C 5. B
por eles adotado.
08) Os indígenas brasileiros podem ser sociologicamente 6. B 7. (02-04-16=22) 8. (02+04=06)
classificados como atrasados por não dominarem as téc-
9. 01 + 04 = 05 10. E
nicas de moagem em pilões movidos por monjolo.
16) A experiência de civilização das populações indí- 11. Os critérios são relativos porque respondem a uma vi-
genas da região Sul do Brasil, promovida pelo Estado, são unilateral quanto aos valores culturais ocidentais. Para
foi eficiente e gerou a aculturação de seus integrantes. o autor, a verdadeira “barbárie” consiste em não aceitar
9. (UEPG-PSS 1 2019) A respeito do conceito de cultura uma determinada cultura em prol de uma visão ocidental,
e etnocentrismo, assinale o que for correto. e supostamente civilizatória.
01) O etnocentrismo é um conceito criado a partir do O conceito de “bárbaro” relaciona-se, na concepção de
conceito do evolucionismo que considera inferior uma
Lévi-Strauss, na não aceitação da contradição. A noção de
cultura por ela ser diferente.
02) Podemos considerar como cultura apenas os as-
civilização implica a superação das diferenças em prol de um
pectos materiais da sociedade humana. entendimento e interpretação das diversas culturas, propi-
04) O relativismo cultural se contrapõe ao etnocentrismo. ciando, dessa maneira, a supremacia da ideologia ocidental.
08) Cultura é um conjunto de hábitos, costumes, valores
e tradições presentes apenas nas sociedades modernas.

10. Por volta de 1877, Lewis Henry Morgan publicou teo-


rias onde se dizia que o que definia uma sociedade avan-
çada para as sociedades ocidentais era a existência:
a) da cidade e do campo
b) da agricultura e metalurgia
c) da existência do fogo e da caça
d) da propriedade privada e um Estado organizado
e) das fábricas e máquinas a vapor

81
em nível global) que formam a sociedade de consumo. A
AULA 12 sociedade de consumo, que possibilita que as massas con-
sumam produtos em grandes quantidades, só é possível
na sociedade industrial capitalista, dada a ampliação da
capacidade produtiva.

INDÚSTRIA CULTURAL
E SOCIEDADE DO
ESPETÁCULO

multimídia: música
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
FONTE: YOUTUBE
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, Televisão - Titãs. Televisão. Warner, 1985.
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, A música da banda paulistana Titãs trabalha com a temá-
23, 24 e 25 tica de alienação do homem, conjunto com o poder do
espetáculo em nosso cotidiano.

1. Indústria cultural Produz-se em larga escala um único tipo de produto, ho-


O conceito de Indústria Cultural foi originalmente formula- mogêneo, que se coloca acima das diversidades culturais
do na década de 1940 por dois autores alemães, Theodor e simplifica os conteúdos e significados das expressões
Adorno (1903–1969) e Max Horkheimer(1895–1973), que artísticas para ser consumido pelo maior número de pes-
pertenciam à chamada Escola de Frankfurt. Esses autores, no soas possível. A homogeneização dos produtos e gostos
livro denominado Dialética do Esclarecimento: o Iluminismo constitui-se no principal mecanismo de reprodução da in-
como mistificação das massas, de 1944, desenvolveram o dústria cultural, o que faz com que ela continue existindo
independentemente das vontades individuais.
conceito de Indústria Cultural.
Os teóricos da primeira geração da Escola de Frankfurt as-
sistiram e vivenciaram a ascensão do nazismo na Europa e 2. Guy Debord (1931-1994)
adotaram os fenômenos da cultura como objeto de estudo De origem filosófica, o francês Guy Debord apresenta uma
para entender o tempo presente nos aspectos da domina- crítica para a sociedade contemporânea, a chamada socie-
ção/alienação e emancipação em relação aos mecanismos dade do consumo.
de controle social.
Para os autores, o que se repete na história é a violência
associada ao progresso. Segundo essa concepção, as
guerras são resultados do desenvolvimento tecnológico.
Nesse contexto a ciência e a técnica não têm um obje-
tivo humano.
Na sociedade globalizada em que vivemos, tudo se reveste
de um caráter mercadológico, no qual se omite a história
social da produção dos objetos. Disso resulta a descrença
dos integrantes da Escola de Frankfurt na ciência e na téc-
nica como meio de emancipação social.
Por procurar um público o mais amplo possível (para que a
lucratividade aumente), a Indústria Cultural produz um tipo
especifico de cultura – a cultura de massa – que se define
por ser uma cultura homogênea transformada em merca-
doria destinada ao consumo das grandes massas (inclusive

82
Em seu livro mais famoso, intitulado A sociedade do Es- Debord ilustra como a nossa sociedade está constituída
petáculo, lançado em 1967, Debord faz uma crítica feroz pelo espetáculo, seja midiático ou político, de modo a con-
contra essa sociedade do consumo, ganhando popularida- fundir a nossa realidade com a mera ficção.
de entre artistas e estudantes. A alienação do espectador em proveito do objeto con-
templado (que é o resultado da sua própria atividade
inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele con-
templa, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se
nas imagens dominantes da necessidade, menos ele
compreende a sua própria existência e o seu próprio
desejo. A exterioridade do espetáculo em relação ao ho-
mem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já
não são seus, mas de um outro que lhes apresenta.
multimídia: livro DEBORD, GUY
A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, 1967, P. 25-26.

A sociedade do espetáculo - Guy Debord.


São Paulo: Contraponto, 1997.
Análise crítica da moderna sociedade de consumo do
pensador Guy Debord, com a banalização do espetácu-
lo nas ações humanas.

Nesse livro, o autor apresenta como a sociedade reproduz multimídia: música


as ações e os fatos, desencadeando uma repetição cons- FONTE: YOUTUBE
tante e levando os indivíduos a uma massificação ordena- Art Bitch - Cansei de ser sexy. Álbum:
da, transformando-se em meros espectadores contempla- Cansei de ser sexy, 2005.
tivos de suas próprias vidas. Sendo guiados pelas imagens Canção da banda paulistana que trata do agir humano
que ordenam o seu cotidiano, os seres humanos ficam como mero espetáculo.
anestesiados com os fatos a sua volta.
O autor define o espetáculo como o conjunto das relações
sociais mediadas pelas imagens, estando esse fenômeno
presente em todas as sociedades onde há classes sociais.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
A Sociedade do Espetáculo - França, 1973.
Documentário baseado no livro do próprio Debord, re-
laciona o universo midiático ao plano social em que os
indivíduos consomem passivamente imagens que lhes
são impostas.

83
DIAGRAMA DE IDEIAS

DEBORD

SOCIEDADE DO
ESPETÁCULO

AS AÇÕES HUMANAS
SÃO REPRODUZIDAS
E MASSIFICADAS

ANESTESIA OS
INDIVÍDUOS

TUDO VIRA MOTIVO


PARA SER UM NOVO
ESPETÁCULO

84
Assinale a alternativa correta.
Aplicando para a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
Aprender (A.P.A.) b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
1. (UEMa) Helder Lima, comentando o filósofo francês d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
Guy Debord, afirma que a sociedade contemporânea é
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
a sociedade do espetáculo, na qual as imagens têm um
caráter autoritário e seu controle é essencial para man- 3. (UENP) “Cento e cinquenta anos atrás, Marx escreveu
ter os indivíduos voltados para o consumo. que “um espectro ronda a Europa”- o espectro do socia-
LIMA, HELDER. “CRISES NARRATIVAS DA SOCIEDADE”. IN: METRÔ NEWS, lismo ou comunismo. Isso permanece verdade, mas por
N.6889, ANO 38. 12/08/2013. SÃO PAULO: OESP, 2013. razões diferentes das que Marx tinha em mente. O so-
cialismo e o comunismo sucumbiram, e no entanto con-
A peça publicitária abaixo ratifica a utilização dos meios tinuam nos assombrando. Não podemos simplesmente
de comunicação como aparelho ideológico voltado para pôr de lado os valores e os ideais que os moveram, pois
o marketing empresarial. alguns permanecem intrínsecos à boa vida cuja criação é
meta do desenvolvimento social e econômico. O desafio
é fazer esses valores contarem onde o programa do so-
cialismo entrou em descrédito”.
(GIDDENS, A. A TERCEIRA VIA. BRASÍLIA: INSTITUTO
TEOTÔNIO VILELA, 1999, P. 11).

I. Este fragmento de texto resume uma das ideias cen-


trais do pensamento social democrata.
II. Este fragmento de texto é do socialismo reacionário
tardio que se recusa a acreditar que o comunismo e o
socialismo deixaram de ser uma opção viável, que era
um dos principais objetivos da restauração da II Inter-
nacional ocorrida em 1951 em Frankfurt.
III. Pela intervenção do estado na economia e pela ma-
Com base nessa afirmação e na peça publicitária, expli- nutenção do welfare state, os sociais democratas pre-
que como os meios de comunicação atuam como apa- tendiam superar a crise do capitalismo e as deficiências
relho ideológico da sociedade capitalista. do comunismo.
Analise as assertivas acima e assinale a alternativa
2. (Uel 2019) Leia o texto a seguir. correta:
A modernidade [...] é um fenômeno de dois gumes. O a) somente I e III estão corretas.
desenvolvimento das instituições sociais modernas e b) somente II e III estão corretas.
sua difusão em escala mundial criaram oportunidades
c) somente II e III estão incorretas.
bem maiores para os seres humanos gozarem de uma
existência segura e gratificante que qualquer tipo de d) somente I e II estão incorretas.
sistema pré-moderno. Mas a modernidade tem também e) I, II, III estão corretas.
um lado sombrio.
4. (Unesp 2018) A mídia é estética porque o seu poder
GIDDENS, A. AS CONSEQUÊNCIAS DA MODERNIDADE. SÃO de convencimento, a sua força de verdade e autoridade,
PAULO: EDITORA UNESP, 1991, 2ª REIMPRESSÃO, P. 16. passa por categorias do entendimento humano que es-
tão pautadas na sensibilidade, e não na racionalidade.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o debate a A mídia nos influencia por imagens, e não por argumen-
respeito da modernidade, considere as afirmativas a seguir. tos. Se a propaganda de um carro nos promete o dom
I. Para Marx, a modernidade identificava-se com o ca- da liberdade absoluta e não o entrega, a propaganda
pitalismo, o qual continha, em suas origens industriais, política não vai ser mais cuidadosa na entrega de suas
dimensões sociais potencialmente revolucionárias. promessas simbólicas, mesmo porque ela se alimenta
II. No momento do surgimento do industrialismo, das mesmas categorias de discurso messiânico que a
Durkheim identificou o lado sombrio da modernidade religião, outra grande área de venda de castelos no ar.
com a possibilidade dos fenômenos da anomia social.
(FRANCISCO FIANCO. “O DESESPERO DE PENSAR A POLÍTICA NA SOCIEDADE DO
III. Weber compreendia o mundo moderno como aquele ESPETÁCULO”. HTTP://REVISTACULT.UOL.COM.BR, 11.01.2017. ADAPTADO.)
no qual a racionalização implicava a expansão da buro-
cracia e dos limites que o corpo de funcionários estabe- Considerando o texto, a integração entre os meios de
lecia à autonomia individual. comunicação de massa e o universo da política apre-
IV. Para Giddens, a atual fase da modernidade, ao redu- senta como implicação
zir as possibilidades de autodestruição social, eliminou a) a redução da discussão política aos padrões da
a existência da chamada “sociedade de risco”. propaganda e do marketing.

85
b) a ampliação concreta dos horizontes de liberdade d) o universo estético de produção das imagens não é
na sociedade de massas. determinado pela base material da sociedade.
c) o fortalecimento das instituições democráticas e e) o conceito de sociedade do espetáculo realiza uma
dos direitos de cidadania. reflexão contestadora sobre a indústria cultural.
d) o apelo a recursos intelectuais superiores de inter-
pretação da realidade. 7. “(...) o espetáculo mantém os homens num estado de
infantilismo condicionando a necessidade de imitação
e) a mobilização de recursos simbólicos ampliadores
que o consumidor experimenta, ao passo que não há,
da racionalidade.
em parte alguma, acesso à idade adulta.
5. (UEM 2018) “Georg Simmel nos aponta um paradoxo JAPPE, ANSELM. GUY DEBORD. PETROPÓLIS: VOZES, 1999.
fundamental da vida moderna: partindo do princípio de
que a capacidade dos indivíduos de absorver informa- Com base no texto e nos conhecimentos sobre socieda-
ções tem um limite, à medida que aumenta a oferta de de de consumo, considere as afirmativas a seguir:
informações disponíveis, reduz-se proporcionalmente a I. A sociedade contemporânea e o espetáculo estimu-
parcela desse acervo que cada indivíduo pode reter.” lam comportamentos massificados, importantes para a
(BOMENY, H. ET AL. TEMPOS MODERNOS, TEMPOS DE SOCIOLOGIA. intensificação do consumo.
SÃO PAULO: EDITORA DO BRASIL, 2013, P. 107). II. A infantilização da sociedade contemporânea expres-
sa uma ruptura com a sociedade de consumo.
Com base no trecho citado e em estudos sociológicos
sobre indústria cultural e consumo em massa, assinale III. A necessidade de imitação experimentada pelo con-
o que for correto. sumidor moderno contribui para mantê-lo em um esta-
do de infantilismo.
01) A grande disponibilidade de informação propor-
IV. Os homens se mantêm longe da idade adulta devido
cionada pela vida moderna reflete, segundo Simmel,
à diminuição do seu poder de consumo.
no aumento da quantidade daquilo que cada pessoa
pode assimilar individualmente dessas informações. Estão corretas apenas as afirmativas:
02) Uma das principais expressões da modernidade a) I e II.
é o ritmo acelerado da produção industrial e cultural. b) I e III.
04) O acesso à informação se converte diretamente c) II e IV.
em conhecimento. d) I, III e IV.
08) A vida moderna produz uma imensa quantidade e) II, III e IV.
de bens culturais e materiais que passa de novo a
obsoleto em curto espaço de tempo. 8. (Enem 2019) A primeira fase da dominação da econo-
16) Várias teorias sociológicas admitem que as trans- mia sobre a vida social acarretou, no modo de definir
formações sociais podem produzir alterações psíqui- toda realização humana, uma evidente degradação do
cas, impactando a sensibilidade individual. ser para ter. A fase atual, em que a vida social está to-
talmente tomada pelos resultados da economia, leva a
6. (Unesp 2019) A sociedade do espetáculo corresponde um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do
a uma fase específica da sociedade capitalista, quando qual todo ter efetivo deve extrair seu prestígio imedia-
há uma interdependência entre o processo de acúmulo to e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realida-
de capital e o processo de acúmulo de imagens. O papel de individual tornou-se social, diretamente dependente
desempenhado pelo marketing, sua onipresença, ilustra da força social, moldada por ela.
perfeitamente bem o que Guy Debord quis dizer: das re- DEBORD, GUY. A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO. RIO
lações interpessoais à política, passando pelas manifes- DE JANEIRO: CONTRAPONTO, 2015.
tações religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido
por imagens. Assim como o conceito de “indústria cultu- Uma manifestação contemporânea do fenômeno des-
ral”, o conceito de “sociedade do espetáculo” faz parte crito no texto é o (a):
de uma postura crítica com relação à sociedade capita- a) valorização dos conhecimentos acumulados.
lista. São conceitos que procuram apontar aquilo que se b) exposição nos meios de comunicação.
constitui em entraves para a emancipação humana. c) aprofundamento da vivência espiritual.
CLÁUDIO N. P. COELHO. MÍDIA E PODER NA SOCIEDADE DO d) fortalecimento das relações interpessoais.
ESPETÁCULO. HTTPS://REVISTACULT.UOL.COM.BR. (ADAPTADO). e) reconhecimento na esfera artística.
Segundo o texto: 9. O que Guy Debord sugeria ao escrever o livro Socie-
a) a transformação da cultura em mercadoria é uma dade do Espetáculo?
característica fundamental desse fenômeno social. a) Que a sociedade contemporânea está virando pós-
b) a padronização da estética pela sociedade do es- -moderna, e por isso gosta mais de peças teatrais.
petáculo restringe-se ao campo da publicidade. b) Que espetáculos mais famosos tendem a vender
c) a hegemonia do espetáculo desempenha papel fun- mais ingressos, por isso o teatro não tem mais validade
damental na formação da autonomia do sujeito. para a cultura.

86
c) Que a sociedade contemporânea é voltada ao 11. (Enem) Um volume imenso de pesquisas tem sido
mundo televisivo, em que todas as pessoas precisam produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas
mostrar o que fazem para todos. de televisão. A maioria desses estudos diz respeito a
d) Que espetáculos ruins em uma sociedade boa, aju- crianças – o que é bastante compreensível pela quanti-
dam a destruir o conhecimento dessa sociedade. dade de tempo que elas passam em frente ao aparelho
e) Que as televisões são muito caras em sociedade e pelas possíveis implicações desse comportamento
ruins, e nas sociedades boas, em que espetáculos para a socialização. Dois dos tópicos mais pesquisados
acontecem com mais frequência, as televisões são são o impacto da televisão no âmbito do crime e da vio-
mais baratas. lência e a natureza das notícias exibidas na televisão.
GIDDENS, A. SOCIOLOGIA. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2005.
10. O conceito de espetáculo, segundo Guy Debord pode
ser definido como: O texto indica que existe uma significava produção
I. A especialização das imagens com a realidade e inver- científica sobre os impactos socioculturais da televisão
são concreta da vida pela tecnologia. O espetáculo é o na vida do ser humano. E as crianças, em particular, são
capital em grau de acumulação que se torna imagem. as mais vulneráveis a essas influências, porque:
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma a) codificam informações transmitidas nos programas
relação social entre pessoas, mediada por imagens. infantis por meio da observação.
II. Quando o mundo real se transforma em simples ima- b) adquirem conhecimentos variados que incentivam
gens, as simples imagens tornam-se seres reais e moti- o processo de interação social.
vações eficientes de um comportamento hipnótico. O c) interiorizam padrões de comportamento e papéis
espetáculo, com o tendência a fazer ver (por diferentes sociais com menor visão crítica.
mediações especializadas) o mundo que já não se pode d) observam formas de convivência social baseadas
tocar diretamente, serve-se da visão como o sentido na tolerância e no respeito.
privilegiado da pessoa humana, o que em outras épo- e) apreendem modelos de sociedade pautados na ob-
cas fora o tato; o sentido mais abstrato, e mais sujeito à servância das leis.
mistificação, corresponde à abstração generalizada da
sociedade atual. Mas o espetáculo não pode ser identi-
ficado pelo simples olhar, mesmo que este esteja aco-
plado à escuta. Ele escapa à atividade do homem, à re-
Gabarito
consideração e à correção de sua obra. É o contrário do 1. Muitas vezes, os meios de comunicação são apropriados
diálogo. Sempre que haja representação independente, pelo capitalismo como forma de criar nas pessoas o desejo
o espetáculo se reconstitui. pelo consumo. Podemos perceber isso na peça publicitária
III. A "espetacularização" da realidade produz a aliena- exposta na questão: ali, o que se valoriza é a figura do
ção do indivíduo pelo excesso tecnológico. A alienação cliente, que consome determinada mercadoria ou serviço.
do espectador em favor do objeto contemplado (o que Atuando dessa maneira, os meios de comunicação, longe
resulta de sua própria atividade inconsciente) se expres-
de contribuírem para a emancipação da sociedade, aca-
sa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quan-
to mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes bam alienando as pessoas e as impedindo de perceber a
da necessidade, menos compreende sua própria existên- situação de exploração em que vivem.
cia e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age,
a exterioridade do espetáculo aparece no fato de seus 2. D 3. A 4. A 5. 02 + 08 + 16 = 26
próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que 6. A 7. B 8. B 9. C 10. E 11. C
os representa por ele. É por isso que o espectador não
se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está
em toda parte.
IV. O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a
própria sociedade, como um aparte da sociedade e com
o instrumento de unificação. Como parte da sociedade,
ele é expressamente o setor que concentra todo olhar e
toda consciência. Pelo fato de esse setor estar separa-
do, ele é o lugar do olhar iludido e da falsa consciência;
a unificação que realiza é tão somente a linguagem ofi-
cial da separação generalizada.
a) I e II somente.
b) II e III somente.
c) I e IV somente.
d) III e IV somente.
e) todas estão corretas.

87
a prática do confinamento passou a ser adotada. A partir
AULA 13 do século XVIII, a loucura foi associada à doença, sendo
que o louco deveria ser medicado. Ao refletir sobre como
as diferentes sociedades tratam aqueles que foram con-
siderados como loucos, Foucault chama a atenção para a
construção social do conceito de normalidade.

MICHEL FOUCAULT

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, Michel Foucault: Poder - Brasil Escola
23, 24 e 25

1.2. Vigiar e punir: História


da violência nas prisões
1. Michel Foucault (1926-1984)
No texto, publicado em 1975, Foucault reflete sobre o siste-
Com formação em filosofia e psicologia, o francês Michel
ma penal e a relação de poder. O filósofo analisa que existe
Foucault tratou de compreender o indivíduo e as suas in-
um “poder disciplinar” para regular a vida dos indivíduos,
ter-relações, como o poder, a sexualidade, a punição e a
contido nas estruturas de base da sociedade (nos hospitais,
loucura social.
nas prisões e nas escolas) com o intuito de organizar os há-
bitos desses sujeitos, atuando como instituições disciplinares.

multimídia: livro

Foucault modificou o foco das análises tradicionais acerca da Vigiar e Punir - Michel Foucault.
sociedade, a partir de um olhar interdisciplinar, interligando Petropólis: Vozes, 1987.
os campos da história, filosofia, sociologia e psicologia. É um estudo científico, fartamente documentado, sobre
a evolução histórica da legislação penal e respectivos
1.1. História da loucura na Idade Clássica métodos coercitivos e punitivos adotados pelo poder
Nessa obra, publicada em 1961, Foucault apresenta como público na repressão da delinquência. Métodos que vão
o termo loucura modificou-se ao longo do tempo. Na Idade da violência física até instituições correcionais.
Média, a loucura era sinônimo de liberdade, em muitos casos,
era considerada sagrada; durante o Renascimento, por sua Segundo Foucault, esse “poder disciplinar” é notado pelos
vez, a loucura foi vista como uma outra forma de razão. elementos semelhantes que encontramos nesses ambien-
No período da Modernidade, entre os séculos XVI e XVII, tes, como regras pré-definidas, grades e câmeras de segu-
momento histórico denominado por Foucault como Idade rança. Nesse momento o poder é físico e simbólico, pois
Clássica, a loucura ganha uma definição de antirrazão, condiciona as futuras ações desse indivíduo caracterizando
aqueles considerados loucos deveriam ser enclausurados, uma forma de controle social, pois apresenta uma forte

88
disciplina em conjunto com uma plena vigilância para con- tanta punição, submetidos ao poder disciplinar, aceitam a
ter possíveis violações das regras impostas. total submissão, sendo dominados completamente, sem
nenhum tipo de resistência contra esse poder. Diante disso,
Para ilustrar essa forma de disciplina e vigilância, Foucault
o corpo humano tornou-se uma máquina prestes a obede-
cita o exemplo do Panóptico utilizado em prisões. Trata-se
cer a qualquer regra ou norma dominante.
de uma estrutura circular, com uma plataforma de observa-
ção erguida no meio.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Quem somos nós?
O professor da Unicamp Oswaldo Giacoia Junior co-
menta sobre o pensamento de Michel Foucault.

Essa estrutura possibilita ao observador central um con-


trole maior sobre os prisioneiros, que tem a sensação de
multimídia: vídeo
serem vigiados durante todo o tempo. O objetivo desse
panóptico era criar uma aparente onipresença do inspetor FONTE: YOUTUBE
de vigilância nas mentes dos vigiados, assegurando o fun- V de Vingança - Reino Unido/Alemanha/
cionamento automático do poder. O sucesso dessa ação se Estados Unidos: 2005 (132 min).
faz pelo olhar hierárquico, uma sanção normalizadora e o Filme é ambientado em uma Inglaterra do futuro, e
exame avaliativo. fundamentado nos conteúdos estruturantes “Poder, po-
lítica e ideologia” e “Direitos, cidadania e movimentos
sociais”. O filme permite discutir: o conceito de justiça
social; Estado Totalitário; ditaduras X democracia; re-
volução; movimentos sociais reformistas; movimentos
sociais revolucionários; Estado Moderno; aparelhos
ideológicos do Estado; Facismo; terrorismo; ideologia; a
influência dos meios de comunicação de massa; análise
de Michael Foucault sobre as relações existentes entre
multimídia: vídeo
ideologia e poder (teoria sobre controle do tempo e do
FONTE: YOUTUBE espaço); sociedade de vigilância; crítica à sociedade de
Laranja Mecânica - Inglaterra, 1971. consumo; manipulação do real e instituições totais.
Esse filme retrata a diferença entre o método de pu-
nição puramente física e as formas de reeducação e
utilização do saber técnico pelas autoridades, descritas 1.3. História da sexualidade moderna
por Foucault. Nesse estudo, publicado em 1976, Foucault interliga a
sexualidade com as estruturas de poder na sociedade. Ao
Foucault enfatiza a questão do controle disciplinar, cor- pensar o poder não como uma coisa, mas como relações,
rigindo o comportamento desviante, isto é, o propósito assume que o poder é algo que se exerce; poder como um
desse poder é controlar, dominar os seres e não propiciar feixe de relações. Assim, o corpo também é um espaço de
poder. A norma produz condutas e gestos com o intuito de
uma reformulação das práticas sociais.
reprimir a própria sexualidade, classificando o comporta-
Como consequência disso, temos o ser humano configu- mento sexual desviante da norma como um crime, ferindo
rado como “corpos dóceis”, ou seja, corpos que mediante os padrões morais de uma sociedade.

89
Para Foucault, com essa regulação da vida dos indivíduos, Fora dessa relação macro, coexistem diversas relações de
desenvolveu-se uma naturalização da sexualidade reprimi- micropoder, entre os próprios indivíduos dentro da socieda-
da no cotidiano, gerando no indivíduo, com a sexualidade de, salientando um poder ilusório, uma disputa criada entre
reprimida, um ser com várias neuroses. Para evitar esses os seres, com o intuito também de dominação e controle.
traumas, o pensador apresenta que é necessário ter uma O poder não opera em um único lugar, mas em lugares
maior liberdade da sexualidade na sociedade. múltiplos: a família, a vida sexual, a maneira como se tra-
ta os loucos, a exclusão dos homossexuais, as relações
entre os homens e as mulheres... todas essas relações
são relações políticas. Só podemos mudar a sociedade
sob a condição de mudar essas relações.
FOUCAULT, MICHEL. DIÁLOGO SOBRE O PODER. ESTRATÉGIA, PODER-
SABER. RIO DE JANEIRO: FORENSE UNIVERSITÁRIA, 2006.

1.4. Microfísica do poder


Nesse livro, publicado em 1978, Foucault apresenta diversas
formas de poder existentes na sociedade. O poder está em
todo lugar, tendo os saberes e os discursos como elementos
multimídia: livro
diretos desse poder social. O poder não está centralizado nas
grandes instituições, ele age em todos os lugares, atua sobre 1984 - George Orwell. São Paulo:
os indivíduos. Companhia das Letras, 2009.
Em seu último romance, o autor criou um personagem
chamado Winston, que vive aprisionado em uma socie-
dade completamente dominada pelo Estado. Essa sub-
missão ao poder é relatada, inclusive, na rotina desse
personagem, que trabalha com a falsificação de registros
históricos, a fim de satisfazer os interesses presentes.
Winston, contudo, não aceita bem essa realidade, que se
multimídia: livro disfarça de democracia, e vive questionando a opressão
que o Partido e o Grande Irmão exercem sob a sociedade.

Microfísica do Poder - Michel Foucault.


São Paulo: Graal, 2008. Parece−me que, no final do século XVIII, a arquitetura co-
meça a se especializar, ao se articular com os problemas
A Medicina, a Psiquiatria, a Justiça, a Geografia, o corpo, da população, da saúde, do urbanismo. Outrora, a arte de
a sexualidade, o papel dos intelectuais e o Estado são construir respondia sobretudo à necessidade de manifes-
analisados por Foucault em vários artigos, entrevistas e tar o poder, a divindade, a força. O palácio e a igreja cons-
conferências reunidos nesse livro. Todos os textos têm tituíam as grandes formas, às quais é preciso acrescentar
as fortalezas; manifestava−se a força, manifestava−se o
como tema central a questão do poder nas sociedades
soberano, manifestava−se Deus. A arquitetura durante
capitalistas: sua natureza, seu exercício em instituições, muito tempo se desenvolveu em torno destas exigências.
sua relação com a produção da verdade e as resistên- Ora, no final do século XVIII, novos problemas aparecem:
cias que suscita. O método genealógico desenvolvido por trata−se de utilizar a organização do espaço para alcançar
Foucault evidencia a existência de formas de exercício do objetivos econômico−políticos. Aparece uma arquitetura
poder diferentes do Estado, a ele articuladas e indispen- específica. Philippe Ariès escreveu coisas que me parecem
importantes a respeito do fato da casa, até o século XVIII,
sáveis à sua sustentação e atuação eficaz. continuar sendo um espaço indiferenciado. Existem peças:
nelas se dorme, se come, se recebe, pouco importa. De-
Essa dominação pode estar contida na relação macro, pois, pouco a pouco, o espaço se especifica e torna−se
apresentada pela força do Estado diante de seus cidadãos, funcional. Nós temos um exemplo disto na edificação das
cidades operárias dos anos 1830−1870. A família operá-
orientando regras e normas de submissão para a manu-
ria será fixada; será prescrito para ela um tipo de mora-
tenção de uma hierarquia pré-concebida. Nesse momento lidade, através da determinação de seu espaço de vida,
Foucault dialoga com a filosofia política de Maquiavel. com uma peça que serve como cozinha e sala de jantar, o

90
quarto dos pais (que é o lugar da procriação) e o quarto das crianças. Às vezes, nos casos mais favoráveis, há o quarto das meninas
e o quarto dos meninos. Seria preciso fazer uma "história dos espaços" − que seria ao mesmo tempo uma "história dos poderes"
− que estudasse desde as grandes estratégias da geopolítica até as pequenas táticas do habitat, da arquitetura institucional, da sala
de aula ou da organização hospitalar, passando pelas implantações econômico−políticas. É surpreendente ver como o problema dos
espaços levou tanto tempo para aparecer como problema histórico−político.
FOUCAULT, MICHEL.
MICROFÍSICA DO PODER. SÃO PAULO: GRAAL, 2008, PP. 211-212.

DIAGRAMADEDEIDEIAS
DIAGRAMA IDEIAS

FOUCAULT

A SOCIEDADE TEM AS RELAÇÕES


UMA ESTRUTURA SOCIAIS POSSUEM
PUNITIVA

UMA DISPUTA
AS INSTITUIÇÕES DE PODERES
SOCIAIS

• HOSPITAIS
• PRISÕES
• ESCOLAS OS MICROPODERES

TÊM FORMAS DE
VIGILÂNCIA E
PUNIÇÕES

• GRADES
• REGRAS
• CÂMERAS DE
SEGURANÇA

91
mais obediente quanto é mais útil, e inversamente. For-
Aplicando para ma-se então uma política das coerções, que são um tra-
balho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus
Aprender (A.P.A.) elementos, de seus gestos, de seus comportamentos.
1. (Enem) A lei não nasce da natureza, junto das fontes FOUCAULT, M. VIGIAR E PUNIR: HISTÓRIA DA VIOLÊNCIA
frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das NAS PRISÕES. PETRÓPOLIS: VOZES, 1987.
batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquis-
tas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce Na perspectiva de Michel Foucault, o processo mencio-
das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nas- nado resulta em:
ce com os famosos inocentes que agonizam no dia que a) declínio cultural.
está amanhecendo. b) segregação racial.
FOUCAULT. M. AULA DE 14 DE JANEIRO DE 1976. IN. EM c) redução da hierarquia.
DEFESA DA SOCIEDADE. SÃO PAULO: MARTINS FONTES,1999. d) totalitarismo dos governos.
e) modelagem dos indivíduos.
O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a
política e a lei em relação ao poder e à organização so- 4. (UEMA) Gilberto Cotrim (2006. p. 212), ao tratar da
cial. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das pós-modernidade, comenta as ideias de Michel Fou-
leis na organização das sociedades modernas é: cault, nas quais "[…] as sociedades modernas apresen-
a) combater ações violentas na guerra entre as nações. tam uma nova organização do poder que se desenvol-
veu a partir do século XVIII. Nessa nova organização, o
b) coagir e servir para refrear a agressividade humana.
poder não se concentra apenas no setor político e nas
c) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre suas formas de repressão, pois está disseminado pelos
os indivíduos de uma mesma nação. vários âmbitos da vida social […] [e] o poder fragmen-
d) estabelecer princípios éticos que regulamentam as tou-se em micropoderes e tornou-se muito mais efi-
ações bélicas entre países inimigos. caz. Assim, em vez de se deter apenas no macropoder
e) organizar as relações de poder na sociedade e en- concentrado no Estado, [os] micropoderes se espalham
tre os Estados. pelas mais diversas instituições da vida social. Isto é,
os poderes exercidos por uma rede imensa de pessoas,
2. (Unioeste 2016) Os estudos realizados por Michel Fou- por exemplo: os pais, os porteiros, os enfermeiros, os
cault (1926-1984) apresentam interfaces que corroboram professores, as secretarias, os guardas, os fiscais etc".
para estudos em diversas áreas de conhecimento, entre
as quais a Filosofia, Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquia- COTRIM, GILBERTO. FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA: HISTÓRIA E
GRANDES TEMAS. SÃO PAULO: SARAIVA, 2006. (ADAPTADO)
tria, Medicina e Direito. Em 1975, Foucault publicou a
obra “Vigiar e Punir: história da violência das prisões”, Pelo exposto por Gilberto Cotrim sobre as ideias de
na qual propunha uma nova concepção de poder, a qual Foucault, a principal função dos micropoderes no corpo
abandonava alguns postulados que marcaram a posição social é interiorizar e fazer cumprir:
tradicional da esquerda do período. Sobre a concepção
a) o ideal de igualdade entre os homens.
de poder foucaultiana, é correto afirmar:
b) o total direito político de acordo com as etnias.
a) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de um c) as normas estabelecidas pela disciplina social.
privilégio adquirido pela classe dominante que detém d) a repressão exercida pelos menos instruídos.
o poder econômico.
e) o ideal de liberdade individual.
b) O poder está centralizado na figura do Estado e
está localizado no próprio aparelho de Estado, que é 5. (UFPR 2020) Eis como ainda no início do século XVII
o instrumento privilegiado do poder. se descrevia a figura ideal do soldado. O soldado é an-
c) Todo poder está subordinado a um modo de produ- tes de tudo alguém que se reconhece de longe; que leva
ção e a uma infraestrutura, pois o modo como a vida os sinais naturais de seu vigor e coragem, as marcas
econômica é organizada determina a política. também de seu orgulho: seu corpo é o brasão de sua
d) O poder tem como essência dividir os que possuem força e de sua valentia. [...] Na segunda metade do
poder (classe dominante) daqueles que não têm po- século XVIII, o soldado tornou-se algo que se fabrica;
der (classe dos dominados). de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a
máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos
e) O poder não remete diretamente a uma estrutura po-
as posturas; lentamente uma coação calculada percorre
lítica, ao uso da força ou a uma classe dominante: as
cada parte do corpo, se assenhoreia dele, dobra o con-
relações de poder são móveis e só podem existir quando
junto, torna-o perpetuamente disponível e se prolonga,
os sujeitos são livres e há possibilidade de resistência.
em silêncio, no automatismo dos hábitos.
3. (Enem) O momento histórico das disciplinas é o mo- (FOUCAULT, MICHEL. OS CORPOS DÓCEIS. IN: FOUCAULT,
mento em que nasce uma arte do corpo humano, que MICHEL. VIGIAR E PUNIR. PETRÓPOLIS: VOZES, 1999, P. 162.)
visa não unicamente o aumento das suas habilidades,
nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação Levando em conta essa passagem e a obra em que está
de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto inserida, é correto afirmar que, para Michel Foucault,

92
instituições como escolas, quartéis, hospitais e prisões 7. (INTERBITS) Escola pública do DF começa a testar
são exemplos de espaços em que, a partir do século chip para monitorar alunos por meio de um chip fixado
XVIII, os indivíduos: no uniforme, uma turma de 42 estudantes do primeiro
ano do ensino médio tem suas entradas e saídas moni-
a) são educados de modo a se tornarem autônomos.
toradas no CEM (Centro de Ensino Médio) 414 de Sa-
b) aprendem a conviver uns com os outros. mambaia, cidade-satélite do Distrito Federal. O projeto,
c) encontram as condições de segurança e bem-estar. que começou a funcionar no dia 22 de outubro, manda
d) se tornam mais vigorosos e valentes. mensagem por celular aos pais ou responsáveis pelos
e) se fazem objeto do poder disciplinar. alunos, informando o horário de entrada e saída da es-
cola. Segundo a diretora do CEM, a medida foi tomada
6. (UFPR 2019) Em um texto chamado “Resposta à para aumentar a permanência dos alunos nas salas de
questão: o que é esclarecimento?”, Kant afirma que o aula. “Os professores dos últimos horários reclamam
“esclarecimento é a saída do homem da menoridade”. que muitos alunos costumam sair antes do término das
Afirma também que a “menoridade é a incapacidade de aulas. Por mais que a escola tente manter o controle,
servir-se do próprio entendimento sem direção alheia” eles dão um jeito de sair da escola”.
e que “o homem é o culpado por esta incapacidade,
FOLHA ON-LINE. 30 OUT. 2012. ADAPTADO. DISPONÍVEL EM: <HTTP://
quando sua causa resulta na falta, não do entendimen- FOLHA.COM/NO1177555&GT;. ACESSO EM 30 OUT. 2012.
to, mas de resolução e coragem para fazer uso dele sem
a direção de outra pessoa”. O texto apresenta uma forma de controle de estudantes
dentro da instituição escolar. Esse tipo de instrumento
(KANT, RESPOSTA À QUESTÃO: O QUE É ESCLARECIMENTO? IN: MARÇAL,
J.; CABARRÃO, M.; FANTIN, M. E. (ORG.). ANTOLOGIA DE está vinculado a qual lógica apresentada pelo filósofo
TEXTOS FILOSÓFICOS. CURITIBA: SEED-PR, 2009, P. 407.) Michel Foucault?
a) Emancipação, que tem como fundamento tornar os
Por sua vez, Foucault afirma: “Houve, durante a época
estudantes sujeitos autônomos.
clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo
b) Panoptismo, que tem intenção de controlar, mas tam-
do poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa gran-
bém de tornar mais produtivos os corpos observados.
de atenção dedicada então ao corpo – ao corpo que se
manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, c) Regime de verdade, que faz com que a Escola este-
se torna hábil ou cujas forças se multiplicam [...]”, refe- ja comprometida com a emancipação humana.
rindo-se a um corpo (homem) que se torna ao mesmo d) Luta de Classes, que torna tensa a relação entre
tempo analisável e manipulável. estudantes e professores.
e) Violência simbólica, que agride o sujeito através
(FOUCAULT, MICHEL. OS CORPOS DÓCEIS. IN: FOUCAULT,
MICHEL. VIGIAR E PUNIR. TRAD. LIGIA M. PONDÉ VASSALO.
da linguagem.
5. ED. PETRÓPOLIS: VOZES, 1987, P. 125.).
8. (Enem 2019) Penso que não há um sujeito sobe-
Com base nos dois textos e no pensamento desses filóso- rano, fundador, uma forma universal de sujeito que
fos, considere as afirmativas abaixo: poderíamos encontrar em todos os lugares. Penso,
pelo contrário, que o sujeito se constitui através das
1. O Esclarecimento seria uma espécie de menoridade
práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma,
intelectual e corresponderia à afirmação da religião
através de práticas de liberação, de liberdade, como
como ponto de partida para o homem tomar suas
na Antiguidade – a partir, obviamente, de um certo
principais decisões.
número de regras, de estilos, que podemos encontrar
2. Enquanto Kant se preocupa em avaliar o quanto os no meio cultural.
indivíduos são responsáveis por se deixarem diri-
gir por outros, Foucault trata de mostrar os modos FOUCAULT, M. DITOS E ESCRITOS V: ÉTICA, SEXUALIDADE,
POLÍTICA. RIO DE JANEIRO: FORENSE UNIVERSITÁRIA, 2004.
como a sociedade torna o homem manipulável.
3. Tanto Kant quanto Foucault se questionam pelo ní- O texto aponta que a subjetivação se efetiva numa di-
vel de autonomia do homem, ambos, porém, a partir mensão
de abordagens diferentes e chegando a conclusões a) legal, pautada em preceitos jurídicos.
diferentes.
b) racional, baseada em pressupostos lógicos.
4. Fica claro no texto de Foucault que a idade clássi- c) contingencial, processada em interações sociais.
ca favorece o autoconhecimento e a autonomia de
d) transcendental, efetivada em princípios religiosos.
pensamento.
e) essencial, fundamentada em parâmetros substan-
Assinale a alternativa correta. cialistas.
a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
9. (Uece 2019) “Generalizando posteriormente a já am-
b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
plíssima classe dos dispositivos foucaultianos, chama-
c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. rei literalmente de dispositivo qualquer coisa que te-
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. nha de algum modo a capacidade de capturar, orientar,
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar

93
os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos
seres viventes.”
AGAMBEN, G. O QUE É UM DISPOSITIVO? OUTRA TRAVESSIA,
FLORIANÓPOLIS, N. 5, P. 9-16, JAN. 2005.

Considerando o excerto acima, analise as seguintes


proposições:
I. As prisões e os manicômios se enquadram nesse con-
ceito na medida em que se voltam para a correção e
normalização de condutas consideradas desviantes.
II. As escolas, as igrejas e as fábricas podem ser pen-
sadas como dispositivos na medida em que se voltam
para os corpos e os comportamentos no sentido do dis-
ciplinamento.
III. Os computadores, os telefones celulares, as câmeras
de segurança se destacam como dispositivos, pois con-
trolam tecnicamente os gestos e as condutas humanas.
É correto o que se afirma em
a) I, II e III.
b) I e II apenas.
c) II e III apenas.
d) I e III apenas.

10. (Enem)

CAULOS. DISPONÍVEL EM: WWW.CAULOS.COM. ACESSO EM 24 SET. 2011.

O cartum faz uma crítica social. A figura destacada está


em oposição às outras e representa a:
a) a opressão das minorias sociais.
b) carência de recursos tecnológicos.
c) falta de liberdade de expressão.
d) defesa da qualificação profissional.
e) reação ao controle do pensamento coletivo.

