Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
atuação dos
Assistentes
Sociais nas
Apaes
1
Expediente
Elaboração
Wederson Santos
Capa e diagramação
Rafaela Martins de Souza
2
SUMÁRIO
Apresentação 4
Introdução 7
1. Dimensões profissionais e atuações técnicas: ações, 10
saberes e intervenção na perspectiva de totalidade
2. O trabalho de assistentes sociais nas APAES 18
3. Princípios norteadores 26
4. Diretrizes norteadoras 30
5. Interdisciplinaridade, intersetorialidade e 34
territorialidade: conceitos fundamentais
6. Serviço Social, políticas de Seguridade Social e 42
Educação: relações fundamentais
7. Deficiência, modelo social e avaliação: 46
ressignificando ações
8. Áreas de atuação: estou na APAE, e agora? 58
9. Instrumentais do Serviço Social nas Apaes 85
Considerações finais 94
Referências bibliográficas 95
Apêndice - Orientações e esclarecimentos conceituais e 99
práticos aos gestores das Apaes
3
APRESENTAÇÃO
Uma atuação em áreas de qualquer campo profissional
e em qualquer instituição necessita de alguns pressupostos
básicos. Formação de qualidade, diretrizes técnicas claras e
condições de exercício profissional amparados na legalidade e
em princípios éticos são imprescindíveis. O Serviço Social das
Apaes é um campo profissional essencial para o funcionamento
dessa rede de instituições presente em todo o território nacional,
seja pelo atendimento que presta aos usuários e usuárias com
deficiência e suas famílias, seja pelo papel que desempenha
para o fortalecimento da Rede Apae junto à execução principal-
mente da política de assistência social – atribuição esta anterior
até mesmo à fase constitucionalizada da assistência social en-
quanto direito social.
4
no profissional de milhares de assistentes sociais de nossas ins-
tituições. O primeiro de uma série que se quer aberta e reflexiva,
estes Parâmetros terão o condão de guiar a prática profissional
de milhares de assistentes sociais que cotidianamente se utili-
zam da técnica profissional para conduzir processos de transfor-
mação social amparados na cidadania e na dignidade de pessoas
com deficiência e suas famílias.
5
6
INTRODUÇÃO
As pessoas com defici- der do momento histórico e de
ência se constituíram enquanto suas mobilizações, envidaram
sujeitos políticos de direitos há e envidam esforços no senti-
pouco mais de três décadas no do de romper com as práticas
Brasil. Antes da Constituição assistencialistas, buscando a
Federal de 1988, foram raras inclusão social, participando
as legislações que afirmavam dos processos da construção
direitos a essa parcela da po- de novos direitos e de políticas
pulação (FIGUEIRA, 2008). Con- públicas universais.
sequentemente, o modelo de
atenção a essas pessoas e a Nesse contexto, hoje
suas necessidades oscilava: 1. contando com 2.157 unidades
entre práticas clientelistas, par- em todo o país, o trabalho de
tindo de cidadãos e da socie- assistentes sociais nestas uni-
dade subalternizando sujeitos dades desde os primórdios da
sem considerar o exercício de instituição acompanhou, de
suas liberdades; 2. instituições um lado, o próprio conteúdo
filantrópicas, cujo foco situava- formativo da categoria profis-
-se nas dimensões individuais sional do Serviço Social e, por
com forte orientação de cunho outro, o ethos institucional das
moral e 3. instituições e asso- Apaes, com seus respectivos
ciações sociais que, apesar valores, que informava práticas
de caritativas, até conseguiam e orientava diretrizes específi-
ampliar o alcance de suas prá- cas de acordo com cada tem-
ticas exatamente em função po histórico. Para refletir sobre
do vazio de cobertura de ações uma genealogia da atuação de
públicas de responsabilidade assistentes sociais nas Apaes
estatal até então. Nos últimos – não apenas do ponto de vis-
sessenta anos, as unidades de ta técnico e operacional, mas
atendimento das Associações também ético, teórico e me-
de Pais e Amigos dos Excepcio- todológico – é imprescindível
nais (Apaes), surgida em 1954 conceber as condições concre-
no Rio de Janeiro, e a depen- tas da atuação em cada con-
7
texto, independente do espaço sidiar profissionais no exercício
sócio ocupacional (MONTAÑO, de suas atribuições no Serviço
2006) e, ademais, não somente Social das unidades das Apaes
realizar uma análise retrospec- de todo o país, especialmente
tiva para apontar lacunas e in- no cumprimento das normas
completudes históricas. internas institucionais em sua
vinculação com as políticas de
Esse pressuposto, ali- assistência social, saúde, edu-
nhado à perspectiva históri- cação, de Atenção Integral e
co-crítica, deve orientar con- Integrada da Rede Apae Brasil,
siderações sobre práticas dentre outras, e orientadas pela
contemporâneas de atuação de ética profissional, atribuições
assistentes sociais nas Apaes. privativas e competências pro-
É certo que uma atuação pro- fissionais atinentes ao campo.
fissional precisa ser concebida Estes parâmetros buscam re-
em sua vinculação intra, mas fletir sobre os procedimentos
também extra institucional. Se- técnicos, bem como suas atri-
gundo Vicente Faleiros (1987), buições nas diferentes áreas
o Serviço Social nasceu depen- de atuação dos assistentes so-
dente de fatores que guardam ciais na Rede Apae. É resultado
relação com o surgimento do da pesquisa “Deficiência, Ser-
capitalismo, com o desenvol- viço Social e Políticas Sociais:
vimento das relações sociais da Avaliação às Intervenções
e das forças produtivas, bem Setoriais”, uma parceria entre a
como do desenvolvimento das Federação Nacional das Apaes
técnicas e da ciência. Por sua e a Faculdade de Ciências da
vez, profissionais assistentes Saúde (FACISA) de Unaí (MG)1.
sociais são vistos como atores
sociais coletivos, determinados Em uma das fases da
historicamente e inseridos em pesquisa, um questionário foi
determinada conjuntura. respondido por 1.179 assisten-
tes sociais2, de um total apro-
O presente documen- 1 A pesquisa teve início em setembro de 2020
to intitulado Parâmetros para e sua previsão de término é dezembro de 2023.
2 O questionário foi aplicado pela Federação Na-
atuação de Assistentes Sociais cional das Apaes por meio de formulário Google
nas Apaes têm por objetivo sub- Forms enviado a todas as filiadas e direcionado
aos profissionais assistentes sociais, entre 05
8
ximado de 1.800 profissionais das Apaes. Por parâmetros bá-
atuantes nas Apaes em todo o sicos compreende-se uma pro-
país. O objetivo do questionário posta seminal, cujo desdobra-
era traçar um retrato detalhado mento precisa ganhar o terreno
do perfil de atuação de assis- da prática cotidiana daqueles
tentes sociais na rede, bem assistentes sociais nas unida-
como oferecer uma análise des, na configuração de sentido
crítica dos pontos levantados que lhes cabe na concretude
nesta atuação técnica. A análi- do fazer profissional. São aber-
se das respostas obtidas com tos pois guarda uma caracte-
este questionário e a realiza- rística estrutural de sempre se
ção de um grupo de trabalho submeter ao escrutínio de pro-
sobre a política de assistência fissionais que atuam na ponta,
social na rede Apae ao longo em um constante processo de
de 20213 subsidiaram a pro- aperfeiçoamento das diretrizes
posta do texto que se segue. aqui organizadas e apresenta-
das, mas nunca fechadas e en-
O documento que ora é cerradas em si. E reflexivos com
apresentado visa oferecer pa- o objetivo de atingir a práxis
râmetros básicos, abertos e necessária para o contínuo pro-
reflexivos para a atuação de as- cesso de reflexão, mediação e
sistentes sociais nas unidades mudança no fazer profissional,
descolado de uma perspectiva
de agosto de 2021 e 08 de setembro de 2021.
3 O grupo de trabalho e revisão técnica contou manualista ou receituária, mas
com a colaboração dos profissionais que com- vinculando-se a um fazer que
põe a Rede Apae das cinco regiões do Brasil: Er-
nestina Cintra, Marcia de Carvalho Rocha, Ana objetiva a autonomia de usuá-
Carolina da Silva Salomão, Camila Pereira Vaz rios e usuárias motor e motivo
Santos, Laura Valle Gontijo, com a coordenação
de Ivone Maggioni Fiore. de ser do Serviço Social.
9
1. Dimensões profissionais e atu-
ações técnicas: ações, saberes e
intervenção na perspectiva de
totalidade
No fazer profissional de da justiça social ao atuar na re-
assistentes sociais, as atua- alidade concreta dos sujeitos
ções técnicas estão relaciona- de direitos. No entanto, para se
das ao cotidiano de enfrenta- chegar a essa concepção, em
mento das manifestações da momento anterior às interven-
questão social, por meio de ções, são os acolhimentos, as
projetos de intervenção especí- entrevistas sociais, avaliações,
ficos, ações profissionais e de perícias, planos de acompa-
execução de políticas sociais, nhamento, caracterizações so-
fazendo-as alcançar a mate- cioeconômicas de situações
rialidade da vida de cidadãos específicas que direcionam a
e cidadãs (CFESS, 2009). É intervenção do Serviço Social
possível afirmar que o Serviço (CFESS, 2009). Apesar de for-
Social promove o alargamento necer a concretude do fazer
profissional, estas dimensões
necessitam se ancorar não
só no domínio dos instrumen-
tos técnico-operativos, mas,
sobretudo, se orientar pelas
dimensões ético-políticas
e teórico-metodológicas
da profissão (IAMAMOTO,
1998), para não cair em re-
ducionismos.
10
técnico-operativo é apenas tos Faleiros (1987) e Iamamo-
parte das competências téc- to (1998).
nicas necessárias. De nada
resolve a correta utilização Não é um movimento
de certo instrumento se esta simples o processo técnico-re-
abordagem estiver descolada flexivo que parte da recupera-
dos aspectos teórico-metodo- ção do aparente apresentado
lógicos e ético-políticos que pelas pessoas com deficiên-
guiam o fazer profissional do cia e suas famílias atendidas
Serviço Social (CFESS, 2009; em uma unidade da Apae, por
IAMAMOTO, 1998). Por exem- exemplo, no momento inicial
plo, mesmo reconhecendo a em uma entrevista social, até a
abordagem contemporânea do apreensão pelo profissional da
conceito de deficiência oriun- essência das manifestações
da do modelo social (DINIZ, da questão social, na vincula-
2007), se assistentes sociais ção com a totalidade daquela
das Apaes não relacionarem realidade vivenciada pelas pes-
tal conceito às particularida- soas para intervir sobre ela. O
des vivenciadas pelas pessoas próprio Karl Marx afirmou que
como consequências da ques- se houvesse coincidência do
tão social, a nova concepção nível fenomênico com o nível
perde aplicabilidade para o Ser- da essencialidade das coisas,
viço Social, o que pode reiterar qualquer forma de conheci-
práticas funcionalistas – razão mento técnico-científico seria
instrumental – e não na pers- dispensável (MARX, 1973). Se-
pectiva da instrumentalidade gundo Yolanda Guerra (2010),
dialética (GUERRA, 2010). Por a instrumentalidade no exercí-
outro lado, abrir mão dos ins- cio profissional refere-se, não
trumentos técnico-operativos, ao conjunto de instrumentos
leva a uma atuação assisten- e técnicas, mas diz respeito a
cialista ou messiânica, o que uma determinada capacidade
descaracteriza a perspectiva ou propriedade constitutiva da
da política social como um di- profissão, construída e recons-
reito e do Serviço Social como truída no processo sócio-histó-
técnica científica, como já aler- rico com abordagem dialética
tavam em diferentes momen- da realidade.
