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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral,
com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totali-
zando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla,
de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a
aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS VIVENCIANDO


De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico
volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi-
nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina culta a compreensão de determinados conceitos e impede
em todo o território nacional. o aprofundamento nos temas para além da superficial me-
morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na
aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi-
venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo-
cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
TEORIA
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co- contato em seu dia a dia.
leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu-
ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil
compreensão, completos e organizados. Além disso, contam
com imagens ilustrativas que complementam as explicações APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em
cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa-
abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos
à rotina intensa de estudos. compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re-
solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça
abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e
de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas
MULTIMÍDIA resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica-
ções dadas em sala de aula.
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui-
dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar
o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a
compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa-
cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem-
de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati- penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa
vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e
ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção
seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
o conhecimento do nosso aluno. dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento
do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas
resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e
descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no
dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é prova e a resolvê-las com tranquilidade.
elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que
trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co-
nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina.
DIAGRAMA DE IDEIAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso,
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma- orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de
temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte-
com essa realidade por meio de explicações que relacionam údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de mentais e fluxogramas.
outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta
forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a
mundo em que ele vive. organização dos estudos e até a resolução dos exercícios.
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ISBN
978-85-9542-243-8

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SUMÁRIO
ENTRE SOCIDADES
SOCIOLOGIA
AULA 1: SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: AUGUSTE COMTE 006
AULA 2: SOCIOLOGIA CLÁSSICA: ÉMILE DURKHEIM I 012
AULA 3: SOCIOLOGIA CLÁSSICA: ÉMILE DURKHEIM II 018
AULA 4: SOCIOLOGIA CLÁSSICA: MAX WEBER 024
AULA 5: SOCIOLOGIA CLÁSSICA: KARL MARX I 031
AULA 6: SOCIOLOGIA CLÁSSICA: KARL MARX II 038
AULA 7: SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA: PIERRE BOURDIEU 045
AULA 8: O PROCESSO CIVILIZADOR: NORBERT ELIAS 053
AULA 9: ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E SUAS FORMAS 061
AULA 10: CULTURA E PATRIMÔNIO CULTURAL  067
AULA 11: ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL 075
AULA 12: INDÚSTRIA CULTURAL E SOCIEDADE DO ESPETÁCULO 082
AULA 13: MICHEL FOUCAULT 088
AULA 14: O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA 095
AULA 15: A QUESTÃO DE GÊNERO 103
AULA 16: MOVIMENTOS SOCIAIS 110
AULA 17: IDENTIDADE 117
AULA 18: SOCIOLOGIA BRASILEIRA: GILBERTO FREYRE 123
AULA 19: SOCIOLOGIA BRASILEIRA: CAIO PRADO JR. E SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA 128
AULA 20: SOCIOLOGIA BRASILEIRA: FLORESTAN FERNANDES 135
AULA 21: SOCIOLOGIA BRASILEIRA: DARCY RIBEIRO E HERBERT DE SOUZA 142
AULA 22: SOCIOLOGIA BRASILEIRA: ROBERTO DAMATTA 150
AULA 23: MODERNIDADE LÍQUIDA: ZYGMUNT BAUMAN 156
AULA 24: O MEIO AMBIENTE COMO PROBLEMA SOCIAL 163
AULA 25: AS NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA: PIERRY LÉVY 171
AULA 26: AS NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA: MANUEL CASTELLS 178
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM

Compreender os elementos culturais que constituem as identidades


Competência 1

H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.


H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspectoda cultura.
H5 - Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.

Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
Competência 2

H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.


H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.

Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, con-
flitos e movimentos sociais.
Competência 3

H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.


H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica
H14
acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na
vida social.
Competência 4

H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.

Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
Competência 5

H21 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H22 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construçãodo texto literário.
H23 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos.
Competência 6

H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

A prova contém interdisciplinaridade nas A abordagem do vestibular da USP é in-


Ciências Humanas, com poucas questões terdisciplinar, de forma que a Sociologia
diretas na área da Sociologia, tendo pre- é tratada mais como um alicerce para a
ferência por questões temáticas. compreensão da realidade e suas trans-
formações.

A prova apresenta uma relação da So- A prova trata a Sociologia com um olhar
A prova apresenta uma temática socioló-
ciologia com a Geografia. Diante disso, o independente, não relacionando com
gica relacionada com literatura, exigindo
candidato precisa relacionar as transfor- História. O seu enfoque é relacionar te-
do candidato a interpretação do assunto
mações do espaço e do próprio homem orias e correntes filosóficas associadas
abordado.
em conjunto com as teorias sociológicas. ou contrárias.

A prova cobra a disciplina de Sociolo- A prova é direcionada para a prática da A prova cobra a disciplina de Sociolo- A prova direciona diretamente para a
gia de forma indireta nas temáticas de Medicina. Assim, a Sociologia é cobrada gia de forma indireta nas temáticas de Sociologia, com conceitos sociológicos, e
redação. de maneira indireta, principalmente nos redação. é abordada de forma indiretamente nas
temas de redação, que podem auxiliar os temáticas de redação..
candidatos a elaborarem melhor os seus
argumentos.

Na A prova trata a Sociologia com um A prova cobra a disciplina de Sociolo-


A prova é apresentada conforme seu
olhar específico, possuindo um edital di- gia de forma indireta nas temáticas de
edital específico, na qual são relaciona-
ferenciado com autores específicos. redação.
dos alguns livros ou trechos de obras de
sociólogos e antropólogos.

A prova apresenta a Sociologia de forma A prova segue diretamente a disciplina A prova não aborda a Sociologia.
sutil, apontando alguns aspectos cultu- de Sociologia, com questões específicas,
rais e étnicos. podendo também fazer uma abordagem
nas temáticas de redação.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  5


SURGIMENTO
DA
SOCIOLOGIA:
AUGUSTE
COMTE

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: livro
HABILIDADE(s)
O que é Sociologia
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
Para alguns ela representa uma poderosa arma a serviço
1
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
dos interesses dominantes; para outros é a expressão teó-
rica dos movimentos revolucionários. Como compreender
as diferentes avaliações que a Sociologia recebe? Deba-
tendo a dimensão política dessa ciência, o autor reflete
em que medida as teorias sociológicas contribuem para
manter ou alterar as relações de poder da sociedade.

Os primeiros teóricos que desenvolveram um método e


definiram um objeto próprio da Sociologia foram os posi-
O surgimento da ciência Sociologia se deu em meio a um
tivistas. Essa corrente de pensamento, denominada de “fí-
contexto de diversas transformações da sociedade euro-
sica social”, surgiu com Auguste Comte, que se dedicava
peia na passagem do século XVIII para o XIX, período de
a estudar a sociedade a partir de métodos científicos das
difusão da Revolução Industrial e dos desdobramentos da
Ciências Naturais.
Revolução Francesa (1789). A partir do desenvolvimento
da razão, da ciência e da sociedade industrial, era neces- Observando as transformações da sociedade pós-Revolução
sário desenvolver um conjunto de explicações racionais Industrial, Auguste Comte contribuiu para a formação dessa
e científicas oriundo da investigação empírica metódica nova ciência, que, seguindo as diretrizes da racionalidade,
que conseguisse analisar os novos fenômenos sociais que seria a mais elevada de todas as ciências.
apontavam para a formação de uma nova sociedade.
O positivismo, corrente filosófica que buscava uma reorga-
nização intelectual, moral e política da ordem social, nasceu
1. Auguste Comte (1798-1857) com fins práticos de criar uma ordem social estável. O seu
pensamento consistia em três estágios, contidos em seu Cur-
Auguste Comte nasceu em 1798, na França, onde viveu so de filosofia positiva: teológico, metafísico e positivo.
toda a sua vida. Dedicou seus estudos ao que foi definido
como filosofia positivista. Comte foi o primeiro a utilizar § Estado teológico: corresponde à infância da humani-
o termo Sociologia, considerando-a como a ciência mais dade, pois a mente humana se baseia em um conhe-
complexa e profunda. Sua principal obra ficou conhecida cimento provisório e ilusório, ou seja, tenta explicações
como Curso de filosofia positiva (1842). da realidade por meio de entidades sobrenaturais. Se-
gundo Comte, a religião se encaixa nesse estado, pois
ela inicia o processo do conhecimento; porém, é um
tipo de conhecimento não muito confiável.
§ Estado metafísico: as explicações dos fenômenos da re-
alidade são feitas por entidades abstratas, mas contêm
traços de elementos teológicos. Trata-se de um estado
intermediário para o conhecimento definitivo.
 VOLUME ÚNICO

§ Estado positivo: representa a realidade, sendo a forma


definitiva. Aqui a ciência predomina, de modo que se
buscam os fatos e não as causas ou princípios; preocu-
pa-se com o processo do conhecimento, e não com os
motivos dessas causas.

6  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


pensamento positivista foi o Império Austro-Húngaro, que
difundiu esse pensamento.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Comte – As leis dos três Estados
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
1.1. Positivismo O positivismo de Auguste Comte
O pensamento científico e experimental é o único guia
para o ser humano, de forma que a ciência é a base dessa
doutrina, com o intuito de organizar todos os elementos da 1.2. Positivismo no Brasil
sociedade, inclusive a área religiosa. Com o início da República, no século XIX, o positivismo
Em sua obra Sistema de política positiva (1854), Comte cria ganhou força, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
a religião da humanidade ou a religião positivista, que tem Com suas características de que existe uma hierarquia, a
como diretrizes: "O amor por princípio, a ordem por base; qual deve seguir uma ordenação científica, o positivismo
e o progresso por fim". Acreditando fielmente na ciência, ganhou muitos adeptos do alto oficialato do Exército e en-
Comte defende um processo de progresso contínuo e evo- tre a camada burguesa. Diante disso, a nova bandeira do
lutivo da humanidade. Brasil ganhou um lema positivista.

multimídia: livro

Positivismo: reabrindo o debate - Hermas Gonçalves


Arana. Campinas: Autores Associados, 2007.
Questionando chavões e invocando textos de pouca cir-
culação entre nós, o autor busca determinar o núcleo
teórico das principais doutrinas positivistas, em sua mul- Bandira do Império Brasileiro
tiformidade, tomando como fio condutor o conceito de
dado empírico.

Esse processo evolutivo também recairia entre as ciências


positivas – Matemática, Física, Astronomia, Química, Biolo-
gia – e teria como a maior entre essas ciências uma nova
 VOLUME ÚNICO

ciência – a Sociologia –, que englobaria todas elas.


Pensando no controle da sociedade, Comte estruturou que
todos os elementos deveriam ter a razão científica como
norteador dessas ações. Esse pensamento ganhou força na
Europa durante o século XIX, entre governos monárquicos
e republicanos. Uma nação que seguiu com toda ênfase no Bandeira da República Federativa do Brasil

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  7


Entre aqueles que receberam influência do pensamento
positivista, podemos destacar os primeiros presidentes da
República, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, os mi-
litares Benjamin Constant e Cândido Rondon e o escritor
Euclides da Cunha.

Templo positivista e detalhe do altar, com a imagem da deusa Humanidade,


inspirada em traços de Clotilde de Vaux, musa inspiradora de Auguste
Comte, na Igreja Positivista do Brasil, localizada no Rio de Janeiro

Acerca da expansão do positivismo no continente america-


no, Comte destacou que: “Originadas da mesma civilização
ocidental, mas sem os obstáculos retrógrados que no velho
mundo protelam a vitória da nova fé [...] essas nações apre-
sentam, tanto no temporal como no espiritual, as melhores
disposições para aceitarem a doutrina regeneradora”.

DIAGRAMA DE IDEIAS

REVOLUÇÃO TRANSFORMAÇÕES SURGE A


INDUSTRIAL SOCIAIS SOCIOLOGIA

COMTE

POSITIVISMO

DOMINAÇÃO O AMOR POR


SOCIAL PRINCÍPIO
3 ESTÁGIOS

PELO USO A ORDEM


• ESTADO POSITIVO
CIENTÍFICO POR BASE
• ESTADO METAFÍSICO
• ESTADO TEOLÓGICO
 VOLUME ÚNICO

O PROGRESSO
POR FIM

8  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) d) O progresso da sociedade, em conformidade com
as leis naturais, é resultado da competição entre os
1. (UFF) O positivismo foi um sistema filosófico criado indivíduos, com base no princípio de justiça de que os
mais aptos recebem as maiores recompensas.
no século XIX por Augusto Comte e que exerceu gran-
de influência no Brasil, especialmente entre militares, e) O progresso da sociedade é a lei natural da dinâmica
médicos, cientistas e em algumas correntes de republi- social e, considerado em sua fase intelectual, é expres-
canos que participaram diretamente da proclamação so pela evolução de três estados básicos e sucessivos:
da República e ocuparam postos de governo no início o doméstico, o coletivo e o universal.
do novo regime. 4. (Unimontes) O positivismo foi uma corrente de pen-
Dentre as inovações adotadas no início do regime republi- samento filosófico predominante no século XIX e iní-
cano brasileiro, sob influência de ideias positivistas, estão: cio do século XX. Seu mais eminente representante foi
a) sufrágio universal, direito de voto do analfabeto e Auguste Comte (1798-1857), que é considerado o pre-
das mulheres. cursor da Sociologia. No que tange às características
b) estatização das fábricas, coletivização da agricultu- fundamentais do positivismo, pode-se afirmar, exceto:
ra e partido único. a) Para o positivismo, o conhecimento científico é a
c) liberdade sindical, leis trabalhistas e salário mínimo. “bússola da sociedade”. Nesse sentido, é imprescin-
d) separação da igreja e do estado, liberdade religiosa dível que se tenha o conhecimento acerca dos fenô-
e casamento civil. menos sociais, para que se consiga prever os mesmos
e) indenização aos proprietários de escravos, desestímu- e agir com eficácia.
lo à pequena propriedade e abolição de impostos rurais. b) O positivismo persegue um objetivo principal: des-
cobrir as leis gerais que regem os fenômenos sociais.
2. (UEG 2020) A sociologia nasce no contexto da con- c) O positivismo é uma doutrina filosófica que enfatiza
solidação da ciência enquanto forma de pensamento a busca pelo conhecimento das singularidades sociais,
dominante. Com o desenvolvimento do capitalismo e dando ênfase ao estudo interpretativo das ações de
a progressiva urbanização, alguns pensadores come- indivíduos em uma determinada coletividade.
çaram a refletir sobre os problemas da sociedade em d) O positivismo preza pela regularidade, estabilidade
transformação, como a fome, o saneamento básico, as e bom funcionamento das instituições sociais.
longas e fatigantes jornadas de trabalho etc. A partir
desse momento, emerge a sociologia, como uma ciên- 5. (UEL) O lema da bandeira do Brasil, “Ordem e Pro-
cia com objeto e método específicos, e surgem os pri- gresso”, indica a forte influência do positivismo na for-
meiros sociólogos. Um destes sociólogos foi Auguste mação política do Estado brasileiro. Assinale a alterna-
Comte, que fundamentou a sociologia a partir do méto- tiva que apresenta ideias contidas nesse lema.
do positivista. O positivismo de Comte defende
a) Crença na resolução dos conflitos sociais por meio do
a) que as ideias são desenvolvidas por seres humanos estímulo à coesão social e à evolução natural da nação.
reais e históricos. b) Ideais de movimentos juvenis, que visam superar
b) o estudo dos fatos sociais enquanto coisas exterio- os valores das gerações adultas.
res aos indivíduos. c) Denúncia dos laços de funcionalidade que unem as
c) a unidade metodológica entre ciências naturais e instituições sociais e garantem os privilégios dos ricos.
ciências sociais. d) Ideal de superação da sociedade burguesa através
d) que o conjunto das ações individuais constitui a da revolução das classes populares.
sociedade. e) Negação da instituição estatal e da harmonia cole-
e) a formulação de tipos ideais vazios de conteúdo tiva baseada na hierarquia social.
histórico.
6. (UEL) Até o século XVIII, a maioria dos campos de co-
3. (UEL) A ordem e o progresso constituem partes fun- nhecimento, hoje enquadrados sob o rótulo de ciências,
damentais da Sociologia de Auguste Comte. Com base era ainda, como na antiguidade clássica, parte integral
nas ideias comteanas, assinale a alternativa correta. dos grandes sistemas filosóficos. A constituição de sa-
a) A ordem social total se estabelece de acordo com beres autônomos, organizados em disciplinas específi-
as leis da natureza, e as possíveis deficiências exis- cas, como a Biologia ou a própria Sociologia, envolverá,
tentes podem ser retificadas mediante a intervenção de uma forma ou de outra, a progressiva reflexão filo-
racional dos seres humanos. sófica, como a liberdade e a razão.
b) A liberdade de opinião e a diferença entre os indiví-
 VOLUME ÚNICO

duos são fundamentos da solidariedade na formação da QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M.L.O.; OLIVEIRA,
M.G.M. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e
estática social; essa diversidade produz vantagens para a Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 12.
evolução, em comparação com a homogeneidade.
c) O desenvolvimento das forças produtivas é a base Com base nos conhecimentos sobre o surgimento da
para o progresso e segue uma linha reta, sem oscila- Sociologia, assinale a alternativa que apresenta, corre-
ções e, portanto, a interferência humana é incapaz de tamente, a relação entre conhecimento sociológico de
alterar sua direção ou velocidade. Auguste Comte e as ideias iluministas.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  9


a) A ideia de desenvolvimento pela revolução social foi ponto de partida era a ciência e o avanço que ela vi-
defendida pelo iluminismo, que influenciou o positivismo. nha obtendo em todos os campos de investigação. (...)
b) A crença na razão como promotora do progresso O advento da sociologia representava para Comte o
da sociedade foi compartilhada pelo iluminismo e coroamento da evolução do conhecimento científico,
pelo positivismo. já constituído em várias áreas do saber.
c) O iluminismo forneceu os princípios e as bases teóri- MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia.
cas da luta de classes para a formulação do positivismo. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 44.
d) O reconhecimento da validade do conhecimento TEXTO II
teológico para explicar a realidade social é um ponto
comum entre o iluminismo e o positivismo. O conjunto da nova filosofia tenderá sempre a fazer
e) Os limites e as contradições do progresso para a sobressair, tanto na vida ativa como na especulativa, a
liberdade humana foram apontados pelo iluminismo ligação de cada um a todos, sob uma série de aspectos
e aceitos pelo positivismo. diversos, de modo a tornar involuntariamente familiar
o sentimento íntimo da solidariedade social, (...) Não
7. (UFUB adaptada) Sobre o surgimento da Sociologia, somente a ativa busca do bem público será sempre pri-
podemos afirmar que: vada, será sempre representada como a maneira mais
I. A consolidação do sistema capitalista na Europa no conveniente de assegurar a felicidade privada; mas, por
século XIX forneceu os elementos que serviram de uma influência (...) dos pendores generosos, se tornará
base para o surgimento da Sociologia enquanto ciên- a principal fonte da felicidade pessoal.
cia particular. COMTE, August. Discurso sobre o espírito
II. O homem passou a ser visto, do ponto de vista so- positivo. São Paulo: Escala, s/d, p. 74.

ciológico, a partir de sua inserção na sociedade e nos


A Revolução Industrial e a Revolução Francesa impul-
grupos sociais que a constituem.
sionaram o surgimento da Sociologia como ciência
III. Aquilo que a Sociologia estuda constitui-se histori- voltada para compreender as novas relações entre as
camente como o conjunto de relacionamentos que os pessoas. Essas relações envolviam agora um complexo
homens estabelecem entre si na vida em sociedade. de hábitos e costumes e eram provocadas por causa da
IV. Interessa para a Sociologia, não indivíduos isolados, maneira de se produzirem e se consumirem os exce-
mas inter-relacionados com os diferentes grupos sociais dentes na Europa do século XIX. Sobre esse período da
dos quais fazem parte, como a escola, a família, as clas- Sociologia e com base na concepção apresentada nos
ses sociais etc. textos I e II, é CORRETO afirmar que
a) II e III estão corretas. a) a Sociologia foi chamada de física social e deveria
b) Todas as afirmativas estão corretas. utilizar os métodos da filosofia teológica como instru-
mento de compreensão da sociedade.
c) I e IV estão corretas.
b) as investigações sociológicas deveriam utilizar os
d) I, III e IV estão corretas. mesmos procedimentos das ciências naturais, ou seja,
e) II, III e IV estão corretas. a observação, a experimentação e a comparação.
c) o positivismo foi a corrente filosófica, que funda-
8. (UEM 2018) Auguste Comte (1798-1857), a quem se
mentou o surgimento da Sociologia como ciência da
atribui a formulação do termo Sociologia, foi o prin- sociedade, pois tinha uma visão metafísica das rela-
cipal representante e sistematizador do Positivismo. ções entre as pessoas.
Acerca do pensamento comteano, é correto afirmar que d) o principal representante da Sociologia nesse pe-
01) considerava os problemas sociais malefícios do de- ríodo foi August Comte, que tinha uma visão positiva
senvolvimento econômico das sociedades industriais. de sociedade, ou seja, uma reflexão sobre a essência
02) teve grande influência sobre o pensamento social e o significado abstrato das relações sociais.
brasileiro do século XIX e início do XX. e) as ideias de Comte tinham como objetivo encontrar
04) a inspiração para o método de investigação dos fe- leis universais para explicar as relações sociais, com
nômenos sociais de Comte veio das ciências da natureza. base nos princípios de subjetividade e parcialidade,
utilizados pelas ciências da natureza.
08) era uma tentativa de constituição de um método
objetivo para a observação dos fenômenos sociais. 10. (Unimontes) O positivismo foi a corrente de pensa-
16) considerava o progresso e a evolução social um mento que teve forte influência sobre o método de in-
princípio da história humana. vestigação na Sociologia, por propor um sistema geral do
conhecimento com a pretensão de “organizar” a socie-
9. (UPE-SSA 1 2018) Leia os textos a seguir:
 VOLUME ÚNICO

dade. São aspectos fundamentais do positivismo, exceto:

TEXTO I a) Para o positivismo clássico, é impossível conhecer


o estado de um fenômeno social particular se não for
Convicto de que a reorganização da sociedade exigi- considerado cientificamente o todo social.
ria a elaboração de uma nova maneira de conhecer b) Na concepção positivista, graças à aplicação da
a realidade, Comte procurou estabelecer os princípios ciência à organização do trabalho, a humanidade de-
que deveriam nortear os conhecimentos humanos. Seu senvolve suas potencialidades.

10  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


c) As ideias na Sociologia positivista tentam descobrir
qual é a ordem social que orienta a história humana. Gabarito
d) O positivismo fundamenta-se na concepção dialéti- 1. D 2. C 3. A 4. C 5. A
ca de Georg Wilhelm F. Hegel (1770-1831), originária
do Idealismo alemão. Propõe um método interpreta- 6. B 7. B 8. 02 + 04 + 08 + 16 = 30
tivo de sociedade baseado na ideia de contrato social.
9. B 10. D
11. (Unesp 2018)
11.
TEXTO 1 a) Eurocentrismo corresponde a um etnocentrismo eu-
ropeu, ou seja, à forma de considerar o mundo tendo
O positivismo representa amplo movimento de pensa- como princípio a ideia de que a Europa corresponde
mento que dominou grande parte da cultura europeia, ao ápice do desenvolvimento humano. O positivismo é
no período de 1840 até às vésperas da Primeira Guerra eurocêntrico na medida em que desenvolve uma teoria
Mundial. Nesse contexto, a Europa consumou sua trans- de desenvolvimento humano baseada nas transforma-
formação industrial, e os efeitos dessa revolução sobre ções que a própria Europa estava sofrendo.
a vida social foram maciços: o emprego das descober-
b) O relativismo corresponde à atitude de considerar a
tas científicas transformou todo o modo de produção.
sua cultura como sendo uma entre outras, e não como
Em poucas palavras, a Revolução Industrial mudou radi-
superior às demais, exatamente como Lévi-Strauss pro-
calmente o modo de vida na Europa. E os entusiasmos
põe. Isso se opõe ao positivismo porque se abstém de
se cristalizaram em torno da ideia de progresso huma-
criar uma escala evolutiva das culturas, na medida em
no e social irrefreável, já que, de agora em diante, pos-
suíam-se os instrumentos para a solução de todos os que qualquer critério de julgamento cultural será sem-
problemas. A ciência pelos positivistas apresentava-se pre, de alguma forma, etnocêntrico.
como a garantia absoluta do destino progressista da 12.
humanidade. a) Para Comte, a Sociologia deveria ser responsável
(Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da filosofia, 1991. Adaptado.) por aplicar os princípios científicos do positivismo na
sociedade, para solucionar seus problemas e garantir
TEXTO 2 a coesão social. Segundo ele, a Sociologia seria a úl-
tima e mais importante das ciências.
O “progresso” não é nem necessário nem contínuo. A b) Não. O positivismo foi em grande parte abandonado
humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pela Sociologia. Isso porque ele parte de premissas cien-
pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada
tificistas, que consideram a sociedade como um corpo
um dos seus movimentos um novo degrau a todos aque-
físico, por exemplo. Atualmente, sabe-se que a Sociolo-
les já anteriormente conquistados. Nenhuma fração da
gia é apenas mais uma entre outras ciências e que ela
humanidade dispõe de fórmulas aplicáveis ao conjunto.
é incapaz de, por si só, solucionar os problemas sociais.
Uma humanidade confundida num gênero de vida único
é inconcebível, pois seria uma humanidade petrificada.
(Claude Lévi-Strauss. A noção de estrutura
em etnologia, 1985. Adaptado.)

a) Considerando o texto 1, explique o que significa


“eurocentrismo” e por que o conceito de progresso
pressuposto pelo positivismo é eurocêntrico.
b) Por que o método empregado pelo autor do texto 2
é considerado relativista? Como sua concepção de pro-
gresso se opõe ao conceito de progresso positivista?

12. Segundo Augusto Comte, a sociedade humana deve


passar por três estados: o teológico, o metafísico e, por
último, o positivo. É nesse último estado que, para Com-
te, a Sociologia se torna tão importante.
a) Qual a razão dessa importância?
b) Esse tipo de argumento continua sendo válido?
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  11


SOCIOLOGIA
CLÁSSICA: Émile Durkheim sofreu uma forte influência do positivismo
comteano, contendo traços do funcionalismo social, em
ÉMILE que considera as funções sociais contidas em seu objeto
DURKHEIM I de pesquisa, trabalhando a moral, a religião, etc.

CH
Ele compreende a “cultura” como algo coletivo, um ele-
mento vivo, por assim dizer, que acaba se transformando
COMPETÊNCIA(s)
ao longo do tempo. Assim, a sociedade se constrói me-
1, 2, 3, 4 e 5 diante essas transformações culturais, consolidando ou
rejeitando princípios morais e éticos.
HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, Durkheim preocupou-se em definir um método e um obje-

2
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 to próprio da Sociologia para consolidá-la como uma ciên-
cia. Para isso, ele define o conceito de fato social, que seria
o objeto de análise do cientista social.

1.1. O fato social


Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que
existem independentemente das manifestações individu-
ais, isto é, são ações exteriores ao indivíduo, sendo gene-
ralizados na sociedade, de modo que são dotados de uma
Nas últimas décadas do século XIX, a Europa vivia um perío- força imperativa e coercitiva perante os indivíduos.
do que ficou conhecido como Belle Époque, em que surgiram Já as características dos fatos sociais devem ter traços de:
diversos avanços tecnológicos, como telefone, telégrafo sem
fio, cinema, automóvel, avião, fotografia, bonde elétrico, en- § generalidade: comum a todos ou à maioria dos inte-
grantes desse grupo social;
tre outras novidades. Diante dessa efervescência tecnológica,
ocorreu uma grande transformação nos hábitos das pessoas, § exterioridade: não depende do indivíduo; e
que direcionou os indivíduos para a aquisição de bens de § coercitividade: se impõe de diversas formas.
consumo, além de promover a crença em certa concepção
de progresso no desenvolvimento da ciência como solução
para os males da sociedade.

1. Émile Durkheim (1858-1917)


multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Na íntegra – Émile Durkheim
Entrevista com Raquel Weiss, doutora em Filosofia pela
USP, especialista em Émile Durkheim. Nesse progra-
ma, Raquel apresenta alguns conceitos da sociologia
durkheimiana.

O devoto, ao nascer, encontra as crenças e as práticas da


vida religiosa; existindo antes dele, é porque existem fora
Émile Durkheim nasceu na Alsácia em 1858. Iniciou seus dele. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir
 VOLUME ÚNICO

estudos em Filosofia na Escola Normal Superior de Paris, meus pensamentos, o sistema de moedas que emprego
para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que
migrando, mais tarde, para a Alemanha. Foi professor da
utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas segui-
primeira cátedra de Sociologia da França; em 1902, foi das na profissão etc. funcionam independentemente do
transferido para a Sorbonne, onde, junto com outros cien- uso que delas faço.
tistas, formou um grupo que seria conhecido como Escola (DURKHEIM, E. As regras do método. São
Sociológica Francesa. Paulo: Editora Nacional, 1974, p. 2).

12  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Pode-se considerar como um exemplo de fato social: dé- dor suprimir todos os seus juízos de valores pessoais para
cadas atrás, um homem só se fazia respeitado por suas que conclusões não sejam precipitadas. Entretanto, essa
vestimentas, em que a cartola era requisito fundamental, investigação precisa apresentar um retrato fiel do objeto
ao passo que um indivíduo que não tinha esse elemen- analisado, observando todos os elementos que compõem
to não era considerado um homem distinto. Atualmente, esse fato social. Nesse momento, Durkheim apresenta a
esse utensílio não faz parte das vestimentas de um ho- importância da Sociologia como ciência.
mem moderno. Um outro exemplo de fato social são as Nesse processo metodológico, é importante notar que
modas que as mídias direcionam para os seres, criando Durkheim aponta alguns direcionamentos:
costumes ou hábitos que são reproduzidos por parte da
sociedade. Diante disso, o fato social pode ser modificado § o processo deve ser objetivo;
ao longo do tempo, podendo não ser mais reproduzido § os fatos analisados podem ser normais ou anômicos; e
ou ser gerado um novo fato social.
§ deve-se analisar como esses fatos se interligam ou afe-
Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao tam os integrantes desse grupo estudado.
vestir-me, não levo em conta os costumes observados
em meu país e em minha classe, o riso que provoco, o Assim, aconteceram fatos corriqueiros, que serão caracte-
afastamento em relação a mim produzem, embora de rizados como normais; e também fatos que fogem desse
maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma estereótipo de normalidade, que acarretarão anomias so-
pena propriamente dita. ciais, caracterizando uma espécie de desregramento social.
(Émile Durkheim. As regras do método sociológico.
São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 3.

multimídia: música
multimídia: livro Fonte: Youtube
Pequeno cidadão - Arnaldo Antunes.
2009. Álbum: A curva da cintura
Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Nessa canção, nos deparamos com uma sequência de
Weber - Carlos Eduardo Sell ordens, totalmente vigiadas por um adulto, que, de uma
Esse livro apresenta o pensamento dos fundadores da forma coercitiva, controla tudo de maneira a estabelecer
Sociologia a partir de três eixos básicos: teoria socioló- as regras e as normas.
gica; teoria da modernidade; teoria política: problemas
e desafios da realidade social. Esse método, além de
permitir uma análise comparativa das teorias de Marx, 1.3. A religião para Durkheim
Durkheim e Weber, possibilita também uma compre-
Na intenção de investigar o ser humano, Émile Durkheim
ensão da Sociologia enquanto ciência e uma reflexão
nota que o elemento primordial que entrelaça todos os
sobre a natureza e as perspectivas da vida social em
seres é a religião, sejam monoteístas ou politeístas, todas
tempos modernos. Retomando a visão desses autores,
as religiões separam o mundo profano do mundo sagrado.
o leitor é convidado a exercitar sua "imaginação socio-
Ele considera todas as religiões como iguais, pois são “es-
lógica", adentrando, assim, no rico debate sociológico
pécies de um mesmo gênero”, contendo um sistema de
sobre as diferentes maneiras, métodos e perspectivas de
crenças e de cultos, conjuntos de atitudes rituais, nas quais
pesquisa e interpretação da sociedade.
os seus “movimentos são estereotipados”. A religião cons-
trói a sociedade, na qual “as divisões em dias, semanas [...]
 VOLUME ÚNICO

correspondem à periodicidade dos ritos, das festas”, sendo


1.2. O método científico assim uma manifestação natural da atividade humana.
Durkheim inaugura o processo de investigação sobre os Vimos que o totemismo coloca em primeiro lugar, en-
fenômenos sociais pautado na observação dos fatos so- tre as coisas que reconhece como sagradas, as repre-
ciais. Esse procedimento deve ser guiado por uma análise sentações figuradas do totem; a seguir vêm os animais
neutra do pesquisador, pois é necessário a esse observa- ou os vegetais que dão seu nome ao clã e, finalmente,

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  13


os membros desse clã. Como todas essas coisas são A religião, para Durkheim, é uma espécie de especulação
igualmente sagradas, embora em diferentes graus, seu de tudo que escapa à ciência, ou seja, o sobrenatural, pos-
caráter religioso não pode depender de nenhum dos suindo assim na sua essência um conjunto de símbolos (os
atributos entrar no domínio das conjeturas arbitrárias e
inverificáveis. Se quisermos permanecer em concordân-
ritos). O homem é um ser social, porque pensa por concei-
cia com os resultados anteriormente obtidos, devemos, tos. A concepção de mito é entendida como a representa-
ao mesmo tempo que afirmamos a natureza religiosa do ção de uma espécie de herói histórico.
totemismo, impedir-nos de reduzi-lo a uma religião dife-
rente de si mesmo. Não que seja o caso de atribuir-lhe
como causa de ideias que não seriam religiosas.
ÉMILE DURKHEIM. As formas elementares da vida religiosa.
São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 187-188.

DIAGRAMA DE IDEIAS

DURKHEIM

MÉTODO SOLIDARIEDADE
CIENTÍFICO MECÂNICA

FATO SOCIAL SIMPLES

• NORMAL
• PATOLÓGICO
• ANÔMICO
PROCESSO DE SOLIDARIEDADE
INVESTIGAÇÃO ORGÂNICA

COMPLEXA
 VOLUME ÚNICO

14  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 4. (UEL) Leia o texto a seguir.
Sentir-se muito angustiado com a ideia de perder seu ce-
1. (UFU) A concepção da Sociologia de Durkheim se ba- lular ou de ser incapaz de ficar sem ele por mais de um
seia em uma teoria do fato social. Seu objetivo é de- dia é a origem da chamada “nomofobia”, contração de
monstrar que pode e deve existir uma Sociologia obje- no mobile phobia, doença que afeta principalmente os
tiva e científica, conforme o modelo das outras ciências, viciados em redes sociais que não suportam ficar des-
tendo por objeto o fato social. conectados. Uma parte da população acha que, se não
estiver conectada, perde alguma coisa. E se perdemos al-
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico.
São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 336. guma coisa, ou se não podemos responder imediatamen-
te, desenvolvemos formas de ansiedade ou nervosismo.
Em vista do exposto, assinale a alternativa correta.
O medo de não ter o celular à disposição cria nova fobia.
a) Durkheim demonstrou que o fato social está des- Disponível em: <exame.abril.com.br/estilo-devida/comportamento/
conectado dos padrões de comportamento culturais noticias/o-medo-de-nao-ter-o-celular-adisposicao-cria-
do indivíduo em sociedade e, portanto, deve ser usa- nova-fobia>. Acesso em: 9 abr. 2012 (adaptado).

do para explicar apenas alguns tipos de sociedade.


Com base no texto e nos conhecimentos sobre sociali-
b) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui
zação e instituições sociais, na perspectiva funcionalista
pequena divisão do trabalho social, como pode ser de-
de Durkheim, assinale a alternativa correta.
monstrada pela análise dos fatos sociais da sociedade.
c) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fun- a) A nomofobia reduz a possibilidade de anomia social na
damental, é considerar os fatos sociais como coisas medida em que aproxima o contato em tempo real dos
para serem analisadas. indivíduos, fortalecendo a integração com a vida social.
d) O estado normal da sociedade para Durkheim é o b) As interações sociais via tecnologias digitais são
estado de anomia, quando todos os indivíduos exer- uma forma de solidariedade mecânica, pois os indiví-
cem bem os fatos sociais. duos uniformizam seus comportamentos.
c) O que faz de uma rede social virtual uma instituição
2. (UEG) O objeto de estudo da Sociologia, para Durkheim, é o fato de exercer um poder coercitivo e ao mesmo
é o fato social, que deve ser tratado como “coisa” e o tempo desejável sobre os indivíduos.
sociólogo deve afastar suas prenoções e preconceitos. A
d) O uso de interações sociais por recursos tecnológi-
construção durkheimiana do objeto de estudo da Socio-
cos constitui um elemento moral a ser compreendido
logia pode ser considerada:
como fato social.
a) positivista, pois se fundamenta na busca de objeti- e) Para a nomofobia ser considerada um fato social,
vidade e neutralidade. faz-se necessário que esteja presente em uma diver-
b) dialética, pois reconhece a existência de uma reali- sidade de grupos sociais.
dade exterior ao pesquisador.
c) kantiana, pois trata da “coisa em si” e realiza a 5. (Enem) A Sociologia ainda não ultrapassou a era das
coisificação da realidade. construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir
d) nietzschiana, pois coloca a “vontade de poder” a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do cam-
como fundamento para a pesquisa. po social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades
em que todas as questões são levantadas sem que ne-
e) weberiana, pois aborda a ação social racional atri-
nhuma seja expressamente tratada. Não é com exames
buída por um sujeito.
sumários e por meio de intuições rápidas que se pode
3. (UFU) A tirinha de Quino abaixo ilustra a concepção chegar a descobrir as leis de uma realidade tão comple-
de fato social, segundo Durkheim. xa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão
apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia.
São Paulo: Martins Fontes, 2000.

O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em cons-


truir uma sociologia com base na
Para o autor, é característica do fato social: a) vinculação com a filosofia como saber unificado.
a) ser geral e igual em todas as sociedades. b) reunião de percepções intuitivas para demonstração.
 VOLUME ÚNICO

b) dar liberdade ao indivíduo, em uma dada sociedade, c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social.
de praticar ações e atitudes ligadas ao seu senso crítico. d) adesão aos padrões de investigação típicos das
ciências naturais.
c) ser particular de cada indivíduo, sem interferência
do grupo social no qual está inserido. e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo
engajamento político.
d) exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  15


6. (UEL) O positivismo foi uma das grandes correntes 8. (Uece 2019) Durkheim afirmou que os acontecimentos
de pensamento social, destacando-se, entre seus prin- sociais – como os crimes, os suicídios, a família, a escola,
cipais teóricos, Augusto Comte e Émile Durkheim. So- as leis – poderiam ser observados como coisas, pois as-
bre a concepção de conhecimento científico, presente sim seria mais fácil de estudá-los pela Sociologia. Esses
no positivismo do século XIX, é correto afirmar: fenômenos são por ele denominados de fatos sociais.
a) A busca de leis universais só pode ser empreendi- Assinale a opção que apresenta corretamente caracte-
da no interior das ciências naturais, razão pela qual o rísticas do fato social.
conhecimento sobre o mundo dos homens não é cien-
a) É subjetivo, aleatório e coercitivo.
tífico.
b) É individual, exterior e representa homogeneiza-
b) Os fatos sociais fogem à possibilidade de constitu-
ção social.
írem objeto do conhecimento científico, haja vista sua
c) É exterior ao indivíduo, tem poder de generalização
incompatibilidade com os princípios gerais de objetivi-
e exerce coerção social.
dade do conhecimento e a neutralidade científica.
c) Apreender a sociedade como um grande organis- d) É coletivo, coercitivo e pessoal.
mo, a exemplo do que fazia o materialismo histórico, 9. (Interbits) Brasil vive momento de "anomia", diz FHC
é rejeitado como fonte de influência e orientação para
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita
as investigações empreendidas no âmbito das ciências
que o Brasil vive um "momento de anomia" - estado
sociais.
que se caracteriza pela ausência de regras - e que é
d) A ciência social tem como função organizar e racio-
preciso "botar ordem na casa". "Há falta de sentido
nalizar a vida coletiva, o que demanda a necessidade
de organização e autoridade. Em toda a parte”. Ques-
de entender suas regras de funcionamento e suas ins-
tionado sobre o que faria se estivesse no lugar do
tituições forjadas historicamente.
presidente Michel Temer, FHC disse que "a essa altu-
e) O papel do cientista social é intervir na construção ra, estaria considerando o futuro do Brasil e pensando
do objeto, aportando à compreensão da sociedade os bem: será que eu tenho condições de governar?". Na
valores por ele assimilados durante o processo de so- sequência, o tucano foi perguntado quanto tempo le-
cialização obtido no seio familiar. varia para fazer essa reflexão. "Não muito. As coisas
7. (Unespar) Na produção sociológica do francês Émi- vão variar com muita velocidade, vão se mover com
le Durkheim, fatos sociais são maneiras coletivas de muita rapidez, eu acho. Sem julgar, mas em termos das
agir, pensar e sentir que são exteriores ao indivíduo e condições do Brasil, estamos passando por um momen-
exercem pressão ou coerção social, ainda que não se to de... Vou falar em sociologuês, mas é simples... De
perceba, sobre sua consciência. Também apresentam a anomia."
característica de serem gerais na extensão de uma so- NUCCI, João Paulo. Brasil vive momento de ‘anomia’, diz FHC.
ciedade, na medida em que são comuns à maioria dos O Estado de S.Paulo. 22 mai. 2017. Disponível em: <http://
indivíduos. Durkheim considera que os fatos sociais politica.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-vive-momento-de-
anomia-diz-fhc,70001804232> Acesso em 25 mai. 2017.
não se confundem com as manifestações das consci-
ências individuais, eles são uma realidade sui generis, Considerando o contexto político apresentado na notí-
uma realidade peculiar. cia acima, assinale a alternativa que apresenta, de for-
ARAUJO, Silva Maria; BRIDI, Maria Aparecida; ma correta, uma interpretação sociológica do contexto
MOTIM, Benilde Lenzi. Sociologia. Ensino médio, brasileiro.
volume único. São Paulo: Scipione, 2013, p. 50.
a) O Brasil vive em uma anomia pela pobreza e des-
Considerando o pensamento sociológico de Durkheim nutrição de sua população.
e com base na assertiva acima, assinale a alternativa b) Ao utilizar o conceito de anomia, Fernando Henrique
correta. Cardoso faz referência a uma corrente de pensamento
a) Os fatos sociais se configuram como ideias, tipos sociológico que tem origem no positivismo de Auguste
ideias, que representam a realidade. Comte, que valoriza ideais como a ordem e o progresso.
b) Os fatos sociais se definem como coisas e objetos c) Fernando Henrique Cardoso é um ex-presidente do Bra-
que advém da mente humana, mais precisamente, da sil, do PSDB. Sua análise da política tem como objetivo
ideia que o indivíduo formula da realidade. evitar que Lula chegue ao poder nas próximas eleições.
c) Os fatos sociais são coisas e por isso podem se defi- d) Há uma clara intenção do ex-presidente de criti-
nir partir da consciência do indivíduo. car o atual presidente, Michel Temer. Assim, Fernando
Henrique demonstra que seu objeto é assumir o país
d) Os fatos sociais se caracterizam como coisa e por
 VOLUME ÚNICO

através de eleições indiretas.


isso devem atender às características de generalidade,
e) Ao criticar a governabilidade de Michel Temer e
de externalidade e de coercitividade.
defender o sentido de organização e autoridade, FHC
e) Fato social é o método utilizado por Durkheim para
demonstra que tem uma visão política baseada nas
explicar os fenômenos sociais que, quase sempre, re-
ideias de John Locke, ou seja, de que o homem é na-
sultam de ideias e de crenças. turalmente livre.

16  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


10. A montagem acima faz uma sátira a respeito do uso
do Facebook, uma das principais redes sociais da con-
temporaneidade. Tendo em conta essa crítica, responda:

a) O uso de redes sociais na internet pode ser consi-


derado um fato social? Justifique sua resposta.
b) A qual dos três aspectos do fato social a figura faz
referência de forma mais marcante? Por quê?

Gabarito
1. C 2. A 3. D 4. D 5. D

6. D 7. D 8. C 9. B

10.
a) Sim. O uso de redes sociais como o Facebook tem
se mostrado geral, coercitivo e exterior aos indivídu-
os; uma vez que seu uso é cada vez mais intenso, as
pessoas se sentem coagidas a participar dessas redes
e isso independe do gosto delas por essa forma de
comunicação.
b) Ao caráter coercitivo. Uma vez fazendo parte dessa
rede social, a pessoa encontra grandes dificuldades
para deixar de utilizá-la. Isso está presente, na figura,
pela ausência da porta de saída.

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  17


SOCIOLOGIA
CLÁSSICA: a vida social. Tem como causa fundamental o excesso
ÉMILE de individualismo. Esse tipo de suicídio predomina nas
sociedades modernas.
DURKHEIM II
§ Altruísta: ato desencadeado pelo indivíduo tomado

CH
pela obediência coercitiva do coletivo. Um exemplo
desse altruísmo são os terroristas, chamados “ho-
COMPETÊNCIA(s)
mens/mulheres-bombas”, que, por uma ideologia,
1, 2, 3, 4 e 5
tiram as suas próprias vidas em prol de um ideal.
HABILIDADE(s) § Anômico: ato que representa uma mudança abrupta
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, em um contexto de desregramento social, em que se

3
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
observa um aumento dos índices de suicídio. Pode ser
motivado por uma crise social, como o desemprego
ou por processos de transformações sociais, como a
modernização, que substituiu o homem no mercado
de trabalho.

1. O suicídio
Em sua obra intitulada O suicídio, de 1897, Durkheim pre-
tende provar que o suicídio é um fato social ocasionado multimídia: vídeo
pela coerção exterior e independente do indivíduo.
Fonte: Youtube
O suicídio
O vídeo aborda a temática do suicídio segundo a visão
de Émile Durkheim.

2. A divisão do trabalho social


Durkheim, em sua tese de doutorado de 1893, chamada
“Da divisão social do trabalho”, analisa as formas de coe-
são social existentes nas diferentes sociedades.

Colocando em prática o seu método científico, unindo a


observação e o processo empírico, o sociólogo francês bus-
multimídia: livro
cou relacionar as taxas de suicídio em diversos países do
Ocidente. Em sua conclusão, define esse fenômeno como Sociologia
 VOLUME ÚNICO

um fato social. Émile Durkheim. José Albertino Rodrigues (Org.). São


Construindo uma definição útil do suicídio, classifica-o em Paulo: Ática, 1978.
três tipos:
§ Egoísta: resultado da não integração dos indivíduos
às instituições, grupos ou redes sociais que permeiam

18  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A sociedade existe pela reprodução dos fatos sociais,
transcendendo um consenso entre seus membros. Essa
sociedade é constituída por duas formas de solidarieda-
de, que distinguem dois tipos de sociedade.
§ Sociedades tradicionais: consolidadas pela solidariedade
mecânica, esse tipo de solidariedade está presente em
sociedades pré-capitalistas. A solidariedade mecânica
seria o estágio em que o grupo tem total predomínio
sobre o indivíduo e há uma forte semelhança entre todos
os membros da sociedade: todos se identificam através
da mesma religião, dos mesmos costumes, das tradições
familiares, os quais são responsáveis pela coesão social.
§ Sociedades modernas ou contemporâneas: consoli-
dadas pela solidariedade orgânica, as funções dos in-
divíduos no grupo se tornam diferenciadas e eles se
integram à sociedade porque um passa a depender do
outro. Nesse tipo de sociedade, a divisão do trabalho é
crescente. Exercer diferentes funções na sociedade, a
partir da especialização, gera um novo tipo de solida-
riedade, em que, por serem diferentes, um complemen-
ta o outro, criando uma relação de interdependência e
garantindo a coesão social.

multimídia: música
Fonte: Youtube
multimídia: vídeo Senhor Cidadão - Tom Zé. 1972. Álbum: Tom Zé
Fonte: Youtube Nessa canção, Tom Zé aponta os fatos sociais que cons-
Bicho de Sete Cabeças - Brasil: 2000 (80 min) tituíram a sociedade, utilizando-se de uma crítica.
O filme discute possibilidades e limites das instituições
de socialização (religiosas, escolares e familiares), ins-
Uma disciplina só pode ser chamada ciência se tiver um
tituições totais (manicômios, instituições carcerárias campo definido a explorar. A ciência trata de coisas, re-
e hospitais), além da violação dos direitos humanos e alidades. Se não tiver um material definido a descrever
construção da cidadania. e interpretar, existe um vácuo. Além da descrição e da
interpretação da realidade, ela não pode ter função real.
A aritmética trata de números; a geometria, de espaços
e figuras; as ciências naturais, de corpos animados e ina-
Solidariedade mecânica Solidariedade orgânica nimados; e a psicologia, da mente humana. Antes que
a ciência social pudesse começar a existir, era preciso
Sociedade simples Sociedade complexa
atribuir-lhe um assunto definido.
Com inúmeras formas de divisão
Menor divisão do trabalho À primeira vista, esse problema não apresenta dificuldade:
do trabalho
o assunto da ciência social são as “coisas” sociais, ou seja,
 VOLUME ÚNICO

Seres iguais Seres diferentes leis, costumes, religiões etc. Todavia, se olharmos para a
Funções iguais Funções especializadas história, percebemos que, até bem recentemente, nenhum
filósofo jamais encarara esses assuntos sob essa luz.
Consciência coletiva maior Consciência individual maior ÉMILE DURKHEIM

Coerção pela força e violência Coerção pelo controle formalizado Montesquieu e Rousseau: pioneiros da Sociologia.
São Paulo: Madras, 2008, p. 17

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  19


DIAGRAMA DE IDEIAS

DURKHEIM

DIVISÃO DO
SUICÍDIO
TRABALHO SOCIAL

• EGOÍSTA
• ALTRUÍSTA
• ANÔMICO

FRUTO DE
REPRODUÇÃO DOS
FATOS SOCIAIS

SOCIEDADES SOCIEDADES
TRADICIONAIS MODERNAS

VALORES VALORES
SEMELHANTES DIFERENTES

MENOR DIVISÃO MAIOR DIVISÃO


DO TRABALHO DO TRABALHO
 VOLUME ÚNICO

20  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) Esse foi um dos alertas, nos últimos meses, relacionados
ao “jogo Baleia Azul” e à possibilidade de suicídios de
1. (UPE-SSA 3) Leia o texto a seguir: adolescentes (13 a 17 anos) ligadas a ele. Pode-se reali-
zar uma relação desses possíveis suicídios com os tipos
O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de de suicídios de Durkheim, pois, para esse pensador, os
algum modo; o saber próprio dos homens e das mulhe- indivíduos são determinados pela realidade coletiva.
res, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o
saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, Assim, o suicídio gerado pelo “jogo” seria classificado
o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos es- como:
pecialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas in- a) suicídio egoísta.
terpessoais, familiares e comunitárias, em que ainda não b) suicídio anômico.
surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas c) suicídio etnocêntrico.
de seus profissionais de aplicação exclusiva. d) suicídio cultural.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação?
São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 20. 3. (Unioeste) “Solidariedade orgânica” e “solidarieda-
de mecânica” são conceitos propostos pelo sociólogo
francês Émile Durkheim (1858-1917) para explicar a
“coesão social” em diferentes tipos de sociedade. De
acordo com as teses desse estudioso, nas sociedades
ocidentais modernas, prevalece a “solidariedade orgâ-
nica”, onde os indivíduos se percebem diferentes em-
bora dependentes uns dos outros. A lógica do mercado
capitalista, entretanto, baseada na competição indivi-
dualista em busca do lucro, pode corromper os vínculos
de solidariedade que asseguram a coesão social e con-
duzir a uma situação de “anomia”.
O tema discutido no texto é uma preocupação nos es- De acordo com os postulados de Durkheim, é correto
tudos da Sociologia desde a sua consolidação como dizer que o conceito de “anomia” indica:
ciência. Nos trabalhos de Émile Durkheim, esse tema a) a necessidade de todos demonstrarem solidarieda-
ganhou um destaque por considerar uma forma de in- de com os mais necessitados.
tegração dos indivíduos e de perpetuação dos hábitos e
b) uma situação na qual aqueles indivíduos porta-
costumes do grupo, ou seja, dos fatos sociais.
dores de um senso moral superior devem se colocar
Sobre isso, assinale a alternativa que NÃO indica uma como líderes dos grupos dos quais fazem parte.
característica do tipo de transmissão do conhecimento. c) a condição na qual os indivíduos não se identificam
a) A aprendizagem acontece sem que haja um planeja- como membros de um grupo que compartilha as mes-
mento específico e, muitas vezes, sem que os sujeitos se mas regras e normas e têm dificuldades para distinguir,
deem conta. por exemplo, o certo do errado e o justo do injusto.
b) O processo de construção do conhecimento é perma- d) o consumismo exacerbado das novas gerações,
nente, contínuo e não previamente organizado, desen- representado pelo aumento do número de shopping
volvendo-se ao longo da vida. centers nas cidades.
c) O conhecimento transmitido permite ao sujeito resol- e) a solidariedade que as pessoas demonstram quan-
ver situações referentes aos processos de socialização do entoam cantos nacionalistas e patrióticos em
e àqueles relacionados às imposições da natureza para manifestações públicas como os jogos das seleções
sobrevivência do grupo. nacionais de futebol.
d) A percepção gestual, a moral e a comportamental,
provenientes de meios familiares de amizade, de traba- 4. (UEL) A cidade desempenha papel fundamental no
lho e de socialização midiática, fazem parte do rol de pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o
aprendizagens e conhecimentos. desenvolvimento das formas de integração quanto por
intensificar a divisão do trabalho social a ela ligada.
e) O conhecimento e a habilidade são transmitidos por
meio de um currículo pré-definido em ambientes espe- Com base nos conhecimentos acerca da divisão de tra-
cializados, num processo conhecido como escolarização. balho social nesse autor, assinale a alternativa correta.
a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio
2. (UFU) A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba
livre de funções no espaço urbano torna obsoleta a
alerta pais e responsáveis por crianças e adolescentes
 VOLUME ÚNICO

presença de instituições.
e os profissionais da educação e saúde em relação ao
“jogo” Baleia Azul, que propõe 50 desafios aos partici- b) A solidariedade orgânica é compatível com a so-
pantes e sugere o suicídio como última etapa. ciedade de classes, pois a vida social necessita de
trabalhos diferenciados.
Disponível em: <www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-
regiao/jogo-baleia-azul-deixa-curitiba-em-alerta-oito-ja- c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “ho-
brincaram-com-morte/>. Acesso em: 22 abr. 2017. mem massa”, as cidades recriam a solidariedade me-
cânica em detrimento da solidariedade orgânica.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  21


d) O efeito principal da divisão do trabalho é o au- Com base no texto e nos conhecimentos sociológicos
mento da desintegração social em razão de trabalhos de Durkheim sobre o estado de anomia da sociedade
parcelares e independentes. industrial, assinale a alternativa correta.
e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela cres- a) Para Durkheim, a situação de anomia das sociedades
cente divisão do trabalho decorrem das vontades e industriais tem como explicação os programas de mudan-
das consciências individuais. ça na distribuição de riquezas esboçados pelos socialistas.
b) Segundo Durkheim, o estado de anomia da socie-
5. (Unimontes) Segundo o sociólogo francês Émile
dade industrial moderna tem como origem a reprodu-
Durkheim (1858-1917), a consciência coletiva corres-
ção das crises do estágio anterior de desenvolvimen-
ponde ao conjunto das crenças e dos sentimentos co-
to da sociedade.
muns à média dos membros de uma mesma sociedade
que forma um sistema determinado que possui dinâ- c) As análises de Durkheim demonstram que os anta-
mica própria. Ou seja, existem certos padrões morais gonismos entre as classes são os fatores determinan-
estabelecidos pela sociedade aos quais as pessoas de- tes da anomia, dos problemas e das crises da moder-
vem obedecer, como deveres por ela impostos, cuja na sociedade industrial.
natureza obrigatória da moral caminha conjuntamen- d) Durkheim demonstra que a raiz da anomia, dos pro-
te à manifestação voluntária da vontade de segui-la. blemas e das crises da sociedade industrial é a fragilida-
Considerando as reflexões do autor sobre esse tema, de dos valores morais e o relaxamento dos laços sociais.
analise as afirmativas a seguir: e) Durkheim define que o aumento da produtividade
é o aspecto determinante para explicar a anomia em
I. A consciência coletiva produz um mundo de sentimen-
que a sociedade industrial de sua época se encontrava.
tos, de ideias, de imagens e independe da maneira pela
qual cada um dos membros dessa sociedade venha a 7. (UFU) Durkheim caracteriza o suicídio – até então
manifestá-la, porque tem uma realidade própria. considerado objeto de estudo da epidemiologia, da psi-
II. A consciência coletiva recobre todas as áreas de distin- cologia e da psiquiatria – como fato social e, por isso,
tas dimensões na consciência das pessoas, independen- dotado das características da coercitividade, da exte-
temente de que esteja inserido numa sociedade simples rioridade, da generalidade. É tomado, pois, como objeto
ou mesmo uma sociedade complexa. de estudo sociológico, em virtude do fato de:
III. Quanto mais simples é a sociedade mais extensa é a) variar na razão inversa ao grau de integração dos gru-
a consciência coletiva, maior é a coesão entre os parti- pos sociais de que faz parte o indivíduo, ou seja, quanto
cipantes da sociedade, o que faz com que todos se as- maior o grau de integração ao grupo social, mais eleva-
semelhem e, por isso, os membros do grupo sintam-se da é a taxa de mortalidade – suicídio da sociedade.
atraídos pelas similitudes uns com os outros. b) ser possível observar uma certa predisposição so-
IV. Na sociedade complexa, o ideal moral é imutável, e cial para fornecer determinado número de suicidas,
uma vez que ele surge, impossibilita a sua modificação ou seja, uma tendência constante, marcada pela per-
e evolução, por mais que se modifiquem as condições manência, a despeito de variações circunstanciais.
de vida social. c) configurar-se como uma morte que resulta direta
Estão CORRETAS as afirmativas ou indiretamente, consciente ou inconscientemente
de um ato executado pela própria vítima.
a) I, II e IV, apenas.
d) depender, exclusivamente, do temperamento do suicida,
b) I, II e III, apenas.
de seu caráter, de seu histórico familiar, de sua biografia,
c) II, III e IV, apenas. uma vez que não deixa de ser um ato do próprio indivíduo.
d) I, III e IV, apenas.
8. (UFPR) Normalmente, quando se fala de socialização,
6. (Unicentro) As análises sociológicas de Émile Durkheim, se pensa no processo de interiorização de normas e de
ao mesmo tempo que demonstram a intenção em eman- comportamentos sociais pela criança. Durkheim afirma
cipar a sociologia das outras ciências, indicam a pre- que a socialização primária da criança, que ocorre nos
ocupação com as crises e problemas de sua época, ou primeiros anos de vida, é de responsabilidade da família,
o que esse autor denominou de estado de anomia da e a socialização secundária se faz em instituições como
sociedade industrial. Em sua obra As regras do método a igreja e a escola. Considerando que vivemos no século
sociológico, Durkheim estabelece o método e o objeto XXI, que outras instituições participam hoje da socializa-
de estudo da Sociologia. O domínio de toda a ciência ção da criança? Cite duas e justifique sua escolha.
deve corresponder ao universo empírico e se preocupar
 VOLUME ÚNICO

apenas com essa realidade, ou seja, o estudo metódico 9. (UFU) A industrialização e o surgimento concomitan-
que conduz ao estabelecimento de leis explicativas dos te de grandes centros urbanos com seus aglomerados
fenômenos. A Sociologia seria uma ciência no meio de populacionais e um crescente processo de individuali-
outras ciências positivas. zação constituíram temas recorrentes na investigação
RODRIGUES, J.A. (Org.). Émile Durkheim: Sociologia. sociológica clássica. Discorra a respeito da relação en-
São Paulo: Ática, 1978, p. 19-21; MARTINS, C.B. tre os processos de urbanização e individuação, a partir
O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1982, p. 50-51. da abordagem sociológica de Émile Durkheim

22  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Gabarito
1. E 2. A 3. C 4. B 5. B

6. D 7. B
8. As instituições que participam da sociabilização das crianças
são a família, a escola e a igreja. Além disso, como o primeiro
exemplo, tem-se a influência que os meios de comunicação de
massa exercem na formação das crianças. A entrada da mulher
no mercado de trabalho também é um exemplo, pois não permi-
te que a mulher esteja custodiando integralmente a educação de
seus filhos, deixando para a creche ou para a TV a responsabili-
dade dos cuidados com as crianças.
9. Segundo Durkheim, o processo de individuação, mediante o
qual a consciência individual tende a se sobrepor à consciência
coletiva, de modo que as regras de comportamento passem a se
basear cada vez mais em interesses particulares, constitui carac-
terística marcante dos meios urbanos das sociedades modernas.
O suicídio egoísta é o tipo de suicídio característico desse tipo
de sociabilidade, definindo‐o como aquele “que resulta de uma
individuação excessiva”, levando a um enfraquecimento da so-
ciedade nos indivíduos, portanto, à falta de “uma razão para su-
portarem com paciência as misérias da existência”. Não se sabe
mais "o que é possível e o que não é, o que é justo e injusto,
quais são as reivindicações e as aspirações legítimas, quais são
aquelas que passam da medida". Tal estado de desregramento
ou anomia é acompanhado de um surto de paixões indisciplina-
das e ímpetos incontrolados e, desse modo, também de aumento
na curva de suicídios.

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  23


SOCIOLOGIA
CLÁSSICA:
MAX WEBER

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
Na íntegra - Max Weber 2/2
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
Entrevista com Gabriel Cohn, professor da faculdade de
4
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Ciências Sociais da USP. Discutindo os conceitos da so-
ciologia weberiana.

1. Max Weber (1864-1920)


Maximilian Karl Emil Weber nasceu em 1864, na Ale-
manha. Sua formação é multidisciplinar, tendo realizado
estudos em Direito, Filosofia, Sociologia e História. Teve
participação política significativa, participando da comis- 1.1. Ação social
são autora da Constituição de Weimar. Suas obras mais A primeira grande contribuição de Weber é a quebra dos
importantes são aquelas que relacionam formações po- pressupostos positivistas por meio de uma forte crítica e,
líticas a crenças religiosas, como A ética protestante e o também, pelo desenvolvimento de um novo método. En-
espírito do capitalismo. Weber morre em 1920, vítima de quanto para Comte e Durkheim prevalecia o primado do
uma pneumonia. objeto, para Weber o caminho da Sociologia é o primado
Weber contribuiu para a consolidação da ciência socioló- do sujeito: o indivíduo é elemento fundamental na expli-
gica, analisando os processos do capitalismo na sociedade cação da realidade social. Dessa maneira, Weber inaugura
contemporânea. Grande parte de seus estudos se preocu- um novo caminho de interpretação da realidade social: a
pou com o capitalismo e seu processo racionalizado. Seus Teoria Sociológica Compreensiva.
trabalhos desenvolveram descobertas do papel da subjeti- Segundo Weber, a Sociologia é uma ciência que pretende
vidade na ação e na pesquisa social, acreditando que não compreender a ação social. Para o sociólogo, essa ação so-
existe uma lei preexistente que regule o desenvolvimento cial seria a conduta humana dotada de sentido, um com-
da sociedade. portamento planejado, uma atuação direcionada a outros
na sociedade.
Toda ação social segue certos requisitos:
§ o ser lhe dá um sentido;
§ esse sentido se remete ao outro.
A grande inovação de Weber em sua interpretação da re-
 VOLUME ÚNICO

alidade é dotar o indivíduo de significado e especificidade,


multimídia: vídeo dando sentido à sua ação social e estabelecendo conexões
Fonte: Youtube entre os motivos de sua ação, o ato propriamente dito e
suas consequências.
Na íntegra - Max Weber 1/2

24  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A ação social pode se encaixar em quatro tipos: Para Weber, a ética protestante contribuiu para o desenvol-
vimento do capitalismo. Como exemplo, são citadas as má-
Ação afetiva Determinada por sentimentos
ximas de Benjamin Franklin: “Lembra-te de que tempo é di-
Determinada por
Ação tradicional costumes ou hábitos
nheiro; lembra-te de que crédito é dinheiro; lembra-te de que
dinheiro gera mais dinheiro; lembra-te de que o bom pagador
Ação racional com Ações guiadas por certas
convicções (morais, religiosas, é senhor da bolsa alheia; guarda-te de pensar que tudo o que
relação a valores políticas, estéticas, etc.) possuis é propriedade tua e de viver como se fosse; por seis
Ação racional com Determinada pelos fins que libras por ano podes fazer uso de cem libras, contanto que
perseguem, predominantemente
relação a fins na vida econômica
sejas reconhecido como um homem prudente e honesto.”
Outra questão abordada por Weber nessa obra é que o
Segundo Weber, a Sociologia precisa desenvolver procedi- protestantismo e a doutrina da predestinação represen-
mentos de investigação que permitam verificar os valores tam o ponto final do processo de desencantamento do
e as motivações que condicionam as ações humanas. Com mundo. No processo de desencantamento do mundo, o
isso, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão homem deixa de acreditar que o mundo é povoado por
das sociedades. forças divinas e impessoais. A eliminação da magia começa
no judaísmo antigo até chegar ao protestantismo ascético,
completando-se com o surgimento da ciência. Através do
saber racional, o homem “des-diviniza” a natureza, vista
agora como um mecanismo causal carente de sentido e
que pode ser controlada pela técnica.

multimídia: livro

A ética protestante e o espírito do capitalismo.


WEBER, Max. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
1.2. A ética protestante e o
espírito do capitalismo
1.3. Política, poder e dominação
Weber empreendeu análises comparativas entre as religiões
com o objetivo de compreender as razões do desenvolvi- Weber define política como o conjunto dos esforços feitos
mento do capitalismo europeu. Diante de seus estudos, ele com vistas a participar do poder ou influenciar a divisão
do poder. Já o poder seria a capacidade de impor a pró-
concluiu que o mundo oriental não oferecia condições para
pria vontade dentro de uma relação social. Dominação
esse tipo de organização econômica, pois pregava valores
significa a probabilidade de encontrar obediência a um
de harmonia, enquanto as religiões cristãs incentivavam o
determinado mandato.
trabalho e a competição.
Weber define o Estado como uma comunidade humana
No seu estudo sobre modernidade, Weber procura enten- que, dentro dos limites de um determinado território, rei-
der a relação que existe entre o protestantismo e a mo- vindica o monopólio legítimo da violência física.
derna conduta econômica capitalista. No protestantismo
é possível encontrar uma visão ascética com a valorização Para Weber, o capitalismo é dominado pela ascensão da
ciência e da burocracia. Weber não acredita que a luta
 VOLUME ÚNICO

religiosa do trabalho como uma tarefa ordenada por Deus.


de classes condicionará o capitalismo. Assim, a burocra-
Essa ética vocacional do trabalho acabou dando suporte
cia racional e impessoal é o meio de organizar grandes
para um comportamento indispensável para a origem da
quantidades de pessoas. A partir disso, Weber aponta
conduta de vida capitalista: a busca ordenada do lucro
uma relação entre dominantes e dominados constituída
através do trabalho metódico e racional.
por bases legítimas.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  25


nação da forma e destino das comunidades políticas.
Nem todas as estruturas políticas são igualmente “ex-
pansivas”. Não lutam todas por uma expansão exte-
rior de seu poder, ou mantêm sua força pronta para
a aquisição de poder político sobre outros territórios
e comunidades, pela sua incorporação ou tornando-
-os dependentes. Por isso, como estruturas do poder,
as organizações políticas variam na medida em que se
multimídia: música voltam para o exterior. A estrutura política da Suíça é
“neutralizada” através de uma garantia coletiva das
Fonte: Youtube
Grandes Potências. Por várias razões, a Suíça não é
Toda forma de poder - Engenheiros do Hawaii. muito desejada como objeto de incorporação. Os ciú-
Álbum: Longe demais das capitais. RCA,1986. mes mútuos existentes entre comunidades vizinhas, de
igual força, a protegem dessa sorte. A Suíça, bem como
Essa canção mostra como a dominação pelo uso da
a NorUEGa, está menos ameaçada do que a Holanda,
força pode controlar a sociedade com sistemas polí- que possui colônias; e esta sofre menos ameaça do que
ticos distintos. a Bélgica, pois as possessões coloniais belgas ficariam
muito expostas, como a própria Bélgica, no caso de
uma guerra entre seus vizinhos poderosos. A Suécia
Weber analisa os fundamentos que tornam legítima a
também está muito exposta.
autoridade, as razões que justificam a dominação, distin-
WEBER, Max.
guindo três tipos puros: dominação tradicional, dominação Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1982, p.187
carismática e dominação legal.

- É a dominação burocrática no Estado.