Gabarito
1. E 2. E 3. E 4. C 5. E
6. C 7. B 8. C 9. A 10. E

94
AULA 14

O PROBLEMA DA multimídia: livro


VIOLÊNCIA
Os filhos do governo - SILVA, Roberto
da. São Paulo: Editora Ática, 1998.
Um menor abandonado, criado em instituições públicas
e que passou pela delinquência, ultrapassa excepcio-
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 nalmente todas as barreiras. Forma-se em pedagogia e
escreve um trabalho em que prova que o modelo estatal
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, de assistência à infância em situação de risco, estabe-
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, lecido pelo regime pós-64 (Febem-Funabem), constitui
23, 24 e 25 fator de reprodução da criminalidade. Partindo de sua
experiência e ampliando a pesquisa para 370 histórias,
Roberto da Silva desenvolve um estudo de altíssimo ní-
vel e de fundamental importância para a compreensão
1. Violência e a crítica das instituições e da sociedade brasileiras.
A Sociologia se debruça sobre como a violência afeta as
relações humanas, tendo a preocupação em analisar os A definição para violência urbana é o fenômeno social de
fenômenos recorrentes na sociedade (não só tratando da comportamento agressivo e transgressor exercido por in-
violência física, mas também da violência simbólica). A divíduos ou coletivamente nos limites do espaço urbano.
Sociologia precisa estudar esses dados que tendem a ser
mascarados ou abordados com excessiva sutileza.
O Brasil ainda é um país onde a violência permeia o seu
cotidiano. Segundo o Índice Global da Paz de 2019, dos
163 países analisados, o Brasil ocupa o 116.º lugar entre
os países mais pacíficos.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
A violência no Brasil explicada por Sérgio Adorno
O sociólogo Sérgio Adorno explica as consequências
da disseminação da violência na sociedade brasileira
e de que maneira ela reforça as desigualdades sociais.

Os fatores para a existência da violência urbana são:


ƒ Instituições frágeis: os órgãos fiscalizadores sociais, re-
CHARGE IDENTIFICANDO AS DIVERSAS FORMAS DE VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE. gidos por regras que sofrem alterações por aqueles que
precisam segui-las, condicionam hábitos de descredibili-
1.1. Violência urbana dade nessas próprias instituições. Conjunto com o rompi-
A constituição da sociedade brasileira, no olhar sociológico, mento facilmente das normas jurídicas, seja por parte do
tem a violência como pano de fundo, demonstrada pelos Estado ou da própria sociedade civil.
“fatos sociais” que são reproduzidos pelas gerações. Se- ƒ Mal funcionamento dos mecanismos de controle ju-
gundo os dados da Embrapa, de 2017, 84,3% da popula- rídico: as falhas no exercício da coerção legal, o que
ção brasileira vivem nas áreas urbanas. impede a realização das normas legais da sociedade.

95
ƒ Invisibilidade social: quando uma parcela da popu- junto, constatou que: o número de homicídios causados
lação se torna invisível socialmente, perdendo a sua por armas de fogo vem crescendo desde 1979; b) esse
número cresce mais que a população. No Distrito Fede-
relevância na constituição social e alimentando uma
ral, em 1980, a taxa de homicídios era de 13,7 por cem
desesperança no indivíduo, que perde a certeza do seu mil habitantes; em 1991, isto é, onze anos após, saltou
potencial de transformação. para 36,3. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte,
o crescimento dos homicídios foi da ordem de 31,21%
ƒ Desigualdade social: a violência não tem sua causa na
no período de 1991-96, segundo dados do Ministério
pobreza, mas na desigualdade social, evidenciando da Saúde. A consequência mais grave desse processo
uma segregação socioespacial maior em regiões com em cadeia é a descrença dos cidadãos nas instituições
maior desigualdade econômica. promotoras de justiça, em especial encarregadas de
distribuir e aplicar sanções para os autores de crime e
ƒ Tradição cultural violenta: a repetição cultural da vio- de violência. Cada vez mais descrentes na intervenção
lência entre os indivíduos, seja pela forma verbal de saneadora do poder público, os cidadãos buscam saídas.
tratamento, seja pelo contato físico. Como consequên- Aqueles que dispõem de recursos apelam, cada vez mais,
cia de uma prática histórica, que trata uma parcela dos para o mercado de segurança privada, um segmento
que vem crescendo há, pelo menos, duas décadas. Em
membros da sociedade com uma violência cotidiana,
contrapartida, a grande maioria da população urbana
naturalizada com o tempo. depende de guardas privados não profissionalizados,
apoia-se perversamente na “proteção” oferecida por
traficantes locais ou procura resolver suas pendências
e conflitos por conta própria. Tanto num como noutro
caso, seus resultados contribuem ainda mais para enfra-
quecer a busca de soluções proporcionada pelas leis e
pelo funcionamento do sistema de justiça criminal.
ADORNO, SÉRGIO.
CRIME E VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA.
JORNAL DE PSICOLOGIA-PSI, N. ABR/JUN, PP. 7-8, 2002.

CHARGE QUE RETRATA A VIOLÊNCIA DO ESTADO PERANTE A POPULAÇÃO.

multimídia: vídeo
multimídia: vídeo FONTE: ADOROCINEMA
Ônibus 174 - Documentário. Brasil, 2002.
FONTE: YOUTUBE
O filme documentário trata do sequestro do ônibus
Tropa de Elite - Brasil,2007.
174, por Sandro Barbosa do Nascimento em 2000, no
O filme policial tem como tema a violência urbana na Rio de Janeiro.
cidade do Rio de Janeiro junto com a ajuda do Ba-
talhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. 1.2. Violência doméstica
Na sociedade brasileira, a violência doméstica ainda é um
Desde meados da década de 1970, vem-se exacer- tema alarmante, estando presente em todas as classes
bando, no Brasil, o sentimento de medo e insegurança.
sociais, mas com uma frequência maior nas classes me-
Não parece infundado esse sentimento. As estatísticas
oficiais de criminalidade indicam, a partir dessa década, nos favorecidas, sendo a maior parcela das vítimas crian-
a aceleração do crescimento de todas as modalidades ças, mulheres e idosos.
delituosas. Crescem mais rápido os crimes que envolvem
Com a formação social imersa num sistema arcaico de pa-
a prática de violência, como os homicídios, os roubos,
os sequestros, os estupros. Esse crescimento veio acom-
triarcado, o homem adulto pratica a maioria dos delitos,
panhado de mudanças substantivas nos padrões de cri- segundo as estatísticas oficiais. O perfil desse agressor é
minalidade individual bem como no perfil das pessoas caracterizado pelo autoritarismo, falta de empatia, irrita-
envolvidas com a delinquência. [...] Recente estudo so- bilidade, grosserias e xingamentos constantes, geralmente
bre as tendências do homicídio, para o país em seu con- acompanhado do uso de drogas lícitas e ilícitas.

96
Com o objetivo de promover a proteção integral da criança
e do adolescente, surge, em 1990, o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA). E, com o objetivo de combater
a violência contra a mulher, foi aprovada a Lei Maria da
Penha, em 2006.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Rap News - Mc Sid. 2017
Essa canção retrata o excesso de notícias sobre atos vio-
lentos cometidos na sociedade brasileira.
multimídia: música
Podemos definir o extermínio como a prática ou o
FONTE: VAGALUME propósito de eliminar fisicamente os indivíduos perten-
RACIONAIS MC’s - Álbum: Sobrevivendo centes a determinado grupo social. Quando o grupo
no Inferno. Casa Nostra, 1999. vítima dessa prática está definido por um critério ét-
nico, usa-se então o termo genocídio. [...] Na realida-
Nesse álbum, o grupo de rap Racionais apresenta o co- de brasileira, o extermínio se apresenta, por exemplo,
tidiano violento da população de baixa renda com as te- como uma prática contra criminosos, pessoas acusadas
máticas sobre o preconceito racial, a questão da violência de cometerem crimes ou, de forma mais ampla, grupos
nas periferias paulistas e a ligação com a religiosidade cujos integrantes são considerados como criminosos
para sobreviver a essa condição social. potenciais. Assim, ao invés de prender os suspeitos e
colocá-los à disposição da justiça criminal, eles são
sumariamente executados. Este padrão encaixa dentro
de uma tradição de controle social através da violência
1.3. Violência psicológica extrema, que encontra suas raízes históricas no trata-
mento dos escravos no período colonial. Os alvos deste
Podendo estar inserida também no âmbito da violência controle social violento são tradicionalmente os inte-
doméstica, inclui-se a violência psicológica, onde se destrói grantes dos grupos sociais mais desfavorecidos, isto
a moral e a autoestima do indivíduo, desencadeada por é, negros e pessoas de baixo status socioeconômico.
ações repetitivas de injúrias e humilhações. Por sua vez, indivíduos das classes médias e altas que
cometem crimes apresentam uma chance muito maior
de serem tratados conforme a lei, isto é, de serem sub-
1.4. Violência sexual metidos ao sistema de justiça criminal.
A violência sexual configura-se mediante abuso, violação CANO, IGNACIO; DUARTE, THAIS.
PRÁTICAS DE EXTERMÍNIO: O PAPEL DAS MILÍCIAS NO RIO
e assédio sexual, de modo que não existe consentimen- DE JANEIRO. IN: VIOLÊNCIA E DILEMAS CIVILIZATÓRIOS.

to do ato de violação, sendo uma agressão focalizada na CAMPINAS: PONTES EDITORES, 2011, PP.59-60
sexualidade da pessoa. Segundo as estatísticas, a maioria
das vítimas desse tipo de violência são mulheres e crian-
ças, onde o agressor geralmente é conhecido pela vítima.
Apesar de esse crime estar previsto na lei, infelizmente as
situações de violência sexual continuam a aumentar nas
últimas estatísticas na sociedade brasileira.

CAMPANHA DA PREFEITURA DE SÃO LEOPOLDO-RS DENUNCIA


A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM 2018.

97
DIAGRAMA DE IDEIAS

FORMAS DE
VIOLÊNCIA

URBANA PSICOLÓGICA

FRAGILIDADE DAS HUMILHAÇÕES


INSTITUIÇÕES

SEXUAL
DOMÉSTICA

ABUSOS
DOMINAÇÃO
PATRIARCAL

98
3. (UEL) O desenvolvimento da civilização e de seus mo-
Aplicando para dos de produção fez aumentar o poder bélico entre os
homens, generalizando no planeta a atitude de perma-
Aprender (A.P.A.) nente violência. No mundo contemporâneo, a formação
1. (Unesp 2018) “O homem que agride mulher é aquele dos Estados nacionais fez dos exércitos instituições de
que levanta todo dia e sai para trabalhar. Frequenta gru- defesa de fronteiras e fator estratégico de permanente
pos sociais corriqueiros, como reuniões de pais em esco- disputa entre nações. Nos armamentos militares se con-
las. Ele se veste e age de forma socialmente aceita. Só centra o grande potencial de destruição da humanidade.
que, ao chegar em casa, comporta-se de forma violenta Cada Estado, em nome da autodefesa e dos interesses
para manter a qualquer custo o posto de autoridade má- do cidadão comum, desenvolve mecanismos de contro-
xima”, declara a magistrada Teresa Cristina dos Santos. le cada vez mais potentes e ostensivos. O uso da força
A juíza afirma que a violência contra a mulher é a única pelo Estado transforma-se em recurso cotidianamente
forma democrática de violência. Vítimas e agressores são utilizado no combate à violência e à criminalidade.
encontrados em todos os segmentos da sociedade. Se-
COSTA, C. SOCIOLOGIA: INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA SOCIEDADE.
gundo pesquisadores da Universidade Federal de Santa SÃO PAULO: MODERNA, 1997. P. 283-285. (ADAPTADO)
Catarina, a despeito de a maioria ter entre 25 e 30 anos
e baixa escolaridade, há agressores de todas as idades, Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a
condição financeira, nível de instrução e situação profis- concepção sociológica weberiana sobre o uso da força
sional. De acordo com a juíza Teresa Cristina, o enfren- pelo Estado contemporâneo:
tamento da violência contra a mulher passa justamente
a) A força militar contemporânea, por seu poder de
por essa desmistificação de quem é o agressor. “Ao con-
persuasão e atributos personalísticos, é um agente
trário dos crimes comuns, a violência contra a mulher é
exemplar do tipo de dominação carismática.
uma questão cultural”.
b) Na sociedade contemporânea, o poder comparti-
(ADRIANA NOGUEIRA. “VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER VEM DO HOMEM COMUM E lhado entre cidadãos e Estado, para o uso da força,
PODE ATINGIR QUALQUER UMA”. WWW.UOL.COM.BR, 26.09.2017. ADAPTADO.) define a dominação legítima do tipo racional-legal.
c) O Estado contemporâneo caracteriza-se pela frag-
A partir do texto, a violência contra a mulher na socie-
mentação do poder de força, conforme o tipo ideal de
dade brasileira
dominação carismática, a exemplo do patriarca.
a) tem como causa principal a má distribuição de ren- d) O Estado contemporâneo define-se pelo direito de
da que afeta as classes populares. monopólio do uso da força, baseado na dominação
b) é um fenômeno associado ao autoritarismo de re- legítima do tipo racional-legal.
gimes políticos de exceção. e) O tipo ideal de dominação tradicional é exercido
c) é consequência direta de comportamentos impulsi- com base na legitimidade e na legalidade do poder de
vos de natureza patológica. uso democrático da força pelo Estado contemporâneo.
d) é um problema decisivamente associado ao signifi-
cado cultural da masculinidade. 4. (USF 2018) “Estamos alarmados pela proliferação e
e) tem origem inata, não sendo condicionada por fa- a saliência que ganharam os grupos que promovem o
tores culturais ou sociais. racismo e ódio. Atos e discursos desse tipo devem ser
condenados sem panos quentes, e os crimes de ódio,
2. (Unicamp) investigados e seus autores, punidos [...].”
Sinto no meu corpo DISPONÍVEL EM:<HTTP://AGENCIABRASIL.EBC.COM.BR/INTERNACIONAL/
A dor que angustia NOTICIA/2017-08/ESPECIALISTAS-DA-ONU-ADVERTEM-QUE-RACISMO-AUMENTA-
A lei ao meu redor NOS-ESTADOS-UNIDOS>. ACESSO EM: 20/09/2017 (ADAPTADO).
A lei que eu não queria
Estado violência O trecho anterior aparece como destaque quando es-
Estado hipocrisia pecialistas da ONU tratam do aumento do racismo e da
A lei que não é minha xenofobia nos Estados Unidos. Com base no assunto tra-
A lei que eu não queria tado, é coerente a ação do Poder Público no sentido de
“ESTADO VIOLÊNCIA”, CHARLES GAVIN, EM TITÃS, a) adotar medidas efetivas para conter a violência e
CABEÇA DINOSSAURO, WEA, 1989. aprimorar as leis trabalhistas, de modo que as mani-
festações sejam extintas.
A letra dessa música, gravada pelos Titãs: b) adotar medidas para conter, de forma urgente e
a) Critica a noção de Estado e sua ausência de con- eficiente, as manifestações que provocam a violência
trole, aspectos comuns ao liberalismo e ao marxismo. racial e comprometem a coesão social.
b) Constata que o corpo físico e o corpo político se c) impor leis que promovam a punição e o retorno dos
relacionam em sociedades de controle. alicerces da solidariedade das sociedades antigas.
c) Critica o autoritarismo policial e o modelo de regu- d) estabelecer um sistema autoritário de governo
lação proposto pelo anarquismo. como forma de controlar as insurgências sociais.
d) Constata que o Estado autoritário, mesmo com e) estabelecer maior vínculo entre os partidos para ten-
boas leis, é sabotado pela figura do policial. tar minimizar o aumento do racismo e da xenofobia.

99
5. (Enem) A oposição entre campo e cidade esteve entre as te-
Olá! Negro máticas Tradicionais da literatura brasileira. Nos frag-
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos mentos dos dois autores contemporâneos, esse embate
e a quarta e a quinta gerações de teu san- incorpora um elemento novo: a questão da violência e
gue sofredor tentarão apagar a tua cor! do desemprego. As narrativas apresentam confluências,
E as gerações dessas gerações quando apa- pois nelas o(a):
garem a tua tatuagem execranda, a) criminalidade é algo inerente ao ser humano, que
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro! sucumbe a suas manifestações.
Pai-João, Mãe-negra, Fulo, Zumbi,
b) meio urbano, especialmente o das grandes cidades,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
estimula uma vida mais violenta.
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de USA c) falta de oportunidades na cidade dialoga com a
para os canaviais do Brasil, pobreza do campo rumo à criminalidade.
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga d) êxodo rural e a falta de escolaridade são causas da
de todos os senhores do mundo; violência nas grandes cidades.
eu melhor compreendo agora os teus blues e) complacência das leis e a inércia das personagens
nesta hora triste da raça branca, negro! são estímulos à prática criminosa.
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro! 7. (PUC-PR)
LIMA, J. OBRAS COMPLETAS. RIO DE JANEIRO: AGUILAR, 1958 (FRAGMENTO). Reflexões sobre gênero e direitos humanos a partir do
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz,
na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por: Resumo: O presente trabalho, considerando a intersec-
ção entre gênero e direitos humanos, pretende abordar
a) modernização dos modos de produção e conse-
quente enriquecimento dos brancos. a linha de atuação voltada para o enfrentamento de
todas as formas de violência contra as mulheres, exis-
b) preservação da memória ancestral e resistência ne-
tente junto ao Plano Nacional de Políticas Para as Mu-
gra a apatia cultural dos brancos.
lheres (BRASIL, 2006a, 2008a, 2013). Para tanto, oferece
c) superação dos costumes antigos por meio da incor- uma análise sobre cada versão do referido documento,
poração de valores dos colonizados. avaliando a relação entre o Estado e as demandas de
d) nivelamento social de descendentes de escravos e garantia de direitos humanos das mulheres. Pode-se di-
de senhores pela condição de pobreza. zer que as políticas públicas na perspectiva dos direitos
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacu- humanos estão em um campo que ainda está em cons-
nas de hereditariedade. trução (VÁZQUEZ; DELAPLACE, 2004). As políticas pú-
blicas se somam às políticas elaboradas pela Lei Maria
6. (Enem)
da Penha (BRASIL, 2006b) e são estruturadas de acordo
TEXTO I com diferentes normas e instrumentos nacionais e in-
ternacionais de direitos humanos, visando à resolução
João Guedes, um dos assíduos frequentadores do bo- da problemática da violência contra mulher. Contudo,
liche do capitão, mudara-se da campanha havia três esse fenômeno segue como uma incógnita, presente
anos. Três anos de pobreza na cidade bastaram para o não somente no Brasil, como em vários países dotados
degradar. Ao morrer, não tinha um vintém nos bolsos e de diferentes sistemas econômicos e políticos.
fazia dois meses que saíra da cadeia, onde estivera pre-
so por roubo de ovelha. A história de sua desgraça se PALAVRAS-CHAVE: GÊNERO. DIREITOS HUMANOS. POLÍTICAS PÚBLICAS.
confunde com a da maioria dos que povoam a aldeia de GREGORI, JUCIANE DE. REVISTA INTERDISCIPLINAR DE DIREITOS HUMANOS.
Boa Ventura, uma cidadezinha distante, triste e preco- UNESP - BAURU, V. 4, N. 2, P. 111-126, JUL./DEZ., 2016 (7). DISPONÍVEL
EM: HTTP://WWW2.FAAC.UNESP.BR/RIDH/INDEX.PHP/RIDH/ISSUE/VIEW/13.
cemente envelhecida, situada nos confins da fronteira
do Brasil com o Uruguai. Indique a alternativa que contém uma afirmação verda-
MARTINS, C. PORTEIRA FECHADA. PORTO ALEGRE: deira a respeito do conteúdo do texto:
MOVIMENTO, 2001 (FRAGMENTO). a) Gregori apresenta a conclusão de um estudo reali-
TEXTO II zado por ela a respeito das políticas públicas interna-
cionais relacionadas à violência contra a mulher.
Comecei a procurar emprego, já topando o que desse b) O título do texto em questão, além de indicar o ob-
e viesse, menos complicação com os homens, mas não jeto de análise do estudo realizado, fornece um indica-
tava fácil. Fui na feira, fui nos bancos de sangue, fui nes- tivo sobre a conclusão a que a pesquisadora chegou.
ses lugares que sempre dão para descolar algum, fui de c) Nesse estudo, a pesquisadora avaliou a trajetória do
porta em porta me oferecendo de faxineiro, mas tava Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, documen-
todo mundo escabreado pedindo referências, e referên- to elaborado por um órgão público da esfera federal.
cias eu só tinha do diretor do presídio. d) Nesse estudo, Gregori comparou uma das versões
FONSECA, R. FELIZ ANO NOVO. SÃO PAULO: do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres com
CIA. DAS LETRAS, 1989 (FRAGMENTO). a Lei Maria da Penha.

100
e) O estudo realizado por Gregori revelou que nos O texto acima discute a configuração das classes sociais
países cujos sistemas econômicos e políticos são di- no Brasil, tomando como referência as questões da ci-
ferentes da realidade brasileira, as políticas públicas dadania e da violência. Com base no texto e nos conhe-
para defesa da mulher são mais eficazes. cimentos sobre o tema, é correto afirmar que, no final
do século XIX, no Brasil:
8. (Enem) Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No
princípio. As mulheres, principalmente as mortas do ál- a) a ação dos poderes públicos no trato da questão
bum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos social estava centrada na supressão dos desníveis
ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa entre as classes sociais, condição básica para a emer-
família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na gência do Brasil industrializado.
nossa família, frisava, lançando em redor olhares com- b) a herança colonial da estrutura social brasileira
placentes, lamentando os que não faziam parte do nos- conduzia o poder estatal a reconhecer como legítimas
so clã. [...] Quando Margarida resolveu contar os podres as lutas das classes populares no questionamento da
todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei estrutura política oligárquica vigente.
furiosa [...] É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvi- c) o combate às “classes perigosas” obrigava os pode-
dos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se res públicos à implementação de políticas de geração e
casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, distribuição de renda, reduzindo, assim, a influência do
não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquís- Partido Comunista Brasileiro junto aos pobres.
sima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque d) o desemprego e a criminalidade referidos às classes
sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, populares eram vistos pelos poderes públicos, menos
ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o como questão social e mais como questão de polícia,
convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem dentro de uma concepção restritiva de cidadania.
mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margari- e) a repressão policial restringia-se aos desemprega-
da fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violên- dos e subempregados, pois os trabalhadores assala-
cia: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. riados eram protegidos por uma legislação trabalhista
Como ousava desmoralizar meus heróis? que garantia, por exemplo, aposentadoria e descanso
TELLES, L. F. A ESTRUTURA DA BOLHA DE SABÃO.
remunerado.
RIO DE JANEIRO: ROCCO, 1999.
10. (Enem)
Representante da ficção contemporânea, a prosa de
Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos
sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar des-
cortina um(a):
a) convivência frágil ligando pessoas financeiramente
dependentes.
b) tensa hierarquia familiar equilibrada graças à pre-
sença da matriarca.
c) pacto de atitudes e valores mantidos à custa de
ocultações e hipocrisias.
d) tradicional conflito de gerações protagonizado
pela narradora e seus tios.
e) velada discriminação racial refletida na procura de
casamentos com europeus.
Essa propaganda foi criada para uma campanha de
9. (UEL 2005) “A legislação penal do fim do século XIX de- conscientização sobre a violência contra a mulher. As
terminava: a ociosidade era considerada ‘crime’ e, como palavras que compõem a imagem indicam que a:
tal, punida. Reconhecida e legitimada abertamente, a a) violência contra a mulher está aumentando.
prática da repressão aos desempregados e subemprega- b) agressão à mulher acontece de forma física e verbal.
dos – os pobres – ficava clara no discurso dos responsá-
c) violência contra a mulher é praticada por homens.
veis pela segurança pública e pela ordem nas cidades. O
controle social dessas camadas deveria ser realizado de d) agressão à mulher é um fenômeno mundial.
forma rígida. Sidney Chalhoub afirma que os legislado- e) violência contra a mulher ocorre no ambiente do-
res brasileiros utilizam o termo ‘classes perigosas’ como méstico.
sinônimo de ‘classes pobres’, e isso significa dizer que o
11. (Unesp) TEXTO 1
fato de ser pobre o torna automaticamente perigoso à
sociedade [...]. A existência do crime, da vagabundagem “A amígdala cerebral e o córtex pré-frontal são regiões
e da ociosidade justificava o discurso de exclusão e per- do cérebro reguladoras de emoções como culpa, remor-
seguição policial às camadas pobres e despossuídas”. so e medo de punição. Duas pesquisadoras americanas
PEDROSO, REGINA CÉLIA. VIOLÊNCIA E CIDADANIA NO BRASIL: estão revolucionando a comunidade científica ao afir-
500 ANOS DE EXCLUSÃO. SÃO PAULO: ÁTICA, 2002. P. 24 marem que, estudando essas duas importantes áreas, é

101
possível identificar em crianças de 3 anos se elas apre-
sentam riscos de se tornarem criminosas quando adul-
tas. Segundo os cientistas Adrian Raine, da Universidade
da Pensilvânia, e Nathalie Fontaine, da Universidade de
Indiana, o cérebro de psicopatas exibe amígdalas 20%
menores do que as do cérebro de um não criminoso”.
ISTOÉ, 16.03.2011 (ADAPTADO)

TEXTO II

“Criminalidade é efeito, é forma perversa de protesto,


gerada por uma patologia social que a antecede e que
é, também ela, perversa. Sem os filtros despoluidores
da justiça social e da decência política, toda e qualquer
medida contra o crime, por mais violenta e repressiva
que seja, constituirá mero recurso paliativo. É claro que
a criminalidade, enquanto sintoma, tem de ser adequa-
damente combatida por medidas policiais enérgicas.
Mas que não se fique nisso, já que o puro e simples
combate ao efeito não remove – nem resolve – a causa
que o produz. Ao contrário: a luta isolada contra o efei-
to pode tornar-se danosa e perversa, uma vez que, des-
truindo sua função alertadora e denunciadora, provoca
uma cegueira perigosa, que aprofunda a raiz do mal”.
HÉLIO PELEGRINO. TEXTO PUBLICADO EM 1986 (ADAPTADO)

Explique uma diferença de abordagem entre os dois


textos sobre os fatores determinantes da violência,
bem como uma diferença no que se refere à concepção
de meios para evitá-la.

Gabarito
1. D 2. B 3. D 4. B 5. B
6. C 7. C 8. C 9. D 10. B
11. Quanto às soluções, os pontos de vista apresentados
nos dois textos são claramente conflitantes. Enquanto os
pesquisadores do texto I procuram explicar o fenômeno
da violência por elementos neurológicos, constituintes da
própria natureza do criminoso, o texto II, por sua vez, trata
a violência como um efeito colateral dos problemas sociais
enfrentados em nosso tempo, vendo-a, por tanto, como
um elemento cultural e não natural. Aí, aliás, encontra-se
precisamente o cerne, o ponto central para a resposta da-
quilo que é solicitado na questão.

102
Simone de Beauvoir, na obra O segundo sexo (1949), faz uma
AULA 15 profunda análise sobre o papel designado à mulher dentro
da sociedade e sobre a construção do que é ser mulher, es-
tabelecendo uma importante distinção entre os conceitos de
gênero e sexo que a leva a sua clássica conclusão: “Ninguém
nasce mulher: torna-se mulher”. Beauvoir acrescenta: “Ne-
nhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma
A QUESTÃO DE GÊNERO que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o con-
junto da civilização que elabora esse produto intermediário
entre o macho e o castrado, que qualificam de feminino”.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25 multimídia: livro

Mulheres do Brasil: a história não contada -


Paulo Rezzutti. São Paulo: Leya, 2018.
1. Introdução Partindo da constatação de que existe um padrão recor-
A sociedade vem modificando a sua abordagem em relação rente que apaga, deturpa ou diminui a participação das
à questão de gênero. A relação entre os indivíduos no agru- mulheres nos grandes episódios que marcaram a traje-
pamento social é desenvolvida e naturalizada mediante as tória do país, o pesquisador Paulo Rezzutti se propôs a
ações coletivas. narrar a história não contada das mulheres do brasil. Des-
de o descobrimento, passando pela escravidão, capitanias
hereditárias, guerras, revoltas e batalhas, até a atuação
nos campos das artes e política, ele resgata narrativas in-
críveis e figuras extraordinárias sobre as quais sabíamos
pouco ou sequer tínhamos ouvido falar, mas que tiveram
relevância nos mais variados períodos históricos.

Assim, a questão do gênero está fundada nos fatores so-


No pensamento sociológico, é amplamente aceita a distin- ciais que legitimam determinadas visões de mundo, que são
ção entre sexo e gênero. Sexo concerne ao conjunto de ca- responsáveis por criar comportamentos e hábitos das mu-
racterísticas fisiológicas e anatômicas que definem o corpo lheres e homens na sociedade, desenvolvendo condutas de
masculino e o corpo feminino, situando-se no âmbito na gêneros, determinando um padrão específico e classificando
biologia. Já o gênero refere-se às diferenças sociais, cul- a subjetividade da pessoa. Essas condutas sofrem modifica-
turais e psicológicas entre homens e mulheres, sendo so- ções ao longo do tempo.
cialmente produzidas, situando-se no âmbito sociocultural.
Portanto, o gênero corresponde ao conjunto de caracte-
rísticas sociais, culturais, políticas, psicológicas, jurídicas e
econômicas que a sociedade atribui ao que considera mas-
culino ou feminino.
Assim, o sujeito não nasce pronto ou determinado, esse
condicionamento social naturaliza as nossas relações, por
meio da educação formal ou informal, dos valores de juízo,
construindo o que é ser homem ou o que é ser mulher na
sociedade, como as relações entre ambos devem ser, quais
são os seus papéis no meio social.

103
com as mulheres ganhando salários inferiores aos homens.
Apesar do surgimento de leis, no início do século XXI, que
proíbem essa prática nas empresas, essa condição de desi-
gualdade de gênero continua presente na sociedade atual.
O papel da sociologia na questão do gênero é observar
como as sociedades se modificam; mas essa ciência não
multimídia: livro pode ser omissa em relação ao desrespeito ao ser humano.
Considerando que, independentemente dos gêneros, todos
os integrantes da sociedade precisam ser reconhecidos e res-
Do jeito que a gente é - Marcia Leite. peitados pelas regras jurídicas dessa sociedade.
São Paulo: Editora Ática, 2009.
Beá é uma menina de 14 anos que detesta sua aparên-
cia: é muito alta e magra. Além disso, vive em crise com 1. Margaret Mead (1901-1978)
sua mãe, que quer fazer dela uma perua. Chico é um ga- A antropóloga cultural estadunidense Margaret Mead de-
roto de 17 anos apaixonado por cinema. O melhor ami- dicou seus estudos a essa temática do gênero. Em seu li-
go reagiu mal quando ele lhe contou que é gay. Apesar vro Sexo e temperamento em três sociedades primitivas, de
de caminhos tão distintos, as vidas de Beá e Chico vão 1935, Mead discute os papéis sexuais de homens e mulhe-
se cruzar quando a mãe dela e o pai dele resolvem se res naquelas sociedades. Em sua pesquisa, foram analisa-
casar. Agora os dois têm a mesma dúvida: será que vai das as três sociedades primitivas da Nova Guiné, que eram:
ser tão ruim quanto parece? Tchambuli, Mundugumor e Arapesh.

Durante o período neolítico, as definições de masculino e fe-


minino começaram a surgir. Nas sociedades agrícolas, ocor-
reu uma divisão sexual voltada para a divisão do trabalho,
colocando a mulher na posição de cuidar, pela capacidade
reprodutora da mulher, enquanto o homem desenvolvia tra-
balhos mais relacionados à força física, consolidando uma
sociedade patriarcal, ou seja, fundada na figura masculina.

Em suas pesquisas, concluiu que o ideal Arapesh é o ho-


mem dócil e suscetível, enquanto para Mundugumor o ho-
mem e a mulher são mais violentos e agressivos, e para os
multimídia: vídeo Tchambuli, o papel da mulher é o de controladora, enquan-
FONTE: YOUTUBE to o homem é totalmente dependente. Diante disso, a an-
tropóloga constatou que os papéis sexuais são construídos
MILK - A voz da igualdade - Estados Unidos, 2009.
de acordo com as expectativas e as suas relações entre si.
O premiado filme norte-americano relata a história
verdadeira de Harvey Milk, um político e ativista gay
que foi o primeiro homossexual declarado a ser eleito
para um cargo público na Califórnia, como membro da
Câmara de Supervisores de São Francisco. Milk iniciou
seu ativismo opondo-se à violência policial contra a
comunidade gay. O filme pode servir como um dispa-
rador para debater a questão da luta pelos direitos
humanos e civis da comunidade LGBTTIQ.
multimídia: livro

Sexo e Temperamento em três sociedades primitivas


Na Revolução Industrial, a dinâmica social se transforma; po-
- MEAD, Margaret. Espanha: Paidos, 2006.
rém, a desigualdade entre homens e mulheres só aumenta,

104
O pensamento de Mead teve um papel crucial na progres-
siva liberação sexual que ocorreria no Ocidente nas déca-
das finais do século XX.

1.1. A identidade de gênero


multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Tomboy - França, 2012 (82 min).
Em uma cidade do interior da França, Laure, 10 anos,
muda com sua família, durante as férias de verão, para
um novo bairro. Laure passa os dias brincando com
multimídia: música sua irmã mais nova, ao lado do pai e da mãe, grávi-
FONTE: YOUTUBE da de um irmãozinho. Aos poucos, vai se enturmando
Masculino e Feminino - Pepeu Gomes. com as outras crianças do condomínio, dedicadas a
Álbum: Masculino e Feminino. CBS,1983. uma rotina de brincadeiras e descobertas. Tudo perfei-
to se não fosse por um detalhe: Laure não se identifica
O gênero masculino contém, então, vários dados do
como menina, mas como menino e se apresenta aos
feminino, assim como o gênero feminino adere a ele-
novos colegas como Michael. Os pais, ainda que bas-
mentos do masculino. Dessa forma, é possível que um
tante afetuosos, não conseguem lidar com a comple-
corpo denominado feminino possa sinalizar gestos
xidade da situação.
apresentados como masculino em uma determinada
cultura. Tais identidades de gênero se manifestam
também em corpos de homens femininos e de mu- Podemos nos identificar conforme os diversos gêneros: fe-
lheres masculinas. minino, masculino, bigênero, não binário, pangênero, gen-
derfluid, transgênero, etc.
A identidade de gênero é a maneira como alguém se sen- Os que se propõem a codificar os sentidos das palavras
lutam por uma causa perdida, porque as palavras, como
te e se apresenta para si e para as demais pessoas. Esse
as ideias e as coisas que elas significam, têm uma histó-
reconhecimento está presente nas nossas ações, no nosso ria. Nem os professores da Oxford nem a academia Fran-
modo de falar e de vestir. cesa foram inteiramente capazes de controlar a maré, de
captar e fixar os sentidos livres do jogo da invenção e da
imaginação humana. Mary Wortley Montagu acrescen-
tava a ironia à sua denúncia do “belo sexo” (“meu único
consolo em pertencer a este gênero é ter certeza de que
nunca vou me casar com uma delas”) fazendo uso, deli-
beradamente errado, da referência gramatical. Ao longo
dos séculos, as pessoas utilizaram de forma figurada os
termos gramaticais para evocar traços de caráter ou tra-
ços sexuais. Por exemplo, a utilização proposta pelo Di-
multimídia: vídeo cionário da Língua Francesa de 1876, era: “Não se sabe
FONTE: YOUTUBE qual é o seu gênero, se é macho ou fêmea, fala-se de um
homem muito retraído, cujos sentimentos são desconhe-
XXY - Argentina, 2006 (86 min).
cidos”. E Gladstone fazia esta distinção em 1878: “Ate-
Essa produção argentina conta a história de Alex, uma na não tinha nada do sexo, a não ser gênero, nada de
adolescente intersex de 15 anos, cujos pais decidem mulher a não ser forma”. Mais recentemente – recen-
se isolar em uma pequena cidade, logo após seu nas- temente demais para que possa encontrar seu caminho
cimento. Com traços fenotípicos predominantemente nos dicionários ou na enciclopédia das ciências sociais
– as feministas começaram a utilizar a palavra “gênero”
femininos, Alex possui, entretanto, genitais masculinos.
mais seriamente, no sentido mais literal, como uma ma-
Seus conflitos de identidade permanecem sob controle neira de referir-se à organização social da relação entre
até entrar na adolescência e interessar-se por um rapaz. os sexos. A relação com a gramática é ao mesmo tempo
Alex inicia, então, um processo de busca por sua identi- explícita e cheia de possibilidades inexploradas. Explíci-
dade e descobertas relacionadas a sua sexualidade. ta, porque o uso gramatical implica em regras formais
que decorrem da designação de masculino ou feminino;

105
cheia de possibilidades inexploradas, porque em vários sublinhava também o aspecto relacional das definições
idiomas indoeuropeus existe uma terceira categoria – normativas das feminilidades. As que estavam mais pre-
o sexo 3 indefinido ou neutro. Na gramática, gênero é ocupadas com o fato de que a produção dos estudos
compreendido como um meio de classificar fenômenos, femininos centrava-se sobre as mulheres de forma mui-
um sistema de distinções socialmente acordado mais do to estreita e isolada, utilizaram o termo “gênero” para
que uma descrição objetiva de traços inerentes. Além introduzir uma noção relacional no nosso vocabulário
disso, as classificações sugerem uma relação entre ca- analítico. Segundo esta opinião, as mulheres e os ho-
tegorias que permite distinções ou agrupamentos sepa- mens eram definidos em termos recíprocos e nenhuma
rados. No seu uso mais recente, o “gênero” parece ter compreensão de qualquer um poderia existir através de
aparecido primeiro entre as feministas americanas que estudo inteiramente separado.
queriam insistir no caráter fundamentalmente social das
distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma SCOTT, JOAN.
rejeição ao determinismo biológico implícito no uso de GÊNERO: UMA CATEGORIA ÚTIL PARA ANÁLISE
termos como “sexo” ou “diferença sexual”. O gênero HISTÓRICA. ARTIGO PUBLICADO EM 1986.

DIAGRAMA DE IDEIAS

A QUESTÃO ESSA IDENTIDADE


DE GÊNERO NÃO SE LIMITA À
FORMA BIOLÓGICA

A SOCIEDADE
VEM SOFRENDO MAS É CONSTITUÍDA
MODIFICAÇÕES SOCIALMENTE

O INDIVÍDUO QUER
SER RESPEITADO
EM GRUPO

SEM PERDER A
SUA IDENTIDADE

106
2. (Enem) A participação da mulher no processo de deci-
Aplicando para são política ainda é extremamente limitada em pratica-
mente todos os países, independentemente do regime
Aprender (A.P.A.) econômico e social e da estrutura institucional vigente
em cada um deles. É fato público e notório, além de
1. (UEM) Leia abaixo o trecho da seguinte canção:
empiricamente comprovado, que as mulheres estão em
AMORES DA MINHA VIDA geral sub representadas nos órgãos do poder, pois a pro-
(interp. Maiara e Maraisa) porção não corresponde jamais ao peso relativo dessa
Mãe, eu te prometo, vou criar juízo parte da população.
Já passou da hora, ai que trem difícil
TABAK, F. MULHERES PÚBLICAS: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E
Final de semana é quase todo dia
PODER. RIO DE JANEIRO: LETRA CAPITAL, 2002.
Eu saio à noite e durmo de dia
Mãe, meu Ibope tá valorizado No âmbito do Poder Legislativo brasileiro, a tentativa de
Deve ser por isso que eu não tenho namorado reverter esse quadro de sub-representação tem envolvi-
(...) do a implementação, pelo Estado, de:
Ah eu vou ser orgulho da minha mãe a) leis de combate à violência doméstica.
Vou subtrair uns dez da minha vida b) cotas de gênero nas candidaturas partidárias.
Mas enquanto esse dia não chega c) programas de mobilização política nas escolas.
Eu quero é que multiplica
d) propagandas de incentivo ao voto consciente.
DISPONÍVEL EM: <MAIARA-MARAISA.LYRICS.COM.BR/LETRAS/2611470>. e) apoio financeiro às lideranças femininas.
A cultura pop atual é um dos produtos da Indústria Cultu- 3. (Enem PPL) No Brasil, assim como em vários outros
ral. Ela é normalmente entendida como entretenimento países, os modernos movimento LGBT representam um
ou alienação. Ela pode, todavia, revelar tendências de desafio às formas de condenação e perseguição social
pensamento e de comportamento presentes em uma contra desejos e comportamentos sexuais anticonven-
determinada sociedade em um dado momento históri- cionais associados à vergonha, imoralidade, pecado, de-
co. O universo da música sertaneja no Brasil sempre foi generação, doença. Falar do movimento LGBT implica,
muito marcado pela narrativa masculina. Nesse univer- portanto, chamar a atenção para a sexualidade como
so, cantoras como Maiara e Maraisa, de alguma forma, fonte de estigmas, intolerância, opressão.
contestam essa situação, oferecendo um ponto de vista IN: BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L.M. CIDADANIA, UM PROJETO EM
feminino. A respeito da cultura pop e das questões de CONSTRUÇÃO. SÃO PAULO: CLARO ENIGMA, 2012 (ADAPTADO).
gênero, assinale o que for correto:
O movimento social abordado justifica-se pela defesa do
01) A letra da música “Amores da minha vida” indi- direito de:
ca a inserção de novos pontos de vista narrativos no
universo sertanejo, os quais incluem, por exemplo, a a) organização sindical.
perspectiva feminina. b) participação partidária.
02) A desigualdade de gênero é evidenciada nas dis- c) manifestação religiosa.
paridades em relação à posição que as mulheres ocu- d) formação profissional.
pam na vida pública, nas relações sociais e nos con- e) afirmação identitária.
textos familiares. A letra de “Amores da minha vida”
4. (UEM-PAS) “O gênero é uma dimensão central da vida
trata do tema da liberdade da sexualidade feminina, pessoal, das relações sociais e da cultura. É uma arena
confrontando determinadas expectativas familiares. em que enfrentamos questões práticas difíceis no que diz
04) A produção musical das cantoras Maiara e Marai- respeito à justiça, à identidade e até à sobrevivência.”
sa foge ao esquema oferecido pela Indústria Cultural,
por não se constituir em uma produção comercial e CONNELL, R. GÊNERO: UMA PERSPECTIVA GLOBAL.
SÃO PAULO: VERSOS, 2015, P. 25.
por não seguir uma forma de distribuição que passa
pelos suportes industriais e pela lógica do espetáculo. Considerando o trecho citado e os estudos sociológicos
08) Nas sociedades contemporâneas, existe uma sepa- contemporâneos sobre as relações de gênero, assinale
ração bem demarcada entre as manifestações culturais o que for correto:
tradicionais, como a música caipira e a sertaneja, e as 01) A noção de gênero na sociologia contemporânea
produções modernas e contemporâneas, como a mú- refere-se às diferentes formas pelas quais as relações
sica eletrônica. sociais são organizadas a partir de determinadas ex-
16) O conceito de gênero na Sociologia destaca que pectativas culturalmente construídas sobre o compor-
a classificação do que é feminino ou masculino é, so- tamento das pessoas.
bretudo, uma construção social. Nesse sentido, a le- 02) A violência sexual, as diferenças salariais e o ma-
tra de “Amores da minha vida” evidencia a dinâmica chismo são alguns exemplos apontados pela sociologia
dessa construção ao defender a possibilidade de “ser contemporânea sobre o modo pelo qual as desigualda-
mulher” de uma maneira diferente daquela proposta des de gênero se manifestam socialmente, diferenciando
pelas gerações passadas. pessoas e hierarquizando as relações sociais.

