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Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo
Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos
alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:
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Raphael de Souza Motta
editoração eletrôniCa
Felipe Lopes Santos
Letícia de Brito Ferreira
Matheus Franco da Silveira
imagenS
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Pixabay (https://www.pixabay.com)
ISBN: 978-85-9542-193-6
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do por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a in-
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SUMÁRIO
BIOLOGIA
EVOLUÇÃO E ECOLOGIA 5
AULAS 1 E 2: ORIGEM DA VIDA 7
AULAS 3 E 4: EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS 18
AULAS 5 E 6: TEORIAS EVOLUTIVAS 26
AULAS 7 E 8: ESPECIAÇÃO 36
DIVERSIDADE DA VIDA 49
AULAS 1 E 2: TAXONOMIA E REINOS 51
AULAS 3 E 4: VÍRUS 61
AULAS 5 E 6: REINO MONERA 70
AULAS 7 E 8: REINO PROTOCTISTA I: PROTOZOÁRIOS 81
CITOLOGIA 91
AULAS 1 E 2: COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR I 93
AULAS 3 E 4: COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR II 104
AULAS 5 E 6: COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR III 111
AULAS 7 E 8: CÓDIGO GENÉTICO E SÍNTESE PROTEICA 118
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM
Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de
produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade.
Competência 1
H1 Reconhecer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em diferentes contextos.
H2 Associar a solução de problemas de comunicação, transporte, saúde ou outro, com o correspondente desenvolvimento científico e tecnológico.
H3 Confrontar interpretações científicas com interpretações baseadas no senso comum, ao longo do tempo ou em diferentes culturas.
Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida humana ou medidas de conservação, recuperação ou utilização
H4
sustentável da biodiversidade.
Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumentos ou ações
científico-tecnológicos.
Identificar etapas em processos de obtenção, transformação, utilização ou reciclagem de recursos naturais, energéticos ou matérias-primas, con-
H8
Competência 3
Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos,
aspectos culturais e características individuais.
Competência 4
H13 Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos seres vivos.
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente,
H14
sexualidade, entre outros.
H15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos.
H16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos
Entender métodos e procedimentos próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos.
Competência 5
Relacionar informações apresentadas em diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências físicas, químicas ou biológicas,
H17
como texto discursivo, gráficos, tabelas, relações matemáticas ou linguagem simbólica.
H18 Relacionar propriedades físicas, químicas ou biológicas de produtos, sistemas ou procedimentos tecnológicos às finalidades a que se destinam.
Avaliar métodos, processos ou procedimentos das ciências naturais que contribuam para diagnosticar ou solucionar problemas de ordem social,
H19
econômica ou ambiental.
Apropriar-se de conhecimentos da física para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas.
Competência 6
H20 Caracterizar causas ou efeitos dos movimentos de partículas, substâncias, objetos ou corpos celestes.
H21 Utilizar leis físicas e (ou) químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da termodinâmica e(ou) do eletromagnetismo.
Compreender fenômenos decorrentes da interação entre a radiação e a matéria em suas manifestações em processos naturais ou tecnológicos,
H22
ou em suas implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais.
Avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de energia em ambientes específicos, considerando implicações éticas, ambientais,
H23
sociais e/ou econômicas.
Apropriar-se de conhecimentos da química para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas.
Competência 7
H24 Utilizar códigos e nomenclatura da química para caracterizar materiais, substâncias ou transformações químicas.
Caracterizar materiais ou substâncias, identificando etapas, rendimentos ou implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais de sua
H25
obtenção ou produção.
Avaliar implicações sociais, ambientais e/ou econômicas na produção ou no consumo de recursos energéticos ou minerais, identificando transfor-
H26
mações químicas ou de energia envolvidas nesses processos.
H27 Avaliar propostas de intervenção no meio ambiente aplicando conhecimentos químicos, observando riscos ou benefícios.
Apropriar-se de conhecimentos da biologia para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas.
Competência 8
Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou com seus limites de distribuição em diferentes ambientes, em
H28
especial em ambientes brasileiros.
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a saúde, a produção de alimentos, matérias
H29
primas ou produtos industriais.
Avaliar propostas de alcance individual ou coletivo, identificando aquelas que visam à preservação e a implementação da saúde individual,
H30
coletiva ou do ambiente.
BIOLOGIA
EVOLUÇÃO E
CIÊNCIAS DA ECOLOGIA
NATUREZA
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
A ecologia aparece como área de destaque. Normalmente, usa casos atuais de im- Uma prova muito bem elaborada e in-
Interações ecológicas e teias alimentares pactos ambientais para abordar assuntos terdisciplinar que exige conhecimentos
são corriqueiros. Além disso, evidências e básicos de ecologia. Saber relacionar pro- básicos de ecologia para resolver questões
teorias evolutivas, como seleção natural, blemas ecológicos com conteúdos simples, de cadeia e teia alimentar. Apesar de o as-
costumam aparecer com certa frequência. é essencial. Além disso, é importante saber sunto tratado ser de caráter intermediário,
identificar e utilizar discursos lamarckistas e a múltipla interação entre as áreas pode
darwinistas. aumentar o nível de dificuldade.
Prova com poucas questões de ecologia, Prova bem comparativa, com questões Problemas ambientais, relações ecológicas Prova com forte presença de ecologia –
sendo que o tema que mais aparece é a que misturam diferentes áreas da Biologia. e conceitos básicos relacionados à ecologia cadeias alimentares, relações ecológicas
interação entre os seres vivos (teias alimen- Aparecem assuntos como especiação, su- (população, comunidade e ecossistema) e problemas ambientais são os principais
tares e relações ecológicas). cessão ecológica, origem da vida e relações são muito presentes. assuntos. Além disso, há questões sobre
ecológicas. teorias evolutivas e hipóteses de origem
da vida.
UFMG
É uma prova com questões interdiscipli- Questões com alto nível de especificidade. Apresenta questões de temas variados e
nares que cobram conteúdos altamente Estão presentes tanto conceitos evolutivos não muito cobrados em outros vestibu-
específicos. (especiação e seleção natural) como eco- lares, como origem da vida (biogênese e
lógicos (cadeias alimentares, pirâmides e abiogênese) e dinâmica populacional. Tam-
relações ecológicas). bém estão presentes temas como teorias
evolutivas e teias alimentares.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Nesta prova, há questões principalmente Com perfil similar à Fuvest e questões bem É uma prova que privilegia citologia e
sobre especiação, leitura e compreensão de específicas, os temas mais frequentes são genética, de forma que não há muitas
cladogramas e aplicação das teorias lamar- teorias e evidências evolutivas, problemas questões sobre ecologia – os temas mais
ckista e darwinista. Em ecologia, a prova é ambientais e relações ecológicas. abordados são relações ecológicas e pro-
similar à do Enem, com ênfase em proble- blemas ambientais.
mas ambientais e relações ecológicas.
6
relações de parentesco entre as diversas espécies são respon-
sabilidade da evolução. Essas divisões facilitam o estudo, a
pesquisa e a construção do conhecimento biológico. Entre-
tanto, integrar essas subáreas é fundamental, pois permite um
olhar amplo que possibilita a compreensão da complexidade
dos seres vivos e dos ambientes em todos os seus níveis de or-
ORIGEM DA VIDA ganização: organismos, populações, comunidades biológicas,
ecossistemas, biomas, biocoras, biociclos e biosfera.
2. Formação da Terra
Antes de abordarmos a origem da vida, é necessário tratar
CN
da origem da Terra.
AULAS
1E2 A Terra surgiu há aproximadamente 4, 6 bilhões de anos.
Toda a matéria que compõe o Universo atual estava com-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) primida em uma esfera extremamente pequena e densa,
4 15 e 16
do tamanho da ponta de uma agulha.
Há cerca de 14 bilhões de anos, essa esfera teria subita-
mente explodido, dando início a expansão dessa matéria
e formando, de uma só vez, o Universo. A essa grande ex-
1. Introdução plosão dá-se o nome científico de Big Bang. A expansão do
A palavra biologia é formada através da conjugação do Universo continua sendo observada até hoje, o que reforça
grego "bio", que significa "vida", com o sufixo "-logia", as hipóteses a favor do Big Bang. A formação do Sistema
que significa "ciência de", "conhecimento de" ou "estu- Solar é resultado direto dessa explosão.
do de". Dessa maneira, é a ciência que estuda a vida e Ao longo desses bilhões de anos até hoje, ocorreram muitas
todos os seus desdobramentos. mudanças na superfície terrestre que influenciaram significa-
Esse estudo pressupõe um método científico que, apesar de tivamente a vida no planeta, como: movimentos de massas
seguir certos parâmetros, não possui uma receita universal continentais, alterações climáticas, formação e destruição de
infalível para todas as situações e necessita criatividade e cadeias de montanhas, extinção e origem de espécies, etc.
plasticidade para ser aplicado. Porém, tradicionalmente, o
método se caracteriza por observação, elaboração de per-
guntas (hipóteses testáveis), planejamento e realização de
experimentos, sistematização e registro de dados, discus-
são de resultados e, por fim, conclusão. Dessa maneira, ge-
ra-se conhecimento, que poderá ser questionado, ampliado
e alterado ao longo do tempo. Com efeito, a ciência e a
pesquisa são realizadas pelo ser humano e, portanto, são multimídia: vídeo
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
7
INÍCIO
ERA PERÍODO EVENTOS
(milhões de anos)
Clima flutuando entre frio e ameno. Avanços e recuos glaciais. Extinção de muitos
Quaternário 1,6
mamíferos e aves de grande porte. Primeiros humanos modernos do gênero Homo.
Clima ameno a frio. Mares continentais largos e rasos. Elevação dos Alpes e Himalaia. A América
do Sul separa-se da Antártica. Clima ameno a muito quente no final do período. Primeiros
Paleogeno 65 mamíferos insetívoros e primatas. Expansão extensiva de mamíferos e aves. Irradiação de
famílias de mamíferos placentários. Primeiros macacos do Novo Mundo. Formação inicial de
pradarias. Aves carnívoras gigantes, incapazes de voar, eram predadores comuns.
Clima ameno em todo o período. Níveis dos mares elevados. A África e a América do Sul se
separam. Clímax dos dinossauros e répteis marinhos, seguido da extinção destes grupos.
Cretácio 135
Início da irradiação de mamíferos marsupiais e placentários. Primeiras angiospermas.
Declínio das gimnospermas. Aparecimento de muitos grupos de insetos.
Mesozoica
Clima ameno. Os níveis dos continentes são baixos com grandes áreas cobertas pelos
Jurássico 205
mares. Primeiras aves. Abundância de dinossauros. Crescimento exuberante de florestas.
Clima quente com pequena variação sazonal nos trópicos. Níveis das terras baixos. Áreas
pantanosas com a formação de depósitos de carvão. Irradiação dos anfíbios. Abundância
Carbonífero 355
de tubarões. Samambaias com esporos e árvores com “casca”. Primeiros répteis. Insetos
gigantes. Grandes florestas de pteridófitas.
Paleozoica
Mares na maior parte das terras, com montanhas locais. Primeiros peixes com nadadeiras
Devoniano 410
raiadas e nadadeiras lobadas. Primeiros tetrápodes terrestres.
Clima ameno. Topografia em geral plana. Primeiros peixes com mandíbulas. Primeiros
Siluriano 438
invertebrados terrestres.
Clima ameno. Mares rasos. Continentes em geral com topografia plana. Os mares cobrem
boa parte do atual território dos Estados Unidos. Glaciação no final do período. Primeiros
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Ordoviciano 510
vertebrados (peixes sem mandíbula). Invertebrados marinhos em abundância. Primeiras
plantas terrestres.
8
A seguir, serão analisados os principais períodos e suas primatas, entre eles uma linhagem evolutiva de hábito
características. O objetivo dessa abordagem é apresentar terrestre que originou, há cerca de 5 milhões de anos, os
uma visão geral de como a vida se manifestou e se esta- primeiros hominídeos.
beleceu na Terra.
Os primeiros hominídeos, parte do gênero Australopithe-
Os primeiros microrganismos surgiram no planeta há cus, foram também os primeiros a apresentarem nos regis-
cerca de 3,5 bilhões de anos. tros fósseis uma morfologia dos membros inferiores com-
pletamente adaptada à bipedia. O aparecimento do Homo
Os primeiros peixes ancestrais apareceram no fim do pe-
sapiens ocorreu há aproximadamente 400 mil anos.
ríodo Cambriano, em que os oceanos eram largos, rasos
e cálidos. Registros fósseis indicam que esses peixes, di-
ferentemente dos peixes de hoje, possuíam apenas duas
barbatanas rudimentares e não tinham mandíbulas.
3. Teorias sobre a origem da vida
O mistério da origem da vida intriga o ser humano desde
No período Devoniano, conhecido como Idade dos
a Antiguidade.
Peixes, ocorreu uma grande proliferação de peixes que
possuíam mandíbulas adaptadas para digerir diversos Doutrinas milenares da Índia, da Babilônia e do Egito ensi-
tipos de alimentos. O ambiente desse período era bas- navam que rãs, cobras e crocodilos eram gerados espon-
tante diferente daquele em que surgiram os primeiros taneamente pelo lodo dos rios. Esses seres, que apare-
peixes. Os oceanos haviam avançado e retrocedido vá- ciam inexplicavelmente no lodo e na lama, eram vistos
rias vezes, e as plantas vasculares terrestres, que como manifestações da vontade dos deuses.
haviam surgido no período anterior, chamado de Silu- Para Aristóteles, por exemplo, os organismos surgiam a partir
riano, eram abundantes. do princípio ativo, uma energia presente em substâncias
No fim da Idade dos Peixes, um grupo ancestral de pei- inanimadas e capaz de formar vida espontaneamente. Des-
xes de água doce iniciou a adaptação à vida terrestre e sa interpretação, surgiu a teoria da geração espontânea, ou
originou os primeiros anfíbios. No período seguinte, teoria da abiogênese, segundo a qual os seres vivos origi-
apareceram os répteis, primeiros vertebrados terres- nam-se da matéria bruta de modo contínuo.
tres, assim como os primeiros insetos alados. A teoria da geração espontânea perdurou até meados do
Os primeiros mamíferos surgiram no período Triássico, século XIX, quando diversos cientistas a contestaram e, por
meio de experimentos, demonstraram que um ser vivo só
assim como os primeiros dinossauros. No período se-
se origina de outro ser vivo.
guinte, apareceram as primeiras aves.
No período Cretáceo, ocorreu a extinção dos dinossauros. § Teoria da abiogênese: Os seres vivos surgem da ma-
No fim desse período, aconteceu uma grande irradiação téria bruta de maneira contínua (geração espontânea).
adaptativa dos mamíferos, fato que originou muitas das Principais defensores: Aristóteles, Platão, Needhan, Virgí-
ordens de animais conhecidas atualmente. Alguns mamí- lio, Aldovandro, Kricher e Van Helmont.
feros insetívoros deram origem a um grupo de animais § Teoria da biogênese: Os seres vivos originam-se de
com polegares oponíveis e com unhas no lugar de garras outros seres vivos preexistentes. Principais defensores:
denominados primatas. Redi, Spallanzani e Pasteur.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
9
3.2. Francesco Redi Apesar dos resultados de Redi fortalecerem a teoria da bio-
gênese, o advento do microscópio e a descoberta dos mi-
Francesco Redi (1628-1698) começou, por volta de 1660, crorganismos, chamados naquela época de "animálculos",
a questionar a teoria da geração espontânea. Ao provocaram questionamentos acerca da origem desses seres.
observar cadáveres em decomposição, Redi notou a
presença de moscas rodeando a carne antes do apa-
3.3. John Needham
recimento de larvas. Sua hipótese, então, era que es-
sas larvas eclodiam a partir de ovos depositados pelas Dentre os que continuaram defendendo a teoria da
moscas. Para testá-la, elaborou um experimento com geração espontânea, pode-se destacar o cientista in-
dois frascos contendo carne crua, porém enquanto um glês John T. Needham (1713 -1781), que, por volta de
deles permaneceu aberto (grupo controle), o outro 1745, realizou uma série de experimentos para respaldar
foi obstruído com gaze. seu argumento. Após submeter à fervura diversos re-
cipientes contendo substâncias nutritivas e fechar parte
De acordo com a teoria da abiogênese, depois de alguns deles com rolhas enquanto o resto permanecia aberto,
dias deveriam surgir da carne moscas e outros insetos. Isso, ele observou o surgimento de microrganismos em todos
contudo, não aconteceu nos frascos fechados com gaze. os frascos. Needham afirmou que esse fenômeno ocorria
Nos frascos fechados, Redi não encontrou nada sobre devido à presença, nas partículas orgânicas da infusão, de
a carne, mas constatou ovos e larvas de insetos sobre uma força vital especial, responsável pelo aparecimen-
a gaze que cobria os recipientes. Assim, o experimento to da vida microscópica. Assim, com esses experimentos,
corroborou sua hipótese ao demonstrar que as moscas Needham contribuía para o fortalecimento da teoria da
eram atraídas pela carne e que
EXPERIMENTO DEo aparecimento
REDI das lar- geração espontânea.
vas era devido aos ovos depositados pelos insetos.
3.4. Abbey Spallanzani
larvas Em 1770, contudo, o cientista italiano Abbey Lazzaro Spallan-
zani (1729-1799) criticou seriamente os experimentos de
Needham e evidenciou que o aquecimento prolongado
de substâncias orgânicas acondicionadas em recipientes
fechados, providos de válvula de escape, não propiciava o
ausência desenvolvimento de microrganismos. Spallanzani concluiu,
de larvas
então, que Needham não havia esterilizado corretamente
os frascos. Porém, Needham respondeu às críticas afirman-
do que ferver as substâncias destruía a "força vital" e que
frasco aberto frasco fechado com gaze
fechar os frascos hermeticamente tornava o ar desfavorá-
Esquema do experimento realizado por Francesco Redi (1668) vel ao aparecimento de vida.
VIVENCIANDO
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
A partir dos experimentos realizados por Pasteur para comprovar a teoria da biogênese, criou-se o
processo de pasteurização. A pasteurização é utilizada para conservar alimentos, pois elimina microrganis-
mos patogênicos que causam azedamento ou acidificação, sem causar alterações físico-químicas no valor nutri-
tivo dos alimentos. O método consiste em elevar a temperatura do alimento por um determinado tempo e, em
seguida, resfriá-lo a uma temperatura inferior a de antes. Por ser um processo rápido, nem todos os seres vivos
são eliminados, e, portanto, conservam-se no produto alguns microrganismos benéficos para o ser humano. Para
remover 100% dos microrganismos, o alimento deve passar por um processo de esterilização e posteriormente
ser lacrado para evitar novas contaminações. A pasteurização é muito usada na indústria alimentícia, principal-
mente em leite, sucos, cerveja, polpas de frutas, entre outros.
10
Por meio de novos experimentos, Spallanzani demonstrou
Pasteurização: outra importante que surgiam microrganismos quando os recipientes fecha-
contribuição de Pasteur dos e submetidos à fervura eram abertos e entravam em
contato com o ar, atestando que a “força vital’’ não havia
A pasteurização, criada em 1864 por Louis Pasteur, é
sido destruída. Apesar disso, Spallanzani não conseguiu
um procedimento industrial empregado no tratamen-
provar que o aquecimento de material orgânico em reci-
to do leite, de sorvetes, de cervejas, etc.
pientes fechados não alterava a qualidade do ar. Needham
O leite in natura é um produto altamente perecível, saiu favorecido dessa polêmica, o que reforçou ainda mais
propício ao desenvolvimento de microrganismos que a teoria da geração espontânea.
o acidificam e azedam. Para evitar esses problemas,
tomam-se alguns cuidados, da captação ao consumo 3.5. Louis Pasteur
do leite. Dentre eles, destaca-se a pasteurização, que,
no Brasil, é obrigatória. O cientista francês Louis Pasteur (1822-1895), por volta de
1860, através de seus célebres experimentos com balões
Esse procedimento consiste em submeter o leite a um
do tipo “pescoço de cisne”, conseguiu provar definitiva-
grau de aquecimento suficiente para destruir os mi-
mente que os seres vivos se originam de outros seres vivos.
crorganismos patogênicos presentes nele. O melhor
Além disso, constatou a presença de microrganismos no
cuidado nesse procedimento é não causar alterações ar atmosférico. Considerando as críticas dos seguidores
físico-químicas e organolépticas ao alimento, bem da abiogênese sobre a formação de ar viciado – que seria
como não alterar o valor nutritivo do produto. O leite impróprio para o desenvolvimento da vida em recipientes
pasteurizado, portanto, deve apresentar características submetidos à fervura e hermeticamente fechados –, Pas-
semelhantes, ao máximo, ao produto in natura, bem teur realizou os seguintes experimentos utilizando frascos
como garantir a ele mais tempo e condições de conser- com gargalos longos e curvos:
vação, uma vez que a pausterização destrói aproxima-
1
damente 99% da microbiota presente no leite. O caldo nutritivo é
2
O gargalo do frasco é
despejado em um esticado e curvado ao fogo
Mas esse procedimento também traz desvantagens, frasco de vidro
LTLT (low temperature long time, baixa tempe- Esquema do experimento realizado por Louis Pasteur (1860).
ratura por longo tempo), mantém a temperatu- O famoso experimento demonstrou que um líquido, ao ser
ra a 63 °C por 30 minutos. fervido, não perde a suposta “força vital”, como defendiam
os adeptos da geração espontânea. Na verdade, quando o
§ Pasteurização rápida: HTST (high temperature and
pescoço do balão é quebrado, depois da fervura do líquido,
short time, alta temperatura por pouco tempo), surgem seres vivos. O experimento refuta ainda outro ar-
mantém a temperatura a 72 °C por 15 segundos. gumento dos defensores da abiogênese: a formação de ar
§ Pasteurização muito rápida: UHT (ultra high tem- viciado impróprio para a vida. O líquido fervido fica, nesse
perature, temperatura ultraelevada), mantém a caso, em contato com o ar atmosférico através do pescoço
do balão, porém não ocorre o aparecimento de seres vivos
temperatura entre 130 °C e 150 °C por um perí-
porque as gotículas de água acumuladas no gargalo retêm
odo de 3 a 5 segundos.
Fonte: <http://infoescola.com/microbiologia/pasteurização>. os micróbios presentes no ar. A partir dos experimentos de
Acesso em: 6 fev. 2015.As condições da Terra primitiva Pasteur, a teoria da biogênese passou a ser predominante
nos meios científicos.
11
4. Surgimentos dos não apresentava oxigênio (O2) e nem, portanto, camada de
ozônio (O3). Sem esse filtro, a radiação ultravioleta não era
primeiros seres vivos barrada e atingia a superfície de forma intensa.
De fato, com a consolidação da teoria da biogênese, a ques- Desse modo, os raios solares, em conjunto com os efeitos
tão da origem da vida passou a preocupar cada vez mais os das fortes descargas elétricas, forneceu a energia neces-
cientistas: se apenas seres vivos podem originar outros seres sária para que os gases componentes da atmosfera rea-
vivos, como apareceram as primeiras formas de vida? gissem entre si e formassem moléculas orgânicas simples
(aminoácidos, açúcares, álcoois).
Para responder a essa pergunta, várias hipóteses foram for-
muladas. Uma das teorias mais antigas, o criacionismo, Essas moléculas foram arrastadas pelas águas das chuvas
geralmente está associada à religião. Seus defenso- e se acumularam em mares primitivos, quentes e rasos,
res argumentam que cada ser vivo foi gerado indivi- que possibilitaram a ocorrência de outras reações. Assim,
dualmente através de criação divina e que sua forma a formação de grande número de substâncias orgânicas,
é a mesma desde o princípio, imutável ao longo do simples e complexas, transformou esses mares em verda-
tempo (fixismo). deiras "sopas nutritivas".
Já a panspermia afirma que a vida veio de outra parte As moléculas de proteína dispersas em água formaram uma
do Universo, por meio de meteoros e cometas que caíram na solução coloidal com características próprias.
Terra. Embora tenham evidências de material orgânico em Nos coloides, cada molécula de proteína encontra-se en-
meteoritos, essa teoria não explica a origem da vida e ape- volvida por várias moléculas de água atraídas pela diferen-
nas levanta mais questionamentos. ça de carga elétrica. Se há alteração no grau de acidez da
Não obstante, a teoria mais aceita atualmente é a hipó- solução coloidal, as moléculas de proteína aproximam-se,
tese da evolução gradual dos sistemas químicos, formando vários aglomerados proteicos envoltos por uma
desenvolvida pelo russo Aleksandr Oparin e pelo inglês porção líquida denominada camada de hidratação ou sol-
John Burdon Sanderson Haldane na década de 1920. vatação. Esses aglomerados foram chamados por Oparin
Para se compreender a teoria de Oparin e Haldane, é pre- de coacervados.
ciso conhecer as condições da Terra primitiva.
PROTEÍNA
4.1. A hipótese da evolução COACERVADO
gradual dos sistemas químicos H2O
Essa hipótese, formulada por Oparin e Haldane, sugere que,
na Terra primitiva, moléculas orgânicas complexas se for-
maram a partir de moléculas simples, antes do apareci-
mento dos seres vivos. camada de solvação
Esquema do desenvolvimento da camada de solvatação e dos coacervados
Apesar de a Terra conservar altas temperaturas após a sua
formação, o contato com o espaço cósmico – que é muito Esses coacervados não eram seres vivos, mas uma
frio – possibilitou ligações químicas entre os elementos, primitiva organização das substâncias orgânicas,
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
formando substâncias como a água. Portanto, ao passo principalmente de proteínas e ácidos nucleicos,
que o calor da superfície evaporava toda substância lí- em um sistema isolado do meio. Apesar de isolados,
quida, as camadas mais frias da atmosfera condensavam os coavervados realizavam trocas com o meio externo e
os vapores de água e provocavam violentas tempestades possuíam em seu interior condições para a ocorrência de
com descargas elétricas (raios). Apenas com o gradativo inúmeras reações químicas.
processo de resfriamento da Terra que foi possível o acú- Com as constantes reações químicas, alguns coacervados tor-
mulo de água líquida sobre a superfície, fator que deu naram-se mais complexos, chegando inclusive a apresentar
origem aos mares primitivos. capacidade de duplicação. Nesse momento, teriam surgido
Além disso, intensas atividades vulcânicas liberavam gases os primeiros seres vivos, que, apesar de organização simples,
que contribuíam para a formação de uma atmosfera primiti- eram capazes de reproduzir-se, dando origem a outros seres
va bem diferente da atual, formada provavelmente por me- vivos. Essa evolução gradual dos sistemas químicos teve a
tano (CH4), amônia (NH3), hidrogênio (H2) e vapores de água duração provável de 2 bilhões de anos. O esquema a seguir
(H2O). Todavia, ao contrário da atmosfera atual, a primitiva sintetiza essa hipótese.
12
as condições da Terra primitiva e introduziram nele os gases
que provavelmente constituíam a atmosfera daquele período:
H2O H2
amônia (NH3), hidrogênio (H), metano (CH4) e vapor de água.
CH4 NH 3
ELETRODOS
CONDENSADOR
ENTRADA DE ÁGUA
Calor.
Formação de
moléculas
orgânicas RESULTADOS PARA
complexas ANÁLISE
Conceitos de química são aplicados no famoso experimento de Miller e Urey, dado que envolve reações químicas
que transformavam compostos inorgânicos em compostos orgânicos precursores da vida. Dessa forma, compre-
ender como os átomos e íons se conectam e se comportam para formarem pequenas moléculas orgânicas, como
aminoácidos, e, posteriormente, moléculas orgânicas maiores, como as proteínas, é fundamental para entender
como foi possível o início da vida a partir de moléculas inorgânicas simples, como metano, nitrogênio, hidrogênio
e vapor de água, que estavam presentes na atmosfera primitiva.
13
Dessa forma, o experimento de Miller e Urey demonstrou Entretanto, existe uma objeção a essa teoria: como os au-
que moléculas orgânicas (aminoácidos) poderiam tótrofos sintetizam alimentos orgânicos (a partir de subs-
ter-se formado nas condições da Terra primitiva, tâncias inorgânicas) à custa de uma série extremamente
o que reforçou a hipótese da evolução gradual dos siste- complexa de reações químicas, exige-se que seu próprio
mas químicos. organismo também seja complexo - uma situação menos
provável de acontecer quando comparada ao surgimento
4.3. O experimento de Fox de seres mais simples.
14
volumétrico do indivíduo, a difusão do alimento do meio 4.5.3. Surgimento dos aeróbios
exterior para o interior do coacervado teria ficado mais
No processo de fotossíntese, liberam-se moléculas de
lenta por causa da distância a ser percorrida; desse modo,
oxigênio. Dessa forma, é possivel supor que uma certa
o coacervado teria começado a sofrer fome.
quantidade de gás tenha-se acumulado gradativamente,
Nessas condições, teria se dividido para reduzir seu vo- durante milhares de anos, como consequência do apare-
lume. Contudo, qualquer mecanismo de divisão teria ge- cimento dos autótrofos. O aumento na concentração
rado um novo problema; ao dividir-se, o coacervado teria de oxigênio tornou a atmosfera tóxica para muitos
corrido o risco de se desorganizar e, portanto, perder as dos seres vivos anaeróbios e, portanto, selecionou
características de sistema complexo adquiridas em muito organismos adaptados às novas condições. Além
tempo de evolução. disso, o uso de oxigênio para a obtenção da glicose libera
muito mais energia do que aquela obtida na ausência de
Nos organismos bem-sucedidos, teriam surgido os ácidos
oxigênio, uma vez que a fermentação fornece um saldo
nucleicos, moléculas que controlam os processos básicos
energético de apenas 2 ATP, enquanto, na reação com o
de reprodução e organização. Em tais condições, o orga-
oxigênio, o saldo é de 38 ATP. Dessa forma, os organis-
nismo que tivesse DNA teria encontrado o meio para se
mos capazes de executar respiração aeróbia teriam levado
duplicar de maneira exata, transmitindo aos seus descen-
vantagem, pois eram capazes de retirar mais energia do
dentes o mesmo padrão de organização adquirido depois
alimento disponível.
de toda evolução transcorrida.
