Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclu-
siva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.
O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de
forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo
complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:
MULTiMÍDiA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado-
sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper-
tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen-
ÁREAS DE
são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- CONHECiMENTO DO ENEM
fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol-
CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS vê-las com tranquilidade.
HERLAN FELLiNi
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021
Todos os direitos reservados.
Autor
Eduardo Antônio Dimas
Tiago Rozante
Diretor-geral
Herlan Fellini
Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista
Coordenado-geral
Raphael de Souza Motta
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Imagens
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)
ISBN: 978-65-88825-28-0
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legis-
lação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do
qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para
o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e
localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição
para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para
fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou
empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2021
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
SUMÁRIO
HISTÓRIA GERAL
Aulas 1 e 2 : Introdução ao Estudo de História e Pré-História 6
Aulas 3 e 4 : Antiguidade Oriental 13
Aulas 5 e 6 : Civilização Grega: períodos Pré-Homérico, Homérico e Arcaico 25
Aulas 7 e 8 : Civilização Grega: Períodos Clássico e Helenístico / Civilização Romana: Monarquia 33
HISTÓRIA BRASIL
Aulas 1 e 2: Formação de Portugal e navegações ultramarinas 44
Aulas 3 e 4: América pré-colombiana, mercantilismo e administração espanhola na América 55
Aulas 5 e 6: Periodo pré-colonial, administração colonial e invasões francesas 66
Aulas 7 e 8: Economia colonial, sociedade e invasões holandesas 77
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
As questões exigem do candidato uma apreen- No sistema misto de ingresso é necessário a Cobra a associação de fatos e conceitos
são conceitual com alto teor de crítica. O caráter realização da prova do Enem e do vestibular políticos, econômicos e sociais com textos
das questões é de âmbito reflexivo, trazendo da Unifesp. São determinados dois dias para a científicos e mapas. Exige domínio de interpre-
temas históricos para o debate de temas con- prova e nela, não são abordadas diretamente tação textual e estabelecimento de conexões
temporâneos. Cabe ao candidato ficar atento questões de História, mas há um grau de inter- entre diferentes áreas do conhecimento. Os
aos aspectos sociológicos, políticos disciplinaridade na resolução dos temas da Antiguidade Clássica
e econômicos dos exercícios e escrita da são recorrentes.
temas. redação.
A prova possui cinco questões de múltipla Nesta prova, a abordagem de História com- Esta prova adota um perfil específico, que ora São cinco questões de múltipla escolha
escolha de História e que, nos últimos anos, não bina análise de documentos com alto teor de cobra do candidato um teor de interpretação de História. A abordagem conta com
trouxe o tema da Antiguidade Clássica. Contudo, interpretação. Nas seis questões de História, textual nas questões de História, dado que os forte presença de questões de Antiguidade
as estruturas sociais, políticas e econômicas há uma tendência em abranger temas rela- registros textuais costumam ser longos, ora realiza Clássica, que exigem do candidato um grau
contemporâneas são embasadas em conceitos cionados à História do Brasil, mas isso não uma combinação entre a leitura e conhecimen- de apreensão de conceitos combinados com
originados no período antigo. impede a relevância da temática tos detalhados sobre determinados interpretação de fontes.
da Antiguidade conteúdos.
Clássica.
UFMG
O vestibular é dividido em duas fases. Na primeira, Na primeira fase, História ocorre em nove Elaborada pela Vunesp, esta prova possui
História está relacionada com a capacidade do questões de múltipla escolha. O vestibular características semelhantes às demais provas
candidato de realizar leituras atentas e, simultane- privilegia que o candidato realize análises e citadas e organizadas pela mesma fundação. Em
amente, analisar o contexto de um determinado interpretações sobre diferentes processos históri- suas 55 questões de múltipla escolha, não são
período. Há um tema que percorre toda a prova e cos e perceba suas continuidades e rupturas. contemplados diretamente temas de História,
nele, pode-se englobar a temática de Há uma distribuição balanceada mas que podem aparecer abordados
Antiguidade Clássica. de questões de Brasil e em outras disciplinas.
Geral.
Este vestibular não contempla com frequência Nesta prova, não há uma divisão clara entre Para o curso de Medicina, além do Enem, conta
temas das Antiguidades Clássica e Oriental. História e Geografia, que são abordadas com uma avaliação elaborada pela instituição
No entanto, pelo caráter da prova, cabe ao como Estudos Sociais. Portanto, não existem “TalentVest”. Em suas dez questões de múltipla
candidato preparar-se para questões que definições específicas de tema, mas sim um escolha destinadas à História, há uma tendên-
envolvam conhecimento das condições po- grau elevado de interdisciplinaridade. cia em abordar temas contemporâneos.
líticas, sociais e econômicas dos
períodos descritos.
HISTÓRIA GERAL
do globo, os diversos processos históricos que acarretaram,
AULAS 1 E 2 por exemplo, na queda de monarcas e na instauração de
regimes representativos ou nas disputas sociais que levaram
determinados grupos socias, antes marginalizados, a con-
quistarem direitos políticos.
INTRODUÇÃO AO
ESTUDO DE HISTÓRIA
E PRÉ-HISTÓRIA
multimídia: vídeo
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 FONTE: YOUTUBE
O que é História?
1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14,
HABILIDADES: 15, 16, 18, 19, 22, 23,
26, 27 e 29
1.1.1 O termo "História"
O termo "História" surgiu com os gregos "histor", original-
mente, significava aquele que aprende pelo olhar, aquele que
1. Introdução ao sabe, o testemunho, aquele que testemunhou com seus pró-
estudo de História prios olhos os acontecimentos.
"História" ("his" + "oren") significava "apreender pelo
Quando iniciamos os estudos na disciplina de História,
olhar aquilo que se sucede dinamicamente", ou seja, tes-
geralmente um dos primeiros pensamentos que temos é
temunhar os acontecimentos, a realidade.
“tudo aquilo que já aconteceu” ou, em outras palavras,
“nosso passado”. Entretanto, essa visão é simplista, já que O termo foi criado pelo grande geógrafo e historiador He-
a História não se limita apenas a estudar fatos antigos. A ródoto de Halicarnasso, nascido no século V a.c.
História vai além desse objetivo e é com ela que podemos
analisar a trajetória das diversas sociedades e compreender
contextos e problemáticas atuais, levando em consideração
as transformações econômicas, políticas e sociais das so-
ciedades humanas.
6
imediatas, mas indicava a partir daquele marco o aconteci- Idade Antiga: até 476 d.C. (queda do Império Romano).
mento de mudanças significativas com o passar do tempo.
Idade Medieval: até 1453 (fim do Império Bizantino).
Apesar de muitos historiadores questionarem a datação
Idade Moderna: até 1789 (Revolução Francesa).
dos marcos de cada período, ela permanece em vigência
e é utilizada como mecanismo para organizar o estudo da Idade Contemporânea: dias atuais.
História e facilitar o ensino. Essa linha do tempo é limitada por não oferecer dados para
Os principais períodos históricos são: Pré-História, Idade An- a compreensão histórica e temporal de outras sociedades,
tiga, Idade Média, Idade Moderna, Idade Contemporânea. como as africanas e asiáticas.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Aula Top | História Geral | Introdução aos
Estudos Históricos | Profª Carla Kurz
1.1.3. Calendários
A definição de Pré-História vai do início da espécie humana
O tempo é considerado um objeto de difícil conceituação,
até o advento da escrita. Entretanto, pela periodização, levar
mas de extrema importância no estudo da História. Situar os
em consideração o protagonismo do Ocidente, em especial a
fatos no tempo e contextualizá-los é tarefa de historiadores
Europa, é uma divisão que pode sofrer algumas críticas, tais
e professores dessa disciplina. Sem o tempo, não existe His-
como levar em consideração um processo que não foi unifor-
tória. Assim, como os instrumentos para contar o tempo, os
calendários também foram criados como forma de organizar me em toda humanidade. Desse modo, toma-se como refe-
as sociedades. Calendários são sistemas de contagem que rência a Pré-História como o período que ocorre por volta de
utilizam unidades temporais como dia, mês e ano. Eles va- 4.000 a. C., quando se tem os primeiros indícios das grandes
riam de acordo com a cultura ou religião de um povo. civilizações que surgiram no Crescente Fértil – Mesopotâmia
e o Egito – e suas tentativas de passagem do nomadismo à
O calendário cristão marca os anos a partir do nascimento de sedentarização, o que se consolida com a urbanização.
Cristo, usando a extensão a.C. (antes de Cristo) ou d.C. (depois
de Cristo). Foi adotado em 1582, através do papa Gregório XIII.
O calendário hegírico, ou muçulmano, é utilizado em paí-
ses de religião muçulmana. Marca os anos a partir da fuga
(Hégira) de Maomé para Meca, em 622.
O calendário hebraico, por sua vez, é utilizado em países de re-
ligião judaica. Marca os anos a partir de uma referência bíblica
do que seria a criação do mundo, situada no ano 3760 a.C. multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
1.1.4. Linha do tempo Pré-História
Através de uma concepção eurocêntrica do mundo, difun-
diu-se uma linha do tempo baseada em eventos ligados
A ”História” é dividida em 4 períodos (Idade Antiga, Idade
ao contexto do continente europeu. Essa linha do tempo,
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea).
considerada “oficial”, divide-se tradicionalmente em:
Idade Antiga
Pré-História: surgimento dos primeiro hominídeos até cer-
ca de 4 mil anos antes de Cristo, com o surgimento dos Tem início com o surgimento da escrita, em um contexto
primeiros tipos de escrita. aproximado de 4.000 a.C. e vai até o fim do Império Roma-
7
no. Esse período também é marcado pelo desenvolvimento visual do sujeito, em geral um ser humano, embora também
das civilizações do Crescente Fértil (Mesopotâmia e Egito), possam ser representados animais) e registros orais.
assim como das civilizações persa, hebraica e fenícia.
Inicialmente temos que destacar o compromisso da verda-
Idade Média de como aspecto fundamental do ofício do historiador. E,
para chegar a essa verdade, o historiador segue um padrão
Compreende-se desde a queda do Império Romano do Oci-
rígido de investigação. Quando um historiador traça uma
dente, em 476 d.C., até a tomada de Constantinopla (capi-
hipótese, como ao defender que o assassinato do arquidu-
tal do Império Romano Oriental) pelos turcos otomanos em
que Ferdinando foi o estopim da Primeira Guerra Mundial,
1453. É nesse período que também há o desenvolvimento
ele utiliza fontes primárias para fundamentar essa hipóte-
do sistema feudal na Europa Ocidental, as primeiras caracte-
se. Fontes primárias são vestígios da época, como docu-
rísticas do sistema capitalista (o surgimento das cidades na
mentos, manuscritos, diários, cartas, fotografias, tudo que
Europa, a burguesia e a expansão do comércio).
foi produzido em um contexto passado.
Idade Moderna
Como observamos, as fontes históricas são a matéria-pri-
Esse período começa com a tomada de Constantinopla ma do historiador. Elas podem ser materiais e imateriais ou
em 1453 e vai até 1789 com a queda da Bastilha (início vestígios do passado. Segundo o historiador Marc Bloch,
da Revolução Francesa). É interessante destacar que é na “tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo
Idade Moderna que ocorre a transição do mundo feudal que toca pode e deve informar sobre ele” (BLOCH, Marc.
para o sistema capitalista. Além disso, esse intervalo é mar- Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janei-
cado pelo surgimento da Reforma religiosa e da formação ro: Zahar, 2001, p. 79). A partir dessa afirmação, podemos
e consolidação do Antigo Regime, caracterizado pelas suas definir que as fontes históricas são:
estruturas absolutistas e mercantilistas.
Fósseis: registros de vida animal ou vegetal que se
Idade Contemporânea conservaram ao longo dos séculos. Normalmente, os
Estende-se do início da Revolução Francesa, em 1789, até fósseis são objetos de estudo da paleontologia. Entre-
os dias atuais. Caracteriza-se pela ascensão política da bur- tanto, constituem-se em fontes históricas, já que podem
guesia, o desenvolvimento e a consolidação do capitalismo atestar elementos sobre a vida no local encontrado.
financeiro, a extensão da industrialização, o surgimento do Vestígios arqueológicos e fontes da cultura ma-
socialismo científico e outras ideologias. É a esse período que terial: referem-se a itens resgatados pela arqueologia,
pertence o século XX, marcado por inúmeros eventos histó- como construções, ruas, estátuas, objetos funerários,
ricos que modelaram a sociedade ocidental e oriental, como roupas, peças de cerâmica, etc. Outros itens mais mo-
Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, Surgimento do dernos e que não foram resgatados pela arqueologia
Nazi-Fascismo, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, Des- também se encaixam aqui, como vestuário e utensílios
colonização da África e Ásia e Ordem Globalizada. fora de circulação e produção.
Documentos textuais: documentos oficiais, cartas pes-
1.3. Historiador e historiografia soais e governamentais, diários, relatos de viagens, crônicas,
livros literários, processos de justiça, jornais, entre outros.
A História é uma ciência humana. Como uma ciência, a
História possui métodos para investigar o passado. His- Representações pictóricas: quadros, fotos, afres-
toriografia é o termo utilizado para designar o campo de cos, pinturas rupestres, charges, entre outros.
estudo, as reflexões e os exames de discursos, narrativas e Registros orais: testemunhos pessoais e mitos trans-
pesquisas sobre o passado. O historiador é o profissional mitidos oralmente de geração para geração.
apto para pesquisar e construir o saber histórico, definindo
É a partir desses vestígios que o historiador elabora a sua
linhas de pesquisa, objetivos e, sobretudo, utilizando docu-
ideia e monta a sua pesquisa com o objetivo de compreen-
mentação para a análise do passado.
der o que ocorreu.
8
1.3.2. Escolas historiográficas
Inicialmente cabe definirmos o que é historiografia e para
que serve. Historiografia é o registro escrito da História, a
arte de escrever e registrar os fatos. E seu uso serve como
ferramenta teórica de como iremos realizar um estudo
crítico sobre como um determinado historiador escreveu
aquele fato sobre História. multimídia: vídeo
As principais correntes das escolas historiográficas são: FONTE: YOUTUBE
Pré-História
Positivismo: é uma corrente filosófica que surgiu na
França no início do século XIX. Ela defende a ideia de
que o conhecimento científico seria a única forma de Ao iniciar o estudo da Pré-História, vale um adendo: no senso
conhecimento verdadeiro. A partir desse saber, pode- comum existe uma visão popularizada dos chamados “ho-
-se explicar coisas práticas, como as leis da física, das mens das cavernas”, representados de maneira “primitiva”
relações sociais e da ética. O seu uso na História se dá e “selvagem”. É importante romper com essa visão simplista
pela análise cronológica dos fatos, sem realizar qual- para que possamos ealizar análises mais pormenorizadas.
quer análise crítica;
Materialismo histórico: criado pelo filósofo alemão
Karl Marx, enfatiza o aspecto econômico da sociedade
no estudo da História. O materialismo dialético consis-
te em ler a história baseando-se na constante luta de
classes. Dessa forma, sempre há uma classe dominan-
te e uma classe dominada, sendo que ambas estão em
confronto de interesses, já que uma explora a outra. Esse
embate seria o motor da História, através do qual se da-
ria o progresso e as transformações na estrutura.
Escola dos Annales: criada no ano de 1929 pelos his-
Como visto anteriormente, a periodização tradicional divide
toriadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre. A pro-
a História em duas grandes partes: “Pré-História” e “His-
posta inicial do periódico era se livrar de uma visão posi-
tória”. Ou seja, o critério utilizado por essa visão histórica
tivista da escrita da História que havia dominado o final
para dividir os dois períodos é o surgimento da escrita. Pode
do século XIX e início do XX. De acordo com essa teoria,
ser que agora você esteja se perguntando: “Como então os
a História até então era relatada como uma crônica de
historiadores e cientistas conseguiram ter conhecimento de
acontecimentos. O novo modelo, no entanto, baseava-se
como era a vida das pessoas daquela época, já que não ti-
na interdisciplinaridade. Assim, pretendia-se realizar
nha nenhum documento oficial informando essas coisas?”.
análises de processos de longa ou curta duração com a
Tal conhecimento advém dos vestígios arqueológicos e pale-
finalidade de permitir maior e melhor compreensão das
ontológicos que os pesquisadores encontram em suas pes-
civilizações, das “mentalidades”. Desse modo, incorpo-
quisas, como pinturas rupestres, instrumentos antigos, restos
rou na História aspectos de Antropologia, Psicologia,
de fósseis, etc. Com ajuda desses vestígios, é possível ter
Geografia e Filosofia.
uma visão de como era a vida desses nossos antepassados.
1.4. Pré-História
9
Os historiadores, durante suas pesquisas, dividiram a Pré- Mas foi bem notório que a característica mais presente nes-
-História em dois períodos: Paleolítico e Neolítico. se período foi o domínio do fogo. O fogo podia esquentar
as pessoas, aquecer os alimentos e iluminar lugares. O mais
1.4.1. Período Paleolítico importante, porém, é que os grupos paleolíticos que controla-
vam o fogo "dominavam" os grupos que não o controlavam.
O período Paleolítico, também conhecido como Idade da
Pedra Lascada, ocorreu há aproximadamente 2,7 milhões
de anos até 10 mil a.C. Trata-se do maior período da pré-
-história. Esse período é chamado de Idade da Pedra Lasca-
da porque uma de suas características principais é o come-
ço do desenvolvimento de ferramentas e de instrumentos
de trabalho provenientes da pedra.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Certos eventos e comportamentos marcaram o período Pa- Paleolítico | Pré-História - Brasil Escola
leolítico, como domínio do fogo, nomadismo (mobilização
de grupos humanos sem local fixo), caça em grupo, divisão
de tarefas, coletas de recursos na natureza (frutos e raízes), 1.4.2. Mesolítico
começo do convívio em tribos, primeiras manifestações artís- O período Mesolítico foi a transição do Período Paleolítico
ticas (pinturas rupestres) e uso da pele de animais, uso de para o Período Neolítico. Ele se caracteriza pelo começo
cavernas para se abrigar. e pelo fim da era do gelo em alguns continentes. Após a
era glacial, o planeta Terra ficou em um ótimo clima para
a agricultura.
10
e a domesticação dos animais, o que só foi possível devido O fim do período Neolítico ocorreu em um contexto de cres-
ao clima da Terra depois do período Mesolítico. Esses povos cimento das comunidades sedentárias, com o surgimento de
se estabeleceram em lugares onde criaram sua própria “es- hierarquizações sociais, de religiões e de um Estado capaz de
tratificação social”, ou seja, sua divisão social. organizar produções agrícolas e de proteger territórios pre-
viamente definidos. Vale o destaque para a consolidação dos
primeiros sistemas de escrita.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Neolítico | Pré-História - Brasil Escola
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Idade dos Metais - Brasil Escola
11
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana
com a paisagem.
A habilidade 26 tem como objetivo desenvolver a capacidade de percepção sobre a pluralidade de fontes
históricas como elemento fundamental para a compreensão e estudo do passado, além de dar ênfase ao
processo de ocupação dos meios físicos, trazendo para as questões abordagens que identificam a dispersão
territorial humana como fator de intervenção no meio físico e natural, sobretudo salientando as modifi-
cações humanas de paisagens.
MODELO 1
(Enem) A pintura rupestre mostrada na figura abaixo, que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa
ANÁLISE EXPOSITIVA
A questão, ao colocar uma imagem de pintura rupestre da Toca do Pajaú, exige do aluno a percepção de
que elas representavam cenas de atividades rotineiras, como caça, pesca e rituais, evidenciando a inter-
venção humana no meio natural e as formas de representação sobre o cotidiano no contexto conhecido
como “pré-história do Brasil”.
Vale destacar que, ao apresentar uma pintura rupestre encontrada na região da Serra da Capivara, no
Piauí, local que abarca uma série de importantes sítios arqueológicos da pré-história brasileira e onde é
possível encontrar e conhecer milhares dessas pinturas, fica evidente a importância que o exame do Enem
atribui aos significativos elementos que fazem parte do patrimônio cultural brasileiro.
RESPOSTA Alternativa C
12
AULAS 3 E 4
W
NW
N
NE
E
Wadi El Natrun
Delta do Nilo
uma das características da civilização egípcia foi seu isola-
mento, o que permitiu o desenvolvimento de traços cultu-
SW SE
Grande Lago
S Amargo
Deserto
Lag
o Moe
ris
Arábico
Go
Rio
de
lfo
Golfo
Oásis de Bahariya
do
S
ue
z
Mar
Vermelho
Rio Nilo
Quseir
Oásis de Kharga at
Hammam
Wadi
Tebas
Oásis de Dakhla
Alto
Egito
Primeira Catarata
Oásis de Dunqul
1.2. Política
Segunda Catarata
13
Os sucessores de Menés organizaram uma monarquia po- ligada às águas e às obras hidráulicas que tornavam possí-
derosa e de maior prosperidade do Antigo Império. Entre vel o controle sobre essas águas.