- Constituída por formas legais, hierár-
Dominação legal quicas, mediante uma formação eleita
ou nomeada.
- Deve seguir um estatuto.
- Dominação patriarcal.
- Controle feito pelo “senhor” perante
Dominação
tradicional
seus “súditos”.
- Não é possível criar novos direitos dian-
multimídia: vídeo
te das normas da tradição. Fonte: Youtube
- Dominação por uma devoção afetiva. Vida de inseto - Estados Unidos: 1998 (96 min)
Dominação - Sendo um “líder” que constrói uma
carismática imagem de adoração, controlando O filme conta a história de uma colônia de formigas que
seus “súditos”. vivem às voltas com uma árdua tarefa. Todos os anos,
elas precisam juntar alimentos para si e para os gafa-
1. O Prestígio e o Poder das “Grandes Potências” nhotos, que exigem delas uma elevada quantia de co-
Todas as estruturas políticas usam a força, mas diferem mida. Conforme a ideia de dominação de Weber, as for-
no modo e na extensão com que a empregam ou ame- migas cumprem com o dever por medo dos gafanhotos.
açam empregar contra outras organizações políticas.
Essas diferenças têm um papel específico na determi-
 VOLUME ÚNICO

26  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

MAX WEBER

A SOCIOLOGIA A DOMINAÇÃO
COMPREENDE AS SOCIAL
AÇÕES SOCIAIS A RELIGIÃO

LEGAL
CONDICIONA OS
FATOS SOCIAIS E OS
VALORES MORAIS BUROCRACIA

DIRECIONA PARA TRADICIONAL


UMA COMPETIÇÃO
PATRIARCAL

CONSOLIDA
O SISTEMA CARISMÁTICA
CAPITALISTA

DEVOÇÃO
AFETIVA

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  27


Aplicando para Aprender (A.P.A.) O conselho de Benjamin Franklin é analisado por Max
Weber (1864-1920) na obra A Ética Protestante e o Espí-
1. (Enem) A crescente intelectualização e raciona- rito do Capitalismo. Com base nessa obra, assinale a al-
lização não indicam um conhecimento maior e ge- ternativa que apresenta, corretamente, a compreensão
ral das condições sob as quais vivemos. Significa a weberiana sobre o sentido da conduta do indivíduo na
crença em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse formação do capitalismo moderno ocidental:
conhecimento a qualquer momento. Não há forças a) Racionalidade.
misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as b) Utilitariedade.
coisas pelo cálculo. c) Tradicionalidade.
WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H.; d) Organicidade.
MILLS, W. (Org.). Max Weber: ensaios de sociologia. e) Funcionalidade.
Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (Adaptado).
4. (UEG) O desenvolvimento do racionalismo econômi-
Tal como apresentada no texto, a proposição de Max
co é parcialmente dependente da técnica e do direito
Weber a respeito do processo de desencantamento do
racionais, mas é ao mesmo tempo determinado pela ha-
mundo evidencia o(a):
bilidade e disposição do homem em adotar certos tipos
a) progresso civilizatório como decorrência da expan- de conduta racional prática […]. As forças mágicas e re-
são do industrialismo. ligiosas e as ideias éticas de dever nelas baseadas têm
b) extinção do pensamento mítico como um desdo- estado sempre, no passado, entre as mais importantes
bramento do capitalismo. influências formativas de conduta.
c) emancipação como consequência do processo de
racionalização da vida. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do
capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1981. p. 09.
d) afastamento de crenças tradicionais como uma ca-
racterística da modernidade.
Uma das mais conhecidas explicações sobre a origem do
e) fim do monoteísmo como condição para a consoli-
capitalismo é a do sociólogo alemão Max Weber, que pos-
dação da ciência.
tula a afinidade entre a ética religiosa e as práticas capi-
2. (Enem) O impulso para o ganho, a perseguição do talistas. Essa relação se mostra claramente na ética do:
lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de a) Anglicanismo britânico, que, ao desestimular as
dinheiro não tem, em si mesma, nada que ver com o esmolas, permitiu o incremento da poupança nas fa-
capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu. Pode- mílias burguesas.
-se dizer que tem sido comum a toda sorte e condição b) Luteranismo alemão, que defendia que cada pessoa
humanas em todos os tempos e em todos os países, devia seguir a sua vocação profissional para conseguir
sempre que se tenha apresentada a possibilidade obje- a salvação.
tiva para tanto. O capitalismo, porém, identifica-se com c) Puritanismo calvinista, que concebe o sucesso eco-
a busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio nômico como indício da predestinação para a salvação.
da empresa permanente, capitalista e racional. Pois as-
d) Catolicismo ortodoxo, que, ao abrir mão dos luxos
sim deve ser: numa ordem completamente capitalista
nas construções arquitetônicas, canalizou capital para
da sociedade, uma empresa individual que não tirasse
investimentos econômicos.
vantagem das oportunidades de obter lucros estaria
condenada à extinção. e) Catolicismo romano, que por meio da cobrança de
dízimos e vendas de indulgências estimulou a acumu-
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. lação de capital.
São Paulo: Martin Claret, 2001 (Adaptado).
5. (UFU) Weber procura analisar os fundamentos que
O capitalismo moderno, segundo Max Weber, apresenta
tornam legítima a autoridade e as razões internas que
como característica fundamental a:
justificam a dominação, que ele distingue conforme três
a) competitividade decorrente da acumulação de capital. tipos puros: a dominação tradicional, a dominação ca-
b) implementação da flexibilidade produtiva e comercial. rismática e a dominação racional-legal.
c) ação calculada e planejada para obter rentabilidade. Sobre as características da dominação racional-legal é
d) socialização das condições de produção. incorreto afirmar que:
e) mercantilização da força de trabalho.
a) a obediência ao soberano não é entendida como
3. (UEL) Lembra-te de que tempo é dinheiro; aquele que uma obediência a sua pessoa, mas a uma ordem
pode ganhar dez xelins por dia por seu trabalho e vai impessoal.
 VOLUME ÚNICO

passear, ou fica vadiando metade do dia, embora não b) existe uma separação entre o patrimônio público
dependa mais do que seis pence durante seu diverti- e o patrimônio privado, de modo que os funcionários
mento ou vadiação, não deve computar apenas essa não se apropriam dos cargos e estão sujeitos à pres-
despesa; gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora, tação de contas.
cinco xelins a mais. c) o soberano exerce o mandato segundo seu arbítrio,
WEBER, M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. mas está subordinado a leis conforme as quais pauta
São Paulo: Pioneira; Brasília: UNB, 1981, p.29. os seus atos.

28  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


d) exige-se dos funcionários um saber profissional, Com base no texto e nos conhecimentos sobre a socie-
e o recrutamento desses funcionários é realizado de dade moderna, conforme Max Weber, assinale a alter-
modo competitivo, tendo-se em vista o mérito e a ca- nativa correta.
pacidade dos candidatos. a) A secularização da vida moderna e o consequente
desencantamento do mundo são expressões da racio-
6. (Unicentro) A teoria social contemporânea tem como
nalização ocidental.
um de seus principais teóricos o cientista social alemão
Max Weber e seus estudos sobre a moderna sociedade b) O homem moderno detém menor controle sobre as
capitalista ocidental. forças da natureza, em comparação com o domínio
que possuía o “selvagem”.
Com base nas análises sociológicas weberianas sobre as
c) O avanço da racionalidade produz, também, uma
ações sociais, assinale a alternativa correta:
maior revitalização da cultura clássica, dado que am-
a) Busca compreender, pela interpretação, os sentidos plia o alcance das escolhas efetivas disponíveis.
atribuídos pelos indivíduos às ações sociais. d) O desencantamento do mundo é um fato social que
b) Consegue explicar a totalidade das ações sociais atua como força coercitiva sobre as vontades individu-
por meio de verdades científicas. ais, visando à construção da consciência coletiva.
c) Determina o caráter imperativo da esfera econômi- e) O desencantamento do mundo destitui o Ocidente
ca sobre as ações sociais dos diferentes grupos. de um elemento diferenciador em relação ao Oriente:
d) Enfatiza o estudo das contradições das ações so- as ações sociais dotadas de sentido.
ciais a partir das vontades das classes sociais.
9. (UEM) “A dominação, ou seja, a probabilidade de en-
e) Procura definir a existência de uma lei histórica ge-
contrar obediência a um determinado comando, pode
ral de desenvolvimento das ações sociais. fundar-se em diversos motivos de submissão. Pode
7. (Unimontes) De acordo com Max Weber (1964-1920), depender diretamente de uma situação de interesses,
poder é a capacidade verificada dentro de uma relação ou seja, de considerações utilitárias de vantagens e
social que permite a alguém impor a sua própria vonta- inconvenientes por parte daquele que obedece. Pode
de, mas que, para se tornar uma forma de dominação, também depender de mero ‘costume’, do hábito obtuso
precisa ser legitimada pelos indivíduos que lidam com de um comportamento inveterado. Ou pode fundar-se,
finalmente, no puro afeto, na mera inclinação pessoal
esse poder. Para compreensão da ação humana, Weber
do dominado. Não obstante, a dominação que repou-
propõe tipos de dominação. Relacione as colunas, esta-
sasse apenas nesses fundamentos seria relativamente
belecendo as correspondências indicadas pelo sociólo-
instável. Nas relações entre dominantes e dominados,
go alemão.
por outro lado, a dominação costuma apoiar-se interna-
1 – Dominação legal mente em bases jurídicas, nas quais se funda a ‘legitimi-
2 – Dominação carismática dade’, e o abalo dessa crença na legitimidade costuma
3 – Dominação tradicional acarretar consequências de grande alcance.”
( ) Um tipo de dominação é aquele baseado no dom da (WEBER, Max. Os três tipos puros de dominação legítima. IN: CASTRO,
graça ou na qualidade pessoal, determinando relação Celso. Textos básicos de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, p.58).
de afetividade. Considerando o texto e conhecimentos sobre o conceito
( ) Dominação em valores e hábitos. de dominação de Max Weber, assinale o que for correto.
( ) Dominação baseada em regras instituídas. 01) A obediência é uma força coercitiva que se impõe
A sequência correta é: sobre os indivíduos como uma forma de lei natural
que assegura a perpetuação histórica das formas de
a) 3, 1, 2. dominação.
b) 2, 3, 1. 02) As ações sociais orientadas pela obediência à tra-
c) 1, 2, 3. dição são as que melhor caracterizam as relações de
d) 1; 3; 2. dominação na Sociedade moderna.
e) 3; 2; 1. 04) A racionalidade jurídica expressa a forma mais
elevada de pensamento humano; portanto, é rara-
8. (Uel 2019) Leia o texto a seguir. mente questionada pelos indivíduos.
A menos que seja um físico, quem anda num bonde não 08) A dominação é uma relação social, portanto en-
tem ideia de como o carro se movimenta. E não precisa volve ações sociais recíprocas entre dominantes e
saber. Basta-lhe poder contar com o comportamento dominados.
 VOLUME ÚNICO

do bonde a orientar sua conduta de acordo com sua 16) As ações humanas são orientadas por diversas
expectativa; mas nada sabe sobre o que é necessário motivações e finalidades que envolvem tanto rela-
para produzir o bonde ou movimentá-lo. O selvagem ções de afeto quanto cálculos que avaliam ganhos e
tem um conhecimento incomparavelmente maior sobre perdas de determinadas atitudes.
suas ferramentas.
WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H.; MILLS, W. Max
Weber. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. p. 165.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  29


10. (UFU) Nas Ciências Sociais, particularmente na Ci-
ência Política, definir o Estado sempre foi uma tarefa Gabarito
prioritária. As tentativas nesta direção fizeram com que
1. D 2. C 3. A 4. C 5. C
vários intelectuais vissem o Estado de formas diferen-
tes, com naturezas diferentes. Numa palestra intitula- 6. A 7. B 8. A 9. 08 + 16 = 24 10. A
da Política como vocação, Max Weber nos adverte, por
exemplo, que o Estado pode ser entendido como uma 11.
relação de homens dominando homens. No trecho da a) De acordo com Weber, o conceito de dominação é
canção d´O Rappa, Tribunal de Rua, dominação é o que a probabilidade de encontrar obediência, isto é, legi-
se percebe, também, na relação entre cidadãos e poli- timidade (consentimento / adesão) a uma ordem de
ciais (braço armado do Estado). determinado conteúdo, entre determinadas pessoas
indicáveis. De acordo com seu pensamento, a função é
A viatura foi chegando devagar
o estabelecimento de determinadas relações sociais de
E de repente, de repente resolveu me parar
dominações entendidas através das tipologias sociais.
Um dos caras saiu de lá de dentro
b) A dominação tradicional tem poderes de mando
Já dizendo, aí compadre, você perdeu
herdados pela tradição, em que os dominados são
Se eu tiver que procurar você tá fodido
companheiros ou súditos do senhor, sendo o tipo mais
Acho melhor você ir deixando esse flagrante comigo [...].
puro a dominação patriarcal, geralmente exercida pe-
O Rappa. Lado A Lado B. Warner, 1999. los anciões. Conforme o humor do chefe tradicional,
pode-se obter favores ou cair em desgraça. Já a do-
A partir da perspectiva weberiana, relacionada ao tre-
minação racional-legal tem a legitimidade do direito
cho da canção acima, evidencia se que a dominação
estatuído (regulamento ou conjunto de regras de orga-
do Estado:
nização e funcionamento de uma coletividade), onde o
a) é exercida pela autoridade legal reconhecida, daí soberano está sujeito à lei e a ordem é de caráter im-
caracterizar-se fundamentalmente como dominação pessoal. Quem obedece não obedece à pessoa do so-
racional legal. berano, mas obedece ao direito e o faz como membro
b) é estabelecida por meio da violência prioritaria- da associação. Quadro administrativo hierarquizado e
mente exercida contra grupos e classes excluídos so- profissional, se caracterizando pela existência da buro-
cial e economicamente. cracia. Quanto à dominação carismática, a obediência
c) ocorre a partir da imposição da razão de Estado, é obediência ao líder enquanto portador de carisma,
ainda que contra as vontades dos cidadãos que, nor- personalidade considerada sobrenatural, sobre-huma-
malmente, àquela resistem. na, com uma devoção afetiva. Cria ou anuncia novos
d) a exemplo da dominação de outras instituições, mandamentos (direitos, normas, punições, etc.) pela
opera de forma genérica, exterior e coercitiva. “revelação” ou por sua vontade de organização. Não
há quadro administrativo, sem regras fixas, hierarquia
11. (UFU) Uma vez que Weber entende que o social se ou competências.
constrói a partir das ações individuais, cria-se um pro-
blema teórico: como é possível a continuidade da vida
social? A resposta para tais questões encontra-se no
fundamento da organização social, chave do verdadeiro
problema sociológico: a dominação ou a produção da
legitimidade, da submissão de um grupo a um mandato.

QUINTANEIRO, Tânia, BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira e


OLIVEIRA, Márcia Gardênia. Um toque de clássicos: Marx,
Durkheim e Weber. 2.ed. Belo Horizonte: EdUFMG, 2003. p. 119.

Com base no texto, faça o que se pede:


a) Defina o conceito de dominação e a sua função
para Weber.
b) Weber conceitua três formas de dominação legí-
tima: a tradicional, a racional-legal e a carismática.
Explique e comente essas formas.
 VOLUME ÚNICO

30  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


SOCIOLOGIA
O filósofo alemão analisou as transformações ocorridas na
CLÁSSICA: sociedade durante a Revolução Industrial no século XIX,
KARL MARX I quando as máquinas começaram a substituir o trabalho
manual dos homens, modificando radicalmente as relações

CH
humanas e os seus hábitos na sociedade. Com isso, Marx fo
um dos responsáveis por promover uma discussão crítica da
COMPETÊNCIA(s) sociedade capitalista, bem como da origem dos problemas
1, 2, 3, 4 e 5 sociais que esse tipo de organização social originou.

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

5
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

Tipo de fábrica do século XIX

1. Karl Heinrich Marx


(1818-1883)

multimídia: livro

Manifesto do Partido Comunista


Marx, Karl; ENGELS, Friedrich. Porto Alegre: L&PM
Pocket, 2001.

Segundo Marx, nas sociedades capitalistas, a forma prin-


cipal de conflito ocorre entre duas classes sociais funda-
mentais: a burguesia e o proletariado. Essa formação assim
se constitui porque a classe assalariada (o proletariado),
não possuindo os meios de produção, cede a sua força de
trabalho em troca de benefício econômico, sendo parte
fundamental do enriquecimento da burguesia, ou seja, os
donos dos meios de produção exploram aqueles que não
detêm os artifícios, pois só vendem o seu trabalho humano.
Desse modo, o conflito entre essas duas classes acaba ge-
multimídia: vídeo rando uma mudança na história da humanidade, pois um
Fonte: Youtube grupo, o operariado, pretende conquistar novas condições,
O jovem Karl Marx - França/Alemanha/ enquanto a burguesia não pretende ceder essas condições,
 VOLUME ÚNICO

Bélgica, 2017 (118 min) modificando-se a consciência e as próprias relações hu-


manas. Entretanto, a classe dominante (a burguesia) tem
Conta a juventude de Karl Marx, período quando ele
maiores chances de construir a história como deseja, visto
luta para expor sua ideologia, o início de seu casamento
que possui o poder econômico e político nas mãos; algo
com Jenny von Westphalen e a sua amizade com Frie-
drich Engels. bem diferente da classe proletária, que não detém esses
meios de produção.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  31


Em 1864, Marx fundou a Associação Internacional dos
Trabalhadores – depois chamada de Primeira Internacional
dos Trabalhadores –, com o objetivo de organizar a con-
quista do poder pelo proletariado em todo o mundo. Em
1867, publicou o primeiro volume de sua obra mais impor-
tante, O capital, na qual faz uma crítica ao capitalismo e à
sociedade burguesa.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
A classe operária vai ao Paraíso
- Itália, 1971 (125 min)
Adorado por seus superiores, por ser um trabalhador
extremamente dedicado, e odiado pelo mesmo motivo
por seus colegas de trabalho, Lulu vive entregue aos so-
nhos de consumo da classe média, alienado em meio multimídia: música
aos movimentos de protesto de sua classe, até que um Fonte: Youtube
acontecimento põe em xeque suas opiniões. Vida de operário - Patu Fu. 1995.
Álbum: Gol de quem?
Diante disso, Marx observa que no capitalismo o mercado
A canção identifica o conceito da mais-valia, das de-
é o centro das relações sociais, sendo que a força de traba-
sigualdades sociais que favorecem sempre uma classe
lho é vista como mercadoria. Quando o trabalhador excede dominante em detrimento de uma classe dominada
o tempo de trabalho necessário, ele cria uma riqueza para justamente pelo fato de o excedente produzido pelo
os donos da produção denominada mais-valia. trabalho ir concentrando-se nos “bolsos do patrão”.
Segundo Marx, o trabalhador acaba sendo alienado pelo
próprio processo de produção, de modo que esse trabalha- Marx é o principal idealizador do socialismo e do comunismo
dor não tem consciência do seu próprio papel na socieda- revolucionário. O marxismo – conjunto das ideias político-fi-
de, pois ele, devido às suas necessidades, constitui toda a losóficas de Marx – propõe a derrubada da classe dominan-
sua vida em torno do seu trabalho. te (a burguesia) por uma revolução do proletariado. Marx
critica o capitalismo e seu sistema de livre empresa que, se-
gundo ele, pelas contradições econômicas internas, levaria a
classe operária à miséria. Propõe uma sociedade na qual os
meios de produção sejam de toda a coletividade.
A história de toda sociedade até nossos dias é a histó-
ria da luta de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e es-
cravo, mestre e oficial, em suma, opressores e oprimi-
multimídia: música dos; empenhados numa luta sem trégua, ora velada,
Fonte: Youtube ora aberta, luta que a cada etapa conduziu a uma
transformação revolucionária de toda a sociedade ou
Pão nosso de cada dia - Gabriel, o Pensador. ao aniquilamento das duas classes em confronto.
1995. Álbum: Ainda é só o começo.
Nos primórdios da História encontramos, quase a toda a
A canção apresenta algumas contradições que per- parte, uma organização completa da sociedade em dife-
meiam o senso comum em relação ao dinheiro e ao rentes grupos, uma série hierárquica de situações sociais.
mundo do trabalho na atualidade. A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas
da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de
classes. Não fez senão substituir novas classes, novas
Em 1848, Marx redigiu com Friedrich Engels o Manifesto condições de opressão, novas formas de luta às que
do Partido Comunista, primeiro esboço da teoria revolu- existiram no passado.
 VOLUME ÚNICO

cionária que, mais tarde, seria chamada de marxismo. No Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, carac-
Manifesto do Partido Comunista, Marx convoca o prole- teriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes.
tariado à luta pelo socialismo. Nesse contexto na Europa, A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos
campos opostos, em duas grandes classes diametral-
ocorreram diversas manifestações de cunho liberal, socia-
mente opostas: a burguesia e o proletariado.
lista e democrático denominadas Primavera dos Povos.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista.
Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 23-24.
32  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias
DIAGRAMA DE IDEIAS

KARL MARX

OBSERVOU A
EXPLORAÇÃO
EXCESSIVA DO
HOMEM PELO MANIFESTO DO
HOMEM MAIS-VALIA
PARTIDO COMUNISTA

CONTEXTO DA EXCEDENTE DO OS TRABALHADORES


II REVOLUÇÃO TRABALHO DO PRECISAM SE
INDUSTRIAL PROLETARIADO ORGANIZAR

AUMENTA AS
REVOLUÇÃO
DESIGUALDADES
SOCIALISTA
ENTRE OS HOMENS

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  33


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UEM) Em termos sociológicos, assinale o que NÃO
for correto sobre o conceito de classes sociais.
1. (UFRRJ) Sobre as primeiras ações socialistas, Karl Marx a) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais
e Friedrich Engels, no Manifesto Comunista de 1848, afir- as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas
maram o seguinte: sociedades.
b) De acordo com Karl Marx, as relações entre as
“As primeiras tentativas do proletariado para impor di- classes sociais transformam-se ao longo da história
retamente o seu próprio interesse de classe, num tem- conforme a dinâmica dos modos de produção.
po de agitação geral, no período da revolução que pôs c) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo,
termo à sociedade feudal, falharam necessariamente pelas relações de cooperação que se desenvolvem en-
por não estar ainda desenvolvida a figura do próprio tre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo.
proletariado e por faltarem ainda condições materiais d) A formação de uma classe social, como os proletá-
da sua libertação, que são precisamente o produto da rios, só se realiza na sua relação com a classe oposi-
época burguesa.” tora, no caso do exemplo, a burguesia.
Em relação aos primórdios do movimento operário na e) A afirmação “a história da humanidade é a história
Europa, é correto afirmar que: das lutas de classes” expressa a ideia de que as trans-
formações sociais estão profundamente associadas
a) se organizou em torno de um programa político às contradições existentes entre as classes.
revolucionário que tinha nos bolcheviques russos a
referência fundamental. 4. (UEM) Escrito há quase duzentos anos, por Karl Marx
b) foi denominado, em sua forma mais violenta, lu- e Friedrich Engels, o Manifesto Comunista denunciava
ddismo e é associado à resistência dos operários ao as desigualdades sociais vividas pelos homens na so-
capitalismo por meio da quebra de máquinas. ciedade capitalista. Leia trecho dessa obra, reproduzido
c) se originou na Inglaterra e buscava superar as ma- a seguir, e assinale o que for correto sobre o desenvol-
zelas do capitalismo por meio de um programa de vimento econômico.
inspiração claramente socialista. “A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas
d) surgiu por iniciativa de partidos políticos socialde- da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos das
mocratas com atuação regular em diversos parlamen- classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de
tos europeus e grande base entre os operários. opressão, novas formas de luta no lugar das antigas [...]
e) propunham como forma de acabar com o capita- A manufatura já não era suficiente. Em consequência
lismo um regime socialista ditatorial conhecido como disso, o vapor e as máquinas revolucionaram a produ-
“ditadura do proletariado”. ção industrial. O lugar da manufatura foi tomado pela
indústria gigantesca moderna, o lugar da classe média
2. (Uel 2020) Em museus como o Louvre, encontram-se industrial, pelos milionários da indústria, líderes de todo
objetos produzidos em diversos e determinados modos o exército industrial, os burgueses modernos”
de produção: utensílios, esculturas, pinturas, entre ou- MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Rio
tras manifestações. de Janeiro: Paz e Terra, 1998, 10ª Edição, p. 9 e 11 (Coleção Leitura).

Com base nos conhecimentos sobre modos de produ- I. A passagem da manufatura para indústria gerou um
ção, no pensamento de Marx, considere as afirmativas processo de modificação do espaço natural que foi bas-
a seguir. tante equilibrado, sem prejuízos ao meio ambiente.
I. O primeiro modo de produção existente na história foi II. O trecho acima se refere ao contexto de formação da
baseado na estrutura homens livres e escravos. sociedade capitalista e à composição dos antagonismos
II. Modos de produção específicos produzem superestru- de classe, os quais opõem proprietários dos meios de
produção e proprietários da força de trabalho.
turas que mantêm íntima ligação com a infraestrutura.
III. As relações estabelecidas pelas classes sociais na
III. O modo de produção capitalista é a última estrutura
sociedade burguesa moderna são pautadas pela coo-
produtiva de classes antes do processo de constituição peração, a qual conduz ao desenvolvimento econômico
da sociedade comunista. gerador de melhor condição de vida para todos.
IV. Os modos de produção possuem leis próprias e exis- IV. As relações de troca se revolucionaram em virtude
tem independentemente das vontades individuais dos de o crescimento da burguesia moderna ter ocorrido na
homens. mesma proporção do crescimento da produção industrial.
Assinale a alternativa correta. V. O desenvolvimento da indústria está assentado no
emprego do trabalho humano, o único detentor de co-
 VOLUME ÚNICO

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.


nhecimento para alterar a matéria-prima, a partir do
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
uso de instrumentos que ele mesmo produz.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
Estão corretas:
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. a) II, IV e V. d) I, IV e V.
b) I, II e V. e) I, II e III.
c) III, IV e V.

34  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


5. (UFU) Em uma passagem de As aventuras do barão Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo
de Munchausem, personagem do folclore alemão, ele de produção capitalista é:
e seu cavalo encontram-se atolados em um pantanal a) baseada na desvalorização do trabalho especia-
e, para sair dessa situação, o barão puxa a si mesmo lizado e no aumento da demanda social por novos
pelo cabelo, levantando-se, com sua montaria, do ter- postos de emprego.
reno movediço. Em mais de uma ocasião, os sociólogos b) fundada no crescimento proporcional entre o nú-
usaram essa metáfora para aludir ao modo pelo qual mero de trabalhadores e o aumento da produção de
os positivistas procuravam um método objetivo, neutro, bens e serviços.
livre das ideologias. c) estruturada na distribuição equânime de renda e
Em oposição a essa suposta objetividade, Marx criticou no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata.
veementemente os positivistas, uma vez que, para o autor: d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de
a) o método possui uma objetividade parcial, pois classes e da criação da economia solidária.
na escolha do objeto entra em ação a ideologia do e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da
autor, que não interfere, entretanto, na análise dos exploração do trabalhador.
acontecimentos.
7. (Enem) Na produção social que os homens realizam,
b) a análise social, a partir da perspectiva do opera-
eles entram em determinadas relações indispensáveis e
riado, deve contribuir para a harmonia das relações
independentes de sua vontade; tais relações de produ-
sociais de produção.
ção correspondem a um estágio definido de desenvol-
c) a análise das condições de vida do proletariado eu- vimento das suas forças materiais de produção. A totali-
ropeu do século XIX deve incidir sobre a crítica social, dade dessas relações constitui a estrutura econômica da
com vistas à reforma da sociedade burguesa. sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as
d) o método deve contribuir não só para a interpre- superestruturas política e jurídica, e ao qual correspon-
tação, mas igualmente para a transformação social. dem determinadas formas de consciência social.
MARX, Karl. Prefácio à Crítica da economia política.
6. (Enem) In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos 3. São
Texto I Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado).

Cidadão Para o autor, a relação entre economia e política esta-


belecida no sistema capitalista faz com que:
Tá vendo aquele edifício, moço?
a) o proletariado seja contemplado pelo processo de
Ajudei a levantar
mais-valia.
Foi um tempo de aflição
b) o trabalho se constitua como o fundamento real da
Eram quatro condução produção material.
Duas pra ir, duas pra voltar c) a consolidação das forças produtivas seja compatível
Hoje depois dele pronto com o progresso humano.
Olho pra cima e fico tonto d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional
Mas me vem um cidadão ao desenvolvimento econômico.
E me diz desconfiado e) a burguesia revolucione o processo social de for-
“Tu tá aí admirado mação da consciência de classe.
Ou tá querendo roubar?”
Meu domingo tá perdido 8. (Unimontes) Fundador do materialismo histórico, Karl
Vou pra casa entristecido Marx (1818-1883) defendia que a tendência do modo
Dá vontade de beber capitalista de produção é separar cada vez mais o traba-
E pra aumentar meu tédio lhador e os meios de produção. Na perspectiva teórica de
Eu nem posso olhar pro prédio Marx, é incorreto afirmar que:
Que eu ajudei a fazer. a) a sociedade capitalista é a fase final da história
BARBOSA, L. In: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. da humanidade, em que as classes sociais – especial-
Rio de Janeiro: Sony Music, 1999 (fragmento). mente o proletariado – desenvolvem toda sua poten-
cialidade por meio da revolução tecnológica, assegu-
Texto II rando mais liberdade aos indivíduos modernos.
O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais ri- b) o postulado básico do marxismo é o determinismo
queza e sua produção cresce em força e extensão. O traba- econômico, segundo o qual as condições econômicas
 VOLUME ÚNICO

lhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida são fundamentais no desenvolvimento da sociedade.
que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que c) a divisão social do trabalho reproduz modos de seg-
o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe mentação da sociedade, resultando em desigualdades
opõe como um ser estranho, como uma força independente e exploração de uma classe social sobre a outra.
do produtor. d) a procura do lucro é intrínseca ao capitalismo, cujo
MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. (Primeiro objetivo do capital não é apenas satisfazer determi-
manuscrito). São
Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado). nadas necessidades, mas produzir mais-valia.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  35


9. (Unespar) O cordel, gênero literário desenvolvido na 11. (UFPR 2020) Considere a passagem abaixo:
região do Nordeste, configura-se como instrumento po- O ponto de vista de Marx estava fundado no que ele
ético que, por meio da rima, da métrica e dos versos, chamava de concepção materialista da história. De
expressa a cultura popular. Nesse sentido, o cordel, si- acordo com essa concepção, não são as ideias ou os va-
nônimo de poesia, canta e conta histórias de lutas, de lores que os seres humanos guardam as principais fon-
amores e, quase sempre, tematiza questões sociais e tes da mudança social. Em vez disso, a mudança social é
políticas do país e do mundo.
estimulada primeiramente por influências econômicas.
[...] Os conflitos de classe proporcionam a motivação para
O que vale é a mais-valia o desenvolvimento histórico [...]. Nas palavras de Marx:
Disse Marx na teoria “toda a história humana até aqui é a história da luta
Da exploração nasce o lucro de classes”.
O proletariado é quem sofria
(GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005, p. 32.)
[...]
Marx e Engels já diziam Por que, para Marx, a luta de classe é a expressão con-
No manifesto comunista creta da concepção materialista da história?
O fim dessas diferenças
É a sociedade socialista. 12. (UFU 2019)
Jane Ribeiro Didek. In: Filosofia & Sociologia: reflexões
cordelistas. ALMEIDA, A.C.S.; NOVAIS, V.A.; NOYAMA, S.;
SCHNORR, G.M. (Orgs.). Curitiba: InterSaberes, 2015.

No que compreende o marxismo, é correto afirmar:


a) O proletariado configura-se como classe média,
cuja missão é a derrubada da burguesia e a instaura-
ção do comunismo.
b) A pequena burguesia ou camada lúmpen é revolucio-
nária e tem como propósito a instauração do comunismo.
Segundo Marx (1988, p.46-47), “a mercadoria é, antes
c) A mais-valia é a diferença entre o valor da força de de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas
trabalho e o valor do produto do trabalho. suas propriedades satisfaz necessidades humanas de
d) Karl Marx nunca tratou de mais-valia, pelo contrário, qualquer espécie. O valor de troca aparece, de início,
o termo foi utilizado equivocadamente pelos marxistas. como a relação quantitativa, a proporção na qual valo-
e) A lei da mais-valia é a responsável pelo asseguramento res de uso de uma espécie se trocam contra valores de
salarial do trabalhador na venda de sua força de trabalho. uso de outra espécie, uma relação que muda constante-
mente no tempo e no espaço.”
10. (Unesp) A condição essencial da existência e da supre-
macia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas MARX, K. O capital: crítica da economia política. 3.ed.
mãos dos particulares, a formação e o crescimento do ca- São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Adaptado)
pital; a condição de existência do capital é o trabalho as-
A transcrição acima é o início de uma das obras mais
salariado. […] O desenvolvimento da grande indústria so-
conhecidas de Marx, na qual ele tem por objetivo ex-
cava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime
plicar o modo de funcionamento, a estrutura social e a
de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia
história do regime capitalista.
produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a
vitória do proletariado são igualmente inevitáveis. a) Com base na Teoria de Marx, explique a função
da mercadoria, seu valor de uso e seu valor de troca
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto
Comunista – Obras escolhidas, vol. 1, s/d.
dentro do funcionamento do capitalismo.
b) Considerando-se a charge, discorra sobre duas
Entre as características do pensamento marxista, é questões do capitalismo nas relações ambientais que
correto citar: motivariam a criação de Latuff e, na sequência, rela-
a) O reconhecimento da importância do trabalho da bur- cione-as ao debate marxista.
guesia na construção de uma ordem socialmente justa.
13. (UFU) Leia a citação a seguir.
b) A celebração do triunfo da revolução proletária eu-
 VOLUME ÚNICO

ropeia e o desconsolo perante o avanço imperialista. [...] o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do
c) A caracterização da sociedade capitalista como ju- mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a
rídica e socialmente igualitária. sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a re-
d) O princípio de que a história é movida pela luta de ligião, uma consciência invertida do mundo, porque eles
classes e a defesa da revolução proletária. são um mundo invertido.
e) O temor perante a ascensão da burguesia e o apoio MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel.
à internacionalização do modelo soviético. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013, p. 151.

36  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


a) Quando Marx afirma que “o homem não é um ser b) De acordo com Karl Marx, os homens propuse-
abstrato”, ele aponta para a condição efetiva da existên- ram ideias falsas a respeito de si mesmos de modo
cia humana e para a sua historicidade. Então, quais re- a conceberem ideias que os dominavam. Para esse
lações são responsáveis pela vida concreta do homem? pensador, a questão das Ideias se fazia presente no
b) Explique o que é a “consciência invertida do mun- sistema hegeliano, que, de modo geral, concebe a
do”, segundo Marx. ideia como o sujeito, cujas objetivações são a natu-
reza e as formas históricas da realidade social. Por
outro lado, Marx parte da premissa de que a história
Gabarito é constituída por indivíduos “reais”, isto é, sua ação.
Sendo assim, são os agrupamentos e as condições
1. B 2. E 3. C 4. A 5. D reais de vida que distinguem os indivíduos e deter-
minam sua consciência. Sendo assim, aquilo que os
6. E 7. B 8. A 9. C 10. D indivíduos são coincide com as condições materiais
de produção. É mediante esse pressuposto que Marx
11. A análise marxista da sociedade parte das relações materiais estabelece uma relação entre Ser e Consciência. Por-
de produção para descrever as relações humanas. Por essa lógi- tanto, segundo a óptica de Karl Marx, não é a consci-
ca, pode-se perceber como determinada classe se beneficia do ência que determina a vida, mas a produção material
trabalho alheio para manter seu poder. Descrever essa apropria- (vida) que determina a consciência.
ção do trabalho é exatamente fazer aparecer a luta de classes ao
longo da história.
12.
a) A mercadoria se insere em uma relação de valor. O
valor de uma mercadoria corresponde, materialmente,
ao quanto de trabalho humano nela se materializou.
Existem, basicamente, dois tipos de valor para uma
mercadoria: o valor de uso corresponde ao valor que
ela possui enquanto bem utilizável para satisfazer
uma necessidade humana. No entanto, existe outro
valor: o valor de troca, que corresponde a quanto de
moeda ou outro tipo de mercadoria ela corresponde
em um processo de relação capitalista.
b) A necessidade de produção do lucro faz com que
os recursos naturais do planeta sejam extraídos de
forma excessiva, prejudicando o ambiente. Além dis-
so, o custo ambiental não é incorporado no valor das
mercadorias, dando a impressão de que esses recur-
sos são infinitos. Como exemplos concretos podemos
citar a utilização de combustíveis fósseis e, conse-
quentemente, o aumento da temperatura do planeta;
e os desastres ambientais, como Brumadinho, que
prejudicam ecossistemas e a vida humana. Do ponto
de vista teórico, isso está relacionado aos processos
de alienação, que separam o ser humano do fruto do
seu trabalho, sendo visto somente como mercadoria
que produz lucro e, também, à luta de classes, dado
que os grandes produtores são os grandes benefici-
ários desse sistema, mas pouco se responsabilizam
pelos efeitos negativos por ele produzido.
13.
a) Valendo-se do conhecimento historiográfico, Karl
Marx expõem uma síntese do desenvolvimento his-
 VOLUME ÚNICO

tórico dando uma ênfase às mudanças de formas de


propriedade, em conformidade com as mudanças das
formas sociais de produção. Portanto, o desenvolvi-
mento histórico está atrelado a uma sucessão de for-
mas de intercâmbio e de modos de produção. Nessa
perspectiva, identifica o reino das relações econômi-
cas enquanto base de toda história da humanidade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  37


SOCIOLOGIA
CLÁSSICA:
KARL MARX II

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
O que é a ideologia da competência
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
A filósofa Marilena Chauí explica o que é a ideologia
6
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
da competência, tema de seu segundo livro da coleção
Escritos de Marilena Chauí.

Essas propagandas têm a tarefa de conquistar o outro


para vender o produto, estimulando um comportamento
social consumista. As propagandas condicionam o consu-
midor a acreditar na obrigatoriedade de adquirir o produ-
to e o fascinam ao ponto de criar a ilusão de que, ao fa-
zê-lo, ele viverá uma experiência de satisfação imediata.
1. Ideologia Segundo Karl Marx, a ideologia dominante, consolidada
O processo de dominação social se utiliza de artifícios que pela classe dominadora em cada período histórico, é res-
iludem a população. Esse encantamento se perfaz com o ponsável por repassar ideias, formas de pensar e explicar
auxílio das propagandas, que disseminam imagens e men- o mundo. Com isso, acredita-se num determinado estilo de
sagens para um condicionamento social. As propagandas vida, que é reproduzido por essa sociedade. Marx questio-
veiculadas na TV e na internet condicionam diversas for- na que, ao seguir uma ideologia, os indivíduos não fazem
mas de vida, vendendo um estilo de vida ou simplesmente uma crítica de seus atos, sejam eles do âmbito das relações
um determinado produto. trabalhistas ou da vida cotidiana. A ideologia é interpreta-
da por Marx como uma espécie de falsa consciência, refor-
çando um condicionamento social.

multimídia: livro

O que é ideologia?
CHAUÍ, Marilena. São Paulo: Editora Brasiliense (Cole-
ção Primeiros Passos), 2001.

1.1. Alienação
 VOLUME ÚNICO

multimídia: música Para Marx, no processo de alienação, os indivíduos sofrem


Fonte: Youtube um processo de exteriorização de uma essência humana e
Ideologia - Cazuza. Álbum: Ideologia. um não reconhecimento de sua atividade. Marx atrela a alie-
Universal Music,1988. nação ao trabalho, que condiciona o ser a não pensar sobre
os seus atos, vivendo uma situação de estranhamento.

38  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


mesmo, sem se importar com as outras pessoas. Aqui o
sujeito não é mais um ser humano e se transfigura apenas
no trabalhador reificado.
O último tipo representa um sujeito que não se reconhece
no trabalho e nem é reconhecido como parte essencial da
vida humana, não tendo significado no cotidiano e nem no
multimídia: música trabalho realizado.
Fonte: Youtube
Wish you were here - Pink Floyd. 1975. 1.2. Fetiche da mercadoria
Álbum: Wish you were here. O conceito de fetichismo da mercadoria foi desenvolvido por
A canção trata da ausência pensando a sociedade: o Marx em sua obra O Capital, atrelado ao conceito de aliena-
que realmente somos, a questão da representação, o ção. O produto perde a relação com o produtor e parece ga-
capitalismo, nosso modo de produção e de vida. nhar vida própria, assumindo novas utilidades e um novo sta-
tus, que dá ao produto não necessariamente o uso original.
Marx retrata a alienação em quatro tipos: Para compreendermos esse processo de fetichismo, é preci-
§ em relação ao produto do trabalho; so retornar a uma definição de mercadoria.
§ no processo de produção; Segundo Marx, todo e qualquer objeto, no sistema capita-
lista, possui um valor de mercadoria, tendo uma utilidade
§ em relação à existência do indivíduo enquanto mem-
pensada originalmente para a sua produção.
bro do gênero humano;
Por sua vez, o valor de TROCA do produto representa, no
§ em relação aos outros indivíduos.
sistema capitalista, um valor mercadológico.
A estranheza de não se reconhecer no produto criado re-
Assim, as mercadorias adquirem uma forma fantástica,
presenta o primeiro tipo. Um exemplo disso é quando um
ganhando mais de uma utilidade ao indivíduo, podendo
trabalhador, numa linha de produção, não se reconhece no ser status, poder ou felicidade. Nesse processo, o sujeito
produto final. acaba atribuindo novos elementos à mercadoria de for-
ma a humanizá-la; em consequência, a própria mercado-
ria coisifica o indivíduo.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
1984 - Reino Unido: 1956 (90 min)
Primeira adaptação do livro de George Orwell, um homem
perde sua identidade vivendo sob um regime repressivo e
de uma ideologia totalitária. Ele é um funcionário público
cuja função é reescrever a história de forma a colocar os
líderes de um país fictício sob uma luz positiva. A forma inicial da consciência é, portanto, a alienação.
E porque a alienação é a manifestação inicial da consci-
ência, a ideologia será possível: as ideias serão tomadas
No segundo tipo, essa alienação está no próprio proces- como anteriores à práxis, como superiores e exteriores a
 VOLUME ÚNICO

so do trabalho, que condiciona o indivíduo a viver pelo ela, como um poder espiritual autônomo que comanda
trabalho, deixando de viver apenas para satisfazer às ati- a ação material dos homens. A divisão social do tra-
vidades laborais. Um exemplo disso são as atividades do balho torna-se completa quando o trabalho material e
cotidiano que levam o sujeito a só pensar no trabalho. o espiritual se separam. Somente com essa divisão a
consciência pode realmente imaginar ser diferente da
O terceiro tipo, por sua vez, representa o individualismo, consciência da práxis existente, representar realmente
que considera as atividades do trabalho referentes a si algo, sem representar algo real. Desde esse instante,

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  39


a consciência está em condições de emancipar-se do
mundo e entregar-se à construção da teoria, da teolo-
gia, da filosofia, da moral etc., "puras". Nasce agora a
ideologia propriamente dita, isto é, o sistema ordenado
de ideias ou representações e das normas e regras como
algo separado e independente das condições materiais,
visto que seus produtos – os teóricos, os ideológicos,
os intelectuais – não estão diretamente vinculados à
produção material das condições de existência. multimídia: vídeo
CHAUÍ, Marilena. Fonte: Youtube
O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1991, p.63.
Tempos Modernos - Estados Unidos: 1936 (87 min)
O filme retrata a vida urbana nos Estados Unidos, de-
monstrando os modos de produção industrial baseados
na divisão e especialização do trabalho na linha de
montagem. O filme é uma crítica ao sistema capitalista
e ao modo de produção industrial.

DIAGRAMA DE IDEIAS

FETICHE DA
IDEOLOGIA
MERCADORIA

FORMAS DE O PRODUTO
DOMINAÇÃO FABRICADO GANHA
HUMANA UM NOVO STATUS

COM O OBJETIVO
DE CONTROLE TENDO UMA NOVA
SOCIAL E “FUNÇÃO”
ECONÔMICO
 VOLUME ÚNICO

DIRECIONADO PELO
ORQUESTRADO PELA
“NOVO USO” DO SER
CLASSE DOMINANTE
HUMANO

40  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UEG) Para Marx, diante da tentativa humana de expli-
car a realidade e dar regras de ação, é preciso conside-
rar as formas de conhecimento ilusório que mascaram
1. (UEL) Analise a figura a seguir:
os conflitos sociais. Nesse sentido, a ideologia adquire
um caráter negativo, torna-se um instrumento de do-
minação na medida em que naturaliza o que deveria
ser explicado como resultado da ação histórico-social
dos homens, e universaliza os interesses de uma classe
como interesse de todos. A partir de tal concepção de
ideologia, constata-se que:
a) a sociedade capitalista transforma todas as formas
de consciência em representações ilusórias da reali-
dade conforme os interesses da classe dominante.
b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a
considera um elemento fundamental no processo de
emancipação da classe trabalhadora.
c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ide-
A figura ilustra, por meio da ironia, parte da crítica que ologia é um produto do esforço individual principal-
a perspectiva sociológica baseada nas reflexões teóri- mente dos indivíduos da classe dominante.
cas de Karl Marx (1818-1883) faz ao caráter ideológico d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de
de certas noções de Estado. Sobre a relação entre Esta- uma noção genérica e abstrata de trabalho, masca-
do e sociedade segundo Karl Marx, é correto afirmar: rando as reais condições do trabalho alienado no
a) A finalidade do Estado é o exercício da justiça en- modo de produção capitalista.
tre os homens e, portanto, é um bem indispensável à
4. (UEMA) A palavra ideologia, criada por Destutt de Tra-
sociedade.
cy (1754-1836), significa estudo da gênese e do desen-
b) O Estado é um instrumento de dominação e re- volvimento das ideias. Com Karl Marx, o termo ideologia
presenta, prioritariamente, os interesses dos setores adquiriu um significado crítico e negativo. Identifique,
hegemônicos das classes dominantes. nas opções abaixo, a única que contém informação cor-
c) O Estado tem por finalidade assegurar a felicidade reta sobre a concepção de Marx sobre ideologia:
dos cidadãos e garantir, também, a liberdade indivi- a) Conjunto de ideias que apresenta a sociedade
dual dos homens. dividida em duas classes, dominantes e dominados,
d) O Estado visa atender, por meio da legislação, a visando à conscientização dos indivíduos.
vontade geral dos cidadãos, garantindo, assim, a har- b) Conjunto de ideias que mostra a totalidade da re-
monia social. alidade, levando os indivíduos a compreenderem-na
e) Os regimes totalitários são condição essencial para em si mesma.
que o Estado represente, igualmente, os interesses c) Conjunto de ideias que dissimula e oculta a reali-
das diversas classes sociais. dade, mostrando-a de maneira parcial e distorcida em
relação ao que de fato é.
2. (UFU) Conforme Marx e Engels: “O modo pelo qual d) Conjunto de ideias que esclarece de forma contun-
os homens produzem seus meios de vida depende, dente a realidade, mostrando que apenas pessoas da
antes de tudo, da própria constituição dos meios de classe dominante podem governar.
vida já encontrados e que eles têm de reproduzir. Esse e) Conjunto de ideias que estimula a classe dominada
modo de produção não deve ser considerado mera- a alcançar o poder.
mente sob o aspecto de ser a reprodução da existên-
cia física dos indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma 5. (Uel 2020) Leia a charge e o texto a seguir.
determinada de sua atividade, uma forma determina-
da de exteriorizar sua vida, um determinado modo de
vida desses indivíduos”.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia
alemã. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 27.

Da leitura do trecho, conclui-se que:


 VOLUME ÚNICO

a) As ideologias políticas possuem autonomia em re-


lação ao desenvolvimento das forças produtivas.
b) A base da estrutura social reside no seu modo de
produção material.
c) O modo de produção é determinado pela ideologia
dominante.
d) Toda atividade produtiva é uma forma desumanização.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  41


O conceito de ideologia, nos termos propostos por Karl c) A democracia representativa é instrumento de alie-
Marx (1818-1883), refere-se, também, àquela ideia ou nação das classes trabalhadoras, na medida em que
declaração “(...) que em algum aspecto significativo ela o Estado representa apenas os interesses das classes
é falsa, enganosa ou um relato parcial da realidade e, dominantes.
portanto, uma ideia que pode e deve ser corrigida.” d) A recuperação da condição humana só poderá
GIDDENS, A.; SUTTON, P. W. Conceitos essenciais da ocorrer por meio da transformação e evolução con-
Sociologia. São Paulo: Editora da Unesp, 2016, p. 229. tínua do capitalismo.

A charge sugere a presença de uma “ideologia do méri- 8. (UEG)


to” quando está em pauta a discussão da desigualdade
social na sociedade de tipo capitalista.
Com base na charge e no texto, explique como a “ide-
ologia do mérito” justifica a desigualdade social no ca-
pitalismo e, em seguida, identifique os motivos que a
caracterizam como enganosa ou um relato parcial da
realidade.

6. (UFU) Conforme Marx e Engels:


“O modo pelo qual os homens produzem seus meios
de vida depende, antes de tudo, da própria constituição
dos meios de vida já encontrados e que eles têm de
reproduzir. Esse modo de produção não deve ser consi-
derado meramente sob o aspecto de ser a reprodução Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas
da existência física dos indivíduos. Ele é, muito mais, sociedades – mais dinheiro, mais prestígio, mais poder,
uma forma determinada de sua atividade, uma forma mais vida, e tudo aquilo que os homens valorizam. Tais
determinada de exteriorizar sua vida, um determinado desigualdades criam divisões na sociedade – divisões
modo de vida desses indivíduos”. com respeito a idade, sexo, riqueza, poder e outros re-
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia
cursos. Aqueles no topo dessas divisões querem manter
alemã. São Paulo: Huitec, 1999, p. 27. sua vantagem e seu privilégio; aqueles no nível inferior
querem mais e devem viver em um estado constante
Da leitura do trecho, conclui-se que: de raiva e frustração [...]. Assim, a desigualdade é uma
a) As ideologias políticas possuem autonomia em re- máquina que produz tensão nas sociedades humanas. É
lação ao desenvolvimento das forças produtivas. a fonte de energia por trás dos movimentos sociais, pro-
b) A base da estrutura social reside no seu modo de testos, tumultos e revoluções. As sociedades podem, por
produção material. um período de tempo, abafar essas forças separatistas,
c) O modo de produção é determinado pela ideologia mas, se as severas desigualdades persistem, a tensão e o
dominante. conflito pontuarão e, às vezes, dominarão a vida social.
d) Toda atividade produtiva é uma forma desumanização. TURNER, Jonathan H. Sociologia: Conceitos e aplicações.
São Paulo: Pearson, 2000. p. 111. (Adaptado).
7. (UNB) Quando se fala em ideologia como visão dis-
torcida das relações sociais, forma alienada de ver a A observação da figura e a leitura do texto permitem
realidade, queremos mostrar, por meio do pensamento inferir:
marxiano, que “a função principal da ideologia é ocul-
tar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a) no plano social, a igualdade humana está explícita
a aparência de indivisões e de diferenças naturais entre em dois setores bem definidos: na Justiça, segundo
os seres humanos”. Quando Chauí refere-se a dar falsas a qual todos são iguais perante a lei, e na educação,
aparências e dissimular relações sociais, ela, sobretudo, em que todos devem ter oportunidades iguais; essas
ressalta a concepção marxista de ideologia construída práticas são vivenciadas pela sociedade brasileira.
em cima principalmente de uma crítica às visões sobre b) segundo Karl Marx, aqueles que possuem ou contro-
o mesmo tema que tinham os jovens hegelianos. lam os meios de produção têm poder, sendo capazes de
Marcelo Dorneles Michel. Ideologia e ocultamento no manipular os símbolos culturais através da criação de
pensamento marxiano. Internet: http://www.ucpel.tche.br/ ideologias que justifiquem seu poder e seus privilégios.
c) a estratificação de classes existe quando renda, po-
A partir desse texto, assinale a opção correta a respeito
 VOLUME ÚNICO

der e prestígio são dados igualmente aos membros


das ideias de Marx:
de uma sociedade, gerando, portanto, grupos cultu-
a) O conceito de alienação da produção refere-se rais, comportamentais e organizacionais semelhantes.
apenas à ocultação dos lucros obtidos a partir da ex- d) a estratificação, na visão de Karl Marx, mostra que
ploração do trabalho assalariado. a luta de classes não se polariza entre o ter e o não
b) A alienação filosófica acontece quando o Estado ter e envolve mais do que a ordem econômica.
representa os interesses da burguesia hegemônica.

42  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


9. (UEG) A Filosofia e a Sociologia são disciplinas que As proposições dos enunciados acima podem ser asso-
promovem uma reflexão crítica sobre os mais varia- ciadas ao pensamento conhecido como:
dos temas, particularmente o da ideologia. Partindo de a) materialismo histórico, que compreende as socie-
uma análise crítica e utilizando o conceito de ideologia dades humanas a partir de ideias universais indepen-
desenvolvido por Marx e outros pensadores, é correto dentes da realidade histórica e social.
afirmar que o cartum: b) materialismo histórico, que concebe a história a
partir da luta de classes e da determinação das for-
mas ideológicas pelas relações de produção.
c) socialismo utópico, que propõe a destruição do ca-
pitalismo por meio de uma revolução e a implantação
de uma ditadura do proletariado.
d) socialismo utópico, que defende a reforma do ca-
pitalismo, com o fim da exploração econômica e a
abolição do Estado por meio da ação direta.

11. (Interbits) A ideologia da meritocracia não subsis-


te no Brasil sem o racismo. Porque para acreditar que
o patrão é aquele que estudou e se esforçou mais e o
empregado é aquele que estudou e se esforçou menos,
é necessário acreditar que, de modo geral, brancos es-
tudam e se esforçam mais do que negros.
As duas crenças pré-conscientes — da meritocracia e
da superioridade intelectual intrínseca dos brancos —
jamais entram em choque. Isso é ideologia. A ideologia
é continuar acreditando na meritocracia, mesmo quan-
do a realidade dá incontáveis exemplos de gente que
foi mal na escola e nem por isso virou gari — gente de
uma cor e de uma classe social bem específicas.
Vale repetir que estou falando neste texto de crenças
pré-conscientes — coisas nas quais acreditamos sem
nem saber que acreditamos. É claro que todos sabemos
que a capacidade intelectual nada tem a ver com a cor
da pele ou quaisquer outras características físicas. Ja-
mais afirmaríamos o contrário. Estamos perfeitamente
cientes de que não faz sentido associar inteligência e
raça. Mas estou falando aqui justamente de coisas das
quais não estamos cientes. De dados e informações que
contextualizam nossa visão de mundo sem nos darmos
a) revela que, independentemente dos indivíduos e das
conta. Dados, sensações, percepções que compõem o
classes sociais, todos pertencemos ao povo brasileiro. pano de fundo sobre o qual o mundo se destaca. Já
b) mostra que, diante da televisão, todos os brasilei- imaginou a bagunça que nossa vida seria, pergunta
ros são iguais nesse momento. Merleau-Ponty, se conseguíssemos ver, como coisas, os
c) sugere que há um crescimento quantitativo dos te- intervalos entre as coisas?
lespectadores com o passar do tempo. PAVANELLI, C. L. Garis que escrevem bem. Confeitaria. 8 mar.
d) mostra que o discurso sobre “povo brasileiro” é ide- 2014. Adaptado. Disponível em: <http://confeitariamag.com/
ológico, falso, abole as divisões e desigualdades sociais. convidado/garis-que-escrevem-bem/> Acesso em 05 mai. 2014.

10. (Unicamp) A história de todas as sociedades tem sido Segundo Karl Marx, o que é a ideologia? O autor do
a história das lutas de classe. Classe oprimida pelo des- texto utiliza o conceito de ideologia de forma similar à
Marx? Justifique sua resposta.
potismo feudal, a burguesia conquistou a soberania polí-
tica no Estado moderno, no qual uma exploração aberta
e direta substituiu a exploração velada por ilusões reli-
giosas. A estrutura econômica da sociedade condiciona
 VOLUME ÚNICO

as suas formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou


filosóficas. Não é a consciência do homem que determina
o seu ser, mas, ao contrário, são as relações de produção
que ele contrai que determinam a sua consciência.
K. Marx e F. Engels, Obras escolhidas. São Paulo: AlfaÔmega,
s./d., vol 1, p. 21-23, 301-302. (Adaptado)

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  43


Gabarito
1. B 2. B 3. D 4. C
5. Dentre os argumentos utilizados para a “ideologia do
mérito”, encontra-se a sugestão de que as posições sociais
resultam de uma sequência de escolhas e decisões toma-
das pelos próprios indivíduos autônomos e livres, numa
sociedade cuja economia é baseada, por sua vez, na livre
concorrência/disputa pelos lugares/posições mais valoriza-
dos pelo mercado. Seria, principalmente, da diversidade de
talentos, de capacidades e de preparação técnica que de-
rivaria a desigualdade social, como resultado da forma de
distribuição de renda baseada na diferenciação de preços
e salários pagos a bens e serviços com valor agregado dife-
rente. De modo que a desigualdade social seria, em grande
parte, consequência dos esforços individuais demonstrados
por meio da qualificação e do trabalho. A explicação da
“ideologia do mérito” para a desigualdade social apresen-
ta-se como enganosa, pois há obstáculos sociais iniciais,
como a posse e a propriedade de bens, o acesso a serviços,
como a educação qualificada, que afetam a mobilidade so-
cial ascendente dos indivíduos, mesmo que haja alguma
variação de talento ou disposição ao esforço.

6. B 7. C 8. B 9. D 10. B
11. Para Marx, ideologia corresponde a uma visão equivo-
cada e invertida da realidade, que oculta a exploração do
homem pelo homem e os conflitos de classe, além de legiti-
mar o modo de pensar burguês. Sim, podemos dizer que o
autor usa o conceito de ideologia no sentido marxista. Isso
porque, segundo ele, a meritocracia e o racismo criam ideias
que condenam determinada parcela da população à subor-
dinação e ao fracasso, ainda que essas pessoas não se deem
conta dessa situação de submissão.
 VOLUME ÚNICO

44  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


SOCIOLOGIA
CONTEMPORÂNEA:
PIERRE BOURDIEU

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
Quem foi Pierre Bourdieu?
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
O professor do Museu Nacional da UFRJ, José Sérgio Lei-
7
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
te Lopes fala sobre o trabalho do pensador e sociólogo
Pierre Bourdieu.

O bem simbólico é um conjunto de práticas sociais regidas


pelo poder, consolidando uma dominação social que con-
tém hierarquias e subdivisões, propagando uma desigual-
dade na sociedade – em que a existência de titularização
simbólica condiciona um controle social.

1. Pierre Bourdieu (1930-2002)


Um dos mais importantes intelectuais da segunda metade
do século XX, o francês Pierre Bourdieu conseguiu absorver
as teorias de Durkheim, Marx e Weber.

Representação do modelo escolar, que reproduz


um tipo limitado de conhecimento.

1.1. Capital humano


O capital é um conceito que discute a quantidade de acú-
mulo de forças dos agentes em suas posições no campo
social. Bourdieu compreende o campo social como o espa-
ço onde ocorrem as relações de poder entre os indivíduos,
as disputas para ocupar posições sociais, evidenciando a
existência de desigualdade de capitais sociais. Para o autor,
os quatro tipos de capital humano são:

Capital
Atrelado aos meios de produção e renda.
econômico
Com uma análise das sociedades capitalistas que privilegia
a reprodução social, Bourdieu denota a presença de trocas Saber: institucionalizado, com títulos e diplomas.
simbólicas fazendo uma crítica às leituras marxistas, que Capital Incorporado pela forma da expressão oral.
cultural
não contemplavam as relações simbólicas, pois estavam
Posse de quadros ou obras de arte.
 VOLUME ÚNICO

presas às relações materiais.


As questões desenvolvidas por Bourdieu tratam de com- Capital O conjunto das relações sociais de que dispõe
social um indivíduo, a reprodução das relações sociais.
preender como a ordem social é mantida. A sociedade é
formada por conjuntos, que são modificados por grupos,
Capital Atrelado ao reconhecimento, correspondendo ao
classes e categorias sociais; porém, a sociedade transfigura simbólico conjunto de rituais, como etiquetas e protocolos.
os agentes sociais.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  45


Diante disso, um indivíduo que possui o capital econômi- O habitus qualifica a relação do sujeito com a sociedade,
co teria mais oportunidades de adquirir e se apropriar dos tendo uma base de estratificação de poder.
demais capitais.
O habitus é compreendido como um padrão social de sensi-
bilidade e de comportamento que orienta a ação desse ser
de maneira inconsciente. Esse padrão regulariza as ações so-
ciais dos indivíduos em grupos, mas não são eternos.

1.4. A violência simbólica


Segundo Bourdieu, a violência simbólica é uma violência
multimídia: vídeo
“invisível”, concretizada por formas de comunicação, ten-
Fonte: Youtube do uma relação de subjugação e submissão numa típica
Pierre Bourdieu - Brasil Escola situação de dominação.
A violência simbólica se funda na construção contínua de
1.2. A escola crenças no processo de socialização, seguindo os padrões
Para Bourdieu, a instituição escolar é um exemplo de ti- do discurso dominante.
tularização de bens simbólicos devido a seu caráter de
reprodutora de costumes desiguais. Isso ocorre porque a
escola transmite aos estudantes a forma de conhecimen-
to da classe dominante, tendo um discurso aparentemen-
te neutro e oficial.
A escola reproduz uma desigualdade de uma forma dupli-
cada, sendo feita pela continuidade da desigualdade social
multimídia: livro
e fazendo-o de uma forma simbólica, pois, antes de aden-
trar no recinto escolar, os indivíduos já passam por uma
desigualdade econômica, além das inúmeras desigualda- A dominação masculina - Pierre Bourdieu.
des existentes entre os sujeitos, que o sociólogo denomina Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019
como um capital, para caracterizar as diferenças de experi- Bourdieu analisa a dominação masculina que sobrevi-
ências entre os seres. ve na sociedade atual, denuncia um modo de pensar
pautado pelas dicotomias e oposições e faz o leitor
refletir sobre o tema com olhar crítico indispensável.
O autor inverte a relação causa-efeito, afirmando que
essa dominação não é biológica, mas uma construção
arbitrária do biológico que fundamenta as divisões
sexuais aparentemente espontâneas; a biologia e o
corpo seriam espaços onde as desigualdades entre os
multimídia: vídeo sexos seriam naturalizadas.
Fonte: Youtube
Capital Cultural Quando observamos a relação entre homem e mulher,
A metáfora criada pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu por exemplo, notamos essa violência simbólica, pois,
busca explicar como a escola, ao não levar em conta o ca- quando associamos repetidamente ao gênero feminino
pital cultural de alunos vindos de diferentes meios sociais, caraterísticas de fraqueza e sensibilidade, apresentamos
ajuda a manter essas diferenças e estratificar a sociedade. uma dimensão de poder que condiciona uma redução
 VOLUME ÚNICO

das ações desse gênero, atrelando um poder simbólico ao


gênero masculino. A partir disso, emerge uma violência
1.3. Habitus
simbólica, que será reproduzida em falas e ações pejorati-
O habitus, para Bourdieu, condiciona os indivíduos a con- vas atreladas ao gênero feminino, como uma reprodução
viverem em um mesmo agrupamento social, tendo estilos do discurso dominante.
de vida parecidos, onde os “fatos sociais” se assemelham.

46  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A violência simbólica pode ser tomada pelas instituições da
sociedade, como o Estado, a mídia e a escola, consolidando Camada da população que comanda o mercado.
uma forma de opressão entre os segmentos da sociedade.
O poder simbólico como poder de construir o dado Endinheirados Características:
pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar Possuem elevado capital cultural e elevado
capital econômico.
ou de transformar a visão do mundo e, desse modo, a
ação sobre o mundo, portanto o mundo, poder quase Controlam e condicionam as ações sociais.
mágico que permite obter o equivalente daquilo que é
obtido pela força (física ou econômica) graças ao efeito Classe que possui capital cultural e parte do
específico de mobilização, só se exerce se for reconhe- capital econômico.
cido, quer dizer, ignorado como arbitrário. Isto significa
que o poder simbólico não reside nos «sistemas sim- Classe média
bólicos» em forma de uma «illocutionary force» mas tradicional Características:
que se define numa relação determinada – e por meio Possui a ilusão da meritocracia.
desta – entre os que exercem o poder e os que lhe Domina a classe subalterna (os trabalhadores).
estão sujeitos, quer dizer, isto é, na própria estrutura
do campo em que se produz e se reproduz a crença.
Camada popular da sociedade, mas consegue
O que faz o poder das palavras e das palavras de or- melhorar a sua renda.
dem, poder de manter a ordem ou de a subverter, é a
crença na legitimidade das palavras e daquele que as
Trabalhadores Características:
pronuncia, crença cuja produção não é da competência
das palavras. Não desenvolveram e consolidaram o capital
cultural.
BOURDIEU, Pierre.
O poder simbólico. 10 ed. Rio de Janeiro: Trabalham em 2 ou 3 empregos.
Bertrand Brasil, 2007, p.14-15.
São as pessoas que estão abaixo da linha de
dignidade.

Características:
Ralé Serviços braçais, não são valorizados e nem
reconhecidos.
Correspondem a 1/3 da população brasileira.
Precisam de proteção do Estado para uma
multimídia: música mínima dignidade.

Fonte: Youtube
A vida é um desafio – Álbum: Racionais Mc’s. Nada
como um dia após o outro. Boogie Naipe, 2002.
A canção diz sobre a desigualdade e como é difícil com-
petir entre brancos e negros, pois falta o capital humano.

2. Jessé Souza (1960) multimídia: livro


O sociólogo brasileiro recebeu grande influência de Bour-
dieu, desenvolvendo uma pesquisa empírica da realidade A elite do atraso: da escravidão a Lava Jato
brasileira, fato que resultou numa nova percepção socio- – Jessé Souza. São Paulo: Leya, 2019.
lógica. A elite do atraso se tornou um clássico contemporâneo
da sociologia brasileira, um livro fundamental de Jessé
Souza, o sociólogo que ousou colocar na berlinda as
obras que eram consideradas essenciais para se enten-
 VOLUME ÚNICO

der o Brasil. Por meio de uma linguagem fluente, irônica


e ousada, Jessé apresenta uma nova visão sobre as cau-
sas da desigualdade que marca nosso país e reescreve a
história da nossa sociedade.
Em seus estudos, caracterizou quatro classes sociais, que
seguem a mesma lógica do capital humano de Bourdieu:

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  47


O sociólogo pretende analisar e explicar o Brasil, suas estruturas políticas e desigualdades sociais existentes. Segundo suas
análises, as desigualdades socioculturais ainda existentes são frutos de uma reprodução de costumes ordenados por uma elite
dominante, surgida durante o período colonial, que visava a sua manutenção do poder. Assim, evidencia uma continuidade
da segregação cultural e socioespacial de boa parte da população.

DIAGRAMA DE IDEIAS

BOURDIEU JESSÉ SOUZA

O CAPITAL
HUMANO
A SOCIEDADE A SOCIEDADE
É FORMADA POR BRASILEIRA SEGUE
TROCAS SIMBÓLICAS A LÓGICA DO
FORMAS DE PODER CAPITAL HUMANO
ADQUIRIDAS
PELO HOMEM • ENDINHEIRADOS
• CLASSE MÉDIA
• ECONÔMICO TRADICIONAL
• CULTURAL • TRABALHADORES
• SOCIAL • RALÉ
• SIMBÓLICO
 VOLUME ÚNICO

48  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UEL) Observe a tabela a seguir elaborada por Pierre
Bourdieu:
1. (Enem 2019) Para Pierre Bourdieu, "a dominação
masculina seria uma forma particular de violência sim-
bólica. Por esse conceito, o autor compreende o poder
que impõe significações, impondo-as como legítimas,
de forma a dissimular as relações de força que susten-
tam a própria força. O sociólogo quis dizer com isso que
a dominação masculina se dá justamente pela manu-
tenção de um poder que se mascara nas relações, que
se infiltra no nosso pensamento e na nossa concepção
de mundo. Para ele, uma relação desigual de poder com-
porta uma aceitação dos grupos dominados, não sendo
necessariamente uma aceitação consciente e delibera-
da, mas principalmente de submissão pré-reflexiva".
Adriano Senkevics, disponível em: https://ensaiosdegenero.
wordpress.com/2012/05/21/o-conceito-de-genero-
por-pierre-bourdieu-a-dominacao-masculina/

Sobre a "dominação masculina" nas relações de gênero Com base na tabela, é correto afirmar:
em nossa sociedade podemos afirmar que: a) A pesquisa sobre as classes sociais indica as simi-
a) Bourdieu acreditava que tanto homens como mu- litudes e simetrias dos gostos e práticas sociais das
lheres contribuem para a manutenção da dominação classes baixas, médias e superiores.
masculina e da submissão feminina nesta relação. b) A pesquisa sobre as classes baixas, médias e altas
b) no momento que a dominação masculina é simbó- revela o quanto a dimensão cultural dificilmente coin-
lica, ela é mais fácil de ser combatida. cide com a dimensão econômica das diferenças.
c) as mulheres são as principais responsáveis pela do- c) A pesquisa sobre a dimensão cultural das classes
minação masculina. sociais demonstra que há diferenças nos seus estilos
d) para Bourdieu a dominação masculina é eviden- de vida e de consumo.
te e, portanto, possível de ser facilmente percebida e d) A pesquisa sobre as classes sociais e suas hierar-
exercida tanto por homens como por mulheres. quias desautorizam as afirmações sobre possíveis as-
e) para Bourdieu, a dominação masculina conta com simetrias nas escolhas de consumo.
tamanho poder simbólico que é impossível de ser e) A pesquisa sobre o consumo e as práticas sociais
combatida. das três classes denuncia a apropriação da cultura
popular pelas classes superiores.
2. (FGV) Ao estudar as relações de poder na socieda-
de contemporânea, Pierre Bourdieu distinguiu quatro 4. (UEL 2020) Com base na charge:
diversos tipos de capital: o econômico, o social, o cul-
tural e o simbólico.
Com relação aos diversos tipos de recursos associados
a cada forma de capital, segundo Bourdieu, assinale V
para a afirmativa verdadeira e F para a falsa.
( ) O capital social é constituído pelo conjunto de re-
cursos a que um indivíduo tem acesso em função das
redes de relações nas quais se insere.
( ) O capital cultural se baseia exclusivamente na ins-
trução formal e nas habilidades intelectuais adquiridas
por um indivíduo ao longo da vida escolar.
( ) O capital simbólico é a visão de mundo da classe so-
cial hegemônica que transforma seus recursos materiais Texto I
em símbolos de força e poder.
As afirmativas são, respectivamente: Assim como [...] [Mário de Andrade] reconhece e afir-
 VOLUME ÚNICO

ma que há uma gota de sangue em cada poema, assim


a) F, V e F. também, parafraseando o poeta, queremos reconhecer e
b) F, V e V. sustentar que há uma gota de sangue em cada museu.
c) V, F e F. [...] Admitir a presença de sangue no museu significa tam-
d) V, V e F. bém aceitá-lo como arena, como espaço de conflito, como
e) F, F e V. campo de tradição e contradição. Toda a instituição muse-
al apresenta um determinado discurso sobre a realidade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  49


Este discurso, como é natural, não é natural e compõe-se 6. (UEM-pas) Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu
de som e de silêncio, de cheio e de vazio, de presença e de (1930-2002), os agentes sociais estão inseridos na es-
ausência, de lembrança e de esquecimento. trutura da sociedade, ocupando posições hierárquicas
CHAGAS, Mario Souza. Há uma gota de sangue em
que dependem, em grande parte, das características
cada museu: a ótica museológica de
Mario de Andrade. culturais, sociais e comportamentais de cada indivíduo.
2. ed. Chapecó: Argos, 2015. v. 1. p.19. Por isso, cada agente formula estratégias para se inserir
na sociedade e para a manutenção de sua posição na
No texto I e na teoria de Pierre Bourdieu, é correto afir- hierarquia social que contribuem tanto para a conser-
mar que museus expressam, também: vação da estrutura social como para a sua transforma-
a) o poder da ideologia dos que se impõem economi- ção. Para Bourdieu, “pode-se genericamente verificar
camente pela posse dos meios de produção. que quanto mais as pessoas ocupam uma posição fa-
vorecida na estrutura, mais elas tendem a conservar ao
b) a consciência coletiva do conjunto da sociedade e
mesmo tempo a estrutura e a sua posição, nos limites,
suas formas de solidariedade.
no entanto, de suas disposições (isto é, de sua trajetória
c) o arbitrário cultural ou leitura de mundo proposta social, de sua origem social) que são mais ou menos
pelos dominantes em uma estrutura específica. apropriadas à sua posição”.
d) a ação racional com relação a valores visando com-
bater a anomia social e preservar as instituições. (BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia
clínica do campo científico. São Paulo: Unesp, 2004, p. 29).
e) o esforço da burguesia em demonstrar a existência
de vencidos e, sobretudo, vencedores na história. Considerando o trecho citado e os estudos sociológicos
sobre indivíduo e sociedade, assinale o que for correto.
5. (Uel 2020) Leia o texto a seguir.
Um dos atos fundadores da sociologia da arte, no início 01) O pensamento sociológico ensina que as relações
sociais são diferentes das relações políticas, pois na
dos anos 1960, terá consistido em aplicar à frequenta-
sociedade não há disputas e nem conflitos.
ção aos museus de Belas-Artes os métodos de pesquisa
estatística elaborados nos Estados Unidos, no período 02) A sociologia se dedica ao estudo das estruturas
entre guerras, por Paul Lazarsfeld. Essas sondagens de sociais, e não ao dos indivíduos, porque entende que
opinião, até então reservadas ao marketing comercial as pessoas não atuam com racionalidade.
ou político, revelaram-se instrumentos preciosos para 04) De acordo com Bourdieu, no trecho citado, as
mensurar a diferenciação das condutas em função das pessoas agem orientadas por disposições de classe e
estratificações sociodemográficas – idade, sexo, origem pela posição que ocupam na estrutura social.
geográfica, meio social, nível de estudos e financeiro – 08) Ao estudar as relações sociais, Bourdieu afirma
e, eventualmente, explicar as primeiras pelas segundas. que o esforço e a dedicação individual são a medida
do sucesso pessoal que alguém pode ter em sua vida.
HEINICH, N. A sociologia da Arte, São Paulo: EDUSC, 2001, p.72. 16) As relações entre as trajetórias individuais e as
Com base no texto e nos conhecimentos sobre cultura, estruturas sociais permitem à sociologia estudar as
considere as afirmativas a seguir. mudanças e as permanências na ordem social.
I. Para Pierre Bourdieu, visitar museus indica gostos so- 7. (UEM) “Para explicar a conexão existente entre gos-
cialmente criados e incorporados pelos indivíduos ou to e acessibilidade, comparemos O Cravo Bem Tempe-
grupos de indivíduos sob a forma de disposições durá- rado, de Bach, com a Rapsody in Blue, do compositor
veis denominadas habitus. americano George Gershwin. Uma pesquisa conduzida
II. Enquanto nas Belas Artes o olhar volta-se para as pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu mostrou que
regras formais estéticas e técnicas, na Arte Moderna diferentes grupos sociais preferem uma dessas duas
passa a ser mais do que expressão e rompe com o aca- obras musicais (Bourdieu, 1984 [1979], p.17). Profissio-
demicismo. nais franceses com uma educação formal mais elevada,
III. Ao conferir um valor de mercado à obra de arte, a professores e artistas preferem O Cravo Bem Tempera-
“indústria cultural” cria obstáculos para a contempla- do; já profissionais com menos educação formal como
ção, pois sua singularidade é despontenciada na forma escriturários, secretários, executivos comerciais e admi-
mercadoria do objeto artístico. nistradores juniores preferem a Rhapsody in Blue. Por
quê? (...) De acordo com Bourdieu, durante sua educa-
IV. O Museu Nacional tem origem no Brasil com a fun-
dação da Primeira República e expressou, na época de ção, as pessoas adquirem gostos culturais específicos
sua criação, a preocupação com pesquisas baseadas no associados à sua posição social. Esses gostos ajudam a
modelo popular. distingui-las de pessoas de outras posições sociais. Mui-
tas delas chegam a olhar os apreciadores de Gershwin
 VOLUME ÚNICO

Assinale a alternativa correta. com superioridade, assim como os apreciadores de Ger-


a) Somente as afirmativas I e II são corretas. shwin chegam a considerar esnobes os entusiastas de
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. Bach. Essas duas atitudes diferentes fazem com que os
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. dois grupos de status permaneçam distintos.”
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. (BRYM, R. et al. Sociologia. Sua Bússola para um Novo
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Mundo, São Paulo: Cengage Learning, 2009, p. 201-202).

