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FILOFOS PRÉ- SOCRATICOS

.1 CIDADE GREGA E FILOSOFIA: O DECLÍNIO DOS MITOS.

Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce na Grécia entre os séculos


VI e VII a.C., promovendo a passagem do saber mítico (alegórico) ao
pensamento racional (logos). Essa passagem ocorreu, no entanto durante longo
processo histórico, sem um rompimento brusco e imediato com as formas de
conhecimento utilizadas no passado.
De fato, durante muito tempo os primeiros filósofos gregos compartilharam de
crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que
caracterizaria a filosofia. Essa transição do mito à razão "significa precisamente
que já havia, de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado, na realidade
filosófica ainda está incluído o poder do lendário”. Conforme analisa o historiador
Pierre Grimal:
O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à
palavra que demonstra. Logos e mito são as duas metades da linguagem, duas
funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo uma
argumentação, pretende convencer. O logos é verdadeiro, no caso de ser justo
e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secreta (sofisma).
Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não dele,
conforme a própria vontade, mediante um ato de fé caso pareça "belo ou
verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em
torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por
sua natureza, é aparentado a arte, em todas as suas criações. (GRIMAL, Pierre.
A mitologia grega, p. 8-9).
1.1.1 Mitologia grega

Os gregos cultuavam uma série de deuses (Zeus, Hera, Ares, Atena etc), além
de heróis e semideuses (Teseu, Hércules, Perseu etc). Relatando a vida desses
deuses e heróis e seu envolvimento com os homens, os gregos criaram uma rica
mitologia, isto é um conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico,
fornecem explicações para a realidade universal. Integra a mitologia grega
grande número de relatos maravilhosos e de lendas que inspiraram e ainda
inspiram diversas obras artísticas ocidentais.
O mito de Édipo, rico em significados, é um exemplo disso. Na Antiguidade, ele
foi utilizado pelo dramaturgo Sófocles (496-406 a. C.), na tragédia Édipo rei, para
uma reflexão sobre as questões da culpa e da responsabilidade dos homens
perante as normas e tabus (comportamento que, dentro dos costumes de uma
comunidade, é considerado nocivo e perigoso, sendo por isso proibido a seus
membros). Damos em seguida um resumo desse relato mítico.
1.1.2 A saga de Édipo

Laio, rei da cidade de Tebas e casado com a bela Jocasta, foi advertido pelo o
oráculo (resposta que os deuses davam a quem os consultavam) de que não
poderia gerar filhos. Se esse aviso fosse desobedecido, seria morto pelo próprio
filho e muitas outras desgraças surgiriam.
A princípio, Laio não acreditou no oráculo e teve um filho com Jocasta. Quando
a criança nasceu, porém arrependido e com medo da profecia, ordenou que o
recém-nascido fosse abandonado numa montanha, com os tornozelos furados,
amarrados por uma corda. O edema provocado pela ferida é a origem do nome
de Édipo, que significa "pés inchados". Mas o menino não morreu. Alguns
pastores o encontraram e o levaram ao rei de Corinto, Polibo, que o criou como
se fosse seu filho legítimo. Já adulto, Édipo ficou sabendo que era filho adotivo.
Surpreso, viajou em busca do oráculo de Delfos para conhecer o mistério de seu
destino. O oráculo revelou que seu destino era matar o próprio pai e se casar
com a própria mãe. Espantado com essa profecia, Édipo decidiu deixar Corinto
e Rumar em direção a Tebas. No decorrer da viagem encontrou-se com Laio. De
forma arrogante o rei ordenou-lhe que deixasse o caminho livre para sua
passagem. Édipo desobedeceu às ordens do desconhecido. Explodiu então uma
luta entre ambos, na qual Édipo matou Laio.
Sem saber quem tinha matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para
Tebas. No caminho deparou-se com a esfinge, um monstro metade leão, metade
mulher, que lançava enigmas aos viajantes e devorava quem não os decifrasse.
A esfinge atormentava os moradores de Tebas.
O enigma proposto pela Esfinge era o seguinte: "Qual o animal que de manhã
tem quatro pés, duas ao meio-dia e três à tarde?" Édipo respondeu: "é o homem.
Pois na manhã da vida (infância) engatinha com pés e mãos; ao meio-dia (na
fase adulta) que anda sobre 2 pés; e à tarde (velhice) necessitada das duas
pernas e do apoio de uma bengala".
Furiosa por ver o enigma resolvido, a esfinge se matou. O povo de Tebas saudou
Édipo como seu novo rei. Deram-lhe como esposa Jocasta, a viúva de Laio.
Ignorando tudo, Édipo casou-se com a própria mãe. Uma violenta peste abateu-
se então sobre a cidade. Consultado, o oráculo respondeu que a peste não
findaria até que o assassino de Laio fosse castigado. Ao longo das investigações
para descobrir o criminoso, a verdade foi esclarecida. Inconformado com o
destino, Édipo segou-se e Jocasta enforcou-se. Édipo deixou Tebas, partindo
para um exílio na cidade de Colona.
1.1.3 O complexo de Édipo

