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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

AULA 02 –
REFLEXÃO E
PRÁTICA
FILOSÓFICA

Caro estudante,

Você conhece os requisitos da reflexão filosófica e sua importância para


a educação? Neste módulo, você estudará conceitos importantes em filosofia e
como eles contribuem para a reflexão e argumentação filosóficas na escola.
Também reconhecerá as demandas de reflexão e as principais premissas de
filósofos proeminentes.

Bons estudos!
 Reconhecer como os filósofos estabelecem suas reflexões e
argumentações;
 Relacionar conceitos profundos para a reflexão filosófica;
 Analisar a complexidade das premissas e inquietudes dos filósofos,
relacionando-as com a educação.
Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá
como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade
de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e
Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo.

 Compreender o conceito de psicologia


 Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia
 Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.
2 REFLEXÕES E ARGUMENTAÇÕES FILOSÓFICAS

Antes de compreender a importância das reflexões e argumentos filosóficos, é


necessário saber o que é a filosofia. Segundo Bonjour, a filosofia pode ser vista
literalmente como o amor pela sabedoria. Podemos acrescentar que se trata de um
amor rigoroso e provisório, que terá formas e inquietações diferenciadas conforme o
período histórico considerado. No entanto, desde sua origem, os filósofos têm
questionado e buscado argumentos sobre questões muito complexas definidas como
as mais necessárias à humanidade. A partir disso, eles desejam alcançar a sabedoria,
mas esse alcançar é uma determinação complexa de caráter histórico, cultural e
existencial (BONJOUR, 2010).
Outro ponto a considerar sobre a definição de filosofia é a importância do ato
filosófico sobre o conhecimento, ou seja, o produto do estudo da filosofia e seus
resultados. Assim, de forma tradicional, os filósofos exploram a essência das coisas
abstratas, ou seja, refletem sobre questões como a verdade, o conhecimento, o
pensamento, a liberdade, o dever, a justiça, a beleza e até a própria realidade
(BONJOUR, 2010).
Para Silva (2010), os filósofos tecem pensamentos e argumentos sobre
conceitos de verdade provisória. Afinal, existem culturas e valores sociais e
comunitários diferentes, pelo que a verdade não pode ser unívoca. Não sendo única,
cabe dialogar e argumentar para identificar suas possibilidades.
Devemos considerar, em relação à origem da filosofia, que:

As culturas mais primitivas e as antigas filosofias orientais expunham suas


respostas aos principais questionamentos do homem em narrativas
primitivas, geralmente orais, que expressam os mistérios sobre a origem das
coisas, o destino do homem, o porquê do bem e do mal. Essas narrativas ou
“mitos”, durante muito tempo consideradas simples ficções literárias de
caráter arbitrário ou meramente estético, constituem antes uma autêntica
reflexão simbólica, um exercício de conhecimento intuitivo (NOVA..., 1999, p.
21).

O surgimento da filosofia aconteceu numa época em que os gregos,


admirados e espantados com a realidade ou ainda insatisfeitos com as posições de
suas tradições religiosas e míticas, iniciavam investigações em busca de
respostas mais esclarecedoras, tendo como base o uso da racionalidade, entendida
entres os gregos através do conceito de logos que significa ao mesmo tempo ‘razão’
e ‘linguagem’. A ideia era que a explicação do mundo, dos seres humanos e dos
fenômenos naturais pudesse ser baseada na racionalidade, ou seja,
na razão humana, sendo esta capaz de permitir o conhecimento de si mesma (CHAUÍ,
1995).
Para alguns dos grandes filósofos gregos, como Sócrates e Platão, por
exemplo, a reflexão e o pensamento eram considerados purificação intelectual. Essa
purificação permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável e
universal, é necessária que ela seja tematizada através da diferenciação entre o
mundo inteligível (esfera ideal das essências e formas de todas as coisas e
experiências) e o mundo sensível compreendido como realidade produzida pelo
mundo inteligível. Ou seja, em sua perspectiva, as imagens sensoriais seriam falsas
e enganosas, deixando-as a serem abandonadas para o alcance do conhecimento
verdadeiro.
No entanto, nem todos os pensadores gregos tinha uma visão dualista e
idealista do sentido das coisas e da experiência.
Conforme destaca Chauí (1995), ao contrário de Sócrates e Platão, os sofistas
aceitavam a validade e o uso das opiniões e das percepções sensoriais para a
produção de argumentos de persuasão. Já Sócrates e Platão as consideravam fontes
de erro ou formas imperfeitas de conhecimento.
Segundo Bonjour (2010), uma concepção mais atual e até modesta de filosofia
enfatizaria que os filósofos descobriam o conhecimento a partir de uma
análise mais profunda dos conceitos utilizados no processo de reflexão e
pensamento. Ou seja, eles buscam o significado das palavras correspondentes
a esses conceitos, tomando a filosofia em uma perspectiva analítica, centralizada nas
formas lógicas e discursivas pelas quais as ciências e a filosofia exprimem e
organizam seus questionamentos e teorias.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao fato de que diversas áreas de
investigação surgem a partir dos preceitos filosóficos. Nesse sentido, a ciência e suas
diversas ramificações parecem explicar e responder questões filosóficas. Bonjour
(2010, p. 21) afirma que: “Isso acontece, aproximadamente, quando as questões
envolvidas se tornam definidas de modo suficientemente claro para tornar possível
investigá-las em termos científicos, através de observação empírica e de teorização
com base empírica”.
Aristóteles foi um dos mais importantes filósofos preocupados em classificar os
campos do conhecimento filosófico e da ciência em geral. Conceituou essas esferas
como ciências produtivas, ciências práticas e ciências teoréticas, sendo estas últimas
destacadas pelo filósofo como o ponto culminante da metafísica e da teologia e a
origem de os demais saberes (CHAUÍ, 1995).
Contudo, segundo Bonjour:

Enquanto virtualmente todo tipo de conhecimento foi parte da filosofia para o


filósofo grego da Antiguidade Aristóteles, a física e a biologia têm sido
separadas da filosofia por muito tempo, com outras áreas seguindo por esse
caminho mais recentemente. (Por exemplo, até́ o final do século XIX, a
psicologia ainda era vista como parte da filosofia.) Isso sugere que a filosofia
pode ser identificada, ainda que um tanto indiretamente, como a origem
daqueles temas que as pessoas ainda não aprenderam a investigar em
termos científicos. Isso inclui alguns temas com respeito aos quais é difícil
imaginar que isso jamais aconteça, porque são demasiado gerais, demasiado
difíceis e, possivelmente, demasiado fundamentais (BONJOUR,2010, p.21).

Devemos considerar que, para a grande maioria dos filósofos, existe um


consenso sobre a história da filosofia, porque ela é importante para a própria natureza
e para a contínua investigação filosófica. Os filósofos estão constantemente criando
discussões sobre o real significado das palavras (BONJOUR, 2010). O autor também
exemplifica esses aspectos por meio dos diálogos de Platão, principalmente aqueles
relacionados a noções morais como: "O que é coragem?", "O que é justiça?", "O que
é conhecimento?", "O que é piedade?".
A seguir, você verá os principais conceitos de reflexão e argumentação
filosófica. Identificará assim no exercício do ato filosófico a busca pela compreensão
da natureza das coisas e seus significados.

2.1 Conceitos relacionados à reflexão filosófica e à argumentação

Antes de conhecer os principais conceitos relacionados à reflexão


filosófica, você deve se fazer a seguinte pergunta: para que serve a filosofia?
Como você pode ver, a mesma pergunta geralmente não é feita em áreas
como matemática ou física. Segundo Chauí (1995, p. 12), "Em geral, essa
pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes da
filosofia: "A filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e
qual’, isto é, não servindo para nada”.
Por causa dessa perspectiva, costuma-se dizer que a filosofia é inútil e que os
filósofos pensam em coisas que não levam a lugar nenhum, ao contrário do que
acontece nas ciências, cuja finalidade e utilidade podem ser facilmente identificadas.
Nesse sentido, a ciência é comumente reconhecida como conhecimento
verdadeiro, obtido por meio de procedimentos legítimos.
Entretanto, para Chauí:

[...] verdade, pensamento, procedimento para conhecer fatos, relação entre


teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são
questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas,
mas é a filosofia quem as formula e busca respostas para elas (CHAUÍ,1995,
p. 12–13).