2700 e 2600 a.C., foram construídas as célebres pirâmides
O faraó encarregava-se de fornecer alimentos a todos, em
de Gizé, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren e Miqueri-
um sistema econômico dirigido. Os agricultores conside-
nos, da terceira dinastia, fundada por Djoser em cerca de
ravam a terra como propriedade do faraó e a si mesmos
2850 a.C.; sua nova capital era Mênfis.
como funcionários do Estado, ficando com uma parte mui-
to pequena da produção.
1.2.2. Império Médio (2000-1750 a.C.)
Em consequência natural da geografia, o Estado precisava
Com a ascensão dos monarcas, após uma crise de autori- intervir para regularizar o uso das águas do Nilo.
dade e apoiados pela nobreza, os faraós reconquistaram
o poder. Permitiram o ingresso de elementos das camadas A economia egípcia pode ser enquadradada no modo
inferiores no exército e, com isso, submeteram a Palestina, de produção asiático, em que coexistiam comunidades
onde descobriram minas de cobre, e a Núbia, onde encon- caracterizadas pela propriedade coletiva do solo, e organi-
traram ouro. Tais metais fortaleceram o Estado. zadas sobre as relações de parentesco, e um poder estatal
que representava a unidade verdadeira ou aparente de tais
Entre 1800 e 1700 a.C., chegaram os hebreus, mas foram os comunidades.
hicsos, vindos da Ásia, que criaram as maiores dificuldades.
O Estado, detentor das terras, organizava as atividades
Eles possuíam cavalos e carros de combate, que os egípcios
produtivas por meio de uma rígida estrutura repressiva, a
desconheciam. Dominaram a região e instalaram-se no delta
população camponesa era subjugada ao poder do faraó,
de 1750 a 1580 a.C.
pagando impostos, em produto ou em trabalho, sob uma
estrutura chamada de servidão coletiva. Tais tributos
1.2.3. Império Novo (1580-1085 a.C.) permitiam ao Estado apropriar-se do excedente de produ-
A nova fase, após a expulsão dos hicsos, de enorme desen- ção e contar com uma mão de obra numerosa e gratuita
volvimento militar, transformou o Egito em potência imperia- para a construção de grandes depósitos para estocagem.
lista. O Novo Império marcou o apogeu da civilização egípcia. Em épocas de cheia do Nilo, quando a agricultura tornava-
-se impossível, era comum o Estado requerer camponeses
No reinado de Tutmés III (1480-1448 a.C.), o império
das comunidades de aldeia para o trabalho em obras como
atingiu sua maior expansão territorial, ampliando-se até o
diques, palácios, canais de irrigação e templos. O contro-
rio Eufrates, na Mesopotâmia.
le sobre o excedente da produção e sobre o trabalho era
Marido da rainha Nefertiti, Amenófis IV empreendeu realizado por uma ampla burocracia estatal, diretamente
uma revolução religiosa monoteísta, provavelmente para controlada pela nobreza e pela casta sacerdotal.
anular o poder e a autoridade da camada sacerdotal, ins-
tituiu o culto monoteísta ao deus Áton, simbolizado pelo
disco solar, chegando a mudar seu nome para Akhenaton
(“aquele que agrada a Aton”).
Tutancáton, seu sucessor, restaurou o deus Amon e pôs fim
à revolução, mudando o próprio nome para Tutancâmon.
Os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.) enfren-
taram novos obstáculos, como a invasão dos hititas, vindos
da Ásia Menor. O Império entrava em declínio. Em 525 a.C.,
o rei persa Cambises derrotou o faraó Psamético III. A inde- O governo do Egito antigo era teocrático, o faraó era consi-
pendência acabou. Nos séculos seguintes, os povos do Nilo derado filho de Amon-Rá, o deus Sol, e encarnação de Hórus,
seriam dominados pelos gregos e, finalmente, cairiam nas simbolizado pelo falcão. Isolados geograficamente, os egíp-
mãos do imperialismo romano em 30 a.C. cios criaram uma civilização original, intensamente marcada
pela religião, era estratificada e rígida em termos de mobili-
dade. Os egípcios julgavam que toda a felicidade dependia
1.3. Sociedade e economia do faraó, diante de quem se prostravam em frequentes ceri-
Considerada uma civilização mais agrária que mercantil, mônias. Ele comandava o exército, distribuía justiça e organi-
era o Nilo que movia a economia e garantia unidade à civi- zava as atividades econômicas. Usava dupla coroa, símbolo
lização egípcia. A agricultura de regadio era a principal do Alto e Baixo Egito, e um cetro. Tinha várias mulheres, mas
atividade econômica no Egito Antigo. Estava diretamente só a primeira podia usar o título de rainha.
14
A nobreza era formada pelos parentes do faraó, altos funcio- A vida poderia durar eternamente, desde que a alma encon-
nários do palácio, oficiais do exército, chefes administrativos trasse no túmulo o corpo destinado a servir-lhe de moradia.
e sacerdotes. A dignidade sacerdotal passava de pai para fi- Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma.
lho. Os sacerdotes, membros da mais elevada camada social, Por isso, era preciso conservar o corpo. Com essa finalidade,
administravam os bens oferecidos aos deuses. Recebiam do os egípcios desenvolveram técnicas de mumificação.
Estado grandes propriedades. O mais importante de todos
Dentro do corpo, punham substâncias aromáticas que evi-
era o Profeta de Amon.
tavam a deterioração, como mirra e canela. Eles extraíam
Exerciam considerável influência política e, no período do as vísceras e imergiam o corpo numa mistura de água e
Novo Império, muitos tentaram tomar o poder. carbonato de sódio. Envolviam o corpo em faixas de pano,
sobre as quais passavam uma cola especial para impedir
Escribas formavam-se nas escolas do palácio e aprendiam
o contato com o ar, e o colocavam num sarcófago para
os hieróglifos, complicados caracteres da escrita.
levá-lo a um túmulo. Os faraós tinham lugares reservados
Subestimados pela população, os soldados viviam dos pro- numa câmara secreta dentro das pirâmides.
dutos recebidos como pagamento e saques realizados
durante as conquistas.
1.5. Ciência e arte
Camponeses e artesãos eram a camada inferior da socieda-
A arquitetura egípcia é reconhecida pelos seus templos,
de, mas deles dependia a prosperidade do país. Recebiam
as pirâmides, as mastabas e os hipogeus, túmulos sub-
míseros pagamentos em forma de produtos, moravam em
terrâneos cavados nas barrancas do Nilo, o Vale dos Reis.
cabanas, vestiam-se pobremente e comiam pouco. Aquilo
Nas ciências, eles se destacaram na Matemática e Geome-
que poupavam, guardavam para o funeral, para garantir
tria, que tinham finalidade prática: a construção civil.
uma vida melhor após a morte.
Na escultura, predominantemente religiosa, destacaram-se
Mais tolerantes que outros povos da mesma época, os egíp-
com os sarcófagos, de pedra ou madeira.
cios ofereciam certa segurança a seus escravos, em geral,
bem tratados e numerosos em tempo de guerra. Os egípcios conheciam a raiz quadrada e as frações e che-
garam a calcular a área do círculo e a do trapézio.
1.4. Cultura e religião: A preocupação com as cheias e vazantes do Nilo e com a
politeísmo e imortalidade natureza estimulou-os a estudar Astronomia. Localizaram
alguns planetas e constelações. Construíram um relógio de
Os egípcios eram politeístas, isto é, adoravam vários deu- água e organizaram um calendário solar. Dividiram o dia
ses. Antropozoomórficos, esse deuses apresentavam forma em 24 horas, e a hora, em minutos, segundos e terços de
de homem e animal. As principais divindades eram: Osíris, segundos. Tinham semana de dez dias e mês de três se-
Amon-Rá, Isis, Hórus, Ápis e Anúbis. manas. O ano de 365 dias dividiu-se em estações agrárias:
Para explicar a origem de seus deuses, contavam que, nos cheia, inverno e verão.
primeiros tempos, Set (o vento quente do deserto) assas-
sinou Osíris (o sol poente) e lançou o corpo ao rio Nilo
(deus das sementes). Ísis (deusa da vegetação) conseguiu
encontrar o corpo, mas Set voltou a atacar Osíris e dividiu-
-lhe o corpo em 14 pedaços, que espalhou pelo Egito. Ísis,
pronunciando palavras mágicas, uniu os pedaços com a
ajuda de Hórus (deus do céu, o sol levante).
15
primeiro a decifrar os hieróglifos egípcios, a partir de uma Mesopotâmia (atual Iraque) é uma palavra de origem gre-
lápide, conhecida como Pedra da Roseta, encontrada por ga que significa “terra entre rios”. Nela viveram sumérios,
um soldado de Napoleão Bonaparte em 1799. acádios e assírios, entre os rios Tigre e Eufrates, que nasciam
nas montanhas da Armênia e desaguavam no golfo Pérsico.
Uma extensa faixa de terra conhecida como Crescente Fértil,
onde a neve dos montes da Armênia derretia e provocava
inundações anuais semelhantes às que ocorriam no Egito, e
o húmus depositado no solo dava à terra grande fertilidade.
Desde muito cedo essa intensa fertilidade em meio a de-
sertos e a uma natureza essencialmente inóspita atraiu e
fixou comunidades. Estima-se que a sedentarização das
primeiras comunidades humanas na Mesopotâmia tenha
ocorrido por volta de 10 000 a.C.; vários historiadores e
PEDRA DE ROSETA, BRITISH MUSEUM arqueólogos acreditam que essas são as primeiras formas
de civilização humana existentes.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo
Cleópatra (1963) FONTE: YOUTUBE
Uma fantástica história de poder e traição que mudou o Já entendi - História - Mesopotâmia
curso da história. Como a lendária Cleópatra, rainha do
Nilo, conquistou Júlio César e Marco Antônio, dois dos
maiores soldados de Roma. 2.2. Política
Quish foi a primeira cidade da primeira civilização mesopo-
2. Mesopotâmia tâmica, de acordo com a tradição suméria. Depois Ur, Uruk,
Lagash, Eridu e Nipur – cidades-Estado, com autonomia reli-
giosa, política e econômica, e governadas por um sacerdote,
2.1. Geografia e povoamento ajudado por um conselho de anciãos, que logo evoluiu para
Crescente fértil e Mesopotâmia uma espécie de autocracia, um governo pessoal, despótico.
Lagash e Ur combatiam, enquanto os semitas instalavam-se
na Mesopotâmia. Sua cidade mais famosa foi Acad, que
deu origem ao termo acádios. Estes estabeleceram uma
organização centralizada em seu Império, afastando a in-
fluência dos sacerdotes. Por volta de 2330 a.C., o rei semi-
ta Sargão unificou as cidades sumérias, criando o Primeiro
Império Mesopotâmico.
16
Tendo no topo uma elite composta por reis, nobres, sa- sparta
Mileto
Rodes
Faselis
Tarso
Marqash
Samal
Carquemis
Arpade
Harrã
Til Barsip
Guzana
Nísibis
Nínive
Musasir
Dur Charrukin
Arbela
Calach
Pafos
Chipre Salamis
Arados
Qarqar
Hamate
Tadmor
Assur
Anato
Arrapaca
Ecbátana
Mar Mediterrâneo
semelhava-se à egípcia.
Mênfis
Adumatu
Amônio
Heracleópolis
Península
Egito do Sinai
(antes de 671 a.C.)
Golfo
Aquetaton
Pérsico
Império Assírio - 824 a.C.
Siut
Império Assírio - 671 a.C.
Mar
Abidos Vermelho
Mari
re
E
uf
ra
te
s
Echnuna
Sipar
Malgium?
Babilônia
Susa
0 100 200
Kish
Nipur
Isin
Larsa Lagash
Eridu
Ur ZIGURATE
17
(rei da terra), Shamash (deus Sol) e Marduk, deus de Babi- Os hebreus
lônia, que tornou-se a principal divindade da Mesopotâmia. Fenicios
Tiro Arameus
MAR MEDITERRÂNEO
Reino de
Israel
Jafa Amonitas
Jerusálem
Gaza DESERTO ARÁBIA
DESERTO DA ARABIA
Reino de
Judá Moabitas
Filisteus
EGITO
Amalequitas
Territórios progressivamente ocupados
pelas tribos de Israel ao fim do II milênio
Edomitas
Territórios mantidos como tributários
pelo rei Davi e perdidos depois por Salomão
18
lideradas por chefes guerreiros, os juízes. Os mais importan- A morte de Salomão, em 933 a.C., desencadeou uma
tes, segundo a Bíblia, foram: Josué, que tomou a cidade de crise política conhecida como o Cisma hebraico, resultan-
Jericó; Gedeão; Sansão, que lutou contra os filisteus, e Sa- do na divisão do reino em duas partes: o Reino de Judá
muel, que foi o articulador da centralização política. (duas tribos), situado ao sul e com capital em Jerusalém,
e o Reino de Israel (dez tribos), localizado no norte e com
3.2.3. Período dos reis (1010-587 a.C.) capital em Samaria. Em 722 a.C., o Reino de Israel foi
conquistado por Sargão II e transformado em província
Reino dividido
do Império Assírio. O Reino de Judá foi conquistado por
Nabucodonosor em 587 a.C. O Templo de Jerusalém foi
destruído e os hebreus foram levados como escravos para
a Babilônia (Cativeiro da Babilônia).
19
de Sabá (atual Etiópia). Seus principais produtos agrícolas Constituíram a única civilização monoteísta da antigui-
eram a oliva, a uva e diversos cereais. dade oriental. A religião judaica ensina que Deus fez uma
aliança com o povo de Israel, em que o povo receberia a
Durante o Período dos Reis, a estrutura tribal de posse da ter-
proteção divina por obediência aos Dez Mandamentos
ra deu lugar à propriedade privada. A terra ficou concentra-
(Decálogo), gravados nas Tábuas da Lei, depositadas numa
da nas mãos da aristocracia ligada ao Estado. Camponeses,
urna (Arca da Aliança) guardada no templo. A Bíblia con-
pastores e uma pequena parcela de escravos estavam su-
tém todos os ensinamentos que o povo deveria seguir. Vale
bordinados a essa aristocracia por meio de vários impostos, dizer que o monoteísmo judaico exerceu grande influência
incluindo a exigência de parte da produção, a sujeição ao sobre o cristianismo e o islamismo.
trabalho compulsório e a obrigatoriedade do serviço militar.
Durante o reinado de Salomão, surgiu uma rica camada de
comerciantes que possuíam a mesma condição social que
4. Fenícios
a camada de funcionários reais. Acima desses, havia uma Os fenícios
elite de aristocratas, os sacerdotes (rabinos) e a família real.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Hebreus - Mundo História - ENEM
20
modernos. Uma sociedade de castas e constituída por sacer- antes do Reino dos Persas e exerceu sua hegemonia na
dotes, aristocratas, comerciantes, homens livres e escravos. região estendendo seus domínios pela Mesopotâmia e
participando da destruição do Império Assírio. Entretanto,
4.3. Política declinaram no século VI a.C., quando Ciro I, rei dos persas,
conquistou o Reino da Média, provocando a unificação po-
Os fenícios, durante toda sua história, diferente dos demais lítica dos povos do Planalto Iraniano, em 550 a.C.
povos da antiguidade oriental, não tiveram uma unidade
política, não constituíram um Estado unificado com um go-
verno centralizado. Agrupavam-se em cidades-Estado,
de governo autônomo e soberano. Destacaram-se Ugarit,
Aradus, Trípoli, Biblos, Sídon e Tiro, todas importantes cen-
tros manufatureiros e comerciais.
Em cada cidade, um rei exercia o poder, com um conselho
escolhido entre os grandes comerciantes e proprietários
agrícolas, que controlavam o governo.
multimídia: livro
Os fenícios fundaram feitorias para ampliar os benefícios
de seu comércio marítimo, pontos de apoio localizados no Os persas (séc. V a.C.)
litoral das regiões, facilitando o escoamento das mercado- A peça mais antiga que se tem notícia. Os persas, de
rias vindas do interior. Uma dessas feitorias era Cartago, no Ésquilo (525-455 a.C.), se desenrola no ano de 472 a.C
litoral da atual Tunísia, a maior rival de Roma no controle em Susa, capital da Pérsia, e coloca em cena a angústia
do Mediterrâneo ocidental no século III a. C. da rainha Atossa e a derrocada de seu filho, o grande rei
Xerxes, responsável pela invasão à Grécia.
4.4. Cultura e religião
A religião era politeísta, com divindades associadas às for- 5.2. Política
ças da natureza, como Baal, o deus do Sol, e Astarte, a
deusa da fecundidade, representada pela Lua. Ocorreu um rápido expansionismo territorial com a cons-
trução de um enorme império durante o governo de Ciro I
Sua principal contribuição foi a invenção do alfabeto fo- (559-529 a.C.). Quando de sua morte, o Império Persa se
nético. Para facilitar as transações comerciais, criaram 22 estendia dos atuais Paquistão e Afeganistão, a leste, até o
sinais dos sons das palavras, logo adotado por arameus e litoral dos mares Negro e Mediterrâneo, a oeste. Em 525
judeus. Com as vogais, tornou-se o alfabeto grego. a.C., seu filho, Cambises, conquistou o Egito até a Líbia. O
auge do império foi no reinado de Dario I (512-484 a.C.),
5. Império Persa que manteve a tradição de Ciro de integrar a elite dos
povos submetidos e de respeitar as diferenças religiosas
© Anton Gutsunaev/Wikimedia Commons
21
5.3. Sociedade e economia 5.5. Oriente Médio: tradição e cultura
O comércio dentro do Império foi ajudado com a unifi- Enquanto cresciam as civilizações do Oriente Médio, os
cação política ao reduzir os obstáculos e oferecer maior homens dependiam menos da natureza e a aprenderam a
segurança às viagens dos mercadores. A rede de estradas usar melhor os instrumentos e a técnica para dominá-la. O
reais, o dárico e a padronização dos pesos e medidas pos- arado, canais de irrigação, domesticação de animais para
sibilitaram o desenvolvimento das atividades comerciais. tração e construção de silos para armazenagem são apenas
alguns exemplos. A indústria evoluiu quando passou a fabri-
A elite persa era composta pelo imperador e sua família e
car tijolos e a usar planos inclinados para elevar blocos de
por altos burocratas, comandantes militares e sacerdotes.
pedra ao alto das construções. Os homens aprimoraram as
A massa da população era sujeita ao trabalho compulsório
técnicas de construção, com o uso de metalurgia, a cerâmi-
nos sistemas de regadio e/ou nas obras públicas, e ainda
ca e o preparo dos papiros e placas de barro para a escrita.
tinha que pagar uma pesada tributação.
Os frígios inventaram a moeda.
22
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 11
Através de variadas fontes, cite o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da paisagem
com a vida humana.
Em documentos escritos, na arte ou na arquitetura, todas as sociedades registram suas práticas cotidianas. A
habilidade 11 permite ao aluno a compreensão da regência das instituições sociais, políticas e econômicas
em tais registros.
Para isso ele deve interpretar as informações passadas, por meio de imagens e textos, juntamente com seus conhe-
cimentos teóricos, relacionando-os conforme a exigência de cada exercício em particular.
MODELO 1
(Enem) O Egito é visitado anualmente por milhões de turistas de todos os quadrantes do planeta, desejo-
sos de ver com os próprios olhos a grandiosidade do poder esculpida em pedra há milênios: as pirâmides
de Gizeh, as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos templos construídos ao longo do Nilo.
O que hoje se transformou em atração turística era, no passado, interpretado de forma muito diferente, pois:
a) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós tinham para escravizar grandes contingentes popu-
lacionais que trabalhavam nesses monumentos;
b) representava para as populações do alto Egito a possibilidade de migrar para o sul e encontrar trabalho nos
canteiros faraônicos;
c) significava a solução para os problemas econômicos, uma vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas
riquezas, construindo templos;
d) representava a possibilidade de o faraó ordenar a sociedade, obrigando os desocupados a trabalharem em
obras públicas, que engrandeceram o próprio Egito;
e) significava um peso para a população egípcia, que condenava o luxo faraônico e a religião baseada em
crenças e superstições.
ANÁLISE EXPOSITIVA
O poder teocrático do faraó era representado pela arquitetura e pelas pirâmides e templos. A alternativa A
é a correta. Muitas das obras públicas eram realizadas pela servidão coletiva.
