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Sumário

Filosofia Antiga
TEMA 1 – INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ....................................................................................................................... 3

TEMA 2 – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA.................................................................................................................. 4

TEMA 3 – PRÉ-SOCRÁTICOS ..................................................................................................................................... 5

TEMA 4 – SOFISTAS................................................................................................................................................. 11

TEMA 5 – SÓCRATES (469 – 399 A.C.) .................................................................................................................... 12

TEMA 6 – PLATÃO (428 – 348 A.C.) ....................................................................................................................... 14

TEMA 7 – ARISTÓTELES (384 – 322 A.C.) ................................................................................................................ 16

TEMA 8 – FILOSOFIA HELENÍSTICA ......................................................................................................................... 21

QUADRINHOS .......................................................................................................................................................... 28

PONTOS IMPORTANTES PARA ENTENDER A FILOSOFIA ANTIGA ............................................................................ 30

MAPAS MENTAIS ..................................................................................................................................................... 34

EXERCÍCIOS ............................................................................................................................................................. 41

GABARITO ................................................................................................................................................................ 71

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................................... 72
FILOSOFIA
Professor Sérgio Feitosa

Filosofia Antiga

TEMA 1 – INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

O que vem a ser “Filosofia”? O que a Filosofia realmente estuda? Filosofia serve para algo de efetivo e importante em
nossa vida? Dá para viver à custa da Filosofia? Essas são algumas das várias questões que se formulam em torno desse tema e
que geram tanta polêmica acerca do estudo da Filosofia.
De forma objetiva e seguindo uma análise etimológica, Filosofia é uma palavra que tem origem grega e deriva da
combinação de dois termos: “phylos” (amor, amizade) e “sophya” (sabedoria), de onde vem a tradução literal: “amor à
sabedoria”.
Assim, o nascimento da Filosofia deu-se a partir de uma adaptação ética (estudo do comportamento) e epistemológica
(estudo do conhecimento).
Ao longo do tempo, os próprios filósofos não têm se entendido sempre muito bem acerca do conceito e do papel da
Filosofia, de modo que a dificuldade se torna maior ainda, embora exista uma convergência em torno da busca daquilo que
venha a ser a verdade para cada um deles.
Sob o ponto de vista “analítico”, a Filosofia se atém bastante à interpretação dos conceitos fundamentais, buscando
compreender a linguagem que se estabelece em torno deles. Já a Filosofia pelo aspecto “especulativo” busca compreender
como os homens deveriam agir. Isso não significa dizer que essas perspectivas sejam opostas, mas, em suas diferenças,
terminam sendo complementares.
Considerando óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos,
políticos, artísticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais discordam e
com os quais entram em conflito, acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores,
finalidades só podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocínio.
O nosso cotidiano, enfim, é preenchido por crenças silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca questionamos,
porque nos parecem naturais, óbvias.
Acreditamos na existência do espaço, do tempo, da realidade, da qualidade, da quantidade, da verdade, da diferença entre
realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a
subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.

A atitude filosófica
Pensemos que alguém tomasse uma decisão muito estranha e passasse a elaborar perguntas inesperadas. Em vez de “que
horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse “o que é o tempo?”. Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”,
quisesse saber “o que é o sonho? A loucura? A razão?”.
Essa decisão seria uma tomada de distanciamento em relação à vida cotidiana e a si mesmo, isto é, questionar o que são
as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Adotar esse distanciamento, interrogando a
nós mesmos e desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas
crenças e nossos sentimentos, seria o que chamamos de “atitude filosófica”.
Dessa forma, uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia ser: não aceitar como óbvias e evidentes as
coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem
antes havê-los investigado e compreendido.
Diz-se que um filósofo foi indagado “Para que Filosofia?”, e ele teria respondido “Para não darmos nossa aceitação
imediata às coisas, sem maiores considerações”.

A atitude crítica
Uma atitude filosófica se caracteriza inicialmente por ser “negativa”, ou seja, ela diz “não” ao senso comum, aos pré-
conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido.
Em segundo lugar, a atitude filosófica adota uma postura “positiva”, ou seja, ela interroga sobre o que são as coisas, as
ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos.

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É também uma indagação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma indagação sobre como tudo isso é assim e não de
outra maneira. O que é? Por que é? Como é?
Essas são as questões fundamentais da atitude filosófica: a dimensão negativa e a dimensão positiva da atitude filosófica
representam o que chamamos de “atitude crítica”.

A reflexão filosófica
Entendemos por reflexão o verdadeiro movimento de volta sobre si mesmo ou, por um lado, o movimento de retorno a si
mesmo.
Assim, a reflexão expressa o movimento pelo qual o pensamento se volta para si mesmo, interrogando a si mesmo.
A reflexão filosófica é radical, pois traduz um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si
mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento.
Todavia, não somos apenas seres pensantes. Também somos seres agentes no mundo, que se relacionam com os outros
seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e os acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por
meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.
Concluímos que a reflexão filosófica questiona: “Por quê?”, “O quê?”, “Para quê?”, voltando-se ao pensamento, aos seres
humanos no ato da reflexão. São questões fundamentais sobre a capacidade e a finalidade humanas de conhecer e agir.

Afinal, o que é Filosofia?


A Filosofia se atém aos fundamentos do conhecimento, pautando-se pela razão e pela verdade; apoiando-se em valores
éticos, políticos, artísticos e culturais; entendendo as causas e as formas da ilusão e do preconceito no plano individual e
coletivo; e acompanhando as mudanças históricas dos conceitos, das ideias e dos valores.
Filosofia é diferente de Ciência, porquanto se trate de uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos científicos.
Filosofia é diferente da Religião, assumindo uma reflexão crítica sobre as origens e as formas de crenças religiosas.
Filosofia é diferente de Arte, por ser uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de
arte e do trabalho artístico.
Filosofia é diferente da Sociologia e da Psicologia, porquanto seja uma interpretação e uma avaliação crítica dos conceitos
e métodos dessas duas ciências.
Filosofia é diferente da Política, enquanto compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do poder.
Filosofia é diferente da História, buscando compreender criticamente os acontecimentos, enquanto inseridos no tempo e
compreensão do que seja o próprio tempo.
Filosofia busca estudar a consciência, nas suas mais variadas modalidades: percepção, imaginação, memória, linguagem,
inteligência, experiência, reflexão, comportamento, vontade, desejo e paixões, descrevendo as formas e os conteúdos dessas
modalidades de relação entre o ser humano e o mundo, do ser humano consigo mesmo e com os outros.

TEMA 2 – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

A Filosofia representa, sob o ponto de vista histórico, na tradição do pensamento, sobretudo ocidental, uma ruptura com
as antigas narrativas mitológicas, que eram, até então, as grandes estratégias de compreensão e tradução da realidade para
os homens.
O nascimento da Filosofia, a despeito das oposições de muitos pesquisadores, deu-se na antiga Grécia, por volta do século
VI a.C., em meio a uma série de transformações econômicas, políticas e culturais pelas quais atravessavam as cidades-Estado
daquela civilização.
O pensamento filosófico nasceu na Grécia Antiga, no início do século VI a.C. Tales de Mileto é reconhecido como o primeiro
filósofo. Muito embora fosse Tales o primeiro, foi outro filósofo, Pitágoras, que elaborou a expressão “filosofia”, unindo as
palavras philos (amor) e sophia (conhecimento), que significa “amor ao conhecimento”.
A partir de então, Filosofia passou a ser a atividade que se ocupa de compreender, identificar e comunicar a realidade por
meio de conceitos lógico-racionais. Ela nasceu da renúncia gradual das explicações dadas pela mitologia (desmitificação) e da
busca por um conhecimento seguro.

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A Filosofia nasce em um contexto de profundas transformações históricas, a partir do aumento demográfico racial pelo
qual passou a civilização grega. Naquele momento, havia a necessidade de se desenvolver uma nova forma de pensamento,
menos atrelada à natureza e à mitologia e mais ligada a uma forma de relação mais exata com a realidade. A “Cosmogonia”
(visão mítica em torno do universo) dava cada vez mais lugar à “Cosmologia” (visão racional em torno do universo).
O início da tradição filosófica deu-se entre pensadores de origem grega, por volta do século VI a.C., em meio a um intenso
processo de transformações sociais, políticas e econômicas naquela civilização.
Em virtude do aumento demográfico, em contraposição às limitações geográficas (80% do território grego são compostos
por montanhas), os gregos se viram na necessidade de expandir suas atividades econômicas a partir do comércio marítimo,
estimulado por um litoral extremamente recortado por ilhas. Isso culminou em uma decadência da atividade agropastoril e
em um enfraquecimento político da nobreza latifundiária. O intercâmbio comercial que os gregos passaram a estabelecer entre
si dinamizou, consequentemente, um amplo processo de interação social e cultural.
Foi, assim, nesse contexto, que surgiu o pensamento filosófico, como uma necessidade mais clara e objetiva de
compreensão da realidade, que permitisse a expansão segura dos gregos em meio ao espaço por eles explorado.
A esse entendimento da realidade física, isto é, da natureza, que chamamos de filosofia pré-socrática, uma filosofia
naturalista, que busca uma cosmovisão (visão do cosmo, universo) menos mítica (cosmogonia) e mais racional (cosmologia).
Os chamados filósofos pré-socráticos, aqueles que surgiram antes da tradição filosófica socrática, introduziram, dessa forma, o
logos (pensamento racional) na forma de pensamento ocidental. Por essa razão, os pré-socráticos são considerados os primeiros
filósofos da história.

TEMA 3 – PRÉ-SOCRÁTICOS

I. Filósofos jônicos
Chamados de jônicos, os primeiros pensadores da tradição pré-socrática são assim conhecidos em razão da sua origem
étnica; eles pertenciam ao povo jônio, de origem indo-europeia, que ocupou importantes regiões da Grécia: Ática, Peloponeso
e, sobretudo, a Ásia Menor (atualmente, parte da Turquia). Os jônios compunham uma das quatro grandes etnias que deram
origem à civilização grega, ao lado dos aqueus, eólios e dórios.
Nessa última, organizaram a famosa Liga Jônia, que era composta por doze importantes cidades: Mileto, Éfeso, Samos,
Priene, Colofão, Clazômenas, Quios, Teos, Mionto, Lêbedo, Foceia e Erítras.
Os primeiros filósofos, que eram jônicos, surgiram exatamente na Ásia Menor: Tales, Anaximandro e Anaxímenes eram
naturais da ilha de Mileto; enquanto isso, Heráclito, era oriundo de Éfeso.
Esses pensadores se notabilizaram na história da filosofia pelo seu pioneirismo na investigação de um princípio universal
e racional que representasse a origem da natureza, fugindo das orientações narrativas fantásticas da tradicional mitologia
grega. A esse princípio foi dado o nome “arché”.
Entre os principais nomes da escola jônica, destacam-se:

a) Tales de Mileto (624 – 548 a.C.)


Tales viveu em Mileto, na Jônia, provavelmente nas últimas décadas do séc. VII e na primeira metade do séc. VI a.C. Nessa
mesma cidade, floresceram ainda Anaximandro e Anaxímenes, importantes filósofos pré-socráticos, a exemplo de Tales.
Assim como na Filosofia, Tales se destacou nas áreas da Política, da Matemática, da Engenharia e da Astronomia, além de
ter se revelado um notável homem de negócios. Em Delfos, havia um templo erguido em culto ao deus Apolo e nele havia uma
lista com os nomes de sete importantes sábios da antiga Grécia e, entre eles, aparecia o nome de Tales de Mileto.
Conforme relato de Heródoto, Tales teria previsto um eclipse solar no ano 585 a.C., possivelmente no dia 28 de maio. Esse
episódio ilustra o grau de racionalidade a que Tales havia elevado o pensamento, voltado para a observação da natureza.
Aristóteles tomava esse episódio como o marco do início do pensamento filosófico.
Tales é considerado o primeiro filósofo de toda a história, embora o que se tenham atualmente sejam apenas a doxografia
(textos escritos por outros filósofos) e a tradição oral indireta. Para esse pensador, haveria um princípio originário único (arché),
que fosse a causa de todas as coisas existentes; e esse princípio seria a água.

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Segundo o pensamento desenvolvido por Tales, a água estaria na nutrição úmida de todas as coisas. Por exemplo: as
sementes e os germes de todas as coisas teriam uma natureza úmida. Assim sendo, a secura total estaria expressa na morte.
Esse pensamento se apoia em asserções sobre o raciocínio puro (o logos).
É importante salientar que a associação do princípio com a palavra arché não foi uma iniciativa de Tales de Mileto, muito
embora a ideia central já tenha começado com esse pensador.
Esse princípio (arché) seria o elemento a partir do qual tudo o que existe deriva originalmente e no qual tudo termina se
encerrando. A arché seria a fonte e a origem de todas as coisas.
O termo princípio também pode ser denominado por “physis”, que indica “natureza”, na acepção de realidade primeira e
fundamental. Em função disso, os primeiros filósofos ficaram conhecidos como “Físicos” ou “Naturalistas”.
Todavia, é importante salientar que, de acordo com a concepção desenvolvida por Tales, a água não deve ser tomada em
seu aspecto necessariamente físico e químico. Conforme o pensador, a água deveria ser compreendida em uma forma global,
isto é, o princípio líquido do qual tudo deriva. Dessa forma, a água, para Tales, assumia uma condição divina, eliminando-
se a visão politeísta grega e dando uma conotação mais racional a Deus. É por essa visão que Tales afirmava que “tudo está
cheio de deuses”, ou seja, do princípio originário (água).
Tudo estaria impregnado de um princípio originário de vida, tudo teria uma espécie de alma. A essa visão filosófica dá-se
o nome de pampsiquismo.

b) Anaximandro de Mileto (610 – 546 a.C.)


Anaximandro era discípulo de Tales e foi responsável por um tratado conhecido por Sobre a natureza,
do qual apenas sobraram fragmentos. Essa obra é considerada o primeiro registro filosófico de que se tem
conhecimento no Ocidente, além de ser o primeiro escrito de língua grega em prosa.
Anaximandro aprofundou ainda mais a questão do princípio (“arché”). Diferente de Tales, considerava
a água algo que já seria derivado de outra coisa. Para Anaximandro, a arché do universo seria o “infinito”
(ápeiron), algo privado de limites externos e internos. O ápeiron dá origem a todas as coisas, delimitando-
as e determinando-as.
A exemplo de Tales, Anaximandro dá um caráter divino ao princípio (arché). Anaximandro busca
entender o porquê e como da arché, o ápeiron, as coisas derivam e por que elas se corrompem. O mundo é constituído de
contrários e estes tendem a se sobrepor uns sobre os outros. A injustiça derivaria dessa predominância e, ao contrário, a justiça
estaria no equilíbrio. O cosmo (universo) se originou a partir do movimento eterno dos contrários.

c) Anaxímenes de Mileto (588 – 524 a.C.)


Discípulo de Anaximandro, Anaxímenes nasceu e viveu em Mileto, na região da Jônia. De sua
obra Sobre a natureza só restaram fragmentos, além de registros doxográficos (escritos por outros
pensadores sobre um filósofo e seu pensamento).
A exemplo de Tales e de Anaximandro, Anaxímenes buscava o “princípio” (arché) de toda a
natureza e compreendia, como seu mestre, que seria algo “infinito”. Todavia, para Anaxímenes, a
arché seria o ar, que é infinito, uma verdadeira substância aérea ilimitada. Além disso, Anaxímenes
compreendia o ar como “divino”, presente em todo o universo (cosmo).
Segundo Anaxímenes, o ar apresenta um caráter de mobilidade constante, prestando-se às transformações necessárias
para o surgimento de todas as coisas. Pelo raciocínio de Anaxímenes, a condensação do ar daria origem à água e à terra; por
outro lado, a rarefação daria origem ao fogo.

d) Heráclito de Éfeso (540 – 470 a.C.)


Heráclito viveu em Éfeso, cidade grega antiga, situada na costa da Jônia. Recusou-se a participar
da vida política em sua cidade. Assim como Anaximandro e Anaxímenes, deixou uma obra intitulada
Sobre a natureza, da qual, também, restaram apenas fragmentos. Os registros deixados por
Heráclito são marcados por uma certa obscuridade, em estilo que evoca as antigas sentenças dos
oráculos, denotando a busca por uma seletividade de seus leitores. Essa é a razão pela qual Heráclito
ficou conhecido pelo epíteto de “o obscuro”.

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Heráclito, assim como os pensadores de Mileto, acredita na dinâmica universal de todas as coisas, como característica
fundamental do “princípio” (arché) do cosmo (universo). Todavia, nenhum daqueles pensadores levou essa questão ao nível
temático, que só Heráclito conseguiu.
Heráclito escreveu que “não se pode descer duas vezes no mesmo rio”, acreditando que, com o tempo, as águas do rio se
dispersariam, assim como o próprio homem vai mudando. Conforme escreveu Heráclito, “tudo se move”, “tudo escorre”
(panta rhei). Tudo está em mudança; nada está imóvel e fixo.
Heráclito acredita numa “harmonia entre os contrários”, que se dá pelo choque (guerra) entre eles. O termo guerra,
empregado por Heráclito, não se dá no sentido corrente, mas, como uma transformação necessária em tudo aquilo que existe.
Essa mudança é o devir.
Para Heráclito, o fogo é o “princípio” (arché) da Natureza e todas as coisas derivam das transformações do fogo. O fogo se
revela em contínuo movimento, em um sentido divino. O fogo, na visão de Heráclito, é “inteligência”, é “razão”, é “logos”, é
“lei racional” que se apresenta em todas as coisas.
Heráclito, como reflexo do Orfismo, acreditava que o corpo seria uma espécie de mortificação da alma e que a morte do
corpo, por sua vez, seria a libertação da alma. Além disso, Heráclito acreditava em castigos e prêmios depois da morte.

II. Filósofos pitagóricos


Um dos maiores representantes do pensamento ocidental
em todos os tempos foi o grego Pitágoras de Samos, filósofo e
matemático jônico, de cujo nome deriva a corrente de
pensamento conhecida por Pitagorismo.
Muito pouco se sabe ao certo sobre a vida de Pitágoras,
porque a maioria dos registros escritos sobre o pensador foi
realizada após sua morte, sem muita credibilidade histórica.
O que se acredita de mais confiável sobre Pitágoras é que
ele nasceu em Samos, na região da Jônia, e esteve pelo Egito,
na parte continental da Grécia e, por volta de 530 a.C.,
estabeleceu-se na Magna Grécia (Sul da Itália), sobretudo na
cidade de Crotona.
O pensamento pitagórico não se destacou apenas em
sentido filosófico, mas, religioso e político também. Os
pitagóricos defendiam um regime aristocrático, representado, sobretudo, pelas novas elites mercantis. Acredita-se, inclusive,
que, sentindo-se ameaçados por possível golpe político, crotonienses teriam incendiado o prédio em que os pitagóricos se
reuniam e que nesse episódio teria morrido o próprio Pitágoras; outra versão sugere que ele teria escapado para o Metaponto.
Não se sabe ao certo se Pitágoras tenha deixado registros escritos de seus pensamentos, podendo ter sua filosofia original
se dado apenas ou predominantemente de forma oral.
Segundo os pitagóricos, o número seria a “arché” de todo o universo. Tudo aquilo que existe apresentaria uma
regularidade numérica. Para essa concepção, foi fundamental a associação percebida entre a música, por seus sons, e suas
determinações numéricas, além de serem relevantes, sobremaneira, os fenômenos do universo (medição do tempo, estações,
etc.). Ademais, os fenômenos da vida (gestações, ciclos biológicos, etc.) são regulados por leis numéricas. O número 1
apresentaria um caráter de persistência e imobilidade, sendo por essa razão associado à ideia de inteligência. Já o número 2
estaria mais ligado à mutabilidade, oscilando em direções distintas. Os números 4 (2 x 2) e 9 (3 x 3), respectivamente, são os
quadrados dos primeiros números par e ímpar e, por esse aspecto, era associados à justiça. Dessa forma, para os pitagóricos,
os números ultrapassariam a dimensão mental de abstração das coisas, isto é, eles estariam na própria physis de tudo o que
existe.
O número, na visão pitagórica, seria, em princípio, uma quantidade indeterminada, que aos poucos, vai se determinando
e delimitando. O número é constituído por dois elementos, um que é indeterminado ou ilimitado, e outro, que é determinado
ou limitado. Dessa forma, o número se origina de uma espécie de acordo entre o ilimitado e o limitado. O número manifesta
a prevalência de um dos dois elementos: os pares manifestam mais o elemento indeterminado (são menos perfeitos), e os
ímpares manifestam mais o elemento determinado (são mais perfeitos). Os números ímpares eram associados à ideia de
“masculino”, e os pares, à de “feminino”.

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Segundo os pitagóricos, o número traduz uma ordem (“acordo entre elementos ilimitados e limitados”), de onde vem a
ideia de que tudo é ordem. No grego, a palavra ordem é traduzida por kósmos, de onde surge a associação pitagórica entre
“cosmo” e “ordem”. Com a concepção pitagórica, portanto, o universo deixou de ser dominado por forças obscuras, sendo
que a verdade se tornou muito mais racional com a ordenação numérica. Com os pitagóricos, o homem compreendeu o mundo
com outros olhos, uma ordem completamente esclarecida pela razão.
Os pitagóricos defendiam um estilo de vida voltado à purificação, de modo a garantir a supremacia da alma sobre o corpo.
Nesse sentido, os pitagóricos acreditavam na doutrina da metempsicose (reencarnação sucessiva para expiação de uma culpa
originária). Essa doutrina advinha, por sua vez, do Orfismo (conjunto de crenças ao mito de Orfeu, que desceu ao mundo dos
mortos e retornou). Para os pitagóricos, através e uma “vida contemplativa”, dedicada à procura da verdade através do
conhecimento, o homem se purificaria, numa espécie de comunhão com o divino.

III. Filósofos eleatas

a) Parmênides (530 – 470 a.C.)


Natural de Eleia, cidade situada na região da Magna Grécia (Sul da atual Itália), Parmênides
nasceu em 530 a.C. e faleceu ali mesmo, em 460 a.C., aos 70 anos de idade. De família abastada,
Parmênides desenvolveu atividade política, dotando sua cidade de leis consideradas boas.
Considerado o fundador da chamada Escola Eleata, Parmênides, que fora encaminhado à
filosofia pelo pitagórico Amínias, expressou seu pensamento na obra (poesia) Sobre a natureza, da
qual foi preservada uma parte bastante considerável.
Parmênides está situado na geração conhecida por filósofos pré-socráticos e, dessa forma,
buscava compreender a questão central da origem racional do universo. Todavia, Parmênides
introduziu uma visão que revolucionária toda a discussão acerca dessa temática: a teoria do ser
(ontologia). Para Parmênides, a arché (princípio de tudo no universo) seria o ser, aquilo que é e que, portanto, não pode não
ser.
Em sua obra, Parmênides apresenta sua doutrina, a partir de uma alegoria, na qual ele é, em um carro puxado por cavalos,
acompanhado das filhas do Sol, levado a uma deusa, que simboliza a autêntica verdade, diz-lhe que haveria três vias do
conhecimento: a via da verdade plena, a via das opiniões falsas e a via da opinião plausível.
A primeira via, na busca pela verdade absoluta, gira em torno da questão fundamental do que é o “ser” e de seu oposto,
isto é, o “não ser”.
Ser, para Parmênides, é aquilo acerca do qual se pode pensar e falar com segurança e que, portanto, de fato existe. Pensar
e ser, segundo Parmênides, coincidem. Além disso, esse “ser” não foi gerado e não pode ser corrompido.
Como o ser, para Parmênides, é o que de fato existe, então, o seu contrário, o “não ser”, pode ser traduzido simplesmente
pelo nada, isto é, aquilo que não existe. Dessa forma a máxima fundamental do pensamento de Parmênides: “o ‘ser’ é (existe)
e o ‘não ser’ não é (não existe)”. O “não ser”, segundo Parmênides, pelo fato de que não existe de fato, é ilusório, não pode
ser pensado nem expresso.
Esse pensamento de Parmênides estaria, portanto, na base do importante princípio da lógica: o princípio da não
contradição (contrários não podem coexistir ao mesmo tempo).
O ser, para Parmênides, é um “eterno presente”, pois não é dotado de passado nem de futuro. Além disso, é imutável,
imóvel e uno (indivisível).
A segunda via, que a deusa apresenta a Parmênides como uma opinião falsa, é aquela que busca a verdade através dos
sentidos, posto que apenas a razão é capaz de garantir a certeza. Os sentidos, para Parmênides, sugerem a ideia de mudança,
o que seria uma contradição inadmissível, posto que o “ser” não pode deixar de ser, convertendo-se em seu contrário, o “não-
ser”.
A terceira via sugere que haveria “opiniões plausíveis”. Ora, essa via estaria voltada à compreensão dos fenômenos da
natureza, marcados por colisões entre os contrários: dia e noite, por exemplo. Mas, para Parmênides, não é que, nesse caso,
um se converta no outro. Cada fenômeno desses, na verdade, estaria ligado em essência ao ser.

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b) Zenão de Eleia (490 – 430 a.C.)
Zenão, natural de Eleia, foi discípulo de Parmênides e, como seu mestre, sustentou de forma
obstinada a filosofia eleata da imutabilidade e da imobilidade do ser, enquanto arché do universo.
Por meio de um método baseado em paradoxos, Zenão buscava apresentar a falsidade da ideia
do movimento, que não passaria de uma ilusão.
Zenão se revelou um notável e prestigiado professor em sua terra natal e, dessa forma, conseguiu
participação direta e intensa na vida política local. Aliado a alguns companheiros, tramou a queda do
tirano de sua cidade, não obtendo sucesso. Foi preso e torturado até sua morte.
Da obra de Zenão, atualmente, só restaram fragmentos. Zenão desenvolveu um método que
revelasse as contradições dos argumentos contrários ao pensamento de Parmênides. Tratava-se, pois,
de uma espécie de “refutação da refutação”, uma demonstração do absurdo. Nesse sentido, Zenão
inaugurava o chamado método dialético.
Os principais argumentos de Zenão são os que buscam refutar o movimento.
No que tange à questão do movimento, bem como suas implicações físicas, Zenão propunha que não passariam de ilusões
despertadas pelos sentidos. Para propor que o movimento não existe, Zenão concebeu os seguintes argumentos (paradoxos):
I. Paradoxo da dicotomia – Supondo que um móvel situado num ponto A busque atingir um ponto B, situado este em outra
distância. Para Zenão, esse movimento é simplesmente impossível, pois, antes de alcançar o ponto B, o móvel deveria atingir
a metade da trajetória entre A e B, digamos, um ponto C. Todavia, para alcançar C, haverá de primeiro atingir a metade da
distância entre A e C, digamos, um ponto D. Dessa forma, ao infinito.
II. Paradoxo de Aquiles – Supondo disputa (corrida) entre o veloz Aquiles e uma tartaruga e que a esta seja garantida uma
determinada vantagem inicial em distância, Aquiles nunca a alcançará. Ora, quando Aquiles chegar ao ponto de onde a
tartaruga iniciou, ela já terá percorrido uma nova distância e, quando ele alcançar essa nova distância, eis que a tartaruga já
terá percorrido uma outra nova distância, e, dessa forma, ao infinito.
III. Paradoxo da flecha imóvel – Uma flecha em voo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em
repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões e se, a flecha em voo sempre ocupa espaço igual às suas
próprias dimensões, logo a flecha em voo está em repouso.

IV. Filósofos pluralistas

a) Empédocles de Agrigente (490 – 430 a.C.)


Empédocles nasceu em Agrigento, na Sicília, em 490 a.C., morrendo por volta dos 60
anos de idade (430 a.C.) no monte Etna. Pensador pré-socrático, Empédocles deu início à
chamada corrente pluralista, compreendendo que a arché (origem) do universo estaria ligada
à ação de quatro elementos: água, ar, terra e fogo.
Empédocles foi responsável por um poema Sobre a natureza, do qual apenas restam
fragmentos.
Assim como Parmênides, Empédocles entendia que o “ser” existe e o “não ser” não
existe, pois não há como algo surgir do nada ou ir ao nada. Na verdade, algumas substâncias
se misturam e se dissolvem, mantendo-se eternamente iguais e indestrutíveis. Essas
substâncias, portanto, seriam a água, o ar, a terra e o fogo (raízes de todas as coisas).
Para os pensadores da Escola Jônica, a arché variara em relação a essas substâncias, de
acordo com o filósofo em questão. Empédocles, por outro lado, entendia que cada uma delas
manteria sua inalterabilidade qualitativa. Surgia, pois, a compreensão de “elemento”, isto é,
algo de originário e “qualitativamente imutável”, capaz apenas de unir-se e separar-se espacial e mecanicamente em relação
à outra coisa. A concepção pluralista, portanto, superou a visão monista de Jônios e de Eleatas.
Esses quatro elementos, unindo-se, dão origem à geração das coisas; ao contrário, separando-se, dão origem à sua
corrupção. Empédocles empregou as forças cósmicas do Amor ou da Amizade (philia) e do Ódio ou Discórdia (nêikos),
respectivamente, como causa da união e da separação dos elementos. Quando o Amor/Amizade prevalece, os elementos se
agrupam em unidade; quando o Ódio/Discórdia, porém, predomina, eles se separam.

