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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclu-
siva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.
O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de
forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo
complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA VIVENCIANDO


NAS PRINCIPAIS PROVAS
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreen-
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos são de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras.
o território nacional. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvol-
vida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há
uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato
em seu dia a dia.
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção
tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compila-
dos, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e co-
mentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difí-
cil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento
aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever,
a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula.

MULTiMÍDiA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado-
sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper-
tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen-
ÁREAS DE
são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- CONHECiMENTO DO ENEM
fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol-
CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS vê-las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos
conteúdos de cada área, de cada disciplina. DiAGRAMA DE iDEiAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran-
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão,
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Mate-
suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles
mática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com
que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de
essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do
esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros,
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da
sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue
aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos princi-
entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz
pais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos
parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
estudos e até a resolução dos exercícios.

HERLAN FELLiNi
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021
Todos os direitos reservados.

Autor
Eduardo Antônio Dimas
Tiago Rozante

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenado-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
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Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-65-88825-28-0

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legis-
lação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do
qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para
o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e
localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição
para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para
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SUMÁRIO

HISTÓRIA GERAL
Aulas 1 e 2 : Introdução ao Estudo de História e Pré-História 6
Aulas 3 e 4 : Antiguidade Oriental 13
Aulas 5 e 6 : Civilização Grega: períodos Pré-Homérico, Homérico e Arcaico 25
Aulas 7 e 8 : Civilização Grega: Períodos Clássico e Helenístico / Civilização Romana: Monarquia 33

HISTÓRIA BRASIL
Aulas 1 e 2: Formação de Portugal e navegações ultramarinas 44
Aulas 3 e 4: América pré-colombiana, mercantilismo e administração espanhola na América 55
Aulas 5 e 6: Periodo pré-colonial, administração colonial e invasões francesas 66
Aulas 7 e 8: Economia colonial, sociedade e invasões holandesas 77
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

A proposta do Enem é interpretativa. Na Determina a compreensão de processos históricos


maioria das questões, o candidato deve ler os em associação com conceitos e dados próprios
textos propostos atentamente, pois as solu- de cada tema. A temática Antiguidade Clássica é
ções quase sempre estarão contidas neles. muito cobrada. É necessário atribuir correlações
entre as realidades econômicas e política
de cada período. Atente-se aos
principais temas da
atualidade.

As questões exigem do candidato uma apreen- No sistema misto de ingresso é necessário a Cobra a associação de fatos e conceitos
são conceitual com alto teor de crítica. O caráter realização da prova do Enem e do vestibular políticos, econômicos e sociais com textos
das questões é de âmbito reflexivo, trazendo da Unifesp. São determinados dois dias para a científicos e mapas. Exige domínio de interpre-
temas históricos para o debate de temas con- prova e nela, não são abordadas diretamente tação textual e estabelecimento de conexões
temporâneos. Cabe ao candidato ficar atento questões de História, mas há um grau de inter- entre diferentes áreas do conhecimento. Os
aos aspectos sociológicos, políticos disciplinaridade na resolução dos temas da Antiguidade Clássica
e econômicos dos exercícios e escrita da são recorrentes.
temas. redação.

A prova possui cinco questões de múltipla Nesta prova, a abordagem de História com- Esta prova adota um perfil específico, que ora São cinco questões de múltipla escolha
escolha de História e que, nos últimos anos, não bina análise de documentos com alto teor de cobra do candidato um teor de interpretação de História. A abordagem conta com
trouxe o tema da Antiguidade Clássica. Contudo, interpretação. Nas seis questões de História, textual nas questões de História, dado que os forte presença de questões de Antiguidade
as estruturas sociais, políticas e econômicas há uma tendência em abranger temas rela- registros textuais costumam ser longos, ora realiza Clássica, que exigem do candidato um grau
contemporâneas são embasadas em conceitos cionados à História do Brasil, mas isso não uma combinação entre a leitura e conhecimen- de apreensão de conceitos combinados com
originados no período antigo. impede a relevância da temática tos detalhados sobre determinados interpretação de fontes.
da Antiguidade conteúdos.
Clássica.
UFMG

O vestibular é dividido em duas fases. Na primeira, Na primeira fase, História ocorre em nove Elaborada pela Vunesp, esta prova possui
História está relacionada com a capacidade do questões de múltipla escolha. O vestibular características semelhantes às demais provas
candidato de realizar leituras atentas e, simultane- privilegia que o candidato realize análises e citadas e organizadas pela mesma fundação. Em
amente, analisar o contexto de um determinado interpretações sobre diferentes processos históri- suas 55 questões de múltipla escolha, não são
período. Há um tema que percorre toda a prova e cos e perceba suas continuidades e rupturas. contemplados diretamente temas de História,
nele, pode-se englobar a temática de Há uma distribuição balanceada mas que podem aparecer abordados
Antiguidade Clássica. de questões de Brasil e em outras disciplinas.
Geral.

Este vestibular não contempla com frequência Nesta prova, não há uma divisão clara entre Para o curso de Medicina, além do Enem, conta
temas das Antiguidades Clássica e Oriental. História e Geografia, que são abordadas com uma avaliação elaborada pela instituição
No entanto, pelo caráter da prova, cabe ao como Estudos Sociais. Portanto, não existem “TalentVest”. Em suas dez questões de múltipla
candidato preparar-se para questões que definições específicas de tema, mas sim um escolha destinadas à História, há uma tendên-
envolvam conhecimento das condições po- grau elevado de interdisciplinaridade. cia em abordar temas contemporâneos.
líticas, sociais e econômicas dos
períodos descritos.
HISTÓRIA GERAL
do globo, os diversos processos históricos que acarretaram,
AULAS 1 E 2 por exemplo, na queda de monarcas e na instauração de
regimes representativos ou nas disputas sociais que levaram
determinados grupos socias, antes marginalizados, a con-
quistarem direitos políticos.

INTRODUÇÃO AO
ESTUDO DE HISTÓRIA
E PRÉ-HISTÓRIA
multimídia: vídeo
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 FONTE: YOUTUBE
O que é História?
1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14,
HABILIDADES: 15, 16, 18, 19, 22, 23,
26, 27 e 29
1.1.1 O termo "História"
O termo "História" surgiu com os gregos "histor", original-
mente, significava aquele que aprende pelo olhar, aquele que
1. Introdução ao sabe, o testemunho, aquele que testemunhou com seus pró-
estudo de História prios olhos os acontecimentos.
"História" ("his" + "oren") significava "apreender pelo
Quando iniciamos os estudos na disciplina de História,
olhar aquilo que se sucede dinamicamente", ou seja, tes-
geralmente um dos primeiros pensamentos que temos é
temunhar os acontecimentos, a realidade.
“tudo aquilo que já aconteceu” ou, em outras palavras,
“nosso passado”. Entretanto, essa visão é simplista, já que O termo foi criado pelo grande geógrafo e historiador He-
a História não se limita apenas a estudar fatos antigos. A ródoto de Halicarnasso, nascido no século V a.c.
História vai além desse objetivo e é com ela que podemos
analisar a trajetória das diversas sociedades e compreender
contextos e problemáticas atuais, levando em consideração
as transformações econômicas, políticas e sociais das so-
ciedades humanas.

Esse termo surgiu devido aos registros em escrita que Heró-


doto fazia das “Histórias” (em forma oral) que ele ouvia dos
povos que ele encontrava durante suas viagens. Heródoto
posteriormente foi apelidado pelos historiadores como o
“pai da História” por ter sido o primeiro homem que come-
çou a registrar as histórias contadas de geração a geração (a
valorização de vestígios sobre o passado).

1.1. Por que estudar a História? 1.1.2. Periodização da História


Existem vários motivos para estudar a História. Entre a va- Ao longo do tempo, os historiadores convencionaram-se a
riedade e a multiplicidade de fatores, talvez o mais evidente organizar os eventos em períodos. Essa periodização, natu-
seja a busca para a compreensão das transformações da ralmente, seguia uma organização cronológica e utilizava
humanidade ao longo do tempo, ou seja, estudar História é acontecimentos marcantes para determinar o fim de um
fundamental para perceber como foram alicerçadas as estru- período e o começo de outro. O fim de um período, no en-
turas que envolvem os sistemas políticos de variadas regiões tanto, não significava o registro de mudanças profundas e

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imediatas, mas indicava a partir daquele marco o aconteci- ƒ Idade Antiga: até 476 d.C. (queda do Império Romano).
mento de mudanças significativas com o passar do tempo.
ƒ Idade Medieval: até 1453 (fim do Império Bizantino).
Apesar de muitos historiadores questionarem a datação
ƒ Idade Moderna: até 1789 (Revolução Francesa).
dos marcos de cada período, ela permanece em vigência
e é utilizada como mecanismo para organizar o estudo da ƒ Idade Contemporânea: dias atuais.
História e facilitar o ensino. Essa linha do tempo é limitada por não oferecer dados para
Os principais períodos históricos são: Pré-História, Idade An- a compreensão histórica e temporal de outras sociedades,
tiga, Idade Média, Idade Moderna, Idade Contemporânea. como as africanas e asiáticas.

1.2. Os períodos da História


A Pré-História é dividida em dois principais períodos (Pale-
olítico e Neolítico).

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FONTE: YOUTUBE
Aula Top | História Geral | Introdução aos
Estudos Históricos | Profª Carla Kurz

1.1.3. Calendários
A definição de Pré-História vai do início da espécie humana
O tempo é considerado um objeto de difícil conceituação,
até o advento da escrita. Entretanto, pela periodização, levar
mas de extrema importância no estudo da História. Situar os
em consideração o protagonismo do Ocidente, em especial a
fatos no tempo e contextualizá-los é tarefa de historiadores
Europa, é uma divisão que pode sofrer algumas críticas, tais
e professores dessa disciplina. Sem o tempo, não existe His-
como levar em consideração um processo que não foi unifor-
tória. Assim, como os instrumentos para contar o tempo, os
calendários também foram criados como forma de organizar me em toda humanidade. Desse modo, toma-se como refe-
as sociedades. Calendários são sistemas de contagem que rência a Pré-História como o período que ocorre por volta de
utilizam unidades temporais como dia, mês e ano. Eles va- 4.000 a. C., quando se tem os primeiros indícios das grandes
riam de acordo com a cultura ou religião de um povo. civilizações que surgiram no Crescente Fértil – Mesopotâmia
e o Egito – e suas tentativas de passagem do nomadismo à
O calendário cristão marca os anos a partir do nascimento de sedentarização, o que se consolida com a urbanização.
Cristo, usando a extensão a.C. (antes de Cristo) ou d.C. (depois
de Cristo). Foi adotado em 1582, através do papa Gregório XIII.
O calendário hegírico, ou muçulmano, é utilizado em paí-
ses de religião muçulmana. Marca os anos a partir da fuga
(Hégira) de Maomé para Meca, em 622.
O calendário hebraico, por sua vez, é utilizado em países de re-
ligião judaica. Marca os anos a partir de uma referência bíblica
do que seria a criação do mundo, situada no ano 3760 a.C. multimídia: vídeo
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1.1.4. Linha do tempo Pré-História
Através de uma concepção eurocêntrica do mundo, difun-
diu-se uma linha do tempo baseada em eventos ligados
A ”História” é dividida em 4 períodos (Idade Antiga, Idade
ao contexto do continente europeu. Essa linha do tempo,
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea).
considerada “oficial”, divide-se tradicionalmente em:
ƒ Idade Antiga
ƒ Pré-História: surgimento dos primeiro hominídeos até cer-
ca de 4 mil anos antes de Cristo, com o surgimento dos Tem início com o surgimento da escrita, em um contexto
primeiros tipos de escrita. aproximado de 4.000 a.C. e vai até o fim do Império Roma-

7
no. Esse período também é marcado pelo desenvolvimento visual do sujeito, em geral um ser humano, embora também
das civilizações do Crescente Fértil (Mesopotâmia e Egito), possam ser representados animais) e registros orais.
assim como das civilizações persa, hebraica e fenícia.
Inicialmente temos que destacar o compromisso da verda-
ƒ Idade Média de como aspecto fundamental do ofício do historiador. E,
para chegar a essa verdade, o historiador segue um padrão
Compreende-se desde a queda do Império Romano do Oci-
rígido de investigação. Quando um historiador traça uma
dente, em 476 d.C., até a tomada de Constantinopla (capi-
hipótese, como ao defender que o assassinato do arquidu-
tal do Império Romano Oriental) pelos turcos otomanos em
que Ferdinando foi o estopim da Primeira Guerra Mundial,
1453. É nesse período que também há o desenvolvimento
ele utiliza fontes primárias para fundamentar essa hipóte-
do sistema feudal na Europa Ocidental, as primeiras caracte-
se. Fontes primárias são vestígios da época, como docu-
rísticas do sistema capitalista (o surgimento das cidades na
mentos, manuscritos, diários, cartas, fotografias, tudo que
Europa, a burguesia e a expansão do comércio).
foi produzido em um contexto passado.
ƒ Idade Moderna
Como observamos, as fontes históricas são a matéria-pri-
Esse período começa com a tomada de Constantinopla ma do historiador. Elas podem ser materiais e imateriais ou
em 1453 e vai até 1789 com a queda da Bastilha (início vestígios do passado. Segundo o historiador Marc Bloch,
da Revolução Francesa). É interessante destacar que é na “tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo
Idade Moderna que ocorre a transição do mundo feudal que toca pode e deve informar sobre ele” (BLOCH, Marc.
para o sistema capitalista. Além disso, esse intervalo é mar- Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janei-
cado pelo surgimento da Reforma religiosa e da formação ro: Zahar, 2001, p. 79). A partir dessa afirmação, podemos
e consolidação do Antigo Regime, caracterizado pelas suas definir que as fontes históricas são:
estruturas absolutistas e mercantilistas.
ƒ Fósseis: registros de vida animal ou vegetal que se
ƒ Idade Contemporânea conservaram ao longo dos séculos. Normalmente, os
Estende-se do início da Revolução Francesa, em 1789, até fósseis são objetos de estudo da paleontologia. Entre-
os dias atuais. Caracteriza-se pela ascensão política da bur- tanto, constituem-se em fontes históricas, já que podem
guesia, o desenvolvimento e a consolidação do capitalismo atestar elementos sobre a vida no local encontrado.
financeiro, a extensão da industrialização, o surgimento do ƒ Vestígios arqueológicos e fontes da cultura ma-
socialismo científico e outras ideologias. É a esse período que terial: referem-se a itens resgatados pela arqueologia,
pertence o século XX, marcado por inúmeros eventos histó- como construções, ruas, estátuas, objetos funerários,
ricos que modelaram a sociedade ocidental e oriental, como roupas, peças de cerâmica, etc. Outros itens mais mo-
Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, Surgimento do dernos e que não foram resgatados pela arqueologia
Nazi-Fascismo, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, Des- também se encaixam aqui, como vestuário e utensílios
colonização da África e Ásia e Ordem Globalizada. fora de circulação e produção.
ƒ Documentos textuais: documentos oficiais, cartas pes-
1.3. Historiador e historiografia soais e governamentais, diários, relatos de viagens, crônicas,
livros literários, processos de justiça, jornais, entre outros.
A História é uma ciência humana. Como uma ciência, a
História possui métodos para investigar o passado. His- ƒ Representações pictóricas: quadros, fotos, afres-
toriografia é o termo utilizado para designar o campo de cos, pinturas rupestres, charges, entre outros.
estudo, as reflexões e os exames de discursos, narrativas e ƒ Registros orais: testemunhos pessoais e mitos trans-
pesquisas sobre o passado. O historiador é o profissional mitidos oralmente de geração para geração.
apto para pesquisar e construir o saber histórico, definindo
É a partir desses vestígios que o historiador elabora a sua
linhas de pesquisa, objetivos e, sobretudo, utilizando docu-
ideia e monta a sua pesquisa com o objetivo de compreen-
mentação para a análise do passado.
der o que ocorreu.

1.3.1. O papel do historiador


Para iniciar um trabalho de pesquisa histográfica, o historia-
dor precisa utilizar documentação, ou seja, algum elemento
humano que seja um vestígio do período que ele estuda. Por
exemplo, a utilização de fontes textuais, evidências arqueo-
lógicas, fontes de cultura material, representações pictóricas
(gênero da pintura, com o objetivo de representar a aparência FERNAND BRAUDEL, UM DOS MAIORES HISTORIADORES RECENTES.

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1.3.2. Escolas historiográficas
Inicialmente cabe definirmos o que é historiografia e para
que serve. Historiografia é o registro escrito da História, a
arte de escrever e registrar os fatos. E seu uso serve como
ferramenta teórica de como iremos realizar um estudo
crítico sobre como um determinado historiador escreveu
aquele fato sobre História. multimídia: vídeo
As principais correntes das escolas historiográficas são: FONTE: YOUTUBE
Pré-História
ƒ Positivismo: é uma corrente filosófica que surgiu na
França no início do século XIX. Ela defende a ideia de
que o conhecimento científico seria a única forma de Ao iniciar o estudo da Pré-História, vale um adendo: no senso
conhecimento verdadeiro. A partir desse saber, pode- comum existe uma visão popularizada dos chamados “ho-
-se explicar coisas práticas, como as leis da física, das mens das cavernas”, representados de maneira “primitiva”
relações sociais e da ética. O seu uso na História se dá e “selvagem”. É importante romper com essa visão simplista
pela análise cronológica dos fatos, sem realizar qual- para que possamos ealizar análises mais pormenorizadas.
quer análise crítica;
ƒ Materialismo histórico: criado pelo filósofo alemão
Karl Marx, enfatiza o aspecto econômico da sociedade
no estudo da História. O materialismo dialético consis-
te em ler a história baseando-se na constante luta de
classes. Dessa forma, sempre há uma classe dominan-
te e uma classe dominada, sendo que ambas estão em
confronto de interesses, já que uma explora a outra. Esse
embate seria o motor da História, através do qual se da-
ria o progresso e as transformações na estrutura.
ƒ Escola dos Annales: criada no ano de 1929 pelos his-
Como visto anteriormente, a periodização tradicional divide
toriadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre. A pro-
a História em duas grandes partes: “Pré-História” e “His-
posta inicial do periódico era se livrar de uma visão posi-
tória”. Ou seja, o critério utilizado por essa visão histórica
tivista da escrita da História que havia dominado o final
para dividir os dois períodos é o surgimento da escrita. Pode
do século XIX e início do XX. De acordo com essa teoria,
ser que agora você esteja se perguntando: “Como então os
a História até então era relatada como uma crônica de
historiadores e cientistas conseguiram ter conhecimento de
acontecimentos. O novo modelo, no entanto, baseava-se
como era a vida das pessoas daquela época, já que não ti-
na interdisciplinaridade. Assim, pretendia-se realizar
nha nenhum documento oficial informando essas coisas?”.
análises de processos de longa ou curta duração com a
Tal conhecimento advém dos vestígios arqueológicos e pale-
finalidade de permitir maior e melhor compreensão das
ontológicos que os pesquisadores encontram em suas pes-
civilizações, das “mentalidades”. Desse modo, incorpo-
quisas, como pinturas rupestres, instrumentos antigos, restos
rou na História aspectos de Antropologia, Psicologia,
de fósseis, etc. Com ajuda desses vestígios, é possível ter
Geografia e Filosofia.
uma visão de como era a vida desses nossos antepassados.

1.4. Pré-História

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Os historiadores, durante suas pesquisas, dividiram a Pré- Mas foi bem notório que a característica mais presente nes-
-História em dois períodos: Paleolítico e Neolítico. se período foi o domínio do fogo. O fogo podia esquentar
as pessoas, aquecer os alimentos e iluminar lugares. O mais
1.4.1. Período Paleolítico importante, porém, é que os grupos paleolíticos que controla-
vam o fogo "dominavam" os grupos que não o controlavam.
O período Paleolítico, também conhecido como Idade da
Pedra Lascada, ocorreu há aproximadamente 2,7 milhões
de anos até 10 mil a.C. Trata-se do maior período da pré-
-história. Esse período é chamado de Idade da Pedra Lasca-
da porque uma de suas características principais é o come-
ço do desenvolvimento de ferramentas e de instrumentos
de trabalho provenientes da pedra.

multimídia: vídeo
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Certos eventos e comportamentos marcaram o período Pa- Paleolítico | Pré-História - Brasil Escola
leolítico, como domínio do fogo, nomadismo (mobilização
de grupos humanos sem local fixo), caça em grupo, divisão
de tarefas, coletas de recursos na natureza (frutos e raízes), 1.4.2. Mesolítico
começo do convívio em tribos, primeiras manifestações artís- O período Mesolítico foi a transição do Período Paleolítico
ticas (pinturas rupestres) e uso da pele de animais, uso de para o Período Neolítico. Ele se caracteriza pelo começo
cavernas para se abrigar. e pelo fim da era do gelo em alguns continentes. Após a
era glacial, o planeta Terra ficou em um ótimo clima para
a agricultura.

1.4.3. Período Neolítico


O período Neolítico, também conhecido como Idade da
Pedra Polida, ocorreu aproximadamente de 10 mil a.c. até
3 mil a.c., ou seja, ele durou desde a revolução neolítica
até a criação da escrita. O período Neolítico começou com
a revolução neolítica, que ocorreu quando o ser humano
multimídia: vídeo passou a dominar outras áreas do conhecimento que fo-
FONTE: YOUTUBE ram essenciais para as tribos começarem a se estabelecer
Pré-História - Brasil Escola em um único lugar. Durante o período Neolítico, o ser hu-
mano desenvolveu a agricultura (onde a terra era coletiva)

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e a domesticação dos animais, o que só foi possível devido O fim do período Neolítico ocorreu em um contexto de cres-
ao clima da Terra depois do período Mesolítico. Esses povos cimento das comunidades sedentárias, com o surgimento de
se estabeleceram em lugares onde criaram sua própria “es- hierarquizações sociais, de religiões e de um Estado capaz de
tratificação social”, ou seja, sua divisão social. organizar produções agrícolas e de proteger territórios pre-
viamente definidos. Vale o destaque para a consolidação dos
primeiros sistemas de escrita.

multimídia: vídeo
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Neolítico | Pré-História - Brasil Escola

1.4.4. Período da Idade dos Metais


A Idade dos Metais teve início quando os seres humanos
começaram a dominar a metalurgia, aprendendo a fundir
coisas e a aprimorar suas armas e ferramentas. Assim, eles
conseguiram manipular cobre, bronze e ferro.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Idade dos Metais - Brasil Escola

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ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 26
 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana
com a paisagem.

A habilidade 26 tem como objetivo desenvolver a capacidade de percepção sobre a pluralidade de fontes
históricas como elemento fundamental para a compreensão e estudo do passado, além de dar ênfase ao
processo de ocupação dos meios físicos, trazendo para as questões abordagens que identificam a dispersão
territorial humana como fator de intervenção no meio físico e natural, sobretudo salientando as modifi-
cações humanas de paisagens.

MODELO 1
(Enem) A pintura rupestre mostrada na figura abaixo, que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa

PINTURA RUPESTRE DA TOCA DO PAJAÚ – PI. INTERNET: WWW.BETOCELLI.COM


a) o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante o processo de colonização do Brasil;
b) a organização social e política de um povo indígena e a hierarquia entre seus membros;
c) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a chamada pré-história do Brasil;
d) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossauros atualmente extintos;
e) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da América durante o período colonial.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A questão, ao colocar uma imagem de pintura rupestre da Toca do Pajaú, exige do aluno a percepção de
que elas representavam cenas de atividades rotineiras, como caça, pesca e rituais, evidenciando a inter-
venção humana no meio natural e as formas de representação sobre o cotidiano no contexto conhecido
como “pré-história do Brasil”.
Vale destacar que, ao apresentar uma pintura rupestre encontrada na região da Serra da Capivara, no
Piauí, local que abarca uma série de importantes sítios arqueológicos da pré-história brasileira e onde é
possível encontrar e conhecer milhares dessas pinturas, fica evidente a importância que o exame do Enem
atribui aos significativos elementos que fazem parte do patrimônio cultural brasileiro.

RESPOSTA Alternativa C

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AULAS 3 E 4

ANTIGUIDADE ORIENTAL multimídia: vídeo


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Se liga nessa História - Egito Antigo

A civilização egípcia desenvolveu-se no nordeste da Áfri-


ca, uma região caracterizada pela existência de desertos e
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 uma vasta planície banhada pelo rio Nilo, onde, de junho a
setembro, ocorrem chuvas abundantes que provocam en-
1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14, chentes. Quando voltam ao normal, as águas deixam nas
HABILIDADES: 15, 16, 18, 19, 22, 23, terras um limo, ou húmus, muito fértil.
27 e 29
A vida girava em torno do ciclo de cheias e vazantes do
Nilo. Os egípcios dirigiam preces e cânticos ao deus Hapi,
deus do Nilo.
1. Egito O rio Nilo divide o Egito em duas partes bem distintas: o
Alto e o Baixo Egito. O Alto Egito é a região do interior do
1.1. Geografia e povoamento território, com cerca de 10 quilômetros de largura e que
Antigo Egito chega até a primeira catarata. O Baixo Egito é a região do
delta, cheia de alagadiços e que se alarga à medida que
Mar Mediterrâneo se aproxima do Mediterrâneo.
Baixo Egito
Graças à localização do seu território cercado de desertos,
Mar Morto

W
NW
N

NE

E
Wadi El Natrun
Delta do Nilo
uma das características da civilização egípcia foi seu isola-
mento, o que permitiu o desenvolvimento de traços cultu-
SW SE
Grande Lago
S Amargo

0 (km) 100 Pirâmides


Mênfis
0 (mi) 60

Deserto
Lag
o Moe
ris

rais razoavelmente homogêneos.


Líbio Deserto
a
Aqab
Nilo

Arábico
Go
Rio

de
lfo

Golfo

Oásis de Bahariya
do
S
ue
z

Mar
Vermelho

Rio Nilo
Quseir
Oásis de Kharga at
Hammam
Wadi

Tebas
Oásis de Dakhla

Alto
Egito

Primeira Catarata

Oásis de Dunqul

1.2. Política
Segunda Catarata

1.2.1. Império Antigo (3200-2200 a.C.)


ADAPTADO DE: PT.WIKIPEDIA.ORG. ACESSO EM: 03 DEZ. 2014
A história do Egito começou quando as populações que vi-
Da Pré-História para a História houve uma série de trans- viam às margens do Nilo tornaram-se comunidades dedica-
formações, como o surgimento do Estado, a organização das mais à agricultura do que à caça ou à pesca. No quarto
da religião como instrumento de poder, o desenvolvimen- milênio antes de Cristo, evoluíram para pequenas unidades
to da escrita e a realização de grandes obras de irrigação políticas, chamadas nomos. Formaram-se dois reinos, um ao
e drenagem do solo para permitir a agricultura. Entre as norte e outro ao sul. Por volta de 3200 a.C., o faraó Menés
civilizações que surgiram durante esse processo, vale des- (ou Narmer) unificou os reinos, com capital em Tínis, daí o
tacar a civilização egípcia. período chamar-se Tinita até 2800 a.C.

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Os sucessores de Menés organizaram uma monarquia po- ligada às águas e às obras hidráulicas que tornavam possí-
derosa e de maior prosperidade do Antigo Império. Entre vel o controle sobre essas águas.
2700 e 2600 a.C., foram construídas as célebres pirâmides
O faraó encarregava-se de fornecer alimentos a todos, em
de Gizé, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren e Miqueri-
um sistema econômico dirigido. Os agricultores conside-
nos, da terceira dinastia, fundada por Djoser em cerca de
ravam a terra como propriedade do faraó e a si mesmos
2850 a.C.; sua nova capital era Mênfis.
como funcionários do Estado, ficando com uma parte mui-
to pequena da produção.
1.2.2. Império Médio (2000-1750 a.C.)
Em consequência natural da geografia, o Estado precisava
Com a ascensão dos monarcas, após uma crise de autori- intervir para regularizar o uso das águas do Nilo.
dade e apoiados pela nobreza, os faraós reconquistaram
o poder. Permitiram o ingresso de elementos das camadas A economia egípcia pode ser enquadradada no modo
inferiores no exército e, com isso, submeteram a Palestina, de produção asiático, em que coexistiam comunidades
onde descobriram minas de cobre, e a Núbia, onde encon- caracterizadas pela propriedade coletiva do solo, e organi-
traram ouro. Tais metais fortaleceram o Estado. zadas sobre as relações de parentesco, e um poder estatal
que representava a unidade verdadeira ou aparente de tais
Entre 1800 e 1700 a.C., chegaram os hebreus, mas foram os comunidades.
hicsos, vindos da Ásia, que criaram as maiores dificuldades.
O Estado, detentor das terras, organizava as atividades
Eles possuíam cavalos e carros de combate, que os egípcios
produtivas por meio de uma rígida estrutura repressiva, a
desconheciam. Dominaram a região e instalaram-se no delta
população camponesa era subjugada ao poder do faraó,
de 1750 a 1580 a.C.
pagando impostos, em produto ou em trabalho, sob uma
estrutura chamada de servidão coletiva. Tais tributos
1.2.3. Império Novo (1580-1085 a.C.) permitiam ao Estado apropriar-se do excedente de produ-
A nova fase, após a expulsão dos hicsos, de enorme desen- ção e contar com uma mão de obra numerosa e gratuita
volvimento militar, transformou o Egito em potência imperia- para a construção de grandes depósitos para estocagem.
lista. O Novo Império marcou o apogeu da civilização egípcia. Em épocas de cheia do Nilo, quando a agricultura tornava-
-se impossível, era comum o Estado requerer camponeses
No reinado de Tutmés III (1480-1448 a.C.), o império
das comunidades de aldeia para o trabalho em obras como
atingiu sua maior expansão territorial, ampliando-se até o
diques, palácios, canais de irrigação e templos. O contro-
rio Eufrates, na Mesopotâmia.
le sobre o excedente da produção e sobre o trabalho era
Marido da rainha Nefertiti, Amenófis IV empreendeu realizado por uma ampla burocracia estatal, diretamente
uma revolução religiosa monoteísta, provavelmente para controlada pela nobreza e pela casta sacerdotal.
anular o poder e a autoridade da camada sacerdotal, ins-
tituiu o culto monoteísta ao deus Áton, simbolizado pelo
disco solar, chegando a mudar seu nome para Akhenaton
(“aquele que agrada a Aton”).
Tutancáton, seu sucessor, restaurou o deus Amon e pôs fim
à revolução, mudando o próprio nome para Tutancâmon.
Os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.) enfren-
taram novos obstáculos, como a invasão dos hititas, vindos
da Ásia Menor. O Império entrava em declínio. Em 525 a.C.,
o rei persa Cambises derrotou o faraó Psamético III. A inde- O governo do Egito antigo era teocrático, o faraó era consi-
pendência acabou. Nos séculos seguintes, os povos do Nilo derado filho de Amon-Rá, o deus Sol, e encarnação de Hórus,
seriam dominados pelos gregos e, finalmente, cairiam nas simbolizado pelo falcão. Isolados geograficamente, os egíp-
mãos do imperialismo romano em 30 a.C. cios criaram uma civilização original, intensamente marcada
pela religião, era estratificada e rígida em termos de mobili-
dade. Os egípcios julgavam que toda a felicidade dependia
1.3. Sociedade e economia do faraó, diante de quem se prostravam em frequentes ceri-
Considerada uma civilização mais agrária que mercantil, mônias. Ele comandava o exército, distribuía justiça e organi-
era o Nilo que movia a economia e garantia unidade à civi- zava as atividades econômicas. Usava dupla coroa, símbolo
lização egípcia. A agricultura de regadio era a principal do Alto e Baixo Egito, e um cetro. Tinha várias mulheres, mas
atividade econômica no Egito Antigo. Estava diretamente só a primeira podia usar o título de rainha.