RESPOSTA Alternativa A
23
DIAGRAMA DE IDEIAS
TRANSIÇÃO:
ANTIGUIDADE ORIENTAL
PRÉ-HISTÓRIA -> HISTÓRIA
• ESTADO
• RELIGIÃO
EGITO
• ESCRITA
• GRANDES OBRAS
GEOGRAFIA:
NORDESTE DA ÁFRICA - DESERTOS / RIO NILO
ECONOMIA:
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
SOCIEDADE:
TEOCRÁTICA - FARAÓ (DEUS) / NOBREZA
COMERCIANTES / CAMPONESES / ESCRAVOS
RELIGIÃO
POLITEÍSMO / MUMIFICAÇÃO
MESOPOTÂMIA HEBREUS
GEOGRAFIA: GEOGRAFIA:
REGIÃO FÉRTIL ENTRE OS RIOS TIGRES E EUFRATES ATUAL ISRAEL / PALESTINA
ECONOMIA: ECONOMIA:
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO AGROPASTORIL E COMERCIAL
SOCIEDADE: SOCIEDADE:
TEOCRÁTICA - REIS / NOBREZA / COMERCIANTES ESTRUTURA TRIBAL - PROPRIEDADE PRIVADA -
CAMPONESES / ESCRAVO NOBREZA / COMERCIANTES
RELIGIÃO CAMPONESES / ESCRAVOS
POLITEÍSMO / CÓDIGO HAMURABI RELIGIÃO
MONOTEÍSMO
ESCRITA CUNEIFORME
IMPÉRIO PERSA
FENÍCIOS
GEOGRAFIA:
GEOGRAFIA: ENTRE A MESOPOTÂMIA E A
ATUAL LÍBANO ÍNDIA - DESERTOS E MONTANHAS
ECONOMIA: ECONOMIA:
MARÍTIMO-COMERCIAL COMÉRCIO / MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
SOCIEDADE: SOCIEDADE:
CIDADE-ESTADO - REI IMPÉRIO - NOBREZA - BUROCRATAS
CONSELHEIROS COMERCIANTES MILITARES / SACERDOTES
RELIGIÃO RELIGIÃO
POLITEÍSMO / ALFABETO FONÉTICO RELIGIÃO DUALISTA / ARQUITETURA MODERNA
24
AULAS 5 E 6 2. Períodos
A História da civilização grega é dividida, convencional-
mente, em cinco grandes períodos temporais denomina-
dos “Pré-homérico”, “Homérico”, “Arcaico”, “Clássico” e
“Helenístico”. Neste capítulo abordaremos os três primei-
CIVILIZAÇÃO GREGA: ros períodos mencionados, salientando o processo de for-
PERÍODOS PRÉ- mação e consolidação de importantes estruturas culturais
e políticas da civilização grega.
-HOMÉRICO, HOMÉRICO
E ARCAICO 2.1. Período Pré-homérico (2000-1200 a.C.)
De origem indo-europeia, os gregos, helenos – de Hélade,
nome primitivo da Grécia – ou arianos chegaram à Grécia
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6
em cerca de 2000 a.C.
1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14, Antes deles os aqueus, povo pastoril, já ocupavam as
HABILIDADES: 15, 16, 18, 19, 22, 23, melhores terras. Sedentários, assimilaram povos mais an-
27 e 29 tigos, como os pelágios ou pelasgos, provavelmente de
origem mediterrânea, do Período Neolítico. Os aqueus
formaram os núcleos urbanos de Micenas, Tirinto e Argos.
1. Geografia Os habitantes de Micenas integraram sua cultura à dos
cretenses, cuja civilização era bastante avançada – povo
Banhada pelos mares Jônico e Egeu, a Grécia era, por
marítimo-comercial que dominava as rotas do Mediter-
sua posição geográfica, um elo entre a Europa e o Orien-
râneo Oriental (talassocracia1) – o que deu origem à
te Próximo.
civilização creto-micênica.
O território grego era composto por duas regiões distintas: a
parte continental, ao sul da península dos Balcãs, e a Grécia Com a chegada de novos grupos indo-europeus, os
insular, que ocupava as ilhas do mar Egeu e a costa da Ásia jônios e os eólios, por volta de 1700 a.C., os núcleos
Menor. Com a expansão colonial, ela ocupou também a cos- arianos instalados na Grécia foram fortalecidos. Paci-
ta egeia da Ásia Menor e o sul da península Itálica. ficamente integrados com os já habitantes da Grécia,
enquanto a civilização creto-micênica chegava ao seu
As comunicações terrestres eram dificultadas pelo seu relevo
auge. Os troianos, outra importante civilização pré-he-
montanhoso e seu solo árido e rochoso. Porém, seu litoral
lênica, desenvolveram-se ao norte da Anatólia. Troia
com excelentes portos e salpicado de ilhas facilitava as co-
tinha uma população aparentada com os primeiros
municações marítimas. A escassez de contatos internos con-
gregos, e foi erguida por volta de 1900 a.C., sua pros-
tribuiu para impedir a unidade política da Grécia Antiga e,
peridade econômica baseava-se na exploração de ter-
ao mesmo tempo, favoreceu a formação de cidades-Estado.
ras ricas e na pecuária.
A Grécia antiga
No início do século XII a.C.; os gregos destruíram Troia
(Ílion, em grego), cidade que ocupava posição estratégica
nos estreitos entre os mares Egeu e Negro, o que lhes
conferiu o controle do tráfego marítimo na região.
Os dórios, último grupo de povos arianos a penetrar
na Grécia, chergaram enquanto a civilização micênica
se expandia em direção à Ásia. Aguerridos, nômades e
conhecedores de armas de ferro, os dórios arrasaram as
cidades dos gregos, que fugiram para o interior ou para
o exterior. Numerosas colônias gregas formaram-se na
costa da Ásia Menor e nas ilhas do mar Egeu. Esta foi a
Primeira Diáspora (dispersão) Grega.
DISPONÍVEL EM: <HTTPS://COMMONS.WIKIMEDIA.ORG/WIKI/ 1. Talassocracia = poderio econômico de um Estado baseado no domínio de
FILE:MAPA_GRECIA_ANTIGUA.SVG>. ACESSO EM: 05 JUN. 2018. rotas marítimas comerciais.
25
Primeira Diáspora Grega era juiz, comandante militar e chefe religioso. Seu poder
era passado para o filho mais velho.
Meios de produção, terras, sementes, implementos, re-
sultados da produção, alimentos, utensílios, pertenciam à
Tróia
Tróia
comunidade, inexistindo a propriedade privada. Porém os
Tróia
genos não deixavam de levar em conta diferenças indi-
ÁSIA MENOR
Atenas
MAR
EGEU
viduais, uma vez que o status pessoal na família depen-
dia do parentesco com o páter-famílias. Politicamente, o
MAR
JÔNICO Esparta poder patriarcal era baseado no monopólio de fórmulas
secretas, que permitiam ao chefe o contato com os deuses
protetores da família.
Jônios e aqueus
Eólion Creta A falta de terras férteis e o crescimento demográfico levou
Dórios 0 120 km
as comunidades gentílicas a tensões, lutas internas e desa-
ADAPTADO DE: <HTTP://SLIDEPLAYER.COM.BR/SLIDE/1758745/>. gregação. Era o fim do Período Homérico.
ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.
A desintegração do sistema gentílico e a luta entre os mem-
bros do genos por um pedaço de terra que lhes garantisse
2.2. Período Homérico (séc. XII-VIII a.C.) a subsistência fizeram com que aquela civilização passasse
O nome Homérico é baseado em dois poemas épicos atri- do sistema de propriedade coletiva para o de propriedade
buídos a Homero: a Ilíada e a Odisseia. privada. Os parentes mais próximos do pater, os eupátri-
das, ficaram com as áreas mais férteis; aos seus parentes
A Ilíada narra a tomada de Troia pelos gregos. Centra-se
mais distantes, os georgóis (agricultores), destinaram-se as
na figura do herói Aquiles e sua cólera contra Agamenon,
restantes. Os denominados thetas (marginais) ficaram sem
que lhe roubou a escrava Briseida. No começo, Aquiles ne-
terra. Uma parte desses (demiurgos) se Os denominados
ga-se a participar dos combates. Porém, a morte de seu
ao comércio e ao artesanato. Os demais deixaram a Grécia
amigo Pátroclo o faz mudar de ideia. Parte importante é
e fundaram numerosas colônias nos mares Negro e Medi-
a descrição do cavalo de madeira com o qual os gregos
terrâneo, processo conhecido como Segunda Diáspora
“presenteiam” os troianos para tomar sua cidade.
Grega (século VIII a.C.). Destacaram-se as colônias gregas
de Bizâncio e Abidos. No Mediterrâneo Ocidental, ao sul
da península Itálica, surgiu a Magna Grécia, cujos núcleos
mais importantes foram Tarento, Siracusa e Nápoles. A colo-
nização grega foi marcadamente agrária, mas também de-
senvolveu as atividades industriais e comerciais. O mundo
grego apresentava dimensões quase mediterrâneas.
multimídia: vídeo
A Odisseia conta o retorno de Ulisses, Odisseus, ao Rei- FONTE: YOUTUBE
no de Ítaca. Trata de três temas: a viagem de Telêmaco, as Troia (2004)
viagens de Ulisses e o massacre dos pretendentes de sua
Orlando Bloom é Paris, um príncipe que em 1193 a.C.
mulher, Penélope. Após o século XII a.C., a célula básica da
provoca uma guerra da Messência contra Troia, ao afas-
sociedade grega era o genos (comunidade gentílica), uma
tar Helena de seu marido, Menelaus. A esperança do
grande família. Os descendentes de um mesmo antepassa-
Priam (Peter O’Toole), rei de Troia, em vencer a guerra
do viviam no mesmo lar. Cada membro (gens) dependia
está nas mãos de seu filho Heitor (Eric Bana) e de Aqui-
da unidade da família cujo chefe era o páter-famílias – o
les (Brad Pitt), o maior herói da Grécia.
mais velho dos membros do genos, um líder de clã, que
26
Colonização grega também de modo diferenciado, gerando modelos por ve-
Tanais
zes antagônicos e rivais: divisão social, conflitos internos
Olbia
e expansionismo marcaram a maioria das cidades-Estado
Marselha
gregas, resultado direto do processo de desagregação das
Alalia
TRÁCIA Bizâncio
Calcedônia
Sinopa comunidades gentílicas.
Cumas Trebizonda
Nápoles
Eritreia Foceia
Denia Corinto JÔNIA
Agrigento Catânia
Náucratis
A R C A D I A ARGOS
EPIDAURO
M E S E N IA
pamentos de guerra, a justiça, o poder religioso, todo o Esparta
Pamiso
T
Ciparisia
Mte Itome Gerontras
A
Turia Terapne Cifanta
IG
poder político. Foi essa camada que deu origem à aristo-
Mesene
Eurotas
Amiclas
E
Faras
T
Zárax
O
Pilos
Cardamile Helos
Epidauro Limera
Acrias
Étilo
Las
Gitio Asopo
Território
Territorio dada
Territórioda Lacônia
Lacônia
Lacônia
Beas
de-Estado (pólis). Esse estágio de civilização foi alcan- DISPONÍVEL EM: < HTTPS://ES.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/
çado pelo rompimento da unidade do genos, pois, até ESPARTA> ACESSADO EM: 22 DEZ. 2015.
então, eram apenas associações políticas temporárias.
2.3.1.1. Geografia e povoamento
As pólis, marcadas pela autonomia política, constituíram
a base da sociedade grega e seu elemento de união, uma Esparta foi uma das primeiras cidades-Estado gregas, fun-
Acrópole – templo construído sobre uma elevação; a dada pelos invasores dórios no século IX a.C. na fértil planí-
Ágora – praça central onde ocorriam debates e decisões cie da Lacônia, às margens do rio Eurotas, na península do
políticas; e o astil – mercado de trocas. A economia foi de Peloponeso. Seus antigos habitantes, os aqueus, aliaram-se
gentílica à urbana, ainda bem impregnada de elementos aos invasores, foram escravizados ou fugiram. Sem saída
da economia familiar, apresentando sinais da futura eco- para o mar e isolada pelas montanhas, Esparta era uma
nomia internacional grega. cidade-Estado avessa a influências externas.
27
Licurgo, de caráter sagrado e imutável, assegurava privilégios 2.3.2. A cidade-Estado democrática: Atenas
aos cidadãos esparciatas.
A Gerúsia, instituição política mais importante, era o Con- 2.3.2.1. Geografia e povoamento
selho dos Anciãos, composto por 28 cidadãos maiores de
60 anos e cargo vitalício. Conduziam a política externa, ati-
vidade fundamental num estado militarista.
O poder executivo era exercido pela Diarquia em tempo de
guerra e oficiava as cerimônias religiosas que precediam
os combates.
De papel secundário na organização política de Esparta, a
Ápela, Assembleia dos Cidadãos, era formada por todos
os espartanos adultos.
As mudanças na estrutura econômica e social ditaram a
transformação no regime político. Economia e sociedade
imobilista explicam o governo espartano menos progres-
sista e mais conservador.
O poder supremo passou a ser monopolizado pela Gerúsia
e pelos dois reis, que foram aos poucos perdendo poder. A poucos quilômetros do mar e protegida de invasores
Os gerontes, vitalícios e escolhidos por aclamação na As- por colinas, Atenas foi fundada numa planície, a Ática,
sembleia, tinham papel decisivo em assuntos de política uma península do mar Egeu, notadamente dos dórios. Os
externa. Com votos manifestados por aplauso, a Ápela vi- atenienses se consideravam originários dos povos aqueus,
rou órgão apenas consultivo. eólios e jônios.
Os Éforos, cinco magistrados escolhidos pela Gerúsia, encar- Conta a lenda que a fundação de Atenas foi atribuída ao
regados das leis, educação das crianças, fiscalização da vida mitológico Teseu, que venceu o Minotauro na ilha de Cre-
pública e da conduta dos reis, exerciam o Poder Executivo. ta, libertando-a do jugo do monstro. A formação da cida-
Apenas uma minoria de cidadãos, os esparciatas, participava de-Estado realmente foi consequência da fusão de tribos
do governo oligárquico, os homoioi (iguais). Seu objetivo fun- que habitavam a península da Ática e da desagregação da
damental era conservar o status quo, a situação vigente de comunidade gentílica (genos).
privilégios da aristocracia e de dominação sobre os escravos.
Esparta regrediu culturalmente com as mudanças estru-
2.3.2.2. Economia e Sociedade
turais do século VII a.C. O governo passou a estimular o A economia de Atenas, no século VIII a.C., era ainda essen-
laconismo: falar tudo em poucas palavras, o que limita a cialmente rural. Mas atividades artesanais e comerciais já
capacidade de raciocínio e o espírito crítico dos falantes. ultrapassavam os limites da Ática. A proximidade de Ate-
A xenofobia e a xenelasia – aversão e expulsão de estran- nas do mar Egeu abriu-a a influências externas, facilitou
geiros – impediam o contato dos espartanos com ideias sua participação no movimento de colonização e transfor-
inovadoras, consideradas subversivas para o sistema. mou-a numa pólis de navegadores e comerciantes.
Rigidamente militarista, a educação dos esparciatas con- Os eupátridas, bem-nascidos, grandes proprietários de
tribuía significativamente para a manutenção dessa estru- terras férteis cultivadas por escravos, rendeiros e assalaria-
tura política e social fechada. Aos sete anos de idade, os dos, eram a camada social dominante.
meninos eram entregues aos cuidados do Estado para que
tivessem uma rígida educação militar. Dos dezoito aos ses- Donos de terras pouco férteis junto das montanhas, os ge-
senta anos serviam no exército. Só depois dos trinta anos, orgois (agricultores) vivam em situação difícil após o desen-
quando então recebiam seu lote de terra e passavam a ser volvimento comercial, pois as importações de cereais faziam
cidadãos, podiam casar. concorrência com seus produtos. Quando as colheitas eram
ruins, tomavam empréstimos aos eupátridas, dando a pró-
Guerrear, procriar para fortalecer o exército e viver para o pria terra como penhor. Com isso, muitos perdiam as pro-
Estado era dever do cidadão. priedades e tornavam-se rendeiros. Também tornavam-se
A fim de evitar mudanças radicais e de garantir o domínio escravos que podiam ser vendidos ao exterior ou iam para as
da minoria dória sobre a maioria escrava, Esparta perma- cidades engrossar a camada dos marginalizados, os thetas
neceu nesse sistema até o século IV a.C. (aqueles que recebiam menos de 200 medimnos por ano).
28
Na região litorânea concentravam-se os artesãos (demiur- monetário fixo e impulsionou a exploração das minas de
gos) e trabalhadores livres. Cerca de 100 mil estrangeiros prata de Laurion.
residentes em Atenas, os metecos, dedicavam-se ao arte-
Sociedade: decretou a seisachteia, que consistia na proi-
sanato e ao comércio. Eram privados de direitos políticos,
bição da escravidão por dívida; regulamentou a lei de he-
mas pagavam impostos e prestavam serviço militar.
rança, restringindo os direitos dos primogênitos; limitou
A maioria da população de Atenas era de escravos, que os excessos da legislação de Drácon; e, o mais importante,
desempenhavam todas as atividades manuais, dos serviços concedeu anistia geral.
domésticos ao trabalho na agricultura. Tratava-se de mão
Política: instituiu um sistema de participação baseado na
de obra básica e responsável pela economia ateniense.
riqueza dos cidadãos (regime censitário) e aboliu o mono-
pólio do poder pela aristocracia eupátrida.
2.3.2.3. Política: da monarquia à oligarquia
As reformas de Sólon lançaram os fundamentos do futuro
A primeira forma de governo de Atenas foi a monarquia ou
regime democrático de Atenas implantado por Clístenes,
realeza, exercida por um rei (basileus). No período Arcaico, a
em 507 a.C. O objetivo principal da nova legislação foi es-
nobreza eupátrida cresceu e limitou o poder do basileus. No
tabelecer uma justiça correta para todos, isto é, uma justiça
século VII a. C. veio a substituição da realeza pelo arcontado,
baseada na igualdade de todos perante a lei.
órgão de caráter executivo. Nove arcontes, eleitos todo ano
pelo conselho eupátrida (areópago), que detinha o poder Devido às rivalidades políticas entre os partidos, as refor-
legislativo, passou a exercer o poder. Assim o regime de go- mas de Sólon não foram inteiramente aplicadas, mas cria-
verno passaram de monárquico para oligárquico. ram condições para a liderança de homens que viriam a
tomar o poder à força, os tiranos.
2.3.2.4. Os legisladores
2.3.2.5. Os tiranos
A Primeira Diáspora colonizou e ampliou os horizontes
do mundo grego. Cada vez mais comerciantes e artesãos Caracterizadas por governadores enriquecidos pela expan-
ascendiam na escala social. A oposição à oligarquia dos são econômica, as tiranias em Atenas não tinham necessa-
eupátridas atacava em dois flancos: pelos comerciantes riamente um sentido de governo opressivo. Grandes pro-
enriquecidos ávidos pela participação no governo e pelos prietários não tinham participação política no governo da
pobres que reivindicavam a abolição da escravidão por dí- aristocracia eupátrida. Graças ao apoio das massas pobres
vida e a repartição das grandes propriedades. Tratava-se de descontentes, tornaram-se líderes políticos e derrubaram
uma Atenas em constante ebulição social nos séculos VII e aquela secular forma de governo.
VI a.C. Temerosa de perder seus privilégios, parte da aristo- Primeiro tirano ateniense, Psístrato fez uma reforma agrá-
cracia eupátrida sugeriu uma reforma social planejada por ria e enfraqueceu os eupátridas. Seus filhos Hiparco e Hípias
dois eminentes legisladores: Drácon e Sólon. o sucederam com ideias e resultados contrários, perdendo
o apoio popular.
Encarregado de preparar uma legislação escrita em substitui-
ção à oral, Drácon, em 621 a.C., aplicou a severidade de leis Hípias foi deposto em 510 a.C., e um tirano impopular que
que previa pena de morte para a maioria dos crimes. Assim contava com o apoio dos eupátridas, Iságoras, conquistou
surgiu a expressão "draconiano", que, 27 séculos depois, o poder. Em 507 a.C., a reação eupátrida chegou ao fim
continua sendo sinônimo de rigoroso, cruel. Tal legislação com uma nova insurreição do partido popular (demos) e a
teve a importância de passar a administração da justiça das ascensão de Clístenes ao governo de Atenas.
mãos dos eupátridas para o Estado, que se fortaleceu. No
entanto, no plano político, nada mudou. Apoiados agora na 2.3.2.6. A democracia ateniense
lei escrita, os eupátridas mantiveram o monopólio do poder. Clístenes, apesar de sua origem aristocrática, não restabe-
Em 594 a.C., como a legislação de Drácon não havia re- leceu a velha ordem da nobreza. Traçou sim um governo ba-
solvido a crise, foi indicado um novo legislador: Sólon, seado na isonomia, a igualdade dos cidadãos perante a lei.
comerciante de profissão e aristocrata de nascimento. Três A primeira medida foi a divisão da população da Ática em
aspectos fundamentais da vida ateniense foram abrangi- três zonas: o litoral (parália), o interior (mesógia) e a cidade
dos por suas reformas.