11
Inicia-se com a imediati- profissional por meio da certe-
cidade, como categoria reflexiva za sensível. Após esse primeiro
para designar o modo como cer- movimento, o profissional bus-
to nível de percepção do mun- ca a percepção, em que o as-
do exterior é apreendido pela sistente social conhece as pro-
consciência, para se chegar a priedades do que está sendo
totalidade (COELHO, 2013). apreendido. Na terceira fase, no
Desse modo, é a instrumenta- entendimento, o profissional re-
lidade profissional do Serviço laciona as propriedades umas
Social que permite partir da ime- às outras daquilo que está sen-
diaticidade e aparência de um do percebido. Na quarta e últi-
fenômeno para alcançar seus ma fase, na razão dialética, o
determinantes essenciais. Da profissional consegue decodifi-
imediaticidade à apreensão da car as reflexões para relacioná-
totalidade na perspectiva dialé- -las à totalidade das determina-
tica, há quatro fases (COELHO, ções do fenômeno analisado e
2013). Segunda Marilene Coe- volta-se ao que foi apreendido
lho (2013), primeiro, a imediati- na percepção para reformular
cidade precisa ser sentida pelo finalmente a compreensão e
12
Fonte: elaboração própria com base em Marilene Coelho (2013).
pensar as ações profissionais compreensão crítica da reali-
de intervenção. Nessas dade e capacidade de identifi-
quatro fases estabelecidas por cação das condições materiais
Coelho (2013), é importante a de vida das pessoas atendidas;
articulação constante das di- 2. identificação das respostas
mensões ético-políticas e teó- existentes no âmbito do Esta-
rico-metodológicas aos instru- do e da sociedade com ações
mentos técnico-operativos no profissionais que alcancem a
exercício profissional. vida das pessoas em suas ne-
cessidades que expressões da
Ao reconhecer as expres- questão social e 3. ao mesmo
sões da questão social como tempo em que reconhece e for-
objeto de intervenção profis- talece espaços e formas de luta
sional, demanda-se uma atua- e organização de trabalhadores
ção profissional em uma pers- e trabalhadoras e suas famí-
pectiva totalizante, baseada na lias em defesa de seus direi-
identificação dos múltiplos de- tos, para modificar a realidade
terminantes socioeconômicos e fazer uso de estratégias de
das desigualdades sociais. A mobilização e pressão sobre o
intervenção orientada por esta Estado, com vistas a garantia e
perspectiva crítica pressupõe ampliação dos direitos sociais.
a incorporação, por profissio-
nais assistentes sociais, de As Apaes atuam princi-
um papel que correlacione: 1. palmente no atendimento de
13
pessoas com deficiência inte- internacional que reconhece a
lectual, múltipla e suas famí- deficiência para além de limi-
lias. O Censo demográfico bra- tações corporais, mas, princi-
sileiro publicado em 2010 pelo palmente como interação com
Instituto Brasileiro de Geografia ambientes específicos e como
e Estatística (IBGE) trouxe ino- tais pessoas a partir dessas in-
vações sobre o modo de recu- terações desempenham ou não
peração de informações sobre algumas atividades, o Censo de
as pessoas com deficiência. 2010 inovou.
Com diferenciações a respeito
de graus de dificuldade para o Abaixo, estão apresen-
desempenho da função especí- tados, por regiões do país, os
fica ligada à visão, audição, fun- tipos de deficiência agrupados
ção física/motora e mental/in- em somatórios daquelas pes-
telectual, o Censo, pela primeira soas com dificuldades comple-
vez, permitiu adicionar cama- tas ou com grandes dificulda-
das à experiência da deficiên- des para a função específica
cia, o que é importante para pla- relacionada às quatro catego-
nejamento de ações públicas rias principais da deficiência:
condizentes com a realidade É importante observar
de cada parcela da população uma concentração das defi-
com variedades corporais dis- ciências na região Sudeste, a
tintas. Na esteira de um debate mais populosa do país, e na
SUL 27.386.891 861.962 1,6% 330.426 0,6% 676.369 1,2% 378.124 0.7%
CENTRO- 14.058.094 441.914 0,8% 141.201 0,2% 269.851 0,5% 169.743 0,3%
OESTE
14
região Nordeste, a mais pobre. lidades que são diversas vin-
A deficiência visual e a defici- culadas às particularidades
ência física/motora são, nessa das pessoas com deficiência
ordem, as mais predominantes e suas famílias, no entanto, as
no país, independente das regi- determinações dos contextos
ões. Chama a atenção que na particulares são perpassadas
região Nordeste, a deficiência pela totalidade das relações
física/motora é a mais preva- sociais que produzem singu-
lente, chegando a representar laridades com relação à expe-
4% da população total do Brasil, riência da deficiência em cada
concentrando mais da metade caso. Levantamentos censitá-
das pessoas do país com essa rios e pesquisas de abrangên-
deficiência, o que pode ser ex- cia nacional sobre a realidade
plicado por condições precá- das pessoas com deficiência
rias de saúde e demais políticas são os principais instrumentos
públicas, como de saneamento para acessar primeiramente in-
básico. Além disso, chama a formações e produzir entendi-
atenção na região Sudeste a mentos sobre a realidade das
alta prevalência de deficiência pessoas com deficiência antes
intelectual/mental, totalizando de formular ações profissio-
quase 2% da população total nais e projetos interventivos:
do país, convertendo-se em de- Censo populacional do IBGE
safiante tarefa para os poderes Pesquisa do IBGE sobre dados
públicos e sociedade no tocan- de municípios
te a garantia dos direitos dessa
população, principalmente liga-
dos à saúde, educação e assis-
tência social.
15
Pesquisa Nacional por Amos-
tra de Domicílios (PNAD)
Pesquisa Nacional de Saúde
(PNS)
Censo SUAS sobre dados de
equipamentos públicos da
assistência social
Censo educacional do Minis-
tério da Educação
Relação Anual de Informa-
ções Sociais (RAIS), do Minis-
tério do Trabalho
Cadastro-Único do governo
federal
Planos municipais de saúde,
educação e assistência so-
cial e seus respectivos diag-
nósticos.
Não são as únicas,
mas estas representam as
16
17
2. O trabalho de assistentes
sociais nas Apaes
Contemporaneamente, o mero atendimento de deman-
as Apaes trabalham em con- das individuais e pontuais, até
formidade com as políticas de a mobilização e fortalecimento
assistência social, saúde, edu- de coletivos na busca de defe-
cação, entre outras, voltadas sa de direitos e ampliação da
para o atendimento das pes- cidadania ao visar mudanças
soas com deficiência e suas mais estruturais na sociedade.
famílias, principalmente as
pessoas com deficiência inte- Nesse contexto, a atu-
lectual e múltipla. Esta confor- ação de assistentes sociais
midade tem a ver com o conte- nas unidades das Apaes ganha
údo de cada política (objetivos espaço e sentido na relação
e atribuições), mas também entre profissional e usuário e
com seu arcabouço legal (leis, usuária na busca por ações
decretos, portarias, políticas que materializam direitos so-
nacionais) que as dão susten- ciais às pessoas com deficiên-
tação normativa e institucional cia e suas famílias, visando a
às políticas públicas e aos di- inclusão na comunidade a que
reitos a ela atinentes. se vinculam, ao promover uma
participação na sociedade em
Enquanto instituição so- igualdade de condições com
cial que oferta serviços, princi- as demais pessoas. De acordo
palmente na área de assistên- com levantamentos internos,
cia social, saúde e educação, as unidades das Apaes de todo
as Apaes atuam no atendimen- o país contam no ano de 2022
to de pessoas com deficiência com aproximadamente 1.800
intelectual e múltipla e suas assistentes sociais.
famílias desde a promoção e
defesa dos direitos e no fortale-
cimento de vínculos familiares,
como atribuição que ultrapassa
18
2.1 Ações profissionais são delimitações conceituais
e metodológicas importantes
O trinômio garantia e de- para orientar e, ao mesmo tem-
fesa de direitos/trabalho com po, organizar as atuações de
as famílias/promoção da par- assistentes sociais vinculando-
ticipação social são três ações -as à instrumentalidade técnica
profissionais que guiam o nos- do Serviço Social no contexto
so fazer profissional nas Apaes específico das Apaes.
e tornaram-se o diferencial fren-
te às atuações em outros con- O trabalho de assistentes
textos históricos na instituição. sociais nas Apaes orienta-se: a)
Ações profissionais são ins- pelo Projeto Ético-Político do
tâncias que aglutinam o saber Serviço Social, materializado a
técnico do Serviço Social, por partir do Código de Ética do/a
exemplo nas Apaes, na busca Assistente Social de 1993, pela
por respostas a demandas e ne- Lei 8.662, de 1993, que regula-
cessidades específicas. É uma menta a profissão e pelas dire-
interseção entre demandas ins- trizes curriculares do Serviço
titucionais, de usuários e atri- Social da Associação Brasilei-
buições profissionais (COUTO, ra de Ensino, Pesquisa e Pós-
2009). Nesse sentido, diferen- -Graduação em Serviço Social
cia-se de atuação profissional (ABEPSS) e b) pela instrumenta-
por esta nomenclatura ter uma lidade técnica do Serviço Social
acepção mais genérica. que articula as dimensões éti-
co-políticas e teórico-metodoló-
São ações que, embo- gicas às técnico-operativas.
ra tenham características co-
muns, possuem também ca-
racterísticas específicas que as
diferenciam umas das outras,
podendo estar interligadas no
cotidiano profissional. Elas se
desdobram em atuações, atri-
buições e instrumentos técnico-
-operativos ligados às áreas de
ações específicas. No entanto,
19
AÇÕES
ÁREAS DE ATUAÇÃO
PROFISSIONAIS
Garantia e defesa
de direitos Assistência Avaliação da
social deficiência
Trabalho com
famílias Saúde Gestão e
elaboração
Promoção da Educação de projetos
participação
social
ATRIBUIÇÕES TÉCNICAS
20
PRINCIPAIS INSTRUMENTOS
TÉCNICO-OPERATIVOS
• Acolhimento • Acompanhamento
21
IV - Orientar indivíduos e grupos entidades.
de diferentes segmentos sociais X - Realizar levantamentos e
no sentido de identificar recur- estudos sócio-socioterritoriais,
sos e de fazer uso dos mesmos com base em dados oficiais ou
no atendimento e na defesa de coletados no território, levantan-
seus direitos; do fragilidades e potencialidade
V - Planejar, organizar e adminis- dos territórios em relação a de-
trar Serviços Sociais de âmbito ficiência.
das Apaes;
VI - Planejar, executar e avaliar Na atribuição de assis-
pesquisas que possam contri- tentes sociais das Apaes, as
buir para a análise da realidade intervenções ocorrerão princi-
social e para subsidiar ações palmente no atendimento às
profissionais das unidades das demandas socioassistenciais,
Apaes; a fim de promover os direitos
sociais das pessoas com de-
VII - Prestar assessoria e apoio
ficiência já estabelecidos, ao
aos movimentos sociais de pes-
garanti-los, concretizá-los e
soas com deficiência, em parce-
ampliá-los, como por exemplo,
ria com as Apaes, em matéria
nas informações e orientações
relacionada às políticas sociais,
sobre o Benefício de Prestação
no exercício e na defesa dos di-
Continuada (BPC) da assis-
reitos civis, políticos e sociais
tência social, nas isenções de
da coletividade;
impostos, benefícios de mobi-
VIII - Planejamento, organização lidade no transporte público,
e administração das ações do acesso aos serviços, políticas
Serviço Social das unidades das e insumos de saúde na esfera
Apaes; municipal, estadual ou federal,
IX – Realizar levantamento e na inclusão no mundo do traba-
estudos sócio-econômicos, pla- lho, dentre várias outras, inclu-
nejar o acompanhamento, com sive aquelas da educação e da
usuários e usuárias para fins de política de assistência social.
serviços sociais junto a institui-
ção e demais órgãos da admi- Para tanto, a articulação
nistração pública direta e indire- das demandas que chegam,
ta, empresas privadas e outras na grande maioria das vezes
22
primeiramente para o Serviço buições, concebê-las nessas
Social, junto a outros setores, fases pode ajudar a planejar as
serviços, programas e projetos ações, organizar fluxos, distri-
da instituição é fundamental. buir tarefas, potencializar perfis
Além disso, assistentes sociais e esforços no desempenho do
atuam em denúncias de possí- fazer profissional.
veis situações de negligência,
maus tratos, violência e viola- Documentos principais
ção de direitos das pessoas necessários para orientar as
com deficiência, o que deman- atribuições de assistentes so-
da articulação com outros ór- ciais nas Apaes na relação com
gãos e instituições do território direitos sociais:
da unidade. Articulando e mo-
vimentando além da Rede de Constituição Federal de 1988
Proteção, também o Sistema Convenção sobre os Direitos
de Garantia de Direitos. das Pessoas com Deficiência
Lei Brasileira de Inclusão das
É importante pensar que Pessoas com Deficiência (Lei
a atuação de assistentes so- 13.146/2015)
ciais nas Apaes pode ser conce-
Estatuto da Criança e do Ado-
bida em três principais fases: 1.