107
04) As teorias sociológicas feministas atuais são unâ- transfobia em espaços públicos. Nos próximos dias, ba-
nimes em afirmar que o sexo, assim como o corpo nheiros de todo o campus receberão uma placa com a
biológico, são fatos da natureza que o homem deve frase “Aqui você é livre para usar o banheiro correspon-
aceitar e preencher pessoalmente de significado. dente ao gênero com que se identifica”.
08) De acordo com as teorias sociais contemporâne- DISPONÍVEL EM: <HTTP://WWW.UFJF.BR/SECOM/2015/11/25/LIBERA-MEU-
as, as questões que envolvem desigualdades de gê- XIXI-UFJF-LANCA-CAMPANHA-EM-PROL-DO-RESPEITO-A-DIVERSIDADE/>.
nero são exclusivas das mulheres, por isso os homens
devem se retirar desse debate e deixar que elas resol- Para se entender as motivações para o desenvolvimen-
vam os seus problemas. to de uma política pública como a descrita, é necessário
16) No pensamento sociológico contemporâneo, os saber que:
estudos sobre as diferentes identidades de gênero ex- a) o sexo determina a conduta social dos indivíduos.
pressam os modos plurais pelos quais as pessoas cons- b) não há uma definição biológica para o conceito de sexo.
troem a sua sexualidade e a si mesmas. c) o gênero é uma construção social.
d) as diferenças de gênero são definidas geneticamente.
5. (Enem)
Texto I 7. (UNISC) “Gênero é o conceito corrente utilizado para
designar os modos de classificar as pessoas como per-
tencentes a mundos sociais, a princípio, organizados pe-
las diferenças de sexo. A expressão identidade de gênero
alude à forma como um indivíduo se percebe e é percebi-
do pelos outros como masculino ou feminino, de acordo
com os significados que estes termos têm na cultura a
que pertence. (...). Possuir um sexo biológico,no entanto,
não implica automaticamente uma identificação com as
convenções sociais de um determinado contexto, no que
concerne a ser homem ou mulher.”
ZAMBRANO, E; HEILBORN, M.L. IDENTIDADE DE
GÊNERO. IN: LIMA, ANTONIO CARLOS DE SOUZA (COORD.).
ANTROPOLOGIA & DIREITO: TEMAS ANTROPOLÓGICOS PARA ESTUDOS
JURÍDICOS. RIO DE JANEIRO: ABA, 2012, P. 412.

Considerando a citação acima analise as afirmativas a


TRADUÇÃO: “AS MULHERES DO FUTURO FARÃO DA LUA UM seguir:
LUGAR MAIS LIMPO PARA SE VIVER”. DISPONÍVEL EM: WWW.
PROPAGANDASHISTORICAS.COM.BR. ACESSO EM: 16 OUT. 2015. I. A identidade de gênero é definida pelo sexo biológico.
II. Os tipos de roupa que deve vestir, os comportamen-
Texto II – METADE DA NOVA EQUIPE DA NASA É COM- tos e sentimentos de pertencimento associados a um
POSTA POR MULHERES determinado gênero definem a identidade de gênero.
Até hoje, cerca de 350 astronautas americanos já esti- III. Possuir um sexo biológico não implica automatica-
mente uma identificação com as convenções sociais de
veram no espaço, enquanto as mulheres não chegam a
ser homem ou mulher.
ser um terço desse número. Após o anúncio da turma
composta 50% por mulheres, alguns internautas escre- IV. A partir da citação acima podemos inferir que a iden-
veram comentários machistas e desrespeitosos sobre a tidade de gênero não é construída socialmente.
escolha nas redes sociais. Assinale a alternativa correta:

DISPONÍVEL EM: <HTTPS://CATRACALIVRE.COM.BR>. a) Somente a afirmativa II está correta.


ACESSO EM: 10 MAR. 2016. b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
A comparação entre o anúncio publicitário de 1968 e a d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
repercussão da notícia de 2016 mostra a:
e) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
a) elitização da carreira científica.
b) qualificação da atividade doméstica. 8. (UEM) Considerando os estudos contemporâneos so-
bre sexualidade e diversidade sexual nas ciências so-
c) ambição de indústrias patrocinadoras.
ciais, assinale o que for correto:
d) manutenção de estereótipos de gênero.
e) equiparação de papéis nas relações familiares. 01) É consenso entre cientistas, juristas e sociólogos
que a homossexualidade é um problema psicológico
6. (UFU) A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) li- e, portanto, não possui conexões com fenômenos de
berou nesta quarta-feira (25) o uso de todos os banheiros ordem social.
da instituição por qualquer pessoa, conforme o gênero 02) Para a sociologia, a sexualidade, apesar de forte-
com que se identifica. A iniciativa se deu pela adoção mente associada à experiência individual, pode também
da campanha “Libera meu xixi”, voltada ao combate da ser analisada sob uma perspectiva político-cultural.

108
04) As defesas política e jurídica de certas formas de c) As diferenças biológicas entre homens e mulheres
expressão da sexualidade como “normais” e de ou- determinam todas as diferenças culturais associadas
tras como “anormais” naturalizam as primeiras como aos sexos, moldando temperamentos e papéis sociais
normas sociais e associam a elas práticas e valores de homens e mulheres.
positivos, ao mesmo tempo em que inferiorizam ou- d) Em qualquer sociedade, homens são fortes, agres-
tras possibilidades de expressão sexual. sivos, dominadores, calculistas, controlam as relações
08) Para o pensamento sociológico, gênero é uma de- sociais e sexuais; as mulheres são frágeis, submissas,
terminação fisiológica e, portanto, todos os aspectos passionais, temperamentais, vaidosas.
a ele relacionados só têm significado biológico. e) Homens e mulheres são morfologicamente dife-
16) A homofobia é uma prática discriminatória que pro- rentes, portanto, apresentam diferenças de tempera-
duz e legitima diferentes formas de violência contra gru- mento e de aprendizado, uns sendo mais aptos para
pos sexuais em situação de desvantagem civil ou social. algumas tarefas sociais e papéis sociais que outros.
9. (Enem) O anúncio publicitário da década de 1940 11. (Enem) “Pecado nefando” era expressão corren-
reforça os seguintes estereótipos atribuídos historica- temente utilizada pelos inquisidores para a sodomia.
mente a uma suposta natureza feminina: Nefandus: o que não pode ser dito. A Assembleia de
clérigos reunida em Salvador, em 1707, considerou a
sodomia “tão péssimo e horrendo crime”, tão contrário
à lei da natureza, que “era indigno de ser nomeado” e,
por isso mesmo, nefando.
NOVAIS, F.; MELLO E SOUZA L. HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO
BRASIL. V. 1. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS. 1997 (ADAPTADO).

O número de homossexuais assassinados no Brasil bateu


o recorde histórico em 2009. De acordo com o Relatório
Anual de Assassinato de Homossexuais (LGBT – Lésbicas,
Gays, Bissexuais e Travestis), nesse ano foram registrados
195 mortos por motivação homofóbica no País.
DISPONÍVEL EM: WWW.ALEMDANOTICIA.COM.BR/UTIMAS_NOTICIAS.
PHP?CODNOTICIA=3871. ACESSO EM: 29 ABR. 2010 (ADAPTADO).
a) Pudor inato e instinto maternal.
A homofobia é a rejeição e menosprezo à orientação
b) Fragilidade física e necessidade de aceitação.
sexual do outro e, muitas vezes, expressa-se sob a for-
c) Isolamento social e procura de autoconhecimento. ma de comportamentos violentos. Os textos indicam
d) Dependência econômica e desejo de ostentação. que as condenações públicas, perseguições e assassina-
e) Mentalidade fútil e conduta hedonista. tos de homossexuais no país estão associadas:
10. (Unioeste) A antropologa norte-americana Margaret a) à baixa representatividade política de grupos orga-
Mead, em sua obra Sexo e Temperamento, pesquisa so- nizados que defendem os direitos de cidadania dos
bre o condicionamento das personalidades sociais de ho- homossexuais.
mens e mulheres. Descreve os comportamentos típicos b) à falência da democracia no país, que torna im-
de cada sexo em três culturas diferentes da Nova Guiné peditiva a divulgação de estatísticas relacionadas à
da seguinte maneira: “Numa delas (os Arapesh), homens violência contra homossexuais.
e mulheres agiam como esperamos que mulheres ajam: c) à Constituição de 1988, que exclui do tecido social
de um suave modo parental e sensível; na segunda (os os homossexuais, além de impedi-los de exercer seus
Mundugumor), ambos agiam como esperamos que os direitos políticos.
homens ajam: com bravia iniciativa; e na terceira (os d) a um passado histórico marcado pela demonização do
Tchambuli), os homens agem segundo o nosso estereóti- corpo e por formas recorrentes de tabus e intolerância.
po para as mulheres, são fingidos, usam cachos e vão às
compras, enquanto as mulheres são enérgicas, adminis- e) a uma política eugênica desenvolvida pelo Estado,
tradoras e parceiras desadornadas.” justificada a partir dos posicionamentos de correntes
filosófico-científicas.
MEAD, M. SEXO E TEMPERAMENTO, PREFÁCIO À EDIÇÃO DE 1950.

Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a


alternativa correta. Gabarito
a) O sexo, no seu aspecto biológico, é o fator deter- 1. 01 + 02 + 16 = 19 2. B 3. E
minante dos temperamentos masculinos e femininos
nas diferentes sociedades. 4. 01 + 02 + 16 = 19 5. D 6. C 7. C
b) O condicionamento cultural é de fundamental im-
portância na definição de temperamentos e de papéis 8. 02 + 04 + 16 = 22 9. B 10. B 11. D
sociais de homens e mulheres nas diferentes sociedades.

109
AULA 16

MOVIMENTOS SOCIAIS multimídia: livro

Eles não usam black-tie - Gianfrancesco


Guarnieri. Rio de Janeiro: Global, 1978.
Essa peça teatral mostra o momento da constituição
das lutas sindicais no Brasil, demonstrando uma luta
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 por direitos sociais e concomitantemente a existência
de um conflito familiar.
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25 1.1. A luta por redistribuição
Essa forma de organização dos movimentos sociais consis-
te em corrigir ou eliminar o que os membros do movimen-
to consideram injustiças. Os exemplos dos movimentos
1. Movimentos sociais sociais que se utilizam desse tipo de luta são:
Os movimentos sociais definem-se como ações coletivas
ƒ Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
praticadas por grupos da sociedade com a finalidade de
(MST): com influência da Liga Camponesa, a partir da
modificar ou conservar determinados aspectos cultu-
década de 1970 o MST, fundamentando-se em artigos da
rais, econômicos e políticos ou mesmo de transformar
Constituição Federal, reivindica a redistribuição de terras.
o conjunto da realidade sociopolítica. De maneira geral,
os movimentos sociais expressam alguma insatisfação ƒ Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST):
sociopolítica ou características pontuais de sua organi- seguindo a mesma lógica jurídica do MST, o movimento
zação, articulando segmentos da sociedade em pautas urbano surge na década de 1990, com o intuito de rei-
reivindicatórias que aspiram à realização de mudança vindicar o direito à moradia nos grandes centros urbanos.
ou de permanência social, econômica, política e cultural,
considerada necessária e justa.
Os movimentos sociais emergem quando um grupo de
pessoas atua para transformar algum aspecto da socieda-
de, com o objetivo de se adquirir reconhecimento e direi-
tos do Estado. De modo que ocorre um embate político e
cultural. Dentro dos movimentos sociais existem formas de
luta, seja para distribuir direitos ou para reconhecê-los.

1.2. A luta por reconhecimento


Essa forma, que abrange os movimentos sociais, pretende
corrigir ou eliminar injustiças culturais, como a humilhação, o
desrespeito e a negação de direitos. Assim, esses movimentos
buscam reivindicar direitos atrelados à ordem política e cultural
do agrupamento social ao qual pertencem. Os exemplos dos
movimentos sociais que se utilizam dessa forma de luta são:
ƒ Movimento LGBTQI+: esse movimento (que repre-
senta lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e

110
transgêneros, queer, intersexuais e outros que englobam ƒ Movimento negro: com o intuito de combater as
o movimento) luta contra a homofobia e a favor da livre ideias racistas, o movimento negro também abrange
expressão sexual. Além de defender o reconhecimento diversos segmentos, luta por igualdade política, social
na sociedade como cidadãos, com direitos respeitados. e trabalhista para os negros, além do reconhecimento
social da história da resistência negra.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE multimídia: música
Hoje eu quero voltar sozinho - Brasil, 2014. FONTE: YOUTUBE
Um adolescente cego tenta lidar com a mãe superpro- Boa esperança -Emicida. Álbum: Sobre crianças,
tetora ao mesmo tempo em que busca sua indepen- quadris, pesadelos, lições de casa (2015).
dência. Quando um colega chega em seu colégio, no- Emicida combina uma letra crua e dura a um clipe que
vos sentimentos começam a surgir, fazendo com que mostra negros se rebelando contra a humilhação sofri-
ele descubra mais sobre si mesmo e sua sexualidade. da todos os dias no trabalho.

Entretanto existem os movimentos sociais bivalentes, que


ƒ Movimento indígena: movimento que luta pelo
buscam ao mesmo tempo redistribuição e reconhecimento.
reconhecimento dos povos indígenas, pelo direito de
ƒ Movimento feminista: movimento com diversos preservação cultural. Grande parte da luta indígena se
segmentos, luta pela igualdade social, trabalhista e cul- dá pela demarcação das tradicionais terras indígenas,
tural do gênero feminino, cobrando do Estado políticas assim como pela resistência às investidas de garimpei-
de igualdade entre os gêneros, seja na área trabalhis- ros, fazendeiros e projetos governamentais de invasão
ta ou no âmbito da política. Além disso, dedica-se ao das terras e reservas indígenas.
combate à violência contra a mulher e defende a des-
criminalização do aborto.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Demarcação Já! - Chico César.
Organizada por várias Ong’s, a canção protesto é uma
homenagem de mais de 25 artistas aos povos indíge-
nas do Brasil. Pelo direito à terra e à vida.

multimídia: música 1.3. Os novos movimentos sociais


A vida política não acontece apenas dentro do esque-
FONTE: YOUTUBE
ma ortodoxo dos partidos políticos, da votação e da
Maria da Vila Matilde - Elza Soares. Álbum: representação em organismos legislativos e governa-
A mulher do fim do mundo, 2015. mentais. O que geralmente ocorre é que alguns grupos
Canção single que fala sobre a violência doméstica e percebem que esse esquema impossibilita a concreti-
estimula o empoderamento feminino. zação de seus objetivos ou ideais, ou mesmo os blo-
queia efetivamente. [...] Às vezes, a mudança política

111
e social só pode ser realizada recorrendo-se a formas Exemplos: Os movimentos de 2013 no Brasil e os mo-
não ortodoxas de ação política. vimentos ativistas virtuais.
GIDDENS, A. SOCIOLOGIA. 4. ED. TRADUÇÃO SANDRA
REGINA NETZ. PORTO ALEGRE : ARTMED, 2008. ƒ Segmentos marxistas e comunistas: esse mo-
vimento incorpora as lutas de classes e as formas de
Esses “novos” movimentos sociais surgem como uma es- organização marxista na atualidade. Esse movimento
tratégia alternativa e complementar aos movimentos de consiste em possibilitar apreender a essência dos fenô-
classes tradicionais e aos partidos políticos. Porém, não
menos, visando a uma práxis revolucionária. Exemplo:
existe uma única definição do que sejam esses “novos”
Ações virtuais, como as manifestações no Chile em ou-
movimentos sociais, ainda sendo uma área estudada pelos
tubro de 2019.
sociólogos da atualidade.
O exame das formulações sobre os “novos movimen-
tos sociais” permitiu-nos perceber que não existe uma
única definição do que sejam os movimentos sociais,
contudo, é possível notar que nas discussões, predomi-
nam as explicações dos novos movimentos presentes
na sociedade contemporânea que se limitam a mudan-
ças relacionadas às questões culturais e pontuais. Ao
se distanciar da análise envolvendo a relação contra-
ditória entre capital e trabalho, os “novos movimentos
sociais” acabam realizando ações isoladas e focaliza-
das, fato este, que levará a manutenção do status quo
existente e consequentemente do sistema capitalista.
Neste sentido, faz-se necessário um olhar atento em
MOVIMENTO SOCIAL, EM JUNHO DE 2013, NO CONGRESSO BRASILEIRO. torno das abordagens relacionadas aos “novos mo-
vimentos sociais”, pois, acreditamos que tais aborda-
gens podem mascarar a real contradição que envolve a
sociedade capitalista.
CRAVEIRO, ADRIÉLI VOLPATO; HAMDAN, KARINA OMAR.
OS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS: UMA ANÁLISE CRÍTICA EM
TORNO DESTA TEMÁTICA. LONDRINA, 2015, PP.7-8.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Vem pra rua - Marcelo Falcão. Canção
publicitária para a FIAT 2013.

multimídia: música
Existem três linhas de análise desses novos movimen-
FONTE: YOUTUBE
tos sociais:
As coisas não caem do céu - Leoni. Álbum: As
ƒ Cultural-acionalista: esse movimento luta por mu-
coisas não caem do céu. Outro futuro, 2014.
danças pontuais, fugindo do estereótipo de luta de
Canção criada como forma de apoio aos protestos que
classes, enfatizando a identidade e a solidariedade en-
tre as pessoas. Exemplo: Movimento Passe Livre ocorreram em 2013. Em um trecho da letra, é citado o
caso de pessoas que apenas usam redes sociais para
ƒ Esquerda pós-moderna: esse movimento nega a he- manifestar.
rança marxista e a vitalidade dos partidos e sindicatos.

112
DIAGRAMA DE IDEIAS

MOVIMENTOS
SOCIAIS

NOVOS
REDISTRIBUIÇÃO MOVIMENTOS
RECONHECIMENTO SOCIAIS

• MST • CULTURAL-ACIONALISTA
• MTST • ESQUERDA PÓS-MODERNA
• LGBTQI+
• FEMINISTA • MARXISMO-LENINISMO
• NEGRO

113
3. (Uerj 2019)
Aplicando para
Aprender (A.P.A.)
1. (Enem) Não nos resta a menor dúvida de que a prin-
cipal contribuição dos diferentes tipos de movimen-
tos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no
plano da reconstrução do processo de democratiza-
ção do país. E não se trata apenas da reconstrução
do regime político, da retomada da democracia e do
fim do Regime Militar. Trata-se da reconstrução ou
construção de novos rumos para a cultura do país, do
preenchimento de vazios na condução da luta pela
redemocratização, constituindo-se como agentes in-
terlocutores que dialogam diretamente com a popu-
lação e com o Estado.
GOHN, M. G. M. OS SEM-TERRAS, ONGS E CIDADANIA.
SÃO PAULO: CORTEZ, 2003. (ADAPTADO).
Com mais de cinquenta anos de existência, o persona-
No processo da redemocratização brasileira, os novos gem “Pantera Negra” esteve associado a debates sobre
movimentos sociais contribuíram para: as condições de vida de populações afrodescendentes
a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políti- na sociedade norte-americana.
cos então criados. Tendo em vista as transformações ocorridas entre a dé-
b) tornar a democracia um valor social que ultrapassa cada de 1960 e o momento atual, a comparação entre
os momentos eleitorais as imagens aponta para a seguinte mudança acerca do
c) difundir a democracia representativa como objetivo protagonismo afrodescendente:
fundamental da luta política. a) equiparação do poder aquisitivo
d) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades b) fortalecimento da inclusão social
de trabalhadores com os sindicatos. c) reconhecimento dos direitos civis
e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores d) homogeneização das diferenças raciais
sociais frente ao Estado.
4. Leia o texto abaixo sobre o Movimento dos Trabalha-
2. (Enem) A poetisa Emília Freitas subiu a um palanque, dores Rurais Sem Terra:
nervosa, pedindo desculpas por não possuir títulos nem
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tam-
conhecimentos, mas orgulhosa ofereceu a sua pena que
bém conhecido pela sigla MST, é um movimento social
“sem ser hábil, é, em compensação, guiada pelo poder brasileiro, cujo objetivo é implantação da reforma agrá-
da vontade”. Maria Tomásia pronunciava orações que ria no Brasil.
levantavam os ouvintes. A escritora Francisca Clotilde
O MST declara buscar a redistribuição das terras impro-
arrebatava, declamando seus poemas. Aquelas “angé-
dutivas, para:
licas senhoras”, “heroínas da caridade”, levantavam
dinheiro para comprar liberdades e usavam de seu en- a) a difusão da agroindústria como forma de produção.
tusiasmo a fim de convencer os donos de escravos a b) a diminuição do custo de produção dos cereais.
fazerem alforrias gratuitamente. c) a melhoria da qualidade de vida do camponês.
MIRANOA, A. DISPONÍVEL EM: WWW.OPOVOONLINE.
d) o combate ao programa da agricultura familiar
COM.BR. ACESSO EM: 10 JUN. 2015. e) o incremento da autossubsistência alimentar.

As práticas culturais narradas remetem, historicamente, 5. (Enem) Na década de 1990, os movimentos sociais
ao movimento: camponeses e as ONGs tiveram destaque, ao lado de
a) feminista outros sujeitos coletivos. Na sociedade brasileira, a ação
dos movimentos sociais vem construindo lentamente
b) sufragista
um conjunto de práticas democráticas no interior das
c) socialista escolas, das comunidades, dos grupos organizados e na
d) republicano interface da sociedade civil com o Estado. O diálogo, o
e) abolicionista confronto e o conflito têm sido os motores no processo
de construção democráticas.
Segundo o texto, os movimentos sociais contribuem para
o processo de construção democrática, porque:
a) determinam o papel do Estado nas transformações
socioeconômicas.

114
b) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil. Considerando o texto e essa conjuntura, analise as afirma-
c) pressionam o Estado para o atendimento das de- tivas, tendo em vista o significado da participação social:
mandas da sociedade. I. Participar da gestão dos interesses coletivos significa
d) privilegiam determinadas parcelas da sociedade participar do governo da sociedade, disputar espaço no
em detrimento das demais. Estado e no mercado, nos espaços de definição e execu-
e) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos ção das políticas públicas.
do Estado. II. Os movimentos sociais têm, apesar das limitações e
precariedades, construído contrapartidas que colocam
6. (UEL) Era a manhã ensolarada do dia 1º de maio de
num outro patamar de dignidade e respeito setores ex-
1980, e as pessoas que haviam chegado ao centro de
cluídos da sociedade, rompendo as fronteiras dos espa-
São Bernardo do Campo para a comemoração da data
ços onde têm sido confinados.
se depararam com a cidade ocupada por 8 mil policiais
armados, com ordens de impedir qualquer concentração. III. Ampliar a tolerância, o respeito democrático pelo di-
Já desde as primeiras horas daquele dia as vias de acesso ferente, eliminar as segregações raciais, de gênero, de
estavam bloqueadas por comandos policiais que visto- opção sexual, entre outras, é o resultado da incidência
riavam ônibus, caminhões e automóveis [...]. Pela manhã, de práticas participativas que constroem e modificam os
enquanto um helicóptero sobrevoava os locais previstos valores sociais.
para as manifestações, carros de assalto e brucutus exi- IV. Participar significa questionar o monopólio do Esta-
biam a disposição repressiva das forças da ordem. do como gestor da coisa pública, construir espaços pú-
blicos não estatais, abrir caminhos para o aprendizado
SADER, EDER. QUANDO NOVOS PERSONAGENS ENTRAM EM
CENA. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 1995. P. 27.
da negociação democrática e afirmar a importância do
controle social sobre o Estado.
Com base nos conhecimentos sobre a história recente Estão corretas as afirmativas:
do Brasil, é correto afirmar que, nesse episódio, o autor
se refere ao: a) II, III e IV, apenas.
b) I, II e III, apenas.
a) Movimento estudantil, que lutava contra a reforma
c) I, III e IV, apenas.
universitária de perfil privatista, implantada pelo go-
verno João Figueiredo. d) I, II, III e IV.
b) Movimento operário, que lutava contra a ditadura 8. (Enem) No Brasil, assim como em vários outros pa-
militar, contra o arrocho salarial e pela democratiza- íses, os modernos movimentos LGBT representam um
ção do país. desafio às formas de condenação e perseguição social
c) Movimento das panelas vazias, que, apesar de o país contra desejos e comportamentos sexuais anticonven-
já se encontrar plenamente democratizado, restringia cionais associados à vergonha, imoralidade, pecado, de-
sua luta à reposição das perdas salariais devido ao ar- generação, doença. Falar do movimento LGBT implica,
rocho imposto na década anterior pelo regime militar. portanto, chamar a atenção para a sexualidade como
d) Movimento dos desempregados, constituído no fonte de estigmas, intolerância, opressão.
processo de abertura política, e que sustentava a
bandeira do pleno emprego. SIMÓES, J. HOMOSSEXUALIDADE E MOVIMENTO LGBT: ESTIGMA, DIVERSIDADE
E CIDADANIA. IN: BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L. M. CIDADANIA, UM
e) Movimento camponês, que, embora se constituís-
PROJETO EM CONSTRUÇÃO. SÃO PAULO: CLARO ENIGMA, 2012 (ADAPTADO).
se numa força política emergente dos escombros do
regime militar, mostrava grande capacidade de mobi- O movimento social abordado justifica-se pela defesa
lização das classes médias urbanas. do direito de
7. (Unimontes) À medida que, a partir dos anos 70, am- a) organização sindical.
plia-se uma cultura democrática no Brasil, que os movi- b) participação partidária.
mentos sociais, junto com outros setores democráticos, c) manifestação religiosa.
vão arrombando as portas da ditadura, o Estado torna-se d) formação profissional.
lentamente permeável à participação de novos atores so- e) afirmação identidária.
ciais. O Estado brasileiro, tradicionalmente privatizado pe-
los seus vínculos com grupos oligárquicos, vai lentamente 9. (Uece 2019) Atente para o enunciado a seguir:
cedendo espaço, tornando-se mais permeável a uma so- “O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST – é
ciedade civil que se organiza, que se articula, que constitui um dos mais importantes movimentos sociais do Brasil,
espaços públicos nos quais reivindica opinar e interferir tendo como foco as questões do trabalhador do campo,
sobre a política, sobre a gestão do destino comum da so- principalmente no tocante à luta pela reforma agrária
ciedade. A radicalização da democracia não significa ape-
brasileira”.
nas a construção de um regime político democrático, mas
também a democratização da sociedade e a construção de DISPONÍVEL EM: HTTPS://BRASILESCOLA.UOL.COM.BR/SOCIOLOGIA/MST.HTM.
uma cultura democrática. Esse é ainda um desafio.
No que diz respeito ao conceito de “movimentos sociais”,
CARVALHO, MARIA DO C.A.A. PARTICIPAÇÃO é correto afirmar que são
SOCIAL NO BRASIL HOJE. DISPONÍVEL EM
<HTTP://WWW.POLIS.ORG.BR/OBRAS/ARQUIVO_169. a) ações coletivas de segmentos socialmente organiza-
PDF> ACESSO EM MAIO 2011. (ADAPTADO). dos que têm como objetivo alcançar mudanças sociais

115
por meio do embate político, dentro de uma determi- As torcidas organizadas de futebol constituem uma ma-
nada sociedade e de um contexto específico. nifestação espontânea ou um movimento social? Justi-
b) expressões individuais dos sujeitos em seus coti- fique sua resposta.
dianos na busca de realização de seus desejos e so-
nhos a serem alcançados no mercado de trabalho e
no reconhecimento de seus méritos pelo Estado.
Gabarito
c) organizações governamentais com o objetivo de 1. B 2. E 3. C 4. C 5. C
mobilizar setores da população para fazerem valer
os direitos sociais e civis, tendo como referências o 6. B 7. A 8. E 9. A 10. B
acesso a serviços que reconheçam a plena cidadania.
11. Os movimentos sociais são formas de organização
d) organizações de interesse público mantidas por
meio de fundos públicos com o objetivo de cooperar política da sociedade civil que visam à transformação de
na organização das instituições privadas da socieda- alguma estrutura geradora de desigualdades, sejam ma-
de, em parceria com os governos. teriais ou simbólicas. Geralmente estão relacionados com
a luta ou pela garantia de certos direitos que são violados
10. (Enem) O reconhecimento da união homoafetiva le-
vou o debate à esfera pública, dividindo opiniões. Apesar
ou pela ampliação de direitos que ainda não são conside-
da grande repercussão gerada pela mídia, a população rados pela Constituição. As torcidas organizadas de futebol
ainda não se faz suficientemente esclarecida, confundin- não se formam tendo como objetivo esse tipo de transfor-
do o conceito de união estável com casamento. Apesar mação política, mas estando relacionadas somente com a
de ter sido legitimado pelo Supremo Tribunal Federal identificação à figura do clube de futebol. Nesse sentido,
(STF), o reconhecimento da união homoafetiva é fruto são somente uma manifestação espontânea, muito dife-
do protagonismo dos movimentos sociais como um todo.
rente de movimentos como o MST ou o movimento negro.
ARÊDES, N.; SOUZA, I.; FERREIRA, E. DISPONÍVEL EM: HTTP://
REPORTERPONTOCOM.WORDPRESS.COM. ACESSO EM: 1 MAR. 2012. (ADAPTADO).

As decisões em favor das minorias, tomadas pelo Poder


Judiciário, foram possíveis pela organização desses gru-
pos. Ainda que não sejam assimiladas por toda a popu-
lação, essas mudanças:
a) contribuem para a manutenção da ordem social.
b) reconhecem a legitimidade desses pleitos.
c) dependem da iniciativa do Poder Legislativo Federal.
d) resultam na celebração de um consenso político.
e) excedem o princípio da isonomia jurídica.

11. (UEL) O texto a seguir nos dá notícia acerca da intro-


dução de formas rígidas de organização das torcidas de
futebol no Brasil:

Os integrantes de torcidas organizadas de todo o país terão


que se cadastrar previamente para ter acesso aos estádios.
No Rio de Janeiro, o procedimento começou hoje (13), com
a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC) entre as lideranças das torcidas, o Ministério Públi-
co e o Ministério do Esporte. O TAC prevê que as torcidas
organizadas terão que se tornar pessoas jurídicas, com re-
gistro de seus estatutos em cartório. As que têm menos de
200 membros serão dispensadas de registro em cartório. As
torcidas terão seis meses para enviar à autoridade policial
cadastro contendo a identificação completa de seus inte-
grantes, incluindo foto, endereço e assinatura. Para entrar
nos estádios vestindo ou portando adereços de torcidas or-
ganizadas, eles terão de ter carteira padronizada. Caso seja
descumprida a medida, a torcida organizada estará sujeita
a sanções que vão desde multa de até R$ 10 mil ao bani-
mento dos estádios por período de até três anos.
VLADIMIR PLATONOW. TORCIDAS ORGANIZADAS COMEÇAM A CADASTRAR INTEGRANTES PARA
ENTRAR EM ESTÁDIOS. JORNAL DO BRASIL. 13 JUN. 2011, P.1. DISPONÍVEL EM: <HTTP://
WWW.JB.COM.BR/ESPORTES/NOTICIAS/2011/06/13/TORCIDAS-ORGANIZADAS-COMECAM-
A-CADASTRAR-IN EGRANTES-PARA-ENTRAREM- ESTADIOS/>. ACESSO EM: 30 JUN. 2011.

116
A sociedade moderna se aperfeiçoou na criação de máscaras
AULA 17 sociais, direcionando para que o indivíduo cumpra determi-
nadas posturas e atitudes condicionadas pelo agrupamento
social, de uma forma coercitiva.
Segundo o sociólogo canadense Erving Goffman (1922-
1982), a interação social condiciona quais atos e papéis
IDENTIDADE escolhemos perante o outro.
Criamos condições rituais sociais para revelar aos poucos
parte da nossa imagem para o outro, como um complexo
teatro, que vai revelando aos poucos as cenas.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

1. Introdução
Na sociologia, a identidade é compreendida como o con-
junto de características próprias que dão uma particula-
ridade a um determinado agrupamento social, podendo
atingir as áreas culturais e morais dessa sociedade.
Essas particularidades podem ser compartilhadas entre os
grupos de uma sociedade por meio de uma infinidade de
símbolos e signos que possibilitam uma identificação com
o outro, resultando em uma prática de alteridade, ou seja, O receio do julgamento do outro diante de nossas expres-
partindo da ideia de que todo ser humano social interage. sões de surpresa, raiva, alegria, ironia ou desgosto faz com
Assim, esses elementos particulares caracterizam os grupos que nossas ações sejam monitoradas por nossa consciência.
sociais, dando-lhes uma autonomia em relação à própria so- Só que esse monitoramento contém um propósito, um ob-
ciedade e criando condições para individualizar cada grupo. jetivo a ser cumprido: buscamos uma boa inserção social.
Construímos de uma maneira subjetiva e psíquica um com-
portamento que não nos traga problemas ou embaraços so-
1. Máscaras sociais ciais, como evitar passar vergonha diante dos outros. Quan-
Inserido num agrupamento social que tem elementos de do conseguimos atingir esse objetivo, mantemos o espírito
identificação, codificando uma identidade cultural, o indi- de sobrevivência social, sem arranhões em nossa imagem
víduo mantém uma relação subjetiva consigo mesmo, po- criada dentro dessa sociedade.
dendo entrar em conflito com a identidade do grupo.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Máscara - Pitty. Álbum: Admirável Chip Novo, 2003.

117
O seu livro rapidamente se converteu num referencial teórico
imprescindível para as discussões que englobam a compre-
ensão da lógica e das dinâmicas implícitas nos conflitos e
movimentos sociais contemporâneos. Na obra, Honneth des-
ponta com uma originalidade própria dos que têm compre-
endido que o ecleticismo disciplinar auxilia o conhecimento
multimídia: vídeo sociológico e a explicação dos fenômenos sociais.

FONTE: YOUTUBE
O lado bom da vida - Estados
Unidos, 2013 (122 min).
O filme mostra o drama das pessoas que tentam se
aceitar, lidar com seus próprios defeitos e se reencon-
trar no mundo. Os personagens parecem ser imprevi-
síveis e muitos dos diálogos são até um pouco filo-
multimídia: vídeo
sóficos, nos fazendo refletir sobre como escolhemos
encarar a vida e os problemas. FONTE: YOUTUBE
Incertezas Críticas: Axel Honneth
Entrevista com o sociólogo explicando as principais
ideias para entender o mundo contemporâneo.
2. Axel Honneth (1938)
O sociólogo alemão da “terceira geração” da Escola de
Frankfurt estuda sobre como os grupos sociais são reco- Assim, desrespeito moral, conflito social e reconhecimento
nhecidos na sociedade. podem constituir-se na tríade conceitual do marco teórico
e analítico apresentado por Honneth. As contribuições de
Honneth resultam indispensáveis para todos aqueles que
pretendam analisar e compreender relações sociais confli-
tuosas e a dinâmica de ação dos diferentes movimentos
sociais e políticos atuais. Toda análise de um eventual pro-
cesso de construção de uma identidade que diagnostica
uma relação desigual no tratamento dos seus traços parti-
culares (a negritude, o feminino, o indígena, o jovem, etc.)
nas interações cotidianas deve considerar a importância
dos aportes teóricos de Honneth.

Em sua obra Luta por reconhecimento: a gramática moral dos


conflitos sociais, Honneth trata, seguindo uma estrutura hege-
liana, de como os agrupamentos sociais que contêm elemen-
tos de identidade adquirem o seu reconhecimento na socie-
dade mediante uma luta social, ou seja, uma luta que precisa multimídia: livro
obrigatoriamente seguir as normas legais da sociedade.
Honneth demonstra que a interação social, no âmbito do re- Luta por Reconhecimento: a gramática
conhecimento do agrupamento social, depende da atuação moral dos conflitos sociais - Axel Honneth.
nas instituições jurídicas. Sua ideia central baseia-se em três São Paulo: Editora 34, 2003.
diferentes dimensões de reconhecimento intersubjetivo, que Tendo como ponto de partida o jovem Hegel, Axel Hon-
geram outras três dimensões particulares: neth desenvolve uma teoria social normativa baseada
na ideia de que o florescimento humano e a plena re-
AMOR DIREITO SOLIDARIEDADE alização pessoal dependem da existência de relações
autoconfiança autorrespeito autoestima éticas bem estabelecidas.

118
No entanto, para torná-lo plausível, seria necessária uma que reconhece", segue a afirmação francamente progra-
descrição totalmente diferente do processo social que te- mática: "No reconhecer o si cessa de ser esse singular; ele
ria lugar sob as condições artificiais de um estado de na- está juridicamente no reconhecer, isto é, não está mais em
tureza entre os homens:"O direito é a relação da pessoa seu ser-aí imediato. O reconhecimento é reconhecimento
em seu procedimento para com o outro, o elemento uni- com válido imediatamente, por seu ser, mas precisamente
versal de seu ser livre ou a determinação, limitação de sua esse ser gerado a partir do conceito; é ser reconhecido".
liberdade vazia. Essa relação ou limitação, eu não tenho HONNETH, AXEL.
por minha parte de maquiná-la ou introduzi-la de fora, LUTA POR RECONHECIMENTO: A GRAMÁTICA MORAL DOS CONFLITOS
o próprio objeto é esse produzir do direito em geral, isto SOCIAIS. SÃO PAULO: EDITORA 34, 2009, PP.84-85.
é, da relação que reconhece [...]".. Por conseguinte, logo
após a frase em que indicará o significado da "relação

DIAGRAMA DE IDEIAS

IDENTIDADE

REGISTROS FÍSICOS E SIMBÓLICOS


DE UM SER OU DE UM GRUPO

GOFFMAN HONNETH

OS GRUPOS SOCIAIS
CRIAMOS RITOS SOCIAIS
COM IDENTIDADE

CONSTRUÍMOS PRECISAM TER UM


MÁSCARAS SOCIAIS RECONHECIMENTO
NA SOCIEDADE

PARA REVELAR AOS


POUCOS PARTE DA NOSSA QUE SÓ TERÁ VALIDADE
IMAGEM AO OUTRO MEDIANTE MUDANÇAS
JURÍDICAS

COM AS LEIS,
ESSES GRUPOS SÃO
INSERIDOS NA SOCIEDADE

119
semanas depois. Muitas vezes, no meu preciosismo fin-
Aplicando para gido, empresto meu ombro para que chorem e dou gua-
rida na minha casa, recomendo para empregos e carre-
Aprender (A.P.A.) go suas mudanças. Tudo fingimento.
1. (IFB) Foi noticiado pelo jornal El País, em 29 de outu- ALEX CASTRO. (ADAPTADO). DISPONÍVEL EM: <HTTP://PAPODEHOMEM.
bro de 2016: COM.BR/SOMOS-TODOS-FINGIDORES/> ACESSO EM 13 DEZ. 2012.

“Secundaristas são pressionados, mas ocupações re-


O texto acima apresenta uma argumentação muito si-
sistem nas escolas do Paraná Justiça determina a rein-
milar àquela de um importante sociólogo, Erving Gof-
tegração de posse de 25 colégios em Curitiba e movi-
fman, acerca das representações de papéis que as pes-
mentos pressionam pela desocupação, mas estudantes
soas fazem na vida cotidiana. Em caráter geral, em que
prometem resistir.”
consiste a argumentação de Goffman?

4. (Vunesp) O conceito de identidade social se tornou cen-


tral na Sociologia nos últimos anos, por possibilitar a com-
preensão de quem somos e quem são as outras pessoas.

Segundo Axel Honneth (2003), a interpretação dos mo-


vimentos sociais que as obras de Marx nos legaram
apresenta:
a) Uma falha ao considerar as lutas sociais sob o viés
utilitarista conferido pela economia. Sobre a formação da identidade social dos indivíduos, é
b) Possibilidades analíticas que ainda não foram supe- correto afirmar que é formada:
radas, já que as lutas sociais são fruto da desigualdade
a) por processos contínuos de interação social.
econômica.
b) na socialização primária dos indivíduos.
c) Uma superação frente ao utilitarismo econômico.
c) na inserção do indivíduo no mercado de trabalho.
d) A relevância de conceitos afetos à antropologia e,
portanto, que considera aspectos culturais frente às d) pelo olhar que o indivíduo tem de si mesmo.
demandas sociais. e) pela identificação com as ideologias políticas exis-
e) A moral é acessória das condições de classe e, por- tentes na sociedade.
tanto, não deve ser considerada nas análises dos movi- 5. (Unioeste) Quando falamos em identidade, logo pen-
mentos políticos contemporâneos. samos em quem somos. A construção de identidades
2. (IFB) As lutas sociais contemporâneas, principalmente como: “ser brasileiro”, “ser português”, “ser cigano”,
as que buscam conquistar direitos ligados ao conceito “ser gremista”, “ser homem”, “ser mulher” é um proces-
de cidadania, possuem variadas motivações. Axel Hon- so sociocultural pelo qual se marca as fronteiras de per-
neth (2003), contudo, ao analisar os conflitos sociais, tencimento social e/ou cultural. Tendo por base o anúncio
transcrito acima, é correto afirmar que:
considera que tais motivações se relacionam primor-
dialmente a: a) as identidades são estáticas, é algo natural, ela nos
acompanha por toda a vida.
a) Moral.
b) as identidades são construídas nas relações sociais,
b) Egoísmo.
são situacionais, relacionais e constroem-se na relação
c) Objetivos econômicos.
entre o “nós” e os “outros”, cria um nós coletivo.
d) Estética.
c) identidades surgem através de um determinismo
e) Altruísmo. geográfico que molda o nosso modo de ser e agir.
3. (Interbits) Faz uns dois anos, a pessoa que se assina d) identidades são produtos de marketing e geram
O Último Psiquiatra me deu o melhor conselho que já vínculos entre os indivíduos.
recebi na vida: e) identidades são heranças genéticas.
Que eu não precisava SER uma pessoa boa: bastava 6. (UEL) No dia 16 de junho de 2010, o Senado brasileiro
FINGIR QUE ERA. aprovou o Estatuto da Igualdade Racial.
Então, passo o dia fingindo. Os senadores [...] suprimiram do texto o termo “forta-
Para o fingimento ser mais persuasivo, decoro as pala- lecer a identidade negra”, sob o argumento de que não
vras das pessoas e repito para elas em momentos-chave existe no país uma identidade negra [...]. “O que exis-
da conversa ou então faço referência a essas palavras te é uma identidade brasileira. Apesar de existentes, o

120
preconceito e a discriminação não serviram para impe- d) A produção cultural apresenta uma grande hetero-
dir a formação de uma sociedade plural, diversa e mis- geneidade de sujeitos produtores e consumidores, pela
cigenada”, defende o relatório de Demóstenes Torres. propriedade e disponibilidade geral dos meios técnicos
para reprodução de quaisquer sistemas simbólicos,
(FOLHA.COM. COTIDIANO, 16 JUN. 2010. DISPONÍVEL EM: <HTTP://WWW1.FOLHA.
UOL.COM.BR/COTIDIANO/751897-SEM-COTAS-ESTATUTO-DA-IGUALDADERACIAL-
como se comprova pelo acesso generalizado à televi-
E-APROVADO-NA-CCJ-DO-SENADO.SHTML>. ACESSO EM: 16 JUN. 2010.) são e à comunicação informatizada da Internet.

