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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral,
com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totali-
zando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla,
de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a
aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS VIVENCIANDO


De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico
volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi-
nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina culta a compreensão de determinados conceitos e impede
em todo o território nacional. o aprofundamento nos temas para além da superficial me-
morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na
aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi-
venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo-
cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
TEORIA
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co- contato em seu dia a dia.
leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu-
ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil
compreensão, completos e organizados. Além disso, contam
com imagens ilustrativas que complementam as explicações APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em
cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa-
abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos
à rotina intensa de estudos. compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re-
solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça
abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e
de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas
MULTIMÍDIA resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica-
ções dadas em sala de aula.
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui-
dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar
o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a
compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa-
cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem-
de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati- penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa
vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e
ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção
seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
o conhecimento do nosso aluno. dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento
do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas
resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e
descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no
dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é prova e a resolvê-las com tranquilidade.
elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que
trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co-
nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina.
DIAGRAMA DE IDEIAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso,
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma- orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de
temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte-
com essa realidade por meio de explicações que relacionam údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de mentais e fluxogramas.
outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta
forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a
mundo em que ele vive. organização dos estudos e até a resolução dos exercícios.
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ISBN
978-85-9542-242-1

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SUMÁRIO
ENTRE PENSAMENTOS
FILOSOFIA
AULA 1: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA GREGA 006
AULA 2: FILOSOFIA DE ATENAS 014
AULA 3: ALEGORIA DA CAVERNA 020
AULA 4: ARISTÓTELES 027
AULA 5: FILOSOFIA MEDIEVAL 034
AULA 6: FILOSOFIA POLÍTICA 041
AULA 7: FILOSOFIA MODERNA 049
AULA 8: RACIONALISMO 056
AULA 9: EMPIRISMO 062
AULA 10: ILUMINISMO FRANCÊS  070
AULA 11: ROUSSEAU 077
AULA 12: ILUMINISMO ALEMÃO 083
AULA 13: A ÉTICA DO DEVER: IMPERATIVO CATEGÓRICO 089
AULA 14: TEMPESTADE E ÍMPETO 095
AULA 15: HEGEL 100
AULA 16: ÉTICA UTILITARISTA 106
AULA 17: MATERIALISMO FILOSÓFICO 114
AULA 18: SCHOPENHAUER 120
AULA 19: NIETZSCHE 125
AULA 20: FILOSOFIA DA CIÊNCIA: POPPER 132
AULA 21: FENOMENOLOGIA DO CONHECIMENTO 139
AULA 22: EXISTENCIALISMO 146
AULA 23: ESCOLA DE FRANKFURT 153
AULA 24: HANNAH ARENDT 161
AULA 25: HABERMAS 167
AULA 26: A FILOSOFIA E O PODER 174
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM

Compreender os elementos culturais que constituem as identidades


Competência 1

H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.


H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspectoda cultura.
H5 - Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.

Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
Competência 2

H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.


H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.

Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, con-
flitos e movimentos sociais.
Competência 3

H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.


H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica
H14
acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na
vida social.
Competência 4

H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.

Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
Competência 5

H21 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H22 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construçãodo texto literário.
H23 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos.
Competência 6

H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Há predominância na interdisciplinarida- No vestibular da USP as propostas de


de e, em menor frequência, questões te- redação costumam tratar de temas que
máticas da própria disciplina de filosofia. dialogam com as discussões filosóficas.
Há questões interdisciplinares e obras
literárias com conceitos filosóficos.

A Unicamp também utiliza conceitos e Nos últimos anos, pode-se notar a pre-
Temas como liberdade, religiosidade, eu-
temas filosóficos em suas propostas de sença de temas ligados à ética, contra-
tanásia, sanidade/insanidade, egoísmo/
redação. Algumas obras literárias podem tualismo, estética, filosofia da ciência,
altruísmo, política e cidadania, justiça,
estabelecer interdisciplinaridade com a dogmatismo, epistemologia, liberdade,
entre outros, estão presentes na cole-
filosofia. teoria política. Destacam-se os pensado-
tânea de redação dos últimos anos. As
questões de literatura também contêm res e temas da filosofia clássica, moderna
alguns desses temas apresen- e iluminista.
tados.

Nas propostas de redação aparecem te- Nas questões de língua portuguesa dos As propostas dos últimos anos apresen- Conteúdos e temas filosóficos nas ques-
mas, como: uberização (precarização do últimos vestibulares, nota-se a presença taram temas como: desigualdade social, tões discursivas e propostas de redação:
trabalho), realidade e ficção nas obras de de temas como natureza humana (o que liberdade de expressão, imigração, vigi- pós-verdade; racismo e democracia ra-
arte (filosofia da estética), as fronteiras define o ser humano enquanto ser hu- lância e sociedade de controle, direitos cial; liberdade e sociedade de controle.
entre a vida pública e privada do profis- mano), ética, cultura, cidadania e direitos civis e sociais, política e bem-estar social. Para esses temas, pensadores como Só-
sional médico, ética e medicina, corrup- – esses também presentes na prova de Pensadores como Marx, Voltaire, Rousse- crates, Platão, Aristóteles, Nietzsche, Fou-
ção e ética no cenário político História, em especial a cidada- au, Foucault, Kant e Hans Jo- cault, Kant, Rousseau, Voltaire
brasileiro, entre outros nia na Antiguidade. nas são fundamen- são fundamentais.
assuntos. tais.

Na Universidade Estadual de Londrina A prova cobra a disciplina de Filosofia de


Nos últimos anos, os autores exigidos na
os principais temas são: problemas po- forma indireta nas temáticas de redação.
bibliografia de leitura básica de filosofia
líticos e éticos na Filosofia; problemas
foram: Habermas, Hume e Kant; Hume,
epistemológicos na Filosofia; problemas
Kant e Platão; Kant, Platão e Foucault;
estéticos na Filosofia.
Tales, Platão, Descartes, Hobbes e Fou-
cault; Hannah Arendt, Heráclito, Locke,
Maquiavel e Platão.

A área de “Ciências Humanas” inclui os A prova não aborda a Filosofia. A prova não aborda a Filosofia.
conteúdos das disciplinas de Geografia,
História, Sociologia e Filosofia, dialogan-
do com as demais áreas das Ciências
Sociais.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  5


INTRODUÇÃO
À FILOSOFIA
GREGA

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: livro
HABILIDADE(s)
Os pré-socráticos - Coleção “Os
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, pensadores”. São Paulo: Abril, 1999.

1
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Nessa compilação de textos dos primeiros filósofos da
Grécia antiga, temos uma percepção das teorias desses
pensadores.

2. Período pré-socrático
ou cosmológico
Sendo uma explicação racional e sistemática diante da ori-
1. Introdução gem e da transformação da Natureza, a cosmologia (enten-
O mundo helenístico (mundo grego) se beneficiou do mo- dimento racional do universo) afasta-se da mitologia (explica-
mento histórico, quando as cidades-Estados na Grécia antiga ção sobrenatural da natureza e de seus eventos), pois esses
eram prósperos centros comerciais e culturais. Conjuntamen- pensadores buscavam um princípio fundador para todas as
te, o desenvolvimento da cidadania participativa obrigou os coisas, uma origem comum, uma arché (princípio/fundamen-
gregos a debaterem e formularem propostas racionais de ad- to). Os pensadores desse período tiveram a preocupação de
ministração da vida social. Desse modo, favoreceu-se o desen- compreender a physis, ou seja, os aspectos da Natureza ou
volvimento do pensamento humano, isto é, ocorreu a supre- da nossa realidade, que se encontra em movimento. A palavra
macia do logos, que significa “palavra”, “discurso”, “razão”. "filosofia" deriva dos termos gregos philos (amor) e sophia
(sabedoria). Assim, o filósofo, "aquele que ama a sabedoria",
torna-se o verdadeiro investigador da Natureza.

multimídia: vídeo
Mapa do mundo helenístico Fonte: Youtube
Descobrindo a Filosofia com Pondé
- Ep.02: Os Pré-Socráticos
 VOLUME ÚNICO

2.1. Tales de Mileto (624-546 a.C.)


Tales foi um famoso matemático, mas pouco se conhece
sobre seus escritos, pois muitos se perderam ao longo do
tempo. Ele foi o primeiro a afirmar que a água era a ori-
Vista do Partenon, templo dedicado à deusa Atena,
construído no século V a.C., na Acrópole de Atenas gem (arché) de todas as coisas, sendo a fonte originária

6  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


de explicação da physis. Infelizmente, só temos interpre-
tações de outros filósofos perante o seu pensamento.

multimídia: livro

Introdução à história da Filosofia - CHAUÍ, Marilena.


São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
No primeiro volume desenvolvido pela filósofa brasileira
Marilena Chauí, é apresentada, de forma didática, a filo-
sofia dos primeiros pensadores na Grécia antiga.

Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser água [o princípio]


(é por este motivo também que ele declarou que a terra 2.3. Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)
está sobre água), levado sem dúvida a esta concepção por
Heráclito preocupou-se com a questão da transformação,
ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o
ou seja, da physis, e por sua forma tão concisa de escrita,
próprio quente dele procede e dele vive (ora, aquilo de que
ganhou o cognome de “o Obscuro”. A base de seu pensa-
as coisas vêm é, para todos, o seu princípio). Por tal ob-
mento consiste no caráter transitório e mutável das coisas
servar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes
– para explicar esse pensamento, emerge a metáfora que
de todas as coisas terem a natureza úmida; e a água é o
“não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes”.
princípio da natureza para as coisas úmidas.
ARISTÓTELES
Metafísica, 1, 3. 983b (DK 11 a 12)

2.2. Anaximandro (610-547 a.C.)


De sua vida pouco se sabe. Foi-lhe atribuída a confecção de
um mapa do mundo habitado. Anaximandro foi o primeiro
a formular o conceito de uma lei universal presidindo o multimídia: vídeo
processo cósmico total, numa clara ampliação da visão de Fonte: Youtube
Tales. Anaximandro afirmava que o princípio de tudo (ar- Heráclito e o mundo como um eterno devir
ché) seria o ápeiron (o infinito).
Nos mesmos rios entramos e não entramos. Somos e não so-
mos. O fogo, segundo Heráclito, é o elemento da mudança,
o símbolo da transformação e do movimento constante. O
princípio é devir (vir a ser, tornar-se), o princípio é a mudança.
 VOLUME ÚNICO

HERÁCLITO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  7


2.5. Empédocles (490-430 a.C.)
Empédocles foi um filósofo da cidade de Agrigento, na Si-
cília, e seu pensamento consistia em que as coisas eram
constituídas por quatro elementos: fogo, terra, água e ar.
Ele observa que o amor e o ódio aproximam e afastam os indi-
multimídia: livro víduos, caracterizando-os como forças antagônicas cósmicas.
Isso quer dizer que o semelhante atrai o semelhante e o des-
semelhante repulsa o dessemelhante, num movimento eterno
A sabedoria grega (III): Heráclito - Giorgio – assim, ao se ter harmonia, o amor prevalece, e, caso tenha
Colli. São Paulo: Paulus, 2013. desequilíbrio, o ódio está atuando. Diante disso, o filósofo
Nessa obra bilíngue, idealizada pelo professor Giorgio inaugura o pluralismo, que orienta e ordena a Natureza; não
Colli, são apresentados todos os fragmentos associados mais um único elemento, como pensavam os outros filósofos.
ao filósofo Heráclito, para compreendermos na sua ple-
Este (Empédocles) estabelece quatro elementos corporais,
nitude a filosofia do pensador de Éfeso. fogo, ar, água e terra, que são eternos e que mudam au-
mentando e diminuindo mediante mistura e separação;
mas os princípios propriamente ditos, pelos quais aqueles
2.4. Parmênides de Eleia (530-460 a.C.) são movidos, são o Amor e o Ódio. Pois é preciso que os
elementos permaneçam alternadamente em movimento,
O filósofo Parmênides concentrou seu pensamento no imo- sendo ora misturados pelo Amor, ora separados pelo Ódio.
bilismo universal, indo contra o mobilismo de Heráclito. Seu
ARISTÓTELES
único trabalho conhecido foi um poema intitulado “Sobre a
Metafísica, 1, 3. 984a 8 (DK 31 A 28)
Natureza”, que sobreviveu apenas na forma de fragmentos.
Segundo Parmênides, o ser (a essência/o ontos) era uno, in-
2.6. Demócrito (460-370 a.C.)
divisível, pleno e eterno, de modo que não há espaço para o
não ser. Visto que, para o pensador, as coisas não surgiram Filósofo nascido na cidade de Mileto ou Abdera, Demócrito
do nada, isto é, tudo que existe sempre existiu. Para Parmê- foi o maior expoente do atomismo. Segundo seu pensa-
nides, o ser é e o não ser não é. mento, tudo o que existe na physis, ou seja, na Natureza,
é composto por átomos, que eram partículas indivisíveis e
Parmênides parece, neste ponto, raciocinar com mais
eternas. Seu método foi a observação.
penetração. Julgando que fora do ser o não ser nada é,
forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, Demócrito é o primeiro que excluiu rigorosamente todo
e nenhuma outra. elemento mítico. E o primeiro racionalista.
ARISTÓTELES NIETZSCHE
Metafísica, 1, 5. 986b 18 (DK 28 A 24) O nascimento da Filosofia na época da tragédia grega. Vol. XIX.
 VOLUME ÚNICO

8  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
PRÉ-SOCRÁTICA

OS PRIMEIROS
PENSADORES NA TALES EMPÉDOCLES
GRÉCIA ANTIGA:
SEPARAÇÃO TUDO É ÁGUA.
GRADUAL A MISTURA DOS
ENTRE MITO E ELEMENTOS
PENSAMENTO FORMAM A
RACIONAL PHYSIS
HERÁCLITO OS ELEMENTOS
(FILOSÓFICO).
SÃO TERRA,
FOGO, AR
TUDO FLUI E ÁGUA.
TUDO É DEVIR
(VIR A SER/
SÃO
MUDANÇA).
INVESTIGADORES DA
DEMÓCRITO
NATUREZA (PHYSIS).

PARMÊNIDES TUDO É
COMPOSTO
BUSCAM EXPLICAR
POR ÁTOMOS.
OS FENÔMENOS DA O SER É E O NÃO
NATUREZA COM SER NÃO É.
UMA ÚNICA
DEFINIÇÃO:
ARCHÉ (PRINCÍPIO/
FUNDAMENTO).

DE UMA FORMA
ONTOLÓGICA E
COSMOLÓGICA.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  9


Aplicando para Aprender (A.P.A.) A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) F, V, V, F. c) F, V, F, V.
1. (Unesp 2020) Em 4 de julho de 2012, foi detectada b) V, F, V, F. d) V, F, F, V.
uma nova partícula, que pode ser o bóson de Higgs. Tra-
ta-se de uma partícula elementar proposta pelo físico 4. (Unifesp) “Vamos, vou dizer-te – eu tu escuta e fixa o
teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do modelo relato que ouviste quais os únicos caminhos de investi-
padrão, segundo a qual o bóson de Higgs seria a partí- gação que há para pensar: um que é, que não é para não
cula elementar responsável pela origem da massa de ser. é caminho de confiança (pois acompanha a realida-
todas as outras partículas elementares. de); o outro que não, que tem de não ser, esse te indico
ser caminho em tudo ignoto, pois não poderá conhecer
(Jean Júnio M. Pimenta et al. “O bóson de Higgs”. In: Revista
brasileira de ensino de física, vol. 35, no 2, 2013. Adaptado.)
o não ser, não é possível, nem indicá-lo [...]”
PARMÊNIDES. Da Natureza. São Paulo: Loyola, 2002.
O que se descreve no texto possui relação com o con-
ceito de arqué, desenvolvido pelos primeiros pensado- Com base no fragmento, o autor:
res pré-socráticos da Jônia. A arqué diz respeito a) faz um contraponto em relação aos pensamentos de
Heráclito, no qual contradiz a teoria de que tudo está em
a) à retórica utilizada pelos sofistas para convenci-
uma constância perpétua de movimento e mudanças.
mento dos cidadãos na pólis.
b) faz um contraponto em relação aos pensamentos
b) a uma explicação da origem do cosmos fundamen-
do não ser, pois ser pode não ser, possibilitando o
tada em pressupostos mitológicos.
conhecimento do não se conhecer.
c) à investigação sobre a constituição do cosmos por
c) defende a teoria de que tudo está em uma cons-
meio de um princípio fundamental da natureza.
tância perpétua de movimento e mudanças.
d) ao desenvolvimento da lógica formal como habili-
d) fundamenta que o ser, somente pode ser o que é,
dade de raciocínio.
entretanto, pode possibilitar o conhecimento da re-
e) à justificação ética das ações na busca pelo enten-
alidade através do que não se sabe, fomentando o
dimento sobre o bem.
conhecimento do não ser.
2. (UFPR 2020) De acordo com Tales de Mileto, a água e) faz um contraponto a não identidade, pois o ser é
é origem e matriz de todas as coisas. Essa maneira de impossível de saber ou compreender o que o constitui.
reduzir a multiplicidade das coisas a um único elemento
foi considerada uma das primeiras expressões da Filo- 5. (Enem) Na antiga Grécia, o teatro tratou de questões
sofia, porque: como destino, castigo e justiça. Muitos gregos sabiam
de cor inúmeros versos das peças dos seus grandes au-
a) é um questionamento sobre o fundamento das coisas. tores. Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, Shakespeare
b) enuncia a verdade sobre a origem das coisas. produziu peças nas quais temas como o amor, o poder,
c) é uma proposição que se pode comprovar. o bem e o mal foram tratados.
d) é uma proposição científica. Nessas peças, os grandes personagens falavam em ver-
e) é um mito de origem. so e os demais em prosa. No Brasil colonial, os índios
aprenderam com os jesuítas a representar peças de
3. (Uece 2020) Antes do surgimento do pensar racional-
caráter religioso. Esses fatos são exemplos de que, em
-filosófico, os povos antigos possuíam outra forma de
diferentes tempos e situações, o teatro é uma forma de
explicação do mundo: o pensamento mítico.
Considerando as características do conhecimento míti- a) manipulação do povo pelo poder.
co, atente para o que se afirma a seguir e assinale com b) diversão e de expressão dos valores e problemas
V o que for verdadeiro e com F o que for falso. da sociedade.
( ) A mitologia foi a segunda forma de explicação so- c) entretenimento popular.
bre o mundo, sucedendo as explicações fornecidas pe- d) manipulação do povo pelos intelectuais que com-
las ciências dos antigos povos, como a agrimensura e a põem as peças.
astrologia. e) entretenimento, que foi superada e hoje é substitu-
( ) Os mitos eram transmitidos por gerações, principal- ída pela televisão.
mente através da forma narrativa e faziam parte da
6. Em relação ao fenômeno religioso e à história do de-
tradição cultural de um povo, não sendo originários da
senvolvimento do homem, é correto afirmar que:
criação por parte de um indivíduo específico.
a) a manifestação do sagrado envolve os aspectos
 VOLUME ÚNICO

( ) A mitologia explicava a origem do mundo e depen-


dia da adesão, pelas pessoas, de um conjunto de verda- religiosos, que precedem a razão.
des tidas como inquestionáveis e imunes à crítica. b) a razão possibilitou o desenvolvimento da religião.
( ) Baseado, principalmente, nas forças da natureza – c) o sagrado é invenção para apenas conduzir as massas.
physis –, as mitologias antigas, ao contrário das religiões d) o discurso racional criou a religião.
que as sucederam, evitavam o recurso às forças sobrena- e) a moral é inata ao âmago do homem e precede ao fenô-
turais como fonte de explicação da existência. meno do sagrado, que está coligado à estrutura religiosa.

10  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


7. (UEL) Há, porém, algo de fundamentalmente novo partiram da ideia unânime de que a água era o prin-
na maneira como os gregos puseram a serviço do seu cípio original do mundo por sua enorme capacidade
problema último – da origem e essência das coisas – as de transformação.
observações empíricas que receberam do Oriente e enri- d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem
queceram com as suas próprias, bem como no modo de homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do
submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mi- mundo dos deuses em detrimento de uma explicação
tos, fundado na observação das realidades aparentes do natural e regular acerca dos primeiros princípios que
mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo. originam todas as coisas.
JAEGER, W. Paideia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. e) Para os pensadores jônicos da natureza – Tales,
Anaxímenes e Heráclito –, há um princípio originário
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação único denominado “o ilimitado”, que é a reprodução
entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar: da aparência sensível que os olhos humanos podem
a) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação observar no nascimento e na degeneração das coisas.
de interdependência, uma vez que o pensamento fi-
losófico necessita do mito para se expressar. 9. (UEAP) (...) que é e que não é possível que não seja,/ é
a vereda da Persuasão (porque acompanha a Verdade);
b) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se
o outro diz que não é e que é preciso que não seja,/ eu
desvincula dos mitos, de forma gradual.
te digo que esta é uma vereda em que nada se pode
c) A filosofia representa uma ruptura radical em relação
aprender. De fato, não poderias conhecer o que não é,
aos mitos, representando uma nova forma de pensa-
porque tal não é fatível./ nem poderia expressá-lo.
mento plenamente racional, desde as suas origens.
d) Em que pese ser considerada como criação dos gre- NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de
gos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da Filosofia. São Paulo: Globo, 2005.
religião e apenas posteriormente chega à Grécia.
O texto anterior expressa o pensamento de qual filósofo?
e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava res-
postas para problemas que até hoje são objetos da a) Aristóteles, que estabelecia a distinção entre o
pesquisa filosófica. mundo sensível e o inteligível.
b) Heráclito de Éfeso, que afirmava a unidade entre
8. (UEL) De onde vem o mundo? De onde vem o univer- pensamento e realidade.
so? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, c) Tales de Mileto, que afirmava ser a água o princípio
em algum momento, o universo também tinha de ter de todas as coisas.
surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo
d) Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade
de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, en-
de todas as coisas e a unidade entre ser e pensar, ser
tão essa outra coisa também devia ter surgido de algu-
ma outra coisa algum dia. e conhecimento.
e) Protágoras, que afirmava que o homem é a medida
Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de
de todas as coisas, que o ser é e o não ser não é.
lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha
de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a 10. (Unicentro) Leia o fragmento de um texto pré-socrático.
partir da qual tudo é feito? A grande questão para os
“Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para ne-
primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do
nhuma das coisas mortais, como não há fim na morte
nada. O que os instigava era saber como a água podia
funesta, mas somente composição e dissociação dos
se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem
vida podia se transformar em árvores frondosas ou flo- elementos compostos: nascimento não é mais do que
res multicoloridas. um nome usado pelos homens.”
EMPÉDOCLES. Apud ARANHA; MARTINS. Filosofando:
GAARDER, J. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia
introdução à Filosofia. 3. ed. São
Paulo: Moderna, 2006, p. 86.
das Letras, 1995. p. 43-44 (adaptado).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgi- A respeito da relação entre mythos e logos (razão) no
mento da Filosofia, assinale a alternativa correta. início da filosofia grega, analise as assertivas e assinale
a alternativa que aponta as corretas.
a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenô-
menos e as transformações da natureza e porque a I. O fragmento acima denota a “luta de forças” opostas
vida é como é, tendo como limitador e princípio de na massa dos membros humanos, que ora unem-se pelo
verdade irrefutável as histórias contadas acerca do amor – no início todos os membros que atingiram a cor-
mundo dos deuses. poreidade da vida florescente –, ora
 VOLUME ÚNICO

b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convic- divididos pela força da discórdia, erram separados nas
ção de que havia alguma substância básica, uma causa linhas da vida. Assim ocorre também com todos os ou-
oculta que estava por trás de todas as transformações tros seres na natureza.
na natureza e, a partir da observação, buscavam des- II. A verdade filosófica apresenta-se no pensamento
cobrir leis naturais que fossem eternas. de Empédocles através de uma estrutura lógica muito
c) Os teóricos da natureza, que desenvolveram seus distante da “verdade” expressa nos relatos míticos dos
sistemas de pensamento por volta do século VI a.C., gregos arcaicos.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  11


III. Nascimento e morte, no texto de Empédocles, são 13. (UFU) O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito
apresentados por meio de representações míticas que de Éfeso.
o filósofo retira de uma tradição religiosa presente “O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dor-
ainda em seu tempo. Essas imagens, consequentemen- mindo, novo e velho; pois estes, tombados além, são
te, se transpõem, sem deixarem de ser místicas, em aqueles e aqueles de novo, tombados além, são estes”.
uma filosofia que quer captar a verdadeira essência
da realidade física. Os pré-socráticos. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural. 1973, p. 93.

IV. O fragmento denota continuidade do pensamento A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que
mítico no início da filosofia, pois estão presentes ainda melhor representa o pensamento de Heráclito.
o uso de certas estruturas comuns de explicação.
a) Não existe a noção de “oposto” no pensamento de
a) Apenas II, III e IV estão corretas. Heráclito, pois todas as coisas constituem um único
b) Apenas I, III e IV estão corretas. processo de mudança que expressa a concórdia e a
c) Apenas I e II estão corretas. harmonia do “fluxo” contínuo da natureza.
d) Apenas I e IV estão corretas. b) A equivalência de estados contrários com “o
e) Apenas I, II e IV estão corretas. mesmo” exprime a alternância harmônica de polos
opostos, pela qual um estado é transposto no outro,
11. A filosofia ocidental teve início com os pensadores numa sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as
anteriores a Sócrates, por isso chamados de pré-socrá- Coisas são “Um”, toda a multiplicidade dos opostos
ticos, dos quais a maioria viveu em colônias gregas dis-
constitui uma unidade, e todos os seres estão num
tantes de Atenas. Sobre esses pensadores, pode-se dizer:
fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra.
a) Com os pré-socráticos, a filosofia se constitui numa ci- c) Se o morto é vivo, o velho é novo e o dormente
ência particular, e não mais no estudo da realidade total. é desperto, então não existe o múltiplo, mas apenas
b) A mitologia tradicional grega fazia parte das suas o como verdade profunda do mundo. A unidade pri-
doutrinas. mordial é a própria realidade da physis e a multiplici-
c) Pitágoras e os seus discípulos dedicaram-se ao es- dade, apenas aparência.
tudo da política e recusaram a interferência da mate- d) A alternância entre polos opostos constitui um fluxo
mática no estudo da cosmologia. eterno, regido pela “guerra” e pela “discórdia”, que
d) Heráclito defendeu a ideia de permanência subs- ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre
tancial e constante do ser, contra a noção de devir. contrários evidencia que a physis é caótica e denota o
e) Os naturalistas, ou fisiólogos da Jônia, dedicavam-se, fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista.
sobretudo, ao estudo do cosmo, e muitos deles busca-
vam o princípio constitutivo do mundo em algum de 14. Os fragmentos abaixo representam três temas fun-
seus elementos: ar, água, terra, ou fogo. damentais que configuram o pensamento de Heráclito
de Éfeso.
12. (UFU) Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI “O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, sacieda-
e V a.C. e sua doutrina, apesar de criticada pela filo- de fome; mas se alterna como fogo, quando se mistura
sofia clássica, foi resgatada por Hegel, que recuperou a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada.”
sua importante contribuição para a dialética. Os dois
“Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo por todas,
fragmentos a seguir nos apresentam este pensamento.
tal como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro.”
“Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e
nenhum dos homens o fez; sempre foi, é e será um fogo Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1973,
p. 85 e 87. Coleção “Os pensadores”.
eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se confor-
me a medida.” A partir das citações acima:
“Para as almas, morrer é transformar-se em água; para
a) explicite quais são esses temas;
a água, morrer é transformar-se em terra. Da terra, con-
tudo, forma-se a água, e da água a alma.” b) comente cada um deles, de modo a caracterizar a
filosofia de Heráclito.
De acordo com o pensamento de Heráclito, marque a
alternativa incorreta.
a) As doutrinas de Heráclito e de Parmênides estão
em perfeito acordo sobre a imutabilidade do ser.
b) Para Heráclito, a ideia de que “tudo flui” significa
 VOLUME ÚNICO

que nada permanece fixo e imóvel.


c) Heráclito desenvolve a ideia da harmonia dos con-
trários, isto é, a permanente conciliação dos opostos.
d) A expressão “devir” é adequada para compreen-
dermos a doutrina de Heráclito.

12  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Gabarito
1. C 2. A 3. A 4. A 5. B

6. A 7. B 8. B 9. D 10. A

11. E 12. A 13. B

14.
a) O eterno devir (fluxo); a luta dos contrários (opostos);
o fogo (símbolo da filosofia heraclitiana e do logos).
b) De acordo com Heráclito, tudo está em eterno devir,
toda a realidade é um processo constante de mudanças,
em que nada, a não ser a própria mudança, permanece.
A luta entre os contrários é o que mantém o eterno fluxo
de todas as coisas, fazendo, através da luta dos opostos,
com que nada seja igual ao que foi antes. No entanto,
a mudança não é caótica, pois há uma lei que rege o
fluxo eterno de todas as coisas, esta lei é o logos, que,
segundo Heráclito, percebe como unidade aquilo que se
apresenta como multiplicidade. A unidade dada e perce-
bida pelo logos é uma unidade de tensões opostas que
provoca a harmonia. Finalmente, Heráclito afirma que o
fogo é o símbolo de sua filosofia, pois representa como o
fundamento e princípio (arché) de todas as coisas.

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  13


FILOSOFIA as técnicas de oratórias e da persuasão para qualquer cida-
DE ATENAS dão. Os sofistas eram relativistas e céticos, não consideravam
verdades objetivas e universais. Para os sofistas, as verdades
eram convenções e construções discursivas. Devido a isso,

CH
muitos jovens procuravam os sofistas para alcançarem status
na cidade, onde o logos era elemento fundamental. Afinal,
COMPETÊNCIA(s)
numa cidade democrática, o cidadão precisava saber falar e
1, 2, 3, 4 e 5 ser capaz de persuadir os outros com o auxílio das palavras.
Em Atenas, as palavras tinham poder.
HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

2
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

Parthenon
1. Introdução
A cidade-Estado de Atenas tornou-se um centro cultu- 2.1. Sócrates (470-399 a.C.)
ral, feito este ocorrido no século de Péricles (séc. V a.C.),
época de maior florescimento da democracia ateniense
durante o Período Clássico. Com o controle de quaisquer
ataques de outras cidades, com uma vasta capacidade
náutica, Atenas se favoreceu econômica e culturalmente,
desenvolvendo a Filosofia.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Filosofia (composição de Noel Rosa
e execução de Maria Gadú)
multimídia: vídeo
2. Sofismo Fonte: Youtube
Sócrates: o homem que perguntava (parte 1)
Com o crescimento da pólis grega, surgiu uma prática educa-
cional, em que os seus integrantes eram chamados de sofis- Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de
 VOLUME ÚNICO

tas, sábios que vendiam o conhecimento, mas direcionavam 470 a.C., e tornou-se um dos principais pensadores da
esse conhecimento conforme as suas próprias convicções. Grécia antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o
Os principais sofistas foram Protágoras de Abdera (490-421 que conhecemos hoje por Filosofia ocidental.
a.C.), Górgias de Leontinos (487-380 a.C.), Pródico de Ceos
(465-395 a.C.), dentre outros. Apresentavam-se como mes- O filósofo ateniense foi um dos maiores críticos à prática
tres da oratória, de modo que, para eles, era possível ensinar do sofismo, pelo direcionamento da verdade pelo sofista,

14  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


além de discordar que eram filósofos, visto que não inves- seu modo de investigação, Sócrates questionava os vícios e a
tigavam nada, apenas criavam discursos e retóricas des- corrupção na cidade grega buscando a virtude e o conheci-
compromissadas com a Democracia, com a Verdade e com mento (epistéme). Dizia Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo",
a Ética. Os sofistas, para Sócrates, estavam comprometidos afinal "uma vida não examinada não é digna de ser vivida".
com a doxa (opinião) e não com a epistéme (conhecimento
Acabou sendo preso, com o pretexto de ofender os deu-
verdadeiro). Sócrates foi um marco na história da Filoso-
ses da cidade e corromper a juventude – esse momento é
fia, por modificar a investigação do pensamento, preten-
contado na obra Apologia de Sócrates, do filósofo Platão.
dendo direcioná-la para uma análise do indivíduo, e não
Foi condenado à morte tomando um cálice de cicuta, um
mais para a compreensão da physis.
veneno extraído da planta Conium maculatum.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Para ler... Mario Sergio Cortella fala sobre Sócrates
Sócrates é um dos personagens mais intrigantes da fi-
losofia grega e conhecido pelos escritos de seus segui- “La mort de Socrate”. Pintura de Jacques-Louis David (1787)
dores, já que ele mesmo nunca escreveu um livro. Para A figura de Sócrates é bem mítica, pois nada escreveu em
falar sobre o pensamento do filósofo e indicar leituras vida. Tudo o que sabemos dele é derivado dos relatos de seu
para quem deseja saber mais do autor do pensamento discípulo mais famoso, o filósofo Platão, e de Aristófanes, um
"conhece-te a ti mesmo", o professor de teologia e fi- dramaturgo grego que ridicularizava a figura de Sócrates
lósofo Mario Sergio Cortella falou sobre os escritos de contra os sofistas. A filosofia socrática visava à maiêutica, que
Platão, talvez aquele que mais tenha reproduzido os significa "o parto das ideias". Para Sócrates, as ideias eram
pensamentos de Sócrates. Para saber mais, leia A Apo- inatas (inatismo) e cabia ao filósofo ajudar as pessoas a libe-
logia de Sócrates. rarem as ideias puras e verdadeiras por meio da maiêutica.

2.2. Dialética socrática


O método de investigação desenvolvido por Sócrates, co-
nhecido como dialética, consistia em alcançar a verdade
por meio do diálogo. A dialética consiste no confronto de
argumentos (tese x antítese) que resultam numa aproxima-
ção do conhecimento verdadeiro (síntese). O objetivo dessa multimídia: vídeo
dialética era desmascarar a falsa sabedoria, chegando a um
Fonte: Youtube
conhecimento da natureza do homem.
CONVITE A PLATÃO: FÉDON E A IMORTALIDADE
Dessa maneira, Sócrates dialogava com o intuito de justifi- DA ALMA | Maurício Marsola
car os conhecimentos, as virtudes ou as habilidades que lhe
eram atribuídos. Com os seus diálogos, ele acabava fazendo
com que o interlocutor expressasse suas opiniões, utilizando- 2.3. Das aparências ao mundo das ideias
-se de questionamentos (ironia socrática). O resultado dessas Com o pensador ateniense Platão (428-347 a.C.), a Filo-
 VOLUME ÚNICO

conversas era apresentar a fragilidade das opiniões alheias. sofia ganhou uma característica epistemológica. Após a
Apesar de sua postura questionadora, Sócrates propagava morte de seu mestre, Platão fundou a Academia, um re-
que era o cidadão mais ignorante da Grécia e, mediante isso, cinto onde se discutiam diversos temas, da Matemática,
era necessário aprender com os outros, de forma que lhe foi passando pela Astronomia até a Música. Na Academia,
atribuído a frase “só sei que nada sei”. Por conta de suas o conhecimento deveria ser baseado numa episteme, ou
conversas, realizadas nas praças públicas de Atenas, junto ao seja, numa ciência, com o intuito de ultrapassar o plano

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  15


instável da opinião. Logo na entrada desse recinto, exis- Na obra de Platão, nota-se que o autor estabelece ob-
tia um escrito: “Que aqui não entre quem não souber servações críticas quanto ao apego humano àquilo que é
geometria”. material, imperfeito e mutável. Esse apego ao mundo ma-
terial pode ser notado nas artes plásticas que se valem da
Essa frase tinha uma definida intenção de valorização da
mímesis. Para o filósofo, a concepção de mímesis significa
ciência, que se iniciava na Grécia, mas também era uma
imitação, cópia do mundo material.
forma de afastar os críticos que poderiam ter alguma in-
tenção negativa em relação aos seus métodos filosóficos. Sócrates: [...] ora, diz-me: aprender não é tornar-se mais sá-
Essa valorização da abstração e do potencial da razão será bio acerca daquilo que se aprende?
Teeteto: Como não?
um elemento fundante da filosofia platônica.
Sócrates: E é pela sabedoria, eu penso, que os sábios são sábios.
Teeteto: Sim.
2.4. Reminiscência Sócrates: E isto difere em algo do conhecimento?
Segundo o filósofo grego, o ato de conhecer as coisas sig- Teeteto: Isto o quê?
Sócrates: A sabedoria. Ou será que os que conhecem tais coi-
nifica, necessariamente, o ato de lembrar (anamnese), sus-
sas não são sábios?
tentando a hipótese da reminiscência (lembrança), contida Teeteto: Como não?
no diálogo Ménon. Nesse diálogo, Sócrates demonstra que Sócrates: Então são o mesmo, o conhecimento e a sabedoria?
o homem só precisa recordar as coisas que sua alma um Teeteto: Sim.
dia aprendeu. Nesse momento, Platão salienta que a alma é PLATÃO
eterna. Sendo a alma eterna (metafísica) e o corpo matéria Teeteto. 1903. [145d-e]
perecível (físico), nota-se uma dualidade humana – somos
parte existência e parte essência.
 VOLUME ÚNICO

16  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

A FILOSOFIA
DE ATENAS

SÓCRATES PLATÃO

CRÍTICO AOS
SOFISTAS
O CONHECIMENTO
É EPISTÉME.
É PRECISO
COMPREENDER O
INDIVÍDUO:
"CONHECE-TE A TI MESMO." FUNDA A
ACADEMIA.

MAIÊUTICA, DIALÉTICA
E IRONIA SOCRÁTICA.
APRENDER É
RECORDAR
UM MODO DE (REMINISCÊNCIA).
INVESTIGAÇÃO O CONHECIMENTO
A BUSCA PELA EPISTÉME ESTÁ EM NOSSA
(CONHECIMENTO ALMA PENSANTE
VERDADEIRO COMPROVADO (INATISMO).
PELO USO DA RAZÃO).

QUESTIONA OS VÍCIOS A ARTE É MIMÉTICA


E A CORRUPÇÃO. (MÍMESIS).
BUSCA PELA VIRTUDE.

É CONDENADO À MORTE.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  17


Aplicando para Aprender (A.P.A.) a) Parmênides afirma: “Em primeiro lugar, criou (a di-
vindade do nascimento ou do amor) entre todos os
1. (UEM 2020) O período da história da filosofia grega deuses, a Eros (...)”.
que cobre os séculos V e IV a.C. é entendido como o b) Platão propõe algumas teses, como a teoria da re-
despertar de um ideal consciente de educação e cultura. miniscência e a transmigração das almas.
Dele fazem parte, além de Sócrates e de seu discípulo c) Heráclito afirma: “As almas aspiram o aroma do Hades”.
Platão, os chamados sofistas. A propósito dos sofistas, d) Aristóteles divide a ciência em três ramos: o teoré-
assinale o que for correto. tico, o prático e o poético.
01) Os sofistas foram responsáveis pelo desenvolvi- 5. (PUC) Leia os enunciados abaixo a respeito do pensa-
mento da reflexão antropológica e da reflexão ética mento filosófico de Sócrates.
na filosofia.
I. O texto “Apologia de Sócrates”, cujo autor é Platão,
02) Os sofistas foram os mestres da nova areté (vir-
apresenta a defesa de Sócrates diante das acusações
tude, excelência) política, e o instrumento desse pro-
dos atenienses, especialmente os sofistas, entre os
cesso foi a retórica.
quais está Meleto.
04) Os sofistas eram comumente vistos como especialis-
II. Sócrates dispensa a ironia como método para refu-
tas do pensamento e não propriamente como filósofos.
tar as acusações e calúnias sofridas no processo de seu
08) Sócrates adotou uma postura bastante compla- julgamento.
cente com os sofistas na Atenas do século V a.C.
III. Entre as acusações que Sócrates recebe, está a de
16) Ao afirmar que “o homem é a medida do que é
“corromper a juventude”.
e do que não é”, Protágoras confirmou o papel do
subjetivismo na sua concepção filosófica. IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e
terrenas, a não acreditar nos deuses e a tornar mais for-
2. O surgimento da Filosofia entre os gregos está asso- te a razão mais débil.
ciado à passagem do pensamento mítico ao pensamen- V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e
to racional. A grande preocupação nesse momento era resolutos e, em grande número, falam de forma persua-
com questões: siva e persistente contra ele.
a) à história. Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirma-
b) à tristeza humana. tivas corretas.
c) ao cosmo. a) II, IV e V.
d) à religião. b) I, III e IV.
e) à política. c) I, III e V.
d) II, III e V.
3. Sócrates inaugurou o período clássico da filosofia gre-
ga, também chamado de período antropológico. O pro- e) I, II e III.
blema do conhecimento passou a ser uma problemática 6. (Unicamp) Apenas a procriação de filhos legítimos,
central na filosofia socrática, pois “a briga” de Sócrates embora essencial, não justifica a escolha da esposa. As
com os sofistas tinha por objetivo resgatar o amor pela ambições políticas e as necessidades econômicas que
sabedoria e a valorização pela busca da verdade. Nesse as subentendem exercem um papel igualmente podero-
contexto, Sócrates inaugurou seu método que se funda- so. Como demonstraram inúmeros estudos, os dirigen-
mentava em dois princípios básicos, que são: tes atenienses casam-se entre si, e geralmente com o
a) a indução e a dedução das verdades lógicas. parente mais próximo possível, isto é, primos coirmãos.
b) a doxa e o logos convergindo para o conceito racional. É sintomático que os autores antigos que nos informam
c) a ironia e a maiêutica enquanto caminhos para co- sobre o casamento de homens políticos atenienses omi-
nhecer a verdade através do autoconhecimento (co- tam os nomes das mulheres desposadas, mas nunca o
nhecer-te a ti mesmo). nome do seu pai ou do seu marido precedente.
d) o diálogo e a dúvida dialética. CORBIN, Alain; et al. História da virilidade.
e) a amizade e a justiça social. Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 62.

4. (UFU) A relação entre mito e filosofia é objeto de po- Considerando o texto e a situação da mulher na Atenas
lêmica entre muitos estudiosos ainda hoje. Para alguns, clássica, podemos afirmar que se trata de uma sociedade:
a filosofia nasceu da ruptura com o pensamento mítico a) na qual o casamento também tem implicações po-
 VOLUME ÚNICO

(teoria do “milagre grego”); para outros, houve uma líticas e sociais.


continuidade entre mito e filosofia, ou seja, de alguma b) que, por ser democrática, dá uma atenção especial
forma os mitos continuaram presentes – seja como for- aos direitos da mulher.
ma, seja como conteúdo – no pensamento filosófico. c) em que o amor é o critério principal para a forma-
A partir destas informações, assinale a alternativa que ção de casais da elite.
não contenha um exemplo de pensamento mítico no d) em que o direito da mulher se sobrepõe ao interes-
pensamento filosófico. se político e social.

18  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


7. (UEA) “O sofista” é um diálogo de Platão do qual par- d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer
ticipam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. distante dos problemas concretos, preocupando-se
Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estran- apenas com causas abstratas.
geiro a que método ele gostaria de recorrer para definir
o que é um sofista. 10. (UEL) Para esclarecer o que seja a imitação, na re-
Sócrates: Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese lação entre poesia e o Ser, no Livro X de A República,
que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o Platão parte da hipótese das ideias, as quais designam
método interrogativo? a unidade na pluralidade, operada pelo pensamento.
Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua arte,
Estrangeiro: Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócra-
tes, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como
contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo. modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a
sua ideia. O poeta pertence à mesma categoria: cria um
Platão. “O sofista”. 1970 (adaptado). mundo de mera aparência.
É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates esco- Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
lheu, do ponto de vista metodológico, adotar: das ideias de Platão, é correto afirmar:

a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, en-
argumentos. quanto coparticipante da criação divina, alcança a
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos verdadeira causa das coisas, a partir do reflexo da
contendores. ideia ou do simulacro que produz.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao b) A participação das coisas às ideias permite admi-
saber por meio dos sentidos. tir as realidades sensíveis como as causas verdadeiras
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão huma- acessíveis à razão.
na na prova de existência de Deus. c) Os poetas são imitadores de simulacros e, por in-
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possi- termédio da imitação, não alcançam o conhecimento
bilidade do saber humano. das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas.
d) As coisas belas se explicam por seus elementos fí-
8. (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra baseada sicos, como a cor e a figura, e na materialidade deles
em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar encontram sua verdade: a beleza em si e por si.
os seus ensinamentos sob a forma de perguntas e res- e) A alma humana possui a mesma natureza das coi-
postas. Sócrates considerava o diálogo como a forma sas sensíveis, razão pela qual se torna capaz de co-
por excelência do exercício filosófico e o único caminho nhecê-las como tais na percepção de sua aparência.
para chegarmos a alguma verdade legítima.
De acordo com a doutrina socrática: 11. (FCC) Sócrates é um dos personagens mais conheci-
dos e influentes do pensamento ocidental. Embora não
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma tenha deixado nada escrito, suas ideias foram redigidas
visão antropocêntrica da filosofia. por um de seus discípulos, Platão, que lhe atribui a se-
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação guinte máxima: “a única coisa que sei é que nada sei”.
filosófica. Com essa máxima, Sócrates expressa que o caminho do
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do conhecimento
autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística.
a) é impossível e todo o saber possível é uma ilusão.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas hu-
b) depende da experiência e não de proposições teóricas.
manos é sanada pelo homem, medida de todas as coisas.
c) desconsidera a opinião sobre assunto que se ignora.
9. (Unicamp) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense d) pressupõe dar opinião sobre assunto que se ignora.
que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de par- e) é limitado porque a razão humana não pode saber
tida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra tudo.
Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que
afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após
interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou
à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por
Gabarito
reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada 1. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 2. C 3. C 4. D
sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois:
5. B 6. A 7. A 8. A 9. A 10. C
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se
 VOLUME ÚNICO

mais sábio por querer adquirir conhecimentos. 11. E


b) é um exercício de humildade diante da cultura dos
sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia
era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Fi-
losofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas
a partir de métodos rigorosos.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  19


ALEGORIA DA
CAVERNA

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
MATRIX: IMPACTO FILOSÓFICO
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

3
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
§ Mundo inteligível: as formas puras, as ideias originais.
Essas essências são eternas, imutáveis e únicas. Essas
ideias são recordadas por nossa psiquê (alma pensante).
§ Mundo sensível: o mundo da materialidade, das có-
pias imperfeitas que são percebidas pelos sentidos.
O mundo físico nos ilude constantemente com a sua
aparência de realidade.

1. O mundo das ideias:


dualismo platônico
A teoria platônica é fundamentada no dualismo: há uma
realidade verdadeira (mundo das ideias) e uma aparente re-
alidade que é falsa (mundo sensível). Platão apresenta que
o conhecimento é elaborado quando o indivíduo alcança a
ideia, rompendo com as aparências, enquanto a opinião nas-
ce da percepção da aparência. O mundo sensível é o mundo
percebido pelos sentidos, das aparências, das cópias e dos
enganos, da materialidade existente (física). O mundo inteli-
gível é o mundo original e eterno, nele estão as formas puras
e verdadeiras, as essências (metafísica).

multimídia: livro

Platão. Coleção “Os Pensadores”.


São Paulo: Abril Cultural, 1999.
Nessa obra, o filósofo ateniense apresenta a teoria du-
alista e o governo dos reis filósofos. Nessa obra está
 VOLUME ÚNICO

presente a Alegoria da Caverna.

Diante disso, existe um mundo conceitual, onde existem


as ideias dos elementos que constituem o mundo que co-
nhecemos. Como exemplo, podemos imaginar um carro

20  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


branco estacionado na esquina; cada indivíduo vai acabar Um homem consegue escapar das correntes e sai da ca-
elaborando uma ideia fixa desse tal carro branco, algo verna. Lá fora, ele vê um mundo bem diferente, o mundo
semelhante a uma ideia primária. Desse modo, o mundo real. Ele volta à caverna para contar a novidade ao resto
inteligível (conceitual) existe de uma forma anterior e mais das pessoas, porém, ofuscado pela luz (da verdade), parece
efetiva do que no mundo sensível. abobado. Com isso, os outros prisioneiros não acreditam
Com essa concepção, Platão questiona a realidade do na sua versão maluca e acabam matando o pobre infeliz.
mundo sensível, pois esse universo está em constante
transformação, o que nos leva ao mundo das incertezas.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
multimídia: música A CAVERNA DE PLATÃO NA ERA DA
Fonte: Youtube SELFIE | LUIS MAURO SÁ MARTINO
Sombras da caverna - Dead Fish.
Ponto Cego. Desk, 2019.
2.1. A felicidade, segundo Platão
Para o filósofo grego Platão, o conceito de felicidade consistia
2. Alegoria da caverna no resultado final de uma vida dedicada a um conhecimento
progressivo. Numa valorização pelo conhecimento, Platão
vai interligar a felicidade com a ciência (conhecimento).
Dessa maneira, o homem só atingirá a felicidade quando
abandonar o mundo sensível em direção ao mundo inteli-
gível. Isso ocorre, pois no mundo inteligível estão as ideias
perfeitas, como a beleza, a coragem, a justiça, a felicidade,
a verdade e o bem.

2.2. Política
Para o filósofo, todos os tipos de governo existentes no
Segundo Platão, o filósofo é o sujeito que consegue enxer- mundo são degenerados por natureza, pois a sua forma
gar as coisas mais claramente do que as outras pessoas. original tende a ter uma versão degenerada, como pode-
Para ilustrar essa ideia, surge a alegoria da caverna, conti- mos observar abaixo.
do no Livro VII de A República:
Forma original Forma degenerada
Um grupo de pessoas acorrentado numa caverna só vê
Aristocracia Oligarquia
sombras e julga que elas são a realidade.
Monarquia Tirania
Democracia Anarquia

Diante disso, Platão defende que o melhor sistema de


governo deveria ser a monarquia, associada com o saber
filosófico, visto que somente indivíduos que detêm o co-
 VOLUME ÚNICO

nhecimento podem atuar com melhor desempenho para


o coletivo, sem sofrerem as interferências do pensar e agir
multimídia: vídeo particular. Sendo assim, os melhores governantes seriam
Fonte: Youtube os reis-filósofos. Platão é, portanto, um crítico do regime
A caverna de Platão - EJA MUNDO DO TRABALHO democrático da Antiga Atenas. Sua proposta de sociedade
é pautada na epistocracia (o governo dos sábios).

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  21


Sócrates: Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um Glauco: Certamente.
tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um Sócrates: Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho
destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à
a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e bra-
tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslum- dos de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo
braria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o
Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que comum dos homens tem por serem reais?
até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da Glauco: A princípio nada veria.
realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Sócrates: Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade
Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfi- da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as som-
lavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece bras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos
que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via nas águas; finalmente erguendo os olhos para a Lua e as estre-
era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados? las, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno
Glauco: Sem dúvida nenhuma. resplendor do dia.
Sócrates: Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos dolo- PLATÃO
ridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consi- A República
deraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?

DIAGRAMA DE IDEIAS

PLATÃO

MUNDO DAS IDEIAS MITO DA CAVERNA POLÍTICA

ALEGORIA
MUNDO INTELIGÍVEL TODOS OS TIPOS
PARA ILUSTRAR
DE GOVERNOS SÃO
QUE POUCOS
DEGENERADOS
RAZÃO (LUZ) ALCANÇAM O
POR NATUREZA
MUNDO INTELIGÍVEL

DUALISMO E
MUNDO SENSÍVEL FORMA FORMA
REMINISCÊNCIA
ORIGINAL DEGENERADA

SENTIDOS ARISTOCRACIA OLIGARQUIA


(SOMBRAS)
MONARQUIA TIRANIA
DEMOCRACIA ANARQUIA
 VOLUME ÚNICO

GOVERNO IDEAL:
REIS-FILÓSOFOS

22  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) d) O olhar do demiurgo deve se dirigir ao que perma-
nece, pois este é o modelo a ser inserido na realidade
1. (Unicamp 2020) As reflexões de Aristóteles e Platão sensível.
revelam uma descrença em relação ao regime demo- e) O demiurgo deve observar as perfeições no mundo
crático. O cidadão, diz Aristóteles, é quem toma parte sensível para poder reproduzi-las em sua obra.
na experiência de governar e de ser governado. Para o
4. (Uncisal) No contexto da Filosofia clássica, Platão e
filósofo, o animal falante é um animal político. Mas o
Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas concep-
escravo, mesmo sendo falante, não é um animal polí-
ções, que se opõem, mas não se excluem, são ampla-
tico. Os artesãos, diz Platão, não podem participar das
mente estudadas e debatidas devido à influência que
coisas comuns porque não têm tempo para se dedicar
a outra atividade que não seja o seu trabalho. Assim, exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento oci-
ter esta ou aquela “ocupação” define competências ou dental. Todavia, é necessário salientar que o produto
incompetências para a participação nas decisões sobre dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição
a vida comum. filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e que
influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os
(Adaptado de Flávia Maria Schlee Eyler, História
antiga: Grécia e Roma. Petrópolis: Editora Vozes/ racionalistas, empiristas, Kant e Hegel.
Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2014, p.15.) Observando o cerne da filosofia de Platão, assinale nas
opções abaixo aquela que se identifica corretamente
A partir do texto e de seus conhecimentos sobre a Anti-
com suas concepções.
guidade Clássica, responda às questões.
a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível vs. mundo
a) Segundo Aristóteles e Platão, como se define o “ani-
inteligível) se opõe radicalmente às concepções de
mal político” no contexto da cidadania ateniense?
caráter empírico defendidas por Platão.
b) Identifique e explique uma crítica dos filósofos ci-
b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo
tados ao regime democrático.
e pragmatismo, afastando-se do misticismo e de con-
2. (UFPR 2020) Em determinado momento do diálogo ceitos transcendentais.
de Hípias Menor, de Platão, Sócrates declara que en- c) Segundo Platão, a verdade é obtida a partir da
controu dificuldade para responder à pergunta “qual o observação das coisas, por meio da valorização do
critério para reconheceres o que é belo e o que é feio?”. conhecimento sensível.
De acordo com Platão, a dificuldade está em que: d) Para Platão, a realidade material e o conhecimento
a) os juízos de Beleza são subjetivos, sendo relativos sensível são ilusórios.
a quem os enuncia. e) As concepções platônicas negam veementemente
b) o belo e o feio não se distinguem realmente. a validade do inatismo.
c) é preciso conhecer o que é Beleza para que se pos- 5. (Unisc) Nos Livros II e III, Platão, através de Sócra-
sam identificar as coisas belas. tes, discute sobre as artes no contexto da educação
d) o critério de Beleza não é acessível aos homens, dos guardiães. Já no Livro X, ele trata de vários tipos
mas apenas aos deuses. de práticas artísticas, que devem ser consideradas na
e) a Beleza é uma mera aparência. cidade como um todo, não somente nas instituições
pedagógicas. Nesse último livro, Sócrates é duro ao
3. (UEL 2020) Leia o texto a seguir.
afirmar que a poesia (imitativa) deve ser inteiramente
Quando o artista [demiurgo] trabalha em sua obra, a excluída da cidade (595a).
vista dirigida para o que sempre se conserva igual a si
Em que obra essa recusa de Sócrates está registrada?
mesmo, e lhe transmite a forma e a virtude desse mode-
lo, é natural que seja belo tudo o que ele realiza. Porém, a) No diálogo “Banquete”, de Platão, em que Sócra-
se ele se fixa no que devém e toma como modelo algo tes trata dos diversos tipos de arte.
sujeito ao nascimento, nada belo poderá criar. [...] Ora, b) No diálogo “Teeteto”, de Platão, em que Sócra-
se este mundo é belo e for bom seu construtor, sem tes e esse personagem discutem sobre a natureza da
dúvida nenhuma este fixará a vista no modelo eterno. arte, especialmente da poesia.
PLATÃO. Timeu. 28 a7-10; 29 a2-3. Trad. Carlos c) No diálogo “Timeu”, de Platão, em que Sócrates
A. Nunes. Belém: UFPA, 1977. p. 46-47. discorre sobre o tema da arte, reportando-se à natu-
reza da pintura e da poesia.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso-
fia de Platão, assinale a alternativa correta. d) No diálogo “Político”, de Platão, em que Sócrates
apresenta a arte da política aos cidadãos atenienses.
 VOLUME ÚNICO

a) O mundo é belo porque imita os modelos sensíveis,


e) No diálogo “República”, de Platão, no qual Sócra-
nos quais o demiurgo se inspira ao gerar o mundo.
tes afirma que a poesia pode levar à corrupção do
b) O sensível, ou o mundo que devém, é o modelo no caráter humano.
qual o artista se inspira para criar o que permanece.
c) O artífice do mundo, por ser bom, cria uma obra 6. (UENP) Platão foi um dos filósofos que mais influencia-
plenamente bela, que é a realidade percebida pelos ram a cultura ocidental. Para ele, a filosofia tem um fim
sentidos. prático e é capaz de resolver os grandes problemas da

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  23


vida. Considera a alma humana prisioneira do corpo, vi- e) A reflexividade crítica presente nos elementos mi-
vendo como se fosse um peregrino em busca do caminho méticos das narrativas poéticas permite ao indivíduo
de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do corpo alcançar a visão das coisas como realmente são.
e contemplar o inteligível.
8. (Unesp) O que é terrível na escrita é sua semelhança
Assinale a alternativa correta.
com a pintura. As produções da pintura apresentam-se
a) A teoria das ideias não pode ser considerada uma como seres vivos, mas se lhes perguntarmos algo, man-
chave de leitura aplicável a todo pensamento platônico. têm o mais solene silêncio. O mesmo ocorre com os es-
b) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma ética racio- critos: poderíamos imaginar que falam como se pensas-
nalista que desconsiderava a vontade como elemento sem, mas se os interrogarmos sobre o que dizem (...) dão
fundamental entre os motivadores da ação. Ele acredi- a entender somente uma coisa, sempre a mesma (...). E
tava que o conhecimento do bem era suficiente para quando são maltratados e insultados, injustamente, têm
motivar a conduta de acordo com essa ideia (agir bem). sempre a necessidade do auxílio de seu autor porque são
c) Platão propõe um modelo de organização política incapazes de se defenderem, de assistirem a si mesmos.
da sociedade que pode ser considerado estamental e Platão. Fedro ou Da beleza.
antidemocrático. Para ele, o governo não deveria se
Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com
pautar pelo princípio da maioria. As almas têm natu-
a pintura, contrapondo-os à sua concepção de filosofia.
reza diversa, de acordo com sua composição, isso faz
Assinale a alternativa que permite concluir, com apoio
com que os homens devam ser distribuídos de acordo
do fragmento apresentado, uma das principais caracte-
com essa natureza, divididos em grupos encarregados
rísticas do platonismo.
do governo, do controle e do abastecimento da polis.
d) Platão chamava o conhecimento da verdade de doxa a) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de
e o contrapõe a outra forma de conhecimento (inferior) pequenas sentenças com sentido completo, as quais, no
denominada episteme. seu entender, esgotam o conhecimento acerca do mundo.
e) Para Platão, a essência das coisas é dada a partir b) A forma de exposição da filosofia platônica é o
da análise de suas causas material e final. diálogo, e o conhecimento funda-se no rigor interno
das argumentações, produzido e comprovado pela
7. (UEL) Platão, em A República, tem como objetivo prin- confrontação dos discursos.
cipal investigar a natureza da justiça, inerente à alma, c) O platonismo se vale da oratória política, sem com-
que, por sua vez, manifesta-se como protótipo do Estado promisso filosófico com a busca da verdade, mas diri-
ideal. Os fundamentos do pensamento ético-político de gida ao convencimento dos governantes das Cidades.
Platão decorrem de uma correlação estrutural com cons- d) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias
tituição tripartite da alma humana. Assim, concebe uma platônicas, sendo a filosofia uma sabedoria alcança-
organização social ideal que permite assegurar a justiça. da na velhice e ensinada pelos mestres aos discípulos.
Com base neste contexto, o foco da crítica às narrativas e) O discurso platônico tem a mesma natureza do dis-
poéticas, nos Livros II e III, recai sobre a cidade e o tema curso religioso, pois o conhecimento filosófico modifi-
fundamental da educação dos governantes. No Livro X, ca-se segundo as habilidades e a argúcia dos filósofos.
na perspectiva da defesa de seu projeto ético-político
para a cidade fundamentada em um logos crítico e re- 9. (UFPI) A respeito da cultura grega, leia as sínteses
flexivo que redimensiona o papel da poesia, o foco desta filosóficas abaixo.
crítica se desloca para o indivíduo ressaltando a relação I. A ciência, a moral e os credos religiosos eram criações
com a alma, compreendida em três partes separadas, se- humanas válidas para determinados grupos sociais em
gundo Platão: a racional, a apetitiva e a irascível. um determinado período.
Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter II. Sua principal contribuição filosófica foi a Teoria das
mimético das narrativas poéticas e sua relação com a Ideias, segundo a qual as ideias são a essência dos con-
alma humana, é correto afirmar: ceitos e das coisas e, portanto, transcendentes ao ho-
a) A parte racional da alma humana, considerada mem, que delas tem apenas um pálido reflexo.
superior e responsável pela capacidade de pensar, é III. Defendia a existência de um conhecimento estável e
elevada pela natureza mimética da poesia à contem- válido para todos. Sua grande preocupação era o auto-
plação do Bem. conhecimento que poderia ser obtido através da ironia
b) O uso da mímesis nas narrativas poéticas para con- e da maiêutica.
trolar e dominar a parte irascível da alma é considera- As sínteses que você acabou de ler podem ser associa-
do excelente prática propedêutica na formação ética das, respectivamente, a:
do cidadão.
 VOLUME ÚNICO

a) Platão, Aristóteles e Sócrates.


c) A poesia imitativa, reconhecida como fonte de racio-
nalidade e sabedoria, deve ser incorporada ao Estado b) Platão, sofistas e Aristóteles.
ideal que se pretende fundar. c) Sócrates, sofistas e Platão.
d) O elemento mimético cultivado pela poesia é jus- d) sofistas, Platão e Sócrates.
tamente aquele que estimula, na alma humana, os e) Platão, sofistas e Sócrates.
elementos irracionais: os instintos e as paixões.

24  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


10. (IFSP) – Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princí- c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à
pio que de entrada estabelecemos que devia observar-se reprodução de objetos existentes, o que veda o poder
em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, do artista de invenção do real e impossibilita a função
esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os
suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo modelos de maneira distorcida.
suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, d) Aristóteles concebe a mimesis artística como uma
que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, atividade que reproduz passivamente a aparência das
aquela para qual a sua natureza é mais adequada. coisas, o que impede ao artista a possibilidade de re-
criação das coisas segundo uma nova dimensão.
Platão. A República. 7. ed. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 2001, p. 185. e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é
imitação e entende que a música, o teatro e a poesia
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a con-
são incapazes de provocar um efeito benéfico e puri-
cepção platônica de justiça na cidade ideal, assinale a
ficador no espectador.
alternativa correta.
a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou 12. (Enem)
seja, a que respeita o princípio de igualdade natural
entre todos os seres humanos, concedendo a todos os
indivíduos os mesmos direitos perante a lei.
b) Platão defende que a democracia é fundamento
essencial para a justiça, uma vez que permite a todos
os cidadãos o exercício direto do poder.
c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado
natural das ações de cada indivíduo na perseguição
de seus interesses pessoais, desde que esses interes-
ses também contribuam para o bem comum.
d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é
possível se cada cidadão executar, da melhor maneira
possível, a sua função própria, ou seja, se cada um fizer No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado
bem aquilo que lhe compete, segundo suas aptidões. apontando para o alto. Esse gesto significa que o co-
e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada nhecimento se encontra em uma instância na qual o
membro do organismo social tiver condições de per- homem descobre a:
seguir seus ideais, exercendo funções que promovam a) suspensão do juízo como reveladora da verdade.
sua ascensão econômica e social. b) realidade inteligível por meio do método dialético.
c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.
11. (UEL) Leia os textos a seguir.
d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino.
“A arte de imitar está bem longe da verdade, e se exe-
e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.
cuta tudo, ao que parece, é pelo fato de atingir apenas
uma pequena porção de cada coisa, que não passa de 13. (Enem) Trasímaco estava impaciente porque Sócra-
uma aparição.” tes e os seus amigos presumiam que a justiça era algo
real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu enten-
PLATÃO. A República. 7.ed. Lisboa: Calouste-
der, as pessoas acreditavam no certo e no errado ape-
Gulbenkian, 1993. p. 457 (adaptado).
nas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da
“O imitar é congênito no homem e os homens se com- sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam
prazem no imitado.” de invenções humanas.

ARISTÓTELES. Poética. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, RACHELS, J. Problemas da Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
1991. p. 203. Coleção “Os pensadores” (adaptado).
O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálo-
Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética go A República, de Platão, sustentava que a correlação
e a questão da mimesis em Platão e Aristóteles, assinale entre justiça e ética é resultado de
a alternativa correta. a) determinações biológicas impregnadas na nature-
a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomê- za humana.
nicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequa- b) verdades objetivas com fundamento anterior aos
 VOLUME ÚNICO

do e inferior, tanto em relação aos objetos representados interesses sociais.


quanto às ideias universais que os pressupõem. c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das
b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pinto- tradições antigas.
res e escultores representam perfeitamente a verdade d) convenções sociais resultantes de interesses huma-
e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do nos contingentes.
artista um fazer nobre, imprescindível para o engrande- e) sentimentos experimentados diante de determina-
cimento da pólis e da filosofia. das atitudes humanas.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  25


14. (UFU) Leia o trecho abaixo extraído do diálogo pla- 14.
tônico O banquete. a) A afirmação “do que é belo aqui” designa o mundo
Eis, com efeito, em que consiste o proceder corretamente sensível ou dos sentidos, aquele caracterizado pela doxa
nos caminhos do amor, ou por outro se deixar conduzir: (opinião) e que possui caráter transitório, imperfeito e
em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, perecível, sendo uma cópia do mundo inteligível ou das
subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um ideias. Já a afirmação “em vista daquele belo” refere-se
só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos ao mundo das ideias ou formas, o inteligível, das essên-
belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as cias eternas, imutáveis e perfeitas.
belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, b) Esta ciência é a dialética. Nesse caso, a dialética sig-
que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conhe- nifica o processo de busca e aquisição do conhecimento
ça enfim o que em si é belo. verdadeiro ou o percurso da alma que vai das aparências
ou “sombras” do mundo sensível até as essências ou
PLATÃO. O banquete. São Paulo: Editora 34, p. 147.
formas puras do mundo inteligível, culminando na ideia
Em conformidade com a teoria platônica das ideias, res- do Bem, a mais perfeita e causa de todas as outras.
ponda:
a) As afirmações “do que é belo aqui” e “em vista
daquele belo” designam o quê, respectivamente?
b) Que ciência é esta que se encarrega “daquele pró-
prio belo” e conhece “enfim o que é em si belo”?

Gabarito
1.
a) Na concepção da filosofia clássica produzida por
Platão e Aristóteles, a atividade política é própria dos
homens livres, únicos aptos a participar da gestão da
vida coletiva. Assim, a ideia de “animal político” não
está dissociada de uma concepção moral, pois a políti-
ca está relacionada ao ócio e às qualidades da virtude
e da justiça. O ócio é considerado por esses filósofos
atividade considerada hierarquicamente superior ao
labor, sendo esse último tipo de atividade própria dos
artesãos e dos escravos. Assim, o “animal político” se-
ria o cidadão, indivíduo com atribuições morais e inte-
lectuais próprias para a prática política.
b) A crítica à forma de governo democrática está direta-
mente ligada à noção de “animal político” descrita na
letra [A], pois parte de uma concepção que hierarquiza
as aptidões, consideradas naturais, dos indivíduos, de
modo que alguns seriam “naturalmente” aptos à ativi-
dade de pensar e gerir a pólis, enquanto outros seriam
“naturalmente” aptos à guerrear ou a trabalhar. Para
Aristóteles, a sociedade justa seria aquela em que cada
indivíduo realiza a atividade própria da sua “natureza”.
A democracia, portanto, ao igualar os cidadãos, permiti-
ria que indivíduos sem as qualidades morais e intelectu-
ais para exercer a atividade política o fizessem. Portanto,
Aristóteles defende que a melhor forma de governo seria
uma aristocracia em que a sociedade delega a atividade
política àqueles “naturalmente” aptos para exercê-la.

2. C 3. D 4. D 5. E 6. C
 VOLUME ÚNICO

7. D 8. B 9. D 10. D 11. A

12. B 13. D

26  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Com a subida de Alexandre ao poder, Aristóteles retornou a
ARISTÓTELES Atenas e, em 335 a.C., fundou sua própria escola, o Liceu, que
foi muito superior à Academia. Aristóteles ensinava caminhan-
do e, por causa desse hábito, os alunos do Liceu ficaram co-

CH
nhecidos como peripatéticos, que significa “os que passeiam”.

COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

4
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Grandes Pensadores: Aristóteles
Aristóteles é considerado o primeiro cientista da História.

O filósofo deixou muitos escritos, sendo a maioria tratados


bem fundamentados. Foi o primeiro a dividir e subdividir áre-
1. Aristóteles (384-322 a.C.) as de investigação, sendo o primeiro a fazer uma classifica-
Aristóteles foi o último e mais influente dos grandes filó- ção do conhecimento, de modo que versou perante diferen-
sofos clássicos. Nascido em Estagira, antiga Macedônia, tes áreas, como biologia, retórica, lógica, ética, dentre outras.
atualmente região da Grécia, foi mandado por seu pai à
Academia de Platão, onde permaneceu por cerca de 20
anos. Depois, viajou muito e começou a desenvolver e a sis-
tematizar as suas próprias ideias. Tornou-se o crítico mais
feroz do pensamento platônico.
Em 343 a.C., Filipe da Macedônia chamou Aristóteles à
corte e confiou-lhe importante missão: a de educar seu fi-
lho, Alexandre. Durante sete anos, o filósofo encarregou-se
dessa missão, até a subida do jovem Alexandre ao poder.
O jovem imperador da Macedônia, já ganhando as titula-
ções de senhor do mundo conhecido, afirmou: “Se a meu
pai devo a minha existência, a meu preceptor devo à arte Representação de Platão (à esquerda, apontando para
cima) e de Aristóteles (que aponta para baixo)
de me saber conduzir. Se governo com alguma glória, a
ele sou devedor”.

multimídia: vídeo
 VOLUME ÚNICO

Fonte: Youtube
Ação e Razão – Aristóteles
Marco Zingano, professor da Faculdade de Filosofia da
USP, trata das origens do conceito de razão na filosofia
clássica ateniense.
Alexandre, o Grande, foi educado por Aristóteles.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  27


A crítica em relação a Platão consiste em analisar correta- § Ética a Nicômaco: nesse texto direcionado ao seu fi-
mente os fenômenos da natureza, indo além da superfi- lho, Nicômaco, Aristóteles apresenta que a ética é algo
cialidade inteligível, construindo uma nova concepção de palpável, não sendo um elemento abstrato. Seguindo a
conhecimento. Aristóteles considera que só há, portanto, o teoria da justa medida, ou seja, do equilíbrio, o filósofo
mundo material, dos fenômenos naturais. Não há mundo apresenta que, ao seguirmos esse equilíbrio em nossos
ideal, não há dualismo. Platão estaria, portanto, equivoca- atos particulares (uma vida entre o excesso e a falta, fora
do em sua análise da realidade. Entre seus textos temos: dos extremos), conseguimos atingir a felicidade (eudai-
§ A Física: a relação dos quatro elementos (terra, água, monia), sendo que existe uma inclinação para essa fina-
ar e fogo) com o planeta Terra. Seus princípios não são lidade última do ser humano. Entretanto, o conceito de
corretos, de modo que não descrevem nada com exa- felicidade varia de indivíduo para indivíduo e de como é
tidão. Porém, essas estruturas auxiliaram outros expe- sua vida. Para o filósofo, existem três tipos de vida:
rimentos e tecnologias, como o método científico, que 1. Vida dos prazeres: onde o ser se torna refém da-
viria a ser criado na História Moderna. quilo que deseja.
§ A Metafísica: textos compilados que foram batizados 2. Vida política: onde o ser busca a honra pelo con-
após a morte do filósofo por seu discípulo Andrônico vencimento.
de Rodes. Aristóteles trata da ciência das causas pri-
meiras do ser enquanto ser geral. Na natureza, segun- 3. Vida contemplativa: onde o ser busca os elemen-
do Aristóteles, tudo está em uma dinâmica racional a tos dentro de si, o prazer intelectual – essa vida con-
partir de quatro causas: tém a essência da felicidade. Para Aristóteles, a finali-
dade da vida humana é a realização plena de nossas
1. causa formal (a forma da coisa); potências, entre elas o uso da razão, bem como as
2. causa material (matéria de que uma coisa é feita); capacidades que a natureza nos deu com alguma
3. causa eficiente (a origem da coisa); e finalidade a ser realizada.
4. causa final (a finalidade do objeto e do ser).
Podemos utilizar como exemplo a obra O pensador, do es-
cultor francês Auguste Rodin. Aristóteles chegou à conclusão
de que, para que ocorram várias causas seguindo uma racio-
nalidade e visando a uma realização final, seria necessário
pensar numa causa primeira e perfeita: A Causa de Todas as
Causas. Essa causa suprema seria o Motor Imóvel, também multimídia: livro
chamado de Deus. Uma razão perfeita, o Supremo Bem que
gera dinâmica a tudo pela atração. Tudo visa ao aperfeiçoa-
Ética a Nicômaco
mento e ao bem, pois é atraído pelo primeiro motor.