lescente
na de acolhida, triagem ou ava-
liação, 2. nas intervenções com Estatuto da Juventude
as pessoas com deficiência e Estatuto da Pessoa Idosa
suas famílias, ainda que articu- Lei Maria da Penha
ladas com outros profissionais
Política Nacional de Assistên-
e setores intra e extra institucio-
cia Social
nais e 3. no acompanhamento e
reavaliação dos casos. Lei 8.742, Lei Orgânica da As-
sistência Social, de 1991, atua-
Por mais que o cotidiano lizada pela Lei 12.435, de 2011,
e a sobreposição de demandas que reorganiza o Sistema Úni-
possam dificultar a distribui- co de Assistência Social
ção das tarefas e, consequen- Lei 9.394 de 1996, Lei de Di-
temente, com impactos para retrizes e Bases da Educação
pensar a organização das atri-
23
Lei 8.213, de 1991, sobre pre-
vidência e cotas no mercado
de trabalho
Resolução CNAS nº 109/2009
Resolução CNAS nº 27/2011
Resolução CNAS nº 33/2011
Resolução CNAS nº34/2011
Resolução CNAS nº14/2014
Resolução CNAS nº 17/2011
Resolução CNAS nº09/2014
Nota Técnica nº 02/2017
DRSP/SNAS/MDS
Nota Técnica nº 10/2018
DRSP/SNAS/MDS
Lei Complementar 187/2021
Política Nacional de Atenção
Integral e Integrada da Rede
Apae
Estatuto Social das APAES
Decálogo dos Direitos socioa-
ssistenciais
Documentos Norteadores da
Assistência Social na Rede
APAE
24
25
3. Princípios norteadores
Tendo em vista o dispos- bilidade de articulação intra e
to acima e com base nas legis- extra institucional para buscar
lações por último citadas, o per- alternativas de propostas inter-
fil de assistentes sociais para ventivas, criativas e participa-
atuarem nas unidades das Apa- tivas para os casos atendidos,
es deve afastar-se das aborda- reconhecendo que não há recei-
gens tradicionais funcionalistas tuário manualista previamente
e pragmáticas, que reforçam as pronto para se colocar em práti-
práticas conservadoras que tra- ca no fazer profissional.
tam as situações sociais como
problemas pessoais que devem Tais exigências somente
ser resolvidos individualmente, são possíveis quando se par-
além de possuir e praticar a ha- te de princípios basilares que
orientam o fazer profis-
sional e que subsidiam
assistentes sociais na
operação da instrumenta-
lidade técnica do Serviço
Social junto às demandas
atendidas. Estes princí-
pios estão dispostos no
Código de Ética Profissio-
nal, bem como na Lei de
Regulamentação e tam-
bém em alguns marcos
normativos representati-
vos dos direitos, públicos
e temáticas atendidas
nas unidades das Apaes.
Abaixo seguem alguns
princípios, embora a lista
não se pretenda definitiva
ou exclusiva:
26
Defesa da liberdade, autono-
mia e plena expansão dos in-
divíduos sociais
Defesa da dignidade humana
Defesa dos direitos humanos
Atuação para ampliação da
cidadania
Defesa da plena e efetiva par-
ticipação e inclusão na socie-
dade de todas as pessoas
Defesa e fortalecimento da
democracia
Defesa da justiça social
Combate a todas as formas
de discriminação Defesa e prática da interseto-
Respeito ao pluralismo de rialidade na intervenção pro-
ideias fissional
27
Defesa do território como tiva eliminação de barreiras
instância de poder e de po- Combate à desigualdade
tencialidades de gênero, em especial que
Reconhecimento da nature- atingem mulheres e meni-
za contraditória das políticas nas com deficiência
sociais em um Estado capita- Respeito pelo desenvolvi-
lista, mas que afirma e amplia mento em suas singularida-
direitos de cidadania; des nos diferentes ciclos de
Defesa da atuação com foco vida (criança, adolescente,
na articulação em rede jovem, adulto, idoso)
Defesa intransigente da par-
Defesa da participação de- ticipação das pessoas com
mocrática e responsável na deficiência em todos os
gestão e decisões institucio- espaços de decisão sobre
nais seus direitos
Defesa da perspectiva biopsi- Defesa do protagonismo e
cossocial como determinante desenvolvimento de poten-
em condições de saúde cialidades da pessoa com
Defesa da deficiência como deficiência.
resultado de processos so-
ciais e não de diagnósticos
Reconhecimento de que são
as barreiras que impedem
a participação das pessoas
na sociedade e não sua di-
versidade corporal, sensorial,
mental ou intelectual
Defesa intransigente da aces-
sibilidade em todas as suas
formas
30
mia e ao seu direito a benefí- Práticas que levem em con-
cios e serviços de qualida- sideração a compreensão
de, bem como à convivência da ambivalência de que
familiar e comunitária, apesar da deficiência ser
vedando-se qualquer com- expressão da diversidade
provação vexatória de ne- humana, ela se transforma
cessidade; em desigualdade social em
contextos cujos arranjos so-
Intervenções que busquem ciais não tratam com equi-
alcançar a igualdade de dade as demandas dessas
direitos no acesso ao aten- pessoas, impondo a elas
dimento, sem discriminação barreiras incapacitantes e
de qualquer natureza, garan- discriminatórias;
tindo-se equivalência às po-
pulações urbanas e rurais; Ações que envolvam ativa-
mente as pessoas com defi-
Ações de ampla divulgação ciência no processo de ela-
dos benefícios, serviços, boração das ações profis-
programas, projetos e sionais e institucionais des-
demais políticas e direitos, tinadas a elas, bem como no
bem como dos recursos processo de decisão que
oferecidos pelo Poder Públi- envolvam quaisquer políti-
co e dos critérios para sua cas e direitos das pessoas
concessão às pessoas com com deficiência em âmbito
deficiência e suas famílias; local, regional ou nacional;
31
atendimento às necessida- controle social e construção
des básicas e acesso aos de estratégias para fomentar
direitos, bens e equipamen- a participação, reivindicação
tos públicos, eliminação de e defesa dos direitos de usu-
barreiras com vistas à am- ários e usuárias em Conse-
pliação do acesso dos indi- lhos, Conferências e Fóruns
víduos e da coletividade aos da Assistência Social e de
direitos sociais; outras políticas públicas;
32
33
5. Interdisciplinaridade, interse-
torialidade e territorialidade:
conceitos fundamentais
A libertação da deficiên- sicos, mentais, intelectuais ou
cia de um lugar subalternizado sensoriais. Essa inferiorização
a ela destinado depende, dentre é resultado do que Jean-Jac-
outros fatores, da interdiscipli- ques Courtine (2006) afirmou
naridade para compreendê-la. A para o século XX de que ele re-
história da deficiência no mun- presentou um teatro ambíguo
do e no Brasil é demarcada pelo para a deficiência: ao retirar os
lugar inferiorizado que ocupa- corpos das explicações místi-
ram (e ainda ocupam) as pes- cas, a constituição da individu-
soas que apresentam em seus alidade das pessoas com defi-
corpos comprometimentos fí- ciência ocorreu pela sua lenta
34
inclusão na comunidade, na nizado do cidadão fez reafirmar
medida em que se deu a liber- em um espelho invertido para a
tação da ideia do corpo defei- sociedade não só o corpo sau-
tuoso e extraordinário que, por dável e normal; confirmou por
quase dois séculos, a medicina um longo período a autoridade
ajudou a explicar e a subalter- do próprio saber médico como
nizar. Atualmente, as pessoas um campo de saber/poder em
com deficiência requerem sua sua promessa disciplinar de
identidade e dignidade ligadas cura, correção e reabilitação do
a seus corpos pela experiência corpo deficiente.
de vidas ordinárias, desde que
não estejam em desigualdade Foi para se contrapor a
de participação na sociedade essa hegemonia da medicina –
com as demais pessoas. que, por mais de dois séculos
explicou e simulou a cura do
O saber médico foi res- corpo com deficiência – que um
ponsável por aquela transição movimento político e acadêmi-
assinalada por Courtine, mas co se ergueu no final dos anos
não sem antes deixar sua mar- 1970 (BARNES et. al, 2002; DI-
ca indelével do corpo com de- NIZ, 2007). O modelo social foi
ficiência como corpo anormal. responsável por retirar o corpo
O corpo defeituoso ou mons- deficiente da subalternização
truoso dos séculos XVII e XVIII, produzida pela medicina e co-
o anormal dos séculos XIX e locá-lo na regularidade da vida
XX, “questiona a vida no poder com diversidade, deslocando
que ela tem de nos ensinar a para os arranjos sociais o im-
ordem” (CANGUILHEM, 1995). perativo de tratar com equida-
O corpo anormal, deficiente do de as demandas das pessoas
século XX, é o ser vivo de va- com deficiência.
lor negativo. É a anormalidade
e não a morte que constitui o A deficiência passa a ser
contravalor vital. O corpo anor- uma construção social a partir
mal, aquele com deficiência, é de imposições restritivas aos
sempre a exceção que confirma comprometimentos corporais
a regra (COURTINE, 2006). Mas que singularizam os indivíduos
a anormalidade do corpo urba- e também os conectam à hu-
35
manidade. E toda a sociedade atitude ante a formação e co-
passa a ser responsável por nhecimento, que se evidencia
não deixar essa singularidade no reconhecimento das com-
se transformar em fundamen- petências, atribuições, habili-
tos ilegítimos para tratamento dades, possibilidades e limites
desigual, injusto e discriminató- das disciplinas, dos sujeitos,
rio às pessoas que experimen- do reconhecimento da neces-
tam a deficiência. sidade de diálogo profissional
e cooperação que transcenda
A atuação interdiscipli- abordagens reducionistas.
nar pressupõe uma prática éti-
co-político no fazer profissional Se o uso hegemônico
que dialogue sobre pontos de do saber médico foi responsá-
vista diferentes, conectados vel por subalternizar os corpos
por objetivos comuns. No caso com deficiência durante todo o
da deficiência, é para ques- século XIX e XX, reduzindo-os à
tionar moralidades sobretudo anormalidade, é a interdiscipli-
aquelas que, partindo do orde- naridade que se liga ao poten-
namento capitalista, produzem cial de produzir intervenções
valores e normas aos corpos profissionais pautadas no ob-
com deficiência para assim jetivo de promover autonomia
produzir confrontos de diferen- das pessoas com deficiência.
tes abordagens, visando toma- Isso só é possível se a prática
da de decisões que na constru- interdisciplinar compreender
ção de alternativas coletivas que a interposição de barrei-
possam enfrentar problemas ras às pessoas com deficiência
experimentados pelas pessoas é fruto do processo de cons-
com deficiência. Ações estas tituição dessa sociedade tal
pautadas nos princípios e valo- como ela é. A desigualdade
res estabelecidos nos Códigos de participação na sociedade
de Ética Profissionais daque- entre pessoas com deficiência
las categorias envolvidas nas e sem deficiência é o inverso
ações. A interdisciplinaridade da sociedade produtivista. A
que surge nos processos de sociedade capitalista só se es-
trabalho institucionais ou que truturou nos termos em que a
serão buscados, demanda uma conhecemos porque tratou os
36
corpos deficientes como cor- Diante disso, a interdis-
pos abjetos e inaceitáveis que ciplinaridade passa a ser uma
descumpriram expectativas exigência precípua em qualquer
sociais, morais e econômicas atuação voltada para a garantia
sobre corpos hábeis ao regime dos direitos das pessoas com
capitalista. Quando se atua na deficiência e suas famílias. É ela
garantia de direitos sociais às que é capaz de orientar ações
pessoas com deficiência, a in- profissionais capazes de supe-
terdisciplinaridade é condição rar o reducionismo na atenção
de possibilidade para criar tra- às pessoas com deficiência que
jetórias de autonomia a essas durante tanto tempo o saber
pessoas pela garantia dos di- médico produziu. No entanto,
reitos humanos, pois se liga à o que é interdisciplinaridade?
perspectiva de dignidade hu- Como concebê-la e articulá-la
mana e não ao valor da produti- nas ações profissionais no inte-
vidade capitalista. rior das unidades das Apaes?
37
A interdisciplinaridade
sugere, pois, uma relação de
reciprocidade entre saberes dis-
tintos com suas contradições
específicas e inerentes, tendo
Para Edgar Morin (2003), em vista a recomposição da uni-
é preciso cada vez mais subs- dade segmentada do conheci-
tituir um pensamento que isola mento, que, na realidade, não é
por um que distingue e una. É compartimentalizado, a fim de
urgente substituir um pensa- atingir a totalidade (PEREIRA,
mento disjuntivo e redutor por 2014). Além disso, na interdisci-
um complexo, e complexus, plinaridade, os saberes se inter-
alerta o intelectual francês, no penetram a fim de modificar e
seu sentido etimológico daquilo enriquecer as práticas profissio-
que é tecido junto. Ao discorrer nais. A prática interdisciplinar
tem sido exigida para sedimen-
que é preciso examinar os fenô-
tar a compreensão de que, an-
menos multidimensionais, em
tes de ser demarcadora de iden-
vez de isolar cada uma de suas tidades reduzidas aos corpos, a
dimensões, Morin descreve a deficiência é uma relação social
interdisciplinaridade como a fa- (SANTOS, 2016). A multiprofis-
ísca surgida do encontro entre sionalidade (soma de distintos
duas espadas que se tocam. A saberes atuando concomitante-
faísca (novo saber interdiscipli- mente ou em momentos sepa-
nar) não existiria se não fosse rados), atenderia às exigências
o encontro das duas (saberes da perspectiva biopsicossocial.
isolados) em movimento. Por Mas é a postura interdisciplinar
sua vez, a faísca mesma não se que oferece subsídios para com-
preender a deficiência como a
confunde com o material das
imposição de barreiras incapa-
espadas, mas surge a partir do
citantes, orientando ações volta-
encontro delas. das para a garantia dos direitos
das pessoas com deficiência.
