Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Referência Bibliográfica.
OLIVEIRA. José Sílvio de Oliveira. Filosofia. In: OLIVEIRA. José Sílvio de Oliveira
A Paideia na antiguidade grega: a formação omnilateral em Platão e Aristóteles. 403f.
26/02/2015. Tese de Doutorado. História, Filosofia e Sociologia da Educação. Programa
de Pós Graduação em Educação. Centro de Ciências Humanas. Universidade Federal
São Carlos: PPGE/UFSCar, 2015. p 351 – 369.
4.2. A Filosofia
[...] qualquer que seja seu ponto de apoio primeiro, exige e suscita um
reconhecimento de si mesma, que se deve admitir como homogêneo a
ela. O operador „filosofar‟, de modo semelhante aos operadores
idempotentes da álgebra, por mais que seja reiterado, não produz nada
diverso de si mesmo.4
se trata de preferência, mas de entender cada filosofia ao seu tempo e em seu contexto,
trata-se de visões de mundo. Entendida desse modo a filosofia só pode ser
compreendida na diferença, na pluralidade, sua identidade é sempre diferença. A
pergunta o que é filosofia se constituiu pela pluralidade de definições.
A filosofia da contemporaneidade parece não mais falar ao homem de
seu tempo, é uma filosofia separada da política, ou seja, não surgiu na e da pólis. Nosso
tempo é um tempo carregado de contradições, parece que o discurso da filosofia se faz
instrumento de domínio da natureza sempre beneficiando alguns poucos privilegiados
ou alguns grupos determinados. Percorrer o caminho da filosofia grega clássica tem sido
para muitos apenas uma tarefa sem sentido, a identidade helênica parece cada vez mais
escorregar ladeira abaixo e esvaziar-se de referência. Se o Renascimento marca
indelevelmente o diálogo continuo com a cultura greco-latina, a modernidade, ao
contrário, marca necessariamente o início de um processo gradual de abandono a esse
passado. Numa sociedade concebida e marcada pelo mundo da imagem, do som, do
imediato, do sensível, da utilidade prática, da efemeridade e rapidez das informações, do
extremismo do mercado financeiro, da instrumentalização do ensino e da educação, a
filosofia talvez pouco tenha a dizer. O nosso tempo é caracterizado pelas contradições
dos discursos. De acordo com as palavras de Gilles-Gaston, aos olhos de muitos,
filosofar é fugir da realidade, ou seja, é sair do plano da vida concreta. Portanto,
filosofar sobre a filosofia é sem dúvida fugir ainda mais da vida, é, em suma, estar
condenado a percorrer indefinidamente um círculo que encerra em nós mesmos. Nesse
sentido, responde Gilles- Gaston aos não adeptos à filosofia:
Portanto, perante nossa escolha, não faz sentido querer entendê-la sem
adentrar em seu contexto originário como expressou Gilles-Gaston e o próprio
Heidegger. Numa outra margem, quando perguntamos, buscamos, questionamos o
7
GRANGER, Gilles-Gaston. Por um conhecimento filosófico. Tradução Constança Marcondes Cesar e
Lucy Moreira Cesar. Campinas, São Paulo: Papirus, 1989. p.9.
354
8
COÊLHO, Ildeu Moreira. „Filosofia e educação‟ In: PEIXOTO, José Adão. (Org.). Filosofia, educação
e cidadania. (Org.) Campinas: Alínea, 2001. p.27-28.
9
COELHO, Ildeu Moreira. Graduação: Rumos e perspectivas. Avaliação (Campinas), Sorocaba, v. 03, n.
03, set. 1998. Disponível em < http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
40771998000400002&lng=pt&nrm=iso. >Acesso em: setembro. 2013. p.11
10
RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São
Paulo: Cortez, 2001. p.44.
11
PLATÃO. O Político. 2ª ed. Direção de Diogo Pires Aurélio. Tradução do grego introdução e notas de
Carmem Isabel Soares. Rio de Janeiro: Temas e Debates Círculo-Leitores, 2014. 269 d.
355
12
Citação extraída das notas. In: PLATÃO. O Político. 2ª ed. Direção de Diogo Pires Aurélio. Tradução
do grego introdução e notas de Carmem Isabel Soares. Rio de Janeiro: Temas e Debates Círculo-Leitores,
2014. p.196.