§ A Lógica: a lógica não é uma ciência, mas um instru-


mento para o correto pensar. Aristóteles disse que o blo-
co de construção básico de qualquer argumento era o
silogismo (estrutura lógica de ordenação do raciocínio);
constituído por premissas e uma conclusão, desenvol-
vendo um primeiro estudo da linguagem de argumenta-
ção baseada na coerência lógica. Logo, a lógica assim se
torna uma ferramenta na busca do conhecimento.

Todos os homens são mortais. § premissa 1, premissa maior


Sócrates é homem. § premissa 2, premissa menor
 VOLUME ÚNICO

Logo, Sócrates é mortal.


§ conclusão derivada das pre-
missas anteriores
A causa formal é o formato dessa obra, de um homem
§ Arte Poética: o filósofo, na Poética, examina as for-
sentado; a causa material é o bronze; a causa eficiente é
mas de poesia – epopeia, comédia e tragédia –, que
o escultor Rodin; e a causa final é a significação da obra.
tentam imitar a realidade, porém, de modos diferentes.

28  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A poesia é o gênero literário que mais se aproxima da § A Arte: o filósofo entende que o Belo é o resultado
filosofia, pois tende para o conhecimento do universal, da justa medida, da simetria. Assim, o Belo faz parte
que é o objetivo máximo da filosofia. O Teatro Trágico, do ser humano, podendo imitar a natureza, mas tam-
para Aristóteles, possuía um papel educacional de for- bém abordar o impossível e o inverossímil, podendo
mação política dos cidadãos. Assim, a arte, embora seja completar o que falta na natureza. Platão e Aristóteles
mimética, não é alienante e mero artifício de engano discordam com relação ao tema Estética – estudo da
dos sentidos, como considerava Platão. beleza e das artes.
§ Arte Política: o homem é um animal político – poli-
tikón zoón – que vive naturalmente em sociedade. Ao
tratar do tema em Política, Aristóteles, ao contrário de
Platão, não se interessa por idealizar uma cidade justa.
Ele classifica as formas de governo em três: o governo
de um só indivíduo (monarquia), de alguns (aristocra-
cia) e de todos (democracia). Cada um desses regimes
políticos apresenta vantagens e desvantagens, formas multimídia: música
boas e corrompidas. Conjuntamente, no que diz res- Fonte: Youtube
peito ao modo de organização social do mundo grego, Happiness - Needtobreathe. Hard
Aristóteles não questionou a organização escravista ou Love. Atlantic, 2016.
mesmo a exclusão das mulheres da esfera pública, pois A canção questiona as nossas escolhas na busca da
não seriam naturalmente adequadas para essas ações felicidade.
tipicamente masculinas.

DIAGRAMA DE IDEIAS

ARISTÓTELES

NOVA CONCEPÇÃO
NA BUSCA DO BEM DO CONHECIMENTO:
AS QUATRO CAUSAS DIVERSAS ÁREAS DO
SABER CONECTADAS
ENTRE SI
O SER HUMANO
PRECISA BUSCAR O MOTOR IMÓVEL • RETÓRICA
A JUSTA MEDIDA • FÍSICA
• METAFÍSICA
• LÓGICA
A FINALIDADE DA • POÉTICA
VIDA HUMANA: • ÉTICA E POLÍTICA
O EQUILÍBRIO EM
 VOLUME ÚNICO

TODOS OS CAMPOS A EUDAIMONIA


(FELICIDADE)

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  29


Aplicando para Aprender (A.P.A.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre mímesis
(imitação) em Aristóteles, assinale a alternativa correta.
1. (Uece 2020) Leia atentamente os trechos a seguir, a) O artista deve copiar a natureza, retirando suas imper-
que são fragmentos das análises de Platão e Aristóteles feições ao imitá-la com base no modelo que nunca muda.
sobre os sistemas de governo – suas opiniões sobre a b) O procedimento do artista resulta em imitar a natu-
democracia: reza de maneira realista, típica do naturalismo grego.
“A democracia se divide em várias espécies. Nas cidades c) A arte, distinta da natureza, produz imitações des-
que se tornaram maiores ela exibe a igualdade absolu- ta, mas são criações sem finalidade ou utilidade.
ta, a lei coloca os pobres no mesmo nível que os ricos e d) A arte completa a natureza por ser a capacidade hu-
pretende que uns não tenham mais direitos do que os mana para criar e produzir o que a natureza não produz.
outros. O Estado cai no domínio da multidão indigente.
e) A arte produz o prazer em vista de um fim, e a natu-
Tal gentalha desconhece que a lei governa, mas onde as
reza gera em vista do que é útil.
leis não têm força pululam os demagogos”.
ARISTÓTELES. A política. Trad. Roberto L. F. São 3. (Enem 2020) Vemos que toda cidade é uma espécie
Paulo: Martins Fontes, 1998. Adaptado. de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas
a algum bem, pois todas as ações de todos os homens
“A passagem da democracia para a tirania não se fará
são praticadas com vistas ao que lhe parece um bem;
da mesma forma que a da oligarquia para a democra-
se todas as comunidades visam algum bem, é evidente
cia? Do desejo insaciável de riquezas? De tão-somente
que a mais importante de todas elas e que inclui todas
ganhar dinheiro, proveio a ruína da oligarquia. E o que
as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao
destruiu a democracia, não foi a avidez do bem que ela
mais importante de todos os bens.
a si mesma propusera? Qual foi o bem a que ela se pro-
pôs? – A liberdade. Da extrema liberdade nasce a mais ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB,1988.
completa e selvagem servidão”.
No fragmento, Aristóteles promove uma reflexão que
PLATÃO: as grandes obras. A república. Livro VIII. associa dois elementos essenciais à discussão sobre a
Tradução Carlos A. Nunes, Maria L. Souza, A. M.
Santos. Edição do Kindle, 2019. Adaptado. vida em comunidade, a saber:
a) Ética e política, pois conduzem à eudaimonia.
Considerando o trecho acima, e o pensamento político
b) Retórica e linguagem, pois cuidam dos discursos
dos dois filósofos da antiguidade, atente para o que se
na ágora.
diz a seguir e assinale com V o que for verdadeiro e com
F o que for falso. c) Metafísica e ontologia, pois tratam da filosofia primeira.
( ) Para Platão, a melhor forma de governança era a d) Democracia e sociedade, pois se referem a relações
aristocracia, na qual os melhores, por serem mais sá- sociais.
bios, deveriam governar; entretanto, esta poderia se e) Geração e corrupção, pois abarcam o campo da physis.
corromper e tornar-se uma timocracia.
4. (Enem) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais no-
( ) Aristóteles considerava a monarquia a pior das for- bre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos
mas de governo. O governo de um só seria errado por não devem estar separados como na inscrição existen-
corromper a natureza política dos indivíduos, um desvio
te em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa,
para o governante.
e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que
( ) Diferente de Platão, Aristóteles entendia que a de- amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas
mocracia era a melhor forma de governo, desde que não mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós
se corrompesse e se transformasse em uma demagogia. a identificamos como felicidade.
( ) Tanto Platão como Aristóteles buscaram estabelecer,
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
cada um a seu modo, os parâmetros de um bom e justo
governo. Nenhum deles, entretanto, tinha admiração Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais exce-
pela democracia, sobretudo em seu formato puro. lentes atributos, Aristóteles a identifica como
A sequência correta, de cima para baixo, é: a) a busca por bens materiais e títulos de nobreza.
a) V, F, V, F. c) F, V, F, V. b) a plenitude espiritual e ascese pessoal.
b) V, F, F, V. d) F, V, V, F. c) a finalidade das ações e condutas humanas.
2. (UEL 2020) Leia o texto a seguir. d) o conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
e) a expressão do sucesso individual e reconheci-
 VOLUME ÚNICO

[...] a arte imita a natureza [. . . ] Em geral a arte perfaz


mento público.
certas coisas que a natureza é incapaz de elaborar e a
imita. Assim, se as coisas que são conforme a arte são 5. (Enem) Segundo Aristóteles, “na cidade com o me-
em vistas de algo, evidentemente também o são as coi- lhor conjunto de normas e naquela dotada de homens
sas conforme à natureza. absolutamente justos, os cidadãos não devem viver
ARISTÓTELES, Física I e II. 194 a20; 199 a13-18. Tradução adaptada uma vida de trabalho trivial ou de negócios – esses
de Lucas Angioni. Campinas: IFCH/UNICAMP, 1999. p.47; 58. tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as

30  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


qualidades morais –, tampouco devem ser agricultores 7. (Enem) Ninguém delibera sobre coisas que não podem
os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ser de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível
ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática fazer. Por conseguinte, como o conhecimento científico
das atividades políticas”. envolve demonstração, mas não há demonstração de
VAN ACKER, T. Grécia: a vida cotidiana na coisas cujos primeiros princípios são variáveis (pois todas
cidade-Estado. São Paulo: Atual. 1994. elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível
deliberar sobre coisas que são por necessidade, a sabe-
O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, per- doria prática não pode ser ciência, nem arte: nem ciência,
mite compreender que a cidadania porque aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferente-
a) possui uma dimensão histórica que deve ser criti- mente, nem arte, porque o agir e o produzir são duas es-
cada, pois é condenável que os políticos de qualquer pécies diferentes de coisa. Resta, pois, a alternativa de ser
época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o ela uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir com
resto dos cidadãos tem de trabalhar. respeito às coisas que são boas ou más para o homem.
b) era entendida como uma dignidade própria dos ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
grupos sociais superiores, fruto de uma concepção
política profundamente hierarquizada da sociedade. Aristóteles considera a ética como pertencente ao cam-
c) estava vinculada, na Grécia antiga, a uma percep- po do saber prático. Nesse sentido, ela difere-se dos ou-
ção política democrática, que levava todos os habi- tros saberes, porque é caracterizada como
tantes da polis a participarem da vida cívica. a) conduta definida pela capacidade racional de escolha.
d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela
b) capacidade de escolher de acordo com padrões
qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado
científicos.
às atividades vinculadas aos tribunais.
c) conhecimento das coisas importantes para a vida
e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles
do homem.
que se dedicavam à política e que tinham tempo para
resolver os problemas da cidade. d) técnica que tem como resultado a produção de
boas ações.
6. (Enem) Se, pois, para as coisas que fazemos existe e) política estabelecida de acordo com padrões de-
um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é mocráticos de deliberação.
desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim
será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o co- 8. (UFPA) Tendemos a concordar que a distribuição iso-
nhecimento, porventura, grande influência sobre essa nômica do que cabe a cada um no estado de direito é o
vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que permite, do ponto de vista formal e legal, dar esta-
que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual bilidade às várias modalidades de organizações institu-
das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém ídas no interior de uma sociedade. Isso leva Aristóteles
duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais pres-
a afirmar que a justiça é “uma virtude completa, porém
tigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a
não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo”
arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza,
pois é ela que determina quais as ciências que devem ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo:
ser estudadas num Estado, quais são as que cada cida- Abril Cultural, 1973, p. 332.
dão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as
faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a De acordo com essa caracterização, é correto dizer que
economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a função própria e universal atribuída à justiça, no es-
a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, tado de direito, é:
legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias
a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, racionais com poder normativo positivo e irrestrito.
de modo que essa finalidade será o bem humano.
b) instituir um ideal de liberdade moral que não exis-
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. ln: Pensadores. tiria se não fossem os mecanismos contidos nos sis-
São Paulo: Nova Cultural, 1991 (adaptado).
temas jurídicos.
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organi- c) determinar, para as relações sociais, critérios legais
zação da polis pressupõe que tão universais e independentes que possam valer por
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perse- si mesmos.
guir seus interesses. d) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são entre as necessidades do Estado e as de cada cidadão
 VOLUME ÚNICO

os portadores da verdade. individualmente.


c) a política é a ciência que precede todas as demais e) estabelecer a regência na relação mútua entre os
na organização da cidade. homens, na medida em que isso seja possível por
d) a educação visa formar a consciência de cada pes- meio de leis.
soa para agir corretamente.
e) a democracia protege as atividades políticas neces-
sárias para o bem comum.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  31


9. (UFU) Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão 11. (UEA) A sabedoria do amo consiste no emprego que
“ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois mo- ele faz dos seus escravos; ele é senhor, não tanto por-
dos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opos- que possui escravos, mas porque deles se serve. Esta
tos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência até sabedoria do amo nada tem, aliás, de muito grande ou
mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao de muito elevado; ela se reduz a saber manda o que o
ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato. escravo deve saber fazer. Também todos que a ela se
REALE, Giovanni. História da Filosofia antiga.
podem furtar deixam os seus cuidados a um mordomo,
Vol. II. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349. e vão se entregar à política ou à filosofia.
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
A partir da leitura do trecho acima e em conformidade
com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale O filósofo Aristóteles dirigiu, na cidade grega de Atenas,
a alternativa correta. entre 331 e 323 a.C., uma escola de filosofia chamada de
a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capaci- Liceu. No excerto, Aristóteles considera que a escravidão:
dade de se transformar em algo diferente dele mes- a) é um empecilho ao florescimento da filosofia e da
mo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em política democrática nas cidades da Grécia.
relação à estátua (ser-em-potência). b) permite ao cidadão afastar-se de obrigações econômi-
b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência cas e dedicar-se às atividades próprias dos homens livres.
explica o movimento percebido no mundo sensível. c) facilita a expansão militar das cidades gregas à me-
Tudo o que possui matéria possui potencialidade (ca- dida que liberta os cidadãos dos trabalhos domésticos.
pacidade de assumir ou receber uma forma diferente d) é responsável pela decadência da cultura grega,
de si), que tende a se atualizar (assumindo ou rece- pois os senhores preocupavam-se somente em domi-
bendo aquela forma). nar os escravos.
c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas e) promove a união dos cidadãos das diversas pólis
o ser-em-ato. Isto ocorre porque o movimento verifi- gregas no sentido de garantir o controle dos escravos.
cado no mundo material é apenas ilusório, e o que
existe é sempre imutável e imóvel. 12. (Unioeste) “A excelência moral, então, é uma dis-
posição da alma relacionada com a escolha de ações e
d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo
emoções, disposição esta consistente num meio-termo
sensível (das coisas materiais) e a potência se en-
(o meio-termo relativo a nós) determinado pela razão
contra tão-somente no mundo inteligível, apreendido
(a razão graças à qual um homem dotado de discerni-
apenas com o intelecto.
mento o determinaria)”.
10. (Enem) Aristóteles
TEXTO I Sobre o pensamento ético de Aristóteles e o texto aci-
Aquele que não é capaz de pertencer a uma comunida- ma, seguem as seguintes afirmativas:
de ou que dela não tem necessidade, porque se basta a I. A virtude é uma paixão consistente num meio-termo
si mesmo, não é em nada parte da cidade, embora seja entre dois extremos.
quer um animal, quer um deus. II. A ação virtuosa, por estar relacionada com a escolha,
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martins Fontes, 2002. é praticada de modo involuntário e inconsciente.
III. A virtude é uma disposição da alma relacionada com
TEXTO II escolha e discernimento.
IV. A virtude é um meio-termo absoluto, determinado
Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida de um ere-
pela razão.
mita em meio à natureza selvagem, é possível sem um
mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a pre- V. A virtude é um extremo determinado pela razão e
sença de outros seres humanos. pelas paixões de um homem dotado de discernimento.
Das afirmativas feitas acima:
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
a) somente a afirmação I está correta.
Associados a contextos históricos distintos, os frag- b) somente a afirmação III está correta.
mentos convergem para uma particularidade do ser c) as afirmações II e III estão corretas.
humano, caracterizada por uma condição naturalmente
d) as afirmações III e IV estão corretas.
propensa à
e) as afirmações IV e V estão corretas.
a) atividade contemplativa.
 VOLUME ÚNICO

b) produção econômica. 13. (UEL) Leia o texto a seguir.


c) articulação coletiva. A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada
d) criação artística. com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a media-
e) crença religiosa. nia relativa a nós, a qual é determinada por um princípio
racional próprio do homem dotado de sabedoria prática.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. Livro II.
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 273.

32  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada
ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética:
a) reside no meio termo, que consiste numa escolha
situada entre o excesso e a falta.
b) implica na escolha do que é conveniente no exces-
so e do que é prazeroso na falta.
c) consiste na eleição de um dos extremos como o
mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta.
d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em
razão de preferências pragmáticas.
e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com
o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos.

Gabarito
1. B 2. D 3. A 4. C 5. B

6. C 7. A 8. E 9. B 10. C

11. B 12. B 13. A

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  33


FILOSOFIA
MEDIEVAL

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: livro
HABILIDADE(s)
Filosofia medieval - STORCK, Alfredo de.
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2003.

5
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Esse livro oferece um panorama da filosofia no período
medieval e analisa sua transmissão, principais caracte-
rísticas e formas literárias de expressão, mostrando que
ela não se resume à filosofia cristã.

1. Introdução
Durante o período que corresponde ao Império Romano e
à Idade Média, a filosofia sofreu um processo de reclusão
ao acesso popular, estando cada vez mais reservada a
poucos nichos intelectuais. Desse modo, entre os sécu-
los V e XV, a filosofia e a religião estiveram interligadas
intimamente, tendo diversas correntes filosófico-católicas
que monopolizaram o conhecimento nesse período.
Retrato de Santo Agostinho por Philippe de Champaigne, século XVII.

Tendo imensa influência dos neoplatônicos – uma escola filo-


sófica com doutrina platônica –, Agostinho propôs uma con-
ciliação entre fé e razão. Com a dualidade platônica, o pen-
sador medieval ressaltou que o conhecimento se consolida
quando o homem tem acesso ao eterno, ao divino, ou seja,
tem acesso ao mundo inteligível platônico. Dentro de nós há
a centelha divina que ilumina nosso entendimento (racional)
e nossa crença (espiritual). Agostinho considerava que era
preciso crer para entender e entender para crer. Fé e Razão
são atributos divinos complementares e não adversários.

Santo Agostinho. Igreja Agostiniana, Viena.

2. Agostinho (354-430 d.C.)


 VOLUME ÚNICO

Com Agostinho – figura mundana que, já adulto, se con- multimídia: vídeo


verteu de livre vontade para o mundo espiritual –, a filo- Fonte: Youtube
sofia se mesclou com o cristianismo. Aurelius Augustinus Descobrindo a Filosofia com Pondé
nasceu em Tagaste, atual Argélia, região que fazia parte do - Ep.09: Santo Agostinho
Império Romano.

34  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Para o pensador, Deus é eterno, portanto, está fora do É desta Cidade da Terra que surgem os inimigos dos quais
tempo; porém, para o homem, o tempo começou quando tem que ser defendida a cidade de Deus. Muitos deles,
o mundo foi criado, enquanto para Deus, sempre existiu, afastando-se dos seus erros de impiedade, tornaram-
-se cidadãos bastante idôneos da Cidade de Deus. Mas
num eterno presente. muitos outros ardem em tamanho ódio contra ela e são
Com o intuito de ilustrar esse procedimento, Agostinho pro- tão ingratos aos manifestos benefícios do Redentor, que
pôs uma cidade de Deus, feita com as virtudes do homem, e hoje não moveriam contra Ele a sua língua senão porque
encontraram nos seus lugares sagrados, ao fugirem das
uma cidade do Diabo, constituída pelos vícios do ser huma-
armas inimigas, a salvação da vida de que agora tanto
no. Essa ideia está contida em sua obra mais famosa, intitu- se orgulham. Não são na verdade estes romanos en-
lada A cidade de Deus. Nesse instante, o filósofo direciona os carniçados contra o nome de Cristo aqueles a quem os
hábitos das pessoas, com o intuito de conseguir a iluminação bárbaros pouparam a vida por amor de Cristo? Disto dão
divina, isto é, ter acesso ao mundo inteligível platônico. testemunho os santuários dos mártires e as basílicas dos
Apóstolos que acolheram quantos aí se refugiaram, tanto
cristãos como estranhos, durante a devastação da Urbe l.
AGOSTINHO
A cidade de Deus. Lisboa: Calouste Gulbelkian, 1996, p. 99.

2.1. Patrística
A patrística é a doutrina religiosa elaborada pelos pais
ou padres da Igreja (por isso o nome), dos séculos II ao
VIII, que tinha como objetivo ordenar as verdades da fé,
para defender-se dos ataques dos hereges. Para consoli-
dar o dogma religioso, parte de uma construção lógica
das ideias e do uso da razão para alicerçar argumentos
teológicos. Os inúmeros textos dessa doutrina almejavam
orientar as ações dos indivíduos de dentro e de fora dos
Ilustração do livro A cidade de Deus, de Agostinho muros da Igreja católica.

Essa cidade de Deus só pode ser conhecida através da


autoridade infalível da Igreja. Assim, Agostinho comenta 3. Pedro Abelardo (1079-1142)
que o Estado deve subjugar-se ao poder do clero, demons-
Na Idade Média, significou uma mudança do pensamento
trando que o ser humano pode atingir o entendimento
mediante as leituras das Escrituras Sagradas, fato este que dos dominantes, seguindo o ideal de ora et labora (reza e
propicia a esse indivíduo a felicidade. Entretanto, nem to- trabalha). Assim, iniciou-se a “querela dos universais”, a
dos os homens recebem a graça das mãos de Deus, sendo qual discutia a relação entre o nome e a coisa, a linguagem
que somente alguns são predestinados à salvação. Agosti- e a realidade.
nho se tornou o principal filósofo da patrística. Para Agosti-
nho, o mal não existe, o que existe é a ausência de Deus. O 3.1. O nome da rosa
homem possui o livre-arbítrio para escolher viver de acordo
A palavra “rosa” pode sobreviver à morte ou ao desapare-
com a vontade divina ou para viver de acordo com suas
cimento da própria rosa; então, a palavra fala até de coisas
vontades próprias (pecado). Dessa forma, os indivíduos são
inexistentes. Como podemos entender isso? Nesse instan-
responsáveis por suas escolhas.
te, acontece uma questão ou querela de como os nomes
dos objetos não estão atrelados aos objetos. Os nomes são
elementos arbitrários que rotulam as coisas, não tendo ne-
nhuma relação direta com o próprio objeto. Um exemplo
disso são os nossos nomes de batismo, que foram escolhi-
 VOLUME ÚNICO

dos por outras pessoas, de forma arbitrária.


Segundo Pedro Abelardo, os universais só existem no
multimídia: vídeo intelecto, mas, ao mesmo tempo, mantêm relação com
Fonte: Youtube as coisas particulares, à medida que lhes dão significado.
Orgulho Nosso de Cada Dia | Leandro Karnal Desse modo, é como significado que os universais subsis-
tem (permanecem) às coisas.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  35


Em sua Summa contra gentilles, Aquino propõe-se a pro-
var para um não cristão, mediante um raciocínio natural,
a importância do cristianismo e a existência de Deus. Essa
obra é considerada um manual de teologia destinado a
converter os muçulmanos, evitando, assim, o avanço do
islã. Uma das preocupações de Aquino é a demonstração
racional da existência divina. Seria possível comprovar
que Deus existe pelo uso da filosofia aristotélica associa-
da aos ensinos cristãos.
O intelecto humano, que das coisas sensíveis recebe o
conhecimento que é conatural, para intuir em si mes-
mo a essência divina, que transcende infinitamente
todas as coisas sensíveis, e até todos os entes, por si
Pedro Abelardo mesmo não é capaz de atingir a essência divina. Como,
no entanto, o bem perfeito do homem consiste em co-
Sua obra mais conhecida é Sic et Non (Sim e Não), a qual
nhecer a Deus de algum modo, e para que uma tão
revitaliza a dialética, afirmando que esse processo era a nobre criatura não fosse considerada totalmente vã por
via para a verdade e fazia bem à mente. Ficou famoso por não poder atingir o seu fim, foi-lhe dado um caminho
seu caso de amor com Heloísa e acabou sendo castrado pelo qual pudesse elevar-se ao conhecimento de Deus,
como penalidade. a saber: como todas as perfeições das coisas descem
de Deus ordenadamente, de Deus que é o vértice su-
premo de todas elas, também o homem, partindo das
4. Tomás de Aquino (1225-1274) coisas inferiores e subindo gradativamente, deve pro-
gredir no conhecimento de Deus, pois também nos mo-
Com Tomás de Aquino, existe um domínio comum à razão vimentos corpóreos há o caminho pelo qual se desce
e à fé. Diante de uma forte influência de Aristóteles, buscou e o caminho pelo qual se sobe, distintos em razão do
organizar todos os ramos do conhecimento em um sistema princípio e do fim.
completo. Foi um dos principais representantes da escolás- TOMÁS DE AQUINO
tica, uma das escolas medievais. Suma contra os gentios. Porto Alegre: Sulina, 1990, p. 689.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Descobrindo a Filosofia com Pondé
- Ep.10: São Tomás de Aquino

Tomás de Aquino

O pensamento de Aquino procura apresentar o equilíbrio 5. Escolástica


entre a fé e a razão. Para ele, quando há algum desacordo, A escolástica foi o método utilizado nos recintos educacio-
a razão é sempre o elemento que se apresenta em equívo- nais da Idade Média, durante o século XI, principalmente
co, pois a razão que se excede torna-se indiscreta e invade nas universidades. Seguindo um modelo romano de en-
o terreno exclusivo da fé, que são os mistérios divinos –
sino, eram ensinadas pelo Trivium (Gramática, Retórica e
 VOLUME ÚNICO

fato que provoca, devido à desconfiança, a impossibilidade


Dialética/Lógica) e pelo Quadrivium (Geometria, Aritméti-
de demonstrar a existência de Deus. Tomás de Aquino será
ca, Astronomia e Música).
o representante máximo da escolástica.
Com isso, o seu pensamento assumiu a condição de dou- A influência do aristotelismo na escolástica adentra no sé-
trina oficial do catolicismo. O doctor angelicus acabou culo XII, salientando a concepção de divisão de matérias,
canonizado em 1323. em que existem diversos tipos de conhecimento.

36  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
MEDIEVAL

A RAZÃO ESTÁ
SUBORDINADA AOS
PRECEITOS DA FÉ.
FÉ E RAZÃO SÃO
COMPLEMENTARES. TOMÁS DE AQUINO
AGOSTINHO

PEDRO INFLUÊNCIA
ABELARDO ARISTOTÉLICA
INFLUÊNCIA
PLATÔNICA

O NOME NÃO ESTÁ A FÉ NUNCA PODE


ASSOCIADO SER QUESTIONADA.
AO OBJETO
A ILUMINAÇÃO HU-
MANA OCORRE PELO
CONTATO DIVINO. A RAZÃO PODE SER
NOMINALISMO E QUESTIONADA.
A QUESTÃO DOS
UNIVERSAIS
DUALISMO
PLATÔNICO E É PRECISO
CRISTIANISMO: A DIVULGAR O
CIDADE DE DEUS. PENSAMENTO
CRISTÃO.

O MAL NÃO EXISTE,


ELE É O ESTADO DE EVITANDO
DISTANCIAMENTO O AVANÇO
DO BEM (DEUS). MUÇULMANO
NA EUROPA.

O LIVRE- É POSSÍVEL PROVAR A


-ARBÍTRIO E A EXISTÊNCIA DE DEUS
RESPONSABILIDADE POR MEIO DA RAZÃO
HUMANA. E DAS ANÁLISES
ARISTOTÉLICAS.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  37


CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O conteúdo de filosofia medieval costuma ser relacionado ao conteúdo de história medieval. O estudante deve
relacionar o contexto sociocultural medieval da Alta e Baixa Idade Média. A mentalidade medieval ocidental
era teocêntrica e esse olhar de mundo pode ser visto nas mais variadas manifestações culturais do período, das
artes até a filosofia. O papel da Igreja na mentalidade medieval não deve ser analisado de forma displicente nos
estudos de Filosofia e de História.

Aplicando para Aprender (A.P.A.) A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor,
é um exemplo de reflexão filosófica sobre a(s)
1. (UEM 2020) “Se é verdade que a verdade da fé cristã a) essência da ética cristã.
ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por b) natureza universal da tradição.
isso os princípios inatos naturalmente à razão podem c) certezas inabaláveis da experiência.
estar em contradição com esta verdade sobrenatural.
d) abrangência da compreensão humana.
É um fato que estes princípios naturalmente inatos à
e) interpretações da realidade circundante.
razão humana são absolutamente verdadeiros; são
tão verdadeiros, que chega a ser impossível pensar 3. (Enem) Se os nossos adversários, que admitem a exis-
que possam ser falsos. Tampouco é possível considerar tência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo
falso aquilo que cremos pela fé, e que Deus confirmou Bem, quisessem admitir que essas considerações estão
de maneira tão evidente. Já que só o falso constitui o certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a
contrário do verdadeiro, [...] é impossível que a verdade de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos
da fé seja contrária aos princípios que a razão humana males, pois sendo Ele fonte suprema de Bondade, nunca
conhece em virtude de suas forças naturais. [...] Todavia, poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza.
já que a palavra de Deus ultrapassa o entendimento, al-
AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro:
guns acreditam que ela esteja em contradição com ele. Sétimo Selo, 2005 (adaptado).
Isto não pode ocorrer.”
Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem
(AQUINO, T. de. Suma contra os gentios. Apud ARANHA, M. do mal porque
L de. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2ª ed. p. 103).
a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus.
A partir do texto citado e de conhecimentos do pensa- b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe
mento filosófico de Tomás de Aquino, assinale o que for de Deus.
correto. c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por na-
01) Fé e razão não se opõem, porque seus princípios tureza, má.
são verdadeiros. d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é opos-
02) Tomás de Aquino tomou por tarefa compatibilizar, to, o mal.
a partir da relação fé e razão, a filosofia aristotélica e) Deus se limita a administrar a dialética existente
com a verdade cristã. entre o bem e o mal.
04) O âmbito do racionalmente demonstrável é restrito
se comparado com a imensidão dos mistérios divinos. 4. Pedro Abelardo foi um filósofo medieval que parti-
cipou de uma acirrada disputa filosófica no século XII.
08) Para Tomás de Aquino, o conteúdo da fé é reve-
Essa disputa centrava-se sobre:
lado por Deus aos homens, segundo a sua sabedoria.
16) A existência de Deus para Tomás de Aquino é tão so- a) a existência de Deus.
mente afirmada pela fé, jamais reconhecida pela razão. b) o predomínio da fé sobre a razão.
c) a questão da existência dos universais.
2. (Enem) Não é verdade que estão ainda cheios de ve-
d) a presença do mal no mundo.
lhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus
e) a morte da alma.
antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada
 VOLUME ÚNICO

realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre as- 5. (Enem) “(...) de modo particular, quero encorajar os
sim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, crentes empenhados no campo da filosofia para que ilu-
de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, minem os diversos âmbitos da atividade humana, graças
uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca ao exercício de uma razão que se torna mais segura e
antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, perspicaz com o apoio que recebe da fé.”
se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?”
Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides et Ratio aos bispos da
AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1984. Igreja católica sobre as relações entre fé e razão. 1998.

38  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


“As verdades da razão natural não contradizem as ver- a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o co-
dades da fé cristã.” nhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a ver-
dade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
Santo Tomás de Aquino (pensador medieval)
b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se
Refletindo sobre os textos, pode-se concluir que no mundo das ideias, enquanto para Agostinho não
existe nenhuma realidade além do mundo natural em
a) a encíclica papal está em contradição com o pen-
que vivemos.
samento de santo Tomás de Aquino, refletindo a dife-
rença de épocas. c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para
Platão a alma não é imortal, já que é apenas a for-
b) a encíclica papal procura complementar santo To-
ma do corpo.
más de Aquino, pois este colocava a razão natural
acima da fé. d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, remi-
niscência, a alma reconhece as ideias que ela con-
c) a Igreja medieval valorizava a razão mais do que a
templou antes de nascer; Agostinho diz que o conhe-
encíclica de João Paulo II.
cimento é resultado da Iluminação divina, a centelha
d) o pensamento teológico teve sua importância na de Deus que existe em cada um.
Idade Média, mas, em nossos dias, não tem relação
com o pensamento filosófico. 8. (Unesp) A vida cultural europeia, na Baixa Idade Média
e) tanto a encíclica papal como a frase de santo To- (dos séculos XI ao XV), pode ser caracterizada pelo(a):
más de Aquino procuram conciliar os pensamentos a) esforço de Ptolomeu para estruturar os conceitos
sobre fé e razão. geográficos.
6. (UFF) A grande contribuição de Tomás de Aquino para b) multiplicação das universidades e difusão da ar-
a vida intelectual foi a de valorizar a inteligência huma- quitetura gótica.
na e sua capacidade de alcançar a verdade por meio da c) deslocamento, de Córdoba para Paris, do centro de
razão natural, inclusive a respeito de certas questões da gravidade da cultura muçulmana.
religião. Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir d) difusão do dogma escolástico baseado na negação
a verdade divina”, ele diz que há duas modalidades de da união entre a fé e a razão para a busca da verdade.
verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades e) decadência do ensino urbano seguido de sua
da revelação que a razão humana não consegue alcan- ruralização.
çar, por exemplo, entender como é possível Deus ser uno
9. Para Tomás de Aquino, filosofia e teologia são ciên-
e trino. A segunda modalidade é composta de verdades
cias distintas porque:
que a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe.
A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor a) a filosofia se funda no exercício da razão humana
expressa o pensamento de Tomás de Aquino. e a teologia na revelação divina.
b) a filosofia é uma ciência complementar à teologia.
a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade.
c) a filosofia nos traz a compreensão da verdade que
b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à
será comprovada pela teologia.
revelação da verdade que Deus lhe concede.
d) a revelação é critério de verdade, por isso não se
c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcan-
pode filosofar.
çar certas verdades por seus meios naturais.
e) a teologia é a mãe de todas as ciências e a filo-
d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades
sofia serve apenas para explicar pontos de menor
acerca de Deus.
importância.
e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser
humano nada pode conhecer d’Ele. 10. Durante a Idade Média, a questão dos universais foi
um dos grandes problemas debatidos pelos filósofos da
7. (UFU) A filosofia de Agostinho (354-430) é estreita-
época. Realismo, conceitualismo e nominalismo foram
mente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas
as soluções típicas do problema.
traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Ploti-
no e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo Outra preocupação da época foi o da possibilidade ou
do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influen- impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agosti-
ciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas nho, sobre a relação fé e razão, protagonizou uma tese
resistências (de tornar-se cristão). que se pode resumir na frase Credo ut intelligam (Creio
para entender).
PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François
 VOLUME ÚNICO

A partir dos seus conhecimentos sobre a questão dos


(Org.). A Filosofia medieval. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983, p. 77.
universais e da filosofia medieval, identifique as propo-
Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Pla- sições verdadeiras.
tão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de I. O apogeu da patrística aconteceu no século XIII com
Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado santo Tomás de Aquino (1225-1274), que, retomando o
ao pensamento de Platão. Assinale a alternativa que pensamento de Platão, fez a síntese mais bem elaborada
apresenta, corretamente, uma dessas diferenças. da filosofia com o cristianismo durante a Idade Média.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  39


II. O pensamento filosófico medieval, a partir do sécu-
lo IX, é chamado de escolástica. A filosofia escolástica
tinha por problema fundamental levar o homem a com-
preender a verdade revelada pelo exercício da razão,
contudo apoiado na Auctoritas, seja da Bíblia, seja de
um padre da Igreja.
III. Para os nominalistas, o universal é apenas um con-
teúdo da nossa mente, expresso por um nome. O que
significa dizer que os universais são apenas palavras,
sem nenhuma realidade específica correspondente.
IV. No conceitualismo de Pedro Abelardo, os universais
são conceitos, entidades mentais, que não existem na
realidade, nem são meros nomes.
V. De acordo com a teoria da iluminação de santo Agos-
tinho, o ser humano recebe de Deus o conhecimento
das verdades eternas. Tal como o sol, Deus ilumina a
razão e torna possível o pensar correto.
Em verdade, santo Agostinho não conflita a fé com a ra-
zão, sendo esta última auxiliar e subordinada da fé. Assi-
nale a alternativa que contém as afirmativas verdadeiras.
a) I, II e III.
b) I, III e V.
c) II e V.
d) I, II e IV.
e) II, III, IV e V.

11. (ESPM) No século XIII, surgiu a escolástica, corren-


te filosófica que, a partir de então, dominou o pensa-
mento medieval.
AQUINO, Rubim Santos Leão de. História das sociedades:
das comunidades primitivas às sociedades medievais.

A escolástica:
a) teve em santo Agostinho seu maior expoente e era
teocêntrica.
b) teve em Alberto Magno seu maior expoente e re-
futava o teocentrismo, pregando o antropocentrismo.
c) teve em Tomás de Aquino seu principal expoente
e foi uma tentativa de harmonizar a razão com a fé.
d) considerava que a razão podia proporcionar uma vi-
são completa e unificada da natureza ou da sociedade.
e) pregava o recurso racional da força, sendo este mais
importante do que o exercício da virtude ou da fé.

Gabarito
1. 01 + 02 + 04 + 08 = 15 2. D 3. D

4. C 5. E 6. C 7. D 8. B

9. A 10. E 11. C
 VOLUME ÚNICO

40  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


FILOSOFIA
POLÍTICA

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

6
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

Estátua de Maquiavel, de Lorenzo Bartolini, na


Galleria Degli Uffizi, em Florença

Em sua obra mais conhecida, O príncipe (1513), Maquiavel


1. Introdução tinha como pretensão propiciar a união das províncias ita-
lianas para garantir a paz nessas terras.
Diante das transformações sociais e políticas que a Europa
passava durante a Baixa Idade Média – em conjunto com os
ideais e as ações do Renascimento Cultural, que privile-
giava o ser humano e as suas próprias criações –, surgiu um
novo ramo na área da filosofia – a filosofia política –, que se
debruçou perante os limites e a organização do Estado fren-
te ao indivíduo. O termo “política” já existia na pólis grega;
porém, essa nova concepção representava um novo olhar
perante as relações da sociedade. Os pensadores com maior multimídia: livro
destaque nessa área foram Maquiavel e Hobbes.
O príncipe - MAQUIAVEL, Nicolau.
São Paulo: Editora 34, 2017.

Tendo uma experiência de análise histórica, em conjunto


com uma orientação de valorização do governante, Ma-
quiavel tem a preocupação de saber como os governantes
agem de fato e como essas atitudes podem garantir ou
não a sua permanência no poder.
 VOLUME ÚNICO

2. Nicolau Maquiavel (1469-1527)


O filósofo da região de Florença é considerado um teórico multimídia: vídeo
da política. Com uma observação perspicaz da história dos Fonte: Youtube
governos, Maquiavel analisa as atitudes dos governantes e
Maquiavel e a Arte de Enganar-se | José Alves de Freitas
como esse Estado é organizado.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  41


2.1. A estrutura do poder para Maquiavel
O poder, segundo Maquiavel, pode ser obtido de diversas for-
mas, dentre elas, pode ser obtido por meio da herança ou por
meio do uso da força. Entretanto, não significa que esse poder
ficará eternamente para esse ser, pois o que vai garantir tal
poder são suas ações no agrupamento social. Desse modo, o
principal objetivo desse governante é perpetuar-se no poder.
Assim, para o pensador, a figura mais importante dessa
sociedade é o governante. Isso ocorre, pois esse indivíduo
possui algo que poucos têm: a virtù.
A virtù representa as qualidades que esse indivíduo terá
em determinadas situações, sendo ações ou atitudes que
devem ser tomadas rápidas, sem prejuízos ao seu maior ob-
jetivo, sem precisar seguir qualquer moral religiosa. O gover-
nante deve ter a capacidade de se adaptar de acordo com Maquiavel, pintura de Santi di Tito, século XV
as eventualidades. A moral do governante deve ser flexível Origina-se aí a questão aqui discutida: se é preferível ser
e pragmática, não visando a ideais. Maquiavel inaugura o amado ou temido. Responder-se-á que se preferiria uma
realismo político moderno. e outra coisa; porém, como é difícil unir, a um só tem-
po, as qualidades que promovem aqueles resultados, é
muito mais seguro ser temido do que amado, quando
se veja obrigado a falhar numa das duas. Os homens
costumam ser ingratos, volúveis, dissimulados, covardes
e ambiciosos de dinheiro; enquanto lhes proporcionas
benefícios, todos estão contigo, oferecem-te sangue,
bens, vida, filhos, como se disse antes, desde que a ne-
cessidade dessas coisas esteja bem distante.

multimídia: vídeo NICOLAU MAQUIAVEL


O príncipe. São Paulo: Coleção “Os Pensadores”, 1999, p. 106.
Fonte: Youtube
Maquiavel, com o professor da USP Renato Janine Ribeiro
3. Thomas Hobbes (1588-1679)
Só que esse governante também precisa ter a seu favor
a fortuna, ou seja, a sorte, de modo que ele não pode, de
forma alguma, renegar as situações de sorte que podem
surgir em seu caminho. Assim, para conseguir perpetuar-
-se no poder, o bom governante precisa, necessariamente,
unir a virtù e a fortuna .Como a fortuna é a eventualidade,
o acaso, o imprevisível, cabe ao governante ter virtù para
lidar com as situações inesperadas da vida.

O filósofo inglês Thomas Hobbes explanou a sua teoria


sobre a formação da sociedade. Foi um pensador jusna-
turalista, isto é, acreditava que os princípios e direitos dos
homens derivam da ideia universal e imutável de justiça.
multimídia: livro O jusnaturalismo considera que há direitos naturais e não
 VOLUME ÚNICO

meramente convenções sociais. Hobbes foi uma das bases


filosóficas para a consolidação do absolutismo europeu.
O príncipe (em quadrinhos) - Maquiavel. Roteiro
de André Diniz. São Paulo: Escala, 2008. Em seu livro O Leviatã (1651), ele pretende compreender a
formação da sociedade. Segundo o filósofo, no início, os ho-
A obra do filósofo Maquiavel foi adaptada em quadrinhos.
mens viviam no Estado de natureza (Estado Natural), se-

42  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


gundo o qual os seres sobrevivem numa guerra de todos con-
tra todos, na qual a regra máxima era a lei da sobrevivência.
Nesse instante, a competição entre os indivíduos fazia com
que a paz ficasse cada vez mais longe do convívio humano.
Para romper essa situação de guerra, os homens deci-
dem sair do estado de natureza e partir para a sociedade
civil, criando um pacto social (contrato social) entre os
integrantes dessa comunidade, visando à tranquilidade
e à paz. O que fundamentará esse pacto é o temor da capa da obra O Leviatã de Thomas Hobbes.
morte, ou seja, visando a uma preservação da vida, os
integrantes do grupo decidem ceder suas forças (ou ar-
mas) para um líder soberano, que deveria cumprir com
alguns deveres, como trazer a paz para o grupo e o bem
comum. Diante desse pacto, os homens não devem se
rebelar contra o governante escolhido, com a intenção de
fomentar a tranquilidade desejada. O Estado garantirá a
paz pelo exercício do poder soberano e pelo monopólio multimídia: vídeo
da violência. Em troca da liberdade civil (limitada e com
Fonte: Youtube
segurança) os súditos abandonam a liberdade natural (ili-
mitada e marcada pela violência). Leviatã | A Bíblia, a Política e o Filme

Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão


de homens concordam e pactuam, cada um com cada
um dos outros, que a qualquer homem ou assembleia de
homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de
representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu
representante ), todos sem exceção, tanto os que votaram
a favor dele como os que votaram contra ele, deverão au-
torizar todos os atos e decisões desse homem ou assem-
multimídia: vídeo bleia de homens, tal como se fossem seus próprios atos
Fonte: Youtube e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outro e
serem protegidos dos restantes homens. É desta institui-
Leviatã e as Lógicas da Força e da ção do Estado que derivam todos os direitos e faculdades
Punição | Yara Frateschi daquele ou daqueles a quem o poder soberano é conferi-
do mediante o consentimento do povo reunido. [...]
Pois uma doutrina contrária à paz não pode ser verda-
3.1. O Leviatã: o perigo do monstro deira, tal como a paz e a concórdia não podem ser con-
trárias à lei da natureza. É certo que, num Estado onde,
Hobbes aponta que, nessa sociedade civil construída pelas devido à negligência ou incapacidade dos governantes
ações humanas, insurge um líder supremo que precisa uti- e dos mestres, venham a ser geralmente aceites falsas
lizar-se da força para se manter no poder. doutrinas, as verdades contrárias podem ser geralmen-
te ofensivas. Mas mesmo a mais brusca e repentina ir-
O problema apontado nesse momento é que, tendo o poder rupção de uma nova verdade nunca vem quebrantar a
legal nas mãos, o governante, se não tiver destreza, incli- paz: pode apenas às vezes despertar a guerra. Porque
nará para um poder incontrolável, absoluto, transforman- aqueles que são tão desleixadamente governados que
chegam a ousar pegar em armas para defender ou im-
do-se num monstro com poderes ilimitados. Aqui, Hobbes
por uma opinião, esses se encontram ainda em condição
compara esse governante incontrolável, tendo o aval das leis de guerra. Sua situação não é a paz, mas apenas uma
criadas por ele próprio, com o monstro que dá título à sua suspensão de hostilidades por medo uns aos outros. É
 VOLUME ÚNICO

obra, o leviatã (um monstro marinho que simboliza uma for- como se vivessem continuamente num prelúdio de ba-
ça natural incontrolável citado no Antigo Testamento), que talha. Portanto compete ao detentor do poder soberano
deve concentrar todo o poder em torno de si, para, assim, ser o juiz, ou constituir todos os juízes de opiniões e dou-
trinas, como uma coisa necessária para a paz, evitando
ordenar todas as decisões da sociedade. Isso prejudica com- assim a discórdia e a guerra civil.
pletamente a consolidação do pacto social, perdendo com
THOMAS HOBBES
isso o objetivo de preservação da paz entre os homens. O leviatã

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  43


DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
POLÍTICA

MAQUIAVEL HOBBES

O PRÍNCIPE OBJETIVA A MONARQUIA


OBTER O PODER E É O MELHOR
MANTER O PODER. SISTEMA POLÍTICO.

PRECISA TOMAR DECISÕES:


O ESTADO CIVIL
O GOVERNANTE
EVITA A GUERRA DE
DEVE CONTROLAR OS
TODOS CONTRA TODOS.
SÚDITOS E MANTER A
ORDEM DO ESTADO.

O GOVERNANTE
(ABSOLUTO) GARANTE
O PRÍNCIPE DEVE AGIR COM
A PAZ E EXERCE
VIRTÙ E ESTAR PREPARADO
O MONOPÓLIO
PARA AS EVENTUALIDADES
DA VIOLÊNCIA.
DA FORTUNA (ACASO).

É MELHOR SER TEMIDO


DO QUE AMADO.
 VOLUME ÚNICO

44  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) as interpretações de historiadores antigos, como Táci-
to, Políbio, Tucídides e Tito Lívio.
1. (UEL 2020) Leia os textos a seguir. b) Em sua obra, Maquiavel coloca em relevo a di-
mensão efetivamente social, histórica e política das
Nos principados completamente novos, onde há um
relações humanas, explicitando que sua regra meto-
novo príncipe, existe maior ou menor dificuldade para
dológica implica o exame da realidade tal como ela é
mantê-lo, conforme seja maior ou menor a virtú de
e não como se gostaria que ela fosse.
quem o conquistou. Aquele que depende menos da for-
tuna consegue melhores resultados. Consideremos Ciro c) A política, segundo Maquiavel, tem correspondên-
e os demais conquistadores ou fundadores de reinos: cia com as ideias inatistas, ou seja, de que os indiví-
acharemos todos admiráveis. Examinando suas ações e duos são predestinados a um tipo de condição que
suas vidas, veremos que não receberam da fortuna mais lhes é inerente, não havendo possibilidade de mudan-
do que a ocasião, que lhes deu a matéria para introdu- ça ou qualquer outra forma de alterar as estruturas de
zirem a forma que lhes aprouvesse. E sem a ocasião a poder, por ele denominada de “maquiavélicas”.
virtú de seu ânimo se teria perdido, assim como, sem a d) Segundo Sadek, ao formular uma explicação sobre
virtú, a ocasião teria seguido em vão. essa questão, Maquiavel não rompeu com os para-
Adaptado de: MAQUIAVEL, N. O Príncipe, capítulo VI. 2.ed. Tradução digmas que fundavam a política de seu tempo, por
de Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.24. conseguinte, favorecendo a perpetuação de tiranias
nos séculos XV e XVI.
Como a vida de um príncipe não é duradoura, o Estado
e) Para Maquiavel, o problema central da política foi
inevitavelmente se arruinará logo que a virtú deste vier
a democracia, e sua construção implicava o fortale-
a faltar. Disto decorre que os reinos, cuja sorte depende
cimento de governos descentralizados, o que apro-
da virtú de um único homem, são pouco duráveis, por-
ximava seus estudos de liberais como John Locke e
que aquela virtú se extingue com a morte deste e, raras
Thomas Hobbes.
vezes, acontece que seja recuperada pelo seu sucessor.
Adaptado de MAQUIAVEL, N. Comentários sobre a Primeira 3. (UEL) A República de Veneza e o Ducado de Milão ao
Década de Tito Lívio. Livro I, capítulo XI. 3. ed. rev. Tradução norte, o reino de Nápoles ao sul, os Estados papais e a
de Sérgio Bath. Brasília: Editora UnB, 1994. pp. 58-59. república de Florença no centro formavam ao final do
Com base na leitura dos textos de Maquiavel, disserte século XV o que se pode chamar de mosaico da Itália su-
sobre o significado da virtú na ação política do príncipe jeita a constantes invasões estrangeiras e conflitos inter-
diante das vicissitudes da fortuna. nos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel desenvolveu
reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a ordem
2. (UFPR 2020) Considere a passagem abaixo: necessária para a unificação e a regeneração da Itália.
A substituição do reino do dever ser, que marca a fi- SADEK, M.T. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o
intelectual de virtù. In: WEFORT, F.C. (Org.). Clássicos da
losofia anterior, pelo reino do ser, da realidade, leva
política. V. 2. São Paulo: Ática, 2003. p. 11-24 (adaptado).
Maquiavel a se perguntar: como fazer reinar a ordem,
como instaurar um Estado estável? O problema central Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso-
de sua análise política é descobrir como pode ser resol- fia política de Maquiavel, assinale a alternativa correta.
vido o inevitável ciclo de estabilidade e caos. Ao formu-
a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas
lar e buscar resolver esta questão, Maquiavel provoca com a existência de um príncipe que age segundo a
uma ruptura com o saber repetido pelos séculos. Trata- moralidade convencional e cristã.
-se de uma indagação radical e de uma nova articulação
b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas
sobre o pensar e fazer política, que põe fim à ideia de concretas que pretendem evitar a barbárie, mesmo que
uma ordem natural eterna. A ordem, produto necessá- a realidade seja móvel e a ordem possa ser desfeita.
rio da política, não é natural, nem a materialização de
c) A história é compreendida como retilínea, portanto,
uma vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo a ordem é resultado necessário do desenvolvimento e
de dados do acaso. Ao contrário, a ordem tem um impe- aprimoramento humano, sendo impossível que o caos
rativo: deve ser construída pelos homens para se evitar se repita.
o caos e a barbárie, e, uma vez alcançada, ela não será d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o
definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em âmbito dos assuntos humanos é resultante da mate-
negativo, isto é, a ameaça de que seja desfeita. rialização de uma vontade superior e divina.
(SADEK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, e) Há uma ordem natural e eterna em todas as questões
o intelectual de virtù. In: WEFFORT, Francisco (org.). Clássicos humanas e em todo o fazer político, de modo que a es-
da política, vol. 01. São Paulo: Ática, 2001. p. 17-18.)
tabilidade e a certeza são constantes nessa dimensão.
 VOLUME ÚNICO

Considerando o argumento de Maria Tereza Sadek, em 4. (Enem) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser
seu texto intitulado Nicolau Maquiavel: o cidadão sem amado que temido ou temido que amado. Responde-
fortuna, o intelectual de virtù, é correto afirmar: -se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque
a) Os estudos de Maquiavel sobre o reino do ser na é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que
política levam em consideração a tradição idealista de amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos
Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino e rejeitam homens se pode dizer, duma maneira geral, que são in-

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  45


gratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lu- c) afirmar a confiança na razão autônoma como fun-
cro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, damento da ação humana.
oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quan- d) romper com a tradição que valorizava o passado
do, como acima disse, o perigo está longe; mas quando como fonte de aprendizagem.
ele chega, revoltam-se. e) redefinir a ação política com base na unidade entre
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. fé e razão.

A partir da análise histórica do comportamento huma- 7. “Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que
no em suas relações sociais e políticas, Maquiavel defi- temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser
ne o homem como um ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las,
parece-me muito mais seguro ser temido do que ama-
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar
do, se só se pode ser uma delas [...]”
o bem a si e aos outros.
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Portugal:
Publicações Europa-América, 1976, p. 89.
alcançar êxito na política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são A respeito do pensamento político de Maquiavel, é cor-
imprevisíveis e inconstantes. reto afirmar que:
d) naturalmente racional, vivendo em um estado a) mantinha uma nítida vinculação entre a política e
pré-social e portando seus direitos naturais. os princípios morais do cristianismo.
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas b) apresentava uma clara defesa da representação
com seus pares. popular e dos ideais democráticos.
c) servia de base para a ofensiva da Igreja em con-
5. (UFU) Em seus estudos sobre o Estado, Maquiavel bus-
fronto com os poderes civis na Itália.
ca decifrar o que diz ser uma verità effettuale, a “ver-
d) sustentava que o objetivo de um governante era a
dade efetiva” das coisas que permeiam os movimentos
conquista e a manutenção do poder.
da multifacetada história humana/política através dos
tempos. Segundo ele, há certos traços humanos comuns e) censurava qualquer tipo de ação violenta por parte
e imutáveis no decorrer daquela história. Afirma, por dos governantes contra seus súditos.
exemplo, que os homens são “ingratos, volúveis, simu- 8. (Unesp) A China é a segunda maior economia do mun-
ladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro”. (O do. Quer garantir a hegemonia no seu quintal, como fize-
príncipe, cap. XVII) ram os Estados Unidos no Caribe depois da guerra civil.
Para Maquiavel: As Filipinas temem por um atol de rochas desabitado que
disputam com a China. O Japão está de plantão por umas
a) a “verdade efetiva” das coisas encontra-se em pla-
ilhotas de pedra e vento, que a China diz que lhe perten-
no especulativo e, portanto, no “dever-ser”.
cem. Mesmo o Vietnã desconfia mais da China do que
b) fazer política só é possível por meio de um moralis- dos Estados Unidos. As autoridades de Hanói gostam de
mo piedoso, que redime o homem em âmbito estatal. lembrar que o gigante americano invadiu o México uma
c) fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer vez. O gigante chinês invadiu o Vietnã dezessete.
influência, que distribui bens de forma indiscriminada.
PETRY, André. O século do Pacífico. Veja, 24.04.2013 (adaptado).
d) a virtù possibilita o domínio sobre a fortuna. Esta
é atraída pela coragem do homem que possui virtù. A persistência histórica dos conflitos geopolíticos des-
critos na reportagem pode ser filosoficamente compre-
6. Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que endida pela teoria:
o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo
a) iluminista, que preconiza a possibilidade de um es-
acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devi-
tado de emancipação racional da humanidade.
do às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem
b) maquiavélica, que postula o encontro da virtude
diariamente, os quais escapam à conjectura humana.
com a fortuna como princípios básicos da geopolítica.
Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso
livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte de- c) política de Rousseau, para quem a submissão à von-
cida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos tade geral é condição para experiências de liberdade.
permite o controle sobre a outra metade. d) teológica de santo Agostinho, que considera que o pro-
cesso de iluminação divina afasta os homens do pecado.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
e) política de Hobbes, que conceitua a competição e a des-
Em O príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do confiança como condições básicas da natureza humana.
 VOLUME ÚNICO

poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demons-


9. (UFU) Porque as leis de natureza (como a justiça, a
tra o vínculo entre o seu pensamento político e o huma-
equidade, a modéstia, a piedade ou, em resumo, fazer
nismo renascentista, ao:
aos outros o que queremos que nos façam) por si mes-
a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos mas, na ausência do temor de algum poder capaz de le-
definidores do seu tempo. vá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões
b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade,

46  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. Das afirmações acima:
HOBBES, Thomas. O leviatã. Cap. XVII. a) somente a I está correta.
São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103. b) somente a I e III estão corretas.
Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que: c) somente a II e IV estão incorretas.
a) o seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce d) somente a III e V estão incorretas.
com o advento do contrato social deve assiná-lo, para e) somente a II, III e IV estão corretas.
submeter-se aos compromissos ali firmados. 11. (Enem) A importância do argumento de Hobbes está
b) a condição natural do homem é de guerra de todos em parte no fato de que ele se ampara em suposições
contra todos. Resolver tal condição é possível apenas bastante plausíveis sobre as condições normais da vida
com um poder estatal pleno. humana. Para exemplificar: o argumento não supõe que
c) os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a todos sejam de fato movidos por orgulho e vaidade para
criação do Estado deve servir como instrumento de buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma supo-
realização da isonomia entre tais homens. sição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida
d) a guerra de todos contra todos surge com o Estado por Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o
repressor. O homem não deve se submeter de bom argumento assustador e lhe atribui importância e força
grado à violência estatal. dramática é que ele acredita que pessoas normais, até
10. (Unioeste) “Com isto se torna manifesto que, durante mesmo as mais agradáveis, podem ser inadvertidamente
o tempo em que os homens vivem sem um poder comum lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em
capaz de os manter a todos em respeito, eles se encon- um estado de guerra.
tram naquela condição que se chama guerra; e uma guer- RAWLS, J. Conferências sobre a história da filosofia
ra que é de todos os homens contra todos os homens. [...] política. São Paulo: WMF, 2012 (adaptado).
E os pactos sem a espada não passam de palavras, sem
força para dar segurança a ninguém. Portanto, apesar O texto apresenta uma concepção de filosofia política
das leis da natureza (que cada um respeita quando tem conhecida como
vontade de respeitá-las e quando pode fazê-lo com se- a) alienação ideológica.
gurança), se não for instituído um poder suficientemente b) microfísica do poder.
grande para nossa segurança, cada um confiará, e pode- c) estado de natureza.
rá legitimamente confiar apenas em sua própria força e d) contrato social.
capacidade, como proteção contra todos”. (Hobbes)
e) vontade geral.
Considerando o texto citado e o pensamento político de
Hobbes, seguem as afirmativas abaixo: 12. (UFPA) “Desta guerra de todos os homens contra to-
dos os homens também isto é consequência: que nada
I. A situação dos homens, sem um poder comum que os pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça
mantenha em respeito, é de anarquia, geradora de inse- e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder
gurança, angústia e medo, pois os interesses egoísticos comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na
são predominantes, e o homem é lobo para o homem. guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais.
II. As consequências desse estado de guerra generaliza- A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades
da são as de que, no estado de natureza, não há lugar do corpo ou do espírito.
para a indústria, para a agricultura nem navegação, e há Se assim fosse, poderiam existir num homem que es-
prejuízo para a ciência e para o conforto dos homens. tivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus
III. O medo da morte violenta e o desejo de paz com sentidos e paixões.”
segurança levam os indivíduos a estabelecerem entre
si um pacto de submissão para a instituição do estado HOBBES, O leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 77.
civil, abdicando de seus direitos naturais em favor do
soberano, cujo poder é limitado e revogável por causa Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a
do direito à resistência que tem vigência no estado civil injustiça como não pertencentes às faculdades do cor-
assim instituído. po e do espírito, considere as afirmativas:
IV. Apesar das leis da natureza, por não haver um po- I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos
der comum que mantenha a todos em respeito, garan- homens em sociedade, e não na solidão.
tindo a paz e a segurança, o estado de natureza é um II. No estado de natureza, o homem é como um animal:
estado de permanente temor e perigo da morte vio-
age por instinto, muito embora tenha a noção do que é
 VOLUME ÚNICO

lenta, e “a vida do homem é solitária, pobre, sórdida,


justo e injusto.
embrutecida e curta”.
V. O poder soberano instituído mediante o pacto de III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é
submissão é um poder limitado, restrito e revogável, instituído o poder do Estado.
pois no estado civil permanecem em vigor os direitos IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em
naturais à vida, à liberdade e à propriedade, bem como conformidade com o poder soberano; ele favorece os
o direito à resistência ao poder soberano. mais fortes.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  47


Estão corretas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

Gabarito
1. Em O Príncipe, ao dedicar sua atenção à análise dos principados
novos, Maquiavel nos remete à importância da virtú e seu confron-
to com os caprichos da fortuna na política. Essa relação virtú-fortu-
na constitui o lugar por excelência para interpretar o pensamento
maquiaveliano sobre a manutenção do poder do príncipe e a se-
gurança do Estado diante da instabilidade do mundo e da condi-
ção humana. A virtú, cuja compreensão se apresenta desvinculada
de uma hierarquia a priori de valores e virtudes morais elevados
segundo modelos tradicionais de legitimação, determina a ação
política do governante no enfrentamento das vicissitudes da re-
alidade (a fortuna) tendo em vista resultados que assegurem seu
propósito de conservar o poder conquistado e evitar as armadilhas
que corroam sua reputação e reconhecimento pelo povo (honra
e glória). Assim, de um lado, por essa orientação pragmática, a
noção de virtú implica compreender a ação política determinada
por uma racionalidade instrumental. O príncipe deve usar todos
os meios necessários para a eficácia da ação. Por sua vez, para
Maquiavel, a ação política move-se sempre na mutabilidade e na
transitoriedade de uma realidade marcada por incertezas e confli-
tos de interesses. Nesse sentido, de outro lado, a noção de virtú im-
plica conceber que a política transita no domínio da contingência.
O príncipe, pelo contínuo exercício da virtú, deve estar preparado
para alterar sua conduta quando os ventos da fortuna e a varia-
ção das circunstâncias o forçam a isso. O sucesso do príncipe não
depende da virtuosidade de seu caráter ou da hereditariedade a
que pertença por uma eventual linhagem. Tampouco submete-se
ao determinismo da sorte. Para alcançar o propósito de manter
seu domínio, não basta a força que lhe permitiu conquistá-lo. É
preciso que o príncipe possua a virtú: a capacidade de controlar e
de antecipar os efeitos da fortuna, isto é, enfrentar e aproveitar as
circunstâncias concretas que se lhe apresentam na arena política,
de modo a interferir nelas, como lhe aprouver, forjando a ocasião e
atuando na necessidade.

2. B 3. B 4. C 5. D 6. C

7. D 8. E 9. B 10. D 11. C

12. B
 VOLUME ÚNICO

48  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


FILOSOFIA abusos e obscurantismos clericais. Assim, Erasmo propõe
o retorno da Igreja à simplicidade dos tempos iniciais. Foi
MODERNA considerado o homem mais erudito de sua época. Erasmo
era amigo de Thomas Morus.

CH
Embora os homens costumem ferir a minha reputação
e eu saiba muito bem quanto o meu nome soa mal aos
COMPETÊNCIA(s) ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que
1, 2, 3, 4 e 5 esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a úni-
ca capaz de alegrar os deuses e os mortais. [...]
HABILIDADE(s) Todos sabem que a infância é a idade mais alegre e agra-
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, dável. Mas, que é que torna os meninos tão amados? Que

7
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 é que nos leva a beijá-los, abraçá-los e amá-los com tanta
afeição? Ao ver esses pequenos inocentes, até um inimigo
se enternece e os socorre. Qual é a causa disso? É a natu-
reza, que, procedendo com sabedoria, deu às crianças um
certo ar de loucura, pelo qual elas obtêm a redução dos
castigos dos seus educadores e se tornam merecedoras
do afeto de quem as tem ao seu cuidado. Ama-se a pri-
meira juventude que se sucede à infância, sente-se prazer
em ser-lhe útil, iniciá-la, socorrê-la. Mas, de quem recebe
a meninice os seus atrativos? De quem, se não de mim,
que lhe concedo a graça de ser amalucada e, por conse-
guinte, de gozar e de brincar? Quero que me chamem de
1. Erasmo de Roterdã mentirosa, se não for verdade que os jovens mudam in-
teiramente de caráter logo que principiam a ficar homens
(1466-1536) e, orientados pelas lições e pela experiência do mundo,
entram na infeliz carreira da sabedoria.
Nascido Herasmus Gerritzsoon, o pensador humanista ne-
ERASMO DE ROTERDÃ
erlandês faz uma crítica mordaz e feroz sobre a insensibi- Elogio da Loucura
lidade dos detentores do poder, sobre a perda dos valores
da vida, com uma sátira da sociedade dos séculos XV e
XVI. Assim, ele redigiu o seu Elogio da Loucura.

multimídia: livro

Elogio da loucura - Erasmo de Roterdã.


Porto Alegre: L&PM, 2013.

2. Michel de Montaigne
(1533-1592)
Retrado de Erasmo de Roterdã.
O filósofo francês Michel de Montaigne faz filosofia como
Nesse caso, a Loucura é uma deusa que se apresenta como quem conversa com um amigo. Reintroduzindo a ideia de
condutora das ações humanas, ou seja, a Loucura domina investigação crítica permanente, concebeu uma nova ma-
 VOLUME ÚNICO

o mundo, do modo que a felicidade suprema do homem neira de descobrir o conhecimento.


está nas loucuras que comete. Com isso, Loucura é o pró-
Com formação em Direito, acabou adentrando na política,
prio mundo que o homem construiu, pois os seres se tor-
sendo prefeito de Bordeaux, entre 1580 e 1581. No fim
nam medíocres e hipócritas.
da vida, escolheu a reclusão, a fim de escrever a sua maior
A crítica maior recai sobre a Igreja, sua hierarquia e suas obra, intitulada Ensaios, uma compilação de textos de di-
instituições. Erasmo era um humanista que combatia os versas temáticas abordadas, que foi iniciada em 1572.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  49


antes chamar de selvagens. Naqueles estão vivas e vi-
gorosas as verdadeiras e mais úteis e naturais proprie-
dades, as quais abastardamos nestes, apenas acomo-
dando-as ao prazer de nosso gosto corrompido.
MICHEL DE MONTAIGNE
Dos canibais. São Paulo: Alameda, 2009, p. 51-52.

3. René Descartes (1596-1650)


O francês René Descartes é considerado o pai da filosofia
moderna. Na intenção de encontrar a certeza de alguma coi-
sa, o filósofo utiliza a sua maior arma – a dúvida –, procu-
rando, assim, uma base de certeza em suas próprias faculda-
Retrato de Michel de Montaigne
des racionais. Descartes é considerado, conjuntamente, um
Em seu ensaio mais famoso, intitulado Dos canibais, Mon- filósofo racionalista, pois pensava ser a razão a única fonte
taigne apresenta uma crítica aos europeus em relação às de saberes confiáveis e seguros. Descartes era um inatista (o
práticas com os povos do Novo Mundo. Para o filósofo, os conhecimento está presente em nossa mente).
povos ameríndios são menos bárbaros que os europeus,
apontando, pela primeira vez, um respeito cultural a ou-
tros povos e demonstrando que a única diferença entre os
povos do Novo Mundo e os europeus era que aqueles não
usavam calças. Dessa forma, Montaigne é um precursor do
relativismo cultural e um crítico do etnocentrismo europeu
(eurocentrismo).
Analisa o cotidiano constituído por homens “estranhos”
e “absurdos”, mas também “milagres”. O homem é um
ser verdadeiro em sua contínua mutação; equívocas são as
teorias e as convenções sociais e políticas que pretendem
aprisioná-lo em uma única imagem.
Retrato de René Descartes

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube multimídia: livro
Leviatã e as Lógicas da Força e da
Punição | Yara Frateschi
Discurso do método & Ensaios - DESCARTES,
Ora, eu acho, para retomar meu assunto, que não há René. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
nada de bárbaro e selvagem nessa nação, pelo que
dela me relataram, senão que cada um chama de bár- O ceticismo cartesiano consiste numa formulação sistemá-
baro o que não é de seu uso – como, em verdade, não
tica, em que não se trata mais de duvidar por duvidar, mas
parece que tenhamos outro padrão de verdade e de
razão que o exemplo e a ideia das opiniões e usanças de examinar criteriosamente todas as coisas, a fim de nelas
do país de onde somos. Lá sempre a religião perfeita, o descobrir elementos sobre os quais possa recair alguma sus-
 VOLUME ÚNICO

regime político perfeito, o emprego perfeito e acabado peita. A dúvida de Descartes é uma metódica, ou seja, con-
de todas as coisas. Eles são selvagens do mesmo modo duzida por um método rigoroso. As regras são as seguintes:
que chamamos de selvagens os frutos que a natureza,
de si e de seu curso ordinário, produziu. Lá onde, na 1. Só aceitar ideias claras e definidas.
verdade, estão os que alteramos por nosso artifício e 2. Dividir cada problema em tantas partes necessárias
desviamos da ordem comum, estão os que deveríamos à solução.