Com base no texto e nos conhecimentos atuais sobre a 8. (UFU) "Na linguagem corrente, é comum que se usem
questão da identidade, é correto afirmar: como sinônimos as palavras "Estado", "Nação", "País"
etc. É preciso que esses termos sejam distintos, para
a) A identidade nacional brasileira é fruto de um processo
que não caiamos numa confusão irremediável."
histórico de realização da harmonia das relações sociais
entre diferentes raças/etnias, por meio da miscigenação. RIBEIRO, JOÃO UBALDO. POLÍTICA; QUEM MANDA, POR QUE MANDA,
COMO MANDA. RIO DE JANEIRO: NOVA FRONTEIRA, 1986, P. 49/50
b) A ideia de identidade nacional é um recurso discur-
sivo desenraizado do terreno da cultura e da política, Tomando como referência o texto acima, assinale o sig-
sendo sua base de preocupação a realização de inte- nificado da palavra "nação".
resses individuais e privados.
I. Nação é um processo de criação de uma identidade
c) Lutas identitárias são problemas típicos de países co-
comum dos grupos étnicos, linguísticos, religiosos e re-
loniais e de tradição escravista, motivo da sua ausência
gionais.
em países desenvolvidos como a Alemanha e a França.
d) Embora pautadas na ação coletiva, as lutas identi- II. Indivíduos que têm uma história, valores, hábitos e
tárias, a exemplo dos partidos políticos, colocam em arte comuns.
segundo plano o indivíduo e suas demandas imediatas. III. Necessita, para sua existência, de um território fixo,
e) As identidades nacionais são construídas social- delimitado e exclusivo.
mente, com base nas relações de força desenvolvidas IV. Não se pode distinguir do que seja Estado, porque
entre os grupos, com a tendência comum de eleger, encaixa-se completa e exclusivamente dentro de um
como universais, as características dos dominantes. Estado.

7. (UFU) Cientistas sociais reconhecidos têm apontado a) I e II estão corretas.


algumas contradições dos processos da globalização b) I e IV estão corretas.
com fortes impactos sobre as identidades e culturas c) III e IV estão corretas.
nacionais. Estes sugerem que ocorrem dois processos: d) II, III e IV estão corretas.
tanto a tendência à autonomia nacional e aos parti- e) Todas as afirmativas estão corretas.
cularismos culturais, que mantêm a heterogeneidade,
quanto a tendência globalizante, que força a homoge- 9. (Enem PPL 2019) Quanto mais a vida social se tor-
neidade cultural, conforme HALL, Stuart. A Identidade na mediada pelo mercado global de estilos, lugares e
cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Editora imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens
da mídia e pelos sistemas de comunicação interligados,
DP&A, 1999, p. 68-69.
mais as identidades se tornam desvinculadas – desalo-
Com base no argumento acima, assinale a alternativa jadas – de tempos, lugares, histórias e tradições espe-
que apresenta uma hipótese sociológica teoricamente cíficos e parecem “flutuar livremente”. Somos confron-
incorreta sobre a heterogeneidade da produção cultu- tados por uma gama de diferentes identidades (cada
ral nas sociedades capitalistas contemporâneas: qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a
a) As identidades nacionais estão em declínio, mas novas diferentes partes de nós), dentre as quais parece possí-
identidades híbridas estão surgindo, pois todas as iden- vel fazer uma escolha.
tidades, por definição, são formadas por representações HALL, S. A IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE.
simbólicas historicamente condicionadas, face a socieda- RIO DE JANEIRO: DP&A, 2006.
des diferentes. Estas resultam de comunidades unitárias
imaginadas, mitos fundacionais e tradições inventadas. Do ponto de vista conceitual, a transformação identitá-
b) As identidades nacionais sofrem certo declínio como ria descrita resulta na constituição de um sujeito
resultado da tendência de homogeneização cultural, pro- a) altruísta.
movida pelo aumento da circulação de mercadorias e dos b) dependente.
sistemas simbólicos dominantes, que são mediados pelos c) nacionalista.
agentes detentores dos meios de comunicação massivos, d) multifacetado.
atualmente informatizados e internacionalizados. e) territorializado.
c) As identidades nacionais e outras identidades parti-
culares, como as de classe, de gênero, de etnia e de re- 10. (UEM 2018) Black Mirror é uma série de televisão
ligião, estão sendo reelaboradas e até reforçadas como que se destaca por abordar de forma distópica as con-
expressão de resistência à globalização e à homogenei- sequências sociais trazidas pelas novas tecnologias. No
zação das culturas, demarcando uma das contradições episódio Nosedive (em português traduzido como Queda
apontadas pelos cientistas sociais. Livre), que abre a terceira temporada da série, Lacie, uma

121
garota comum, vive em um futuro próximo em que as
pessoas podem avaliar seus companheiros, colegas de
trabalho, amigos pessoais, vizinhos e todos os seus de-
mais contatos por meio de um aplicativo que classifica
as pessoas mediante um índice de aprovação que varia
de 0 a 5 estrelas, em que 0 é a total impopularidade e 5
é o maior índice de aprovação. Lacie, que tem índice de
popularidade em torno dos 4 pontos, vive obcecada em
atingir as 5 estrelas. Todas as suas ações cotidianas visam
aumentar sua aprovação social. Embora seja uma série
de ficção científica e sua ação se passe em um futuro não
determinado, a série aborda discussões que se articulam
às questões sociais contemporâneas. No caso do episó-
dio descrito, as mídias sociais estão no centro do debate.
Considerando a descrição do episódio Nosedive, exposto
neste enunciado, e conhecimentos sobre o tema comu-
nicação, cultura e ideologia, assinale o que for correto.
01) Lacie utiliza os melhores recursos que tem à dis-
posição para valorizar a si própria e se promover so-
cialmente. Essa ação é semelhante a uma promoção
de marketing cujo principal produto colocado no mer-
cado pelas mídias sociais é a própria imagem pessoal.
02) As curtidas permitidas pelos aplicativos das mídias
sociais funcionam como ferramentas que estabelecem
regras de comportamento social e são utilizadas, mui-
tas vezes, como definição do que é considerado apro-
priado ou transgressivo nas interações sociais.
04) A ficção científica, gênero ao qual pertence a sé-
rie Black Mirror, trata de forma fantasiosa questões
que não têm relação alguma com a realidade histó-
rica, portanto não devem ser objeto de análise das
pesquisas sociológicas.
08) As primeiras décadas do século XXI e as mídias di-
gitais mostram que as formas de controle sobre a vida
social, pública ou privada, estão em franca decadência.
16) Muito antes do surgimento de tecnologias, como
as mídias sociais, as pessoas já se preocupavam com
as formas de aceitação ou de rejeição social. Isso
ainda é percebido, por exemplo, na interação entre
grupos familiares, entre relações de vizinhança ou na
imposição de estigmas sociais na escola.

Gabarito
1. A 2. A
3. A argumentação de Goffman está vinculada à teoria de
representação de papéis sociais. A forma como as pessoas
se percebem depende de como elas representam os papéis
sociais, tal como faz um ator no teatro. Dessa maneira, o
mais importante é que esses papéis sejam bem representa-
dos e reconhecidos pela plateia em questão.

4. A 5. B 6. E 7. D 8. A
9. D 10. 01 + 02 + 16 = 1

122
Em seus estudos, Euclides da Cunha aponta uma visão
AULA 18 sociológica no comportamento coletivo, numa relação
psicossocial do sertanejo, sendo visto como um bloco ét-
nico e cultural. Apesar de conter traços etnocêntricos em
sua escrita, numa subjugação do sertanejo, o autor lança
uma análise acerca do povo marginalizado no Brasil re-
cém-republicano.
SOCIOLOGIA BRASILEIRA:
Entretanto, a ciência Sociologia só se firmará no Brasil nas
GILBERTO FREYRE primeiras décadas do século XX, com pesquisas em bus-
ca de compreensão profunda da sociedade brasileira. De
modo que muitos estudos se voltaram para a abolição da
escravatura, os índios, os negros e as migrações dos povos.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

multimídia: vídeo
1. Introdução
FONTE: YOUTUBE
Os primeiros estudos no campo sociológico no Brasil aconte-
Histórias do Brasil: Canudos. Brasil, 2017 (4min20)
ceram no final do século XIX. Uma das primeiras análises do
povo brasileiro foi feita pelo escritor Euclides da Cunha (1866- Documentário produzido pela TV Senado.
1909) na obra Os Sertões, um estudo aprofundado sobre o
movimento de Canudos (1896-1897) no estado da Bahia.

1. Gilberto Freyre (1900-1987)


O sociólogo Gilberto Freyre foi um dos pioneiros das Ciên-
cias Sociais no Brasil. Seus estudos revolucionaram a histo-
riografia brasileira por analisar o cotidiano do povo a partir
da tradição oral, além de diversos documentos, como ma-
nuscritos e anúncios de jornais, fontes que, até o momento,
não eram muito analisadas pelos estudiosos.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Guerra de Canudos - Brasil, 2006 (165 min).
Baseado na história real sobre a Guerra de Canudos, Sua obra mais conhecida, Casa-Grande & Senzala, foi lan-
na qual o exército brasileiro enfrentou os integrantes çada em 1933, concluindo que a mestiçagem do povo bra-
de um movimento religioso liderado por Antônio Con- sileiro não era uma um problema, como estudos anteriores
selheiro, e que durou de 1896 a 1897 e terminou com apontavam. Analisando o período colonial, o sociólogo ex-
o massacre dos insurgentes pelas tropas federais. plica a formação social do Brasil, mediante a interação da
casa-grande com a senzala.

123
Segundo Freyre, com a abolição da escravidão, a condi-
ção material dos recém-libertos piorou substancialmente.
Segundo Freyre, a história social da casa-grande é a his-
tória íntima de quase todo brasileiro, ou seja, com uma
vida doméstica conjugal sob o domínio de um patriarca-
do escravocrata e polígamo.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Casa-Grande & Senzala - Nelson
Pereira dos Santos, 2000.
A produção está dividida em quatro episódios.
"Gilberto Freire, o Cabral moderno": Fala do próprio
autor, comparando-o ao descobridor do Brasil por sua
multimídia: música
atividade intelectual. "A cunhã de família brasileira": FONTE: YOUTUBE
Discute a contribuição do índio à formação brasileira. Casa-Grande e Senzala - Leci Brandão. Álbum:
"O português, colonizador dos trópicos": Freyre ana- Escolas de Samba - Enredos. Sony Music, 2014.
lisa as características do povo português e quais suas Samba-enredo da escola de samba Mangueira para o car-
influências na formação brasileira. "O escravo negro naval de 1962. Nesse ano, a Mangueira homenageou o so-
na vida sexual e de família do brasileiro": Discute a ciólogo Gilberto Freyre e sua obra Casa-Grande & Senzala.
participação africana na vida social brasileira.

Essa formação social foi consolidada pela estrutura colo-


nial, com base em grandes propriedades fundiárias, mão
de obra escrava e no patriarcado, conjunto com uma mes-
cla cultural (europeus, africanos e indígenas) evidenciada
nos hábitos dos indivíduos.
A casa-grande, representação física e simbólica dos senhores
e das elites coloniais, e a senzala, representação física e sim- A abordagem de Freyre esquematiza a relação conflituosa
bólica dos escravizados, acabam por constituir a formação da e “velada” na constituição familiar e de seus agregados,
sociedade brasileira devido à grande interação sociocultural. apontando seus vícios e pecados, destacando as relações
sexuais que faziam parte do cotidiano da casa-grande, con-
tribuindo para a formação de uma sociedade miscigenada.
Salienta-se a concentração fundiária mediante casamen-
tos arranjados, resultando na manutenção da estruturação
segmentar de algumas famílias.

multimídia: livro
A casa-grande, recinto de propriedade dos senhores, abriga-
va alguns escravos selecionados para desenvolver afazeres Casa-Grande & Senzala - Gilberto Freyre.
domésticos. Essa relação conflituosa de opressor e oprimidos Rio de Janeiro: Global, 2005.
gerava novas relações de poder entre os escravizados, carac-
Publicado em 1933, aborda a vida familiar, os costumes
terizando uma desigualdade entre os próprios escravizados.
e as inter-relações familiares e interpessoais dentro do
Aqueles que adentravam na casa-grande tinham um status
sistema colonial brasileiro.
diferenciado, como uma ilusória ascensão social.

124
menos preconceituosa, por ser formada na mistura étnica
entre diferentes raças. Como conclusão de suas pesqui-
sas, constrói-se a tese em que aparece a característica di-
ferencial da sociedade brasileira dentro da América. Uma
sociedade multirracial, na qual o cruzamento étnico não
ocorre como resultado de uma violência física gerada na
conquista, mas como processo contínuo de negociação
multimídia: livro entre os grupos envolvidos.
Está aberto o caminho para a tese que vai ser veiculada
Casa-Grande & Senzala em quadrinhos - Gilberto
mundo afora: a da democracia racial brasileira. Tese na qual
Freyre. São Paulo: Editora Global, 2005.
se elogia o caráter mestiço da população como motivo de
Versão em quadrinhos da obra de Gilberto Freyre, para orgulho, pois conquista social, em que se afirmam as qua-
caracterizar a constituição da sociedade brasileira. lidades igualitárias trazidas pela mistura de índios, negros e
brancos, e a construção de uma sociedade onde não haveria
Na visão de Gilberto Freyre a formação dessa socieda- racismo, pois a mistura étnica encontrara-se integrada den-
de miscigenada seria a grande qualidade brasileira, pois, tro da própria família brasileira. A partir da década de 1950,
segundo o autor, temos a formação de uma sociedade a tese de Gilberto Freyre passará a ser muito criticada.

DIAGRAMA DE IDEIAS

GILBERTO
FREYRE

A SOCIEDADE BRASILEIRA
EUCLIDES DA CUNHA
É FORMADA PELA
MISTURA DE ETNIAS

OS SERTÕES
MOLDADA DURANTE O
PERÍODO COLONIAL

ANALISA A SOCIEDADE
DO SERTÃO BAIANO RELAÇÃO CASA-
-GRANDE E SENZALA

QUESTIONA OS RITOS
SOCIAIS QUE APRESENTAM
AS DESIGUALDADES
ENTRE OS BRASILEIROS

125
Levantamento inédito realizado pelo projeto Comunica
Aplicando para que Muda [...] mostra em números a intolerância do in-
ternauta tupiniquim. Entre abril e junho. um algoritmo
Aprender (A.P.A.) vasculhou plataformas [...] atrás de mensagens e textos
1. (Enem) “Formou-se na América tropical uma socie- sobre temas sensíveis, como racismo, posicionamento
dade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de político e homofobia. Foram identificadas 393 284 men-
exploração econômica, híbrida de índio – e mais tarde ções, sendo 84% delas com abordagem negativa, de ex-
de negro – na composição. Sociedade que se desenvol- posição do preconceito e da discriminação.
veria defendida menos pela consciência de raça, do que DISPONÍVEL EM: <HTTPS://OGLOBO.GLOBO.COM>.
pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de ACESSO EM: 6 DEZ. 2017 (ADAPTADO).
profilaxia social e política. Menos pela ação oficial do
que pelo braço e pela espada do particular. Mas tudo Ao abordar a postura do internauta brasileiro mapea-
isso subordinado ao espírito político e de realismo eco- da por meio de uma pesquisa em plataformas virtuais,
nômico e jurídico que aqui, como em Portugal, foi desde o texto:
o primeiro século elemento decisivo de formação nacio- a) minimiza o alcance da comunicação digital.
nal; sendo que entre nós através das grandes famílias b) refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro.
proprietárias e autônomas; senhores de engenho com c) relativiza responsabilidades sobre a noção de respeito.
altar e capelão dentro de casa e índios de arco e flecha
d) exemplifica conceitos contidos na literatura e na
ou negros armados de arcabuzes às suas ordens”.
sociologia.
De acordo com a abordagem de Gilberto Freyre sobre a e) expõe a ineficácia dos estudos para alterar tal com-
formação da sociedade brasileira, é correto afirmar que: portamento.
a) A colonização na América tropical era obra, sobre-
tudo, da iniciativa particular. 4. (Enem) A miscigenação que largamente se praticou
aqui corrigiu a distância social que de outro modo se
b) O caráter da colonização portuguesa no Brasil era
teria conservado enorme entre a casa-grande e a mata
exclusivamente mercantil.
tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a mono-
c) A constituição da população brasileira esteve isen-
cultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido
ta de mestiçagem racial e cultural.
de aristocratização, extremando a sociedade brasileira
d) A Metrópole ditava as regras e governava as terras em senhores e escravos, com uma rala e insignificante
brasileiras com punhos de ferro lambujem de gente livre sanduichada entre os extre-
e) Os engenhos constituíam um sistema econômico e mos antagônicos, foi em grande parte contrariado pe-
político, mas sem implicações sociais. los efeitos sociais da miscigenação.
2. (Enem (Libras)) A miscigenação que largamente se FREYRE, G. CASA GRANDE & SENZALA. RIO DE JANEIRO: RECORD, 1999.
praticou aqui corrigiu a distância social que de outro
modo se teria conservado enorme entre a casa-grande A temática discutida é muito presente na obra de Gil-
e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O berto Freyre, e a explicação para essa recorrência está
que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no empenho do autor em:
no sentido de aristocratização, extremando a sociedade a) defender os aspectos positivos da mistura racial.
brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insig- b) buscar as causas históricas do atraso social.
nificante lambujem de gente livre sanduichada entre os c) destacar a violência étnica da exploração colonial.
extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado
d) valorizar a dinâmica inata da democracia política.
pelos efeitos sociais da miscigenação.
e) descrever as debilidades fundamentais da coloni-
FREYRE, G. CASA-GRANDE & SENZALA. RIO DE JANEIRO: RECORD, 1999. zação portuguesa.
A temática discutida é muito presente na obra de Gil- 5. (UENP) Do ponto de vista sociológico, o Brasil se cons-
berto Freyre, e a explicação para essa recorrência está tituiu sobre o mito da democracia racial principalmente
no empenho do autor em depois da publicação de Casa grande e senzala de Gil-
a) defender os aspectos positivos da mistura racial. berto Freyre (2003). De acordo com Florestan Fernan-
b) buscar as causas históricas do atraso social. des (1965) o ideal de miscigenação fora difundido como
mecanismo de absorção do mestiço não para a ascen-
c) destacar a violência étnica da exploração colonial.
são social do negro, mas para a hegemonia da classe
d) valorizar a dinâmica inata da democracia política.
dominante. O mito da democracia racial assentou-se
e) descrever as debilidades fundamentais da coloni- sobre dois fundamentos: 1) o mito do bom senhor; 2) o
zação portuguesa. mito do escravo submisso. Analise as afirmações:
3. (Enem) Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi I. A crença no bom senhor exalta a vulgaridade das eli-
por vezes tratado como cordial e hospitaleiro, mas não tes modernas, como diria Contardo Calligaris, e junta-
é isso o que acontece nas redes sociais: a democracia ra- mente com uma espécie de pseudo cordialidade seriam
cial apregoada por Gilberto Freyre passa ao largo do que responsáveis pela manutenção e o aprofundamento das
acontece diariamente nas comunidades virtuais do país. diferenças sociais.

126
II. O mito do escravo submisso fez com que a sociedade perdem sua mais antiga conotação. Esse é o caso exem-
de um modo geral não encarasse de frente a violência da plar de Jeca Tatu, conhecida personagem de Monteiro Lo-
escravidão, fez com que os ouvidos se ensurdecessem aos bato, que enquanto mestiço, pobre e ignorante, de certa
clamores do movimento negro, por direitos e por justiça. forma representava a condição vivenciada pela maioria
III. As proposições legislativas sobre a inclusão de ne- da população brasileira. Em 1919, porém, em O proble-
gros vão desde o Projeto de Lei que reserva aos negros ma vital, Lobato parece ter mudado de posição, quando,
um percentual fixo de cargos da administração pública, desviando a atenção para o problema racial, apresentava
aos que instituem cotas para negros nas universidades Jeca Tatu não como o resultado de uma formação híbrida,
públicas e nos meios de comunicação. mas como o fruto de doenças epidêmicas.
Assinale a alternativa correta: SCHWARCZ, L. M. O ESPETÁCULO DAS RAÇAS. SÃO PAULO:
COMPANHIA DAS LETRAS, 1993, P. 248-249.
a) todas as afirmações são verdadeiras.
b) apenas a afirmação II é verdadeira. Assinale a alternativa incorreta a respeito da formação
c) as afirmações I e III são verdadeiras. do pensamento brasileiro.
d) as afirmações I e II são falsas. a) A obra de Gilberto Freyre, na década de 1930, con-
e) todas as afirmações são falsas. tribuiu para que a miscigenação fosse percebida de
forma positiva.
6. (Unicentro) A formação do Brasil e a identidade do b) O texto apresenta um período de mudança de visão
brasileiro foram bastante discutidas no início do século sobre o país, expressa pela transformação do significa-
XX pelos sociólogos brasileiros Gilberto Freyre, Sérgio do da personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato.
Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. A respeito das c) O Brasil herdou muito dessa visão da miscigenação.
análises de Freyre, em seu livro “Casa Grande e Senzala”, Com isso, a ideia de uma democracia racial continua
é correto afirmar: presente até hoje.
a) Criou uma tipologia para estudar a formação do Brasil d) Atualmente, o Brasil não é mais visto como uma na-
e do brasileiro, dando ênfase explicativa ao tipo aven- ção miscigenada, e sim maculada pela guerra racial.
tureiro do português em detrimento do tipo semeador. e) O início do século XX representou um período his-
b) Fez um estudo da colonização portuguesa, descreven- tórico em que houve uma maior preocupação com a
do a formação da família patriarcal brasileira, dando es- saúde pública da população.
pecial importância à miscigenação como traço cultural.
9. (Unioeste) Em Casa Grande & Senzala, primeira obra da
c) Observou que a cordialidade do povo brasileiro lhe
trilogia em que Gilberto Freyre analisa a formação da fa-
dificultava o reconhecimento da moderna impessoali-
mília patriarcal brasileira, não é possível observar
dade nas relações sociais.
d) Utilizou o materialismo dialético como chave explicati- a) o elogio da colonização portuguesa no Brasil.
va dos fatos sociais que condicionavam o destino do país. b) a defesa da ideia de que a interação entre os grupos
e) Tratou da decadência do patriarcado rural e do étnicos teria ocorrido em relativa harmonia, a despeito
crescimento das elites urbanas no Brasil. das relações de poder.
c) a presença da influência culturalista de uma perspec-
7. Gilberto Freyre foi um dos principais sociólogos bra- tiva que valoriza traços e práticas culturais dos diferen-
sileiros da geração de 30. Em seu livro “Casa Grande tes grupos que constituem o povo brasileiro.
& Senzala” descreve com objetividade a contribuição d) a noção de que a origem do “atraso” da sociedade
histórica do negro na construção da sociedade brasilei- brasileira seria a mestiçagem.
ra. Foi o primeiro a esboçar o conceito de democracia e) a ideia de que os altos “índices” de miscigenação ob-
racial, baseado em/na: servados na sociedade brasileira estariam associados à
a) Conflitos interraciais que denunciavam a domina- capacidade de adaptação do empreendedor português,
ção dos brancos sobre os negros escravizados. quando comparado a outros povos colonizadores.
b) Descrições de inúmeras relações amorosas entre
10. (UnespAR) A guerra de Canudos aconteceu entre
senhores e escravos, que contribuiu para a miscige-
1893 e 1897, na Bahia. O movimento foi liderado por
nação do Brasil.
Antônio Conselheiro. Com ele, sertanejos baianos esta-
c) Os senhores atribuíam aos negros tarefas braçais e beleceram-se em Canudos, um lugarejo no nordeste da
subalternas. Bahia, e construíram uma comunidade de cerca de 300
d) Inexistência de conflitos raciais com base em justi- mil habitantes. Viviam num sistema comunitário: não
ficativas religiosas. havia propriedade privada e todos os frutos do traba-
8. (Interbits) Com efeito, já nos anos 1930, a noção elabo- lho eram repartidos. Temendo o poder de Antônio Con-
rada pelo antropologo Gilberto Freyre (1930), de que esse selheiro e a possibilidade de que a experiência se esten-
era um país racial e culturalmente miscigenado, passava desse a outros lugares, os donos das terras, os coronéis,
a vigorar como uma espécie de ideologia não oficial do exigiam que os poderes estadual e federal acabassem
Estado, mantida acima das clivagens de raça e classe e com aquela comunidade.
dos conflitos sociais que se precipitam na época. Nesse TOMAZI, NELSON DACIO. SOCIOLOGIA PARA O ENSINO MÉDIO. 2ª
contexto, conceitos são reavaliados, imagens assentadas ED. SÃO PAULO: EDITORA SARAIVA, 2010, P. 160-161.

127
De acordo com a assertiva apresentada acima, de Nelson
Dacio Tomazi, assinale a alternativa correta, ou seja, assi-
nale a alternativa que corresponde com a obra, bem como
o seu autor no que compreende a Guerra de Canudos:
a) Os Sertões de Euclides Neto.
b) Os Sertões de Euclides da Cunha
c) Grandes Sertões de Euclides da cunha.
d) Guerra de Canudos de Euclides da cunha.
e) Canudos de Euclides Neto.

Gabarito
1. A 2. A 3. B 4. A 5. A
6. B 7. B 8. D 9. D 10. B

128
Dessa maneira, o sentido da colonização brasileira precisa
AULA 19 ser compreendido dentro de três séculos de atividade de
exploração, contendo elementos de dominação por parte
dos países europeus a partir do século XV. Isso quer dizer
que os fatos históricos possuem enorme influência na for-
mação desse povo. Diante disso, não é possível dissociar
esses elementos para compreender a realidade atual.
SOCIOLOGIA BRASILEIRA:
Assim, o objetivo de Caio Prado Jr. era conhecer o Brasil
CAIO PRADO JR. E SÉRGIO para modificá-lo. Segundo o autor, o país nunca foi sub-
BUARQUE DE HOLANDA desenvolvido ou em desenvolvimento; mas seria um país
rico e pobre, desenvolvido e atrasado, dependendo do ciclo
econômico de cada período histórico.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5

1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

A primeira geração de sociólogos da década de 1930 foi multimídia: vídeo


formada por estudiosos que se debruçaram em busca de FONTE: YOUTUBE
um entendimento da formação da sociedade brasileira, Um sonho intenso - Brasil, 2013 (102 min).
abordando diversas temáticas, como a abolição da escra- História comentada do desenvolvimento socioeconô-
vatura e a formação da sociedade brasileira. mico desde 1930 até os dias atuais. Por meio de eco-
nomistas e outros pensadores que discorrem sobre os
1. Caio Prado Jr. (1907-1990) ciclos de crescimento, a industrialização e as mudan-
ças políticas produzidas no país nas últimas décadas,
Formado em Direito e em Ciências Sociais, Caio Prado Jr. sem que todos os desafios em termos de infraestrutura
direcionou seus estudos para a área da Economia Políti- e desigualdades tenham sido vencidos.
ca. Com uma análise histórico-político-social da forma-
ção da sociedade brasileira, as suas obras inauguraram
no país uma tradição historiográfica identificada com o Seguindo essa lógica, o Brasil não passou por ciclos econô-
marxismo, buscando uma explicação diferenciada da so- micos bem definidos historicamente (ciclo do pau-Brasil, ci-
ciedade colonial brasileira. clo açucareiro, ciclo do café, etc.). O que se passou foi uma
superposição de fases econômicas, tendo um produto que
predominava um momento. A problemática social existen-
te no país é consequência de uma política de exploração
europeia, que tinha como principal objetivo abastecer o
mercado da metrópole, relegando à colônia apenas uma
pequena parcela desse processo econômico.

No ano de 1942, publica a Formação do Brasil Contem-


porâneo, livro que tratará da evolução histórica brasileira,
tendo como início o período colonial, a fim de apresentar
as estruturas sociais do país.

129
interpretar o processo histórico posterior e a resultante
dele que é o Brasil de hoje.
JR. PRADO, CAIO.
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO. SÃO PAULO: BRASILIENSE, 1961, P.5.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Esmola - Skank. Álbum: Calango, 1994.
Essa canção traz uma forte crítica à sociedade contem-
porânea brasileira, com seu consumo exacerbado que multimídia: livro
provoca grandes níveis de desigualdade social, e mais
do que isso, incute uma mentalidade excessivamente
Formação do Brasil Contemporâneo - Caio
egoísta e competitiva.
Prado Jr. São Paulo: Cia. Das Letras, 2011.

1.1. Materialismo histórico à brasileira


Sua análise acerca da formação da sociedade brasileira se 2. Sérgio Buarque de
sustenta não apenas em analisar a atuação das elites econô-
micas do país, mas em destacar o confronto existente entre Holanda (1902-1982)
as classes sociais brasileiras, dando importância às classes Com formação histórica e jurídica, o paulista Sérgio Bu-
sociais que foram renegadas historicamente e que configu- arque de Holanda começa a esboçar sua teoria sobre a
ram o povo e fornecem a base para a sociedade brasileira, formação cultural, econômica e social do Brasil.
tanto no presente como no futuro.
Segundo Caio Prado, a glorificação dos heróis é um grave
problema para a sociedade, pois limita as iniciativas coleti-
vas, impedindo uma transformação sistemática, pois con-
solida uma dependência na resolução dos problemas. Esse
costume de escolher um único indivíduo para acabar com
todos os males, costume bem reproduzido pelos brasileiros
até os dias atuais, proporciona uma subordinação a um
elemento com características superiores ilusórias.
O início do século XIX não se assinala para nós unica-
mente por estes acontecimentos relevantes que são a
transferência da sede da Monarquia portuguesa para o
Brasil e os atos preparatórios da emancipação política do
país. Ele marca uma etapa decisiva em nossa evolução e
inicia em todos os terrenos, social, político e econômico,
uma fase nova. Debaixo daqueles acontecimentos que
se passam na superfície, elaboram-se processos comple- Com forte influência de Max Weber, o pensamento de Sér-
xos de que eles não foram senão o fermento propulsor,
gio Buarque de Holanda, um dos membros da geração de
e, na maior parte dos casos, apenas a expressão externa.
Para o historiador, bem como para qualquer um que pro- 1930, pretende interpretar a identidade e singularidade do
cure compreender o Brasil, inclusive o de nossos dias, o povo brasileiro.
momento é decisivo. O seu interesse decorre sobretudo
de duas circunstâncias: de um lado, ele nos fornece, em
balanço final, a obra realizada por três séculos de colo-
2.1. Raízes do Brasil
nização e nos apresenta o que nela se encontra de mais Nessa obra publicada em 1936, Sérgio Buarque destaca as
característico e fundamental, eliminando do quadro ou
características que o povo brasileiro herda de suas influên-
pelo menos fazendo passar ao segundo plano, o aciden-
tal e intercorrente daqueles trezentos anos de história. cias ibéricas (Portugal e Espanha), como o ruralismo e o pa-
É uma síntese deles. Doutro lado, constitui uma chave, triarcalismo, que acabaram criando um comportamento de
e chave preciosa e insubstituível para se acompanhar e predomínio dos interesses privados sobre a esfera pública.

130
multimídia: vídeo multimídia: livro
FONTE: YOUTUBE
Raízes do Brasil - Brasil: 2004 (100 min). Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda.
Homenagem ao centenário de nascimento de Sérgio São Paulo: Cia das Letras, 2015.
Buarque de Holanda (1902), o documentário inclui
imagens do arquivo pessoal do escritor e cenas his- Dessa maneira, Raízes do Brasil apresenta as ideias we-
tóricas do século XX. Dividido em duas partes, o filme berianas diante de uma série de contraposições, como o
mostra desde o cotidiano de Sérgio até um panorama racional e o cordial, o pessoal e o impessoal, salientando
cronológico de sua época. o conceito de Weber de patrimonialismo para descrever as
relações politicamente promíscuas entre o Estado, os go-
O brasileiro, consequência desses costumes, é descrito como vernos e as classes dominantes no Brasil.
um “homem cordial”, ou seja, é um sujeito que age pelo Para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão po-
coração e pelo sentimento, preferindo relações sociais mais lítica apresenta-se como assunto de seu interesse parti-
flexíveis ao invés de cumprir as leis objetivas e imparciais. cular; as funções, os empregos e os benefícios que deles
aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário
Afinal, o que haveria de errado na cordialidade brasileira, e não a interesses objetivos, como sucede no verdadei-
nesse sentido de afetuosidade típica de um povo? Não ro Estado burocrático, em que prevalecem a especia-
haveria nada condenável se a afabilidade se desse em am- lização das funções e o esforço para se assegurarem
biente privado, em relações entre familiares e amigos. O garantias jurídicas aos cidadãos. A escolha dos homens
que irão exercer funções públicas faz-se de acordo com
problema surge quando a cordialidade se manifesta na es-
a confiança pessoal que mereçam os candidatos, e mui-
fera pública. Isso porque o tipo cordial – uma herança por- to menos de acordo com as suas capacidades próprias.
tuguesa reforçada por traços das culturas negra e indígena Falta a tudo a ordenação impessoal que caracteriza a
– é individualista, avesso à hierarquia, arredio à disciplina, vida no Estado burocrático.
desobediente a regras sociais e afeito ao paternalismo e
(HOLANDA, P.146).
ao compadrio, ou seja, não se trata de um perfil adequado
para a vida civilizada numa sociedade democrática.
Diante dessa característica, o brasileiro tem uma enorme
dificuldade de discernir o público do privado, misturando
constantemente essas duas esferas. O homem cordial de
Sérgio Buarque representa a impossibilidade da formação
de um Estado impessoal. Para o homem cordial, no entanto,
há uma extensão natural entre o plano da esfera privada e
o da esfera pública.
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Paratodos - Chico Buarque.
Álbum: Paratodos (1993).
Filho de Sérgio Buarque de Holanda, Chico Buarque nes-
sa canção fala não só sobre si, mas também sobre as
raízes do Brasil e a miscigenação do povo brasileiro.

O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e,


ainda menos, uma integração de certos agrupamentos,
de certas vontades particularistas, de que a família é o
melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o
Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade

131
e até uma oposição. A indistinção fundamental entre as duas formas é prejuízo romântico que teve os seus adeptos mais entu-
siastas durante o século XIX. De acordo com esses doutrinadores, o Estado e as suas instituições descenderiam em linha reta, e
por simples evolução, da família. A verdade, bem outra, é que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão
da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e que o simples individuo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recru-
tável e responsável, ante as leis da Cidade. Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material
(...). A ordem familiar, em sua forma pura, é abolida por uma transcendência.
(HOLANDA, P.141).

DIAGRAMA DE IDEIAS

GERAÇÃO DE
1930

SÉRGIO BUARQUE
CAIO PRADO JR.
DE HOLANDA

A FORMAÇÃO ANALISA AS
DA SOCIEDADE ORIGENS DO POVO
BRASILEIRA BRASILEIRO

SE FAZ POR
HERDA HÁBITOS
UMA DIALÉTICA
IBÉRICOS
CONSTANTE E
COMPLEXA

O BRASILEIRO
SENDO RICO SURGE COMO
E POBRE, “HOMEM CORDIAL”
DESENVOLVIDO
E ATRASADO

A MISTURA ENTRE
A ESFERA PÚBLICA
E A PRIVADA

132
3. (UEL) “A falta de coesão em nossa vida social não
Aplicando para representa, assim, um fenômeno moderno. E é por isso
que erram profundamente aqueles que imaginam na
Aprender (A.P.A.) volta à tradição, a certa tradição, a única defesa possí-
1. (Enem) Para Caio Prado Jr., a formação brasileira se vel contra nossa desordem. Os mandamentos e as orde-
completaria no momento em que fosse superada a nos- nações que elaboraram esses eruditos são, em verdade,
sa herança de inorganicidade social - o oposto da inter- criações engenhosas de espírito, destacadas do mundo
ligação com objetivos internos - trazida da colônia. Este e contrárias a ele. Nossa anarquia, nossa incapacidade
momento alto estaria, ou esteve, no futuro. Se passar- de organização sólida não representam, a seu ver, mais
mos a Sérgio Buarque de Holanda, encontraremos algo do que uma ausência da única ordem que lhes parece
análogo. O país será moderno e estará formado quando necessária e eficaz. Se a considerarmos bem, a hierar-
superar a sua herança portuguesa, rural e autoritária, quia que exaltam é que precisa de tal anarquia para se
quando então teríamos um país democrático. Também justificar e ganhar prestígio”.
aqui o ponto de chegada está mais adiante, na depen- HOLANDA, SÉRGIO BUARQUE DE. RAÍZES DO BRASIL. SÃO
dência das decisões do presente. Celso Furtado, por seu PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1995. P. 33.
turno, dirá que a nação não se completa enquanto as
alavancas do comando, principalmente do econômico, Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de
não passarem para dentro do país. Como para os outros Holanda são intelectuais da chamada “Geração de 30”,
dois, a conclusão do processo encontra-se no futuro, primeiro momento da sociologia no Brasil como ativida-
que agora parece remoto. de autônoma, voltada para o conhecimento sistemático e
metódico da sociedade. Sobre as preocupações caracte-
SCHWARZ, R. OS SETE FÔLEGOS DE UM LIVRO. SEQUÊNCIAS rísticas dessa geração, considere as afirmativas a seguir:
BRASILEIRAS. SÃO
PAULO: CIA. DAS LETRAS,1999 (ADAPTADO).
I. Critica o processo de modernização e defende a pre-
Acerca das expectativas quanto à formação do Brasil, a servação das raízes rurais como o caminho mais desejá-
sentença que sintetiza os pontos de vista apresentados vel para a ordem e o progresso da sociedade brasileira.
no texto é: II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente
a) Brasil, um país que vai pra frente. e a denúncia da visão hierárquica e autoritária das eli-
b) Brasil, a eterna esperança. tes brasileiras.
c) Brasil, glória no passado, grandeza no presente. III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos
d) Brasil, terra bela, pátria grande. bacharéis como instrumento de transformação social.
e) Brasil, gigante pela própria natureza. IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de
compreensão e explicação da sociedade brasileira.
2. (Unioeste) “Se vamos à essência da nossa formação
Estão corretas apenas as afirmativas:
veremos que na realidade nos constituímos para forne-
cer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde a) I e III.
ouro e diamantes; depois algodão, e em seguida café, b) I e IV.
para o comércio europeu.” c) II e IV.
PRADO JR, CAIO. FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO. d) I, II e III.
SÃO PAULO, PUBLIFOLHA, 2000, P.21 e) II, III e IV.

O texto acima sintetiza a análise feita por Caio Prado 4. (UFRN) Na obra Raízes do Brasil, publicada pela pri-
Júnior sobre o sentido da colonização do Brasil iniciada meira vez em 1936, Sérgio Buarque de Holanda, ao ana-
pelos portugueses a partir do século XVI. Sobre este pe- lisar o processo histórico de formação da nossa socie-
ríodo é correto afirmar que: dade, afirma:
I. Formou-se, no Brasil, uma economia de caráter depen- Desde o período colonial, para os detentores dos car-
dente do mercado externo. gos públicos, a gestão política apresentava-se como
II. O Brasil foi caracterizado por pequenas unidades de assunto de seus interesses particulares. Isso caracteri-
produção diversificadas. za justamente o que separa o funcionário patrimonial
III. A economia brasileira era dominada por pequenas e o puro burocrata. Para o funcionário patrimonial, as
manufaturas exportadoras. funções, os empregos e os benefícios que deles recebe
relacionam -se a direitos pessoais dos funcionários e
IV. Prevaleceu, no Brasil, uma produção baseada no la-
não a interesses objetivos, como ocorre no verdadeiro
tifúndio monocultor.
Estado burocrático. Assim, no Brasil, pode-se dizer que
a) Somente as afirmativas I e II estão corretas. só excepcionalmente tivemos um sistema administrati-
b) Somente as afirmativas I e III estão corretas. vo e um corpo de funcionários puramente dedicados a
c) Somente as afirmativas I e IV estão corretas. interesses objetivos e fundados nesses interesses.
d) Somente as afirmativas II e III estão corretas. HOLANDA, SÉRGIO BUARQUE DE. RAÍZES DO BRASIL. SÃO
e) Somente as afirmativas II e IV estão corretas. PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1995 (ADAPTADO).

