Você está na página 1de 11

Universidade São Tomás de Moçambique

Nércia Lázaro Nhancale

Resumo de
Filosofia

Xai -Xai, Março de 2023

1
Índice
0.Introdução...........................................................................................................................................3
1.A filosofia e a sua função....................................................................................................................4
1.1.Funções da Filosofia........................................................................................................................5
2.A Filosofia e as Duas Fases da Evolução do Pensamento Humano.................................................7
2.1. Filósofos naturalistas......................................................................................................................7
2.2.Filósofos antropológicos..................................................................................................................9
3.Conclusão..........................................................................................................................................10
4.Referência bibliográfica...................................................................................................................11

2
0.Introdução
O presenta trabalho tem como objetivo estudar ou perceber a filosofia, suas funções e as fazes da
evolução do pensamento humano. Ou seja no resumo presente, apontamos para o problema de se
estabelecer uma definição do que é Filosofia, do tipo de conhecimento que é o conhecimento
filosófico e analisamos a questão de sua utilidade ou, dito de outro modo, analisamos a questão
de para que ele serve. Além disso, trataremos do tema da origem ou início da Filosofia, de modo
a esclarecer algumas condições históricas que propiciaram o desenvolvimento do pensamento
filosófico. Ainda neste trabalho, pretendemos abordar a questão da origem da Filosofia também
na perspectiva da motivação, isto é, apontando para qual ou quais atitudes no ser humano dão
origem a este modo de pensar. De modo resumido: esta parte visa relatar algumas questões
fundamentais para o início do percurso na disciplina.

3
1.A filosofia e a sua função
“O que é Filosofia e para que ela tem valor?” é algo extremamente “polêmico” como nos
advertia o pensador alemão Karl Jaspers (1983, p.9) em sua Einführung in die Philosophie (do
alemão, “Introdução à Filosofia”).

Por vezes, a Filosofia é vista como um tipo de saber quase místico, do qual se espera respostas
extraordinárias e para o qual se dedicam apenas alguns seres humanos supostamente iluminados;
ou então, no outro oposto, é vista como um aglomerado de pensamentos vazios e sem objeto
definido, ou ainda, como uma porção de sonhos e desvarios, quase sempre apresentados numa
linguagem obscura e que poucos entendem e, por isso mesmo, a maioria despreza como inútil.
Nas suas palavras:

Toma-se ela [a Filosofia] como uma coisa que diz respeito a todo e qualquer homem e por isso,
no fundo como algo que deveria ser simples e compreensível ou concebe-se a mesma como
sendo tão difícil, que se ocupar com ela é uma causa perdida. O que aparece sob o nome de
filosofia traz, de fato, exemplos para juízos tão opostos (JASPERS, 1983, p.9).

Há muitas opiniões diferentes sobre a natureza da filosofia, mas provavelmente nenhuma


definição muito simples do assunto. Isso reflete o fato de que – de um modo que não se verifica
em nenhuma outra disciplina – a natureza da filosofia é em si mesma um assunto importante de
discordância filosófica, um assunto para o qual há uma longa história de opiniões que competem
entre si (BONJOUR; BAKER, 2010, p.21).

Fica evidente, já a partir dessas breves considerações, que qualquer tentativa de definir Filosofia
de uma vez por todas significa uma simplificação e, ao mesmo tempo, uma recusa em analisar o
tema com paciência e de modo aprofundado.

É preciso observar, contudo, que apesar de não dispormos de uma única definição (ou de uma
explicação definitiva) sobre Filosofia, existem muitas opiniões concordantes sobre algumas de
suas características.

A primeira concordância está na aceitação do que a palavra Filosofia quer dizer literalmente. No
grego, philos (philia) indica “amor”, “amizade” e sophos (sophia) significa “sabedoria”. Então, o
primeiro significado de Filosofia seria precisamente “amor à sabedoria”. . A paternidade desta
palavra é atribuída ao Pitágoras, por volta do século VI a. C.. Contrariamente aos sofistas

4
(Protágoras de Albdera, Górgias de Leontini, Hípias de Elis, Pródico, Antífon, Lícofon, Crítias,
Trasímaco, etc.) que se consideravam dono ou proprietários da sabedoria e, por isso, podiam
ensiná-la, Pitágoras recusou esse atributo e afirmava que: o homem, o filósofo, não sendo
detentor da sabedoria, ele é apenas amigo ou amante da sabedoria, quem está sempre em sua
busca. Só Deus é sábio. Sem a intenção de ignorar as várias e as diferentes definições
supracitadas, senão aproveitando algumas delas, podemos dizer que o objecto de estudo da
Filosofia é o todo/universo, pois não deixa “nada” de fora. Esta totalidade é composta por três
níveis:

 Natureza – que engloba o cosmos, onde se afirma a existência/a vida do homem.

 Sociedade – que abrange as relações sociais entre os homens.

 Pensamento – que abarca o interesse pelo conhecimento de tudo que se refere ao nível da
razão.

