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C3_1A_VERMELHO_PORT_GK_2021.

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PORTUGUÊS: CLASSES
GRAMATICAIS, NARRAÇÃO E CRÔNICA
Os verdadeiros analfabetos são os
Módulos que aprenderam a ler e não leem.
(Mário Quintana)
49 – Advérbio (II)

50 – Personagem e fala interior 58 – Conjunção (I)

51 e 52 – Prática de Redação (11) 59 – Gênero textual: crônica

53 – Preposição (I) 60 e 61 – Prática de Redação (13)

54 – Gêneros textuais (conto, 62 – Conjunção (II)

miniconto, biografia, diário e 63 – Análise de crônica narrativa

piada) 64 – Prática de Redação (14)

55 – Prática de Redação (12) 65 – Conjunção (III)

56 – Preposição (II) e Interjeição 66 – Gêneros textuais: cartuns, tiras,

57 – Ambiguidade histórias em quadrinhos e charges

Palavras-chave:
• Circunstância
Advérbio (II)
49 • Adjunto
adverbial

1. Advérbio ■ Locução Adverbial


O advérbio também pode ser formado por mais de
Advérbio é palavra invariável modificadora do um vocábulo – é a locução adverbial, normalmente
verbo, do adjetivo, de outro advérbio ou de toda uma expressa por preposição + substantivo, com valor e
oração. emprego de advérbio.

Exemplos: Exemplos:
• Ela canta bem. (verbo) sem jeito, sem temor, em silêncio, às pressas, por
• Ela canta muito bem. (advérbio) prazer, com jeito, sem dúvida, de graça, com carinho
• Ela é muito bonita. (adjetivo) etc.
• Realmente ela chegou. (oração)

PORTUGUÊS 85
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Exercícios Resolvidos

Texto para o teste . Charge para o teste .

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo ao meu amor serei atento


Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.
Eu possa me dizer do amor (que tive):
 (VUNESP) – A expressão sem parar, conforme seu sentido, pode
ser substituída pelo advérbio

Que não seja imortal, posto que é chama a) vagarosamente. b) ocasionalmente. c) rapidamente.
Mas que seja infinito enquanto dure. d) continuamente. e) moderadamente.
Resolução
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. A expressão sem parar significa “ininterruptamente”,
São Paulo: Cia das Letras, 1992) continuamente”.
Resposta: D

 A palavra mesmo pode assumir diferentes signifi-  (INSPER) – Sabe-se que, na fala e na escrita, a escolha de
cados, de acordo com a sua função na frase. palavras ou expressões inapropriadas, além de afetar o sentido do
Assinale a alternativa em que o sentido de mesmo enunciado, pode depreciar a imagem do enunciador que comete a
equivale ao que se verifica no 3.° verso da 1.a estrofe do poema de gafe. Foi o que aconteceu com o presidente Lula num dos encontros
Vinicius de Moraes. do G-20, ao comentar sobre a crise global: “Esta certamente talvez
a) “Pai, para onde fores, / irei também trilhando as mesmas ruas...” seja uma das maiores crises que já enfrentamos”.
(Augusto dos Anjos)
b) “Agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, Uma correção adequada para a frase é:
que é modesta, com a exterior, que é ruidosa.” (Machado de Assis) a) Certamente esta talvez seja a maior crise que já enfrentamos.
c) “Havia o mal, profundo e persistente, para o qual o remédio não b) Esta certamente seja uma das maiores crises já enfrentadas pelo
surtiu efeito, mesmo em doses variáveis.” (Raimundo Faoro) país.
d) “Mas, olhe cá, Mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo c) Talvez esta é uma das maiores crises a qual enfrentamos.
padre?” (Machado de Assis) d) Esta talvez seja uma das maiores crises que já enfrentamos.
e) “Vamos de qualquer maneira, mas vamos mesmo.” (Aurélio) e) Uma das maiores crises de que enfrentamos é esta: com certeza.
Resolução Resolução
No verso de Vinícius de Moraes — “que mesmo em face do maior Os advérbios empregados na fala do presidente são, respectivamente,
encanto” —, mesmo, empregado em função adverbial, tem o sentido, de afirmação e dúvida que, obviamente, não poderiam ser emprega-
de “até, ainda”, tal como na frase apresentada na alternativa C. dos simultaneamente.
Resposta: C Resposta : D

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Exercícios Propostos

Tirinha para a questão .  (UNESP) – Ao afirmar que os chineses foram os primeiros


a usar um sistema decimal, o enunciador não o faz com a
mesma convicção ou certeza, demonstradas quando se refere
às descobertas dos babilônicos ou dos maias. Relendo o texto,
a) destaque o advérbio que serve para atribuir à passagem
sobre os chineses um sentido de possibilidade, de dúvida.
RESOLUÇÃO:
Possivelmente é o advérbio que atribui à passagem o sentido de
dúvida, incerteza, possibilidade.

b) proponha uma nova redação para o período, substituindo


esse advérbio por uma palavra que confira mais certeza ao
trecho.
RESOLUÇÃO:
Os chineses foram indubitavelmente os primeiros a usar um
sistema decimal. (Por se tratar de questão aberta, caberiam outros
advérbios, como inquestionavelmente, certamente.)

 Transcreva os advérbios ou locuções adverbiais da tirinha e


classifique-os.
RESOLUÇÃO:
“Não”: advérbio de negação.
 (UNESP) – É invariável quanto a gênero e a número o
“com requintes de crueldade”: locução adverbial de modo. termo sublinhado em:
a) “o resto era composto de areia e sujeira”.
b) “O pão era particularmente atingido”.
A questão de número  toma por base um trecho extraído da
c) “O açúcar e outros ingredientes caros”.
revista Ciência hoje, publicada pela Sociedade Brasileira para o
d) “uma autoridade altamente confiável”.
Progresso da Ciência, em maio de 1999.
e) “um pouquinho de manipulação e engodo.
Os números que usamos normalmente estão RESOLUÇÃO:
O termo “altamente” é invariável quanto a gênero e a número,
representados no sistema decimal. Isso quer dizer que o dez é pois funciona morfologicamente como advérbio. Em a,
tomado como base do sistema. O nosso sistema é posicional: “composto” é adjetivo; em b, “era” é verbo; em c, “açúcar” é
cada dígito (algarismo) tem um valor que depende de sua substantivo; em e, “engodo” é substantivo.
Resposta: D
posição. (...) Cada dígito tem um valor posicional que é dado
por seu valor multiplicado por um número que é uma potência Texto para a questão .
sucessiva de 10, que aumenta da direita para a esquerda.
Existem outros sistemas posicionais de numeração que Quando se perde o grau de investimento, corre-se o risco
tomam um outro número, no lugar do dez, como base. A ideia de uma debandada dos capitais estrangeiros, aí é preciso
de representar os números com um valor que depende da sua tomar medidas mais drásticas do que se desejaria.
posição vem dos babilônicos que, cerca de 3 000 anos antes (Joaquim Levy)
de Cristo, desenvolveram um sistema de numeração
sexagesimal, isto é, que tinha o número 60 como base. Os
 (ESPM) – O vocábulo grifado aí é:
chineses foram possivelmente os primeiros a usar um
a) advérbio, expressando a ideia de “nesse lugar”.
sistema decimal, cerca de 1 500 anos antes de Cristo. Esse
b) interjeição, traduzindo ideia de apoio, animação.
sistema surgiu porque era muito mais fácil contar as coisas
c) palavra expletiva (dispensável) ou de realce.
com nossos dedos da mão, que são dez. Já os maias,
habitantes da América Central quando os espanhóis chegaram d) advérbio, expressando ideia de conclusão “então”.
pela primeira vez à América, usavam um sistema de base 20. e) substantivo, traduzindo ideia de “por outro lado”.
Resposta: D

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 (UNESP) – Examine a tira do cartunista argentino Quino (1932 - ).  (INATEL)


I. Tome meia colher de sopa de xarope para a tosse.
II. Chegarei pontualmente ao meio-dia e meia.
III. Minha amiga está meia cansada.

O emprego da palavra destacada está:


a) correto nas opções I, II e III.
b) correto apenas na opção II.
c) errado apenas na opção III.
d) errado nas opções I e III.
e) errado nas opções I, II e III.
RESOLUÇÃO:
Em I e II, “meia” é numeral e concorda com o substantivo a que
se refere: “meia colher” e “meia hora”. Em III, o correto é “meio”,
advérbio e, portanto, invariável. Resposta: C

Texto para as questões e


.

(Quino. A pequena filosofia da Mafalda, 2015. Adaptado.)

Pelo conteúdo de sua redação, depreende-se que o personagem


Manuel Goreiro (o “Manolito”), além de estudar, exerce outra
atividade. Transcreva o trecho em que esta outra atividade se mostra
mais evidente. No trecho “As lojas fecham mais tarde por quê não
escurese mais tamcedo”, verificam-se alguns desvios em relação à “Embora os seres humanos façam som com a boca
norma-padrão da língua. Reescreva este trecho, fazendo as correções
e ocasionalmente se olhem, não existe evidência
necessárias. Por fim, reescreva o trecho final da redação (“nós ficamos
conclusiva de que realmente se comuniquem.”
muito mais contentes com a primavera com a chegada dela”),
(Sidney Harris, “A ciência ri”, Revista FAPESP, 2007.)
desfazendo a redundância nele contida.
RESOLUÇÃO:
O trecho que evidencia de modo mais claro a profissão de
(FUVEST) – Evidencia-se, na fala do golfinho do texto, a
Manolito é “a gente não vende mais nada”, em que ele se inclui intenção de
como alguém que trabalha como atendente em um a) descrever o processo de comunicação verbal e visual dos
estabelecimento comercial. seres humanos.
Em norma culta, o trecho deve ser assim reescrito: As lojas
fecham mais tarde porque não escurece mais tão cedo. b) sugerir que a comunicação humana é ruidosa e visual como
Desfazendo-se a redundância do trecho, tem-se: nós ficamos a dos golfinhos.
muito mais contentes com a chegada da primavera. c) apontar as dificuldades ocasionais da comunicação visual
dos seres humanos.
d) pôr em dúvida as conclusões acerca dos sons que os
homens emitem.
e) insinuar que entre os seres humanos não ocorre uma
efetiva comunicação.
RESOLUÇÃO:
Os golfinhos insinuam que os homens não se entendem.
Resposta: E


(FUVEST) – “... e ocasionalmente se olhem...” A
expressão que pode substituir o termo destacado, sem alterar
o sentido do texto, é:
a) a cada instante. b) por vezes.
c) sob alguma condição. d) com frequência.
e) de certo modo.
RESOLUÇÃO:
O advérbio ocasionalmente significa “de vez em quando”, “por
vezes”, “que acontece por acaso”, “eventualmente”. Resposta: B

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Certas palavras, apesar de apresentarem forma Com base no quadro ao lado, grife e classifique as palavras
denotativas das seguintes frases:
semelhante a advérbios, não se relacionam com
a) “De repente nasci, isto é, senti necessidade de escrever.”
nenhuma outra palavra da frase. São usadas para (Carlos Drummond de Andrade)
indicar que se está querendo realçar uma ideia, incluir RESOLUÇÃO:
ou excluir uma informação, introduzir uma isto é: palavra denotativa de explicação.

explicação, corrigir algo que foi dito incorreta ou


imprecisamente. Segundo Celso Cunha, convém
“dizer apenas palavra ou locução denotativa” de: b) “Eis o dia, eis o sol, o esposo amado!” (Antero de Quental)
RESOLUÇÃO:
a) afetividade: ainda bem, felizmente, infelizmente, eis: palavra denotativa de designação.
graças a Deus etc. Exemplo: Você, felizmente, não
saiu com eles.

b) continuação: bem, mas, ora, e, pois etc. c) “De noite, saiu uma lua rodoleira, que alumiava até passeio
de pulga no chão.” (Guimarães Rosa)
Exemplos: Bem, vou explicar. Ora, quem vai acreditar RESOLUÇÃO:
em mim? E como vai sua mãe? até: palavra denotativa de inclusão.

c) exclusão: afora, apenas, só, somente, exceto,


fora, salvo, sequer etc. Exemplos: Só você não foi ao
d) “Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais.”
aniversário. Li os livros, exceto o de poesia.
(Graciliano Ramos)
RESOLUÇÃO:
d) inclusão: até, inclusive, mesmo, também etc.
só: palavra denotativa de exclusão.
Exemplos: Até mesmo ele elogiou. Eu também vou.

e) retificação: aliás, ou antes, perdão, ou melhor etc.


Exemplo: Eram dois rapazes, aliás, três. e) “Vou-me embora pra Pasárgada.” (Manuel Bandeira)
RESOLUÇÃO:
f) realce: cá, é que, lá, só, que etc. Exemplos: Eu lá me: palavra denotativa de realce, ou partícula de realce.
sei do que se trata! Eles que se entendam. Eu é que
não vou me meter nessa encrenca.
f) “Mas enfim cada qual tem lá o seu modo de matar pulgas.”
g) explicação: isto é, a saber, por exemplo. Exemplo:
(Graciliano Ramos)
Traga o material, a saber, lápis, caneta, borracha e RESOLUÇÃO:
régua. lá: palavra denotativa de realce, ou partícula de realce.

h) designação: eis, por alcunha, vulgo etc. Exemplo:


Eis a praça de que lhe falei.

Complete o quadro de resumo:

Definição Classificação Flexão

grau diminutivo,
palavra modificadora do verbo, de tempo; de lugar; de intensidade;
com valor intensivo,
ADVÉRBIO do adjetivo, de outro advérbio de modo; de afirmação; de negação;
ou de toda uma oração de dúvida; de interrogação na linguagem
coloquial

palavras que não se enquadram


inclusão; exclusão;
PALAVRAS em outras classes gramaticais
continuação; realce; explicação; palavra invariável
DENOTATIVAS e que servem para indicar inclusão,
retificação; afetividade
exclusão, realce etc.

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Palavras-chave:
Personagens e fala interior • Protagonista • Antagonista
50 • Tipo • Fluxo de consciência

“Um escritor deve ser tão malvado ou tão bondoso Julieta, Robinson Crusoé e outros.
como a mais maldita de suas personagens e também Se não tivesse outro valor, O Primo Basílio, de Eça
como a mais valorizada. Sem alcançar o bem ou o mal de Queirós, já estaria consagrado por uma personagem
na altura de suas personagens, tampouco pode escrever de suas páginas.
sobre elas.”
Alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço
(George Bernard Shaw – dramaturgo irlandês) entalado num colarinho direto. O rosto aguçado no
queixo ia-se alargando até a calva, vasta e polida, um
A palavra “personagem” origina-se do grego pouco amolgada no alto; tingia os cabelos que duma
persona (máscara). Embora se costume empregá-la no orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca — e
feminino, os dois gêneros são aceitos. aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à
calva. Mas não tingia o bigode: tinha-o grisalho, farto,
Qualquer que seja a narrativa (conto, crônica,
caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava
romance, história em quadrinhos etc.), a personagem é
as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as
o elemento articulador das ações.
orelhas grandes muito despegadas do crânio. Sempre
A personagem é uma pessoa como nós ou um ser
que dizia — El Rei — erguia-se um pouco na cadeira. Os
personificado (um animal que fala e tem reações
seus gestos eram medidos, mesmo ao tomar rapé.
humanas, como nas fábulas e nos desenhos de Disney;
Nunca usava palavras triviais: não dizia vomitar, fazia um
ou ainda um objeto qualquer ao qual damos vida). Entes
gesto indicativo e empregava restituir. Dizia sempre “o
personificados são menos comuns porque exigem
nosso Garrett”, “o nosso Herculano”. Citava muito...
maior trabalho de criação, porém, não podemos ignorar,
Quando se referia a Lisboa sempre dizia: “Cidade de
nesse caso, os exemplares esforços de Monteiro
mármore e de granito, na frase sublime do nosso grande
Lobato, principalmente, na elaboração de Emília e do
historiador”.
Visconde de Sabugosa.
Trata-se do Conselheiro Acácio, que se transformou
Personagens humanas parecem ser as preferidas
no símbolo da imbecilidade solene e minuciosa; é a pre-
dos narradores. Humanas ou humanizadas, as persona-
sunção grave e bem-vestida de qualquer sociedade ou
gens aparecem ora como “cópias da realidade”, ora
época. Seu comportamento afetado originou palavras
como “realidades fabricadas”. Sendo uma coisa ou
que você encontra em qualquer dicionário, como nos
outra, o que importa é que as personagens são as
verbetes abaixo extraídos do Dicionário Contemporâneo
autoras da ação e em torno delas é que se cria uma
da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete:
história.
Acácio: s.m. indivíduo sentencioso, enfatuado e
As personagens podem ser principais ou secun-
ridículo, com a mania de frases gravibundas.
dárias. As primeiras, protagonistas ou antagonistas,
Acacianismo: s.m. feição sentenciosa e ridícula que
agem na linha de frente da história e tramam os acon-
lembra as do conhecido personagem de Eça de Queirós.
tecimentos fortes do enredo; as secundárias são as
demais personagens envolvidas no relato. Protagonistas Atente para o significado dado pelo Novo Dicionário
e antagonistas são adversários: se um está do lado do da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda:
“bem”, o outro está do lado do “mal” ou vice-versa. Acaciano: ridiculamente sentencioso pelo tom
O tipo não sofre transformações íntimas e apre- convencional e vazio de sentido e/ou pela aparatosa
senta uma ou algumas características exageradas. Por gravidade das maneiras, lembrando o Conselheiro Acá-
exemplo: Macunaíma, Jeca Tatu, D. Quixote, Romeu, cio, personagem eciano do romance O Primo Basílio.

amolgada: achatada. rapé: tabaco em pó para cheirar. eciano: relativo a Eça de Queirós.

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Monólogo interior ou solilóquio traduz o “fluxo de consciência” da personagem, que o


narrador transcreve utilizando, de preferência, o discurso
direto ou o indireto livre.
É uma forma dramática ou literária do discurso da Observação
personagem consigo mesma. No monólogo interior ou Alguns autores apresentam o solilóquio com as
solilóquio, o narrador (em 1.a ou 3.a pessoa) registra as mesmas características do monólogo, outros, porém, os
emoções da personagem, suas divagações íntimas, diferenciam pela linguagem e foco narrativo.
seus desabafos. É como se o “eu interior” conversasse Enquanto no monólogo a linguagem pode
com o “outro eu” da personagem e desabafasse suas apresentar-se desconexa, típica do fluxo de consciência,
confidências. A personagem, dessa forma, parece no solilóquio a linguagem aparece de forma lógica e con-
esquecer-se do leitor ou do ouvinte, escrevendo ou catenada.
falando, de maneira desconexa, tudo que lhe vem à O solilóquio é recurso utilizado no romance e no
mente, sem obedecer, necessariamente, à teatro, pressupõe um figurante sozinho diante do leitor
concatenação lógica dos períodos, aos aspectos ou do auditório, articulando seus pensamentos em voz
sintáticos tradicionais. Essa associação livre de ideias alta, portanto, sempre em primeira pessoa.

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Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e . c) descrição objetiva, porque a enumeração


 Dentre as citações extraídas de Primeiras
das características físicas da personagem é
Estórias, de Guimarães Rosa, assinale aquela
Era alta e esbelta. Tinha um desses feita em linguagem denotativa.
que não traça perfil psicológico de personagem.
talhes flexíveis e lançados, que são hastes de d) dissertação, já que o narrador tece julga-
lírios para o rosto gentil; porém na mesma a) “Demos, os Dagobés, gente que não pres-
mentos sobre o porte e a altivez da
delicadeza do porte esculpiam-se os personagem. tava. Viviam em estreita desunião, sem
contornos mais graciosos com firme nitidez e) narrativo-decritivo, pois há sequência de mulher em lar, sem mais parentes, sob a
das linhas e uma deliciosa suavidade nos ações e caracterização da personagem. chefia despótica do recém-finado.”
relevos.
Resolução b) “Nhinhinha, com seus nem quatro anos,
Não era alva, também não era morena.
A personagem é caracterizada de forma ideali- não incomodava ninguém, e não se fazia
Tinha sua tez a cor das pétalas de magnólia,
zada, traço típico do Romantismo. notada, a não ser pela perfeita calma,
quando vão desfalecendo ao beijo do sol. (...)
Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, Resposta: A imobilidade e silêncios.”
como diadema cintilando na cabeça de um c) “Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro,
anjo. Havia em toda a sua pessoa um quer Assinale a alternativa em que o perfil
positivo (...) ele não figurava mais estúrdio
que fosse de sublime excelso que a abstraía psicológico da personagem é sugerido pelo
nem mais triste do que os outros,
da terra. Contemplando-a naquele instante aspecto físico.
conhecidos nossos. Só quieto.”
de enlevo, dir-se-ia que ela se preparava para a) “Era alta e esbelta.”
sua celeste ascensão. d) “[Sorôco] era um homenzão, brutalhudo de
b) “...que são hastes de lírios para o rosto
(José de Alencar) gentil...” corpo, com a cara grande, uma barba, fiosa,
c) “...firme nitidez das linhas e uma deliciosa encardida em amarelo, e uns pés, com
 Quanto ao tipo de composição, o texto suavidade nos relevos.” alpercatas (...).”
classifica-se como d) “Não era alva, também não era morena.” e) “Damázio, quem dele não ouvira? O feroz
a) descrição subjetiva, pois há predomínio da e) “Tinha sua tez a cor das pétalas de magnó- de estórias de léguas, com dezenas de
linguagem figurada e de impressões do lia...” carregadas mortes, homem perigosíssimo.”
narrador na caracterização da personagem. Resolução Resolução
b) narração, posto que há verbos de ação e A expressão “rosto gentil” revela um aspecto A descrição da alternativa apontada é apenas
índices temporais que marcam a sequência da personalidade da personagem. física.
das ações em tempo cronológico. Resposta: B Resposta: D

Exercícios Propostos

 Coloque Verdadeiro (V) ou Falso (F) para o que se segue. d) A personagem é caricatural quando uma característica ou
um traço do comportamento é dilatado ao extremo, provo-
a) Os seres que participam do desenrolar dos acontecimentos, cando uma distorção propositada a serviço da sátira ou do
isto é, aqueles que vivem o enredo, são as personagens cômico, como, por exemplo, o Jeca Tatu, de Monteiro
(em português, a palavra personagem tanto pode ser mas- Lobato. ( V )
culina como feminina). ( V )
e) É interessante observar como os bons escritores preocu-
b) A personagem principal de uma narrativa é chamada de pam-se com a relação personagem/nome próprio, como em
protagonista, e, dependendo do escritor e do estilo de Vidas Secas, de Graciliano Ramos: Vitória é o nome de uma
época, pode ser apresentada de maneira mais idealizada mulher, retirante nordestina, que alimenta pequenos
(como os heróis românticos) ou mais próxima do real. (V ) sonhos, sempre derrotada; Baleia é o nome de uma
cachorra que morre em consequência da seca, em pleno
c) Há personagens que não representam individualidades, e sertão nordestino. ( V )
sim tipos humanos, identificados primeiramente pela profis-
são, pelo comportamento, pela classe social etc. É o caso,
por exemplo, da maioria das personagens de Memórias de
um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida,
em que temos o Barbeiro, a Parteira, os Meirinhos, o Major,
os Ciganos etc. ( V )

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Texto para o teste .  (FUVEST) – Leia o trecho abaixo, extraído de um conto, e


responda ao que se pede.
Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa
que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, eu estava ali deitado olhando através da vidraça as
virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas roseiras no jardim fustigadas pelo vento que zunia lá fora
grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em e nas venezianas de meu quarto e de repente cessava e
panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na tudo ficava tão quieto tão triste e de repente
família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento recomeçava e as roseiras frágeis e assustadas irrom-
da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. piam na vidraça e eu estava ali o tempo todo olhan-
Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. do estava em minha cama com minha blusa de
(RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998.) lã as mãos enfiadas nos bolsos os braços colados
ao corpo as pernas juntas estava de sapa-

 Num texto narrativo, a sequência dos fatos


tos
tos
Mamãe não gostava que eu deitasse de sapa-
deixe de preguiça menino! mas dessa vez
contribui para a progressão temática. No
eu estava deitado de sapatos e ela viu e não falou
fragmento, esse processo é indicado pela
nada ela sentou-se na beirada da cama e pousou a
a) a alternância das pessoas do discurso que determinam o
mão em meu joelho e falou você não quer mesmo
foco narrativo.
almoçar?
b) utilização de formas verbais que marcam tempos narrativos
(Luiz Vilela. “Eu estava ali deitado”.)
variados.
c) indeterminação dos sujeitos de ações que caracterizam os
eventos narrados. a) O texto procura representar um “fluxo de consciência”, ou
d) justaposição de frases que relacionam semanticamente os seja, a livre-associação de ideias do narrador-personagem.
acontecimentos narrados. Aponte dois recursos expressivos, presentes no texto, que
e) recorrência de expressões adverbiais que organizam foram empregados com essa finalidade.
temporalmente a narrativa. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: Entre os elementos empregados para simular o fluxo de
O trecho narrativo contém verbos em vários tempos de passado consciência podem-se apontar a reiteração insistente da
(“surrou”, “distinguia”, “deitaram-me”, “ferira-me”) , marcando a conjunção aditiva e, a ausência de pontuação e a repetição
sequência de ações do enredo. Resposta: B vocabular. Esses procedimentos contribuem para sugerir o
caráter labiríntico do período, buscando imitar a liberdade carac-
Texto para a questão . terística do monólogo interior.