É importante salientar
que a interdisciplinaridade não
38
se impõe como uma proposta ciplinaridade como postura de
de destruição da especializa- cada profissional que conecta
ção, já que esta configura o par- os saberes, elevando-os a no-
ticular que se realiza no univer- vos sentidos, com vistas a inter-
sal e vice-versa, mas como um pretar a deficiência como uma
convite ou alerta ao especialis- interação na totalidade das re-
ta para que ele se torne também lações sociais que reverbera
sujeito da totalidade (PEREIRA, em contextos de saúde e em
2014). A interdisciplinaridade, diversos domínios da vida.
nessa perspectiva, pressupõe
que haja complementaridade, Nesse sentido, no caso
horizontalidade e inter-relação da atuação de assistentes so-
entre os saberes que compõem ciais nas Apaes, a interdisci-
equipes, visto que nas lições de plinaridade orientará desde o
Morin (2003) sobre interdisci- momento de acolhimento e
plinaridade, há a necessidade avaliação das pessoas com de-
de um pensamento “que reco- ficiência, bem como na implan-
nheça e examine os fenômenos tação de ações interventivas
multidimensionais, em vez de voltadas para a concretização
isolar, de maneira mutiladora dos direitos desse público e
cada uma de suas dimensões e suas famílias, além do proces-
que o conhecimento das partes sos de acompanhamento inte-
prescinde do conhecimento do gral na Apae, inclusive em seto-
todo e vice-versa”. res distintos daqueles em que
atua assistentes sociais (dife-
Só é possível alcançar rentes áreas de atuação na ins-
a perspectiva biopsicossocial tituição) e até mesmo em equi-
que expressa princípios do pamentos públicos e privados
modelo social da deficiência, fora da instituição no território
usando-se da multiprofissiona- (intersetorialidade) que circuns-
lidade junto à interdisciplinari- creve as unidades das Apaes.
dade no processo avaliativo. Se
a multiprofissionalidade clama, Para tanto, a compre-
na avaliação em equipe, pelos ensão do território transfor-
olhares voltados às pluridimen- ma-se em exigência também
sões da deficiência, é a interdis- fundamental. A lógica de uma
39
atenção integral baseada em cessitam se ancorar nesta con-
direitos, visa a implementação cepção de território: aquele que
de políticas sociais no território é, antes de tudo, um espaço de
por meio da ação do Estado in luta e confrontos que se alte-
loco. Entende-se a territoriali- ram no tempo. Por seu caráter
zação como a natureza orgâni- político, o território possibilita
ca das relações em ação num demarcações, assim como re-
determinado espaço, conside- sistências e mudanças. Pensar
rando suas particularidades, a atenção integral das pessoas
especificidades e característi- com deficiência é reconhecer
cas como um ente não só ge- que esse alcance não se dará
ográfico, mas como instância apenas no interior das Apaes,
de relações de poder e com mas em articulação com as po-
potencialidades que precisam tencialidades do território que
ser utilizadas na articulação de as circunscreve.
ações que promovam direitos
(RAFFESTIN, 2009). Território
se manifesta como uma cons-
trução material e imaterial num
espaço específico, o que pro-
porciona concepções diversas
no uso e apropriação destes
espaços pelos sujeitos de di-
reitos. Para Raffestin (2009),
ao atuar em um território, pro-
fissionais projetam no espaço
um trabalho, isto é, energia e
transformação, adaptando as
condições dadas às necessida-
des de uma comunidade ou de
uma sociedade.
40
41
6. Serviço Social, políticas de
Seguridade Social e Educação:
relações fundamentais
Políticas sociais são res- Constituição, ficaram estabele-
postas estatais a problemas pú- cidos os direitos sociais como
blicos repletas de contradições a educação, a saúde, a alimen-
em sua natureza e consequên- tação, o trabalho, a moradia, o
cias, em uma sociedade perme- transporte, o lazer, a segurança,
ada por desigualdade (PEREI- a previdência social, a proteção
RA, 2014). Ao mesmo tempo à maternidade e à infância, a
em que as políticas sociais são assistência aos desamparados
instrumentos potencializadores (BRASIL, 1988). É a partir des-
do exercício da cidadania dos sas afirmações que nos anos
indivíduos alcançados por elas, 1990 e 2000, um conjunto de
as políticas também podem leis infraconstitucionais, políti-
representar desafios políticos cas, programas e serviços fo-
e institucionais que sintetizam ram criados para materializar
barreiras históricas na amplia- estes direitos sociais.
ção das possibilidades de os
cidadãos experimentarem uma Dessa forma, para algu-
vida com autonomia e bem-es- mas populações específicas,
tar. Essa concepção de política como é o caso aqui das pesso-
social é imprescindível para as- as com deficiência, diante do
sistentes sociais em quaisquer arcabouço jurídico e de políti-
espaços sócio-ocupacionais e cas públicas, é importante re-
não podia ser diferente para o fletir sobre como devem ser as
Serviço Social das Apaes. formas mais adequadas para
dispor de mecanismos legais,
O período pós-Constitui- institucionais e públicos para
ção Federal de 1988 é marcado garantir e ampliar os direitos
pela inauguração de uma série buscando a implantação de po-
de direitos sociais até então ine- líticas públicas diferenciadas e
xistentes no país. No art. 6º da isoladas e como potencializar
42
as já existentes. Para o caso proteção dos direitos humanos
dos direitos das pessoas com inaugurado pela Convenção e
deficiência, essas reflexões são reafirmado pela LBI.
ainda mais urgentes pela ado-
ção da Convenção sobre os Di- A política de segurida-
reitos das Pessoas com Defici- de social no Brasil, juntamen-
ência em 2009 pelo Brasil, com te com a educação, guardava
status constitucional, e pela em seus conteúdos e objetivos
sanção da Lei Brasileira de In- o caráter universalizável da
clusão em julho de 2015. Esses atenção, em estreito diálogo
dois marcos legislativos inova- com o que a Convenção sobre
ram em muitos dos princípios os Direitos das Pessoas com
e diretrizes que devem orientar Deficiência veio conceber em
as políticas públicas e sociais. 2006 e que a LBI em 2015 re-
Sendo assim, novas formas de afirmou: é condição imprescin-
conceber as políticas públicas dível para a participação plena
necessitam dialogar com esse das pessoas com deficiência
novo modelo paradigmático de na sociedade a universalidade
43
dos direitos, materializada na ção dos direitos das pessoas
atenção integral das ações, in- com deficiência, a intersetoria-
clusive, pela intersetorialidade. lidade é necessária como prin-
Intersetorialidade compreendi- cípio norteador das ações que
da como o reconhecimento das serão promovidos para além
incompletudes por natureza das atribuições institucionais.
das políticas sociais (PEREIRA,
2014). Foi em perspectiva es- É uma afirmação de que
treita com a Carta de Maceió de a universalidade e a integrali-
2000, que o Serviço Social afir- dade na atenção aos direitos
ma a perspectiva ampliada da humanos deixam de ser meros
Seguridade Social, para além postulados teóricos, com impli-
do tripé saúde, assistência so- cação ocasional para a gestão
cial e previdência social. Atuar e formulação de ações esta-
na perspectiva da intersetoriali- tais, e passam a ser pré-condi-
dade é reconhecer que apenas ção para materializar preceitos
de forma articulada as políticas constitucionais por meio de
sociais atendem as demandas políticas públicas e sociais ma-
dos sujeitos de direitos de for- terializadoras de direitos de ci-
ma integral. Na perspectiva de dadania das pessoas atendidas
totalidade de atenção e promo- pelas unidades das Apaes.
44
45
7. Deficiência, modelo social e
avaliação: ressignificando ações
A compreensão da de- das pessoas com deficiência.
ficiência nos últimos anos im- Houve um deslocamento da
plica necessariamente descre- experiência da deficiência de
vê-la enquanto uma relação um estado imutável da nature-
entre características corporais za ou da biologia para uma re-
e fatores ambientais pouco pre- lação social construída a partir
parados à diversidade (DINIZ, do encontro entre condições
2007). Embora possa parecer corporais específicas com o en-
trivial essa concepção contem- torno em que as pessoas vivem
porânea, por ser recente en- e como acessam recursos eco-
volve inúmeros desafios para nômicos e sociais.
que a sociedade e governos a
adotem em uma perspectiva de Como consequência, o
melhoria das condições de vida modo como a sociedade se or-
46
ganiza para atender às necessi- doras, cuja vida com dignidade
dades das pessoas com defici- e justiça se torna possível por
ência passa a ser fundamental meio de direitos humanos ga-
para promover justiça à essa rantidos em legislações aprova-
população. Isto é, viver em um das e políticas públicas imple-
corpo com deficiência não deve mentadas.
significar automaticamente
uma vida com menos dignida- A história da deficiência
de. Mas é possível uma pessoa é, em alguma medida, a histó-
com alterações corporais signi- ria do poder público em ofe-
ficativas usufruir de uma vida recer respostas às demandas
plena de oportunidades e que da população que, por alguma
viva em igualdade de condições variedade corporal, sensorial
com as demais pessoas, desde ou mental, apresenta necessi-
de que direitos humanos sejam dades diferenciadas para viver
garantidos e promovidos a to- uma vida com dignidade. O tra-
dos pelos princípios da equida- tamento das demandas em ra-
de e justiça social. zão de estilos de vida singulares
e suas capacidades distintas
Diante de tal paradig- por acesso a recursos socioe-
ma – que data dos anos 1980 conômicos, bem-estar e saúde
de forma universalizada em transformou a deficiência em
muitos países –, as repercus- uma questão pública necessá-
sões para marcos legislativos ria de intervenção estatal (BAR-
e ações públicas dos governos NES et. al, 2002). Nesse movi-
que dialoguem com essa noção mento, que se confunde com a
são condições necessárias. Se, própria formação dos Estados
antes, uma das poucas respos- nacionais e de fortalecimento
tas às demandas das pessoas de valores republicanos ao re-
com deficiência girava em tor- dor do mundo, a caracterização
no de novas tecnologias em do que é a deficiência passou a
saúde, reabilitação, cirurgias ser uma exigência a partir das
corretivas, hoje se compreende atribuições do poder público.
que diversos domínios da vida
das pessoas com deficiência No mundo e no Brasil, em
necessitam de ações repara- particular, dizer quem são as
47
pessoas com deficiência é um desenvolvimento. Em socieda-
requisito para o planejamento des com valores democráticos,
e execução de ações governa- dispor de mecanismos institu-
mentais que visem atender às cionais para proteger as diver-
demandas dessa população. sidades implica definir quais
Ao mesmo tempo, descrever diversidades devem ser prote-
e conceituar essas caracterís- gidas e como protegê-las.
ticas oferecem também pos-
sibilidades para organizações Durante muito tempo, o
coletivas e dinamização de rei- tema da deficiência no Brasil fi-
vindicações das pessoas com cou sob o silêncio político e de
deficiência para garantias mais aparato legal, no qual a proteção
adequadas de seus direitos (FI- dos direitos de cidadania dessa
GUEIRA, 2008). Isto é, destacar população se situava apenas
dentre a população geral quem no âmbito da caridade, do as-
são as pessoas com deficiên- sistencialismo e dos cuidados
cia é um requisito do ponto de familiares. Foi com a Constitui-
vista político para garantia dos ção Federal de 1988 que o tema
direitos humanos e ampliação começou a ser uma demanda
da cidadania dessas pessoas. social respondida pelo Estado
que se transformou em respon-
A deficiência é compre- sável por garantir a igualdade e
endida na atualidade como a justiça às pessoas com defi-
uma expressão da diversidade ciência. O longo período de au-
humana (BARNES et. al, 2002). sência de políticas e programas
Por essa afirmação, viver em que promoveriam os direitos
um corpo com deficiência não dessa minoria pode ser com-
pode se converter automatica- preendido tanto pelo predomí-
mente em uma vida desvantajo- nio do modelo médico como re-
sa. No entanto, no passado e no curso explicativo da deficiência
presente, a vida com deficiên- no Brasil, quanto pela compre-
cia é demarcada por desigual- ensão da deficiência como um
dade, discriminação e opres- fenômeno ligado ao azar ou a
são em diferentes sociedades, uma experiência privada sem a
democráticas ou não, ricas ou necessidade da intervenção do
pobres, desenvolvidas ou em Estado para garantir justiça.
