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Cap.

15 - A crítica da
metafísica

Colégio São Carlos


Prof. Paulo Rogério
2. A Ilustração: o
Século das Luzes
Séc. XVIII – O Iluminismo

O séc. XVIII é o período conhecido como


Iluminismo, Século das Luzes ou Aufklärung
(que significa “Esclarecimento”).

Como os próprios
nomes sugerem, trata-
se do otimismo em
reorganizar o mundo
humano por meio das
luzes da razão.
Características do Iluminismo

De modo geral, o Iluminismo caracteriza-se:

a) por uma decidida confiança na razão humana,


cujo desenvolvimento é visto como o progresso da
humanidade;

b) por um desinibido uso crítico da razão, dirigido:

à libertação em relação aos dogmas e superstições


religiosas, preconceitos morais e tiranias políticas;

à defesa do conhecimento científico e técnico e dos


inalienáveis direitos naturais do homem e do cidadão.
Iluminismo: influências
recebidas
1º) Renascimento: que desde o séc. XIII já
lutava contra o princípio da autoridade medieval e
buscava o reconhecimento do poder humano como
artífice de si mesmo.

Antropocentrismo:
O homem como centro do universo
Iluminismo: influências
recebidas
2º) Racionalismo e Empirismo: que a partir do
séc. XVII ofereceram o alicerce filosófico para o
surgimento do Iluminismo.
Iluminismo: influências
recebidas
3º) Revolução científica: que desde o séc. XVII, com
Bacon e Galileu, possibilitou o surgimento das ciências
modernas, do método de experimentação e do
aperfeiçoamento da técnica, provocando no ser
humano o desejo de melhor conhecer a natureza e
dominá-la

Sistematização do método
científico com Galileu Galilei
Iluminismo: influências
deixadas
1ª) Secularização da natureza: a natureza passou
a ser compreendida de maneira desvinculada da
religião.

Evolucionismo e teorias
científicas modernas
Iluminismo: influências
deixadas
2ª) Autonomia da razão humana: o ser humano
passou a ser considerado como livre de qualquer
controle ideológico externo e como capaz de procurar
soluções para seus problemas com base em princípios
racionais.

Alegoria Iluminista: o culto à Razão (no alto),


“iluminadora” de todas as ações humanas.
Iluminismo: influências
deixadas
3ª) Revoluções sociais: o uso da razão humana
passou a ser estendido e aplicado a todos os
domínios da sociedade: político, econômico, moral e
inclusive religioso.

Revolução Francesa: crítica ao


despotismo político
3. Kant: o
criticismo

Immanuel
Kant (1724-
1804)
Kant – Crítica da Razão

No tempo de Kant, as questões relativas ao


conhecimento ainda giravam em torno da
controvérsia entre racionalista e empiristas.

Segundo Kant, nem o


racionalismo nem o empirismo
podem ser a base do
conhecimento, pois ambos
possuem aspectos insuficientes
para formar a Ciência.
Kant – Crítica da Razão

Na sua obra Crítica da Razão Pura, Kant tenta


fazer uma síntese da discussão entre racionalismo e
empirismo.

Sua filosofia é chamada de


criticismo porque, diante da
pergunta “Qual é o valor e
natureza do conhecimento?”,
Kant coloca a razão em um
tribunal para julgar o que pode
ser realmente conhecido e
que tipo de conhecimento não
tem fundamento.
Kant:
Sensibilidade e
Entendimento

Frontispício
da “Crítica
da Razão
Pura” (1781)
Sensibilidade e
entendimento
Para superar a contradição
entre racionalistas e
empiristas, Kant explica que o
conhecimento é constituído:
*de algo que o sujeito
recebe de fora (a posteriori),
isto é da experiência;
*de algo que já existe no
sujeito (a priori), ou seja,
antes de qualquer experiência.
Sensibilidade e
entendimento
Ou melhor, o Sujeito conhece porque é capaz de fazer
uma síntese entre Racionalismo (juízos analíticos a
priori) e Empirismo (juízos sintéticos a posteriori),
constituindo, por isso, um conhecimento seguro para
uma Ciência legítima.