50  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A partir desse texto aprendemos que a desigualdade 9. (Unioeste) Pierre Bourdieu trata da cultura no sentido
social não se manifesta somente através de diferenças antropológico recorrendo a outro conceito, o habitus. Em
econômicas. Sendo assim, é correto afirmar que: sua obra O sentido prático, ele explica mais detalhada-
01) As categorias “bom gosto” e “mau gosto” não mente sua concepção do habitus:
expressam preconceito ou juízos de valor. Ao contrá- “Os habitus são sistemas de disposições duráveis e
rio, elas são princípios muito claros de classificação transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a
do que é bom e do que não é em termos de escolhas funcionar como estruturas estruturantes, isto é, a funcio-
exclusivamente individuais em relação à arte, à vesti- nar como princípios geradores e organizadores de prá-
menta, à alimentação, à etiqueta e ao lazer. ticas e de representações que podem ser objetivamente
02) Educação formal e condições financeiras são adaptadas a seu objetivo sem supor que se tenham em
fatores que têm grande capacidade de influenciar o mira conscientemente estes fins e o controle das opera-
gosto e o acesso aos bens e serviços disponíveis. ções necessárias para obtê-los.”
04) As preferências pela “alta cultura” ou pela “baixa
BOURDIEU, O sentido prático, 1980, p. 88.
cultura” não possuem explicações sociológicas satis-
fatórias porque se referem exclusivamente à expres- Sobre o conceito de habitus, é incorreto afirmar que:
são do gosto individual.
a) não é interiorizado pelos indivíduos, implica em
08) O uso de roupas para a prática esportiva, para o
consciência dos indivíduos para ser eficaz.
lazer ou para o trabalho diz respeito à capacidade de
o indivíduo fazer escolhas adequadas e não à sinali- b) funciona como a materialização da memória coleti-
zação de diferenças de status social ou de riqueza. va, que reproduz para os sucessores as aquisições dos
precursores.
16) Gostos distintos em termos de viagens e de lazer,
de música, de moda, de alimentação, de etiqueta e de c) é o que caracteriza uma classe ou um grupo social
literatura manifestam diferenças materiais e simbóli- em relação aos outros que não compartilham das mes-
cas entre os membros de uma sociedade. mas condições sociais.
d) explica porque os membros de uma mesma classe
8. (UEM) “A escola exclui, como sempre, mas ela exclui
agem frequentemente de maneira semelhante sem ter
agora de forma continuada, a todos os níveis de curso, e
necessidade de entrar em acordo para isso.
mantém no próprio âmago daqueles que ela exclui, sim-
e) é o que permite aos indivíduos se orientarem em seu
plesmente marginalizando-os nas ramificações mais ou
espaço social e adotarem práticas que estão de acordo
menos desvalorizadas. Esses ‘marginalizados por dentro’
com sua vinculação social. Ele torna possível para o in-
estão condenados a oscilar entre a adesão maravilhada à
divíduo a elaboração de estratégias antecipadoras, que
ilusão proposta e a resignação aos seus veredictos, entre
são guiadas por esquemas inconscientes, esquemas de
a submissão ansiosa e a revolta impotente”
percepção, de pensamento e de ação.
BOURDIEU, P. (Org.). A miséria do mundo.
Petrópolis: Vozes, 1993, p. 485. 10. (UEM) “A virilidade, como se vê, é uma noção emi-
Considerando a citação e as abordagens sociológicas so- nentemente relacional, construída diante dos outros
bre o contemporâneo processo de escolarização, assinale homens, para os outros homens e contra a feminilida-
o que for correto: de, por ser uma espécie de medo do feminino, e cons-
01) O melhor desempenho escolar de certas pessoas truída, principalmente, dentro de si mesmo.”
está ligado ao dom natural para os estudos que des- BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio
perta logo no nascimento, pois as aptidões intelectuais de Janeiro: Bertrand, 1999, p. 67.
facilitam o aprendizado e permitem conseguir notas
mais altas. Considerando a citação e as contemporâneas perspec-
02) Historicamente a escola tem sido uma instituição tivas sociológicas sobre a homossexualidade, assinale o
democrática que respeita as diferenças econômicas, so- que for correto:
ciais e culturais da sociedade e garante oportunidades 01) Do ponto de vista sociológico, as relações sexuais
iguais para as pessoas que se esforçam nos estudos. são relações privadas, que não devem ser tratadas em
04) Ao ocultar seu papel na legitimação e na repro- público, pois aquilo que ocorre com as famílias não tem
dução dos saberes, dos valores e das experiências consequências sociais e não merece ser estudado ou
dos grupos dominantes, a instituição escolar esconde debatido pela sociedade.
também os seus mecanismos “sutis” de exclusão dos
grupos marginalizados. 02) Apesar de se tratar de uma opção pessoal, as re-
lações de afeto entre homens devem ser evitadas do
08) A baixa qualidade do ensino oferecido pelas esco-
las públicas no Brasil está diretamente relacionada ao ponto de vista sociológico, porque elas diminuem a vi-
 VOLUME ÚNICO

grande número de pessoas pobres que ela inclui, pois a rilidade dos jovens e impedem a reprodução da espécie
condição econômica determina o desempenho escolar. humana.
16) Um dos principais desafios colocados para os atu- 04) Atos de violência física ou simbólica contra gays,
ais sistemas de ensino no Brasil tem sido a necessidade lésbicas, travestis etc. expressam formas de preconcei-
de assegurar a inclusão educacional de indivíduos e de to que geram ódio e intolerância diante de comporta-
grupos sociais que historicamente foram marginaliza- mentos que não se enquadram nos padrões socialmen-
dos pela escola regular. te aceitos de normalidade sexual.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  51


08) Ao invés de abordar a sexualidade em suas dimen-
sões puramente biológicas ou psicológicas, a sociolo- Gabarito
gia estuda as identidades sexuais a partir de processos
1. A 2. C 3. C 4. C 5. D
históricos e sociais que as produzem enquanto fenô-
menos sociais. 6. 04 + 16 = 20 7. 02 + 16 = 18
16) Ao reconhecer a existência de múltiplas formas de
vivenciar o amor, o afeto, o desejo e o prazer, a sociolo- 8. (04 + 16 = 20) 9. A 10. (04 + 08 + 16 = 28)
gia contemporânea tem criticado as ações sociais que 11. No Brasil, a escravidão ocupou a maior parte de nossa his-
tentam impor um único padrão de relacionamento. tória. Durante quatro séculos, pessoas foram trazidas da África
para serem aqui escravizadas. Com isso, tiveram seus laços so-
11. (UEL) Leia o texto a seguir.
ciais e familiares rompidos, tendo sido submetidas a condições
Como houve continuidade sem quebra temporal entre a drásticas de trabalho e exploração. Com o fim da escravidão, ao
escravidão, que destrói a alma por dentro e humilha e re- invés de essa população recém-libertada ter sido incentivada e
baixa o sujeito, tornando-o cúmplice da própria domina- formada para o exercício do trabalho assalariado, a maioria dos
ção, e a produção de uma ralé de inadaptados ao mun- postos de trabalho – e, claro, os de melhor remuneração – foram
do moderno, nossos excluídos herdaram, sem solução ocupados por imigrantes de origem europeia. O resultado disso
de continuidade, todo o ódio e o desprezo covarde pelos foi o deslocamento dos afrodescendentes para o desemprego ou
mais frágeis e com menos capacidade de se defender. subemprego de péssima remuneração, empurrando-os para a
pobreza, fragilizando os vínculos familiares e tornando quase im-
SOUZA, J. A elite do atraso. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p.83.
possível a formação educacional necessária para a concorrência
Nas teorias sociais, um dos temas mais controversos com os imigrantes. Com esses indivíduos exercendo atividades
refere-se às relações entre o indivíduo e a sociedade. A socialmente desvalorizadas ou incorrendo na criminalidade, rei-
imensa maioria dos cientistas sociais demonstra a exis- terou-se a ideia de que os afrodescendentes – e, por extensão,
tência de complexas relações entre as características os pobres em geral – são uma ameaça aos membros da “boa so-
sociais (classe social, renda, situação familiar etc.) que ciedade”. Daí serem eles os principais herdeiros contemporâneos
envolvem o indivíduo e o seu comportamento. Consi- do ódio e do desprezo que os senhores devotavam aos escravos
derando esse texto, explique a relação entre o passado nos séculos anteriores.
escravocrata e a forte presença de afrodescendentes
entre os jovens presos e assassinados na atualidade no
Brasil. Em seguida, relacione esse cenário à discrimina-
ção que esses indivíduos sofrem por uma parcela subs-
tancial da população brasileira.
 VOLUME ÚNICO

52  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


O PROCESSO
CIVILIZADOR: vidades dos indivíduos de diferentes maneiras, construindo
teias de interatividade e formando as instituições sociais,
NORBERT como a família, a cidade, o Estado e as nações.
ELIAS
Esse seu pensamento analisa as estruturas sociais não de

CH
uma forma estática, mas sempre em desenvolvimento.
COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

8
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
O senhor das moscas - Estados
Unidos, 1990 (90 min)
O filme de 1990 é inspirado no livro de mesmo nome do
inglês William Golding, publicado em 1954. Depois de
um acidente de avião, um grupo de estudantes chega
1. Norbert Elias (1897-1990) a uma ilha. Eles acabam se dividindo em dois grupos.
Enquanto um é organizado, o outro recorre à selvageria
O sociólogo alemão inovou no desenvolvimento da teoria e usa o medo do desconhecido para controlar os outros.
social ao elucidar os processos sociais, isto é, os processos
de interação humana na sociedade.
1.1. O processo civilizador
Escrito na década de 1930, esse texto apresenta sua teoria
dos processos civilizadores, de modo que ocorre uma aná-
lise dos costumes da humanidade a partir da formação do
Estado Moderno, abrangendo também a cultura.
Norbert Elias salienta que o processo civilizador pode ser
entendido como um processo transformador de longo pra-
zo nas estruturas da personalidade e do comportamento
individuais. Traçando a evolução histórica dos costumes
humanos, que será codificada no termo habitus, segundo o
autor alemão, as estruturas psíquicas individuais são mol-
dadas por atitudes sociais.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Quem é Norbert Elias?
 VOLUME ÚNICO

Tendo uma abordagem crítica, Elias demonstra que os con-


ceitos fundamentais foram construídos a partir da identi- Observando os padrões europeus medievais em relação a
ficação das limitações das perspectivas teóricas clássicas. diversos temas, como a violência, o comportamento sexual,
Isso quer dizer que os processos sociais baseiam-se nas ati- as funções corporais e os modos à mesa, Elias constata

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  53


que eles foram transformados de forma gradual, criando
repugnância e vergonha e condicionando novos costumes.
Dessa maneira, a concepção de processo civilizador reflete as
mudanças nas cadeias de interdependência humana. Assim,
os hábitos podem ser modificados ao longo do tempo, numa
observação histórica, num processo social civilizador.
multimídia: vídeo
1.2. Configuração e civilização Fonte: Youtube

Norbert Elias ressalta o conceito de configuração, que pode Configuração e Civilização


ser entendido como um padrão criado pelos homens, de- Esse vídeo mostra os dois conceitos essenciais na dis-
sencadeando ações entre esses homens, sendo um padrão cussão teórica de Norbert.
flexível, que pode sofrer alterações constantemente, ajustan-
do-se conforme a criação da instituição social, servindo tanto O conceito de "civilização" refere-se a uma grande varie-
para o domínio externo como para o autodomínio individual. dade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras,
ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às
ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de
habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem
juntos, à forma de punição determinada pelo sistema ju-
diciário ou ao modo como são preparados os alimentos.
Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito
de forma "civilizada" ou "incivilizada". Daí ser sempre
difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode
descrever como civilização.
Mas se examinamos o que realmente constitui a função
geral do conceito de civilização, e que qualidade comum
Forma alimentar da Idade Média leva todas essas várias atitudes e atividades humanas a
serem descritas como civilizadas, partimos de uma des-
coberta muito simples: este conceito expressa a consci-
ência que o Ocidente tem de si mesmo.
ELIAS, Norbert.
O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p.23.

Rito de alimentação na visão europeia perante os indígenas da América. multimídia: livro


O processo civilizador encontra meios externos e internos de
controle social para limitar os impulsos animalescos. Com as O Processo Civilizador - Vol.1 - ELIAS,
formas das leis e do Estado, é uma compreensão civilizatória Norbert. São Paulo: Zahar, 1996.
para os indivíduos, ao passo que as regras de etiqueta são O volume traça a evolução histórica da Europa, habitus,
também uma representação dessa civilização. Tudo isso em ou "segunda natureza", as estruturas psíquicas indivi-
prol do convívio humano, seguindo um direcionamento de duais particulares moldadas por atitudes sociais. Elias
regras ou leis, para conter qualquer tipo de instinto e para traçou como os padrões europeus pós-medievais em
 VOLUME ÚNICO

não prejudicar o coletivo. relação à violência, comportamento sexual, funções cor-


porais, modos à mesa e formas de discurso foram gra-
Essa civilidade vai criando um abismo entre o adulto e a dualmente transformados pelo aumento dos limiares de
criança, que ainda não assimilou os elementos civilizató- vergonha e repugnância, de dentro para fora a partir de
rios, as regras, e precisa ter o seu comportamento moldado um núcleo na etiqueta de corte.
para ser aceita nessa sociedade.

54  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


2. Karl Mannheim (1893-1947) A modernidade, segundo o sociólogo, não tem apenas
custos e malefícios ao ser humano, ela apresenta novas
Sociólogo húngaro, com grande influência do marxismo, esperanças e valores sociais solidários. A psicanálise, por
elaborou a sociologia do conhecimento. Sua análise con- exemplo, é responsável por um novo padrão de vida, per-
siste em identificar que o conhecimento está vinculado mitindo ao ser humano ficar livre das repressões sociais.
aos interesses sociais das classes. De modo que o conhe- Nunca a falta de uma ciência da sociedade foi mais
cimento é historicamente relativo. Assim, o conhecimento prejudicial que em nossa época. Para as sociedades an-
perante a realidade é condicionado socialmente, sendo in- teriores, o conhecimento da sociologia teria sido quase
fluenciado pela cultura do agrupamento social. um luxo, pois não dispunham do poder necessário para
aplicar seus resultados ao controle dos processos sociais.
Mas hoje, dá-se o oposto. O homem frequentemente
tem o poder político, mas não o conhecimento capaz de
impedir o abuso desse poder. Só poderemos substituir
o conceito de planejamento fundado na utilização das
forças espontâneas da sociedade, se lograrmos penetrar
a natureza dessas mesmas forças sociais.
MANNHEIN, Karl.
O impacto dos processos sociais na formação da personalidade,
In: CARDOSO, Fernando Henrique e IANNI, Otávio. Homem e
Sociedade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1980, p.286.

multimídia: livro

Ideologia e Utopia - MANNHEIM, Karl.


3. Ed. São Paulo: Zahar, 1976.
Nessa obra, Mannheim afirma que todo ato de conhe-
Mannheim salienta que o pensamento social só pode expres- cimento não resulta apenas da consciência puramente
sar a vida, e não explicá-la em definitivo, sendo que existem teórica, mas também de inúmeros elementos de nature-
tendências em criar padrões para uma melhoria de vida. Os za não teórica, provenientes da vida social e das influên-
movimentos da juventude são responsáveis por desenvolver cias e vontades a que o indivíduo está sujeito.
um ideal de homem “sincero”, um modelo a ser seguido,
numa relação mais íntegra do homem com a natureza.

multimídia: música
 VOLUME ÚNICO

Fonte: Youtube
Não vou me adaptar - Titãs.
Volume dois. WEA, 1998.
Nessa canção, está contida uma referência à dominação
cultural que sofremos no nosso cotidiano.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  55


DIAGRAMA DE IDEIAS

NORBERT KARL
ELIAS MANNHEIM

A SOCIEDADE É A REALIDADE É
FORMADA POR CONDICIONADA
HÁBITOS

SENDO
LIMITANDO O
DIRECIONADOS
CONHECIMENTO
ESSES HÁBITOS

POR UM GRUPO
DOMINANTE

COM UM INTUITO
DE DOMINAÇÃO
SOCIAL
 VOLUME ÚNICO

56  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) dutas, os corpos e os sentimentos dos indivíduos e dos
grupos sociais ao longo dos séculos. Sobre os conceitos
1. (IFB) De acordo com Norbert Elias (1994), o processo e proposições teóricas de Norbert Elias, assinale a alter-
de transição de um modo de pensar mais autônomo, ao nativa incorreta:
menos no tocante aos eventos naturais, esteve intima- a) Outra etapa do processo civilizatório se apresenta
mente ligado ao avanço mais generalizado da indivi- quando, por força da crescente divisão do trabalho e
dualização nos séculos XV, XVI e XVII. Sobre o conceito acirramento da competição social, o controle externo é
de processo de individualização, julgue os itens abaixo. substituído pelo controle interno.
I. A individualização é um processo contínuo e não pla- b) Para Norbert Elias, socialização e individualização de
nejado, construído nos avanços e recuos do processo um ser humano são, portanto, nomes diferentes para o
civilizador individual, no qual todos os indivíduos, como mesmo processo.
fruto de um processo civilizador social em construção a c) A sociologia não consiste, ou pelo menos não exclu-
longo tempo, são automaticamente ingressos desde a sivamente, no estudo das sociedades contemporâneas,
mais tenra infância, em maior ou menor grau e sucesso. mas deve dar conta das evoluções de longa, até mesmo
II. O processo de individualização se diferencia do pro- de muito longa duração, as quais permitem compreen-
cesso de civilização, visto que este último faz parte de der, por filiação ou diferença, as realidades do presente.
uma crescente interação com as atividades sociais, sem d) Uma Figuração é uma formação social, cujas dimen-
qualquer relação com as atividades psíquicas dos indi- sões podem ser muito variáveis (os jogadores de um car-
víduos no interior das configurações. teado, a sociedade de um café, uma classe escolar, uma
III. O conceito de individualização está intimamente aldeia, uma cidade, uma nação), em que os indivíduos
ligado com o de autocontrole, que é o processo que estão ligados uns aos outros por um modo específico
vai da exteriorização à interiorização. O indivíduo in- de dependências recíprocas e cuja reprodução supõe um
terioriza os sentimentos, paixões, emoções, controles equilíbrio móvel de tensões.
e representações produzidas nas relações sociais e em e) Diferentemente da tecnização o processo civilizador
suas atividades mentais, e depois ele exterioriza suas corresponde a um percurso de aprendizagem involuntá-
representações através de comportamentos, hábitos e ria pelo qual passa a humanidade. Começou nos primór-
relações de poder. dios do gênero humano e continua em marcha.
IV. A ideia de individualização torna-se mais visível ao 3. O conceito de indivíduo adquiriu maior força no sécu-
passo que a história humana avança, demonstrando que lo XVI com a Reforma Protestante, A partir da ideia de
a humanidade, o indivíduo e a sociedade são processos que o indivíduo poderia relacionar-se diretamente com
sem início e fim à vista. Nessa história, torna-se percep- Deus, sem o intermédio de outra pessoa. Com a Revolu-
tível a transferência cada vez maior de funções relativas ção Industrial, esta ideia firmou-se definitivamente, pois
à proteção e ao controle do indivíduo, previamente exer- se colocou a felicidade individual como objetivo princi-
cidas por pequenos grupos tradicionais e consanguíne- pal da nova sociedade. Para Norbert Elias, o estudo do
os (tribo, feudo, igreja etc.), para os grupos densamente indivíduo deverá ser realizado dinamicamente a fim de
habitados, como podemos perceber na configuração dos compreendê-lo dentro do contexto social e, vice-versa.
Estados modernos altamente complexos e urbanizados.
Para explicar essa relação de interdependência entre in-
V. Na individualização existe um indivíduo biológico e divíduo e sociedade, esse sociólogo utiliza o conceito de:
individuado socialmente, que busca ser controlador das
a) configuração.
forças naturais. Desde os primeiros dias da humanida-
de até o século XXI, não foram somente as estruturas b) estrutura social.
sociais e as condições materiais de existência que mu- c) relação social.
daram. O biológico parece mais ‘sólido’ e ‘resistente’, d) ação social
as forças naturais não-humanas parecem ser cada vez
mais ‘controladas’ e ‘previstas’, enquanto o social pa- 4. (UFMT) Em “A sociedade dos indivíduos”, Norbert
rece mais ‘controlador’, ‘mutável’ e ‘vulnerável’ às mu- Elias discute um problema epistemológico da sociolo-
danças ao longo da história humana. gia, que se localiza no enviesar dicotômico para leitura
dos fenômenos indivíduo e sociedade. De fato, o autor
Assinale a alternativa que apresenta apenas sentenças
propõe uma análise do indivíduo e da sociedade na lon-
corretas:
ga cadeia de interdependência, entrelaçando estrutura
a) I, III, IV e V. social e estrutura psíquica. Leia atentamente o texto.
b) I, II, III e IV. [...] é um processo contínuo e não planejado, construído
c) III, IV e V. nos avanços e recuos do processo civilizador individual
 VOLUME ÚNICO

d) I, IV e V. no qual todos os indivíduos, como fruto de um processo


e) I, II, IV e V. civilizador social em construção a longo tempo, são au-
tomaticamente ingressos desde a mais tenra infância,
2. O sociólogo Norbert Elias é hoje uma das grandes re- em maior ou menor grau e sucesso. Pois nenhum ser
ferências nas ciências sociais, numa acepção mais ampla. humano chega civilizado ao mundo, o individual é obri-
Em sua obra mais conhecida, O processo civilizador, mos- gatoriamente social e vice-versa.
tra como lentamente os costumes vão moldando as con- ELIAS, N. Introdução à sociologia. Edições 70. Lisboa: Pax, 1980.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  57


O texto acima define o conceito de: 6. (FGV) “Na sociedade aristocrática de corte, a vida
a) Habitus. c) Civilização. sexual era por certo muito mais escondida do que na
sociedade medieval. O que o observador de uma socie-
b) Individualização. d) Configuração social.
dade industrializada-burguesa amiúde interpreta como
5. (UFSC 2019) Assim, nessa pequena comunidade, de- ‘frivolidade’ da sociedade de corte nada mais é do que
parava-se com o que parece ser uma constante univer- essa orientação rumo à privacidade. Não obstante, me-
didos pelo padrão de controle dos impulsos na própria
sal em qualquer figuração de estabelecidos-outsiders:
sociedade burguesa, o ocultamento e a segregação da
o grupo estabelecido atribuía a seus membros carac-
sexualidade na vida social, tanto quanto na consciência,
terísticas humanas superiores; excluía todos os mem-
foram relativamente sem importância nessa fase. Aqui,
bros do outro grupo do contato social não profissional
também, o julgamento de fases posteriores é com fre-
com seus próprios membros; e o tabu em torno desses quência induzido em erro porque os padrões, da pessoa
contatos era mantido através de meios de controle so- que julga e da aristocracia de corte, são considerados
cial como a fofoca elogiosa [praise gossip], no caso dos como absolutos e não como opostos inseparáveis, e
que o observavam, e a ameaça de fofocas depreciativas também porque o padrão próprio é utilizado como me-
[blame gossip] contra os suspeitos de transgressão. dida de todos os demais.”
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os ELIAS, N. O Processo Civilizador: Uma história dos costumes.
outsiders. Sociologia das relações de poder a partir de uma
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994, v. 1, p. 178. (Adaptado)
pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 20.
Em O Processo Civilizador, Norbert Elias analisa a his-
Por conseguinte, o espaço dos estilos de vida, ou seja, o
tória dos costumes, buscando compreender o curso das
universo das propriedades pelas quais se diferenciam,
transformações gerais da sociedade ocidental que, na
com ou sem intenção de distinção, os ocupantes das longa duração, contribuíram para um processo civiliza-
diferentes posições no espaço social não passa em si tório. A esse respeito, com base no fragmento acima,
mesmo de um balanço, em determinado momento, das assinale V para a afirmativa verdadeira e F para a falsa.
lutas simbólicas cujo pretexto é a imposição do estilo
de vida legítimo e que encontram uma realização exem- ( ) O autor examina a dinâmica civilizadora, entendida
plar nas lutas pelo monopólio dos emblemas da “clas- como as reações dos indivíduos às condições materiais
se”, ou seja, bens de luxo, bens de cultura legítima ou de vida.
modo de apropriação legítimo desses bens. ( ) O autor estuda os processos de naturalização de
BOURDIEU, Pierre. A distinção. Crítica social do julgamento.
hábitos e costumes, como os processos de controle
São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, 2008, p. 233. das emoções individuais.
( ) O autor identifica representações sociais e hábitos
Com relação às teorias de Norbert Elias e John Scotson
analisando o processo cognitivo pelo qual lhe são atri-
e de Pierre Bourdieu, é correto afirmar que:
buídos significados.
01) de acordo com Elias e Scotson, os grupos estabeleci-
As afirmativas são, respectivamente:
dos mobilizam características naturais de superioridade a
fim de se mostrarem mais valiosos do que outros grupos. a) F, V e F. d) V, V e F.
02) de acordo com Bourdieu, a ocupação do espaço so- b) F, V e V. e) F, F e V.
cial mais distinto por parte de certos grupos se baseia em c) V, F e F.
suas capacidades inatas de exprimir um gosto cultural
legítimo. 7. (Unimontes) Norbert Elias (1897-1990), alemão de
04) o par conceitual formado por valorização e exclusão origem judaica, é considerado, na atualidade, um dos
mais importantes representantes da Sociologia. Elias
é considerado por Elias e Scotson uma constante das re-
ganhou notoriedade, entre outros motivos, por fazer
lações de poder.
análises dos hábitos e costumes sobre o desenrolar do
08) a aquisição de símbolos distintivos cumpre uma fun-
“processo civilizatório”.
ção de legitimação do estilo de vida que, segundo Bour-
dieu, é parte de um conflito simbólico permanente. No que se refere a esse assunto, é INCORRETO afirmar:
16) um traço comum a essas teorias é que elas assumem a) Segundo Elias, o termo “civilização” configura-se
que os mecanismos de exercício do poder não são meras como um conjunto de hábitos, valores e costumes in-
imposições das classes dominantes, mas expressam rela- ternalizados pelos indivíduos que lhes dão o caráter
ções entre os grupos dominantes e dominados. “social” ou “humano”. Os seres humanos, por nature-
32) tanto Elias e Scotson quanto Bourdieu consideram za, não possuem aspectos civilizados, porém possuem
que formar posses econômicas é o principal mecanismo um potencial que lhes permite adquirir e aprender os
 VOLUME ÚNICO

de hierarquização de grupos sociais. modos civilizados de existência.


64) Elias e Scotson e Bourdieu podem ser considerados b) Um aspecto vital da civilização, para Elias, é a autor-
representantes de teorias sociológicas que buscam re- regulação dos impulsos e pulsões, o autocontrole das
alizar uma síntese teórica entre o papel das estruturas energias instintivas que brotam dos seres humanos.
sociais e o papel dos agentes da vida social, e isso se Importante frisar que se trata de um “autocontrole”,
expressa na forma como esses autores entendem a luta ou seja, diferentemente de coações externas que eram
por poder. antes necessárias para a convivência humana.

58  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


c) Os modos civilizados de ser têm relação estreita entendesse sua própria “civilização”, ele concluiria, da
com o refinamento dos costumes, que passam a ca- maneira a mais inequívoca, que a sociedade existente
racterizar os indivíduos ocidentais modernos. A lim- nesses tempos pretéritos da história ocidental não era
peza e a higiene pessoal são exemplos básicos desse “civilizada” no mesmo sentido e no mesmo grau que a
refinamento dos costumes. sociedade ocidental moderna.
d) Estudos sobre civilização e cultura não interessam à ELIAS, N. O processo civilizador. v.1. 2.ed. Rio de
Sociologia, por ser uma disciplina acadêmica vinculada Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p.13 (Adaptado)
apenas aos problemas de gestão do aparato estatal.
Com base no texto e nos conhecimentos de Norbert
8. (PUC-PR) Norbert Elias é um dos mais conhecidos so- Elias sobre as normas e as emoções disseminadas nas
ciólogos contemporâneos que desenvolveu uma mar- práticas cotidianas, especialmente no tocante à forma-
cante contribuição à sociologia da cultura ao refletir so- ção da civilização na sociedade moderna ocidental, as-
bre a sociogênese dos conceitos de cultura e civilização. sinale a alternativa correta.
Sobre sua abordagem é correto afirmar: a) A construção social do processo civilizador com-
a) De orientação evidentemente marxista, Elias mapeia prova que este é um fenômeno sem características
a noção de cultura como uma história da ideologia en- evolutivas, dadas as sucessivas rupturas e desconti-
quanto confere à civilização uma análise tecnológica dos nuidades observadas, por exemplo, em relação aos
processos de exploração do trabalho. controles das funções corporais.
b) A crítica de Elias recai no uso deliberado e extenso das b) Os estudos do processo civilizador comprovam que as
análises antropológicas acerca da cultura, demasiado emoções são inatas, com origem primitiva, o que garante
amplas, mantendo sua abordagem histórico-sociológica a empatia entre indivíduos de diversas sociedades e cultu-
na investigação da concepção francesa de civilização, ras, bem como de diferentes classes sociais.
com ênfase nas inovações tecnológicas. c) Os mecanismos de controle e de vigilância da so-
c) Contrariando análises anteriores, Elias identifica ciedade sobre as maneiras de gerenciar as funções
a origem da noção de cultura nos países asiáticos e corporais correspondem a um aparelho de repressão
demonstra a influência dessa noção para a tradição que se forma na economia política da sociedade, sen-
ocidental, em um amplo processo de difusão semân- do, portanto, exterior aos indivíduos.
tica que chega a sobrepujar a noção de civilização d) O modo de se alimentar, o cuidado de si, a relação
dominante na Europa. com o corpo e as emoções em resposta às funções
d) Atento ao significado dos conceitos ao longo do corporais são produtos de um processo civilizador, de
tempo e em diferentes contextos nacionais, Elias resga- longa duração, por meio do qual se transmite aos in-
divíduos às regras sociais.
ta a noção francesa de civilização como referente aos
progressos das instituições e costumes ocidentais, uni- e) O processo civilizador propiciou sucessivas aproxima-
versalizáveis a toda humanidade, e demonstra como a ções sociais entre o mundo dos adultos e o das crianças,
visão alemã de cultura opunha-se à civilização, vista favorecendo a transição entre etapas geracionais e re-
como leviandade e superficialidade, em detrimento dos duzindo o embaraço com temas relativos à sexualidade.
valores de profundidade e autenticidade nacionais. 10. (Enem) Só num sentido muito restrito, o indivíduo cria
e) Resgatando influência do estruturalismo de Lé- com seus próprios recursos o modo de falar e de pen-
vi-Strauss, Elias procura demonstrar a dimensão in- sar que lhe são atribuídos. Fala o idioma de seu grupo;
consciente que perpassa e organiza tanto as práticas pensa à maneira de seu grupo. Encontra a sua disposição
culturais e simbólicas, associadas à noção de cultura, apenas determinadas palavras e significados. Estas não
quanto os processos inconscientes de formação das só determinam, em grau considerável, as vias de acesso
nacionalidades referentes à noção de civilização. mental ao mundo circundante, mas também mostram, ao
mesmo tempo, sob o ângulo e em que contexto de ativi-
9. (UEL) O homem ocidental nem sempre se compor- dade os objetos foram até agora perceptíveis ao grupo
tou da maneira que estamos acostumados a conside- ou ao indivíduo.
rar como típica ou como sinal característico do homem
MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. Porto
“civilizado”. Se um homem da atual sociedade civiliza- Alegre: Globo, 1950 (adaptado).
da ocidental fosse, de repente, transportado para uma
época remota de sua própria sociedade, tal como o pe- Ilustrando uma proposição básica da sociologia do co-
ríodo medievo-feudal, descobriria nele muito do que nhecimento, o argumento de Karl Mannheim defende
julga “incivilizado” em outras sociedades modernas. que o(a):
Sua reação em pouco diferiria da que nele é desper- a) conhecimento sobre a realidade é condicionado
 VOLUME ÚNICO

tada no presente pelo comportamento de pessoas que


socialmente.
vivem em sociedades feudais fora do Mundo Ociden-
b) submissão ao grupo manipula o conhecimento do
tal. Dependendo de sua situação e de suas inclinações,
mundo.
sentir-se-ia atraído pela vida mais desregrada, mais
descontraída e aventurosa das classes superiores dessa c) divergência é um privilégio de indivíduos excepcionais.
sociedade ou repelido pelos costumes “bárbaros”, pela d) educação formal determina o conhecimento do idioma.
pobreza e rudeza que nele encontraria. E como quer que e) domínio das línguas universaliza o conhecimento.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  59


11. (Enem)

TEXTO I

O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e


a manifestação da agressividade através da violência.
Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade,
que está presente em todos os redutos — seja nas áre-
as abandonadas pelo poder público, seja na política ou
no futebol. O brasileiro não é mais violento do que ou-
tros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhe-
cimento da cidadania e a ausência do Estado em vários
territórios do país se impõem como um caldo de cultura
no qual a agressividade e a violência fincam suas raízes.
Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime
sem rosto. IstoÉ. Edição 2099; 3 fev. 2010.

TEXTO II

Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as


pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle mui-
to específico de seu comportamento. Nenhum controle
desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham
limitações umas às outras, e todas as limitações são
convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo
de um ou outro tipo.
ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal


como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acer-
ca da violência e agressividade na sociedade brasileira
expressa a:
a) incompatibilidade entre os modos democráticos
de convívio social e a presença de aparatos de con-
trole policial.
b) manutenção de práticas repressivas herdadas dos
períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos admi-
nistrativos.
c) inabilidade das forças militares em conter a vio-
lência decorrente das ondas migratórias nas grandes
cidades brasileiras.
d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em
institucionalizar formas de controle social compatí-
veis com valores democráticos.
e) incapacidade das instituições político-legislativas
em formular mecanismos de controle social específi-
cos à realidade social brasileira.

Gabarito
1. A 2. E 3. A 4. B
 VOLUME ÚNICO

5. 04 + 08 + 16 + 64 = 92 6. A 7. D

8. E 9. D 10. A 11. D

60  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


ESTRATIFICAÇÃO Essas divisões de estratificações estão interligadas, de
SOCIAL E SUAS modo que não podemos separar essas modalidades. Isso
FORMAS ocorre porque as pessoas que ocupam altas posições
econômicas acabam assumindo posições profissionais

CH
valorizadas socialmente.
Essas divisões sociais são construídas socialmente, ou seja,
COMPETÊNCIA(s)
condicionadas pelo ser humano, configurando uma divisão
1, 2, 3, 4 e 5
da sociedade, seguindo estratos ou camadas sociais. Essas
HABILIDADE(s) nomenclaturas podem ser modificadas conforme o agrupa-
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
mento social ou período histórico, como as castas na Índia,

9
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 os estamentos na Idade Média ou as classes sociais na so-
ciedade capitalista.

1.1. Castas
Na sociedade indiana existe uma estratificação social mar-
cada pela impossibilidade de mobilidade social, ou seja, o
indivíduo que está num patamar permanecerá eternamen-
te nesse segmento social. Em 1947, esse sistema de castas
foi abolido de forma oficial; porém, devido aos costumes
tradicionais, essa prática persiste até os dias atuais.
1. Estratificação social Sistema de castas
A estratificação social indica a existência de diferenças e
desigualdades entre os indivíduos de um agrupamento
social. São três os principais tipos de estratificação social:

Estratificação Baseada na posse de bens materiais, fazendo


com que haja pessoas ricas, intermediárias e
Econômica pobres.
Estratificação Baseada na situação de mando na sociedade
Política (grupos que têm e grupos que não têm poder).
Baseada nos diferentes graus de importân-
Estratificação cia atribuídos a cada profissional pela so-
Profissional ciedade. Consolida uma diferenciação entre 1.2. Estamentos
as profissões.
Durante a Idade Média na Europa ocidental, a sociedade
estava estratificada em estamentos. Nessa sociedade es-
tamental, a mobilidade social era possível, mas acontecia
raramente, ocorrendo por exemplo quando um nobre con-
feria o título de nobreza a um homem do povo, ou quando
a Igreja recrutava pessoas da classe mais baixa para faze-
rem parte da instituição religiosa.

multimídia: vídeo 1.3. Classes sociais


Fonte: Youtube As camadas sociais na sociedade capitalista emergem com
O som ao redor - Brasil, 2013 (131 min). uma divisão de classes econômicas: proprietários dos bens
O filme apresenta diversos personagens e subtramas, que de produção e os não proprietários; numa visão marxista, a
se desenvolvem principalmente a partir de um olhar do burguesia e o proletariado. Contendo uma valorização da
 VOLUME ÚNICO

protagonista, um corretor de imóveis. As interações entre primeira classe em detrimento da segunda classe.
as personagens vão revelando de forma sutil as relações Com as transformações do sistema capitalista no século XX
entre patrão e empregado na atual sociedade – muitas e XXI, as divisões sociais se multiplicaram em inúmeras sub-
vezes, uma mistura de afeto e paternalismo, sem deixar divisões de classes sociais, configurando maior mobilidade
de reforçar a posição de cada um na escala social. social em comparação com a sociedade do sistema de castas
ou com a sociedade estamental do Antigo Regime.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  61


multimídia: vídeo multimídia: música
Fonte: Youtube Fonte: Youtube
Divergente - Série: EUA, 2014. A banca do distinto - (1959). Dolores Duran.
Série baseada nos livros de Veronica Roth. Uma socie- Álbum: Dolores Duran no Michel de São Paulo.
dade futurista distópica, onde cada habitante ocupa Essa canção, por meio da ironia, mostra as atitudes que
um lugar bem específico, as facções moram em lugares desumanizam e coisificam o outro, o diferente, mas a le-
distintos, realizam trabalhos próprios e não existe muita veza musical pode criar a ilusão de que é fácil lutar contra
interação entre pessoas de facções diferentes, tirando esse câncer social – o preconceito, base de estigmas, este-
aqueles que estão no poder. reótipos, discriminação, segregação e genocídio.

2. Octavio Ianni (1926-2004) A sociologia nasce e desenvolve-se com o Mundo Moder-


no. Reflete as suas principais épocas e transformações. Em
O sociólogo brasileiro Octavio Ianni desenvolveu diversos es- certos casos, parece apenas a sua crônica, mas em outros
tudos sobre a temática da estratificação social. Porém, para a desvenda alguns dos seus dilemas fundamentais. Volta-
-se principalmente sobre o presente, procurando remi-
compreensão dessa temática, temos que entender as estru-
niscências do passado, anunciando ilusões do futuro. Os
turas econômicas e políticas da sociedade analisada. impasses e as perspectivas desse Mundo tanto percorrem
a Sociologia como ela percorre o mundo. Se nos debruça-
mos sobre temas clássicos da Sociologia, bem como sobre
as suas contribuições teóricas, logo nos deparamos com
as mais diversas expressões desse Mundo. Sob diversos
aspectos, ela nasce e desenvolve-se com ele. Mais do que
isso, o Mundo Moderno depende da Sociologia para ser
explicado, para compreender-se. Talvez se possa dizer que
multimídia: livro sem ela esse Mundo seria mais confuso, incógnito. A So-
ciologia não nasce do-nada. Surge em um dado momento
da história do mundo Moderno. Mais precisamente, em
Teorias de Estratificação Social: leituras de Sociologia meados do século XIX, quando ele está em franco desen-
- IANNI, Otávio. São Paulo: Nacional, 1978. volvimento, realizando-se. Essa é uma época em que já se
revelam mais abertamente as forças sociais, as configura-
ções de vida, as originalidades e os impasses da sociedade
Os três tipos de estratificações (castas, estamentos e clas-
civil, urbano-industrial, burguesa ou capitalista.
ses) contêm estruturas de poder (político e econômico). A
IANNI, Octavio.
partir dessa elaboração complexa, essas sociedades seg-
A sociologia e o mundo moderno. In: Tempo
mentam suas divisões e subdivisões, tendo uma classifica- Social. São Paulo, USP, 1.sem, 1989.
ção. A principal diferença entre esses tipos de estratifica-
ções consiste na abertura ou rigidez de suas estruturas, que
possibilitam ou não uma mobilidade social.
 VOLUME ÚNICO

Organograma dos estratos sociais

62  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

ESTRATIFICAÇÃO
OCTAVIO IANNI
SOCIAL
• ECONÔMICA
• POLÍTICA
• PROFISSIONAL ESTRATOS
SOCIAIS

DIVISÕES SOCIAIS
CASTAS
• CASTAS
• ESTAMENTOS SEM
• CLASSES SOCIAIS MOBILIDADE

CLASSES SOCIAIS

MUITA
MOBILIDADE

ESTAMENTOS

POUCA
MOBILIDADE

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  63


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 2. (UEL) De acordo com Octavio Ianni: “Para melhor com-
preender o processo de estratificação social, enquanto
1. (UFSC 2019) A imagem que segue foi publicada com processo estrutural, convém partirmos do princípio. Isto
uma reportagem da qual constavam os seguintes trechos: é, precisamos compreender que a maneira pela qual se
estratifica uma sociedade depende da maneira pela
qual os homens se reproduzem socialmente”.
IANNI, O. Estrutura e História. In IANNI, Octavio (org).
Teorias da Estratificação Social: leitura de sociologia.
São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978, p. 11.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre estratifi-
cação social, considere as afirmativas a seguir:
I. Os estamentos são formas de estratificação baseadas
“Em 1937, já fazia 132 anos que as duas escolas par- em categorias socioculturais como tradição, linhagem,
ticulares mais célebres da Inglaterra, Eton e Harrow, vassalagem, honra e cavalheirismo.
vinham disputando jogos anuais de críquete, a modali- II. As classes sociais são formas de estratificação basea-
dade de esporte coletivo com bola mais antiga e dura- das em renda, religião, raça e hereditariedade.
doura do mundo […]” III. As mudanças sociais estruturais ocorrem quando há
“Quanto aos próprios alunos [...], cabia-lhes apresen- mudanças significativas na organização da produção e
tar-se de acordo com a norma de formalidade máxima na divisão social do trabalho.
exigida para a ocasião. Com pequenas variações de es- IV. As castas são formas de estratificação social basea-
tilo [...] os estudantes das duas escolas envergavam a das na propriedade dos meios de produção e da força
indumentária que em algum momento do século XIX ti- de trabalho.
nha se transformado no uniforme do gentleman inglês:
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
cartola, casaca, colete de seda e bengala [...]”
“Hoje, o traje exigido para o público é descrito como a) I e II.
smart casual [esporte fino]. E, se um fotógrafo desejas- b) I e III.
se recriar a foto […] talvez flagrasse cinco meninos ves- c) II e III.
tidos praticamente da mesma maneira –jeans e camise- d) I, II e IV.
tas de grife –, produzindo uma impressão superficial de e) II, III e IV.
igualdade. Mas esta fotografia mentiria ainda mais que
a do passado.” 3. (UEL) Em 1840, o francês Aléxis de Tocqueville (1805-
1859), autor de A democracia na América, impressionado
“Retrato às avessas”, Revista Piauí, Edição 44, maio 2010.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/retrato- com o que viu em viagem aos Estados Unidos, escreveu
as-avessas. [Adaptado]. Acesso em: 9 maio 2019. que nos EUA, “a qualquer momento, um serviçal pode se
Considerando a fotografia e os trechos da reportagem, tornar um senhor”. Por sua vez, o escritor brasileiro Luiz
é correto afirmar que: Fernando Veríssimo, autor de O analista de Bagé, disse,
em 1999, ao se referir à situação social no Brasil: “tem
01) os jovens fotografados pertencem a universos so- gente se agarrando a poste para não cair na escala social
ciais distintos, simbolizados pela frequência ou não a
e sequestrando elevador para subir na vida”.
uma escola particular.
02) os trajes formais envergados por alguns dos jo- As citações anteriores se referem diretamente a qual
vens retratados são descritos como mecanismos uti- fenômeno social?
lizados por certas classes sociais para simbolizar sua a) Ao da estratificação, que diz respeito a uma forma
distinção social e seu apego às tradições. de organização que se estrutura por meio da divisão
04) os processos de dominação também se realizariam da sociedade em estratos ou camadas sociais distin-
por meio de dispositivos simbólicos, que permitiriam tas, conforme algum tipo de critério estabelecido.
às classes dominantes afirmarem seu lugar no mundo
b) Ao de status social, que diz respeito a um conjunto
social por meio de práticas, gostos e estilos de vida.
de direitos e deveres que marcam e diferenciam a po-
08) o pertencimento a classes sociais distintas é ame-
sição de uma pessoa em suas relações com as outras.
nizado pelo fato de que todos os jovens se encon-
tram em um mesmo espaço de sociabilidade, o jogo c) Ao dos papéis sociais, que se refere ao conjunto
de críquete. de comportamentos que os grupos e a sociedade em
16) as formas de distinção social podem se realizar geral esperam que os indivíduos cumpram de acordo
por diferentes meios, sendo atualmente a distinção com o status que possuem.
 VOLUME ÚNICO

econômica o menos relevante no contexto das socie- d) Ao da mobilidade social, que se refere ao movi-
dades modernas. mento, à mudança de lugar de indivíduos ou grupos
32) no tempo decorrido desde a fotografia (1937), o num determinado sistema de estratificação.
acesso a bens de consumo serve como um contrapon- e) Ao da massificação, que remete à homogeneização
to aos sinais explícitos de distinção e valorização da das condutas, das reações, desejos e necessidades
tradição, mas não à estratificação e às desigualdades dos indivíduos, sujeitando-os às ideias e objetos vei-
de classe. culados pelos sistemas midiáticos.

64  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


4. (Uece 2019) Atente para o seguinte excerto: c) As classes sociais, assim como a estrutura social, são
“Em 2017, as pessoas que compuseram o grupo do mais construções conceituais ideológicas, de modo que não
rico da população brasileira obtiveram rendimento mé- existem empiricamente na vida social.
dio mensal de enquanto a metade mais pobre da popu- d) As lutas de classes existiram enquanto se mantiveram
lação chegou à marca de menos que um salário mínimo os partidos de esquerda tradicionais e, com a morte des-
por mês. A desigualdade social entre os grupos chega a ses, as lutas de classe foram substituídas por embates
vezes, entretanto, quando se separa por região, no Nor- identitários.
deste, a diferença chega a vezes [...]”. e) As classes deixaram de ser o referencial analítico privi-
Disponível em: https://economia.ig.com.br/2018- legiado, mas conservam sua importância, pois as relações
04- 11/desigualdade-renda-ibge.html entre capital e trabalho no mundo moderno se mantêm.
O texto acima informa dados sobre a situação de distri- 6. (UEM) Assinale o que for correto a respeito do concei-
buição de renda no Brasil e a concentração de riqueza to de estratificação social:
entre os mais ricos e a população pobre.
01) O filósofo Jean Jacques Rousseau afirmou, no sé-
Com base nas informações apresentadas, é correto afir-
culo XVIII, que as desigualdades sociais são o resulta-
mar que as desigualdades sociais
do da desigualdade natural entre os homens, princípio
a) caracterizam-se principalmente pela desigualdade que sustenta até hoje o conceito de estrutura social.
econômica decorrente da má distribuição de renda na 02) A estrutura estamental, dividida principalmente en-
sociedade, ou seja, quando a renda é distribuída de for- tre nobreza, clero e plebeus, predominou na Europa do
ma desigual na sociedade. Antigo Regime e esteve associada ao sistema feudal.
b) serão superadas pelas iniciativas individuais, sem a 04) As classes sociais são estruturas típicas do siste-
necessidade de políticas públicas que favoreçam a dis- ma de castas e caracterizam-se pela imobilidade.
tribuição de renda. 08) A sociedade capitalista é uma forma histórico-so-
c) são processos sociais próprios do funcionamento na- cial que aboliu os processos de diferenciação econô-
tural das sociedades e dizem respeito aos comportamen- mica; porém, manteve a hierarquia social baseada em
tos e responsabilidades assumidos por cada um. princípios de prestígio político e profissional.
d) existem e se justificam porque há diferenças de gru- 16) O sistema escravista, adotado no Brasil entre os
pos sociais e de regiões, fazendo com que cada um séculos XVI e XIX, pode ser considerado uma forma de
obtenha seus rendimentos conforme suas qualidades e estratificação social que estabelece distinções sociais
méritos individuais. entre duas categoriais de pessoas: senhores e escravos.
5. (Uel 2018) Leia a charge a seguir. 7. (Unicentro) Em relação ao sistema de castas de uma
sociedade, assinale a alternativa correta:
a) Existe mobilidade social dentro de uma sociedade de
castas.
b) A exogamia faz parte dos casamentos realizados em
sociedades de castas.
c) Não existe mobilidade social dentro de uma sociedade
de casta.
d) Dentro de um sistema de castas não é importante a
hereditariedade.
e) Em um sistema de casta não existe a divisão entre
castas superiores e inferiores.
8. Para Karl Marx o conceito de Classes Sociais se de-
senvolve com a formação da sociedade capitalista. Des-
sa forma, é correto afirmar que:
a) As classes sociais formadas no capitalismo esta-
A charge remete a discussões que têm marcado o pen- belecem intransponíveis desigualdades entre os ho-
samento sociológico e a sociologia contemporânea. mens, relações de exploração e antagonismo.
b) Para Marx, a história humana é a história passiva
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, o
da luta de classes e da aceitação do antagonismo en-
teor desses debates.
tre burgueses e proletários.
a) O reconhecimento de que as classes sociais deixa- c) As classes sociais são independentes entre si de tal
 VOLUME ÚNICO

ram de existir com a implantação dos modos de pro- forma que a diferenças entre elas não são sentidas
dução comunistas na Europa e, desde então, perderam pelos indivíduos de uma sociedade.
sua importância histórica. d) O capitalista divide com a classe de trabalhadores
b) As classes existiram apenas como um fenômeno loca- a mais-valia produzida por seu trabalho sem que haja
lizado historicamente no tempo, de tal modo que hoje a exploração de mão de obra.
mesmo os partidos de esquerda renunciaram a identifi- e) As classes sociais não são opostas entre si, mais
car sua permanência na sociedade contemporânea. sim complementares e interdependentes.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  65


Gabarito
1. 01 + 02 + 04 + 32 = 39 2. B 3. D

4. A 5. E 6. 02 + 16 = 18 7. C

8. A
 VOLUME ÚNICO

66  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


CULTURA E
costume de nos banharmos todos os dias deriva da cultura
PATRIMÔNIO indígena, assim como o costume de misturar a farinha na
CULTURAL comida diária; assim como notamos a presença das religi-
ões de matriz africana, entre tantos outros costumes.

CH
A cultura resguarda a memória de um povo, constituindo
parcela importante da identidade desse povo, numa dialé-
COMPETÊNCIA(s)
tica passado-presente constante, reforçando a construção
1, 2, 3, 4 e 5
desses laços identitários a todo o tempo.
HABILIDADE(s) Ressalta-se que “ter cultura” não necessariamente está
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, relacionado a ter uma grande quantidade de livros ou fre-

10
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
quentar teatros e cinemas. O que denominamos cultura é
algo muito mais amplo e está diretamente relacionado ao
modo de vida de cada sociedade. Assim, o estudo da cultu-
ra pretende compreender esses costumes.

1. Introdução
A cultura é o conjunto de valores pertencentes a um agru- multimídia: vídeo
pamento social, composto por códigos, formas de expres- Fonte: Youtube
sar e de se manifestar em grupo, conjunto de regras de
História: História e Antropologia
comportamentos, ritos simbólicos, ritos físicos e preconcep-
Entrevista com Lilia Schwarcz faz uma reflexão sobre
ções de valores. Toda sociedade tem uma cultura, podendo
um mesmo país abrigar diversos tipos de culturas, não se como a Antropologia permite observar a História não ape-
limitando a um único conjunto de valores. nas como disciplina, no modelo Ocidental, mas também
como memória e temporalidade, entre outros conceitos.

1. As etnias
O termo "etnia" significa "povo", representando também
a consciência de um grupo de pessoas que se diferencia
dos outros. Essa diferenciação concretiza-se pelos aspectos
multimídia: livro culturais, históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos.
Uma etnia pode se modificar ao longo do tempo, tendo di-
versas motivações, como a mistura entre povos.
Cultura brasileira e identidade nacional -
Renato Ortiz. São Paulo: Brasiliense, 2006.
Analisa como e por que os intelectuais brasileiros, em
períodos distintos, enfrentaram o desafio de definir a
especificidade do brasileiro enquanto nação, para com-
preender a identidade brasileira. Essa definição está mais em voga, para substituir o termo
“raça”, que ganhou notoriedade no século XVIII, tendo
 VOLUME ÚNICO

O caso brasileiro abrange diversos tipos de culturas. Temos como consequência uma ideia de superioridade europeia.
na formação do povo brasileiro as culturas de vários gru- Entretanto, com os diversos trabalhos científicos, apesar das
pos étnicos indígenas, dos africanos e dos europeus, cons- diferenças fenotípicas, como a cor dos olhos, da pele, do ca-
tituídas por diversos hábitos e valores que se agregam no belo, não existe uma tão grande diferença biológica entre os
espaço geográfico brasileiro, constituindo a cultura brasilei- seres humanos que permita hierarquizar os diferentes povos
ra, em que ocorre uma mistura de hábitos. Por exemplo, o com base em critérios de superioridade ou inferioridade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  67


O conceito de etnicidade é social, uma construção cultural Kabengele defende que o embate por justiça social não
de determinado agrupamento social. Os ritos desses grupos deve se limitar ao campo do discurso, precisa estender-se
compõem a sua etnicidade, como ritos de festividades e ritos ao campo das lutas políticas e práticas.
de passagens para a fase adulta. Só que essas ações podem
O processo de construção da identidade não se limita ape-
ser modificadas conforme as regiões, pois os grupos étnicos
nas à cor da pele, mas também é composto pela cultura e
que sofrem o processo de migração adquirem novos hábitos,
pela história da população negra, reforçando uma identi-
reestruturando a sua organização ao longo do tempo.
dade positiva em relação à negritude de uma parcela da
população brasileira.
Assim, o antropólogo observa que a valorização da etnia
negra não precisa passar por uma desvalorização de ou-
tra etnia. A negritude se torna um elemento de luta e de
combate, uma verdadeira postura política, com o intuito de
combater o racismo.
multimídia: música
Fonte: Youtube
Etnia - Chico Science & Nação Zumbi.
Álbum: Afrociberdelia (1996)
Canção que fala sobre a miscigenação do povo brasilei-
ro, dando exemplos de manifestações culturais presentes
como danças, folclore e músicas. multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
2. Kabengele Munanga (1942) Relações étnicas-raciais
O antropólogo brasileiro-congolês é uma das principais O professor Kabengele Munanga comenta sobre o
referências na questão da negritude na sociedade brasi- preconceito racial e, posteriormente, aborda a questão
leira. Com estudos iniciados na década de 1970, Munanga particularizando o negro ao recorrer a outros subtemas.
rompeu com a visão eurocêntrica, buscando repensar a
participação dos negros na história do país.

Identidade e Negritude são palavras e conceitos atualmen-


te muito corriqueiros entre os militantes dos movimentos
negros e os cientistas sociais que estudam as relações in-
terétnicas e inter-raciais no Brasil. Sente-se recentemente
que, graças às manifestações que acompanharam a co-
memoração do Centenário da Abolição da Escravidão no
Brasil, essas palavras e conceitos começam a sair um pou-
co dos círculos científico-acadêmicos e militantistas para
penetrar nos espaços mais populares. Essa mudança pode
ser positivamente interpretada como sinal do início de um
processo de conscientização popular sobre uma questão
multimídia: vídeo nacional da maior importância.
 VOLUME ÚNICO

No mesmo momento que aumenta o interesse surgem


Fonte: Youtube
nova pergunta e dúvidas. Afinal, o que significam a negri-
Kabengele Munanga: raça, racismo e etnia. tude e a identidade não apenas para as bases populares,
Vídeo que apresenta a teoria do professor Kabengele mas também para nossos alunos e jovens dos movimen-
Munanga. tos negros? Se alguns entendem a negritude e a identida-
de negras como um movimento político-ideológico, outros

68  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


se perguntam se não é uma forma de racismo do negro de estabelecer as formas de preservação desse patrimônio:
contra o branco, um racismo avesso. Neste sentido, se a o registro, o inventário e o tombamento.
negritude é um movimento de negros, não seria legítimo
que se falasse também da "branquitude" como movimen- O patrimônio material protegido pelo Instituto do Patrimô-
to de brancos e da "amarelitude" como movimento de nio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é composto por
amarelos? "Negritude", "Branquitude" e "Amarelitude" um conjunto de bens culturais classificados segundo sua
nos levariam ao conceito maior de raça negra, branca e natureza, como arqueológico, paisagístico e etnográfico;
amarela, conceito cientificamente fraco e biologicamente
histórico; belas artes; e artes aplicadas. Os bens tombados
inoperante. Há quem se pergunte se é possível, no Brasil, a
existência de uma identidade dos negros diferente da dos de natureza material podem ser imóveis, como as cidades
demais cidadãos; outros chegam até a indagar se as ditas históricas, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens indi-
negritude e identidade negras não podem ser vistas como viduais; ou móveis, como coleções arqueológicas, acervos
uma divisão de luta de todos os oprimidos? museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos,
Estas perguntas, dúvidas e preocupações merecem um videográficos, fotográficos e cinematográficos.
esclarecimento, ou melhor, uma discussão. Poderiam
O patrimônio cultural imaterial, de acordo com a Conven-
agrupar e alinhar as melhores definições do mundo
sobre esses conceitos. Acredito que isto ajudaria pouco ção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial,
para desvendar seus conteúdos. Portanto, sobra uma adotada pela UNESCO em 2003, é composto pelas práti-
perspectiva mais viável do meu ponto de vista: situar e cas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas
colocar a questão da negritude e da identidade dentro – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
do movimento histórico, apontar seus lugares de emer- culturais que lhes são associados – que as comunidades, os
gência e seus contextos de desenvolvimento. Se histori-
grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como
camente a negritude é, sem dúvida, uma reação racial
negra a uma agressão racial branca, não poderíamos parte integrante de seu patrimônio cultural.
entendê-la e cercá-la cientificamente sem aproximá-la Transmitido de geração a geração, o Patrimônio Cultural
com o racismo do qual é consequência e resultado.
Imaterial é constantemente recriado pelas comunidades e
MUNANGA, Kabengele. grupos em função de seu ambiente, de sua interação com
Negritude afro-brasileira: perspectivas e dificuldades. Pade: Revista do a natureza e de sua história, o que gera um sentimento
Centro de Referência Negro-Mestiço, Salvador, v. 1, pp. 23-27, 1989.
de identidade e continuidade, contribuindo para promover
o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
São exemplos de patrimônio cultural imaterial no Brasil:
samba de roda no Recôncavo Baiano; Arte Kusiwa (pintura
corporal e arte gráfica Wajãpi); frevo "expressão artística
do Carnaval de Recife"; Círio de Nossa Senhora de Nazaré;
roda de capoeira.
multimídia: livro

Origens Africanas do Brasil Contemporâneo -


Kabengele Munanga. São Paulo: Global, 2009.

3. Patrimônio cultural
A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 216, defi-
ne o patrimônio cultural como formas de expressão, modos
de criar, fazer e viver. Também são assim reconhecidas as
criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, obje-
 VOLUME ÚNICO

tos, documentos, edificações e demais espaços destinados


às manifestações artístico-culturais; e, ainda, os conjuntos
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, ar-
queológico, paleontológico, ecológico e científico.
Nos artigos 215 e 216, a Constituição reconhece a existên-
cia de bens culturais de natureza material e imaterial, além

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  69


DIAGRAMA DE IDEIAS

KABENGELE
CULTURA ETNIA
MUNANGA

CONJUNTO DE
GRUPO SOCIAL O NEGRO PRECISA
HÁBITOS E VALORES
QUE POSSUI UMA VALORIZAR A
DE UM GRUPO
MESMA IDENTIDADE ETNIA NEGRA
ÉTNICO-SOCIAL

PODE SOFRER
VARIAÇÕES AO CRÍTICA O
LONGO DO TEMPO ETNOCENTRISMO

É NECESSÁRIO
ROMPER COM
PRÁTICAS
PRECONCEITUOSAS
 VOLUME ÚNICO

70  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) guns homossexuais não assumidos ocupavam posições
de poder, mas a tendência era eles tornarem as coisas
1. (Enem) Parecer CNE/CP nº 3/2004, que instituiu as Di- ainda piores para seus semelhantes.
retrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Re- ROSS, A. “Na máquina do tempo”. Época, ed. 766, 28 jan. 2013.
lações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cul- A dimensão política da transformação sugerida no tex-
tura Afro-Brasileira e Africana. Procura-se oferecer uma to teve como condição necessária a:
resposta, entre outras, na área da educação, à demanda
a) ampliação da noção de cidadania.
da população afrodescendente, no sentido de políticas
de ações afirmativas. Propõe a divulgação e a produção b) reformulação de concepções religiosas.
de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas que c) manutenção de ideologias conservadoras.
eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento ét- d) implantação de cotas nas listas partidárias.
nico-racial — descendentes de africanos, povos indíge- e) alteração da composição étnica da população.
nas, descendentes de europeus, de asiáticos — para in-
teragirem na construção de uma nação democrática, em 4. (Enem) A recuperação da herança cultural africana
que todos igualmente tenham seus direitos garantidos. deve levar em conta o que é próprio do processo cultu-
ral: seu movimento, pluralidade e complexidade. Não se
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Disponível em: www. trata, portanto, do resgate ingênuo do passado nem do
semesp.org.br. Acesso em: 21 nov. 2013 (Adaptado). seu cultivo nostálgico, mas de procurar perceber o pró-
A orientação adotada por esse parecer fundamenta uma prio rosto cultural brasileiro. O que se quer é captar seu
política pública e associa o princípio da inclusão social a: movimento para melhor compreendê-lo historicamente.
MINAS GERAIS. Cadernos do Arquivo 1: Escravidão em Minas
a) práticas de valorização identitária.
Gerais. Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 1988.
b) medidas de compensação econômica.
Com base no texto, a análise de manifestações culturais
c) dispositivos de liberdade de expressão. de origem africana, como a capoeira ou o candomblé,
d) estratégias de qualificação profissional. deve considerar que elas:
e) instrumentos de modernização jurídica.
a) permanecem como reprodução dos valores e cos-
2. (Enem) No Brasil, a origem do funk e do hip-hop re- tumes africanos.
monta aos anos 1970, quando da proliferação dos cha- b) perderam a relação com o seu passado histórico.
mados “bailes black” nas periferias dos grandes cen- c) derivam da interação entre valores africanos e a
tros urbanos. Embalados pela black music americana, experiência histórica brasileira.
milhares de jovens encontravam nos bailes de final de d) contribuem para o distanciamento cultural entre
semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em negros e brancos no Brasil atual.
cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, formavam- e) demonstram a maior complexidade cultural dos
-se equipes de som que promoviam bailes onde foi se africanos em relação aos europeus.
disseminando um estilo que buscava a valorização da
cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos 5. (Enem) As mulheres quebradeiras de coco-babaçu
penteados. No Rio de Janeiro ficou conhecido como dos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, na
“Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o filão e, sua grande maioria, vivem numa situação de exclusão
lançando discos de “equipe” com as músicas de sucesso e subalternidade. O termo quebradeira de coco assume
nos bailes, difundia a moda pelo restante do país. o caráter de identidade coletiva na medida em que as
mulheres que sobrevivem dessa atividade e reconhecem
DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na
socialização da juventude. Belo
Horizonte: UFMG, 2005.
sua posição e condição desvalorizada pela lógica da do-
minação, se organizam em movimentos de resistência e
A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se de luta pela conquista da terra, pela libertação dos baba-
como uma forma de: çuais, pela autonomia do processo produtivo. Passam a
a) lazer gerada pela diversidade de práticas artísticas atribuir significados ao seu trabalho e as suas experiên-
nas periferias urbanas. cias, tendo como principal referência sua condição pree-
b) entretenimento inventada pela indústria fonográ- xistente de acesso e uso dos recursos naturais.
fica nacional. ROCHA, M. R. T. A luta das mulheres quebradeiras de coco-babaçu, pela
c) subversão de sua proposta original já nos primeiros libertação do coco preso e pela posse da terra. In: Anais do VII
Congresso
Latino-Americano de Sociologia Rural, Quito, 2006 (Adaptado)
bailes.
d) afirmação de identidade dos jovens que a praticam. A organização do movimento das quebradeiras de coco
e) reprodução da cultura musical norte-americana. de babaçu é resultante da:
 VOLUME ÚNICO

3. (Enem) Tenho 44 anos e presenciei uma transformação a) constante violência nos babaçuais na confluência de
impressionante na condição de homens e mulheres gays terras maranhenses, piauienses, paraenses e tocantinen-
nos Estados Unidos. Quando nasci, relações homosse- ses, região com elevado índice de homicídios.
xuais eram ilegais em todos os Estados Unidos, menos b) falta de identidade coletiva das trabalhadoras, migran-
Illinois. Gays e lésbicas não podiam trabalhar no governo tes das cidades e com pouco vínculo histórico com as áre-
federal. Não havia nenhum político abertamente gay. Al- as rurais do interior do Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  71


c) escassez de água nas regiões de veredas, ambien- c) O texto apresenta uma história contada para crianças
tes naturais dos babaçus, causada pela construção de como uma maneira de controlar suas ações. Essa história
açudes particulares, impedindo o amplo acesso público é repassada de geração a geração, por meio da orali-
aos recursos hídricos. dade e refere-se às lendas criadas pela cultura popular.
d) progressiva devastação das matas dos cocais, em d) A cabra cabriola é o personagem destacado no tex-
função do avanço da sojicultura nos chapadões do to. Essa lenda hoje é bastante ouvida especialmente
Meio-Norte brasileiro. pelos jovens da região litorânea.
e) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros e) O folclore pernambucano é constituído de histórias
no acesso aos babaçuais localizados no interior de contadas por pessoas oriundas de outros Estados.
suas propriedades. Essas manifestações culturais têm sua origem na cul-
tura europeia, trazidas pelos imigrantes que se esta-
6.(Enem 2019) beleceram no Sul e Sudeste do país.

8. (UFF) EM 5 ANOS, NOVA ORLEANS RENASCE BRANCA


“A tragédia do furacão Katrina em Nova Orleans com-
pleta cinco anos neste mês com um legado que vai
muito além das casas ainda destruídas da cidade: o
equilíbrio de poder foi totalmente realinhado, a cliva-
gem racial, aprofundada. A maioria negra, que sofreu
retirada forçada durante a enchente ocorrida após o
furacão, viu sua dominância sobre a política das últimas
décadas ir se esvaindo até que praticamente todos os
órgãos eletivos locais “embranqueceram”. (...) Morado-
res e estudiosos afirmam que a virada é resultado de
um esforço deliberado. O primeiro plano de reconstru-
ção da cidade previa fazer parques nos bairros negros
Produzida no Chile, no final da década de 1970, a ima- devastados. Pra onde os antigos moradores voltariam?
gem expressa um conflito entre culturas e sua presença De referência, para lugar nenhum.”
em museus decorrente da
Folha de São Paulo, 08/08/2010, p. A24.
a) valorização do mercado das obras de arte.
Para além dos efeitos imediatos do furacão Katrina, a re-
b) definição dos critérios de criação de acervos.
portagem focaliza a dinâmica de “embranquecimento”
c) ampliação da rede de instituições de memória.
de Nova Orleans, diretamente associada a processos de:
d) burocratização do acesso dos espaços expositivos.
a) nomadismo urbano.
e) fragmentação dos territórios das comunidades re-
presentadas. b) densificação urbana.
c) segregação espacial.
7. (UPE-SSA 2 2018) As manifestações folclóricas de Per- d) exploração demográfica.
nambuco representam a identidade cultural do Estado, e) migração sazonal.
transmitidas de geração em geração. Quando crianças,
muitos habitantes escutam histórias de assombração, 9. (UEG) Um dos grandes desafios do século XXI para
que fazem parte do imaginário cultural. Sobre isso, leia tornar o mundo melhor é o de aprender a conviver com
o texto a seguir: os outros, aceitar e respeitar os que são diferentes na
cultura, na religião, nos costumes, na sexualidade etc. A
É uma lenda do Piauí e de Pernambuco, que data dos sé-
intolerância, os preconceitos, as discriminações e o ra-
culos XIX e XX. Soltava fogo e fumaça pelos olhos, pelo
cismo, no entanto, vêm crescendo. Sobre esse assunto,
nariz e pela boca. Atacava quem andasse pelas ruas de-
é correto afirmar:
sertas às sextas, à noite. Mas o pior era que [o animal]
entrava nas casas, pelo telhado ou porta, à procura de a) o princípio de que todos os seres humanos são iguais,
meninos malcriados e travessos. A lenda conta que [...] independentemente de sexo, cor da pele, orientação
era um animal monstruoso, além de que, mais uma vez, sexual, local de nascimento, valores culturais, existe de
comia crianças travessas. direito e de fato nas sociedades democráticas.
Fonte: <http://www.assombrado.com.br/2014/01/20- b) o racismo consiste numa tendência a desvalorizar
lendas-do-estado-de-pernambuco.html> Adaptado. certos grupos étnicos, sociais ou culturais, atribuin-
do-lhes características inferiores e manifesta-se na
Sobre essas manifestações folclóricas pernambucanas,
 VOLUME ÚNICO

segregação e rejeição de valores culturais.


assinale a alternativa CORRETA. c) os neonazistas, os carecas, os arianos, entre outros,
a) Essas são reflexo da cultura europeia, predominan- são grupos organizados que visam combater os pre-
tes em toda a vida social dos habitantes do Estado. conceitos, sobretudo contra migrantes pobres.
b) As histórias de assombração têm uma representação d) a xenofobia e a homofobia atingem em maior grau
simbólica importante para os habitantes do interior, os indígenas, os negros e a mulher, considerados infe-
sendo ofuscadas na Região Metropolitana do Recife. riores em determinadas sociedades.