50  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


3. Ordenar os pensamentos do simples ao complexo. Desse modo, os sentidos fornecem primeiro a existência do
4. Verificar exaustivamente se existe alguma falha revi- corpo, porém, a razão evidencia antes a certeza do cogito.
sitando as etapas anteriores. Portanto, diante esse enorme poder da mente, os homens
se tornam “como que senhores e possuidores da natureza”.
As obras de Descartes são escritas em francês, rompendo com
a tradição medieval da língua latina nos textos filosóficos.
Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo
que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se ne-
cessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao
notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão
sólida e tão correta que as mais extravagantes suposi-
multimídia: vídeo ções dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo,
Fonte: Youtube julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o
primeiro princípio da filosofia que eu procurava.
Filosofia da Educação – Descartes
Mais tarde, ao analisar com atenção o que eu era, e ven-
do que podia presumir que não possuía corpo algum e
Esse pensamento está contido no Discurso do método, em que não havia mundo algum, ou lugar onde eu existis-
que nota-se o caminho intelectual de Descartes: o homem se, mas que nem por isso podia supor que não existia;
deve desconfiar de seus sentidos, pois eles podem e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em
nos enganar; diante da dúvida, posso desconfiar do que duvidar da verdade das outras coisas, resultava com bas-
estou a fazer agora. Posso estar a sonhar ou, então, um tante evidência e certeza que eu existia [...]
gênio maligno poderia estar a me iludir. Diante disso, como RENÉ DESCARTES
posso encontrar a verdade? Ademais, com todo esse ceti- Discurso do método. São Paulo: Coleção
“Os Pensadores”, 1999, p. 62.
cismo, Descartes notou que o único momento do qual não
se pode duvidar é quando se está pensando, mesmo que
se pense estar sonhando ou se iludindo. Assim, se duvido,
penso e, ao pensar, logo existo. Essa dúvida metodológica
e exagerada, que nos conduz a saberes racionalmente se-
guros, é chamada de dúvida hiperbólica.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
RENÉ DESCARTES (2) – RELAÇÃO MENTE
E CORPO | PERÍODO RENASCENTISTA
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
RENÉ DESCARTES (1) – PENSO, LOGO
EXISTO | PERÍODO RENASCENTISTA

Com isso, Descartes supôs que a essência do ser era o


pensamento, e que a mente (res cogitans) era separada
do corpo (res extensa). Surgira, assim, o problema mente–
corpo (dualismo), em que o corpo tinha os seus próprios
princípios de movimento, agindo de forma mecânica.
 VOLUME ÚNICO

Em seguida, era necessário comprovar a existência de Deus,


para garantir que nossas ideias claras e definidas são ver-
dadeiras e que não estamos sendo iludidos por um gênio
maligno. Se Deus é perfeito por ter uma causa, o homem,
por possuir inúmeros defeitos, não pode ser essa causa. As-
sim, Deus deve ser a causa de nossa ideia de perfeição dele.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  51


DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
MODERNA

ERASMO DE
DESCARTES
ROTERDÃ
MONTAIGNE

CRÍTICA FEROZ À
CETICISMO EM
INSENSIBILIDADE
BUSCA DA VERDADE.
DOS PODERES. INVESTIGAÇÃO
CRÍTICA
PERMANENTE.

A LOUCURA DÚVIDA METÓDICA


DOMINA AS AÇÕES. DÚVIDA HIPERBÓLICA
NÃO SOMOS ANALISA O
GUIADOS APENAS HOMEM MEDIANTE
PELAS REFLEXÕES AS SUAS AÇÕES.
RACIONAIS.
PENSO, LOGO
EXISTO.
CONSIDERAMOS
ANORMAL
TRAZENDO COISAS
AQUILO QUE NÃO
NOVAS. SEPARAÇÃO
PRATICAMOS EM
NOSSA TERRA. MENTE-CORPO:
CRÍTICA AO RES COGITANS E RES
ETNOCENTRISMO EXTENSA – DUALISMO
HUMANISMO CARTESIANO.
EUROPEU.
E CRÍTICA AOS
ABUSOS CLERICAIS.

RACIONALISMO: OS
CONHECIMENTOS
CONFIÁVEIS
ESTÃO NA RAZÃO.
INATISMO.
 VOLUME ÚNICO

52  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) meçar tudo novamente a fim de estabelecer um saber
firme e inabalável.”
1. (UFRN) Erasmo de Roterdam, autor de Elogio da Lou- DESCARTES, René. Meditações concernentes à primeira
cura (1511), obra em que criticava valores dominantes Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
na sociedade de seu tempo, assim escreveu:
TEXTO II
No presente, o homem se faz pela posse da razão. Se
“É o caráter radical do que se procura que exige a ra-
as árvores e as bestas selvagens crescem, os homens,
dicalização do próprio processo de busca. Se todo o
creiam-me, moldam-se. [...] E aquele que não permite
espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que
que seu filho seja instruído de forma conveniente, não é
aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada
homem, nem seu filho se tornará um homem.
pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma
A natureza, ao dar-vos um filho, vos presenteia com uma daquelas que foram anteriormente varridas por essa
criatura rude, sem forma, a qual deveis moldar para que mesma dúvida.”
se converta em um homem de verdade. (SILVA, F.L. Descartes: a metafísica da modernidade.
São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
Esse fragmento textual sugere a vinculação de Erasmo
de Roterdam ao: A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam
a) escolasticismo, que tentava conciliar as verdades da re- que, para viabilizar a reconstrução radical do conheci-
velação com aquelas formuladas pela pesquisa empírica. mento, deve-se
b) liberalismo, que pregava a necessidade de uma so- a) retomar o método da tradição para edificar a ciên-
ciedade em que os homens construíssem, livremente, cia com legitimidade.
seu destino. b) questionar de forma ampla e profunda as antigas
c) renascimento, que valorizava a pessoa humana e ideias e concepções.
acreditava no poder de suas capacidades intelectuais. c) investigar os conteúdos da consciência dos homens
d) universalismo, que desejava descobrir leis que menos esclarecidos.
pudessem explicar, cientificamente, o mundo. d) buscar uma via para eliminar da memória saberes
antigos e ultrapassados.
2. (Unesp) Todas as coisas humanas têm dois aspectos (...) e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dis-
para dizer a verdade todo este mundo não é senão uma pensam ser questionados.
sombra e uma aparência; mas esta grande e interminá-
vel comédia não pode representar-se de um outro modo. 4. (Unicamp) A dúvida é uma atitude que contribui para
Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que o surgimento do pensamento filosófico moderno. Nes-
não podemos nos assegurar de nenhuma verdade. te comportamento, a verdade é atingida através da su-
Erasmo de Roterdã. Elogio da loucura. pressão provisória de todo conhecimento, que passa a
ser considerado como mera opinião.
Erasmo de Roterdã foi um dos primeiros pensadores a
contribuir para o surgimento da modernidade. Nesse A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da
Filosofia.
texto, de 1509, pode-se considerar moderno:
BORNHEIM, Gerd. Introdução ao filosofar.
a) o elogio da loucura, vista como uma forma sofisti- Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11 (adaptado).
cada de sensibilidade.
b) o caráter obscuro e sombrio da vida, na qual o ho- A partir do texto, é correto afirmar que:
mem deve mover-se pela fé. a) a Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e
c) a ausência de verdades absolutas, em contraste com verdade são conceitos equivalentes.
as verdades do clero. b) a dúvida é necessária para o pensamento filosófico,
d) a ideia de que o mundo é uma comédia, e nós ho- por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico.
mens devemos nos divertir. c) o espírito crítico é uma característica da Filosofia e
e) a ideia de que o mundo é aparência, mera represen- surge quando opiniões e verdades são coincidentes.
tação do plano divino. d) a dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito críti-
co são fundamentos do pensamento filosófico moderno.
3. (Enem)
5. (Enem) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exem-
TEXTO I plo, embora nossa memória possua todas as demonstra-
ções feitas por outros, se nosso espírito não for capaz
 VOLUME ÚNICO

“Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde


de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaría-
meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões
mos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão
como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fun-
e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre
dei em princípios tão mal assegurados não podia ser
o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter
senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar
aprendido, não ciências, mas histórias.
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de
todas as opiniões a que até então dera crédito, e co- DESCARTES, René. Regras para a orientação do espírito.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  53


Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera Como o cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário do
o conhecimento, de modo crítico, como resultado da cético, não permanece nela. Na Meditação Terceira, Des-
a) investigação de natureza empírica. cartes afirma: “[...] engane-me quem puder, ainda assim
jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar
b) retomada da tradição intelectual.
que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha
c) imposição de valores ortodoxos.
jamais existido, sendo verdade agora que eu existo [...]”
d) autonomia do sujeito pensante.
e) liberdade do agente moral. DESCARTES. René. Meditações metafísicas. Meditação Terceira. São
Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção “Os Pensadores”.
6. (UFSJ) Ao analisar o cogito ergo sum – “penso, logo,
existo”, de René Descartes, conclui-se que: Com base no enunciado e considerando o itinerário se-
guido por Descartes para fundamentar o conhecimento,
a) o pensamento é algo mais certo que a própria é correto afirmar:
matéria corporal.
b) a subjetividade científica só pode ser pensada a a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser dis-
partir da aceitação de uma relação empírica fundada cerníveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos
em valores concretos. são falhos e limitados, portanto, o conhecimento se-
c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e repre- guro detém-se nas opiniões que se apresentam certas
sentativa da ética que insurgia já no século XVI. e indubitáveis.
d) ele consegue infirmar todos os sistemas científicos b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apre-
e filosóficos ao lançar a dúvida sistemático-indutiva senta-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às
respaldada pelas ideias iluministas e métodos inci- próprias coisas que são percebidas de acordo com as cir-
pientes da revolução científica. cunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados.
c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingên-
7. (UFU) Em O discurso sobre o método, Descartes afirma: cia do conhecimento, uma vez que somente as coisas
percebidas por meio da experiência sensível possuem
“Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que
existência real.
não se reconhece ser tal pela evidência, ou seja, evitar acu-
d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões
radamente a precipitação e a prevenção, assim como nun-
que se pode observar no debate perpétuo e universal
ca se deve abranger entre nossos juízos aquilo que não se
sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência
apresente tão clara e distintamente à nossa inteligência a
de Deus a única certeza que se pode alcançar.
ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida.”
e) A condição necessária para alcançar o conheci-
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: do humanismo
mento seguro consiste em submetê-lo sistematica-
a Descartes. São Paulo: Paulus, 2004. p. 289.
mente a todas as possibilidades de erro, de modo que
Após a leitura do texto acima, assinale a alternativa correta. ele resista à dúvida mais obstinada.
a) A evidência, apesar de apreciada por Descartes, 10. (Unioeste) Considerando-se as primeiras linhas das
permanece uma noção indefinível. Meditações sobre a filosofia primeira, de René Descartes:
b) A evidência é a primeira regra do método carte-
siano, mas não é o princípio metódico fundamental. “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus
c) Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por ver-
evidentes. dadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre
d) A evidência não é um princípio do método cartesiano. princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito
duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar se-
8. (FGV) Erasmo de Roterdã (1467-1536) foi um dos riamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de to-
pensadores mais influentes de sua época, sobretudo das as opiniões que recebera até então em minha cren-
porque em sua obra Elogio da Loucura defendeu, entre ça e começar tudo novamente desde os fundamentos,
outros aspectos: se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de
a) a tolerância, a liberdade de pensamento e uma te- constante nas ciências. (...) Agora, pois, que meu espíri-
ologia baseada exclusivamente nos Evangelhos. to está livre de todas as preocupações e que obtive um
b) a restauração da teologia nos termos da ortodoxia repouso seguro numa solidão tranquila, aplicar-me-ei
escolástica, na linha de Tomás de Aquino. seriamente e com liberdade a destruir em geral todas
c) a reforma eclesiástica da Igreja segundo a proposta as minhas antigas opiniões”.
de Savonarola, conforme sua pregação em Florença.
É correto afirmar, sobre a teoria do conhecimento car-
d) o comunismo dos bens, teoria que influenciaria o tesiana, que:
 VOLUME ÚNICO

pensamento de Rousseau no século XVIII.


e) a supremacia da razão do Estado sobre as regras a) Descartes não utiliza um método ou uma estraté-
definidas nos princípios da moral cristã. gia para estabelecer algo de firme e certo no conhe-
cimento, já que suas opiniões antigas eram incertas.
9. (UEL) O principal problema de Descartes pode ser for- b) Descartes considera que não é possível encontrar
mulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir algo de firme e certo nas ciências, pois até então esse
que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?” objetivo não foi atingido.

54  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica
considerou como conhecimento, busca fundamentar Gabarito
nos sentidos uma base segura para as ciências. 1. C 2. C 3. B 4. D 5. D
d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o
conhecimento, Descartes inicia rejeitando suas anti- 6. A 7. C 8. A 9. E 10. D
gas opiniões e utiliza o método da dúvida até encon-
11.
trar algo de firme e certo.
a) Em Descartes, a dúvida expressa a tentativa de esta-
e) Descartes necessitou de solidão para investigar as belecer um princípio firme e constante nas ciências. Se-
suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela guindo a ordem das razões, serão submetidos à crítica
que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento. os fundamentos do conhecimento, partindo do sensível
11. (UEL) Mas há algum, não sei qual, enganador mui (argumento dos sentidos), passando pela imaginação
(argumento do sonho) e chegando às verdades ma-
poderoso e mui ardiloso que emprega toda sua indús-
temáticas (argumento do deus enganador e do gênio
tria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida algu-
maligno). Sendo metódica, a dúvida converter-se-á em
ma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me
universal, e se dela não resultar um princípio positivo
engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja,
para fundamentar o sistema da ciência, pelo menos
enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que,
não se tomará por verdadeiro o que for dubitável.
após ter pensado bastante nisto e de ter examinado
b) Para Descartes, o pensamento aparece como uma
cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir
evidência, resultante como logicamente necessária, do
e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu exis-
método da dúvida. O pensamento não é instituído pela
to, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a
universalização da dúvida, pois ele é a própria con-
enuncio ou que a concebo em meu espírito. dição de duvidar. Após estender a dúvida a todos os
DESCARTES, René. Meditações. Coleção “Os Pensadores”. fundamentos do conhecimento, dos mais incertos aos
São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 100. mais aparentemente seguros, o pensamento surgirá
como uma evidência, cuja certeza é tão irrefutável, que
A partir do texto e dos conhecimentos acerca de Descartes: sequer o gênio maligno poderá fazer com que eu nada
a) apresente o propósito e os graus da dúvida metódica; e seja, enquanto pensar ser algo. A solidez desta certeza
b) demonstre como Descartes descobre que o pensa- servirá de fundamento ao sistema das ciências.
mento é a verdade primeira. 12. Para Descartes, a forma tradicional de adquirir o conheci-
mento não deveria mais se fundamentar, mas sim seguir um
12. (Unesp) Para René Descartes, o que fundamenta o
ceticismo metodológico, com o intuito de atingir-se um saber
método universal para conhecer o mundo é a reta ra- universal e válido. O fundamento matemático consolida o pensa-
zão, que pertence a todos os homens, sendo “a coisa mento de Descartes, com a lógica matemática, as análises e sua
mais bem distribuída do mundo”. Mas o que é essa reta
investigação, para se atingir o verdadeiro conhecimento.
razão? “A faculdade de julgar bem e distinguir o ver-
dadeiro do falso é propriamente aquilo que se chama
bom senso ou razão, que é naturalmente igual em todos
os homens”. A unidade das ciências remete à unidade
da razão. E a unidade da razão remete à unidade do
método. O saber deve basear-se na razão e repetir sua
clareza e distinção, que são os únicos pressupostos irre-
nunciáveis do novo saber.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História
da filosofia. 1990 (adaptado).

Com base no texto, justifique por que o método de Des-


cartes aspira à universalidade. Explique a importância
da matemática para a produção de conhecimentos do-
tados de clareza e distinção.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  55


RACIONALISMO

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
Baruch Espinoza
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
Baruch Spinoza foi um dos grandes racionalistas da Filo-
8
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
sofia moderna. Nasceu na cidade de Amsterdã, nos Países
Baixos, em 1632, e faleceu na cidade de Haia, em 1677.
Ele cresceu na Holanda, em família judia e foi criado para
se tornar um rabino. Naquela época, a Holanda era um
dos principais centros da liberdade intelectual na Europa,
atraindo pensadores como Descartes e Locke.

Segundo Espinoza, existe uma só substância, que é um


princípio científico unificador, figurando-se em Deus ou
1. Introdução Natureza, do modo que a mente e a matéria são apenas
Racionalismo é a doutrina filosófica que defende o pri- atributos da substância única. Espinoza costuma ser cate-
mado da razão para a fundamentação do conhecimento gorizado como um panteísta, afinal, em sua análise Deus é
confiável e para a compreensão última da realidade. A toda a Natureza, tudo é, portanto, Deus.
razão seria a grande ferramenta de obtenção do entendi- Deus é a causa primeira e eficiente de todas as coisas, porém,
mento das coisas, dos seres, da natureza. isso não significa que seja o criador, pois, sendo Deus a única
substância, nada pode existir fora dele. Assim, Deus é a causa
2. Racionalismo do mundo, mas o mundo existe em Deus, que é, por isso, cau-
sa imanente, isto é, causa que produz efeito em si mesma. Em
O filósofo holandês Espinoza foi um dos grandes raciona- outras palavras, Deus é Natureza (Deus sive Natura).
listas do século XVII. Em sua obra Tratado teológico-polí-
A filosofia de Espinoza tinha como propósito esclarecer a
tico (1670), o filósofo submete o Velho Testamento a uma
rigorosa crítica, baseando-se numa análise gramatical da identidade existente entre nossa mente e a natureza. Essa
língua hebraica e na história do povo judeu. A conclusão identidade só acontece, quando conhecemos a nós mes-
foi que o conteúdo bíblico não se refere à verdade, mas mos e a própria natureza, como uma coisa una. Diante
apenas estabelece preceitos de conduta para guiar os ho- disso, o conhecimento da natureza se concretiza quando
mens, o que reduz a nada todo o esforço da teologia. entendemos a essência dos objetos.
Por causa de seu pensamento perante a religião, Espino-
za sofreu dois atentados à sua vida (sobreviveu a ambos),
sendo um deles realizado por um religioso extremista.
Espinoza foi um daqueles raros filósofos que, além de acre-
ditar no que dizia, era fiel a seus princípios. Chegou a recusar
uma cátedra de Filosofia em Heidelberg, posição que, por ser
oficial, implicava aceitar ideias e limitações oficiais. Para a
sua subsistência, trabalhava com polimentos de lentes.
 VOLUME ÚNICO

2.1. Definições de Espinoza


I. Por sua causa entendo aquilo cuja essência implica
a existência e cuja natureza só pode ser concebida
Retrato de Espinoza como existente.

56  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


II. Diz-se finita no seu gênero uma coisa que pode ser DEMONSTRAÇÃO
limitada por uma outra da mesma natureza. Por exem-
Chamamos mau o que é causa de Tristeza, isto é, o que
plo, dizemos que um corpo é finito porque concebemos diminui ou reduz nossa potência de agir. Se portanto
sempre um outro maior. Do mesmo modo, um pensa- uma coisa, pelo que tem de comum conosco, fosse má
mento é limitado por um outro pensamento. Mas nem para nós, essa coisa poderia diminuir ou reduzir o que
um corpo pode ser limitado por um pensamento nem tem de comum conosco, o que é absurdo. Coisa alguma
um pensamento por um corpo. portanto pode ser má para nós pelo que tem de comum
III. Por substância entendo aquilo que existe em si e por conosco, mas, ao contrário, na medida em que é má, isto
si é concebido, isto é, aquilo cujo conceito, para ser for- é, na medida em que pode diminuir ou reduzir nossa
mado, não precisa do conceito de uma outra coisa. potência de agir, ela nos é contrária. CQD.

IV. Por atributo entendo aquilo que o intelecto percebe PREPOSIÇÃO XXXI
como a essência da substância. Na medida em que uma coisa está de acordo com nossa
natureza, ela é necessariamente boa.
V. Por modo entendo aquilo que existe em outra coisa
pela qual também é concebido. DEMONSTRAÇÃO
VI. Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto Na medida em que uma coisa está de acordo com nos-
é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada sa natureza, ela não pode ser má. Ela será portanto
um dos quais exprime uma essência eterna e infinita. necessariamente ou boa ou indiferente. Nesse último
caso, ou seja, que nãp é boa nem má, nada portanto
Pois tal existência, da mesma forma como a essência derivará de sua natureza que sirva à conservação de
de uma coisa, é concebida como uma verdade eterna nossa natureza, isto é, à conservação da natureza da
e, por isso, não pode ser explicada pela duração ou pelo coisa mesma; mas isso é absurdo; logo, na medida em
tempo, mesmo que por uma duração sem início ou fim. que esteja de acordo com nossa natureza, será portan-
O texto todo faz parte da obra: to necessariamente boa. CQD.
Ética Demonstrada Segundo a Ordem dos Geômetras
Spinoza, in MARCONDES, Danilo. Textos básicos
de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar.

3. Gottfried Wilhelm
Leibniz (1646-1716)
O filósofo alemão Leibniz é uma figura central na histó-
ria da matemática e da filosofia, que concebeu as ideias
de cálculo diferencial e integral, sem sofrer influência dos
estudos de Isaac Newton, interlocutor e adversário intelec-
tual de Leibniz.

Estátua representado o filósofo holandês

Destinada aos homens livres, o filósofo trata também sobre


a Ética, obra escrita em axiomas, no ano de 1677. Para Es-
pinoza, o que os indivíduos pensam reflete diretamente na
sua maneira de viver, colhendo frutos positivos ou negati-
vos de suas ações. Seguindo uma lógica racional, o filósofo
 VOLUME ÚNICO

tenta provar a natureza racional de Deus.

PREPOSIÇÃO XXX
Nenhuma coisa pode ser má pelo que tem de comum
com nossa natureza, mas é má para nós na medida em Retrato de Leibniz
que nos é contrária.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  57


Leibniz escreveu prodigiosamente sobre muitos temas das A Mônada de que vamos falar aqui não é outra coisa se-
áreas filosófica e matemática. O filósofo procurou a harmo- não uma substância simples, que entra nos compostos;
simples, quer dizer, sem partes.
nia entre elementos aparentemente díspares: o mundo na-
tural e o mundo moral; o corpo e a alma; Platão e Aristóteles. Teod. §10 [Discurso preliminar, §10]: “[...] há necessaria-
mente substâncias simples e sem extensão, espalhadas
Em sua maior obra filosófica intitulada Monadologia, por toda a natureza [...]”
o pensador apresenta como a natureza é constituída, de
E é preciso que haja substâncias simples, visto que há
modo a salientar uma lógica racional. A força motora da compostos. Efetivamente, o composto não é outra coisa
natureza é acionada por Deus, que também está contida senão uma amálgama (amas) ou aggregatum dos simples.
na própria natureza. Ora, onde não há partes, não há extensão, nem figu-
ra nem divisibilidade possível. E estas Mônadas são os
verdadeiros Átomos da Natureza e, numa palavra, os
Elementos das coisas.
Também não há dissolução a temer, e não há nenhuma
maneira concebível pela qual uma substância simples
possa perecer naturalmente.
GOTTFRIED LEIBNIZ
multimídia: vídeo Monadologia. Lisboa: Edições Colibri, 2016, p. 39.
Fonte: Youtube
Monadologia
Leibniz foi um filósofo e matemático alemão, nascido
em 1646 e falecido em 1716. Ele desenvolveu o cálculo
integral e diferencial, mais ou menos na mesma época
que Newton. Leibniz também foi contemporâneo de
Hobbes, Spinoza e Locke.
multimídia: música
Segundo Leibniz, todos os elementos da natureza são com- Fonte: Youtube
postos por mônadas (do grego monas, que significa “uni- Gita - Raul Seixas. Gita. Universal Music, 1974.
dade”, o que é uno), concebidas como verdadeiros átomos Na canção de Raul Seixas, notamos a essência indireta
da natureza, elementos das coisas, fechadas, sem janelas, da monadologia de Leibniz, em que os elementos da
reguladas, em seu funcionamento pela harmonia preesta- criação estão em todos os elementos.
belecida, de modo que cada mônada é diferente e reflete o
universo inteiro; porém, não está no espaço e nem no tempo.

multimídia: livro

A monadologia e outros escritos - LEIBNIZ,


Gottfried. São Paulo: Hedra, 2008.
 VOLUME ÚNICO

Cada elemento que existente no universo é composto por


inúmeras mônadas, sendo que alguns possuem mais que
outras. Deus, por exemplo, também é composto por môna-
das, sendo uma substância infinita, perfeita, criadora de to-
das as coisas e da harmonia preestabelecida. As mônadas
que compõem Deus criam as mônadas da natureza.

58  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

RACIONALISMO

ESPINOZA LEIBNIZ

EXISTE UMA A NATUREZA


DEUS É NATUREZA HARMONIA ENTRE É CONSTITUÍDA
ELEMENTOS POR MÔNADAS
DÍSPARES

TODAS AS MÔNADA
SUBSTÂNCIAS NO CORPO-ALMA =
MUNDO ESTÃO UNIDADE
INTERLIGADAS PLATÃO-ARISTÓTELES
NATUREZA-
MORALIDADE
DEUS TEM
TUDO É UM MÔNADAS
PERFEITAS

PANTEÍSMO QUE GERAM AS


MÔNADAS
IMPERFEITAS DOS
SERES DA NATUREZA

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  59


Aplicando para Aprender (A.P.A.) que significa unidade ou o que é uno. Os compostos ou
os corpos são Multiplicidades, e as Substâncias simples,
1. (UEM 2020) “Concebei agora, se quiserdes, que a pe- as Vidas, as Almas, os Espíritos são unidades. É preciso
dra, enquanto continua a mover-se, saiba e pense que que em toda parte haja substâncias simples porque sem
se esforça tanto quanto pode para continuar a mover- as simples não haveria as compostas, nem movimento.
-se. Seguramente, essa pedra, visto não ser consciente Por conseguinte, toda natureza está plena de vida.
senão de seu esforço e não ser indiferente, acreditará LEIBNIZ, G.W. Discurso de metafísicas e outros textos.
ser livre e perseverar no movimento apenas porque São Paulo: Martins Fontes, 2004 (adaptado).
quer. É essa a tal liberdade humana que todos se jac-
tam de possuir e que consiste apenas em que os seres Dentre suas diversas reflexões, Leibniz voltou sua aten-
humanos são cônscios [conscientes] de seus apetites ção para o tema da metafísica, que trata basicamente
[desejos], mas ignorantes das causas que os determi- do fundamento de realidade das coisas do mundo. A
nam. É assim que uma criança crê apetecer livremente busca por esse fundamento muitas vezes é resumida a
o leite; um rapazinho, se irritado, querer vingar-se, mas partir do conceito de substância, que para ele se refere
fugir quando intimidado.” a algo que é
(ESPINOSA. Carta 58. Apud SAVIAN FILHO, J. Filosofia e filosofias. a) complexo por natureza, constituindo a unidade mí-
Existência e sentido. Belo Horizonte: Autêntica, 2016, p. 213). nima do cosmo.
b) estabilizador da realidade, dada a exigência de
A partir do fragmento citado e do pensamento ético de
permanência desta.
Espinosa, assinale o que for correto.
c) desdobrado no composto, em vez de gerá-lo unin-
01) A passagem acima aponta a crítica de Espinosa à do-se a outras substâncias simples.
concepção tradicional de livre-arbítrio.
d) considerado simples e múltiplo a um só tempo, por
02) A imagem da pedra, segundo o texto, sugere que
ser um todo indecomponível constituído de partes.
o seu “querer” provém de sua “consciência”.
e) essencial na estrutura do que existe no mundo,
04) O homem, para Espinosa, imagina-se livre porque
sem deixar de contribuir para o movimento.
acredita que é a origem ou o princípio de suas ações.
08) Para Espinosa, as paixões ou os desejos não in- 4. (UFPA) No contexto da cultura ocidental e na história
fluenciam na tomada de nossas decisões. do pensamento político e filosófico, as considerações
16) Espinosa defende uma definição de liberdade na sobre a necessidade de valores morais prévios na or-
qual existe a possibilidade de cooperação entre razão ganização do Estado e das instituições sociais sempre
e paixão. foi um tema fundamental devido à importância, para
esse tipo de questão, dos conceitos de bem e de mal,
2. (UEL) A ideia ilusória da vontade livre deriva de per- indispensáveis à vida em comum. Diante desse fato da
cepções inadequadas confusas; a liberdade, entendida história do pensamento político e filosófico, a afirma-
corretamente, no entanto não é o estar livre da necessi- ção de Espinosa, segundo a qual “Se os homens nas-
dade, mas sim a consciência da necessidade. cessem livres, não formariam nenhum conceito de bem
SCRUTON, Roger. Espinosa. São Paulo: Unesp, 2000. p. 41. e de mal, enquanto permanecessem livres” (ESPINOSA,
1983, p. 264), quer dizer o seguinte:
Com base no texto e nos conhecimentos sobre liberda-
a) O homem é, por instinto, moralmente livre, fato que
de em Espinosa, considere as afirmativas a seguir.
condiciona sua ideia de ética social.
I. A liberdade identifica-se com escolha voluntária. b) Assim como o indivíduo é anterior à sociedade, a
II. A liberdade significa a capacidade de agir espontane- liberdade moral antecede noções como bem e mal.
amente, segundo a causalidade interna do sujeito c) Os valores morais que servem de base para nossa
III. A liberdade e a necessidade são compatíveis. socialização são tão naturais quanto nossos direitos.
IV. A liberdade baseia-se na contingência, pois se tudo d) Não poderíamos falar de bem e de mal se não nos
no universo fosse necessário não haveria espaço para colocássemos além da liberdade natural.
ações livres. e) Não há nenhum vínculo necessário entre viver livre
Estão corretas apenas as afirmativas: e saber o que são bem e mal.
a) I e II. 5. (Searh-RN) “Baruch Spinoza acreditava que os dog-
b) I e IV. mas rígidos e os rituais vazios eram as únicas coisas que
c) II e III. ainda mantinham o cristianismo e o judaísmo vivos. Não
 VOLUME ÚNICO

d) I, III e IV. acreditava que cada palavra da Bíblia fosse realmente


inspirada por Deus, mas que deveriam ser analisadas à
e) II, III e IV.
luz de seu contexto genealógico. Dessa forma, Spinoza
3. (Enem) A substância é um Ser capaz de Ação. Ela é foi o primeiro a aplicar o que foi denominado de inter-
simples ou composta. A substância simples é aquela que pretação _______________ da Bíblia.”
não tem partes. O composto é a reunião das substân- Assinale a alternativa que completa corretamente a
cias simples ou Mônadas. Monas é uma palavra grega lacuna da afirmativa anterior.

60  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


a) semântica No trecho, Espinosa critica a herança filosófica, no que
b) universalista diz respeito à idealização de uma
c) histórico-crítica a) estrutura da interpretação fenomenológica.
d) histórico-canônica b) natureza do comportamento humano.
6. (UEM) Diz Spinoza: “Proposição XXX: Nenhuma coisa c) dicotomia do conhecimento prático.
pode ser má pelo que tem de comum com nossa nature- d) manifestação do caráter religioso.
za, mas é má para nós na medida em que nos é contrária. e) reprodução do saber tradicional.
Demonstração: Chamamos mau o que é causa de Tristeza,
isto é, o que diminui ou reduz nossa potência de agir. Se, 9. (Seduc-RJ) Para Spinoza (MARCONDES, 1997), o ho-
portanto, uma coisa, pelo que tem de comum conosco, mem livre se caracteriza como aquele que, ao contem-
fosse má para nós, essa coisa poderia diminuir ou reduzir plar a substância infinita, reconhece a necessidade do
o que tem de comum conosco, o que é absurdo. Coisa curso natural das coisas e a ação livre é aquela que está
alguma portanto pode ser má para nós pelo que tem de de acordo com:
comum conosco, mas, ao contrário, na medida em que é
a) a indignação do sujeito.
má, isto é, na medida em que pode diminuir ou reduzir
nossa potência de agir, ela nos é contrária.” b) o isolamento do indivíduo.
c) a utilidade do pensamento.
SPINOZA. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos
de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 93. d) a determinação das coisas.
e) o princípio da universalidade.
A partir do texto é correto afirmar:
01) Segundo o filósofo, é absurdo que uma coisa má 10. (Idecan-RN) Os filósofos racionalistas representa-
tenha algo de comum conosco. ram uma das vertentes da filosofia moderna. Dentre
eles, Baruch Spinoza possui um pensamento peculiar
02) As coisas são consideradas más em função de sua
a respeito de Deus. Assinale a alternativa referente à
própria natureza.
concepção teológica de Spinoza.
04) As coisas más não reduzem a nossa potência de agir.
08) A tristeza é causada pelos efeitos das coisas más. a) Deus está morto, e ainda há pessoas que não acre-
16) O filósofo demonstra a contrariedade entre natu- ditam e nem compreenderam isso.
reza humana e maldade. b) Deus é um pai maldoso e intolerante, ao mesmo
tempo que ama e age com misericórdia.
7. (UEM) (...) muitas vezes lamentamos as nossas ações c) Deus não é uma causa externa à realidade, pois se
e que, frequentemente, quando somos dominados por manifesta através das leis da natureza e só através delas.
afecções contrárias, vemos o melhor e fazemos o pior, d) Deus é um ser que vive somente nas concepções da
nada os impediria de crer que todas as nossas ações são alma humana. É transcendente à natureza antropológica.
livres. [...] Um homem embriagado julga também que é
por uma livre decisão da alma que conta aquilo que, mais 11. (Fepese-SC) Sobre a ética em Espinosa, é correto afirmar:
tarde, em estado de sobriedade, preferiria ter calado. a) Apresenta como seus fundamentos um conjunto de
ESPINOSA, B. Ética III. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 179. virtude e vícios que reforçam os princípios do cristianismo.
Acerca da compreensão da liberdade para Espinosa, as- b) Não menciona o pecado e o dever, mas fala em
sinale o que for correto. fraqueza e força para pensar, ser e agir.
01) Espinosa se contrapõe à ideia de um ato comple- c) Fundado em Aristóteles afirma que a ética está sujeita
tamente gratuito. aos limites estabelecidos pelas fragilidades humanas.
02) Ser livre, para Espinosa, é ser causa adequada de d) Na sua obra Depois da Virtude procurou divulgar a
seus atos. ideia de virtude na sociedade contemporânea.
04) O espinosismo, assim como o historicismo, ofere- e) Responsável pela tradição filosófica do racionalismo
ce-nos um meio de converter a liberdade em neces- ético na qual a razão humana ocupa lugar de destaque
sidade inelutável. na vida ética.
08) O livre-arbítrio para Espinosa é o poder que temos
de escolher. Gabarito
16) É livre o homem que atua pela única necessidade
de sua natureza. 1. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 2. C 3. E

8. (Enem) Os filósofos concebem as emoções que se 4. D 5. C 6. 01 + 08 + 16 = 25


 VOLUME ÚNICO

combatem entre si, em nós, como vícios em que os ho- 7. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 8. B 9. D


mens caem por erro próprio; é por isso que se habitua-
ram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quan- 10. C 11. B
do querem parecer mais morais, detestá-los. Concebem
os homens, efetivamente, não tais como são, mas como
eles próprios gostariam que fossem.
ESPINOSA, B. Tratado político. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  61


cke, Francis Bacon e David Hume.
EMPIRISMO
§ Indução: parte de muitos casos particulares para se
chegar a uma lei geral.

CH
§ Dedução: parte de um uma lei geral para se prever
casos particulares.
COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
2. John Locke (1632-1704)
HABILIDADE(s)
Considerado o pai do empirismo e do liberalismo político,
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, o inglês John Locke apresentou que a experiência é a única

9
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
fonte das ideias. Para o filósofo, a mente humana é como
uma tábula rasa (folha em branco) que, aos poucos, é
preenchida pelos dados da experiência.

1. Introdução
O empirismo é uma teoria do conhecimento que se de-
senvolveu na Idade Moderna, tendo como o seu princi-
pal direcionamento a experiência na evidência para a Retrato de John Locke
formação de algum tipo de conhecimento e numa níti-
da oposição ao pensamento racionalista, que emerge no O conhecimento é o resultado das operações que a mente
mesmo período histórico. realiza com as ideias, tanto da sensação como da reflexão,
procurando perceber o acordo ou o desacordo entre elas.

multimídia: livro
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Empirismo - MEYERS, Robert G.
John Locke
São Paulo: Vozes, 2017.
John Locke é um dos principais pensadores modernos.
Essa obra traz uma introdução à tradição empirista em
Liberal e teórico empirista, considerava a experiência
filosofia. O livro examina as mais importantes questões
sensorial a fonte geradora do conhecimento humano.
filosóficas sobre o tema, mantendo distância suficiente
das complexidades acadêmicas acerca de Locke, Berke-
ley e Hume, para permitir aos leitores uma visão geral 2.1. A política para Locke
clara do empirismo, sem se perder em detalhes de dis- Locke afirma que o trabalho justifica a propriedade privada,
 VOLUME ÚNICO

putas exegéticas sobre filósofos específicos. que ele considerava natural. Essa ideia se baseava na noção
de que, desde que o trabalho do homem lhe pertencia, tudo
Assim, os pensadores adeptos do empirismo valorizavam as o que ele transformava com seu trabalho deveria tornar-se
experiências sensoriais, constituindo um método cientificista seu. De fato, a propriedade é a principal razão porque os
com um processo indutivo. O empirismo desenvolveu-se na homens deixam o estado de natureza e estabelecem o go-
Inglaterra e seus principais nomes são os ingleses John Lo- verno civil, com governo e regras preestabelecidas.

62  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Assim, a ideia de se ter um contrato social seria a de pre-
servar a propriedade privada, ou seja, o direito natu-
3. Francis Bacon (1561-1626)
ral (jusnaturalismo) dos seres do grupo. Esse contrato Considerado como o “primeiro dos modernos e último dos
foi feito de modo consentido, assim, nenhum membro da antigos”, o inglês Francis Bacon desenvolveu uma ciência ex-
sociedade estaria acima do contrato social. perimental, na intenção de descobrir ideias que pudessem ser
Portanto, eis a razão de se ter um rei, leis e uma socieda- úteis, tendo como principal referência a filosofia de Aristóteles.
de civil regidos que usufruem de seus direitos inalienáveis,
ordenados por Deus. Os quatro direitos inalienáveis são:
1. direito à vida;
2. direito à liberdade;
3. direito à propriedade; e
4. direito de revoltar-se contra leis e governantes injustos.
O direito de rebelião só pode ser exercido em casos de ti-
rania (governos autoritários que usurpem direitos naturais)
Por ser aristocrático, Locke não defendia esses direitos aos
pobres e nem às mulheres. Retrato de Francis Bacon
Não há princípios inatos na mente humana. Para o filósofo, é necessário eliminar os “ídolos”, isto é,
A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento as falsas noções, mediante a observação de um método
constitui suficiente prova de que não é inato. Consiste seguro e rigoroso, na intenção de desenvolver a ciência. Os
numa opinião estabelecida entre alguns homens que o ídolos para Bacon são:
entendimento comporta certos princípios inatos, certas no-
ções primárias, koinai énoiai1, caracteres, os quais estariam § ídolos da caverna: dificuldades da própria pessoa;
estampados na mente do homem, cuja alma os receberá § ídolos da tribo: tendências do grupo que direcionam
em seu ser primordial e os transportará consigo ao mundo. o indivíduo;
Seria suficiente para convencer os leitores sem preconceito
da falsidade desta hipótese se pudesse apenas mostrar (o
§ ídolos do foro: significado atrelados às palavras, in-
que espero fazer nas outras partes deste tratado) como os fluenciando como entendemos o mundo;
homens, simplesmente pelo uso de suas faculdades natu- § ídolos do teatro: limitações que fazem com que de-
rais, podem adquirir todo conhecimento que possuem sem fendamos uma única visão de um fato.
a ajuda de impressões inatas e podem alcançar a certeza
sem nenhuma destas noções ou princípios originais. Em seu livro Novum organum, Bacon pretende desenvolver
O assentimento geral consiste no argumento mais im- uma reforma total do conhecimento humano, baseando-se
portante. Não há nada mais ordinariamente admitido do na observação dos fenômenos naturais e do cumprimento
que a existência de certos princípios, tanto especulativos das seguintes etapas:
como práticos (pois referem-se aos dois), com os quais
concordam universalmente todos os homens. A vista § observação da natureza para a coleta de informações;
disso, argumentam que devem ser uniformes as impres- § organização racional dos dados recolhidos empiricamente;
sões recebidas pelas almas dos homens em seus seres § formulação de explicações gerais (hipóteses) destinadas à
primordiais, que, transportadas por eles ao mundo, mos-
tram-se tão necessárias e reais como o são quaisquer de compreensão do fenômeno estudado; e
suas faculdades inatas. § comprovação da hipótese formulada mediante experi-
O acordo universal não prova o inatismo. O argumento mentações repetidas.
derivado do acordo universal comporta o seguinte incon- No seu pensamento, os “homens devem saber que, neste
veniente: se for verdadeiro que existem certas verdades teatro da vida humana, apenas Deus e os anjos podem ser
devido ao acordo entre todos os homens, isto deixará de
espectadores”. Assim, saber é poder.
ser uma prova de que são inatas, se houver outro meio
qualquer para mostrar como os homens chegam a uma Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto
concordância universal acerca das coisas merecedoras humano e nele se acham implantados não somente o
de sua anuência. Suponho que isso pode ser feito. obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade,
 VOLUME ÚNICO

JOHN LOCKE como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerra-


Ensaio acerca do entendimento humano. São do, poderão ressurgir como obstáculo à própria instaura-
Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 37. ção das ciências, a não ser que os homens, já precavidos
contra eles, se cuidem o mais que possam.
1
Koinai énoiai: termo grego platônico que significa "sen-
São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente
so comum"; ideias em comum, ou seja, ideias compartilha-
humana. Para melhor apresentá-los, lhes assinamos no-
das por todos.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  63


mes, a saber: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos
do Foro e Ídolos do Teatro.
A formação de noções e axiomas pela verdadeira indu-
ção é, sem dúvida, o remédio apropriado para afastar e
repelir os ídolos. Será, contudo, de grande préstimo indi-
car no que consistem, posto que a doutrina dos ídolos
tem a ver com a interpretação da natureza o mesmo que
a doutrina dos elencos sofísticos com a dialética vulgar. multimídia: vídeo
FRANCIS BACON
Fonte: Youtube
Novum organum. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
David Hume
David Hume foi um filósofo e historiador escocês nas-
cido em 1711 e falecido em 1776. Está entre os pen-
sadores que mais contribuíram para o surgimento da
Psicologia como ciência. Hume estudou na universidade
de Edimburgo e, ao contrário da maioria dos filósofos
de seu tempo, nunca foi professor universitário. Ele tra-
multimídia: vídeo balhou brevemente no comércio, depois se tornou pro-
fessor particular, bibliotecário e secretário profissional.
Fonte: Youtube
Foi indicado duas vezes para trabalhar no ensino supe-
Francis Bacon
rior, mas o clero escocês fez oposição, pois Hume era cé-
Francis Bacon foi um filósofo e cientista britânico nasci- tico em relação às crenças religiosas e seus atritos com
do na cidade de Londres em 1561 e falecido no ano de a igreja eram constantes.
1626. Bacon viveu na mesma época que Galileu e era um
Nesse vídeo, conheceremos as ideias fundamentais da
empirista radical. O empirismo afirma que a natureza só filosofia de Hume.
pode ser compreendida através do estudo direto e obje-
tivo. Explicações baseadas em fé, tradição ou autoridades O conhecimento só pode ser resultado da associação de
filosóficas só atrapalham o esforço para entendermos ideias, isto é, da conexão de várias impressões por meio de
como o mundo realmente funciona. suas cópias, formando ideias complexas. A certeza só pode
Nesse vídeo, conheceremos a filosofia de Francis Bacon. ser uma crença, ou seja, uma repetição de experiências se-
melhantes. Assim, o ceticismo, que sempre se guiou pela

4. David Hume (1711-1776) razão, tem bases não racionais, como a crença e o hábito.
Isso significa que, desconfiando das convicções arraigadas
Nascido na Escócia e considerado o mais importante e pelo hábito, o cientista deve apresentar suas teses como
influente dos empíricos britânicos, levando o empirismo à probabilidades lógicas, e não como certezas irrefutáveis.
sua conclusão lógica, David Hume indica que os homens Tal atitude epistemológica, estendida ao convívio social,
associam ideias e acreditam nessa associação por força tornaria os homens mais tolerantes, democráticos e aber-
do hábito ou costume. tos. Para Hume, a mente humana opera de acordo com a
causalidade. A mente humana realiza a associação entre
Desse modo, Hume conclui que “o costume (hábito) é,
eventos, no entanto, sugere Hume, as associações mentais
pois, o grande guia da vida humana”. Diante disso, ocor-
podem não ter correspondência na realidade, gerando-nos
re a destruição de todos os raciocínios baseados em hipó-
conclusões e expectativas que podem ser irreais.
teses, pois, sem o apoio da experiência, esses raciocínios
tornam-se dogmáticos.
 VOLUME ÚNICO

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
DAVID HUME (2) – IMAGINAÇÃO, ASSOCIAÇÃO
E CAUSAÇÃO | EMPIRISMO BRITÂNICO
retrato de David Hume

64  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Empirista convicto e conhecedor da evolução científica de Este livro parece ter sido escrito obedecendo ao mesmo
sua época, Hume insiste sobre a impossibilidade do conhe- plano de vários outros trabalhos, que têm tido grande
cimento ir além da experiência. A crítica à religião e a pos- voga na Inglaterra, nos últimos anos. O espírito filosófico,
que tanto se desenvolveu nestas oito décadas em toda
tura cética lhe valeram a acusação de ateísmo. A novidade a Europa, neste reino foi levado tão longe quanto em
do seu pensamento influenciou decisivamente os filósofos qualquer outro. Nossos autores parecem até ter inaugu-
posteriores, seja para rejeitá-lo, seja para levar em conta rado um novo tipo de filosofia, que promete mais en-
sua crítica à metafísica. tretenimento e proveito à humanidade do que qualquer
outro conhecido pelo mundo. A maioria dos filósofos da
Antiguidade que trataram da natureza humana mostrou
mais delicadeza de sentimentos, senso justo da moral,
ou grandeza de alma, que profundidade de raciocínio e
reflexão. Contentou-se em representar o senso comum
humano sob a mais viva luz e com a melhor forma de
pensamento e expressão, sem seguir sistematicamente
uma cadeia de proposições, nem organizar as várias
verdades em uma ciência rigorosa. No entanto, vale a
pena ao menos perguntar se a ciência do homem não
comporta a mesma precisão de que se julgam suscetí-
veis várias partes da filosofia natural. Parece haver toda
a razão do mundo para supor que ela pode ser levada ao
mais alto grau de exatidão.
DAVID HUME
Resumo de um tratado da natureza humana. Porto
Alegre: Paraula, 1995, p. 35-37.

Estátua de David Hume na Escócia.

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  65


DIAGRAMA DE IDEIAS

EMPIRISMO

O CONHECIMENTO É
ORIGINADO A PARTIR
DA EXPERIÊNCIA
SENSORIAL

LOCKE HUME

BACON

A MENTE É UMA O HÁBITO (COSTUME)


TÁBULA RASA É O GUIA DA
(FOLHA EM BRANCO) BUSCA VIDA HUMANA
REORGANIZAR O
CONHECIMENTO

A EXPERIÊNCIA
QUE É PREENCHIDA
VALIDA O
PELA EXPERIÊNCIA PARA ISSO É CONHECIMENTO
PRECISO ELIMINAR
OS ÍDOLOS QUE
ATRAPALHAM O
O SER HUMANO CONHECIMENTO
A CAUSALIDADE
POSSUI DIREITOS
É ENGANOSA
NATURAIS
(JUSNATURALISMO)

SABER É PODER
 VOLUME ÚNICO

66  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (Enem) Os produtos e seu consumo constituem a
meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa
1. (Uece 2020) Observe as seguintes citações, que re- meta foi proposta pela primeira vez no início da Mo-
fletem posições divergentes, colocadas por empiristas dernidade, como expectativa de que o homem poderia
e racionalistas, sobre o método que deveria ser usado dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, con-
para o estabelecimento do correto processo de conhe- vertida em programa anunciado por pensadores como
cimento da realidade: Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não
surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperia-
“Primeiramente, considero haver em nós certas noções
lismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem
primitivas, as quais são como originais, sob cujo padrão
e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.
formamos todos os nossos outros conhecimentos”.
CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques.
DESCARTES, R. Carta a Elisabeth. São Paulo: Scientiae Studia, São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
Abril Cultural, 1973. Col. Os Pensadores.
Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e
“De onde a mente apreende todos os materiais da razão
Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como
e do conhecimento? A isso respondo numa palavra, da
uma forma de saber que almeja libertar o homem das
experiência. Todo o conhecimento está nela fundado, e
intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação
dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento”. científica consiste em
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São
Paulo: Abril Cultural, 1973. Col. Os pensadores. a) expor a essência da verdade e resolver definitiva-
Considerando o que propunham o empirismo e o racio- mente as disputas teóricas ainda existentes.
nalismo, atente para o que se afirma a seguir e assinale b) oferecer a última palavra acerca das coisas que
com V o que for verdadeiro e com F o que for falso. existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.
( ) O racionalismo é a forma de compreensão do conhe- c) ser a expressão da razão e servir de modelo para
cimento que prioriza a razão e recorre à indução como outras áreas do saber que almejam o progresso.
método de análise. d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar
( ) O empirismo, ao contrário do racionalismo, parte da a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos.
experiência para a construção de afirmações gerais a e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos
respeito da realidade. naturais e impor limites aos debates acadêmicos.
( ) Para o racionalismo, sobretudo o cartesiano, a ver- 4. (Enem)
dade deveria ser buscada fora dos sentidos, visto que
eles são enganosos e podem nos equivocar em qual- TEXTO I
quer experiência de percepção. Experimentei algumas vezes que os sentidos eram en-
( ) O empirismo, vertente de compreensão da qual Lo- ganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente
cke fazia parte, aproxima-se do modelo científico carte- em que já nos enganou uma vez.
siano, ao negar a existência de ideias inatas. DESCARTES, R. Meditações metafísicas. São
A sequência correta, de cima para baixo, é: Paulo: Abril Cultural, 1979.

a) V, F, V, F. c) F, F, F, V. TEXTO II
b) V, V, F, V. Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma
2. (Enem 2020) Adão, ainda que supuséssemos que ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado,
suas faculdades racionais fossem inteiramente perfei- precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva
tas desde o início, não poderia ter inferido da fluidez esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qual-
e transparência da água que ela o sufocaria, nem da quer impressão sensorial, isso servirá para confirmar
luminosidade e calor do fogo que este poderia consu- nossa suspeita.
mi-lo. Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades HUME, D. Uma investigação sobre entendimento.
que aparecem aos sentidos, nem as causas que o pro- São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
duziram, nem os efeitos que dele provirão; e tampouco
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a
nossa razão é capaz de extrair, sem auxílio da experiên-
natureza do conhecimento humano. A comparação dos
cia, qualquer conclusão referente à existência efetiva
excertos permite assumir que Descartes e Hume
de coisas ou questões de fato.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento humano. a) defendem os sentidos como critério originário para
São Paulo: Unesp 2003. considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado
 VOLUME ÚNICO

Segundo o autor, qual é a origem do conhecimento


de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
humano?
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à
a) A potência inata da mente. gênese do conhecimento.
b) A revelação da inspiração divina. d) concordam que conhecimento humano é impossí-
c) O estudo das tradições filosóficas. vel em relação às ideias e aos sentidos.
d) A vivência dos fenômenos do mundo. e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos
e) O desenvolvimento do raciocínio abstrato. no processo de obtenção do conhecimento.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  67


5. (Unicamp) A maneira pela qual adquirimos qualquer co- 8. (UEL) [...] é necessário, ainda, introduzir-se um método
nhecimento constitui suficiente prova de que não é inato. completamente novo, uma ordem diferente e um novo
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. processo, para continuar e promover a experiência. Pois
São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 13 a experiência vaga, deixada a si mesma [...] é um mero
tateio, e presta-se mais a confundir os homens que a in-
O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte, formá-los. Mas quando a experiência proceder de acordo
a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua com leis seguras e de forma gradual e constante, poder-
aquisição deriva da experiência. -se-á esperar algo de melhor da ciência. [...]
b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os conhe- A infeliz situação em que se encontra a ciência humana
cimentos possam ser obtidos. transparece até nas manifestações do vulgo. Afirma-se
c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas
negar a existência de ideias inatas. causas. E, não indevidamente, estabelecem- se quatro
d) defende que as ideias estão presentes na razão coisas: a matéria, a forma, a causa eficiente, a causa fi-
desde o nascimento. nal. Destas, a causa final longe está de fazer avançar as
6. (Unesp) Sendo os homens, conforme (...) dissemos, ciências, pois na verdade as corrompe; mas pode ser de
por natureza, todos livres, iguais e independentes, nin- interesse para as ações humanas.
guém pode ser expulso de sua propriedade e submeti- BACON, F. Novo organum ou verdadeiras indicações
do ao poder de outrem sem dar consentimento. acerca da interpretação da natureza. São Paulo:
John Locke. Segundo tratado sobre o governo. Abril Cultural, 1973, p. 72; 99-100.

O patrimônio do pobre reside na força e destreza de Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon
suas mãos, sendo que o impedir de utilizar essa força e acerca da verdadeira indução experimental como inter-
essa destreza da maneira que ele considerar adequada, pretação da natureza, é correto afirmar:
desde que não lese o próximo, constitui uma violação a) Na busca do conhecimento, não se podem encon-
pura e simples dessa propriedade sagrada. trar verdades indubitáveis, sem submeter as hipóteses
Adam Smith. A riqueza das nações. ao crivo da experimentação e da observação.
A partir da leitura dos textos, é correto afirmar que: b) A formulação do novo método científico exige sub-
meter a experiência e a razão ao princípio de autori-
a) John Locke defende a democracia, isto é, a igual- dade para a conquista do conhecimento.
dade política entre os homens, ao passo que Adam c) O desacordo entre a experiência e a razão, prevale-
Smith privilegia o trabalho, portanto a desigualdade.
cendo esta sobre aquela, constitui o fundamento para
b) John Locke funda sua teoria política liberal na defe- o novo método científico.
sa da propriedade privada, em sintonia com a defesa d) Bacon admite o finalismo no processo natural, por
da livre iniciativa proposta por Adam Smith. considerar necessário ao método perguntar para que
c) o consentimento para evitar o poder centralizado as coisas são e como são.
do rei, em John Locke, choca-se com a necessidade de e) O estabelecimento de um método experimental,
intervenção econômica, segundo Adam Smith. baseado na observação e na medida, aprimora o mé-
d) a monarquia absolutista é a base da teoria política todo escolástico.
de John Locke, enquanto o Estado não intervencionis-
ta é o suporte da teoria econômica de Adam Smith. 9. (Enem) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada
mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar
e) para John Locke, o consentimento é garantido pela
ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e
divisão dos poderes harmonizando-se com a defesa
a experiência. Quando pensamos em uma montanha de
da propriedade coletiva de Adam Smith.
ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consis-
7. (UEL) A figura do homem que triunfa sobre a natu- tentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos
reza bruta é significativa para se pensar a filosofia de conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de
Francis Bacon (1561-1626). Com base no pensamento conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimen-
de Bacon, considere as afirmativas a seguir. tos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cava-
I. O homem deve agir como intérprete da natureza para lo, animal que nos é familiar.
melhor conhecê-la e dominá-la em seu benefício. HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano.
São Paulo: Abril Cultural, 1995.
II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende
da experiência guiada por método indutivo. Hume estabelece um vínculo entre pensamento e im-
III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem pressão ao considerar que
que parte de proposições gerais para, na sequência e à a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na
luz destas, clarificar as premissas menores. sensação.
IV. Os homens de experimentos processam as informa-
 VOLUME ÚNICO

b) o espírito é capaz de classificar os dados da percep-


ções à luz de preceitos dados a priori pela razão. ção sensível.
Assinale a alternativa correta. c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. determinadas pelo acaso.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. d) os sentimentos ordenam como os pensamentos
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. devem ser processados na memória.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) as ideias têm como fonte específica o sentimento
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. cujos dados são colhidos na empiria.

68  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


10. (Unioeste) John Locke afirma em Ensaio acerca do A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o
entendimento: nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva
“(...) é de grande utilidade para o marinheiro saber a fundamentalmente o próprio conhecimento.
extensão de sua linha, embora não possa com ela son- LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano.
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 165.
dar toda a profundidade do oceano. É conveniente que
saiba que ela é suficientemente longa para alcançar o Assinale o que for correto.
fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, 01) Para John Locke, embora nosso conhecimento se
e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem des- origine na experiência, nem todo ele deriva da experi-
truí-lo. Não nos diz respeito conhecer todas as coisas, ência. No entendimento, existem ideias inatas abstra-
mas apenas as que se referem à nossa conduta. Se pu- ídas das coisas pela reflexão.
dermos descobrir aquelas medidas por meio das quais 02) Como seguidor de Descartes, John Locke assume a
uma criatura racional, posta nesta situação do homem diferença entre conhecimento verdadeiro, que é pura-
no mundo, pode e deve dirigir suas opiniões e ações mente intelectual e infalível, e conhecimento sensível,
delas dependentes, não devemos nos molestar por que que, por depender da sensação, é suscetível de erro.
outras coisas escapam ao nosso conhecimento”.
04) John Locke é o iniciador da teoria do conhecimento
Tendo em conta o texto acima e a teoria do conheci- em sentido estrito, pois se propôs, no Ensaio acerca do
mento de Locke, é incorreto afirmar que: entendimento humano, a investigar explicitamente a na-
tureza, a origem e o alcance do conhecimento humano.
a) o homem, utilizando suas faculdades racionais,
pode conhecer tudo sobre todas as coisas do mundo. 08) Para John Locke, todo nosso conhecimento pro-
b) o homem deve saber os limites da razão para ter vém e se fundamenta na experiência. As impressões
conhecimento certo daquilo que é possível conhecer. formam as ideias simples; a reflexão sobre as ideias
c) há certas coisas que a razão do homem não pode simples, ao combiná-las, formam ideias complexas,
conhecer. como substância, Deus, alma etc.
d) assim como o marinheiro guia sua viagem por uma 16) John Locke distingue as qualidades do objeto em
sonda de tamanho conhecido, o homem deve orien- qualidades primárias (solidez, extensão, movimento
tar sua conduta por aquilo que conhece. etc.) e qualidades secundárias (cor, odor, sabor etc.);
as primeiras existem realmente nas coisas, as segun-
11. (UFU) Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aqui- das são relativas e subjetivas.
no substitui a doutrina da iluminação divina pela da abs-
tração, de raízes aristotélicas: a única fonte de conheci- 13. (UFU) Suponha-se, agora, que esse homem adquiriu
mento humano seria a realidade sensível, pois os objetos mais experiência e viveu no mundo o tempo suficiente
naturais encerrariam uma forma inteligível em potência, para ter observado uma conjunção constante entre ob-
que se revela, porém, não aos sentidos que só podem jetos ou acontecimentos familiares: qual é o resultado
captá-la individualmente – mas ao intelecto. desta experiência? Ele infere imediatamente a existência
de um objeto do aparecimento do outro. E, sem embar-
INÁCIO, Inês C.; LUCA, Tânia Regina de. O pensamento
medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 74.
go, nem toda a sua experiência lhe deu qualquer idéia
ou conhecimento do poder secreto pelo qual um obje-
Considerando o trecho citado, assinale a alternativa to produz outro; e tampouco é levado a fazer essa infe-
verdadeira. rência por qualquer processo de raciocínio. No entanto,
a) O texto faz referência à influência de Aristóteles é levado a fazê-la. (...) Há algum outro princípio que o
no pensamento de Tomás de Aquino, que se opõe, determina a tirar essa conclusão.
em muitos pontos, à tradição agostiniana, que tinha HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano.
influência de Platão. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
b) O texto expõe a doutrina da iluminação, formulada Qual é o princípio a que Hume se refere acima? De acor-
por Tomás de Aquino para explicar a origem de nosso do com o texto, aponte a sua relevância para a teoria
conhecimento. do conhecimento.
c) Para Tomás de Aquino, a realidade sensível é apenas
uma cópia enganosa da verdadeira realidade que se
encontra na mente divina. Gabarito
d) Tomás de Aquino substitui a doutrina da iluminação
pela teoria da abstração aristotélica, a fim de mostrar 1. D 2. D 3. C 4. E 5. A
que a fé em Deus é incompatível com as verdades cien-
 VOLUME ÚNICO

6. B 7. A 8. A 9. A 10. A
tíficas.
11. A 12. 04 + 08 + 16 = 28
12. (UEM) Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão.
Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel em 13. Hume apresenta a noção de hábito. A relevância dessa no-
branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ção para a teoria do conhecimento é que ela está se contrapondo
ideias; como ela será suprida? (...) De onde apreende to- à noção de casualidade. Ele crê que o hábito é de extrema impor-
dos os materiais da razão e do conhecimento? tância para o conhecimento humano.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  69


ILUMINISMO seu nome: “Posso não concordar com nenhuma das pala-
vras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de
FRANCÊS você dizê-las”.
A filosofia, para o Voltaire, deveria ser útil, modificando o

CH
comportamento das pessoas.
COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

10
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

1.Introdução
O século XVIII costuma ser chamado de Idade do Iluminis-
mo, por causa da disseminação de ideias racionais, pro- Retrato de Voltaire
gressistas, liberais e científicas. Surgido com o enfraqueci-
mento do absolutismo, o iluminismo vem para combater
todos os elementos atrelados ao sistema absolutista e a
influência da Igreja no comportamento das pessoas.
O iluminismo francês despontou como um movimento na
história da filosofia com características sociopolíticas que de-
sencadearam inúmeras transformações históricas e sociais.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
TRATADO SOBRE A TOLERÂNCIA, DE VOLTAIRE

2.1. Cândido ou O otimismo (1758)


multimídia: vídeo Em seu livro mais famoso, intitulado Cândido, o homem
não é um ser maldoso, “torna-se mau tal como se torna
Fonte: Youtube
doente”. O mal deixa de ser uma questão metafísica e teo-
ILUMINISMO: POLÍTICA E FILOSOFIA | EDUARDO WOLF lógica para assumir uma dimensão humana.
Sendo um retrato satírico de seu tempo, essa obra situa al-
guns fatos históricos, como o terremoto em Lisboa (1755)
2. Voltaire (1694-1778) e a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), ao passo que faz
críticas, com bom humor, às regalias da nobreza, à intole-
 VOLUME ÚNICO

Um dos mais famosos pensadores do iluminismo, o filóso-


fo francês François-Marie Arouet, conhecido como Voltaire, rância religiosa e aos absurdos da Santa Inquisição. O per-
destacou-se pelas críticas que fez ao clero católico, à into- sonagem Mestre Pangloss é uma representação sarcástica
lerância e à prepotência dos poderosos. da filosofia otimista do pensador Gottfried Leibniz.
Tornou-se marcante sua posição em defesa da liberda- Assim, a história é a história do progresso, que avança à
de de pensamento. Existe uma frase que é atribuída ao medida que os homens vão se esclarecendo pelas luzes

70  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


da razão. Por isso, o filósofo luta contra os dogmas, a su- tornar-se seu prisioneiro, pois a razão não é apenas a imi-
perstição e o fanatismo. Em sua obra intitulada Tratado So- tação da natureza, mas a capacidade de criação.
bre a Tolerância, Voltaire defende a tolerância e o respeito
Seu projeto enciclopedista, em parceria com D'Alembert,
entre os homens. O livro trata de conflitos de intolerância
visava a ampliar o acesso ao conhecimento ilustrado e pro-
religiosa na Europa e Voltaire propõe soluções racionais de
mover a continuidade do projeto iluminista de esclareci-
convívio com as diferenças.
mento da vida humana.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Diderot
Roberto Romano, professor da Unicamp, comenta a filo-
sofia de Diderot.

4. Montesquieu (1689-1755)
Retrato de Voltaire. O objetivo de Charles-Louis de Secondat, o barão de Mon-
tesquieu, é claro: destacar e analisar separadamente o
aspecto propriamente político e social do homem. Assim,
3. Denis Diderot (1713-1784) Montesquieu quer demarcar o domínio próprio da política
Denis Diderot foi o principal expoente do projeto da Enci- e de sua ciência, que não se confunde com o da religião ou
clopédia – uma obra que sintetiza as luzes: trata de filoso- o da moral. Para muitos que o interpretam, ele inaugura a
fia, ciências, artes, política, economia, geografia e técnicas. sociologia política.

Retrato de Denis Diderot. Retrato de Montesquieu.

Concebia a Natureza como um grande processo criativo, Sua obra mais famosa, Do espírito das leis (1748),
 VOLUME ÚNICO

com o homem como parte de um todo. O filósofo ressalta procura a “natureza e o princípio” subjacentes a diferen-
a relatividade da cultura e a necessidade de mudança – o tes tipos de lei. Classificou formas de governo, de acordo
homem pode ser bom e feliz, contanto que se liberte das com seu “princípio animador”, de modo que o importan-
imposições das autoridades religiosas, metafísicas, filosó- te não é julgar os governos existentes, mas compreen-
ficas ou políticas que teimam em contrariar a razão e a der a natureza e o princípio de cada espécie de governo.
natureza. Porém, seguir as leis da natureza não significa Montesquieu afirmava que:

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  71


§ a virtude é o princípio de uma república; Existe, portanto, uma razão primitiva; e as leis são as re-
lações que se encontram entre ela e os diferentes seres,
§ a honra, o de uma monarquia; e
e as relações destes diferentes seres entre si.
§ o medo, o do despotismo.
Deus possui uma relação com o universo, como criador
e como conservador: as leis segundo as quais criou são
aquelas segundo as quais conserva. Ele age segundo
estas regras porque as conhece; conhece-as porque as
fez, e as fez porque elas possuem uma relação com sua
sabedoria e sua potência.
Como observamos que o mundo, formado pelo movimen-
to da matéria e privado de inteligência, ainda subsiste, é
necessário que seus movimentos possuam leis invariáveis;
e se pudéssemos imaginar um mundo diferente deste ele
possuiria regras constantes ou seria destruído.
MONTESQUIEU
Do espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 11.

Experimento com um Pássaro numa Bomba de Ar,


obra do artista Joseph Wright of Derby.

As leis, em seu significado mais extenso, são as relações


necessárias que derivam da natureza das coisas; e, neste
sentido, todos os seres têm suas leis; a Divindade possui
suas leis, o mundo material possui suas leis, as inteligên-
multimídia: livro
cias superiores ao homem possuem suas leis, os animais
possuem suas leis, o homem possui suas leis. Do espírito das leis - Montesquieu.
Aqueles que afirmaram que uma fatalidade cega pro- São Paulo: Saraiva, 2008.
duziu todos os efeitos que observamos no mundo pro- Nessa obra, Montesquieu apresenta as bases estru-
feriram um grande absurdo: pois o que poderia ser mais
turais da divisão dos poderes, analisando uma nova
absurdo do que uma fatalidade cega que teria produzi-
do seres inteligentes? conjuntura política.
 VOLUME ÚNICO

72  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

ILUMINISMO
FRANCÊS

PENSAMENTO
BURGUÊS QUE
SERÁ CONTRA O
ABSOLUTISMO

VOLTAIRE MONTESQUIEU

DIDEROT

NENHUM
LIBERDADE DE
GOVERNANTE OU
EXPRESSÃO
INSTITUIÇÃO DEVE
O CONHECIMENTO
CONCENTRAR
DEVE SER DIFUNDIDO
TODOS OS PODERES
DE UM ESTADO
NINGUÉM DEVE
SER PUNIDO POR
EXPRESSAR A SURGE A
SUA OPINIÃO ENCICLOPÉDIA DIVISÃO DOS
PODERES

• JUDICIÁRIO
DEFESA DA • EXECUTIVO
TOLERÂNCIA E • LEGISLATIVO
DO RESPEITO ÀS
DIFERENÇAS

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  73


Aplicando para Aprender (A.P.A.) esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer
os referidos poderes concomitantemente.
1. (Unesp 2020) Cada um de nós põe em comum sua MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São
pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada A divisão e a independência entre os poderes são con-
membro como parte indivisível do todo. [...] um corpo dições necessárias para que possa haver liberdade em
moral e coletivo, composto de tantos membros quantos um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo
são os votos da assembleia [...]. Essa pessoa pública, político em que haja
que se forma, desse modo, pela união de todas as ou- a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
tras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
de república ou de corpo político, o qual é chamado por c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-
seus membros de Estado [...]. -científicas.
(Jean-Jacques Rousseau. Os pensadores, 1983.) d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às
instituições do governo.
O texto, produzido no âmbito do Iluminismo francês, e) reunião das funções de legislar, julgar e executar
apresenta a doutrina política do nas mãos de um governante eleito.
a) coletivismo, manifesto na rejeição da propriedade
4. (Enem) É verdade que nas democracias o povo parece
privada e na defesa dos programas socialistas de es-
fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste
tatização.
nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é
b) humanismo, presente no projeto liberal de valorizar
independência e o que é liberdade. A liberdade é o direi-
o indivíduo e sua realização no trabalho.
to de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão
c) socialismo, presente na crítica ao absolutismo mo- pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais
nárquico e na defesa da completa igualdade socioe- liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
conômica.
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo:
d) corporativismo, presente na proposta fascista de unir
Nova Cultural, 1997 (adaptado).
o povo em torno da identidade e da vontade nacional.
e) contratualismo, manifesto na reação ao Antigo Re- A característica de democracia ressaltada por Montes-
gime e na defesa dos direitos de cidadania. quieu diz respeito
a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao
2. (Unesp 2020) Do nascimento do Estado moderno tomar as decisões por si mesmo.
até a Revolução Francesa, ou seja, do século XVI aos b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à
fins do século XVIII, a filosofia política foi obrigada a conformidade às leis.
reformular grande parte de suas teses, devido às mu- c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e,
danças ocorridas naquele período. O que se buscou na nesse caso, livre da submissão às leis.
modernidade iluminista foi fortalecer a filosofia em d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que
uma configuração contrária aos dogmas políticos que é proibido, desde que ciente das consequências.
reforçavam a crença em uma autoridade divina. e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acor-
do com seus valores pessoais.
(Thiago Rodrigo Nappi. “Tradição e inovação na teoria das
formas de governo: Montesquieu e a ideia de despotismo”. 5. (Enem) Observe as duas afirmações de Montesquieu
In: Historiæ, vol. 3, no 3, 2012. Adaptado.) (1689-1755) a respeito da escravidão:
O filósofo iluminista Montesquieu, autor de Do espírito A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao
das leis, criticou o absolutismo e propôs senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode fazer
por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos
a) a divisão dos poderes em executivo, legislativo e
toda sorte de maus hábitos e se acostuma insensivel-
judiciário. mente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se
b) a restauração de critérios metafísicos para a esco- orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel. Se
lha de governantes. eu tivesse que defender o direito que tivemos de tornar
c) a justificativa do despotismo em nome da paz social. escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os povos da
d) a obediência às leis costumeiras de origem feudal. Europa exterminado os da América, tiveram que escravi-
e) a retirada do poder político do povo. zar os da África para utilizá-los para abrir tantas terras. O
3. (Enem) Para que não haja abuso, é preciso organi- açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos
zar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo cultivassem a planta que o produz.
 VOLUME ÚNICO

poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o (Montesquieu, Do espírito das leis)
mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, Com base nos textos, podemos afirmar que, para Mon-
exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de execu- tesquieu,
tar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as a) o preconceito racial foi contido pela moral religiosa.
divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes b) a política econômica e a moral justificaram a escravidão.
Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma in- c) a escravidão era indefensável de um ponto de vista
dependente para a efetivação da liberdade, sendo que econômico.