(ásty). Assim, evitou as alianças entre as tradicionais famílias
Economia: promoveu a vinda de artesãos estrangeiros eupátridas. Cada uma dessas zonas foi dividida em dez uni-
(metecos); estabeleceu um sistema de pesos e medidas; dades. Da reunião das unidades de cada zona – do litoral,
estimulou o desenvolvimento comercial e industrial; proi- da cidade e do interior – formou-se uma tribo, totalizando
biu a exportação de cereais; dotou Atenas de um padrão dez tribos. A menor unidade de divisão formava as demos,
29
base desse sistema de governo, razão pela qual a reforma Instituiu-se o ostracismo, a suspensão de direitos políti-
de Clístenes ficou conhecida pelo nome de democracia. O cos de cidadãos considerados nocivos ao Estado. Uma vez
governo passou a ser exercido por três poderes: legislativo por ano, oferecia-se aos cidadãos atenienses a oportuni-
(assembleias da Bulé e da Eclésia); judiciário (tribunais da dade de denunciar num caco de barro (ostrakon) o nome
Heliae); e executivo (estrátegos eleitos pela Eclésia). de quem ameaçasse a democracia. Com um número sufi-
ciente de votos, o acusado era ostracizado, isto é, forçado
a deixar Atenas por dez anos. A votação do ostracismo se
dava na Assembleia.
Clístenes trouxe um período de estabilidade a Atenas e per-
mitiu a formação de um sistema coeso, capaz de enfrentar
com sucesso um longo período de perturbações externas,
como as guerras pérsicas, que auxiliaram a consolidação
das instituições atenienses.
30
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 9
Usando a escala local, regional ou mundial, propor a comparação do significado histórico-geográfico
das organizações políticas e socioeconômicas.
A habilidade 9 desenvolve a comparação entre diversas formações sociais e econômicas durante o tempo e
o espaço. Ao candidato cabe encontrar similaridades e diferenças entre os diversos modos de produção na
economia e seus reflexos nas organizações da vida política e social.
Tais questões têm caráter interdisciplinar, extraindo dos alunos conhecimentos além de um só tema. Muito
mais do que o conhecimento prévio do assunto, é importante observar textos ou imagens junto aos enun-
ciados para definir a alternativa correta.
MODELO 1
(Enem) No período 750-338 a.C., a Grécia antiga era composta por cidades-Estados, como por exemplo
Atenas, Esparta, Tebas, que eram independentes umas das outras, mas partilhavam algumas características
culturais, como a língua grega. No centro da Grécia, Delfos era um lugar de culto religioso frequentado por
habitantes de todas as cidades-Estado.
No período 1200-1600 d.C., na parte da Amazônia brasileira onde hoje está o Parque Nacional do Xingu,
há vestígios de quinze cidades que eram cercadas por muros de madeira e que tinham até dois mil e qui-
nhentos habitantes cada uma. Essas cidades eram ligadas por estradas a centros cerimoniais com grandes
praças. Em torno delas havia roças, pomares e tanques para a criação de tartarugas. Aparentemente,
epidemias dizimaram grande parte da população que lá vivia.
FOLHA DE S. PAULO, AGO. 2008 (ADAPTADO).
Apesar das diferenças históricas e geográficas existentes entre as duas civilizações elas são semelhantes pois:
a) as ruínas das cidades mencionadas atestam que grandes epidemias dizimaram suas populações;
b) as cidades do Xingu desenvolveram a democracia, tal como foi concebida em Tebas;
c) as duas civilizações tinham cidades autônomas e independentes entre si;
d) os povos do Xingu falavam uma mesma língua, tal como nas cidades-Estados da Grécia;
e) as cidades do Xingu dedicavam-se à arte e à filosofia tal como na Grécia.
ANÁLISE EXPOSITIVA
A questão enfatiza a organização política de duas sociedades situadas em épocas e lugares distintos, mas
organizadas politicamente de maneira similar. Em ambas, há uma ampla descentralização política, sendo
cada cidade politicamente autônoma em relação às demais. Vê-se, também, pelo texto, que havia ampla
comunicação e relações econômicas entre as cidades do Parque Nacional do Xingu, algo muito similar às
antigas cidades-Estado gregas.
RESPOSTA Alternativa C
31
DIAGRAMA DE IDEIAS
GRÉCIA
GEOGRAFIA SOCIEDADE
32
1.1. As guerras médicas (490-479 a.C.)
AULAS 7 E 8 O conflito entre o mundo grego em expansão e o mundo
bárbaro persa – assim chamado pelos gregos, uma vez que
era destituído da cultura helênica – ficou conhecido como
CIVILIZAÇÃO GREGA: as Guerras Médicas ou pérsicas. Após a conquista de
PERÍODOS CLÁSSICO Ciro sobre o Oriente Médio, o Império Persa continuou a
crescer com Cambises e foi aperfeiçoado por Dário I. Na
E HELENÍSTICO / Ásia ocorreu o primeiro choque com os gregos.
33
formando, sob a liderança de Atenas, a Confederação de Esparta e as cidades-Estado do Peloponeso decidiram-se
Delos (nome da sede da liga). A ofensiva contra os persas pela guerra porque sentiam sua independência ameaçada
na Ásia começou com expedições que percorriam o Egeu pelo controle de Atenas sobre a Confederação de Delos.
arrasando as posições inimigas e libertando as colônias Para Atenas, estava em jogo sua hegemonia na Confedera-
gregas. Sob o comando de Címon, filho de Milcíades, os ção de Delos, que lhe concedia poder político e contribuía
gregos derrotaram os persas definitivamente na foz do rio para a sua prosperidade econômica. Nem Atenas nem Es-
Eurimedonte, em 468 a.C. No Tratado de Susa ou Paz de parta previram as consequências catastróficas que a guerra
Kallias, em 448 a.C., os persas reconheceram a hegemonia traria para a civilização grega.
dos gregos no Egeu e prometeram não atacar mais as co-
Atenas apoiou a colônia de Córcira, rebelada contra Co-
lônias asiáticas e nem a Grécia.
rinto, cidade aliada de Esparta na Liga do Peloponeso. A
primeira parte da guerra durou dez anos. Os espartanos
1.2. A hegemonia de Atenas (443-429 a.C.) invadiram a Península da Ática, enquanto os defensores de
Esparta, Corinto, Megara e Tebas tornam-se rivais de Ate- Atenas, comandados por Péricles, abrigavam-se ao longo
nas. Ao mesmo tempo os atenienses não chegavam a um dos muros e a frota atacava na costa do Peloponeso.
acordo entre si. A insistência nos persas como perigo e a Orientados agora por Alcebíades, os espartanos mantive-
paz com Esparta culminou no exilio de Címon. ram seu exército na Ática e ampliaram sua frota a fim de
Atenas alcançou seu apogeu sob o governo de Péricles. O libertar as cidades dominadas por Atenas. Em 404 a.C., em
controle do mar Egeu, o comando da Confederação de Delos Egos-Pótamos, Lisandro derrotou definitivamente os ate-
e a prosperidade econômica contribuíram para o fortaleci- nienses. Com o fim de sua hegemonia, Atenas passou à
mento do partido democrático formado pelos ricos comer- condição de satélite de Esparta.
ciantes e armadores. Sob a direção desse partido, Atenas
desenvolveu, ao mesmo tempo, uma política democrática 1.4. A hegemonia de Esparta
– que ampliava a participação dos cidadãos no governo da
cidade – e imperialista. Foi estabelecida uma remuneração Esparta, assim como Atenas, adotou uma política imperia-
(mistoforia) pela participação nas assembleias, para que os lista, o que a obrigou a sair do imobilismo. O desenvol-
cidadãos pobres participassem das instituições políticas. vimento econômico deu aos seus cidadãos o gosto pelo
luxo. Os escravos aumentaram perigosamente e os libertos
Externamente, a política era imperialista porque procura- que haviam participado da Guerra do Peloponeso exigiam
va estender o domínio de Atenas sobre as demais cida- melhores condições sociais.
des-Estado gregas.
Esparta foi mais opressora que Atenas em seu domínio
No “Século de Péricles”, como passou a ser conhecido o sobre os Estados gregos. Comandados por Agesilau, os es-
século V a.C., Atenas foi embelezada e o desemprego foi com-
partanos iniciaram nova ofensiva na Ásia contra os persas.
batido por meio da realização de grandes obras públicas, como
Mas sem poder, ao mesmo tempo, combater no exterior e
a construção do Partenon. A “escola da Hélade” tornou-se o
dominar seus inimigos internos, pelo Tratado de Antálcidas
centro artístico, literário, científico e filosófico do mundo grego.
fizeram a paz com os persas em 387 a.C.
Foi a época de ouro da cultura e da civilização grega.
Esse tratado garantia aos persas o domínio da costa da
Ásia de tal maneira que os antigos inimigos passaram a
influenciar a política interna da Grécia, uma vez que as ci-
dades gregas estavam proibidas de coligar-se.
34
organizar uma marinha de guerra, atraiu a oposição de de mãe e de Hércules por parte de pai: um deus em poten-
Atenas. Em 362 a.C., atenienses e espartanos, agora re- cial. Teve poderosa influência de Aristóteles, escolhido por
conciliados, derrotaram os tebanos na Batalha de Manti- Filipe para seu preceptor. O filósofo incutiu-lhe o gosto pela
neia, em que morreu Epaminondas. cultura grega, pela Ilíada e a Odisseia, por Ésquilo e Eurípe-
des e aversão pelos persas – Aristóteles os vira torturar um
Com o mundo grego enfraquecido pelas guerras, estavam
amigo até a morte na Ásia Menor.
criadas as condições para a intervenção de Filipe da Mace-
dônia. A supremacia da Macedônia sobre a Grécia se con- Alexandre assumiu o trono com uma Macedônia organizada
solidou em 338 a.C., quando as tropas macedônicas ven- e bem armada pelo exército, usou de violência e arrasou as
ceram as cidades-Estado gregas na batalha de Queroneia. cidades gregas, exceto Atenas. Resolvendo dois problemas:
as revoltas gregas após a morte de Filipe e os numerosos
herdeiros deixados pelo pai.
2. Período Helenístico
(séc. IV-I a.C.)
2.1. A organização da Macedônia por Filipe II
Em razão de uma promessa macedônia de ajuda militar
aos tebanos, Filipe vivia em Tebas quando aquela cidade
grega viveu seu curto período de hegemonia. Na Grécia,
Filipe observou suas cidades-Estado enfraquecidas pelas ALEXANDRE (À ESQUERDA) OUVE OS CONSELHOS E
ORIENTAÇÃO DE SEU TUTOR, ARISTÓTELES.
guerras fratricidas e familiarizou-se com o uso das longas
lanças de madeira introduzidas por Epaminondas e a orga- Como líder supremo do helenismo, deveria libertar as
nização do exército tebano. cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os per-
sas. Alexandre rumou para a Ásia com 40 mil homens, 12
mil dos quais na infantaria, o forte de seu exército.
Recusou o acordo de paz oferecido por Dario III, derrotou-o
em pleno centro do Império Persa em 331 a.C. Já impe-
rador persa, avançou para a Índia, percorreu a região do
rio Indo e só não chegou ao Ganges porque os soldados
recusaram-se a ir com ele.
Aos 33 anos, morreu na Babilônia em 323 a.C., deixando
um dos mais vastos impérios já criados, ao qual imprimiu
TETRADEACMA DE PRATA DE FELIPE II DA MACEDÔNIA um caráter universal, de acordo com a concepção divina que
tinha de si, contra o que egípcios e persas não se opuseram.
Filipe procurava instigar nos gregos o ódio aos persas, con-
tando com a colaboração de Isócrates, que pregava uma Promoveu a integração cultural do mundo persa e egípcio.
cruzada contra os antigos inimigos. Como resultado, criou-se a cultura helenística, fruto da
fusão da cultura grega (helênica) com a cultura oriental
As forças macedônias derrotaram os atenienses em 338 a.C.,
(egípcia e persa).
na Batalha de Queroneia, os tebanos e, em seguida, Filipe
apoderou-se da Grécia. Conhecedor do individualismo das O império desmoronou com a morte de Alexandre e foi dividi-
cidades-Estado e de muita astúcia política, respeitou-lhes a do (reinos helenísticos) entre seus principais generais. Os rein-
autonomia. Assim, foi proclamado hegemon (líder) com o di- os helenísticos foram conquistados pelos romanos em 31 a.C.
reito de chefiar uma liga contra os persas, a Liga de Corinto.
Sob comando de Parmênion, uma força da Liga já havia
estabelecido uma cabeça de ponte na Ásia, quando um
aristocrata assassinou Filipe II em 336 a.C.
35
multimídia: vídeo multimídia: livro
FONTE: YOUTUBE
Se liga nessa História - Grecia Antiga (FORMAÇÃO) #1 Odisseia (séc. VIII a.C.)
O regresso do herói Odisseu (ou Ulisses, para os roma-
nos) após triunfar na Guerra de Troia.
3. Cultura e religião
Homenageavam os deuses dos santuários com grandes jo-
Sem dogmas, os fiéis não se obrigavam a crer em verda- gos, os mais famosos eram os jogos olímpicos, em Olím-
des definitivas. Eram politeísta: havia grandes deuses, que pia, para homenagear a Zeus, realizados de quatro em qua-
habitavam o Olimpo, e os heróis, homens que praticaram tro anos a partir de 776 a.C.
ações extraordinárias e se igualaram aos deuses. No culto
aos deuses, os gregos pediam proteção para a família, a A vida após a morte era difundida pelo Orfismo, que vem
tribo ou a cidade, não a salvação da alma. Imaginavam a de Orfeu, poeta que atraía até animais selvagens, segundo
vida depois da morte com total liberdade. a lenda. Ele ensinava que a alma, liberta do corpo depois
da morte, alcançaria a suprema felicidade depois de purifi-
Mitologia é o conjunto dos mitos, as lendas que contam car-se mediante reencarnações sucessivas.
as aventuras de deuses e heróis.
Atenas abrigou alguns dos maiores pensadores e artistas
Como a religião era adepta do antropomorfismo, os deuses ti- que a humanidade conheceu.
nham forma, virtudes e defeitos humanos. Poseidon (deus dos
mares) e Hades (deus dos infernos) não habitavam o Olimpo. A filosofia grega divide-se em antes e depois de Sócrates.
Foram pré-socráticos: Tales de Mileto (fim do século VII-in-
Seus mais conhecidos heróis foram Perseu – matou a Górgo- ício do século VI a.C.); Pitágoras (582-497 a.C.); Demócri-
ne, monstro de dentes afiados e cabeça cheia de serpentes; to (460-370 a.C.); Heráclito (535-475 a.C.); e Parmênides
Jasão – com seus companheiros argonautas conquistou o (540-? a.C.). No tempo de Sócrates, predominava a escola
Tosão de Ouro, pele de carneiro voadora guardada por um dos sofistas, que se serviam da reflexão para atingir fins
dragão; Teseu – matou o Minotauro, monstro que habitava imediatos, ainda que por falsos argumentos. O maior dos
o labirinto de Creta; Édipo – matou a Esfinge devoradora de sofistas foi Protágoras.
viajantes que não respondessem a suas enigmáticas pergun-
tas; e o maior de todos os heróis, que realizou doze trabalhos
para escapar à fúria de Hera (mulher de Zeus), Hércules.
Coríntio
Jônico
Dórico
36
Aristóteles (384-322 a.C) – considerado por muitos o
maior filósofo de todos os tempos, compreendeu todos os Abordamos, até aqui, os aspectos dos processos his-
conhecimentos de seu tempo: Lógica, Física, Metafísica, tóricos da civilização grega. Iniciaremos, a partir de
Moral, Política, Retórica e Poética. agora, o estudo de outra importante civilização da
antiguidade clássica: a civilização romana.
4. Civilização romana
4.1. Geografia e povoamento
multimídia: música
Povos pré-romanos na península
FONTE: YOUTUBE Itálica (séc. X-VII a.C.)
Da Mitologia Grega à Passarela do Samba –
Os deuses Gregos no Carnaval Brasileiro
Mar Tirreno
Mar Jônico
37
Os samnitas ocuparam o sul da península Itálica; os latinos,
o Lácio, no curso inferior do rio Tibre, em região de fácil
acesso para o mar, em constante conflito com os volscos,
mais a sudeste. Várias colônias gregas – Síbaris, Crotona,
Tarento, Nápoles, Catânia, Agrigento e Siracusa – forma-
vam a chamada Magna Grécia. Essas colônias mantinham
intensa relação com os etruscos e ocupavam o extremo sul
da península e a ilha da Sicília.
38
Túlio (578-534 a.C.) edificou a primeira muralha de Roma e
estabeleceu um regime censitário, dividindo a população em
cinco categorias sociais de acordo com sua renda.
Por fim, o terceiro rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, edificou o
Templo de Júpiter e construiu a Cloaca Máxima (sistema de
esgoto de Roma). Governou com o apoio dos plebeus e lati-
nos inimigos dos patrícios. Dessa forma, manteve os patrícios multimídia: vídeo
praticamente fora do poder político decisório das cidades.
FONTE: YOUTUBE
Em razão disso, os patrícios conspiraram e o derrubaram por
meio de um golpe de Estado no ano 509 a.C. Tarquínio foi Roma - Parte 1 (Monarquia e
deposto, como conta a lenda, porque atentou contra a moral República) - Mundo História
de uma rica patrícia de nome Lucrécia.
39
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 23
Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
MODELO 1
(Enem) TEXTO l
Olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios in-
teresses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós mesmos na
crença de que não é o debate que é empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate
antes de chegar a hora da ação.
TUCÍDIDES. HISTÓRIA DA GUERRA DO PELOPONESO. BRASÍLIA: UNB, 1987 (ADAPTADO).
TEXTO II
Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nada menos que pelo direito de administrar justiça e
exercer funções públicas; algumas destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo
que não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo
depois de certos intervalos de tempo prefixados.
ARISTÓTELES. POLÍTICA. BRASÍLIA: UNB, 1985.
Comparando os textos l e II, tanto para Tucídides (no século V a.C.) quanto para Aristóteles (no século IV a.C.),
a cidadania era definida pelo
a) prestígio social;
b) acúmulo de riqueza;
c) participação política;
d) local de nascimento;
e) grupo de parentesco.
ANÁLISE EXPOSITIVA
A questão apresenta dois textos. No primeiro, de Tucídides, fica evidente que o autor menospreza “o homem
alheio às atividades públicas”, além de uma notória valorização do debate para a tomada de ação. Já no segun-
do texto, de autoria de Aristóteles, é considerado “cidadão integral” aquele que tem o “direito de administrar
justiça e exercer funções públicas”. Ou seja, em ambos os textos, fica evidente que a participação nos debates
públicos é um valor que categoriza quem seria considerado, portanto, cidadão. Ou seja, a participação política
era valorizada, estimulada e considerada fator moral fundamental e bastante apreciado para os autores.
RESPOSTA Alternativa C
40
DIAGRAMA DE IDEIAS
GRÉCIA
PERÍODO HELENÍSTICO
PERÍODO CLÁSSICO (SÉC. V A IV A.C.)
(SÉC. IV - I A.C.)
CONFEDERAÇÃO LIGA DO
DE DELOS PELOPONESO
(ATENAS) (ESPARTA)
ROMA: MONARQUIA
PATRÍCIOS (PROPRIETÁRIOS)
CLIENTES (NÃO PROPRIETÁRIOS
PEQUENO POVOADO BASEADA EM ATIVIDADES
LIGADOS AOS PATRIARCAS)
DA PENÍNSULA ITÁLICA AGROPECUÁRIAS
PLEBEUS (CLASSE DIVERSA)
ESCRAVOS
MONARQUIA ROMANA
(SÉC. VIII - VI A.C. )
REI
CONSELHO SENADO
DE ANCIÕES (PATRÍCIOS)
(PATRÍCIOS)
QUEDA DA MONARQUIA - GOLPE POLÍTICO
41
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
Utiliza uma abordagem que foca nas questões Aborda aspectos da exploração da América
raciais presentes na composição do povo portuguesa e assuntos correlacionados a isso,
brasileiro, destacando a exploração de negros e como a construção de uma sociedade ruralista,
índios. Também aborda a exploração econômica patriarcal e escravista. Utiliza inúmeras fontes
do Brasil na época da colônia. Utiliza textos, para elaborar suas questões, entre as quais tex-
mapas, gráficos e imagens na ela- tos introdutórios, mapas, charges,
boração de questões. fotografias, tabelas e
gráficos.