Para isso, Kant


reconhece no
racionalismo e no
empirismo tanto
aspectos positivos
como negativos.
Kant ao centro: representa o criticismo
como síntese entre racionalismo e empirismo
Sensibilidade e
entendimento
O Racionalismo afirma a existência de juízos
analíticos a priori. Por exemplo: “Esse círculo é
redondo”.

Aspecto positivo: trata-se de um conhecimento


universal e necessário, desligado da experiência.

Aspecto negativo: no entanto, não pode ser a


base da ciência porque não é um juízo
amplificador de conhecimento.

Para Kant, o racionalismo representa a “forma” do


conhecimento – que já está no sujeito.
Sensibilidade e
entendimento
O Empirismo afirma a existência de juízos
sintéticos a posteriori. Por exemplo: “Esse livro é
pesado”.

Aspecto positivo: trata-se de um juízo que amplia


o conhecimento através dos dados da experiência.

Aspecto negativo: no entanto, não pode ser a


base da ciência porque não é um juízo universal e
seguro.

Para Kant, o empirismo representa a “matéria” do


conhecimento – que vem de experiência (de fora).
Sensibilidade e
entendimento
Desta maneira, segundo Kant, é preciso que haja um
tipo de conhecimento que tenha “matéria” e
“forma”. Ou seja, um conhecimento que englobe os
aspectos positivos do racionalismo e do
empirismo:
que seja ao mesmo tempo universal
(como no racionalismo), porém, que
também seja ampliador de
conhecimento (como no empirismo).

Kant chamou este conhecimento de


juízo sintético a priori.
Sensibilidade e
entendimento
Qual a diferença entre Kant e os filósofos
anteriores? É o fato de que matéria (experiência)
e forma (razão) atuam ao mesmo tempo.

É verdade que, para conhecer


as coisas, precisa-se da
experiência sensível (matéria).
No entanto, essa experiência
não será nada se não for
organizada por formas a
priori da sensibilidade e do
entendimento.
Sensibilidade e
entendimento
As formas da sensibilidade e do entendimento são
totalmente a priori (próprias do sujeito) e, por isso,
são a condição para a própria experiência.

A sensibilidade é a faculdade
receptiva, pela qual o sujeito obtém as
representações exteriores

O entendimento é a faculdade responsável


pelo pensar e julgar, como também pela
produção de conceitos internos.

Em cada uma das faculdades, Kant identifica formas


sintéticas a priori específicas.
Forma a priori da
sensibilidade:
espaço e tempo
As formas a priori da sensibilidade são o
espaço e o tempo e, por isso, não existem como
realidades externas, mas como intuições puras
internas (a priori) que o sujeito precisa para
organizar e perceber as coisas experimenta.

As coisas estão fora de nós; porém, só podemos


percebê-las, por exemplo, “em cima”, “em baixo”, ou
“antes” e “depois”, porque temos a intuição
apriorística do espaço e do tempo. Caso
contrário, não poderíamos perceber nada.
Forma a priori do
entendimento:
12 categorias
As formas a priori do entendimento são as 12
categorias, que funcionam como conceitos puros que
unificam e sintetizam as múltiplas impressões dos sentidos
(trazidas pelas formas do espaço e do tempo) e as
transformam em conhecimentos pensados. Dentre as 12
categorias, pode-se citar três: a substância, a
causalidade e a existência.
Quando observamos a natureza e afirmamos que uma “coisa
é isto”, ou que “tal coisa é causa de outra”, por um lado,
temos aquelas coisas que percebemos pelos sentidos; mas,
por outro, temos algo que é próprio do sujeito que conhece,
ou seja, que não vem da experiência e que possibilita a
“identificação” ou a “causalidade” de algo.
Experiências a Formas a priori
posteriori (universais e necessárias)
(contingentes)
Sensibilidade:
*Espaço: capta a dimensão
espacial do objeto;
*Tempo: percebe a disposição
temporal do objeto.

Entendimento:
*12 categorias: sintetizam e
unificam as múltiplas impressões
sensíveis trazidas pelas formas do
tempo e do espaço.
*Existência: conceito criado
acerca da existência do objeto.
*Substância: conceito criado com
relação à identidade do objeto.
*Causalidade: conceito criado
sobre causa-efeito do objeto.

