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PORTUGUÊS
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Gramática FRENTE 1
MÓDULO 19 Pontuação I
A vírgula é usada para indicar a separação entre termos independentes entre si, quer no período, quer na oração.
Por indicar o que já está separado, a vírgula não pode ser empregada entre os termos que mantêm entre si uma
estreita ligação. Seria erro grave, portanto, colocá-la entre
✔ o sujeito e o verbo:
sujeito verbo
verbo complemento
verbal
A mais nobre missão do ser humano é prestar sua ajuda ao semelhante... (Sófocles)
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4. (UNIP-2023) – Assinale a alternativa em que a vírgula é utilizada com 6. (UNESP-2023) – “o começo de toda virtude são a reflexão e a
a mesma função da vírgula presente no seguinte trecho: “No Chile, o deliberação, e seu fim e sua perfeição, a constância”.
deserto do Atacama abriga lixão tóxico da moda descartável do Nesse trecho, a segunda vírgula é empregada com a finalidade de
1.° mundo”. a) separar o vocativo.
a) “O deserto do Atacama no Chile abriga um gigantesco lixão b) indicar a supressão de um verbo.
clandestino de roupas que se descartam nos Estados Unidos, na c) separar dois objetos diretos.
Europa e na Ásia”. d) separar o sujeito de seu predicado.
b) “O consumo excessivo e fugaz de roupas, com redes capazes de e) indicar a supressão do conectivo “e”
lançar mais de 50 coleções de novos produtos por ano, tem feito RESOLUÇÃO:
com que o desperdício têxtil cresça exponencialmente no mundo”. A segunda vírgula está posicionada exatamente no lugar do verbo
c) “Nessa área de importadores e taxas preferenciais, comerciantes elíptico “ser”, assinalando uma zeugma (“[…] e seu fim e sua
perfeição [são], a constância”).
do resto do país selecionam os produtos para suas lojas e o que
Resposta: B
sobra não pode sair da alfândega nesta região de pouco mais de 300
mil habitantes”.
d) “A moda, como se vê, é tão tóxica quanto pneus ou plásticos”.
e) “A isso se somam hoje cifras devastadoras sobre seu imenso
impacto ambiental, comparável ao da indústria do petróleo”.
RESOLUÇÃO:
A vírgula usada na frase do enunciado separa um adjunto adverbial
que está no início de oração “No Chile”, o mesmo ocorre em
“Nessa área de importadores e taxas preferenciais”.
Resposta: C
Você volta para casa depois de ter ido jantar com sua amiga dos
olhos verdes. Verdes. Às vezes quando você sai do escritório você
quer se distrair um pouco. Você não suporta mais tem seu trabalho
de desenhista. Cópias plantas réguas milímetros nanquim compasso
360º. de cercado cerco. Antes de dormir você quer estudar para a
prova de história da arte mas sua menina menor tem febre e chama
5. (FAMERP-2023) – Verifica-se o emprego de vírgula para separar um você. A mão dela na sua mão é um peixe sem sol em irradiações
vocativo no seguinte trecho: noturnas. Quentes ondas. Seu marido se aproxima os pés calçados
a) “Virou, com êxito.” de meias nos chinelos folgados. Ele olha as horas nos dois relógios
b) “Venha depressa, estão nos chamando de outras galáxias!” de pulso. Ele acusa você de ter ficado fora de casa o dia todo até
c) “Bem, isso atualmente está difícil, José.” tarde da noite enquanto a menina ardia em febre. Ponto e ponta. Dor
d) “O certo é que nunca mais brilhará, na mata de Nanuque, aquele perfume crescente...
foguinho solitário.” (CUNHA, H. P. As doze cores do vermelho.
e) “Só se você for concursado, e houver vaga.” Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009.)
RESOLUÇÃO:
“José” é vocativo, nome do personagem solitário e avesso à 7. A literatura brasileira contemporânea tem abordado,
civilização, que é forçado a viver em sociedade, com todos os seus
sob diferentes perspectivas, questões relacionadas
percalços, por seu interlocutor.
Resposta: C ao universo feminino. No fragmento, entre os
recursos expressivos utilizados na construção da narrativa, destaca-se a
a) repetição de “você”, que se refere ao interlocutor da personagem.
b) ausência de vírgulas, que marca o discurso irritado da personagem.
c) descrição minuciosa do espaço do trabalho, que se opõe ao da casa.
d) autoironia, que ameniza o sentimento de opressão da personagem.
e) ausência de metáforas, que é responsável pela objetividade do texto.
Resposta: B
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MÓDULO 20 Pontuação II
1. Faça a associação correta, considerando o emprego da vírgula, para 3. (FUVEST) – Considere a imagem abaixo, extraída da apresentação do
separar: filme A Amazônia, que faz parte da campanha “A natureza está falando”.
a) oração coordenada assindética;
b) oração coordenada sindética;
c) oração adverbial deslocada;
d) oração subordinada adjetiva explicativa;
e) oração reduzida;
f) oração intercalada;
g) polissíndeto.
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b) No referido áudio, é possível perceber, no final da locução da atriz, Texto para o teste 5.
uma entonação especial, representada na transcrição por meio de
reticências. Tendo em vista que uma das funções desse sinal de Muito do que gastamos (e nos desgastamos) nesse
pontuação é sugerir uma ideia não expressa que cabe ao leitor inferir, consumismo feroz podia ser negociado com a gente mesmo: uma
identifique a ideia sugerida, neste caso. hora de alegria em troca daquele sapato. Uma tarde de amor em troca
RESOLUÇÃO: da prestação do carro do ano; um fim de semana em família em lugar
As reticências são empregadas para suspender o pensamento e, daquele trabalho extra que está me matando e ainda por cima detesto.
nesse caso, têm a função de deixar subentendida a ideia de que o Não sei se sou otimista demais, ou fora da realidade. Mas, à
ser humano não sobreviverá sem a natureza. Ela, porém, tem a medida que fui gostando mais do meu jeans, camiseta e mocassins,
capacidade de se recuperar.
me agitando menos, querendo ter menos, fui ficando mais tranquila
e mais divertida. Sapato e roupa simbolizam bem mais do que isso
que são: representam uma escolha de vida, uma postura interior.
Nunca fui modelo de nada, graças a Deus. Mas amadurecer me
obrigou a fazer muita faxina nos armários da alma e na bolsa também.
Resistir a certas tentações é burrice; mas fugir de outras pode ser
crescimento, e muito mais alegria.
LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2011.
no texto para reforçar a importância desses metais para a Os dois pontos introduzem um argumento que esclarece o erro
economia nacional. Diante disso, pode-se afirmar que elas são apontado pelo autor.
empregadas para enaltecer o valor desses metais. Resposta: D
Resposta: C
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CASOS DE PRÓCLISE
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1. (UNISAL) – A gramática normativa determina que os pronomes 3. (FGV-Econ) – Assinale a alternativa que atende à norma-padrão de
oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, se, nos, vos) apareçam antes do colocação pronominal.
verbo quando houver palavras negativas, advérbios, conjunções subordi- a) Vai-se o sertanejo no êxodo para a costa, para as serras distantes –
nativas, pronomes relativos, indefinidos ou demonstrativos antes dele. esvazia-se o sertão, ainda que a saudade acompanhe o retirante.
Verifique a aplicação dessa regra nas frases seguintes: b) Quando acaba-se o flagelo, é como se todos os problemas fossem
esquecidos, e tudo se reestabelecesse como antes.
I. Luís jamais me olhou de novo. c) Por fim, o sertanejo se dobra e, depois de tantos retirantes à sua
II. Nós esperávamos que nos dissessem toda a verdade. porta, rapidamente amatula-se em um daqueles bandos.
III. Agora escute-me, por favor. d) Ainda que o flagelo tenha ameaçado-o, o sertanejo volta ao sertão,
IV. Avisaram-me sobre o acidente. movido pela saudade por estar meses longe de sua casa.
e) Se vê, com assombro, a primeira turma de retirantes atravessar o
Estão corretas, segundo a gramática normativa, as frases: terreiro, e depois outras seguem-se nos dias posteriores.
a) I e IV. RESOLUÇÃO:
b) I, II, III e IV. Ambos os pronomes oblíquos átonos estão em ênclise por ser
c) I, II e IV. início de oração. Em b, “quando se acaba”; em c, “rapidamente se
d) I, II e III. anula”; em d, “tenha-o ameaçado”; em e “Vê-se... e depois outras
se seguem”.
e) III e IV.
Resposta: A
RESOLUÇÃO:
No item III, o correto é: Agora me escute...
Resposta: C
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A colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais Se conhecêssemos a verdade, vê-la-íamos; tudo o mais é
oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se sistema e arredores. Basta-nos, se pensarmos, a incompreensibi-
referem. São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lidade do universo; querer compreendê-lo é ser menos que homens,
lhes, nos e vos. Esses pronomes podem assumir três posições na porque ser homem é saber que não se compreende.
oração em relação ao verbo. Próclise, quando o pronome é colocado PESSOA, Fernando. O livro do desassossego.
antes do verbo, devido a partículas atrativas, como o pronome São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 117.
relativo. Ênclise, quando o pronome é colocado depois do verbo, o
que acontece quando este estiver no imperativo afirmativo ou no
7. (UFAL) – Assinale a alternativa correta em relação aos aspectos
infinitivo impessoal regido da preposição “a” ou quando o verbo
formais da língua padrão culta.
estiver no gerúndio. Mesóclise, usada quando o verbo estiver
a) O termo “vê-la-íamos” é traduzido por “vimos a verdade”.
flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito.
b) O termo “Basta-nos” pode ser substituído por “Nos basta”.
c) A expressão “não se compreende” pode ser substituída por “não
5. A mesóclise é um tipo de colocação pronominal raro compreende-se”.
no uso coloquial da língua portuguesa. No entanto, d) O ponto e vírgula utilizado após a expressão “vê-la-íamos” pode ser
ainda é encontrada em contextos mais formais, como substituído por um ponto, sem causar mudança de sentido ao texto.
se observa em: e) O trecho “ser homem é saber que não se compreende” pode ser
a) Não lhe negou que era um improviso. reescrito da seguinte forma: “ser homem é saber, que não se
b) Faz muito tempo que lhe falei essas coisas. compreende”.
c) Nunca um homem se achou em mais apertado lance. RESOLUÇÃO:
d) Referia-se à D. Evarista ou tê-la-ia encontrado em algum outro autor? Pode ocorrer a substituição porque a oração seguinte “Tudo o mais
e) Acabou de chegar dizendo-lhe que precisava retornar ao serviço é sistema e arredores” é independente (coordenada).
Resposta: D
imediatamente.
RESOLUÇÃO:
Temos, em tal alternativa, o verbo flexionado no futuro do
pretérito, o que justifica a mesóclise (pronome no meio do verbo)
do pronome pessoal oblíquo átono.
Resposta: D
e) B / A / A / A
RESOLUÇÃO:
A frase As visões da caatinga tinham dissipado-se está errada
porque não se prende pronome oblíquo átono ao particípio.
Resposta: C
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Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
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3. (UNESP) – O eufemismo consiste em atenuar o sentido b) Explique o significado, no texto, da expressão “cortando as
desagradável de uma palavra ou expressão, substituindo-a por outra, asas antes do voo”.
capaz de suavizar seu significado. RESOLUÇÃO:
(Celso Cunha. Gramática essencial, 2013. Adaptado.) A expressão metafórica “cortando as asas antes do voo” refere-se
à atitude por parte do editor para conter o ímpeto de supercorreção
do “autor de primeira viagem”, que não era “nenhum Bruxo do
Transcreva o verso em que se verifica a ocorrência de eufemismo.
Cosme Velho”.
Justifique sua resposta.
Reescreva, em linguagem formal, o trecho destacado do seguinte verso:
“Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair”.
RESOLUÇÃO:
Um exemplo de eufemismo está em “e pela paz derradeira que
enfim vai nos redimir”, em que a ideia de paz e redenção atenua a
ideia de morte.
Reescrevendo o verso em linguagem formal, tem-se: 5. (Albert Einstein-2023) – Examine a tirinha de Fernando Gonsales,
“Pelos andaimes, pingentes, de que (dos quais) nós temos de (que) publicada na conta do Instagram “Depósito de Tirinhas”, em
cair.” 23.04.2020.
QUAL
O SENTIDO
DA
VIDA?
A REINVENÇÃO DA VÍRGULA
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Leia o trecho inicial do artigo “Artifícios da inteligência”, do físico b) Cite dois termos empregados em sentido figurado no primeiro
brasileiro Marcelo Gleiser (1959- ), para responder às questões 1 e 2. parágrafo do artigo.
RESOLUÇÃO:
Considere a seguinte situação: você acorda atrasado para o São exemplos de termos empregados em sentido figurado:
trabalho e, na pressa, esquece o celular em casa. Só quando “engavetado”, metáfora que se refere a estar preso no
congestionamento, e “navegar”, também metáfora, referindo-se a
engavetado no tráfego ou amassado no metrô você se dá conta. E
passar de um sítio para outro na internet.
agora é tarde para voltar. Olhando em volta, você vê pessoas com
celular em punho conversando, mandando mensagens, navegando
na internet. Aos poucos, você vai sendo possuído por uma sensação
de perda, de desconexão. Sem o seu celular, você não é mais você.
A junção do humano com a máquina é conhecida como
“transumanismo”. Tema de vários livros e filmes de ficção científica,
hoje é um tópico essencial na pesquisa de muitos cientistas e filósofos.
A questão que nos interessa aqui é até que ponto essa junção pode
ocorrer e o que isso significa para o futuro da nossa espécie.
Será que, ao inventarmos tecnologias que nos permitam ampliar
nossas capacidades físicas e mentais, ou mesmo máquinas
pensantes, estaremos decretando nosso próprio fim? Será esse nosso
destino evolucionário, criar uma nova espécie além do humano?
É bom começar distinguindo tecnologias transumanas daquelas
que são apenas corretivas, como óculos ou aparelhos para surdez.
Tecnologias corretivas não têm como função ampliar nossa
capacidade cognitiva: só regularizam alguma deficiência existente.
A diferença ocorre quando uma tecnologia não apenas corrige
uma deficiência como leva seu portador a um novo patamar, além da
2. (UNESP)
capacidade normal da espécie humana. Por exemplo, braços
a) De acordo com o físico, nós já podemos ser considerados
robóticos que permitem que uma pessoa levante 300 quilos, ou
transumanos? Justifique sua resposta.
óculos com lentes que dotam o usuário de visão no infravermelho.
RESOLUÇÃO:
No caso de atletas com deficiência física, a questão se torna bem Segundo o autor, o transumanismo, “hibridismo entre tecnologia
interessante: a partir de que ponto uma prótese como uma perna e biologia”, já está ocorrendo. Marcelo Gleiser considera que os
artificial de fibra de carbono cria condições além da capacidade seres humanos estão ampliando sua capacidade por meio de
humana? Nesse caso, será que é justo que esses atletas compitam tecnologias que os redefinem de modo que as pessoas já não são
as mesmas, caso percam o acesso aos aparelhos eletrônicos, tal
com humanos sem próteses?
como acontece no caso do celular.
Poderia parecer que esse tipo de hibridização entre tecnologia e
biologia é coisa de um futuro distante. Ledo engano. Como no caso
do celular, está acontecendo agora. Estamos redefinindo a espécie
humana através da interação – na maior parte ainda externa – com
tecnologias que ampliam nossa capacidade.
Sem nossos aparelhos digitais – celulares, tabletes, laptops – já
não somos os mesmos. Criamos personalidades virtuais, ativas
apenas na internet, outros eus que interagem em redes sociais com
selfies arranjados para impressionar; criações remotas, onipresentes.
Cientistas e engenheiros usam computadores para ampliar sua
habilidade cerebral, enfrentando problemas que, há apenas algumas
décadas, eram considerados impossíveis. Como resultado, a cada
dia surgem questões que antes nem podíamos contemplar.
(Folha de S.Paulo, 01.02.2015. Adaptado.)