Como todo mito, a saga de Édipo apresentaria, em linguagem simbólica e


criativa, a descrição de uma realidade universal da alma humana, conforme
analisou nos tempos modernos o psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-
1939), fundador da psicanálise. Elaborando uma re-interpretação psicológica
desse mito grego, Freud o transformou em elemento fundamental da teoria
psicanalítica, sob o nome de complexo de Édipo. O complexo de Édipo pode ser
entendido como:
(...) conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança
experimenta relativamente aos pais. Sob a sua chamada forma positiva, o
complexo apresenta-se como na história de Édipo rei: desejo da morte do rival,
que é a personagem do mesmo sexo, e desejo sexual pela personagem do sexo
oposto. Sob sua forma negativa, apresenta-se inversamente: amor pelo
progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na
realidade, estas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada
forma completa do complexo de Édipo. Segundo Freud, o complexo de Édipo é
vivido no seu período máximo entre os três e cinco anos (...). O complexo de
Édipo desempenha um papel fundamental na estruturação da personalidade e
na orientação do desejo humano" (LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.B. Vocabulário
da psicanálise, p. 116).

1.2 O EXERCÍCIO DA RAZÃO NA PÓLIS GREGA

O momento histórico da Grécia antiga em que se afirmar a utilização do logos (a


razão) para resolver os problemas da vida está vinculado ao surgimento da pólis,
cidade-estado grega, conforme a análise do historiador francês contemporâneo
Jean Pierre Vernant. A pólis foi uma nova forma de organização social e política
desenvolvida entre os séculos VIII e VI a.C. Nela, eram os cidadãos que dirigiam
os destinos da cidade. Como criação dos cidadãos, e não dos deuses, a pólis
estava organizada e podia ser explicada de forma racional, isto é, de acordo com
a razão.
A prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos fez
com que, com o tempo, o raciocínio bem formulado e convincente, se tornasse
o modo adotado para se pensar sobre todas as coisas, não só as questões
políticas. Segundo o historiador Jean Pierre Vernant, o nascimento da filosofia
"relaciona-se de maneira direta com o universo espiritual que nos pareceu definir
a ordem da cidade e se caracteriza precisamente por (...) uma racionalização da
vida social". Para Vernant, a razão grega é filha da cidade.
2 PRÉ-SOCRÁTICOS: OS PRIMEIROS FILÓSOFOS GREGOS

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é


conhecida como período pré-socrático, isto é, anterior a Sócrates, filósofo que
estudaremos no próximo capítulo. O período pré-socrático abrange o conjunto
das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até
o aparecimento de Sócrates (468-399 a.C.).

2.1 OS PENSADORES DE MILETO: A BUSCA DA SUBSTÂNCIA


PRIMORDIAL

Quando afirmamos que a filosofia nasceu na Grécia, devemos tornar essa


afirmação mais precisa. Afinal, nunca houve, na Antiguidade, um estado grego
unificado. O que chamamos de Grécia nada mais é que o conjunto de muitas
cidades -Estado gregas (pólis), independentes umas das outras, e muitas vezes
rivais.
No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada
na Jônia, litoral ocidente da Ásia menor. Caracterizada por múltiplas influências
culturais e por um rico comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros
pensadores da história ocidental a quem atribuímos a denominação filósofos.
São eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
2.1.1 Tales de Mileto

"Tudo é água" (Tales)