A DIVA

Vamos ao teatro, Maria José?


Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha
tou podre. Outro dia a gente vamos
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
TEATRO! E os cacos voaram
sem nenhum aplauso.
Perfeita.
(PRADO, A. Oráculos de maio. b) Cite, do texto, um exemplo de emprego do discurso direto.
São Paulo: Siciliano, 1999.) RESOLUÇÃO:
Há discurso direto, que consiste na transcrição fiel da fala de uma
 Os diferentes gêneros textuais desempe- personagem, em “deixe de preguiça menino” e “você não quer
nham funções sociais diversas reconhecidas mesmo almoçar?”.
pelo leitor com base em suas características
específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é
produzido. Assim, o texto A diva
a) narra um fato real vivido por Maria José.
b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético.
c) relata uma experiência teatral profissional.
d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.
e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.
RESOLUÇÃO:
O texto é um poema narrativo em que a personagem Maria José
é alçada, por sua atuação dramática, à condição de diva.
Resposta: B

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Texto para o teste . Texto para o teste .


Tinha medo e repetia que estava em perigo, mas isto lhe
pareceu tão absurdo que se pôs a rir. Medo daquilo? Nunca
vira uma pessoa tremer assim. Cachorro. Ele não era dunga
na cidade? Não pisava os pés dos matutos, na feira? Não
botava gente na cadeia? Sem-vergonha, mofino.
Irritou-se. Por que seria que aquele safado batia os
dentes como um caitutu? Não via que ele era incapaz de
vingar-se? Não via? Fechou a cara. (...) Agitando os
chocalhos e os látegos, chegou a mão esquerda, grossa e
cabeluda, à cara do polícia, que recuou e se encostou a uma
catingueira. Se não fosse a catingueira, o infeliz teria caído.
Fabiano pregou nele os olhos ensanguentados (...) Podia
matá-lo com as unhas. Lembrou-se da surra que levara e da
noite passada na cadeia. Sim senhor. Aquilo ganhava
dinheiro para maltratar as criaturas inofensivas. Estava
certo? O rosto de Fabiano contraía-se, medonho, mais feio
que um focinho. Hem? estava certo?

(Graciliano Ramos, Vidas Secas)


Disponível em: http://epoca.globo.com.
Acesso em: 20 mar. 2014.
 (MACKENZIE) – Aponte a alternativa correta sobre esse
texto.
 De acordo com esse infográfico, as redes a) Resume vários turnos da fala seca e revoltada de Fabiano
sociais estimulam diferentes comportamen- com o seu interlocutor, o soldado.
tos dos usuários que revelam b) Apresenta o monólogo interior de Fabiano diante da figura
a) exposição exagerada dos indivíduos. opressora e oprimida do soldado.
b) comicidade ingênua dos usuários. c) Mostra as frases ditas por Fabiano, em tom de desabafo
c) engajamento social das pessoas. desesperado, na hora da vingança.
d) disfarce do sujeito por meio de avatares. d) Apresenta um Fabiano animalizado tanto exteriormente, por
e) autocrítica dos internautas. meio da caracterização das mãos, das unhas e do rosto,
RESOLUÇÃO: quanto mentalmente, por meio da apresentação de total
As ações expostas pelo infográfico revelam, ironicamente, ausência de reflexão.
comportamentos exagerados e incoerentes de usuários da e) Demonstra a vingança de Fabiano, sentindo prazer ao fazer
internet. Essas atitudes, devido à exposição pretensiosa e sem sofrer o seu ofensor.
visão crítica, podem ser tachadas de ridículas.
RESOLUÇÃO:
Resposta: A
No trecho transcrito, encontram-se fragmentos do que Fabiano
está pensando diante do “soldado amarelo”, cujo autoritarismo
violento já o vitimara na cidade e que agora, na caatinga, se
encontrava inteiramente à mercê dele, Fabiano. Fazem parte do
monólogo interior da personagem as seguintes frases: “Medo
daquilo?”; “Cachorro. Ele não era dunga [valentão] na cidade?
Não pisava os pés dos matutos, na feira? Não botava gente na
cadeia? Sem-vergonha, mofino”.
Resposta: B

94 PORTUGUÊS
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Textos para a questão . O conto e a letra de canção abordam o


mesmo tema, a inveja. Embora empreguem
TEXTO I recursos linguísticos diferentes, ambos
lançam mão de um mecanismo em comum, que consiste em
Eles se beijavam no elevador, nos corredores do prédio. a) referir-se, em terceira pessoa, a um indivíduo qualificado
como invejoso.
Se amavam tanto, que o vizinho solteirão da esquerda
b) conferir à inveja aspectos humanos ao fazer dela
guardava por eles uma vermelha inveja. Uma tarde, sem
personagem de narrativa.
que ninguém soubesse por que, eles se enforcaram no c) expressar o ponto de vista do invejoso por meio da fala de
banheiro. Houve muito tumulto, carros da polícia parados uma personagem.
em frente ao edifício, as equipes de TV. d) dissertar sobre a inveja, apresentando argumentos
O sol caía sobre as marquises e a cabeça dos curiosos na contrários e favoráveis.
e) fazer uma descrição do perfil psicológico de alguém
rua. Um senhor dizia para uma mulher passando ali:
caracterizado como invejoso.
— Eles se suicidaram. RESOLUÇÃO:
Uma comerciária acrescentava: Os dois textos trabalham com o tema da inveja. O primeiro é uma
— Dizem que eles se gostavam muito. narração, trecho de um conto, em que o personagem invejoso
parece deleitar-se com o final trágico do casal apaixonado. O
— Que coisa! segundo é um trecho de uma letra de música, em que as duas
Enquanto isso, o solteirão, na janela do seu apartamento, primeiras estrofes sugerem um personagem invejoso, cujos
pensamentos são relatados pelo narrador onisciente. Nas duas
vendo todos lá embaixo, mordia com sabor a carne acesa de estrofes finais, o narrador tece reflexões sobre o sentimento da
uma enorme goiaba. inveja e suas consequências.
FERNANDES, R. O caçador. Resposta: A

João Pessoa: UFPB, 1997 (fragmento).

TEXTO II

INVEJOSO

O carro do vizinho é muito mais possante


E aquela mulher dele é tão interessante
Por isso ele parece muito mais potente
Sua casa foi pintada recentemente

E quando encontra o seu colega de trabalho


Só pensa em quanto deve ser o seu salário
Queria ter a secretária do patrão
Mas sua conta bancária já chegou ao chão

[...]

Invejoso
Querer o que é dos outros é o seu gozo
E fica remoendo até o osso
Mas sua fruta só lhe dá o caroço

Invejoso
O bem alheio é o seu desgosto
Queria um palácio suntuoso
Mas acabou no fundo desse poço...

ANTUNES, A. Iê Iê Iê. São Paulo:


Rosa Celeste, 2009 (fragmento).

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Palavras-chave:
Preposição (I)
53 • Essenciais • Acidentais

É a palavra que serve de conectivo de subordinação Exemplos:


entre palavras e orações. Vem antes da palavra por ela A casa de Pedro é grande.
subordinada a outra, daí a origem de seu nome: “posição Saiu para fazer compras.
antes”. Os cidadãos revoltam-se contra a impunidade.

As preposições podem ser:

Essenciais: guardam, na sua essência, a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para,
o valor de preposição. perante, por, sem, sob, sobre, trás.

Acidentais: acidentalmente, funcionam como como, conforme, consoante, durante, exceto, feito,
preposição. mediante, segundo, tirante etc.

Locuções prepositivas: geralmente formadas de abaixo de, acima de, atrás de, através de, antes de, depois
advérbio + preposição. de, a par de, de acordo com, em face de, por causa de,
devido a, para com, a fim de, por trás de etc.

Combinação e contração
As preposições a, de, per (por) e em podem unir-se • Contração: com alteração fônica.
com outras palavras. Daí teremos: Exemplos:
• Combinação: sem alteração fônica. à (a + a), àquele (a + aquele), do (de + o), donde (de + onde),
Exemplos: ao (a + o), aonde (a + onde) no (em + o), naquele (em + aquele), pelo (per + o).

Exercícios Resolvidos

(VUNESP) – Considere a tirinha para responder a questão .

(Dik Browne, O melhor


de Hagar, o Horrível)

 Na frase de Helga, a preposição de


 (UFPA) – No trecho: “(O Rio) não se
 Assinale a alternativa em que o sentido da
estabelece entre as palavras a relação de preposição destacada esteja corretamente
industrializou, deixou explodir a questão social, definido.
a) assunto, como em falar de diversão.
fermentada por mais de dois milhões de a) A criança estava trêmula de frio. (meio)
b) caracterização, como em maço de
favelados, e inchou, à exaustão, uma máquina b) Viemos de ônibus. (matéria)
hortaliças.
administrativa que não funciona...”, a c) Daqui a dois quilômetros há uma farmácia.
c) causa, como em tremer de frio.
preposição a (que está contraída com o artigo (origem)
d) modo, como em ficar de pé.
a) traduz uma relação de d) Saíram bem cedo para caminhar no
e) lugar, como em voltar de Brasília.
a) fim. b) causa. c) concessão. parque. (finalidade)
Resolução
d) limite. e) modo. e) O sacerdote falou da fraternidade. (causa)
A preposição de em “festas de queijos”
Resolução Resolução
refere-se ao tipo de festa.
Em à exaustão, o à significa até, indicando, Na alternativa a, a preposição de indica causa;
Resposta: B
portando, limite. em b, indica meio; em c, a preposição a expri-
Resposta: D me distância; em e, de indica assunto.
Resposta: D

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Exercícios Propostos

 Abaixo você encontrará algumas frases em que o em-  (ESPM) – Leia as frases.
prego da preposição exemplifica o uso coloquial da língua e I. A secretária falou do gerente.
outras frases em que o emprego da preposição corresponde II. A secretária falou pelo gerente.
ao padrão culto. Assinale com um X as frases que correspon- III. A secretária falou para o gerente.
dem ao uso coloquial. IV. A secretária falou junto com o gerente.
a) A perda dos documentos implicou em grandes prejuízos. ( )
b) O supermercado faz entrega em domicílio. ( ) As preposições destacadas traduzem, respectivamente, ideia de
c) Ela implica demais com o irmão. ( ) a) companhia, direção, substituição, simultaneidade.
d) Palmeiras joga com o Santos. ( ) b) assunto, direção, substituição, companhia.
RESOLUÇÃO: a, d. c) assunto, substituição, destino, simultaneidade.
d) assunto, substituição, companhia, direção.
Passe para a norma culta as frases assinaladas no e) modo, causa, direção, companhia.
exercício anterior. Resposta: C
RESOLUÇÃO:
a) A perda dos documentos implicou grandes prejuízos.
d) Palmeiras joga contra o Santos.

Observe como o emprego da preposição pode tornar o enun-


ciado ambíguo: Comprei o livro da Joana.

 a) Quais os significados que a frase acima apresenta?


RESOLUÇÃO:
1. Joana me vendeu o livro.
2. Comprei o livro para presentear Joana.
3. Comprei o livro solicitado por Joana.
4. Comprei o livro que Joana escreveu.

Observe, nos exercícios  e , como as preposições esta-  a) Por que Eddie Sortudo deduziu que Hagar não poderia
belecem relações entre as palavras e encerram ideia de causa, ter um “cão de guarda”? Justifique.
lugar, finalidade, companhia, direção etc. RESOLUÇÃO:
Para Eddie Sortudo, a preposição de em “cão de guarda” indica
 Indique o valor assumido pelas preposições nas frases posse, ou seja, trata-se de um cão que pertence a um guarda.

abaixo:
I. Morava em uma casa de pedra.
II. Chegou de carro. b) “Cão de guarda” significa o que entendeu Eddie Sortudo?
III. O governador chegou de Brasília. RESOLUÇÃO:
IV. Falava de política. Não, “cão de guarda” significa o cão que guarda, protege a casa
e seus moradores.
V. Morreu de pneumonia.
a) matéria, condução, estado, assunto e doença.
b) matéria, meio, lugar, assunto e causa.
c) matéria, locomoção, turismo, assunto e causa. c) Construa outras frases em que a preposição de indica
d) matéria, meio, estado, despreocupação e doença. posse.
e) matéria, transporte, lugar, descontração e causa. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: Alguns exemplos: O carro de João enguiçou. Você devolveu o
As preposições são consideradas elementos de ligação ao lado livro da Maria? A casa de Pedro é perto daqui.
das conjunções, advérbios, palavras e locuções denotativas.
Dessa forma, elas também apresentam significado dado pelo
contexto. Resposta: B

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Texto para as questões e .


O RESGATE DO COCÔ

Há três mil anos, quando um chinês ia jantar na casa de um


amigo, ele obrigatoriamente tinha que ir até o quintal desse
amigo e fazer um “número dois” por lá mesmo. É que a
etiqueta da época dizia que era feio comer na casa de alguém
e não “devolver os nutrientes”. Faz tanto sentido que,
 Dê a relação semântica estabelecida pelas preposições atualmente, o arquiteto William Mc Donough e o químico
a) pelo (1.o quadrinho); Michel Braungart trabalham para trazer essa ideia de volta à
RESOLUÇÃO: moda, desenvolvendo e divulgando modos de produção
Pelo (1.o quadrinho) expressa relação de substituição (em subs-
tituição ao corrupto, no lugar do corrupto).
circular, em que os resíduos – inclusive o cocô – são usados
para criar novos produtos tão bons quanto os originais.
Baseados na proposta de Mc Donough e Braungart,
b) para (3.o quadrinho).
pesquisadores do mundo inteiro têm procurado maneiras de
RESOLUÇÃO:
Para (3.o quadrinho) estabelece relação de fim, destinação. aproveitar o nosso “número dois” de cada dia. Na cidade de
Didcot, na Inglaterra, um projeto piloto já permite que 200
famílias aqueçam suas casas com biometano fabricado a
partir de seu próprio cocô. Além de poupar o meio ambiente,
eles economizam dinheiro. Uma ideia que cheira bem.
(Superinteressante, agosto de 2013. Adaptado)

(FGV) – No texto, emprega-se a expressão “número dois”


com a intenção de
a) designar uma ação mediante uma expressão que tem com
ela uma relação de semelhança.
b) enfatizar intensivamente o sentido, resultando no exagero
da significação linguística.
c) conferir maior vigor ao que está sendo expresso com a
redundância intencional de termos.
d) minimizar o efeito de expressão de sentido pejorativo, que
nos usos sociais é vista como grosseira ou pouco agradável.
e) combinar palavras de sentidos opostos, as quais, no
contexto, reforçam a significação.
RESOLUÇÃO:
Expressão corrente na linguagem coloquial brasileira, “número
dois” é eufemística, ou seja, é usada para “minimizar o efeito de
 (ITA) expressão de sentido pejorativo”. Resposta: D
a) O que há de engraçado nesse diálogo?
RESOLUÇÃO: (FGV) – Entre os muitos empregos que a preposição de
A comicidade está na terceira fala do quadrinho, que explica o pode ter, um deles é indicar finalidade, como na seguinte
significado da primeira. passagem do texto:
a) ... quando um chinês ia jantar na casa de um amigo...
b) É que a etiqueta da época dizia que...
b) Qual a marca linguística que permite o efeito cômico? c) ... para trazer essa ideia de volta à moda...
RESOLUÇÃO: d) ... maneiras de aproveitar o nosso “número dois”...
A marca linguística que gera alteração de significado é a prepo- e) ... fabricado a partir de seu próprio cocô.
sição em, pois a expressão “problemas em casa” já se consagrou RESOLUÇÃO:
como referente a problemas de relacionamento familiar. A subs- Em maneiras de aproveitar, de equivale a para e indica finalidade.
tituição da preposição em pela preposição com ou em+a (“pro- Resposta: D
blemas com a casa” ou “na casa”) desfaria o equívoco.

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Gêneros textuais (conto, miniconto,


54 biografia, diário, piada)

1. Conto deflagrará em certo local. Assim, a unidade de ação gera


a unidade de lugar.
A palavra conto refere-se a uma narrativa breve e (Massaud Moisés, Dicionário de Termos Literários)
fictícia. A sua especificidade não pode ser fixada com
exatidão, porque a diferença entre um conto extenso e 2. Diário
uma novela é difícil de determinar.
Um conto apresenta um grupo reduzido de O diário é um tipo de texto pessoal em que uma
personagens e um argumento não demasiado pessoa relata experiências, ideias, opiniões, desejos,
complexo, uma vez que entre as suas características sentimentos, acontecimentos e fatos do cotidiano.
aparece a economia de recursos narrativos. Ainda que com a expansão da internet o diário
Uma das características do conto é que ele possui um manuscrito tem sido pouco explorado, muitas pessoas
enredo único, geralmente focando apenas em uma preferem produzir seus textos com papel e caneta.
situação. E um conto também é simples de ser Alguns tipos de diários até incluíam um cadeado com
interpretado, ao contrário de outros gêneros textuais. chave. Os diários eram produzidos para serem lidos
Nele também as histórias costumam se desenrolar em somente pelas próprias pessoas ou por um amigo muito
um espaço de tempo mais curto. íntimo, pois ele reunia diversos segredos.
A frase “Conto da Carochinha” é usada no Brasil para Na comunicação virtual, os blogs se assemelham aos
quando uma pessoa está contando uma mentira. diários uma vez que muitos possuem as mesmas
(https://conceito.de/conto) características e, por isso, são comumente chamados de
“Diários Virtuais”.
O conto é, do prisma dramático, univalente: contém Quanto a isso, os blogs que atualmente correspondem
um só drama, um só conflito, uma só unidade dramática, a uma evolução dos diários, podem ser produzidos com
uma só história, uma só ação, enfim, uma única célula uma linguagem mais despreocupada, no entanto,
dramática. Todas as demais características decorrem dependendo do número de leitores e o público alvo, as
dessa unidade originária: rejeitando as digressões e as pessoas utilizam uma linguagem mais formal.
extrapolações, o conto flui para um único objetivo, um
único efeito. O passado anterior ao episódio que nele se As principais características dos diários são:
desenrola, bem como os sucessos posteriores, não
interessam, porque irrelevantes. Quando, porventura, Relatos pessoais, verídicos, escritos em primeira
importa mencionar os acontecimentos precedentes, o pessoa e em ordem cronológica. Têm caráter intimista e
contista sintetiza-os em escassas linhas. Tudo sucede confidente, geralmente em linguagem informal.
como se, na existência das personagens, apenas aquele
incidente é que alcançou densidade para fugir ao (https://www.todamateria.com.br/
anonimato. genero-textual-diario/)
De onde o espaço da ação ser limitado: o conto pode
transcorrer numa sala, num cômodo, etc. E quando as Você já deve ter ouvido falar sobre o Diário de Anne
personagens se deslocam, os lugares não apresentam, Frank, de Anne Frank; “Quarto de despejo – Diário de
via de regra, a mesma intensidade dramática. Os pontos uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus; “Diário do
percorridos podem ser vários, mas exclusivamente um hospício”, de Lima Barreto, “Diário de um grávido”, de
conterá a tônica dramática; os demais funcionam como Renato Kaufmann; “Minha vida de menina”, de Helena
paradas necessárias à preparação do drama que Morley.

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3. Biografia 4. Anedota
A biografia é a história de vida de uma pessoa. A A Anedota (piada, pilhéria, chiste) é um gênero
palavra provém de um termo grego composto: bios textual humorístico, jocoso ou picante, que tem o intuito
(“vida”) e graphein (“escrever”). Este vocábulo também de levar ao riso. São textos populares que vão sendo
pode ser usado em sentido simbólico/figurado. Por contados em ambientes informais, e que normalmente
exemplo: “A biografia da presidente reflete que nunca não possuem um autor.
esteve numa situação semelhante”. Nesse caso, a Trata-se de um texto narrativo simples em que
noção de biografia faz referência à história de vida em geralmente há presença de enredo, personagens,
geral. tempo, espaço.
Nos casos mais usuais, porém, uma biografia é uma (https://www.todamateria.com.br/genero-textual-
narração escrita que resume os principais fatos na vida anedota/adaptado)
de uma pessoa. Também se dá o nome de biografia ao
gênero literário em que se inserem/enquadram estas
narrações.
5. Lenda
Enquanto gênero literário, a biografia é narrativa e
A Lenda é uma narrativa de caráter ficcional com um
expositiva. É redigida na terceira pessoa, à exceção das
fundo histórico que é transfigurado pela imaginação
autobiografias (onde o protagonista é o próprio a narrar
popular e transmitida oralmente pelos povos do mundo
as ações). Embora possa incluir apreciações subjetivas
inteiro. O conto popular é uma narrativa de pequena
do autor e dados sobre o contexto em que decorre a vida
extensão, com um número reduzido de personagens,
do protagonista, a base da biografia são os dados exatos
sem qualquer fundo histórico, e cuja ação se situa num
e precisos, nomeadamente datas, nomes e locais.
espaço indeterminado e num tempo passado indefinido.
(https://conceito.de/biografia)

Livros de biografia já contaram histórias de músicos,


cientistas, políticos e personalidades em geral mundo 6. Mito
afora. Essas obras vão a fundo na vida do biografado,
revelando, assim, detalhes da intimidade dessas Mito s.m. (1836) 1 relato fantástico de tradição oral,
celebridades, tornando-as mais humanas aos olhos dos ger. protagonizado por seres que encarnam as forças da
fãs e admiradores. natureza e os aspectos gerais da condição humana;
São biografias conhecidas: lenda (m. e lendas dos índios do Xingu) (os m. da Grécia
antiga) (o m. de Narciso) 2 narrativa acerca dos tempos
• Freddie Mercury: A Biografia Definitiva (Lesley-Ann
heroicos, que ger. guarda um fundo de verdade (o m.
Jones) e do filme Bohemian Rhapsody (2018),
dos argonautas e do celocino de ouro) passado de
baseado na biografia do cantor.
geração em geração.
• Minha Breve História, autobiografia de Stephen (Dicionário Houaiss)
Hawking.
• Longa Caminhada Até a Liberdade, autobiografia de Observe que as designações lendas e mitos são
Nelson Mandela. muitas vezes usadas como sinônimos. Pode-se usar, por
• Steve Jobs – A Biografia (Walter Isaacson). exemplo, “mitos e lendas dos índios do Xingu”.
• Frida – A Biografia (Hayden Herrera).
• Minha História, autobiografia de Michelle Obama.