1. (UNESP)
a) Para o físico Marcelo Gleiser, o que distingue as tecnologias
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b) Dêiticos: expressões linguísticas cuja interpretação depende da b) Substitua os dois-pontos do trecho “Vale dizer que o usuário
pessoa, do lugar e do momento em que são enunciadas. Por contabilizou apenas mortes relevantes à história: só entraram na
exemplo: “eu” designa a pessoa que fala “eu”. planilha vítimas que tinham, pelo menos, nome antes de baterem as
(Ernani Terra. Leitura do texto literário, 2014.) botas” por uma conjunção e indique qual a relação de sentido
estabelecida por ela?
Cite dois dêiticos empregados nos dois primeiros parágrafos do RESOLUÇÃO:
Os dois pontos introduzem uma explicação sobre a condição que
texto.
Tom95 leva em conta para que uma morte seja considerada
RESOLUÇÃO: relevante na Saga Vingadores: ter-se abatido sobre uma
O pronome de tratamento “você” foi empregado em sentido personagem que tenha nome. Dessa forma, esse sinal de
generalizante, pois não se refere a uma pessoa em particular, mas pontuação pode ser substituído por uma conjunção explicativa
a todos os que já vivenciaram as situações descritas no primeiro como pois, porque.
parágrafo. No segundo parágrafo, o pronome pessoal oblíquo
“nos” refere-se ao próprio autor do texto, é usado como plural de
modéstia. O pronome possessivo “nossa” refere-se à espécie
humana.
Resposta: B
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5. (UNIFESP) – Assinale a alternativa em que se verifica a análise As questões de números 7 a 10 baseiam-se na música da dupla
correta de um fato linguístico presente na tira. sertaneja Alvarenga e Ranchinho.
a) Em “Viu, Senhor?” (3.o quadrinho), o termo “Senhor” exerce a
função sintática de sujeito do verbo “viu”. Trabalha, trabalha, trabalha
b) Em “um cão nervoso correndo em círculos, amarrado ao poste da Trabalha, trabalha, trabalha
ignorância” (2.o quadrinho), a oposição entre os termos “correndo” Só no fim do mês recebe
e “amarrado” configura um pleonasmo. Paga, paga, paga, paga
c) Em “A humanidade é isso” (2.o quadrinho), o termo “isso” retoma Tudo o que deve
o conteúdo de um enunciado expresso no quadrinho anterior.
d) Em “Ele vai voltar atrás, você vai ver” (3.o quadrinho), a expressão No domingo eu vou na missa,
“voltar atrás” constitui uma redundância. Não posso trabalhar
e) Em “Ele vai voltar atrás, você vai ver” (3.o quadrinho), a expressão Segunda-feira preguiça,
“voltar atrás” pode ser substituída por “se arrepender”. Preciso descansar
RESOLUÇÃO: Terça-feira é dia santo,
A expressão “voltar atrás”, dada pela personagem Deus, equivale Se eu trabalho é pecado
a “se arrepender”, porque fica implícito que haverá represália Quarta-feira eu tô doente,
divina à personagem que considera a humanidade “uma piada de Quinta-feira é feriado
mau gosto de Deus”.
Não trabalho na sexta, que é dia de azar
Resposta: E
Sábado é fim de semana
Tenho que descansar.
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8. (UNIFESP) – Dizer “só no fim do mês recebe” é diferente de “no 10. (UNIFESP) – Considere o trecho da música:
fim do mês recebe”, pois, no primeiro caso, é flagrante a ideia de
a) intensidade. b) demora. c) tempo indefinido. Não trabalho na sexta, que é dia de azar
d) rapidez. e) probabilidade. Sábado é fim de semana
RESOLUÇÃO: Tenho que descansar.
No trecho destacado, o advérbio só equivale a “somente” ou
“apenas” e enfatiza a demora da chegada do pagamento. Sobre a ocorrência da palavra que, é correto afirmar que ela
Resposta: B
a) poderia ser substituída, no primeiro caso, por no qual, e por qual, no
segundo.
b) tem valor de conclusão nos dois casos, podendo ser substituída por
então.
c) poderia ser substituída por quando no primeiro caso e por logo que,
no segundo.
d) tem valor causal no primeiro caso e equivale a no entanto, no
segundo.
e) tem valor explicativo no primeiro caso e equivale à preposição de, no
segundo.
RESOLUÇÃO:
Em sua primeira ocorrência, o que é conjunção explicativa e
poderia ser substituído por porque. No último verso, o que
substitui a preposição de da expressão ter de, que equivale a dever.
9. (UNIFESP) – Na música, para cada dia da semana há uma situação Resposta: E
impeditiva ao trabalho. Considerando as frases
II. Pra mim vai ser domingo todo dia, / pois é essa alegria de todo
trabalhador.
(Golden Boys)
IV. Todo mundo gosta de acarajé / O trabalho que dá pra fazer que é
/ Todo mundo gosta de acarajé / Todo mundo gosta de abará /
Ninguém quer saber o trabalho que dá.
(Dorival Caymmi)
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do Romantismo e do Parnasianismo. Orpheu, que introduz o Modernismo possui talento vigoroso, fora do
No seguinte poema, Juó Bananere em Portugal. Ronald de Carvalho, que comum. Poucas vezes, através de
satiriza o famoso soneto XII de participaria da Semana, e Luís de uma obra torcida para má direção, se
Via-Láctea, de Olavo Bilac (“Ora, Montalvor organizam no Rio o primeiro notam tantas e tão preciosas qualida-
direis, ouvir estrelas…”): número da revista. des latentes. (...)
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Nos anos seguintes, houve o sur- Na segunda noite, há a conferên- técnica, da velocidade, da experimen-
gimento de Victor Brecheret, a publicação cia de Menotti del Picchia, ilustrada tação de uma linguagem nova, e a
de Carnaval, de Manuel Bandeira, a com vários textos, entre os quais “Os primitivista, chegada ao expressionismo
exposição de Di Cavalcanti, a publicação Sapos”, de Manuel Bandeira, vaiados e à exploração do folclore brasileiro.
dos artigos “Mestres do Passado”, em todos pelo público. Segue-se um Dividida entre a ânsia de
que Mário de Andrade analisa e critica, trecho da conferência: modernização do Brasil e a convicção
duramente, a poesia parnasiana. de que nossas raízes indígenas e ne-
Queremos lua, ar, ventiladores,
gras precisavam de tratamento esté-
aeroplanos, reivindicações obreiras,
tico adequado, a revista, incongruente
idealismos, motores, chaminés de fá-
na aparência, é o fundamento de
bricas, sangue, velocidade, sonho na
obras como Macunaíma, Pau-Brasil,
nossa arte. E que o rufo do automó-
Cobra Norato, Martim Cererê, Revista de
vel, nos trilhos de dois versos, espan-
Antropofagia, Memórias Sentimentais
te da poesia o último deus homérico,
de João Miramar etc.
que ficou, anacronicamente, a dormir
e a sonhar, na era do jazz band e do
䊏 Estética
cinema, com a frauta dos pastores da
A revista Estética, dirigida por
Arcádia e dos seios de Helena!
Sérgio Buarque de Holanda e Prudente
Mário de Andrade, sob vaias, lê de Morais Neto, foi lançada em 1924 e
poemas que constituiriam o livro A Es- teve três números fartos de material
Pietá (déc. 1910), Victor Brecheret, madeira, crava que não é Isaura. Renato de Al- teórico. Nessa revista, a disputa era
40 x 50 cm. meida critica o Parnasianismo e entre “arte interessada” e “arte
Villa-Lobos entra no palco de chinelos autônoma”.
(pois teria um calo no pé) e guarda-
2. A Semana de Arte Moderna
chuva, indignando o público. 3. As correntes modernistas
A terceira noite tem apenas
Patrocinada pela elite letrada dos
programa musical e Villa-Lobos rege 䊏 Corrente nacionalista
quatrocentões paulistanos, a Semana
composições conhecidas do reduzido Representada pelos grupos
público, que aplaudiu, sem escândalos. “Verde-Amarelo” (1924), “Anta” (1929)
foi, ao mesmo tempo, o ponto de
e “Bandeira” (1936), reunia-se
encontro das várias tendências
principalmente em torno de Menotti
modernas que desde a I Guerra se
del Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio
vinham firmando em São Paulo e no
Salgado. Tinha visão ufanista e
Rio, e a plataforma que permitiu a
propunha a exaltação da terra, do
consolidação de grupos, a publicação
homem, do folclore e dos heróis
de livros, revistas e manifestos, numa
nacionais. Aproximava-se do Inte-
palavra, o seu desdobrar-se em viva
gralismo, doutrina que defendia um
realidade cultural. (Alfredo Bosi,
regime político totalitário, corpora-
História Concisa da Literatura
tivista e nacionalista. Os manifestos
Brasileira)
dessa corrente estão em Curupira e o
Carão, de Plínio, Menotti e Cassiano, e
Ocorreu em três noites, 13, 15 e
no Nhengaçu Verde-Amarelo. Martim
17 de fevereiro de 1922, no Teatro
Cererê, de Cassiano Ricardo, é a
Municipal de São Paulo.
melhor realização poética dos
Na primeira noite, Graça Aranha,
ideais dessa vertente:
que, como membro da Academia
Brasileira de Letras, conferia ao Capa do primeiro número da revista Klaxon. NHENGAÇU VERDE-AMARELO
evento um ar de respeitabilidade, pro- (trechos)
fere a conferência “A Emoção Estética 䊏 Klaxon
da Arte Moderna”, ilustrada com A revista Klaxon, Mensário de Arte A descida dos tupis do planalto central
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poemas declamados por Guilherme Moderna, durou de maio de 1922 a no rumo do Atlântico foi uma fatalidade
de Almeida e Ronald de Carvalho, fevereiro de 1923. Reunindo os histórica pré-cabralina, que preparou o
acompanhados por Ernâni Braga ao modernistas da fase heroica, não ambiente para as entradas no sertão pelos
piano, executando, de Eric Satie, a sobreviveu à divisão entre a corrente aventureiros brancos desbravadores do
paródia da Marcha Fúnebre de Chopin. dinamista, adepta do futurismo, da oceano. (…)
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Texto para o teste 1. 2. (FAC. ENG.o SALVADOR ARENA-2023) – Compare a tela Abaporu
(1928), de Tarsila do Amaral, com uma releitura — feita por meio da
A partir dos anos 1970, a diversidade étnica e cultural ganha técnica renda renascença, do artista popular pernambucano Rafael Leite
maior reconhecimento com movimentos culturais, tais como o (2021) — comentada em uma rede social:
“Tropicalismo”, os “Afrobahianos”, as inserções de referências
religiosas afro-brasileiras na Bossa Nova e o “Teatro do Oprimido”.
Tudo isso foi antecipado pelo Movimento de Cultura Popular,
fundado por Paulo Freire nos anos de 1960.
(MEDEIROS, B. T. F. Quilombos, Políticas Patrimoniais e Negociações.
In: BARRIO, A. E.; MOTTA, A.; GOMES, M. H. Org.
Inovação Cultural, Patrimônio e Educação.
Disponível em: http://campus.usal.es.
Acesso em: 4 set. 2017. Adaptado.)
RESOLUÇÃO:
A recriação do artista pernambucano Rafael Leite assimila
criativamente um modelo da arte brasileira, o quadro Abaporu
(1928), de Tarsila do Amaral, um nome representativo da arte
modernista brasileira das primeiras décadas do século XX.
Resposta: B
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Os tempos mudaram.
O mundo contemporâneo pulsa em ritmos acelerados.
Novos fatores revelam conveniência de outros métodos.
Surgem, no decurso dos nossos dias, motivos que nos
convencem de que cada município deve levar a sério o problema
da circulação rodoviária.
Para facilitar a ação administrativa.
Para uma revisão das suas possibilidades econômicas.
Ritmo de ruralização.
Costurar o país com estradas alegres, desligadas de
horários. Livres e cheias de sol como um verso moderno!
(BOPP, R. Poesia Completa de Raul Bopp.
Rio de Janeiro: José Olympio; São Paulo: Edusp, 1998.)
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sempre triste por ter perdido a mulher minhocão temível. Criou coragem pegou no
que amava, Ci, mãe do mato, rainha das brinco da orelha esquerda que era a máquina
I
Icamiabas (tribo amazônica). Macunaíma revólver e deu um tiro na assombração. Porém
passa o tempo contando suas histórias Oibê não fez caso e veio vindo. O herói tornou a
Quando sinto a impulsão lírica escrevo
(e mentindo muito) a um papagaio, seu ter medo. Pulou na rede agarrou a gaiola e esca-
sem pensar tudo o que meu inconsciente me
único companheiro na solidão e narrador fedeu pela janela, jogando baratas no caminho
grita. Penso depois: não só para corrigir, como
presumível do livro. Morto pelo abraço para justificar o que escrevi. Daí a razão deste
todo. Oibê correu atrás. Mas era só de brinca-
destruidor de Yara (espécie de sereia Prefácio Interessantíssimo.
deira que ele queria comer o herói. Macunaíma
dos índios), sobe ao céu, transformado desembestara agreste fora mas isso ia que ia
(…)
numa estrela da Ursa Maior. Trata-se de acochado pelo minhocão. Então botou o
Escrever a arte moderna não significa
uma fábula múltipla, ou rapsódia, porque furabolo na goela, fez cosquinha e lançou a
jamais para mim representar a vida atual no que
reúne várias lendas brasileiras, tendo no farinha engolida. A farinha virou num areão e en-
tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto.
centro a lenda de Macunaíma, que quanto o monstro pelejava pra atravessar aquele
Si estas palavras frequentam-me o livro não é
Mário de Andrade extraiu de um livro mundo de areia escorregando, Macunaíma fugia.
porque pense com elas escrever moderno, mas
sobre os mitos indígenas do norte do Tomou pela direita, desceu o morro do Estrondo
porque, sendo meu livro moderno, elas têm
Amazonas. A narrativa reúne supersti- que soa de sete em sete anos seguiu por uns
nele razão de ser.
ções, frases feitas, provérbios e caponetes e depois de cortar um travessão
(…)
modismos de linguagem, tudo encapelado fez o Sergipe de ponta a ponta e
sistematizado e intencionalmente entre- parou ofegante num agarrado muito pedregoso.
Chove?
tecido. Na frente havia uma lapa grande furada por uma
Sorri uma garoa cor de cinza,
muito triste, como um tristemente furna com um altarzinho dentro. Na boca da so-
Andrade recolhe vários falares paulistanos [em liquidação... O frade pôs no herói uns olhos frios e
do dia a dia, seja a fala mais polida, Mas neste largo do Arouche secundou com pachorra:
como aparece nos Contos Novos posso abrir o meu guarda-chuva — Eu sou Mendonça Mar pintor.
(1947), seja a oralidade dos bairros de [paradoxal, Desgostoso da injustiça dos homens faz três
imigrantes italianos, como Belazarte este lírico plátano de rendas mar... séculos que afastei-me deles metendo cara no
(1934). No primeiro, Mário descarrega sertão. Descobri esta gruta ergui com minhas
muita dose de psicologismo, que cul- Ali em frente... — Mário, põe a máscara! mãos este altar do Bom Jesus da Lapa e vivo
mina no célebre conto “Peru de Natal”, — Tens razão, minha Loucura, tens razão. aqui perdoando gente mudado em frei Francisco
o mais conhecido dos contos de Mário. O rei de Tule jogou a taça ao mar... da Soledade.
Apoiando-se em Freud (Totem e Tabu), Os homens passam encharcados... — Está bom, Macunaíma falou. E partiu na
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Leia o poema “A Menina e a Cantiga”, de Mário de Andrade, para Texto para os testes 2 e 3.
responder ao teste 1:
O TROVADOR
… trarilarára… traríla…
Sentimentos em mim do asperamente
A meninota esganiçada magriça com a saia voejando por cima dos homens das primeiras eras...
dos joelhos em nó vinha meia dançando cantando no crepúsculo As primaveras de sarcasmo
escuro. Batia compasso com a varinha na poeira da calçada. intermitentemente1 no meu coração arlequinal2...