O conhecimento da “garrafa” forma-se com a junção da parte a posteriori


(empirismo) + a parte a priori (racionalismo).
Experiência
Experiência (a posteriori) Experiência
(a posteriori) (a posteriori)

Empirismo SENSIBILIDADE
(matéria) (espaço e tempo)

substância
ENTENDIMENTO Racionalismo
causalidade
(12 categorias) (forma)
existência

CONHECIMENTO
Conhecimento:
experiência + entendimento
“Nenhum conhecimento em nós precede a experiência,
e todo o conhecimento começa com ela. Mas embora
todo o nosso conhecimento comece com a experiência,
nem por isso todo ele se origina justamente da
experiência. Pois poderia bem acontecer que mesmo o
nosso conhecimento de experiência seja um composto
daquilo que recebemos por impressões e daquilo que
nossa própria faculdade de conhecimento [...] fornece
de si mesma. [...] Tais conhecimentos denominam-se a
priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem
suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência”.
(KANT. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Cultural, 1980, p. 23).
Kant:
As ideias da “razão” e a
metafísica
As ideias da razão e a
metafísica
Com sua teoria, Kant garante a possibilidade do
conhecimento científico como universal e
necessário.
No entanto, até aqui trata-se
do conhecimento fenomênico,
isto é, restrito ao conhecimento
dos fenômenos, que
percebemos inicialmente pelos
sentidos e pelo entendimento.

A questão agora é: poderíamos, porém, conhecer a


“coisa em si” (o noumenon)?
Phainoménon ≠ Noumenon
(Fenômeno) (Númeno)
Fenômeno Noumenon

Do grego phainoménon, Do grego, noein, “o que é


“aparência”, o que “aparece” pensado” (particípio passado
para nós. do verbo “pensar”)

Aquilo que “aparece aos Aquilo que a “coisa é em si e


sentidos do sujeito” e não por si mesma” (em oposição
aquilo que a coisa é em si ao fenômeno), independente
mesma. Trata-se do do modo como ela aparece.
conhecimento da Ciência, Trata-se do conteúdo da
pois limita-se ao campo da metafísica, que não vem da
natureza humana, cuja experiência, mas sim do desejo
fonte é a experiência da razão em ultrapassá-la.
sensorial.
As ideias da razão e a
metafísica
Ou seja, a “coisa em si” (noumenon) são
aquelas ideias da razão, para as quais somente a
experiência sensorial não fornece o conteúdo
necessário.

Nesse sentido, o noumenon


pode ser pensado, mas não
pode ser conhecido
efetivamente, porque, como
vimos, o conhecimento
humano limita-se apenas ao
campo da experiência.
As ideias da razão e a
metafísica
No entanto, como o ser humano deseja ir além da
experiência, a razão acaba pensando em
algumas ideias que são objetos da metafísica:

ALMA MUNDO DEUS


As ideias da razão e a
metafísica
Ao examinar cada uma dessas ideias, Kant se depara
com as antinomias da razão pura, isto é, com
argumentos contraditórios que se opõem em tese e
antítese. Por exemplo:

ALMA MUNDO DEUS

A ideia de pode-se tanto se argumenta que o


liberdade argumentar tanto mundo existe a partir de
humana tanto que o mundo tem uma causa necessária
pode ter um início (e é (que é Deus), ou que não
argumentos a limitado) ou que existe um ser
favor como contra não teve início (e necessário que seja a
(determinismo); é ilimitado); causa do mundo.
As ideias da razão e a
metafísica
Kant conclui, portanto, não ser possível conhecer
as coisas tais como são em si. Decorre dessa
constatação a impossibilidade do conhecimento
metafísico.

Deve-se, portanto,
abster-se de afirmar
ou negar qualquer
coisa a respeito dessas
realidades. Trata-se de
um agnosticismo.
Kant:
Crítica da Razão Prática
Crítica da Razão Prática
Porém, em outra obra, “Crítica da razão Prática”,
Kant recupera as realidades da metafísica que
havia criticado na “Crítica da Razão Pura”.

