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VAMOS APROFUNDAR...

Em destaque, a imagem abaixo mostra August Landmesser. Era 13 de junho de 1936, no porto de
Hamburgo, na Alemanha. O operário da indústria naval, de braços cruzados em meio à multidão, se recusa
a fazer a saudação nazista. Um “olhar diferente” lançado nesta fotografia, pode revelar uma reflexão crítica
sobre esse momento histórico

Figura 1 – August Landmesser

Disponível em: https://www.museudeimagens.com.br/august-landmesser/. Acesso em: 04 de outubro de 2021

Como você pode perceber na imagem, abordamos alguns conceitos operadores, e eles nos remetem ao
ato de filosofar. Assim, nessa semana, vamos aprender como a filosofia está presente nas nossas vidas e
como podemos compreender a sua importância.
Objetivo:

● Compreender o significado da filosofia e relacionar com a Psicologia.


Conteúdo
Conceitos básicos da Filosofia

Filosofia, do grego philos, significa “amor”, “amizade”, e sophia, refere-se à “sabedoria”. Logo, temos “amor
à sabedoria” ou “amizade pelo saber”. Pitágoras (séc. VI a.C.) foi o primeiro a usar o termo filósofo, para
dizer que não era um “sábio” (sophos), mas alguém que ama e busca a sabedoria. Não é tarefa fácil definir
filosofia, pois explicitar o que é filosofia já é, em si, uma questão filosófica. Ela não se constitui em uma
doutrina, ou seja, um conjunto de conhecimentos fixos e determinados, mas em uma atitude em filosofar:
um exercício constante de indagação. Portanto, filosofar não é propriamente um saber, mas uma atividade
que busca dar sentido à experiência, apoiada em uma problematização inicial. Para tanto, contraria o
senso comum ao questionar – e duvidar – das verdades estabelecidas. Decorre dessa disposição o
questionamento à diversidade das concepções filosóficas. Por esse motivo, é possível dizer que não existe
“a” filosofia, mas “as” filosofias.

O filósofo brasileiro Dermeval Saviani (2009) conceitua a filosofia como uma reflexão radical, rigorosa e de
conjunto sobre os problemas apresentados pela realidade. Radical, porque busca explicitar os conceitos
fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir. Rigoroso, por ser argumentativo e por
manter a coerência de suas diversas partes. E, por fim, a filosofia é um tipo de reflexão totalizante, de
conjunto, porque examina os problemas relacionando diversos aspectos entre si. Mais ainda, o objeto da
filosofia é tudo, porque nada escapa a seu interesse

Não é raro ouvir “para que estudar filosofia se não vou aplicá-la em minha vida profissional?”. Segundo
essa lógica, a filosofia seria “inútil”, pois não vemos a aplicação prática dela. Contudo, ela é essencial para
compreender o ser humano e o mundo. De acordo com Chauí (2000), nossa vida cotidiana é feita de
crenças silenciosas, pois aceitamos as coisas como se apresentam a nós, sem nos questionarmos. Como
exemplo: quando pergunto “que horas são?”, alguém olha o relógio e responde. Nesse momento, acredito
que o tempo existe, que ele passa, que ele é medido em hora; que passado, presente e futuro são
dimensões palpáveis. Mas será? A pergunta “o que é o tempo?” abre para um universo de indagações!
Muitos cientistas e pensadores tentam compreender o tempo. Imagine substituir a frase “você está louca!”,
por “o que é a loucura?”, ou “é apenas um sonho”, por “o que é o sonho?”, ou “isso é mais bonito do que
aquilo”, por “o que é belo?”, “o que é ‘mais’ e o que é ‘menos’?”. Enfim, essa mudança de atitude é um
modo de se distanciar das crenças cotidianas, dos sentimentos, de si mesmo, para então interrogar tudo e
desejar conhecer porque sentimos o que sentimos, o que são nossas crenças e como elas se constituíram.
O que? Como? Por quê? Para quê? São questões fundamentais para compreendermos o mundo.