Intermitentemente...
… trarilarára… traríla… Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo...
De repente voltou-se pra negra velha que vinha trôpega atrás, Cantabona! Cantabona!
enorme trouxa de roupas na cabeça: Dlorom...
— Qué mi dá, vó?
— Naão. Sou um tupi tangendo um alaúde3!
(Mário de Andrade)
… trarilarára… traríla…
(Mário de Andrade, Poesias Completas, 2005.) 1 – Intermitente: fenômeno que ocorre em intervalos.
2 – Arlequinal: de arlequim, personagem da commedia dell’arte (antiga comédia
italiana), cuja função no início se restringia a divertir o público durante os intervalos
1. (FMABC-2023) – No contexto da primeira fase do Modernismo, o
dos espetáculos.
registro linguístico utilizado no poema corresponde
3 – Alaúde: instrumento de origem árabe bastante usado na Europa renascentista.
a) a uma crítica às elites do país, que não permitiam que as classes
mais pobres tivessem acesso à educação.
b) a uma crítica à parcela da população que não se interessava em
2. (MACKENZIE-2023 – adaptado) – Assinale a alternativa correta.
seguir os estudos formais.
a) É possível conceituar o poema como um elogio da razão
c) a um ideal estético que afirmava que a perfeição artística depende
eurocêntrica civilizatória. Dessa maneira, o eu lírico traça uma linha
do conhecimento profundo das normas da língua.
evolutiva, na qual as culturas pré-históricas e não europeias se
d) a um ideal estético libertário que aproximava a linguagem artística da
encontram em nível hierárquico inferior no mundo da cultura.
linguagem cotidiana do povo.
b) Ao retomar a imagética do Trovadorismo, o poema segue ao pé da
e) a uma crítica a uma arte ingênua produzida espontaneamente por
letra os pressupostos idealizados das antigas cantigas de amor, nas
qualquer pessoa em seu cotidiano.
quais um eu lírico se colocava como vassalo de uma musa distante
RESOLUÇÃO:
e impassível.
A Primeira Geração Modernista vincula-se ao propósito de ruptura
com a tradição e, nesse contexto, a quebra das normas gramaticais c) “O Trovador” expressa, por uma poética fragmentada, marcada
e a valorização do falar cotidiano ganham destaque nas produções pelos versos livres e ausência de rimas, complexidades emocionais
artísticas da chamada fase heroica (1922-1930). A linguagem do eu lírico. No verso “Sou um tupi tangendo um alaúde!” (último
coloquial empregada por Mário de Andrade em “A Menina e a verso), o poema assume perspectiva antropofágica modernista.
Cantiga” pode ser observada nos termos “pra”, “qué”, “dá” e na
d) Pode-se interpretar a expressão “coração arlequinal” (verso 4) da
flexão de gênero do advérbio meio (“meia”) contrariando a norma
gramatical. seguinte forma: o poema renega a dimensão lúdica, bem-humorada,
Resposta: D da existência humana, substituindo-a pela sisudez e pelo controle
racional dos sentimentos e sentidos.
e) O eu lírico de “O Trovador” não estabelece conexão do poema com
o passado, seja este um passado literário, seja este da história dos
povos. Pelo contrário, em seus versos há interesse exclusivo pelo
momento contemporâneo a sua escrita.
RESOLUÇÃO:
O poema “O Trovador” apresenta versos livres e brancos (sem
rima), afastando-se dos padrões da poética tradicional e
acadêmica, rompendo, assim, com o convencionalismo estético.
Além dessas características iconoclastas, o verso “Sou um tupi
tangendo um alaúde” conota a devoração ritual da cultura
europeia, a do colonizador, mantendo relação de sentido com os
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conversas, utilizam-se os paulistanos dum fecundo anarquismo, fazendo de Mais tarde, já no auge do movimento
linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e Oswald uma personagem em perpétua modernista (1926), casa-se com Tarsila
impuro na vernaculidade, mas que não deixa de
revolta, guiado por uma infinita curio- do Amaral, formando o elegantíssimo
ter o seu sabor e força nas apóstrofes, e tam-
bém nas vozes do brincar. Destas e daquelas sidade: “Encaixo tudo, somo, incor- casal Tarsiwald, fundador do
nos inteiramos, solícito; e nos será grata em- poro”. Movimento Antropófago. Entra em
presa vô-las ensinarmos aí chegado. Mas si de Das memórias da infância, uma das contato com alguns artistas europeus,
tal desprezível língua se utilizam na conversação mais marcantes foi a descoberta do como Blaise Cendrars e Leger. Neste
os naturais desta terra, logo que tomam da pena,
circo, que plasmou a visão circense do período promove concorridas reuniões
se despojam de tanta asperidade, e surge o
Homem Latino de Lineu, exprimindo-se numa mundo, a carnavalização da vida, tão etílico-gastronômico-culturais. Em Paris,
outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no marcantes na ironia, no humor e nas Oswald lança seu primeiro livro de
dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com paródias de Oswald, que se dizia “um poemas, Pau-Brasil, ilustrado por Tarsila.
imperecível galhardia, se intitula: língua de palhaço da burguesia”. Com a crise internacional em 1929,
Camões!
Aos 22 anos parte para a Europa, Oswald vai à falência, dependurando-se
(Mário de Andrade, Macunaíma, cap. IX)
incorporando em sua bagagem, no nos reis da vela, apelido dos agiotas da
2. Oswald de Andrade regresso, os “ismos” da vanguarda do zona bancária do centro velho de São
(São Paulo, 1890-1954) velho mundo: as lembranças de Landa Paulo. Perde tudo, transforma-se num
Kosbach, dançarina, “flor de carne “vira-latas do Modernismo”, mas
䊏 Vida musculosa e doirada”, e Kamiá, adquire uma vigorosa experiência das
Viajei, fiquei pobre, fiquei rico, casei, ex-rainha dos estudantes de misérias do mundo das finanças,
enviuvei, casei, divorciei, viajei, casei... já disse Montmartre, que lhe dá o primeiro filho, matéria-prima que vai transpor em
que sou conjugal, gremial e ordeiro. O que não Nonê (síntese de “nosso nenê”). O Rei da Vela.
me impediu de ter brigado diversas vezes à Conhece também lsadora Duncan, de No início dos anos de 1930, passa a
portuguesa e tomado parte em algumas quem foi muito amigo e com quem viver com Patrícia Galvão (Pagu),
batalhas campais. Nem ter sido preso 13 vezes.
escandalizou a sociedade da época. ativíssima mulher que foi resgatada para
Tive também grandes fugas por motivos
Dessas relações, a mais intensa se- a memória nacional por Augusto de
políticos. Tenho três filhos e três netos e sou
rá com Deise, apelidada “Miss Ciclone”, Campos, em trabalho publicado no ano
casado, em últimas núpcias, com Maria
Antonieta d’Alkimin. Sou livre-docente de moça de uma garçonnière da Rua Líbero de 1982.
literatura na Faculdade de Filosofia da Badaró, com quem Oswald passa a viver Com Pagu, Oswald realiza uma
Universidade de São Paulo. em 1917. Deise morre tragicamente de guinada ideológica para a esquerda,
(Oswald de Andrade, um aborto malsucedido, e Oswald casa-se filiando-se ao Partido Comunista e
de um artigo publicado pelo com ela in extremis, no leito do hospital fundando o jornal O Homem do Povo,
Diário de Notícias, em 1950.) em que estava internada. pasquim humorístico-panfletário, que foi
As marcas dessa relação vão rea- empastelado por estudantes da Facul-
O mal foi ter eu medido o meu avanço
parecer no primeiro romance, dade de Direito do Largo São Francisco.
sobre o cabresto metrificado e nacionalista de
Os Condenados. Em seu livro de Serafim Ponte Grande é o romance que
duas remotas alimárias — Bilac e Coelho Neto.
O erro foi ter corrido na mesma pista inexistente.
memórias, Oswald fala dessa fase: projeta essa fase de radicalidade criativa
(...) e ideológica.
A situação “revolucionária” desta bosta Sinto-me só, perdido numa imensa noite de Fiel à sua proposta de “monogamia
mental sul-americana apresentava-se assim: o orfandade. sucessiva”, Oswald casa-se, em 1936,
contrário do burguês não era o proletário — era A amada que me deu a vida partiu sem me
com a poetisa Julieta Bárbara e, em
o boêmio! As massas, ignoradas no território e, dizer adeus.
1942, com Maria Antonieta d’Alkimin,
como hoje, sob a completa devassidão A francesa que trouxe de Paris veio buscar
econômica dos políticos e dos ricos. Os o dinheiro para outro homem. sua relação mais estável, documentada
intelectuais brincando de roda. Landa, que foi o primeiro sonho vivo que nos poemas de Cântico dos Cânticos,
(Oswald de Andrade, me ofuscou, tornou-se a estátua de sal da lenda para Flauta e Violão e no livro de
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E suas vergonhas tão altas e tão Meu amor me ensinou a ser simples “Postes da Light”)
[saradinhas Como um largo de igreja
Que de nós as muito bem olharmos Onde não há nem um sino Nos dois poemas, dois aspectos
Não tínhamos nenhuma vergonha Nem um lápis “cosmopolitas” de São Paulo: a escola
(Oswald de Andrade, Nem uma sensualidade de línguas (“berlites”) e a sociedade de
“História do Brasil”) (Oswald de Andrade, “rp 1”) consumo (“reclame”).
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brasilidade em construção
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Textos para as questões de 1 a 3. 2. (UNICAMP – adaptada) – Que relação os três últimos versos
estabelecem com os três primeiros?
Texto I RESOLUÇÃO:
A oposição entre a natureza europeia, marcada pelo frio e pela chu-
ERRO DE PORTUGUÊS va, e a natureza tropical, solar, radiante, determina o eixo central
do poema, que, já no título, ironiza, pela ambiguidade, o processo
colonial: “erro de português”. Se em vez da chuva houvesse sol, o
Quando o português chegou
colonizador teria de se adaptar à condição tropical e teria sido
Debaixo duma bruta chuva despido pelos nativos. Os três primeiros versos descrevem o
Vestiu o índio processo civilizatório; os três últimos instauram a utopia
Que pena! antropofágica de Oswald.
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Oswald de Andrade, in Poesias Reunidas)
Texto II
(...)
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. O índio
vestido de Senador do Império (...). Ou figurando nas óperas de
Alencar cheio de bons sentimentos.
(...)
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria (...)
(...)
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu (...) 3. (UNICAMP – adaptada) – Que relação o poema, como um todo,
(Oswald de Andrade, in Manifesto Antropófago) estabelece com as ideias presentes nos fragmentos do Manifesto?
RESOLUÇÃO:
Levando em conta a leitura do poema “Erro de Português” As frases-comprimidos extraídas do Manifesto Antropófago,
(texto I) e dos fragmentos do Manifesto Antropófago (texto II), responda subscrito por Oswald de Andrade em 1928, no 374.° aniversário da
deglutição do bispo Sardinha pelos índios caetés, são verdadeiros
ao que se pede: torpedos oswaldianos contra a impostura da civilização: “O índio
vestido de Senador do Império (...). Ou figurando nas óperas de
1. (UNICAMP – adaptada) – O que exprime o quarto verso do poema? Alencar”; “Contra o índio de tocheiro”; “Contra Anchieta...”. Nessa
RESOLUÇÃO: direção, o poema ilustra as propostas do Manifesto, já que ambos
A locução interjetiva “Que pena!” expressa contrariedade em re- nascem da mesma intenção de resgate dos valores primitivos
lação à colonização cultural do nativo pelo português, alegori- como forma de liberação do instinto e da inocência dionisíaca do
camente referida na imagem do índio vestido. selvagem, visando à superação dos recalques impostos pela moral
judaico-cristã, pelo capitalismo e pela família patriarcal, em nome
da utopia do matriarcado de Pindorama. A antropofagia pode ser
lida como um esboço de filosofia da cultura brasileira e uma busca
da identidade nacional, fundados na “devoração ritual” da cultura
europeia.
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Texto I BRASIL
[ENEM] Antônio Rocco, dentro de uma estética acadêmica, e perspectiva, os outros actantes (= figuras que atuam) do texto são
Oswald de Andrade, usando uma linguagem mais contundente, o Zé Pereira (o português colonizador), o índio e o negro.
retratam as dificuldades com que os imigrantes se defrontavam ao Resposta: E
chegar ao Brasil — destacando-se no texto do modernista os
aspectos mais crus e humilhantes da dura adaptação dos
recém-chegados.
Resposta: C
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Leia o poema “Noite Morta”, de Manuel Bandeira, para responder ao Texto para o teste 2.
teste 1:
BIOGRAFIA DE PASÁRGADA
Noite morta.
Junto ao poste de iluminação Quando eu tinha meus 15 anos e traduzia na classe de grego do
Os sapos engolem mosquitos. D. Pedro II a Ciropédia fiquei encantado com o nome dessa
cidadezinha fundada por Ciro, o Antigo, nas montanhas do sul da
Ninguém passa na estrada. Pérsia, para lá passar os verões. A minha imaginação de adolescente
Nem um bêbado. começou a trabalhar, e vi Pasárgada e vivi durante alguns anos em
Pasárgada.
No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras. Mais de vinte anos depois, num momento de profundo desânimo,
Sombras de todos os que passaram. saltou-me do subconsciente este grito de evasão: “Vou-me embora
Os que ainda vivem e os que já morreram. pra Pasárgada!”. Imediatamente senti que era a célula de um poema.
Peguei do lápis e do papel, mas o poema não veio. Não pensei mais
O córrego chora. nisso. Uns cinco anos mais tarde, o mesmo grito de evasão nas
A voz da noite... mesmas circunstâncias. Desta vez, o poema saiu quase ao correr da
pena. Se há belezas em “Vou-me embora pra Pasárgada!”, elas não
(Não desta noite, mas de outra maior.) passam de acidentes. Não construí o poema, ele construiu-se em
(50 Poemas Escolhidos pelo Autor, 2006.) mim, nos recessos do subconsciente, utilizando as reminiscências
da infância — as histórias que Rosa, minha ama-seca mulata, me
1. (CENTRO UNIVER. CLARETIANO-2023) – No poema, o eu lírico contava, o sonho jamais realizado de uma bicicleta etc.
a) trata a noite como um fenômeno do cotidiano, assinalando seu (BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada.
São Paulo: Global, 2012.)
espanto diante da imponente imagem dos mortos que o visitam.
b) cria uma atmosfera de quietude e solidão, situação que o impele a
evocar o mundo dos mortos. 2. O texto é um depoimento de Manuel Bandeira a
c) elabora uma imagem duplicada da noite, que surge tanto como respeito da criação de um de seus poemas mais
evento do mundo físico quanto como representação da maldade conhecidos. De acordo com esse depoimento, o
humana. fazer poético em “Vou-me embora pra Pasárgada!”
d) constrói sua fantasia com os espíritos dos mortos de maneira a) acontece de maneira progressiva, natural e pouco intencional.
poética, assumindo uma visão consoladora da morte. b) decorre de uma inspiração fulminante, num momento de extrema
e) apresenta um momento de coexistência entre o mundo material e emoção.
o espiritual, ainda que, no final, prevaleça o âmbito material. c) ratifica as informações do senso comum de que Pasárgada é a
RESOLUÇÃO: representação de um lugar utópico.