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A nobreza era formada pelos parentes do faraó, altos funcio- A vida poderia durar eternamente, desde que a alma encon-
nários do palácio, oficiais do exército, chefes administrativos trasse no túmulo o corpo destinado a servir-lhe de moradia.
e sacerdotes. A dignidade sacerdotal passava de pai para fi- Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma.
lho. Os sacerdotes, membros da mais elevada camada social, Por isso, era preciso conservar o corpo. Com essa finalidade,
administravam os bens oferecidos aos deuses. Recebiam do os egípcios desenvolveram técnicas de mumificação.
Estado grandes propriedades. O mais importante de todos
Dentro do corpo, punham substâncias aromáticas que evi-
era o Profeta de Amon.
tavam a deterioração, como mirra e canela. Eles extraíam
Exerciam considerável influência política e, no período do as vísceras e imergiam o corpo numa mistura de água e
Novo Império, muitos tentaram tomar o poder. carbonato de sódio. Envolviam o corpo em faixas de pano,
sobre as quais passavam uma cola especial para impedir
Escribas formavam-se nas escolas do palácio e aprendiam
o contato com o ar, e o colocavam num sarcófago para
os hieróglifos, complicados caracteres da escrita.
levá-lo a um túmulo. Os faraós tinham lugares reservados
Subestimados pela população, os soldados viviam dos pro- numa câmara secreta dentro das pirâmides.
dutos recebidos como pagamento e saques realizados
durante as conquistas.
1.5. Ciência e arte
Camponeses e artesãos eram a camada inferior da socieda-
A arquitetura egípcia é reconhecida pelos seus templos,
de, mas deles dependia a prosperidade do país. Recebiam
as pirâmides, as mastabas e os hipogeus, túmulos sub-
míseros pagamentos em forma de produtos, moravam em
terrâneos cavados nas barrancas do Nilo, o Vale dos Reis.
cabanas, vestiam-se pobremente e comiam pouco. Aquilo
Nas ciências, eles se destacaram na Matemática e Geome-
que poupavam, guardavam para o funeral, para garantir
tria, que tinham finalidade prática: a construção civil.
uma vida melhor após a morte.
Na escultura, predominantemente religiosa, destacaram-se
Mais tolerantes que outros povos da mesma época, os egíp-
com os sarcófagos, de pedra ou madeira.
cios ofereciam certa segurança a seus escravos, em geral,
bem tratados e numerosos em tempo de guerra. Os egípcios conheciam a raiz quadrada e as frações e che-
garam a calcular a área do círculo e a do trapézio.
1.4. Cultura e religião: A preocupação com as cheias e vazantes do Nilo e com a
politeísmo e imortalidade natureza estimulou-os a estudar Astronomia. Localizaram
alguns planetas e constelações. Construíram um relógio de
Os egípcios eram politeístas, isto é, adoravam vários deu- água e organizaram um calendário solar. Dividiram o dia
ses. Antropozoomórficos, esse deuses apresentavam forma em 24 horas, e a hora, em minutos, segundos e terços de
de homem e animal. As principais divindades eram: Osíris, segundos. Tinham semana de dez dias e mês de três se-
Amon-Rá, Isis, Hórus, Ápis e Anúbis. manas. O ano de 365 dias dividiu-se em estações agrárias:
Para explicar a origem de seus deuses, contavam que, nos cheia, inverno e verão.
primeiros tempos, Set (o vento quente do deserto) assas-
sinou Osíris (o sol poente) e lançou o corpo ao rio Nilo
(deus das sementes). Ísis (deusa da vegetação) conseguiu
encontrar o corpo, mas Set voltou a atacar Osíris e dividiu-
-lhe o corpo em 14 pedaços, que espalhou pelo Egito. Ísis,
pronunciando palavras mágicas, uniu os pedaços com a
ajuda de Hórus (deus do céu, o sol levante).

PIRÂMIDES DE QUÉOPS, QUEFREN E MIQUERINOS

Seus escritores se inspiravam em temas morais, poéticos ou


religiosos, como o Texto das Pirâmides e o Livro dos Mortos.
Tinham três tipos de escrita. Uma sagrada, em túmulos e
templos, a hieroglífica; uma versão mais simplificada, a
hierática, em documentos administrativos; e a demócri-
ta, mais popular. Champollion, orientalista francês, foi o

15
primeiro a decifrar os hieróglifos egípcios, a partir de uma Mesopotâmia (atual Iraque) é uma palavra de origem gre-
lápide, conhecida como Pedra da Roseta, encontrada por ga que significa “terra entre rios”. Nela viveram sumérios,
um soldado de Napoleão Bonaparte em 1799. acádios e assírios, entre os rios Tigre e Eufrates, que nasciam
nas montanhas da Armênia e desaguavam no golfo Pérsico.
Uma extensa faixa de terra conhecida como Crescente Fértil,
onde a neve dos montes da Armênia derretia e provocava
inundações anuais semelhantes às que ocorriam no Egito, e
o húmus depositado no solo dava à terra grande fertilidade.
Desde muito cedo essa intensa fertilidade em meio a de-
sertos e a uma natureza essencialmente inóspita atraiu e
fixou comunidades. Estima-se que a sedentarização das
primeiras comunidades humanas na Mesopotâmia tenha
ocorrido por volta de 10 000 a.C.; vários historiadores e
PEDRA DE ROSETA, BRITISH MUSEUM arqueólogos acreditam que essas são as primeiras formas
de civilização humana existentes.

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Cleópatra (1963) FONTE: YOUTUBE
Uma fantástica história de poder e traição que mudou o Já entendi - História - Mesopotâmia
curso da história. Como a lendária Cleópatra, rainha do
Nilo, conquistou Júlio César e Marco Antônio, dois dos
maiores soldados de Roma. 2.2. Política
Quish foi a primeira cidade da primeira civilização mesopo-
2. Mesopotâmia tâmica, de acordo com a tradição suméria. Depois Ur, Uruk,
Lagash, Eridu e Nipur – cidades-Estado, com autonomia reli-
giosa, política e econômica, e governadas por um sacerdote,
2.1. Geografia e povoamento ajudado por um conselho de anciãos, que logo evoluiu para
Crescente fértil e Mesopotâmia uma espécie de autocracia, um governo pessoal, despótico.
Lagash e Ur combatiam, enquanto os semitas instalavam-se
na Mesopotâmia. Sua cidade mais famosa foi Acad, que
deu origem ao termo acádios. Estes estabeleceram uma
organização centralizada em seu Império, afastando a in-
fluência dos sacerdotes. Por volta de 2330 a.C., o rei semi-
ta Sargão unificou as cidades sumérias, criando o Primeiro
Império Mesopotâmico.

2.3. Sociedade e economia


Marcadas pela agricultura de regadio e pela servidão co-
letivas, várias civilizações mesopotâmicas inseriram-se no
chamado modo de produção asiático. As terras e meios de
produção, bem como as grandes obras hidráulicas, eram di-
DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ retamente controlados pelo Estado, seja em um plano mais
CRESCENTE_F%C3%A9RTIL>. ACESSO EM: 22 DEZ. 2015. local, na cidade-Estado, seja no nível dos grandes impérios.

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Tendo no topo uma elite composta por reis, nobres, sa- sparta
Mileto

Rodes
Faselis
Tarso
Marqash
Samal
Carquemis
Arpade
Harrã
Til Barsip
Guzana
Nísibis

Nínive
Musasir
Dur Charrukin
Arbela
Calach

cerdotes, militares e altos funcionários; comerciantes e Creta

Pafos
Chipre Salamis
Arados
Qarqar
Hamate

Tadmor
Assur

Anato
Arrapaca
Ecbátana

Mar Mediterrâneo

artesãos; camponeses e, finalmente, escravos, via de regra


Biblos
Sídon Damasco Ópis
Cirene Tiro
Sipar
Cuta
Babilônia Kish
Borsipa Nipur Susa
Samaria

prisioneiros de guerra; a estrutura social mesopotâmica as-


Elteque Jerusalém
Líbios Asquelom
Erech
Saís Tânis
Ráfia
Pelúsio
Judá Ur
Bubástis
Sela
On

semelhava-se à egípcia.
Mênfis
Adumatu
Amônio
Heracleópolis
Península
Egito do Sinai
(antes de 671 a.C.)
Golfo
Aquetaton
Pérsico
Império Assírio - 824 a.C.
Siut
Império Assírio - 671 a.C.
Mar
Abidos Vermelho

2.3.1. Primeiro Império Babilônico


Tebas

(1800-1600 a.C.) ADAPTADO DE: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ASSÍRIA>. ACESSO EM: 25 DEZ. 2015.

Concentrados em torno da Babilônia, e com o enfraqueci-


mento sumério, os semitas ascenderam. Hamurábi foi um 2.4. Império Assírio (1875-612 a.C.)
dos primeiros reis babilônicos (1728-1686 a.C.). Ampliou Com origem por volta de 1800 a.C., o Império Assírio teve
o Império, foi sobretudo um legislador, responsável por um seu período de maior expansão entre 883 e 612 a.C., con-
dos primeiros códigos de leis que se conhece: o Código de quistando a Síria e o Egito.
Hamurábi. Transformou a língua acádia em língua oficial e
Com carros de combate e catapultas, o exército assírio im-
Marduck, deus babilônico, em primeiro deus supremo da
punha sua dominação pelo terror, saqueando os territórios
Mesopotâmia. Com as invasões de hititas e cassitas, o rei-
conquistados e massacrando as populações vencidas.
no sucumbiu provavelmente no século XVI a.C.
O apogeu dessa civilização ocorreu durante os reinados de
Sargão II, Senaqueribe e, principalmente, Assurbanipal, que
conquistou o Egito. Em 612 a.C., o Império Assírio chegou
ao fim com a invasão e o domínio dos medos.

2.5. Novo Império ou Segundo


Império Babilônico (612-539 a.C.)
multimídia: livro O domínio babilônico voltou a impor-se com os caldeus,
um dos povos que haviam se aliado aos medos para com-
A epopeia de Gilgamesh (séc. XX a.C.) bater os assírios.
Um antigo poema épico da Mesopotâmia (atual Ira- Nabucodonosor (605 a 563 a.C.), filho de Nabopolas-
que), uma das primeiras obras conhecidas da literatura sar, fundador da nova dinastia, tomou Jerusalém em 587
mundial. Sua origem são diversas lendas e poemas su- a.C., levou numerosos israelitas cativos para a Babilônia
mérios sobre o mitológico deus-herói Gilgamesh, que (episódio conhecido como “Cativeiro da Babilônia”),
foram reunidos e compilados no século VII a.C. pelo rei conquistou a Síria, a Fenícia e construiu grandiosas obras,
Assurbanípal. como os Jardins Suspensos da Babilônia e a Torre de Ba-
bel, com 215 metros de altura. Não deixou sucessores
O império Babilônico capazes, e o Segundo Império Babilônico foi tomado por
Nínive Domínio da Mesopotâmia pelos sumérios
Ciro em 539 a.C.
e acádios (3500 - 2000 a.C.)
Primeiro Império Babilônico em sua maior
extensão no tempo de Hamurábi
Assur (1792 - 1750 a.C.)
2.6. Cultura e religião
Tig

Mari
re
E
uf
ra
te
s

Echnuna

Sipar
Malgium?
Babilônia
Susa

0 100 200
Kish
Nipur
Isin

Larsa Lagash

Eridu
Ur ZIGURATE

Estado teocrático, a religião mesopotâmica tinha caráter po-


ADAPTADO DE: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/>. ACESSO EM: 25 DEZ. 2015. liteísta. Entre os deuses destacam-se: Anu (rei do céu), Enlil

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(rei da terra), Shamash (deus Sol) e Marduk, deus de Babi- Os hebreus
lônia, que tornou-se a principal divindade da Mesopotâmia. Fenicios
Tiro Arameus

MAR MEDITERRÂNEO
Reino de
Israel
Jafa Amonitas
Jerusálem
Gaza DESERTO ARÁBIA
DESERTO DA ARABIA
Reino de
Judá Moabitas

Filisteus
EGITO
Amalequitas
Territórios progressivamente ocupados
pelas tribos de Israel ao fim do II milênio
Edomitas
Territórios mantidos como tributários
pelo rei Davi e perdidos depois por Salomão

DISPONÍVEL EM: <HTTP://WWW.HISTORIANET.COM.BR/CONTEUDO/DEFAULT.


RELEVO ASSÍRIO DE NIMRUD, A PARTIR DE 728 A.C. ASPX?CODIGO=85>. (ADAPTADO). ACESSO EM: 25 DEZ. 2015.

A escrita era em forma de cunha (cuneiforme), feita com um


estilete para gravar em tabuletas de argilas com traços verti- 3.2. Política
cais, horizontais e oblíquos. Na literatura, as principais obras
foram o Poema da Criação e a Epopeia de Gilgamesh. 3.2.1. Período dos patriarcas (2000-1200 a.C.)
Também avançaram em Matemática, criando tábuas de mul- Os hebreus viviam perto de Ur, no Primeiro Império Babilô-
tiplicação e divisão, inclusive de raízes cúbicas. Na astronomia, nico, eles se organizavam em grupos familiares patriarcais,
desenvolveram um calendário baseado nos ciclos da Lua. seminômades, sob a liderança de chefes denominados pa-
A arquitetura se destacou pela construção de palácios e zi- triarcas. Nessa fase não havia unidade política e os hebreus
gurates, torres de vários andares sobre as quais havia uma estavam divididos em tribos. Segundo a Bíblia, Abraão foi o
capela, usada para observar o céu. Na escultura, figuras primeiro patriarca, tendo conduzido seu povo à terra pro-
em baixo-relevo ornamentavam as paredes dos palácios, metida por Deus, Canaã, ou Palestina. De seu neto, Jacó,
geralmente retratando a guerra e a caça. originaram-se as 12 tribos de Israel.
O maior legado mesopotâmico foi o Código de Hamurábi, Talvez, afugentados pelos hicsos, cerca de 1800 a.C. as se-
o primeiro código escrito do qual se tem conhecimento cas obrigaram os hebreus a emigrarem para o Egito.
na história do Oriente Antigo. Tinha como princípio a “Lei
A vida tornou-se difícil, e depois da expulsão dos hicsos
de Talião”, resumida na expressão “olho por olho, dente
(1580 a.C.), os hebreus, perseguidos, deixaram o Egito
por dente”, ou seja, a punição deveria ser equivalente ao
por volta de 1250 a.C. Foi o Êxodo, ou fuga, sob a li-
crime cometido.
derança de Moisés, criado pela filha de um faraó, que o
encontrou boiando em uma cesta no rio.
3. Hebreus Segundo a Bíblia, os israelitas atravessaram o mar Verme-
lho, atingiram a península do Sinai e vagaram quarenta
3.1. Geografia e povoamento anos pelo deserto antes de chegar à Palestina.
A Palestina, localizada no Oriente Próximo, era formada No deserto, do alto do Monte Sinai, Deus se revelou a Moi-
pelo vale do rio Jordão, as áridas terras da Judeia e a planí- sés. Ele recebeu as Tábuas da Lei, que apresentou ao povo.
cie costeira, delimitada a nordeste pela Síria, ao norte pela Apesar da crença no único Deus, Iavé (Aquele que é), os
Fenícia, a sudeste pelo deserto da Arábia e a oeste pelo hebreus se desviaram do monoteísmo várias vezes, como
mar Mediterrâneo. quando adoraram um bezerro de ouro. Moisés morreu an-
tes de ver seu povo entrar na Terra Prometida.
Inicialmente habitada por cananeus, filisteus e arameus, foi
povoada por volta de 2000 a.C. pelos hebreus1, povo de
origem semita2. 3.2.2. Período dos juízes (1200-1010 a.C.)
1. A palavra hebreu significa, de maneira literal, “povo do outro lado do rio”, Os hebreus chegaram à Palestina (Terra Prometida), logo
referindo-se ao rio Eufrates, uma vez que a base de seu povoado deu-se após
realizarem a travessia do rio e fixarem-se na chamada “terra de Canaã”.
após a morte de Moisés, e, sob a liderança de Josué, deram
2. Semita (do hebraico sem , nome do filho de Noé); nome dado aos início a intensas lutas contra os antigos habitantes da região
membros de um grupo de povos do Oriente Próximo, que falam atual-
mente, ou que falaram na antiguidade, línguas originárias do norte da
(cananeus e filisteus). As necessidades bélicas impuseram
África e da Ásia Médio-Oriental. uma maior unidade às tribos hebraicas, que passaram a ser

18
lideradas por chefes guerreiros, os juízes. Os mais importan- A morte de Salomão, em 933 a.C., desencadeou uma
tes, segundo a Bíblia, foram: Josué, que tomou a cidade de crise política conhecida como o Cisma hebraico, resultan-
Jericó; Gedeão; Sansão, que lutou contra os filisteus, e Sa- do na divisão do reino em duas partes: o Reino de Judá
muel, que foi o articulador da centralização política. (duas tribos), situado ao sul e com capital em Jerusalém,
e o Reino de Israel (dez tribos), localizado no norte e com
3.2.3. Período dos reis (1010-587 a.C.) capital em Samaria. Em 722 a.C., o Reino de Israel foi
conquistado por Sargão II e transformado em província
Reino dividido
do Império Assírio. O Reino de Judá foi conquistado por
Nabucodonosor em 587 a.C. O Templo de Jerusalém foi
destruído e os hebreus foram levados como escravos para
a Babilônia (Cativeiro da Babilônia).

3.2.4. Diáspora (70 a.C.)


Em 539 a.C. terminou o Cativeiro da Babilônia com a derrota
do Império Babilônico diante das forças de Ciro, rei dos per-
sas. Os hebreus retornaram à Palestina, reconstruíram o Tem-
plo de Jerusalém e tornaram-se parte integrante do Império
Persa. Situados nos territórios da antiga tribo de Judá, os
habitantes dessa região passaram a ser chamados de judeus.
Os judeus foram dominados por vários povos. Após o do-
mínio persa, veio o domínio dos macedônios (332 a.C.), de
Antíoco, filho de Seleuco, general que ficou com a Ásia por
ocasião da partilha do Império de Alexandre. Em 63 a.C.,
a Palestina foi conquistada por Pompeu e transformada em
província do Império Romano. Com o estabelecimento da
figura do imperador como divino, no ano 70 d.C., os judeus
se recusaram a reconhecer o imperador dos romanos como
DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/REINO_DE_JUDÁ>. um verdadeiro deus, rebelando-se contra o domínio romano.
ACESSO EM: 25 DEZ 2015.
Em resposta, as autoridades romanas, lideradas pelo general
A luta pela reconquista da Palestina desencadeara um pro- Tito, destruíram Jerusalém, inclusive o Templo, e expulsaram
cesso de unificação das tribos hebraicas e de centralização os judeus da Palestina, que dispersaram-se pelo mundo. Esse
política, cujo desfecho foi a fundação do reino de Israel. acontecimento ficou conhecido como Diáspora. O retorno
Saul, o primeiro rei dos hebreu, comandou uma ofensiva dos judeus à Palestina só ocorreu a partir de 1918 e culmi-
contra os filisteus, mas acabou derrotado. Davi, seu suces- nou com a fundação do atual Estado de Israel, em 1948.
sor, derrotou os inimigos e ampliou os territórios sob seu
domínio conquistando Jerusalém, a capital do reino.
Com a morte de Davi, o trono foi ocupado por seu filho
Salomão. Seu reinado ficou marcado por realizações em
várias áreas. Na área religiosa, mandou construir o Templo
de Jerusalém, onde foi depositada a Arca da Aliança, urna
que continha as Tábuas da Lei, onde estão gravados os Dez
Mandamentos. No campo da economia, o comércio dos
hebreus atingiu seu apogeu. As relações comerciais com a
DESTRUIÇÃO DO TEMPLO DE JERUSALÉM (1867), POR FRANCESCO HAYEZ
Fenícia foram intensificadas com destaque para o comér-
cio de madeiras, óleos e tecidos. O reinado de Salomão foi
marcado pela ostentação e pela abundância de palácios 3.3. Sociedade e economia
luxuosos que exigiram o constante aumento dos impos- A economia era predominantemente agropastoril, desen-
tos, empobrecendo cada vez mais o trabalhador do campo, volvida nas terras férteis do vale do rio Jordão. E também
para sustentar o luxo de seu reinado, criando um clima de com intensas relações comerciais com o Egito, a Fenícia,
insatisfação entre o povo hebreu. a Síria, a Ásia Menor, a Mesopotâmia, a Arábia e o reino

19
de Sabá (atual Etiópia). Seus principais produtos agrícolas Constituíram a única civilização monoteísta da antigui-
eram a oliva, a uva e diversos cereais. dade oriental. A religião judaica ensina que Deus fez uma
aliança com o povo de Israel, em que o povo receberia a
Durante o Período dos Reis, a estrutura tribal de posse da ter-
proteção divina por obediência aos Dez Mandamentos
ra deu lugar à propriedade privada. A terra ficou concentra-
(Decálogo), gravados nas Tábuas da Lei, depositadas numa
da nas mãos da aristocracia ligada ao Estado. Camponeses,
urna (Arca da Aliança) guardada no templo. A Bíblia con-
pastores e uma pequena parcela de escravos estavam su-
tém todos os ensinamentos que o povo deveria seguir. Vale
bordinados a essa aristocracia por meio de vários impostos, dizer que o monoteísmo judaico exerceu grande influência
incluindo a exigência de parte da produção, a sujeição ao sobre o cristianismo e o islamismo.
trabalho compulsório e a obrigatoriedade do serviço militar.
Durante o reinado de Salomão, surgiu uma rica camada de
comerciantes que possuíam a mesma condição social que
4. Fenícios
a camada de funcionários reais. Acima desses, havia uma Os fenícios
elite de aristocratas, os sacerdotes (rabinos) e a família real.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Hebreus - Mundo História - ENEM

DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/FENÍCIA>.


ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.
3.4. Cultura e religião
O Deus dos hebreus não podia ser representado por está-
tuas ou pinturas, sendo asim eles não se destacaram tanto
4.1. Geografia e povoamento
nas artes. No Direito, produziram o Código Deuteronômio Lar dos Fenícios, a estreita faixa de terra localizada ao sul
e sua literatura está contida no Antigo Testamento, onde da Palestina começou a ser ocupada por povos de origem
destacam-se os Salmos de Davi, os Cânticos e Provérbios semita, originários das costas setentrionais do mar Verme-
de Salomão e o Livro de Jó. lho, por volta de 3000 a.C. Atualmente é região do Líbano,
uma faixa de 200 quilômetros de comprimento, entre as
montanhas e o mar Mediterrâneo.

4.2. Sociedade e economia


Na Fenícia, a agricultura cedeu lugar ao comércio, à pesca
e a um rico artesanato, voltado para a comercialização com
os povos vizinhos. O solo pobre e a configuração geográfi-
multimídia: vídeo ca da região determinaram a ligação com o mar. As vastas
FONTE: YOUTUBE florestas de cedros (madeira excelente para a construção
naval) e os bons portos naturais favoreceram a atividade
Os dez mandamentos (1956)
marítimo-comercial, destacando-se vinho, azeite, objetos
Um longa com Charlton Heston, que conta a vida de Moi- de cerâmica, metal, vidro colorido e, especialmente, o co-
sés, desde seu nascimento, quando é colocado em um rante de púrpura, obtido de molusco chamado múrice, que
cesto nas águas do rio Nilo, até seu resgate pela princesa permitia o tingimento de tecidos.
egípcia Bithiah, que resolve criá-lo como príncipe. Já adul-
to, Moisés descobre sua origem e dedica-se a libertar seu Isso fez deles os principais navegantes e comerciantes da an-
povo da escravidão e conduzi-lo à Terra Prometida. tiguidade, desenvolvendo técnicas navais e conhecimentos
geográficos que só foram recuperados no início dos tempos

20
modernos. Uma sociedade de castas e constituída por sacer- antes do Reino dos Persas e exerceu sua hegemonia na
dotes, aristocratas, comerciantes, homens livres e escravos. região estendendo seus domínios pela Mesopotâmia e
participando da destruição do Império Assírio. Entretanto,
4.3. Política declinaram no século VI a.C., quando Ciro I, rei dos persas,
conquistou o Reino da Média, provocando a unificação po-
Os fenícios, durante toda sua história, diferente dos demais lítica dos povos do Planalto Iraniano, em 550 a.C.
povos da antiguidade oriental, não tiveram uma unidade
política, não constituíram um Estado unificado com um go-
verno centralizado. Agrupavam-se em cidades-Estado,
de governo autônomo e soberano. Destacaram-se Ugarit,
Aradus, Trípoli, Biblos, Sídon e Tiro, todas importantes cen-
tros manufatureiros e comerciais.
Em cada cidade, um rei exercia o poder, com um conselho
escolhido entre os grandes comerciantes e proprietários
agrícolas, que controlavam o governo.
multimídia: livro
Os fenícios fundaram feitorias para ampliar os benefícios
de seu comércio marítimo, pontos de apoio localizados no Os persas (séc. V a.C.)
litoral das regiões, facilitando o escoamento das mercado- A peça mais antiga que se tem notícia. Os persas, de
rias vindas do interior. Uma dessas feitorias era Cartago, no Ésquilo (525-455 a.C.), se desenrola no ano de 472 a.C
litoral da atual Tunísia, a maior rival de Roma no controle em Susa, capital da Pérsia, e coloca em cena a angústia
do Mediterrâneo ocidental no século III a. C. da rainha Atossa e a derrocada de seu filho, o grande rei
Xerxes, responsável pela invasão à Grécia.
4.4. Cultura e religião
A religião era politeísta, com divindades associadas às for- 5.2. Política
ças da natureza, como Baal, o deus do Sol, e Astarte, a
deusa da fecundidade, representada pela Lua. Ocorreu um rápido expansionismo territorial com a cons-
trução de um enorme império durante o governo de Ciro I
Sua principal contribuição foi a invenção do alfabeto fo- (559-529 a.C.). Quando de sua morte, o Império Persa se
nético. Para facilitar as transações comerciais, criaram 22 estendia dos atuais Paquistão e Afeganistão, a leste, até o
sinais dos sons das palavras, logo adotado por arameus e litoral dos mares Negro e Mediterrâneo, a oeste. Em 525
judeus. Com as vogais, tornou-se o alfabeto grego. a.C., seu filho, Cambises, conquistou o Egito até a Líbia. O
auge do império foi no reinado de Dario I (512-484 a.C.),
5. Império Persa que manteve a tradição de Ciro de integrar a elite dos
povos submetidos e de respeitar as diferenças religiosas
© Anton Gutsunaev/Wikimedia Commons

e culturais locais. O império foi dividido em satrápias, pro-


víncias dirigidas por governadores que recebiam o título de
sátrapas, que eram vigiados e fiscalizados por funcionários
reais. O dárico, moeda-padrão cunhada em ouro e prata,
facilitou a integração econômica das regiões e dos povos
do império. Susa, Sardes, Persépolis, Ecbátana e Babilônia
– foram integrados por uma ampla rede de estradas e por
um eficiente sistema de correios.
5.1. Geografia e povoamento Dario iniciou a tentativa de submeter completamente as
Situado a leste do Crescente Fértil, entre a Mesopotâmia e cidades gregas da Ásia Menor (litoral da atual Turquia) ao
a Índia, é hoje conhecido como Planalto Iraniano e compre- Império Persa - origem das Guerras Médicas (490-479 a.C.),
ende áreas montanhosas e desérticas. em que os persas lutaram contra as cidades-Estado gregas.
Dois grupos arianos ocuparam o Irã, a partir de 2000 a.C., Em 480 a.C., Xerxes, sucessor de Dario, foi derrotado na
os medos e os persas. Os primeiros ao sul do mar Cáspio; Segunda Guerra Médica, na Batalha Naval de Salamina.
os persas a leste do golfo Pérsico. Tornaram-se pequenos Com a derrota, houve o enfraquecimento e a progressiva
reinos rivais no século VIII a.C.. Entre esses Estados mo- desintegração do Império Persa, facilitando a total conquis-
nárquicos, o Reino da Média, ou dos medos, organizou-se ta greco-macedônica de Alexandre Magno, em 330 a.C.

21
5.3. Sociedade e economia 5.5. Oriente Médio: tradição e cultura
O comércio dentro do Império foi ajudado com a unifi- Enquanto cresciam as civilizações do Oriente Médio, os
cação política ao reduzir os obstáculos e oferecer maior homens dependiam menos da natureza e a aprenderam a
segurança às viagens dos mercadores. A rede de estradas usar melhor os instrumentos e a técnica para dominá-la. O
reais, o dárico e a padronização dos pesos e medidas pos- arado, canais de irrigação, domesticação de animais para
sibilitaram o desenvolvimento das atividades comerciais. tração e construção de silos para armazenagem são apenas
alguns exemplos. A indústria evoluiu quando passou a fabri-
A elite persa era composta pelo imperador e sua família e
car tijolos e a usar planos inclinados para elevar blocos de
por altos burocratas, comandantes militares e sacerdotes.
pedra ao alto das construções. Os homens aprimoraram as
A massa da população era sujeita ao trabalho compulsório
técnicas de construção, com o uso de metalurgia, a cerâmi-
nos sistemas de regadio e/ou nas obras públicas, e ainda
ca e o preparo dos papiros e placas de barro para a escrita.
tinha que pagar uma pesada tributação.
Os frígios inventaram a moeda.

5.4. Cultura e religião No campo da cultura, foram diversos os avanços. A inven-


ção da escrita, com o alfabeto fonético dos fenícios, assi-
Desenvolveram a escultura, os baixos-relevos e a arquite- nalou a passagem da Pré-História para a História. Foram
tura monumental, reconhecidas nos palácios reais de Susa criadas as primeiras obras literárias, como a Epopeia de
e Persépolis. Tinham uma religião dualista, em que o deus Gilgamesh. Também surgiram os grandes códigos religio-
do bem, Ahura-Mazda (ou Ormuz), opunha-se ao deus do sos e morais, como os de Moisés e Hamurabi. Desenvol-
mal, Arimã. E fundamentava-se na crença do Juízo Final, veram-se o cálculo matemático, a geometria, as unidades
onde o bem triunfaria sobre o mal, descritos no livro sagra- de peso e medida, o calendário lunar e o solar, os estudos
do Zend Avesta, escrito pelo lendário Zoroastro ou Zaratus- de Astronomia, Medicina e Farmácia. Além disso, foram
tra, em que se baseava o zoroastrismo (ou mazdeísmo, realizados progressos nas ideias de organização do Esta-
em alusão à divindade Ahura-Mazda). do e na arte da guerra. Em relação à moral e à religião,
Tais princípios exerceram grande influência sobre o judaísmo destacam-se a tolerância religiosa dos persas e a ideia de
e, por meio desse, sobre o cristianismo e o islamismo. um único Deus dos hebreus.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Tanto as civilizações mesopotâmicas quanto a egípcia cresceram


em torno de grandes rios – o Tigre, o Eufrates e o Nilo, no caso dos
egípcios. Evidenciando a escassez de água no norte da África e no
Oriente Médio, mesmo até os dias atuais, o que é um empecilho
muito grande ao sedentarismo. Tais povos só conseguiram desen-
volver a agricultura a partir do uso da água desses rios.
Isso explica a densidade demográfica muito maior nas regiões
adjacentes às suas margens.
Na imagem ao lado, do Iraque atual, é possível observar as prin-
cipais cidades do país, ainda hoje, que se concentram na região
mesopotâmica.

22
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 11
Através de variadas fontes, cite o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da paisagem
com a vida humana.

Em documentos escritos, na arte ou na arquitetura, todas as sociedades registram suas práticas cotidianas. A
habilidade 11 permite ao aluno a compreensão da regência das instituições sociais, políticas e econômicas
em tais registros.
Para isso ele deve interpretar as informações passadas, por meio de imagens e textos, juntamente com seus conhe-
cimentos teóricos, relacionando-os conforme a exigência de cada exercício em particular.

MODELO 1
(Enem) O Egito é visitado anualmente por milhões de turistas de todos os quadrantes do planeta, desejo-
sos de ver com os próprios olhos a grandiosidade do poder esculpida em pedra há milênios: as pirâmides
de Gizeh, as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos templos construídos ao longo do Nilo.
O que hoje se transformou em atração turística era, no passado, interpretado de forma muito diferente, pois:
a) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós tinham para escravizar grandes contingentes popu-
lacionais que trabalhavam nesses monumentos;
b) representava para as populações do alto Egito a possibilidade de migrar para o sul e encontrar trabalho nos
canteiros faraônicos;
c) significava a solução para os problemas econômicos, uma vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas
riquezas, construindo templos;
d) representava a possibilidade de o faraó ordenar a sociedade, obrigando os desocupados a trabalharem em
obras públicas, que engrandeceram o próprio Egito;
e) significava um peso para a população egípcia, que condenava o luxo faraônico e a religião baseada em
crenças e superstições.

ANÁLISE EXPOSITIVA

O poder teocrático do faraó era representado pela arquitetura e pelas pirâmides e templos. A alternativa A
é a correta. Muitas das obras públicas eram realizadas pela servidão coletiva.