Enquanto a Razão Pura


ocupa-se das ideias, a Razão
Prática volta-se para a ação
moral, que só é possível
porque os seres humanos (ao
contrário da natureza, sujeita
aos determinismos) podem
agir mediante ato de vontade,
por autodeterminação.
Crítica da Razão Prática

Pela análise do mundo ético,


Kant recoloca as questões da
“liberdade humana”, da
“imortalidade da alma” e da
“existência de Deus”,
recuperadas na Razão Prática
como premissas básicas para
explicar a lei moral e seu
exercício.

Assim Kant justifica-se: “tive de suprimir o saber


para encontrar lugar para a fé”.
Kant:
Herança kantiana
Revolução copernicana

O pensamento kantiano é conhecido como


idealismo transcendental.

A expressão “transcendental”
em Kant significa aquilo que
dá a condição de
possibilidade da experiência,
ou seja, o conhecimento
transcendental é o que trata dos
conceitos a priori dos objetos, e
não dos objetos como tal.
Revolução copernicana

O próprio Kant descreveu sua filosofia crítica como


uma “revolução copernicana”:

Assim como Copérnico (que havia


levantado a hipótese de não ser o
Sol que girava em torno da Terra,
mas o contrário), Kant também
afirma que o conhecimento do
sujeito não se organiza ao redor dos
objetos, mas sim os próprios
objetos é que se organizam através
do conhecimento do sujeito.
Herança kantiana

Da crítica feita por Kant à metafísica (na Crítica da


Razão Pura), surgiram duas linhas divergentes
entre os filósofos do século XIX:

1ª) Para os materialistas 2ª) Para os idealistas


(Feuerbach, Engels e (Fichte, Schelling e Hegel),
Marx), que afirmam que a que levaram às últimas
matéria determina o ideal, consequências a
e os positivistas (Comte), capacidade que Kant
que afirmam que a ciência atribuiu à razão de impor
é a forma mais adequada formas a priori ao conteúdo
de conhecimento. dado pela experiência.
4. Hegel: o
idealismo dialético

Georg
Wilhelm
Friedrich
Hegel
Hegel: o idealismo dialético
Influenciado pelo espírito da
Revolução Francesa, Hegel
fundou uma filosofia baseada na
noção de “liberdade do
sujeito”, cuja experiência não é
solitária, mas se encontra
envolvida pelo coletivo (o que é
essencial para a consciência de si
mesmo).
Nesse sentido, Hegel criticou a filosofia de Kant por
ser abstrata e alheia às etapas de formação da
autoconsciência do indivíduo na cultura.
Hegel: o idealismo dialético
Dentre os principais livros de Hegel, pode citar:

“Fenomenologia do Espírito”,
“Ciência da Lógica”, “Enciclopédia
das Ciências Filosóficas”,
“Introdução à História da Filosofia”
e “Princípios da Filosofia do Direito”.

E também outras obras que


resultaram das anotações de seus
alunos na universidade de Jena.
Hegel: o idealismo dialético
Porém, por conta de sua vasta erudição e pela
transformação que realiza em conceitos tradicionais,
tornam sua filosofia de difícil interpretação.

Por exemplo: o conceito de “ser” que


utiliza não é o ser estático da metafísica
tradicional (A=A), mas designa uma
realidade dinâmica, sempre em
processo e em mudança (A≠A)

Esta é a chamada “Dialética”, inspirada no pré-socrático


Heráclito, na qual explica a mudança pela contradição
Hegel:
A Dialética
A Dialética hegeliana
Hegel introduz uma noção nova, a de que a razão
é histórica, ou seja, a verdade é construída no
tempo.
Partindo da noção kantiana
de que a consciência (ou o
sujeito) interfere ativamente
na construção da realidade,
Hegel propõe o que se
chama filosofia do devir,
do ser como “processo”,
como “movimento”, como
“vir-a-ser”.
A Dialética hegeliana
Para Hegel, o ser está em
constante transformação,
donde surge a necessidade de
fundar uma Nova Lógica que
não parta do princípio de
identidade (A=A), que é
estático, mas do princípio de
contradição (A≠A), para dar
conta da dinâmica do real.

Hegel chama sua nova lógica de Dialética.


A Dialética hegeliana
Hegel desenvolve, portanto, um novo conceito de
história, também dialético:

A história não é uma simples


acumulação ou justaposição de
fatos acontecidos no tempo, mas é
o resultado de um processo, cujo
motor interno são as contradições
presentes na própria história.