74  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


d) o convívio com os europeus foi benéfico para os subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-
escravos africanos. -se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas
e) o fundamento moral do direito pode submeter-se trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja
às razões econômicas. e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tan-
ge, acredito que a verdade não deve mais se esconder
6. (Fuvest) “A autoridade do príncipe é limitada pelas diante dos monstros e que não devemos abster-nos do
leis da natureza e do Estado... O príncipe não pode, por- alimento com medo de sermos envenenados.”
tanto, dispor de seu poder e de seus súditos sem o con-
sentimento da nação e independentemente da escolha Identifique a opção que melhor expressa esse pensa-
estabelecida no contrato de submissão (...)” mento de Voltaire.
DIDEROT, artigo “Autoridade política”, Enciclopédia, 1751. a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não
Tendo por base esse texto da Enciclopédia, é correto é um sábio, pois corre um risco desnecessário.
afirmar que o autor: b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse
sempre se impõe sobre os seres humanos.
a) pressupunha, como os demais iluministas, que os c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade
direitos de cidadania política eram iguais para todos deve munir-se da coragem para enfrentar o obscuran-
os grupos sociais e étnicos. tismo e o fanatismo.
b) propunha o princípio político que estabelecia leis d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do pas-
para legitimar o poder republicano e democrático. sado e por isso a razão não precisa mais estar alerta.
c) apoiava uma política para o Estado, submetida aos e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo.
princípios da escolha dos dirigentes da nação, por
meio do voto universal. 9. Montesquieu (1689-1755), na obra Do espírito das
d) acreditava, como os demais filósofos do Iluminis- leis, afirma:
mo, na revolução armada como único meio para a
deposição de monarcas absolutistas. “Quando os poderes legislativo e executivo ficam reuni-
e) defendia, como a maioria dos filósofos iluministas, dos numa mesma pessoa ou instituição do Estado, a li-
os princípios do liberalismo político que se contrapu- berdade desaparece [...] Não haveria também liberdade
nham aos regimes absolutistas. se o poder judiciário se unisse ao executivo, o juiz pode-
ria ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se
7. (UFPR) A respeito do iluminismo, movimento filosófi- uma mesma pessoa ou instituição do Estado exercesse
co que se difundiu pela Europa ao longo do século XVIII, os três poderes: o de fazer leis, o de ordenar a sua execu-
considere as seguintes afirmativas: ção e o de julgar os conflitos entre os cidadãos.”
I. Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, A partir dessas informações sobre a filosofia política de
Voltaire e Diderot, foram leitores, admiradores e divul- Montesquieu e a divisão que propõe do poder, é correto
gadores da filosofia política produzida pelos ingleses, afirmar:
como John Locke com sua crítica ao absolutismo.
II. Quanto à organização do Estado, os filósofos ilu- a) O poder judiciário aplica as leis; o poder legislativo cria
ministas não eram contra a monarquia, mas contra as e aprova as leis; o poder executivo executa normatiza-
ideias de que o poder monárquico fora constituído ções e deliberações referentes à administração do Estado.
pelo direito divino e de que ele não poderia ser sub- b) O poder judiciário tem força para administrar o execu-
metido a nenhum freio. tivo; o poder executivo tem força para conduzir o judiciá-
III. A descoberta da perspectiva e a valorização de te- rio; o poder legislativo tem força para tutelar o judiciário.
mas religiosos marcaram as expressões artísticas du- c) O poder legislativo aplica as leis; o poder executivo
rante o iluminismo. gerencia as normatizações e deliberações relacionadas à
IV. Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu gran- administração do Estado; o poder judiciário aprova as leis.
de impulso das descobertas marítimas. d) O poder executivo cria as leis; o poder judiciário san-
Assinale a alternativa correta. ciona as leis; e o poder legislativo efetiva as leis na
administração do Estado.
a) Somente a afirmativa I é verdadeira.
b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. 10. (Unesp) Governos que se metem na vida dos outros
c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras. são governos autoritários. Na história temos dois gran-
d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. des exemplos: o fascismo e o comunismo. Em nossa épo-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. ca existe uma outra tentação totalitária, aparentemente
mais invisível e, por isso mesmo, talvez, mais perigosa:
8. (UFF) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no o “totalitarismo do bem”. A saúde sempre foi um dos
 VOLUME ÚNICO

século XVIII, é considerado um dos grandes pensadores substantivos preferidos das almas e dos governos auto-
do iluminismo ou século das luzes. Ele afirma o seguinte ritários. Quem estudar os governos autoritários verá que
sobre a importância de manter acesa a chama da razão:
a “vida cientificamente saudável” sempre foi uma das
“Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, suas maiores paixões. E, aqui, o advérbio “cientificamen-
ainda renascem algumas cabeças da hidra do fanatismo. te” é quase vago porque o que vem primeiro é mesmo
Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas o desejo de higienização de toda forma de vício, sujeira,
goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda enfim, de humanidade não correta. Nosso maior pecado

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  75


contemporâneo é não reconhecer que a humanidade do d) considera que a burguesia não se constitui em uma
humano está além do modo “correto” de viver. E vamos classe no século XVIII, e ela precisa do poder do Estado
pagar caro por isso porque um mundo só de gente “sau- centralizado para garantir a sua riqueza e, nessa medi-
dável” é um mundo sem Eros. da, aproxima-se da nobreza para obter apoio político.
Luiz Felipe Pondé. Gosto que cada um sente na boca não é da e) defende, como representante da Ilustração, a li-
conta do governo. Folha de S.Paulo, 14.03.2012 (adaptado). berdade ligada à ausência da propriedade e elabora
princípios universais, com direitos e deveres para to-
Na concepção do autor, o totalitarismo:
dos os homens, o que faz a igualdade econômica ser
a) é um sistema político exclusivamente relacionado o fundamento da sociedade.
com o fascismo e o comunismo.
b) inexiste sob a égide de regimes políticos institucio- 13. (Unicamp) O pensamento iluminista do século XVIII
nalmente democráticos e liberais. tem na Enciclopédia, dirigida por Diderot e d’Alembert,
c) depende necessariamente de controles de natureza uma obra de 35 volumes, editada entre 1751 e 1780,
policial e repressiva dos comportamentos. que reúne a totalidade dos conhecimentos da época.
d) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de na- Por usarem os princípios da razão para questionar os
tureza biopolítica sobre a vida. fundamentos da sociedade em que viviam, os enciclo-
e) estabelece regras de comportamento subordinadas pedistas foram considerados defensores de um pensa-
à autonomia dos indivíduos. mento revolucionário.
a) Qual a característica principal do pensamento das
11. (UFF) Nos séculos XVI e XVII os conflitos religiosos luzes?
se disseminaram por toda a Europa provocando guerras b) O que significa afirmar que esses pensadores usa-
e impondo um ambiente de perseguição e fanatismo. vam em suas críticas sociais os princípios da razão?
Diante desse contexto, o aparecimento de alternativas c) Contra quais valores da época se dirigiam as críti-
de paz envolveu o “princípio de tolerância” que pode cas dos pensadores iluministas?
ser associado à seguinte opção:
14. (Fuvest) Quando na mesma pessoa, ou no mesmo
a) As crenças e opiniões devem ser expressas somen- corpo de magistrados, o poder legislativo se junta ao
te na intimidade. executivo, desaparece a liberdade (...). Não há liberda-
b) Os seres humanos devem respeitar as crenças e de se o poder judiciário não está separado do legisla-
opiniões uns dos outros. tivo e do executivo (...). Se o judiciário se unisse com o
c) O Estado tem o dever de impedir que os seres hu- executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E
manos adotem crenças e opiniões falsas. tudo estaria perdido se a mesma pessoa ou o mesmo
d) A opinião verdadeira tem o direito de se impor a corpo de nobres, de notáveis, ou de populares, exerces-
todos os seres humanos. se os três poderes: o de fazer as leis, o de ordenar a exe-
e) A minoria deve adotar as opiniões e crenças da maioria. cução das resoluções públicas e o de julgar os crimes e
12. (FGV) “O gênero humano é de tal ordem que não os conflitos dos cidadãos.
pode subsistir, a menos que haja uma grande infinidade (Montesquieu, Do espírito das leis, 1748)
de homens úteis que não possuam nada.” a) Qual o tema do texto?
(Dicionário filosófico, verbete “igualdade”) b) Explique o contexto histórico em que foi produzido.
“O comércio, que enriqueceu os cidadãos na Inglaterra,
contribuiu para os tornar livres, e essa liberdade deu Gabarito
por sua vez maior expansão ao comércio; daí se formou
o poderio do Estado.” 1. E 2. A 3. D 4. B 5. E
(Cartas inglesas)
6. E 7. B 8. C 9. A 10. D
Sobre os trechos de Voltaire, é correto afirmar que o autor:
11. B 12. A
a) define, com suas ideias, os interesses da burguesia
como classe, no século XVIII: o comércio como con- 13.
dição para a acumulação de capital, a riqueza como a) Racionalismo
fator de liberdade e do poder de Estado e a proprie- b) Defendiam o fim das injustiças, leis para regularem a
dade ligada à desigualdade. convicência humana, liberdade e expressão.
b) crê, como filósofo iluminista do século XVIII, nas c) Ao Absolutismo e o poder soberano e inquestionável
igualdades social e política, pois a filosofia burguesa do chefe de Estado.
 VOLUME ÚNICO

elabora uma doutrina universalista que confunde a


14.
causa da burguesia com a de toda a humanidade.
c) critica a centralização do poder na medida em que a) A formação do Estado moderno e da divisão dos
ela breca a liberdade, impedindo o progresso das téc- poderes.
nicas e a expansão do comércio que geram riqueza, b) Este texto está inserido na consolidação do Estado
e, ao mesmo tempo, aceita a propriedade como fun- burguês moderno e mudança do pensamento político.
damento da igualdade.

76  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


texto que a desigualdade entre os homens origina-se
ROUSSEAU com o início da propriedade privada, fato que provoca
as disputas entre os seres.
No estado de natureza, por sua vez, os homens vivem

CH
isolados, porém são basicamente iguais. Nesse estado, os
homens vivem por duas paixões: o desejo de autoconser-
COMPETÊNCIA(s)
vação e a piedade.
1, 2, 3, 4 e 5
Desse modo, Rousseau demonstra que o homem primitivo
HABILIDADE(s) (o bom selvagem) parecia viver em unidade orgânica con-
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, sigo mesmo, em total harmonia, ao passo que o homem

11
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 moderno vivia afastado da igualdade, apontando todos os
passos que o homem deu desde a liberdade no estado de
natureza até a vida desregrada e servil em sociedade.

1. Jean-Jacques multimídia: vídeo


Rousseau (1712-1778) Fonte: Youtube
Jean-Jacques Rousseau é o filósofo de maior destaque no Filosofia da Educação - Rousseau
Iluminismo francês – uma figura inconformista, inquieta,
individualista, mas também coletivista. Ele aponta que o homem, no estado civil, está preso às amar-
ras do Estado, às regras que direcionam o embate do homem
contra o homem, de maneira a fomentar a ganância e a inve-
ja entre os pares, caracterizando uma desigualdade legaliza-
da entre os homens. Assim, a crítica de Rousseau se faz pelas
amarras proporcionadas pelas leis civis, que condicionam e
perpetuam a existência da desigualdade entre os homens.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Jean-Jacques Rousseau

Assim, Rousseau critica todos os elementos desse estado


 VOLUME ÚNICO

civil, inclusive as ciências e as artes, que condicionam os há-


Retrato de Rousseau.
bitos viciosos dos homens, destruindo as virtudes humanas,
No livro Discurso sobre a origem e os fundamentos não apontando para uma valorização da racionalidade hu-
da desigualdade entre os homens, a figura do homem, mana. Isso não quer dizer que o filósofo é contrário às ciên-
para Rousseau, constitui um ser bom que, diante das insti- cias e às artes, ele só aponta que essas estruturas precisam
tuições do estado civil, acaba corrompido. Demonstra nesse impedir a corrupção humana.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  77


1.1. O contrato social (1762) 1.2. Emílio ou Da Educação (1762)
Rousseau tenta estabelecer as condições de possibilidade de Estruturado nessa nova conjuntura social, Rousseau de-
uma sociedade legítima, estabelecendo, desde a sua origem, fende, no livro Emílio ou Da Educação, que, para a criação
as condições de uma sociedade legitimamente constituída. de uma nova sociedade, era preciso criar um novo indi-
víduo, pensando na sua primeira formação – a infância.
Assim, a obediência às leis não poderá nunca se configurar
Assim, a criança deveria ser preparada seguindo o acordo
como a obediência a um homem ou a um grupo de homens,
com a Natureza, visando a um desenvolvimento progres-
mas como obediência a si mesmo, desde que as leis tenham
sivo de seus sentidos e de sua razão, com o intuito de
sido o resultado de uma decisão comum, que envolva a to-
reduzir a desigualdade social.
dos os membros da associação política. Pelo contrato social,
todos os membros da associação assumem a responsabi- Nesse livro, ele expõe um direcionamento pedagógico para
lidade pelas deliberações públicas. O povo adquire a sua cada estágio da vida, seguindo a dinâmica do livro, dividido
soberania e cada membro da associação se transforma em nos cinco capítulos. Nos dois primeiros capítulos, o filósofo
um cidadão. Dessa maneira, o soberano é o povo, pois os descreve que é preciso enfatizar o lado físico de sua educa-
indivíduos, ao se submeterem pelo contrato social, criam-se ção até os doze anos, com o objetivo de aprender um ofício
a si mesmos como povo. Dessa forma, Rousseau resgata o manual. Nos capítulos III e IV, apresenta os estágios tran-
ideal clássico da cidadania participativa, em especial o regi- sitórios da adolescência, instante em que as faculdades da
me democrático de participação direta. razão do indivíduo começam a se consolidar. Já no capítulo V,
descreve a idade adulta, na qual emerge a Era da Sabedoria.
Essa estrutura pensada por Rousseau serviu para o nasci-
mento do conceito moderno de infância, pois começou a
serem direcionadas ações específicas para diferentes eta-
pas do jovem em sua formação, de modo a desencadear
um abandono da pedagogia escolástica tradicional, que
moldava o homem, independentemente da idade.
multimídia: livro
1.3. O patrono da Revolução Francesa
O contrato Social - ROUSSEAU, Jean- Durante os anos que constituíram a Revolução Francesa
Jacques. São Paulo: L&PM, 2007. (1789), as ideias e os textos de Rousseau permearam as
mentes e os debates dos representantes do Terceiro Esta-
Com isso, Rousseau propôs reformular a sociedade, que do, principalmente durante a convenção republicana. Essas
precisa criar seus regimentos internos, mas que visa a ideias inovadoras de mudanças sociais serviram de motiva-
respeitar a natureza humana, ou seja, a conservação da ção para que os burgueses pudessem mudar o sistema de
governo e transformassem a sociedade francesa.
liberdade e a igualdade entre os homens. A fórmula rou-
sseauniana consiste em fomentar que o povo deve ser o
principal agente do Estado, e o governo deveria ser o re-
presentante desse povo. Assim, as formas clássicas de go-
verno – monarquia, aristocracia e democracia – teriam um
papel secundário em relação à representatividade do povo.
A soberania popular deveria ser o fundamento do novo
contrato social, pois os modelos convencionais não são go-
vernos de fato, mas formas de dominação e de opressão.
 VOLUME ÚNICO

“A liberdade guiando o povo”, quadro do


francês Eugène Delacroix (1830)

O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de


dizer: "Isso é meu", e encontrou pessoas bastante simples
250 anos do nascimento de Rousseau. para crê-los, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.

78  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Quantos crimes, guerras, mortes, quantas misérias e hor- ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que
rores não teria poupado ao gênero humano aquele que, nos afetam é a educação das coisas. Cada um de nós é,
arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse grita- portanto, formado por três espécies de mestres. O aluno
do aos seus semelhantes: "Guardai-vos de escutar este em quem as diversas lições desses mestres se contrariam
impostor; estais perdidos se esquecerdes que os frutos são é mal educado e nunca estará de acordo consigo mes-
para todos, e que a terra é de ninguém!" Mas existem um mo; aquele em quem todas visam ao mesmos pontos e
grande indício de que as coisas aí já tivessem chegado ao tendem para os mesmos fins, vai sozinho a seu objetivo
ponto de não poder mais continuar como estavam: pois e vive em consequência. Somente esse é bem educado.
esta ideia de propriedade – provindo de muitas ideias an-
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
teriores, que não puderam nascer senão sucessivamente Emílio ou Da Educação. São Paulo: Difel, 1979.
– não se formou repentinamente no espírito humano [...]
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
Discurso sobre a origem e dos fundamentos da desigualdade entre os
homens. In: Os Clássicos da Política. São Paulo: Ática, 2008, p. 201.

Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos des-


providos de tudo, temos necessidade de assistência;
nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que
não temos ao nascer, e de que precisamos adultos, é nos
dado pela educação. Essa educação nos vem da natu-
reza, ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento
multimídia: música
interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a Fonte: Youtube
educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer
Eu sou favela - Bezerra da Silva
desse desenvolvimento é a educação dos homens; e o

DIAGRAMA DE IDEIAS

ROUSSEAU

A SOCIEDADE CIVIL
A SOCIEDADE É FORMADA
CONSOLIDA A
DESIGUALDADE ENTRE
OS SERES HUMANOS
POR UM
CONTRATO SOCIAL
(CONTRATUALISMO) POIS TEM A PROPRIEDADE
PRIVADA COMO BASE

QUE ORDENA AS REGRAS


CIVIS DESSE GRUPO NASCEMOS LIVRES,
MAS A SOCIEDADE NOS
APRISIONA E CORROMPE
QUE PODE SER MODIFICADO
AO LONGO DO TEMPO PELA
 VOLUME ÚNICO

VONTADE DOS MEMBROS


DA SOCIEDADE CIVIL

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  79


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UEL 2018) Leia o texto a seguir.

Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil?


1. (UEM 2020) “[....] uma observação que deverá ser- [...] O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o pri-
vir de base a todo sistema social: o pacto fundamental,
meiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de
em lugar de destruir a igualdade natural, pelo contrário
dizer, isto é, meu e encontrou pessoas suficientemente
substitui por uma igualdade moral e legítima aquilo que
a natureza poderia trazer de desigualdade física entre simples para acreditá-lo.
os homens, os quais, podendo ser desiguais na força ou ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e
no gênio, todos se tornam iguais por convenção e di- os fundamentos da desigualdade entre os homens. 3. ed.

reito. Afirmo, pois, que a soberania, não sendo senão São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 243 e 259.
o exercício da vontade geral, jamais pode alienar-se,
Com base nos conhecimentos sobre sociedade civil,
e que o soberano, que nada é senão um ser coletivo,
só pode ser representado por si mesmo. O poder pode propriedade e natureza humana no pensamento de
transmitir-se; não, porém, a vontade.” Rousseau, assinale a alternativa correta.
(ROUSSEAU, J. J. Do contrato social. Apud ARANHA, M. L. a) A instauração da propriedade decorre de um ato legí-
de A. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1993, p. 229). timo da sociedade civil, na medida em que busca aten-
A partir desse fragmento e do pensamento político de der às necessidades do homem em estado de natureza:
Rousseau, assinale o que for correto. b) A instauração da propriedade e da sociedade civil
cria uma ruptura radical do homem consigo mesmo e
01) O contrato social para Rousseau se origina do con-
de distanciamento da natureza.
sentimento unânime, em que cada associado se aliena de
todos os seus direitos. c) A fundação da sociedade civil é legitimada pela
02) Ao alienar-se em favor da comunidade, cada asso- racionalidade e pela universalidade do ato de instau-
ciado nada perde, pois, como povo incorporado, mantém ração da propriedade privada.
sua soberania. d) O sentimento mais primitivo do homem, que o leva a
04) A soberania do povo para Rousseau é inalienável, ou instituir a propriedade, é o reconhecimento da necessi-
seja, não pode ser representada. dade da propriedade para garantir a subsistência.
08) Como a vontade geral é a soma da vontade de to- e) A sociedade civil e a propriedade são expressões
dos (considerados individualmente), ela não pode ser a da perfectibilidade humana, ou seja, da sua capaci-
expressão da lei. dade de aperfeiçoamento.
16) O homem, no pensamento político de Rousseau, é li-
vre na medida em que oferece o livre consentimento à lei. 4. (UFU) O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o
primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de
2. (Unicamp) Leia o trecho a seguir. dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente
“O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, as-
ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de ser sassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero
mais escravo do que eles. (...) A ordem social, porém, é um humano aquele que, arrancando as estacas ou enchen-
direito sagrado que serve de base a todos os outros. (...) do o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defen-
Haverá sempre uma grande diferença entre subjugar uma dei-vos de ouvir esse impostor; estarei perdidos se es-
multidão e reger uma sociedade. Sejam homens isolados, quecerdes que os frutos são de todos e que a terra não
quantos possam ser submetidos sucessivamente a um só, pertence a ninguém!”
e não verei nisso senão um senhor e escravos, de modo
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da
algum considerando-os um povo e seu chefe. Trata-se,
desigualdade entre os homens. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 87.
caso se queira, de uma agregação, mas não de uma as-
sociação; nela não existe bem público, nem corpo político. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa-
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. mento político de Rousseau, é correto afirmar:
[1762]. São Paulo: Abril, 1973, p. 28 e 36.
a) A desigualdade é um fato natural autorizada pela
Sobre Do contrato social, publicado em 1762, e seu au- lei natural, independentemente das condições sociais
tor, é correto afirmar que: decorrentes da evolução histórica da humanidade.
a) Rousseau, um dos grandes autores do Iluminismo, b) A finalidade da instituição da sociedade e do go-
defende a necessidade de o Estado francês substituir verno é a preservação da individualidade e das dife-
os impostos por contratos comerciais com os cidadãos. renças sociais.
b) A obra inspirou os ideais da Revolução Francesa,
c) A sociabilidade tira o homem do estado de natureza
ao explicar o nascimento da sociedade pelo contrato
 VOLUME ÚNICO

onde vive em guerra constante com os outros homens.


social e pregar a soberania do povo.
d) Rousseau faz uma crítica ao processo de socializa-
c) Rousseau defendia a necessidade de o homem vol-
ção, por ter corrompido o homem, tornando-o egoísta
tar a seu estado natural, para assim garantir a sobre-
e mesquinho para com os seus semelhantes.
vivência da sociedade.
d) O livro, inspirado pelos acontecimentos da Inde- e) Rousseau valoriza a fundação da sociedade civil,
pendência Americana, chegou a ser proibido e quei- que tem como objetivo principal a garantia da posse
mado em solo francês. privada da terra.

80  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


5. (Mackenzie) Assinale a alternativa em que aparecem O texto, produzido no âmbito do iluminismo francês,
as principais ideias de Jean-Jacques Rousseau, em sua apresenta a doutrina política do:
obra O contrato social. a) coletivismo, manifesto na rejeição da propriedade priva-
a) Cada homem é inimigo do outro, está em guerra da e na defesa dos programas socialistas de estatização.
com o próximo e por esta razão cria o Estado para sua b) humanismo, presente no projeto liberal de valorizar
própria defesa e proteção. o indivíduo e sua realização no trabalho.
b) O Estado é uma realidade em si e é necessário conser- c) socialismo, presente na crítica ao absolutismo monár-
vá-lo, reforçá-lo e eventualmente reformá-lo, reconhecen- quico e na defesa da completa igualdade socioeconômica.
do uma única finalidade: sua prosperidade e grandeza. d) corporativismo, presente na proposta fascista de unir
c) O governante deve dar um bom exemplo para que o povo em torno da identidade e da vontade nacional.
os súditos o sigam. Através da educação e de rituais, e) contratualismo, manifesto na reação ao Antigo Re-
os homens de capacidade aprenderiam e transmiti- gime e na defesa dos direitos de cidadania.
riam os valores do passado.
d) Que as classes dirigentes tremam ante a ideia de 8. (Enem PPL) O homem natural é tudo para si mesmo; é a
unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona
uma revolução! Os trabalhadores devem proclamar
consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil
abertamente que seu objetivo é a derrubada violenta
é apenas uma unidade fracionária que se liga ao deno-
da ordem social tradicional.
minador, e cujo valor está em sua relação com o todo,
e) A única esperança de garantir os direitos de cada que é o corpo social. As boas instituições sociais são as
indivíduo é a organização da sociedade civil, cedendo que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua
todos os direitos à comunidade, para que seja politi- existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir
camente justo o que a maioria decidir. o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular
não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da
6.(Unesp) Encontrar uma forma de associação que de-
unidade, e só seja percebido no todo.
fenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado
com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo- ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
-se a todos, só obedece, contudo, a si mesmo, perma-
necendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema A visão de Rousseau em relação à natureza humana,
fundamental cuja solução o contrato social oferece. [...] conforme expressa o texto, diz que
Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua
seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e própria natureza.
recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte
b) as instituições sociais formam o homem de acordo
indivisível do todo.
com a sua essência natural.
(Jean-Jacques Rousseau. Do contrato social, 1983.) c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as
O texto apresenta características: instituições sociais dependem dele.
a) iluministas e defende a liberdade e a igualdade so- d) o homem é forçado a sair da natureza para se tor-
cial plenas entre todos os membros de uma sociedade. nar absoluto.
b) socialistas e propõe a prevalência dos interesses e) as instituições sociais expressam a natureza huma-
na, pois o homem é um ser político.
coletivos sobre os interesses individuais.
c) iluministas e defende a liberdade individual e a ne- 9. (Unioeste) “Através dos princípios de um direito na-
cessidade de uma convenção entre os membros de tural preexistente ao Estado, de um Estado baseado
uma sociedade. no consenso, de subordinação do poder executivo ao
d) socialistas e propõe a criação de mecanismos de poder legislativo, de um poder limitado, de direito de
união e defesa de todos os trabalhadores. resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais do
e) iluministas e defende o estabelecimento de um Estado liberal.”
poder rigidamente concentrado nas mãos do Estado. (Bobbio)
Considerando o texto citado e o pensamento político
7. (Unesp 2020) Cada um de nós põe em comum sua pes- de Locke, seguem as afirmativas abaixo:
soa e todo o seu poder sob a direção suprema da von-
I. A passagem do estado de natureza para a sociedade
tade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro
política ou civil, segundo Locke, é realizada mediante
como parte indivisível do todo. [...] um corpo moral e
um contrato social, através do qual os indivíduos singu-
coletivo, composto de tantos membros quantos são os
 VOLUME ÚNICO

lares, livres e iguais dão seu consentimento para ingres-


votos da assembleia [...]. Essa pessoa pública, que se for-
sar no estado civil.
ma, desse modo, pela união de todas as outras, tomava
antigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou II. O livre consentimento dos indivíduos para formar a
de corpo político, o qual é chamado por seus membros sociedade, a proteção dos direitos naturais pelo gover-
no, a subordinação dos poderes, a limitação do poder e
de Estado [...].
o direito à resistência são princípios fundamentais do
(Jean-Jacques Rousseau. Os pensadores. 1983.) liberalismo político de Locke.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  81


III. A violação deliberada e sistemática dos direitos natu- a agir baseando-se em outros princípios e a consultar a
rais e o uso contínuo da força sem amparo legal, segundo razão antes de ouvir suas inclinações.”
Locke, não são suficientes para conferir legitimidade ao
ROUSSEAU. O contrato social. Livro I. Cap. VIII.
direito de resistência, pois o exercício de tal direito cau-
saria a dissolução do estado civil e, em consequência, o Nesse fragmento, Rousseau sublinha as implicações da
retorno ao estado de natureza. passagem do estado de natureza para o estado civil.
IV. Os indivíduos consentem livremente, segundo Lo- Explique por que seria impossível para o homem sobre-
cke, em constituir a sociedade política com a finalida- viver em um estado de natureza.
de de preservar e proteger, com o amparo da lei, do
arbítrio e da força comum de um corpo político uni- 12. O homem natural é tudo para si mesmo: ele é a uni-
tário, os seus inalienáveis direitos naturais à vida, à dade numérica, o inteiro absoluto que só tem relação
liberdade e à propriedade. com ele próprio ou com seu semelhante. O homem civil
V. Da dissolução do poder legislativo, que é o poder no é apenas uma unidade fracionária que depende do de-
qual “se unem os membros de uma comunidade para nominador cujo valor está em sua relação com o inteiro,
formar um corpo vivo e coerente”, decorre, como con- que é o corpo social. As boas instituições são aquelas
sequência, a dissolução do estado de natureza. que melhor sabem desnaturar o homem, tirar-lhe sua
Das afirmativas feitas acima existência absoluta para lhe dar uma relativa, e trans-
a) somente a afirmação I está correta. portar o eu para a unidade comum: de tal modo que
cada particular não se creia mais um, mas parte da uni-
b) as afirmações I e III estão corretas.
dade, e apenas seja sensível no todo.
c) as afirmações III e IV estão corretas.
d) as afirmações II e III estão corretas. ROUSSEAU, Jean-Jacques, Oeuvres Complètes.
Pleiade, 1964 (fragmento).
e) as afirmações III e V estão incorretas.

10. (UFSM) Sem leis e sem Estado, você poderia fazer Tomando como referência as ideias do texto, explique a
o que quisesse. Os outros também poderiam fazer com diferença entre estado de natureza e estado civil.
você o que quisessem. Esse é o “estado de natureza”
descrito por Thomas Hobbes, que, vivendo durante as
guerras civis britânicas (1640-60), aprendeu em primei- Gabarito
ra mão como esse cenário poderia ser assustador. Sem
uma autoridade soberana não pode haver nenhuma se- 1. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 2. B 3. B
gurança, nenhuma paz.
4. D 5. E 6. C 7. E 8. A
LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar: Filosofia.
Rio de Janeiro: Zahar, 2008. 9. E 10. C

Considere as afirmações: 11. Segundo o filósofo Rousseau, é impossível sobreviver no


estado de natureza, apesar do ser humano ter uma liberdade,
I. A argumentação hobbesiana em favor de uma autorida-
depois de vivenciar o estado civil, com regras – esse indivíduo
de soberana, instituída por um pacto, representa inequi-
não consegue mais retornar a um estado primitivo.
vocamente a defesa de um regime político monarquista.
II. Dois dos grandes teóricos sobre o estado de nature- 12. Para Rousseau, existem muitas diferenças entre o estado de
za”, Hobbes e Rousseau, partilham a convicção de que natureza e o estado civil. No estado de natureza, o ser huma-
o afeto predominante nesse “estado” é o medo. no tem plena liberdade de agir, sem se limitar ou ser punido de
forma civil; enquanto no estado civil, o ser humano ganha uma
III. Um traço comum da filosofia política moderna é a liberdade vigiada, o poder de ter a propriedade privada, e se
idealização de um pacto que estabeleceria a passagem acostuma com as desigualdades entre os homens.
do estado de natureza para o estado de sociedade.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) apenas II e III.
 VOLUME ÚNICO

11. “A passagem do estado de natureza para o estado


civil determina ao homem uma mudança muito notável,
substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dan-
do às suas ações a moralidade que antes lhe faltava. É só
então que, tomando a voz do dever o lugar do impulso fí-
sico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até aí levan-
do em consideração apenas a sua pessoa, vê-se forçado

82  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


ILUMINISMO
ALEMÃO

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

12
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Retrato de Kant

Para o filósofo alemão, o processo de obter conhecimento


pode ser adquirido tanto de forma empírica como racional,
unindo, pela primeira vez, correntes que caminhavam sepa-
radas na história da filosofia. A filosofia kantiana é conhecida
como criticismo. Segundo o autor, o conhecimento é for-
mado pela interação entre o sujeito pensante e o fenômeno
observado. Há ideias a priori (antes da experiência) e ideias a

1. Introdução posteriori (após a experiência). O conhecimento é formado a


partir da interação dessas ideias.
O processo histórico que expandiu o conhecimento huma-
no na região da Alemanha, entre os séculos XVII e XIX,
teve um aparato mais ideológico, não desencadeando para
futuras transformações sociais, como ocorreu no iluminis-
mo francês. Com um viés nacionalista, questionou o abso-
lutismo e a Igreja. O conceito “Iluminismo”, na Alemanha,
surgiu com o filósofo Immanuel Kant.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Kant – a priori e a posteriori
Immanuel Kant categoriza o conhecimento, definindo
duas formas: a priori e a posteiori.

2.1. A importância dos sentidos e da razão


Kant apresenta que os sentidos e a razão desempenham pa-
pel fundamental na maneira de o ser humano experimentar
“Kant e seus companheiros na mesa”, pintura de Emil Doerstling o mundo. Para o filósofo, as experiências nos proporcionam
um tipo de conhecimento, como pensam os empiristas. En-
2. Immanuel Kant (1724-1804) tretanto, a razão também apresenta pressupostos relevantes
O filósofo Immanuel Kant nasceu na cidade de Königsberg para a maneira como podemos descobrir o mundo.
(atual Kaliningrado). Ele foi responsável por desenvolver Só que existem fatores condicionantes que determinam
uma síntese entre duas correntes filosóficas: o racionalis- como analisamos essa realidade – fatores racionalistas.
 VOLUME ÚNICO

mo e o empirismo. Um exemplo é se nos imaginarmos utilizando óculos com


A análise kantiana afirma que existia uma incompetência lentes azuis, de modo que tudo o que vemos teria tons
no racionalismo para demonstrar a existência, contrarian- azulados. As lentes azuis seriam a razão: fatores que condi-
do, em parte, a solução dada por Descartes para tal; e tam- cionam nossa percepção da realidade.
bém uma incompetência no empirismo para demonstrar Porém, nessa conjuntura de pensamento, o filósofo afirma
como a experiência tornava-se conhecimento. que esses pressupostos são subjetivos, isto é, referem-se

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  83


ao sujeito, a quem usa os óculos. Esses pressupostos são Com isso, Kant afirma que a realidade não está nas
o tempo e o espaço, ou seja, a experiência que praticamos coisas, mas em nós. Assim, vemos o mundo pela nossa
desencadeará a formação do nosso conhecimento. Essa razão, depois que as percepções passaram pelas categorias.
valorização do sujeito racional pensante será fundamental
para o idealismo alemão. Kant fará uma revolução co-
pernicana do pensamento ao mudar o olhar a respeito da
epistemologia: nossas ideias não são somente inatas e
não são somente adquiridas.
O filósofo distingue duas formas básicas do ato de conhecer:
§ O conhecimento empírico (a posteriori), fruto da experi-
ência – aquele que se refere aos dados fornecidos pelos
sentidos, isto é, que é posterior à experiência. Exemplo:
“Este livro tem a capa verde.”
§ O conhecimento puro (a priori), fruto apenas do racio-
A revolução kantiana consiste em mostrar que o objeto
cínio independente da experiência – aquele que não
se regula pela faculdade de conhecer, ao invés de admi-
depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que
tir que a faculdade de conhecer se regula pelo objeto. A
é anterior à experiência. Nasce puramente de uma ope-
filosofia, assim, deveria investigar a possível existência de
ração racional. Exemplo: “Duas linhas paralelas jamais
certos princípios a priori que seriam responsáveis pela sín-
se encontraram no espaço.”
tese dos dados empíricos. Estes, por sua vez, deveriam ser
encontrados nas duas fontes de conhecimento, que seriam
a sensibilidade e o entendimento.
As ideias puras não são o conhecimento, pois são ferra-
mentas que precisam dos fenômenos para interpretá-los
e organizá-los conceitualmente. Do mesmo modo, as ex-
periências dos fenômenos não são o conhecimento, pois
multimídia: vídeo precisam de um ser pensante para a formulação de inter-
pretações e conceitos. A ideia sem o fenômeno é estéril,
Fonte: Youtube
pois não tem o que pensar, e o fenômeno sem as ideias
Kant e a razão pura puras não pode ser compreendido. O transcendental – as
O professor de Filosofia da Unicamp Daniel Omar Perez formas de intuição (espaço e tempo) e do entendimento
ressalta a crítica da razão pura e a razão prática. (as categorias) – é apenas a forma da objetividade e não o
próprio objeto; é vazio de conteúdo e não significa em si.
2.2. A revolução copernicana A metafísica, então, não é nem sequer falsa ou fictícia, é pro-
priamente ilusão, esse vazio do não conhecimento, que é pro-
Em seu questionamento lógico-transcendental, Kant atin-
duzido pelo uso ilegítimo dos conceitos. É por tal ilegitimida-
ge, pela primeira vez, consciência de si mesmo. A solução
de que a metafísica deve ser condenada no tribunal da razão.
apresentada por ele para a oposição entre o racionalismo
e o empirismo é chamada de “revolução copernicana da
filosofia”, numa alusão ao paradigma feito por Copérnico
2.3 Kant e a questão do conhecimento
na astronomia. Para Immanuel Kant, há dois pares de modalidades de
Kant salienta que a razão é inata, mas é uma estrutura conhecimento: o conhecimento puro é o conhecimento
esvaziada e sem conteúdo, que não depende da experiên- a priori (independente da experiência); o conhecimento
cia para existir. A razão fornece a forma do conhecimento e empírico é o saber a posteriori (dependente da experi-
a matéria é fornecida pelo conhecimento. Diante disso, esse ência sensorial diante dos fenômenos do mundo ao nosso
conhecimento é racional e verdadeiro. redor); os julgamentos analíticos (juízos analíticos) e os
 VOLUME ÚNICO

Afirma também que não podemos conhecer a realidade julgamentos sintéticos (juízos sintéticos).
das coisas e do mundo, o que ele trata de noúmeno (nú- Os juízos são ordenações lógicas que conectam o sujeito ao
mero) (a coisa em si). Isso ocorre porque a razão huma- seu predicado. Quando o predicado está implicitamente con-
na só pode conhecer aquilo que recebe em formas, como tido no sujeito, temos um juízo analítico. Um exemplo disso
cor e tamanho, e em categorias, como os elementos que é a sentença o quadrado possui quatro lados congruentes
organizam o conhecimento. e quatro ângulos internos retos – o predicado é uma mera

84  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


descrição do sujeito, pois o sujeito (quadrado) é necessaria- plo. Adquirimos conhecimentos novos a partir da experi-
mente uma estrutura geométrica de quatro lados idênticos ência sensorial. Esses conhecimentos permitiram antever
e com ângulos internos de 90°. Temos condição de saber novos fenômenos e criar projeções para novos saberes e
sobre a estrutura geométrica do quadrado, pois nossa men- possibilidades. A metodologia científica permite a compre-
te possui atributos racionais e lógicos para o entendimento ensão do mundo e a organização de fórmulas matemáticas
geométrico. Não precisamos observar ou tocar em estruturas que podem ser úteis para antevermos fenômenos naturais
que sejam quadradas, podemos deduzi-las mentalmente e compreendermos o mundo sem necessariamente termos
com os recursos matemáticos da razão. que experimentá-lo novamente. Podemos criar normas uni-
Chama-se juízo sintético a ordenação lógica na qual o versais a partir desses juízos.
predicado não está contido necessariamente no sujeito, é A mente humana possui limites. Só compreendemos o que
uma condição acidental e variável. Um exemplo de juízo apresenta-se como fenômeno. A coisa em si (objeto) é
sintético é a sentença o sapato é verde, pois nem todos os inacessível para nós, pois dela temos apenas o fenômeno
sapatos são verdes, essa é uma característica não inerente interpretado pelos sentidos. A mente compreende o que a
ao sujeito sapato. Temos condição de saber a cor de um razão pode compreender e que o corpo pode sentir. A razão
sapato ao realizarmos o contato visual com o fenômeno por si só não tem como afirmar nada sem os fenômenos.
observado: a cor do sapato. E os fenômenos sentidos nada terão a dizer se não houver
A partir dessas possibilidades, Kant apresenta os juízos categorias de entendimento para interpretar esses eventos.
analíticos (a priori), os juízos sintéticos (a posteriori) e, con- Por isso, conclui-se que o conhecimento é construído na in-
juntamente, os juízos sintéticos a priori. Este último pode teração entre o sujeito pensante e o fenômeno percebido.
ser verificado em áreas científicas como a física, por exem-

DIAGRAMA DE IDEIAS

KANT

UNE O
REVOLUÇÃO
RACIONALISMO
COPERNICANA
COM O EMPIRISMO
(CRITICISMO)

O OBJETO SE
O PROCESSO DE REGULA PELA
OBTENÇÃO DO FACULDADE DE
CONHECIMENTO CONHECER
TEM VÁRIAS
FORMAS:
HÁ INTERAÇÃO ENTRE
O SUJEITO PENSANTE O INDIVÍDUO
E O FENÔMENO APLICA SUA
PERCEBIDO PELOS ANÁLISE
SENTIDOS PERANTE O
FENÔMENO

A PRIORI (ANTES
DA EXPERIÊNCIA)

PELA RAZÃO
 VOLUME ÚNICO

A POSTERIORI (DEPOIS
DA EXPERIÊNCIA)

PELA
EXPERIÊNCIA

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  85


Aplicando para Aprender (A.P.A.) c) revelam a relação de interdependência entre os da-
dos da experiência e a reflexão filosófica.
1. (UFSC 2020) Em relação ao prefácio e à introdução d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia,
à segunda edição da Crítica da Razão Pura, escrita por na primazia das ideias em relação aos objetos.
Imannuel Kant, é correto afirmar que, para Kant: e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nos-
01) ao longo da história, a metafísica alcançou o ca- so conhecimento e são ambas recusadas por Kant.
minho seguro da ciência. 4. (UFSJ) Sobre a questão do conhecimento na filosofia
02) ao longo da história, a metafísica foi dogmática, kantiana, é correto afirmar que:
portanto não foi capaz de produzir conhecimento.
a) o ato de conhecer se distingue em duas formas bá-
04) os juízos a priori dependem fundamentalmente
sicas: conhecimento empírico e conhecimento puro.
da experiência para serem elaborados.
08) os juízos analíticos são aqueles nos quais os atri- b) para conhecer, é preciso se lançar ao exercício do
butos do predicado já estão contidos no sujeito. pensar conceitos concretos.
16) a matemática e a física atingiram, ao longo de c) as formas distintas de conhecimento, descritas na obra
sua história, o caminho seguro da ciência. Crítica da razão pura, são denominadas, respectivamen-
te, juízo universal e juízo necessário e suficiente.
32) os juízos sintéticos a priori são aqueles que pos-
suem uma ligação universal e necessária entre sujeito d) o registro mais contundente acerca do conhecimen-
e predicado. to se faz a partir da distinção de dois juízos, a saber:
juízo analítico e juízo sintético ou juízo de elucidação.
64) os juízos sintéticos a priori não são possíveis no
campo da investigação metafísica. 5. (Unioeste) “Em todos os juízos em que for pensada
a relação de um sujeito com o predicado (se considero
2. (UEMA) Fraqueza e covardia são as causas pelas
quais a maioria das pessoas permanece infantil mesmo apenas os juízos afirmativos [...]), essa relação é possí-
tendo condição de libertar-se da tutela mental alheia. vel de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito
Por isso, fica fácil para alguns exercer o papel de tuto- A como algo contido (ocultamente) nesse conceito A,
res, pois muitas pessoas, por comodismo, não desejam ou B jaz completamente fora do conceito A, embora es-
se tornar adultas. Se tenho um livro que pensa por mim; teja em conexão com o mesmo”.
um sacerdote que dirige minha consciência moral; um (Kant)
médico que me prescreve receitas e, assim por diante,
Considerando o texto acima e a teoria do conhecimento
não necessito preocupar-me com minha vida. Se posso
de Kant, é incorreto afirmar que:
adquirir orientações, não necessito pensar pela minha
cabeça: transfiro ao outro esta penosa tarefa de pensar. a) os juízos sintéticos a posteriori são os mais impor-
KANT, Immanuel. O que é a ilustração. In: WEFFORT, F. (Org.). tantes para a teoria do conhecimento de Kant, pois são
Os clássicos da política. V. 2, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. contingentes e particulares, estando ligados a casos
empíricos singulares.
Esse fragmento compõe o livro de Kant que trata da
b) Kant denomina o primeiro modo de relacionar sujeito e
importância da(o):
predicado de juízo analítico e o segundo, de juízo sintético.
a) juízo. d) costume. c) o problema do conhecimento para Kant envolve res-
b) razão. e) experiência. ponder “como são possíveis os juízos sintéticos a priori?”.
c) cultura. d) os juízos analíticos, embora universais e necessários, não
fazem progredir o conhecimento, pois são tautológicos.
3. (Enem) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento
se devia regular pelos objetos; porém todas as tenta- e) o juízo “Todos os corpos são extensos” é analítico,
tivas para descobrir, mediante conceitos, algo que am- pois não há como pensar o conceito de corpo sem o
pliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse conceito de extensão.
pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar
6. (Uncisal) Contrapondo ceticismo e dogmatismo, o cri-
se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica,
ticismo se apresenta como única saída para se repensar
admitindo que os objetos se deveriam regular pelo
às questões pertinentes à metafísica. O criticismo deno-
nosso conhecimento.
mina a filosofia de:
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa:
a) Hume. d) Marx.
Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado).
b) Hegel. e) Rousseau.
O trecho em questão é uma referência ao que ficou co- c) Kant.
 VOLUME ÚNICO

nhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele,


confrontam-se duas posições filosóficas que: 7. (UEL) Na primeira secção da Fundamentação da me-
tafísica dos costumes, Kant analisa dois conceitos fun-
a) assumem pontos de vista opostos acerca da natu-
damentais de sua teoria moral: o conceito de vontade
reza do conhecimento.
boa e o de imperativo categórico. Esses dois conceitos
b) defendem que o conhecimento é impossível, res- traduzem as duas condições básicas do dever: o seu as-
tando-nos somente o ceticismo. pecto objetivo, a lei moral, e o seu aspecto subjetivo, o

86  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


acatamento da lei pela subjetividade livre, como condi- c) O conhecimento é constituído de matéria, forma
ção necessária e suficiente da ação. e pensamento. Para termos conhecimento das coisas
DUTRA, D.V. Kant e Habermas: a reformulação discursiva da
temos de pensá-las a partir do tempo cronológico.
moral kantiana. Porto Alegre: EdiPUC-RS, 2002, p. 29. d) A razão enquanto determinante nos conhecimen-
tos fenomênicos e noumênicos (transcendentais)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria atesta a capacidade do ser humano.
moral kantiana, é correto afirmar: e) O homem conhece pela razão a realidade fenomêni-
a) A vontade boa, enquanto condição do dever, consis- ca porque Deus é quem afinal determina este processo.
te em respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação 10. (Unioeste) “Já desde os tempos mais antigos da filo-
a simples conformidade à lei. sofia, os estudiosos da razão pura conceberam, além dos
b) O imperativo categórico incorre na contingência de seres sensíveis ou fenômenos, que constituem o mundo
um querer arbitrário cuja intencionalidade determina dos sentidos, seres inteligíveis particulares, que consti-
subjetivamente o valor moral da ação. tuiriam um mundo inteligível, e, visto que confundiam (o
c) Para que possa ser qualificada do ponto de vista que era de desculpar a uma época ainda inculta) fenô-
moral, uma ação deve ter como condição necessária meno e aparência, atribuíram realidade unicamente aos
e suficiente uma vontade condicionada por interesses seres inteligíveis. De fato, se, como convém, considerar-
e inclinações sensíveis. mos os objetos dos sentidos como simples fenômenos,
admitimos assim que lhe está subjacente uma coisa em
d) A razão é capaz de guiar a vontade como meio para si, embora não saibamos como ela é constituída em si
a satisfação de todas as necessidades e assim realizar mesma, mas apenas conheçamos o seu fenômeno, isto
seu verdadeiro destino prático: a felicidade. é, a maneira como os nossos sentidos são afetados por
e) A razão, quando se torna livre das condições sub- este algo desconhecido”.
jetivas que a coagem, é, em si, necessariamente con- (Kant)
forme a vontade e somente por ela suficientemente
Sobre a teoria do conhecimento kantiana, conforme o
determinada.
texto acima, seguem as seguintes afirmativas:
8. (Uncisal) No século XVIII, o filósofo Emanuel Kant I. Desde sempre, os filósofos atribuíram realidade tanto
formulou as hipóteses de seu idealismo transcenden- aos seres sensíveis quanto aos seres inteligíveis.
tal. Segundo Kant, todo conhecimento logicamente II. Podemos conhecer, em relação às coisas em si mes-
válido inicia-se pela experiência, mas é construído mas, apenas seu fenômeno, ou seja, a maneira como
internamente por meio das formas a priori da sensi- elas afetam nossos sentidos.
bilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas III. Porque podemos conhecer apenas seus fenômenos,
do entendimento. Dessa maneira, para Kant, não é o as coisas em si mesmas não têm realidade.
objeto que possui uma verdade a ser conhecida pelo IV. Os filósofos anteriores a Kant não diferenciavam
sujeito cognoscente, mas sim o sujeito que, ao conhe- fenômeno de aparência, e, assim, consideravam que o
cer o objeto, nele inscreve suas próprias coordenadas fenômeno não era real.
sensíveis e intelectuais. De acordo com a filosofia kan- V. As intuições puras da sensibilidade e os conceitos
tiana, pode-se afirmar que: puros do entendimento incidem apenas em objetos de
uma experiência possível; sem as primeiras, os segun-
a) a mente humana é como uma tabula rasa, uma
dos não têm significação.
folha em branco que recebe todos os seus conteúdos
Das afirmativas feitas acima:
da experiência.
b) os conhecimentos são revelados por Deus para a) apenas II e IV estão corretas.
b) apenas II, IV e V estão corretas.
os homens.
c) apenas II, III, IV e V estão corretas.
c) todos os conhecimentos são inatos, não dependen- d) todas as afirmativas estão corretas.
do da experiência. e) todas as afirmativas estão incorretas.
d) Kant foi um filósofo da antiguidade.
11. (UEL) “O imperativo categórico é, portanto só um
e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal
o sujeito, não o objeto. que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne
lei universal.”
9. (UEMA) Na perspectiva do conhecimento, Immanuel
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos
Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empi- costumes. Lisboa: Edições 70, 1995, p. 59.
rismo. Entre as alternativas abaixo, a única que contém
 VOLUME ÚNICO

informações corretas sobre o criticismo kantiano é: Segundo essa formulação do imperativo categórico por
a) A razão estabelece as condições de possibilidade Kant, uma ação é considerada ética quando:
do conhecimento; por isso independe da matéria do a) privilegia os interesses particulares em detrimento
conhecimento. de leis que valham universal e necessariamente.
b) O conhecimento é constituído de matéria e forma. b) ajusta os interesses egoístas de uns ao egoísmo
Para termos conhecimento das coisas, temos de orga- dos outros, satisfazendo as exigências individuais de
nizá-las a partir da forma a priori do espaço e do tempo. prazer e felicidade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  87


c) é determinada pela lei da natureza, que tem como
fundamento o princípio de autoconservação. Gabarito
d) está subordinada à vontade de Deus, que preesta- 1. 02 + 08 + 16 + 32 = 58 2. B 3. A
belece o caminho seguro para a ação humana.
e) a máxima que rege a ação pode ser universalizada, 4. A 5. A 6. C 7. A 8. E
ou seja, quando a ação pode ser praticada por todos,
9. B 10. B 11. E
sem prejuízo da humanidade.
12. A oposição entre menoridade e maioridade (ou autonomia) é
12. (Unesp) Preguiça e covardia são as causas que ex- o recurso alegórico utilizado para falar sobre o estado do homem
plicam por que uma grande parte dos seres humanos, e o movimento iluminista, que buscava retirar o homem deste
mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da estado. O homem, segundo Kant, está acomodado. Preguiçoso
orientação alheia, ainda permanecem, com gosto, e por e covarde, o homem continua, mesmo depois de adquirir plenas
toda a vida, na condição de menoridade. É tão confortá- capacidades de ser autônomo (de se dar a própria lei), servo da
vel ser menor! Tenho à disposição um livro que entende consciência de outros, das prescrições de terceiros. Além da sua
por mim, um pastor que tem consciência por mim, um própria preguiça e covardia, o ato mesmo de se tornar maior é
médico que prescreve uma dieta etc.: então não preciso visto como perigoso, o que faria a libertação da tutoria uma es-
me esforçar. A maioria da humanidade vê como muito colha ainda menos provável. Enfim, passar da menoridade para
perigoso, além de bastante difícil, o passo a ser dado a maioridade é um ato de libertação do homem das relações
rumo à maioridade, uma vez que tutores já tomaram de tutela que direcionam opressivamente o seu comportamento.
para si de bom grado a sua supervisão. Após terem pre-
13. Para o filósofo Kant, o termo menoridade refere-se à “inca-
viamente embrutecido e cuidadosamente protegido
pacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro”,
seu gado, para que estas pacatas criaturas não ousem ou seja, a incapacidade do pensamento de se desenvolver fora
dar qualquer passo fora dos trilhos nos quais devem de um quadro de restrições institucionais representadas, ou seja,
andar, os tutores lhes mostram o perigo que as ame- de desenvolver uma crítica ou uma reflexão perante a realidade.
aça caso queiram andar por conta própria. Tal perigo, No final do século XVIII, no contexto do iluminismo e do processo
porém, não é assim tão grande, pois, após algumas que- revolucionário francês, a Igreja perdeu influência e o Estado leigo
das, aprenderiam finalmente a andar; basta, entretanto, ascendeu, criando-se, assim, as condições sociais para a supera-
o perigo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las
ção da “menoridade”.
por completo para que não façam novas tentativas.
Immanuel Kant apud Danilo Marcondes. Textos básicos
de ética – de Platão a Foucault, 2009 (adaptado).

O texto se refere à resposta dada pelo filósofo Kant à


pergunta sobre “O que é o iluminismo?”. Explique o
significado da oposição por ele estabelecida entre “me-
noridade” e “autonomia intelectual”.

13. (Unesp) O iluminismo é a saída do homem de um


estado de menoridade que deve ser imputado a ele
próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do
próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si
próprios é esta menoridade se a causa dela não depen-
de de um defeito da inteligência, mas da falta de deci-
são e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem
ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de
servires de tua própria inteligência!
(Immanuel Kant, 1784)

Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais


sintéticas e adequadas definições acerca do Iluminismo.
Justifique essa importância comentando o significado
do termo religião e da política.
 VOLUME ÚNICO

88  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A ÉTICA DO
DEVER: Kant afirma que a comodidade e a covardia são os
grandes motivos pelos quais tantos homens continuam
IMPERATIVO presos à menoridade – e frisa que, caso seja de sua vonta-
CATEGÓRICO de (e caso não haja barreiras para isso, como restrições à

CH
liberdade), todo e qualquer homem é capaz de abandonar
a menoridade e concluir o processo de esclarecimento.
COMPETÊNCIA(s)
Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para ha-
1, 2, 3, 4 e 5
ver esclarecimento, a liberdade é condição fundamental:
HABILIDADE(s) só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
amplamente garantido. O filósofo reconhece, contudo, que

13
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 as restrições às liberdades são bastante comuns (ainda
mais em sua época). Finalmente, o filósofo conclui que
ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um
profundo conhecimento sobre determinado tema, mas sim
combinar esse conhecimento à conquista da autonomia e
da emancipação humana.

1.1. O uso público e o uso privado da razão


Kant considera que a razão pode ter modalidades de uso,

1. A maioridade intelectual ou seja, a razão pode ser útil publicamente e particularmen-


te. O uso público da razão é a condição na qual o conhe-
Em sua obra O que é o esclarecimento?, o filósofo Imma- cimento humano, a ciência e a filosofia, é apresentado ao
nuel Kant esclarece que, quando o indivíduo consegue pos- interesse do grande público letrado. O progresso científico
tular suas próprias ideias e críticas, ele atinge a maiorida- e filosófico depende do compartilhamento de ideias e de
de intelectual, saindo de um estágio de menoridade, debates a respeito dos saberes apresentados. Por isso, os
ou seja, esse ser consegue sair da condição de incapacida- doutos, os letrados, os especialistas, os esclarecidos devem
de de fazer uso da razão sem a orientação de outro indiví- apresentar os saberes da razão para a sua crítica. Quando
duo. Esse alcance do esclarecimento não tem uma ligação ocupamos algum cargo privado ou um posto público, exer-
direta com a idade biológica desse sujeito. cendo uma tarefa que nos foi dada, devemos cumprir as
ordens daquele cargo e daquela instituição em que pres-
tamos um serviço. Eis o uso privado da razão, somos como
parte de um todo, uma engrenagem no funcionamento de
um maquinário institucional, obrigados a obedecer a or-
denamentos. Podemos raciocinar se concordamos ou não
com as tarefas que nos foram submetidas, mas, enquanto
exercemos o dever, devemos nos ater ao procedimento ao
qual fomos requeridos. Há momentos, situações e espaços
para a realização de críticas, sugestões e melhorias. Esses
momentos e espaços destinados à mudanças e críticas são
da esfera pública da sociedade.

O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condi-


2. A paz perpétua (1795)
ção pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua motivação Em 1795, Kant escreveu essa obra, com o objetivo de apre-
ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mes- sentar como os Estados nacionais poderiam estabelecer en-
 VOLUME ÚNICO

mo. Para o filósofo, todo indivíduo vive uma situação de tre si um quadro de paz perpétua, tendo como força motriz
menoridade em algum momento de sua vida: nesse caso, a racionalidade, conjunto com os requisitos da maioridade
a menoridade é natural, pois é o mesmo que imaturidade. intelectual. Diante disso, todos os países devem respeitar
O filósofo diz que nenhum ser humano nasce inteiramente um pacto de não agressão, visando a uma ética universal,
pronto para o raciocínio; uma criança demora até atingir a que respeita todos os seres humanos existentes no plane-
autossuficiência, por exemplo. ta, sem violar as regras locais de seus respectivos países.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  89


O filósofo vai além: a capacidade de discernimento é tão
inata quanto qualquer outra faculdade da razão – tal afir-
mação tem desdobramentos importantes. O mais óbvio é
o fato de a ética kantiana ser baseada na ideia de que
há algo como uma lei moral universal, tão absolu-
ta quanto qualquer lei natural. Tal lei seria, segundo
Kant, válida para qualquer momento histórico, sociedade
multimídia: livro e situação, e seria também imperativa, pois não se pode
escapar dela. Kant a formula, portanto, como um impera-
A paz perpétua - Immanuel Kant. tivo categórico, e um de seus maiores pressupostos, jun-
Porto Alegre: L&PM, 2016. tamente com a ideia de que a moralidade está relacionada
à maneira universal de se agir, é a proibição de se utilizar
outrem como meios para atingir quaisquer objetivos: todos
Com essas teorias, Kant antevê as ações da Organização
devem ser tratados como um fim em si mesmo.
das Nações Unidas (ONU), que visa a assegurar que os
Estados compactuem um acordo de paz e não iniciem Pode-se entender a lei moral kantiana como a manifestação
um conflito armado. A formulação da União Europeia, da própria consciência humana – que também é intrínseca
após II Guerra Mundial e declínio da Guerra Fria, dá-se, a todo homem e não pode ser comprovada racionalmente,
em grande medida, pelas contribuições de autores como apesar de ser possível conhecê-la. Kant diz que muito mais
Kant, principalmente nas áreas do direito e diplomacia. importante para a moralidade do que se perguntar o que
fazer é se perguntar o motivo pelo qual se faz alguma coisa.
Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa é abordada
na rua por um pedinte e, ao sentir pena de sua situação,
lhe dá uma esmola. Uma segunda pessoa também é abor-
dada pelo pedinte e, apesar de não se compadecer de sua
situação, lhe oferece ajuda mesmo assim. Kant diria que a
segunda pessoa agiu mais moralmente do que a primeira.
Por quê? Simplesmente porque a segunda pessoa agiu de
bandeira das Nações Unidas. maneira descolada de suas próprias emoções. Ela ofereceu
ajuda ao pedinte porque sabia que aquilo era o certo a se
3. A ética kantiana fazer, porque era seu dever (por essa razão, inclusive, a
ética kantiana também é chamada de ética do dever); a
(ou a ética do dever) primeira pessoa, por sua vez, ofereceu ajuda por pena, pela
maneira como se sentiu. Da mesma forma, Kant veria al-
Kant também dedicou grande parte de sua obra a questões guém que pratica boas ações para se promover socialmen-
relativas à esfera moral. Segundo o filósofo, todo ser huma- te ou ficar bem aos olhos de Deus. Se essa é a motivação
no sabe o que é certo e o que é errado: esse conhecimento de suas boas ações, ele diria, elas de nada valem. A ética
é intrínseco à condição humana. Isso ocorre porque Kant do dever (imperativo categórico) é guiada por princípios
diz que todos somos dotados de uma razão prática, isto racionais que visam à universalidade, não permite adap-
é, de uma capacidade racional inata de discernir sobre o tações circunstanciais e não é pautada pelos resultados. A
que é certo e o que é errado. deontologia (estudo do dever) é fundamental para a com-
preensão de sua obra Crítica da Razão Prática.

4. A liberdade para Kant


A concepção de liberdade para Kant não se liga à felici-
dade nem é determinada por um bem externo a ela – a
 VOLUME ÚNICO

liberdade está atrelada ao homem. Diante disso, o bem é o


multimídia: vídeo que resulta da razão, à medida que ela determina a ação.
Fonte: Youtube Assim, o homem precisa submeter-se às leis éticas, que vi-
Immanuel kant | O imperativo sem a um respeito universalista e que condicionem a esse
categórico | Resumo Musica ser uma maioridade. Por isso, a liberdade para Kant é
uma autonomia para o sujeito.

90  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


trado. Por uso privado, entendo aquele que o douto pode
fazer em um posto civil ou público. Contudo, para algu-
mas ocupações, que lidam com assuntos de interesse
geral, faz-se necessário um mecanismo por meio do qual
alguns membros da comunidade precisam se comportar
passivamente, para que, com uma unanimidade artificial,
possam ser conduzidos pelo governo em prol de fins pú-
multimídia: música blicos, ou para que ao menos estes fins públicos sejam
preservados. Neste caso, seguramente, não é permitido
Fonte: Youtube raciocinar; é necessário obedecer. Mas, a medida em
O caminho do bem - Tim Maia. Álbum: que essa peça de engrenagem se veja simultaneamente
como membro de uma comunidade, ou mesmo da pró-
Racional Vol. 1. Seroma, 1976.
pria sociedade civil mundial, que, como douto, dirige-se
A música de Tim Maia salienta o dever kantiano, de ao público, seguindo seu próprio entendimento por meio
que se utilizando de ações racionais, chegaremos ao de seus escritos, ele pode raciocinar o quanto quiser, sem
bem universal. que sejam prejudicadas as ocupações em que está in-
serido parcialmente como membro passivo. Seria muito
prejudicial se um oficial, ao receber uma ordem de seu
Dessa forma, a liberdade é a autonomia de cumprir seu superior, começasse a questionar explicitamente a con-
dever, de acordo com as leis da natureza – com isso, somos veniência ou utilidade dessa ordem; ele deve obedecer.
donos de nós mesmos e de nossas ações. KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento?
Compreendo, porém, como uso público da razão aquele Retirado de: MARCONDES, Danilo. Textos
básicos de ética. Zahar. RJ - 2007.
que é feito por alguém, como douto, perante o mundo le-

DIAGRAMA DE IDEIAS

KANT

O SER HUMANO DEVER EM SI NA


PODE CONSEGUIR BUSCA DE UM
IMPERATIVO
SER INDEPENDENTE BEM UNIVERSAL
CATEGÓRICO

O HOMEM,
ATINGINDO A
UTILIZANDO
MAIORIDADE ÉTICA DO DEVER SUA RAZÃO, TEM
INTELECTUAL
O DEVER

DE CONSTRUIR
COMEÇA A TER UM RAZÃO PRÁTICA UM CAMINHO
POSICIONAMENTO
SEGURO, QUE
CRÍTICO
RESPEITE A TODOS
 VOLUME ÚNICO

ESSE ESTADO CONDICIONANDO


NÃO DEPENDE DA PARA UMA PAZ
IDADE BIOLÓGICA UNIVERSAL

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  91


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UEL) Kant, mesmo que restrito à cidade de Königs-
berg, acompanhou os desdobramentos das Revoluções
1. (UEL 2020) Leia o texto a seguir. Americana e Francesa e foi levado a refletir sobre as
convulsões da história mundial. Às incertezas da Eu-
Dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei. ropa plebeia, individualista e provinciana, contrapôs
[...] devo proceder sempre de maneira que eu possa algumas certezas da razão capazes de restabelecer, ao
querer também que a minha máxima se torne uma lei menos no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as
universal. nações com vista à constituição de uma federação de
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Trad. povos – sociedade cosmopolita.
Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 208-209. ANDRADE, R.C. Kant: a liberdade, o indivíduo e a república.
In: WEFORT, F.C. (Org.). Clássicos da política. V. 2.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria São Paulo: Ática, 2003, p. 49-50 (adaptado).
kantiana do dever, assinale a alternativa correta.
Com base nos conhecimentos sobre a filosofia política
a) A máxima de uma ação moral universalizável pode ter de Kant, assinale a alternativa correta.
como fundamento os efeitos da ação, sendo considerada a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do
moralmente boa uma ação cujos efeitos causam o bem. prejudicial torna imperativo um governo paternal para
b) A obrigação incondicional que a lei moral impõe ad- indicar a felicidade.
vém do reconhecimento da possibilidade de universaliza- b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sen-
ção das máximas da ação do considerados cidadãos ativos também as mulheres
c) A mentira pode, em certas circunstâncias, ser legitima- e os empregados.
da moralmente quando dela resulta uma ação benéfica c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os
ou impede o prejuízo a outrem. membros da comunidade e o chefe de Estado.
d) A máxima incondicional de uma ação moral pode ter d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade
como fundamento a experiência, pois os costumes forne- de ação em conformidade com a lei universal da liberdade.
cem elementos suficientes para ela. e) Os súditos estão autorizados a transformar em vio-
e) O imperativo categórico, princípio dos imperativos do lência o descontentamento e a oposição ao poder le-
dever, escolhe, dentre os estímulos fornecidos à vontade, gislativo supremo.
o que lhe é mais adequado. 4. (UFU) Autonomia da vontade é aquela sua proprieda-
de graças à qual ela é para si mesma a sua lei (indepen-
2. (UEL) As leis morais juntamente com seus princípios
dentemente da natureza dos objetos do querer). O prin-
não só se distinguem essencialmente, em todo o conhe-
cípio da autonomia é, portanto: não escolher senão de
cimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento modo a que as máximas da escolha estejam incluídas
empírico qualquer, mas toda a Filosofia moral repousa simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal.
inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao ho- KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos
mem, não toma emprestado mínimo que seja ao conhe- costumes. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85.
cimento do mesmo (Antropologia).
De acordo com a doutrina ética de Kant:
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos
costumes. São Paulo: Discurso Editorial, 2009. p. 73.
a) O imperativo categórico não se relaciona com a ma-
téria da ação e com o que deve resultar dela, mas com
Com base no texto e na questão da liberdade e autono- a forma e o princípio de que ela mesma deriva.
mia em Immanuel Kant, assinale a alternativa correta. b) O imperativo categórico é um cânone que nos leva
a agir por inclinação, vale dizer, tendo por objetivo a
a) A fonte das ações morais pode ser encontrada através
satisfação de paixões subjetivas.
da análise psicológica da consciência moral, na qual se pes-
c) Inclinação é a independência da faculdade de apeti-
quisa mais o que o homem é, do que o que ele deveria ser.
ção das sensações, que representa aspectos objetivos
b) O elemento determinante do caráter moral de uma ação baseados em um julgamento universal.
está na inclinação da qual se origina, sendo as inclinações d) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os
serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais. desejos pessoais do homem. Trata-se de fundamento
c) O sentimento é o elemento determinante para a ação determinante do agir, para a satisfação das inclinações.
moral, e a razão, por sua vez, somente pode dar uma di-
reção à presente inclinação, na medida em que fornece o 5. (Unioeste) A necessidade prática de agir segundo este
meio para alcançar o que é desejado. princípio, isto é, o dever, não assenta em sentimentos,
impulsos e inclinações, mas, sim, somente na relação
 VOLUME ÚNICO

d) O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos dos seres racionais entre si, relação essa em que von-
“propulsores” humanos naturais, os quais se direcionam tade de um ser racional tem de ser considerada sempre
ao bem próprio e ao bem do outro. e simultaneamente como legisladora, porque de outra
e) O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na forma não podia pensar-se como fim em si mesmo. A ra-
razão prática pura, e as leis morais devem ser independen- zão relaciona, pois, cada máxima da vontade concebida
tes de qualquer condição subjetiva da natureza humana. como legisladora universal com todas as outras vonta-
des e com todas as ações para conosco mesmos, e isto

92  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


não em virtude de qualquer outro móbil prático ou de A partir do texto de Kant, é correto afirmar que:
qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia da 01) liberdade é não precisar de ninguém para nada.
dignidade de um ser racional que não obedece à outra
02) riqueza não é sinônimo de liberdade, como pobre-
lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente dá a
za não é sinônimo de escravidão.
si mesmo. [...] O que se relaciona com as inclinações e
necessidades gerais do homem tem um preço venal [...], 04) a justificativa para a falta de liberdade é a pouca
aquilo, porém, que constitui a condição só graças a qual idade dos seres humanos.
qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem 08) a liberdade é, primeiramente, liberdade de pensamento.
somente um valor relativo, isto é, um preço, mas um 16) a liberdade é resultado de um esforço pessoal in-
valor íntimo, isto é, dignidade. cômodo para libertar-se das amarras do pensamento.
(Kant)
7. (Enem) Esclarecimento é a saída do homem de sua
Considerando o texto citado e o pensamento ético de menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menorida-
Kant, seguem as afirmativas abaixo. de é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento
I. Para Kant, existe moral porque o ser humano e, em ge- sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio
ral, todo o ser racional, fim em si mesmo e valor abso- culpado dessa menoridade se a causa dela não se en-
luto, não deve ser tomado simplesmente como meio ou contra na falta de entendimento, mas na falta de deci-
instrumento para o uso arbitrário de qualquer vontade. são e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção
II. Fim em si mesmo e valor absoluto, o ser humano de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio en-
é pessoa e tem dignidade, mas uma dignidade que é, tendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça
apenas, relativamente valiosa, por se encontrar em de- e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande
pendência das condições psicossociais e político-econô- parte dos homens, depois que a natureza de há muito
micas nas quais vive. os libertou de uma condição estranha, continuem, no
entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
III. A moralidade, única condição que pode fazer de um
ser racional fim em si mesmo e valor absoluto, pelo KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é
princípio da autonomia da vontade, e a humanidade, esclarecimento?
Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que
Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento,
têm dignidade.
fundamental para a compreensão do contexto filosófi-
IV. As pessoas têm dignidade porque são seres livres e au- co da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empre-
tônomos, isto é, seres que se submetem às leis que se dão gado por Kant, representa:
a si mesmos, atendendo imediatamente aos apelos de
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racio-
suas inclinações, sentimentos, impulsos e necessidades.
nal como expressão da maioridade.
V. A autonomia da vontade é o fundamento da dignidade
b) o exercício da racionalidade como pressuposto me-
da natureza humana e de toda natureza racional e, por
nor diante das verdades eternas.
esta razão, a vontade não está simplesmente submetida
à lei, mas submetida à lei por ser concebida como von- c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter
tade legisladora universal, ou seja, se submete à lei na objetivo, de forma heterônoma.
exata medida e que ela é a autora da lei (moral). d) a compreensão de verdades religiosas que libertam
o homem da falta de entendimento.
Das afirmativas acima:
e) a emancipação da subjetividade humana de ideo-
a) somente a I está incorreta. logias produzidas pela própria razão.
b) somente a III está incorreta.
c) II e IV estão incorretas. 8. (Enem) Um Estado é uma multidão de seres humanos
d) II e III estão incorretas. submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três
e) II, III e V estão incorretas. poderes dentro de si, isto é, a vontade unida em geral
consiste de três pessoas: o poder soberano (soberania)
6. (UEM) O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) esta- na pessoa do legislador; o poder executivo na pessoa
belece uma íntima relação entre a liberdade humana e do governante (em consonância com a lei) e o poder ju-
sua capacidade de pensar autonomamente, ao afirmar: diciário (para outorgar a cada um o que é seu de acordo
“Esclarecimento é a saída do homem da menoridade com a lei) na pessoa do juiz.
pela qual é o próprio culpado. Menoridade é a incapaci-
KANT, Immanuel. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.
dade de servir-se do próprio entendimento sem direção
alheia. [...] É tão cômodo ser menor. Possuo um livro que De acordo com o texto, em um Estado de direito:
 VOLUME ÚNICO

faz as vezes do meu entendimento; um guru espiritual,


a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois
que faz às vezes de minha consciência; um médico, que
é ele que tem o verdadeiro poder.
decide por mim a dieta etc.; assim não preciso eu mes-
mo dispensar nenhum esforço. Não preciso necessaria- b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a
mente pensar, se posso apenas pagar.” representação da vontade geral.
c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano,
KANT, Immanuel. Resposta à questão: o que é esclarecimento? In:
pois é ele que outorga a cada um o que é seu.
Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 407.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  93


d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, d) proporciona esclarecimento político das massas,
pois depende dele para validar suas determinações. pois tais eventos promovem o aprendizado crítico me-
e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, diante a afirmação da ideia de nacionalidade.
na pessoa do governante, pois ele que é soberano. e) confere liberdade às massas para superar a depen-
dência gerada pela aceitação da tutela de outrem.
9. (UEL) O desenvolvimento não é um mecanismo cego
que age por si. O padrão de progresso dominante des- 11. (UEMA) No texto Que é “Esclarecimento”? (1783),
creve a trajetória da sociedade contemporânea em busca o que significa, conforme Kant, a saída do homem da
dos fins tidos como desejáveis, fins que os modelos de menoridade da qual ele mesmo é culpado?
produção e de consumo expressam. É preciso, portanto,
a) O uso da razão crítica, exceto quando se tratar de
rediscutir os sentidos. Nos marcos do que se entende
doutrinas religiosas.
predominantemente por desenvolvimento, aceita-se re-
ver as quantidades (menos energia, menos água, mais b) A capacidade de aceitar passivamente a autoridade
eficiência, mais tecnologia), mas pouco as qualidades: científica ou política.
que desenvolvimento, para que e para quem? c) A liberdade para executar desejos e impulsos confor-
me a natureza instintiva do homem.
LEROY, Jean Pierre. Encruzilhadas do desenvolvimento. O impacto d) A coragem de ser autônomo, rejeitando, portanto,
sobre o meio ambiente. LeMonde Diplomatique Brasil. jul. 2008, p. 9.
qualquer condição tutelar.
Tendo como referência a relação entre desenvolvimen- e) O alcance da idade apropriada para uso da raciona-
to e progresso presente no texto, é correto afirmar que, lidade subjetiva.
em Kant, tal relação, contida no conceito de Aufklärung
(Esclarecimento), expressa:
a) A tematização do desenvolvimento sob a égide da Gabarito
lógica de produção capitalista.
1. B 2. E 3. D 4. A 5. C
b) A segmentação do desenvolvimento tecno-científico
nas diversas especialidades. 6. 02 + 08 + 16 = 26 7. A 8. B
c) A ampliação do uso público da razão para que se
desenvolvam sujeitos autônomos. 9. C 10. A 11. D
d) O desenvolvimento que se alcança no âmbito técni-
co e material das sociedades.
e) O desenvolvimento dos pressupostos científicos na
resolução dos problemas da filosofia prática.