RESPOSTA Alternativa A

23
DIAGRAMA DE IDEIAS

TRANSIÇÃO:
ANTIGUIDADE ORIENTAL
PRÉ-HISTÓRIA -> HISTÓRIA

• ESTADO
• RELIGIÃO
EGITO
• ESCRITA
• GRANDES OBRAS
GEOGRAFIA:
NORDESTE DA ÁFRICA - DESERTOS / RIO NILO
ECONOMIA:
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
SOCIEDADE:
TEOCRÁTICA - FARAÓ (DEUS) / NOBREZA
COMERCIANTES / CAMPONESES / ESCRAVOS
RELIGIÃO
POLITEÍSMO / MUMIFICAÇÃO

MESOPOTÂMIA HEBREUS

GEOGRAFIA: GEOGRAFIA:
REGIÃO FÉRTIL ENTRE OS RIOS TIGRES E EUFRATES ATUAL ISRAEL / PALESTINA
ECONOMIA: ECONOMIA:
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO AGROPASTORIL E COMERCIAL
SOCIEDADE: SOCIEDADE:
TEOCRÁTICA - REIS / NOBREZA / COMERCIANTES ESTRUTURA TRIBAL - PROPRIEDADE PRIVADA -
CAMPONESES / ESCRAVO NOBREZA / COMERCIANTES
RELIGIÃO CAMPONESES / ESCRAVOS
POLITEÍSMO / CÓDIGO HAMURABI RELIGIÃO
MONOTEÍSMO
ESCRITA CUNEIFORME

IMPÉRIO PERSA
FENÍCIOS
GEOGRAFIA:
GEOGRAFIA: ENTRE A MESOPOTÂMIA E A
ATUAL LÍBANO ÍNDIA - DESERTOS E MONTANHAS
ECONOMIA: ECONOMIA:
MARÍTIMO-COMERCIAL COMÉRCIO / MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
SOCIEDADE: SOCIEDADE:
CIDADE-ESTADO - REI IMPÉRIO - NOBREZA - BUROCRATAS
CONSELHEIROS COMERCIANTES MILITARES / SACERDOTES
RELIGIÃO RELIGIÃO
POLITEÍSMO / ALFABETO FONÉTICO RELIGIÃO DUALISTA / ARQUITETURA MODERNA

24
AULAS 5 E 6 2. Períodos
A História da civilização grega é dividida, convencional-
mente, em cinco grandes períodos temporais denomina-
dos “Pré-homérico”, “Homérico”, “Arcaico”, “Clássico” e
“Helenístico”. Neste capítulo abordaremos os três primei-
CIVILIZAÇÃO GREGA: ros períodos mencionados, salientando o processo de for-
PERÍODOS PRÉ- mação e consolidação de importantes estruturas culturais
e políticas da civilização grega.
-HOMÉRICO, HOMÉRICO
E ARCAICO 2.1. Período Pré-homérico (2000-1200 a.C.)
De origem indo-europeia, os gregos, helenos – de Hélade,
nome primitivo da Grécia – ou arianos chegaram à Grécia
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6
em cerca de 2000 a.C.
1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14, Antes deles os aqueus, povo pastoril, já ocupavam as
HABILIDADES: 15, 16, 18, 19, 22, 23, melhores terras. Sedentários, assimilaram povos mais an-
27 e 29 tigos, como os pelágios ou pelasgos, provavelmente de
origem mediterrânea, do Período Neolítico. Os aqueus
formaram os núcleos urbanos de Micenas, Tirinto e Argos.
1. Geografia Os habitantes de Micenas integraram sua cultura à dos
cretenses, cuja civilização era bastante avançada – povo
Banhada pelos mares Jônico e Egeu, a Grécia era, por
marítimo-comercial que dominava as rotas do Mediter-
sua posição geográfica, um elo entre a Europa e o Orien-
râneo Oriental (talassocracia1) – o que deu origem à
te Próximo.
civilização creto-micênica.
O território grego era composto por duas regiões distintas: a
parte continental, ao sul da península dos Balcãs, e a Grécia Com a chegada de novos grupos indo-europeus, os
insular, que ocupava as ilhas do mar Egeu e a costa da Ásia jônios e os eólios, por volta de 1700 a.C., os núcleos
Menor. Com a expansão colonial, ela ocupou também a cos- arianos instalados na Grécia foram fortalecidos. Paci-
ta egeia da Ásia Menor e o sul da península Itálica. ficamente integrados com os já habitantes da Grécia,
enquanto a civilização creto-micênica chegava ao seu
As comunicações terrestres eram dificultadas pelo seu relevo
auge. Os troianos, outra importante civilização pré-he-
montanhoso e seu solo árido e rochoso. Porém, seu litoral
lênica, desenvolveram-se ao norte da Anatólia. Troia
com excelentes portos e salpicado de ilhas facilitava as co-
tinha uma população aparentada com os primeiros
municações marítimas. A escassez de contatos internos con-
gregos, e foi erguida por volta de 1900 a.C., sua pros-
tribuiu para impedir a unidade política da Grécia Antiga e,
peridade econômica baseava-se na exploração de ter-
ao mesmo tempo, favoreceu a formação de cidades-Estado.
ras ricas e na pecuária.
A Grécia antiga
No início do século XII a.C.; os gregos destruíram Troia
(Ílion, em grego), cidade que ocupava posição estratégica
nos estreitos entre os mares Egeu e Negro, o que lhes
conferiu o controle do tráfego marítimo na região.
Os dórios, último grupo de povos arianos a penetrar
na Grécia, chergaram enquanto a civilização micênica
se expandia em direção à Ásia. Aguerridos, nômades e
conhecedores de armas de ferro, os dórios arrasaram as
cidades dos gregos, que fugiram para o interior ou para
o exterior. Numerosas colônias gregas formaram-se na
costa da Ásia Menor e nas ilhas do mar Egeu. Esta foi a
Primeira Diáspora (dispersão) Grega.
DISPONÍVEL EM: <HTTPS://COMMONS.WIKIMEDIA.ORG/WIKI/ 1. Talassocracia = poderio econômico de um Estado baseado no domínio de
FILE:MAPA_GRECIA_ANTIGUA.SVG>. ACESSO EM: 05 JUN. 2018. rotas marítimas comerciais.

25
Primeira Diáspora Grega era juiz, comandante militar e chefe religioso. Seu poder
era passado para o filho mais velho.
Meios de produção, terras, sementes, implementos, re-
sultados da produção, alimentos, utensílios, pertenciam à
Tróia
Tróia
comunidade, inexistindo a propriedade privada. Porém os
Tróia
genos não deixavam de levar em conta diferenças indi-
ÁSIA MENOR
Atenas
MAR
EGEU
viduais, uma vez que o status pessoal na família depen-
dia do parentesco com o páter-famílias. Politicamente, o
MAR
JÔNICO Esparta poder patriarcal era baseado no monopólio de fórmulas
secretas, que permitiam ao chefe o contato com os deuses
protetores da família.
Jônios e aqueus
Eólion Creta A falta de terras férteis e o crescimento demográfico levou
Dórios 0 120 km
as comunidades gentílicas a tensões, lutas internas e desa-
ADAPTADO DE: <HTTP://SLIDEPLAYER.COM.BR/SLIDE/1758745/>. gregação. Era o fim do Período Homérico.
ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.
A desintegração do sistema gentílico e a luta entre os mem-
bros do genos por um pedaço de terra que lhes garantisse
2.2. Período Homérico (séc. XII-VIII a.C.) a subsistência fizeram com que aquela civilização passasse
O nome Homérico é baseado em dois poemas épicos atri- do sistema de propriedade coletiva para o de propriedade
buídos a Homero: a Ilíada e a Odisseia. privada. Os parentes mais próximos do pater, os eupátri-
das, ficaram com as áreas mais férteis; aos seus parentes
A Ilíada narra a tomada de Troia pelos gregos. Centra-se
mais distantes, os georgóis (agricultores), destinaram-se as
na figura do herói Aquiles e sua cólera contra Agamenon,
restantes. Os denominados thetas (marginais) ficaram sem
que lhe roubou a escrava Briseida. No começo, Aquiles ne-
terra. Uma parte desses (demiurgos) se Os denominados
ga-se a participar dos combates. Porém, a morte de seu
ao comércio e ao artesanato. Os demais deixaram a Grécia
amigo Pátroclo o faz mudar de ideia. Parte importante é
e fundaram numerosas colônias nos mares Negro e Medi-
a descrição do cavalo de madeira com o qual os gregos
terrâneo, processo conhecido como Segunda Diáspora
“presenteiam” os troianos para tomar sua cidade.
Grega (século VIII a.C.). Destacaram-se as colônias gregas
de Bizâncio e Abidos. No Mediterrâneo Ocidental, ao sul
da península Itálica, surgiu a Magna Grécia, cujos núcleos
mais importantes foram Tarento, Siracusa e Nápoles. A colo-
nização grega foi marcadamente agrária, mas também de-
senvolveu as atividades industriais e comerciais. O mundo
grego apresentava dimensões quase mediterrâneas.

multimídia: vídeo
A Odisseia conta o retorno de Ulisses, Odisseus, ao Rei- FONTE: YOUTUBE
no de Ítaca. Trata de três temas: a viagem de Telêmaco, as Troia (2004)
viagens de Ulisses e o massacre dos pretendentes de sua
Orlando Bloom é Paris, um príncipe que em 1193 a.C.
mulher, Penélope. Após o século XII a.C., a célula básica da
provoca uma guerra da Messência contra Troia, ao afas-
sociedade grega era o genos (comunidade gentílica), uma
tar Helena de seu marido, Menelaus. A esperança do
grande família. Os descendentes de um mesmo antepassa-
Priam (Peter O’Toole), rei de Troia, em vencer a guerra
do viviam no mesmo lar. Cada membro (gens) dependia
está nas mãos de seu filho Heitor (Eric Bana) e de Aqui-
da unidade da família cujo chefe era o páter-famílias – o
les (Brad Pitt), o maior herói da Grécia.
mais velho dos membros do genos, um líder de clã, que

26
Colonização grega também de modo diferenciado, gerando modelos por ve-
Tanais
zes antagônicos e rivais: divisão social, conflitos internos
Olbia
e expansionismo marcaram a maioria das cidades-Estado
Marselha
gregas, resultado direto do processo de desagregação das
Alalia
TRÁCIA Bizâncio
Calcedônia
Sinopa comunidades gentílicas.
Cumas Trebizonda
Nápoles
Eritreia Foceia
Denia Corinto JÔNIA
Agrigento Catânia

Mainake Siracusa Esparta


Atenas
Creta
Mileto
2.3.1. A cidade-Estado militarista: Esparta
Cirene ESTINFALO

Náucratis

A R C A D I A ARGOS
EPIDAURO

Grécia Regiões colonizadas pelos gregos Cidades gregas Colônias gregas


MANTINEA
OLIMPIA

ADAPTADO DE: <HTTP://DISCIPLINA-DE-HISTORIA.BLOGSPOT.COM. TEGEA

BR/2011_11_01_ARCHIVE.HTM>. ACESSO EM: 25 DEZ 2015.


Alfeo
MEGALÓPOLIS Tirea
Oion
FIGALIA P
A
Neda
R Tiro
Belemina N
Os eupátridas, os bem-nascidos, monopolizavam os equi- Aulón
Pelana
Selasia Ó
N Brasias

M E S E N IA
pamentos de guerra, a justiça, o poder religioso, todo o Esparta

Pamiso

T
Ciparisia
Mte Itome Gerontras

A
Turia Terapne Cifanta

IG
poder político. Foi essa camada que deu origem à aristo-
Mesene
Eurotas
Amiclas

E
Faras

T
Zárax

cracia grega, cujo poder resultava da posse da riqueza fun-


Corone

O
Pilos
Cardamile Helos
Epidauro Limera
Acrias

damental: a terra. Motone Asine


Talamas

Étilo
Las
Gitio Asopo

Território
Territorio dada
Territórioda Lacônia
Lacônia
Lacônia
Beas

Uniam-se em irmandades, as frantrias, e estas em tribos. Cidade soberana CABO ACRITAS


Teutrone

Periecos CABO MALEA


Da reunião e da aglutinação de seus vilarejos (cinesismo), Frontera da
Fronteira daLacônia
Lacônia
Límites hipotéticos Ténaro

surgiu a organização política da antiga Grécia: a cida-


do territorio de Esparta
CABO TÉNARO

de-Estado (pólis). Esse estágio de civilização foi alcan- DISPONÍVEL EM: < HTTPS://ES.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/
çado pelo rompimento da unidade do genos, pois, até ESPARTA> ACESSADO EM: 22 DEZ. 2015.
então, eram apenas associações políticas temporárias.
2.3.1.1. Geografia e povoamento
As pólis, marcadas pela autonomia política, constituíram
a base da sociedade grega e seu elemento de união, uma Esparta foi uma das primeiras cidades-Estado gregas, fun-
Acrópole – templo construído sobre uma elevação; a dada pelos invasores dórios no século IX a.C. na fértil planí-
Ágora – praça central onde ocorriam debates e decisões cie da Lacônia, às margens do rio Eurotas, na península do
políticas; e o astil – mercado de trocas. A economia foi de Peloponeso. Seus antigos habitantes, os aqueus, aliaram-se
gentílica à urbana, ainda bem impregnada de elementos aos invasores, foram escravizados ou fugiram. Sem saída
da economia familiar, apresentando sinais da futura eco- para o mar e isolada pelas montanhas, Esparta era uma
nomia internacional grega. cidade-Estado avessa a influências externas.

2.3.1.2. Economia e sociedade


A sociedade espartana era formada por três camadas bá-
sicas: Os espartanos ou esparciatas, a camada domi-
nante, descendiam dos conquistadores dórios. Dedicavam-
-se às atividades militares e gozavam de direitos políticos.
Os periecos, agricultores livres, descendiam da Lacônia e
multimídia: livro foram passivos à dominação dória, cultivavam as terras pe-
riféricas menos férteis ou dedicavam-se ao artesanato e ao
comércio. Os hilotas descendiam dos povos submetidos
Os trabalhos e os Dias (séc. VIII a. C.)
aos dórios e formavam a camada mais baixa da sociedade
Poema épico de Hesíodo, um dos primeiros autores espartana. Presos à terra, não podiam ser vendidos. Eram
conhecidos da Grécia Antiga, também conhecido como servos pertencentes ao Estado e à disposição dos esparcia-
As obras e os dias. tas para o cultivo da terra.

2.3. Período Arcaico (séc. VIII-VI a.C.) 2.3.1.3. Política


A evolução e a consolidação das cidades-Estado marcaram Diarquia (governo de dois reis), uma assembleia e um
o Período Arcaico grego. Bem povoadas de forma bastante conselho exerciam o poder, guiados pela Grande Retra – a
particular, isoladas geograficamente, sua evolução deu-se constituição de Esparta, código de leis atribuído ao lendário

27
Licurgo, de caráter sagrado e imutável, assegurava privilégios 2.3.2. A cidade-Estado democrática: Atenas
aos cidadãos esparciatas.
A Gerúsia, instituição política mais importante, era o Con- 2.3.2.1. Geografia e povoamento
selho dos Anciãos, composto por 28 cidadãos maiores de
60 anos e cargo vitalício. Conduziam a política externa, ati-
vidade fundamental num estado militarista.
O poder executivo era exercido pela Diarquia em tempo de
guerra e oficiava as cerimônias religiosas que precediam
os combates.
De papel secundário na organização política de Esparta, a
Ápela, Assembleia dos Cidadãos, era formada por todos
os espartanos adultos.
As mudanças na estrutura econômica e social ditaram a
transformação no regime político. Economia e sociedade
imobilista explicam o governo espartano menos progres-
sista e mais conservador.
O poder supremo passou a ser monopolizado pela Gerúsia
e pelos dois reis, que foram aos poucos perdendo poder. A poucos quilômetros do mar e protegida de invasores
Os gerontes, vitalícios e escolhidos por aclamação na As- por colinas, Atenas foi fundada numa planície, a Ática,
sembleia, tinham papel decisivo em assuntos de política uma península do mar Egeu, notadamente dos dórios. Os
externa. Com votos manifestados por aplauso, a Ápela vi- atenienses se consideravam originários dos povos aqueus,
rou órgão apenas consultivo. eólios e jônios.
Os Éforos, cinco magistrados escolhidos pela Gerúsia, encar- Conta a lenda que a fundação de Atenas foi atribuída ao
regados das leis, educação das crianças, fiscalização da vida mitológico Teseu, que venceu o Minotauro na ilha de Cre-
pública e da conduta dos reis, exerciam o Poder Executivo. ta, libertando-a do jugo do monstro. A formação da cida-
Apenas uma minoria de cidadãos, os esparciatas, participava de-Estado realmente foi consequência da fusão de tribos
do governo oligárquico, os homoioi (iguais). Seu objetivo fun- que habitavam a península da Ática e da desagregação da
damental era conservar o status quo, a situação vigente de comunidade gentílica (genos).
privilégios da aristocracia e de dominação sobre os escravos.
Esparta regrediu culturalmente com as mudanças estru-
2.3.2.2. Economia e Sociedade
turais do século VII a.C. O governo passou a estimular o A economia de Atenas, no século VIII a.C., era ainda essen-
laconismo: falar tudo em poucas palavras, o que limita a cialmente rural. Mas atividades artesanais e comerciais já
capacidade de raciocínio e o espírito crítico dos falantes. ultrapassavam os limites da Ática. A proximidade de Ate-
A xenofobia e a xenelasia – aversão e expulsão de estran- nas do mar Egeu abriu-a a influências externas, facilitou
geiros – impediam o contato dos espartanos com ideias sua participação no movimento de colonização e transfor-
inovadoras, consideradas subversivas para o sistema. mou-a numa pólis de navegadores e comerciantes.
Rigidamente militarista, a educação dos esparciatas con- Os eupátridas, bem-nascidos, grandes proprietários de
tribuía significativamente para a manutenção dessa estru- terras férteis cultivadas por escravos, rendeiros e assalaria-
tura política e social fechada. Aos sete anos de idade, os dos, eram a camada social dominante.
meninos eram entregues aos cuidados do Estado para que
tivessem uma rígida educação militar. Dos dezoito aos ses- Donos de terras pouco férteis junto das montanhas, os ge-
senta anos serviam no exército. Só depois dos trinta anos, orgois (agricultores) vivam em situação difícil após o desen-
quando então recebiam seu lote de terra e passavam a ser volvimento comercial, pois as importações de cereais faziam
cidadãos, podiam casar. concorrência com seus produtos. Quando as colheitas eram
ruins, tomavam empréstimos aos eupátridas, dando a pró-
Guerrear, procriar para fortalecer o exército e viver para o pria terra como penhor. Com isso, muitos perdiam as pro-
Estado era dever do cidadão. priedades e tornavam-se rendeiros. Também tornavam-se
A fim de evitar mudanças radicais e de garantir o domínio escravos que podiam ser vendidos ao exterior ou iam para as
da minoria dória sobre a maioria escrava, Esparta perma- cidades engrossar a camada dos marginalizados, os thetas
neceu nesse sistema até o século IV a.C. (aqueles que recebiam menos de 200 medimnos por ano).

28
Na região litorânea concentravam-se os artesãos (demiur- monetário fixo e impulsionou a exploração das minas de
gos) e trabalhadores livres. Cerca de 100 mil estrangeiros prata de Laurion.
residentes em Atenas, os metecos, dedicavam-se ao arte-
Sociedade: decretou a seisachteia, que consistia na proi-
sanato e ao comércio. Eram privados de direitos políticos,
bição da escravidão por dívida; regulamentou a lei de he-
mas pagavam impostos e prestavam serviço militar.
rança, restringindo os direitos dos primogênitos; limitou
A maioria da população de Atenas era de escravos, que os excessos da legislação de Drácon; e, o mais importante,
desempenhavam todas as atividades manuais, dos serviços concedeu anistia geral.
domésticos ao trabalho na agricultura. Tratava-se de mão
Política: instituiu um sistema de participação baseado na
de obra básica e responsável pela economia ateniense.
riqueza dos cidadãos (regime censitário) e aboliu o mono-
pólio do poder pela aristocracia eupátrida.
2.3.2.3. Política: da monarquia à oligarquia
As reformas de Sólon lançaram os fundamentos do futuro
A primeira forma de governo de Atenas foi a monarquia ou
regime democrático de Atenas implantado por Clístenes,
realeza, exercida por um rei (basileus). No período Arcaico, a
em 507 a.C. O objetivo principal da nova legislação foi es-
nobreza eupátrida cresceu e limitou o poder do basileus. No
tabelecer uma justiça correta para todos, isto é, uma justiça
século VII a. C. veio a substituição da realeza pelo arcontado,
baseada na igualdade de todos perante a lei.
órgão de caráter executivo. Nove arcontes, eleitos todo ano
pelo conselho eupátrida (areópago), que detinha o poder Devido às rivalidades políticas entre os partidos, as refor-
legislativo, passou a exercer o poder. Assim o regime de go- mas de Sólon não foram inteiramente aplicadas, mas cria-
verno passaram de monárquico para oligárquico. ram condições para a liderança de homens que viriam a
tomar o poder à força, os tiranos.
2.3.2.4. Os legisladores
2.3.2.5. Os tiranos
A Primeira Diáspora colonizou e ampliou os horizontes
do mundo grego. Cada vez mais comerciantes e artesãos Caracterizadas por governadores enriquecidos pela expan-
ascendiam na escala social. A oposição à oligarquia dos são econômica, as tiranias em Atenas não tinham necessa-
eupátridas atacava em dois flancos: pelos comerciantes riamente um sentido de governo opressivo. Grandes pro-
enriquecidos ávidos pela participação no governo e pelos prietários não tinham participação política no governo da
pobres que reivindicavam a abolição da escravidão por dí- aristocracia eupátrida. Graças ao apoio das massas pobres
vida e a repartição das grandes propriedades. Tratava-se de descontentes, tornaram-se líderes políticos e derrubaram
uma Atenas em constante ebulição social nos séculos VII e aquela secular forma de governo.
VI a.C. Temerosa de perder seus privilégios, parte da aristo- Primeiro tirano ateniense, Psístrato fez uma reforma agrá-
cracia eupátrida sugeriu uma reforma social planejada por ria e enfraqueceu os eupátridas. Seus filhos Hiparco e Hípias
dois eminentes legisladores: Drácon e Sólon. o sucederam com ideias e resultados contrários, perdendo
o apoio popular.
Encarregado de preparar uma legislação escrita em substitui-
ção à oral, Drácon, em 621 a.C., aplicou a severidade de leis Hípias foi deposto em 510 a.C., e um tirano impopular que
que previa pena de morte para a maioria dos crimes. Assim contava com o apoio dos eupátridas, Iságoras, conquistou
surgiu a expressão "draconiano", que, 27 séculos depois, o poder. Em 507 a.C., a reação eupátrida chegou ao fim
continua sendo sinônimo de rigoroso, cruel. Tal legislação com uma nova insurreição do partido popular (demos) e a
teve a importância de passar a administração da justiça das ascensão de Clístenes ao governo de Atenas.
mãos dos eupátridas para o Estado, que se fortaleceu. No
entanto, no plano político, nada mudou. Apoiados agora na 2.3.2.6. A democracia ateniense
lei escrita, os eupátridas mantiveram o monopólio do poder. Clístenes, apesar de sua origem aristocrática, não restabe-
Em 594 a.C., como a legislação de Drácon não havia re- leceu a velha ordem da nobreza. Traçou sim um governo ba-
solvido a crise, foi indicado um novo legislador: Sólon, seado na isonomia, a igualdade dos cidadãos perante a lei.
comerciante de profissão e aristocrata de nascimento. Três A primeira medida foi a divisão da população da Ática em
aspectos fundamentais da vida ateniense foram abrangi- três zonas: o litoral (parália), o interior (mesógia) e a cidade
dos por suas reformas.
(ásty). Assim, evitou as alianças entre as tradicionais famílias
Economia: promoveu a vinda de artesãos estrangeiros eupátridas. Cada uma dessas zonas foi dividida em dez uni-
(metecos); estabeleceu um sistema de pesos e medidas; dades. Da reunião das unidades de cada zona – do litoral,
estimulou o desenvolvimento comercial e industrial; proi- da cidade e do interior – formou-se uma tribo, totalizando
biu a exportação de cereais; dotou Atenas de um padrão dez tribos. A menor unidade de divisão formava as demos,

29
base desse sistema de governo, razão pela qual a reforma Instituiu-se o ostracismo, a suspensão de direitos políti-
de Clístenes ficou conhecida pelo nome de democracia. O cos de cidadãos considerados nocivos ao Estado. Uma vez
governo passou a ser exercido por três poderes: legislativo por ano, oferecia-se aos cidadãos atenienses a oportuni-
(assembleias da Bulé e da Eclésia); judiciário (tribunais da dade de denunciar num caco de barro (ostrakon) o nome
Heliae); e executivo (estrátegos eleitos pela Eclésia). de quem ameaçasse a democracia. Com um número sufi-
ciente de votos, o acusado era ostracizado, isto é, forçado
a deixar Atenas por dez anos. A votação do ostracismo se
dava na Assembleia.
Clístenes trouxe um período de estabilidade a Atenas e per-
mitiu a formação de um sistema coeso, capaz de enfrentar
com sucesso um longo período de perturbações externas,
como as guerras pérsicas, que auxiliaram a consolidação
das instituições atenienses.

ÓSTRACO ATENIENSE COM O NOME DE MÉGACLES,


CONDENADO AO OSTRACISMO EM 486/7 A.C.

Estes eram os princípios básicos da reforma de Clístenes:


direitos políticos para todos os cidadãos; participação dire-
ta dos cidadãos no governo por comparecimento à assem-
bleia ou por sorteio, caso se tratasse da escolha do ocu- multimídia: música
pante de algum cargo. Porém os estrangeiros (metecos), FONTE: YOUTUBE
as mulheres e os escravos foram proibidos de participar do Mulheres de Atenas – Chico Buarque
regime democrático e despossuídos de cidadania.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Na Grécia antiga, cada cidade-Estado pos-


suía a sua representação política. Dentre
os diversos fatores que não permitiram a
reunião das cidades-Estado em apenas um
grande país, tem-se a geografia local.
As cidades-Estado se concentravam major-
itariamente na península balcânica, região
de montanhas escarpadas que dificultavam
o trânsito terrestre de pessoas e merca-
dorias. As pequenas cidades, portanto, co-
municavam-se sobremaneira por via naval,
dificultando um contato mais estreito e per-
manente entre elas.

30
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 9
Usando a escala local, regional ou mundial, propor a comparação do significado histórico-geográfico
das organizações políticas e socioeconômicas.

A habilidade 9 desenvolve a comparação entre diversas formações sociais e econômicas durante o tempo e
o espaço. Ao candidato cabe encontrar similaridades e diferenças entre os diversos modos de produção na
economia e seus reflexos nas organizações da vida política e social.
Tais questões têm caráter interdisciplinar, extraindo dos alunos conhecimentos além de um só tema. Muito
mais do que o conhecimento prévio do assunto, é importante observar textos ou imagens junto aos enun-
ciados para definir a alternativa correta.

MODELO 1
(Enem) No período 750-338 a.C., a Grécia antiga era composta por cidades-Estados, como por exemplo
Atenas, Esparta, Tebas, que eram independentes umas das outras, mas partilhavam algumas características
culturais, como a língua grega. No centro da Grécia, Delfos era um lugar de culto religioso frequentado por
habitantes de todas as cidades-Estado.
No período 1200-1600 d.C., na parte da Amazônia brasileira onde hoje está o Parque Nacional do Xingu,
há vestígios de quinze cidades que eram cercadas por muros de madeira e que tinham até dois mil e qui-
nhentos habitantes cada uma. Essas cidades eram ligadas por estradas a centros cerimoniais com grandes
praças. Em torno delas havia roças, pomares e tanques para a criação de tartarugas. Aparentemente,
epidemias dizimaram grande parte da população que lá vivia.
FOLHA DE S. PAULO, AGO. 2008 (ADAPTADO).

Apesar das diferenças históricas e geográficas existentes entre as duas civilizações elas são semelhantes pois:
a) as ruínas das cidades mencionadas atestam que grandes epidemias dizimaram suas populações;
b) as cidades do Xingu desenvolveram a democracia, tal como foi concebida em Tebas;
c) as duas civilizações tinham cidades autônomas e independentes entre si;
d) os povos do Xingu falavam uma mesma língua, tal como nas cidades-Estados da Grécia;
e) as cidades do Xingu dedicavam-se à arte e à filosofia tal como na Grécia.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A questão enfatiza a organização política de duas sociedades situadas em épocas e lugares distintos, mas
organizadas politicamente de maneira similar. Em ambas, há uma ampla descentralização política, sendo
cada cidade politicamente autônoma em relação às demais. Vê-se, também, pelo texto, que havia ampla
comunicação e relações econômicas entre as cidades do Parque Nacional do Xingu, algo muito similar às
antigas cidades-Estado gregas.

RESPOSTA Alternativa C

31
DIAGRAMA DE IDEIAS

GRÉCIA

GEOGRAFIA SOCIEDADE

• SUL DA PENÍNSULA BALCÂNICA; ILHAS DO


MAR EGEU E COSTA DA ÁSIA MENOR • DIFICULDADE DE UNIDADE POLÍTICA
• SOLO ÁRIDO E ROCHOSO • DIVISÃO POR CIDADES-ESTADO
• LITORAL COM EXCELENTES PORTOS

PERÍODO PRÉ-HOMÉRICO PERÍODO HOMÉRICO


(2000 - 1200 A.C.) (SEC. XII - SÉC. VIII A.C.)

POVOS INDO-EUROPEUS 1°MOMENTO: GENOS


• PODER PATRIARCAL (PATERDOMILIOS)
• PROPRIEDADE COLETIVA
INTEGRAÇÃO CONFLITO
2° MOMENTO: CRESCIMENTO
DEMOGRÁFICO + SECAS = DISPUTA POR TERRAS
PERÍODO ARCAICO (SÉC. VIII - VI A.C.) DESINTEGRAÇÃO SURGIMENTO DA
CONSOLIDAÇÃO DAS CIDADES-ESTADO DOS GENOS PROPRIEDADE PRIVADA

ATENAS: CIDADE-ESTADO DEMOCRÁTICA SEGUNDA DIÁSPORA PARA GRÉCIA


3° MOMENTO: SURGIMENTO CIDADES-ESTADO
GEOGRAFIA: PRÓXIMO AO MAR EGEU
ECONOMIA: ECONOMIA AGRÁRIA E COMERCIAL
SOCIEDADE: • MONARQUIA (SÉC. VIII A.C.)
• OLIGARQUIA (SÉC. VII A.C.)
• DEMOCRACIA (501 A.C.)
ESPARTA: CIDADE-ESTADO MILITARIZADA
GEOGRAFIA: ISOLAMENTO GEOGRÁFICO
ECONOMIA: ECONOMIA AGRÁRIA
SOCIEDADE: DIÁRQUICA

32
1.1. As guerras médicas (490-479 a.C.)
AULAS 7 E 8 O conflito entre o mundo grego em expansão e o mundo
bárbaro persa – assim chamado pelos gregos, uma vez que
era destituído da cultura helênica – ficou conhecido como
CIVILIZAÇÃO GREGA: as Guerras Médicas ou pérsicas. Após a conquista de
PERÍODOS CLÁSSICO Ciro sobre o Oriente Médio, o Império Persa continuou a
crescer com Cambises e foi aperfeiçoado por Dário I. Na
E HELENÍSTICO / Ásia ocorreu o primeiro choque com os gregos.