Ou seja, o presente é a síntese de um longo


processo de contradições do passado.
A Dialética hegeliana
Hegel faz das palavras do poeta Goethe a lei da
dialética: “Tudo o que existe merece desaparecer”.

Mas essa força


destruidora é ao
mesmo tempo a força
motriz do processo
histórico: a morte é
criadora e geradora.

A ideia central é a de que todo ser contém em si


mesmo o germe da ruina e de sua superação.
A Dialética hegeliana

Na obra “Fenomenologia do
Espírito”, o termo “fenomenologia”
remete-se a noção kantiana de
fenômeno, como aquilo que nos
aparece, mas que, ao mesmo tempo,
em si mesmo, é pensado pela razão
como algo distinto daquilo que se
manifesta aos nossos sentidos.

É justamente por descobrirmos no fenômeno esta


contradição que podemos, num terceiro momento,
superar sua ideia ou manifestação inicial.
A Dialética hegeliana
Hegel explicou a dialética através dos conceitos de
tese, antítese e síntese. Por exemplo:

Botão (tese) Flor (antítese) Fruto (síntese)


Ou seja, é a Ou seja, trata-se aqui Ou seja, é a superação
afirmação acerca da contradição, a da contradição entre
de algo. negação do botão. botão e flor.
A Dialética hegeliana
Para melhor entender o processo dialético,
lembremos que Hegel utilizou a palavra alemã
“aufheben”, que significar “superar”.

A riqueza do termo superar


(aufheben) significa tanto a
ideia de suprimir como
também a de conservar.

Ou seja, a dialética representa um processo que, na


superação da contradição de algo, o que é negado é ao
mesmo tempo mantido na própria dialética.
A Fenomenologia do
« Espírito »
Deste modo, conhecer o processo de constituição
através da contradição, é conhecer o real.

Por esse movimento, a razão


passa por todos os graus (tese,
antítese e síntese), desde a
natureza inorgânica, da
natureza viva, da vida humana
individual até a vida social.
A Fenomenologia da
Realidade
Para explicar o devir (fenomenologia) da realidade, Hegel
parte não da natureza (ou matéria), mas da ideia pura:

A Ideia Pura A Natureza (antítese): O Espírito (síntese): é


(tese): para é a ideia alienada, o ao mesmo tempo
desenvolver-se, mundo privado da pensamento e matéria,
cria um objeto consciência; da luta isto é a ideia que toma
oposto a si, a desses dois opostos consciência de si por
natureza. surge o Espírito. meio da natureza
Hegel:
O Idealismo
O Idealismo hegeliano

Uma vez superado os estágio


da “Ideia pura” e da
“Natureza”, chegando assim
ao estado do “Espírito” (isto
é, da ideia que toma
consciência do si mesma por
meio da natureza), Hegel
propõe uma nova
“fenomenologia” específica
à atividade do “Espírito”.
A Fenomenologia do
« Espírito »
Mas o que Hegel entende por “Espírito”? Num sentido
geral, Espírito (Geist, em alemão) é uma atividade da
consciência que se manifesta no tempo e se expressa
em três momentos distintos:

3º Espírito
Absoluto

2º Espírito
Objetivo

Espírito
1º Subjetivo
A Fenomenologia do
« Espírito »: o Espírito
Subjetivo
O 1º momento da fenomenologia do Espírito é o que
Hegel chama de “Espírito Subjetivo”:

Espírito Subjetivo
(tese): trata-se do
espírito individual,
ainda preso na
subjetividade e no
interior (como ser de
emoção, desejo e
imaginação etc.).
A Fenomenologia do
« Espírito »: o Espírito Objetivo
Para o 2º momento da fenomenologia do Espírito,
Hegel chama de “Espírito Objetivo”:

Espírito Objetivo
(antítese): como oposição do
espírito subjetivo, trata-se
do espírito exterior como
expressão da vontade
coletiva por meio da moral,
do direito e da política.