15
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.
A questão irá testar a capacidade de interpretação de hipóteses científicas por meio de experimentos e como os
resultados desses experimentos apoiam ou refutam a hipótese. Resultados dentro do esperado podem tornar
a hipótese uma lei científica.
MODELO 1
(Enem) Em certos locais, larvas de moscas, criadas em arroz cozido, são utilizadas como iscas para pesca.
Alguns criadores, no entanto, acreditam que essas larvas surgem espontaneamente do arroz cozido, tal como
preconizado pela teoria da geração espontânea. Essa teoria começou a ser refutada pelos cientistas ainda no
século XVII, a partir dos estudos de Redi e Pasteur, que mostraram experimentalmente que
a) seres vivos podem ser criados em laboratório;
b) a vida se originou no planeta a partir de microrganismos;
c) o ser vivo é oriundo da reprodução de outro ser vivo preexistente;
d) seres vermiformes e microrganismos são evolutivamente aparentados;
e) vermes e microrganismos são gerados pela matéria existente nos cadáveres e nos caldos
nutritivos, respectivamente.
ANÁLISE EXPOSITIVA
Os experimentos de Redi e Pasteur demonstraram que não é possível o surgimento de vermes ou microrga-
nismos por geração espontânea. Nessa situação, é importante saber analisar o procedimento experimental
adotado pelos cientistas e como os resultados obtidos refutaram a teoria da abiogênese.
O experimento de Redi foi realizado com a utilização de dois frascos com um pedaço de carne cada. Um
frasco permaneceu aberto e o outro foi fechado com gaze. Com o passar dos dias, ele observou que havia
vermes somente no frasco que permaneceu aberto, refutando a hipótese da abiogênese. Já Pasteur provou
que microrganismos não podem surgir espontaneamente. Ao ferver o meio de cultura em um recipiente
com pescoço de cisne, ele esterilizava o meio e o acúmulo de líquido no pescoço do recipiente impedia
que bactérias do ar entrassem no meio. Com isso, o meio de cultura permanecia estéril. Essa condição
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
RESPOSTA Alternativa C
16
DIAGRAMA DE IDEIAS
ORIGEM DA VIDA
PANSPERMIA
VIDA A PARTIR DA VIDA A PARTIR DE ALGO VIVO
MATÉRIA BRUTA
• ARISTÓTELES SERES VIVOS OU SUBS- F. REDI (1660)
• J.B. VAN HELMONT TÂNCIAS PRECURSORAS, FRASCOS COM CARNE
VINDAS DE OUTROS
LOCAIS DO COSMO L. PASTEUR (1860)
PESCOÇO DE CISNE
COMPOSTOS INORGÂNICOS
ORIGINAM MOLÉCULAS ORGÂNICAS
TEORIA PRÁTICA
TEORIA TEORIA
AUTOTRÓFICA HETEROTRÓFICA
17
mamíferos, estão adaptados ao ambiente em que vivem
simplesmente porque as características que apresentam per-
mitem a realização de todas as suas funções vitais básicas,
ou seja, possibilitam o funcionamentos dos seus metabolis-
mos energético, plástico e de controle.
EVIDÊNCIAS
EVOLUTIVAS 1.1. Fixismo e transformismo
Durante muito tempo, acreditou-se que os seres vivos que
conhecemos hoje são exatamente iguais à época de sua
criação. Essa teoria, conhecida como fixismo, começou a
ser questionada com maior vigor a partir do século XVIII,
quando se passou a acreditar que uma espécie poderia
CN AULAS
3E4
modificar-se com o tempo, originando uma ou mais espé-
cies diferentes da anterior.
Assim, o fixismo, geralmente propagado pela Igreja, defen-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) de que as espécies foram originadas simultaneamentes por
4 15 e 16 uma divindade e que conservam uma essência imutável,
sem a capacidade de se modificar ao longo do tempo.
Já o transformismo propõe que as espécies são mutáveis
Assim, é interessante observar que tanto os organismos Fósseis, datação radiométrica, filogenia, constituição quími-
simples, como as bactérias, quanto os complexos, como os ca de organismos modernos e experimentos diversos ace-
18
nam para linhas de evidência que avançam para esclarecer todas as formas de vida. A grande maioria dos seres vivos
a origem da vida. Entretanto, essas hipóteses são sempre do passado não foi fossilizada. Em consequência, existe a
vulneráveis a mudanças graças ao avanço tecnológico e ao dificuldade de relacionar diferentes grupos de seres vivos.
conhecimento científico. A revisão de hipóteses é parte es- Faltam fósseis de transição que liguem esses grupos.
sencial da pesquisa científica.
É importante perceber que Lamarck e, mais tarde, Darwin,
ambos evolucionistas, procuraram elucidar o fato por meio
de hipóteses e teorias. A seguir, serão apresentadas as evi-
dências evolutivas descritas pela ciência ao longo dos anos.
2.1. Fósseis
Os fósseis são a principal e mais notável evidência a fa-
vor do transformismo e, portanto, da teoria evolucionis-
ta. Por definição, eles são restos ou vestígios de organis-
mos de épocas remotas conservados até a atualidade.
Representam uma evidência evolutiva, pois fósseis de
diferentes idades e/ou encontrados em distintos estratos
geológicos demonstram que os organismos não foram
criados simultaneamente. Além disso, também corrobo-
ram com a ideia que as espécies sofrem modificações ao
longo do tempo, uma vez que os fósseis não possuem
as mesmas características dos seres vivos atuais.
O registro fóssil é uma importante evidência das mu-
danças pelas quais passam os organismos ao longo do
tempo e, por meio da comparação com espécies atuais,
fornece possíveis indicativos de parentesco evolutivo.
Processo de fossilização.
Desde a morte até a descoberta dos restos fósseis.
19
§ Fossilização por mumificação e congelamento: De acordo com uma determinação científica, a meia-vida do
a mumificação ocorre em regiões desérticas e áridas; carbono-14 é de 5730 anos. Isso significa que, nesse período,
já o congelamento ocorre em regiões glaciais, como a metade do carbono-14 de uma amostra desintegra-se. Ao mor-
Sibéria, onde foram encontrados mamutes em perfeito rer, um organismo que se fossiliza contém determinada quan-
estado de conservação. tidade de 14C. Passados 5730 anos, restará no fóssil apenas
metade da quantidade de 14C presente no ser vivo que morreu.
§ Fossilização por carbonificação: ocorre mais co- Passados mais 5730 anos, a metade do que restou também
mumente com restos vegetais e organismos com partes será desintegrada, e assim por diante, até o último vestígio de
moles. Os restos mortais são comprimidos pelo peso ou isótopo radioativo na matéria orgânica remanescente.
pela compactação das rochas. Durante o processo, em
razão do calor e da compressão, são liberados gases Por meio da medição da quantidade residual de carbo-
como hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Ao final, resta no-14 em um fóssil, é possível calcular quanto tempo se
apenas uma película de carbono do organismo. passou desde a morte do ser vivo que o originou. Um fóssil
que apresente 1/8 do carbono radioativo estimado para
um organismo vivo indica que a morte deve ter ocorrido há
aproximadamente 22 ou 23 mil anos.
Um princípio químico, como o tempo de meia-vida do carbono-14, é utilizado para determinar a idade de um fóssil e,
assim, estudar o processo evolutivo e a relação entre os indivíduos. A colisão entre raios cósmicos e o nitrogênio-14,
presente na atmosfera terrestre, forma o carbono-14. Esse isótopo do carbono pode ligar-se com o oxigênio, forman-
do o gás carbônico, que é absorvido pelas plantas. Quando um organismo morre, a quantidade de carbono-14 sofre
uma queda, o que resulta em um decaimento radioativo. O tempo de meia−vida do carbono-14 é de 5730 anos.
Dessa forma, um organismo que morreu há 5730 anos apresentará a metade do conteúdo de 14C.
20
VIVENCIANDO
Há evidências de que a vida tenha se manifestado há 3,5 bilhões de anos com a descoberta de microfósseis (fósseis invisí-
veis a olho nu) da vida celular procariótica, frequentemente na forma de estruturas rochosas encontradas no sul da África
e na Austrália, chamadas estromatólitos, produzidos por micróbios (maioria cianobactérias fotossintetizantes), que se
formam quando as células crescem na superfície marinha e sedimentos
se depositam entre as células ou sobre elas. Assim, uma camada minera-
lizada fica abaixo delas, pois as células crescem na direção da luz. Com o
passar do tempo e a repetição do processo, camadas mineralizadas vão
formando uma estrutura rochosa estratificada, o estromatólito.
Ainda hoje, micróbios produzem estromatólitos modernos que são in-
crivelmente similares aos antigos. Vistos em corte transversal, ambos
mostram a mesma estrutura de camadas produzidas por bactérias.
Microfósseis de cianobactérias anciãs são eventualmente identificados
Fósseis estromatólitos em secções transversais.
nessas camadas.
2.2.1. Homologia
Estruturas homólogas apresentam a mesma origem em-
briológica, mas podem ter destinos funcionais diferentes.
Quando as estruturas não desempenham funções seme-
lhantes, indicando adaptações distintas, as homologias
apontam uma evolução divergente.
multimídia: vídeo
Nesse sentido, é possível citar os membros anteriores de
Fonte: Youtube
vertebrados, que podem se diversificar em braços, patas
POA ciência de Jurassic Park | Nerdologia 57 dianteiras, nadadeiras ou asas. Apesar de funcionalidades
diferentes, identifica-se parentesco e, por consequência,
ancestralidade comum.
2.2. Anatomia e embriologia comparadas
No estudo dos vertebrados, é evidente a existência de um Ulna
Rádio
Úmero
padrão esquelético: um crânio ligado a uma coluna ver- Carpo
Metacarpo
1
tebral que apresenta uma cintura escapular, onde se co-
nectam os membros anteriores e uma cintura pélvica, na
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
2
21
Metacarpo
4
Ulna
Metacarpo
Rádio Carpo
Cavalo
Úmero Como exemplo, é possível citar as asas de insetos, aves e mor-
Ulna Rádio Carpo
1
cegos. Esses grupos distintos adotaram, ao longo do tempo, a
2 Metacarpo mesma estratégia – asa – para a locomoção no meio aéreo,
porém a origem da estrutura nos grupos é completamente
3
diferente. A presença da característica “asa” permitiu a adap-
4 tação, ou seja, o voo. Nesse caso, percebe-se que o ambiente
5 Morcego foi o referencial comum entre as espécies distintas, pois, para
Estudo comparativo ósseo entre membros anteriores a locomoção no meio aquático, sem dúvida que nadadeiras
de golfinho, humano, cavalo e morcego.
seriam mais adaptadas, independentemente de sua origem –
A homologia é evidente na formação das espécies a partir caracterizando analogia. Essa situação é chamada de conver-
de um ancestral comum que colonizou diferentes meios e gência adaptativa.
nichos ecológicos, apresentando adaptações distintas. Esse
processo evolutivo caracteriza a irradiação adaptativa.
22
Base da espinha dorsal Humana
Vértebras
multimídia: vídeo
Sacro Fonte: Youtube
Por Dentro do Apêndice - Por Dentro 7
Cóccix
(cauda vestigial)
DNA
Replicação
informação VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Transcrição informação
Transcrição
(Síntese de RNA)
RNA
informação
Tradução
Tradução
(Síntese proteica)
Ribossomo
proteína
23
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.
O exercício testa a capacidade do aluno de interpretar o processo biológico (queda do meteorito e o impacto
ambiental causado) e relacioná-lo à extinção dos dinossauros.
MODELO 1
(Enem) Paleontólogos estudam fósseis e esqueletos de dinossauros para tentar explicar o desaparecimento
desses animais. Esses estudos permitem afirmar que esses animais foram extintos há cerca de 65 milhões
de anos. Uma teoria aceita atualmente é a de que um asteroide colidiu com a Terra, formando uma densa
nuvem de poeira na atmosfera.
De acordo com essa teoria, a extinção ocorreu em função de modificações no planeta quet
a) Desestabilizaram o relógio biológico dos animais, causando alterações no código genético.
b) Reduziram a penetração da luz solar até a superfície da Terra, interferindo no fluxo energético das
teias tróficas.
c) Causaram uma série de intoxicações nos animais, provocando a bioacumulação de partículas de poeira
nos organismos.
d) Resultaram na sedimentação das partículas de poeira levantada com o impacto do meteoro, provocan-
do o desaparecimento de rios e lagos.
e) Evitaram a precipitação de água até a superfície da Terra, causando uma grande seca que impediu a
retroalimentação do ciclo hidrológico.
ANÁLISE EXPOSITIVA
Entender o fenômeno das extinções corretamente é de grande importância para dominar esse processo
biológico. Existe a crença de que o impacto por si só foi a grande causa das extinções dos dinossauros
há 65 milhões de anos. Na verdade, a Terra já vinha passando por alterações climáticas consideráveis que
foram potencializadas devido aos efeitos da queda do meteoro. Dentre esses efeitos, a formação de uma
camada de poeira foi determinante, uma vez que reduziu drasticamente a incidência de luz na superfície
terrestre, diminuindo assim a captação de energia dos produtores e comprometendo as teias alimentares.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Como os dinossauros eram muito numerosos, sofreram drasticamente com esse processo a ponto de
serem extintos.
RESPOSTA Alternativa B
24
DIAGRAMA DE IDEIAS
EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS
BIOQUÍMICA,
FÓSSEIS
BIOLOGIA E GENÉ-
TICA MOLECULAR
OS ORGANISMOS
DE ANTIGAMENTE EX: ANIMAIS COM AS MESMAS
ERAM DIFERENTES PROTEÍNAS EVIDENCIAM
UM PARENTESCO
EMBRIOLOGIA
COMPARADA
ORIGEM DISTINTA,
MESMA ORIGEM
MAS MESMA FUNÇÃO
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
ÓRGÃOS ÓRGÃOS
HOMÓLOGOS ANÁLOGOS
25
senvolvimento de ossos e músculos. As girafas com pesco-
ços desenvolvidos transmitiriam essa característica a seus
descendentes. Logo, ao longo das gerações, todas as girafas
teriam pescoços grandes.
Para Lamarck, portanto, o ambiente tem um papel dire-
TEORIAS cionador e induz modificações nas características e nas
EVOLUTIVAS adaptações dos organismos, uma vez que estes se modi-
ficam para atender às necessidades impostas pelo meio.
CN AULAS
5E6
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4 15 e 16
1. A lei do uso e desuso afirmava que era possível ad- Apesar de algumas de suas interpretações sobre a evolu-
quirir características necessárias à adaptação em um certo ção terem sido refutadas, Lamarck foi um dos primeiros
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
ambiente pelo uso intensivo do órgão ou estrutura envolvi- cientistas a criticar o fixismo e a introduzir o conceito de
da. Enquanto, do mesmo modo, o desuso poderia atrofiar adaptação do organismo ao meio, que é fundamental para
determinada característica. a compreensão do processo evolutivo.
26
Bico grande e forte que Bico grande e afiado que Bico curto e fino que Bico pequeno e forte que Bico grande e fino que
esmaga sementes grandes agarra e corta insetos apanha insetos das fendas parte sementes néctar de flores
e duras no solo
Representação de alguns tipos de tentilhões e relação dos tipos de bicos com alimentos
VIVENCIANDO
A elucidação dos processos evolutivos possibilitou a compreensão dos parentescos entre espécies e permitiu o
desenvolvimento de teorias que, acredita-se, estão cada vez mais próximas de desvendar como os seres vivos se mo-
dificaram ao longo do tempo. Pela teoria de Darwin, compreende-se como as bactérias podem ficar resistentes aos
antibióticos. O antibiótico, que é uma substância utilizada para combater infecções bacterianas, acaba com grande
parte dos microrganismos, mas não é capaz de eliminar formas mais resistentes, que se reproduzem passando o
gene de resistência para as próximas gerações. Quando um paciente com infecção bacteriana toma o antibiótico de
maneira inadequada ou interrompe o tratamento antes do tempo, possibilita-se que bactérias resistentes aumentem
sua população e, consequentemente, retornem com a doença de maneira mais agressiva. Por isso, é importante
tomar antibióticos sempre com recomendação médica e sempre nos horários indicados por esse profissional.
27
3.1. Seleção natural Logo, a seleção natural ou a “luta pela vida com a sobre-
vivência do mais apto” é o fator orientador da evolução e
De acordo com a teoria da seleção natural, os indivíduos não a causa das variações. A origem destas só foi desven-
com as características mais vantajosas para a sobrevi- dada com a descoberta das mutações, teoria exposta no
vência em determinado ambiente conseguiam resistir e
século XX por Hugo de Vries e denominada Mutacionismo.
se reproduzir, transmitindo essas características para as
próximas gerações. A teoria da seleção natural é o principal ponto do
darwinismo. Na época, essas ideias foram duramente com-
Em outras palavras, espécies bem adaptadas pressupõem
batidas, principalmente por considerar o ser humano como
sempre um agente responsável pela seleção dos indivídu-
mais uma espécie animal.
os mais aptos a determinado habitat. Assim, para Darwin,
o meio é um agente seletor − em oposição à teoria de Os indivíduos que nascem não são idênticos e, mesmo
Lamarck, na qual o ambiente induz as mudanças. dentre os descendentes de um mesmo casal, ocorreriam
variações das características − como os diferentes tama-
No caso dos tentilhões, o agente seletor foi o alimento, uma
nhos de pescoço (1).
vez que as condições climáticas gerais das ilhas eram pare-
cidas. Já em animais que viviam em regiões muito frias, a Porém, por conta das condições específicas do ambiente,
temperatura teria atuado como agente seletor. Consegui- nem todos estariam adaptados. No caso, girafas com pes-
riam sobreviver nesse ambiente apenas os indivíduos com coço maior teriam mais disponibilidade de alimento do que
características corpóreas vantajosas, como uma espessa ca- as outras, principalmente em épocas de escassez, quan-
mada de gordura que atuasse como isolante térmico. do as poucas folhas estão localizadas no alto (2). Assim,
Na segunda metade do século XIX, Charles Darwin apresen- naquele meio, os indivíduos com a característica "pescoço
tou, com bases sólidas, evidências das modificações sofridas comprido" estariam mais aptos a sobreviver e, portanto, a
pelas espécies, formulando uma explicação sobre os possíveis se reproduzir (3).
mecanismos que atuariam no processo de evolução biológica. Essas girafas com um pescoço um pouco mais longo que o
Em seu livro A origem das espécies, Darwin expôs a sua teoria de seus pais transmitiriam aos seus descendentes a variação
da evolução por seleção natural, partindo de duas observações: (4) e, após muitas gerações, o comprimento do pescoço des-
ses animais teria aumentado, modificando uma característi-
§ Os organismos vivos produzem um grande número de ca da espécie (5).
sementes ou ovos, mas o número de indivíduos nas po-
pulações normais é mais ou menos constante, o que Portanto, o Darwinismo pode ser entendido a partir de cin-
só pode ser explicado pela grande mortalidade natural. co acontecimentos fundamentais:
Observações
Em todas as espécies e populações existe a variação,
sob forma de diferenças individuais.
A maioria dos organismos produz descendentes em
número muito maior do que o número dos que conse-
guem sobreviver até a idade reprodutiva.
Conclusões
Foto com diversas variedades do milho. Note como a diferença
é um fato natural e essencial nas espécies silvestres. Darwin concluiu que existe uma competição ou “luta” pela
Desse modo, havendo variabilidade e grande mortalida- sobrevivência, na qual muitos indivíduos são eliminados.
de, alguns organismos tem maior chance de deixar des- As características que favorecem os indivíduos nesse proces-
cendentes do que outros. Darwin denominou esse tipo de so de eliminação são transmitidas às gerações posteriores.
reprodução diferencial como seleção natural.
28
As reflexões do economista Thomas Malthus a respeito do 3.2.1. Coloração de advertência
aumento da população humana contribuíram para algumas
conclusões de Darwin. De acordo com Malthus, grande parte Há animais que produzem e armazenam substâncias quí-
do sofrimento humano, provocado por guerras, fome, doen- micas nocivas, além de possuírem cores bastante vitsosas.
ças, etc, deve-se ao aumento da população humana ultra- Trata-se da chamada coloração de advertência, que sinali-
passar a velocidade de disponibilidade dos recursos do meio. za aos possíveis predadores que eles não devem ser ingeri-
dos, pois são perigosos.
“[...] A população humana tende a crescer para além das pos-
sibilidades do meio, cresce exponencialmente, enquanto que
os recursos alimentares crescem em progressão aritmética.”
Thomas Malthus (1766-1834), colaborador de Darwin.
POPULAÇÃO DE
INDIVIDUOS
3.2.2. Mimetismo
Determinados organismos, denominados mímicos, apre-
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 1 GERAÇÃO 2 POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 2 sentam características que os confundem com outro grupo
de organismos, os modelos. Em geral, essa semelhança
ocorre por padrão de coloração, textura, formato corporal,
POPULAÇÃO DE
comportamento, constituição química, etc. Ela confere ao
mímico uma vantagem adaptativa. Existem três tipos de
INDIVIDUOS
SELEÇÃO DIRECIONAL SELEÇÃO ESTABILIZADORA SELEÇÃO DISRUPTIVA mimetismo: batesiano, mülleriano e reprodutivo.
Gráficos demonstrando a variação na frequência § O mimetismo batesiano (de defesa) consiste na imita-
das características em cada tipo de seleção.
ção de um modelo tóxico ou perigoso por espécies “sa-
borosas” ou inofensivas, que escapam de ser predadas.
3.2. Estratégias adaptativas O mesmo ocorre no caso das cobras-corais verdadeiras
A seguir, serão destacados casos de adaptações que con- (Micrurus sp., modelo) e das falsas corais (Erithrolampus
feriram vantagens aos seus portadores e, por isso, foram aesculapi, imitadoras). As verdadeiras são bastante temi-
beneficiados pela seleção natural. das em razão da alta potência do seu veneno neurotóxi-
29
co. Ambas, no entanto, são dotadas de coloração de ad-
vertência. Mas as falsas não têm dentes inoculadores de
peçonha e não oferecem perigo a eventuais predadores.
Ophrys apifera
3.2.3. Camuflagem
Trata-se de um conjunto de técnicas e métodos que permite a
Falsa-coral um organismo permanecer indistinto do ambiente que o ro-
deia. A camuflagem pode ser vantajosa para o predador, que
cerca a presa sem ser percebido, e para a presa, que se con-
funde com o meio, passando desapercebida pelo predador.
Bicho-pau
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
30
tégias que aperfeiçoam a aptidão de deixar mais descen-
dentes. Seleção sexual, portanto, é a seleção natural volta-
4. Neodarwinismo:
da para o encontro de parceiros e para o comportamento teoria sintética da evolução
reprodutivo.
Quando Darwin propôs a sua teoria, os processos da heran-
Os leões-marinhos machos, por exemplo, brigam entre si ça biológica ainda eram desconhecidos. Apesar de Darwin
para demarcar um território e, normalmente, o maior e mais ter sido contemporâneo de Gregor Mendel (1822-1884)
forte conquista mais fêmeas e deixa mais descendentes. – pai da genética –, eles não se conheceram. Descobertas
recentes do século XX nos campos da genética, da biologia
molecular e da paleontologia deram origem a uma nova
teoria da evolução, conhecida como neodarwinismo ou
teoria sintética da evolução, que integra esses novos
conhecimentos às ideias de Darwin e esclarece a causa e o
destino das variabilidades.
Quatro fatores básicos constituem a moderna teoria sintética
da evolução: mutação, recombinação genética, sele-
ção natural e deriva genética. Os dois primeiros determi-
nam a origem da variabilidade genética, a qual é orientada
pelos dois últimos.
Leões-marinhos As diferenças existentes entre os indivíduos de uma mesma
espécie se enquadram sob a designação de variabilidade. Essa
3.4. Seleção artificial diversidade genética é gerada por meio de mutações e recom-
binações, as quais alteram a sequência de bases nitrogenadas
Darwin também estudou espécies cultivadas pelo ser hu-
nos ácidos núcleicos. A seleção natural e a deriva genética
mano, o que o muniu de argumentos a favor da seleção
descrevem como essas características são fixadas nas espécies.
dos mais aptos. Alguns animais domésticos e vegetais cul-
tivados pertenciam a espécies com representantes ainda
em estado selvagem. Contudo, as características dos or- 4.1. Mutação
ganismos domesticados diferiam das dos selvagens, e, em É importante salientar que a mutação é aleatória. Por
alguns casos, esses seres poderiam ser classificados como ocorrer ao acaso, não possui relação com sua utilidade e
pertencentes a espécies diferentes. não aparece como resposta do organismo a uma situação
A seleção artificial conduzida pelo ser humano consiste na ambiental. Além disso, mutações não são necessariamen-
adaptação e/ou seleção de seres vivos, com o objetivo de re- te sinônimo de evolução. Elas contribuem para a evolução
alçar determinadas características desses organismos para a biológica quando são herdáveis, como quando estão pre-
produção de carne, leite, lã e frutas, por exemplo. sentes em gametas.
Darwin chegou à conclusão de que a seleção artificial pode ser CÓPIA
CÓPIA
CORRETA
CORRETA
gens. A luta pela vida foi substituída pela escolha humana dos
indivíduos que melhor atendem aos seus objetivos.
CÓPIA
CÓPIA
MUTANTE
MUTANTE
31
Por exemplo, no caso de um organismo que vive num de-
serto de seca extrema, não é o ambiente que vai favorecer Muita atenção ao fato de que mutações são even-
o aparecimento de mutações que o ajudem a sobreviver. tos raros, uma vez que nosso organismo detém me-
No entanto, caso ocorra espontaneamente uma mutação canismos próprios para evitar erros na produção de
favorável, esta será selecionada positivamente. Assim, a moléculas de DNA.
população dos indivíduos portadores dessa variação ten-
derá a aumentar.
Para compreender o conceito de neodarwinismo, é necessário o conhecimento básico sobre genética e bioquímica.
Por meio de mutações no DNA, que são erros ao acaso ou nas bases nitrogenadas ou em cromossomos, o indivíduo
pode desenvolver características benéficas. Assim, esse organismo torna-se mais apto ao meio em que vive, tendo mais
chances de sobreviver e de passar seus genes aos descendentes. Dessa forma, duas áreas da biologia, como a bioquími-
ca dos ácidos nucleicos e as teorias evolutivas, interagem e se completam.
4.2. Recombinação ou permutação gênica no século XIX, as mutantes escuras passaram a ser camu-
fladas pela fuligem e, como eram mais vigorosas, foram
A recombinação genética (crossing-over) promove a troca de aumentando em frequência e substituindo as mariposas
sequências de bases nitrogenadas entre cromossomos ho- claras. Estas, por se tornarem mais visíveis, passaram a ser
mólogos, durante a divisão celular conhecida como meiose. eliminadas pelos pássaros. Assim, o agente seletivo foram os
Assim, enquanto as mutações podem ocorrem em todo e predadores das mariposas.
qualquer organismo, a permutação gênica só ocorre na-
queles que sofrem meiose − para produzir gametas, nos
animais, e esporos, nos vegetais. Logo, os organismos que
se reproduzem sexuadamente apresentam uma variabili-
dade maior em suas populações do que os organismos que
se reproduzem assexuadamente
32
VARIABILIDADE: corresponde à existência
de sensíveis e resistentes
(gerados por mutação)
INSETICIDA
INSETICIDA
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ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.
Por meio do modelo de mapa-múndi apresentado na questão, e munido do conhecimento prévio de que esses continen-
tes eram unidos há milhões de anos (Pangeia), o aluno deverá relacionar essa situação com o fenômeno biológico da
migração e, posteriormente, refletir sobre como a separação dos continentes foi capaz de criar a diversidade observada.
MODELO 1
(Enem) No mapa, é apresentada a distribuição geográfica de aves de grande porte e que não voam.
Avestruz
Ema
Emu
Há evidências mostrando que essas aves, que podem ser originárias de um mesmo ancestral, sejam, portanto,
parentes. Considerando que, de fato, tal parentesco ocorra, uma explicação possível para a separação geográ-
fica dessas aves, como mostrada no mapa, poderia ser:
a) a grande atividade vulcânica, ocorrida há milhões de anos, eliminou essas aves do Hemisfério Norte;
b) na origem da vida, essas aves eram capazes de voar, o que permitiu que atravessassem as águas
oceânicas, ocupando vários continentes;
c) o ser humano, em seus deslocamentos, transportou essas aves, assim que elas surgiram na Terra,
distribuindo-as pelos diferentes continentes;
d) o afastamento das massas continentais, formadas pela ruptura de um continente único, dispersou
essas aves que habitavam ambientes adjacentes;
e) a existência de períodos glaciais muito rigorosos, no Hemisférico Norte, provocou um gradativo des-
locamento dessas aves para o Sul, mais quente.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
ANÁLISE EXPOSITIVA
A princípio, o ancestral dessas aves vivia em uma mesma área, uma vez que os continentes eram unidos.
A migração fez com que diferentes populações se separassem e, posteriormente, com o afastamento das
massas continentais, essas populações ficassem isoladas geograficamente. Isso favoreceu o surgimento
dessas aves a partir do mesmo ancestral.
