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Entre eu e tu,
Tão profundo é o contrato
Que não pode haver disputa.
(J. Régio, ED, 91.)
3.“) Com a preposição até usam-se as formas oblíquas mim, ti, etc.:
Se, porém, até denota inclusão, e equivale a mesmo, também, inclusive, constrói-se
com a forma reta do pronome:
Até eu, que sou muito avesso a esses corre-corres, a esse espevitamento de
tomar o cheiro dos famanazes em trânsito, saí-me dos meus cuidados e fui
até o Ministério.
(M. Bandeira, AA, 341.)
F O RM AS ÁTO N AS
Eu avisei-o.
(B. Santareno, TPM, 20.)
É preciso acompanhá-las.
(Coelho Netto, OS, 1,45.)
b) o b je t o in d ir e t o :
O p r o n o m e o b lí q u o á t o n o s u j e i t o d e u m i n f i n i t i v o
verificamos que o objeto direto, exigido pela forma verbal mandei, é expresso:
a) na primeira, pela oração que ele saísse;
b) na segunda, pelo pronome seguido do infinitivo: o sair. E verificamos, tam-
bém, que o pronome o está para o infinitivo sair como o pronome ele para
a forma finita saísse, da qual é sujeito. Logo, na frase acima o pronome o
desempenha a função de sujeito do verbo sair.
Deixe-me falar.
Mandam-te entrar.
Fez-nos sentar.
E m p r e g o e n f á t ic o d o p r o n o m e o b lí q u o á t o n o
O p ro n o m e d e in t e r e ss e
pena de escritores.
Por vezes o seu valor se dilui num me expletivo, produzindo belos efeitos:
P r o n o m e á t o n o c o m v a l o r p o ss e s s iv o
Os pronomes átonos que funcionam como objeto indireto (me, te, lhe, nos,
vos, lhes) podem ser usados com sentido possessivo, principalmente quando se
aplicam a partes do corpo de uma pessoa ou a objetos de seu uso particular:
P r o n o m e s c o m p le m e n t o s d e v e r b o s d e r e g ê n c ia d is t i n t a
está perfeita, porque os verbos ver e cumprimentar pedem objeto direto, que, no
caso, vem expresso pelo pronome me.
Se disséssemos, porém:
O b se r v a ç ã o :
Ainda quando complemento de verbos que tenham a mesma regênda, o pronome
só deve ser omitido com o segundo verbo e seguintes se estiver proclítico ao primeiro
da série, como no exemplo citado:
6 Com razão, diz Mário Barreto que esta regra “não é artificial, e não a combate, nem destrói
a infração dela em certos casos, em que praticamente o autorizam os usos e modismos da
língua, como as locuções entrar e sair do carro, vão e vêm do campo, chegar ou sair de casa,
empregadas por muitos e bons escritores”. (Novíssimos estudos da língua portuguesa. 2.a
edição revista. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1924, p. 112-113, nota).
PR O N O M ES 319
Viu-me e cumprimentou-me
ou
Viu-me e me cumprimentou (construção desusada em Portugal)
e não
Viu-me e cumprimentou
Procurar-me-ão e encontrar-me-ão
ou
Procurar-me-ão e me encontrarão (desusada em Portugal)
e não
Procurar-me-ão e encontrarão
V a lo r e s e e m p re g o s d o p r o n o m e se
b) o b je t o in d ir e t o :
C) SUJEITODEUMINFINITIVO:
d ) PR O N O M E a p a s s i v a d o r :
O b se r v a ç õ e s:
1. a) No português antigo e médio usava-se normalmente a passiva pronominal
com agente expresso, como ilustra este passo camoniano:
Na língua moderna evita-se tal prática. Daí soar-nos artificial uma construção
como a seguinte:
Este verbo, em nossa língua, nunca se usou pelos escritores vernáculos senão
como equivalente de amar.
(R. Barbosa, R, n.° 384.)
2. a) Em frases do tipo:
Vendem-se casas.
Compram-se móveis.
consideram-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e compram, razão
por que na linguagem cuidada se evita deixar o verbo no singular.
322 N OVA GRA M ÁTIC A DO P O RT U G U ÊS C O N TE M P O RÂ N E O
C o m b in a ç õ e s e c o n t r a ç õ e s d o s p r o n o m e s á t o n o s
mo = me + o ma = me + a m os = m e + os m as = m e + as
to = te + o ta = te + a to s = t e + os tas = te + as
lh o = lh e + o lh a = lh e + a lh os = lh e + os lh as = lh e + as
no -lo = n os + [l]o no-la = n os + [l]a n o -los = n os + [l]o s n o -las = n os + [l]a s
vo -lo = v o s + [l]o vo -la = v o s + [l]a vo -los = v o s + [l]o s v o -las = vos + [l]a s
lh o = lh es + o lh a = lh es + a lh os = lh e s + os lh as = lh e s + as
2. a) O pronome se associa-se a me, te, nos, vos, lhe, e lhes (e nunca a o, a, os,
as). Na escrita, as duas formas conservam a sua autonomia, quando antepostas
ao verbo, e ligam-se por hífen, quando lhe vêm pospostas:
O coração se me confrange...