Aborda temas referentes à exploração econô- No sistema misto de ingresso é necessário a Aborda aspectos sociais, como o choque cultural
mica da colônia dentro do sistema mercantilista realização da prova do Enem e do vestibular entre europeus e nativos, além de aspectos da
e a formação da sociedade brasileira. Utiliza da Unifesp. São determinados dois dias para a escravidão negra. Também faz uma abordagem
textos breves ou pequenas introduções, além prova e nela, não são abordadas diretamente sobre a produção econômica de diferentes
de algumas imagens na elaboração de suas questões de História, mas há um grau de inter- artigos presente na América portuguesa e os
questões, e coloca alternativas disciplinaridade na resolução dos métodos utilizados na produção/
relativamente longas. exercícios e escrita da extração de riquezas.
redação.
Organizado pela Vunesp, esta prova possui cinco Nesta prova, a abordagem de História segue a Esta prova adota um perfil específico, que ora Desde 2017, esta prova deixou de ser elaborada
questões de múltipla escolha de História e que, perspectiva adotada pela Vunesp, que combina cobra do candidato um teor de interpretação pela Fuvest e passou a ser organizada pela
nos últimos anos, trouxeram questões sobre análise de documentos com alto teor de inter- textual nas questões de História, dado que os Vunesp – são cinco questões de múltipla escolha
colonização portuguesa que privilegiam análise pretação. Nas seis questões de História, há uma registros textuais costumam ser longos, ora realiza de História. A abordagem conta com menor pre-
de fontes. tendência em abranger temas relacionados à uma combinação entre a leitura e conhecimen- sença de questões sobre América portuguesa.
História do Brasil e colonização tos detalhados sobre determinados
costuma ser um tema conteúdos.
recorrente.
UFMG
História está relacionada com a capacidade do História ocorre em nove questões de múltipla Elaborada pela Vunesp, esta prova possui carac-
candidato de realizar leituras atentas e, simultane- escolha. Há uma distribuição balanceada de terísticas semelhantes às demais provas citadas
amente, analisar o contexto de um determinado questões que transitam pelas linhas temporais de e organizadas pela mesma fundação. Em suas
período. Há um tema que percorre toda a prova e Brasil e Geral, de modo que formação de Portugal, 55 questões de múltipla escolha, não são con-
nele, pode-se englobar formação de Portugal, da da América portuguesa pré-colonial e colonial templados diretamente temas de História, mas
América portuguesa pré-colonial e e de colonização são alguns dos que podem aparecer abordados em
colonial e de coloniza- temas abordados. outras disciplinas.
ção.
Realiza análises de estruturas históricas Nesta prova, não há uma divisão clara entre Para o curso de Medicina, além do Enem, conta
brasileiras, que propõem aos candidatos uma História e Geografia, que são abordadas como com uma avaliação elaborada pela instituição
reflexão sobre temas contemporâneos, como Estudos Sociais. Portanto, não existem definições “TalentVest”. Em suas dez questões de múltipla
preconceito e desigualdade social. Utiliza textos, específicas de tema, mas sim um grau elevado escolha destinadas à História, há uma tendência
mapas, gráficos e imagens, de forma mesclada de interdisciplinaridade. em abordar temas contemporâneos.
na elaboração de suas questões,
e coloca alternativas
longas.
HISTÓRIA BRASIL
Ele lutou contra a submissão do Condado Portucalense
AULAS 1 E 2 frente ao seu primo Afonso VII, rei de Leão. No ano de
1139, após uma enorme vitória contra um grande exército
mouro, ele proclamou a independência de Portugal e, em
1140, foi nomeado rei dos portugueses, tornando-se, as-
sim, o primeiro rei da dinastia de Borgonha.
FORMAÇÃO DE PORTUGAL
E NAVEGAÇÕES
ULTRAMARINAS
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3 e 4
HABILIDADES: 1, 7, 9, 15, 16 e 18
AFONSO HENRIQUES, DE PORTUGAL
44
Não obstante, algumas características feudais ainda per- rítimo, que partia do Mediterrâneo e chegava ao Atlântico,
maneciam, como os tributos sobre a terra e o desfrute da com escala em Portugal, e prosseguia em direção ao mar
imunidade e de outros privilégios pela nobreza. do Norte. Expandindo o comércio, desenvolvendo as cidades
litorâneas e enriquecendo a burguesia mercantil, essa rota
1.2. A Dinastia de Borgonha (1139-1383) impulsionou a economia portuguesa.
Foi a primeira dinastia, fundada por Afonso Henriques, A burguesia mercantil passava aos poucos a formar uma
que configurou plenamente as características do feuda- classe rica e poderosa, que procurava desembaraçar-se dos
lismo português. entraves feudais. Nas cidades litorâneas, almejava-se incre-
mentar as atividades de navegação e expandir o comércio
A economia portuguesa era essencialmente agrária (como ultramarino, uma vez que os mercados europeus já não
o cultivo de azeite, vinho e cereais). No interior, agricultura eram suficientes e muito menos seguros.
e pastoreio; na região litorânea, começavam a se desen-
volver um incipiente comércio e outras atividades ligadas à
navegação, à pesca e ao artesanato.
Sem se mostrar capaz de acompanhar as transformações
sociais e econômicas ocorridas em Portugal, a dinastia de
Borgonha se indispôs com a classe dos mercadores, que
crescera bastante no período. Assim, a dinastia de Avis,
mais ligada aos interesses comerciais e urbanos, tomaria multimídia: vídeo
futuramente o seu lugar.
FONTE: YOUTUBE
Portugal era predominantemente agrário e, nos fins do sé- Novo Telecurso – Ensino Médio – História – Aula 17 (2 de 2)
culo XIV, passou a desenvolver uma economia mais voltada
para a navegação e o comércio. Para entender as trans-
formações ocorridas em Portugal, é preciso analisar o que 1.3. Revolução de Avis (1383-1385)
aconteceu em toda a Europa durante aquele século.
A morte de D. Fernando I desencadeou uma luta pela su-
1.2.1. Portugal e a crise do século XIV cessão do trono português, em 1383, e serviu de estopim
para a Revolução de Avis. O rei não havia deixado um filho
A crise do século XIV, em Portugal, diz respeito aos três varão, e sua filha, D. Beatriz, era casada com D. João I, de
grandes flagelos que atingiram a Europa, causando uma Castela. Se ela herdasse a coroa, o reino se tornaria domí-
crise que devastou o continente. nio de Castela e perderia a independência política.
Em consequência do crescimento populacional, das más co- A sociedade portuguesa se dividiu após a crise sucessória. A
lheitas e da alta dos preços dos cereais, a população rural mi- alta nobreza era partidária da união com Castela, que era feu-
grou para a cidade para fugir da Grande Fome (1315-1317). dal e a beneficiaria. Já a burguesia, que considerava a perda
Um surto de peste bubônica, agravado pelas precárias da independência uma ameaça aos seus interesses, apoiou as
condições de higiene e alimentação da população, dizi- pretensões de D. João, mestre de Avis, irmão bastardo do rei.
mou, aproximadamente, um terço dos europeus, acome- Quando D. João foi aclamado rei, Castela invadiu Portugal.
tidos pela Peste Negra (1347-1350). A burguesia, a pequena nobreza e a população pobre,
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453), travada entre a partidários do mestre de Avis, derrotaram os castelhanos
França e a Inglaterra, devastou a agricultura e desarticu- na Batalha de Aljubarrota (Padeira), consolidando a au-
lou o comércio no Ocidente Europeu. tonomia portuguesa, em 1385.
Os camponeses empobreciam à medida que os senhores
feudais intensificavam as exigências tributárias, o que
provocou grandes revoltas camponesas, conhecidas na
França como Jacqueries, responsáveis pelo agravamento
da decadência do feudalismo.
O comércio europeu girava em torno de dois polos principais:
as cidades-estado italianas, ao sul, e Flandres, ao norte. Essas
regiões eram ligadas por rotas comerciais terrestres que atra-
vessavam o centro da Europa. Em virtude da crise do século
XIV, essas rotas foram abandonadas em favor do trajeto ma- BATALHA DE ALJUBARROTA (1385).
45
A aliança entre a dinastia de Avis e a burguesia fortale- estrutura material: navios, homens, armas e farto abasteci-
ceu a centralização monárquica e abriu caminho às mento. Esse tipo de empreendimento só seria possível com
Grandes Navegações, criando condições para a ex- o apoio do Estado e o capital da burguesia. Aos reis e aos
pansão das atividades comerciais. burgueses interessava financiar a expansão marítima em
troca de sua participação nos lucros. Com isso, seria facilit-
ada a submissão da sociedade aos reis e seriam fortaleci-
dos os Estados nacionais.
O terceiro fator foi o progresso técnico e científico e a cria-
tividade, que foram incentivados, além da astronomia e da
cartografia, que obtiveram grande desenvolvimento. Cons-
truíram-se as caravelas de três mastros e velas triangulares,
multimídia: vídeo que permitiam a navegação contra o vento. A bússola,
trazida provavelmente da China pelos muçulmanos, ainda
FONTE: YOUTUBE
no século XII, passou a ser montada na rosa dos ventos.
Novo Telecurso – Ensino Médio – História... Substituído pelo sextante, o astrolábio era um instru-
mento que determinava a latitude e a longitude por inter-
médio dos corpos celestes.
2. As Grandes Navegações
Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente
portugueses e espanhóis, lançaram-se aos oceanos Pací-
fico, Índico e Atlântico com alguns objetivos principais, tais
como: descobrir uma nova rota marítima para as Índias,
encontrar novas terras e expandir a fé cristã.
Nessa época, ocorreu a intensa procura por Preste João, um
lendário príncipe cristão dono de fabulosas riquezas, cujo rei-
no estaria localizado em algum ponto da África ou do Oriente.
As Grandes Navegações, ou Navegações Ultrama- ASTROLÁBIO
rinas, foram várias expedições oceânicas organizadas nos
séculos XV e XVI, principalmente por Portugal e Espanha. Em Portugal e na Espanha, o ideal missionário era bastante
Elas ajudaram a marcar a passagem da Idade Média para disseminado, já que eram países que tinham estado em
a Idade Moderna, num grande impulso para o aumento do luta direta contra os muçulmanos. No fundo, o espírito cru-
comércio da Europa com a Ásia e a África, e resultaram na zadista e a preocupação em expandir a fé cristã a no-
descoberta de um novo continente a ser explorado pelos vos povos acabaram por servir de justificativa ideológica
europeus, a América. para a expansão marítima – era o estímulo religioso.
A tomada da cidade de Constantinopla pelos turcos, em
2.1 Origem das Navegações Ultramarinas 1453, acelerou ainda mais a corrida desenfreada pelos
mares: “Por ali passava a maior parte do comércio euro-
Primeiramente, o comércio oriental – de especiarias, em
peu com o Oriente. Quando a cidade caiu sob controle
particular – pelo Mediterrâneo encontrava um ponto de es-
trangulamento no monopólio exercido pelos italianos sobre muçulmano, foi necessário encontrar novos caminhos para
a navegação. Monopólio este que encarecia sobremanei- comerciar com a Ásia”, conta Josh Graml, historiador do
ra as mercadorias orientais. Para as monarquias nacionais Museu dos Navegantes em Newport, Estados Unidos.
europeias, tornava-se necessário quebrar esse monopólio
descobrindo novas rotas para o Oriente. O progressivo 2.2. O pioneirismo de Portugal
esgotamento das velhas minas europeias de metais precio-
Nos séculos XV e XVI, graças a uma série de condições
sos usados na cunhagem de moedas agravava ainda mais a
encontradas nesse país ibérico, Portugal liderou as nave-
situação, gerando uma grave carência de metais preciosos.
gações, principalmente pela exepriência adquirida na pes-
A aliança entre a burguesia e os reis, mediante as ca. As caravelas, principal meio de transporte marítimo e
monarquias nacionais, foi o segundo fator que contribuiu comercial do período, eram desenvolvidas com qualidade
para a expansão marítima. Para a realização das grandes superior à de embarcações de outras nações. Portugal
viagens marítimas, era necessário dispor de uma complexa contou com uma quantidade significativa de investimento
46
de capital vindo da burguesia e da nobreza, interessadas O marco inicial da expansão ultramarina portuguesa foi
nos lucros que esse negócio poderia gerar. Havia, ainda, a a conquista de Ceuta em 1415. Essa cidade, situada na
preocupação com os estudos náuticos concentrados num costa marroquina no norte da África, simbolizava o poderio
centro de estudos: o Instituto Cartográfico Lusitano, a Es- muçulmano e era o ponto de partida das expedições pira-
cola de Sagres. tas árabes. A conquista portuguesa se justificou pelo fato
de "fincar uma lança na África", ou seja, tratava-se de uma
Além de ser ponto de escala comercial para os navios que
expedição punitiva comandada pela cristandade ofendida.
vinham das cidades italianas pelo Mediterrâneo rumo ao
norte da Europa, graças a sua posição geográfica favo-
Localização geográfica da cidade de Ceuta
rável, Portugal tinha também fácil acesso à África pelo
Atlântico. Além disso, contava com uma vantagem adicio-
nal: gozava de paz em suas políticas externa (em compa-
ração com outras nações europeias, envolvidas direta ou
indiretamente na Guerra dos Cem Anos) e interna, uma
vez que a Guerra de Reconquista estava praticamente en-
cerrada em suas terras.
A precoce criação de um Estado nacional associado aos in-
teresses mercantis, bem como sua consolidação graças
à Revolução de Avis (1383-1385), explica o pionei-
DISPONÍVEL EM: <HTTP://BRASILESCOLA.UOL.COM.BR/GEOGRAFIA/
rismo português. MUROS-CEUTA-MELILLA.HTM>. ACESSO EM: 18 JAN. 2017.
47
não percebeu o feito, uma vez que passou pela região durante uma forte tempestade. Um motim na tripulação obrigou-o a
retornar a Portugal, impedindo-o de alcançar a Índia.
Em 1497, Vasco da Gama iniciou sua primeira viagem à Índia. No ano seguinte, cruzou o cabo da Boa Esperança e alcançou seu
destino, a cidade portuária de Calicute. Chegar às Índias significava conseguir especiarias, pimenta e noz-moscada, artigos tão
valiosos quanto prata e ouro na Europa. Para se ter uma ideia da importância do acontecimento, os navios de Vasco da Gama
trouxeram, em apenas uma viagem, o que os venezianos traziam por terra durante um ano. Os lucros chegaram a 6.000%. Por-
tugal se tornaria uma potência mundial graças ao caminho marítimo para o Oriente aberto por Vasco da Gama.
Viagens de Vasco da Gama e de Pedro Álvares Cabral
48
Para reconquistar seus territórios perdidos para os árabes, os
cristãos da Península Ibérica travaram inúmeras batalhas. O
reino da Espanha demorou a ser formado pela prolongada
luta entre árabes e espanhóis (Guerra da Reconquista), sen-
do o casamento entre os reis católicos Fernando (do reino de
Aragão) e Isabel (do reino de Leão e Castela), em 1469, um
marco para a unificação espanhola.
multimídia: livro
A continuidade da luta contra os árabes mantinha con-
centrados prioritariamente os esforços da nova monarquia
Douglas Tufano – A Carta de Pero Vaz de Caminha
espanhola. Fernando e Isabel lutaram contra os árabes e,
Edição comentada e ilustrada da carta de Pero Vaz de Cami- em 1492, expulsaram-nos da Península Ibérica, quando o
nha ao rei de Portugal por ocasião do “achamento” do Bra- último reduto da presença moura, a região de Granada, foi
sil. Texto integral, reescrito em português contemporâneo. tomado pela Espanha.
Financiando o projeto do navegador genovês Cristóvão Co-
lombo, a Espanha pôde se lançar às Grandes Navegações.
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Pindorama – Palavra Cantada multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
da monarquia nacional
2.4.1. Guerra de Reconquista 2.5. A expansão marítima espanhola
Em relação a Portugal, a Espanha teve um processo expan- Colombo sustentava que a Terra era esférica, muito mais pró-
sionista tardio. Contrariamente à região da costa do Atlân- ximo da tradição e dos novos conhecimentos renascentistas,
tico, na qual a luta contra os árabes deu origem à precoce entre eles as concepções heliocêntricas de Galileu. Italiano
formação do reino centralizado de Portugal, o restante da de nascimento (quase todos os documentos relatam seu
Península Ibérica havia se fragmentado em quatro reinos nascimento na cidade de Gênova), Colombo acreditava que,
levados por interesses próprios e, por vezes, conflitantes: navegando em linha reta, acabar-se-ia retornando ao ponto
Aragão, Castela, Leão e Navarra. de partida. Logo, navegando em direção oposta, em direção
ao Ocidente, seria possível alcançar as Índias.
SÉCULO XI SÉCULO XII
OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO ATLÂNTICO
Leão A
U N HA
o LEÃO RR O
LEÃO Navarra ragã VA GÃ
A Condado NA RA
Castela Condado A
L
Portucalense Saragoça
TA
de Barcelona
CASTELA CA
CALIFADO Barcelona
Lisboa Toledo
DE CÓRDOBA 1147 ALMORÁVIDAS
Ourique
Córdoba 1139 Córdoba
EO O E
ÂN ÂN
ERR ERR
EDIT ME
DIT
Ceuta ARM Ceuta R
M MA
49
Navegando sempre em direção a Oeste, partiu no início de agosto de um porto ao sul da Espanha e, em 12 de outubro de
1492, aportou na Ilha de Guanahani (hoje São Salvador), onde encontrou um novo continente para os europeus, que seria
batizado posteriormente de América. Vale a ressalva de que Colombo acreditava estar em terras ainda não conhecidas das
Índias, daí nomeou os habitantes de índios.
O Oceano Pacífico foi descoberto em 1513 por Vasco Nunes Balboa que, atravessou por terra a América Central (istmo
do Panamá).
O português Fernão de Magalhães, a serviço da Espanha, iniciou a primeira viagem de circum-navegação da Terra, entre
1519 e 1522. Partiu de Cádis, navegou pelo Atlântico Sul, cruzou ao sul do continente americano o estreito que hoje tem seu
nome e rumou para a Ásia. Chegou às Filipinas, em 1521, e morreu em combate com os nativos. A viagem que comprovou
a teoria da esfericidade da Terra foi completada por Juan Sebastián Elcano.
Viagens de Cristóvão Colombo
50
Devido à insignificância dos territórios lusos, Portugal se opôs a essa Bula, o que causou a sua revogação e levou à assinatura,
em 1494, do Tratado de Tordesilhas. Pelos termos do novo Tratado, deslocava-se para 370 léguas a oeste de Cabo Verde o
limite entre os domínios portugueses e espanhóis.
Tratado de Tordesilhas
Ilhas
Canárias
Cabo
Verde
ilhas
Equador
Em 1529, os monarcas de Portugal (D. João III) e da Espanha conhecido como a Revolução dos Preços, em razão da
(Carlos I) assinaram o Tratado de Zaragoza. Definiu-se uma desvalorização da moeda e do aumento geral dos preços;
linha imaginária a 297,5 léguas a leste das Ilhas Molucas, diversificação dos artigos de consumo: batata, tabaco, ca-
dividindo o mundo oriental entre as nações ibéricas. cau e o milho oriundos da América;
Algumas nações europeias não iriam respeitar a divisão destruição das civilizações pré-colombianas astecas
territorial imposta pelo Tratado de Tordesilhas, pois julga- e incas;
vam injusta a partilha do mundo entre as nações ibéricas.
Os países mais contrariados foram: a Grã-Bretanha, o Rei- enriquecimento da burguesia mercantil europeia;
no dos Países Baixos e a França. Ao rei francês Francisco I fortalecimento dos Estados absolutistas;
foi atribuída a seguinte frase: “O Sol brilha para todos e
desconheço a cláusula do testamento de Adão que divi- europeização do mundo, ou seja, a difusão da cultura
diu o mundo entre portugueses e espanhóis”. Isso deixava europeia (vestimentas, língua, hábitos alimentares);
clara a sua posição contrária às determinações impostas.
mudança do eixo econômico europeu do mar
Mediterrâneo para o oceano Atlântico;
expansão do mercantilismo;
51
multimídia: música multimídia: site
FONTE: YOUTUBE
Por Mares Nunca Dantes Navegados – Imperatriz www.sohistoria.com.br/ef2/navegacoes/
Leopoldinense (samba-enredo 1976) tudodeconcursosevestibulares.blogspot.com.br/2013/10/
grandes-navegacoes-e-expansoes.html
A cartografia mundial foi redefinida a partir das viagens ultramarinas, ampliando-se os “limites” do mundo até
então conhecido. Isso levou os estudos geográficos a novas realizações, levando os mapas a definições menos
imaginárias e hipotéticas.