RESPOSTA Alternativa D
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DIAGRAMA DE IDEIAS
TEORIAS EVOLUTIVAS
LAMARCK DARWIN
NEODARWINISMO
TEORIA SINTÉTICA
DA EVOLUÇÃO
RECOMBINAÇÃO
MUTAÇÃO
GENÉTICA
VARIABILIDADE
SELEÇÃO NATURAL
ADAPTAÇÃO
LEI DO USO E DESUSO
DIRECIONAL
HERANÇA DOS
CARACTERES ESTABILIZADORA
ADQUIRIDOS
DISRUPTIVA
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ESPECIAÇÃO
CN AULAS
7E8 Representação dos eventos de anagênese e cladogênse, respectivamente
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4 15 e 16 1.1.Fluxo gênico
Os mecanismos de fluxo gênico promovem a troca de
informações genéticas entre populações. Por um lado, essa
migração de genes favorece a variabilidade porque pos-
1. A origem das espécies sibilita introduzir caracteres novos. Por outro lado, também
pode dificultar a especiação, uma vez que permite um des-
Antes de compreender o processo de formação das espé- locamento genético entre populações afastadas e/ou em
cies, é necessário discutir o que de fato é uma espécie. processo de divisão
Melhor que uma única definição, que facilmente a as- O intercâmbio de genes é possível devido à semelhança
sociaria a um termo ou conceito, é preferível considerar e identidade genética, como número e tipos de cromos-
diferentes descrições. somos. A partir dos conhecimentos desenvolvimentos pela
engenharia genética é possível, por meio de manipulação
§ Definição biológica de espécie: são grupos de po-
cromossômica e gênica, abreviar os processos necessários
pulações naturais potencialmente capazes de ge-
à especiação e permitir o aparecimento de novas espécies
rar descendentes férteis e que, em condições na-
- ou de pelo menos espécies transgênicas. Deve-se lembrar,
turais, estão reprodutivamente isoladas de outros
no entanto, que a fertilidade é condição obrigatória entre
grupos semelhantes.
os descendentes de toda e qualquer espécie natural.
§ Unidade ecológica: apresenta características pró-
prias e mantém relações bem definidas com o am- 1.2. Isolamento reprodutivo
biente e outras espécies. A espécie ecológica, então, é O isolamento reprodutivo é a condição a partir da qual po-
formada por um conjunto de indivíduos que exploram
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
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1.2.1. Mecanismos pré-zigóticos cromossomos herdados de pais de diferentes espécies.
Exemplo clássico desse caso é do burro ou da mula.
Os mecanismos pré-zigóticos impedem a fecundação e
Trata-se de um híbrido estéril, resultado do cruzamento
a formação do zigoto.
entre o jumento (Equus asinus) e a égua (Equus caba-
§ Isolamento estacional ou sazonal – decorre de di- lus). O burro e a mula são considerados híbridos inte-
ferenças nas épocas de reprodução. Por exemplo: gru- respecíficos e não constituem uma terceira espécie.
pos de rãs que vivem em uma mesma lagoa, mas não
se reproduzem na mesma época; ou espécies de orquí- Híbrido é o nome dado a um indivíduo formado pela
deas que, embora habitem a mesma região, florescem união de indivíduos de espécies diferentes. É o resulta-
em dias diferentes, o que lhes impede o cruzamento. do da mistura genética entre espécies distintas.
§ Isolamento ecológico – resulta quando populações
ocupam diferentes habitats. Mesmo vivendo na mesma
região geográfica, habitam microambientes distintos. Le- Exceção à regra
ões e tigres podem se cruzar em cativeiro e produzir des- Apesar de a regra dizer que híbridos são estéreis, há re-
cendentes férteis. Entretanto, em ambiente natural eles gistros de exceções a essa regra com filhotes de mula.
não se cruzam, uma vez que vivem em habitats dferentes Considerando que uma égua tem 64 cromossomos, e um
§ Isolamento etológico ou comportamental – de- jumento, 62, a principal barreira para esse tipo de repro-
dução diz respeito à diferença na quantidade de cromos-
corre de diferentes padrões de comportamento de corte.
somos dos pais da mula. Os 63 cromossomos da mula
Antes do acasalamento, representam um fator de funda-
constituem um número ímpar, que não pode ser dividido
mental importância para a reprodução de diferentes es-
em cromossomos pares (a importância dessa divisão será
pécies. O canto das aves, por exemplo, por ser específico,
explicada, quando falarmos sobre divisão celular), o que,
atrai apenas parceiros da mesma espécie. em princípio, a tornaria incapaz de reproduzir-se. Entre-
§ Isolamento mecânico ou incompatibilidade anatô- tanto, apesar de alguns casos já terem sido registrados
mica – resulta da incompatibilidade estrutural dos órgãos ao redor do mundo, ainda não há uma explicação para o
reprodutores. Nos animais, a diferença de tamanho ou for- fato, que permanece sendo estudado por pesquisadores.
ma dos órgãos genitais impede a cópula. Nas plantas, as
estruturas responsáveis pelo encontro dos gametas podem
não se encaixar perfeitamente em diferentes espécies. 2. Tipos de especiação
A especiação é resultado do consequente isolamento
1.2.2. Mecanismos pós-zigóticos
reprodutivo das espécies. Esse evento evolutivo pode
Os mecanismos pós-zigóticos são aqueles que inviabilizam ocorrer tanto pela existência de um empecilho geográfico
a sobrevivência do híbrido ou a sua fertilidade. Mesmo quanto pela redução do fluxo gênico.
ocorrendo a cópula, esses mecanismos impedem ou dificul-
tam seu desenvolvimento. Os principais tipos de isolamento Quando há algum obstáculo geográfico, formam-se duas ou
pós-zigótico são: mais populações que, ainda pertencentes à mesma espécie,
estarão submetidas às diferentes pressões seletivas de seus
§ Mortalidade do zigoto – trata-se da fecundação meios. Logo, as variabilidades e adaptações surgidas em uma
entre gametas de espécies diferentes que pode levar subpopulação podem ser diferentes das surgidas na outra.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
à formação de zigoto pouco viável e com desenvolvi- Com isso, ocorre uma progressiva diferenciação ao longo do
mento embrionário irregular, problemas que inibem o tempo que, mesmo após o fim do isolamento geográfico e
progresso do embrião e podem causar sua morte. com a possibilidade de encontro dos indivíduos das duas
subpopulações, pode resultar em isolamento reprodutivo.
§ Inviabilidade do híbrido – diz respeito à cópula
ISOLAMENTO
entre indivíduos de espécies diferentes, à formação do GEOGRÁFICO
zigoto e à morte prematura do embrião devido à in-
compatibilidade entre os genes maternos e paternos.
Algumas espécies de rã, embora habitem a mesma
lagoa e eventualmente se cruzem, geram híbridos in- DIFERENCIAÇÃO
PROGRESSIVA
terespecíficos que não são capazes de se desenvolver.
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A especiação também pode acontecer com populações que Está relacionada com o chamado efeito fundador, fenô-
convivem em um mesmo lugar e não possuem barreiras ex- meno de deriva genética que descreve o estabelecimen-
trínsecas para o fluxo gênico. Nesse caso, a distribuição dos to de uma nova população a partir da migração de uma
organismos no espaço ou a ocorrência de mudanças no com- pequena parcela de indivíduos e de genótipos da popula-
portamento, muitas vezes relacionadas a determinadas pres- ção original. Do mesmo modo, a peripátrica aplica-se ao
sões seletivas, podem desencadear o processo de formação evento de deriva genética denominado efeito gargalo,
de novas espécies. no qual algum evento reduz drasticamente uma população
Modos de e sua variabilidade genética.
Características Representação
especiação
Uma pequena
Peripátrica população
Representação do efeito fundador.
(peri = perto) fica isolada da
população maior.
EFEITO GARGALO
A população é
Parapátrica
continuamente
(para = ao lado)
distribuída. POPULAÇÃO INICIAL REDUÇÃO DA INDIVÍDUOS QUE NOVA POPULAÇÃO
POPULAÇÃO SOBREVIVEM
38
2.4. Especiação simpátrica Por exemplo, há cerca de 200 anos, os ancestrais da mosca-
-da-maçã depositavam seus ovos exclusivamente em frutos
Diferente dos tipos anteriores, a especiação simpátrica não de espinheiros, seu habitat original. Algumas populações
necessita de distância geográfica em larga escala para a di- passaram a utilizar maçãs domésticas (espécie exótica) como
minuição do fluxo gênico entre os indivíduos de uma popula- depósito, o que caracteriza isolamento de habitat. As fêmeas
ção, esse fenômeno acontece com organismos que habitam preferem os mesmos tipos de frutos onde cresceram; os ma-
áreas sobrepostas. chos tendem a procurá-las também nos tipos de frutos onde
A formação de novas espécies ocorre em virtude de cresceram. Resultado: moscas de espinheiros cruzam com
mudanças aleatórias no material genético associadas a as moscas de espinheiros, e as da maçã, com as da maçã.
determinadas pressões seletivas e a alterações no com- Assim, o fluxo gênico entre essas populações ficou reduzido.
portamento. A simples exploração de um novo nicho A mudança de espinheiro para maçã pode ser o começo da
por uma subpopulação pode contribuir para a redução especiação simpátrica.
do fluxo gênico entre indivíduos. Ocasionalmente, pode
acontecer entre insetos herbívoros que optem por uma
nova planta hospedeira.
VIVENCIANDO
O estudo do termo “especiação” permite compreender como surgem novas espécies e como outras podem ser
extintas ao longo do tempo. A interferência humana no meio ambiente − como o desmatamento, o assoreamento
dos rios e as construções de cidades, estradas e hidrelétricas − causa o aparecimento de barreiras geográficas, o que
altera o fluxo gênico das populações e contribui para o isolamento reprodutivo. Esse fato pode ocasionar o surgi-
mento de novas espécies, assim como o desaparecimento de outras. Dessa forma, é possível propor mecanismos de
conscientização e educação ambiental para minimizar a interferência humana na evolução das espécies.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
39
TEMPO
Localização dos ancestrais no cladograma. Note como, nessa árvore, multimídia: site
B e C são parentes mais próximos que A e C, pois compartilham
um ancestral em comum mais recente com B que com C.
http://www.qualibio.ufba.br/003.html
r
ima ste ura
ntiss n oga bsc
. de ela D. o
D D. m 4. A extinção das espécies
Enquanto a especiação representa o desenvolvimento de
novas espécies, a extinção é o desaparecimento com-
pleto de uma espécie e pode ocorrer devido a processos
naturais ou por interferência humana. Segundo estimativas
atuais, o número total de espécies no planeta varia entre
5 milhões e 30 milhões. Desse total, cerca de 1,4 milhão
Eventos de
de espécies foram nomeadas e descritas pelos cientistas.
especiação Segundo a União Internacional para a Conservação da Na-
tureza (UICN), até a metade do século XXI, mais de 25%
Cladrograma mostrando as relações de parentesco entre as espécies de da fauna e flora terrestre devem desaparecer. Essa organi-
Drosophila (mosca-da-fruta). Os pontos de ramificação dessa filogenia de zação calcula que quase um quarto das 4.600 espécies de
Drosophila representam eventos de especiação ocorridos há muito tempo. mamíferos conhecidas corre risco de extinção.
parafilético
Táxon merofilético manofilético
Táxon parafilético
Linhagem do
táxon A (ramo)
4.1. Os processos naturais
Táxon Táxon Táxon Táxon
Linhagem do
táxon D (ramo) A extinção de espécies acontece de forma natural desde
A B C D o surgimento da vida no planeta. Suas principais cau-
sas são as modificações climáticas, como as desertifica-
X espécie ancestral
ções, glaciações e alterações da atmosfera decorrentes
X (nó)
das atividades vulcânicas. Elas tornam o meio ambiente
Y espécie ancestral
Y (nó) desfavorável à permanência de alguns grupos, que, por
seleção natural, desaparecem. No entanto, a maioria
Tempo
das espécies consegue se adaptar e sobreviver a essas
mudanças, pois elas são efeito de uma série de fatores e
Caráter a (sinapomorfia)
costumam ocorrer lentamente.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
40
4.2. Os processos antrópicos nas frequências alélicas, ou seja, na proporção de um tipo de
gene alelo em relação ao conjunto de alelos; outros acham
Nas últimas décadas, o ser humano vem destruindo habitats que a deriva genética ou a variação aleatória dessas
de grande diversidade biológica, principalmente por causa frequências é que tem um papel de destaque nessas mu-
da poluição das águas, do solo e do ar, do desmatamento, danças.
da caça e pesca predatórias e da extração ilegal de espécies
vegetais. Essas mudanças estão acontecendo numa veloci-
dade maior do que a de adaptação dos seres vivos, que não Genes são trechos de DNA que armazenam a infor-
se ajustam às novas condições de vida e desaparecem. mação para a síntese de proteínas.
Uma das consequências da extinção das espécies é o desequi- Locus gênico se refere à localização de um gene
líbrio das cadeias alimentares, responsáveis pela transferência no cromossomo.
de alimento nos ecossistemas. A redução drástica dos animais Genes alelos, ou apenas alelos, são segmentos ho-
carnívoros, por exemplo, pode levar à proliferação dos animais mólogos do DNA que representam variações específi-
herbívoros e, como consequência, haveria escassez de algu- cas de um mesmo gene.
mas plantas.
Polialelia ou polimorfismo: Quando um gene pos-
Em todo o planeta, a quantidade de animais em via de sui mais de duas formas alélicas. Exemplo: o sistema
extinção é enorme. Entre eles, estão a baleia-azul, o mi- sanguíneo ABO possui três alelos e quatro fenótipos
co-leão-dourado, o elefante, o rinoceronte-negro e o go-
rila-das-montanhas (África), o cervo (Tailândia), o panda-
-gigante (China), o pinguim-grande (Islândia e Canadá), Os selecionistas acreditam que a seleção natural é a
o cavalo-selvagem (Europa Central), o bisão, ou o boi- força predominante capaz de direcionar os processos
-selvagem, e o pelicano-branco (França). Várias espécies evolutivos, sendo que os outros fatores proporcionam, no
vegetais também correm risco de extinção. É o caso das máximo, uma pequena contribuição. O selecionismo
orquídeas de Chiapas, no México, das bromélias – típicas prega que as substituições alélicas ocorrem em consequên-
das zonas tropicais e subtropicais, encontradas no conti- cia de seleção dos mais adaptados, no qual o novo alelo
nente americano e em parte da África –, das “madeiras substituirá um antigo em função de aumentar o valor
de lei”, como mogno, jacarandá, marfim, cerejeira, im- adaptativo dos organismos que o possuem. Assim,
buia, canela, entre outras, usadas em todo o mundo para os polimorfismos seriam mantidos, quando a coexistência
a confecção de móveis e na construção civil. de dois ou mais alelos num loco for vantajosa para o orga-
No Brasil, o país de maior biodiversidade do mundo, cer- nismo ou para a população.
ca de 300 espécies da fauna e flora estão ameaçadas de Já os neutralistas acreditam que, principalmente num
extinção: lobo-guará, onça-pintada, gato-mourisco, veado- nível molecular, a maioria das mudanças evolutivas não
-campeiro, cervo-do-pantanal, ariranha, mico-leão, anta, está relacionada a uma seleção positiva dos alelos de maior
peixe-boi, psitacídeos (arara e papagaio) e tucano. A lis- valor adaptativo, e sim à deriva genética, ou seja, à va-
ta passa pelos répteis, como o jacaré-de-papo-amarelo e riação aleatória das frequências dos alelos. A teoria neu-
tracajá, e estende-se, inclusive, a invertebrados de diversos tralista surgiu no fim dos anos 1960, quando uma grande
filos, que ocupam os costões e praias da orla marítima. quantidade de dados de sequenciamento de proteínas foi
Vale lembrar também da extinção de seres pequenos, par- obtida, provendo, pela primeira vez, dados empíricos para
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
camente estudados ou de pouco interesse para a sociedade. examinar as teorias relacionadas à substituição de genes/
Dentre eles, destacam-se os invertebrados e, em especial, os alelos. O neutralismo não diz que todos os alelos possuem
insetos. Esse grupo possui a maior quantidade de organis- estritamente o mesmo valor adaptativo, mas que a maio-
mos e está em rápido declínio, seu desaparecimento é devi- ria das variações não afetam a sobrevivência e reprodução
do principalmente ao controle de praga. Por conta da impor- dos organismos − ou seja, nem toda característica é uma
tância dos seus papéis ecológicos, a extinção de espécies dos adaptação selecionada de acordo com pressões ambientais.
insetos pode causar consequências irreversíveis. Assim, as frequências podem ser determinadas ao acaso. Se-
gundo eles a seleção opera de maneira secundária.
41
processo longo e gradual, no qual a frequência dos Assim, as populações que tinham indivíduos com maior
alelos aumenta ou diminui randomicamente até que capacidade de solucionar problemas para manter a coesão
eles sejam perdidos ou fixados por ordem do acaso. desses grupos obtiveram maior sucesso. Essa resolução de
A verdade é que a base da disputa entre selecionistas e neu- problemas era facilitada quando havia uma vocalização
tralistas está relacionada aos valores adaptativos dos complexa (pré-requisito para a linguagem humana).
alelos mutantes. Ambas concordam que a maioria das Uma pré-adaptação para a vocalização foi um fator funda-
novas mutações é deletéria e que essas alterações não mental para que essa característica pudesse existir.
contribuem para a taxa de mutação nem para a quantidade
Pré-adaptações são estruturas que já existem naquela
de polimorfismos dentro de uma população. A diferença está
espécie e que permitem que o animal tenha sucesso no
relacionada à proporção relativa de mutações neutras entre
ambiente. O ancestral humano já possuía uma estrutura
as mutações não deletérias. Enquanto os selecionistas
física para vocalização (garganta, glote, estruturas para
consideram que poucas mutações são seletivamen-
passagem do ar, etc.). Ele só pôde desenvolver a linguagem
te neutras, os neutralistas acreditam que a maioria
porque já possuía essas pré-adaptações (no caso, pré-adap-
delas é seletivamente neutra.
tacões para a linguagem).
Para encerrar, é óbvio que algumas características apresen-
Um outro exemplo seriam as abelhas, que também vivem
tam um valor adaptativo muito maior do que outras. Por
em grupo e precisam se comunicar. Como elas não desen-
exemplo, um hemofílico apresenta um valor adaptativo
volveram nenhuma estrutura de vocalização ou de comuni-
muito mais baixo que um não hemofílico, aspecto que até
cação sonora, comunicam-se por meio de sinais químicos,
os neutralistas reconhecem e sabem que a seleção é muito
estruturas desenvolvidas a partir de pré-adaptações espe-
importante nesses casos. A abordagem selecionista pode ser
cíficas. Ao se analisar uma determinada adaptação em um
complementar, e não antagônica, à neutralista.
animal, deve-se tentar identificar a pré-adaptação que pos-
sibilitou o aparecimento daquela característica.
6. Evolução humana No caso da evolução humana. Esses grupos ancestrais que
Os seres humanos possuem um cérebro grande se compa- vocalizavam, mesmo em grunhidos, foram selecionados
rado a outros mamíferos ou primatas. Um indivíduo adulto positivamente pelo meio ambiente daquela época. Ao lon-
tem um cérebro de quase 4 kg, para um peso corporal mé- go das gerações, aqueles que possuíam uma melhor vocali-
dio de aproximadamente 70 kg. Ou seja, aproximadamen- zação eram gradativamente mantidos, enquanto os outros
te 6% do nosso peso é composto de massa cefálica. acabavam sendo selecionados negativamente (extintos).
Os pesquisadores buscam determinar os motivos que leva- O ambiente fora das árvores era bem mais hostil, pois conti-
ram a essa cefalização acentuada no gênero Homo. nha um maior número de variáveis. Nas árvores, a quantidade
A seguir, de forma simplificada, serão apontadas algumas de alimento é maior do que em um campo aberto. É possível
ideias a respeito desse tema. afirmar que, para se obter a mesma quantidade de alimento
encontrada facilmente em 10 m2 na floresta, esses homens
A priori, tentou-se identificar um fator isolado que explicasse
primitivos deveriam percorrer 10.000 m2 em seu novo habitat.
essa característica, mas logo percebeu-se a limitação desse en-
foque. Atualmente, as pesquisas tentam ser mais realistas, en- O fato de ser bípede era uma grande vantagem na cober-
focando uma série de fatores que teriam agido em conjunto. tura dessas extensas áreas, além de liberar os membros
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
42
firmeza e precisão nos movimentos. Além de facilitar o manu- nascimento, o feto deve passar pela junção pélvica da
seio dos alimentos, esse fator permitiu que o homem ancestral fêmea; para isso, a cabeça não pode ser muito grande. Essa
segurasse galhos, pedras e outros objetos. Em conjunto, todos restrição é uma das razões para o crescimento contínuo do
esses fatores resultaram em um cérebro mais desenvolvido. cérebro, mesmo depois do nascimento. Isso faz com que os
bebês sejam extremamente dependentes das mães, mas,
por outro lado, gera uma flexibilidade tremenda, pois o
cérebro vai crescendo (e montando as ligações entre os
neurônios), sempre se ajustando ao ambiente e facilitando
o aprendizado direto ainda na formação cerebral.
zes mais do que o cérebro do chimpanzé e 22 vezes mais No nascimento, o cérebro humano tem cerca de 25% do
do que um tecido muscular em repouso. A taxa metabólica peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos de idade,
específica (por grama) é nove vezes maior do que a do esse valor é de 84,1%. Chimpanzés nascem com 47% do
resto do corpo como um todo. Para suprir essa demanda peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos, já têm
energética, os ancestrais necessitavam de uma dieta de 100% do peso total. Com isso, é possível perceber outra
melhor qualidade proteica e energética. restrição para um cérebro muito grande e flexível: a redução
da taxa reprodutiva, pois os pais devem cuidar dos filhotes
por um período de tempo maior.
O bipedalismo, associado à possibilidade de explorar ou-
tros ambientes, além de exigir mais do cérebro, abriu novos
horizontes para a evolução biológica humana. A seguir, as
vantagens angariadas com isso:
Comparação entre o crânio do Australopithecus,
do chimpanzé e do ser humano § desenvolvimento da habilidade para o transporte de
alimentos;
A mudança de dieta retroalimenta a expansão cerebral;
§ redução de pelos sobre as áreas do corpo não expostas
isso significa que, para manter o cérebro, nossos ancestrais
ao sol forte;
precisavam se alimentar melhor, apresentando, assim, um
comportamento forrageador (de busca de alimento) mais § liberação das mãos para diferentes usos, inclusive para
complexo e eficiente, que, por sua vez, fazia uma pressão cuidar dos filhos;
seletiva para a expansão cerebral. § redução do consumo de energia em caminhadas a ve-
locidades normais; e
Existem outros obstáculos a serem superados para o au-
mento do cérebro, além do alto custo energético. O tama- § aumento do horizonte de visão e aperfeiçoamento da
nho da pélvis (bacia) das fêmeas é um dos exemplos. No proteção contra predadores. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
43
Evolução humana – hominídeos
6.2. Apontamentos sobre a
origem do ser humano
§ cérebro grande;
Em meados do século XIX, a teoria de Charles Darwin so-
§ dependência total do uso de utensí-
lios; bre o mecanismo da evolução das espécies estremeceu o
cérebro, tecnologia, § linguagem simbólica completa; e mundo da ciência. A consequência lógica e irrefutável de
linguagem e cultura tudo o que ele havia descoberto era a de que a espécie
§ capacidades cognitivas desenvolvi-
das através de processos complexos humana não teria sido criada separadamente dos outros
de transmissão da informação de
seres vivos, como afirmavam as Escrituras das três maiores
geração em geração.
religiões monoteístas, mas evoluído a partir de espécies já
§ proteínas de grandes animais; extintas, antecessoras também dos macacos, como o chim-
§ consumo significativo de plantas ri- panzé, o gorila e o orangotango.
cas em hidratos de carbono;
dieta e subsistência
§ consumo retardado da comida ad- Na época, esse era um conceito inaceitável. Primeiro, por-
quirida; e que refutava os dogmas religiosos, que ainda ocupavam
§ partilha dos alimentos. um lugar central no comando das sociedades ocidentais.
§ laços sexuais e econômicos fortes Darwin teve uma educação teológica em Cambridge,
entre machos e fêmeas; estava destinado a ser um pároco da Igreja anglicana e
§ crianças dependentes; descendia de uma próspera família de proprietários rurais,
§ adolescência prolongada; profissionais liberais e industriais. Seus amigos eram todos
reprodução e sociedade § vida social organizada em torno de conservadores ou ligados à religião e ao governo, forte-
um lugar central; e mente opostos à noção de evolução das espécies como um
§ inexistência de caninos grandes que
mecanismo independente do Criador.
possam ser usados em contexto de
interação social. Segundo, porque temia-se que, ao aceitar esse conceito, o
§ porte ereto e locomoção bípede; e ser humano perderia seu lugar especial, rebaixando-se a
locomoção e habitat
§ habitats abertos. mais um animal entre os animais. Para a classe dominan-
tes hegemônica, essa constatação poderia "liberar os ins-
tintos mais baixos" da população, que poderia revoltar-se
Homo sapiens
Homo sapiens sapiens contra o governo e instaurar a anarquia, tão temida pelos
neanderthalensis
crânio achatado crânio abaulado
governantes (é preciso não esquecer que a influência da
testa curta testa evidenciada Revolução Francesa ainda se fazia sentir e que o socialismo
osso supraorbital ausência/redução acentuada acabava de nascer como movimento político e social, ame-
bastante expandido do osso supraorbital açando tirar o poder dos velhos privilégios da monarquia,
órbitas oculares grandes órbitas oculares pequenas da elite econômica, etc.).
face projetada para a frente face curta
Em terceiro lugar, havia um argumento científico sólido
ausência de queixo presença de queixo
contra a hipótese defendida por Darwin e seus seguidores:
osso occipital achatado osso occipital abaulado
até então, não havia qualquer evidência concreta de que
ossos longos
espessos e curvos
ossos longos mais delgados os registros fósseis comprovassem a progressão evolutiva
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
dos hominídeos.
ossos longos com grandes áreas ossos longos com pouca superfície
para ligação de músculos para ligação de músculos O castelo cuidadosamente montado pelos opositores de
Darwin começou a desmoronar quando foram descobertos
6.1. Evolução cultural os primeiros esqueletos de um ser evidentemente muito
mais antigo que o Homo sapiens sapiens (a espécie moder-
A cultura é um processo tipicamente humano: a evolução na do ser humano), o Homem de Neandertal, encontrado
da humanidade se tornou muito mais cultural do que bio- em escavações no vale do rio Neander, na Alemanha (“tal”
lógica. Cultura, portanto, é o acúmulo de conhecimentos e significa “vale”, em alemão).
hábitos cuja renovação depende muito mais do surgimento
de novas técnicas do que das mutações em si. Foi essa evo- As observações mostraram um ser com postura ereta, cor-
lução cultural que permitiu a formação dos grupos sociais, a po e membros praticamente iguais aos nossos, mas com
domesticação de animais, o cultivo de plantas e o domínio um crânio com semelhanças ao de um gorila.
do homem sobre a natureza, causando, ao mesmo tempo, A descoberta foi atacada na época, e seus opositores ar-
graves problemas a outras espécies. gumentaram que o fóssil pertencia a um ser humano de-
44
formado ou aleijado. No entanto, a descoberta acabou se Uma conclusão surpreendente no estudo dos hominídeos é
consolidando com outros achados em várias partes da Euro- que, provavelmente, existiram muitas espécies de hominíde-
pa e do Oriente Médio, provocando uma enorme polêmica. os ancestrais que foram extintas sem deixar marcas. A linha
Mostrou-se, pela primeira vez, que havia o registro histórico sobrevivente, em determinadas épocas históricas, chegou a
de um ser muito semelhante ao ser humano, que não mais ter um número extremamente reduzido de indivíduos. Um
existia e poderia ser um ancestral em comum de macacos estudo recente do DNA mitocondrial (que é transmitido ape-
atuais e seres humanos. A descoberta deu um grande impul- nas através da linha feminina, diferentemente do DNA, que
so à aceitação das teorias de Darwin pelos cientistas e incen- tem componentes maternos e paternos) mostrou que houve
tivou a busca desenfreada por fósseis de hominídeos cada uma época no passado em que existiam apenas cerca de
vez mais antigos, o que veio a acontecer somente no século 40 mil seres humanos em toda a face da Terra. Qualquer
XX, inicialmente na África, mas também na Ásia e Oceania. grande desastre natural ou epidemia teria inviabilizado essa
espécie. Esses estudos de biologia molecular também evi-
denciaram que toda a humanidade descende, provavelmen-
te, de não mais do que seis indivíduos que habitaram o sul
da África, sendo que uma dessas mulheres é responsável por
60% de todos os genomas da humanidade atual, enquanto
que outras cinco são responsáveis pelos 40% restantes.
Inclusive, novos conhecimentos moleculares possibilita-
ram descobrir também que o DNA atual de seres huma-
nos possui alguns poucos trechos de material genético de
outros hominídeos. Isso evidencia que os hominídeos não
só coexistiam, como cruzaram entre si. Considerando que
o ser humano é uma espécie recente e que são poucos os
trechos compartilhados, as evidências sugerem que não
havia separação total entre as espécies e que ainda era
possível o cruzamento. Além disso, a falta acasalamen-
Da esquerda para a direita, os crânios do Australopithecus to não era motivada por diferenças genéticas, mas por
afarensis, um dos mais antigos hominídeos encontrados;
do Australopithecus africanus, um hominídeo mais recente
incompatibilidade de comportamento, que impedia uma
que o afarensis; do Homo habilis, uma das primeiras espécies aproximação entre as espécies.
africanas do gênero; e de um Homem de Neandertal.
Os principais estágios da evolução humana
A ciência chegou à conclusão de que o ser humano evo- anos atrás estágios da evolução
luiu gradativamente a partir de espécies que hoje sabemos 4 milhões Australopithecus afarensis
terem se originado na África subequatorial entre 5 e 6 mi- 3,2 milhões “Lucy” (Australopithecus afarensis)
lhões de anos atrás. 2,5 milhões Australopithecus de várias espécies
2 milhões Homo habilis
Além disso, descobriu-se que o Neandertal não é nosso an-
1,6 milhão Homo erectus
tepassado, mas sim uma subespécie que surgiu em paralelo
1,4 milhão Os Australopithecus sofrem extinção.
com o Homo sapiens sapiens e que se extinguiu há cerca de
1 milhão O Homo erectus se estabelece na Ásia.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
45
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
A evolução biológica e a antropologia cultural e social caminham juntas para explicar a história do ser humano na
Terra. Por meio de registros fósseis, como o tipo de arcada dentária, é possível estimar qual seria a alimentação daquele
espécime e também qual seria o crânio. A partir dessas informações, é viável recriar o contexto onde possivelmente os
indivíduos estavam inseridos, como os caçadores-coletores, os quais tinham uma distribuição de trabalho e uma divisão
social. Desse modo, é possível reproduzir as interações entre os indivíduos de uma sociedade de 200 mil anos atrás.
HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.
HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização ta-
xonômica dos seres vivos.
Nesta questão sobre diversidade fenotípica associada ao ambiente ocupado, é fundamental a interpretação corre-
ta do modelo apresentado, associando a cor da pelagem com a cor do ambiente. Com isso, será possível entender
como os processos evolutivos estão ocorrendo.
MODELO 1
(Enem) Os ratos Peromyscus polionotus encontram-se distribuídos em ampla região na América do Norte. A pela-
gem de ratos dessa espécie varia do marrom claro até o escuro, sendo que os ratos de uma mesma população têm
coloração muito semelhante. Em geral, a coloração da pelagem também é muito parecida à cor do solo da região
em que se encontram, que também apresenta a mesma variação de cor, distribuída ao longo de um gradiente
sul-norte. Na figura, encontram-se representadas sete diferentes populações de P. polionotus. Cada população é
representada pela pelagem do rato, por uma amostra de solo e por sua posição geográfica no mapa.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
46
O mecanismo evolutivo envolvido na associação entre cores de pelagem e de substrato é:
a) A alimentação, pois pigmentos de terra são absorvidos e alteram a cor da pelagem dos roedores.
b) O fluxo gênico entre as diferentes populações, que mantém constante a grande diversidade inter-
populacional.
c) A seleção natural, que, nesse caso, poderia ser entendida como a sobrevivência diferencia-
da de indivíduos com características distintas.
d) A mutação genética, que, em certos ambientes, como os de solo mais escuro, têm maior ocor-
rência e capacidade de alterar significativamente a cor da pelagem dos animais.
e) A herança de caracteres adquiridos, capacidade de organismos se adaptarem a diferentes am-
bientes e transmitirem suas características genéticas aos descendentes.
ANÁLISE EXPOSITIVA
Compreender como os mecanismos evolutivos são capazes de produzir padrões encontrados de acordo com
o meio ambiente onde as espécies habitam é primordial para entender a situação proposta. Observa-se nesse
esquema que a coloração dos ratos varia de acordo com o ambiente que ocupam, ou seja, ratos de pelagem
mais escura vivem em ambientes em que o solo é mais escuro. O que ocorre é que provavelmente a pelagem
com cor parecida ao substrato confere uma vantagem adaptativa. Pode-se entender esse processo por meio
da seguinte situação: presumivelmente existiam ratos de todas as cores em todos os ambientes. Aqueles que
tinham coloração diferente do substrato eram predados de maneira mais fácil e, com isso, foram extintos.
Por outro lado, aqueles com pelagem semelhante ao ambiente sobreviviam, pois conseguiam passar des-
percebidos pelo predador e transmitiam essa cor de pelagem aos descendentes. Esse mecanismo evolutivo é
denominado seleção natural e foi proposto por Charles Darwin.
RESPOSTA Alternativa C
47
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
DIFERENCIAÇÃO
PROGRESSIVA
ESPECIAÇÃO
ISOLAMENTO ISOLAMENTO
REPRODUTIVO REPRODUTIVO
PRÉ-ZIGÓTICO PÓS-ZIGÓTICO
• SAZONAL • MORTALIDADE
• ECOLÓGICO DO ZIGOTO
• MECÂNICO FORMAÇÃO DE • INVIABILIDADE
• COMPORTAMENTAL NOVAS ESPÉCIES OU ESTERILIDADE
DO HÍBRIDO
CLADOGRAMA
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
48
BIOLOGIA
DIVERSIDADE
CIÊNCIAS DA
DA VIDA
NATUREZA
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
É uma prova generalista com relação às Doenças causadas por vírus (como a den- Zoologia também aparece como ponto de
características dos seres vivos, que não gue), bactérias e protozoários costumam destaque dentro desta prova. A abordagem
aborda grupos específicos, ao contrário, aparecer nas questões da Unifesp. mais usada sempre é a relação entre os or-
abrange um vasto número de grupos, sem- ganismos, suas semelhanças e diferenças.
pre comparando-os.
Essa prova possui maior foco em teorias Prova essencialmente comparativa e com Com poucas questões de Biologia, a PU- Além de protozooses, a Santa Casa cobra
evolutivas e na taxonomia dos seres vivos. questões que misturam diferentes áreas C-Camp cobra conhecimentos acerca da conhecimentos específicos e comparativos
da Biologia. Há presença de assuntos como anatomia comparada dos filos animais e sobre os mais variados seres vivos, de vírus
diversidade de seres vivos e comparação da classificação dos seres vivos. a vertebrados.
entre os reinos e entre os filos animais.
UFMG
É uma prova com questões interdiscipli- Questões com alto nível de especificidade. Apresenta questões de temas variados e
nares que cobram conteúdos altamente Estão presentes conteúdos relacionados a não muito cobrados em outros vestibula-
específicos. É importante reconhecer carac- doenças virais e bacterianas e anatomia res, como taxonomia dos seres vivos e di-
terísticas dos seres vivos e saber comparar comparada dos diferentes filos animais. versidade do Reino Monera. Também estão
os diferentes reinos e filos. presentes temas como zoologia e anatomia
comparada dos diferentes filos animais.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Relações evolutivas, taxonomia e protozoo- Com perfil similar à Fuvest e questões bem Saber ler cladogramas, classificar seres
ses (doenças causadas por protozoários, específicas, os temas mais frequentes são vivos e diferenciar os principais grupos (rei-
como malária e doença de Chagas) são doenças virais e bacterianas, comparação nos e filos) são competências fundamentais
temas muito presentes nas provas da Uerj. entre os reinos e anatomia comparada dos para ter sucesso nessa prova.
filos animais.
50
1.2. Complexidade e organização
Os seres vivos são complexos e apresentam organização
própria. Mesmo os organismos unicelulares apresentam
extrema complexidade, tanto na estrutura quanto no
TAXONOMIA funcionamento da célula. O corpo humano, exemplo de
organismo pluricelular, apresenta 200 tipos de células,
E REINOS que se organizam em quatro tipos básicos de conjuntos,
chamados de tecidos epitelial, conjuntivo, muscu-
lar e nervoso. Os grupos desses tecidos se reúnem
formando órgãos, como pele, estômago e coração.
Por sua vez, atuando em conjunto, os órgãos passam a
CN
constituir um sistema, como é o caso do digestório ou
AULAS
1E2
do circulatório.
Vacúolo Mitocôndria
Citosol
4 16
Ribossomos
Centríolos
Nucléolo Lisossoma
§ reprodução;
§ complexidade e organização; Grânulos
secretores
§ material genético;
A complexa estrutura celular.
§ metabolismo;
§ adaptação;
§ reatividade; 1.3. Metabolismo
§ evolução.
Metabolismo é todo e qualquer processo que ocorre den-
tro do organismo. A maioria deles envolve energia.
1.1. Estrutura celular
A manutenção da vida ocorre por meio das atividades
Todos os seres vivos são formados por unidades estruturais
celulares, as quais são realizadas à custa de energia
e funcionais chamadas de células. A célula é a menor por-
proveniente de alimentos. O conjunto dessas atividades
ção capaz de apresentar as propriedades de um ser vivo:
é chamado de metabolismo. Nelas, estão envolvidos
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
ParedeParede
celular
Celular
Os principais processos metabólicos são: anabo-
Membrana
Plasmídeo Ribossomos
Ribossomos preende os processos químicos sintéticos, nos quais
Plasmídeo
Plasmídeo
substâncias mais simples são combinadas para formar
DNA
DNA
DNA
outras mais complexas, resultando em armazenamen-
Grânulo
to de energia, formação de novas estruturas celulares
Grânulo
Grânulo
51
GENITOR
GENITORA A GENITORA B
Catabolismo
PRODUZ PRODUZ
GAMETAS GAMETAS
Anabolismo
GAMETAS GAMETAS
FUSÃO
As atividades metabólicas.
ZIGOTO
1.4. Reatividade reprodução sexuada
1.7. Adaptação
Adaptação é qualquer modificação de estrutura, função ou
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
DIVISÃO
comportamento que permite a um organismo explorar de
CELULAR maneira mais eficiente o meio em que vive. Por meio da
adaptação, o ser vivo amplia as possibilidades de sobrevi-
vência e reprodução.
1.8. Evolução
A expressão do material genético, ou seja, dos genes, é
responsável pelas características de um organismo. Qual-
quer mutação do material genético que provoque o apa-
recimento de uma nova característica é conhecida como
ORGANISMO ORGANISMO variação. É por meio das variações que opera o processo
FILHO A FILHO B
chamado de evolução, cuja definição é a transformação de
reprodução assexuada uma população de organizamos no decorrer do tempo.
52
diversidade devido à extinção de espécies, outras duas circun-
tâncias estão colaborando para atribuir urgência a esse tema: o
crescimento desenfreado das populações humanas, que conso-
mem os recursos naturais de forma acelerada, e as descobertas
da ciência acerca das potencialidades da diversidade biológica
para os seres humanos e para o meio ambiente.
invertebrados 116.873
das e 15 mil espécies são descritas pelos cientistas por ano. poucos milhões
Ainda assim, estima-se que existam entre 5 e 30 milhões
ervas e arbustos 73.900 Não disponível
de espécies no planeta, com a maioria das espécies con-
centrada nos trópicos. microrganismos 36.900 Não disponível
53
2.2. Florestas tropicais: 2.3. O que fazer e por quê?
centros de biodiversidade A diversidade biológica mais ameaçada é também a me-
Mesmo com as ações antrópicas intensificadas principal- nos pesquisada. Além disso, não há nenhuma perspectiva
mente após o século XX, as florestas tropicais ainda pos- de que a tarefa científica seja completada antes de que
suem maior diversidade quando comparadas com as regiões uma grande parte das espécies desapareça. É provável que,
subtropicais ou temperadas. no mundo, não mais do que 1.500 profissionais sistematas
sejam competentes para lidar com milhões de espécies en-
Isso se deve a algumas características como a extensão terri- contradas nas florestas tropicais úmidas.
torial dessas florestas e por receberem mais energia advinda
do Sol, o que permite maior produtividade primária. Ademais, esse número pode estar em queda devido à dimi-
nuição das oportunidades profissionais, à restrição de fundos
para pesquisa e à priorização de outras disciplinas. De 1979 a
1983, o declínio foi acompanhado pela diminuição em mais
de 50% do número de publicações em ecologia tropical. O
problema da conservação tropical é, desse modo, potenciali-
zado pela falta de conhecimento e pela escassez de pesquisa.
Caso não ocorra um esforço no sentido de defesa e compreen-
são da biodiversidade, a compreensão desses aspectos impor-
tantes da vida ficará cada vez mais distante. Com efeito, devido
à aceleração da extinção das espécies, talvez a possibilidade
Vegetação do Parque Nacional da Serra do Pardo, na desse conhecimento escape da humanidade para sempre.
Floresta Amazônica brasileira
É fato que o conhecimento da diversidade biológica signifi-
O Brasil possui 30% das florestas tropicais existes no mun- cará pouco para a vastidão da humanidade, a não ser que
do e os exemplos brasileiros são a Floresta Amazônica, a existam motivações para utilizá-lo.
Mata Atlântica e as matas ciliares (de beira de rios).
O ser humano não depende completamente nem mesmo
Os solos desses biomais são, em geral, pobres. A rápida de 1% das espécies vivas para sobreviver, e o restante per-
ciclagem de matéria orgânica e a manutenção dos nu- manece esquecido, sem ser testado. No curso da história, de
trientes na biomassa são os principais responsáveis por acordo com estimativas feitas, as pessoas se utilizaram de
sua exuberância. Esse solo é rico em microrganismos que 7.000 tipos de plantas na alimentação, predominantemente
aceleram a decomposição da matéria vegetal – uma folha trigo, centeio, milho e cerca de uma dúzia de outras espécies
pode ser decomposta em seis semanas, enquanto numa altamente domesticadas. Não obstante, existem pelo menos
floresta temperada levaria um ano para degradar-se. cerca de 75 mil plantas comestíveis, e muitas delas são su-
Retirada a camada vegetal da floresta, a lixiviação e a ero- periores, em termos nutricionais, a plantas que estão sendo
são transformam e degradam a paisagem. Após isso, a re- largamente utilizadas. Outras podem ser substitutas do pe-
cuperação é lenta e incapaz de recriar o mesmo ambiente tróleo e são fontes potenciais de novos remédios e de fibras.
devido à perda da serrapilheira, camada de nutrientes em Além disso, entre os insetos existem muitas espécies que
decomposição sob o solo, e do banco de sementes, reser- são potencialmente superiores como polinizadoras de plan-
vatório de sementes capazes de substituir as plantas adul- tas, agentes controladores de ervas-daninhas e parasitas e
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
tas e dispersas pelas mesmas. predadoras de pestes de insetos, ou seja, podem ser usadas
As florestas tropicais também são importantes para man- como controles biológicos. As bactérias, leveduras e ou-
ter a estabilidade do clima ao compor o ciclo da água por tros microrganismos vão continuar a produzir novos remé-
meio da Evapotranspiração. dios, alimentos e procedimentos de restauração do solo.
Na realidade, a questão se resume a uma decisão ética:
De que maneira os seres humanos valorizam os mundos
naturais nos quais se desenvolveram e de que maneira en-
tendem seu status como indivíduos?
Os humanos são fundamentalmente mamíferos e espíritos
livres que alcançaram esse alto nível de racionalidade pela
criação perpétua de novas opções. A filosofia natural e a
Vegetação da mata Atlântica. Disponível em: <www.mudasnativas.org>. ciência trouxeram alívio para o que poderia ser o paradoxo
Acesso em: 22 dez. 2015. essencial da existência humana.
54
A vontade da expansão perpétua ou de liberdade pessoal a finalidade de organizar as ideias e sistematizar os hábitos é
é básica ao espírito humano. Para sustentá-la, é preciso a nortear a produção de conhecimentos.
mais delicada e conhecedora administração do mundo vivo
que se possa planejar. A princípio, expansão e administra-
ção podem parecer objetivos conflitantes, mas, na realida- Reflita...
de, o que acontece é o oposto. Comparando um golfinho, um tubarão e o homem,
você diria que o grau de parentesco é maior entre:
Reflita...
§ golfinho e tubarão;
Quais seres vivos estão relacionados a sua vida?
§ golfinho e homem; ou
De que maneira você interfere no ambiente deles?
Que sentimentos eles despertam em você? § tubarão e homem?
Na Biologia, já foram utilizados diversos critérios na classi- O sistema de Lineu não considerava a ideia de parentesco
ficação dos organismos. Aristóteles, no século IV a.C., clas- entre os seres, pois ele acreditava que todos os seres haviam
sificou os animais em aéreos, terrestres e aquáticos. Santo surgido no momento da criação divina. O sistema de Lineu
Agostinho classificou os animais em úteis, nocivos e indife- consiste em um catálogo metódico de plantas e animais,
rentes ao homem. No entanto, com o passar do tempo, esses reunindo-os em grupos maiores e grupos subordinados.
critérios se mostraram inadequados. Atualmente, a ciência demonstra que todos os seres des-
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Em meados do século XVIII, o naturalista sueco Carl von cendem de um mesmo ancestral e que um maior grau de
Linnée, ou Lineu, classificou os organismos segundo a es- semelhança reflete um parentesco mais próximo. Essas
trutura e anatomia dos seres vivos. Esse sistema de classi- semelhanças podem ser estruturais, etológicas (comporta-
ficação é utilizado até hoje e é denominado taxonomia. mentais), ecológicas, citológicas ou bioquímicas.
A priori, nenhum desses tipos de semelhanças é mais impor-
Classificar é separar em grupos de acordo com suas tante que os demais. Contudo, as semelhanças compartilha-
semelhanças e diferenças e, no caso da biologia, de das podem possuir significados diferentes, considerando-se a
acordo com seu grau de parentesco. história evolutiva. Além disso, algumas semelhanças podem
ser um indicativo enganoso de parentesco, uma vez que po-
dem ter surgido separadamente em cada grupo. Por exemplo,
Desde os tempos mais remotos até nossos dias, a classifica-
retomando a comparação entre tubarão, golfinho e homem.
ção das “coisas”, animais e vegetais ajudou a humanidade
a compreender o seu ambiente. Além disso, é fundamental Quais organismos você colocaria no mesmo grupo se fosse
no desenvolvimento de nossa capacidade intelectual, já que organizá-los baseando-se somente na aparência deles?
55
Agora, observe a classificação de cada um deles: 3.1. A nomenclatura binomial
tubarão golfinho homem A ideia de atribuir uma nomenclatura para cada organismo
Reino Animal Animal Animal também foi de Lineu. Essa nomenclatura é composta por
Filo Cordado Cordado Cordado dois nomes: o primeiro indica o gênero, e o segundo, a
espécie. Por exemplo: Canis lupus (lobo), na qual canis é
Classe Condríctie Mamífero Mamífero
o epíteto genérico (gênero), e lupus é o epíteto espe-
Ordem Elasmobrânquio Cetáceo Primata cífico. Dessa forma, várias espécies podem ter o primeiro
Família Carcarrinídeo Delfinídeo Hominídeo nome igual, mas o segundo nome será diferente. A nomen-
Gênero Negaprion Delphinus Homo
clatura foi criada para que houvesse uma padronização in-
ternacional dos nomes, facilitando o trabalho de cientistas.
Espécie Negaprion brevirostris Delphinus delphis Homo sapiens
A onça-parda, por exemplo, tem ampla distribuição geo-
O homem e o golfinho pertencem à classe dos mamífe-
gráfica, sendo conhecida por diversos nomes: puma, leão-
ros, portanto apresentam semelhanças mais relevantes do
-da-montanha, cougar, pantera-americana, catamount,
ponto de vista evolutivo do que as semelhanças observa-
panter. No entanto, todos os cientistas reconhecem-na
das entre o golfinho e o tubarão.
pelo nome de Felis concolor.
Indivíduos da mesma espécie são mais aparentados que in-
Para que a nomenclatura seja padronizada, certas regras
divíduos do mesmo gênero, indivíduos do mesmo gênero são
devem ser seguidas:
mais aparentados que indivíduos da mesma família, e assim
por diante. Ser mais aparentado significa ter compartilhado um § os nomes devem estar em latim;
ancestral em comum mais próximo. Por exemplo, você e seu § o primeiro nome deve ser escrito com inicial maiúscula,
irmão têm ancestrais comuns mais próximos (seus pais) do que e o segundo, com inicial minúscula; e
você e seu primo, cujos ancestrais comuns são os seus avós.
§ nomes devem ser sempre destacados do texto (em ne-
Definir quais características são relevantes é uma tarefa com- grito, itálico ou sublinhado).
plexa e faz com que as classificações sejam constantemente re-
visadas a partir das novas descobertas científicas. Atualmente,
3.2. Os três domínios
técnicas modernas permitem comparar a composição química
das proteínas e dos genes que compõem os seres vivos, eluci- A partir da análise de sequências de RNA ribossômico, atu-
dando algumas relações de parentesco. almente dividimos o mundo vivo em três grandes grupos,
conhecidos por domínios: Bacteria, Archea e Eukarya.
Em 1866, Herns Haeckel estabeleceu um novo campo de
estudo para designar as relações de origem e parentes- O domínio Bacteria é formado pelas chamadas “bactérias
co entre os seres, a filogenia. Isso foi possível a partir do verdadeiras”, seres procariontes cuja parede celular apresen-
estudo que realizou nos escritos de Charles Darwin sobre ta peptídeoglicanos como componente principal. Archaea é
evolução, o qual criou a primeira representação gráfica para um domínio de bactérias, também procariontes e com pa-
esses parentescos e que permitiu a Haeckel criar o conceito rede celular de composição variada, sem peptideoglicano.
de árvore filogenética. Estas possuem a característica de viver em ambientes inóspi-
tos, com grandes salinidades, altas temperaturas, ácidos, etc.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
56
Esses organismos ainda assim apresentam diferenças entre Existem seres que não se encaixam em nenhum dos rei-
si: as células vegetais apresentam parede celular, cloroplas- nos existentes – os vírus –, pois apresentam características
tos e grandes vacúolos, enquanto estas estruturas estão au- únicas: eles não formam células (são formados de material
sentes nas células animais. genético envolvido por uma cápsula proteica) e só se repro-
duzem dentro de células hospedeiras. Existem cerca de mil
Alguns autores reúnem eubactéria e arqueobactéria em
grupos de vírus identificados e só é possível vê-los através
um único reino denominado Monera. O esquema abaixo
de microscópio eletrônico, que pode ampliar a imagem até
representa uma possível origem evolutiva dos seres vivos a
cerca de 100 mil vezes.
partir de um ancestral comum.
Reino características representantes
parasitas
Vírus HIV, ebola, influenza
intracelulares obrigatórios
procariontes, bactérias e cia-
Monera
autótrofos ou heterótrofos nobactérias
eucariontes,
unicelulares ou
Protoctista algas e protozoários
3.3. Os Reinos pluricelulares,
autótrofos ou heterótrofos
Por muito tempo, admitiu-se a existência de apenas dois eucariontes,
Plantae plantas
reinos: o animal e o vegetal, englobando apenas organis- pluricelulares, autótrofos
Em meados do século XX, com a justificativa de que os fun- Também pode acontecer de animais de uma mesma
gos apresentam características de vegetais e de animais, espécie receberem vários nomes, como ocorre com a
foi criado o Reino dos Fungos. onça-pintada, cujo nome científico é Panthera onca.
Apesar de existirem outras divisões atualmente, os organis- A planta Manihot esculenta, cuja raiz é muito aprecia-
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
mos podem ser agrupados em cinco reinos: da como alimento, dependendo da região do Brasil, é
conhecida por aipim, macaxeira ou mandioca.
§ Reino dos Moneras, que inclui bactérias e cianobacté-
rias, com aproximadamente 5 mil espécies descritas. Dessa forma, percebemos que a nomenclatura popular
§ Reino dos Protoctistas, que inclui protozoários e al- pode variar bastante, mesmo num país como o Brasil,
gas, com aproximadamente 58 mil espécies descritas. em que a população, de modo geral, fala o mesmo idio-
ma oficial. A situação é ainda mais complexa quando
§ Reino dos Fungos, que inclui fungos e líquens, com
se considera o mundo inteiro, com diversos idiomas.
aproximadamente 47 mil espécies descritas.
Assim, entendemos a necessidade da adoção de uma
§ Reino dos Vegetais, que inclui as plantas, com aproxi- nomenclatura padrão internacional, para facilitar a
madamente 250 mil espécies descritas. comunicação de diversos profissionais, como médicos,
§ Reino dos Animais, que inclui os animais inverte- zoólogos, botânicos e todos aqueles que estudam os
brados (com cerca de 992 mil espécies descritas, sen- seres vivos.
do que, dessas, cerca de 880 mil são artrópodes) e
vertebrados (cerca de 44 mil espécies descritas).
57
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Para que a linguagem científica se tornasse universal, criou-se um método para nomear as espécies. Baseado nos princí-
pios da linguagem e da escrita, foi escolhida uma língua morta, o latim, ou seja, uma língua que não possui mais falantes
nativos. Línguas vivas estão sujeitas a constantes transformações em suas estruturas gramaticais, o que acarretaria em
alterações dos nomes científicos. O latim é uma velha língua indo-europeia do ramo itálico, originalmente falada no
Lácio, região próxima à cidade de Roma. Foi largamente difundida, principalmente na Europa Ocidental, como a língua
oficial da República Romana, do Império Romano e, posteriormente, da Igreja Católica Romana.
VIVENCIANDO
A taxonomia auxilia os cientistas na classificação das espécies, pois utiliza uma nomenclatura universal. Uma espécie
possui o mesmo nome em qualquer lugar do mundo. Dessa forma, uma espécie não pode ser classificada mais de
uma vez. Quando um pesquisador no Brasil lê um artigo de um laboratório da Inglaterra e deseja replicar os expe-
rimentos, ele precisa saber, para obter as mesmas condições experimentais, qual espécie de animal ou vegetal foi
usada. Nesse contexto, a classificação dos seres vivos é extremamente importante.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
58
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização ta-
xonômica dos seres vivos.
Neste exercício, a habilidade exigida é o conhecimento de duas diferentes classificações taxonômicas dos seres vivos.
Com isso, é fundamental conhecer o sistema de classificação de Lineu e o sistema filogenético para responder à questão.
MODELO 1
(Enem) A classificação biológica proposta por Whittaker permite distinguir cinco grandes linhas evolutivas utili-
zando, como critérios de classificação, a organização celular e o modo de nutrição. Woese e seus colaboradores,
com base na comparação das sequências que codificam o RNA ribossômico dos seres vivos, estabeleceram
relações de ancestralidade entre os grupos e concluíram que os procariontes do reino Monera não eram um
grupo coeso do ponto de vista evolutivo.
Whittaker (1969) Cinco reinos Woese (1990)Três domínios
Archaea
Monera
Eubacteria
Protista
Fungi
Eukarya
Plantae
Animalia
As diferenças básicas nas classificações citadas é que a mais recente se baseia fundamentalmente em:
a) Tipos de células.
b) Aspectos ecológicos.
c) Relações filogenéticas.
d) Propriedades fisiológicas.
e) Características morfológicas.
ANÁLISE EXPOSITIVA
Entender que os seres vivos podem ser classificados de acordo com aspectos morfológicos, fisiológicos e evolutivos
é de grande importância para o início do entendimento da diversidade biológica. Saber que existem seres vivos com
características semelhantes e saber agrupá-los é essencial para o início dos estudos de seres vivos. Do ponto de vista
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
evolutivo, a classificação filogenética é aquela que leva em consideração a ancestralidade entre os grupos de seres
vivos, demonstrando quais são os táxons que são mais proximamente relacionados entre si. A classificação propos-
ta por Woese leva em consideração aspectos filogenéticos, representando assim uma classificação mais coesa. O
cladograma abaixo demonstra a representação filogenética desses grupos.
Bacteria Archaea Eukarya
RESPOSTA Alternativa C
59
DIAGRAMA DE IDEIAS
TAXONOMIA E REINOS
3 DOMÍNIOS 5 REINOS
• BACTÉRIA • MONERA
• ARCHAEA • PROTOCTISTA
• EUKARYA • FUNGI
• PLANTAE (METAPHYTA)
• ANIMALIA (METAZOA)
LATIM
60
Capsídeo: Proteínas virais específicas
VÍRUS
DNA viral
H (Hemaglutina)
N (Neuraminidase)
Vírus da Influenza a
(Vírus envelopado)
3E4
que pode infectar organismos vivos
2. A estrutura do vírus
Os vírus medem entre 0,03 µm e 0,3 µm (cerca de dez a cem
vezes menor do que as bactérias) e são formados por uma Placa basal
cápsula proteica, o capsídeo, com diversas subunidades, os
capsômeros. Apresentam material genético que pode ser Esquema de um Bacteriófago.
constituído por DNA nos chamados desoxirribovírus, por RNA
nos ribovírus ou por ambos no caso dos citomegalovírus. O envelope é formado por duas camadas de lipídios,
O capsídeo, juntamente com o ácido nucleico que ele en- derivadas da membrana plasmática da célula hospedeira,
e por moléculas de proteínas virais, específicas para cada
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
3. Reprodução
virais específicas
61
considerados parasitas intracelulares obrigatórios, No ciclo lítico, o vírus invade a bactéria, que tem suas
o que significa que se reproduzem apenas pela invasão e funções normais interrompidas devido à presença do áci-
possessão do controle da maquinaria de autorreprodução do nucleico do vírus (DNA ou RNA). Ao mesmo tempo
celular. O termo vírus refere-se, geralmente, às partículas em que o vírus é replicado, ele comanda a síntese das
que infectam eucariontes, enquanto o termo bacteriófa- proteínas que irão compor o capsídeo. Os capsídeos or-
go, ou fago, descreve aqueles que infectam procariontes. ganizam-se e envolvem as moléculas de ácido nucleico,
Há ainda aqueles que infectam apenas fungos, denomina- produzindo, então, novos vírus. Ocorre, assim, a lise, ou
dos micófagos. seja, a célula infectada se rompe e os novos bacterió-
fagos são liberados. Os vírus que se reproduzem dessa
Os vírus carregam uma pequena quantidade de ácido nuclei-
maneira em organismos multicelulares causam sintomas
co (seja DNA, RNA ou os dois), sempre envolto pelo capsídeo. que aparecem imediatamente.
As proteínas que compõem o capsídeo são específicas para
cada tipo de vírus. São as moléculas de proteínas virais que No ciclo lisogênico, ao invadir a célula hospedeira, o
determinam qual tipo de célula o vírus pode infectar. vírus incorpora seu próprio DNA ao da célula infectada,
fazendo com que o DNA viral se torne parte do DNA da
Os vírus apresentam proteínas externas com encaixes es- célula invadida. Uma vez infectada, a célula continua com
pecíficos para as proteínas da superfície da célula que pode suas funções normais, como reprodução e ciclo celular. Ao
ser sua hospedeira. Após o encaixe entre ambas, a entrada realizar a divisão celular, o DNA da célula sofre duplica-
na célula pode ocorrer por meio de: ção, juntamente com o DNA do vírus que foi incorporado.
- fusão entre o envoltório viral e a membrana plasmática, Em seguida, os materiais genéticos são divididos igual-
seguida da liberação do material genético no interior da mente entre as células-filhas. Assim, uma vez infectada,
célula, como ocorre com o HIV; uma célula começará a transmitir o vírus sempre que se
multiplicar, e todas as novas células também estarão in-
- injeção do material genético viral na célula, deixando a
fectadas. Os sintomas causados por um vírus de ciclo li-
cápsula do lado de fora, como os bacteriófagos;
sogênico demoram para aparecer em um organismo mul-
- endocitose, como o Influenza. ticelular, e suas causas tendem a ser incuráveis. É o caso
Após invadir a célula, os bacteriófagos, que são vírus de da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – em
estrutura complexa, apresentam dois ciclos reprodutivos: o português: SIDA) e da herpes.
ciclo lítico e o lisogênico.