CIVILIZAÇÃO ROMANA: De início, os persas respeitaram a autonomia das cidades


gregas, passando a exigir impostos e auxiliando para que
MONARQUIA tiranos tomassem o poder. A guerra entre gregos e persas,
na região da Jônia, começou quando Mileto rebelou-se
com apoio de Atenas.
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6
Após ser arrasada, os habitantes de Mileto foram deporta-
1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14, dos para a Mesopotâmia. Em 492 a.C., Dário exigiu rendição
HABILIDADES: 15, 16, 18, 19, 22, 23, grega incondicional. Atenas e Esparta recusaram-se. Os ate-
27 e 29 nienses venceram o primeiro choque e correram para salvar
Esparta numa segunda vitória. Os espartanos chegaram
depois da batalha: retardaram sua entrada na guerra por
motivos religiosos. Salvadora da Grécia da dominação persa,
1. Introdução cresceu o prestígio de Atenas entre os gregos.
No capítulo anterior abordamos as bases da civilização Xerxes, líder dos persas e sucessor de Dario, em 486 a.C.,
grega, alicerçadas nos períodos Pré-homérico, Homérico fez um acordo com Cartago, no norte africano, pelo qual os
e Arcaico. Vale ressaltar que a formação de um conjunto cartagineses atacariam os gregos do sul da Itália.
de cidades independentes levou o território grego a uma
grande fragmentação política. Porém, mesmo que cada
cidade dispusesse de estruturas políticas e econômicas
bastante variadas, havia uma noção solidificada entre os
habitantes da Hélade1 de que, mesmo com essa miríade
de cidades, havia uma orientação cultural que acabava
por aproximá-las, ou seja, uma base cultural comum re-
lacionada, por exemplo, aos aspectos linguísticos e reli-
REPRESENTAÇÃO DO MILITARISMO ESPARTANO
giosos predominantes na região. Abordaremos agora os
dois últimos períodos temporais da história grega, os perí- Por terra e mar os persas atacaram. A infantaria cruzou os
odos Clássico e Helenístico. Iniciemos, portanto, observan- dois quilômetros do Helesponto, hoje Estreito de Dardanelos,
do como essa aproximação cultural das cidades acabou entre a Ásia e a Europa, sobre uma ponte de barcos. Cami-
propiciando uma união pragmática contra um inimigo nhando perto do litoral, essas forças chegaram pelo norte,
comum: os persas. com suprimentos fornecidos pela esquadra, que navegava
junto à costa. No Desfiladeiro das Termópilas, comandados
pelo rei Leônidas, 6 mil espartanos tentaram barrar os persas.
1. Período Clássico Porém o inimigo descobriu outra passagem no alto das mon-
tanhas. A fim de permitir a retirada de suas tropas, Leônidas
(séc. V e IV a.C.) resistiu com 300 homens no desfiladeiro e foram massacra-
Período de hegemonias e imperialismo no mundo grego. dos. Atenas estava vazia, uma vez que havia sido retirada
Atenas foi a primeira potência dominante, seguida por Es- pela esquadra grega. Os persas incendiaram a cidade.
parta e Tebas. As guerras médicas ou pérsicas projetaram a No estreito do Canal de Salamina, os pesados barcos persas
hegemonia ateniense até a Guerra do Peloponeso. Filipe II furavam os cascos nas pedras e os remos se entrelaçavam em
anexou o mundo grego ao Reino da Macedônia e, na fase grande confusão. Sem apoio da esquadra, Xerxes voltou à Ásia.
seguinte, ao Império Helênico de Alexandre Magno.
Afastado o perigo persa, os espartanos voltaram ao isola-
1. Nome dado pelos povos gregos para a região da Tessália, onde boa
parte das pólis (cidades) estavam localizadas. mento. Mas outros Estados gregos trataram de se precaver,

33
formando, sob a liderança de Atenas, a Confederação de Esparta e as cidades-Estado do Peloponeso decidiram-se
Delos (nome da sede da liga). A ofensiva contra os persas pela guerra porque sentiam sua independência ameaçada
na Ásia começou com expedições que percorriam o Egeu pelo controle de Atenas sobre a Confederação de Delos.
arrasando as posições inimigas e libertando as colônias Para Atenas, estava em jogo sua hegemonia na Confedera-
gregas. Sob o comando de Címon, filho de Milcíades, os ção de Delos, que lhe concedia poder político e contribuía
gregos derrotaram os persas definitivamente na foz do rio para a sua prosperidade econômica. Nem Atenas nem Es-
Eurimedonte, em 468 a.C. No Tratado de Susa ou Paz de parta previram as consequências catastróficas que a guerra
Kallias, em 448 a.C., os persas reconheceram a hegemonia traria para a civilização grega.
dos gregos no Egeu e prometeram não atacar mais as co-
Atenas apoiou a colônia de Córcira, rebelada contra Co-
lônias asiáticas e nem a Grécia.
rinto, cidade aliada de Esparta na Liga do Peloponeso. A
primeira parte da guerra durou dez anos. Os espartanos
1.2. A hegemonia de Atenas (443-429 a.C.) invadiram a Península da Ática, enquanto os defensores de
Esparta, Corinto, Megara e Tebas tornam-se rivais de Ate- Atenas, comandados por Péricles, abrigavam-se ao longo
nas. Ao mesmo tempo os atenienses não chegavam a um dos muros e a frota atacava na costa do Peloponeso.
acordo entre si. A insistência nos persas como perigo e a Orientados agora por Alcebíades, os espartanos mantive-
paz com Esparta culminou no exilio de Címon. ram seu exército na Ática e ampliaram sua frota a fim de
Atenas alcançou seu apogeu sob o governo de Péricles. O libertar as cidades dominadas por Atenas. Em 404 a.C., em
controle do mar Egeu, o comando da Confederação de Delos Egos-Pótamos, Lisandro derrotou definitivamente os ate-
e a prosperidade econômica contribuíram para o fortaleci- nienses. Com o fim de sua hegemonia, Atenas passou à
mento do partido democrático formado pelos ricos comer- condição de satélite de Esparta.
ciantes e armadores. Sob a direção desse partido, Atenas
desenvolveu, ao mesmo tempo, uma política democrática 1.4. A hegemonia de Esparta
– que ampliava a participação dos cidadãos no governo da
cidade – e imperialista. Foi estabelecida uma remuneração Esparta, assim como Atenas, adotou uma política imperia-
(mistoforia) pela participação nas assembleias, para que os lista, o que a obrigou a sair do imobilismo. O desenvol-
cidadãos pobres participassem das instituições políticas. vimento econômico deu aos seus cidadãos o gosto pelo
luxo. Os escravos aumentaram perigosamente e os libertos
Externamente, a política era imperialista porque procura- que haviam participado da Guerra do Peloponeso exigiam
va estender o domínio de Atenas sobre as demais cida- melhores condições sociais.
des-Estado gregas.
Esparta foi mais opressora que Atenas em seu domínio
No “Século de Péricles”, como passou a ser conhecido o sobre os Estados gregos. Comandados por Agesilau, os es-
século V a.C., Atenas foi embelezada e o desemprego foi com-
partanos iniciaram nova ofensiva na Ásia contra os persas.
batido por meio da realização de grandes obras públicas, como
Mas sem poder, ao mesmo tempo, combater no exterior e
a construção do Partenon. A “escola da Hélade” tornou-se o
dominar seus inimigos internos, pelo Tratado de Antálcidas
centro artístico, literário, científico e filosófico do mundo grego.
fizeram a paz com os persas em 387 a.C.
Foi a época de ouro da cultura e da civilização grega.
Esse tratado garantia aos persas o domínio da costa da
Ásia de tal maneira que os antigos inimigos passaram a
influenciar a política interna da Grécia, uma vez que as ci-
dades gregas estavam proibidas de coligar-se.

1.5. A hegemonia de Tebas


Atenas organizou uma segunda liga marítima e recons-
truiu seus muros. Aliando-se a Tebas, atacou a guarnição
PARTENON
local dos espartanos. Em 371 a.C., na batalha de Leuctras,
os escravos revoltaram-se em Esparta e os espartanos de-
1.3. A Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) sistiram de sua política imperialista. Tebas venceu também
A Grécia foi assolada por uma terrível guerra envolvendo graças à falange, corpo de infantaria disposto em formação
todas as cidades-Estado gregas. A real disputa era entre a cerrada organizado por Pelópidas e Epaminondas.
Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, e a Confedera- Tebas ajudou os messênios a se libertarem do domínio de
ção de Delos, por Atenas. Esparta e submeteu a Tessália, a Trácia e a Macedônia. Ao

34
organizar uma marinha de guerra, atraiu a oposição de de mãe e de Hércules por parte de pai: um deus em poten-
Atenas. Em 362 a.C., atenienses e espartanos, agora re- cial. Teve poderosa influência de Aristóteles, escolhido por
conciliados, derrotaram os tebanos na Batalha de Manti- Filipe para seu preceptor. O filósofo incutiu-lhe o gosto pela
neia, em que morreu Epaminondas. cultura grega, pela Ilíada e a Odisseia, por Ésquilo e Eurípe-
des e aversão pelos persas – Aristóteles os vira torturar um
Com o mundo grego enfraquecido pelas guerras, estavam
amigo até a morte na Ásia Menor.
criadas as condições para a intervenção de Filipe da Mace-
dônia. A supremacia da Macedônia sobre a Grécia se con- Alexandre assumiu o trono com uma Macedônia organizada
solidou em 338 a.C., quando as tropas macedônicas ven- e bem armada pelo exército, usou de violência e arrasou as
ceram as cidades-Estado gregas na batalha de Queroneia. cidades gregas, exceto Atenas. Resolvendo dois problemas:
as revoltas gregas após a morte de Filipe e os numerosos
herdeiros deixados pelo pai.
2. Período Helenístico
(séc. IV-I a.C.)
2.1. A organização da Macedônia por Filipe II
Em razão de uma promessa macedônia de ajuda militar
aos tebanos, Filipe vivia em Tebas quando aquela cidade
grega viveu seu curto período de hegemonia. Na Grécia,
Filipe observou suas cidades-Estado enfraquecidas pelas ALEXANDRE (À ESQUERDA) OUVE OS CONSELHOS E
ORIENTAÇÃO DE SEU TUTOR, ARISTÓTELES.
guerras fratricidas e familiarizou-se com o uso das longas
lanças de madeira introduzidas por Epaminondas e a orga- Como líder supremo do helenismo, deveria libertar as
nização do exército tebano. cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os per-
sas. Alexandre rumou para a Ásia com 40 mil homens, 12
mil dos quais na infantaria, o forte de seu exército.
Recusou o acordo de paz oferecido por Dario III, derrotou-o
em pleno centro do Império Persa em 331 a.C. Já impe-
rador persa, avançou para a Índia, percorreu a região do
rio Indo e só não chegou ao Ganges porque os soldados
recusaram-se a ir com ele.
Aos 33 anos, morreu na Babilônia em 323 a.C., deixando
um dos mais vastos impérios já criados, ao qual imprimiu
TETRADEACMA DE PRATA DE FELIPE II DA MACEDÔNIA um caráter universal, de acordo com a concepção divina que
tinha de si, contra o que egípcios e persas não se opuseram.
Filipe procurava instigar nos gregos o ódio aos persas, con-
tando com a colaboração de Isócrates, que pregava uma Promoveu a integração cultural do mundo persa e egípcio.
cruzada contra os antigos inimigos. Como resultado, criou-se a cultura helenística, fruto da
fusão da cultura grega (helênica) com a cultura oriental
As forças macedônias derrotaram os atenienses em 338 a.C.,
(egípcia e persa).
na Batalha de Queroneia, os tebanos e, em seguida, Filipe
apoderou-se da Grécia. Conhecedor do individualismo das O império desmoronou com a morte de Alexandre e foi dividi-
cidades-Estado e de muita astúcia política, respeitou-lhes a do (reinos helenísticos) entre seus principais generais. Os rein-
autonomia. Assim, foi proclamado hegemon (líder) com o di- os helenísticos foram conquistados pelos romanos em 31 a.C.
reito de chefiar uma liga contra os persas, a Liga de Corinto.
Sob comando de Parmênion, uma força da Liga já havia
estabelecido uma cabeça de ponte na Ásia, quando um
aristocrata assassinou Filipe II em 336 a.C.

2.2. Alexandre Magno


Filho de Filipe II e dono de um caráter complexo, Alexandre DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ROME:_
Magno considerava-se descendente de Aquiles por parte TOTAL_WAR:_ALEXANDER> ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.

35
multimídia: vídeo multimídia: livro
FONTE: YOUTUBE
Se liga nessa História - Grecia Antiga (FORMAÇÃO) #1 Odisseia (séc. VIII a.C.)
O regresso do herói Odisseu (ou Ulisses, para os roma-
nos) após triunfar na Guerra de Troia.
3. Cultura e religião
Homenageavam os deuses dos santuários com grandes jo-
Sem dogmas, os fiéis não se obrigavam a crer em verda- gos, os mais famosos eram os jogos olímpicos, em Olím-
des definitivas. Eram politeísta: havia grandes deuses, que pia, para homenagear a Zeus, realizados de quatro em qua-
habitavam o Olimpo, e os heróis, homens que praticaram tro anos a partir de 776 a.C.
ações extraordinárias e se igualaram aos deuses. No culto
aos deuses, os gregos pediam proteção para a família, a A vida após a morte era difundida pelo Orfismo, que vem
tribo ou a cidade, não a salvação da alma. Imaginavam a de Orfeu, poeta que atraía até animais selvagens, segundo
vida depois da morte com total liberdade. a lenda. Ele ensinava que a alma, liberta do corpo depois
da morte, alcançaria a suprema felicidade depois de purifi-
Mitologia é o conjunto dos mitos, as lendas que contam car-se mediante reencarnações sucessivas.
as aventuras de deuses e heróis.
Atenas abrigou alguns dos maiores pensadores e artistas
Como a religião era adepta do antropomorfismo, os deuses ti- que a humanidade conheceu.
nham forma, virtudes e defeitos humanos. Poseidon (deus dos
mares) e Hades (deus dos infernos) não habitavam o Olimpo. A filosofia grega divide-se em antes e depois de Sócrates.
Foram pré-socráticos: Tales de Mileto (fim do século VII-in-
Seus mais conhecidos heróis foram Perseu – matou a Górgo- ício do século VI a.C.); Pitágoras (582-497 a.C.); Demócri-
ne, monstro de dentes afiados e cabeça cheia de serpentes; to (460-370 a.C.); Heráclito (535-475 a.C.); e Parmênides
Jasão – com seus companheiros argonautas conquistou o (540-? a.C.). No tempo de Sócrates, predominava a escola
Tosão de Ouro, pele de carneiro voadora guardada por um dos sofistas, que se serviam da reflexão para atingir fins
dragão; Teseu – matou o Minotauro, monstro que habitava imediatos, ainda que por falsos argumentos. O maior dos
o labirinto de Creta; Édipo – matou a Esfinge devoradora de sofistas foi Protágoras.
viajantes que não respondessem a suas enigmáticas pergun-
tas; e o maior de todos os heróis, que realizou doze trabalhos
para escapar à fúria de Hera (mulher de Zeus), Hércules.

Coríntio

Jônico

Dórico

Sócrates (470-399 a.C.) – fundou a filosofia humanista.


Platão (427-347 a.C.) – principal discípulo de Sócrates,
ESTÁTUA DE POSEIDON - O DEUS DOS MARES - EM HUA HIN, TAILÂNDIA. fundou a Academia de Atenas.

36
Aristóteles (384-322 a.C) – considerado por muitos o
maior filósofo de todos os tempos, compreendeu todos os Abordamos, até aqui, os aspectos dos processos his-
conhecimentos de seu tempo: Lógica, Física, Metafísica, tóricos da civilização grega. Iniciaremos, a partir de
Moral, Política, Retórica e Poética. agora, o estudo de outra importante civilização da
antiguidade clássica: a civilização romana.

4. Civilização romana
4.1. Geografia e povoamento
multimídia: música
Povos pré-romanos na península
FONTE: YOUTUBE Itálica (séc. X-VII a.C.)
Da Mitologia Grega à Passarela do Samba –
Os deuses Gregos no Carnaval Brasileiro

Marcada por harmonia, simplicidade, equilíbrio e uma de-


coração perfeitamente adaptada ao conjunto, a arte grega
era religiosa e se manifestava em templos e esculturas re-
presentando deuses e passagens mitológicas.
A arquitetura grega desenvolveu três estilos: o dórico, mais
antigo, era simples e despojado; o jônico, leve e flexível; o
coríntio, mais recente, era complexo e rebuscado. Mar Adriático
O esplendor da arte grega ainda pode ser admirado nas ru-
ínas do Partenon e na Acrópole de Atenas, um de seus mais Vosco
belos monumentos.

Mar Tirreno

Mar Jônico

DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/


HISTÓRIA_DA_ITÁLIA>.ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.
multimídia: vídeo
A península Itálica é estreita e alongada, em forma de bota,
FONTE: YOUTUBE
projetada para o Mediterrâneo. Fica próxima de três gran-
Satyricon (1969) des ilhas: Sicília, Sardenha e Córsega. É cortada no sentido
Dirigido por Federico Fellini em1969, baseado no livro norte-sul pela cadeia montanhosa dos Apeninos e regada
homônimo escrito pelo romano Petrônio no século I. por três rios: o Pó, o Arno e o Tibre. Ao norte, limita-se com
Narra as aventuras e desventuras de Encolpio e Ascilto, a cordilheira dos Alpes; a oeste, com o mar Tirreno; a leste,
pelo afeto de Gitão (Gitone), que após ser vendido a um com o mar Adriático; e ao sul, com o mar Jônico. Compa-
ator de teatro, é resgatado por Encolpio, mas escolhe rado com a costa da Grécia, o litoral italiano é menos favo-
ficar com Ascilto. rável à navegação. Porém, sua agricultura e comunicações
terrestres eram favorecidas por um solo mais fértil e relevo
menos acidentado.
A Matemática de Euclides e os teoremas de Tales e Arqui-
medes foram incorporados ao patrimônio cultural da hu- A princípio, a Itália foi habitada por lígures e iberos; pos-
teriormente, foi invadida pelos indo-europeus e outros di-
manidade. Hipócrates, o mais ilustre médico da Antiguida-
ferentes povos. O norte do rio Pó foi habitado por tribos
de, impulsionou o conhecimento do corpo humano.
gaulesas; a região entre os rios Arno e Tibre, a Toscana,
O regime democrático de Atenas serviu de exemplo para pelos etruscos, donos de uma complexa civilização. Ao sul e
todos os povos. a leste da região etrusca instalaram-se tribos dos italiotas.

37
Os samnitas ocuparam o sul da península Itálica; os latinos,
o Lácio, no curso inferior do rio Tibre, em região de fácil
acesso para o mar, em constante conflito com os volscos,
mais a sudeste. Várias colônias gregas – Síbaris, Crotona,
Tarento, Nápoles, Catânia, Agrigento e Siracusa – forma-
vam a chamada Magna Grécia. Essas colônias mantinham
intensa relação com os etruscos e ocupavam o extremo sul
da península e a ilha da Sicília.

4.2. Roma e a Eneida, origens


Acredita-se que a cidade tenha sido fundada por latinos A LOBA CAPITOLINA REPRESENTA A LOBA DAS NARRATIVAS ROMANAS
SOBRE A FUNDAÇÃO DE ROMA.
em fuga das invasões etruscas. Roma era um pequeno po-
voado na península Itálica influenciada por diversos povos.
4.3. Sociedade e economia
O poeta Virgílio, em sua obra Eneida, nos leva a crer na mí-
tica fundação de Roma por Rômulo e Remo, descendentes Em razão de sua terra de melhor riqueza e graças ao caráter
do guerreiro troiano Enéas. aristocrático de sua sociedade, Roma baseou sua economia
em atividades agropastoris. Grandes proprietários rurais, pa-
trícios, formavam a camada social dominante. Os não pro-
prietários, clientes, prestavam serviços e beneficiavam-se da
proteção de famílias patrícias. Estrangeiros, artesãos, pastores,
comerciantes e donos de pequenos lotes pouco férteis eram
os plebeus e não pertenciam a um clã.
Os escravos não possuíam grande peso na sociedade e
multimídia: livro na economia romanas, pois ainda eram pouco numerosos.
Isso mudaria em consequência das guerras de expansão,
quando as conquistas externas transformaram a economia
Eneida (séc. I a.C.) - Virgílio romana num sistema de produção escravista.
Eneias, um troiano que é salvo dos gregos em Troia, via-
ja errante pelo Mediterrâneo até chegar à península Itá-
lica. Escrito por Virgílio, conta o destino deste que seria
4.3. Monarquia (séc. VIII-VI a.C.)
o ancestral de todos os romanos. Os etruscos, povo mais importantes da península Itáli-
ca, eram distribuídos em doze cidades unidas em uma
confederação. Seus domínios estendiam-se do Lácio e da
Eneias, filho da deusa Vênus e herói da guerra de Troia, es- Campânia em direção ao norte. Aliados dos fenícios de
capou vivo da luta com os gregos, empreendeu uma longa Cartago e voltados para Roma à época da monarquia,
viagem e acabou se fixando na foz do rio Tibre com seus desenvolveram atividade comercial intensa em concor-
companheiros. Na região, fundou duas cidades: Alba Lon- rência com os gregos.
ga e Lavínio, e deu início a uma longa dinastia. A princesa
O sistema político era um governo monárquico, onde o rei
Rea Silvia, descendente de Eneias, teve dois filhos gêmeos,
(rex) tinha função de chefe supremo, sumo sacerdote e juiz
Rômulo e Remo, com o deus Marte, destinados ao trono
supremo, poderes esses de origem divina. A realeza apoia-
de Alba Longa. Um usurpador mandou atirar os gêmeos va-se no Imperium (comando supremo) e no Auspicium (co-
no rio Tibre. Mas estes foram salvos e amamentados por nhecimento da vontade divina). Chefes das principais famí-
uma loba, e criados por um casal de pastores. Cresceram e lias patrícias assessoravam o rei e compunham O Conselho
tomaram conhecimento de sua origem. Retornaram a Alba de Anciãos e o Senado.
Longa, tomaram o poder e receberam a incumbência divi-
na de fundar uma nova cidade. Roma teve sete reis, dos quais os quatro primeiros foram
latinos e os três últimos, etruscos, isso segundo a tradição
A fundação da cidade deu-se sob violenta luta entre os ir- lendária. Durante o período de reinado etrusco, houve uma
mãos. Remo, invejoso da preferência dos deuses por Rômulo, série de tentativas dos reis de limitarem o poder patrício ao
ultrapassou a primeira marca de terra que representava os se aliarem a setores populares. Tarquínio, o Antigo (616-578
futuros muros da cidade. Furioso, Rômulo matou o irmão. a.C.), iniciou a construção de grandes obras públicas. Sérvio

38
Túlio (578-534 a.C.) edificou a primeira muralha de Roma e
estabeleceu um regime censitário, dividindo a população em
cinco categorias sociais de acordo com sua renda.
Por fim, o terceiro rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, edificou o
Templo de Júpiter e construiu a Cloaca Máxima (sistema de
esgoto de Roma). Governou com o apoio dos plebeus e lati-
nos inimigos dos patrícios. Dessa forma, manteve os patrícios multimídia: vídeo
praticamente fora do poder político decisório das cidades.
FONTE: YOUTUBE
Em razão disso, os patrícios conspiraram e o derrubaram por
meio de um golpe de Estado no ano 509 a.C. Tarquínio foi Roma - Parte 1 (Monarquia e
deposto, como conta a lenda, porque atentou contra a moral República) - Mundo História
de uma rica patrícia de nome Lucrécia.

39
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 23
Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.

A habilidade 23 exige a capacidade de compreensão de valores éticos e culturais de múltiplas sociedades em


variados contextos e conjunturas históricas. Assim, o aluno será capaz de criar relações analíticas entre culturas e
organizações políticas adotadas por cada sociedade.
Nos exercícios, o aluno precisa ficar atento aos textos que apresentam valores morais, normalmente expostos
em documentos primários, e buscar concatenar as informações extraídas com o contexto político experimen-
tado pelo locutor.

MODELO 1
(Enem) TEXTO l
Olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios in-
teresses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós mesmos na
crença de que não é o debate que é empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate
antes de chegar a hora da ação.
TUCÍDIDES. HISTÓRIA DA GUERRA DO PELOPONESO. BRASÍLIA: UNB, 1987 (ADAPTADO).

TEXTO II
Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nada menos que pelo direito de administrar justiça e
exercer funções públicas; algumas destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo
que não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo
depois de certos intervalos de tempo prefixados.
ARISTÓTELES. POLÍTICA. BRASÍLIA: UNB, 1985.

Comparando os textos l e II, tanto para Tucídides (no século V a.C.) quanto para Aristóteles (no século IV a.C.),
a cidadania era definida pelo
a) prestígio social;
b) acúmulo de riqueza;
c) participação política;
d) local de nascimento;
e) grupo de parentesco.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A questão apresenta dois textos. No primeiro, de Tucídides, fica evidente que o autor menospreza “o homem
alheio às atividades públicas”, além de uma notória valorização do debate para a tomada de ação. Já no segun-
do texto, de autoria de Aristóteles, é considerado “cidadão integral” aquele que tem o “direito de administrar
justiça e exercer funções públicas”. Ou seja, em ambos os textos, fica evidente que a participação nos debates
públicos é um valor que categoriza quem seria considerado, portanto, cidadão. Ou seja, a participação política
era valorizada, estimulada e considerada fator moral fundamental e bastante apreciado para os autores.

RESPOSTA Alternativa C

40
DIAGRAMA DE IDEIAS

GRÉCIA

PERÍODO HELENÍSTICO
PERÍODO CLÁSSICO (SÉC. V A IV A.C.)
(SÉC. IV - I A.C.)

IMPERIALISMO E DISPUTA 1°MOMENTO:


FILIPE II - IMPÉRIO MACEDÔNICO
GUERRAS MÉDICAS (490 - 479 A.C.) 2° MOMENTO:
ALEXANDRE MAGNO - IMPÉRIO HELENÍSTICO
ATENAS IMPÉRIO PERSA

GUERRAS DO PELOPONESO (431 - 404 A.C.)

CONFEDERAÇÃO LIGA DO
DE DELOS PELOPONESO
(ATENAS) (ESPARTA)

COLAPSO DO MUNDO GREGO

ROMA: MONARQUIA

GEOGRAFIA ECONOMIA SOCIEDADE

PATRÍCIOS (PROPRIETÁRIOS)
CLIENTES (NÃO PROPRIETÁRIOS
PEQUENO POVOADO BASEADA EM ATIVIDADES
LIGADOS AOS PATRIARCAS)
DA PENÍNSULA ITÁLICA AGROPECUÁRIAS
PLEBEUS (CLASSE DIVERSA)
ESCRAVOS

MONARQUIA ROMANA
(SÉC. VIII - VI A.C. )

REI

CONSELHO SENADO
DE ANCIÕES (PATRÍCIOS)
(PATRÍCIOS)
QUEDA DA MONARQUIA - GOLPE POLÍTICO

41
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Utiliza uma abordagem que foca nas questões Aborda aspectos da exploração da América
raciais presentes na composição do povo portuguesa e assuntos correlacionados a isso,
brasileiro, destacando a exploração de negros e como a construção de uma sociedade ruralista,
índios. Também aborda a exploração econômica patriarcal e escravista. Utiliza inúmeras fontes
do Brasil na época da colônia. Utiliza textos, para elaborar suas questões, entre as quais tex-
mapas, gráficos e imagens na ela- tos introdutórios, mapas, charges,
boração de questões. fotografias, tabelas e
gráficos.

Aborda temas referentes à exploração econô- No sistema misto de ingresso é necessário a Aborda aspectos sociais, como o choque cultural
mica da colônia dentro do sistema mercantilista realização da prova do Enem e do vestibular entre europeus e nativos, além de aspectos da
e a formação da sociedade brasileira. Utiliza da Unifesp. São determinados dois dias para a escravidão negra. Também faz uma abordagem
textos breves ou pequenas introduções, além prova e nela, não são abordadas diretamente sobre a produção econômica de diferentes
de algumas imagens na elaboração de suas questões de História, mas há um grau de inter- artigos presente na América portuguesa e os
questões, e coloca alternativas disciplinaridade na resolução dos métodos utilizados na produção/
relativamente longas. exercícios e escrita da extração de riquezas.
redação.

Organizado pela Vunesp, esta prova possui cinco Nesta prova, a abordagem de História segue a Esta prova adota um perfil específico, que ora Desde 2017, esta prova deixou de ser elaborada
questões de múltipla escolha de História e que, perspectiva adotada pela Vunesp, que combina cobra do candidato um teor de interpretação pela Fuvest e passou a ser organizada pela
nos últimos anos, trouxeram questões sobre análise de documentos com alto teor de inter- textual nas questões de História, dado que os Vunesp – são cinco questões de múltipla escolha
colonização portuguesa que privilegiam análise pretação. Nas seis questões de História, há uma registros textuais costumam ser longos, ora realiza de História. A abordagem conta com menor pre-
de fontes. tendência em abranger temas relacionados à uma combinação entre a leitura e conhecimen- sença de questões sobre América portuguesa.
História do Brasil e colonização tos detalhados sobre determinados
costuma ser um tema conteúdos.
recorrente.
UFMG

História está relacionada com a capacidade do História ocorre em nove questões de múltipla Elaborada pela Vunesp, esta prova possui carac-
candidato de realizar leituras atentas e, simultane- escolha. Há uma distribuição balanceada de terísticas semelhantes às demais provas citadas
amente, analisar o contexto de um determinado questões que transitam pelas linhas temporais de e organizadas pela mesma fundação. Em suas
período. Há um tema que percorre toda a prova e Brasil e Geral, de modo que formação de Portugal, 55 questões de múltipla escolha, não são con-
nele, pode-se englobar formação de Portugal, da da América portuguesa pré-colonial e colonial templados diretamente temas de História, mas
América portuguesa pré-colonial e e de colonização são alguns dos que podem aparecer abordados em
colonial e de coloniza- temas abordados. outras disciplinas.
ção.

Realiza análises de estruturas históricas Nesta prova, não há uma divisão clara entre Para o curso de Medicina, além do Enem, conta
brasileiras, que propõem aos candidatos uma História e Geografia, que são abordadas como com uma avaliação elaborada pela instituição
reflexão sobre temas contemporâneos, como Estudos Sociais. Portanto, não existem definições “TalentVest”. Em suas dez questões de múltipla
preconceito e desigualdade social. Utiliza textos, específicas de tema, mas sim um grau elevado escolha destinadas à História, há uma tendência
mapas, gráficos e imagens, de forma mesclada de interdisciplinaridade. em abordar temas contemporâneos.
na elaboração de suas questões,
e coloca alternativas
longas.
HISTÓRIA BRASIL
Ele lutou contra a submissão do Condado Portucalense
AULAS 1 E 2 frente ao seu primo Afonso VII, rei de Leão. No ano de
1139, após uma enorme vitória contra um grande exército
mouro, ele proclamou a independência de Portugal e, em
1140, foi nomeado rei dos portugueses, tornando-se, as-
sim, o primeiro rei da dinastia de Borgonha.

FORMAÇÃO DE PORTUGAL
E NAVEGAÇÕES
ULTRAMARINAS

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3 e 4

HABILIDADES: 1, 7, 9, 15, 16 e 18
AFONSO HENRIQUES, DE PORTUGAL

A relação entre cristãos e muçulmanos em Portugal

1. Portugal e sua formação


1.1. Guerra de Reconquista

1.1.1. O feudalismo de Portugal


Portugal teve um feudalismo de características totalmente
distintas do restante da Europa Ocidental. Os portugueses
estavam preocupados com a luta ao sul, contra os muçul-
manos, e a leste, contra as investidas dos espanhóis. Dessa
forma, a população se uniu em torno da figura do rei, contra
os estrangeiros, fortalecendo a centralização da autoridade
DISPONÍVEL EM: <HTTPS://EN.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/RECONQUISTA>.
ACESSO EM: 22 DEZ. 2015. monárquica. A descentralização política, característica do feu-
dalismo clássico europeu, não aconteceu em terras lusitanas.
Inicialmente, a Península Ibérica foi habitada por celtas e ibe-
ros. Mais tarde, chegaram à região fenícios, gregos e roma- O fato de o poder sobre os feudos não possuir caráter here-
nos. No século V, a Península foi invadida pelos visigodos. Em ditário foi outra característica peculiar do período, uma vez
711, os muçulmanos conquistaram o território, com exceção que, após a morte dos nobres, as terras distribuídas voltavam
das Astúrias, região localizada no extremo norte. Da guerra ao domínio do rei. Além disso, em várias ocasiões, o rei entre-
dos cristãos contra os mouros (muçulmanos do norte da Áfri- gava a terra sob a condição de poder reavê-la quando assim
ca) nasceram os reinos de Aragão, Leão, Castela e Navarra. decidisse. Dessa forma, a autonomia total dos senhores so-
Com a união desses reinos cristãos, iniciou-se a Guerra bre o feudo era rara.
de Reconquista, com o objetivo de expulsar os mouros da Os municípios ou burgos recebiam do rei as forais, cartas
Península Ibérica. de autonomia que dispensavam estes locais do domínio e
Henrique de Borgonha (nobre francês), em virtude da sua atu- do controle dos senhores feudais. Ou seja, desde o século
ação na Guerra de Reconquista, recebeu do rei Afonso VI, de XII, já existiam muitos trabalhadores assalariados no cam-
Leão, a mão de sua filha Teresa (1093) e, posteriormente, o po. Essa mão de obra agrícola pouco numerosa, no entan-
controle sobre o Condado Portucalense (1096). Afonso Henri- to, condicionou os monarcas a impulsionarem a libertação
ques foi fruto desse casamento. dos servos das terras cultiváveis: as glebas.