A partir disso, percebe-se que pensar é algo importante e sofisticado,


principalmente pelo fato de que pensar transcende a repetição, como ocorre
em outras teorias.
No que diz respeito à valorização da filosofia, devem levarem conta que esta
área está relacionada com a prática do pensamento lógico, crítico e aguçado.
Pelas características da atitude filosófica, percebe-se que ela está relacionada à
capacidade de saber e pensar, tornando-se um pensamento questionador de si, ou
seja, a filosofia se realiza como uma reflexão (CHAUÍ, 1995). Pode-se dizer
também que a "atitude filosófica" é a atitude de quem tem coragem de questionar a
si mesmo e ao mundo em que vive para descobrir crenças, escolhas e experiências
(SILVA, 2010, p. 4).
A atitude filosófica se desenvolve por métodos específicos, pois pensar
filosoficamente não é pensar simplesmente. Por isso, requer habilidades e hábitos
intelectuais diferenciados, também chamados de hábitos mentais filosóficos. Esses
dependem do exercício de pensar através da análise e da criação de conceitos, como
também do desenvolvimento de capacidades para lidar com formas de expressão do
pensamento baseadas em processos de argumentação lógico-filosófico, pelos quais
se busca investigar problemas e defender teorias.
Chauí (1995, p. 14-15) esclarece que a reflexão filosófica se organiza em
torno de três grandes conjuntos de questões, como você pode ver a seguir:

1. Por que as pessoas pensam o que pensam, dizem o que dizem e fazem o
que fazem? (motivos, razões e causas para o que se pensa, diz e faz);
2. O que as pessoas querem pensar quando pensam, o que querem dizer
quando falam, o que querem fazer quando agem? (sentido do que se pensa,
diz e faz);
3. Para que as pessoas pensam o que pensam, dizem o que dizem, fazem o
que fazem? (intenção do que se pensa, diz e faz).
Em suma, pode-se considerar a atitude filosófica de questionar o que significa
pensar, falar e agir. A atitude filosófica está ligada ao "o que é?", ao " como é? e ao
"por que é?", todos baseados no mundo (essência, significado, estrutura e origem de
todas as coisas). A reflexão filosófica, por outro lado, leva a perguntas como "por
quê?" e " o quê?" ligada ao pensamento do sujeito em ato de reflexão (capacidade,
finalidade humana para conhecer e agir) (CHAUÍ, 1995).
Você também precisa entender a importância relativa dos argumentos, pois,
conforme a declaração de justificação, um filósofo geralmente justifica uma afirmação
referindo-se a um argumento. Como Bonjour (2010, p. 24) proclama: "Em filosofia, um
argumento não é uma discordância ou uma briga".
Assim, a ideia principal relacionada a um argumento filosófico diz respeito à
justificação de uma afirmação, ou seja, é necessário estabelecer premissas para
demonstrar que a conclusão do argumento é verdadeira.
Você deve se familiarizar-se com os conceitos de argumento dedutivo válido e
inválido. Para isso podemos considerar, primeiramente, as diferenças entre raciocínio
indutivo e raciocínio dedutivo. O raciocínio indutivo é aquele que parte dos fatos
particulares, ou seja, da observação constante de um conjunto de fenômenos e de
uma habitualidade visando inferir e expressar uma regra geral. No entanto, nesse
âmbito, toda forma de pensar se apresenta orientada pelo conceito
probabilidade. Segundo Japiassu e Marcondes (2001), ainda que o método indutivo
não permita o estabelecimento de verdades e conclusões de caráter definitivo, ele
fornece, no entanto, razões para aceitação de determinadas condições e explicações,
que se tornam mais seguras quanto maior a quantidade de observações realizadas.
Este método se torna importante na ciência experimental, mas ele é pensado e
defendido no âmbito da filosofia, sobretudo a partir dos trabalhos do empirista inglês
Francis Bacon (1561-1626), sendo posteriormente sistematizado por J. Stuart Mill
(1806-1873), que tentou dar uma explicação empirista para os fundamentos da lógica
e da filosofia.
Segundo Japiassu e Marcondes (2001), diferentemente do raciocínio indutivo,
a forma de pensar dedutiva é aquela que nos permite inferir uma ou várias
proposições (ou premissas de caráter declarativo) uma conclusão que delas decorre
logicamente. O modelo da dedução é o silogismo ou o raciocínio matemático: se é
verdade que os homens são mortais, e se é verdade que Sócrates é um homem, então
é possível deduzir que Sócrates é mortal. Nesse sentido, alguns argumentos podem
ser considerados dedutivos válidos, cujas premissas, se verdadeiras, garantem a
verdade da conclusão (BONJOUR, 2010). Existem também as formas de
argumentação dedutiva inválida. Nesse tipo de argumento, as premissas são
verdadeiras e a conclusão é falsa ou o contrário.