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Exercícios Resolvidos

Texto para o teste . a) repetição de palavras e expressões que entrelaçam as informações


apresentadas no texto.
b) substituição de palavras por sinônimos como “lúgubre” e
HISTÓRIA DE ASSOMBRAÇÃO “morbidez”, “melancolia” e “nostalgia”.
c) emprego de pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos:
Ah! Eu alembro uma história que aconteceu com meu tii. Era dia “sua”, “seu”, “esse”, “nosso”, “ele”.
de Sexta-Feira da Paixão, diz que eles falava pra meu tii não num vai d) emprego de diversas conjunções subordinativas que articulam as
pescá não. Ele foi assim mesmo, aí chegô lá, ele tá pescano... tá orações e períodos que compõem o texto.
pescano... e nada de pexe. Aí saiu um mundo véi de cobra em cima e) emprego de expressões que indicam sequência, progressividade,
dele, aí ele foi embora... Aí até ele memo contava isso e falava É... como “iminência”, “sempre”, “depois”.
nunca mais eu vou pescar no dia de Sexta-Feira da Paixão... Resolução
COSTA, S. A. S. Narrativas tradicionais tapuias.
A função coesiva dos pronomes mencionados na alternativa c está em
Goiânia: UFG, 2011 (adaptado).
que eles retomam elementos anteriores do texto: “sua obra” (= de
Manuel Bandeira), “seu humor” (idem), “sua poesia” (idem) etc.

 Quanto ao gênero do discurso e à finalidade social


Resposta: C

do texto História de assombração, a organização


textual e as escolhas lexicais do locutor indicam
que se trata de um(a)
Texto para o teste .
a) criação literária em prosa, que provoca reflexão acerca de
problemas cotidianos. CONCURSO DE MICROCONTOS
b) texto acadêmico, que valoriza o estudo da linguagem regional e de NO TWITTER
suas variantes.
c) relato oral, que objetiva a preservação da herança cultural da A nona edição do Simpósio Internacional de Contadores de
comunidade. História promove concurso de microcontos baseado no Twitter. Os
d) conversa particular, que favorece o compartilhar de informações e interessados devem ter uma conta no Twitter, seguir o
experiências pessoais. @simposioconta e escrever um microconto de gênero suspense,
e) anedota regional, que evidencia a fala e o vocabulário exclusivo de com tema livre. O conto deve seguir as regras do Twitter: apenas 140
um grupo social. caracteres.
Resolução
Para preservar a herança cultural da comunidade, as escolhas lexicais ELINA, R. Disponível em: www.consuladosocial.com.br.

são relatadas de forma oral. Acesso em: 28 jul. 2010.

Resposta: C

Texto para o teste .  Na atualidade, o texto traz uma proposta de


utilização do Twitter como ferramenta que
Manuel Bandeira proporciona uma construção rápida, sintética e
definida pelo gênero suspense. Isso demonstra que essa rede social
Filho de engenheiro, Manuel Bandeira foi obrigado a abandonar pode ser uma forma de inovação tecnológica que
os estudos de arquitetura por causa da tuberculose. Mas a iminência a) define uma dinâmica diferente de construção de texto,
da morte não marcou de forma lúgubre sua obra, embora em seu condensando as ideias principais sem perder a criatividade.
humor lírico haja sempre um toque de funda melancolia, e na sua b) conceitua uma nova vertente de texto, na qual a rapidez supera o
poesia haja sempre um certo toque de morbidez, até no erotismo. enredo e as outras características do texto.
Tradutor de autores como Marcel Proust e William Shakespeare, esse c) considera que a utilização da escrita com caneta e papel seja
nosso Manuel traduziu mesmo foi a nostalgia do paraíso cotidiano mal primitiva para os dias atuais.
idealizado por nós, brasileiros, órfãos de um país imaginário, nossa d) caracteriza um texto de tema livre, no qual o número de caracteres
Cocanha perdida, Pasárgada. Descrever seu retrato em palavras é uma importa mais que a criatividade do autor.
tarefa impossível, depois que ele mesmo já o fez tão bem em versos. e) propõe um novo traço à escrita, pois garante a eficiência dos
Revista Língua Portuguesa, processos de comunicação.
n.° 40, fev. 2009. Resolução
O texto, apesar de se adequar aos 140 caracteres do Twitter, não

 descaracteriza o teor criativo dos autores no concurso de minicontos.


Resposta: A
A coesão do texto é construída principalmente a
partir do (a)

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Exercícios Propostos

Texto para a questão . Texto para a questão .


O HUMOR E A LÍNGUA QUERIDO DIÁRIO

Há algum tempo, venho estudando as piadas, com Hoje topei com alguns conhecidos meus
ênfase em sua constituição linguística. Por isso, embora a Me dão bom-dia, cheios de carinho
afirmação a seguir possa parecer surpreendente, creio que Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
posso garantir que se trata de uma verdade quase banal: as Eles têm pena de eu viver sozinho
piadas fornecem simultaneamente um dos melhores [...]
retratos dos valores e problemas de uma sociedade, por um Hoje o inimigo veio me espreitar
lado, e uma coleção de fatos e dados impressionantes para Armou tocaia lá na curva do rio
quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por Trouxe um porrete a mó de me quebrar
outro. Se se quiser descobrir os problemas com os quais Mas eu não quebro porque sou macio, viu
uma sociedade se debate, uma coleção de piadas fornecerá
HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro:
excelente pista: sexualidade, etnia/raça e outras diferenças, Biscoito Fino, 2013 (fragmento).
instituições (igreja, escola, casamento, política), morte, tudo
isso está sempre presente nas piadas que circulam  Uma característica do gênero diário que
anonimamente e que são ouvidas e contadas por todo aparece na letra da canção de Chico Buarque
mundo em todo o mundo. Os antropólogos ainda não é o(a)
prestaram a devida atenção a esse material, que poderia a) diálogo com interlocutores próximos.
substituir com vantagem muitas entrevistas e pesquisas b) recorrência de verbos no infinitivo.
participantes. Saberemos mais a quantas andam o c) predominância de tom poético.
machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos uma d) uso de rimas na composição.
coleção de piadas do que qualquer outro corpus. e) narrativa autorreflexiva.
RESOLUÇÃO:
POSSENTI. S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 (adaptado). O eu lírico relata fatos, emoções e circunstâncias pessoais. Nota-se,
portanto, nessa canção, o estilo recorrente no diário. Resposta: E

 A piada é um gênero textual que figura entre


Texto para a questão .
os mais recorrentes na cultura brasileira,
sobretudo na tradição oral. Nessa reflexão, a DÚVIDA
piada é enfatizada por
Dois compadres viajavam de carro por uma estrada de
a) sua função humorística.
fazenda quando um bicho cruzou a frente do carro. Um dos
b) sua ocorrência universal.
compadres falou:
c) sua diversidade temática.
— Passou um largato ali!
d) seu papel como veículo de preconceitos.
O outro perguntou:
e) seu potencial como objeto de investigação.
— Lagarto ou largato?
RESOLUÇÃO:
Embora todas as alternativas apontem aspectos próprios do O primeiro respondeu:
gênero satírico, o texto transcrito refere-se ao estudo social que — Num sei não, o bicho passou muito rápido.
pode ser feito a partir das piadas, pois elas representam “retratos
dos valores e problemas de uma sociedade” e “uma coleção de Piadas coloridas. Rio de Janeiro: Gênero, 2006.
fatos e dados”.
Resposta: E  Na piada, a quebra de expectativa contribui
para produzir o efeito de humor. Esse efeito
ocorre porque um dos personagens
a) reconhece a espécie do animal avistado.
b) tem dúvida sobre a pronúncia do nome do réptil.
c) desconsidera o conteúdo linguístico da pergunta.
d) constata o fato de um bicho cruzar a frente do carro.
e) apresenta duas possibilidades de sentido para a mesma palavra.
RESOLUÇÃO:
Uma das personagens do diálogo desconsidera a dúvida de seu
interlocutor sobre a pronúncia correta da palavra lagarto. Resposta: C

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Texto para a questão . c) resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes


irracionais.
L.J.C. d) transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida
cotidiana.
— 5 tiros? e) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o
— É. saber científico.
RESOLUÇÃO:
— Brincando de pegador?
O miniconto de Fernando Bonassi, em frases sintéticas e tom
— É. O PM pensou que... irônico, resume “o caos da vida cotidiana”.
— Hoje? Resposta: D

— Cedinho.
Texto para a questão .
COELHO, M ln: FREIRE, M. (Org).
Os cem menores contos brasileiros da século. Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de
São Paulo: Ateliê Editorial. 2004. me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto
de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso,
 Os sinais de pontuação são elementos com que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a
importantes funções para a progressão saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera
temática. Nesse miniconto, as reticências por algum tempo Antõnio Nobre. “Ao cair das folhas”, um
foram utilizadas para indicar de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está
a) uma fala hesitante. datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até
b) uma informação implícita. outubro de 1914.
c) uma situação incoerente. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.
d) a eliminação de uma ideia.
e) a interrupção de uma ação.
RESOLUÇÃO:
As reticências foram empregadas com o intuito de suspender uma  No relato de memórias do autor, entre os
informação que ficou implícita: o policial se equivocou e matou recursos usados para organizar a sequência
um inocente. dos eventos narrados, destaca-se a
Resposta: B
a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade
ao texto.
Texto para a questão . b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão
dos fatos.
Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os
num raio. Então apareceram os bichos que comiam os acontecimentos.
homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações
o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como pessoais.
não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.
números racionais e a História, organizando os eventos sem RESOLUÇÃO:
sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Trata-se de biografia.
Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém Há no texto várias locuções adverbiais de tempo e lugar, porém a
sequência dos eventos narrados é marcada pelo emprego do
apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as pretérito perfeito, que indica ações pontuais no passado
cascas das feridas que alcança. (“embarquei”, “escolhi”, “fiquei”) e o pretérito mais-que-perfeito
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. (“falara”, “estivera”), que indica ações anteriores ao perfeito.
Resposta: C
In: MORICONI, Í. (Org.). O cem melhores contos do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando


Bonassi configura um painel evolutivo da
história da humanidade. Nele, a projeção do
olhar contemporâneo manifesta uma percepção que
a) recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a
humanidade.
b) desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o
conceito de dever.

PORTUGUÊS 103
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Texto para a questão . Texto para a questão


.
PRA ONDE VAI ESSA ESTRADA? NO CAPRICHO

— Sô Augusto, pra onde vai essa estrada? O Adãozinho, meu cumpade, enquanto esperava pelo
O senhor Augusto: delegado, olhava para um quadro, a pintura de uma senhora.
— Eu moro aqui há 30 anos, ela nunca foi pra parte Ao entrar a autoridade e percebendo que o cabôco admirava
nenhuma, não. tal figura, perguntou: “Que tal? Gosta desse quadro?”
— Sô Augusto, eu estou dizendo se a gente for andando E o Adãozinho, com toda a sinceridade que Deus dá ao
aonde a gente vai? cabôco da roça: “Mas pelo amor de Deus, hein, dotô! Que
O senhor Augusto: muié feia! Parece fiote de cruis-credo, parente do deus-me-
— Vai sair até nas Oropas, se o mar der vau. livre, mais horriver que briga de cego no escuro.”
Ao que o delegado não teve como deixar de confessar,
Vocabulário um pouco secamente: “É a minha mãe.” E o cabôco, em
Vau: Lugar do rio ou outra porção de água onde esta é pouco funda cima da bucha, não perde a linha: “Mais dotô, inté que é uma
e, por isso, pode ser transposta a pé ou a cavalo. feiura caprichada.”

MAGALHÃES, L. L. A.; MACHADO, R. H. A. (Org.). BOLDRIN. R. Almanaque Brasil de Cultura Popular.


Perdizes, suas histórias, sua gente, seu folclore. São Paulo: Andreato Comunicação e
Perdizes: Prefeitura Municipal, 2005. Cultura. n.° 62. 2004 (adaptado).

As anedotas são narrativas, reais ou

inventadas, estruturadas com a finalidade de Por suas características formais, por sua
provocar o riso. O recurso expressivo que função e uso, o texto pertence ao gênero.
configura esse texto como uma anedota é o(a) a) anedota, pelo enredo e humor característicos.
a) uso repetitivo da negação. b) crônica, pela abordagem literária de fatos do cotidiano.
b) grafia do termo “Oropas”. c) depoimento, pela apresentação de experiências pessoais.
c) ambiguidade do verbo “ir”. d) relato, pela descrição minuciosa de fatos verídicos.
d) ironia das duas perguntas. e) reportagem, pelo registro impessoal de situações reais.
e) emprego de palavras coloquiais. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: As características que definem o gênero anedota são a narrativa
Há ambiguidade na passagem “para onde vai essa estrada”. “Vai” breve e a presença de humor, ambas encontradas no texto que faz
pode significar “transferida para algum lugar” ou “o final da parte do Almanaque Brasil de Cultura Popular.
rodovia”, sentido que se aplica para o emissor da pergunta. Resposta: A
Resposta: C

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Texto para o teste . Texto para o teste .


A PORCA E OS SETE LEITÕES

É um mito que está desaparecendo, pouca gente o


conhece. É provável que a geração infantil atual o
desconheça. (Em nossa infância em Botucatu, ouvimos falar
que aparecia atrás da igreja de São Benedito no largo do
Rosário.) Aparece atrás das igrejas antigas. Não faz mal a
ninguém, pode-se correr para apanhá-la com seus
bacorinhos que não se conseguirá. Desaparecem do lugar
costumeiro da aparição, a qual só se dá à noite, depois de
terem “cumprido a sina”.
Em São Luís do Paraitinga, informaram que se a gente
atirar contra a porca, o tiro não acerta. Ninguém é dono dela
e por muitos anos apareceu atrás da igreja de Nossa Senhora
das Mercês, na cidade onde nasceu Oswaldo Cruz.
ARAÚJO, A. M. Folclore nacional I: festas, bailados,
mitos e lendas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

(2019 – 2.a Aplicação) – Os mitos são


importantes para a cultura porque, entre
outras funções, auxiliam na composição do
imaginário de um povo por meio da linguagem. Esse texto
contribui com o patrimônio cultural brasileiro porque
a) preserva uma história da tradição oral.
b) confirma a veracidade dos fatos narrados.
c) identifica a origem de uma história popular.
Disponível em: www.tecmundo.com.br. d) apresenta as diferentes visões sobre a aparição.
Acesso em: 10 dez. 2018 (adaptado).
e) reforça a necessidade de registro das narrativas folclóricas.

O texto tem o formato de uma carta de jogo


RESOLUÇÃO:
O autor disse que ouviu falar, em Botucatu, que uma porca e seus
e apresenta dados a respeito de Marcelo filhotes apareciam atrás de igrejas antigas à noite e que ninguém
Gleiser, premiado pesquisador brasileiro da conseguia pegá-los, nem tiro os acertava. Trata-se de um mito ou
atualidade. Essa apresentação subverte um gênero textual ao lenda de tradição oral, que parece estar desaparecendo já que “é
provável que a geração infantil atual o desconheça”. Ao
a) vincular áreas distintas do conhecimento. apresentá-lo, contribui para a preservação do patrimônio cultural
b) evidenciar a formação acadêmica do pesquisador. brasileiro.
c) relacionar o universo lúdico a informações biográficas. Resposta: A

d) especificar as contribuições mais conhecidas do


pesquisador.
e) destacar o nome do pesquisador e sua imagem no início do
texto.
RESOLUÇÃO:
A carta, por pertencer a um jogo, evoca o lúdico, ou seja, o brincar
e, com isso, subverte a estrutura comum e canônica do gênero
biografia, o que costuma ser apresentado por meio de um texto
em prosa em vez de topicalizações enxutas.
Resposta: C

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Palavras-chave:
Preposição (II) e interjeição • Relação de sentido
56 • Estado emotivo

Exercícios Resolvidos

Texto para as questões  e .  (VUNESP) – Os espaços no segundo quadrinho devem ser


preenchidos, correta e respectivamente, com
a) castigá-los ... devolvendo-lhes b) castigar-lhes ... devolvendo-os
c) castigar eles ... devolvendo-nos d) castigá-los ... devolvendo-os
e) castigar-lhes ... devolvendo-lhes
Resolução
O pronome os (los) refere-se aos evolucionistas e complementa o
verbo castigar, que é transitivo direto. O pronome lhes também se
refere aos evolucionistas e é complemento do verbo devolver,
transitivo indireto.
Resposta: A
 (VUNESP) – Em – tolices dos evolucionistas – e – tudo de novo – a
preposição de forma expressões cujos sentidos são, respectivamente, de
a) modo e intensidade. b) causa e consequência.
c) posse e tempo. d) modo e causa.
e) posse e intensidade.
Resolução
A preposição de, na primeira expressão, indica posse, porque se
refere a tolice deles, os evolucionistas. A expressão de novo significa
(Folha de S.Paulo, 11/12/2008) “novamente” e indica repetição no tempo. Resposta: C

Texto para as questões de   a . Observe


e, por isso, espera pacientemente a chegada
de seus presentes.
sentido.
e) A forma verbal carregue (4.° quadrinho) ex-
a tira do garoto Calvin e do tigre Hobbes,
b) Comportar-se bem é fácil para Calvin, pois pressa fato dado como certo.
publicada por Bill Watterson.
ele sabe que seus pais gostariam dessa atitude. Resolução
 (MACKENZIE) – Assinale a alternativa
c) O tigre não acredita em Papai Noel e quer
convencer Calvin a fazer o mesmo.
A fala do tigre leva Calvin a alterar suas conclu-
sões a respeito do momento adequado para
correta. deixar de “ser bonzinho”.
d) Calvin não acredita em Papai Noel e nem na
a) Calvin apresenta um bom comportamento Resposta: B
entrega de presentes pelo velhinho.
e) Calvin evita comportar-se mal apenas
para ganhar presentes de Natal.
 (MACKENZIE) – É correto afirmar que
a) apenas o advérbio agora, em tá carregando
Resolução
o trenó agora, denota representação de tempo
Todas as falas de Calvin indicam que lhe
concomitante ao da fala.
custa muito “ser bonzinho” e que ele se
esforça em sê-lo apenas para iludir Papai b) puxa, no último quadrinho, é forma verbal
Noel. Resposta: E de “puxar” na 3.a pessoa do singular.

 (MACKENZIE) – Assinale a alternativa


c) o pronome quanto, em estar decidindo o
quanto eu sou bom, representa de forma
correta.
precisa o resultado da avaliação do comporta-
a) A interjeição Ei! (2.° quadrinho) é utili-
mento do garoto.
zada para expressar o cansaço do garoto
d) o uso da conjunção Se (3.° quadrinho)
causado pela espera dos presentes.
introduz nova conclusão, excluindo a hipótese
b) No último quadrinho, a fala do tigre faz
levantada pelo garoto no quadrinho anterior.
com que o garoto mude as conclusões a
e) o pronome Esta, em Esta foi a semana (1.°
que tinha chegado.
quadrinho), indica o tempo presente e por isso
c) Na expressão velhote durão (4.° qua-
não poderia ser substituído por “Essa”.
drinho), o aumentativo indica o tamanho
Resolução
do Papai Noel, imaginado como um velho
Esta indica a semana mais próxima – no caso,
alto pelo garoto. a semana em curso ou em vias de terminar
d) A palavra comprida (1.° quadrinho) quando se passa a cena. Essa indicaria a
pode ser trocada por “cumprida”, já que as semana já transcorrida, já encerrada.
duas formas da escrita têm o mesmo Resposta: E

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Exercícios Propostos

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA Que o Manuel Bandeira me desculpe, mas...


VOU-ME EMBORA DE PASÁRGADA!
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora de Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Sou inimigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Não tenho nada que eu quero
Na cama que escolherei
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora de Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Vou-me embora pra Pasárgada
A existência é tão dura
Aqui eu não sou feliz
As elites tão senis
Lá a existência é uma aventura
Que Joana, a louca de Espanha
De tal modo inconsequente
Ainda é mais coerente
Que Joana a Louca de Espanha Do que os donos do país.
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente A gente só faz ginástica
Da nora que nunca tive Nos velhos trens da Central
Se quer comer todo dia
E como farei ginástica A polícia baixa o pau
Andarei de bicicleta E como já estou cansado
Montarei em burro brabo Sem esperança num país
Subirei no pau-de-sebo Em tudo que nos revolta
Tomarei banhos de mar! Já comprei ida sem volta
E quando estiver cansado Pra outro qualquer lugar
Deito na beira do rio (...) Aqui não quero ficar.
Vou-me embora de Pasárgada. (...)
(Manuel Bandeira, Libertinagem) (Millôr Fernandes)

Os dois textos referem-se a um lugar imaginário, criado por  No texto de Millôr Fernandes, o que representa
Manuel Bandeira e retomado, com nova visão, por Millôr “Pasárgada”?
Fernandes. RESOLUÇÃO:
 Como se chama o processo em que um texto dialoga com Representa o espaço do sofrimento, da decepção, por isso é
outro? necessário partir.
RESOLUÇÃO: Chama-se intertextualidade.

Considerando o primeiro verso de cada texto, o que os


diferencia? Explique por quê.
RESOLUÇÃO:
A diferença está nas preposições empregadas: ”pra” (uso colo-
quial) e “de”. A primeira indica um lugar para onde se vai Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a Chica,
(destino); a segunda, um lugar de onde se sai (origem). Tomezinho. Sorriu para Tio Terêz. — “Tio Terêz, o senhor
parece com Pai...” Todos choravam. O doutor limpou a goela,
disse: — “Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão fortes,
até meus olhos se enchem d’água...” Miguilim entregou a ele
os óculos outra vez. Um soluçozinho veio. Dito e a Cuca
Pingo-de-Ouro. E o Pai. Sempre alegre, Miguilim... Sempre
 No texto de Manuel Bandeira, o que representa “Pasár- alegre, Miguilim... Nem sabia o que era alegria e tristeza.
gada”? Mãe o beijava. A Rosa punha-lhe doces de leite nas
RESOLUÇÃO:
algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto, falava.
“Pasárgada” representa o lugar em que se encontra a felicidade,
a liberdade e em que os sonhos se realizam. (Guimarães Rosa, Manuelzão e Miguilim)

 (FUVEST) – “Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão


fortes, até meus olhos se enchem d’água...”