DNA O bacteriófago As vezes, um profago se solta
injeta DNA na do cromossomo bacteriano,
bactéria iniciando um ciclo lítico
Cromossomo
bacteriano
A bactéria se rompe
(lise), liberando DNA viral
novos vírus
Ciclo Lítico Ciclo Lisogênico
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
A bactéria se reproduz,
copiando o profago e
OU Prófago transmitindo às descendentes
Uma bactéria lisogênica pode transformar-se em não lisogênica e iniciar o ciclo lítico sob determinadas condições naturais
e artificiais, como radiações ultravioleta, raios-X ou determinados agentes químicos.
62
VIVENCIANDO
Atualmente, uma aplicação importante dos vírus ocorre na área de biotecnologia. O bacteriófago é um tipo específi-
co de vírus que infecta bactérias, utilizando-as como vetor para a transmissão de material genético para uma célula.
Esse processo está envolvido na produção de insulina in vitro por bactérias.
63
5.2.1. Principais viroses que atingem adequado a tempo. Há vacinas e são ministradas para os
os seres humanos animais.
1. Gripe: causa coriza, tosse, espirros, mal-estar, fraqueza, 6. Rubéola: a transmissão ocorre pelo contato direto
dores musculares e de garganta. É transmitida por gotí- com pessoas contaminadas ou por meio de gotículas de
culas de saliva suspensas no ar. A gripe é provocada pelo saliva. Causa febre, aumento dos linfonodos na região
vírus Influenza, da família dos ortomixovírus. Possui três do pescoço e manchas vermelhas espalhadas pelo corpo.
subtipos: A, B e C; sendo os subtipos A e B os mais fre- Também pode causar dor nas articulações, dor de cabeça
e conjuntivite. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério
quentes entre seres humanos.
da Saúde.
Dado que os vírus Influenza se modificam constantemen-
7. Sarampo: transmitida principalmente por gotículas de
te, não existem fármacos 100% eficazes a serem utiliza-
saliva de pessoas contaminadas, desencadeia, em um pri-
dos no tratamento da doença. De acordo com as reco-
meiro momento, febre, tosse, corrimento nasal, sensibilida-
mendações da Organização Mundial da Saúde (OMS),
de à luz e conjuntivite. Posteriormente, esses sintomas se
são desenvolvidas anualmente variadas vacinas contra os
acentuam e surgem manchas vermelhas pelo corpo. Apre-
tipos virais da gripe que ocorreram com maior frequência senta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde.
no ano anterior, protegendo as pessoas vacinadas com
eficácia considerável. As vacinas são recomendadas para 8. Varíola: é transmitida pelo uso de objetos contamina-
pessoas com 60 anos de idade ou mais, portadores de dos, pelo contato com secreções das feridas de pessoas
doenças crônicas ou imunocomprometidas e profissionais doentes e, o mais comum, por gotículas de saliva. Acre-
da saúde. Essas modificações, que ocorrem no material dita-se que, devido ao uso da vacina, foi erradicada do
mundo. Causa grandes e numerosas feridas pelo corpo,
genético, podem gerar vírus para os quais a população
além de febre, fadiga e dores. Pode levar à morte.
humana não apresenta anticorpos e que são mais trans-
missíveis. De acordo com a transmissão entre os países e a 9. Catapora: transmitida principalmente pela saliva ou
taxa de contaminação da doença, configuram pandemias contato com objetos contaminados. Causa pequenas e
como a da Gripe H1N1 que ocorreu em 2009. numerosas feridas espalhadas pelo corpo e que provocam
Além da vacinação, medidas de higiene pessoal simples bastante desconforto devido à coceira excessiva. Pode
também atuam na prevenção da doença, como lavar as causar febre e dor de cabeça. Apresenta vacina distribuída
mãos constantemente e cobrir a boca ao tossir ou espirrar. pelo Ministério da Saúde.
2. Hepatite: a contaminação por hepatite A ocorre por 10. Caxumba: semelhante à catapora, a caxumba pode
meio da ingestão de água e alimentos que contêm o vírus. ser transmitida pela saliva. Ela causa inflamação da paró-
Já as hepatites B e C podem ser contraídas através de tida e outras glândulas salivares, podendo se alastrar pelo
relações sexuais desprevenidas e do uso de objetos con- corpo e infectar testículos, ovários, pâncreas e cérebro.
taminados por sangue que contenham o vírus. Apesar de Causa febre e, em alguns casos, meningite. Apresenta va-
apresentar outros sintomas, o principal órgão afetado pela cina distribuída pelo Ministério da Saúde.
hepatite é o fígado. 11. Dengue: há quatro subtipos de vírus que, de modo
3. Herpes: suas formas de transmissão são o contato geral, causam os mesmos sintomas, como febre, dores
direto ou com objetos contaminados. Manifesta-se por de cabeça, dores nas juntas, dores nos olhos e manchas
avermelhadas pelo corpo. O agravante é que, depois de
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
64
13. Febre por zika vírus: pode ser assintomática ou apre- com alta letalidade, já existem casos de cura. Quanto mais
sentar febre, dores de cabeça, dores leves nas articulações, cedo se iniciar o tratamento, maiores as chances de um
erupções cutâneas, conjuntivite, entre outros. Ainda que os paciente sobreviver.
sintomas demorem a passar, casos graves são raros. A trans- É fundamental que os pacientes diagnosticados com a do-
missão também ocorre pela picada da fêmea do mosquito ença fiquem isolados, para evitar a proliferação. É impor-
Aedes aegypti. tante também desinfetar a casa com cloro e desfazer-se
O zika vírus vem sendo relacionado a casos de microcefalia de alguns objetos pessoais do paciente, uma vez que eles
em recém-nascidos, caracterizada pelo perímetro cefálico também podem conter o vírus. Atualmente, vacinas e me-
menor que o normal para a idade. Isso se deve a transmis- dicamentos estão em fase de testes e alguns têm demons-
são da mãe para o feto e as possíveis sequelas ainda estão trado resultados satisfatórios em primatas.
sendo estudadas.
16. AIDS: conhecida também por Síndrome da Imunode-
14. Febre amarela: apresenta dois ciclos: o urbano, ficiência Adquirida, é provocada pelo vírus da imunodefi-
entre humanos, e o silvestre, entre primatas não huma- ciência humana (HIV) e apresenta os subtipos 1 e 2. Pode
nos. O Aedes aegypti é o vetor no ciclo urbano, enquanto ser transmitida pelo contato com mucosas corporais, áreas
o mosquito do gênero Haemagogus é responsável pela
feridas do corpo de um indivíduo portador, esperma, se-
transmissão no ciclo silvestre. Causa febre, pele amarela-
creção vaginal, leite materno ou sangue contaminado pelo
da, desidratação e afeta o fígado, além de afetar outros
vírus. A principal via de transmissão é o contato sexual (ge-
órgãos e poder ser fatal. Apresenta vacina distribuída
nital, anal ou oral) e também pode ser transmitida para o
pelo Ministério da Saúde.
feto durante a gestação e pelo uso de objetos perfurocor-
tantes contaminados.
A fêmea do mosquito Aedes aegypti é hematófaga e, Como seu próprio nome indica, o vírus enfraquece o siste-
como vimos, responsável pela transmissão de diversas ma imunológico (responsável pela defesa do organismo)
doenças. Assim, a principal maneira de prevenção, co- atacando os glóbulos brancos e reduzindo sua quantidade.
mum a todas essas enfermidades, é por meio da elimi- Assim, o portador do vírus está sujeito a adoecer com mais
nação de criadouros do mosquito. facilidade, inclusive por aquelas doenças que não apresen-
tariam sintomas graves em pessoas com boa imunidade.
Após 2 a 4 semanas, surgem os primeiros sintomas que
15. Ebola: doença altamente letal – mata aproximadamen- começam com uma fraqueza geral e desenvolvem para fe-
te 90% das pessoas que a contraem. Entre 2013 e 2016, bre, manchas na pele (sarcoma de Kaposi), calafrios e gân-
alguns países africanos passaram por surtos dessa doença. glios nas axilas, virilhas e pescoço. Com avanço da doença,
Contraída pelo contato direto com pessoas e outros animais doenças oportunistas se manifestam, como tuberculose e
contaminados, sua infecção ocorre através dos fluidos corpo- pneumonia, o que pode levar a morte. Felizmente, hoje em
rais – como suor, sangue, sêmen, saliva, vômitos, fezes e uri- dia os portadores do vírus têm maior expectativa de vida
na – e pelo consumo de carnes de animais contaminados. As graças a terapia antirretroviral (TARV), oferecida gratuita-
crenças locais contribuem para o aumento de casos na África. mente pelo SUS. Ela é capaz de controlar a multiplicação
Um exemplo são os funerais tradicionais nos quais o corpo do vírus e, consequentemente, reduzir a destruição dos gló-
da pessoa morta é lavado, o que contribui para disseminação bulos brancos. Com isso, a AIDS deixou de ser encarada
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
do vírus. Outro fator é a destruição dos ecossistemas naturais como uma moléstia fatal para transformar-se em doença
que expõe as populações humanas a vírus que, anteriormen- crônica passível de controle.
te, ficavam apenas entre populações animais silvestres. Embora a medicação possa provocar efeitos colaterais,
Os principais sintomas são febre, dores de cabeça e ab- atualmente a maioria das pessoas contaminadas pode
dominais, náusea, conjuntivite e hemorragias internas e exercer suas atividades normalmente se utilizar o medica-
externas. Em casos graves da doença, é possível obser-
mento de forma contínua.
var o paciente com sangramentos pelo nariz, boca e até
É importante ressaltar que o compartilhamento de obje-
mesmo pelos olhos.
tos ou contato direto, como cumprimentar e abraçar, não
Por ainda não existir um tratamento específico, os médicos
transmitem a doença. A principal prevenção é o uso de
normalmente realizam uma terapia com o intuito de au-
camisinha em todas as relações sexuais, assim como uma
mentar as defesas do corpo, já que o sistema imune tam-
rotina de exames médicos com testes para ISTs. Além dis-
bém é afetado pelo vírus. Além disso, são fornecidos soro
so, materiais cirúrgicos nunca devem ser compartilhados.
intravenoso, para evitar a desidratação, e medicamentos
que reduzem a dor e a febre. Apesar de ser uma doença
65
5.3. Vírus HIV Para que o genoma viral consiga invadir as células hospedei-
ras, ele apresenta três importantes fases de leitura e infecção
O HIV (vírus da imunodeficiência adquirida) pertence a uma celular determinadas pelos seguintes genes estruturais:
família de retrovírus de mamíferos (lentivírus) que causam
infecções crônicas persistentes no hospedeiro. O HIV, dife- § Gag – codifica uma poliproteína, necessária para que
rentemente do herpes vírus, multiplica-se constantemente haja a liberação de proteínas virais estruturais;
no hospedeiro, apesar de algumas células apresentarem § Pol – superpõe a gag, codificando três atividades enzi-
vírus em estado latente. Os seres humanos e os primatas máticas: DNA-polimerase ou transcriptase reversa, pro-
são os únicos hospedeiros naturais do vírus HIV. tease e uma integrase, todas necessárias ao processo
Existem duas grandes famílias de vírus HIV: o HIV-1, que de invasão celular do vírus à célula hospedeira; e
causa infecções em primatas não humanos, os símios, en-
§ Env – codifica a proteína transmembrana do envelope
contrados na África ocidental; e o HIV-2, que se subdivide
responsável pela fixação da entrada do vírus na célula.
em, pelo menos, cinco grandes subfamílias e causa a infec-
ção na população humana pelo mundo. Todos os tratamentos são associados à supressão da repli-
cação do vírus e à repleção das células CD4 periféricas. De
O HIV tem como alvo celular os linfócitos T-CD4, responsáveis acordo com o Department of health and human services,
pela proteção do organismo contra agentes infecciosos. Ele 2010, nas diretrizes para o início de tratamento nos EUA, de-
utiliza essas células e todo o maquinário celular para repro- vemos encontrar valores de CD4 menores que 350 cel/mm3.
duzir-se, causando a destruição do sistema imunológico do
hospedeiro, o que o torna suscetível a qualquer infecção opor- O tratamento das gestantes é fundamental para que não
tunista, como uma simples gripe, que pode levá-lo à morte. ocorra a contaminação cruzada na hora do parto. Duran-
te a gestação, o bebê está protegido da contaminação
pelo HIV por causa da placenta, mas, no momento do
nascimento, o neonatal corre riscos de contaminação de-
Envelope RNA
vido ao contato com o sangue da mãe.
lipídico
Diversos estudos indicam a baixa probabilidade de erradi-
cação do vírus do organismo contaminado pelo uso de co-
quetéis antirretrovirais, pois, de alguma maneira não eluci-
dada, o material genético integrado à célula hospedeira se
encontra quiescente em células T e, a qualquer momento,
poderá ser ativado, caso seja suspenso o uso do coquetel.
Além dos tratamentos para os infectados, há dois tipos de
Capsídeo Transcriptase
reversa
medicamentos antirretrovirais, disponibilizados gratuitamen-
te pelo SUS: o PEP - Profilaxia Pós-Exposição para pessoas
que tiveram um possível ou confirmado contato com o vírus
- e o PrEP - Profilaxia Pré-Exposição para uso preventivo de
Esquema do vírus HIV.
Esquema do vírus HIV. populações vulneráveis a contaminação pelo vírus.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
No contexto histórico, como na Revolta da Vacina de 1904, aplicam-se os conhecimentos sobre doenças virais, uma
vez que a febre amarela e a varíola faziam parte dessa “campanha de vacinação”. A campanha de vacinação foi
obrigatória, e, embora seu objetivo fosse positivo, ela foi realizada de forma violenta e autoritária. Em vários casos,
os agentes sanitários invadiam as casas para vacinar as pessoas à força, o que provocou a revolta. Essa rejeição em
ser vacinado ocorria porque grande parte da população não compreendia o que era a vacina e temia seus efeitos.
66
RESUMO DAS VIROSES
Doença Transmissão
Catapora Contato da pele com as bolhas ou pelo ar que con-
(varicela) tenha o vírus Varicela zoster.
Caxumba (paro- Por gotículas de saliva expelidas pelo doente que
tidite infecciosa) contenham o Paramyxovírus sp.
Vertical (placentária), amamentação materna, sexual,
multimídia: vídeo Citomegalia
de pessoa para pessoa e por transfusão sanguínea.
Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou
Fonte: Youtube Dengue
Aedes albopictus.
Por que pra algumas pessoas o vírus Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou Aedes
é leve? | Coronavírus #37 Dengue albopictus (tigre asiático). Ocorre quando um indivíduo
hemorrágica que teve um tipo de vírus da dengue recebe outro vírus
diferente, também da dengue.
Na literatura médica existem controvérsias ao conside- Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti e Ae-
Febre
rar a AIDS uma doença crônica, devido a sua comple- des albopictus, os mesmos que transmitem o vírus da
chikungunya
dengue e da febre amarela.
xidade, aos riscos envolvidos, à alta taxa de mutação
O Aedes aegypti infecta-se com o Zika vírus toda vez que
e à adesão ao tratamento pelos pacientes, o que pode ele pica uma pessoa ou macaco previamente infectado.
originar novas gerações virais resistentes aos métodos Assim como ocorre na dengue e na febre amarela, o
terapêuticos existentes. mosquito não torna-se imediatamente um transmissor do
Febre por
vírus. Depois de ser contraído pelo mosquito, o Zika vírus
Zika vírus
ainda precisa de cerca de 10 dias para multiplicar-se e
5.4. Imunização migrar do sistema digestivo para as glândulas salivares
do Aedes. Só a partir desse momento é que o mosquito
passa a ser capaz de transmitir o vírus durante a picada.
Uma das opções para a prevenção de algumas dessas doen-
Febre aftosa Via respiratória, inalando o Aphthovirus sp.
ças viróticas é a vacinação, processo de imunização ativa
Febre amarela Picada da fêmea dos mosquitos Haemagogus sp. ou
que consiste na inoculação de antígenos mortos ou enfraque- silvestre Sabethes sp. contendo o Flavivirus sp.
cidos que estimulam a produção de anticorpos no organismo.
Febre amarela Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou
Essa primeira produção de anticorpos – imunização primária urbana Aedes albopictus contendo o Flavivirus sp.
– é lenta e pequena. O segundo encontro com o antígeno de- Febre hemor- Por meio de secreções corpóreas e sangue contami-
sencadeará a imunização secundária, que é rápida e produz rágica do ebola nado pelo Filovirus sp.
grande quantidade de anticorpos. Quando o vírus possui uma Gripe Contato com o ar contaminado pelo Mixovirus influenzae.
taxa de mutação muito alta, como é o caso da gripe, o processo Hantavirose
Via respiratória, água e alimentos contendo o Han-
tavirus sp.
é menos eficaz, pois o antígeno sofre muitas alterações.
Hepatite Contato pessoa a pessoa; oral-fecal, transfusão sanguínea.
Contato íntimo com indivíduo transmissor, a partir de
Herpes superfície mucosa ou de lesão infectante contendo, por
exemplo, o Herpes simplex.
Contato íntimo de secreções orais (saliva) contendo o
Mononucleose
vírus Epstein-Barr, da família Herpesviridae.
Papiloma Vertical (placentária); ato sexual; o agente etiológico
(condiloma) é o HPV.
Poliomielite
Contato direto com secreções faríngeas de doentes.
(paralisia infantil)
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
o processo de vacinação e a quantidade de anticorpos produzidos pelo organismo. Hidrofobia (raiva) Por meio da saliva de animais doentes.
Contato com o ar contaminado pelos vírus sincicial
O processo de imunização passiva, denominado sorolo- Resfriado
respiratório, parainfluenza ou rinovírus.
gia, consiste na inoculação de anticorpos prontos para Por meio de gotículas de muco e saliva ou pelo con-
Rubéola
inativarem os antígenos estranhos que estão atuando no tato direto com as secreções do nariz.
organismo. É normalmente utilizado contra antígenos mui- Sarampo
Por meio de gotículas de muco e saliva ou pelo con-
to agressivos e que se manifestam muito rápido. Exige que tato direto com as secreções do nariz.
67
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização ta-
xonômica dos seres vivos.
A compreensão de assuntos correspondentes à saúde pública e a doenças comuns no território brasileiro é co-
mumente cobrado no Enem. Entender como o ambiente molda esses processos biológicos associando isso ao
aumento no número de casos ao longo dos anos é fundamental para a resolução da questão.
MODELO 1
(Enem) A partir do primeiro semestre de 2000, a ocorrência de casos humanos de febre amarela silvestre
extrapolou as áreas endêmicas, com registro de casos em São Paulo e na Bahia, onde os últimos casos tinham
ocorrido em 1953 e 1948. Para controlar a febre amarela silvestre e prevenir o risco de uma reurbanização da
doença, foram propostas as seguintes ações:
I. Exterminar os animais que servem de reservatório do vírus causador da doença.
II. Combater a proliferação do mosquito transmissor.
III. Intensificar a vacinação nas áreas onde a febre é endêmica e em suas regiões limítrofes.
É efetiva e possível de ser implementada uma estratégia envolvendo a(s) ação(ões)
a) II, Apenas.
b) I e II apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II, III.
ANÁLISE EXPOSITIVA
O vírus da febre amarela possui um agente transmissor, o mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus
em regiões urbanas. Impedir a reprodução do mosquito é uma das estratégias mais eficazes no com-
bate a essa transmissão, pois diminui a população do agente transmissor. Além disso, já está disponível
uma vacina contra o vírus, sendo eficaz no sentido de combater o vírus no organismo, além de impedir
a infecção dos mosquitos transmissores.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
RESPOSTA Alternativa D
68
DIAGRAMA DE IDEIAS
VÍRUS
DESOXIRRIBOVÍRUS
MATERIAL GENÉTICO DNA
69
todos os restantes também não existiriam, pois os ciclos
dos químicos essenciais para a vida (como o ciclo do nitro-
gênio ou do carbono) seriam interrompidos. Na situação
inversa, os procariontes continuariam sozinhos, como ocor-
reu durante mais de 2 bilhões de anos.
CN
celular. Abaixo, existe uma membrana citoplasmática que
AULAS delimita um único compartimento contendo DNA, RNA,
5E6 proteínas e pequenas moléculas.
Na microscopia eletrônica, o interior celular aparece com
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
uma matriz de textura variada, sem, no entanto, conter es-
4e8 16 e 29
truturas internas organizadas. O único organoide são os ri-
bossomos, que, espalhados no interior da célula, conferem
essa textura granular.
70
1.2. A célula bacteriana: bacteriana evidenciando um plasmídeo.
morfologia e estrutura Cromossomo
bacteriano
Bactéria
Plasmídeo
cocos
isolados
Estreptococos
Vibrião
Estafilococos
Espirilo Bacilos
Plasmídeo bacteriano
Plasmídeo bacteriano
Formas de Bactérias
Formas de bactérias 1.2.3. Mesossomo
Os cocos são células esféricas que, quando agrupadas aos Esse termo se refere a invaginações da membrana celular,
pares, recebem o nome de diplococos; quando o agrupamen- que podem ser simples dobras ou estruturas tubulares ou
to constitui uma cadeia de cocos, estes são denominados vesiculares. Diversas funções têm sido atribuídas aos me-
estreptococos; em grupos irregulares, lembrando cachos de sossomos, como papel na divisão celular e na respiração.
uva, recebem a designação de estafilococos.
Os bacilos são células cilíndricas, em forma de bastonetes, 1.2.4. Parede celular: Gram-negativas e
em geral se apresentam como células isoladas, porém, oca- Gram- positivas
sionalmente, podem-se observar bacilos aos pares (diplobaci- De acordo com a constituição da parede celular, as bacté-
los) ou em cadeias (estreptobacilos). rias podem ser divididas em dois grandes grupos:
Os espirilos são células espiraladas e, geralmente, apresen- § Gram-negativas: apresentam-se de cor avermelhada
tam-se como células isoladas, assim como os vibriões, que quando coradas pelo método de Gram.
são células no formato de um bastão encurvado.
§ Gram-positivas: apresentam-se de cor roxa quando
coradas pelo método de Gram.
1.2.1. Cromossomo A parede das Gram-positivas é formada por uma só camada,
As bactérias apresentam um cromossomo circular, que enquanto a das Gram-negativas é formada por duas cama-
é constituído por uma única molécula de DNA circular, das. Entretanto, os dois tipos de parede apresentam uma
também chamado de corpo cromatínico e que não apre- camada em comum, situada externamente à membrana
senta proteínas associadas. É possível observar mais de citoplasmática, que é denominada camada basal e compos-
um cromossomo numa bactéria em fase de crescimento, ta de peptídeoglicano, em especial a mureína. A segunda
uma vez que a divisão do cromossomo precede a divi- camada, presente somente na células das Gram-negativas,
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
1.2.2. Plasmídeo
Peptidoglicana
1.2.5. Cápsula
Diversas bactérias apresentam externamente à parede
celular uma camada viscosa denominada cápsula. As cáp-
sulas são geralmente de natureza polissacarídica, apesar
de existirem cápsulas constituídas de proteínas. A cápsula
constitui um dos antígenos de superfície das bactérias e Ultraestrutura de uma cianobactéri
relaciona-se com a virulência da bactéria, uma vez que a
Nas quimiossintetizantes, ocorre uma reação química es-
cápsula confere resistência à fagocitose.
pecífica que libera energia formando ATP e, em seguida,
transfere-se para a formação de carboidratos, como a
1.2.6. Esporos glicose. Entre as quimiossintetizantes, é possível citar as
Quando os nutrientes bacterianos se tornam escassos, geral- nitrobactérias e nitrosomonas, que são comuns no solo e
mente pela falta de fontes de carbono e nitrogênio, algumas participam da reciclagem do nitrogênio do planeta.
bactérias iniciam o processo de esporulação. A célula reduz
As bactérias heterótrofas realizam digestão extracorpó-
sua atividade metabólica e o endosporo é formado no interior
rea ao exocitarem enzimas digestistas. Quando se nu-
dela. Ele é altamente resistente ao calor, à dessecação e a
trem de matéria orgânica morta, são conhecidas por de-
outros agentes físicos e químicos, podendo permanecer em
compositoras ou sapróvoras, e, se utilizam matéria viva,
estado latente por longos períodos e depois germinar, dando
são parasitas.
início a uma nova célula vegetativa. Na figura a seguir, é possí-
vel observar o processo de formação de esporos em bactérias. Tanto nas autótrofas quanto nas heterótrofas, a energia
armazenada nos carboidratos poderá ser utilizada no
metabolismo bacteriano para síntese (construção) ou de-
gradação de substâncias necessárias à manutenção ou
reprodução desses organismos.
A degradação de carboidratos pode ocorrer de forma
aeróbia (com a participação do oxigênio) ou anaeróbia
(sem a participação do oxigênio – respiração anaeróbica
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
72
1.4. Reprodução das bactérias § Transformação: a bactéria absorve moléculas de DNA
dispersas no meio, provenientes de outras bactérias
A divisão binária, bipartição ou cissiparidade é a re- mortas.
produção assexuada mais comum nas bactérias. Elas não
possuem reprodução sexuada; entretanto, podem realizar § Transdução: as moléculas de DNA são transferidas
recombinações genéticas, ou seja, mistura de genes entre entre as bactérias através de vírus (bacteriófagos), que
diferentes indivíduos. Em certos casos, apenas uma bacté- são usados como vetores (transmissores). Os vírus, ao se
ria recebe o material genético (a receptora) da outra (do- montarem dentro das bactérias, podem eventualmente
adora). incluir pedaços de DNA da bactéria que lhes serviu de
hospedeira. Ao infectar outra bactéria, o vírus que leva o
DNA bacteriano o transfere junto com o seu. Se a bac-
téria sobreviver à infecção viral, pode passar a incluir os
genes de outra bactéria em seu genoma.
§ Conjugação: o DNA é transmitido diretamente da
BIPARTIÇÃO CONJUGAÇÃO bactéria macho para a bactéria fêmea através de mi-
Formas de reprodução bacteriana croscópicos REPRODUÇÃO
tubos proteicos, BACTÉRIAS pili, que as
chamados
SEXUADA DE
Formas de reprodução bacteriana
bactérias “macho” possuem em sua superfície.
As bactérias multiplicam-se rapidamente, por bipartição
assexuada, constituindo conjuntos de clones que são de-
TRANSFORMAÇÃO doador do CONJUGAÇÃO
nominados colônias. plasmídeo
1 A célula se alonga e
o DNA é replicado.
plasmídeo
transferência
de DNA livre gene de resistência
da bactéria
bactéria morta
gene de resistência transferência
DNA (nucleoide) da bactéria do plasmídeo
A parede celular e a
2 membrana plasmática
começam a se dividir. Vírus
Transferência de genes
de resistência pelo bacteriógrafo
bastérias
bactérias recebendo
os genes de resistência
Essa grande capacidade reprodutora faz das bactérias um 1.5. Importância das bactérias
excelente material biológico para a investigação genética, As bactérias, assim como os fungos, são os principais decom-
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pois um elevado número de gerações surgidas em pouco positores dos ecossistemas e possibilitam a reciclagem da ma-
tempo possibilita alterações importantes no fundo genéti- téria. Elas decompõem a matéria orgânica sem vida e liberam
co dessas populações. os resíduos dessa degradação para o solo ou a água. Esses
Na reprodução sexuada, ocorre a transferência de segmen- resíduos correspondem à matéria inorgânica que funciona
tos de DNA de uma célula doadora (macho) para uma cé- como nutrientes para os produtores do ecossistema, como
lula receptora (fêmea). algas e plantas.
Depois da transferência, ocorre a recombinação entre Outro ponto a ser destacado é a participação essencial
o DNA recebido e o cromossomo bacteriano, originan- de bactérias na ciclagem do nitrogênio, essencial para os
produtores construírem aminoácidos e ácidos nucleicos. As
do novas combinações de genes, que serão passadas às
bactérias são responsáveis por retirar o nitrogênio do ar at-
bactérias-filhas.
mosférico e permitir que seja fixado no solo (as bactérias
A passagem de segmentos de DNA entre bactérias pode do gênero Rhizobium são fixadoras de nitrogênio) na forma
ocorrer de modos diversos: de nitratos. As cianobactérias fazem esse papel, também,
73
nos ecossistemas aquáticos. Nesse papel de decomposição, As bactérias são capazes de utilizar os plasmídios, incorpo-
pode-se destacar a possível competição estabelecida há mi- rá-los no seu genoma e gerar maior variabilidade, criando
lhões de anos entre fungos e bactérias. É conhecido o fato novas proteínas capazes de inativar substâncias estranhas,
de certos fungos desenvolverem substâncias que impedem como os antibióticos. Assim, são necessárias elaborações
o crescimento de bactérias. Lembre-se de que o primeiro periódicas de novos antibióticos, uma vez que a humani-
antibiótico conhecido pelo homem foi a penicilina extraída dade tem selecionado linhagens resistentes de bactérias.
de um fungo do gênero Penicillium.
Cada vez mais, as bactérias são utilizadas em tecnologia des-
Nesse sentido, a resistência de linhagens de bactérias a di- tinada à humanidade. Há tempos, elas são aplicadas na for-
versas substâncias derivadas de fungos é antiga. Essa com- mação de antibióticos e vitaminas, na produção de laticínios,
petição evolutiva talvez se assemelhe a de um predador na produção de vinagre, etc. Atualmente, são empregadas
que, ao longo das gerações, apresenta mecanismos e estra- na decomposição de lixo orgânico e produção de metano
tégias para tornar sua caçada mais eficaz; paralelamente, (combustível), na degradação de petróleo derramado no mar
a população de presas desenvolve estratégias de fuga ou e na engenharia genética, processo no qual as bactérias re-
camuflagem cada vez mais sofisticadas. cebem pedaços de DNA humano e são induzidas a produzir
proteínas humanas, como a insulina, por exemplo.
