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Métodos e Técnicas para a

Comunicação Não-Violenta

Introdução
1. O que é uma Comunicação Não
Violenta?
Comunicação não violenta (CNV)
“A CNV (Comunicação Não-Violenta) se baseia
em habilidades de linguagem e comunicação
que fortalecem a capacidade de continuarmos
humanos, mesmo em condições adversas. Ela
não tem nada de novo: tudo que foi integrado
à CNV já era conhecido havia séculos. O
objetivo é nos lembrar do que já sabemos – de
Marshall como nós, humanos, deveríamos nos relacionar
Rosenberg uns com os outros – e nos ajudar a viver de
(1934-2015), modo que se manifeste concretamente esse
criador da CNV. conhecimento”.

(ROSENBERG, M. B. Comunicação não-violenta: técnicas


para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São
Paulo: Ágora, 2006, p. 21).
Comunicação não violenta (CNV)
“Enquanto estudava os fatores que afetam nossa
capacidade de nos mantermos compassivos, fiquei
impressionado com o papel crucial da linguagem e do
uso das palavras. Desde então, identifiquei uma
abordagem específica da comunicação – falar e ouvir –
que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos
a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite
que nossa compaixão natural floresça. Denomino essa
abordagem Comunicação Não-Violenta”.

(ROSENBERG, M. B. Comunicação não-violenta:


técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e
profissionais. São Paulo: Ágora, 2006, p. 21).
A natureza dos conflitos

O conflito é algo inerente ao ser humano em


qualquer etapa da vida e seja em qualquer espaço e
cultura que o sujeito esteja inserido.
Nem sempre as coisas “são”
aquilo que parecem
Nem sempre as coisas “são”
aquilo que parecem

Equívocos acontecem!
A natureza dos conflitos

Dependendo da forma como


manifestamos aquilo que nos
incomoda, justamente por não
perceber os sentimentos e
necessidades presentes
naquela circunstância, é
bem provável que a
comunicação seja agressiva.
Proposta da CNV
A CNV nos ajuda a expressar, com mais exatidão e
honestidade, aquilo sentimos no momento da fala,
bem como buscar afinidades entre as nossas
necessidades e as necessidades dos outros, de
forma cooperativa e empática.
Da lógica da dominação para a
lógica do entendimento

A CNV é um processo de
entendimento que propõe
uma mudança de foco:
dos erros próprios e
alheios, para o
reconhecimento das
necessidades de todos.
Objetivos da CNV
“Para a CNV, ‘toda violência é a expressão trágica de uma
necessidade que não está sendo atendida’. Um ato de violência
é quase um pedido de ajuda. A CNV pode ajudar em situações
de conflito e aumentar a colaboração e o apoio mútuos.
Através desta linguagem, pode amenizar grande parte dos
problemas nas relações. Com a CNV, é possível estabelecer
diálogos mais empáticos e autênticos e conduzir conversas com
mais confiança, mesmo em situações difíceis ou desafiadoras.
Com ela, podemos compreender melhor o que acontece com
uma pessoa que manifesta um comportamento agressivo e
aumentamos nossa compaixão, qualidade de nossa escuta,
respeito e empatia”.
(SELIGMANN, P. Comunicação não-violenta: como ela pode
melhorar sua vida e suas relações?)
Metáforas: o “lobo” e a “girafa”

Fonte da imagem: SELIGMANN, P. Comunicação não-violenta: como ela


pode melhorar sua vida e suas relações?
2. Mitos da Comunicação Não
Violenta (CNV)
Mitos da CNV

1) A CNV não é para todos – “não tenho perfil para


ser monge”.

Todos têm perfil para a CNV, independentemente


do temperamento.
Mitos da CNV

2) É um tipo de comunicação que aceita tudo –


“não tenho vocação para ser submisso”.

A CNV promove também negociação – só que de


maneira não violenta.
Mitos da CNV

3) É um tipo de comunicação de “autoajuda” –


“muito sentimental”.

A CNV é um método – e enquanto método é


racional e sistemático. Não promete resultados.
Recusa à CNV:
Argumentos ideológicos para o uso da violência

1) “Se tiver que falar, eu falo mesmo! A verdade


precisa ser dita”.

A verdade é um direito – e pode ser dita de


maneira não violenta.
Recusa à CNV:
Argumentos ideológicos para o uso da violência

2) “Se não for autoritário, ninguém te respeita. A


CNV é para os bonzinhos”.