48
A tese do predo-
mínio do modelo médico
sobre a temática da defi-
ciência relega as deman-
das das pessoas com
deficiência apenas como
demandas em saúde (DI-
NIZ, 2007). O corpo defi-
ciente seria um corpo dis-
funcional que, por meio
de reabilitação, cirurgias e
atenção médica adequa-
das voltaria a normalidade.
Desse modo, esse modelo
paradigmático de compre-
ensão da deficiência difi-
cultava descrever as de-
mandas das pessoas para
além de cuidados médicos,
como eliminar barreiras de
acesso à renda, educação,
trabalho, acessibilidade de
modo geral e demais me-
canismos de promoção da
equiparação de oportuni-
dades. Foi lento o proces-
so pelo qual a proteção à
diversidade representada
pela deficiência foi assu-
mida pelo poder público
no Brasil na perspectiva da
proteção enquanto direitos
de cidadania.
49
de 1988, no que diz respeito ao a Convenção sobre os Direitos
mercado de trabalho, educação, das Pessoas com Deficiência
acessibilidade física e assistên- da ONU que foi incorporada
cia social para as pessoas com ao direito brasileiro em 2008
deficiência, no país ainda a de- como emenda constitucional e
ficiência é compreendida como a Lei Brasileira de Inclusão das
um fenômeno apenas patológi- Pessoas com Deficiência, Lei
co e não como uma expressão 13.146 de 2015 também conhe-
da diversidade humana. A per- cida como Estatuto da Pessoa
sistência dessa leitura da defi- com Deficiência. Esses dois
ciência dificulta, por exemplo, marcos dialogam e são res-
a sociedade assumir a respon- ponsáveis por orientar todas as
sabilidade em tratar a deficiên- demais legislações e políticas
cia com equidade, por exemplo públicas voltadas para as pes-
ajustando os ambientes sociais soas com deficiência.
às diversidades corporais ou
não promovendo políticas de A Convenção é estru-
trabalho, educação e assistên- turada por cinquenta artigos
cia social específicas, reconhe- que dispõem sobre diversos
cendo as diferenças dessa par- direitos na área de saúde, edu-
cela da população. cação, acessibilidade, desenho
universal, moradia, lazer e cul-
O marco legal dos direi- tura, transporte, capacidade ci-
tos das pessoas com defici- vil, reconhecimento perante a
ência no Brasil é reconhecido lei, combate à violência contra
como um dos mais avançados pessoas com deficiência, pro-
internacionalmente. A luta co- teções específicas na relação
letiva dos movimentos reivin- entre deficiência e gênero, den-
dicatórios foi responsável por tre outras. A Convenção tem o
conquistar tal legislação desde peso não só de ser a primeira
a efervescência política desses convenção de direitos huma-
movimentos em princípio dos nos do novo milênio. Mas ela
anos 1980. Atualmente, são inaugura uma nova perspectiva
dois os principais instrumen- sobre os direitos humanos, em
tos garantidores dos direitos pelo menos, dois sentidos. Em
dessa população no Brasil: 1. primeiro lugar, para atender as
50
demandas das pessoas com exemplo, para a correta garan-
deficiência, os direitos civis, in- tia da liberdade de expressão
dividuais, econômicos, sociais (tradicionalmente um direito de
e culturais que têm de ser efe- liberdade e negativo), é preciso
tivados concomitantemente um conjunto de ações do poder
para uma proteção integral da público (direitos positivos) para
dignidade das pessoas com de- garantir acessibilidade e tecno-
ficiência (DHANDA, 2008). logias assistivas que permitam
a manifestação da opinião das
Segundo Amita Dhanda pessoas que, por suas variabi-
(2008), a perspectiva tradicio- lidades nas capacidades sen-
nal de compreender os direi- soriais, têm mais dificuldades
tos civis e liberdade (direitos de se comunicar. A Convenção
negativos, que exigem a não acaba por introduzir uma nova
intervenção de Estados e go- perspectiva sobre o debate dos
vernos) e os direitos sociais e direitos humanos e como as
econômicos (direitos positivos, sociedades devem dispor de
que exigem atuação dos Esta- mecanismos para fazer valer
dos e governos para sua efeti- as garantias previstas para a
vação), não cabe mais para o efetivação conjunta de todos
caso da Convenção sobre os os tipos de direitos.
Direitos das Pessoas com Defi-
ciência. Isto é, a efetivação de É possível afirmar que
um tipo de direitos depende da um conjunto de direitos ligados
efetivação de outro tipo. Por aos direitos de liberdade, por
51
exemplo, não será materializa- Constituição Federal de 1988
do se outro conjunto de direitos inaugurou tanto uma perspec-
econômicos e sociais também tiva inovadora para os direitos
não for garantido ao mesmo sociais e econômicos, quanto
tempo. É um desafio, mas também para os direitos civis e
uma inovação na perspectiva políticos, sem que as políticas
da universalidade dos direitos públicas estivessem na mes-
(DHANDA, 2008). Certamente ma sintonia.
é desafiante para a cultura polí-
tica e jurídica dos países, mas, A Convenção inicia-se
por outro lado, cria a possibi- com a introdução de um novo
lidade de ampliar a cobertura conceito de pessoas com de-
dos direitos quando aproxima ficiência que guiará todas as
as exigências de uma lógica ações a esse público. Para a
universalizante das garantias. Convenção, pessoas com de-
No caso brasileiro, essa carac- ficiência “são aquelas que têm
terística da Convenção ganha impedimentos de longo prazo
ainda mais força, uma vez que de natureza física, mental, in-
um contexto histórico e políti- telectual ou sensorial, os quais,
co particular da aprovação da em interação com diversas
52
barreiras, podem obstruir sua própria LBI definiu o que são
participação plena e efetiva na as barreias em seu art 3º como
sociedade em igualdades de “qualquer entrave, obstáculo,
condições com as demais pes- atitude ou comportamento que
soas”. Desde a avaliação da limite ou impeça a participação
condição de deficiência nessa social da pessoa, bem como o
perspectiva até o processo de gozo, a fruição e o exercício de
acompanhamento das pesso- seus direitos à acessibilidade,
as em Planos Individuais de à liberdade de movimento e de
Atendimento, interdisciplina-
expressão, à comunicação, ao
res, intersetoriais e territoriali-
acesso à informação, à com-
zados, os assistentes sociais preensão, à circulação com se-
tem papel decisivo no fortale- gurança” (BRASIL, 2015). Em
cimento dessa nova compreen- um diálogo estreito com a CIF, a
são principalmente levando-se LBI definiu seis tipos principais
em consideração a dimensão de barreiras: as urbanísticas,
das barreiras. A própria LBI em as arquitetônicas, nas comu-
2015, já afirmou no art. 2º a ne-nicações, nas tecnologias, nos
cessidade de avaliar a deficiên- transportes e nas atitudes. A
cia nessa perspectiva por meio principal inspiração para esses
dos critérios de interdisciplina-tipos de barreiras da LBI foram
ridade, multiprofissionalidade e os Fatores Ambientais discrimi-
na perspectiva biopsicossocial nados na CIF, tais como: Produ-
(SANTOS, 2016). tos e Tecnologias, o Ambiente,
o Apoio e Relacionamentos,
Sendo assim, influencia- Serviços, Sistemas e Políticas
das pelo marco do modelo so- Públicas e as Atitudes.
cial, as barreiras assumem na
Convenção e na LBI um papel Sendo assim, as seguin-
fundamental na determinação tes atribuições de assistentes
do que vem a ser a experiên- sociais das Apaes se somam
cia da deficiência e uma das às anteriormente citadas no
principais atribuições dos as- que diz respeito a esse novo
sistentes sociais acaba sendo paradigma de compreensão da
analisar o impacto das barrei- deficiência inspirado pelo mo-
ras na vida dessas pessoas. A delo social:
53
Assimilar e disseminar o o atendimento integral das
conceito social da deficiên- demandas das pessoas com
cia e as obrigações do Es- deficiência e sua família nas
tado brasileiro frente a rati- áreas de atuação do Serviço
ficação da Convenção como Social das Apaes, principal-
emenda constitucional; mente visando a eliminação
de barreiras;
Avaliar a deficiência em
equipe interdisciplinar, na Utilizar a avaliação do im-
perspectiva biopsicossocial pacto das barreiras na vida
com instrumento próprio, das pessoas com defici-
para inserir pessoas com de- ência como norte principal
ficiências nas áreas de atu- para caracterização das re-
ação do Serviço Social das percussões da deficiência
Apaes, principalmente aque- na vida dos usuários e usuá-
las das políticas de assistên- rias atendidos pela Apae;
cia social, saúde, educação,
de promoção e inclusão no Mobilizar para defesa e am-
mundo do trabalho; pliação dos direitos das
pessoas com deficiência no
Elaborar e acompanhar o fortalecimento do que prevê
Plano de Acompanhamento a Convenção e a LBI na con-
Integral Individual e Familiar solidação e ampliação de
(PAIIFam) de modo multi- todos os direitos e garantias
profissional, intersetorial e neles previstos;
territorializado, voltado para
55
funcionalidade pela avaliação instrumental em seu cotidiano,
das barreiras impostas às pes- sem sobrepor a outros que já
soas com deficiência. existem e que são implantados.1
59
Rede Apae e os documentos nor- bem como sua caracteriza-
teadores para a(s) respectiva(s) ção enquanto Organização da
área(s) de ação que for atuar. Sociedade Civil2 e enquanto
instituição de “Habilitação e
O Assistente Social, Reabilitação da Pessoa com
deve estar norteado pelo pro- Deficiência e a Promoção de
jeto ético-político da profissão, sua Integração à Vida Comuni-
independente da área em que tária no Campo da assistência
estiver atuando. social” (Resolução CNAS nº
34/2011).
Cabe entender a nature-
za das Apaes, segundo seu Es- 6 A Lei nº 13.019/2014 estabelece o
tatuto Social e política de atua- regime jurídico das parcerias entre
ção, enquanto uma instituição a administração pública e as orga-
de Assistência Social, segun- nizações da sociedade civil e passa
a denominar como Organização da
do o artigo 3º da Lei Orgânica Sociedade Civil (OSC) as entidades
de Assistência Social (LOAS); privadas sem fins lucrativos (BRASIL,
Decreto Federal 6.308/2007 2014).
60
Cada Apae deve buscar das demais políticas públicas,
organizar uma oferta própria da como de Educação e Saúde.
Política de Assistência Social,
de acordo com o que preconiza Após o entendimento da
o Sistema Único de Assistên- natureza da instituição, a se-
cia Social (SUAS), por meio das guir, algumas especificações e
Resoluções do CNAS 109/209; possibilidades de atuação nas
27/2011; 33/2011; 34/2011. As áreas de atuação, embora os
demais ofertas das diferentes pontos apresentados não te-
áreas de atuação, como saú- nham a pretensão de esgotar
de e educação, são entendidas as possibilidades de acordo
como uma das características com a realidade de quaisquer
da “Habilitação e Reabilitação unidades das Apaes.
da Pessoa com Deficiência e
a Promoção de sua Inclusão à 8.1.2 Política de
Vida Comunitária”, ou seja, na Assistência Social
perspectiva da garantia do di-
reito aos usuários da assistên- A Apae contar com pro-
cia social, as Apaes, articulam fissional assistente social em
e também ofertam serviços seu quadro funcional não quer
61
dizer automaticamente que fissionais voltadas a elas1.
executa algum serviço, progra-
ma ou projeto de Assistência Desse modo, a garantia
Social. Cabe compreender que da dignidade humana exige
a assistência social é direito so- que a assistência social assu-
cial prestacional e essencial de- ma um plano de prestações so-
vido ao seu estreito relaciona- ciais que garantam um padrão
mento com os fundamentos do mínimo de satisfação das ne-
Estado democrático de direito, cessidades básicas às pessoas
especialmente, a dignidade da impossibilitadas de manterem
pessoa humana, a seguridade sua sobrevivência; padrão este
social e a cidadania (TAVARES, abaixo do qual uma pessoa
2008; PEREIRA, 1996). não pode se localizar, pois a
dignidade humana ficaria com-
A política de assistência prometida (TAVARES, 2008).
social se estrutura, por meio de Portanto, a assistência social
Serviços, Programas e Projetos não se encerra na garantia da
específicos, previstos nas nor- renda mensal. Assim, mais do
mativas do SUAS, tendo como que as garantias das seguran-
objetivos cinco tipos de seguran- ças sociais, a política de assis-
ças sociais: 1. de acolhida; 2. de tência social poderá contribuir
renda; 3. de convívio ou vivência para a construção de trajetó-
familiar, comunitária e social; 4. rias de autonomia das pesso-
de desenvolvimento da autono- as com deficiência atendidas
mia e 5. de apoio e auxílio em 7 Na referida pesquisa, era possível um
riscos circunstanciais (BRASIL, profissional assistente social escolher
2012). Em pesquisa realizada como resposta de sua situação mais
de uma área de atuação, razão pela
no ano de 2021 com assisten- qual a soma dos percentuais pode ul-
tes sociais de toda a Rede Apae, trapassar em alguns casos 100% nas
constatou que 90% dos profis- respostas a essas questões. É impor-
sionais assistentes sociais da tante salientar que, em nenhum mo-
mento, o questionamento para saber
Rede Apae atuam na política de quais são as áreas de atuação dos
assistência social, o que revela a profissionais avaliou posicionamentos
importância dessa área de atua- destes mesmos profissionais quanto
ção e de diretrizes técnico-pro- à concordância sobre essa sobreposi-
ção de áreas de atuação.