VIVENCIANDO
“Para começar, quanto à nossa alimentação, as bactérias são amplamente utilizadas para a fabricação de iogurtes, por
exemplo. Você certamente já ouviu falar em lactobacilos vivos, que estão presentes num produto de marca famosa. Mas
de que modo as bactérias atuam no iogurte? Bem, elas transformam o açúcar contido no leite (lactose) em ácido láctico.
Desse modo, o leite torna-se azedo, mudando assim o seu pH. Isso faz com que a proteína do leite se precipite, formando
o 'coalho'. Mas, em matéria de alimentação, além das bactérias que atuam no leite, há também aquelas que modificam
o álcool etílico em ácido acético, formando o vinagre, que tempera saladas e diversos pratos.”
(https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/bacterias-1-conheca-a-importancia-e-as-varias-utilidades-das-bacterias.htm)
2. Bactérias patogênicas garganta e cavidades nasais. Pode causar dor, febre e difi-
culdades de falar e engolir. Há vacinas para essa doença.
As bactérias patogênicas são causadoras de doenças e os
4.Disenterias bacilares: causadas por diversas bactérias,
medicamentos utilizados no combate a elas são os antibi-
como a Shigella e Salmonella. Essas bactérias são transmitidas
óticos; no entanto, seu uso não deve ser indiscrimina do –
sem receita médica ou por períodos de tempo incorreto –, pela ingestão de alimentos e água contaminados. A desidrata-
uma vez que pode favorecer o surgimento de linhagens de ção, causada pela diarreia, pode causar quadros mais graves,
bactérias resistentes, dificultando a cura de várias infecções. caso não seja tratada. Saneamento básico e hábitos de higiene
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A seguir, serão abordadas as principais doenças humanas constituem as medidas práticas para evitar o contágio.
causadas por bactérias: 5.Febre maculosa: a Rickettsia rickettsii, parasita do carra-
1.Cólera: causada pela Vibrio cholerae, é transmitida via pato-estrela, causa esse mal. Causa febre alta, vômito, dores
água ou alimentos contaminados, crus ou malcozidos; a bac- musculares e de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo. A do-
téria se aloja na parede intestinal e se multiplica, provocando ença pode levar à morte. Evitar caminhar em locais onde há in-
diarreia aguda. festação desses carrapatos ou, caso seja inviável, utilizar roupas
adequadas, como mangas longas, calça e bota, além de tratar
2.Coqueluche: causada pela Bordetella pertussis, causa fe-
os animais domésticos, são maneiras de se evitar essa doença.
bre, coriza, tosse seca e, em alguns casos, vômito. O contágio
é pelo contato com uma pessoa contaminada e há vacina e 6.Febre tifoide: causada pela Salmonella thypi, provoca úlce-
tratamento disponíveis. ras intestinais, diarreia, cólica e febre e pode ser prevenida pelo
3.Difteria: causada pela Corynebacterium diphteriae, é uso de vacinas e condições de saneamento básico satisfatórias.
transmitida pela inalação de gotículas oriundas do nariz e 7.Gonorreia: causada pela Neisseria gonorrhoeae, é uma IST
da boca de pessoas doentes. Libera toxinas que afetam a que provoca feridas genitais, com sangramento, podendo
74
causar infertilidade. O contágio é feito por meio de sexo des- 11. Pneumonia bacteriana: causada pela Streptococcus
protegido e por transmissão da mãe para o feto no momento pneumoniae. A inalação pelo ar é a forma de se contrair
do parto. essa doença, que causa infecção pulmonar. O tratamento
8.Hanseníase: é transmitida pelo bacilo de Hansen (My- dos doentes é a principal medida preventiva.
cobacterium leprae) através da pele e do trato respiratório. 12. Sífilis: provocada pela Treponema pallidum, essa IST
Provoca lesões na pele, mucosas e nervos, deixando essas pode ser transmitida por via congênita. Causa inflamação
regiões menos sensíveis. na pele e nos ossos, apresentando ao redor dos órgãos
9. Leptospirose: causada pela Leptospira interrogans. Ra- sexuais uma ferida indolor, de bordas endurecidas. Pode
tos e cães podem portar a bactéria e, dessa forma, alimentos causar, em casos mais graves, doenças respiratórias e pa-
e objetos que entraram em contato com a urina desses ani- ralisias. O tratamento dos doentes e o uso de preservativo
mais podem transmitir a doença ao ser humano. Os princi- são as formas de se evitar o contágio.
pais sintomas são febre alta, dores musculares e de cabeça, 13. Tracoma: causada pela Chlamydia trachomatis, é uma in-
náusea, vômitos, lesões na pele, inflamação e aumento do flamação da córnea e conjuntiva que provoca fotofobia, dor e
fígado e hemorragia digestiva. Prevenção de enchentes e tra- lacrimejamento. Pode causar cegueira, caso não seja tratada de
tamento do lixo e da água são maneiras de evitar a doença. forma apropriada. É transmitida pelo contato direto com olhos,
10. Meningite meningocócica: Neisseria meningitidis nariz e secreções do doente ou por objetos contaminados.
é a bactéria responsável pela meningite, caracterizada por 14. Tuberculose: causada pelo bacilo de Koch (Mycobac-
dor de cabeça intensa, febre, rigidez da nuca e vômito – terium tuberculosis), é transmitida pela inalação de gotículas
sintomas decorrentes da infecção das meninges. É transmitida espalhadas pelo ar. Essa doença atinge os pulmões e provoca
pela saliva e outras secreções da pessoa contaminada. Há infecções que podem se espalhar pelo corpo via sangue e linfa.
vacinas contra a meningite. Há vacinas para evitá-la e essa é a principal medida preventiva.
Lyrre (doença de Lyme) Adesão de carrapatos à pele e sucção de sangue. Bonnelia bungdorferi
Meningite meningocócica Por via respiratória, quando o doente fala, tosse, espirra ou pelo beijo. Neisseria meningitidis
Peste Picada de pulgas infectadas; pessoa a pessoa. Yersinia pestis
Diplococcus pneumoniae, micoplas-
Pneumonia Por via respiratória; contato pessoa a pessoa; infecção hospitalar.
mas, clamídias, legionelas etc.
Psitacose Por via respiratória: contato pessoa a pessoa. Chlamydia psittaci
Shigelose (disenteria) Ingestão de água ou de alimentos contaminados. Shigella sp
Sífilis Contato sexual; transfusão de sangue; via vertical (placentária). Treponema pallidum
Tetano Penetração dos esporos através de ferimentos perfurantes. Clostridium tetani
Tuberculose Por via respiratória (inalando o bacilo). Mycobacterium tuberculosis
Uretrite Ato sexual. Chlamydia trachomatis
Febre maculosa Contato com o carrapato-estrela infectado Rickettsia rickettsii
75
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Na interação parasita-hospedeiro, são utilizados conceitos de imunologia que mostram a ação do organismo frente a um
agente patogênico. Primeiramente, o patógeno é metabolizado pela imunidade inata, a qual apresenta esse patógeno,
que pode ser uma bactéria, para a imunidade adquirida que produz células de memória e anticorpos específicos para
cada microrganismo. Assim, quando o indivíduo entra em contato novamente com o agente patogênico, a reação de
eliminação do microrganismo é mais rápida e eficiente.
76
4. Cianobactérias seres humanos. As mais prejudiciais para os seres humanos
são as hepatotoxinas e as neurotoxinas. O problema é
A maioria das bactérias fotossintéticas são designadas cia- que muitas dessas toxinas não podem ser eliminadas pelo
nobactérias, e, durante muito tempo, foram chamadas de processo de fervura da água ou por métodos tradicionais usa-
algas azuis. Esse grupo de bactérias colonizou meios muito dos em estações de tratamento de água. Elas também podem
diversificados, devido à sua elevada autossuficiência, embora alterar o gosto e o odor da água, tornando-os desagradáveis.
a maioria seja de água doce. Apresentam pequena exigência
de nutrientes, proliferando em qualquer ambiente onde haja
gás carbônico, nitrogênio, água, alguns minerais e luz. 5. Micoplasma
Esse tipo de bactéria teria surgido na Terra há cerca de 3 É o nome dado às bactérias do gênero Mycoplasma. Pos-
bilhões de anos, como definir os estromatólitos encontra- suem cerca de 0,3 μm, sendo menores que outras bacté-
dos na Austrália, que se calcula serem já fotossintéticos, rias. Os microbiologistas ainda discutem se as bactérias
embora talvez não liberassem ainda oxigênio. evoluíram de um ancestral similar aos micoplasmas ou se
pertencem a linhagens diferentes. Também se discute pro-
As cianobactérias dominaram completamente a evolução bio-
ximidade entre os micoplasmas e os vírus.
lógica durante mais de 2 bilhões de anos, atingindo enorme
sucesso. Provavelmente, teriam sido as responsáveis pela reins- A diferença principal entre as bactérias e os micoplasmas é
talação e proliferação de formas de vida heterotróficas nos oce- que a primeira possui uma parede celular sólida, e, por esse
anos primitivos, pois teriam sido importantes fontes de alimento. motivo, uma forma definida facilitando sua identificação
ao microscópio, ao passo que os micoplasmas possuem
Em geral, as cianobactérias têm vida livre, mas podem estabe-
apenas uma membrana flexível, que, somada ao tamanho,
lecer simbiose com outros organismos ou formar colônias fila-
dificulta sua identificação, mesmo quando observados no
mentosas, por vezes envolvidas por uma cápsula mucilaginosa.
mais potente dos microscópios eletrônicos.
As cianobactérias são maiores que os outros procariontes,
Os primeiros micoplasmas foram detectados em 1898 no
não apresentam órgãos locomotores e realizam fotossín-
Instituto Pasteur, em tecidos de gado com artrite e pleuro-
tese com o auxílio de pigmentos fotossintéticos variados,
-pneumonia. O primeiro micoplasma humano foi isolado em
como a clorofila A, os carotenoides (pigmentos ama-
1932, num abscesso. Desde então, descobriram-se muitas
relos), a ficocianina (pigmento azul) e a ficoeritrina
estirpes diferentes, que são fundamentalmente específicas
(pigmento vermelho). Esse fator as diferencia das outras
da espécie hospedeira, ou pelo menos de grupos específicos
bactérias fotossintetizantes que não apresentam essa
de animais, como felinos, aves, roedores e homem. Desco-
abundância de pigmentos. Um dos produtos resultantes
briu-se, também, que, ao contrário das bactérias, que são
da fotossíntese, o oxigênio molecular, é um dos fatores
afetadas por penicilina – um tipo de antibiótico –, os mi-
que mais condiciona a vida das bactérias.
coplasmas são controláveis por antibióticos com tetraciclina.
Algumas cianobactérias são capazes de fixar o nitrogênio Foram descobertas linhagens que exibiam crescimento com
do ar atmosférico, aproveitando esse gás para construir micélios, semelhante ao dos fungos, o que levou ao surgi-
suas proteínas. mento da designação “micoplasma” (mico = fungo).
Os micoplasmas podem viver dentro de uma célula, sem
matá-la, à semelhança do que fazem alguns vírus e bacté-
rias, mas também podem viver e crescer fora delas, nos flui-
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77
possui uma parede celular protetora e bastante rígida. É pos- Célula
sível que o primeiro passo para surgimento da célula eucari- Estrutura Célula
eucariótica
ótica tenha sido a perda da capacidade de produzir a parede Membraba plasmática Presente Presente
celular. A célula, então, desprovida dessa parede, adquiriu Citosol Presente Presente
a capacidade de mudar de forma, crescer e envolver subs- Ribossomos Presente Presente
tâncias extracelulares através da invaginação da membrana Endomembranas Ausente Presente
plasmática, fenômeno conhecido por endocitose. Envoltório nuclear Ausente Presente
A invaginação da membrana plasmática desenvolve um con- Mitocôndria Ausente Presente
junto de endomembranas que se diferenciam no retículo en- Cloroplasto Ausente
Presente em
vegetais e algas
doplasmático, no sistema golgiense e no envoltório nuclear,
contornando o material genético (DNA). Desenvolve-se o cito- Cromossomo 1 por célula 2 ou mais por célula
esqueleto constituído por proteínas do tipo tubulina e actina,
DNA Circular Línear
dando maior sustentação à célula. Os ribossomos, inicialmente
livres, aderem-se às membranas do retículo endoplasmático,
constituindo o retículo endoplasmático granuloso (rugoso). 6.1. Teoria da endossimbiose
Células procarióticas primitivas são fagocitadas e evoluem A endossimbiose é um fenômeno comum entre os seres
para dar origem às mitocôndrias. Células procarióticas de cia- vivos. Um dos casos mais curiosos ocorre com os corais,
nobactérias, por meio da fagocitose, são englobadas, originan- celenterados que se associam a protistas unicelulares, as
do os cloroplastos. Material genético dessas bactérias (DNA) zooxantelas. Estas são dinoflagelados, com células douradas,
são também incorporados ao DNA da célula que está em evo- que realizam fotossíntese, produzindo alimento necessário
lução. Aí está formada, ao longo do tempo, uma célula euca- ao crescimento dos recifes de corais. Como as zooxantelas
riótica autotrófica. A evolução dessa célula eucariota primitiva realizam fotossíntese, elas precisam de luz, e, por isso, os
continua com o aparecimento da parede celular composta corais vivem em águas tropicais, limpas e a pequenas pro-
principalmente por celulose característica de vegetais. fundidades. Outro exemplo são as mitocôndrias, presentes
em células animais e vegetais, que se acredita que sejam
DNA bactérias fagocitadas no passado e que viveram em simbiose
com aquelas células, realizando respiração celular.
DNA
Célula procariótica Essa mesma relação simbiótica observa-se entre as células ve-
getais e as cianobactérias que, de acordo com a teoria da en-
Célula procariótica
dossimbiose, foram e transformaram-se em cloroplastos. As
provas que confirmam a teoria endossimbiótica da origem dos
cloroplastos e mitocôndrias são:
Invaginação da membrana celular e
eucariótica com a célula de DNA
envolvente formada
Invaginação da membrana celular e
§ Presença do DNA circular, típico de bactérias;
eucariótica com a célula de DNA
envolvente formada
DNA § Presença de ribossomos para a síntese de suas proteínas;
DNA
§ Capacidade de autoduplicação.
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Eucariótica primitiva
Eucariótica primitiva
Respiração oxigenada
com enzimas bacterianas
Respiração oxigenada
com enzimas bacterianas
Mitocôndria
endossimbiose
Mitocôndria
endossimbiose
Cianobactéria
Cianobactéria
Cloroplasto
Cloroplasto
endossimbiose
endossimbiose
78
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização
taxonômica dos seres vivos.
Esta questão envolve o entendimento da reprodução assexuada e como esse tipo de padrão biológico
pode proporcionar vantagens em ambientes desfavoráveis.
MODELO 1
(Enem)
ANÁLISE EXPOSITIVA
O tipo de reprodução representado na tirinha é a assexuada, que é rápida, simples e possui semelhança
genética entre as células geradoras e geradas. É comum pensar que, pelo aspecto evolutivo, esse tipo de re-
produção não é vantajoso, devido à ausência de variabilidade genética. No entanto, em algumas situações, a
reprodução assexuada pode ser uma grande vantagem. Por exemplo, em uma população com número reduzido
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de indivíduos, esse tipo de reprodução pode ser muito importante para garantir a não extinção, aumentando
rapidamente o número de indivíduos.
RESPOSTA Alternativa B
79
DIAGRAMA DE IDEIAS
REINO
MONERA
BACTÉRIAS CIANOBACTÉRIAS
• AERÓBIAS AUTÓTROFAS
• ANAERÓBIAS (FOTOSSINTETIZANTES)
ALCOÓLICA
FERMENTAÇÃO BACTERIOCLOROFILA
LÁCTICA
FOTOSSISTEMA SIMPLES
ALGUMAS FAZEM
QUIMIOSSÍNTESE
REPRODUÇÃO
ASSEXUADA
IMPORTÂNCIA (BIPARTIÇÃO)
DAS BACTÉRIAS SEXUADA
(CONJUGAÇÃO)
• DECOMPOSIÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA
• ANTIBIÓTICOS E VITAMINAS
• FIXAÇÃO DE N2
MORFOLOGIA
• BIOTECNOLOGIA
• COCOS ESTREPTOCOCOS
• BACILOS ESTAFILOCOCOS
• ESPIRILOS
DOENÇAS • VIBRIÃO
BACTERIANAS
• CÓLERA MORFOLOGIA
• COQUELUCHE
• DIFTERIA • CROMOSSOMO DNA CIRCULAR
• DISENTERIAS
• FEBRE MACULOSA • PLASMÍDEO DNA CONFERE VANTAGENS SELETIVAS
• FEBRE TIFOIDE (RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS)
• GONORREIA
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
80
1.1. Rizópodes (sarcodinos)
Rizópodes são protozoários muito pequenos, que podem me-
dir, no máximo, meio milímetro. Eles se deslocam por estruturas
chamadas pseudópodes e se reproduzem por cissiparida-
REINO PROTOCTISTA I: de. Um exemplo é a Entamoeba histolystica, causadora da
amebíase, doença que pode causar disenteria e processos
PROTOZOÁRIOS inflamatórios, levando à desidratação.
Vacúolo
contrátil
Ectoplasma
CN AULAS
7E8 Endoplasma
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
Vacúolo
4e8 16 e 29 digestivo
Pseudópodo
protozoários
Pseudópodo Medula
Axópodos
Os protozoários são classificados no Reino Protoctista,
contudo, por uma “licença didática”, eles serão discutidos
junto aos metazoários (animais). Como a maioria desses se- Córtex
res são heterótrofos, alguns autores afirmam que são animais.
Vacúolo
Eles se caracterizam por serem unicelulares, eucarion- digestivo
de acordo, principalmente, com o modo de locomoção com muco e sangue nas fezes, são os sintomas mais
ou com a forma de reprodução típica. Observe a diversi- comuns da amebíase. Existem casos em que a ameba
dade de protozoários: pode passar a parasitar outras regiões do organismo,
como fígado e pulmões, mas é assintomática na maioria
da população.
A contaminação é direta, não envolvendo um vetor, e ocorre
pela ingestão de água ou alimentos contaminados por cis-
Paramécio
Paramécio
Paramécio Balantídeo
BalantídeoTripanossomo
Balantídeo Tripanossomo Giárdia
Tripanossomo tos, que
GiárdiaGiárdia são
Ameba as Ameba
Amebaformas celulares de infecção das amebas.
Os cistos passam pelo estômago e, quando resistem à ação
do suco gástrico, chegam ao intestino delgado, onde ocorre
o desencistamento que libera trofozoítos, formas celulares
capazes de aderirem ao intestino. Em seguida, migram para
Balantídeo
Balantídeo Tripanossomo
Tripanossomo Giárdia
Giárdia Ameba
Ameba o intestino grosso e ali se estabelecem. Normalmente, ade-
81
rem à mucosa do intestino e se alimentam de detritos e bac- consegue sobreviver heterotroficamente. Afirma-se, então,
térias. Em determinadas condições, invadem a mucosa intes- ser um autótrofo facultativo. Também já foram classificados
tinal, dividindo-se ativamente no interior das úlceras. Nesses como algas: as euglenoides.
casos, podem atingir outros órgãos através do sistema por-
ta-hepático. A liberação de sangue nas fezes é consequência 1.2.2. Trypanosoma cruzi
da ruptura de vasos sanguíneos da mucosa intestinal.
Esse protozoário é o causador da doença de Chagas,
A prevenção é realizada por meio da higiene das mãos e sendo transmitido pela picada do inseto Triatoma infes-
dos alimentos, da construção de redes de coleta e trata- tans (barbeiro), que é hematófago e de hábito noturno.
mento de esgosto e do tratamento das pessoas infectadas. A picada do inseto não transmite a doença, pois
Cistos maduros
1
i d
nas suas glândulas salivares não existe a forma infec-
i = Estágio Infectivo
tante. Depois de picar e sugar o hospedeiro, o barbeiro
d = Estágio Diagnóstico
Ingestão
elimina fezes infectadas com tripanosomas próximo ao
Desencistação A = Colonização não invasiva
2 B = Doença intestinal
local da picada. O próprio hospedeiro, ao coçar-se, por
C = Doença extraintestinal exemplo, pode introduzir as fezes contaminadas nas
Trofozoíto
3
mucosas, facilitando a penetração dos tripanosomas.
d
Multiplicação
4
Cistos
d
3
d Trofozoíto A
d
C
d
d
B
d
3 4
d
Fezes
2
i d
basal
Membrana
ondulante
A doença possui duas fases: um aguda e outra crônica.
Na fase aguda, o local da picada pelo vetor torna-se ver-
Flagelo
Corpúsculo
melho e endurecido, constituindo o chamado chagoma,
cerebral
nome dado à lesão causada pela entrada do Trypanosoma.
Núcleo
Quando essa lesão ocorre próxima aos olhos, leva o nome
de sinal de Romaña. Geralmente, o chagoma acompa-
Forma mastigota (com flagelo)
nha uma íngua próxima à região.
Forma mastigota (com flagelo)
Após o período de incubação, outros sintomas surgem
Veja os principais exemplos dessa classe:
como febre, ínguas e inflamações locais na pele e em ór-
gãos como o fígado. Em casos mais graves, pode ocorrer
1.2.1. Euglena viridis insuficiência cardíaca. Os casos fatais, que são raros, ocor-
Esse protozoário não é patogênico ao homem. Apresen- rem nessa fase, em decorrência da inflamação do coração
ta cloroplasto e, na presença de luz, é autótrofo. Contudo, ou do cérebro.
82
Ciclo do Trypanosoma cruzi Ciclo do Trypanosoma cruzi
em triatomíneos em humanos e outros mamíferos
Tripomastigotas metacíclicos
Picada
Transformação em amastigotos
Tripomastigotas metacíclicos (dentro das células, proliferação)
(indutivo)
Amastigotos intracelulares se
ransformam em trypomastigotos
e invadem a correte sanguínea
Epimastigotas
(no intestino)
Mesmo sem tratamento, os sintomas da fase aguda desa- 1.2.3. Giardia lamblia
parecem depois de semanas ou meses. Entretanto, o pa-
Mais frequente em crianças do que em adultos, a giar-
rasita pode continuar no corpo, o que pode ocorrer com
díase é uma parasitose que ocorre no intestino desses
casos assintomáticos, de forma que a pessoa permanece
indivíduos. Seu agente etiológico é a Giardia lamblia, um
durante muitos anos, ou mesmo a vida inteira, sem apre-
protozoário flagelado e com incidência mais alta em cli-
sentar sintomas, sendo diagnosticada somente em testes
mas tropicais e subtropicais.
de laboratório.
A giardíase pode provocar náusea, cólicas, diarreia e febre.
Nesses casos, a detecção do parasita no sangue torna-se
Em alguns casos, o estado agudo da doença pode durar
mais difícil e a identificação costuma ocorrer pela presença
meses, levando à má absorção de várias substâncias, in-
de anticorpos.
clusive vitaminas, como as lipossolúveis (vitaminas D, E, K
Com isso, inicia-se a fase crônica da doença, na qual as ma- e A, por exemplo).
nifestações são arritmia e perda progressiva da capacidade
A contaminação ocorre quando a pessoa ingere os cistos
de bombeamento do coração, consequência de lesões na
maduros. Os cistos podem estar na água (mesmo que
musculatura do órgão que enjirece e tende a aumentar de
clorada), nos alimentos contaminados ou nas mãos con-
tamanho para continuar funcionando.
taminadas. As medidas preventivas devem ser as mesmas
Outros órgãos também podem aumentar e comprometer tomadas contra a amebíase, uma vez que a contaminação
suas funções, configurando a Síndrome de Megas, já que o ocorre por meio da ingestão de cistos.
parasita gera inflamações no esôfago e no intestino grosso,
Trofozoíto se multiplica
por exemplo. por fissão binária
vetor, o que ocorre por meio da melhoria das habitações Intestino grosso
Excistação
rurais que servem de abrigo para o inseto e por meio de
adoção de práticas de higiene em processamento artesa- Intestino delgado
1.2.4. Leishmania
O protozoário causador da Leishmaniose é transmitido pela
Triatoma infestans (inseto barbeiro) picada da fêmea do mosquito hematófago do gênero
83
Phlebotomus (mosquito-palha ou birigui). Entre as principais Dividem- se no intestino e
migram para a probóscide
espécies de protozoários parasitas do gênero Leishmania, po- Promastigotas se transformam
em amastigotas
dem ser destacadas a Leishmania braziliensis, a Leishmania Promastigotas são fagocitados
donovani e a Leishmania tropica. O principal grupo celular que por macrófagos
VIVENCIANDO
A geografia é uma ferramenta importante na compreensão da distribuição de protozoários, uma vez que o clima pode
influenciar quais protozoários podem ser encontrados no ecossistema. A distribuição geográfica das espécies na Terra é
determinada por diversos parâmetros do ambiente, como luz, temperatura, umidade, entre outros. Organismos de uma
determinada espécie serão encontrados em regiões que ofereçam condições necessárias para sua sobrevivência. Por
exemplo, a malária é uma doença tropical causada pelo protozoário Plasmodium sp, parasita que encontrou condições
ambientais favoráveis nos trópicos e se proliferou pela América do Sul, América Central, África e Ásia. O clima tropical
faz parte dessas regiões, onde a temperatura é elevada, os verões são quentes e úmidos e os invernos têm temperaturas
menores e queda no índice de precipitação. Esse quadro climatológico fornece condições para a proliferação do vetor
transmissor e do hospedeiro definitivo da malária, fechando assim o ciclo de vida do parasita.
84
O Toxoplasma gondii é o causador da toxoplasmose e é transmitido pela urina de gatos, ratos e também pela ingestão
de carne contaminada.
No Brasil, o Plasmodium vivax, o Plasmodium falciparium e o Plasmodium ovale são causadores da malária. Os protozoários são
transmitidos pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles (mosquito-prego).
O ciclo de vida do plasmódio apresenta uma fase de reprodução assexuada, novidade em relação aos outros protozoários.
Há os gametócitos, formas celulares que se fundem dentro do corpo do vetor formando um zigoto, como é possível ver na
imagem abaixo.Também há a reprodução assexuada que ocorre por várias divisões do núcleo seguidas da fragmentação do
citoplasma, denominada divisão múltipla ou esquizogonia.
A infecção pelo parasita ocorre nas células do sangue, as hemácias, e também há um ciclo hepático no qual o plasmódio
infecta hepatócitos e também podem-se multiplicar, eliminando mais parasitas pela lise da célula.
Ciclo de transmissão da malária
6. Quando o mosquito morde uma
pessoa infectada, os gametócitos são
5. Outros merozoítos se absorvidos e amadurecem no intestino
transformam em precursores do mosquito
de gametas de machos e fêmeas
7. Os gametócitos do macho
e da fêmea se fundem e
3. Os merozoítos infectam os formam um ookinete (Zigoto)
glóbulos vermelhos, onde se
desenvolvem em forma de
anéis trofozoítos e esquizontes No Mosquito
No Humano
8. Os zigotos se desenvolvem
em novos esporozoítos que migram
3. No fígado, o esporozoíto para as glândulas salivares do inseto
se reproduz de forma assexuada
(esquizogonia), produzindo Células infectadas
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
O ciclo do plasmódio no interior do mosquito Anopheles
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Conjugação em protoctistas
1.5. Reprodução
1.5.1. Assexuada (divisão binária) 1.6. Encistamento
É a forma de reprodução mais comum entre os protoctistas
O encistamento inicia-se com a desidratação do cito-
unicelulares. A partir de um indivíduo, ocorre a duplicação
plasma do protozoário que diminui de volume e secreta
do núcleo e posterior divisão do citoplasma. O indivíduo
uma membrana resistente que o isola do meio externo.
gerado possui a mesma bagagem genética do indivíduo
Assim, o protozoário transforma-se num cisto que pode
que o gerou. Nessa forma de reprodução, a variabilidade
ser transportado pela água e pelo vento, favorecendo a
pode ocorrer pelo fenômeno de mutação gênica.
disseminação das espécies até em condições ambien-
tais desfavoráveis. Esses protozoários desincestam em
condições ambientais favoráveis, ou seja, no local ade-
Divisão binária em protoctistas quado de seu hospedeiro.
85
Cistos de amebas
Principais protozooses
Local de infecção
Parasita Classificação Doença Transmissão Profilaxia
e sintomas
medidas de saneamento,
Entamoeba rizópode amebíase § intestino grosso alimentos e água
higiene pessoal e com
histolytica (pseudopodes) (disenteria) § ulcerações e diarreia contaminada
os alimentos
medidas de saneamento,
giardíase § intestino delgado alimentos e água
Giardia lamblia flagelado higiene pessoal e com
(disenteria) § dores abdominais e diarreia contaminada
os alimentos
medidas de saneamen-
Balantidi- balantidiose § intestino alimentos e água
ciliado to, higiene pessoal e
um coli (disenteria) § diarreia contaminada
com os alimentos
melhorar as condições de
Trypanoso- doença de § corrente sanguínea
flagelado fezes do barbeiro habitação, eliminando ou
ma cruzi Chagas § inflamação no coração e/ou cérebro
evitando contato com o vetor
picada da fêmea
§ hemáceas repelentes, telas, combate
Plasmodium esporozoário malária do mosquito-prego
§ inflamação no fígado ao vetor
(Anopheles)
86
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
“Maré vermelha é um fenômeno que acontece em todos os mares do Planeta, e é caracterizado pelo excesso do apareci-
mento de algas. Parte do fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, as algas microscópicas aumentam em grandes
proporções, fazendo com que o fenômeno aconteça. A floração, como é chamado esse aumento excessivo das algas, vem
acompanhada da liberação de substâncias tóxicas que podem ocasionar a morte de animais aquáticos, além da intoxicação
de pessoas que se alimentem de animais contaminados. O fenômeno é chamado de maré vermelha devido à coloração das
algas que aparecem em maior quantidade nesse tipo de floração – marrons e vermelhas – que acabam por alterar a colora-
ção das águas também. Quando acontece a maré vermelha, é possível a visualização de manchas avermelhadas nas águas.