133
Considerando as reflexões do autor e levando em conta IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou
práticas políticas constatadas no Brasil Republicano, é que se enraizassem, no país, práticas sociais opostas
possível inferir que: aos princípios do clientelismo político.
a) os limites entre os domínios do público e do privado, Assinale a alternativa correta:
no âmbito da administração pública, se confundem, não a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
obstante as leis que visam a combater o patrimonialismo. b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
b) o patrimonialismo está presente nas regiões mais c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
carentes do País, em razão apenas do baixo nível de
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
formação dos quadros da administração pública.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
c) as estruturas do poder administrativo no Brasil per-
manecem as mesmas do período colonial, daí a manu- 7. (UEM 2018) “Conforme propôs Sérgio Buarque de
tenção do patrimonialismo disseminado na sociedade. Holanda, o país foi sempre marcado pela precedência
d) o predomínio do interesse particular sobre o inte- dos afetos e do imediatismo emocional sobre a rigoro-
resse público, no Brasil, foi efetivamente rompido com sa impessoalidade dos princípios, que organizam usu-
o êxito da Revolução de 1930. almente a vida dos cidadãos nas mais diversas nações.
‘Daremos ao mundo o homem cordial’, dizia Holanda,
5. (IFSP) O historiador Caio Prado Jr. a afirmou que o não como forma de celebração, antes lamentando a
sentido da colonização do Brasil foi o de “fornecer ao nossa difícil entrada na modernidade refletindo critica-
comércio europeu alguns gêneros tropicais ou minerais mente sobre ela”.
de grande importância. A nossa economia se subordinou
inteiramente a esse fim, isto é, se organizará e funcionará (SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. BRASIL: UMA BIOGRAFIA.
SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 2015, P. 17).
para produzir e exportar aqueles gêneros”.
PRADO JR, CAIO. FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO. Ao pensar a sociedade brasileira nos anos 1930, Sérgio
SP: CIA DAS LETRAS, 2011, P. 123 (ADAPTADO) Buarque de Holanda (1902-1982) indicou ser a cordia-
lidade uma característica fundamental da sociedade
Considerando o sentido da colonização apontado no local. Acerca do conceito de homem cordial, conforme
texto, é correto afirmar que na organização do Brasil construído por Sérgio Buarque de Holanda, é correto
Colonial predominavam: afirmar que
a) o latifúndio, o trabalho assalariado e a policultura. 01) indica o desapreço da sociedade brasileira pelo
b) a urbanização do interior e a produção monocultora. uso da violência.
c) o trabalho escravo, o mercado livre e a industrialização. 02) versa sobre a adesão da sociedade brasileira ao
d) o latifúndio, o trabalho escravo e a agricultura de cumprimento das leis e sobre o desprezo pelo “jeitinho”.
exportação. 04) as relações pessoais extrapolam as relações pri-
e) a pequena propriedade, o trabalho dos imigrantes vadas e organizam também a vida pública.
e a mineração. 08) a cordialidade seria algo transmitido no processo
de socialização presente, de certa forma, na maioria
6. Leia o texto a seguir. dos brasileiros.
Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo demo- 16) indica a superação do passado colonial e a possi-
crático jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos bilidade de estruturação de uma democracia no Brasil
efetivamente esses princípios até onde coincidiram com baseada nos princípios de ordem e de progresso.
a negação pura e simples de uma autoridade incômoda,
8. (UEMa) A incivilidade gourmet
confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e per-
mitindo tratar com familiaridade os governantes. (...) Em entrevista à Folha de S. Paulo, o sociólogo espa-
nhol Manuel Castells chegou a tempo de enfiar o dedo
HOLANDA, S. B. DE. RAÍZES DO BRASIL. SÃO PAULO: nas escancaradas escaras da sociedade brasileira. (...)
COMPANHIA DAS LETRAS, 1995. P. 160. “A imagem mítica do brasileiro simpático só existe no
samba. Na relação entre pessoas, sempre foi violento. A
O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de
sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade
Sérgio Buarque de Holanda sobre a tradição política bra- que se mata”.
sileira. A esse respeito, considere as afirmativas a seguir.
Continua a matéria, “para os leitores de Sergio Buarque
I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservan- de Holanda, o sociólogo espanhol apenas redescobre as
do elementos patrimonialistas e paternalistas que difi- raízes da sociedade brasileira plantadas nos terraços da
cultam a consolidação democrática. escravidão, entre a casa-grande e suas senzalas. (...) Sob
II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para a capa do afeto, o cordialismo esconde as crueldades da
a recusa das relações hierárquicas, as quais são incom- discriminação e da desigualdade.”
patíveis com regimes democráticos.
BELLUZZO, LUIZ GONZAGA. A INCIVILIDADE GOURMET.
III. As relações pessoais entre governantes e governa- CARTA CAPITAL, ANO XXI, Nº 854.
dos inviabilizaram a instauração do fenômeno demo-
crático no país com a mesma solidez verificada nas na- A matéria retratada aponta como ilusória a ideia de que
ções que adotaram o liberalismo clássico. o brasileiro teria como característica a cordialidade, sen-

134
do, ao contrário, preconceituoso e agressivo. As frases de alienação. Na medida em que o homem deixa de
expressivas da arrogância discriminativa presente no co- possuir direito sobre aquilo que produz e se constitui
tidiano da sociedade brasileira estão indicadas em somente em mercadoria, ele se aliena do fruto de seu
a) “Você não pode discutir comigo porque não fez trabalho e se “coisifica”. A escravidão leva ao limite
faculdade.” “Quem poderia resolver essa situação?” essa transformação do homem em coisa.
b) “E você, quem é mesmo?” “Um momento enquan- b) A escravidão causou efeitos perniciosos para a
to verifico o seu processo.” constituição da própria sociedade brasileira. Isso por-
que possibilitou, entre outras coisas, a existência do
c) “A culpa é da Princesa Isabel.” “Este é o número do
racismo, que se mantém até hoje.
seu protocolo, agora é só esperar”.
c) A discriminação racial não existe mais no Brasil.
d) “Eu sou o doutor Fulano de Tal.” “O senhor será o
Uma vez que o Brasil já está em um regime democrá-
próximo a ser atendido.”
tico e a escravidão foi abolida há mais de cem anos,
e) “O senhor sabe com quem está falando?” “Colo- as bases sociais que sustentavam essa discriminação
que-se no seu lugar.” já não existem mais.
9. (Fuvest) “No seu conjunto, e vista no plano mundial e d) Não se pode compreender a constituição do Brasil
internacional, a colonização dos trópicos toma o aspec- sem ter em consideração o período colonial e a im-
to de uma vasta empresa comercial, ... destinada a ex- portância do escravo negro para a cultura brasileira.
plorar os recursos naturais de um território virgem em Apesar de ter sofrido brutalmente durante esse perí-
proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sen- odo, o negro vindo da África trouxe consigo diversos
tido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das elementos culturais que, posteriormente, foram incor-
resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, porados à “cultura brasileira”.
tanto no social como no econômico, da formação e evo- e) A escravidão ainda existe no Brasil. Ainda que não
lução dos trópicos americanos”. seja institucionalizada, ainda existem pessoas traba-
lhando de maneira forçada e em condições desuma-
CAIO PRADO JÚNIOR, HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL.
nas no país. Não por acaso, diversas associações e
Com base neste texto, podemos afirmar que o autor: empresas são signatárias de um Pacto Nacional pela
Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil.
a) indica que as estruturas econômicas não condicionam
a vontade soberana dos homens.
b) demonstra a autonomia existente entre as esferas
social e econômica.
Gabarito
c) propõe uma interpretação econômica sobre a colo- 1. B 2. C 3. C 4. A 5. D
nização do Brasil, acentuando seu sentido mercantil.
d) dá ao Brasil uma especificidade dentro do contexto 6. B 7. 04 + 08 = 12 8. E 9. C 10. C
de colonização dos trópicos.
e) confere ao sentido da colonização uma relativa au-
tonomia em relação ao mercado internacional.

10. (Interbits) O principal, e pior, impacto da escravidão


seria o de negar ao trabalhador sua humanidade. Re-
duziria o homem à sua “mais simples expressão, pouco
senão nada mais que o irracional”, já que para o em-
preendimento colonial interessaria dele “o ato física
apenas, com exclusão de qualquer outro elemento ou
concurso moral. A ‘animalidade’ do Homem, não a sua
‘humanidade’”. É difícil imaginar algo mais brutal. [...]
Caio Prado nota também que, em razão da escravidão,
“existiu sempre um forte preconceito discriminador de
raças” no Brasil. Considera, portanto, que esse preconcei-
to não tem motivos biológicos, mas históricos e sociais.
RICUPERO, B. SETE LIÇÕES SOBRE AS INTERPRETAÇÕES DO BRASIL.
2ª ED. SÃO PAULO: ALAMEDA, 2008, P. 144-145.

O texto acima, de Bernardo Ricupero, apresenta uma


explicação da forma como Caio Prado Jr. compreende
os efeitos da escravidão para a constituição da socieda-
de brasileira. Tendo em conta essa abordagem, assinale
a alternativa incorreta:
a) A noção de que a escravidão destitui o homem da
sua humanidade está relacionada ao conceito marxista

135
Continua sua trajetória acadêmica ingressando na Univer-
AULA 20 sidade de São Paulo em 1941, no curso de Ciências Sociais.
Em 1951 doutorou-se. Na década de 1960, assumiu como
titular da cadeira de Sociologia na mesma instituição. O
título de sua tese é “A integração do negro na sociedade
de classes”, um tema que permanecerá ao longo de seus
estudos acadêmicos.
SOCIOLOGIA BRASILEIRA: Com o regime militar, em 1969, é cassado e afastado de
FLORESTAN FERNANDES suas atividades intelectuais, passando a lecionar em uni-
versidades do Canadá e dos Estados Unidos.
Em 1978, tornou-se professor titular da PUC-SP. Elegeu-se
Deputado Federal (1987-1990) pelo Partido dos Trabalha-
dores, defendendo a democratização do ensino público. Foi
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
reeleito em 1990.
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22,
23, 24 e 25

1. Florestan Fernandes
(1920-1995) multimídia: livro

Quarto do Despejo - Carolina Maria de


Jesus. São Paulo: Editora Ática, 2014.
O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus
deu origem a esse livro, que relata o cotidiano triste e
cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas con-
tundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar
sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos
anos em que morou na comunidade do Canindé, em
São Paulo, com três filhos.
Florestan Fernandes é considerado o fundador da Sociologia
Crítica no Brasil. Tendo uma origem pobre na cidade de São 1.1. A influência de Marx
Paulo, Florestan abandona os estudos para auxiliar na renda
familiar, dedicando-se ao trabalho ainda na infância. Com Florestan Fernandes sofrerá forte influência do pensamento
dificuldade, consegue terminar a escola já com mais idade. de Marx, principalmente da concepção de luta de classes.
A influência da dialética marxista permeará durante todo o
seu trabalho, principalmente quando busca compreender
a formação do povo brasileiro e, em especial, a formação
da população da cidade de São Paulo. Para Fernandes, a
análise sociológica considera as classes como estruturas
sociais variáveis no tempo, registrando o aparecimento e a
repetição de situações sociais que provocam o crescimento
e a perpetuação das formas de atuação dessas mesmas
multimídia: vídeo classes. Com essa interpretação, ele traz o marxismo para a
FONTE: YOUTUBE sociologia brasileira adequado à leitura da estrutura social.
Florestan Fernandes Vox Populi Em outras palavras, ele sugere ao antropólogo abandonar
Entrevista com o sociólogo Florestan Fernandes, em a leitura exclusivamente culturalista e se dedicar a entender
1984, no programa Vox Populi. a situação dos diversos grupos sociais em relação à estru-
tura de classe existente na sociedade brasileira. É notório

136
o seu posicionamento político nesse campo de pesquisa, Mundo dos Brancos Mundo dos Negros
pois, para o sociólogo, a democracia racial no Brasil não
Privilégios sociais Discriminação velada
passava de uma falácia. O fator determinante na constitui-
Livre trânsito nos espaços Limitação espacial
ção da sociedade brasileira é o econômico, então o nosso
modelo social montado com base na relação de domina- Dificuldades de
Acesso à informação
acesso à informação
ção econômica entre senhor-escravo já é discriminatório
Patrimônio de terras Dificuldades de
desde o princípio. Longe de haver uma democracia racial, e bens materiais acesso aos patrimônios
o que existe seria uma discriminação social que se torna
Dominação como regra Submissão como regra
também racial e funciona como regra, não como exceção.

1.2. Mundo dos brancos x mundo dos negros


Para o sociólogo, a desigualdade social no Brasil converte-
-se numa desigualdade étnico-social, onde se observa e se
preserva um racismo velado na sociedade. De modo que a
sociedade brasileira se formará mediante a miscigenação
das diferentes etnias, sendo feita de forma violenta e sob
o controle de um grupo social, aquele de origem europeia. multimídia: livro

O negro no mundo dos brancos - Florestan


Fernandes. São Paulo: Difel, 1972.
Nesse livro, o sociólogo faz uma análise da formação
do povo brasileiro, denunciando a supremacia da “raça
branca”, acusando a acomodação racial existente na
sociedade brasileira.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE Diante disso, o sociólogo problematiza a questão racial
Desigualdade Racial no Brasil - 2 minutos para entender! brasileira, demonstrando que essa condição foi naturaliza-
da, ou seja, foi criada por um grupo dominante, os brancos.
Surgindo assim um mundo dos brancos, cercado de regalias Essa condição afeta toda a conjuntura social, influenciando
históricas, como a concentração fundiária, o acúmulo e o todos os pilares da sociedade, pois se construíram símbolos
acesso ao conhecimento e formação das próprias leis sociais. para moldar brancos e negros, valorizando os brancos e
desvalorizando os negros.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE multimídia: música
Sorry to bother you - Estados Unidos, 2018. FONTE: YOUTUBE
Jovem negro busca sua independência com um em- Negro Drama - Racionais MC’s. Álbum: Nada
prego no telemarketing, mas para ter sucesso começa como um dia após outro dia, 2002.
a imitar a voz de um homem branco. A crítica social A canção mostra o cotidiano de violência da periferia e
perpassa questões raciais e também trabalhistas. denuncia o preconceito racial contra os negros.

O mundo dos negros, por sua vez, é caracterizado por uma Na área de contato com o branco, onde o negro não
limitação do seu espaço social, dificuldades de acesso à in- aparece despojado dos valores de seu mundo social
formação e à educação, sofrendo uma desvalorização dos próprio, suas identificações morais ou culturais não
ritos e da própria formação social. possuem nenhuma eficácia e não contam para nada da

137
determinação do ciclo de ajustamento interracial. Nessa área, o negro vive nos limites de sua segunda natureza humana e tem
de aceitar e submeter-se às regras do jogo, elaboradas para os brancos, pelos brancos e com vistas à felicidade dos brancos. [...]
O negro foi exposto a um mundo social que se organizou para os segmentos privilegiados da raça dominante. Ele não foi inerte
a esse mundo. Doutro lado, esse mundo também não ficou imune aos negros. Todos os que leram Gilberto Freyre sabem qual
foi a dupla interação, que se estabeleceu nas duas direções. Todavia, em nenhum processo social. O negro permaneceu sempre
condenado a um mundo que não se organizou para tratá-lo como ser humano e como "igual".
FERNANDES, FLORESTAN.
O NEGRO NO MUNDO DOS BRANCOS. SÃO PAULO: GLOBAL, 2007, PP.31-33.

DIAGRAMA DE IDEIAS

FLORESTAN
FERNANDES

A SOCIEDADE
BRASILEIRA SE
CONSTITUI PELA
DESIGUALDADE

DESIGUALDADE
ÉTNICO-SOCIAL

SURGINDO DOIS
MUNDOS DISTINTOS

MUNDO DOS MUNDO DOS


BRANCOS NEGROS

PRIVILÉGIOS DIFICULDADES

138
e) um fenômeno que se impõe, de forma coercitiva,
Aplicando para do social sobre o individual na sociedade brasileira.
Aprender (A.P.A.) 3. Com base no fragmento de texto acima, é correto afir-
mar que o método empregado por Florestan Fernandes
1. Em O negro no mundo dos brancos, Florestan Fernan- pressupõe a:
des defende que uma das maneiras de se compreender
a democracia racial no Brasil é por meio do entendi- a) análise sincrônica e que consiste em um modelo
mento do solapamento e da neutralização dos movi- formulado com base no funcionalismo.
mentos sociais voltados para a democratização das re- b) combinação entre a análise sincrónica e a diacrôni-
lações raciais e para o fortalecimento das técnicas de ca e que consiste em um modelo fenomenológico que
acefalia dos estratos raciais heteronômicos ou depen- combina percepção e práxis.
dentes. Considerando-se essa concepção e as ideias c) combinação entre a análise funcionalista e a feno-
do referido autor, é correto afirmar que a democracia menológica e que consiste em um modelo estrutura-
racial no Brasil é: do no par dialético sincronia e anacronia.
a) incoerente, já que os princípios que a orientam se d) combinação entre a análise sincrónica e a diacrô-
assentam na divisão de classes sociais, e não de raças. nica e que consiste em um modelo quase dialético
b) inconsistente, dado que os indivíduos em condição de fusão da perspectiva histórica com a perspectiva
de exceção ajudam a confirmar a regra e elaboram os estrutural-funcional.
interesses da coletividade negra. e) análise diacrônica e que consiste em um modelo
c) falsa, uma vez que negros e mulatos são socializa- fundamentado no materialismo histórico-dialético.
dos para tolerar, aceitar e endossar as formas existen- 4. (UEMA) A ideia da existência de uma democracia ra-
tes de desigualdade racial. cial no Brasil foi desconstruída pelos estudos de Flores-
d) disforme, pois, conforme o contexto regional, há tan Fernandes, sobretudo, em seu livro A integração do
maior ou menor grau de democracia e aceitação do negro na sociedade de classes. Nesta obra de 1965, o
negro na sociedade dos brancos. autor argumenta que a democracia racial na sociedade
e) inexistente, visto que há a invisibilidade social do brasileira é um mito na medida em que a abolição da
branco e o destaque dos papéis sociais das minorias, escravatura libertou os negros “oficialmente”, mas não
notadamente, dos negros. os incluiu na sociedade como cidadãos, mantendo, as-
sim, a discriminação e a submissão da população negra
TEXTO PARA AS QUESTÕES 2 E 3 aos brancos, permanecendo, portanto, as desigualda-
des sociais entre negros e brancos.
“A intenção foi ligar a desintegração do sistema de castas e
A democracia racial no Brasil, de fato, ainda se constitui
estamentos à formação e à expansão do sistema de classes, como um mito, identificado na fala cotidiana brasileira
para descobrir como variáveis independentes, constituídas com expressões de preconceito racial, a exemplo de:
por fatores psicossociais ou socioculturais baseados na ela- a) “Vamos acabar com essa negrinhagem”; “serviço
boração histórica da “raça” ou “da cor”, poderiam ser e fo- de preto”; “Respeito à diversidade”.
ram realmente recalibrados estrutural e dinamicamente. Há, b) “Cabelo de palha de aço”; “Todas as pessoas nas-
por trás dessa posição interpretativa, uma arrojada atitude cem iguais.”; “Lápis cor de pele”.
científica, que impunha aos autores que o complexo “cadi- c) “Nasceu com um pé na cozinha”; “Inveja branca”;
nho de relações raciais” fosse considerado como um fato “A primeira igualdade é a justiça”.
total, ou seja, sob todos os aspectos que pudessem ser rele- d) “Da cor do pecado”; “Ser diferente é legal”; “Não
sou tuas negas”.
vantes para uma descrição sociológica e uma interpretação
e) “A coisa tá preta”; “Cabelo ruim”; “Negro de alma
causal focalizadas sobre certos problemas fundamentais.” branca”.
FLORESTAN FERNANDES. O NEGRO NO MUNDO DOS BRANCOS.
2. ED. SÃO PAULO: GLOBAL, 2007 (ADAPTADO). 5. “Na ânsia de prevenir tensões raciais hipotéticas e
de assegurar uma via eficaz para a integração gradati-
2. Considerando-se o fragmento de texto acima, é corre- va da ‘população de cor’, fecharam-se todas as portas
to afirmar que “cadinho de relações raciais” refere-se a que poderiam colocar o negro e o mulato na área dos
um fato total que expressa: benefícios diretos do processo de democratização dos
a) a presença simultânea de castas, estamentos e direitos e garantias sociais. Pois é patente a lógica des-
classes sociais na sociedade brasileira. se padrão histórico de justiça social. Em nome de uma
b) toda ordem de fenômenos físicos, psicológicos e igualdade perfeita no futuro, acorrentava-se o ‘homem
sociais existentes na sociedade brasileira. de cor’ aos grilhões invisíveis de seu passado, a uma
c) a coesão e o equilíbrio do sistema de classes sociais condição sub-humana de existência e a uma disfarçada
existente na sociedade brasileira. servidão eterna”.
d) a dinâmica e a harmonia do sistema de classes FERNANDES, F. A INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE DE
sociais existente na sociedade brasileira. CLASSES. SÃO PAULO: GLOBO, 2008, V. 1, P. 309.

139
O trecho acima, do sociólogo Florestan Fernandes, ex- favelização nas grandes capitais brasileiras, a partir de
põe a lógica das relações raciais no período de consoli- fins do século XIX.
dação da ordem social competitiva no Brasil. O proces- e) defender as candidaturas plurirraciais nos proces-
so de “integração gradativa” do negro à sociedade de sos eleitorais, pós 1964.
classes refere-se a uma sociedade baseada no(a):
8. (UEL) Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
a) democracia racial. (UERJ) foi implantado, no exame vestibular, o sistema
b) racismo institucional. de cotas raciais, que desencadeou uma série de discus-
c) preconceito de marca. sões sobre a validade de tal medida, bem como sobre
d) “mito” da democracia racial. a existência ou não do racismo no Brasil, tema que per-
e) liberdade racial. manece como uma das grandes questões das Ciências
Sociais no país. Roger Bastide e Florestan Fernandes, es-
6. No que se refere ao racismo no Brasil, assinale a op- crevendo sobre a escravidão, revelam traços essenciais
ção correta: do “racismo à brasileira”, observando que:
a) Após os golpes de estado de 1964 e 1968, o mito Negro equivalia a indivíduo privado de autonomia e li-
da democracia racial continua a servir como ideal ou berdade; escravo correspondia (em particular do século
inspiração na sociedade brasileira. XVIII em diante) a indivíduo de cor. Daí a dupla proi-
b) A formulação de Gilberto Freyre sobre o país cons- bição, que pesava sobre o negro e o mulato: o acesso
tituir uma democracia social foi, historicamente, rejei- a papéis sociais que pressupunham regalias e direitos
tada no Brasil. lhes era simultaneamente vedado pela ‘condição social’
e pela ‘cor’.
c) Para Florestan Fernandes, o racismo mascarado
desempenhou importante papel na manutenção das BASTIDE, R.; FERNANDES, F. BRANCOS E NEGROS EM SÃO
desigualdades na sociedade brasileira. PAULO. 2.ED. SÃO PAULO: NACIONAL, 1959, P. 113-114.
d) A existência de mobilidade social e de abertura
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a ques-
racial significa ausência de preconceitos e de discri-
tão racial no Brasil, é correto afirmar:
minação conforme Florestan Fernandes.
e) O racismo brasileiro deve ser lido como reação à a) O racismo é produto de ações sociais isoladas desco-
igualdade legal entre cidadãos formais e informais nectadas dos conflitos ocorridos entre os grupos étnicos.
que se instalou com o fim da escravidão. b) A escravatura amena e a democracia nas relações
étnicas levaram à elaboração de um ‘racismo brando’.
7. (Udesc 2019) Leia o trecho a seguir: c) As oportunidades sociais estão abertas a todos que
“Não existe democracia racial efetiva, onde o inter- se esforçam e independem da ‘cor’ do indivíduo.
câmbio entre indivíduos pertencentes a ‘raças’ distintas d) Nas relações sociais a ‘cor’ da pessoa é tomada
começa e termina no plano da tolerância convenciona- como símbolo da posição social.
lizada. Esta pode satisfazer as exigências do bom-tom, e) O comportamento racista vai deixando de existir,
de um discutível espírito cristão e da necessidade práti- paulatinamente, a partir da abolição dos escravos.
ca de ‘manter cada um no seu lugar’. Contudo, ela não
aproxima realmente os homens senão na base da mera 9. (UFSC 2018) Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo
coexistência no mesmo espaço social e, onde isso che- louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo –
ga a acontecer, da convivência restritiva, regulada por há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo
um código que consagra a desigualdade, disfarçando-a Brasil –, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena
e justificando-a acima dos princípios de integração da ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande
do Sul, e em Minas Gerais, principalmente do negro.
ordem social democrática”.
A influência direta, ou vaga e remota, do africano. Na
FLORESTAN FERNANDES, 1960. ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se
deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala,
Florestan Fernandes se refere à ideia de “democracia no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é ex-
racial” que, durante um período, foi considerada cons- pressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca
titutiva da identidade nacional brasileira. Esta tese era da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos em-
caracterizada por: balou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer,
a) pressupor uma miscigenação harmoniosa entre ela própria amolengando na mão o bolão de comida.
os diferentes grupos étnicos constitutivos da nação
FREYRE, GILBERTO. CASA-GRANDE & SENZALA, 2005 [1933], P. 367.
brasileira.
b) apregoar que representantes de todos os grupos Em suma, a expansão urbana, a revolução industrial e
étnicos deveriam ter representatividade política em a modernização ainda não produziram efeitos bastante
âmbito legislativo. profundos para modificar a extrema desigualdade racial
c) promover a denúncia de práticas racistas contra que herdamos do passado. Embora “indivíduos de cor”
negros, mulheres e indígenas. participem (em algumas regiões segundo proporções
d) reivindicar a instauração de processos e eventu- aparentemente consideráveis) das “conquistas do pro-
ais julgamentos dos responsáveis pelo processo de gresso”, não se pode afirmar, objetivamente, que eles

140
compartilhem, coletivamente, das correntes de mobili- c) Os itens II, III, IV e V estão corretos.
dade social vertical vinculadas à estrutura, ao funciona- d) Somente o item IV está correto.
mento e ao desenvolvimento da sociedade de classes. e) Todos os itens estão corretos
FERNANDES, FLORESTAN, O NEGRO NO MUNDO DOS
11. No debate sobre as cotas para o ingresso dos negros
BRANCOS, 2006 [1972], P. 67. [ADAPTADO].
nas universidades públicas, reapareceram, de forma re-
Acerca do debate sobre relações raciais no Brasil e com corrente, argumentos favoráveis e contrários à adoção
base na leitura dos textos acima, é correto afirmar que: dessa política afirmativa. Os trechos reproduzidos a se-
guir constituem exemplos desses argumentos.
01) a chamada “democracia racial” é uma expressão
normalmente atribuída a Florestan Fernandes, que Em um país onde a maioria do povo se vê misturada,
defendia essa ideia sobre o Brasil. como combater as desigualdades com base em uma
02) para o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, o interpretação do Brasil dividido em “negros” e “bran-
Brasil seria um país miscigenado não apenas no plano cos”? Depois de divididos, poderão então lutar entre
biológico, mas também no cultural. si por cotas, não pelos direitos universais, mas por mi-
galhas que sobraram do banquete que continuará sen-
04) há diferentes interpretações sociológicas e antro-
do servido à elite. Assim sendo, o foco na renda parece
pológicas sobre como se dão as relações raciais no
atender mais à questão racial e não introduzir injustiça
Brasil, inclusive correlacionando as desigualdades ra-
horizontal, ou seja, tratamento diferenciado de iguais.
ciais com outros fatores, como gênero e classe social.
08) segundo as ideias de Florestan Fernandes, no YVONNE MAGGIE (ANTROPÓLOGA DA UFRJ). O ESTADO
Brasil foi necessária a realização de medidas formais DE SÃO PAULO. 7 MAR. 2010 (ADAPTADO)

para separar negros de brancos.


Desde 1996 me posicionei a favor de ações afirmativas
16) segundo Gilberto Freyre, era necessário distinguir para negros na sociedade brasileira. Vieram as cotas e
raça de cultura, pois algumas diferenças existentes en- as apoiei, como continuo fazendo, porque acho que vão
tre brancos e negros seriam de ordem cultural, e não na direção certa – incluir socialmente os setores menos
racial, como defendiam algumas teorias. competitivos – embora saiba que o problema é muito
maior e mais amplo. Tenho apoiado todas as medidas
10. (IFTO) Desde o século XIX várias foram as alterna-
que diminuam a pobreza ou favoreçam a mobilidade so-
tivas de explicação e compreensão das desigualdades
cial e todas as que combatam diretamente as discrimina-
no Brasil. Entre as desigualdades, destaca-se a questão
ções raciais e a propagação dos preconceitos raciais. Em
étnico-racial ainda presente em nosso cotidiano. Sobre
curto prazo, funcionam as políticas de ação afirmativa;
a desigualdade étnico-racial que ainda existe na socie-
em longo prazo, funcionam políticas que efetivamente
dade brasileira, julgue os itens abaixo e assinale a alter-
universalizem o acesso a bens e serviços.
nativa correta.
I. O mito da democracia racial não seria simplesmente ANTÔNIO SÉRGIO GUIMARÃES (SOCIÓLOGO DA USP) ENTREVISTA CONCEDIDA
À AÇÃO EDUCATIVA. DISPONÍVEL EM: ACESSO EM: 30 JUN. 2011.
um mecanismo de acobertamento das desigualdades e
discriminações, mas também a ideologia da identidade A divergência dessas duas posições reproduz, atualmen-
nacional que impede a construção da igualdade entre te, o antagonismo existente no debate sobre a questão
os brasileiros. racial na sociologia brasileira, exemplificado pela oposi-
II. A questão da democracia racial foi discutida por Gil- ção entre os pensamentos de Gilberto Freyre e Florestan
berto Freyre em sua obra Casa-Grande e Senzala, que Fernandes.
considera o convívio entre as raças no Brasil uma ques- Identifique e explique, nos trechos reproduzidos, os ar-
tão de animosidade desde a sociedade escravista açu- gumentos favoráveis e desfavoráveis à política de cotas
careira no litoral pernambucano. para negros em universidades, comparando-os com as
III. Para o pensador social Florestan Fernandes em seu visões teóricas de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes.
livro A Integração do Negro na Sociedade de Classe
(1978) serviu para reforçar a ideia que não existem 12. (Unioeste) “Na segunda metade do século XX, a ten-
distinções sociais entre negros e brancos e afirma uma dência à superação das ideias racistas permitiu que di-
convivência pacífica e harmônica. ferentes povos e culturas fossem percebidos a partir de
suas especificidades. Grupos de negros pressionaram
IV. A desigualdade social, por exemplo, tem relação
pela adoção de medidas legais que garantissem a eles
direta com a escravidão, mais particularmente com o
igualdade de condições e combatessem a segregação
modo como os negros foram incorporados a uma socie-
racial. Chegamos então ao ponto em que nos encon-
dade de classes, depois da Abolição, em 1888.
tramos, tendo que tirar o atraso de décadas de descaso
V. A Constituição Brasileira tem como uma de suas for- por assuntos referentes à África”.
mulações mais importantes a ideia de que todos os in-
divíduos são iguais perante a lei. Na perspectiva étnico- MARINA DE MELLO E SOUZA. A DESCOBERTA DA ÁFRICA.
-racial, no entanto, não está inserido o crime de racismo RHBN, ANO 4, N. 38, NOVEMBRO DE 2008, P.72-75.
como algo punitivo. A partir deste texto e do conhecimento da sociologia
a) Os itens I, II, III e IV estão corretos. a respeito da questão racial em nosso país, é possível
b) Os itens I e IV estão corretos. afirma que

141
a) autores como Gilberto Freyre, Florestan Fernandes,
Fernando Henrique Cardoso, Darcy Ribeiro, entre ou-
tros tantos autores, são importantes por chamarem a
atenção do país para o papel dos negros na constru-
ção do Brasil e da brasilidade, e as formas de exclusão
explícitas e implícitas que sofreram.
b) apesar de relevante a luta contra o preconceito
racial, o estudo da África só diria respeito ao conheci-
mento do passado, do período do Descobrimento do
Brasil até a abolição da escravidão entre nós.
c) estudar a África só nos indicaria a captura e a es-
cravidão de diferentes povos africanos, tendo em vis-
ta que raça e o racismo são categorias ideológicas as
quais servem para encobrir as fortes tensões sociais
existentes entre a imensa classe de pobres e o seu
oposto a dos ricos.
d) a autora quer dizer que devemos hoje operar cada vez
mais com categorias tais como a especificidade da raça
negra, da raça branca, da raça amarela e outras mais.
e) nenhuma das alternativas está correta.

Gabarito
1. C 2. E 3. D 4. E 5. D 6. C
7. A 8. D 9. 02 + 04 + 16 = 22 10. D
11. Analisando as políticas de cotas para negros nas uni-
versidades, a partir das teorias de Freyre e de Fernandes
(sabendo-se que esses autores não se debruçaram sobre
a questão das cotas), comparando-as, dessa forma, aos ar-
gumentos favoráveis e desfavoráveis presentes nos textos
lidos na questão. Espera-se, além disso, que o candidato
seja capaz de mobilizar conceitos, tais como: raça, cor, de-
sigualdade, diversidade, miscigenação e democracia racial.
12. A

142
AULA 21

SOCIOLOGIA BRASILEIRA: multimídia: livro


DARCY RIBEIRO E
O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil
HERBERT DE SOUZA - Darcy Ribeiro. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
Esse livro pretende uma análise histórico-antropológica,
apresentando como os brasileiros se formaram e cons-
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 tituíram uma civilização mestiça e tropical, mais alegre,
porém mais sofrida.
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, A esses pilares se somam três forças: a ecologia, a economia
23, 24 e 25
e a imigração. Ele sustenta que somos muito mais marcados
hoje pelas nossas semelhanças do que pelas diferenças. Sur-
gia assim uma estrutura social totalmente inédita, cuja eco-
1. Darcy Ribeiro (1922-1997) nomia era baseada no escravismo e no mercantilismo, que
se constituiu pela supressão de qualquer identidade étnica
O sociólogo Darcy Ribeiro é um dos exemplos de que só
discrepante da do conquistador, através do etnocídio e do
analisar a realidade não é o bastante, é preciso vivenciá-la,
genocídio, cuja ideologia era sustentada pela igreja.
para assim saber apontar e realizar transformações.
Diante disso, a formação do brasileiro se desenvolve no
conflito, que sempre é mascarado. O autor apresenta diver-
sos exemplos desses conflitos, como Canudos e Palmares.
Isso só caracteriza a política de extermínio que existe nesses
conflitos, de modo que não existe a possibilidade da tolerân-
cia étnica e nem mesmo a tolerância no espaço geográfico,
desencadeando mortes ao longo de nossa história.

Nascido em Minas Gerais, Darcy Ribeiro preocupou-se em


entender a origem do povo brasileiro, procurando compre-
ender os primeiros agrupamentos sociais que habitaram o
território brasileiro: os indígenas. Ribeiro analisou as misturas
culturais, como os contatos entre europeus, africanos, asiáti- multimídia: livro
cos e nativos. Com base nesses estudos, escreveu sua maior
obra, intitulada O Povo Brasileiro, publicada em 1995.
TESTEMUNHO - Darcy Ribeiro. São
Nessa obra, o sociólogo afirma que essa mistura de raças Paulo: Siciliano, 1990.
do povo brasileiro foi sustentada por quatro pilares:
Nesse livro, o antropólogo Darcy Ribeiro faz uma au-
ƒ as matrizes que compuseram o nosso povo; tocrítica diante de seus atos, na área antropológica, na
ƒ as proporções dessa mistura que tomou o país; política e na própria vida.

ƒ as condições ambientais em que ela ocorreu e; Darcy Ribeiro apresenta que esses conflitos continuaram,
ƒ os objetivos de vida e produção assumidos por cada pois existe uma verdadeira "luta de classes"; de um lado
uma dessas matrizes. "a insistência dos oprimidos em abrir e reabrir as lutas para
fugir do destino que lhes é prescrito; e, de outro lado, a

143
unanimidade da classe dominante que compõe e controla Fracassei também na realização de minha principal meta
um parlamento servil". como Ministro da Educação: a de pôr em marcha um
programa educacional que permitisse escolarizar todas
as crianças brasileiras. Elas não foram escolarizadas. Me-
1.1. A Empresa Brasil nos da metade das nossas crianças completam quatro
séries de estudos primários. [...]
A análise do Brasil no plano econômico:
Fracassei, por igual, nos dois objetivos maiores que me
ƒ A empresa escravista: desde os tempos da produção de propus como político e como homem de governo: o de
cana-de-açúcar, passando pela mineração, tendo como realizar a Reforma Agrária e de pôr sob o controle do
centralidade a escravidão negra. Essa empresa foi alta- Estado o capital estrangeiro de caráter mais aventurei-
mente especializada, garantia a prosperidade dos ricos. ro e voraz. [...]

ƒ A empresa jesuíta: fundada na servidão indígena com Desses fracassos da minha vida inteira, que são os úni-
cos orgulhos que eu tenho dela, eu me sinto compensa-
o intuito de destribalizar os indígenas, contribuiu para
do pelo título que a Universidade de Paris VII me confere
a liquidação de povos. aqui, agora. Compensado e estimulado a retomar a
ƒ A microempresa de produção de gêneros de subsistência minha luta contra o genocídio e o etnocídio das popula-
e de criação de gado: desenvolveu ações que a desobri- ções indígenas; e contra todos os que querem manter o
povo brasileiro atado ao atraso e à dependência."
garam a produzir alimentos para a população, viabilizou
RIBEIRO, DARCY.
a sobrevivência de todos e a incorporação dos mestiços.
TESTEMUNHO. SÃO PAULO: SICILIANO, 1990, PP.12-15.
ƒ A empresa parasita (banqueiros, armadores e comer-
ciantes de importação e exportação): foi a empresa que
mais afetou o destino dos homens, pois transfigurou 2. Herbert de Souza -
todas as relações sociais em cifras monetárias.
Betinho (1935-1997)
A consequência dessas empresas funde o povo brasileiro:
um povo novo destribalizando índios, desafricanizando ne- A sociologia sempre pautou pela análise e possível mudan-
gros e deseuropeizando brancos. ça da sociedade. Vivendo num país onde a desigualdade
social é gritante aos olhos, o sociólogo brasileiro Herbert
José de Souza, o Betinho, não se limitou só a documentar
1.2. A militância a favor da essa situação, mas tratou de modificá-la. Foi um dos princi-
educação e dos indígenas pais ativistas pelos direitos humanos no Brasil.
Militante fervoroso, defendeu a causa dos índios no país,
auxiliando parte do planejamento para a construção do
Parque Indígena do Xingu, com os irmãos Villas-Bôas. Tam-
bém se voltou para a educação, fundando a Universidade
de Brasília (UNB), como fruto de um projeto diferenciado
onde havia a divisão entre institutos centrais e faculdades.
Seus trabalhos se limitam ao campo da Etnologia, da An-
tropologia e da Educação.
Em 1978 recebi o título de Doutor Honoris Causa da Inconformado com as desigualdades e injustiças, Betinho
Sorbonne. Dei, então, um testemunho pessoal, aprovei- desenvolveu diversas ações práticas, com o intuito de trans-
tando a oportunidade única de auto-apreciação que a formar a realidade a sua volta. Herdou da mãe a hemofilia,
velha Universidade me abria. Sendo quem sou, jamais uma doença genética que compromete a capacidade do
a perderia. [...] corpo em formar coágulos sanguíneos. Em 1986, descobriu
"Senhoras e Senhores: ter contraído o vírus da AIDS em uma transfusão sanguínea.
Obrigado. Muito obrigado pelo honroso título que me Fundou, em 1986, a ABIA (Associação Brasileira Interdiscipli-
conferem. Eu me pergunto se o mereci. Talvez sim, não, nar de AIDS), uma organização não governamental sem fins
certamente, por qualquer feito, ou qualidade minha. Sim, lucrativos, para orientar os portadores da doença e mobilizar
como consolação de meus muitos fracassos.
a sociedade para enfrentar a epidemia da AIDS no Brasil.
Fracassei como antropólogo no propósito mais generoso
que me propus: salvar os índios do Brasil. Sim, simples-
Seu trabalho mais importante foi a “Ação da Cidadania contra
mente salvá-los. Isto foi o que quis. Isto é o que tento há a Fome, a Miséria e pela Vida”, em 1993, que formou uma
trinta anos. Sem êxito. [...] imensa rede de mobilização de alcance nacional, com o in-

144
tuito de ajudar os brasileiros que estavam abaixo da linha da chegou ao Brasil há algum tempo e tem nos ajudado a
pobreza, que na época registravam 32 milhões de pessoas. descobrir como dar conta do que acontece na vida pú-
blica. Cidadania é a consciência de direitos democráticos,
O slogan da campanha era “Quem tem fome, tem pressa”.
é a prática de quem está ajudando a construir os valores
e as práticas democráticas. No Brasil, cidadania é funda-
mentalmente a luta contra a exclusão social e a miséria e
mobilização concreta pela mudança do cotidiano e das
estruturas que beneficiam uns e ignoram milhões de ou-
tros. E querer mudar a realidade a partir da ação com os
outros, da elaboração de propostas, da crítica, da solida-
riedade e da indignação com o que ocorre entre nós. Um
cidadão não pode dormir com um sol deste: milhares de
crianças trabalhando em condições de escravidão, traba-
lhadores sobrevivendo com suas famílias num quadro de
Atualmente a Ong "Ação contra da Cidadania” possui vá- miséria e de fome, a exploração da mulher, a discrimina-
rias frentes de ação, obtendo parcerias com prefeituras, lu- ção do negro, uma elite rica esbanjando indiferença num
mundo de festas e desperdícios escandalosos, de banquei-
tando a favor da agricultura familiar, fazendo mobilizações
ros metendo a mão no dinheiro do depositante, da polícia
para arrecadar alimentos para o Natal dos desamparados batendo em preto e pobre. A fome é a realidade, o efeito
socialmente, mantendo projetos sociais, como escola de cir- e o sintoma da ausência de cidadania. O ponto de par-
co, laboratório audiovisual, espetáculos musicais e de teatro, tida e de chegada das ações cidadãs. A negação radical
além de formação de empreendedorismo a jovens. da miséria é um postulado de mudança radical de todas
as relações e processos que geram a miséria. É passar a
limpo a história, a sociedade, o Estado e a economia. Não
estamos falando de coisas abstratas, de boas intenções
ou desejos humanitários de alguns. Cidadania é, portanto,
a condição da democracia. O poder democrático é aque-
le que tem gestão, controle, mas não tem domínio nem
subordinação, não tem superioridade nem inferioridade.
Uma sociedade democrática é uma relação entre cidadãos
e cidadãs. É aquela que se constrói da sociedade para o
multimídia: vídeo Estado, de baixo para cima, que estimula e se fundamenta
na autonomia, independência, diversidade de pontos de
FONTE: YOUTUBE vista e, sobretudo, na ética – conjunto de valores ligados à
Arquivo N - Betinho defesa da vida e ao modo como as pessoas se relacionam,
respeitando as diferenças, mas defendendo a igualdade
O sociólogo Herbert de Souza criou uma ONG, o Ibase, de acesso aos bens coletivos. O cidadão é o indivíduo que
para lutar por dignidade. Betinho foi símbolo de uma tem consciência de seus direitos e deveres e participa ati-
geração – e de muita esperança. Hemofílico, passou a vamente de todas as questões da sociedade. Um cidadão
vida driblando a doença. Morreu no dia 9 de agosto com sentido ético forte e consciência de cidadania não
de 1997. O documentário resgata depoimentos dele, abre mão desse poder de participação.
imagens das suas campanhas sociais e sua chegada do SOUZA, HERBERT DE (BETINHO).
PODER DO CIDADÃO. TEXTO PUBLICADO NO ENCARTE
exílio, quando foi decretada a anistia. DA REVISTA DEMOCRACIA, N. 113, 1995.