44
Não obstante, algumas características feudais ainda per- rítimo, que partia do Mediterrâneo e chegava ao Atlântico,
maneciam, como os tributos sobre a terra e o desfrute da com escala em Portugal, e prosseguia em direção ao mar
imunidade e de outros privilégios pela nobreza. do Norte. Expandindo o comércio, desenvolvendo as cidades
litorâneas e enriquecendo a burguesia mercantil, essa rota
1.2. A Dinastia de Borgonha (1139-1383) impulsionou a economia portuguesa.

Foi a primeira dinastia, fundada por Afonso Henriques, A burguesia mercantil passava aos poucos a formar uma
que configurou plenamente as características do feuda- classe rica e poderosa, que procurava desembaraçar-se dos
lismo português. entraves feudais. Nas cidades litorâneas, almejava-se incre-
mentar as atividades de navegação e expandir o comércio
A economia portuguesa era essencialmente agrária (como ultramarino, uma vez que os mercados europeus já não
o cultivo de azeite, vinho e cereais). No interior, agricultura eram suficientes e muito menos seguros.
e pastoreio; na região litorânea, começavam a se desen-
volver um incipiente comércio e outras atividades ligadas à
navegação, à pesca e ao artesanato.
Sem se mostrar capaz de acompanhar as transformações
sociais e econômicas ocorridas em Portugal, a dinastia de
Borgonha se indispôs com a classe dos mercadores, que
crescera bastante no período. Assim, a dinastia de Avis,
mais ligada aos interesses comerciais e urbanos, tomaria multimídia: vídeo
futuramente o seu lugar.
FONTE: YOUTUBE
Portugal era predominantemente agrário e, nos fins do sé- Novo Telecurso – Ensino Médio – História – Aula 17 (2 de 2)
culo XIV, passou a desenvolver uma economia mais voltada
para a navegação e o comércio. Para entender as trans-
formações ocorridas em Portugal, é preciso analisar o que 1.3. Revolução de Avis (1383-1385)
aconteceu em toda a Europa durante aquele século.
A morte de D. Fernando I desencadeou uma luta pela su-
1.2.1. Portugal e a crise do século XIV cessão do trono português, em 1383, e serviu de estopim
para a Revolução de Avis. O rei não havia deixado um filho
A crise do século XIV, em Portugal, diz respeito aos três varão, e sua filha, D. Beatriz, era casada com D. João I, de
grandes flagelos que atingiram a Europa, causando uma Castela. Se ela herdasse a coroa, o reino se tornaria domí-
crise que devastou o continente. nio de Castela e perderia a independência política.
Em consequência do crescimento populacional, das más co- A sociedade portuguesa se dividiu após a crise sucessória. A
lheitas e da alta dos preços dos cereais, a população rural mi- alta nobreza era partidária da união com Castela, que era feu-
grou para a cidade para fugir da Grande Fome (1315-1317). dal e a beneficiaria. Já a burguesia, que considerava a perda
Um surto de peste bubônica, agravado pelas precárias da independência uma ameaça aos seus interesses, apoiou as
condições de higiene e alimentação da população, dizi- pretensões de D. João, mestre de Avis, irmão bastardo do rei.
mou, aproximadamente, um terço dos europeus, acome- Quando D. João foi aclamado rei, Castela invadiu Portugal.
tidos pela Peste Negra (1347-1350). A burguesia, a pequena nobreza e a população pobre,
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453), travada entre a partidários do mestre de Avis, derrotaram os castelhanos
França e a Inglaterra, devastou a agricultura e desarticu- na Batalha de Aljubarrota (Padeira), consolidando a au-
lou o comércio no Ocidente Europeu. tonomia portuguesa, em 1385.
Os camponeses empobreciam à medida que os senhores
feudais intensificavam as exigências tributárias, o que
provocou grandes revoltas camponesas, conhecidas na
França como Jacqueries, responsáveis pelo agravamento
da decadência do feudalismo.
O comércio europeu girava em torno de dois polos principais:
as cidades-estado italianas, ao sul, e Flandres, ao norte. Essas
regiões eram ligadas por rotas comerciais terrestres que atra-
vessavam o centro da Europa. Em virtude da crise do século
XIV, essas rotas foram abandonadas em favor do trajeto ma- BATALHA DE ALJUBARROTA (1385).

45
A aliança entre a dinastia de Avis e a burguesia fortale- estrutura material: navios, homens, armas e farto abasteci-
ceu a centralização monárquica e abriu caminho às mento. Esse tipo de empreendimento só seria possível com
Grandes Navegações, criando condições para a ex- o apoio do Estado e o capital da burguesia. Aos reis e aos
pansão das atividades comerciais. burgueses interessava financiar a expansão marítima em
troca de sua participação nos lucros. Com isso, seria facilit-
ada a submissão da sociedade aos reis e seriam fortaleci-
dos os Estados nacionais.
O terceiro fator foi o progresso técnico e científico e a cria-
tividade, que foram incentivados, além da astronomia e da
cartografia, que obtiveram grande desenvolvimento. Cons-
truíram-se as caravelas de três mastros e velas triangulares,
multimídia: vídeo que permitiam a navegação contra o vento. A bússola,
trazida provavelmente da China pelos muçulmanos, ainda
FONTE: YOUTUBE
no século XII, passou a ser montada na rosa dos ventos.
Novo Telecurso – Ensino Médio – História... Substituído pelo sextante, o astrolábio era um instru-
mento que determinava a latitude e a longitude por inter-
médio dos corpos celestes.
2. As Grandes Navegações
Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente
portugueses e espanhóis, lançaram-se aos oceanos Pací-
fico, Índico e Atlântico com alguns objetivos principais, tais
como: descobrir uma nova rota marítima para as Índias,
encontrar novas terras e expandir a fé cristã.
Nessa época, ocorreu a intensa procura por Preste João, um
lendário príncipe cristão dono de fabulosas riquezas, cujo rei-
no estaria localizado em algum ponto da África ou do Oriente.
As Grandes Navegações, ou Navegações Ultrama- ASTROLÁBIO
rinas, foram várias expedições oceânicas organizadas nos
séculos XV e XVI, principalmente por Portugal e Espanha. Em Portugal e na Espanha, o ideal missionário era bastante
Elas ajudaram a marcar a passagem da Idade Média para disseminado, já que eram países que tinham estado em
a Idade Moderna, num grande impulso para o aumento do luta direta contra os muçulmanos. No fundo, o espírito cru-
comércio da Europa com a Ásia e a África, e resultaram na zadista e a preocupação em expandir a fé cristã a no-
descoberta de um novo continente a ser explorado pelos vos povos acabaram por servir de justificativa ideológica
europeus, a América. para a expansão marítima – era o estímulo religioso.
A tomada da cidade de Constantinopla pelos turcos, em
2.1 Origem das Navegações Ultramarinas 1453, acelerou ainda mais a corrida desenfreada pelos
mares: “Por ali passava a maior parte do comércio euro-
Primeiramente, o comércio oriental – de especiarias, em
peu com o Oriente. Quando a cidade caiu sob controle
particular – pelo Mediterrâneo encontrava um ponto de es-
trangulamento no monopólio exercido pelos italianos sobre muçulmano, foi necessário encontrar novos caminhos para
a navegação. Monopólio este que encarecia sobremanei- comerciar com a Ásia”, conta Josh Graml, historiador do
ra as mercadorias orientais. Para as monarquias nacionais Museu dos Navegantes em Newport, Estados Unidos.
europeias, tornava-se necessário quebrar esse monopólio
descobrindo novas rotas para o Oriente. O progressivo 2.2. O pioneirismo de Portugal
esgotamento das velhas minas europeias de metais precio-
Nos séculos XV e XVI, graças a uma série de condições
sos usados na cunhagem de moedas agravava ainda mais a
encontradas nesse país ibérico, Portugal liderou as nave-
situação, gerando uma grave carência de metais preciosos.
gações, principalmente pela exepriência adquirida na pes-
A aliança entre a burguesia e os reis, mediante as ca. As caravelas, principal meio de transporte marítimo e
monarquias nacionais, foi o segundo fator que contribuiu comercial do período, eram desenvolvidas com qualidade
para a expansão marítima. Para a realização das grandes superior à de embarcações de outras nações. Portugal
viagens marítimas, era necessário dispor de uma complexa contou com uma quantidade significativa de investimento

46
de capital vindo da burguesia e da nobreza, interessadas O marco inicial da expansão ultramarina portuguesa foi
nos lucros que esse negócio poderia gerar. Havia, ainda, a a conquista de Ceuta em 1415. Essa cidade, situada na
preocupação com os estudos náuticos concentrados num costa marroquina no norte da África, simbolizava o poderio
centro de estudos: o Instituto Cartográfico Lusitano, a Es- muçulmano e era o ponto de partida das expedições pira-
cola de Sagres. tas árabes. A conquista portuguesa se justificou pelo fato
de "fincar uma lança na África", ou seja, tratava-se de uma
Além de ser ponto de escala comercial para os navios que
expedição punitiva comandada pela cristandade ofendida.
vinham das cidades italianas pelo Mediterrâneo rumo ao
norte da Europa, graças a sua posição geográfica favo-
Localização geográfica da cidade de Ceuta
rável, Portugal tinha também fácil acesso à África pelo
Atlântico. Além disso, contava com uma vantagem adicio-
nal: gozava de paz em suas políticas externa (em compa-
ração com outras nações europeias, envolvidas direta ou
indiretamente na Guerra dos Cem Anos) e interna, uma
vez que a Guerra de Reconquista estava praticamente en-
cerrada em suas terras.
A precoce criação de um Estado nacional associado aos in-
teresses mercantis, bem como sua consolidação graças
à Revolução de Avis (1383-1385), explica o pionei-
DISPONÍVEL EM: <HTTP://BRASILESCOLA.UOL.COM.BR/GEOGRAFIA/
rismo português. MUROS-CEUTA-MELILLA.HTM>. ACESSO EM: 18 JAN. 2017.

O périplo africano era o projeto lusitano para alcançar


2.3. Navegar e planejar as Índias contornando a África, no século XV. À medida que
Em se tratando de mares desconhecidos, navegar nos sé- se alcançavam novas regiões, criavam-se feitorias, pontos
culos XV e XVI era uma tarefa muito arriscada. Era muito do litoral onde se construíam fortes. Neles, ficavam alguns
comum o medo do desconhecido e das fantasias que se homens para negociar os produtos da região com os nati-
faziam em torno dele na época. Havia quem acreditasse vos. Não intencionavam colonizar no sentido de organizar
que a Terra era plana, o que poderia levar os navegantes a produção local e fixar povoamento, o objetivo dos portu-
para um grande abismo, e também quem acreditasse em gueses era obter lucros.
mares habitados por monstros. As ilhas do Atlântico (Açores, Madeira e Cabo Verde) fo-
Planejar a viagem era de extrema importância. Os europeus ram ocupadas entre 1419 e 1445 por Portugal. Em 1434,
contavam com alguns instrumentos de navegação que indi- os portugueses chegaram ao Cabo Bojador. Nessa expedi-
cavam pontos de referência de acordo com a localização dos ção, o comandante Gil Eanes constatou a existência de um
astros. Também era necessário utilizar um meio de transporte oceano de fácil navegação ao sul. Teve início, então, o perí-
rápido e resistente. As caravelas cumpriam essa finalidade, odo de exploração mais intenso da costa africana, que foi
embora ocorressem naufrágios e acidentes. Transportavam seguido por Nuno Tristão em 1441. Exploraram-se Senegal,
marinheiros, soldados, padres, ajudantes, médicos e até mes- Serra Leoa e Costa do Ouro, sempre em busca do marfim, do
mo um escrivão, que anotava tudo o que acontecia durante ouro e, principalmente, dos escravizados. A continuidade da
as viagens, além de grandes quantidades de mercadorias. expansão marítima foi incentivada pelo tráfico de escraviza-
dos negros para as ilhas de Madeira e Açores, que passou a
ser o interesse maior e o fator básico de acumulação capita-
lista da burguesia mercantil portuguesa.
Em 1481, depois da ascensão de D. João II ao trono, decre-
tou-se o monopólio régio (exclusividade da Coroa) sobre
a exploração colonial. Em 1482, Diogo Cão chegou à foz do
rio Congo, e a região da Guiné tornou-se área estratégica
para a continuidade da expansão. Mais tarde, o reconheci-
mento da região por esse navegador facilitou a viagem de
Bartolomeu Dias, que, em 1488, liderou a primeira expedi-
ção que atravessou o Cabo das Tormentas, posteriormen-
AS CARAVELAS TIVERAM SUAS LATERAIS ELEVADAS E, ASSIM, PODIAM NAVEGAR EM
ÁGUAS REVOLTAS. NÃO TINHAM REMOS NEM REMADORES E,
te rebatizado de Cabo da Boa Esperança (no extremo sul
POR ISSO, CONSEGUIAM CARREGAR MAIS CARGA. do continente africano). O curioso é que Bartolomeu Dias

47
não percebeu o feito, uma vez que passou pela região durante uma forte tempestade. Um motim na tripulação obrigou-o a
retornar a Portugal, impedindo-o de alcançar a Índia.
Em 1497, Vasco da Gama iniciou sua primeira viagem à Índia. No ano seguinte, cruzou o cabo da Boa Esperança e alcançou seu
destino, a cidade portuária de Calicute. Chegar às Índias significava conseguir especiarias, pimenta e noz-moscada, artigos tão
valiosos quanto prata e ouro na Europa. Para se ter uma ideia da importância do acontecimento, os navios de Vasco da Gama
trouxeram, em apenas uma viagem, o que os venezianos traziam por terra durante um ano. Os lucros chegaram a 6.000%. Por-
tugal se tornaria uma potência mundial graças ao caminho marítimo para o Oriente aberto por Vasco da Gama.
Viagens de Vasco da Gama e de Pedro Álvares Cabral

Rota de Vasco da Gama


Rota de Pedro A. Cabral

DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/DESCOBRIMENTOS_PORTUGUESES>. ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.

No primeiro contato com a Índia, os lucros obtidos eram


mais que animadores. Foi organizada, então, uma esqua-
dra maior que a anterior, contando com 13 navios e 1.200
homens, sob o comando de Pedro Álvares Cabral. A nova
expedição zarpou em 9 de março de 1500, com a finalida-
de de consolidar e ampliar as posições do comércio portu-
guês em terras asiáticas. A caravela comandada por Vasco
de Ataíde desapareceu no caminho para o Brasil, chegando multimídia: livro
em Porto Seguro apenas 12 navios.
A esquadra desviou-se de sua rota original (contorno da Áfri- Eduardo Bueno – A viagem do descobrimento
ca) e rumou para o ocidente, vindo a "descobrir", política Em 1500, a armada chefiada por Pedro Álvares Cabral de-
e oficialmente, as terras do Brasil em 22 de abril de 1500. para-se com mantos de ervas flutuantes balançando nas
É importante ressaltar que o termo "descobrimento" está águas translúcidas do oceano.
entre aspas, pois, em 1498, dom Manuel I, rei de Portugal,
mandou o navegador Duarte Pacheco Pereira em uma expe-
dição a oeste do Atlântico Sul. Suas caravelas chegaram ao
litoral brasileiro explorando-o à altura dos atuais estados do De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã
Amazonas e do Maranhão. A notícia foi mantida em sigilo e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista
pelo governo português devido à concorrência espanhola na do mar, muito grande, porque, a estender olhos,
conquista da América do Sul. não podíamos ver senão terra com arvoredos, que
Cabral continuou o percurso em direção às Índias, mas so- nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pu-
mente com 10 navios, já que dois navios voltaram para con- demos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa
tar as boas novas ao rei em Portugal após fazer um reconhe- alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém
cimento da terra “descoberta”. Chegando à Índia, Cabral a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o
ordenou o bombardeio de Calicute, cidade cujos governantes melhor fruto que dela se pode tirar me parece que
hostilizavam os portugueses. Na volta a Portugal, quatro na- será salvar esta gente.
vios afundaram. A expedição rendeu o dobro do capital nela TRECHO DA CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA
investido, mesmo com essas perdas e dificuldades.

48
Para reconquistar seus territórios perdidos para os árabes, os
cristãos da Península Ibérica travaram inúmeras batalhas. O
reino da Espanha demorou a ser formado pela prolongada
luta entre árabes e espanhóis (Guerra da Reconquista), sen-
do o casamento entre os reis católicos Fernando (do reino de
Aragão) e Isabel (do reino de Leão e Castela), em 1469, um
marco para a unificação espanhola.
multimídia: livro
A continuidade da luta contra os árabes mantinha con-
centrados prioritariamente os esforços da nova monarquia
Douglas Tufano – A Carta de Pero Vaz de Caminha
espanhola. Fernando e Isabel lutaram contra os árabes e,
Edição comentada e ilustrada da carta de Pero Vaz de Cami- em 1492, expulsaram-nos da Península Ibérica, quando o
nha ao rei de Portugal por ocasião do “achamento” do Bra- último reduto da presença moura, a região de Granada, foi
sil. Texto integral, reescrito em português contemporâneo. tomado pela Espanha.
Financiando o projeto do navegador genovês Cristóvão Co-
lombo, a Espanha pôde se lançar às Grandes Navegações.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Pindorama – Palavra Cantada multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE

2.4. A Espanha e a formação Cristóvão Colombo – A Aventura do Descobrimento

da monarquia nacional
2.4.1. Guerra de Reconquista 2.5. A expansão marítima espanhola
Em relação a Portugal, a Espanha teve um processo expan- Colombo sustentava que a Terra era esférica, muito mais pró-
sionista tardio. Contrariamente à região da costa do Atlân- ximo da tradição e dos novos conhecimentos renascentistas,
tico, na qual a luta contra os árabes deu origem à precoce entre eles as concepções heliocêntricas de Galileu. Italiano
formação do reino centralizado de Portugal, o restante da de nascimento (quase todos os documentos relatam seu
Península Ibérica havia se fragmentado em quatro reinos nascimento na cidade de Gênova), Colombo acreditava que,
levados por interesses próprios e, por vezes, conflitantes: navegando em linha reta, acabar-se-ia retornando ao ponto
Aragão, Castela, Leão e Navarra. de partida. Logo, navegando em direção oposta, em direção
ao Ocidente, seria possível alcançar as Índias.
SÉCULO XI SÉCULO XII
OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO ATLÂNTICO

Leão A
U N HA

o LEÃO RR O
LEÃO Navarra ragã VA GÃ
A Condado NA RA
Castela Condado A
L

Portucalense Saragoça
TA

de Barcelona
CASTELA CA
CALIFADO Barcelona
Lisboa Toledo
DE CÓRDOBA 1147 ALMORÁVIDAS
Ourique
Córdoba 1139 Córdoba
EO O E
ÂN ÂN
ERR ERR
EDIT ME
DIT
Ceuta ARM Ceuta R
M MA

SÉCULO XIII SÉCULO XV


OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO ATLÂNTICO REINO DA
FRANÇA
RA
AR REINO DE
LEÃO
NAV NAVARRA
REINO DE
PORTUGAL ARAGÃO REINO DE
PORTUGAL
ARAGÃO CRISTÓVÃO COLOMBO
CASTELA
Lisboa Alarcos REINO DE Barcelona
Valência CASTELA E LEÃO
Algarve
1250
ALMOADAS
Lisboa Valência Quando o rei de Portugal lhe negou apoio, Colombo foi ter,
1250 Las Navas de Tolos Córdoba
GRANADA 1212
NEO
REINO DE
ERR
ÂN
EO
então, com os reis espanhóis. Depois de insistentes solici-
ERRÂ GRANADA EDIT
Ceuta MAR MEDIT M
Ceuta
MA
R
tações, conseguiu o patrocínio de que precisava.

49
Navegando sempre em direção a Oeste, partiu no início de agosto de um porto ao sul da Espanha e, em 12 de outubro de
1492, aportou na Ilha de Guanahani (hoje São Salvador), onde encontrou um novo continente para os europeus, que seria
batizado posteriormente de América. Vale a ressalva de que Colombo acreditava estar em terras ainda não conhecidas das
Índias, daí nomeou os habitantes de índios.
O Oceano Pacífico foi descoberto em 1513 por Vasco Nunes Balboa que, atravessou por terra a América Central (istmo
do Panamá).
O português Fernão de Magalhães, a serviço da Espanha, iniciou a primeira viagem de circum-navegação da Terra, entre
1519 e 1522. Partiu de Cádis, navegou pelo Atlântico Sul, cruzou ao sul do continente americano o estreito que hoje tem seu
nome e rumou para a Ásia. Chegou às Filipinas, em 1521, e morreu em combate com os nativos. A viagem que comprovou
a teoria da esfericidade da Terra foi completada por Juan Sebastián Elcano.
Viagens de Cristóvão Colombo

DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ERA_DOS_DESCOBRIMENTOS>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015

Rotas das viagens marítimas portuguesas e espanholas dos séculos XV e XVI

2.6. O “Novo Mundo” dividido


Os reis da Espanha e de Portugal passaram a disputar entre si a posse das terras descobertas e das terras a serem descober-
tas assim que a notícia do descobrimento da América chegou à Europa.
Em 1493, os reis da Espanha obtiveram o apoio do papa Alexandre VI, espanhol de nascimento, na edição da Bula Inter
Coetera. A Bula determinava uma divisão do mundo ultramarino tomando-se por base um limite 100 léguas a oeste de Cabo
Verde. Portugal ficaria com as terras a leste dessa linha. As terras situadas a oeste dessa linha imaginária caberiam à Espanha.

50
Devido à insignificância dos territórios lusos, Portugal se opôs a essa Bula, o que causou a sua revogação e levou à assinatura,
em 1494, do Tratado de Tordesilhas. Pelos termos do novo Tratado, deslocava-se para 370 léguas a oeste de Cabo Verde o
limite entre os domínios portugueses e espanhóis.

Tratado de Tordesilhas

Ilhas
Canárias

Cabo
Verde
ilhas
Equador

Linhas de demarcação coloniais


entre Espanha e Portugal nos
séculos XV e XVI.
Linha do Papa Alexandre VI
(Bula Inter Caetera, 1493)

Tratado de Tordesilhas (1494)


Tratado de Zaragoza (1529)

DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ERA_DOS_DESCOBRIMENTOS>. ACESSO EM 23 DEZ. 2015.

Em 1529, os monarcas de Portugal (D. João III) e da Espanha conhecido como a Revolução dos Preços, em razão da
(Carlos I) assinaram o Tratado de Zaragoza. Definiu-se uma desvalorização da moeda e do aumento geral dos preços;
linha imaginária a 297,5 léguas a leste das Ilhas Molucas, diversificação dos artigos de consumo: batata, tabaco, ca-
dividindo o mundo oriental entre as nações ibéricas. cau e o milho oriundos da América;
Algumas nações europeias não iriam respeitar a divisão ƒ destruição das civilizações pré-colombianas astecas
territorial imposta pelo Tratado de Tordesilhas, pois julga- e incas;
vam injusta a partilha do mundo entre as nações ibéricas.
Os países mais contrariados foram: a Grã-Bretanha, o Rei- ƒ enriquecimento da burguesia mercantil europeia;
no dos Países Baixos e a França. Ao rei francês Francisco I ƒ fortalecimento dos Estados absolutistas;
foi atribuída a seguinte frase: “O Sol brilha para todos e
desconheço a cláusula do testamento de Adão que divi- ƒ europeização do mundo, ou seja, a difusão da cultura
diu o mundo entre portugueses e espanhóis”. Isso deixava europeia (vestimentas, língua, hábitos alimentares);
clara a sua posição contrária às determinações impostas.
ƒ mudança do eixo econômico europeu do mar
Mediterrâneo para o oceano Atlântico;

ƒ expansão do mercantilismo;

ƒ implantação do sistema colonial na América;

ƒ adoção do trabalho escravo e consequente intensifica-


ção do tráfico negreiro;
multimídia: vídeo ƒ expansão da fé cristã.
FONTE: YOUTUBE
1492 – A Conquista do Paraíso

2.7. A expansão ultramarina e suas consequências


Como consequências das novas terras descobertas, pode-
mos apontar:
multimídia: música
ƒ implantação do trabalho compulsório indígena na
FONTE: YOUTUBE
América espanhola; expansão do comércio europeu;
O Descobrimento do Brasil – Mocidade Independente
ƒ afluxo de metais preciosos para o continente europeu, de Padre Miguel (samba-enredo 1979)
que gerou uma enorme inflação na Europa, processo

51
multimídia: música multimídia: site
FONTE: YOUTUBE
Por Mares Nunca Dantes Navegados – Imperatriz www.sohistoria.com.br/ef2/navegacoes/
Leopoldinense (samba-enredo 1976) tudodeconcursosevestibulares.blogspot.com.br/2013/10/
grandes-navegacoes-e-expansoes.html

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A cartografia mundial foi redefinida a partir das viagens ultramarinas, ampliando-se os “limites” do mundo até
então conhecido. Isso levou os estudos geográficos a novas realizações, levando os mapas a definições menos
imaginárias e hipotéticas.
Também foi possível, com a utilização conjunta dos instrumentos náuticos (bússola, sextante, astrolábio, etc.),
a criação de um primeiro Sistema de Posicionamento Global (GPS), com precisão consideravelmente grande à
época. Lembrando que o GPS atual usa coordenadas num plano cartesiano global, o que é muito estudado na
Matemática.

MAPA-MUNDI DE MARTIN WALDSEEMULLER (1475-1522)

52
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 15
Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

A Habilidade 15 impõe aos candidatos uma avaliação crítica sobre diversos conflitos sociais no tempo e no
espaço. Entende-se “conflitos” não somente pela contenda armada ou violenta, mas também pelos choques
civilizacionais presentes na história, tanto entre colonizadores e colonizados quanto entre dominadores e do-
minados em geral.
As diversas sociedades interpretam e se relacionam com o seu meio físico e cultural de diferentes formas,
segundo suas idiossincrasias e visões de mundo. O papel do estudante é captar como se dão esses choques
culturais e as suas resoluções – sejam estas pacíficas ou não.

MODELO 1
(Enem) Em geral, os nossos tupinambás ficaram admirados ao ver os franceses e os outros dos países longín-
quos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez um ancião da tribo que
me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e pêros (franceses e portugueses), buscar lenha de tão
longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?”
LÉRY, J. VIAGEM À TERRA DO BRASIL. IN: FERNANDES, F. MUDANÇAS SOCIAIS NO BRASIL. SÃO PAULO: DIFEL, 1974.

O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um ancião tupinam-
bá, o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no sentido:

a) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais.


b) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais.
c) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau-brasil.
d) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.
e) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.

ANÁLISE EXPOSITIVA
Na cultura indígena, a madeira é empregada de maneira bastante específica, sendo utilizada para acender
fogueiras. Estas aqueciam os indivíduos nos períodos de frio, bem como espantavam animais e serviam para
cozimento de diferentes produtos. Dessa forma, o índio ancião imaginava que os europeus atribuíam ao pau-
-brasil a mesma finalidade e não o seu uso na tinturaria. Trata-se, evidentemente, de um choque cultural entre
as duas populações, que atribuíam destinos diferentes ao mesmo produto.

RESPOSTA Alternativa A

53
DIAGRAMA DE IDEIAS

GUERRA DE RECONQUISTA E FORMAÇÃO DE PORTUGAL

• ÁRABES X REINOS DE LEÃO CONDADO INDEPENDÊNCIA


CASTELA PORTUCALENSE EM 1139
NAVARRA
ARAGÃO AFONSO HENRIQUES
(DINASTIA DE BORGONHA)

FEUDALISMO PORTUGUÊS REVOLUÇÃO DE AVIS

CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS D. BEATRIZ E D. JOÃO DE CASTELA


NOBREZA FEUDAL
• CENTRALISMO MONÁRQUICO
X
• BURGOS AUTÔNOMOS D. JOÃO, MESTRE DE AVIS.
• TRABALHADORES ASSALARIADOS NO CAMPO BURGUESIA MERCANTIL + POVO
• BURGUESIA MERCANTIL FORTE
VITÓRIA CONSOLIDA D. JOÃO DE AVIS
NA BAIXA IDADE MÉDIA
INDEPENDÊNCIA CENTRALIZAÇÃO GRANDES
GRANDES NAVEGAÇÕES MONÁRQUICA NAVEGAÇÕES

FATORES PIONEIRISMO PORTUGUÊS


• NOVAS ROTAS PARA O ORIENTE
• ALIANÇA ENTRE REIS E BURGUESIA
FATORES
• PROGRESSO TÉCNICO
BÚSSOLA
• EXPERIÊNCIA EM NAVEGAÇÃO E PESCA
ASTROLÁBIO • INCENTIVO DA BURGUESIA
SEXTANTE • ESTUDOS NÁUTICOS (ESCOLA DE SAGRES)
• ESTÍMULO RELIGIOSO / EXPANDIR A FÉ CRISTÃ • PAZ NO TERRITÓRIO E LOCALIZAÇÃO GEOGRÁ-
FICA FAVORÁVEL
• REVOLUÇÃO DE AVIS
GUERRA DE RECONQUISTA, TRATADOS DE DIVISÃO DE
FORMAÇÃO DA MONARQUIA E DOMÍNIOS ENTRE
EXPANSÃO MARÍTIMA ESPANHOLA PORTUGAL E ESPANHA
ÁRABES X ESPANHÓIS LEÃO UNIFICAÇÃO BULA INTER COETERA
CASTELA EM 1469 (SOFREU OPOSIÇÃO PORTUGUESA)
VITÓRIA NAVARRA
EM 1492 ARAGÃO
TRATADO DE TRATADO DE
INVESTIMENTO EM NAVEGAÇÕES TORDESILHAS + ZARAGOZA
(1494) (1529 - ÁSIA)
CRISTÓVÃO COLOMBO - AMÉRICA (1492)

54
AULAS 3 E 4

AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA,
MERCANTILISMO
E ADMINISTRAÇÃO
ESPANHOLA NA AMÉRICA DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/
ARTE_OLMECA>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015.

Recentes pesquisas arqueológicas realizadas em San Lo-


renzo, um dos principais centros olmecas e, provavelmente,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 o primeiro centro civilizado da Mesoamérica, dão conta da
existência de colinas artificiais com desaguamentos subterrâ-
HABILIDADES:
1, 2, 5, 7, 11, 15, 16, 19 neos que funcionariam como sistemas para controle da água.
e 23
Uma área pantanosa, irrigada por numerosos rios, a costa
meridional do golfo do México é onde os olmecas cultiva-
ram milho, feijão e abóbora, complementando a subsistên-
cia com os produtos obtidos da caça e da pesca. A procura
1. América pré-colombiana do jade, uma espécie de pedra, deve ter servido de estímulo
América pré-colombiana para o comércio, que se fazia por numerosas rotas. Acredi-
ta-se que a notável influência olmeca na Mesoamérica seja
Atabascos Algonquinos Esquimós em razão da extensão desse comércio.

Comanches
A população olmeca era bastante desenvolvida, espalha-
Sioux da pelo império, dividia-se entre uma minoria (sacerdotes,
Musgoguis
Seminolas artífices de elite), que habitava os centros cerimoniais, e a
Trópico de Câncer

ASTECAS
Caraíbas
maioria do povo (camponeses), que vivia nas aldeias.
OCEANO
MAIAS
ATLÂNTICO
Aruaques

Aruaques
Equador Caraíbas
Caras

Quéchuas Tupis
OCEANO PACÍFICO INCAS
Jês
Trópico de Capricórnio Aiamarás Guaranis

Tupis

Araucanos

0 1085 km
Patagões

ADAPTADO DE: <HTTP://ERONEDUCADOR.BLOGSPOT.COM.BR/2013/08/AS- UMA DAS QUATRO CABEÇAS COLOSSAIS ENCONTRADAS EM LAVENTA,
AMERICAS-PRE-COLOMBIANA.HTML?VIEW=CLASSIC>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015. COM ALTURA APROXIMADA DE 3 METROS

Os centros cerimoniais eram construídos sobre grandes


1.1. Olmecas plataformas de terra, organizadas ao redor de plazas. Tais
centros cerimoniais, como o de La Venta, eram construções
1.1.1. Características em forma de pirâmide truncada. Esses montículos de argila
eram rodeados de enormes fossas, onde foram encontra-
Originada na costa sul do golfo do México, a cultura olmeca das máscaras religiosas profundamente enterradas. Ao que
é considerada a primeira cultura elaborada da Mesoamé- parece, essas construções tinham funções primordialmente
rica e matriz de todas as culturas posteriores dessa funerárias. Supõe-se a existência de chefias ou estados in-
área. As características marcantes do Império olmeca, que cipientes (como em Três Zapotes), obrigados pela necessi-
se estendeu do México ocidental à Costa Rica, foram a pre- dade de supervisão e planejamento, além de recrutamento
sença de centros cívicos religiosos a que se subordinavam de numerosa mão de obra para a construção de platafor-
áreas periféricas e a escultura monumental. mas, aterros e pirâmides.