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b) Anaxágoras de Clazômenas (500 – 428 a.C.)
Anaxágoras escreveu um tratado Sobre a natureza, do qual sobraram
expressivos fragmentos. Anaxágoras concorda que o “não ser” não exista e,
assim, “nascer” e “morrer” são eventos ilusórios.
Todavia, para Anaxágoras, contradizendo Empédocles, essas “coisas que
existem” não podem ser apenas as quatro raízes. A água, o ar, a terra e o fogo
não são suficientes para explicar as inumeráveis qualidades que se
manifestam nos fenômenos. As “sementes” (elementos) das quais derivam as
coisas deveriam ser tantas quantas são as inumeráveis quantidades das coisas.
Essas sementes são o originário qualitativo pensado eleaticamente, não
apenas como eterno, mas também como imutável.
Essas sementes foram chamadas “homeomerias” (o termo aparece em
Aristóteles, mas não é impossível que seja de Anaxágoras), que quer dizer
“partes semelhantes”, “partes qualitativamente iguais” (obtidas quando se
divide cada uma das “sementes”).
Inicialmente, essas homeomerias constituíam a massa em que tudo era
“misturado junto”, de modo que “nenhuma se distinguia”. Por isso, diz
justamente Anaxágoras: “Tudo está em tudo”.

c) Leucipo e Demócrito – os atomistas


Leucipo era natural de Mileto e migrou para Eleia, na Itália, onde teve
acesso ao pensamento eleata. De Eleia, Leucipo se transferiu para Abdera,
onde fundou a Escola que atingiu o auge com Demócrito, natural desta mesma
cidade. Demócrito nasceu por volta de 460 a.C. e morreu em 370 a.C.,
portanto, depois da morte de Sócrates, embora esteja situado entre os
pensadores considerados pré-socráticos.
Os atomistas defendiam a impossibilidade do não ser, compreendendo
que o nascer nada mais seria do que “um agregar-se de coisas que existem” e o
morrer, “um desagregar-se das mesmas”.
As realidades originárias (arché) para os atomistas, porém, estariam em
um “número infinito de corpos, invisíveis pela pequenez e volume”. Esses
corpos seriam indivisíveis, e, portanto, a-tomos (em grego, “átomo” significa
“o não divisível”) e, por extensão, incriados, indestrutíveis e imutáveis.
Em certo sentido, esses
“átomos” estão mais próximos
do ser eleata do que das quatro
“raízes” ou elementos de Empédocles, e das “sementes” ou homeomerias de
Anaxágoras, porque são qualitativamente indiferenciados.
Diferente da visão moderna, os atomistas não compreendiam o átomo da
forma como a ciência pós-galilaica deu ao termo. O átomo seria uma forma
indivisível, diferente dos outros átomos pela figura, e também pela ordem e pela
posição infinitamente. O átomo não seria, para os atomistas, perceptível pelos
sentidos, mas somente pela inteligência (uma forma visível ao intelecto).
Para ser pensado como “pleno” (de ser), o átomo pressupõe
necessariamente o “vazio” (de ser, portanto, o não ser). Logo, o vazio é tão
imprescindível como o pleno: sem vazio, os átomos-formas não poderiam
diferenciar-se nem se mover. Dessa forma, átomos, vazio e movimento
constituem a explicação de tudo.

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TEMA 4 – SOFISTAS

Os sofistas não se apresentavam como filósofos, mas como técnicos e professores de técnicas. A sofística, nesse sentido,
não seria uma doutrina, mas um modo de ensino.
Na antiga Grécia, Atenas tornou-se, no século V a.C., sob a administração de Péricles, uma cidade-Estado importante e
próspera e entrou em sua “Era de Ouro” de erudição e cultura. Essa realidade despertou a atração de pessoas de toda a Grécia.
Nesse contexto, havia consideráveis vantagens àquelas que conheciam e sabiam interpretar a lei. Atenas era administrada sob
princípios democráticos, com um sistema legal estabelecido. Exigia-se de qualquer pessoa levada à corte que defendesse sua
causa. Foi nesse cenário que se desenvolveu um verdadeiro grupo de mestres de retórica, conhecidos como sofistas. Os sofistas
eram professores itinerantes de legislação e retórica.

• Protágoras (480 – 415 a.C.) – natural de Abdera.


a) Considerado o mais famoso e cortejado entre os sofistas, viajou por toda a Grécia.
b) Axioma fundamental do pensamento de Protágoras: “O homem é a medida de todas as
coisas”. (Princípio do “homo mensura”). Assim, para Protágoras, o humanismo e o
relativismo são elementos essenciais.
c) Autor de Antilogias, para Protágoras, “em torno de cada coisa, há dois raciocínios que
se contrapõem”, ou seja, em torno de cada questão se pode tanto dizer, quanto
contradizer. Dessa forma, é possível expor argumentos que se anulem mutuamente.
Esse sofista ensinava a tornar o argumento mais forte o argumento mais fraco.
d) Protágoras refutava a existência de um critério absoluto que discrimine “ser” e
“não-ser”, verdadeiro e falso. Não existiria um “verdadeiro” absoluto, nem valores
morais absolutos.
e) Voltou-se para questões práticas. A “virtude”, para Protágoras, estaria na habilidade de conseguir prevalecer qualquer
ponto de vista sobre a opinião contrária.
f) O relativismo defendido por Protágoras considerava que o homem deveria ser medido em relação à utilidade, ou seja,
a utilidade deveria se apresentar de forma objetiva. O bem e o mal se apresentariam nas formas respectivas do útil e
do danoso.
g) Alcançou notável influência sobre os políticos. Chegou a conselheiro de Péricles, que lhe confiou a missão de elaborar
leis para a colônia de Turi, em 444 a.C.
h) Protágoras, assim como Sócrates, foi acusado de crime de impiedade (zombar dos deuses). Obras suas foram
incineradas em uma praça pública. Protágoras fugiu de Atenas e se estabeleceu na Sicília.

• Górgias (485 – 380 a.C.) – Leontinos, na Sicília.


a) Viveu por mais de um século percorrendo toda a Grécia, auferindo amplos consensos
em torno de si.
b) Obra-prima de Górgias: Sobre a natureza ou sobre o não ser.
c) Protágoras parte do relativismo, enquanto Górgias parte do niilismo (o nada é o
fundamento) em sua construção retórica. O ser não existe (nada existe). Se o ser existisse,
não poderia ser cognoscível (pensável). Se o ser fosse pensável, seria inexpressável.
d) Apresentava-se publicamente (retórica). Não professava ensinar a “areté” (virtude).
e) Foi embaixador em Atenas.
f) Acumulou notável fortuna material.
g) A retórica é rainha das ciências. Não haveria como chegar a uma “verdade” absoluta (alétheia), de modo que só restaria
o caminho da “opinião” (doxa). Górgias, porém, considerava a opinião “pérfida”; em vez disso, portanto, defendia a
razão, que se restringe a iluminar fatos, circunstâncias e situações da vida dos homens e das cidades.
h) Górgias foi o primeiro filósofo a teorizar sobre valência estética da palavra e a essência da poesia, que ele conceituou
como produção de sentimentos pungentes.

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• Pródicos – (465 – 395 a.C.) – Céos.
a) Chegou a lecionar em Atenas.
b) Sua obra-prima: Horai (possivelmente, a deusa da fecundidade).
c) A técnica de Pródicos estava fundamentada na “sinonímia”. Ele estabelecia as diferenças entre os termos sinônimos e
pontuava as nuanças de cada significado.
d) A virtude: meio idôneo para a verdadeira vantagem.
e) Foi mestre de Sócrates.
f) Deuses são a hipostatização (absolutização) do útil.
g) Reinterpretação do mito de Hércules.

• Os sofistas
– Deslocaram o interesse da filosofia da natureza para o homem.
– Instauraram um clima cultural que se poderia chamar com o moderno termo “iluminista”.
– Criticaram a religião em perspectiva também ateia.
– Criticaram o conceito de verdade e de bem.
– Destruíram a imagem tradicional do homem.
– Consideraram a virtude como objeto de ensino.
– Apresentaram-se como mestres de virtude.
– Foram expressão da crise da aristocracia e da ascensão política das novas classes.

As visões desenvolvidas por Tucídides, Aristófanes, Xenofonte, Platão e Aristóteles são desfavoráveis aos sofistas. Elas
traduzem os sofistas como impostores, demagogos e mentirosos. A partir do final do século XIX, porém, historiadores da
filosofia têm revisto essas interpretações, considerando os sofistas, na verdade, como os fundadores da pedagogia
democrática, autênticos mestres na arte da educação do cidadão.

TEMA 5 – SÓCRATES (469 – 399 A.C.)

• ASPECTOS BIOGRÁFICOS
a) Sócrates, nascido em Atenas, era filho de um pedreiro/escultor (Sofronisco), de quem teria
seguido a profissão por um determinado período; e de uma parteira (Fainarete).
b) Não nos deixou escritos, sendo sua vida e seu pensamento conhecidos por meio da
narrativa de outros, sobretudo de Platão, em seus famosos diálogos, e de Xenofonte, por
meio de sua obra, Memorabillia. Aristófanes, comediógrafo ateniense, satiriza Sócrates
em sua peça As Nuvens (423 a.C.), comparando o filósofo aos sofistas e acusando-o de
corromper a sociedade local.
c) Estudou filosofia e chegou a ser convocado para o serviço militar, participando da Guerra do Peloponeso.
d) Com a morte do pai, herdou dinheiro suficiente para viver com a esposa Xantipa sem precisar trabalhar.
e) Casou-se ainda com Mirto.
f) Teve três filhos: Lamprocles, Sofronisco e Menexeno.
g) Tornou-se uma figura conhecida em Atenas, envolvendo-se em discussões filosóficas com concidadãos e conquistando
um séquito de jovens alunos. As aulas ministradas por Sócrates eram gratuitas. Isso colocou o pensador ateniense em
uma posição contrária aos mestres da retórica, os sofistas. Além disso, Sócrates se opunha à perspectiva dos sofistas,
que compreendiam
a verdade como algo relativo, pois, na visão socrática, a verdade seria absoluta.
h) Ao fim, acusado de negar os deuses e de corromper o espírito da juventude (crime de impiedade), foi condenado à morte.
i) Embora lhe tivesse sido oferecida a alternativa do exílio, ele aceitou o veredito de culpado e recebeu sua dose fatal de
cicuta em 399 a.C.
j) Concentrou-se na problemática do Homem, cuja essência é a alma, a psyché (inteligência). Para o filósofo, o Homem
seria a sua própria alma, o que o distinguiria de qualquer outra coisa. Essa mesma alma seria a razão e o centro do
exercício pensante e eticamente ativo. Sócrates, dessa forma, compreende que o conhecimento da verdade leva
necessariamente à ação ética. É como Sócrates que nasceu a tradição ética e intelectual em torno da qual a Europa se
constituiu espiritualmente.

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• VIRTUDE PARA SÓCRATES
a) Os antigos gregos utilizavam a expressão “areté” para se referirem à “virtude”. Para eles, seria o que torna uma coisa
boa e perfeita naquilo que ela fosse.
b) Em relação ao homem, a virtude se referiria àquilo que faz a alma ser como sua natureza a estabeleceria.
c) A aristocracia grega entendia a “areté” como sendo o berço, o nascimento, a família, o sangue, isto é, tudo aquilo que,
por tradição, qualificasse alguém como membro de uma determinada esfera social. Os sofistas, por sua vez,
consideravam a “areté” como sendo a capacidade retórica.
d) Para Sócrates, é o que torna o homem um ser melhor e isso se dá pelo conhecimento. O vício seria a privação do
conhecimento. A fonte do mal é a ignorância.
e) Sócrates, assim, fez uma verdadeira revolução na visão moral grega antiga. Os valores, para Sócrates, não seriam exteriores
ao ser humano (riqueza, poder, fama, beleza, saúde física), mas, apenas os valores alma, resumidos no conhecimento.

• LIBERDADE PARA SÓCRATES


a) Para Sócrates, a mais expressiva competência da razão humana estaria no autodomínio (razão > paixão). O maior dos
escravizados é quem não domina seus instintos. Nova concepção de herói (aquele que derrota os inimigos interiores).
b) O autodomínio seria o domínio da racionalidade sobre a animalidade. Essa seria a concepção de liberdade para
Sócrates. O verdadeiro homem livre seria aquele que controlasse seus instintos.
c) A autarquia seria a autonomia alcançada pelo sábio, cujo estilo de vida se aproxima daquele adotado por Deus, que
não necessita de nada. Na verdade, o sábio seria aquele que, vencendo os instintos, recusaria tudo o que fosse
supérfluo, recorrendo apenas à razão para tornar-se uma pessoa feliz.

• FELICIDADE PARA SÓCRATES


a) Em grego, a palavra “felicidade” é expressa por meio do termo “eudaimonía”, que, em princípio, quer dizer: “a sorte de
possuir um demônio-guardião bom e favorável”. Essa concepção já havia sido internalizada pelos pensadores pré-socráticos.
b) Não pode vir das coisas exteriores, do corpo, mas somente da alma. A alma só pode ser feliz quando é ordenada
(virtuosa). O homem virtuoso não pode sofrer nenhum mal, nem na vida, nem na morte.
c) Como a virtude, para Sócrates, seria um fim em si mesma, o homem pode ser feliz nesta vida, a despeito das condições
vividas. O homem, dessa forma, seria o grande responsável por sua felicidade ou infelicidade.

• O JULGAMENTO DE SÓCRATES
a) Sócrates foi acusado de crime de impiedade (zombar dos deuses e corromper os jovens).
b) Juridicamente, as acusações de que Sócrates havia sido alvo eram pertinentes. Para Sócrates, não haveria deuses, mas um Deus,
que seria a Inteligência Ordenadora. Ensinando aos jovens essa visão (doutrina), o filósofo estaria, digamos, os “corrompendo”.
c) Apesar de sua brilhante autodefesa, Sócrates foi condenado pelo tribunal, aceitando sua pena e se recusando a fugir,
como alguns amigos quiseram que o fizesse.
d) Sócrates acreditava na valorização da não violência: a razão poderia impor-se pela convicção e não pela força. Aceitou
a condenação e se recusou a fugir do cárcere.

• MÉTODO SOCRÁTICO (dialética). Busca despojar a alma da ilusão do saber, curando-a. Esse método estava organizado em
quatro fases principais, a saber:
1ª Negação: induzir o interlocutor a apresentar o próprio saber.
2ª Ironia: assumem-se as teses do adversário para revelar seu erro.
3ª Refutação: levar o adversário à contradição e dissuadi-lo quanto às suas falsas convicções.
4ª Maiêutica: despertar a verdade que há em cada uma de nós, mediante perguntas e respostas.

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TEMA 6 – PLATÃO (428 – 348 A.C.)

• ASPECTOS BIOGRÁFICOS
a) Platão, cujo nome de batismo era Arístocles, nasceu em Atenas, no ano 428 a.C, em plena
Guerra do Peloponeso (431 – 404 a.C.), a mesma guerra em que as cidades lideradas por Atenas
(Liga de Delos) e as cidades lideradas por Esparta (Liga do Peloponeso) se enfrentaram de forma
trágica.
b) O apelido Platão, como ficou mais conhecido o filósofo, teria derivado de sua avantajada compleição
física, pois, em grego, a palavra “platôs” quer dizer “amplitude”, “largueza”, “extensão”.
c) Platão era filho de Ariston (descendente do rei Codro) e de Perictíone (parente do legislador Sólon).
d) Platão, por sua origem aristocrática, teria sido preparado, assim como os filhos da elite
ateniense, para um futuro político na cidade, com a formação típica de jovens de sua idade e condição social. Platão
teve dois irmãos (Adimanto e Glauco) e uma irmã (Potone).
e) Teve aulas com Crátilo, que, por sua vez, foi discípulo de Heráclito. Platão teve Sócrates como mestre, tornando-se
seu discípulo mais destacado.
f) Platão não apoiava a democracia, inclusive pelas injustiças que Sócrates sofreu nesse regime. Platão, assim como
outros discípulos de Sócrates, deixou Atenas e fez uma série de viagens: Mégara (399 a.C.), Egito (390 a.C.), Cirene (389
a.C.) e Siracusa (388 a.C.), quando, nesta última, teve conhecimento da filosofia pitagórica (Platão conheceu o
pitagórico Árquitas).
g) Ainda na região do Sul da Itália (Magna Grécia), teve acesso ao pensamento de Parmênides, que o influenciou profundamente.
h) De regresso a Atenas, fundou a Academia (situada no parque dedicado ao herói Academos), de profunda influência
matemática. Isso posteriormente ao ano 388 a.C., numa época em que na Grécia ainda não havia instituições dessa
natureza.
i) Platão se opunha tenazmente ao pensamento dos sofistas.
j) Deixou Atenas por outras ocasiões, até fixar-se por definitivo em Atenas em 360 a.C.
l) Platão morreu em Atenas em 348 a.C., aos 80 anos, sem deixar filhos. Com sua morte, a direção da Academia ficou sob
o comando do sobrinho de Platão, Espeusipo, sendo este sucedido por Xenócrates, que acentuou a doutrina dos
Princípios (Uno/Díade), bem mais do que a Teoria das Ideias.
m) Posteriormente, sob o comando de Pólemon, Crates e Crantor, a Academia recebeu profunda influência cultural helenística.

• A FUNDAÇÃO DA METAFÍSICA
a) O pensamento de Platão se destaca, sobretudo, pela descoberta de uma realidade superior ao plano físico (mundo
sensível), isto é, uma realidade metafísica do ser.
b) Platão ilustrou essa realidade como uma “Segunda Navegação”, em oposição à “Primeira Navegação”, isto é, a filosofia
dos pré-socráticos, que buscavam a origem da Natureza na própria Natureza.
c) Para Platão, a origem da realidade não estaria no mundo físico, mas em um mundo metafísico, o Mundo das Ideias.
d) Essa é a famosa Teoria das Ideias ou Teoria das Formas.
e) Para o desenvolvimento dessa teoria, Platão sofreu influência direta dos pensamentos de Heráclito (na concepção do
mundo sensível, que é mutável) e de Parmênides (na organização do mundo inteligível, que é imutável).

• MUNDO INTELIGÍVEL
a) Mundo das Ideias: eterno, imaterial, imutável, invisível e real. Platão denomina Ideias ou Formas.
b) Ideias, na visão de Platão, não são representações mentais; na verdade, são “entidades” ou “essências” que subsistem
em si e por si em um sistema hierárquico bem organizado e que representam o verdadeiro ser.
c) No ápice desse mundo, estaria a ideia do Bem, que coincidiria com o princípio do “Uno”.
d) O Mundo Inteligível derivaria da cooperação dos princípios originários: “Uno” e “Díade”.
e) O “Uno” seria o princípio do limite, da ordem, enquanto a “Díade” representaria o indeterminado, o ilimitado.
f) Na parte inferior do Mundo Inteligível, estariam as entidades matemáticas (números e figuras geométricas).

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• MUNDO SENSÍVEL
a) Criado, material, mutável, visível e cópia. Criado pelo Demiurgo (Deus-artífice) a partir de uma massa informe (chora).
Formado pelas coisas materiais.
b) Enquanto o Mundo Inteligível é o resultado da combinação dos Princípios Uno-Díade, o Mundo Sensível precisa de um
mediador, que é o “Demiurgo”.
c) Do Mundo Sensível, ascende-se ao Mundo Inteligível, por meio da “Segunda Navegação”. O Mundo Inteligível seria a
verdadeira causa do Mundo Sensível, porquanto lhe serviu de molde (paradigma) de construção.
d) O “Demiurgo”, para Platão, seria um “Deus-artífice”, que criou o Mundo Sensível, por “bondade” e por amor ao bem.

• ANAMNESE (REMINISCÊNCIA)
a) É a recordação de verdades conhecidas pela alma e que reemergem de vez em quando na experiência.
b) É apresentada no diálogo Mênon sob uma dupla forma: uma narrativa mítica e uma visão dialética.
c) A visão mítica recorre a recursos órfico-pitagóricos (a alma é imortal e renasce muitas vezes).
d) Na dialética, Platão realiza uma experiência maiêutica (um escravizado ignorante revela saber geometria).
e) No diálogo Fédon, Platão apresentou nova confirmação da anamnese.

• DIALÉTICA. Processo de conhecimento. Pode ser ascensional (sinótica) ou descensional (diairética).

• OS GRAUS DE CONHECIMENTO
a) Apresentados no diálogo A República.
b) Doxa (Opinião) x Episteme (Ciência).
c) A Doxa divide-se em imaginação e crença.
d) A Episteme divide-se em ciência intermediária e intelecção.

• O ESTADO IDEAL PARA PLATÃO


a) O político deve ser um filósofo (aristocracia). As classes estariam associadas às almas (racional, irascível e apetitiva).
b) A “verdadeira arte política” é a aquela que “cura a alma” e a torna o mais possível “virtuosa”, sendo, dessa forma, a
arte do filósofo.
c) Platão amadureceu a partir dos diálogos Górgias e República, há uma precisa coincidência entre verdadeira filosofia
com a verdadeira política.
d) Somente se o político se tornar “filósofo” (ou vice-versa) será possível construir a Cidade autêntica, isto é, o Estado
fundado sobre o valor supremo da justiça e do bem.
e) Um Estado nasce porque cada um de nós não e “autárquico”, ou seja, não se basta a si mesmo e tem necessidade dos
serviços de muitos outros homens.
f) A Cidade, portanto, necessita de três classes sociais: a dos lavradores, artesãos e comerciantes; a dos guardas; e a dos
governantes.
g) Portanto, assim como são três as classes do Estado, também são três as partes da alma: a apetitiva; a irascível; a racional.

• ARTE
a) Mimese (Cópia). A arte esconde o verdadeiro e corrompe o homem. Ela se volta para as faculdades irracionais da alma.
b) A questão da arte em Platão deve ser tomada em estreita relação com a temática metafísica e dialética.
c) Ao estabelecer a essência, a função e o valor da arte, Platão se preocupa apenas em estabelecer o seu valor de verdade.
d) A visão de Platão é muito negativa: a arte não revela, mas esconde o verdadeiro, porquanto não constitui uma forma
de conhecimento nem melhora o homem, mas o corrompe, porque é mentirosa.
e) Em seus primeiros escritos, Platão assume atitude negativa diante da poesia, considerando-a decididamente inferior à filosofia.
f) Como o mundo sensível é uma imitação do mundo inteligível, a arte, por sua vez, é imitação das coisas sensíveis. Assim,
a arte é “imitação de imitação, cópia que reproduz cópia”.
g) Platão não negou a existência e o poder da arte. Na verdade, o que ele refutou foi que a arte seja dotada de valor em
si mesma: a arte serve ao verdadeiro ou ao falso.
h) Entregue a si mesma, a arte serve ao falso. Assim, se quiser se “salvar”, a arte deve submeter-se à filosofia, que é a
única capaz de alcançar o verdadeiro, e o poeta deve submeter-se às regras do filósofo.

• Diálogos. Platão escreveu ao todo 36 diálogos, subdivididos em nove tetralogias.


• Academia. Escola fundada por Platão. Priorizava o ensino da Matemática.
• Platão tem uma visão dualista do homem: corpo (sensível) e por alma (suprassensível).
• Metempsicose é a transmigração da alma para um corpo. Platão cópia isso do Orfismo.
• A partir do diálogo Górgias, Platão passou a atribuir novo valor ao mito, dando-lhe grande importância narrativa.

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TEMA 7 – ARISTÓTELES (384 – 322 A.C.)

• ASPECTOS BIOGRÁFICOS

a) Nascimento
Aristóteles nasceu no ano de em 384 a.C., em uma cidade ao norte da Grécia, chamada Estagira,
na fronteira com a Macedônia. Em virtude do local de nascimento, Aristóteles também ficou
conhecido como o “Estagirita”.

b) Família
Aristóteles era filho do médico Nicômaco, que atendia ao rei Amintas III, da Macedônia. Este
monarca era pai de Filipe, que também foi rei macedônico; Filipe foi pai do grande imperador Alexandre, o Grande, de quem
Aristóteles será tutor. Acredita-se que, por conta disso, Aristóteles tenha vivido parte de sua infância na corte macedônica, na
cidade de Pela.
A mãe de Aristóteles, Faestis, natural de Cálcis. Foi para esta cidade que Aristóteles fugiu, por volta de 323 a.C., em virtude
de perseguições políticas, vindo a falecer no ano seguinte.
Aristóteles teve uma irmã, Arimneste, e um irmão, Arimnesto.
Por volta dos treze anos de idade, Aristóteles estava órfão e ficou sob a guarda de Proxeno de Atarneus, que era casado
com sua irmã, Arimneste, com a qual casal teve dois filhos: Hero e Nicanor. Nicanor se casou com sua prima, Pítias, filha de
Aristóteles.

c) Atenas
Quando Aristóteles estava entre seus dezessete e dezoito anos de idade, migrou para Atenas, a fim de continuar e
aprofundar seus estudos. Matriculou-se na Academia, onde passou vinte anos, enquanto aluno e depois como professor.
Discípulo de Platão, Aristóteles foi fortemente influenciado pelo pensamento de seu mestre. Aristóteles tanto defendeu alguns
escritos de Platão quanto criticou outros tantos. Esse período em que esteve na Academia, Aristóteles aprofundou
sobremaneira seus conhecimentos filosóficos.
Todavia, em 348 a.C., com a morte de Platão, a direção da Academia ficou sob o comando de um sobrinho deste,
Espeusipo, que conduziu a escola para rumos que se distanciavam do pensamento de Aristóteles, que, dessa forma, deixa
Atenas e parte para a Ásia Menor.

d) Ásia Menor
Região que corresponde à Turquia nos tempos de hoje, a Ásia Menor compunha a civilização grega na Antiguidade. Com
a morte de Platão, Aristóteles parte para essa região, acompanhado de Xenócrates. Na cidade de Assos, fundou uma Escola,
ao lado de dois platonistas, Erasto e Corisco.
Passados três anos em Assos, Aristóteles migrou para a cidade de Mitilente, em Lesbos, onde conheceu sua esposa, Pítias,
com quem teve uma filha, também chamada Pítias. Nessa mesma cidade, Aristóteles fez riquíssimas observações e registros
da fauna e da flora locais, base para importantes pesquisas em termos de ciências naturais por parte do filósofo.

e) Macedônia
Por volta de 343 a.C., Aristóteles foi convidado pelo rei da Macedônia, Filipe II, para que se tornasse tutor de seu filho,
Alexandre, futuro imperador e conquistador de imenso território entre o Ocidente e o Oriente. Nomes como Isócrates e
Espeusipo até foram cogitados, mas a escolha final recaiu sobre o estagirita. O jovem Alexandre contava à época com a idade
de 13 anos.
Em Mieze, no Templo das Ninfas, Aristóteles ministrou aulas a Alexandre e a filhos de outros nobres da Macedônia, como
Ptolomeu, Heféstio e Cassandro. As aulas consistiam em lições sobre medicina, filosofia, ética, religião, lógica e arte. Em razão
da paixão que Alexandre manifestou pela literatura de Homero, Aristóteles lhe presenteou com uma cópia da Ilíada. Alexandre
levava esse livro em suas campanhas militares.

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Aristóteles apoiava o projeto de controle macedônico sobre uma Grécia politicamente unificada que Alexandre
manifestava. Todavia, discordava da ambição de seu aluno em estender a cultura grega para os bárbaros, isto é, aqueles que
não pertenciam à civilização helênica.

Aristóteles ensinando Alexandre, a Grande gravura de Charles Laplante.