O legado do sociólogo segue atuante na sociedade, de-


monstrando a fragilidade e incompetência do Estado pe-
rante seus cidadãos.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Até quando esperar - Plebe Rude. Álbum: O
Concreto já rachou. EMI Music Brasil, 1985.
Nessa música, a banda brasiliense questiona a condição
Não é por acaso que a palavra cidadania está sendo cada social do povo brasileiro, que ainda padece de uma fra-
vez mais falada e praticada na sociedade brasileira. Uma gilidade social, apesar de pagar altos impostos.
boa onda democrática que vem rolando mundo afora

145
DIAGRAMA DE IDEIAS

BETINHO
DARCY RIBEIRO
HERBERT DE SOUZA

O POVO BRASILEIRO AS DESIGUALDADES


É FORMADO SOCIAIS

POR CONFLITOS PRECISAM SER


ÉTNICOS, SOCIAIS, ELIMINADAS
ECONÔMICOS E
RELIGIOSOS

POR AÇÕES
PRÁTICAS E DIRETAS
É UM POVO COM
UMA IDENTIDADE
AINDA EM
FORMAÇÃO

QUE
CONSOLIDA AINDA
DESIGUALDADES
E A REPRODUÇÃO
DE PRECONCEITOS

146
Levando em consideração a hipótese do autor, em re-
Aplicando para lação à formação da sociedade brasileira, às dinâmicas
sociais e às formas de dominação, é correto afirmar:
Aprender (A.P.A.) a) O fortalecimento das elites empresarial, burocrática
1. (UERR) “Essa massa de mulatos e caboclos, lusitani- e eclesiástica se deu num processo de correlação de
zados pela língua portuguesa que falavam, pela visão forças que visaram, num processo histórico de longa
de mundo, foram plasmando a etnia brasileira e pro- duração, a constituir um domínio econômico, a partir
movendo, simultaneamente, sua integração, na forma do qual as classes inferiores, por não disporem de po-
de um Estado-Nação. Estava já madura quando recebe der e capital, foram alijadas do processo de dominação.
grandes contingentes de imigrantes europeus e japo- b) A igreja teve papel central na organização da vida
neses, os quais possibilitou ir assimilando todos eles na colonial e imprimiu um sentido sagrado à dominação
condição de brasileiros genéricos”. por longo tempo. Sua importância em relação à bu-
DARCY RIBEIRO, O POVO BRASILEIRO: A FORMAÇÃO E O rocracia civil e às elites econômicas no Brasil foi de
SENTIDO DO BRASIL, CIA. DAS LETRAS, 2002, P. 448. tal maneira preponderante, que a Inquisição se fez
presente como forma de manutenção da ordem e do
Assinale a alternativa incorreta: domínio dos portugueses sobre nativos indígenas e
a) As identidades nacionais são formadas e transfor- escravos africanos.
madas no interior das representações coletivas, que c) As mudanças sociais que ocorreram no Brasil desde
são dinâmicas e abarcam toda a vida social. sua colonização produziram um tipo de dominação se-
b) A mestiçagem do povo brasileiro deu-se tanto fisi- cular, que associou as elites empresarial, burocrática e
camente como culturalmente. eclesiástica a um processo civilizacional intimamente
c) O que gerou a identidade nacional brasileira foi o associado a um estado de barbárie, em que as cama-
encontro entre diversos grupos étnicos, configuran- das subalternas sempre cumpriram um papel marginal
do-se no fenômeno da mestiçagem. no seu processo emancipação e esclarecimento.
d) O brasileiro é um povo que resultou do encontro d) O objetivo principal da cúpula patricial, toda ela
de vários outros povos, que, embora com culturas di- oriunda da metrópole, era formar uma sociedade que
ferentes, se integraram ao Estado-Nação, às vezes por fosse capaz de contribuir com a expansão dos limites
meios violentos. territoriais da Coroa Portuguesa. Em contrapartida,
e) A identidade nacional brasileira foi forjada à ferro essas populações nativas teriam o direito ao reconhe-
e fogo pelos portugueses e por grandes contingentes cimento da cidadania lusitana.
de imigrantes europeus e japoneses. e) O autor frisa que, apesar da dominação severa,
ainda assim havia algum senso de solidariedade por
2. (UFPR 2020) Considere o seguinte excerto da obra O
parte das elites empresarial, burocrática e eclesiásti-
povo brasileiro, do antropólogo Darcy Ribeiro:
ca, sendo esses três grupos sociais responsáveis pela
A classe dominante empresarial-burocrático-eclesiástica, colonização do Brasil e possibilitando que camadas
embora exercendo-se como agente de sua própria pros- sociais inferiores, o povo, as massas, participassem da
peridade, atuou também, subsidiariamente, como reitora
construção do país, de sua cultura e de sua unidade
do processo de formação do povo brasileiro. Somos, tal
como “povo brasileiro”.
qual somos, pela forma que ela imprimiu em nós, ao nos
configurar, segundo correspondia a sua cultura e a seus
interesses. Inclusive, reduzindo o que seria o povo bra- TEXTO PARA AS QUESTÕES 3 E 4
sileiro, como entidade cívica e política, a uma oferta de
mão de obra servil. Foi sempre nada menos que prodi-
Surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento
giosa a capacidade dessa classe dominante para recrutar, do invasor português com índios silvícolas e campineiros e
desfazer e reformar gentes aos milhões. Isso foi feito no com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos.
curso de um empreendimento econômico secular, o mais Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses,
próspero de seu tempo, em que o objetivo jamais foi matrizes raciais díspares, tradições culturais distintas, forma-
criar um povo autônomo, mas cujo resultado principal foi
ções sociais defasadas se enfrentam e se fundem para dar lu-
fazer surgir como entidade étnica e configuração cultural
um povo novo, destribalizando índios, desafricanizando gar a um povo novo. Novo porque surge como uma etnia na-
negros e deseuropeizando brancos. Ao desgarrá-los de cional, que se vê a si mesma e é vista como uma gente nova,
suas matrizes, para cruzá-los racialmente e transfigurá- diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras. Ve-
-los culturalmente, o que se estava fazendo era gestar a lho, porém, porque se viabiliza como um proletariado externo,
nós brasileiros tal qual fomos e somos em essência. Uma como um implante ultramarino da expansão europeia que
classe dominante de caráter consular-gerencial, social-
não existe para si mesmo, mas para gerar lucros exportáveis
mente irresponsável, frente a um povo-massa tratado
como escravaria, que produz o que não consome e só pelo exercício da função de provedor colonial de bens para
se exerce culturalmente como uma marginália, fora da o mercado mundial, através do desgaste da população. Sua
civilização letrada em que está imerso. unidade étnica básica não significa, porém, nenhuma unifor-
(RIBEIRO, DARCY. O POVO BRASILEIRO: A FORMAÇÃO E O SENTIDO midade, mesmo porque atuaram sobre ela forças diversifica-
DO BRASIL. SÃO PAULO: CIA DAS LETRAS, 1995. P.178-179.) doras: a ecológica, a econômica e a migração. Por essas vias

147
se plasmaram historicamente diversos modos rústicos de ser Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a
dos brasileiros: os sertanejos, os caboclos, os crioulos, os cai- alternativa incorreta:
piras e os gaúchos. Todos eles muito mais marcados pelo a) A identidade nacional brasileira nasceu do encon-
que têm de comum como brasileiros, do que pelas diferenças tro e mestiçagem entre diversos grupos étnicos.
devidas a adaptações regionais ou funcionais, ou de misci- b) A miscigenação do povo brasileiro se deu fisica-
genação e aculturação que emprestam fisionomia própria a mente e principalmente no seu modo de ser e agir.
uma ou outra parcela da população. c) A mestiçagem no Brasil foi um erro histórico e um obs-
táculo para a construção de uma identidade nacional.
DARCY RIBEIRO. O POVO BRASILEIRO, 1995. ADAPTADO
d) As identidades não são coisas com as quais nas-
3. (Unesp) De acordo com Darcy Ribeiro, dois movimen- cemos, são formadas e transformadas no interior das
tos caminharam concomitantemente ao longo do pro- representações coletivas.
cesso de formação do povo brasileiro: e) O homem é o resultado do meio cultural em que foi
a) a produção de uma unidade étnica nacional e a socializado, é herdeiro de um longo processo acumula-
conformação de uma cultura nacional homogênea. tivo, que reflete o conhecimento e as experiências ad-
b) a produção de uma sociedade nacional multiétnica quiridas pelas numerosas gerações que o antecederam.
e a coexistência de culturas regionais em extinção.
6. (Unioeste) O antropologo brasileiro Darcy Ribeiro, em
c) a produção de uma sociedade nacional multiétnica
sua obra O Povo Brasileiro, afirma: “Nós, brasileiros, so-
e a conformação de culturas regionais transplantadas
mos um povo sem ser, impedido de sê-lo. Um povo mesti-
de outros países.
ço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais
d) a produção de uma unidade étnica nacional e a
foi crime ou pecado. Nela, fomos feitos e ainda continua-
conformação de diversidades socioculturais regionais.
mos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mes-
e) a produção de uma sociedade nacional multiétnica tiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada
e a coexistência de culturas regionais fragmentadas. na ninguendade. Assim foi até se definir como uma nova
4. (Unesp) De acordo com o excerto, a gênese do povo identidade étnico-nacional, a de brasileiros.”
brasileiro está associada: RIBEIRO, D. O POVO BRASILEIRO. 1995, P.453.
a) ao propósito de ocupação de novos territórios pelos
portugueses e à implantação de um empreendimento Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a
de povoamento, voltado à construção de um mercado alternativa INCORRETA.
interno amplo e diversificado. a) A identidade nacional brasileira nasceu do encon-
b) à conquista de novos territórios pelos povos afri- tro e mestiçagem entre diversos grupos étnicos.
canos, ameríndios e europeus e à implantação de um b) A miscigenação do povo brasileiro se deu fisica-
modelo de desenvolvimento econômico autônomo, mente e principalmente no seu modo de ser e agir.
voltado a atender às demandas do mercado externo.
c) A mestiçagem no Brasil foi um erro histórico e um obs-
c) ao ímpeto pela descoberta de novos territórios pe- táculo para a construção de uma identidade nacional.
los povos ameríndios e africanos e à implantação de
d) As identidades não são coisas com as quais nas-
um modelo de desenvolvimento social e econômico
cemos, são formadas e transformadas no interior das
de inspiração europeia, dirigido ao progresso técnico
e econômico nacional. representações coletivas.
d) ao projeto de colonização de novos territórios e e) O homem é o resultado do meio cultural em que foi
de seus respectivos povos pelos portugueses e à im- socializado, é herdeiro de um longo processo acumula-
plantação de um empreendimento mercantil, voltado tivo, que reflete o conhecimento e as experiências ad-
a atender às demandas do mercado externo. quiridas pelas numerosas gerações que o antecederam.
e) ao propósito de conquista de novos territórios
7. (Unioeste) Tendo por base o texto abaixo, do antro-
pelos europeus e à implantação de um modelo de
pologo brasileiro Darcy Ribeiro, assinale o(s) item(s)
desenvolvimento econômico autônomo, voltado a
que melhor corresponde(m) as suas ideias.
atender às demandas do mercado local.
“Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portu-
5. (Unioeste) O antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, gueses, matrizes raciais díspares, tradições culturais dis-
em sua obra O Povo Brasileiro, afirma: “Nós, brasilei- tintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se
ros, somos um povo sem ser impedido de sê-lo. Um fundem para dar lugar a um povo novo (...), num novo
povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mes- modelo de estruturação societária. Novo porque surge
tiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela, fomos feitos como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente
e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de na- de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada,
tivos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem
dinamizada por uma cultura sincrética e singulariza-
consciência de si, afundada na ninguendade. Assim foi
da pela redefinição de traços culturais dela oriundos.
até se definir como uma nova identidade étnico-na-
Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como
cional, a de brasileiros.”
uma gente nova, um novo gênero humano diferente de
RIBEIRO, D. O POVO BRASILEIRO. 1995, P.453. quantos existem (...)”

148
“A confluência de tantas e tão variadas matrizes forma- I. Desenvolveu-se um ideal catequizador, responsável
doras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, pelo aldeamento dos indígenas e pela entrada em cena
dilacerada pela oposição de componentes diferenciados do evangelismo protestante, bem como uma preocupa-
e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez ção oficial com a saúde e proteção material das pro-
que, apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no priedades dos indígenas.
espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ances- II. Organizou-se o aldeamento dos indígenas em reservas
tralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias criadas com a finalidade precípua de preservar a cultura
raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étni- das diversas etnias e possibilitar o aumento da popula-
cas próprias e disputantes de autonomia frente à nação” ção indígena, a fim de que esses povos conseguissem
(RIBEIRO, DARCY. O POVO BRASILEIRO. SÃO PAULO: competir em igualdade com os imigrantes europeus.
COMPANHIA DAS LETRAS, 2004, 19-20 [1995]). III. Surgiu uma ideologia inspirada no positivismo, ca-
racterizada pela assistência leiga e pela crença de que
I. O Brasil é um país fundamentalmente multicultural, bastava o Estado proteger os indígenas de ataques ex-
evidenciando-se no cotidiano o antagonismo entre os di- ternos e assisti-los socialmente para que progredissem
ferentes povos que migraram para cá e os povos nativos. rumo à civilização.
II. O povo brasileiro na realidade é uma ficção, pois sob IV. Criaram-se instituições de proteção e defesa dos
a aparência de um apaziguamento de etnias e culturas indígenas, destacando-se o Serviço de Proteção aos
diferentes, o que se tem são etnias minoritárias em luta Índios (SPI), criado em 1910 a partir de ações oficiais
para sobreviverem. lideradas pelo Marechal Cândido Rondon.
III. A teoria da miscigenação, que o autor compõe, ex- É correto apenas o que se afirma em:
pressa que, apesar dos vários e acentuados embates
que as diferentes etnias experimentaram, surgiu uma a) I e II.
nova realidade cultural, na qual as culturas e povos fo- b) I e IV.
ram misturados de forma única e inseparável, originan- c) III e IV.
do os atuais brasileiros. d) I, II e III.
IV. Quaisquer das práticas de distinção entre os brasi- e) II, III e IV.
leiros, seja por “raça”, “regionalismo”, “origem”, bem
como práticas como ações afirmativas para grupos ét- 9. (TECPUC) A miscigenação é uma das marcas cultu-
nicos minoritários, corresponderiam às características rais mais importantes na formação do povo brasileiro,
próprias do modo de ser do povo brasileiro. segundo o Antropólogo Darcy Ribeiro. De acordo com
esta afirmação, assinale a alternativa correta:
V. O povo brasileiro, em seus tipos regionais, expressa-
ria modos de ser que têm suas raízes no encontro de a) Nosso povo não é misturado nem etnicamente e
índios, negros e brancos, e, posteriormente, nas novas muito menos racialmente.
etnias migrantes, sem contudo perder a sua unidade e b) A maioria da população brasileira não é miscigenada.
especificidade ou deixar de ser uma única gente. c) Darcy Ribeiro descaracterizou a cultura do povo
Assinale a alternativa correta. brasileiro em suas teorias.
d) A língua não marcou a nossa construção identitária
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
como povo.
b) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Do ponto de vista cultural, Darcy Ribeiro formulou
c) Apenas as afirmativas III e V estão corretas.
uma classificação das matrizes culturais que caracte-
d) Apenas a afirmativa IV está correta. rizaram as várias regiões do Brasil antes do intenso
e) Todas as afirmativas estão corretas. processo de urbanização e da miscigenação ocorridos
historicamente.
8. (PUC-GO) Os atuais índios do estado de São Paulo
não representam um elemento de trabalho e de pro- 10. (Enem PPL)
gresso. Como também nos outros estados do Brasil,
não se pode esperar trabalho sério e continuado dos
índios civilizados e como os Caingangs selvagens são
um empecilho para a colonização das regiões do sertão
que habitam, parece que não há outro meio, de que se
possa lançar mão, senão o seu extermínio.
IHERING, H. A ANTHROPOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. REVISTA DO
MUSEU PAULISTA, VII. SÃO PAULO: TYP. CARDOZO, FILHO & CIA, 1907.

Opinião como essa, expressa em 1907, por um impor-


tante cientista teuto-brasileiro, inspirava-se, segundo
Darcy Ribeiro, em uma atitude secular presente em
qualquer área onde sobrevivam grupos indígenas no
Brasil. Sobre a reação a essa “atitude secular”, no início
do século XX, avalie as afirmações a seguir:

149
Os ex-escravos abandonam as fazendas em que labuta- 12. “O cidadão é um indivíduo que tem consciência de
vam, ganham as estradas à procura de terrenos baldios seus direitos e deveres e participa ativamente de todas
em que pudessem acampar, para viverem livres como se as questões da sociedade. Tudo que acontece no mundo
estivessem nos quilombos, plantando milho e mandioca acontece comigo...” (Herbert de Souza – Betinho) se-
para comer. Caíram, então, em tal condição de misera- gundo a definição acima, podemos afirmar que:
bilidade que a população negra se reduziu substancial- a) O cidadão é o indivíduo que se omite frente ao de-
mente. Menos pela supressão da importação anual de bate político.
novas massas de escravos para repor o estoque, porque
b) B cidadania é apenas restrito aos estudiosos e políticos.
essas já vinham diminuindo há décadas. Muito mais
pela terrível miséria a que foram atirados. Não podiam c) O cidadão é aquele que vive em sociedade.
estar em lugar algum, porque, cada vez que acampa- d) A cidadania compreende a necessidade que as
vam, os fazendeiros vizinhos se organizavam e convo- pessoas têm de participarem da vida política sempre
cavam forças policiais para expulsá-los. visando o funcionamento da sociedade.

RIBEIRO, DARCY. O POVO BRASILEIRO: EVOLUÇÃO E SENTIDO DO 13.“Cinco grupos etnográficos, ligados pela comunida-
BRASIL. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1995, P.221. de ativa da língua e passiva da religião, moldados pelas
condições ambientes de cinco regiões dispersas, tendo
Comparando-se a linguagem do quadro acima, de Pedro pelas riquezas naturais da terra um entusiasmo estrepi-
Américo, A Libertação dos Escravos, com o texto de Dar- toso, sentindo pelo português aversão ou desprezo, não
cy Ribeiro, percebe-se que se prezando, porém, uns aos outros de modo particular
a) a libertação dos escravos é celebrada pelo pintor e – eis em suma ao que se reduziu a obra de três séculos.”
lamentada pelo autor do texto.
ABREU, CAPISTRANO DE. CAPÍTULOS DE HISTÓRIA COLONIAL. RIO DE
b) a abordagem do tema no quadro é realista, ao pas- JANEIRO: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, 1976 – ORIGINAL DE 1907.
so que a linguagem utilizada no texto apresenta o
tema de forma idealizada. “É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de
c) os ex-escravos são apresentados no quadro como matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um
homens livres, em condição de igualdade com os bran- dos povos mais homogêneos, lingüística e cultural-
cos, ao passo que o texto evidencia a condição miserá- mente e também um dos mais integrados socialmente
vel dos escravos libertos. da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. Não
d) a abolição é apresentada no quadro em atmosfera abrigam nenhum contingente reivindicativo de auto-
redentora, ao passo que, no texto, a abolição é pro- nomia, nem se apegam a nenhum passado. Estamos
blematizada historicamente. abertos é para o futuro.”
e) a apresentação do tema, no quadro, evoca elemen- RIBEIRO, DARCY. O POVO BRASILEIRO. SÃO PAULO:
tos típicos da realidade nacional, ao passo que o texto COMPANHIA DAS LETRAS, 1995.
aborda o tema a partir de uma perspectiva europeia.
Comparando os dois textos, fica notório que são inter-
11. (SEDUC MT) A formação da realidade brasileira é pretações completamente antagônicas acerca da iden-
marcada pela complexidade de fatos sociais, históricos, tidade nacional brasileira.
econômicos e culturais. Com o intuito de melhor compre-
a) Explique as divergências entre os textos.
ender estes processos e de elaborar uma visão sobre os
mesmos que partisse, sobretudo, de dentro desta mes- b) Pensando a cultura brasileira, qual dos dois textos
ma realidade e não a mera importação de explicações é mais compatível? Justifique sua resposta.
estrangeiras, autores como Darcy Ribeiro, Celso Furtado
e Caio Prado Jr. lançaram suas obras, “O Povo Brasileiro:
Formação e sentido do Brasil”, “Formação Econômica do Gabarito
Brasil” e “Formação do Brasil Contemporâneo”. A respei-
to do que é apresentado em “O Povo Brasileiro” de Darcy 1. E 2. C 3. D 4. D 5. C 6. C
Ribeiro assinale a alternativa correta:
7. C 8. C 9. E 10. D 11. B 12. D
a) Segundo o autor a ideia de pureza étnico cultural é
cabível apenas para a “matriz portuguesa”. 13.
b) Darcy Ribeiro demonstra que em sua gênese a popu- a) No 1.º texto, a formação cultural brasileira é retra-
lação brasileira deriva de matrizes multiculturais desde tada como diversificada, apesar de também retratar
o princípio. de forma idealizada. Mas o 2.º texto, é completamen-
c) O sentido da empreitada colonizadora foi o de promover te ufanista, buscando exaltar a ideia de plena harmo-
o avanço intelectual aos povos nativos do novo mundo. nia nas interseções raciais e culturais na formação da
d) O autor vai defender a tese que a constituição do cultura brasileira.
“povo brasileiro” se deu através da miscigenação ra- b) O 1.º texto. Ele enfatiza que existem diferenças cul-
cionalmente induzida entre os diferentes grupos que turais na sociedade brasileira desde a formação colo-
compuseram a população brasileira. nial. O 2.º texto produz uma visão ufanista da miscige-
e) A obra de Darcy Ribeiro acaba por criticar a ideia de nação racial e cultural brasileira.
“Povo-Nação”.

150
AULA 22 Indivíduo Sujeito que respeita as leis universais e igualitárias.

Sujeito que desenvolve as relações sociais que


conduzem as dimensões de uma hierarquiza-
Pessoa ção do sistema, pautada na lógica dos privilé-
gios e status social.

SOCIOLOGIA BRASILEIRA:
ROBERTO DAMATTA

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, FONTE: YOUTUBE
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, Roberto DaMatta analisa a sociedade brasileira.
23, 24 e 25 Nessa conversa com o jornalista Adalberto Piotto, o an-
tropólogo Roberto DaMatta analisa a sociedade brasi-
leira, com questões que fazem parte da sociedade atual.
1. Roberto DaMatta (1936)
O antropólogo brasileiro Roberto Augusto DaMatta dedi- Com essa duplicidade, o brasileiro tem dificuldade em sa-
ca sua obra a estudar os dilemas e as contradições sociais ber se é indivíduo ou pessoa, pois, no primeiro caso, existe
do Brasil. a respeitabilidade das regras, e, no segundo, surge o jeito
malandro de ser, que adapta as regras. Trata-se do chama-
do “jeitinho brasileiro”, que afeta diretamente o coletivo.
No âmbito coletivo, surge a relação entre o privado e o
público, na qual se estabelecem os conceitos de casa e rua.

Privado Público

Casa Rua

Regras válidas Regras não valem

Punições Não tem punições

Segregação Integração

Valorização Desvalorização

Sofrendo influência de Lévi-Strauss, Durkheim e Sérgio Para DaMatta, a sociedade brasileira é frequentemente ins-
Buarque de Holanda, Roberto DaMatta desenvolve a sua tituída por essas relações, consolidando uma contradição
reflexão sob um olhar antropológico, com uma análise do constante na formação social brasileira. A sociedade brasilei-
povo e da cultura brasileira através de suas manifestações ra tem aspectos extremamente autoritários, hierarquizados e
populares e suas manifestações oficiais. DaMatta analisa a violentos, mas tem também a busca de um mundo harmô-
complexidade do Brasil, não se limitando a um esquema nico, democrático e não conflitivo. No mundo da casa, reina
único, mas considerando a sua diversidade cultural. a paz e harmonia, enquanto no mundo da rua os indivíduos
Em sua análise, o antropólogo aborda duas espécies de lutam pela vida. E, nesse espaço público, surge o elemento
sujeito, o indivíduo e a pessoa, que desencadeiam dois do malandro, que será aquele sujeito que sabe das regras
tipos de espaço social, a casa e a rua. Sendo que nesse oficiais, mas faz as suas próprias regras sociais, beirando as
instante o brasileiro acaba por vivenciar um dilema, de- normas já conhecidas. Essa relação bipolar aparece constan-
sencadeado pela oscilação entre as duas unidades sociais temente nessa sociedade, condicionando normas de condu-
distintas, que são: tas para os integrantes dessa sociedade.

151
multimídia: vídeo multimídia: livro
FONTE: YOUTUBE
Roberto DaMatta e a transgressão à brasileira Carnavais, Malandros e Heróis - Roberto
Trecho da participação do antropólogo Roberto DaMat- DaMatta. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
ta apresentando a sociedade brasileira. Nesse livro o antropólogo Roberto DaMatta apresenta as
identidades da sociedade brasileira. O Carnaval, os ma-
landros e os heróis são criações sociais que refletem os
1.1. O Carnaval problemas e dilemas básicos da sociedade que os conce-
beu. Mito e rito são dramatizações ou maneiras de cha-
Segundo Roberto DaMatta, o carnaval é o espaço onde
mar a atenção para certos aspectos da realidade social.
os múltiplos da realidade acontecem; porém, esse espaço
é diferente do cotidiano, pois possui suas próprias regras,
E, realmente, a oposição entre rua e casa é básica, po-
sendo ordenado por uma nova lógica organizacional. O
dendo servir como instrumento poderoso na análise do
ritual contido no espaço carnavalesco se mescla com a mundo social brasileiro, sobretudo quando se deseja es-
dicotomia privado x público, pois contém vários aspec- tudar sua ritualização.
tos da ordem pública, com desfiles e grupos formaliza-
De fato, a categoria rua indica basicamente o mundo,
dos e organizados, conjunto com uma certa desordem e com seus imprevistos, acidentes e paixões, ao passo que
liberdade. Essa mistura é permitida numa fusão dos dois casa remete a um universo controlado, onde as coisas
espaços em um só, acontecendo uma libertação de qual- estão nos seus devidos lugares. Por outro lado, a rua im-
quer tipo de repressão. plica movimento, novidade, ação, ao passo que a casa
subentende harmonia e calma: local de calor (como
Assim, o carnaval torna-se um lugar de questionamento revela a palavra de origem latina lar, utilizada em portu-
das normas, do padrão. No passado, a festa carnavalesca guês para casa) e afeto. E mais, na rua se trabalha, em
casa se descansa. Assim, os grupos sociais que ocupam
questionava temas como a nudez e a sensualidade, e atu-
a casa são radicalmente diversos daqueles da rua. Na
almente as temáticas apresentadas nas festividades carna- casa, temos associações regidas e formadas pelo paren-
valescas versam sobre o racismo, as desigualdades sociais. tesco e relações de sangue; na rua, as relações têm um
caráter indelével de escolha, ou implicam essa possibi-
O carnaval se tornou um símbolo da alegria do povo brasi- lidade. Assim, em casa as relações são regidas natural-
leiro, podendo apresentar também características de uma mente pelas hierarquias do sexo e das idades, com os
fuga da realidade. Aqui, notamos que essa festa popular é homens e mais velhos tendo a precedência; ao passo
frequentemente criticada, por proporcionar ao sujeito um que na rua é preciso muitas vezes algum esforço para
se localizar e descobrir essas hierarquias, fundadas que
processo de alienação; entretanto, torna-se também um
estão em outros eixos.
espaço de transformação dos padrões da sociedade.
DAMATTA, ROBERTO.
CARNAVAIS, MALANDROS E HERÓIS. RIO DE JANEIRO: ROCCO, 1997, PP.90-91.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Macunaíma - Clara Nunes. Álbum: Claridade, 1973.

152
DIAGRAMA DE IDEIAS

ROBERTO DAMATTA

A SOCIEDADE
BRASILEIRA VIVENCIA
UMA COMPLEXIDADE

EXISTE UMA DIVISÃO


CONSTANTE

PÚBLICO PRIVADO

DESVALORIZAÇÃO VALORIZAÇÃO
DA PESSOA DO INDIVÍDUO

A RUA A CASA

153
lógica brasileira, identificando e analisando tipos e ritu-
Aplicando para ais, como o carnaval, o futebol, o malandro e o próprio
"brasileiro". Assinale, na relação a seguir, a afirmativa
Aprender (A.P.A.) incorreta sobre ideias e teses que esse autor vem discu-
1. Roberto DaMatta analisa a ‘casa e a rua’ como duas tindo em seus escritos:
categorias sociológicas no sentido de Durkheim e a) Tanto o carnaval quanto seus malandros e heróis
Mauss, para refletir como a sociedade brasileira pensa são criações sociais que refletem os problemas e os
seus espaços e suas relações sociais. Na concepção de dilemas mais básicos da sociedade brasileira.
Da Matta, qual o significado para a ‘casa e a rua’? b) A presença e a influência do negro na estrutura fami-
a) Estabelecer a casa como o espaço do lar, da pro- liar do Brasil, da cama à mesa, da cidade ao campo, são
teção, do casamento e da harmonia, e a rua como o temas abordados em seu livro Casa Grande e Senzala.
espaço do público, da individualidade e da liberdade. c) Os temas são abordados pelo autor em sua relação
b) Espaços marcados por simbolismo e construídos com duas espécies de sujeito - o indivíduo e a pessoa -
social e culturalmente. situados em dois tipos de espaço social, a casa e a rua.
c) Uma forma de representação geográfica estabele- d) A rua é o espaço público, que é de todos, logo, não
cida pelo indivíduo cujos papéis relacionados com a é de ninguém. A convivência na rua depende de uma
rua são possuídos pelo contraste da casa. negociação constante, entre iguais e desiguais.
d) Espaço relacional no qual a cidadania é expressa e) A casa, considerada em um sentido amplo, é o es-
no ambiente público. paço privado por excelência, onde estão “os nossos”,
e) Categorias que marcam o tempo em espaços hie- que devem ser protegidos e favorecidos.
rarquizados. 4. (Enem PPL) Penso, pois, que o Carnaval põe o Brasil de
2. Em "O que faz do brasil, Brasil?", o antropólogo Ro- ponta-cabeça. Num país onde a liberdade é privilégio de
berto Damatta estabelece uma distinção radical entre uns poucos e é sempre lida por seu lado legal e cívico, a
um "brasil" - com b minúsculo - que sob influência dos festa abre nossa vida a uma liberdade sensual, nisso que
teóricos do século XIX era visto como um conjunto do- o mundo burguês chama de libertinagem. Dando livre
entio e condenado de raças que, misturando-se ao sa- passagem ao corpo, o Carnaval destitui posicionamen-
bor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, tos sociais fixos e rígidos, permitindo a “fantasia”, que
estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, inventa novas identidades e dá uma enorme elasticidade
psicológica e social, e um Brasil - com b maiúsculo - que a todos os papéis sociais reguladores.
designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, DAMATTA, R. O QUE O CARNAVAL DIZ DO BRASIL. DISPONÍVEL EM:
escolhas e ideais de vida. A partir dessa interpretação HTTP://REVISTAEPOCA.GLOBO.COM. ACESSO EM: 29 FEV. 2012.
podemos afirmar que:
a) o que torna o Brasil compreensível é uma lógica Ressaltando os seus aspectos simbólicos, a abordagem
comum que perpassa a sociedade, a lógica relacional, apresentada associa o Carnaval ao(à)
que se manifesta como negociação e subordinação a) inversão de regras e rotinas estabelecidas.
às normas legais. b) reprodução das hierarquias de poder existentes.
b) a especificidade da cultura brasileira não está na c) submissão das classes populares ao poder das elites.
separação entre as diversas esperas da vida, mas sim
d) proibição da expressão coletiva dos anseios de
em sua subordinação à ideologia individualista.
cada grupo.
c) o brasileiro desenvolve um tipo de preconceito muito
e) consagração dos aspectos autoritários da socieda-
mais contextualizado e sofisticado que o norte-americano,
de brasileira.
pois enquanto lá o mesmo se manifesta de forma velada
e indireta com base na origem, aqui ele se caracteriza por 5. Curioso país esse Brasil, feito de um credo liberal tão
tratar a cor como expediente para a discriminação. alardeado na base de suas instituições jurídicas, mas
d) o brasileiro exige, a um só tempo, que se lhe dis- operando de modo a privilegiar as relações pessoais de
pense o tratamento de indivíduo e o de pessoa. O de modo tão flagrante.
indivíduo, dentro da melhor tradição democrática, que
confere a todos os homens direitos que são fundamen- ROBERTO DA MATTA. A QUESTÃO DA CIDADANIA NUM UNIVERSO RELACIONAL.
tais, e o de pessoa, na melhor tradição aristocrática, IN. A CASA E A RUA. 4ª ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA, 1991, P.81.
que confere aos homens direitos desiguais conforme Tendo o fragmento de texto acima como referência ini-
seu nascimento ou relações sociais. cial, assinale a opção correta acerca de cidadania.
e) a sociedade brasileira se pensa pelas noções de
divisão e conflito. Assim, para compreender a cultu- a) No Brasil, o exercício da cidadania tem significado
ra de nossa sociedade, é preciso compreender que a positivo e impessoal, enquanto nos Estados Unidos da
estrutura competitiva entre as classes é indispensável América a cidadania tem um sentido de negatividade
em sua organização. e pessoalidade.
b) A cidadania no Brasil, ao contrário da existente em pa-
3. O antropólogo brasileiro Roberto DaMatta vem se íses como os Estados Unidos da América, fundamenta-se
debruçando em seus estudos sobre a realidade antropo- no individualismo, considerado um aspecto positivo.

154
c) Em um contexto histórico determinado, o conceito homem fica indignado e, usando o “Você sabe com
de cidadania regulada pressupõe a existência de um quem está falando?”, identifica-se como promotor pú-
pluralismo democrático. blico, prendendo o guarda.
d) Em situações históricas e sociais diferentes, a mes- Uma moça visita seu tio, um pescador. Enquanto falava
ma noção de cidadania engendra práticas sociais e com ele, passa um desconhecido e lhe dirige um gracejo
tratamento diversos. muito pesado. Ouvindo o galanteador, o tio dá-lhe um
e) Há substancial diferença entre a concepção de ci- soco, dizendo: “Você sabe com quem está falando? A
dadania no Brasil e nos Estados Unidos da América, moça é minha sobrinha!”
visto que os norte-americanos se utilizam da cidadania
relacional, ao contrário dos brasileiros. Num posto de atendimento público, alguém espera na
fila. Antes do horário regulamentar para o término do
6. (Unesp 2019) expediente, verifica-se que o guichê está sendo fechado
TEXTO 1 e o atendimento do público, suspenso.
Correndo para o responsável, essa pessoa ouve uma res-
Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes posta insatisfatória, e fica sabendo que o expediente ter-
entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na minaria mais cedo por ordem do chefe. Manda chamar o
lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas ar- chefe e, identificando-se como presidente do órgão em
tes. Há infinitas carreiras diante de ti. […] Nenhum [ofí- pauta, despede todo o grupo.
cio] me parece mais útil e cabido que o de medalhão.
DAMATTA, ROBERTO. CARNAVAIS, MALANDROS E HERÓIS. 5. ED.
[…] Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado
RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN, 1990. P. 170-171.
da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste
nobre ofício. […] No entanto, podendo acontecer que, 7. (UESB) Identifique as afirmativas verdadeiras.
com a idade, venhas a ser afligido de algumas ideias
Sobre os fatos narrados no texto, é correto afirmar:
próprias, urge aparelhar fortemente o espírito. […] Em
todo caso, não transcendas nunca os limites de uma I. O ocorrido apresentado no primeiro parágrafo eviden-
invejável vulgaridade. cia comportamentos contraditórios dos personagens
envolvidos.
MACHADO DE ASSIS. TEORIA DO MEDALHÃO. WWW.DOMINIOPUBLICO.GOV.BR.
II. A primeira e última ocorrência destacam que dife-
TEXTO 2 rentes grupos humanos praticam relações interpessoais
fundamentadas em posição de poder, fruto da condição
De fato, existem medalhões em todos os domínios da social de cada um.
vida social brasileira: na favela e no Congresso; na arte III. Os dois últimos acontecimentos são exemplos ilus-
e na política; na universidade e no futebol; entre poli- trativos de negação das propaladas compreensão e cor-
ciais e ladrões. São as pessoas que podem ser chamadas dialidade do brasileiro.
de “homens”, “cobras”, “figuras”, “personagens” etc.
IV. As três situações configuram exemplos de relações
[…] Medalhões são frequentemente figuras nacionais.
sociais pautadas em leis que devem valer para todos.
[…] Ser o filho do Presidente, do Delegado, do Diretor
conta como cartão de visitas. V. Os três casos são representativos de relações inter-
pessoais isentas de hierarquização de posições sociais.
ROBERTO DA MATTA. CARNAVAIS, MALANDROS E HERÓIS, 1983.
As alternativas em que todas as afirmativas indicadas
Tanto no texto do escritor Machado de Assis como no são verdadeiras é a
do antropólogo Roberto da Matta, a figura do medalhão: a) I e IV.
a) corresponde a um fenômeno cultural recente e b) II e V.
desvinculado do clientelismo. c) I, II e III.
b) tem sua existência fundamentada em ideais libe- d) II, III e IV.
rais e democráticos de cidadania. e) I, III, IV e V.
c) consiste em um tipo social exclusivamente perten-
cente às elites burguesas. 8. No segundo parágrafo, o agressor, ao revelar-se tio
d) apresenta sucesso social fundamentado na compe- da “moça” para justificar a sua reação ao galanteio do
tência acadêmica e intelectual. desconhecido, mostra:
e) ilustra o caráter fortemente hierarquizado e perso- a) um recurso legítimo e poderado para resolver questões.
nalista da sociedade brasileira.
b) a pessoa que castiga do lado da lei, mantendo o
sistema justo.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 7 A 9 c) a visão cultural de “cada qual no seu lugar” como
Numa esquina perigosa, conhecida por sua má sinaliza- sendo uma mera fantasia.
ção e pelas batidas que lá ocorrem, há um acidente de d) a idéia de “consideração” como valor fundamental
automóvel. Como o motorista de um dos carros está nas relações interpessoais.
visivelmente errado, o guarda a ele se dirige propondo e) um comportamento que nega a ideia de uma so-
abertamente esquecer o caso por uma boa propina. O ciedade voltada para a integração humana.

155
9. O enunciador, ao usar o “Você sabe com quem está
falando?”, pretende:
a) criar um novo conceito de interlocutor.
b) tornar pública uma falsa idéia de sua identidade.
c) colocar o interlocutor em uma posição semelhante
à sua.
d) dividir com o seu interlocutor a responsabilidade
de uma ação.
e) passar uma imagem de si mesmo como alguém
possuidor de autoridade.

10. (Unesp)
Texto 1

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal


Federal (STF), negou pedido de juiz do Rio de Janeiro
que reivindica que a Justiça obrigue os funcionários do
prédio onde esse juiz mora a chamá-lo de “senhor” ou
de “doutor”, sob pena de multa diária. Na ação judicial,
o juiz argumenta que foi chamado pelo porteiro do con-
domínio de “você” e de “cara” e que ouviu a expressão
“fala sério!” após ter feito uma reclamação.
MARIANA OLIVEIRA. “MINISTRO DO STF NEGA PEDIDO DE JUIZ QUE QUER SER
CHAMADO DE ‘DOUTOR’”. HTTP://G1.GLOBO.COM, 22.04.2014. (ADAPTADO)

Texto 2

O “Você sabe com quem está falando?” não parece ser


uma expressão nova, mas velha, tradicional, entre nós.
Na medida em que as marcas de posição e hierarquiza-
ção tradicional, como a bengala, as roupas de linho bran-
co, o anel de grau e a caneta-tinteiro no bolso de fora do
paletó se dissolvem, incrementa-se imediatamente o uso
da expressão separadora de posições sociais para que o
igualitarismo formal e legal, mas cambaleante na prática
social, possa ficar submetido a outras formas de hierar-
quização social.
ROBERTO DA MATTA. CARNAVAIS, MALANDROS E HERÓIS, 1983. (ADAPTADO)

Considerando a análise do antropólogo Roberto da


Matta, o fato descrito no texto 1 pode ser corretamente
interpretado como resultante:
a) da contradição entre igualitarismo liberal e autori-
tarismo cultural.
b) da plena assimilação cultural dos ideais iluministas
de cidadania.
c) das tendências estatais de controle totalitário da
existência cotidiana.
d) da superação das hierarquias sociais pela univer-
salização ética.
e) da hegemonia ideológica da classe operária sobre
a classe burguesa.

Gabarito
1. A 2. D 3. B 4. A 5. D
6. E 7. C 8. E 9. E 10. A

156
AULA 23

MODERNIDADE LÍQUIDA: multimídia: vídeo


ZYGMUNT BAUMAN FONTE: YOUTUBE
A fluidez no mundo líquido de Bauman
O sociólogo Zygmunt Bauman apresenta, nessa entre-
vista, seu pensamento perante a liquidez da sociedade
contemporânea.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
Líquido-moderna é uma sociedade em que as condições
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, sob as quais agem seus membros mudam num tempo
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, mais curto do que aquele necessário para a consolida-
23, 24 e 25 ção, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez
da vida e a da sociedade se alimentam e se revigoram
mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade
líquido-moderna, não pode manter a forma ou perma-
1. Zygmunt Bauman necer muito tempo.
BAUMAN, ZYGMUNT. TEMPOS LÍQUIDOS. RIO DE
(1925-2017) JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2007, P.7.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos expoen-


tes da sociologia humanística, uma área da sociologia que 1.1. A relação social líquida
estuda os seres humanos como compositores de valores,
As formas da vida contemporânea se caracterizam pelo
desenvolve reflexões sobre a era contemporânea, debru-
uso excessivo de tecnologias, e por uma sociabilidade que
çando-se sobre a sociedade do consumo, as relações afeti-
se perfaz com laços frágeis, temporários e inconstantes.
vas e a globalização.
Num movimento de valorização do particular e do indivi-
dualismo exacerbado, as relações sociais se esvaem num
ritmo frenético.

Para estudar a sociedade atual, Bauman se utiliza da me- Entretanto, inserido nessa nova conjuntura social, o indi-
táfora do “líquido” para explicar o aspecto mutável das víduo se eleva diante do coletivo, salientando a fluidez do
relações sociais, pois o líquido sofre constante mudança e contato social.
não conserva sua forma por muito tempo.
Influenciado pelas teorias de Marx, mas também pela psi-
Diante da velocidade de nosso período histórico, que cul- canálise de Freud, Bauman salienta que o ser humano al-
mina com um aumento constante de informações, essa meja a felicidade, só que é uma felicidade individual, o que
prática afetará as próprias relações sociais. As tecnologias não garante necessariamente uma satisfação plena. Um
impulsionam o ser humano a querer e pensar o mais rápi- dos problemas é que o indivíduo pode perder a identifica-
do possível, de modo que tudo precisa ser instantâneo, o ção com o grupo social no qual está inserido, pois só o que
tempo de maturação de qualquer relação não se enqua- têm importância são as suas necessidades, a sua figura, e
dra nesse momento. não mais o grupo social.