Filosofia surge como um saber amplo e obtido racionalmente. Em suma, Filosofia é uma atitude
onde se aprende a pensar e a agir, e não um conjunto de conhecimentos e teorias a serem
memorizados. Neste âmbito, para Kant, os professores não devem ensinar a Filosofia aos alunos,
senão o filosofar, isto é, devem ensiná-los a exercitar a própria razão.

O filósofo, nessa perspectiva, não é um iluminado ou um sábio que não precisa mais aprender
porque alcançou o estágio mais elevado da sabedoria. Ao contrário, ele compartilha com os
demais seres humanos essa mesma condição e, no entanto, ao mesmo tempo, é alguém que faz
daquele processo sua ocupação primordial. Desse modo, compreendida, a Filosofia, “indica um
estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o
respeita”, conforme as palavras de Marilena Chauí, filósofa brasileira e professora da
Universidade de São Paulo – USP (CHAUÍ, 1995, p.19).

1.1.Funções da Filosofia
A Filosofia, como conhecimento sistemático, é um conjunto de saberes estruturados e
organizados mediante épocas histórias, áreas de saber filosófico, correntes filosóficas e escolas
de pensamento. A Filosofia é um saber sobre o mundo.

5
Além disso, a Filosofia é uma maneira de estar no mundo, é um modo de existir, tornando deste
modo a existência humana mais consciencializada. A Filosofia conduz-nos à nova forma de ver o
mundo, de viver, de pensarmos e de reagirmos às circunstâncias em que nós mesmos nos
encontramos. Por isso, as tarefas ou funções da Filosofia podem ser vistas em duas perspectivas:

Teórica (Especulação/Saber pensar): A Filosofia proporciona ao homem um procedimento


crítico em relação ao seu próprio pensamento, aos diferentes saberes e opiniões, aos valores, às
crenças e aos poderes. Isto é, a Filosofia permite ao homem ordenar as suas ideias e reflectir
sobre todas as condições de sua vida.

Prática (Experiência/Saber agir): A Filosofia faculta ao homem a capacidade de ser tolerante


perante as opiniões e interesses alheios, a trabalhar para a paz, para o bem comum, para a justiça,
para o respeito, para uma ordem pública salutar e para a liberdade e autonomia do próprio
homem no geral. A amplitude do conhecimento de cada homem é demostrado agindo.

A Filosofia torna o Homem lúcido e consciente (em termos de problemas e desafios) do mundo
em que vive, livre e autónomo, fazendo com que ele se torne corajoso no pensar e no agir.

Segundo CHAUÍ (1995), A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece
tal e qual’. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de ‘filósofo’
alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que
ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.

O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que e para quem algo é útil?
O que é o inútil? Por que e para quem algo é inútil? O senso comum de nossa sociedade
considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das
coisas e das ações, identificando utilidade e a famosa expressão ‘levar vantagem em tudo’. Desse
ponto de vista, a Filosofia é inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil. [...] Qual seria,
então, a utilidade da Filosofia? [...] Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso
comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes
estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for
útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se
dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações
numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a

6
Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes (CHAUÍ, 1995,
p.16-17).

2.A Filosofia e as Duas Fases da Evolução do Pensamento Humano


A Filosofia foi/é sempre um campo do saber científico ligado essencialmente à razão. Apesar
dessa

radicalidade, ela não tomou a sua investigação numa e única perspectiva. A sua tradição
histórica, em todas várias épocas, é caracterizada por um cogitar diferente. Neste contexto, a
Filosofia Antiga (dos séc. VII-VI d. C) é vista sob duas fases, designadamente:

a) Pré-socrática/Cosmológica/Naturalista – virada à explicação do Cosmos/da Natureza/do


Mundo físico (physis).

Ou seja, a Natureza é o centro das suas atenções.

a) Socrática/Antropológica – estudo do homem (anthropos). Ou seja, o homem é o centro das


suas contemplações.

2.1. Filósofos naturalistas


Os filósofos naturalistas sãos também chamados de primeiros filósofos pelo facto de terem
iniciado a explicação racional das coisas, isto é, de se terem libertado do mito. São chamados
primeiros filósofos, essencialmente, os filósofos de Mileto: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
Além destes, inclui-se também filósofos de outras regiões, tais como: Pitágoras, Heráclito,
Parménides, Anaxágoras, Zenão, Demócrito, etc. Entre os filósofos antropológicos podemos
destacar Sócrates, Platão e Aristóteles.

No que segue, apresentamos de forma resumida a posição dos primeiros estudiosos da physis,
iniciando por aquele que deu o primeiro passo para a inauguração dessa tradição: Tales de
Mileto.

TALES DE MILETO (aprox. 624- 546 a.C.)

Tales foi matemático e astrônomo e é considerado por muitos o “pai da filosofia ocidental”. Essa
definição foi dada a ele por Aristóteles (Met. A, 3, 983 b 20). Entre os prodígios realizados por

7
ele, Anthony Kenny (1998, p.21) indica que “foi capaz de medir a altura de pirâmides através da
medição de suas sombras” [...] “identificou a constelação da Ursa Menor e sublinhou sua
utilidade para a navegação” e teria sido o “primeiro grego a fixar a duração do ano em 365 dias e
[que] fez estimativas dos tamanhos do Sol e da Lua”.