10. (UEL)

90 milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu coração.


Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, salve a seleção.
De repente é aquela corrente pra frente.
Parece que todo o Brasil deu a mão.
Todos ligados na mesma emoção.
Tudo é um só coração.
Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, Brasil,
Salve a seleção.
Canção: Pra frente Brasil/ Copa 1970
Autor: Miguel Gustavo

Na obra “Resposta à questão: o que é o esclarecimen-


to?”, Kant discute conceitos como uso público e pri-
vado da razão e a superação da menoridade. À luz do
pensamento kantiano, o fenômeno contemporâneo do
uso político dos eventos esportivos:
a) torna o indivíduo dependente, já que a sua meno-
ridade impede o esclarecimento e a possibilidade de
 VOLUME ÚNICO

pensar por si próprio.


b) forma o indivíduo autônomo, uma vez que amplia a
sua capacidade de fazer uso da própria razão para agir
autonomamente.
c) impede que o indivíduo pense de forma restrita, pois,
mesmo estando cercado por tutores, facilmente rompe
com a menoridade.

94  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


TEMPESTADE
E ÍMPETO

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
Romantismo
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

14
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Destacam-se nesse período: os poetas alemães Schlegel
(1772-1829), Novalis (1772-1801); os escritores alemães
Schiller (1759-1805) e Goethe (1749-1832); os composi-
tores alemães Beethoven (1770-1827), Schumann (1810-
1856) e Brahms (1833-1897), o austríaco Schubert (1797-
1828) e o polonês Chopin (1810-1849).

1. O sentimento vence a razão


No século XVIII, o movimento cultural que predominava na
Europa era o Iluminismo, que colocava a razão acima de
tudo. Diante da sombra da Aufklärung (Iluminismo/Escla-
recimento), desenvolve-se na Alemanha (e em outras regi-
ões da Europa), no final do século XVIII e início do XIX, uma
nova forma de sensibilidade e de valores artísticos – surge
o Romantismo, cuja versão conceitual é o idealismo. pintura com os retratos de Goethe e Schiller.
Tudo começou com o Sturm und drang (Tempestade
e ímpeto), um movimento de jovens poetas alemães
que reagiu violentamente contra a aridez racionalista da
Aufklärung, enaltecendo o sentimento contra a razão. O
nome Sturm und drang deriva da peça homônima de Frie-
drich Klinger (1752-1831).

multimídia: livro

Sofrimentos do jovem Werther - GOETHE, Johann


Wolfgang. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2001.
Ao escrever Werther, em 1774, Johann Wolfgang Goe-
the alcançava sua primeira obra de sucesso e dava início
à prosa moderna na Alemanha. Uma das mais célebres
obras de Goethe, trata-se da história de uma paixão lite-
ralmente devastadora. Com enorme repercussão quan-
 VOLUME ÚNICO

Peça de Klinger - Tempestade e Ímpeto.


do do seu lançamento, Werther foi um testemunho de
Esse movimento ficou marcado por combater a influência como a literatura tinha poder de agir na sociedade.
francesa na cultura alemã. Com uma oposição ao Classi-
cismo francês, a essência do movimento alemão consiste
na criação baseada no impulso irracional, valorizan-
do o sentimento.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  95


As principais características desse movimento cultural são: aos racionalistas e aos iluministas é bem nítida e direta. Essa
postura radical refere-se ao instante em que o ser humano, ao
§ liberdade política, de expressão e de pensamentos;
acreditar cegamente no poderio da razão, sente-se superior
§ individualismo e subjetivismo; aos outros seres e acima da própria natureza, criando uma
§ gosto pelo mistério; dicotomia – de um lado, a natureza e, de outro, a razão.

§ imaginação e sonho;
§ culto pelo exótico;
§ nacionalismo;
§ valorização do passado;
§ desejo de reforma e engajamento político.
A literatura alemã passa a ser original com esse movimen-
to, espalhando uma nova forma de arte para o mundo. O
movimento romântico será fundamental para a formação
dos processos revolucionários nacionalistas, destacando a
Primavera dos Povos (1848) e as unificações nacionais da
Itália (1870) e da Alemanha (1871). Friedrich Schiller

Para o filósofo, só a arte pode reconciliar essas duas


forças (natureza e razão), porém, a arte, que não pode
mais ser ingênua – como era na Grécia antiga – deve ser,
agora, sentimental.
Sentimental significa para Schiler o ato da reflexão pelo
qual o sujeito, ao voltar-se para si mesmo, reconcilia-se
com a harmonia da totalidade.
multimídia: música
Em sua obra Cartas sobre a educação estética do homem,
Fonte: Youtube
de 1794, apresenta essa ideia de educar o homem com
Marcha Fúnebre - Frédéric Chopin
o auxílio da arte.
As músicas de Chopin expressam um forte sentimento,
com diversas variações.

2. Da arte à liberdade
O poeta e filósofo Friedrich Schiller (1759-1805) acredi-
tava que os homens não estavam preparados para a li-
berdade, pois não sabiam, de forma inata, como lidar em
plenitude com ela. Assim, é preciso educar o homem
para a liberdade através da arte. O ser humano é um
indivíduo que participa tanto do mundo sensível como do
inteligível, de modo que existe uma oposição entre ma-
téria e forma, necessidade e liberdade – e esses conflitos
geram um jogo de caráter lúdico que os reconcilie, tendo
como objetivo o belo. A arte, nessa medida, prenuncia a
possibilidade da realização da liberdade, pois ela possibili-
 VOLUME ÚNICO

ta os meios para alcançá-la.


Segundo Schiller, a harmonia entre o homem e o mundo foi
rompida quando o ser humano decidiu se ver diferente da or-
dem natural, com a ordenação racional e iluminista de querer
transformar e dominar a natureza. Nesse momento, a crítica
Monumento Goethe-Schiller.

96  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


3. O problema da estética subjetiva. Como resposta a esse pensamento, emergem os
românticos alemães, que apresentam a arte como
A problemática da arte na filosofia não é um assunto sur- um caminho para reordenação do mundo, guiando
gido no período pós-iluminismo. Desde a Grécia antiga, os para um mundo sensível, onde o sentimento é algo bom
pensadores tratavam em discutir essa temática. para o ser humano.
Platão, por exemplo, criticava veementemente a arte, É mediante a cultura ou educação estética, quando se
propagando-a como um elemento inferior à natureza, pois encontra no “estado de jogo” contemplando o belo, que
tenta imitar a própria natureza por meio da mimésis. Aris- o homem poderá desenvolver-se plenamente, tanto em
suas capacidades intelectuais quanto sensíveis [...] “Pois,
tóteles, por sua vez, acreditava que o belo não pode para dizer tudo de vez, o homem joga somente quando
ser desligado do homem, e o que representa a arte é a é homem no pleno sentido da palavra, e somente é ho-
simetria, a proporção, ou seja, a justa medida. Entretanto, mem pleno quando joga”. No “impulso lúdico”, razão e
para o filósofo Kant, o questionamento da arte é diferen- sensibilidade atuam juntas e não se pode mais falar da
te – ele não questiona em que medida uma obra de arte tirania de uma sobre a outra. Através do belo, o homem
pode nos comunicar ou se a arte tem um compromisso com é como que recriado em todas as suas potencialidades e
recupera sua liberdade.
as coisas pensadas. Para Kant, os juízos de gosto, que
MÁRCIO SUZUKI
seriam a opinião das pessoas sobre a beleza, são
A educação estética do homem. São Paulo: Iluminuras, 2014, p. 14.
relevantes, tornando o belo uma forma sensível e

DIAGRAMA DE IDEIAS

TEMPESTADE NÃO TER MEDO


E ÍMPETO DE EXPRESSAR O
(STURM UND DRANG) SENTIMENTO

MOVIMENTO
A HUMANIDADE
CULTURAL ALEMÃO
TEM A RAZÃO,
ROMANTISMO
MAS TAMBÉM É
GOETHE E SCHILLER SENTIMENTO

CONTRÁRIO ÀS RESPOSTA AO
LIMITAÇÕES MOVIMENTO
DA RAZÃO ILUMINISTA
FRANCÊS.

É PRECISO
VALORIZAR O
SENTIMENTO
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  97


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 4. (Coaero) Friedrich Schiller (1759-1805), autor de Sobre
a educação estética da humanidade, diz que existe no ser
1. Há muito que dizer em favor das regras; quase os humano um impulso que o liga a matéria, sujeitando-o
à natureza e um outro impulso, de ordem superior, que
mesmos argumentos que se poderão fazer a respeito
eleva o ser humano ao nível do pensamento racional e
das leis da sociedade civil: um artista que se formar se-
que aspira à permanência e à imutabilidade. Para supe-
gundo estas mesmas regras não produzirá jamais uma
rar o dualismo matéria e espírito que tal divisão sugere,
coisa absolutamente má; da mesma forma, aquele que Schiller admite a existência de um terceiro impulso.
se regular pelas leis e atender ao decoro, nunca será um
Assinale a alternativa cuja afirmação se relaciona cor-
vizinho muito insuportável nem um velhaco decidido.
retamente com o terceiro impulso admitido por Schiller.
Contudo, diga-se embora o que quiserem; as regras não
servem senão para destruir o verdadeiro sentimento e a) Impulso do equilíbrio: busca manter uma neutralida-
a expressão da natureza. Não, o que digo não é em de- de entre matéria e razão, possibilitando a boa capaci-
masia; as regras não fazem senão constranger; podem dade do julgar.
tirar, é verdade, alguma coisa supérflua etc. b) Impulso da realidade: faz o ser humano perceber a
tensão dialética existente entre forma e matéria, pos-
Goethe. Os sofrimentos do jovem Werther. [carta 8] 26 de maio. sibilitando assim, a construção do real.
Identifique a característica romântica mais evidente do c) Impulso crítico: responsável por elaborar o senso
crítico humano, capacitando o homem a conhecer
fragmento:
o mundo possível de forma racional. Percebido por
a) egocentrismo. Kant, não foi por ele conceituado.
b) rejeição a regras e modelos. d) Impulso lúdico: concilia a matéria, presente aos sen-
c) valorização da vida burguesa. tidos, com a forma, ato do pensamento, que parece
d) valorização do amor como sentido da vida. excluir o que é material e sensível. Exerce-se acima das
e) inadaptação à realidade, desejo de evasão. necessidades naturais e independe dos interesses prá-
ticos. Apresenta-se como jogo estético.
2. Sobre os pressupostos históricos e filosóficos do Ro-
mantismo, considere as seguintes afirmações: 5. A noção de estética, quando formulada e desenvolvi-
da nos séculos XVIII e XIX, concebia as artes como be-
I. Teve base no iluminismo, de modo que as obras român- las-artes e pressupunha que:
ticas são sempre despidas de subjetividade e baseiam-se
I. A arte é uma atividade humana dependente da políti-
tão somente na produção de conhecimento racional.
ca, visto que a sua finalidade é servir os grupos econo-
II. Valoriza as emoções e as experiências sensoriais e, por micamente dominantes e dirigentes, isto é, aqueles que
conseguinte, da objetividade, característica que fez o mo- podem pagar pelas obras de arte.
vimento romântico ser conhecido como anti-iluminista.
II. A arte é produto da experiência sensorial ou percep-
III. Teve como marca inicial, em termos mundiais, a pu- tiva (sensibilidade), da imaginação e da inspiração do
blicação de Os sofrimentos do jovem Werther, de Goe- artista como criador autônomo ou livre
the, romance escrito em cartas. III. A finalidade da arte é desinteressada (não utilitária)
Estão corretas as afirmativas: ou contemplativa. Em outras palavras, a obra de arte não
a) I. d) II e III. está a serviço do culto, nem da prática moral das virtudes,
assim como não está destinada a produzir objetos de uso
b) I e II. e) III.
e de consumo, e sim a propiciar a contemplação da beleza.
c) I e III.
IV. O belo é diferente do bom e do verdadeiro. O bem é
3. Schiller, em A educação estética do homem numa sé- objeto da ética; a verdade, objeto da ciência e da meta-
rie de cartas, afirma que a cultura estética torna possí- física; e a beleza, o objeto próprio da estética.
vel ao homem “aprender a desejar mais nobremente, Estão corretas apenas as afirmativas:
para não ser forçado a querer de modo sublime”. a) I, III e IV. d) III e IV.
A esse respeito, segundo o autor, é correto afirmar que: b) I, II e III. e) II e IV.
a) o homem pode ir além do dever e cultivar sua c) II, III e IV.
sensibilidade a ponto de seus desejos coincidirem ao
máximo com as exigências da moral. 6. (Unioeste) No curso dos séculos, reconheceu-se a exis-
tência de coisas belas e agradáveis e de coisas ou fenô-
b) as exigências da sensibilidade devem valer também
menos terríveis, apavorantes e dolorosos (...). No século
no âmbito da moralidade, matizando a exigência da lei
XVIII o universo do prazer estético divide-se em duas
 VOLUME ÚNICO

moral e reconciliando dever e felicidade.


províncias, a do Belo e a do Sublime (...). Tudo aquilo que
c) as leis da natureza sensível e da natureza racional pode despertar ideias de dor e perigo, isto é, tudo aquilo
devem ser ambas submetidas às leis da beleza, reali- que seja, em certo sentido, terrível ou que diga respeito a
zando plenamente a natureza humana. objetos terríveis, ou que atue de modo análogo ao terror
d) o dever, por si só, não tem acesso ao homem sen- é uma fonte de Sublime, ou seja, é aquilo que produz a
sível, dependendo da beleza para que possa ter sobre mais forte emoção que o espírito é capaz de sentir (...).
ele uma força determinante. [Mas, o terror] só é deleitável quando há um distancia-

98  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


mento da coisa que faz medo, donde, uma espécie de 8. (Unesp) A fonte do conceito de autonomia da arte é o
desinteresse em relação à ela. Dor e terror são causa de pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que
Sublime se não são realmente nocivos. fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois
(Umberto Eco) praticamente tudo o que fazemos serve para alguma coi-
sa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquan-
Acerca do Sublime, é correto afirmar que: to objeto de apreciação estética, uma coisa não obedece
a) refere-se, exclusivamente, a puras criações da imagina- a essa razão instrumental: enquanto tal, ela não serve
ção, sem a presença de objetos externos. para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram em
b) ele se opõe ao Belo, por isso não é um problema da jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto
Estética. é, nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo
c) este sentimento leva nossa natureza sensível a perce- nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim,
ber seus próprios limites, uma vez que a experiência do a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter
Sublime, diante dos espetáculos da natureza, ultrapassa também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim
nossa sensibilidade. recusar também à arte a dimensão em virtude da qual,
d) terremotos, tempestades, rochedos arrojados, fura- sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma,
cões, vulcões em toda sua violência destrutiva e o oceano da luta pelo empobrecimento do mundo.
enfurecido são exemplos de Sublime e, quanto maior for Antônio Cícero. “A autonomia da arte”.
o perigo, quanto mais próximo dele estiver o espectador Folha de São Paulo, 13.12.2008 (adaptado).
mais intensa será a experiência, uma vez que a sensação
de possuir o horror será maior. De acordo com a análise do autor:
e) nenhum artista tentou representar a experiência do a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista
sentimento do Sublime por saber de antemão que ele é da filosofia de Kant, fornece os fundamentos para a
da ordem do irrepresentável. apreciação estética.
b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocor-
7. (Unioeste) O nascimento da estética como disciplina re o esvaziamento do campo estético de suas quali-
filosófica está indissoluvelmente ligado à mutação ra- dades intrínsecas.
dical que intervém na representação do belo quando
c) a transformação da arte em espetáculo da indústria
este é pensado em termos de gosto, portanto, a partir
cultural é um critério adequado para a avaliação de
do que no homem irá logo aparecer como a essência
sua condição autônoma.
mesma da subjetividade, como o mais subjetivo do su-
jeito. Com o conceito de gosto, efetivamente, o belo é d) o critério mais adequado para a apreciação esté-
ligado tão intimamente a subjetividade humana que tica consiste em sua validação pelo gosto médio do
se define, no limite, pelo prazer que proporciona, pelas público consumidor.
sensações ou pelos sentimentos que suscita em nós. e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte
(...) Com o nascimento do gosto, a antiga filosofia da arte está prioritariamente subordinada à sua valorização
como produto no mercado.
deve, portanto, ceder lugar a uma teoria da sensibilidade.
(Luc Ferry) 9. (UEMA) A concepção de arte tem mudado ao longo
dos séculos. A arte como imitação da natureza e a arte
Assinale a alternativa que não está relacionada com a
como expressão e construção são, respectivamente, con-
Estética como disciplina filosófica.
cepções dos seguintes períodos:
a) Estética e a tradução da palavra grega aisthetiké que
a) antigo e contemporâneo.
significa “conhecimento sensorial, experiência sensível,
b) antigo e medieval.
sensibilidade”; só na modernidade, por volta de 1750,
foi utilizada para referir-se aos estudos das obras de artes c) medieval e moderno.
enquanto criações da sensibilidade tendo como finalida- d) antigo e moderno.
de o belo. e) moderno e contemporâneo.
b) Desde seu nascimento como disciplina específica da
filosofia, a Estética afirma a autonomia das artes pela
distinção entre beleza, bondade e verdade. Gabarito
c) Ainda que a obra de arte seja essencialmente parti-
cular, em sua singularidade única ela oferece algo uni- 1. B 2. D 3. A 4. D 5. C
versal. Eis a peculiaridade do juízo de gosto: proferir um
6. C 7. E 8. B 9. A
julgamento de valor universal tendo como objeto algo
singular e particular.
 VOLUME ÚNICO

d) A Estética não cabe apenas ocupar-se com o sentimen-


to de beleza, mas também com o sentimento de sublime.
e) Considerando que tanto o gosto do artista quanto os
gostos do público são individuais e incomparáveis e que,
portanto, “gosto não se discute”, a Estética como disci-
plina da filosofia está destinada ao fracasso, pois não é
possível dar universalidade ao juízo de gosto.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  99


Vivenciando as mudanças históricas de seu tempo,
HEGEL como a Revolução Francesa (1789), Hegel observou o
dinamismo das coisas e como os atos e as ideias estão
interligados, de modo que não podemos separar tais

CH
elementos. Entretanto, esses elementos podem sofrer
alterações, por não serem fixos, ao passo que o momen-
COMPETÊNCIA(s) to histórico carrega consigo elementos culturais e ideais
1, 2, 3, 4 e 5 de tal período, sofrendo mudanças ao longo do tempo.
Assim, segundo o filósofo, cada época tem seu próprio
HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
tipo de sabedoria, na qual não podemos menosprezar o
conhecimento do passado. Aqui, vemos que, para Hegel,
15
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
a filosofia e a história estão entrelaçadas, sem
uma separação nítida.

1. Georg Wilhelm Friedrich multimídia: livro


Hegel (1770-1831)
10 lições sobre Hegel - Deyve Redson; editora Vozes
O livro apresenta os pontos fundamentais da filosofia
de Hegel.

Tendo uma influência kantiana, Hegel salienta que a histó-


ria da humanidade é a história da emancipação dos indiví-
duos, diante de uma elevação gradual de suas liberdades
individuais, atingindo uma maioridade intelectual. Porém,
o que move essa elevação gradual é ocasionada pelo “es-
pírito do tempo” (zeitgeist, em alemão), que impulsiona
as ações e as ideias, algo como um movimento que atinge
a humanidade. O filósofo entende a realidade como es-
pírito, como substância, mas também como sujeito.

Retrato de Hegel.
 VOLUME ÚNICO

Friedrich Hegel nasceu na cidade alemã de Stuttgart, em


1770. O seu pensamento foi determinante para a filosofia
contemporânea, apesar de difundi-lo de modo rebuscado
e num grau de complexidade elevada, sendo construído
no racionalismo – faz parte do círculo que corresponde ao
idealismo alemão. Selo com o retrato de Hegel.

100  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


1.2. O espírito se expressa na arte
Na arte, o saber se configura como expressão sensível do
espírito. O homem se liberta de sua sujeição natural, da fi-
nitude entendida como submissão à natureza. O espírito
vê-se livre para criar, e essa criação manifesta uma
disposição para o absoluto.
multimídia: livro
Mas a arte, segundo Hegel, é ainda dependente da maté-
ria. Na escultura, arte simbólica por excelência, a liberdade
Compreender Hegel do espírito encontra o limite no material bruto. A liberdade
Livro didático que busca estabelecer uma compreensão já é bem maior na música e na pintura, nas quais o grau
acessível aos conceitos e pensamentos hegelianos. de abstração permite ao espírito uma ampla variabilidade
de formas expressivas. Mas é no domínio da palavra que se
realiza a liberdade expressiva da arte: a palavra não é som
1.1. A dialética hegeliana ou grafia, mas o sentido que veicula. Na palavra atinge-se
Para Hegel, o movimento da história é o confronto de ideias o grau máximo de abstração, e o alcance das construções
diferentes, sendo um contínuo devir composto por três mo- espirituais é praticamente infinito.
mentos: tese, antítese e síntese. Assim, a arte é um momento do espírito, em que este procu-
ra adequar-se ao elemento sensível para expressar o saber.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube multimídia: vídeo
Hegel | A Dialética Hegeliana Fonte: Youtube
Hegel
É um movimento circular que não se fecha, ou seja, um mo-
vimento em espiral, pois cada momento final, que seria a sín-
tese, se torna a tese de um movimento posterior, de caráter
mais avançado. Sendo que, para compreender essa dialética,
é necessário buscar o Absoluto, superando o entendimento
comum atingindo a certeza completa e global.  VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  101


CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Após a morte de Hegel, seus seguidores dividiram-se em dois campos contrários:


§ os hegelianos de direita – discípulos diretos do filósofo, na Universidade de Berlim, que defenderam o conservado-
rismo político do período posterior à restauração napoleônica. Alguns chegaram a defender, inclusive, o nazismo,
nas décadas de 1930 e 1940, na Alemanha.
§ os hegelianos de esquerda – interpretaram Hegel em um sentido revolucionário, o que os levou a se aproxima-
rem do ateísmo, na religião, e do socialismo, na política. Entre os hegelianos de esquerda, encontram-se Ludwig
Feuerbach, David Friedrich Strauss, Max Stirner e, o mais famoso de todos, Karl Marx, que viria a desenvolver o
materialismo histórico dialético, desprendendo-se do idealismo hegeliano
Podemos compreender a dialética hegeliana como analo-
gia a uma soma vetorial. Quando somamos dois vetores,
geramos um terceiro, que conserva, de alguma forma, as
propriedades dos originais. Podemos pensar na soma de
um vetor A (tese) com um vetor B (antítese), gerando um
novo vetor S (síntese), tal como representado na imagem
ao lado.

DIAGRAMA DE IDEIAS

EXISTE UM DIALÉTICA
DINAMISMO NO HEGEL
HEGELIANA
MUNDO
• TESE
• ANTÍTESE
A ARTE COMO
• SÍNTESE (TESE)
PRODUTO DO
UM MOVIMENTO ESPÍRITO
O ESPÍRITO, O
ZEITGEIST: ABSOLUTO.
ESPÍRITO DO EXPRESSÃO
TEMPO SENSÍVEL DA IDEIA
A HISTÓRIA
CAMINHA PARA O
PROGRESSO, PARA
A REALIZAÇÃO
 VOLUME ÚNICO

DA LIBERDADE.

102  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) bém, compreendê-la como uma forma histórica de sua
manifestação. Ou, dito de outro modo, sem abandonar
1. (Uece 2020) Relacione, corretamente, os pensadores o seu caráter autorreferencial (subjetivo), o filósofo pre-
com seus respectivos pensamentos acerca da forma como tende efetivá-la na sua necessária forma institucional
o conhecimento da realidade se verifica, numerando os (objetiva). (...) Se a liberdade subjetiva não alcançar essa
parênteses abaixo, de acordo com a seguinte indicação: dimensão e se circunscrever no âmbito dos interesses e
1. Immanuel Kant desejos particulares dos indivíduos nas suas relações pri-
2. Karl Marx vadas, o próprio princípio da liberdade se vê ameaçado.”
3. Renè Descartes MARÇAL, J. (Org.). Antologia de textos filosóficos.
4. G.W.F Hegel Curitiba: SEED-PR, 2009. p. 309.
( ) A reflexão filosófica deve partir de um exame da for-
mação da consciência e a experiência da consciência não Com base na citação anterior, assinale o que for correto.
é só uma experiência teórica: é necessariamente histórica. 01) O livre arbítrio constitui uma ameaça para a rea-
( ) Não é a consciência que determina a vida, mas a lização da liberdade.
vida que determina a consciência. É a ideologia a res- 02) A liberdade deve ser pensada em dois planos dis-
ponsável por produzir uma alienação da consciência tintos: o primeiro, autorreferencial ou subjetivo, e o
humana de sua situação real. segundo, institucional ou objetivo.
( ) É sempre possível duvidar de um princípio, questio- 04) A efetividade do Estado e das instituições sociais
nar as bases de uma teoria. É preciso colocar em ques- constitui um obstáculo para os desejos particulares
tão todo o conhecimento adquirido. dos indivíduos.
( ) O conhecer é um ato de autodeterminação do sujei-
08) O exercício da liberdade é característico de um
to, é anterior a toda experiência, e trata não tanto dos
processo historicamente definido.
objetos, mas dos conceitos a priori sobre os objetos.
16) A liberdade é uma síntese da religião com o au-
A sequência correta, de cima para baixo, é: toconhecimento.
a) 1, 3, 2, 4.
b) 3, 1, 4, 2. 4. (UEM) “Marx e Hegel têm em comum a crítica à exacer-
bação do individualismo egoísta moderno, bem como das
c) 4, 2, 3, 1.
suas consequências, porém discordam quanto às possibi-
d) 2, 4, 1, 3. lidades de solução da questão. Um dos elementos funda-
2. (UEM) O filósofo alemão Hegel (1770-1831) afirma que mentais desse debate é a questão da soberania política.”
“É tarefa da filosofia conceber o que é, pois, aquilo que MARÇAL, J. (Org.). Antologia de textos filosóficos.
é é a razão. No que concerne ao indivíduo, cada um é, de Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 466.
todo modo, um filho de seu tempo; do mesmo modo que
a filosofia é seu tempo apreendido em pensamentos”. Sobre as relações entre indivíduo e Estado, assinale o
que for correto.
HEGEL, G.W.F. Excertos e parágrafos traduzidos. In:
MARÇAL, J. (Org.). Antologia de textos filosóficos. 01) Karl Marx considera que a emancipação humana re-
Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 314. alizar-se-á na sociedade comunista, pois, nessa socieda-
de, o indivíduo não será mais submetido a um Estado e à
A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) divisão social do trabalho, podendo, dessa forma, passar
correta(s). do reino da necessidade ao reino da liberdade.
01) A razão de algo é o conceito desse algo concebi- 02) Para Karl Marx, a liberdade do indivíduo, como
do filosoficamente pelo seu tempo. concebida pelo Estado burguês, não passa de um for-
02) Aquilo que é, a essência de algo, é para o filósofo malismo jurídico; é uma ficção da lei, pois o indivíduo
um conceito racional. só pode ser livre quando a esfera da produção estiver
04) O indivíduo, que é filho de seu tempo, do ponto sujeita ao controle daqueles que produzem.
de vista filosófico, pensa os seus problemas a partir 04) Para Hegel, o Estado deveria ser substituído pela
de seu momento histórico. sociedade civil, pois essa pode representar os interes-
08) Os conceitos filosóficos, por serem determinados ses coletivos e é capaz de garantir os interesses de
historicamente, estão restritos ao seu tempo e à sua cada indivíduo.
época, não sendo, pois, universais. 08) Hegel critica as teorias políticas contratualistas, segun-
16) A reflexão filosófica está intimamente ligada ao do as quais os indivíduos isolados abandonam o estado
seu momento histórico, visto que leva esse mundo ao de natureza para se reunirem em sociedade, por meio de
 VOLUME ÚNICO

plano do conceito. um pacto, a fim de formar artificialmente o Estado e ga-


rantir a liberdade individual e a propriedade privada.
3. (UEM) “A filosofia de Hegel constitui, assim, exemplo 16) A filosofia política de Karl Marx fundamenta-se
de um grandioso e radical investimento especulativo, numa nova antropologia, segundo a qual a natureza hu-
qualificado como ideia de liberdade. Ao mesmo tempo mana varia historicamente, pois o indivíduo se produz à
em que tem a pretensão de analisar a liberdade segun- medida que transforma a natureza pelo trabalho dentro
do um modo conceitual (lógico-ontológico), quer, tam- de certas relações sociais de produção.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  103


5. (UEG) Para Hegel, a razão é a relação interna e neces- 8. (Unicentro) Analise as assertivas e assinale a alter-
sária entre as leis do pensamento e as leis do real. Assim, nativa que aponta a(s) correta(s). Em seu livro História
ela é a unidade entre a razão subjetiva e a razão objeti- da Filosofia, Hegel (1770-1831) declara que a filosofia
va. Hegel denominou essa unidade de espírito absoluto. moderna pode ser considerada o nascimento da filoso-
Dessa forma, um evento real pode expressar e ser resul- fia propriamente dita, porque nela, segundo Hegel, pela
tado das ideias que o precedem. Um exemplo da objeti- primeira vez, os filósofos afirmam que:
vação dessas ideias é o seguinte evento: I. a filosofia é independente e não se submete a ne-
a) A subida de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, nhuma autoridade que não seja a própria razão como
representando os ideais sionistas germânicos. faculdade plena de conhecimento. Isto é, os modernos
b) A queda de Dom Pedro I do trono brasileiro, repre- são os primeiros a demonstrar que o conhecimento ver-
sentando a crise do sistema colonial português. dadeiro só pode nascer do trabalho interior realizado
c) A ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, re- pela razão, graças a seu próprio esforço. Só a razão co-
presentando o ideal iluminista de igualdade social. nhece e somente ela pode julgar a si mesma.
d) A coroação de Dom Pedro II no trono brasileiro, II. a filosofia moderna realiza a primeira descoberta da
representando a vitória dos ideais puritanos de moral. subjetividade propriamente dita porque nela o primei-
6. (UEM) Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o ro ato do conhecimento, do qual dependerão todos os
kantismo. Endereçou a todos a mesma crítica, a de não outros, é a reflexão e consciência de si reflexiva.
terem compreendido o que há de mais fundamental e III. a filosofia moderna é a primeira a reconhecer que,
essencial à razão: o fato de ela ser histórica. Com base sendo todos os seres humanos seres conscientes e ra-
nessa afirmação, assinale o que for correto. cionais, todos têm igualmente o direito ao pensamento
01) Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel consi- e a verdade. Segundo Hegel, essa afirmação do direito
dera a razão como sendo relativa, isto é, não possui ao pensamento, unida à ideia da recusa de toda censura
um caráter universal e não pode alcançar a verdade. sobre o pensamento e palavra, seria a realização filosó-
02) Não há para Hegel nenhuma relação entre a ra- fica do princípio da individualidade como subjetividade
zão e a realidade. Submetida às circunstâncias dos livre que se relaciona livremente com a verdade.
eventos históricos, a razão está condenada ao ceticis- IV. a filosofia moderna está tão intimamente vinculada
mo, isto é, “ao duvidar sempre”. aos fundamentos da práxis humana que a ação não pode
04) A identificação entre razão e história conduz ser ignorada na determinação de seus critérios filosóficos.
Hegel a desenvolver uma concepção materialista da Para Hegel, os modernos foram os primeiros a entender
história e da realidade, negando entre ambas a possi- que esta prática, no entanto, não deve ser considerada
bilidade de uma relação dialética. apenas no sentido restrito da conduta pessoal, mas na
08) No sistema hegeliano, a racionalidade não é mais acepção mais abrangente de experiência humana em seus
um modelo a ser aplicado, mas é o próprio tecido do vários aspectos, desde histórico até o nível psicológico.
real e do pensamento. O mundo é a manifestação da Considerando as afirmações acima:
ideia, o real é racional, e o racional é o real.
a) apenas I, III e IV são corretas.
16) Karl Marx, ao afirmar, na ideologia alemã, que
b) apenas I, II e III são corretas.
não é a história que anda com as pernas das ideias,
c) apenas I é correta.
mas as ideias é que andam com as pernas da história,
d) apenas II, III e IV são corretas.
critica, ao mesmo tempo, o idealismo e a concepção
e) apenas IV é correta.
da história de Hegel e dos neo-hegelianos.
7. (UEM) Segundo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a rea- 9. (Unicentro) Relacione os fragmentos e argumentos
lidade é a manifestação do espírito infinito ou absoluto, abaixo identificando-os com o pensamento político de
que é necessariamente histórico, dialético e realizador seu respectivo autor.
da unidade entre pensamento e mundo. Sobre a ma- I. Na obra Filosofia do Direito, em que são desenvolvi-
nifestação do espírito na arte, segundo a filosofia de das as teorias sobre o Estado, encontramos uma crítica
Hegel, assinale o que for correto. à tradição jurisnaturalista típica dos filósofos contratu-
01) A arte, para Hegel, é a manifestação sensível do es- alistas. Ao contrário destas teorias, a obra em questão
pírito, isto é, a primeira forma de expressão do absoluto, nega a anterioridade dos indivíduos na formação da so-
sucedida pela religião e pela filosofia. ciedade, pois é o Estado que fundamenta a sociedade,
02) Entre as obras de arte, a poesia é a mais espiritual ou seja, não existe o homem em estado de natureza,
de todas, segundo Hegel, pois a matéria que utiliza é a pois o homem é sempre um indivíduo social.
linguagem. Cf. ARANHA; MARTINS. Filosofando:
04) Para Hegel, a arte sempre renasceu e renascerá eter- introdução à filosofia. 2. ed. São
Paulo: Moderna, 1993, p. 234.
namente, pois seu conteúdo histórico deve ser atualizado
 VOLUME ÚNICO

II. É verdade que nas democracias o povo parece fazer


ao longo do tempo. o que quer, mas a liberdade política não consiste nisso.
08) A arte sacra (música-coral, arquitetura gótica, escul- Num Estado, isto é, numa sociedade em que há leis, a
turas e afrescos) é, segundo Hegel, uma forma de arte liberdade não pode consistir senão em poder fazer o que
perfeita, pois a religião é a base do artista. se deve querer não ser constrangido a fazer o que não
16) De acordo com o processo de autoconsciência do
se deve desejar. Deve-se ter sempre em mente o que é
espírito, Hegel classifica a arte em três momentos ou for-
independência e o que é liberdade. A liberdade é o direi-
mas: simbólica, clássica e romântica.

104  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


to de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar que:
pudesse fazer tudo o que elas proíbem não teria mais I. a razão governa o mundo e, portanto, a história uni-
liberdade, porque os outros também teriam tal poder. versal é um processo racional.
Fragmento retirado da obra: Do espírito das II. a ação dos homens obedece a vontade divina que
leis. São Paulo: Difel, 1962, p. 179.
preestabelece o curso da história.
III. A ideia central da obra Segundo tratado sobre o go- III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao
verno gira em torno do conceito de propriedade privada. real existente.
Inicialmente, este conceito é usado num sentido muito
IV. a ideia ou a razão se originam da força material de
amplo, indicando tudo o que pertence a cada indivíduo,
produção e reprodução da história.
isto é, seu corpo, suas capacidades, seu trabalho, seus
bens, sua vida e liberdade. Segundo essa concepção, Assinale a alternativa que contém somente assertivas
todos são proprietários, mesmo quem não possui bens, corretas.
pois todos são proprietários de sua vida, de seu corpo, a) III e IV.
de seu trabalho. Nessa obra, aparece a distinção entre o b) I e II.
público e o privado, que devem ser regidos por leis dife-
c) II e III.
rentes, de tal modo que o Estado não deve intervir, mas
sim garantir e tutelar o livre exercício da propriedade. d) I e III.
Cf. ARANHA; MARTINS. Filosofando: introdução à 11. (UFU) Segundo Hegel, “Na história universal só se
filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993, p. 219. pode falar dos povos que formam um Estado. É preciso
IV. Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as saber que tal Estado é a realização da liberdade, isto
relações jurídicas – assim como as formas de Estado – é, da finalidade absoluta, que ele existe por si mes-
não podem ser compreendidas por si mesmas, nem pela mo: além disso, deve-se saber que todo valor que o
dita evolução geral do espírito humano (...). A conclusão homem possui, toda realidade espiritual, ele só o tem
geral a que cheguei (...) pode formular-se resumidamente mediante o Estado”.
assim: na produção social de sua existência, os homens HEGEL. Filosofia da História. 2. ed. Brasília:
estabelecem relações determinadas, necessárias, inde- Editora da UnB. 1998. p. 39-40.
pendentes da sua vontade, relações de produção que
correspondem a um determinado grau de desenvolvi- A interpretação do trecho citado permite afirmar que:
mento das forças produtivas materiais. (...) O modo de a) o Estado é realidade espiritual, que ao mesmo tempo
produção da vida material condiciona o desenvolvimen- é a garantia dos valores humanos, sendo a liberdade a
to da vida social, política e intelectual em geral. Não é a realização suprema da existência humana, pois ela é a
consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu síntese da vontade universal e da vontade subjetiva.
ser social que, inversamente, determina sua consciência.
b) o Estado resulta da ação abstrata produzida por uma
Fragmento retirado da obra: Contribuição à crítica da economia força divina absoluta e superior às vontades humanas
política. São Paulo: Martins Fontes, 1977, p. 23. que a ela se submetem.
c) o Estado é a limitação da liberdade, que é cerceada
Os fragmentos e argumentos acima correspondem ao
para que o Estado se coloque acima e à frente dos cida-
pensamento político de quais filósofos? Preencha os
dãos no curso da história.
parênteses com o número do argumento ou fragmento
que lhe é correspondente. d) o Estado é a recondução do indivíduo e da espécie
às condições naturais de existência, únicas capazes de
( ) Karl Marx garantir a liberdade como valor absoluto.
( ) Friedrich Hegel
(
(
) John Locke
) Montesquieu
Gabarito
1. C 2. 01 + 02 + 04 + 16 = 23 3. 02 + 08 = 10
Assinale a alternativa correta.
a) I, II, III e IV. 4. 01 + 02 + 08 + 16 = 27 5. C
b) II, III, I e IV.
6. 08 + 16 = 24 7. 01 + 02 + 16 = 19
c) IV, III, II e I.
d) III, I, IV e II. 8. B 9. E 10. D 11. A
e) IV, I, III e II.
 VOLUME ÚNICO

10. (UFU) Hegel, em seus cursos universitários de Filoso-


fia da História, fez a seguinte afirmação sobre a relação
entre a filosofia e a história: “O único pensamento que
a filosofia aporta é a contemplação da história”.
HEGEL, G.W.F. Filosofia da História. 2. ed.
Brasília: Editora da UnB, 1998, p. 17.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  105


ÉTICA
UTILITARISTA

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

16
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

retrato de Jeremy Bentham.

As características de sua filosofia são:


§ maior princípio de felicidade: promove a felicidade em
1. Introdução geral, sendo o princípio que aprova ou desaprova a ação;
§ o egoísmo universal: prevalece o pensar numa ação vol-
O utilitarismo é considerado como uma doutrina que afir-
tada para o coletivo, seguindo uma lógica utilitarista; o
ma que as ações são boas quando tendem a promover a
utilitarismo visa a imparcialidade para vencer os interes-
felicidade, ao passo que também podem produzir ações
ses particulares que afetam a felicidade coletiva.
negativas quando não propiciam a felicidade.
§ identificação artificial dos interesses de alguém: diante
desta característica, o indivíduo entenderá o outro como
relevante na sociedade, ou seja, os interesses de um é o
mesmo de todos.
Segundo a filosofia de Bentham, o princípio da utilidade
é algo que não admite provas diretas, não sendo neces-
sariamente um problema, pois alguns princípios explica-
multimídia: vídeo tivos devem começar em algum lugar, tendo como base
a observação.
Fonte: Youtube
Esse pensamento utilitarista apresenta vantagens numa
Utilitarismo
filosofia moral, pois permite que as decisões sejam discu-
tidas por todos, com o mesmo interesse coletivo, o in-
teresse do bem, visando à felicidade. Aqui, notamos
2. Jeremy Bentham (1748-1832) uma orientação de que todos os sujeitos da sociedade são
relevantes e iguais na construção de um bem coletivo. Com
O filósofo inglês Bentham salientava que a natureza huma- isso, a filosofia moral, ou a ética, pode ser descrita como
na era governada por dois elementos soberanos – prazer uma orientação que dirige a ação do homem para
e dor –, num movimento constante de busca pelo prazer maior quantidade possível de felicidade.
e de fuga da dor.
A filosofia utilitarista dialoga com princípios hedonistas do
 VOLUME ÚNICO

O pensador promulgou o princípio da utilidade como pa- epicurismo, pois visa a maximização da felicidade e a dimi-
drão de ação correta por parte dos indivíduos e pelo Es- nuição das dores. O utilitarismo preocupa-se com decisões
tado, de modo que essas ações ganham uma validade/ que resultem em ações concretas para a alegria do maior
aprovação, quando desencadeiam a felicidade, enquanto número possível de pessoas. É uma ética consequencialista
outras ações são inválidas/reprovadas, quando causam a e pragmática, diferente da ética kantiana do dever e dos
infelicidade ou a própria dor. princípios universalistas do idealismo alemão.

106  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A liberdade, para o filósofo, consistia na ausência da restri-
ção, podendo ter uma liberdade plena, sem o impedimen-
to dos outros, sendo que essa liberdade não é “natural”
(no sentido de existir antes da vida social), pois as pessoas
sempre viveram em sociedades, isto é, essa liberdade surge
com o próprio sujeito.
A utilização das leis arbitrárias se torna negativa porque,
por natureza, restringe a liberdade do sujeito, sendo, na
sua essência, prejudicial ao indivíduo. Entretanto, a lei é
necessária para orientar a ordem social, e as boas leis se-
rão essenciais. Isso ocorre quando o controle pelo Estado retrato de Stuart Mill
é limitado, deixando o indivíduo livre, pois o protegerá de
qualquer dano em sua liberdade e na própria liberdade co-
letiva. Isso dá uma utilidade positiva, pois expressa a von-
tade do soberano, que o próprio grupo social.

2.1. Pensamento contra a Declaração


dos Direitos do Homem e do Cidadão multimídia: vídeo
Bentham foi contrário às declarações do ideal contratua-
Fonte: Youtube
lista da Revolução Francesa – ao firmar um pacto de di-
Liberdade de expressão, uma
reitos, limitando valores morais e éticos, priva o indivíduo
conversa sobre Stuart Mill
de viver a vida na sua totalidade, pois não há escolha
consciente e coletiva. Segundo Bentham, a Revolução Os filósofos Paulo Ghiraldelli e Francielle Chies conver-
Francesa, principalmente em sua fase jacobina, apegou- sam sobre o tema “liberdade de expressão”, da obra
-se aos ideais abstratos dos direitos e afastou-se da rea- Liberdade, de Stuart Mill.
lidade dos indivíduos.
3.1. O princípio do dano
O princípio do dano assegura que cada indivíduo tem o di-
reito de agir como quiser, desde que suas ações não prejudi-
quem as outras pessoas. Se a ação afeta diretamente apenas
a pessoa que a está realizando, então a sociedade não tem
o direito de intervir. Entretanto, Mill argumenta que os indi-
víduos devem ser prevenidos (alertados) de fazer algo ruim
multimídia: vídeo para si mesmos, afinal, não vivemos plenamente isolados e
nossas ações podem afetar outros indivíduos.
Fonte: Youtube
O dilema do Super-Herói | Nerdologia
3.2. A liberdade do indivíduo
A liberdade de expressão, oral e escrita, é proeminente
entre as condições de um bom governo. Só que essa liber-
3. John Stuart Mill (1806-1873) dade, num governo popular, baseado no voto, não garante
a liberdade, pois um governo baseado na vontade popular
O filósofo inglês Stuart Mill foi seguidor de Bentham, em-
pode exercer a tirania. Assim, as restrições impostas ao in-
bora discordasse de algumas de suas afirmações.
divíduo, seja pela lei ou pela opinião, deveriam ser basea-
Para Mill, os prazeres possuem um quadro de satisfação, das num princípio coletivo.
 VOLUME ÚNICO

como numa escala de valores. Por exemplo, o prazer intelec- A liberdade é um bem em si mesmo como num meio para
tual é de um tipo melhor que os prazeres que são sensuais a felicidade e o progresso. O Estado e suas instituições não
ou instintivos. Essa condição é direcionada indutivamente, devem, pois, ditar regras sobre a vida dos indivíduos e cer-
pois Mill questiona: “Quem preferiria ser um jabuti feliz, vi- cearem suas liberdades. A liberdade é um bem maior e só
vendo uma vida extremamente longa, do que ser uma pes- deve possuir alguma sanção segundo o princípio do dano,
soa vivendo numa vida normal?”. evitando males para outros indivíduos.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  107


a utilidade como teste do certo e do errado usam este
termo no sentido restrito e meramente coloquial em que
o útil se opõe ao prazer. Devemos desculpas aos filósofos
opositores do utilitarismo por confundi-los, ainda que mo-
mentaneamente, com pessoas capaz de uma concepção
tão absurdamente errada; o que se torna ainda mais ex-
traordinário na medida em que a acusação contrária, de
remeter tudo ao prazer, e isso da forma mais grosseira, é
multimídia: livro uma das mais comuns contra o utilitarismo. ... Aqueles que
sabem um pouco sobre essa questão estão cientes de que
todos os autores, de Epicuro a Bentham, que defenderam
Menino do Engenho - José Lins do Rego.
o princípio da utilidade o entenderam não como algo a ser
Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. contraposto ao prazer, mas sim como o próprio prazer, jun-
Trata-se do romance apresentado no início do capítulo, tamente com a ausência de dor. E ao invés de opor o útil
que traz uma série de questões que podem ser debati- ao agradável ou ao ornamental, sempre declararam que o
das a partir da ética e da moral. útil também significa essas eentre outras coisas. E, contu-
do, o rebanho, inclusive o "rebanho dos escritores", não
apenas em jornais e outros periódicos, mas em livros de
3.3. A crítica peso e pretensão, estão perpetuamente cometendo esse
erro superficial. Tomam a palavra utilidade e não sabem
O pensamento de Mill sofre uma crítica porque, em seu zelo sobre ela nada além de seu som. Habitualmente, expres-
pela liberdade e em sua oposição à extensão da interferência sam por meio dela a rejeição, ou o descuido, do prazer em
do Estado, ele deu pouca importância à justiça e ao bem-es- algumas de suas formas: a beleza, o ornamento, a diver-
tar, elementos que podem comprometer a liberdade. são. E o termo não é apenas mal aplicado por ignorância
em sentido depreciativo, mas ocasionalmente até mesmo
Stuart Mill viu com entusiasmo o surgimento do socialis- como um cumprimento, como se significasse algo de su-
mo e considerava que aspectos dessa ideologia poderiam perior à frivolidade ou aos meros prazeres momentâneos.
ser úteis para o aprimoramento da sociedade. No entan- Este uso pervertido é o único pelo qual essa palavra é po-
to, Mill possuía posições criticas ao ideal de uma socie- pularmente conhecida, e é desse uso que a nova geração
dade comunista. Seu entusiasmo estava mais próximo de está adquirindo seu único entendimento desta palavra.
certos aspectos do socialismo utópico. ...
Embora Bentham e Mill partam de um entendimento se- O credo que aceita como fundamento da moral o Útil ou
melhante em relação ao conceito de utilidade, o utilitaris- Princípio da Máxima Felicidade, considera que uma ação é
correta na medida em que tende a promover a felicidade,
mo de Bentham enfatiza a moralidade da ação, enquanto
e errada quando tende a gerar o oposto da felicidade. Por
o de Mill busca entender em que consistiria a avaliação
felicidade entende-se o prazer e a ausência da dor; por
moral da ação e a moralidade das próprias normas. infelicidade, dor, ou privação do prazer; Para proporcionar
uma visão mais clara do pradrão moral estabelecido por
essa teoria, é preciso dizer muito mais; em particular, o
que as ideias de dor e prazer incluem e até que ponto
essa questão fica em aberto. Mas as explicações suple-
mentares não afetam a concepção de vida em que essa
teoria da moral se fundamenta: a saber, que o prazer e a
ausência de dor são as únicas coisas desejáveis como fim,
e que todas as coisas desejáveis (que são numerosas no
multimídia: vídeo esquema utilitarista, como em qualquer outro) o são ou
porque o prazer é inerente a elas, ou porque consistem em
Fonte: Youtube meios de promover o prazer e evitar a dor.
Gattaca, a experiência genética - Estados Unidos, 1997. STUART MILL
Filme de ficção científica ambientado no futuro, que Textos básicos de ética, editora Zahar, 4ª
apresenta uma situação bastante interessante: a per- edição, autoria de Danilo Marcondes.

sonagem principal viola as principais regras morais da


 VOLUME ÚNICO

sociedade na qual vive, mas, apesar disso, suas ações 3.3.1. Mill e o sufrágio feminino
são legítimas, do ponto de vista ético.
Muitos volumes dos escritos de Mill tratam de assuntos de
Uma simples observação deveria bastar contra a confusão interesse social e político. Estes incluem escritos sobre pro-
dos ignorantes que supõem que aqueles que defendem blemas políticos específicos na Índia, América, Irlanda, Fran-
ça e Inglaterra, sobre a natureza da democracia e sobre a

108  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


civilização, sobre escravidão, sobre direito e jurisprudência, nem incapacidade de outro. Isso mostra como Mill apela
sobre o local de trabalho e sobre a família e o status das tanto para a patente injustiça dos arranjos familiares con-
mulheres, um importante trabalho na história do feminísmo. temporâneos quanto para o impacto moral negativo desses
arranjos sobre as pessoas dentro deles. Em particular, ele dis-
A natureza radical da reivindicação de Mill pela igualdade
cute as maneiras pelas quais a subordinação das mulheres
das mulheres é, muitas vezes, esquecida para nós depois
afeta negativamente não apenas as mulheres, mas também
de mais de um século de protestos e mudanças de atitudes
os homens e as crianças da família. Essa subordinação difi-
sociais. No entanto, a subordinação das mulheres aos ho-
culta o desenvolvimento moral e intelectual das mulheres ao
mens, quando Mill estava escrevendo, continua marcante.
restringir seu campo de atividades, empurrando-as para o
Entre outros indicadores dessa subordinação estão os se-
autossacrifício ou para o egoísmo e a mesquinhez.
guintes: (1) as mulheres britânicas tinham menos motivos
para o divórcio que os homens até 1923; (2) os maridos Os homens, por sua vez, tornam-se brutais através de seus
controlavam as propriedades de suas esposas como se fos- relacionamentos com mulheres ou se afastam de projetos
sem deles até 1882; (3) as crianças eram consideradas do de crescimento pessoal para buscar a "consideração" so-
marido; (4) o estupro era visto como impossível dentro de cial que as mulheres desejam.
um casamento; e (5) as esposas careciam de características
É importante notar que a preocupação de Mill com o status
cruciais da personalidade jurídica, uma vez que o marido
das mulheres se encaixa com o restante de seu pensamen-
era considerado o representante da família (eliminando,
to – não é um problema desconectado. Por exemplo, seu
assim, a necessidade do sufrágio feminino).
apoio à igualdade das mulheres foi reforçado pelo asso-
ciacionismo, que afirma que as mentes são criadas por leis
associativas que operam na experiência. Isso implica que,
se mudarmos as experiências e a educação das mulheres,
suas mentes mudarão.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Filosofia política: o utilitarismo
Curso Livre de Humanidades, com o professor Luis Al-
berto Peluso, da PUC-Campinas.

Cartaz do Movimento das Mulheres Alemãs


reivindicando o direito ao voto, 1914.
 VOLUME ÚNICO

O objetivo do ensaio foi mostrar que o princípio que regula


as relações sociais existentes entre os dois sexos - a subordi-
nação legal de um sexo ao outro - é errado em si mesmo, e
um dos principais obstáculos para o desenvolvimento huma-
no e que deveria ser substituído por um princípio de perfeita
igualdade, não admitindo poder ou privilégio de um lado,

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  109


DIAGRAMA DE IDEIAS

UTILITARISTA

AS AÇÕES
SÃO BOAS, POIS
PROMOVEM A
FELICIDADE
BENTHAM STUART MILL

A ÉTICA DAS
CONSEQUÊNCIAS,
O SER HUMANO DOS RESULTADOS, OS PRAZERES
BUSCA O PRAZER DO PRAGMATISMO DO HOMEM TÊM
UM QUADRO DE
SATISFAÇÕES

PROCURA
EVITAR A DOR
PRINCÍPIO
DO DANO

A ÉTICA DEVE VISAR


AO BEM COMUM
TODOS TÊM O
DIREITO DE AGIR SEM
PROVOCAR DANOS
O RESULTADO DE A OUTRAS PESSOAS
NOSSAS ESCOLHAS
DEVE VISAR À
FELICIDADE DA
MAIORIA
 VOLUME ÚNICO

110  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) prio bem, físico ou moral, da pessoa”.
MILL, John Stuart. Da liberdade. São Paulo: Ibrasa, 1963.
1. (Enem PPL) O povo que exerce o poder não é sempre Este princípio, muito caro ao liberalismo político ra-
o mesmo povo sobre quem o poder é exercido, e o fala- dical, ficou conhecido como “princípio da liberdade”.
do self-government [autogoverno] não é o governo de Com base na leitura do enunciado de Mill, escolha a
cada qual por si mesmo, mas o de cada qual por todo alternativa correta.
o resto. Ademais, a vontade do povo significa pratica-
mente a vontade da mais numerosa e ativa parte do a) Os indivíduos têm total liberdade de ação e a so-
povo – a maioria, ou aqueles que logram êxito em se ciedade jamais pode legitimamente reprimi-los, mes-
fazerem aceitar como a maioria. mo quando suas ações venham a provocar danos aos
demais.
MILL, John Stuart. Sobre a liberdade. b) A vontade do indivíduo é soberana, mas a socie-
Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado).
dade tem o direito legítimo de reprimir os vícios e os
No que tange à participação popular no governo, a ori- comportamentos autodestrutivos por parte de seus
gem da preocupação enunciada no texto encontra-se na: membros.
c) Os indivíduos movidos por seus interesses pessoais
a) conquista do sufrágio universal.
agem de forma egoísta e a sociedade tem o direito
b) criação do regime parlamentarista. legítimo de regular suas ações em função dos valores
c) institucionalização do voto feminino. estabelecidos pelos bons costumes.
d) decadência das monarquias hereditárias. d) Os indivíduos têm o direito de fazer suas escolhas
e) consolidação da democracia representativa. pessoais, mesmo quando estas colidem com a visão de
mundo dominante e a sociedade só pode coibir tais
2. (Unesp) Tradição de pensamento ético fundada pelos escolhas quando estas provocarem danos a terceiros.
ingleses Jeremy Bhentam e John Stuart Mill, o utilitarismo e) A salvaguarda do bem-estar físico ou moral do indi-
almeja muito simplesmente o bem comum, procurando víduo é o fundamento para que o poder possa ser le-
eficiência: servirá aos propósitos morais a decisão que gitimamente exercido sobre qualquer membro de uma
diminuir o sofrimento ou aumentar a felicidade geral da sociedade civilizada, mesmo contra a sua vontade.
sociedade. No caso da situação dos povos nativos brasi-
leiros, já se destinou às reservas indígenas uma extensão 4. (UEM) Entre o final do século XVII e o final do século
de terra equivalente a 13% do território nacional, quase XIX, desenvolvem-se duas grandes concepções refe-
o dobro do espaço destinado à agricultura, de 7%. Mas a rentes à organização social e à ordem política, isto é,
mortalidade infantil entre a população indígena é o dobro o liberalismo e o socialismo. Essas duas doutrinas di-
da média nacional e, em algumas etnias, 90% dos inte- ferenciam-se tanto pelos princípios que fundamentam
grantes dependem de cestas básicas para sobreviver. Este a organização social e a ordem política, quanto por
é um ponto em que o cômputo utilitarista de prejuízos pretenderem atender aos interesses de classes sociais
e benefícios viria a calhar: a felicidade dos índios não é divergentes. Assinale o que for correto.
proporcional à extensão de terra que lhes é dado ocupar. 01) Ao formular a teoria da propriedade privada
como direito natural, o filósofo inglês John Locke es-
Veja, 25 out. 2013 (adaptado). tabeleceu um dos princípios que fundamentaram a
A aplicação sugerida da ética utilitarista para a popula- organização social e a ordem política do liberalismo.
ção indígena brasileira é baseada em 02) A revolta da Comuna de Paris, em 1871, foi uma
insurreição dos liberais contra o Estado que, ao de-
a) uma ética de fundamentos universalistas que de- cretar leis para regulamentar o mercado, infringia o
precia fatores conjunturais e históricos. princípio do “deixai fazer, deixai passar”, ou seja, da
b) critérios pragmáticos fundamentados em uma rela- não intervenção do Estado na economia.
ção entre custos e benefícios. 04) Karl Marx e Friedrich Engels ficaram conhecidos
c) princípios de natureza teológica que reconhecem o como representantes do socialismo científico. Eles
direito inalienável do respeito à vida humana. criticaram os socialistas utópicos, tais como Charles
d) uma análise dialética das condições econômicas Fourier e Robert Owen, que acreditavam ser possível
geradoras de desigualdades sociais. mudar a realidade social de maneira idealista e vo-
e) critérios antropológicos que enfatizam o respeito luntarista, criando comunidades-modelo.
absoluto às diferenças de natureza étnica. 08) John Stuart Mill foi um dos poucos liberais que
criticou as desigualdades sociais e políticas, a ponto
3. (Unioeste) Segundo John Stuart Mill, a autoridade da de defender o sufrágio universal contra o voto censi-
 VOLUME ÚNICO

sociedade sobre o indivíduo deveria ser claramente limi- tário e ser um dos pioneiros na defesa da emancipa-
tada. Visando estabelecer o justo limite da soberania do ção da mulher.
indivíduo sobre si mesmo, ele afirma que “(...) o único
16) Karl Marx e Friedrich Engels criticaram a demo-
objetivo a favor do qual se possa exercer legitimamente
cracia burguesa fundada no liberalismo, que, para
pressão sobre qualquer membro de uma comunidade
eles, dissimulava o poder político do capitalista pro-
civilizada, contra a vontade dele, consiste em prevenir
prietário dos meios de produção e legitimava o domí-
danos a terceiros. Não basta que se leve em conta o pró-
nio sobre o operariado expropriado.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  111


5. (UEL) Leia o trecho a seguir. estados de coisas pelo menos tão bons quanto aqueles
O objeto deste ensaio é defender [que] o único propó- que teriam resultados de cursos alternativos de ação. O
sito com o qual se legitima o exercício do poder sobre utilitarismo de regras ensina que são corretas as ações
algum membro de uma comunidade civilizada contra a que se conformam a regras de cuja observância geral re-
sua vontade é impedir dano a outrem. sulta um estado de coisas pelo menos tão bom quanto o
resultante de regras alternativas. (...). Para o consequen-
MILL, John Stuart. Sobre a liberdade [1859]. Petrópolis: Vozes, 1991. cialismo, o bem é logicamente anterior ao correto, no
sentido de que nenhum critério de correção pode ser es-
O trecho expressa:
tabelecido antes que uma concepção de bem tenha sido
a) o argumento jusnaturalista, encontrado também delineada. (...) Para o utilitarismo, o bem é a utilidade (...)
em autores como Thomas Hobbes, para a criação do
contrato social que fundaria as bases de um Estado (M.C.M. de Carvalho)
soberano. Com base no texto, seguem as seguintes afirmativas:
b) a visão fascista, na qual o Estado surge como solu-
I. Na concepção moral utilitarista, é necessário, nos ju-
ção para os conflitos e problemas existentes no interior
ízos morais, levar em consideração as consequências
da sociedade civil.
resultantes das ações praticadas.
c) a análise influenciada por Marx e Engels, na medida
em que se baseia nas classes sociais para identificar o II. Para o utilitarismo de regras, são consideradas boas
raio de ação dos indivíduos na sociedade. as ações conforme a regras cuja observância resulta
num estado de coisas tão bom, ou melhor, do que o es-
d) o ideário positivista do século XIX, no qual há uma
tado de coisas resultante de regras alternativas.
forte crítica à visão utilitarista da moral e da vida em
sociedade. III. Na concepção ética utilitarista, o princípio funda-
e) uma preocupação característica do liberalismo do mental é o princípio da utilidade.
século XIX, que buscava pensar os limites da ação do IV. Na concepção ética utilitarista, nenhum critério de
Estado em relação à vida particular dos indivíduos. correção no agir moral pode ser estabelecido com base
numa determinada concepção de bem.
6. (Enem) O edifício é circular. Os apartamentos dos
V. Há, em termos morais, apenas, uma única concepção uti-
prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode cha-
litarista, por esta ser uma concepção moral deontológica.
má-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor
ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser, de alo- Assinale a alternativa correta.
jamento do inspetor. A moral reformada; a saúde pre- a) Apenas I e IV estão corretas.
servada; a indústria revigorada; a instrução difundida; b) Apenas II e IV estão corretas.
os encargos públicos aliviados; a economia assentada, c) Apenas IV e V estão incorretas.
como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei so-
d) Apenas III e IV estão corretas.
bre os Pobres não cortado, mas desfeito – tudo por uma
simples ideia de arquitetura! e) Todas as afirmativas estão incorretas.

BENTHAM, Jeremy. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 8. (Ifam) O filósofo liberal John Stuart Mill, um dos prin-
cipais expoentes do utilitarismo, colocou a liberdade
Essa é a proposta de um sistema conhecido como pa- como a “pedra de toque” de sua teoria política. Esta se
nóptico, um modelo que mostra o poder da disciplina baseia no princípio de que:
nas sociedades contemporâneas, exercido preferencial- a) os interesses da maioria não podem ser conciliados
mente por mecanismos com os da minoria, já que no sistema democrático
a) religiosos, que se constituem como um olho divino esta é governada por aquela.
controlador que tudo vê. b) a esfera da liberdade individual deve ser ampliada,
b) ideológicos, que estabelecem limites pela aliena- em nome do interesse próprio, a despeito de causar
ção, impedindo a visão da dominação sofrida. danos à sociedade como um todo.
c) repressivos, que perpetuam as relações de domina- c) a liberdade se restringe ao direito do indivíduo de
ção entre os homens por meio da tortura física. participar como cidadão dos negócios públicos (do
d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo Estado), através da elaboração da lei.
por meio do olhar como instrumento de controle. d) o governo deve visar à felicidade para um número
e) consensuais, que pactuam acordos com base na cada vez maior de pessoas.
compreensão dos benefícios gerais de se ter as pró- e) a liberdade, entendida como a não interferência do
prias ações controladas. Estado na esfera privada, é inconciliável com a igual-
 VOLUME ÚNICO

dade entre os indivíduos na esfera pública.


7. (Unioeste) O utilitarismo é um tipo de teoria teleoló-
gica (de telos que, em grego, significa “fim”) ou conse- 9.(IFG) Na contramão das previsões que anunciaram a
quencialista porque sustenta que a qualidade de um ato/ morte da filosofia moral utilitarista, essa doutrina con-
regra de ação é função das consequências produzidas tinua sendo um tema privilegiado no campo de estudos
pelo ato/regra em questão. O utilitarismo de atos estatui sobre a ética. A que se deve atribuir a vitalidade atual
que uma ação é correta se sua realização dá origem a dos estudos sobre o utilitarismo?

112  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


a) É possível afirmar que, se o utilitarismo continua fe- consideradas como classe (embora não mais do que ou-
cundando a reflexão ética em nossos dias, é porque, à tras possam sê-lo em casos particulares). Elas devem, por
luz dessa doutrina, os direitos têm prioridade sobre o isso, ser protegidas, como de fato naturalmente o são, por
bem. Por isso, na “era dos direitos”, para falar com Nor- um sentimento diferente não só em grau mas em quali-
berto Bobbio, é compreensível que as éticas dos direitos dade, distinto, tanto pela natureza mais definida de seus
busquem inspiração no utilitarismo. ditames como pelo caráter mais severo de suas sanções,
b) Os utilitaristas chegaram a um consenso na interpre- do sentimento mais moderado que se liga à simples ideia
tação do conceito de utilidade. Um conceito que privi- de promover o prazer ou a conveniência dos homens.
legia o interesse individual em detrimento do interesse
Ibidem, p. 94.
geral e que leva a sério a pessoa humana.
c) Não se pode ignorar que justiça e equidade estão Com base na leitura desses dois trechos e considerando
suficientemente asseguradas na teoria utilitarista. Daí a outros elementos presentes no capítulo citado da obra
importância que essa teoria adquire no cenário atual. O de Mill, responda:
utilitarismo não admite que minorias sejam oprimidas e
a) Qual é o obstáculo ao princípio de utilidade que,
direitos humanos violados.
segundo o autor, tem sido extraído da ideia de justiça?
d) Qualquer sistema ético deve promover o bem-estar
e preocupar-se com a minimização do sofrimento. Daí b) Qual é o argumento utilizado pelo autor para en-
a pertinência do utilitarismo, uma doutrina sensível às frentar esse obstáculo e demonstrar que não há incom-
preocupações distributivas, que não opõe princípio de patibilidade entre as regras da justiça e o princípio da
utilidade e princípio de equidade. maior felicidade?
e) O utilitarismo é um modelo ético desafiante que nos

Gabarito
leva a pensar sobre importantes questões da ética nor-
mativa, da metaética e da teoria da ação. A doutrina
tem o mérito de considerar e ao mesmo tempo avaliar a
importância das consequências da ação humana, como 1. E 2. B 3. D 4. 01 + 04 + 08 + 16 = 29
também de colocar em primeiro plano a satisfação das
5. E 6. D 7. C 8. D 9. E
necessidades e dos interesses humanos da maioria.
10. D
10. (Enem) A moralidade, Bentham exortava, não é uma
questão de agradar a Deus, muito menos de fidelidade 11.
a regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a a) O obstáculo é a ideia de justiça, que é vista como
maior quantidade de felicidade possível neste mundo. um valor superior ao útil ou ao conveniente. Neste
Ao decidir o que fazer, deveríamos, portanto, perguntar caso, a justiça tem de ser encarada como um senso
qual curso de conduta promoveria a maior quantidade natural, próprio do ser humano.
de felicidade para todos aqueles que serão afetados. b) Stuart Mill considera que a noção de justiça é um
RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral. conjunto de componentes de ordem emocional, como
Barueri-SP: Manole, 2006. no caso do ser humano defender-se de um mal, e ra-
cional, que está estritamente fundamentada na ideia
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em de justiça que acarreta aos seres humanos sentimen-
conformidade com uma tos mais intensos, como a segurança, aspectos dos
a) fundamentação científica de viés positivista. mais desejáveis.
b) convenção social de orientação normativa.
c) transgressão comportamental religiosa.
d) racionalidade de caráter pragmático.
e) inclinação de natureza passional.

11. (UFMG) Leia estes dois trechos:

TRECHO 1

Em todas as épocas do pensamento, um dos mais for-


tes obstáculos à aceitação da utilidade ou da felicidade
como critério do certo e do errado tem sido extraído da
ideia de justiça.
 VOLUME ÚNICO

MILL, John Stuart. O utilitarismo. São Paulo:


Iluminuras, 2000. Cap. V, p. 69.

TRECHO 2

A justiça segue sendo o nome adequado para certas utili-


dades sociais que são muito mais importantes e, portan-
to, mais absolutas e imperativas do que quaisquer outras

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  113


MATERIALISMO tica. Em 1815, surgiu o Congresso de Viena, com o objetivo
de redesenhar o mapa político do continente, em conjunto
FILOSÓFICO com uma onda de revoluções de cunho liberal e naciona-
listas, como as revoluções de 1830 (Revoluções Liberais) e

CH
1848 (Primavera dos Povos). Assim, a filosofia precisava
associar-se com a realidade, precisava sair do cam-
COMPETÊNCIA(s) po das ideias e ir para o mundo prático.
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s) 3. A filosofia materialista


AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
Feuerbach propõe que a filosofia deveria partir do concreto,

17
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
da realidade, de forma que o ser humano precisava ser con-
siderado como um ser natural e social, e não só no campo
ideológico. Só que, apesar de conter esse caráter mais práti-
co, essa filosofia ainda não atinge completamente as ações
práticas, sendo uma relação menos abstrata, porém, ainda
longe da praticidade real.
Sua estrutura filosófica consiste em valorizar o indivíduo
como elemento criador das ideias, ou seja, o pensa-
mento surge do homem, e não o ser humano que
1. Introdução surge do pensamento.
O seu interesse filosófico está no processo de formação da
Tendo como uma recusa do idealismo de Hegel, emergiu o
ideia de Deus no pensamento humano. A religião, para Feuer-
materialismo, uma visão material da realidade. Entre
bach, representa o reflexo fantástico da natureza humana. O
os contestadores, o pensador que teve maior destaque foi
seu pensamento pode ser resumido na máxima: “Não é Deus
o alemão Ludwig Feuerbach. quem cria o homem, mas o homem quem criou Deus”.

2. Ludwig Feuerbach (1804-1872)


O pensamento do filósofo alemão Feuerbach se caracteriza
pelo materialismo, ateísmo e humanismo. O pensador ata-
ca a ideia de imortalidade e afirmava que, após a morte, o
ser humano é absorvido pela natureza.

multimídia: livro

A essência do cristianismo - Ludwig


Feuerbach. São Paulo: Vozes, 2007.
Nesse livro, o autor revela que o verdadeiro sentido da
teologia é a antropologia, que não há diferença entre a
essência divina e a humana, ou o sujeito, e que a dife-
rença que se estabelece entre os predicados teológicos
e antropológicos não tem razão de ser.
retrato de Feuerbach.