157
De modo que, tudo que envolve o homem, até o próprio ser
humano, tornou-se efêmero, sem valor significativo.

1.2. A propaganda como


condutora do consenso
O grande motor da propaganda consiste na sua habilida-
multimídia: livro de em estimular o indivíduo a consumir um dado produto,
destacando-se as características que se julgam como po-
Tempos Líquidos - Zygmunt Bauman. tenciais fontes de atração da percepção do indivíduo.
São Paulo: Zahar, 1997. A publicidade fabrica consenso para atender aos interes-
Nessa obra, Bauman mostra como as cidades, original- ses do poder econômico, prosperando assim por meio das
mente construídas para proteção ao cidadão, se torna- carências existenciais de cada indivíduo, que consome em
ram um ambiente inseguro. Isso ocorre porque o mundo prol de uma satisfação ilusória.
contemporâneo está, de fato, infestado de emoções flui-
Bauman argumenta que "a liberdade do consumidor signi-
das, que transformam a vida numa experiência rápida e fica uma orientação da vida para as mercadorias aprovadas
sem profundidade. pelo mercado, assim impedindo uma liberdade crucial: a de
se libertar do mercado, liberdade que significa tudo menos
Diante desse cenário, o sociólogo evidencia que o futuro se a escolha entre produtos comerciais padronizados".
torna incerto, pois o sentimento é que se deve viver o pre-
sente, voltando-se exclusivamente para si. Seguindo essa
fórmula, o ser humano mergulha numa ausência de pers-
pectiva, gerando uma angústia. Pois essa incerteza afeta
drasticamente as relações sociais, que não são valorizadas,
e o indivíduo não consegue suportar essa indiferença,
provocada por ele de forma inconsciente e pelos outros
indivíduos. Como consequência dessa angústia, nota-se o
aumento constante do uso de antidepressivos para afastar,
de modo artificial, a sensação de angústia e tristeza.
As novas relações sociais se consolidam nos moldes das
redes sociais, onde a conexão e a desconexão são feitas de
modo cada vez mais rápido.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Cinco pensadores para entender o mundo: Bauman
multimídia: música O doutor em Ciências Sociais Luís Mauro Sá Martino
FONTE: YOUTUBE apresenta nessa série do canal da Casa do Saber o pen-
Efêmera - Tulipa Ruiz. Álbum: samento de Zygmunt Bauman e sua teoria da Moder-
Efêmera. YB Music, 2010. nidade Líquida.
Nessa canção, Tulipa Ruiz demonstra que, apesar de vi-
"Se você quer a paz, cuide da justiça", advertia a sa-
ver num mundo onde a liquidez está presente, existem bedoria antiga - e, diferentemente do conhecimento,
momentos que acabam marcando nossa vida. a sabedoria não envelhece. Atualmente, a ausência de
justiça está bloqueando o caminho para a paz, tal como
o fazia há dois milênios. Isso não mudou. O que mudou
Esse processo de liquidez está inserido nos pilares da socie- é que agora a "justiça" é, diferentemente dos tempos
dade, adentrando na família, política, economia e na segu- antigos, uma questão planetária, medida e avaliada por
rança. Assim, tudo se torna fugaz e perde a sua concretude. comparações planetárias - e isso por duas razões.

158
Em primeiro lugar, num planeta atravessado por "au- a qualquer outra coisa: intocado e intocável. O bem-es-
to-estradas da informação", nada que acontece em tar de um lugar, qualquer que seja, nunca é inocente em
alguma parte dele pode de fato, ou ao menos potencial- relação à miséria de outro. No resumo de Milan Kundera,
mente, permanecer do "lado de fora" intelectual. Não essa "unidade da espécie humana", trazida à tona pela
há terra nula, não há espaço em branco no mapa men- globalização, significa essencialmente que "não existe
tal, não há terra nem povo desconhecidos, muito menos nenhum lugar para onde se possa escapar".
incognoscíveis. A miséria humana de lugares distantes
BAUMAN, ZYGMUNT.
e estilos de vida longínquos, assim como a corrupção TEMPOS LÍQUIDOS. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2007, PP.11-12.
de outros lugares distantes e estilos de vida longínquos,
são apresentadas por imagens eletrônicas e trazidas
para casa de modo tão nítido e pungente, vergonhoso
ou humilhante como o sofrimento ou a prodigalidade
ostensiva dos seres humanos próximos de casa, durante
seus passeios diários pelas ruas das cidades. As injusti-
ças a partir das quais se formam os modelos de justiça
não são mais limitadas à vizinhança imediata e coligidas
a partir da "privação relativa" ou dos "diferenciais de
rendimento" por comparação com vizinhos de porta ou
colegas situados próximos na escala do ranking social.
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Em segundo lugar, num planeta aberto à livre circula-
ção de capital e mercadorias, o que acontece em de- Modernidade líquida - Newton Brito.
terminado lugar tem um peso sobre a forma como as Álbum: Modernidade líquida, 2018.
pessoas de todos os outros lugares vivem, esperam ou
supõem viver. Nada pode ser considerado com certeza
Traz referências de Zygmunt Bauman para falar da super-
num "lado de fora" material. Nada pode verdadeira- ficialidade nos relacionamentos na era contemporânea.
mente ser, ou permanecer por muito tempo, indiferente

DIAGRAMA DE IDEIAS

BAUMAN

A SOCIEDADE
AS PROPAGANDAS
CONTEMPORÂNEA
FABRICAM CONSENSOS
VIVE TEMPOS LÍQUIDOS

AS RELAÇÕES HUMANAS
DOMINAM AS PESSOAS
TENDEM A SER MENOS
DURADOURAS

E CONSOLIDAM A
SÃO EFÊMERAS SOCIEDADE LÍQUIDA

BANALIZAM AS
RELAÇÕES SOCIAIS

159
3. Zygmunt Bauman reflete sobre a liquidez dos laços
Aplicando para na sociedade pós-moderna. De acordo com o autor, po-
dem-se caracterizar as relações sociais como:
Aprender (A.P.A.) a) transitórias, superficiais e impessoais, cujas associa-
1. Um importante sociólogo contemporâneo é polonês ções ocorrem com base em propósitos muitas vezes
Zygmunt Bauman. Preocupado com as novas dinâmicas limitados e instrumentais.
da vida social, propõe um empreendimento reflexivo que b) pessoais, com uma predominância nos contatos
tem como norte as recentes modificações do mundo atu- sociais primários.
al. Em relação às análises de Bauman é incorreto afirmar: c) totalmente afetivas e homogêneas.
a) Liquidez é a metáfora que Bauman utiliza para ex- d) individualistas e afetivas.
plicar o sentido da pós-modernidade. e) instrumentais, a fim de suprir a necessidade coti-
b) Desmoronamento da antiga ilusão moderna, ou diana, pois os indivíduos necessitam preservar seus
seja, questionamento da crença de que há um fim do bens pessoais.
caminho em que andamos, um estado de perfeição a
ser atingido no futuro. 4. (UEL) Observe a charge a seguir:
c) Desregulamentação e privatização das tarefas e
deveres modernizantes. Na modernidade líquida, não
existem mais valores individuais, apenas sociais.
d) Nesta sociedade líquida, transformada pelo mer-
cado, também os valores mais importantes da vida
passam pelo mesmo processo de materialização tal
qual uma simples mercadoria.
e) O processo de transformação pelo qual passa a huma-
nidade pode ser aplicado ao mundo globalizado que, na
sua empolgação compulsiva para produzir bens de con-
sumo acaba produzindo um número significante de lixo.
FIGURA 9: ADAPTADO DE: VEJA, 28 DEZ. 2011, P.71.
2. Zygmunt Bauman se apresenta como um dos maiores
autores no âmbito da sociologia contemporânea. Suas Com base na charge e nos conhecimentos sobre as
obras produzem reflexões profundas que expõem os formas de comunicação na sociedade contemporânea,
indivíduos e suas relações na sociedade pós-industrial. considere as afirmativas a seguir:
Com relação à sua obra denominada Modernidade lí- I. A denominada “sociedade de informação” estreita os
quida, dados os itens abaixo: vínculos diretos entre os indivíduos e intensifica a coe-
I. “Bauman afirma que imigrantes, feios, pobres, mi- são e a igualdade social.
grantes, homossexuais, pretos e estrangeiros são viti- II. As novas tecnologias da informação são responsáveis
mados pela inclusão perversa.” pelo surgimento do modo de produção pós-moderno
II. “A indiferenciação entre o âmbito público e o privado ou pós-industrial.
chama a atenção de Bauman, que identifica sua amplia- III. As redes sociais contribuem para a redefinição das
ção com o crescente esfacelamento dos limites entre fronteiras entre os espaços público e privado.
individual e social, consequência da colonização do es-
paço público pelos interesses privados.” IV. O Twitter e outras formas de comunicação online
evidenciam determinado grau de desenvolvimento das
III. “Em meio à modernidade líquida, destaca Bauman forças produtivas.
que ser ou sentir-se livre para ir, vir e desapegar-se é
status proporcional ao poder de consumo individual.” Assinale a alternativa correta:
IV. “A violência, o terrorismo e o individualismo cres- a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
centes tornam evidente a falência do projeto moderno b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
de ‘ordem e progresso’, gerando ‘não-lugares’ onde se c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
padece no estado de anomia.” d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
V. “Fluidez, maleabilidade, flexibilidade e a capacidade e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
de moldar-se em relação às infinitas estruturas, são al-
gumas das características que o estado liquefeito con- 5. (Enem) O nosso tempo é de desengajamento. O mo-
ferirá às esferas dos relacionamentos humanos.” delo panóptico de dominação, que usava a vigilância, o
monitoramento e a correção da conduta dos domina-
Dentre as afirmações verifica-se que estão corretos so- dos como estratégia principal, está sendo rapidamen-
mente: te desmantelado e dá lugar à autovigilância e ao auto
a) I, II e V, apenas. monitoramento por parte dos dominados, tão eficiente
b) III, IV e V, apenas. em obter o tipo correto de comportamento quanto o
c) I, II, III, IV e V. antigo método de dominação.
d) I e III, apenas. BAUMAN, ZYGMUNT. COMUNIDADE: A BUSCA POR SEGURANÇA NO
e) II, III e IV, apenas. MUNDO ATUAL. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2003. (ADAPTADO)

160
O desengajamento tratado por Bauman, no texto, mos- mentos do modelo taylorista-fordista.
tra que estão em curso mudanças que têm como con- II. A perda de identidade em relação ao emprego no
sequência o(a): capitalismo contemporâneo confirma o fato de que a
a) liberdade para agir sem o controle familiar. categoria trabalho deixou de ser essencial para a pro-
b) conflito entre diversos modelos de conduta. dução e reprodução da vida social.
c) definição individual dos modelos de conduta social. III. As políticas antissindicais que acompanham as práti-
d) valorização de referenciais coletivos de organização. cas neoliberais apresentam como resultado a supressão
e) solidez dos relacionamentos sociais no âmbito político. das crises econômicas globais com o restabelecimento
do pleno emprego.
6. (Enem 2018) TEXTO I IV. O desemprego, no capitalismo globalizado, tem a
As fronteiras, ao mesmo tempo que se separam, unem longa duração como seu traço característico, enquanto
e articulam, por elas passando discursos de legitimação avança o emprego precário e de alta rotatividade, como
da ordem social tanto quanto do conflito. nos call centers.
CUNHA, L. TERRAS LUSITANAS E GENTES DOS BRASIS: A NAÇÃO E O Assinale a alternativa correta.
SEU RETRATO LITERÁRIO. REVISTA CIÊNCIAS SOCIAIS, N. 2, 2009.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
TEXTO II b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
As últimas barreiras ao livre movimento do dinheiro e d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
das mercadorias e informação que rendem dinheiro an- e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
dam de mãos dadas com a pressão para cavar novos
fossos e erigir novas muralhas que barrem o movimen- 8. De acordo com Zygmunt Bauman (2008),” na socie-
to daqueles que em consequência perdem, física ou es- dade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito
piritualmente, suas raízes. sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter
BAUMAN, Z. GLOBALIZAÇÃO: AS CONSEQUÊNCIAS
segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e
HUMANAS. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 1999. recarregar de maneira perpétua as capacidades espera-
das e exigidas de uma mercadoria vendável”.
A ressignificação contemporânea da ideia de fronteira Considerando essa afirmação, a identidade social:
compreende e
a) mantém inalterada sua constituição, uma vez que
a) liberação da circulação de pessoas. acompanha as mudanças sociais e econômicas da so-
b) preponderância dos limites naturais. ciedade de consumidores.
c) supressão dos obstáculos aduaneiros. b) torna-se cada vez mais frágil, à medida que cons-
d) desvalorização da noção de nacionalismo. titui algo efêmero, como também são as mercadorias.
e) seletividade dos mecanismos segregadores. c) torna-se cada vez mais forte, à medida que consti-
tui uma marca vendável do indivíduo.
7. (Uel 2019) Leia o texto a seguir.
d) Altera em sua constituição, à medida que a própria
O prefixo “des” indica anomalia. “Desemprego” é o
mercadoria também oscila como algo vendável.
nome de uma condição claramente temporária e anor-
mal, e, assim, a natureza transitória e curável da doença 9. (UERJ) No admirável mundo novo das oportunida-
é patente. A noção de “desemprego” herdou sua carga des fugazes e das seguranças frágeis, a sabedoria po-
semântica da auto consciência de uma sociedade que pular foi rápida em perceber os novos requisitos. Em
costumava classificar seus integrantes, antes de tudo, 1994, um cartaz espalhado pelas ruas de Berlim ridi-
como produtores, e que também acreditava no pleno cularizava a lealdade a estruturas que não eram mais
emprego não apenas como condição desejável e atin- capazes de conter as realidades do mundo: “Seu Cristo
gível, mas também como seu derradeiro destino. Uma é judeu. Seu carro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua
sociedade que, portanto, classificava o emprego como democracia, grega. Seu café, brasileiro. Seu feriado,
uma chave – a chave – para a solução dos problemas ao turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras, latinas.
mesmo tempo da identidade pessoal socialmente aceitá- Só o seu vizinho é estrangeiro”.
vel, da posição social segura, da sobrevivência individual
e coletiva, da ordem social e da reprodução sistêmica. ZYGMUNT BAUMAN ADAPTADO DE IDENTIDADE. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2005.

BAUMAN, Z. VIDAS DESPEDAÇADAS. RIO DE A alteração de valores culturais em diversas sociedades


JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2005. P. 19. é um dos efeitos da globalização da economia. O car-
taz citado no texto ironiza uma referência cultural que
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as trans-
pode ser associada ao conceito de:
formações mais recentes quanto ao tema desemprego
no capitalismo, considere as afirmativas a seguir. a) localismo
I. A tendência no capitalismo globalizado é tornar os b) nacionalismo
postos de trabalho mais flexíveis para atender neces- c) regionalismo
sidades das grandes corporações, levando a questiona- d) eurocentrismo

161
10. (SEDUC MT) “[…] a sociedade de consumo não é nada
além de uma sociedade do excesso e da fartura – e, por-
tanto, da redundância e do lixo”. (BAUMAN, 2007, p. 111).
Assinale a alternativa correta acerca da afirmação acima:
a) As novas tecnologias permitem que se produza
mais com menos recursos, o que tem evitado a de-
gradação ambiental.
b) Os centros urbanos, mas não só estes, têm encon-
trado soluções para a questão do descarte de lixo de
seus habitantes, impondo cotas de despacho de resí-
duos sólidos, por exemplo.
c) Com o aperfeiçoamento tecnológico todas as mer-
cadorias tendem a se transformarem em bens de con-
sumo duráveis. 12. (Uel 2018) Na figura, o “fim da linha” é também uma
d) A obsolescência acelerada dos produtos é marca metáfora para interpretações como aquelas que defen-
deste momento. dem que a sociedade atual encontra-se no “fim da histó-
ria”, tese popularizada por Francis Fukuyama, ou diante
e) A facilidade com que se descartam as mercadorias
do “fim das utopias”, formulada por autores como An-
em nada refletem na sociabilidade dos sujeitos na
thony Giddens e Zigmunt Baumann. Este debate teórico
modernidade líquida a que se referem Bauman.
e social coloca no centro da reflexão temas como moder-
11. (IFMG) Zygmunt Bauman: “No mundo atual, todas nidade, mudanças e movimentos sociais.
as ideias de felicidade terminam em uma loja” Sobre o contexto sociopolítico e os fundamentos pre-
sentes nesse debate, assinale a alternativa correta.
GONZALO SUÁREZ – JORNALISTA: VOCÊ AFIRMA
QUE ESQUECEMOS COMO SER FELIZ. a) Os protestos coletivos urbanos, a partir dos anos
1990, quando ocorrem, demonstram ser uma ferra-
ZB: Primeiro de tudo, tenho que admitir que existem menta política empregada primordialmente pelos in-
muitas maneiras de ser feliz. E há alguns que eu nem divíduos mais pobres e menos escolarizadas.
vou tentar. Mas sei que, qualquer que seja o seu pa-
b) Os novos movimentos sociais têm apresentado
pel na sociedade de hoje, todas as ideias de felicida-
como grandes traços a heterogeneidade dos atores
de sempre acabam em uma loja. O inverso da moeda
envolvidos, a valorização das adesões individuais
é que, quando vamos às lojas para comprar felicidade,
e as alianças pontuais independentes do pertenci-
esquecemos outras maneiras de sermos felizes, como
mento de classe.
trabalhar juntos, meditar ou estudar.
c) O liberalismo econômico é o referencial teórico dos
DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.ELMUNDO.ES/PAPEL/ movimentos contra a globalização, revelando a des-
LIDERES/2016/11/07/58205C8AE5FDEAED768B45D0.
crença geral com os grandes projetos inspirados nos
HTML. ACESSO EM: 4 MAI. 2018.
ideais socialistas e o fim das grandes narrativas.
O texto é um trecho de uma entrevista que o sociólogo d) Para teóricos do “fim da linha” ou do “fim da his-
Zygmunt Bauman concedeu ao jornalista Gonzalo Suá- tória”, a pós-modernidade está marcada pela ausên-
rez, do jornal “El Mundo”, no ano de 2016. A resposta cia de perspectivas para superar a cristalização de va-
de Zygmunt Bauman quando questionado sobre seus lores, práticas e projetos sociais defendidos na época
apontamentos de que as pessoas se esqueceram de da modernidade.
como ser felizes: e) O “fim da linha” é o reconhecimento de que os
valores criados pela modernidade foram cumpridos,
a) Frisa que independentemente do papel do indiví-
restando às novas gerações, garanti-los sem altera-
duo na sociedade atual todas as ideias de felicidade
ções significativas.
terminam em uma loja.
b) Aborda o consumismo, mas enfatiza que se trata 13. (UEL) Leia o texto a seguir.
de uma felicidade tendenciosa. A prudência sugere que, para qualquer pessoa que de-
c) Reafirma os apontamentos destacados pelo jor- seja agarrar uma chave sem perder tempo, nenhuma
nalista, mas destaca que a felicidade é um jogo na velocidade é alta demais; qualquer hesitação é desa-
sociedade atual onde adquirir mais é sempre ganhar. conselhada, já que a pena é pesada.
d) Destaca que ao buscarmos felicidade em uma loja
BAUMAN, Z. VIDA PARA CONSUMO: A TRANSFORMAÇÃO DAS
corremos o risco de abandonar práticas comuns de PESSOAS EM MERCADORIAS. TRAD. CARLOS ALBERTO
MEDEIROS.
felicidade como trabalhar juntos, meditar ou estudar, RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2008. P.50.
praticadas costumeiramente na sociedade atual.
Com base na charge e na sociedade agorista, considere
as afirmativas a seguir:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
I. Na sociedade agorista, o volume de informação dispo-
Leia a charge a seguir e responda à(s) questão(ões). nível é superior ao que seria consumido por uma pessoa

162
culta do século XIII ao longo da vida, o que gera a neces- conformar, agora – depois da reviravolta da modernida-
sidade de proteção contra as informações indesejadas. de “líquida” – o espectro mais assustador é o da inade-
II. Os sentimentos de felicidade ou a sua ausência de- quação. Temor bem justificado quando consideramos a
rivam de esperanças e expectativas, assim como de enorme desproporção entre a quantidade e a qualidade
hábitos aprendidos, e tudo isso tende a diferir de um de recursos exigidos por uma produção efetiva de segu-
ambiente social para outro. rança do tipo “faça você mesmo”.
III. A modernização tecnológica, materializada em equi- BAUMANN, Z. CONFIANÇA E MEDO NA CIDADE. RIO DE
pamentos, facilitou o acesso a produtos e transformou JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2009. P.21-22. (ADAPTADO).
as ações eventuais em hábitos diários e comuns.
Com base nesses trechos e nos conhecimentos sobre
IV. O consumo é uma condição estimulada pelo convívio modernidade, apresente:
humano e o consumismo, um aspecto permanente e ir-
removível, sem limites temporais ou históricos, natural a) uma característica particular para Marx e uma para
e praticado por todos. Bauman.
Assinale a alternativa correta: b) duas características comuns para ambos os autores.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.


b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
Gabarito
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 1. C 2. C 3. A 4. C 5. C
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
6. E 7. B 8. B 9. C 10. D
14. (Enem PPL) Tendo se livrado do entulho do maqui-
nário volumoso e das enormes equipes de fábrica, o ca- 11. C 12. B 13. D 14. C
pital viaja leve, apenas com a bagagem de mão, pasta, 15.
computador portátil e telefone celular. O novo atribu- a) Para Marx: volatilidades/fugacidades; ou profana-
to da volatilidade fez de todo compromisso, especial- ções do sagrado; ou novas relações sociais marcadas
mente do compromisso estável, algo ao mesmo tempo por reciprocidades; ou transformações constantes/ace-
redundante e pouco inteligente: seu estabelecimento leradas dos instrumentos de produção; ou inexorabili-
paralisaria o movimento e fugiria da desejada compe- dade da condição de classe. Para Bauman: fluidez; ou
titividade, reduzindo a priori as opções que poderiam insegurança; ou incerteza; ou falta de garantia; ou pro-
levar ao aumento da produtividade. blemas relacionados ao processo de individualização.
BAUMAN, Z. MODERNIDADE LÍQUIDA. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2001. b) Ambos os autores avaliam, em suas épocas, a mo-
dernidade como processo transformador das relações
No texto, faz-se referência a um processo de transfor- sociais de outrora, definem a modernidade a partir
mação do mundo produtivo cuja consequência é o(a) do capitalismo, mostram que, no lugar de sociedades
a) regulamentação de leis trabalhistas mais rígidas. mais duradouras, com a modernidade surgem rela-
b) fragilização das relações hierárquicas de trabalho. ções sociais menos estáveis.
c) decréscimo do número de funcionários das empresas.
d) incentivo ao investimento de longos planos de carreiras.
e) desvalorização dos postos de gerenciamento cor-
porativo.

15. A análise do tema modernidade, por pensadores


clássicos da Sociologia, está presente também em au-
tores contemporâneos, atentos às condições da socie-
dade atual.
No século XIX, Karl Marx, em seu livro O Manifesto Co-
munista, de 1848, refere-se à sociedade burguesa de seu
tempo como formação social em que tudo o que era só-
lido desmancha no ar, tudo que era sagrado é profana-
do, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com
serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.
MARX, K.; ENGELS, F. O MANIFESTO COMUNISTA. IN:
COUTINHO, C. N. ET AL. O MANIFESTO COMUNISTA: 150
ANOS DEPOIS. RIO DE JANEIRO: CONTRAPONTO, 1998. P.11.

Zigmunt Baumann, em Confiança e medo na cidade,


afirma que se, entre as condições da modernidade sóli-
da, a desventura mais temida era a incapacidade de se

163
AULA 24

O MEIO AMBIENTE COMO multimídia: livro


PROBLEMA SOCIAL O mundo em descontrole - o que a
globalização está fazendo de nós - Anthony
Giddens. Rio de janeiro: Record, 2003.
Anthony Giddens estuda os efeitos da globalização em
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 nossas vidas. Analisando as mudanças pelas quais pas-
saram culturas tradicionais, o choque entre a busca de
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, integração e o fundamentalismo, as incertezas criadas
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, pelo processo de unificação em escala planetária.
23, 24 e 25

1.1. O desencanto com a razão iluminista


1. Anthony Giddens (1938) Para Giddens, vivemos num momento histórico que radicali-
zou as consequências da modernidade, pois a racionalidade,
O sociólogo inglês Anthony Giddens é um dos mais desta-
propagada pelos ideais iluministas, não condiciona os ho-
cados pensadores da atualidade. Sua teoria é fundada na
mens para o domínio da natureza e da própria sociedade. De
estruturação social, buscando transcender o dualismo mar-
modo que não podemos mais confiar plenamente nos ideais
xista. Para Giddens, os estudos da Sociologia se fundam nas
do iluminismo francês, que depositava somente na razão o
práticas sociais ordenadas no espaço e no tempo, não se con-
poder de resolver todos os problemas da humanidade.
centrando na ação individual, como pretende Weber, e nem
nas totalidades sociais, como pensava Durkheim.

multimídia: vídeo
FONTE: NETFLIX
Black Mirror - Inglaterra: Channnel 4
(2011-2014) e Netflix (2016-presente).
A série apresenta contos de ficção científica que refle-
tem o lado obscuro das telas e da tecnologia, mostran-
do que nem toda novidade traz só benefícios.

A razão carrega consigo elementos de desordem que es-


cravizam os homens. Assim, a modernidade apresenta uma
característica de duplicidade, podendo, ao mesmo tempo,
criar uma estrutura que possibilita inúmeras oportunidades
multimídia: vídeo no campo científico, como a criação de novos maquinários
FONTE: ADOROCINEMA para a facilidade humana, mas também produzir consequ-
ências degradantes para o indivíduo, como a exploração do
Anthony Giddens - agência e estrutura
trabalho, o autoritarismo e as guerras.

164
é sustentado nas atividades cotidianas da vida social.
Contida primordialmente na consciência prática, a rotina
introduz uma cunha entre o conteúdo potencialmente
explosivo do inconsciente e a monitoração reflexiva da
ação que os agentes exigem.
GIDDENS, ANTHONY.
A CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE, 1984, P. 25
multimídia: vídeo Na sociedade contemporânea predominam riscos inten-
FONTE: YOUTUBE sificados e produzidos pela humanidade. Seguindo uma
Show de Truman - Estados Unidos, 1998 (103 min). estrutura de transformação do espaço, o ser humano vem
alterando a natureza numa velocidade assustadora. A
Um homem tem sua vida inteira filmada e transmitida
partir do século XX, o aumento da produção e o estímulo
ao vivo pela TV, 24 horas por dia via satélite para o
ao consumo em massa provocaram grandes desequilí-
mundo todo, desde o seu nascimento. O filme come-
brios sociais e ambientais, resultados de uma construção
ça a partir do 30º ano ininterrupto de transmissão do
da ideia de“progresso”.
“show” da vida de Truman Burbank como a primeira
experiência de um “show real”, pois Truman desco-
nhece ser um personagem. 2. Ulrich Beck (1944-2015)
O sociólogo alemão Ulrich Beck analisou as mudanças nas
Nesse sentido, é possível questionar o próprio processo
últimas décadas do século XX, constatando a formação de
científico e sua credibilidade. O sociólogo aponta para o
uma sociedade de risco.
perigo das fake news, que são produções baseadas no pro-
cesso científico sem a existência de nenhum crivo científico
e que vêm gerando a aceitação das notícias divulgadas
sem nenhum questionamento prévio.
A Teoria da Estrutura, apresentada por Giddens, pretende
entender como as práticas sociais se mantêm estáveis e
como essas práticas são reproduzidas. Dessa forma, a roti-
na dos hábitos humanos precisa ser analisada, salientando
como essas práticas também proporcionam uma duplicida-
de: algo positivo e outro negativo.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Muito além do Cidadão Kane (Beyound
Citizen Kane) - Inglaterra: Channel 4,1993.
Documentário que mostra o empresário Roberto Mari-
nho como exemplo da concentração da mídia no Brasil. multimídia: livro
A rotina (tudo que é feito habitualmente) constitui um Sociedade de Risco - rumo a uma outra modernidade
elemento básico da atividade social cotidiana [...]. A na-
- Ulrich Beck. São Paulo: Editora 34, 2013.
tureza repetitiva de atividades empreendidas de maneira
idêntica dia após dia é a base material do que eu chamo Nessa obra, o sociólogo Ulrich Beck faz um diagnóstico
de “caráter recursivo” da vida social. [...] A rotinização dos desafios da contemporaneidade, apontando uma
é vital para os mecanismos psicológicos por meio dos crítica à ciência voltada só para o progresso.
quais um senso de confiança ou segurança ontológica

165
O sociólogo defende a ideia de que a modernidade passa
por um momento de ruptura histórica, ou seja, caracte-
rizando a passagem para a pós-modernidade, de modo
que a sociedade está num processo de reconfiguração
social e tecnológica.
Trata-se da mudança da sociedade industrial clássica, fo-
mentada pela produção e distribuição de bens produzidos,
para uma sociedade de risco, onde a produção de riscos
domina a lógica da produção de bens.
Em outras palavras, os bens coletivos não estão mais ga-
rantidos porque a produção social das riquezas é acompa-
Como exemplo dos possíveis desastres envolvidos na ló-
nhada pela produção de riscos sociais e ambientais. Essa
gica da sociedade de risco, temos o caso do rompimento
sociedade é caracterizada pela incerteza, já que alguns de-
da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. A barra-
sastres ambientais podem acontecer pela forma acelerada
gem de rejeitos, classificada como “baixo risco”, mas com
de extração de bens naturais.
“alto potencial de danos”, tinha o respaldo de tecnologias
para monitoramento e extração de minérios da região. En-
2.1. Sociedade de risco tretanto, apesar de todo o aparato tecnológico, ocorreu o
Devido ao uso insustentável da água e do solo, criados rompimento, que causou 259 mortos e 11 desaparecidos.
pela própria ação humana, surgem diversos tipos de ris- A problemática sociológica levantada por Beck é o ques-
cos, como deslizamentos de encostas com soterramentos, tionamento de quantos riscos a sociedade vivenciará se
desertificação progressiva de muitas regiões e esgota- continuarmos negligenciando as possibilidades de grandes
mento de solos, risco de resíduos nucleares, assoreamen- desastres envolvidas na maneira como a lógica econômica
to de rios e águas pluviais, enchentes, entre outros tipos está estabelecida.
de acontecimentos.
Ouve-se continuamente afirmar que a noção de "so-
ciedade mundial de risco" [...] bloqueia qualquer tipo
de ação política. O contrário, porém, também é verda-
deiro: como sociedade mundial de risco, a sociedade
se torna reflexiva em um triplo sentido. Em primeiro
lugar, ela se torna uma questão por si mesma: os pe-
rigos globais geram comunidades globais, e de fato se
delineiam os contornos de uma (virtual) esfera públi-
ca mundial. Em segundo lugar, a percepção do cará-
multimídia: vídeo ter global das ameaças produzidas a si mesmo pelo
progresso dá um impulso politicamente orientável à
FONTE: YOUTUBE revitalização da política nacional e à formação e con-
Sociedade de Risco figuração de instituições cooperativas internacionais.
[...] Em terceiro lugar, os limites da política se perdem.
A sociedade de risco sendo apresentada como um novo
Criam-se constelações de “subpolítica” global e direi-
olhar sociológico. to, que não se ajustam às coordenações e coalizações
da política nacional-estatal e, portanto, a relativizam.
[...] Nessa concepção das emergências geradas pela
Segundo o sociólogo Beck, a sociedade de risco compreende sociedade mundial de risco podem se delinear os con-
um mundo de incertezas fabricadas pelo uso da tecnologia tornos de uma "sociedade civil mundial".
acelerada, produzindo um novo cenário de risco global, de BECK, ULRICH
incertezas não quantificáveis. Nesse instante, Beck desen- CONDITIO HUMANA: IL RISCHIO NELL’ETÀ GLOBALE. ROMA-BARI: LATERZA, 2008.
volve uma crítica ao progresso tecnológico, que, buscando Essa problemática socioambiental vem desencadeando
somente a acumulação do lucro, omite-se perante os graves várias ações políticas e sociais no mundo todo, com mani-
problemas ambientais e sociais que gera. Pois, com base no festações, passeatas e protestos a favor do clima, pedindo
avanço científico, diversas transformações ambientais estão pela intervenção de líderes governamentais para conter o
se concretizando nesse momento. avanço das mudanças climáticas no planeta. Como exem-
Assim, Beck critica a ideia de determinismo da racionalida- plo desses protestos na atualidade, destaca-se o ativismo
de científica perante a sociedade na produção de verdades. juvenil da sueca Greta Ernman Thunberg.

166
A imagem destaca a iniciativa de Greta Thunberg de pro-
testar fora do prédio do parlamento sueco em 2018, aos
15 anos de idade, exigindo mais ações dos políticos para
aliviar as mudanças climáticas. Essa ação ocorreu depois
de ondas de calor e incêndios na Suécia.
Após esse protesto solitário, emergiram diversas manifesta-
ções, lideradas por jovens no mundo todo a favor da causa
climática. Com a utilização de mídias sociais, como o Twitter,
esses movimentos alcançaram propagações instantâneas.
Em 25 de março de 2019, ocorreram diversas passeatas pelo
clima na Europa, com milhares de jovens reunidos.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Reis do Agronegócio - Chico César.
Álbum: Estado de Poesia, 2015.
A canção de 9min sem repetição fala da plantação de
monoculturas e do uso desordenado de pesticidas e
agrotóxicos, da ganância dos donos das terras que des-
truíram florestas, matas virgens, nascentes para planta-
ção de produtos transgênicos, contaminando lençóis fre-
áticos, eliminando a diversidade local e nos oferecendo
alimentos cheios de veneno que são a causa de diversas
doenças atuais.

167
DIAGRAMADE
DIAGRAMA DEIDEIAS
IDEIAS

SOCIEDADE
DE RISCO

SOCIEDADE
GIDDENS
INDUSTRIAL
ULRICH BECK

É PRECISO
REFORMULAR A
TEORIA SOCIAL
TECNOLOGIA
LUCRATIVA É PRECISO
REPENSAR AS
AÇÕES HUMANAS
A RAZÃO ILUMINISTA
NÃO É CONFIÁVEL
GERA
CONSEQUÊNCIAS
AMBIENTAIS E RISCO DE UMA
SOCIAIS CATÁSTROFE GLOBAL
ESTAMOS
CAMINHANDO PARA
NOVOS PADRÕES DE
RISCO AÇÕES INDIVIDUALISMO
GLOBALIZADO SOCIOAMBIENTAIS

POIS SOFREMOS AS
CONSEQUÊNCIAS DE
UMA MODERNIDADE
TARDIA

168
3. (Enem) A questão ambiental, uma das principais pau-
Aplicando para tas contemporâneas, possibilitou o surgimento de con-
cepções políticas diversas, dentre as quais se destaca a
Aprender (A.P.A.) preservação ambiental, que sugere uma ideia de into-
1. (UEL) A intensidade de risco é certamente o elemento cabilidade da natureza e impede o seu aproveitamento
básico e ameaçador das circunstâncias em que vivemos econômico sob qualquer justificativa.
hoje. A possibilidade de guerra nuclear, calamidade ecoló- PORTO-GONÇALVES, C. W. A GLOBALIZAÇÃO DA NATUREZA E A NATUREZA
gica, problemas ambientais, explosão populacional incon- DA GLOBALIZAÇÃO. RIO DE JANEIRO: CIVILIZAÇÃO
BRASILEIRA, 2006 (ADAPTADO)
trolável, crises financeiras mundiais, guerras preventivas,
terrorismo e outras catástrofes globais potenciais for- Considerando as atuais concepções políticas sobre a
necem um horizonte inquietante de perigos para todos. questão ambiental, a dinâmica caracterizada no texto
Como Ulrich Beck comentou, riscos globalizados deste quanto à proteção do meio ambiente está baseada na:
tipo não respeitam divisões entre ricos e pobres. O fato de a) prática econômica sustentável
que “Chernobyl está em toda parte” explica claramente o b) contenção de impactos ambientais
fim das fronteiras entre os que são privilegiados e os que c) utilização progressiva dos recursos naturais
não são. A intensidade de certos tipos de risco transcende
d) proibição permanente da exploração da natureza
todos os diferenciais sociais e econômicos.
e) definição de áreas prioritárias para a exploração
GIDDENS, A. AS CONSEQUÊNCIAS DA MODERNIDADE. SÃO PAULO: econômica
EDITORA DA UNIVERSIDADE PAULISTA, 1991. P.127-128 (ADAPTADO)
4. (UEM) “Uma das discussões sociológicas relaciona-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a socie- das aos problemas socioambientais se desenvolveu
dade de risco na atual modernidade, considere as afir- no debate sobre meio ambiente e sustentabilidade:
mativas a seguir: a questão da fome e da segurança alimentar. O tema
I. Nas sociedades e nações guiadas por uma economia da superação da fome e da pobreza também trouxe
de desenvolvimento científico-tecnológico, o debate à tona uma discussão sobre o modelo de desenvolvi-
sobre as lutas de classes é substituído pela preocupa- mento associado ao capitalismo. A ideia difundida no
ção do gerenciamento dos riscos ambientais globais, século XIX de que a fome e a pobreza seriam resultado
que ultrapassam as fronteiras dos estados nacionais. de uma produção de alimentos insuficiente em relação
II. Nas sociedades atuais, com o aprofundamento da ao crescimento populacional foi criticada e superada
modernidade, desencaixam-se as instituições e os sis- ao longo do século XX”
temas sociais que garantiam a segurança e a ordem,
(VÁRIOS AUTORES. SOCIOLOGIA EM MOVIMENTO.
fragilizam-se os pilares do Estado de bem-estar social e SÃO PAULO: MODERNA, 2015, P.371).
criam-se ambientes de risco global.
III. Os riscos globais, originados pelas crises ambientais, Considerando o texto citado e conhecimentos sobre a
reduzem a reflexividade e as oportunidades de criação temática do meio ambiente e desenvolvimento, assina-
de organizações coletivas que demonstram a falibilida- le o que for correto.
de da ciência, a exemplo dos movimentos que politizam 01) A produção de alimentos orgânicos e as políticas
a questão do meio ambiente e da ecologia. de soberania alimentar são mantidas mundialmen-
IV. As sociedades em desenvolvimento protegem-se das te pelas grandes empresas mundiais produtoras de
ameaças e dos perigos provocados pela alta intensida- grãos e insumos agrícolas.
de de riscos globais, devido à distância dos conflitos 02) O desenvolvimento capitalista garantiu a supera-
entre as nações centrais mais desenvolvidas. ção da fome e da pobreza em nível mundial.
Assinale a alternativa correta: 04) A manutenção de reservas territoriais ocupadas
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. por diferentes etnias indígenas é responsável pela
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. baixa produção de alimentos no Brasil.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 08) Políticas públicas voltadas para a redistribuição
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. de recursos econômicos, como o Programa Bolsa Fa-
mília, no Brasil, são aliadas importantes das políticas
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas
mundiais de soberania alimentar.
2. (IFRN) De acordo com Ulrich Beck (1992), as mudanças 16) O alimento é um direito humano e não apenas
nos modelos de emprego, o declínio da influência da tra- uma mercadoria comum, ou seja, o acesso aos pro-
dição e do costume sobre a autoidentidade, o desgaste dutos alimentícios não deve estar sujeito às regras
dos paradigmas familiares tradicionais e a democratiza- econômicas voltadas ao lucro, mas sobretudo a prin-
ção dos relacionamentos são características da: cípios básicos de garantia da vida humana.
a) discriminação social. 5. (Enem) A linhagem dos primeiros críticos ambientais
b) reestruturação global. brasileiros não praticou o elogio laudatório da beleza
c) sociedade de risco. e da grandeza do meio natural brasileiro. O meio natu-
d) diáspora global. ral foi elogiado por sua riqueza e potencial econômico,

169
sendo sua destruição interpretada como um signo de II. destruição da camada de ozônio;
atraso, ignorância e falta de cuidado. III. uso descontrolado de agrotóxicos e inseticidas;
PADUA, J. A. UM SOPRO DE DESTRUIÇÃO: PENSAMENTO IV. desmatamento e queimadas.
BRASIL ESCRAVISTA (1786-
POLÍTICO E CRÍTICA AMBIENTAL NO
É correto afirmar que contribuem para o agravamento
1888). RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2002 (ADAPTADO)
dos problemas as causas citadas em:
Descrevendo a posição dos críticos ambientais brasilei- a) I, II e III, apenas.
ros dos séculos XVIII e XIX, o autor demonstra que, via b) II e III, apenas.
de regra, eles viam o meio natural como:
c) I e IV, apenas.
a) ferramenta essencial para o avanço da nação d) I, II, III e IV.
b) dádiva divina para o desenvolvimento industrial e) II e IV, apenas.
c) paisagem privilegiada para a valorização fundiária
d) limitação topográfica para a promoção da urbanização 8. (UFPA) Se considerarmos que existe uma relação
e) obstáculo climático para o estabelecimento da civilização direta entre a crise ambiental que o planeta enfrenta
atualmente e a lógica da acumulação capitalista, qual
6. (UEPA) O crescimento precipitado das cidades em de- das afirmações abaixo NÃO JUSTIFICA esta afirmação?
corrência do acelerado desenvolvimento tecnológico da
a) As estruturas de poder que controlam o uso dos re-
segunda metade do século XX produziu um espaço urba-
no cada vez mais fragmentado, caracterizado pelas desi- cursos naturais e do meio ambiente comum estão ba-
gualdades e segregação espacial, subemprego e submo- seadas no cálculo econômico privado das empresas,
radia, violência urbana e graves problemas ambientais. e este cálculo não considera as condições globais do
meio ambiente, mas apenas os elementos mercantis.
Sobre os problemas socioambientais nos espaços urba-
no-industriais, é correto afirmar que: b) Vivemos o risco de ruptura do equilíbrio ecológico
do planeta pela incapacidade de os agentes econômi-
a) os resíduos domésticos e industriais aliados aos nume- cos se ajustarem às capacidades limitadas de suporte
rosos espaços marginalizados, problemas de transportes,
do meio ambiente.
poluição da água e do solo, bem como os conflitos so-
ciais, são grandes desafios das cidades na atualidade. c) Existem dois fatores de extrema importância que
atuam simultaneamente no sentido do agravamento
b) as ações antrópicas, em particular, as atividades
ligadas ao desenvolvimento industrial e urbano, têm da crise ambiental: a concentração crescente do con-
comprometido a qualidade das águas superficiais, trole sobre os recursos naturais e a privatização do
sem, contudo, alcançar os depósitos subterrâneos. uso do meio ambiente comum.
c) os conflitos sociais existentes no espaço urbano mun- d) A solução da crise ambiental passa pela democra-
dial estão associados à ampliação de políticas públicas tização do controle sobre os recursos naturais e pela
para melhoria de infraestrutura que provocou o desloca- desprivatização do meio ambiente comum, de tal for-
mento de milhões de pessoas do campo para a cidade. ma que o acesso aos recursos naturais expressa uma
d) a violência urbana, problema agravado nos últimos vivência democrática efetiva.
anos, está associada à má distribuição de renda, à livre e) As proposições relativas à determinação de um ele-
comercialização de armas de fogo e à cultura arma- mento da sociedade por outro, como, por exemplo,
mentista existente na maioria dos países europeus. a crise ambiental decorrente da forma como se dá
e) a chuva ácida ocorrida nos países ricos industria- a exploração econômica, não devem ser seriamente
lizados apresenta como consequências a destruição consideradas, pois há uma infinidade de outras cau-
da cobertura vegetal e a alteração das águas, embora sas não econômicas para a crise ambiental.
favoreça a fertilização dos solos agricultáveis.
9. (Enem) A justiça de São Paulo decidiu multar os su-
7. (Mackenzie) Seathl, chefe indígena americano, em seu permercados que não fornecerem embalagens de papel
famoso discurso, discorre a respeito dos sentimentos e ou material biodegradável. De acordo com a decisão, os
dos cuidados que o homem branco deveria ter para com estabelecimento que descumprirem a norma terão de
a Terra, à semelhança com os índios, ao se assenhorear pagar multa diária de R$ 20 mil, por ponto de venda. As
das novas regiões. E ao final, diz: “Nunca esqueças como embalagens deverão ser disponibilizadas de graça e em
era a terra quando dela tomaste posse. Conserva-a para quantidade suficiente.
os teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma
coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Nem mes- WWW.ESTADAO.COM.BR ACESSO EM: 31 JUL.2012 (ADAPTADO).
mo o homem branco pode evitar nosso destino comum”.
A legislação e os atos normativos descritos estão anco-
O discurso adaptado, publicado na revista Norsk Na-
rados na seguinte concepção:
tur, Oslo, em 1974, nunca esteve tão atual. O homem,
procurando tornar sua vida mais “confortável”, vem a) Implantação da ética comercial.
destruindo e contaminando tudo ao seu redor, sem se b) Manutenção da livre concorrência.
preocupar com os efeitos desastrosos posteriores. c) Garantia da liberdade de expressão.
Esses efeitos podem ser causados por: d) Promoção da sustentabilidade ambiental.
I. liberação desenfreada de gases-estufa; e) Enfraquecimento dos direitos do consumidor

170
10. (Enem) Diante de ameaças surgidas com a engenha-
ria genética de alimentos, vários grupos da sociedade
civil conceberam o chamado “princípio da precaução”.
O fundamento desse princípio é; quando uma tecnologia
ou produto comporta alguma ameaça à saúde ou ao am-
biente, ainda que não se possa avaliar a natureza precisa
ou a magnitude do dano que venha a ser causado por
eles, deve-se evitá-los ou deixá-los de quarentena para
maiores estudos e avaliações antes de sua liberação.
SEVCENKO, N. A CORRIDA PARA O SÉCULO XXI: NO LOOP DA
MONTANHA-RUSSA. SÃO
PAULO: CIA. DAS LETRAS, 2001. (ADAPTADO)

O texto expõe uma tendência representativa do pensa-


mento social contemporâneo, na qual o desenvolvimen-
to de mecanismos de acautelamento ou administração
de riscos tem como objetivo:
a) priorizar os interesses econômicos em relação aos
seres humanos e à natureza.
b) negar a perspectiva científica e suas conquistas por
causa de riscos ecológicos.
c) instituir o diálogo público sobre mudanças tecnoló-
gicas e suas consequências.
d) combater a introdução de tecnologias para travar o
curso das mudanças sociais.
e) romper o equilíbrio entre benefícios e riscos o
avanço tecnológico e científico.