72  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


10. (UEM) “É fácil constatar que o homem se coloca
face à natureza em função da sua cultura. No entanto,
o universo da cultura é multifacetado. Não há uma única
cultura, mas um conjunto delas. Dito de outro modo, os
homens de diferentes culturas (por exemplo, o europeu
moderno e o ameríndio) se afirmam frente à natureza
segundo diferentes formas de vida.”
FIGUEREIDO, V. de. (org.) Filosofia: temas e percursos.
São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2013. p. 28.

Com base no trecho citado e em estudos sobre cultura,


assinale o que for correto.
01) Se existem diferentes culturas, não podemos jul-
gá-las por uma única medida, que é a forma como
elas compreendem a natureza. Entendendo que tanto as estruturas racistas das socie-
02) Assumir a ideia de cultura única e universal impli- dades quanto os atuais movimentos em prol da valori-
ca também admitir uma posição etnocêntrica. zação da cultura negra são fruto de processos sociais e
04) A diversidade de culturas expressa os diversos disputas políticas, responda aos itens a seguir.
modos pelos quais a razão humana busca entender
a si e seu entorno. a) A despeito das diferenças culturais existentes entre os
países do continente americano, o racismo é um elemento
08) A compreensão dos fenômenos naturais resulta, em
presente em todos esses lugares. Por que as sociedades
diferentes contextos culturais, nas mesmas explicações.
americanas têm um histórico de racismo tão acentuado?
16) A ideia de natureza é culturalmente definida, logo
b) Qual o papel dos movimentos negros e das ações
é plausível afirmar que diferentes culturas produzem
afirmativas no combate ao racismo?
diferentes ideias de natureza.

11. (UFU) Os crimes de ódio – intolerância contra mi-


norias étnicas e raciais, sexuais, religiosas ou políticas
Gabarito
que se caracterizam por insulto, destruição do patri- 1. A 2. D 3. A 4. C 5. E
mônio, agressão física e assassinato, praticados com
requintes de crueldade, como tortura [...] continuam 6. B 7. C 8. C 9. B
crescendo no Brasil.
10. 01 + 02 + 04 + 16 = 23.
Disponível em: http://oglobo.globo.com/cidades/
mat/2009/04/25/pernambucolidera-assassinatos-de- 11.
homossexuais-no-pais-755436103.asp (Adaptado).
a) Contradição aos direitos, há também a permanên-
a) As manifestações atuais do preconceito contra mulhe- cia de valores e conflitos discriminatórios, violando os
res, negros, índios e homossexuais podem ser vistas como direitos humanos.
uma contradição à democracia e à nossa Constituição? b) A contextualização (origem) histórica do precon-
b) Justifique a sua resposta, tomando como referência ceito na sociedade brasileira se dá a partir do patriar-
o lugar da suposta superioridade do homem e “das ra- calismo, da escravidão e das teorias científicas como
ças brancas” no quadro histórico-cultural da formação evolucionismo, darwinismo e teorias da mestiçagem.
da sociedade brasileira.
12.
12. (UEL) De acordo com vários estudos recentes sobre a) O continente americano, ou “Novo Mundo”, de-
a vivência do racismo, a descoberta da discriminação pendeu, em grande escala, do trabalho escravo que
racial, baseada em alguns aspectos físicos (como a co- era alimentado pelo lucrativo tráfico negreiro. A colo-
loração da pele e o cabelo encaracolado, por exemplo), nização das Américas se deu de duas formas: as co-
acontece ainda na infância para muitas crianças negras, lônias de exploração, nas quais a mão de obra negra
que primeiro percebem a negritude como algo ruim, a era fundamental, e as colônias de povoamento, que
ser escondida. No entanto, desde os anos 1960, vários visavam a aliviar conflitos religiosos e populacionais
movimentos sociais, entre eles o movimento negro e do “Velho Mundo”. No entanto, os Estados Unidos
os movimentos contraculturais, vêm contestando dura- da América importaram mão de obra escrava da Áfri-
 VOLUME ÚNICO

mente os padrões impostos socialmente como modelos ca para atuar nas fazendas do sul, motivo pelo qual
únicos de beleza, cultura e religiosidade, por exemplo. esse país, apesar de ser visto como modelo de ex-co-
Em um movimento crescente, que remete a uma luta lônia de povoamento, possui um histórico de escra-
histórica do povo negro em países de todo o continente vidão da população advinda da África. Esse passado
americano, aos poucos a negritude tem começado a ser comum, que liga África e América via tráfico negrei-
concebida como algo positivo, uma herança a ser culti- ro, foi responsável pela inclusão de povos africanos
vada e valorizada. na condição de escravos no “Novo Mundo”. Nessa

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  73


condição, até mesmo a humanidade de africanos e
afrodescentes era questionada. Em todo o continente
americano, portanto, os negros precisaram (e ainda
precisam) lutar por liberdade e por direitos que lhes
eram negados, com base na prática racista que advi-
nha de um passado comum. Obviamente, essas lutas
ganharam contornos diferentes em contextos distin-
tos; enquanto nos EUA pode-se falar que houve apar-
theid, no Brasil, a discussão é centralizada no racismo
velado e em como vencer a ilusão da existência de
uma certa democracia racial.
b) Os movimentos negros têm um papel fundamental,
no que diz respeito a desvelar as práticas racistas que
ainda persistem, e são atores políticos importantes
para cobrar políticas públicas que tentem valorizar a
cultura e a ancestralidade negras, via promoção de
ações afirmativas, como, por exemplo, o sistema de
cotas nos vestibulares e nos concursos públicos. Além
disso, os movimentos negros têm se esforçado para
demonstrar que as populações africanas e afrodes-
centes foram e são sujeitos de sua própria história,
ressaltando personalidades que foram fundamentais
para a luta por liberdade e justiça social, como Zumbi
dos Palmares e Nelson Mandela.
 VOLUME ÚNICO

74  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


ETNOCENTRISMO
E RELATIVISMO
CULTURAL

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: música
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
Etnocentrismo - Fuerza de Voluntad.
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, Valor Humano, 2001.

11
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
A banda de hardcore punk chilena questiona a teoria et-
nocentrista.

1. Lewis Henry Morgan


(1818-1881)
O antropólogo e etnólogo estadunidense Morgan é consi-
derado o fundador da antropologia moderna. Fez estudos
1. Introdução sobre a cultura dos iroqueses, um povo indígena que vivia
próximo a Nova York, fato que o fez sistematizar uma classi-
Segundo o antropólogo Everardo Rocha, “etnocentrismo é ficação de três estágios de evolução da humanidade.
uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é toma-
do como centro de tudo e todos os outros são pensados e
sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nos-
sas definições do que é a existência. No plano intelectual,
pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a dife-
rença, no plano afetivo, como sentimentos de estranheza,
medo, hostilidade, etc.”. Assim, a palavra etnocentrismo
significa uma forma de enxergar uma outra etnia diferente
com base nos valores de sua própria cultura.
Com isso, o etnocentrismo julga os outros povos e culturas
pelos padrões da própria sociedade. Salienta uma caracte-
rística de dominação, contendo uma matriz opressora, com
a produção de ideologias de negação do outro. Essas ideo-
logias justificam as práticas de discriminação e preconceito.
No campo antropológico surgiram diversas teorias etnocêntricas.
Esses três estágios foram denominados como: selvageria,
barbárie e civilização.
Para ele, todas as sociedades humanas passariam inevita-
velmente pelos três estágios:
Período onde os homens surgem no mundo,
Selvageria tendo uma dieta de subsistência, com o conheci-
mento do fogo e o uso de arco e flecha.
multimídia: vídeo
 VOLUME ÚNICO

Período onde os homens descobrem a cerâmica,


Fonte: Youtube Barbárie domesticam os animais, praticam a agricultura e
começam a fundir o minério de ferro.
Ciências Sociais ou Antropologia?
A professora da USP Heloísa Buarque de Almeida fala Período onde os homens usam o alfabeto foné-
Civilização tico, com o uso da escrita até o tempo presente.
sobre a carreira de um antropólogo.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  75


Nesse contexto histórico, desenvolve-se o darwinismo so- Segundo Malinowski, todas as partes da sociedade hu-
cial, com orientação evolucionista, colocando os europeus mana estão relacionadas entre si e cumprem uma função
no topo dessa visão de hierarquia cultural. dentro de um sistema. Diante disso, não podemos com-
parar as sociedades, somente podemos observar a sua
funcionalidade.
O trabalho de campo realizado por Malinowski marcou os
estudos da Antropologia ao inaugurar o método da obser-
vação participante. Em sua obra Os argonautas do Pacífi-
co Ocidental, o antropólogo descreve o período durante
o contexto da I Guerra Mundial, em que permaneceu nas
multimídia: vídeo Ilhas Trobriand, onde hoje se localiza a Papua Nova Guiné.
Fonte: Youtube Conforme Malinowski observou, todas as atividades rea-
A Origem do Homem - Estados lizadas pelas tribos das Ilhas Trobriand estão articuladas
Unidos, 2002 (103 min) entre si, de maneira que todas as partes da sociedade são
interdependentes. Assim, nos agrupamentos trobriandeses,
Documentário realizado pelo Discovery Channel, onde
a instituição que melhor demonstra essa interligação entre
é feita uma abordagem diferente, porém semelhante às
partes sociais é o kula. O kula se refere ao sistema de tro-
teorias de Morgan, vemos uma crescente mudança nos
hábitos e costumes dos povos antigos (primitivos) quan- cas desenvolvido pelas tribos trobriandesas, que não visa
do esses precisam sair da sua terra de origem e explorar apenas o caráter econômico, mas também tem caráter ce-
os cantos mais recônditos do globo. Percebemos no filme, rimonial. Assim, consiste também uma forma de os nativos
assim como nas análises de Morgan, as mudanças nas se relacionarem e celebrarem os encontros. Como as popu-
três subdivisões dos estágios do estado de selvageria. lações pesquisadas vivem em ilhas, as trocas são realizadas
por meio de canoas, sendo que a construção de canoas e
as práticas religiosas estão relacionadas para a execução

2. Bronislay Malinowski do kula. O método científico de Malinowski apresenta uma


lógica rara na construção de uma etnografia, consolidando
(1884-1942) que o papel do antropólogo é observar o seu objeto, mas
também vivenciar os fatos relatados.
O antropólogo polonês Malinowski, fundador da escola
funcionalista, foi também um dos fundadores da antro- O funcionalismo recebeu esse nome justamente por consi-
pologia social. derar que uma sociedade é formada por partes interligadas
que se relacionam funcionalmente. No exemplo acima, a
fabricação de canoas se relaciona com a kula, ou seja, um
comportamento é realizado em função de outro. Desse
modo, a lógica dos comportamentos dentro de um grupo
se explica por ela mesma no momento em que está sendo
observada e não na comparação com outros grupos em
outros períodos históricos.

multimídia: vídeo multimídia: livro


 VOLUME ÚNICO

Fonte: Youtube
Estranhos no exterior: Fora da Varanda MALINOWSKI - Bronislaw. Argonautas do
Vídeo sobre os estudos de Malinowski, exibido nos anos pacífico ocidental. São Paulo: Abril Cultural,
de 1990. 1976. (Coleção Os Pensadores).

76  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


3. Lévi-Strauss (1908-2009) Nas Grandes Antilhas, alguns anos após a Descoberta
da América, enquanto os espanhóis enviavam comissões
O antropólogo belga Claude Lévi-Strauss fez parte da mis- de investigação para indagar se os indígenas possuíam
ou não alma, estes últimos dedicavam-se a afogar os
são francesa que auxiliou o governo de São Paulo, com a
brancos feitos prisioneiros para verificarem através de
fundação da Universidade de São Paulo em 1934. uma investigação prolongada se o cadáver daqueles
estava ou não sujeito à putrefação. Esta anedota simul-
taneamente barroca e trágica ilustra bem o paradoxo do
relativismo cultural: é na própria medida em que preten-
demos estabelecer uma discriminação entre as culturas e
os costumes, que nos identificamos mais completamen-
te com aqueles que pretendemos negar. Recusando a
humanidade àqueles que surgem como os mais "selva-
gens" ou "bárbaros" dos seus representantes, mais não
fazemos que copiar-lhes suas atitudes típicas. O bárbaro
é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie.
Claude Lévi-Strauss. Raça e História. 1987.
Lévi-Strauss foi o criador da antropologia estrutural. A forma-
ção da sociedade é estrutural, ou seja, a sociedade é cons-
tituída por um sistema de relações: sistema de parentesco e
de filiação, sistema de comunicação linguística, sistema de
troca econômica, da arte, do mito e do ritual.
Com um estudo sobre as comunidades indígenas, emer-
ge uma de suas maiores obras, chamada Tristes Trópi-
cos, de 1955. Tendo uma ideia contrária de superiorida-
multimídia: vídeo
de, Lévi-Strauss acredita e enfatiza que a mente selvagem Fonte: Youtube
e tribal é igual à mente civilizada. Não havendo distinção Claude Lévi-Strauss - cultura para principiantes
entre as comunidades civilizadas e não civilizadas, haven- Vídeo sobre a teoria culturalista do antropólogo Lévi-S-
do elementos muito semelhantes. trauss (em espanhol)

multimídia: livro
 VOLUME ÚNICO

Tristes Tópicos. - LÉVI-STRAUSS, Claude. São


Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Livro que traz uma narrativa etnográfica romanceada,
com excertos curiosos sobre sociedades indígenas brasi-
leiras, foi publicado pela primeira vez em 1955.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  77


DIAGRAMA DE IDEIAS

ANTROPOLOGIA ANTROPOLOGIA
ETNOCENTRISMO
FUNCIONALISTA ESTRUTURALISTA

VALORIZAÇÃO DE UM
MALINOWSKI LÉVI-STRAUSS
SÓ GRUPO ÉTNICO

TODA A SOCIEDADE SOCIEDADES TEM


HENRY MORGAN TEM UMA SISTEMAS SIMBÓLICOS
FUNCIONALIDADE DIFERENTES

A SOCIEDADE AS TROCAS CRÍTICA À


POSSUI ESTÁGIOS ORDENAM PERSPECTIVA
EVOLUTIVOS ESSAS SOCIEDADES ETNOCÊNTRICA

• SELVAGERIA
• BARBÁRIE
• CIVILIZAÇÃO CONSTÂNCIA DE
DETERMINADAS
ESTRUTURAS NA
VIDA HUMANA
 VOLUME ÚNICO

78  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) A partir dessa consideração feita pela autora, é correto
afirmar:
1. (UENP) Na madrugada de 1º de novembro de 2009, a) A antropologia demonstra que as práticas culturais
morre na França o etnólogo e antropólogo Claude Lévi- da ilha de Samoa, situada no Pacífico Sul, foram im-
-Strauss aos 101 anos de idade. Sua morte teve grande prescindíveis na composição dos valores e da visão
repercussão no Brasil, sobretudo porque foi um dos pri- de mundo que orientou a formação das sociedades
meiros professores de sociologia da Universidade de São grega e romana.
Paulo, logo na sua fundação, tendo feito várias expedições
ao Brasil Central. Seu pensamento influenciou gerações b) Uma cultura não ocidental será de extrema impor-
tância para os estudos antropológicos, pelo fato de
de filósofos, antropólogos e sociólogos. É correto afirmar:
o isolamento geográfico permitir ao antropólogo o
a) A corrente estruturalista, da qual Lévi-Strauss é o prin- despojamento de seus referenciais e, por conseguin-
cipal teórico, surgiu na década de 40 com uma proposta te, produzir uma ciência neutra, sem viés ideológico.
diferente do funcionalismo, predominante até então. O
c) O estudo de nossa própria cultura está estreita-
funcionalismo se preocupava com o funcionamento de
mente vinculado aos padrões de sociabilidade das
cada sociedade e em saber como as coisas existiam na sua
comunidades nativas aborígenes, daí a importância
função social. O estruturalismo queria saber do trabalho
dos habitantes da ilha de Samoa para os estudos an-
intelectual. Olhar para os povos indígenas e buscar uma
tropológicos no Ocidente.
racionalidade e uma reflexão propriamente nativa.
d) Samoa constituiu um padrão importante de dinâmi-
b) Lévi-Strauss não encontrou evidências de que os povos
ca social, e considerá-lo nas análises antropológicas é
nativos desenvolvessem um pensamento selvagem, nem
constatar que a etnografia precisa ser aprimorada, a
que ocorresse a passagem de homem natural para o ho-
fim de que a história das sociedades primitivas não seja
mem cultural entre os povos indígenas.
relegada ao esquecimento com o avanço da civilização.
c) Lévi-Strauss acreditava que o homem não é uma es-
pécie transitória, e sugeriu uma visão essencialista do ser e) Observar as práticas culturais e todo o sistema de va-
humano, já que o mundo existe quando o homem o in- lores de uma sociedade que estruturalmente diferencia-
terpreta, chegando a afirmar, em várias passagens, que o -se dos padrões referenciais de quem observa permite
mundo começou com o homem e vai terminar com ele. não só compreender as dinâmicas sociais dos grupos
observados como também refletir sobre as categorias de
d) Lévi-Strauss concorda com Sartre que não existe oposi-
análise que possibilitam a mesma observação.
ção entre sociedades com história e sociedades sem histó-
ria, sendo que isso é demonstrando pela sociologia e pela
3. (Enem) Claude Lévi-Strauss (2008) em As estruturas ele-
etnografia contemporâneas ao constatarem que toda so-
mentares do parentesco escreve o seguinte: “A proibição
ciedade se desenvolve no curso de uma história específica.
do incesto não é nem puramente de origem cultural nem
e) Não pode ser atribuído ao legado de Lévi-Strauss o res- puramente de origem natural, e também não é uma do-
peito ao pensamento dos chamados povos primitivos, em sagem de elementos variados tomados de empréstimo
especial dos povos indígenas da América, pelas diferenças parcialmente à natureza e parcialmente à cultura. Cons-
culturais e pela diversidade, sem as quais a criatividade titui o passo fundamental graças ao qual, pelo qual, mas
humana cessa e, por tudo que há no mundo, antes e de- sobretudo no qual se realiza a passagem da natureza à
pois da passagem do humano pela Terra. cultura”. Vê-se que a temática com a cultura traz nesse
2. (UFPR 2020) Considere o seguinte excerto do texto embate enfoques disciplinares diferentes entre antropó-
intitulado Adolescência em Samoa, da antropóloga logos, historiadores, sociólogos, psicólogos e filósofos.
Margaret Mead: Nesse contexto, escolha o item correto sobre cultura,
Nas partes mais remotas do mundo, sob condições his- verificando (na afirmativa do item) tal noção entre as
tóricas muito diferentes daquelas que fizeram Grécia e visões das disciplinas, assim como correspondem, ou não.
Roma florescer e declinar, grupos de seres humanos de- a) Os filósofos, a partir do século XVIII, passam a con-
senvolveram padrões de vida tão diferentes dos nossos siderar que os humanos não diferem da natureza.
que não podemos arriscar a conjectura de que iriam che-
gar algum dia às nossas próprias soluções. Cada povo b) Para muitos historiadores, o ponto de ação que de-
primitivo escolheu um conjunto de valores humanos e marca a instituição da cultura é o trabalho do homem.
moldou para si mesmo uma arte, uma organização so- Mas assim como os filósofos (e antropólogos) incluem as
cial, uma religião, que são sua contribuição singular para categorias: pensamento, linguagem e ação voluntária.
a história do espírito humano. Samoa é apenas um des- c) A antropologia estuda os seres humanos na condi-
ses padrões diversos e graciosos, mas, assim como via- ção de seres naturais.
jante que um dia se afastou de casa é mais sábio que o d) A diferença entre homem e natureza, que dá origem
 VOLUME ÚNICO

homem que nunca foi além da soleira da própria porta, à cultura, surge com a lei da proibição do incesto, lei
o conhecimento de outra cultura deveria aguçar nossa existente entre os animais.
capacidade de esquadrinhar com mais sobriedade, de
e) Os seres humanos dão sentido à sexualidade: ela
apreciar mais amorosamente, a nossa própria cultura.
não é apenas a satisfação imediata de uma necessi-
(MEAD, Margaret. Adolescência em Samoa. In: CASTRO,
Celso (org.). Cultura e personalidade: Ruth Benedict, Margaret dade biológica.
Mead e Edward Sapir. Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 28.)

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  79


4. (IFGO) O desenvolvimento dos conhecimentos pré- 6. (Enem PPL 2019) É amplamente conhecida a grande
-históricos e arqueológicos tende a desdobrar no es- diversidade gastronômica da espécie humana. Frequen-
paço formas de civilização que estávamos levados a temente, essa diversidade é utilizada para classificações
imaginar como escalonadas no tempo. Isso tem duas depreciativas. Assim, no início do século, os americanos
significações: primeiro, o “progresso […] não é nem denominavam os franceses de “comedores de rãs”. Os
necessário, nem contínuo; ele se realiza por saltos, por índios kaapor discriminam os timbiras chamando-os
pulos, ou, como diriam os biólogos, por mutações. Esses pejorativamente de “comedores de cobra”. E a palavra
saltos e esses pulos não consistem em ir sempre mais potiguara pode significar realmente “comedores de ca-
longe na mesma direção; são seguidos de mudanças de marão”. As pessoas não se chocam apenas porque as
orientação, um pouco à maneira do cavalo do xadrez outras comem coisas variadas, mas também pela ma-
que sempre dispõe de vários caminhos, porém nunca neira que agem à mesa. Como utilizamos garfos, sur-
no mesmo sentido. A humanidade em progresso não preendemo-nos com o uso dos palitos pelos japoneses
se parece com um personagem que sobe uma escada, e das mãos por certos segmentos de nossa sociedade.
acrescentando em cada um de seus movimentos um LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico.
São Paulo: Jorge Zahar, 2001 (adaptado).
degrau novo a todos aqueles que conquistou; lembra
antes o jogador cuja sorte está partida entre vários da- O processo de estranhamento citado, com base em um
dos e que, cada vez que joga, vê-os espalharem se so- conjunto de representações que grupos ou indivíduos
bre o tapete, produzindo tantos números diferentes. O formam sobre outros, tem como causa o(a)
que ganha com um está sempre exposto a perder com a) reconhecimento mútuo entre povos.
outro, e é somente em certas ocasiões que a história é b) etnocentrismo recorrente entre populações.
cumulativa, quer dizer, que os números se somam para c) comportamento hostil em zonas de conflito.
formar uma combinação favorável. d) constatação de agressividade no estado de natureza.
LEVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: ______. e) transmutação de valores no contexto da modernidade.
Raça e Ciência. v. 1. São Paulo: Perspectiva, 1970. p. 245.
7. (UEM) “[...] Protegidos por sua retirada para regiões
A partir da leitura do excerto de Levi-Strauss, antropó- de difícil acesso, os Jê do Sul do Brasil sobreviveram por
logo francês, é possível afirmar que: alguns séculos aos Tupi, logo liquidados pelos coloniza-
dores. Nas florestas dos estados meridionais, Paraná e
a) O estudo da pré-história assemelha-se ao jogo de xadrez.
Santa Catarina, pequenos bandos selvagens mantive-
b) Existe uma conexão lógica entre a biologia e a evo- ram-se até o século XX; talvez ainda subsistissem alguns
lução humana. em 1935, tão ferozmente perseguidos nos últimos cem
c) Os conhecimentos pré-históricos e arqueológicos anos que se mantinham invisíveis; porém, a maioria fora
permitem que reflitamos sobre a forma como ocorre- aldeada e assentada pelo governo brasileiro, por volta
ram as transformações das civilizações. de 1914, em vários centros”.
d) Existe uma linearidade a partir da qual decorre o pro- LÉVI-STRAUSS, C. Tristes Trópicos. São Paulo:
gresso histórico e os seus sucessivos desenvolvimentos. Companhia das Letras, 1996, p. 144.
e) Nada se pode afirmar sobre a pré-história, pois não
A partir dos significados da cultura segundo a antro-
existe certeza em relação aos processos de desenvol-
pologia, da história dos conflitos entre populações in-
vimento e progresso da humanidade.
dígenas e outros grupos humanos e do texto de Lévi-
5. (Vunesp) Falar da contribuição das raças humanas Strauss, é correto afirmar que:
para a civilização mundial poderia assumir um aspecto 01) a inferioridade cultural dos índios Jê frente a outros
surpreendente numa coleção de brochuras destinadas a grupos humanos foi o principal fator que contribuiu para
lutar contra o preconceito racista. Resultaria num esforço o seu desaparecimento.
vão ter consagrado tanto talento e tantos esforços para 02) a perseguição feroz a grupos étnicos distintos do
demonstrar que nada, no estado atual da ciência, permi- grupo socialmente dominante pode levar à invisibilidade
te afirmar a superioridade ou a inferioridade intelectual social dos grupos perseguidos.
de uma raça em relação a outra […].
04) a perseguição e o massacre dos índios Jê no Sul do
Claude Lévi-Strauss. Raça e História. 3a Edição. Brasil foram fortemente motivados por pontos de vista
Lisboa: Editorial Presença,1980. (Adaptado) etnocêntricos, interesses de Estado e ação de grupos so-
O que determina a diferença cultural entre os povos? ciais diversos.
a) Herança genética. 08) já não existiam grupos indígenas no Sul do Brasil no
 VOLUME ÚNICO

b) História cultural. início do século XX.


c) Variação do ambiente físico. 16) o etnocentrismo, o preconceito, os interesses econô-
d) Traços psicológicos inatos. micos e as relações de poder influenciaram a maioria dos
e) Relativismo cultural. estados modernos no desrespeito aos direitos e às cultu-
ras das populações nativas que habitam seus territórios.

80  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


8. (UEM) Leia a descrição que Claude Lévi-Strauss fez do 11. (Unesp) Nas Grandes Antilhas, alguns anos após
modo de vida adotado pelas populações indígenas da re- a Descoberta da América, enquanto os espanhóis en-
gião Sul do Brasil, quando da ocupação capitalista dessa viavam comissões de investigação para indagar se os
parte do território nacional, e assinale o que for correto: indígenas possuíam ou não alma, estes últimos dedi-
cavam-se a afogar os brancos feitos prisioneiros para
“De sua experiência efêmera de civilização, os indígenas verificarem através de uma investigação prolongada
só conservaram as roupas brasileiras, o machado, a faca se o cadáver daqueles estava ou não sujeito à putre-
e a agulha de costura. Quanto ao resto, foi um fracasso. fação. Esta anedota simultaneamente barroca e trági-
Haviam lhes construído casas, e eles viviam do lado ca ilustra bem o paradoxo do relativismo cultural: é na
de fora. Esforçaram-se para fixá-los nas aldeias, e eles própria medida em que pretendemos estabelecer uma
permaneciam nômades. As camas, quebraram-nas para discriminação entre as culturas e os costumes, que nos
fazer lenha e dormiam diretamente no chão. Os reba- identificamos mais completamente com aqueles que
nhos de vacas mandadas pelo governo vagavam ao léu, pretendemos negar. Recusando a humanidade àqueles
já que os indígenas rejeitavam com nojo a sua carne e o que surgem como os mais ‘selvagens’ ou ‘bárbaros’ dos
seu leite. Os pilões de madeira, movidos mecanicamente seus representantes, mais não fazemos que copiar-lhes
pelo encher e esvaziar alternados de um recipiente preso suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o
a um braço de alavanca (dispositivo frequente no Brasil, homem que crê na barbárie.
onde é conhecido pelo nome de ‘monjolo’, e que os por-
Claude Lévi-Strauss. Raça e História, 1987
tugueses talvez tenham importado do Oriente), apodre-
ciam, inutilizados, mantendo-se a prática generalizada Considerando o texto do antropólogo Lévi-Strauss, res-
de moagem a mão.” ponda se os critérios que definem o grau de progresso
LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. de determinada civilização ou cultura são absolutos ou
São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.144. relativos.
01) O trecho mostra que os indígenas brasileiros não Explique o conceito de “bárbaro” para o autor e indi-
possuíam regras básicas de moradia e de alimentação. que as implicações de seu pensamento para a análise
02) Lévi-Strauss apresenta um cenário da diversidade da justificação ideológica da dominação da civilização
cultural brasileira, quando registra que as populações in- ocidental sobre outras civilizações na história.
dígenas por ele encontradas na região Sul do Brasil não
comiam carne de vaca e não bebiam o leite desse animal.
04) O Estado brasileiro manteve uma postura etno- Gabarito
cêntrica quando tentou fixar as populações indígenas
em aldeias, desconsiderando o modo de vida nômade 1. A 2. E 3. E 4. C 5. B
por eles adotado.
6. B 7. 02 + 04 + 16 = 22 8. 02 + 04 = 06
08) Os indígenas brasileiros podem ser sociologicamente
classificados como atrasados por não dominarem as téc- 9. 01 + 04 = 05 10. E
nicas de moagem em pilões movidos por monjolo.
16) A experiência de civilização das populações indí- 11. Os critérios são relativos porque respondem a uma visão
genas da região Sul do Brasil, promovida pelo Estado, unilateral quanto aos valores culturais ocidentais. Para o autor,
foi eficiente e gerou a aculturação de seus integrantes. a verdadeira “barbárie” consiste em não aceitar uma determi-
nada cultura em prol de uma visão ocidental, e supostamente
9. (UEPG-PSS 1 2019) A respeito do conceito de cultura civilizatória.
e etnocentrismo, assinale o que for correto.
O conceito de “bárbaro” relaciona-se, na concepção de Lévi-S-
01) O etnocentrismo é um conceito criado a partir do trauss, na não aceitação da contradição. A noção de civilização
conceito do evolucionismo que considera inferior uma implica a superação das diferenças em prol de um entendimento e
cultura por ela ser diferente. interpretação das diversas culturas, propiciando, dessa maneira, a
02) Podemos considerar como cultura apenas os as- supremacia da ideologia ocidental.
pectos materiais da sociedade humana.
04) O relativismo cultural se contrapõe ao etnocentrismo.
08) Cultura é um conjunto de hábitos, costumes, valores
e tradições presentes apenas nas sociedades modernas.

10. Por volta de 1877, Lewis Henry Morgan publicou teo-


rias onde se dizia que o que definia uma sociedade avan-
 VOLUME ÚNICO

çada para as sociedades ocidentais era a existência:


a) da cidade e do campo
b) da agricultura e metalurgia
c) da existência do fogo e da caça
d) da propriedade privada e um Estado organizado
e) das fábricas e máquinas a vapor

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  81


INDÚSTRIA
CULTURAL E em nível global) que formam a sociedade de consumo. A
SOCIEDADE DO sociedade de consumo, que possibilita que as massas con-
sumam produtos em grandes quantidades, só é possível
ESPETÁCULO na sociedade industrial capitalista, dada a ampliação da

CH
capacidade produtiva.

COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

12
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: música
Fonte: Youtube
Televisão - Titãs. Televisão. Warner, 1985.
A música da banda paulistana Titãs trabalha com a temá-
tica de alienação do homem, conjunto com o poder do
espetáculo em nosso cotidiano.

1. Indústria cultural Produz-se em larga escala um único tipo de produto, ho-


O conceito de Indústria Cultural foi originalmente formula- mogêneo, que se coloca acima das diversidades culturais
do na década de 1940 por dois autores alemães, Theodor e simplifica os conteúdos e significados das expressões
Adorno (1903–1969) e Max Horkheimer(1895–1973), que artísticas para ser consumido pelo maior número de pes-
pertenciam à chamada Escola de Frankfurt. Esses autores, no soas possível. A homogeneização dos produtos e gostos
livro denominado Dialética do Esclarecimento: o Iluminismo constitui-se no principal mecanismo de reprodução da in-
como mistificação das massas, de 1944, desenvolveram o dústria cultural, o que faz com que ela continue existindo
independentemente das vontades individuais.
conceito de Indústria Cultural.
Os teóricos da primeira geração da Escola de Frankfurt as-
sistiram e vivenciaram a ascensão do nazismo na Europa e 2. Guy Debord (1931-1994)
adotaram os fenômenos da cultura como objeto de estudo De origem filosófica, o francês Guy Debord apresenta uma
para entender o tempo presente nos aspectos da domina- crítica para a sociedade contemporânea, a chamada socie-
ção/alienação e emancipação em relação aos mecanismos dade do consumo.
de controle social.
Para os autores, o que se repete na história é a violência
associada ao progresso. Segundo essa concepção, as
guerras são resultados do desenvolvimento tecnológico.
Nesse contexto a ciência e a técnica não têm um obje-
tivo humano.
Na sociedade globalizada em que vivemos, tudo se reveste
de um caráter mercadológico, no qual se omite a história
social da produção dos objetos. Disso resulta a descrença
dos integrantes da Escola de Frankfurt na ciência e na téc-
nica como meio de emancipação social.
 VOLUME ÚNICO

Por procurar um público o mais amplo possível (para que a


lucratividade aumente), a Indústria Cultural produz um tipo
especifico de cultura – a cultura de massa – que se define
por ser uma cultura homogênea transformada em merca-
doria destinada ao consumo das grandes massas (inclusive

82  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Em seu livro mais famoso, intitulado A sociedade do Es- Debord ilustra como a nossa sociedade está constituída
petáculo, lançado em 1967, Debord faz uma crítica feroz pelo espetáculo, seja midiático ou político, de modo a con-
contra essa sociedade do consumo, ganhando popularida- fundir a nossa realidade com a mera ficção.
de entre artistas e estudantes. A alienação do espectador em proveito do objeto con-
templado (que é o resultado da sua própria atividade
inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele con-
templa, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se
nas imagens dominantes da necessidade, menos ele
compreende a sua própria existência e o seu próprio
desejo. A exterioridade do espetáculo em relação ao ho-
mem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já
não são seus, mas de um outro que lhes apresenta.
multimídia: livro DEBORD, Guy
A Sociedade do Espetáculo, 1967, p. 25-26.

A sociedade do espetáculo - Guy Debord.


São Paulo: Contraponto, 1997.
Análise crítica da moderna sociedade de consumo do
pensador Guy Debord, com a banalização do espetácu-
lo nas ações humanas.

Nesse livro, o autor apresenta como a sociedade reproduz multimídia: música


as ações e os fatos, desencadeando uma repetição cons- Fonte: Youtube
tante e levando os indivíduos a uma massificação ordena- Art Bitch - Cansei de ser sexy. Álbum:
da, transformando-se em meros espectadores contempla- Cansei de ser sexy, 2005.
tivos de suas próprias vidas. Sendo guiados pelas imagens Canção da banda paulistana que trata do agir humano
que ordenam o seu cotidiano, os seres humanos ficam como mero espetáculo.
anestesiados com os fatos a sua volta.
O autor define o espetáculo como o conjunto das relações
sociais mediadas pelas imagens, estando esse fenômeno
presente em todas as sociedades onde há classes sociais.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
A Sociedade do Espetáculo - França, 1973.
Documentário baseado no livro do próprio Debord, re-
laciona o universo midiático ao plano social em que os
indivíduos consomem passivamente imagens que lhes
são impostas.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  83


DIAGRAMA DE IDEIAS

DEBORD

SOCIEDADE DO
ESPETÁCULO

AS AÇÕES HUMANAS
SÃO REPRODUZIDAS
E MASSIFICADAS

ANESTESIA OS
INDIVÍDUOS

TUDO VIRA MOTIVO


PARA SER UM NOVO
ESPETÁCULO
 VOLUME ÚNICO

84  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
1. (UEMa) Helder Lima, comentando o filósofo francês e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Guy Debord, afirma que a sociedade contemporânea é 3. (UENP) “Cento e cinquenta anos atrás, Marx escreveu
a sociedade do espetáculo, na qual as imagens têm um que “um espectro ronda a Europa”- o espectro do socia-
caráter autoritário e seu controle é essencial para man- lismo ou comunismo. Isso permanece verdade, mas por
ter os indivíduos voltados para o consumo. razões diferentes das que Marx tinha em mente. O so-
LIMA, Helder. “Crises narrativas da sociedade”. In: Metrô News, cialismo e o comunismo sucumbiram, e no entanto con-
n.6889, ano 38. 12/08/2013. São Paulo: OESP, 2013. tinuam nos assombrando. Não podemos simplesmente
pôr de lado os valores e os ideais que os moveram, pois
A peça publicitária abaixo ratifica a utilização dos meios
alguns permanecem intrínsecos à boa vida cuja criação é
de comunicação como aparelho ideológico voltado para
meta do desenvolvimento social e econômico. O desafio
o marketing empresarial.
é fazer esses valores contarem onde o programa do so-
cialismo entrou em descrédito”.
(GIDDENS, A. A terceira via. Brasília: Instituto
Teotônio Vilela, 1999, p. 11).

I. Este fragmento de texto resume uma das ideias cen-


trais do pensamento social democrata.
II. Este fragmento de texto é do socialismo reacionário
tardio que se recusa a acreditar que o comunismo e o
socialismo deixaram de ser uma opção viável, que era
um dos principais objetivos da restauração da II Inter-
nacional ocorrida em 1951 em Frankfurt.
III. Pela intervenção do estado na economia e pela ma-
nutenção do welfare state, os sociais democratas pre-
Com base nessa afirmação e na peça publicitária, expli- tendiam superar a crise do capitalismo e as deficiências
que como os meios de comunicação atuam como apa- do comunismo.
relho ideológico da sociedade capitalista.
Analise as assertivas acima e assinale a alternativa
correta:
2. (Uel 2019) Leia o texto a seguir.
a) somente I e III estão corretas.
A modernidade [...] é um fenômeno de dois gumes. O
b) somente II e III estão corretas.
desenvolvimento das instituições sociais modernas e
c) somente II e III estão incorretas.
sua difusão em escala mundial criaram oportunidades
d) somente I e II estão incorretas.
bem maiores para os seres humanos gozarem de uma
e) I, II, III estão corretas.
existência segura e gratificante que qualquer tipo de
sistema pré-moderno. Mas a modernidade tem também 4. (Unesp 2018) A mídia é estética porque o seu poder
um lado sombrio. de convencimento, a sua força de verdade e autoridade,
GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São passa por categorias do entendimento humano que es-
Paulo: Editora Unesp, 1991, 2ª reimpressão, p. 16. tão pautadas na sensibilidade, e não na racionalidade.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o debate a A mídia nos influencia por imagens, e não por argumen-
respeito da modernidade, considere as afirmativas a seguir. tos. Se a propaganda de um carro nos promete o dom
da liberdade absoluta e não o entrega, a propaganda
I. Para Marx, a modernidade identificava-se com o ca- política não vai ser mais cuidadosa na entrega de suas
pitalismo, o qual continha, em suas origens industriais, promessas simbólicas, mesmo porque ela se alimenta
dimensões sociais potencialmente revolucionárias.
das mesmas categorias de discurso messiânico que a
II. No momento do surgimento do industrialismo, religião, outra grande área de venda de castelos no ar.
Durkheim identificou o lado sombrio da modernidade
com a possibilidade dos fenômenos da anomia social. (Francisco Fianco. “O desespero de pensar a política na sociedade do
espetáculo”. http://revistacult.uol.com.br, 11.01.2017. Adaptado.)
III. Weber compreendia o mundo moderno como aquele
no qual a racionalização implicava a expansão da buro- Considerando o texto, a integração entre os meios de
cracia e dos limites que o corpo de funcionários estabe- comunicação de massa e o universo da política apre-
lecia à autonomia individual. senta como implicação
 VOLUME ÚNICO

IV. Para Giddens, a atual fase da modernidade, ao redu- a) a redução da discussão política aos padrões da propa-
zir as possibilidades de autodestruição social, eliminou ganda e do marketing.
a existência da chamada “sociedade de risco”.
b) a ampliação concreta dos horizontes de liberdade na
Assinale a alternativa correta. sociedade de massas.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. c) o fortalecimento das instituições democráticas e dos
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. direitos de cidadania.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  85


d) o apelo a recursos intelectuais superiores de interpre- 7. “(...) o espetáculo mantém os homens num estado de
tação da realidade. infantilismo condicionando a necessidade de imitação
e) a mobilização de recursos simbólicos ampliadores da que o consumidor experimenta, ao passo que não há,
racionalidade. em parte alguma, acesso à idade adulta.
JAPPE, Anselm. Guy Debord. Petropólis: Vozes, 1999.
5. (UEM 2018) “Georg Simmel nos aponta um paradoxo
fundamental da vida moderna: partindo do princípio de Com base no texto e nos conhecimentos sobre socieda-
que a capacidade dos indivíduos de absorver informa- de de consumo, considere as afirmativas a seguir:
ções tem um limite, à medida que aumenta a oferta de I. A sociedade contemporânea e o espetáculo estimu-
informações disponíveis, reduz-se proporcionalmente a lam comportamentos massificados, importantes para a
parcela desse acervo que cada indivíduo pode reter.” intensificação do consumo.
(BOMENY, H. et al. Tempos modernos, tempos de Sociologia. II. A infantilização da sociedade contemporânea expres-
São Paulo: Editora do Brasil, 2013, p. 107). sa uma ruptura com a sociedade de consumo.
Com base no trecho citado e em estudos sociológicos III. A necessidade de imitação experimentada pelo con-
sobre indústria cultural e consumo em massa, assinale sumidor moderno contribui para mantê-lo em um esta-
o que for correto. do de infantilismo.
01) A grande disponibilidade de informação propor- IV. Os homens se mantêm longe da idade adulta devido
à diminuição do seu poder de consumo.
cionada pela vida moderna reflete, segundo Simmel,
no aumento da quantidade daquilo que cada pessoa Estão corretas apenas as afirmativas:
pode assimilar individualmente dessas informações. a) I e II. d) I, III e IV.
02) Uma das principais expressões da modernidade b) I e III. e) II, III e IV.
é o ritmo acelerado da produção industrial e cultural. c) II e IV.
04) O acesso à informação se converte diretamente
em conhecimento. 8. (Enem 2019) A primeira fase da dominação da econo-
08) A vida moderna produz uma imensa quantidade mia sobre a vida social acarretou, no modo de definir
de bens culturais e materiais que passa de novo a toda realização humana, uma evidente degradação do
obsoleto em curto espaço de tempo. ser para ter. A fase atual, em que a vida social está to-
talmente tomada pelos resultados da economia, leva a
16) Várias teorias sociológicas admitem que as trans-
um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do
formações sociais podem produzir alterações psíqui-
qual todo ter efetivo deve extrair seu prestígio imedia-
cas, impactando a sensibilidade individual.
to e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realida-
6. (Unesp 2019) A sociedade do espetáculo corresponde de individual tornou-se social, diretamente dependente
a uma fase específica da sociedade capitalista, quando da força social, moldada por ela.
há uma interdependência entre o processo de acúmulo DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo.
de capital e o processo de acúmulo de imagens. O papel Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.
desempenhado pelo marketing, sua onipresença, ilustra Uma manifestação contemporânea do fenômeno des-
perfeitamente bem o que Guy Debord quis dizer: das re- crito no texto é o (a):
lações interpessoais à política, passando pelas manifes-
a) valorização dos conhecimentos acumulados.
tações religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido
b) exposição nos meios de comunicação.
por imagens. Assim como o conceito de “indústria cultu-
c) aprofundamento da vivência espiritual.
ral”, o conceito de “sociedade do espetáculo” faz parte
d) fortalecimento das relações interpessoais.
de uma postura crítica com relação à sociedade capita- e) reconhecimento na esfera artística.
lista. São conceitos que procuram apontar aquilo que se
constitui em entraves para a emancipação humana. 9. O que Guy Debord sugeria ao escrever o livro Socie-
dade do Espetáculo?
Cláudio N. P. Coelho. Mídia e poder na sociedade do
espetáculo. https://revistacult.uol.com.br. (Adaptado). a) Que a sociedade contemporânea está virando pós-
-moderna, e por isso gosta mais de peças teatrais.
Segundo o texto:
b) Que espetáculos mais famosos tendem a vender mais
a) a transformação da cultura em mercadoria é uma ingressos, por isso o teatro não tem mais validade para
característica fundamental desse fenômeno social. a cultura.
b) a padronização da estética pela sociedade do es- c) Que a sociedade contemporânea é voltada ao mundo
petáculo restringe-se ao campo da publicidade.
 VOLUME ÚNICO

televisivo, em que todas as pessoas precisam mostrar o


c) a hegemonia do espetáculo desempenha papel fun- que fazem para todos.
damental na formação da autonomia do sujeito. d) Que espetáculos ruins em uma sociedade boa, aju-
d) o universo estético de produção das imagens não é dam a destruir o conhecimento dessa sociedade.
determinado pela base material da sociedade. e) Que as televisões são muito caras em sociedade ruins,
e) o conceito de sociedade do espetáculo realiza uma e nas sociedades boas, em que espetáculos acontecem
reflexão contestadora sobre a indústria cultural. com mais frequência, as televisões são mais baratas.

86  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


10. O conceito de espetáculo, segundo Guy Debord pode O texto indica que existe uma significava produção
ser definido como: científica sobre os impactos socioculturais da televisão
na vida do ser humano. E as crianças, em particular, são
I. A especialização das imagens com a realidade e inver-
as mais vulneráveis a essas influências, porque:
são concreta da vida pela tecnologia. O espetáculo é o
capital em grau de acumulação que se torna imagem. a) codificam informações transmitidas nos programas
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma infantis por meio da observação.
relação social entre pessoas, mediada por imagens. b) adquirem conhecimentos variados que incentivam
o processo de interação social.
II. Quando o mundo real se transforma em simples ima-
c) interiorizam padrões de comportamento e papéis
gens, as simples imagens tornam-se seres reais e moti-
sociais com menor visão crítica.
vações eficientes de um comportamento hipnótico. O
d) observam formas de convivência social baseadas
espetáculo, com o tendência a fazer ver (por diferentes
na tolerância e no respeito.
mediações especializadas) o mundo que já não se pode
e) apreendem modelos de sociedade pautados na ob-
tocar diretamente, serve-se da visão como o sentido
servância das leis.
privilegiado da pessoa humana, o que em outras épo-
cas fora o tato; o sentido mais abstrato, e mais sujeito à
mistificação, corresponde à abstração generalizada da
sociedade atual. Mas o espetáculo não pode ser identi-
Gabarito
ficado pelo simples olhar, mesmo que este esteja aco- 1. Muitas vezes, os meios de comunicação são apropriados pelo
plado à escuta. Ele escapa à atividade do homem, à re- capitalismo como forma de criar nas pessoas o desejo pelo con-
consideração e à correção de sua obra. É o contrário do sumo. Podemos perceber isso na peça publicitária exposta na
diálogo. Sempre que haja representação independente, questão: ali, o que se valoriza é a figura do cliente, que consome
o espetáculo se reconstitui. determinada mercadoria ou serviço. Atuando dessa maneira, os
III. A "espetacularização" da realidade produz a aliena- meios de comunicação, longe de contribuírem para a emancipa-
ção do indivíduo pelo excesso tecnológico. A alienação ção da sociedade, acabam alienando as pessoas e as impedindo
do espectador em favor do objeto contemplado (o que de perceber a situação de exploração em que vivem.
resulta de sua própria atividade inconsciente) se expres- 2. D 3. A 4. A 5. 02 + 08 + 16 = 26
sa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quan-
to mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes 6. A 7. B 8. B 9. C 10. E
da necessidade, menos compreende sua própria existên-
11. C
cia e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age,
a exterioridade do espetáculo aparece no fato de seus
próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que
os representa por ele. É por isso que o espectador não
se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está
em toda parte.
IV. O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a
própria sociedade, como um aparte da sociedade e com
o instrumento de unificação. Como parte da sociedade,
ele é expressamente o setor que concentra todo olhar e
toda consciência. Pelo fato de esse setor estar separa-
do, ele é o lugar do olhar iludido e da falsa consciência;
a unificação que realiza é tão somente a linguagem ofi-
cial da separação generalizada.
a) I e II somente. d) III e IV somente.
b) II e III somente. e) todas estão corretas.
c) I e IV somente.

11. (Enem) Um volume imenso de pesquisas tem sido


produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas
de televisão. A maioria desses estudos diz respeito a
 VOLUME ÚNICO

crianças – o que é bastante compreensível pela quanti-


dade de tempo que elas passam em frente ao aparelho
e pelas possíveis implicações desse comportamento
para a socialização. Dois dos tópicos mais pesquisados
são o impacto da televisão no âmbito do crime e da vio-
lência e a natureza das notícias exibidas na televisão.
GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  87


MICHEL a prática do confinamento passou a ser adotada. A partir
do século XVIII, a loucura foi associada à doença, sendo
FOUCAULT que o louco deveria ser medicado. Ao refletir sobre como
as diferentes sociedades tratam aqueles que foram con-

CH
siderados como loucos, Foucault chama a atenção para a
construção social do conceito de normalidade.
COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

13
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Michel Foucault: Poder - Brasil Escola

1.2. Vigiar e punir:


História da violência nas prisões
1. Michel Foucault (1926-1984)
No texto, publicado em 1975, Foucault reflete sobre o siste-
Com formação em filosofia e psicologia, o francês Michel
ma penal e a relação de poder. O filósofo analisa que existe
Foucault tratou de compreender o indivíduo e as suas in-
um “poder disciplinar” para regular a vida dos indivíduos,
ter-relações, como o poder, a sexualidade, a punição e a
contido nas estruturas de base da sociedade (nos hospitais,
loucura social.
nas prisões e nas escolas) com o intuito de organizar os há-
bitos desses sujeitos, atuando como instituições disciplinares.

multimídia: livro

Foucault modificou o foco das análises tradicionais acerca da Vigiar e Punir - Michel Foucault.
sociedade, a partir de um olhar interdisciplinar, interligando Petropólis: Vozes, 1987.
os campos da história, filosofia, sociologia e psicologia. É um estudo científico, fartamente documentado, sobre
a evolução histórica da legislação penal e respectivos
1.1. História da loucura na Idade Clássica métodos coercitivos e punitivos adotados pelo poder
Nessa obra, publicada em 1961, Foucault apresenta como público na repressão da delinquência. Métodos que vão
o termo loucura modificou-se ao longo do tempo. Na Idade da violência física até instituições correcionais.
Média, a loucura era sinônimo de liberdade, em muitos casos,
 VOLUME ÚNICO

era considerada sagrada; durante o Renascimento, por sua Segundo Foucault, esse “poder disciplinar” é notado pelos
vez, a loucura foi vista como uma outra forma de razão. elementos semelhantes que encontramos nesses ambien-
No período da Modernidade, entre os séculos XVI e XVII, tes, como regras pré-definidas, grades e câmeras de segu-
momento histórico denominado por Foucault como Idade rança. Nesse momento o poder é físico e simbólico, pois
Clássica, a loucura ganha uma definição de antirrazão, condiciona as futuras ações desse indivíduo caracterizando
aqueles considerados loucos deveriam ser enclausurados, uma forma de controle social, pois apresenta uma forte

88  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


disciplina em conjunto com uma plena vigilância para con- tanta punição, submetidos ao poder disciplinar, aceitam a
ter possíveis violações das regras impostas. total submissão, sendo dominados completamente, sem
nenhum tipo de resistência contra esse poder. Diante disso,
Para ilustrar essa forma de disciplina e vigilância, Foucault
o corpo humano tornou-se uma máquina prestes a obede-
cita o exemplo do Panóptico utilizado em prisões. Trata-se
cer a qualquer regra ou norma dominante.
de uma estrutura circular, com uma plataforma de observa-
ção erguida no meio.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Quem somos nós?
O professor da Unicamp Oswaldo Giacoia Junior co-
menta sobre o pensamento de Michel Foucault.

Essa estrutura possibilita ao observador central um con-


trole maior sobre os prisioneiros, que tem a sensação de
multimídia: vídeo
serem vigiados durante todo o tempo. O objetivo desse
panóptico era criar uma aparente onipresença do inspetor Fonte: Youtube
de vigilância nas mentes dos vigiados, assegurando o fun- V de Vingança - Reino Unido/Alemanha/
cionamento automático do poder. O sucesso dessa ação se Estados Unidos: 2005 (132 min).
faz pelo olhar hierárquico, uma sanção normalizadora e o Filme é ambientado em uma Inglaterra do futuro, e
exame avaliativo. fundamentado nos conteúdos estruturantes “Poder, po-
lítica e ideologia” e “Direitos, cidadania e movimentos
sociais”. O filme permite discutir: o conceito de justiça
social; Estado Totalitário; ditaduras X democracia; re-
volução; movimentos sociais reformistas; movimentos
sociais revolucionários; Estado Moderno; aparelhos
ideológicos do Estado; Facismo; terrorismo; ideologia; a
influência dos meios de comunicação de massa; análise
de Michael Foucault sobre as relações existentes entre
multimídia: vídeo
ideologia e poder (teoria sobre controle do tempo e do
Fonte: Youtube espaço); sociedade de vigilância; crítica à sociedade de
Laranja Mecânica - Inglaterra, 1971. consumo; manipulação do real e instituições totais.
Esse filme retrata a diferença entre o método de pu-
nição puramente física e as formas de reeducação e
utilização do saber técnico pelas autoridades, descritas 1.3. História da sexualidade moderna
por Foucault. Nesse estudo, publicado em 1976, Foucault interliga a
sexualidade com as estruturas de poder na sociedade. Ao
pensar o poder não como uma coisa, mas como relações,
 VOLUME ÚNICO

Foucault enfatiza a questão do controle disciplinar, cor-


rigindo o comportamento desviante, isto é, o propósito assume que o poder é algo que se exerce; poder como um
desse poder é controlar, dominar os seres e não propiciar feixe de relações. Assim, o corpo também é um espaço de
poder. A norma produz condutas e gestos com o intuito de
uma reformulação das práticas sociais.
reprimir a própria sexualidade, classificando o comporta-
Como consequência disso, temos o ser humano configu- mento sexual desviante da norma como um crime, ferindo
rado como “corpos dóceis”, ou seja, corpos que mediante os padrões morais de uma sociedade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  89


Para Foucault, com essa regulação da vida dos indivíduos, Fora dessa relação macro, coexistem diversas relações de
desenvolveu-se uma naturalização da sexualidade reprimi- micropoder, entre os próprios indivíduos dentro da socieda-
da no cotidiano, gerando no indivíduo, com a sexualidade de, salientando um poder ilusório, uma disputa criada entre
reprimida, um ser com várias neuroses. Para evitar esses os seres, com o intuito também de dominação e controle.
traumas, o pensador apresenta que é necessário ter uma O poder não opera em um único lugar, mas em lugares
maior liberdade da sexualidade na sociedade. múltiplos: a família, a vida sexual, a maneira como se tra-
ta os loucos, a exclusão dos homossexuais, as relações
entre os homens e as mulheres... todas essas relações
são relações políticas. Só podemos mudar a sociedade
sob a condição de mudar essas relações.
FOUCAULT, Michel. Diálogo sobre o poder. Estratégia, poder-
saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

1.4. Microfísica do poder


Nesse livro, publicado em 1978, Foucault apresenta diversas
formas de poder existentes na sociedade. O poder está em
todo lugar, tendo os saberes e os discursos como elementos
multimídia: livro
diretos desse poder social. O poder não está centralizado nas
grandes instituições, ele age em todos os lugares, atua sobre 1984 - George Orwell. São Paulo:
os indivíduos. Companhia das Letras, 2009.
Em seu último romance, o autor criou um personagem
chamado Winston, que vive aprisionado em uma socie-
dade completamente dominada pelo Estado. Essa sub-
missão ao poder é relatada, inclusive, na rotina desse
personagem, que trabalha com a falsificação de registros
históricos, a fim de satisfazer os interesses presentes.
Winston, contudo, não aceita bem essa realidade, que se
multimídia: livro disfarça de democracia, e vive questionando a opressão
que o Partido e o Grande Irmão exercem sob a sociedade.

Microfísica do Poder - Michel Foucault.


São Paulo: Graal, 2008. Parece−me que, no final do século XVIII, a arquitetura co-
meça a se especializar, ao se articular com os problemas
A Medicina, a Psiquiatria, a Justiça, a Geografia, o corpo, da população, da saúde, do urbanismo. Outrora, a arte de
a sexualidade, o papel dos intelectuais e o Estado são construir respondia sobretudo à necessidade de manifes-
analisados por Foucault em vários artigos, entrevistas e tar o poder, a divindade, a força. O palácio e a igreja cons-
conferências reunidos nesse livro. Todos os textos têm tituíam as grandes formas, às quais é preciso acrescentar
as fortalezas; manifestava−se a força, manifestava−se o
como tema central a questão do poder nas sociedades
soberano, manifestava−se Deus. A arquitetura durante
capitalistas: sua natureza, seu exercício em instituições, muito tempo se desenvolveu em torno destas exigências.
sua relação com a produção da verdade e as resistên- Ora, no final do século XVIII, novos problemas aparecem:
cias que suscita. O método genealógico desenvolvido por trata−se de utilizar a organização do espaço para alcançar
Foucault evidencia a existência de formas de exercício do objetivos econômico−políticos. Aparece uma arquitetura
poder diferentes do Estado, a ele articuladas e indispen- específica. Philippe Ariès escreveu coisas que me parecem
importantes a respeito do fato da casa, até o século XVIII,
sáveis à sua sustentação e atuação eficaz. continuar sendo um espaço indiferenciado. Existem peças:
 VOLUME ÚNICO

nelas se dorme, se come, se recebe, pouco importa. De-


Essa dominação pode estar contida na relação macro, pois, pouco a pouco, o espaço se especifica e torna−se
apresentada pela força do Estado diante de seus cidadãos, funcional. Nós temos um exemplo disto na edificação das
cidades operárias dos anos 1830−1870. A família operá-
orientando regras e normas de submissão para a manu-
ria será fixada; será prescrito para ela um tipo de mora-
tenção de uma hierarquia pré-concebida. Nesse momento lidade, através da determinação de seu espaço de vida,
Foucault dialoga com a filosofia política de Maquiavel. com uma peça que serve como cozinha e sala de jantar, o

90  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


quarto dos pais (que é o lugar da procriação) e o quarto das crianças. Às vezes, nos casos mais favoráveis, há o quarto das meninas
e o quarto dos meninos. Seria preciso fazer uma "história dos espaços" − que seria ao mesmo tempo uma "história dos poderes"
− que estudasse desde as grandes estratégias da geopolítica até as pequenas táticas do habitat, da arquitetura institucional, da sala
de aula ou da organização hospitalar, passando pelas implantações econômico−políticas. É surpreendente ver como o problema dos
espaços levou tanto tempo para aparecer como problema histórico−político.
FOUCAULT, Michel.
Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 2008, pp. 211-212.

DIAGRAMA DE IDEIAS

FOUCAULT

A SOCIEDADE TEM AS RELAÇÕES


UMA ESTRUTURA SOCIAIS POSSUEM
PUNITIVA

UMA DISPUTA
AS INSTITUIÇÕES DE PODERES
SOCIAIS

• HOSPITAIS
• PRISÕES
• ESCOLAS OS MICROPODERES

TÊM FORMAS DE
VIGILÂNCIA E
PUNIÇÕES

• GRADES
• REGRAS
• CÂMERAS DE
SEGURANÇA
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  91


Aplicando para Aprender (A.P.A.) ma-se então uma política das coerções, que são um tra-
balho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus
1. (Enem) A lei não nasce da natureza, junto das fontes elementos, de seus gestos, de seus comportamentos.
frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência
batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquis- nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1987.

tas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce
Na perspectiva de Michel Foucault, o processo mencio-
das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nas-
nado resulta em:
ce com os famosos inocentes que agonizam no dia que
está amanhecendo. a) declínio cultural.
b) segregação racial.
FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em
defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes,1999.
c) redução da hierarquia.
d) totalitarismo dos governos.
O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a e) modelagem dos indivíduos.
política e a lei em relação ao poder e à organização so-
cial. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das 4. (UEMA) Gilberto Cotrim (2006. p. 212), ao tratar da
leis na organização das sociedades modernas é: pós-modernidade, comenta as ideias de Michel Fou-
cault, nas quais "[…] as sociedades modernas apresen-
a) combater ações violentas na guerra entre as nações.
tam uma nova organização do poder que se desenvol-
b) coagir e servir para refrear a agressividade humana. veu a partir do século XVIII. Nessa nova organização, o
c) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre poder não se concentra apenas no setor político e nas
os indivíduos de uma mesma nação. suas formas de repressão, pois está disseminado pelos
d) estabelecer princípios éticos que regulamentam as vários âmbitos da vida social […] [e] o poder fragmen-
ações bélicas entre países inimigos. tou-se em micropoderes e tornou-se muito mais efi-
e) organizar as relações de poder na sociedade e en- caz. Assim, em vez de se deter apenas no macropoder
tre os Estados. concentrado no Estado, [os] micropoderes se espalham
pelas mais diversas instituições da vida social. Isto é,
2. (Unioeste 2016) Os estudos realizados por Michel Fou- os poderes exercidos por uma rede imensa de pessoas,
cault (1926-1984) apresentam interfaces que corroboram por exemplo: os pais, os porteiros, os enfermeiros, os
para estudos em diversas áreas de conhecimento, entre professores, as secretarias, os guardas, os fiscais etc".
as quais a Filosofia, Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquia- COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia:
tria, Medicina e Direito. Em 1975, Foucault publicou a história e grandes temas. São
Paulo: Saraiva, 2006. (Adaptado)
obra “Vigiar e Punir: história da violência das prisões”,
Pelo exposto por Gilberto Cotrim sobre as ideias de
na qual propunha uma nova concepção de poder, a qual
Foucault, a principal função dos micropoderes no corpo
abandonava alguns postulados que marcaram a posição
social é interiorizar e fazer cumprir:
tradicional da esquerda do período. Sobre a concepção
de poder foucaultiana, é correto afirmar: a) o ideal de igualdade entre os homens.
b) o total direito político de acordo com as etnias.
a) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de um
privilégio adquirido pela classe dominante que detém c) as normas estabelecidas pela disciplina social.
o poder econômico. d) a repressão exercida pelos menos instruídos.
b) O poder está centralizado na figura do Estado e e) o ideal de liberdade individual.
está localizado no próprio aparelho de Estado, que é 5. (UFPR 2020) Eis como ainda no início do século XVII
o instrumento privilegiado do poder. se descrevia a figura ideal do soldado. O soldado é an-
c) Todo poder está subordinado a um modo de produ- tes de tudo alguém que se reconhece de longe; que leva
ção e a uma infraestrutura, pois o modo como a vida os sinais naturais de seu vigor e coragem, as marcas
econômica é organizada determina a política. também de seu orgulho: seu corpo é o brasão de sua
d) O poder tem como essência dividir os que possuem força e de sua valentia. [...] Na segunda metade do
poder (classe dominante) daqueles que não têm po- século XVIII, o soldado tornou-se algo que se fabrica;
der (classe dos dominados). de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a
e) O poder não remete diretamente a uma estrutura po- máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos
lítica, ao uso da força ou a uma classe dominante: as as posturas; lentamente uma coação calculada percorre
relações de poder são móveis e só podem existir quando cada parte do corpo, se assenhoreia dele, dobra o con-
os sujeitos são livres e há possibilidade de resistência. junto, torna-o perpetuamente disponível e se prolonga,
 VOLUME ÚNICO

em silêncio, no automatismo dos hábitos.


3. (Enem) O momento histórico das disciplinas é o mo-
(FOUCAULT, Michel. Os corpos dóceis. In: FOUCAULT,
mento em que nasce uma arte do corpo humano, que Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 162.)
visa não unicamente o aumento das suas habilidades,
nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação Levando em conta essa passagem e a obra em que está
de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto inserida, é correto afirmar que, para Michel Foucault,
mais obediente quanto é mais útil, e inversamente. For- instituições como escolas, quartéis, hospitais e prisões

92  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


são exemplos de espaços em que, a partir do século 7. (INTERBITS) Escola pública do DF começa a testar
XVIII, os indivíduos: chip para monitorar alunos por meio de um chip fixado
a) são educados de modo a se tornarem autônomos. no uniforme, uma turma de 42 estudantes do primeiro
ano do ensino médio tem suas entradas e saídas moni-
b) aprendem a conviver uns com os outros.
toradas no CEM (Centro de Ensino Médio) 414 de Sa-
c) encontram as condições de segurança e bem-estar. mambaia, cidade-satélite do Distrito Federal. O projeto,
d) se tornam mais vigorosos e valentes. que começou a funcionar no dia 22 de outubro, manda
e) se fazem objeto do poder disciplinar. mensagem por celular aos pais ou responsáveis pelos
alunos, informando o horário de entrada e saída da es-
6. (UFPR 2019) Em um texto chamado “Resposta à cola. Segundo a diretora do CEM, a medida foi tomada
questão: o que é esclarecimento?”, Kant afirma que o para aumentar a permanência dos alunos nas salas de
“esclarecimento é a saída do homem da menoridade”. aula. “Os professores dos últimos horários reclamam
Afirma também que a “menoridade é a incapacidade de que muitos alunos costumam sair antes do término das
servir-se do próprio entendimento sem direção alheia” aulas. Por mais que a escola tente manter o controle,
e que “o homem é o culpado por esta incapacidade, eles dão um jeito de sair da escola”.
quando sua causa resulta na falta, não do entendimen-
Folha on-line. 30 out. 2012. Adaptado.
to, mas de resolução e coragem para fazer uso dele sem Disponível em: <http://folha.com/no1177555&gt;.
a direção de outra pessoa”. Acesso em 30 out. 2012.
(KANT, Resposta à questão: O que é esclarecimento? In: MARÇAL, O texto apresenta uma forma de controle de estudantes
J.; CABARRÃO, M.; FANTIN, M. E. (Org.). Antologia de
Textos Filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 407.) dentro da instituição escolar. Esse tipo de instrumento
está vinculado a qual lógica apresentada pelo filósofo
Por sua vez, Foucault afirma: “Houve, durante a época Michel Foucault?
clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo a) Emancipação, que tem como fundamento tornar os
do poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa gran- estudantes sujeitos autônomos.
de atenção dedicada então ao corpo – ao corpo que se b) Panoptismo, que tem intenção de controlar, mas tam-
manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, bém de tornar mais produtivos os corpos observados.
se torna hábil ou cujas forças se multiplicam [...]”, refe-
c) Regime de verdade, que faz com que a Escola este-
rindo-se a um corpo (homem) que se torna ao mesmo
ja comprometida com a emancipação humana.
tempo analisável e manipulável.
d) Luta de Classes, que torna tensa a relação entre
(FOUCAULT, Michel. Os corpos dóceis. In: FOUCAULT, estudantes e professores.
Michel. Vigiar e Punir. Trad. Ligia M. Pondé Vassalo.
5. ed. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 125.).
e) Violência simbólica, que agride o sujeito através
da linguagem.
Com base nos dois textos e no pensamento desses filóso-
8. (Enem 2019) Penso que não há um sujeito sobe-
fos, considere as afirmativas abaixo:
rano, fundador, uma forma universal de sujeito que
1. O Esclarecimento seria uma espécie de menoridade poderíamos encontrar em todos os lugares. Penso,
intelectual e corresponderia à afirmação da religião pelo contrário, que o sujeito se constitui através das
como ponto de partida para o homem tomar suas práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma,
principais decisões. através de práticas de liberação, de liberdade, como
2. Enquanto Kant se preocupa em avaliar o quanto os na Antiguidade – a partir, obviamente, de um certo
indivíduos são responsáveis por se deixarem diri- número de regras, de estilos, que podemos encontrar
gir por outros, Foucault trata de mostrar os modos no meio cultural.
como a sociedade torna o homem manipulável. FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política.
3. Tanto Kant quanto Foucault se questionam pelo ní- Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
vel de autonomia do homem, ambos, porém, a partir
de abordagens diferentes e chegando a conclusões O texto aponta que a subjetivação se efetiva numa di-
diferentes. mensão
4. Fica claro no texto de Foucault que a idade clássi- a) legal, pautada em preceitos jurídicos.
ca favorece o autoconhecimento e a autonomia de b) racional, baseada em pressupostos lógicos.
pensamento. c) contingencial, processada em interações sociais.
Assinale a alternativa correta. d) transcendental, efetivada em princípios religiosos.
 VOLUME ÚNICO

a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. e) essencial, fundamentada em parâmetros substan-


cialistas.
b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. 9. (Uece 2019) “Generalizando posteriormente a já am-
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. plíssima classe dos dispositivos foucaultianos, chama-
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. rei literalmente de dispositivo qualquer coisa que te-
nha de algum modo a capacidade de capturar, orientar,

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  93


determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar
os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos
seres viventes.”
AGAMBEN, G. O que é um dispositivo? outra travessia,
Florianópolis, n. 5, p. 9-16, jan. 2005.

Considerando o excerto acima, analise as seguintes


proposições:
I. As prisões e os manicômios se enquadram nesse con-
ceito na medida em que se voltam para a correção e
normalização de condutas consideradas desviantes.
II. As escolas, as igrejas e as fábricas podem ser pen-
sadas como dispositivos na medida em que se voltam
para os corpos e os comportamentos no sentido do dis-
ciplinamento.
III. Os computadores, os telefones celulares, as câmeras
de segurança se destacam como dispositivos, pois con-
trolam tecnicamente os gestos e as condutas humanas.
É correto o que se afirma em
a) I, II e III.
b) I e II apenas.
c) II e III apenas.
d) I e III apenas.

10. (Enem)

CAULOS. Disponível em: www.caulos.com. Acesso em 24 set. 2011.

O cartum faz uma crítica social. A figura destacada está


em oposição às outras e representa a:
a) a opressão das minorias sociais.
b) carência de recursos tecnológicos.
c) falta de liberdade de expressão.
d) defesa da qualificação profissional.
e) reação ao controle do pensamento coletivo.

Gabarito
1. E 2. E 3. E 4. C 5. E
 VOLUME ÚNICO

6. C 7. B 8. C 9. A 10. E

94  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


O PROBLEMA
DA VIOLÊNCIA

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: livro
HABILIDADE(s)
Os filhos do governo - SILVA, Roberto
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, da. São Paulo: Editora Ática, 1998.

14
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Um menor abandonado, criado em instituições públicas
e que passou pela delinquência, ultrapassa excepcio-
nalmente todas as barreiras. Forma-se em pedagogia e
escreve um trabalho em que prova que o modelo estatal
de assistência à infância em situação de risco, estabe-
lecido pelo regime pós-64 (Febem-Funabem), constitui
fator de reprodução da criminalidade. Partindo de sua
experiência e ampliando a pesquisa para 370 histórias,
Roberto da Silva desenvolve um estudo de altíssimo ní-

1. Violência vel e de fundamental importância para a compreensão


e a crítica das instituições e da sociedade brasileiras.
A Sociologia se debruça sobre como a violência afeta as
relações humanas, tendo a preocupação em analisar os A definição para violência urbana é o fenômeno social de
fenômenos recorrentes na sociedade (não só tratando da comportamento agressivo e transgressor exercido por in-
violência física, mas também da violência simbólica). A divíduos ou coletivamente nos limites do espaço urbano.
Sociologia precisa estudar esses dados que tendem a ser
mascarados ou abordados com excessiva sutileza.
O Brasil ainda é um país onde a violência permeia o seu
cotidiano. Segundo o Índice Global da Paz de 2019, dos
163 países analisados, o Brasil ocupa o 116.º lugar entre
os países mais pacíficos.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
A violência no Brasil explicada por Sérgio Adorno
O sociólogo Sérgio Adorno explica as consequências
da disseminação da violência na sociedade brasileira
e de que maneira ela reforça as desigualdades sociais.