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O valor semântico de até coincide com o do texto em:  A crônica muitas vezes constitui um espaço
a) Me disseram que na casa dele até cachorro sabe padre-nosso. para reflexão sobre aspectos da sociedade
b) Bebeu uma bagaceira, saiu para a rua, sob a chuva intensa, em que vivemos.
andou até a segunda esquina, atravessou a avenida...
c) Até então, ele não inquietava os investidores, uma vez que Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu
era utilizado para financiar investimentos. braço, falou qualquer coisa que não entendi. Fui logo
d) Não sei se poderei esperar até a próxima semana. dizendo que não tinha, certa de que ele estava pedindo
e) Foi até a sala e retornou. dinheiro. Não estava. Queria saber a hora.
RESOLUÇÃO: Até, no texto, indica inclusão. Equivale a também,
Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não
inclusive. O mesmo valor ocorre em “... na casa dele até cachorro
sabe padre-nosso.” Em b e e, até indica limite no espaço e em c e era um Menino De Rua. É assim que a gente divide. Menino
d, indica limite no tempo. Resposta: A De Família é aquele bem-vestido com tênis da moda e
camiseta de marca, que usa relógio e a mãe dá outro se o
dele for roubado por um Menino De Rua. Menino De Rua é
aquele que quando a gente passa perto segura a bolsa com
força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
(...) Na verdade não existem meninos De rua. Existem
meninos Na rua. E toda vez que um menino está Na rua é
porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos
aos lugares. Assim como são postos no mundo, durante
muitos anos também são postos onde quer que estejam.
Resta ver quem os põe na rua. E por quê.
(COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia.
Rio de Janeiro, Rocco,1999.)

No terceiro parágrafo, em “...não existem meninos De rua.


Existem meninos Na rua”, a troca de “De” por “Na” determina
que a relação de sentido entre “menino” e “rua” seja
a) de localização e não de qualidade.
b) de origem e não de posse.
c) de origem e não de localização.
d) de qualidade e não de origem.
e) de posse e não de localização.
RESOLUÇÃO:
Segundo o texto, o fato de estarem na rua é uma circunstância
que define os meninos apenas espacialmente (indica onde estão),
e não essencialmente (não indica quem são nem como são).
Portanto, ela substitui uma atribuição de qualidade (“de rua”) por
uma indicação de circunstância espacial (“na rua”). Resposta: A

 Os termos só e para repetem-se em cinco dos quadrinhos.  Emprega-se há (verbo haver ) para indicar tempo passado
a) Com que finalidade o termo só foi utilizado? Qual a relação e quando significa existir ; a preposição a, para tempo futuro.
semântica expressa por esse elemento? Com base nessa explicação, complete com há ou a.
RESOLUÇÃO:
A repetição do elemento só promove o humor, porque ironiza a Há
a) __________ dez anos, nasceu minha irmã caçula.
relação amorosa, depreciando os parceiros da personagem Radical
Chic. Só, neste caso, expressa relação semântica de exclusão ou a
b) Daqui __________ chácara, são dois quilômetros.
restrição.
A
c) __________ há
nosso ver, __________ alguns problemas que
complicam essa discussão.

a
d) Todos responderam que não tinham nada __________ ver
com o caso do desvio de verbas.

a
e) Pelo que ele propiciou __________ todos, tem realmente
b) A que ideia nos remete a preposição para?
a
direito __________ há
receber a homenagem que __________ dias
RESOLUÇÃO:
A preposição para exprime ideia de finalidade. está sendo preparada.
a
f) Uma __________ uma, todas as alunas prestarão contas à

diretora, daquilo que fizeram __________ pouco.

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(UNESP) – “Duas semanas depois que ela chegou é que a) modo e lugar. b) comparação e assunto.
a encontrei na praia solitária; eu viajava a pé, ela veio c) consequência e meio. d) causa e assunto.
galopando a cavalo” e) meio e finalidade.
Os termos sublinhados constituem, respectivamente, Resposta: D

a) artigo, preposição, artigo.


b) artigo, preposição, preposição.
 (FAMECA) – Assinale a alternativa cujas preposições
completam corretamente o texto a seguir:
c) pronome, artigo, artigo.
d) pronome, preposição, preposição. É fato que embora alguns pacientes procurem nos médicos
e) pronome, artigo, preposição.
alguém _________ quem possam confiar e _________ quem
RESOLUÇÃO:
Em “a encontrei”, o termo “a” funciona morfologicamente como esperam ajuda, infelizmente, muitos encontram
pronome oblíquo, uma vez que retoma o pronome reto “ela” da profissionais ________ quem os interesses financeiros
oração anterior. Em “a pé” e “a cavalo”, o termo “a” funciona
falam mais alto do que a prática médica e que, portanto, são
como preposição, já que faz parte de expressões adverbiais.
Resposta: D indiferentes _________ que os pacientes sentem.

(UNISA) – No trecho – ela enriqueceu com a publicação de a) a ... por ... em ... ao b) a... de... para... do
sete best-sellers sobre comportamento, decoração e beleza –, c) com... a ... com ... sobre d) em... por... para... do
as preposições com e sobre formam expressões cujas e) em... de... para... ao
relações estabelecidas remetem, respectivamente, aos Resposta: E
sentidos de

 Associe as colunas, apontando a frase que poderia substituir a palavra sublinhada para indicar o sentimento, a emoção súbita
do emissor.
I. ( c ) Ai! Parece que meu corpo todo lateja. a) “Acudam-me!”
II. ( e ) Psiu! Todos dormem. b) “O que você está me dizendo?”
III. ( a ) Socorro! Há um estranho me seguindo. c) “Tenho dor!”
IV. ( b ) Hem! Você teve coragem de fazer isto? d) “É admirável!”
V. ( d ) Puxa! Tudo isto foi realizado por um só homem! e) “Fique em silêncio!”
VI. ( g ) Ó Deus! Por que me abandonastes? f) “Que bom!”
VII. ( f ) Oh! Era isso mesmo o que eu queria! g) “Ouvi-me!”
VIII.( h ) Oh! Imagino o seu desgosto! h) “Que tristeza!”

 Complete o quadro de resumo:


INTERJEIÇÃO PREPOSIÇÃO

palavra que exprime nossos estados


palavra que serve de conectivo de
DEFINIÇÃO emotivos num movimento súbito, substituindo
subordinação entre palavras e orações
uma frase logicamente organizada

FLEXÃO invariável invariável

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Palavras-chave:
Ambiguidade • Duplo sentido
57 • Anfibologia

Segundo Massaud Moisés, ambiguidade ou anfibologia designa “os equívocos de sentido, provenientes de
construção defeituosa da frase ou do uso de termos impróprios”. Ambiguidade, portanto, é defeito da frase que
apresenta duplo sentido. Nos textos publicitários, jogos de palavras envolvendo o duplo sentido caracterizam-se pela
criatividade. Observe alguns exemplos: No dia dos pais, dê notícias ao seu pai (assinatura de jornal). A partir de agora,
os solitários nunca mais vão ficar sozinhos (propaganda de anéis e brinco solitários). Dessa escola, todo mundo sai
falando bem (escola de idiomas). Peça ao seu professor para passar (propaganda de perfume).

Cuidado

cuidar: proteger, zelar.

tomar cuidado: ter cautela,


prestar atenção a.

Exercícios Resolvidos

Leia a tirinha para responder às questões de


 (VUNESP) – O efeito de humor da tirinha Texto para a questão .
números  e . se baseia O enunciado abaixo refere-se à marca de um
a) no duplo significado da palavra tanque. dos relógios mais caros do mundo. Após uma
b) na percepção machista do papel da mulher leitura crítica, assinale a alternativa que seja
no exército. coerente ao texto.
c) na percepção feminista de promover o
entendimento com o sexo oposto. Se ninguém percebe o
d) na ideia de que não há diferença entre seu pulso, tecnicamente
homens e mulheres. você está morto.
e) no convívio harmonioso do casal-personagem.
Resolução  (UNIVAS)
O humor está no fato de que ele se referiu a a) A oração “Se ninguém percebe o seu
tanque como “cuba em que se lava roupa” e pulso” remete aos sentidos de morte
ela, em represália, atacou-o com um tanque de biológica e de exclusão social.
guerra. Resposta: A b) A expressão “tecnicamente” faz alusão ao
relógio por possuir tecnologia de ponta.
 (VUNESP) – Assinale a alternativa em c) Em se tratando de um texto publicitário,
que o emprego da vírgula segue a mesma que tem por objetivo principal alertar o
consumidor sobre os cuidados que devem
regra gramatical que a da fala de Amely –
ser tomados ao adquirir determinado
Também acho, querido! – do 3.° quadrinho. produto, o enunciado deveria ser alterado
a) Os meninos brincavam de soldados e as para: “Se alguém perceber o seu pulso,
meninas, de enfermeiras. tecnicamente você está morto”.
b) Gosto de frutas cítricas como morango, d) Se o advérbio “tecnicamente” fosse
laranja, abacaxi. substituído por “fisicamente”, a persuasão
c) Levantou-se, trocou-se, saiu. seria mais forte nesse enunciado.
d) O cacau, uma das principais divisas econô- e) O emprego da conjunção “se” remete ao
micas brasileiras do século 20, tenta se sentido de concessão entre as orações que
compõem o anúncio.
recuperar das pragas.
Resolução
e) — Por que você está triste, Joãozinho?
Há exploração do duplo sentido do verbo
Resolução
“perceber”: sentir o pulso (batimentos,
Querido e Joãozinho são termos empregados pressão arterial) ou observar o que foi colocado
para chamar ou interpelar o locutor. São voca- no corpo. No caso, fala-se de uma marca de
tivos e, por isso, devem ser isolados por vírgula. relógios, cuja tradição é atrelada a status e
Resposta: E sofisticação. Resposta: A

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Exercícios Propostos

 (CÁSPER LÍBERO)
I. Comprei uma calça para meu irmão com uma perna curta.
II. O livro, entreguei-o a quem o havia esquecido.
III. Milton Nascimento perdeu um amigo de vinte anos.
IV. Ela procurou a vizinha para emprestar uma blusa.
Podemos afirmar que há ambiguidade na(s) frase(s)
a) I, II e IV. b) I e III. c) II. d) I, III e IV e) III.
RESOLUÇÃO:
Na frase II, trata-se de pleonasmo (o livro, o). Resposta: D

Leia com atenção a piadinha abaixo.

Dois homens estão pescando. De repente, um deles diz,


sem se alterar:
L1 – Tião, um jacaré comeu meu pé.
L2 – Qual deles?
Texto para a questão .
L1 – E eu sei, Tião? Jacaré é tudo igual… EU SÓ DESEJO
(Adaptado de Rubens de Souza, Seleções Reader Digest) A-M-A-L-A!!!

(UNIMEP) – Uma análise correta sobre ela diria que:


a) Para o pescador não nomeado (L2); o pronome eles (de
deles) refere-se aos pés do companheiro; para este último,
deles refere-se aos jacarés que presumivelmente estariam
por perto.
b) A frase Jacaré é tudo igual… está errada. O certo deveria
ser Os jacarés são todos iguais.
c) Para Tião, o pronome eles (de deles) refere-se aos pés do
companheiro; para este último, deles refere-se aos jacarés
que presumivelmente estariam por perto.
d) Pode-se aceitar Jacaré é tudo igual…, para imitar a variação (Charge de Duke. www.otempo.com.br, 06.09.2017)
regional dos dois falantes.
e) O pescador cometeu um erro ao fazer a pergunta. Ele deveria  (FGV) – No 2o. quadrinho, o desconcerto da mulher ocorre
ter sido mais preciso e dito Qual dos dois pés o jacaré comeu? porque ela, a princípio,
Resposta: C a) entendeu que o homem queria “amá-la”, ideia que, no
contexto, poderia ser expressa corretamente pela frase “Eu
Texto para a questão . só desejo amar você!”
b) reconheceu que o homem queria “a mala”, ideia que, no
ERRO DE PORTUGUÊS
contexto, poderia ser expressa corretamente pela frase “Eu
Quando o português chegou só desejo amar-lhe!”
Debaixo duma bruta chuva c) acreditou que o homem queria “amá-la”, ideia que, no
Vestiu o índio contexto, poderia ser expressa corretamente pela frase “Eu
Que pena!
só desejo amar ela!”
Fosse uma manhã de sol
d) pensou que o homem tinha amor por ela e pela mala
O índio tinha despido
também, ideia que, no contexto, poderia ser expressa
O português
(Oswald de Andrade) corretamente pela frase “Eu só desejo amar vocês!”
e) teve dúvida se o homem queria “a mala”, ideia que, no
 O título do poema é ambíguo? Justifique sua resposta.
contexto, poderia ser expressa corretamente pela frase “Eu
RESOLUÇÃO: só a desejo amá-la!”
Sim, o título é ambíguo, pois tanto remete a erros gramaticais da RESOLUÇÃO:
língua portuguesa quanto a um deslize cometido por alguém de A mulher da tirinha entendeu de forma equivocada a fala do
nacionalidade portuguesa. A leitura do poema esclarece que a homem. Ela acreditou que “amá-la” se referia ao amor do homem
segunda interpretação é a correta: trata-se do português por ela, mas a palavra, segmentada de outra forma, referia-se à
colonizador. mala cheia de dinheiro. Resposta: A

PORTUGUÊS 111
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Texto para a questão . Texto para a questão .


Trabalhe, trabalhe, trabalhe. CUIDADO COM AS PALAVRAS
Mas não se esqueça: vírgulas significam pausas.
Uma moça se preparou toda para ir ao ensaio de uma
(Revista Língua Portuguesa, n.o 36, outubro/2008, p. 30.) escola de samba.
Chegando lá, um rapaz suado pede para dançar e, para
 (2.a aplicação) – A publicidade utiliza recursos não arrumar confusão, ela aceita.
e elementos linguísticos e extralinguísticos Mas o rapaz suava tanto que ela já não estava suportando
para propagar sua mensagem. O autor do mais. Assim, ela foi se afastando e disse:
texto publicitário acima, para construir seu sentido, baseia-se —Você sua, hein!!!
a) na possibilidade de confundir o leitor quanto à sua rotina. Ele puxou-a, lascou um beijo e respondeu:
b) na certeza de surpreender o leitor com efeitos de humor. —Também vô sê seu, princesa!!!
c) na criação de dúvida quanto à quantidade de trabalho. (www.mundodaspiadas.com/arquivo/2006-2-1.html. Adaptado.)
d) no duplo sentido da palavra pausas: pausa na escrita e
pausa no trabalho. (FGV)
e) no objetivo de irritar o leitor no que se refere à sua rotina de a) Tendo como base a frase da moça, explique o que ela quis
trabalho diária. dizer e o que o rapaz entendeu.
Resposta: D RESOLUÇÃO:
A moça quis dizer que o rapaz suava muito. O rapaz entendeu que
Texto para a questão . ela estava manifestando o desejo de ser dele, isto é, ser possuída
por ele.

PERIGO
ÁRVORE AMEAÇA CAIR EM PRAÇA DO JARDIM
INDEPENDÊNCIA

Um perigo iminente ameaça a segurança dos moradores


da rua Tonon Martins, no Jardim Independência. Uma árvore,
com cerca de 35 metros de altura, que fica na Praça
Conselheiro da Luz, ameaça cair a qualquer momento. Ela foi
atingida, no final de novembro do ano passado, por um raio
e, desde este dia, apodreceu e morreu
A árvore, de grande porte, é do tipo Cambuí e está muito
próxima à rede de iluminação pública e das residências. “O
perigo são as crianças que brincam no local”, diz Sérgio b) Explique, do ponto de vista fonológico, o que gerou a inter-
Marcatti, presidente da associação do bairro. pretação do rapaz.
(Juliana Vieira, Jornal Integração, 16 a 31 de agosto de 1996). RESOLUÇÃO:
O rapaz entendeu a frase da moça – “Você sua” – como se fosse
“Vou ser sua”. A confusão fonológica deveu-se ao fato de o rapaz
 (UNICAMP) – O que pretendia afirmar o presidente da ter tomado a frase da moça – pronunciada, conforme o padrão
associação? culto [você sua] – como se se tratasse de [vô sê sua], pronúncia
popular de “Vou ser sua”. Como se vê, a pronúncia popular de
RESOLUÇÃO: “Vou ser sua” contém a mesma sequência de fonemas que a
Pretendia afirmar que a árvore morta representava perigo para as pronúncia culta de “Vou ser sua”.
crianças que brincam no local.

b) O que afirma ele, literalmente?


RESOLUÇÃO:
Afirma que o perigo é representado pelas crianças que brincam no
local: elas é que seriam perigosas.

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Quadrinho para a questão


. (UNICAMP) – A ambiguidade da história é provocada pela
fala da personagem logo no primeiro quadrinho. Isso porque ela
a) não concluiu a primeira frase.
b) não concluiu a segunda frase.
c) juntou ação às palavras.
d) concluiu mal a segunda frase.
e) concluiu mal a primeira frase.
Resposta: B

(UNICAMP) – Conforme, portanto, a resposta ao item


anterior, pode-se concluir que a ambiguidade foi provocada
pela
a) antítese. b) elipse. c) silepse.
d) metáfora. e) pleonasmo.
Resposta: B

 (UNICAMP) – A ambiguidade também foi causada porque


o interlocutor/ouvinte no primeiro quadrinho

(FUVEST) – Dos recursos linguísticos presentes nos a) não percebeu a polissemia da palavra cabeça.
quadrinhos, o que contribui de modo mais decisivo para o b) não prestou atenção à expressão Veja.
efeito de humor é a c) confundiu e não entendeu perfeitamente os possessivos
a) pergunta subentendida no primeiro quadrinho. minha e sua.
b) primeira fala do primeiro quadrinho. d) confundiu os auxiliares verbais poder e dever.
c) falta de sentido do diálogo entre o candidato e o cabo e) não percebeu que o presente do verbo tinha valor de futuro.
eleitoral. Resposta: C
d) utilização de Fulano, Beltrano e Sicrano como nomes
próprios.  (UNICAMP) – “Aposto que você não pode!”
e) ambiguidade no uso da expressão “pelas costas”. a) De acordo com a intenção do falante (primeiro quadrinho),
RESOLUÇÃO: como deveria ser completada a frase?
O humor se deve ao fato de a expressão “pelas costas” ser tomada, RESOLUÇÃO:
primeiro, em sentido figurado e, depois, em sentido literal. Aposto que você não pode chutar a sua cabeça.
Resposta: E

Tira para as questões de a .

b) De acordo com a interpretação (primeiro quadrinho) e a ação


(segundo quadrinho) do ouvinte, como foi realmente com-
pletada a frase?

RESOLUÇÃO:
Aposto que você não pode chutar a minha cabeça.

 (UNICAMP) – O último quadrinho mostra


a) arrependimento.
b) irritação pela burrice alheia.
c) incompreensão violenta.
d) autocrítica consciente.
e) compreensão bem-humorada.
Resposta: D

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Charge para ao teste . Textos para a questão .


NÍQUEL NÁUSEA - Fernando Gonsales
TEXTO I
QUE OSSOS MAGNÍFICOS!
A QUE ANIMAL ELES PERTENCEM? CRIATIVIDADE EM PUBLICIDADE:
TEORIAS E REFLEXÕES

Resumo: O presente artigo aborda uma questão primordial


na publicidade: a criatividade. Apesar de aclamada pelos
departamentos de criação das agências, devemos ter a
consciência de que nem todo anúncio é, de fato, criativo. A
partir do resgate teórico, no qual os conceitos são tratados à
luz da publicidade, busca-se estabelecer a compreensão dos
temas. Para elucidar tais questões, é analisada uma
campanha impressa da marca XXXX. As reflexões apontam
NÃO PRECISA
que a publicidade criativa é essencialmente simples e
GRRR RESPONDER!
apresenta uma releitura do cotidiano.
DEPEXE, S.D. Travessias: Pesquisas em Educação,
Cultura, Linguagem e Artes, n. 2, 2008.

TEXTO II

(Fernando Gonsales. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo, 05.09.2017)

 (FGV) – O efeito de humor na tira decorre, entre outros


fatores,
a) do emprego figurado do termo “magníficos”, para reforçar
o entusiasmo do homem diante de sua descoberta.
13 de maio dia das mães
b) do fato de o homem expressar seu desconhecimento em
Homenagem ao Dia das Mães 2012.
relação aos ossos por meio de uma frase interrogativa.
Disponível em: www.comunicacao.com.
c) do fato de o homem empregar a palavra “animal” diante da
Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado).
ossada, sem saber se, realmente, ela era parte de algum.
d) da agressividade do cão, cujo rosnar não é compreendido,
embora represente uma ameaça à segurança dos dois  Os dois textos apresentados versam sobre o
homens. tema criatividade. O Texto I é um resumo de
e) do duplo sentido do verbo “pertencer”, revelado pela caráter científico e o Texto II, uma
reação do cão ao gesto de apropriação do osso pelo homenagem promovida por um site de publicidade. De que
homem. maneira o Texto II exemplifica o conceito de criatividade em
RESOLUÇÃO: publicidade apresentado no Texto l?
A tirinha tem como personagens dois paleontólogos e um deles a) Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus
encontra ossos em uma escavação. Ao perguntar ao outro a quem filhos.
deveria “pertencer” o osso que tinha nas mãos, aparece um
cachorro que rosna, reivindicando o osso. O estudioso decide
b) Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu
rapidamente que o osso “pertence” ao cão. Assim, o humor da trabalho de criar os filhos.
tirinha consiste no emprego ambíguo do verbo “pertencer”. c) Explorando a polissemia do termo “criação”.
Resposta: E d) Recorrendo a uma estrutura linguística simples.
e) Utilizando recursos gráficos diversificados.
RESOLUÇÃO:
O texto II explora a polissemia da palavra “criação”, tanto na
acepção de “originalidade de algo”, quanto no sentido de
“geração materna” (gerar, criar).
Resposta: C

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Palavras-chave:
Conjunção (I) • Adição • Alternância
58 • Oposição

Um texto em prosa bem redigido apresenta, necessariamente, articulação precisa entre palavras, orações, períodos
e parágrafos. Para obtê-la, é necessário promover o encadeamento semântico (de significados) e o encadeamento
sintático (mecanismos que ligam uma palavra a outra e uma oração a outra) que garantam a clareza do enunciado.
Os elementos que promovem essa articulação são as preposições, os pronomes demonstrativos e relativos, as
conjunções e as locuções conjuntivas e adverbiais. Esses articuladores são chamados elementos de ligação ou de
coesão e são eles que proporcionam as relações necessárias à integração harmoniosa de orações e parágrafos em
torno de um mesmo assunto (eixo temático).
Com base em levantamento elaborado por Othon Moacyr Garcia, em Comunicação em Prosa Moderna, eis alguns
dos principais elementos de coesão, agrupados pelo sentido.

Adição: além disso, ademais, também, senão (= também não), e, nem, e as construções paralelísticas não só... mas também,
não apenas (só).... como também, não apenas (só).... bem como e tanto... quanto (como).
Oposição (contraste): e (= mas), pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, porém, contudo, todavia,
entretanto, no entanto, não obstante.
Concessão (ressalva): embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, conquanto, por mais que, por menos que, se bem que.
Alternância: ou... ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, já...já, nem...nem.
Explicação: porque, que (=porque), pois (antes do verbo), porquanto.
Causa: porque, porquanto, pois, que, já que, uma vez que, visto que, como (= porque).
Conclusão: logo, portanto, por conseguinte, por isso, de modo que, então, pois (depois do verbo).