Em 340 a.C., era encerrada a missão de Aristóteles junto a Alexandre, que ascendia ao trono da Macedônia como regente,
em virtude da ausência de seu pai, Filipe II, que partira para a guerra contra Bizâncio. Acredita-se que Aristóteles tenha voltado
à sua cidade natal, permanecendo ali até por volta de 335 a.C., quando resolveu retornar a Atenas.

f) Atenas (regresso)
De volta a Atenas, Aristóteles alugava imóveis situados próximos a um templo dedicado a Apolo Lício. Nessa localidade,
montou sua famosa escola, o “Liceu” (em alusão ao referido deus grego).
Aristóteles lecionava, enquanto passeava com seus alunos no entorno do jardim anexo. Por essa razão, o Liceu também
ficou conhecido por “Perípato” (em grego, peripatós, “passeio”); por extensão, os discípulos de Aristóteles ficaram conhecidos
como “peripatéticos”.
O Liceu passou a ser uma escola alternativa à Academia, chegando mesmo a ultrapassá-la em determinados momentos.
Esse foi o período mais fértil da produção intelectual de Aristóteles, com seus preciosos tratados filosóficos e científicos.

A escola de Aristóteles, afresco de Gustav Adolph Spangenberg, 1883-1888.

Alexandre morreu em 323 a.C. e o fato desencadeou uma onda de perseguições em Atenas a macedônios, e Aristóteles
passou a ser acusado de crime de impiedade (o mesmo crime de que foi acusado Sócrates, anos antes). Aristóteles teria
influenciado Alexandre a se considerar uma divindade, segundo seus acusadores. Além disso, em sua fase em Assos, Aristóteles
teria escrito um poema em honra de Hérmias, o governo local, e o texto parecia mais digno de um deus, do que de um homem.
O refúgio que Aristóteles encontrou, a fim de evitar a condenação e a pena de morte, foi a terra natal de sua mãe, em
Cálcis, onde mantinha propriedade. O Liceu ficou sob o comando de Teofrasto. Aristóteles morreu no ano seguinte.

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• O CONHECIMENTO PARA ARISTÓTELES
a) Aristóteles dividiu todo o conhecimento em três grandes ciências:
I. Teoréticas. As Ciências que estudam a Natureza (tudo aquilo que existe). São aquelas que procuram o saber pelo
saber e são representadas pela Metafísica, Física e Matemática;
II. Práticas. As Ciências que estudam a Natureza Humana. São aquelas que usam o saber com a finalidade da perfeição
moral. São representadas pela Ética e pela Política;
III. Poiéticas. As Ciências que estudam técnicas, que facilitam a vida humana. São aquelas que tendem à produção de
determinadas coisas.

• A METAFÍSICA ARISTOTÉLICA
a) Considerada a “Filosofia primeira”, a metafísica é a principal entre as ciências teoréticas, as mais elevadas entre as ciências.

b) Para Aristóteles, a Metafísica poderia ser traduzida por quatro possíveis definições:

I. ETIOLOGIA: pois a Metafísica questiona as causas ou os princípios supremos;


Para Aristóteles, quanto ao que se refere à pesquisa das causas e dos princípios primeiros, haveria quatro causas:
1) Causa formal. Trata-se da causa que confere a forma, e, portanto, a natureza e a essência de cada realidade
singular;
2) Causa material. Trata-se daquilo de que é composta toda realidade sensível;
3) Causa eficiente. Trata-se daquilo que produz geração, movimento ou transformação;
4) Causa final. Trata-se daquilo a que toda coisa tem por finalidade.

II. ONTOLOGIA: pois a Metafísica explora o ser enquanto ser;


a) Diferente do que pensavam os pré-socráticos eleatas, Aristóteles não acredita na univocidade do ser (tese de que
só haveria um tipo de ser em sentido absoluto). Para o Estagirita, o ser tem múltiplos significados, em vários
níveis, que se reduzem aos quatro seguintes (A metafísica se ocupa dos primeiros dois grupos de significados):
1) O ser em si, a partir das chamadas “categorias”. As categorias seriam dez: substância, qualidade,
quantidade, relação, ação, paixão, lugar, tempo, estado e hábito. As categorias representam os gêneros
supremos do ser. Isso significa que aquilo que é chamado de ser ou é substância ou qualquer outra
categoria.
2) O ser enquanto ato e potência. Potência e ato são dois significados não definíveis em abstrato, mas
“demonstráveis” por meio de exemplos ou de uma experiência direta. O ato é a manifestação atual do ser,
aquilo que ele já é; enquanto isso, a potência carrega consigo as possibilidades do ser, a capacidade de ser.
Uma semente é, em ato, uma semente; mas, em potência, é uma árvore.
3) O ser como acidente. O ser acidental é aquele que se revela de modo fortuito, e, dessa forma, não é nem
sempre nem no mais das vezes, mas apenas às vezes. Vale salientar que, em relação ao ser como acidente,
não existe nenhuma ciência em particular, porque a ciência existe apenas em função do necessário, e não
do casual.
4) O ser como verdadeiro (e o não ser como falso). O ser como verdadeiro se tem quando a mente reúne coisas
que na realidade estão de fato reunidas, ou desune coisas que na realidade estão desunidas. Do ser como
verdadeiro ocupa-se a lógica, que não é uma ciência, mas uma ferramenta que busca uma conexão entre elas.

III. OUSIOLOGIA: pois a Metafísica especula sobre a substância (em grego, substância se diz ousia);
a) As categorias se referem todas à primeira entre as dez, isto é, à substância, e a pressupõem. O estudo sobre
substância é imprescindível para a Metafísica.
b) A respeito da substância, Aristóteles formulou uma resposta múltipla:
1) Em sentido bastante impróprio, a substância é matéria (como queriam os Naturalistas);
2) Em particular e no mais alto grau, a substância é a forma (a essência de determinada realidade);
3) A substância também é o sínolo (a união de matéria e forma, ou seja, os entes singulares individuais).
c) Para Aristóteles, a potência se realiza no ato, e não vice-versa; e a matéria se realiza na forma.

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IV. TEOLOGIA: pois a Metafísica investiga Deus e a substância suprassensível.
a) Segundo Aristóteles, as substâncias suprassensíveis eternas existem, pois, sem o eterno, não poderia subsistir nem
mesmo o devir.
b) Para Aristóteles, o tempo e o movimento seriam eternos e, diante disso, deveria existir uma causa adequada ao
efeito, isto é uma “causa eterna”, como um princípio do qual eternamente deriva o tempo-movimento.
c) Esta “causa eterna” deveria ser “imóvel”, pois, se a causa fosse móvel, exigiria outra causa, e esta ainda outra,
infinitamente. Essa “causa eterna” também seria desprovida de potência, sendo, pois, “ato puro”.
d) Essa “causa eterna” seria um “Motor Imóvel”, que move como o objeto de amor move o amante. Deus, pois, seria
a causa final do mundo, e o efeito do movimento que produz, o produz justamente atraindo o primeiro céu por
causa de sua perfeição.

• A FÍSICA ARISTOTÉLICA
a) Aristóteles considerava a física como sendo a “Filosofia segunda”.
b) Para Aristóteles, o movimento não implica (como defendiam os eleatas), uma passagem do ser ao não ser, mas implica
passagem de uma forma de ser para outra forma de ser, e justamente do ser em potência ao ser em ato.
c) O movimento se dá a partir de quatro categorias, isto é, conforme o(a):
I. substância, aí pode ser “geração” e “corrupção”;
II. qualidade, sendo chamado de “alteração”;
III. quantidade, chamando-se de “aumento” e “diminuição”;
IV. lugar, denominando-se “translação”.
d) Quanto ao movimento, Aristóteles exibiu uma teoria do lugar e uma teoria do tempo.
e) Em relação ao lugar, Aristóteles apresentou a existência de “lugares naturais” (o fogo e o ar tenderiam naturalmente
para o alto; a terra e a água, para baixo).
f) Segundo Aristóteles, o tempo seria o número do movimento conforme o antes e o depois.
g) Aristóteles chamava o planeta terra de “mundo sublunar” (constituído de terra, água, fogo e ar), onde as coisas
estariam sujeitas a um movimento naturalmente retilíneo. Já as coisas celestes, “de mundos supralunares”
(constituídos e éter, o quinto elemento), mover-se-iam em sentido circular.

• A MATEMÁTICA ARISTOTÉLICA
a) Platão compreendia os entes matemáticos como subsistentes em si e por si, ou seja, como realidades substanciais
separadas.
b) Aristóteles, por sua vez, entendia os entes matemáticos como características das realidades sensíveis, separáveis com
a mente.
c) Os números e as figuras geométricas existiriam, segundo Aristóteles, em potência nas coisas (com realidade própria).
Todavia, em ato, subsistiriam apenas em nossa mente, por meio da operação da separação-abstração.

• A ÉTICA ARISTOTÉLICA – Ciência Prática


a) A Ética e a Política são consideradas “ciências práticas”, isto é, aquelas que analisam a conduta dos homens e o fim
que eles querem atingir.
b) A Ética estuda a conduta ou do fim do homem como indivíduo; por outro lado, o estudo da conduta e do fim do homem
como parte de uma sociedade se dá pela “Política”.
c) As ações humanas tendem a “fins” que são “bens”. O conjunto das ações humanas e o conjunto dos fins particulares,
para os quais elas tendem, estão sujeitos a um “fim último”, o “bem supremo” (“felicidade”).
d) A felicidade, para Aristóteles, consistiria em se aperfeiçoar enquanto homem, ou seja, naquela atividade que diferencia
o homem de todas as outras coisas.
e) A alma do homem não tem apenas a razão, mas também é dotado de emoção. O controle racional dessa parte emotiva
seria a “virtude ética”.
f) A virtude ética é alcançada com a repetição de uma série de atos sucessivos (hábito).
g) A perfeição da alma racional, ao contrário, é chamada por Aristóteles de virtude “dianética”.

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h) A alma racional tem dois aspectos, conforme se volte para as coisas mutáveis da vida do homem ou para as realidades
imutáveis e necessárias, ou seja, aos princípios e as verdades supremas, então duas também são, fundamentalmente,
as virtudes dianéticas: a “sabedoria” e a “sapiência”.
i) Aristóteles procurou determinar os processos psíquicos pressupostos pelo ato moral. Ele chamou a atenção,
sobretudo, para o ato da “escolha”, que vinculou estreitamente ao ato de “deliberação”.
j) A “deliberação” se dá quando queremos alcançar determinados fins, quais e quantos são os meios que colocaremos
em ação para chegar àqueles fins, dos mais remotos aos mais próximos. A “escolha”, por sua vez, recairia sobre estes
últimos, transformando-os em ato.
k) Para Aristóteles, a “escolha” estaria ligada apenas aos “meios”, não aos fins, o que nos torna responsáveis, mas não
necessariamente bons (ou maus).
l) Segundo o Estagirita, ser “bom” depende dos fins e os fins não são objeto de “escolha”, mas de “volição”. Porém, a
vontade quer sempre e só o bem.

• A POLÍTICA ARISTOTÉLICA – Ciência Prática


a) O bem do indivíduo é da mesma natureza que o bem da Cidade, mas este “é mais belo e mais divino” porque se amplia
da dimensão do privado para a dimensão do social, para a qual o homem grego era particularmente sensível, porquanto
concebia o indivíduo em função da Cidade e não a Cidade em função do indivíduo.
b) Aristóteles considerava o homem como “animal político” (um animal que vive em sociedade politicamente organizada).
c) Segundo Aristóteles, pode não formar parte de uma comunidade apenas quem é autárquico e não tem necessidade
de nada, mas esse indivíduo pode apenas ser “ou uma fera ou um Deus”.
d) Aristóteles não compreendia “cidadãos” todos aqueles que vivem em uma Cidade e sem os quais a Cidade não poderia
existir. Um cidadão deveria participar da administração da coisa pública.
e) Não poderiam ser cidadãos: colono, operários, estrangeiros e escravizados. Todavia, esses seriam meios que servem
para satisfazer as necessidades dos cidadãos.
f) Aristóteles defendia a escravidão, considerando o escravizado “um instrumento que precede e condiciona os outros
instrumentos”, servindo para a produção de objetos e bens de uso, além dos serviços.
g) A constituição é “a estrutura que dá ordem à Cidade, estabelecendo o funcionamento de todos os cargos, sobretudo
da autoridade soberana”.
h) Quem governa pode governar: segundo o bem comum ou segundo seu interesse privado. Dessa forma, seriam
possíveis três formas de governo correto (monarquia, aristocracia e política) e três de governo corrupto (tirania,
oligarquia e democracia).
i) Segundo Aristóteles, a Cidade perfeita deveria sê-lo à medida do homem: nem demais populosa, nem muito pouco.
Viver em paz e fazer as coisas belas (contemplar) é o ideal supremo a que deve visar o Estado.

Disponível em: http://www.filosofiahoje.com/2012/03/filosofia-em-quadrinhos-aristoteles-e.html (adaptado).

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• A POESIA ARISTOTÉLICA – Ciência Poiética
a) Para Aristóteles, ao contrário de Platão, a arte não deve ser depreciada por seu caráter ilusório.
b) Aristóteles aplica à arte um valor catártico, isto é, purificatório.
c) A arte, segundo Aristóteles, pode até ser mimese da realidade, mas não se trata de uma imitação passiva e mecânica,
e sim de uma imitação criativa, capaz de reproduzir as coisas a partir da dimensão do possível e do universal.
d) O caráter catártico da arte se dá pelo fato de que ela liberta das paixões, ou porque as sublima no prazer estético.

• A RETÓRICA ARISTOTÉLICA – Ciência Poiética


a) O silogismo dialético, que se baseia na opinião, serve para fundar a retórica.
b) A arte retórica propõe-se a descobrir quais são os meios e os modos de convencer.
c) Ela, para atingir essa finalidade, utiliza dois instrumentos: um é o entimema, que consiste em um silogismo dialético
abreviado; e o outro é o exemplo, o qual tem a vantagem de tornar evidente de modo imediato qualquer raciocínio.

• A LÓGICA ARISTOTÉLICA (A ANALÍTICA)


a) A lógica aristotélica está fora do quadro das ciências gerais. Na verdade, a lógica, que Aristóteles chamou de “analítica”,
tratava-se de uma ferramenta para conectar da forma mais clara e exata possível as ciências entre si (Teoréticas,
Práticas e Poiéticas).
b) O pensamento aristotélico sobre lógica está expresso no grande clássico Órganon.
c) Categorias. São os primeiros elementos do pensamento. Se uma proposição for decomposta, haverá elementos
relacionados a uma das categorias. Por exemplo: “Sérgio Feitosa estuda”; neste caso, se separarmos as duas expressões
(“Sérgio Feitosa” e “estuda”), o primeiro termo é uma substância e o segundo termo é uma ação.
d) As categorias também são conhecidas por predicados. A conexão entre categorias forma uma premissa e um confronto
rigoroso e perfeito entre premissas, o qual origina um silogismo. Como exemplo de silogismo, podemos citar: “se todos
os homens são mortais / e se Fernandes é um homem / então, Fernandes é mortal”. Observe que nesse exemplo há
três proposições, das quais as duas primeiras são chamadas exatamente de premissas, e a terceira, de conclusão.
e) O silogismo formal é tomado na sua coerência formal, sem se ocupar do conteúdo; ou pode focar no conteúdo de
verdade de suas premissas, e então há o silogismo científico (ou demonstrativo); ou ainda pode satisfazer premissas
não verdadeiras, embora verossímeis e prováveis, e então terei o silogismo dialético.
f) Os silogismos falsos (paralogismos) parecem verdadeiros, mas se fundam sobre premissas ambíguas e enganadoras.
Nesse caso, temos silogismos erísticos.
g) A lógica aristotélica está fundamentada em três princípios fundamentais: Identidade (A só pode ser A), Não contradição
(A não pode ser B) e Terceiro Excluído (Não há espaço para outra ideia além do verdadeiro ou do falso).

TEMA 8 – FILOSOFIA HELENÍSTICA

• É importante saber que a Filosofia Helenística se situa na tradição antiga, antes da era cristã, sucedendo a chamada
Filosofia Clássica.
• A Filosofia Clássica se caracterizava mais por seus aspectos metafísico e político, ao passo que a Filosofia Helenística, por
sua vez, destacava-se mais por suas dimensões materialista e individualista.
• As correntes filosóficas helenísticas derivam da verdadeira fusão estabelecida entre as culturas grega e orientais, a partir
da expansão política, militar e territorial macedônica, comandada por Alexandre, o Grande, entre 334 e 323 a.C. A Filosofia
Helenística da Filosofia refletiu as atividades culturais desenvolvidas no período compreendido entre a morte de Alexandre
(323 a.C.) e o final da República Romana (31 a.C.).
• A concepção de homem atinge uma dimensão de igualitarismo universal, em detrimento do modelo exclusivamente grego.
O “cidadão” cedeu lugar ao “súdito”, de modo que a vida política passou a independer da vontade cidadã. O Período
Helenístico foi um contexto de crise política da Pólis, sendo o ideal cosmopolita cada vez mais valorizado. O “homem-
cidadão” cedeu para o “homem-indivíduo”. Alexandre propunha reunir culturalmente as cidades gregas com os povos
orientais, minando a concepção política grega tradicional (autonomia da “pólis”).

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• Na concepção desenvolvida por Alexandre, os macedônios teriam uma espécie de “missão civilizatória” da cultura grega
sobre todos os demais povos da terra. Assim, a língua grega se converteu em “koiné”, um dialeto usado nos domínios
conquistados por Alexandre. A cidade de Alexandria, no Egito, se tornou a sede cultural da Antiguidade, posição que
manteve mesmo durante a dominação romana.
• Surgiu, dessa forma, a necessidade de formas de pensamento mais adequadas à realidade imposta pela expansão
macedônica.
• Nesse sentido, surgiram as chamadas correntes helenísticas, comprometidas com o ideal ético de comportamento, voltado
à felicidade (paz de espírito), isto é, a chamada “ataraxia”.
• Embora o termo Helenismo pareça indicar apenas a hegemonia da cultura grega, na realidade, exprime a comunicação
intensa entre as criações culturais helênicas e as orientais enquanto submetidas a um mesmo e único poder central, ligadas
por rotas comerciais e tendo como ponto de encontro Alexandria e, mais tarde, Roma.

CINISMO
• Cinismo. Fundado por Antístenes (445 - 365 a.C.), após a morte de Sócrates (469 - 399 a.C.).
• Cinosargo (escola) – Nothoi (alunos marginalizados).
• Diógenes de Sínope (412 - 323 a.C.) foi o principal expoente, levando o Cinismo a um nível de notável relevância, sob uma
orientação anticulturalista, por compreender como desnecessária e até inútil o conhecimento que é abstrato e teórico.
• Diógenes foi contemporâneo de Alexandre, o Grande.
• Com Diógenes, o Cinismo se tornou uma verdadeira substância de vida, caracterizado por rigor e coerência.
• Diógenes teria dito: “Procuro o homem”, enquanto caminhava com uma lanterna acesa em pleno dia. O que seria, para
muitos, uma brincadeira ou uma loucura, na verdade, era o reflexo de um modelo de pensamento filosófico que busca o
homem que viveria segundo sua mais verdadeira natureza (essência), alheio e distante das convenções sociais e,
consequentemente, feliz.
• Para Diógenes, disciplinas como Matemática, Física, Astronomia, Música e, até mesmo a Metafísica, seriam simplesmente
inúteis para a verdadeira existência humana. A bem da verdade, para Diógenes, o conhecimento deveria estar baseado no
poder da ação e do exemplo.
• A Filosofia desenvolvida por Diógenes deveria estar fundamentada em uma vida experimentada fora das convenções
sociais, reduzindo a existência às necessidades mais básicas e essenciais. Dessa forma, o pensamento de Diógenes rompe
com o modelo clássico de Filosofia.
• O modo de vida cínico, preconizado por Diógenes, seria, portanto, o mais simples possível, restrito às necessidades
fundamentais do homem em sua animalidade, até mesmo sem moradia ou casa fixa, dispensando o conforto e o progresso.
Uma vida feliz seria aquela que fosse vivida segundo a própria natureza humana. Assim, o grande objetivo da vida seria
viver na virtude e a virtude, seria viver conforme a natureza.
• O modo de vida cínico, além da simplicidade, estaria pautado na ideia de “liberdade”, associada evidentemente ao
desprendimento de necessidades supérfluas. Todavia, a “liberdade” deveria ser levada a um sentido bem mais amplo e
radical. A liberdade deveria estar presente, por exemplo, na “expressão”, isto é, na possibilidade de falar o que se sentia e
o que se pensava. A liberdade de expressão ficou conhecida como “parrhesía”. Havia ainda a liberdade de ação, conhecida
como “anáideia”. Aliás, a falta de limites quanto à definição de “liberdade de ação” (“anáideia”) provocou, pelos excessos
muitas vezes praticados, a concepção negativa em torno da palavra “cínico”.
• Diógenes propunha que “exercícios físicos” e a consequente “fadiga” permitiriam ao homem o controle necessário dos
prazeres, beirando mesmo ao desprezo. Esse desprezo pelo prazer seria extremamente necessário, segundo os cínicos,
para que o homem pudesse alcançar a liberdade inerente à sua verdadeira natureza. Os prazeres representariam, nessa
perspectiva, uma espécie de escravidão. A vida verdadeiramente cínica, portanto, estaria caracterizada pela “autarquia”
(autodomínio) e pela “apatia” (indiferença).
• A tradição conta que, certa vez, Diógenes estaria em seu barril, tomando um “banho de sol”, quando chegou, ninguém mais,
ninguém menos que, Alexandre, o Grande, que teria oferecido ao filósofo tudo aquilo que ele quisesse pedir. Diógenes, em
resposta, teria dito: “Devolve-me o sol”. Fato ou não, esse episódio ilustraria a indiferença do cínico ao poder de Alexandre e
que a verdadeira felicidade, portanto, não estaria fora do ser humano, mas, sim, na simples sensação de bem estar consigo.

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• Diógenes ficou, para muitos, conhecido como “O Filósofo do Barril”. Aliás, acerca de Diógenes, conta-se que: “... foi o
primeiro a dobrar o manto por necessidade também de dormir dentro dele, e levava um bornal no qual recolhia comidas;
servia-se indiferentemente de qualquer lugar para todos os usos, para fazer refeições, para dormir ou para conversar. E
costumava dizer que também os atenienses haviam providenciado para ele um lugar onde pudesse morar: indicava o
pórtico de Zeus e a sala das procissões (...). Uma vez, ordenou a alguém que lhe providenciasse uma casinha; e, como este
demorava, Diógenes escolheu como habitação um barril que estava na rua, como ele próprio o atesta...”.

Diógenes sentado em seu barril cercado por cães. Pintura de Jean-Léon Gérôme de 1860.

EPICURISMO
• Epicurismo. Fundado por Epicuro (341 - 271 a.C.), natural de Samos, no mar Egeu. Era filho
de Neócles e de Cheerestrate, naturais de Atenas (o pai era cidadão ateniense).
• Também conhecido como “Escola do Jardim”, o Epicurismo surgiu em Atenas no final do
século IV a.C. A Escola de Epicuro representava uma alternativa às escolas “Academia” e
“Liceu”. A Escola de Epicuro foi construída nos subúrbios de Atenas, em um prédio com
jardim, distante dos agitos da área urbana, em local silencioso e campestre.
• Na Filosofia de Epicuro, há de se destacarem os seguintes aspectos fundamentais:
a) A inteligência humana é capaz de compreender integralmente a realidade.
b) A felicidade humana é plenamente capaz de ser alcançada dentro da realidade.
c) A felicidade humana está representada na ausência de dor e de perturbação.
d) O ser humano apenas precisa de si mesmo para alcançar a verdadeira felicidade.
e) O ser humano não precisa das instituições sociais nem dos deuses para ser feliz.

• A Filosofia epicurista está dividida em três partes fundamentais:


a) “Lógica”. Nesta, o Epicurismo busca compreender os princípios constituintes do conhecimento; é o fundamento
epistemológico do epicurismo.
b) “Física”. Nesta, o Epicurismo tenta entender a constituição da realidade sob uma perspectiva materialista.
c) “Ética. Nesta, o Epicurismo levanta as discussões em torno da felicidade e dos instrumentos necessários para atingi-la.

LÓGICA EPICURISTA
• A Lógica e a Física epicuristas são desenvolvidas em função da ética, que é o aspecto principal dessa corrente filosófica.
• Na Lógica epicurista, as sensações representam a base de todo o conhecimento. Toda sensação seria uma “afecção” e,
como tal, seria passiva. Toda sensação seria objetiva e verdadeira. Toda sensação seria “a-racional”, exatamente por ser
objetiva.
• Na Lógica epicurista, além das sensações, identificam-se as “prolepses”, também chamadas de “antecipações” ou
“pré-noções”, que seriam as representações das coisas. As prolepses geram os conceitos e dependem das sensações.

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• Na Lógica epicurista, além das sensações e das prolepses, temos ainda os “sentimentos” (prazer e dor), que
representariam uma espécie de reflexo interno das sensações. Assim como as sensações, os sentimentos também seriam
objetivos. Os sentimentos, porém, além de servirem como critério de diferença entre o verdadeiro e o falso, também
serviriam, por extensão, como critério de diferença entre o que é bom e o que é mau, fundamento, portanto, das ações
humanas.

FÍSICA EPICURISTA
• A Física epicurista (estudo e compreensão da Natureza) deveria ser realizada como fundamento da ética. Epicuro busca,
de forma ontológica, compreender a realidade em sua totalidade, em uma perspectiva claramente materialista,
remetendo-se a elementos da filosofia naturalista (pré-socrática), sobretudo “atomista” (Leucipo e Demócrito).

ÉTICA EPICURISTA
• Em sua Ética, o prazer é o verdadeiro bem no Epicurismo. O Hedonismo proposto pelos cirenaicos, diferentemente do
Epicurismo, negava que o prazer fosse a ausência de dor. Além disso, para o Epicurismo, quer o prazer ou a dor da alma,
serão sempre maiores do que o prazer e a dor do corpo. Epicuro entendia que a alma sofreria por fatores passados ou
futuros; o corpo, porém, sofreria apenas por causas presentes. Em suma, o prazer na visão epicurista seria a ausência de
dor, tanto para a alma (ataraxia) quanto para o corpo (aponia).
• O Epicurismo, em sua perspectiva ética, no que se refere à ideia de prazer, identificava três tipos possíveis: os prazeres
“naturais e necessário”, os “naturais e não necessários” e os “não naturais e não necessários”. O Homem precisa com
observância buscar apenas os primeiros, enquanto os segundos devem ser experimentados de vez em quando. Já os
últimos não devem ser buscados nunca.
• Ainda de acordo com a ética epicurista, o mal físico, se é leve, é suportável, logo, não poderá atrapalhar a paz de espírito.
Todavia, se o mal físico for agudo, passará logo. Porém, se o mal for muito agudo, levaria rápido à morte e, dessa forma,
ao fim de toda a dor. A morte, por sua vez, não deveria ser motivo de medo ao homem, porquanto ela não passaria de
uma reformulação no arranjo/combinação dos átomos, que compõem tanto a alma quanto o corpo.
• O Epicurismo desvaloriza a política, uma vez que a compreende como um fenômeno que é, do ponto de vista ontológico,
não natural. Exatamente em razão disso, a política provoca dores e perturbações, ameaçando as tão necessárias ataraxia
e aponia. Em seu lugar, o Epicurismo defende a “amizade”.
• Em seu sistema filosófico, Epicuro propõe um “quadrifármaco”, isto é, quatro remédios para uma vida tranquila e feliz:
a) Os temores em relação aos deuses e ao além seriam infundados e vãos.
b) O medo em relação à morte não faria sentido, porque esta não existiria.
c) O prazer, uma vez compreendido em sua essência, estaria disponível a todos.
d) O mal teria uma duração passageira ou seria algo facilmente suportável.