Gabarito
1. A 2. C 3. D 4. 08 + 16 = 24 5. A
6. A 7. D 8. E 9. D 10. C

171
AULA 25 Oralidade Essa sociedade tem o seu núcleo cultural pau-
tado na oralidade, fundamentando-se nas lem-
Primária branças dos sujeitos.

Sociedade que domina a escrita, desenvolven-


AS NOVAS FORMAS Escrita do a lógica e a interpretação dos textos, conjun-
to com o conhecimento dominante.
DE COMUNICAÇÃO Novo contexto com o surgimento do computa-
Virtualização dor e a possibilidade de conexão e comunicação
E TECNOLOGIA: hipertextual.

PIERRY LÉVY
1.1. Inteligência coletiva
O termo inteligência coletiva, cunhado por Pierre Lévy, re-
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 presenta um princípio no qual as inteligências individuais
são somadas e compartilhadas por toda a sociedade, sen-
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, do potencializadas com o surgimento de novas tecnolo-
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, gias, como a internet. Com isso, desencadeia um compar-
23, 24 e 25 tilhamento da memória, da imaginação e da percepção,
e mediante isso vai resultar numa aprendizagem coletiva.
Diante disso, as informações são cruzadas e selecionadas
1. Pierry Lévy (1956) por uma pessoa, gerando um ecossistema.

O sociólogo franco-tunisiano é um dos maiores estudiosos


do universo da internet, principalmente na área da ciberné-
tica e da inteligência artificial.

Com o advento da internet, ocorreram diversas mudanças


no comportamento social, alterando profundamente as
relações sociais, seja na comunicação ou na inter-relação
com o trabalho.
Segundo Lévy, a tecnologia tem um papel fundamental na multimídia: vídeo
vida humana do século XXI, afetando a comunicação, a
FONTE: YOUTUBE
economia e a própria cultura das sociedades. Para o so-
ciólogo, esse sujeito do século XXI está no momento da As formas de saber: Pierre Lévy
globalização da informação e da desmaterialização dos O pensamento de Pierre Lévy é o foco desse documen-
suportes da informação. Isso significa que as pessoas têm tário, que trata de como a nova organização dos sabe-
acesso a uma variedade infinita de informações em grande res, fruto do coletivo, será a educação do nosso tempo.
velocidade. Para Lévy, essa difusão das informações na in-
ternet ocorre de uma maneira mais democrática e inclusiva,
Por razão de cada um poder gerar uma árvore de conhe-
sem precisar da burocracia das mídias tradicionais, como as
cimento, não podemos subjugar ninguém, seja por seu
edições de papel, tal qual os jornais e revistas.
emprego ou condição social. Assim, todos os seres são in-
Para Lévy, a humanidade já passou por três períodos histó- teligentes e possuem seus conhecimentos. Assim, segundo
ricos evolutivos no que se refere às formas de comunicação: Levy, a inteligência coletiva seria uma forma do homem

172
pensar e compartilhar seus conhecimentos com outras pes- choque uma visão puramente consumista do ciberespa-
soas utilizando a tecnologia, como a internet. ço, a dos industriais e vendedores — a rede como super-
mercado planetário e televisão interativa —, e uma outra
Não podemos pensar que o ser humano pensa sozinho, ele visão, a do movimento social que propaga a cibercultura,
pensa numa rede intrincada de coisas, palavras, equipa- inspirado pelo desenvolvimento das trocas de saberes,
mentos, sons e outras pessoas. das novas formas de cooperação e de criação coletiva
nos mundos virtuais.
1.2. Cibercultur@ O melhor uso que possa ser feito dos instrumentos de
comunicação com suporte digital é, a meu ver, a conju-
O conceito de cibercultura, segundo Lévy, é um movimento gação eficaz das inteligências e das imaginações huma-
que gera novas formas de comunicação, com a criação de nas. A inteligência coletiva é uma inteligência variada,
novos valores e novos comportamentos. distribuída por todos os lugares, constantemente valori-
zada, colocada em sinergia em tempo real, que engen-
Para o sociólogo, a cibercultura é a herdeira legítima do Ilu-
dra uma mobilização otimizada das competências. As-
minismo, por difundir valores como fraternidade, igualdade sim como a entendo, a finalidade da inteligência coletiva
e liberdade. Com isso, a rede da internet é um instrumento é colocar os recursos de grandes coletividades a serviço
de comunicação que auxilia os membros dessa comunida- das pessoas e dos pequenos grupos — e não o contrá-
de. Desencadeando um progresso da democracia, a cha- rio. É, portanto, um projeto fundamentalmente humanís-
mada ciberdemocracia, com uma maior transparência, as tico, que retoma para si, com os instrumentos atuais, os
pessoas terão maior oportunidade de participar. grandes ideais de emancipação da filosofia das luzes.
Ainda assim, diversas versões do projeto da inteligência
Entretanto, para que a ciberdemocracia seja realmente coletiva foram defendidas, e nem todas vão na direção
válida, é necessário o desenvolvimento da educação, me- que acabo de esboçar. Além do mais, como sua eficácia
lhorando a humanidade, num combate à pobreza e com a contribui para acelerar a mutação em andamento e para
facilitação do acesso ao universo da internet. isolar ou excluir ainda mais aqueles que dela não partici-
parem, a inteligência coletiva é um projeto ambivalente.
Permanece, contudo, como o único programa geral vi-
sando explicitamente o bem público e o desenvolvimen-
to humano que esteja à altura das questões colocadas
pela cibercultura nascente.
LÉVY, PIERRE.
CIBERCULTURA. SÃO PAULO: EDITORA 34, 1999, PP.201-202.

multimídia: livro

Cibercultura - Pierre Lévy. São


Paulo: Editora 34, 1999.
O que é a cibercultura? Que movimento social e cultural
encontra-se oculto por trás desse fenômeno técnico?
Essas perguntas o sociólogo Pierre Lévy pretende res- multimídia: vídeo
ponder, desenvolvendo uma nova teoria. FONTE: YOUTUBE
Entrevista de Pierre Lévy
Sabemos que o ciberespaço constitui um imenso campo
de batalha para os industriais da comunicação e dos pro-
As teorias do sociólogo Pierre Lévy são apresentadas
gramas. Mas a guerra que opõe algumas grandes forças no programa Roda Viva.
econômicas não deve mascarar a outra que coloca em

173
DIAGRAMA DE IDEIAS

PIERRE LÉVY

A INTERNET A GLOBALIZAÇÃO
MODIFICOU A É ALGO POSITIVO
RELAÇÃO SOCIAL

PRODUZ UM NOVO
CONHECIMENTO

INTELIGÊNCIA
COLETIVA

SABERES
INDIVIDUAIS SÃO
COMPARTILHADOS
POR TODA A
SOCIEDADE

QUE DIFUNDIRÁ
UM NOVO
CONHECIMENTO

174
b) observar que a língua escrita não é uma transcrição
Aplicando para fiel da língua oral e explica que as palavras antigas
devem ser utilizadas para preservar a tradição.
Aprender (A.P.A.) c) perguntar sobre a razão das pessoas visitarem mu-
1. (Enem) Mas assim que penetramos no Universo da seus, exposições etc., e reafirma que os fotógrafos são
Web, descobrimos que ele constitui não apenas um os únicos responsáveis pela produção de obras de arte.
imenso “território” em expansão acelerada, mas que d) reconhecer que as pessoas temem que o avanço dos
também oferece inúmeros “mapas”, filtros, seleções meios de comunicação, inclusive on-line, substitua o
para ajudar o navegante a orientar-se. O melhor guia homem e leve alguns profissionais ao esquecimento.
para a Web é a própria Web. Ainda que seja preciso ter e) revelar o receio das pessoas em experimentar no-
a paciência de explorá-la. Ainda que seja preciso arris- vos meios de comunicação, com medo de sentirem
car-se a ficar perdido, aceitar “a perda de tempo” para retrógradas.
familiarizar-se com esta terra estranha. Talvez seja pre-
ciso ceder por um instante a seu aspecto lúdico para 3. (UEM) “A cada minuto que passa, novas pessoas
descobrir, no desvio de um link, os sites que mais se passam a acessar a Internet, novos computadores são
aproximam de nossos interesses profissionais ou de interconectados, novas informações são injetadas na
nossas paixões e que poderão, portanto, alimentar da rede. Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele
melhor maneira possível nossa jornada pessoal. se torna ‘universal’, e menos o mundo informacional se
torna totalizável. O universo da cibercultura não possui
LÉVY P. CIBERCULTURA. SÃO PAULO: EDITORA 34, 1999. nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem conteúdo
particular. Ou antes, ele os aceita todos, pois se con-
O usuário iniciante sente-se não raramente desorienta-
centra em colocar em contato um ponto qualquer com
do no oceano de informações e possibilidades disponí-
qualquer outro, seja qual for a carga semântica das en-
veis na rede mundial de computadores. Nesse sentido,
tidades relacionadas.”
Pierre Lévy destaca como um dos principais aspectos
da internet o(a): (LEVY, P. CIBERCULTURA. SÃO PAULO: ED. 34, 1999, P. 113)
a) espaço aberto para a aprendizagem. Considerando as recentes contribuições da sociologia
b) grande número de ferramentas de pesquisa. da comunicação sobre o tema da cultura midiática e o
c) ausência de mapas ou guias explicativos. trecho citado, assinale o que for correto.
d) infinito número de páginas virtuais.
01) O ciberespaço suprime as particularidades cultu-
e) dificuldade de acesso aos sites de pesquisa. rais e as desigualdades sociais, ao organizar de modo
2. (Enem) É muito raro que um novo modo de comunica- imparcial as informações que são distribuídas em um
ção ou de expressão suplante completamente os ante- nível planetário.
riores. Fala- se menos desde que a escrita foi inventada? 02) A internet é responsável pelos atuais problemas
Claro que não. Contudo, a função da palavra viva mudou, educacionais, pois aliena os estudantes ao torná-los
uma parte de suas missões nas culturas puramente orais receptores passivos de informações fragmentadas e
tendo sido preenchida pela escrita: transmissão dos co- imprecisas sobre a vida social.
nhecimentos e das narrativas, estabelecimento de con- 04) O conceito de cibercultura pode ser utilizado para
tratos, realização dos principais atos rituais ou sociais descrever o aparecimento de novos modos de ser e
etc. Novos estilos de conhecimento (o conhecimento “te- de pensar que produzem mudanças cognitivas e so-
órico”, por exemplo) e novos gêneros (o código de leis, ciais por meio da interação virtual.
o romance etc.) surgiram. A escrita não fez com que a o 08) Ainda que inserida na indústria cultural, a internet
sistema da comunicação e da memória social. A fotogra- tem o potencial de democratizar o acesso ao conhe-
fia substituiu a pintura? Não, ainda há pintores ativos. As cimento por meio da criação de novos espaços de
pessoas continuam, mais do que nunca, a visitar museus, produção, troca e difusão de informações.
exposições e galerias, compram as obras dos artistas 16) O ciberespaço representa uma mudança tecnoló-
para pendurá-las em casa. Em contrapartida, é verdade gica e não cultural, pois altera os modos de organizar
que os pintores, os desenhistas, os gravadores, os escul- e distribuir a informação e não os modos de produção
tores não são mais – como foram até – o século XIX – os do conhecimento.
únicos produtores de imagens.
4. (UNIRIO) As novas tecnologias permitiram o estabe-
LÉVY, P. CIBERCULTURA. SÃO PAULO: EDITORA 34, 1999.
lecimento de uma comunicação em rede e a emergên-
A substituição pura e simples do antigo pelo novo ou cia do ciberespaço. Nesse novo ambiente, surge a ciber-
do natural pelo técnico tem sido motivo de preocupa- cultura, definida por Pierre Lévy como:
ção de muita gente. O texto encaminha uma discussão a) espaço digital de alta conectividade para onde concor-
em torno desse temor ao: rem sujeitos simbólicos e suas manifestações culturais.
a) considerar as relações entre o conhecimento teóri- b) conjunto de redes digitais (computadores e HDTV)
co e o conhecimento empírico e acrescenta que novos que pela interação entre os indivíduos desenvolve va-
gêneros textuais surgiram com o progresso. lores e novas potencialidades da inteligência coletiva.

175
c) conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de hipermidiáticos fortalecedores de clãs, tribos, Estados-
práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de -nação e territórios, inteligentemente dirigidos.
valores que se desenvolvem juntamente com o cresci-
mento do ciberespaço. 7. (UFU) Somos a primeira geração de pessoas que exis-
tem numa escala global. Homens e mulheres, políticos,
d) conjunto de pensamentos e produtos intelectuais
drogados, modelos, executivos, prostituídos, terroristas,
(blogs e e-books) que se caracterizam pela preponde-
vítimas de catástrofes transmitidas pela TV, cozinheiros,
rância do imaginário frente às referencialidades reais.
consumidores, telespectadores, internautas, imigrantes,
e) manifestações socioeconômicas proporcionadas turistas; somos a primeira geração global. [...] Nossa
pela comunicação via internet e guiadas pelos prin- geração está inventando o mundo, o primeiro mundo
cípios da globalização. verdadeiramente mundial.
5. (CESPE) Pierre Lévy é hoje um dos mais expressivos LEVY, PIERRE. A CONEXÃO PLANETÁRIA: O MERCADO, O CIBERESPAÇO
filósofos do mundo no campo da informação, novas mí- E A CONSCIÊNCIA. SÃO PAULO: EDITORA 34, 2001, P. 17.

dias, Internet e cibercultura. De acordo com o pensa-


mento desse autor a respeito de tais assuntos, assinale Algumas pesquisas revelam cerca de 200 milhões de
a opção correta: pessoas em movimento pelo mundo. Essas pessoas evi-
denciam necessidades, oposições, racismos, solidarie-
a) Para Lévy, a Internet não permite a interatividade dades e semelhanças.
total, uma vez que, assim como a televisão e o rádio,
Diante disso, faça o que se pede.
está centrada no sistema de difusão Um-Todos, pois os
usuários ainda dependem de provedores que contro- a) Os racismos e preconceitos estabelecidos no século
lam a transmissão de dados e limitam o acesso à rede. XXI são diferentes daqueles vividos na primeira meta-
b) Segundo esse autor, o ciberespaço propicia a criação de do século XX. Apresente pelo menos duas caracte-
de uma inteligência coletiva, apresentando o cenário rísticas que os distinguem.
ideal para a concretização dos ideais do Iluminismo. b) Estabeleça pelo menos três características sociais
c) Para Lévy, os CDs e DVDs, por serem mídias que e políticas que diferenciam os movimentos popula-
comportam arquivos digitalizados, fazem parte do cionais do final do século XX e início do século XXI
ciberespaço. daqueles que modificaram as estruturas sociais do
Brasil no final do século XIX.
d) De acordo com o filósofo mencionado, o ciberes-
paço não possui capacidade de armazenar memória, 8. (Enade) O desenvolvimento da internet e das tecno-
e, por isso, serve apenas para a transmissão de dados logias de comunicação suscitou uma série de discussões
entre usuários. a respeito de como a rede alterou as relações sociais e
e) Lévy considera que, apesar de o interesse comuni- as formas de construção do conhecimento. Jean Bau-
cativo determinar de que maneira os usuários devem drillard e Pierre Lévy são dois dos autores de destaque
interagir no espaço virtual, a posição geográfica em na área. Os trechos a seguir foram transcritos de obras
que eles se encontram ainda é um fator significativo desses pensadores.
de diferenciação e de exclusão social de pessoas.
TEXTO 1
6. (CESPE) Os novos cenários tecnológicos romperam
com as noções tradicionais de espaço e tempo e fizeram Há no ciberespaço a possibilidade de realmente desco-
surgir conceitos novos, entre eles, os de ciberespaço e brir alguma coisa? Internet apenas simula um espaço
inteligência coletiva, abordados por Pierre Lévy. Em re- de liberdade e de descoberta. Não oferece, em verdade,
lação a esses novos conceitos, assinale a opção correta: mais do que um espaço fragmentado, mas convencional,
a) A emergência de uma inteligência coletiva está onde o operador interage com elementos conhecidos, si-
associada à descoberta ou à invenção de um novo tes estabelecidos, códigos instituídos. Nada existe para
paradigma de comunicação, para além da escrita e além desses parâmetros de busca. Toda pergunta encon-
dos sistemas de controle da informação. tra-se atrelada a uma resposta preestabelecida. Encarna-
b) A comunicação e a inteligência humanas, tal qual mos, ao mesmo tempo, a interrogação automática e a
são concebidas hoje, foram substituídas, respectiva- resposta automática da máquina.
mente, por bases digitais e inteligências artificiais.
BAUDRILLARD, J. TELA TOTAL. CAMPINAS:
c) O ciberespaço se impôs como um novo e vasto PORTO ALEGRE, 1997 (ADAPTADO).
logocentrismo, superior ao exercido pela fase da es-
crita, e a multimídia tornou-se a sua correspondente TEXTO 2
superlíngua e fator de identidade dos que dominaram
os seus saberes técnicos e os seus códigos. O ciberespaço abriga milhares de grupos de discussão
d) O ciberespaço consolidará uma tendência que já (os newsgroups). O conjunto desses fóruns eletrônicos
desponta: a do surgimento de megatalentos e de au- constitui a passagem movediça das competências e das
tores bilionários cujas obras de sucesso sem fronteiras paixões, permitindo assim atingir outras pessoas, não
rendem fortunas decorrentes de direitos reservados. com base no nome, no endereço, geográfico ou na fi-
e) A liberdade e a autonomia em relação ao fluxo da liação institucional, mas segundo um mapa semântico
informação no ciberespaço resultam em contextos ou subjetivo dos centros de interesse. O endereçamento

176
por centro de interesse e a comunicação todos-todos a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a
são condições favoráveis ao desenvolvimento de pro- II é uma justificativa correta da I.
cessos de inteligência coletiva. b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas
a II não é uma justificativa correta da I.
LÉVY, P. A REVOLUÇÃO CONTEMPORÂNEA EM MATÉRIA DE COMUNICAÇÃO.
REVISTA FAMECOS. PORTO ALEGRE, 2008 (ADAPTADO). c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é
uma proposição falsa.
Da leitura dos fragmentos de texto apresentados, infe- d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma
re-se que: proposição verdadeira.
a) Lévy considera que a inteligência coletiva é cons- e) As asserções I e II são proposições falsas.
truída quando a internet é controlada por centros de
ensino e de pesquisa. 10. (Enem) O comércio soube extrair um bom proveito
b) os dois autores exaltam a rede como espaço livre da interatividade própria do meio tecnológico. A pos-
e democrático de troca de informação e produção de sibilidade de se obter um alto desenho do perfil de in-
conhecimento. teresses do usuário, que deverá levar às últimas conse-
quências o princípio da oferta como isca para o desejo
c) os dois autores levantam problemas ocasionados
consumista, foi o principal deles.
pela internet na sociedade atual, como o isolamento, a
automação e o enfraquecimento das relações pessoais. SANTAELLA, L. CULTURAS E ARTES DO PÓS-HUMANO: DA CULTURA DAS
d) Baudrillard mostra uma visão crítica do ciberespa- MÍDIAS À CIBERCULTURA. SÃO PAULO: PAULUS, 2003 (ADAPTADO).

ço, considerando que a rede condiciona o ser humano


Do ponto de vista comercial, o avanço das novas tecno-
à mecanização da busca de perguntas e respostas,
logias indicado no texto está associado à
que dão ilusão de liberdade e de conhecimento.
e) Lévy assume posição otimista em relação ao ciberes- a) atuação dos consumidores como fiscalizadores da
paço, considerando o cenário de troca de informações, produção.
que são controlados por centros emissores e dissemi- b) exigência de consumidores conscientes de seus
nadas a todos os receptores passivos. direitos.
c) relação direta entre fabricantes e consumidores.
9. (Enade) d) individualização das mensagens publicitárias.
e) manutenção das preferências de consumo.

11. (Enem)

O termo [ciberespaço] especifica não apenas a infraes-


trutura material da comunicação digital, mas também o
universo de informação que ela abriga, assim como os
seres humanos que navegam e alimentam esse universo.
O neologismo “cibercultura” especifica aqui o conjunto
de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas e atitu-
des, de modos de pensamento e de valores que se desen-
volvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. Opportunity é o nome de um veículo explorador que
LÉVY, P. CIBERCULTURA. SÃO PAULO: EDITORA 34, 1999 (ADAPTADO). aterrissou em Marte com a missão de enviar informa-
ções à Terra. A charge apresenta uma crítica ao (à):
Considerado a charge e o texto acima, avalie as asser- a) gasto exagerado com o envio de robôs a outros
ções a seguir e a relação propostas entre elas. planetas.
I. A charge expõe um aspecto da cibercultura e compar- b) exploração indiscriminada de outros planetas.
tilha com o texto a visão otimista em relação ao desen- c) circulação digital excessiva a autorretratos.
volvimento das tecnologias da comunicação. d) vulgarização das descobertas espaciais.
PORQUE e) mecanização das atividades humanas.
II. O crescimento do ciberespaço possibilita a virtualiza-
ção, que implica uma realidade desterritorializada e al-
tera os comportamentos pessoais, o que está de acordo Gabarito
com os pressupostos de Lévy.
A respeito das asserções, assinale a opção correta: 1. A 2. A 3. 04 + 08 = 12 4. C 5. B 6. A

177
7.
a) Possíveis diferenças:
— A possibilidade e emergência de novos etilos de
vida propiciados por uma globalização da cultura mi-
tigam os racismos e preconceitos;
— A existência de aparatos jurídicos proibitivos de
prática de preconceito e racismo;
— Criminalização atual do racismo e dos preconceitos
quanto às variações de religião, gênero, individualidades;
— Novos preconceitos emergentes na atualidade, não
existentes no início do século XX, oriundos de uma
maior acessibilidade às tecnologias de informação;
— Existência de regimes nacionalistas e ideologias et-
nocêntricas marcantes na primeira metade do século XX.
b) Possíveis características:
— Alguns dos fatores que diferem os movimentos
populacionais dos respectivos períodos são a imigra-
ção da força de trabalho branco-europeia e, mesmo
ilegalmente, a força de trabalho escrava;
— Atratividade oferecida por uma cultura urbana/in-
dustrial, marcada pela oferta de empregos em outras
localidades, principalmente nas centralidades do capital;
— Esfacelamento das relações tradicionais familia-
res, impondo uma desagregação social e a forte ideo-
logia do ‘mito do retorno’;
— A influência das novas tecnologias de informação
e comunicação aliadas à emergência de novos con-
textos sociais que corroboram para os movimentos
populacionais;
— Proliferação de novas ideologias de existência e
pertencimento (ou não) aos territórios baseadas em
conceitos como igualdade de direitos, xenofobia, et-
nia, tradição, dentre outros.

8. D 9. D 10. D 11. C

178
Essa “sociedade em rede” é movida pelo capitalismo in-
AULA 26 formacional, ou seja, um sistema competitivo, produtivo,
tecnológico e capaz de funcionar interconectado em escala
planetária. Entretanto, a internet proporciona ao sujeito uma
comunicação livre, só que essa liberdade depende dos atores
AS NOVAS FORMAS sociais. Desse movimento emergem elementos de resistência
contra as forças de dominação nessa sociedade em rede.
DE COMUNICAÇÃO
E TECNOLOGIA:
MANUEL CASTELLS

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10,
HABILIDADES: 11, 12, 15, 16, 20, 22, FONTE: YOUTUBE
23, 24 e 25 Castells: poder da juventude é a autocomunicação
Manuel Castells analisa as permanentes tensões entre
adultos e jovens, apontando como a juventude pensa
de forma digital.
1. Manuel Castells (1942)
O sociólogo espanhol Manuel Castells Oliván é considerado
o principal analista da era da informação e das sociedades 1.1. Redes de indignação e esperança
conectadas em rede, observando as transformações sociais
do final do século XX e as primeiras décadas do século XXI. Existem novas formas de comunicações nessa “sociedade
em rede”, de modo que surgem novos caminhos para uma
autonomia comunicacional que atinge mais indivíduos. Um
exemplo dessa autonomia comunicacional são as redes so-
ciais digitais, que orientam ações deliberadas e amplamente
desimpedidas, reconfigurando os atos dos movimentos
sociais atualmente.
Assim, os movimentos sociais conseguem dissipar suas
ações e novas formas de lutas sociais com uma enor-
me velocidade. As redes sociais digitais configuram-se
como polos de resistências, por apresentarem elemen-
tos de esperança e de indignação para os indivíduos
conectados em rede.

Castells investiga os efeitos da informação sobre a econo-


mia, a cultura e a sociedade em geral. Ele estuda a configu-
ração da sociedade dependente do acesso à internet e aos
dispositivos móveis, denominada pelo sociólogo como “so-
ciedade em rede”. Trata-se de uma sociedade que vivencia multimídia: vídeo
uma realidade virtual, afetando a forma da economia, da
FONTE: YOUTUBE
tecnologia e a própria informação.
Castells e a obsolescência da educação
A economia tende a se moldar conforme essa nova pers- Manuel Castells analisa como a educação precisa se
pectiva, recriando novas formas de transações econômicas, modificar diante da sociedade em rede.
com a criação de moedas virtuais, como o bitcoin.

179
revolução tecnológica, modificando a própria realidade
humana e as relações sociais na atualidade.

1.3. A sociedade informacional


A Finlândia é um bom exemplo de uma sociedade infor-
macional, pois privilegia um bem-estar social. A relação
multimídia: música entre o Estado e a sociedade surge numa distribuição
FONTE: YOUTUBE homogênea dos benefícios advindos das tecnologias de
Parabolicamará - Gilberto Gil. informação e comunicação por toda a sua população. A
Álbum: Parabolicamará, 1992. identidade do povo finlandês está consolidada mediante
uma compreensão entre Estado e indivíduo em promover
as relações com setores público e privado.
1.2. Novas formas de trabalho Isso ocorre porque as novas tecnologias permitem uma
Para Castells, nessa nova modalidade de sociedade, as coordenação diferenciada conforme a capacidade de infor-
formas de trabalho se modificam. As relações de trabalho mação e de comunicação.
apresentam uma instabilidade, propagando vínculos par-
ciais e temporários, ocasionada por uma efemeridade das
próprias relações humanas oriundas do “modus operan-
dis” da internet.
Com isso, compreendemos o poder dessa “rede”, que des-
constrói o poder estatal e altera o mundo do trabalho.

multimídia: livro

A Sociedade em Rede - Manuel Castells.


São Paulo: Paz e Terra, 2000.
Manuel Castells, sociólogo espanhol, busca esclarecer
a dinâmica econômica e social da nova era da informa-
ção. Castells busca formular uma teoria que dê conta
dos efeitos fundamentais da tecnologia da informação
Segundo o sociólogo, a sociedade de informação é defi- no mundo contemporâneo.
nida como um período histórico caracterizado por uma

180
DIAGRAMA DE IDEIAS

CASTELLS

“SOCIEDADE EM
REDE”

AS NOVAS SOCIEDADE
TECNOLOGIAS DOMINANTE

DIRECIONAM QUE DIRECIONA A


NOVOS RITOS NOVA ORDEM
SOCIAIS SOCIAL

PRODUZEM NOVAS REORGANIZANDO


LINGUAGENS O ESPAÇO

a) primazia do setor secundário.


Aplicando para b) contração da demanda energética.
Aprender (A.P.A.) c) conectividade dos agentes econômicos.
d) enfraquecimento dos centros de gestão.
1. (Enem (Libras)) Esse sistema tecnológico, em que esta- e) regulamentação das relações de trabalho.
mos totalmente imersos na aurora do século XXI, surgiu
nos anos 1970. Assim, o microprocessador, o principal 2. (FGV) A sociedade da informação, para usar a expressão
dispositivo de difusão da microeletrônica, foi inventa- de Manuel Castells, corresponde às transformações técni-
do em 1971 e começou a ser difundido em meados dos cas, organizacionais e administrativas que têm como prin-
anos 1970. O microcomputador foi inventado em 1975, cipal fator os insumos baratos de informação propiciados
e o primeiro produto comercial de sucesso, o Apple II, foi pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e teleco-
introduzido em abril de 1977, por volta da mesma época municações. As transformações em direção à sociedade da
em que a Microsoft começava a produzir sistemas opera- informação definem um novo paradigma, o da tecnologia
cionais para microcomputadores. da informação, que expressa a transformação tecnológica
em curso e suas implicações com a economia e a socieda-
CASTELLS, M. A SOCIEDADE EM REDE: A ERA DA INFORMAÇÃO. de. Em relação às características do paradigma da tecno-
SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 1999 (ADAPTADO).
logia da informação, analise as afirmativas a seguir:
A mudança técnica descrita permitiu o surgimento de I. Graças às novas tecnologias, predomina a lógica das
uma nova forma de organização do espaço produtivo redes, uma vez que pode ser implementada em qualquer
global, marcada pelo(a) tipo de processo.

181
II. A tecnologia digital favorece a flexibilidade, já que b) A proibição do aproveitamento dos bolsões de mão
permite modificar os processos em função de sua alta de obra barata dos países pobres.
capacidade de reconfiguração. c) A qualificação do trabalhador é cada vez menos im-
III. A convergência das tecnologias mostra a interliga- portante na sociedade on line.
ção entre diversas áreas de saber, graças, por exemplo, d) O sistema global tende a ser cada vez mais inde-
à microeletrônica, à robótica e à inteligência artificial. pendente de lugares e pessoas.
Assinale: e) O suporte tecnológico da Era da Informação foi cria-
do pelas exigências da economia.
a) Se somente a afirmativa I estiver correta.
b) Se somente a afirmativa II estiver correta 5. (Enem) O sociólogo espanhol Manuel Castells sustenta
c) Se somente a afirmativa III estiver correta. que a comunicação de valores e a mobilização em torno
d) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. do sentido são fundamentais. Os movimentos culturais
e) Se todas as afirmativas estiverem corretas. (entendidos como movimentos que têm como objetivo
defender ou propor modos próprios de vida e sentido)
3. (Enem PPL) Os movimentos sociais do século XXI, constroem-se em torno de sistemas de comunicação –
ações coletivas deliberadas que visam à transformação essencialmente a internet e os meios de comunicação
de valores e instituições da sociedade, manifestam-se – porque esta é a principal via que esses movimentos en-
na e pela internet. O mesmo pode ser dito do movi- contram para chegar àquelas pessoas que podem even-
mento ambiental, o movimento das mulheres, vários tualmente partilhar os seus valores, e a partir daqui atuar
movimentos pelos direitos humanos, movimentos de na consciência da sociedade no seu conjunto”.
identidade étnica, movimentos religiosos, movimentos
nacionalistas e dos defensores/proponentes de uma DISPONÍVEL EM: WWW.COMPOLITICA.ORG. ACESSO
EM: 2 MAR. 2012 (ADAPTADO).
lista infindável de projetos culturais e causas políticas.
CASTELLS, M. A GALÁXIA DA INTERNET: REFLEXÕES SOBRE A INTERNET,
Em 2011, após uma forte mobilização popular via redes
OS NEGÓCIOS E A SOCIEDADE. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2003. sociais, houve a queda do governo de Hosni Mubarak
no Egito. Esse evento ratifica o argumento de que:
De acordo com o texto, a população engajada em pro- a) A internet atribui verdadeiros valores culturais aos
cessos políticos pode utilizar a rede mundial de compu- seus usuários.
tadores como recurso para mobilização, pois a internet
b) A consciência das sociedades foi estabelecida com
caracteriza-se por
o advento da internet.
a) diminuir a insegurança do sistema eleitoral. c) A revolução tecnológica tem como principal objeti-
b) reforçar a possibilidade de maior participação qua- vo a deposição de governantes antidemocráticos.
lificada. d) Os recursos tecnológicos estão a serviço dos opres-
c) garantir o controle das informações geradas nas sores e do fortalecimento de suas práticas políticas.
mobilizações. e) Os sistemas de comunicação são mecanismos impor-
d) incrementar o engajamento cívico para além das tantes, de adesão e compartilhamento de valores sociais.
fronteiras locais.
e) ampliar a participação pela solução da escassez de 6. (Enem PPL 2018) Existe uma concorrência global, for-
tempo dos cidadãos. çando redefinições constantes de produtos, processos,
mercados e insumos econômicos, inclusive capital e in-
4. (UFJF) Num importante trabalho, Manuel Castells (2003) formação.
lembra que, embora enraizada na tradição acadêmica da
CASTELLS, M. A SOCIEDADE EM REDE. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 2011.
abertura com relação aos achados da pesquisa, um dos
fatores principais da explosão no uso da Internet é o fato Nos últimos anos do século XX, o sistema industrial ex-
de que as corporações globais viram nela a oportunidade perimentou muitas modificações na forma de produzir,
de transformar radicalmente suas práticas de relaciona- que implicaram transformações em diferentes campos
mento com fornecedores e clientes, sua administração e da vida social e econômica. A redefinição produtiva e
sua lógica de produção. A produção em rede permitiu, por seu respectivo impacto territorial ocorrem no uso da
exemplo, à Zara espanhola do setor de confecções levar
um novo produto às lojas do mundo todo em duas sema- a) técnica fordista, com treinamento em altas tecno-
nas, contra um ciclo de desenho-produção-distribuição de logias e difusão do capital pelo território.
seis semanas na Benetton dos anos 1980, ou de mais de b) linha de montagem, com capacitação da mão de obra
24 semanas nos anos 1960. em países centrais e aumento das discrepâncias regionais.
c) robotização, com melhorias nas condições de traba-
DUPAS, GILBERTO. ATORES E PODERES NA NOVA ORDEM lho e remuneração em empresas no Sudeste asiático.
GLOBAL: ASSIMETRIA, INSTABILIDADES E IMPERATIVOS DE
LEGITIMAÇÃO. SÃO PAULO: UNESP, 2005. P. 200. d) produção just in time, com territorialização das in-
dústrias em países periféricos e manutenção das bases
A característica da transformação provocada pela Inter- de gestão nos países centrais.
net na produção é: e) fabricação em grandes lotes, com transferências
a) A abrangência e a intensidade do uso da Internet financeiras de países centrais para países periféricos
extingue o apartheid digital atual. e diminuição das diferenças territoriais.

182
7. (UFPR) O patriarcalismo (...) caracteriza-se pela auto- 9. (Vunesp) A diferença socioeconômica entre os países
ridade, imposta institucionalmente, do homem sobre a desenvolvidos e subdesenvolvidos é cada vez maior,
mulher e filhos no âmbito familiar. agravada pela aceleração do processo de globalização
econômica. O aumento da pobreza no mundo relacio-
CASTELLS, MANUEL. A ERA DA INFORMAÇÃO: ECONOMIA, SOCIEDADE
na-se a vários fatores. Escolha a alternativa que melhor
E CULTURA. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 1999, P. 169. VOL. II
expressa essa realidade.
Sobre esse tema, considere as seguintes afirmativas: a) Utilização de políticas públicas paternalistas nos
I. O fim da Segunda Guerra Mundial marca o início da países pobres; controle da natalidade nos países ri-
contestação ao patriarcalismo no Ocidente. cos; diminuição da fome nos países subdesenvolvidos.
II. A contestação ao patriarcalismo é derivada dos pro- b) Aumento da concentração de renda; aumento dos
cessos de transformação do trabalho feminino e da postos de trabalho nos países do sul; pouca qualifica-
conscientização da mulher. ção da população nos países mais pobres.
III. Mudanças tecnológicas no processo de reprodução c) Políticas públicas que favorecem a distribuição de
da espécie e o crescimento de uma economia global renda; igualdade das oportunidades entre os diferen-
são decorrentes da crise do modelo familiar patriarcal. tes países; maior controle no processo de favelização
nos países desenvolvidos.
IV. Para que uma autoridade como a patriarcal possa
ser exercida, é preciso que permeie toda a organização d) Aumento da concentração de renda; fragilidade de
social, desde a cultura até a política. políticas públicas favoráveis a distribuição de renda;
desqualificação da mão-de-obra para o ingresso no
Assinale a alternativa correta: mercado de trabalho nos países subdesenvolvidos.
a) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras. e) Desemprego elevado nos países subdesenvolvidos;
b) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras. ocorrência, em todos os países do mundo, da moder-
c) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. nização da produção industrial; maior distribuição de
d) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. terras nos países mais pobres.
e) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. 10. (Vunesp) Manoel Castells (1999) em seu livro A so-
8. (UFG) Leia o texto a seguir. ciedade em rede refere-se a uma “nova” cultura que
vem transformando as relações espaço-tempo, com no-
“[...] os valores e interesses predominantes são cons-
vos mecanismos de dominação e subordinação político
truídos sem referência ao passado ou ao futuro no pa-
econômica em todo mundo: o preço a ser pago pela
norama intemporal das redes de computadores e da
inclusão no sistema é a adaptação a sua lógica, a sua
mídia eletrônica, em que todas as expressões ou são
linguagem, a seus pontos de entrada, a sua codificação
instantâneas, ou não apresentam sequência previsível.
e decodificação. Assinale a alternativa que melhor re-
[…] Essa virtualidade é nossa realidade porque está na
trata esta “nova” cultura.
estrutura desses sistemas simbólicos intemporais des-
providos de lugar cujas categorias construímos e cujas a) Cultura da violência, a sociedade é guiada por sen-
imagens, também por nós evocadas, modelam o com- timentos de xenofobia e de pressão psicológica.
portamento, influenciam a política, acalentam sonhos e b) Cultura do consumo, em que toda sociedade se en-
provocam pesadelos”. volve num sistema de consumo, cada vez mais, facilita-
dor que induz a compra até mesmo sem sair de casa.
CASTELLS, MANUEL. A ERA DA INFORMAÇÃO: ECONOMIA, SOCIEDADE
E CULTURA. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 1999. V. 3. P. 411; 439.
c) Cultura do desperdício, a sociedade sob a pressão da
propaganda adquire bens desnecessários ou supérfluos.
Nos últimos anos tem crescido de forma acentuada a d) Cultura da televisão, a sociedade tem suas ideias e
utilização das redes sociais na internet, principalmen- valores homogeneizados por meio da mídia nacional
te pelos mais jovens. Os protestos agora se difundem e internacional.
globalmente, e abaixo-assinados e petições públicas se e) Cultura da virtualidade real, em que ocorre uma
reproduzem pelas redes, dando um novo significado ao transformação tecnológica de dimensões históricas,
conceito de cidadania. ou seja, a integração de vários modos de comunica-
Com base no texto e nas informações apresentadas, ção em uma rede interativa.
conclui-se que, com o uso da internet,
a) as redes sociais têm contribuído para tornar o mun-
do mais humano e tolerante. Gabarito
b) as redes sociais levam as pessoas a tornarem-se
mais ativas na luta pela distribuição das riquezas. 1. C 2. E 3. D 4. D 5. E
c) os jovens encontram nas redes sociais um instru- 6. D 7. D 8. D 9. D 10. E
mento real para transformar a sociedade.
d) as redes sociais potencializam revoltas e manifestações,
mas carecem de organização e limitam-se no tempo.
e) os questionamentos críticos nas redes sociais têm
mudado o comportamento consumista da juventude.

183
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa-
vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.

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