13
Determinação da História da Filosofia: 1- Representações Habituais acerca da História da Filosofia. In:
HEGEL, Friedrich. Introdução às Lições sobre a história da filosofia. Tradução, Introdução e notas de
José Barata-Moura. Porto: Porto Editora, 1995. (Coleção Filosofia Textos Porto Lisboa). p.45-98. p.54
14
COÊLHO, Ildeu Moreira. „Filosofia e educação‟ In: PEIXOTO, José Adão. (Org.). Filosofia, educação
e cidadania. (Org.) Campinas: Alínea, 2001. p.41.
356
15
acabada, permanecendo sempre aberta, ainda por ser terminada.” Filosofia é uma
contínua busca do conhecimento, é uma interrogação permanente que o próprio ser
humano faz de si mesmo, e de seu mundo. Todos os seres humanos têm essa ânsia, essa
vontade, esse desejo de conhecer. A filosofia é uma contínua busca da verdade, não se
volta para o prático e o imediato e não traz respostas prontas para as questões e as
angústias humanas, as demais ciências estudam o que é quantitativo, observável,
mensurável e pode ser calculado. Fazer filosofia é pensar o não-pensado, é desmascarar
o aparente, o óbvio, é desnudar o ocultado. Sua natureza não é abstração sem sentido,
mas, se traduz pelo desejo da busca de coisas reais, e não de meras fantasias ou de
romances astrais como dizem os poetas. Em conformidade com os estudos de Gilles-
Gaston Granger, diferentemente da filosofia, as ciências da natureza objetivam construir
modelos abstratos dos fenômenos, [...] Elas os representam „em espaços‟ cada vez mais
distanciados do vivido como estruturas abstratas dos elementos que são possíveis
„calcular. ‟16
Em relação ao objeto da investigação filosófica, Dermeval Saviani, num
pequenino texto, Em Aberto, no primeiro volume do ano de 1990, esclarece com
maestria: “[…] não é predeterminado. Com efeito, seu objeto é o próprio pensamento,
ou então a realidade em geral enquanto suscetível, ou melhor, enquanto necessita ser
pensada seja em si mesma na sua generalidade, seja nas suas manifestações
particulares.”17 Ainda de acordo com suas palavras, o pensamento, enquanto objeto da
filosofia, só faz sentido porque todos os homens pensam, assim, a filosofia é de
interesse de todos, uma vez que todos nós pensamos, em certo sentido, todos nós somos
filósofos. Eis a nossa terceira ideia que faz a filosofia ser o que é. Acordamos com
Demerval Saviani, também com Antônio Gramsci, e adiantamos, a filosofia não tem um
objeto próprio, a não ser que se tenha uma preocupação de dar a essa palavra um
alcance essencialmente rigoroso. A realidade por sua vez é lócus de pensamento do
homem. Esse está nela enraizado, estando situado, não escapa à reflexão. Não tem
como não pensar, fora disso, tem que morrer ou dormir, e, portanto, assim, ela se faz
objeto da filosofia. Diferentemente de uma reflexão sem aprofundamento, sem
15
COÊLHO, Ildeu Moreira. „Filosofia e educação‟ In: PEIXOTO, José Adão. (Org.). Filosofia, educação
e cidadania. (Org.) Campinas: Alínea, 2001. p.41.
16
GRANGER, Gilles-Gaston. Por um conhecimento filosófico. Tradução Constança Marcondes Cesar e
Lucy Moreira Cesar. Campinas, São Paulo: Papirus, 1989. p.13.
17
SAVIANI, Demerval. Contribuiçoes da filosofia para a educação. In: EM ABERTO. Contribuições das
Ciências Humanas para a Educação - A Filosofia. Orgão de Divulgação Técnica do Ministério da
Educação. Brasília, ano 9, nº 45 - jan-mar. p.1-72, 1990. p.3
357
18
COÊLHO, Ildeu Moreira. „Filosofia e educação‟ In: PEIXOTO, José Adão. (Org.). Filosofia, educação
e cidadania. (Org.) Campinas: Alínea, 2001. p.42.
19
DELEUSE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é filosofia. Trad. Bento Prado Junior e Alberto Munõz.