55
A arte olmeca se caracterizou pelo valor religioso. A escultura vivia a numerosa mão de obra de camponeses submetidos
era bastante desenvolvida: monumentais cabeças de pedra, ao regime de servidão coletiva.
com rosto redondo, lábios grossos e nariz achatado; estatue-
Trocas de produtos cultivados e de artesanato (objetos de
tas com formas humanas e outras apresentando uma mistura
ouro e cobre, tecidos de algodão, cerâmica) aconteciam
de traços humanos e felinos. São frequentes as representa-
nos centros maias, onde a administração e o culto se da-
ções do jaguar, a principal divindade, das quais o homem
vam. O ofício de mercador era muito importante e havia
jaguar representaria, provavelmente, o deus da chuva.
ainda os escravizados, cujas figuras apareciam em nume-
Conheciam a astronomia – basta observar o traçado de suas rosos monumentos da civilização maia.
cidades, obedecendo aos pontos cardeais e a um calendário,
Incumbido da política interna e externa e do recolhimento
uma vez que foram encontrados, em alguns monumentos,
do imposto coletivo das aldeias, acredita-se que o governo
registros de datas muito antigas. Também conheciam a es-
crita e sistemas matemáticos. Muitos traços e tradições dos maia fosse uma teocracia de caráter hereditário.
olmecas sobreviveram entre as diversas culturas que os su-
cederam, como é o caso das culturas dos astecas e maias.

1.2. Maias
1.2.1. Características

PIRÂMIDE DE KUKULCÁN, EM CHICHÉN ITZÁ

Cada cidade e suas respectivas aldeias formavam um Esta-


do independente (cidades-Estado); assim, os maias nunca
chegaram a constituir um Império.
Os maias eram politeístas e acreditavam que o destino do
homem era controlado pelos deuses. Em razão disso, toda
DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/CIVILIZAÇÃO_MAIA>.
ACESSO EM: 23 DEZ. 2015. a produção cultural foi nitidamente influenciada pela reli-
gião, bem como a arquitetura. Utilizando principalmente
Ocupando as planícies da península do Iucatã, os maias
pedra e terra como materiais e o trabalho forçado da nu-
constituíram povos que elaboraram uma das mais comple-
merosa mão de obra camponesa, construíram-se templos
xas e influentes culturas da América. Alguns historiadores,
de forma retangular sobre pirâmides truncadas com esca-
para quem a Europa é o centro do mundo, chegaram a
darias que se estendiam ao redor de praças.
comparar a importância cultural dos maias à dos gregos,
daí a alcunha “gregos do Novo Mundo”. Também edificaram palácios, provavelmente residências
Com uma base econômica agrícola, tinham o milho como dos sacerdotes, cujos interiores, geralmente longos e es-
principal produto, considerando-o um alimento sagrado e do treitos, eram cobertos por uma falsa abóbada, caracterís-
qual teria se originado o homem, segundo a mitologia maia. tica desse tipo de edificação. Todas as dependências eram
A terra era cultivada coletivamente e os camponeses eram revestidas de elaborada decoração: esculturas, pinturas e
obrigados a pagar o imposto coletivo. A pecuária ainda era murais representando cenas de guerra ou cerimoniais (al-
desconhecida, e a caça e a pesca atividades complementares. tos dignitários homenageados ou servidos por súditos). A
pintura, em cores vivas e intensas, alcançou alto grau de
Com poucas provas históricas, a sociedade maia se faz rela- perfeição, assim como a escultura em terracota foi outro
tivamente desconhecida. Contudo, por meio de alguns estu- exemplo notável da arte maia.
dos, principalmente nas artes (sobretudo na pintura), acredi-
ta-se que fosse uma sociedade extremamente hierarquizada, Ao preverem eclipses solares, o movimento dos planetas e
na qual a posição social era determinada pelo nascimento de o calendário cíclico, bem como na aquisição de avançadas
cada indivíduo. Uma elite (militares e sacerdotes) constituía o noções, como um símbolo para o zero e o princípio do valor
grupo dominante, de caráter hereditário, que habitava os nu- relativo, os maias fizeram notáveis progressos na astrono-
merosos centros cerimoniais circundados pelas aldeias onde mia e na matemática.

56
ros e expansionistas, dominaram os toltecas e outros povos
da região. Construíram palácios, templos, mercados e ca-
nais de irrigação, comprovando grande desenvolvimento,
e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán, capital do
império. Contudo, estudos atuais apontam a possibilidade
de um governo tripartido entre as cidades-Estado de Te-
nochtitlán, Texcoco e Tlacopan, sendo a primeira a maior e
mais importante entre elas.

CALENDÁRIO MAIA

A escrita maia, considerada sagrada, não era baseada em


um alfabeto. Sinais pictográficos e símbolos formam síla-
bas ou combinações de sons, embora a escrita maia ainda
não esteja plenamente decifrada.
O Popol Vuh, livro sagrado com numerosas lendas, conside-
rado um dos mais valiosos exemplos de literatura indígena,
é destaque do pouco que restou da produção literária.
DISPONÍVEL EM: <TTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ASTECAS>.
A civilização maia sofreu declínio de população por volta ACESSO EM: 23 DEZ. 2015.
do ano 900, quando teria iniciado um processo errone-
Com destaque para o cultivo do milho, do algodão, do fei-
amente confundido com decadência. Há estudiosos que
jão e do cacau, cuja semente era utilizada como moeda
atribuem o abandono dos centros maias à guerra, à in-
(só podia ser plantado com a autorização do Estado), a
surreição, à revolta social, a invasões bárbaras, etc.
economia era essencialmente agrária.
De fato, os grandes centros foram abandonados, mas não
Com sistema de plantio baseado nos “jardins flutuantes”
de súbito. A exploração intensiva de meios de subsistência
feitos com junco trançado, em região pantanosa produtiva,
inadequados, que provocou a exaustão do solo, ao lado dos os astecas desenvolveram as chamadas chinampas. Tam-
intensos conflitos entre as cidades-Estado são as hipóteses bém construíram canais de irrigação levando a água das
mais prováveis. chuvas e dos rios para as regiões de plantio.
Até a conquista definitiva da região pelos espanhóis (séc. A terra era considerada propriedade do Estado e trabalhada
XVI), a civilização maia já não mais existia, e sua cultura já pelas comunidades camponesas ao lado de atividades comple-
havia se fundido à dos toltecas. mentares, como a criação de animais, o comércio e a mineração.
Na sociedade rigidamente hierarquizada, o imperador e
sua família ocupavam a posição mais elevada da pirâmi-
de social, juntamente com os sacerdotes e os chefes de
clãs. Em posição intermediária, estavam os artesãos e co-
merciantes. Camponeses e escravizados ocupavam a base
dessa pirâmide social. A maior parte da terra ficava sob
multimídia: vídeo o domínio de sacerdotes e elites locais (líderes dos clãs),
enquanto as comunidades camponesas conservavam pe-
FONTE: YOUTUBE quena parcela para uso familiar.
Apocalypto
O imperador possuía representação religiosa, militar e políti-
ca, seja por suas conquistas, seja pelo domínio sobre vários
1.3. Astecas povos, o que tornou o Império Asteca um Estado milita-
rista e teocrático.
1.3.1. Características Construíram obras arquitetônicas colossais: templos e pa-
Conhecidos também como mexicas, os astecas ocuparam lácios com terraços em forma piramidal, objetos decorati-
originalmente a região noroeste do atual México. Guerrei- vos, obras de ourivesaria em prata, ouro e pedras preciosas

57
utilizadas na decoração de palácios e templos. Os astecas Parte dos atuais territórios de Colômbia, Equador, Peru, Bolí-
também se destacaram na astronomia ao elaborarem um via, Chile e Argentina, a região ocupada pelos incas ainda se
calendário solar que lhes possibilitava planejar as épocas estendia ao longo da cordilheira dos Andes. Originariamente
de plantio e colheita. nômades, os incas faziam parte do grupo quéchua. Entre os
séculos XII e XIII, realizaram várias conquistas na região an-
dina (civilizações de Tiahuanaco, Huari e Chimu), alcançando
seu apogeu na época da conquista espanhola no século XVI,
impondo-se militarmente e formando o Império Inca.
A propriedade era divida em terras do Estado, terras dos
sacerdotes e terras comunitárias, das quais cada família
possuía um lote para cultivo próprio depois de cultivar as
terras do imperador e dos sacerdotes.
PIRÂMIDE DO SOL Havia ainda o Ayllu, organização social formada por laços
de parentesco entre os membros da comunidade e liderada
A religião asteca era politeísta, com prática de sacrifícios
pelo chefe político e administrativo cujo poder era transmi-
humanos. Na crença asteca, para que o mundo fosse pre- tido hereditariamente, conhecido como curaca.
servado, os deuses exigiam oferendas do bem mais precio-
so que os homens possuíam, a vida. Rigidamente estratificada, essa sociedade experimentou a
formação de classes sociais, tornando-se estamental. Abai-
xo do imperador havia uma elite de sacerdotes e milita-
res (nobreza); artífices do Estado, médicos e contabilistas
compunham o grupo intermediário; e, na base da pirâmide
social, escravizados responsáveis pela produção de exce-
dentes, que se concentravam nas mãos da elite, e ainda
uma grande massa de camponeses.
multimídia: site A forma de trabalho compulsório mais comum era chamada
de mita. Tratava-se da exploração obrigatória da mão de
obra camponesa pelo Estado, empregada em obras públicas
historiadomundo.uol.com.br/asteca/
e nas minas.
http://historiadomundo.uol.com.br/inca/
A principal atividade econômica incaica era a agricultura,
sendo o milho, a batata, o feijão, o algodão e a pimenta os
1.4. Incas principais produtos. Também criavam animais, lhamas e al-
1.4.1. Características pacas, que forneciam leite, lã e carne e serviam como meio
de locomoção. Os incas desenvolveram terraços para con-
OCEANO ter a erosão, ampliar a área de plantio e melhorar aproveita-
ATLÂNTICO
mento das terras em relevo montanhoso.

Quito

Machu Picchu
Cuzco

OCEANO
PACÍFICO

0 1000 km

MACHU PICCHU FOI, AO LADO DE CUZCO, UM DOS DOIS


MAIS IMPORTANTES CENTROS URBANOS DA CIVILIZAÇÃO INCA.
Império Inca

DISPONÍVEL EM: <HTTP://HISTORIADOMUNDO.UOL.COM.BR/INCA/ Os incas formaram um império centralizado e teocrático,


MAPA-DO-IMPERIO-INCA.HTM>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015. no qual o imperador era considerado um deus (Sapa Inca),

58
descendente direto do Sol, supremo legislador e coman-
dante do exército com poder vitalício e hereditário.
Para facilitar o domínio das áreas afastadas da capital
Cuzco e integrar as diversas regiões do império, os incas
construíram várias estradas que permitiam o desloca-
mento do exército para o controle de áreas rebeladas e
possibilitavam o serviço de correios.
Acreditavam em vários deuses vinculados a elementos da
natureza: sol (Inti), chuva, fertilidade. Os deuses influen-
ciavam suas manifestações artísticas, notadamente na
construção de grandes templos. Faziam também sacrifícios
VARÍOLA ATACA OS AMERÍNDIOS
animais e humanos.
Os espanhóis tiveram seu primeiro contato com o Impé-
Sem escrita, a cultura era transmitida oralmente. O idioma rio Asteca, o qual possuía um exército estimado em torno
quéchua serviu de instrumento unificador do Império Inca. Um de 500 mil homens, em 1519. Sob a liderança de Hernán
conjunto de nós e barbantes coloridos, chamados quipus, Cortez, os espanhóis foram bem recebidos pelos astecas,
permitiu aos incas desenvolverem um engenhoso sistema de ganharam muitos presentes, incluindo uma jovem escra-
contabilidade. Na astronomia, foram autores de um calendá- vizada índia chamada Malinche (Melinda para os espa-
rio. Na matemática, utilizavam o sistema numérico decimal. nhóis), que dominava algumas línguas faladas na América
Os testemunhos mais importantes dessa cultura encon- e que auxiliou na conquista do México por parte dos colo-
tram-se na arquitetura monolítica e despojada de orna- nizadores europeus.
mentos, que revela tanto uma técnica impecável como uma Cortez percebeu que a dominação seria muito complexa
notável frieza expressiva. Os incas foram exímios criadores devido ao tamanho do Império Asteca. Contudo, ele aca-
de cerâmicas de pequenas peças e estatuetas antropozoo- bou contando com o apoio de povos nativos subjugados
mórficas. Atribuíram também grande importância à indús- pelos astecas e que se encontravam descontentes nessa
tria metalúrgica, principalmente à fabricação de armas e posição. Prometendo a esses povos a liberdade, Cortez
ao artesanato têxtil. ganhou importantes aliados na luta contra os astecas (“di-
vidir para conquistar”). Os europeus ainda contaram com
a falta de resistência inicial do imperador asteca, Monte-
2. A conquista espanhola e zuma. Muitos estudiosos acreditam que a inicial falta de
resistência do imperador deriva de uma lenda de que os
o choque de civilizações deuses iriam voltar em algum momento e analisar o grau
Por serem impérios extensos, que cobriam áreas enormes de desenvolvimento do povo asteca, determinando assim
da América, foram vistos pelos colonizadores espanhóis se eles mereceriam a salvação.
como as principais ameaças ao projeto de exploração do Cortez orquestrou a tomada da capital asteca, Tenochtitlán,
novo território. Os astecas e os incas foram os que mais que em menos de três anos já se encontrava sob o domínio
sofreram com o contato com os europeus. dos conquistadores europeus.
Apesar de os povos nativos contarem com o maior número
de guerreiros, os espanhóis possuíam a vantagem de esta-
rem melhor equipados para um possível confronto. O fato
de terem consigo armas de fogo, canhões e cavalos, to-
dos elementos desconhecidos na América, foi uma grande
vantagem sobre os ameríndios, exercendo enorme impacto
psicológico sobre esses povos. Essa vantagem bélica foi
apenas um dos fatores que contribuíram para uma rápida
conquista por parte dos europeus. Outros grandes respon-
sáveis pelo rápido decréscimo populacional dos ameríndios
foram as doenças trazidas pelos europeus, e até então ine-
xistentes na América (ex.: varíola, sarampo e gripe), além
da fome que assolava os nativos após a dominação. CORTEZ DOMINANDO OS ASTECAS

59
No caso da dominação dos incas, aproveitando uma crise ser responsável por regulamentar a administração e nomear
política causada pela disputa sucessória local, Francisco Pi- funcionários nas terras americanas. Com o passar do século
zarro, que chegou à região do Peru em 1532, invadiu os XVI, a Espanha foi aprimorando seu sistema de administra-
domínios incaicos e prendeu o imperador Atahualpa. ção colonial e foram criadas as Audiências, instituições
com competência jurídica instaladas nas mais importantes
O primeiro encontro entre Atahualpa e o explorador espa-
regiões da América hispânica. Para centralizar toda a admi-
nhol foi marcado por um mal-entendido. Pizarro entregou
nistração da colônia espanhola, subordinando as Casas de
uma Bíblia ao imperador inca, que, por viver em uma so-
Contratação e as Audiências ao seu domínio, foi criado o
ciedade sem escrita, não entendeu a utilidade do presente.
Conselho das Índias em 1524.
Em troca, Atahualpa entregou a Pizarro uma bebida à base
de milho, considerada sagrada. O espanhol teria tomado O passo final para a melhor administração das terras ame-
um gole e cuspido em seguida, devido ao forte ardor da ricanas foi sua divisão em Capitanias (terras de menor
bebida. Ao ver tamanho desrespeito, o imperador inca teria representatividade econômica) e Vice-Reinos (terras de
atirado a Bíblia ao chão, o que foi utilizado pelos europeus maior valor econômico).
como pretexto para o início de um enfrentamento bélico. América espanhola no século XVIII
Pizarro conquistou a capital Cuzco em 1533, após inúme-
ras e sangrentas batalhas, além de contar com o apoio de
inúmeros curacas descontentes com a dominação inca e
prometendo a libertação de seu julgo.

multimídia: livro

A América que os Europeus


Encontraram – Enrique Y. Peregalli
Foi construída nessa obra uma história que leva em con-
sideração a visão dos vencidos, e o autor busca mostrar
com isso que a América possui uma história de desen-
volvimento econômico, cultural, social e político que não
precisou da tutela dos europeus. FONTE: DUBY, GEORGES. ATLAS HISTORIQUE.
PARIS: LAROUSSE, 1987, P. 282.

2.1. Sob a administração da Espanha 2.2. Sociedade colonial da Espanha


Pessoas que tivessem interesse em investir seus recursos Bem definida em seus grupos e na importância dos mes-
particulares e explorar as novas terras eram bem quistas, já mos em suas regiões, assim era a sociedade que se consti-
que a coroa espanhola não desejava gastar muitos recursos tuiu na América hispânica.
com a exploração das colônias americanas. Esses indivíduos
recebiam o título de adelantados e ganhavam uma sé- Altos funcionários enviados pela Coroa, os quais residiam
rie de prerrogativas jurídicas e militares, tais como o direito na maior parte das vezes nas capitais locais, ocupariam os
cargos mais importantes nas capitanias e vice-reinos (ex.: o
vitalício de fundar núcleos de ocupação, explorar o solo e
cargo de vice-rei, ou chefe das Audiências). Esses altos fun-
erguer fortalezas. Em troca, entregariam um quinto de tudo
cionários, chamados chapetones (indivíduos necessaria-
que fosse explorado na América e promoveriam a cristiani-
mente nascidos na Espanha) devido à grande dificuldade
zação dos ameríndios.
de comunicação entre os continentes, acabavam adquirin-
Em 1503, a Coroa espanhola criou as Casas de Contrata- do grande autonomia em relação ao rei. Essa “desobedi-
ção, órgão responsável por fiscalizar a cobrança do quinto, ência velada” pode ser observada na seguinte sentença:
garantir o monopólio e gerir os negócios na colônia, além de “Obedeço, mas não cumpro”.

60
Para cuidar dos problemas relacionados às vilas e cidades, Devido aos abusos cometidos durante a utilização do trabalho
foram criados os Cabildos (espécie de prefeitura, ou simi- compulsório, houve a grande diminuição da população nativa,
lar às Câmaras Municipais no Brasil Colônia). Esse órgão gerando a troca do repartimiento e da encomienda pelo tra-
teria todo o poder local em suas mãos e era constituído balho livre. Duramente criticados por parte dos padres, a vio-
por membros da camada social dos criollos, descenden- lência e os abusos sofridos pelos índios tinham como opositor
tes de espanhóis nascidos na América. Em geral, os criollos mais incisivo o padre Bartolomeu de Las Casas.
eram grandes proprietários de terras e minas ou criadores
Havia também as haciendas, o equivalente espanhol ao
de gado. Todos os cargos públicos eram destinados aos
sistema de plantation, com menor importância econômi-
chapetones, os Cabildos eram os únicos órgãos políticos
ca, mas não desprezível. Esse sistema foi muito utilizado na
que podiam ser ocupados pelos criollos.
produção de gêneros tropicais, na região das Antilhas, que
Os mestiços, filhos de espanhóis com índios ou negros, seriam enviados aos mercados europeus. As populações na-
não possuíam direitos políticos e exerciam funções como tivas nessa região foram as primeiras a desaparecerem após
artesãos, capatazes ou pequenos comerciantes. Abaixo de- o domínio espanhol, tornando a produção das haciendas
les se encontravam os negros (utilizados principalmente alimentada pela mão de obra de cativos africanos.
nas grandes plantações das ilhas do Caribe e Antilhas) e os
índios (mão de obra na agricultura e nas minas).
2.4. Mercantilismo
A estruturação do capitalismo comercial coincidiu com
a formação dos Estados nacionais, ambas organizaram e
impuseram uma série de práticas econômicas objetivando
proporcionar o acúmulo de metais preciosos como forma de
dinamizar as relações comerciais e fortalecer as moedas na-
cionais. Essa política econômica dos Estados modernos ficou
conhecida como mercantilismo, expressão das práticas do
multimídia: livro capitalismo comercial, em que os Estados procuravam forta-
lecer suas finanças e manter sua estrutura burocrática.
A Conquista da América – Tzvetan Todorov
Essa pesquisa ética é, ao mesmo tempo, uma reflexão 2.4.1 Características
sobre os signos, sua interpretação e sua comunicação, A intervenção do Estado na economia e o meta-
pois o semiótico não pode ser pensado fora da relação lismo foram as principais bases do mercantilismo. Por
com o outro. metalismo entende-se a necessidade de acumular metais
preciosos para servir de lastro às moedas nacionais. Quan-
to maior a quantidade de metais preciosos, mais forte e
2.3. Trabalho compulsório estável ficava a economia.
Os dois métodos mais comuns utilizados pelos espanhóis A principal forma de obtenção e acúmulo de metais seria
foram o repartimiento e a encomienda, que explora- o comércio, o que levou os governos a estimularem as ex-
vam a mão de obra dos ameríndios, já que o número de portações e a inibirem, mediante protecionismo marcado
nativos era, inicialmente, muito abundante. por altas taxas alfandegárias, as importações de artigos es-
O repartimiento, tal como a mita, era muito similar ao que trangeiros, caracterizando, assim, uma balança comercial
os incas e astecas cobravam dos povos dominados. O mé- favorável. Eram muito fortes os estímulos governamentais
todo consistia em obrigar cada comunidade nativa a ceder à produção de artigos manufaturados, cujos preços eram
um número determinado de trabalhadores para execução bastante elevados no exterior e nas áreas coloniais.
de grandes obras públicas (normalmente de infraestrutura, Concedido pelo rei mediante pagamento a certas compa-
como estradas e prédios públicos) ou extração de minérios nhias privilegiadas, o monopólio era válido para o comércio
nas minas. Normalmente em condições insalubres e com re- de alguns produtos em determinadas regiões e por tempo
muneração muito baixa, o trabalho era temporário. limitado. Outra característica do mercantilismo.
A encomienda consistia em deixar um grupo de nativos Chamado também de sistema colonial, o colonialismo fi-
aos cuidados de um colono (encomiendeiro), o qual po- gura como parte integrante da política mercantilista. Ele cor-
deria utilizar a mão de obra dos nativos em atividades va- respondia ao conjunto de relações entre metrópoles e colô-
riadas, assegurando, como pagamento pelos serviços dos nias, quando as primeiras impuseram uma série de restrições
ameríndios, a instrução cristã, ou seja, a catequese. à economia colonial. As determinações metropolitanas às

61
colônias baseavam-se no monopólio e na complementarida- colônias americanas. Derivado de bullion, que em inglês
de, conhecidas por Pacto Colonial. significa "barra de ouro", tal prática ficou conhecida
Matérias-primas – gêneros tropicais como bulionismo.
As práticas mercantilistas eram chamadas de comercia-
lismo na Inglaterra. O governo estimulava as trocas co-
Colônia Pacto colonial Metrópole
merciais com o auxílio à marinha mercante. Mediante um
rígido protecionismo alfandegário, incentivava a comercia-
Manufaturas – escravos lização das manufaturas, especialmente as do setor têxtil.
Colbertismo era o termo utilizado na França em alusão
2.4.2. Práticas mercantilistas a Jean Baptiste Colbert, seu mais célebre incentivador,
que foi ministro das finanças do rei Luís XIV. Incentivar
Um conjunto de medidas econômicas aplicadas nos diver-
a produção de artigos manufaturados, principalmente os
sos Estados europeus e que variavam de país para país de
de luxo, como tapeçaria e cristais, que, exportados, gera-
acordo com suas peculiaridades, sem, contudo, constituí-
vam receitas para o Estado e uma consequente balança
rem-se em práticas homogêneas.
comercial favorável, assim era o mercantilismo francês.
A atuação do Estado, na Espanha, foi no sentido de acu-
mular metais preciosos explorados diretamente de suas

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O choque cultural ocorrido nos primeiros encontros entre europeus e nativos americanos demonstra o estranhamen-
to com relação ao que pertence a uma outra cultura e a difícil aceitação do outro como tão “civilizado” quanto você.
O processo de destruição da cultura dos ameríndios e a imposição da cultura europeia demonstra isso com clareza.
Também podemos observar o efeito de doenças que não eram conhecidas por uma determinada população e seu efeito
nesse novo ambiente, analisando as primeiras tentativas de combater essas moléstias, as quais agora seriam globais.

MASSACRE INDÍGENA RETRATADO POR ILUSTRAÇÃO DE THEODORE DE BRY.

62
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 7
Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

A Habilidade 7 impõe ao aluno a compreensão, dentro dos diversos espaços e tempos, das relações de poder
entre as nações. Inserida num eixo interdisciplinar com Geografia, Sociologia, Filosofia e História, o candidato
deverá interpretar as causas e as consequências de processos de dominação entre os povos, além de captar
seu significado econômico e político.
Conflitos de diferente natureza estão inseridos nessa habilidade, mormente os de guerras, colonização e escra-
vização entre nações. O estudante deverá relacionar registros acadêmicos, artísticos ou relatos dos participan-
tes para fundamentar sua resposta.

MODELO 1
(Enem) Mas uma coisa ouso afirmar, porque há muitos testemunhos, e é que vi nesta terra de Veragua [Pana-
má] maiores indícios de ouro nos dois primeiros dias do que na Hispaniola em quatro anos, e que as terras da
região não podem ser mais bonitas nem mais bem lavradas. Ali, se quiserem podem mandar extrair à vontade.
CARTA DE COLOMBO AOS REIS DA ESPANHA, JULHO DE 1503. APUD AMADO, J.; FIGUEIREDO, L. C.
COLOMBO E A AMÉRICA: QUINHENTOS ANOS DEPOIS. SÃO PAULO: ATUAL, 1991 (ADAPTADO).

O documento permite identificar um interesse econômico espanhol na colonização da América a partir do


século XV. A implicação desse interesse na ocupação do espaço americano está indicada na

a) expulsão dos indígenas para fortalecer o clero católico.


b) promoção das guerras justas para conquistar o território.
c) imposição da catequese para explorar o trabalho africano.
d) opção pela policultura para garantir o povoamento ibérico.
e) fundação de cidades para controlar a circulação de riquezas.

ANÁLISE EXPOSITIVA
O processo de conquista e colonização da América pelos espanhóis esteve ligado à busca de riquezas, fossem
elas especiarias ou metais preciosos. O texto, de 1503, retrata a perspectiva de encontrar ouro na região, num
momento em que ainda não haviam sido descobertas as grandes minas do México e Peru, e no qual a Espanha
ainda buscava uma forma de atingir as Índias, demonstrando inclusive as divergências quanto à continuidade
do processo expansionista.

RESPOSTA Alternativa E

63
DIAGRAMA DE IDEIAS

AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA

OLMECAS MAIAS

• SUL DO GOLFO DO MÉXICO • AMÉRICA CENTRAL CIDADES-ESTA-


• CENTROS CÍVICOS RELIGIOSOS DO (“GREGOS DO NOVO MUNDO”)
• SOCIEDADE HIERARQUIZADA • SERVIDÃO COLETIVA
SACERDOTES E ELITE • POLITEÍSTAS
CAMPONESES • TEOCRACIA DE CARÁTER HEREDITÁRIO
• SOCIEDADE HIERARQUIZADA
ELITE HEREDITÁRIA
INCAS CAMPONESES

• CORDILHEIRA DOS ANDES ASTECAS


• ORGANIZAÇÃO FAMILIAR – CURACAS
• POLITEÍSTAS • NOROESTE DO MÉXICO
• TRABALHO COMPULSÓRIO – MITA • SERVIDÃO COLETIVA
• DIVISÃO DE TERRAS • ECONOMIA AGRÁRIA
IMPERADOR • POLITEÍSTAS
NOBREZA • ESTADO MILITARISTA E TEOCRÁTICO
• SOCIEDADE HIERARQUIZADA
• HIERARQUIA RÍGIDA IMPERADOR
NOBREZA
IMPERADOR
COMERCIANTES/ARTESÃOS
ELITE MILITAR/SACERDOTES
CAMPONESES
MÉDICOS/BUROCRATAS
CAMPONESES
ESCRAVIZADOS

CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES E A CONQUISTA ESPANHOLA

• ESPANHÓIS X CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS ASTECAS (1519)


INCAS (1532)
SUPERIORIDADE MILITAR E DOENÇAS
ALIANÇA COM POVOS SUBJUGADOS PELOS GRANDES IMPÉRIOS

64
ADMINISTRAÇÃO COLONIAL ESPANHOLA

CASAS DE DIVISÃO
ADELANTADOS
CONTRATAÇÃO DE TERRAS

• INVESTIDORES • FISCALIZAÇÃO • VICE-REINO (MAIOR


• CRISTIANIZAÇÃO • COBRANÇA DO QUINTO VALOR ECONÔMICO)
• DIREITO VITALÍCIO • REGULAMENTAÇÃO • CAPITANIA (MENOR
EM NÚCLEOS DE COLÔNIA • ADMINISTRAÇÃO VALOR ECONÔMICO)
• EXPLORAÇÃO (1/5 PARA A • NOMEAÇÃO DE
COROA ESPANHOLA) FUNCIONÁRIOS

CONSELHOS
AUDIÊNCIAS
DAS ÍNDIAS

ADMINISTRAÇÃO GERAL INSTÂNCIAS JURÍDICAS


(SEC.XVI)

SOCIEDADE COLONIAL ESPANHOLA

ÍNDIOS
CHAPETONES CRIOLLOS
E NEGROS

• ESPANHÓIS MÃO DE OBRA • DESCENDENTES DE


• ALTOS FUNCIONÁ- • REPARTIMIENTO ESPANHÓIS/NASCI-
RIOS DA COROA • ENCOMIENDA DOS NA AMÉRICA
• HACIENDA/PLANTATION • PROPRIETÁRIOS DE
TERRAS/MINA/GADO
MESTIÇOS • REPRESENTAM-SE NOS
CABILDOS (SIMILAR À
CÂMARA MUNICIPAL
• FILHOS DE ESPANHÓIS COM INDÍGENAS OU NEGROS NO BRASIL COLONIAL)
• SEM DIREITOS POLÍTICOS
• ARTESÃOS, CAPATAZES E PEQUENOS COMERCIANTES

• INTERVENÇÃO ESTATAL
• METALISMO
MERCANTILISMO • PROTECIONISMO
• BALANÇA COMERCIAL FAVORÁVEL
• COLONIALISMO

65
As primeiras expedições de reconhecimento e explo-
AULAS 5 E 6 ração foram comandadas por Gaspar Lemos, em 1501, e
Gonçalo Coelho, em 1503. Américo Vespúcio participou des-
sa última, organizada pelo comerciante Fernão de Noronha,
a quem o rei arrendara a Colônia para a exploração do pau-
-brasil em troca da defesa da costa.