Exercícios Resolvidos

Texto para o teste . período clara ideia de acréscimo. A preposição


Texto para o teste .
para pode ser substituída pela expressão a fim
Foi o que fizeram todos quantos procura- de, que imprime ao período circunstância de Foi aceita a ideia, ainda que houvesse difi-
ram a Pátria no quase meio milênio da His- finalidade. Resposta: C culdade em encontrarem-se pares.
tória do Brasil, complexa e fascinante História
Texto para o teste .
de conquistas e reveses, de “sangue, suor e
lágrimas”, mas também de esperanças e de
 (FATEC) – Essa passagem está reescrita,
Com a precariedade do transporte com sentido equivalente ao original, na
realizações. Evocaram gestos heroicos,
coletivo, cada vez mais acentuada, a classe alternativa:
comovedoras lendas e sugestivas tradições.
média adotou as peruas como alternativa de a) Aceitaram a ideia, à medida que houve difi-
A Pátria é mais do que a Nação e o
condução. Isso tem causado descontenta- culdade em encontrarem pares.
Estado e vem antes deles. A Nação mais
elaborada e o Estado mais forte e poderoso, mento entre muitos taxistas, que não aceitam b) Aceitou-se a ideia, contanto que houvesse
se não partem da noção de Pátria e não a concorrência que julgam desleal. Não estra- dificuldade em encontrar pares.
servem para dar à Pátria sua fisionomia e sua nhemos, pois, que a categoria se manifeste c) Aceitou-se a ideia, apesar de haver dificul-
substância interior, não têm todo o seu valor. denunciando os motoristas que, segundo os dade em serem encontrados pares.
(Dom Lucas Moreira Neves – prejudicados, atuam ilegalmente. d) Aceitou a ideia, portanto houve dificuldade
adaptado – Jornal do Brasil)
em pares serem encontrados.
 (CESGRANRIO) – Os elementos mas  e) Aceitou-se a ideia, pois havia dificuldade
também e para estabelecem entre os A conjunção destacada no em pares serem encontrados.
períodos, respectivamente, relação de texto traduz ideia de Resolução
a) oposição – causa. a) explicação. b) adversidade. O período apresentado no enunciado contém
b) consecução – finalidade. c) adição. d) conclusão. uma oração com valor semântico de
c) adição – finalidade. e) alternância. concessão “ainda que houvesse dificuldade”.
d) concessão – causa. Resolução O mesmo sentido encontra-se em “apesar de
e) oposição – explicação. A conjunção pois, empregada depois do haver dificuldade”. Em a, o valor semântico é
Resolução verbo, tem valor conclusivo, podendo ser de proporção; em b, condição; em d,
A locução mas também, geralmente prece- substituída por portanto ou por conseguinte. conclusão; em e, causa.
dida da expressão não só, estabelece no Resposta: D Resposta: C

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Exercícios Propostos

 a) Que relação se estabelece entre as orações do primeiro g) “Como o frio era grande, aproximou-se das labaredas.”
balão? (Graciliano Ramos)
RESOLUÇÃO: causa
RESOLUÇÃO:
A relação entre as orações é de adição.

b) E entre a oração do último balão com a oração anterior?


RESOLUÇÃO:
A relação é de oposição.
 Assinale a única alternativa em que não se estabelece
relação de concessão entre a orações:
a) “Esperemos que o futuro chegue, conquanto me pareça
Identifique o sentido que os elementos de coesão desta- muito demorado.” (Machado de Assis)
cados adquirem no contexto em que estão inseridos. b) “Contentem-se em saber que essa anônima, ainda que
a) “As máquinas, um dia, talvez venham a pensar, mas nunca não parenta, padeceu mais do que as outras parentas.”
terão sonhos.” (Theodor Heuss) (Machado de Assis)
RESOLUÇÃO: oposição
c) “Posto que nascido na roça... eu não sabia montar, e
tinha medo ao cavalo.” (Machado de Assis)
d) “Meus antepassados vagaram 40 anos pelo deserto,
b) “Reza, que Deus endireita tudo.” (Guimarães Rosa) porque mesmo em tempos bíblicos os homens tinham
RESOLUÇÃO: explicação
vergonha de perguntar o caminho.” (Elayne Boosler)
e) “... embora aquele rosto não fosse de um ancião,
produzia uma impressão singular.” (Machado de Assis)
Resolução: D
c) “Quer cedam, quer resistam, todas as mulheres gostam de
ser cortejadas.” (Ovídio)
RESOLUÇÃO: alternância
 Assinale o período em que não se estabelece relação de
d) “Alcançou o sucesso aquele que viveu bem, riu com adição entre as orações:
frequência e amou muito.” (Bessie Anderson Stanley) a) “Assim como uma boa história precisa de heróis fascinan-
RESOLUÇÃO: adição
tes, precisa também de pérfidos e cruéis vilões.”
(Alexandre Dumas)
e) “Sou mulher, logo, só posso falar palavrão em língua b) “A solução dos graves problemas sociais não é papel
estrangeira.” (Lygia Fagundes Telles) apenas dos governantes, mas também dos empresários e
RESOLUÇÃO: conclusão
da sociedade civil.” (Zilda Arns)
c) “Além de parecer não ter rotação, a Terra parece também
f) “Quando hoje acordei, ainda fazia escuro estar imóvel.” (Roberto de A. Martins)
(Embora a manhã já estivesse avançada).” d) “Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever tam-
(Manuel Bandeira) bém.” (M. O. Marques)
RESOLUÇÃO: concessão
e) “Tanto tenho aprendido, e não sei nada.” (Florbela Espanca)
Resposta: E (oposição)

116 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_GK_2021.qxp 26/05/2021 13:01 Página 117

Texto para a questão . (FUVEST) – Antônio Vieira acreditava nas palavras. No


entanto, poucas palavras haviam surtido efeito.
BRASIL É O MAIOR DESMATADOR, Assinale a alternativa que contém período de mesma
MOSTRA ESTUDO DA ONU classificação sintática que o período acima.
a) Vivera como um santo; o que se dizia dele, entretanto, era
O Brasil reduziu sua taxa de desmatamento em vinte bem diferente.
anos, mas continua líder entre os países que mais desmatam, b) Como não tivera culpa comprovada, Teles de Menezes pôde
segundo a FAO (órgão da ONU para a agricultura). voltar à sua terra natal.
c) Enquanto isso se passava, na Universidade do México me
A entidade apresentou ontem estudo sobre a cobertura
dedicaram umas conclusões de teologia.
florestal no mundo e o resultado é preocupante: em apenas
d) Se Ignácio de Loyola estivesse vivo estaria aplaudindo e
dez anos, uma área de floresta do tamanho de dois estados
apoiando seu soldado.
de São Paulo desapareceu do país. e) Afinal, tudo aconteceu por culpa do pedido que meu pai lhe fizera.
De forma geral, a queda no ritmo da perda de cobertura Resposta: A
florestal foi de 37% em dez anos. Entre 1990 e 1999, 16
milhões de hectares por ano sumiram. Entre 2000 e 2009, \Leia um trecho do artigo “Reflexões sobre o tempo e a origem
esse número caiu para 13 milhões de hectares. do Universo”, do físico brasileiro Marcelo Gleiser, para
responder às questões
e .
Mas o número é considerado alto. A América do Sul é
apontada como a maior responsável pela perda de florestas É comum dividirmos o tempo em passado, presente e
do mundo, com cortes anuais de 4 milhões de hectares. A futuro. O passado é o que vem antes do presente e o futuro é
África vem em seguida, com 3,4 milhões de hectares/ano. o que vem depois. Já o presente é o “agora”, o instante atual.
O Estado de São Paulo, 26 mar. 2010. Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para
definirmos passado e futuro, precisamos definir o presente.
 Na notícia lida, o conectivo “mas”
Mas, segundo nossa separação estrutural, o presente não
pode ter duração no tempo, pois nesse caso poderíamos
estabelece uma relação de oposição entre as
definir um período no seu passado e no seu futuro. Portanto,
sentenças: “Entre 2000 e 2009, esse
para sermos coerentes em nossas definições, o presente não
número caiu para 13 milhões de hectares” e “o número é pode ter duração no tempo. Ou seja, o presente não existe!
considerado alto”. Uma das formas de se reescreverem esses [...]
enunciados, sem que lhes altere o sentido inicial, é: As descobertas de Einstein mudaram profundamente
a) Porque, entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 nossa concepção do tempo. Em sua teoria da relatividade geral,
milhões de hectares, o número é considerado alto. ele mostrou que a presença de massa (ou de energia) também
b) Entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja
hectares, por isso o número é considerado alto. irrelevante em nosso dia a dia. O tempo relativístico adquire
c) Entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de uma plasticidade definida pela realidade física à sua volta.
(Folha de S.Paulo)
hectares, uma vez que o número é considerado alto.
d) Embora, entre 2000 e 2009, esse número tenha caído para

(UNIFESP) – “Mas, segundo nossa separação estrutural,
13 milhões de hectares, o número é considerado alto.
o presente não pode ter duração no tempo, pois nesse caso
e) Visto que, entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13
poderíamos definir um período no seu passado e no seu
milhões de hectares, o número é considerado alto.
futuro.” (2.° parágrafo)
RESOLUÇÃO:
A expressão “embora” estabelece oposição às informações tal Os pronomes destacados no texto referem-se a
qual a estrutura do texto apresentado. Resposta: D a) “separação”. b) “presente”. c) “caso”.
d) “tempo”. e) “período”.
 (ESPM) – Em todas as frases abaixo, o conectivo ou RESOLUÇÃO: As duas ocorrências do pronome possessivo “seu”
referem-se ao termo “presente”, que se encontra no início do
traduz ideia de exclusão, exceto em:
período. Resposta: B
a) A previsão é de que Vettel ou Alonso será o campeão de
Fórmula 1 neste ano. (UNIFESP) – Em “[Einstein] mostrou que a presença de
b) O governador ou o prefeito fará o discurso inicial na massa (ou de energia) também influencia a passagem do
inauguração da obra. tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a
c) A 2.ª Revisão Periódica deve ser feita, somente numa dia.” (3.° parágrafo), a conjunção destacada pode ser
Concessionária Honda, aos 4.000 km ou 12 meses (o que substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por:
ocorrer primeiro). a) visto que. b) a menos que. c) ainda que.
d) Na novela, Otávio ou Fernando se casará com Maria Clara. d) a fim de que. e) desde que.
e) A alegria ou a tristeza, as vitórias ou as derrotas, marcam a RESOLUÇÃO: A conjunção “embora” pode ser substituída por
vida do ser humano. “ainda que”, uma vez que ambas estabelecem relação de
concessão ou ressalva da oração com a anterior.
Resposta: E Resposta: C

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Palavras-chave:
Crônica • Gênero textual
59 • Flagrante do cotidiano

O cotidiano é feito, em sua maior parte, de banalidades, ferir, pensar, entender melhor o que se passa dentro e fora
mesquinharias e irritações, esteja você em Paris ou em da gente. Daí por diante a leitura ficará sendo um hábito, e
Barbacena. Observá-las, chamar atenção para elas por meio esse hábito leva a novas descobertas. Uma curtição.
de linguagem escrita, transformando-as em breves mo- As crônicas serão apenas um começo. Há um infinito de
mentos poéticos, é tarefa que requer distanciamento, coisas deliciosas que só a leitura oferece, e que você irá en-
capacidade de abstração, certa maturidade vivencial — contrando sozinho, pela vida afora, na leitura dos bons livros.
trabalho de cronista, enfim, que resulta, como definem os
teóricos, entre o conto e a poesia. (Bernardo Ajzenberg) (Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1977. v.1, pp.4-5.)

A palavra crônica significa originalmente “narração Antônio Cândido, crítico literário, assim define esse
histórica, ou registro de acontecimentos organizados em gênero sempre presente em jornais e revistas: “Por
ordem cronológica”. Em épocas passadas, designava meio dos assuntos, ela se ajusta à sensibilidade de todo
qualquer documento de caráter histórico. Nesse sentido, dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que
era cronista todo estudioso de História, hoje chamado fala de perto ao nosso modo de ser mais natural”.
historiador. Além dos já citados, foram ou são cronistas notáveis:
Atualmente, o termo é reservado para nomear um Machado de Assis, Manuel Bandeira, Cecília Meireles,
gênero narrativo ou reflexivo breve, periódico, episó- Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, Luis Fernando
dico e comunicativo, tendo merecido grande atenção Verissimo, Carlos Eduardo Novaes, Sérgio Porto (Stanislaw
por parte do público e da crítica. Ponte Preta), João Ubaldo Ribeiro, Carlos Heitor Cony.
Os personagens são definidos apenas quanto ao
momento da ação, pouco ou nada sendo dito sobre Tipos de crônica
eles além do que possa interessar ao flagrante. Pode-
As crônicas podem ser didaticamente classificadas em
mos dizer que a crônica corresponde a um flagrante
narrativas, descritivas, narrativo-descritivas, líricas, meta-
do cotidiano, em seus aspectos pitorescos e inusi-
linguísticas, reflexivas e críticas. Apesar dessa classifica-
tados, a uma abordagem humorística, a uma reflexão
existencial, a uma passagem lírica ou a um comentário ção, as crônicas são geralmente híbridas (mescla de mo-
de interesse social. A linguagem é coloquial e, geral- dalidades), não prescindindo da reflexão e do comentário.
mente, irreverente. As crônicas podem ser dos seguintes tipos:
Existem, na literatura brasileira atual, autores que 1 – Crônica descritiva
fazem da crônica um grande meio de expressão
literária. Os quatro mais conhecidos e consagrados Predomina a caracterização de seres animados e
pela crítica são Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo inanimados no espaço — caracterização que pode ser
Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade. viva como uma pintura, precisa como uma fotografia ou
Exatamente esses quatro cronistas foram escolhi- dinâmica como um filme:
dos para figurar no primeiro volume da coleção Para
gostar de ler. Na abertura do livro esses cronistas, ... o mato, a água, as pedras, o ar. Aquilo está havendo
conjuntamente, recepcionam o leitor com as seguin- naquele momento, como o movimento de um grande animal
tes palavras: bruto e branco morrendo, cheio de uma espantosa vida
Experimente abrir este livro em qualquer página onde desencadeada, numa agonia monstruosa, eterna, choran-
começa uma crônica. Crônica é um escrito de jornal que do, chamando. E até onde a vista alcança, num semicírculo
procura contar ou comentar histórias da vida de hoje. imenso, há montes de água estron dando neste
Histórias que podem ter acontecido com todo mundo: até cantochão, árvores tremendo, ilhas dependuradas, in-
com você mesmo, com pessoas de sua família ou com sanas, se toucando de arco-íris, nuvens voando para cima,
seus amigos. Mas uma coisa é acontecer, outra coisa é como o espírito das águas trucidadas remontando para o
escrever aquilo que aconteceu. Então você notará, ao ler a sol, fugindo à torrente estreita e funda onde todas essas
narração do fato, como ele ganha um interesse especial, cachoeiras juntam absurdamente suas águas esmagadas
produzido pela escolha e arrumação das palavras. E aí ferventes, num atropelo de espumas entre dois muros
começa a alegria da leitura, que vai longe. Ela nos faz con- altíssimos de rocha. (Rubem Braga)

Flagrante: momento. Pitorescos: originais. Inusitados: incomuns. Coloquial: típica da linguagem cotidiana, falada, oral. Cantochão: canto litúrgico
essencialmente monódico; canto liso, canto gregoriano. Trucidadas: mortas barbaramente, com crueldade. Remontando: erguendo-se, elevando-se.

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2 – Crônica narrativa 4 – Crônica lírica


Episódio cativante cuja trama é leve, envolvendo Predomina a linguagem dos sentimentos para tradu-
muita ação, poucas personagens e, geralmente, uma zir poeticamente a nostalgia, a saudade e a emoção:
conclusão inusitada:
E se um pequeno rumor chega ao seu ouvido e um vulto
Ao varar meio século de defuntos e caixões, a parece apontar na esquina, o guarda-noturno torna a trilar
Funerária Boa Esperança de São José do Barro ofereceu, no longamente, como quem vai soprando um longo colar de
Hotel Primor, almoço de confra ternização geral. Na contas de vidro. E recomeça a andar, passo a passo, firme e
entrada do robalo, Alcebiláquio Castanho, feliz proprie- cauteloso, dissipando ladrões e fantasmas. É a hora muito
tário do estabelecimento, pediu a palavra, firmou as mãos profunda em que os insetos do jardim estão completamente
na mesa e soltou o seu improviso. Assim: extasiados ao perfume da gardênia e à brancura da lua. E as
— Deus mata e a Funerária Boa Esperança enterra pessoas adormecidas sentem, dentro de seus sonhos, que
auxiliada pelos bons serviços do doutor Manequinho o guarda-noturno está tomando conta da noite, a vagar pelas
Condeixa, que passa atestado de óbito em qualquer ruas, anjo sem asas, porém armado.
bronquite ou resfriado. Sem o doutor Manequinho, que zela (Cecília Meireles)
por nós desde o tempo do cinema mudo, a Funerária Boa
Esperança nunca que tinha chegado ao que chegou. O 5 – Crônica metalinguística
doutor sozinho é muito doutor de dar trabalho para um ce-
mitério inteiro. Ainda mais agora que comprou aparelhagem
É a crônica que discorre sobre o próprio ato de
de operação. É o que sempre digo. O doutor Manequinho
escrever, o fazer literário, o ato de criação. A falta de
assunto é um tema de sempre dos cronistas:
Condeixa é uma garantia para a Funerária Boa Esperança, a
que melhor vela pelos defuntos de São José do Barro.
A falta de assunto conjugada à quantidade absurda de
Na ponta da mesa, todo de preto, o doutor Manequinho
cronistas em atividade no país tem provocado cenas
Condeixa agradeceu comovido. Parecia um atestado de
hilárias no convívio dessa gente – ô, raça! São dezenas,
óbito.
centenas, milhares de páginas em branco à procura de
(José Cândido de Carvalho) histórias para o fechamento da próxima coluna de cada um.
Um troço engraçado, uma novidade, um personagem, um
3 – Crônica narrativo-descritiva absurdo, boas e más notícias, um passeio, uma mulher, um
Predomina a narração com flagrantes descritivos: prato de comida, qualquer coisa pode virar crônica e, ainda
assim, a oferta de assuntos é insuficiente para atender à
BRINQUEDOS
demanda dos colunistas, coitados!
Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar se incen- (Tutty Vasques, No mínimo, revista extinta da Internet.)
diara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito
alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas
pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de 6 – Crônica reflexiva
perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam O autor tece reflexões de caráter geral, analisando,
para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d’água. A em geral subjetivamente, os mais variados assuntos e
eles não interessava nada, peças de pano, cetins, cretones, situações:
cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos
cavalinhos e bonecas, os trens e os palhaços, fechados, O beijo é uma coisa que todo mundo dá em todo
sufocados em suas grandes caixas. mundo. Tem uns que gostam muito, outros que ficam
Brinquedos que jamais teriam possuído, sonho apenas aborrecidos e limpam o rosto dizendo já vem você de novo
da infância, amor platônico. e tem ainda umas pessoas que quanto mais beijam, mais
O incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um beijam, como a minha irmãzinha que quando começa com o
famoso galpão de cinzas. namorado dá até aflição. O beijo pode ser no escuro ou no
Felizmente, ninguém tinha morrido – diziam em redor. claro. O beijo no claro é o que papai dá na mamãe quando
Como não tinha morrido ninguém? – pensavam as crianças. chega, o que eu dou na vovó quando vou lá e mamãe obriga,
Tinha morrido um mundo, e, dentro dele, os olhos amorosos e que o papai deu de raspão na empregada noutro dia, mas
das crianças, ali deixados. esse foi tão rápido que eu acho que até foi sem querer...
E começávamos a pressentir que viriam outros incêndios. (Millôr Fernandes)
Em outras idades. De outros brinquedos. Até que um dia tam-
bém desaparecêssemos, sem socorro, nós, brinquedos que Observação: Esta crônica faz parte da obra Compozissões Imfãtis, em
somos, talvez de anjos distantes! que o autor imita o estilo da criança, com as características naturais
(Cecília Meireles) da comunicação infantil.

Robalo: tipo de peixe, de até 1,20m de comprimento. Improviso: sem preparação prévia, repentino, improvisado. Trilar: trinar, apitar.
Dissipando: fazendo desaparecer. Extasiados: absortos, enlevados. Hilárias: brasileirismo, corruptela coloquial de hilariantes, “divertidas,
que provocam riso”.

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Exercícios Resolvidos

Texto para as questões  e . Resolução


Em A e C, os predicativos não acompanham os sujeitos; em D, o verbo
teria que estar no plural para acompanhar o sujeito.
O EXERCÍCIO DA CRÔNICA
Resposta: B

O cronista trabalha com um instrumento de grande divulgação,


influência e prestígio, que é a palavra impressa. Um jornal, por
Texto para a questão .
menos que seja, é um veículo de ideias que são lidas, meditadas e
DE DOMINGO
observadas por uma determinada corrente de pensamento formada
à sua volta.
– Outrossim. ..
Um jornal é um pouco como um organismo humano. Se o
– O quê?
editorial é o cérebro; os tópicos e notícias, as artérias e veias; as
reportagens, os pulmões; o artigo de fundo, o fígado; e as seções, o – O que o quê?
aparelho digestivo – a crônica é o seu coração. A crônica é matéria – O que você disse.
tácita de leitura, que desafoga o leitor da tensão do jornal e lhe – Outrossim?
estimula um pouco a função do sonho e uma certa disponibilidade – E.
dentro de um cotidiano quase sempre “muito tido, muito visto, – O que é que tem?
muito conhecido”, como diria o poeta Rimbaud. – Nada. Só achei engraçado.
(Vinícius de Morais. – Não vejo a graça.
Para uma menina com uma flor. São Paulo,
– Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
Companhia das Letras, 2009. Excerto)
– Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
– Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
 (INSTITUTO EMBRAER) – De acordo com o autor, a crônica do – Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
jornal tem o papel de
– “Ônus”.
a) resumir a mensagem dos outros textos.
– “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
b) corrigir o conteúdo das notícias.
– “Resquício” é de domingo.
c) reportar os fatos com precisão.
– Não, não. Segunda. No máximo terça.
d) ativar a imaginação do leitor.
Resolução – Mas “outrossim”, francamente...
A resposta está no último período do texto: A crônica ... estimula um – Qual o problema?
pouco a função do sonho. – Retira o “outrossim”.
Resposta: D – Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de
usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.
 (INSTITUTO EMBRAER) – Um jornal é um pouco como um
organismo humano. (2.o parágrafo) – constata-se a presença do
VERISSIMO, L. F. Comédias da vida privada.
predicado nominal, assim como em:
Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
a) O cronista trabalha com um instrumento de grande divulgação…
(1.o parágrafo)
b) … lhe estimula um pouco a função do sonho… (2.o parágrafo)
 No texto, há uma discussão sobre o uso de
algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso
c) … a crônica é o seu coração. (2.o parágrafo)
promove o(a)
d) … como diria o poeta Rimbaud. (2.o parágrafo)
a) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras
Resolução
indicativas dos dias da semana.
Na oração em referência, o verbo não é nocional, portanto não é o
b) tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras
núcleo do predicado. O verbo ser apenas une o predicativo do sujeito
empregadas em contextos formais.
ao sujeito. Portanto, o núcleo do predicado não é o verbo, mas o
c) caracterização da identidade linguística dos interlocutores,
substantivo coração.
percebida pela recorrência de palavras regionais.
Resposta: C
d) distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego
 (INSTITUTO EMBRAER) – A frase correta quanto às regras de de palavras com significados pouco conhecidos.
concordância é: e) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras
a) Os tópicos e notícias são comparado às artérias e veias. desconhecidas por parte de um dos interlocutores do diálogo.
b) As reportagens são comparadas aos pulmões. Resolução
c) O artigo de fundo e o fígado são equivalente. Essas palavras solenes e pouco comuns como “Desiderato”, “óbice”,
d) As seções e o aparelho digestivo se equivale. entre outras, ganham um efeito de sentido irônico no diálogo.
Resposta: B

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Exercícios Propostos

Texto para a questão . Texto para a questão .