Rio de Janeiro: Editora 34, 2004. p.259.
20
DELEUSE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é filosofia. Trad. Bento Prado Junior e Alberto Munõz.
Rio de Janeiro: Editora 34, 2004. p.13
358
Para esses dois autores, permanece absoluto pela maneira que opõe a ele
e com os outros, é relativo porque é um pedaço que não se corresponde. Portanto,
conceito deve dizer do acontecimento e não é a coisa em si. A filosofia é a arte de
formar, de inventar, de fabricar conceitos, ela traça, inventa e cria os conceitos. A
filosofia leva em conta a dinâmica da reflexão, da originalidade, da auto-reflexão. Como
afirmamos anteriormente, se a filosofia varia com o tempo, também o filósofo a
redefine no exercício de sua criação conceitual.
A Filosofia começa quando não tomamos mais as coisas como certas,
quando questionamos como as coisas são e estão. Ao aproximar-se da filosofia devemos
o fazer com amor e atenção, entre os anos de 1816 ou 1817, quando Friedrich Hegel foi
nomeado Professor da Universidade de Heidelberg, exatamente no início de sua
carreira, ele expressa: em termos de filosofia, “[…] esta ciência quase emudecida pode
elevar de novo a sua voz e pode esperar que o mundo, que se lhe tornara surdo, lhe volte
a prestar ouvidos.” 22 Quando não mais colocamos nada como certeza a filosofia nasce.
Já estamos consumidos de ler e ver essa citação de Aristóteles, sem, no entanto,
compreendê-la em sua totalidade: “Todos os seres humanos naturalmente desejam o
conhecimento.23” Sua origem é exatamente revelada quando admiramos –
maravilhamos. Estar na filosofia é sempre estar diante do novo. Esse maravilhamento é
apenas onde a filosofia começa e não a causa e fim da filosofia. É pelo maravilhamento
que se começa a filosofar. Notadamente, assevera o Filósofo: “É por força de seu
maravilhamento que os seres humanos começam agora a filosofar e, originalmente,
21
DELEUSE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é filosofia. Trad. Bento Prado Junior e Alberto Munõz.
Rio de Janeiro: Editora 34, 2004. p.33.
22
Introdução do curso de 1816-1817 (Heidelberg) In: HEGEL, Friedrich. Introdução às Lições sobre a
história da filosofia. Tradução, Introdução e notas de José Barata-Moura. Porto: Porto Editora, 1995.
(Coleção Filosofia Textos Porto Lisboa). pags.33-43. p.33.
23
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 980 a-22.
359
começam a filosofar; [...]24 essa admiração inicial é o caminho que conduz o filósofo a
percorrer o sentido profundo do ser. Também isso é essencialmente educativo. Sobre
esse maravilhamento Heidegger explica: “Assim o espanto é a dis-posição na qual e
para qual o ser do ente se abre. O espanto é a dis-posição em meio à qual estava
garantida para os filósofos gregos a correspondência ao ser do ente.”25
Inicialmente as respostas que os seres humanos tinham sobre a
existência, a origem do universo, a origem da natureza, do cosmos, dos deuses, eram
respostas constituídas por explicações míticas e religiosas. As respostas míticas são
explicações que podem orientar a fantasia, embora não sejam verdadeiras. “A religião
grega, quando dela se fala pela primeira vez – na Ilíada, Odisseia e nos poemas de
Hesíodo – tinha já uma longa história atrás de si.”26 Homero, em Ilíada, traça o cenário
ilustrativo sobre o sentido do mito e da religião na vida cotidiana dos primeiros gregos,
ali, epicamente, o historiador narra a angústia mitológica de uma personagem, Tétis,
quer ela, que os gregos saiam perdedores na guerra, só assim, o rei Agamémnone
poderá reconhecer a bravura e a falta que faz seu filho, Aquiles.
24
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 982 b-1-10
25
HEIDEGGER. Martin. Que é isto a filosofia? Identidade e Diferença. Tradução e Notas de Ernildo
Stein. 2ª ed. São Paulo: Livraria duas cidades Ltda, 1978. p.38.
26
FINLEY. Moses. I. Os gregos antigos. Tradução. Artur Morão. Revisto Por Dr. José Ribeiro Ferreira.
