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Unidade I

HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO

Prof. Dr. Vladimir Fernandes


Conteúdo da primeira aula

Unidade I
 A consciência mítica
 Teogonia (mito) versus logos (razão)
 O surgimento da filosofia
 Os primeiros filósofos
 Tales e Pitágoras
 Heráclito e Parmênides
 Características do pensar filosófico
A consciência mítica

 O que você entende por mito?


 Será que os mitos são um conjunto de histórias desconexas?
 Fantasias sem conexão com a realidade?
 Conjunto caótico de superstições?
 O mito é uma primeira forma de explicar a realidade.
 Um exemplo da mitologia grega.
O mito de Cora

Personagens:
 Deméter
 Deusa da vegetação, das colheitas, mãe de Cora.
 Cora
 Adolescente, filha de Deméter.
 Hades
 Deus do subterrâneo, do reino dos mortos.
 Hermes
 Mensageiro dos deuses.
 Zeus
 Deus dos deuses.
Busto de Deméter. Cópia romana de
original grego, século IV a.C.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Deméter
Busto de Zeus, British Museum
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Zeus

Busto de Zeus, British Museum


Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Zeus
“Hades”. Detalhe de pintura
Fonte: http://arturjotaef-
numancia.blogspot.com.br/2012/12/misterios-
revelados-da-suastica-mistica_9131.html
“Cérbero”. Aquarela de William Blake (1757-1827)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cérbero
Cora/Perséfone ou Proserpina, de Dante Gabriel Rossetti, 1874
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Proserpina_(Rossetti,_Tate)
O mito de Cora

 Rapto de Cora.
“O rapto de Proserpina”, 1622. Gian Lorenzo Bernini
Fonte: http://julirossi.blogspot.com.br/2012/12/a-
escultura-o-rapto-de-proserpina-e-uma.html
O rapto de Proserpina”,
Detalhe,1622. Gian Lorenzo
Bernini
onte:
ttp://julirossi.blogspot.com.br/2
12/12/a-escultura-o-rapto-de-
roserpina-e-uma.html
O mito de Cora

 Rapto de Cora.

 Atitude de Deméter.

 Ida de Hermes ao Hades.

 Impasse.

 Proposta de Zeus.
“O retorno de Perséfone”.
Frederic Leighton (1891)
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pe
rséfone
O mito de Cora

 Significado do mito.

 Primavera, verão, Cora fica com sua mãe, Deméter.

 Outono, inverno, chama-se Perséfone e fica no Hades.

 O mito é uma verdade que não exige provas.

 “O mito é o nada que é tudo” (Fernando Pessoa).


A consciência mítica

 O ser humano é um ser que se esquece.

 Os mitos e os ritos servem para lembrar o que não deve ser


esquecido.

 A força do mito está na sua repetição.

 Várias versões para um mesmo mito.


A consciência mítica

 Mythos: “palavra”, “o que se diz”, “contar”, “narrar”.

 Na Grécia antiga quem narra os mitos?

 Todos, mas em especial os poetas.

 Possuem autoridade, são escolhidos dos deuses.


São cultores da memória.

 São inspirados pelas Musas (palavras cantadas),


filhas de Zeus com Memória.
Interatividade

É correto afirmar que o mito de Cora:

a) Busca explicar um fenômeno da natureza.


b) Não tem relação com a realidade.
c) Forma um conjunto caótico de superstições.
d) Busca explicar um fenômeno filosófico.
e) É apenas uma história inventada por um poeta antigo.
Resposta

É correto afirmar que o mito de Cora:

a) Busca explicar um fenômeno da natureza.


b) Não tem relação com a realidade.
c) Forma um conjunto caótico de superstições.
d) Busca explicar um fenômeno filosófico.
e) É apenas uma história inventada por um poeta antigo.
Formas principais da narrativa mítica

 Fazendo uma genealogia: encontrando o pai e a mãe das coisas


existentes (Ex.: a “Teogonia”, de Hesíodo).