ESTOICISMO
• Estoicismo. Escola fundada por Zenão de Cítio (344 – 262 a.C.), cerca de cinco anos após a
fundação do Epicurismo. Foi a mais famosa escola filosófica de toda a fase Helenística da Filosofia
Antiga.
• O fundador do Estoicismo, Zenão, nasceu em Cítio, na ilha de Chipre, e se transferiu para a cidade
de Atenas. Portanto, Zenão era um estrangeiro e, por isso não poderia adquirir um imóvel em
seu nome, razão pela qual as aulas eram ministradas no portão de entrada de Atenas, um
“pórtico”. A partir disso, portanto, que surge o nome Estoicismo, isto é, a “Filosofia do Portão”
(estoá, em grego, é portão).
• Assim como o Epicurismo, o Estoicismo renegava a Metafísica e toda forma de transcendência.
Concebia a filosofia como a arte de viver.
• Opunha-se ao Epicurismo, quanto à redução do mundo e do homem a átomos e à identificação do prazer como o bem do
homem.
• Apesar das diferenças, o Estoicismo e o Epicurismo compartilhavam da mesma oposição à Metafísica, por adotarem uma
fé materialista.
• Zenão aceitava e adotava a tripartição da filosofia formulada pela Academia (também adotada por Epicuro).

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• A filosofia, na compreensão desenvolvida pelo Estoicismo, passou a ser comparada a uma espécie de “pomar”. Neste
pomar:
a) A “Lógica” corresponderia ao muro circundante, que delimitaria o âmbito do pomar e que cumpriria, ao mesmo tempo,
o papel de baluarte de defesa.
b) A “Física” seria representada pelas árvores, pois seriam como a estrutura fundamental, ou seja, elemento sem o qual
não existiria o pomar.
c) A “Ética”, por fim, estaria ilustrada pelos frutos, que seriam aquilo a que todo o plantio visaria.

LÓGICA ESTOICA
• A representação cataléptica
Os estoicos, assim como os epicuristas, associavam a lógica à função de servir como base da verdade. E, como os
Epicuristas, indicavam que o fundamento epistemológico (a base do conhecimento) estaria na sensação, uma impressão
despertada pelos objetos sobre os nossos órgãos sensoriais, a qual passaria à alma e nela se imprimiria, gerando a
representação. Todavia, para os estoicos, a representação da verdade não seria apenas um “sentir”, mas um “assentir”. A
impressão dependeria da ação que os objetos provocariam sobre os sentidos. O Homem teria a liberdade de acolher essa
ação ou de se subtrair a ela, mas estaria livre para tomar posição diante das impressões e das representações que se
formularia nele, dando-lhes o assentimento de seu “logos” ou recusando dar-lhes seu assentimento. Somente quando existe
o assentimento é que se teria a “apreensão” (“representação cataléptica”).

• Prolepses
Para o Estoicismo, haveria “noções ou prolepses inatas na natureza humana”. O ser, para os estoicos, seria sempre e
somente “corpo” e, ademais, individual; portanto, o universal não poderia ser corpo, mas um incorpóreo, no sentido
negativo de “realidade empobrecida de ser”, uma espécie de ser ligado somente à atividade do pensamento. A
“representação cataléptica” continuou sendo o verdadeiro ponto de referência para a Estoá.

FÍSICA ESTOICA
• Materialismo monista
A Física desenvolvida pelo Estoicismo se notabilizou por apresentar um caráter materialista monista e panteísta. O
Materialismo define que tudo o que existe é corpóreo. Esse mesmo Materialismo seria hilemórfico (matéria e forma),
hilozoísta (matéria viva) e monista (uma única substância). A “forma” presente na realidade seria a Razão divina (Logos
divino). Deus, para os estoicos, que seria também corpóreo, em tudo penetraria (“mistura total dos corpos”). Essa
perspectiva de penetrabilidade da matéria contraria o atomismo dos epicuristas.

• Razões seminais
Para os estoicos, o universo e tudo o que nele existe teriam origem em única matéria, que, paulatinamente, por meio da
“forma” (logos divino), que seria, imanente, capaz de diferenciar-se nas infinitas coisas. Esse logos seria uma espécie de
“sêmen” composto por muitos sêmens, (razões seminais). O universo inteiro seria um único organismo, no qual o todo e
as partes se harmonizariam, “simpatizariam” (doutrina da “simpatia” universal).

• Panteísmo
Como Deus, na concepção estoica, é um princípio ativo presente da matéria, Deus está em tudo e Deus é tudo.
Acrescente-se a isso que não existe matéria sem forma. A essência de Deus é una com o ser do mundo, a ponto de tudo
ser Deus.

• Finalismo e providência
Para a Filosofia estoica, existe um finalismo no Universo. Tudo aquilo que existe é produzido por um princípio que é divino,
racional e imanente (logos). Tudo o que existe em condição singular é imperfeito e, quando inserido no todo, passa a ser
perfeito. Associada à ideia de “finalismo” está a ideia de “providência”, que é imanente (não é transcendente) coincide
com um Artífice (Alma do mundo). Diante dessa realidade, existiria:
a) um “fado”: ordem natural e necessária de todas as coisas;
b) um “destino”: a vontade e a liberdade determinadas pelo “logos”.

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• Conflagração universal e palingênese
Os Estoicos entendem que o universo foi gerado e, por isso, corruptível (nasce e, em certo momento, morre). O universo
também estaria destinado a uma espécie de “juízo final”, a que chamavam de “conflagração universal” (combustão geral
do cosmo). Todavia, a essa devastação do universo haveria uma espécie de “renascimento”, a que chamaram de
“palingênese”, em uma espécie de “eterno retorno”.

• O homem
A posição ocupada pelo ser humano no universo é bastante relevante na visão estoica, pois o homem participa do logos
divino. Como o homem é composto por corpo e alma, esta é uma expressão do logos.

ÉTICA ESTOICA
• O viver segundo a natureza
Definitivamente, o segmento mais relevante da Filosofia estoica é exatamente a sua ética. Não foi à toa que a doutrina
estoica durou tanto tempo na história do pensamento filosófico, em sua busca por um significado eficaz acerca da vida. A
ética estoica, bem como a epicurista, buscava, acima de tudo, um sentido verdadeiro e profundo para a felicidade, que,
por sua vez, estaria em uma vida vivida de acordo com a natureza. Na perspectiva dos estoicos, o ser vivo (de uma forma
geral) apresenta uma grande característica que é a luta pela conservação pessoal, ao que se deu o nome de oikéiosis. Nos
homens, essa tendência seria regida pela razão, diferentemente de plantas (inconscientemente) e de animais
(instintivamente). Dessa forma, ser humano, por sua natureza viva e racional, há necessidade de se viver conforme a
natureza, seria um viver conciliado com a razão, conservando-o e atualizando-o plenamente.
• O bem e o mal
Diante da ética estoica, os conceitos de prazer e de dor não se tornam tão relevantes. A concepção daquilo que é o “bem”
se encontra em tudo aquilo que conserva e incrementa nosso ser e, por outro lado, o “mal” está naquilo que o provoca
danos ao nosso ser. O bem se encontra no que é útil, ao passo que o mal é o que traz prejuízos. O verdadeiro bem, para o
homem, estaria na virtude; o verdadeiro mal estaria no vício.

• Os indiferentes
Todas as coisas que são relativas ao corpo, nocivas ou não, são “moralmente indiferentes”. A separação entre bens e
males, por um lado, e indiferentes, por outro, foi um dos aspectos fundamentais da ética estoica. Assim, para o Estoicismo,
a felicidade poderia ser alcançada independentemente dos fatores externos, mesmo os tormentos físicos. Para a Filosofia
estoica, positivo segundo a natureza (o que está em conformidade com a natureza física e conserva a vida) seria “valor”
ou “estima”, ao passo que o oposto, o negativo, foi chamado de “falta de valor” ou “falta de estima”. Os “intermediários”
entre os bens e os males não seriam de todo “indiferentes”; seriam, do ponto de vista físico, “valores” e “desvalores”.

• Ações perfeitas e deveres


Aquilo que o homem faz em conformidade com a razão (logos) seriam “ações moralmente perfeitas”; ao contrário,
seriam “ações viciosas ou erros morais”. Todavia, entre as primeiras e as segundas haveria várias ações relacionadas
com os “indiferentes”. Quando essas ações forem cumpridas “conforme a natureza”, terão plena justificação moral,
chamando-se assim “ações convenientes” ou “deveres”. A maior parte dos homens, que é incapaz de ações “moralmente
perfeitas”, é, no entanto, capaz de “ações convenientes”, ou seja, é capaz de cumprir “deveres”.

• O homem, animal comunitário


O homem não é impulsionado pela natureza a conservar a si mesmo. Ele também busca conservar parentes e demais
semelhantes. A natureza impõe o amar a si mesmo, bem como amar aos que geramos e aos que nos geraram. A natureza
impulsiona o indivíduo a unir-se aos outros e também a ser útil aos outros. De um ser encerrado em sua individualidade,
o homem passaria a um “animal comunitário”. Os Estoicos eram favoráveis a um ideal fortemente cosmopolita.

• A escravidão
O Estoicismo se opunha radicalmente à escravidão. Todos os povos seriam capazes de alcançar a virtude. O homem seria
livre por natureza. Ideias como “nobreza”, “liberdade” e “escravidão” estariam associadas a questões de sabedoria ou de
ignorância. O sábio seria o verdadeiro homem livre, enquanto o tolo seria o verdadeiro escravizado.

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• A apatia
As paixões, das quais depende a infelicidade do homem, são, para os estoicos, erros da razão ou, de qualquer modo,
consequências deles. Essas paixões deveriam ser erradicadas totalmente. Cuidando da razão e fazendo-o ser o mais
possível reto, o sábio não deixaria sequer nascerem as paixões em seu coração, ou as aniquilara ao nascerem. Essa seria a
“apatia” estoica, isto é, o tolhimento de toda paixão, que é sempre perturbação do espírito. A felicidade seria apatia
(impassibilidade).

CETICISMO
• Corrente filosófica criada por Pirro de Élida (360 – 270 a.C.). Também chamado de Pirronismo. Pirro
não chegou a fundar uma escola propriamente dita. Os seguidores do ceticismo pirronista
associaram-se fora dos esquemas convencionais. Esses discípulos, na verdade, buscavam um novo
referencial de vida, que garantisse a paz e a felicidade.
• Pirro teria participado da expedição de Alexandre ao Oriente, o que influenciou profundamente o
seu pensamento, sobretudo a ideia de que existe uma imprevisibilidade destruidora diante das
convicções tão arraigadas.
• Pirro recebeu uma grande influência dos gimnosofistas (sábios indianos), que diziam que tudo não
passa de vaidade.

Fundamentos do ceticismo pirrônico


• Pirro não deixou nada escrito. O que se sabe a respeito de seu pensamento são textos derivados de doxografia (relatos
feitos por outros). Para Pirro, seria possível alcançar-se uma vida realmente feliz, mesmo que sem a verdade e sem os
valores, isto é, da forma como foram entendidos até então.
• Para Pirro, aquele que busca a felicidade precisa observar três questões fundamentais:
a) Observar como as coisas são, por natureza. Nesse caso, a conclusão será que as coisas são igualmente sem diferença,
sem estabilidade, e são indiscriminadas. Dessa forma, as sensações e as opiniões não são certas ou erradas.
b) Levar em consideração a disposição em relação às coisas. Não se deve ter fé nessas coisas, mas buscar permanecer
sem opiniões ou perturbações.
c) Perceber o que acontecerá diante desse comportamento. Dessa forma, haverá uma apatia e, consequentemente, uma
imperturbabilidade (ataraxia).

As coisas são sem diferença


• De acordo com o filósofo Pirro, as próprias coisas seriam indiferenciadas, sem medida e indiscriminadas. Dessa forma, os
sentidos e as opiniões não poderiam afirmar o verdadeiro, nem o falso. As coisas, por essa condição, não permitem aos
sentidos e à razão a capacidade de identificar o verdadeiro e o falso. Por isso, na visão desenvolvida pelo Pirronismo, não
seria possível atingir o ser e seus princípios; o que o homem alcançaria não passaria de “aparência”. As coisas não
passariam de simples aparência. Não podemos negar a existência de um substrato quase religioso que inspira Pirro.

O permanecer sem opiniões


• Como as coisas seriam “indiferentes”, “sem medida” e “indiscerníveis”, bem como os sentidos e a razão, que não podem
identificar a verdade e a falsidade, a única postura sensata que resta ao ser humano é a de não confiar nos sentidos ou na
razão. O ideal, portanto, seria permanecer “sem opinião”, privando-se de julgar e, em consequência, permanecer “sem
nenhuma inclinação”. Isso permitiria ao homem continuar “sem agitação”, permanecendo indiferente. Posteriormente,
essa verdadeira abstenção de juízo estaria traduzida no termo “epoché”, que traduz o mesmo significado.

A afasia
• Na concepção desenvolvida por Pirro, o homem deveria calar-se diante da incapacidade de compreensão da essência (ser).
Essa postura ficou conhecida como “afaria”, a qual traria a ataraxia (imperturbabilidade).

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QUADRINHOS

NÃO BASTAVA MAIS A CHUVA SER COM O TEMPO, A RELIGIÃO


UM DEUS CHORANDO, COMEÇAMOS PAROU DE TER UM PAPEL NA
A QUERER COMPREENDER EXPLICAÇÃO DO NATURAL
A GRÉCIA ANTIGA FOI O BERÇO OS FENÔMENOS POR MEIO DA MIGRANDO PARA O
DO PENSAMENTO CIENTÍFICO RAZÃO E DA OBSERVAÇÃO. ESPIRITUAL.
OCIDENTAL.

POR ISSO QUE EU


VOU EXPLODIR ESSA ME
SUA CARECA! LARGA! CALMA.
CALMA,
ZEUS.

Disponível em: https://fiorerouge.files.wordpress.com/2012/11/385620_535970859753463_1084413911_n.jpg (adaptado).

Disponível em: http://www.universiaenem.com.br/sistema/faces/pagina/publica/conteudo/atividade.xhtml?redirect=626380521987856710166388532&e=5 (adaptado).

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Disponível em: http://filosoficamenteincorreto.blogspot.com/2015/06/filosofia-antiga-helenismoepicurismo.html

Disponível em: https://web.facebook.com/tirasarmandinho/photos/a.488361671209144/876780089033965/?type=3&theater

Disponível em: https://lousanuncamais.files.wordpress.com/2013/06/filosofia.png

Disponível em: https://www.umsabadoqualquer.com/634-socrates-5/ (adaptado).

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PONTOS IMPORTANTES PARA ENTENDER A FILOSOFIA ANTIGA

1. FILOSOFIA ANTIGA: PODE SER “CLÁSSICA” OU “HELENÍSTICA”.

2. FILOSOFIA CLÁSSICA se caracteriza por:


a) Valorizar a vida em sociedade (pólis);
b) Entender o Homem como um “cidadão”;
c) Defender uma visão metafísica.

3. FILOSOFIA HELENÍSTICA se caracteriza por:


a) Opor-se à vida em sociedade (pólis);
b) Entender o Homem como um “indivíduo”;
c) Defender uma visão materialista.

4. Os primeiros filósofos foram os “PRÉ-SOCRÁTICOS”:


a) Existiram entre os séculos VI e IV a.C.;
b) Opuseram o “logos” ao “mythos”;
c) Conhecidos como “naturalistas” ou “físicos”;
d) Procuravam o “princípio” (“arché”) do universo (“cosmo”);
e) Dividiam-se em “escolas”: “jônicos”, “pitagóricos”, “eleatas” e “pluralistas”;
f) Acreditavam que a “arché” era única: “monistas” (exceção: “pluralistas”);
g) Subdividiam-se em “mobilistas” e “imobilistas”;
h) Heráclito dizia que o “homem não se banha no mesmo rio duas vezes”;
i) Parmênides dizia que “o Ser é, e não pode não Ser; e o não Ser não é, e não pode Ser”.

5. Os SOFISTAS, no séc. V a.C., destacaram-se no cenário grego:


a) Os principais representantes eram Protágoras e Górgias;
b) Eram mestres de Retórica, de Direito e de Política;
c) Ensinavam em troca de dinheiro;
d) Foram perseguidos pela “Aristocracia” e por “filósofos clássicos”;
e) Encaravam a “verdade” como “relativa”;
f) Centravam seu pensamento no “homem”;
g) Ajudaram a consolidar a “democracia”.

6. SÓCRATES (469 – 399 a.C.) se destacou por:


a) Opor-se aos pré-socráticos e aos sofistas;
b) Definir a Filosofia como uma “obstetrícia espiritual”;
c) Centrar sua filosofia no “Homem”, cuja essência seria a “alma”;
d) Inatista, entendia que o conhecimento estava na alma humana;
e) Defender a necessidade da “virtude” (areté), no autoconhecimento;
f) Estabelecer um elo entre “epistemologia”, “ontologia” e “ética”;
g) Compreendia a “liberdade” como sendo o “autodomínio”;
h) Perceber a “felicidade” na “paz de espírito” (“ataraxia”);
i) Adotar o método “dialético”: “negação”, “ironia”, “refutação” e “maiêutica”;
j) Ser acusado de ir contra as tradições, condenado à morte.

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7. PLATÃO (428 – 348 a.C.) tem um pensamento organizado em:
a) Metafísica – estudo da realidade (ontologia), encarando a essência de tudo como algo que vem além da Física
(sensível);
• Platão separa a realidade em “Mundo Inteligível” e “Mundo Sensível”;
• Trata-se de sua “Cosmologia”, estudo sobre a origem do Universo;
• “Mundo Inteligível”: ocupado por “Ideias”, seres reais, perfeitos, imutáveis, imóveis e imateriais;
• “Mundo Sensível”: ocupado por “coisas”, cópias das ideias; são irreais, imperfeitas, mutáveis, móveis e materiais;
• Entre os dois mundos, um “deus-artesão”, o “Demiurgo”, criador do Mundo Sensível.

b) Epistemologia – estudo do conhecimento, compreendendo a verdade como algo inerente à verdade realidade
(ontologia);
• Platão associa o “conhecimento” ao que é verdadeiro e defende que a verdade só existe nas Ideias (Mundo
Inteligível);
• Assim, a Epistemologia (verdade) está vinculada à Ontologia (essência);
• Platão divide o conhecimento em dois níveis: Doxa (Opinião) e Episteme (Ciência);
• A Doxa se subdivide em “imaginação” e “crença”;
• A Episteme se subdivide em “raciocínio” e “intelecção”;
• Dialética: movimento intelectual de acesso às ideias;
• Arte (mimese): distância o Homem em relação à verdade;
• Amor: é uma força alógica por beleza, bondade e verdade.

c) Antropologia – estudo do homem, em suas duas dimensões (dualismo): corpo e alma. As almas realizam a
“metempsicose”, um movimento de transmigração semelhante a reencarnações. Platão crê que existem três “tipos”
de almas:
• “apetitivas” ou “concupiscentes”;
• “irascíveis”;
• “racionais”.

d) Política – estudo do Estado Ideal;


• Filosofia e Política devem ser associadas;
• O Estado Ideal está organizado na existência de três classes: “trabalhadores” (de almas “apetitivas”), “guerreiros”
(de almas “irascíveis”) e “magistrados” (de almas “racionais”);
• Essas três classes precisam, respectivamente, estar associadas às virtudes: “temperança”, “coragem” e
“sabedoria”;
• Diante disso, haveria uma quarta virtude: a “justiça”, quando todas as classes se tornam devidamente virtuosas;
• Platão é um pensador contrário à democracia; ele defende um regime onde quem governe sejam “filósofos” (uma
“sofocracia”);
• Platão entende que é necessária a existência da “escravidão”.

8. ARISTÓTELES (384 – 322 a.C.) organiza seu pensamento em ciências:


a) Teoréticas – aquelas que estudam a “Natureza”;
• Podem ser: “Metafísica”, “Física” e “Matemática”;
• A Metafísica estuda a “essência” (o Ser) da realidade;
• A Física estuda a “aparência” da realidade;
• A Matemática descreve a realidade.

Obs.: No estudo da Metafísica, a mais importantes de todas as ciências aristotélicas, busca-se entender a essência da
realidade, a partir de conceitos fundamentais, como: “eficiência”; “categorias”; “matéria” e “forma”; “potência” e “ato”;
“Motor Imóvel”.

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b) Práticas – aquelas que estudam a “Natureza humana”;
• Podem ser: “Ética” e “Política”;
• Os fins se confundem com os meios;
• A Ética estuda as ações dos indivíduos, voltadas à felicidade;
• Na Ética, estudamos questões como “hábitos”, “virtudes éticas”, “virtudes dianéticas” e a psicologia do ato moral:
“deliberação”, “escolha” e “volição”.
• A Política estuda as ações da sociedade, voltadas à felicidade;
• Na Política, estudamos questões como “cidadania”, “escravidão”, “leis”, “guerra” e “formas de governo” (puras e impuras).

Obs.: A Ética aristotélica também pode ser chamada de “Nicomaqueia”, em razão do livro de Aristóteles: Ética a Nicômaco,
que representa a essência do conteúdo desse filósofo acerca das questões morais.

c) Poiéticas – aquelas que estudam como “facilitar” a vida humana;


• Podem ser: “Poética” e “Retórica”;
• Os fins não se confundem com os meios;
• A Poética é o estudo da arte, que imita a realidade (mimese e catarse);
• A Retórica estuda as técnicas de persuasão.

Obs.: As três ciências precisam estar interligadas em um só sistema filosófico e a conexão entre elas seria feita pela
“Lógica” ou “Analítica”, organizada em um livro, chamado Órganon. Os principais pontos da Lógica aristotélica são:
“categorias”, “juízos” ou “proposições” e “silogismo”.

9. A FILOSOFIA HELENÍSTICA é representada pelas seguintes correntes, antimetafísicas:

a) Cinismo
• Entendia a “felicidade” como sendo a “liberdade”;
• O Homem deveria ser livre como os cães (cinos);
• O Homem precisaria da “autarquia” para atingir a “ataraxia”;
• Condenava as “convenções sociais”; deveríamos nos limitar às necessidades mais fundamentais à vida;
• Principal representante: Diógenes de Sinope;
• O personagem “Chaves”, criado pelo humorista mexicano Roberto Bolaños, foi inspirado no modo de vida de Diógenes.

b) Epicurismo
• Filosofia do “Jardim”, aberto para homens, mulheres, estrangeiros e escravizados, sem distinção;
• Entendia a “felicidade” como sendo os “prazeres” (naturais e necessários);
• A “ataraxia” estaria na “aponia” (ausência de dores);
• Filosofia: “Lógica”, “Natureza” e “Ética”;
• Adotava uma visão “atomista” da natureza;
• Principal representante: Epicuro de Samos;
• Para atingir a felicidade, o Homem só precisa de si mesmo.
• O homem não precisa do Estado e de deuses, pois é autárquico.
• O conhecimento está ligado às experiências sensíveis;
• Não devemos temer a morte (ela é o fim de toda dor);
• Devemos trocar as relações políticas pela amizade.

Obs.: O QUADRIFÁRMACO E O IDEAL DO SÁBIO. São vãos os temores em relação aos deuses e ao além. O pavor em relação
à morte é absurdo. O prazer está à disposição de todos. O mal dura pouco ou é facilmente suportável.

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c) Estoicismo
• Filosofia do “Portão”;
• Entendia a “felicidade” como sendo a “resignação”;
• Monista (há uma única essência, que é Deus);
• Filosofia: “Lógica”, “Natureza” e “Ética”;
• Principal representante: Zenão de Cítio;
• Influenciou o Império Romano e o Cristianismo;
• Não se deve lutar contra o “destino”.

d) Ceticismo
• Entendia a “felicidade” como sendo a “dúvida”;
• Defendia a “afasia” (diante da dúvida, calar-se);
• Principal representante: Pirro de Élis.

Obs.: A Filosofia Helenística surge no séc. IV a.C., em meio ao processo de expansão do chamado “Império Macedônico”
ou “Império Helenístico”, de Alexandre, o Grande. A Filosofia Helenística, portanto, não é apenas grega (como é a Filosofia
Clássica); ou seja, ela tem influência oriental, também.

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Mapas Mentais

Filosofia Antiga – O nascimento da Filosofia

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Filosofia Antiga – Filosofia Pré-Socrática

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Filosofia Antiga – Sofistas

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36
Filosofia Antiga – O pensamento de Sócrates

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37
Filosofia Antiga – O pensamento de Platão

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38
Filosofia Antiga – O pensamento de Aristóteles

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39
Filosofia Antiga – Filosofia Helenística

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FILOSOFIA
Professor Sérgio Feitosa

nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a


EXERCÍCIOS
adotar o que chamamos de atitude filosófica.”
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000, p. 9.

TEMA 1 – INTRODUÇÃO À FILOSOFIA Conforme se pode depreender pela leitura do texto


acima, é possível afirmar que a atitude filosófica é
a) revelada como a consagração da tradição.
EXERCÍCIOS DE CLASSE
b) marcada por um afastamento em relação à fé.
1. c) definida pela aceitação tácita do senso comum.
“Aos trinta anos, apartou-se Zaratustra da sua d) vista como reação crítica às evidências do cotidiano.
pátria e do lago da sua pátria, e foi-se até a montanha. e) caracterizada como uma ação de fundo sentimental.
Durante dez anos, gozou por lá do seu espírito e da sua
soledade sem se cansar. Variaram, porém, os seus 3.
sentimentos, e uma manhã, erguendo-se com a aurora, “Platão definia a Filosofia como um saber
pôs-se em frente do sol e falou-lhe deste modo: ‘Grande verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres
astro! Que seria da tua felicidade se te faltassem humanos. Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da
aqueles a quem iluminas? Faz dez anos que te abeiras sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas
da minha caverna, e, sem mim, sem a minha águia e a que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a
minha serpente, haver-te-ias cansado da tua luz e deste conservação da saúde e a invenção das técnicas e das
caminho. Nós, porém, esperávamos-te todas as artes. Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento
manhãs, tomávamos-te o supérfluo e bendizíamos-te. que a razão adquire de si mesma para saber o que
Pois bem: já estou tão enfastiado da minha sabedoria, pode conhecer e o que pode fazer, tendo como
como a abelha que acumulasse demasiado mel. finalidade a felicidade humana. Marx declarou que a
Necessito de mãos que se estendam para mim’.” Filosofia havia passado muito tempo apenas
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra, prólogo (adaptado). contemplando o mundo e que se tratava, agora, de
conhecê-lo para transformá-lo, transformação que
Segundo o fragmento acima, Nietzsche entende a
traria justiça, abundância e felicidade para todos.
filosofia como uma
Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um
a) expressão de reflexão e de exercício humano.
despertar para ver e mudar nosso mundo. Espinosa
b) tradução indelével de poder da razão humana.
afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil,
c) manifestação divina de graça entre os homens.
mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem
d) criação inócua da cultura e da tradição humana.
a liberdade e a felicidade. Qual seria, então, a utilidade
e) extensão da ética cristã no seio da humanidade.
da Filosofia?”
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000, p. 17.
2.
“E se, em vez de afirmar que gosta de alguém Pelo exposto no texto acima e pela discussão por ele
porque possui as mesmas ideias, os mesmos gostos, as suscitada, é possível compreender que a Filosofia
mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse a) destaca uma evolução no sentido espiritualista da
analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O religião.
que é um valor artístico? O que é a moral? O que é a b) mantém um caráter histórico de concentração no
vontade? O que é a liberdade? Alguém que tomasse indivíduo.
essa decisão estaria tomando distância da vida c) revela uma indiferença em relação aos problemas
cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que racionais.
são as crenças e os sentimentos que alimentam, d) demonstra uma involução da razão frente às
silenciosamente, nossa existência. Ao tomar essa narrativas míticas.
distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando e) apresenta uma unidade fundamental em torno do
conhecer porque cremos no que cremos, porque conhecimento.
sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e

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4. castrações, por exemplo), os mais cruéis rituais, tudo
A mitologia comparada surge no século XVIII. Essa isso tem origem naquele instinto que divisou na dor o
tendência influenciou o escritor cearense José de mais poderoso auxiliar da memória.”
Alencar, que, inspirado pelo estilo da epopeia NIETZSCHE, F. Genealogia da moral. São Paulo: Cia. das Letras, 1999 (adaptado).
homérica na Ilíada, propõe em Iracema uma espécie
O fragmento evoca uma reflexão sobre a condição
de mito fundador do povo brasileiro. Assim como a
humana e a elaboração de um mecanismo distintivo
Ilíada vincula a constituição do povo helênico à Guerra
entre homens e animais, marcado pelo(a)
de Troia, deflagrada pelo romance proibido de Helena
a) racionalidade científica.
e Páris, Iracema vincula a formação do povo brasileiro aos
b) determinismo biológico.
conflitos entre índios e colonizadores, atravessados pelo
c) degradação da natureza.
amor proibido entre uma índia — Iracema — e o
d) domínio da contingência.
colonizador português Martim Soares Moreno.
e) consciência da existência.
DETIENNE, M. A invenção da mitologia. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1998 (adaptado).
2. TEXTO I
A comparação estabelecida entre Ilíada e Iracema Uma filosofia da percepção que queira reaprender
demonstra que essas obras a ver o mundo restituirá à pintura e às artes em geral
a) combinam folclore e cultura erudita em seus seu lugar verdadeiro.
estilos estéticos. MERLEAU-PONTY, M. Conversas: 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
b) articulam resistência e opressão em seus gêneros
literários. TEXTO II
c) associam história e mito em suas construções Os grandes autores de cinema nos pareceram
identitárias. confrontáveis não apenas com pintores, arquitetos,
músicos, mas também com pensadores. Eles pensam
d) refletem pacifismo e belicismo em suas escolhas
com imagens, em vez de conceitos.
ideológicas.
DELEUZE, G. Cinema 1: a imagem-movimento.
e) traduzem revolta e conformismo em seus padrões
São Paulo: Brasiliense, 1983 (adaptado).
alegóricos.
É possível observar que os textos acima sustentam a
5. existência de um saber ancorado na
Uma criança com deficiência mental deve ser a) mitologia, admitindo o belo como fenômeno
mantida em casa ou mandada a uma instituição? Um transcendental.
parente mais velho que costuma causar problemas b) religiosidade, reafirmando a vivência estética
deve ser cuidado ou podemos pedir que vá embora? como juízo de gosto.
Um casamento infeliz deve ser prolongado pelo bem c) sensibilidade, considerando o olhar como
experiência de conhecimento.
das crianças?
d) inteligência, apontando as formas de expressão
MURDOCH, I. A soberania do bem. São Paulo: Unesp, 2013.
como auxiliares da razão.
Os questionamentos no texto apresentam uma e) imaginação, estabelecendo a inteligência como
relevância filosófica à medida que problematizam implicação das representações.
conflitos que estão nos domínios da
a) política e da esfera pública. 3.
b) teologia e dos valores religiosos. O filósofo reconhece-se pela posse inseparável do
c) lógica e da validade dos raciocínios. gosto da evidência e do sentido da ambiguidade.
d) ética e dos padrões de comportamento. Quando se limita a suportar a ambiguidade, esta se
e) epistemologia e dos limites do conhecimento. chama equívoco. Sempre aconteceu que, mesmo
aqueles que pretenderam construir uma filosofia
EXERCÍCIOS DE CASA absolutamente positiva, sô conseguiram ser filósofos
na medida em que, simultaneamente, se recusaram o
1. direito de se instalar no saber absoluto. O que
“Jamais deixou de haver sangue, martírio e caracteriza o filósofo é o movimento que leva
sacrifício quando o homem sentiu a necessidade de incessantemente do saber à ignorância, da ignorância
criar em si uma memória; os mais horrendos sacrifícios ao saber, e um certo repouso neste movimento.
e penhores, as mais repugnantes mutilações (as MERLEAU-PONTY, M. Elogio da filosofia. Lisboa: Guimarães, 1998 (adaptado).