Lisboa: Edições 70, 1963. p.101.
27
HOMERO. Ilíada 2ª ed. Tradução Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. Canto I. p.72.
360
Ora também eu, que, para redigir as Vidas Paralelas passei em revista
a extensão de tempo passível de um relato verossímil e susceptível de
uma investigação que se atenha a factos, bem poderia afirmar das eras
que a precedem: daí para trás fica o domínio dos prodígios e da
matéria própria dos trágicos; ocupam-no os poetas e mitógrafos e não
há lugar para credibilidade ou certeza.28
28
PLURTARCO. Vidas Paralelas – Teseu e Romulo. Tradução do Grego, Introdução e Notas. Delfim
Ferreira Leão e Maria do Céu Fialho. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos -
Universidade de Coimbra - Faculdade de Letras. 2008. (Coleção Autores Gregos e Latinos). Disponível
em: <https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/bitstream/123456789/9/6/vidas_teseu_e_romulo.pdf > Acesso em
outubro de 2013. p.38
29
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. 11ª ed. Tradução Ísis Borges B. da
Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p.33.
361
A escola de Mileto não viu nascer a Razão; ela construiu uma Razão,
uma primeira forma de racionalidade. Essa razão grega não é a razão
experimental da ciência contemporânea, orientada para a exploração
do meio físico e cujos métodos, instrumentos intelectuais e quadros
mentais foram elaborados no curso dos últimos séculos, no esforço
laboriosamente continuado para conhecer e dominar a Natureza.31
30
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 11ª ed. Tradução Ísis Borges da Fonseca.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. p.81
31
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 11ª ed. Tradução Ísis Borges da Fonseca.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p.103.
362
32
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 11ª ed. Tradução Ísis Borges B. da
Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p.103.
33
MARX, Karl. Para a crítica da economia política. Tradução de José Arthur Giannotti e Edgar Malagodi.
In: Os Pensadores. Seleção de textos José Arthur Giannotti; traduções de e José Carlos Bruni e (et al) 2ª
ed. São Paulo: Abril Cultural – Editor Victor Civita, 1978. (Coleção os Pensadores). p.104.
34
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 11ª ed. Tradução Ísis Borges B. da
Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p.103.
363
Ora, aquele que se maravilha e está perplexo sente que é ignorante (de
modo que, num certo sentido, o amante dos mitos é um amante da
sabedoria, uma vez que os mitos são compostos de maravilhas);
portanto, se foi para escapar à ignorância que se estudou filosofia, é
evidente que se buscou a ciência por amor ao conhecimento, e não
visando qualquer utilidade prática. 35
35
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 982 b1 – 20.
364
efêmero, brusco, técnico, positivo, binário. A época de Friedrich Hegel, não é diferente
da nossa em termos de aclaramento e maravilhamento da filosofia, portanto, novamente
ele mergulha exatamente no nosso tempo. A tonalidade de suas palavra penetra
definitivamente no nosso momento globalizante.
36
Introdução do curso de 1816-1817 (Heidelberg) In: HEGEL, Friedrich. Introdução às Lições sobre a
história da filosofia. Tradução, Introdução e notas de José Barata-Moura. Porto: Porto Editora,1995.
(Coleção Filosofia Textos Porto Lisboa). pags.33-44. p.34
365
37
FREIRE, Paulo. Papel da educação na humanização. In: Revista da FAEEBA – Faculdade do Estado
da Bahia. Ano 6 numero 7, jan-jun, 1997. Edição em Homenagem a Paulo Freire. Salvador. Bahia. pags.
9-32 Disponível em: httpp://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/obras /artigos/6.html. Acesso em:
setembro de 2013. p.1.
38
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 984 a
39
A palavra Arkhé (a), começo, comando, poder. “O substantivo feminino arkhé vem do verbo árkho
que significa ir a frente, guiar mandar, ser o chefe, prevalecer, dominar, começar, tomar a iniciativa de
Arkhé então o princípio, origem, fundamento, mando, poder, governo, autoridade, magistratura, reino. É
princípio absoluto e o fim de todas as coisas, do trabalho do qual tudo provém e que ao mesmo tempo a
explica e governo”. COÊLHO, Ildeu Moreira. „Filosofia e educação‟ In: PEIXOTO, José Adão. (Org.).