 Encontrando uma rivalidade ou aliança entre os deuses (Ex.: a


“Ilíada e Odisseia”, de Homero).

 Encontrando recompensas e castigos dados pelos deuses (Ex.:


Prometeu e o roubo do fogo).

 São cosmogonias e teogonias.


Origem da Guerra de Troia

 Houve uma festa no Monte Pélion.


 A deusa Éris (Discórdia) não foi convidada.
 Lançou uma maçã de ouro com um bilhete: “para a mais bela”.
 Grande disputa pela maçã de ouro.
 Por fim, três deusas disputam a maçã: Hera, Atena e Afrodite.
 Perguntam para Zeus que passa a decisão para Páris de Troia.
Monte Olimpo – Grécia
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Olimpo
Éris, representada em uma pintura ateniense
(520 a.C.)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/Éris
O julgamento de Páris

As deusas aparecem para Páris e oferecem vantagens caso


escolhida:

 Hera lhe oferece o domínio de toda a Ásia e o trono de Troia.

 Atena o tornaria o guerreiro mais sábio e valente.

 Afrodite lhe promete a mulher mais bela da face da Terra.

 Quem Páris escolhe?


Hera e Zeus Júpiter e Juno, por Carraci, séc. XVI
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Juno
Atena. Academia de Atenas,
Grécia
Fonte: foto de Vladimir
Fernandes, 2012
“Vênus” (Afrodite para os gregos). Alain Darles
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:VenusdArles8.JP
G?uselang=pt-br
Páris, Afrodite, Atena e Hera
“O julgamento de Páris” (1808) Francois Xavier Fabre
Fonte: http://rceliamendonca.files.wordpress.com/2013/08/francois-xavier-fabre-the-judgement-of-paris-
1808.jpg/
A Guerra de Troia

 Páris escolhe Afrodite.


 A mulher mais bela é Helena.
 É casada com Menelau, rei de Esparta.
 Páris e Helena fogem para Troia.
 Vários reis gregos se unem para a Guerra de Troia.
 A Guerra de Troia dura dez anos. É retratada na “Ilíada”, de
Homero.
 A “Odisseia”, de Homero, retrata o retorno de Odisseu para Ítaca.
“Helena de Troia”
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_
(mitologia)
“O rapto de Helena”. Pintura de Guido Reni
Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Helen_of_Troy
Funções do mito

 O mito nasce do desejo de entender o mundo para afugentar o


medo e a insegurança.
 Serve para dar sentido ao mundo e, dessa forma, tranquilizar o
ser humano.
 É uma verdade intuída que não precisa de provas para ser
aceita.
 O mito primitivo é coletivo, afetivo e dogmático.
 Funções: acomodar e tranquilizar, fixar modelos, dar sentido ao
mundo, explicar.
Interatividade

De acordo com o conteúdo estudado, o mito pode ser definido


como:

a) Conjunto de histórias desconexas.


b) Fantasias criadas por uma mente perturbada e sem qualquer
relação com a realidade.
c) Conhecimento objetivo e científico.
d) Uma forma de atribuir sentido ao mundo.
e) Filosofia produzida pelos filósofos para educar a população.
Resposta

De acordo com o conteúdo estudado, o mito pode ser definido


como:

a) Conjunto de histórias desconexas.


b) Fantasias criadas por uma mente perturbada e sem qualquer
relação com a realidade.
c) Conhecimento objetivo e científico.
d) Uma forma de atribuir sentido ao mundo.
e) Filosofia produzida pelos filósofos para educar a população.
O que é filosofia?

 O que você entende por filosofia?


Para muitos, a filosofia é:
 “Um jogo inútil e estéril de palavras”.
 “Algo muito difícil e restrito a poucos”.
 “Uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal
qual”.
A palavra filosofia vem do grego e, segundo a tradição, foi
cunhada por Pitágoras:
 philia (φιλία) = amizade, amor fraterno.
 sophia (σοφία) = sabedoria.
 Portanto, filosofia (φιλοσοφια) é a “procura amorosa
pela sabedoria”.
Origem do filosofar

 Platão: a filosofia nasce do thaumátzein (admiração, espanto).