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O fragmento acima destaca o papel do filósofo em uma galhos e entendi que, por mais que eu me esforce ao
dimensão de escolher as palavras, nunca serei capaz de descrever,
a) essência de dialética. de modo plenamente inteligível, para outras pessoas,
b) posição de indiferença. toda a profundidade de sentimentos que me ocorrem
c) defesa do dogmatismo. ao ver a Lua cheia brilhando em uma noite calma atrás
d) unilateralidade da razão. de uma grande árvore que o inverno desfolhou. Diante
e) renúncia ao conhecimento. de certas sensações, as palavras ficam pequenas.
Disponível em: http://marcioalmeidajr.blogspot.com/2009/07/filosofia-da-lua-
4. cheia.html. Acesso em: 15 set. 2019 (adaptado).
As certezas do homem comum, as verdades
A partir da leitura do texto acima e de seus
comuns da experiência cotidiana, os filósofos vivem-
conhecimentos sobre Filosofia, assinale a alternativa
nas, por certo, e não as negam, enquanto homens, mas,
correta.
enquanto filósofos, não as assumem. Nesse sentido em
a) O conhecimento mitológico foi a primeira tentativa
que as desqualificam, pode-se dizer que as recusam.
Desqualificação teórica, recusa filosófica, empreendidas de explicação do mundo feita pelo homem,
em nome da racionalidade que postulam para a embora fantasiosa.
filosofia. Assim é que boa parte das filosofias opta por b) O filósofo São Tomás de Aquino afirmava que não
esquecer “metodologicamente” a visão comum do haveria verdades que a razão humana não
Mundo, recusando-se a integrá-la ao seu saber racional conseguisse atingir.
e teórico. Não podendo furtar-se, enquanto homens, à c) Francis Bacon afirmava que o pensamento
experiência do Mundo, não o reconhecem como escolástico eliminava os erros de linguagem
filósofos. O Mundo não é, para eles, o universo aplicados às experiências.
reconhecido de seus discursos. Desconsiderando d) Para Aristóteles, o homem possuiria a razão;
filosoficamente as verdades cotidianas, o bom-senso, o porém, essa seria insuficiente para explicar
senso comum, instauram de fato o dualismo do prático determinadas sensações.
e do teórico, da vida e da razão filosófica. Instauram, e) O conhecimento filosófico é essencialmente
consciente e propositadamente, o divórcio entre o introspectivo e tem relação com experiências e
homem comum que são e o filósofo que querem ser. sensações particulares.
PEREIRA, Oswaldo Porchat. Rumo ao ceticismo, 2007 (adaptado).

O “divórcio” entre o homem comum e o filósofo, 6.


segundo o autor, ocorre em função da Mesmo quando se pretendeu a política, a filosofia
a) negação do homem comum em entender a sempre teve significado político. Filosofando, o
realidade. homem chega a si mesmo e encontra razão para
b) restrição do saber comum no fazer filosófico. moldar e julgar politicamente sua associação com os
c) diferença de mundos que buscam compreender. outros homens.
d) falta de correspondência factual do saber comum. JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo:
Cultrix, 1999, p. 55 (adaptado).
e) proposição de respostas necessariamente divergentes.
O texto acima retrata, com clareza, a dimensão do
5. saber filosófico no âmbito da política. Sobre esse
Uma das questões abordadas pelo filósofo Ludwig assunto, assinale a alternativa correta.
Wittgenstein, a respeito dos limites da linguagem, é a) No âmbito da política, a filosofia tem valor
que cada ser humano experimenta as sensações do secundário no julgar politicamente.
mundo de um modo peculiar, pois, segundo ele, toda b) Julgar politicamente é declinar do filosofar no
experiência é particular. Nesse contexto, como, e em moldar a experiência coletiva.
que medida, a descrição das experiências e das c) A filosofia e a política estão ligadas ao julgar e
sensações pessoais pode ser compreendida pelos moldar a esfera dos assuntos públicos.
outros? Essa questão me veio à mente quando eu saí d) A política e a filosofia dão ênfase ao espaço do
há pouco do trabalho e deparei-me com uma Lua cheia individual em detrimento do coletivo.
absurdamente brilhante, vislumbrada ao fundo de e) No julgar politicamente, a esfera do individual se
uma árvore plantada no pomar de uma das casas da sobrepõe ao valor da significância do coletivo.
vizinhança. Parei para observar a luz prateada entre os

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43
7. 9. Acerca de Filosofia e Reflexão, considere o texto a seguir.
O saber é infinito e difuso; dele se valendo, Exprimir-se-á bem a ideia de que a filosofia é
procura a filosofia aquele centro a que fazíamos procura e não posse, definindo o trabalho filosófico
referência. O simples saber é uma acumulação; a como um trabalho de reflexão. O modelo de reflexão
filosofia é uma unidade. O saber é racional e filosófica — e ao mesmo tempo seu exemplo mais
igualmente acessível a qualquer inteligência. A
acessível — é a “ironia” socrática.
filosofia é o modo de pensamento, que termina por
HUISMAN, Denis; VERGEZ, André. Compêndio Moderno de Filosofia, 1987, p. 25.
constituir a essência mesma de um ser humano.
JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. O autor acima enfatiza o seguinte exemplo sobre
São Paulo: Cultrix, 1999, p. 13.
Filosofia e Reflexão:
O autor enfatiza a singularidade do conhecimento a) No ato de interrogar os interlocutores, Sócrates
filosófico. No alinhamento dessa reflexão, tem-se expressava sua atitude reflexiva.
como correto que o(a) b) A reflexão filosófica se inicia na consciência e na
a) conhecimento filosófico se adquire sem ser
posse do saber.
procurado, surge espontânea e naturalmente, no
c) A reflexão filosófica nos faz refletir ao ensinar sua
âmbito da razão.
opinião com certeza irrefutável.
b) filosofia é um saber de acumulação, bastando tão
somente adquiri-lo. d) Na reflexão filosófica, Sócrates expressava sua
c) conhecimento filosófico é a posse do saber opinião como verdadeira.
racional no âmbito existencial. e) Ao perguntar, Sócrates delimitava o modelo e a
d) saber filosófico é infinito e difuso, valendo-se da posse da sabedoria.
sensação para se constituir em essência do ser humano.
e) conhecimento filosófico caracteriza-se pela sua 10. O ser humano, desde sua origem, em sua existência
dimensão crítica e sonda a essência mesma das coisas. cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e
8. aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e
“É singular que, em nosso século, as coisas sejam de valor por meio dos quais procura orientar seu
de tal forma que a filosofia, até para as pessoas comportamento teórico e prático. Entretanto,
inteligentes, seja um nome vão e fantástico, que se houve um momento em sua evolução histórico-
considera de nenhum uso e de nenhum valor, tanto social em que o ser humano começa a conferir um
por opinião como de fato. Creio que a causa disso são caráter filosófico às suas indagações e
esses ergotismos [que significa abuso de silogismos na perplexidades, questionando racionalmente suas
argumentação] que invadiram seus caminhos de
crenças, valores e escolhas. Nesse sentido, pode-se
acesso. É um grande erro pintá-la inacessível às
afirmar que a filosofia
crianças e com um semblante carrancudo, sobranceiro
e terrível. Quem a mascarou com esse falso semblante, a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e
lívido e medonho? Não há nada mais alegre, mais que, por meio da elaboração dos sentimentos, das
jovial, mais vivaz e quase digo brincalhão. Ela só prega percepções e dos anseios humanos, procura
festa e bons momentos. Uma fisionomia triste e consolidar nossas crenças e opiniões.
inteiriçada mostra que não é ali sua morada.” b) existe desde que existe o ser humano, não
Montaigne I, 26, p. 240. havendo um local ou uma época específica para
Depois de ler o texto anterior, atentamente, pode-se seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que
afirmar que Montaigne. mesmo a mentalidade mítica é também filosófica
a) entende que a filosofia destina-se somente a e exige o trabalho da razão.
algumas pessoas muito inteligentes, pois é c) inicia sua investigação quando aceitamos os
inacessível para a maioria delas. dogmas e as certezas cotidianas que nos são
b) considera que a filosofia é carrancuda e triste porque impostos pela tradição e pela sociedade, visando
é crítica e precisa assustar as pessoas. educar o ser humano como cidadão.
c) concorda que a filosofia é um nome vão e d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e
fantástico: não tem nenhum uso e nenhum valor
justificações racionais que validam ou invalidam suas
para as pessoas inteligentes.
crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento
d) argumenta que a filosofia é brincalhona e jovial,
da verdade revelada pela codificação mítica.
aberta a muitos, inclusive para as crianças.
e) julga que a filosofia deve ser sempre terrível e se
contrapor à festa e à alegria.

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Observando o que foi apresentado no texto acerca do
TEMA 2 – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
surgimento da Filosofia, é possível afirmar que o(a)
a) intercâmbio cultural entre o ocidente e o oriente
EXERCÍCIOS DE CLASSE foi uma constante histórica.
b) originalidade grega foi consensual entre os
1. próprios pensadores helênicos.
“Um dos modos mais simples e menos polêmicos c) polêmica acerca da originalidade grega foi desfeita
de se caracterizar a filosofia é por meio de sua história: ao fim da Antiguidade.
forma de pensamento que nasce na Grécia Antiga, por d) natureza humana permitiu aos gregos criarem o
volta do séc. VI a.C. De fato, podemos considerar tal pensamento racional.
caracterização praticamente como uma unanimidade, e) consenso em torno da origem oriental foi
o que costuma ser raro entre os historiadores da consagrado pelos clássicos.
filosofia e os especialistas na área. Aristóteles, no livro
3.
I da Metafísica, talvez tenha sido o ponto de partida “O pensamento mítico consiste em uma forma pela
dessa concepção, chegando mesmo a definir Tales de qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em
Mileto como o primeiro filósofo.” que vive: a origem do mundo, o funcionamento da
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a natureza e dos processos naturais e as origens deste
Wittgenstein, 13ª edição. Rio de Janeiro-RJ: Zahar.
povo, bem como seus valores básicos. O mito caracteriza-
O processo que levou ao nascimento da Filosofia pode se, sobretudo, pelo modo como essas explicações são
ser entendido como dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui. O
a) fruto das articulações do proletariado grego. próprio termo grego mythos significa um tipo bastante
b) consequência natural e espontânea do acaso. especial de discurso, o discurso ficcional ou imaginário,
c) extensão de um fenômeno dogmático e religioso. sendo por vezes até mesmo sinônimo de ‘mentira’.”
d) produto das condições históricas em transformação. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
Wittgenstein, 15ª reimpressão, Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 20.
e) apêndice de uma sociedade essencialmente
campesina. Conforme sugerido pelo texto acima, o mito é uma
forma de narrativa que
2. a) ignora os elementos fundamentais da natureza.
Durante muito tempo, o problema do começo b) reforça as afirmações estabelecidas pela razão.
histórico da filosofia e da ciência foi colocado em termos c) combate a imaginação como forma de discurso.
d) apela para recursos científicos de explanação.
de relação Oriente – Grécia. Desde a própria Antiguidade,
e) recorre a artifícios de comunicação fantástica.
confrontaram-se duas linhas de interpretação: a dos
‘orientalistas’, que reivindicavam para as antigas 4.
civilizações orientais a criação de uma sabedoria que os “A palavra gonia deriva-se de duas palavras gregas:
gregos teriam depois apenas herdado e desenvolvido; e do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer nascer e
a dos ‘ocidentalistas’, que viam na Grécia o berço da crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese,
filosofia e da ciência teórica. Interessante é observar descendência, gênero, espécie). Gonia, portanto, quer
que os próprios gregos dos séculos V e IV a.C., como dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual
Platão e Heródoto, estavam ciosos da originalidade de e do parto. Cosmos, como já vimos, quer dizer mundo
sua civilização no campo científico-filosófico, embora ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia é a
reconhecessem que noutros setores, particularmente narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo,
na arte e na religião, os helenos tivessem assimilado a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas.”
elementos orientais. Nos gregos do período alexandrino CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000, p. 34 (adaptado).

ou helenístico, porém, desaparece essa pretensão de O nascimento da Filosofia se deu em meio à


absoluta originalidade: a perda da liberdade política e a decadência do exclusivismo da narrativa cosmogônica,
inclusão da Grécia nos amplos impérios macedônio e sendo esta uma forma de explicação
romano alteram a visão que os próprios gregos têm de a) agnóstica da terra.
sua cultura. Já não se sentem — como pretendia b) científica do mundo.
Aristóteles — dotados de uma ‘essência’ própria e c) racional da realidade.
completamente diferente da dos 'bárbaros' orientais. d) inverídica do universo.
Os pensadores, pré-socráticos, São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000, p. 5. e) fantástica da natureza.

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5. 2. Leia atentamente a seguinte passagem, que trata do
“A palavra filosofia é grega. É composta por duas alvorecer da filosofia:
outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que “A derrocada do sistema micênico ultrapassa,
significa amizade, amor fraterno, respeito entre os largamente, em suas consequências, o domínio da
iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a história política e social. Ela repercute no próprio
palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto, homem grego; modifica seu universo espiritual,
amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. transforma algumas de suas atitudes psicológicas. A
Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo Grécia se reconhece numa certa forma de vida social e
saber, deseja saber. Assim, filosofia indica um estado num tipo de reflexão que definem a seus próprios
de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o
conhecimento, o estima, o procura e o respeita. mundo bárbaro: no lugar do Rei cuja onipotência se
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que exerce sem controle, sem limite, no recesso de seu
viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palácio, a vida política grega pretende ser o objeto de
palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a um debate público, em plena luz do Sol, na Ágora, da
sabedoria plena e completa pertence aos deuses, parte de cidadãos definidos como iguais e de quem o
mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, Estado é a questão comum; no lugar das antigas
tornando-se filósofos.” cosmogonias associadas a rituais reais e a mitos de
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p. 19. soberania, um pensamento novo procura estabelecer
a ordem do mundo em relações de simetria, de
Pelo exposto no texto acima, é possível afirmar que os
equilíbrio, de igualdade entre os diversos elementos
antigos gregos associavam, filosoficamente, o amor a
que compõem o cosmos.”
uma ideia essencialmente de
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro:
a) conhecimento. Bertrand Brasil, 1996, p. 6 (adaptado).
d) misticismo.
b) sentimento. Com base na passagem acima, é correto afirmar que
e) política. a) a filosofia decorre fundamentalmente de um longo
c) religiosidade. processo de evolução dos mitos antigos, não
havendo relação direta entre seu desenvolvimento
e o processo social e político dos povos que deram
EXERCÍCIOS DE CASA origem à civilização grega.
b) o poder despótico, característico dos povos da
1.
Antiguidade, consolidou de forma gradual e constante
O aparecimento da pólis, situado entre os séculos
o surgimento de movimentos sociais de contestação
VIII e VII a.C., constitui, na história do pensamento
na Grécia Antiga, o que foi fundamental para o
grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no
surgimento da razão filosófica, no período clássico.
plano intelectual como no domínio das instituições, a
c) a mudança de pensamento do povo grego e a
vida social e as relações entre os homens tomam uma
originalidade de sua reflexão sobre o cosmo se
forma nova, cuja originalidade foi plenamente sentida
relacionam às transformações da vida política
pelos gregos, manifestando-se no surgimento da
grega, na qual o debate público por parte de
filosofia.
cidadãos iguais substituiu a onipotência do poder
VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego.
Rio de Janeiro: Ditei, 2004 (adaptado).
real ancorada em mitos de soberania.
d) não há diferenças significativas entre os sistemas
Segundo Vernant, a filosofia na antiga Grécia foi
de organização social dos povos que viveram na
resultado do(a)
Grécia micênica e os processos sociais que
a) constituição do regime democrático.
vigoraram nos períodos subsequentes, seja no
b) contato dos gregos com outros povos.
período homérico, seja nos períodos arcaico e
c) desenvolvimento no campo das navegações.
período clássico.
d) aparecimento de novas instituições religiosas.
e) surgimento da cidade como organização social.

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3. 5.
“É no plano político que a Razão, na Grécia, “Esse gentio parece que não tem conhecimento do
primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. princípio do Mundo, do dilúvio parece que tem alguma
A experiência social só pôde tornar-se entre os gregos notícia, mas não tem escrituras, nem caracteres, e tal
objeto de uma reflexão positiva, porque se prestava, notícia é escura e confusa.”
na cidade, a um debate público de argumentos. O CARDIM, F. Tratados da terra e gente do Brasil.

declínio do mito data do dia em que os primeiros São Paulo: Brasiliana, 1978, p. 102.

Sábios puseram em discussão a ordem humana, Conforme parece ao autor, que escreveu essas linhas
procuraram defini-la em si mesma, traduzi-la em no final do século XVI, é correto afirmar que os povos
fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe a nativos sobre os quais ele está falando
norma do número e da medida.” a) possuíam uma concepção narrativa do mundo,
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: mas não argumentativo-explicativa.
Bertrand do Brasil, 1989, p. 94. b) não possuíam uma concepção do mundo nem
Com base nessa citação, é correto afirmar que a narrativa nem explicativa, mas mítica.
filosofia nasce c) possuíam uma concepção explicativa, mas não
a) após o declínio das ideias mitológicas, não uma concepção narrativa do mundo.
havendo nenhuma linha de continuidade entre d) possuíam uma mistura de concepção de mundo
estas últimas e as novas ciências gregas. igualmente explicativa e narrativa.
b) das representações religiosas míticas que se transpõem
6.
nas novas representações cosmológicas jônicas.
“O trabalho de Jean-Pierre Vernant tem como fio
c) da experiência do espanto, a maravilha com um
condutor mostrar como a razão grega era política, isto
mundo ordenado e, portanto, belo.
é, como a reflexão ligava-se ao exercício da cidadania.
d) da experiência política grega de debate,
Para tal, Vernant traz à cena as estruturas comuns que
argumentação e contra-argumentação, que põe em
engendraram a cidade e o pensamento racional [...].
crise as representações míticas.
Trata-se de mostrar, nas palavras de Vernant, como ‘a
viragem do séc. VIII a.C. ao séc. VII a.C. assegura, pela
4.
laicização do pensamento político, o advento da
“Como se sabe, a palavra mythos raramente foi
filosofia’. O aparecimento da polis (a cidade, no
empregada por Heródoto (apenas duas vezes).
sentido grego) constitui, no mundo grego, um
Caracterizar um logos (narrativa) como mythos era
acontecimento decisivo.”
para ele um meio claro de rejeitá-lo como duvidoso e
UOL Educação. As origens do pensamento grego.
inconvincente. [...] Situado em algum lugar além do Disponível em: https://educacao.uol.com.br/resenhas/asorigens-do-
que é visível, um mythos não pode ser provado.” pensamento-grego.htm (adaptado).

HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Brasília: Editora da UnB, 2003, p. 37. Essa resenha, do livro de Jean-Pierre Vernant, nos
Sobre a diferença entre mythos e logos acima sugerida, lembra que, para esse pensador francês, a filosofia
é INCORRETO afirmar que nasce, na Grécia clássica,
a) o problema do mythos era limitar-se ao que é a) como uma necessidade política de legitimação da
visível e, por isso, não podia ser pensado. cidade e suas instituições.
b) filosofia e história nasceram, na Grécia Clássica, b) da luta contra as manifestações religiosas que
com base numa mesma reivindicação do logos surgiram na polis clássica.
contra o mythos. c) graças à prática política da reflexão, da
c) o mythos não poderia ser submetido à clarificação argumentação e do debate públicos.
argumentativa e à prova – demonstração – discursiva. d) como condição do surgimento da cidade enquanto
d) em contraposição ao mythos, o logos era um uso instituição política secularizada.
argumentativo da linguagem, capaz de criar as
condições do convencimento.

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7. Considerando a passagem acima, analise as seguintes
“A solidariedade que constatamos entre o afirmações:
nascimento do filósofo e o aparecimento do cidadão I. O surgimento de todas as formas de manifestação
não é para nos surpreender. Na verdade, a cidade cultural, entre elas a filosofia, a arte e a narrativa
realiza no plano das formas sociais esta separação da histórica deve ser entendido a partir do contexto
natureza e da sociedade que pressupõe, no plano das social e histórico no qual determinada sociedade
formas mentais, o exercício de um pensamento está imersa.
racional. Com a Cidade, a ordem política destacou da II. O alvorecer da filosofia, no mundo antigo, teve
organização cósmica; aparece como uma instituição como motivação o desenvolvimento de uma vida
humana que é o objeto de uma indagação inquieta, de social democrática, mais voltada à harmonia e à
uma discussão apaixonada. Nesse debate, que não é conciliação de interesses diversos, o que requeria
somente teórico, mas no qual se afronta a violência de o uso do argumento racional.
grupos inimigos, a filosofia nascente intervém com III. O processo democrático na Grécia Antiga inaugurou
plena competência.” a obediência ao poder de todos e para todos e isso se
VERNANT, Jean-Pierre. As origens da filosofia. In: Mito e pensamento refletiu no surgimento de um pensamento racional
entre os gregos. Tradução: Haiganuch Sarian. que, embora fosse inovador, continuava prisioneiro
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 365.
de uma visão autoritária de sociedade.
Segundo essa célebre passagem, Jean-Pierre Vernant
É correto o que se afirma em
considera que o surgimento da Filosofia se deve
a) I e III, apenas.
a) à emergência de um pensamento racional, próprio
b) I e II, apenas.
à separação entre natureza e sociedade humana e,
c) II e III, apenas.
nesta, aos debates da Cidade grega.
d) I, II e III.
b) à separação entre os homens e a Cidade grega,
devido à violência dos debates políticos, o que
9.
levou o filósofo a retirar-se da Cidade.
“O pensamento mítico consiste em uma forma
c) à identidade entre a Cidade e a natureza, que fez os
pela qual um povo explica aspectos essenciais da
homens saberem-se parte dela e, portanto, a
realidade em que vive: a origem do mundo, o
debaterem na Cidade sobre a organização do cosmo.
funcionamento da natureza e dos processos naturais e
d) ao abandono da prática dos discursos e dos
as origens deste povo, bem como seus valores básicos.
argumentos, o que levou a filosofia a ser a única
O mito caracteriza-se sobretudo pelo modo como
atividade discursiva argumentativa na Cidade grega.
essas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de
discurso que constitui. O próprio termo grego mythos
8. Leia a seguinte passagem, que relaciona o regramento
significa um tipo bastante especial de discurso, o
democrático ao desenvolvimento de uma prática
discurso ficcional ou imaginário, sendo por vezes até
social baseada na razão:
mesmo sinônimo de ‘mentira’.”
“A democracia representa exatamente a
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia,
possibilidade de se resolverem, através do dos Pré-Socráticos a Wittgenstein, 15ª reimpressão,
entendimento mútuo, e de leis iguais para todos, as Editora Zahar, Rio de Janeiro (adaptado).

diferenças e divergências existentes em nome de um Acerca da questão do mito, enquanto narrativa da


interesse comum. As decisões serão tomadas por realidade, é válido afirmar que busca
consenso, o que acarreta persuadir, convencer, a) ignorar as questões fundamentais da natureza.
justificar, explicar. Anteriormente, havia a imposição, b) menosprezar elementos relacionados ao
a violência, a obediência. A linguagem, o diálogo e a conhecimento.
discussão rompem com a violência na medida em que c) empregar um pensamento de orientação
todos os falantes têm, no diálogo, os mesmos direitos fantástica.
(isegoria): interrogar, questionar, contra-argumentar. d) compreender a realidade de maneira racional.
A razão se sobrepõe à força.” e) justificar a sociedade a partir do argumento
MARCONDES, D. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-socráticos a científico.
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar Ed. 1998 (adaptado).