Tales (623-546 a.C., aproximadamente) costuma ser considerado o primeiro


pensador grego, "o pai da filosofia". Na condição de filósofo, buscou a construção
do pensamento racional em diversos campos do conhecimento que, hoje, não
são considerados especialidades filosóficas. Foi astrônomo e chegou a prever o
eclipse total do sol ocorrido em 28 de maio de 585 a.C. Na área da geometria
demonstrou, por exemplo, que todos os ângulos inscritos no meio círculo são
retos e que em todo o triângulo a soma de seus ângulos internos é de 180°.
Destaca-se, entre os objetivos desses primeiros filósofos, a construção de uma
cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo)
que substituísse a antiga cosmogonia (explicação sobre a origem do universo
baseado nos mitos).
Por isso, tentaram descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio
substancial e ou substância primordial (a arché, em grego) existente em todos
os seres materiais. Isto é, pretendiam encontrar a "matéria-prima" de que são
feitas todas as coisas.
Procurando fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo,
Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as
coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.
Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acrescidas de suas
próprias observações da vida animal e vegetal, concluiu que a água é a
substância primordial, a origem única de todas as coisas. Para ele somente água
permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos,
apesar de assumir diferentes estados sólido, líquido e gasoso.
2.1.2 Anaximandro de Mileto

"Nem água nem algum dos elementos, mas alguma substância diferente,
limitada, é que dela nascem os céus e os mundos neles contidos" (Anaximandro)

Anaximandro (610-547 a.C.) procurou aprofundar as concepções de Tales sobre


a origem única de todas as coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no
mundo natural a água, o fogo, o ar etc., ele acreditava não ser possível eleger
uma única substância material como o princípio primordial de todos os seres, a
arché.
Para Anaximandro, esse princípio é algo que transcende os limites do
observável, ou seja, não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por
isso, denominou-o ápeiron, termo grego que significa "o indeterminado", "o
infinito". O ápeiron seria a "massa geradora" dos seres, contendo em si todos os
elementos contrários.

2.1.3 Anaxímenes de Mileto

"E assim como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, da mesma maneira o
vento envolve todo o mundo" (Anaxímenes)

Anaxímenes (588-524 a.C.) admitia que a origem de todas as coisas é


indeterminada. Entretanto, recusava-se a atribuir-lhe o caráter oculto de
elementos situado fora dos limites da observação e da experiência sensível.
Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e as de
Anaximandro, concluiu ser o ar o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar
representa um elemento "invisível e imponderável, quase inobservável e, no
entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que "anima"
o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração".
2.1.4 Pitágoras de Samos: o culto da matemática

"Todas as coisas são números" (Pitágoras)

Pitágoras (570-490 a.C., aproximadamente) nasceu na ilha de Samos, na costa


jônica, não distante de Mileto. Por volta de 530 a. C., sofreu perseguição política
por causa de suas ideias, sendo obrigado a deixar sua terra de origem. Instalou-
se, então em Crotona, sul da Itália, região conhecida como magna Grécia.
Em Crotona, fundou uma poderosa sociedade de caráter filosófico e religioso e
de acentuada ligação com as questões políticas. Depois de exercer, por longos
anos, considerável influência política na região, a sociedade pitagórica foi
dispensada por opositores, e o próprio Pitágoras foi expulso de Crotona.
Para Pitágoras, a essência de todas as coisas reside nos números, os quais
representam a ordem e a harmonia. Segundo o historiador de filosofia norte-
americano Thomas Giles, "Pela primeira vez se introduzia um aspecto mais
formal na explicação da realidade, isto é, a ordem e a constância". Assim, a
essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática na qual derivariam
problemas como: finito e infinito, par em par, unidade e multiplicidade, reta e
curva, círculo e quadrado etc.
Pitágoras dizia que no "fundo de todas as coisas", a diferença entre os seres
consiste, essencialmente, em uma questão de números (limite e ordem das
coisas).
As contribuições da escola pitagórica podem ser encontradas nos campos da
matemática (lembre-se do célebre teorema de Pitágoras), da música e da
astronomia. A essas contribuições junta-se uma série de crenças místicas
relativas à imortalidade da alma, à reencarnação dos pecadores, à prescrição de
rígidas condutas morais e etc.
2.1.5 Heráclito de Éfeso: o movimento perpétuo do mundo

"Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. O ser não é mais que vir-a-
ser" (Heráclito).
Nascido em Éfeso, cidade da região jônica, Heráclito é considerado um dos mais
importantes filósofos pré-socráticos. A data de seu nascimento e a de sua morte
não são conhecidas. Há referências históricas de que, por volta do ano 500 a.C.,
estava em plena "flor da idade".
Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento
dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente
transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista (de
movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de
forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, a justiça e a injustiça,
o racional e o irracional, a alegria e a tristeza etc. Assim, afirmava que "a luta
(guerra) é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas". É pela luta das forças
opostas que o mundo se modifica e evolui.
Atribui-se a Heráclito frases marcantes de sentido simbólico, utilizadas para
ilustrar sua concepção sobre o fluxo e a movimentação das coisas, o constante
vir-a-ser, a eterna mudança, também chamada devir: "não podemos entrar duas
vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos
duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição".
Assim, Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sobre a forma de
fogo, como chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos
seres.