Errado! O autoritarismo não ganha o respeito, mas


a submissão.
Recusa à CNV:
Argumentos ideológicos para o uso da violência

3) “A CNV não é prática. No dia-a-dia as coisas são


diferentes”.

A CNV é prática sim! O problema é que as pessoas


não têm paciência com algo que seja processual e
realizado por etapas. Somos ansiosos por resultados.
Recusa à CNV:
Argumentos ideológicos para o uso da violência

4) “Não levo desaforo para casa”.

A CNV é empática – e, por ser assim, opta não


gastar energia com uma forma de comunicação que
não cumprirá a sua função.
3. O Paradigma da dominação
O problema da “violência”

Não é novidade notar a presença da violência nas


mais diferentes esferas da sociedade, seja no
âmbito público ou privado.

A onipresença da
violência, sem dúvida,
diz muito sobre a
versatilidade de suas
formas: física,
verbal, psicológica e
simbólica.
A violência como algo “cultural”
A violência, ao contrário do muitos pensam, não é
apenas consequência de um desentendimento
explícito, mas resultado de uma (de)formação
cultural que nos ensina a agressividade como meio
de sobrevivência.
A violência como algo “cultural”
Somos cotidianamente educados para a violência
e para a agressão, como se tais elementos fossem
os únicos mecanismos de integração social e
autoconservação dos indivíduos.
A violência como algo “cultural”
Existe, portanto, uma formação de “personalidades
autoritárias” em ambientes democráticos.
Discursos extremistas estão cada vez mais presentes
nas redes sociais, por exemplo.

“Nunca houve um monumento da


cultura que não fosse também um
monumento da barbárie”.
(BENJAMIN, W. Sobre o conceito de
história. In: ______. Magia e técnica,
arte e política. SP: Brasiliense, 1987,
p. 225).
Violência nas “redes”
Hostilidade internalizada

“O preconceito é o combustível da discriminação, um


perigo potencial que exige tanta atenção quanto a
discriminação por ele determinada. Esta última
(discriminação) pode, até certo ponto, ser controlada
por leis antidiscriminatórias, na medida em que a
discriminação possui materialidade jurídica e é
suscetível a penalidades. Mas que instância política
ou jurídica pode ser acionada para conter a
esfera subjetiva dos preconceitos?”.
CARONE, Iray. Um retorno esclarecido às origens e aos
métodos de The Authoritarian Personality. Jundiaí: Paco
Editorial, 2014, p. 9
Sou autoritário?
Nem todos são autoritários, porém,
na obra “A Personalidade
Autoritária”, Adorno e outros
pesquisadores chegaram à conclusão
de que o caráter autoritário está
potencialmente presente em todos
e em diferentes proporções.

Tese: existem determinados traços da personalidade


– formados socialmente – que possuem uma maior
predisposição em tornar os indivíduos mais sensíveis
às práticas e discursos autoritários.
“A Personalidade Autoritária”
Foi uma pesquisa realizado entre 1945 e 1950, por
um grupo multidisciplinar: sociólogos, filósofos,
economistas políticos, pedagogos, psicólogos, entre
outros.

AUTORES

Theodor Nevitt Daniel Else Frenkel-


Adorno Sanford Levinson Brunswik
Sou autoritário?
Segundo os autores,
possuímos (em maior ou
menor medida) diversas
disposições ou tendências
internas – em sua maioria,
nem sequer notadas – que,
embora não sejam
autoritárias por si
mesmas, contribuem para a
formação de um perfil
autoritário.
Por exemplo:
Convencionalismo: apego rígido a valores
tradicionais, não aberto à sugestões críticas.

Poder e dureza: preocupação em representar o


relacionamento interpessoal a partir da noção de poder e
hierarquia, submissão e dominação.

Estereotipia: generalização de traços hostis a grupos


estranhos, transferindo para a crença de forças externas
aquelas causas que decorrem de si mesmos.

Projetividade: mecanismo de projeção (a outras


pessoas e grupos) daquelas pulsões proibidas e negadas
por si mesmos.
Perfil geral

1) Indivíduos hostis diante daqueles que possuem um


status inferior, porém obedientes às pessoas com
status superior.

2) Pessoas muito rígidas em suas opiniões e crenças,


geralmente apresentadas de maneira simplista.

3) Convencionais: fortemente apegadas aos valores


tradicionais.

4) Etnocêntricos: supervalorizam o seu grupo, em


detrimento do grupo do outro.

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