Ou seja foi quem se levantou sistematicamente a questão "qual é a origem de todas as


coisas/Qual é a causa última ou o princípio supremo de todas as coisas?" A diversidade das
coisas parecia ser perpassada por quatro elementos: água, ar, terra e fogo. No entanto, para Tales,
um deles teria a prioridade sobre os demais. Os seus argumentos eram os seguintes:

 Toda terra é rodeada de (e flutua na) água.


 Todo Ser vive de água.
 A água é o único elemento que se pode transformas em vários estados: liquido, sólido e
gasoso.

Anaximandro de mileto (aprox. 610 – 545 a.c.)

Para Anaximandro, o princípio originário de todas as coisas não pode ser uma coisa
determinada como era o elemento da água em Tales. Tampouco poderia ser a terra, o fogo e o
ar, por exemplo. Ora, era precisamente a origem de tudo o que é determinado que se queria
explicar.

Anaxímenes Mileto (588-524 a. C)

Tal como Tales, para Anaxímenes, princípio das coisas é uma matéria determinada.
Contestando a ideia de Anaximandro, ele diz que "do infinito não pode surgir algo porque não
tem princípio nem fim (do nada, nada pode aparecer) ". Por isso, na sua opinião, o elemento
que origina todas as coisas é o ar. Ele apresenta esta ideia sob os seguintes fundamentos:

 O ar, dilatando-se, dá origem ao vento e depois às nuvens.


 Em elevada densidade o ar forma água, e depois a terra e as pedras.

Pitágoras

Nascido em Salmos, Pitágoras acredita que o primórdio de todas as realidades é o número. Os


princípios matemáticos (os números) são importantes para a compreensão da ordem das coisas e
a unidade do mundo: os corpos resumem-se em formas geometrais, que são conexos pontos. Por

8
isso para compreender a Matemática é necessário ter fé nos números. Para Pitágoras existe
apenas dez (10) números, que são de zero (0) à nove (9), o número que vem depois de nove, o
dez (10), é Deus.

Heraclito acredita que o logos/razão constitui a base de todas as coisas. O pensamento de


Heraclito resume-se na experiência do DEVIR: tudo é vir-a ser, isto é, tudo muda ou se
transforma.

2.2.Filósofos antropológicos
Sofistas

Sofistas é uma denominação inerente aos pensadores gregos (Protágoras de Albdera, Górgias de
Leontini, Hípias de Elis, Pródico, Antífon, Lícofon, Crítias, Trasímaco, entre outros) que, na
segunda metade do séc. V a. C, declaravam-se sábios (possuidores de muito conhecimento) e
assim procuravam preparar os cidadãos para a vida política, ensinando a arte da persuasão:
técnicas ensinadas aos jovens para que fossem capazes de defender a sua opinião e de elaborar
fortes argumentos em favor de si.

Sócrates (470-399 a. C)

Sócrates era filho de pai escultor, Sofronismo, e mãe parteira, Fenareta, entre os quais cresceu e
recebeu maior influência das suas profissões, esta que se reflectiu em toda sua vida.

Diferentemente dos sofistas, Sócrates era moralista (virtuoso), pois ensinava os homens a serem
bons cidadãos, isto é, a amarem o saber e a respeitarem a verdade, mesmo que a vinda à tona
desta que prejudique. Interessado pelas questões antropológicas, ele apelava o auto-
conhecimento, colocando o seguinte imperativo: Conhece-te a ti mesmo. Assim, filosofar é
contemplar a si mesmo (e aos outros).

Todo aquele que reconhece a própria ignorância procura o saber, isto é, disponibiliza-se para
qualquer aventura da aprendizagem e do pensamento. Contrariamente à situação anterior (dos
sofistas), aquele que se julga detentor do saber fecha-se às novas aprendizagens

9
3.Conclusão
No trabalho presente, pode se concluir que a filosofia é vista como um tipo de saber quase
místico, ou seja a filosofia é um campo do saber que procura, essencialmente, exercitar a razão e
não dar respostas e tem como função de se ocupar com tudo o que diz respeito ao saber e ao
fazer dos seres humanos em geral, de referir que a filosofia permite ao homem ordenar as suas
ideias e reflectir sobre todas as condições de sua vida e a amplitude do conhecimento de cada
homem é demostrado agindo.

10
4.Referência bibliográfica
AMORIM, Carlos et al. Introdução à Filosofia. 10º e 11º Anos. Areal Editores. 2002.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 3 ed. São Paulo: Ática, 1995.


JASPERS, Karl. Einführung in die Philosophie. 22. Aufl. München: Pieper Verlag, 1983.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos à Wittgenstein. 8ª ed. Rio
de Janeiro.

Jorge Zahar Editor. 2004.

MONDIN, Baptista. Introdução à Filosofia. Paulinas Editora. 1982.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. 1. 10ª ed. Paulinas Editora. 2007.

VICENTE, Neves. Razão e Diálogo: introdução à Filosofia. Lisboa. Porto Editora. 1998.

11

Você também pode gostar