3 OS PENSADORES ELEÁTICOS: REFLEXÕES SOBRE O SER E O


CONHECER

As diversas cosmologias que acabamos de estudar despertam, na época, uma


nova questão. Porque tanta divergência? Por que tantas opiniões contrárias?
Heráclito de Éfeso, como vimos, acreditava que a luta dos contrários formava a
unidade do mundo. Já para os pensadores da cidade de Eléia, a partir de seu
principal expoente, Parmênides, os contrários jamais poderiam coexistir. Os dois
pensadores representam, portanto, polos extremos do pensamento filosófico.
Foi a partir dessa discussão sobre os contrários, sobre o ser e o não-ser, que se
iniciaram a lógica (os estudos sobre o conhecer) e a ontologia (os estudos sobre
o ser) e suas relações recíprocas, conforme veremos a seguir.
3.1 PARMÊNIDES DE ELÉIA

"O ente é; pois é ser e nada não é" (Parmênides)

Nascido em Eléia, na magna Grécia, litoral oeste da península itálica,


Parmênides (510-470 a.C., aproximadamente) tornou-se célebre por ter feito
oposição a Heráclito. Platão o chamava de grande Parmênides.
Parmênides defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da
realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da
crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a "via
de Heráclito".
Segundo Parmênides, o caminho da essência nos leva a concluir que na
realidade:
A) existe o ser, e não é concebível sua não existência;
B) o ser é; o não ser não é.
Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro filósofo a formular os
princípios lógicos de identidade e de não contradição, desenvolvidos depois por
Aristóteles. Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o filósofo eleático conclui
que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa seria a via da verdade pura, a
via a ser buscada pela ciência e pela filosofia. Por outro lado, quando a realidade
é pensada pelo caminho da aparência, tudo se confunde em função do
movimento, da pluralidade e do devir (vir-a-ser).
Assim, na concepção de Parmênides, Heráclito teria percorrido o caminho das
aparências ilusórias. Essa via precisava ser evitada para não termos de concluir
que a "o ser e o não ser são e não são a mesma coisa". Parmênides teria
descoberto, assim, os atributos do ser puro: o ser ideal do plano lógico. E negou-
se a reconhecer como verdadeiros os testemunhos ilusórios dos sentidos e a
constatar a existência do ser no mundo: o ser que se exprime de diversos modos,
os seres múltiplos e imutáveis.
Mas o filósofo sabia que é no mundo da ilusão, das aparências e das sensações
que os homens vivem seu cotidiano. Então, "o mundo da ilusão não é uma ilusão
de mundo", mas uma manifestação da realidade e que cabe à razão interpretar,
e explicar e compreender, até que alcance a essência dessa realidade. Não
podemos confiar nas aparências, nas incoerências, na visão enganadora. Pela
razão, devemos buscar a essência, a coerência e a verdade. "o esforço de toda
a sabedoria é, pois, para Parmênides, sistematizar isso, tornar pensável o caos,
introduzir uma ordem nele.
3.2 ZENÃO DE ELÉIA

"O que se move sempre está no mesmo agora" (Zenão)

Discípulo de Parmênides, Zenão de Eléia (488-430 a.C.) elaborou argumentos


para defender a doutrina de seu mestre. Com eles pretendia demonstrar que a
própria noção de movimento era inviável e contraditória. Desses argumentos,
talvez o mais célebre seja o paradoxo de Zenão, que se refere à corrida de
Aquiles com uma tartaruga. Dizia Zenão:
A) se, na corrida, a tartaruga saísse à frente de Aquiles, para alcançá-la ele
precisaria percorrer uma distância superior à metade da distância inicial que os
separava no começo da competição.
B) entretanto, como a tartaruga continuaria a se locomover, essa distância, por
menor que fosse teria se ampliado. Aquiles deveria percorrer, então, mais da
metade dessa nova distância.
C) a tartaruga, contudo, continuaria se movendo, e a tarefa de Aquiles se
repetiria ao infinito, pois o espaço pode ser dividido em infinitos pontos.
Na observação que fazemos do mundo, através dos nossos sentidos, é evidente
que os argumentos de Zenão não correspondem à realidade. Entretanto, esses
argumentos demonstram as dificuldades pelas quais passou o pensamento
racional para compreender conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito.

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