A atmosfera de quietude e solidão predomina nos cinco primeiros d) resulta das mais fortes lembranças da juventude do poeta e de seu
versos (“Noite morta”, “Ninguém passa na estrada. / Nem um envolvimento com a literatura grega.
bêbado), passando-se, então, à evocação das “sombras” dos
e) remete a um tempo da vida de Manuel Bandeira marcado por
transeuntes que por ali passaram, inclusive dos que já não vivem
(“os que já morreram”) e, finalmente, à evocação da própria ideia desigualdades sociais e econômicas.
de morte, nos três últimos versos, por meio da imagem da noite RESOLUÇÃO:
“maior”. [ENEM-2019 – 2.a aplic.] Manuel Bandeira entrou em contato pela
Resposta: B primeira vez com o nome da cidade antiga de Pasárgada aos 15
anos. Ele afirma, figuradamente, ter vivido nela por alguns anos de
sua adolescência. Depois de mais de vinte anos, brotou-lhe do
inconsciente a frase “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Tentou
escrever daí um poema que não se desenvolveu. Depois de
aproximadamente cinco anos, o poema brotou, afirmando
Bandeira que não foi ele quem construiu o poema, mas o poema
que se construiu nele. Então, pode-se dizer que um de seus mais
conhecidos poemas nasceu “de maneira progressiva, natural e
pouco intencional”.
Resposta: A
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UM POEMA DE CHAGALL
Só é meu
O país que trago dentro da alma.
Entro nele sem passaporte
Como em minha casa.
(...)
As ruas me pertencem.
Mas não há casas nas ruas.
As casas foram destruídas desde a minha infância.
Os seus habitantes vagueiam no espaço
À procura de um lar.
(...)
Só é meu
O mundo que trago dentro da alma.
(BANDEIRA, M. Estrela da Vida Inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993 – fragmento.)
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Os Dias Lindos (1977) A vontade de amar, que me paralisa o abolição de toda crença e o apagar-se
70 Historinhas (1978) [trabalho,
de toda esperança trazem consigo o
vem de Itabira, de suas noites brancas,
Boca de Luar (1984) autofechamento do espírito.
[sem mulheres e sem horizontes.
O Observador no Escritório (1985) E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, Essa negatividade traduz-se pela
Moça Deitada na Grama (1987) é doce herança itabirana. expressão de dor, do vazio, da angústia,
O Avesso das Coisas (1987) da consciência da queda que aprisiona
Drummond manteve estreitos la-
Autorretrato e Outras Crônicas (1989)
ços de amizade com o grupo dos mo- todo ser vivo, daí o autofechamento:
dernistas de 1922 (Mário, Oswald e
䊏 Apreciação É sempre nos meus pulos o limite.
Bandeira). Sob inspiração dos ideais da É sempre nos meus lábios a estampilha.
Nos primeiros livros são constan-
Semana de 22, funda, em 1925, É sempre no meu não aquele trauma.
tes a ironia, a atitude mineiramente
A Revista, ponta de lança do Modernis-
desconfiada de refletir, o Sempre no meu amor a noite rompe.
mo em Minas Gerais. Em 1928, publica
pessimismo, a autonegação, as Sempre dentro de mim meu inimigo.
o arquifamoso “No Meio do Caminho”,
reminiscências da infância itabi- na Revista de Antropofagia.
E sempre no meu sempre a mesma
rana. Drummond parece buscar a si [ausência.
A partir de Sentimento do Mundo
mesmo, posicionando-se como espec- (1940) e especialmente em A Rosa do
(“O Enterrado Vivo”)
tador de um mundo que não aceita e Povo (1945), a poesia de Drummond Lição de Coisas (1962) marca a
que tenta descrever e encontrar. centra-se na dimensão social, no coti- opção concreto-formalista do poeta.
No “Poema de Sete Faces”, que diano, na denúncia da estupidez, da Essa poesia objetual de Drummond é
abre o primeiro livro, Alguma Poesia incompreensão; na luta contra o medo uma radicalização de processos estru-
(1930), a confissão do poeta que se (“que esteriliza os abraços”) e contra a turais que já estavam presentes desde
sente gauche (= sem jeito, ina- consciência da impossibilidade da
Alguma Poesia, na opção pelo
daptado) e a ironia, sob a forma luta (“eu tenho apenas duas mãos / e o
intencional de um antilirismo: prosaico, pelo irônico, pelo antirretó-
sentimento do mundo”).
rico, pelo antilirismo intencional e que
Em “Mãos Dadas”, o compromis-
Quando nasci, um anjo torto predispunham, pela recusa e pela
so com o homem, a solidariedade:
desses que vivem na sombra contenção, ao poema-objeto, típico
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. Não serei o poeta de um mundo caduco.
da Geração de 1950.
Também não cantarei o mundo futuro.
(...) A ruptura com a sintaxe, a rima
(...)
final ou interna, a assonância, a alitera-
Meu Deus, por que me abandonaste (...)
ção e o eco, a repetição compulsória
se sabias que eu não era Deus O tempo é a minha matéria, o tempo
[presente, os homens presentes,
do som-coisa, aproximam, contudo,
se sabias que eu era fraco.
a vida presente. Drummond das operações técnicas
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
das vanguardas de 1950/60:
A poesia social de Drummond faz
seria uma rima, não seria uma solução. O fácil o fóssil
desabrochar o “sentimento do mun-
Mundo mundo vasto mundo, o míssil o físsil
mais vasto é meu coração. do”, marcado pela consciência da
a arte o infarte
solidão, da impotência do homem di-
o ocre o canopo
Na “Confidência do Itabirano”, a ante de um mundo frio e mecânico a urna o farniente
infância e a vida, modelando a prover- que o reduz a objeto. “Os Mortos de a foice o fascículo
bial “secura” do poeta, o alheamento, Sobrecasaca”, “Congresso Internacio- a lex o judex
o poeta que se sente de ferro, que se nal do Medo”, “A Noite Dissolve os o maiô o avô
a ave o mocotó
diz ilha, mas que esconde sob essa Homens”, “Mundo Grande”, “O Lu-
o só o sambaqui
aparente indiferença uma indisfarçável tador”, “Mão Suja”, “A Morte do Lei-
(“Isso é Aquilo”)
solidariedade, um profundo senso do teiro”, “A Flor e a Náusea” e “José”
humano e do social: incluem-se nessa vertente. A poesia metalinguística, que se
Em Claro Enigma (1951) passa a pensa e se interroga, a metapoesia são
Alguns anos vivi em Itabira. predominar a escavação do real, me- constantes no poeta:
PORTUGUÊS D
Principalmente nasci em Itabira. diante um processo de interrogações Não rimarei a palavra sono
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. com a incorrespondente palavra outono.
e negações que acaba revelando o va-
Noventa por cento de ferro nas calçadas. Rimarei com a palavra carne
Oitenta por cento de ferro nas almas.
zio à espreita do homem. O mundo
ou qualquer outra, que todas me convêm.
E esse alheamento do que na vida é define-se como “um vácuo atormen- (...)
[porosidade e comunicação. tado” (existencialismo niilista). A (“Consideração do Poema”)
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1. (FUVEST – adaptada) – Nesse poema, o tratamento da temática III. Quando nasci um anjo esbelto
amorosa é característico da primeira fase do Modernismo? Justifique. Desses que tocam trombeta anunciou:
RESOLUÇÃO: Vai carregar bandeira.
Sim, é um tratamento típico da geração heroica (1922-30), pois a Carga muito pesada pra mulher
primeira fase do Modernismo concretiza a ruptura com a tradição
Esta espécie ainda envergonhada.
literária. Assim, o enfoque não convencional do amor evidencia
(PRADO, Adélia. Bagagem.
essa ruptura (“amor cachorro bandido trem”). É de se ressaltar
Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.)
que, não obstante Drummond pertencer, cronologicamente, à
Segunda Geração Modernista, em seu livro de estreia, Alguma
Poesia (1930), nota-se um desdobramento da Geração de 1922. Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em
relação a Carlos Drummond de Andrade, por
a) reiteração de imagens.
b) oposição de ideias.
c) atualização do tema.
d) negação dos versos.
e) repetição de palavras.
2. (FUVEST – adaptada) – Transcreva do texto alguns elementos que RESOLUÇÃO:
você considere característicos do tipo de linguagem utilizado pelos [ENEM] Os textos de Chico Buarque e de Adélia Prado retomam a
modernistas. Explique por que você os considera assim. conhecida imagem do indivíduo “gauche”, ainda que em situações
existenciais diversas, do “Poema de Sete Faces”.
RESOLUÇÃO:
Resposta: A
1) “Amor cachorro bandido trem”;
2) “Briga perdoa perdoa briga”;
3) “Mariquita, dá cá o pito, / no teu pito está o infinito”.
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1. Temática drummondiana (Coroas sem reino, seu corpo, é parte de suas emoções e
os reinos protéticos de seu imaginário. Os antepassados e
Na Antologia Poética, que publicou de onde proviestes a relação com eles constituem um
quando produzirão
em 1962, Carlos Drummond de problema inquietante, que põe em
a tripla dentadura,
Andrade classificou tematicamente sua questão os fundamentos de nossa
dentadura múltipla,
poesia, distribuindo os seus poemas existência, como se constata no
a serra mecânica,
por nove compartimentos, con- poema “Convívio”:
sempre desejada,
siderados “pontos de partida ou ma- jamais possuída, Cada dia que passa incorporo mais esta
téria de poesia”. A seguir, enumeramos que acabará [verdade, de que eles não
e comentamos brevemente esses nove com o tédio da boca, [vivem senão em nós
núcleos temáticos da poesia a boca que beija, e por isso vivem tão pouco; tão interva-
[lado; tão débil.
drummondiana, colocando ao lado de a boca romântica?...)
(...)
cada um, entre aspas, o título da seção
correspondente da Antologia. A morte e o sentido (ou falta de
Ou talvez existamos somente neles, que
O próprio poeta adverte sobre a sentido) da existência, a consciência [são omissos, e nossa existência,
existência de poemas seus que pode- culpada, a busca de sabedoria são apenas uma forma impura de silêncio,
outros dos temas que frequentam os [que preferiram.
riam ser associados a mais de um dos
temas seguintes. Pode-se acrescentar poemas do indivíduo na poesia de
䊏 4. Amigos:
que há também entre seus poemas Drummond.
“cantar de amigos”
alguns — bem poucos, é verdade — O título atribuído pelo poeta à
cuja temática não corresponde a 䊏 2. A terra natal : seção de sua Antologia Poética dedi-
nenhum de tais temas. Ainda assim, o “uma província: esta” cada aos amigos joga com os “canta-
quadro discernido pelo poeta oferece A profunda, dura, triste relação com res” ou “cantigas de amigo”
uma visão abrangente das preocu- o lugar de origem, que o indivíduo aban- medievais. São homenagens a figuras
pações que frequentaram a sua obra dona, mas que não o abandona, carac- admiradas, próximas ou distantes,
ao longo de todo o seu de- como Machado de Assis, Charles
teriza o tema da “terra natal”. Um dos
senvolvimento. Chaplin, Mário de Andrade ou Manuel
mais célebres poemas sobre o assunto
Bandeira, em poemas às vezes de
é “Confidência do Itabirano”. Mas o
grande penetração crítica. O poema
tema pode ser tratado também de
䊏 1. O indivíduo: dedicado a Machado de Assis, “A um
forma bem humorada e crítica, como Bruxo, com Amor”, contém as
“um eu todo retorcido”
em “Cidadezinha Qualquer”: seguintes iluminações:
O indivíduo, na poesia de
Drummond, é complicado, torturado, Casas entre bananeiras Olhas para a guerra, o murro, a facada
fragmentado. O “Poema de Sete mulheres entre laranjeiras como para uma simples quebra da
Faces”, primeiro texto do primeiro pomar amor cantar. [monotonia universal
e tens no rosto antigo
livro de Drummond (Alguma Poesia,
Um homem vai devagar. uma expressão a que não acho nome certo
1930), é um célebre exemplo deste Um cachorro vai devagar. (das sensações do mundo a mais sutil):
tema. As inquietações do indivíduo Um burro vai devagar. volúpia do aborrecimento?
Devagar... as janelas olham. ou, grande lascivo, do nada?
drummondiano envolvem, por exem-
plo, preocupação com a velhice, como Eta vida besta, meu Deus. (...)
em “Dentaduras Duplas”:
Todos os cemitérios se parecem,
䊏 3. A família: e não pousas em nenhum deles, mas
Dentaduras duplas!
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䊏 5. O choque social: Amar a nossa falta mesma de amor, e na Trata-se de uma “arte poética”
[secura nossa
“na praça de convites” porque é um poema que contém uma
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a
Aqui os poemas se voltam para o [sede infinita. concepção do que seja a poesia e de
espaço social, onde o indivíduo se ex- (“Amar”) como ela deva ser feita. A concepção
põe ao apelo dos outros e vive os dra- 䊏 7. A própria poesia: expressa neste texto é bastante dife-
mas coletivos. Os grandes poemas de “poesia contemplada” rente da que antes apareceu no poe-
temática político-social de Drummond Trata-se das “artes poéticas” de ma “Poesia”, pois aqui a ideia é de
abordam os horrores da guerra, da Drummond: poemas sobre o quê e o que o poema é um objeto de palavras
opressão, da injustiça, da violência. como da poesia. Podem ser poemas de e, portanto, que a poesia se faz com
Durante os anos marcados pela circunstância, singelos como “Poesia”: palavras, não sendo algo que possa
Segunda Guerra Mundial e, no Brasil,
existir “dentro” do poeta, indepen-
pela ditadura de Getúlio Vargas (época Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
dentemente das palavras.
em que Drummond aderiu, breve-
mente, ao credo socialista), o poeta No entanto ele está cá dentro
Chega mais perto e contempla as palavras. na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Este o nosso destino: amor sem conta, Cada uma Nunca me esquecerei que no meio do
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, tem mil faces secretas sob a face neutra [caminho
doação ilimitada a uma completa ingratidão, e te pergunta, sem interesse pela resposta, tinha uma pedra
e na concha vazia do amor a procura medrosa, pobre ou terrível, que lhe deres: tinha uma pedra no meio do caminho
paciente, de mais e mais amor. Trouxeste a chave? no meio do caminho tinha uma pedra.
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MEMÓRIA Texto 1
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1. Murilo Mendes (Juiz de Fora, MG, Contemplação de Ouro Preto (1954), O PASTOR PIANISTA
1901 – Estoril, Portugal, 1975) além de Transístor, A Idade do Serrote Soltaram os pianos na planície deserta
(prosa, 1969) e de vários inéditos. Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
䊏 Vida Eu sou o pastor pianista,
Estudou na sua cidade e em Niterói, 䊏 Evolução e características Vejo ao longe com alegria meus pianos
começou o curso de Direito, mas logo o • Iniciou-se realizando uma poesia Recortarem os vultos monumentais
influenciada pelo espírito de “demo- Contra a lua.
interrompeu. Foi sempre um homem
inquieto passando por atividades lição” dos modernistas de 1922 (Mário
e Oswald), por meio de paródias de tex- Acompanhado pelas rosas migradoras
díspares: auxiliar de guarda-livros,
Apascento1 os pianos que gritam
prático de dentista, telegrafista tos consagrados e de denúncia da colo-
E transmitem o antigo clamor do homem
aprendiz e, em melhores dias, notário e nização física e cultural do Brasil. Na
Inspetor Federal de Ensino. Não menos “Canção do Exílio”, observe a proximi-
Que reclamando a contemplação
rica de experiência foi a sua vida dade com a atitude irreverente dos mo- Sonha e provoca a harmonia,
espiritual e literária: tendo estreado em vimentos Pau-Brasil e Antropofágico: Trabalha mesmo à força,
revistas do Modernismo, Terra Roxa e E pelo vento nas folhagens,
Outras Terras e Antropofagia, Minha terra tem macieiras da Califórnia Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
conheceu de perto a poética pri- onde cantam gaturamos1 de Veneza. Pelo amor e seus contrastes,
Os poetas da minha terra Comunica-se com os deuses.
mitivista e surrealista que as animava;
em 1934, converteu-se ao catolicismo, são pretos que vivem em torres de ametista, Vocabulário
partilhando com o pintor Ismael Nery o os sargentos do exército são monistas2, 1 – Apascentar: pastorear.
fervor por uma arte que transmitisse [cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações. • Depois de 1950, em livros como
conteúdos religiosos em códigos
A gente não pode dormir Tempo Espanhol (1959) e Convergência
radicalmente novos. (...) A partir de
com os oradores e os pernilongos. (1970), sua poesia tende à objetividade e
1953 viveu quase exclusivamente na
(...) ao descarnamento da escrita, aproxi-
Europa e, desde 57, em Roma, onde
mando-se da poesia experimental da
ensinou Literatura Brasileira. Em todos
Vocabulário época (o concretismo). É eloquente o
esses anos, M. Mendes revelou-se um
1 – Gaturamo: designação comum a várias seguinte depoimento de João Cabral de
dos nossos escritores mais afins à van-
espécies de aves. Melo Neto: “a poesia de Murilo me foi
guarda artística europeia, o que, no
2 – Monista: que crê na doutrina monista, sempre maestra, pela plasticidade e no-
entanto, não o apartou das imagens e
segundo a qual tudo pode ser reduzido à uni- vidade da imagem. Sobretudo foi ela
dos sentimentos que o prendiam às
dade. quem me ensinou a dar precedência à
suas origens brasileiras e, estritamente,
imagem sobre a mensagem, ao plástico
mineiras.
