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EDUCAÇÃO
Introdução
Você conhece as exigências da reflexão filosófica, bem como a importân-
cia dela para a educação? Neste capítulo, você vai estudar importantes
conceitos da filosofia e como eles contribuem para a reflexão e argu-
mentação filosóficas na escola. Também vai reconhecer as exigências
da reflexão e as principais premissas propostas pelos principais filósofos.
Sócrates (470–399 a.C.) não deixou registros escritos sobre suas ideias, entretanto, seu
pensamento foi disseminado por seus discípulos Xenofonte e Platão. Sócrates, chamado
de sofista por muitos, contrariou diversos poderosos em sua época, principalmente
por não acreditar nos deuses da cidade. Ele foi acusado, além disso, de corromper a
mocidade. Assim, foi condenado e morto (ARANHA, 1993).
Para Bonjour (2010), uma versão mais atual e também modesta do conceito
de filosofia destacaria que os filósofos descobrem o conhecimento a partir de
uma análise mais precisa dos conceitos empregados no processo de reflexão e
pensamento. Ou seja, eles buscam os significados das palavras correspondentes
a esses conceitos.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao fato de que diversas
áreas de investigação surgem a partir dos preceitos filosóficos. Nesse sen-
tido, surgem a ciência e suas várias ramificações para explicar e responder
aos questionamentos filosóficos. Bonjour (2010, p. 21) afirma que: “Isso
acontece, aproximadamente, quando as questões envolvidas tornam-se
definidas de modo suficientemente claro para tornar possível investigá-las
em termos científicos, através de observação empírica e de teorização com
base empírica”.
Aristóteles foi um dos principais filósofos que se preocuparam com a
classificação dos campos do conhecimento filosófico. Ele conceituou esses
campos como ciências produtivas, ciências práticas e ciências teoréticas,
contemplativas ou teóricas, estas últimas sendo salientadas pelo filósofo
como o ponto mais alto na metafísica e na teologia e como a origem de todos
os outros conhecimentos (CHAUÍ, 1995).
4 As exigências da reflexão filosófica
Aristóteles pensa que há dois tipos de seres: aqueles cujos primeiros
princípios (archai) “podem ser de outro modo” e aqueles cujos primei-
ros princípios não podem ser de outro modo (EN VI.1.1139 a 6-8). Ele
pensa que há primeiros princípios porque acredita que as (verdadeiras)
ciências espelham a estrutura do mundo e essas ciências têm uma
estrutura particular: elas consistem de deduções silogísticas (sullo-
gismoi) feitas a partir de primeiros princípios, os quais são definições
necessariamente verdadeiras da essência dos seres com os quais a
ciência lida (VI.11.1143a36-b2). Por fim, ele pensa que essa divisão
entre seres e ciência deve ser espelhada na estrutura de nossas almas.
Aceitemos a sua fórmula explicativa concisa sem questionar muito
a concepção amplamente misteriosa que ela sintetiza: “é através de
uma certa similaridade e semelhança” com os seus objetos que cada
parte da alma os conhece (VI.1.1139a10-15) (KRAUT, 2009, p. 186).
Você ainda deve considerar que, para a grande maioria dos filósofos, há um
consenso no tocante à história da filosofia, sendo ela importante para a própria
natureza da filosofia e para a contínua investigação filosófica. Afinal, uma das
atividades filosóficas principais concentra-se no objetivo de entender a natureza
essencial das coisas (ou dos conceitos), ou seja, a clarificação dos fatos. Os filósofos
constantemente criam discussões sobre o que realmente significam as palavras
(BONJOUR, 2010). O autor ainda exemplifica esses aspectos por meio dos diálogos
de Platão, principalmente os relacionados a noções morais como estas: “O que é a
coragem?”, “O que é a justiça?”, “O que é o conhecimento?”, “O que é a piedade?”.