PERIODO PRÉ-COLONIAL,
ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
E INVASÕES FRANCESAS

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 multimídia: livro

HABILIDADES:
1, 5, 7, 8, 9, 15, 16, 18 Naúfragos, traficantes e degredados – Eduardo Bueno
e 23
Eduardo Bueno fez uma pesquisa minuciosa em docu-
mentos de época, como os diários de bordo, relatos de
viagem e fragmentos de cartas, para reconstituir com
precisão e vivacidade a incrível saga enfrentada pelos
1. Brasil: período primeiros homens brancos que viveram no país.

pré-colonial (1500-1530)
O Brasil, logo após o Descobrimento, ainda permaneceu relati-
1.1. Pau-brasil, riqueza a ser explorada
vamente abandonado pelos portugueses, que continuavam a O vegetal do qual se extraía uma tinta muito usada em tin-
buscar as riquezas do comércio com as Índias. Para Portugal, um turaria, o pau-brasil, era também o único produto brasileiro
Estado acima de tudo voltado para o máximo desenvolvimento com algum valor comercial, embora inferior às mercadorias
mercantilista, o Brasil nada ou quase nada poderia oferecer de orientais. A extração dessa madeira ocorria no litoral da Co-
imediato se comparado ao rico mercado de especiarias. lônia, em uma área que ia do Rio Grande do Norte ao Rio
de Janeiro, sendo os portugueses os primeiros a explorá-la.
Assim foi que, por não atender aos interesses imediatos do
Depois de algumas viagens, os espanhóis afastaram-se em
Estado nem da classe mercantil portuguesa, de acordo com
respeito ao tratado de Tordesilhas. Sem compromisso com o
as exigências de sua prática mercantilista, o Brasil perma-
Tratado e sem poder comerciar diretamente com o Oriente, o
neceu ligado à sua Metrópole por umas poucas expedições contrabando foi o que restou aos franceses.
ocasionais, que aqui chegavam com o objetivo de reconhe-
cer mais amplamente o litoral ou de explorar o pau-brasil, Predatória e rudimentar, a exploração destruía matas
madeira com possibilidade de comercialização, ou ainda de sem qualquer preocupação em repô-las. A exploração li-
afugentar os franceses contestadores da divisão da América mitou-se exclusivamente à extração da madeira, sem que
entre Portugal e Espanha (Tratado de Tordesilhas – 1494), houvesse qualquer intenção de ocupar o território.
atraídos pela mesma mercadoria. A mão de obra dos índios era explorada mediante o es-
cambo, que consistia na troca de objetos de pouco va-
lor – espelhos, miçangas, objetos de ferro – pelo corte e
transporte do pau-brasil até locais determinados na costa.
Os portugueses também criaram as feitorias – estabele-
cimentos fundados no litoral da Colônia para armazenar o
pau-brasil, o qual deveria seguir para a Metrópole. Isso ser-
via para viabilizar a exploração do pau-brasil e assegurar a
multimídia: vídeo posse do território contra os invasores.
FONTE: YOUTUBE A exploração do pau-brasil era monopólio do rei (Estan-
Colonizado co Régio), como toda atividade ultramarina. Só poderia
se dedicar a ela quem tivesse uma concessão da Coroa,

66
que cobrava por isso o quinto (20% do lucro adquirido com o produto).
O negócio deixou de ser lucrativo a partir de 1530, quando as matas do litoral já estavam esgotadas, mas o Brasil continuou
exportando o pau-brasil até o início do século XIX.
Sem preocupação com o futuro e com interesse imediatista, a forma predatória de exploração seria depois empregada a todos
os recursos brasileiros.

DETALHE DA EXPLORAÇÃO DO PAU-BRASIL COM MÃO DE OBRA INDÍGENA.


“TERRA BRASILIS”, MAPA DO ATLAS MILLER, 1515-1519, DE LOPO HOMEM

A crescente presença de franceses, principalmente junto ao litoral, exigiu um esquema de policiamento mais ostensivo. Para isso,
foram enviadas duas expedições guarda-costas comandadas por Cristóvão Jacques, em 1516 e 1526, visando a combater
os corsários franceses. Entretanto, esse recurso não chegou a ter bons resultados. O litoral continuou ameaçado, o que exigiu
muito mais esforço para garantir sua segurança. Por fim, D. João III, rei português, teria anunciado uma mudança na mentalidade
lusa em relação ao Brasil, dando início a um projeto colonizador, pois era necessário “colonizar para não perder”.
Além da ameaça de invasão francesa, essa mudança de mentalidade sobre o Brasil deu-se devido ao declínio do comércio
com os produtos do Oriente e ao fato de a Espanha ter encontrado metais preciosos nas suas áreas coloniais, o que levava
Portugal a ter a mesma expectativa quanto às terras brasileiras.

2. Início da colonização brasileira (1530-1580)

OBRA DE BENEDITO CALIXTO, “FUNDAÇÃO DE SÃO VICENTE”, MOSTRA A VISÃO DO ARTISTA SOBRE A CHEGADA DOS PORTUGUESES NO LITORAL PAULISTA.

67
2. expulsar os franceses encontrados;
3. organizar núcleos de povoamento e defesa; e
4. aumentar o domínio português até o Rio da Prata,
abrangendo, portanto, terras que não pertenciam a Por-
tugal pelo Tratado de Tordesilhas.
Em 1532, ao voltar do rio da Prata, Martin Afonso fundou
multimídia: música São Vicente, no litoral do atual estado de São Paulo. São
FONTE: YOUTUBE
Vicente foi dotado de um engenho para produzir açúcar,
além de ser o primeiro núcleo de colonização no Brasil.
Eu sou Índio, eu Também sou Imortal –
Vila Isabel (samba-enredo 2000)

2.1. Colonização e suas razões


A partir de 1530, a posição de Portugal em relação ao
Brasil mudou. A distância e os custos com a manutenção
do império colonial nas Índias eram extremamente altos e
elevavam o preço das especiarias. Além disso, havia a con-
testação dos tratados luso-espanhóis por países excluídos
da partilha colonial do Novo Mundo. Ameaçando o próprio
CAPITANIA DE SÃO VICENTE
domínio português sobre o território, ataques de piratas e
corsários, principalmente franceses, eram frequentes.
As necessidades portuguesas de garantir a posse do terri-
tório e obter uma nova fonte de lucros que substituísse o
decadente comércio oriental levaram a Coroa portuguesa
à convicção de que era preciso dar início à colonização da
nova terra. O rei se convenceu de que só poderia manter
a posse da terra estabelecendo núcleos permanentes de
povoamento, colonização e defesa. Encontrar riquezas mi-
multimídia: livro
nerais em proporções semelhantes às dos espanhóis em
suas possessões era a esperança da Coroa. Capitães do Brasil – Eduardo Bueno
Esse livro narra a surpreendente saga dos capitães do
Brasil no período de 1530 a 1550, revelando os jogos
de poder, a ambição e o projeto da Coroa portuguesa
para a Colônia do outro lado do Atlântico, virtualmente
abandonada desde a expedição de Cabral.

multimídia: vídeo 3. Administração colonial


FONTE: YOUTUBE Montar um aparelho burocrático responsável pela adminis-
Descobrimento tração da Colônia era o que restava a Portugal. O litoral era
extenso e continuaria desprotegido, fato constatado pelos
núcleos de povoamento isolados, como São Vicente, que
2.2. Primeiras expedições não garantiriam a posse.
O rei D. João III tinha interesse em garantir o domínio de suas Como o comércio das Índias já não era tão lucrativo, Por-
terras brasileiras. A única possibilidade era a colonização, ape- tugal necessitava encontrar novas alternativas econômicas.
sar das dificuldades a enfrentar. Para dar início ao empreendi- Por isso, manteve sua atitude em relação à terra descober-
mento, foi organizada a expedição comandada por Martim ta com o intuito de defesa. Além disso, a descoberta de
Afonso de Souza em 1530. Seus principais objetivos eram: metais preciosos na América Espanhola valorizava as terras
1. percorrer o litoral e, quando necessário, explorar o in- descobertas e alimentava a esperança portuguesa de en-
terior em busca de ouro e prata; contrar esses metais no seu território colonial.

68
3.1. Capitanias hereditárias (1534)
O Estado português tinha sérios problemas econômicos, e a ocupação do extenso território brasileiro requeria vultosos recursos.
Assim, foi adotado o sistema de capitanias hereditárias, implantando pelo rei D.João III. A iniciativa privada arcaria com os
gastos da colonização transferidos pelo Estado.
Apenas pessoas de pouca expressão econômica e social apresentaram-se para a tarefa, pois a alta nobreza achava muito
arriscada tal empreitada, apesar das regalias e dos poderes oferecidos a quem quisesse colonizar o Brasil.
Capitanias hereditárias do Brasil

A costa brasileira foi dividida em quinze faixas de terra, com largura entre 200 e 650 quilômetros, do litoral à linha do Tratado
de Tordesilhas, no ano de 1534. Chamavam-se capitanias hereditárias pois passariam dos donatários a seus herdeiros. Os do-
natários possuíam grandes poderes: podiam dispor das terras e distribuí-las entre os colonos (as chamadas sesmarias), receber
taxas e impostos, fundar vilas, cobrar tributos pela navegação dos rios, nomear autoridades administrativas e judiciárias, etc.
Hoje a historiografia faz uma revisão sobre o verdadeiro limite geográfico das capitanias hereditárias, principalmente por conta dos
contornos dos atuais estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, os quais se orientam paralelos à linha do Tratado de Tordesilhas.

NOVO MAPA DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

69
Pela Carta de Doação, o rei concedia o direito à adminis- 3.2. Governo-Geral (1548)
tração e à posse da terra de forma hereditária ao capitão
donatário. No Foral estavam fixados os direitos, foros e Portugal, após o fracasso do sistema de capitanias, criou
tributos que a população pagaria ao rei e ao donatário. A um novo sistema administrativo: o Governo-Geral, que
constituição político-administrativa tinha por base jurídica deveria corrigir as falhas das capitanias hereditárias e não
extingui-las. O novo órgão deveria centralizar a administra-
a Carta de Doação e o Foral.
ção colonial, sendo o governador-geral a maior autoridade
As sesmarias eram grandes porções de terra que perma- da Colônia e representante direto do rei.
neceriam em poder do sesmeiro e seus descendentes desde
que eles as cultivassem. Os donatários distribuíam sesmarias
àqueles que as requeressem, para estimular a colonização.
Martim Afonso de Sousa, em São Vicente, e Duarte Coe-
lho, em Pernambuco – apenas esses dois tiveram suces-
so (em parte porque receberam muita ajuda do rei de Por-
tugal e de banqueiros flamengos). Isso estava relacionado
a um produto muito interessante aos mercados europeus,
a cana-de-açúcar.
Ataques constantes de índios hostis, falta de recursos dos
donatários, a longa distância da Metrópole, as dificuldades NOVAES, CARLOS EDUARDO; LOBO, CÉSAR. HISTÓRIA DO BRASIL
de comunicação entre as capitanias e a descentralização PARA PRINCIPIANTES. SÃO PAULO: ÁFRICA, 2003, P. 61.
político-administrativa foram algumas das várias razões
para o fracasso do sistema de capitanias hereditárias. Os capitães-donatários, com isso, perderiam parte de sua
autoridade, o que explica certa resistência deles ao novo
órgão político-administrativo. O sistema de Governo-Geral
foi criado por D. João III e, através do Regimento de 1548
(conhecido como Regimento do Governo-Geral), determi-
nava as principais funções do Governo:
ƒ ajudar os donatários no que fosse necessário;
ƒ combater índios e piratas;
multimídia: música ƒ fundar núcleos de povoamento;
FONTE: YOUTUBE ƒ estimular a catequese e defender a fé cristã;
Cara de Índio – Djavan ƒ organizar expedições em busca de metais preciosos.
O documento estabelecia, ainda, a criação de cargos auxi-
liares ao governador-geral, que eram: o de provedor-mor,
que cuidaria das finanças e outros assuntos econômicos; o
de ouvidor-mor, responsável pela justiça; o de capitão-mor,
responsável pela segurança da costa do território.

3.3. Câmaras municipais


multimídia: livro Principais órgãos de poder local, as vilas e cidades coloniais
eram administradas pelas câmaras municipais, que ti-
nham com principais funções:
A coroa, a cruz e a espada – Eduardo Bueno
ƒ estabelecer impostos e taxas;
A cidade – erguida em regime de empreitada, com lici-
ƒ fixar o valor de moedas, salários e produtos;
tações fraudadas e obras superfaturadas – de fato foi
construída. Mas a lei e a ordem não fixaram residência ƒ decidir sobre as determinações reais;
ali. Pelo contrário: a desordem e a ilegalidade se tor- ƒ criar leis municipais; e
naram a regra, não a exceção. Com a substituição do ƒ aprovar a criação de povoados.
rígido Tomé de Sousa pelo corrupto Duarte da Costa, o
As câmaras municipais representavam os interesses da aris-
que já estava ruim ficou pior.
tocracia rural brasileira e seus membros eram denominados

70
de “homens bons”. Eram compostas por um alcaide (“es- Piratininga, origem do povoado que se transformaria na
pécie” de prefeito), dois juízes, um procurador, fiscais (almo- cidade de São Paulo.
taceis) e três vereadores. Esses indivíduos eram membros da A briga de Duarte da Costa com o Bispo Sardinha, pro-
elite que detinham projeção social, grandes comerciantes, vocada pelo mau comportamento do filho do governador,
proprietários de terras e de escravizados. No início eram ho- que promovia arruaças e desrespeitava as moças, marcou
mens de “sangue puro” português; com o tempo e o au- o governo junto com outros fatos negativos.
mento da mestiçagem, essa prática foi abandonada.
A instalação dos franceses no Rio de Janeiro foi também
Por vezes, as câmaras municipais gozavam de enorme au-
um fato marcante desse governo. A invasão, em 1555, es-
tonomia, ignorando leis impostas pela capital e apostando
tava vinculada aos problemas enfrentados pelos franceses
na ausência de qualquer punição, motivadas pelos meios
na extração do pau-brasil, ao norte da costa, por causa do
de comunicação e transporte, que eram precários.
maior policiamento.

Além disso, problemas internos na França colaboraram para


a formação de um núcleo colonial no Brasil, a França An-
tártica. Isso aliviaria as tensões político-religiosas iniciadas
pelo crescimento dos huguenotes (calvinistas franceses) e
atenderia aos interesses mercantilistas da Coroa francesa.
Os franceses instalaram-se na baía da Guanabara, fundando
multimídia: livro o forte Coligny, chefiados por Durand Villegaignon e protegi-
dos militarmente por Gaspar de Coligny.

O Brasil de Hans Staden


Escrito por Fernando Antonio Novais, "O Brasil de Hans
Staden" proporciona uma preciosa contribuição ao co-
nhecimento e aos olhares sobre o primeiro século do
país, enriquecendo a leitura de Staden com importantes
informações e reflexões.

3.4. Tomé de Souza (1549-1553)


Primeiro governador-geral do Brasil, indicado pelo rei para
um mandato de três anos, teve de aguardar até 1553 para
retornar a Portugal. Veio acompanhado de aproximada-
mente 1.000 homens (soldados, profissionais, funcionários
públicos) a fim de construir a primeira cidade do Brasil, Sal-
vador, que tornou-se capital, sendo originalmente denomi-
nada Salvador da Bahia de Todos os Santos.
Além disso, criou o primeiro bispado do Brasil e os cargos
de capitão-mor, ouvidor-mor, alcaide-mor e provedor-mor,
com intuito de dividir o trabalho militar, jurídico, adminis- MAPA FRANCÊS DA BAÍA DE GUANABARA, 1555
trativo e econômico.
Concedeu sesmarias, organizou os sistemas de defesa e 3.6. Mem de Sá (1558-1572)
o comércio e estabeleceu as bases para o funcionamento O terceiro governador-geral, homem letrado, habilidoso e
administrativo do Brasil como unidade política. Durante que havia recebido o título de Conselheiro do rei, destaca-
seu governo, incentivou a produção açucareira e fundou as va-se por sua competência, o que o manteve por bem mais
câmaras municipais. tempo que seus antecessores no cargo.
Foi responsável direto pelo crescimento da produção agrí-
3.5. Duarte da Costa (1553-1558) cola ao estimular a construção de engenhos, o desenvolvi-
Um novo grupo de jesuítas, dentre os quais o padre José mento da pecuária e a importação de escravizados africanos.
de Anchieta, desembarcou no Brasil acompanhado do se- Iniciou a luta contra os franceses, que contavam com o
gundo governador-geral, que, juntamente com Manuel apoio dos índios tamoios (Confederação dos Tamoios), ini-
da Nóbrega, fundou, em 1554, o colégio de São Paulo de migos dos tupis, aliados lusos, a partir de 1560.

71
O Forte de São Sebastião do Rio de Janeiro, que seria o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro, em 1565, foi fundado
pelo sobrinho do governador, Estácio de Sá, para auxiliar na luta contra os franceses da França Antártica. Dois anos
depois, frustrando momentaneamente o desejo francês de ter uma Colônia na América, os franceses foram expulsos da
região e a França Antártica foi destruída.
D. Luís de Vasconcelos, nomeado como quarto governador-geral, não chegou ao Brasil, pois sua esquadra foi destroçada por
corsários franceses. Também morreram nessa ocasião quarenta jesuítas que acompanhavam o governador. Ficaram conhecidos
na história como os Quarenta Mártires do Brasil.
O Brasil foi dividido em dois governos: o do norte, com capital em Salvador e governado por Luís de Brito Almeida, e o do
sul, com capital no Rio de Janeiro e governado por Antônio Salema, em 1573.
Luís de Brito Almeida ficou quatro anos no poder, mas logo foi substituído por Lourenço da Veiga. Governava Lourenço da
Veiga quando, em 1580, Portugal e sua Colônia passaram para o domínio espanhol, na chamada União Ibérica. Entre os
anos de 1621 e 1775, houve uma nova divisão: Estado do Brasil (capital Salvador até 1763 e depois Rio de Janeiro) e Estado
do Maranhão/Grão-Pará (capital São Luís até 1737 e depois Belém).

Equador

Repatirção São José do Rio Negro


Belém
(Manaus)
do Norte São Luís
ESTADO DO
GRÃO-PARÁ

Salvador ESTADO DO
BRASIL
Vila Real Salvador
(Cuiabá) (capital até 1763)
Vila Boa
Porto Seguro

Sabará
Repatirção Vila Rica (Ouro Preto) Vitória
São João del Rei
do Sul São Paulo
560 km Rio de Janeiro
(capital a partir de 1763)
Curitiba São Vicente
Tratado de Tordesilhas, 1494
Rio de Janeiro 2
3
Tratado de Utrecht, 1713-15
Tratado de Madri, 1750 2 Vila do Desterro
4 Tratado de Santo Idelfonso, 1777 4
5 Tratado de Badajós, 1801
5 Porto Alegre
Área disputada por Portugal e Espanha 3
OCEANO
Áreas em litígio com os países
Vila de São Pedro
ATLÂNTICO
vizinhos no decorrer do séc. XIX
Colônia do Sacramento

no processo de expansão marítima, foram marginalizadas na


divisão das terras americanas.
Em busca de pau-brasil e outras riquezas que viessem a ser
encontradas nas novas terras recém-descobertas, ainda no
século XVI, corsários de origem francesa e inglesa ataca-
vam constantemente a costa brasileira.
multimídia: livro

A História do Brasil Em 50 Frases - Jaime Klintowitz


Quais os rostos, nomes, inspirações e histórias da nossa
história? Um ângulo surpreendente para observar o nos-
so país. Um passeio pela ironia da linguagem, pela di-
versidade política e pelas descobertas de nossa literatura.

4. Invasões francesas NICOLAS DURAND DE VILLLEGAGNON

(séculos XVI e XVII) Inicialmente, corsários franceses, com o apoio do Estado,


praticavam a pirataria na costa brasileira, praticando es-
A divisão do Novo Mundo entre Portugal e Espanha, a partir cambo com os índios e explorando o pau-brasil, papagaios
do Tratado de Tordesilhas, desagradou outras nações, como e algodão nativo. A França tinha interesses nas Américas e
França, Inglaterra e Países Baixos, que, por terem se atrasado não reconhecia a divisão entre Portugal e Espanha.

72
Daniel de La Touche invadiu a região, fundando o Forte de
São Luís em homenagem a Luís IX, patrono da França, e
ao rei francês à época, Luís XIII.
A luta contra os franceses no Maranhão foi liderada por Je-
rônimo de Albuquerque e Diogo de Campos, que partiram
de Pernambuco.
multimídia: vídeo O Forte de São Luís foi tomado pelos luso-espanhóis e dali
FONTE: YOUTUBE se originou, mais tarde, a cidade de São Luís, capital do
Vermelho Brasil Maranhão. Sem condição de resistir na região, os franceses
foram expulsos definitivamente em 1615.
A França era motivada por dois fatores fundamentais: o Luís XIII acabara de se casar com a filha de Felipe III da Es-
desejo de ter uma colônia na América e os conflitos reli- panha, o que selava a paz entre as duas nações e encerra-
giosos entre católicos e huguenotes (calvinistas franceses) va a luta pela instauração da França Equinocial. Derrotados
resultantes da Reforma Protestante. Ainda no século XVI, em 1615, os invasores se retiraram definitivamente.
os franceses decidiram fundar uma colônia na América.
Para os calvinistas, essa colônia seria uma área onde po- 4.2. Conselho Ultramarino
deriam viver livres das perseguições movidas pelo Estado,
podendo com segurança e estabilidade praticar seu culto. D. João IV se tornou rei, pondo fim à União Ibérica após
a restauração do trono português, em 1640, quando foi
Nicolas Durand de Villegaignon liderou pessoalmente a criado o Conselho Ultramarino, regulamentado em 1642.
ocupação da baía de Guanabara em 1555. Dali tomaram O novo órgão nasceu subordinado à Secretaria de Estado
outras ilhas, recebendo reforços dos índios tamoios, com os dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos e esta-
quais se aliaram.
va encarregado exclusivamente da administração colonial,
Mem de Sá, o terceiro governador-geral do Brasil, e seu concluindo o processo iniciado em 1548 com a instalação
sobrinho, Estácio de Sá, conduziram a luta pela expulsão do Governo-Geral, sendo um passo decisivo para a centra-
dos franceses da baía de Guanabara. Com o intuito de lização administrativa colonial.
servir de base na luta contra os invasores, fundou o Forte
Significativamente, os governadores-gerais começaram a
de São Sebastião do Rio de Janeiro (1565), que viria a ser
ser chamados de vice-reis, embora tal denominação só se
o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro.
oficializasse posteriormente no Brasil. Com o Conselho Ul-
Após meses de negociação, os padres Manuel da Nóbrega e tramarino, os poderes dos donatários, que já haviam sido
José de Anchieta conseguiram convencer os índios tamoios a limitados com a criação do Governo-Geral, diminuíram
retirarem seu apoio aos franceses. Com a ajuda de habitan- sensivelmente, ficando praticamente limitados aos direitos
tes da vila de São Vicente e dos índios termininós (tupis) do tributários que estabeleciam os forais.
Espírito Santo, chefiados pelo cacique Arariboia, os franceses
foram expulsos da baía de Guanabara em 1567. Rei Estado Metropolitano

Governador-geral Poder Central


Colônia

Donatário Poder Regional


multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Desmundo
Câmara Municipal Poder Local

4.1. França Equinocial (1612-1615)


Os franceses buscaram outra área para ocupar na Amé-
rica do Sul. A região escolhida foi o território do atual
estado do Maranhão.

73
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O extrativismo vegetal e os seus efeitos nocivos ao habitat nativo do Brasil, com a exploração de toneladas
de madeira (principalmente o pau-brasil) sem nenhum cuidado referente a sua preservação, levou a uma
grande diminuição da mata nativa da costa brasileira (Mata Atlântica), além de causar a extinção de inúmeras
espécies vegetais e animais.

74
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 4
Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.

Cada vez mais o Enem lança mão de questões com fragmentos de textos acadêmicos ou de relatos históricos. A
Habilidade 4 se insere nessa perspectiva, exigindo a comparação entre os textos fornecidos. O candidato deverá
se preocupar em aguçar sua capacidade de leitura e compreensão, pois, na maioria dos casos, a resposta do
exercício está contida explícita ou implicitamente nos textos fornecidos.
Para os estudantes de ciências humanas, conseguir relacionar pontos de vista, premissas ideológicas e registros
documentais criticamente é uma tarefa indispensável, exigida a todos os candidatos no Enem.

MODELO 1
(Enem) Texto I
Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente
brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao status
econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos “negro da terra” e “índios” eram
utilizados com mais frequência do que qualquer outro.
SCHWARTZ, S. B. GENTE DA TERRA BRAZILIENSE DA NAÇÃO. PENSANDO O BRASIL: A CONSTRUÇÃO DE UM POVO. IN: MOTA, C.
G. (ORG.). VIAGEM INCOMPLETA: A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA (1500-2000). SÃO PAULO: SENAC, 2000 (ADAPTADO).

Texto II
Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela
diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis,
portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto
os tupinambás e os astecas.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. DICIONÁRIO DE CONCEITOS HISTÓRICOS. SÃO PAULO: CONTEXTO, 2005.

Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período anali-
sado, são reveladoras da
a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado.
b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias.
c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados.
d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval.
e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.

ANÁLISE EXPOSITIVA
Ao desprezarem a diversidade cultural indígena, os europeus que chegaram ao continente americano de-
monstraram seu etnocentrismo, que se manifestou tanto na linguagem que utilizaram quanto nas atitudes que
tomaram nesses novos territórios.

RESPOSTA Alternativa C

75
DIAGRAMA DE IDEIAS

PERÍODO PRÉ-COLONIAL (1500-1530)

EXPLORAÇÃO DO PAU-BRASIL EXPLORAÇÃO PREDATÓRIA


MÃO DE OBRA LIVRE
ESCAMBO
FEITORIAS
COROA FICA COM 1/5 DO LUCRO (QUINTO)

BRASIL NO INÍCIO DA COLONIZAÇÃO (1530-1580)

ADMINISTRAÇÃO COLONIAL GOVERNADOR-GERAL (1548)


CAPITANIAS HEREDITÁRIAS • REPRESENTANTES DO REI
• CENTRALIZAR A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
CARTA DE DOAÇÃO E FORAL • AUXILIAR AS CAPITANIAS
DONATÁRIOS CÂMARAS MUNICIPAIS
FRACASSO
“HOMENS BONS” (ELITE)
FALTA DE RECURSOS OCUPANTES DA CÂMARA
DIFICULDADE DE COMUNICAÇÃO • ÓRGÃOS DE PODER LOCAL
ATAQUES DE ÍNDIOS • FIXAR VALOR DE MOEDAS
DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA E ADMINISTRATIVA • CRIAR LEIS MUNICIPAIS
• ESTABELECER IMPOSTOS
APENAS DUAS OBTIVERAM SUCESSO: • APROVAR CRIAÇÃO DE POVOADOS
SÃO VICENTE E PERNAMBUCO

INVASÕES FRANCESAS
CONSELHO ULTRAMARINO (1642)
(SÉC. XVI E XVII)

ATAQUES CONSTANTES À COSTA BRASILEIRA CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES:


EM BUSCA DE PAU-BRASIL • CENTRALIZAÇÃO DA
ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
• SUBJUGADO À SECRETARIA DE ES-
FRANÇA ANTÁRTICA FRANÇA EQUINOCIAL TADO DOS NEGÓCIOS DA MARINHA
(1555 - 1567) (1612 - 1615) E DOMÍNIOS ULTRAMARINOS
RIO DE JANEIRO MARANHÃO • LIMITA O PODER DOS DONATÁRIOS
E ARREDORES

76
de capital para os centros dinâmicos da Europa. O eixo central
AULAS 7 E 8 desse mecanismo era o regime do monopólio colonial. Conhe-
cido como Pacto Colonial ou exclusivo colonial, esse regime
estabelecia a exclusividade do comércio externo da Colônia
em favor da Metrópole. Procurava-se sempre, até onde fosse
possível, pagar os menores preços pelos produtos da Colônia
ECONOMIA COLONIAL, para vendê-los com maior lucro na Metrópole ou revendê-los
para o mercado europeu. Além disso, buscava-se conseguir
SOCIEDADE E INVASÕES maiores lucros da venda de produtos oriundos da Metrópole,

HOLANDESAS sem concorrência na Colônia. A economia colonial era, por-


tanto, complementar em relação à economia metropolitana.
E para evitar a concorrência com a Metrópole, foi vetada a
instalação de manufaturas na Colônia.

COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
2. A cana-de-açúcar
HABILIDADES:
3, 5, 7, 8, 9, 13, 15, 18
e 23
(séculos XVI e XVII)
A cana-de-açúcar foi o produto escolhido para dar início
à ocupação econômica do Brasil por uma série de razões:
ƒ A experiência portuguesa na produção de cana na cos-
1. Economia colonial ta africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé).
ƒ A possibilidade de atrair investimentos externos.
e mercantilismo ƒ Solo e clima favoráveis, especialmente o solo de massa-
Em uma situação econômica não favorável, principalmente pé e o clima quente e úmido do Nordeste.
em virtude da crise do comércio com o Oriente, Portugal deci-
ƒ O açúcar era um produto altamente lucrativo.
diu pela colonização do Brasil, que seria, portanto, uma alter-
nativa de acúmulo de capitais para o Estado lusitano no con- ƒ A aceitação do produto no mercado europeu.
texto da política mercantilista. Dessa forma, foi implantada Por seu valor, o açúcar poderia atrair investimentos, navios ho-
uma colonização de exploração, através da qual as colônias landeses poderiam colaborar no transporte, os índios poderiam
serviriam para o sustento da economia metropolitana, sendo ser obrigados a trabalhar na lavoura e, se não se adaptassem,
áreas produtoras de gêneros tropicais, fornecedoras de me- havia os africanos, muitos deles já escravizados pelos portu-
tais preciosos e consumidoras de produtos manufaturados e gueses. A experiência de Portugal como produtor de açúcar em
escravizados. Gerando riquezas e permitindo a ocupação e a
suas ilhas do Atlântico (Madeira e Cabo Verde) contribuiu para
defesa da terra, sem gastos para a Metrópole, a colonização
a escolha do produto e a forma de produção: eram semelhantes
do Brasil deveria garantir o sustento econômico de Portugal.
as condições ecológicas do Brasil e das ilhas, o açúcar era das
Povoamento ou exploração? Eis a questão: especiarias mais bem pagas e apreciadas no mercado europeu.
Colônia de povoamento Colônia de exploração
Pequena propriedade familiar Latifúndio

Policultura, artesanato e manufatura Monocultura

Possibilidade ao trabalho livre Predomínio do trabalho escravo


Mercado interno Exportação
Relativa autonomia econômica
e administrativa
Submissão ao pacto colonial multimídia: livro

Voltada para o mercado externo, transferindo capital da Colô- Evaldo Cabral de Mello – O Brasil holandês
nia para a Metrópole, que controlava a circulação mercantil, a A presença do conde Maurício de Nassau no Nordeste brasilei-
economia colonial agrícola tinha seu funcionamento baseado ro, no início do século XVII, transformou Recife na cidade mais
na monocultura, no latifúndio e na escravidão. A natureza da desenvolvida do Brasil. Em poucos anos, o que era um peque-
produção colonial ajustava-se às necessidades do mercado no povoado de pescadores virou um centro cosmopolita.
europeu. Assim, a Colônia era um instrumento de acumulação

77
A primeira grande divisão de terras foi fundamental para
determinar o modelo de colonização. Esse modelo ficou co-
Natal nhecido como plantation e baseava-se em três elemen-
tos: grande propriedade (latifúndio), monocultura e
Meridiano de Tordesilhas

66 Paraíba
engenhos trabalho escravo (escravismo).
sco
Olinda
nci Recife
Fra Era uma decorrência natural do chamado Pacto Colonial,
Porto Calvo
o
Sã Penedo segundo o qual as colônias só poderiam comerciar com suas
metrópoles. Por isso, todos os esforços deviam concentrar-se
Rio

36 Cachoeira
engenhos na cultura de um só produto, isto é, na monocultura, sendo
Salvador
esta voltada para exportação. Grandes extensões de terra
4
engenhos
Ilhéus eram utilizadas para o plantio da cana e reduzidos espaços
Porto Seguro
eram destinados a uma agricultura de subsistência. O esta-
belecimento da agricultura no Brasil, como em outras áreas
6
engenhos
tropicais, teve como principal objetivo cultivar um produto
Vitória de grande valor comercial na Europa e altamente lucrativo.
3
engenhos
Campo dos Goitacás O rei regulamentou a escravização do índio sob pretexto
São Paulo Rio de Janeiro de defendê-lo. Daí por diante, para aprisionar índios foram
São Vicente Santos organizadas as chamadas bandeiras, expedições que se
4
engenhos tornaram um dos principais fatores da atual extensão do
território brasileiro, principalmente na região mais ao sul
OS ENGENHOS DE AÇÚCAR NO BRASIL do Brasil Colônia (atual Sudeste). Em 1570, uma Carta Ré-
gia autorizava a escravização de índios presos em “guerra
Portugal enfrentava dificuldades econômicas e, por isso, as- justa”, isto é, conflito iniciado pelos índios ou promovido
sociou-se, em especial, ao capital holandês na montagem contra tribos que se negassem a se submeter aos colonos
da agromanufatura açucareira. A lavoura açucareira requeria ou que recusassem a catequese.
grandes investimentos iniciais, especialmente para a compra
e montagem dos equipamentos dos engenhos, o transporte
de mudas para o Brasil e a obtenção de mão de obra escrava. 2.1. A organização da
produção do Engenho
A grande produção só começou oficialmente com Martim
Afonso de Souza, em 1533, em São Vicente. Mas registros
da alfândega de Lisboa de 1526 já acusam a entrada de
açúcar vindo de Itamaracá, em Pernambuco.
As construções principais num engenho eram a casa-gran-
de, a senzala, as estrebarias e as oficinas. Já as principais
multimídia: livro instalações eram a moenda, a caldeira e a casa de purgar.
Havia dois tipos de engenho: o real, movido por roda-
Evaldo Cabral de Mello – O bagaço da cana -d’água, e o trapiche, movido por tração animal. Um en-
Depois de O Brasil holandês, em que Evaldo Cabral de Mello genho se constituía basicamente de:
contextualiza trechos dos documentos mais importantes ƒ Casa do engenho: formada pelas instalações desti-
sobre a presença batava no Nordeste, o autor publica obra nadas à produção de açúcar, como a moenda (onde
sobre os engenhos de açúcar na região, que complementa se mói a cana para extrair o caldo), a fornalha (onde
o livro anterior e constitui um instrumento valioso para o se purifica o caldo), a casa de purgar (onde se acaba
estudo da história socioeconômica do período. de purificar o caldo) e os galpões (onde o açúcar era
armazenado).
No Brasil, a atividade açucareira funcionava da seguinte ma- ƒ Casa-grande: residência, geralmente assobradada,
neira: os portugueses ficavam responsáveis pela produção e onde viviam o senhor e sua família. Nela também mo-
os holandeses financiavam a montagem dos engenhos, bem ravam os empregados de confiança (capatazes) que
como controlavam o transporte, o refino e a comercialização cuidavam de sua segurança. Era a central administra-
do açúcar, obtendo a maior porcentagem de lucros. tiva das atividades econômicas do engenho.