O Espírito Objetivo realiza-se naquilo que se chama


“mundo da cultura”.
A Fenomenologia do
« Espírito »: o Espírito Absoluto
Enfim, o 3º momento da fenomenologia é chamado de
“Espírito Absoluto”:

Espírito Absoluto (síntese):


trata-se da síntese da oposição
entre espírito subjetivo (interior)
e objetivo (exterior), processo
este que o espírito compreende
como uma total realização de
sua autoconsciência.

A mais alta manifestação do Espírito Absoluto é a “Filosofia”,


saber de todos os saberes, quando o espírito atinge a absoluta
autoconsciência, depois de ter passado pela arte e pela religião.
A Fenomenologia do
« Espírito »
O Espírito Absoluto, portanto, é o mais complexo, porque
ele é a totalidade ou síntese que resulta de todo o
percurso anterior de autoconhecimento do Espírito.

Espírito Espírito Espírito


Subjetivo Objetivo Absoluto
A Fenomenologia do
« Espírito »
Mundo interior e Mundo exterior e
individual (sentimentos coletivo (moral, direito
e emoções) e política)


Espírito Espírito
Subjetivo Objetivo

Espírito
Absoluto
Autoconsciência
interior e exterior
(Filosofia)
A Fenomenologia do
« Espírito »
Ao explicar o movimento gerador da realidade,
Hegel desenvolve uma dialética idealista: a
racionalidade não é mais um modelo a se aplicar,
mas é o próprio tecido do real e do pensamento.

O mundo passa “o real é


ser então a racional e o
manifestação racional é real”
da ideia: (Hegel).

Ou seja, a verdade deixa de ser um fato para ser um


resultado do desenvolvimento do Espírito.
A Fenomenologia do
« Espírito »
A razão nasce, portanto, no
momento em que a
consciência adquire “a
certeza de ser toda a
realidade” por meio das
etapas fenomenológicas da
razão no processo dialético.

É esta uma contribuição fundamental de Hegel: a defesa


de uma concepção processual de tudo o que existe.
O Positivismo:
Comte

Augusto
Comte (1798-
Comte: o Positivismo
A Revolução Industrial no século XVIII,
expressão do poder da burguesia em expansão,
demonstrou a eficácia do novo saber inaugurado
pela ciência moderna no século anterior.

Ciência e técnica tornaram-


se aliadas, provocando
modificações jamais
suspeitadas, que só se
tornaram possíveis com a
Revolução Industrial.
Comte: o Positivismo
A exaltação diante dos novos saberes e formas de
poder levou à concepção do cientificismo, que se
caracteriza pela valorização da ciência.

A Ciência tornou-se o único


conhecimento possível, e o
método das ciências da
natureza passou a ser o único
válido e que deveria, portanto,
ser estendido a todos os
campos de conhecimento e de
atividades humanas.
Comte: o Positivismo
Augusto Comte foi o estudioso que inaugurou o
materialismo na modernidade através do
chamado Positivismo.

A tese central do
positivismo é a seguinte:
só tem validade aquilo que
pode ser experimentado
empiricamente.
Comte: o Positivismo

Em seu livro Curso de


Filosofia Positiva, propôs-
se a examinar como
ocorreu o desenvolvimento
da inteligência humana
desde os primórdios, a fim
de dar as diretrizes de
como seria melhor pensar a
partir do progresso da
ciência.
A lei dos três estados
Segundo Comte, o espírito humano (sociedade), em
seu processo evolutivo, passou por estados
históricos (estágios) diferentes:

Estado Positivo
(Ciência)
Estado Metafísico
(Filosofia)
Estado Teológico
(Mito e Religião)

Desta maneira, as duas primeiras etapas devem ser


superadas e eliminadas.
O Estado “positivo”
Para Comte, o termo “positivo” designa o real em
oposição ao quimérico, a certeza em oposição à
indecisão, o preciso em oposição ao vago.

Portanto, o estado
positivo corresponde à
maturidade do espírito
humano, objetivo de
toda educação daí em
diante.
O Estado “positivo”

“Todos os bons espíritos


repetem, desde Bacon, que
somente são reais os
conhecimentos que repousam
sobre fatos observados. Essa
máxima fundamental é
evidentemente incontestável,
se for aplicada, como
convém, ao estado viril de
nossa inteligência”.