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10. exemplar as características de mudança contínua, do
“Afirmam os historiadores da filosofia que esta contraste e da harmonia. Com efeito, o fogo está
possui data e local de nascimento: nasceu entre o final continuamente em movimento, é vida que vive da morte
do século VII a.C. e o início do século VI a.C., nas do combustível, é contínua transformação deste em
colônias gregas da Ásia Menor — particularmente as cinzas, fumaça e vapores, é perene “necessidade e
que formavam a Jônia —, e o primeiro filósofo, Tales, saciedade”, como diz Heráclito a respeito de seu Deus
era natural de Mileto.” REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia:
filosofia pagã antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 23.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia 1: dos pré-socráticos a
Aristóteles, São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
Acerca do pensamento de Heráclito de Éfeso, citado
Quando de seu nascimento, a Filosofia se voltou à no fragmento acima, é possível perceber uma
discussão de temas voltados à a) estagnação como fundamento real de toda a natureza.
a) ética. b) compreensão deliberadamente mitológica da
b) política. realidade.
c) estética. c) visão cosmológica apoiada no princípio da
d) religião. imutabilidade.
e) cosmologia. d) percepção da origem do universo em dimensão
metafísica.
e) associação entre devir e natureza como essência
do universo.
TEMA 3 – PRÉ-SOCRÁTICOS
3.
“(...) a descoberta de que os sons e a música, à qual
EXERCÍCIOS DE CLASSE
os Pitagóricos dedicavam grande atenção como meio de
1. purificação e catarse, são traduzíveis em determinações
Em Homero, arkhé significa o que está no começo, numéricas, ou seja, em números: a diversidade dos
no princípio, na origem de alguma ação, de algum sons produzidos pelos martelos que batem na bigorna
discurso, o ponto de partida, donde arquétipo (o tipo depende da diversidade de peso dos martelos (que é
ou modelo primitivo de uma coisa). Em Píndaro, determinável segundo um número), ao passo que a
significa poder, comando, autoridade, soberania, por diversidade dos sons das cordas de um instrumento
extensão, arconte (o magistrado). Os primeiros filósofos musical depende da diversidade de comprimento das
buscam a arkhé, o princípio absoluto (primeiro e último) cordas (que é analogamente determinável segundo
de tudo o que existe. um número). Além disso, os Pitagóricos descobriram
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a as relações harmônicas de oitava, de quinta e de
Aristóteles, vol. 1. Companhia das Letras.
quarta, bem como as leis numéricas que as governam
O conceito apresentado no fragmento acima, isto é, o (1: 2, 2: 3, 3: 4).”
de arkhé, traduz, sob o ponto de vista filosófico, o(a) REALE, Giovanni.; ANTISERI, Dario. História da Filosofia:
filosofia pagã antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 27.
a) esforço racional acerca da compreensão da
realidade. A chamada filosofia pré-socrática alcançou notável
b) tentativa de explicação mitológica da origem do destaque com as ideias levantadas pelos pitagóricos,
universo. os quais defendiam a
c) ruptura absoluta com os elementos da narrativa a) restrição do número a uma abstração mental dos
tradicional. fenômenos.
d) exercício de obstrução ao entendimento lógico da b) dissociação entre a música e a evolução espiritual
natureza. do homem.
e) consolidação dos valores religiosos em linguagem c) regularidade matemática presente em toda a
dogmática. realidade natural.
d) arché da natureza presente e demonstrada nas
2. Heráclito indicou o fogo como “princípio” fundamental, e ondas sonoras.
considerou todas as coisas como transformações do fogo. e) incapacidade numérica de compreensão e
Também é evidente porque Heráclito atribuiu ao fogo a explicação das coisas.
“natureza” de todas as coisas: o fogo expressa de modo

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4. TEXTO II
“A partir da premissa de que algo existe (“é”), Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus,
Parmênides deduziu que esse algo não pode também como criador de todas as coisas, está no princípio do
não existir (“não é”), pois isso envolveria uma mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos
contradição lógica. Portanto, seria impossível existir apresentam, em face desta concepção, as
um estado de nada — não haveria vazio. Assim, algo especulações contraditórias dos filósofos, para os
não pode vir do nada: deve sempre ter existido em quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro
alguma forma. Essa forma permanente não pode elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos,
mudar, porque algo que é permanente não pode como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão
mudar para outra coisa sem deixar de ser permanente. de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.”
A mudança fundamental seria, portanto, impossível.” GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991
(adaptado).
O livro da Filosofia. Tradução: Douglas Kim. São Paulo: Globo, 2011, p. 41.
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram
O pensamento desenvolvido por Parmênides pode ser
teses para explicar a origem do universo, a partir de
interpretado como uma espécie de
uma explicação racional. As teses de Anaxímenes,
a) surgimento da Ontologia.
filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval,
b) confirmação do Mobilismo.
têm em comum na sua fundamentação teorias que
c) introdução do Niilismo. a) eram baseadas nas ciências da natureza.
d) início do Existencialismo. b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
e) defesa do Misticismo. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
5. e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
“Empédocles (como também Anaxágoras) era
médico e, certamente, as ideias médicas e a prática 2.
médica tiveram papel fundamental em sua cosmologia, Todas as coisas são diferenciações de uma mesma
explicando não só a introdução da pluralidade da phýsis, coisa e são a mesma coisa. E isso é evidente. Porque se as
mas ainda afirmando que a phýsis são quatro raízes coisas que são agora neste mundo — terra, água, ar e fogo
(rizómata) perpassadas por duas forças corpóreas que e as outras coisas que se manifestam neste mundo —, se
unem — amor ou amizade, philía — ou separam — ódio alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra,
ou discórdia, neîkos — todas as coisas”. diferente em sua natureza própria e se não permanecesse
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, a mesma coisa em suas muitas mudanças e diferenciações,
vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 109.
então não poderiam as coisas, de nenhuma maneira,
A filosofia apresentada e defendida por Empédocles misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas
está situada na tradição que às outras, nem a planta poderia brotar da terra, nem um
a) destaca a impossibilidade de miscibilidade. animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as
b) defende a perspectiva monista do universo. coisas não fossem compostas de modo a serem as
c) renuncia ao papel analítico apoiado no logos. mesmas. Todas as coisas nascem, através de
d) propõe uma visão pluralista sobre a natureza. diferenciações, de uma mesma coisa, ora em uma forma,
e) situa a concepção de verdade em base mítica. ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
DIÓGENES, In: BORNHEIM, G, A. Os filósofos pré-socráticos.
São Paulo: Cultrix, 1967.
EXERCÍCIOS DE CASA
O texto descreve argumentos dos primeiros
pensadores, denominados pré-socráticos. Para eles, a
1. TEXTO I
principal preocupação filosófica era de ordem
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento
a) cosmológica, propondo uma explicação racional do
originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que
mundo fundamentada nos elementos da natureza.
outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar
b) política, discutindo as formas de organização da
se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos
pólis ao estabelecer as regras da democracia.
são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores
por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam- virtuosos que tem a felicidade como o bem maior.
se em água. A água, quando mais condensada, d) estética, procurando investigar a aparência dos
transforma-se em terra, e quando condensada ao entes sensíveis.
máximo possível, transforma-se em pedras. e) hermenêutica, construindo uma explicação
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: unívoca da realidade.
PUC-Rio, 2006 (adaptado).

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50
3. TEXTO I 5.
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes “O mundo, dizia Heráclito, é um fluxo perpétuo
no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas onde nada permanece idêntico a si mesmo, mas tudo
vezes a mesma condição; mas pela intensidade e pela se transforma no seu contrário. A luta é a harmonia
rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne. dos contrários, responsáveis pela ordem racional do
universo.”
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo:
Abril Cultural. 1996 (adaptado). CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 5ª edição, 1996, p. 180.

TEXTO II O pensamento de Heráclito está inserido num contexto


Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é que se mistura à origem da Filosofia e sua preocupação
ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e central estava inserida num esforço essencialmente
sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo a) mitológico.
homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é b) cosmológico.
c) cosmogônico.
perecer? Como poderia gerar-se?
d) existencialista.
Parmênides. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).
e) epistemológico.
Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem
uma oposição que se insere no campo das 6.
a) investigações do pensamento sistemático. Empédocles estabelece quatro elementos
b) preocupações do período mitológico. corporais — fogo, ar, água e terra —, que são eternos
c) habilidades da retórica sofística. e que mudam, aumentando e diminuindo mediante
mistura e separação; mas os princípios propriamente
d) discussões de base ontológica.
ditos, pelos quais aqueles são movidos, são o Amor e
e) verdades do mundo sensível.
o Ódio. (...) é preciso que os elementos permaneçam
alternadamente em movimento, sendo ora
4. A dialética não é um mero método que organiza,
misturados pelo Amor, ora separados pelo Ódio.
mentalmente, na cabeça do filósofo, a realidade que
Simplício. Física, 25, 21. In: Os pré-socráticos. São Paulo:
lhe é exterior. Ao contrário, a dialética é, para autores Nova Cultural, 1996 (adaptado).
como Hegel e Marx, a única forma de ler a realidade
A partir da leitura acima, é possível observar a
sem traí-la ou distorcê-la, pois é na própria realidade
tradução do pensamento dos chamados filósofos
que se situam as contradições dialéticas. pré-socráticos, os quais estavam fundamentalmente
preocupados com uma
Ciente dessa compreensão, assinale a opção que a) investigação mitológica grega.
exprime corretamente essa identificação da b) condição originária do universo.
contradição do real com a forma de pensar. c) dimensão metafísica da realidade.
a) O filósofo, ao olhar para o real, identifica-o como d) percepção estética dos sentimentos.
um mundo ausente de negações, fixo e imóvel, e) correspondência à compreensão mitológica.
como o ser no poema de Parmênides.
b) Como pensou Platão, o devir dos entes finitos lhes 7.
permite participar de ideias contraditórias, mas “Se compararmos ao de Tales, o pensamento de
estas próprias ideias não devêm. Anaximandro introduz grandes mudanças teóricas que
c) Como pensou Heráclito, a própria realidade é repleta merecem ser destacadas. Em primeiro lugar, a clara
identificação entre phýsis e arché como aquilo que só
de mudanças e conflitualidades, o que faz o filósofo
pode ser alcançado pelo pensamento, pois o princípio
pensá-la mutável e contraditória.
não se confunde com os quatro elementos visíveis e
d) A realidade, como pensou Demócrito, é um turbilhão
observáveis.”
de átomos agregando-se e desagregando-se em uma
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia, vol. 1, dos pré-socráticos a
queda perpétua no vazio. Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 60.

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Anaximandro, pensador pré-socrático do séc. VI a.C., c) tentativa de levar a compreensão da realidade em
compreendia a origem da natureza como sua essência.
a) originada de elementos materiais percebidos na d) busca pela investigação cosmológica em uma
natureza. dimensão material.
b) resultado de um ato divino fundamentado na visão e) certeza da mutabilidade como condição
mítica. fundamental do universo.
c) decorrência de materiais que são definidos e
determinados. 10.
d) extensão das qualidades primárias encontradas “Parmênides e os eleatas são adversários dos
nas coisas. mobilistas, defendendo uma posição que podemos
e) produto de um princípio ilimitado e infinito de caracterizar como monista, ou seja, a doutrina da
caráter racional. existência de uma realidade única. Parmênides parece
de fato o introdutor de uma das distinções mais básicas
8. no pensamento filosófico, a distinção entre realidade e
“Os pitagóricos, como seus discípulos eram aparência. Assim, o primeiro argumento contra o
conhecidos, viam as ideias de Pitágoras como mobilismo consiste em caracterizar o movimento
revelações místicas — embora algumas descobertas apenas como aparente, como um aspecto superficial
atribuídas a ele como ‘revelações’ possam, de fato, ter das coisas. Se, no entanto, formos além de nossa
vindo de outros membros da comunidade. Suas ideias experiência sensível, de nossa visão imediata das coisas,
foram registradas por discípulos, entre os quais se descobriremos, através do pensamento, que a
incluíam sua esposa, Teano de Crotona, e suas filhas. As verdadeira realidade é única, imóvel, eterna, imutável,
duas faces das crenças de Pitágoras — a mística e a sem princípio, nem fim, contínua e indivisível.”
científica — parecem incompatíveis, mas o filósofo não MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
as via assim. Para ele o objetivo da vida é libertar-se do Wittgenstein, 15ª reimpressão, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2007, p. 36.

ciclo de reencarnação, o que pode ser obtido com a O pensamento desenvolvido pelo eleatas, na
adesão a um rígido conjunto de regras de Antiguidade, preconizava que o(a)
comportamento e por meio da contemplação (ou o que a) natureza é originada de uma dinâmica real e
chamaríamos de pensamento científico objetivo).” indiscutível.
O livro da filosofia. Tradução: Douglas Kim. São Paulo, Globo, 2011, pág. 27. b) surgimento da natureza segue uma narrativa mítica.
O aspecto místico apresentado no texto, como um c) realidade repousa na unicidade e na imutabilidade.
“ciclo de reencarnação”, é conhecido como d) mundo provém de um processo sensível e mutável.
a) Metempsicose. e) universo surgiu a partir de uma ação divina móvel.
b) Agnosticismo.
c) Silogismo. TEMA 4 – SOFISTAS
d) Maiêutica.
e) Erística.
EXERCÍCIOS DE CLASSE
9.
No âmbito da filosofia da physis, Parmênides se 1. Advento da Pólis, nascimento da filosofia: entre as duas
apresenta como inovador radical e, em certo sentido, ordens de fenômenos, os vínculos são demasiado
como pensador revolucionário. Efetivamente, com ele, estreitos para que o pensamento racional não apareça,
a cosmologia recebe como que um profundo e em suas origens, solidário das estruturas sociais e
benéfico abalo do ponto de vista conceitual, mentais próprias da cidade grega. Assim recolocada na
transformando-se em uma ontologia (teoria do ser).
história, a filosofia despoja-se desse caráter de revelação
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 33.
absoluta que às vezes lhe foi atribuído, saudando, na
jovem ciência dos jônios, a razão intemporal que veio
Acerca do pensamento de Parmênides de Eleia, citado encarnar-se no Tempo. A escola de Mileto não viu nascer
no fragmento acima, é possível perceber uma a Razão; ela construiu uma Razão, uma primeira forma de
a) obstrução ao entendimento acerca dos elementos
racionalidade. Essa razão grega não é a razão
da natureza.
experimental da ciência contemporânea.
b) dificuldade do desenvolvimento do pensamento
VERNANT, J. P. Origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002.
de tipo racional.

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52
Os fenômenos apresentados foram fortalecidos pelo Na tradição de pensamento desenvolvida pelos
aparecimento de um grupo de pensadores, conhecidos sofistas, a posição adotada por Górgias se alinha a uma
como a) perspectiva niilista acerca da realidade social.
a) estoicos, comprometidos na compreensão do b) defesa da normatividade imposta pela cultura.
fatalismo. c) análise de viés dualista em torno da realidade.
b) sofistas, voltados ao ensino da retórica em nível d) percepção racional absoluta acerca da verdade.
político. e) renúncia da razão como fundamento intelectual.
c) peripatéticos, responsáveis por uma filosofia
sistemática. 4.
d) epicuristas, empenhados na construção de uma “Os Sofistas, com efeito, operaram verdadeira
vida feliz. revolução espiritual (deslocando o eixo da reflexão
e) poetas rapsodos, preocupados com a preservação filosófica da physis e do cosmo para o homem e aquilo
do mito. que concerne à vida do homem como membro de uma
sociedade) e, portanto, centrando seus interesses
2. sobre a ética, a política, a retórica, a arte, a língua, a
De todas as coisas “o homem é a medida”. O religião e a educação, ou seja, sobre aquilo que hoje
homem, portanto, é o critério da realidade: do que as chamamos a cultura do homem.”
coisas são e do que não são. Como o homem é a medida REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga, vol. 1.
de todas as coisas, o ser e o não ser dependem São Paulo: Paulus, 2003, p. 73.

inteiramente de nossas sensações, percepções, opiniões, Podemos destacar que essa mudança de pensamento
ideias e ações. Protágoras opta por um subjetivismo lançada pelos sofistas está diretamente ligada a um
muito mais radical do que o de Demócrito, pois este, ao contexto de
mesmo tempo que afirmava o caráter subjetivo da a) fixação da preocupação filosófica quanto à
experiência sensorial, também afirmava a existência da problemática da gênese do universo.
phýsis imutável, eterna e sempre idêntica a si mesma, b) manutenção das narrativas míticas como forma
cujo conhecimento é verdadeiro. Com Protágoras, não há predominante de conhecimento.
mais phýsis, não há um ser idêntico que subjaz às c) consolidação da teocracia, apoiada na estrutura de
aparências e que pode ser universalmente conhecido por poder da aristocracia rural.
todos através do pensamento. A medida ou a d) aumento da participação política da sociedade,
moderação, que toda a filosofia anterior havia colocado expressa no poder do demos.
na própria phýsis, se transfere para o homem. As coisas e) crise econômica, proporcionada pelo atrofiamento
são ou não são conforme os humanos as façam ser ou das atividades mercantis.
não ser, ou digam que elas são ou não, segundo o nómos.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos 5.
a Aristóteles, vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista,
ampliada e atualizada, 13ª reimpressão, 2002, p. 170. “(...) os sofistas realizaram um deslocamento do eixo
da pesquisa filosófica do cosmo para o homem.
Observando atentamente o texto anterior, é possível Precisamente nesse deslocamento está seu mais relevante
afirmar que o pensamento de Protágoras significado histórico e filosófico. Eles abriram caminho para
a) reproduz a perspectiva filosófica dos pré-socráticos. a filosofia moral, embora não tenham sabido alcançar seus
b) estabelece o conhecimento em dimensão sensorial. fundamentos últimos, porque não conseguiram
c) centraliza a filosofia em uma perspectiva naturalista. determinar a natureza do homem enquanto tal.”
d) apresenta uma compreensão ontológica contingente. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
e) compreende uma dimensão necessária da realidade. vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 82.

Tomando como referência o texto acima, é possível


3.
observar que os sofistas,
Eliminada a possibilidade de alcançar uma “verdade”
a) filósofos de linha naturalista, buscavam compreender
absoluta (a alétheia), parece que só restou a Górgias o
a origem da natureza de forma racional.
caminho da “opinião” (doxa). Ele, porém, negou também
b) mestres de oratória, os sofistas buscaram uma
a opinião, considerando-a “a mais pérfida das coisas”.
reorientação da filosofia numa visão humanista.
Procura então um terceiro caminho, o da razão que se
c) intelectuais religiosos, encaravam a fé como
limita a iluminar fatos, circunstâncias e situações da vida
fundamento inquestionável da sabedoria humana.
dos homens e das cidades na sua concretitude e na sua
d) políticos demagogos, assumiram papel decisivo
situação contingente, sem chegar a dar a estes um
para o processo de decadência da democracia.
fundamento adequado.
e) pensadores de formação ética, defendiam a
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 78. submissão dogmática do cidadão às leis do Estado.

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EXERCÍCIOS DE CASA Observando atentamente o texto acima, é possível
afirmar que o pensamento de Protágoras
1. a) dissociava política em relação à vida prática.
Podemos avaliar como a maioria dos atenienses foi b) estabelecia submissão aos valores tradicionais.
receptiva a esse ensinamento, lembrando que, nos c) suscitava conflitos em relação às elites atenienses.
tribunais, um cidadão assumia pessoalmente tanto a d) coadunava com a filosofia de orientação socrática.
defesa de seus direitos (não havia advogados, como e) transgredia a ordem política e jurídica democrática.
haverá em Roma) como a acusação de um outro que
ferira seus direitos ou supostamente não cumprira a lei. 3.
O julgamento se fazia perante um magistrado, com Górgias veio a Atenas como embaixador de
função moderadora, e um júri popular (tirado por Leontini para pedir ajuda dos atenienses contra o
sorteio), que decidia por voto a inocência ou a culpa de tirano de Siracusa; instalou-se depois na Beócia e,
alguém, cabendo ao magistrado proferir a sentença em finalmente, na Tessália. Foi ele quem introduziu a
conformidade com a lei. Sob essa perspectiva, era do prática do comparecimento dos sofistas aos festivais de
maior interesse aprender a arte da palavra, pois dela Olímpia e Delfos para defender o pan-helenismo, defesa
dependia o sucesso para persuadir o júri. Isso significa que fazia também na praça pública de Atenas, missão que
que o sofista, oferecendo um ensino útil nas será herdada por seu mais importante seguidor,
assembleias e nos tribunais, ensinava a arte de ser Isócrates, fundador da mais célebre escola de retórica da
cidadão, recebendo remuneração para ensiná-la. Seu Antiguidade. Górgias começou como discípulo de
profissionalismo foi duramente criticado por dois Empédocles, conheceu as ideias dos jovens pitagóricos e
grupos: o grupo dos oligarcas ligados à aristocracia e o as de Melissos de Samos, acabando por tornar-se cético
grupo ligado a Sócrates. quanto à possibilidade da filosofia.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles,
São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e
atualizada, vol. 1. 13ª reimpressão, 2002, p. 162. atualizada, 13ª reimpressão, 2002, p. 172.

Observando atentamente o texto, é possível afirmar Observando atentamente o texto acima, é possível
que os sofistas eram afirmar que o pensamento de Górgias
a) rivais das instituições jurídicas. a) refletia a tradição sofística.
b) inimigos do regime democrático. b) defendia a verdade absoluta.
c) adversários das elites tradicionais. c) repudiava o recurso da retórica.
d) opositores à educação remunerada. d) censurava a filosofia humanista.
e) contrários aos princípios democráticos. e) apoiava o poder das convenções.

2. 4.
Nascido em Abdera por volta de 481 a.C., (...) inicialmente, os gregos usavam as palavras
Protágoras (...) viajou por quase todas as cidades da sophistés e sophós como sinônimos, embora a primeira
Grécia, foi a Atenas, onde viveu no círculo de Péricles, conotasse a ideia de ensino ou a prática de ensinar para
que o honrou fazendo-o legislador da colônia de Turói, transmitir um saber e a segunda indicasse mais a perícia
à qual Protágoras deu uma constituição escrita. De em algum ofício ou em alguma atividade. A sinonímia
volta a Atenas, foi levado perante a Assembleia, dessas palavras provinha do fato de que, no princípio, a
acusado (como Anaxágoras, quase na mesma época) palavra sophía designava não um saber teórico ou
de impiedade ou de ateísmo (pois afirmava que os contemplativo (sentido que passará a ter a partir de
deuses e a religião existiam por convenção). Fugiu. (...) Pitágoras), mas uma qualidade intelectual ou espiritual
Quase tudo que dele sabemos, infelizmente, nos cuja origem é a habilidade num ofício determinado.
chegou através dos escritos de seu maior inimigo, Sophós, sábio, era o perito no seu ofício, fosse qual fosse.
Platão (...). Por isso, não podemos saber com certeza (...) Um sophistés era um professor e, por esse motivo,
quais foram suas ideias. essa palavra era usada para referir-se aos grandes poetas
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, antigos, que foram os primeiros educadores da Grécia
vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e (Homero, Hesíodo, Teógnis, Píndaro).
atualizada, 13ª reimpressão. 2002, p. 169.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles,
vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e
atualizada, 13ª reimpressão. 2002, p. 160.

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Observando atentamente o texto, é possível afirmar 7.
que os sofistas Ora, os atenienses não tinham má vontade nem
a) limitavam a educação grega a um modelo militarista. desprezo por quem se fazia remunerar pelos serviços
b) defendiam o fundamento epistemológico da prestados. Pelo contrário, vimos Péricles elogiar os
mitologia. profissionais e criticar os que não evitavam a pobreza. E
c) reproduziam uma estrutura de ensino puramente sabemos que a cidade remunerava os mais pobres pelos
teórica. dias em que não trabalhavam quando participavam das
d) traduziam um estilo de vida voltado à prática assembleias e dos tribunais. Por que, então, as críticas
pedagógica. aos sofistas? Por causa do tipo específico de saber que
e) combatiam o conhecimento expresso por meio da ensinavam e pelo qual se faziam pagar. Que ensinavam?
literatura. Embora cada sofista fosse perito em uma ou duas
técnicas e as ensinasse a alunos que pretendiam
5. especializar-se numa profissão determinada, todos os
“No século de Péricles, em Atenas, sofista indica um sofistas, porém, eram peritos numa arte necessária aos
grupo social particular, isto é, professores profissionais membros de uma democracia, a arte da palavra.
que, explica Guthrie: ‘forneciam instrução aos jovens e CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
davam mostras de eloquência em público, mediante Aristóteles, vol. 1. São Paulo: 2002, p. 161.

pagamento’. Os sofistas foram os primeiros professores Observando atentamente o texto acima e


pagos na história da educação. Fato que seus inimigos, considerando os conhecimentos acerca do tema, é
aristocratas, nunca perdoarão. Assim, Xenofonte possível afirmar que os sofistas sofriam hostilidades
escreveu nos Memoráveis que ‘aqueles que vendem sua em Atenas, sobretudo em razão de
sophía por dinheiro, a qualquer um que a queira, são a) fazerem oposição à democracia.
chamados sofistas.” b) limitarem o ensino à prática retórica.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos c) ameaçarem os interesses das elites.
a Aristóteles, vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista,
ampliada e atualizada, 13ª reimpressão. 2002, p. 161.
d) defenderem a religião oficial da pólis.
e) cobrarem por suas aulas ministradas.
É possível perceber que, na Antiga Grécia, os sofistas
a) combatiam a mercantilização do ensino. 8.
b) ameaçavam a ordem democrática ateniense. De fato, que ensinavam os sofistas? A arte de
c) representavam a unanimidade política grega. argumentar e persuadir, decisiva para quem exerce a
d) apoiavam a tradição dogmática da aristocracia. cidadania numa democracia direta, em que as
e) defendiam a importância da linguagem retórica. discussões e as decisões são feitas em público e nas
quais vence quem melhor souber persuadir os demais,
6. sendo hábil, jeitoso, astuto na argumentação em favor
Embora não tivesse o sentido pejorativo que veio de sua opinião e contra a do adversário. Se a nova
a adquirir posteriormente, a palavra sofista tinha um areté é a cidadania e se a educação visa à formação do
sentido ambíguo, conotando aquela pessoa cuja cidadão virtuoso ou excelente, os sofistas se
habilidade extrema provocava uma mescla de apresentavam como professores de areté ou, como
admiração, temor e desconfiança. Exatamente por ficaram conhecidos na tradição, como professores da
isso, os inimigos, aproveitando-se dessa ambiguidade, virtude.
chamarão os sofistas de charlatães e mentirosos.
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 162 (adaptado).
Aristóteles, vol. 1. São Paulo: 2002, p. 161.

Observando atentamente o texto acima, é possível


Observando atentamente o texto acima, é possível afirmar que, na concepção dos sofistas, a virtude
afirmar que os sofistas angariaram contra si a oposição a) refletiria a meritocracia política.
de elementos da sociedade ateniense, sobretudo b) espelharia os dogmas religiosos.
a) teocratas e epicuristas. c) expressaria oposição à cidadania.
b) tecnocratas e artesãos. d) traduziria os valores da aristocracia.
c) aristocratas e socráticos. e) restringiria os princípios democráticos.
d) democratas e sacerdotes.
e) burocratas e comerciantes.
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9.
TEMA 5 – SÓCRATES
Os sofistas, como seus inimigos não se cansavam
de proclamar, não eram atenienses (só muito mais
tarde haverá sofistas de Atenas), mas vinham das EXERCÍCIOS DE CLASSE
colônias gregas da Jônia e da Magna Grécia. Essa
origem é de grande importância porque nos faz 1.
conhecer o que esses estrangeiros traziam na “O pensamento de Sócrates é um marco na
bagagem ao desembarcos no Pireu. O que traziam? constituição de nossa tradição filosófica, e pode-se
(...) Vindos das regiões onde nascera e se desenvolvera
dizer que inaugura a filosofia clássica, rompendo com
a filosofia, os sofistas chegavam a Atenas com todo o
a preocupação quase que exclusivamente centrada na
debate e toda a crise da filosofia decorrentes das
formulação de doutrinas sobre a realidade natural que
aporias criadas pela oposição irreconciliável entre o
ser (eleata) e o devir (heraclitiano). encontramos nos filósofos pré-socráticos. A própria
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
denominação “pré-socráticos” já reflete a importância
Aristóteles, vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 161 (adaptado). da filosofia de Sócrates como um divisor de águas.”
Observando atentamente o texto acima, é possível MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia: dos Pré-Socráticos a
Wittgenstein, 15ª reimpressão, Rio de Janeiro: Editora Zahar.
afirmar que os sofistas
a) retratavam a homogeneidade cultural grega. A Filosofia inaugurada por Sócrates introduz uma
b) contradiziam a filosofia, por sua base racional. perspectiva essencialmente
c) criticavam a ampliação do regime democrático. a) centrada na perspectiva naturalista da origem do
d) apoiavam o conhecimento de ordem mitológica. universo.
e) reproduziam as polêmicas de natureza ontológica.
b) voltada à percepção teocêntrica da realidade
10. política e social.
Em Atenas, coexistiam como dois “partidos” c) focada na visão pura e exclusivamente materialista
antagônicos, um aristocrata e outro democrata. O da filosofia.
antagonismo se manifestava de inúmeras maneiras e d) necessariamente retórica, que destaca o papel
uma delas aparece numa pergunta (...): a lei é por político do orador.
natureza ou por convenção? Se for por natureza, não e) associada à compreensão antropocêntrica em sua
depende da decisão humana e é inviolável; se for por
dimensão ética.
convenção, pode ser alterada e mesmo transgredida. (...)
Os sofistas, formados no conhecimento da história e na
2.
explicação médica sobre o processo de humanização do
homem por meio dos costumes, defendiam o “partido” “A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos
democrático contra o aristocrático, afirmando que o preconceitos do senso comum e, portanto, começa
costume e a lei não escrita não são por natureza ou dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber;
naturais, mas são nómos, isto é, por convenção, e por isso por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates,
relativos a cada sociedade (em outras palavras, a afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica
aristocracia, exatamente como a democracia, é uma é dizer: ‘Sei que nada sei’.”
convenção social e humana e não uma instituição natural CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000, p. 9.
ou divina).
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
O pensador grego Sócrates se tornou uma espécie de
Aristóteles, vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 166. divisor de águas na tradição filosófica, propondo um
Observando atentamente o texto acima, é possível modelo de pensamento baseado que apresenta um
afirmar que, politicamente, os sofistas se método
posicionavam a) fundamentado na dialética.
a) opostos à democracia ateniense. b) apoiado em saber relativo.
b) defensores do regime teocrático. c) voltado para a cosmologia.
c) aliados à ordem legal naturalista. d) calcado na retórica sofista.
d) contrários à tradição aristocrática. e) amparado na fé dogmática.
e) apoiadores de uma anomia social.