O NASCIMENTO DA CRÔNICA VOCÊ PODE NÃO ACREDITAR

Há um meio certo de começar a crônica por uma Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que
trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz- os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora
se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.
touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala- A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de
se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém
conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre pudesse roubar aquilo.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que
amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est
os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na janela
rompue; está começada a crônica.
que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma
Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que
coisa normal.
as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras,
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que
antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes
você saía à noite para namorar e voltava andando pelas ruas
mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é
da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de
provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do
jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as
contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas
sombras.
razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não
Você pode não acreditar: houve um tempo em que as
havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que,
pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio da
ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que
tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, falavam da
esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão
saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às
nas circunstâncias do primeiro homem. suas casas.
ASSIS, M. In: SANTOS, J .F. As cem melhores crônicas brasileiras.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que
Rio de Janeiro: Objetiva, 2007 (fragmento).
o namorado primeiro ficava andando com a moça numa rua
perto da casa dela, depois passava a namorar no portão,
 Um dos traços fundamentais da vasta obra depois tinha ingresso na sala da família. Era sinal de que já
literária de Machado de Assis reside na estava praticamente noivo e seguro.
preocupação com a expressão e com a Houve um tempo em que havia tempo.
técnica de composição. Em O nascimento da crônica, Houve um tempo.
Machado permite ao leitor entrever um escritor ciente das SANTANNA, A. R. Estado de Minas,
características da crônica, como 5 maio 2013 (fragmento).
a) texto breve, diálogo com o leitor e registro pessoal de
fatos do cotidiano.  Nessa crônica, a repetição do trecho “Você
b) síntese de um assunto, linguagem denotativa, exposição pode não acreditar: mas houve um tempo
sucinta. em que...” configura-se como uma
c) linguagem literária, narrativa curta e conflitos internos. estratégia argumentativa que visa
d) texto ficcional curto, linguagem subjetiva e criação de a) surpreender o leitor com a descrição do que as pessoas
tensões. faziam durante o seu tempo livre antigamente.
e) priorização da informação, linguagem impessoal e resumo b) sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas se
de um fato. relacionavam entre si num tempo mais aprazível.
Resposta: A c) advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se faz do
tempo nos dias atuais.
d) incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo sem
deixar de ser nostálgico.
e) convencer o leitor sobre a veracidade de fatos relativos à
vida no passado.
RESOLUÇÃO:
A anáfora “você pode não acreditar; mas houve um tempo” diz
respeito a um tempo anterior, diferente do atual, em que as
relações eram agradáveis e de confiança mútua. Resposta: B

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Texto para a questão . Texto para a questão .

ENQUANTO ISSO, NOS BASTIDORES DO UNIVERSO ED MORT SÓ VAI

Você planeja passar um longo tempo em outro país, Mort. Ed Mort. Detetive particular. Está na plaqueta.
trabalhando e estudando, mas o universo está preparando a Tenho um escritório numa galeria de Copacabana entre um
chegada de um amor daqueles de tirar o chão, um amor que fliperama e uma loja de carimbos. Dá só para o essencial, um
fará você jogar fora seu atlas e criar raízes no quintal como telefone mudo e um cinzeiro. Mas insisto numa mesa e
se fosse uma figueira. numa cadeira. Apesar do protesto das baratas. Elas não
Você treina para a maratona mais desafiadora de todas, vencerão. Comprei um jogo de máscaras. No meu trabalho o
mas não chegará com as duas pernas intactas na hora da disfarce é essencial. Para escapar dos credores. Outro dia
largada, e a primeira perplexidade será esta: a experiência da entrei na sala e vi a cara do King Kong andando pelo chão. As
frustração. baratas estavam roubando as máscaras. Espisoteei meia
O universo nunca entrega o que promete. Aliás, ele dúzia. As outras atacaram a mesa. Consegui salvar a minha
nunca prometeu nada, você é que escuta vozes. Bic e o jornal. O jornal era novo, tinha só uma semana. Mas
No dia em que você pensa que não tem nada a dizer elas levaram a agenda. Saí ganhando. A agenda estava em
para o analista, faz a revelação mais bombástica dos seus branco. Meu último caso fora com a funcionária do Erótica, a
dois anos de terapia. O resultado de um exame de rotina primeira ótica da cidade com balconista topless. Acabara
coloca sua rotina de cabeça para baixo. Você não imaginava mal. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta.
que iriam tantos amigos à sua festa, e tampouco imaginou VERISSIMO, L. F. Ed Mort: todas as histórias.
Porto Alegre: L&PM, 1997 (adaptado).
que justo sua grande paixão não iria. Quando achou que
estava bela, não arrasou corações. Quando saiu sem
maquiagem e com uma camiseta puída, chamou a atenção. 
E assim seguem os dias à prova de planejamento e Nessa crônica, o efeito de humor é
contrariando nossas vontades, pois, por mais que tenhamos basicamente construído por uma
ensaiado nossa fala e estejamos preparados para a melhor a) segmentação de enunciados baseada na descrição dos
cena, nos bastidores do universo alguém troca nosso papel hábitos do personagem.
de última hora, tornando surpreendente a nossa vida. b) ordenação dos constituintes oracionais na qual se destaca
MEDEIROS. M. O Globo. 21 jun. 2015. o núcleo verbal.
c) estrutura composicional caracterizada pelo arranjo singular
dos períodos.
 Entre as estratégias argumentativas utilizadas d) sequenciação narrativa na qual se articulam eventos
para sustentar a tese apresentada nesse absurdos.
fragmento, destaca-se a recorrência de e) seleção lexical na qual predominam informações
a) estruturas sintáticas semelhantes, para reforçar a redundantes.
velocidade das mudanças da vida. RESOLUÇÃO:
b) marcas de interlocução, para aproximar o leitor das A crônica narrativa apresenta um enredo criativo e original, em
experiências vividas pela autora. que o humor se faz presente nas ações descabidas do
personagem e das baratas.
c) formas verbais no presente, para exprimir reais Resposta: D
possibilidades de concretização das ações.
d) construções de oposição, para enfatizar que as
expectativas são afetadas pelo inesperado.
e) sequências descritivas, para promover a identificação do
leitor com as situações apresentadas.
RESOLUÇÃO:
A estratégia argumentativa usada na construção dessa crônica
reflexiva é a da contraposição entre a expectativa da realização do
desejo e a sua não concretização.
Resposta: D

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Texto para a questão . Texto para a questão .

ÁLVARO, ME ADICIONA Há casais que jogam com os sonhos como se jogassem


tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. O
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os jogo de tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para
meus conhecidos têm sido campeões em tudo.” Espanta destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de sabão. O que se busca
que Álvaro de Campos tenha dito isso antes do advento das é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem
redes sociais. O heterônimo parece estar falando da minha ganha, sempre perde.
timeline: “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há Já no frescobol é diferente. O sonho do outro é um
gente no mundo?”. brinquedo que deve ser preservado, pois sabe-se que, se é
Humblebrag é uma palavra que faz falta em português. sonho, é coisa delicada, do coração. Assim cresce o amor.
Composta pela junção das palavras humble (humilde) e brag Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então
(gabar-se), seria algo como a gabação modesta. Em vez de que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo
simplesmente gabar-se: “Ganhei um prêmio de melhor ator nunca tenha fim…
no Festival de Gramado”, você diz: “O Festival de Gramado ALVES, R. Tênis X Frescobol. As melhores crônicas de
Rubem Alves. Campinas: Papirus, 2012.
está muito decadente. Para vocês terem uma ideia, me
deram um prêmio de melhor ator.”
Atenção: se todo post é vaidoso, toda coluna também.  (2.a Aplicação) – O texto de Rubem Alves faz
Percebam o uso de palavras em inglês, a citação a Fernando uma analogia entre dois jogos que utilizam
Pessoa. Tudo o que eu mais quero é que vocês me achem o raquetes e as diferentes formas de as
máximo. “Então sou só eu que sou vil e errôneo nessa pessoas se relacionarem afetivamente, de modo que
terra?”. Não, Álvaro. Me adiciona. a) o tênis indica um jogo em que a cooperação predomina, o
DUVIVIER, G. Caviar é uma ova. que representa o distanciamento na relação entre as
São Paulo: Cia. das Letras, 2016 (adaptado). pessoas.
b) o tênis indica um jogo em que a competição é
predominante, o que representa um sonho comum no
 (2020 – 2.a Aplicação) – O texto traz uma relacionamento entre pessoas.
crítica ao uso que as pessoas fazem da c) o frescobol indica um jogo em que a cooperação
linguagem nas redes sociais. Qual passagem prevalece, o que simboliza o compartilhamento de sonhos
exemplifica linguisticamente essa crítica? entre as pessoas no relacionamento.
a) “‘Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os d) o frescobol indica um jogo em que a competição
meus conhecidos têm sido campeões em tudo’.” prevalece, o que simboliza um relacionamento em que
b) “O heterônimo parece estar falando da minha timeline: uma pessoa busca destruir o sonho da outra.
‘Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no e) o frescobol e o tênis indicam, respectivamente, situações
mundo?’”. de competição e cooperação, o que ilustra os diferentes
c) “Humblebrag é uma palavra que faz falta em português. sonhos das pessoas no relacionamento.
Composta pela junção das palavras humble (humilde) e brag RESOLUÇÃO:
(gabar-se), seria algo como a gabação modesta.” Rubem Braga compara tipos de relacionamento amoroso com o
jogo de tênis e o frescobol. O primeiro é marcado pela
d) “‘O Festival de Gramado está muito decadente. Para vocês competitividade em que a intenção é destruir o oponente; já o
terem uma ideia, me deram um prêmio de melhor ator’.” segundo é marcado pela cooperação, em que se respeita o outro
e) “Tudo o que eu mais quero é que vocês me achem o e se compartilham sonhos.
Resposta: C
máximo. ‘Então sou só eu que sou vil e errôneo nessa
terra?’. Não, Álvaro. Me adiciona.”
RESOLUÇÃO:
O texto contém uma crítica ao fato de as pessoas ostentarem
realizações em postagens, manifestando falsa modéstia. A citação
de versos de um poema do heterônimo pessoano Álvaro de
Campos (“Arre, estou farto de semideuses! Onde é que a gente no
mundo!”) ilustra linguisticamente que, nas redes sociais, as
pessoas se comunicam para transmitir realizações de forma
esnobe, vaidade, ou “contar vantagem”, como se diz na
linguagem coloquial.
Resposta: B

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Texto para as questões de a .


(INSPER) – Na organização textual, a frase que inicia o
segundo parágrafo – Mas a tecnologia se preocupa. – deve ser
PIZZA POR DRONE entendida como uma informação que
a) se opõe às precedentes, marcadas pelo imediatismo do
Não ria, mas a entrega de pizzas nas noites de sexta e interesse próprio das pessoas.
sábado é um problema para as grandes cidades. Em nome b) se coaduna com as precedentes, apresentando a
do conforto das famílias, os motoboys das pizzarias tomam justificativa para o despropósito.
as ruas com a preciosa carga, infernizam o trânsito, compro- c) se distancia das precedentes, pois deixa de considerar as
metem o ambiente com seus canos de descarga e vantagens da tecnologia.
neurotizam os motoristas fazendo bibibi. Sei bem que, diante d) se confunde com as precedentes, que também enfatizam
do prazer que as pizzas proporcionam, seus consumidores a importância da tecnologia.
fazem vista grossa a isso e ao despropósito de se e) se contrapõe às precedentes, as quais negam a necessi-
comprometer um veículo de 200 kg para transportar um dade de novas tecnologias.
pacote de 2 kg. RESOLUÇÃO:
A conjunção adversativa “mas” estabelece relação de oposição
Mas a tecnologia se preocupa. Agora, graças à Amazon
com as informações precedentes. Segundo o texto, os
e ao Google, são os satélites que trazem uma solução nova: consumidores, em razão do prazer obtido ao se comer uma pizza,
a entrega por drone. Pede-se a pizza pelo celular; ela é fazem “vista grossa” às consequência ambientais causadas pelo
acomodada num drone equipado com GPS e, em poucos fato de um veículo de 200 kg transportar uma embalagem de 2 kg.
A tecnologia, porém, se preocupa com isso, sugerindo que a
minutos, chega, fofa e quentinha, à porta do prédio ou casa entrega do delicioso prato seja feita por drone.
do cliente. Pode-se recolhê-la já de guardanapo ao pescoço. Resposta: A
Não congestiona as ruas, não polui, não faz barulho e deixa
um perfume de orégano no ar.
Mas há alguns inconvenientes. As autoridades não
gostam que os drones voem à noite. A fiação aérea nas
cidades não é favorável a objetos que voam baixo. E há ainda
o risco de colisão com corujas e morcegos.
Mas, pelo menos, 59 anos depois do Sputnik, ficamos
sabendo para que se inventou o satélite. Para acabar em (INSPER) – Na elaboração de seu discurso, o autor recorre
pizza. a diferentes registros linguísticos. Entre eles, identifica-se a
(Ruy Castro, Pizza por drone. variedade linguística coloquial em:
Folha de S.Paulo, 31.08.2016. Adaptado) a) ... ela é acomodada num drone equipado com GPS e, em
poucos minutos, chega, fofa e quentinha...
b) ... se comprometer um veículo de 200 kg para transportar
(INSPER) – Considerando suas condições de produção, um pacote de 2 kg.
reconhece-se o texto de Ruy Castro como
c) ... a entrega de pizzas nas noites de sexta e sábado é um
a) um conto, tematizando uma situação inusitada, tratada
problema para as grandes cidades.
subjetivamente.
d) A fiação aérea nas cidades não é favorável a objetos que
b) uma notícia, tematizando uma inovação tecnológica,
voam baixo.
tratada com objetividade.
e) ... graças à Amazon e ao Google, são os satélites que
c) uma resenha, tematizando as novidades tecnológicas,
trazem uma solução nova: a entrega por drone.
tratadas com ironia.
RESOLUÇÃO:
d) um artigo de opinião, tematizando a tecnologia, tratada A variedade linguística coloquial é exemplificada pelo uso dos
com imparcialidade. adjetivos “fofa” e “quentinha”.
e) uma crônica, tematizando um fato do cotidiano, tratado Resposta: A
com bom humor.
RESOLUÇÃO:
O texto de Ruy Castro é uma crônica, uma vez que trata de um
flagrante do cotidiano, captado em seus aspectos inusitados e, no
caso, com bom humor.
Resposta: E

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Palavras-chave:
Conjunção (II) • Tempo • Conformidade
62 • Condição

Ainda com base no levantamento feito por Othon Moacyr Garcia, constam abaixo mais alguns elementos de
coesão, agrupados pelo sentido.

Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade): então, enfim, logo que, logo depois,
logo após, imediatamente, a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida,
afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às vezes, eventualmente, por
vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse
meio tempo, quando, enquanto, antes que, depois que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que,
cada vez que, apenas, já, mal.
Condição (hipótese): se, caso, salvo se, contanto que, desde que, a menos que.
Comparação: tal qual, como, assim como, bem como, como se, quanto (mais) do que, (menos) do que, (tanto)
quanto, de maneira idêntica, que nem, feito.
Conformidade: conforme, de conformidade com, de acordo com, segundo, consoante, sob o mesmo ponto de vista.
Finalidade (propósito, intenção): com o fim de, a fim de, com o propósito de, para, para que, a fim de que, que
(= para que), porque (= para que).
Consequência: tão... que, tanto...que, tal... que, tamanho... que.
Proporção: à proporção que, à medida que, ao passo que, quanto mais, quanto menos.

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes de  a .  (MACKENZIE) – Assinale a alternativa


e) como meio, atual, de treinar a memória pela
exposição a muitos dados informativos.
que apresenta título adequado para o texto,
Resolução
1 Elas vivem pedindo para que os por expressar corretamente o que a notícia
Os programas de TV voltados para o público
outros repitam o que falaram e podem até informa.
passar a impressão de que seu sistema jovem são considerados causa importante do
a) Sistema auditivo: problemas do mau
auditivo não funciona bem. Frequente- "desmemoriamento" da juventude atual, pois "a
funcionamento.
5 mente chamadas de desligadas, pessoas maioria [desses programas] tenta mostrar tudo
b) Desligados, na verdade, ouvem “mal”.
com esse tipo de comportamento podem ao mesmo tempo, deixando o espectador
c) Hereditariedade e problemas auditivos.
sofrer de um problema que, nos meios aturdido com o excesso de informações, sem
d) Nova conquista da ciência.
científicos, é chamado de deficit de conseguir fixar a atenção em nada". Na alterna-
processamento auditivo e de atenção. e) Surdez: questão de inteligência.
tiva d, o erro está em considerar a observação
10 “As pessoas simplesmente não sa- Resolução
sobre a TV como um "alerta contra o efeito
bem mais ouvir com atenção, e isso difi- O texto trata dos chamados “desligados” e
negativo desse meio sobre a memória dos jo-
culta o processamento e o armazenamen- explica que sua incapacidade de reter o que
to das informações”, afirma uma espe- vens". Na verdade, o texto é inteiramente neu-
ouvem se deve, não à deficiência auditiva (eles
cialista. tro nesse ponto, não contendo qualquer adver-
não ouvem mal), mas à falta de concentração
15 Testes recentes mostraram que a tência ou alerta contra a TV, mas limitando-se a
e atenção.
capacidade de memorização auditiva descrever o fenômeno. Resposta: C
Resposta: B
pode começar a falhar cedo, mesmo em
indivíduos que ouvem bem.
De acordo com a pesquisadora, o  (MACKENZIE) – Os programas de TV  (MACKENZIE) – No contexto,
20 problema atinge pessoas cada vez mais foram citados no texto estabelecem relação de causa e efeito,
jovens, principalmente por causa do estilo a) porque, com grande audiência, influenciam respectivamente, os segmentos do texto
de vida atual. “Basta observar os progra- cada vez mais os jovens. abaixo transcritos:
mas de TV voltados para o público jovem. b) para comprovar que os jovens são, cada a) vivem pedindo para que os outros repitam
A maioria tenta mostrar tudo ao mesmo vez mais, alvo de interesse da mídia. o que falaram (linhas 1 e 2); seu sistema
25 tempo, deixando o espectador aturdido auditivo não funciona bem (linhas 3 e 4).
c) como exemplo do que provoca baixo nível
com o excesso de informações, sem
de memória auditiva. b) podem sofrer de um problema (linhas 6 e
conseguir fixar a atenção em nada.”
d) como alerta contra o efeito negativo desse 7); deficit de processamento auditivo e de
(Adaptado de folhaequilíbrio)
meio sobre a educação dos jovens. atenção (linhas 8 e 9).

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c) pessoas simplesmente não sabem mais jovens (linhas 19, 20 e 21); o estilo de vida Resolução
ouvir com atenção (linhas 10 e 11); dificulta atual (linhas 21 e 22). No texto, as duas afirmações da alternativa c
o processamento e o armazenamento das e) basta observar os programas de TV (linhas aparecem em sequência, no mesmo período,
informações (linhas 11, 12 e 13). 22 e 23); A maioria tenta mostrar tudo ao em clara relação de causa e efeito.
d) o problema atinge pessoas cada vez mais mesmo tempo (linhas 24 e 25). Resposta: C

Exercícios Propostos

 Identifique o sentido que os elementos de coesão destaca- (PUCCAMP) – Se não tiverem organizado os documen-
dos adquirem no contexto em que estão inseridos. tos, o coordenador irá solicitar ajuda de outro departamento, se
a) “Tudo vale a pena bem que não o tenham atendido em outra ocasião.
Se a alma não é pequena.” As orações destacadas acima expressam, respectivamente, as
(Fernando Pessoa) seguintes circunstâncias:
RESOLUÇÃO: condição a) conformidade e finalidade.
b) consequência e tempo.
c) finalidade e concessão.
b) “Quando você foi embora, d) condição e concessão.
Fez-se noite em meu viver.” e) condição e consequência.
(Milton Nascimento) RESOLUÇÃO:
“Se não tiverem” (caso não tenham) exprime uma condição; “Se
RESOLUÇÃO: tempo
bem que” (embora) exprime ideia de concessão.
Resposta: D

c) “Não foi despedido, como pedia então; meu pai já não  (ITE) – “Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga
podia dispensá-lo.” (Machado de Assis) impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor
RESOLUÇÃO: conformidade das águas.” (José de Alencar, Iracema)

A oração introduzida pela expressão para que expressa ideia


de
d) “Ele comeu-a que nem confeitos.” (Camilo Castelo Branco) a) lugar. b) tempo. c) causa.
RESOLUÇÃO: comparação d) condição. e) finalidade.
Resposta: E

e) “Foi tão rápida a saída que Jandira achou graça.” (Ciro dos  (UEL) – “Como alguns moradores do vilarejo contam,
Anjos) muitos forasteiros perderam suas vidas tentando encontrar
RESOLUÇÃO: pedras preciosas.”
consequência (que) — (a oração que apresenta tão é a causa.)
Em que alternativa a palavra como expressa a mesma relação
de sentido que apresenta acima?
a) O grande pacificador morreu como herói.
f) “À medida que envelheço, vou me desfazendo dos b) Como era um garoto muito peralta, acabou espatifando-se
adjetivos.” (Carlos Drummond de Andrade) no chão.
RESOLUÇÃO: proporção c) Félix e o advogado encontraram-se ao amanhecer como
haviam combinado ontem.
d) Como o céu estivesse recoberto de nuvens escuras, não
fomos à praia.
g) “Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem estica- e) O garoto voltou para a cidade como quem vai para a prisão.
das.” (Machado de Assis) RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: finalidade Como equivale a conforme no enunciado e na alternativa c. Em a
e e, indica comparação e, em b e d, causa.
Resposta: C

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 (UNIMAR) – O termo grifado na tirinha abaixo estabelece (MACKENZIE)

com a oração anterior relação de


I. O córrego transbordou ________________ choveu muito.
(porque; já que; visto que)

II. ________________ ignorasse nossa presença, falava bem de


nós. (ainda que; se bem que; mesmo que)

III. Conquistou quase tudo o que queria, ________________ não


enxergava o próprio valor. (porém; entretanto; embora)

a) comparação. b) condição. c) conformidade.


d) finalidade. e) concessão. IV. ________________ entra na sala, começa a gritar com os

Resposta: B
alunos. (mal; nem bem; logo que)

Texto para a questão . V. ________________ você queira, podemos discutir o assunto.