Os fatores para a existência da violência urbana são:


§ Instituições frágeis: os órgãos fiscalizadores sociais, re-
Charge identificando as diversas formas de violência na sociedade. gidos por regras que sofrem alterações por aqueles que
precisam segui-las, condicionam hábitos de descredibili-
1.1. Violência urbana
 VOLUME ÚNICO

dade nessas próprias instituições. Conjunto com o rompi-


A constituição da sociedade brasileira, no olhar sociológico, mento facilmente das normas jurídicas, seja por parte do
tem a violência como pano de fundo, demonstrada pelos Estado ou da própria sociedade civil.
“fatos sociais” que são reproduzidos pelas gerações. Se- § Mal funcionamento dos mecanismos de controle ju-
gundo os dados da Embrapa, de 2017, 84,3% da popula- rídico: as falhas no exercício da coerção legal, o que
ção brasileira vivem nas áreas urbanas. impede a realização das normas legais da sociedade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  95


§ Invisibilidade social: quando uma parcela da popu- junto, constatou que: o número de homicídios causados
lação se torna invisível socialmente, perdendo a sua por armas de fogo vem crescendo desde 1979; b) esse
número cresce mais que a população. No Distrito Fede-
relevância na constituição social e alimentando uma
ral, em 1980, a taxa de homicídios era de 13,7 por cem
desesperança no indivíduo, que perde a certeza do seu mil habitantes; em 1991, isto é, onze anos após, saltou
potencial de transformação. para 36,3. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte,
o crescimento dos homicídios foi da ordem de 31,21%
§ Desigualdade social: a violência não tem sua causa na
no período de 1991-96, segundo dados do Ministério
pobreza, mas na desigualdade social, evidenciando da Saúde. A consequência mais grave desse processo
uma segregação socioespacial maior em regiões com em cadeia é a descrença dos cidadãos nas instituições
maior desigualdade econômica. promotoras de justiça, em especial encarregadas de
distribuir e aplicar sanções para os autores de crime e
§ Tradição cultural violenta: a repetição cultural da vio- de violência. Cada vez mais descrentes na intervenção
lência entre os indivíduos, seja pela forma verbal de saneadora do poder público, os cidadãos buscam saídas.
tratamento, seja pelo contato físico. Como consequên- Aqueles que dispõem de recursos apelam, cada vez mais,
cia de uma prática histórica, que trata uma parcela dos para o mercado de segurança privada, um segmento
que vem crescendo há, pelo menos, duas décadas. Em
membros da sociedade com uma violência cotidiana,
contrapartida, a grande maioria da população urbana
naturalizada com o tempo. depende de guardas privados não profissionalizados,
apoia-se perversamente na “proteção” oferecida por
traficantes locais ou procura resolver suas pendências
e conflitos por conta própria. Tanto num como noutro
caso, seus resultados contribuem ainda mais para enfra-
quecer a busca de soluções proporcionada pelas leis e
pelo funcionamento do sistema de justiça criminal.
ADORNO, Sérgio.
Crime e violência na sociedade brasileira contemporânea.
Jornal de Psicologia-PSI, n. abr/jun, pp. 7-8, 2002.

Charge que retrata a violência do Estado perante a população.

multimídia: vídeo
multimídia: vídeo Fonte: Adorocinema
Ônibus 174 - Documentário. Brasil, 2002.
Fonte: Youtube
O filme documentário trata do sequestro do ônibus
Tropa de Elite - Brasil,2007.
174, por Sandro Barbosa do Nascimento em 2000, no
O filme policial tem como tema a violência urbana na Rio de Janeiro.
cidade do Rio de Janeiro junto com a ajuda do Ba-
talhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. 1.2. Violência doméstica
Na sociedade brasileira, a violência doméstica ainda é um
Desde meados da década de 1970, vem-se exacer- tema alarmante, estando presente em todas as classes
bando, no Brasil, o sentimento de medo e insegurança.
sociais, mas com uma frequência maior nas classes me-
Não parece infundado esse sentimento. As estatísticas
oficiais de criminalidade indicam, a partir dessa década, nos favorecidas, sendo a maior parcela das vítimas crian-
a aceleração do crescimento de todas as modalidades ças, mulheres e idosos.
 VOLUME ÚNICO

delituosas. Crescem mais rápido os crimes que envolvem


Com a formação social imersa num sistema arcaico de pa-
a prática de violência, como os homicídios, os roubos,
os sequestros, os estupros. Esse crescimento veio acom-
triarcado, o homem adulto pratica a maioria dos delitos,
panhado de mudanças substantivas nos padrões de cri- segundo as estatísticas oficiais. O perfil desse agressor é
minalidade individual bem como no perfil das pessoas caracterizado pelo autoritarismo, falta de empatia, irrita-
envolvidas com a delinquência. [...] Recente estudo so- bilidade, grosserias e xingamentos constantes, geralmente
bre as tendências do homicídio, para o país em seu con- acompanhado do uso de drogas lícitas e ilícitas.

96  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Com o objetivo de promover a proteção integral da criança
e do adolescente, surge, em 1990, o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA). E, com o objetivo de combater
a violência contra a mulher, foi aprovada a Lei Maria da
Penha, em 2006.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Rap News - Mc Sid. 2017
Essa canção retrata o excesso de notícias sobre atos vio-
lentos cometidos na sociedade brasileira.
multimídia: música
Podemos definir o extermínio como a prática ou o
Fonte: Vagalume propósito de eliminar fisicamente os indivíduos perten-
RACIONAIS MC’s - Álbum: Sobrevivendo centes a determinado grupo social. Quando o grupo
no Inferno. Casa Nostra, 1999. vítima dessa prática está definido por um critério ét-
nico, usa-se então o termo genocídio. [...] Na realida-
Nesse álbum, o grupo de rap Racionais apresenta o co- de brasileira, o extermínio se apresenta, por exemplo,
tidiano violento da população de baixa renda com as te- como uma prática contra criminosos, pessoas acusadas
máticas sobre o preconceito racial, a questão da violência de cometerem crimes ou, de forma mais ampla, grupos
nas periferias paulistas e a ligação com a religiosidade cujos integrantes são considerados como criminosos
para sobreviver a essa condição social. potenciais. Assim, ao invés de prender os suspeitos e
colocá-los à disposição da justiça criminal, eles são
sumariamente executados. Este padrão encaixa dentro
de uma tradição de controle social através da violência
1.3. Violência psicológica extrema, que encontra suas raízes históricas no trata-
mento dos escravos no período colonial. Os alvos deste
Podendo estar inserida também no âmbito da violência controle social violento são tradicionalmente os inte-
doméstica, inclui-se a violência psicológica, onde se destrói grantes dos grupos sociais mais desfavorecidos, isto
a moral e a autoestima do indivíduo, desencadeada por é, negros e pessoas de baixo status socioeconômico.
ações repetitivas de injúrias e humilhações. Por sua vez, indivíduos das classes médias e altas que
cometem crimes apresentam uma chance muito maior
de serem tratados conforme a lei, isto é, de serem sub-
1.4. Violência sexual metidos ao sistema de justiça criminal.
A violência sexual configura-se mediante abuso, violação CANO, Ignacio; DUARTE, Thais.
Práticas de extermínio: o papel das milícias no Rio
e assédio sexual, de modo que não existe consentimen- de Janeiro. In: Violência e Dilemas Civilizatórios.

to do ato de violação, sendo uma agressão focalizada na Campinas: Pontes Editores, 2011, pp.59-60
sexualidade da pessoa. Segundo as estatísticas, a maioria
das vítimas desse tipo de violência são mulheres e crian-
ças, onde o agressor geralmente é conhecido pela vítima.
Apesar de esse crime estar previsto na lei, infelizmente as
situações de violência sexual continuam a aumentar nas
últimas estatísticas na sociedade brasileira.
 VOLUME ÚNICO

Campanha da prefeitura de São Leopoldo-RS denuncia


a violência contra a mulher em 2018.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  97


DIAGRAMA DE IDEIAS

FORMAS DE
VIOLÊNCIA

URBANA PSICOLÓGICA

FRAGILIDADE DAS HUMILHAÇÕES


INSTITUIÇÕES

SEXUAL
DOMÉSTICA

ABUSOS
 VOLUME ÚNICO

DOMINAÇÃO
PATRIARCAL

98  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UEL) O desenvolvimento da civilização e de seus mo-
dos de produção fez aumentar o poder bélico entre os
1. (Unesp 2018) “O homem que agride mulher é aquele homens, generalizando no planeta a atitude de perma-
que levanta todo dia e sai para trabalhar. Frequenta gru- nente violência. No mundo contemporâneo, a formação
pos sociais corriqueiros, como reuniões de pais em esco- dos Estados nacionais fez dos exércitos instituições de
las. Ele se veste e age de forma socialmente aceita. Só defesa de fronteiras e fator estratégico de permanente
que, ao chegar em casa, comporta-se de forma violenta disputa entre nações. Nos armamentos militares se con-
para manter a qualquer custo o posto de autoridade má- centra o grande potencial de destruição da humanidade.
xima”, declara a magistrada Teresa Cristina dos Santos. Cada Estado, em nome da autodefesa e dos interesses
A juíza afirma que a violência contra a mulher é a única do cidadão comum, desenvolve mecanismos de contro-
forma democrática de violência. Vítimas e agressores são le cada vez mais potentes e ostensivos. O uso da força
encontrados em todos os segmentos da sociedade. Se- pelo Estado transforma-se em recurso cotidianamente
gundo pesquisadores da Universidade Federal de Santa utilizado no combate à violência e à criminalidade.
Catarina, a despeito de a maioria ter entre 25 e 30 anos COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade.
e baixa escolaridade, há agressores de todas as idades, São Paulo: Moderna, 1997. p. 283-285. (Adaptado)
condição financeira, nível de instrução e situação profis-
sional. De acordo com a juíza Teresa Cristina, o enfren- Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a
tamento da violência contra a mulher passa justamente concepção sociológica weberiana sobre o uso da força
por essa desmistificação de quem é o agressor. “Ao con- pelo Estado contemporâneo:
trário dos crimes comuns, a violência contra a mulher é a) A força militar contemporânea, por seu poder de
uma questão cultural”. persuasão e atributos personalísticos, é um agente
exemplar do tipo de dominação carismática.
(Adriana Nogueira. “Violência contra a mulher vem do homem comum e
pode atingir qualquer uma”. www.uol.com.br, 26.09.2017. Adaptado.)
b) Na sociedade contemporânea, o poder comparti-
lhado entre cidadãos e Estado, para o uso da força,
A partir do texto, a violência contra a mulher na socie- define a dominação legítima do tipo racional-legal.
dade brasileira c) O Estado contemporâneo caracteriza-se pela frag-
a) tem como causa principal a má distribuição de ren- mentação do poder de força, conforme o tipo ideal de
da que afeta as classes populares. dominação carismática, a exemplo do patriarca.
b) é um fenômeno associado ao autoritarismo de re- d) O Estado contemporâneo define-se pelo direito de
gimes políticos de exceção. monopólio do uso da força, baseado na dominação
c) é consequência direta de comportamentos impulsi- legítima do tipo racional-legal.
vos de natureza patológica. e) O tipo ideal de dominação tradicional é exercido
d) é um problema decisivamente associado ao signifi- com base na legitimidade e na legalidade do poder de
cado cultural da masculinidade. uso democrático da força pelo Estado contemporâneo.
e) tem origem inata, não sendo condicionada por fa- 4. (USF 2018) “Estamos alarmados pela proliferação e
tores culturais ou sociais. a saliência que ganharam os grupos que promovem o
racismo e ódio. Atos e discursos desse tipo devem ser
2. (Unicamp)
condenados sem panos quentes, e os crimes de ódio,
Sinto no meu corpo investigados e seus autores, punidos [...].”
A dor que angustia Disponível em:<http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/
A lei ao meu redor noticia/2017-08/especialistas-da-onu-advertem-que-racismo-aumenta-
A lei que eu não queria nos-estados-unidos>. Acesso em: 20/09/2017 (Adaptado).
Estado violência
Estado hipocrisia O trecho anterior aparece como destaque quando es-
A lei que não é minha pecialistas da ONU tratam do aumento do racismo e da
A lei que eu não queria xenofobia nos Estados Unidos. Com base no assunto tra-
tado, é coerente a ação do Poder Público no sentido de
“Estado Violência”, Charles Gavin, em Titãs,
Cabeça Dinossauro, WEA, 1989. a) adotar medidas efetivas para conter a violência e
aprimorar as leis trabalhistas, de modo que as mani-
A letra dessa música, gravada pelos Titãs: festações sejam extintas.
a) Critica a noção de Estado e sua ausência de con- b) adotar medidas para conter, de forma urgente e
trole, aspectos comuns ao liberalismo e ao marxismo. eficiente, as manifestações que provocam a violência
 VOLUME ÚNICO

b) Constata que o corpo físico e o corpo político se racial e comprometem a coesão social.
relacionam em sociedades de controle. c) impor leis que promovam a punição e o retorno dos
c) Critica o autoritarismo policial e o modelo de regu- alicerces da solidariedade das sociedades antigas.
lação proposto pelo anarquismo. d) estabelecer um sistema autoritário de governo
d) Constata que o Estado autoritário, mesmo com como forma de controlar as insurgências sociais.
boas leis, é sabotado pela figura do policial. e) estabelecer maior vínculo entre os partidos para ten-
tar minimizar o aumento do racismo e da xenofobia.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  99


5. (Enem) A oposição entre campo e cidade esteve entre as te-
máticas Tradicionais da literatura brasileira. Nos frag-
Olá! Negro mentos dos dois autores contemporâneos, esse embate
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos incorpora um elemento novo: a questão da violência e
e a quarta e a quinta gerações de teu san- do desemprego. As narrativas apresentam confluências,
gue sofredor tentarão apagar a tua cor! pois nelas o(a):
E as gerações dessas gerações quando apa-
garem a tua tatuagem execranda, a) criminalidade é algo inerente ao ser humano, que
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro! sucumbe a suas manifestações.
Pai-João, Mãe-negra, Fulo, Zumbi, b) meio urbano, especialmente o das grandes cidades,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde estimula uma vida mais violenta.
negro cabinda, negro congo, negro ioruba, c) falta de oportunidades na cidade dialoga com a
negro que foste para o algodão de USA pobreza do campo rumo à criminalidade.
para os canaviais do Brasil, d) êxodo rural e a falta de escolaridade são causas da
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga violência nas grandes cidades.
de todos os senhores do mundo; e) complacência das leis e a inércia das personagens
eu melhor compreendo agora os teus blues são estímulos à prática criminosa.
nesta hora triste da raça branca, negro! 7. (PUC-PR) Reflexões sobre gênero e direitos humanos
Olá, Negro! Olá, Negro! a partir do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
Resumo: O presente trabalho, considerando a intersec-
LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento). ção entre gênero e direitos humanos, pretende abordar
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, a linha de atuação voltada para o enfrentamento de
na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por: todas as formas de violência contra as mulheres, exis-
tente junto ao Plano Nacional de Políticas Para as Mu-
a) modernização dos modos de produção e conse-
lheres (BRASIL, 2006a, 2008a, 2013). Para tanto, oferece
quente enriquecimento dos brancos.
uma análise sobre cada versão do referido documento,
b) preservação da memória ancestral e resistência ne- avaliando a relação entre o Estado e as demandas de
gra a apatia cultural dos brancos. garantia de direitos humanos das mulheres. Pode-se di-
c) superação dos costumes antigos por meio da incor- zer que as políticas públicas na perspectiva dos direitos
poração de valores dos colonizados. humanos estão em um campo que ainda está em cons-
d) nivelamento social de descendentes de escravos e trução (VÁZQUEZ; DELAPLACE, 2004). As políticas pú-
de senhores pela condição de pobreza. blicas se somam às políticas elaboradas pela Lei Maria
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacu- da Penha (BRASIL, 2006b) e são estruturadas de acordo
nas de hereditariedade. com diferentes normas e instrumentos nacionais e in-
ternacionais de direitos humanos, visando à resolução
6. (Enem) da problemática da violência contra mulher. Contudo,
TEXTO I esse fenômeno segue como uma incógnita, presente
não somente no Brasil, como em vários países dotados
João Guedes, um dos assíduos frequentadores do bo- de diferentes sistemas econômicos e políticos.
liche do capitão, mudara-se da campanha havia três Palavras-chave: Gênero. Direitos humanos. Políticas públicas.
anos. Três anos de pobreza na cidade bastaram para o GREGORI, Juciane de. Revista interdisciplinar de direitos humanos.
degradar. Ao morrer, não tinha um vintém nos bolsos e Unesp - Bauru, v. 4, n. 2, p. 111-126, jul./dez., 2016 (7). Disponível
em: http://www2.faac.Unesp.br/ridh/index.php/ridh/issue/view/13.
fazia dois meses que saíra da cadeia, onde estivera pre-
so por roubo de ovelha. A história de sua desgraça se Indique a alternativa que contém uma afirmação verda-
confunde com a da maioria dos que povoam a aldeia de deira a respeito do conteúdo do texto:
Boa Ventura, uma cidadezinha distante, triste e preco-
a) Gregori apresenta a conclusão de um estudo reali-
cemente envelhecida, situada nos confins da fronteira
zado por ela a respeito das políticas públicas interna-
do Brasil com o Uruguai.
cionais relacionadas à violência contra a mulher.
MARTINS, C. Porteira fechada. Porto Alegre: b) O título do texto em questão, além de indicar o ob-
Movimento, 2001 (fragmento). jeto de análise do estudo realizado, fornece um indica-
TEXTO II tivo sobre a conclusão a que a pesquisadora chegou.
c) Nesse estudo, a pesquisadora avaliou a trajetória do
Comecei a procurar emprego, já topando o que desse Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, documen-
e viesse, menos complicação com os homens, mas não to elaborado por um órgão público da esfera federal.
 VOLUME ÚNICO

tava fácil. Fui na feira, fui nos bancos de sangue, fui nes- d) Nesse estudo, Gregori comparou uma das versões
ses lugares que sempre dão para descolar algum, fui de do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres com
porta em porta me oferecendo de faxineiro, mas tava a Lei Maria da Penha.
todo mundo escabreado pedindo referências, e referên- e) O estudo realizado por Gregori revelou que nos
cias eu só tinha do diretor do presídio. países cujos sistemas econômicos e políticos são di-
FONSECA, R. Feliz Ano Novo. São Paulo: ferentes da realidade brasileira, as políticas públicas
Cia. Das Letras, 1989 (fragmento). para defesa da mulher são mais eficazes.

100  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


8. (Enem) Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No a) a ação dos poderes públicos no trato da questão
princípio. As mulheres, principalmente as mortas do ál- social estava centrada na supressão dos desníveis
bum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos entre as classes sociais, condição básica para a emer-
ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa gência do Brasil industrializado.
família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na b) a herança colonial da estrutura social brasileira
nossa família, frisava, lançando em redor olhares com- conduzia o poder estatal a reconhecer como legítimas
placentes, lamentando os que não faziam parte do nos- as lutas das classes populares no questionamento da
so clã. [...] Quando Margarida resolveu contar os podres estrutura política oligárquica vigente.
todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei c) o combate às “classes perigosas” obrigava os pode-
furiosa [...] É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvi- res públicos à implementação de políticas de geração e
dos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se distribuição de renda, reduzindo, assim, a influência do
casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, Partido Comunista Brasileiro junto aos pobres.
não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquís- d) o desemprego e a criminalidade referidos às classes
sima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque populares eram vistos pelos poderes públicos, menos
sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, como questão social e mais como questão de polícia,
ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o dentro de uma concepção restritiva de cidadania.
convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem e) a repressão policial restringia-se aos desemprega-
mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margari- dos e subempregados, pois os trabalhadores assala-
da fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violên- riados eram protegidos por uma legislação trabalhista
cia: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. que garantia, por exemplo, aposentadoria e descanso
Como ousava desmoralizar meus heróis? remunerado.
TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. 10. (Enem)
Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de


Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos
sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar des-
cortina um(a):
a) convivência frágil ligando pessoas financeiramente
dependentes.
b) tensa hierarquia familiar equilibrada graças à pre-
sença da matriarca.
c) pacto de atitudes e valores mantidos à custa de
ocultações e hipocrisias.
d) tradicional conflito de gerações protagonizado
pela narradora e seus tios.
e) velada discriminação racial refletida na procura de
casamentos com europeus.

9. (UEL 2005) “A legislação penal do fim do século XIX de-


terminava: a ociosidade era considerada ‘crime’ e, como Essa propaganda foi criada para uma campanha de
tal, punida. Reconhecida e legitimada abertamente, a conscientização sobre a violência contra a mulher. As
prática da repressão aos desempregados e subemprega- palavras que compõem a imagem indicam que a:
dos – os pobres – ficava clara no discurso dos responsá-
a) violência contra a mulher está aumentando.
veis pela segurança pública e pela ordem nas cidades. O
b) agressão à mulher acontece de forma física e verbal.
controle social dessas camadas deveria ser realizado de
c) violência contra a mulher é praticada por homens.
forma rígida. Sidney Chalhoub afirma que os legislado-
res brasileiros utilizam o termo ‘classes perigosas’ como d) agressão à mulher é um fenômeno mundial.
sinônimo de ‘classes pobres’, e isso significa dizer que o e) violência contra a mulher ocorre no ambiente do-
fato de ser pobre o torna automaticamente perigoso à méstico.
sociedade [...]. A existência do crime, da vagabundagem 11. (Unesp)
e da ociosidade justificava o discurso de exclusão e per-
seguição policial às camadas pobres e despossuídas”. TEXTO 1
 VOLUME ÚNICO

PEDROSO, Regina Célia. Violência e cidadania no Brasil:


500 anos de exclusão. São Paulo: Ática, 2002. p. 24 “A amígdala cerebral e o córtex pré-frontal são regiões
do cérebro reguladoras de emoções como culpa, remor-
O texto acima discute a configuração das classes sociais so e medo de punição. Duas pesquisadoras americanas
no Brasil, tomando como referência as questões da ci- estão revolucionando a comunidade científica ao afir-
dadania e da violência. Com base no texto e nos conhe- marem que, estudando essas duas importantes áreas, é
cimentos sobre o tema, é correto afirmar que, no final possível identificar em crianças de 3 anos se elas apre-
do século XIX, no Brasil: sentam riscos de se tornarem criminosas quando adul-

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  101


tas. Segundo os cientistas Adrian Raine, da Universidade
da Pensilvânia, e Nathalie Fontaine, da Universidade de
Indiana, o cérebro de psicopatas exibe amígdalas 20%
menores do que as do cérebro de um não criminoso”.
IstoÉ, 16.03.2011 (Adaptado)

TEXTO II

“Criminalidade é efeito, é forma perversa de protesto,


gerada por uma patologia social que a antecede e que
é, também ela, perversa. Sem os filtros despoluidores
da justiça social e da decência política, toda e qualquer
medida contra o crime, por mais violenta e repressiva
que seja, constituirá mero recurso paliativo. É claro que
a criminalidade, enquanto sintoma, tem de ser adequa-
damente combatida por medidas policiais enérgicas.
Mas que não se fique nisso, já que o puro e simples
combate ao efeito não remove – nem resolve – a causa
que o produz. Ao contrário: a luta isolada contra o efei-
to pode tornar-se danosa e perversa, uma vez que, des-
truindo sua função alertadora e denunciadora, provoca
uma cegueira perigosa, que aprofunda a raiz do mal”.
Hélio Pelegrino. Texto publicado em 1986 (Adaptado)

Explique uma diferença de abordagem entre os dois


textos sobre os fatores determinantes da violência,
bem como uma diferença no que se refere à concepção
de meios para evitá-la.

Gabarito
1. D 2. B 3. D 4. B 5. B

6. C 7. C 8. C 9. D 10. B
11. Quanto às soluções, os pontos de vista apresentados nos
dois textos são claramente conflitantes. Enquanto os pesquisa-
dores do texto I procuram explicar o fenômeno da violência por
elementos neurológicos, constituintes da própria natureza do cri-
minoso, o texto II, por sua vez, trata a violência como um efeito
colateral dos problemas sociais enfrentados em nosso tempo,
vendo-a, por tanto, como um elemento cultural e não natural. Aí,
aliás, encontra-se precisamente o cerne, o ponto central para a
resposta daquilo que é solicitado na questão.
 VOLUME ÚNICO

102  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A QUESTÃO Simone de Beauvoir, na obra O segundo sexo (1949), faz uma
profunda análise sobre o papel designado à mulher dentro
DE GÊNERO da sociedade e sobre a construção do que é ser mulher, es-
tabelecendo uma importante distinção entre os conceitos de

CH
gênero e sexo que a leva a sua clássica conclusão: “Ninguém
nasce mulher: torna-se mulher”. Beauvoir acrescenta: “Ne-
COMPETÊNCIA(s) nhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma
1, 2, 3, 4 e 5 que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o con-
junto da civilização que elabora esse produto intermediário
HABILIDADE(s) entre o macho e o castrado, que qualificam de feminino”.
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

15
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: livro

Mulheres do Brasil: a história não contada -


1. Introdução Paulo Rezzutti. São Paulo: Leya, 2018.
Partindo da constatação de que existe um padrão recor-
A sociedade vem modificando a sua abordagem em relação rente que apaga, deturpa ou diminui a participação das
à questão de gênero. A relação entre os indivíduos no agru- mulheres nos grandes episódios que marcaram a traje-
pamento social é desenvolvida e naturalizada mediante as tória do país, o pesquisador Paulo Rezzutti se propôs a
ações coletivas. narrar a história não contada das mulheres do brasil. Des-
de o descobrimento, passando pela escravidão, capitanias
hereditárias, guerras, revoltas e batalhas, até a atuação
nos campos das artes e política, ele resgata narrativas in-
críveis e figuras extraordinárias sobre as quais sabíamos
pouco ou sequer tínhamos ouvido falar, mas que tiveram
relevância nos mais variados períodos históricos.

Assim, a questão do gênero está fundada nos fatores so-


No pensamento sociológico, é amplamente aceita a distin- ciais que legitimam determinadas visões de mundo, que são
ção entre sexo e gênero. Sexo concerne ao conjunto de ca- responsáveis por criar comportamentos e hábitos das mu-
racterísticas fisiológicas e anatômicas que definem o corpo lheres e homens na sociedade, desenvolvendo condutas de
masculino e o corpo feminino, situando-se no âmbito na gêneros, determinando um padrão específico e classificando
biologia. Já o gênero refere-se às diferenças sociais, cul- a subjetividade da pessoa. Essas condutas sofrem modifica-
ções ao longo do tempo.
turais e psicológicas entre homens e mulheres, sendo so-
cialmente produzidas, situando-se no âmbito sociocultural.
Portanto, o gênero corresponde ao conjunto de caracte-
rísticas sociais, culturais, políticas, psicológicas, jurídicas e
econômicas que a sociedade atribui ao que considera mas-
culino ou feminino.
 VOLUME ÚNICO

Assim, o sujeito não nasce pronto ou determinado, esse


condicionamento social naturaliza as nossas relações, por
meio da educação formal ou informal, dos valores de juízo,
construindo o que é ser homem ou o que é ser mulher na
sociedade, como as relações entre ambos devem ser, quais
são os seus papéis no meio social.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  103


com as mulheres ganhando salários inferiores aos homens.
Apesar do surgimento de leis, no início do século XXI, que
proíbem essa prática nas empresas, essa condição de desi-
gualdade de gênero continua presente na sociedade atual.
O papel da sociologia na questão do gênero é observar
como as sociedades se modificam; mas essa ciência não
multimídia: livro pode ser omissa em relação ao desrespeito ao ser humano.
Considerando que, independentemente dos gêneros, todos
os integrantes da sociedade precisam ser reconhecidos e res-
Do jeito que a gente é - Marcia Leite. peitados pelas regras jurídicas dessa sociedade.
São Paulo: Editora Ática, 2009.
Beá é uma menina de 14 anos que detesta sua aparên-
cia: é muito alta e magra. Além disso, vive em crise com 1. Margaret Mead (1901-1978)
sua mãe, que quer fazer dela uma perua. Chico é um ga- A antropóloga cultural estadunidense Margaret Mead de-
roto de 17 anos apaixonado por cinema. O melhor ami- dicou seus estudos a essa temática do gênero. Em seu li-
go reagiu mal quando ele lhe contou que é gay. Apesar vro Sexo e temperamento em três sociedades primitivas, de
de caminhos tão distintos, as vidas de Beá e Chico vão 1935, Mead discute os papéis sexuais de homens e mulhe-
se cruzar quando a mãe dela e o pai dele resolvem se res naquelas sociedades. Em sua pesquisa, foram analisa-
casar. Agora os dois têm a mesma dúvida: será que vai das as três sociedades primitivas da Nova Guiné, que eram:
ser tão ruim quanto parece? Tchambuli, Mundugumor e Arapesh.

Durante o período neolítico, as definições de masculino e fe-


minino começaram a surgir. Nas sociedades agrícolas, ocor-
reu uma divisão sexual voltada para a divisão do trabalho,
colocando a mulher na posição de cuidar, pela capacidade
reprodutora da mulher, enquanto o homem desenvolvia tra-
balhos mais relacionados à força física, consolidando uma
sociedade patriarcal, ou seja, fundada na figura masculina.

Em suas pesquisas, concluiu que o ideal Arapesh é o ho-


mem dócil e suscetível, enquanto para Mundugumor o ho-
mem e a mulher são mais violentos e agressivos, e para os
multimídia: vídeo Tchambuli, o papel da mulher é o de controladora, enquan-
Fonte: Youtube to o homem é totalmente dependente. Diante disso, a an-
tropóloga constatou que os papéis sexuais são construídos
MILK - A voz da igualdade - Estados Unidos, 2009.
de acordo com as expectativas e as suas relações entre si.
O premiado filme norte-americano relata a história
verdadeira de Harvey Milk, um político e ativista gay
que foi o primeiro homossexual declarado a ser eleito
para um cargo público na Califórnia, como membro da
Câmara de Supervisores de São Francisco. Milk iniciou
seu ativismo opondo-se à violência policial contra a
comunidade gay. O filme pode servir como um dispa-
 VOLUME ÚNICO

rador para debater a questão da luta pelos direitos


humanos e civis da comunidade LGBTTIQ.
multimídia: livro

Sexo e Temperamento em três sociedades primitivas


Na Revolução Industrial, a dinâmica social se transforma; po-
- MEAD, Margaret. Espanha: Paidos, 2006.
rém, a desigualdade entre homens e mulheres só aumenta,

104  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


O pensamento de Mead teve um papel crucial na progres-
siva liberação sexual que ocorreria no Ocidente nas déca-
das finais do século XX.

1.1. A identidade de gênero


multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Tomboy - França, 2012 (82 min).
Em uma cidade do interior da França, Laure, 10 anos,
muda com sua família, durante as férias de verão, para
um novo bairro. Laure passa os dias brincando com
multimídia: música sua irmã mais nova, ao lado do pai e da mãe, grávi-
Fonte: Youtube da de um irmãozinho. Aos poucos, vai se enturmando
Masculino e Feminino - Pepeu Gomes. com as outras crianças do condomínio, dedicadas a
Álbum: Masculino e Feminino. CBS,1983. uma rotina de brincadeiras e descobertas. Tudo perfei-
to se não fosse por um detalhe: Laure não se identifica
O gênero masculino contém, então, vários dados do
como menina, mas como menino e se apresenta aos
feminino, assim como o gênero feminino adere a ele-
novos colegas como Michael. Os pais, ainda que bas-
mentos do masculino. Dessa forma, é possível que um
tante afetuosos, não conseguem lidar com a comple-
corpo denominado feminino possa sinalizar gestos
xidade da situação.
apresentados como masculino em uma determinada
cultura. Tais identidades de gênero se manifestam
também em corpos de homens femininos e de mu- Podemos nos identificar conforme os diversos gêneros: fe-
lheres masculinas. minino, masculino, bigênero, não binário, pangênero, gen-
derfluid, transgênero, etc.
A identidade de gênero é a maneira como alguém se sen- Os que se propõem a codificar os sentidos das palavras
lutam por uma causa perdida, porque as palavras, como
te e se apresenta para si e para as demais pessoas. Esse
as ideias e as coisas que elas significam, têm uma histó-
reconhecimento está presente nas nossas ações, no nosso ria. Nem os professores da Oxford nem a academia Fran-
modo de falar e de vestir. cesa foram inteiramente capazes de controlar a maré, de
captar e fixar os sentidos livres do jogo da invenção e da
imaginação humana. Mary Wortley Montagu acrescen-
tava a ironia à sua denúncia do “belo sexo” (“meu único
consolo em pertencer a este gênero é ter certeza de que
nunca vou me casar com uma delas”) fazendo uso, deli-
beradamente errado, da referência gramatical. Ao longo
dos séculos, as pessoas utilizaram de forma figurada os
termos gramaticais para evocar traços de caráter ou tra-
ços sexuais. Por exemplo, a utilização proposta pelo Di-
multimídia: vídeo cionário da Língua Francesa de 1876, era: “Não se sabe
Fonte: Youtube qual é o seu gênero, se é macho ou fêmea, fala-se de um
homem muito retraído, cujos sentimentos são desconhe-
XXY - Argentina, 2006 (86 min).
cidos”. E Gladstone fazia esta distinção em 1878: “Ate-
Essa produção argentina conta a história de Alex, uma na não tinha nada do sexo, a não ser gênero, nada de
adolescente intersex de 15 anos, cujos pais decidem mulher a não ser forma”. Mais recentemente – recen-
se isolar em uma pequena cidade, logo após seu nas- temente demais para que possa encontrar seu caminho
cimento. Com traços fenotípicos predominantemente nos dicionários ou na enciclopédia das ciências sociais
 VOLUME ÚNICO

– as feministas começaram a utilizar a palavra “gênero”


femininos, Alex possui, entretanto, genitais masculinos.
mais seriamente, no sentido mais literal, como uma ma-
Seus conflitos de identidade permanecem sob controle neira de referir-se à organização social da relação entre
até entrar na adolescência e interessar-se por um rapaz. os sexos. A relação com a gramática é ao mesmo tempo
Alex inicia, então, um processo de busca por sua identi- explícita e cheia de possibilidades inexploradas. Explíci-
dade e descobertas relacionadas a sua sexualidade. ta, porque o uso gramatical implica em regras formais
que decorrem da designação de masculino ou feminino;

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  105


cheia de possibilidades inexploradas, porque em vários sublinhava também o aspecto relacional das definições
idiomas indoeuropeus existe uma terceira categoria – normativas das feminilidades. As que estavam mais pre-
o sexo 3 indefinido ou neutro. Na gramática, gênero é ocupadas com o fato de que a produção dos estudos
compreendido como um meio de classificar fenômenos, femininos centrava-se sobre as mulheres de forma mui-
um sistema de distinções socialmente acordado mais do to estreita e isolada, utilizaram o termo “gênero” para
que uma descrição objetiva de traços inerentes. Além introduzir uma noção relacional no nosso vocabulário
disso, as classificações sugerem uma relação entre ca- analítico. Segundo esta opinião, as mulheres e os ho-
tegorias que permite distinções ou agrupamentos sepa- mens eram definidos em termos recíprocos e nenhuma
rados. No seu uso mais recente, o “gênero” parece ter compreensão de qualquer um poderia existir através de
aparecido primeiro entre as feministas americanas que estudo inteiramente separado.
queriam insistir no caráter fundamentalmente social das
distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma SCOTT, Joan.
rejeição ao determinismo biológico implícito no uso de Gênero: Uma categoria útil para análise
termos como “sexo” ou “diferença sexual”. O gênero histórica. Artigo publicado em 1986.

DIAGRAMA DE IDEIAS

A QUESTÃO ESSA IDENTIDADE


DE GÊNERO NÃO SE LIMITA À
FORMA BIOLÓGICA

A SOCIEDADE
VEM SOFRENDO MAS É CONSTITUÍDA
MODIFICAÇÕES SOCIALMENTE

O INDIVÍDUO QUER
SER RESPEITADO
EM GRUPO

SEM PERDER A
SUA IDENTIDADE
 VOLUME ÚNICO

106  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) em cada um deles. É fato público e notório, além de
empiricamente comprovado, que as mulheres estão em
1. (UEG 2021) Nas diferentes discussões sobre transexua- geral sub representadas nos órgãos do poder, pois a pro-
porção não corresponde jamais ao peso relativo dessa
lidade, há evidências das bases biológicas nas tendências
parte da população.
da condição transgênero desde a primeira infância; toda-
via, a transexualidade é um assunto complexo, polêmico TABAK, F. Mulheres públicas: participação política e poder.
e de irrefutável interesse, seja de saúde pública, seja do Rio de Janeiro: Letra Capital, 2002.
sistema educacional prestado à população. Os fragmen- No âmbito do Poder Legislativo brasileiro, a tentativa de
tos a seguir mostram exemplos de como esse tema se reverter esse quadro de sub-representação tem envolvi-
contextualiza no ensino superior no estado de Goiás. do a implementação, pelo Estado, de:
Transexualidade no ensino superior em Goiás a) leis de combate à violência doméstica.
Visão do gestor Visão docente Visão discente b) cotas de gênero nas candidaturas partidárias.
“Seria um descompasso “Mulher trans/travesti, “Lá na Universidade
c) programas de mobilização política nas escolas.
se nossa Universidade monocular, pai e avó” todos usam nossos d) propagandas de incentivo ao voto consciente.
não assegurasse à po- nomes sociais. Com e) apoio financeiro às lideranças femininas.
Mestra em Educação,
pulação trans o direito exceção de uma
ela defendeu em
de se colocar enquanto ou outra pessoa, 3. (Enem PPL) No Brasil, assim como em vários outros
março de 2020 a
pessoas com um nome principalmente
dissertação intitulada: países, os modernos movimento LGBT representam um
e uma identidade de professores novos,
gênero que precisam mas, mesmo esses, desafio às formas de condenação e perseguição social
Tia, você é homem?
ser respeitados. É Trans da/na quando conversamos, contra desejos e comportamentos sexuais anticonven-
dever da UEG trabalhar educação: Des(a) passam a utilizar cionais associados à vergonha, imoralidade, pecado, de-
para a construção de fiando “sistemas” o nome correto.” generação, doença. Falar do movimento LGBT implica,
uma sociedade mais e ocupando a portanto, chamar a atenção para a sexualidade como
justa e igualitária.” Pós-Graduação
fonte de estigmas, intolerância, opressão.
Prof. Haroldo Reimer, Profa. Sara Wagner Eduarda, aluna
então reitor da York, docente na UERJ transgênero da UEG In: BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L.M. Cidadania, um projeto em
UEG (2015). e natural de Goiás. em Formosa (2015). construção. São Paulo: Claro Enigma, 2012 (adaptado).

Disponível em: www.ueg.br/noticia/todas. O movimento social abordado justifica-se pela defesa do


Acesso em: 29 out. 2020.
direito de:
Disponível em: http://lattes.cnpq.br/9084306265158131.
a) organização sindical.
Acesso em: 29 out. 2020
b) participação partidária.
Na relação científica entre a temática e a saúde pública, c) manifestação religiosa.
entende-se que d) formação profissional.
e) afirmação identitária.
a) para erradicar o tratamento de transexuais como “não
humanos”, o acolhimento dessas pessoas foi delegado 4. (UEM-PAS) “O gênero é uma dimensão central da vida
às instituições religiosas, em especial as de matriz africa- pessoal, das relações sociais e da cultura. É uma arena
na, como as Casas de Mãe de Santo. em que enfrentamos questões práticas difíceis no que diz
b) as políticas de promoção da equidade e respeito às respeito à justiça, à identidade e até à sobrevivência.”
identidades de gênero trans reconhecem que compete CONNELL, R. Gênero: uma perspectiva global.
ao paciente com transexualismo obter financiamento São Paulo: Versos, 2015, p. 25.
para os processos transexualizadores.
Considerando o trecho citado e os estudos sociológicos
c) o desacordo entre a identidade de gênero e o sexo
contemporâneos sobre as relações de gênero, assinale
biológico é característico da transexualidade, enquanto
o que for correto:
a genitália ambígua ou expressão de condição física si-
milar ocorre na intersexualidade. 01) A noção de gênero na sociologia contemporânea
d) sexo designa a temática de estudo relacionada ao coi- refere-se às diferentes formas pelas quais as relações
to e correlata à reprodução humana, enquanto gênero sociais são organizadas a partir de determinadas ex-
é determinado pela presença de estruturas biológicas e pectativas culturalmente construídas sobre o compor-
tamento das pessoas.
corporais, como as genitálias.
02) A violência sexual, as diferenças salariais e o ma-
e) o SUS aguarda pela criação da Política Nacional de
chismo são alguns exemplos apontados pela sociologia
Saúde Integral de LGBT, apesar de o Art. 196 da Consti-
 VOLUME ÚNICO

contemporânea sobre o modo pelo qual as desigualda-


tuição Federal de 1988 prever que a saúde é direito de
des de gênero se manifestam socialmente, diferenciando
todos e dever do Estado.
pessoas e hierarquizando as relações sociais.
2. (Enem) A participação da mulher no processo de deci- 04) As teorias sociológicas feministas atuais são unâ-
são política ainda é extremamente limitada em pratica- nimes em afirmar que o sexo, assim como o corpo
mente todos os países, independentemente do regime biológico, são fatos da natureza que o homem deve
econômico e social e da estrutura institucional vigente aceitar e preencher pessoalmente de significado.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  107


08) De acordo com as teorias sociais contemporâne- Para se entender as motivações para o desenvolvimen-
as, as questões que envolvem desigualdades de gê- to de uma política pública como a descrita, é necessário
nero são exclusivas das mulheres, por isso os homens saber que:
devem se retirar desse debate e deixar que elas resol- a) o sexo determina a conduta social dos indivíduos.
vam os seus problemas. b) não há uma definição biológica para o conceito de sexo.
16) No pensamento sociológico contemporâneo, os c) o gênero é uma construção social.
estudos sobre as diferentes identidades de gênero ex-
d) as diferenças de gênero são definidas geneticamente.
pressam os modos plurais pelos quais as pessoas cons-
troem a sua sexualidade e a si mesmas. 7. (UNISC) “Gênero é o conceito corrente utilizado para
designar os modos de classificar as pessoas como per-
5. (Enem) tencentes a mundos sociais, a princípio, organizados pe-
Texto I las diferenças de sexo. A expressão identidade de gênero
alude à forma como um indivíduo se percebe e é percebi-
do pelos outros como masculino ou feminino, de acordo
com os significados que estes termos têm na cultura a
que pertence. (...). Possuir um sexo biológico,no entanto,
não implica automaticamente uma identificação com as
convenções sociais de um determinado contexto, no que
concerne a ser homem ou mulher.”
ZAMBRANO, E; HEILBORN, M.L. Identidade de
gênero. In: LIMA, Antonio Carlos de Souza (Coord.).
Antropologia & direito: temas antropológicos para estudos
jurídicos. Rio de Janeiro: ABA, 2012, p. 412.

Considerando a citação acima analise as afirmativas a


seguir:
Tradução: “As mulheres do futuro farão da Lua um I. A identidade de gênero é definida pelo sexo biológico.
lugar mais limpo para se viver”. Disponível em: www.
propagandashistoricas.com.br. Acesso em: 16 out. 2015. II. Os tipos de roupa que deve vestir, os comportamen-
tos e sentimentos de pertencimento associados a um
Texto II – METADE DA NOVA EQUIPE DA NASA É COM- determinado gênero definem a identidade de gênero.
POSTA POR MULHERES III. Possuir um sexo biológico não implica automatica-
mente uma identificação com as convenções sociais de
Até hoje, cerca de 350 astronautas americanos já esti- ser homem ou mulher.
veram no espaço, enquanto as mulheres não chegam a
IV. A partir da citação acima podemos inferir que a iden-
ser um terço desse número. Após o anúncio da turma
tidade de gênero não é construída socialmente.
composta 50% por mulheres, alguns internautas escre-
veram comentários machistas e desrespeitosos sobre a Assinale a alternativa correta:
escolha nas redes sociais. a) Somente a afirmativa II está correta.
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
Disponível em: <https://catracalivre.com.br>.
Acesso em: 10 mar. 2016. c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
A comparação entre o anúncio publicitário de 1968 e a e) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
repercussão da notícia de 2016 mostra a:
a) elitização da carreira científica. 8. (UEM) Considerando os estudos contemporâneos so-
bre sexualidade e diversidade sexual nas ciências so-
b) qualificação da atividade doméstica.
ciais, assinale o que for correto:
c) ambição de indústrias patrocinadoras.
01) É consenso entre cientistas, juristas e sociólogos que
d) manutenção de estereótipos de gênero.
a homossexualidade é um problema psicológico e, por-
e) equiparação de papéis nas relações familiares. tanto, não possui conexões com fenômenos de ordem
6. (UFU) A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) li- social.
berou nesta quarta-feira (25) o uso de todos os banheiros 02) Para a sociologia, a sexualidade, apesar de forte-
da instituição por qualquer pessoa, conforme o gênero mente associada à experiência individual, pode também
com que se identifica. A iniciativa se deu pela adoção ser analisada sob uma perspectiva político-cultural.
 VOLUME ÚNICO

da campanha “Libera meu xixi”, voltada ao combate da 04) As defesas política e jurídica de certas formas de
transfobia em espaços públicos. Nos próximos dias, ba- expressão da sexualidade como “normais” e de outras
nheiros de todo o campus receberão uma placa com a como “anormais” naturalizam as primeiras como nor-
frase “Aqui você é livre para usar o banheiro correspon- mas sociais e associam a elas práticas e valores positivos,
dente ao gênero com que se identifica”. ao mesmo tempo em que inferiorizam outras possibili-
Disponível em: <http://www.ufjf.br/secom/2015/11/25/libera-meu- dades de expressão sexual.
xixi-ufjf-lanca-campanha-em-prol-do-respeito-a-diversidade/>. 08) Para o pensamento sociológico, gênero é uma

108  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


determinação fisiológica e, portanto, todos os aspectos a passionais, temperamentais, vaidosas.
ele relacionados só têm significado biológico. e) Homens e mulheres são morfologicamente diferentes,
16) A homofobia é uma prática discriminatória que pro- portanto, apresentam diferenças de temperamento e de
duz e legitima diferentes formas de violência contra gru- aprendizado, uns sendo mais aptos para algumas tarefas
pos sexuais em situação de desvantagem civil ou social. sociais e papéis sociais que outros.
9. (Enem) O anúncio publicitário da década de 1940 11. (Enem) “Pecado nefando” era expressão corren-
reforça os seguintes estereótipos atribuídos historica- temente utilizada pelos inquisidores para a sodomia.
mente a uma suposta natureza feminina: Nefandus: o que não pode ser dito. A Assembleia de
clérigos reunida em Salvador, em 1707, considerou a
sodomia “tão péssimo e horrendo crime”, tão contrário
à lei da natureza, que “era indigno de ser nomeado” e,
por isso mesmo, nefando.
NOVAIS, F.; MELLO E SOUZA L. História da vida privada no
Brasil. V. 1. São Paulo: Companhia das Letras. 1997 (Adaptado).

O número de homossexuais assassinados no Brasil bateu


o recorde histórico em 2009. De acordo com o Relatório
Anual de Assassinato de Homossexuais (LGBT – Lésbicas,
Gays, Bissexuais e Travestis), nesse ano foram registrados
195 mortos por motivação homofóbica no País.
Disponível em: www.alemdanoticia.com.br/utimas_noticias.
php?codnoticia=3871. Acesso em: 29 abr. 2010 (Adaptado).
a) Pudor inato e instinto maternal. A homofobia é a rejeição e menosprezo à orientação
b) Fragilidade física e necessidade de aceitação. sexual do outro e, muitas vezes, expressa-se sob a for-
c) Isolamento social e procura de autoconhecimento. ma de comportamentos violentos. Os textos indicam
d) Dependência econômica e desejo de ostentação. que as condenações públicas, perseguições e assassina-
e) Mentalidade fútil e conduta hedonista. tos de homossexuais no país estão associadas:

10. (Unioeste) A antropologa norte-americana Margaret a) à baixa representatividade política de grupos orga-
Mead, em sua obra Sexo e Temperamento, pesquisa so- nizados que defendem os direitos de cidadania dos ho-
bre o condicionamento das personalidades sociais de ho- mossexuais.
mens e mulheres. Descreve os comportamentos típicos b) à falência da democracia no país, que torna impeditiva
de cada sexo em três culturas diferentes da Nova Guiné a divulgação de estatísticas relacionadas à violência con-
da seguinte maneira: “Numa delas (os Arapesh), homens tra homossexuais.
e mulheres agiam como esperamos que mulheres ajam: c) à Constituição de 1988, que exclui do tecido social os
de um suave modo parental e sensível; na segunda (os homossexuais, além de impedi-los de exercer seus direi-
Mundugumor), ambos agiam como esperamos que os tos políticos.
homens ajam: com bravia iniciativa; e na terceira (os d) a um passado histórico marcado pela demonização do
Tchambuli), os homens agem segundo o nosso estereóti- corpo e por formas recorrentes de tabus e intolerância.
po para as mulheres, são fingidos, usam cachos e vão às e) a uma política eugênica desenvolvida pelo Estado,
compras, enquanto as mulheres são enérgicas, adminis- justificada a partir dos posicionamentos de correntes fi-
tradoras e parceiras desadornadas.”
losófico-científicas.
MEAD, M. Sexo e Temperamento, prefácio à edição de 1950.
Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a
alternativa correta. Gabarito
a) O sexo, no seu aspecto biológico, é o fator determi- 1. C 2. B 3. E
nante dos temperamentos masculinos e femininos nas
diferentes sociedades. 4. 01 + 02 + 16 = 19 5. D 6. C 7. C
b) O condicionamento cultural é de fundamental im-
portância na definição de temperamentos e de papéis 8. 02 + 04 + 16 = 22 9. B 10. B 11. D
sociais de homens e mulheres nas diferentes sociedades.
 VOLUME ÚNICO

c) As diferenças biológicas entre homens e mulheres de-


terminam todas as diferenças culturais associadas aos
sexos, moldando temperamentos e papéis sociais de
homens e mulheres.
d) Em qualquer sociedade, homens são fortes, agres-
sivos, dominadores, calculistas, controlam as relações
sociais e sexuais; as mulheres são frágeis, submissas,

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  109


MOVIMENTOS
SOCIAIS

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: livro
HABILIDADE(s)
Eles não usam black-tie - Gianfrancesco
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, Guarnieri. Rio de Janeiro: Global, 1978.

16
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Essa peça teatral mostra o momento da constituição
das lutas sindicais no Brasil, demonstrando uma luta
por direitos sociais e concomitantemente a existência
de um conflito familiar.

1.1. A luta por redistribuição


Essa forma de organização dos movimentos sociais consis-
te em corrigir ou eliminar o que os membros do movimen-
1. Movimentos sociais to consideram injustiças. Os exemplos dos movimentos
sociais que se utilizam desse tipo de luta são:
Os movimentos sociais definem-se como ações coletivas
§ Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
praticadas por grupos da sociedade com a finalidade de
(MST): com influência da Liga Camponesa, a partir da
modificar ou conservar determinados aspectos cultu-
década de 1970 o MST, fundamentando-se em artigos da
rais, econômicos e políticos ou mesmo de transformar
Constituição Federal, reivindica a redistribuição de terras.
o conjunto da realidade sociopolítica. De maneira geral,
os movimentos sociais expressam alguma insatisfação § Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST):
sociopolítica ou características pontuais de sua organi- seguindo a mesma lógica jurídica do MST, o movimento
zação, articulando segmentos da sociedade em pautas urbano surge na década de 1990, com o intuito de rei-
reivindicatórias que aspiram à realização de mudança vindicar o direito à moradia nos grandes centros urbanos.
ou de permanência social, econômica, política e cultural,
considerada necessária e justa.
Os movimentos sociais emergem quando um grupo de
pessoas atua para transformar algum aspecto da socieda-
de, com o objetivo de se adquirir reconhecimento e direi-
tos do Estado. De modo que ocorre um embate político e
cultural. Dentro dos movimentos sociais existem formas de
luta, seja para distribuir direitos ou para reconhecê-los.

1.2. A luta por reconhecimento


Essa forma, que abrange os movimentos sociais, pretende
corrigir ou eliminar injustiças culturais, como a humilhação, o
desrespeito e a negação de direitos. Assim, esses movimentos
 VOLUME ÚNICO

buscam reivindicar direitos atrelados à ordem política e cultural


do agrupamento social ao qual pertencem. Os exemplos dos
movimentos sociais que se utilizam dessa forma de luta são:
§ Movimento LGBTQI+: esse movimento (que repre-
senta lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e

110  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


transgêneros, queer, intersexuais e outros que englobam § Movimento negro: com o intuito de combater as
o movimento) luta contra a homofobia e a favor da livre ideias racistas, o movimento negro também abrange
expressão sexual. Além de defender o reconhecimento diversos segmentos, luta por igualdade política, social
na sociedade como cidadãos, com direitos respeitados. e trabalhista para os negros, além do reconhecimento
social da história da resistência negra.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube multimídia: música
Hoje eu quero voltar sozinho - Brasil, 2014. Fonte: Youtube
Um adolescente cego tenta lidar com a mãe superpro- Boa esperança -Emicida. Álbum: Sobre crianças,
tetora ao mesmo tempo em que busca sua indepen- quadris, pesadelos, lições de casa (2015).
dência. Quando um colega chega em seu colégio, no- Emicida combina uma letra crua e dura a um clipe que
vos sentimentos começam a surgir, fazendo com que mostra negros se rebelando contra a humilhação sofri-
ele descubra mais sobre si mesmo e sua sexualidade. da todos os dias no trabalho.

Entretanto existem os movimentos sociais bivalentes, que


§ Movimento indígena: movimento que luta pelo
buscam ao mesmo tempo redistribuição e reconhecimento.
reconhecimento dos povos indígenas, pelo direito de
§ Movimento feminista: movimento com diversos preservação cultural. Grande parte da luta indígena se
segmentos, luta pela igualdade social, trabalhista e cul- dá pela demarcação das tradicionais terras indígenas,
tural do gênero feminino, cobrando do Estado políticas assim como pela resistência às investidas de garimpei-
de igualdade entre os gêneros, seja na área trabalhis- ros, fazendeiros e projetos governamentais de invasão
ta ou no âmbito da política. Além disso, dedica-se ao das terras e reservas indígenas.
combate à violência contra a mulher e defende a des-
criminalização do aborto.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Demarcação Já! - Chico César.
Organizada por várias Ong’s, a canção protesto é uma
homenagem de mais de 25 artistas aos povos indíge-
nas do Brasil. Pelo direito à terra e à vida.

multimídia: música 1.3. Os novos movimentos sociais


 VOLUME ÚNICO

A vida política não acontece apenas dentro do esque-


Fonte: Youtube
ma ortodoxo dos partidos políticos, da votação e da
Maria da Vila Matilde - Elza Soares. Álbum: representação em organismos legislativos e governa-
A mulher do fim do mundo, 2015. mentais. O que geralmente ocorre é que alguns grupos
Canção single que fala sobre a violência doméstica e percebem que esse esquema impossibilita a concreti-
estimula o empoderamento feminino. zação de seus objetivos ou ideais, ou mesmo os blo-
queia efetivamente. [...] Às vezes, a mudança política

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  111


e social só pode ser realizada recorrendo-se a formas Exemplos: Os movimentos de 2013 no Brasil e os mo-
não ortodoxas de ação política. vimentos ativistas virtuais.
GIDDENS, A. Sociologia. 4. ed. Tradução Sandra
Regina Netz. Porto Alegre : Artmed, 2008. § Segmentos marxistas e comunistas: esse mo-
vimento incorpora as lutas de classes e as formas de
Esses “novos” movimentos sociais surgem como uma es- organização marxista na atualidade. Esse movimento
tratégia alternativa e complementar aos movimentos de consiste em possibilitar apreender a essência dos fenô-
classes tradicionais e aos partidos políticos. Porém, não
menos, visando a uma práxis revolucionária. Exemplo:
existe uma única definição do que sejam esses “novos”
Ações virtuais, como as manifestações no Chile em ou-
movimentos sociais, ainda sendo uma área estudada pelos
tubro de 2019.
sociólogos da atualidade.
O exame das formulações sobre os “novos movimen-
tos sociais” permitiu-nos perceber que não existe uma
única definição do que sejam os movimentos sociais,
contudo, é possível notar que nas discussões, predomi-
nam as explicações dos novos movimentos presentes
na sociedade contemporânea que se limitam a mudan-
ças relacionadas às questões culturais e pontuais. Ao
se distanciar da análise envolvendo a relação contra-
ditória entre capital e trabalho, os “novos movimentos
sociais” acabam realizando ações isoladas e focaliza-
das, fato este, que levará a manutenção do status quo
existente e consequentemente do sistema capitalista.
Neste sentido, faz-se necessário um olhar atento em
Movimento social, em junho de 2013, no Congresso brasileiro. torno das abordagens relacionadas aos “novos mo-
vimentos sociais”, pois, acreditamos que tais aborda-
gens podem mascarar a real contradição que envolve a
sociedade capitalista.
CRAVEIRO, Adriéli Volpato; HAMDAN, Karina Omar.
Os novos movimentos sociais: uma análise crítica em
torno desta temática. Londrina, 2015, pp.7-8.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Vem pra rua - Marcelo Falcão. Canção
publicitária para a FIAT 2013.

multimídia: música
Existem três linhas de análise desses novos movimen-
Fonte: Youtube
tos sociais:
As coisas não caem do céu - Leoni. Álbum: As
§ Cultural-acionalista: esse movimento luta por mu-
coisas não caem do céu. Outro futuro, 2014.
danças pontuais, fugindo do estereótipo de luta de
Canção criada como forma de apoio aos protestos que
classes, enfatizando a identidade e a solidariedade en-
tre as pessoas. Exemplo: Movimento Passe Livre ocorreram em 2013. Em um trecho da letra, é citado o
caso de pessoas que apenas usam redes sociais para
§ Esquerda pós-moderna: esse movimento nega a he- manifestar.
rança marxista e a vitalidade dos partidos e sindicatos.
 VOLUME ÚNICO

112  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

MOVIMENTOS
SOCIAIS

NOVOS
REDISTRIBUIÇÃO MOVIMENTOS
RECONHECIMENTO SOCIAIS

• MST • CULTURAL-ACIONALISTA
• MTST • ESQUERDA PÓS-MODERNA
• LGBTQI+
• FEMINISTA • MARXISMO-LENINISMO
• NEGRO

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  113


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (Uerj 2019)

O personagem " Pantera Negra"


1. (Enem) Não nos resta a menor dúvida de que a prin-
cipal contribuição dos diferentes tipos de movimen-
tos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no
plano da reconstrução do processo de democratiza-
ção do país. E não se trata apenas da reconstrução
do regime político, da retomada da democracia e do
fim do Regime Militar. Trata-se da reconstrução ou
construção de novos rumos para a cultura do país, do
preenchimento de vazios na condução da luta pela
redemocratização, constituindo-se como agentes in-
terlocutores que dialogam diretamente com a popu-
lação e com o Estado.
GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania.
São Paulo: Cortez, 2003. (Adaptado).

No processo da redemocratização brasileira, os novos


movimentos sociais contribuíram para:
a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políti-
cos então criados.
b) tornar a democracia um valor social que ultrapassa
os momentos eleitorais
c) difundir a democracia representativa como objetivo
fundamental da luta política.
d) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades
de trabalhadores com os sindicatos.
e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores
sociais frente ao Estado.

2. (Enem) A poetisa Emília Freitas subiu a um palanque,


nervosa, pedindo desculpas por não possuir títulos nem
conhecimentos, mas orgulhosa ofereceu a sua pena que
“sem ser hábil, é, em compensação, guiada pelo poder
da vontade”. Maria Tomásia pronunciava orações que
levantavam os ouvintes. A escritora Francisca Clotilde
arrebatava, declamando seus poemas. Aquelas “angé-
licas senhoras”, “heroínas da caridade”, levantavam
dinheiro para comprar liberdades e usavam de seu en-
tusiasmo a fim de convencer os donos de escravos a
fazerem alforrias gratuitamente.
MIRANOA, A. Disponível em: www.opovoonline.com.br.
Acesso em: 10 jun. 2015.

As práticas culturais narradas remetem, historicamente,


ao movimento:
Com mais de cinquenta anos de existência, o persona-
a) feminista gem “Pantera Negra” esteve associado a debates sobre
b) sufragista as condições de vida de populações afrodescendentes
c) socialista na sociedade norte-americana.
d) republicano Tendo em vista as transformações ocorridas entre a dé-
e) abolicionista cada de 1960 e o momento atual, a comparação entre
 VOLUME ÚNICO

as imagens aponta para a seguinte mudança acerca do


protagonismo afrodescendente:
a) equiparação do poder aquisitivo
b) fortalecimento da inclusão social
c) reconhecimento dos direitos civis
d) homogeneização das diferenças raciais

114  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


4. Leia o texto abaixo sobre o Movimento dos Trabalha- d) Movimento dos desempregados, constituído no pro-
dores Rurais Sem Terra: cesso de abertura política, e que sustentava a bandeira
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tam- do pleno emprego.
bém conhecido pela sigla MST, é um movimento social e) Movimento camponês, que, embora se constituísse
brasileiro, cujo objetivo é implantação da reforma agrá- numa força política emergente dos escombros do regi-
ria no Brasil. me militar, mostrava grande capacidade de mobilização
das classes médias urbanas.
O MST declara buscar a redistribuição das terras impro-
dutivas, para: 7. (Unimontes) À medida que, a partir dos anos 70, am-
a) a difusão da agroindústria como forma de produção. plia-se uma cultura democrática no Brasil, que os movi-
b) a diminuição do custo de produção dos cereais. mentos sociais, junto com outros setores democráticos,
c) a melhoria da qualidade de vida do camponês. vão arrombando as portas da ditadura, o Estado torna-se
d) o combate ao programa da agricultura familiar lentamente permeável à participação de novos atores so-
e) o incremento da autossubsistência alimentar. ciais. O Estado brasileiro, tradicionalmente privatizado pe-
los seus vínculos com grupos oligárquicos, vai lentamente
5. (Enem) Na década de 1990, os movimentos sociais cedendo espaço, tornando-se mais permeável a uma so-
camponeses e as ONGs tiveram destaque, ao lado de ciedade civil que se organiza, que se articula, que constitui
outros sujeitos coletivos. Na sociedade brasileira, a ação espaços públicos nos quais reivindica opinar e interferir
dos movimentos sociais vem construindo lentamente sobre a política, sobre a gestão do destino comum da so-
um conjunto de práticas democráticas no interior das ciedade. A radicalização da democracia não significa ape-
escolas, das comunidades, dos grupos organizados e na nas a construção de um regime político democrático, mas
interface da sociedade civil com o Estado. O diálogo, o também a democratização da sociedade e a construção de
confronto e o conflito têm sido os motores no processo uma cultura democrática. Esse é ainda um desafio.
de construção democráticas. CARVALHO, Maria do C.A.A. Participação social no Brasil hoje.
Segundo o texto, os movimentos sociais contribuem para Disponível em <http://www.polis.org.br/obras/arquivo_169.pdf>
o processo de construção democrática, porque: Acesso em maio 2011. (Adaptado).
a) determinam o papel do Estado nas transformações Considerando o texto e essa conjuntura, analise as afirma-
socioeconômicas. tivas, tendo em vista o significado da participação social:
b) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil.
c) pressionam o Estado para o atendimento das de- I. Participar da gestão dos interesses coletivos significa
mandas da sociedade. participar do governo da sociedade, disputar espaço no
d) privilegiam determinadas parcelas da sociedade Estado e no mercado, nos espaços de definição e execu-
em detrimento das demais. ção das políticas públicas.
e) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos II. Os movimentos sociais têm, apesar das limitações e
do Estado. precariedades, construído contrapartidas que colocam
num outro patamar de dignidade e respeito setores ex-
6. (UEL) Era a manhã ensolarada do dia 1º de maio de cluídos da sociedade, rompendo as fronteiras dos espa-
1980, e as pessoas que haviam chegado ao centro de ços onde têm sido confinados.
São Bernardo do Campo para a comemoração da data
se depararam com a cidade ocupada por 8 mil policiais III. Ampliar a tolerância, o respeito democrático pelo di-
armados, com ordens de impedir qualquer concentração. ferente, eliminar as segregações raciais, de gênero, de
Já desde as primeiras horas daquele dia as vias de acesso opção sexual, entre outras, é o resultado da incidência
estavam bloqueadas por comandos policiais que visto- de práticas participativas que constroem e modificam os
riavam ônibus, caminhões e automóveis [...]. Pela manhã, valores sociais.
enquanto um helicóptero sobrevoava os locais previstos IV. Participar significa questionar o monopólio do Esta-
para as manifestações, carros de assalto e brucutus exi- do como gestor da coisa pública, construir espaços pú-
biam a disposição repressiva das forças da ordem. blicos não estatais, abrir caminhos para o aprendizado
SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena. da negociação democrática e afirmar a importância do
São Paulo: Paz e Terra, 1995. p. 27. controle social sobre o Estado.
Com base nos conhecimentos sobre a história recente Estão corretas as afirmativas:
do Brasil, é correto afirmar que, nesse episódio, o autor a) II, III e IV, apenas.
se refere ao: b) I, II e III, apenas.
a) Movimento estudantil, que lutava contra a reforma c) I, III e IV, apenas.
universitária de perfil privatista, implantada pelo gover- d) I, II, III e IV.
no João Figueiredo.
 VOLUME ÚNICO

b) Movimento operário, que lutava contra a ditadura 8. (Enem) No Brasil, assim como em vários outros pa-
militar, contra o arrocho salarial e pela democratização íses, os modernos movimentos LGBT representam um
do país. desafio às formas de condenação e perseguição social
c) Movimento das panelas vazias, que, apesar de o país contra desejos e comportamentos sexuais anticonven-
já se encontrar plenamente democratizado, restringia cionais associados à vergonha, imoralidade, pecado, de-
sua luta à reposição das perdas salariais devido ao ar- generação, doença. Falar do movimento LGBT implica,
rocho imposto na década anterior pelo regime militar. portanto, chamar a atenção para a sexualidade como

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  115


fonte de estigmas, intolerância, opressão. 11. (UEL) O texto a seguir nos dá notícia acerca da intro-
SIMÓES, J. Homossexualidade e movimento LGBT: estigma, diversidade dução de formas rígidas de organização das torcidas de
e cidadania. In: BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L. M. Cidadania, um futebol no Brasil:
projeto em construção. São Paulo: Claro Enigma, 2012 (Adaptado).
Os integrantes de torcidas organizadas de todo o país terão
O movimento social abordado justifica-se pela defesa que se cadastrar previamente para ter acesso aos estádios.
do direito de No Rio de Janeiro, o procedimento começou hoje (13), com
a) organização sindical. a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta
b) participação partidária. (TAC) entre as lideranças das torcidas, o Ministério Públi-
c) manifestação religiosa. co e o Ministério do Esporte. O TAC prevê que as torcidas
d) formação profissional. organizadas terão que se tornar pessoas jurídicas, com re-
e) afirmação identidária. gistro de seus estatutos em cartório. As que têm menos de
200 membros serão dispensadas de registro em cartório. As
9. (Uece 2019) Atente para o enunciado a seguir: torcidas terão seis meses para enviar à autoridade policial
“O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST – é cadastro contendo a identificação completa de seus inte-
um dos mais importantes movimentos sociais do Brasil, grantes, incluindo foto, endereço e assinatura. Para entrar
tendo como foco as questões do trabalhador do campo, nos estádios vestindo ou portando adereços de torcidas or-
principalmente no tocante à luta pela reforma agrária ganizadas, eles terão de ter carteira padronizada. Caso seja
brasileira”. descumprida a medida, a torcida organizada estará sujeita
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/mst.htm. a sanções que vão desde multa de até R$ 10 mil ao bani-
mento dos estádios por período de até três anos.
No que diz respeito ao conceito de “movimentos sociais”, Vladimir Platonow. Torcidas organizadas começam a cadastrar integrantes para
é correto afirmar que são entrar em estádios. Jornal do Brasil. 13 jun. 2011, p.1. Disponível em: <http://
www.jb.com.br/esportes/noticias/2011/06/13/torcidas-organizadas-comecam-
a) ações coletivas de segmentos socialmente organiza-
a-cadastrar-in egrantes-para-entrarem- estadios/>. Acesso em: 30 jun. 2011.
dos que têm como objetivo alcançar mudanças sociais
por meio do embate político, dentro de uma determi- As torcidas organizadas de futebol constituem uma ma-
nada sociedade e de um contexto específico. nifestação espontânea ou um movimento social? Justi-
b) expressões individuais dos sujeitos em seus coti- fique sua resposta.
dianos na busca de realização de seus desejos e so-
nhos a serem alcançados no mercado de trabalho e
no reconhecimento de seus méritos pelo Estado.
Gabarito
c) organizações governamentais com o objetivo de 1. B 2. E 3. C 4. C 5. C
mobilizar setores da população para fazerem valer
os direitos sociais e civis, tendo como referências o 6. B 7. A 8. E 9. A 10. B
acesso a serviços que reconheçam a plena cidadania.
11. Os movimentos sociais são formas de organização política
d) organizações de interesse público mantidas por da sociedade civil que visam à transformação de alguma estru-
meio de fundos públicos com o objetivo de cooperar tura geradora de desigualdades, sejam materiais ou simbólicas.
na organização das instituições privadas da socieda- Geralmente estão relacionados com a luta ou pela garantia de
de, em parceria com os governos. certos direitos que são violados ou pela ampliação de direitos
10. (Enem) O reconhecimento da união homoafetiva le- que ainda não são considerados pela Constituição. As torcidas
vou o debate à esfera pública, dividindo opiniões. Apesar organizadas de futebol não se formam tendo como objetivo
da grande repercussão gerada pela mídia, a população esse tipo de transformação política, mas estando relacionadas
ainda não se faz suficientemente esclarecida, confundin- somente com a identificação à figura do clube de futebol. Nesse
do o conceito de união estável com casamento. Apesar sentido, são somente uma manifestação espontânea, muito dife-
de ter sido legitimado pelo Supremo Tribunal Federal rente de movimentos como o MST ou o movimento negro.
(STF), o reconhecimento da união homoafetiva é fruto
do protagonismo dos movimentos sociais como um todo.
ARÊDES, N.; SOUZA, I.; FERREIRA, E.
Disponível em: http://reporterpontocom.wordpress.com.
Acesso em: 1 mar. 2012. (Adaptado).
As decisões em favor das minorias, tomadas pelo Poder
Judiciário, foram possíveis pela organização desses gru-
pos. Ainda que não sejam assimiladas por toda a popu-
 VOLUME ÚNICO

lação, essas mudanças:


a) contribuem para a manutenção da ordem social.
b) reconhecem a legitimidade desses pleitos.
c) dependem da iniciativa do Poder Legislativo Federal.
d) resultam na celebração de um consenso político.
e) excedem o princípio da isonomia jurídica.

116  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A sociedade moderna se aperfeiçoou na criação de máscaras
IDENTIDADE sociais, direcionando para que o indivíduo cumpra determi-
nadas posturas e atitudes condicionadas pelo agrupamento
social, de uma forma coercitiva.

CH
Segundo o sociólogo canadense Erving Goffman (1922-
1982), a interação social condiciona quais atos e papéis
COMPETÊNCIA(s)
escolhemos perante o outro.
1, 2, 3, 4 e 5
Criamos condições rituais sociais para revelar aos poucos
HABILIDADE(s) parte da nossa imagem para o outro, como um complexo
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, teatro, que vai revelando aos poucos as cenas.

17
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

1. Introdução
Na sociologia, a identidade é compreendida como o con-
junto de características próprias que dão uma particula-
ridade a um determinado agrupamento social, podendo
atingir as áreas culturais e morais dessa sociedade.
Essas particularidades podem ser compartilhadas entre os
grupos de uma sociedade por meio de uma infinidade de
símbolos e signos que possibilitam uma identificação com
o outro, resultando em uma prática de alteridade, ou seja, O receio do julgamento do outro diante de nossas expres-
partindo da ideia de que todo ser humano social interage. sões de surpresa, raiva, alegria, ironia ou desgosto faz com
Assim, esses elementos particulares caracterizam os grupos que nossas ações sejam monitoradas por nossa consciência.
sociais, dando-lhes uma autonomia em relação à própria so- Só que esse monitoramento contém um propósito, um ob-
ciedade e criando condições para individualizar cada grupo. jetivo a ser cumprido: buscamos uma boa inserção social.
Construímos de uma maneira subjetiva e psíquica um com-
portamento que não nos traga problemas ou embaraços so-
2. Máscaras sociais ciais, como evitar passar vergonha diante dos outros. Quan-
Inserido num agrupamento social que tem elementos de do conseguimos atingir esse objetivo, mantemos o espírito
identificação, codificando uma identidade cultural, o indi- de sobrevivência social, sem arranhões em nossa imagem
víduo mantém uma relação subjetiva consigo mesmo, po- criada dentro dessa sociedade.
dendo entrar em conflito com a identidade do grupo.
 VOLUME ÚNICO

multimídia: música
Fonte: Youtube
Máscara - Pitty. Álbum: Admirável Chip Novo, 2003.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  117


O seu livro rapidamente se converteu num referencial teórico
imprescindível para as discussões que englobam a compre-
ensão da lógica e das dinâmicas implícitas nos conflitos e
movimentos sociais contemporâneos. Na obra, Honneth des-
ponta com uma originalidade própria dos que têm compre-
endido que o ecleticismo disciplinar auxilia o conhecimento
multimídia: vídeo sociológico e a explicação dos fenômenos sociais.