• Em Tempo e Eternidade, busca, sobre o discursivo”. Um exemplo dessa
(BOSI, Alfredo. convertido ao catolicismo, “restaurar vertente é o poema que integra o ciclo
História Concisa da Literatura Brasileira. a poesia em Cristo”, integrando, com “A Lua de Ouro Preto”:
São Paulo: Cultrix, 1994. p. 446.) Jorge de Lima, Ismael Nery, Otávio
de Faria, Tasso da Silveira, Augusto Lua, luar,
Não confundamos:
䊏 Obra Frederico Schmidt, a corrente dos
poetas católicos, marcados pela influên- Estou mandando
Considerado um poeta “difícil”, pela
cia dos autores franceses (Péguy, A Lua luar.
liberdade criadora, pela multiplicidade de
Claudel, Bernanos, Maritain) e pela Luar é verbo,
temas sobre os quais versou e pela den-
atuação de Jackson de Figueiredo e Quase não é
sidade que impregna sua visão de
Substantivo.
mundo, é autor, entre outros, dos livros: Alceu de Amoroso Lima (Tristão de
(...)
História do Brasil (1932), Tempo e Ataíde), pensadores católicos que
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E tu és cíclica,
Eternidade (em parceria com Jorge de aglutinaram em torno de si esse
Única, onírica,
Lima, 1935), A Poesia em Pânico (1938), “renascimento” da visão mística e do
Envolverônica,
O Visionário (1941), As Metamorfoses catolicismo militante. Musa lunar.
(1944), Mundo Enigma (1945), Poesia • De sua vertente surrealista, des-
Liberdade (1947), Janela do Caos, tacamos: (...)
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[Egito. incorpora à sua temática a poesia fitar o torvelinho que não vês,
A serpente de asas será desterrada na lua.
mística e católica, além de novos pro- o suceder dos rostos cobiçoso
A última mulher será igual a Eva.
cessos construtivos. passando sem descanso sob a tez;
E o Julgador, arrastando na sua marcha as
Apoiado nos arquétipos bíblicos, que eram tudo memórias fugidias,
[constelações,
na simbologia das escrituras, associa máscaras sotopostas que não vias.
Reverterá todas as coisas ao seu princípio.
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Texto para as questões 1 e 2. 2. (UNESP) – Identifique duas características que permitem vincular
esse poema ao movimento modernista.
O PASTOR PIANISTA RESOLUÇÃO:
Os versos livres, sem métrica, a paródia da tradição literária, isto é,
Soltaram os pianos na planície deserta a retomada da poesia bucólica do Arcadismo ou Neoclassicismo; e
Onde as sombras dos pássaros vêm beber. a influência da teoria psicanalítica freudiana na literatura,
rompendo com a lógica, são características da vanguarda
Eu sou o pastor pianista,
modernista, iconoclasta não só em relação ao passado literário,
Vejo ao longe com alegria meus pianos como também quanto ao uso da razão para captar a realidade.
Recortarem os vultos monumentais Embora muitos candidatos possam ter mencionado os versos
Contra a lua. brancos (sem rima), esse tipo de verso já era usado na poesia do
século XVIII, como exemplifica a obra O Uraguai, de Basílio da
Gama, publicada em 1769.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento1 os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
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MARIA DIAMBA
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Irmão das coisas fugidias1, O último andar é muito longe: Na abertura, no final e entre as
não sinto gozo nem tormento. custa-se muito a chegar. partes, há poemas intercalados, que a
Atravesso noites e dias Mas é lá que eu quero morar:
autora chama de “falas”. Também en-
no vento.
tre cada parte e, por vezes, no interior
(...)
Se desmorono ou se edifico, delas, há outros poemas, designados
se permaneço ou me desfaço, De lá se avista o mundo inteiro: como “cenários”:
— não sei, não sei. Não sei se fico tudo parece perto, no ar.
ou passo. FALA INICIAL
É lá que eu quero morar:
Sei que canto. E a canção é tudo. Não posso mover meus passos
no último andar.
Tem sangue eterno a asa ritmada. por esse atroz1 labirinto
(Ou Isto ou Aquilo)
E um dia sei que estarei mudo: de esquecimento e cegueira
— mais nada. em que amores e ódios vão:
(Viagem) 䊏 Romanceiro da Inconfidência — pois sinto bater os sinos,
Vocabulário No Romanceiro da Inconfidência, percebo o roçar das rezas,
1 – Fugidio: que foge. publicado em 1953, Cecília Meireles vejo o arrepio da morte,
cria uma poesia social a partir de um à voz da condenação;
RETRATO fato histórico, pesquisado minuciosa- — avisto a negra masmorra2
mente. A Inconfidência Mineira é evo- e a sombra do carcereiro
Eu não tinha este rosto de hoje,
cada com suas lendas e tradições, que transita sobre angústias,
assim calmo, assim triste, assim magro
com chaves no coração;
nem estes olhos tão vazios, com seus enforcados, suicidas e des-
— descubro as altas madeiras
nem o lábio amargo. terrados, na atmosfera misteriosa dos
do excessivo cadafalso3
Eu não tinha estas mãos sem força,
cenários mineiros do século XVIII.
e, por muros e janelas,
tão paradas e frias e mortas; Para esta obra, Cecília empregou o pasmo da multidão.
eu não tinha este coração diversos tipos de versos, tetrassílabos,
que nem se mostra. redondilhos menores e maiores, Batem patas de cavalo.
hexassílabos, octossílabos, decassíla- Suam soldados imóveis.
Eu não dei por esta mudança,
bos, tudo em variado arranjo estrófico, Na frente dos oratórios,
tão simples, tão certa, tão fácil:
que resulta em uma narrativa ágil e que vale mais a oração?
— Em que espelho ficou perdida
Vale a voz do Brigadeiro
a minha face? matizada. Essa diversidade permite,
sobre o povo e sobre a tropa,
(Viagem) ao mesmo tempo, que a autora con-
louvando a augusta Rainha,
fira sua própria subjetividade, seu pró- — já louca e fora do trono —
1.o MOTIVO DA ROSA
prio lirismo, aos fatos que narra, na sua proclamação.
Vejo-te em seda e nácar1, realizando uma homenagem, muitas
e tão de orvalho trêmula, vezes intertextual, à poesia e aos poe- Ó meio-dia confuso,
que penso ver, efêmera, tas inconfidentes de Minas. ó vinte-e-um de abril sinistro,
toda a Beleza em lágrimas O poema divide-se em “roman- que intrigas de ouro e de sonho
por ser bela e ser frágil. houve em tua formação?
ces”, aqui entendidos como os poe-
Quem ordena, julga e pune?
Meus olhos te ofereço: mas épico-líricos da tradição medieval,
Quem é culpado e inocente?
espelho para a face e desenvolve-se em cinco partes: Na mesma cova do tempo
que terás, no meu verso, I) a descrição do ambiente em que Cai o castigo e o perdão.
quando, depois que passes, se vai dar a ação (do romance I ao Morre a tinta das sentenças
jamais ninguém te esqueça. XIX); e o sangue dos enforcados...
Então, da seda e nácar, II) o desenvolvimento da trama e a — liras, espadas e cruzes
toda de orvalho trêmula, descoberta dos planos (do roman- pura cinza agora são.
serás eterna. E efêmero ce XX ao XLVII); Na mesma cova, as palavras,
o rosto meu, nas lágrimas III) a morte de Cláudio Manuel da o secreto pensamento,
do teu orvalho... E frágil. as coroas e os machados,
Costa e de Tiradentes (do roman-
(Mar Absoluto) mentira e verdade estão.
ce XLVIII ao LXIV);
Vocabulário IV) o destino de Tomás Antônio Gon- Aqui, além, pelo mundo,
1 – Nácar: tom rosado ou carmim (vermelho). zaga e Alvarenga Peixoto (do ro-
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EPIGRAMA N.o 04
3. (ITA) – O texto
I. aproxima metaforicamente um fenômeno humano e um fenômeno
natural a partir da identificação de, pelo menos, um traço comum a
ambos: água em movimento.
II. sugere que, enquanto o movimento do choro é ligado à variação das
emoções, o movimento da onda deve-se a forças naturais,
responsáveis pela circularidade marítima.
III. ameniza o dramatismo do choro humano, pois, quando acomete o
sujeito, ele passa naturalmente, como a onda que volta ao mar.
IV. leva-nos a perceber que o choro contido tem um impacto emocional
que o torna desolador.
Estão corretas
a) I e II, apenas.
b) I, II e IV, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) II e III, apenas.
e) todas.
RESOLUÇÃO:
O poema tematiza a dor do choro, comparando as emoções
humanas ao movimento das marés. As ondas do mar, obedecendo
às forças naturais, são análogas às lágrimas, reveladoras das
emoções humanas, que partem dos olhos, escorrem pela face
como uma manifestação de sofrimento. Porém, o choro contido,
que não se exterioriza, carrega a tensão emocional, como sugerem
os versos finais do poema: “O choro foge sem vestígios, / mas
levando náufragos dentro.”
Resposta: B
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b) II, apenas.
c) I e II, apenas. 2. (IBMEC) – No soneto apresentado, a percepção de tempo e espaço
d) II e III, apenas. pelo poeta ocorre de maneira surpreendente. Ao romper com o
e) I, II e III. encadeamento lógico, o poema
RESOLUÇÃO: a) expressa, em tom nostálgico, a angústia pela incapacidade de
A afirmação III é incorreta porque nem do poeta, nem, muito adaptar-se ao mundo.
menos, do eu lírico se pode afirmar que demonstre “apego à b) valoriza uma atitude libertária, que mantém relações flexíveis com o
tradição clássica” (apesar do teor classicizante de alguns sonetos
tempo e com o espaço.
de Vinícius de Moraes). Além disso, a expressão latina citada
(“libertas quae sera tamen”), constante do projeto de bandeira dos c) confirma uma visão mística, na qual o tempo e o espaço ganham
inconfidentes mineiros — e cuja tradução correta é “liberdade (que) contornos divinizados.
embora tardia” —, nem é propriamente um verso (é parte de um d) faz uma crítica de cunho social para denunciar a onipresença
verso virgiliano), nem é o núcleo da estrofe transcrita. Trata-se, espaço-temporal na sociedade.
antes, da afirmação da “quentura” afetiva da pátria, em
e) estabelece, metaforicamente, uma relação entre a brevidade da vida
contraposição aos predicados convencionais oficialmente
celebrados (no caso, pelo Hino Nacional). e a paixão humana.
Resposta: C RESOLUÇÃO:
O eu lírico manifesta uma atitude libertária, pois se define como
oposto aos que se pautam pelos parâmetros habituais da
experiência, em que os eventos se sucedem “passo por passo” e
passado, presente e futuro são irredutíveis um ao outro. Na
experiência do eu lírico, o presente pode reduzir-se ao passado (“Eu
morro ontem”) ou situar-se no futuro (“Nasço amanhã”). O eu lírico
mantém “relações flexíveis com o tempo e com o espaço”, pois
sua experiência não conhece limites temporais nem espaciais:
“Ando onde há espaço. / — Meu tempo é quando.”
Resposta: B
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SONETO DE FIDELIDADE
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Você já deve ter notado que cada vestibular possui critérios específicos e recortes temáticos diferentes em
relação à sua prova de redação. Isso fica claro quando comparamos, por exemplo, a prova do ENEM com a prova
da FUVEST, em que, apesar de requisitarem a mesma tipologia textual, a dissertação-argumentativa, suas grades
de correção são distintas – o primeiro avalia a redação em 5 competências – como vimos no caderno 1 – a segunda,
em 3.
A mesma diferença ocorre em relação aos temas cobrados: enquanto a prova do ENEM busca temas ligados à
problemáticas brasileiras de ordem política ou social que precisam ser solucionadas, a FUVEST enfocava questões
humanas mais abrangentes e de ordem filosófica ou existencial. Por isso, este módulo irá ajudá-lo a compreender
mais detalhadamente como é a argumentação e o que é avaliado nessa prova tão importante.
“A redação deverá ser, obrigatoriamente, uma dissertação de caráter argumentativo, escrita em língua
portuguesa, na qual se espera que o candidato, visando sustentar um ponto de vista sobre o tema, demonstre
capacidade de mobilizar conhecimentos e opiniões; argumentar de forma coerente e pertinente; articular
eficientemente as partes do texto e expressar-se de modo claro, correto e adequado”
O texto também deve ter mínimo de 20 linhas e máximo de 30, com título obrigatório (há uma linha à parte
correspondente).
O tema costuma versar sobre algum dilema humano em forma de frase ou pergunta e possui caráter filosófico.
Isso implica que a discussão pode ser mais abrangente, em vez de limitada a um tempo/espaço específico, como
ao Brasil contemporâneo, por exemplo.
Isso fica evidente ao observamos as propostas dos últimos cinco anos: “As diferentes faces do riso” (2022); “O
mundo está fora da ordem?” (2021); “O papel da ciência no mundo contemporâneo” (2020); “De que maneira o
passado contribui para a compreensão do presente” (2019); “Devem existir limites para a arte?” (2018). Ainda,
houve anos, em que a relação com a Filosofia se deu de forma explícita como em 2017 – “O homem saiu de sua
menoridade”– e 2016 – “As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas?”.
Logo, há uma diferença clara entre a proposta FUVEST e a de outros vestibulares, como o ENEM, por exemplo,
já que o foco é a revisão de crenças sobre um tema e não uma proposta de mudança da realidade. Ou seja, NÃO
se busca a solução para um problema, logo, não deve haver proposta de intervenção em sua conclusão, mas uma
síntese do que foi defendido.
PORTUGUÊS D
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A proposta de redação da Fuvest ajusta-se à grade de avaliação e com 3 critérios: 1. Desenvolvimento do tema e
organização do texto dissertativo-argumentativo; 2. Coerência dos argumentos e articulação das partes do texto; e 3.
Correção gramatical e adequação vocabular. É preciso destacar que cada um varia de 1 a 5 pontos e não possuem o
mesmo peso: o primeiro é multiplicado por 4, os outros 2, por 3. A nota vai, então, de 0 a 50.
A tabela abaixo mostra por meio de palavras-chave o que cada critério busca avaliar:
1. Desenvolvimento do tema e
2. Coerência dos argumentos e 3. Correção gramatical e
organização do texto
articulação das partes do texto adequação vocabular
dissertativo-argumentativo
Ainda se recomenda a leitura completa acerca de cada critério que está no Manual do
candidato. São apenas duas páginas facilmente encontráveis a partir do índice.
O primeiro critério verifica a execução da estrutura do gênero dissertação- argumentativa, isto é, se a redação
apresenta todas as partes esperadas (introdução, argumentos e conclusão); além de avaliar se ela atende ao tema
proposto e se o desenvolve de maneira adequada.
Esse desenvolvimento não está ligado à citação aleatória de repertórios, muito menos à simples exposição de ideias já
presentes na coletânea de textos que compõe a proposta. Segundo expõe o próprio manual da FUVEST (2022, p. 38-39):
“Verifica-se, além da pertinência das informações e da efetiva progressão temática, a capacidade crítico-
argumentativa que a redação venha a revelar”. E “A paráfrase de elementos que compõem a proposta de
redação não é um recurso recomendável para o desenvolvimento adequado do tema”.