Também foi possível, com a utilização conjunta dos instrumentos náuticos (bússola, sextante, astrolábio, etc.),
a criação de um primeiro Sistema de Posicionamento Global (GPS), com precisão consideravelmente grande à
época. Lembrando que o GPS atual usa coordenadas num plano cartesiano global, o que é muito estudado na
Matemática.
52
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 15
Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
A Habilidade 15 impõe aos candidatos uma avaliação crítica sobre diversos conflitos sociais no tempo e no
espaço. Entende-se “conflitos” não somente pela contenda armada ou violenta, mas também pelos choques
civilizacionais presentes na história, tanto entre colonizadores e colonizados quanto entre dominadores e do-
minados em geral.
As diversas sociedades interpretam e se relacionam com o seu meio físico e cultural de diferentes formas,
segundo suas idiossincrasias e visões de mundo. O papel do estudante é captar como se dão esses choques
culturais e as suas resoluções – sejam estas pacíficas ou não.
MODELO 1
(Enem) Em geral, os nossos tupinambás ficaram admirados ao ver os franceses e os outros dos países longín-
quos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez um ancião da tribo que
me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e pêros (franceses e portugueses), buscar lenha de tão
longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?”
LÉRY, J. VIAGEM À TERRA DO BRASIL. IN: FERNANDES, F. MUDANÇAS SOCIAIS NO BRASIL. SÃO PAULO: DIFEL, 1974.
O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um ancião tupinam-
bá, o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no sentido:
ANÁLISE EXPOSITIVA
Na cultura indígena, a madeira é empregada de maneira bastante específica, sendo utilizada para acender
fogueiras. Estas aqueciam os indivíduos nos períodos de frio, bem como espantavam animais e serviam para
cozimento de diferentes produtos. Dessa forma, o índio ancião imaginava que os europeus atribuíam ao pau-
-brasil a mesma finalidade e não o seu uso na tinturaria. Trata-se, evidentemente, de um choque cultural entre
as duas populações, que atribuíam destinos diferentes ao mesmo produto.
RESPOSTA Alternativa A
53
DIAGRAMA DE IDEIAS
54
AULAS 3 E 4
AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA,
MERCANTILISMO
E ADMINISTRAÇÃO
ESPANHOLA NA AMÉRICA DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/
ARTE_OLMECA>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015.
Comanches
A população olmeca era bastante desenvolvida, espalha-
Sioux da pelo império, dividia-se entre uma minoria (sacerdotes,
Musgoguis
Seminolas artífices de elite), que habitava os centros cerimoniais, e a
Trópico de Câncer
ASTECAS
Caraíbas
maioria do povo (camponeses), que vivia nas aldeias.
OCEANO
MAIAS
ATLÂNTICO
Aruaques
Aruaques
Equador Caraíbas
Caras
Quéchuas Tupis
OCEANO PACÍFICO INCAS
Jês
Trópico de Capricórnio Aiamarás Guaranis
Tupis
Araucanos
0 1085 km
Patagões
ADAPTADO DE: <HTTP://ERONEDUCADOR.BLOGSPOT.COM.BR/2013/08/AS- UMA DAS QUATRO CABEÇAS COLOSSAIS ENCONTRADAS EM LAVENTA,
AMERICAS-PRE-COLOMBIANA.HTML?VIEW=CLASSIC>. ACESSO EM: 23 DEZ. 2015. COM ALTURA APROXIMADA DE 3 METROS
55
A arte olmeca se caracterizou pelo valor religioso. A escultura vivia a numerosa mão de obra de camponeses submetidos
era bastante desenvolvida: monumentais cabeças de pedra, ao regime de servidão coletiva.
com rosto redondo, lábios grossos e nariz achatado; estatue-
Trocas de produtos cultivados e de artesanato (objetos de
tas com formas humanas e outras apresentando uma mistura
ouro e cobre, tecidos de algodão, cerâmica) aconteciam
de traços humanos e felinos. São frequentes as representa-
nos centros maias, onde a administração e o culto se da-
ções do jaguar, a principal divindade, das quais o homem
vam. O ofício de mercador era muito importante e havia
jaguar representaria, provavelmente, o deus da chuva.
ainda os escravizados, cujas figuras apareciam em nume-
Conheciam a astronomia – basta observar o traçado de suas rosos monumentos da civilização maia.
cidades, obedecendo aos pontos cardeais e a um calendário,
Incumbido da política interna e externa e do recolhimento
uma vez que foram encontrados, em alguns monumentos,
do imposto coletivo das aldeias, acredita-se que o governo
registros de datas muito antigas. Também conheciam a es-
crita e sistemas matemáticos. Muitos traços e tradições dos maia fosse uma teocracia de caráter hereditário.
olmecas sobreviveram entre as diversas culturas que os su-
cederam, como é o caso das culturas dos astecas e maias.
1.2. Maias
1.2.1. Características
56
ros e expansionistas, dominaram os toltecas e outros povos
da região. Construíram palácios, templos, mercados e ca-
nais de irrigação, comprovando grande desenvolvimento,
e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán, capital do
império. Contudo, estudos atuais apontam a possibilidade
de um governo tripartido entre as cidades-Estado de Te-
nochtitlán, Texcoco e Tlacopan, sendo a primeira a maior e
mais importante entre elas.
CALENDÁRIO MAIA
57
utilizadas na decoração de palácios e templos. Os astecas Parte dos atuais territórios de Colômbia, Equador, Peru, Bolí-
também se destacaram na astronomia ao elaborarem um via, Chile e Argentina, a região ocupada pelos incas ainda se
calendário solar que lhes possibilitava planejar as épocas estendia ao longo da cordilheira dos Andes. Originariamente
de plantio e colheita. nômades, os incas faziam parte do grupo quéchua. Entre os
séculos XII e XIII, realizaram várias conquistas na região an-
dina (civilizações de Tiahuanaco, Huari e Chimu), alcançando
seu apogeu na época da conquista espanhola no século XVI,
impondo-se militarmente e formando o Império Inca.
A propriedade era divida em terras do Estado, terras dos
sacerdotes e terras comunitárias, das quais cada família
possuía um lote para cultivo próprio depois de cultivar as
terras do imperador e dos sacerdotes.
PIRÂMIDE DO SOL Havia ainda o Ayllu, organização social formada por laços
de parentesco entre os membros da comunidade e liderada
A religião asteca era politeísta, com prática de sacrifícios
pelo chefe político e administrativo cujo poder era transmi-
humanos. Na crença asteca, para que o mundo fosse pre- tido hereditariamente, conhecido como curaca.
servado, os deuses exigiam oferendas do bem mais precio-
so que os homens possuíam, a vida. Rigidamente estratificada, essa sociedade experimentou a
formação de classes sociais, tornando-se estamental. Abai-
xo do imperador havia uma elite de sacerdotes e milita-
res (nobreza); artífices do Estado, médicos e contabilistas
compunham o grupo intermediário; e, na base da pirâmide
social, escravizados responsáveis pela produção de exce-
dentes, que se concentravam nas mãos da elite, e ainda
uma grande massa de camponeses.
multimídia: site A forma de trabalho compulsório mais comum era chamada
de mita. Tratava-se da exploração obrigatória da mão de
obra camponesa pelo Estado, empregada em obras públicas
historiadomundo.uol.com.br/asteca/
e nas minas.
http://historiadomundo.uol.com.br/inca/
A principal atividade econômica incaica era a agricultura,
sendo o milho, a batata, o feijão, o algodão e a pimenta os
1.4. Incas principais produtos. Também criavam animais, lhamas e al-
1.4.1. Características pacas, que forneciam leite, lã e carne e serviam como meio
de locomoção. Os incas desenvolveram terraços para con-
OCEANO ter a erosão, ampliar a área de plantio e melhorar aproveita-
ATLÂNTICO
mento das terras em relevo montanhoso.
Quito
Machu Picchu
Cuzco
OCEANO
PACÍFICO
0 1000 km
58
descendente direto do Sol, supremo legislador e coman-
dante do exército com poder vitalício e hereditário.
Para facilitar o domínio das áreas afastadas da capital
Cuzco e integrar as diversas regiões do império, os incas
construíram várias estradas que permitiam o desloca-
mento do exército para o controle de áreas rebeladas e
possibilitavam o serviço de correios.
Acreditavam em vários deuses vinculados a elementos da
natureza: sol (Inti), chuva, fertilidade. Os deuses influen-
ciavam suas manifestações artísticas, notadamente na
construção de grandes templos. Faziam também sacrifícios
VARÍOLA ATACA OS AMERÍNDIOS
animais e humanos.
Os espanhóis tiveram seu primeiro contato com o Impé-
Sem escrita, a cultura era transmitida oralmente. O idioma rio Asteca, o qual possuía um exército estimado em torno
quéchua serviu de instrumento unificador do Império Inca. Um de 500 mil homens, em 1519. Sob a liderança de Hernán
conjunto de nós e barbantes coloridos, chamados quipus, Cortez, os espanhóis foram bem recebidos pelos astecas,
permitiu aos incas desenvolverem um engenhoso sistema de ganharam muitos presentes, incluindo uma jovem escra-
contabilidade. Na astronomia, foram autores de um calendá- vizada índia chamada Malinche (Melinda para os espa-
rio. Na matemática, utilizavam o sistema numérico decimal. nhóis), que dominava algumas línguas faladas na América
Os testemunhos mais importantes dessa cultura encon- e que auxiliou na conquista do México por parte dos colo-
tram-se na arquitetura monolítica e despojada de orna- nizadores europeus.
mentos, que revela tanto uma técnica impecável como uma Cortez percebeu que a dominação seria muito complexa
notável frieza expressiva. Os incas foram exímios criadores devido ao tamanho do Império Asteca. Contudo, ele aca-
de cerâmicas de pequenas peças e estatuetas antropozoo- bou contando com o apoio de povos nativos subjugados
mórficas. Atribuíram também grande importância à indús- pelos astecas e que se encontravam descontentes nessa
tria metalúrgica, principalmente à fabricação de armas e posição. Prometendo a esses povos a liberdade, Cortez
ao artesanato têxtil. ganhou importantes aliados na luta contra os astecas (“di-
vidir para conquistar”). Os europeus ainda contaram com
a falta de resistência inicial do imperador asteca, Monte-
2. A conquista espanhola e zuma. Muitos estudiosos acreditam que a inicial falta de
resistência do imperador deriva de uma lenda de que os
o choque de civilizações deuses iriam voltar em algum momento e analisar o grau
Por serem impérios extensos, que cobriam áreas enormes de desenvolvimento do povo asteca, determinando assim
da América, foram vistos pelos colonizadores espanhóis se eles mereceriam a salvação.
como as principais ameaças ao projeto de exploração do Cortez orquestrou a tomada da capital asteca, Tenochtitlán,
novo território. Os astecas e os incas foram os que mais que em menos de três anos já se encontrava sob o domínio
sofreram com o contato com os europeus. dos conquistadores europeus.
Apesar de os povos nativos contarem com o maior número
de guerreiros, os espanhóis possuíam a vantagem de esta-
rem melhor equipados para um possível confronto. O fato
de terem consigo armas de fogo, canhões e cavalos, to-
dos elementos desconhecidos na América, foi uma grande
vantagem sobre os ameríndios, exercendo enorme impacto
psicológico sobre esses povos. Essa vantagem bélica foi
apenas um dos fatores que contribuíram para uma rápida
conquista por parte dos europeus. Outros grandes respon-
sáveis pelo rápido decréscimo populacional dos ameríndios
foram as doenças trazidas pelos europeus, e até então ine-
xistentes na América (ex.: varíola, sarampo e gripe), além
da fome que assolava os nativos após a dominação. CORTEZ DOMINANDO OS ASTECAS
59
No caso da dominação dos incas, aproveitando uma crise ser responsável por regulamentar a administração e nomear
política causada pela disputa sucessória local, Francisco Pi- funcionários nas terras americanas. Com o passar do século
zarro, que chegou à região do Peru em 1532, invadiu os XVI, a Espanha foi aprimorando seu sistema de administra-
domínios incaicos e prendeu o imperador Atahualpa. ção colonial e foram criadas as Audiências, instituições
com competência jurídica instaladas nas mais importantes
O primeiro encontro entre Atahualpa e o explorador espa-
regiões da América hispânica. Para centralizar toda a admi-
nhol foi marcado por um mal-entendido. Pizarro entregou
nistração da colônia espanhola, subordinando as Casas de
uma Bíblia ao imperador inca, que, por viver em uma so-
Contratação e as Audiências ao seu domínio, foi criado o
ciedade sem escrita, não entendeu a utilidade do presente.
Conselho das Índias em 1524.
Em troca, Atahualpa entregou a Pizarro uma bebida à base
de milho, considerada sagrada. O espanhol teria tomado O passo final para a melhor administração das terras ame-
um gole e cuspido em seguida, devido ao forte ardor da ricanas foi sua divisão em Capitanias (terras de menor
bebida. Ao ver tamanho desrespeito, o imperador inca teria representatividade econômica) e Vice-Reinos (terras de
atirado a Bíblia ao chão, o que foi utilizado pelos europeus maior valor econômico).
como pretexto para o início de um enfrentamento bélico. América espanhola no século XVIII
Pizarro conquistou a capital Cuzco em 1533, após inúme-
ras e sangrentas batalhas, além de contar com o apoio de
inúmeros curacas descontentes com a dominação inca e
prometendo a libertação de seu julgo.
multimídia: livro
60
Para cuidar dos problemas relacionados às vilas e cidades, Devido aos abusos cometidos durante a utilização do trabalho
foram criados os Cabildos (espécie de prefeitura, ou simi- compulsório, houve a grande diminuição da população nativa,
lar às Câmaras Municipais no Brasil Colônia). Esse órgão gerando a troca do repartimiento e da encomienda pelo tra-
teria todo o poder local em suas mãos e era constituído balho livre. Duramente criticados por parte dos padres, a vio-
por membros da camada social dos criollos, descenden- lência e os abusos sofridos pelos índios tinham como opositor
tes de espanhóis nascidos na América. Em geral, os criollos mais incisivo o padre Bartolomeu de Las Casas.
eram grandes proprietários de terras e minas ou criadores
Havia também as haciendas, o equivalente espanhol ao
de gado. Todos os cargos públicos eram destinados aos
sistema de plantation, com menor importância econômi-
chapetones, os Cabildos eram os únicos órgãos políticos
ca, mas não desprezível. Esse sistema foi muito utilizado na
que podiam ser ocupados pelos criollos.
produção de gêneros tropicais, na região das Antilhas, que
Os mestiços, filhos de espanhóis com índios ou negros, seriam enviados aos mercados europeus. As populações na-
não possuíam direitos políticos e exerciam funções como tivas nessa região foram as primeiras a desaparecerem após
artesãos, capatazes ou pequenos comerciantes. Abaixo de- o domínio espanhol, tornando a produção das haciendas
les se encontravam os negros (utilizados principalmente alimentada pela mão de obra de cativos africanos.
nas grandes plantações das ilhas do Caribe e Antilhas) e os
índios (mão de obra na agricultura e nas minas).
2.4. Mercantilismo
A estruturação do capitalismo comercial coincidiu com
a formação dos Estados nacionais, ambas organizaram e
impuseram uma série de práticas econômicas objetivando
proporcionar o acúmulo de metais preciosos como forma de
dinamizar as relações comerciais e fortalecer as moedas na-
cionais. Essa política econômica dos Estados modernos ficou
conhecida como mercantilismo, expressão das práticas do
multimídia: livro capitalismo comercial, em que os Estados procuravam forta-
lecer suas finanças e manter sua estrutura burocrática.
A Conquista da América – Tzvetan Todorov
Essa pesquisa ética é, ao mesmo tempo, uma reflexão 2.4.1 Características
sobre os signos, sua interpretação e sua comunicação, A intervenção do Estado na economia e o meta-
pois o semiótico não pode ser pensado fora da relação lismo foram as principais bases do mercantilismo. Por
com o outro. metalismo entende-se a necessidade de acumular metais
preciosos para servir de lastro às moedas nacionais. Quan-
to maior a quantidade de metais preciosos, mais forte e
2.3. Trabalho compulsório estável ficava a economia.
Os dois métodos mais comuns utilizados pelos espanhóis A principal forma de obtenção e acúmulo de metais seria
foram o repartimiento e a encomienda, que explora- o comércio, o que levou os governos a estimularem as ex-
vam a mão de obra dos ameríndios, já que o número de portações e a inibirem, mediante protecionismo marcado
nativos era, inicialmente, muito abundante. por altas taxas alfandegárias, as importações de artigos es-
O repartimiento, tal como a mita, era muito similar ao que trangeiros, caracterizando, assim, uma balança comercial
os incas e astecas cobravam dos povos dominados. O mé- favorável. Eram muito fortes os estímulos governamentais
todo consistia em obrigar cada comunidade nativa a ceder à produção de artigos manufaturados, cujos preços eram
um número determinado de trabalhadores para execução bastante elevados no exterior e nas áreas coloniais.
de grandes obras públicas (normalmente de infraestrutura, Concedido pelo rei mediante pagamento a certas compa-
como estradas e prédios públicos) ou extração de minérios nhias privilegiadas, o monopólio era válido para o comércio
nas minas. Normalmente em condições insalubres e com re- de alguns produtos em determinadas regiões e por tempo
muneração muito baixa, o trabalho era temporário. limitado. Outra característica do mercantilismo.
A encomienda consistia em deixar um grupo de nativos Chamado também de sistema colonial, o colonialismo fi-
aos cuidados de um colono (encomiendeiro), o qual po- gura como parte integrante da política mercantilista. Ele cor-
deria utilizar a mão de obra dos nativos em atividades va- respondia ao conjunto de relações entre metrópoles e colô-
riadas, assegurando, como pagamento pelos serviços dos nias, quando as primeiras impuseram uma série de restrições
ameríndios, a instrução cristã, ou seja, a catequese. à economia colonial. As determinações metropolitanas às
61
colônias baseavam-se no monopólio e na complementarida- colônias americanas. Derivado de bullion, que em inglês
de, conhecidas por Pacto Colonial. significa "barra de ouro", tal prática ficou conhecida
Matérias-primas – gêneros tropicais como bulionismo.
As práticas mercantilistas eram chamadas de comercia-
lismo na Inglaterra. O governo estimulava as trocas co-
Colônia Pacto colonial Metrópole
merciais com o auxílio à marinha mercante. Mediante um
rígido protecionismo alfandegário, incentivava a comercia-
Manufaturas – escravos lização das manufaturas, especialmente as do setor têxtil.
Colbertismo era o termo utilizado na França em alusão
2.4.2. Práticas mercantilistas a Jean Baptiste Colbert, seu mais célebre incentivador,
que foi ministro das finanças do rei Luís XIV. Incentivar
Um conjunto de medidas econômicas aplicadas nos diver-
a produção de artigos manufaturados, principalmente os
sos Estados europeus e que variavam de país para país de
de luxo, como tapeçaria e cristais, que, exportados, gera-
acordo com suas peculiaridades, sem, contudo, constituí-
vam receitas para o Estado e uma consequente balança
rem-se em práticas homogêneas.
comercial favorável, assim era o mercantilismo francês.
A atuação do Estado, na Espanha, foi no sentido de acu-
mular metais preciosos explorados diretamente de suas
O choque cultural ocorrido nos primeiros encontros entre europeus e nativos americanos demonstra o estranhamen-
to com relação ao que pertence a uma outra cultura e a difícil aceitação do outro como tão “civilizado” quanto você.
O processo de destruição da cultura dos ameríndios e a imposição da cultura europeia demonstra isso com clareza.
Também podemos observar o efeito de doenças que não eram conhecidas por uma determinada população e seu efeito
nesse novo ambiente, analisando as primeiras tentativas de combater essas moléstias, as quais agora seriam globais.
62
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 7
Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
A Habilidade 7 impõe ao aluno a compreensão, dentro dos diversos espaços e tempos, das relações de poder
entre as nações. Inserida num eixo interdisciplinar com Geografia, Sociologia, Filosofia e História, o candidato
deverá interpretar as causas e as consequências de processos de dominação entre os povos, além de captar
seu significado econômico e político.
Conflitos de diferente natureza estão inseridos nessa habilidade, mormente os de guerras, colonização e escra-
vização entre nações. O estudante deverá relacionar registros acadêmicos, artísticos ou relatos dos participan-
tes para fundamentar sua resposta.
MODELO 1
(Enem) Mas uma coisa ouso afirmar, porque há muitos testemunhos, e é que vi nesta terra de Veragua [Pana-
má] maiores indícios de ouro nos dois primeiros dias do que na Hispaniola em quatro anos, e que as terras da
região não podem ser mais bonitas nem mais bem lavradas. Ali, se quiserem podem mandar extrair à vontade.