Fonte: Youtube
O lado bom da vida - Estados
Unidos, 2013 (122 min).
O filme mostra o drama das pessoas que tentam se
aceitar, lidar com seus próprios defeitos e se reencon-
trar no mundo. Os personagens parecem ser imprevi-
síveis e muitos dos diálogos são até um pouco filo-
multimídia: vídeo
sóficos, nos fazendo refletir sobre como escolhemos
encarar a vida e os problemas. Fonte: Youtube
Incertezas Críticas: Axel Honneth
Entrevista com o sociólogo explicando as principais

3. Axel Honneth (1938) ideias para entender o mundo contemporâneo.

O sociólogo alemão da “terceira geração” da Escola de


Frankfurt estuda sobre como os grupos sociais são reco- Assim, desrespeito moral, conflito social e reconhecimento
nhecidos na sociedade. podem constituir-se na tríade conceitual do marco teórico
e analítico apresentado por Honneth. As contribuições de
Honneth resultam indispensáveis para todos aqueles que
pretendam analisar e compreender relações sociais confli-
tuosas e a dinâmica de ação dos diferentes movimentos
sociais e políticos atuais. Toda análise de um eventual pro-
cesso de construção de uma identidade que diagnostica
uma relação desigual no tratamento dos seus traços parti-
culares (a negritude, o feminino, o indígena, o jovem, etc.)
nas interações cotidianas deve considerar a importância
dos aportes teóricos de Honneth.

Em sua obra Luta por reconhecimento: a gramática moral dos


conflitos sociais, Honneth trata, seguindo uma estrutura hege-
liana, de como os agrupamentos sociais que contêm elemen-
tos de identidade adquirem o seu reconhecimento na socie-
dade mediante uma luta social, ou seja, uma luta que precisa multimídia: livro
obrigatoriamente seguir as normas legais da sociedade.
Honneth demonstra que a interação social, no âmbito do re- Luta por Reconhecimento: a gramática
conhecimento do agrupamento social, depende da atuação moral dos conflitos sociais - Axel Honneth.
nas instituições jurídicas. Sua ideia central baseia-se em três São Paulo: Editora 34, 2003.
 VOLUME ÚNICO

diferentes dimensões de reconhecimento intersubjetivo, que Tendo como ponto de partida o jovem Hegel, Axel Hon-
geram outras três dimensões particulares: neth desenvolve uma teoria social normativa baseada
na ideia de que o florescimento humano e a plena re-
AMOR DIREITO SOLIDARIEDADE alização pessoal dependem da existência de relações
autoconfiança autorrespeito autoestima éticas bem estabelecidas.

118  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


No entanto, para torná-lo plausível, seria necessária uma que reconhece", segue a afirmação francamente progra-
descrição totalmente diferente do processo social que te- mática: "No reconhecer o si cessa de ser esse singular; ele
ria lugar sob as condições artificiais de um estado de na- está juridicamente no reconhecer, isto é, não está mais em
tureza entre os homens:"O direito é a relação da pessoa seu ser-aí imediato. O reconhecimento é reconhecimento
em seu procedimento para com o outro, o elemento uni- com válido imediatamente, por seu ser, mas precisamente
versal de seu ser livre ou a determinação, limitação de sua esse ser gerado a partir do conceito; é ser reconhecido".
liberdade vazia. Essa relação ou limitação, eu não tenho HONNETH, Axel.
por minha parte de maquiná-la ou introduzi-la de fora, Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos
o próprio objeto é esse produzir do direito em geral, isto sociais. São Paulo: Editora 34, 2009, pp.84-85.
é, da relação que reconhece [...]".. Por conseguinte, logo
após a frase em que indicará o significado da "relação

DIAGRAMA DE IDEIAS

IDENTIDADE

REGISTROS FÍSICOS E SIMBÓLICOS


DE UM SER OU DE UM GRUPO

GOFFMAN HONNETH

OS GRUPOS SOCIAIS
CRIAMOS RITOS SOCIAIS
COM IDENTIDADE

CONSTRUÍMOS PRECISAM TER UM


MÁSCARAS SOCIAIS RECONHECIMENTO
NA SOCIEDADE

PARA REVELAR AOS


POUCOS PARTE DA NOSSA QUE SÓ TERÁ VALIDADE
IMAGEM AO OUTRO MEDIANTE MUDANÇAS
JURÍDICAS
 VOLUME ÚNICO

COM AS LEIS,
ESSES GRUPOS SÃO
INSERIDOS NA SOCIEDADE

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  119


Aplicando para Aprender (A.P.A.) rida na minha casa, recomendo para empregos e carre-
go suas mudanças. Tudo fingimento.
1. (IFB) Foi noticiado pelo jornal El País, em 29 de outu- Alex Castro. (Adaptado). Disponível em: <http://papodehomem.
bro de 2016: com.br/somos-todos-fingidores/> Acesso em 13 dez. 2012.

“Secundaristas são pressionados, mas ocupações re-


sistem nas escolas do Paraná Justiça determina a rein- O texto acima apresenta uma argumentação muito si-
tegração de posse de 25 colégios em Curitiba e movi- milar àquela de um importante sociólogo, Erving Gof-
mentos pressionam pela desocupação, mas estudantes fman, acerca das representações de papéis que as pes-
prometem resistir.” soas fazem na vida cotidiana. Em caráter geral, em que
consiste a argumentação de Goffman?

4. (Vunesp) O conceito de identidade social se tornou cen-


tral na Sociologia nos últimos anos, por possibilitar a com-
preensão de quem somos e quem são as outras pessoas.

Segundo Axel Honneth (2003), a interpretação dos mo-


vimentos sociais que as obras de Marx nos legaram
apresenta:
a) Uma falha ao considerar as lutas sociais sob o viés
utilitarista conferido pela economia.
b) Possibilidades analíticas que ainda não foram supe-
radas, já que as lutas sociais são fruto da desigualdade
econômica.
c) Uma superação frente ao utilitarismo econômico.
d) A relevância de conceitos afetos à antropologia e,
portanto, que considera aspectos culturais frente às
demandas sociais.
e) A moral é acessória das condições de classe e, por- Sobre a formação da identidade social dos indivíduos, é
tanto, não deve ser considerada nas análises dos movi- correto afirmar que é formada:
mentos políticos contemporâneos.
a) por processos contínuos de interação social.
2. (IFB) As lutas sociais contemporâneas, principalmente b) na socialização primária dos indivíduos.
as que buscam conquistar direitos ligados ao conceito c) na inserção do indivíduo no mercado de trabalho.
de cidadania, possuem variadas motivações. Axel Hon- d) pelo olhar que o indivíduo tem de si mesmo.
neth (2003), contudo, ao analisar os conflitos sociais,
e) pela identificação com as ideologias políticas exis-
considera que tais motivações se relacionam primor-
tentes na sociedade.
dialmente a:
a) Moral. 5. (Unioeste) Quando falamos em identidade, logo pen-
b) Egoísmo. samos em quem somos. A construção de identidades
c) Objetivos econômicos. como: “ser brasileiro”, “ser português”, “ser cigano”,
d) Estética. “ser gremista”, “ser homem”, “ser mulher” é um proces-
so sociocultural pelo qual se marca as fronteiras de per-
e) Altruísmo.
tencimento social e/ou cultural. Tendo por base o anúncio
3. (Interbits) Faz uns dois anos, a pessoa que se assina transcrito acima, é correto afirmar que:
O Último Psiquiatra me deu o melhor conselho que já a) as identidades são estáticas, é algo natural, ela nos
recebi na vida: acompanha por toda a vida.
Que eu não precisava SER uma pessoa boa: bastava b) as identidades são construídas nas relações sociais,
FINGIR QUE ERA. são situacionais, relacionais e constroem-se na relação
 VOLUME ÚNICO

Então, passo o dia fingindo. entre o “nós” e os “outros”, cria um nós coletivo.
Para o fingimento ser mais persuasivo, decoro as pala- c) identidades surgem através de um determinismo
vras das pessoas e repito para elas em momentos-chave geográfico que molda o nosso modo de ser e agir.
da conversa ou então faço referência a essas palavras d) identidades são produtos de marketing e geram
semanas depois. Muitas vezes, no meu preciosismo fin- vínculos entre os indivíduos.
gido, empresto meu ombro para que chorem e dou gua- e) identidades são heranças genéticas.

120  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


6. (UEL) No dia 16 de junho de 2010, o Senado brasileiro c) As identidades nacionais e outras identidades parti-
aprovou o Estatuto da Igualdade Racial. culares, como as de classe, de gênero, de etnia e de re-
Os senadores [...] suprimiram do texto o termo “forta- ligião, estão sendo reelaboradas e até reforçadas como
lecer a identidade negra”, sob o argumento de que não expressão de resistência à globalização e à homogenei-
existe no país uma identidade negra [...]. “O que exis- zação das culturas, demarcando uma das contradições
te é uma identidade brasileira. Apesar de existentes, o apontadas pelos cientistas sociais.
preconceito e a discriminação não serviram para impe- d) A produção cultural apresenta uma grande hetero-
dir a formação de uma sociedade plural, diversa e mis- geneidade de sujeitos produtores e consumidores, pela
cigenada”, defende o relatório de Demóstenes Torres. propriedade e disponibilidade geral dos meios técnicos
para reprodução de quaisquer sistemas simbólicos,
(Folha.com. Cotidiano, 16 jun. 2010. Disponível em: <http://www1.folha.
uol.com.br/cotidiano/751897-sem-cotas-estatuto-da-igualdaderacial-
como se comprova pelo acesso generalizado à televi-
e-aprovado-na-ccj-do-senado.shtml>. Acesso em: 16 jun. 2010.) são e à comunicação informatizada da Internet.

Com base no texto e nos conhecimentos atuais sobre a 8. (UFU) "Na linguagem corrente, é comum que se usem
questão da identidade, é correto afirmar: como sinônimos as palavras "Estado", "Nação", "País"
etc. É preciso que esses termos sejam distintos, para
a) A identidade nacional brasileira é fruto de um processo
que não caiamos numa confusão irremediável."
histórico de realização da harmonia das relações sociais
entre diferentes raças/etnias, por meio da miscigenação. RIBEIRO, João Ubaldo. Política; quem manda, por que manda,
como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 49/50
b) A ideia de identidade nacional é um recurso discur-
sivo desenraizado do terreno da cultura e da política, Tomando como referência o texto acima, assinale o sig-
sendo sua base de preocupação a realização de inte- nificado da palavra "nação".
resses individuais e privados. I. Nação é um processo de criação de uma identidade
c) Lutas identitárias são problemas típicos de países co- comum dos grupos étnicos, linguísticos, religiosos e re-
loniais e de tradição escravista, motivo da sua ausência gionais.
em países desenvolvidos como a Alemanha e a França.
II. Indivíduos que têm uma história, valores, hábitos e
d) Embora pautadas na ação coletiva, as lutas identi- arte comuns.
tárias, a exemplo dos partidos políticos, colocam em
segundo plano o indivíduo e suas demandas imediatas. III. Necessita, para sua existência, de um território fixo,
delimitado e exclusivo.
e) As identidades nacionais são construídas social-
mente, com base nas relações de força desenvolvidas IV. Não se pode distinguir do que seja Estado, porque
entre os grupos, com a tendência comum de eleger, encaixa-se completa e exclusivamente dentro de um
como universais, as características dos dominantes. Estado.
a) I e II estão corretas.
7. (UFU) Cientistas sociais reconhecidos têm apontado
b) I e IV estão corretas.
algumas contradições dos processos da globalização
c) III e IV estão corretas.
com fortes impactos sobre as identidades e culturas
nacionais. Estes sugerem que ocorrem dois processos: d) II, III e IV estão corretas.
tanto a tendência à autonomia nacional e aos parti- e) Todas as afirmativas estão corretas.
cularismos culturais, que mantêm a heterogeneidade,
9. (Enem PPL 2019) Quanto mais a vida social se tor-
quanto a tendência globalizante, que força a homoge- na mediada pelo mercado global de estilos, lugares e
neidade cultural, conforme HALL, Stuart. A Identidade imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens
cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Editora da mídia e pelos sistemas de comunicação interligados,
DP&A, 1999, p. 68-69. mais as identidades se tornam desvinculadas – desalo-
Com base no argumento acima, assinale a alternativa jadas – de tempos, lugares, histórias e tradições espe-
que apresenta uma hipótese sociológica teoricamente cíficos e parecem “flutuar livremente”. Somos confron-
incorreta sobre a heterogeneidade da produção cultu- tados por uma gama de diferentes identidades (cada
ral nas sociedades capitalistas contemporâneas: qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a
a) As identidades nacionais estão em declínio, mas novas diferentes partes de nós), dentre as quais parece possí-
identidades híbridas estão surgindo, pois todas as iden- vel fazer uma escolha.
tidades, por definição, são formadas por representações HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade.
simbólicas historicamente condicionadas, face a socieda- Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
des diferentes. Estas resultam de comunidades unitárias Do ponto de vista conceitual, a transformação identitá-
 VOLUME ÚNICO

imaginadas, mitos fundacionais e tradições inventadas. ria descrita resulta na constituição de um sujeito
b) As identidades nacionais sofrem certo declínio como
a) altruísta.
resultado da tendência de homogeneização cultural, pro-
movida pelo aumento da circulação de mercadorias e dos b) dependente.
sistemas simbólicos dominantes, que são mediados pelos c) nacionalista.
agentes detentores dos meios de comunicação massivos, d) multifacetado.
atualmente informatizados e internacionalizados. e) territorializado.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  121


10. (UEM 2018) Black Mirror é uma série de televisão
que se destaca por abordar de forma distópica as con- Gabarito
sequências sociais trazidas pelas novas tecnologias. No
1. A 2. A
episódio Nosedive (em português traduzido como Queda
Livre), que abre a terceira temporada da série, Lacie, uma 3. A argumentação de Goffman está vinculada à teoria de re-
garota comum, vive em um futuro próximo em que as presentação de papéis sociais. A forma como as pessoas se per-
pessoas podem avaliar seus companheiros, colegas de cebem depende de como elas representam os papéis sociais, tal
trabalho, amigos pessoais, vizinhos e todos os seus de- como faz um ator no teatro. Dessa maneira, o mais importante é
mais contatos por meio de um aplicativo que classifica que esses papéis sejam bem representados e reconhecidos pela
as pessoas mediante um índice de aprovação que varia plateia em questão.
de 0 a 5 estrelas, em que 0 é a total impopularidade e 5
é o maior índice de aprovação. Lacie, que tem índice de 4. A 5. B 6. E 7. D 8. A
popularidade em torno dos 4 pontos, vive obcecada em
9. D 10. 01 + 02 + 16 = 19
atingir as 5 estrelas. Todas as suas ações cotidianas visam
aumentar sua aprovação social. Embora seja uma série
de ficção científica e sua ação se passe em um futuro não
determinado, a série aborda discussões que se articulam
às questões sociais contemporâneas. No caso do episó-
dio descrito, as mídias sociais estão no centro do debate.
Considerando a descrição do episódio Nosedive, exposto
neste enunciado, e conhecimentos sobre o tema comu-
nicação, cultura e ideologia, assinale o que for correto.
01) Lacie utiliza os melhores recursos que tem à dis-
posição para valorizar a si própria e se promover so-
cialmente. Essa ação é semelhante a uma promoção
de marketing cujo principal produto colocado no mer-
cado pelas mídias sociais é a própria imagem pessoal.
02) As curtidas permitidas pelos aplicativos das mídias
sociais funcionam como ferramentas que estabelecem
regras de comportamento social e são utilizadas, mui-
tas vezes, como definição do que é considerado apro-
priado ou transgressivo nas interações sociais.
04) A ficção científica, gênero ao qual pertence a sé-
rie Black Mirror, trata de forma fantasiosa questões
que não têm relação alguma com a realidade histó-
rica, portanto não devem ser objeto de análise das
pesquisas sociológicas.
08) As primeiras décadas do século XXI e as mídias di-
gitais mostram que as formas de controle sobre a vida
social, pública ou privada, estão em franca decadência.
16) Muito antes do surgimento de tecnologias, como
as mídias sociais, as pessoas já se preocupavam com
as formas de aceitação ou de rejeição social. Isso
ainda é percebido, por exemplo, na interação entre
grupos familiares, entre relações de vizinhança ou na
imposição de estigmas sociais na escola.
 VOLUME ÚNICO

122  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


SOCIOLOGIA
BRASILEIRA: Em seus estudos, Euclides da Cunha aponta uma visão
sociológica no comportamento coletivo, numa relação
GILBERTO psicossocial do sertanejo, sendo visto como um bloco ét-
FREYRE nico e cultural. Apesar de conter traços etnocêntricos em

CH
sua escrita, numa subjugação do sertanejo, o autor lança
uma análise acerca do povo marginalizado no Brasil re-
COMPETÊNCIA(s) cém-republicano.
1, 2, 3, 4 e 5
Entretanto, a ciência Sociologia só se firmará no Brasil nas
HABILIDADE(s) primeiras décadas do século XX, com pesquisas em bus-
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, ca de compreensão profunda da sociedade brasileira. De

18
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 modo que muitos estudos se voltaram para a abolição da
escravatura, os índios, os negros e as migrações dos povos.

multimídia: vídeo
1. Introdução
Fonte: Youtube
Os primeiros estudos no campo sociológico no Brasil aconte-
Histórias do Brasil: Canudos. Brasil, 2017 (4min20)
ceram no final do século XIX. Uma das primeiras análises do
povo brasileiro foi feita pelo escritor Euclides da Cunha (1866- Documentário produzido pela TV Senado.
1909) na obra Os Sertões, um estudo aprofundado sobre o
movimento de Canudos (1896-1897) no estado da Bahia.

2. Gilberto Freyre (1900-1987)


O sociólogo Gilberto Freyre foi um dos pioneiros das Ciên-
cias Sociais no Brasil. Seus estudos revolucionaram a histo-
riografia brasileira por analisar o cotidiano do povo a partir
da tradição oral, além de diversos documentos, como ma-
nuscritos e anúncios de jornais, fontes que, até o momento,
não eram muito analisadas pelos estudiosos.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Guerra de Canudos - Brasil, 2006 (165 min).
 VOLUME ÚNICO

Baseado na história real sobre a Guerra de Canudos, Sua obra mais conhecida, Casa-Grande & Senzala, foi lan-
na qual o exército brasileiro enfrentou os integrantes çada em 1933, concluindo que a mestiçagem do povo bra-
de um movimento religioso liderado por Antônio Con- sileiro não era uma um problema, como estudos anteriores
selheiro, e que durou de 1896 a 1897 e terminou com apontavam. Analisando o período colonial, o sociólogo ex-
o massacre dos insurgentes pelas tropas federais. plica a formação social do Brasil, mediante a interação da
casa-grande com a senzala.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  123


Segundo Freyre, com a abolição da escravidão, a condi-
ção material dos recém-libertos piorou substancialmente.
Segundo Freyre, a história social da casa-grande é a his-
tória íntima de quase todo brasileiro, ou seja, com uma
vida doméstica conjugal sob o domínio de um patriarca-
do escravocrata e polígamo.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Casa-Grande & Senzala - Nelson
Pereira dos Santos, 2000.
A produção está dividida em quatro episódios.
"Gilberto Freire, o Cabral moderno": Fala do próprio
autor, comparando-o ao descobridor do Brasil por sua
multimídia: música
atividade intelectual. "A cunhã de família brasileira": Fonte: Youtube
Discute a contribuição do índio à formação brasileira. Casa-Grande e Senzala - Leci Brandão. Álbum:
"O português, colonizador dos trópicos": Freyre ana- Escolas de Samba - Enredos. Sony Music, 2014.
lisa as características do povo português e quais suas Samba-enredo da escola de samba Mangueira para o car-
influências na formação brasileira. "O escravo negro naval de 1962. Nesse ano, a Mangueira homenageou o so-
na vida sexual e de família do brasileiro": Discute a ciólogo Gilberto Freyre e sua obra Casa-Grande & Senzala.
participação africana na vida social brasileira.

Essa formação social foi consolidada pela estrutura colo-


nial, com base em grandes propriedades fundiárias, mão
de obra escrava e no patriarcado, conjunto com uma mes-
cla cultural (europeus, africanos e indígenas) evidenciada
nos hábitos dos indivíduos.
A casa-grande, representação física e simbólica dos senhores
e das elites coloniais, e a senzala, representação física e sim- A abordagem de Freyre esquematiza a relação conflituosa
bólica dos escravizados, acabam por constituir a formação da e “velada” na constituição familiar e de seus agregados,
sociedade brasileira devido à grande interação sociocultural. apontando seus vícios e pecados, destacando as relações
sexuais que faziam parte do cotidiano da casa-grande, con-
tribuindo para a formação de uma sociedade miscigenada.
Salienta-se a concentração fundiária mediante casamen-
tos arranjados, resultando na manutenção da estruturação
segmentar de algumas famílias.

multimídia: livro
A casa-grande, recinto de propriedade dos senhores, abriga-
 VOLUME ÚNICO

va alguns escravos selecionados para desenvolver afazeres Casa-Grande & Senzala - Gilberto Freyre.
domésticos. Essa relação conflituosa de opressor e oprimidos Rio de Janeiro: Global, 2005.
gerava novas relações de poder entre os escravizados, carac-
Publicado em 1933, aborda a vida familiar, os costumes
terizando uma desigualdade entre os próprios escravizados.
e as inter-relações familiares e interpessoais dentro do
Aqueles que adentravam na casa-grande tinham um status
sistema colonial brasileiro.
diferenciado, como uma ilusória ascensão social.

124  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


menos preconceituosa, por ser formada na mistura étnica
entre diferentes raças. Como conclusão de suas pesqui-
sas, constrói-se a tese em que aparece a característica di-
ferencial da sociedade brasileira dentro da América. Uma
sociedade multirracial, na qual o cruzamento étnico não
ocorre como resultado de uma violência física gerada na
conquista, mas como processo contínuo de negociação
multimídia: livro entre os grupos envolvidos.
Está aberto o caminho para a tese que vai ser veiculada
Casa-Grande & Senzala em quadrinhos - Gilberto
mundo afora: a da democracia racial brasileira. Tese na qual
Freyre. São Paulo: Editora Global, 2005.
se elogia o caráter mestiço da população como motivo de
Versão em quadrinhos da obra de Gilberto Freyre, para orgulho, pois conquista social, em que se afirmam as qua-
caracterizar a constituição da sociedade brasileira. lidades igualitárias trazidas pela mistura de índios, negros e
brancos, e a construção de uma sociedade onde não haveria
Na visão de Gilberto Freyre a formação dessa socieda- racismo, pois a mistura étnica encontrara-se integrada den-
de miscigenada seria a grande qualidade brasileira, pois, tro da própria família brasileira. A partir da década de 1950,
segundo o autor, temos a formação de uma sociedade a tese de Gilberto Freyre passará a ser muito criticada.

DIAGRAMA DE IDEIAS

GILBERTO
FREYRE

A SOCIEDADE BRASILEIRA
EUCLIDES DA CUNHA
É FORMADA PELA
MISTURA DE ETNIAS

OS SERTÕES
MOLDADA DURANTE O
PERÍODO COLONIAL

ANALISA A SOCIEDADE
DO SERTÃO BAIANO RELAÇÃO CASA-
-GRANDE E SENZALA

QUESTIONA OS RITOS
SOCIAIS QUE APRESENTAM
AS DESIGUALDADES
ENTRE OS BRASILEIROS
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  125


Aplicando para Aprender (A.P.A.) que Muda [...] mostra em números a intolerância do in-
ternauta tupiniquim. Entre abril e junho. um algoritmo
1. (Enem) “Formou-se na América tropical uma socie- vasculhou plataformas [...] atrás de mensagens e textos
dade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de sobre temas sensíveis, como racismo, posicionamento
exploração econômica, híbrida de índio – e mais tarde político e homofobia. Foram identificadas 393 284 men-
de negro – na composição. Sociedade que se desenvol- ções, sendo 84% delas com abordagem negativa, de ex-
veria defendida menos pela consciência de raça, do que posição do preconceito e da discriminação.
pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de Disponível em: <https://oglobo.globo.com>.
profilaxia social e política. Menos pela ação oficial do Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).
que pelo braço e pela espada do particular. Mas tudo
Ao abordar a postura do internauta brasileiro mapea-
isso subordinado ao espírito político e de realismo eco-
da por meio de uma pesquisa em plataformas virtuais,
nômico e jurídico que aqui, como em Portugal, foi desde
o texto:
o primeiro século elemento decisivo de formação nacio-
nal; sendo que entre nós através das grandes famílias a) minimiza o alcance da comunicação digital.
proprietárias e autônomas; senhores de engenho com b) refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro.
altar e capelão dentro de casa e índios de arco e flecha c) relativiza responsabilidades sobre a noção de respeito.
ou negros armados de arcabuzes às suas ordens”. d) exemplifica conceitos contidos na literatura e na
De acordo com a abordagem de Gilberto Freyre sobre a sociologia.
formação da sociedade brasileira, é correto afirmar que: e) expõe a ineficácia dos estudos para alterar tal com-
a) A colonização na América tropical era obra, sobre- portamento.
tudo, da iniciativa particular. 4. (UENP) Do ponto de vista sociológico, o Brasil se cons-
b) O caráter da colonização portuguesa no Brasil era tituiu sobre o mito da democracia racial principalmente
exclusivamente mercantil. depois da publicação de Casa grande e senzala de Gil-
c) A constituição da população brasileira esteve isen- berto Freyre (2003). De acordo com Florestan Fernan-
ta de mestiçagem racial e cultural. des (1965) o ideal de miscigenação fora difundido como
d) A Metrópole ditava as regras e governava as terras mecanismo de absorção do mestiço não para a ascen-
brasileiras com punhos de ferro são social do negro, mas para a hegemonia da classe
e) Os engenhos constituíam um sistema econômico e dominante. O mito da democracia racial assentou-se
político, mas sem implicações sociais. sobre dois fundamentos: 1) o mito do bom senhor; 2) o
mito do escravo submisso. Analise as afirmações:
2. (Enem (Libras)) A miscigenação que largamente se
I. A crença no bom senhor exalta a vulgaridade das eli-
praticou aqui corrigiu a distância social que de outro
tes modernas, como diria Contardo Calligaris, e junta-
modo se teria conservado enorme entre a casa-grande
mente com uma espécie de pseudo cordialidade seriam
e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O
responsáveis pela manutenção e o aprofundamento das
que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou
diferenças sociais.
no sentido de aristocratização, extremando a sociedade
brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insig- II. O mito do escravo submisso fez com que a sociedade
nificante lambujem de gente livre sanduichada entre os de um modo geral não encarasse de frente a violência da
extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado escravidão, fez com que os ouvidos se ensurdecessem aos
pelos efeitos sociais da miscigenação. clamores do movimento negro, por direitos e por justiça.
III. As proposições legislativas sobre a inclusão de ne-
FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: Record, 1999. gros vão desde o Projeto de Lei que reserva aos negros
A temática discutida é muito presente na obra de Gil- um percentual fixo de cargos da administração pública,
berto Freyre, e a explicação para essa recorrência está aos que instituem cotas para negros nas universidades
no empenho do autor em públicas e nos meios de comunicação.

a) defender os aspectos positivos da mistura racial. Assinale a alternativa correta:


b) buscar as causas históricas do atraso social. a) todas as afirmações são verdadeiras.
c) destacar a violência étnica da exploração colonial. b) apenas a afirmação II é verdadeira.
d) valorizar a dinâmica inata da democracia política. c) as afirmações I e III são verdadeiras.
e) descrever as debilidades fundamentais da coloni- d) as afirmações I e II são falsas.
zação portuguesa. e) todas as afirmações são falsas.
 VOLUME ÚNICO

3. (Enem) Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi 5. (Unicentro) A formação do Brasil e a identidade do


por vezes tratado como cordial e hospitaleiro, mas não brasileiro foram bastante discutidas no início do século
é isso o que acontece nas redes sociais: a democracia ra- XX pelos sociólogos brasileiros Gilberto Freyre, Sérgio
cial apregoada por Gilberto Freyre passa ao largo do que Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. A respeito das
acontece diariamente nas comunidades virtuais do país. análises de Freyre, em seu livro “Casa Grande e Senzala”,
Levantamento inédito realizado pelo projeto Comunica é correto afirmar:

126  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


a) Criou uma tipologia para estudar a formação do Brasil d) Atualmente, o Brasil não é mais visto como uma na-
e do brasileiro, dando ênfase explicativa ao tipo aven- ção miscigenada, e sim maculada pela guerra racial.
tureiro do português em detrimento do tipo semeador. e) O início do século XX representou um período his-
b) Fez um estudo da colonização portuguesa, descreven- tórico em que houve uma maior preocupação com a
do a formação da família patriarcal brasileira, dando es- saúde pública da população.
pecial importância à miscigenação como traço cultural.
8. (Unioeste) Em Casa Grande & Senzala, primeira obra da
c) Observou que a cordialidade do povo brasileiro lhe
trilogia em que Gilberto Freyre analisa a formação da fa-
dificultava o reconhecimento da moderna impessoali-
mília patriarcal brasileira, não é possível observar
dade nas relações sociais.
d) Utilizou o materialismo dialético como chave explicati- a) o elogio da colonização portuguesa no Brasil.
va dos fatos sociais que condicionavam o destino do país. b) a defesa da ideia de que a interação entre os grupos
e) Tratou da decadência do patriarcado rural e do étnicos teria ocorrido em relativa harmonia, a despeito
crescimento das elites urbanas no Brasil. das relações de poder.
c) a presença da influência culturalista de uma perspec-
6. Gilberto Freyre foi um dos principais sociólogos bra- tiva que valoriza traços e práticas culturais dos diferen-
sileiros da geração de 30. Em seu livro “Casa Grande tes grupos que constituem o povo brasileiro.
& Senzala” descreve com objetividade a contribuição d) a noção de que a origem do “atraso” da sociedade
histórica do negro na construção da sociedade brasilei- brasileira seria a mestiçagem.
ra. Foi o primeiro a esboçar o conceito de democracia e) a ideia de que os altos “índices” de miscigenação ob-
racial, baseado em/na: servados na sociedade brasileira estariam associados à
a) Conflitos interraciais que denunciavam a domina- capacidade de adaptação do empreendedor português,
ção dos brancos sobre os negros escravizados. quando comparado a outros povos colonizadores.
b) Descrições de inúmeras relações amorosas entre 9. (UnespAR) A guerra de Canudos aconteceu entre
senhores e escravos, que contribuiu para a miscige-
1893 e 1897, na Bahia. O movimento foi liderado por
nação do Brasil.
Antônio Conselheiro. Com ele, sertanejos baianos esta-
c) Os senhores atribuíam aos negros tarefas braçais e beleceram-se em Canudos, um lugarejo no nordeste da
subalternas. Bahia, e construíram uma comunidade de cerca de 300
d) Inexistência de conflitos raciais com base em justi- mil habitantes. Viviam num sistema comunitário: não
ficativas religiosas. havia propriedade privada e todos os frutos do traba-
lho eram repartidos. Temendo o poder de Antônio Con-
7. (Interbits) Com efeito, já nos anos 1930, a noção elabo-
selheiro e a possibilidade de que a experiência se esten-
rada pelo antropologo Gilberto Freyre (1930), de que esse
desse a outros lugares, os donos das terras, os coronéis,
era um país racial e culturalmente miscigenado, passava
exigiam que os poderes estadual e federal acabassem
a vigorar como uma espécie de ideologia não oficial do
com aquela comunidade.
Estado, mantida acima das clivagens de raça e classe e
dos conflitos sociais que se precipitam na época. Nesse TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. 2ª
contexto, conceitos são reavaliados, imagens assentadas ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010, p. 160-161.

perdem sua mais antiga conotação. Esse é o caso exem-


plar de Jeca Tatu, conhecida personagem de Monteiro Lo- De acordo com a assertiva apresentada acima, de Nelson
bato, que enquanto mestiço, pobre e ignorante, de certa Dacio Tomazi, assinale a alternativa correta, ou seja, assi-
forma representava a condição vivenciada pela maioria nale a alternativa que corresponde com a obra, bem como
da população brasileira. Em 1919, porém, em O proble- o seu autor no que compreende a Guerra de Canudos:
ma vital, Lobato parece ter mudado de posição, quando, a) Os Sertões de Euclides Neto.
desviando a atenção para o problema racial, apresentava b) Os Sertões de Euclides da Cunha
Jeca Tatu não como o resultado de uma formação híbrida, c) Grandes Sertões de Euclides da cunha.
mas como o fruto de doenças epidêmicas. d) Guerra de Canudos de Euclides da cunha.
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças. São Paulo: e) Canudos de Euclides Neto.
Companhia das Letras, 1993, p. 248-249.

Assinale a alternativa incorreta a respeito da formação


do pensamento brasileiro. Gabarito
a) A obra de Gilberto Freyre, na década de 1930, con- 1. A 2. A 3. B 4. A 5. B
tribuiu para que a miscigenação fosse percebida de
 VOLUME ÚNICO

forma positiva. 6. B 7. D 8. D 9. B
b) O texto apresenta um período de mudança de visão
sobre o país, expressa pela transformação do significa-
do da personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato.
c) O Brasil herdou muito dessa visão da miscigenação.
Com isso, a ideia de uma democracia racial continua
presente até hoje.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  127


SOCIOLOGIA
BRASILEIRA:
CAIO PRADO Dessa maneira, o sentido da colonização brasileira precisa
ser compreendido dentro de três séculos de atividade de
JR. E SÉRGIO exploração, contendo elementos de dominação por parte
BUARQUE DE dos países europeus a partir do século XV. Isso quer dizer

CH
HOLANDA que os fatos históricos possuem enorme influência na for-
mação desse povo. Diante disso, não é possível dissociar
COMPETÊNCIA(s) esses elementos para compreender a realidade atual.
1, 2, 3, 4 e 5
Assim, o objetivo de Caio Prado Jr. era conhecer o Brasil
HABILIDADE(s) para modificá-lo. Segundo o autor, o país nunca foi sub-
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
desenvolvido ou em desenvolvimento; mas seria um país

19
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 rico e pobre, desenvolvido e atrasado, dependendo do ciclo
econômico de cada período histórico.

A primeira geração de sociólogos da década de 1930 foi multimídia: vídeo


formada por estudiosos que se debruçaram em busca de Fonte: Youtube
um entendimento da formação da sociedade brasileira, Um sonho intenso - Brasil, 2013 (102 min).
abordando diversas temáticas, como a abolição da escra- História comentada do desenvolvimento socioeconô-
vatura e a formação da sociedade brasileira. mico desde 1930 até os dias atuais. Por meio de eco-
nomistas e outros pensadores que discorrem sobre os
1. Caio Prado Jr. (1907-1990) ciclos de crescimento, a industrialização e as mudan-
ças políticas produzidas no país nas últimas décadas,
Formado em Direito e em Ciências Sociais, Caio Prado Jr. sem que todos os desafios em termos de infraestrutura
direcionou seus estudos para a área da Economia Políti- e desigualdades tenham sido vencidos.
ca. Com uma análise histórico-político-social da forma-
ção da sociedade brasileira, as suas obras inauguraram
no país uma tradição historiográfica identificada com o Seguindo essa lógica, o Brasil não passou por ciclos econô-
marxismo, buscando uma explicação diferenciada da so- micos bem definidos historicamente (ciclo do pau-Brasil, ci-
ciedade colonial brasileira. clo açucareiro, ciclo do café, etc.). O que se passou foi uma
superposição de fases econômicas, tendo um produto que
predominava um momento. A problemática social existen-
te no país é consequência de uma política de exploração
europeia, que tinha como principal objetivo abastecer o
mercado da metrópole, relegando à colônia apenas uma
pequena parcela desse processo econômico.
 VOLUME ÚNICO

No ano de 1942, publica a Formação do Brasil Contem-


porâneo, livro que tratará da evolução histórica brasileira,
tendo como início o período colonial, a fim de apresentar
as estruturas sociais do país.

128  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


interpretar o processo histórico posterior e a resultante
dele que é o Brasil de hoje.
Jr. PRADO, Caio.
Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1961, p.5.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Esmola - Skank. Álbum: Calango, 1994.
Essa canção traz uma forte crítica à sociedade contem-
porânea brasileira, com seu consumo exacerbado que multimídia: livro
provoca grandes níveis de desigualdade social, e mais
do que isso, incute uma mentalidade excessivamente
Formação do Brasil Contemporâneo - Caio
egoísta e competitiva.
Prado Jr. São Paulo: Cia. Das Letras, 2011.

1.1. Materialismo histórico à brasileira


Sua análise acerca da formação da sociedade brasileira se 2. Sérgio Buarque de
sustenta não apenas em analisar a atuação das elites econô-
micas do país, mas em destacar o confronto existente entre Holanda (1902-1982)
as classes sociais brasileiras, dando importância às classes Com formação histórica e jurídica, o paulista Sérgio Bu-
sociais que foram renegadas historicamente e que configu- arque de Holanda começa a esboçar sua teoria sobre a
ram o povo e fornecem a base para a sociedade brasileira, formação cultural, econômica e social do Brasil.
tanto no presente como no futuro.
Segundo Caio Prado, a glorificação dos heróis é um grave
problema para a sociedade, pois limita as iniciativas coleti-
vas, impedindo uma transformação sistemática, pois con-
solida uma dependência na resolução dos problemas. Esse
costume de escolher um único indivíduo para acabar com
todos os males, costume bem reproduzido pelos brasileiros
até os dias atuais, proporciona uma subordinação a um
elemento com características superiores ilusórias.
O início do século XIX não se assinala para nós unica-
mente por estes acontecimentos relevantes que são a
transferência da sede da Monarquia portuguesa para o
Brasil e os atos preparatórios da emancipação política do
país. Ele marca uma etapa decisiva em nossa evolução e
inicia em todos os terrenos, social, político e econômico,
uma fase nova. Debaixo daqueles acontecimentos que
se passam na superfície, elaboram-se processos comple- Com forte influência de Max Weber, o pensamento de Sér-
xos de que eles não foram senão o fermento propulsor,
gio Buarque de Holanda, um dos membros da geração de
e, na maior parte dos casos, apenas a expressão externa.
Para o historiador, bem como para qualquer um que pro- 1930, pretende interpretar a identidade e singularidade do
cure compreender o Brasil, inclusive o de nossos dias, o povo brasileiro.
momento é decisivo. O seu interesse decorre sobretudo
de duas circunstâncias: de um lado, ele nos fornece, em
2.1. Raízes do Brasil
 VOLUME ÚNICO

balanço final, a obra realizada por três séculos de colo-


nização e nos apresenta o que nela se encontra de mais Nessa obra publicada em 1936, Sérgio Buarque destaca as
característico e fundamental, eliminando do quadro ou características que o povo brasileiro herda de suas influên-
pelo menos fazendo passar ao segundo plano, o aciden-
cias ibéricas (Portugal e Espanha), como o ruralismo e o pa-
tal e intercorrente daqueles trezentos anos de história.
É uma síntese deles. Doutro lado, constitui uma chave, triarcalismo, que acabaram criando um comportamento de
e chave preciosa e insubstituível para se acompanhar e predomínio dos interesses privados sobre a esfera pública.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  129


multimídia: vídeo multimídia: livro
Fonte: Youtube
Raízes do Brasil - Brasil: 2004 (100 min). Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda.
Homenagem ao centenário de nascimento de Sérgio São Paulo: Cia das Letras, 2015.
Buarque de Holanda (1902), o documentário inclui
imagens do arquivo pessoal do escritor e cenas his- Dessa maneira, Raízes do Brasil apresenta as ideias we-
tóricas do século XX. Dividido em duas partes, o filme berianas diante de uma série de contraposições, como o
mostra desde o cotidiano de Sérgio até um panorama racional e o cordial, o pessoal e o impessoal, salientando
cronológico de sua época. o conceito de Weber de patrimonialismo para descrever as
relações politicamente promíscuas entre o Estado, os go-
O brasileiro, consequência desses costumes, é descrito como vernos e as classes dominantes no Brasil.
um “homem cordial”, ou seja, é um sujeito que age pelo Para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão po-
coração e pelo sentimento, preferindo relações sociais mais lítica apresenta-se como assunto de seu interesse parti-
flexíveis ao invés de cumprir as leis objetivas e imparciais. cular; as funções, os empregos e os benefícios que deles
aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário
Afinal, o que haveria de errado na cordialidade brasileira, e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro
nesse sentido de afetuosidade típica de um povo? Não Estado burocrático, em que prevalecem a especialização
haveria nada condenável se a afabilidade se desse em am- das funções e o esforço para se assegurarem garantias
jurídicas aos cidadãos. A escolha dos homens que irão
biente privado, em relações entre familiares e amigos. O
exercer funções públicas faz-se de acordo com a con-
problema surge quando a cordialidade se manifesta na es- fiança pessoal que mereçam os candidatos, e muito me-
fera pública. Isso porque o tipo cordial – uma herança por- nos de acordo com as suas capacidades próprias. Falta
tuguesa reforçada por traços das culturas negra e indígena a tudo a ordenação impessoal que caracteriza a vida no
– é individualista, avesso à hierarquia, arredio à disciplina, Estado burocrático.
desobediente a regras sociais e afeito ao paternalismo e (HOLANDA, p.146).
ao compadrio, ou seja, não se trata de um perfil adequado
para a vida civilizada numa sociedade democrática.
Diante dessa característica, o brasileiro tem uma enorme
dificuldade de discernir o público do privado, misturando
constantemente essas duas esferas. O homem cordial de
Sérgio Buarque representa a impossibilidade da formação
de um Estado impessoal. Para o homem cordial, no entanto,
há uma extensão natural entre o plano da esfera privada e multimídia: música
o da esfera pública. Fonte: Youtube
Paratodos - Chico Buarque.
Álbum: Paratodos (1993).
Filho de Sérgio Buarque de Holanda, Chico Buarque nes-
sa canção fala não só sobre si, mas também sobre as
raízes do Brasil e a miscigenação do povo brasileiro.
 VOLUME ÚNICO

O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e,


ainda menos, uma integração de certos agrupamentos,
de certas vontades particularistas, de que a família é o
melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o
Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade
e até uma oposição. A indistinção fundamental entre as

130  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


duas formas é prejuízo romântico que teve os seus adeptos mais entusiastas durante o século XIX. De acordo com esses doutri-
nadores, o Estado e as suas instituições descenderiam em linha reta, e por simples evolução, da família. A verdade, bem outra,
é que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e
que o simples individuo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Há nesse
fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material (...). A ordem familiar, em sua forma pura, é abolida
por uma transcendência.
(HOLANDA, p.141).

DIAGRAMA DE IDEIAS

GERAÇÃO DE
1930

SÉRGIO BUARQUE
CAIO PRADO JR.
DE HOLANDA

A FORMAÇÃO ANALISA AS
DA SOCIEDADE ORIGENS DO POVO
BRASILEIRA BRASILEIRO

SE FAZ POR
HERDA HÁBITOS
UMA DIALÉTICA
IBÉRICOS
CONSTANTE E
COMPLEXA

O BRASILEIRO
SENDO RICO SURGE COMO
E POBRE, “HOMEM CORDIAL”
DESENVOLVIDO
E ATRASADO

A MISTURA ENTRE
A ESFERA PÚBLICA
E A PRIVADA
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  131


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UEL) “A falta de coesão em nossa vida social não
representa, assim, um fenômeno moderno. E é por isso
que erram profundamente aqueles que imaginam na
1. (Enem) Para Caio Prado Jr., a formação brasileira se
volta à tradição, a certa tradição, a única defesa possí-
completaria no momento em que fosse superada a nos-
vel contra nossa desordem. Os mandamentos e as orde-
sa herança de inorganicidade social - o oposto da inter-
nações que elaboraram esses eruditos são, em verdade,
ligação com objetivos internos - trazida da colônia. Este
criações engenhosas de espírito, destacadas do mundo
momento alto estaria, ou esteve, no futuro. Se passar-
e contrárias a ele. Nossa anarquia, nossa incapacidade
mos a Sérgio Buarque de Holanda, encontraremos algo
de organização sólida não representam, a seu ver, mais
análogo. O país será moderno e estará formado quando
do que uma ausência da única ordem que lhes parece
superar a sua herança portuguesa, rural e autoritária,
necessária e eficaz. Se a considerarmos bem, a hierar-
quando então teríamos um país democrático. Também
quia que exaltam é que precisa de tal anarquia para se
aqui o ponto de chegada está mais adiante, na depen-
justificar e ganhar prestígio”.
dência das decisões do presente. Celso Furtado, por seu
turno, dirá que a nação não se completa enquanto as HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São
alavancas do comando, principalmente do econômico, Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33.
não passarem para dentro do país. Como para os outros
Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de
dois, a conclusão do processo encontra-se no futuro,
Holanda são intelectuais da chamada “Geração de 30”,
que agora parece remoto.
primeiro momento da sociologia no Brasil como ativida-
SCHWARZ, R. Os sete fôlegos de um livro. Sequências brasileiras. de autônoma, voltada para o conhecimento sistemático e
São Paulo: Cia. das Letras,1999 (Adaptado). metódico da sociedade. Sobre as preocupações caracte-
rísticas dessa geração, considere as afirmativas a seguir:
Acerca das expectativas quanto à formação do Brasil, a
sentença que sintetiza os pontos de vista apresentados I. Critica o processo de modernização e defende a pre-
no texto é: servação das raízes rurais como o caminho mais desejá-
vel para a ordem e o progresso da sociedade brasileira.
a) Brasil, um país que vai pra frente.
II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente
b) Brasil, a eterna esperança.
e a denúncia da visão hierárquica e autoritária das eli-
c) Brasil, glória no passado, grandeza no presente. tes brasileiras.
d) Brasil, terra bela, pátria grande.
III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos
e) Brasil, gigante pela própria natureza. bacharéis como instrumento de transformação social.
2. (Unioeste) “Se vamos à essência da nossa formação IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de
veremos que na realidade nos constituímos para forne- compreensão e explicação da sociedade brasileira.
cer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde Estão corretas apenas as afirmativas:
ouro e diamantes; depois algodão, e em seguida café,
a) I e III.
para o comércio europeu.”
b) I e IV.
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. c) II e IV.
São Paulo, Publifolha, 2000, p.21
d) I, II e III.
O texto acima sintetiza a análise feita por Caio Prado e) II, III e IV.
Júnior sobre o sentido da colonização do Brasil iniciada
pelos portugueses a partir do século XVI. Sobre este pe- 4. (UFRN) Na obra Raízes do Brasil, publicada pela pri-
ríodo é correto afirmar que: meira vez em 1936, Sérgio Buarque de Holanda, ao ana-
lisar o processo histórico de formação da nossa socie-
I. Formou-se, no Brasil, uma economia de caráter depen- dade, afirma:
dente do mercado externo.
Desde o período colonial, para os detentores dos car-
II. O Brasil foi caracterizado por pequenas unidades de gos públicos, a gestão política apresentava-se como
produção diversificadas. assunto de seus interesses particulares. Isso caracteri-
III. A economia brasileira era dominada por pequenas za justamente o que separa o funcionário patrimonial
manufaturas exportadoras. e o puro burocrata. Para o funcionário patrimonial, as
IV. Prevaleceu, no Brasil, uma produção baseada no la- funções, os empregos e os benefícios que deles recebe
tifúndio monocultor. relacionam -se a direitos pessoais dos funcionários e
não a interesses objetivos, como ocorre no verdadeiro
 VOLUME ÚNICO

a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.


Estado burocrático. Assim, no Brasil, pode-se dizer que
b) Somente as afirmativas I e III estão corretas. só excepcionalmente tivemos um sistema administrati-
c) Somente as afirmativas I e IV estão corretas. vo e um corpo de funcionários puramente dedicados a
d) Somente as afirmativas II e III estão corretas. interesses objetivos e fundados nesses interesses.
e) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995 (Adaptado).

132  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Considerando as reflexões do autor e levando em conta IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou
práticas políticas constatadas no Brasil Republicano, é que se enraizassem, no país, práticas sociais opostas
possível inferir que: aos princípios do clientelismo político.
a) os limites entre os domínios do público e do privado, Assinale a alternativa correta:
no âmbito da administração pública, se confundem, não a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
obstante as leis que visam a combater o patrimonialismo. b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
b) o patrimonialismo está presente nas regiões mais c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
carentes do País, em razão apenas do baixo nível de d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
formação dos quadros da administração pública. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
c) as estruturas do poder administrativo no Brasil per-
manecem as mesmas do período colonial, daí a manu- 7. (UEM 2018) “Conforme propôs Sérgio Buarque de
tenção do patrimonialismo disseminado na sociedade. Holanda, o país foi sempre marcado pela precedência
dos afetos e do imediatismo emocional sobre a rigoro-
d) o predomínio do interesse particular sobre o inte-
sa impessoalidade dos princípios, que organizam usu-
resse público, no Brasil, foi efetivamente rompido com
almente a vida dos cidadãos nas mais diversas nações.
o êxito da Revolução de 1930.
‘Daremos ao mundo o homem cordial’, dizia Holanda,
5. (IFSP) O historiador Caio Prado Jr. a afirmou que o não como forma de celebração, antes lamentando a
sentido da colonização do Brasil foi o de “fornecer ao nossa difícil entrada na modernidade refletindo critica-
comércio europeu alguns gêneros tropicais ou minerais mente sobre ela”.
de grande importância. A nossa economia se subordinou (SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia.
inteiramente a esse fim, isto é, se organizará e funcionará São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 17).
para produzir e exportar aqueles gêneros”.
Ao pensar a sociedade brasileira nos anos 1930, Sérgio
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. Buarque de Holanda (1902-1982) indicou ser a cordia-
SP: Cia das Letras, 2011, p. 123 (Adaptado) lidade uma característica fundamental da sociedade
local. Acerca do conceito de homem cordial, conforme
Considerando o sentido da colonização apontado no construído por Sérgio Buarque de Holanda, é correto
texto, é correto afirmar que na organização do Brasil afirmar que
Colonial predominavam:
01) indica o desapreço da sociedade brasileira pelo
a) o latifúndio, o trabalho assalariado e a policultura. uso da violência.
b) a urbanização do interior e a produção monocultora. 02) versa sobre a adesão da sociedade brasileira ao
c) o trabalho escravo, o mercado livre e a industrialização. cumprimento das leis e sobre o desprezo pelo “jeitinho”.
d) o latifúndio, o trabalho escravo e a agricultura de 04) as relações pessoais extrapolam as relações pri-
exportação. vadas e organizam também a vida pública.
e) a pequena propriedade, o trabalho dos imigrantes 08) a cordialidade seria algo transmitido no processo
e a mineração. de socialização presente, de certa forma, na maioria
dos brasileiros.
6. Leia o texto a seguir.
16) indica a superação do passado colonial e a possi-
Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo demo- bilidade de estruturação de uma democracia no Brasil
crático jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos baseada nos princípios de ordem e de progresso.
efetivamente esses princípios até onde coincidiram com
a negação pura e simples de uma autoridade incômoda, 8. (UEM) A incivilidade gourmet
confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e per- (...) Em entrevista à Folha de S. Paulo, o sociólogo espa-
mitindo tratar com familiaridade os governantes. nhol Manuel Castells chegou a tempo de enfiar o dedo
nas escancaradas escaras da sociedade brasileira. (...)
HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995. p. 160. “A imagem mítica do brasileiro simpático só existe no
samba. Na relação entre pessoas, sempre foi violento. A
O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade
Sérgio Buarque de Holanda sobre a tradição política bra- que se mata”.
sileira. A esse respeito, considere as afirmativas a seguir. Continua a matéria, “para os leitores de Sergio Buarque
I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservan- de Holanda, o sociólogo espanhol apenas redescobre as
do elementos patrimonialistas e paternalistas que difi- raízes da sociedade brasileira plantadas nos terraços da
cultam a consolidação democrática. escravidão, entre a casa-grande e suas senzalas. (...) Sob
a capa do afeto, o cordialismo esconde as crueldades da
 VOLUME ÚNICO

II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para


discriminação e da desigualdade.”
a recusa das relações hierárquicas, as quais são incom-
patíveis com regimes democráticos. BELLUZZO, Luiz Gonzaga. A incivilidade gourmet.
Carta Capital, Ano XXI, Nº 854.
III. As relações pessoais entre governantes e governa-
dos inviabilizaram a instauração do fenômeno demo- A matéria retratada aponta como ilusória a ideia de que
crático no país com a mesma solidez verificada nas na- o brasileiro teria como característica a cordialidade,
ções que adotaram o liberalismo clássico. sendo, ao contrário, preconceituoso e agressivo. As fra-

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  133


ses expressivas da arrogância discriminativa presente somente em mercadoria, ele se aliena do fruto de seu
no cotidiano da sociedade brasileira estão indicadas em trabalho e se “coisifica”. A escravidão leva ao limite
a) “Você não pode discutir comigo porque não fez essa transformação do homem em coisa.
faculdade.” “Quem poderia resolver essa situação?” b) A escravidão causou efeitos perniciosos para a
b) “E você, quem é mesmo?” “Um momento enquan- constituição da própria sociedade brasileira. Isso por-
to verifico o seu processo.” que possibilitou, entre outras coisas, a existência do
racismo, que se mantém até hoje.
c) “A culpa é da Princesa Isabel.” “Este é o número do
seu protocolo, agora é só esperar”. c) A discriminação racial não existe mais no Brasil.
Uma vez que o Brasil já está em um regime democrá-
d) “Eu sou o doutor Fulano de Tal.” “O senhor será o
tico e a escravidão foi abolida há mais de cem anos,
próximo a ser atendido.”
as bases sociais que sustentavam essa discriminação
e) “O senhor sabe com quem está falando?” “Colo- já não existem mais.
que-se no seu lugar.”
d) Não se pode compreender a constituição do Brasil
9. (Fuvest) “No seu conjunto, e vista no plano mundial e sem ter em consideração o período colonial e a im-
internacional, a colonização dos trópicos toma o aspec- portância do escravo negro para a cultura brasileira.
to de uma vasta empresa comercial, ... destinada a ex- Apesar de ter sofrido brutalmente durante esse perí-
plorar os recursos naturais de um território virgem em odo, o negro vindo da África trouxe consigo diversos
proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sen- elementos culturais que, posteriormente, foram incor-
tido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das porados à “cultura brasileira”.
resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, e) A escravidão ainda existe no Brasil. Ainda que não
tanto no social como no econômico, da formação e evo- seja institucionalizada, ainda existem pessoas traba-
lução dos trópicos americanos”. lhando de maneira forçada e em condições desuma-
Caio Prado Júnior, HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL. nas no país. Não por acaso, diversas associações e
empresas são signatárias de um Pacto Nacional pela
Com base neste texto, podemos afirmar que o autor: Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil.
a) indica que as estruturas econômicas não condicionam
a vontade soberana dos homens.
b) demonstra a autonomia existente entre as esferas so- Gabarito
cial e econômica.
1. B 2. C 3. C 4. A 5. D
c) propõe uma interpretação econômica sobre a coloni-
zação do Brasil, acentuando seu sentido mercantil. 6. B 7. 04 + 08 = 12 8. E 9. C
d) dá ao Brasil uma especificidade dentro do contexto de
colonização dos trópicos. 10. C
e) confere ao sentido da colonização uma relativa auto-
nomia em relação ao mercado internacional.

10. (Interbits) O principal, e pior, impacto da escravidão


seria o de negar ao trabalhador sua humanidade. Re-
duziria o homem à sua “mais simples expressão, pouco
senão nada mais que o irracional”, já que para o em-
preendimento colonial interessaria dele “o ato física
apenas, com exclusão de qualquer outro elemento ou
concurso moral. A ‘animalidade’ do Homem, não a sua
‘humanidade’”. É difícil imaginar algo mais brutal. [...]
Caio Prado nota também que, em razão da escravidão,
“existiu sempre um forte preconceito discriminador de
raças” no Brasil. Considera, portanto, que esse preconcei-
to não tem motivos biológicos, mas históricos e sociais.
RICUPERO, B. Sete lições sobre as interpretações do Brasil.
2ª ed. São Paulo: Alameda, 2008, p. 144-145.
O texto acima, de Bernardo Ricupero, apresenta uma
explicação da forma como Caio Prado Jr. compreende
 VOLUME ÚNICO

os efeitos da escravidão para a constituição da socieda-


de brasileira. Tendo em conta essa abordagem, assinale
a alternativa incorreta:
a) A noção de que a escravidão destitui o homem da
sua humanidade está relacionada ao conceito marxista
de alienação. Na medida em que o homem deixa de
possuir direito sobre aquilo que produz e se constitui

134  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


SOCIOLOGIA
BRASILEIRA: Continua sua trajetória acadêmica ingressando na Univer-
sidade de São Paulo em 1941, no curso de Ciências Sociais.
FLORESTAN Em 1951 doutorou-se. Na década de 1960, assumiu como
FERNANDES titular da cadeira de Sociologia na mesma instituição. O

CH
título de sua tese é “A integração do negro na sociedade
de classes”, um tema que permanecerá ao longo de seus
COMPETÊNCIA(s) estudos acadêmicos.
1, 2, 3, 4 e 5
Com o regime militar, em 1969, é cassado e afastado de
HABILIDADE(s)
suas atividades intelectuais, passando a lecionar em uni-
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
versidades do Canadá e dos Estados Unidos.

20
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 Em 1978, tornou-se professor titular da PUC-SP. Elegeu-se
Deputado Federal (1987-1990) pelo Partido dos Trabalha-
dores, defendendo a democratização do ensino público. Foi
reeleito em 1990.

1. Florestan Fernandes
(1920-1995) multimídia: livro

Quarto do Despejo - Carolina Maria de


Jesus. São Paulo: Editora Ática, 2014.
O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus
deu origem a esse livro, que relata o cotidiano triste e
cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas con-
tundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar
sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos
anos em que morou na comunidade do Canindé, em
São Paulo, com três filhos.
Florestan Fernandes é considerado o fundador da Sociologia
Crítica no Brasil. Tendo uma origem pobre na cidade de São 1.1. A influência de Marx
Paulo, Florestan abandona os estudos para auxiliar na renda
familiar, dedicando-se ao trabalho ainda na infância. Com Florestan Fernandes sofrerá forte influência do pensamento
dificuldade, consegue terminar a escola já com mais idade. de Marx, principalmente da concepção de luta de classes.
A influência da dialética marxista permeará durante todo o
seu trabalho, principalmente quando busca compreender
a formação do povo brasileiro e, em especial, a formação
da população da cidade de São Paulo. Para Fernandes, a
análise sociológica considera as classes como estruturas
sociais variáveis no tempo, registrando o aparecimento e a
repetição de situações sociais que provocam o crescimento
e a perpetuação das formas de atuação dessas mesmas
multimídia: vídeo
 VOLUME ÚNICO

classes. Com essa interpretação, ele traz o marxismo para a


Fonte: Youtube sociologia brasileira adequado à leitura da estrutura social.
Florestan Fernandes Vox Populi Em outras palavras, ele sugere ao antropólogo abandonar
Entrevista com o sociólogo Florestan Fernandes, em a leitura exclusivamente culturalista e se dedicar a entender
1984, no programa Vox Populi. a situação dos diversos grupos sociais em relação à estru-
tura de classe existente na sociedade brasileira. É notório

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  135


o seu posicionamento político nesse campo de pesquisa, Mundo dos Brancos Mundo dos Negros
pois, para o sociólogo, a democracia racial no Brasil não
Privilégios sociais Discriminação velada
passava de uma falácia. O fator determinante na constitui-
Livre trânsito nos espaços Limitação espacial
ção da sociedade brasileira é o econômico, então o nosso
modelo social montado com base na relação de domina- Dificuldades de
Acesso à informação
acesso à informação
ção econômica entre senhor-escravo já é discriminatório
Patrimônio de terras Dificuldades de
desde o princípio. Longe de haver uma democracia racial, e bens materiais acesso aos patrimônios
o que existe seria uma discriminação social que se torna
Dominação como regra Submissão como regra
também racial e funciona como regra, não como exceção.

1.2. Mundo dos brancos x mundo dos negros


Para o sociólogo, a desigualdade social no Brasil converte-
-se numa desigualdade étnico-social, onde se observa e se
preserva um racismo velado na sociedade. De modo que a
sociedade brasileira se formará mediante a miscigenação
das diferentes etnias, sendo feita de forma violenta e sob
o controle de um grupo social, aquele de origem europeia. multimídia: livro

O negro no mundo dos brancos - Florestan


Fernandes. São Paulo: Difel, 1972.
Nesse livro, o sociólogo faz uma análise da formação
do povo brasileiro, denunciando a supremacia da “raça
branca”, acusando a acomodação racial existente na
sociedade brasileira.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube Diante disso, o sociólogo problematiza a questão racial
Desigualdade Racial no Brasil - 2 minutos para entender! brasileira, demonstrando que essa condição foi naturaliza-
da, ou seja, foi criada por um grupo dominante, os brancos.
Surgindo assim um mundo dos brancos, cercado de regalias Essa condição afeta toda a conjuntura social, influenciando
históricas, como a concentração fundiária, o acúmulo e o todos os pilares da sociedade, pois se construíram símbolos
acesso ao conhecimento e formação das próprias leis sociais. para moldar brancos e negros, valorizando os brancos e
desvalorizando os negros.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube multimídia: música
Sorry to bother you - Estados Unidos, 2018. Fonte: Youtube
Jovem negro busca sua independência com um em- Negro Drama - Racionais MC’s. Álbum: Nada
prego no telemarketing, mas para ter sucesso começa como um dia após outro dia, 2002.
a imitar a voz de um homem branco. A crítica social A canção mostra o cotidiano de violência da periferia e
 VOLUME ÚNICO

perpassa questões raciais e também trabalhistas. denuncia o preconceito racial contra os negros.

O mundo dos negros, por sua vez, é caracterizado por uma Na área de contato com o branco, onde o negro não
limitação do seu espaço social, dificuldades de acesso à in- aparece despojado dos valores de seu mundo social
formação e à educação, sofrendo uma desvalorização dos próprio, suas identificações morais ou culturais não
ritos e da própria formação social. possuem nenhuma eficácia e não contam para nada da

136  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


determinação do ciclo de ajustamento interracial. Nessa área, o negro vive nos limites de sua segunda natureza humana e tem
de aceitar e submeter-se às regras do jogo, elaboradas para os brancos, pelos brancos e com vistas à felicidade dos brancos. [...]
O negro foi exposto a um mundo social que se organizou para os segmentos privilegiados da raça dominante. Ele não foi inerte
a esse mundo. Doutro lado, esse mundo também não ficou imune aos negros. Todos os que leram Gilberto Freyre sabem qual
foi a dupla interação, que se estabeleceu nas duas direções. Todavia, em nenhum processo social. O negro permaneceu sempre
condenado a um mundo que não se organizou para tratá-lo como ser humano e como "igual".
FERNANDES, Florestan.
O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Global, 2007, pp.31-33.

DIAGRAMA DE IDEIAS

FLORESTAN
FERNANDES

A SOCIEDADE
BRASILEIRA SE
CONSTITUI PELA
DESIGUALDADE

DESIGUALDADE
ÉTNICO-SOCIAL

SURGINDO DOIS
MUNDOS DISTINTOS

MUNDO DOS MUNDO DOS


BRANCOS NEGROS

PRIVILÉGIOS DIFICULDADES
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  137


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. Com base no fragmento de texto acima, é correto afir-
mar que o método empregado por Florestan Fernandes
1. Em O negro no mundo dos brancos, Florestan Fernan- pressupõe a:
des defende que uma das maneiras de se compreender a) análise sincrônica e que consiste em um modelo for-
a democracia racial no Brasil é por meio do entendi- mulado com base no funcionalismo.
mento do solapamento e da neutralização dos movi- b) combinação entre a análise sincrónica e a diacrônica
mentos sociais voltados para a democratização das re- e que consiste em um modelo fenomenológico que com-
lações raciais e para o fortalecimento das técnicas de bina percepção e práxis.
acefalia dos estratos raciais heteronômicos ou depen- c) combinação entre a análise funcionalista e a fenome-
dentes. Considerando-se essa concepção e as ideias nológica e que consiste em um modelo estruturado no
do referido autor, é correto afirmar que a democracia par dialético sincronia e anacronia.
racial no Brasil é: d) combinação entre a análise sincrónica e a diacrônica
a) incoerente, já que os princípios que a orientam se e que consiste em um modelo quase dialético de fusão
assentam na divisão de classes sociais, e não de raças. da perspectiva histórica com a perspectiva estrutural-
b) inconsistente, dado que os indivíduos em condição -funcional.
de exceção ajudam a confirmar a regra e elaboram os e) análise diacrônica e que consiste em um modelo fun-
interesses da coletividade negra. damentado no materialismo histórico-dialético.
c) falsa, uma vez que negros e mulatos são socializa-
dos para tolerar, aceitar e endossar as formas existen- 4. (UEMA) A ideia da existência de uma democracia ra-
tes de desigualdade racial. cial no Brasil foi desconstruída pelos estudos de Flores-
tan Fernandes, sobretudo, em seu livro A integração do
d) disforme, pois, conforme o contexto regional, há
negro na sociedade de classes. Nesta obra de 1965, o
maior ou menor grau de democracia e aceitação do
autor argumenta que a democracia racial na sociedade
negro na sociedade dos brancos.
brasileira é um mito na medida em que a abolição da
e) inexistente, visto que há a invisibilidade social do
escravatura libertou os negros “oficialmente”, mas não
branco e o destaque dos papéis sociais das minorias,
os incluiu na sociedade como cidadãos, mantendo, as-
notadamente, dos negros.
sim, a discriminação e a submissão da população negra
aos brancos, permanecendo, portanto, as desigualda-
TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES des sociais entre negros e brancos.
“A intenção foi ligar a desintegração do sistema de cas- A democracia racial no Brasil, de fato, ainda se constitui
tas e estamentos à formação e à expansão do sistema de como um mito, identificado na fala cotidiana brasileira
classes, para descobrir como variáveis independentes, com expressões de preconceito racial, a exemplo de:
constituídas por fatores psicossociais ou socioculturais
baseados na elaboração histórica da “raça” ou “da cor”, a) “Vamos acabar com essa negrinhagem”; “serviço de
poderiam ser e foram realmente recalibrados estrutural preto”; “Respeito à diversidade”.
e dinamicamente. Há, por trás dessa posição interpreta- b) “Cabelo de palha de aço”; “Todas as pessoas nascem
tiva, uma arrojada atitude científica, que impunha aos iguais.”; “Lápis cor de pele”.
autores que o complexo “cadinho de relações raciais” c) “Nasceu com um pé na cozinha”; “Inveja branca”; “A
fosse considerado como um fato total, ou seja, sob to- primeira igualdade é a justiça”.
dos os aspectos que pudessem ser relevantes para uma d) “Da cor do pecado”; “Ser diferente é legal”; “Não
descrição sociológica e uma interpretação causal focali- sou tuas negas”.
zadas sobre certos problemas fundamentais.” e) “A coisa tá preta”; “Cabelo ruim”; “Negro de alma
Florestan Fernandes. O negro no mundo dos brancos. branca”.
2. ed. São Paulo: Global, 2007 (Adaptado).
5. “Na ânsia de prevenir tensões raciais hipotéticas e
2. Considerando-se o fragmento de texto acima, é corre- de assegurar uma via eficaz para a integração gradati-
to afirmar que “cadinho de relações raciais” refere-se a va da ‘população de cor’, fecharam-se todas as portas
um fato total que expressa: que poderiam colocar o negro e o mulato na área dos
a) a presença simultânea de castas, estamentos e benefícios diretos do processo de democratização dos
classes sociais na sociedade brasileira. direitos e garantias sociais. Pois é patente a lógica des-
b) toda ordem de fenômenos físicos, psicológicos e se padrão histórico de justiça social. Em nome de uma
sociais existentes na sociedade brasileira. igualdade perfeita no futuro, acorrentava-se o ‘homem
de cor’ aos grilhões invisíveis de seu passado, a uma
c) a coesão e o equilíbrio do sistema de classes sociais
 VOLUME ÚNICO

condição sub-humana de existência e a uma disfarçada


existente na sociedade brasileira.
servidão eterna”.
d) a dinâmica e a harmonia do sistema de classes
sociais existente na sociedade brasileira. Fernandes, F. A integração do negro na sociedade de
classes. São Paulo: Globo, 2008, v. 1, p. 309.
e) um fenômeno que se impõe, de forma coercitiva,
do social sobre o individual na sociedade brasileira. O trecho acima, do sociólogo Florestan Fernandes, ex-
põe a lógica das relações raciais no período de consoli-

138  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


dação da ordem social competitiva no Brasil. O proces- 8. (UEL) Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
so de “integração gradativa” do negro à sociedade de (UERJ) foi implantado, no exame vestibular, o sistema
classes refere-se a uma sociedade baseada no(a): de cotas raciais, que desencadeou uma série de discus-
sões sobre a validade de tal medida, bem como sobre
a) democracia racial.
a existência ou não do racismo no Brasil, tema que per-
b) racismo institucional.
manece como uma das grandes questões das Ciências
c) preconceito de marca.
Sociais no país. Roger Bastide e Florestan Fernandes, es-
d) “mito” da democracia racial.
crevendo sobre a escravidão, revelam traços essenciais
e) liberdade racial.
do “racismo à brasileira”, observando que:
6. No que se refere ao racismo no Brasil, assinale a op- Negro equivalia a indivíduo privado de autonomia e li-
ção correta: berdade; escravo correspondia (em particular do século
a) Após os golpes de estado de 1964 e 1968, o mito XVIII em diante) a indivíduo de cor. Daí a dupla proi-
da democracia racial continua a servir como ideal ou bição, que pesava sobre o negro e o mulato: o acesso
a papéis sociais que pressupunham regalias e direitos
inspiração na sociedade brasileira.
lhes era simultaneamente vedado pela ‘condição social’
b) A formulação de Gilberto Freyre sobre o país cons-
e pela ‘cor’.
tituir uma democracia social foi, historicamente, rejei-
tada no Brasil. BASTIDE, R.; FERNANDES, F. Brancos e negros em São
c) Para Florestan Fernandes, o racismo mascarado Paulo. 2.ed. São Paulo: Nacional, 1959, p. 113-114.
desempenhou importante papel na manutenção das Com base no texto e nos conhecimentos sobre a ques-
desigualdades na sociedade brasileira. tão racial no Brasil, é correto afirmar:
d) A existência de mobilidade social e de abertura
racial significa ausência de preconceitos e de discri- a) O racismo é produto de ações sociais isoladas desco-
minação conforme Florestan Fernandes. nectadas dos conflitos ocorridos entre os grupos étnicos.
e) O racismo brasileiro deve ser lido como reação à b) A escravatura amena e a democracia nas relações
igualdade legal entre cidadãos formais e informais étnicas levaram à elaboração de um ‘racismo brando’.
que se instalou com o fim da escravidão. c) As oportunidades sociais estão abertas a todos que
se esforçam e independem da ‘cor’ do indivíduo.
7. (Udesc 2019) Leia o trecho a seguir: d) Nas relações sociais a ‘cor’ da pessoa é tomada
“Não existe democracia racial efetiva, onde o inter- como símbolo da posição social.
câmbio entre indivíduos pertencentes a ‘raças’ distintas e) O comportamento racista vai deixando de existir,
começa e termina no plano da tolerância convenciona- paulatinamente, a partir da abolição dos escravos.
lizada. Esta pode satisfazer as exigências do bom-tom,
de um discutível espírito cristão e da necessidade práti- 9. (UFSC 2018) Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo
ca de ‘manter cada um no seu lugar’. Contudo, ela não louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo –
aproxima realmente os homens senão na base da mera há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo
Brasil –, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena
coexistência no mesmo espaço social e, onde isso che-
ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande
ga a acontecer, da convivência restritiva, regulada por
do Sul, e em Minas Gerais, principalmente do negro.
um código que consagra a desigualdade, disfarçando-a
A influência direta, ou vaga e remota, do africano. Na
e justificando-a acima dos princípios de integração da
ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se
ordem social democrática”.
deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala,
Florestan Fernandes, 1960. no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é ex-
Florestan Fernandes se refere à ideia de “democracia pressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca
racial” que, durante um período, foi considerada cons- da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos em-
titutiva da identidade nacional brasileira. Esta tese era balou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer,
caracterizada por: ela própria amolengando na mão o bolão de comida.
a) pressupor uma miscigenação harmoniosa entre FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala, 2005 [1933], p. 367.
os diferentes grupos étnicos constitutivos da nação Em suma, a expansão urbana, a revolução industrial e
brasileira. a modernização ainda não produziram efeitos bastante
b) apregoar que representantes de todos os grupos profundos para modificar a extrema desigualdade racial
étnicos deveriam ter representatividade política em que herdamos do passado. Embora “indivíduos de cor”
âmbito legislativo. participem (em algumas regiões segundo proporções
c) promover a denúncia de práticas racistas contra
 VOLUME ÚNICO

aparentemente consideráveis) das “conquistas do pro-


negros, mulheres e indígenas. gresso”, não se pode afirmar, objetivamente, que eles
d) reivindicar a instauração de processos e eventuais compartilhem, coletivamente, das correntes de mobili-
julgamentos dos responsáveis pelo processo de fave- dade social vertical vinculadas à estrutura, ao funciona-
lização nas grandes capitais brasileiras, a partir de fins mento e ao desenvolvimento da sociedade de classes.
do século XIX.
e) defender as candidaturas plurirraciais nos proces- FERNANDES, Florestan, O negro no mundo dos
brancos, 2006 [1972], p. 67. [Adaptado].
sos eleitorais, pós 1964.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  139


Acerca do debate sobre relações raciais no Brasil e com 11. No debate sobre as cotas para o ingresso dos negros
base na leitura dos textos acima, é correto afirmar que: nas universidades públicas, reapareceram, de forma re-
01) a chamada “democracia racial” é uma expressão corrente, argumentos favoráveis e contrários à adoção
normalmente atribuída a Florestan Fernandes, que dessa política afirmativa. Os trechos reproduzidos a se-
guir constituem exemplos desses argumentos.
defendia essa ideia sobre o Brasil.
02) para o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, o Em um país onde a maioria do povo se vê misturada,
Brasil seria um país miscigenado não apenas no plano como combater as desigualdades com base em uma
biológico, mas também no cultural. interpretação do Brasil dividido em “negros” e “bran-
cos”? Depois de divididos, poderão então lutar entre
04) há diferentes interpretações sociológicas e antro-
si por cotas, não pelos direitos universais, mas por mi-
pológicas sobre como se dão as relações raciais no
galhas que sobraram do banquete que continuará sen-
Brasil, inclusive correlacionando as desigualdades ra-
do servido à elite. Assim sendo, o foco na renda parece
ciais com outros fatores, como gênero e classe social.
atender mais à questão racial e não introduzir injustiça
08) segundo as ideias de Florestan Fernandes, no horizontal, ou seja, tratamento diferenciado de iguais.
Brasil foi necessária a realização de medidas formais
Yvonne Maggie (Antropóloga da UFRJ).
para separar negros de brancos.
O Estado de São Paulo. 7 mar. 2010 (Adaptado)
16) segundo Gilberto Freyre, era necessário distinguir
Desde 1996 me posicionei a favor de ações afirmativas
raça de cultura, pois algumas diferenças existentes en-
para negros na sociedade brasileira. Vieram as cotas e
tre brancos e negros seriam de ordem cultural, e não
as apoiei, como continuo fazendo, porque acho que vão
racial, como defendiam algumas teorias.
na direção certa – incluir socialmente os setores menos
10. (IFTO) Desde o século XIX várias foram as alterna- competitivos – embora saiba que o problema é muito
tivas de explicação e compreensão das desigualdades maior e mais amplo. Tenho apoiado todas as medidas
no Brasil. Entre as desigualdades, destaca-se a questão que diminuam a pobreza ou favoreçam a mobilidade so-
étnico-racial ainda presente em nosso cotidiano. Sobre cial e todas as que combatam diretamente as discrimina-
a desigualdade étnico-racial que ainda existe na socie- ções raciais e a propagação dos preconceitos raciais. Em
dade brasileira, julgue os itens abaixo e assinale a alter- curto prazo, funcionam as políticas de ação afirmativa;
nativa correta. em longo prazo, funcionam políticas que efetivamente
universalizem o acesso a bens e serviços.
I. O mito da democracia racial não seria simplesmente
Antônio Sérgio Guimarães (Sociólogo da USP) Entrevista concedida
um mecanismo de acobertamento das desigualdades e à Ação Educativa. Disponível em: Acesso em: 30 jun. 2011.
discriminações, mas também a ideologia da identidade
A divergência dessas duas posições reproduz, atualmen-
nacional que impede a construção da igualdade entre
te, o antagonismo existente no debate sobre a questão
os brasileiros.
racial na sociologia brasileira, exemplificado pela oposi-
II. A questão da democracia racial foi discutida por Gil- ção entre os pensamentos de Gilberto Freyre e Florestan
berto Freyre em sua obra Casa-Grande e Senzala, que Fernandes.
considera o convívio entre as raças no Brasil uma ques-
Identifique e explique, nos trechos reproduzidos, os ar-
tão de animosidade desde a sociedade escravista açu-
gumentos favoráveis e desfavoráveis à política de cotas
careira no litoral pernambucano.
para negros em universidades, comparando-os com as
III. Para o pensador social Florestan Fernandes em seu visões teóricas de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes.
livro A Integração do Negro na Sociedade de Classe
(1978) serviu para reforçar a ideia que não existem 12. (Unioeste) “Na segunda metade do século XX, a ten-
distinções sociais entre negros e brancos e afirma uma dência à superação das ideias racistas permitiu que di-
convivência pacífica e harmônica. ferentes povos e culturas fossem percebidos a partir de
IV. A desigualdade social, por exemplo, tem relação suas especificidades. Grupos de negros pressionaram
direta com a escravidão, mais particularmente com o pela adoção de medidas legais que garantissem a eles
modo como os negros foram incorporados a uma socie- igualdade de condições e combatessem a segregação
dade de classes, depois da Abolição, em 1888. racial. Chegamos então ao ponto em que nos encon-
tramos, tendo que tirar o atraso de décadas de descaso
V. A Constituição Brasileira tem como uma de suas for-
por assuntos referentes à África”.
mulações mais importantes a ideia de que todos os in-
divíduos são iguais perante a lei. Na perspectiva étnico- Marina de Mello e Souza. A descoberta da África.
-racial, no entanto, não está inserido o crime de racismo RHBN, ano 4, n. 38, novembro de 2008, p.72-75.
como algo punitivo. A partir deste texto e do conhecimento da sociologia
a) Os itens I, II, III e IV estão corretos. a respeito da questão racial em nosso país, é possível
 VOLUME ÚNICO

b) Os itens I e IV estão corretos. afirma que


c) Os itens II, III, IV e V estão corretos. a) autores como Gilberto Freyre, Florestan Fernandes,
Fernando Henrique Cardoso, Darcy Ribeiro, entre outros
d) Somente o item IV está correto. tantos autores, são importantes por chamarem a aten-
e) Todos os itens estão corretos ção do país para o papel dos negros na construção do
Brasil e da brasilidade, e as formas de exclusão explícitas
e implícitas que sofreram.