Mas o que é ser pertinente? É selecionar dados, informações, discursos, ideias, etc, que tenham relação direta com
o tema da redação. Dessa forma, a escolha de repertórios para usar na argumentação deve ser pensada de forma
estratégica, pois temas distintos têm diferentes potenciais de recorte e de abordagem, o que também demonstra a
capacidade de análise crítica do candidato.
PORTUGUÊS D
Ou seja, a escolha tem que fazer sentido tanto em relação ao campo temático da redação quanto em relação à
lógica que será desenvolvida para sustentar a relação entre dados e tese. Por exemplo, é mais estratégico explorar uma
questão política por um viés social e/ou histórico do que por um viés biológico ou psicanalítico (pode até ser feito, mas
a lógica tem mais chances de parecer “forçada” ou mais facilmente refutável).
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Já o segundo critério trata da importância de se privilegiarem argumentos relacionados entre si, tanto coesiva quanto
logicamente. Nesse sentido, quando uma redação possui um bom projeto de texto, é natural que haja uma conexão
entre as ideias selecionadas e a análise explorada.
Um exemplo disso seriam os esquemas de causa e consequência que permitem argumentos conectados entre si. Essa
articulação não é obrigatória, porém revela maior complexidade de organização e raciocínio e, por isso, tende a favorecer
notas maiores nesse e no primeiro critério. Outro ponto a se atentar é a respeito do uso de elementos de coesão textual
(módulo 3, caderno 1, Frente 4 e módulos 21 e 22 deste caderno), que explicitem essa conexão entre parágrafos ou uma
ordenação pré-estabelecida entre eles.
Por fim, o último critério trata do registro formal esperado em qualquer dissertação-argumentativa. Faça uma boa
revisão do texto, adequando-o às regras da norma padrão.
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Texto 4 Texto 5
Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais Algo muito estranho está acontecendo no mundo atual. Vivemos
cruciais – o transporte, as comunicações e todas as outras indústrias, melhor que qualquer outra geração anterior. Pessoas são saudáveis
a agricultura, a medicina, a educação, o entretenimento, a proteção ao graças às ciências da saúde. Moram em residências robustas, produto
meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto – da engenharia. Usam eletricidade, domada pelo homem devido ao seu
dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também conhecimento de química e física. Paradoxalmente, essas mesmas
criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e pessoas ligam seus computadores, tablets e celulares para adquirir e
a tecnologia. É uma receita para o desastre. Podemos escapar ilesos disseminar informações que rejeitam a mesma ciência que é tão
por algum tempo, porém mais cedo ou mais tarde essa mistura presente em suas vidas. Vivemos num mundo em que pessoas usam
inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara. a ciência para negar a ciência.
(Carl Sagan, 1996.) (Alicia Kowaltowski, Usando a ciência para negar a ciência. 2019. Disponível
em https://www.nexojornal.com.br/. Adaptado).
Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual
você exponha seu ponto de vista sobre o tema: o papel da ciência no mundo contemporâneo.
1. Leia a redação de nossa ex-aluna Natalia Nora Marques aprovada no curso de Jornalismo pela FUVEST de 2020 (“O papel da ciência no mundo
contemporâneo”). Sua nota foi 44.5. Vamos analisá-la.
Os movimentos literários costumam intercalar entre a valorização da razão e da emoção. Um dos exemplos de épocas
em que predominava a razão foi o século XIX em que o livro “O Cortiço” foi escrito sob moldes europeus e naturalistas.
Em sua obra, Aluísio Azevedo utiliza teorias científicas da época para categorizar como inferiores as classes mais
necessitadas do Brasil. Assim como o autor manipulava a ciência, diversos outros intelectuais também o fizeram segundo
seus interesses, mostrando que a ciência exerce muitos papéis, mas sempre servindo a quem a financiasse.
Apesar da necessidade de, em um mundo globalizado, e com tamanho desenvolvimento científico, existir acesso por parte
da maioria da população a tais conhecimentos, as produções científicas são excludentes e de difícil compreensão para os
padrões de um país que, como o Brasil, possui parte significativa da população composta com analfabetos, todavia,
funcionais. Além disso, a visível elitização do acesso às universidades torna mais desigual a situação entre as classes mais
baixas, que são prejudicadas, e altas, que podem pagar pelo ensino e não se preocupam com tornar a ciência próxima dos
mais necessitados, contribuindo apenas para a manutenção da estrutura de poder que se assemelha ao mecenato, mas que,
no lugar de artistas, os financiados são cientistas e suas pesquisas se voltam apenas às classes dominantes que podem
financiá-la.
Não somente o naturalismo fez uso da ciência para justificar visões de superioridade de uma classe sobre outra.
Pseudoteorias como o darwinismo social foram usadas a fim de inocentar os países europeus durante o neocolonialismo,
em que a África foi partilhada e explorada sob a alegação de que se estava levando “civilização” para essas regiões. Aluísio
Azevedo contribuiu para que no Brasil se criasse uma visão ainda mais desumanizada e pejorativa da população que vivia
em cortiços, sempre a serviço da elite que buscava manter sua posição de superioridade em relação à massa populacional.
Para isso, a ciência teve um papel fundamental, que continuará distante dessa classe enquanto não houver uma
democratização de seu acesso.
Portanto, é impossível dissociar o papel exercido pela ciência dos responsáveis pelo seu financiamento, apesar de a
PORTUGUÊS D
democratização das produções científicas ser necessária, está bastante distante de se tornar uma realidade. Mesmo com
séculos de distância, o Brasil de Aluísio Azevedo não é tão diferente do atual, sendo assim, é provável que o papel a ser
exercido pela ciência permaneça como subjugado ao capital e aos interesses das classes elitizadas, mantendo uma espécie
de mecenato científico.
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a) Na introdução (primeiro parágrafo), qual informação foi selecionada e) O segundo argumento está conectado ao primeiro? De que forma?
para contextualizar o tema? Foi uma escolha pertinente ao tema ou não? RESOLUÇÃO:
Justifique sua resposta. Estão conectados a partir de dois pontos: o fato de ambos
mostrarem a relação da ciência com a elite que a financia ou que a
RESOLUÇÃO:
produz e seus interesses; e por meio da relação entre o passado
Na introdução, menciona-se o romance “O cortiço” de Aluísio
(segundo argumento) e o presente (primeiro argumento), que fica
Azevedo para contextualizar o tema. Essa escolha foi pertinente, já
explícita no último período do terceiro parágrafo.
que a candidata relaciona as teorias pseudocientíficas da época, as
quais a obra reflete e reproduz, com o tema – “o papel da ciência”
– e com a tese defendida – de que a ciência serve a quem a financia.
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1. LÍNGUA E LINGUAGEM
Muitos candidatos não sabem, mas existem vestibulares de faculdades diferentes cujas provas são criadas pela
mesma instituição. Por conseguinte, mesmo que sejam de universidades diferentes, os exercícios, a criação e a avaliação
da redação seguem os mesmos padrões, pois foram estabelecidos sob a mesma direção ou banca.
Esse é o caso de várias faculdades como UNESP, UNIFESP, Albert Einstein, FAMERP, Santa Casa, entre outras, que
contratam ou contrataram até 2021 a VUNESP - Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista. Criada
inicialmente para planejar, organizar, executar e supervisionar o concurso Vestibular da Unesp, na atualidade é responsável
por realizar vestibulares e concursos diversos para outras instituições nacionais.
Assim, podemos notar que os critérios de correção da prova de redação são os mesmos – com adequação apenas
do critério A como será mostrado. Outro fator comum é a tendência temática que essa fundação costuma seguir. Ainda,
a grade de correção com níveis detalhados é exposta na plataforma pela própria VUNESP aos candidatos dos seus
vestibulares e aqui a reproduziremos para que possamos entendê-la melhor. Para a aula de hoje, usaremos o caso da
UNESP, dentre as universidades mencionadas, como exemplo.
“Na prova de redação, espera-se que o candidato produza um texto dissertativo-argumentativo (em prosa),
coerente, coeso (bem articulado) e de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, a partir da leitura
e compreensão de textos auxiliares, que servem como um referencial para ampliar os argumentos
produzidos pelo próprio candidato”
Apenas por essa indicação do manual, já notamos uma grande diferença da prova de redação organizada pela
VUNESP em relação à do ENEM e à da FUVEST, já que aqui o uso dos textos da coletânea – os também chamados textos
auxiliares ou textos de apoio – são recomendados para uso na argumentação do candidato, diferentemente das outras
duas provas que os indicam apenas com fins de compreensão e reflexão sobre o tema.
Por outro lado, há muitos pontos comuns entre as provas de redação da VUNESP e do ENEM: o título não é
obrigatório, o texto não deve ter menos 8 linhas para ser corrigido e os temas estão ligados a problemas de âmbito
social ou político da sociedade brasileira, como podemos ver na tabela abaixo nos temas dos últimos anos:
Compro, logo existo? (2019) opressão ou liberdade de Obrigatoriedade da vacinação: entre a prevenção de
Liberar o porte de armas a manifestação religiosa? (2020) doenças e o respeito às escolhas individuais? (2019)
todos cidadãos no Brasil Eutanásia: entre a liberdade de O fracasso da lei de cotas para deficientes:
diminuirá a violência no Brasil? escolha e a preservação da negligência das empresas ou falha do Estado? (2018)
(2018/2) vida. (2019)
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Ao contrário da FUVEST, justamente por focarem problemas da realidade mundial ou nacional, os temas elencados
são passíveis de serem “solucionados” ainda que, ao contrário do ENEM, não se exija proposta de intervenção nas
redações da VUNESP conforme o próprio manual esclarece (2021, p.40):
“Não é necessário elaborar conclusões com proposta de intervenção, nas redações dos processos seletivos
promovidos pela Fundação Vunesp”
Entretanto, por ser coerente com esse tipo de tema, tem variado entre os candidatos aprovados com boas notas a
maneira de concluir: em forma de síntese argumentativa, ou com síntese e proposta, ou apenas com proposta de
solução. De qualquer forma, recomenda-se o primeiro tipo de conclusão ( síntese argumentativa), tendo em vista as
orientações do manual.
Outra característica notória sobre os temas elaborados pela Fundação VUNESP é que são, em geral, apresentados
em forma de pergunta (uso de interrogação) e uso do conectivo “ou” em sua formulação, o que dá ao candidato a
possibilidade de escolha de seu posicionamento. Assim, o candidato terá de optar por uma das formulações (ou isso ou
aquilo) e manifestar essa opção já na tese de seu texto, assim como em qualquer dissertação-argumentativa, essa
opinião deve estar explícita desde a introdução.
Por fim, é interessante notar como apesar de serem de faculdades diferentes, alguns temas parecem ser retomados.
Um caso notório foram os temas da UNIFESP de 2017 “O voto nulo é um ato político eficaz?” e da UNESP de 2018 “O
voto deveria ser facultativo no Brasil?”. Ou seja, é bastante produtivo estudar e conhecer bem os temas de redação de
outros anos e de várias faculdades que possuem seu vestibular sob a tutela da VUNESP.
O critério A pode variar de 0 a 3 pontos enquanto os outros, de 0 a 4 pontos. Isso possibilita que a redação atinja no
total 11 pontos. Como a VUNESP realiza diversos processos seletivos, mas mantém os seus critérios, há uma fórmula
para adaptar essa pontuação à nota da redação exposta pelo edital:
NF = (NC * NE)/NMC
NE: Nota máxima prevista em Edital (no caso da UNESP, 28 pontos; no da UNIFESP, 50; no da FAMERP, 20)
NMC: Nota Máxima prevista pela Correção VUNESP (11 pontos)
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Em relação ao primeiro critério, é importante a utilização, assim como em qualquer dissertação-argumentativa, das
mesmas palavras-chave presentes na pergunta tema desde a introdução e ao longo de todo texto, afinal é a abordagem
completa dessa pergunta que garante os 3 pontos totais.
O segundo critério é o mais detalhado por avaliar mais de um aspecto do texto. Assim, sua redação:
• Não deve possuir interlocução com o leitor (ex.: o que você faria se...) e/ou uso de imperativo (2.a pessoa) no
singular ou no plural (ex.: pense bem, façam sua parte...): barram as notas 3 e 4.
• Não deve haver uso da 1.a pessoa do singular (ex.: eu acho, na minha opinião, segundo meu ponto de vista): barra
a nota 4
• Não deve ter referência direta à situação imediata de produção textual (ex.: como afirma o autor do primeiro
texto/da coletânea/do texto I; como solicitado nesta prova/proposta de redação): barra as notas 3 e 4.
• Deve apresentar estrutura completa com todas as partes (introdução, desenvolvimento e conclusão): estrutura
macro incompleta barra as notas 3 e 4.
• Deve-se priorizar a organização e o desenvolvimento coerente de argumentos: textos com contradições,
argumentos superficiais ou desordenados barram as notas 3 e 4.
• Pode se valer de dados dos textos auxiliares desde que por meio de uma leitura crítica e que mostre relação com
os conhecimentos de mundo do candidato.
• Deve mobilizar repertório consistente com o tema abordado de forma que contribua, efetivamente, para a defesa
da tese adotada pelo candidato.
• Não deve apresentar cópia parcial ou integral de modelos prontos de redação: cópia de trechos de modelos
barram as notas 3 e 4, enquanto a cópia integral zera a redação por completo.
“Serão anuladas as redações em que seja identificada predominância de reprodução de modelos prontos de
redação disponibilizados na internet ou em outras fontes. A predominância de reprodução de modelos será
identificada por comparação entre modelos disponíveis para consulta em fontes de acesso público, bem como
pela comparação entre as redações apresentadas pelos candidatos, quando evidenciada a utilização de um
mesmo modelo. Ademais, também serão penalizadas, com redução de nota no critério B, redações que, embora
não sejam predominantemente copiadas, apresentem trechos reproduzidos de modelos prontos.”
Por fim, o terceiro critério (C) possui pouca diferença em relação aos critérios de norma padrão e coesão de outras
provas. Por isso, é preciso manter uma revisão cuidadosa do texto, buscando corrigir desvios gramaticais e repetições
que possam ocorrer. Também é recomendável o uso adequado de coesivos ao longo do texto tanto para a conexão de
períodos, quanto de parágrafos .Há apenas um ponto específico que pede atenção: a quantidade de linhas do texto
interfere diretamente em sua nota.
Assim, o texto deve possuir pelo menos 21 linhas escritas para alcançar nota máxima nesse critério: desconta-se
1 ponto apenas no critério C em textos com 15 linhas ou menos (sem contar o título) e textos com 20 linhas (sem
contar o título) ou menos não podem alcançar a nota máxima, no critério C.
PORTUGUÊS D
Recomendamos a leitura completa acerca de cada critério. São apenas duas páginas do
Manual do candidato, facilmente encontráveis a partir do índice:
https://tinyurl.com/44cpbfe6 .
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Texto 1
Texto 3
os seguintes mantimentos’. Esse tipo de coisa. Acho que Para acessar a prova e a proposta de redação da
podemos fazer isso”. Musk também brincou que o robô seria FAMERP 2022 comentada.
amigável.
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1. Agora, leia a redação abaixo de nosso ex-aluno, Sergio Luzzi Junior, na prova da FAMERP (2022). Sua nota foi 18,180 de 20. Vamos analisá-la.
No filme “Tempos modernos”, Charles Chaplin retrata o modo de trabalho de um homem no início do século XX, durante o
período conhecido como Segunda Revolução Industrial. Na sua interpretação estereotipada, o homem trabalha como um “robô”,
executando um trabalho repetitivo e entediante. O que Chaplin provavelmente não imaginava é que em um futuro não muito
distante, o homem poderia ser, literalmente, substituído pela máquina. Certamente, os impactos da inteligência artificial nas
relações de trabalho contemporâneas serão piores do que as ocorridas nas transformações industriais anteriores.