(caso; se)
Marte e Urano, em seu setor astral de saúde e rotina,
anunciam oscilações nos planos que fez para o dia de hoje.
 Dentre os períodos acima, aqueles cujas lacunas ficam
A Lua em Virgem sugere uma onda de pensamentos
adequadamente preenchidas por quaisquer dos conectivos
repetitivos e preocupações insistentes que não só ajudam,
citados, sem alteração da flexão modo-temporal, são
como distraem sua atenção. Controle isso para não se
a) II e III.
acidentar.
b) III e IV.
c) IV e V.
d) III e V.
e) I, II e IV.
RESOLUÇÃO:
O período apresentado em III teria de ter o verbo enxergava trans-
posto para o subjuntivo (enxergasse), se fosse usada a conjunção
embora. Em V, o emprego do se obrigaria a que o presente do
subjuntivo (queira) fosse transformado em futuro (quiser).
Resposta: E

 (UFABC) – Assinale a alternativa cuja redação recupera a


coesão e torna o trecho em destaque coerente, no contexto
das demais informações.
a) que não só não ajudam, como também distraem.
b) que só não ajudam nem distraem.
c) que não só ajudam e distraem.
d) que não ajudam só, distraem.
e) que não só não ajudam, pois distraem.
RESOLUÇÃO:
A relação que se estabelece entre as orações é de adição; porém,
para se manter o sentido negativo nas duas orações, é
necessário acrescentar à primeira o advérbio de negação não,
modificando o verbo ajudar, pois o não de não só… como
também é apenas integrante da correlação que promove a
adição enfática.
Resposta: A

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Texto para as questões


e . que suas palavras sejam adaptadas ao discurso do narrador) e, na
alternativa e, discurso indireto (o narrador exprime indiretamente
a fala da personagem, introduzindo-a por meio do verbo declarar).
Resposta: D
As mães dos outros dois rapazitos esperavam imóveis e
lívidas pela volta dos filhos, e, mal estes chegaram à
estalagem, cada uma se apoderou logo do seu e caiu-lhe em
cima, a sová-los ambos que metia medo.
— Mira-te naquele espelho, tentação do diabo! exclamava
uma delas, com o pequeno seguro entre as pernas a encher-
lhe a bunda de chineladas. Não era aquele que devia ir, eras
tu, peste! aquele, coitado! ao menos ajudava a mãe, ganhava
dois mil-réis por mês regando as plantas do Comendador, e
tu, coisa-ruim, só serves para me dar consumições! Toma!
Toma! Toma!
E o chinelo cantava entre o berreiro feroz dos dois
rapazes.
João Romão chegou ao terraço de sua casa, ainda em
mangas de camisa, e de lá mesmo tomou conhecimento do
que acontecera. Contra todos os seus hábitos impressionou-
se com a morte de Agostinho; lamentou-a no íntimo,
tomado de estranhas condolências.
Pobre pequeno! tão novo... tão esperto... e cuja vida não Em “mal estes chegaram à estalagem” e “caiu-lhe em
prejudicava a ninguém, morrer assim, desastradamente!...
cima, a sová-los que metia medo”, as palavras destacadas
[...]
expressam, respectivamente,
João Romão deu-lhe a notícia da morte do Agostinho e
a) causa e consequência.
declarou que estava com dor de cabeça. Não sabia que
b) proporção e concessão.
diabo tinha ele aquela noite, que não houve meio de pegar
direito no sono. c) finalidade e conformidade.
(Aluísio Azevedo, O Cortiço) d) tempo e condição.
e) tempo e consequência.
RESOLUÇÃO:

No trecho transcrito, narrado em 3.ª pessoa, o narrador re-
Em “mal estes chegaram à estalagem”, a palavra em destaque é
uma conjunção e pode ser substituída por logo que ou assim que,
gistra o fluxo dos pensamentos de certa personagem, através expressando circunstância de tempo. Em “caiu-lhe em cima, a
do chamado discurso indireto livre (ou seja: as palavras da sová-los que metia medo”, a palavra destacada inicia oração que
indica efeito ou consequência do fato expresso na oração anterior
personagem são apresentadas entre as palavras do narrador, (note-se a elipse de tanto, da expressão correlativa tanto... que: “a
sem verbo declarativo, como disse, pensou ou outros). A sová-los [tanto] que metia medo).
Resposta: E
alternativa em que se verifica esse tipo de discurso é
a) “Mira-te naquele espelho, tentação do diabo! exclamava
uma delas [...]”.
b) “Não era aquele que devia ir, eras tu, peste! aquele, coi-
tado! ao menos ajudava a mãe, ganhava dois mil-réis por
mês, regando as plantas do Comendador, e tu, coisa-ruim,
só serves para me dar consumições!”.
c) “Toma! Toma! Toma!”.
d) “Pobre pequeno! tão novo... tão esperto... e cuja vida não
prejudicava a ninguém, morrer assim, desastrada-
mente!...”.
e) “João Romão [...] declarou que estava com dor de cabeça”.
RESOLUÇÃO:
A alternativa que apresenta discurso indireto livre é a d, em que o
narrador registra uma espécie de monólogo interior, inserindo as
reflexões e pensamentos da personagem, João Romão, sem as
introduzir através de verbo declarativo (no caso, caberia a fórmula
pensou ou pensava João Romão). Nas alternativas a, b e c,
verifica-se discurso direto (a personagem fala diretamente, sem

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Palavras-chave:
Análise de crônica narrativa • Variedades linguísticas populares
63 • Linguagem coloquial

Exercícios Resolvidos

São Paulo vai se recensear. O governo quer As questões de números a  referem-se d) a opinião do autor.
saber quantas pessoas governa. A indagação ao texto seguinte. e) Central Geral de Maracutaia.
atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, Resolução O autor se refere à entidade fictícia
mulheres e algodoeiros serão reduzidos a Na minha opinião, existe no Brasil, em per- que ele imagina como geradora e controladora
números e invertidos em estatísticas. manente funcionamento, não fechando nem da corrupção nacional.
O homem do censo entrará pelos bangalôs, para o almoço, uma Central Geral de Mara- Resposta: E
pelas pensões, pelas casas de barro e de cimen-
to armado, pelo sobradinho e pelo apartamento,
cutaia. Não é possível que não exista. E, com
toda a certeza, é uma das organizações mais
 (UFSCar) – O trecho — “... a CGM é
pelo cortiço e pelo hotel, perguntando: onipresente, não deixa passar nada, nem
perfeitas já constituídas, uma contribuição
— Quantos são aqui? discrimina ninguém.” — pode ser reescrito,
inestimável do nosso país ao patrimônio da raça
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá: sem alteração de sentido, como:
humana. Nada de novo é implantado sem que
— Aqui havia mulheres e criancinhas. a) a CGM é sempre presente, não deixa
surja no mesmo instante, às vezes sem
Agora, felizmente, só há pulgas e ratos. passar nada, nem inocenta ninguém.
intervalo visível, imediatamente mesmo, um
E outro: b) a CGM é ubíqua, não deixa passar nada,
esquema bem montado para fraudar o que lá
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este nem absolve ninguém.
seja que tenha sido criado. [...] Exemplo mais
papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome c) a CGM é virtual, não deixa passar nada,
recente ocorreu em São Paulo, mas podia ser
nota de seus nomes, se quiser. Querendo nem exclui ninguém.
em qualquer outra cidade do país, porque a
levar todos, é favor… (…) d) a CGM é quase presente, não deixa passar
CGM é onipresente, não deixa passar nada,
E outro: nada, nem distingue ninguém.
nem discrimina ninguém. Segundo me contam
— Dois, cidadão, somos dois. Natural- e) a CGM está presente em todo lugar, não
aqui, a prefeitura de São Paulo agora fornece
mente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, deixa passar nada, nem segrega ninguém.
caixão e enterro gratuitos para os doadores de
está! A sua saudade jamais sairá de meu Resolução Onipresente significa “presente
órgãos, certamente os mais pobres. Basta que
quarto e de meu peito! em todo lugar”. Discriminar é “separar,
a família do morto prove que ele doou pelo
(BRAGA, Rubem. Para gostar de ler, v. 3. distinguir, isolar”, o mesmo que segregar.
menos um órgão, para receber o benefício. Mas
São Paulo: Ática, 1998. p. 32-3 (fragmento).) Resposta: E
claro, é isso mesmo, você adivinhou, ser
brasileiro é meramente uma questão de prática.
 (UFSCar) – Assinale a alternativa em que a
 O fragmento acima, em que Surgiram indivíduos ou organizações que, me-
substituição das palavras destacadas mantém o
há referência a um fato diante uma módica contraprestação pecuniária,
mesmo sentido original do trecho: “Exemplo
sócio-histórico — o recen- fornecem documentação falsa, “provando” que
mais recente ocorreu em São Paulo, mas podia
seamento —, apresenta característica mar- o defunto doou órgãos, para que o caixão e o
ser em qualquer outra cidade do país, porque a
cante do gênero crônica ao enterro sejam pagos com dinheiro público.
CGM é onipresente...”
a) expressar o tema de forma abstrata, evo- (João Ubaldo Ribeiro,
a) Exemplo mais recente ocorreu em São
cando imagens e buscando apresentar a O Estado de S.Paulo, 18/09/2005.)
Paulo, no entanto podia ser em qualquer
ideia de uma coisa por meio de outra. outra cidade do país, uma vez que a CGM
b) manter-se fiel aos acontecimentos, retra- (UFSCar) – A frase de João Ubaldo — “E, é onipresente.
tando os personagens em um só tempo e com toda a certeza, é uma das organizações b) Exemplo mais recente ocorreu em São
um só espaço. mais perfeitas já constituídas, uma Paulo, pois podia ser em qualquer outra
c) contar história centrada na solução de um contribuição inestimável do nosso país ao cidade do país, já que a CGM é onipresente.
enigma, construindo os personagens psico- patrimônio da raça humana” — reveste-se de c) Exemplo mais recente ocorreu em São
logicamente e revelando-os pouco a pouco. um aspecto Paulo, podia, pois, ser em qualquer outra
d) evocar, de maneira satírica, a vida na cida- a) discriminatório. b) gentil. c) medíocre. cidade do país, visto que a CGM é
de, visando transmitir ensinamentos práti- d) irônico. e) ufanista. onipresente.
cos do cotidiano para manter as pessoas Resolução d) Exemplo mais recente ocorreu em São
informadas. A ironia consiste em afirmar o contrário daquilo Paulo, apesar disso podia ser em qualquer
e) valer-se de tema do cotidiano como ponto que se quer dizer: a frase exclamativa e con- outra cidade do país, assim que a CGM é
de partida para a construção de texto que gratulatória de João Ubaldo Ribeiro refere-se, onipresente.
recebe tratamento estético. na verdade, não a um como feito louvável, e) Exemplo mais recente ocorreu em São
Resolução mas a um vício execrável. Paulo, já que podia ser em qualquer outra
Já a designação do gênero – crônica – sugere Resposta: D cidade do país, à medida que a CGM é
a temática ligada ao cotidiano. No caso do
texto transcrito, trata-se de uma medida gover-  (UFSCar) – No trecho — “... uma contri-
onipresente.
Resolução As conjunções mas e porque
namental, o recenseamento. O autor dá “trata- buição inestimável do nosso país ao estabelecem, no período transcrito, relações,
mento estético” a esse tema ao representar patrimônio da raça humana.” —, contribuição respectivamente, de oposição e explicação/
situações existenciais fictícias, de conteúdo tem como referência causa. As mesmas relações são mantidas com
emocional variado, com que se confrontariam a) o Brasil, em geral. o emprego das conjunções “no entanto” e
os recenseadores. b) fechamento para o almoço. “uma vez que”.
Resposta: E c) a Prefeitura de São Paulo. Resposta: A

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Exercícios Propostos
A crônica pode ser narrativa, ou seja, semelhante a um  (UNESP) – Muito próxima do texto oral, a crônica é um
pequeno conto. No entanto, difere deste não apenas quanto à gênero que aproveita alguns recursos típicos da fala, como a
extensão, mas também quanto à linguagem. A crônica busca a repetição, para estabelecer a coesão textual. No primeiro
intimidade e o humor, numa linguagem cotidiana que encontra parágrafo, por exemplo, a palavra “velhinha” repete-se duas
receptividade em todos os leitores. Os cronistas criaram uma vezes; “lambreta”, três vezes. Pensando ainda nos modos de
diversidade de estilos, compondo crônicas narrativas em que as relacionar as palavras na frase, especifique outra forma de
sutilezas humorísticas alternam-se com a crítica irreverente ou manter a coesão, empregada também no primeiro parágrafo do
com o lirismo enternecedor. texto. Em seguida, explique a diferença de função entre o
As questões de números  a  tomam por base o texto A termo “aí”, ocorrente no terceiro parágrafo, e o mesmo
vocábulo, no sexto parágrafo.
velha contrabandista, de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo
do escritor brasileiro Sérgio Porto (1923-1968). RESOLUÇÃO:
No primeiro parágrafo, o emprego de pronomes é outra forma de
A VELHA CONTRABANDISTA estabelecer a coesão textual. Ao contrário do recurso apontado na
questão, os pronomes evitam repetições: que, pronome relativo,
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta.
substitui: “velhinha”; ela, pronome pessoal, também; tudo,
Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, pronome indefinido, substitui “o pessoal da Alfândega”.
com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da No terceiro parágrafo, o advérbio aí está empregado em sentido
Alfândega — tudo malandro velho — começou a desconfiar próprio, indicando lugar (próximo à segunda pessoa); no sexto
da velhinha. parágrafo, o mesmo advérbio indica tempo (“neste momento”).
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás,
o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e
então o fiscal perguntou assim pra ela:
— Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia,
com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e
mais os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
— É areia!
Aí quem riu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma (UNESP) – O texto explora bastante um estilo coloquial,
e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o informal, marcado por um uso deliberado de gíria e expressões
saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e lá só tinha distensas (tudo malandro velho, muamba, manjo, pra burro, diz
areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em que era, pra ela, chateou ). Entretanto, em certas passagens, o
frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de enunciador emprega um vocabulário mais formal, imprevisível e
areia atrás. em contraste com as características gerais do texto. Admitindo
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha essas premissas, identifique um substantivo, usado no texto, que
passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro representa essa quebra de expectativa, em virtude de seu cará-
daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na ter mais formal e tenso. Além disso, comente por que o tempo
lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. pretérito mais-que-perfeito do verbo “adquirir” também reflete
Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu um emprego inusitado, quando considerado o todo textual.
que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante
um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as RESOLUÇÃO:
vezes, o que ela levava no saco era areia. O substantivo de caráter formal é “odontólogo”, usado no lugar
de “dentista”, mais corrente e informal.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
O emprego do pretérito mais-que-perfeito justifica-se por indicar
— Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 ação anterior aos outros dois tempos passados utilizados no
anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. mesmo período: “sorriu”, pretérito perfeito e “restavam”,
Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista. pretérito imperfeito. A forma corrente e informal desse tempo,
— Mas no saco só tem areia! — insistiu a velhinha. E já porém, não é a sintética, que o autor empregou, mas a composta
com o auxiliar ter: “tinha adquirido”.
ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
[O professor deve aproveitar esta questão para dar as desinências
— Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. verbais dos pretéritos do modo indicativo.]
Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém,
mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a
senhora está passando por aqui todos os dias?
— O senhor promete que não “espáia”? — quis saber a
velhinha.
— Juro –— respondeu o fiscal.
— É lambreta.
(Primo Altamirando e Elas)

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 (UNESP) – Entre outras características, a assimilação da  (UNESP) – Ainda que o discurso direto ocupe boa parte de
“contribuição milionária de todos os erros” aplica-se já ao A velha contrabandista, o discurso indireto também pode ser
ideário renovador do Modernismo, no início do século passado. encontrado, algumas vezes. Examinando com cuidado o texto,
Tendo em vista que o texto de Stanislaw Ponte Preta se transcreva um segmento em que se utiliza, na mesma oração,
constrói com apoio em variedades linguísticas populares, o discurso indireto mesclado com o direto – o chamado
aponte uma palavra, usada no texto, que pode significar o discurso indireto livre. Explicite, ainda, o efeito de sentido que
aproveitamento dos “erros” percebidos na fala popular. Na essa mistura provoca, nessa passagem.
sequência, comente o caráter inesperado do uso desse “erro”,
examinando o contexto em que ele está inserido. RESOLUÇÃO:
O trecho que apresenta discurso indireto misturado com direto é
“ela respondeu que era areia, uai!”. A interjeição “uai” rompe a
RESOLUÇÃO:
fronteira do discurso indireto, introduzindo uma citação do
A palavra em questão é “espáia”, que o autor teve o cuidado de
discurso original que só caberia na forma do discurso direto ou do
colocar entre aspas, por se tratar de forma própria de um dialeto
indireto livre. Além disso, ela quebra a expectativa formal do
estranho ao empregado no texto. A linguagem do texto é
leitor, produzindo também um efeito de humor, pela mudança de
coloquial urbana; “espáia” (assim como o “uai!” anteriormente
dialeto comentada na resposta anterior.
atribuído à velhinha) é forma do dialeto caipira, corrente no
interior de São Paulo e de Minas Gerais.

INSTRUÇÃO: As questões de números  a  baseiam-se no texto de Moacyr Scliar.


A CASA DAS ILUSÕES PERDIDAS
Quando ela anunciou que estava grávida, a primeira reação dele foi de desagrado, logo seguida de franca irritação. Que coisa,
disse, você não podia tomar cuidado, engravidar logo agora que estou desempregado, numa pior, você não tem cabeça mesmo,
não sei o que vi em você, já deveria ter trocado de mulher havia muito tempo. Ela, naturalmente, chorou, chorou muito. Disse que
ele tinha razão, que aquilo fora uma irresponsabilidade, mas mesmo assim queria ter o filho. Sempre sonhara com isso, com a
maternidade — e agora que o sonho estava prestes a se realizar, não deixaria que ele se desfizesse.
— Por favor, suplicou. — Eu faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar trabalho, eu sustento o nenê, mas, por favor,
me deixe ser mãe.
Ele disse que ia pensar. Ao fim de três dias daria a resposta. E sumiu.
Voltou, não ao cabo de três dias, mas de três meses. Àquela altura ela já estava com uma barriga avantajada que tornava
impossível o aborto; ao vê-lo, esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo — estava certa de que ele vinha com a mensagem
que tanto esperava, você pode ter o nenê, eu ajudo você a criá-lo.
Estava errada. Ele vinha, sim, dizer-lhe que podia dar à luz a criança; mas não para ficar com ela. Já tinha feito o negócio:
trocariam o recém-nascido por uma casa. A casa que não tinham e que agora seria o lar deles, o lar onde — agora ele prometia —
ficariam para sempre.
Ela ficou desesperada. De novo caiu em prantos, de novo implorou. Ele se mostrou irredutível. E ela, como sempre, cedeu.
Entregue a criança, foram visitar a casa. Era uma modesta construção num bairro popular. Mas era o lar prometido e ela ficou
extasiada. Ali mesmo, contudo, fez uma declaração:
— Nós vamos encher esta casa de crianças. Quatro ou cinco, no mínimo.
Ele não disse nada, mas ficou pensando. Quatro ou cinco casas, aquilo era um bom começo.
(Moacyr Scliar, Folha de S. Paulo, 14/6/1999)

 (UNIFESP) – No texto, a ideia de ilusões perdidas diz respeito à


a) realização da maternidade que, na verdade, não atinge a sua plenitude.
b) desolação da jovem mãe ao ver que a casa recebida não era luxuosa como concebera.
c) alegria da mãe com a casa e à superação da tristeza pela doação da criança.
d) melancolia da mãe por programar todas as crianças que teria para trocar por casas.
e) certeza do homem de que a mulher não formará com ele um lar na casa nova.

RESOLUÇÃO:
A maternidade, nos termos eufemísticos do examinador, “não atinge a sua plenitude” porque a mãe, embora tenha dado a criança à luz,
é forçada a desistir dela, aceitando a imposição do marido de trocá-la pela casa.
Resposta: A

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 (UNIFESP) – O casal age de modo contrário aos senti-  (UNIFESP) – Eu faço tudo que você quiser, eu dou um
mentos comuns de justiça e dignidade. No contexto da jeito de arranjar trabalho, eu sustento o nenê, mas, por favor,
narrativa, tais comportamentos explicam-se me deixe ser mãe.
a) pela falta de amor que há entre a mulher e o companheiro, Mantida a mesma forma de tratamento e supondo que a frase
fazendo com que tudo que os rodeia se torne um negócio fosse proferida pelo homem, ela assumiria a seguinte forma:
vantajoso. a) Faças tudo que eu quero, dês um jeito de arranjar trabalho,
b) pelo amor exagerado que a mulher sente e pela confusão sustentas o nenê, que eu te deixo ser mãe.
de sentimentos que o companheiro vive na descoberta b) Faz tudo que eu quero, dê um jeito de arranjar trabalho,
desse amor. sustenta o nenê, que eu lhe deixo ser mãe.
c) pelo ódio exagerado que a mulher sente do companheiro e c) Faz tudo que eu quero, dá um jeito de arranjar trabalho,
pela forma displicente e pouco amável como ele a vê. sustenta o nenê, que eu deixo você ser mãe.
d) pela submissão exagerada da mulher ao companheiro e pela d) Faça tudo que eu quero, dá um jeito de arranjar trabalho,
forma mesquinha e interesseira como ele resolve as coisas. sustente o nenê, que eu lhe deixo ser mãe.
e) pela forma irresponsável com que a mulher age em relação e) Faça tudo que eu quero, dê um jeito de arranjar trabalho,
ao companheiro, o que o faz tomar atitudes impensadas. sustente o nenê, que eu a deixo ser mãe.

RESOLUÇÃO: RESOLUÇÃO:
Os princípios de justiça e dignidade são aviltados na relação Se a frase dita pela esposa fosse proferida pelo marido, seria
marido e mulher, porque ele, com suas atitudes despóticas, reduz necessário empregar os três primeiros verbos no imperativo,
o ser humano a moeda de troca (filhos/casas) e a mulher a mera mantendo a terceira pessoa do singular: faça, dê e sustente.
reprodutora. Ela se submete à sandice autoritária do marido, num Resposta: E
servilismo que a rebaixa a uma condição degradante.
Resposta: D

 (UNIFESP ) – Ele não disse nada, mas ficou pensando.  (UNIFESP) – No texto, há muitas retomadas pronominais,
Quatro ou cinco casas, aquilo era um bom começo. basicamente expressas pelos pronomes ele e ela. Isso não
gera ambiguidade principalmente porque
As duas frases finais do texto deixam evidente que ter mais a) se alternam os pronomes com sinônimos.
filhos b) as referências dos pronomes são muito restritas.
a) é uma possibilidade pouco atraente para o casal que, por c) as formas verbais estão todas no mesmo tempo.
hora, já conquistou algo à custa de sofrimento. d) todos os pronomes poderiam ser omitidos.
b) será para o casal uma forma de alcançar a felicidade, já que e) as frases curtas limitam a interpretação.
a mulher e seu companheiro poderão ter a casa cheia de
crianças. RESOLUÇÃO:
c) pode tornar-se lucrativo na ótica do companheiro, embora a O emprego quase exclusivo dos pronomes ele e ela não provoca
mulher ainda veja isso com olhos sonhadores. ambiguidade, porque o enredo da crônica gira em torno de
d) se torna uma forma de compensar o episódio pouco feliz da apenas duas personagens e o contexto esclarece que se trata de
marido e mulher.
doação do primeiro filho do casal. Resposta: B
e) não alteraria em nada a vida do casal, já que não haveria
como fazer os dois esquecerem a criança doada.