2.2 Premissas e inquietudes filosóficas no contexto educacional

Você viu até agora que filosofia, reflexão filosófica e argumentação são
assuntos muito complexos. Portanto, para entendê-los, não basta entender uma
única definição de filosofia. De modo geral, o estudo do pensamento e da
argumentação envolve concepções sobre visão de mundo, sabedoria de vida, esforço
racional para conceber o universo como um todo ordenado e significativo, bem
como fundamentação teórica e crítica do conhecimento e da prática (CHAUÍ, 1995).
Os elementos inerentes à filosofia estão ligados em uma essência teórica
fundada na lógica enquanto expressão válida do pensamento, o que não significa que
essa essência seja definida como uma doutrina ou um conhecimento completo. Trata-
se, da forma que o pensamento assume quando alcança uma posição fundamentada
em relação aos fenômenos do mundo e os acontecimentos da experiência. Como
afirma Aranha (1993, p. 72), "Para Platão, a primeira virtude de um filósofo não é
admirar-se, mas se admirar com o mundo”. Nesse sentido, o termo “admiração” é
uma condição relacionada à problematização, ou seja, a filosofia não é vista como
dona da verdade, mas como propulsora da busca por essa verdade, que deve se
assumir a partir do primeiro espanto e da admiração, o esforço de pensar e se exprimir
rigorosamente.
Você também viu a complexidade do assunto. Para haver um bom argumento,
duas coisas são necessárias: a conclusão deve ser válida e suas premissas devem
ser verdadeiras. Além disso, um argumento pode ser ruim mesmo que suas premissas
e conclusão sejam verdadeiras. Isso acontece quando não existe relação lógica entre
aquilo que está sendo dito. Por relação lógica precisamos entender a operação,
muitas vezes de caráter intuitivo, que liga duas proposições sobre o mundo, de modo
que a existência de uma se funde ou responda à existência da outra.
Essa relação lógica tem um fundo existencial, pois pressupõe um contexto
lógico e intersubjetivo que se expande para além do discurso e busca confirmação na
experiência entendida de modo amplo. Não se trata somente da experiência em
sentido empírico, ou seja, de dados recebidos pelos sentidos, mas da experiência que
preenche “intuitivamente” o argumento. A filosofia se realiza nesse jogo entre o
esforço crítico de expressão e o contato com os fenômenos que podem ser de ordem
lógica, prática, ideal, científica ou simplesmente humana. Por exemplo,

A terra tem uma lua.


John F. Kennedy foi assassinado.
Portanto, a neve é branca. (RACHELS; RACHELS, 2014, p. 33)

As premissas do argumento e sua conclusão são verdadeiras. No entanto, este


é um argumento ruim, inválido, pois sua conclusão não decorre das premissas.
Observe também que não existe nenhuma relação logica entre as declarações. A
terra ter uma lua não tem relação com a morte de Kennedy e qual a relação do
assassinato com o fato da neve ser branca? Este exemplo ajuda a esclarecer os
pontos lógicos essenciais, aplicáveis à análise de qualquer tema, trivial ou não. Como
já indicamos, um argumento válido é aquele que se estrutura a partir de premissas
verdadeiras e das quais decorre uma conclusão verdadeira. Entende-se, assim, que,
se a conclusão de um argumento for falsa, ainda quando todas as suas premissas
forem verdadeiras, então o argumento não é confiável, ele apresenta um caráter
inconsistente, portanto, se apresenta inválido. Podemos ainda dizer que um
argumento válido acontece quando suas premissas implicam sua conclusão. O
exemplo clássico e mais famoso é o seguinte silogismo:

Todos os homens são mortais.


Sócrates é homem.
Logo, Sócrates e mortal.