62
pelas unidades das Apaes. Da perspectiva da sua adequação
mesma forma a observância ao Sistema Único de Assistên-
dos direitos socioassistenciais, cia Social (SUAS).
priorizados na V Conferência
Nacional de Assistência Social A análise e estudo da Vi-
(2005), são balizadores da atu- gilância Socioassistencial a res-
ação profissional nessa políti- peito das vulnerabilidades e po-
ca e na organização de todas tencialidades das pessoas com
as ofertas socioassistenciais deficiência, famílias, serviços,
no âmbito da Apae. território de abrangência, e das
ofertas da Apae local, permitem
No que diz respeito à que o assistente social partilhe
política de Assistência Social e articule com a equipe multi-
no âmbito das Apaes, o pro- profissional e gestão da Apae,
fissional de Serviço Social é o para que juntos verifiquem no
mais indicado para promover a escopo das ações implementa-
organização das ofertas socio- das historicamente na entidade,
assistenciais na instituição, na quais ofertas se aproximam ou
63
já estão atendendo a padroniza- Apae. Estando atentos a priori-
ção dos serviços, programas e zação de serviços previstos na
projetos, previstos no SUAS. Política de Atenção Integral e
Integrada da Rede Apae Brasil.
Deste modo, se as ações
da Apae ainda não atendem Nesse sentido, as ofer-
as normativas do SUAS, é im- tas socioassistenciais, devem
prescindível que se proponha estar organizadas no sentido de
o processo de “reordenamento atender as situações de vulne-
das ações socioassistenciais” rabilidades dos usuários e suas
atendendo a caracterização da famílias, observar as expres-
APAE no âmbito da assistên- sões das diferentes questões
cia social enquanto entidade sociais que atravessam a ques-
de “habilitação e reabilitação tão da deficiência, e intervir de
e da pessoa com deficiência forma articulada. Como por
e a promoção de sua
integração à vida co-
munitária no campo
da assistência social”,
(Resolução CNAS nº
34/2011) , as dire-
trizes e organização
dos serviços tipifica-
dos pela Resolução
CNAS nº 109/2009, e/
ou das ofertas de Pro-
moção da Integração
no Mundo do Trabalho
previsto na Resolução
CNAS nº 33/2011,
bem como o Asses-
soramento, Defesa e
Garantia de Direitos,
Resolução CNAS nº
27/2011, a depender
da realidade de cada
64
exemplo questões de gênero e sentadas pelas pessoas com
ciclo de vida “mulher preta cui- deficiência e suas famílias na
dadora única, idosa, com filho vinculação delas com a garan-
com deficiência idoso, vivendo tia de seus direitos de cidada-
apenas com valor de um salá- nia e da autonomia.
rio mínimo”. Nesse caso temos,
situação de isolamento social, Importante ressaltar que
renda insuficiente, sobrecarga a responsabilidade da proteção
de cuidadora, o serviço socio- social de famílias e indivíduos
assistencial precisa priorizar não é exclusiva da assistência
ações de ampliação e fortaleci- social, portanto, a articulação
mento de vínculos familiares e com outras políticas públicas
comunitários, inserção da pes- é essencial, especialmente a
soa com deficiência em ativi- saúde, educação, habitação,
dade que possibilite o compar- trabalho e renda.
tilhamento de cuidado com a
mãe, busca do aumento da ren- Por diversos motivos, é
da, utilizando múltiplas estraté- na Política Nacional de Assis-
gias de atendimento individual tência Social que a promoção da
e coletiva, da família extensa inclusão no mundo do trabalho
e da comunidade, articulação de pessoas com deficiência tem
com a rede de atendimentos ocorrido nos últimos anos. O
de diferentes politicas públicas Conselho Nacional de Assistên-
e demais serviços do território, cia Social, regulamentou a pro-
entre outras estratégias. moção da inclusão no mundo do
trabalho por meio da Resolução
É a partir dessa concep- CNAS nº 33/2011. E quanto a
ção que assistentes sociais Aprendizagem Profissional no
precisam planejar, executar e contexto da Assistência Social,
monitorar suas ações, de for- está regulamentada pelo Decre-
ma permanente e continuada, to nº 9.579/2018; e Decreto nº
com vistas a implantar servi- 11.061/2022, constituindo-se
ços de intervenção na linha de em estratégia importante de in-
ação da Assistência Social que gresso das pessoas com defici-
sejam capazes de atender o ência no mercado do trabalho.
máximo das demandas apre- Desde cumpra com os requisitos
65
mínimos, as Apaes podem orga- lho, articular com instituições e
nizar as ofertas de promoção, entidades que promovam capa-
inclusão e qualificação para o citação, preparação, inclusão e
mundo do trabalho, e o Assisten- permanência de pessoas com
te Social, é um dos profissionais deficiência aumentando suas
essenciais na equipe. condições de empregabilidade.
O profissional pode ainda atu-
O Serviço Social das ar na articulação com as em-
Apaes pode atuar na busca ati- presas e órgãos públicos para
va das pessoas com deficiên- abertura e atendimento das
cia, para favorecer e promover vagas para pessoas com defici-
a avaliação da deficiência, me- ências, realiza a preparação da
diação e acompanhamento de empresa (gestores, colabora-
pessoas com deficiência com dores, recursos humanos) para
potencial laboral para serem a recepção e convivência com
inseridos no mundo do traba- as pessoas com deficiência.
66
a) Objetivo da área de movendo por meio da atuação
atuação profissional o fortalecimento
de vínculos familiares e comu-
A atuação de assisten- nitários, o convívio familiar, o
tes sociais das APAES nessa compartilhamento do cuidado,
área de atuação, visa promo- acesso a defesa e garantia de
ver todas as seguranças so- todos os direitos sociais que
cioassistenciais propostas na lhe são previstos em lei com o
política de assistência social, intuito de eliminar barreiras e
fazendo com que as pessoas favorecer a plena e efetiva par-
com deficiência e suas famílias ticipação das pessoas com de-
atendidas possam ter acesso ficiência na sociedade.
ao exercício pleno de seus direi-
tos, tais acessos podem se dar Competências e
em âmbito interno ou externo atribuições
às APAES e por meio de articu-
lação com outras políticas pú- As competências e atri-
blicas, organizações, sistema buições do assistente social
de garantias, e profissionais de visam atender também as dire-
outras áreas , como outros as- trizes operacionais da área de
sistentes sociais em diferentes Assistência social, previstas
espaços sócio-ocupacionais. pela Política de Atenção Inte-
As seguranças sociais são ga- gral e Integrada da Rede Apae
rantias afiançadas pela política Brasil (2020).
de assistência social de forma
a efetivar suas funções de pro-
teção social, defesa de direitos
e vigilância socioassistencial.
A atuação de assistentes
sociais das APAES, na Política
de Assistência Social objetiva
primordialmente a construção
de trajetória de autonomia e in-
dependência das pessoas com
deficiência e suas famílias, pro-
67
Elaborar ou participar da profissionais e interdiscipli-
construção dos Planos de nares com as pessoas com
Ação, de Trabalho e Relató- deficiência e suas famílias;
rios da Área de Assistência
Social e demais instrumentais Realizar avaliação social das
essenciais para organização situações e contextos de vida
e implantação dos Serviços, das pessoas com deficiência
Programas e Projetos socio- e suas desproteções;
assistenciais previstas no
Sistema Único de Assistência Realizar visitas domiciliares
Social (SUAS) (Resoluções e institucionais para avalia-
CNAS nº 109/2009; 27/2011; ção e acompanhamento dos
33/2011; 34/2011); usuários;
68
as com deficiência na promo- do e nas instituições filantrópi-
ção e defesa de direitos; cas e de caridade (BOSCHETTI,
2006). As pessoas com defici-
Participar de capacitações e ência devem ter acesso à saú-
formações sobre a Política de em condições de igualdade
de Assistência Social, progra- com as demais pessoas em al-
mas de educação permanen- guns casos tem-se necessida-
te no SUAS quando houver. des de acessos especializados
em função das restrições cor-
8.1.3 Política de Saúde porais, sensoriais e cognitivas
diferenciadas.
A saúde no Brasil é uma
política social de Estado desde O Ministério da Saúde
a Constituição Federal de 1988. realizou a Pesquisa Nacional
Antes, a saúde era uma decor- de Saúde (PNS) em 2013 e em
rência das proteções previden- 2019, com o objetivo de mapear
ciárias ou a população tinha demandas e ofertas de serviços
acesso apenas no setor priva- de saúde à população, dentre
69
elas, as pessoas com deficiên- rede de atenção, no máximo,
cia. A PNS é uma pesquisa de experiências isoladas direcio-
base domiciliar, de âmbito na- nadas a algumas deficiências
cional, realizada em parceria específicas partindo do Minis-
com o IBGE e tem se revelado tério da Saúde no início dos
fundamental para planejamen- anos 2000, além das iniciati-
to de quaisquer ações voltadas vas isoladas da sociedade por
para a promoção da saúde das meio de entidades filantrópicas
pessoas com deficiência. e assistenciais durante toda a
segunda metade do século XX
As Apaes em todo o Bra- (CAMPOS et. al, 2015). Mais im-
sil, no decorrer de sua história,portante que pensar em um ser-
no âmbito da saúde têm imple- viço especializado, é importan-
mentado ações de prevenção te conceber os CERs enquanto
da deficiência, diagnóstico e pontos de apoio fundamentais
avaliação biopsicossocial, bem a rede integral de atenção aos
como atuado nos serviços de direitos das pessoas com defi-
habilitação e reabilitação em ciência. Como muitos CERs no
saúde. Em pesquisa realizada Brasil foram habilitados em uni-
no ano de 2021 com assisten- dades das Apaes, há um poten-
tes sociais de toda a Rede Apae, cial importante a se considerar
constatou que 58% dos profis- no planejamento e execução de
sionais assistentes sociais da ações do Serviço Social.
Rede Apae atuam na política de
saúde, o que revela a importân- Ainda em relação à ha-
cia dessa área de atuação e de bitação e reabilitação, a Rede
diretrizes técnico-profissionais Apae Brasil, pode contar com
voltadas a elas. credenciamentos junto ao SUS
do Serviço de Habilitação Re-
No contexto do Sistema abilitação, que promove a es-
Único de Saúde (SUS), desde timulação neurossensorial e
2012, os serviços de reabilita- psicomotora, para a pessoa
ção podem ser ofertados pe- com deficiência, teve início
los Centros Especializados em em 2002, em decorrência da
Reabilitação (CER). Antes de publicação da Portaria GMSnº
2012, não era possível falar em 1.635/2002. A oferta consiste
70
em um conjunto de atividades gramas ou Projetos de dissemi-
nação de informações a cerca
individuais de avaliação e esti-
mulação sensorial e psicomo- do tema, tem-se a possiblidade
de credenciamento da Apae no
tora, inclui orientação relacio-
nadas ao desenvolvimento da SUS, para implementação do
pessoa com deficiência, obje- Programa Nacional de Triagem
Neonatal (PNTN). Conhecido
tivando à habilitação e reabili-
tação das funções cognitivas ecomo Teste do Pezinho, que faz
a triagem de várias doenças,
sensoriais. A oferta é realizada
por equipe multiprofissional, por meio do seu rastreamen-
médico pediatra, psiquiatra, to na população com idade de
neurologista, zero a vinte e oito dias de vida.
fisioterapeuta,
terapeuta ocupacional, fonoau-A Triagem Neonatal constitui-
diólogo, psicólogo, psicopeda--se das etapas: diagnóstico pre-
gogo e assistente social. Mui-suntivo, diagnóstico de certeza,
tas Apaes mantêm essa oferta tratamento, acompanhamento
sem o financiamento do SUS. dos casos diagnosticados e
O referido atendimento pode incorporação e uso de tecnolo-
ser ofertado com recursos pró-gias voltadas para a promoção,
prios da Apae. prevenção e cuidado integral. É
realizado por equipe multipro-
No campo da prevenção fissional, no qual o Assistente
de deficiências, além de Pro- Social é integrante.