 Em relação a que ou quais fatores?

 Fenômenos do mundo e da vida humana.

 Quais fatores possibilitaram o surgimento da filosofia na


Grécia, por volta do século VI a.C.?

 A filosofia surge de forma repentina ou gradativa?


Da teogonia (mito) ao logos (razão): o nascimento da
filosofia

Fatores que possibilitaram o surgimento da filosofia:


As viagens marítimas:
 Produzem um desencantamento, desmitificação do mundo.

A invenção da moeda:
 Como se faz comércio sem moeda?
 A moeda é um artifício racional, convenção humana.
 Implica em abstração e generalização.
“Ulisses e as Sereias”, de Herbert James
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/JunoUlisses_e_as_Sereias%E2%80%9D,_de_Herbert_James
Da teogonia (mito) ao logos (razão): o nascimento da
filosofia

A invenção da escrita:
 O mito se mantém pela tradição oral.
 A escrita fixa palavras e ideias.
 Possibilita análise e reflexão.

A invenção da política:
 Os gregos inventaram a política.
 Cidade em grego é pólis.
 Político é aquele que cuida das coisas da pólis, das coisas da
cidade, dos interesses coletivos.
Da teogonia (mito) ao logos (razão): o nascimento da
filosofia

 Daí que para Vernant: a filosofia é filha da pólis. É filha da cidade


grega.
 Os problemas de interesse comum são discutidos na ágora, na
praça pública.
 Cidadãos passam a tecer seu próprio destino.
 O saber passa a ser objeto de discussão e deixa de ser sagrado.
 Todos esses fatores possibilitam o surgimento do pensamento
racional filosófico.
Filosofia

“A filosofia”, afresco de Raffaello Sanzio


Fonte: httpregioesabstratas.blogspot.com.br200806filosofia-raffaello-sanzio.html
Características da filosofia

Segundo Dermeval Saviani: “A filosofia é uma reflexão radical,


rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade
apresenta”.

 Radical: do latim radix: “raiz”, ir até a raiz do problema, ir a fundo.

 Rigorosa: ter rigor, metodologia, argumentação lógica.

 De conjunto: globalizante, abrangente contextualização dos


problemas.
Necessidade da filosofia

 A existência de problemas é inerente à vida humana.

 Existir pressupõe enfrentar questões vitais que precisam ser


resolvidas.

 Essas questões são constantemente renovadas pela própria


dinâmica contraditória da existência.

 Tanto no âmbito individual quanto no coletivo.

 Tal condição garante a necessidade do filosofar.


Os primeiros filósofos

 Viveram por volta de VI a.C.


 Fragmentos e comentários de outros filósofos.
 Ficaram conhecidos como pré-socráticos.
 Busca de uma explicação racional para o existente.
 Qual a origem de tudo o que existe?
 Busca da arché (elemento primordial) que dá origem às coisas.
 Por se preocuparem com o conhecimento do mundo natural
(physis), os filósofos pré-socráticos também foram denominados
fisiólogos.
Interatividade

De acordo com Dermeval Saviani, o que é um problema?

a) Qualquer coisa desconhecida.


b) Qualquer coisa já conhecida.
c) Toda proposição interrogativa.
d) Algo que não se sabe, mas que se necessita saber.
e) Algo que desperta curiosidade, mesmo que não implique uma
questão vital.
Resposta

De acordo com Dermeval Saviani, o que é um problema?

a) Qualquer coisa desconhecida.


b) Qualquer coisa já conhecida.
c) Toda proposição interrogativa.
d) Algo que não se sabe, mas que se necessita saber.
e) Algo que desperta curiosidade, mesmo que não implique uma
questão vital.
Tales de Mileto: primeiro filósofo

Tales de Mileto
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Talete_de_Milet
u.jpg?uselang=pt-br
Tales de Mileto: primeiro filósofo

 A queda no buraco.