A maré vermelha é um acidente ecológico que acontece em decorrência de alguns fatores, como a alteração da sali-
nidade, oscilação da temperatura, além do excesso de sais minerais que são ocasionados pelo escoamento de esgoto
doméstico, alterando as condições abióticas do mar, afetando, consequentemente, o comportamento de espécies que
vivem no local, inclusive as planctônicas.”
Dessa forma, os protistas podem ser usados como bioindicadores da qualidade da água nos oceanos.
(http://www.estudopratico.com.br/mare-vermelha-como-se-da-esse-fenomeno/)
87
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 29
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a
saúde, a produção de alimentos, matérias-primas ou produtos industriais.
Neste exercício, é fundamental a análise correta de experimentos. Entender como funciona um grupo de controle
(mosquitos não expostos) e um grupo experimental (mosquitos expostos) e o que o resultado apresentado pode
fornecer sobre, por exemplo, a utilização de seres vivos como controles biológicos.
MODELO 1
(Enem) Foram publicados recentemente trabalhos relatando o uso de fungos como controle biológico de mos-
quitos transmissores da malária. Observou-se o percentual de sobrevivência dos mosquitos Anopheles sp após
exposição ou não a superfícies cobertas com fungos sabidamente pesticidas, ao longo de duas semanas. Os
dados obtidos estão presentes no gráfico abaixo.
No grupo exposto aos fungos, o período em que houve 50% de sobrevivência ocorreu entre os dias:
a) 2 e 4
b) 4 e 6
c) 6 e 8
d) 8 e 10
e) 10 e 12
ANÁLISE EXPOSITIVA
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Reduzir a transmissão por meio do mosquito Anopheles sp é uma das maneiras mais eficientes de
combater a malária. Muitos estudos publicados em revistas científicas se utilizam de gráficos com o
intuito de facilitar a visualização e o entendimento do leitor. O experimento foi realizado por meio
da utilização de um fungo para combater o mosquito transmissor. Foram utilizados 2 grupos, um no
qual os mosquitos não foram expostos ao fundo (grupo controle) e outro no qual o fungo estava
junto com os mosquitos (grupo experimetal). Ao longo do tempo, no grupo em que o fungo estava
presente, a porcentagem de sobrevivência dos mosquitos começou a diminuir a partir do dia 6. O
período no qual houve 50% de sobrevivência foi entre os dias 8 e 10.
RESPOSTA Alternativa D
88
DIAGRAMA DE IDEIAS
• HETERÓTROFOS ENCISTAMENTO
• EUCARIONTES CONDIÇÕES
• ISOLADOS OU COLÔNIAS DESFAVORÁVEIS
PROTOZOÁRIOS
REPRODUÇÃO
• SEXUADA CONJUGAÇÃO
• ASSEXUADA BIPARTIÇÃO
CISSIPARIDADE
MEIOS DE LOCOMOÇÃO
(CLASSIFICAÇÃO)
ESPOROZOÁRIOS
CILIADOS
NÃO POSSUEM ESTRUTURAS
PARA LOCOMOÇÃO
CÍLIOS
PLASMODIUM VIVAX
POSSUEM MACRONÚCLEO
(MALÁRIA)
E MICRONÚCLEO
INFECÇÃO (NUTRIÇÃO E REPRODUÇÃO)
PICADA DA FÊMEA DO
MOSQUITO ANOPHELES SP
RIZÓPODES
FLAGELADOS (SARCONDINOS)
(MASTIGÓFOROS)
PSEUDÓPODES
FLAGELOS ENTAMOEBA HISTOLYTICA
EUGLENA VIRIDIS (AMEBAS)
AMEBÍASE
TRYPANOSOMA CRUZI INFECÇÃO
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
FEZES DO BARBEIRO
(DOENÇA DE CHAGAS) SINTOMAS
• DORES INTESTINAIS
GIARDIA LAMBLIA INFECÇÃO INGESTÃO DE ALIMENTOS
• INFLAMAÇÃO
(GIARDÍASE) CONTAMINADOS
INFECÇÃO
LEISHMANIA SP INFECÇÃO PICADA DO MOSQUITO • INGESTÃO DE ALIMENTOS
(EISHMANIOSE) PHLEBOTOMUS CONTAMINADOS
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ANOTAÇÕES
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VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
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90
BIOLOGIA
CITOLOGIA
CIÊNCIAS DA
NATUREZA
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
Diferenciação entre os tipos celulares, com- Função e reconhecimento de organelas são Dificilmente há uma prova da Unesp que
paração entre os processos bioquímicos e essenciais nesta prova, além de ter conheci- não caia bioquímica. Normalmente abor-
fisiológicos são pontos fortes desta prova. mento sobre a bioquímica estrutural básica dam metabolismo energético, porém para
Mais uma vez, a bioquímica básica será de cada uma. entender esse conteúdo é essencial o co-
base para a compreensão desses assuntos. nhecimento da bioquímica básica.
Metabolismo energético (respiração celular Prova com questões que misturam dife- Metabolismo energético, funções das orga- Citologia é um dos assuntos mais presente,
e fotossíntese), citologia (divisões celula- rentes áreas da Biologia. Destacam-se os nelas citoplasmáticas, divisões celulares e sendo que há questões sobre funções de
res e funções de organelas) e bioquímica conteúdos relacionados a metabolismo transporte através da membrana são con- organelas, transporte através de membra-
(síntese proteica e ácidos nucleicos) são energético (respiração celular e fotossínte- teúdos sempre presentes nesse vestibular. na, divisões (mitose e meiose) e metabolis-
bastante presentes. se), organelas citoplasmáticas e bioquímica mo energético. Nos últimos anos, também
básica. houve maior frequência de questões sobre
bioquímica.
UFMG
É uma prova com questões interdiscipli- Questões com alto nível de especificida- Apresenta muitas questões relacionadas
nares que cobram conteúdos altamente de, sendo citologia um dos temas mais à bioquímica básica e divisões celulares.
específicos. Aborda conteúdos de bioquími- comuns. Estão presentes conteúdos como Aparecem também questões sobre fun-
ca, principalmente DNA e síntese proteica, funções das organelas, divisões celulares, ções de organelas e transporte através de
e citologia, como transporte através da transporte através da membrana e meta- membrana.
membrana e divisões celulares. bolismo energético.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
A bioquímica tem forte presença nesta Com perfil similar à Fuvest e questões bem Prova com ênfase em citologia e genética.
prova, abordando estrutura e exemplos de específicas, os temas mais frequentes são Na área de citologia, os assuntos mais
lipídeos, carboidratos e proteínas; o dogma respiração celular e fotossíntese e funções abordados são metabolismo energético
central da Biologia e a síntese proteica são das organelas citoplasmáticas (e como elas (respiração celular e fotossíntese), bioquí-
conteúdos bem abordados. No campo da estão relacionadas com a especialização mica (principalmente ácidos nucleicos) e as
citologia, podemos destacar também fisio- das células). divisões celulares.
logia celular e os processos de
divisão.
92
2. Água
A água é considerada um solvente universal, sendo o
principal componente inorgânico de qualquer ser vivo. O
COMPOSIÇÃO ambiente intracelular é aquoso, o que é essencial para a
QUÍMICA
ocorrência das reações químicas e metabólicas. A água
também ajuda a evitar variações bruscas de temperatu-
CELULAR I ra, atuando na termorregulação dos seres vivos, pois
apresenta valores elevados de calor específico, calor de
vaporização e calor de fusão. Nos processos de trans-
porte de células e de substâncias, intra e extracelu-
lares, a água tem importante participação, assim como na
1E2
há atrito, como nas articulações, a água também tem
função lubrificante.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) A quantidade de água varia de acordo com a taxa meta-
4 14 bólica. Quanto maior a atividade química (metabolismo) de
um órgão, maior o teor hídrico. Por exemplo, o encéfalo do
embrião. Observe a tabela a seguir:
93
figura a seguir que os insetos não afundam. Isso ocorre O zinco colabora na conservação do cabelo e da pele,
devido a uma espécie de membrana ultrafina que se além de auxiliar nas cicatrizações. É encontrado em peque-
forma na superfície da água. nas quantidades em diversos alimentos.
O selênio, por sua vez, é encontrado em carnes, peixes e
vegetais. Ele é responsável por diminuir os riscos de alguns
tipos de câncer, além de proteger as células contra subs-
tâncias oxidantes. A quantidade de selênio nos vegetais é
correlacionada com o teor desse mineral no solo.
Veja outros exemplos na tabela a seguir:
Devido à tensão superficial, alguns insetos Componente dos ossos e dentes. Ativador de
pousam sobre a água e não afundam.
Cálcio (Ca2+) enzimas, participa de processos como a con-
tração muscular e a coagulação.
§ Adesão – A água tem a tendência de se unir a moléculas
polares, e isso ocorre devido à sua polaridade. Essa atração Magnésio Faz parte da molécula de clorofila; é necessário,
recebe o nome de adesão. As moléculas de água não se li- (Mg2+) portanto, à fotossíntese.
gam a moléculas apolares, não havendo adesão. Por isso, ela Presente na hemoglobina do sangue, pigmen-
não se distribui igualmente sobre uma superfície encerada to fundamental para o transporte de oxigênio.
e forma gotículas separadas sobre elas, pois a cera é apolar. Ferro (Fe2+) Componente de substâncias importantes na
respiração e na fotossíntese (citocromos e fer-
rodoxina).
§ Capilaridade – Trata-se de um fenômeno físico resultante
Tem concentração intracelular sempre mais
das interações entre as forças de adesão e coesão da molé- baixa que nos líquidos externos. A membrana
cula de água. É devido à capilaridade que a água desliza por plasmática, por transporte ativo, constante-
tubos ou entre poros de alguns materiais, como o algodão. Sódio (Na+) mente bombeia o sódio, que tende a penetrar
por difusão facilitada. Importante componente
Quando se coloca um tubo fino em contato com água, o da concentração osmótica do sangue junta-
líquido tende a subir pelas suas paredes devido às forças de mente com o K+.
adesão e coesão. A adesão está relacionada com a afinidade É mais abundante dentro das células. Por trans-
porte ativo, a membrana plasmática absorve
entre o líquido e a superfície do tubo. A coesão as mantém o potássio do meio externo. Os íons sódio
unidas, arrastando umas às outras pela coluna, elevando o Potássio (K+) e potássio estão envolvidos nos fenômenos
nível de água. Esse fenômeno é muito utilizado pelas plantas elétricos que ocorrem na membrana plasmáti-
ca, na concentração muscular e na condução
no transporte de substâncias da raiz até as folhas. nervosa.
Componente dos ossos e dentes. Está no ATP,
3. Sais minerais
molécula energética das atividades celulares.
Fosfato (PO4 ) –3
É parte integrante do DNA e RNA, no código
genético.
Como o ambiente intra e extra celular é aquoso, os sais mi- Componente dos neurônios (transmissão de
nerais presentes ali encontram-se dissociados em cátions Cloro (Cℓ–) impulsos nervosos).
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
94
fim, os monômeros que formam os ácidos nucleicos são plantas sintetizam seus próprios carboidratos, já os animais ad-
chamados de nucleotídeos. quirem os carboidratos necessários por meio da alimentação.
Os lipídios não apresentam uma unidade básica que possa PRINCIPAIS MONOSSACARÍDEOS
ser considerada um monômero, então não são considera- carboidrato papel biológico
dos polímeros, apesar de serem macromoléculas. Uma das matérias-primas necessárias à pro-
ribose (5C)
dução de ácido ribonucleico.
Os carboidratos e lipídios serão detalhados nesta aula, en-
quanto as próximas aulas se dedicarão ao estudo detalha- desoxirribose (5C)
Matéria-prima necessária à produção de ácido
desoxirribonucleico (DNA).
do das proteínas e ácidos nucleicos.
Monômetro
É a molécula mais usada pelas células para ob-
Monômetro
Monômeros tenção de energia. É sintetizada na fotossíntese
glicose (6C)
pelos seres clorofilados. Abundante em vegetais,
no sangue e no mel.
PRINCIPAIS DISSACARÍDEOS
papel
carboidrato unidades fontes
biológico
glicose + cana-de-açúcar papel
sacarose
multimídia: vídeo frutose e beterraba energético
95
tridimensionais diferentes, caracterizando assim suas o xilol, o éter, a benzina e o clorofórmio. São exemplos de
funções distintas. lipídios as gorduras os óleos e as ceras.
O amido é o carboidrato de reserva principal dos vegetais Os lipídios podem ser classificados em: glicerídeos (gru-
e é armazenado principalmente nos vacúlos de células po das gorduras e óleos), fosfolipídeos (componentes da
vegetais especializadas. Na digestão humana, o amido é membrana plasmática), cerídeos (as ceras impermeabili-
quebrado em glicose, que é utilizada como fonte de ener- zam superfícies vegetais, evitando a desidratação), este-
gia. A glicose excedente é parcialmente armazenada como roides (o principal esteroide é o colesterol) e carotenoides
glicogênio (reserva de carboidratos animal), e o restante é (pigmentos de coloração).
metabolizado em lipídios, armazenados no tecido adiposo
Os lipídios são os principais constituintes das membranas
dos animais.
celulares, estando assim presentes em todos os tecidos
No corpo humano, o glicogênio é armazenado nos mús- dos seres vivos. Os lipídios são muito importantes como
culos e fígado, com propósitos distintos. A reserva de gli- reserva energética. Nos animais, são armazenados em
cogênio muscular é quebrada rapidamente em momen- células específicas, chamadas de adipócitos, que formam
tos de demanda energética, permitindo que os músculos o tecido adiposo. Nos vegetais, os lipídios são armazena-
sempre tenham uma resposta de movimento imediata dos nos vacúolos celulares e são muito abundantes nas
aos impulsos nervosos. O fígado, por sua vez, é responsá- sementes oleaginosas.
vel por armazenar glicogênio e quebrá-lo em glicose em A maioria dos lipídios é derivada ou possui ácidos graxos na sua
momentos de baixa glicemia, como durante períodos de estrutura. Algumas substâncias classificadas entre os lipídios pos-
jejum, de modo que a glicose liberada circule pela corrente suem intensa atividade biológica, como vitaminas e hormônios.
sanguínea e permita que órgãos essenciais como o cérebro
sempre tenham uma fonte de energia disponível. Embora os lipídios sejam uma classe distinta de biomolécu-
las, observa-se que eles, geralmente, ocorrem combinados,
A quitina e a celulose apresentam uma estrutura química seja covalentemente ou através de ligações fracas, como
que dificulta a ação enzimática, então não são quebradas no membros de outras classes de biomoléculas, para produzir
processo de digestão da maioria dos seres vivos. Esses polis- moléculas hídricas, tais como glicolipídios, que contêm tan-
sacarídeos atuam como importantes moléculas de estrutura to carboidratos quanto grupos lipídicos, e lipoproteínas, que
e sustentação dos seres vivos; a celulose é essencial na com- contêm tanto lipídios como proteínas.
posição da parede celular de vegetais, enquanto a quitina é
o componente básico do exoesqueleto de artrópodes.
lactato
glicose
fermentação
láctica
glicogênio
glicose
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
lactato
gliconeogênese
glicose lactato
glicogênio
O grupo dos lipídeos é muito heterogêneo, e agrupa molé- Entrevista: Antonio Herbert Lancha Jr
culas orgânicas cuja característica comum é a insolubilida- fala sobre obesidade
de em água e a solubilidade em solventes orgânicos, como
96
As diferentes propriedades químicas e físicas dessas biomo-
léculas estão combinadas para exercer funções biológicas
específicas. Diferentemente das demais biomoléculas, os lipí-
POLAR
dios não são polímeros, ou seja, não são repetições de uma
simples unidade. Os lipídios possuem uma estrutura química
simples, mas suas funções são complexas e diversas. Atuam
nas etapas determinantes do metabolismo e na definição
das formas celulares. Alguns lipídios formam filmes sobre a
superfície da água, enquanto outros formam agregados or-
ganizados na solução. Os lipídios possuem uma região polar
ou iônica, que pode ser facilmente hidratada; como é o caso
dos lipídios que compõem as membranas celulares.
APOLAR
5.1. Glicerídeos
O grupo dos glicerídeos compreende as gorduras e os óleos.
Um glicerídeo muito abundante nos seres vivos são os tri-
glicerídios. Quando hidrolisados, os triglicerídeos liberam
um álcool chamado glicerol e três cadeias de ácidos graxos.
Os ácidos graxos podem ser classificados como saturado
ou insaturado; chamamos de saturado quando há somen-
te ligações simples entre os átomos de carbono (exemplos: Um fosfolipídio de membrana.
palmítico e o ácido esteárico); por sua vez, um ácido graxo
Quando está no estado sólido e à temperatura ambiente,
é insaturado quando possui uma ou mais ligações duplas
um lipídio é denominado “gordura”; caso esteja no estado
entre os carbonos, como o ácido oleico, por exemplo.
líquido, será denominado “óleo”.
As ligações duplas, também chamadas de insaturações,
fazem com que a cadeia carbônica de cada ácido graxo 5.2. Ceras
tenha uma conformação espacial distinta, menos linear, e
As ceras são lipídios sólidos à temperatura ambiente. Quan-
isso faz com que ácidos graxos insaturados sejam menos
do hidrolisadas, seus lipídios também liberam uma molécula
compactos, e essa característica é essencial para a fluidez
de glicerol e ácidos graxos de cadeia longa.
das membranas celulares. Os ácidos graxos saturados, por
sua vez, são muito mais rígidos e também tendem a se As ceras são essencialmente usadas para a proteção dos
agregar nas paredes de vasos sanguíneos, podendo causar organismos, sejam animais ou plantas. Os seres humanos
complicações e entupimentos. produzem cera nos ouvidos como uma forma de evitar a
entrada de partículas de poeira no canal auditivo. Algumas
plantas secretam ceras que revestem as folhas e evitam per-
das excessivas de água, principalmente em ambientes secos.
5.3. Esteroides
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
97
É importante destacar que o corpo humano produz quantida- 5. HDL (Lipoproteína de Densidade Alta) – retira o coles-
des de colesterol suficientes para suprir as funções positivas terol da circulação. Quando seus níveis no sangue estão
desse lipídio no organismo; assim, é importante ter um cuida- elevados, os riscos de infarto do miocárdio são baixos.
do alimentar para evitar seu excesso na circulação sanguínea,
que pode causar prejuízos. O colesterol pode aderir às paredes 5.5. Prostaglandinas
dos vasos sanguíneos, formando estruturas conhecidas como
"placas ateroscleróticas", que são um dos principais fatores de As prostaglandinas são lipídios importantes em diversos
risco associados à ocorrência de infarto agudo do miocárdio. processos de comunicação entre células, produzidas prin-
cipalmente em tecidos onde há uma infecção ou lesão. As
prostaglandinas controlam processos de inflamação nos
Esteroides anabolizantes caso de infecções e a mudanças no fluxo sanguíneo e for-
mação de coágulos sanguíneos relacionados à lesões. Tam-
Os esteroides anabolizantes são produtos sintéticos
bém há prostaglandinas que atuam na indução do parto.
usados, em doses controladas, no tratamento de cer-
tas doenças. No entanto, como aumentam a síntese As prostaglandinas atuam na comunicação celular local-
de proteína pelos músculos, são também consumidos mente, ou seja, não entram na corrente sanguínea.
– sem acompanhamento médico – por pessoas que Anti-inflamatórios não esteroides, como a aspirina, agem
querem aumentar rapidamente a massa muscular.
bloqueando as enzimas responsáveis pela formação de
O uso indiscriminado de esteroides – e sem o controle precursores de prostaglandinas, evitam a sinalização e
médico – pode interromper o crescimento (na adoles- consequente resposta inflamatória do organismo.
cência), causar hepatite, danos aos rins, câncer de fígado,
problemas de comportamento (depressão, aumento da
agressividade), aumento da pressão arterial e do risco de
ataque cardíaco. Em homens, pode provocar esterilidade
e atrofia dos testículos. Em mulheres, pode desequilibrar
o ciclo menstrual e desenvolver características sexuais se-
cundárias masculinas, como a presença de pelos na face.
Estrutura de uma prostaglandina, a Prostaglandina E1, que tem
Dessa forma, além de serem proibidos em competi- ação vasodilatadora e está presente em respostas inflamatórias.
ções esportivas, os esteroides anabolizantes não de-
vem ser utilizados sem indicação médica.
5.6. Em resumo: as funções dos lipídios
Como vimos até agora, fosfolipídeos são constituintes
5.4. Lipoproteínas da membrana plasmática e de todas as membranas
internas da célula.
Lipoproteínas são associações entre proteínas e lipídios, como
o próprio nome indica. Na corrente sanguínea, essas molécu- Além disso, lipídios liberam energia quando oxidados,
las têm a função de transportar e regular o metabolismo dos e são a segunda fonte de energia do organismo, sendo
lipídios no plasma. A fração lipídica das lipoproteínas varia usados na ausência de carboidratos. Os lipídios consti-
muito e permite a classificação das mesmas em cinco grupos: tuem a reserva energética dos animais, sendo aloca-
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
98
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
No estudo das funções biológicas dos carboidratos e lipídios, aplicamos conceitos também estudados nas aulas de quí-
mica orgânica, como estruturas químicas e propriedades moleculares.
Os carboidratos são compostos químicos que possuem vários átomos de carbono ligados às hidroxilas (OH), apresen-
tando funções orgânicas como cetona e aldeído. Devido a essas características químicas e de organização atômica, os
carboidratos são moléculas muito reativas e por isso sua clivagem é a principal fonte de energia para os organismos.
Os lipídios, por sua vez, apresentam a função orgânica álcool (principalmente o glicerol) e ácidos graxos; alguns possuem
outros elementos, como grupos fosfato, e são classificados como fosfolipídeos. Os fosfolipídeos são considerados moléculas
anfipáticas, ou seja, apresentam características hidrofóbicas e hidrofílicas simultaneamente. Essa característica faz com que
essas moléculas, em meio aquoso, tenham a tendência de se agregar formando esferas lipídicas. A formação das membranas
plasmáticas e o consequente surgimento da vida estão intimamente relacionados com essa propriedade dos fosfolipídios.
99
tência, manutenção, manifestação e propagação da vida.
De acordo com as estruturas celulares e as substâncias
químicas envolvidas, é possível dividi-lo em metabolismo
energético, de construção e de regulação.
Pode-se considerar mais duas ideias sobre metabolismo
celular: anabolismo – reações químicas de síntese que, a
Fontes de vitamina B1. partir de moléculas menores, produzem moléculas maiores
– e catabolismo – reações químicas de degradação que
transformam moléculas grandes em unidades menores.
O termo metabolismo celular é utilizado em relação ao
conjunto de todas as reações químicas que ocorrem nas célu-
las. Essas reações são responsáveis pelos processos de sínte-
se e degradação dos nutrientes na célula e constituem a base
da vida, permitindo o crescimento e a reprodução das células.
Fontes de vitamina B2.
Embora a glicose seja a fonte energética mais frequente, os or-
§ Vitamina C (ácido ascórbico – antiescorbútica) ganismos retiram energia das mais diversas moléculas orgâni-
– Previne infecções. Mantém a integridade dos vasos cas (outros açúcares, aminoácidos, ácidos graxos, entre outras).
sanguíneos e a saúde dos dentes. Previne o escorbuto, Os organismos heterotróficos obtêm glicose alimentando-se
a inércia e a fadiga em adultos, a insônia e o nervo- daqueles que são capazes de produzi-la, os organismos auto-
sismo em crianças, o sangramento das gengivas, as tróficos fotossintetizantes.
inflamações nas juntas e os dentes alterados. Pode ser
encontrada em frutas cítricas (limão, lima, laranja), to-
mate, couve, repolho e outros vegetais de folha, pimen-
7.1. ATP: as baterias de energia
tão, morango, abacaxi, goiaba, caju, etc. Ao final do processe de digestão de carboidratos, temos
finalmente a molécula de glicose (monossacarídeo) livre
§ Vitamina D (ergosterol – precursor da vitamina
na circulação. A molécula de glicose é, como já citamos,
D – antirraquítica) – Atua no metabolismo do cálcio
a principal fonte energética das células. Porém, a energia
e do fósforo. Mantém os ossos e os dentes em bom contida nas ligações entre os átomos de carbono de cada
estado. Evita o raquitismo, os problemas nos dentes, molécula de glicose não pode ser liberada no ambien-
os ossos fracos, os sintomas da artrite, a osteomalácia te celular de uma vez só. Chamamos de respiração
(adultos). Está presente no lêvedo, o óleo de fígado de celular o processo de quebra gradual das moléculas
bacalhau, na gema de ovo, na manteiga, etc. de glicose para liberação de energia. Esse processo será
§ Vitamina E (tocoferol – antioxidante) – Auxilia detalhadamente estudado mais adiante, porém, convém
na fertilidade. Previne o aborto. Atua no sistema ner- desde já sermos apresentados às moléculas de ATP.
voso involuntário, no sistema muscular e nos músculos Cada vez que uma ligação entre átomos de carbono
involuntários. Previne a esterilidade do macho. Ajuda é quebrada, a energia liberada é transferida para uma
na oxidação de ácidos graxos insaturados e enzimas molécula chamada adenosina trifosfato, ou ATP. Es-
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
mitocondriais. Está presente no óleo de germe de trigo, sas moléculas servirão de reservatórios temporários de
nas carnes magras, nos laticínios, na alface, no óleo de energia, armazenando a energia entre as ligações dos
amendoim, etc. grupos fosfato que a compõe.
§ Vitamina K (anti-hemorrágica) – Atua na coagu- É comum existir uma substância solúvel no interior das
lação do sangue. Previne hemorragias prolongadas. A células, conhecida por adenosina difosfato (ADP). É
sua falta retarda o processo de coagulação. Está pre- comum também a existência de radicais livres de fosfato
sente em vegetais verdes, tomate, castanha, espinafre, inorgânico (que vamos simbolizar por Pi). Cada vez que
alface, repolho, couve, óleos vegetais, etc. ocorre a liberação de energia, devido à reação química,
essa energia liga o fosfato inorgânico (Pi) ao ADP, geran-
do ATP. Como o ATP também é solúvel, ele se difunde por
7. Metabolismo celular toda a célula.
Metabolismo é o conjunto de reações bioquímicas que A ligação do ADP com o fosfato é reversível. Então, toda vez
ocorrem nas células e que são fundamentais para a exis- que é necessária a energia para a realização de qualquer
100
trabalho na célula, ocorre a conversão de algumas moléculas de ATP em ADP + Pi e a energia liberada é utilizada pela célula. A
recarga dos ADP ocorre toda vez que há liberação de energia na quebra da glicose.
essa energia que é utilizada para qualquer processo celular, como contração muscular e atividades neuronais.
VIVENCIANDO
Conhecer a bioquímica básica das moléculas inorgânicas (água e sais minerais) e das moléculas orgânicas (car-
boidratos e lipídios) é fundamental para compreender suas funções nos organismos vivos.
É com base nesses conhecimentos que nutricionistas e médicos podem indicar dietas, prescrever medicamentos,
tratamentos e exercícios e até mesmo suplementos alimentares específicos para cada paciente, além de com-
preender quadros clínicos, como a obesidade, a hipertensão, a diabetes, a arteriosclerose, entre outros.
101
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.
Neste exercício é primordial conhecer as características presentes na água e como esse solvente se comporta
em sistemas biológicos a fim de manter o equilíbrio dos processos.
MODELO 1
(Enem) A água apresenta propriedades físico-químicas que a colocam em posição de destaque como substân-
cia essencial à vida. Dentre essas, destacam-se as propriedades térmicas biologicamente muito importantes,
por exemplo, o elevado valor de calor latente de vaporização. Esse calor latente refere-se à quantidade de calor
que deve ser adicionada a um líquido em seu ponto de ebulição, por unidade de massa, para convertê-lo em
vapor na mesma temperatura, que no caso da água é igual a 540 calorias por grama. A propriedade físico-quí-
mica mencionada no texto confere à água a capacidade de
a) servir como doador de elétrons no processo de fotossíntese;
b) funcionar como regulador térmico para os organismos vivos;
c) agir como solvente universal nos tecidos animais e vegetais;
d) transportar os íons de ferro e magnésio nos tecidos vegetais;
e) funcionar como mantenedora do metabolismo nos organismos vivos.
ANÁLISE EXPOSITIVA
A água é um solvente universal e desempenha funções vitais nos organismos, como termorregulação,
transporte de substâncias, eliminação de excretas, lubrificação, acepção de elétrons, dentre outras. Identi-
ficar padrões e fenômenos e compreender como são vitais à manutenção do equilíbrio dos organismos é
uma atribuição esperada na habilidade 14. O fato de a água possuir um elevado calor latente de vaporiza-
ção faz com que ela esteja diretamente relacionada com a função de reguladora térmica dos organismos.
Para evaporar, ela necessita absorver uma grande quantidade de calor. Observação: todas as alternativas
apresentam funções exercidas pela água, porém, aquela que está relacionada com a propriedade físico-
-química apresentada no enunciado é a regulação de temperatura.
RESPOSTA Alternativa B
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
102
DIAGRAMA DE IDEIAS
COMPONENTES
INORGÂNICOS
METABOLISMO
COMPOSIÇÃO
ANABOLISMO (SÍNTESE) ATP ADP + Pi + ENERGIA
QUÍMICA CELULAR
CATABOLISMO (DEGRADAÇÃO)
COMPONENTES
ORGÂNICOS
CARBOIDRATOS
LIPÍDEOS
(FONTE PRIMÁRIA DE ENERGIA)
• MALTOSE
VITAMINAS
GLICOSE + GLICOSE
POLISSACARÍDEOS
• AMIDO • LIPOSSOLÚVEIS: D, E, K, A
• GLICOGÊNIO • HIDROSSOLÚVEIS: C, B1, B2, B12, PP
• CELULOSE
• QUITINA
103
carbono do agrupamento carboxila de um aminoácido com
um átomo de nitrogênio do agrupamento amina do outro
aminoácido.