71
a) Objetivo da área Competências e
de atuação atribuições
73
Fomentar o reconhecimento
da Pessoa com Deficiência
no contexto familiar, social e
comunitário;
Participar de capacitação e
atualizações a respeito da
política de saúde e serviços
ofertados pelo SUS.
A política de educação
caracteriza-se no Brasil en-
quanto direito social e respon-
sabilidade do Estado (BRASIL,
1988; 1996). No caso das pes-
soas com deficiência, há ain-
da uma particularidade: desde
1989, uma lei federal recomen-
da a matrícula das pessoas
com deficiência em escolas
regulares e não especiais (ex-
clusivas) (BRASIL, 1989). Essa
importante medida ao mesmo
tempo em que se torna em de-
safios para as esferas do poder
federal, estadual e municipal,
é também um dos principais
instrumentos na promoção do
acesso ao ensino das pessoas
74
com deficiência no país.
75
De acordo com o art. vam a inclusão plena.
28 da LBI, a política de edu-
cação deve pautar-se, dentre A LBI destacou ainda
outros, pela responsabilidade como algumas de suas novida-
dos poderes públicos para se des 1. a necessidade de toda
alcançar um sistema educa- instituição de ensino empre-
cional inclusivo em todos os ender esforços para a execu-
níveis e modalidades, bem ção de projeto pedagógico que
como o aprendizado ao longo institucionalize o atendimento
de toda a vida. Além disso, a educacional especializado, as-
LBI salienta o aprimoramento sim como os demais serviços
dos sistemas educacionais, e adaptações razoáveis, para
visando a garantir condições atender às características dos
de acesso, permanência, par- estudantes com deficiência e
ticipação e aprendizagem, por garantir o seu pleno acesso
meio da oferta de serviços e de ao currículo em condições de
recursos de acessibilidade que igualdade, promovendo a con-
eliminem as barreiras e promo- quista e o exercício de sua auto-
76
nomia; 2. a adoção de medidas senvolver ações para a melho-
individualizadas e coletivas em ria da qualidade do processo
ambientes que maximizem o de ensino-aprendizagem, com
desenvolvimento acadêmico e a participação da comunidade
social dos estudantes com de- escolar, atuando na mediação
ficiência, favorecendo o acesso, das relações sociais e institu-
a permanência, a participação e cionais. Em pesquisa realizada
a aprendizagem em instituições no ano de 2021 com assisten-
de ensino; 3. planejamento de tes sociais de toda a Rede Apae,
estudo de caso, de elaboração constatou que 44% dos profis-
de plano de atendimento educa- sionais assistentes sociais da
cional especializado, de organi- Rede Apae atuam na política de
zação de recursos e serviços de educação, o que revela a impor-
acessibilidade e de disponibili- tância dessa área de atuação e
zação e usabilidade pedagógica de diretrizes técnico-profissio-
de recursos de tecnologia as- nais voltadas a elas.
sistiva; e 4. adoção de práticas
pedagógicas inclusivas pelos Objetivo da linha de ação
programas de formação inicial
e continuada de professores e Assistentes sociais nas
oferta de formação continuada APAES atuarão na educação
para o atendimento educacio- tendo uma perspectiva de que
nal especializado. ela constitui direito da pessoa
com deficiência, assegurados
As unidades das Apa- sistema educacional inclusivo
es devem atuar na política de em todos os níveis e aprendi-
educação conforme prevê as zado ao longo de toda a vida,
legislações vigentes seja como de forma a alcançar o máximo
ponto de apoio em atividades desenvolvimento possível de
complementares, seja como seus talentos e habilidades fí-
instituição de Atendimento sicas, sensoriais, intelectuais e
Educacional Especializado. As sociais, segundo suas caracte-
ações do Serviço Social devem rísticas, interesses e necessida-
se ancorar nessas perspectivas des de aprendizagem. É objetivo
em atuações em equipes mul- da atuação do Serviço Social na
tiprofissionais que deverão de- educação propor ações de ma-
77
nifestações sociais que possam situações e contextos de vida
incidir sobre o processo de en- das pessoas com deficiência
sino aprendizagem das pessoas e suas desproteções no in-
com deficiência principalmente tuito de promover acesso à
aquelas relacionadas às barrei- educação na eliminação de
ras e nas dinâmicas familiares. barreiras;
78
tica educacional; Segundo Montaño
(2007), toda profissão se cons-
Elaborar, se envolver e desen- titui e se legitima através das
volver ações para autodefen- respostas que consegue dar
soria de pessoas com defici- a diversas necessidades que
ência na promoção e defesa determinam um conjunto de
de direitos, sobretudo, aque- demandas sociais. Nesse sen-
les que promovam a educa- tido, para ele o que o Serviço
ção inclusiva e a plena parti- Social pode (e deve) fazer para
cipação na sociedade. contribuir a alterar/atualizar a
sua legitimidade institucional
8.1.5 Avaliação da e social, a sua “base de susten-
deficiência tação funcional ocupacional”
(MONTAÑO, 1997), é: 1º) captar
A avaliação da defici- novas demandas ou demandas
ência deve ser compreendida emergentes (assim como as
como meio e não como fim novas determinações daquelas
nas intervenções das unidades já tradicionais à prática profis-
das Apaes. O objetivo de ca-
racterização da deficiência no
novo marco do modelo social,
de acordo com a Convenção e
a LBI, é não só averiguação de
quem é a pessoa com deficiên-
cia, mas estabelecer ações que
integrem aos demais projetos
institucionais que materializam
direitos à essas pessoas, so-
bretudo, aqueles relacionados à
eliminação de barreiras, comba-
te à discriminação, melhoria da
funcionalidade e promoção da
participação dessas pessoas
na sociedade, sobretudo, colo-
cando uma estratégia de acom-
panhamento de tais casos.
79
sional) e 2º) se qualificar para
dar respostas. Este é o caso
do tema da avaliação da defici-
ência que tem assumido cada
vez mais papel importante na
atuação de assistentes sociais
(SANTOS, 2022) desde que o
Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) incorporou tais
profissionais no processo de
reconhecimento do direito ao
BPC, avaliando as pessoas com
deficiência pleiteantes do bene-
fício (SANTOS, 2022).
Na avaliação da defici-
ência realizada por assistentes
sociais, é sempre presente no
processo avaliativo a neces-
sidade de: relacionar as con-
dições socioeconômicas, bar-
reiras no acesso a políticas, a
serviços sociais, a produtos e
tecnologias, ausência de apoios
e relacionamentos familiares e
outros, particularidades no ter-
ritório de convívio, barreiras fí-
sicas e atitudinais enfrentadas
que impactam na autonomia
das pessoas, histórico social e
particularidades na trajetória de
vida, enfim, avaliar os contextos
em que, a partir das condições
de saúde e fatores ambientais,
surge a experiência da deficiên-
cia (SANTOS, 2022).
80
Não é apenas uma ava- realizado por equipes multipro-
liação dicotômica em que o fissionais com atuação inter-
Serviço Social busca relacionar disciplinar. O profissional de
privações/pobreza e deficiên- Serviço Social é fundamental
cia. Mas, sobretudo, objetiva nessa equipe. Avaliação da de-
estabelecer a particularização ficiência pode ser realizada por
de contextos em que a deficiên- profissional de Serviço Social,
cia seja resultado da ausência em qualquer área de atuação,
da funcionalidade de uma pes- seja na saúde, assistência so-
soa que, mesmo com uma alte- cial ou educação. Em pesquisa
ração nas estruturas e funções realizada no ano de 2021 com
do corpo, só vai experimentar assistentes sociais de toda
deficiência como restrição de a Rede Apae, constatou que
participação social a depender 44,2% realizam algum tipo de
das barreiras enfrentadas. Só avaliação da deficiência, o que
assim é possível caracterizar revela a importância crescen-
a deficiência para materializar te dessa área de atuação e de
a proteção social (SANTOS, diretrizes técnico-profissionais
2022). Por fim, uma avaliação voltadas a elas. E destes 65%
social da deficiência no marco responderam realizar avaliação
do modelo social aponta para social da deficiência de forma
as principais áreas em que as conjunta com outros profissio-
pessoas com deficiência en- nais. A política de assistência
frentam comprometimentos e social é que a mais demanda
que, portanto, intervenções de- este tipo de avaliação (53%),
vem ser pensadas para atuação seguida da política de saúde
nessas áreas prioritárias a fim (37%) e da educação (25%).
de eliminar barreiras e promo-
ver a participação das pessoas
com deficiência na sociedade.
81
Objetivo da área Índice de Funcionalidade Bra-
de atuação sileiro Modificado (IFBrM);
82
soas com deficiência nos es- limites e possibilidades dessa
paços de deliberação sobre os frente de atuação.
serviços para elas desenhados.
Além disso, é importante ter Objetivo da área
como diretriz que enquanto de- de atuação
sempenhar atividades de ges-
tão nas unidades das Apaes, os O assistente social, nes-
profissionais do Serviço Social sa função precisa se apropriar
participem e também fomen- do conhecimento do Estatuto
tem a participação dos demais Social dos diferentes níveis de
os gestores institucionais em organização da Rede Apae Bra-
espaços de controle social e de- sil, da Política de Atenção In-
mocrático, como participação tegral e Integrada para a Rede
em conselhos de direitos entre Apae, do conceito social da
outros. Sobretudo desempe- deficiência, no sentido de con-
nhando a função de gestão ou tribuir para a gestão da Apae,
captação de recursos o profis- na busca não só de organizar
sional de Serviço Social precisa serviços que contribuam para
conhecer as políticas públicas, a habilitação e reabilitação da
atuar na articulação da interfa- pessoa no campo da saúde e
ce dessas políticas, de forma a educação, mas sobretudo na
contemplar a dimensão biopsi- implementação de ações que
cossocial da deficiência. promovam a eliminação de
barreiras que dificultem ou im-
Em pesquisa realizada peçam a participação plena da
no ano de 2021 com assisten- pessoa com deficiência e sua
tes sociais de toda a Rede Apae, família na sociedade.
constatou que 19,4% dos pro-
fissionais assistentes sociais
da Rede Apae atuam na área
de elaboração de projetos para
captação de recursos, o que
revela a importância crescente
de discussões a respeito dessa
atuação por assistentes sociais
e reflexões cotidianas sobre os
83
84
9. Os Instrumentais do
Serviço Social na APAE
O fazer profissional no do em uma lógica inerente a
Serviço Social, guiado pela ins- eles sendo capaz de (re)orga-
trumentalidade técnica, exige nizar o trabalho profissional
uma constante articulação en- independente da área de atu-
tre as dimensões ético-políti- ação, utilizando-se dos instru-
cas e teórico-metodológicas a mentos articulações às ações
partir dos instrumentais esco- profissionais, bem como os ob-
lhidos para cada intervenção jetivos em cada uma das áre-
no caso concreto (GUERRA, as. Em pesquisa realizada no
2010). Diante disso, é impor- ano de 2021 com assistentes
tante refletir sobre os princi- sociais de toda a Rede Apae,
pais instrumentais a serem constatou os seguintes instru-
utilizados no cotidiano profis- mentais como os mais recor-
sional do Serviço Social nas rentes no campo do Serviço
Apaes, principalmente pensan- Social na instituição:
85
Lista-se aqui brevemen- compreender os múltiplos sig-
te alguns instrumentos es- nificados das demandas, vul-
senciais para organização de nerabilidades, necessidades,
qualquer uma das ofertas na sonhos, expectativas diante da
Rede Apae, bem como refle- vida, do filho e da Apae, renún-
xões importantes a se fazer cias e frustrações apresenta-
na relação com a instrumen- das pelas famílias, buscando
talidade. Não serão listados também identificar seus recur-
todos os instrumentais utili- sos e potencialidades e como
zados, optou-se por priorizar tais situações se relacionam e
aqueles mais frequentemente ganham significado no territó-
utilizados e que registram as rio (BRASIL, 2012).
atividades realizadas:
Importante destacar
Acolhida que, já na acolhida, e também
durante todo o processo de
Realizar uma acolhida avaliação e acompanhamento
com qualidade técnica e hu- longitudinal das pessoas com
manizada deve ser uma práti- deficiência, por exemplo com
ca de todos os profissionais da o Plano de Acompanhamento,
Rede Apae e, principalmente seja utilizada como parâmetro
de assistentes sociais. Pois, a a concepção de habilitação e
acolhida das famílias é essen- reabilitação integral, confor-
cial para o sucesso ou não dos me preconiza o art. 14 da LBI.
objetivos estabelecidos por to- Nele, diz-se que o processo de
dos os envolvidos no processo habilitação e de reabilitação
de eliminação de barreiras e das pessoas com deficiência
inclusão das pessoas com de- será feito tendo por objetivo o
ficiência, independentemente desenvolvimento de “potencia-
do serviço ofertado na Apae. lidades”, talentos, habilidades
Constitui ação essencial já que e aptidões físicas, cognitivas,
é quando ocorre o início do sensoriais, psicossociais, ati-
vínculo entre o serviço e a fa- tudinais, profissionais e artísti-
mília (CHUPEL; MIOTO, 2015). cas que contribuam para a con-
Trata-se de momento em que quista da autonomia da pessoa
o profissional deve buscar com deficiência e de sua par-
86
ticipação social em igualdade
de condições e oportunidades
com as demais pessoas” (BRA-
SIL, 2015). É já na acolhida que
os profissionais da Apae anun-
ciam a importância de partir
das singularidades dos sujei-
tos, próprias a suas histórias,
para realizar um atendimento,
avaliação e acompanhamento
condizente com suas necessi-
dades, desejos, aspirações e
realidade concreta.