Nesse sentido, faz-se importante a relação da filosofia com as diferentes áreas do conhecimento. A
Filosofia é o berço do conhecimento, a partir dela outros saberes vão se desdobrando, ou seja, todas as
ciências são filhas da filosofia. Quanto mais áreas são desabrochadas, mais campo e trabalho abrem-se à
filosofia. Temos a filosofia que estuda as ciências: filosofia da ciência ou epistemologia, que estuda a
linguagem, a ética, a moral, a política, a estética, campo de estudo sobre as artes e a lógica que estuda as
formas do pensamento e da argumentação, se uma teoria ou sentença é verdadeira ou falsa. E muitas
outras subdivisões, por exemplo: filosofia da história, da matemática, da mente, da psicanálise, da
educação. A Filosofia é transdisciplinar, está inter-relacionada a todas as áreas do conhecimento,
permitindo assim que o conhecimento possa ser visto como algo integrado e não apenas fragmentado e
compartimentado. Ou seja, a Filosofia é importante para a descoberta de que o conhecimento pode ser
fonte de esclarecimento, prazer, liberdade e consciência!
Filosofia e Psicologia
Vamos compreender agora como a filosofia é importante para a constituição do saber psicológico.
Historicamente, a psicologia e a filosofia caminharam juntas. Portanto, os pressupostos filosóficos que
organizaram e organizam a psicologia são os resultados de um percurso secular para investigar os
princípios a respeito da existência humana. A filosofia não é o passado da psicologia, o que ocorre é que
ambas se complementam, ora de forma direta, ora de forma indireta. As implicações filosóficas estão
sobrepujadas na psicologia diretamente em assuntos como: o que é loucura? O que é a consciência?
Como definir o conceito de normalidade? Como compreender a subjetividade? O que pode um corpo?
Essas são umas das questões básicas da psicologia. Historicamente, a psicologia se constitui como um
saber próprio no século XIX, mas os seus questionamentos que dizem respeito à psique humana estavam
presentes desde os filósofos da antiguidade. Dito isso, vale lembrar da importância que a filosofia tem para
a formação do psicólogo, já que ela também se ocupa das questões humanas, como descrito
anteriormente.
Algumas bases da psicologia referem-se às questões da intersubjetividade. Nesse campo, existem
diversas abordagens psicológicas/psicanalíticas, e todas elas confluem para a compreensão de que somos
constituídos pelos outros e constituímos os outros, em uma estreita relação, afetando e sendo afetado.
Como exemplo, na psicologia Sócio-histórica, Lev Vygotsky defendeu que: “nós nos tornamos nós mesmos
através dos outros” (VYGOTSKY, 1999, p. 56).
As relações humanas também são tema de investigação para a filosofia. Podemos citar brevemente o
filósofo Spinoza, sobre as relações de afeto, em que aponta para o seguinte entendimento: “as ideias que
temos dos corpos exteriores indicam mais o estado de nosso corpo do que a natureza dos corpos
exteriores” (SPINOZA, 2009, p. 66). Como vimos, tanto a psicologia, quanto a filosofia, ocupam-se das
questões da intersubjetividade.
Nesse sentido, o psicólogo que consegue flertar com a filosofia, permite-se estar muito mais preparado
para lidar com as demandas que, diversas vezes, não estão dadas em livros de psicologia. O pensar
filosófico tem como característica o exercício constante do pensamento crítico, livre e aberto, ao qual pode
contribuir significativamente com a construção do saber psicológico, uma vez que as demandas humanas
não cessam de aparecer e nem de se mostrarem novas a cada tempo.
A filosofia, portanto, torna-se importante para formação do psicólogo, porque, na prática, ele tem uma
necessidade de pensar.

Você Sabia?
Curiosidade: Pitágoras dizia que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais
importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos
seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para competir, isto
é, os atletas e artistas (pois, durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música,
teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos
que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.

Disponível em: https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Alegoria-De-Pitagoras/51913025.html. Acesso em:


08 de outubro de 2021.
Sintetizando
Pitágoras foi o primeiro a usar o termo filósofo, para dizer que não era um “sábio”, mas alguém que ama e
busca a sabedoria, pois o próprio termo “filosofia” remete a esse significado. A definição do que é filosofia
é uma tarefa complexa, pois explicitar o que é filosofia já é, em si, uma questão filosófica. Nesse sentido,
não podemos dizer que exista “a” filosofia como uma conceituação única e fechada, mas sim “as” filosofias,
pois existem diversas maneiras de compreendê-la e problematizá-la. Podemos conhecer a definição do
filósofo brasileiro Dermeval Saviani, que descreve a filosofia como radical, rigorosa e de conjunto. Radical,
porque busca explicitar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir.
Rigoroso, por ser argumentativo e por manter a coerência de suas diversas partes. E, por fim, a filosofia é
um tipo de reflexão totalizante, de conjunto, porque examina os problemas relacionando diversos aspectos
entre si. Mais ainda, o objeto da filosofia é tudo, porque nada escapa a seu interesse. As implicações
filosóficas estão entrelaçadas na psicologia diretamente em assuntos como: o que é a consciência? O que
é loucura? Quem somos nós? Existe liberdade? O que é normal? O que pode um corpo? Essas são umas
das questões básicas da psicologia. O psicólogo que busca a filosofia, permite-se estar mais preparado
para lidar com as demandas humanas. Considerando que o ser humano, com a sua singularidade, não
está pronto e acabado, gera novas demandas o tempo todo. Nesse sentido, faz-se necessário um pensar
filosófico a cada vez; não que o psicólogo se tornará um filósofo, trata-se, na verdade, de considerar a
filosofia como uma lente para lançar um “olhar diferente”, e assim refletir profundamente as problemáticas
do contexto humano.

Atividade
Utilizando todo o conhecimento adquirido na semana 1 sobre as formas de conhecimento, responda às
questões a seguir:
1. Por que é possível dizer que não existe “a” filosofia, mas “as” filosofias?
2. Defina filosofia com as suas palavras.
3. Por que é importante estudar filosofia em um curso de psicologia?

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 6ª ed.
São Paulo: Moderna, 2016.

BARROS, Marcelo Vinicius Miranda. A importância da filosofia na formação do psicólogo. ConTextura, v.


11, n. 14, 2019.https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistacontextura/article/view/14892/16733. Acesso em
04 de out. de 2021.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Editora Ática: São Paulo, 2000.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Campinas: Autores Associados,
2009. p. 29-33

SPINOZA, B. Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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