(O. Mariano, TVP, 1,216.)
3. a) As formas me, te, nos e vos, quando funcionam como objeto direto, ou
quando são parte integrante dos chamados verbos pronominais, não admitem
a posposição de outra forma pronominal átona. O objeto indireto assume em
tais casos a forma tônica preposicionada:
O b se r v a ç õ e s:
l.a) As combinações lho, lha (equivalentes a lhes + o, lhes + a) e lhos, lhas (equi-
valentes a lhes + os, lhes + as) encontram sua explicação no fato de, na língua antiga,
PR O N O M ES 323
a forma lhe (sem -s) ser empregada tanto para o singular como para o plural. Ori-
ginariamente, eram, pois, contrações em tudo normais.
2.a) No Brasil, quase não se usam as combinações mo, to, lho, no-lo, vo-lo, etc. Da
língua corrente estão de todo banidas e, mesmo na linguagem literária, só aparecem
geralmente em escritores um tanto artificiais.
C o lo c a ç ã o d o s p r o n o m e s á t o n o s
Calei-me.
b ) p r o c l í t i c o , is to é, a n te s d ele;
Eu me calei.
c) m e s o c Ut i c o , o u se ja , n o m e io d e le , c o lo c a ç ã o q u e só é p o s sív e l c o m f o r m a s
do FUTURO DO PRESENTE OU do FUTURO DO PRETÉRITO:
Calar-me-ei.
Calar-me-ia.
Há, porém, casos em que, na língua culta, se evita ou se pode evitar essa
colocação, sendo por vezes conflitantes, no particular, a norma portuguesa
e a brasileira.
Procuraremos, assim, distinguir os casos de p r ô c u s e que representam a
norma geral do idioma dos que são optativos e, ambos, daqueles em que se
observa uma divergência de normas entre as variantes europeia e americana
da língua.
324 N OVA GRA M ÁTIC A DO P O RT U G U ÊS C O N TE M P O RÂ N E O
R e g ra s g e r a is
Com um só verb o
Eu me calarei.
Eu me calaria.
Calar-me-ei.
Calar-me-ia.
2. É , a in d a , p r e f e r id a a p r ô c l is e :
a) Nas orações que contêm uma palavra negativa {não, nunca, jamais, ninguém,
nada, etc.) quando entre ela e o verbo não há pausa:
Quem me busca a e s ta h o r a ta rd ia ?
(M. Bandeira, PP, 1,406.)
c) nas orações iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas orações que
exprimem desejo (optativas):
regida de preposição.
Exemplo:
A ÊNCLISE é m e s m o d e r ig o r q u a n d o o p r o n o m e te m a f o r m a o ( p r in c i p a l-
m e n te n o f e m in in o a) e o in f i n i t i v o v e m r e g id o d a p r e p o s iç ã o a:
5. Pode-se dizer que, além dos casos examinados, a língua portuguesa tende à
PRóCLiSb pronominal:
a ) q u a n d o o v e rb o v e m a n te c e d id o d e c e rto s a d v é rb io s (bem, mal, ainda, já, sem-
pre, só, talvez, e tc.) o u e x p re ssõ e s a d v e rb ia is e n ã o h á p a u s a q u e o s se p a re :
b ) q u a n d o a o r a ç ã o , d is p o s ta e m o r d e m in v e rs a , se in ic ia p o r o b je to d ir e to o u
p re d ic a tiv o :
6. Observe-se por fim que, sempre que houver pausa entre um elemento capaz
de provocar a p r ó c u s e e o verbo, pode ocorrer a ê n c l is e :
O b se r v a ç ã o :
Costumam os escritores do idioma, principalmente os portugueses, inserir uma
ou mais palavras entre o pronome átono em próclise e o verbo, sendo mais comum
a intercalação da negativa não:
Conformado pelas suas palavras, o tio calara-se, só para lhe não dar assen-
timento.
(Alves Redol, F, 310.)
Com um a lo cu çã o v erb a l
O r o u p e ir o veio interromper-me.
(R. Pompeia,A,37.)
2. °) A p r ó c l is e a o v e r b o a u x ilia r, q u a n d o o c o r r e m as c o n d iç õ e s e x ig id a s
p a r a a a n te p o s iç ã o d o p r o n o m e a u m s ó v e rb o , is to é:
a) quando a locução verbal vem precedida de palavra negativa, e entre elas não
há pausa:
c) nas orações iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas orações que
exprimem desejo (optativas):
Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando
o banho.
(Eça de Queirós, O, II, 329.)
A c o lo c a ç ã o d o s p r o n o m e s á to n o s n o B ra s il
Me arrepio todo...
(Luandino Vieira, NM, 138.)
Tudo ia se escurecendo.
(J. Lins do Rego, [/, 338.)
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