A complexidade destes aspectos permite perceber que a filosofia deve ser


encarada como uma disciplina formativa, fenomenológica e que visa ser logicamente
rigorosa. Formativa, porque ela torna possível ao sujeito da experiência, em âmbito
pedagógico, social, afetivo, a descoberta e o desenvolvimento de suas capacidades
analíticas. Fenomenológica, porque se funda no contato com os fenômenos e no
esforço de pensar rigorosamente esse contato, que deve, ser apreendido através da
argumentação e demonstração logicamente fundamentas. Desta maneira, ela
contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais, pois está
fortemente ligada a uma compreensão significativa e crítica do mundo e da cultura
(GRETER, 2010).
Como aponta Aranha (1993), a filosofia é uma atitude baseada em uma
concepção de pensar e refletir constantemente. É, portanto, considerada um
pensamento instituinte, pois questiona, interroga o saber, o conhecimento
instituído. Para o filósofo, a teoria não corresponde a um saber abstrato e concluído,
mas é a expressão concreta do pensamento, em suas múltiplas manifestações,
conforme seu dever.
A autora ainda afirma que a filosofia não está encarregada de fazer juízos de
valor, contrariando as ações da ciência. O processo de filosofar parte de reflexões
sobre as experiências vividas pelo homem, evoluindo suas descobertas também com
base no que devem ser essas experiências. Além disso, esse processo busca
identificar o que são ações, ou seja, julgar o valor da ação, visando extrair significado
(ARANHA, 1993).
Para compreender a relação entre os pressupostos e preocupações dos
filósofos e a educação, é necessário conhecer o conceito de educação e
os elementos filosóficos que o constituem, sobretudo no que diz respeito à sua
relação enquanto conceito de cultura, numa perspectiva também filosófica.
Também podemos considerar ainda que a filosofia é necessária, pois, por meio
da reflexão, ela dá ao homem mais de uma perspectiva, indo além da dimensão
relacionada ao agir imediato em que “[...] o homem prático se encontra mergulhado”
(ARANHA, 1993, p. 75).
Assim, a filosofia permite a transcendência humana, ou seja, corresponde
à capacidade dos seres humanos de ir além do cenário predeterminado de sua
existência. Com isso, o ser humano se apresenta como um ser projeto, pois constrói
seu destino por meio da liberdade enquanto ato pelo qual ele retoma e transforma sua
vida. Para Aranha (1993, p. 75), “[...] o distanciamento é justamente o que provoca a
aproximação maior do homem com a vida”. Sendo assim, a filosofia oportuniza a
evolução dos seres humanos, rompendo com a estagnação das formas de
pensamento instituídas.
Você ainda pode pensar na filosofia como um movimento dialético em busca
da verdade. No ato de filosofar, através da dialética, partindo do pressuposto de
que há uma certeza dada como tese, mas, ao mesmo tempo, também é negada
pela superação proposta pela antítese, que surge segundo uma contradição inerente
a tese; desse movimento decorre a síntese, tal síntese promove uma nova tese, ou
seja, uma nova certeza e o processo dialético pode se expandir de maneira aberta
quando se parte do contato humano consigo e com os fenômenos. Para Aranha
(1993), quando se pensa a filosofia como um processo dialética, ela continua
sendo a busca da verdade e não a sua posse.
Deve-se notar que um estilo reflexivo também deve ser visto como relevante
para a prática educativa, em particular o ato de ensinar. Afinal, a filosofia não deve ser
confundida com a transmissão de conteúdos: é um meio de aquisição de
conhecimento. O aluno deve adquirir o hábito de pensar com método e fundamento.
Nesse sentido, Savater (1998, p. 176) ressalta que o papel da escola não é
transmitir a cultura dominante, mas principalmente “[...] o conjunto de culturas em
conflito do grupo no qual ela nasce”. Portanto, é essencial que a educação
promova alternativas para os alunos, colocando uma responsabilidade importante
sobre quem pretende educar.
Por fim, pode-se considerar que o estudo dos conceitos filosóficos e dos
elementos da reflexão filosófica visa “[...] desmascarar a realidade utilizando a própria
realidade como matéria” (SILVA, 2010, p. 4). Ou seja, cabe ao professor utilizar os
elementos de reflexão filosófica sobre assuntos inerentes ao contexto do aluno,
permitindo assim a discussão. A ideia é visualizar como esses temas e aspectos da
filosofia podem ser usados em um processo de ensino e aprendizagem que permita
ao aluno desenvolver uma forma mais ampla e crítica de pensar sobre sua realidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARANHA, M. L. A. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna,


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BONJOUR, L.; BAKER, A. Filosofia: textos fundamentais comentados. 2. ed. Porto


Alegre: Artmed, 2010.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 2. ed. São Paulo: Ática, 1995.

GRETER, F. P. Por quê Filosofia no ensino médio. Encarte do professor: filosofia em


sala de aula. Revista Filosofia Ciência & Vida, n. 44, 2010.

JAPIASSÚ, H; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro, 2001.

KRAUT, R. Aristóteles: a ética a Nicômaco. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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RACHELS, J.; RACHELS, S. A coisa certa a fazer. 6. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill,
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SAVATER, F. O valor de educar. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

SILVA, J. R. da. A valorização da filosofia. Encarte do professor: filosofia em sala de


aula. Revista Filosofia Ciência & Vida, n. 44, 2010.

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