(Augusto COMTE. Curso de Filosofia Positiva)


A classificação das
ciências
O determinismo cientificista do positivismo
desconsiderou as expressões míticas, religiosas e
metafísicas. E à filosofia, que papel lhe foi
reservado?

Segundo Comte, cabe a


filosofia a sistematização
das ciências, ou seja, a
organização dos resultados
mais importantes da física, da
química, da história natural.
A classificação das
ciências
Comte reconhece que a matemática, pela
simplicidade de seu objeto, constitui uma espécie
de instrumento de todas as outras ciências e desde
a Antiguidade já teria atingido o estado positivo.
A classificação das
ciências
Comte elaborou então a classificação das ciências:

Astronomia Física Química Fisiologia Física Social


(Biologia) (Sociologia)

Essa classificação parte da ciência mais simples, geral e afastada do


humano (astronomia) até a mais complexa e concreta (sociologia).
Marx: Materialismo
e Dialética

Karl Marx Friedrich


(1818- Engels
Marx e Engels
Os alemães Karl Marx e Friedrich Engels
escreveram juntos algumas obras e outras
separadamente, mas sempre estiveram um ao lado
do outro por convicções de pensamento e por
amizade.
Marx e Engels

Juntos observaram que o avanço


técnico aumentou o poder humano
sobre a natureza e foi responsável
por riquezas e progresso.

No entanto, por outro lado, e


contraditoriamente, o avanço
técnico também trouxe a
escravização crescente da classe
operária, cada vez mais
empobrecida.
I – Materialismo
Dialético
Materialismo Dialético
Leitores de Hegel, Marx e Engels aproveitaram dele
o conceito de “dialética”.

Porém, Marx e Engels


perceberam que a
teoria hegeliana do
desenvolvimento geral
do espírito humano não
conseguia explicar a
vida social.
Materialismo Dialético
Com isso, dando sequência às críticas de
Feuerbach ao idealismo, Marx e Engels invertem as
teses hegelianas, criando assim as bases do
chamado materialismo dialético:

Marx e Engels ridicularizam


a pretensão de agir com as
ideias e sobre elas, sem
levar em conta também a
situação concreta do
indivíduo (do qual estas
mesmas ideias procedem).
Materialismo Dialético
Erroneamente, Hegel afirma que o mundo
material (instituições políticas e sociais) é a
encarnação da “ideia absoluta”, da “consciência”,
legitimando assim a realidade existente.

Na opinião de Marx
e Engels, isso não é
nada mais do que
pura ideologia.

Figura de Hegel lecionando nas


universidades da Alemanha
Materialismo Dialético
Ao contrário de Hegel, para o materialismo de Marx
e Engels o mundo material é anterior ao
espírito: não é a matéria que derivado espírito,
mas o espírito que deriva da matéria.

“[...] a dialética de Hegel foi


Ou seja, segundo o
colocada com a cabeça para
materialismo, a dialética
cima ou, dizendo melhor,
é um processo cujo
ela , que se tinha apoiado
movimento depende da
exclusivamente sobre sua
própria matéria, e não
cabeça, foi de novo reposta
da consciência (espírito). sobre seus pés” (ENGELS).
Materialismo Dialético
Desta maneira, para Marx e Engels, o modo de
pensar do homem é condicionado pela sua
situação concreta (política, econômica e cultural).

Obra “O Quarto Estado” de Giuseppe Pellizza de Volpedo.


Materialismo Dialético
O homem é impedido de se realizar socialmente não
por causa de representações racionais inadequadas,
mas por condições concretas de vida opressivas.

O que Marx e Engels


querem dizer com isso?
Que não basta teorizar,
se não partimos da vida
concreta.

Logo, o modo de pensar só mudará, quando as


condições opressivas de vida mudarem.
Materialismo Dialético
“Afirmar que o homem
conduz sua vida em
conformidade com o
pensamento, e não
inversamente, é pretender “Assim como não é a
que o mundo caminhe religião que cria o homem,
sobre a cabeça e não mas o homem que cria a
sobre os pés” (Karl Marx). religião, da mesma forma
não é a Constituição que
cria o povo, mas o povo
que cria a Constituição”
(Karl Marx).
Materialismo Dialético
O importante não é interpretar o mundo, mas mudá-lo!