Em primeira análise, desde a primeira Revolução Industrial, com a criação da máquina a vapor, o trabalho manual e artesanal
foi substituído. Esses artesões tiveram que se adaptar rapidamente, sendo que a maioria foi obrigado a se sujeitar a condições
precárias de trabalho e baixos salários. Os historiadores relatam uma Inglaterra extremamente desigual durante esse período,
onde uma pequena burguesia enriqueceu explorando a classe trabalhadora. Historicamente, todo avanço tecnológico trouxe
consigo grandes impactos sociais, principalmente relacionado às relações de trabalho.
Analogamente, não tem sido diferente nos dias atuais, porém há um agravante; desta vez, o trabalho humano, principalmente
o trabalho físico e repetitivo pode ser substituído. Ademais, muitos trabalhadores não terão sequer a oportunidade de tentar se
adaptar, como ocorreu nas transformações industriais anteriores. Na prática isso já está ocorrendo gradativamente, como por
exemplo, o sistema informatizado que está sendo testado em algumas farmácias. Esse sistema “auxilia” o farmacêutico e o
paciente na pesquisa e retirada de medicamentos e, consequentemente, muitos balconistas terão seu emprego “cortado” muito
em breve. E esse tipo de tecnologia é como uma bola de neve: hoje é o balconista, amanhã é o farmacêutico.
Em suma, assim como ocorreu nas Revoluções Industriais anteriores, toda mudança e evolução tecnológica trouxe
consequências e aumentou a desigualdade social. Todavia, os impactos da inteligência artificial nas relações contemporâneas
amplificarão ainda mais as desigualdades já existentes, pois o proletariado, em sua grande maioria, será substituído e descartado.
Infelizmente, hoje, Chaplin não interpretaria um “homem robotizado”, ele interpretaria um “robô”.
a) Na introdução (primeiro parágrafo), qual informação foi selecionada b) Na introdução, qual período ou frase constitui a tese defendida? Está
para contextualizar o tema? Foi uma escolha pertinente ao tema ou não? explícito ou implícito o posicionamento?
Justifique sua resposta. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: A tese fica explícita no último período da introdução: “Certamente,
Na introdução, menciona-se o filme “Tempos Modernos” de Charlie os impactos da inteligência artificial nas relações de trabalho
Chaplin para contextualizar o tema. Essa escolha foi pertinente, já contemporâneas serão piores do que as ocorridas nas
que é atrelado ao seu contexto histórico – a primeira Revolução transformações industriais anteriores”. O uso do adjetivo “pior”
Industrial – e com o tema a partir de uma comparação entre o deixa claro um posicionamento sobre o tema.
passado e o presente.
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c) O repertório utilizado na introdução foi abandonado ou retomado em f) Os parágrafos argumentativos podem ser considerados curtos ou
outro momento? Que impressão sobre o texto isso gera? longos? O que isso demonstra?
RESOLUÇÃO: RESOLUÇÃO:
A menção ao filme de Chaplin é retomado em especial na O menor argumento possui sete linhas e o maior possui nove.
conclusão do texto com a finalidade de se reafirmar uma das ideias Apesar de possuírem tamanhos diferentes, ainda podem ser
defendidas: a de que a Inteligência Artificial substituirá o trabalho considerados proporcionais entre si. Também podemos considerá-
repetitivo. Também se retoma e se desenvolve a referência à los longos, o que demonstra capacidade discursiva, desenvol-
primeira Revolução Industrial no segundo parágrafo/primeiro vimento lógico aprofundado e bem planejado.
argumento. Ambas as retomadas trazem a impressão de
organização, bom desenvolvimento de argumentos e coerência,
fruto de um projeto de texto bem estabelecido.
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Rascunho
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Leitura
TEXTOS MOTIVADORES
Obrigatória
Texto I Texto II
Texto IV
Texto III
A estimativa do RBT (Registro Brasileiro de
Ao sobrecarregar a rede de saúde, a pandemia
Transplantes) de 2022 é que eram necessários mais
de Covid-19 afetou o tratamento de outras doenças
de 40 mil transplantes de córnea, rim, fígado, coração
e causou distorções na logística do sistema. Uma
e pulmão. Mas só cerca de 21 mil de transplantes
das áreas afetadas foi a de transplantes, com desses órgãos foram feitos em 2022.
efeitos que ainda perduram.
Gustavo Fernandes Ferreira, presidente da
No início da pandemia, considerava-se que o ABTO (Associação Brasileira de Transplante de
procedimento aumentaria a transmissão do vírus, Órgãos), explica que algumas contraindicações são
mas pesquisas científicas atestam que esse risco é feitas pelo centro de doação quando se avalia que o
mínimo ou ausente. doador não é adequado para o paciente em busca do
Mesmo com o arrefecimento da pandemia, os órgão. Mas essa ressalva pode ocorrer por outra
números ainda não atingiram os patamares razão: quando o centro de transplante não conta com
a capacidade plena para realizar o transplante.
anteriores.
O ponto tem relação com a dificuldade que o
Especialistas apontam que, em 2022, o índice
Brasil encara de não só aumentar o número de
de doadores aumentou mais do que o de
doadores, mas também melhorar a capacidade de
transplantes, o que sugere dificuldades técnicas.
realizar os transplantes.
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Texto V
Quantidade de doadores
Em PMP (por milhão da população)
20
18,1
16,5
14,1
15
10
0
2015 2019 2022
0
2015 2019 2022
Texto VI
O médico nefrologista Roberto Manfro, acredita que o índice poderia ser mais satisfatório se a população
tivesse mais acesso à informação sobre as doações de órgãos.
“Falar que a doação de órgãos é tabu não é verdade. Hoje em dia, todas as religiões são a favor dos
transplantes e não existe malefício relacionado aos transplantes que tenha sido comprovado. O grande
problema é a falta de esclarecimento em relação às doações, do que propriamente um tabu. Quando as
pessoas são esclarecidas, elas entendem e se posicionam a favor. O diagnóstico de morte encefálica no Brasil
é um dos mais seguros do mundo, como exige a legislação, mas tem gente que não acredita. Por isso, tem
que melhorar a quantidade de informações em todos os meios: população, agentes de saúde e classe médica.”
O nefrologista afirma que os órgãos retirados de uma pessoa saudável que sofreu morte cerebral podem
beneficiar pelo menos nove pessoas, que podem receber coração, pulmões, rins, fígado, córneas, pâncreas.
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PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa
sobre o tema Desafios para o aumento de doação de órgãos e de realização de transplantes,
apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione,
de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Os textos apresentam dados estatísticos sobre o número ainda baixo de doadores de órgãos no Brasil, principalmente depois da pandemia.
O aluno deve questionar se isso ocorre por falta de informação e campanhas elucidativas, por medo de autorizar a doação, por problemas
técnico-estruturais relacionados à remoção e transporte de órgãos ou ainda por carência de médicos especializados em transplantes. O
aluno deve apresentar um agente responsável pela proposta de intervenção, que deve ser bem detalhada.
PORTUGUÊS D
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Critérios ENEM
Nome do(a) corretor(a): _______________________________________________
1. O pensamento científico
Ciência é o conjunto de conhecimentos empíricos e teóricos sobre a natureza elaborados a partir da observação,
descrição, explicação e previsão. A base da ciência, portanto, é a experiência, e após a repetição da ação investigada,
faz-se a descrição da ação, têm-se a explicação do evento e sua previsão futura. Ela é dinâmica e está em permanente
construção. O método científico é a metodologia usada por cientistas na busca do conhecimento, um conjunto de regras
para desenvolver uma experiência a fim de produzir novos conceitos, bem como corrigir e integrar conhecimentos pré-
existentes.
https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/12/06/teorias-
conspiratorias-e-pos-verdade-como-a-ciencia-esta-sendo-atacada.htm?cmpid=copiaecola
Para uma corrente de respeitáveis cientistas, entre os quais despontou o físico Stephen Hawking, o
desenvolvimento de uma inteligência artificial completa poderá resultar na destruição da raça humana. Para outra,
liderada pelo tecnólogo Ray Kurzweil, tal advento significará o fim da maioria de nossos problemas. Quem tem razão?
Envolvendo fenômenos extremamente complexos tecnologia e inteligência , a discussão se envolve em tantas
incertezas que, em tese, os dois lados podem estar certos.
Tome-se o desenvolvimento tecnológico. Quanto mais avanços houver, mais abrangentes serão as soluções, mas
também serão maiores os riscos subjacentes.
À medida em que as máquinas forem se tornando mais inteligentes, será natural que recebam um número cada
vez maior de tarefas, o que tenderá a aumentar a interdependência dos sistemas. Também aumentará, todavia, a
vulnerabilidade a eventos extremos.
A ameaça maior, entretanto, estaria contida na possibilidade de as máquinas decidirem se livrar dos humanos.
Esse raciocínio tem dois pressupostos não comprovados.
O primeiro é o de que a evolução da inteligência leva inexoravelmente a uma consciência. Esta, se de fato resultar
de processos físicos que ocorrem no cérebro, em tese poderia ser replicada em circuitos de computador. Contudo,
não existe certeza quanto a isso e não se chegou nem perto de reproduzir tal fenômeno.
Aliás, mesmo que computadores desenvolvam consciência, eles poderiam se guiar por padrões diferentes dos
humanos – sendo, por exemplo, muito mais (ou muito menos) cooperativos do que nós.
O segundo pressuposto é o de que o livre-arbítrio existe – necessário para a máquina tomar a decisão de partir
ao ataque. No entanto, experimentos recentes sugerem que essa noção é ilusória.
Folha de S. Paulo, 31 de dezembro de 2014, caderno A2 (adaptado).
estritamente técnica, ou ela é empregada com explicações simples, ou por comparação a outros elementos do cotidiano
do leitor ou ouvinte.
Apresenta conceitos precisos e válidos cientificamente, argumentos de autoridade, resultados de pesquisas e são
publicados em jornais e revistas não especializados com a finalidade de popularizar a ciência.
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CIÊNCIA E IGNORÂNCIA
Nos países mais desenvolvidos, as crianças ouvem falar dos princípios que
regem a ciência, já nos primeiros anos da vida escolar. Infelizmente, entre nós,
os estudantes entram e saem das universidades sem noção de como deve ser
articulado o pensamento científico.
Quando Galileu Galilei afirmou que a Terra era um dos planetas que giravam
ao redor do Sol, quase foi condenado à morte pela Inquisição. O senso comum
era o de que ficávamos parados no centro do Universo, enquanto o Sol, a Lua e
os demais astros orbitavam à nossa volta.
Muito mais fácil para os religiosos defender que a Terra era imóvel, como
afirmava a Bíblia, do que para Galileu explicar os movimentos de translação e
rotação, que ninguém conseguia enxergar nem sentir.
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3. (UNESP-2022) – “Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de 5. (UNESP-2022) – Em “Contudo, estudos posteriores demonstraram
carne e osso, vale o dito popular: ‘Urubu, pra cantar, demora.’” que a ingestão de planárias não condicionadas também acelerava o
(2.o parágrafo) aprendizado” (3.o parágrafo), o termo sublinhado pode ser substituído,
Considerando o contexto, o ditado popular mencionado pode ser sem prejuízo para o sentido do texto, por:
substituído pelo seguinte provérbio: a) Por conseguinte. b) Inclusive. c) Todavia.
a) “Quem espera sempre alcança.” d) Além disso. e) Conquanto.
b) “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.” RESOLUÇÃO:
“Contudo” é uma conjunção coordenativa adversativa, cuja ideia
c) “Para bom entendedor, meia palavra basta.”
é de oposição ao período anterior. Dessa forma, é equivalente à
d) “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.” conjunção “todavia”.
e) “Quem canta seus males espanta.” Resposta: C
RESOLUÇÃO:
O ditado popular exposto no enunciado “Urubu, pra cantar,
demora” corresponde à ideia de “persistência, afinco, tenacidade”,
também presente no provérbio “Água mole em pedra dura tanto
bate até que fura.”
Resposta: B
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Rascunho
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Leitura
TEXTOS MOTIVADORES
Obrigatória
Texto I
A revisão ocorre hoje de forma mais radical na literatura, mas o mesmo princípio é aplicado em outras
áreas culturais, com as devidas nuances. Na pintura, as revelações sobre o machismo tóxico de Picasso
fizeram o museu que leva o nome do artista em Paris jogar a toalha: ao lado de suas obras, a instituição
agora vai exibir trabalhos de feministas e mulheres negras, como contraponto. Na música, o anseio de
não ferir suscetibilidades enseja uma forma de autocensura. Os Rolling Stones tiraram de seus shows
o hit de 1971 Brown Sugar, que mistura referências sexuais à escravidão. Chico Buarque não entoa mais
Com Açúcar, com Afeto, de 1967, sobre uma mulher submissa a um homem que a destrata. Nem os
clássicos do cinema escapam: antes da exibição de ... E o Vento Levou no streaming há um alerta para
o retrato romantizado da escravidão, e a animação Peter Pan vem com mensagens sobre a visão
estereotipada dos nativos americanos. Até o Príncipe Encantado da Branca de Neve está na berlinda: um
movimento condena a cena do beijo não consentido no filme da Disney.
Recentemente, o mercado editorial criou até um cargo para especialistas em caçar trechos
problemáticos: são os “leitores sensíveis”, que fazem uma varredura antes de relançamentos de
clássicos e filtram passagens polêmicas até em novos livros.
(Veja, 22 abr. 2023)
Texto II
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A cada dia, uma nova bula de excomunhão, uma nova lista de pessoas com que não
devemos falar ou que não devemos ouvir e uma agenda para a militância dos bons: impedir,
denunciar, constranger, calar. Tudo em nome de valores sublimes.
(Wilson Gomes, professor titular da UFBA.)
No museu do Ipiranga, em São Paulo, optou-se por acompanhar o quadro Ciclo da Caça
ao Índio, de Henrique Bernadelli, de um alerta sobre o genocídio de povos originários – em
vez de simplesmente mudar seu título, como alguns aventavam.
(Paulo Garcez, curador do Museu do Ipiranga.)
“Quando revisitamos uma obra com os olhos de hoje, corremos o risco de apagar as
contradições de seu tempo e o que de fato havia de problemático naquele contexto”.
(Filipe Campelo, filósofo.)
MONTEIRO LOBATO
POLITICAMENTE CORRETO
O NEGÓCIO É O SEGUINTE:
A ANGÉLICA SERÁ A TIA NASTÁCIA,
O SACI GANHARÁ UMA PRÓTESE,
O RINOCERONTE VAI PRO ZOO,
A NARIZINHO FARÁ UMA RINOPLASTIA,
A EMÍLIA TERÁ UM SELO DO INMETRO...
PORTUGUÊS D
(Disponível em:
www.google.com.br/search?q=CHARGE+FOLHA+DE+S.+PAULO&espv=2&biw=1920&bih=955
&source=Inms&tbm. Acesso em: 07 maio 2015.)
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PROPOSTA DE REDAÇÃO
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação,
empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Revisionismo da produção cultural:
ditadura do politicamente correto?
O tema trata do revisionismo cultural que está reescrevendo ao passado para adequá-lo aos princípios morais contemporâneos. O
aluno deve discutir se a atualização por que estão passando livros, filmes e músicas é uma exigência contemporânea de limpeza moral
ou se esse tipo de interferência anula uma análise crítica do ambiente sociocultural em que a obra foi produzida. Segundo Amanda
Capuano e Raquel Carneira, autoras de uma reportagem sobre o assunto “analisar o passado e conhecer a história, mesmo que com
todos os incômodos e horrores, é fundamental para não repetir seus erros”. Assim, o aluno pode questionar se é melhor substituir os
trechos com conotação racista, machista, xenofóbica, homofóbica, gordofóbica etc, ou publicar notas de rodapé, ou informações
complementares, que esclareçam o contexto histórico da produção artística ou do autor que a criou.