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56
3. 5.
“Sócrates viveu em Atenas na segunda metade do Quando critica o sofista por ensinar a quem lhe
século V a.C. Quando jovem, acredita-se que tenha pague e, portanto, por aceitar conviver com qualquer
estudado filosofia natural, examinando as várias um que lhe pague, Sócrates critica a perda de
explicações sobre a natureza do universo, até se envolver autonomia daquele que passa a agir conforme a
com a política da cidade-estado e interessar-se por
vontade de quem lhe dá o pagamento. Sócrates critica
assuntos práticos, como a natureza da justiça. No entanto,
a heteronomia do sofista. Também o critica porque
não estava interessado em vencer polêmicas ou debater
impõe a heteronomia aos alunos: apresentando-se
para ganhar dinheiro — acusação lançada a muitos de seus
contemporâneos. Ele não procurava respostas ou como um mestre que tudo ensina, não os deixa pensar
explicações definitivas: somente investigava a base dos por si mesmos. E, finalmente, o critica porque ensina
conceitos que aplicamos a nós mesmos (como ‘bom’, apenas técnicas de combate verbal e, portanto, uma
‘ruim’ e ‘justo’), porque acreditava que compreender o que relação de violência recíproca, para que vença o mais
somos é a primeira tarefa da filosofia.” forte e não a verdade, comum a todos.
O livro da Filosofia. Tradução: Douglas Kim. São Paulo: Globo, 2011, p. 47. CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles,
vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e
Sócrates pode ser inserido dentro de uma perspectiva atualizada, 13ª reimpressão, 2002, p. 202.
filosófica que o associava à
a) tradição de pensamento conhecida como sofista. Sócrates se coloca em oposição à sofística grega, por
b) epistemologia fundamentada na revelação divina. conta de que esta
c) análise do conhecimento voltada à essência ética. a) adotava uma postura filosófica dialética.
d) visão tradicional e inquestionável do conhecimento. b) apresenta um notável fundamento ético.
e) impossibilidade de inatismo quanto ao saber humano. c) revela uma restrição ao aspecto retórico.
d) oferecia uma educação de forma gratuita.
4. e) garantia autonomia de pensamento crítico.
“Quem valorizou a descoberta do homem feita
pelos sofistas, orientando-a para os valores universais,
segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates.
EXERCÍCIOS DE CASA
Nasceu Sócrates em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho
de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira.
1.
Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se
“Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei” são
inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem
as duas expressões que ninguém no pensamento
recompensa alguma, não obstante sua pobreza. (...)
Formou a sua instrução sobretudo através da reflexão ocidental jamais duvidou que fossem de Sócrates. Com
pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da elas, o homem, a ética e o conhecimento surgem como
época, em contato com o que de mais ilustre houve na as questões centrais da filosofia. E, desde Aristóteles,
cidade de Péricles.” também ninguém contesta que a pergunta socrática
PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: Editora por excelência seja: “o que é...?”.
Melhoramentos, 17ª edição, 1995, p. 110.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles,
Percebe-se que, de acordo com o auxílio do texto vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada
e atualizada, 13ª reimpressão, 2002, p. 187.
acima, é possível afirmar que o pensador grego Sócrates
a) apoiava o relativismo filosófico de orientação O pensamento socrático, conforme o excerto, estava
sofística. apoiado em uma
b) valorizava o desenvolvimento espiritual do ser a) ontologia naturalista.
humano. b) gnosiologia politeísta.
c) buscava compreender sobretudo a origem da
c) tecnologia materialista.
natureza.
d) epistemologia racional.
d) representava os interesses materiais da elite
e) metodologia dogmática.
ateniense.
e) tentava construir um modelo de pensamento
mitológico.

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57
2. Considerando o texto acima, é possível afirmar que
Como os sofistas, Sócrates se interessa pela Sócrates estava
virtude. Todavia, os sofistas, mantendo-se no plano a) alinhado aos interesses das elites socioeconômicas
dos costumes estabelecidos, falavam da virtude no de sua cidade.
plural, isto é, falavam em virtudes (coragem, b) comprometido e empenhado com os propósitos de
temperança, amizade, justiça, piedade, prudência base familiar.
etc.), mas Sócrates fala no singular: a virtude. Em c) consumido pelas atividades administrativas em
outras palavras, a investigação filosófica deve chegar à torno da pólis.
ideia de virtude e, com ela, determinar quais d) empenhado na formação intelectual cidadã dos
comportamentos são virtuosos, quais ações são atenienses.
virtuosas. Ou seja, é por sabermos o que é a virtude e) dedicado às atividades pedagógicas de orientação
(por termos sua ideia) que poderemos determinar se a sofista.
coragem, a amizade, a prudência, a piedade, a justiça,
a temperança são ou não virtudes. 4.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, Ao dizer-se “parteiro das almas”, Sócrates queria
vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e dizer, em primeiro lugar, que não era o pai das ideias
atualizada, 13ª reimpressão, 2002, p. 191.
que nasciam da alma de seu interlocutor e, em
Conforme o que se pode depreender do texto, é segundo, que seu papel era apenas o de auxiliar o
possível afirmar que Sócrates nascimento de ideias para as quais o trabalho de parto
a) define a virtude como a capacidade de vencer tinha, como no caso das mães, que ser feito
debates. inteiramente pela parturiente. Seu trabalho era
b) defende a mesma concepção de virtude que os suscitar no interlocutor o desejo de saber (como o
sofistas. médico suscita no paciente o desejo da cura) e auxiliá-lo
c) compreende que a virtude está dissociada da a realizar sozinho esse desejo. O diálogo é a medicina
sabedoria. socrática da alma.
d) enxerga uma origem epistemológica em relação à CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles,
virtude. vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e
atualizada, 13ª reimpressão, 2002, p. 189.
e) associa a virtude a uma determinação de viés
aristocrático. O pensador grego Sócrates desenvolveu um método
de caráter filosófico
3. a) dissociado de uma vocação de viés sanitário.
Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se b) restrito a uma elite social de base aristocrática.
deixou distrair pelas preocupações domésticas nem c) voltado à capacitação retórica dos debatedores.
pelos interesses políticos. Quanto à família, podemos d) contrário à concepção inatista de conhecimento.
dizer que Sócrates não teve, por certo, uma mulher e) apoiado num exercício de fundamento dialógico.
ideal na quérula Xantipa; mas também ela não teve um
marido ideal no filósofo, ocupado com outros cuidados 5.
que não os domésticos. Quanto à política, foi ele Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição
valoroso soldado e rígido magistrado, mas, em geral, austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e a
conservou-se afastado da vida pública e da política consequente educação por ele ministrada, criaram
contemporânea, que contrastavam com o seu descontentamento geral, hostilidade popular,
temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Diante
que devia servir a pátria conforme suas atitudes, da tirania popular, bem como de certos elementos
vivendo justamente e formando cidadãos sábios, racionários, aparecia Sócrates como chefe de uma
honestos, temperados — diversamente dos sofistas, aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a
que agiam para o próprio proveito e formavam Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na
grandes egoístas, capazes unicamente de se acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon:
acometerem uns contra os outros e escravizar o de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria
próximo. introduzindo outros.
PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: Editora PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: Editora
Melhoramentos, 17ª edição, 1995, p. 110-111 (adapado). Melhoramentos, 17ª edição, 1995, p. 111.

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58
O processo em que Sócrates foi envolvido e que levou Pode-se compreender, com base na leitura do
à sua condenação à morte foi motivado, sobretudo, fragmento, que Sócrates
por fatores de ordem a) ignorava o valor cognoscitivo da dialética.
a) religiosa, por conta do conservadorismo radical da b) apresentava uma epistemologia sensorial.
cultura teocrática ateniense. c) abraçou as atividades mercantis sofísticas.
b) política, diante da ameaça que suas ideias d) apoiava a importância do autoconhecimento.
representavam à parte da sociedade. e) encarava a verdade como externa ao homem.
c) ética, em virtude do comportamento dissoluto
despertado entre a juventude local. 8.
d) militar, em decorrência do apoio dispensado aos “O que vocês, ó homens de Atenas, sentiram
inimigos de origem espartana. diante das palavras de meus acusadores, eu não sei.
e) econômica, em função da oposição apresentada Quanto a fim, frente a argumentos tão convincentes,
em relação às atividades mercantis. por pouco ia me esquecendo de quem sou. Posso
afirmar que não há nenhuma verdade nessas palavras,
6. mas surpreendeu-me, entre tudo o que disseram
Tendo que esperar mais de um mês a morte no contra mim, a recomendação para que tivessem
cárcere — pois uma lei vedava as execuções capitais cuidado e não se deixassem enganar por minha
durante a viagem votiva de um navio a Delos — o eloquência. Mais vergonhoso, contudo, é que não se
discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. envergonhem de mentir, mesmo sabendo que eu os
Sócrates, porém, recusou, declarando não querer desmentiria imediatamente, sem qualquer artifício de
absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou eloquência, com a apresentação de fatos e
o tempo preparando-se para o passo extremo em evidências.”
palestras espirituais com os amigos. PLATÃO. A Apologia de Sócrates. Texto Integral, edição bilíngue. Tradução:
Sueli Maria de Regino. Martin Claret, 2ª reimpressão,
PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: Editora
São Paulo, 2014.
Melhoramentos, 17ª edição. 1995, p. 111.

O processo condenatório sobre Sócrates, conforme O fragmento acima é um registro feito por Platão,
depreendido no fragmento acima, revela o caráter discípulo de Sócrates, diante do tribunal montado para
a) eloquente do sofista. julgar seu mestre, e destaca que este
b) contraditório do sábio. a) declara culpa diante da gravidade de seus erros.
c) não violento do filósofo. b) manifesta confiança na verdade de suas palavras.
d) anarquista do intelectual. c) revela surpresa perante a ética de seus acusadores.
e) revolucionário do pensador. d) confessa insegurança em razão de sua condenação.
e) realça a dificuldade de traçar uma estratégia de defesa.
7.
9.
Os relatos dizem que Sócrates dedicou-se à
“O método de Sócrates tem como marco de fundo
filosofia depois de haver ido ao templo de Apolo Delfo
a ironia, que indica o jogo múltiplo e variado de
e ter ouvido uma voz interior, o seu daímon, que o fez
disfarces e ficções que ele utiliza para forçar o
compreender que o oráculo inscrito na porta do
interlocutor a perceber a si mesmo em todos os
templo — “Conhece-te a ti mesmo” — era a sua
sentidos.”
missão. Por ela, abandonou toda atividade prática e
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
viveu pobremente com sua mulher Xantipa e seus vol. 1. São Paulo: Paulus, 4ª edição, 2009, p. 113.
filhos. Foi descrito por todos os que o conheceram
como alguém dedicado ao conhecimento de si e que Sócrates busca convencer o indivíduo acerca de sua
provocava nos outros perguntas sobre si próprios, ignorância e da importância de encontrar o verdadeiro
conversando na praça do mercado, nas reuniões de conhecimento, valendo-se, assim, de um método
amigos e nas ruas com quem aparecesse e se a) mítico.
interessasse em respeitar o oráculo de Apolo Delfo, b) sofístico.
isto é, conhecer-se a si mesmo. c) dialético.
d) dogmático.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles,
vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição revista, ampliada e atualizada, e) naturalista.
13ª reimpressão, 2002, p. 179.

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10. 2.
“Sócrates — As tuas são palavras maravilhosas, Suponha homens numa morada subterrânea,
ó Céfalo. Contudo, essa virtude de justiça resume-se em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se
em proferir a verdade e em restituir o que se tomou estende sobre todo o comprimento da fachada; eles
de alguém, ou podemos dizer que às vezes é correto estão lá desde a infância, as pernas e o pescoço
e outras vezes incorreto fazer tais coisas? Vê este presos por correntes, de tal sorte que não podem
exemplo: se alguém, em perfeito juízo, entregasse trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois
armas a um amigo, e depois, havendo tornado-se os grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de
insano, as exigisse de volta, todos julgariam que o uma fogueira acesa ao longe, numa elevada do
terreno, brilha por detrás deles; entre a fogueira e
amigo não lhe as deveria restituir, nem mesmo
os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao
concordariam em dizer toda a verdade a um homem
longo do caminho, imagine um pequeno muro,
enlouquecido.”
semelhante aos tapumes que os manipuladores de
Platão, A República. Livro I (adaptado).
marionetes armam entre eles e o público e sobre os
O filósofo Sócrates desenvolve uma concepção de quais exibem seus prestígios.
justiça fundamentada na ideia de Platão. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

a) incerteza. Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação


b) existência. cultural do pensamento grego antigo, cuja ideia central,
c) sabedoria. do ponto de vista filosófico, evidencia o(a)
d) sentimento. a) caráter antropológico, descrevendo as origens do
e) eloquência. homem primitivo.
b) vida cultural e artística, expressa por dramaturgos
trágicos e cômicos gregos.
c) sistema penal da época, criticando o sistema
TEMA 6 – PLATÃO
carcerário da sociedade ateniense.
d) sistema político elitista, provindo do surgimento
EXERCÍCIOS DE CLASSE da pólis e da democracia ateniense.
e) teoria do conhecimento, expondo a passagem do
mundo ilusório para o mundo das ideias.
1.
Estamos, pois, de acordo quando, ao ver algum 3.
objeto, dizemos: “Este objeto que estou vendo
agora tem tendência para assemelhar-se a um outro
ser, mas, por ter defeitos, não consegue ser tal
como o ser em questão, e lhe é, pelo contrário,
inferior”. Assim, para podermos fazer essas
reflexões, é necessário que antes tenhamos tido
ocasião de conhecer esse ser de que se aproxima o
dito objeto, ainda que imperfeitamente.
Platão, Fédon. São Paulo: Abril CULTURAL, 1972.
SANZIO, R. Detalhe do afresco A Escola de Atenas.
Na epistemologia platônica, conhecer um Disponível em: http://fil.chf.ufsc.br. Acesso em: 20 mar. 2013.
determinado objeto implica
No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado
a) estabelecer semelhanças entre o que é observado
apontando para o alto. Esse gesto significa que o
em momentos distintos.
conhecimento se encontra em uma instância na qual o
b) comparar o objeto observado com uma descrição
homem descobre a
detalhada dele.
a) suspensão do juízo como reveladora da verdade.
c) descrever corretamente as características do
b) realidade inteligível por meio do método dialético.
objeto observado.
c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.
d) fazer correspondência entre o objeto observado e
d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino.
seu ser.
e) ordem intrínseca ao mundo por meio da
e) identificar outro exemplar idêntico ao observado.
sensibilidade.

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60
4. Na concepção cosmológica desenvolvida pelo filósofo
Para Platão, o que havia de verdadeiro em Platão, a origem da natureza estaria na
Parmênides era que o objeto de conhecimento é um a) física, de fundamento material.
objeto de razão e não de sensação, e era preciso
b) religião, de clara origem divina.
estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto
sensível ou material que privilegiasse o primeiro em c) metafísica, de caráter inteligível.
detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, d) mitologia, de natureza fantástica.
a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. e) abiogênese, de geração espontânea.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia.
São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).
2.
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, As Ideias de que falava Platão não são, portanto,
um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão simples conceitos ou representações puramente
(427 a.C. – 346 a.C.). De acordo com o texto, como mentais (só muito mais tarde o termo assumiria esse
Platão se situa diante dessa relação?
significado), mas são “entidades”, “substâncias”. As
a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as
duas. Ideias, em suma, não são simples pensamentos, mas
b) Privilegiando os sentidos e subordinando o aquilo que o pensamento pensa quando liberto do
conhecimento a eles. sensível: constituem o “verdadeiro ser”, “o ser por
c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e excelência”. Em outras palavras: as Ideias platônicas
sensação são inseparáveis. são as essências das coisas, ou seja, aquilo que faz com
d) Afirmando que a razão é capaz de gerar que cada coisa seja aquilo que é.
conhecimento, mas a sensação não.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Filosofia pagã
e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a
antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 140.
sensação é superior à razão.
Em sua filosofia, Platão apresenta as Ideias em uma
5. dimensão
Os andróginos tentaram escalar o céu para a) teológica, na dimensão de entidades divinas.
combater os deuses. No entanto, os deuses, em um
b) ontológica, como seres fundamentais e reais.
primeiro momento, pensam em matá-los de forma
sumária. Depois decidem puni-los da forma mais c) lógica, enquanto entes de caráter matemático.
cruel: dividem-nos em dois. Por exemplo, é como se d) epistemológica, compreendidos sensorialmente.
pegássemos um ovo cozido e, com uma linha, e) biológica, enquanto elementos físicos e orgânicos.
dividíssemos ao meio. Dessa forma, até hoje as
metades separadas buscam reunir-se. Cada um, com 3.
saudade de sua metade, tenta juntar-se novamente
O conjunto das Ideias (...) passou para a história
a ela, abraçando-se, enlaçando-se um ao outro,
sob a denominação de “Hiperurânio”, termo usado no
desejando formar um único ser.
PLATÃO. O banquete. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
Fédro, que se tornou célebre, embora nem sempre
entendido de forma correta. Note-se que “lugar
No trecho da obra O banquete, Platão explicita, por
Hiperurânio” significa “lugar acima do céu” ou “acima
meio de uma alegoria, o
do cosmo físico” e, portanto, constitui representação
a) bem supremo como fim do homem.
b) prazer perene como fundamento da felicidade. mítica e imagem que, entendida corretamente, indica
c) ideal inteligível como transcendência desejada. um lugar que não é absolutamente um lugar. Na
d) amor como falta constituinte do ser humano. verdade, as Ideias são descritas como dotadas de
e) autoconhecimento como caminho da verdade. características tais que impossibilitam qualquer
relação com um lugar físico (não possuem figura nem
cor, são intangíveis etc.). Logo, o Hiperurânio é a
EXERCÍCIOS DE CASA
imagem do mundo a-espacial do inteligível (do gênero
1. do ser suprafísico). Finalmente, podemos concluir
Platão observa que o próprio Anaxágoras, apesar que, com a “Teoria das Ideias”, Platão pretendeu
de ter atinado a necessidade de introduzir uma sustentar o seguinte: o sensível só se explica mediante
“Inteligência universal” para conseguir explicar as
o recurso ao suprassensível, o relativo com o absoluto,
coisas, não soube explorar essa sua intuição,
o móvel com o imóvel, o corruptível com o eterno.
continuando a atribuir peso preponderante às causas
físicas tradicionais. REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Filosofia pagã antiga,
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 141.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Filosofia pagã
antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 138.

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61
Com base em sua “Teoria das Ideias”, o filósofo grego A análise acerca dos princípios regentes do Uno e da
Platão busca Díade, na filosofia de Platão, permite concluir que o
a) explicitar a origem sensível da realidade inteligível. Mundo Inteligível
b) estabelecer uma compreensão metafísica da a) exibe uma concepção de dualidade e de
realidade. complementaridade.
c) revelar a gênese divina acerca do mundo suprassensível.
b) denota uma compreensão de pluralidade de
d) apresentar uma origem cosmogônica acerca do
irracionalidade.
universo.
e) demonstrar a impossibilidade de compreensão da c) reflete uma noção de indeterminação e de
natureza. sensibilidade.
d) apresenta uma visão de monismo e de
4. materialidade.
O mundo das Ideias, pelo menos implicitamente, e) revela uma percepção de criação e de divindade.
é constituído de uma multiplicidade, porquanto
existem Ideias de todas as coisas: Ideias de valores 6.
estéticos, Ideias de valores morais, Ideias das diversas Os entes matemáticos encontram-se no degrau mais
realidades corpóreas, Ideias dos diversos entes
baixo da hierarquia do mundo inteligível. Diferentemente
geométricos e matemáticos etc. (...) Platão podia
dos números ideais, esses entes são múltiplos (existem
conceber o complexo das Ideias como um sistema
hierarquicamente organizado e ordenado, no qual as muitos “um”, muitos triângulos etc.), embora sejam
Ideias inferiores implicam as superiores, numa inteligíveis. Por este motivo, Platão os chamou de entes
ascensão contínua até a Ideia que ocupa o vértice da “intermediários”, ou seja, entes que estão a meio
hierarquia, Ideia que condiciona todas as outras e não caminho entre as ideias e as coisas.
é condicionada por nenhuma delas (o incondicionado REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Filosofia pagã antiga,
ou o absoluto). Sobre esse princípio incondicionado, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 143.

situado no vértice, Platão se pronunciou


Platão compreende a matemática, em termos
expressamente, embora de forma incompleta, em A
filosóficos, como sendo
República, afirmando tratar-se da Ideia do Bem.
a) ferramenta imprescindível de conhecimento
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia:
Filosofia pagã antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 141. sensorial.
b) ciência de caráter empírico e voltada ao saber
Na visão cosmológica desenvolvida por Platão, o
Mundo Inteligível apresenta uma hierarquia material.
a) indicada de forma descensional. c) estratégia intelectual de ascensão ao mundo
b) organizada a partir do conhecimento. inteligível.
c) definida por critérios de sensibilidade. d) instrumento de compreensão da origem física do
d) estabelecida por elementos materiais. mundo.
e) determinada por princípios irracionais. e) elemento de natureza artística e de vazão dos
sentimentos.
5.
O princípio supremo, que na República denomina-se 7.
“Bem”, nas doutrinas não escritas chama-se “Uno”. A
Enquanto eterno, o mundo inteligível está na
diferença, porém, é perfeitamente explicável porquanto
dimensão do “é”, sem o “era” e sem o “será”. O mundo
(...) o Uno sintetiza em si o Bem, pois tudo quanto o Uno
produz é bem (o bem é o aspecto funcional do Uno, como sensível, ao contrário, está na dimensão do tempo que
argutamente observou certo intérprete). Ao Uno se é “a imagem móvel do eterno”, como uma espécie de
contrapunha um segundo princípio, igualmente desenvolvimento do “é” através do “era” e do “será”.
originário, mas de ordem inferior, entendido como Por isso, implica geração e movimento. O tempo,
princípio indeterminado e ilimitado e como princípio de portanto, nasceu “junto com o céu”, ou seja, com a
multiplicidade. Denominava-se tal princípio Díade ou geração do cosmo: o que significa que “antes” da
Dualidade de grande-e-pequeno enquanto princípio que geração do mundo não existia tempo. Dessa forma, o
tende, ao mesmo tempo, para a infinita grandeza e para mundo sensível torna-se “cosmo”, ordem perfeita,
a infinita pequenez, sendo por isso denominado também
que marca o triunfo do inteligível sobre a cega
de Dualidade indefinida (ou indeterminada, ilimitada).
necessidade da matéria, por obra do Demiurgo.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã
antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 142. REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1, São Paulo: Paulus, 2003, p. 144.

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62
O fragmento acima permite compreender a 10.
a) mutabilidade do mundo inteligível. No Fédon, Platão apresentou nova confirmação da
b) eternidade do mundo sensível. anamnese, apelando especialmente para os
c) irracionalidade do mundo inteligível. conhecimentos matemáticos (que desempenharam
d) imutabilidade do mundo sensível. papel extremamente importante na descoberta do
e) perfeição do mundo inteligível. inteligível). (...) Com os sentidos, constatamos a
existência de coisas iguais, maiores e menores,
8. quadradas, circulares e outras semelhantes.
O problema do conhecimento já fora de algum Entretanto, com atenta reflexão, descobrimos que os
dados que a experiência nos fornece (...) não se
modo ventilado por todos os filósofos precedentes.
adequam jamais, de maneira perfeita, às noções
Não se pode, porém, afirmar que algum pensador
correspondentes, que possuímos indiscutivelmente
anterior a Platão o tenha proposto de forma específica
(...). É necessário, então, concluir que existe certo
e definitiva. Platão foi o primeiro a propô-lo em toda a
desnível entre os dados da experiência e as noções que
sua clareza, graças às aquisições estruturalmente
possuímos: as noções contêm algo mais do que os
ligadas à grande descoberta do mundo inteligível, dados da experiência. Qual a origem, porém, desse
muito embora, como é óbvio, as soluções por ele algo mais? (...) deriva de nós mesmos.
propostas se revelem, em grande parte, aporéticas. REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 147.
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 146.
Na Filosofia de Platão, é possível observar que o
A fim de superar essa aporia, Platão descobre um conceito de anamnese revela o(a)
caminho alternativo, isto é, uma forma de recordação a) conhecimento derivado dos sentidos.
chamada b) certeza do conhecimento que é inato.
a) sofística. c) caráter experimental do conhecimento.
b) sensação. d) clareza do conhecimento como relativo.
c) anamnese. e) conhecimento de representação retórica.
d) iluminação.
e) cosmologia.
TEMA 7 – ARISTÓTELES
9.
(...) a alma viu e conheceu toda a realidade, a
realidade do outro mundo e a realidade deste mundo. EXERCÍCIOS DE CLASSE
Sendo assim, conclui Platão, é fácil compreender como
a alma pode conhecer e apreender: ela deve 1.
simplesmente extrair de si mesma a verdade que já “Hérmias tinha interesse político numa unificação
possui desde sempre; e esse “extrair de si mesma” é entre a Macedônia e a Pérsia, mas conspirações
“recordar”. palacianas acabaram fazendo-o ser assassinado, e
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Filosofia pagã antiga, Aristóteles transferiu-se para a cidade de Mitilene. Do
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, pág. 147. período datam suas primeiras obras no campo da
biologia, havendo nelas muitas referências a
A compreensão em torno do exposto no fragmento
observações sobre plantas e animais próximos da
permite afirmar que Platão compreende o
lagoa de Pirra, ilha de Lesbos (...).”
conhecimento como
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia 1: dos pré-socráticos a
a) inato ao ser humano, verdadeira reminiscência. Aristóteles, São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 335.
b) fruto da experiência, dado que o saber é externo.
Pelo exposto, percebe-se que a Filosofia desenvolvida por
c) produto do exercício da oratória, numa arte
Aristóteles, em termos ontológicos e epistemológicos,
retórica.
esteve profundamente ligada a uma questão
d) resultado da revelação divina, restrito aos que
a) sofista.
oram.
b) inatista.
e) obra concreta das sensações humanas em
c) dialética.
atividade.
d) naturalista.
e) matemática.