Ele qualificou o idealismo de Hegel como uma “especula-


ção vazia”, pois não trata do ser real, das coisas reais e dos 3.1. O elo intermediário
 VOLUME ÚNICO

homens concretos, sendo um pensamento muito abstrato


O pensamento de Feuerbach constitui o elo intermediário
e fora da realidade necessária para o período histórico.
entre a filosofia de Hegel e a de Marx. O materialismo de
Essa estrutura de pensamento se fez pelo momento histórico Feuerbach seria um materialismo metafísico, pois, repudia-
em que vivia o filósofo alemão, pois a Europa estava passan- va a dialética hegeliana; entretanto, não compreendia a
do por uma turbulenta mudança ideológica e de ordem prá- importância da atividade prática revolucionária.

114  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Esse pensamento de Feuerbach influenciou a filosofia de O modo de produção da vida material condiciona o pro-
Karl Marx e Friedrich Engels, que se utilizou da essência cesso da vida social, política e intelectual. Não é a cons-
fundamental do materialismo transformando-o em uma ciência dos homens que determina o seu ser; ao con-
trário, é o seu ser social que determina sua consciência.
teoria prática denominada materialismo histórico.
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política.
Editora Expressão Popular, São Paulo, 2008.

Retrato de Engels, Marx e Feuerbach.

A principal qualidade do pensamento de Feuerbach, des-


tacada por Marx e Engels, foi ir contra as instituições po-
líticas existentes na época, como a religião, a teologia e a
metafísica, sendo um crítico dessas instituições pela força
da alienação diante dos indivíduos em sociedade, que
condicionam de forma negativa os seres.
Entretanto, Marx e Engels se desencantaram com esse mate-
rialismo, pois observaram que a crítica de Feuerbach perante
a religião não passava de uma simples luta contra frases, não
tendo uma efetividade concreta, a fim de destruir completa-
mente essa dominação perante o ser humano.
Segundo Marx e Engels, Feuerbach compreende o homem
como máquina, tornando-se incapaz de perceber o mundo
como processo, como matéria em via de desenvolvimen-
to histórico. Feuerbach foi um importante adversário do
idealismo alemão e abriu possibilidades para o retorno ao
debate filosófico da materialidade como fundamento das
relações humanas. Marx e Engels avançaram essa discus-
são para as bases econômicas do funcionamento da vida
humana. Por isso, em sua obra A Ideologia Alemã, Marx
afirma que os filósofos, até então, haviam se preocupado
em entender o mundo e em descrevê-lo; para Marx, era
preciso modificar o mundo e não apenas compreendê-lo.
 VOLUME ÚNICO

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Deus é Burguês e a Religião é o Ópio do
Proletariado - Clóvis de Barros Filho

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  115


DIAGRAMA DE IDEIAS

MATERIALISMO
FILOSÓFICO

FEUERBACH

A FILOSOFIA PRECISA INFLUENCIARÁ O


TRATAR DE FATOS AS IDEIAS SÃO MATERIALISMO
CONCRETOS FORMADAS A PARTIR HISTÓRICO
DA REALIDADE
MATERIAL CONCRETA

A RELIGIÃO DOMINA MARX


O SER HUMANO

É PRECISO MUDAR
ALIENAÇÃO O MUNDO E
RELIGIOSA: NÃO APENAS
DEUS É UMA COMPREENDÊ-LO
CRIAÇÃO HUMANA

É PRECISO
QUESTIONAR ESSA
ALIENAÇÃO
 VOLUME ÚNICO

116  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 3. (UFSM) O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-
1872) afirmou a tese materialista de que o “homem é
1. (Uece 2020) Atente para o seguinte trecho, que apre- aquilo que come”. Uma concepção semelhante foi de-
fendida posteriormente por Karl Marx. Qual(is) asser-
senta o pensamento de Karl Marx sobre a realidade:
ção(ões) a seguir expressa(m) corretamente essa ideia
“O concreto é concreto porque é a síntese de muitas materialista no pensamento de Marx?
determinações, unidade do diverso. Por isso o concre-
I. A exploração do trabalhador pelos donos dos meios
to aparece no pensamento como resultado, não como
de produção é mantida pela consciência de classe.
ponto de partida efetivo. Por isso é que Hegel caiu na
II. A classe dominante tem como fim último a tomada
ilusão de conceber o real como resultado do pensamen-
do poder através da ação do proletariado.
to que se sintetiza a si e se move por si mesmo. Mas
este não é de modo nenhum o processo da gênese do III. As relações econômicas determinam a consciência
próprio concreto”. do homem como ser social.
Está(ão) correta(s):
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos.
Os Pensadores. São Paulo: Abril cultural, 1978. Adaptado. a) apenas III.
b) apenas I e II.
Sobre a forma como Karl Marx entendia o seu método c) apenas II e III.
de análise da realidade, é correto afirmar que d) I, II e III.
a) contra o pensamento burguês, Marx propunha
4. Leia o texto abaixo, de autoria de Karl Marx.
uma análise que chamava de ideal-propositiva, que
se opunha ao idealismo puro, cuja visão de realidade O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluí-
era excessivamente idealizada. do o de Feuerbach) consiste em que o objeto, a realidade,
a sensibilidade, só é apreendido sob a forma de objeto
b) tal método era denominado de materialismo histó-
ou de percepção, mas não como atividade humana sensí-
rico e se propunha a fazer uma análise da realidade
vel, como práxis, não subjetivamente. Eis porque ocorreu
concreta que, em si, era contraditória; as contradições
que o aspecto ativo, em oposição ao materialismo, foi
eram da realidade e não do pensamento.
desenvolvido pelo idealismo – mas apenas abstratamen-
c) seu método estava em concordância com o que te, pois o idealismo, naturalmente, desconhece a ativida-
defendiam os jovens hegelianos, sobretudo com o de real, sensível, como tal. Feuerbach quer objetos sen-
materialismo de Ludwig Feuerbach, a quem dedicou síveis – realmente distintos dos objetos do pensamento,
um livro de análise. mas não apreende a própria atividade humana como
d) seguia os passos de seu maior influenciador, Frie- atividade objetiva. Por isso, em A essência do cristianis-
drich Hegel, aderindo ao pensamento dialético, cuja mo, considera apenas o comportamento teórico como
forma de abordagem da realidade era processual e se o autenticamente humano, enquanto que a práxis só é
expressava na contradição das ideias. apreendida e fixada em sua forma fenomênica judaica e
suja. Eis porque não compreende a importância da ativi-
2. (UEM) Na obra A essência do cristianismo, Feuerbach dade “revolucionária”, “prático-crítica”.
faz uma crítica à religião cristã. Para ele, o homem alie- De acordo com essa tese de Marx, não é correto afir-
na sua essência na religião, pois os seres humanos se mar que:
esquecem de que foram os criadores da divindade e in-
a) o filósofo Feuerbach revela um desprezo pela prá-
vertem a relação quando acreditam que foram criados
tica (dissocia teoria e prática), defendendo que o ca-
pelos deuses. Assinale o que for correto. minho para a revolução é a via teórica. Ele almeja a
01) Para Feuerbach, o verdadeiro fundamento do ho- transformação intelectual.
mem é apenas ele mesmo; assim, o único fundamen- b) a subjetividade é a força que move a realidade, e
to absoluto de todo pensamento humano é o homem esta não é só o que se apresenta aos nossos sentidos,
como razão, como vontade, como coração. mas é também resultado do trabalho humano.
02) A teoria da alienação religiosa de Feuerbach ofe- c) o idealismo supera o realismo ingênuo do materialis-
receu uma contribuição importante à filosofia políti- mo tradicional, mas cai no erro de reduzir a realidade do
ca, particularmente à de Marx. conhecimento a resultado da atividade do pensamento.
04) Feuerbach critica a religião, todavia aceita a teo- d) o filósofo Feuerbach ignora o avanço operado pelo
logia, pois acredita que ela pode nos conduzir a um idealismo de conceber o objeto do conhecimento como
conhecimento racional da essência de Deus. resultado da atividade (ainda que do pensamento), e re-
torna à concepção do materialismo tradicional anterior.
 VOLUME ÚNICO

08) A crítica de Feuerbach à alienação religiosa levou


Marx a aderir à filosofia existencialista de Feuerbach. e) a filosofia/ideologia alemã (Kant/Hegel) não concebe
a realidade do conhecimento como resultado da ativida-
16) Quando Marx declara que a religião é o ópio do
de humana, mas tão somente sob a forma da percepção.
povo, ele concorda com Feuerbach que a religião é
uma alienação; para Marx, a religião amortece a com- 5. (UEG) Em sua 11ª tese sobre Feuerbach, Karl Marx
batividade dos oprimidos e dos explorados, porque lhes (1818-1883) afirma que “Os filósofos até hoje inter-
promete uma vida feliz no futuro e no outro mundo. pretaram o mundo, cabe agora transformá-lo”. Muitos

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  117


marxistas interpretaram mal a frase de Marx e abando- 01) Em virtude da defesa da Igreja católica, a fundação
naram livros, teoria e partiram para a prática, negligen- do Estado moderno de direito é essencialmente dog-
ciando o significado da noção de práxis em Marx. Nesse mática, já que os teóricos da Idade Média faziam da
sentido, tem-se que: união dos planos humano e divino a exigência central
a) a tese marxista estimulava a prática e não a teoria, do republicanismo.
já que a ideia de práxis privilegia o fazer em detrimen- 02) O debate político em torno dos ideais liberais e
to do pensar, o que levaria à condenação da filosofia socialistas se dá no interior de questões religiosas, pois
como teoria pura. nem John Locke nem Thomas Hobbes desvinculam o
b) a noção de práxis em Marx exige que a filosofia debate político das questões metafísicas e morais.
sempre permaneça nos limites do conhecimento te- 04) A importância do projeto de Ludwig Feuerbach
órico, pois a práxis humana deve ser conduzida por para a filosofia da época é seu profundo apego ao
peritos técnicos e não por filósofos. cristianismo de Hegel, razão pela qual defendeu, na
c) a tese marxista criticava a filosofia por não favo- essência do cristianismo, a tese espiritualista de que o
recer uma práxis revolucionária na qual toda prática Estado é o poder de Deus em nossas mãos.
suscita a reflexão, que por sua vez vai incidir sobre a 08) Para Karl Marx, não basta reivindicar a liberdade
prática reorientando uma ação transformadora. sem tomar decisões históricas e efetivas, capazes de
controlar os meios de produção e formar a consciên-
d) a ideia de práxis em Marx foi desvirtuada por aque-
cia de classe dos trabalhadores.
les que não perceberam que existe uma ruptura entre
teoria e prática, e que o trabalho intelectual deve pre- 16) São conceitos fundamentais do marxismo os con-
valecer sobre o trabalho manual. ceitos de fetiche da mercadoria, alienação política,
ação política transformadora e emancipação humana.
6. (Funece) Marx, em sua 11ª tese, ad Feuerbach, ao afir-
mar que “Os filósofos não fizeram mais que interpretar 9. (Seduc) A noção de que nossas próprias habilidades,
o mundo de maneiras diferentes, o que importa é trans- enquanto seres humanos, são assumidas por outras
formá-lo” evidencia a filosofia como: entidades. O termo foi originalmente empregado por
Marx em referência à projeção dos poderes humanos
a) explicação verdadeira, que objetiva uma transforma-
sobre os deuses. Mais tarde, ele empregou o termo para
ção social.
se referir à perda do controle por parte dos trabalhado-
b) elemento do espírito absoluto, que se caracteriza res sobre a natureza da tarefa desempenhada e sobre
como puro idealismo. os resultados de seu trabalho. Feuerbach utilizou esse
c) interpretação do mundo, que é dispensável ao pro- termo em referência à instituição de deuses ou forças
cesso revolucionário. divinas distintas dos seres humanos.
d) proposição platônica, que considera como verda- O texto se refere corretamente ao conceito de:
deiro, o mundo das ideias.
a) ideologia.
7. A teoria sociológica de Marx é marcada pela obser- b) anomia.
vação do modo de produção como determinante para a c) alienação.
organização social. Sobre as principais influências sofri-
d) magia.
das por este autor para o desenvolvimento de seu pen-
e) simulacros.
samento sociológico, analise as seguintes sentenças:
I. Para Hegel, o movimento parte da ideia, do pensa- 10. (UFPR) Ligia Marcia Martins (2008) afirma que é
mento, para então desenvolver a matéria e gerar histó- impossível divorciar uma matriz psicológica do siste-
ria, para Marx esta ordem é invertida. ma filosófico que media suas proposições. No caso da
II. Para Feuerbach, a alienação do ser humano estava psicologia histórico-cultural, também conhecida como
na religião, e para Marx estava na alienação material psicologia sócio-histórica, a formulação filosófica que
originada pelo sistema capitalista. lhe serve de esteio é a epistemologia marxiana, desen-
III. Marx desenvolve o materialismo dialético, onde a volvida inicialmente por Karl Marx (1818-1883) e Frie-
realidade existe a partir do mundo material, e não a derich Engels (1820-1895). Em relação à essa epistemo-
partir do pensamento, pois este também é determinado logia, considere as seguintes afirmativas:
pelas condições materiais. I. O pressuposto do sistema filosófico proposto por
Assinale a alternativa correta. Marx e Engels é o materialismo e a lógica é a dialética.
a) Somente a afirmativa III está correta. II. Esse sistema filosófico se opõe à lógica formal, fun-
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas. dada numa série de princípios e elementos já presentes
em Aristóteles e que alcançam seu apogeu no século XVII
c) As afirmativas I, II e III estão corretas.
 VOLUME ÚNICO

com Francis Bacon e René Descartes. Entre esses princí-


d) As afirmativas I e III estão corretas.
pios está o da não identidade e o princípio da contradição.
8. (UEM) A Filosofia apresentou como debate político, ao III. Com Hegel a dialética se constitui como método para
longo da história, as questões da liberdade do indivíduo pensar o mundo enquanto movimento, na tentativa de
na sociedade, teorizando a finalidade do Estado e das superar a tradição intelectual que vem de Aristóteles.
instituições sociais. Sobre a natureza do debate filosófico Mas é com Marx que a dialética aparece concretizada
acerca das questões políticas, assinale o que for correto. historicamente sobre fundamentos materialistas, já que

118  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


para Hegel o primado é o espírito e a realidade encar-
nação das ideias.
IV. Em sua segunda tese sobre Feuerbach, texto de
1845, Marx afirma a “prática como critério da verda-
de”, isso significa que a partir da prática se constrói
o conhecimento, prescindindo das categorias e instru-
mentos heurísticos para entender a realidade.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa I é verdadeira.
b) Somente a afirmativa II é verdadeira.
c) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.

11. Na obra A ideologia alemã, Marx e Engels realizam


uma crítica às concepções idealistas de Feuerbach e lan-
çam as bases para sua compreensão marxista da história.
Assinale a alternativa que indica o primeiro pressu-
posto da análise histórica, sobre os quais os demais se
constroem.
a) A produção de ideias.
b) A criação de uma propriedade comunal.
c) O desenvolvimento da propriedade privada.
d) A organização dos homens e sua relação com a
natureza.
e) A divisão do trabalho como organização dos homens.

Gabarito
1. B 2. 01 + 02 + 16 = 19 3. A 4. E

5. C 6. A 7. C 8. 08 + 16 = 24

9. C 10. D 11. D

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  119


SCHOPENHAUER

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
HABILIDADE(s)
O pensamento de Schopenhauer
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
O professor de Filosofia Leandro Chevitarese fala sobre
18
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
o pensamento de Arthur Schopenhauer.

Seus escritos só causaram algum impacto na filosofia ale-


mã no fim do século XIX, pois o pensamento vigente era o
hegeliano. Tendo influência kantiana, mediante o proces-
so de uma crítica permanente, Schopenhauer critica
a filosofia de Kant em relação à coisa em si, de modo
que a realidade consiste em fenômenos e na coisa em
si, sendo que, para Kant, a coisa em si jamais será
1. Arthur Schopenhauer conhecida. Em sua filosofia, Arthur Schopenhauer

(1788-1860) apresenta que o fenômeno é uma manifestação


da própria coisa em si.
Arthur Schopenhauer nasceu em Gdansk, atual Polônia,
outrora parte do território alemão. Schopenhauer foi criado
para ser um homem de negócios, com estudos de línguas
e viagens a outros países, como seu pai; porém, após o
falecimento do pai, o jovem polonês escolheu a Filosofia,
para o desalento de sua mãe.
Enfrentando diversas críticas maternas devido às suas es-
colhas, Schopenhauer adentrou em diversos embates com multimídia: livro
a progenitora, alguns se tornaram públicos e degradantes
para ambas as partes, recheados de insultos.
O mundo como vontade e como representação -
Arthur Schopenhauer. São Paulo: Unesp, 2015.
A obra máxima de Arthur Schopenhauer, que associa a
dialética de Kant com a visão platônica para definir suas
constantes filosóficas.

1.1. O filósofo da representação


e da vontade
Em 1818, surge uma de suas maiores obras, intitulada O
mundo como vontade e representação. Para o pensador
polonês, tudo o que existe para mim é o que eu percebo,
 VOLUME ÚNICO

diante das formas a priori da minha própria consciência.


Numa relação subjetiva entre o objeto e o indivíduo, a qual
criamos a nossa representação diante do mundo. Assim,
não existe uma única resposta, nem uma única representa-
ção dos fenômenos, isto é, do mundo. Com isso, o mundo
Retrato de Schopenhauer. é um conjunto de representações.

120  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


1.2. Reflexões sobre a Psicologia
Schopenhauer apresenta em seu pensamento que o ser
humano não é um ser em que a razão domina todas as
suas ações, sendo um ser passional e fragmentado, sofren-
do ações de forças que fogem de seu controle.
Essa sua postura de não domínio racionalizado das ações
humanas, que abrangem as nossas paixões, seja no campo
do “inconsciente”, procura resgatar uma definição humanís-
tica do ser em si. Schopenhauer seria útil para o desenvolvi-
mento do pensamento de Nietzsche e de Freud.

Selo com o retrato de Schopenhauer. A vontade, manifestada na vida humana na forma de de-
sejo, gera sofrimento ao não ser obtida e gera tédio ao ser
Numa aproximação com o pensamento oriental, o filósofo
realizada. Por isso, "viver é sofrer". Assim como os estói-
polonês é o primeiro pensador ocidental a valorizar essa cos, que buscavam a apatia (ausência de paixões), Scho-
filosofia. Não seguindo uma dualidade cartesiana entre penhauer defende a busca de estratégias para aplacar o
razão e vontade, Schopenhauer define que a vontade é a desejo que se manifesta em nossa vida.
essência da subjetividade, ou seja, é a própria essência do
“eu”, isso para os animais se expressa como instinto. Von-
tade é a força que movimenta a vida, o mundo, a 1.3.A arte como libertadora da vontade
natureza. Vontade é a potencialidade que está em todos Schopenhauer foi um dos filósofos que mais valorizou a
os seres e objetos da natureza, é a força originária presente arte, pois é a arte que fornece um ponto de tranquilidade,
na natureza e que quer se manifestar. de modo que, durante um curto período, conseguimos es-
Para ele, essa vontade é a essência do mundo, cau- capar do ciclo infinito da luta e do desejo.
sando a dor no indivíduo. Sendo fruto de um desconten- A contemplação estética, para o filósofo, seria uma forma
tamento do próprio estado do ser, impulsionando uma de escapar do sofrimento da realidade. A contemplação
realização que não será alcançada, gerando, com isso, um leva o indivíduo a uma identificação com a essência do
arrependimento, uma espécie de sofrimento. Para inter- mundo, desencadeando nesse ser uma ruptura com a dor.
romper essa ordenação de vontade que gera sofrimento, Schopenhauer valoriza a música como o maior condutor da
Schopenhauer aponta a arte como ferramenta de anu- vontade, de uma forma individualizada e própria. Segundo
lação da vontade no homem, o que faz ele esquecer o pensador: “A música exprime a mais alta filosofia numa
do seu sofrimento, e não extingui-lo. linguagem que a razão não compreende.” Assim, a música é
Com isso, o filósofo não extingue o sofrimento, ele apre- a melhor forma da arte.
senta que é preciso saber que a razão não tem controle
total perante a vontade, mas é preciso saber conviver e
observar as coisas boas desse sofrimento.
Para Schopenhauer, causar mal às outras pessoas é tam-
bém causar mal a si próprio. Com isso, a moral básica scho-
penhaueriana consiste em ensinar a compaixão.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Schopenhauer
Esse vídeo apresenta como o pensamento de Scho-
penhauer sofreu influência do budismo e analisa uma
nova postura sobre a vida.
 VOLUME ÚNICO

multimídia: vídeo
Coisa em si significa aquilo que está presente indepen-
Fonte: Youtube
dentemente de nossa percepção, portanto, aquilo que
Schopenhauer e o mundo como propriamente é. Para Demócrito, ela era a matéria dota-
vontade e representação da de forma: e, no fundo, era-o ainda para Locke; para
Kant, era = x; para mim, ela é vontade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  121


[...] termina o fenômeno, consequentemente também a re-
presentação, e, com ela, a compreensão. Aqui, porém,
Assim como conhecemos apenas a superfície do globo
entra em seu lugar a própria essência, a qual se torna
terrestre, mas não a grande massa sólida de seu interior,
consciente de si mesma como vontade.
também não conhecemos absolutamente nada das coi-
sas e do mundo de maneira empírica, além de sua mera SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre o sofrimento
do mundo e outros ensaios. L&PM.
manifestação fenomênica, isto é, sua superfície.
[...]
A explicação física é feita sempre a partir da causa; a
metafísica, a partir da vontade: pois é esta que se apre-
senta como força da natureza na natureza desprovida
de cognição, num patamar mais elevado como força vi-
tal, mas que apenas no animal e no ser humano recebe
o nome de vontade.
[...] multimídia: vídeo
Todo entender é um ato de representar e permanece, Fonte: Youtube
por isso, essencialmente no território da representação: QUEM SOMOS NÓS? | Pensadores Parte II - Arthur
ora, uma vez que esta só fornece fenômenos, o entender Schopenhauer com Flamarion Caldeira Ramos
encontra-se limitado a eles. Onde a coisa em si começa,

DIAGRAMA DE IDEIAS

SCHOPENHAUER

O SER HUMANO É RAZÃO O MUNDO É VISTO


E IMPULSO (DESEJO) DIANTE DA MINHA
VONTADE, SENDO UMA
REPRESENTAÇÃO
MAS A RAZÃO NEM
SEMPRE CONSEGUE
CONTROLAR OS NOSSOS EXISTEM INÚMERAS
IMPULSOS (DESEJOS) REPRESENTAÇÕES
DO MUNDO

O QUE LEVA AO
SOFRIMENTO O MUNDO É REGIDO
PELA VONTADE

A ARTE AJUDA O
HOMEM A SE LIBERTAR
 VOLUME ÚNICO

PROVISORIAMENTE
DA VONTADE

122  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 4. (Enem) “Sentimos que toda satisfação de nossos de-
sejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que
1. Schopenhauer considerou ser a “vontade” a última e mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã
mais fundamental força da natureza, que se manifesta a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à
em cada ser no sentido da sua total realização e sobrevi- fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas
vência. O conceito de vontade deste filósofo diz respeito: as preocupações.”
a) a algo infinito, uno, indizível. SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismo para a sabedoria
da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
b) a uma vontade finita, individual, ciente.
c) ao mundo e que não seria mais do que represen- O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradi-
tações, como síntese entre o subjetivo e o objetivo. ção filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se
d) aos fundamentos transcendentais (assentados em mostra indissociavelmente ligada à
Deus) dos valores mais caros de nossas vidas.
e) à moral e aos valores existentes na sociedade que a) consagração de relacionamentos afetivos.
lhe é contemporânea. b) administração da independência interior.
c) fugacidade do conhecimento empírico.
2. De acordo com o conjunto dos nossos pontos de vis- d) liberdade de expressão religiosa.
ta, a vontade é não somente livre, mas também oni-
e) busca de prazeres efêmeros.
potente; e produz não somente a sua conduta, como
também o seu mundo; tal a vontade qual a ação e qual 5. Para Schopenhauer, a vontade é a raiz do mundo e da
o seu mundo; ambas não são senão vontade consciente conduta humana e, ao mesmo tempo, é a fonte de todos
de si própria e nada mais; a vontade se determina a si os sofrimentos. Isso ocorre porque a vontade é:
mesma e determina com isto a conduta e o mundo, por
isso que sem ela nada existe: Compreendida assim, a a) um querer irracional, que acaba por gerar a dor.
vontade é verdadeiramente autônoma; compreendida b) algo racional, que proporciona o sofrimento.
doutro modo, é heterogênea. c) um desejo antigo, que abarca a dor.
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade d) um prazer, que quando atingido gera dor.
e representação. Tomo IV (adaptado). e) um desejo suprimido, que proporciona o sofrimento.
Segundo o pensamento de Schopenhauer, podemos in- 6. Uma das máximas da filosofia de Schopenhauer con-
ferir que: siste em dizer que “viver é sofrer”. Essa afirmação é
a) a vontade se manifesta no homem como um desejo. correta, pois o prazer:
b) a vontade é só uma manifestação da consciência
a) nunca surge na vida do ser humano, só o sofrimento.
em si e do mundo.
c) o desejo é uma autopreservação desvinculada da espécie. b) sempre surge na vida do homem, igual ao sofrimento.
d) a vontade é um querer consciente do mundo. c) é um momento de curta duração na vida do ho-
e) o desejo é representado como uma força controla- mem, ao contrário do sofrimento.
da totalmente pela razão. d) é um momento de média duração na vida do ho-
mem, enquanto o sofrimento tem curta duração.
3. Apresentado no primeiro livro como pura representa-
e) é um momento passageiro na vida humana, tal qual
ção, objeto para um sujeito, consideramos o mundo no
o sofrimento.
segundo livro por sua outra face e verificamos como esta
é vontade, que unicamente se mostrou como o que aque- 7. Buscando argumentar a sua tese de que a vida do ser
le mundo é além da representação; em conformidade, humano é construída, em sua maior parte, pelo sofri-
denominávamos o mundo como representação, no todo mento, Schopenhauer afirma que:
ou em suas partes, a objetividade da vontade, quer dizer:
a vontade tornada objeto, isto é, representação. a) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar;
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como
vontade e representação (adaptado).
os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas.
b) a história nos mostra a vida dos povos e só encon-
O conceito de representação na filosofia de Schope- tramos pequenos conflitos para nos relatar; os anos
nhauer significa: de paz nos parecem em longos períodos.
a) a forma que o homem se espelha no mundo, vejo c) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
aquilo que quero ver, ouço aquilo que quero ouvir. contramos a não ser momentos de tranquilidade; os
b) a forma que o homem se relaciona com o mundo,
 VOLUME ÚNICO

anos de conflitos nos parecem apenas curtas pausas.


utilizando-se de valores e moral. d) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
c) a forma que o homem é capaz de representar o contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar;
mundo por intermédio de seus sentidos e intelecto. os anos de paz não existem.
d) essência do mundo, solução para o enigma do universo. e) a história nos mostra a vida dos povos e só encon-
e) essência do mundo, a coisa em si que Kant tanto tramos guerras e conflitos, na mesma maneira a qual
problematizava. encontramos momentos de paz.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  123


8. Na filosofia do alemão Arthur Schopenhauer, tido d) o querer racional de preservação dos outros mani-
como o arauto do pessimismo, podemos encontrar uma festa pela reprodução.
das melhores compreensões do que seja a felicidade. e) a angústia que guia o homem à felicidade a partir
Entre as cinquenta regras que se encontram esparsas do impulso do instinto de sobrevivência.
pela obra do filósofo, destacam-se três: Primeira: estar
ciente de que só a dor é verdadeira. Ou seja, não requer 10. “No espaço infinito, inumeráveis esferas brilhantes.
nenhuma ilusão acessória para existir. Usufruir um pre- Em torno de cada uma delas giram aproximadamente
sente sem dor, em vez de procurar o prazer num futuro uma dúzia de outras esferas menores iluminadas pelas
improvável, é já uma forma de ser feliz, por mais que primeiras e que, quentes em seu interior, estão cobertas
isso possa parecer sem graça aos olhos da civilização de uma crosta rígida e fria sobre a qual uma cobertura
hedonista. “O homem sábio não aspira ao deleite, e sim lodosa deu origem a seres vivos que pensam; – eis aí a
à ausência de sofrimento”, escreveu Schopenhauer, ci- verdade empírica, o real, o mundo”.
tando o grego Aristóteles. Segunda: evitar a inveja: ela SCHOPENHAUER, Arthur.
tortura quem a nutre e, por esse motivo, causa infelici- O mundo como vontade e como representação (adaptado).
dade. “Você nunca será feliz enquanto se torturar por
alguém ser mais feliz”, resumiu Sêneca. A crueldade Para Schopenhauer, ao contrário da tradição socrático-
apontada por Schopenhauer: “E, no entanto, nós esta- -cartesiana, a razão nada mais é do que uma ilusão. Mes-
mos constantemente preocupados em despertar inve- mo que usemos a razão para organizar as representações
ja” Terceira: ser fiel a si próprio. Seguir as características do mundo, a verdade nunca será cognoscível. Tendo isso
e os pensamentos que o forjaram, assim como aceitar em vista, o que significa a representação para o filósofo?
as suas limitações, é essencial para o indivíduo resguar- a) A representação é a interpretação pessimista da realida-
dar-se de frustrações. Trata-se de algo difícil, porque de, que, a partir da vontade não satisfeita, gera angústia.
não raro somos tentados a enveredar por caminhos b) A representação é manifestação, nos indivíduos, de
estranhos a nós mesmos, mais adaptados às condições suas vontades, onde cada um arremeda, dissimula e
de quem invejamos. Diz o filósofo alemão: “Quando re- encena ações em busca de sua satisfação.
conhecemos, claramente, e de uma vez por todas, nos- c) Para Schopenhauer a representação são o conheci-
sas qualidades e forças, bem como nossos defeitos e mento que obtemos a partir da experiência do mundo
fraquezas, conseguimos fixar os nossos objetivos e nos a partir de juízos estéticos.
resignamos com o inatingível. Escapamos, dessa manei-
d) A representação se manifesta, para Schopenhauer,
ra, à mais terrível de todas as dores: a insatisfação com
como fenômenos sensíveis, considerados como enga-
nós mesmos, essa insatisfação que é a consequência
nosos pelo pensador e que devem ser ignorados em
inelutável da ignorância da própria individualidade”. nome da busca da verdade absoluta.
Mario Sabino, A arte de ser feliz, Veja, 23.07.2014 (adaptado).
e) Na concepção da realidade dualista do autor (coisa
É correto afirmar que as ideias de Schopenhauer sobre em si e fenômenos) a representação é a manifestação
a felicidade: da vontade (que é una e transcendental) objetivada no
mundo das ideias. Ou seja, a representação é o que a
a) estão dissociadas da busca por prazer e vinculadas mente e a consciência nos permitem ver da coisa-em-si.
ao conhecimento das próprias limitações.
b) dependem principalmente de fatores externos à 11. “Pensamentos no papel são como as pegadas de um
vontade do indivíduo, os quais ele não pode afastar. homem na areia. É certo que podemos ver o caminho
c) baseiam-se em princípios éticos moralmente questio- que ele tomou; mas para ver o que ele viu no trajeto,
náveis, embora grande parte da sociedade os condene. precisamos usar os nossos próprios olhos.”
d) afastam preocupações com o presente, para focar- (Michel de Montaigne)
-se no futuro, como forma de evitar frustrações.
e) recusam o sofrimento, entendido como antinatural “Quanto mais claro é o conhecimento do homem, quan-
to mais inteligente ele é, mais sofrimento ele tem; o ho-
e negativo, apesar de inevitável nos dias atuais.
mem que é dotado de gênio sofre mais do que todos.”
9. “Onde se descreve o procedimento mais original e mais (Arthur Schopenhauer)
importante de minha filosofia, qual seja, a passagem, que
Kant declarara impossível, do fenômeno à coisa em si.” Estabeleça uma relação entre os textos de Michel de
Montaigne e de Arthur Schopenhauer.
SCHOPENHAUER, Arthur.
O mundo como vontade e como representação (adaptado).
Apesar de ser grande devedor do pensamento kan- Gabarito
tiano, Schopenhauer abandona o otimismo da razão
1. A 2. A 3. C 4. B 5. A
abordando o mundo pelo pessimismo da Vontade. Para
 VOLUME ÚNICO

ele, a vontade é: 6. C 7. A 8. A 9. B 10. E


a) a interação entre a percepção e o nôumeno, ou 11. Ambos acreditam que o conhecimento é construído pelo
seja, o fenômeno. próprio indivíduo por meio de conteúdo e pelas experiências. As-
b) a essência do mundo, a coisa em si kantiana, percebi- simila mais aquele que é despertado para o saber e que se limita
da imediatamente por intermédio de meu próprio corpo. ao conhecimento por imposição. O indivíduo precisa vivenciar
c) a essência do mundo, amor, ódio, salvação. para aprender.

124  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Nietzsche escreveu, sob a forma de aforismos (máximas
NIETZSCHE ou sentenças curtas que exprimem um conceito), a maior
parte de suas obras. O conjunto de suas obras revela como
preocupação básica uma crítica profunda e impiedosa à ci-

CH
vilização ocidental, crítica à massificação, à visão de mundo
burguesa e ao conservadorismo cristão.
COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

19
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Friedrich Nietzsche, por Scarlett Marton
A professora da USP Scarlett Marton, umas das maiores
estudiosas do alemão Nietzsche, conversa sobre o pen-
samento intempestivo do filósofo.

1. Friedrich Nietzsche
1.1. Sócrates: o início da decadência
(1844-1900)
Nietzsche acrescenta que a sociedade permanece nesse es-
Após a leitura das obras de Schopenhauer, Friedrich Nietzs-
tado doentio devido à continuidade de hábitos consolidados
che empreendeu uma crítica radical à moral. Desenvolven-
pelos filósofos iniciados por Sócrates. A crítica perante os
do uma crítica intensa dos valores morais, chegou à
pensadores atenienses aprofunda-se quando estes demons-
conclusão de que não existem as noções absolutas
traram que era preciso seguir uma espécie de moral, um con-
de bem e de mal. Para ele, as concepções morais surgem
junto pré-definido de valores, condicionando o belo, o certo e
com os homens, a partir das necessidades dos homens. As-
o errado para todos os integrantes da sociedade.
sim, os seres humanos são os verdadeiros criadores dos
valores morais, sobretudo nas religiões. De modo que foi com Sócrates o começo da decadência
Portanto, ao compreendermos que os valores presentes em humana, pois foi o pensador ateniense, com sua dialética,
nossa vida são construções humanas, temos o dever de re- que direcionou as conversas e moldou conforme os seus
fletir sobre nossas concepções morais e enfrentar o desafio próprios valores o rumo das falas, julgando os valores mo-
de viver por nossa própria conta e risco. rais dos seus interlocutores, colocando como o caminho
correto do pensamento a sua interpretação dos fatos, Além
de conduzir o interlocutor a calar-se perante as imposições
ilusórias revestidas de verdade.
 VOLUME ÚNICO

Retrato de Nietzsche.

Entretanto, Nietzsche considerava que era preciso superar


essa dependência metafísica da verdade, essa fraqueza

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  125


humana ancorada nos valores morais. Seria preciso trans- Enquanto a moral do escravo, também denominada moral
valorar os valores, revelar esses falsos ídolos de pés de bar- do rebanho caracteriza-se como os valores de rebaixa-
ro e derrubá-los – uma filosofia à marteladas! O filósofo mento coletivo, ressaltando uma essência de desqualifi-
deveria aprender a "filosofar com um martelo". Mas essa cação perante o outro. Nesses valores está a obediência,
categoria de filósofo era baseada nos pensadores que acei- o desqualificar-se, humilhando-se perante os mandos dos
tam as críticas como algo positivo, como “investigadores”, outros. Nietzsche define essa moral como a ação ressenti-
e não como a visão do filósofo construída após Sócrates, da de “dar a outra face”, de aceitar passivamente os man-
como o dono da verdade absoluta. Seria numa concepção dos e desmandos dos outros.
de filósofo como o próprio Zaratustra, personagem criado
por Nietzsche para ilustrar esse médico da sociedade. Para o filósofo, essa luta entre a moral do senhor e a moral
dos escravos está presente nos nossos dias. E para superar
Glossário Filosófico: essa dicotomia era preciso reavaliar a moral, para corrigir
Niilismo – termo que deriva do latim nihil, cujo significado as inconsistências de ambas as morais. Num movimento de
é nada, vazio. Na obra de Nietzsche, o termo está associado transvaloração de todos os valores, ou seja, repensar
à “doença de nosso tempo” promovida pelo platonismo e nos valores morais, sem recair num dualismo que arruinou
cristianismo – filosofias que se fundamentam na metafísi- a sociedade anteriormente.
ca, nos ideais, em mundos imaginários para além do único
mundo possível, o mundo que vivemos. Para Nietzsche, é ne- 1.3. Filosofar com martelo
cessário revelar que a verdade não existe, o mundo ideal não
existe, precisamos parar de criar ficções e novos mitos, pois A filosofia nietzschiana consistia em filosofar com o
eles são vazios, eles não são nada além de ilusões. martelo nas mãos, isto é, um filosofar com o intuito de
destruir os ídolos, todos ilusórios, criados para o ser huma-
Metafísica – aquilo que está além do físico, além do ma-
no, como as morais religiosas.
terial, aquilo que é transcendente. Inclui o estudo do ser e
do divino. Esses ídolos ilusórios foram impostos às pessoas indefesas
Essência – aquilo que é, o ser. Na tradição platônica, a por um poder opressor. Todos esses ídolos são moldados e er-
essência é a forma pura, eterna e verdadeira. Aquilo que guidos para serem cultuados e adorados; porém, só mediante
algo é ou que faz desse algo o que se é. o ato de filosofar com o martelo, destruindo esses falsos ído-
los, é que os homens podem se encontrar em sua comple-
Amor Fati – amor à vida como ela de fato é, amor ao “des-
tude, retirando de sua mente as falsas “verdades” que
tino”. Aceitar a vida sem idealizações.
constituem a nossa sociedade. Com essa postura, Nietzsche
Vontade de Potência – a força afirmativa da vida. Essa nos indica que a filosofia precisa se voltar para a sua origem,
força é cega e busca expansão, afirmação e triunfo. que é de se questionar constantemente, sem receio de errar.
Eterno Retorno – como a tradição ocidental é ancora-
da na idealização da eternidade, seria preciso valorizar a
vida finita como a única possível e existente. Dessa forma,
seria adequado viver a vida da melhor forma possível. O
que faríamos diante da pergunta: Você viveria a mesma
vida eternamente? Viveríamos a mesma vida que retorna
sempre ao mesmo? É preciso viver a única vida possível da
melhor forma possível em sua imanência. multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
1.2. A moral do senhor e a moral do escravo O Eterno Retorno e o além do homem
Ao se debruçar sobre os valores que regem a sociedade, - De Oswaldo Giacóia Júnior
Nietzsche analisa a existência de dois tipos de moral: a O professor da Unicamp Oswaldo Giacóia Júnior co-
moral do senhor e a moral do escravo. menta sobre a filosofia do alemão Nietzsche.
 VOLUME ÚNICO

Seguindo uma polaridade, a moral do senhor consiste


numa moral da força de vontade, voltada para um grupo
dominante, que almeja controlar e se impor perante os 1.4. O Apolíneo e o Dionisíaco
outros. Numa clara valorização de si, tendo um orgulho Segundo Nietzsche, em A origem da Tragédia, existe um
imenso de seus atos. Seria uma vontade de agir, de domi- fundamento para a norma cultural, mediante os elementos
nar as ações coletivas. do dionisíaco e do apolíneo.

126  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Com um olhar estético, o filósofo alemão apresenta que çar se souber viver bem, querendo sempre conhecer mais.
o dionisíaco é a afirmação triunfal da realidade. Sendo o O übermensch (homem além do homem; o super-homem)
caráter dionisíaco mais impulsivo, desorganizado, disfor- é a condição daquele que não depende mais dos falsos
me e intenso – o símbolo do excesso e da desordem. As ídolos criados pela metafísica. Super-homem é aquele que
formas dionisíacas são a tragédia e a música. A tragédia é transvalora os valores e a moral dos fracos, emancipa-se da
a transformação da realidade em um fenômeno estético, fraqueza de negar o mundo como ele é: amor fati – amor à
mas sem cobrir a realidade. vida como ela é, sem ideais, sem ilusões.

multimídia: livro

Assim falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche.


São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
Dionísio (Baco) e Apolo (Febo).
Nessa obra o leitor reconhecerá, na linguagem metafó-
Enquanto o apolíneo é racional, organizado, equilibrado e rica e alegórica dos discursos e diálogos de Zaratustra,
ponderado – o símbolo do limite e da ordem. De modo que muitas das ideias de valorização do ser humano, com
nos faz resistir ao pessimismo através de uma ilusão da re- uma ideia de transmutação dos valores.
alidade criada pela arte. A forma apolínea são a mitologia,
as artes épicas e as artes plásticas. Uma coisa sou eu, outra são meus escritos... Aqui, antes
de chegar a falar deles mesmos, quero tocar a questão
1.5. O Eterno Retorno da compreensão ou da não-compreensão desses escri-
tos. Eu o faço de maneira tão relaxada quanto me pa-
O conceito do eterno retorno representa aos ciclos repeti- rece ser conveniente: pois o tempo para essa questão
tivos da vida; pois estamos sempre presos aos fatos do fato, por certo ainda não chegou. O tempo não chegou nem
que acontecem no presente e terão uma repetição no futuro. mesmo para mim; alguns apenas nascem postumamen-
Com esse conceito, o filósofo questiona a ordem das coi- te... Um dia serão necessárias instituições, nas quais será
sas, não existindo uma bipolaridade dos elementos. O eter- ensinando e vivido como eu compreendo o ensino e a
vida; quem sabe não serão instituídas, também, algumas
no retorno é a reflexão nietzscheana de afirmação da vida
disciplinas para a interpretação do Zaratustra.
imanente e superação da vida transcendente, apegada aos
ideais eternos e imutáveis que negam a vida e a realidade. Quando chegou aos trinta anos, Zaratustra deixou sua
pátria e o lago de sua terra natal e partiu para as mon-
tanhas. Lá permaneceu, nutrindo-se de seu espírito e de
1.6. Assim falou Zaratustra sua solidão, sem se cansar. Dez anos se passaram. Seu
coração, porém, mudou e, uma manhã, tendo-se levan-
Por volta de 1883, Nietzsche escreveu, segundo ele próprio,
tado com a aurora, pôs-se frente ao sol e assim lhe falou:
a sua maior contribuição para a humanidade, o livro Assim
Falou Zaratustra – um livro para todos e para ninguém. Tu, grande astro! Que seria de tua sorte, se te faltassem
aqueles a quem iluminas? [...]
Nesse livro, o filósofo busca apresentar a necessidade da
mudança na sociedade, alertando sobre a hipocrisia que Quando Zaratustra chegou à cidade mais próxima, situ-
constitui o homem e a sociedade. ada à beira da floresta, encontrou uma grande multidão
reunida na praça pública porque havia sido anunciado
Com uma linguagem repleta de metáforas, guiada pelo que seria apresentado o espetáculo de um equilibrista
 VOLUME ÚNICO

choque de paradoxos, o livro retrata o ermitão Zaratustra, na corda-bamba. Zaratustra se dirigiu então ao povo
um personagem que, após dez anos isolado nas monta- com estas palavras:
nhas, decide contar para a sociedade a boa nova: “Deus Eu vos anunciou o além-do-homem. O homem existe
está morto, e é a vez dos seres humanos”. para ser superado. Que fizestes para o superar? [...]
Zaratustra também é o anunciador do “além do homem” Entretanto, Zaratustra olhava a multidão e ficava assom-
(übermensch), um estágio que o ser humano pode alcan- brado. A seguir, assim falou:

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  127


O homem é uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem. Uma corda sobre o abismo.
Perigosa para percorrê-la, é perigoso ir por esse caminho, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é grande no
homem é ele ser uma ponte e não uma meta. O que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um declínio.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava Zaratustra - um livro para todos e para ninguém. São Paulo: Editora Escala, 2000, pp.15,17 e 19.

DIAGRAMA DE IDEIAS

NIETZSCHE

A SOCIEDADE O SER HUMANO


MODERNA ESTÁ PRECISA ELEVAR
DOENTE CRÍTICA À
O SEU ESTADO
FILOSOFIA

PORQUE O SER ATINGINDO O


POR DIRECIONAR
HUMANO NÃO VIVE "ALÉM DO HOMEM"
A VERDADE AOS
HOMENS

SÓ OBEDECE
ATUA COM A
AOS VALORES DE
É PRECISO PRÓPRIA VONTADE
ORIGEM RELIGIOSA
QUESTIONAR INDEPENDENTE
DAS MASSAS

COM O INTUITO
DE DOMINAÇÃO FILOSOFAR COM UM
É PRECISO AFIRMAR
SOCIAL MARTELO NA MÃO
A VONTADE
DE POTÊNCIA E
ROMPER COM OS
IDEAIS METAFÍSICOS.
PARA QUEBRAR AS
IDEIAS IMPOSTAS
 VOLUME ÚNICO

128  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) NIETZSCHE. F. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.

O texto exprime uma construção alegórica, que traduz


1. (Uece 2020) um entendimento da doutrina niilista, uma vez que:
a) reforça a liberdade do cidadão.
b) desvela os valores do cotidiano.
c) exorta as relações de produção.
d) destaca a decadência da cultura.
e) amplifica o sentimento de ansiedade.

3. (UFSJ) "A filosofia a golpes de martelo" é o subtítulo


que Nietzsche dá à sua obra Crepúsculo dos ídolos. Tais
golpes são dirigidos, em particular, ao(s):
a) conceitos filosóficos e valores morais, pois eles são
A refilmagem, deste ano, do clássico personagem “Co- os instrumentos eficientes para a compreensão e o
ringa” provocou discussões sobre seus significados no norteamento da humanidade.
plano sociopolítico. Analisando as várias versões inspi- b) existencialismo, ao anticristo, ao realismo ante a se-
radas no HQ da DC Comics, xualidade, ao materialismo, à abordagem psicológica de
Fabrício Moraes descreve o Coringa como o id, o impul- artistas e pensadores, bem como ao antigermanismo.
so destrutivo e caótico, mas também criativo e artístico. c) compositores do século XIX, como, Wolfgang Ama-
Batman seria o superego, o juiz punitivo e ordenador da deus Mozart, compositor de uma ópera de nome "Cre-
cidade, o arquétipo do guardião que afronta e interpõe púsculo dos deuses", parodiada no título.
limites a um território. O Coringa seria a face da co- d) conceitos de razão e moralidade preponderantes
média, Batman não se livra da face da tragédia. Neste nas doutrinas filosóficas dos vários pensadores que o
sentido, o filme Coringa nos mostraria que o aspecto antecederam e seus compatriotas e/ou contemporâ-
lúdico só tem pleno sentido se coexiste com a vida da neos Kant, Hegel e Schopenhauer.
sobriedade. Coringa e Batman são indissociáveis.
4. (UFSJ) Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é funda-
Ver: MORAES, Fabrício. ‘Coringa’: A raiva de Caliban por se mental entender a crítica que ele faz à metafísica. Nes-
ver no espelho. In Revista Amálgama. Disponível em: https://www.
se sentido, é correto afirmar que essa crítica:
revistaamalgama.com.br/10/2019/resenha-coringa/. 2019.
a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contenta-
Considerando a análise acima, é correto dizer que está mento, plenitude.
amparada teoricamente b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem
a) na noção estético-moral de Nietzsche em O nasci- metafísica através do método genealógico.
mento da tragédia, onde ordem e caos se equilibram c) é o discernimento proposto por Nietzsche para le-
e fazem nascer o humano: Coringa e Batman são in- var à supressão da tendência que o homem tem à
dissociáveis como Dionísio (loucura) e Apolo (razão). individualidade radical.
b) na teoria política marxista, que concebe as rela- d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua
ções sociais mascaradas pela ideologia de classe, o razão, tem como conceber uma metafísica qualquer,
que necessariamente provoca o conflito social: Corin- que não tenha recebido a chancela da observação.
ga e Batman são representações da luta de classes.
5. (UFSJ) Ao declarar que "a moral e a religião pertencem
c) na definição de arte dos filósofos gregos como Aris-
inteiramente à psicologia do erro", Nietzsche pretendeu:
tóteles, cuja ideia fundamental era a de mímesis, ou
seja, de imitação ou representação da realidade: Co- a) destruir os caminhos que "a psicologia utiliza para
ringa e Batman são representações do ser e do não ser. negar ou afirmar a moral e a religião".
d) na concepção moral agostiniana, na qual o bem e o b) criticar essa necessidade humana de se vincular a va-
mal, o pecado e a graça, a cidade dos homens e a cida- lores e instituições herdados, já que "o Homem é forjado
de de Deus coabitam no interior de cada indivíduo: Co- para um fim e como tal deve existir".
ringa e Batman são representações dessa contradição. c) denunciar o erro que tanto a moral quanto a religião
cometem ao confundir "causa com efeito, ou a verda-
2. (ENEM) Vi os homens sumirem-se numa grande triste- de com o efeito do que se considera como verdade".
za. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou- d) comprovar que "a moral e a religião estão no ima-
-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é ginário coletivo, mas para se instalarem enquanto
 VOLUME ÚNICO

oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inú- verdade elas precisam ser avalizadas por uma ciência
til; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado ama- institucionalizada".
releceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e
se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam 6. (Unimontes) O pensamento de Nietzsche (1844-1900)
em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes orienta-se no sentido de recuperar as forças inconscien-
secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se tes, vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante
querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar! séculos. Para tanto, critica Sócrates por ter encaminha-

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  129


do, pela primeira vez, a reflexão moral em direção ao 9. (UFU) Friedrich Nietzsche (1844-1900) opõe à moral
controle racional das paixões. Nietzsche faz uma crítica tradicional, herdeira do pensamento socrático-platôni-
à tradição moral desenvolvida pelo ocidente. Marque a co e da religião judaica-cristã, a transvaloração de to-
alternativa que indica as obras que melhor representam dos os valores.
a crítica nietzscheana. Conforme Aranha & Arruda (2000): “Ao fazer a crítica da
a) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, moral tradicional, Nietzsche preconiza a ‘transvaloração
Crepúsculo dos ídolos. de todos os valores’. Denuncia a falsa moral, ‘decaden-
b) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, te’, ‘de rebanho’, ‘de escravos’, cujos valores seriam a
República. bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próxi-
c) Leviatã, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos. mo”. Desta forma, opõe a moral do escravo à moral do
d) Microfísica do poder, Genealogia da moral, Crepús- senhor, a nova moral.
culo dos ídolos. ARANHA, M.L. de A.; MARTINS, M.H.P. Filosofando:
introdução à filosofia. São
Paulo: Moderna, 2000, p. 286.
7. (UFSJ) Nietzsche estampa a sua inconformidade e in-
dignação quanto ao homem que se deixa levar pelos
Assinale a alternativa que contenha a descrição da “mo-
valores morais e religiosos instituídos. Assinale a alterna-
tiva que corretamente corrobora essa afirmação: ral do senhor” para Nietzsche:

a) "Hoje, não desejamos o gado moral nem a a) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação
ventura gorda da consciência". da alegria.
b) "O verme se retrai quando é pisado. Isso indica sabe- b) É negativa, baseada na negação dos instintos vitais.
doria. Dessa forma ele reduz a chance de ser pisado de c) É transcendental; seus valores estão no além-mundo.
novo. Na linguagem da moral: a humildade". d) É positiva, baseada no sim à vida.
c) "À força de querer buscar as origens nos tornamos
caranguejos. O historiador olha para trás e acaba crendo 10. (UFSJ) Nietzsche identificou os deuses gregos Apolo e
para trás". Dionísio, respectivamente, como
d) "Há um ódio contra a mentira e a dissimulação que a) complexidade e ingenuidade: extremos de um mesmo
procede duma sensível noção de honra; há outro ódio segmento moral, no qual se inserem as paixões humanas.
semelhante por covardia, já que a mentira é interdita
pela lei divina. Ser covarde demais para mentir...". b) movimento e niilismo: polos de tensão na existên-
cia humana.
8. (Unesp) "Em algum remoto rincão do sistema solar c) alteridade e virtu: expressões dinâmicas de inter-
cintilante em que se derrama um sem-número de sis-
venção e subversão de toda moral humana.
temas solares, havia uma vez um astro em que animais
inteligentes inventaram o conhecimento. d) razão e desordem: dimensões complementares da
realidade.
Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da história
universal: mas também foi somente um minuto. Passa- 11. (UFFS – FEPESE) Para lidar com o tratamento dos va-
dos poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os lores no pensamento de Nietzsche, o conceito da “morte
animais inteligentes tiveram de morrer. Assim poderia al- de Deus” é essencial.
guém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado
suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico Assinale a alternativa que reflete esse conceito.
e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto a) A morte de Deus desvaloriza o mundo.
humano dentro da natureza. Houve eternidades em que b) A morte de Deus gera necessariamente o super-homem.
ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada
c) A morte de Deus implica a perda das sanções so-
terá acontecido. Ao contrário, ele é humano, e somente
brenaturais dos valores.
seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como
se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudésse- d) A morte de Deus exige o retorno a Apolo e a Dionísio.
mos entender-nos com a mosca, perceberíamos então e) A morte de Deus impossibilita a superação dos va-
que também ela boia no ar (...) e sente em si o centro lores hoje aceitos.
voante deste mundo".
NIETZSCHE. O livro das citações. 2008. 12. (UFU/2 2a Fase): Leia atentamente o texto a seguir.
“O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou
Sobre o texto, é correto afirmar que:
completamente o homem, e o mergulhou como que
a) seu teor acerca do lugar da humanidade na história em um profundo lamaçal: então, no sentimento de to-
do universo é antropocêntrico. tal abjeção, fazia brilhar de repente o esplendor de
b) o autor revela uma visão de mundo cristã.
 VOLUME ÚNICO

uma piedade divina, de tal modo que o surpreendido,


c) o autor apresenta uma visão cética acerca da impor- atendido pela graça, lançava um grito de embeveci-
tância da humanidade na história do universo. mento e por um instante acreditava carregar o céu
d) ao comparar a vida humana com a vida de uma mos- inteiro em si.”
ca, Nietzsche corrobora os fundamentos de diversas teo-
logias, não se limitando ao ponto de vista cristão. NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano. Col.
Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 59.
e) para o filósofo, a vida humana é eterna.

130  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Com base no texto de Nietzsche, responda as seguintes
questões:
a) O cristianismo pode ser considerado "moral do es-
cravo" ou "moral do senhor"?
b) Selecione uma frase do texto que apresenta a carac-
terística fundamental do cristianismo para Nietzsche.
c) Com base na frase selecionada, explique se, para
Nietzsche, o cristianismo é uma doutrina que nega ou
que valoriza a força, a saúde e a vida.

Gabarito
1. A 2. D 3. D 4. B 5. C

6. A 7. A 8. C 9. D 10. D

11. C
12.
a) "Moral de escravo”: este é um dos conceitos-chave
do pensamento nietzschiano, conforme o programa do
vestibular: "a moral do escravo é caracterizada pelo ódio
dos impotentes".
b) Há mais de uma frase ou expressão que pode ser re-
tirada do texto para responder a esta pergunta, seguem
abaixo alguns exemplo:
1) "O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou
completamente o homem, e o mergulhou como que em
um profundo lamaçal";
2) "[...] no sentimento de total abjeção, fazia brilhar de
repente o esplendor de uma piedade divina";
3) "[...] de tal modo que o surpreendido, atendido pela
graça, lançava um grito de embevecimento e por um
instante acreditava carregar o céu inteiro em si". Ob-
serva-se, nesta frase, que o "surpreendido" é o fraco
que se acredita forte por "carregar o céu inteiro dentro
de si".
c) O cristianismo, para Nietzsche, nega o valor vida. Nes-
se sentido, nega igualmente tudo o que a ele se relacio-
na (saúde, criatividade, força). O objetivo de Nietzsche é
revalorizar o equilíbrio entre as forças instintivas e vitais
do homem que foram subjugadas pela filosofia socráti-
co-platônica e pelas religiões.
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  131


FILOSOFIA A ciência consiste em grande parte em solucionar os
DA CIÊNCIA: problemas. Para o filósofo, uma teoria é científica so-
POPPER mente se for refutável por um evento concebível. Assim,
todo teste é uma tentativa de refutá-la ou falsificá-la.

CH
De modo que, o filósofo estabelece uma distinção clara
entre a lógica da falseabilidade e sua metodologia apli-
COMPETÊNCIA(s)
cada. A lógica utilizada é simples: se um único metal
1, 2, 3, 4 e 5
ferroso não é afetado por um campo magnético, não
HABILIDADE(s) é possível que todos os metais ferrosos sejam afetados
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, por campos magnéticos.

20
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25
Dessa forma, enquanto defende a falseabilidade como o
critério de demarcação para a ciência, Popper afirma a
possibilidade de que, na prática, uma única prova conflitante
ou contrária nunca é metodologicamente suficiente para re-
futar uma teoria. Esse fato condiciona que teorias científicas
sejam frequentemente mantidas, embora tenham sofrido o
processo de refutação.
O filósofo enfatiza que não existe um único caminho para

1. Karl Raimund Popper a teoria científica. A ciência se inicia com problemas e não
com observações, a observação seria o segundo passo do
(1902-1994) método científico. Seguindo um critério de Popper, a física,
a química, entre outras, são ciências; enquanto a psicologia
O filósofo austro-britânico Karl Popper apresenta a ideia de
que as ciências empíricas nunca podem ser provadas, mas é pré-ciência, e a astrologia é uma pseudociência.
podem ser falsificadas, isso significa que podem e devem
ser examinadas por diversos experimentos decisivos. Uma
ciência empírica é aquela que pode ser falseada (tornada
falsa) pelos fatos, ou seja, pode ser desmentida pelos fatos.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Karl Popper, Science, & Pseudoscience:
Crash Course Philosophy #8

1.1. O Conhecimento
O crescimento do conhecimento humano procede de nos-
sos problemas e de nossas tentativas de resolvê-los. Essas
tentativas devem ir além do conhecimento existente, re-
querendo um salto da imaginação. Por essa razão, Popper
dá ênfase especial ao papel desempenhado pela imagina-
Fotografia de Karl Popper. ção criativa independente na formulação da teoria.
 VOLUME ÚNICO

Popper faz uma distinção entre ciência e não ciência, de Os cientistas, para o filósofo, são solucionadores de proble-
modo que afirma que a indução nunca é realmente uti- mas, pois apresentam uma centralidade e uma prioridade
lizada na ciência e a indução está contida na não dos problemas, de modo que o solucionar o problema será
ciência. Segundo o filósofo, não existe uma metodologia o primeiro passo para o início da ciência, seguindo um pro-
única específica para a ciência. cesso dedutivo.

132  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Esse processo dedutivo é formulado seguindo quatro etapas:
2. Thomas Samuel
1. O primeiro é formal, um teste da consistência interna,
para que não ocorra nenhuma contradição. Kuhn (1922-1996)
2. A semiformal da teoria, buscando distinguir entre seus O físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn
elementos empíricos e lógicos. De modo que fique atento desenvolveu estudos diante o procedimento científico.
para distinguir elementos analíticos (a priori) e sintéticos
(a posteriori).
3. A comparação da nova teoria com as já existentes para
constituir um avanço. Caso não tenha tal progresso, a nova
teoria não será adotada.
4. O último passo é o teste de uma teoria pela aplicação
empírica das conclusões derivadas dela. Caso se mostre
verdadeiras, essa teoria é validada; caso o contrário, o cien-
tista começa sua busca por uma teoria melhor, o que não
significa que será totalmente abandonada essa teoria.
Para Popper não existe um único método para alcançar o Retrato de Thomas Kuhn.
conhecimento científico, sendo que esse procedimento crí-
Segundo o filósofo, existe uma pré-ciência, período em que
tico seria a essência da racionalidade, para assim eliminar
não há um paradigma racional e científico organizado. Entre-
as falsas categorias.
tanto, para ter uma ciência estruturada é preciso possuir um
Um cientista, seja teórico ou experimental, formula enun- único paradigma.
ciados ou sistemas de enunciados e verifica-os um a um.
No campo das ciências empíricas, para particularizar, ele Para Kuhn,o desenvolvimento de uma ciência não é unifor-
formula hipóteses ou sistemas de teorias, e submete-os me, alternando entre fases “normal” e “revolucionária”. A
a teste, confrontando-os com a experiência, através de ciência normal parece com a imagem cumulativa padrão
recursos de observação e experimentação. do progresso científico, pelo menos na superfície. A ciência
A tarefa da lógica da pesquisa científica, ou da lógica normal desenvolve-se perante um paradigma, seja mecâ-
do conhecimento, é, segundo penso, proporcionar uma
nica newtoniana ou de qualquer outra; enquanto a ciência
análise lógica desse procedimento, ou seja, analisar o
método das ciências empíricas. revolucionária representa um novo paradigma, não sendo
Que são, entretanto, esses "métodos das ciências empíri-
acumulativa, proporcionando uma revolução no desen-
cas"? A que damos o nome de "ciência empírica"? volvimento científico.
O Problema da Indução Só que um paradigma pode gerar crises, quando
Segundo concepção amplamente aceita – a ser contes-
começamos a enfrentar problemas no enfrentamento de
tada nesse livro – , as ciências empíricas caracterizam-se dados observacionais ou experimentais. Cada paradigma
pelo fato de empregarem os chamados "métodos indu- apresenta um modelo de problemas e de soluções aceitáveis
tivos". De acordo com essa maneira de ver, a lógica da pela comunidade científica, que realiza pesquisas em uma
pesquisa científica com a Lógica Indutiva, isto é, com a determinada área.
análise lógica desses métodos indutivos.
É comum dizer-se “indutiva” uma inferência, caso ela con-
duza de enunciados singulares (por vezes denominados
também enunciados “particulares”), tais como descrições
dos resultados de observações ou experimentos, para
enunciados universais, tais como hipóteses ou teorias.
Ora, está longe de ser óbvio, de um ponto de vista ló-
gico, haver justificativa no inferir enunciados universais
de enunciados singulares, independentemente de quão multimídia: vídeo
 VOLUME ÚNICO

numerosos sejam estes; com efeito, qualquer conclusão


colhida desse modo pode revelar-se como falsa: inde- Fonte: Youtube
pendentemente de quantos casos de cisnes brancos Paradigma, ciência e quebra-cabeça em Kuhn
possamos observar, isso não justifica a conclusão de que
todos os cisnes são brancos.
A Lógica da pesquisa científica. Karl R. Popper. Kuhn rejeitou as visões tradicionais e as visões de Popper. Isso
São Paulo: Cultrix, 1978, p.27 ocorre pois a ciência só pode ter sucesso se houver

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  133


um forte compromisso da comunidade científica re-
levante com suas crenças, valores e técnicas.
A constelação de compromissos compartilhados, é denomi-
nada de “matriz disciplinar”, que se torna um pré-requisito
para o sucesso da ciência normal. Esse conservadorismo da
atitude do cientista distingue Kuhn de Popper.

multimídia: livro

A Estrutura das Revoluções Científicas - Thomas


S. Kuhn. São Paulo: Perspectiva, 2018.
Um dos aspectos mais interessantes de A Estrutura das
Revoluções Científicas é a análise do papel dos fato-
res exteriores à ciência na erupção desses momentos
de crise e transformação do pensamento científico e da
prática correspondente.

Se o historiador segue, desde a origem, a pista do co-


nhecimento científico de qualquer grupo selecionado de
fenômenos interligados, provavelmente encontrará algu-
ma variante menor de um padrão ilustrado aqui a partir
da História da Óptica Física. Os manuais atuais de Física
ensinam ao estudante que a luz é composta de fótons,
isto é, entidades quântico-mecânicas que exibem algumas
características de ondas e outras de partículas. A pesquisa
é realizada de acordo com este ensinamento, ou melhor,
de acordo com as caracterizações matemáticas mais ela-
boradas a partir das quais é derivada esta verbalização
usual. Contudo, esta caracterização da luz mal tem meio
século. Antes de ter sido desenvolvida por Planck, Einstein
e outros no começo deste século, os textos de Física ensi-
navam que a luz era um movimento ondulatório transver-
sal, concepção que em última análise derivava dos escritos
ópticos de Young e Fresnel, publicados no início do século
XIX. Além disso, a teoria ondulatória não foi a primeira da
concepções a ser aceita pelos praticantes da ciência ópti-
ca. Durante o século XVIII, o paradigma para este campo
de estudos foi proporcionado pela Óptica de Newton, a
qual ensinava que a luz era composta de corpúsculos de
matéria. Naquela época os físicos procuravam provas da
pressão exercida pelas partículos de luz ao colidir com os
corpos sólidos, algo que não foi feito pelos primeiros teó-
ricos da concepção ondulatória.
 VOLUME ÚNICO

Essas transformações de paradigmas da Óptica Física


são revoluções científicas e a transição sucessiva de um
paradigma a outro, por meio de uma revolução, é padrão
usual de desenvolvimento da ciência amadurecida.
KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções
Científicas. São Paulo: Perspectiva, 5ª edição.

134  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

POPPER THOMAS KUHN

AS CIÊNCIAS PODEM A CIÊNCIA PRECISA


SER FALSIFICADAS TER UM PARADIGMA

OS PARADIGMAS
EXISTE A CIÊNCIA PASSAM POR
E A NÃO CIÊNCIA CRISES E SÃO
SUBSTITUÍDOS POR
NOVOS PARADIGMAS
CIENTÍFICOS:
A INDUÇÃO NÃO REVOLUÇÃO
É CONFIÁVEL. O CIENTÍFICA
CAMINHO DEDUTIVO
É MAIS ADEQUADO

DE MODO QUE AS
CRISES DIRECIONAM
O ANDAMENTO
DA CIÊNCIA

A VALIDADE DA
CIÊNCIA SURGE COM
O COMPROMISSO
CIENTÍFICO

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  135


Aplicando para Aprender (A.P.A.) mentalmente, ajudado por seus colegas cientistas, que
ficarão deleitados se puderem encontrar uma brecha
1. (UEL 2020) Leia o texto a seguir. nela. Se a hipótese não suportar essas críticas e esses
testes pelo menos tão bem quanto suas concorrentes,
Esta é uma concepção de ciência que considera a abor- será eliminada".
dagem crítica sua característica mais importante. Para
(POPPER, Karl. Conhecimento objetivo. Trad. de Milton
avaliar uma teoria o cientista deve indagar se pode ser
Amado. São Paulo: Edusp & Itatiaia, 1975. p. 226.)
criticada - se se expõe a críticas de todos os tipos e, em
caso afirmativo, se resiste a essas críticas. Com base no texto e nos conhecimentos sobre ciência e
método científico, é correto afirmar:
POPPER, Karl. Conjecturas e refutações. Trad.
Sérgio Bath. Brasília: UnB, 1982. p. 284. a) O método científico implica a possibilidade constante
de refutações teóricas por meio de experimentos cruciais.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso- b) A crítica no meio científico significa o fracasso do
fia de Popper, assinale a alternativa correta. cientista que formulou hipóteses incorretas.
a) A concepção de ciência da qual fala Popper é aque- c) O conflito de hipóteses científicas deve ser resolvido
la que possui o princípio de verificabilidade, com pro- por quem as formulou, sem ajuda de outros cientistas.
posições rigorosas que procuram corrigir as teorias d) O método crítico consiste em impedir que as hipó-
científicas. teses científicas tenham brechas.
b) A ciência busca alcançar o conhecimento de tipo e) A atitude crítica é um empecilho para o progresso
essencial, pois ele garante a verdade de uma teoria científico.
científica, permitindo o desenvolvimento em direção
à verdade objetiva visada pela ciência. 4. (UEL) Leia o texto a seguir.
c) Uma teoria científica é verdadeira se suas propo- […] não exigirei que um sistema científico seja suscetí-
sições são empiricamente falsificáveis via testes, per- vel de ser dado como válido, de uma vez por todas, em
mitindo que sejam autocorrigidas e desenvolvidas na sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica
direção de uma verdade objetiva. seja tal que se torne possível validá-lo através de recur-
d) Os testes empíricos nas ciências humanas, tais so a provas empíricas em sentido negativo […].
como psicologia e sociologia, visam confirmar seu va- (POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. Trad. L. Hegenberg
lor de cientificidade, pois suas teorias são falsificáveis. e O. S. da Mota. São Paulo: Cultrix, 1972. p. 42.)
e) A concepção de ciência que Popper sustenta é a pas-
sivista ou receptacular, na qual as teorias científicas são Assinale a alternativa que corresponde ao critério de
elaboradas por meio dos sentidos e o erro surge ao avaliação das teorias científicas empregado por Popper.
interferirmos nos dados obtidos da experiência. a) Falseabilidade
b) Organicidade
2. (Unesp 2020) Diariamente somos inundados por
c) Confiabilidade
inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de
leitura ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem es- d) Dialeticidade
forço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, e) Diferenciabilidade
ou simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico. A
5. (UEL) Considerando a solução apresentada por Karl
grande maioria desses milagres cotidianos é vestida
Popper ao problema da indução nos métodos de inves-
com alguma roupagem científica: linguagem um pouco
tigação científica, é correto afirmar que, para ele o mé-
mais rebuscada, aparente comprovação experimental,
todo científico:
depoimentos de “renomados” pesquisadores, utiliza-
ção em grandes universidades. São casos típicos do que a) é indutivo e racional.
se costuma definir como “pseudociência”. b) é dedutivo e irracional.
(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. c) é indutivo e irracional.
In: Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.) d) não segue os padrões de racionalidade impostos
pela lógica.
Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos e) é dedutivo e racional.
pseudocientíficos por meio
6. Karl Popper, em "A lógica da investigação científica",
a) da imposição de novos sistemas ideológicos.
se opõe aos métodos indutivos das ciências empíricas.
b) da confiança em teorias fundamentadas no senso Em relação a esse tema, diz Popper: "Ora, de um ponto
comum. de vista lógico, está longe de ser óbvio que estejamos
c) da ampla divulgação de ideias individuais. justificados ao inferir enunciados universais a partir
 VOLUME ÚNICO

d) da preservação de saberes populares. dos singulares, por mais elevado que seja o número
e) da demonstração de ausência de evidências empíricas. destes últimos".
Fonte: POPPER, K. R. A lógica da investigação científica. Tradução
3. (UEL) "As experiências e erros do cientista consistem de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p.3.
de hipóteses. Ele as formula em palavras, e muitas ve-
zes por escrito. Pode então tentar encontrar brechas Com base no texto e nos conhecimentos sobre Popper,
em qualquer uma dessas hipóteses, criticando-a experi- assinale a alternativa correta:

136  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


a) Para Popper, qualquer conclusão obtida por infe- a) o desenvolvimento científico não se dá de modo
rência indutiva é verdadeira. linear, cumulativo e progressivo.
b) De acordo com Popper, o princípio da indução não b) o desenvolvimento científico possui momentos de re-
tem base lógica porque a verdade das premissas não volução, de ruptura, nos quais há mudança de paradigma.
garante a verdade da conclusão. c) a ciência normal é o período em que a pesquisa
c) Uma inferência indutiva é aquela que, a partir de científica é dirigida por um paradigma.
enunciados universais, infereenunciados singulares. d) um exemplo de mudança de paradigma (revolução)
d) A observação de mil cisnes brancos justifica, segundo na Astronomia e a substituição do sistema geocêntri-
Popper, a conclusão de que todos os cisnes são brancos. co aristotélico-ptolomaico pelo sistema heliocêntrico
e) Para Popper, a solução para o problema do princí- copernicano-galilaico.
pio da indução seria passar a considerá-lo não como e) a ciência não está submetida, de forma alguma, às
verdadeiro, mas apenas como provável. condições históricas.
7. (Unicentro) Consideremos o campo da epistemologia 9. Qual era a formação inicial de Thomas Kuhn antes de
contemporânea; sob esse aspecto, podemos afirmar se interessar pela história e filosofia da ciência?
que a posição de Thomas Kuhn (1922-1996), em relação
à ciência, se contrapôs à concepção científica de Karl a) Física Teórica
Popper (1902-1994)? Assinale a alternativa correta. b) História
a) Sim, Kuhn se contrapôs à teoria de Popper ao negar c) Filosofia
que o desenvolvimento da ciência se dê mediante o ide- d) Química
al de refutação. Ao contrário, Kuhn afirma que a ciência
progride pela tradição intelectual representada pelo pa- 10. Qual foi a principal obra de Thomas Kuhn e que cau-
radigma que é a visão de mundo expressa numa teoria. sou uma grande revolução na história e filosofia da ci-
ência?
b) Não, Kuhn absorve a teoria da refutabilidade de
Popper ao desenvolver sua concepção de paradigma a) História Filosófica da Ciência
científico. Para ambos, o que garante a verdade de um b) A quebra dos paradigmas na história da ciência
discurso científico é sua condição de justificação, ou c) A estrutura das Revoluções Científicas
seja, quando uma teoria é justificada ela é corroborada. d) A Física de Aristóteles
c) Não, Kuhn argumentou que uma teoria, como para-
digma, deve ser desenvolvida em vez de criticada, mo- 11. (Ufma) Identifique as afirmativas que contêm pro-
tivo pelo qual ele não poderia opor-se ao pensamento posições corretas quanto à objetividade requisitada
de Popper. Sua tentativa será outra: tentar harmonizar pelo conhecimento científico. A seguir, marque a op-
aqueles pontos de vista que divergem do seu. ção correta.
d) Sim, Kuhn cedo abandonou o empirismo, classifican- I. A neutralidade científica necessária para a efetivação
do-se como anarquista epistemológico. Dessa forma, da objetividade não pode ser pensada de forma absoluta.
opôs-se não apenas à concepção metodológica de Po-
II. O evento investigado pelo cientista possibilita sua
pper como também de outros contemporâneos seus,
plena compreensão e, portanto, a obtenção de um co-
como Lakatos, por exemplo. Diferentemente de Popper,
Kuhn anuncia que as teorias não são nem verdadeiras, nhecimento infalível e verdadeiro.
nem falsas, mas úteis. III. A ciência avança por uma série de aproximações para
e) Sim, diferentemente de Popper, para quem a física uma verdade objetiva jamais alcançada, sendo possível
newtoniana era considerada a imagem verdadeira do afirmar apenas que há um certo grau de objetividade.
mundo, tendo como pressupostos o mecanicismo e IV. O uso de métodos, testes, amostras significativas,
o determinismo, Kuhn estabelece como paradigma preservaria o rigor, garantindo por si só a objetividade
de sua concepção de ciência o irracionalismo de Hei- do conhecimento científico.
senberg e seu princípio da incerteza. Estão corretas apenas:
8. (Unioeste) "Segundo o filósofo da ciência Thomas a) II e III
Kuhn, paradigma é um conjunto sistemático de métodos, b) I, II e IV
formas de experimentações e teorias que constituem um c) I e III
modelo científico, tornando-se condição reguladora da
d) I e IV
observação. […] A ciência normal, conforme Kuhn, fun-
ciona submetida por paradigmas estabelecidos historica- e) II, III e IV
 VOLUME ÚNICO

mente num campo contextual de problemas e soluções 12. (UEL) Uma das afirmações mais conhecidas e citadas
concretas. […] Os paradigmas são estabelecidos nos mo- de Galileu, que reflete o novo projeto da ciência da natu-
mentos de revolução científica […] Portanto, para Kuhn, reza, é a seguinte: "A filosofia está escrita neste grandís-
a ciência se desenvolve por meio de rupturas, por saltos simo livro que aí está aberto continuamente diante dos
e não de maneira gradual e progressiva". (E. C. Santos) olhos (digo, o universo), mas não se pode entendê-lo se
Sobre a concepção de ciência de Kuhn, é incorreto afir- primeiro não se aprende a entender a língua e conhecer
mar que os caracteres nos quais está escrito.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  137


Ele está escrito em língua matemática, e os caracteres
são triângulos, círculos e outras figuras geométricas,
meios sem os quais é humanamente impossível enten-
der-lhe sequer uma palavra; sem estes trata-se de um
inútil vaguear por obscuro labirinto."
(NASCIMENTO, Carlos Arthur R. De Tomás de Aquino a
Galileu. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 1998. p. 176.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a con-


cepção de ciência em Galileu, é correto afirmar:
a) Ciência é o conhecimento fixo, estável e perene
da essência constitutiva da realidade, alcançável por
meio da abstração.
b) A autonomia da explicação científica baseia-se em
argumentos de autoridade e princípios metafísicos
que justificam a verdade imutável do mundo natural.
c) A verdade natural é conhecida independente de
teorias e da realização de experiências, já que o fator
primordial da ciência é o uso da matemática para de-
cifrar a essência do mundo.
d) A compreensão da natureza por meio de caracte-
res matemáticos significa decifrar a obra da criação e,
consequentemente, ter acesso ao conhecimento do
próprio criador.
e) A ciência busca construir o conhecimento assenta-
do na razão do sujeito e no controle experimental dos
fenômenos naturais representados matematicamente.