Aminoácidos essenciais
Metionina (Met) Triptofano (Tri)
Isoleucina (Iso) Valina (Val)
Leucina (Leu) Treonina (Tre)
Estrutura molecular de alguns aminoácidos,
com destaque para os radicais Lisina (Lis) Fenilalanina (Fen)
A ligação química entre dois aminoácidos é chamada de li- As proteínas diferem entre si devido à quantidade de amino-
gação peptídica e acontece sempre entre um átomo de ácidos, aos tipos presentes e a sua sequência na molécula.
104
Duas proteínas podem ter os mesmos aminoácidos nas mes- ganismo), receptores de membrana (que se localizam nas
mas quantidades, porém, se a sequência dos aminoácidos membranas das células e reconhecem outras moléculas no
for diferente, as proteínas serão diferentes. ambiente extracelular), entre outras funções.
Existem, porém, algumas proteínas que, para exercerem
1.1. Estrutura da proteína sua função, precisam estar interagindo com outras prote-
A sequência dos aminoácidos na cadeia polipeptídica é o que ínas, formando estruturas quaternárias. Um exemplo
chamamos de estrutura primária da proteína. Cada pro- de estrutura quaternária é a hemoglobina, proteína res-
teína apresenta a sua estrutura primária única e característica; ponsável pelo transporte de oxigênio através da circulação.
alterações na estrutura primária levam à formação de proteínas A hemoglobina é formada por quatro proteínas iguais,
distintas. A estrutura primária é importante para a constituição chamadas de globinas. Cada globina apresenta um grupo
estrutural da proteína, pois é a partir da interação entre os ami- Heme, um agrupamento orgânico específico que contém
noácidos da estrutura primária que a proteína se dobrará de um átomo de ferro. Cada molécula de hemoglobina é for-
forma a ter uma estrutura tridimensional. mada por quatro subunidades (quatro proteínas globinas)
e consequentemente contém quatro átomos de ferro, res-
Os aminoácidos ligados entre si (estrutura primária) não
ponsáveis pela interação com o gás oxigênio e por conferir
formam uma estrutura linear e esticada, pois as ligações
ao sangue sua coloração avermelhada.
peptídicas entre cada aminoácido e as interações entre os
radicais de cada aminoácido fazem com que essa cadeia
de aminoácidos se dobre sobre si mesma, formando as
estruturas secundárias. Existes três principais tipos de
estruturas terciárias: as alfa-hélices, quando os amino-
ácidos formam uma estrutura helicoidal; as folhas beta-
-pregueadas, quando os aminoácidos interagem entre
si e formam uma estrutura plana, como uma folha; e os
loopings, que são regiões flexíveis, geralmente conectan-
do hélices e folhas beta-pregueadas. Uma proteína pode
apresentar mais de um tipo de estrutura secundária em
regiões distintas de sua estrutura. 1.2. Desnaturação proteica
Gli Gli Met
Gli
Diversos fatores, como temperatura, grau de acidez (pH) ou
Gli Lis Lis
Val
Arg
Lis
Ser
concentração de sais podem comprometer a interação en-
tre as estruturas secundárias de uma proteína, desfazendo
Lis
Met Val
Gli
Estrutura secundária
Lis
Ser
Met
Arg
Arg
Arg
Estrutura primária
(sequência de aminoácidos) capacidade da proteína de desenvolver sua função biológica.
Esse fenômeno é chamado de desnaturação proteica.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Estrutura terciária
Estrutura quaternária
(peptideo individual dobrado)
(grupo de dois ou mais peptideos)
105
VIVENCIANDO
A propriedade catalítica das proteínas (enzimas) faz com que elas sejam adequadas para aplicações industriais, como na
indústria alimentícia. As reações enzimáticas são fundamentais para a produção de alimentos, uma vez que as enzimas
atuam na formação de compostos altamente desejáveis. Por exemplo, as enzimas amilases são adicionadas a massas de
pão para potencializar o efeito de enzimas naturais durante a fermentação.
As principais aplicações das enzimas no segmento alimentício ocorrem nas áreas de produção de álcool e derivados,
vinicultura, açúcares e amidos, laticínios e derivados, panificação e sucos de frutas.
1.3. Função das proteínas Além da função estrutural, as proteínas atuam como en-
zimas ou biocatalisadoras das reações bioquímicas que
A seguir, serão discutidas com mais detalhes apenas as ocorrem nas células. Elas diminuem a energia de ativação
funções estrutural e enzimática das proteínas. As demais exigida pelas reações, tornando-as mais espontâneas e au-
funções serão apresentadas posteriormente, junto ao estu- mentando suas velocidades.
do da membrana plasmática (receptores permeases), dos
grupos sanguíneos (anticorpos) e da fisiologia do sistema
endócrino (hormônios).
• estrutural
• catalizadora (enzimas)
• imunológica (anticorpos)
• regulatória (hormônios)
• receptora (membrana)
• transportadora (transmembrana)
A maior parte das informações contidas no DNA dos orga-
nismos está relacionada à fabricação de enzimas. Cada re-
Uma das funções das proteínas é a função estrutural, pois faz
ação que ocorre na célula necessita de uma enzima
parte da arquitetura das células e dos tecidos dos organismos.
específica, isto é, uma mesma enzima não catalisa duas
PROTEÍNAS ESTRUTURAIS reações distintas.
proteínas papel biológico A especificidade das enzimas é explicada pelo modelo da
chave (reagente) e fechadura (enzima), pois a forma espacial
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
106
sítio ativo da enzima (inibição competitiva), como também podem se ligar a outras regiões da enzima e impedir que ela
se ligue ao substrato (inibição alostérica). Em ambos os casos, o inibidor pode se desligar da enzima depois de um certo
tempo, de modo que enzima se torne novamente ativa, ou pode se ligar permanentemente à enzima, inibindo-a de forma
irreversível.
107
Os anticorpos agem aderindo à superfície do corpo estra-
nho. Dessa forma, eles impedem a multiplicação dos mi-
crorganismos e inibem a ação das toxinas.
Antígeno
bacteriano
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Feofíceas ou algas pardas -
Diversidade dos Seres Vivos
ANTICORPOS
Conceitos de química e física são utilizados para analisar a atividade de uma enzima. Medidas da velocidade inicial
de uma reação catalisada por enzimas são fundamentais para a compreensão do mecanismo de ação da enzima.
A equação matemática que expressa a relação hiperbólica entre velocidade inicial e a concentração de substrato é
conhecida como equação de Michaelis-Menten. Nessa equação, V0 representa a velocidade inicial da reação enzimá-
tica, Vmáx é a velocidade máxima dessa reação, [S] é a concentração do substrato e Km é uma constante característica
de cada enzima.
v0 = Vmax[S]/Km + [S]
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
108
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.
Neste exercício, é necessário identificar processos importantes que determinam as velocidades das reações
químicas e como isso influencia o equilíbrio interno dos sistemas biológicos.
MODELO 1
(Enem) Alguns fatores podem alterar a rapidez das reações químicas. A seguir destacam-se três exemplos no
contexto da preparação e da conservação de alimentos:
1. A maioria dos produtos alimentícios se conserva por muito mais tempo quando submetidos à refrigeração.
Esse procedimento diminui a rapidez das reações que contribuem para a degradação de certos alimentos.
2. Um procedimento muito comum utilizado em práticas de culinária é o corte dos alimentos para acelerar o
seu cozimento, caso não se tenha uma panela de pressão.
3. Na preparação de iogurtes, adicionam-se ao leite bactérias produtoras de enzimas que aceleram as reações
envolvendo açúcares e proteínas lácteas.
Com base no texto, quais são os fatores que influenciam a rapidez das transformações químicas relacionadas
aos exemplos 1, 2 e 3, respectivamente?
ANÁLISE EXPOSITIVA
A proposição 1 está relacionada diretamente com a temperatura, uma vez que a sua diminuição
reduz o metabolismo dos microrganismos relacionados com a degradação dos alimentos. Já a propo-
sição 2 está relacionada com o aumento da superfície de contato, que é maior quando os alimentos
estão cortados e, dessa forma, o cozimento ocorre mais rapidamente.
As enzimas são proteínas que têm como função acelerar as reações metabólicas dos organismos.
Essa é a função de um catalisador. Na indústria alimentícia, é essencial o uso das enzimas para a
produção rápida e em larga escala de seus produtos.
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
RESPOSTA Alternativa C
109
DIAGRAMA DE IDEIAS
AMINOÁCIDOS
+
LIGAÇÕES PEPTÍDICAS
PROTEÍNAS
FUNÇÕES ESTRUTURA
• DEFESA (ANTICORPOS)
• RECEPTORAS DESNATURAÇÃO: PERDA DE FORMA
• ENZIMÁTICA
CAUSADA POR: • PH
• HORMÔNIOS
• TEMPERATURA
• ESTRUTURAIS
• SALINIDADE
• TRANSPORTE DE OXIGÊNIO
110
guanina (G). As pirimídicas são a citosina (C) e a timina
(T). Observe a figura:
CITOSINA ADENINA
NH2 (2-oxi-4-amonopirimidina) (6-aminopurina) NH2
COMPOSIÇÃO
C C N
4 6
N CH N C
CH
C C2 CH O PIRIMIDINA
PURINA HC C
QUÍMICA
C H H
N N N
4
HN C CH 3 C C N
H 5 H
4 6 C 7
HN CH N
1 5
O C2 CH 3 5
8 CH O
O
CELULAR III
2 6 2 4
N HN CH HC 3 C C N
C 1 9
N N 6 C
4 H N HN
HN CH
H CH
TIMINA H 2
(5-METIL-2,4-dioxipirimidina) HN HC C
C C2 CH 2
N N
N
H
H URACILO GUANINA
(2,4-dioxipirimidina) (2-amino-6-oxipurina)
CN
Em 1950, o austríaco Erwin Chargaff (1905-2002) anali-
AULAS sou amostras de DNA de diferentes células pertencentes
5E6 a diversas espécies e demonstrou que, em todas elas, as
quantidades de adenina eram iguais às de timina, enquan-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) to as de citosina eram iguais às de guanina. A partir dessas
4 13 e 14 observações, ele desenvolveu a Relação de Chargaff:
A = T e C = G ou A/T = 1 e C/G = 1
1. DNA
1.1. Composição química 1.3. Estrutura do DNA
Por meio de informações obtidas em estudos da difração
O ácido desoxirribonucleico (DNA) é um polímero definido
dos raios-X e de análises químicas realizadas pela cientista
como um polinucleotídeo, uma vez que é constituído por
Rosalind Franklin, os pesquisadores James Watson e Francis
uma sucessão de unidades menores, os nucleotídeos.
Crick propuseram em 1953 o modelo da estrutura do DNA:
Os nucleotídeos são unidades orgânicas complexas formadas macromolécula constituída por duas cadeias polinucleotí
pela união de três moléculas: um fosfato, uma pentose e uma dicas dispostas helicoidalmente.
base nitrogenada. Se o fosfato for retirado de um nucleotídeo,
o resultado será um nucleosídeo. Observe a figura abaixo:
111
A dupla-héliceA dupla-hélice
– Watson- Watson
e Cricke Crick/1953
(1953) Transcrição
D=Desoxirribose
P= Fosfato Tradução
RNA
P P P
T T A
D D D
Proteína
P P
C G
P
C
D D D
P P P
G G C
D D D
P
A
P
A T
P
DNA
Duplicação
D D D
DNA
P P
Funções do DNA
Funções do DNA
P
Guanina
reação de feulgen
1.5. Funções
O DNA é o material genético e possui duas propriedades
fundamentais: replicação e transcrição. Por meio da repli-
cação, a célula-mãe produz cópias exatas que passam para
as células-filhas.
A outra função e propriedade do DNA é a transcrição, a O fundamental do processo de replicação é garantir que as
partir da qual se origina o RNA, molécula que atua na sín- informações genéticas sejam passadas às gerações seguin-
tese das proteínas necessárias ao funcionamento celular. tes, permitindo, assim, que o genoma adaptativo persista.
112
Três estágios da replicação do DNA
Três estágios da replicação do DNA
Filamento
principal
3 Estágio 2: Síntese contínua
Ativador do RNA
DNA polimerase 1
1.7. Transcrição
Os genes, representados por segmentos de DNA, são os portadores da mensagem genética, que contém as instruções
necessárias para a síntese das proteínas nos ribossomos. Na transcrição, o DNA cromossômico sintetiza o RNA mensageiro,
para o qual transcreve a sequência de nucleotídeos representada pela mensagem genética. Ao deixar o núcleo, o RNA leva
a mensagem genética para os ribossomos.
2. RNA
2.1. Estrutura
Existem vários tipos de RNA, que estão sendo muito estudados por cientistas atualmente. Porém, dentro do contexto de
síntese de proteínas que será explorado aqui, estudaremos três tipos principais:
1. possui ribose (pentose) em vez de desoxirribose;
2. a base pirimídica uracila ou uracil, que não existe no DNA, substitui a timina;
3. sua molécula é formada por apenas uma fita ou cadeia simples, dessa forma, não existe pareamento nem igualdade nas
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
quantidades de bases.
Abaixo, um modelo de RNA:
113
A transcrição é o processo no qual todo RNA é sintetizado
pelo DNA. Como ocorre na replicação, as pontes de hidro-
gênio se quebram e as duas cadeias de DNA se separam.
Apenas uma delas serve de molde para a transcrição, na
qual ocorrerá a adição de nucleotídeos complementares de
RNA. O pareamento ocorrerá da seguinte forma:
A enzima responsável pelo processo é a RNA-polimerase. Uma vez formada, a molécula de RNA destaca-se e o DNA retorna
à sua forma original. A cadeia do DNA que forma o RNA é chamada de cadeia-molde ou hélice ativa. Observe um esquema
do processo a seguir:
RNArecém-formado
recém formado
Nucleotídeos RNA
RNA-polimerase
do RNA polimerase
Direção da “Template” da
transcrição fita de DNA
O conceito de ligações químicas, como ligação fosfodiéster e ligações de ponte de hidrogênio, é aplicado no estudo do
DNA e do RNA. Uma ligação fosfodiéster é um tipo de ligação covalente que é gerada entre dois grupos hidroxila de
um grupo fosfato e duas hidroxilas de outras duas moléculas por meio de uma dupla ligação éster. Esse tipo de ligação
química liga as pentoses de um nucleotídeo aos fosfatos de outro, auxiliando na formação da estrutura do DNA e RNA.
A ponte de hidrogênio, por sua vez, é uma ligação química em que apenas dois elétrons são compartilhados por três
átomos e liga as bases nitrogenadas do DNA. Assim, os conceitos químicos são fundamentais para a compreensão da
estrutura dos ácidos nucleicos.
114
VIVENCIANDO
A descoberta da estrutura do DNA, ao elucidar o que é um gene, impulsionou os estudos na área e foi extremamente
importante para a fundamentação da biologia molecular atual. Compreender a estrutura e os processos de duplica-
ção e transcrição auxiliou na descoberta de doenças causadas por mutações no DNA, possibilitando um possível alvo
terapêutico para o tratamento, ou até mesmo a cura, dessas doenças.
Uma grande aplicação do conhecimento básico da biologia molecular é o Projeto Genoma Humano, que codificou o
genoma (todas as moléculas de DNA de uma célula de um determinado indivíduo) humano inteiro, o que possibilitou a
identificação de doenças hereditárias e também auxiliou nos estudos de parentesco evolutivo.
ESTRUTURA
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
Anticódon
RNAt no plano.
Local onde o
aminoácido se liga
Pontes de
hidrogênio
Anticódon
115
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 13
Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de
características dos seres vivos.
O exercício envolve conhecimentos sobre a estrutura e a replicação do DNA. Reconhecer como esses processos
estão envolvidos nos mecanismos de transmissão da vida e saber interpretar corretamente modelos biológicos
que demonstram esses processos são habilidadesG Gcobradas
C C T Tconstantemente.
C G
GG C C T T C G
MODELO 1 C C GGAAG C
C C GGAAG C
(Enem) A reação em cadeia da polimerase (PCR,C na C Tsigla
C GemA inglês)
C T é uma técnica de biologia molecular que
C C Essa
permite replicação in vitro do DNA de forma rápida. T C G A C Tsurgiu na década de 1980 e permitiu avanços
técnica
GGAG C T GA
científicos em todas as áreas de investigação genômica.
G G A G AC dupla-hélice
T GA é estabilizada por ligações hidrogênio,
duas entre as bases adenina (A) e timina (T) e três entre as bases guanina (G) e citosina (C). Inicialmente, para
A A T ser
que o DNA possa ser replicado, a dupla-hélice precisa T Ctotalmente
C T A desnaturada (desenrolada) pelo aumento
AAT T C C TA
da temperatura, quando são desfeitas as ligaçõesT Thidrogênio
A A G G entre
A T as diferentes bases nitrogenadas.
Qual dos segmentos de DNA será o primeiro Ta desnaturar
T A A G G totalmente
AT durante o aumento da temperatura
GG C C T T C G
na reaçãoGdeG PCR?
C C T T C G T TAC GG C G
a) GC GC GC GC AT AT GC GC d) T T A C G G C G
C C GGAAG C AAT G C C G C
C C GGAAG C AAT G C C G C
C C T C GAC T
b) C C T C GAC T e)
G G A G C T G A C C TAGGAA
C C T C GAC T C C T A G G A A
GGAG C T GA GGAT C C T T
c) GGAG C T GA GGAT C C T T
AAT T C C TA
AAT T C C TA
ATA TA TA T GC GC ATA T
T TAAGGAT
T TAAGGAT
T TAC GG C G
ANÁLISETEXPOSITIVA
TAC GG C G
A A
T TA T GC GC GC GC GC
AAT G C C G C
Essa questão envolve o conhecimento da estrutura do DNA, molécula essencial para a manutenção da vida.
Aqui, o ACDNA
AT G C C G C
C Té Acontextualizado
GGAA por meio de uma técnica chamada Reação em Cadeia da Polimerase (PCR),
que temC como
C T Afunção
G G Aproduzir
A novas moléculas idênticas de um determinado trecho de DNA. Para isso, é
GC GC A T GC GC ATA
necessária a Tseparação
A daT dupla fita da molécula. Isso ocorrerá devido ao aumento da temperatura, procedi-
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
GGAT C C T T
mento utilizado no PCR. Para entender qual fita será separada mais facilmente, deve-se lembrar que adenina
GGAT C C T T
(A) se pareia através de duas ligações de hidrogênio com timina (T) e que citocina (C) se pareia através de
três ligações de hidrogênio com guanina (G). Logo, a molécula que vai se separar mais facilmente é aquela
que possui maior quantidade de (A) pareada com (T).
RESPOSTA Alternativa C
116
DIAGRAMA DE IDEIAS
DNA
ESTRUTURA PROPRIEDADES
COMPOSIÇÃO
QUÍMICA
117
1.1. O dogma central da
biologia molecular
A relação DNA-RNA-proteínas, esquematizada na figura
a seguir, é conhecida como o dogma central da biologia
CÓDIGO GENÉTICO E molecular, que estuda as atividades gênicas celulares por
meio da ação dessas macromoléculas.
SÍNTESE PROTEICA Polirribossomos
Aminoácido
CN AULAS
CITOPLASMA
7E8
NÚCLEO
RNAm
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
SÍNTESE
TRADUÇÃO
4 13 e 14 PROTEICA
pela morfologia dos organismos, pois fazem parte das o RNA mensageiro (RNAm), para o qual transcreve a
estruturas celulares e, consequentemente, dos tecidos, mensagem genética – na verdade, uma receita para
órgãos e sistemas.
síntese de proteínas.
§ Proteínas reguladoras – são as enzimas e os
§ Tradução – saindo do núcleo, o RNAm atinge o ribos-
hormônios. As primeiras são especializadas na ca-
somo, que recebe a mensagem contida e codificada no
tálise de reações biológicas que determinam as ativi-
DNA. Na tradução, o ribossomo, de acordo com a sequ-
dades celulares, responsáveis por toda a fisiologia do
ência de bases nitrogenadas contidas no RNAm, selecio-
organismo. Os hormônios são proteínas geradas em
na e encadeia os aminoácidos, sintetizando a proteína.
órgãos especializados, servindo para regular o funcio-
namento de um organismo. Assim, é possível afirmar
que as características de um organismo dependem 1.2. A colinearidade DNA e proteína
das proteínas. Os ácidos nucleicos constituem o ma-
terial genético, responsável pela síntese das proteínas O DNA e a proteína são moléculas formadas por uma
estruturais e reguladoras. sequência linear de monômeros, ou seja, são polímeros.
118
No DNA e na proteína, os monômeros são, respectiva-
mente, nucleotídeos e aminoácidos. O DNA é colinear
com a proteína que ele codifica, ou seja, a sequência de DNA
Replicação
nucleotídeos do DNA especifica a sequência de aminoá- informação
RNA
Hélice de DNA ativa
informação
Transcrição Tradução
Tradução
RNAm (Síntese proteica)
Tradução Ribossomo
proteína
Proteína Códon
Modelo da ação gênica
Molécula
Genesde DNA Existe uma relação matemática na codificação dos amino-
ácidos, ou seja, qual a quantidade de nucleotídeos associa-
Genes da à identificação de um aminoácido?
Hélice de DNA ativa
As proteínas são constituídas por vinte tipos de aminoá-
Transcrição cidos. Se cada nucleotídeo codificasse um único aminoá-
élice de DNA ativa cido, apenas quatro poderiam ser codificados. Dois nucle-
RNAm otídeos também seriam insuficientes, pois, reunidos dois
Transcrição
Tradução a dois, só permitem dezesseis arranjos com repetição, ou
RNAm seja: desse modo, apenas dezesseis aminoácidos seriam
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
119
2.1. Representação do código genético
Nas tabelas de código genético, os códons são representados pela sequência do RNA mensageiro.
2.2. Códons de iniciação e terminalização nerado porque a maioria dos aminoácidos é codificada por
dois ou mais códons.
A síntese de uma proteína tem início quando um ribossomo
se organiza junto ao RNAm sobre o códon de iniciação AUG O código é universal, pois cada códon codifica sempre o mes-
(start códon). Esse códon codifica o aminoácido metionina mo aminoácido em qualquer organismo, inclusive os vírus.
(Met), de forma que todas as proteínas começam com Ou seja, um aminoácido pode ser codificado por mais de
a metionina. A cadeia termina quando o ribossomo atinge um códon, porém um códon codifica apenas um aminoácido
um dos três códons de parada ou finalização (stop códon), específico, de modo que o código genético não é, de forma
representados por: UAA, UAG e UGA. Os códons de finaliza- alguma, ambíguo (não há possibilidade de dois aminoácidos
ção não codificam nenhum aminoácido. distintos serem codificados pelo mesmo códon).
Gene
DNA
Alguns pesquisadores afirmam que o fato de mais de um
códon poder codificar o mesmo aminoácido, de certa forma,
Sequência promotora
começa a sítese de RNA
Fita ativa
do DNA
Região de final
de transcrição "protege" o organismo contra algumas mutações, já que
RNA polimerase
algumas alterações nesse códon podem manter o mesmo
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
120
§ Transcrição – a primeira etapa da síntese proteica e, por- Ao sítio 1 se liga um RNAt que apresenta um anticódon
tanto, da ação gênica, é a transcrição, que corresponde à complementar ao primeiro códon do RNAm. No sítio 2, aco-
formação do RNA mensageiro. O gene que codifica uma pla-se o segundo RNAt específico, que transporta o segundo
proteína sintetiza o RNAm. Destacando-se do DNA, o aminoácido. Entre os dois primeiros aminoácidos, forma-se
RNAm atravessa um poro do envoltório nuclear, os anulli, a ligação peptídica, produzindo um dipeptídeo, enquanto o
e atinge o citoplasma, em que se associa a um ribossomo, primeiro RNAt é liberado. O ribossomo desloca-se e aparece
formando um molde para a síntese de uma proteína. então no segundo e terceiro códons do RNAm. O dipeptídeo
§ Ativação dos aminoácidos – nessa etapa, atuam os aparece no sítio 1, ficando o sítio 2 livre para o acoplamen-
RNA transportadores (RNAt), pequenas moléculas cons- to do terceiro RNAt. Com o deslocamento do ribossomo, o
tituídas por uma cadeia com cerca de 80 nucleotídeos processo vai-se repetindo até a formação completa do poli-
que se dobra lembrando uma folha de trevo. Diferen- peptídeo, ou seja, da proteína. Por fim, o RNAm e a proteína
ciam-se no RNAt duas regiões de união: o anticódon e desprendem-se do ribossomo.
o extremo da molécula. O anticódon é uma sequência
de três bases complementares a um códon do RNAm. A 2.5. O polissomo
ativação do aminoácido implica a fixação desse ao RNAt.
O processo é catalisado pela enzima aminoacil RNAt sin- A cadeia do RNAm é muito longa, permitindo que vários
tetase e envolve gasto de ATP. ribossomos realizem simultaneamente a tradução. O con-
junto de ribossomos ligados a uma molécula de RNAm,
executando o processo de tradução, é chamado de polis-
somo ou polirribossomo.
Proteína
completa
Proteína em
crescimento
Ribossomo
121
3.2. Tipos de mutação 3.3. Mutações somáticas e germinativas
As mutações gênicas podem ser classificadas em: As mutações somáticas ocorrem nas células somáticas.
Elas podem modificar uma característica do organismo,
§ Substituição – consiste na substituição de uma
mas não são transmitidas para os descendentes. As mu
base por outra, como pode ser observado na fi-
tações germinativas, por sua vez, acontecem nas células
gura abaixo, em que, na cadeia inferior, adenina
formadoras dos gametas ou ainda nos próprios game-
foi substituída por guanina. As substituições são
tas, e podem ser transmitidas aos descendentes. São
classificadas em dois tipos: transição, que é a
importantes para a variabilidade genética e a evolução
substituição de purina por purina (A por G ou G
dos organismos.
por A) ou pirimidina por pirimidina (C por T ou T
por C); e transversão, que é a troca de purina por 3.4. Agentes mutagênicos
pirimidina ou vice-versa (A ou G por T e vice-versa).
As mutações, quando determinadas por alterações quími-
cas nas bases, são denominadas espontâneas e, quando
decorrentes da ação de agentes físicos e químicos, são de-
nominadas induzidas. Entre os agentes físicos, citamos os
raios-X, alfa, beta e gama, capazes de alterar as bases e
produzir quebras nas cadeias do DNA. Como agentes quí-
micos, aparecem os análogos de bases, substâncias que
§ Deleção ou deficiência – é a perda de bases, como têm estruturas moleculares semelhantes às bases do DNA
se verifica na figura abaixo, em que, na cadeia inferior, e, se presentes, podem ser incorporadas durante a repli-
adenina foi suprimida. cação. Assim, bromouracil é quase igual à timina e pode
substituí-la na replicação do DNA. Contudo, diferentemen-
te da timina, o bromouracil pareia com a guanina, produ-
zindo uma mutação do tipo transição com substituição de
A – T por G – C.
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Fonte: Youtube
From DNA to protein - 3D
122
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Os conceitos de síntese proteica são necessários para a compreensão da evolução biológica e de como as características se
desenvolvem nos organismos. As características específicas de cada indivíduo produzem uma gama de variantes na população.
Dessa forma, os organismos mais aptos ao meio são selecionados positivamente, o que culmina no processo evolutivo. Para
que as informações contidas no DNA sejam expressas, é necessário que o metabolismo citológico trabalhe, produzindo
proteínas que resultam na expressão dos caracteres. Vê-se, nesse contexto, a interação entre a ecologia e a genética evolutiva.
123
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.
A síntese de proteínas é um processo vital na manutenção do equilíbrio interno dos organismos. Esse pro-
cesso está associado a equilíbrio, defesa, sexualidade, transporte, dentre outras funções vitais presentes nos
sistemas biológicos. Conhecer de que maneira esse processo ocorre é essencial, uma vez que é cobrado de
diferentes formas nas provas do Enem.
MODELO 1
(Enem) A figura seguinte representa um modelo de transmissão da informação genética nos sistemas biológi-
cos. No fim do processo, que inclui a replicação, a transcrição e a tradução, há três formas proteicas diferentes
denominadas a, b e c.
ANÁLISE EXPOSITIVA
A partir do esquema, é possível depreender que a replicação do DNA ocorre de maneira periódica e
independente de outros processos apresentados. De acordo com o esquema, pode-se formar tanto
DNA a partir de RNA como o processo inverso, pois a representação desse processo é feita por meio
VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias
de uma seta bidirecional. Portanto, a partir dessa representação, não é possível afirmar que o pro-
cesso representado é unidirecional. Ainda é possível depreender do esquema que, a partir do mesmo
RNA formado, podem ser formados tipos diferentes de proteínas. Isso é possível, pois, na mesma
molécula de RNA, existem diversos pontos de início e parada da síntese proteica, e, dependendo da
região que está sendo traduzida, diferentes proteínas podem ser formadas.
RESPOSTA Alternativa D
124
DIAGRAMA DE IDEIAS
REPLICAÇÃO CÓDONS
DNA
(NÚCLEO CELULAR)
• TRINCA DE NUCLEOTÍDEOS
• CORRESPONDEM A UM AMINOÁCIDO
• CÓDIGO GENÉTICO
TRANSCRIÇÃO UNIVERSAL
RNAm
(NÚCLEO CELULAR) DEGENERADO
NÃO AMBÍGUO
SÍNTESE DE
RIBOSSOMO
PROTEÍNA
(RNAr) RNAt
(CITOPLASMA)
• TRANSPORTE DE AMINOÁCIDOS
• TRINCA CORRESPONDENTE AO CÓDON
PROTEÍNA
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ANOTAÇÕES
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