140  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


b) apesar de relevante a luta contra o preconceito racial,
o estudo da África só diria respeito ao conhecimento do
passado, do período do Descobrimento do Brasil até a
abolição da escravidão entre nós.
c) estudar a África só nos indicaria a captura e a escra-
vidão de diferentes povos africanos, tendo em vista que
raça e o racismo são categorias ideológicas as quais ser-
vem para encobrir as fortes tensões sociais existentes en-
tre a imensa classe de pobres e o seu oposto a dos ricos.
d) a autora quer dizer que devemos hoje operar cada vez
mais com categorias tais como a especificidade da raça
negra, da raça branca, da raça amarela e outras mais.
e) nenhuma das alternativas está correta.

Gabarito
1. C 2. E 3. D 4. E 5. D

6. C 7. A 8. D 9. 02 + 04 + 16 = 22

10. B
11. Analisando as políticas de cotas para negros nas universi-
dades, a partir das teorias de Freyre e de Fernandes (sabendo-se
que esses autores não se debruçaram sobre a questão das co-
tas), comparando-as, dessa forma, aos argumentos favoráveis e
desfavoráveis presentes nos textos lidos na questão. Espera-se,
além disso, que o candidato seja capaz de mobilizar conceitos,
tais como: raça, cor, desigualdade, diversidade, miscigenação e
democracia racial.
12. A

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  141


SOCIOLOGIA
BRASILEIRA:
DARCY RIBEIRO
E HERBERT
DE SOUZA

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: livro
HABILIDADE(s)
O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, - Darcy Ribeiro. São Paulo: Cia das Letras, 1997.

21
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Esse livro pretende uma análise histórico-antropológica,
apresentando como os brasileiros se formaram e cons-
tituíram uma civilização mestiça e tropical, mais alegre,
porém mais sofrida.

A esses pilares se somam três forças: a ecologia, a economia


e a imigração. Ele sustenta que somos muito mais marcados
hoje pelas nossas semelhanças do que pelas diferenças. Sur-
gia assim uma estrutura social totalmente inédita, cuja eco-
1. Darcy Ribeiro (1922-1997) nomia era baseada no escravismo e no mercantilismo, que
se constituiu pela supressão de qualquer identidade étnica
O sociólogo Darcy Ribeiro é um dos exemplos de que só discrepante da do conquistador, através do etnocídio e do
analisar a realidade não é o bastante, é preciso vivenciá-la, genocídio, cuja ideologia era sustentada pela igreja.
para assim saber apontar e realizar transformações. Diante disso, a formação do brasileiro se desenvolve no
conflito, que sempre é mascarado. O autor apresenta diver-
sos exemplos desses conflitos, como Canudos e Palmares.
Isso só caracteriza a política de extermínio que existe nesses
conflitos, de modo que não existe a possibilidade da tolerân-
cia étnica e nem mesmo a tolerância no espaço geográfico,
desencadeando mortes ao longo de nossa história.

Nascido em Minas Gerais, Darcy Ribeiro preocupou-se em


entender a origem do povo brasileiro, procurando compre-
ender os primeiros agrupamentos sociais que habitaram o
território brasileiro: os indígenas. Ribeiro analisou as misturas multimídia: livro
culturais, como os contatos entre europeus, africanos, asiáti-
cos e nativos. Com base nesses estudos, escreveu sua maior
TESTEMUNHO - Darcy Ribeiro. São
obra, intitulada O Povo Brasileiro, publicada em 1995.
Paulo: Siciliano, 1990.
Nessa obra, o sociólogo afirma que essa mistura de raças Nesse livro, o antropólogo Darcy Ribeiro faz uma au-
do povo brasileiro foi sustentada por quatro pilares: tocrítica diante de seus atos, na área antropológica, na
§ as matrizes que compuseram o nosso povo; política e na própria vida.
 VOLUME ÚNICO

§ as proporções dessa mistura que tomou o país; Darcy Ribeiro apresenta que esses conflitos continuaram,
§ as condições ambientais em que ela ocorreu e; pois existe uma verdadeira "luta de classes"; de um lado
"a insistência dos oprimidos em abrir e reabrir as lutas para
§ os objetivos de vida e produção assumidos por cada fugir do destino que lhes é prescrito; e, de outro lado, a
uma dessas matrizes. unanimidade da classe dominante que compõe e controla
um parlamento servil".

142  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


1.1. A Empresa Brasil as crianças brasileiras. Elas não foram escolarizadas. Me-
nos da metade das nossas crianças completam quatro
A análise do Brasil no plano econômico: séries de estudos primários. [...]
§ A empresa escravista: desde os tempos da produção de Fracassei, por igual, nos dois objetivos maiores que me
cana-de-açúcar, passando pela mineração, tendo como propus como político e como homem de governo: o de
centralidade a escravidão negra. Essa empresa foi alta- realizar a Reforma Agrária e de pôr sob o controle do
Estado o capital estrangeiro de caráter mais aventurei-
mente especializada, garantia a prosperidade dos ricos.
ro e voraz. [...]
§ A empresa jesuíta: fundada na servidão indígena com Desses fracassos da minha vida inteira, que são os úni-
o intuito de destribalizar os indígenas, contribuiu para cos orgulhos que eu tenho dela, eu me sinto compensa-
a liquidação de povos. do pelo título que a Universidade de Paris VII me confere
aqui, agora. Compensado e estimulado a retomar a
§ A microempresa de produção de gêneros de subsistência
minha luta contra o genocídio e o etnocídio das popula-
e de criação de gado: desenvolveu ações que a desobri- ções indígenas; e contra todos os que querem manter o
garam a produzir alimentos para a população, viabilizou povo brasileiro atado ao atraso e à dependência."
a sobrevivência de todos e a incorporação dos mestiços. RIBEIRO, Darcy.
§ A empresa parasita (banqueiros, armadores e comer- Testemunho. São Paulo: Siciliano, 1990, pp.12-15.
ciantes de importação e exportação): foi a empresa que
mais afetou o destino dos homens, pois transfigurou
todas as relações sociais em cifras monetárias. 2. Herbert de Souza -
A consequência dessas empresas funde o povo brasileiro: Betinho (1935-1997)
um povo novo destribalizando índios, desafricanizando ne-
A sociologia sempre pautou pela análise e possível mudan-
gros e deseuropeizando brancos.
ça da sociedade. Vivendo num país onde a desigualdade
social é gritante aos olhos, o sociólogo brasileiro Herbert
1.2. A militância a favor da José de Souza, o Betinho, não se limitou só a documentar
educação e dos indígenas essa situação, mas tratou de modificá-la. Foi um dos princi-
pais ativistas pelos direitos humanos no Brasil.
Militante fervoroso, defendeu a causa dos índios no país,
auxiliando parte do planejamento para a construção do
Parque Indígena do Xingu, com os irmãos Villas-Bôas. Tam-
bém se voltou para a educação, fundando a Universidade
de Brasília (UNB), como fruto de um projeto diferenciado
onde havia a divisão entre institutos centrais e faculdades.
Seus trabalhos se limitam ao campo da Etnologia, da An-
tropologia e da Educação.
Em 1978 recebi o título de Doutor Honoris Causa da
Sorbonne. Dei, então, um testemunho pessoal, aprovei- Inconformado com as desigualdades e injustiças, Betinho
tando a oportunidade única de auto-apreciação que a desenvolveu diversas ações práticas, com o intuito de trans-
velha Universidade me abria. Sendo quem sou, jamais formar a realidade a sua volta. Herdou da mãe a hemofilia,
a perderia. [...] uma doença genética que compromete a capacidade do
"Senhoras e Senhores: corpo em formar coágulos sanguíneos. Em 1986, descobriu
ter contraído o vírus da AIDS em uma transfusão sanguínea.
Obrigado. Muito obrigado pelo honroso título que me
conferem. Eu me pergunto se o mereci. Talvez sim, não, Fundou, em 1986, a ABIA (Associação Brasileira Interdiscipli-
certamente, por qualquer feito, ou qualidade minha. Sim, nar de AIDS), uma organização não governamental sem fins
como consolação de meus muitos fracassos.
lucrativos, para orientar os portadores da doença e mobilizar
Fracassei como antropólogo no propósito mais generoso
 VOLUME ÚNICO

a sociedade para enfrentar a epidemia da AIDS no Brasil.


que me propus: salvar os índios do Brasil. Sim, simples-
mente salvá-los. Isto foi o que quis. Isto é o que tento há Seu trabalho mais importante foi a “Ação da Cidadania contra
trinta anos. Sem êxito. [...] a Fome, a Miséria e pela Vida”, em 1993, que formou uma
Fracassei também na realização de minha principal meta imensa rede de mobilização de alcance nacional, com o in-
como Ministro da Educação: a de pôr em marcha um tuito de ajudar os brasileiros que estavam abaixo da linha da
programa educacional que permitisse escolarizar todas pobreza, que na época registravam 32 milhões de pessoas.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  143


O slogan da campanha era “Quem tem fome, tem pressa”. ca. Cidadania é a consciência de direitos democráticos, é
a prática de quem está ajudando a construir os valores
e as práticas democráticas. No Brasil, cidadania é funda-
mentalmente a luta contra a exclusão social e a miséria
e mobilização concreta pela mudança do cotidiano e das
estruturas que beneficiam uns e ignoram milhões de ou-
tros. E querer mudar a realidade a partir da ação com os
outros, da elaboração de propostas, da crítica, da solida-
riedade e da indignação com o que ocorre entre nós. Um
cidadão não pode dormir com um sol deste: milhares de
crianças trabalhando em condições de escravidão, tra-
balhadores sobrevivendo com suas famílias num quadro
Atualmente a Ong "Ação contra da Cidadania” possui vá- de miséria e de fome, a exploração da mulher, a discri-
rias frentes de ação, obtendo parcerias com prefeituras, lu- minação do negro, uma elite rica esbanjando indiferença
tando a favor da agricultura familiar, fazendo mobilizações num mundo de festas e desperdícios escandalosos, de
banqueiros metendo a mão no dinheiro do depositante,
para arrecadar alimentos para o Natal dos desamparados
da polícia batendo em preto e pobre. A fome é a rea-
socialmente, mantendo projetos sociais, como escola de cir- lidade, o efeito e o sintoma da ausência de cidadania.
co, laboratório audiovisual, espetáculos musicais e de teatro, O ponto de partida e de chegada das ações cidadãs. A
além de formação de empreendedorismo a jovens. negação radical da miséria é um postulado de mudança
radical de todas as relações e processos que geram a mi-
séria. É passar a limpo a história, a sociedade, o Estado
e a economia. Não estamos falando de coisas abstratas,
de boas intenções ou desejos humanitários de alguns.
Cidadania é, portanto, a condição da democracia. O po-
der democrático é aquele que tem gestão, controle, mas
não tem domínio nem subordinação, não tem superiori-
dade nem inferioridade. Uma sociedade democrática é
uma relação entre cidadãos e cidadãs. É aquela que se
multimídia: vídeo constrói da sociedade para o Estado, de baixo para cima,
que estimula e se fundamenta na autonomia, indepen-
Fonte: Youtube dência, diversidade de pontos de vista e, sobretudo, na
Arquivo N - Betinho ética – conjunto de valores ligados à defesa da vida e ao
modo como as pessoas se relacionam, respeitando as
O sociólogo Herbert de Souza criou uma ONG, o Ibase, diferenças, mas defendendo a igualdade de acesso aos
para lutar por dignidade. Betinho foi símbolo de uma bens coletivos. O cidadão é o indivíduo que tem consci-
geração – e de muita esperança. Hemofílico, passou a ência de seus direitos e deveres e participa ativamente
vida driblando a doença. Morreu no dia 9 de agosto de todas as questões da sociedade. Um cidadão com
de 1997. O documentário resgata depoimentos dele, sentido ético forte e consciência de cidadania não abre
mão desse poder de participação.
imagens das suas campanhas sociais e sua chegada do
SOUZA, Herbert de (Betinho).
exílio, quando foi decretada a anistia. Poder do cidadão. Texto publicado no encarte
da revista Democracia, n. 113, 1995.

O legado do sociólogo segue atuante na sociedade, de-


monstrando a fragilidade e incompetência do Estado pe-
rante seus cidadãos.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Até quando esperar - Plebe Rude. Álbum: O
 VOLUME ÚNICO

Concreto já rachou. EMI Music Brasil, 1985.


Não é por acaso que a palavra cidadania está sendo cada Nessa música, a banda brasiliense questiona a condição
vez mais falada e praticada na sociedade brasileira. Uma social do povo brasileiro, que ainda padece de uma fra-
boa onda democrática que vem rolando mundo afora gilidade social, apesar de pagar altos impostos.
chegou ao Brasil há algum tempo e tem nos ajudado a
descobrir como dar conta do que acontece na vida públi-

144  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

BETINHO
DARCY RIBEIRO
HERBERT DE SOUZA

O POVO BRASILEIRO AS DESIGUALDADES


É FORMADO SOCIAIS

POR CONFLITOS PRECISAM SER


ÉTNICOS, SOCIAIS, ELIMINADAS
ECONÔMICOS E
RELIGIOSOS

POR AÇÕES
PRÁTICAS E DIRETAS
É UM POVO COM
UMA IDENTIDADE
AINDA EM
FORMAÇÃO

QUE
CONSOLIDA AINDA
DESIGUALDADES
E A REPRODUÇÃO
DE PRECONCEITOS

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  145


Aplicando para Aprender (A.P.A.) Levando em consideração a hipótese do autor, em re-
lação à formação da sociedade brasileira, às dinâmicas
1. (UERR) “Essa massa de mulatos e caboclos, lusitani- sociais e às formas de dominação, é correto afirmar:
zados pela língua portuguesa que falavam, pela visão a) O fortalecimento das elites empresarial, burocrática
de mundo, foram plasmando a etnia brasileira e pro- e eclesiástica se deu num processo de correlação de
movendo, simultaneamente, sua integração, na forma forças que visaram, num processo histórico de longa
de um Estado-Nação. Estava já madura quando recebe duração, a constituir um domínio econômico, a partir
grandes contingentes de imigrantes europeus e japo- do qual as classes inferiores, por não disporem de po-
neses, os quais possibilitou ir assimilando todos eles na der e capital, foram alijadas do processo de dominação.
condição de brasileiros genéricos”. b) A igreja teve papel central na organização da vida
Darcy Ribeiro, O povo brasileiro: a formação e o colonial e imprimiu um sentido sagrado à dominação
sentido do Brasil, Cia. das Letras, 2002, p. 448. por longo tempo. Sua importância em relação à bu-
rocracia civil e às elites econômicas no Brasil foi de
Assinale a alternativa incorreta: tal maneira preponderante, que a Inquisição se fez
a) As identidades nacionais são formadas e transfor- presente como forma de manutenção da ordem e do
madas no interior das representações coletivas, que domínio dos portugueses sobre nativos indígenas e
são dinâmicas e abarcam toda a vida social. escravos africanos.
b) A mestiçagem do povo brasileiro deu-se tanto fisi- c) As mudanças sociais que ocorreram no Brasil desde
camente como culturalmente. sua colonização produziram um tipo de dominação se-
c) O que gerou a identidade nacional brasileira foi o cular, que associou as elites empresarial, burocrática e
encontro entre diversos grupos étnicos, configuran- eclesiástica a um processo civilizacional intimamente
do-se no fenômeno da mestiçagem. associado a um estado de barbárie, em que as cama-
d) O brasileiro é um povo que resultou do encontro das subalternas sempre cumpriram um papel marginal
de vários outros povos, que, embora com culturas di- no seu processo emancipação e esclarecimento.
ferentes, se integraram ao Estado-Nação, às vezes por d) O objetivo principal da cúpula patricial, toda ela
meios violentos. oriunda da metrópole, era formar uma sociedade que
e) A identidade nacional brasileira foi forjada à ferro fosse capaz de contribuir com a expansão dos limites
e fogo pelos portugueses e por grandes contingentes territoriais da Coroa Portuguesa. Em contrapartida,
de imigrantes europeus e japoneses. essas populações nativas teriam o direito ao reconhe-
cimento da cidadania lusitana.
2. (UFPR 2020) Considere o seguinte excerto da obra O e) O autor frisa que, apesar da dominação severa,
povo brasileiro, do antropólogo Darcy Ribeiro: ainda assim havia algum senso de solidariedade por
parte das elites empresarial, burocrática e eclesiásti-
A classe dominante empresarial-burocrático-eclesiástica,
ca, sendo esses três grupos sociais responsáveis pela
embora exercendo-se como agente de sua própria pros-
peridade, atuou também, subsidiariamente, como reitora colonização do Brasil e possibilitando que camadas
do processo de formação do povo brasileiro. Somos, tal sociais inferiores, o povo, as massas, participassem da
qual somos, pela forma que ela imprimiu em nós, ao nos construção do país, de sua cultura e de sua unidade
configurar, segundo correspondia a sua cultura e a seus como “povo brasileiro”.
interesses. Inclusive, reduzindo o que seria o povo bra-
sileiro, como entidade cívica e política, a uma oferta de TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
mão de obra servil. Foi sempre nada menos que prodi- Surgimos da confluência, do entrechoque e do calde-
giosa a capacidade dessa classe dominante para recrutar, amento do invasor português com índios silvícolas e
desfazer e reformar gentes aos milhões. Isso foi feito no campineiros e com negros africanos, uns e outros alicia-
curso de um empreendimento econômico secular, o mais dos como escravos. Nessa confluência, que se dá sob a
próspero de seu tempo, em que o objetivo jamais foi regência dos portugueses, matrizes raciais díspares, tra-
criar um povo autônomo, mas cujo resultado principal foi dições culturais distintas, formações sociais defasadas se
fazer surgir como entidade étnica e configuração cultural enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo.
um povo novo, destribalizando índios, desafricanizando Novo porque surge como uma etnia nacional, que se vê
negros e deseuropeizando brancos. Ao desgarrá-los de a si mesma e é vista como uma gente nova, diferenciada
suas matrizes, para cruzá-los racialmente e transfigurá- culturalmente de suas matrizes formadoras. Velho, porém,
-los culturalmente, o que se estava fazendo era gestar a porque se viabiliza como um proletariado externo, como
nós brasileiros tal qual fomos e somos em essência. Uma um implante ultramarino da expansão europeia que não
 VOLUME ÚNICO

classe dominante de caráter consular-gerencial, social- existe para si mesmo, mas para gerar lucros exportáveis
mente irresponsável, frente a um povo-massa tratado pelo exercício da função de provedor colonial de bens
como escravaria, que produz o que não consome e só para o mercado mundial, através do desgaste da popu-
se exerce culturalmente como uma marginália, fora da lação. Sua unidade étnica básica não significa, porém,
civilização letrada em que está imerso. nenhuma uniformidade, mesmo porque atuaram sobre
(RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido ela forças diversificadoras: a ecológica, a econômica e a
do Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1995. p.178-179.) migração. Por essas vias se plasmaram historicamente

146  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


diversos modos rústicos de ser dos brasileiros: os serta- Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a
nejos, os caboclos, os crioulos, os caipiras e os gaúchos. alternativa incorreta:
Todos eles muito mais marcados pelo que têm de co- a) A identidade nacional brasileira nasceu do encon-
mum como brasileiros, do que pelas diferenças devidas a tro e mestiçagem entre diversos grupos étnicos.
adaptações regionais ou funcionais, ou de miscigenação
b) A miscigenação do povo brasileiro se deu fisica-
e aculturação que emprestam fisionomia própria a uma
mente e principalmente no seu modo de ser e agir.
ou outra parcela da população.
c) A mestiçagem no Brasil foi um erro histórico e um obs-
Darcy Ribeiro. O povo brasileiro, 1995. Adaptado táculo para a construção de uma identidade nacional.
3. (Unesp) De acordo com Darcy Ribeiro, dois movimen- d) As identidades não são coisas com as quais nas-
tos caminharam concomitantemente ao longo do pro- cemos, são formadas e transformadas no interior das
cesso de formação do povo brasileiro: representações coletivas.
e) O homem é o resultado do meio cultural em que foi
a) a produção de uma unidade étnica nacional e a
socializado, é herdeiro de um longo processo acumula-
conformação de uma cultura nacional homogênea.
tivo, que reflete o conhecimento e as experiências ad-
b) a produção de uma sociedade nacional multiétnica quiridas pelas numerosas gerações que o antecederam.
e a coexistência de culturas regionais em extinção.
c) a produção de uma sociedade nacional multiétnica 6. (Unioeste) Tendo por base o texto abaixo, do antro-
e a conformação de culturas regionais transplantadas pologo brasileiro Darcy Ribeiro, assinale o(s) item(s)
de outros países. que melhor corresponde(m) as suas ideias.
d) a produção de uma unidade étnica nacional e a “Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portu-
conformação de diversidades socioculturais regionais. gueses, matrizes raciais díspares, tradições culturais dis-
e) a produção de uma sociedade nacional multiétnica tintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se
e a coexistência de culturas regionais fragmentadas. fundem para dar lugar a um povo novo (...), num novo
modelo de estruturação societária. Novo porque surge
4. (Unesp) De acordo com o excerto, a gênese do povo
como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente
brasileiro está associada:
de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada,
a) ao propósito de ocupação de novos territórios pelos dinamizada por uma cultura sincrética e singulariza-
portugueses e à implantação de um empreendimento da pela redefinição de traços culturais dela oriundos.
de povoamento, voltado à construção de um mercado Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como
interno amplo e diversificado. uma gente nova, um novo gênero humano diferente de
b) à conquista de novos territórios pelos povos afri- quantos existem (...)”
canos, ameríndios e europeus e à implantação de um
“A confluência de tantas e tão variadas matrizes forma-
modelo de desenvolvimento econômico autônomo,
doras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica,
voltado a atender às demandas do mercado externo.
dilacerada pela oposição de componentes diferenciados
c) ao ímpeto pela descoberta de novos territórios pe-
e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez
los povos ameríndios e africanos e à implantação de
que, apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no
um modelo de desenvolvimento social e econômico
espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ances-
de inspiração europeia, dirigido ao progresso técnico
tralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias
e econômico nacional.
raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étni-
d) ao projeto de colonização de novos territórios e cas próprias e disputantes de autonomia frente à nação”
de seus respectivos povos pelos portugueses e à im-
plantação de um empreendimento mercantil, voltado (RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo:
a atender às demandas do mercado externo. Companhia das Letras, 2004, 19-20 [1995]).
e) ao propósito de conquista de novos territórios
I. O Brasil é um país fundamentalmente multicultural,
pelos europeus e à implantação de um modelo de
evidenciando-se no cotidiano o antagonismo entre os di-
desenvolvimento econômico autônomo, voltado a
ferentes povos que migraram para cá e os povos nativos.
atender às demandas do mercado local.
II. O povo brasileiro na realidade é uma ficção, pois sob
5. (Unioeste) O antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, a aparência de um apaziguamento de etnias e culturas
em sua obra O Povo Brasileiro, afirma: “Nós, brasilei- diferentes, o que se tem são etnias minoritárias em luta
ros, somos um povo sem ser impedido de sê-lo. Um para sobreviverem.
povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mes- III. A teoria da miscigenação, que o autor compõe, ex-
tiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela, fomos feitos
 VOLUME ÚNICO

pressa que, apesar dos vários e acentuados embates


e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de na- que as diferentes etnias experimentaram, surgiu uma
tivos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem nova realidade cultural, na qual as culturas e povos fo-
consciência de si, afundada na ninguendade. Assim foi ram misturados de forma única e inseparável, originan-
até se definir como uma nova identidade étnico-na- do os atuais brasileiros.
cional, a de brasileiros.”
IV. Quaisquer das práticas de distinção entre os brasi-
RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. 1995, p.453. leiros, seja por “raça”, “regionalismo”, “origem”, bem

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  147


como práticas como ações afirmativas para grupos ét- 8. (TECPUC) A miscigenação é uma das marcas cultu-
nicos minoritários, corresponderiam às características rais mais importantes na formação do povo brasileiro,
próprias do modo de ser do povo brasileiro. segundo o Antropólogo Darcy Ribeiro. De acordo com
V. O povo brasileiro, em seus tipos regionais, expressa- esta afirmação, assinale a alternativa correta:
ria modos de ser que têm suas raízes no encontro de a) Nosso povo não é misturado nem etnicamente e mui-
índios, negros e brancos, e, posteriormente, nas novas to menos racialmente.
etnias migrantes, sem contudo perder a sua unidade e b) A maioria da população brasileira não é miscigenada.
especificidade ou deixar de ser uma única gente. c) Darcy Ribeiro descaracterizou a cultura do povo bra-
Assinale a alternativa correta. sileiro em suas teorias.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. d) A língua não marcou a nossa construção identitária
b) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. como povo.
c) Apenas as afirmativas III e V estão corretas. e) Do ponto de vista cultural, Darcy Ribeiro formulou uma
d) Apenas a afirmativa IV está correta. classificação das matrizes culturais que caracterizaram as
várias regiões do Brasil antes do intenso processo de urba-
e) Todas as afirmativas estão corretas.
nização e da miscigenação ocorridos historicamente.
7. (PUC-GO) Os atuais índios do estado de São Paulo não
9. (Enem PPL)
representam um elemento de trabalho e de progresso.
Como também nos outros estados do Brasil, não se pode
esperar trabalho sério e continuado dos índios civilizados
e como os Caingangs selvagens são um empecilho para
a colonização das regiões do sertão que habitam, parece
que não há outro meio, de que se possa lançar mão, se-
não o seu extermínio.
IHERING, H. A anthropologia do estado de São Paulo. Revista do
Museu Paulista, VII. São Paulo: Typ. Cardozo, Filho & Cia, 1907.

Opinião como essa, expressa em 1907, por um importan-


te cientista teuto-brasileiro, inspirava-se, segundo Darcy
Ribeiro, em uma atitude secular presente em qualquer
área onde sobrevivam grupos indígenas no Brasil. Sobre
a reação a essa “atitude secular”, no início do século XX,
avalie as afirmações a seguir:
Os ex-escravos abandonam as fazendas em que labuta-
I. Desenvolveu-se um ideal catequizador, responsável
vam, ganham as estradas à procura de terrenos baldios
pelo aldeamento dos indígenas e pela entrada em cena em que pudessem acampar, para viverem livres como se
do evangelismo protestante, bem como uma preocupa- estivessem nos quilombos, plantando milho e mandioca
ção oficial com a saúde e proteção material das pro- para comer. Caíram, então, em tal condição de misera-
priedades dos indígenas. bilidade que a população negra se reduziu substancial-
II. Organizou-se o aldeamento dos indígenas em reservas mente. Menos pela supressão da importação anual de
criadas com a finalidade precípua de preservar a cultura novas massas de escravos para repor o estoque, porque
das diversas etnias e possibilitar o aumento da popula- essas já vinham diminuindo há décadas. Muito mais
ção indígena, a fim de que esses povos conseguissem pela terrível miséria a que foram atirados. Não podiam
competir em igualdade com os imigrantes europeus. estar em lugar algum, porque, cada vez que acampa-
III. Surgiu uma ideologia inspirada no positivismo, ca- vam, os fazendeiros vizinhos se organizavam e convo-
racterizada pela assistência leiga e pela crença de que cavam forças policiais para expulsá-los.
bastava o Estado proteger os indígenas de ataques ex- RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e sentido do
ternos e assisti-los socialmente para que progredissem Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.221.
rumo à civilização. Comparando-se a linguagem do quadro acima, de Pedro
IV. Criaram-se instituições de proteção e defesa dos in- Américo, A Libertação dos Escravos, com o texto de Dar-
dígenas, destacando-se o Serviço de Proteção aos Índios cy Ribeiro, percebe-se que
(SPI), criado em 1910 a partir de ações oficiais lideradas
a) a libertação dos escravos é celebrada pelo pintor e
pelo Marechal Cândido Rondon. lamentada pelo autor do texto.
 VOLUME ÚNICO

É correto apenas o que se afirma em: b) a abordagem do tema no quadro é realista, ao pas-
a) I e II. so que a linguagem utilizada no texto apresenta o
tema de forma idealizada.
b) I e IV.
c) os ex-escravos são apresentados no quadro como ho-
c) III e IV.
mens livres, em condição de igualdade com os brancos,
d) I, II e III. ao passo que o texto evidencia a condição miserável dos
e) II, III e IV. escravos libertos.

148  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


d) a abolição é apresentada no quadro em atmosfera da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. Não
redentora, ao passo que, no texto, a abolição é pro- abrigam nenhum contingente reivindicativo de auto-
blematizada historicamente. nomia, nem se apegam a nenhum passado. Estamos
e) a apresentação do tema, no quadro, evoca elemen- abertos é para o futuro.”
tos típicos da realidade nacional, ao passo que o texto
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo:
aborda o tema a partir de uma perspectiva europeia. Companhia das Letras, 1995.
10. (SEDUC MT) A formação da realidade brasileira é Comparando os dois textos, fica notório que são inter-
marcada pela complexidade de fatos sociais, históricos, pretações completamente antagônicas acerca da iden-
econômicos e culturais. Com o intuito de melhor compre- tidade nacional brasileira.
ender estes processos e de elaborar uma visão sobre os
mesmos que partisse, sobretudo, de dentro desta mes- a) Explique as divergências entre os textos.
ma realidade e não a mera importação de explicações b) Pensando a cultura brasileira, qual dos dois textos
estrangeiras, autores como Darcy Ribeiro, Celso Furtado é mais compatível? Justifique sua resposta.
e Caio Prado Jr. lançaram suas obras, “O Povo Brasileiro:
Formação e sentido do Brasil”, “Formação Econômica do
Brasil” e “Formação do Brasil Contemporâneo”. A respei- Gabarito
to do que é apresentado em “O Povo Brasileiro” de Darcy
Ribeiro assinale a alternativa correta: 1. B 2. C 3. D 4. D 5. C
a) Segundo o autor a ideia de pureza étnico cultural é 6. C 7. C 8. E 9. D 10. B
cabível apenas para a “matriz portuguesa”.
b) Darcy Ribeiro demonstra que em sua gênese a popu- 11. D
lação brasileira deriva de matrizes multiculturais desde
12.
o princípio.
a) No 1.º texto, a formação cultural brasileira é retra-
c) O sentido da empreitada colonizadora foi o de promover
o avanço intelectual aos povos nativos do novo mundo. tada como diversificada, apesar de também retratar
de forma idealizada. Mas o 2.º texto, é completamen-
d) O autor vai defender a tese que a constituição do
te ufanista, buscando exaltar a ideia de plena harmo-
“povo brasileiro” se deu através da miscigenação ra-
nia nas interseções raciais e culturais na formação da
cionalmente induzida entre os diferentes grupos que
cultura brasileira.
compuseram a população brasileira.
b) O 1.º texto. Ele enfatiza que existem diferenças cul-
e) A obra de Darcy Ribeiro acaba por criticar a ideia de
turais na sociedade brasileira desde a formação colo-
“Povo-Nação”.
nial. O 2.º texto produz uma visão ufanista da miscige-
11. “O cidadão é um indivíduo que tem consciência de nação racial e cultural brasileira.
seus direitos e deveres e participa ativamente de todas
as questões da sociedade. Tudo que acontece no mundo
acontece comigo...” (Herbert de Souza – Betinho) se-
gundo a definição acima, podemos afirmar que:
a) O cidadão é o indivíduo que se omite frente ao de-
bate político.
b) B cidadania é apenas restrito aos estudiosos e políticos.
c) O cidadão é aquele que vive em sociedade.
d) A cidadania compreende a necessidade que as
pessoas têm de participarem da vida política sempre
visando o funcionamento da sociedade.

12.“Cinco grupos etnográficos, ligados pela comuni-


dade ativa da língua e passiva da religião, moldados
pelas condições ambientes de cinco regiões disper-
sas, tendo pelas riquezas naturais da terra um entu-
siasmo estrepitoso, sentindo pelo português aversão
ou desprezo, não se prezando, porém, uns aos outros
de modo particular – eis em suma ao que se reduziu
a obra de três séculos.”
 VOLUME ÚNICO

ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 1976 – original de 1907.

“É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de


matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um
dos povos mais homogêneos, lingüística e cultural-
mente e também um dos mais integrados socialmente

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  149


SOCIOLOGIA
BRASILEIRA:
Indivíduo Sujeito que respeita as leis universais e igualitárias.
ROBERTO
DAMATTA Sujeito que desenvolve as relações sociais que
conduzem as dimensões de uma hierarquiza-
Pessoa

CH
ção do sistema, pautada na lógica dos privilé-
gios e status social.
COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

22
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Roberto DaMatta analisa a sociedade brasileira.
Nessa conversa com o jornalista Adalberto Piotto, o an-
tropólogo Roberto DaMatta analisa a sociedade brasi-
leira, com questões que fazem parte da sociedade atual.
1. Roberto DaMatta (1936)
O antropólogo brasileiro Roberto Augusto DaMatta dedi- Com essa duplicidade, o brasileiro tem dificuldade em sa-
ca sua obra a estudar os dilemas e as contradições sociais ber se é indivíduo ou pessoa, pois, no primeiro caso, existe
do Brasil. a respeitabilidade das regras, e, no segundo, surge o jeito
malandro de ser, que adapta as regras. Trata-se do chama-
do “jeitinho brasileiro”, que afeta diretamente o coletivo.
No âmbito coletivo, surge a relação entre o privado e o
público, na qual se estabelecem os conceitos de casa e rua.

PRIVADO PÚBLICO

Casa Rua

Regras válidas Regras não valem

Punições Não tem punições

Segregação Integração

Valorização Desvalorização

Sofrendo influência de Lévi-Strauss, Durkheim e Sérgio Para DaMatta, a sociedade brasileira é frequentemente ins-
Buarque de Holanda, Roberto DaMatta desenvolve a sua tituída por essas relações, consolidando uma contradição
reflexão sob um olhar antropológico, com uma análise do constante na formação social brasileira. A sociedade brasilei-
povo e da cultura brasileira através de suas manifestações ra tem aspectos extremamente autoritários, hierarquizados e
populares e suas manifestações oficiais. DaMatta analisa a violentos, mas tem também a busca de um mundo harmô-
complexidade do Brasil, não se limitando a um esquema nico, democrático e não conflitivo. No mundo da casa, reina
único, mas considerando a sua diversidade cultural. a paz e harmonia, enquanto no mundo da rua os indivíduos
 VOLUME ÚNICO

Em sua análise, o antropólogo aborda duas espécies de lutam pela vida. E, nesse espaço público, surge o elemento
sujeito, o indivíduo e a pessoa, que desencadeiam dois do malandro, que será aquele sujeito que sabe das regras
tipos de espaço social, a casa e a rua. Sendo que nesse oficiais, mas faz as suas próprias regras sociais, beirando as
instante o brasileiro acaba por vivenciar um dilema, de- normas já conhecidas. Essa relação bipolar aparece constan-
sencadeado pela oscilação entre as duas unidades sociais temente nessa sociedade, condicionando normas de condu-
distintas, que são: tas para os integrantes dessa sociedade.

150  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


multimídia: vídeo multimídia: livro
Fonte: Youtube
Roberto DaMatta e a transgressão à brasileira Carnavais, Malandros e Heróis - Roberto
Trecho da participação do antropólogo Roberto DaMat- DaMatta. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
ta apresentando a sociedade brasileira. Nesse livro o antropólogo Roberto DaMatta apresenta as
identidades da sociedade brasileira. O Carnaval, os ma-
landros e os heróis são criações sociais que refletem os
1.1. O Carnaval problemas e dilemas básicos da sociedade que os conce-
beu. Mito e rito são dramatizações ou maneiras de cha-
Segundo Roberto DaMatta, o carnaval é o espaço onde
mar a atenção para certos aspectos da realidade social.
os múltiplos da realidade acontecem; porém, esse espaço
é diferente do cotidiano, pois possui suas próprias regras,
E, realmente, a oposição entre rua e casa é básica, po-
sendo ordenado por uma nova lógica organizacional. O
dendo servir como instrumento poderoso na análise do
ritual contido no espaço carnavalesco se mescla com a mundo social brasileiro, sobretudo quando se deseja es-
dicotomia privado x público, pois contém vários aspec- tudar sua ritualização.
tos da ordem pública, com desfiles e grupos formaliza-
De fato, a categoria rua indica basicamente o mundo,
dos e organizados, conjunto com uma certa desordem e com seus imprevistos, acidentes e paixões, ao passo que
liberdade. Essa mistura é permitida numa fusão dos dois casa remete a um universo controlado, onde as coisas
espaços em um só, acontecendo uma libertação de qual- estão nos seus devidos lugares. Por outro lado, a rua im-
quer tipo de repressão. plica movimento, novidade, ação, ao passo que a casa
subentende harmonia e calma: local de calor (como
Assim, o carnaval torna-se um lugar de questionamento revela a palavra de origem latina lar, utilizada em portu-
das normas, do padrão. No passado, a festa carnavalesca guês para casa) e afeto. E mais, na rua se trabalha, em
casa se descansa. Assim, os grupos sociais que ocupam
questionava temas como a nudez e a sensualidade, e atu-
a casa são radicalmente diversos daqueles da rua. Na
almente as temáticas apresentadas nas festividades carna- casa, temos associações regidas e formadas pelo paren-
valescas versam sobre o racismo, as desigualdades sociais. tesco e relações de sangue; na rua, as relações têm um
caráter indelével de escolha, ou implicam essa possibi-
O carnaval se tornou um símbolo da alegria do povo brasi- lidade. Assim, em casa as relações são regidas natural-
leiro, podendo apresentar também características de uma mente pelas hierarquias do sexo e das idades, com os
fuga da realidade. Aqui, notamos que essa festa popular é homens e mais velhos tendo a precedência; ao passo
frequentemente criticada, por proporcionar ao sujeito um que na rua é preciso muitas vezes algum esforço para
se localizar e descobrir essas hierarquias, fundadas que
processo de alienação; entretanto, torna-se também um
estão em outros eixos.
espaço de transformação dos padrões da sociedade.
DAMATTA, Roberto.
Carnavais, Malandros e heróis. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, pp.90-91.
 VOLUME ÚNICO

multimídia: música
Fonte: Youtube
Macunaíma - Clara Nunes. Álbum: Claridade, 1973.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  151


DIAGRAMA DE IDEIAS

ROBERTO DAMATTA

A SOCIEDADE
BRASILEIRA VIVENCIA
UMA COMPLEXIDADE

EXISTE UMA DIVISÃO


CONSTANTE

PÚBLICO PRIVADO

DESVALORIZAÇÃO VALORIZAÇÃO
DA PESSOA DO INDIVÍDUO

A RUA A CASA
 VOLUME ÚNICO

152  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) "brasileiro". Assinale, na relação a seguir, a afirmativa
incorreta sobre ideias e teses que esse autor vem discu-
1. Roberto DaMatta analisa a ‘casa e a rua’ como duas tindo em seus escritos:
categorias sociológicas no sentido de Durkheim e a) Tanto o carnaval quanto seus malandros e heróis
Mauss, para refletir como a sociedade brasileira pensa são criações sociais que refletem os problemas e os
seus espaços e suas relações sociais. Na concepção de dilemas mais básicos da sociedade brasileira.
Da Matta, qual o significado para a ‘casa e a rua’? b) A presença e a influência do negro na estrutura fami-
a) Estabelecer a casa como o espaço do lar, da pro- liar do Brasil, da cama à mesa, da cidade ao campo, são
teção, do casamento e da harmonia, e a rua como o temas abordados em seu livro Casa Grande e Senzala.
espaço do público, da individualidade e da liberdade. c) Os temas são abordados pelo autor em sua relação
b) Espaços marcados por simbolismo e construídos com duas espécies de sujeito - o indivíduo e a pessoa -
social e culturalmente. situados em dois tipos de espaço social, a casa e a rua.
c) Uma forma de representação geográfica estabele- d) A rua é o espaço público, que é de todos, logo, não
cida pelo indivíduo cujos papéis relacionados com a é de ninguém. A convivência na rua depende de uma
rua são possuídos pelo contraste da casa. negociação constante, entre iguais e desiguais.
d) Espaço relacional no qual a cidadania é expressa e) A casa, considerada em um sentido amplo, é o es-
no ambiente público. paço privado por excelência, onde estão “os nossos”,
e) Categorias que marcam o tempo em espaços hie- que devem ser protegidos e favorecidos.
rarquizados. 4. (Enem PPL) Penso, pois, que o Carnaval põe o Brasil de
2. Em "O que faz do brasil, Brasil?", o antropólogo Ro- ponta-cabeça. Num país onde a liberdade é privilégio de
berto Damatta estabelece uma distinção radical entre uns poucos e é sempre lida por seu lado legal e cívico, a
um "brasil" - com b minúsculo - que sob influência dos festa abre nossa vida a uma liberdade sensual, nisso que
teóricos do século XIX era visto como um conjunto do- o mundo burguês chama de libertinagem. Dando livre
entio e condenado de raças que, misturando-se ao sa- passagem ao corpo, o Carnaval destitui posicionamen-
bor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, tos sociais fixos e rígidos, permitindo a “fantasia”, que
estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, inventa novas identidades e dá uma enorme elasticidade
psicológica e social, e um Brasil - com b maiúsculo - que a todos os papéis sociais reguladores.
designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, DAMATTA, R. O que o Carnaval diz do Brasil. Disponível em:
escolhas e ideais de vida. A partir dessa interpretação http://revistaepoca.globo.com. Acesso em: 29 fev. 2012.

podemos afirmar que: Ressaltando os seus aspectos simbólicos, a abordagem


a) o que torna o Brasil compreensível é uma lógica apresentada associa o Carnaval ao(à)
comum que perpassa a sociedade, a lógica relacional, a) inversão de regras e rotinas estabelecidas.
que se manifesta como negociação e subordinação
b) reprodução das hierarquias de poder existentes.
às normas legais.
c) submissão das classes populares ao poder das elites.
b) a especificidade da cultura brasileira não está na
separação entre as diversas esperas da vida, mas sim d) proibição da expressão coletiva dos anseios de
em sua subordinação à ideologia individualista. cada grupo.
c) o brasileiro desenvolve um tipo de preconceito muito e) consagração dos aspectos autoritários da socieda-
mais contextualizado e sofisticado que o norte-americano, de brasileira.
pois enquanto lá o mesmo se manifesta de forma velada
5. Curioso país esse Brasil, feito de um credo liberal tão
e indireta com base na origem, aqui ele se caracteriza por
tratar a cor como expediente para a discriminação. alardeado na base de suas instituições jurídicas, mas
operando de modo a privilegiar as relações pessoais de
d) o brasileiro exige, a um só tempo, que se lhe dis-
modo tão flagrante.
pense o tratamento de indivíduo e o de pessoa. O de
indivíduo, dentro da melhor tradição democrática, que Roberto Da Matta. A questão da cidadania num universo relacional.
In. A casa e a rua. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1991, p.81.
confere a todos os homens direitos que são fundamen-
tais, e o de pessoa, na melhor tradição aristocrática, Tendo o fragmento de texto acima como referência ini-
que confere aos homens direitos desiguais conforme cial, assinale a opção correta acerca de cidadania.
seu nascimento ou relações sociais. a) No Brasil, o exercício da cidadania tem significado
e) a sociedade brasileira se pensa pelas noções de positivo e impessoal, enquanto nos Estados Unidos da
divisão e conflito. Assim, para compreender a cultu- América a cidadania tem um sentido de negatividade e
ra de nossa sociedade, é preciso compreender que a pessoalidade.
 VOLUME ÚNICO

estrutura competitiva entre as classes é indispensável b) A cidadania no Brasil, ao contrário da existente em pa-
em sua organização. íses como os Estados Unidos da América, fundamenta-se
3. O antropólogo brasileiro Roberto DaMatta vem se no individualismo, considerado um aspecto positivo.
debruçando em seus estudos sobre a realidade antropo- c) Em um contexto histórico determinado, o conceito de
lógica brasileira, identificando e analisando tipos e ritu- cidadania regulada pressupõe a existência de um plura-
ais, como o carnaval, o futebol, o malandro e o próprio lismo democrático.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  153


d) Em situações históricas e sociais diferentes, a mesma jo muito pesado. Ouvindo o galanteador, o tio dá-lhe
noção de cidadania engendra práticas sociais e trata- um soco, dizendo: “Você sabe com quem está falando?
mento diversos. A moça é minha sobrinha!”
e) Há substancial diferença entre a concepção de cida- Num posto de atendimento público, alguém espera na
dania no Brasil e nos Estados Unidos da América, visto fila. Antes do horário regulamentar para o término do
que os norte-americanos se utilizam da cidadania rela- expediente, verifica-se que o guichê está sendo fecha-
cional, ao contrário dos brasileiros. do e o atendimento do público, suspenso.
6. (Unesp 2019) Correndo para o responsável, essa pessoa ouve uma
resposta insatisfatória, e fica sabendo que o expedien-
TEXTO 1
te terminaria mais cedo por ordem do chefe. Manda
Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes chamar o chefe e, identificando-se como presidente do
entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na órgão em pauta, despede todo o grupo.
lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas ar- DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis. 5. ed.
tes. Há infinitas carreiras diante de ti. […] Nenhum [ofí- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990. p. 170-171.
cio] me parece mais útil e cabido que o de medalhão.
[…] Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado 7. (UESB) Identifique as afirmativas verdadeiras.
da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste Sobre os fatos narrados no texto, é correto afirmar:
nobre ofício. […] No entanto, podendo acontecer que,
com a idade, venhas a ser afligido de algumas ideias I. O ocorrido apresentado no primeiro parágrafo eviden-
próprias, urge aparelhar fortemente o espírito. […] Em cia comportamentos contraditórios dos personagens
todo caso, não transcendas nunca os limites de uma envolvidos.
invejável vulgaridade. II. A primeira e última ocorrência destacam que dife-
Machado de Assis. Teoria do medalhão. www.dominiopublico.gov.br. rentes grupos humanos praticam relações interpessoais
fundamentadas em posição de poder, fruto da condição
TEXTO 2 social de cada um.
De fato, existem medalhões em todos os domínios da III. Os dois últimos acontecimentos são exemplos ilus-
vida social brasileira: na favela e no Congresso; na arte trativos de negação das propaladas compreensão e cor-
e na política; na universidade e no futebol; entre poli- dialidade do brasileiro.
ciais e ladrões. São as pessoas que podem ser chamadas IV. As três situações configuram exemplos de relações
de “homens”, “cobras”, “figuras”, “personagens” etc. sociais pautadas em leis que devem valer para todos.
[…] Medalhões são frequentemente figuras nacionais.
V. Os três casos são representativos de relações inter-
[…] Ser o filho do Presidente, do Delegado, do Diretor
pessoais isentas de hierarquização de posições sociais.
conta como cartão de visitas.
Roberto da Matta. Carnavais, malandros e heróis, 1983. As alternativas em que todas as afirmativas indicadas
são verdadeiras é a
Tanto no texto do escritor Machado de Assis como no
do antropólogo Roberto da Matta, a figura do medalhão: a) I e IV. d) II, III e IV.
b) II e V. e) I, III, IV e V.
a) corresponde a um fenômeno cultural recente e
desvinculado do clientelismo. c) I, II e III.
b) tem sua existência fundamentada em ideais libe- 8. No segundo parágrafo, o agressor, ao revelar-se tio
rais e democráticos de cidadania. da “moça” para justificar a sua reação ao galanteio do
c) consiste em um tipo social exclusivamente perten- desconhecido, mostra:
cente às elites burguesas.
a) um recurso legítimo e poderado para resolver questões.
d) apresenta sucesso social fundamentado na compe-
tência acadêmica e intelectual. b) a pessoa que castiga do lado da lei, mantendo o
e) ilustra o caráter fortemente hierarquizado e perso- sistema justo.
nalista da sociedade brasileira. c) a visão cultural de “cada qual no seu lugar” como
sendo uma mera fantasia.
TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES d) a idéia de “consideração” como valor fundamental
Numa esquina perigosa, conhecida por sua má sinaliza- nas relações interpessoais.
ção e pelas batidas que lá ocorrem, há um acidente de e) um comportamento que nega a ideia de uma so-
automóvel. Como o motorista de um dos carros está ciedade voltada para a integração humana.
 VOLUME ÚNICO

visivelmente errado, o guarda a ele se dirige propon-


do abertamente esquecer o caso por uma boa propina. 9. O enunciador, ao usar o “Você sabe com quem está
O homem fica indignado e, usando o “Você sabe com falando?”, pretende:
quem está falando?”, identifica-se como promotor pú- a) criar um novo conceito de interlocutor.
blico, prendendo o guarda. b) tornar pública uma falsa idéia de sua identidade.
Uma moça visita seu tio, um pescador. Enquanto falava c) colocar o interlocutor em uma posição semelhante
com ele, passa um desconhecido e lhe dirige um grace- à sua.

154  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


d) dividir com o seu interlocutor a responsabilidade
de uma ação.
e) passar uma imagem de si mesmo como alguém
possuidor de autoridade.

10. (Unesp)

TEXTO 1

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal


Federal (STF), negou pedido de juiz do Rio de Janeiro
que reivindica que a Justiça obrigue os funcionários do
prédio onde esse juiz mora a chamá-lo de “senhor” ou
de “doutor”, sob pena de multa diária. Na ação judicial,
o juiz argumenta que foi chamado pelo porteiro do con-
domínio de “você” e de “cara” e que ouviu a expressão
“fala sério!” após ter feito uma reclamação.
Mariana Oliveira. “Ministro do STF nega pedido de juiz que quer ser
chamado de ‘doutor’”. http://g1.globo.com, 22.04.2014. (Adaptado)

TEXTO 2

O “Você sabe com quem está falando?” não parece ser


uma expressão nova, mas velha, tradicional, entre nós.
Na medida em que as marcas de posição e hierarquiza-
ção tradicional, como a bengala, as roupas de linho bran-
co, o anel de grau e a caneta-tinteiro no bolso de fora do
paletó se dissolvem, incrementa-se imediatamente o uso
da expressão separadora de posições sociais para que o
igualitarismo formal e legal, mas cambaleante na prática
social, possa ficar submetido a outras formas de hierar-
quização social.
Roberto da Matta. Carnavais, malandros e heróis, 1983. (Adaptado)

Considerando a análise do antropólogo Roberto da


Matta, o fato descrito no texto 1 pode ser corretamente
interpretado como resultante:
a) da contradição entre igualitarismo liberal e autori-
tarismo cultural.
b) da plena assimilação cultural dos ideais iluministas
de cidadania.
c) das tendências estatais de controle totalitário da
existência cotidiana.
d) da superação das hierarquias sociais pela univer-
salização ética.
e) da hegemonia ideológica da classe operária sobre
a classe burguesa.

Gabarito
1. A 2. D 3. B 4. A 5. D

6. E 7. C 8. E 9. E 10. A
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  155


MODERNIDADE
LÍQUIDA:
ZYGMUNT
BAUMAN

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
A fluidez no mundo líquido de Bauman
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
O sociólogo Zygmunt Bauman apresenta, nessa entre-
23
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
vista, seu pensamento perante a liquidez da sociedade
contemporânea.

Líquido-moderna é uma sociedade em que as condições


sob as quais agem seus membros mudam num tempo
mais curto do que aquele necessário para a consolida-
ção, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez
da vida e a da sociedade se alimentam e se revigoram
mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade
líquido-moderna, não pode manter a forma ou perma-
1. Zygmunt Bauman necer muito tempo.

(1925-2017) BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p.7.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos expoen-


tes da sociologia humanística, uma área da sociologia que 1.1. A relação social líquida
estuda os seres humanos como compositores de valores,
As formas da vida contemporânea se caracterizam pelo
desenvolve reflexões sobre a era contemporânea, debru-
uso excessivo de tecnologias, e por uma sociabilidade que
çando-se sobre a sociedade do consumo, as relações afeti-
se perfaz com laços frágeis, temporários e inconstantes.
vas e a globalização.
Num movimento de valorização do particular e do indivi-
dualismo exacerbado, as relações sociais se esvaem num
ritmo frenético.

Para estudar a sociedade atual, Bauman se utiliza da me- Entretanto, inserido nessa nova conjuntura social, o indi-
táfora do “líquido” para explicar o aspecto mutável das víduo se eleva diante do coletivo, salientando a fluidez do
relações sociais, pois o líquido sofre constante mudança e contato social.
não conserva sua forma por muito tempo.
Influenciado pelas teorias de Marx, mas também pela psi-
Diante da velocidade de nosso período histórico, que cul- canálise de Freud, Bauman salienta que o ser humano al-
 VOLUME ÚNICO

mina com um aumento constante de informações, essa meja a felicidade, só que é uma felicidade individual, o que
prática afetará as próprias relações sociais. As tecnologias não garante necessariamente uma satisfação plena. Um
impulsionam o ser humano a querer e pensar o mais rápi- dos problemas é que o indivíduo pode perder a identifica-
do possível, de modo que tudo precisa ser instantâneo, o ção com o grupo social no qual está inserido, pois só o que
tempo de maturação de qualquer relação não se enqua- têm importância são as suas necessidades, a sua figura, e
dra nesse momento. não mais o grupo social.

156  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


De modo que, tudo que envolve o homem, até o próprio ser
humano, tornou-se efêmero, sem valor significativo.

1.2. A propaganda como


condutora do consenso
O grande motor da propaganda consiste na sua habilida-
multimídia: livro de em estimular o indivíduo a consumir um dado produto,
destacando-se as características que se julgam como po-
Tempos Líquidos - Zygmunt Bauman. tenciais fontes de atração da percepção do indivíduo.
São Paulo: Zahar, 1997. A publicidade fabrica consenso para atender aos interes-
Nessa obra, Bauman mostra como as cidades, original- ses do poder econômico, prosperando assim por meio das
mente construídas para proteção ao cidadão, se torna- carências existenciais de cada indivíduo, que consome em
ram um ambiente inseguro. Isso ocorre porque o mundo prol de uma satisfação ilusória.
contemporâneo está, de fato, infestado de emoções flui-
Bauman argumenta que "a liberdade do consumidor signi-
das, que transformam a vida numa experiência rápida e fica uma orientação da vida para as mercadorias aprovadas
sem profundidade. pelo mercado, assim impedindo uma liberdade crucial: a de
se libertar do mercado, liberdade que significa tudo menos
Diante desse cenário, o sociólogo evidencia que o futuro se a escolha entre produtos comerciais padronizados".
torna incerto, pois o sentimento é que se deve viver o pre-
sente, voltando-se exclusivamente para si. Seguindo essa
fórmula, o ser humano mergulha numa ausência de pers-
pectiva, gerando uma angústia. Pois essa incerteza afeta
drasticamente as relações sociais, que não são valorizadas,
e o indivíduo não consegue suportar essa indiferença,
provocada por ele de forma inconsciente e pelos outros
indivíduos. Como consequência dessa angústia, nota-se o
aumento constante do uso de antidepressivos para afastar,
de modo artificial, a sensação de angústia e tristeza.
As novas relações sociais se consolidam nos moldes das
redes sociais, onde a conexão e a desconexão são feitas de
modo cada vez mais rápido.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Cinco pensadores para entender o mundo: Bauman
multimídia: música O doutor em Ciências Sociais Luís Mauro Sá Martino
Fonte: Youtube apresenta nessa série do canal da Casa do Saber o pen-
Efêmera - Tulipa Ruiz. Álbum: samento de Zygmunt Bauman e sua teoria da Moder-
Efêmera. YB Music, 2010. nidade Líquida.
Nessa canção, Tulipa Ruiz demonstra que, apesar de vi-
"Se você quer a paz, cuide da justiça", advertia a sa-
 VOLUME ÚNICO

ver num mundo onde a liquidez está presente, existem bedoria antiga - e, diferentemente do conhecimento,
momentos que acabam marcando nossa vida. a sabedoria não envelhece. Atualmente, a ausência de
justiça está bloqueando o caminho para a paz, tal como
o fazia há dois milênios. Isso não mudou. O que mudou
Esse processo de liquidez está inserido nos pilares da socie- é que agora a "justiça" é, diferentemente dos tempos
dade, adentrando na família, política, economia e na segu- antigos, uma questão planetária, medida e avaliada por
rança. Assim, tudo se torna fugaz e perde a sua concretude. comparações planetárias - e isso por duas razões.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  157


Em primeiro lugar, num planeta atravessado por "au- a qualquer outra coisa: intocado e intocável. O bem-es-
to-estradas da informação", nada que acontece em tar de um lugar, qualquer que seja, nunca é inocente em
alguma parte dele pode de fato, ou ao menos potencial- relação à miséria de outro. No resumo de Milan Kundera,
mente, permanecer do "lado de fora" intelectual. Não essa "unidade da espécie humana", trazida à tona pela
há terra nula, não há espaço em branco no mapa men- globalização, significa essencialmente que "não existe
tal, não há terra nem povo desconhecidos, muito menos nenhum lugar para onde se possa escapar".
incognoscíveis. A miséria humana de lugares distantes
BAUMAN, Zygmunt.
e estilos de vida longínquos, assim como a corrupção Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, pp.11-12.
de outros lugares distantes e estilos de vida longínquos,
são apresentadas por imagens eletrônicas e trazidas
para casa de modo tão nítido e pungente, vergonhoso
ou humilhante como o sofrimento ou a prodigalidade
ostensiva dos seres humanos próximos de casa, durante
seus passeios diários pelas ruas das cidades. As injusti-
ças a partir das quais se formam os modelos de justiça
não são mais limitadas à vizinhança imediata e coligidas
a partir da "privação relativa" ou dos "diferenciais de
rendimento" por comparação com vizinhos de porta ou
colegas situados próximos na escala do ranking social.
multimídia: música
Fonte: Youtube
Em segundo lugar, num planeta aberto à livre circula-
ção de capital e mercadorias, o que acontece em de- Modernidade líquida - Newton Brito.
terminado lugar tem um peso sobre a forma como as Álbum: Modernidade líquida, 2018.
pessoas de todos os outros lugares vivem, esperam ou
supõem viver. Nada pode ser considerado com certeza
Traz referências de Zygmunt Bauman para falar da super-
num "lado de fora" material. Nada pode verdadeira- ficialidade nos relacionamentos na era contemporânea.
mente ser, ou permanecer por muito tempo, indiferente

DIAGRAMA DE IDEIAS

BAUMAN

A SOCIEDADE
AS PROPAGANDAS
CONTEMPORÂNEA
FABRICAM CONSENSOS
VIVE TEMPOS LÍQUIDOS

AS RELAÇÕES HUMANAS
DOMINAM AS PESSOAS
TENDEM A SER MENOS
DURADOURAS

E CONSOLIDAM A
SÃO EFÊMERAS SOCIEDADE LÍQUIDA
 VOLUME ÚNICO

BANALIZAM AS
RELAÇÕES SOCIAIS

158  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. Zygmunt Bauman reflete sobre a liquidez dos laços
na sociedade pós-moderna. De acordo com o autor, po-
1. Um importante sociólogo contemporâneo é polonês dem-se caracterizar as relações sociais como:
Zygmunt Bauman. Preocupado com as novas dinâmi- a) transitórias, superficiais e impessoais, cujas associa-
cas da vida social, propõe um empreendimento refle- ções ocorrem com base em propósitos muitas vezes
xivo que tem como norte as recentes modificações do limitados e instrumentais.
mundo atual. Em relação às análises de Bauman é in- b) pessoais, com uma predominância nos contatos
correto afirmar: sociais primários.
a) Liquidez é a metáfora que Bauman utiliza para ex- c) totalmente afetivas e homogêneas.
plicar o sentido da pós-modernidade. d) individualistas e afetivas.
b) Desmoronamento da antiga ilusão moderna, ou e) instrumentais, a fim de suprir a necessidade coti-
seja, questionamento da crença de que há um fim do diana, pois os indivíduos necessitam preservar seus
caminho em que andamos, um estado de perfeição a bens pessoais.
ser atingido no futuro.
c) Desregulamentação e privatização das tarefas e 4. (UEL) Observe a charge a seguir:
deveres modernizantes. Na modernidade líquida, não
existem mais valores individuais, apenas sociais.
d) Nesta sociedade líquida, transformada pelo mer-
cado, também os valores mais importantes da vida
passam pelo mesmo processo de materialização tal
qual uma simples mercadoria.
e) O processo de transformação pelo qual passa a huma-
nidade pode ser aplicado ao mundo globalizado que, na
sua empolgação compulsiva para produzir bens de con-
sumo acaba produzindo um número significante de lixo.

2. Zygmunt Bauman se apresenta como um dos maiores Figura 9: Adaptado de: Veja, 28 dez. 2011, p.71.
autores no âmbito da sociologia contemporânea. Suas
obras produzem reflexões profundas que expõem os Com base na charge e nos conhecimentos sobre as
indivíduos e suas relações na sociedade pós-industrial. formas de comunicação na sociedade contemporânea,
Com relação à sua obra denominada Modernidade lí- considere as afirmativas a seguir:
quida, dados os itens abaixo: I. A denominada “sociedade de informação” estreita os
I. “Bauman afirma que imigrantes, feios, pobres, mi- vínculos diretos entre os indivíduos e intensifica a coe-
grantes, homossexuais, pretos e estrangeiros são viti- são e a igualdade social.
mados pela inclusão perversa.” II. As novas tecnologias da informação são responsáveis
II. “A indiferenciação entre o âmbito público e o privado pelo surgimento do modo de produção pós-moderno
ou pós-industrial.
chama a atenção de Bauman, que identifica sua amplia-
ção com o crescente esfacelamento dos limites entre III. As redes sociais contribuem para a redefinição das
individual e social, consequência da colonização do es- fronteiras entre os espaços público e privado.
paço público pelos interesses privados.” IV. O Twitter e outras formas de comunicação online
III. “Em meio à modernidade líquida, destaca Bauman evidenciam determinado grau de desenvolvimento das
que ser ou sentir-se livre para ir, vir e desapegar-se é forças produtivas.
status proporcional ao poder de consumo individual.” Assinale a alternativa correta:
IV. “A violência, o terrorismo e o individualismo cres- a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
centes tornam evidente a falência do projeto moderno b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
de ‘ordem e progresso’, gerando ‘não-lugares’ onde se c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
padece no estado de anomia.” d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
V. “Fluidez, maleabilidade, flexibilidade e a capacidade e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
de moldar-se em relação às infinitas estruturas, são al-
gumas das características que o estado liquefeito con- 5. (Enem) O nosso tempo é de desengajamento. O mo-
ferirá às esferas dos relacionamentos humanos.” delo panóptico de dominação, que usava a vigilância, o
monitoramento e a correção da conduta dos domina-
Dentre as afirmações verifica-se que estão corretos so-
 VOLUME ÚNICO

dos como estratégia principal, está sendo rapidamen-


mente: te desmantelado e dá lugar à autovigilância e ao auto
a) I, II e V, apenas. monitoramento por parte dos dominados, tão eficiente
b) III, IV e V, apenas. em obter o tipo correto de comportamento quanto o
c) I, II, III, IV e V. antigo método de dominação.
d) I e III, apenas. BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no
mundo atual. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. (Adaptado)
e) II, III e IV, apenas.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  159


O desengajamento tratado por Bauman, no texto, mos- I. A tendência no capitalismo globalizado é tornar os
tra que estão em curso mudanças que têm como con- postos de trabalho mais flexíveis para atender neces-
sequência o(a): sidades das grandes corporações, levando a questiona-
mentos do modelo taylorista-fordista.
a) liberdade para agir sem o controle familiar.
b) conflito entre diversos modelos de conduta. II. A perda de identidade em relação ao emprego no
capitalismo contemporâneo confirma o fato de que a
c) definição individual dos modelos de conduta social.
categoria trabalho deixou de ser essencial para a pro-
d) valorização de referenciais coletivos de organização.
dução e reprodução da vida social.
e) solidez dos relacionamentos sociais no âmbito político.
III. As políticas antissindicais que acompanham as práti-
6. (Enem 2018) cas neoliberais apresentam como resultado a supressão
das crises econômicas globais com o restabelecimento
TEXTO I do pleno emprego.
As fronteiras, ao mesmo tempo que se separam, unem IV. O desemprego, no capitalismo globalizado, tem a
e articulam, por elas passando discursos de legitimação longa duração como seu traço característico, enquanto
da ordem social tanto quanto do conflito. avança o emprego precário e de alta rotatividade, como
nos call centers.
CUNHA, L. Terras lusitanas e gentes dos brasis:
a nação e o seu retrato literário. Revista
Ciências Sociais, n. 2, 2009. Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
TEXTO II
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
As últimas barreiras ao livre movimento do dinheiro e
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
das mercadorias e informação que rendem dinheiro an-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
dam de mãos dadas com a pressão para cavar novos
fossos e erigir novas muralhas que barrem o movimen- 8. De acordo com Zygmunt Bauman (2008),” na socie-
to daqueles que em consequência perdem, física ou es- dade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito
piritualmente, suas raízes. sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter
BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. recarregar de maneira perpétua as capacidades espera-
das e exigidas de uma mercadoria vendável”.
A ressignificação contemporânea da ideia de fronteira Considerando essa afirmação, a identidade social:
compreende e
a) mantém inalterada sua constituição, uma vez que
a) liberação da circulação de pessoas. acompanha as mudanças sociais e econômicas da so-
b) preponderância dos limites naturais. ciedade de consumidores.
c) supressão dos obstáculos aduaneiros. b) torna-se cada vez mais frágil, à medida que cons-
d) desvalorização da noção de nacionalismo. titui algo efêmero, como também são as mercadorias.
e) seletividade dos mecanismos segregadores. c) torna-se cada vez mais forte, à medida que consti-
tui uma marca vendável do indivíduo.
7. (Uel 2019) Leia o texto a seguir. d) Altera em sua constituição, à medida que a própria
O prefixo “des” indica anomalia. “Desemprego” é o mercadoria também oscila como algo vendável.
nome de uma condição claramente temporária e anor-
9. (UERJ) No admirável mundo novo das oportunida-
mal, e, assim, a natureza transitória e curável da doença
des fugazes e das seguranças frágeis, a sabedoria po-
é patente. A noção de “desemprego” herdou sua carga
pular foi rápida em perceber os novos requisitos. Em
semântica da auto consciência de uma sociedade que
1994, um cartaz espalhado pelas ruas de Berlim ridi-
costumava classificar seus integrantes, antes de tudo,
cularizava a lealdade a estruturas que não eram mais
como produtores, e que também acreditava no pleno capazes de conter as realidades do mundo: “Seu Cristo
emprego não apenas como condição desejável e atin- é judeu. Seu carro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua
gível, mas também como seu derradeiro destino. Uma democracia, grega. Seu café, brasileiro. Seu feriado,
sociedade que, portanto, classificava o emprego como turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras, latinas.
uma chave – a chave – para a solução dos problemas ao Só o seu vizinho é estrangeiro”.
mesmo tempo da identidade pessoal socialmente aceitá-
Zygmunt Bauman Adaptado de Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
vel, da posição social segura, da sobrevivência individual
A alteração de valores culturais em diversas sociedades
 VOLUME ÚNICO

e coletiva, da ordem social e da reprodução sistêmica.