Gabarito
1. C 2. E 3. A 4. A 5. E

6. B 7. A 8. E 9. A 10. C

11. C 12. E
 VOLUME ÚNICO

138  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


FENOMENOLOGIA linguagem qualquer tipo de incerteza. Seu estilo filosófico
DO é direcionado para o interrogatório, o radicalismo e o ina-
CONHECIMENTO cabamento essencial do fenômeno.

CH COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

21
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

Fotografia de Husserl.

1. O que é Fenomenologia? 2.1. O método fenomenológico


A Fenomenologia é o estudo da consciência e dos O Primeiro passo dessa corrente é ter ciência de que, para
objetos da consciência. De modo que o processo pelo compreender o fenômeno, é preciso estar próximo dele, ou
qual somos informados pelos sentidos sofre uma mudança seja, deve-se ir às coisas mesmas, tendo uma atitu-
em uma experiência de consciência em um fenômeno. de intelectual. Após isso, a próxima etapa seria a redução
transcendental ou redução fenomenológica, que consiste
Fenômeno: termo de origem grega que significa "apare-
em reduzir o problema para compreendê-lo melhor. Com
cer", "aparência". O fenômeno não é o objeto, mas a sua
isso, ocorre um entendimento, que se funda no rigor, valo-
manifestação e, até mesmo, ilusão. É o processo de manifes-
rizando o ser na sua singularidade, tendo uma relevância
tação dos eventos e dos objetos que gera a percepção e in-
com o que se manifesta. A busca pelo retorno às coisas nos
terpretação humana a partir dos sentidos e do uso da razão.
leva a considerar que o sujeito gera uma certa "contami-
A Fenomenologia é uma corrente filosófica que concebe ao nação" sobre os objetos, ou seja, a consciência do sujeito
pensamento a certeza de reter só o essencial do fenômeno projeta nas coisas componentes próprios de percepção (as-
em questão, seguindo de um método que alcance essa es- pectos sociais, psicológicos, culturais, entre outros). Seria
sência. Apesar de conter traços existencialistas, a Fenomeno- necessário recuperar de forma metodológica a realidade,
logia tem como objetivo ter uma solução prática para todo o que é comprometida por nossas subjetividades. Seria ne-
subjetivismo intelectual. Essa corrente foi inaugurada pelo fi- cessário "purificar" a relação sujeito-objeto.
lósofo Edmund Husserl, com o propósito de solucionar o caos
O principal objetivo dessa corrente foi identificar os aspec-
intelectual do final do século XIX e do início do século XX.
tos invariáveis da percepção do objeto.
Num primeiro momento, duvida-se de se uma tal ciência
2. Edmund Husserl (1859-1938) é em geral possível, Se põe em questão todo o conhe-
cimento escolhido como ponto de partida é, enquanto
O filósofo e matemático alemão Edmund Husserl rompe conhecimento, posto em questão?
com uma orientação positivista e desenvolve uma estrutu-
No entanto, esta é uma dificuldade meramente aparen-
ra mais objetiva, a Fenomenologia, definindo-a como uma te. O conhecimento não se nega nem se declara em todo
 VOLUME ÚNICO

filosofia transcendental-idealista. o sentido como algo de duvidoso pelo facto de se pôr em


questão. Questionam-se certas realizações que lhe são
Husserl sofre influência de Platão e Descartes, com uma
atribuídas, mas fica ainda em aberto se as dificuldades
análise de uma psicologia descritiva dos atos, implicando concernem a todos os tipos possíveis de conhecimen-
uma nova concepção da subjetividade. A Fenomenologia to. Em todo o caso, se a teoria do conhecimento quiser
de Husserl é uma meditação lógica, sem conter as incer- concentrar-se na possibilidade do conhecimento, tem de
tezas da própria lógica, excluindo mediante o uso de uma ter conhecimentos sobre possibilidades cognitivas que,

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  139


como tais, são indubitáveis e, claro está, conhecimentos
no sentido mais estrito, a que cabe a apreensibilidade, e
acerca a sua própria possibilidade cognitiva, cuja apre-
ensibilidade é absolutamente indubitável.
A Ideia da Fenomenologia. Edmund Husserl. Rio
de Janeiro: Edições 70, 1989, pp.22-23.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Merleau-Ponty: Filosofia e Percepção
O professor de Filosofia da USP Franklin Leopoldo e Sil-
va comenta sobre a teoria de Merleau-Ponty.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube 3.1. O Corpo para Merleau-Ponty
Café Filosófico: Fenomenologia e existencialismo O corpo é a fonte de conhecimento, pois o corpo e
o mundo são constituídos da mesma matéria, mas é me-
diante o corpo que percebemos o mundo. E diante disso,
3. Maurice Merleau- conseguimos perceber tudo que está ao redor do mundo, e
assim podemos realizar operações mentais, fantasiar, dese-
-Ponty (1908-1961) jar e atribuir significados às coisas.

O filósofo francês Merleau-Ponty desenvolve sua teoria Merleau-Ponty desejava combater os empiristas e intelec-
sobre a Fenomenologia, tendo grande influência do pen- tualistas de sua época, que acreditavam numa separação
samento de Edmund Husserl. Entretanto, ao desenvolver a mente-corpo. Para o filósofo francês, a percepção é ativa e
sua própria filosofia, nega a doutrina de Husserl. representa a primeira abertura do ser ao mundo da vida. Pois
não existe uma separação independente de corpo
e mente, o nosso corpo pode nos propiciar conhecimento,
isso ocorre porque não estamos no espaço e no tempo, mas
somos no espaço e no tempo. Com a mediação do corpo, as
nossas experiências são classificadas e organizadas, sendo
um processo que ocorre antes mesmo de nossa linguagem.
Seguindo essa lógica, para Merleau-Ponty não devemos
pensar numa dicotomia (interior/exterior, corpo/mente);
mas precisamos compreender uma unidade, a qual o corpo
expressa e capta sensações desse mundo e reflete outros
tipos de sentimentos para o mundo. Com esse posiciona-
mento o filósofo ultrapassou as visões de sua época, de
modo que o ser humano não possui um corpo, ele é corpo.
Assim, a verdade não está contida somente no interior do
homem, ela está em toda parte, sendo a base da consciên-
cia. O corpo se torna meio de comunicação com o mundo,
enquanto a experiência motora representa uma forma de
retrato de Merleau-Ponty.
acessarmos esse mundo. A percepção é o contato imedia-
to com o mundo e o corpo é fonte sensorial de interação
Para Merleau-Ponty, a construção teórica se faz na ma- e compreensão do mundo. A racionalidade consciente é
neira de se portar do corpo e na captação de impressões uma ação posterior à percepção. Merleau-Ponty contraria
 VOLUME ÚNICO

dos sentidos. De modo que o corpo é um organismo como o dualismo cartesiano e afirma a integração mente-corpo.
uma configuração integral a ser explorada. Com isso, o O corpo não é uma entidade material separada de uma
homem seria o núcleo de debates sobre o conhecer, como mente abstrata transcendente. A mente é corpo e o corpo
é criado e percebido em seu corpo. Merleau-Ponty con- é mente – em oposição ao dualismo, afirma-se a unidade.
verte o processo fenomenológico para uma mo- Não somos uma consciência pura, somos uma consciência
dalidade existencial. corpórea, um corpo animado por uma consciência.

140  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Concluímos que o corpo humano não é apenas um suspenso, para compreendê-las, as afirmações da ati-
objeto estudado pela ciência; ele se torna base e tude natural, mas é também uma filosofia para a qual
o mundo já está sempre ‘ali’, antes da reflexão, como
condição para a existência. Existe uma ligação dialética
uma presença inalienável, e cujo esforço todo consiste
e inseparável da mente com o corpo. No processo de apren- em reencontrar este contato ingênuo com o mundo,
dizagem do ser humano, o movimento do corpo está inti- para dar-lhe enfim um estatuto filosófico. É a ambição
mamente interligado às habilidades da mente. Um exemplo de uma filosofia que seja uma 'ciência exata', mas é
disso: para uma criança, mover-se é pensar. também um relato do espaço, do tempo, do mundo 'vi-
vidos'. É a tentativa de uma descrição direta de nossa
experiência tal como ela é, e sem nenhuma deferência
à sua gênese psicológica e às explicações causais que
o cientista, o historiador ou o sociólogo dela possam
fornecer, e todavia Husserl, em seus últimos trabalhos,
menciona uma 'fenomenologia genética' e mesmo
uma 'fenomenologia construtiva'.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção.
São Paulo: Martins Fontes, 199, p.1.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Merleau-Ponty
A filósofa Marilena Chauí apresenta o pensamento de
Merleau-Ponty e seus estudos sobre o corpo.

Pode parecer estranho que ainda se precise colocar


essa questão meio século depois dos primeiros traba-
multimídia: livro
lhos de Husserl. Todavia, ela está longe de estar resolvi-
da. A fenomenologia é o estudo das essências, e todos
O Visível e o Invisível - Maurice Merleau-
os problemas, segundo ela, resumem-se em definir es-
sências: a essência da percepção, a essência da cons- Ponty. São Paulo: Perspectiva, 2009.
ciência, por exemplo. Mas a fenomenologia é também Dirigir o leitor para um domínio que os seus hábitos de
uma filosofia que repõe as essências na existência, e pensamento não tornam imediatamente acessível. Nessa
não pensa que se possa compreender o homem e o obra, a relação sujeito e objeto é explorada, bem como as
mundo de outra maneira senão a partir de sua ‘facti-
possibilidades interpretativas fenomenológicas.
cidade’. É uma filosofia transcendental que coloca em

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  141


DIAGRAMA DE IDEIAS

FENOMENOLOGIA

ESTUDO DA
CONSCIÊNCIA E MERLEAU-PONTY
DOS OBJETOS DA HUSSERL
CONSCIÊNCIA

PARA
COMPREENDERMOS
É PRECISO VOLTAR PAR ENTENDER OS OS FENÔMENOS
ÀS COISAS MESMAS FENÔMENOS DO MUNDO

É PRECISO O CORPO VIRA


INTERAGIR COM FONTE DO
O OBJETO CONHECIMENTO

NÃO EXISTE
BUSCANDO UM SEPARAÇÃO
INTERROGATÓRIO MENTE-CORPO

NÃO EXISTE UMA TUDO FAZ PARTE


ÚNICA DEFINIÇÃO DE UM MESMO
DO OBJETO FENÔMENO
 VOLUME ÚNICO

142  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) (...) A sensação pura será a experiência de um 'choque'
indiferenciado, instantâneo e pontual. Não é necessá-
rio mostrar, já que os autores concordam com isso, que
1. (Enem 2020) essa noção não corresponde a nada de que tenhamos
TEXTO I experiência, que as mais simples percepções de fato que
conhecemos, em animais como o macaco e a galinha,
Os meus pensamentos são todos sensações. versam sobre relações e não sobre termos absolutos".
Penso com os olhos e com os ouvidos
Maurice Merleau-Ponty
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca. O trecho acima resume as linhas gerais da análise que
PESSOA, F. O guardador de rebanhos – IX. In: GALHOZ. M. A. (Org.). o fenomenólogo Merlau-Ponty faz da percepção e, mais
Obras poéticas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999 (fragmento). especificamente, da noção de "sensação", cara à filoso-
fia moderna. A partir dele é correto inferir que:
TEXTO II
a) Merleau-Ponty retoma integralmente a noção mo-
Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o derna de sensação adaptando-a sutilmente ao qua-
sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência dro conceitual da fenomenologia.
do mundo sem a qual os símbolos da ciência não pode- b) Merleau-Ponty nega a noção moderna de sensa-
riam dizer nada. ção, pois, para ele, não há percepção "pura" e toda a
percepção inclui a apreensão de relações.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção.
São Paulo: Martins Fontes, 1999 (adaptado). c) Para Merleau-Ponty a noção de sensação dos mo-
dernos é apenas um erro de linguagem sem maiores
Os textos mostram-se alinhados a um entendimento conseqüências.
acerca da ideia de conhecimento, numa perspectiva que d) Para Merlau-Ponty a percepção tem início com im-
ampara a pressões sensíveis puras, desconectadas e sem rela-
a) anterioridade da razão no domínio cognitivo. ções umas com as outras.
b) confirmação da existência de saberes inatos. e) Para Merleau-Ponty nossas sensações são dadas iso-
c) valorização do corpo na apreensão da realidade. ladamente à percepção e as relações entre elas são es-
d) verificabilidade de proposições no campo da lógica. tabelecidas a posteriori pela imaginação e pela fantasia.
e) possibilidade de contemplação de verdades atemporais. 4. (SEE)“A metafísica não é uma construção de concei-
tos graça aos quais poderíamos tomar nossos parado-
2. (Enem-2018) O filósofo reconhece-se pela posse inse-
xos menos sensíveis - é a experiência que temos deles
parável do gosto da evidência e do sentido da ambigui-
em todas as situações da história pessoal e coletiva
dade. Quando se limita a suportar a ambiguidade, esta se
e das ações que, ao assumi-los, os transformaram em
chama equívoco. Sempre aconteceu que, mesmo aqueles
razão. É uma interrogação que não comporta respos-
que pretenderam construir uma filosofia absolutamente
tas que a anulem, mas somente ações resolutas que a
positiva, só conseguiram ser filósofos na medida em que,
transladam sempre para mais longe. Não é o conheci-
simultaneamente, se recusaram o direito de se instalar no
mento que viria a terminar o edifício dos conhecimen-
saber absoluto. O que caracteriza o filósofo é o movimen-
tos; é o saber lúcido daquilo que os ameaça e a consci-
to que leva incessantemente do saber à ignorância, da ig-
ência aguda de seu preço.”
norância ao saber, e um certo repouso neste movimento.
MERLEAU-PONTY, M. Elogio da filosofia. (Maurice Merleau-Ponty, O Metafísico no Homem)
Lisboa; Guimarães, 1998 (adaptado).
Assinale a alternativa que expressa a concepção de me-
O texto apresenta um entendimento acerca dos ele- tafísica formulada por Merleau-Ponty no texto.
mentos constitutivos da atividade do filósofo, que se a) A metafísica é uma ciência exata.
caracteriza por b) A metafísica é impossível como conhecimento objetivo.
a) reunir os antagonismos das opiniões ao método c) A metafísica é o coroamento de todo o sistema do saber.
dialético. d) A metafísica é um método para solucionar ques-
b) ajustar a clareza do conhecimento ao inatismo das tões que estão além das fronteiras da ciência.
ideias. e) A metafísica é uma constante interrogação pela
c) associar a certeza do intelecto à imutabilidade da qual o homem enfrenta os paradoxos que estão en-
verdade. volvidos no conhecimento e na ação.
d) conciliar o rigor da investigação à inquietude do
 VOLUME ÚNICO

questionamento. 5. (UEM) "O pensamento moderno, não por objeção fron-


e) compatibilizar as estruturas do pensamento aos prin- tal, mas pelo desenvolvimento do próprio saber, leva a
cípios fundamentais. uma revisão das categorias clássicas, a uma reforma da
ontologia clássica do sujeito e do objeto. O núcleo desse
3. (SME-) "Iniciando o estudo da percepção, encontra- desenvolvimento – que deve levar, por sua vez, a uma
mos na linguagem a noção de sensação que parece ime- nova filosofia – consiste na descoberta de que a situação,
diata e clara: eu sinto o vermelho, o azul, o quente, o frio seja do 'objeto', seja do 'sujeito', não é mais passível de

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  143


exclusão da trama do conhecimento. Dito de outra for- mente que eu próprio sou, ou que eu existo, pelo fato de
ma: o objeto 'verdadeiro', aquele de que a ciência tra- eu a ver; pois pode ocorrer que o que vejo não seja, de
ta, não é mais aquele objeto absoluto de que falavam fato, cera; pode ocorrer também que eu nem sequer te-
os clássicos, mas se torna, intrinsecamente, relativo. Em nha olhos para ver coisa alguma; mas não pode ocorrer,
suma, não há mais um objeto puro, em si, um objeto tal quando vejo ou (o que não mais distingo) quando penso
como o próprio Deus (isto é, um observador absoluto) o ver, que eu, que penso, não seja alguma coisa."
veria. Também não há mais esse sujeito absoluto, aquele
(DESCARTES. Meditações metafísicas. Segunda meditação, §16)
que começava por afastar toda manifestação sensível,
isto é, que começava por afastar, correlativamente, seu "Quando eu acredito ver a cera com os meus olhos, eu
próprio corpo para colocar-se como puro espírito". apenas penso, por meio das qualidades que meus sen-
(MOUTINHO, L. D. Merleau-Ponty: entre o corpo e a alma. In: tidos apreendem, a cera pura e sem qualidades que é a
Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEEDPR, 2009, p. 494.) fonte comum delas. Para Descartes, portanto, (...) a per-
cepção é apenas um começo de ciência ainda confusa."
Sobre a nova filosofia de que fala o texto, assinale o
MERLEAU-PONTY. Primeira Conversa
que for correto.
01) A fenomenologia critica as distinções clássicas, Decorre da interpretação de Merleau-Ponty da análise
tais como alma e corpo, sujeito e objeto, matéria e do pedaço de cera feita por Descartes que:
espírito, coisa e representação. a) o conhecimento humano consiste fundamental-
02) O ponto de vista de Deus não é mais possível, mente em sua capacidade epistemológica sensível.
nem necessário, para a renovação da filosofia. b) a relação entre a percepção e a ciência correspon-
04) O positivismo é esta filosofia nova, pois revoga a de à relação entre a aparência e a realidade.
ontologia clássica. c) não é possível qualquer remissão à inteligência para
08) Merleau-Ponty privilegia o corpo, pois, através que ela descubra qualquer verdade sobre o mundo.
dele, o homem constitui-se de uma consciência fática d) a totalidade das manifestações sensíveis está in-
ou concreta. cluída necessariamente em todo e qualquer "objeto
16) A situação do objeto e do sujeito é relativa, pois a verdadeiro".
fenomenologia é o retorno à isegoria dos gregos e ao
"meio termo" de Aristóteles. 8. Julgue os itens abaixo sobre o conceito de “corpo
próprio” de Merleau-Ponty.
6. (UEM) A fenomenologia é um dos fundamentos da Fi-
I. Muda o foco da teoria cartesiana que afirma que o
losofia de Maurice Merleau-Ponty. No âmbito da escola
pensamento dá a certeza da existência.
da fenomenologia, ele contesta princípios basilares da
Psicologia clássica, de cunho mecanicista-racionalista. II. Desbanca teorias mecanicistas que entendem que o
corpo só tem sentido se for recheado com uma alma
Com base na afirmação acima, assinale o que for correto.
III. O conceito de corpo próprio é ideia de que cada pes-
01) A sensação é concebida, por Merleau-Ponty, pelos
soa é um corpo que percebe, pensa e atua no mundo e
efeitos que os estímulos externos dos objetos exer-
sobre si mesmo.
cem sobre os sentidos. O campo visual, por exemplo,
é concebido como um mosaico de sensações desper- IV. Para Merleau-Ponty corpo próprio é a sede da per-
tadas pelos estímulos do objeto sobre a retina. cepção da percepção do mundo e de mim mesmo pos-
02) Para Merleau-Ponty, a percepção é o conhecimen- sibilidade única de existência concreta.
to sensorial de formas ou de totalidades organizadas V. Merleau-Ponty concorda com a máxima cartesiana
e dotadas de sentido. que afirma categoricamente “penso, logo existo”.
04) Conforme um dos princípios da fenomenologia Dentre as alternativas:
de Edmund Husserl, a consciência, para Merleau-Pon- a) Todas as alternativas estão corretas.
ty, não exerce nenhuma atividade na produção de co-
b) Apenas I e II estão corretas
nhecimentos científicos.
c) Apenas I, II, III e IV estão corretas
08) Para Merleau-Ponty, a consciência de si é o re-
sultado de um esforço intelectual de conhecimento e d) Apenas III e IV estão corretas
não depende da facticidade de nosso engajamento. e) Apenas III, IV e V estão corretas
16) Para Merleau-Ponty, imanência e transcendência 9. "Nascer é, simultaneamente, nascer do mundo e nascer
são conceitos antitéticos que se comunicam, dada a para o mundo. Sob o primeiro aspecto, o mundo já está
configuração de nosso corpo no mundo.
 VOLUME ÚNICO

constituído e somos solicitados por ele. Sob o segundo


7. "Que declararei, digo eu, sobre mim que pareço con- aspecto, o mundo não está inteiramente constituído e es-
ceber com tanta nitidez e distinção esse pedaço de cera? tamos abertos a uma infinidade de possíveis. Existimos,
Não conheço a mim mesmo não só com muito mais ver- porém, sob os dois aspectos ao mesmo tempo. Não há,
dade e certeza, mas ainda com muito maior distinção e pois, necessidade absoluta nem escolha absoluta, jamais
nitidez? Com efeito, se julgo que a cera é ou existe pelo sou como uma coisa e jamais uma pura consciência [...].
fato de eu a ver, por certo se segue bem mais evidente- Há um campo de liberdade e uma 'liberdade condicio-

144  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


nada', porque tenho possibilidades próximas e distantes
[...]. A escolha de vida que fazemos tem sempre lugar
sobre a base de situações dadas e possibilidades aber-
tas. Minha liberdade pode desviar minha vida do sentido
espontâneo que teria, mas o faz deslizando sobre este
sentido, esposando-o inicialmente para depois afastar-se
dele, e não por uma criação absoluta".
(MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. In: CHAUÍ,
M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2011. 14.ª ed., p. 421).

Conforme a citação acima, é correto afirmar que a li-


berdade:
a) Identifica-se com o determinismo
b) Não depende de um campo de possibilidades concretas.
c) Está relacionada apenas ao mundo físico.
d) É a única verdade espírito humano.
e) É absoluta e incorruptível.

10. (UEA) O existencialismo foi um movimento filosófico


do século XX. Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Mauri-
ce Merleau-Ponty escreveram e publicaram livros sobre
o existencialismo. Embora houvesse diferenças entre
pensamentos e pensadores existencialistas, um princípio
filosófico lhes era comum, segundo o qual
a) o homem está no topo da vida animada, depois de
ter passado por um longo processo de transformação e
de evolução.
b) o homem alcança a sabedoria quando adquire o co-
nhecimento das leis que regem a sua existência.
c) o prazer é o bem mais soberano do homem; os pra-
zeres naturais e necessários à existência devem ser fa-
vorecidos.
d) a existência precede a essência; o homem é o que ele
faz de si mesmo por meio de seus atos.
e) o homem existe porque pensa; ele é, desde o início de
sua existência, um ser caracterizado pela racionalidade.

Gabarito
1. C 2. D 3. B 4. E

5. 01 + 02 + 08 = 11 6. 02 + 16 = 18

7. B 8. C 9. A 10. D
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  145


Em sua obra, o filósofo procurou analisar os problemas da
EXISTENCIALISMO relação existencial do homem com o mundo, consigo mes-
mo e com Deus.
As relações do homem com o mundo são domina-

CH
das pela angústia. A angústia é entendida como o sen-
timento profundo que temos ao perceber a instabilidade
COMPETÊNCIA(s)
de viver num mundo de acontecimentos possíveis, sem ga-
1, 2, 3, 4 e 5
rantia de que nossas expectativas sejam realizadas. Assim,
HABILIDADE(s) vivemos num mundo onde tanto é possível a dor como o
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
prazer, o bem como o mal, o amor como o ódio.

22
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

1. Introdução
O Existencialismo é uma corrente filosófica, cunhada pelo
filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, que trata da con- retrato de Kierkegaard.
dição da existência humana e da busca das realizações das
A relação do homem consigo mesmo é marcada pela in-
escolhas do indivíduo.
quietação e pelo desespero. Isso ocorre por duas razões: ou
O pensamento existencialista defende, em primei- porque o homem nunca está plenamente satisfeito com as
ro lugar, que a existência vem antes da essência. De possibilidades que realizou ou porque não conseguiu realizar
modo que o homem é livre para fazer as suas escolhas. o que pretendia, fracassando diante de suas expectativas.
A relação do homem com Deus seria a única via para a
superação da angústia e do desespero.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Human - Rag’n’Bone Man. Human. Sony, 2017. multimídia: vídeo
Nessa canção de Rag’n’Bone, a ideia do existencia-
Fonte: Youtube
lismo está presente, pois nossas ações intensificam
Kierkegaard – Razão e Fé: Existencialismo
consequências para os outros, e não podemos culpar
ninguém por isso. Vídeo que apresenta a filosofia existencialista de
Kierkegaard.
 VOLUME ÚNICO

2. Søren Kierkegaard (1813-1855) Kierkegaard apresenta três estádios (estágios) da vida


O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard contestou a humana:
supremacia da razão como único instrumento capaz de § Estádio estético - a submissão da vida aos sentidos,
estabelecer a verdade, defendendo o conhecimento da fé desejos e impulsos. O esteta vive para o momento, para
contra a supremacia da razão. o prazer imediato e efêmero.

146  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


§ Estádio ético - a condição de uma vida regrada por afaste o homem da autenticidade de sua existência e o
códigos morais de conduta. É a substituição do prazer coloque na impessoalidade neutra de uma existência nive-
pelo dever. lada pela mediocridade.
§ Estádio religioso - a vida humana guiada por Deus. Só que, para Heidegger, a vida cotidiana faz do homem um
O indivíduo se realiza nesse estágio. É preciso realizar o ser preguiçoso e cansado de si próprio, que, acovardado
salto de fé e a confiança no infinito (Deus). diante das pressões sociais, acaba preferindo vegetar na
Dessa forma, a filosofia de Kierkegaard procura com- banalidade e no anonimato, pensando e vivendo por meio
preender a existência do ser humano, a sua angústia e de ideias e sentimentos acabados e inalteráveis.
o seu desespero. O ente que temos a tarefa de analisar somos nós mes-
mos. O ser deste ente é sempre cada vez meu. Em seu
ser, isto é, sendo, este ente se comporta com o seu ser.
3. Martin Heidegger (1889-1976) Como um ente deste ser, a presença se entrega à res-
ponsabilidade de assumir seu próprio ser. O ser é o que
O filósofo alemão Martin Heidegger buscou compreender neste ente está sempre em jogo. Desta caracterização da
o sentido do ser, a sua essência. Para ele, o ente é a exis- presença resultam duas coisas:
tência, o modo de ser do homem. O ser é a essência, aquilo
1. A "essência" deste ente está em ter de ser. A qüidi-
que determina a existência ou o modo de ser do homem. dade (essentia) deste ente, na medida em que se pos-
sa falar dela, há de ser concebida a partir de seu ser
(existência). Neste propósito, é tarefa ontológica mostrar
que, se escolhemos a palavra existência para designar
o ser deste ente, esta não tem nem pode ter o signifi-
cado ontológico do termo tradicional existentia. Para a
ontologia tradicional, existentia designa o mesmo que
ser simplesmente dado, modo de ser que não pertence
à essência do ente dotado do caráter de presença. Evi-
ta-se uma confusão usando a expressão interpretativa
ser simplesmente dado (N8) para designar existência e
reservando-se existência como determinação ontológica
exclusiva da presença.
A "essência" da presença está em sua existência.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Editora Vozes: 15ª edição, 2005.

4. Jean-Paul Sartre (1905-1980)


O filósofo francês Jean-Paul Sartre consegue ser um pensador
cujas análises técnico-conceituais alcançam um rigor e uma
retrato de Heidegger. sistematicidade que se revestem muitas vezes de grande ari-
dez, o que não o impediu de ser, paradoxalmente, o mais
Assim, o homem é um ente para o qual o seu próprio ser
popular dos filósofos contemporâneos e, como romancista,
está constantemente em jogo. Isso significa que o homem
um escritor de forte imaginação e profunda originalidade.
não é algo definido, mas algo que se define num projeto
sempre retomado. O homem é um ente inacabado (um
projeto a ser realizado) e a sua essência confunde-se com o
seu existir. Sendo que o estar no mundo não é um aciden-
te, mas algo que efetivamente o constitui. Ao passo que o
modo de ser do homem é o poder-ser, isto é, fazer da vida
sempre um projeto.
multimídia: vídeo
 VOLUME ÚNICO

Porém, o fato de estar no mundo compreendido como pos-


sibilidade de ser gera a angústia, que pode ser entendida Fonte: Youtube
como sentir-se no mundo em estado de carência ou de Sartre e o existencialismo
temor indeterminado. A angústia é a compreensão Nesse vídeo temos a filosofia existencialista do francês
da precariedade da condição humana. A maneira de Jean-Paul Sartre.
evitar a angústia é mergulhar num cotidiano habitual que

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  147


Dessa forma, o futuro está sempre aberto, e no próprio cur-
so da existência é que o homem vai decidir acerca de seu
próprio destino. O homem é livre na exata medida em que
introduz o nada no mundo, e pode a partir disso construir
o seu presente. Daí a célebre frase: "O homem está con-
denado a ser livre".
O existencialismo de Sartre indica que tudo está por fazer,
e o homem será o futuro que puder construir. Não é, pois,
surpreendente que, diante da relevância da tarefa, se
tenha podido extrair do existencialismo a consequência
ética do desespero.

Retrato de Sartre.

Em sua filosofia Sartre, desenvolve que no homem a exis-


tência vem antes da essência. Isso significa que não
há uma predefinição do homem, como existe uma prede- multimídia: livro
finição de um objeto fabricado. Assim, o homem nada é
enquanto não fizer de si alguma coisa, ou seja, o homem O existencialismo é um humanismo - Jean-
é um projeto que pode vir a ser, mas que só será realizado Paul Sartre. São Paulo: Vozes, 2014.
conforme suas escolhas e decisões em sua vida.
O existencialismo é um humanismo é um texto circuns-
tancial no percurso intelectual de Sartre. Ele antecede
um novo ciclo em sua investigação filosófica. As obje-
ções à sua obra, que ele procura inventariar nessa con-
ferência, por mais confusas e hostis que sejam, provoca-
rão novas questões que serão tratadas mais tarde, após
um livre amadurecimento, testemunhado, entre outras
coisas, por seus escritos póstumos.
multimídia: livro
Dostoiévski escreveu: Se Deus não existisse, tudo se-
A Náusea, de Jean-Paul Sartre ria permitido. Aí se situa o ponto de partida do exis-
tencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não
A náusea é o primeiro romance de Jean-Paul Sartre, existe, fica o homem, por conseguinte, abandonado,
considerado pela crítica e pelo próprio autor o mais já que não se encontra em si, nem fora de si, uma
perfeito de sua sempre inquieta e inovadora carreira. possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada,
O protagonista dessa história é o intelectual peque- não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência
no-burguês Antoine Roquentin, símbolo de uma gera- precede a essência, não será nunca possível referir
ção que descobre, horrorizada, a ausência de sentido uma explicação a uma natureza dada e imutável; por
outras palavras, não há determinismo, o homem é li-
da vida. Em um diário, o personagem passa, então, a
vre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus
catalogar impiedosamente todos os seus sentimentos, não existe, não encontramos diante de nós valores
que culminam em uma sensação penetrante e avassa- ou imposições que nos legitimem o comportamento.
ladora: a náusea. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de
nós, no domínio luminoso dos valores, justificações
Publicado pela primeira vez em 1938, o livro foi um
 VOLUME ÚNICO

ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. É o que


marco na ficção existencialista e é até hoje um dos traduzirei que o homem está condenado a ser livre.
textos mais famosos da literatura francesa do século Condenado, porque não se criou a si próprio; e no
XX. Essa edição conta com prefácio inédito de Caio entanto livre, porque uma vez lançado ao mundo é
Liudvik, pós-doutor em Filosofia e autor de Sartre e o responsável por tudo quanto fizer.
pensamento mítico. SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um
humanismo. SãoPaulo: Abril, 1973, pp.15-16

148  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


5. Simone de Beauvoir Se quero definir-me, sou obrigada inicialmente a declarar:
"Sou uma mulher". Essa verdade constitui o fundo sobre
(1908-1986) o qual se erguerá qualquer outra afirmação. Um homem
não começa nunca por se apresentar como um indivíduo
A filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir desen- de determinado sexo: que seja homem é natural. É de
volve um importante pensamento a favor da mulher na maneira formal, nos registros dos cartórios ou nas decla-
rações de identidade que as rubricas, masculino, feminino,
sociedade.
aparecem como simétricas. A relação dos dois sexos não
é a das duas eletricidades, de dois pólos. O homem re-
presenta a um tempo o positivo e o neutro, a ponto de
dizermos "os homens" para designar os seres humanos,
tendo-se assimilado ao sentido singular do vocábulo vir o
sentido geral da palavra homo. A mulher aparece como o
negativo, de modo que toda determinação lhe é imputada
como limitação, sem reciprocidade.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. São
Paulo: Difusão Européia do Livro.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
QUEM SOMOS NÓS? | Lugar de Mulher É | Maria
Lygia Quartim de Moraes. (Simone de Beauvoir)

retrato de Simone de Beauvoir.

Beauvoir formula a relação que há milênios estrutura a re-


lação homem e mulher: o homem vê, a mulher é vista;
o homem é sujeito, a mulher é irremediavelmente objeto.
Crítica dos discursos existentes (biologia, psicanálise, ma-
terialismo histórico), crítica da história, que mostra que “os
homens sempre detiveram todos os poderes con-
cretos”, crítica das representações literárias (os propaga-
dos “mitos” que veiculam imagens contraditórias, da mãe
e da prostituta), crítica das atitudes adotadas e nas quais
a mulher se aliena (o narcisismo, o amor), Beauvoir apela
enfim à alforria, à independência, enfatizando o anseio de
um dia ver reinar não uma igualdade na diferença, mas
uma igualdade verdadeira.
Seu livro mais famoso, intitulado Segundo Sexo, consiste
em denunciar o caráter sócio-histórico vinculado à noção
de "mulher" e impedir qualquer redução desta última a
alguma natureza presumível. Segundo Beauvoir, "não se
 VOLUME ÚNICO

nasce mulher, torna-se mulher". É o ato de existir que


cria condições para as formações identitárias.
O próprio enunciado do problema sugere-me uma primei-
ra resposta. É significativo que eu coloque esse problema.
Um homem não teria a ideia de escrever um livro sobre a
situação singular que ocupam os machos na humanidade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  149


DIAGRAMA DE IDEIAS

EXISTENCIALISMO

A EXISTÊNCIA VEM
ANTES DA ESSÊNCIA

KIERKEGAARD HEIDEGGER SARTRE

O HOMEM SOFRE O HOMEM É UM SOMOS FRUTOS DE


PORQUE NUNCA ENTE INACABADO NOSSAS ESCOLHAS
ESTÁ SATISFEITO

ESTAMOS
ELE PODE-SER
SE SENTE CONDENADOS
IMPERFEITO A SER LIVRES

A VIDA É SEMPRE
A RELAÇÃO COM UM PROJETO O FUTURO ESTÁ
DEUS FAZ O HOMEM SEMPRE ABERTO
SUPERAR A SUA
ANGÚSTIA

BEAUVOIR

SER MULHER NÃO


A MULHER ESCOLHE A MULHER PRECISA
SIGNIFICA SER
O SEU FUTURO SE TORNAR MULHER
SUBMISSA
 VOLUME ÚNICO

150  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) 4. (UFSJ) Sobre a interferência de Jean-Paul Sartre na
filosofia do século XX, é CORRETO afirmar que ele
1. O filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard iden- a) reconhece a importância de Diderot, Voltaire e Kant
tificou três estádios distintos ou modos de existência. e repercute a interferência positiva destes na noção de
São eles: que cada homem é um exemplo particular no universo.
a) Estádio empírico, estádio racionalista, estádio exis- b) faz a inversão da noção essencialista ao apregoar
tencialista; que o Homem primeiramente existe, se descobre, sur-
b) Estádio científico, estádio religioso, estádio jurídico; ge no mundo e só após isso se define. Assim, não há
natureza humana, pois não há Deus para concebê-la.
c) Estádio estético, estádio ético, estádio religioso.
c) inaugura uma nova ordem político-social, segundo
d) Estádio ético, estádio jurídico, estádio existencialista;
a qual o Homem nada mais é do que um projeto que
e) Estádio estético, estádio técnico, estádio filosófico; se lança numa natureza essencialmente humana.
2. (Ufu) Para J.P. Sartre, o conceito de “para-si” diz respeito d) diz que ser ateu é mais coerente apesar de reco-
nhecer no Homem uma virtu que o filia, definitiva-
a) a uma criação divina, cujo agir depende de princí- mente, a uma consciência a priori.
pio metafísico regulador.
b) apenas à pura manutenção do ser pleno, completo, 5. (UFSJ) A angústia, para Jean-Paul Sartre, é
da totalidade no seio do que é. a) tudo o que a influência de Shopenhauer determina
c) ao nada, na medida em que ele se especifica pelo em Sartre: a certeza da morte. O Homem pode ser livre
poder nadificador que o constitui. para fazer suas escolhas, mas não tem como se livrar
d) a algo empastado de si mesmo e, por isso, não se pode da decrepitude e do fim.
realizar, não se pode afirmar, porque está cheio, completo. b) a nadificação de nossos projetos e a certeza de que
a relação Homem X natureza humana é circunstancial,
3. (Ufu) Leia o excerto abaixo e assinale a alternativa que objetiva, e pode ser superada pelo simples ato de se
relaciona corretamente duas das principais máximas do fazer uma escolha.
existencialismo de Jean-Paul Sartre, a saber: c) a certificação de que toda a experiência humana é
"a existência precede a essência" idealmente sensorial, objetivamente existencial e de-
terminante para a vida e para a morte do Homem em
"estamos condenados a ser livres"
si mesmo e em sua humanidade.
Com efeito, se a existência precede a essência, nada po- d) consequência da responsabilidade que o Homem
derá jamais ser explicado por referência a uma natureza tem sobre aquilo que ele é, sobre a sua liberdade,
humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinis- sobre as escolhas que faz, tanto de si como do outro
mo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, e da humanidade, por extensão.
se Deus não existe, não encontramos já prontos, valores 6. (Unioeste) “O que significa aqui o dizer-se que a exis-
ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. […] tência precede a essência? Significa que o homem pri-
Estamos condenados a ser livres. Estamos sós, sem descul- meiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que
pas. É o que posso expressar dizendo que o homem está só depois se define. O homem, tal como o concebe o exis-
condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou tencialista, se não é definível, é porque primeiramente
a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si
lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. próprio se fizer. (…) O homem é, não apenas como ele se
concebe, mas como ele quer que seja, como ele se conce-
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo.
3ª. ed. S. Paulo: Nova Cultural, 1987. be depois da existência, como ele se deseja após este im-
pulso para a existência; o homem não é mais que o que
a) Se a essência do homem, para Sartre, é a liberdade, ele faz. (…) Assim, o primeiro esforço do existencialismo
então jamais o homem pode ser, em sua existência, é o de por todo o homem no domínio do que ele é e de
condenado a ser livre, o que seria, na verdade, uma lhe atribuir a total responsabilidade de sua existência.
contradição. (…) Quando dizemos que o homem se escolhe a si, que-
b) A liberdade, em Sartre, determina a essência da remos dizer que cada um de nós se escolhe a si próprio;
natureza humana que, concebida por Deus, precede mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-
necessariamente a sua existência. -se a si próprio, ele escolhe todos os homens. Com efeito,
c) Para Sartre, a liberdade é a escolha incondicional, à não há de nossos atos um sequer que, ao criar o homem
qual o homem, como existência já lançada no mundo, que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma ima-
gem do homem como julgamos que deve ser”.
 VOLUME ÚNICO

está condenado, e pela qual projeta o seu ser ou a


sua essência. Sartre.
d) O Existencialismo é, para Sartre, um Humanismo, por- Considerando a concepção existencialista de Sartre e o
que a existência do homem depende da essência de sua texto acima, é incorreto afirmar que
natureza humana, que a precede e que é a liberdade. a) o homem é um projeto que se vive subjetivamente.
b) o homem é um ser totalmente responsável por sua
existência.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  151


c) por haver uma natureza humana determinada, no A despeito de suas diversas configurações – liberal, so-
homem a essência precede a existência. cialista, radical, pós-moderna etc., são bandeiras comuns
d) o homem é o que se lança para o futuro e que é às diversas agendas feministas
consciente deste projetar-se no futuro. a) a luta contra a discriminação sexual no trabalho,
e) em suas escolhas, o homem é responsável por si pró- o combate à violência de gênero e a elaboração de
prio e por todos os homens, porque, em seus atos, cria uma grande teoria capaz de aglutinar as mulheres e
uma imagem do homem como julgamos que deve ser. unificá-las no bojo da categoria universal “mulher”.
b) a luta contra as desigualdades assentadas sobre as
7. (UFSJ) “Subjetividade” e “intersubjetividade” são con- diferenças sexuais dos sujeitos sociais; a igualdade de
ceitos com os quais Sartre pontua o seu existencialismo. oportunidades para mulheres e homens; o combate à
Nesse contexto, tais conceitos revelam que violência de gênero.
c) o combate à violência de gênero; a luta pela pre-
a) o cogito cartesiano desabou sobre o existencialismo
servação de guetos ocupacionais femininos e mascu-
na mesma proporção com que a virtu socrática preci-
linos; a defesa de direitos sexuais e reprodutivos.
pitou-se sobre o materialismo dialético do século XX.
d) o combate à propriedade privada como mecanismo
b) “Penso, logo existo” deve ser o ponto de partida de opressão de gênero; a defesa de direitos sexuais e
de qualquer filosofia. Tal subjetividade faz com que o reprodutivos; a luta contra a discriminação no trabalho.
Homem não seja visto como objeto, o que lhe confere
verdadeira dignidade. A descoberta de si mesmo o leva,
necessariamente, à descoberta do outro, implicando Gabarito
uma intersubjetividade.
c) o Homem é dado, é unidade, é união e é intersub- 1. C 2. C 3. C 4. B 5. D
jetividade; portanto, a sua existência é agregadora e 6. C 7. B 8. C 9. B
desapegada da tão apregoada subjetividade clássica,
por isso mesmo tão crucial para Sartre.
d) não há um só lampejo de subjetividade que não te-
nha se reinaugurado na intersubjetividade, isto é, na
idealidade que instrui as prerrogativas para se instala-
rem as escolhas do sujeito, definindo-o.

8.(Enem) Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Ne-


nhum destino biológico, psíquico, econômico define a
forma que a fêmea humana assume no seio da socieda-
de; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado que qualifi-
cam o feminino.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beau-


voir contribuiu para estruturar um movimento social
que teve como marca o(a)
a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência
sexual.
b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla
jornada de trabalho.
c) organização de protestos públicos para garantir a
igualdade de gênero.
d) oposição de grupos religiosos para impedir os casa-
mentos homoafetivos.
e) estabelecimento de políticas governamentais para
 VOLUME ÚNICO

promover ações afirmativas.

9. (Ufu) A sociedade contemporânea abriga inúmeros


e diversificados movimentos sociais, dentre eles, os
movimentos feministas que visam à transformação da
situação feminina e das relações entre mulheres e ho-
mens na sociedade, em diversos aspectos.

152  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


ESCOLA DE burguesa, que desse conta das questões suscitadas pelo ad-
FRANKFURT vento do fascismo, no campo capitalista, e do stalinismo, no
campo socialista. Entre os temas presentes em suas análises,
destacam-se o autoritarismo, a origem da sociedade burgue-

CH
sa, a indústria cultural, o processo de desumanização do
homem, entre outros.
COMPETÊNCIA(s)
De um modo geral, essa escola pretende exercer um papel
1, 2, 3, 4 e 5
de denúncia da realidade, e não apresenta uma pretensão
HABILIDADE(s) de fechar uma teoria ou criar um pensamento único. Seu ob-
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, jeto é, assim, muito mais o de suscitar um tema para a análi-

23
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 se conjunta, podendo ser reaberto a qualquer instante. Essa
proposta de inacabamento do assunto proposto se reflete na
maneira pela qual o Instituto desenvolve seus trabalhos, ou
seja, a forma de ensaios, artigos e resenhas.

2. Horkheimer (1895-1973)
e Adorno (1903-1969)
1. Escola de Frankfurt

Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt.

O Instituto de Pesquisa Social, denominado tardiamente retrato de Horkheimer.


como Escola de Frankfurt, foi fundado em 1923 pelo eco-
nomista Carl Grunberg, com o intuito de integrar a questão
social no âmbito das reflexões acadêmicas, numa integra-
ção do pensamento de Karl Marx e do psicanalista
Sigmund Freud.
Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder alemão em
1933, o Instituto foi fechado na Alemanha, e os intelec-
tuais foram perseguidos. Devido as suas análises críticas
a respeito do autoritarismo nazista, a Escola de Frankfurt
 VOLUME ÚNICO

teve de continuar seus estudos em outros países. Muitos Retrato de Adorno


de seus colaboradores se refugiaram nos Estados Unidos e
Os filósofos Theodor W. Adorno e Max Horkheimer elabo-
na Inglaterra, só retornando em 1950, após o término da
raram a Dialética do Esclarecimento, publicada em 1947.
Segunda Guerra Mundial.
Essa obra sustenta a tese de que os conceitos de mito e
A proposta básica desse grupo era formular uma teoria crí- esclarecimento não traçam uma simples relação de oposi-
tica da sociedade vigente, uma análise crítica da sociedade ção, mas antes uma relação dialética, uma vez que o mito

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  153


já comporta algum elemento da racionalidade do escla- os amigos. Como se vê, todas as emoções estão à venda,
recimento, enquanto no esclarecimento ainda permanece mas duram pouco para que voltemos a comprar outras.
um conteúdo de irracionalidade mítica, que termina por
A filosofia dos frankfurtianos é conhecida como te-
encaminhá-lo à barbárie.
oria crítica, em oposição à teoria tradicional, representada
Trata-se de uma crítica à ilusão do racionalismo, fun- pelos filósofos desde Descartes e cujo racionalismo atingiu
dada no Iluminismo, que seguindo apenas atos racionais seu melhor momento no Iluminismo. O que eles criticam?
tendem a atos contra a humanidade. Isso representa uma Sendo leitores de Marx, Nietzsche, Freud e Heidegger, os
crítica da razão instrumental. De modo que a racionali- pensadores de Frankfurt sabem que não se adere à razão
dade mercadológica ilude o indivíduo, dando-lhe uma falsa inocentemente. Concluem que a razão, exaltada tradicional-
esperança de sucesso e uma falsa condição de liberdade de mente por ser "iluminada", também traz sombras em seu
escolhas, perante as poucas opções que temos. bojo, quando se torna instrumento de dominação.

2.2. Educação contra a barbárie


Adorno argumenta que, para evitar a barbárie, a socieda-
de precisa ser pautada numa educação humanizadora, que
condicione os seres humanos a serem emancipados e autô-
nomos. De modo que o passado não deve ser esquecido, é
preciso lembrar-se dele para que o horror não aconteça mais.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
A teoria crítica de Herbert Marcuse
| Franklin Leopoldo e Silva

2.1. A indústria cultural


Com a indústria cultural, nota-se que quase todas as merca-
multimídia: livro
dorias que estão à venda – música, dança, imagens, roupas
– trazem consigo a ideia de um estilo, que deve ser compra- Educação e Emancipação - Adorno, Theodor
do ou – se isso não for possível – imitado. W. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
Nesse livro, uma compilação de diversas conversas do
filósofo Theodor W. Adorno fez via rádio, comentando
sobre como a Educação precisava combater a barbárie.

3. Walter Benjamin (1892-1940)


multimídia: música O filósofo alemão Walter Benjamin discorre sobre a Arte,
que, mesmo num mundo materialista e de puro consumo,
Fonte: Youtube contém ainda uma aura de singularidade. Dessa forma, a
Titãs - A melhor banda de todos os Arte precisa se desvincular do processo de reproduções que
tempos da última semana. visam apenas ao lucro e se direcionar para humanizar o ser
humano, mediante provocações que desencadeiem uma au-
Assim, além das artes, a religião e o esporte também vira- tonomia nesse indivíduo, ou seja, uma iluminação interna.
ram produtos. As pessoas deixam de praticar a religião e Benjamin afirma que o conhecimento é assegurado pelo
 VOLUME ÚNICO

o esporte para assisti-los pela televisão. Para encontrar o despertar do homem, pela via da arte, em toda as suas ins-
sagrado, não é mais necessário estar juntos com os demais tâncias, na literatura, no cinema ou nas artes plásticas. Em
fiéis e fazer orações com eles, basta ligar a televisão ou o seu ensaio A obra de arte na era da reprodutibilidade técni-
rádio no horário marcado e será possível ter o sagrado em ca, Benjamin realiza uma reflexão sobre as mudanças esté-
domicílio. Com o esporte, é mais fácil comer pipoca à frente ticas da sociedade contemporânea. Enquanto Adorno vê a
da TV do que ir a um estádio, ou jogar aquela partida com indústria cultural de maneira negativa e alienante, Benjamin

154  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


constata que a industrialização e a modernidade criaram A diversão é o prolongamento do trabalho sob o ca-
alterações estéticas significativas para a produção artística. pitalismo tardio. Ela é procurada pelos que querem se
Se antes o contato estético com obras de arte era restrito e subtrair aos processos de trabalho mecanizados, para
que estejam de novo em condições de enfrentá-lo. Mas,
elitizante, a indústria cultural retira o caráter único das obras ao mesmo tempo, a mecanização adquiriu tanto poder
de arte (a aura da obra). Novas possibilidades estéticas são sobre o homem em seu tempo de lazer e sobre sua fe-
possíveis a partir das mudanças criadas na modernidade. licidade, determinada integralmente pela fabricação dos
produtos de divertimento, que ele apenas pode captar as
cópias e as reproduções do próprio processo de trabalho.
O pretenso conteúdo é só uma pálida fachada; aquilo
que se imprime é a sucessão automática de operações
reguladas. Do processo de trabalho na fábrica e no es-
critório só se pode fugir adequando-se a ele mesmo no
ócio. Disso sofre incuravelmente toda diversão. O prazer
congela-se no enfado, pois que, para permanecer prazer,
não deve exigir esforço algum, daí que deva caminhar
estreitamente no âmbito das associações habituais.
ADORNO, T; HOHKHEIMER, M.
A Indústria Cultural – o Iluminismo como mistificação
das massas. São Paulo: Paz e Terra, 2009, pp.19

Retrato de Walter Benjamin.

4. Herbert Marcuse (1898-1979) multimídia: vídeo


Fonte: Youtube
O filósofo alemão é o frankfurtiano que carrega mais proxi- A ESTÉTICA DO CINEMA POR WALTER
midade com Freud. No seu livro Eros e Civilização (1955), o BENJAMIN | Paulo Niccoli Ramirez
autor revisita as ideias da psicanálise, de modo a criticá-la
e relacioná-la a uma sociedade de classes que se entorpece
com a visão mercadológica.
Nesse livro, Marcuse apresenta que Eros, um deus rela-
cionado à beleza, assume um significado de instinto à
vida, sendo também uma luta contra os princípios de civi-
lização, as normas da sociedade vigente, que representa
o próprio capitalismo. Assim, viver é ir contra as nor-
mas de civilidade humana.
 VOLUME ÚNICO

Retrato de Marcuse.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  155


DIAGRAMA DE IDEIAS

ESCOLA DE
FRANKFURT

TEORIA CRÍTICA PRIMEIRA GERAÇÃO


A INDÚSTRIA
CULTURAL
• ADORNO
• HORKHEIMER
ANALISE CRÍTICA • MARCUSE
DA SOCIEDADE • BENJAMIN
TUDO VIROU
DO SÉCULO XX
MERCADORIA

SENDO PRODUZIDO
EM MASSA

A PROPAGANDA
ENCANTA O
PRODUTO PARA
SER VENDIDO

ADORNO: A INDÚSTRIA
CULTURAL PRODUZ ALIENAÇÃO.
BENJAMIN: A OBRA DE
ARTE PERDEU SUA AURA.
 VOLUME ÚNICO

156  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Aplicando para Aprender (A.P.A.) b) A música representa um domínio particular, quase
autônomo, das produções sociais, pois se baseia no
1. (UEL 2020) Leia o texto e analise a imagem a seguir. livre jogo da imaginação, o que impossibilita estabe-
lecer um vínculo entre arte e sociedade.
c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade
de manifestar criticamente conteúdos racionais ex-
pressos no modo típico do comportamento percep-
tivo inato às massas.
d) A tensão resultante da concentração requerida
para a apreciação da música é uma exigência ex-
tramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente
mais próxima da desconcentração.
e) Audição concentrada significa a capacidade de
apreender e de repetir os elementos que constituem
a música, sendo a facilidade da repetição o que con-
cede poder crítico à música.
Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, com-
posta de elementos espaciais e temporais: a aparição 3. (Ufma)
única de uma coisa distante, por mais perto que esteja.
Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia "A rua era das mais animadas da cidade; por todo o
de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta dia estivera cheia de gente. Mas agora, ao anoitecer, a
sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas multidão crescia de um minuto para outro; e quando se
montanhas, desse galho. acenderam os lampiões de gás, duas densas, compactas
correntes de transeuntes cruzavam diante do café. Ja-
BENJAMIN, W. Obras Escolhidas. Magia e Técnica, Arte e Política.
São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 170. mais me sentira num estado de ânimo como o daquela
tarde; e saboreei a nova emoção que de mim se apossa-
Walter Benjamin, integrante da Escola de Frankfurt, no ra ante o oceano daquelas cabeças em movimento. Pou-
texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade co a pouco perdi de vista o que acontecia no ambiente
técnica, desenvolve o conceito de “aura”, fundamental em que me encontrava e abandonei-me completamente
para sua compreensão da obra de arte. à contemplação da cena externa."
Com base na interpretação do texto e da imagem refe- (Walter Benjamin – Sobre alguns temas em Baudelaire)
rente ao quadro decorativo de Marilyn Monroe, expli-
que o conceito de aura e as consequências da reprodu- O texto nos leva a uma compreensão de estética como:
tibilidade técnica. a) uma concepção de que o belo não está em uma
forma definida, mas na plasticidade do cotidiano.
2. (UEL) O modo de comportamento perceptivo, através
b) um estudo do caos humano representado pela
do qual se prepara o esquecer e o rápido recordar da
multidão e suas relações econômicas.
música de massas, é a desconcentração. Se os produtos
normalizados e irremediavelmente semelhantes entre c) estabelecimento de um padrão de beleza para a
si, exceto certas particularidades surpreendentes, não obra de arte.
permitem uma audição concentrada, sem se tornarem d) técnica de reprodução da obra de arte em massa.
insuportáveis para os ouvintes, estes, por sua vez, já e) imitação do mundo sensível.
não são absolutamente capazes de uma audição con-
centrada. Não conseguem manter a tensão de uma 4. (UEL) Analise as imagens a seguir.
concentração atenta, e por isso se entregam resigna-
damente àquilo que acontece e flui acima deles, e com
o qual fazem amizade somente porque já o ouvem sem
atenção excessiva.
ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da
audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo:
Abril Cultural, 1978, p.190 (Coleção Os Pensadores.)

As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memo-


rização e com forte apelo à cultura de massa. A respeito
do tema da regressão da audição na Indústria Cultural
 VOLUME ÚNICO

e da relação entre arte e sociedade em Adorno, assinale


a alternativa correta:
a) A impossibilidade de uma audição concentrada e
As imagens I e II representam duas formas artísticas
de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de
de um fenômeno que provocou mudanças significati-
que a música tornou-se um produto de consumo, en-
vas na arte, sobretudo a partir do século XX: a repro-
cobrindo seu poder crítico.
dutibilidade técnica.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  157


Com base nas imagens e nos conhecimentos sobre a trumento do eu. Agora, ele experiencia o inverso dessa
reprodutibilidade técnica em Walter Benjamin, é cor- autodeificação. A máquina ejetou o piloto; ela corre ce-
reto afirmar: gamente pelo espaço. No momento da consumação, a
a) A reprodução das obras de arte começa no final razão tornou-se irracional e estultificada.
do século XIX com o surgimento da fotografia e do HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Trad. Carlos Henrique
cinema, pois até então as obras não eram copiadas, Pissardo. São Paulo: Editora da UNESP, 2015. p. 118; 143
por motivos religiosos e místicos. A respeito do problema da racionalidade instrumental
b) Na passagem do período burguês para a sociedade em Horkheimer, assinale a alternativa correta.
de massas, o declínio da aura que ocorre na arte pode
ser creditado a fatores sociais, como o desejo de ter a) A exploração da natureza é um resultado secundário
as coisas mais próximas e superar aquilo que é único. da vigência da racionalidade instrumental, na medida em
c) A perda da aura retira da arte o seu papel crítico no que, anteriormente à modernidade, a razão era compre-
interior da sociedade de consumo, isto ocorre porque endida em sintonia com a natureza.
a reprodutibilidade técnica destrói a possibilidade de b) A razão instrumental é uma forma da razão que se ins-
exposição das obras. tituiu por meio do reconhecimento da singularidade da
d) Desde o período medieval, o valor de exposição natureza e da sociedade e do desenvolvimento de uma
das obras de arte é fator preponderante, visto que metodologia que integra tais especificidades à pesquisa.
o desempenho de sua função religiosa exigia que a c) A substituição da autoridade da filosofia pela autorida-
arte aparecesse de forma bem visível aos espectado- de da ciência no século XX resultou da incorporação da
res que a cultuavam. filosofia aos procedimentos experimentais da ciência, o
e) O cinema desempenha um importante papel políti- que tornou a atividade científica mais rigorosa.
co de conscientização dos espectadores, uma vez que d) A concepção de ciência que sustenta a racionalidade
seu caráter expositivo tornou-se cultual ao recuperar instrumental recusa duas ideias fundamentais: a ideia
a dimensão aurática. de que a ciência consiste em enunciados sobre fatos e a
ideia de que o mundo seja um mundo de fatos e coisas.
5. (UEL) e) A vinculação entre razão e instrumento revela a ten-
"Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, com- dência, não apenas individual, mas estruturada social-
posta de elementos espaciais e temporais: a aparição úni- mente, de submeter a natureza à exploração, culminando
ca de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. na sujeição do humano à razão instrumental.
Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia
7. (UEL) Francis Bacon, em sua obra Nova Atlântida,
de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta
imagina uma utopia tecnocrática na qual o sofrimento
sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas humano poderia ser removido pelo desenvolvimento e
montanhas, desse galho. Graças a essa definição, é fácil pelo aperfeiçoamento do conhecimento científico, o qual
identificar os fatores sociais específicos que condicionam permitiria uma crescente dominação da natureza e um
o declínio atual da aura. Ele deriva de duas circunstâncias, suposto afastamento do mito. Na obra Dialética do Es-
estreitamente ligadas à crescente difusão e intensida- clarecimento, Adorno e Horkheimer defendem que o pro-
de dos movimentos de massas. Fazer as coisas ‘ficarem jeto iluminista de afastamento do mito foi convertido,
mais próximas’ é uma preocupação tão apaixonada das ele próprio, em mito, caindo no dogmatismo e em numa
massas modernas como sua tendência a superar o caráter forma de mitologia. O progresso técnico-científico con-
único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade". siste, para Adorno e Horkeheimer, no avanço crescente
Fonte: BENJAMIN, W. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade da racionalidade instrumental, a qual é incapaz de frear
técnica”. In: Magia e Técnica, Arte e Política. Obras Escolhidas. Tradução iniciativas que afrontam a moral, como foram, por exem-
de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 170. plo, os campos de concentração nazistas.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre Benja- Com base no texto e nos conhecimentos sobre o desen-
min, assinale a alternativa correta: volvimento técnico-científico, é correto afirmar:
a) Ao passar do campo religioso ao estético, a obra de a) Bacon pensava que o incremento da racionalida-
arte perdeu sua aura. de instrumental aliviaria as causas do sofrimento
b) Ao se tornarem autônomas, as obras de arte perde- humano, apesar de a razão, a longo prazo, sucumbir
ram sua qualidade aurática. novamente ao mito.
c) O declínio da aura decorre do desejo de diminuir b) Adorno e Horkheimer concordavam que o progresso
a distância e a transcendência dos objetos artísticos. científico não consegue superar o mito, mas se torna
d) O valor de culto de uma obra de arte suscita a um tipo de concepção mítica incapaz de discriminar o
reprodutibilidade técnica. que é certo do que é errado moralmente.
e) O declínio da aura não tem relação com as trans- c) Adorno e Horkheimer sustentavam que o crescente
formações contemporâneas. avanço da racionalidade instrumental consistia num in-
 VOLUME ÚNICO

cremento da capacidade humana de avaliar moralmente.


6. (UEL 2021) A ideia de que a razão, a mais alta facul- d) Bacon apontava que o aumento da capacidade de
dade intelectual do homem, interessa-se apenas pelos domínio do homem sobre a natureza conduziria os se-
instrumentos, ou melhor, é ela mesma apenas um instru- res humanos a uma forma de dogmatismo.
mento, é formulada de modo mais claro e aceita mais e) Tanto Adorno e Horkheimer quanto Bacon viam o pro-
amplamente hoje do que no passado. [...] O indivíduo gresso técnico e científico como a solução para os sofri-
outrora concebeu a razão exclusivamente como um ins- mentos humanos e para as incertezas morais humanas.

158  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


8. (UEL) Se as duas esferas da música se movem na 10. (Ufpa) Desde Platão se discute a função sociocultu-
unidade da sua contradição recíproca, a linha de de- ral da arte, o que confere à sua autonomia uma certa
marcação que as separa é variável. A produção musical relatividade. Recentemente, com a Escola de Frankfurt,
avançada se independentizou do consumo. O resto da cunhou-se para a determinação social da arte termos
música séria é submetido à lei do consumo, pelo preço como “indústria cultural” e “cultura de massa”, porque,
de seu conteúdo. Ouve-se tal música séria como se con- como diz Theodor Adorno, no regime econômico capita-
some uma mercadoria adquirida no mercado. Carecem lista sacrifica-se “o que fazia a diferença entre a lógica
totalmente de significado real as distinções entre a au- da obra [de arte] e a do sistema social.” Com relação à
dição da música "clássica" oficial e da música ligeira. interpretação de Adorno sobre a função social da arte no
(ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão regime capitalista, considere as afirmativas abaixo:
da audição. In: BENJAMIN, W. et all. Textos escolhidos. I. Na sociedade capitalista, o desenvolvimento técnico-
2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987. p. 84.) -industrial conduziu à padronização do gosto em bene-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa- ficio do mercado.
mento de Adorno, é correto afirmar: II. Não há gozo da arte, na sociedade liberal, se a cria-
a) A música séria e a música ligeira são essencialmente ção for massificada.
críticas à sociedade de consumo e à indústria cultural. III. Ao sacrificar a lógica da obra às determinações do
b) Ao se tornarem autônomas e independentes do con- sistema, o artista está garantindo não só seu lucro
sumo, a música séria e a música ligeira passam a real- como a própria sobrevivência da arte, já que a nossa
çar o seu valor de uso em detrimento do valor de troca. economia é capitalista.
c) A indústria cultural acabou preparando a sua pró- IV. Com a indústria cultural, ocorre a perda completa da
pria autorreflexividade ao transformar a música ligei- ideia de autonomia da arte.
ra e a séria em mercadorias. V. Adorno não concorda com Platão quanto à ideia de
d) Tanto a música séria quanto a ligeira foram transforma- que a experiência estética, como acontece hoje em dia,
das em mercadoria com o avanço da produção industrial. necessita de um nexo funcional para cumprir seu papel
e) As esferas da música séria e da ligeira são separa- na vida social e política do homem.
das e nada possuem em comum. Estão corretas as afirmativas:
9. (UEL) Com base no pensamento estético de Adorno e a) I e II d) II, III, V
b) II e V e) I, III, IV e V
Benjamin, considere as afirmativas a seguir.
c) I e IV
I. Apesar de terem o mesmo ponto de partida, a saber,
a análise crítica das técnicas de reprodução, Adorno e 11. (Enem) Hoje, a indústria cultural assumiu a herança
Benjamin chegam a conclusões distintas. Adorno enten- civilizatória da democracia de pioneiros e empresários,
de que a reprodutibilidade das obras de arte é algo ne- que tampouco desenvolverá uma fineza de sentido para
gativo, pois transforma esta última em mercadoria; para os desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para
Benjamin, apesar de a reprodutibilidade ter aspectos se divertir do mesmo modo que, desde a neutralização
negativos, uma forma de arte como o cinema pode ser histórica da religião, são livres para entrar em qualquer
usada potencialmente em favor da classe operária. uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da
II. Para Adorno, o discurso revolucionário na arte torna ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, reve-
esta forma de expressão humana instrumentalista, e isto la-se em todos os setores como a liberdade de escolher o
significa abolir a própria arte. Por seu turno, Benjamin que é sempre a mesma coisa.
considerava que os novos meios de comunicação não de- ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento:
veriam ser substituídos, mas sim transformados ou sub- fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro; Zahar, 1985
vertidos segundo os interesses da comunicação burguesa.
A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acor-
III. Para Adorno, a noção de aura na obra de arte pre-
do com a análise do texto, é um(a):
servava a consciência de que a realidade poderia ser
melhor, mas o processo de massificação da arte dissol- a) legado social.
veu tal noção e, com ela, a dimensão critica da arte. b) patrimônio político.
Para Benjamin, a perda da aura destruiu a unicidade e a c) produto da moralidade.
singularidade da obra de arte, que perde o seu valor de d) conquista da humanidade.
e) ilusão da contemporaneidade.
culto e se torna acessível.
IV. Adorno vê positivamente a reprodutibilidade da arte,
já que a obra de arte se transforma em mercadoria pa- Gabarito
dronizada que possibilita a todos o acesso e o desenvol-
vimento do gosto estético autônomo; para Benjamin, a 1. Em seu texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
reprodução tem como dimensão negativa essencial o técnica, Walter Benjamin procura demonstrar que, na obra de
 VOLUME ÚNICO

fato de impossibilitar às massas o acesso às obras. arte, o que atrofia com a reprodutibilidade técnica é a aura. A
aura é aquilo que é dado apenas uma vez, ou seja, como está
Assinale a alternativa correta.
demonstrado na passagem do texto, o que configura a aura é
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. sua singularidade, que se materializa na espacialidade e na tem-
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
poralidade. Uma obra é única, assim como o é um pôr do sol ou
c) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. a sombra ou a percepção de uma cadeia de montanhas. Esse
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. caráter único da obra, isto é, sua identidade, é o que se perde

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  159


com a reprodução em série de um quadro vendido em lojas de
departamentos. O declínio da aura ocorre, segundo Benjamin,
em razão do desejo das massas de terem próximo aquilo que de-
veria ser único. O que se quer é ter uma cópia reproduzida para
estar em todos os ambientes. Portanto, a reprodutibilidade acaba
com aquilo que é único. Ao longo da história, as obras sempre
foram reproduzidas, porém não da forma e com as consequên-
cias como na era da reprodutibilidade técnica. A cópia produzida
em série e vendida na loja com milhares de exemplares idênticos
afeta o “aqui e agora”, que é único na obra e que constitui a
sua história. Ou seja, cada obra é única e sua autenticidade não
se deixa reproduzir nas cópias colocadas à venda na loja ou na
Internet, sem história, sem tempo, sem saber quem foram seus
proprietários. Em suma, sem autenticidade.