“Muitos traçam paralelos com o livro 1984, do escritor britânico George Orwell. No livro, um regime
ditatorial adota uma língua oficial em que as palavras somem de livros, jornais e documentos ao serem
proibidas, e as pessoas têm cada vez menos possibilidade de se expressar. No Brasil, aliás, a expressão
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62550838
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Tema 3,5
3,5
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Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes.
(…) A este respeito a influência do povo é decisiva.
(Machado de Assis)
A língua escrita tem como uma de suas finalidades representar graficamente a língua falada. Contudo, os sinais
gráficos não conseguem mostrar grande parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, os gestos,
as expressões fisionômicas.
Sendo assim, a linguagem escrita deve ser muito mais trabalhada, para compensar o que lhe falta. Mas a escrita não é
apenas reprodução da fala, pois é também um meio autônomo de comunicação e produção de sentido. As grandes obras
da tradição oral – isto é, obras compostas e transmitidas oralmente durante séculos, antes da existência da escrita – foram
registradas por escrito e assim chegaram até nós (exemplos: a Bíblia, os poemas de Homero). Mas as obras literárias,
filosóficas, científicas, etc. dependem da escrita desde o momento de sua criação: são compostas por escrito e assim
transmitidas, geralmente em vista da leitura silenciosa e solitária.
Não há uma língua que seja, em todos os seus campos de aplicação, um sistema uno, invariado e rígido, ainda que,
frequentemente, parta-se do pressuposto de que existe um idioma padrão, falado em determinado país, aceito pela
comunidade e imposto pelo uso comum. Sabe-se que, de modo geral, a língua apresenta não só variações regionais,
mas também registros diferenciados de acordo com a situação, formal ou informal, em que se dá a comunicação.
Linguagem culta
A linguagem culta é ensinada nas escolas e serve de instrumento para a comunicação formal (incluindo-se aí a
imprensa) e para as criações da literatura, do pensamento e das ciências, nas quais se apresenta com terminologias
especiais. É usada pelas pessoas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se por obedecer a padrões
tradicionais, presentes nos textos de escritores consagrados e codificados nas gramáticas normativas, que apresentam
“regras” para o que é considerado o “bom” uso da língua. (Há também gramáticas descritivas, que não contêm regras,
mas apenas análise dos usos linguísticos.)
Linguagem popular
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Linguagem popular é a usada espontânea e livremente pelo povo. Muitas vezes foge à norma gramatical e aos
padrões tradicionais, criando formas de expressão que os conservadores, presos à gramática normativa, classificam
negativamente como “erros”, “vícios de linguagem”, “vulgarismos” e gíria.
A gíria é uma das maiores fontes de criatividade linguística e a língua popular é um dos fatores centrais (mas não o
único) a determinar as alterações e a evolução de uma língua.
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Gíria
Segundo Mattoso Câmara Jr., “estilo literário e gíria são, em verdade, dois pólos da Estilística, pois gíria não é a
linguagem popular, como pensam alguns, mas apenas um estilo que se integra à língua popular”. Tanto que nem todas
as pessoas que se exprimem por meio da linguagem popular usam gíria.
No estilo literário, a gíria pode ser incluída para atribuir ao texto informalidade e espontaneidade. No entanto, o
tempo de vigência de um termo de gíria pode ser efêmero, pois a gíria é muito dinâmica e suas criações podem
desaparecer rapidamente.
Sendo assim, uma obra literária que contém muitos termos de gíria corre sério risco de ficar ultrapassada. Mas, é
claro que não podemos descartar a possibilidade de incorporação definitiva de termos de gíria à língua, como já aconteceu
não raras vezes. Por isso, nem sempre é possível estabelecer uma distinção precisa entre gíria e palavra popular, mes-
mo porque ambas são, frequentemente, de origem popular.
Em todas as sociedades, existe sempre um grupo de pessoas, uma classe social ou uma comunidade local específica, que
acredita que o seu modo particular de falar a língua é o mais correto, o mais bonito, o mais elegante e, por isso, deve ser o modelo
que as outras classes e comunidades precisam imitar. Em geral, são os moradores das regiões economicamente mais ricas, os
habitantes de alto poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, os cidadãos com acesso aos melhores meios de escolarização
– enfim, aquilo que nas ciências sociais se chama de classes dominantes.
Essa situação varia muito de acordo com o grau de democratização das relações sociais de um país. Seja como for, esse
elemento cultural está presente em qualquer grupo humano e em muitos lugares constitui um instrumento de conflitos e tensões
sociais. A narrativa bíblica nos conta uma história terrível de como uma diferença linguística pode ser usada com as piores intenções:
numa guerra entre duas tribos de Israel, os galaaditas e os efraimitas, os primeiros se apoderaram dos vaus do Jordão, trechos
rasos que podiam ser atravessados a pé. Quando alguém atravessava o rio, os galaaditas mandavam que pronunciasse a palavra
shibboleth (“espiga”): na variedade linguística dos efraimitas, a palavra era pronunciada sibboleth, sem o chiado inicial. Quando
ouviam essa pronúncia, os galaaditas “então o matavam nos vaus do Jordão. Caíram naquele tempo quarenta e dois mil homens
de Efraim” (Juízes, 12:4-6).
No Brasil, a situação linguística revela um drama parecido, embora a violência aqui seja exercida no nível simbólico, mas nem por
isso menos violenta. Os brasileiros urbanos letrados não só discriminam o modo de falar de seus compatriotas analfabetos,
semianalfabetos, pobres e excluídos, como também discriminam o seu próprio modo de falar, as suas próprias variedades linguísticas.
Podemos dizer, portanto, que o preconceito linguístico no Brasil se exerce em duas direções: dentro da elite para fora dela, contra
os que não pertencem às camadas sociais privilegiadas; e de dentro da elite para ao redor de si mesma, contra seus próprios
membros. Isso porque, como eu já disse, existe uma mentalidade dos brasileiros em geral, e dos falantes urbanos escolarizados
PORTUGUÊS D
em particular, a convicção muito arraigada de que no Brasil ninguém fala bem o português.
Quando até mesmo as elites letradas demonstram baixa estima linguística, quando exigem um grau elevado de insegurança
linguística e de rejeição de seu próprio modo de falar, é porque o obscurantismo cultural que as atinge é realmente grave, quase
uma doença.
(Marcos Bagno. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2009. p. 21-22.)
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Examine a tira de André Dahmer para responder ao teste 1. Texto para o teste 3.
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1 Sim, estou me associando à campanha nacional contra os A historiografia do país demonstra que foi necessário
2 verbos que acabam em “ilizar”. Se nada for feito, daqui a pouco considerável esforço do colonizador português em impor sua língua
3 eles serão mais numerosos do que os terminados pátria em um território tão extenso. Trata-se de um fenômeno
4 simplesmente em “ar”. Todos os dias os maus tradutores de político e cultural relevante o fato de, na atualidade, a língua
5 livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais portuguesa ser a língua oficial e plenamente inteligível de norte a
6 termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela sul do país, apesar das especificidades e da grande diversidade dos
7 mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram chamados “sotaques” regionais. Esse empreendimento relacionado
8 perfeitamente claras e eufônicas. à imposição da língua portuguesa foi adotado como uma das
9 A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, estratégias de dominação, ocupação e demarcação das fronteiras
10 com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de do território nacional, sucessivamente, em praticamente todos os
11 cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois períodos e regimes políticos. Da Colônia ao Império, da República ao
12 que você fica alérgico a disponibilizar, como você vai admitir, Estado Novo e daí em diante.
13 digamos, “viabilizar”? É triste demorar tanto tempo para a gente Tomemos como exemplo o nheengatu, uma língua baseada no
14 se dar conta de que “desincompatibilizar” sempre foi um tupi antigo e que foi fruto do encontro, muitas vezes belicoso e
15 palavrão. violento, entre o colonizador e as populações indígenas da costa
(FREIRE, Ricardo. brasileira e de grande parte da Amazônia. Foi a língua geral de
Complicabilizando. Época, ago. 2003.) comunicação no período colonial até ser banida pelo Marquês de
Pombal, a partir de 1758, caindo em pleno processo de desuso e
decadência a partir de então. Foram falantes de nheengatu que
4. (FUVEST) – Com base no texto, é correto afirmar:
nominaram uma infinidade de lugares, paisagens, acidentes
a) A “campanha nacional” a que se refere o autor tem por objetivo
geográficos, rios e até cidades. Atualmente, resta um pequeno
banir da língua portuguesa os verbos terminados em “ilizar”.
contingente de falantes dessa língua no extremo norte do país. É
b) O autor considera o emprego de verbos como “reinicializando” (L. 7)
utilizada como língua franca em regiões como o Alto Rio Negro, sendo
e “viabilizar” (L. 13) uma verdadeira “doença”.
inclusive fator de afirmação étnica de grupos indígenas que perderam
c) A maioria dos verbos terminados em “(i)lizar”, presentes no texto,
sua língua original, como os Barés, Arapaços, Baniwas e Werekenas.
foi incorporada à língua por influência estrangeira.
Disponível em: http://desafios.ipea.gov.br.
d) O autor, no final do primeiro parágrafo, acaba usando
Acesso em: 20 out. 2021 (adaptado).
involuntariamente os verbos que ele condena.
e) Os prefixos “des” e “in”, que entram na formação do verbo
“desincompatibilizar” (L. 14), têm sentido oposto, por isso o autor o 5.
considera um “palavrão”. (2022 - 2.ª aplic.) – Da leitura do texto, depreen-
RESOLUÇÃO: de-se que o patrimônio linguístico brasileiro é
Segundo o autor, a recorrência de verbos terminados em “-ilizar”, a) constituído por processos históricos e sociais de dominação e
em nossa língua, advém da ação de “maus tradutores de livros de
violência.
marketing e administração”, que incorporam anglicismos à língua
portuguesa, desconsiderando o uso de termos vernáculos com a b) decorrente da tentativa de fusão de diferentes línguas indígenas.
mesma acepção. c) exemplificativo da miscigenação étnica da sociedade nacional.
Resposta: C d) caracterizado pela diversidade de sotaques e regionalismos.
e) resultado de sucessivas ações de expansão territorial.
RESOLUÇÃO:
A imposição da língua do colonizador evidencia a relação de
dominação e de violência a que foi submetido o nativo. Essa
estratégia pode ser exemplificada pela proibição do nheengatu,
língua geral, fruto da influência entre o idioma do colonizador e
das populações indígenas, ser determinada por Marquês de
Pombal, em 1758.
Resposta: A
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PAPOS
— Me disseram...
— Disseram-me.
— Hein?
— O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
— Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
— O quê?
— Digo-te que você...
— O “te” e o “você” não combinam.
— Lhe digo?
— Também não. O que você ia me dizer?
— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. [...]
— Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como
bem entender. Mais uma correção e eu...
— O quê?
— O mato.
— Que mato?
(Disponível em: www.nadaver.com. Acesso em: 20 jul. 2012.) — Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
— Se você prefere falar errado...
6. (2022 - 2.ª aplic.) – Esse cartaz tem como função — Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem.
social conquistar clientes para um evento turístico, Ou entenderem-me?
e, por isso, seria recomendável que fosse escrito (VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Adaptado.)
na norma-padrão da língua portuguesa. O comentário acrescentado por
um interlocutor sugere que a grafia incorreta da palavra “excursão”
a) interfere na pronúncia do vocábulo. 7. (2022) – Nesse texto, o uso da norma-padrão
b) reflete uma interferência da fala na escrita. defendido por um dos personagens torna-se
c) caracteriza uma violação proposital para chamar a atenção dos inadequado em razão do(a)
clientes. a) falta de compreensão causada pelo choque entre gerações.
d) diminui a confiabilidade nos serviços oferecidos pela prestadora. b) contexto de comunicação em que a conversa se dá.
e) compromete o entendimento do conteúdo da mensagem. c) grau de polidez distinto entre os interlocutores.
RESOLUÇÃO: d) diferença de escolaridade entre os falantes.
O comentário de que “excurção c/ ç não vai a lugar nenhum” e) nível social dos participantes da situação.
questiona a credibilidade da prestadora de serviço, já que esse RESOLUÇÃO:
vocábulo foi redigido em desacordo com a norma-padrão da língua No texto “Papos”, ocorre interlocução entre dois falantes, marcada
portuguesa. pela discussão a respeito do uso da norma-padrão. Um deles
Resposta: D insiste em defender o uso dessa modalidade, como a colocação
pronominal em ênclise no início de frases (Disseram-me) e a
referência à mesma pessoa gramatical do discurso (O “te” e o
“você” não combinam). No entanto, essas escolhas tornam-se
inadequadas em razão do contexto de comunicação em que a
conversa se dá, tendo em vista o teor coloquial do diálogo.
Resposta: B
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MÓDULO 23 Ambiguidade
A ambiguidade designa “os equívocos de sentido, provenientes de construção defeituosa da frase ou do uso de termos
impróprios”. Ambiguidade é, portanto, defeito de frase que apresenta duplo sentido. Indesejável (ou não apropriada) em textos
científicos e informativos, é um recurso explorado nos textos poéticos, humorísticos e, principalmente, publicitários.
(Massaud Moisés, Dicionário de termos literários – adaptado)
Examine a tirinha do cartunista Silva João, publicada em sua conta do Examine a tira de André Dahmer.
Instagram em 26.09.2019.
Coisas que
abrem a
cabeça de
um jovem?
... e
1. (UNESP-2023) – O efeito de humor da tirinha está centrado na Livros... motos!
ambiguidade do termo
a) “inspire”. b) “cheguei”. c) “bolso”.
d) “acreditei”. e) “sonho”.
RESOLUÇÃO:
O efeito de humor da tirinha centra-se no duplo sentido do verbo (Malvados, 2019.)
“inspirar”: aspirar ar (sentido acionado pelo médico); ou motivar
por ações ou discurso (sentido acionado pelo paciente em sua
resposta). A ambiguidade, portanto, ocorre quando a personagem 2. (FAMERP-2021) – Para obter seu efeito de humor, a tira explora a
conta sua vida como inspiração para outras pessoas. ambiguidade do termo:
Resposta: A
a) “abrem”. b) “jovem”.
c) “Coisas”. d) “Livros”.
e) “motos”.
RESOLUÇÃO:
O recurso explorado pela tirinha é a ambiguidade que ocorre no
emprego da forma verbal “abrem”. Assim, em sentido figurado, a
expressão “abrir a cabeça” pode ser entendida como sinônimo de
provocar uma reflexão ou revisão crítica sobre algo; enquanto que,
em sentido literal, pode ser interpretada como “lesionar o crânio”.
Ao acionar, inesperadamente, no último quadrinho, o sentido
denotativo, há efeito de humor.
Resposta: A
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4. (FUVEST)
a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, esse texto
emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta.
RESOLUÇÃO:
O trecho que apresenta duplo sentido é “Não posso me queixar”,
que pode ser entendido de duas formas: “não tenho de que me
queixar, estou satisfeito”, ou “não tenho permissão para me
queixar, pois posso ser punido caso me manifeste”.
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As questões 7 e 8 focalizam uma passagem da comédia O juiz de paz 8. (UNIFESP) – O emprego das aspas no interior da fala do escrivão
da roça do escritor Martins Pena (1815-1848). indica que tal trecho
a) reproduz a solicitação de Francisco Antônio.
JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o outro requerimento. b) recorre a jargão próprio da área jurídica.
ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, natural de Portugal, c) reproduz a fala da mulher de Francisco Antônio.
porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe d) é desacreditado pelo próprio escrivão.
esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha e) deve ser interpretado em chave irônica.
mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só RESOLUÇÃO:
porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o No discurso do escrivão, o emprego das aspas indica o discurso
alheio, ou seja, o discurso direto do requerente Francisco Antônio.
seu cavalo. Ora, como os filhos pertencem às mães, e a prova disto
Resposta: A
é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a V. Sa.
mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é de
minha mulher”.
JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da égua preso?
JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me pertence, pois é meu,
que é do cavalo.
JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui da
mulher do senhor.
JOSÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz...
JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, senão, cadeia.
(Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.)
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Anotações
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