Para o marxismo, o
pensamento que vale
realmente não é o
pensamento puramente
cognitivo e contemplativo,
mas o pensamento que
acompanha a práxis.

Ou seja, é a ação modifica as condições de vida dos


homens e não teorias filosóficas estéreis e distantes da
prática.
II – Materialismo
Histórico
Materialismo histórico
O materialismo histórico é a aplicação dos
princípios do materialismo dialético ao campo da
história.

Como o próprio nome


indica, trata-se da
explicação da história a
partir de fatores
materiais (econômicos,
técnicos).
Materialismo histórico
Normalmente, costuma-se explicar a história pela
ação das grandes figuras (como César, Carlos
Magno, Luís XVI etc.) ou das grandes ideias (como o
helenismo, o cristianismo etc.), ou ainda pela
intervenção divina.

Marx inverte esse


processo: no lugar das
ideias, estão os fatos
materiais; no lugar dos
heróis, a luta de classes.
Materialismo histórico
O marxismo não nega o heroísmo de alguns nem as
ideias, mas explica a realidade a partir da estrutura
material de uma determinada sociedade.

A ideia é algo secundário, não no


sentido de ser menos importante,
mas sim por derivar de condições
materiais, ou seja, as ideias do
direito, da literatura, da filosofia,
das artes ou da moral estão
diretamente ligadas ao modo de
produção econômico.
Materialismo histórico
Noutras palavras, Materialismo histórico é a teoria
segundo a qual a infraestrutura econômica
determina a superestrutura das ideias (políticas,
religiosas e jurídicas).

“Não é a consciência dos homens


que determina seu ser, mas é, ao
contrário, seu ser social que
determina sua consciência. O
modo de produção da vida
material condiciona, em geral, o
processo social, político e
espiritual da vida” (Marx)
Materialismo histórico
Desta maneira, a sociedade está organizada em:

1º) Infra-estrutura econômica:


trata-se do modo de produção da
vida material.

2º) Superestrutura ideológica:


trata-se do processo social, político
e espiritual da vida: direito, moral,
filosofia, arte, religião etc.
Materialismo histórico
Mas, tanto a infra-estrutura como as superestruturas
da sociedade dependem do modo de como os homens
organizam a sua produção de bens, que se acontece
assim:

1º) Forças produtivas:


homens e instrumentos
concretos. MODO DE
PRODUÇÃO
2º) Relações de produção:
DE BENS
formas pelas quais os homens se
organizam para executar a
atividade produtiva.
Materialismo histórico
Com isso, para Marx, a infra-estrutura capitalista
condiciona as superestruturas das ideias porque o
modo de produção é capitalista.

Logo, para transformar a


realidade é preciso trocar o
Modo de Produção
Capitalista pelo Modo de
Produção Socialista.

Mas como? Através da Luta


entre classes, o motor da
realidade.
Luta de classes
No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels
dizem o seguinte:

“A história de toda a sociedade que existiu até o


momento é a história da luta de classes. Livres e
escravos, patrícios e plebeus, barões e servos da
gleba, em suma, opressores e oprimidos,
estiveram continuamente em mútuo contraste e
travaram um luta ininterrupta, ora latente, ora
aberta, luta que sempre acabou com
transformações revolucionárias de toda a
sociedade ou com a ruína comum das classes em
luta” (Marx e Engels).
Luta de classes
Para Marx, a história da sociedade sempre foi
marcada e dinamizada pelas lutas de classes:

Luta entre
Período da
senhores livres SERVIDÃO
ESCRAVIDÃO e escravos

Período da Luta entre


senhores CAPITALISMO
SERVIDÃO
feudais e servos

Período da Luta entre


EXPLORAÇÃO
burguesia e
CAPITALISMO E ALIENAÇÃO
proletariado
Luta de classes
No entanto, o objetivo da teoria de Marx é o
nascimento de uma nova ordem social a partir da
revolução proletária:
Luta entre
Período da
senhores livres SERVIDÃO
ESCRAVIDÃO e escravos

Período da Luta entre


senhores CAPITALISMO
SERVIDÃO
feudais e servos

Período da Luta entre


burguesia e COMUNISMO
CAPITALISMO
proletariado

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