 Previsão de um eclipse que ocorreu em 28/05/585 a.C.

 Qual a origem de todas as coisas?

 “A água é o elemento primordial de todas as coisas”.

 “Tudo está cheio de deuses”.


Pitágoras de Samos: o número como arkhé

“Pitágoras”
Fonte:
http://tourvirtuale.museicapitolini.org/#en
Pitágoras de Samos: o número como arkhé

 Não escreveu nenhum livro e seus ensinamentos eram orais.


 Sua vida é envolta em mistérios e lendas.
 Foi o primeiro a se definir como filósofo, como alguém que busca
a verdade.
 Sua filosofia une conhecimentos de matemática com a prática de
vida ascética.
Os pitagóricos acreditavam:
 O número é o princípio primordial de todas as coisas.
 Todas as coisas têm como base relações numéricas.
Pitágoras de Samos: o número como arkhé

 A harmonia musical tem como base relações matemáticas.


 Há uma harmonia oculta no universo.
 Acreditava na imortalidade e na transmigração da alma.
 Pitágoras em outra encarnação foi Aitalides e recebeu de
Hermes o dom de lembrar de todas as suas vidas (Cf. Laértios,
2008).
 Aconselhava que quando seus discípulos chegassem em casa
refletissem: “Que erro cometi? Que fiz? Que deveres não
cumpri?” (Cf. Laértios, 2008).
Heráclito de Éfeso: o “obscuro”

“Heráclito de Éfeso”
Fonte: httpcommons.wikimedia.orgwikiFileHeraklit.jpeg
Heráclito de Éfeso: o “obscuro”

 Filósofo do devir: “tudo flui” (em grego, panta rei).


 “Todas as coisas estão em movimento”.
 “Nunca entramos no mesmo rio duas vezes”.
 O fogo representa a eterna instabilidade e mudança.
 O vir a ser de todas as coisas é determinado pelo conflito dos
contrários.
 “O conhecimento sensível é enganador”.
 A imobilidade é uma ilusão dos sentidos.
Parmênides de Eleia: filósofo poeta

“Parmênides de Eleia”
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Parmenides.jpg
Parmênides de Eleia: filósofo poeta

 Revelação da verdade por uma deusa.

 Sonhou que fez uma viagem em uma carruagem alada.

Chegou até o templo da deusa que lhe revelou:

 Há dois caminhos.

 O caminho da verdade (alétheia) e da opinião (doxa).


Parmênides de Eleia: filósofo poeta

 A verdade se obtém pelo pensamento (noûs).


 Crítica da filosofia de Heráclito.
 Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo.
 Defende a imobilidade do ser.
 “O ser é uno e imutável”.
 A mobilidade é uma ilusão dos sentidos.
Heráclito x Parmênides

 A verdade (alétheia) está no pensamento e a opinião (doxa) está


nos sentidos.

 O argumento de que “os sentidos enganam” era usado para


tentar provar teses contrárias.

Heráclito: tese do movimento


x
Parmênides: tese da imobilidade
Interatividade

Sobre os primeiros filósofos, pode-se afirmar:

a) Ficaram conhecidos como pós-socráticos.


b) Suas principais obras foram preservadas até hoje.
c) Tinham como preocupação principal a ética.
d) Buscavam uma explicação racional para o existente.
e) Elegeram a água como o elemento primordial de todas as
coisas.
Resposta

Sobre os primeiros filósofos, pode-se afirmar:

a) Ficaram conhecidos como pós-socráticos.


b) Suas principais obras foram preservadas até hoje.
c) Tinham como preocupação principal a ética.
d) Buscavam uma explicação racional para o existente.
e) Elegeram a água como o elemento primordial de todas as
coisas.
ATÉ A PRÓXIMA!

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