CARTA DE COLOMBO AOS REIS DA ESPANHA, JULHO DE 1503. APUD AMADO, J.; FIGUEIREDO, L. C.
COLOMBO E A AMÉRICA: QUINHENTOS ANOS DEPOIS. SÃO PAULO: ATUAL, 1991 (ADAPTADO).
ANÁLISE EXPOSITIVA
O processo de conquista e colonização da América pelos espanhóis esteve ligado à busca de riquezas, fossem
elas especiarias ou metais preciosos. O texto, de 1503, retrata a perspectiva de encontrar ouro na região, num
momento em que ainda não haviam sido descobertas as grandes minas do México e Peru, e no qual a Espanha
ainda buscava uma forma de atingir as Índias, demonstrando inclusive as divergências quanto à continuidade
do processo expansionista.
RESPOSTA Alternativa E
63
DIAGRAMA DE IDEIAS
AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA
OLMECAS MAIAS
64
ADMINISTRAÇÃO COLONIAL ESPANHOLA
CASAS DE DIVISÃO
ADELANTADOS
CONTRATAÇÃO DE TERRAS
CONSELHOS
AUDIÊNCIAS
DAS ÍNDIAS
ÍNDIOS
CHAPETONES CRIOLLOS
E NEGROS
• INTERVENÇÃO ESTATAL
• METALISMO
MERCANTILISMO • PROTECIONISMO
• BALANÇA COMERCIAL FAVORÁVEL
• COLONIALISMO
65
As primeiras expedições de reconhecimento e explo-
AULAS 5 E 6 ração foram comandadas por Gaspar Lemos, em 1501, e
Gonçalo Coelho, em 1503. Américo Vespúcio participou des-
sa última, organizada pelo comerciante Fernão de Noronha,
a quem o rei arrendara a Colônia para a exploração do pau-
-brasil em troca da defesa da costa.
PERIODO PRÉ-COLONIAL,
ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
E INVASÕES FRANCESAS
HABILIDADES:
1, 5, 7, 8, 9, 15, 16, 18 Naúfragos, traficantes e degredados – Eduardo Bueno
e 23
Eduardo Bueno fez uma pesquisa minuciosa em docu-
mentos de época, como os diários de bordo, relatos de
viagem e fragmentos de cartas, para reconstituir com
precisão e vivacidade a incrível saga enfrentada pelos
1. Brasil: período primeiros homens brancos que viveram no país.
pré-colonial (1500-1530)
O Brasil, logo após o Descobrimento, ainda permaneceu relati-
1.1. Pau-brasil, riqueza a ser explorada
vamente abandonado pelos portugueses, que continuavam a O vegetal do qual se extraía uma tinta muito usada em tin-
buscar as riquezas do comércio com as Índias. Para Portugal, um turaria, o pau-brasil, era também o único produto brasileiro
Estado acima de tudo voltado para o máximo desenvolvimento com algum valor comercial, embora inferior às mercadorias
mercantilista, o Brasil nada ou quase nada poderia oferecer de orientais. A extração dessa madeira ocorria no litoral da Co-
imediato se comparado ao rico mercado de especiarias. lônia, em uma área que ia do Rio Grande do Norte ao Rio
de Janeiro, sendo os portugueses os primeiros a explorá-la.
Assim foi que, por não atender aos interesses imediatos do
Depois de algumas viagens, os espanhóis afastaram-se em
Estado nem da classe mercantil portuguesa, de acordo com
respeito ao tratado de Tordesilhas. Sem compromisso com o
as exigências de sua prática mercantilista, o Brasil perma-
Tratado e sem poder comerciar diretamente com o Oriente, o
neceu ligado à sua Metrópole por umas poucas expedições contrabando foi o que restou aos franceses.
ocasionais, que aqui chegavam com o objetivo de reconhe-
cer mais amplamente o litoral ou de explorar o pau-brasil, Predatória e rudimentar, a exploração destruía matas
madeira com possibilidade de comercialização, ou ainda de sem qualquer preocupação em repô-las. A exploração li-
afugentar os franceses contestadores da divisão da América mitou-se exclusivamente à extração da madeira, sem que
entre Portugal e Espanha (Tratado de Tordesilhas – 1494), houvesse qualquer intenção de ocupar o território.
atraídos pela mesma mercadoria. A mão de obra dos índios era explorada mediante o es-
cambo, que consistia na troca de objetos de pouco va-
lor – espelhos, miçangas, objetos de ferro – pelo corte e
transporte do pau-brasil até locais determinados na costa.
Os portugueses também criaram as feitorias – estabele-
cimentos fundados no litoral da Colônia para armazenar o
pau-brasil, o qual deveria seguir para a Metrópole. Isso ser-
via para viabilizar a exploração do pau-brasil e assegurar a
multimídia: vídeo posse do território contra os invasores.
FONTE: YOUTUBE A exploração do pau-brasil era monopólio do rei (Estan-
Colonizado co Régio), como toda atividade ultramarina. Só poderia
se dedicar a ela quem tivesse uma concessão da Coroa,
66
que cobrava por isso o quinto (20% do lucro adquirido com o produto).
O negócio deixou de ser lucrativo a partir de 1530, quando as matas do litoral já estavam esgotadas, mas o Brasil continuou
exportando o pau-brasil até o início do século XIX.
Sem preocupação com o futuro e com interesse imediatista, a forma predatória de exploração seria depois empregada a todos
os recursos brasileiros.
A crescente presença de franceses, principalmente junto ao litoral, exigiu um esquema de policiamento mais ostensivo. Para isso,
foram enviadas duas expedições guarda-costas comandadas por Cristóvão Jacques, em 1516 e 1526, visando a combater
os corsários franceses. Entretanto, esse recurso não chegou a ter bons resultados. O litoral continuou ameaçado, o que exigiu
muito mais esforço para garantir sua segurança. Por fim, D. João III, rei português, teria anunciado uma mudança na mentalidade
lusa em relação ao Brasil, dando início a um projeto colonizador, pois era necessário “colonizar para não perder”.
Além da ameaça de invasão francesa, essa mudança de mentalidade sobre o Brasil deu-se devido ao declínio do comércio
com os produtos do Oriente e ao fato de a Espanha ter encontrado metais preciosos nas suas áreas coloniais, o que levava
Portugal a ter a mesma expectativa quanto às terras brasileiras.
OBRA DE BENEDITO CALIXTO, “FUNDAÇÃO DE SÃO VICENTE”, MOSTRA A VISÃO DO ARTISTA SOBRE A CHEGADA DOS PORTUGUESES NO LITORAL PAULISTA.
67
2. expulsar os franceses encontrados;
3. organizar núcleos de povoamento e defesa; e
4. aumentar o domínio português até o Rio da Prata,
abrangendo, portanto, terras que não pertenciam a Por-
tugal pelo Tratado de Tordesilhas.
Em 1532, ao voltar do rio da Prata, Martin Afonso fundou
multimídia: música São Vicente, no litoral do atual estado de São Paulo. São
FONTE: YOUTUBE
Vicente foi dotado de um engenho para produzir açúcar,
além de ser o primeiro núcleo de colonização no Brasil.
Eu sou Índio, eu Também sou Imortal –
Vila Isabel (samba-enredo 2000)
68
3.1. Capitanias hereditárias (1534)
O Estado português tinha sérios problemas econômicos, e a ocupação do extenso território brasileiro requeria vultosos recursos.
Assim, foi adotado o sistema de capitanias hereditárias, implantando pelo rei D.João III. A iniciativa privada arcaria com os
gastos da colonização transferidos pelo Estado.
Apenas pessoas de pouca expressão econômica e social apresentaram-se para a tarefa, pois a alta nobreza achava muito
arriscada tal empreitada, apesar das regalias e dos poderes oferecidos a quem quisesse colonizar o Brasil.
Capitanias hereditárias do Brasil
A costa brasileira foi dividida em quinze faixas de terra, com largura entre 200 e 650 quilômetros, do litoral à linha do Tratado
de Tordesilhas, no ano de 1534. Chamavam-se capitanias hereditárias pois passariam dos donatários a seus herdeiros. Os do-
natários possuíam grandes poderes: podiam dispor das terras e distribuí-las entre os colonos (as chamadas sesmarias), receber
taxas e impostos, fundar vilas, cobrar tributos pela navegação dos rios, nomear autoridades administrativas e judiciárias, etc.
Hoje a historiografia faz uma revisão sobre o verdadeiro limite geográfico das capitanias hereditárias, principalmente por conta dos
contornos dos atuais estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, os quais se orientam paralelos à linha do Tratado de Tordesilhas.
69
Pela Carta de Doação, o rei concedia o direito à adminis- 3.2. Governo-Geral (1548)
tração e à posse da terra de forma hereditária ao capitão
donatário. No Foral estavam fixados os direitos, foros e Portugal, após o fracasso do sistema de capitanias, criou
tributos que a população pagaria ao rei e ao donatário. A um novo sistema administrativo: o Governo-Geral, que
constituição político-administrativa tinha por base jurídica deveria corrigir as falhas das capitanias hereditárias e não
extingui-las. O novo órgão deveria centralizar a administra-
a Carta de Doação e o Foral.
ção colonial, sendo o governador-geral a maior autoridade
As sesmarias eram grandes porções de terra que perma- da Colônia e representante direto do rei.
neceriam em poder do sesmeiro e seus descendentes desde
que eles as cultivassem. Os donatários distribuíam sesmarias
àqueles que as requeressem, para estimular a colonização.
Martim Afonso de Sousa, em São Vicente, e Duarte Coe-
lho, em Pernambuco – apenas esses dois tiveram suces-
so (em parte porque receberam muita ajuda do rei de Por-
tugal e de banqueiros flamengos). Isso estava relacionado
a um produto muito interessante aos mercados europeus,
a cana-de-açúcar.
Ataques constantes de índios hostis, falta de recursos dos
donatários, a longa distância da Metrópole, as dificuldades NOVAES, CARLOS EDUARDO; LOBO, CÉSAR. HISTÓRIA DO BRASIL
de comunicação entre as capitanias e a descentralização PARA PRINCIPIANTES. SÃO PAULO: ÁFRICA, 2003, P. 61.
político-administrativa foram algumas das várias razões
para o fracasso do sistema de capitanias hereditárias. Os capitães-donatários, com isso, perderiam parte de sua
autoridade, o que explica certa resistência deles ao novo
órgão político-administrativo. O sistema de Governo-Geral
foi criado por D. João III e, através do Regimento de 1548
(conhecido como Regimento do Governo-Geral), determi-
nava as principais funções do Governo:
ajudar os donatários no que fosse necessário;
combater índios e piratas;
multimídia: música fundar núcleos de povoamento;
FONTE: YOUTUBE estimular a catequese e defender a fé cristã;
Cara de Índio – Djavan organizar expedições em busca de metais preciosos.
O documento estabelecia, ainda, a criação de cargos auxi-
liares ao governador-geral, que eram: o de provedor-mor,
que cuidaria das finanças e outros assuntos econômicos; o
de ouvidor-mor, responsável pela justiça; o de capitão-mor,
responsável pela segurança da costa do território.
70
de “homens bons”. Eram compostas por um alcaide (“es- Piratininga, origem do povoado que se transformaria na
pécie” de prefeito), dois juízes, um procurador, fiscais (almo- cidade de São Paulo.
taceis) e três vereadores. Esses indivíduos eram membros da A briga de Duarte da Costa com o Bispo Sardinha, pro-
elite que detinham projeção social, grandes comerciantes, vocada pelo mau comportamento do filho do governador,
proprietários de terras e de escravizados. No início eram ho- que promovia arruaças e desrespeitava as moças, marcou
mens de “sangue puro” português; com o tempo e o au- o governo junto com outros fatos negativos.
mento da mestiçagem, essa prática foi abandonada.
A instalação dos franceses no Rio de Janeiro foi também
Por vezes, as câmaras municipais gozavam de enorme au-
um fato marcante desse governo. A invasão, em 1555, es-
tonomia, ignorando leis impostas pela capital e apostando
tava vinculada aos problemas enfrentados pelos franceses
na ausência de qualquer punição, motivadas pelos meios
na extração do pau-brasil, ao norte da costa, por causa do
de comunicação e transporte, que eram precários.
maior policiamento.
71
O Forte de São Sebastião do Rio de Janeiro, que seria o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro, em 1565, foi fundado
pelo sobrinho do governador, Estácio de Sá, para auxiliar na luta contra os franceses da França Antártica. Dois anos
depois, frustrando momentaneamente o desejo francês de ter uma Colônia na América, os franceses foram expulsos da
região e a França Antártica foi destruída.
D. Luís de Vasconcelos, nomeado como quarto governador-geral, não chegou ao Brasil, pois sua esquadra foi destroçada por
corsários franceses. Também morreram nessa ocasião quarenta jesuítas que acompanhavam o governador. Ficaram conhecidos
na história como os Quarenta Mártires do Brasil.
O Brasil foi dividido em dois governos: o do norte, com capital em Salvador e governado por Luís de Brito Almeida, e o do
sul, com capital no Rio de Janeiro e governado por Antônio Salema, em 1573.
Luís de Brito Almeida ficou quatro anos no poder, mas logo foi substituído por Lourenço da Veiga. Governava Lourenço da
Veiga quando, em 1580, Portugal e sua Colônia passaram para o domínio espanhol, na chamada União Ibérica. Entre os
anos de 1621 e 1775, houve uma nova divisão: Estado do Brasil (capital Salvador até 1763 e depois Rio de Janeiro) e Estado
do Maranhão/Grão-Pará (capital São Luís até 1737 e depois Belém).
Equador
Salvador ESTADO DO
BRASIL
Vila Real Salvador
(Cuiabá) (capital até 1763)
Vila Boa
Porto Seguro
Sabará
Repatirção Vila Rica (Ouro Preto) Vitória
São João del Rei
do Sul São Paulo
560 km Rio de Janeiro
(capital a partir de 1763)
Curitiba São Vicente
Tratado de Tordesilhas, 1494
Rio de Janeiro 2
3
Tratado de Utrecht, 1713-15
Tratado de Madri, 1750 2 Vila do Desterro
4 Tratado de Santo Idelfonso, 1777 4
5 Tratado de Badajós, 1801
5 Porto Alegre
Área disputada por Portugal e Espanha 3
OCEANO
Áreas em litígio com os países
Vila de São Pedro
ATLÂNTICO
vizinhos no decorrer do séc. XIX
Colônia do Sacramento
72
Daniel de La Touche invadiu a região, fundando o Forte de
São Luís em homenagem a Luís IX, patrono da França, e
ao rei francês à época, Luís XIII.
A luta contra os franceses no Maranhão foi liderada por Je-
rônimo de Albuquerque e Diogo de Campos, que partiram
de Pernambuco.
multimídia: vídeo O Forte de São Luís foi tomado pelos luso-espanhóis e dali
FONTE: YOUTUBE se originou, mais tarde, a cidade de São Luís, capital do
Vermelho Brasil Maranhão. Sem condição de resistir na região, os franceses
foram expulsos definitivamente em 1615.
A França era motivada por dois fatores fundamentais: o Luís XIII acabara de se casar com a filha de Felipe III da Es-
desejo de ter uma colônia na América e os conflitos reli- panha, o que selava a paz entre as duas nações e encerra-
giosos entre católicos e huguenotes (calvinistas franceses) va a luta pela instauração da França Equinocial. Derrotados
resultantes da Reforma Protestante. Ainda no século XVI, em 1615, os invasores se retiraram definitivamente.
os franceses decidiram fundar uma colônia na América.
Para os calvinistas, essa colônia seria uma área onde po- 4.2. Conselho Ultramarino
deriam viver livres das perseguições movidas pelo Estado,
podendo com segurança e estabilidade praticar seu culto. D. João IV se tornou rei, pondo fim à União Ibérica após
a restauração do trono português, em 1640, quando foi
Nicolas Durand de Villegaignon liderou pessoalmente a criado o Conselho Ultramarino, regulamentado em 1642.
ocupação da baía de Guanabara em 1555. Dali tomaram O novo órgão nasceu subordinado à Secretaria de Estado
outras ilhas, recebendo reforços dos índios tamoios, com os dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos e esta-
quais se aliaram.
va encarregado exclusivamente da administração colonial,
Mem de Sá, o terceiro governador-geral do Brasil, e seu concluindo o processo iniciado em 1548 com a instalação
sobrinho, Estácio de Sá, conduziram a luta pela expulsão do Governo-Geral, sendo um passo decisivo para a centra-
dos franceses da baía de Guanabara. Com o intuito de lização administrativa colonial.
servir de base na luta contra os invasores, fundou o Forte
Significativamente, os governadores-gerais começaram a
de São Sebastião do Rio de Janeiro (1565), que viria a ser
ser chamados de vice-reis, embora tal denominação só se
o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro.
oficializasse posteriormente no Brasil. Com o Conselho Ul-
Após meses de negociação, os padres Manuel da Nóbrega e tramarino, os poderes dos donatários, que já haviam sido
José de Anchieta conseguiram convencer os índios tamoios a limitados com a criação do Governo-Geral, diminuíram
retirarem seu apoio aos franceses. Com a ajuda de habitan- sensivelmente, ficando praticamente limitados aos direitos
tes da vila de São Vicente e dos índios termininós (tupis) do tributários que estabeleciam os forais.
Espírito Santo, chefiados pelo cacique Arariboia, os franceses
foram expulsos da baía de Guanabara em 1567. Rei Estado Metropolitano
73
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
O extrativismo vegetal e os seus efeitos nocivos ao habitat nativo do Brasil, com a exploração de toneladas
de madeira (principalmente o pau-brasil) sem nenhum cuidado referente a sua preservação, levou a uma
grande diminuição da mata nativa da costa brasileira (Mata Atlântica), além de causar a extinção de inúmeras
espécies vegetais e animais.
74
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 4
Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
Cada vez mais o Enem lança mão de questões com fragmentos de textos acadêmicos ou de relatos históricos. A
Habilidade 4 se insere nessa perspectiva, exigindo a comparação entre os textos fornecidos. O candidato deverá
se preocupar em aguçar sua capacidade de leitura e compreensão, pois, na maioria dos casos, a resposta do
exercício está contida explícita ou implicitamente nos textos fornecidos.
Para os estudantes de ciências humanas, conseguir relacionar pontos de vista, premissas ideológicas e registros
documentais criticamente é uma tarefa indispensável, exigida a todos os candidatos no Enem.
MODELO 1
(Enem) Texto I
Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente
brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao status
econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos “negro da terra” e “índios” eram
utilizados com mais frequência do que qualquer outro.
SCHWARTZ, S. B. GENTE DA TERRA BRAZILIENSE DA NAÇÃO. PENSANDO O BRASIL: A CONSTRUÇÃO DE UM POVO. IN: MOTA, C.
G. (ORG.). VIAGEM INCOMPLETA: A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA (1500-2000). SÃO PAULO: SENAC, 2000 (ADAPTADO).
Texto II
Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela
diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis,
portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto
os tupinambás e os astecas.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. DICIONÁRIO DE CONCEITOS HISTÓRICOS. SÃO PAULO: CONTEXTO, 2005.
Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período anali-
sado, são reveladoras da
a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado.
b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias.
c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados.
d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval.
e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.
ANÁLISE EXPOSITIVA
Ao desprezarem a diversidade cultural indígena, os europeus que chegaram ao continente americano de-
monstraram seu etnocentrismo, que se manifestou tanto na linguagem que utilizaram quanto nas atitudes que
tomaram nesses novos territórios.