Filosofia, educação e cidadania. (Org.) Campinas: Alínea, 2001. p.22.
366
processo gerador de todas as coisas, logo, “[...] nada é gerado ou destruído, uma vez que
essa entidade primária conserva-se sempre.” 40 É a fonte e origem de tudo.
Diferentemente de Tales, não menos sem maravilhamento, “[...]
Anaxímenes e Diógenes sustentaram que o ar é anterior a água, e é de todos os corpos
41
simples, o mais primordial.” Esses primeiros filósofos estão atentos ao universo e
tudo que o circunda. Em Anaxímenes (588 - 524 a. C) o infinito é o princípio único -
(arkhé) de onde tudo deriva. Porém, o infinito é para ele, o elemento ar infinito, - isto é;
uma substância aérea ilimitada. Para Heráclito de Éfeso (VI a. C.), tudo está em
constante movimento, tudo se move (nada permanece imóvel, tudo se
transmuta sem exceção. Isto é para ele, o devir. O princípio primeiro é o fogo, raio que
governa todas as coisas. Lê-se na tradução da Doxografiade Wilson Regis:
40
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 983 b1-20
41
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 984 a1- 5
42
HERÁCLITO DE ÉFESO. (Cerca de 540-470 A.C.) Doxografia. Tradução de Wilson Regis. In: Os
pensadores. Seleção de textos e supervisão do Prof. José Cavalcante de Souza. Dados Bibliográficos de
Remberto Francisco Kuhnen. São Paulo: Abril Cultural - Editor Victor Civita, 1973. (Os Pensadores).
p.80.
367
43
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 984 b.
44
HERÁCLITO DE ÉFESO. (Cerca de 540-470 A.C.) In: Os pensadores. Seleção de textos e supervisão
do Prof. José Cavalcante de Souza. Dados Bibliográficos de Remberto Francisco Kuhnen. São Paulo:
Abril Cultural - Editor Victor Civita, 1973. (Os Pensadores). p.143
45
PARMÊNIDES DE ELÉIA (Cerca de 530-460 A.C.) Doxografia. Tradução Remberto F. Kuhnen. In:
Os pensadores. Seleção de textos e supervisão do Prof. José Cavalcante de Souza. Dados Bibliográficos
de Remberto Francisco Kuhnen. São Paulo: Abril Cultural - Editor Victor Civita, 1973. (Os Pensadores).
p.145.
368
portanto ser.”46 Para Parmênides, o ser é incriado e incorruptível. É incriado visto que se
fosse gerado deveria ter derivado de um não ser, o que seria absurdo, dado que o ser não
é, ou então deveria ter derivado do ser, o que é igualmente absurdo porque ele já seria.
Para alguns interpretes desse filósofo, aqui nasce o princípio da contradição, ou seja, um
princípio que afirma a impossibilidade de que os contraditórios coexistem ao mesmo
tempo.
Esses primeiros filósofos, sem dúvida, lançam mão de uma nova forma
para compreender o sentido da origem do mundo. “Essa geometrização do universo
físico acarreta uma transformação geral das perspectivas cosmológicas; consagra o
advento de uma forma de pensamento e de um sistema de explicações sem analogia com
47
o mito” A totalidade do real foi percebida como natureza, eles perceberam e
apreenderam, [...] a causa material e o princípio do movimento, [...],48 originariamente,
com lucidez e criatividade apreenderam o real no horizonte da phýsis. Entendida como
força criadora capaz de gerar todas as coisas a phýsis, força geradora de todos os todos
os seres e todos os princípios, gera também o princípio primeiro. Sobre isso, Aristóteles
descreve: “A maioria dos primeiros filósofos concebeu apenas princípios materiais para
49
todas as coisas.” De fato, os primeiros filósofos voltaram sua atenção para os
problemas e questões que se detinham com a investigação do aparecimento do cosmos.