é um dos efeitos da globalização da economia. O car-
BAUMAN, Z. Vidas despedaçadas. Rio de taz citado no texto ironiza uma referência cultural que
Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 19. pode ser associada ao conceito de:
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as trans- a) localismo c) regionalismo
formações mais recentes quanto ao tema desemprego b) nacionalismo d) eurocentrismo
no capitalismo, considere as afirmativas a seguir.

160  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


10. (SEDUC MT) “[…] a sociedade de consumo não é nada TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
além de uma sociedade do excesso e da fartura – e, por-
tanto, da redundância e do lixo”. (BAUMAN, 2007, p. 111). Leia a charge a seguir e responda à(s) questão(ões).
Assinale a alternativa correta acerca da afirmação acima:
a) As novas tecnologias permitem que se produza
mais com menos recursos, o que tem evitado a de-
gradação ambiental.
b) Os centros urbanos, mas não só estes, têm encon-
trado soluções para a questão do descarte de lixo de
seus habitantes, impondo cotas de despacho de resí-
duos sólidos, por exemplo.
c) Com o aperfeiçoamento tecnológico todas as mer-
cadorias tendem a se transformarem em bens de con-
sumo duráveis.
d) A obsolescência acelerada dos produtos é marca
deste momento. 12. (Uel 2018) Na figura, o “fim da linha” é também uma
e) A facilidade com que se descartam as mercadorias metáfora para interpretações como aquelas que defen-
em nada refletem na sociabilidade dos sujeitos na dem que a sociedade atual encontra-se no “fim da histó-
modernidade líquida a que se referem Bauman. ria”, tese popularizada por Francis Fukuyama, ou diante
do “fim das utopias”, formulada por autores como An-
11. (IFMG) Zygmunt Bauman: “No mundo atual, todas thony Giddens e Zigmunt Baumann. Este debate teórico
as ideias de felicidade terminam em uma loja” e social coloca no centro da reflexão temas como moder-
Gonzalo Suárez – Jornalista: Você afirma nidade, mudanças e movimentos sociais.
que esquecemos como ser feliz. Sobre o contexto sociopolítico e os fundamentos pre-
sentes nesse debate, assinale a alternativa correta.
ZB: Primeiro de tudo, tenho que admitir que existem
muitas maneiras de ser feliz. E há alguns que eu nem a) Os protestos coletivos urbanos, a partir dos anos
vou tentar. Mas sei que, qualquer que seja o seu pa- 1990, quando ocorrem, demonstram ser uma ferra-
pel na sociedade de hoje, todas as ideias de felicida- menta política empregada primordialmente pelos in-
de sempre acabam em uma loja. O inverso da moeda divíduos mais pobres e menos escolarizadas.
é que, quando vamos às lojas para comprar felicidade, b) Os novos movimentos sociais têm apresentado
esquecemos outras maneiras de sermos felizes, como como grandes traços a heterogeneidade dos atores
trabalhar juntos, meditar ou estudar. envolvidos, a valorização das adesões individuais
e as alianças pontuais independentes do pertenci-
Disponível em: http://www.elmundo.es/papel/
mento de classe.
lideres/2016/11/07/58205c8ae5fdeaed768b45d0.
html. Acesso em: 4 mai. 2018. c) O liberalismo econômico é o referencial teórico dos
movimentos contra a globalização, revelando a des-
O texto é um trecho de uma entrevista que o sociólogo crença geral com os grandes projetos inspirados nos
Zygmunt Bauman concedeu ao jornalista Gonzalo Suá- ideais socialistas e o fim das grandes narrativas.
rez, do jornal “El Mundo”, no ano de 2016. A resposta d) Para teóricos do “fim da linha” ou do “fim da his-
de Zygmunt Bauman quando questionado sobre seus tória”, a pós-modernidade está marcada pela ausên-
apontamentos de que as pessoas se esqueceram de cia de perspectivas para superar a cristalização de va-
como ser felizes: lores, práticas e projetos sociais defendidos na época
a) Frisa que independentemente do papel do indiví- da modernidade.
duo na sociedade atual todas as ideias de felicidade e) O “fim da linha” é o reconhecimento de que os
terminam em uma loja. valores criados pela modernidade foram cumpridos,
b) Aborda o consumismo, mas enfatiza que se trata restando às novas gerações, garanti-los sem altera-
de uma felicidade tendenciosa. ções significativas.
c) Reafirma os apontamentos destacados pelo jor- 13. (UEL) Leia o texto a seguir.
nalista, mas destaca que a felicidade é um jogo na
A prudência sugere que, para qualquer pessoa que de-
sociedade atual onde adquirir mais é sempre ganhar.
seja agarrar uma chave sem perder tempo, nenhuma
d) Destaca que ao buscarmos felicidade em uma loja
 VOLUME ÚNICO

velocidade é alta demais; qualquer hesitação é desa-


corremos o risco de abandonar práticas comuns de conselhada, já que a pena é pesada.
felicidade como trabalhar juntos, meditar ou estudar,
BAUMAN, Z. Vida para Consumo: a transformação das
praticadas costumeiramente na sociedade atual. pessoas em mercadorias. Trad. Carlos Alberto
Medeiros.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p.50.
Com base na charge e na sociedade agorista, considere
as afirmativas a seguir:

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  161


I. Na sociedade agorista, o volume de informação dispo- Zigmunt Baumann, em Confiança e medo na cidade,
nível é superior ao que seria consumido por uma pessoa afirma que se, entre as condições da modernidade sóli-
culta do século XIII ao longo da vida, o que gera a neces- da, a desventura mais temida era a incapacidade de se
sidade de proteção contra as informações indesejadas. conformar, agora – depois da reviravolta da modernida-
II. Os sentimentos de felicidade ou a sua ausência de- de “líquida” – o espectro mais assustador é o da inade-
rivam de esperanças e expectativas, assim como de quação. Temor bem justificado quando consideramos a
hábitos aprendidos, e tudo isso tende a diferir de um enorme desproporção entre a quantidade e a qualidade
de recursos exigidos por uma produção efetiva de segu-
ambiente social para outro.
rança do tipo “faça você mesmo”.
III. A modernização tecnológica, materializada em equi-
pamentos, facilitou o acesso a produtos e transformou BAUMANN, Z. Confiança e medo na cidade. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p.21-22. (Adaptado).
as ações eventuais em hábitos diários e comuns.
IV. O consumo é uma condição estimulada pelo convívio Com base nesses trechos e nos conhecimentos sobre
humano e o consumismo, um aspecto permanente e ir- modernidade, apresente:
removível, sem limites temporais ou históricos, natural a) uma característica particular para Marx e uma para
e praticado por todos. Bauman.
Assinale a alternativa correta: b) duas características comuns para ambos os autores.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
Gabarito
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 1. C 2. C 3. A 4. C 5. C
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
6. E 7. B 8. B 9. C 10. D
14. (Enem PPL) Tendo se livrado do entulho do maqui-
11. C 12. B 13. D 14. C
nário volumoso e das enormes equipes de fábrica, o ca-
pital viaja leve, apenas com a bagagem de mão, pasta, 15.
computador portátil e telefone celular. O novo atribu- a) Para Marx: volatilidades/fugacidades; ou profana-
to da volatilidade fez de todo compromisso, especial- ções do sagrado; ou novas relações sociais marcadas
mente do compromisso estável, algo ao mesmo tempo por reciprocidades; ou transformações constantes/ace-
redundante e pouco inteligente: seu estabelecimento leradas dos instrumentos de produção; ou inexorabili-
paralisaria o movimento e fugiria da desejada compe- dade da condição de classe. Para Bauman: fluidez; ou
titividade, reduzindo a priori as opções que poderiam insegurança; ou incerteza; ou falta de garantia; ou pro-
levar ao aumento da produtividade. blemas relacionados ao processo de individualização.
b) Ambos os autores avaliam, em suas épocas, a mo-
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
dernidade como processo transformador das relações
No texto, faz-se referência a um processo de transfor- sociais de outrora, definem a modernidade a partir
mação do mundo produtivo cuja consequência é o(a) do capitalismo, mostram que, no lugar de sociedades
mais duradouras, com a modernidade surgem rela-
a) regulamentação de leis trabalhistas mais rígidas. ções sociais menos estáveis.
b) fragilização das relações hierárquicas de trabalho.
c) decréscimo do número de funcionários das empresas.
d) incentivo ao investimento de longos planos de carreiras.
e) desvalorização dos postos de gerenciamento cor-
porativo.

15. A análise do tema modernidade, por pensadores


clássicos da Sociologia, está presente também em au-
tores contemporâneos, atentos às condições da socie-
dade atual.
No século XIX, Karl Marx, em seu livro O Manifesto Co-
munista, de 1848, refere-se à sociedade burguesa de seu
tempo como formação social em que tudo o que era só-
 VOLUME ÚNICO

lido desmancha no ar, tudo que era sagrado é profana-


do, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com
serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.
MARX, K.; ENGELS, F. O Manifesto Comunista. In:
COUTINHO, C. N. et al. O Manifesto Comunista: 150
anos depois. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. p.11.

162  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


O MEIO
AMBIENTE
COMO
PROBLEMA
SOCIAL

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: livro
HABILIDADE(s)
O mundo em descontrole - o que a
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, globalização está fazendo de nós - Anthony

24
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Giddens. Rio de janeiro: Record, 2003.
Anthony Giddens estuda os efeitos da globalização em
nossas vidas. Analisando as mudanças pelas quais pas-
saram culturas tradicionais, o choque entre a busca de
integração e o fundamentalismo, as incertezas criadas
pelo processo de unificação em escala planetária.

1.1. O desencanto com a razão iluminista


1. Anthony Giddens (1938) Para Giddens, vivemos num momento histórico que radicali-
zou as consequências da modernidade, pois a racionalidade,
O sociólogo inglês Anthony Giddens é um dos mais desta-
propagada pelos ideais iluministas, não condiciona os ho-
cados pensadores da atualidade. Sua teoria é fundada na
mens para o domínio da natureza e da própria sociedade. De
estruturação social, buscando transcender o dualismo mar-
modo que não podemos mais confiar plenamente nos ideais
xista. Para Giddens, os estudos da Sociologia se fundam nas
do iluminismo francês, que depositava somente na razão o
práticas sociais ordenadas no espaço e no tempo, não se con-
poder de resolver todos os problemas da humanidade.
centrando na ação individual, como pretende Weber, e nem
nas totalidades sociais, como pensava Durkheim.

multimídia: vídeo
Fonte: Netflix
Black Mirror - Inglaterra: Channnel 4
(2011-2014) e Netflix (2016-presente).
A série apresenta contos de ficção científica que refle-
tem o lado obscuro das telas e da tecnologia, mostran-
do que nem toda novidade traz só benefícios.

A razão carrega consigo elementos de desordem que es-


cravizam os homens. Assim, a modernidade apresenta uma
 VOLUME ÚNICO

característica de duplicidade, podendo, ao mesmo tempo,


criar uma estrutura que possibilita inúmeras oportunidades
multimídia: vídeo no campo científico, como a criação de novos maquinários
Fonte: Adorocinema para a facilidade humana, mas também produzir consequ-
ências degradantes para o indivíduo, como a exploração do
Anthony Giddens - agência e estrutura
trabalho, o autoritarismo e as guerras.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  163


é sustentado nas atividades cotidianas da vida social.
Contida primordialmente na consciência prática, a rotina
introduz uma cunha entre o conteúdo potencialmente
explosivo do inconsciente e a monitoração reflexiva da
ação que os agentes exigem.
GIDDENS, Anthony.
A Constituição da sociedade, 1984, p. 25
multimídia: vídeo Na sociedade contemporânea predominam riscos inten-
Fonte: Youtube sificados e produzidos pela humanidade. Seguindo uma
Show de Truman - Estados Unidos, 1998 (103 min). estrutura de transformação do espaço, o ser humano vem
alterando a natureza numa velocidade assustadora. A
Um homem tem sua vida inteira filmada e transmitida
partir do século XX, o aumento da produção e o estímulo
ao vivo pela TV, 24 horas por dia via satélite para o
ao consumo em massa provocaram grandes desequilí-
mundo todo, desde o seu nascimento. O filme come-
brios sociais e ambientais, resultados de uma construção
ça a partir do 30º ano ininterrupto de transmissão do
da ideia de“progresso”.
“show” da vida de Truman Burbank como a primeira
experiência de um “show real”, pois Truman desco-
nhece ser um personagem. 2. Ulrich Beck (1944-2015)
O sociólogo alemão Ulrich Beck analisou as mudanças nas
Nesse sentido, é possível questionar o próprio processo
últimas décadas do século XX, constatando a formação de
científico e sua credibilidade. O sociólogo aponta para o
uma sociedade de risco.
perigo das fake news, que são produções baseadas no pro-
cesso científico sem a existência de nenhum crivo científico
e que vêm gerando a aceitação das notícias divulgadas
sem nenhum questionamento prévio.
A Teoria da Estrutura, apresentada por Giddens, pretende
entender como as práticas sociais se mantêm estáveis e
como essas práticas são reproduzidas. Dessa forma, a roti-
na dos hábitos humanos precisa ser analisada, salientando
como essas práticas também proporcionam uma duplicida-
de: algo positivo e outro negativo.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Muito além do Cidadão Kane (Beyound
Citizen Kane) - Inglaterra: Channel 4,1993.
Documentário que mostra o empresário Roberto Mari-
nho como exemplo da concentração da mídia no Brasil. multimídia: livro
 VOLUME ÚNICO

A rotina (tudo que é feito habitualmente) constitui um Sociedade de Risco - rumo a uma outra modernidade
elemento básico da atividade social cotidiana [...]. A na-
- Ulrich Beck. São Paulo: Editora 34, 2013.
tureza repetitiva de atividades empreendidas de maneira
idêntica dia após dia é a base material do que eu chamo Nessa obra, o sociólogo Ulrich Beck faz um diagnóstico
de “caráter recursivo” da vida social. [...] A rotinização dos desafios da contemporaneidade, apontando uma
é vital para os mecanismos psicológicos por meio dos crítica à ciência voltada só para o progresso.
quais um senso de confiança ou segurança ontológica

164  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


O sociólogo defende a ideia de que a modernidade passa
por um momento de ruptura histórica, ou seja, caracte-
rizando a passagem para a pós-modernidade, de modo
que a sociedade está num processo de reconfiguração
social e tecnológica.
Trata-se da mudança da sociedade industrial clássica, fo-
mentada pela produção e distribuição de bens produzidos,
para uma sociedade de risco, onde a produção de riscos
domina a lógica da produção de bens.
Em outras palavras, os bens coletivos não estão mais ga-
rantidos porque a produção social das riquezas é acompa-
Como exemplo dos possíveis desastres envolvidos na ló-
nhada pela produção de riscos sociais e ambientais. Essa
gica da sociedade de risco, temos o caso do rompimento
sociedade é caracterizada pela incerteza, já que alguns de-
da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. A barra-
sastres ambientais podem acontecer pela forma acelerada
gem de rejeitos, classificada como “baixo risco”, mas com
de extração de bens naturais.
“alto potencial de danos”, tinha o respaldo de tecnologias
para monitoramento e extração de minérios da região. En-
2.1. Sociedade de risco tretanto, apesar de todo o aparato tecnológico, ocorreu o
Devido ao uso insustentável da água e do solo, criados rompimento, que causou 259 mortos e 11 desaparecidos.
pela própria ação humana, surgem diversos tipos de ris- A problemática sociológica levantada por Beck é o ques-
cos, como deslizamentos de encostas com soterramentos, tionamento de quantos riscos a sociedade vivenciará se
desertificação progressiva de muitas regiões e esgota- continuarmos negligenciando as possibilidades de grandes
mento de solos, risco de resíduos nucleares, assoreamen- desastres envolvidas na maneira como a lógica econômica
to de rios e águas pluviais, enchentes, entre outros tipos está estabelecida.
de acontecimentos.
Ouve-se continuamente afirmar que a noção de "so-
ciedade mundial de risco" [...] bloqueia qualquer tipo
de ação política. O contrário, porém, também é verda-
deiro: como sociedade mundial de risco, a sociedade
se torna reflexiva em um triplo sentido. Em primeiro
lugar, ela se torna uma questão por si mesma: os pe-
rigos globais geram comunidades globais, e de fato se
delineiam os contornos de uma (virtual) esfera públi-
ca mundial. Em segundo lugar, a percepção do cará-
multimídia: vídeo ter global das ameaças produzidas a si mesmo pelo
progresso dá um impulso politicamente orientável à
Fonte: Youtube revitalização da política nacional e à formação e con-
Sociedade de Risco figuração de instituições cooperativas internacionais.
[...] Em terceiro lugar, os limites da política se perdem.
A sociedade de risco sendo apresentada como um novo
Criam-se constelações de “subpolítica” global e direi-
olhar sociológico. to, que não se ajustam às coordenações e coalizações
da política nacional-estatal e, portanto, a relativizam.
[...] Nessa concepção das emergências geradas pela
Segundo o sociólogo Beck, a sociedade de risco compreende sociedade mundial de risco podem se delinear os con-
um mundo de incertezas fabricadas pelo uso da tecnologia tornos de uma "sociedade civil mundial".
acelerada, produzindo um novo cenário de risco global, de BECK, Ulrich
incertezas não quantificáveis. Nesse instante, Beck desen- Conditio humana: Il rischio nell’età globale. Roma-Bari: Laterza, 2008.
volve uma crítica ao progresso tecnológico, que, buscando Essa problemática socioambiental vem desencadeando
somente a acumulação do lucro, omite-se perante os graves
 VOLUME ÚNICO

várias ações políticas e sociais no mundo todo, com mani-


problemas ambientais e sociais que gera. Pois, com base no festações, passeatas e protestos a favor do clima, pedindo
avanço científico, diversas transformações ambientais estão pela intervenção de líderes governamentais para conter o
se concretizando nesse momento. avanço das mudanças climáticas no planeta. Como exem-
Assim, Beck critica a ideia de determinismo da racionalida- plo desses protestos na atualidade, destaca-se o ativismo
de científica perante a sociedade na produção de verdades. juvenil da sueca Greta Ernman Thunberg.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  165


A imagem destaca a iniciativa de Greta Thunberg de pro-
testar fora do prédio do parlamento sueco em 2018, aos
15 anos de idade, exigindo mais ações dos políticos para
aliviar as mudanças climáticas. Essa ação ocorreu depois
de ondas de calor e incêndios na Suécia.
Após esse protesto solitário, emergiram diversas manifesta-
ções, lideradas por jovens no mundo todo a favor da causa
climática. Com a utilização de mídias sociais, como o Twitter,
esses movimentos alcançaram propagações instantâneas.
Em 25 de março de 2019, ocorreram diversas passeatas pelo
clima na Europa, com milhares de jovens reunidos.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Reis do Agronegócio - Chico César.
Álbum: Estado de Poesia, 2015.
A canção de 9min sem repetição fala da plantação de
monoculturas e do uso desordenado de pesticidas e
agrotóxicos, da ganância dos donos das terras que des-
truíram florestas, matas virgens, nascentes para planta-
ção de produtos transgênicos, contaminando lençóis fre-
áticos, eliminando a diversidade local e nos oferecendo
alimentos cheios de veneno que são a causa de diversas
doenças atuais.
 VOLUME ÚNICO

166  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

SOCIEDADE
DE RISCO

SOCIEDADE
GIDDENS
INDUSTRIAL
ULRICH BECK

É PRECISO
REFORMULAR A
TEORIA SOCIAL
TECNOLOGIA
LUCRATIVA É PRECISO
REPENSAR AS
AÇÕES HUMANAS
A RAZÃO ILUMINISTA
NÃO É CONFIÁVEL
GERA
CONSEQUÊNCIAS
AMBIENTAIS E RISCO DE UMA
SOCIAIS CATÁSTROFE GLOBAL
ESTAMOS
CAMINHANDO PARA
NOVOS PADRÕES DE
RISCO AÇÕES INDIVIDUALISMO
GLOBALIZADO SOCIOAMBIENTAIS

POIS SOFREMOS AS
CONSEQUÊNCIAS DE
UMA MODERNIDADE
TARDIA

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  167


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (Enem) A questão ambiental, uma das principais pau-
tas contemporâneas, possibilitou o surgimento de con-
1. (UEL) A intensidade de risco é certamente o elemento cepções políticas diversas, dentre as quais se destaca a
básico e ameaçador das circunstâncias em que vivemos preservação ambiental, que sugere uma ideia de into-
hoje. A possibilidade de guerra nuclear, calamidade ecoló- cabilidade da natureza e impede o seu aproveitamento
gica, problemas ambientais, explosão populacional incon- econômico sob qualquer justificativa.
trolável, crises financeiras mundiais, guerras preventivas, PORTO-GONÇALVES, C. W. A globalização da natureza e a natureza
da globalização. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2006 (Adaptado)
terrorismo e outras catástrofes globais potenciais for-
necem um horizonte inquietante de perigos para todos. Considerando as atuais concepções políticas sobre a
Como Ulrich Beck comentou, riscos globalizados deste questão ambiental, a dinâmica caracterizada no texto
tipo não respeitam divisões entre ricos e pobres. O fato de quanto à proteção do meio ambiente está baseada na:
que “Chernobyl está em toda parte” explica claramente o
fim das fronteiras entre os que são privilegiados e os que a) prática econômica sustentável
não são. A intensidade de certos tipos de risco transcende b) contenção de impactos ambientais
todos os diferenciais sociais e econômicos. c) utilização progressiva dos recursos naturais
GIDDENS, A. As Consequências da Modernidade. São Paulo: d) proibição permanente da exploração da natureza
Editora da Universidade Paulista, 1991. p.127-128 (Adaptado) e) definição de áreas prioritárias para a exploração
econômica
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a socie-
dade de risco na atual modernidade, considere as afir- 4. (UEM) “Uma das discussões sociológicas relaciona-
mativas a seguir: das aos problemas socioambientais se desenvolveu
I. Nas sociedades e nações guiadas por uma economia no debate sobre meio ambiente e sustentabilidade:
de desenvolvimento científico-tecnológico, o debate a questão da fome e da segurança alimentar. O tema
sobre as lutas de classes é substituído pela preocupa- da superação da fome e da pobreza também trouxe
ção do gerenciamento dos riscos ambientais globais, à tona uma discussão sobre o modelo de desenvolvi-
que ultrapassam as fronteiras dos estados nacionais. mento associado ao capitalismo. A ideia difundida no
II. Nas sociedades atuais, com o aprofundamento da século XIX de que a fome e a pobreza seriam resultado
modernidade, desencaixam-se as instituições e os sis- de uma produção de alimentos insuficiente em relação
temas sociais que garantiam a segurança e a ordem, ao crescimento populacional foi criticada e superada
fragilizam-se os pilares do Estado de bem-estar social e ao longo do século XX”
criam-se ambientes de risco global. (VÁRIOS AUTORES. Sociologia em movimento.
São Paulo: Moderna, 2015, p.371).
III. Os riscos globais, originados pelas crises ambientais,
reduzem a reflexividade e as oportunidades de criação Considerando o texto citado e conhecimentos sobre a
de organizações coletivas que demonstram a falibilida- temática do meio ambiente e desenvolvimento, assina-
de da ciência, a exemplo dos movimentos que politizam le o que for correto.
a questão do meio ambiente e da ecologia.
01) A produção de alimentos orgânicos e as políticas
IV. As sociedades em desenvolvimento protegem-se das de soberania alimentar são mantidas mundialmen-
ameaças e dos perigos provocados pela alta intensida- te pelas grandes empresas mundiais produtoras de
de de riscos globais, devido à distância dos conflitos
grãos e insumos agrícolas.
entre as nações centrais mais desenvolvidas.
02) O desenvolvimento capitalista garantiu a supera-
Assinale a alternativa correta: ção da fome e da pobreza em nível mundial.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 04) A manutenção de reservas territoriais ocupadas
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. por diferentes etnias indígenas é responsável pela
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. baixa produção de alimentos no Brasil.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 08) Políticas públicas voltadas para a redistribuição
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas de recursos econômicos, como o Programa Bolsa Fa-
mília, no Brasil, são aliadas importantes das políticas
2. (IFRN) De acordo com Ulrich Beck (1992), as mudanças mundiais de soberania alimentar.
nos modelos de emprego, o declínio da influência da tra- 16) O alimento é um direito humano e não apenas
dição e do costume sobre a autoidentidade, o desgaste uma mercadoria comum, ou seja, o acesso aos pro-
dos paradigmas familiares tradicionais e a democratiza- dutos alimentícios não deve estar sujeito às regras
 VOLUME ÚNICO

ção dos relacionamentos são características da: econômicas voltadas ao lucro, mas sobretudo a prin-
a) discriminação social. cípios básicos de garantia da vida humana.
b) reestruturação global.
5. (Enem) A linhagem dos primeiros críticos ambientais
c) sociedade de risco. brasileiros não praticou o elogio laudatório da beleza
d) diáspora global. e da grandeza do meio natural brasileiro. O meio natu-
ral foi elogiado por sua riqueza e potencial econômico,

168  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


sendo sua destruição interpretada como um signo de I. liberação desenfreada de gases-estufa;
atraso, ignorância e falta de cuidado. II. destruição da camada de ozônio;
PADUA, J. A. Um sopro de destruição: pensamento III. uso descontrolado de agrotóxicos e inseticidas;
político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-
1888). Rio de Janeiro: Zahar, 2002 (Adaptado) IV. desmatamento e queimadas.
É correto afirmar que contribuem para o agravamento
Descrevendo a posição dos críticos ambientais brasilei- dos problemas as causas citadas em:
ros dos séculos XVIII e XIX, o autor demonstra que, via
de regra, eles viam o meio natural como: a) I, II e III, apenas.
b) II e III, apenas.
a) ferramenta essencial para o avanço da nação c) I e IV, apenas.
b) dádiva divina para o desenvolvimento industrial d) I, II, III e IV.
c) paisagem privilegiada para a valorização fundiária e) II e IV, apenas.
d) limitação topográfica para a promoção da urbanização
e) obstáculo climático para o estabelecimento da civilização 8. (UFPA) Se considerarmos que existe uma relação
direta entre a crise ambiental que o planeta enfrenta
6. (UEPA) O crescimento precipitado das cidades em de- atualmente e a lógica da acumulação capitalista, qual
corrência do acelerado desenvolvimento tecnológico da das afirmações abaixo NÃO JUSTIFICA esta afirmação?
segunda metade do século XX produziu um espaço urba- a) As estruturas de poder que controlam o uso dos re-
no cada vez mais fragmentado, caracterizado pelas desi- cursos naturais e do meio ambiente comum estão ba-
gualdades e segregação espacial, subemprego e submo- seadas no cálculo econômico privado das empresas,
radia, violência urbana e graves problemas ambientais. e este cálculo não considera as condições globais do
Sobre os problemas socioambientais nos espaços urba- meio ambiente, mas apenas os elementos mercantis.
no-industriais, é correto afirmar que: b) Vivemos o risco de ruptura do equilíbrio ecológico
a) os resíduos domésticos e industriais aliados aos nume- do planeta pela incapacidade de os agentes econômi-
rosos espaços marginalizados, problemas de transportes, cos se ajustarem às capacidades limitadas de suporte
poluição da água e do solo, bem como os conflitos so- do meio ambiente.
ciais, são grandes desafios das cidades na atualidade. c) Existem dois fatores de extrema importância que
b) as ações antrópicas, em particular, as atividades atuam simultaneamente no sentido do agravamento
ligadas ao desenvolvimento industrial e urbano, têm da crise ambiental: a concentração crescente do con-
comprometido a qualidade das águas superficiais, trole sobre os recursos naturais e a privatização do
sem, contudo, alcançar os depósitos subterrâneos. uso do meio ambiente comum.
c) os conflitos sociais existentes no espaço urbano mun- d) A solução da crise ambiental passa pela democra-
dial estão associados à ampliação de políticas públicas tização do controle sobre os recursos naturais e pela
para melhoria de infraestrutura que provocou o desloca- desprivatização do meio ambiente comum, de tal for-
mento de milhões de pessoas do campo para a cidade. ma que o acesso aos recursos naturais expressa uma
d) a violência urbana, problema agravado nos últimos vivência democrática efetiva.
anos, está associada à má distribuição de renda, à livre e) As proposições relativas à determinação de um ele-
comercialização de armas de fogo e à cultura arma- mento da sociedade por outro, como, por exemplo,
mentista existente na maioria dos países europeus. a crise ambiental decorrente da forma como se dá
e) a chuva ácida ocorrida nos países ricos industria- a exploração econômica, não devem ser seriamente
lizados apresenta como consequências a destruição consideradas, pois há uma infinidade de outras cau-
da cobertura vegetal e a alteração das águas, embora sas não econômicas para a crise ambiental.
favoreça a fertilização dos solos agricultáveis.
9. (Enem) A justiça de São Paulo decidiu multar os su-
permercados que não fornecerem embalagens de papel
7. (Mackenzie) Seathl, chefe indígena americano, em seu
ou material biodegradável. De acordo com a decisão, os
famoso discurso, discorre a respeito dos sentimentos e
dos cuidados que o homem branco deveria ter para com estabelecimento que descumprirem a norma terão de
a Terra, à semelhança com os índios, ao se assenhorear pagar multa diária de R$ 20 mil, por ponto de venda. As
das novas regiões. E ao final, diz: “Nunca esqueças como embalagens deverão ser disponibilizadas de graça e em
era a terra quando dela tomaste posse. Conserva-a para quantidade suficiente.
os teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma www.estadao.com.br Acesso em: 31 jul.2012 (Adaptado).
coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Nem mes-
A legislação e os atos normativos descritos estão anco-
mo o homem branco pode evitar nosso destino comum”.
 VOLUME ÚNICO

rados na seguinte concepção:


O discurso adaptado, publicado na revista Norsk Na-
a) Implantação da ética comercial.
tur, Oslo, em 1974, nunca esteve tão atual. O homem,
procurando tornar sua vida mais “confortável”, vem b) Manutenção da livre concorrência.
destruindo e contaminando tudo ao seu redor, sem se c) Garantia da liberdade de expressão.
preocupar com os efeitos desastrosos posteriores. d) Promoção da sustentabilidade ambiental.
Esses efeitos podem ser causados por: e) Enfraquecimento dos direitos do consumidor

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  169


10. (Enem) Diante de ameaças surgidas com a engenha-
ria genética de alimentos, vários grupos da sociedade
civil conceberam o chamado “princípio da precaução”.
O fundamento desse princípio é; quando uma tecnologia
ou produto comporta alguma ameaça à saúde ou ao am-
biente, ainda que não se possa avaliar a natureza precisa
ou a magnitude do dano que venha a ser causado por
eles, deve-se evitá-los ou deixá-los de quarentena para
maiores estudos e avaliações antes de sua liberação.
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da
montanha-russa. São
Paulo: Cia. das Letras, 2001. (Adaptado)

O texto expõe uma tendência representativa do pensa-


mento social contemporâneo, na qual o desenvolvimen-
to de mecanismos de acautelamento ou administração
de riscos tem como objetivo:
a) priorizar os interesses econômicos em relação aos
seres humanos e à natureza.
b) negar a perspectiva científica e suas conquistas por
causa de riscos ecológicos.
c) instituir o diálogo público sobre mudanças tecnoló-
gicas e suas consequências.
d) combater a introdução de tecnologias para travar o
curso das mudanças sociais.
e) romper o equilíbrio entre benefícios e riscos o
avanço tecnológico e científico.

Gabarito
1. A 2. C 3. D 4. 08 + 16 = 24 5. A

6. A 7. D 8. E 9. D 10. C
 VOLUME ÚNICO

170  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


AS NOVAS
FORMAS DE
COMUNICAÇÃO Oralidade Essa sociedade tem o seu núcleo cultural pau-
E TECNOLOGIA: Primária
tado na oralidade, fundamentando-se nas lem-
branças dos sujeitos.
PIERRY LÉVY

CH
Sociedade que domina a escrita, desenvolven-
Escrita do a lógica e a interpretação dos textos, conjun-
COMPETÊNCIA(s) to com o conhecimento dominante.
1, 2, 3, 4 e 5 Novo contexto com o surgimento do computa-
Virtualização dor e a possibilidade de conexão e comunicação
HABILIDADE(s) hipertextual.
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

25 1.1. Inteligência coletiva


13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

O termo inteligência coletiva, cunhado por Pierre Lévy, re-


presenta um princípio no qual as inteligências individuais
são somadas e compartilhadas por toda a sociedade, sen-
do potencializadas com o surgimento de novas tecnolo-
gias, como a internet. Com isso, desencadeia um compar-
tilhamento da memória, da imaginação e da percepção,
e mediante isso vai resultar numa aprendizagem coletiva.
Diante disso, as informações são cruzadas e selecionadas
1. Pierry Lévy (1956) por uma pessoa, gerando um ecossistema.

O sociólogo franco-tunisiano é um dos maiores estudiosos


do universo da internet, principalmente na área da ciberné-
tica e da inteligência artificial.

Com o advento da internet, ocorreram diversas mudanças


no comportamento social, alterando profundamente as
relações sociais, seja na comunicação ou na inter-relação
com o trabalho. multimídia: vídeo
Segundo Lévy, a tecnologia tem um papel fundamental na Fonte: Youtube
vida humana do século XXI, afetando a comunicação, a As formas de saber: Pierre Lévy
economia e a própria cultura das sociedades. Para o so-
O pensamento de Pierre Lévy é o foco desse documen-
ciólogo, esse sujeito do século XXI está no momento da tário, que trata de como a nova organização dos sabe-
globalização da informação e da desmaterialização dos res, fruto do coletivo, será a educação do nosso tempo.
suportes da informação. Isso significa que as pessoas têm
acesso a uma variedade infinita de informações em grande
Por razão de cada um poder gerar uma árvore de conhe-
velocidade. Para Lévy, essa difusão das informações na in-
 VOLUME ÚNICO

cimento, não podemos subjugar ninguém, seja por seu


ternet ocorre de uma maneira mais democrática e inclusiva,
emprego ou condição social. Assim, todos os seres são in-
sem precisar da burocracia das mídias tradicionais, como as
teligentes e possuem seus conhecimentos. Assim, segundo
edições de papel, tal qual os jornais e revistas.
Levy, a inteligência coletiva seria uma forma do homem
Para Lévy, a humanidade já passou por três períodos histó- pensar e compartilhar seus conhecimentos com outras pes-
ricos evolutivos no que se refere às formas de comunicação: soas utilizando a tecnologia, como a internet.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  171


Não podemos pensar que o ser humano pensa sozinho, ele mercado planetário e televisão interativa —, e uma outra
pensa numa rede intrincada de coisas, palavras, equipa- visão, a do movimento social que propaga a cibercultura,
mentos, sons e outras pessoas. inspirado pelo desenvolvimento das trocas de saberes,
das novas formas de cooperação e de criação coletiva
nos mundos virtuais.
1.2. Cibercultur@ O melhor uso que possa ser feito dos instrumentos de
O conceito de cibercultura, segundo Lévy, é um movimento comunicação com suporte digital é, a meu ver, a conju-
que gera novas formas de comunicação, com a criação de gação eficaz das inteligências e das imaginações huma-
novos valores e novos comportamentos. nas. A inteligência coletiva é uma inteligência variada,
distribuída por todos os lugares, constantemente valori-
Para o sociólogo, a cibercultura é a herdeira legítima do Ilu- zada, colocada em sinergia em tempo real, que engen-
minismo, por difundir valores como fraternidade, igualdade dra uma mobilização otimizada das competências. As-
e liberdade. Com isso, a rede da internet é um instrumento sim como a entendo, a finalidade da inteligência coletiva
de comunicação que auxilia os membros dessa comunida- é colocar os recursos de grandes coletividades a serviço
de. Desencadeando um progresso da democracia, a cha- das pessoas e dos pequenos grupos — e não o contrá-
mada ciberdemocracia, com uma maior transparência, as rio. É, portanto, um projeto fundamentalmente humanís-
tico, que retoma para si, com os instrumentos atuais, os
pessoas terão maior oportunidade de participar.
grandes ideais de emancipação da filosofia das luzes.
Entretanto, para que a ciberdemocracia seja realmente Ainda assim, diversas versões do projeto da inteligência
válida, é necessário o desenvolvimento da educação, me- coletiva foram defendidas, e nem todas vão na direção
lhorando a humanidade, num combate à pobreza e com a que acabo de esboçar. Além do mais, como sua eficácia
contribui para acelerar a mutação em andamento e para
facilitação do acesso ao universo da internet.
isolar ou excluir ainda mais aqueles que dela não partici-
parem, a inteligência coletiva é um projeto ambivalente.
Permanece, contudo, como o único programa geral vi-
sando explicitamente o bem público e o desenvolvimen-
to humano que esteja à altura das questões colocadas
pela cibercultura nascente.
LÉVY, Pierre.
Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999, pp.201-202.

multimídia: livro

Cibercultura - Pierre Lévy. São


Paulo: Editora 34, 1999.
O que é a cibercultura? Que movimento social e cultural
encontra-se oculto por trás desse fenômeno técnico?
Essas perguntas o sociólogo Pierre Lévy pretende res- multimídia: vídeo
ponder, desenvolvendo uma nova teoria.
Fonte: Youtube
Sabemos que o ciberespaço constitui um imenso campo Entrevista de Pierre Lévy
de batalha para os industriais da comunicação e dos pro- As teorias do sociólogo Pierre Lévy são apresentadas
gramas. Mas a guerra que opõe algumas grandes forças
no programa Roda Viva.
econômicas não deve mascarar a outra que coloca em
choque uma visão puramente consumista do ciberespa-
ço, a dos industriais e vendedores — a rede como super-
 VOLUME ÚNICO

172  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

PIERRE LÉVY

A INTERNET A GLOBALIZAÇÃO
MODIFICOU A É ALGO POSITIVO
RELAÇÃO SOCIAL

PRODUZ UM NOVO
CONHECIMENTO

INTELIGÊNCIA
COLETIVA

SABERES
INDIVIDUAIS SÃO
COMPARTILHADOS
POR TODA A
SOCIEDADE

QUE DIFUNDIRÁ
UM NOVO
CONHECIMENTO

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  173


Aplicando para Aprender (A.P.A.) c) perguntar sobre a razão das pessoas visitarem mu-
seus, exposições etc., e reafirma que os fotógrafos são
1. (Enem) Mas assim que penetramos no Universo da os únicos responsáveis pela produção de obras de arte.
Web, descobrimos que ele constitui não apenas um d) reconhecer que as pessoas temem que o avanço dos
imenso “território” em expansão acelerada, mas que meios de comunicação, inclusive on-line, substitua o
também oferece inúmeros “mapas”, filtros, seleções homem e leve alguns profissionais ao esquecimento.
para ajudar o navegante a orientar-se. O melhor guia e) revelar o receio das pessoas em experimentar no-
para a Web é a própria Web. Ainda que seja preciso ter vos meios de comunicação, com medo de sentirem
a paciência de explorá-la. Ainda que seja preciso arris- retrógradas.
car-se a ficar perdido, aceitar “a perda de tempo” para 3. (UEM) “A cada minuto que passa, novas pessoas
familiarizar-se com esta terra estranha. Talvez seja pre- passam a acessar a Internet, novos computadores são
ciso ceder por um instante a seu aspecto lúdico para interconectados, novas informações são injetadas na
descobrir, no desvio de um link, os sites que mais se rede. Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele
aproximam de nossos interesses profissionais ou de se torna ‘universal’, e menos o mundo informacional se
nossas paixões e que poderão, portanto, alimentar da torna totalizável. O universo da cibercultura não possui
melhor maneira possível nossa jornada pessoal. nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem conteúdo
LÉVY P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. particular. Ou antes, ele os aceita todos, pois se con-
centra em colocar em contato um ponto qualquer com
O usuário iniciante sente-se não raramente desorienta-
qualquer outro, seja qual for a carga semântica das en-
do no oceano de informações e possibilidades disponí-
tidades relacionadas.”
veis na rede mundial de computadores. Nesse sentido,
Pierre Lévy destaca como um dos principais aspectos (LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999, p. 113)
da internet o(a): Considerando as recentes contribuições da sociologia
a) espaço aberto para a aprendizagem. da comunicação sobre o tema da cultura midiática e o
b) grande número de ferramentas de pesquisa. trecho citado, assinale o que for correto.
c) ausência de mapas ou guias explicativos. 01) O ciberespaço suprime as particularidades cultu-
d) infinito número de páginas virtuais. rais e as desigualdades sociais, ao organizar de modo
e) dificuldade de acesso aos sites de pesquisa. imparcial as informações que são distribuídas em um
nível planetário.
2. (Enem) É muito raro que um novo modo de comunica-
02) A internet é responsável pelos atuais problemas
ção ou de expressão suplante completamente os ante-
educacionais, pois aliena os estudantes ao torná-los
riores. Fala- se menos desde que a escrita foi inventada?
receptores passivos de informações fragmentadas e
Claro que não. Contudo, a função da palavra viva mudou,
imprecisas sobre a vida social.
uma parte de suas missões nas culturas puramente orais
tendo sido preenchida pela escrita: transmissão dos co- 04) O conceito de cibercultura pode ser utilizado para
nhecimentos e das narrativas, estabelecimento de con- descrever o aparecimento de novos modos de ser e
tratos, realização dos principais atos rituais ou sociais de pensar que produzem mudanças cognitivas e so-
etc. Novos estilos de conhecimento (o conhecimento “te- ciais por meio da interação virtual.
órico”, por exemplo) e novos gêneros (o código de leis, 08) Ainda que inserida na indústria cultural, a internet
o romance etc.) surgiram. A escrita não fez com que a o tem o potencial de democratizar o acesso ao conhe-
sistema da comunicação e da memória social. A fotogra- cimento por meio da criação de novos espaços de
fia substituiu a pintura? Não, ainda há pintores ativos. As produção, troca e difusão de informações.
pessoas continuam, mais do que nunca, a visitar museus, 16) O ciberespaço representa uma mudança tecnoló-
exposições e galerias, compram as obras dos artistas gica e não cultural, pois altera os modos de organizar
para pendurá-las em casa. Em contrapartida, é verdade e distribuir a informação e não os modos de produção
que os pintores, os desenhistas, os gravadores, os escul- do conhecimento.
tores não são mais – como foram até – o século XIX – os
4. (UNIRIO) As novas tecnologias permitiram o estabe-
únicos produtores de imagens.
lecimento de uma comunicação em rede e a emergên-
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. cia do ciberespaço. Nesse novo ambiente, surge a ciber-
A substituição pura e simples do antigo pelo novo ou cultura, definida por Pierre Lévy como:
do natural pelo técnico tem sido motivo de preocupa- a) espaço digital de alta conectividade para onde concor-
ção de muita gente. O texto encaminha uma discussão rem sujeitos simbólicos e suas manifestações culturais.
em torno desse temor ao:
 VOLUME ÚNICO

b) conjunto de redes digitais (computadores e HDTV)


a) considerar as relações entre o conhecimento teóri- que pela interação entre os indivíduos desenvolve va-
co e o conhecimento empírico e acrescenta que novos lores e novas potencialidades da inteligência coletiva.
gêneros textuais surgiram com o progresso. c) conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de
b) observar que a língua escrita não é uma transcrição práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de
fiel da língua oral e explica que as palavras antigas valores que se desenvolvem juntamente com o cresci-
devem ser utilizadas para preservar a tradição. mento do ciberespaço.

174  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


d) conjunto de pensamentos e produtos intelectuais 7. (UFU) Somos a primeira geração de pessoas que exis-
(blogs e e-books) que se caracterizam pela preponde- tem numa escala global. Homens e mulheres, políticos,
rância do imaginário frente às referencialidades reais. drogados, modelos, executivos, prostituídos, terroristas,
e) manifestações socioeconômicas proporcionadas vítimas de catástrofes transmitidas pela TV, cozinheiros,
pela comunicação via internet e guiadas pelos prin- consumidores, telespectadores, internautas, imigrantes,
cípios da globalização. turistas; somos a primeira geração global. [...] Nossa
geração está inventando o mundo, o primeiro mundo
5. (CESPE) Pierre Lévy é hoje um dos mais expressivos verdadeiramente mundial.
filósofos do mundo no campo da informação, novas mí- LEVY, Pierre. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço
dias, Internet e cibercultura. De acordo com o pensa- e a consciência. São Paulo: Editora 34, 2001, p. 17.

mento desse autor a respeito de tais assuntos, assinale Algumas pesquisas revelam cerca de 200 milhões de
a opção correta: pessoas em movimento pelo mundo. Essas pessoas evi-
a) Para Lévy, a Internet não permite a interatividade denciam necessidades, oposições, racismos, solidarie-
total, uma vez que, assim como a televisão e o rádio, dades e semelhanças.
está centrada no sistema de difusão Um-Todos, pois os Diante disso, faça o que se pede.
usuários ainda dependem de provedores que contro-
a) Os racismos e preconceitos estabelecidos no século
lam a transmissão de dados e limitam o acesso à rede.
XXI são diferentes daqueles vividos na primeira meta-
b) Segundo esse autor, o ciberespaço propicia a criação
de do século XX. Apresente pelo menos duas caracte-
de uma inteligência coletiva, apresentando o cenário
rísticas que os distinguem.
ideal para a concretização dos ideais do Iluminismo.
b) Estabeleça pelo menos três características sociais
c) Para Lévy, os CDs e DVDs, por serem mídias que e políticas que diferenciam os movimentos popula-
comportam arquivos digitalizados, fazem parte do cionais do final do século XX e início do século XXI
ciberespaço. daqueles que modificaram as estruturas sociais do
d) De acordo com o filósofo mencionado, o ciberes- Brasil no final do século XIX.
paço não possui capacidade de armazenar memória,
e, por isso, serve apenas para a transmissão de dados 8. (Enade) O desenvolvimento da internet e das tecno-
entre usuários. logias de comunicação suscitou uma série de discussões
e) Lévy considera que, apesar de o interesse comuni- a respeito de como a rede alterou as relações sociais e
cativo determinar de que maneira os usuários devem as formas de construção do conhecimento. Jean Bau-
interagir no espaço virtual, a posição geográfica em drillard e Pierre Lévy são dois dos autores de destaque
que eles se encontram ainda é um fator significativo na área. Os trechos a seguir foram transcritos de obras
de diferenciação e de exclusão social de pessoas. desses pensadores.

6. (CESPE) Os novos cenários tecnológicos romperam TEXTO 1


com as noções tradicionais de espaço e tempo e fizeram Há no ciberespaço a possibilidade de realmente desco-
surgir conceitos novos, entre eles, os de ciberespaço e brir alguma coisa? Internet apenas simula um espaço
inteligência coletiva, abordados por Pierre Lévy. Em re- de liberdade e de descoberta. Não oferece, em verdade,
lação a esses novos conceitos, assinale a opção correta: mais do que um espaço fragmentado, mas convencional,
a) A emergência de uma inteligência coletiva está onde o operador interage com elementos conhecidos, si-
associada à descoberta ou à invenção de um novo tes estabelecidos, códigos instituídos. Nada existe para
paradigma de comunicação, para além da escrita e além desses parâmetros de busca. Toda pergunta encon-
dos sistemas de controle da informação. tra-se atrelada a uma resposta preestabelecida. Encarna-
b) A comunicação e a inteligência humanas, tal qual mos, ao mesmo tempo, a interrogação automática e a
são concebidas hoje, foram substituídas, respectiva- resposta automática da máquina.
mente, por bases digitais e inteligências artificiais. BAUDRILLARD, J. Tela Total.
c) O ciberespaço se impôs como um novo e vasto Campinas: Porto Alegre, 1997 (Adaptado).
logocentrismo, superior ao exercido pela fase da es-
TEXTO 2
crita, e a multimídia tornou-se a sua correspondente
superlíngua e fator de identidade dos que dominaram O ciberespaço abriga milhares de grupos de discussão
os seus saberes técnicos e os seus códigos. (os newsgroups). O conjunto desses fóruns eletrônicos
d) O ciberespaço consolidará uma tendência que já constitui a passagem movediça das competências e das
desponta: a do surgimento de megatalentos e de au- paixões, permitindo assim atingir outras pessoas, não
tores bilionários cujas obras de sucesso sem fronteiras com base no nome, no endereço, geográfico ou na fi-
 VOLUME ÚNICO

rendem fortunas decorrentes de direitos reservados. liação institucional, mas segundo um mapa semântico
e) A liberdade e a autonomia em relação ao fluxo da in- ou subjetivo dos centros de interesse. O endereçamento
formação no ciberespaço resultam em contextos hiper- por centro de interesse e a comunicação todos-todos
midiáticos fortalecedores de clãs, tribos, Estados-nação são condições favoráveis ao desenvolvimento de pro-
e territórios, inteligentemente dirigidos. cessos de inteligência coletiva.
LÉVY, P. A Revolução contemporânea em matéria de comunicação.
Revista Famecos. Porto Alegre, 2008 (Adaptado).

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  175


Da leitura dos fragmentos de texto apresentados, infe- d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma
re-se que: proposição verdadeira.
a) Lévy considera que a inteligência coletiva é cons- e) As asserções I e II são proposições falsas.
truída quando a internet é controlada por centros de
10. (Enem) O comércio soube extrair um bom proveito
ensino e de pesquisa.
da interatividade própria do meio tecnológico. A pos-
b) os dois autores exaltam a rede como espaço livre
sibilidade de se obter um alto desenho do perfil de in-
e democrático de troca de informação e produção de
teresses do usuário, que deverá levar às últimas conse-
conhecimento.
quências o princípio da oferta como isca para o desejo
c) os dois autores levantam problemas ocasionados
consumista, foi o principal deles.
pela internet na sociedade atual, como o isolamento, a
automação e o enfraquecimento das relações pessoais. SANTAELLA, L. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das
d) Baudrillard mostra uma visão crítica do ciberespa- mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003 (adaptado).

ço, considerando que a rede condiciona o ser humano Do ponto de vista comercial, o avanço das novas tecno-
à mecanização da busca de perguntas e respostas, logias indicado no texto está associado à
que dão ilusão de liberdade e de conhecimento.
e) Lévy assume posição otimista em relação ao ciberes- a) atuação dos consumidores como fiscalizadores da
paço, considerando o cenário de troca de informações, produção.
que são controlados por centros emissores e dissemi- b) exigência de consumidores conscientes de seus
nadas a todos os receptores passivos. direitos.
c) relação direta entre fabricantes e consumidores.
9. (Enade) d) individualização das mensagens publicitárias.
e) manutenção das preferências de consumo.

11. (Enem)

O termo [ciberespaço] especifica não apenas a infraes-


trutura material da comunicação digital, mas também o
universo de informação que ela abriga, assim como os
seres humanos que navegam e alimentam esse universo.
O neologismo “cibercultura” especifica aqui o conjunto Opportunity é o nome de um veículo explorador que
de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas e atitu- aterrissou em Marte com a missão de enviar informa-
des, de modos de pensamento e de valores que se desen- ções à Terra. A charge apresenta uma crítica ao (à):
volvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. a) gasto exagerado com o envio de robôs a outros
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999 (Adaptado). planetas.
b) exploração indiscriminada de outros planetas.
Considerado a charge e o texto acima, avalie as asser-
c) circulação digital excessiva a autorretratos.
ções a seguir e a relação propostas entre elas.
d) vulgarização das descobertas espaciais.
I. A charge expõe um aspecto da cibercultura e compar-
e) mecanização das atividades humanas.
tilha com o texto a visão otimista em relação ao desen-
volvimento das tecnologias da comunicação.
PORQUE
II. O crescimento do ciberespaço possibilita a virtualiza-
Gabarito
ção, que implica uma realidade desterritorializada e al- 1. A 2. A 3. 04 + 08 = 12 4. C
tera os comportamentos pessoais, o que está de acordo
com os pressupostos de Lévy. 5. B 6. A
A respeito das asserções, assinale a opção correta: 7.
 VOLUME ÚNICO

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a a) Possíveis diferenças:


II é uma justificativa correta da I. § A possibilidade e emergência de novos etilos de
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas vida propiciados por uma globalização da cultu-
a II não é uma justificativa correta da I. ra mitigam os racismos e preconceitos;
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é § A existência de aparatos jurídicos proibitivos de
uma proposição falsa. prática de preconceito e racismo;

176  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


§ Criminalização atual do racismo e dos preconceitos
quanto às variações de religião, gênero, individu-
alidades;
§ Novos preconceitos emergentes na atualidade,
não existentes no início do século XX, oriundos
de uma maior acessibilidade às tecnologias de
informação;
§ Existência de regimes nacionalistas e ideologias
etnocêntricas marcantes na primeira metade do
século XX.
b) Possíveis características:
§ Alguns dos fatores que diferem os movimentos
populacionais dos respectivos períodos são a
imigração da força de trabalho branco-europeia
e, mesmo ilegalmente, a força de trabalho es-
crava;
§ Atratividade oferecida por uma cultura urbana/in-
dustrial, marcada pela oferta de empregos em ou-
tras localidades, principalmente nas centralidades
do capital;
§ Esfacelamento das relações tradicionais familia-
res, impondo uma desagregação social e a forte
ideologia do ‘mito do retorno’;
§ A influência das novas tecnologias de informa-
ção e comunicação aliadas à emergência de
novos contextos sociais que corroboram para os
movimentos populacionais;
§ Proliferação de novas ideologias de existência e
pertencimento (ou não) aos territórios baseadas
em conceitos como igualdade de direitos, xeno-
fobia, etnia, tradição, dentre outros.

8. D 9. D 10. D 11. C

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  177


AS NOVAS
FORMAS DE
COMUNICAÇÃO Essa “sociedade em rede” é movida pelo capitalismo in-
formacional, ou seja, um sistema competitivo, produtivo,
E TECNOLOGIA: tecnológico e capaz de funcionar interconectado em escala
MANUEL planetária. Entretanto, a internet proporciona ao sujeito uma

CH
CASTELLS comunicação livre, só que essa liberdade depende dos atores
sociais. Desse movimento emergem elementos de resistência
COMPETÊNCIA(s) contra as forças de dominação nessa sociedade em rede.
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

26
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Castells: poder da juventude é a autocomunicação
Manuel Castells analisa as permanentes tensões entre
adultos e jovens, apontando como a juventude pensa
1. Manuel Castells (1942) de forma digital.

O sociólogo espanhol Manuel Castells Oliván é considerado


o principal analista da era da informação e das sociedades 1.1. Redes de indignação e esperança
conectadas em rede, observando as transformações sociais
do final do século XX e as primeiras décadas do século XXI. Existem novas formas de comunicações nessa “sociedade
em rede”, de modo que surgem novos caminhos para uma
autonomia comunicacional que atinge mais indivíduos. Um
exemplo dessa autonomia comunicacional são as redes so-
ciais digitais, que orientam ações deliberadas e amplamente
desimpedidas, reconfigurando os atos dos movimentos
sociais atualmente.
Assim, os movimentos sociais conseguem dissipar suas
ações e novas formas de lutas sociais com uma enor-
me velocidade. As redes sociais digitais configuram-se
como polos de resistências, por apresentarem elemen-
tos de esperança e de indignação para os indivíduos
conectados em rede.

Castells investiga os efeitos da informação sobre a econo-


mia, a cultura e a sociedade em geral. Ele estuda a configu-
ração da sociedade dependente do acesso à internet e aos
dispositivos móveis, denominada pelo sociólogo como “so-
ciedade em rede”. Trata-se de uma sociedade que vivencia multimídia: vídeo
 VOLUME ÚNICO

uma realidade virtual, afetando a forma da economia, da


Fonte: Youtube
tecnologia e a própria informação.
Castells e a obsolescência da educação
A economia tende a se moldar conforme essa nova pers- Manuel Castells analisa como a educação precisa se
pectiva, recriando novas formas de transações econômicas, modificar diante da sociedade em rede.
com a criação de moedas virtuais, como o bitcoin.

178  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


revolução tecnológica, modificando a própria realidade
humana e as relações sociais na atualidade.

1.3. A sociedade informacional


A Finlândia é um bom exemplo de uma sociedade infor-
macional, pois privilegia um bem-estar social. A relação
multimídia: música entre o Estado e a sociedade surge numa distribuição
Fonte: Youtube homogênea dos benefícios advindos das tecnologias de
Parabolicamará - Gilberto Gil. informação e comunicação por toda a sua população. A
Álbum: Parabolicamará, 1992. identidade do povo finlandês está consolidada mediante
uma compreensão entre Estado e indivíduo em promover
as relações com setores público e privado.
1.2. Novas formas de trabalho Isso ocorre porque as novas tecnologias permitem uma
Para Castells, nessa nova modalidade de sociedade, as coordenação diferenciada conforme a capacidade de infor-
formas de trabalho se modificam. As relações de trabalho mação e de comunicação.
apresentam uma instabilidade, propagando vínculos par-
ciais e temporários, ocasionada por uma efemeridade das
próprias relações humanas oriundas do “modus operan-
dis” da internet.
Com isso, compreendemos o poder dessa “rede”, que des-
constrói o poder estatal e altera o mundo do trabalho.

multimídia: livro

A Sociedade em Rede - Manuel Castells.


São Paulo: Paz e Terra, 2000.
Manuel Castells, sociólogo espanhol, busca esclarecer
a dinâmica econômica e social da nova era da informa-
ção. Castells busca formular uma teoria que dê conta
dos efeitos fundamentais da tecnologia da informação
Segundo o sociólogo, a sociedade de informação é defi- no mundo contemporâneo.
nida como um período histórico caracterizado por uma

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  179


DIAGRAMA DE IDEIAS

CASTELLS

“SOCIEDADE EM
REDE”

AS NOVAS SOCIEDADE
TECNOLOGIAS DOMINANTE

DIRECIONAM QUE DIRECIONA A


NOVOS RITOS NOVA ORDEM
SOCIAIS SOCIAL

PRODUZEM NOVAS REORGANIZANDO


LINGUAGENS O ESPAÇO

Aplicando para Aprender (A.P.A.) 2. (FGV) A sociedade da informação, para usar a expressão
de Manuel Castells, corresponde às transformações técni-
1. (Enem (Libras)) Esse sistema tecnológico, em que esta- cas, organizacionais e administrativas que têm como prin-
mos totalmente imersos na aurora do século XXI, surgiu cipal fator os insumos baratos de informação propiciados
nos anos 1970. Assim, o microprocessador, o principal pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e teleco-
dispositivo de difusão da microeletrônica, foi inventa- municações. As transformações em direção à sociedade da
do em 1971 e começou a ser difundido em meados dos informação definem um novo paradigma, o da tecnologia
anos 1970. O microcomputador foi inventado em 1975, da informação, que expressa a transformação tecnológica
e o primeiro produto comercial de sucesso, o Apple II, foi em curso e suas implicações com a economia e a socieda-
de. Em relação às características do paradigma da tecno-
introduzido em abril de 1977, por volta da mesma época
logia da informação, analise as afirmativas a seguir:
em que a Microsoft começava a produzir sistemas opera-
cionais para microcomputadores. I. Graças às novas tecnologias, predomina a lógica das
redes, uma vez que pode ser implementada em qualquer
CASTELLS, M. A sociedade em rede: a era da informação. tipo de processo.
São Paulo: Paz e Terra, 1999 (adaptado). II. A tecnologia digital favorece a flexibilidade, já que
permite modificar os processos em função de sua alta
A mudança técnica descrita permitiu o surgimento de
capacidade de reconfiguração.
uma nova forma de organização do espaço produtivo
III. A convergência das tecnologias mostra a interliga-
 VOLUME ÚNICO

global, marcada pelo(a) ção entre diversas áreas de saber, graças, por exemplo,
a) primazia do setor secundário. à microeletrônica, à robótica e à inteligência artificial.
b) contração da demanda energética. Assinale:
c) conectividade dos agentes econômicos. a) Se somente a afirmativa I estiver correta.
d) enfraquecimento dos centros de gestão. b) Se somente a afirmativa II estiver correta
e) regulamentação das relações de trabalho. c) Se somente a afirmativa III estiver correta.

180  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


d) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. (entendidos como movimentos que têm como objetivo
e) Se todas as afirmativas estiverem corretas. defender ou propor modos próprios de vida e sentido)
constroem-se em torno de sistemas de comunicação –
3. (Enem PPL) Os movimentos sociais do século XXI, essencialmente a internet e os meios de comunicação
ações coletivas deliberadas que visam à transformação – porque esta é a principal via que esses movimentos en-
de valores e instituições da sociedade, manifestam-se contram para chegar àquelas pessoas que podem even-
na e pela internet. O mesmo pode ser dito do movi- tualmente partilhar os seus valores, e a partir daqui atuar
mento ambiental, o movimento das mulheres, vários na consciência da sociedade no seu conjunto”.
movimentos pelos direitos humanos, movimentos de Disponível em: www.compolitica.org.
identidade étnica, movimentos religiosos, movimentos Acesso em: 2 mar. 2012 (Adaptado).
nacionalistas e dos defensores/proponentes de uma
lista infindável de projetos culturais e causas políticas. Em 2011, após uma forte mobilização popular via redes
sociais, houve a queda do governo de Hosni Mubarak
CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet,
os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
no Egito. Esse evento ratifica o argumento de que:
a) A internet atribui verdadeiros valores culturais aos
De acordo com o texto, a população engajada em pro-
seus usuários.
cessos políticos pode utilizar a rede mundial de compu-
tadores como recurso para mobilização, pois a internet b) A consciência das sociedades foi estabelecida com
caracteriza-se por o advento da internet.
c) A revolução tecnológica tem como principal objeti-
a) diminuir a insegurança do sistema eleitoral. vo a deposição de governantes antidemocráticos.
b) reforçar a possibilidade de maior participação qua- d) Os recursos tecnológicos estão a serviço dos opres-
lificada. sores e do fortalecimento de suas práticas políticas.
c) garantir o controle das informações geradas nas e) Os sistemas de comunicação são mecanismos impor-
mobilizações. tantes, de adesão e compartilhamento de valores sociais.
d) incrementar o engajamento cívico para além das
fronteiras locais. 6. (Enem PPL 2018) Existe uma concorrência global, for-
e) ampliar a participação pela solução da escassez de çando redefinições constantes de produtos, processos,
tempo dos cidadãos. mercados e insumos econômicos, inclusive capital e in-
formação.
4. (UFJF) Num importante trabalho, Manuel Castells (2003) CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
lembra que, embora enraizada na tradição acadêmica da
abertura com relação aos achados da pesquisa, um dos Nos últimos anos do século XX, o sistema industrial ex-
fatores principais da explosão no uso da Internet é o fato perimentou muitas modificações na forma de produzir,
de que as corporações globais viram nela a oportunidade que implicaram transformações em diferentes campos
de transformar radicalmente suas práticas de relaciona- da vida social e econômica. A redefinição produtiva e
mento com fornecedores e clientes, sua administração e seu respectivo impacto territorial ocorrem no uso da
sua lógica de produção. A produção em rede permitiu, por a) técnica fordista, com treinamento em altas tecno-
exemplo, à Zara espanhola do setor de confecções levar logias e difusão do capital pelo território.
um novo produto às lojas do mundo todo em duas sema- b) linha de montagem, com capacitação da mão de obra
nas, contra um ciclo de desenho-produção-distribuição de em países centrais e aumento das discrepâncias regionais.
seis semanas na Benetton dos anos 1980, ou de mais de c) robotização, com melhorias nas condições de traba-
24 semanas nos anos 1960. lho e remuneração em empresas no Sudeste asiático.
DUPAS, Gilberto. Atores e poderes na nova ordem d) produção just in time, com territorialização das in-
global: assimetria, instabilidades e imperativos de
dústrias em países periféricos e manutenção das bases
legitimação. São Paulo: Unesp, 2005. p. 200.
de gestão nos países centrais.
A característica da transformação provocada pela Inter- e) fabricação em grandes lotes, com transferências
net na produção é: financeiras de países centrais para países periféricos
a) A abrangência e a intensidade do uso da Internet e diminuição das diferenças territoriais.
extingue o apartheid digital atual.
7. (UFPR) O patriarcalismo (...) caracteriza-se pela auto-
b) A proibição do aproveitamento dos bolsões de mão
ridade, imposta institucionalmente, do homem sobre a
de obra barata dos países pobres.
mulher e filhos no âmbito familiar.
c) A qualificação do trabalhador é cada vez menos im-
portante na sociedade on line. CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade
e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 169. vol. II
d) O sistema global tende a ser cada vez mais inde-
 VOLUME ÚNICO

pendente de lugares e pessoas. Sobre esse tema, considere as seguintes afirmativas:


e) O suporte tecnológico da Era da Informação foi cria- I. O fim da Segunda Guerra Mundial marca o início da
do pelas exigências da economia. contestação ao patriarcalismo no Ocidente.
5. (Enem) O sociólogo espanhol Manuel Castells sustenta II. A contestação ao patriarcalismo é derivada dos pro-
que a comunicação de valores e a mobilização em torno cessos de transformação do trabalho feminino e da
do sentido são fundamentais. Os movimentos culturais conscientização da mulher.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  181


III. Mudanças tecnológicas no processo de reprodução c) Políticas públicas que favorecem a distribuição de
da espécie e o crescimento de uma economia global renda; igualdade das oportunidades entre os diferen-
são decorrentes da crise do modelo familiar patriarcal. tes países; maior controle no processo de favelização
IV. Para que uma autoridade como a patriarcal possa nos países desenvolvidos.
ser exercida, é preciso que permeie toda a organização d) Aumento da concentração de renda; fragilidade de
social, desde a cultura até a política. políticas públicas favoráveis a distribuição de renda;
desqualificação da mão-de-obra para o ingresso no
Assinale a alternativa correta:
mercado de trabalho nos países subdesenvolvidos.
a) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras. e) Desemprego elevado nos países subdesenvolvidos;
b) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras. ocorrência, em todos os países do mundo, da moder-
c) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. nização da produção industrial; maior distribuição de
d) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. terras nos países mais pobres.
e) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
10. (Vunesp) Manoel Castells (1999) em seu livro A so-
8. (UFG) Leia o texto a seguir. ciedade em rede refere-se a uma “nova” cultura que
“[...] os valores e interesses predominantes são cons- vem transformando as relações espaço-tempo, com no-
truídos sem referência ao passado ou ao futuro no pa- vos mecanismos de dominação e subordinação político
norama intemporal das redes de computadores e da econômica em todo mundo: o preço a ser pago pela
mídia eletrônica, em que todas as expressões ou são inclusão no sistema é a adaptação a sua lógica, a sua
instantâneas, ou não apresentam sequência previsível. linguagem, a seus pontos de entrada, a sua codificação
[…] Essa virtualidade é nossa realidade porque está na e decodificação. Assinale a alternativa que melhor re-
estrutura desses sistemas simbólicos intemporais des- trata esta “nova” cultura.
providos de lugar cujas categorias construímos e cujas a) Cultura da violência, a sociedade é guiada por sen-
imagens, também por nós evocadas, modelam o com- timentos de xenofobia e de pressão psicológica.
portamento, influenciam a política, acalentam sonhos e b) Cultura do consumo, em que toda sociedade se en-
provocam pesadelos”. volve num sistema de consumo, cada vez mais, facilita-
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade dor que induz a compra até mesmo sem sair de casa.
e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 3. p. 411; 439.
c) Cultura do desperdício, a sociedade sob a pressão da
Nos últimos anos tem crescido de forma acentuada a propaganda adquire bens desnecessários ou supérfluos.
utilização das redes sociais na internet, principalmen- d) Cultura da televisão, a sociedade tem suas ideias e
te pelos mais jovens. Os protestos agora se difundem valores homogeneizados por meio da mídia nacional
globalmente, e abaixo-assinados e petições públicas se e internacional.
reproduzem pelas redes, dando um novo significado ao e) Cultura da virtualidade real, em que ocorre uma
conceito de cidadania. transformação tecnológica de dimensões históricas,
Com base no texto e nas informações apresentadas, ou seja, a integração de vários modos de comunica-
conclui-se que, com o uso da internet, ção em uma rede interativa.
a) as redes sociais têm contribuído para tornar o mun-
do mais humano e tolerante.
b) as redes sociais levam as pessoas a tornarem-se Gabarito
mais ativas na luta pela distribuição das riquezas. 1. C 2. E 3. D 4. D 5. E
c) os jovens encontram nas redes sociais um instru-
mento real para transformar a sociedade. 6. D 7. D 8. D 9. D 10. E
d) as redes sociais potencializam revoltas e manifestações,
mas carecem de organização e limitam-se no tempo.
e) os questionamentos críticos nas redes sociais têm
mudado o comportamento consumista da juventude.

9. (Vunesp) A diferença socioeconômica entre os países


desenvolvidos e subdesenvolvidos é cada vez maior,
agravada pela aceleração do processo de globalização
econômica. O aumento da pobreza no mundo relacio-
na-se a vários fatores. Escolha a alternativa que melhor
expressa essa realidade.
 VOLUME ÚNICO

a) Utilização de políticas públicas paternalistas nos


países pobres; controle da natalidade nos países ri-
cos; diminuição da fome nos países subdesenvolvidos.
b) Aumento da concentração de renda; aumento dos
postos de trabalho nos países do sul; pouca qualifica-
ção da população nos países mais pobres.

182  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

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