As exigências da reflexão filosófica 5
O trecho a seguir vai ajudá-lo a refletir ainda mais sobre a finalidade da filosofia:
No tocante à valorização da filosofia, você deve ter em mente que essa área
se relaciona ao exercício do pensamento lógico, crítico, aguçado. A partir dela,
é possível perceber que o pensar é algo importante e elaborado, especialmente
pelo fato de que o pensamento transcende a repetição, que é o ocorre em outras
teorias. Assim, o pensamento é um processo singular, pois o tempo, a forma e a
circunstância em que ele ocorre são intrínsecos ao que se pensa (SILVA, 2010).
Conforme Chauí (1995, p. 14), a atitude filosófica pode ser caracterizada, independen-
temente do conteúdo investigado, como:
1. Por que as pessoas pensam o que pensam, dizem o que dizem e fazem o que
fazem? (motivos, razões e causas para o que se pensa, diz e faz);
2. O que as pessoas querem pensar quando pensam, o que querem dizer quando
falam, o que querem fazer quando agem? (sentido do que se pensa, diz e faz);
3. Para que as pessoas pensam o que pensam, dizem o que dizem, fazem o
que fazem? (intenção do que se pensa, diz e faz).
[...] se Maria pegou o carro, então João não o pegou; e eu sei que João não o
pegou; assim, Maria deve tê-lo pegado. Suponha que todas as premissas são
verdadeiras. A verdade daquelas premissas garante (ou mesmo dá suporte
para) a verdade da conclusão? Não, esse argumento comete a falácia de afir-
mar o consequente. (Uma falácia é um equívoco no raciocínio.) (BONJOUR,
2010, p. 26).
Para saber mais sobre os argumentos dedutivos inválidos, bem como compreender
claramente o conceito de falácia mencionado na exemplificação, leia a partir da página
26 do livro Filosofia: textos fundamentais comentados, de Bonjour (2010).
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O ceticismo moral é a noção de que não existe uma verdade moral objetiva. Não é
somente a ideia de que não se pode conhecer a verdade sobre o certo e o errado:
quando se trata da ética, a “verdade” não existe. O ponto fundamental pode ser descrito
de muitas formas. Pode-se dizer que:
a moralidade é subjetiva, é uma questão de como cada um sente as coisas; não é
uma questão de como as coisas são.
a moralidade é somente uma questão de opinião, e a opinião de uma pessoa é tão
boa quanto a de qualquer outra.
os valores existem somente na mente, não no mundo exterior (RACHELS; RACHELS,
2014, p. 34).
Você pode considerar ainda que a filosofia é necessária pois, por meio da
reflexão, ela dá ao homem mais de uma perspectiva, indo além da dimensão
relacionada ao agir imediato em que “[...] o homem prático se encontra mer-
gulhado” (ARANHA, 1993, p. 75).
Assim, a filosofia permite a transcendência humana, ou seja, corresponde
à capacidade do homem de superar o cenário posto. Com isso, o ser humano
se apresenta como um ser de projeto, pois constrói o seu destino por meio da
liberdade que tem para isso. Para Aranha (1993, p. 75), “[...] o distanciamento é
justamente o que provoca a aproximação maior do homem com a vida”. Sendo
assim, oportuniza a evolução, rompendo com a estagnação.
Você pode ainda visualizar a filosofia como um movimento em busca
da verdade. Parte-se do pressuposto de que existe uma certeza, mas ao mesmo
tempo também se nega essa certeza por meio da superação proposta pela síntese.
Tal síntese promove uma nova tese, isto é, uma nova certeza. Para Aranha
(1993), a filosofia ainda é a procura da verdade, não a sua posse.
Para Jaspers, filósofo alemão contemporâneo, “[...] fazer filosofia é estar a caminho; as
perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-
-se numa nova pergunta” (ARANHA, 1993, p. 76).
Segundo Greter (2010, p. 11), “[...] o estilo reflexivo não pode ser ensinado normalmente
como uma técnica, pois filosofar não se reduz a uma ginástica intelectual”. Nesse sentido,
cabe ao professor estimular a problematização utilizando as mesmas trajetórias usadas
pelo pensamento reflexivo dos filósofos, objetivando principalmente a construção de
respostas originais com base no contexto histórico e social do sujeito.
Leitura recomendada
BENSON, H. H. Platão. Porto Alegre: Penso, 2011.