Por exemplo, é atribuído ao filósofo Anaximandro, (610 – 574 aC.) também da cidade
de Mileto, sucessor e discípulo de Tales, “[...] a confecção de um mapa do mundo
habitado, a introdução na Grécia do uso do gnomo e a mediação das distancias entre as
50
estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega).” Também
da cidade de Mileto, talvez seja ele um dos mais expressivos filósofos da Jônia,
geógrafo, político, matemático, astrônomo, esse pré-socrático faz o primeiro tratado
sobre a natureza. Com ele, a problemática do princípio se aprofunda. Sua reflexão
46
PARMÊNIDES DE ELÉIA (Cerca de 530-460 A.C.) Doxografia. Tradução Remberto In: Os
pensadores. Seleção de textos e supervisão do Prof. José Cavalcante de Souza. Dados Bibliográficos de
Remberto Francisco Kuhnen. São Paulo: Abril Cultural - Editor Victor Civita, 1973. (Os Pensadores).
p.148.
47
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. 11ª ed. Tradução Ísis Borges B. da
Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p.93.
48
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 985 a1-15.
49
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Textos Adicionais e Notas de Edson Bini. Bauru SP: EDIPRO,
2006. (Clássicos Edipro). 983 b1-5
50
ANAXIMANDRO DE MILETO. (Cerca de 610-547 A.C.) Doxografia. Tradução Wilson, Reis. In: Os
pensadores. Seleção de textos e supervisão do Prof. José Cavalcante de Souza. Dados Bibliográficos de
Remberto Francisco Kuhnen. São Paulo: Abril Cultural - Editor Victor Civita, 1973. (Os Pensadores).
p.145.
369
filosófica sustenta que a água é algo derivado. O princípio (arkhé) é o infinito, ou seja,
uma natureza physis infinita e indefinida da qual provêm todas as coisas. O termo usado
por ele é a-peiron, aquilo que é privado de limites, esse infinito é senão algo imortal e
indestrutível. Ao contrário de seus mestres, nem a água, nem o ar ou qualquer entidade
material poderia ser o princípio primeiro, [...] nenhuma porção do mundo poderia
dominar as demais [...] 51, a dignidade da arkhé não poderia estar ali. Sobre esse sentido
dado por Anaximandro, Pierre Vernant explica: “A supremacia pertence exclusivamente
a uma lei de equilíbrio e de constante reciprocidade. À monarchia um regime de
isonomia se substituiu, na natureza, como na cidade.” 52
Todos esses filósofos, com efeito, elevaram sua atenção para pensar os
elementos que compõem a questão da geração e da decomposição. Eles preocupavam-
se, sobretudo, com o princípio (arkhé) com a origem do mundo, com a origem do ser e
das coisas e, assim, inventa, cria, funda um novo estilo de pensar, uma primeira
racionalidade, assinalando de vez a passagem do mundo mítico e sapiencial para o
mundo da razão - lógos,53para a esfera do epistêmico. E isso é essencialmente
educativo. “Essa questão, reveladora da natureza mesma desse exercício intelectual,
tem sido posta desde a Grécia Antiga (século VI a.C.) e ainda hoje é retomada como
54
nova, provocante desafiadora.” As filosofias de Platão e Aristóteles redefiniram a
ordem da pólis a partir de um novo universo conceitual, o universo educativo.
51
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. 11ª ed. Tradução Ísis Borges B. da
Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p.97.
52
Idem. 93
53
A expressão grega Logos (), significa fala, discurso, razão, inteligência, princípio de ordem das
coisas.
54
COÊLHO, Ildeu Moreira. „Filosofia e educação‟ In: PEIXOTO, José Adão. (Org.). Filosofia, educação
e cidadania. (Org.) Campinas: Alínea, 2001. p.19.
55
NUNES. César Aparecido. „As origens da articulação entre filosofia e educação: As origens da
articulação entre filosofia e educação: matrizes conceituais e notas críticas sobre a paideia antiga‟ In:
LOMBARDI, José Claudinei. (Org.) Pesquisa em Educação: história, filosofia e temas transversais.
Campinas SP: Editora Autores Associados, 1999. págs. 57- 75 (Coleção HISTEDBR) p.61.
370
56
NUNES. César Aparecido. „As origens da articulação entre filosofia e educação: As origens da
articulação entre filosofia e educação: matrizes conceituais e notas críticas sobre a paideia antiga‟ In:
LOMBARDI, José Claudinei. (Org.) Pesquisa em Educação: história, filosofia e temas transversais.
Campinas SP: Editora Autores Associados, 1999. págs. 57- 75 (Coleção HISTEDBR) p.60.