78
ƒ Capela: local das cerimônias religiosas.
ƒ Senzala: habitação de um único compartimento, rústi-
ca e pobre, onde viviam os escravizados.

multimídia: livro

Alencastro, Luiz Felipe de – O Trato dos Viventes


Nossa história colonial não se confunde com a conti-
nuidade do nosso território colonial. Sempre se pensou
o Brasil fora do Brasil, mas de maneira incompleta: o
país aparece no prolongamento da Europa. Ora, a ideia
exposta nesse livro é diferente e relativamente simples:
a colonização portuguesa, fundada no escravismo, deu
lugar a um espaço econômico e social bipolar, englo-
FRANZ POST. DETALHE DE ENGENHO, SÉCULO XVII. bando uma zona de produção escravista situada no li-
ÓLEO SOBRE TELA, 71,5 × 91,5 CM toral da América do Sul e uma zona de reprodução de
escravizados centrada em Angola.

Principais rotas do tráfico

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
– Cana-de-Açúcar, o Doce Sabor do Prazer –
Barroca Zona Sul (samba-enredo 2007)

2.2. Escravidão africana


A substituição da escravidão indígena pela negra foi favo-
Enquanto a escravidão indígena gerava um comércio lo-
recida pela questão da obtenção de peças (escravizados).
cal, a escravidão negra permitia a obtenção de gran-
Em 1570, o rei português D. Sebastião proibiu a escravidão
des lucros por parte dos traficantes portugueses, que do-
indígena, sendo a mesma permitida somente nos casos de
minavam áreas fornecedoras de escravizados na África,
índios capturados em combate contra os portugueses nas
como Angola, Goa, São Tomé e, posteriormente, Moçam-
chamadas “guerras justas”.
bique. Na lógica mercantilista, o Pacto Colonial obrigava
a Colônia a fornecer metais preciosos e gêneros tropicais Os índios brasileiros eram nômades e seminômades e, por-
baratos para a Metrópole, além de consumir manufaturas tanto, migravam constantemente. Além disso, a extensão
e escravizados. do território era outro fator que dificultava a captura de
índios. Já os negros eram obtidos na África por meio de
Muitos clérigos acreditavam que os negros eram descen-
escambos entre os traficantes e os próprios africanos, que
dentes de Cam, filho de Nóe, condenado à danação eter-
capturavam negros de tribos rivais e trocavam-nos por
na por desrespeitar o pai. Muitos membros da Igreja Ca-
aguardente, rapadura e fumo trazidos do Brasil. Ou seja,
tólica na Europa defendiam que a raça negra deveria ser
a escravidão negra era menos trabalhosa na aquisição do
escravizada para tentar redimir sua “alma amaldiçoada”.
escravizado e muito mais lucrativa para a Coroa.
Além disso, o papado reconheceu o monopólio português
no tráfico negreiro, determinando que os negros escravi- A ideia da substituição da escravidão indígena pela negra
zados fossem batizados e, através do trabalho, pudessem em virtude da inabilidade do índio para a grande lavoura ou
salvar suas almas. por sua incompatibilidade com a escravidão, de acordo com

79
o mito da “indolência inata do indígena”, é incorreta,
pois tanto o indígena como qualquer outro ser humano é
inapto à escravidão.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Navio negreiro – Tráfico de africanos para as Américas

NEGROS NO PORÃO DE UM NAVIO NEGREIRO

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Casa-Grande e Senzala – Mangueira
(samba-enredo 1962)

2.3. Engenhos e a sociedade


Essencialmente a sociedade colonial era:
ƒ Inculta – pois mesmo os membros da elite só recebiam
o ensino das “letras básicas”, normalmente adquiridos
pelos ensinamentos dos jesuítas e que não passavam
PLANTA DE NAVIO NEGREIRO do aprender a ler, escrever e contar de modo primário.
Entre as formas de resistência mais comuns, estavam a ƒ Aristocrática – porque dominada pelos ricos proprietá-
prática de aborto, o infanticídio, o suicídio e o “banzo” rios de terras e de escravizados. Os senhores de engenho
(caracterizado por greve de fome e depressão por causa formavam uma aristocracia de riqueza e poder, mas não
da privação da liberdade). Menos comum, mas ocorrente, uma nobreza hereditária como a que existia na Europa.
era o ataque à casa do senhor e a sua família. A resistência
ƒ Rural – porque a vida econômica baseava-se na agri-
negra podia se dar também por meio de fugas individuais,
fugas coletivas e formação de quilombos. cultura. A vida urbana ainda era muito incipiente, com
a quase totalidade da população habitando o campo.
As vilas e cidades eram pouco habitadas e eram em sua
“O tráfico negreiro provocou um dos maiores deslo- maioria litorâneas.
camentos populacionais da história da humanidade. ƒ Escravista – porque a força de trabalho baseava-se na
O banco de dados coordenado pelo professor David escravidão do índio ou do negro. As relações escravistas
Eltis, da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, não se resumiam a um vínculo direto entre senhor e es-
mostra que, entre os séculos XVI e XIX, mais de 12,5 cravizado. Existiam escravizados alugados para a pres-
milhões de africanos foram escravizados e exportados tação de serviços a terceiros (“escravizados de ganho”).
para a América, Europa e algumas ilhas do Oceano At- Quanto aos escravizados domésticos, tinham grande
lântico. Desses, cerca de 10,7 milhões chegaram vivos participação na vida social da Colônia, pois seu contato
ao fim da travessia.“ com os brancos da casa-grande era mais intenso. Via
A DIÁSPORA NEGRA. REVISTA HISTÓRIA VIVA, ANO VI, N. 66. de regra, eram criados de quarto, amas, mucamas, cozi-
nheiras e costureiras.

80
ƒ Sem mobilidade social – porque era ínfima a opor- ao longo dos séculos de colonização brasileira, sendo esses
tunidade para trabalhadores e escravizados saírem “gêneros complementares” importantes no processo de
dessa condição e ascenderem socialmente. ocupação e expansão de nosso território.
ƒ Patriarcal – porque o proprietário rural e pai de fa-
mília, ao considerar-se responsável pelo provimento 3.1. Nordeste e a pecuária
material do lar, impôs a obrigação de ser respeitado e Inicialmente, a criação de gado serviu de atividade com-
obedecido no âmbito familiar. Esse poder sobre a famí- plementar ou acessória à lavoura de cana-de-açúcar
lia era estendido à sociedade, já que, como dono das como fonte de alimento, tração para os engenhos de
riquezas materiais (terra, lavoura, gado, escravizados, trapiche, meio de transporte e fornecedora do couro uti-
engenho, etc.), o senhor considerava toda a população lizado na fabricação de calçados, cintos, celas, chicotes,
não proprietária dependente dele. utensílios domésticos e também para exportação. O gado
bovino não era nativo do Brasil, tendo sido introduzidas
as primeiras cabeças pelo governador Tomé de Souza,
sendo esse gado trazido, principalmente, de Cabo Verde.
Em virtude disso, a pecuária começou a ser “empurrada” na
direção do interior da região Nordeste. Muito adaptada à rea-
lidade climática do Nordeste, a atividade criatória se desenvol-
veu e cresceu, passando a ocupar um espaço economicamen-
multimídia: livro te mais viável do que quando dividindo com a lavoura de cana.
A pecuária se desenvolveu acompanhando o leito de gran-
Gilberto Freyre – Casa-Grande & Senzala des rios, caminhos naturais de penetração, especialmente o
Abordagens inovadoras de vida familiar, dos costumes rio São Francisco, conhecido como “rio dos currais”, maior
públicos e privados, das mentalidades e das inter-relações responsável pela ocupação econômica do interior nordesti-
étnicas revelam um painel envolvente e deliciosamente no, já a partir do século XVI.
instigante da formação brasileira no período colonial Como o gado vivia solto, não fazia sentido a utilização
de mão de obra escrava, pois esta era muito cara para a
realidade da pecuária. A pecuária nordestina era predomi-
nantemente extensiva, sendo o gado criado solto, alimen-
tando-se de pastagem natural.
Essa atividade utilizava mão de obra predominantemen-
te livre, sendo os vaqueiros, em geral, mestiços e brancos
pobres que normalmente não recebiam salários, e sim um
multimídia: livro rendimento relacionado à reprodução dos animais, através
do sistema de “quartiado”, ou seja, a cada quatro reses
que nasciam, uma era do vaqueiro.
Sérgio Buarque de Holanda – Raízes do Brasil
As fazendas mais próximas do litoral passaram a se desta-
Raízes do Brasil é uma das obras fundadoras do pen- car em virtude da maior facilidade para obtenção de sal e
samento sobre a sociedade brasileira. No método de da proximidade com os portos que escoariam a produção.
análise e estilo da escrita, na sensibilidade para a es-
colha dos temas e erudição exposta de forma concisa, No século XVIII, com o desenvolvimento da região Sudeste
revela-se o historiador da cultura e ensaísta crítico com em virtude da mineração, o Nordeste passou a fornecer
talentos de grande escritor. gado para a região. Inicialmente, o gado se autotranspor-
tava, o que fazia com que as reses emagrecessem e até
morressem durante a viagem. Para evitar prejuízos, os nor-
destinos passaram a utilizar uma técnica aprendida com
3. Outras atividades os índios, que consistia em salgar a carne e colocá-la para
secar ao sol, processo conhecido como charqueada. Ainda
econômicas no século XVIII, a técnica do charque foi levada para a re-
Todavia, a produção canavieira não seria suficiente para ga- gião Sul, que oferecia melhores condições para a criação
rantir a colonização e ocupação de todo o território; assim, de gado e tornou-se uma grande concorrente do charque
outras atividades econômicas surgiram e desenvolveram-se nordestino, contribuindo para sua decadência.

81
Mapa econômico do Brasil (século XVIII)

DISPONÍVEL EM: <HTTP://CAFEHISTORIA.NING.COM/PHOTO/MAPA-HISTORICO-BRASIL-7?CONTEXT=LATEST>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015.

3.2. Pecuária na região Sul 3.3. Tabaco


Durante a União Ibérica (1580-1640), os holandeses ocupa- O período de maior crescimento do comércio do tabaco foi
ram as regiões produtoras de cana no Nordeste, com desta- o século XVII, que se relaciona diretamente com a fase de
que para Pernambuco (1630-1654), e também áreas forne- maior intensidade do tráfico negreiro em todo o período
cedoras de escravizados na costa africana. O resultado foi a colonial. A principal área produtora de tabaco no perío-
queda do tráfico negreiro para as outras regiões do Brasil, o do colonial foi a região do Recôncavo Baiano. O fumo era
que favoreceu a atuação de bandeirantes que capturavam largamente consumido na Europa e também era utilizado,
índios para vender como escravizados. juntamente com a aguardente e a rapadura, no escambo
com aldeias africanas, que os trocavam por escravizados.
Os bandeirantes passaram a atacar e destruir as missões da
região Sul, o que levou o gado a ficar solto, vagando e repro- No Segundo Reinado (1840-1889), em virtude da lei Eusé-
duzindo-se na região. A ocupação da região Sul teve início bio de Queiros, de 1850, que proibia o tráfico internacional
com a fundação das Missões Jesuíticas de Itatim e Guairá, de escravizados africanos para o Brasil, a produção de ta-
nas quais índios aldeados criavam gado bovino e plantavam baco entrou em declínio.
erva-mate.
Em 1682, jesuítas espanhóis fundaram os Sete Povos das 3.4. O sertão e as drogas
Missões, no atual Rio Grande do Sul, onde passaram a criar As ervas aromáticas e as plantas medicinais, como boldo,
o gado capturado pelos índios. Interessado no comércio com cacau, canela, cravo, baunilha, castanha e guaraná, produ-
a região da Bacia Platina, Portugal fundou, em 1680, a Co- tos encontrados e coletados no interior, destacadamente
lônia do Sacramento, próxima a Buenos Aires, região que, nas margens dos rios amazônicos, eram conhecidas como
segundo o Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha. drogas do sertão. Tais produtos tinham grande valor co-
O aumento populacional e o desenvolvimento econômico mercial na Europa, o que provocava constantes incursões
na região permitiram a formação de um grande mercado de piratas ingleses, franceses e holandeses na região.
consumidor para o gado, que fornecia carne, leite e couro. Como seriam comercializados com o mercado europeu,
O clima e a vegetação favoreciam a atividade criatória e o e devido aos embates com nativos não amistosos que
desenvolvimento de grandes fazendas conhecidas como es- viviam na região amazônica, tais produtos só não repre-
tâncias, principais fornecedoras de charque para a região das sentaram maior impacto na economia colonial devido à
minas, descobertas no final do século XVII. distância do litoral.

82
Essa unificação está intimamente ligada à vinda dos holan-
deses para o Brasil.
Em 1578, ocupava o trono português D. Sebastião, que
viria a ser o último monarca da Dinastia de Avis. As dificul-
dades socioeconômicas e o espírito cruzadista levaram-no a
lutar contra os mouros no norte da África.
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Chocolate – Tim Maia

3.5. Algodão
A principal área produtora de algodão do mundo era a re-
gião Sul das Treze Colônias inglesas na América do Norte.
Em virtude da crise da cotonicultura norte-americana, pro-
vocada pela Guerra de Independência dos EUA, entre 1776
e 1783, a Inglaterra veio a consumir o algodão produzido
no Brasil. O algodão servia como matéria-prima para a
D. SEBASTIÃO, “O DESEJADO”
indústria têxtil inglesa, que era a maior consumidora do
produto devido à I Revolução Industrial. D. Sebastião desapareceu, não deixando herdeiros, du-
rante a batalha de Alcácer-Quibir (atual Marrocos). O
No século XVIII, a principal área de produção de algodão
velho cardeal D. Henrique, único sobrevivente masculino
no Brasil Colonial e que teve um grande crescimento na
da linhagem de Avis, assumiu a regência enquanto não
produção era a região do Maranhão. Uma grande lavoura
se solucionava o problema da sucessão. Em 1580, o car-
monocultora e escravista, que atraiu grande quantidade de
deal-regente morreu. Felipe II, rei da Espanha, neto de D.
negros para a região.
Manuel, o Venturoso (o mesmo que organizara a esquadra
Já no século XIX, devido à Guerra de Secessão (1861- de Pedro Álvares Cabral), achou-se no direito de ocupar o
1865), o Sul dos EUA ficara destruído, arrasando a coto- trono português.
nicultura local, levando o algodão maranhense a ser muito
importante novamente para a Inglaterra. Reuniu suas tropas e invadiu Portugal, sendo apoiado inclu-
sive por uma parcela da classe dominante portuguesa, que
via na união com a Espanha a possibilidade de estender o
tráfico de escravizados para a América espanhola.
Portugal ficou submetido à Espanha durante 60 anos. Con-
sequentemente, nesse período o Brasil também passou para
o domínio espanhol, sofrendo alterações na sua estrutura
interna e no seu relacionamento internacional.
multimídia: música
Em 1580, quando da união das Coroas Ibéricas, Portugal
FONTE: YOUTUBE viu-se envolvido pelas rivalidades espanholas, sobretudo
Algodão – Luiz Gonzaga com relação à Holanda. Em 1581, a Holanda proclamava
sua independência do Império Espanhol. Rebelados desde
1568 contra os altos impostos e a repressão religiosa do ca-
4. Invasões holandesas tólico Felipe II contra o calvinismo, os holandeses tiveram de
sustentar longos anos de lutas para preservar sua liberdade
(século XVII) diante do poderio espanhol, lutas essas que ficaram conhe-
cidas como Guerra dos 80 Anos (1568-1648). A Holanda
4.1. União Ibérica (1580-1640) havia financiado a produção do açúcar brasileiro, esperando
Antes de estudar as invasões holandesas – as mais impor- distribuí-lo na Europa, mas, visando a prejudicá-los, Felipe
tantes pelo tempo de permanência em nosso território e pela II decretou o fechamento dos portos do Brasil, de Portugal
área abrangida –, é necessário examinar a União Ibérica, uni- e de qualquer domínio espanhol aos navios e comerciantes
ficação de Portugal e Espanha no período de 1580 a 1640. flamengos. Os prejuízos dos holandeses foram enormes.

83
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Invasões holandesas 1

4.2. Bahia e a invasão holandesa (1624-1625)


A Companhia das Índias Ocidentais planejou a conquista
da Bahia. Para os holandeses, conquistar o Nordeste bra-
sileiro significava assegurar o controle da produção açuca-
reira, manter o funcionamento de sua economia e romper
o embargo espanhol.

FELIPE II Atacadas de surpresa, as forças luso-brasileiras, coman-


dadas pelo bispo D. Marcos Teixeira e pelo governador
Sendo a detentora da redistribuição de inúmeros produtos Mendonça Furtado, foram forçadas a uma rápida rendi-
para o norte da Europa e Mediterrâneo, a Holanda não ção, em maio de 1624. O bispo escapou e refugiou-se no
teve outra alternativa senão lançar-se em busca daquelas Arraial do Espírito Santo, nos arredores de Salvador, de
mercadorias nas áreas produtoras. Paulatinamente, a partir onde iniciou a resistência, apoiado pelo governador de
desse instante, a hegemonia holandesa se firmou no Orien- Pernambuco, Matias de Albuquerque.
te, à custa do recuo dos portugueses que, sem autonomia,
dependiam de ações espanholas na região. Embora tivessem obtido com certa facilidade a rendição
luso-brasileira, Jacob Willekens e Johan van Dorth, os co-
Assim, já nos últimos anos do século XVI, os holandeses
mandantes das forças holandesas, não conseguiram con-
tinham atingindo o Oriente pela rota do Cabo e, em 1602,
solidar a conquista. Faltou-lhes maior apoio da Holanda,
fundaram a Companhia das Índias Orientais, que re-
que, envolvida em diversos conflitos contra a Espanha,
cebeu o monopólio do comércio oriental, compreendido
não enviou reforços, suprimentos, armas e munições.
entre o Cabo da Boa Esperança e o Estreito de Magalhães
por todo o Índico e o Pacífico. Cercados por terra pela guerrilha e atacados por mar pela
esquadra luso-espanhola, a Jornada dos Vassalos, co-
Os holandeses fundaram, então, a Companhia das Ín-
mandada por Fradique de Toledo Osório, os holandeses
dias Ocidentais, também conhecida pela sigla em inglês
WIC (West Indian Company), monopolizando o comércio não conseguiram consolidar a posse da região. Os frequen-
no Atlântico. A luta entre Espanha e Holanda impediu, tam- tes ataques dos guerrilheiros sediados no Arraial do Espíri-
bém, que que os holandeses se abastecessem de produtos to Santo fizeram com que os holandeses fossem expulsos
americanos, como o açúcar e o tabaco. da Bahia em maio de 1625.

multimídia: música multimídia: vídeo


FONTE: YOUTUBE FONTE: YOUTUBE
Brasil e Holanda – Moacyr Luz Invasões holandesas 2

84
4.3. Invasão holandesa em nomeado governador-geral do Brasil holandês (Nova
Holanda), para cuidar dessa tarefa.
Pernambuco (1630-1654)
Segunda invasão holandesa (1630-1654)

São Luís
PA
Fortaleza
Oceano
Atlântico

CEARÁ
Natal
MARANHÃO RIO GRANDE
DO NORTE João Pessoa
multimídia: vídeo
(Filipéia)

PARAÍBA
Igaraçu FONTE: YOUTUBE
PIAUÍ Olinda
Recife Doce Brasil holandês
PERNAMBUCO
Porto Calvo
ALAGOAS
Maceió (Alagoas)
SERGIPE Penedo
TO

São Cristóvão Oceano


Atlântico
BAHIA

0 155 310 km

GO

Territórios ocupados pelos holandeses

DISPONÍVEL EM: <HTTP://WWW.WIKIWAND.COM/ES/FELIPE_II_


DE_ESPA%C3%B1A>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015. multimídia: vídeo
Os holandeses atacaram novamente o território brasilei- FONTE: YOUTUBE
ro. Dessa vez o alvo foi a Capitania de Pernambuco, a Invasões holandesas 3
maior produtora de cana-de-açúcar, que tinha uma de-
fesa menos eficiente que a da Bahia, além de ser mais
próxima da Europa.
4.3.1. Nassau, um governo habilidoso
(1637-1644)
A resistência foi organizada pelo governador-geral Matias
de Albuquerque, e, por meio de guerrilhas, os flamengos Destinado a pacificar a região e diminuir a revolta dos luso-
não encontraram dificuldade para ocupar Olinda. -brasileiros contra a ocupação holandesa, Maurício de Nassau
chegou ao Brasil em 1637 e aqui desenvolveu uma habilidosa
Os holandeses gastavam grande quantidade de recursos
política administrativa, tendo tais pontos como destaque:
no conflito, bem como acumulavam sérios prejuízos com a
crise da lavoura açucareira, pois não podiam comercializar ƒ Obras urbanas – remodelação da cidade do Recife,
açúcar. Já os colonos também se encontravam em dificul- onde se construíram pontes e obras sanitárias e criou-se a
dade por não poderem comercializar sua produção. cidade de Maurícia, hoje bairro da capital pernambucana.
A conquista holandesa contou com o apoio de Domingos ƒ Concessão de crédito – a Companhia concedeu
Fernandes Calabar, profundo conhecedor da região e que créditos aos senhores de engenho, destinados ao rea-
os auxiliou em várias batalhas, inclusive na conquista do parelhamento dos engenhos, à recuperação dos cana-
Arraial do Bom Jesus. viais e à compra de escravizados.
A invasão holandesa no Brasil foi um raro caso de ataque a ƒ Vida cultural – o governo de Nassau promoveu a vinda
um Estado por uma companhia privada (uma empresa). Ape- para o Brasil de artistas, médicos, astrônomos, naturalistas.
sar de atuar de acordo com os interesses do governo holan- Entre os pintores, estava Franz Post, famoso autor de diver-
dês, a WIC (West Indian Company) era uma empresa privada. sos quadros inspirados nas paisagens brasileiras. No setor
Apesar da resistência, os holandeses conquistaram novas po- científico, destaca-se Jorge Marcgrave, um dos primeiros a
sições, consolidando sua ocupação em uma área que ia do Rio estudar nossa natureza, e Willen Piso, médico que pesqui-
Grande do Norte ao Sergipe. A Companhia das Índias Ociden- sou a cura das doenças mais comuns da região.
tais passou a organizar a administração da região conquistada. ƒ Tolerância religiosa – as diversas religiões da popu-
Tanto os senhores de engenho como os holandeses que- lação (catolicismo, protestantismo, judaísmo, etc.) foram
riam um ambiente de ordem e paz para que pudessem ob- toleradas pelo governo de Nassau. Deve-se notar, entre-
ter lucros com a atividade açucareira. A Companhia enviou tanto, que a religião oficial era o protestantismo calvinis-
ao Brasil o conde João Maurício de Nassau Siegen, ta, sendo, por isso, a mais defendida e difundida.

85
Nassau obteve tanto destaque em seu projeto administrativo financeiro batavo. A Insurreição foi liderada por eles, entre
que, em algumas regiões, ganhou o apelido de “rei do Nordeste”. os quais destacou-se André Vidal de Negreiros, e contou
com grande participação popular, incluindo índios, lidera-
dos por Filipe Camarão, e negros, liderados por Henrique
Dias.
Com o fim da trégua dos dez anos assinada em 1641, Por-
tugal inicialmente deu um discreto apoio aos insurretos, pas-
sando a lutar abertamente a partir de 1651. Os holandeses
passaram à defensiva, rendendo-se em definitivo em 1654,
multimídia: música
após batalhas decisivas, como a do Monte das Tabocas
FONTE: YOUTUBE (1645) e as duas Batalhas de Guararapes (1648 e 1649).
Brasil Holandês, Homenagem a Maurício de
Nassau – Império Serrano (samba-enredo 1959) 4.3.3. As invasões holandesas
e suas consequências
4.3.2. Insurreição Pernambucana
A decadência da lavoura de cana-de-açúcar pode
(1645-1654) ser apontada como a principal consequência da expulsão
O trono português foi restaurado com a ascensão de D. dos holandeses do Brasil. Durante sua estada no Brasil, os
João IV, dando início à Dinastia de Bragança, e, em 1640, flamengos puderam entrar em contato com a cultura do
Portugal se libertou do domínio espanhol, pondo um fim a açúcar, aprendendo e dominando as técnicas de produção
União Ibérica. de cana-de-açúcar (plantation), passando a utilizá-las na
Portugal assinou, em 1641, uma trégua de dez anos com a região das Antilhas, onde se estabeleceram. Assim, volta-
Holanda, segundo a qual nenhum dos dois países atacaria ram a dominar completamente o mercado, mas sem de-
o outro ao longo desse período. A Holanda se beneficia- pender de Portugal e da produção brasileira, que não tinha
ria com essa trégua por estar envolvida em guerras contra como vencer a concorrência.
a Espanha e enfrentando dificuldades econômicas. Essas Restou a Portugal se aproximar da Inglaterra, que viria a se
dificuldades provocaram mudanças na atitude da Compa- aproveitar da crise da lavoura açucareira. Ameaçado exter-
nhia das Índias Ocidentais em relação ao Brasil, elevando namente por Espanha e Holanda, Portugal passou a atuar
impostos e cobrando dívidas dos senhores de engenho, sob a esfera de influência dos ingleses, gerando uma tutela
incluindo aí o confisco de bens, como terras e escraviza- econômica e política que perduraria por quase dois séculos.
dos, dos não pagadores. Os colonos passaram a lutar pela
Ainda vale a ressalva de que, durante o domínio holandês
expulsão dos holandeses, movimento iniciado em 1645 e
no Nordeste brasileiro, ocorreu a ampliação do número de
conhecido como Insurreição Pernambucana. Essa mu-
quilombos e o aumento populacional dos já existentes,
dança de atitude levou ao desentendimento de Nassau
principalmente Palmares, uma vez que o número de fugas
com a Companhia, causando a demissão dele.
de escravizados havia aumentado devido à falta de contro-
Alguns senhores de engenho não haviam apoiado os ho- le dos seus senhores naquele período conturbado.
landeses na invasão e, por isso, não haviam recebido apoio

86
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Uma prática realizada durante o período colonial brasileiro foi a plantation, que, principalmente durante o ciclo
canavieiro, impôs uma agricultura monocultora e geradora de ostensivo desgaste do solo, diminuindo a fertili-
dade de algumas regiões e causando a transformação do meio ambiente original.
Também é importante lembrar a adoção da mão de obra escrava africana pelos portugueses, o que era extre-
mamente lucrativo para a Coroa, mas que transformava todo um continente em mero fornecedor de “peças”
de trabalho. Esse foi um dos maiores exemplos de desumanização da História, perdurando até os anos finais do
século XIX.

J.BAPTISTE DEBRET, O JANTAR, VIAGEM PITORESCA E HISTÓRICA AO BRASIL, 1834-1839

87
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 4
Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.

Saber como se constroem os pontos de vista e como eles representam um determinado grupo social é funda-
mental para as ciências humanas. A Habilidade 4 visa a explorar essa capacidade do estudante. É necessário
atentar-se, além do fenômeno histórico em específico tratado pelo exercício, aos textos propostos e, principal-
mente, aos seus autores. O candidato deverá captar qual vertente ideológica cada autor representa, bem como
os interesses que defende.
O Enem recorre a muitos relatos de indivíduos que registraram a sua época sob diferentes escopos ideológicos.
Para resolver essas questões, o aluno deve estar familiarizado com as ideais dos principais intelectuais e figuras
históricas do Brasil e do mundo ocidental.

MODELO 1
(Enem) Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante
o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros,
e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão:
uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo
parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo
despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em
tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação,
que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.
VIEIRA, A. SERMÕES. TOMO XI. PORTO: LELLO & IRMÃO, 1951 (ADAPTADO).

O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravizados na produção de açúcar.

ANÁLISE EXPOSITIVA
No texto apresentado, o Padre Antônio Vieira estabelece relação entre o sofrimento de Cristo e as péssimas condi-
ções de trabalho dos escravizados durante a produção do açúcar no período colonial. O texto apresenta uma lin-
guagem bastante distinta da utilizada cotidianamente, o que pode prejudicar os que possuem alguma dificuldade
de leitura. Contudo, para aqueles a quem a leitura não é um problema, a resposta está contida no texto.

RESPOSTA Alternativa E

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DIAGRAMA DE IDEIAS

LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR (SÉC. XVI E XVII)

BRASIL: COLÔNIA DE EXPLORAÇÃO O ENGENHO:


MONOCULTURA / LATIFÚNDIO / ESCRAVIDÃO ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

EXPLORAÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR • CASA-GRANDE • CAPELA


(PLANTATION) • SENZALA • CASA DE ENGENHO
• PRODUTO LUCRATIVO
• ACEITAÇÃO DO PRODUTO NO
MERCADO EUROPEU SOCIEDADE DOS ENGENHOS
• SOLO E CLIMA FAVORÁVEIS
• ATRAÇÃO DE CAPITAIS EXTERNOS
• RURAL • ESCRAVISTA
CAPITAL HOLANDÊS • ARISTOCRÁTICA • INCULTA
MONTAGEM DE ENGENHOS • PATRIARCAL • SEM MOBILIDADE
TRANSPORTE SOCIAL

OUTRAS ATIVIDADES A ESCRAVIDÃO NEGRA


ECONÔMICAS

PECUÁRIA: INTERIOR DO NORDESTE / SUL • 1570 - PROIBIÇÃO DA


DROGAS DO SERTÃO: INTERIOR ESCRAVIDÃO INDÍGENA
DO BRASIL (AMAZONAS, ETC.) • LUCROS COMERCIAIS
TABACO: RECÔNCAVO BAIANO • JUSTIFICATIVA RELIGIOSA
ALGODÃO: SUL • INSTALAÇÃO DE UMA REDE DE COMÉR-
CIO ENTRE PORTUGUESES E AFRICANOS

INVASÕES HOLANDESAS

CRISE SUCESSÓRIA INVASÕES HOLANDESAS GOVERNO DE JOÃO MAURÍCIO


EM PORTUGAL • BAHIA (1624-1625) DE NASSAU (1637 - 1644)
• PERNAMBUCO (1630-1654) • CONCESSÃO
SUBMISSÃO AO DE CRÉDITO
REI DA ESPANHA • OBRAS URBANAS
• TOLERÂNCIA
UNIÃO IBÉRICA REI DA ESPANHA RELIGIOSA
X HOLANDA
(1580 - 1640) E PORTUGAL • VIDA CULTURAL

CONSEQUÊNCIAS DAS
INVASÕES HOLANDESAS

• PERDA DO MONOPÓLIO • NÚMERO DE FUGAS DE ESCRAVIZADOS


PORTUGUÊS DA CANA-DE-AÇÚCAR AUMENTA
HOLANDESES CULTIVAM CANA NAS ANTILHAS FORMAÇÃO DO QUILOMBO
INÍCIO DA PARCERIA DOS PALMARES
PORTUGAL E INGLATERRA

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Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa-
vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.

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