2. A 3. A 4. B 5. C 6. E

7. B 8. D 9. B 10. C 11. E
 VOLUME ÚNICO

160  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


HANNAH Sendo uma observadora do movimento nacionalista que
percorrerá a Europa, Arendt vivenciará as transformações
ARENDT ocorridas na sociedade europeia, com o aumento da into-
lerância religiosa, o autoritarismo e a xenofobia. Esse pe-

CH
ríodo histórico influenciará definitivamente a sua filosofia.

COMPETÊNCIA(s)
1, 2, 3, 4 e 5

HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

24
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Hannah Arendt
O professor Franklin Leopoldo e Silva apresenta a pro-
blemática apresentada pela filósofa Hannah Arendt.

Um dos principais temas analisados por Arendt foi o Tota-


1. Hannah Arendt (1906-1975) litarismo. O século XX apresentou novas formas de autori-
tarismo e sua manifestação mais extrema: o nazismo. Nos
regimes totalitários, a individualidade é suprimida pelo go-
verno autoritário, que controla a vida pública e a vida par-
ticular das pessoas. Em sua obra Origens do Totalitarismo,
Arendt sugere paralelismos totalitários entre os regimes
da Alemanha Nazista e da União Soviética Stalinista. Essa
aproximação proposta pela autora ainda mantém muitos
debates a respeito da categoria totalitarismo.

Retrato de Hannah Arendt multimídia: vídeo


A filósofa alemã de origem judia é uma das raras vozes Fonte: Youtube
femininas no cenário da filosofia política. Iniciou muito jo- Para refletir sobre Hannah Arendt
vem os estudos, tendo contato com os filósofos clássicos, Um breve resumo do pensamento da filósofa alemã
como Kant, Rousseau e Marx. Sua educação foi pautada Hannah Arendt.
pelas boas condições financeiras da sua família. Foi expulsa
de uma instituição de ensino por liderar um boicote a um
professor que havia a insultado. Preparou-se sozinha para 1.1. A banalidade do mal
entrar na universidade.
Hannah Arendt trata da questão do horror na sociedade,
 VOLUME ÚNICO

Adentra na Universidade de Berlim em 1924. Transfe- consolidada como uma mera repetição do homem. Essa per-
re-se para a Universidade de Marburg, onde conhece o da da consciência do indivíduo perante o seu semelhante
professor Martin Heidegger, que orientará seus estudos. propicia a esse ser uma prática do mal sem reflexão. Assim,
Os dois mantiveram um relacionamento, que foi dura- a filósofa argumenta que o mal está enraizado em quem
mente criticado devido ao apoio de Heidegger ao Partido o pratica, gerando uma não identificação com o próximo e,
Nazista e, consequentemente, ao antissemitismo. consequentemente, uma mera ação sem juízo.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  161


Esse conceito de banalidade do mal está inserido na obra Arendt apresenta em sua obra A Condição Humana três
Eichmann em Jerusalém, em que Arendt analisa o julgamen- atividades humanas fundamentais: o labor, o trabalho e a
to do oficial nazista Adolf Eichmann, militar responsável por ação. São atividades humanas que apresentam condições
organizar a logística do transporte de judeus para os campos da vida na Terra. O labor, atividade fundamental para a
de concentração. Em sua defesa, o oficial afirmou que fez só vida, seria o processo biológico de sobrevivência do cor-
por cumprir ordens e fazer o seu trabalho, e não por odiar po, a própria vida. O trabalho (obra) corresponde à ação
humana de transformação da natureza, a artificialidade da
os judeus. Nesse caso, Arendt analisa que a falta de uma
vida humana que não se confunde com o labor (biológi-
reflexão nas suas próprias ações faz o homem agir
co e necessário). A ação é a atividade realizada entre os
sem consciência e tende a criar e reproduzir o mal, homens em seu convívio, em sua pluralidade social. É no
ou seja, o próprio horror, como uma mera engrenagem me- campo da ação que se verifica a expressão máxima da vida
cânica, banalizando o mal nas ações cotidianas. política, da vida pública. O mundo no qual se realiza a vita
Diante disso, o mal banal fica caracterizado como a ausên- activa, entre a vida e morte do ser humano, é o mundo das
cia do pensamento, desencadeando a privação de respon- atividades humanas, de sua sobrevivência, de sua criativi-
sabilidade. Com isso, é possível a compreensão da violên- dade, de suas instituições e de sua história.
cia nas sociedades contemporâneas, que atinge grupos e Muitos ainda julgam que a ideologia nazista girou em
indivíduos nessa sociedade. Um processo de violência que torno do antissemitismo por acaso, e que desse acaso
nasceu a política que inflexivelmente visou perseguir e,
aumenta significativamente nos últimos tempos.
finalmente, exterminar os judeus. O horror do mundo
diante do resultado derradeiro, e, mais ainda, diante do
seu efeito, constituído pelos sobreviventes sem lar e sem
raízes, deu à "questão judaica" a proeminência que ela
passou a ocupar na vida política diária. O que os nazistas
apresentaram como sua principal descoberta – o papel
dos judeus na política mundial – e o que propagavam
como principal alvo – a perseguição dos judeus no mun-
do inteiro – foi considerado pela opinião pública mero
multimídia: livro pretexto, interessante truque demagógico para conquis-
tar as massas.
É bem compreensível que não se tenha levado a sério o
Entre o passado e o futuro - Hannah que os próprios nazistas diziam. Provavelmente não existe
Arendt. São Paulo: Perspectiva, 2011. aspecto da história contemporânea mais irritante e mais
mistificador do que o fato de, entre tantas questões políti-
Nesse livro, a filósofa ilumina a reflexão política do século
cas vitais, ter cabido ao problema judaico, aparentemente
XX, com inquietações sobre a memória e as ações huma- insignificante e sem importância, a duvidosa honra de pôr
nas no cotidiano. em movimento toda uma máquina infernal.
ARENDT, Hannah.
Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.25
 VOLUME ÚNICO

162  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

HANNA ARENDT

BANALIDADE DO MAL REGIMES


VITA ACTIVA TOTALITÁRIOS

PERDA DA BUROCRATIZAÇÃO
CONSCIÊNCIA: LABOR, TRABALHO DA VIDA E
AUSÊNCIA DO (OBRA) E AÇÃO RACIONALIZAÇÃO
PENSAMENTO DA VIOLÊNCIA
CRÍTICO

OS ATOS REPETIDOS A VIOLÊNCIA


SEM PENSAR NOS INSTRUMENTALIZADA
OUTROS NA POLÍTICA
TOTALITÁRIA

OS REGIMES
TOTALITÁRIOS
VISAM AO
CONTROLE DA
VIDA PÚBLICA E
PARTICULAR DOS
CIDADÃOS

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  163


Aplicando para Aprender (A.P.A.) Considerando as características e as expressões histó-
ricas do totalitarismo no século XX, assinale a afirma-
1. (SEDUC-RJ) Durante o século XX, a filósofa Hannah tiva incorreta:
Arendt afirmou que existe uma antiga resposta para a a) O totalitarismo procura reforçar a distinção entre
pergunta sobre o sentido da política tão simples e con- esfera pública e esfera privada.
cludente, que poderia dispensar outras respostas por b) Nazismo e stalinismo são dois exemplos históricos
completo. De acordo com o que explana Hannah Arendt de regimes totalitários.
em O que é política?, esse sentido da política é: c) A propaganda é um meio importante para a difu-
a) o poder são da ideologia oficial nos governos totalitários.
b) a administração d) terror é um princípio fundamental da ação política
c) a liberdade totalitária.
d) a igualdade 5. (Copasa) Um tema contemporâneo que faz parte das
e) o bem nossas reflexões é a cidade como espaço cívico. Segun-
do Otília Arantes (1993), a principal inspiração de reva-
2. (SEDUC-RJ) Hannah Arendt, em “A Condição Humana”,
lorização da vida pública vem de Hannah Arendt que
aponta que os modos pelos quais os seres humanos se
foi buscar na polis grega o modelo a partir do qual é
manifestam uns aos outros, não como meros objetos físi-
possível julgar as transformações modernas da esfera
cos, mas enquanto homens, são:
pública. A transição do antigo para o moderno desfez
a) arte e linguagem essa distribuição harmoniosa das funções sociais, alar-
b) ação e discurso gando indefinidamente o território privado conforme
c) liberdade e expressão se implantava a propriedade burguesa. Essa prática
d) trabalho e discurso não só debilitou como propiciou o declínio do caráter
e) ação e liberdade público da liberdade.
Assinale a alternativa que apresenta a definição correta
3. (SEDF) A pluralidade humana, condição básica da que Hannah Arendt dá para o "privado":
ação e do discurso, tem o duplo aspecto da igualdade
a) É o cerceamento da coletividade, absoluto e restrito.
e da diferença. Se não fossem iguais, os homens se-
riam incapazes de compreender-se entre si e aos seus b) É o direito de usar, gozar e dispor de uma coisa,
ancestrais, ou de fazer planos para o futuro e prever a princípio de modo absoluto, exclusivo e perpétuo.
as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem c) É o que não aparece, é o reino do obscuro, do irre-
diferentes, se cada humano não diferisse de todos os levante, da mais aguda limitação.
que existiram, existem ou virão a existir, os homens não d) É o que permanece em função de poucos, totalitário.
precisariam do discurso ou da ação para se fazerem en-
6. Hannah Arendt foi o pensamento de enfrentamento
tender.
aos regimes totalitarista no século XX. De maneira que
Hannah Arendt. A condição humana. Rio de Janeiro: esses regimes desencadeiam um (a):
Forense Universitária, 2003, p. 188 (Adaptado)
a) falta de humanidade entre os seres, feita pelo con-
Considerando o que diz Hannah Arendt nesse texto, as- tato constante em sociedade.
sim como a filosofia política contemporânea, as afirma- b) direcionamento ao crescimento da consciência co-
ções estão corretas, exceto a: letiva, para ordenação social.
a) Nas sociedades democráticas, o papel do Estado c) participação coletiva nas escolhas dos governantes,
é extinguir os conflitos para construir uma sociedade na preservação da sociedade.
igualitária. d) perigo devido ao isolamento dos seres humanos,
b) No mundo contemporâneo, o trabalho, se não aten- numa sociedade massificada.
de aos esquemas de exploração, rompe com os deter- e) mal para a sociedade, devido as atitudes e ações
minismos que podem ser visualizados nas leis naturais. democráticas na sociedade.
c) O neoliberalismo, em sua estrutura, guia-se pelas
7. “Nada caracteriza melhor os movimentos tota-
regras do livre mercado, pelo estado minimalista e
pela abolição de reservas de mercado. litários em geral — e principalmente a fama de que
desfrutam os seus líderes — do que a surpreendente
d) Em uma perspectiva ideológica, o liberalismo en-
facilidade com que são substituídos. Stálin conseguiu
tende a democracia como regime político que se uti-
 VOLUME ÚNICO

legitimar-se como herdeiro político de Lênin à custa de


liza da lei e da ordem para garantir os interesses e as
amargas lutas intrapartidárias e de vastas concessões
liberdades individuais.
à memória do antecessor. Já os sucessores de Stálin
4. (Politec-MT) De acordo com a filósofa Hannah Aren- procuraram substituí-lo sem tais condescendências,
dt, o totalitarismo é uma forma de governo essencial- embora ele houvesse permanecido no poder por trin-
mente diferente de outras formas de opressão política ta anos e dispusesse de uma máquina de propaganda,
conhecidas, como o despotismo, a tirania e a ditadura. desconhecida ao tempo de Lênin, para imortalizar o

164  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


seu nome. O mesmo se aplica a Hitler, que durante toda 9.
a vida exerceu um fascínio que supostamente cativava
a todos, e que, depois de derrotado e morto, está hoje
tão completamente.”
ARENDT, H. Origens do Totalitarismo (Adaptado)
Nesse trecho podemos perceber o pensamento de Han-
nah Arendt que remete a uma:
a) explicação dos regimes que se fundamentam em
uma ideologia, no terror e na mobilização das massas.
b) crítica aos regimes opressores existentes nas socie-
dades europeias.
c) reflexão sobre a banalidade dos horrores que o ho-
mem faz perante o próprio homem.
d) análise perante os horrores da Segunda Guerra
Mundial, se limitando a tratar das sensações humanas.
e) orientação para as futuras gerações das consequ-
ências desses regimes para a sociedade europeia.

8. (UEL) Conforme a definição de banalidade do mal, segundo


"O que era sem precedentes não era a perda do lar, Hannah Arendt, o comportamento apontado na ima-
gem acima é causado principalmente pela:
mas a impossibilidade de encontrar um novo lar. De sú-
bito revelou-se não existir lugar algum na terra aonde a) não compreensão da dignidade do outro envolvido
os emigrantes pudessem se dirigir sem as mais severas na situação representada.
restrições, nenhum país ao qual pudessem ser assimi- b) incapacidade de se colocar no lugar do outro para
lados, nenhum território em que pudessem fundar uma entender suas razões.
nova comunidade própria [...] A calamidade dos que c) descrença no Estado como apaziguador de proble-
não têm direitos não decorre do fato de terem sido mas de convivência.
privados da vida, da liberdade ou da procura da felici- d) falta de reflexão crítica na tomada de decisão de
dade, nem da igualdade perante a lei ou da liberdade punir o criminoso
de opinião – fórmulas que se destinavam a resolver e) ausência do senso de coletividade na solução do
problemas dentro de certas comunidades – mas do problema da violência.
fato de já não pertencerem a qualquer comunidade
[...] A privação fundamental dos direitos humanos ma- 10. Hannah Arendt reflete a respeito de três ativida-
nifesta-se, primeiro e acima de tudo, na privação de um des humanas que são vinculadas a três formas de vida
lugar no mundo que torne a opinião significativa e a humana. Tal relação esquemática é central na filosofia
ação eficaz. Algo mais fundamental do que a liberdade daquela pensadora e em sua crítica da sociedade con-
e a justiça, que são os direitos do cidadão, está em jogo temporânea. Assinale a alternativa que relaciona, corre-
quando deixa de ser natural que um homem pertença tamente, aqueles modos de vida e atividades humanas.
à comunidade em que nasceu."
a) Ser político - trabalho; homo faber - fabricação;
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: anti- animal laborans - ação.
semitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989. p. 227, 229, 230
b) Ser político - ação; homo faber - trabalho; animal
laborans - fabricação.
Com base no texto, é correto afirmar: c) Ser racional - ação; homo economicus - trabalho;
homo ludens - diversão.
a) Obter o reconhecimento por uma comunidade é
condição básica para o gozo de direitos. d) Ser político - ação; homo faber - fabricação ; ani-
mal laborans - trabalho.
b) A condição em que se encontra o apátrida é igual
à condição de escravo. e) Ser racional - contemplação; homo economicus -
ação; homo laborans - trabalho.
c) Ser privado da vida é menos importante que ser
privado da liberdade. 11. (UFMG) Leia este trecho: Eu quero dizer que o mal
 VOLUME ÚNICO

d) Ao apátrida é garantida ressonância às suas opini- [...] não tem profundidade, e que por esta mesma razão
ões mais significativas. é tão terrivelmente difícil pensarmos sobre ele [...] O
e) Ser um apátrida é ser reconhecido como um indiví- mal é um fenômeno superficial [...] Nós resistimos ao
duo com direitos fora de seu país de origem. mal em não nos deixando ser levados pela superfície
das coisas, em parando e começando a pensar, ou seja,
em alcançando uma outra dimensão que não o horizon-
te de cada dia. Em outras palavras, quanto mais superfi-

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  165


cial alguém for, mais provável será que ele ceda ao mal.
ARENDT, H. Carta a Grafton, apud ASSY, B. Eichmann,
Banalidade do Mal e Pensamento em Hannah Arendt. in: Jardim,
e.; Bignotto, N. (org.). Hannah Arendt, diálogos, reflexões,
memórias. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. p. 145.

A partir da leitura desse trecho, REDIJA um texto, argu-


mentando a favor de ou contra esta afirmativa:
Para se prevenir o mal, é preciso reflexão.

Gabarito
1. C 2. B 3. A 4. A 5. C

6. D 7. A 8. A 9. D 10. D

11. A resposta pode ser tanto positiva como negativa. De modo


que se o argumento for a favor: O mal é uma ação impulsiva pró-
pria de animais irracionais que agem e reagem sem a mediação
da inteligência. O que torna o homem um ser humano é a sua
capacidade de pensar antes de agir, portanto, diante de uma si-
tuação adversa é necessário refletir e, a partir desta reflexão, agir
ponderadamente calculando as consequências e medindo todos
os passos para não se correr o risco de cometer alguma maldade.
Como disse Eurípedes, "A razão pode lutar corpo a corpo com os
terrores, e derrubá-los." E Caso o argumento for contra: O mal
não é uma intenção ou reflexão racional, ele é uma ação efetiva
que se dá entre os homens no trato de suas relações. Contra ele,
é necessário agir com virtude moral praticando efetivamente a
justiça, tomando atitudes corajosas, decidindo com prudência no
sentido de restabelecer ou estabelecer uma ordem que permita
a convivência pacífica entre os homens. Todo avanço científico
e tecnológico, frutos do pensamento e da razão, já se mostra-
ram produtores de guerras e ferramentas destruidoras nas mãos
de interesses escusos. Por isso, pensar, refletir, contemplar boas
ideias não extirparão o mal.
 VOLUME ÚNICO

166  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


A crítica de Habermas se faz diante ao direcionamento pro-
HABERMAS posto por Adorno e Horkheimer, que orienta a um irraciona-
lismo industrial, por induzir a uma alienação em todos os
âmbitos na cultura humana, que só condiciona a uma prá-

CH
tica repetitiva. Entretanto, segundo Habermas, seguir essa
ideia pode levar a se constituir uma sociedade vazia, sem
COMPETÊNCIA(s) nenhuma perspectiva futura. Como se a vida estivesse fada-
1, 2, 3, 4 e 5 da a um determinismo alienante, de modo a limitar a razão
humana, reduzindo a uma perversidade utilitarista.
HABILIDADE(s)
AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

25
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Teoria do Discurso em Habermas

1. Jürgen Habermas (1929)


O filósofo alemão Habermas pertence à Segunda Geração Para o filósofo alemão, Adorno e Horkheimer confundiram
da Escola de Frankfurt. Com uma participação ativa no um tipo particular de racionalização com a própria razão.
campo acadêmico, Habermas também teve intensa parti- Pois a razão possui uma função comunicativa. Isso
cipação nos movimentos sociais de sua época. representa que, dentro do processo da Indústria Cultural,
não se restringe somente ao plano da dominação, mas
também ao processo da comunicação, que não contém
necessariamente um viés ideológico.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube

retrato de Habermas.
Para entender o mundo contemporâneo: Habermas
O doutor Luís Mauro Sá Martinho comenta sobre o
Habermas demonstra articulações inovadoras em diversas
pensamento de Habermas.
teorias, como o campo do direito, da moral e da educação.

1.1. A crítica à Escola de Frankfurt A estrutura da linguagem cotidiana possui na sua essência
uma exigência racional, sendo a linguagem uma forma de
O filósofo alemão discordou de diversos pontos da Teoria Crí- ação coletiva, pois existe uma compartilhamento objetivo
 VOLUME ÚNICO

tica, principalmente de Adorno e de Horkheimer, como o uso e subjetivo no campo social.


da razão, a cultura e a democracia. Porém, o que mais lhe in-
comodou foi o pessimismo contido na primeira geração frank-
furtiana, por salientar que a lógica capitalista entranhou toda 1.2. Teoria da Ação Comunicativa
a produção humana, caracterizando todos os elementos em A ação comunicativa é o uso da linguagem e da con-
Indústria Cultural, sem uma mudança drástica do ser humano. versação como meio de se conseguir o consenso.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  167


A linguagem é criada coletivamente e compartilhada pelos Seguindo um movimento de que todos os campos do co-
seus agentes. Dessa forma, há regras no diálogo da ação nhecimento se conversam e se interagem ao mesmo tempo.
comunicativa: a não contradição, a clareza de argumentação
No campo político, por sua vez, sua teoria se torna a base
e a falta de constrangimento de ordem social.
de uma democracia representativa, de modo que a ação
comunicativa desenvolve ações efetivas de uma ação cole-
tiva e voltada para uma mudança social.
Uma vez que o mundo novo, o mundo moderno, se dis-
tingue do velho pelo fato que se abre para o futuro, o
início de uma época histórica repete-se e reproduz-se a
cada momento do presente, o qual gera o novo a partir
de si. Por isso, faz parte da consciência histórica da mo-
dernidade a delimitação entre o “tempo mais recente” e
a “época moderna”: o presente como história contem-
porânea desfruta de uma posição de destaque dentro
do horizonte da época moderna. Hegel também enten-
de o “nosso tempo” como o “tempo mais recente”. Ele
A ação comunicativa deve ser racional e visar o consenso. data o começo do tempo presente a partir da censura
que o Iluminismo e a Revolução Francesa significaram
A verdade na ação comunicativa precisa ser com- para os seus contemporâneos mais esclarecidos no final
preendida como uma verdade intersubjetiva, e não do século XVIII e começo do XIX. Com esse “magnífico
mais uma verdade subjetiva, que se adequa a realidade. despertar” alcançamos, assim pensa ainda o velho He-
gel, “o último estágio da história, o nosso mundo, os
Perdendo assim, o seu valor absoluto, tão consolidado
nossos dias”. Um presente que se compreende, a partir
historicamente na filosofia. Isso significa que a verdade do horizonte dos novos tempos, como a atualidade da
ganhou aspectos de uma construção consensual época mais recente, tem de reconstituir a ruptura com o
entre as partes envolvidas, sendo aperfeiçoado passado como uma renovação contínua.
na prática democrática. HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da
Modernidade. Martins Fontes, SP, 2002, pág. 11.
Com isso, a razão comunicativa se torna uma resistência
perante a razão instrumental, com o intuito de resgatar a
importância da razão para avanços na sociedade. Numa
mudança que possibilitará ao homem a abrir espaço para
ser convencido por ideias melhores, num processo demo-
crático. Esse agir comunicativo pode ser a base ética de
uma sociedade.

1.3. O rompimento com a multimídia: livro


Escola de Frankfurt
Habermas defende que o projeto de modernidade O discurso Filosófico da Modernidade - Jürgen
não se concretizou, havendo um potencial para a raciona- Habermas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
lização do mundo. Essa postura de uma valorização da razão Nessa obra, o autor reconstró passo a passo o discurso
fez com que o filósofo rompesse com a Escola de Frankfurt. filosófico da modernidade, como ponto de partida a pers-
pectiva proposta pela crítica neoestruturalista da razão.
Em seus estudos fez várias críticas a vários pontos da teoria
marxista, como a centralidade do trabalho e a idealização
do proletariado como agente de transformação. Para ele,
as transformações na sociedade se fazem com uma centra-
lidade da razão e com a ação comunicativa.
 VOLUME ÚNICO

1.4. O legado de Habermas


O pensamento de Habermas ressoa em nosso mundo con-
temporâneo, no âmbito educacional a ação comunicativa
elabora uma forma interdisciplinar, num movimento con-
trário às estruturas positivistas de divisão do conhecimento.

168  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


DIAGRAMA DE IDEIAS

HABERMAS

TEORIA DA AÇÃO SEGUNDA GERAÇÃO


COMUNICATIVA CRÍTICA À TEORIA DA ESCOLA DE
CRÍTICA FRANKFURT

A COMUNICAÇÃO
PODE GERAR A ESCOLA DE
CONHECIMENTO FRANKFURT
APEGOU-SE DEMAIS
AOS PROBLEMAS
DA MODERNIDADE
DIANTE DE
UMA PRÁTICA
DEMOCRÁTICA PLENA
O PROJETO
ILUMINISTA
AINDA NÃO FOI
FINALIZADO.

A DEMOCRACIA
DEVE SER
DEFENDIDA COM
O USO DA RAZÃO
E DO CONSENSO

 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  169


Aplicando para Aprender (A.P.A.) II. A validade do que é decidido consensualmente as-
senta-se na negociação em que os interlocutores se
instrumentalizam reciprocamente em prol de interesses
1. (Uece 2020) Considere o trecho a seguir, que des-
particulares.
creve uma definição sobre como se estabelecem as
normas de ação a partir de uma determinada situação III. Como regra do discurso que busca o entendimento,
vivida no mundo: devem-se excluir os interlocutores que, de algum modo,
são afetados pela norma em questão.
“O mundo vivido é considerado a partir do processo de
entendimento no qual diferentes pessoas se entendem IV. O projeto emancipatório dos indivíduos é construído
sobre algo no mundo objetivo dos fatos, no mundo so- a partir do diálogo e da argumentação que prima pelo
cial das normas de ação e mundo subjetivo das vivên- entendimento mútuo.
cias. O mundo vivido garante aos sujeitos de uma comu- Assinale a alternativa correta:
nidade de comunicação convicções a partir das quais
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
se forma o contexto dos processos de entendimento”.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
OLIVEIRA, M. A. de. Reviravolta linguístico-pragmática na filosofia
contemporânea. São Paulo: Edições Loyola, 1996. Adaptado. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
A passagem acima apresenta uma visão da moralidade,
sobre a qual é correto afirmar que e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

a) se trata da ideia de moral do iluminismo, sobretudo 4. (UEG) "Uma moral racional se posiciona criticamen-
da filosofia de Immanuel Kant, na qual o agir moral e te em relação a todas as orientações da ação, sejam
o princípio da eticidade se fundamentam na razão dos elas naturais, autoevidentes, institucionalizadas ou
sujeitos, que se universaliza após o entendimento. ancoradas em motivos através de padrões de sociali-
b) representa uma eticidade nos moldes do pensa- zação. No momento em que uma alternativa de ação
mento aristotélico, em que o sujeito moral só pode ser e seu pano de fundo normativo são expostos ao olhar
compreendido como membro de uma comunidade de crítico dessa moral, entra em cena a problematização.
cidadãos, e a ética está intimamente ligada à política. A moral da razão é especializada em questões de jus-
c) expressa a visão marxista de moralidade, visto que tiça e aborda em princípio tudo à luz forte e restrita
esta define que qualquer perspectiva de uma moral da universalidade."
autêntica requer a superação da moral de classe e a HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. v. I.
instituição de uma justiça social baseada no diálogo. Trad. Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 149
d) define a conceituação de moral na perspectiva de
Jürgen Habermas, para quem a ética é discursiva e origi- Com base no texto e nos conhecimentos sobre a moral
na-se das relações intersubjetivas, da construção de con- em Habermas, é correto afirmar:
senso entre os indivíduos e de uma ação comunicativa. a) A formação racional de normas de ação ocorre
independentemente da efetivação de discursos e da
2. (Enem) "Uma norma só deve pretender validez quando autonomia pública.
todos os que possam ser concernidos por ela cheguem
b) O discurso moral se estende a todas as normas de
(ou possam chegar), enquanto participantes de um discur-
ações passíveis de serem justificadas sob o ponto de
so prático, a um acordo quanto à validade dessa norma". vista da razão.
Habermas, J. Consciência moral e agir comunicativo.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
c) A validade universal das normas pauta-se no con-
teúdo dos valores, costumes e tradições praticados no
Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser interior das comunidades locais.
estabelecida pelo (a):
d) A positivação da lei contida nos códigos, mesmo
a) Liberdade humana, que consagra a vontade. sem o consentimento da participação popular, garan-
b) Razão comunicativa, que requer um consenso. te a solução moral de conflitos de ação.
c) Conhecimento filosófico, que expressa a verdade. e) Os parâmetros de justiça para a avaliação crítica
d) Técnica científica, que aumenta o poder do homem. de normas pautam-se no princípio do direito divino.
e) Poder político, que se concentra no sistema partidário.
5. (UEL) Elaborada nos anos de 1980, em um contexto
3. (UEL) A utilização da Internet ampliou e fragmentou, de preocupações com o meio ambiente e o risco nu-
simultaneamente, os nexos de comunicação. Isto im- clear, a Ética do Discurso buscou reorientar as teorias
pacta no modo como o diálogo é construído entre os deontológicas que a antecederam. Um exemplo está
indivíduos numa sociedade democrática. contido no texto a seguir.
HABERMAS, J. O caos da esfera pública. De maior gravidade são as consequências que um con-
 VOLUME ÚNICO

Folha de São Paulo, 13 ago. 2006, Caderno Mais!, p.4-5 (Adaptado) ceito restrito de moral comporta para as questões da
ética do meio ambiente. O modelo antropocêntrico pa-
A partir dos conhecimentos sobre a ação comunicativa
rece trazer uma espécie de cegueira às teorias do tipo
em Habermas, considere as afirmativas a seguir:
kantiano, no que diz respeito às questões da responsa-
I. A manipulação das opiniões impede o consenso ao bilidade moral do homem pelo seu meio ambiente.
usar os interlocutores como meios e desconsiderar o
HABERMAS, Jürgen. Comentários à Ética do Discurso. Trad. de
ser humano como fim em si mesmo. Gilda Lopes Encarnação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p.212

170  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


Com base no texto e nos conhecimentos sobre a Ética c) Um adolescente que diz para seu pai que vai dormir na
do Discurso, é correto afirmar que a ética: casa de um amigo, mas, na verdade, vai para uma festa
a) abrange as ações isoladas das pessoas visando ade- com amigos, é um exemplo de racionalidade comunicativa.
quar-se às mudanças climáticas e às catástrofes naturais. d) Alguém que decide economizar dinheiro durante
b) corresponde à maneira como o homem deseja cons- vários anos a fim de fazer uma viagem para os Esta-
truir e realizar plenamente a sua existência no planeta. dos Unidos da América é um exemplo de racionalida-
de instrumental.
c) compreende a atitude conservacionista que o siste-
ma econômico adota em relação ao ambiente. e) Um grupo de amigos que se reúne para decidir de-
mocraticamente o que irão fazer com o dinheiro que
d) implica a instrumentalização dos recursos tecnoló-
ganharam em um bolão da Mega Sena é um exemplo
gicos em benefício da redução da poluição.
de racionalidade instrumental.
e) refere-se à atitude de retorno do homem à vida natu-
ral, observando as leis da natureza e sua regularidade. 8. (UEL) Leia o texto a seguir:
6. (UEL) Leia o texto a seguir. Na tradição liberal, a ênfase é posta no caráter impes-
soal das leis e na proteção das liberdades individuais,
O ser humano, no decorrer da sua existência na face da
de tal modo que o processo democrático é compelido
terra e graças à sua capacidade racional, tem desenvol-
pelos (e está a serviço dos) direitos pessoais que garan-
vido formas de explicação do que há no intuito de esta-
tem a cada indivíduo a liberdade de buscar sua própria
belecer um nexo de sentido entre os fenômenos e as ex-
realização. Na tradição republicana, a primazia é dada
periências por ele vivenciados. Essas vivências, à medida
ao processo democrático enquanto tal, entendido como
que são passíveis de expressão através das construções
uma deliberação coletiva que conduz os cidadãos à pro-
simbólicas contidas na linguagem, apresentam um cará-
cura do entendimento sobre o bem comum.
ter eminentemente social.
ARAÚJO, L. B. L. Moral, direito e política. “Sobre a Teoria do
(HANSEN, Gilvan. Modernidade, Utopia e Trabalho. Discurso de” Habermas. In: OLIVEIRA, M.; AGUIAR, O. A.;
Londrina: Edições Cefil, 1999. p.13 SAHD, L. F. N. de A. e S. (Orgs.). Filosofia Política Contemporânea.
Com base na obra Molhe Espiral, no texto e nos conhe- Petrópolis: Vozes, 2003. p. 214-235 (Adaptado)
cimentos sobre o pensamento de Habermas, assinale a Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso-
alternativa correta: fia política na teoria do discurso, é correto afirmar que
a) A linguagem, em razão de sua dimensão material, Habermas:
inviabiliza a (re)produção simbólica da sociedade. a) privilegia a ideia de Estado de direito em detrimen-
b) As construções simbólicas se valem do apreço ins- to de uma democracia participativa.
trumental e do valor mercantil. b) concede maior relevância à autonomia pública,
c) A importância do simbólico na sociedade decorre de opondo-se à autonomia privada.
sua adequação aos parâmetros funcionais e técnicos. c) ignora tanto a autonomia privada quanto a públi-
d) A dimensão simbólica da sociedade é inerente à ca, substituindo-as pela utilidade das normas morais.
forma como o homem assegura sentido à realidade. d) enfatiza a compreensão individualista e instrumen-
e) A forma de expressão dos elementos simbólicos na tal do papel do cidadão na lógica privada do mercado.
arena social deve atender a uma utilidade prática. e) concilia, na mesma base, direitos humanos e so-
7. (UEL) Leia o texto a seguir: berania popular, reconhecendo-os como distintos,
porém complementares.
Habermas distingue entre racionalidade instrumental
e racionalidade comunicativa. A racionalidade comuni- 9. (UEL) Leia o texto a seguir:
cativa ocorre quando os seres humanos recorrem à lin-
guagem com o intuito de alcançar o entendimento não Em Técnica e Ciência como “ideologia”, Habermas apre-
coagido sobre algo, por exemplo, decidir sobre a maneira senta uma reformulação do conceito weberiano de ra-
correta de agir (ação moral). A racionalidade instrumen- cionalização pela qual lança as bases conceptuais de sua
tal, por sua vez, ocorre quando os seres humanos utilizam teoria da sociedade. Neste sentido, postula a distinção
as coisas do mundo, ou até mesmo outras pessoas, como irredutível entre trabalho ou agir instrumental e intera-
meio para se alcançar um fim (raciocínio meio e fim). ção ou agir comunicativo, bem como a pertinência da
conexão dialética entre essas categorias, das quais deri-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
va a diferenciação entre o quadro institucional de uma
da ação comunicativa de Habermas, é correto afirmar:
sociedade e os subsistemas do agir racional com respei-
a) Contar uma mentira para outra pessoa buscando to a fins. Segundo Habermas, uma análise mais porme-
 VOLUME ÚNICO

obter algo que desejamos e que sabemos que não re- norizada da primeira parte da Ideologia Alemã revela
ceberíamos se disséssemos a verdade é um exemplo que “Marx não explicita efetivamente a conexão entre
de racionalidade comunicativa. interação e trabalho, mas sob o título nada específico da
b) Realizar um debate entre os alunos de turma da práxis social reduz um ao outro, a saber, a ação comuni-
faculdade buscando decidir democraticamente a me- cativa à instrumental”.
lhor maneira de arrecadar fundos para o baile de for- HABERMAS, J. Técnica e ciência como “ideologia”.
matura é um exemplo de racionalidade instrumental. Lisboa: Edições 70, 1994. p.41-42 (Adaptado)

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  171


Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa- Nessa perspectiva de Construção da Razão Comunicati-
mento de Habermas, é correto afirmar: va, Habermas concebe que a exigência primeira é:
a) O crescimento das forças produtivas e a eficiência a) a mudança do paradigma transitando da filosofia
administrativa conduzem à organização das relações da consciência para o paradigma da linguagem.
sociais baseadas na comunicação livre de quaisquer b) a realização da Époche, colocando toda percepção
formas de dominação. do mundo natural em suspenso.
b) A liberação do potencial emancipatório do desen- c) o resgate da ética cristã, pautada na justiça e igual-
volvimento da técnica e da ciência depende da pre- dade social.
venção das disfuncionalidades sistêmicas que entra- d) praticar a rivalidade de posições para vencer o ar-
vam a reprodução material da vida e suas respectivas gumento mais forte.
formas interativas. e) a disputa de teses contrárias para acirrar os conflitos.
c) O desenvolvimento da ciência e da técnica, enquanto
forças produtivas, permite estabelecer uma nova forma 12. (Enem) “Na regulação de matérias culturalmente de-
de legitimação que, por sua vez, nega as estruturas da licadas, como, por exemplo, a linguagem oficial, os cur-
ação instrumental, assimilando-as à ação comunicativa. rículos da educação pública, o status das Igrejas e das
comunidades religiosas, as normas do direito penal (por
d) Com base na irredutibilidade entre trabalho e in-
exemplo, quanto ao aborto), mas também em assuntos
teração, a luta pela emancipação diz respeito tanto menos chamativos, como, por exemplo, a posição da
ao agir comunicativo, contra as restrições impostas família e dos consórcios semelhantes ao matrimônio, a
pela dominação, quanto ao agir instrumental, contra aceitação de normas de segurança ou a delimitação das
as restrições materiais pela escassez econômica. esferas pública e privada — em tudo isso reflete-se ami-
e) A racionalização na dimensão da interação social úde apenas o autoentendimento ético-político de uma
submetida à racionalização na dimensão do trabalho cultura majoritária, dominante por motivos históricos.
na práxis social determina o caráter emancipatório do Por causa de tais regras, implicitamente repressivas, mes-
desenvolvimento das forças produtivas e do bem-es- mo dentro de uma comunidade republicana que garanta
tar da vida humana. formalmente a igualdade de direitos para todos, pode
eclodir um conflito cultural movido pelas minorias des-
10. (ENEM) O conceito de democracia, no pensamento prezadas contra a cultura da maioria.”
de Habermas, é construído a partir de uma dimensão
procedimental, calcada no discurso e na deliberação. HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de
teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.
A legitimidade democrática exige que o processo de
tomada de decisões políticas ocorra a partir de uma A reivindicação dos direitos culturais das minorias, como
ampla discussão pública, para somente então decidir. exposto por Habermas, encontra amparo nas democra-
Assim, o caráter deliberativo corresponde a um proces- cias contemporâneas, na medida em que se alcança:
so coletivo de ponderação e análise, permeado pelo
a) A secessão, pela qual a minoria discriminada obteria
discurso, que antecede a decisão.
a igualdade de direitos na condição da sua concentra-
VITALE, D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia
deliberativa. Cadernos do
CRH (UFBA), v. 19, 2006 (Adaptado)
ção espacial, num tipo de independência nacional.
b) A reunificação da sociedade que se encontra frag-
O conceito de democracia proposto por Jürgen Ha- mentada em grupos de diferentes comunidades étni-
bermas pode favorecer processos de inclusão social. cas, confissões religiosas e formas de vida, em torno
De acordo com o texto, é uma condição para que isso da coesão de uma cultura política nacional.
aconteça o(a): c) A coexistência das diferenças, considerando a pos-
a) participação direta periódica do cidadão. sibilidade de os discursos de autoentendimento se
b) debate livre e racional entre cidadãos e Estado. submeterem ao debate público, cientes de que esta-
c) interlocução entre os poderes governamentais. rão vinculados à coerção do melhor argumento.
d) eleição de lideranças políticas com mandatos tem- d) A autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida
porários. adulta, tenham condições de se libertar das tradições de
suas origens em nome da harmonia da política nacional.
e) controle do poder político por cidadãos mais es-
clarecidos. e) O desaparecimento de quaisquer limitações, tais
como linguagem política ou distintas convenções de
11. (IFRS) Habermas figura como um dos filósofos mais comportamento, para compor a arena política a ser
discutidos na atualidade através da Teoria da Ação Co- compartilhada.
municativa, que busca inspirar uma Nova Teoria Crítica.
 VOLUME ÚNICO

13. (UEL) Leia o texto a seguir:


Ele, enquanto herdeiro da Escola de Frankfurt, dialoga
com as perspectivas dialética e fenomenológica, bus- Desde o início dos anos oitenta, a ética discursiva de
cando fundamentar a Ética do Discurso na teoria do Jürgen Habermas teve como proposta reformular o
agir comunicativo. Nessa direção, Habermas nos remete programa universalista da moral kantiana com base em
para a necessidade de construir uma nova racionalida- uma teoria da competência comunicativa. Ao substituir
de, mais ampla e radicalmente crítica, que ele denomi- a regra do imperativo categórico pelo princípio de uma
na de racionalidade ético-comunicativa. argumentação moral racional, a ética do discurso perse-

172  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


gue a redefinição dos traços dentontológico, cognitivis-
ta e formalista do ponto de vista moral.
LANGLOIS, L. Discurso Moral e Discurso Ético segundo
Habermas: uma distinção fundada? In. ARAÚJO, L. B. L.;
BARBOSA, R. J. C. (org.) Filosofia Prática e Modernidade.
Rio de Janeiro: EDUERJ, 2003. p.53 (Adaptado)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Haber-


mas, apresente os princípios do cognitivismo e do for-
malismo que caracterizam a Ética do Discurso.

Gabarito
1. D 2. B 3. B 4. B 5. B

6. D 7. D 8. E 9. D 10. B

11. B 12. C

13. A ética do discurso, como o próprio Habermas afirma, alia-se


à razão prática kantiana. Em linhas gerais, a ética do discurso
implica as mesmas características da moral kantiana, a saber, o
cognitivismo, o formalismo e o universalismo. Destas caracterís-
ticas, a questão em tela cobra o cognitivismo e o formalismo.
O cognitivismo requer que as questões de ordem prático-moral
possam ser fundamentadas racionalmente. Isso implica que as
questões práticas podem ser justificadas, na medida em que o
agente apresente as razões pelas quais sua ação foi realizada em
uma ou outra direção. Defende-se que há, no âmbito da ação,
uma pretensão de validade normativa análoga à pretensão de
verdade requerida para os fatos objetivos.
O aspecto formal da ética do discurso indica que ela não forne-
ce conteúdos materiais nem normas concretas, mas apenas um
critério formal para a averiguação, via discurso, daquelas normas
e regras que podem encontrar aceitabilidade entre os possíveis
concernidos, ou seja, aqueles que suportarão o peso de normas
acordadas. Nesse aspecto, valendo-se do discurso como condi-
ção de tematização da validade normativa, a ética do discurso se
ampara em regras discursivas estabelecidas universalmente para
validar o consenso fático alcançado em relação a determinada
norma. Assim, o consenso fático alcançado tem sua validade es-
tendida aos concernidos.  VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  173


A FILOSOFIA O pensador surge, ainda jovem, posicionando-se contrário
ao fascismo, fato que o levaria à prisão por cerca de 20
E O PODER meses. Bobbio era um socialista-liberal, defendendo princí-
pios liberais na política e princípios socialistas nas questões

CH
sociais, portanto, um defensor da liberdade e da igualdade.
Bobbio analisa a política tentando romper todo e qualquer
COMPETÊNCIA(s) autoritarismo e falta de democracia para se pensar o ho-
1, 2, 3, 4 e 5 mem e o ambiente onde este vive.

HABILIDADE(s) O conceito de democracia para o filósofo consiste em um


AULA 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
sistema de regras que permitem a instauração e o desen-

26
13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 volvimento da convivência pacífica. Tendo como base con-
solidada os direitos humanos e a paz, de modo que são
assegurados juridicamente todos os direitos desse homem.
Quando isso não ocorre, não existe democracia, e conse-
quentemente não há espaços para que se possa resolver os
conflitos sociais de uma forma pacífica. A democracia seria,
portanto, um regime de governo em que todos são livres
porque são iguais.

1. Introdução
O campo filosófico teve ampla abertura para discutir diver-
sos temas. Tendo como referência as transformações da so-
ciedade e o dinamismo, os estudos filosóficos também pre-
cisaram se adequar à pós-modernidade, não perdendo
o seu caráter questionador, mas apontando novos pontos multimídia: vídeo
de análises e novas problemáticas. Com isso surgem novos Fonte: Youtube
atores nesse campo, como o italiano Norberto Bobbio e o Norberto Bobbio
francês Gérard Lebrun.
Entrevista com o ex-ministro das Relações Exteriores e
atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do
2. Norberto Bobbio (1909-2004) Estado de São Paulo, Celso Lafer, sobre o livro que ele es-
creveu sobre a vida e a obra do filósofo italiano Norberto.
O filósofo italiano Norberto Bobbio conseguiu unir a sua
teoria com a sua ação cotidiana. Tendo uma postura críti-
ca, Bobbio terá atrelado aos seus atos a política, tal qual 2.1. A política
Aristóteles menciona na Grécia Antiga, numa associação
do zoon politikon. Vivenciou o autoritarismo, a ditadura co- Segundo Bobbio a política, entendida como prática hu-
munista e a bipolaridade partidária na Europa. mana, conduz ao poder. Esse poder estaria interligado às
ideias de posse dos meios para que um homem tenha van-
tagem perante o outro. Entretanto, é preciso pensar em sua
legitimação, seja no âmbito familiar (como o poder do pai
ou da mãe), na esfera governamental (como no autoritaris-
mo de um rei ou um déspota) ou pelo poder passado pela
própria população, que elege um governante temporário.
Isso possibilita que existam várias formas de poder: o poder
 VOLUME ÚNICO

econômico, ideológico e político, ou seja, da riqueza, do


saber e da força.
Segundo Bobbio, essas três formas de poder funcionam
conjuntamente na instituição e manutenção de socieda-
des desiguais organizadas entre dominantes (superiores) e
Retrato de Norberto Bobbio dominados (inferiores): segundo o poder político, divididos

174  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


entre fortes e fracos; segundo o poder econômico, divididos exaustão, mas para dialogar com alguns pensadores clássi-
entre ricos e pobres; segundo o poder ideológico, divididos cos, como Thomas Hobbes, Jean Bodin, Nicolau Maquiavel
entre sábios e ignorantes. e Michel Foucault.
A política não tem uma única finalidade ou um único aspec-
to, podem variar conforme as metas de cada grupo social.
Entretanto, aqui não é um relativismo simplório, mas uma
observação que pode ter inúmeras variações conforme o
tempo histórico. Porém, um fim mínimo à essa política é o
uso da força para assegurar a integridade nacional; mas não
pode ter como finalidade o poder pelo poder.
Para Bobbio existe uma relação entre política e moral, pois
ambas estão ligadas a práxis, ou seja, a ação humana. E
devido a isso, provocam crises no âmbito particular e no
âmbito coletivo, pois nem sempre o que é certo para um
lado é exatamente correto para o outro. Posso compreen-
der isso como ações morais que são apolíticas e ações po- Retrato de Gérard Lebrun.
líticas que podem ser imorais. Segundo Lebrun, existem e subsistem diversas for-
Para o filósofo, a política seria a razão do Estado, enquanto mas de poder, que notamos durante o nosso cotidiano.
a moral seria a razão do indivíduo. De modo que é preciso Tendo com isso diferentes proporções conforme a nossa
pensar numa autonomia da ação política que não deve ser análise; porém, essas relações coexistem simultaneamente.
direcionada pela razão individual, com o intuito de realmen-
te refletir o coletivo, isto é, pensar no conceito de Estado.
Aquilo que “Estado” e “política” têm em comum (e é in-
clusive a razão de sua intercambialidade) é a referência
ao fenômeno poder. Do grego Kratos, “força”, “potên-
cia”, e arché, “autoridade” nascem os nomes das an-
tigas formas de governo, “aristocracia”, “democracia”,
“oclocracia”, “monarquia”, “oligarquia” e todas as
palavras que gradativamente foram sendo forjadas para multimídia: livro
indicar formas de poder, “fisiocracia”, “burocracia”,
“partidocracia”, “poliarquia”, “exarquia” etc. Não há
teoria política que não parta de alguma maneira, dire- O que é poder - LEBRUN, Gérard. São Paulo:
ta ou indiretamente, de uma definição de “poder” e de Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 2004.
uma análise do fenômeno do poder. Por longa tradição o "Em suma, a força é a canalização da potência, é a sua
Estado é definido como o portador da summa potestas:
determinação. E é graças a ela que se pode definir a
e a análise do Estado se resolve quase totalmente no
estudo dos diversos poderes que competem ao sobera- potência na ordem das relações sociais ou, mais espe-
no. A teoria do Estado apoia-se sobre a teoria dos três cificamente, políticas".
poderes (o legislativo, o executivo, o judiciário) e das re-
lações entre eles. Para ir a um texto canônico dos nossos
Em sua obra O que é poder, Lebrun apresenta uma discus-
dias, Poder e Sociedade de Lasswell e Kaplan [1952], o
processo político é ali definido como “a formação, a dis- são a respeito do poder e do Estado desde os primórdios
tribuição e o exercício do poder”. Se a teoria do Estado da civilização ocidental até a história contemporânea. Sua
pode ser considerada como uma parte da teoria da po- obra é dividida em cinco partes: "A apresentação do
lítica, a teoria política pode ser por sua vez considerada monstro", "O Leviatã contra a cidade grega", "O
como uma parte da teoria do poder. 'Leviatã' e o estado burguês", "A comédia liberal"
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade; por e "O último chefe".
uma teoria geral da política. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987, 18ª reimpressão, pág. 76-77. Apresentação do monstro: o conceito do termo "po-
 VOLUME ÚNICO

lítica" carrega consigo a força, canalizando a potên-


cia de uma ação. Com o passar do tempo, os homens se
3. Gérard Lebrun (1930-1999) acostumaram a obedecer a um líder, a tal ponto que "ser
O filósofo francês Gérard Lebrun desenvolve o seu pensa- cidadão = ser obediente", num adestramento foucaultia-
mento em volta do poder. Em sua maior obra, intitulada O no, que condiciona os cidadãos a seguirem normas e con-
que é o poder, o autor analisa esse conceito, mas não à dutas de obediência. Essa construção lógica consolidada

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  175


por Aristóteles na Política, em que os limites do cidadão se Um exemplo dessa relação de poder pode ser observado
dão dentro da cidade, ordenado pelo seu governante; que quando o indivíduo veste a camisa de um partido ou de um
depois seria ratificada por Hobbes, no Leviatã. No mundo movimento e sai para uma manifestação; porém, esse mes-
grego foi criado o conceito de cidadania e de cuidado da mo sujeito não sabe as reais reivindicações da manifestação.
vida pública, algo que seria alterado na Idade Moderna O Último Chefe: o individualismo contemporâneo
com o Estado Moderno, no qual o soberano teria a au- pode levar a passar o poder para os representantes legais,
toridade sobre seus súditos obedientes às suas funções que não se importaram com esses cidadãos. A problemáti-
dentro do Estado. ca apontada pelo autor é que o poder atual está revestido
No mundo grego, em especial no contexto da formação por forças econômicas, sociais e políticas que direcionam os
das cidades-estados (polis), a vida pública é a da comuni- cidadãos de um grupo a seguirem ideologias que apontam
dade dos iguais – o poder não se dá pela dominação, pela diversos “nortes” para esse ser, mas afastam esse indivíduo
imposição, mas pela legitimidade do poder constitutivo da de qualquer participação efetivamente política.
sociedade. Isso seria modificado no Estado Moderno, des- Um exemplo dessa relação de poder denota no indivíduo
crito e analisado por Thomas Hobbes. uma anulação plena nesse ser, a tal ponto que o sujeito
O Leviatã contra a cidade grega: A formação pensada não vê nenhuma possibilidade de interferirem em sua reali-
por Hobbes direciona que o poder do Soberano é superior aos dade. Isso ocorre porque o sujeito acredita que o seu papel
poderes existentes dos seus súditos. O poder grego estava não existe, devido às forças governamentais que tiraram
associado ao cidadão, que queria viver bem numa qualquer tipo de relevância individual na sociedade.
sociedade, pois vivia a cidade; entretanto, o homem
moderno não participa da cidade, só vive nela.
O direito remete à utilidade das coisas que quero. Desse
modo, a soberania é o único pilar de sustentação do corpo
político, visto que os homens se inclinam a seguir ordens,
a seguir a razão, mesmo que seja a razão do mais forte.
Um exemplo dessa relação pode ser notado na submissão multimídia: vídeo
completa do súdito diante das ações do governante atual.
Fonte: Youtube
O "Leviatã" e o estado burguês: as mudanças que a O que é Poder – Parte 1
modernidade fez com os cidadãos transfigurou o Estado
Apresentação da obra de Gérard Lebrun e suas discus-
burguês, que modificou as relações sociais e políticas, asso- sões sobre o poder.
ciando-as com as relações econômicas. Um dos principais
autores que debateram os princípios liberais e a sua rela-
ção com o Estado foi o intelectual John Locke. Com efeito, o que é a política? "A atividade social que
se propõe a garantir pela força, fundada geralmente no
Separando esse cidadão de uma participação efetiva do Es- direito, a segurança externa e a concórdia interna de uma
tado, que é guiado por instituições. Diante disso, o indivíduo unidade política particular..." (Julien Freund, Qu'est-ce
que la Politique?, p. 177). Não é dogmaticamente que
se insere no “estado civil” e se prende às amarras impostas
eu proponho esta definição (outras são possíveis), mas
pelas autoridades. Sendo que essa prisão é revestida de uma simplesmente para ressaltar que, sem o uso da noção da
liberdade “natural” para que esse ser permaneça anestesia- força, a definição seria visivelmente defeituosa. Se, numa
do e repetindo as ações condicionadas. democracia, um partido tem peso político, é porque tem
força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um
O exemplo típico desse poder, o sujeito acomodado em sindicato tem peso político, é porque tem força para defla-
associar todas as relações sociais sendo relações econômi- grar uma greve. Assim, força não significa necessariamen-
cas, se vê afastado de qualquer interferência política, acaba te a posse de meios violentos de coerção, mas de meios
condicionado a repetir as suas ações cotidianas. E quando que me permitam influir no comportamento de outra pes-
soa. A força não é sempre (ou melhor; é rarissimamente)
faz algo, é meramente uma troca de favores.
 VOLUME ÚNICO

um revólver apontado para alguém; pode ser o charme


A Comédia Liberal: o liberalismo fomentou as liberdades de um ser amado, quando me extorque alguma decisão
civis, inserida numa esfera econômica. A crítica apontada (uma relação amorosa é, antes de mais nada, uma relação
de forças; cf. as Ligações Perigosas, de Laclos). Em suma, a
pelo autor é a ilusão construída pelo liberalismo, que
força é a canalização da potência, é a sua determinação.
ilude o cidadão de um Estado que ele não participa, só é E é graças a ela que se pode definir a potência na ordem
usado por este, sendo manipulado. das relações sociais ou, mais especificamente, políticas.

176  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


"Potência (Match) significa toda oportunidade de impor a sua própria vontade, no interior de uma relação social, até mesmo
contra resistências, pouco importando em que repouse tal oportunidade." Não conheço nenhuma definição do poder, enquanto
fator sociopolítico, que seja superior a esta fórmula de Max Weber.
LEBRUN, Gérard. O que é poder. São Paulo: Editora Brasiliense, primeira edição eBook, 2017.

DIAGRAMA DE IDEIAS

BOBBIO LEBRUN

A POLÍTICA ESTÁ
ATRELADA AOS O QUE É O PODER?
NOSSOS ATOS

POLÍTICA ESTÁ A FORÇA É A CANALIZAÇÃO


RELACIONADA DA POTÊNCIA. POTÊNCIA É
AO PODER A IMPOSIÇÃO DE VONTADES
SOBRE UMA RELAÇÃO
SOCIAL. O PODER REALIZA A
HÁ TRÊS FORMAS OBEDIÊNCIA DOS MEMBROS
FUNDAMENTAIS DA COLETIVIDADE
DE PODER: PODER
ECONÔMICO, PODER
POLÍTICO, PODER
IDEOLÓGICO AS RELAÇÕES POLÍTICAS
FORAM ALTERADAS DURANTE
A HISTÓRIA. DESTACAM-SE A
A HUMANIDADE CIDADANIA NA ANTIGUIDADE
PRECISA PENSAR E GREGA, O ESTADO MODERNO
AGIR PARA O ABSOLUTISTA, O ESTADO
COLETIVO: LIBERAL BURGUÊS
A DEMOCRACIA
PRECISA SER
DEFENDIDA HÁ DESAFIOS PARA A
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
COMO CRIAR A EFETIVA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
DOS CIDADÃOS?
 VOLUME ÚNICO

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  177


Aplicando para Aprender (A.P.A.) d) Contradições e graves questões atuais, como definidas
pelo filósofo político Norberto Bobbio, são obstáculos na
1. (Uece 2020) O trecho que se apresenta a seguir trata construção de sociedades humanas e democráticas, que
da passagem da democracia política – garantidora de tem de positivo o reconhecimento dos direitos humanos.
direitos políticos fundamentais – para a democracia so- e) O pensamento dominante na maior parte da socie-
cial, no mundo contemporâneo: dade atual acerca do reconhecimento dos direitos hu-
manos, mesmo com contradições e graves questões,
“O processo de alargamento da democracia na socieda- é sinal da positividade da busca da construção de so-
de contemporânea não ocorre apenas através da inte- ciedades humanas e democráticas, pelo pensamento
gração da democracia representativa com a democracia do filósofo político Norberto Bobbio.
direta, mas também e, sobretudo, através da extensão da
democratização com a passagem da democracia na esfe- 3. (Unespar) O debate em torno da esquerda e da direita,
ra política, isto é, na esfera em que o indivíduo é conside- no século XX, tem sido no sentido de caracterizar dois
rado como cidadão, para a democracia na esfera social, blocos políticos, ou ainda, diferenciar ideologias parti-
onde o indivíduo é considerado na multiplicidade de seu dárias, bem como posições políticas, sobretudo, no que
status, na extensão das formas de poder ascendente”. corresponde à dicotomia entre correntes reacionárias e
BOBBIO, N. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral
revolucionárias. Entretanto, existe um certo reducionis-
da política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Adaptado. mo político quando se pensa política sobre essa divisão
de direita e de esquerda. Com isso, pode se dizer que,
Sobre esse processo histórico, é correto afirmar que historicamente, tem-se a divisão ideológica de dois blo-
a) a construção do estado democrático moderno foi cos políticos: o de direita e o de esquerda. Por direita,
capaz de assegurar direitos inalienáveis aos cidadãos, pode-se entender grupos políticos que sustentam discur-
mas falhou em ampliar tais direitos ao longo dos sé- sos conservadores, mas isso é, sobretudo no século XX,
culos XIX e XX. um reducionismo político. Norberto Bobbio, no texto que
b) os estados democráticos estabeleceram, logo em se intitula de Direita e Esquerda: razões e significados de
seu início, formas bem amplas de participação dos in- uma distinção política, faz a seguinte observação:
divíduos, sendo este um diferencial importante iden-
tificado, por exemplo, na América do Norte. "O homem de direita é aquele que se preocupa, acima de
c) a conquista de direitos sociais foi gradual e se ve- tudo, em salvaguardar a tradição, o homem de esquerda,
rificou à medida que os modelos formais de partici- ao contrário, é aquele que pretende, acima de qualquer
pação foram sendo ampliados com o surgimento de outra coisa, libertar seus semelhantes das cadeias a eles
novas formas de participação. impostas pelos privilégios de raça, casta, classe etc".
d) O reconhecimento da existência de direitos huma- BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de
nos só se estabeleceu a partir da superação do mero uma distinção política. São Paulo: Editora Unesp, 1995, p.97
exercício dos direitos políticos, com a ampliação da
democracia na contemporaneidade. I. Direita, segundo Norberto Bobbio, corresponde a uma
visão humanista que, dentre outras coisas, tem uma
2. (PUC-Campinas) Segundo o filósofo político Norberto
profunda influência do pensamento marxista, a saber,
Bobbio (1992), no meio das contradições e das graves
visão humanista e revolucionária.
questões que atravessam o nosso tempo, a preocupa-
ção pelo reconhecimento dos direitos humanos consti- II. Esquerda representa, segundo Norberto Bobbio, uma
tui um sinal positivo na busca da construção de socie- visão conservadora, ou seja, tem por base a defesa das
dades humanas e democráticas. tradições e dos bons costumes.
Vera Maria Ferrão Candau. Direito à educação, diversidade
III. Direita e Esquerda representam, no pensamento de
e educação em direitos humanos. In: Educação & Sociedade: Norberto Bobbio, disputas ideológicas que ultrapassam
Revista de Ciências da Educação/CEDES − v. 33, n. 120, os limites do reducionismo político e, acima de tudo, as-
jul.− set. 2012 − São Paulo: Cortez; Campinas: CEDES seguram uma maneira de se pensar a ciência política,a
A redação que, mantendo a correção e a clareza origi- partir de uma realidade, que, desde os gregos aos dias
nais, respeita o conteúdo da frase acima é: atuais, é orquestrada de forma plena em todo o ocidente.
De acordo com os enunciados apresentados acima, as-
a) Sob a perspectiva do filósofo político Norberto Bob-
sinale a alternativa correta:
bio, entre contradições e graves questões de nosso
tempo, a grande atenção dada ao reconhecimento dos a) Apenas a alternativa I está correta.
direitos humanos representa algo construtivo na busca b) Apenas a alternativa II está correta.
da edificação de sociedades humanas e democráticas. c) Apenas a alternativa III está correta.
b) É do nosso tempo a questão do reconhecimento dos d) Todas as alternativas, I, II e III, estão corretas.
direitos humanos, sinal que a construção de socieda-
e) Nenhuma das alternativas está correta.
 VOLUME ÚNICO

des humanas e democráticas, das quais tratam o filóso-


fo Norberto Bobbio, está sendo buscada positivamente 4. (Unespar) Ainda de acordo com a discussão entre Di-
ainda que com contradições e graves problemas. reita e Esquerda, a partir da discussão apresentada por
c) Em tempo de contradições e graves questões, a pre- Norberto Bobbio, no texto que se intitula de Direita e
ocupação pela preservação dos direitos humanos é Esquerda: razões e significados de uma distinção políti-
uma que o filósofo político Norberto Bobbio aponta
ca, assinale a alternativa correta. Para tanto, considere
para sinalizar a positiva construção de sociedades hu-
a seguinte assertiva de Norberto Bobbio:
manas e democráticas.

178  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


“Sempre me considerei um homem de esquerda, e por- III. A longevidade do Estado é determinada pela própria
tanto sempre atribuí ao termo esquerda uma conotação definição conceitual do que se entende por Estado.
positiva, mesmo agora em que a esquerda é cada vez IV. Quanto mais restrita a definição de Estado menor a
mais hostilizada, e ao termo direita, uma conotação ne- longevidade do Estado e vice-versa.
gativa, mesmo hoje em que a direita está sendo ampla- Assinale a alternativa correta:
mente revalorizada.”
a) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de b) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
uma distinção política. São Paulo: Editora Unesp, 1995, p.140
c) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
a) Direita é, segundo Norberto Bobbio, algo negativo, d) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
pois, do ponto de vista político, dentre muitas coisas, e) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
busca, por meio do ideário marxista, revolucionar as es-
truturas sociais e políticas da sociedade contemporânea. 7. (UEL) De acordo com Norberto Bobbio, “ao lado do
b) Esquerda é, segundo Norberto Bobbio, algo po- problema do fundamento do poder, a doutrina clássi-
sitivo, pois, do ponto de vista político, busca a con- ca do Estado sempre se ocupou também do proble-
servação da ordem e da estrutura social, a partir das ma dos limites do poder, problema que geralmente é
tradições e dos bons costumes. apresentado como problema das relações entre direi-
c) Direita e Esquerda são, segundo Norberto Bobbio, to e poder (ou direito e Estado)”.
construções ideológicas que, na sociedade contem- BOBBIO, N. Estado, Governo e Sociedade: para uma teoria
porânea, sobretudo depois da queda do Muro de geral da política. Tradução de Marco Aurélio Nogueira.

Berlim, não retratam a realidade política mas, espe- Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p. 93-94
cificamente, posições ideológicas que se caracterizam Os limites do poder no Estado democrático de direito
como conservadoras e revolucionárias. moderno são estabelecidos:
d) Norberto Bobbio se define como um pensador da I. Pela autonomia constitucional entre os poderes judi-
direita e, por isso, atribui à direita uma conotação ciário, legislativo e executivo.
positiva, mesmo sabendo que, na sociedade contem- II. Por normas legais, definidas por processos legítimos,
porânea, sobretudo no momento atual, há profundas que regulam e estabelecem direitos e deveres tanto para
hostilizações para com a noção de direita. governantes quanto para os indivíduos na sociedade.
e) Não se pode falar de uma distinção entre direita e III. Por normas legais que subordinam os poderes judi-
esquerda, segundo Norberto Bobbio, pois tais concei- ciário e legislativo ao poder executivo e asseguram a
tos são frutos da Revolução Francesa e serviram, exclu- prevalência dos interesses do partido majoritário.
sivamente,para responder àquele momento histórico. IV. Por normas legais que assegurem que todos os ci-
dadãos tenham garantias individuais mínimas, como o
5. (UFPR) Segundo Norberto Bobbio (Estado, Governo e
direito à defesa, direito a ir e vir e direito a manifestar
sociedade), o problema da relação entre direito e poder
suas opiniões.
define os limites do exercício de poder pelo Estado. Isto
é, define que “leis” coagem o soberano na imposição A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
de suas decisões sobre o povo. Para Bobbio, historica- a) I e III d) I, II e IV
mente, alguns “limites internos” ao exercício do poder b) II e IV e) I, III e IV
estatal foram constituídos. c) I, II e III
Neste sentido, considere as seguintes afirmativas:
8. (ENEM) Um dos teóricos da democracia moderna,
I. A relação dos Estados soberanos entre si (guerra, im-
Hans Kelsen, considera elemento essencial da democra-
perialismo, etc.).
II. A imposição de leis naturais. cia real (não da democracia ideal, que não existe em
III. A divisão de poderes. lugar algum) o método da seleção dos líderes, ou seja,
IV. A constitucionalização de leis fundamentais. a eleição. Exemplar, neste sentido, é a afirmação de um
juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos, por ocasião
Assinale a alternativa correta: de uma eleição de 1902: "A cabine eleitoral é o templo
a) Somente a afirmativa III é verdadeira. das instituições americanas, onde cada um de nós é um
b) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. sacerdote, ao qual é confiada a guarda da arca da alian-
c) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. ça e cada um oficia do seu próprio altar".
d) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. BOBBIO, N. Teoria geral da política.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. Rio de Janeiro: EIsevier, 2000 (adaptado)
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6. (UFPR) Segundo Norberto Bobbio (Estado, governo e As metáforas utilizadas no texto referem-se a uma con-
sociedade), o “problema em determinar a origem e o apa- cepção de democracia fundamentada no(a)
recimento do Estado...” implica nas seguintes condições: a) justificação teísta do direito.
I. A longevidade histórica do Estado é solucionável em b) rigidez da hierarquia de classe.
termos empíricos e sociológicos. c) ênfase formalista na administração.
II. A longevidade histórica do Estado não é solucionável d) protagonismo do Executivo no poder.
em termos empíricos e sociológicos. e) centralidade do indivíduo na sociedade.

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias  179


9. (UEMA) Do exposto pelo filósofo Gérard Lebrun, po- vocabulário que se ajuste ao máximo às "dificuldades"
de-se afirmar que, do ponto de vista político, o conceito (no sentido cartesiano), munir-se de um repertório de to-
de poder e de força significa poi, em suma, possuir uma retórica que lhe permitirá a
a) obter consenso das pessoas em torno de uma ideia. todo instante denunciar a "ingenuidade" do "cientista"
b) insuflar os indivíduos na realização de suas ações. ou a "ideologia" de quem não pensa como ele.
c) delimitar o comportamento de um grupo social. G. Lebrun
d) exigir o comando das relações sindicais.
Ao pensar o ensino de filosofia a partir dessa perspecti-
e) conseguir subsídios junto aos partidos políticos.
va, Favaretto destaca que
10. (UFPR-2019) Escreve Gerard Lebrun: “Com efeito, o a) todo aluno está apto a filosofar, já que se trata,
que é política? A atividade social que se propõe a ga- fundamentalmente, de um exercício de retórica.
rantir pela força, fundada geralmente no direito, a se- b) a vivência dos alunos e o debate sobre suas ide-
gurança externa e a concórdia interna de uma unidade ologias constituem o ponto de partida de qualquer
política particular (conforme descreve Julien Freund em projeto atual de ensino de filosofia.
Qu’estce que la Politique). Não é dogmaticamente que
c) os alunos, através da leitura e da interpretação fi-
eu proponho esta definição (outras são possíveis), mas
losófica, educam-se para o domínio desta linguagem.
simplesmente para ressaltar que, sem o uso da noção de
força, a definição seria visivelmente defeituosa. Se, numa d) perdemos por completo a noção da história da
democracia, um partido tem peso político, é porque tem filosofia como uma evolução na busca da verdade,
força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um restando-nos apenas a abordagem temática.
sindicato tem um peso político é porque tem força para e) a filosofia deve progressivamente voltar-se para o
deflagrar uma greve. Assim, força não significa necessa- desenvolvimento das competências da retórica e da
riamente a posse de meios violentos de coerção, mas de expressão lingüística.
meios que permitam influir no comportamento de outra 12. “Cheguei tarde à cultura militante. Pertenço a uma
pessoa. A força não é sempre (ou melhor, é raríssimamen- geração que saiu do fascismo, que não deixava nenhu-
te) um revólver apontado para alguém”. ma escolha entre a apologia e o silêncio...”
(LEBRUN, Gerard. O que é poder. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 04.) (Fonte: BOBBIO, Norberto. O Tempo da Memória: de
Senectude e Outros Escritos Autobiográficos. Trad. Daniela
Qual é a relação entre força e política expressa pelo au- Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 91)
tor nesse excerto?
A partir do depoimento acima apresentado, explique
a) Não há relação direta entre força e política, pois nenhu-
como nos regimes totalitários se estabelecem as rela-
ma se apresenta como componente essencial que permita
ções entre:
explicar as diferentes formas de exercício do poder.
b) A política e a força anulam-se enquanto categorias a) O Estado e a organização da Sociedade Civil.
que pretendem explicar as diferentes noções de poder b) O Estado e os Meios de Comunicação de Massa.
hoje existentes. O poder, por sua vez, é formado ex-
clusivamente pela força, seja militar ou civil, pois ele
é manifestação simbólica das estruturas de repressão. Gabarito
c) Significa afirmar que as estruturas de poder instru-
mentalizam a força e a política como forma de manter 1. C 2. A 3. E 4. C 5. C
um determinado modelo de governança. A relação entre
elas se dá nessa condição: força e política só existem, de 6. B 7. D 8. E 9. A 10. D
fato, quando as estruturas de poder, ou seja, o governo, 11. C
considera tais estruturas necessárias para a manutenção
de uma determinada ordem institucional repressiva. 12.
d) Força e política não são conceitos excludentes ou a) Sob tal aspecto, podemos ver que o totalitarismo
contrários. Para que a política seja exercida, é necessária implanta a anulação das liberdades democráticas para
uma capacidade de mobilização, consentimento e cons- que, dessa forma, nenhum tipo de oposição tenha voz
trução de hegemonia por quem deseja agir politicamen- na esfera pública. O cidadão passa a ser controlado não
te. Assim, a força implica o poder de que se dispõe na apenas pelo aspecto universal e genérico das leis, mas
construção de maiorias políticas. também é controlado em suas liberdades individuais
e) A relação entre política e força se expressa na des- através do policiamento e a delação daqueles que incor-
tituição do poder e na construção das resistências nos poram os ditamos do Estado Totalitário.
movimentos sociais e nos sindicatos. A política e a b) O lugar dos meios de comunicação no regime totalitá-
força física são instrumentos usualmente presentes
 VOLUME ÚNICO

rio pode ser visto sobre duas perspectivas. Por um lado,


na militância partidária como forma de questionar o o totalitarismo implementa uma forte censura interessa-
exercício do poder. da em evitar qualquer tipo de manifestação crítica que
11. Nunca acreditei que um estudante pudesse orien- se oponha ao regime. Por outro, utiliza desses mesmos
tar-se para a filosofia porque tivesse sede da verdade: a meios de comunicação para promover uma imagem po-
fórmula é vazia. É de outra coisa que o jovem tem neces- sitiva do governo e alicerçar o apoio das maiorias através
sidade: falar uma língua de segurança, instalar-se num de textos, imagens e sons de grande impacto.

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