RESPOSTA Alternativa C
75
DIAGRAMA DE IDEIAS
INVASÕES FRANCESAS
CONSELHO ULTRAMARINO (1642)
(SÉC. XVI E XVII)
76
de capital para os centros dinâmicos da Europa. O eixo central
AULAS 7 E 8 desse mecanismo era o regime do monopólio colonial. Conhe-
cido como Pacto Colonial ou exclusivo colonial, esse regime
estabelecia a exclusividade do comércio externo da Colônia
em favor da Metrópole. Procurava-se sempre, até onde fosse
possível, pagar os menores preços pelos produtos da Colônia
ECONOMIA COLONIAL, para vendê-los com maior lucro na Metrópole ou revendê-los
para o mercado europeu. Além disso, buscava-se conseguir
SOCIEDADE E INVASÕES maiores lucros da venda de produtos oriundos da Metrópole,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5
2. A cana-de-açúcar
HABILIDADES:
3, 5, 7, 8, 9, 13, 15, 18
e 23
(séculos XVI e XVII)
A cana-de-açúcar foi o produto escolhido para dar início
à ocupação econômica do Brasil por uma série de razões:
A experiência portuguesa na produção de cana na cos-
1. Economia colonial ta africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé).
A possibilidade de atrair investimentos externos.
e mercantilismo Solo e clima favoráveis, especialmente o solo de massa-
Em uma situação econômica não favorável, principalmente pé e o clima quente e úmido do Nordeste.
em virtude da crise do comércio com o Oriente, Portugal deci-
O açúcar era um produto altamente lucrativo.
diu pela colonização do Brasil, que seria, portanto, uma alter-
nativa de acúmulo de capitais para o Estado lusitano no con- A aceitação do produto no mercado europeu.
texto da política mercantilista. Dessa forma, foi implantada Por seu valor, o açúcar poderia atrair investimentos, navios ho-
uma colonização de exploração, através da qual as colônias landeses poderiam colaborar no transporte, os índios poderiam
serviriam para o sustento da economia metropolitana, sendo ser obrigados a trabalhar na lavoura e, se não se adaptassem,
áreas produtoras de gêneros tropicais, fornecedoras de me- havia os africanos, muitos deles já escravizados pelos portu-
tais preciosos e consumidoras de produtos manufaturados e gueses. A experiência de Portugal como produtor de açúcar em
escravizados. Gerando riquezas e permitindo a ocupação e a
suas ilhas do Atlântico (Madeira e Cabo Verde) contribuiu para
defesa da terra, sem gastos para a Metrópole, a colonização
a escolha do produto e a forma de produção: eram semelhantes
do Brasil deveria garantir o sustento econômico de Portugal.
as condições ecológicas do Brasil e das ilhas, o açúcar era das
Povoamento ou exploração? Eis a questão: especiarias mais bem pagas e apreciadas no mercado europeu.
Colônia de povoamento Colônia de exploração
Pequena propriedade familiar Latifúndio
Voltada para o mercado externo, transferindo capital da Colô- Evaldo Cabral de Mello – O Brasil holandês
nia para a Metrópole, que controlava a circulação mercantil, a A presença do conde Maurício de Nassau no Nordeste brasilei-
economia colonial agrícola tinha seu funcionamento baseado ro, no início do século XVII, transformou Recife na cidade mais
na monocultura, no latifúndio e na escravidão. A natureza da desenvolvida do Brasil. Em poucos anos, o que era um peque-
produção colonial ajustava-se às necessidades do mercado no povoado de pescadores virou um centro cosmopolita.
europeu. Assim, a Colônia era um instrumento de acumulação
77
A primeira grande divisão de terras foi fundamental para
determinar o modelo de colonização. Esse modelo ficou co-
Natal nhecido como plantation e baseava-se em três elemen-
tos: grande propriedade (latifúndio), monocultura e
Meridiano de Tordesilhas
66 Paraíba
engenhos trabalho escravo (escravismo).
sco
Olinda
nci Recife
Fra Era uma decorrência natural do chamado Pacto Colonial,
Porto Calvo
o
Sã Penedo segundo o qual as colônias só poderiam comerciar com suas
metrópoles. Por isso, todos os esforços deviam concentrar-se
Rio
36 Cachoeira
engenhos na cultura de um só produto, isto é, na monocultura, sendo
Salvador
esta voltada para exportação. Grandes extensões de terra
4
engenhos
Ilhéus eram utilizadas para o plantio da cana e reduzidos espaços
Porto Seguro
eram destinados a uma agricultura de subsistência. O esta-
belecimento da agricultura no Brasil, como em outras áreas
6
engenhos
tropicais, teve como principal objetivo cultivar um produto
Vitória de grande valor comercial na Europa e altamente lucrativo.
3
engenhos
Campo dos Goitacás O rei regulamentou a escravização do índio sob pretexto
São Paulo Rio de Janeiro de defendê-lo. Daí por diante, para aprisionar índios foram
São Vicente Santos organizadas as chamadas bandeiras, expedições que se
4
engenhos tornaram um dos principais fatores da atual extensão do
território brasileiro, principalmente na região mais ao sul
OS ENGENHOS DE AÇÚCAR NO BRASIL do Brasil Colônia (atual Sudeste). Em 1570, uma Carta Ré-
gia autorizava a escravização de índios presos em “guerra
Portugal enfrentava dificuldades econômicas e, por isso, as- justa”, isto é, conflito iniciado pelos índios ou promovido
sociou-se, em especial, ao capital holandês na montagem contra tribos que se negassem a se submeter aos colonos
da agromanufatura açucareira. A lavoura açucareira requeria ou que recusassem a catequese.
grandes investimentos iniciais, especialmente para a compra
e montagem dos equipamentos dos engenhos, o transporte
de mudas para o Brasil e a obtenção de mão de obra escrava. 2.1. A organização da
produção do Engenho
A grande produção só começou oficialmente com Martim
Afonso de Souza, em 1533, em São Vicente. Mas registros
da alfândega de Lisboa de 1526 já acusam a entrada de
açúcar vindo de Itamaracá, em Pernambuco.
As construções principais num engenho eram a casa-gran-
de, a senzala, as estrebarias e as oficinas. Já as principais
multimídia: livro instalações eram a moenda, a caldeira e a casa de purgar.
Havia dois tipos de engenho: o real, movido por roda-
Evaldo Cabral de Mello – O bagaço da cana -d’água, e o trapiche, movido por tração animal. Um en-
Depois de O Brasil holandês, em que Evaldo Cabral de Mello genho se constituía basicamente de:
contextualiza trechos dos documentos mais importantes Casa do engenho: formada pelas instalações desti-
sobre a presença batava no Nordeste, o autor publica obra nadas à produção de açúcar, como a moenda (onde
sobre os engenhos de açúcar na região, que complementa se mói a cana para extrair o caldo), a fornalha (onde
o livro anterior e constitui um instrumento valioso para o se purifica o caldo), a casa de purgar (onde se acaba
estudo da história socioeconômica do período. de purificar o caldo) e os galpões (onde o açúcar era
armazenado).
No Brasil, a atividade açucareira funcionava da seguinte ma- Casa-grande: residência, geralmente assobradada,
neira: os portugueses ficavam responsáveis pela produção e onde viviam o senhor e sua família. Nela também mo-
os holandeses financiavam a montagem dos engenhos, bem ravam os empregados de confiança (capatazes) que
como controlavam o transporte, o refino e a comercialização cuidavam de sua segurança. Era a central administra-
do açúcar, obtendo a maior porcentagem de lucros. tiva das atividades econômicas do engenho.
78
Capela: local das cerimônias religiosas.
Senzala: habitação de um único compartimento, rústi-
ca e pobre, onde viviam os escravizados.
multimídia: livro
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
– Cana-de-Açúcar, o Doce Sabor do Prazer –
Barroca Zona Sul (samba-enredo 2007)
79
o mito da “indolência inata do indígena”, é incorreta,
pois tanto o indígena como qualquer outro ser humano é
inapto à escravidão.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Navio negreiro – Tráfico de africanos para as Américas
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Casa-Grande e Senzala – Mangueira
(samba-enredo 1962)
80
Sem mobilidade social – porque era ínfima a opor- ao longo dos séculos de colonização brasileira, sendo esses
tunidade para trabalhadores e escravizados saírem “gêneros complementares” importantes no processo de
dessa condição e ascenderem socialmente. ocupação e expansão de nosso território.
Patriarcal – porque o proprietário rural e pai de fa-
mília, ao considerar-se responsável pelo provimento 3.1. Nordeste e a pecuária
material do lar, impôs a obrigação de ser respeitado e Inicialmente, a criação de gado serviu de atividade com-
obedecido no âmbito familiar. Esse poder sobre a famí- plementar ou acessória à lavoura de cana-de-açúcar
lia era estendido à sociedade, já que, como dono das como fonte de alimento, tração para os engenhos de
riquezas materiais (terra, lavoura, gado, escravizados, trapiche, meio de transporte e fornecedora do couro uti-
engenho, etc.), o senhor considerava toda a população lizado na fabricação de calçados, cintos, celas, chicotes,
não proprietária dependente dele. utensílios domésticos e também para exportação. O gado
bovino não era nativo do Brasil, tendo sido introduzidas
as primeiras cabeças pelo governador Tomé de Souza,
sendo esse gado trazido, principalmente, de Cabo Verde.
Em virtude disso, a pecuária começou a ser “empurrada” na
direção do interior da região Nordeste. Muito adaptada à rea-
lidade climática do Nordeste, a atividade criatória se desenvol-
veu e cresceu, passando a ocupar um espaço economicamen-
multimídia: livro te mais viável do que quando dividindo com a lavoura de cana.
A pecuária se desenvolveu acompanhando o leito de gran-
Gilberto Freyre – Casa-Grande & Senzala des rios, caminhos naturais de penetração, especialmente o
Abordagens inovadoras de vida familiar, dos costumes rio São Francisco, conhecido como “rio dos currais”, maior
públicos e privados, das mentalidades e das inter-relações responsável pela ocupação econômica do interior nordesti-
étnicas revelam um painel envolvente e deliciosamente no, já a partir do século XVI.
instigante da formação brasileira no período colonial Como o gado vivia solto, não fazia sentido a utilização
de mão de obra escrava, pois esta era muito cara para a
realidade da pecuária. A pecuária nordestina era predomi-
nantemente extensiva, sendo o gado criado solto, alimen-
tando-se de pastagem natural.
Essa atividade utilizava mão de obra predominantemen-
te livre, sendo os vaqueiros, em geral, mestiços e brancos
pobres que normalmente não recebiam salários, e sim um
multimídia: livro rendimento relacionado à reprodução dos animais, através
do sistema de “quartiado”, ou seja, a cada quatro reses
que nasciam, uma era do vaqueiro.
Sérgio Buarque de Holanda – Raízes do Brasil
As fazendas mais próximas do litoral passaram a se desta-
Raízes do Brasil é uma das obras fundadoras do pen- car em virtude da maior facilidade para obtenção de sal e
samento sobre a sociedade brasileira. No método de da proximidade com os portos que escoariam a produção.
análise e estilo da escrita, na sensibilidade para a es-
colha dos temas e erudição exposta de forma concisa, No século XVIII, com o desenvolvimento da região Sudeste
revela-se o historiador da cultura e ensaísta crítico com em virtude da mineração, o Nordeste passou a fornecer
talentos de grande escritor. gado para a região. Inicialmente, o gado se autotranspor-
tava, o que fazia com que as reses emagrecessem e até
morressem durante a viagem. Para evitar prejuízos, os nor-
destinos passaram a utilizar uma técnica aprendida com
3. Outras atividades os índios, que consistia em salgar a carne e colocá-la para
secar ao sol, processo conhecido como charqueada. Ainda
econômicas no século XVIII, a técnica do charque foi levada para a re-
Todavia, a produção canavieira não seria suficiente para ga- gião Sul, que oferecia melhores condições para a criação
rantir a colonização e ocupação de todo o território; assim, de gado e tornou-se uma grande concorrente do charque
outras atividades econômicas surgiram e desenvolveram-se nordestino, contribuindo para sua decadência.
81
Mapa econômico do Brasil (século XVIII)
82
Essa unificação está intimamente ligada à vinda dos holan-
deses para o Brasil.
Em 1578, ocupava o trono português D. Sebastião, que
viria a ser o último monarca da Dinastia de Avis. As dificul-
dades socioeconômicas e o espírito cruzadista levaram-no a
lutar contra os mouros no norte da África.
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Chocolate – Tim Maia
3.5. Algodão
A principal área produtora de algodão do mundo era a re-
gião Sul das Treze Colônias inglesas na América do Norte.
Em virtude da crise da cotonicultura norte-americana, pro-
vocada pela Guerra de Independência dos EUA, entre 1776
e 1783, a Inglaterra veio a consumir o algodão produzido
no Brasil. O algodão servia como matéria-prima para a
D. SEBASTIÃO, “O DESEJADO”
indústria têxtil inglesa, que era a maior consumidora do
produto devido à I Revolução Industrial. D. Sebastião desapareceu, não deixando herdeiros, du-
rante a batalha de Alcácer-Quibir (atual Marrocos). O
No século XVIII, a principal área de produção de algodão
velho cardeal D. Henrique, único sobrevivente masculino
no Brasil Colonial e que teve um grande crescimento na
da linhagem de Avis, assumiu a regência enquanto não
produção era a região do Maranhão. Uma grande lavoura
se solucionava o problema da sucessão. Em 1580, o car-
monocultora e escravista, que atraiu grande quantidade de
deal-regente morreu. Felipe II, rei da Espanha, neto de D.
negros para a região.
Manuel, o Venturoso (o mesmo que organizara a esquadra
Já no século XIX, devido à Guerra de Secessão (1861- de Pedro Álvares Cabral), achou-se no direito de ocupar o
1865), o Sul dos EUA ficara destruído, arrasando a coto- trono português.
nicultura local, levando o algodão maranhense a ser muito
importante novamente para a Inglaterra. Reuniu suas tropas e invadiu Portugal, sendo apoiado inclu-
sive por uma parcela da classe dominante portuguesa, que
via na união com a Espanha a possibilidade de estender o
tráfico de escravizados para a América espanhola.
Portugal ficou submetido à Espanha durante 60 anos. Con-
sequentemente, nesse período o Brasil também passou para
o domínio espanhol, sofrendo alterações na sua estrutura
interna e no seu relacionamento internacional.
multimídia: música
Em 1580, quando da união das Coroas Ibéricas, Portugal
FONTE: YOUTUBE viu-se envolvido pelas rivalidades espanholas, sobretudo
Algodão – Luiz Gonzaga com relação à Holanda. Em 1581, a Holanda proclamava
sua independência do Império Espanhol. Rebelados desde
1568 contra os altos impostos e a repressão religiosa do ca-
4. Invasões holandesas tólico Felipe II contra o calvinismo, os holandeses tiveram de
sustentar longos anos de lutas para preservar sua liberdade
(século XVII) diante do poderio espanhol, lutas essas que ficaram conhe-
cidas como Guerra dos 80 Anos (1568-1648). A Holanda
4.1. União Ibérica (1580-1640) havia financiado a produção do açúcar brasileiro, esperando
Antes de estudar as invasões holandesas – as mais impor- distribuí-lo na Europa, mas, visando a prejudicá-los, Felipe
tantes pelo tempo de permanência em nosso território e pela II decretou o fechamento dos portos do Brasil, de Portugal
área abrangida –, é necessário examinar a União Ibérica, uni- e de qualquer domínio espanhol aos navios e comerciantes
ficação de Portugal e Espanha no período de 1580 a 1640. flamengos. Os prejuízos dos holandeses foram enormes.
83
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Invasões holandesas 1
84
4.3. Invasão holandesa em nomeado governador-geral do Brasil holandês (Nova
Holanda), para cuidar dessa tarefa.
Pernambuco (1630-1654)
Segunda invasão holandesa (1630-1654)
São Luís
PA
Fortaleza
Oceano
Atlântico
CEARÁ
Natal
MARANHÃO RIO GRANDE
DO NORTE João Pessoa
multimídia: vídeo
(Filipéia)
PARAÍBA
Igaraçu FONTE: YOUTUBE
PIAUÍ Olinda
Recife Doce Brasil holandês
PERNAMBUCO
Porto Calvo
ALAGOAS
Maceió (Alagoas)
SERGIPE Penedo
TO
0 155 310 km
GO
85
Nassau obteve tanto destaque em seu projeto administrativo financeiro batavo. A Insurreição foi liderada por eles, entre
que, em algumas regiões, ganhou o apelido de “rei do Nordeste”. os quais destacou-se André Vidal de Negreiros, e contou
com grande participação popular, incluindo índios, lidera-
dos por Filipe Camarão, e negros, liderados por Henrique
Dias.
Com o fim da trégua dos dez anos assinada em 1641, Por-
tugal inicialmente deu um discreto apoio aos insurretos, pas-
sando a lutar abertamente a partir de 1651. Os holandeses
passaram à defensiva, rendendo-se em definitivo em 1654,
multimídia: música
após batalhas decisivas, como a do Monte das Tabocas
FONTE: YOUTUBE (1645) e as duas Batalhas de Guararapes (1648 e 1649).
Brasil Holandês, Homenagem a Maurício de
Nassau – Império Serrano (samba-enredo 1959) 4.3.3. As invasões holandesas
e suas consequências
4.3.2. Insurreição Pernambucana
A decadência da lavoura de cana-de-açúcar pode
(1645-1654) ser apontada como a principal consequência da expulsão
O trono português foi restaurado com a ascensão de D. dos holandeses do Brasil. Durante sua estada no Brasil, os
João IV, dando início à Dinastia de Bragança, e, em 1640, flamengos puderam entrar em contato com a cultura do
Portugal se libertou do domínio espanhol, pondo um fim a açúcar, aprendendo e dominando as técnicas de produção
União Ibérica. de cana-de-açúcar (plantation), passando a utilizá-las na
Portugal assinou, em 1641, uma trégua de dez anos com a região das Antilhas, onde se estabeleceram. Assim, volta-
Holanda, segundo a qual nenhum dos dois países atacaria ram a dominar completamente o mercado, mas sem de-
o outro ao longo desse período. A Holanda se beneficia- pender de Portugal e da produção brasileira, que não tinha
ria com essa trégua por estar envolvida em guerras contra como vencer a concorrência.
a Espanha e enfrentando dificuldades econômicas. Essas Restou a Portugal se aproximar da Inglaterra, que viria a se
dificuldades provocaram mudanças na atitude da Compa- aproveitar da crise da lavoura açucareira. Ameaçado exter-
nhia das Índias Ocidentais em relação ao Brasil, elevando namente por Espanha e Holanda, Portugal passou a atuar
impostos e cobrando dívidas dos senhores de engenho, sob a esfera de influência dos ingleses, gerando uma tutela
incluindo aí o confisco de bens, como terras e escraviza- econômica e política que perduraria por quase dois séculos.
dos, dos não pagadores. Os colonos passaram a lutar pela
Ainda vale a ressalva de que, durante o domínio holandês
expulsão dos holandeses, movimento iniciado em 1645 e
no Nordeste brasileiro, ocorreu a ampliação do número de
conhecido como Insurreição Pernambucana. Essa mu-
quilombos e o aumento populacional dos já existentes,
dança de atitude levou ao desentendimento de Nassau
principalmente Palmares, uma vez que o número de fugas
com a Companhia, causando a demissão dele.
de escravizados havia aumentado devido à falta de contro-
Alguns senhores de engenho não haviam apoiado os ho- le dos seus senhores naquele período conturbado.
landeses na invasão e, por isso, não haviam recebido apoio
86
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Uma prática realizada durante o período colonial brasileiro foi a plantation, que, principalmente durante o ciclo
canavieiro, impôs uma agricultura monocultora e geradora de ostensivo desgaste do solo, diminuindo a fertili-
dade de algumas regiões e causando a transformação do meio ambiente original.
Também é importante lembrar a adoção da mão de obra escrava africana pelos portugueses, o que era extre-
mamente lucrativo para a Coroa, mas que transformava todo um continente em mero fornecedor de “peças”
de trabalho. Esse foi um dos maiores exemplos de desumanização da História, perdurando até os anos finais do
século XIX.
87
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 4
Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
Saber como se constroem os pontos de vista e como eles representam um determinado grupo social é funda-
mental para as ciências humanas. A Habilidade 4 visa a explorar essa capacidade do estudante. É necessário
atentar-se, além do fenômeno histórico em específico tratado pelo exercício, aos textos propostos e, principal-
mente, aos seus autores. O candidato deverá captar qual vertente ideológica cada autor representa, bem como
os interesses que defende.
O Enem recorre a muitos relatos de indivíduos que registraram a sua época sob diferentes escopos ideológicos.
Para resolver essas questões, o aluno deve estar familiarizado com as ideais dos principais intelectuais e figuras
históricas do Brasil e do mundo ocidental.
MODELO 1
(Enem) Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante
o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros,
e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão:
uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo
parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo
despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em
tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação,
que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.
VIEIRA, A. SERMÕES. TOMO XI. PORTO: LELLO & IRMÃO, 1951 (ADAPTADO).
O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravizados na produção de açúcar.
ANÁLISE EXPOSITIVA
No texto apresentado, o Padre Antônio Vieira estabelece relação entre o sofrimento de Cristo e as péssimas condi-
ções de trabalho dos escravizados durante a produção do açúcar no período colonial. O texto apresenta uma lin-
guagem bastante distinta da utilizada cotidianamente, o que pode prejudicar os que possuem alguma dificuldade
de leitura. Contudo, para aqueles a quem a leitura não é um problema, a resposta está contida no texto.
RESPOSTA Alternativa E
88
DIAGRAMA DE IDEIAS
INVASÕES HOLANDESAS
CONSEQUÊNCIAS DAS
INVASÕES HOLANDESAS
89
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa-
vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
90