A acolhida é o vínculo
inicial e que, em todo o decor-
rer do processo de atendimen-
to da família na Apae, precisa
estar presente, no sentido de
promover o sentimento de per-
tença ao movimento de defesa
e garantia de direitos, a segu-
rança e empoderamento dos
usuários e famílias, a fim de
contribuir para o exercício de
87
sua cidadania ativa. tiplas necessidades, analisar
e interpretar os dados de rea-
Importante que a aco- lidade; e finalmente formular
lhida e a entrevista sejam para e planejar as ações a partir
colher informações atualiza- das políticas públicas, e recur-
das e precisas, conforme Chu- sos disponíveis na Apae, para
pel e Mioto (2015) sendo pos- atender de foram adequada as
sível organizar a ação em três demandas do público alvo.
fases: com escuta, troca de
informações e o conhecimen- Por meio do diagnóstico,
to da situação em que se en- pode-se identificar tanto as si-
contra o usuário e sua família. tuações de fragilidade, quanto
Pois assim, eles adquirem a de potencialidade da rede de
confiança nesse espaço, como proteção existente; dos indiví-
sendo o lugar onde recebe in- duos, suas famílias e do territó-
formações qualificadas, con- rio. Tais dados possibilitam aos
ferindo norte no atendimento profissionais de serviço social e
que recebe, efetivando assim a equipe planejar as ações de for-
referência da Apae no território ma mais assertivas.
e na rede a que fazem parte.
O Plano de Ação da APAE
Diagnóstico de
abrangência do território Após o estudo do diag-
nóstico de abrangência do ter-
O diagnóstico, possibili- ritório, discussão com gestores
ta identificar as barreiras que
se impõem à participação so-
cial do público alvo e as situa-
ções de isolamento, negligên-
cias, ameaças, violências e
violações, a que estão subme-
tidos as pessoas com defici-
ência e suas famílias, observar
as possibilidades de acesso a
atendimento ou não das múl-
88
da Apae e com a gestão públi- Relatórios e pareceres
ca da assistência social local,
orienta-se construir Plano de Esses instrumentais,
Ação do serviço e/ou da Apae. podem ser categorizados em
duas dimensões: Relatórios de
O plano de ação, dá or- Gestão das Ofertas e Relatórios
ganicidade às ofertas, permi- Técnicos.
te o planejamento das ações
e atividades, estabelecimento Os de gestão, são Re-
de objetivos, de metodologias, latórios de Atividades Diário,
estratégias, eleição de instru- Mensal e Relatórios de Ativida-
mentais de acompanhamento, des Anual. Estes têm como re-
monitoramento, avaliação de ferencial os Planos de Ação da
resultados, especificação de re- entidade e das Ofertas. Os rela-
cursos humanos, físicos, mate- tórios permitem a identificação
riais e financeiros. das atividades realizadas ou
não, o alcance dos resultados
O Plano de Ação descre- esperados durante o período re-
ve e organiza as ações, garan- latado. Constituem-se também
tindo a articulação e organiza- como instrumentos de plane-
ção entre as diferentes ofertas jamento futuro, efetivação de
da instituição da Apae. No Pla- credenciamentos em órgãos de
no de Ação da Entidade, devem controle social e gestores das-
estar previstas todas as áreas diferentes Políticas Públicas.
de atuação da mesma.
Os Relatórios Técni-
cos tratam sobre o acompa-
nhamento dos atendidos nos
serviços, deve fazer parte da
rotina de trabalho dos profis-
sionais, em geral relata o aten-
dimento e acompanhamento
dos indivíduos e das famílias.
Podem registrar informações,
observações, pesquisas, fatos
que identificam as famílias no
89
território e as observações dos dicialmente enviam-se cópias
profissionais. de documentos, não deven-
do ser originais de cadastros,
Os relatórios técnicos prontuários, fichas ou qual-
devem respeitar a legislação quer documento de registro
atual que garante o sigilo dos de informações dos atendi-
dados pessoais e as orien- mentos e acompanhamentos
tações éticas e técnicas do realizados pelas equipes de
código de ética profissional. referência.
Caso haja a solicitação dos
relatórios técnicos de agentes Instrumento de avaliação
externos a Apae, como órgãos da deficiência
de defesa de direitos e órgãos
do Sistema de Justiça, com o Existem alguns instru-
objetivo de prestar informa- mentos para a avaliação da de-
ções sobre a inserção de fa- ficiência. Recomenda-se que
mílias e indivíduos, os relató- a Rede se utilize do Índice de
rios devem se reorganizados Funcionalidade Brasileiro Mo-
e só emitidos com ciência dos dificado (IFBrM), instrumento
coordenadores dos serviços, validado, pautado no concei-
em conjunto com os técnicos to social da deficiência a Se-
de referência, é de suma im- cretaria Nacional da Pessoa
portância que neste tipo de com Deficiência e o Conselho
documento deve-se ater às Nacional da Pessoa com Defi-
informações sobre as ações ciência (CONADE) reconhece-
desenvolvidas nos serviços ram o IFBrM, como instrumen-
com a família ou indivíduo to adequado de avaliação da
em questão e a evolução do deficiência a ser utilizado pelo
acompanhamento realizado. Governo Brasileiro.
Devem-se observar as O índice está pautado na
orientações e aspectos éticos Convenção dos Direitos da Pes-
de caráter privado e sigiloso, soa com Deficiência, na Lei nº
reforçando o aspecto da Lei 13.146/07/2015 (Lei Brasileira
de Sigilo de Dados Pessoais. de Inclusão), na Classificação
Somente quando solicitado ju- Internacional de Funcionalida-
90
de, Incapacidade e Saúde (CIF) apoios podem ter para favore-
da OMS e, portanto, adotando cer o processo de inclusão edu-
critérios biopsicossociais de cacional (CABRAL, 2021).
avaliação da deficiência.
Fichas de Inscrição e
O IFBrM permite avaliar
Desligamento no Serviço
e caracterizar as principais bar-
reiras que impedem a partici-
Constituem-se em for-
pação social das pessoas com
mulários que identificam o
deficiência, tornando-se es-
atendido e o cuidador ou res-
sencial para a construção dos
ponsável familiar, e oficializam
planos de acompanhamento
o ingresso e o desligamento
da pessoa com deficiência nos
do usuário no serviço, devendo
serviços da APAE. O IFBrM
ser assinado pelo usuário e o
pode ser utilizado inclusive
responsável familiar e o coor-
para avaliar barreiras que es-
denador da oferta socioassis-
tudantes enfrentam nas esco-
tencial da APAE.
las e permitindo avaliar quais
91
Plano de Acompanhamen- tabelecendo estratégias, ações
to Integral Individual e e atendimentos para intervir na
realidade a fim de melhorar a
Familiar - PAIIFam
funcionalidade da pessoa com
deficiência, bem como melho-
Orienta-se que se elabo-
rar sua participação na socieda-
re esse instrumento de conhe-
de em igualdade de condições
cimento, planejamento e acom-
com as demais pessoas. A pos-
panhamento do usuário e de
sibilidade de registro eletrônico
sua família, com a equipe mul-
de informações para realizar o
tiprofissional, valendo-se dos
acompanhamento das pessoas
conhecimentos interdisciplina-
com deficiência e suas famílias,
res, e da mesma forma, a equi-
como é a proposta do PAIIFam,
pe participe juntamente com
bem como instrumento de ava-
a família, por meio da escuta
liação multidisciplinar específi-
ativa e qualificada. Vide seção
co da deficiência, o IFBrM, são
anterior sobre o PAIIFam. Está
duas novidades apresentadas
em processo de implantação-
por esses Parâmetros e todo o
-piloto o aplicativo ApaeBrasil
trabalho do Serviço Social deve
cujo objetivo principal será fa-
ser (re)organizado em cada uni-
cilitar grande parte dos traba-
dade partindo dessas ações.
lhos dos assistentes sociais
em toda a Rede Apae aqui dis-
cutidos e que fazem parte do
cotidiano profissional na Rede.
O aplicativo tem dois objetivos
principais: 1. sistematizar ele-
tronicamente uma forma de
registrar as informações téc-
nicas após uma avaliação da
deficiência para caracterização
de tal condição, com base no
IFBrM e 2. propor o PAIIFam e
operacionalizá-lo com base na
avaliação feita dos comprome-
timentos na funcionalidade, es-
92
93
Considerações finais
A publicação destes Parâmetros cumpre com uma deman-
da histórica da categoria do Serviço Social das Apaes no atendi-
mento às necessidades de constante aperfeiçoamento técnico do
fazer profissional na instituição. Eles definem as ações profissio-
nais, as áreas de atuação e indicam as atribuições e os principais
instrumentos técnico-operativos a serem desenvolvidas e esta-
belece os procedimentos técnicos necessários à sua realização,
com base na nossa Lei de Regulamentação, no nosso Código de
Ética, na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-
cia da ONU, na Lei Brasileira de Inclusão das Pessoas com Defici-
ência e demais marcos legislativos básicos relacionados a nossa
atuação na temática da deficiência.
94
Referências bibliográficas
BARNES, Colin; BARTON, Len; OLIVER, Michel. Disability studies
today. Cambridge: Polity Press, 2002.
95
CFESS, ABEPSS. Serviço Social: direitos sociais e competências
profissionais. CEAD/UnB. Brasília. 2009.
96
FIGUEIRA, Emílio. Caminhando em silêncio: uma introdução à tra-
jetória das pessoas com deficiência na história do Brasil. São Pau-
lo: Giz Editorial, 2008.
97
SANTOS, Wederson. Instrumentalidade do Serviço Social na ava-
liação da deficiência. APAE Ciência, v. 17, p. 84-95, 2022.
98
Apêndice
Orientações e esclarecimentos conceituais e práticos aos gesto-
res das Apaes
Prezado(a)s Gestore(a)s,
99
mais de uma área, como por exemplo na área de atuação da Saú-
de e Assistência Social concomitantemente, é importante que es-
teja claro tanto para a entidade (presidente e diretor da Apae) que
contratam o profissional, quanto para o(a) próprio(a) assistente
social, em quais das áreas de atuação no documento citadas, o(a)
Assistente Social está contratado para atuar, e qual a carga ho-
rária destinada a cada uma delas, bem como deve segregar por
áreas, a despesa de pagamento na contabilidade, conforme nor-
mativas contáveis e demais orientações da Lei MIROSC, Lei Com-
plementar 187/2021 (CEBAS).
100
didas diretamente pelo Serviço Social, uma vez que não se presta
um atendimento puramente individual. O atendimento do Serviço
Social necessariamente envolve uma ação com a família dos usu-
ários, diferentemente do atendimento de outros profissionais, que
podem focar apenas na pessoa atendida. Por isso, é necessário
prever uma quantidade de profissionais adequada ao atendimen-
to de todas as famílias dos usuários da Apae;
101
e estimulem o acesso aos de-
mais materiais disponibiliza-
dos pela APAE Brasil, visando
o aprimoramento profissional
dos trabalhadores que compõe
a Rede apaeana.
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