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63
2. 4.
“Todos os homens por natureza desejam saber. “A definição de Aristóteles para enigma é
O prazer causado pelas sensações é a prova disso, totalmente desligada de qualquer fundo religioso:
pois, mesmo fora de qualquer utilidade, elas nos dizer coisas reais associando coisas impossíveis. Visto
agradam por elas mesmas e, mais do que todas as que, para Aristóteles, associar coisas impossíveis
outras, as sensações visuais. De fato, não só para
significa formular uma contradição, sua definição quer
agir, mas mesmo quando não nos propomos
dizer que o enigma é uma contradição que designa
nenhuma ação, a vista é, por assim dizer, o que
algo real, em vez de não indicar nada, como é de
preferimos a todos o resto. A causa disso é que a
vista é, de todos os sentidos, o que nos faz adquirir regra.”
mais conhecimento e o que nos mostra o maior COLLI, G. O nascimento da filosofia. Campinas: Unicamp, 1996 (adaptado).

número de diferenças.” Segundo o texto, Aristóteles inovou a forma de pensar


Aristóteles, Metafísica.
sobre o enigma, ao argumentar que
Aristóteles, conforme o exposto, apresenta a sua a) a contradição que caracteriza o enigma é
concepção acerca do conhecimento, que é desprovida de relevância filosófica.
a) resultado da abstração contemplativa e inteligível. b) os enigmas religiosos são contraditórios porque
b) derivado das experiências sensoriais dos homens. indicam algo religiosamente real.
c) inato ao homem, em decorrência das reminiscências.
c) o enigma é uma contradição que diz algo de real e
d) fruto das atividades de caráter matemático e dialético.
algo de impossível ao mesmo tempo.
e) produto do aniquilamento das propriedades
d) as coisas impossíveis são enigmáticas e devem ser
sensoriais.
explicadas em vista de sua origem religiosa.
3. e) a contradição enuncia coisas impossíveis e irreais,
Dado que, dos hábitos racionais com os quais porque ela é desligada de seu fundo religioso.
captamos a verdade, alguns são sempre verdadeiros,
enquanto outros admitem o falso, como a opinião e o 5.
cálculo, enquanto o conhecimento científico e a Vimos que o homem sem lei é injusto e o
intuição são sempre verdadeiros, e dado que nenhum respeitador da lei é justo; evidentemente todos os atos
outro gênero de conhecimento é mais exato que o legítimos são, em certo sentido, atos justos, porque os
conhecimento científico, exceto a intuição, e, por atos prescritos pela arte do legislador são legítimos e
outro lado, os princípios são mais conhecidos que as
cada um deles é justo. Ora, nas disposições que tomam
demonstrações, e dado que todo conhecimento
sobre todos os assuntos, as leis têm em mira a
científico constitui-se de maneira argumentativa, não
vantagem comum, quer de todos, quer dos melhores
pode haver conhecimento científico dos princípios, e
dado que não pode haver nada mais verdadeiro que o ou daqueles que detêm o poder ou algo desse gênero;
conhecimento científico, exceto a intuição, a intuição de modo que, em certo sentido, chamamos justos
deve ter por objeto os princípios. aqueles atos que tendem a produzir e a preservar, para
ARISTÓTELES. Segundos analíticos. In: REALE, G. História da a sociedade política, a felicidade e os elementos que a
filosofia antiga. São Paulo: Loyola, 1994. compõem.
Os princípios, base da epistemologia aristotélica, ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010 (adaptado).

pertencem ao domínio do(a)


De acordo com o texto de Aristóteles, o legislador deve
a) opinião, pois fazem parte da formação da pessoa
agir conforme a
b) cálculo, pois são demonstrados por argumentos.
a) moral e a vida privada.
c) conhecimento científico, pois admitem provas
empíricas. b) virtude e os interesses públicos.
d) intuição, pois ela é mais exata que o conhecimento c) utilidade e os critérios pragmáticos.
científico. d) lógica e os princípios metafísicos.
e) prática de hábitos racionais, pois com ela se capta e) razão e as verdades transcendentes.
a verdade.

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64
EXERCÍCIOS DE CASA 3.
Ao falar do caráter de um homem, não dizemos
1. que ele é sábio ou que possui entendimento, mas que
Vemos que toda cidade é uma espécie de é calmo ou temperante. No entanto, louvamos
comunidade, e toda comunidade se forma com vistas também o sábio, referindo-se ao hábito; e aos hábitos
a algum bem, pois todas as ações de todos os homens dignos de louvor chamamos virtude.
são praticadas com vistas ao que lhe parece um bem; Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1973.

se todas as comunidades visam algum bem, é evidente Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a
que a mais importante de todas elas e que inclui todas a) excelência de atividades praticadas em
as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao consonância com o bem comum.
mais importante de todos os bens. b) concretização utilitária de ações que revelam a
ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1988. manifestação de propósitos privados.
c) concordância das ações humanas aos preceitos
No fragmento, Aristóteles promove uma reflexão que
emanados da divindade.
associa dois elementos essenciais à discussão sobre a
d) realização de ações que permitem a configuração
vida em comunidade, a saber:
da paz interior.
a) Ética e política, pois conduzem à eudaimonia. e) manifestação de ações estéticas, coroadas de
b) Retórica e linguagem, pois cuidam dos discursos na adorno e beleza.
ágora.
c) Metafísica e ontologia, pois tratam da filosofia 4.
primeira. Bastar-se a si mesma é uma meta a que tende a
d) Democracia e sociedade, pois se referem a produção da natureza e é também o mais perfeito
relações sociais. estado. É, portanto, evidente que toda cidade está na
e) Geração e corrupção, pois abarcam o campo da physis. natureza e que o homem é naturalmente feito para a
sociedade política. Aquele que, por sua natureza e não
2. TEXTO I por obra do acaso, existisse sem nenhuma pátria seria
Olhamos o homem alheio às atividades públicas um indivíduo detestável, muito acima ou muito abaixo
não como alguém que cuida apenas de seus próprios do homem, segundo Homero: um ser sem lar, sem
interesses, mas como um inútil; nós, cidadãos família e sem leis.
atenienses, decidimos as questões públicas por nós Aristóteles. A Política. Disponível em: http://.cfh.ufsc.br (adaptado).

mesmos na crença de que não é o debate que é Para Aristóteles, a cidade resulta de um(a)
empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido a) desenvolvimento da razão e suas leis, que visam
pelo debate antes de chegar a hora da ação. aperfeiçoar a natureza humana.
Tucídides. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: UnB, 1987 (adaptado). b) convenção social, que pretende proteger a
comunidade dos perigos naturais.
c) ação violenta externa, que objetiva transformar o
TEXTO II
homem em um animal social.
Um cidadão integral pode ser definido por nada mais
d) etapa natural do desenvolvimento humano, cuja
nada menos que pelo direito de administrar justiça e
finalidade é a vida em sociedade.
exercer funções públicas; algumas destas, todavia, são e) contrato político, que beneficia de modo
limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo que igualitário os membros das castas sociais.
não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes
pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo depois de 5.
certos intervalos de tempo prefixados. A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e
ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985. Comparando os textos I e II, a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não
tanto para Tucídides (no século V a.C.) quanto para Aristóteles
devem estar separados como na inscrição existente
(no século IV a.C.), a cidadania era definida pelo(a)
em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a
a) prestígio social. melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que
b) acúmulo de riqueza. amamos”. Todos esses atributos estão presentes nas
c) participação política. mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós
d) local de nascimento. a identificamos como felicidade.
e) grupo de parentesco. Aristóteles. A Política. São Paulo: Cia das Letras, 2010.

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65
Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais 8.
excelentes atributos, Aristóteles a identifica como Ninguém delibera sobre coisas que não podem ser
a) busca por bens materiais e títulos de nobreza. de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível
b) plenitude espiritual e ascese pessoal. fazer. Por conseguinte, como o conhecimento
c) finalidade das ações e condutas humanas. científico envolve demonstração, mas não há
d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. demonstração de coisas cujos primeiros princípios são
e) expressão do sucesso individual e do variáveis (pois todas elas poderiam ser
reconhecimento público. diferentemente), e como é impossível deliberar sobre
coisas que são por necessidade, a sabedoria prática
não pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque
6.
aquilo que se pode fazer é capaz de ser
O termo injusto se aplica tanto às pessoas que
diferentemente, nem arte, porque o agir e o produzir
infringem a lei quanto às pessoas ambiciosas (no
são duas espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a
sentido de quererem mais do que aquilo a que têm
alternativa de ser ela uma capacidade verdadeira e
direito) e iníquas, de tal forma que as cumpridoras da
raciocinada de agir com respeito às coisas que são
lei e as pessoas corretas serão justas. O justo, então, é boas ou más para o homem.
aquilo conforme a lei e o injusto é o ilegal e iníquo.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996 (adaptado).
Aristóteles considera a ética como pertencente ao
Segundo Aristóteles, pode-se reconhecer uma ação campo do saber prático. Nesse sentido, ela difere-se
justa quando ela observa o dos outros saberes porque é caracterizada como
a) compromisso com os movimentos desvinculados a) conduta definida pela capacidade racional de
da legalidade. escolha.
b) benefício para o maior número possível de indivíduos. b) capacidade de escolher de acordo com padrões
c) interesse para a classe social do agente da ação. científicos.
d) fundamento na categoria de progresso histórico. c) conhecimento das coisas importantes para a vida
e) princípio de dar a cada um o que lhe é devido. do homem.
d) técnica que tem como resultado a produção de
7. boas ações.
Enquanto o pensamento de Santo Agostinho e) política estabelecida de acordo com padrões
representa o desenvolvimento de uma filosofia cristã democráticos de deliberação.
inspirada em Platão, o pensamento de São Tomás reabilita
9.
a filosofia de Aristóteles — até então vista sob suspeita A utilidade do escravo é semelhante à do animal.
pela Igreja —, mostrando ser possível desenvolver uma Ambos prestam serviços corporais para atender às
leitura de Aristóteles compatível com a doutrina cristã. O necessidades da vida. A natureza faz o corpo do
aristotelismo de São Tomás abriu caminho para o estudo escravo e do homem livre de forma diferente. O
da obra aristotélica e para a legitimação do interesse pelas escravo tem corpo forte, adaptado naturalmente ao
ciências naturais, um dos principais motivos do interesse trabalho servil. Já o homem livre tem corpo ereto,
por Aristóteles nesse período. inadequado ao trabalho braçal, porém apto à vida do
MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. cidadão.
Aristóteles. Política. Brasília: UnB, 1985.
A Igreja Católica, por muito tempo, impediu a
divulgação da obra de Aristóteles pelo fato de O trabalho braçal é considerado, na filosofia
a) valorizar a investigação científica, contrariando aristotélica, como
certos dogmas religiosos. a) indicador da imagem do homem no estado de
b) declarar a inexistência de Deus, colocando em natureza.
dúvida toda a moral religiosa. b) condição necessária para a realização da virtude
c) criticar a Igreja Católica, instigando a criação de humana.
outras instituições religiosas. c) atividade que exige força física e uso limitado da
d) evocar pensamentos de religiões orientais, racionalidade.
d) referencial que o homem deve seguir para viver
minando a expansão do cristianismo.
uma vida ativa.
e) contribuir para o desenvolvimento de sentimentos
e) mecanismo de aperfeiçoamento do trabalho por
antirreligiosos, seguindo sua teoria política.
meio da experiência.
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66
2.
10. Antístenes de Atenas, inicialmente discípulo de
Quanto à deliberação, deliberam as pessoas sobre Górgias e professor de oratória dos jovens ateniense
tudo? São todas as coisas objetos de possíveis abastados, tornou-se seguidor de Sócrates e, no
deliberações? Ou será a deliberação impossível no que ginásio de Kynosargos ou Cinosargos — local de que
tange a algumas coisas? Ninguém delibera sobre coisas
Hércules era o patrono —, fundou a escola que
eternas e imutáveis, tais como a ordem do universo;
recebeu o nome de cínica, seja por causa do nome do
tampouco sobre coisas mutáveis, como os fenômenos
lugar, pois kynós argos significa “cão ágil”, seja por seu
dos solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas
estilo de vida e conduta “canina”. Canina, tanto pelo
pode ser produzida por nossa ação.
ideal do sábio que vence fadigas sem contas e vence
Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007 (adaptado).
monstros, à maneira de Hércules, como pelo ideal da
O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é simplicidade, do despojamento daquele que vence
importante para entender a dimensão da prazeres e dores por sua força de ânimo, mas também
responsabilidade humana. A partir do texto, pelo seu descaramento e desrespeito às convenções
considera-se que é possível ao homem deliberar sobre sociais. De fato, no vocabulário grego, kyon (cão) vem
a) coisas imagináveis, já que ele não tem controle sempre associado às imagens da caça e da fidelidade,
sobre os acontecimentos da natureza. mas também às da desfaçatez ou falta de vergonha do
b) ações humanas, ciente da influência e da
animal no cio que se satisfaz publicamente, perambula
determinação dos astros sobre elas.
pelas ruas e come restos, sem necessidade de teto
c) fatos atingíveis pela ação humana, desde que
nem de conforto.
estejam sob seu controle.
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia 1: dos pré-socráticos a
d) fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é Aristóteles, São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 320-321.
parte dela.
e) coisas eternas, já que ele é por essência um ser O Cinismo, fundado por Antístenes, notabilizou-se por
religioso. apresentar um caráter
a) submetido à mitologia grega.
b) alinhado à cultura tradicional.
TEMA 8 – FILOSOFIA HELENÍSTICA c) transgressor das regras sociais.
d) submisso aos dogmas religiosos.
e) fundamentado na riqueza material.
EXERCÍCIOS DE CLASSE

1. 3.
São poucos os eventos históricos que, por sua Epicuro adota substancialmente a tripartição de
relevância e suas consequências, assinalam de modo Xenócrates da filosofia em “lógica”, “física” e “ética”.
emblemático o fim de uma época e o início de outra. A A primeira deve elaborar os cânones segundo os quais
grande expedição de Alexandre Magno (334-323 a.C.) reconhecemos a verdade; a segunda estuda a
é um desses eventos, aliás, um dos mais significativos, constituição do real; a terceira, o fim do homem (a
não só pelas consequências políticas que provocou, felicidade) e os meios para alcançá-la. A primeira e a
mas por toda uma série de mudanças concomitantes segunda são elaboradas apenas em função da terceira.
de antigas convicções, que determinaram reviravolta Platão afirmara que a sensação confunde a alma e
radical no espírito do mundo grego, o qual marcou o desvia do ser. Epicuro inverte precisamente essa
fim da época clássica e o início de nova era. posição, afirmando que, ao contrário, a sensação e
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
somente ela “colhe o ser” de modo infalível.
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 249.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
Os efeitos culturais da formação e expansão do vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 261.
Império Macedônico podem ser percebidos em
O Epicurismo, em sua teoria do conhecimento,
fatores, como a
enaltece a importância da
a) derrocada do pensamento helenístico.
a) realidade metafísica.
b) tentativa de consolidação da maiêutica.
c) ascensão da tradição filosófica clássica. b) aceitação do destino.
d) atividade intelectual voltada ao indivíduo. c) irrelevância da moral.
e) renúncia à influência de origem ocidental. d) experiência sensorial.
e) verdade da revelação.
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4. EXERCÍCIOS DE CASA
O homem é impulsionado pela natureza a conservar o
próprio ser e amar a si mesmo. Contudo, esse instinto 1.
primordial não está orientado somente para a conservação Alexandre, com seu projeto de uma monarquia
do indivíduo: o homem estende imediatamente a oikéiosis divina universal, que deveria reunir não só as
a seus filhos e parentes e mediatamente a todos os seus diversas Cidades, mas também países e raças
semelhantes. Em suma: é a natureza que, como impõe o diversos, vibrou um golpe mortal na antiga concepção
amar a si mesmo, impõe também amar aos que geramos e da Cidade-Estado. Alexandre não conseguiu realizar
aqueles que nos geraram; e é a natureza que impulsiona o esse projeto por causa de sua morte precoce, ocorrida
indivíduo a unir-se aos outros e também a ser útil aos
em 323 a.C., e talvez também porque os tempos ainda
outros. De ser que vive encerrado em sua individualidade,
não estavam maduros para tal projeto.
como queria Epicuro, o homem torna-se “animal
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
comunitário”. E a nova fórmula demonstra que não se vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 250.
trata de simples retomada do pensamento aristotélico,
que definia o homem como “animal político”: o homem, Diante do projeto desenvolvido por Alexandre Magno,
mais ainda do que ser feito para associar-se em uma Polis percebe-se, como consequência dessa expansão
— de onde deriva justamente o termo “político” —, é feito militar, o(a)
para consorciar-se com todos os homens. Nessa base, os a) crise sociopolítica da pólis.
Estoicos só podiam ser fatores de um ideal fortemente b) fortalecimento da metafísica.
cosmopolita. c) ausência de valores helênicos.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga, d) desvalorização do materialismo.
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 291.
e) influência da filosofia escolástica.
Percebe-se, pela leitura do texto acima, que, na
concepção ética estoica, o homem deve estar 2.
a) empenhado em um modelo político de cidadania. Ao declínio da pólis não corresponde o
b) destinado a defender uma sociedade aristocrática. nascimento de organismos políticos dotados de nova
c) limitado ao ideal local estabelecido de uma cidade. força moral e capazes de acender novos ideais. As
d) comprometido com a felicidade de sua comunidade. monarquias helenísticas, nascidas da dissolução do
e) desprovido de uma formação moral mais elaborada. império de Alexandre, (...), foram organismos instáveis.
Entretanto, não o foram de tal forma a provocar reação
5. dos cidadãos nem de constituir ponto de referência
A posição de Pirro é mais complexa, como se vê em para a vida moral. De “cidadão”, no sentido clássico do
outro fragmento de Timon, que pôs nos lábios de Pirro
termo, o homem grego torna-se “súdito”.
estas palavras: ‘Ora, direi, como a mim parece ser uma
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
palavra de verdade, tendo um reto cânone, que eterna é a vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 250.
natureza do divino e do bem, dos quais deriva para o
homem a vida mais igual’. As coisas, segundo nosso Entre as grandes consequências da passagem da Filosofia
filósofo, resultam ser mera aparência, não mais em função Clássica para a Filosofia Helenística, identifica-se a
do pressuposto dualista da existência de ‘coisas em si’ e, a) banalização do modelo filosófico materialista.
como tais, inacessíveis e de um seu ‘puro aparecer a nós, e b) consolidação da tradição política democrática.
sim em função da contraposição com a ‘natureza do divino c) apropriação da teologia de natureza escolástica.
e do bem’. Medido com o metro dessa ‘natureza do divino d) formação de doutrinas éticas voltadas à felicidade.
e do bem’, tudo parece irreal para Pirro e, como tal, é e) organização de um pensamento metafísico e
‘vivido’ por ele também praticamente. inatista.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 303.
3. Opondo-se a Platão, Antístenes afirmava só existirem
Pelo exposto acima, é possível observar que o as coisas corporais ou sensíveis e recusava a existência
Ceticismo adota uma posição de de essências inteligíveis, constando que teria dito:
a) neutralização ontológica. “Platão, vejo o cavalo e não a cavalidade”. Ao que o
b) imutabilidade das coisas. socrático maior teria respondido: “É que não tens
c) negação da religiosidade. olhos [do espírito] para vê-la”.
d) oposição ao caráter ético. CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia 1: dos pré-socráticos a
e) certeza diante da verdade. Aristóteles, São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 321.

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68
O exposto acima confirma que o Cinismo foi uma 5.
corrente helenística A primeira das grandes Escolas helenísticas, em
a) imaterial. ordem cronológica, foi a de Epicuro, que surgiu, em
b) metafísica. Atenas, por volta do fim do séc. IV a.C. (provavelmente
c) materialista. em 307/306 a.C.). Epicuro nascera, em Samos, em 341
a.C. e já havia ensinado em Colofon, Mitilene e
d) contemplativa.
Lâmpsaco. A transferência da Escola para Atenas
e) suprassensível.
constituiu verdadeiro e preciso ato de desafio de
Epicuro em relação à Academia e ao Perípato, o início
4. de uma revolução espiritual.
Filho de um banqueiro de Sínope, onde nasceu, REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
Diógenes viveu a maior parte de sua vida em Atenas e vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 259.

Corinto, escreveu várias obras (perdidas) das quais a Conforme o texto, é possível afirmar que o Epicurismo
mais importante recebeu o título de A pantera. é responsável por uma filosofia marcada pela
Conhecemos Diógenes de Sínope muito mais por a) oposição ao modelo de pensamento clássico.
anedotas do que por seus escritos, e por isso dele b) adesão aos valores do platonismo e do
sabemos muito mais o que pensavam seus aristotelismo.
escandalizados contemporâneos do que o que ele c) indiferença aos aspectos fundamentais de um
próprio pensava e dizia. Dessas anedotas, quatro são as sistema.
d) confiança nas instituições sociais e políticas
mais conhecidas. A primeira delas narra que, apoiado num
tradicionais.
bordão, vestido com trapos e carregando uma sacola de
e) resistência em priorizar um sistema ético voltado à
alimentos, viu uma criança nua bebendo água nas mãos. felicidade.
Arrancou os trapos, jogou fora o bordão e a sacola e,
perseguido por estar nu, passou a “vestir-se” com um tonel 6.
que lhe servia de casa. A segunda conta que, posto à venda Entre todas as perspectivas pré-socráticas, era quase
como escravo e notando um comprador potencial, teria inevitável que Epicuro escolhesse a dos Atomistas,
dito ao vendedor: “Venda-me para ele, pois anda exatamente porque essa, depois da 'segunda navegação'
precisado de um senhor”. A terceira, talvez a mais platônica, revelava-se a mais materialista de todas.
conhecida, refere-se ao diálogo que teria tido com REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 263.
Alexandre, o Grande. Senhor do mundo, vendo a miséria
do filósofo, Alexandre indagou o que poderia fazer em seu Em sua perspectiva filosófica e ética, o Epicurismo
favor, ao que Diógenes respondeu: “Não me tires o que defendia a necessidade de o homem
a) objetivar a realidade inteligível.
não me podes dar. Sai da frente, pois estás a me tirar a luz
b) ignorar a essência da realidade.
do sol”. A última, mais difundida entre os filósofos, conta
c) viver de acordo com a natureza.
que Diógenes, segurando uma lanterna acesa em plena luz d) submeter sua vontade à política.
do dia, andava pelas ruas de Atenas à procura de um e) explorar a mão de obra escrava.
homem “verdadeiramente justo”, sem jamais encontrá-lo.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia 1: dos pré-socráticos a 7.
Aristóteles, São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 322. “Como Epicuro, ele renegava a metafísica e toda
Diógenes reflete o Cinismo em sua mais elevada forma de transcendência. Como Epicuro, concebia a
filosofia no sentido de ‘arte de viver’, ignorada pelas
expressão, notadamente pelo caráter
outras escolas ou, então, só imperfeitamente realizada
a) contestatório, uma vez que repudia os dogmas da
por elas. Entretanto, embora compartilhasse o conceito
sociedade.
epicurista de filosofia, bem como seu modo de propor os
b) hedonista, valorizando os prazeres como metas de problemas, Zenão não aceitava sua solução para esses
felicidade. problemas, tornando-se severo adversário dos dogmas
c) resignante, aceitando passivamente as do ‘Jardim’. Repugnavam-lhe profundamente as duas
circunstâncias sociais. ideias básicas do sistema, quer dizer, a redução do
d) inatista, acreditando no conhecimento inerente ao mundo e do homem a mero agrupamento de átomos e a
ser humano. identificação do bem do homem com o prazer, bem
e) metafísico, porquanto refute o caráter materialista como suas consequências e corolários”.
da natureza. REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 280.

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O Estoicismo representa uma doutrina filosófica que 10.
busca “Se as coisas são ‘indiferentes’, ‘sem medida’ e
a) definir a felicidade como a ausência de dores. ‘indiscerníveis’ e se, em consequência, os sentidos e a
b) adotar uma postura de intolerância intelectual. razão não podem dizer nem o verdadeiro nem o falso,
c) negar o caráter metafísico da filosofia clássica. a única atitude correta que o homem pode ter é a de
d) ratificar a perspectiva naturalista dos atomistas. não dar nenhuma confiança, nem aos sentidos nem à
e) estabelecer oposição ao materialismo epicurista. razão, mas permanecer ‘sem opinião’, ou seja, abster-
se de julgar (o opinar é sempre um julgar) e, em
8. consequência, permanecer ‘sem nenhuma inclinação’
Assim como os epicuristas, os estoicos atribuíam
(não se inclinar mais em direção a uma coisa do que
primariamente à lógica a tarefa de fornecer um critério
em direção à outra), e permanecer ‘sem agitação’, ou
de verdade. E, como os epicuristas, indicavam a base
seja, não se deixar perturbar por algo, isto é,
do conhecimento na sensação, que é uma impressão
‘permanecer indiferente’. Essa ‘abstenção de juízo’ se
provocada pelos objetos sobre os nossos órgãos
expressa posteriormente com o termo epoché, que é
sensoriais, a qual se transmite à alma e nela se
imprime, gerando a representação. Porém, segundo os de derivação estoica, mas exprime o mesmo conceito.”
estoicos, a representação da verdade não implica só REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 303.
um ‘sentir’, mas postula ademais um ‘assentir’, um
consentir ou aprovar proveniente do ‘logos’ que está A proposta de “epoché”, feita pelo Estoicismo, está
em nossa alma. diretamente ligada a uma
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga, a) valorização da covardia.
vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003, p. 281.
b) negação absoluta da fala.
Em sua concepção filosófica, a Lógica estoica se c) cautela diante da incerteza.
apresentava d) indiferença ao conhecimento.
a) inatista, evidenciado a realidade no intelecto. e) postura de vaidade intelectual.
b) atomista, estabelecendo uma física material.
c) cínica, estabelecendo oposição aos dogmas.
d) empírica, encontrando a verdade na natureza.
e) transcendente, explicando o real através da fé.

9.
“Segundo Pirro as próprias coisas são, em si e por
si, indiferenciadas, sem medida e indiscriminadas, e
justamente ‘em consequência disso’ sentidos e
opiniões não podem nem dizer o verdadeiro nem dizer
o falso. Em outras palavras, são as coisas que, sendo
feitas assim, tornam os sentidos e a razão incapazes de
verdade e de falsidade.”
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga,
vol. 1, São Paulo: Paulus, 2003, p. 302.

Tomando como referência o fragmento anterior e o


conteúdo da filosofia cética helenística, é válido
afirmar que defende a seguinte premissa:
a) O conhecimento da realidade é impossível à
compreensão humana.
b) O alcance da felicidade é algo inatingível à
capacidade do ser humano.
c) O sentimento é a raiz de todo o entendimento
absoluto da humanidade.
d) O comprometimento com a política é uma certeza
intelectual do homem.
e) O arbítrio da verdade permite o julgamento por
parte dos seres humanos.
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TEMA 5 – SÓCRATES
GABARITOS EXERCÍCIOS DE CLASSE
1 2 3 4 5
E A C B C
TEMA 1 – INTRODUÇÃO À FILOSOFIA EXERCÍCIOS DE CASA
EXERCÍCIOS DE CLASSE 1 2 3 4 5
1 2 3 4 5 D D D A D
A D E C D 6 7 8 9 10
EXERCÍCIOS DE CASA C D B C C
1 2 3 4 5
E C A B A TEMA 6 – PLATÃO
6 7 8 9 10 EXERCÍCIOS DE CLASSE
C E D A D 1 2 3 4 5
D E B D D
TEMA 2 – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA EXERCÍCIOS DE CASA
EXERCÍCIOS DE CLASSE 1 2 3 4 5
1 2 3 4 5 C B B B A
D A E E A 6 7 8 9 10
EXERCÍCIOS DE CASA C E C A B
1 2 3 4 5
E C D A A TEMA 7 – ARISTÓTELES
6 7 8 9 10 EXERCÍCIOS DE CLASSE
C B B C E 1 2 3 4 5
D B D C B
TEMA 3 – PRÉ-SOCRÁTICOS EXERCÍCIOS DE CASA
EXERCÍCIOS DE CLASSE 1 2 3 4 5
1 2 3 4 5 A C A D C
A E C A D 6 7 8 9 10
EXERCÍCIOS DE CASA E A A C C
1 2 3 4 5
D A D C B TEMA 8 – FILOSOFIA HELENÍSTICA
6 7 8 9 10 EXERCÍCIOS DE CLASSE
B E A C C 1 2 3 4 5
D C D D A
TEMA 4 – SOFISTAS EXERCÍCIOS DE CASA
EXERCÍCIOS DE CLASSE 1 2 3 4 5
1 2 3 4 5 A D C A A
B B A D B 6 7 8 9 10
EXERCÍCIOS DE CASA C C D A C
1 2 3 4 5
C C A D E
6 7 8 9 10
C C C E D

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BIBLIOGRAFIA ANOTAÇÕES

1. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia:


filosofia pagã antiga, vol. 1. São Paulo: Paulus, 2003.

2. MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia:


dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro:
Editora Zahar. 13ª edição.

3. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo:


Editora Ática. 2000.

4. Coleção Os pensadores, Pré-socráticos. Nova Cultural,


2000.

5. Coleção Os Pensadores, Sócrates. Nova Cultural, 2000.

6. Coleção Os Pensadores, Platão. Nova Cultural, 2000.

7. Coleção Os Pensadores, Aristóteles. Nova Cultural,


2000.

8. Coleção Os Pensadores, A História da Filosofia. Will


Durante Nova Cultural, 2000.

9. O Livro da Filosofia, as grandes ideias de todos os


tempos. Tradução: Douglas Kim. São Paulo: Globolivros,
2016.

10. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário


Básico de Filosofia. 3ª edição revista e ampliada, Rio de
Janeiro: Zahar, 2001.

11. PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luís. História da


Filosofia. 17ª Ed. São Paulo: Editora Melhoramentos.
1995.

12. O Livro da Política, vários autores – Col. As Grandes


Ideias de todos os tempos. GloboLivros – 2ª Ed. 2017.

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