RESOLUÇÃO:
A perspectiva do companheiro é a do lucro, porque ele já planejou
a troca de futuros bebês por outras casas; ela, porém, acreditava
ingenuamente que desempenharia seu papel de mãe.
Resposta: C

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Palavras-chave:
Conjunção (III) • Concessão • Comparação
65 • Consequência

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e . momento em que é lido.


d) O coqueiro, no poema, foi personificado, pois lhe foram atribuídas
Coqueiro! Eu te compreendo o sonho impossível; características humanas.
queres subir ao céu, mas prende-te a raiz... e) Infere-se da leitura que o eu lírico traduz em discurso indireto seu
O destino que tens, de querer o impossível, diálogo com o coqueiro.
é igual a este meu, de querer ser feliz. Resolução
Trata-se de discurso direto, pois o eu lírico dialoga com o coqueiro,
Por mais que bebas seiva e que as forças recolhas, tratado na 2.a pessoa do singular.
que os verdes braços teus ergas aos céus risonhos, Resposta: E
no último esforço vão, caem-te murchas as folhas, e a mim,
[murchos, os sonhos!  Mantendo o sentido original, a oração “Por mais que bebas
seiva” só não pode ser substituída por
(Menotti del Picchia) a) Ainda que bebas seiva. b) Mesmo que bebas seiva.
c) Embora bebas seiva. d) Pois que bebas seiva.

 Sobre o texto transcrito, assinale a alternativa incorreta.


e) Apesar de beberes seiva.
Resolução
a) “Coqueiro” é um vocativo a quem se dirige, na segunda pessoa do
Por mais que estabelece relação de concessão entre as orações,
singular, o eu lírico.
assim como ainda que, mesmo que, embora e apesar de. Pois, no con-
b) Apesar de ambicionarem coisas diferentes, eu lírico e coqueiro
texto, tem valor conclusivo.
equiparam-se na tentativa de atingirem seus ideais.
Resposta: D
c) Os verbos no presente tornam atual o episódio, aproximando-o do

 Da leitura da tirinha, é possível deduzir


e) a utilização do horóscopo pode servir ao orações é
oportunismo e ao interesse. a) se, condicional.
que
Resolução b) que nem, comparativa.
a) os astros estão acima dos homens e Calvin usa o horóscopo como desculpa para c) à medida que, proporcional.
devem ter ascendência sobre seu destino. não tomar banho. d) conforme, conformativa.
b) seguir o horóscopo não implica cumprir Resposta: E e) porque, causa.
rituais nem tomar banho. Resolução
c) o horóscopo garante expectativas positivas  Na fala de Calvin, no segundo quadrinho A relação que se estabelece entre as orações
aos que cumprirem suas determinações. (Meu dia vai ser positivo! Meu horoscopo é de causalidade.
d) o destino pode mudar a cada momento, garantiu!), a conjunção que poderia ser Resposta: E
porque obedece à posição dos astros. empregada, mantendo a relação entre as

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Exercícios Propostos

Quadrinho para a questão . Complete as lacunas, utilizando um dos elementos de


ligação dos parênteses, de acordo com o sentido lógico dos
períodos.

a) Com certeza teria o apoio de seus amigos, ______________


_____________ se prontificasse a também com eles
colaborar. (já que, desde que, embora, se bem que)

b) “Seus argumentos não convenceram os membros da dire-


toria, ____________________________________ os utilizasse
com muita propriedade”. (desde que, já que, ainda que,
assim que)

c) “O professor e os demais alunos perceberam sua inse-


gurança, _______________________________________ ele
começou a falar”. (ainda que, como, mal, a fim de que)
 a) Que sentido tem a conjunção “se” empregada no pri-
meiro quadrinho? d) _______________________________________ não conseguiu
RESOLUÇÃO: condição atingir a todos os objetivos, desistiu de seus projetos e não
mais neles pensou. (Embora, Como, Segundo, Suposto
que)

e) “Havia a certeza de que a popularidade do político aumen-


taria, _____________________________________ fossem
divulgados os seus planos de governo”. (já que, porque,
logo que, para que)
RESOLUÇÃO:
a) desde que = condicional b) ainda que = concessiva
c) mal = tempo d) como = causa
b) Substitua-a por outra conjunção ou locução conjuntiva de e) logo que = temporal
mesmo sentido, fazendo as adaptações necessárias.
RESOLUÇÃO:
Caso eu não atinja a base, viro...
Desde que eu não atinja a base, viro...
No caso de eu não atingir...

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 (FUVEST) – As orações do período abaixo são coorde-  Os elementos de ligação em negrito (e, porém, que,
nadas entre si: porque, quando) estabelecem, respectivamente, relação de
“Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam a) adição, condição, oposição, causa, lugar.
cansados e famintos.” b) consequência, oposição, consequência, causa, tempo.
Empregando a conjunção adequada, reescreva o período, c) condição, esclarecimento, conclusão, adição, tempo.
estabelecendo entre essas orações: d) tempo, lugar, consequência, consequência, tempo.
a) uma relação de causa; e) oposição, oposição, esclarecimento, conclusão, causa,
RESOLUÇÃO: tempo.
Os infelizes estavam cansados e famintos, porque (uma vez que, Resposta: B
já que) tinham caminhado o dia inteiro.

 A expressão “Uma feita” tem o mesmo valor semântico


de
a) certa vez.
b) terminada a caminhada.
c) realizada a tarefa.
d) de vez em quando.
e) uma desfeita.
b) uma relação de conclusão. Resposta: A
RESOLUÇÃO:
“Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam, pois,
cansados e famintos.” OU
“Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, logo (portanto, por
conseguinte) estavam cansados e famintos.” Texto para a questão .
Entretanto o zelo da comadre pôs-se em atividade, e
poucos dias depois entrou ela muito contente, e veio
participar ao Leonardo que lhe tinha achado um excelente
arranjo que o habilitava, segundo pensava, a um grande
futuro, e o punha perfeitamente a coberto das iras do
Vidigal; era o arranjo de servidor na ucharia real.

(Manuel Antônio de Almeida,


Memórias de um Sargento de Milícias)

 De acordo com o texto, identifique o valor de cada um dos


Texto para as questões  e . termos destacados.

Uma feita a Sol cobria os três manos duma escaminha a) entretanto: oposição
de suor e Macunaíma lembrou de tomar banho. Porém, no
rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de
quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espe- b) depois: tempo
daçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais.
Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio
uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum c) segundo: conformidade
pé de gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por
causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho.
Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era d) e: adição
marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava
pregando o evangelho de Jesus prá indiada brasileira.
Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de
olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém
não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta
dos Tapanhumas.
(Mário de Andrade, Macunaíma)

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 (UFU) – Forme 3 (três) períodos com os enunciados Texto para a questão


.
abaixo, estabelecendo entre eles a relação que se pede. Faça
as substituições, inversões ou quaisquer adaptações que se Muitos políticos olham com desconfiança os que se
fizerem necessárias para que seus períodos fiquem coerentes articulam com a mídia.
e atendam às normas do padrão escrito culto. Não compreendem que não se faz política sem a mídia.
Jacques Ellul, no século passado, afirmava que um fato só
a) Os atos de violência se tornaram frequentes no Brasil. se torna político pela mediação da imprensa. Se 20 índios
b) A sociedade brasileira se mobilizará para exigir providências ianomâmis são assassinados e ninguém ouve falar, o crime
para diminuir os atos de violência. não se torna um fato político. Caso apareça na televisão, o
que era um mistério da floresta torna-se um problema
CAUSA: mundial.
RESOLUÇÃO: (Adaptado de Fernando Gabeira, Folha de S.Paulo)
Como (uma vez que, visto que, porque...) os atos de violência se
tornaram frequentes no Brasil, a sociedade se mobilizará para
exigir providências para diminuí-los.

(FUVEST)
a) Explique a distinção, explorada no texto, entre dois tipos de
fatos: um, relacionado a mistério da floresta; outro,
relacionado a problema mundial.
RESOLUÇÃO:
O mesmo fato pode não passar de “um mistério da floresta”, ou
seja, não ter nenhuma repercussão, nem merecer qualquer
atenção, quando ignorado pela mídia, ou ser transformado em
“um problema mundial”, se veiculado pelos meios de
comunicação de massa. O sentido político de que o fato possa
revestir-se depende, portanto, da “mediação da imprensa”.

CONSEQUÊNCIA:
RESOLUÇÃO:
Os atos de violência se tornaram tão frequentes no Brasil que a
sociedade brasileira se mobilizará para exigir providências para
diminuí-los.

b) Reescreva os dois períodos finais do texto, começando


com Se 20 índios fossem assassinados... e fazendo as
adaptações necessárias.
RESOLUÇÃO:
Se 20 índios ianomâmis fossem assassinados e ninguém ouvisse
TEMPO:
falar, o crime não se tornaria um fato político. Caso aparecesse na
RESOLUÇÃO: televisão, o que seria um mistério da floresta se tornaria um
No momento em que (quando, logo que...) os atos de violência problema mundial.
se tornarem frequentes no Brasil, a sociedade se mobilizará para
exigir providências para diminuí-los.

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Gêneros textuais: cartuns, charges, Palavras-chave:


• Humor • Crítica
66 tiras e histórias em quadrinhos • Denúncia

1. Cartum charge, portanto, deve procurar um assunto momentoso


(o que em ing. se chama the talking of town) e ir direto
aonde estão centrados a atenção e o interesse do público
Narrativa humorística, expressa através da caricatura.
leitor. A mensagem contida numa charge é eminente-
O cartum é uma anedota gráfica; seu objetivo é provocar
mente interpretativa e crítica, e, pelo seu poder de
o riso do espectador. E como uma das manifestações da
síntese, pode ter às vezes o peso de um editorial. Alguns
caricatura, ele chega ao riso através da crítica mordaz,
jornais chegam mesmo a usar a charge como editorial,
satírica, irônica e principalmente humorística, do
sendo ela, então, intérprete direta do pensamento do
comportamento do ser humano, das suas fraquezas, dos
jornal que a publica. A charge usa, quase sempre, os
seus hábitos e costumes. Muitas vezes, porém, o riso
elementos da caricatura na sua primeira acepção, coisa
contido num cartum pode ser alcançado apenas com um
que nunca acontece com o cartum, onde os bonecos
jogo criativo de ideias, por um achado humorístico (que
representam um tipo de ser humano e não uma pessoa
em fr. chama-se trouvaifle) ou por uma forma inteligente
específica. O termo vem do fr., charge, carga.
de trocadilho visual (v. trocadilho). O cartunista pode
(Dicionário de Comunicação,
recorrer às legendas ou dispensá-las. Os cartuns sem
Carlos Alberto e Gustavo Barbosa.)
legendas ou sem texto foram chamados, durante muito
tempo, pela imprensa brasileira, de piada muda. Eram
comumente publicados, também, com a legenda sem 3. História em quadrinhos
palavras. A ideia de que o cartum sem legenda (que teve Forma de narração, em sequência dinâmica, de
seu apogeu nas páginas da revista francesa Paris Match situações representadas por meio de desenhos que
nos anos 50) teria mais qualidades do que o cartum com constituem pequenas unidades gráficas sucessivas
diálogos ou texto levou um dos maiores cartunistas do (quadrinhos) e são geralmente integrados por textos
Brasil, o mineiro Borjalo, a criar um boneco sem boca sintéticos e diretos apresentados em balões e legendas.
para ilustrar todos os seus cartuns (revista Manchete, As HQ começaram a se apresentar em sua forma atual
década de 50). Na composição do cartum podem ser no fim do século passado, nas páginas de jornais norte-
inseridos elementos da história em quadrinhos, como americanos. A partir do sucesso das tiras seriadas diárias,
balões, subtítulos, onomatopeias, e até mesmo a divisão dos suplementos dominicais e das páginas de quadrinhos
das cenas em quadrinhos. A narrativa do cartum pode publicadas em jornais e revistas de vários países, surgiram
comportar uma cena apenas ou uma sequência de cenas. por volta de 1930 as primeiras publicações exclusivamente
No primeiro caso, o riso deve ser alcançado pela ideia dedicadas ao gênero (conhecidas no Brasil como gibis),
contida no desenho de um simples momento; no compostas inicialmente de remontagens das tiras de
segundo, em geral, a narrativa conduz para um desfecho jornais ou de histórias inéditas. Desde o seu surgimento, a
engraçado. O termo cartum origina-se do ing. cartoon, narrativa dos quadrinhos experimenta permanente
“cartão, pequeno projeto em escala, desenhado em evolução. Em sintonia com as linguagens do cinema e da
cartão para ser reproduzido depois em mural ou televisão, experimentam-se novas concepções de
tapeçaria”. No Brasil, foi a revista Pereré, de Ziraldo, montagem, de planos e de enquadramentos.
edição de fevereiro de 1964, que lançou o neologismo As histórias em quadrinhos figuram, hoje, entre os
cartum. A charge e a tira cômica podem ser consideradas produtos de comunicação de massa mais
subdivisões do cartum. representativos e mais avidamente consumidos.
(Dicionário de Comunicação, Apresentam-se normalmente nas seguintes categorias:
Carlos Alberto e Gustavo Barbosa.) cômicos, infantis, de aventuras (faroeste, policial, ficção
científica etc.), sentimentais, biográficos, históricos, de
2. Charge lendas e contos, ou de propaganda. São conhecidas nos
países de língua inglesa pela expressão comics, por ter
É um cartum cujo objetivo é a crítica humorística sido humorística a primeira função manifesta das HQ,
imediata de um fato ou acontecimento específico, em um humor facilmente acessível a todas as classes
geral de natureza política. O conhecimento prévio, por sociais e que assegurou a sua difusão.
parte do leitor, do assunto de uma charge é, quase (Dicionário de Comunicação,
sempre, fator essencial para sua compreensão. Uma boa Carlos Alberto e Gustavo Barbosa)

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3. Tira história curta e completa (como geralmente ocorre com


as tiras cômicas ou humorísticas e com historinhas
didáticas), ou pode ser um capítulo de uma história
Historieta ou fragmento de história em quadrinhos,
seriada (é o caso das tiras de aventuras, em geral).
geralmente apresentada em uma única faixa horizontal,
(Dicionário de Comunicação,
com três ou quatro quadros, para ser publicada em
Carlos Alberto e Gustavo Barbosa)
jornais ou revistas. Uma tira de HQ pode conter uma

Exercícios Resolvidos

Observe a tirinha da personagem Mafalda, de Quino.

QUINO, J. L. Mafalda. Tradução de Monica S. M. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

 O efeito de humor foi um recurso utilizado pelo


e) demonstrou que a leitura do dicionário o desagradou bastante, fato
que decepcionou muito sua filha.
autor da tirinha para mostrar que o pai de Mafalda
Resolução
a)revelou desinteresse na leitura do dicionário.
A questão é clara e não deixa dúvida quanto à resposta, embora não
b) tentava ler um dicionário, que é uma obra muito extensa.
esteja bem formulada. O enunciado adequado para o caput seria: “O
c) causou surpresa em sua filha, ao se dedicar à leitura de um livro
humor da tirinha deve-se ao fato de que o pai de Mafalda...”
tão grande.
Resposta: D
d) queria consultar o dicionário para tirar uma dúvida, e não ler o livro,
como sua filha pensava.

Quadrinho para a questão .


 (INSPER) – Considerando-se os elementos verbais e visuais da tirinha, é correto afirmar
que o que contribui de modo mais decisivo para o efeito de humor é
a) a ingenuidade dos personagens em acreditarem na existência de poderes
sobrenaturais.
b) o contraste entre os personagens que representam diferentes classes sociais.
c) o duplo sentido do substantivo “super-herói”, no contexto do 1º quadrinho.
d) a tentativa fracassada do personagem ao fazer um discurso panfletário.
e) a quebra de expectativa produzida, no último quadrinho, pelo termo “invisibilidade”.
RESOLUÇÃO:
Quando se esperava que o mendigo justificasse sua afirmação com a indicação de algum
poder extraordinário, quebra-se a expectativa criada ao se entender que “invisibilidade”
designa, no caso, não o poder de se tornar invisível, mas o fato de que os passantes “não
veem” o mendigo, isto é, ignoram-no, não lhe dão nenhuma atenção.
Resposta: E

(Folha de S. Paulo)

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Exercícios Propostos

 (UNESP) – Examine a charge do cartunista argentino  (FUVEST-transferência) – Examine a seguinte charge:


Quino (1932-2020).

Folha de S. Paulo, 20 jan. 2008.

Entre os responsáveis pelo desmatamento da Amazônia, os


mais diretamente satirizados nessa charge são
a) extrativistas.
b) pecuaristas.
c) agricultores.
(Quino. Potentes, prepotentes e impotentes, 2003.)
d) madeireiros.
A charge explora, sobretudo, a oposição e) políticos.
a) inocência x malícia. Resposta: B
b) público x privado.
c) progresso x estagnação.  (UNESP) – Examine a tira do cartunista André Dahmer.
d) natureza x cidade.
e) liberdade x repressão.
RESOLUÇÃO:
A charge apresenta várias placas de sinalização que indicam
proibição, mas há uma estátua com a tocha da liberdade em uma
das mãos e correntes rompidas em cada punho erguido. Assim a
charge explora a oposição entre as placas restritivas e a
representação da liberdade.
Resposta: E
(Quadrinhos dos anos 10, 2016.)

O conselho presente na primeira fala sugere falta de


a) compaixão.
b) paciência.
c) ganância.
d) malícia.
e) cinismo.
RESOLUÇÃO
O conselho do pai ao filho, para que este evite o contato com
pedintes famintos, sugere a ausência de sentimento de piedade
diante da tragédia alheia.
Resposta: A

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Texto para a questão . Texto para a questão .

Disponível em: <www.malvados.com.br>.


Acesso em 27.04.16.

 (INSPER) – A crítica do texto atinge, principalmente,


a) a liberdade de expressão das sociedades democráticas.
b) a pouca profundidade dos debates políticos no século XIX.
c) a tendência moderna de ler resumos, e não obras
completas.
d) as opiniões antiquadas que são encontradas na internet.
e) a preocupação excessiva com a tecnologia no século XXI.
RESOLUÇÃO:
DAHMER, A. Disponível em: www.malvados.com.br. A tira critica a veiculação de ideias retrógradas, conservadoras
Acesso em: 15 maio 2013. (“opiniões do século XIX”) por meio de recursos tecnológicos de
ponta (“tecnologia do século XXI”).
 (2.a aplicação) – Importantes recursos de
Resposta: D

reflexão e crítica próprios do gênero textual,


esses quadrinhos possibilitam pensar sobre o papel da
tecnologia nas sociedades contemporâneas, pois
a) indicam a solidão existencial dos usuários das redes sociais
virtuais.  (UNESP) – Examine a tira Hagar, o Horrível do cartunista
b) retratam a superficialidade das relações humanas mantidas americano Dik Browne (1917-1989).
pela internet.
c) retratam a dificuldade de adaptação de pessoas mais velhas
às relações virtuais.
d) ironizam o crescimento da conexão vitual oposto à falta de
vínculos reais entre as pessoas.
e) denunciam o enfraquecimento das relações humanas nos
mundos virtual e real contemporâneos. (Hagar, o Horrível, vol 1, 2014.)
RESOLUÇÃO:
O enunciado é complementado corretamente pela alternativa que
apresenta a ironia presente na tira. Do primeiro ao terceiro O ensinamento ministrado por Hagar a seu filho poderia ser
quadro, lê-se que há mudanças nas relações humanas por causa expresso do seguinte modo:
da internet, que ao mesmo tempo aproxima internautas, mas a) “A fome é a companheira do homem ocioso.”
afasta as pessoas no mundo real.
Resposta: D
b) “O estômago que raramente está vazio despreza alimentos
vulgares.”
c) “Nada é mais útil ao homem do que uma sábia
desconfiança.”
d) “Muitos homens querem uma coisa, mas não suas
consequências.”
e) “É impossível para um homem ser enganado por outra
pessoa que não seja ele mesmo.”
RESOLUÇÃO
A máxima que ilustra a tirinha indica a necessidade de que a
desconfiança guie os indivíduos, porque a ingenuidade pode levar
a enganos.
Resposta: C

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Texto para a questão . Leia a tira.

(Caco Galhardo. “Daiquiri”.


Folha de S.Paulo, 22.06.2019. Adaptado.)


(UNICID-2020) – A leitura da tira permite concluir que
a) as discordâncias entre mães e filhos podem surgir de
neuroses relacionadas aos conflitos estéticos,
normalmente irrelevantes para as crianças.
b) as neuroses maternas visam estreitar vínculos entre mães
e filhos, tratando de questões que são do interesse de
todos.
c) as ideias correntes de que determinados produtos
engordam, como o chocolate, são inverdades que
perturbam a infância.
d) as crianças exageram na ingestão daquilo que gostam,
ocasião em que as mães, com sabedoria, orientam a
mudança de hábitos.
e) as mães frequentemente agem com ponderação,
(Maitena. Disponível em: <www.maitena.com.br>. sobretudo quando estão preocupadas com o bem-estar
Acesso em: 17 set. 2015.). emocional dos filhos.
Resposta: A

(3.a aplicação) – Esta história em quadrinhos


(INSPER)
aborda a padronização da imagem corporal na
contemporaneidade. O fator que pode ser
identificado como influenciador do comportamento obsessivo,
retratado nos quadrinhos, é o
a) entendimento da aparência corporal relacionada à saúde.
b) controle feminino sobre o ideal social de estética corporal.
c) desejo pelo modelo de corpo ideal construído socialmente.
(Folha de S.Paulo, 31.08.2016)
d) questionamento critico dos valores ligados ao sucesso
social.
As falas da personagem, no primeiro e no terceiro quadrinhos,
e) posicionamento reflexivo da mulher, frente às imposições
mostram que ela concebe a internet como um espaço em que
estéticas.
RESOLUÇÃO:
a) as diferenças individuais se neutralizam.
É nítido nessa história em quadrinhos o desejo da modelo em ter b) o estabelecimento de amizade é improvável.
o corpo considerado perfeito por todas as mulheres com quem ela c) os inimigos perdem seu poder de combate.
conversa, isto é, o corpo de uma pessoa magra.
d) o fortalecimento da amizade é inevitável.
Resposta: C
e) as pessoas são menos vulneráveis ao engano.
RESOLUÇÃO:
No primeiro quadrinho, a personagem afirma se tratar de “um
ótimo dia para fazer inimigos na internet”. No terceiro, ao
responder à pergunta se as pessoas não fazem amigos na
internet, afirma que é possível fazer “amigos de trouxa”, ou seja,
a amizade na internet é possível para pessoas tolas, ingênuas,
sugerindo que é improvável se criar um verdadeiro vínculo de
amizade por meio das redes sociais.
Resposta: B

PORTUGUÊS 141
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Considere o seguinte cartum para responder às questões de  (FUVEST-transferência – 2020) – No cartum de Quino,
a . a) a primeira cena retrata a convivência real entre a natureza
e o homem em tempos pré-históricos.
b) os quadros menores desconsideram a diferença entre as
escalas de tempo geológica e humana.
c) a comparação entre o dinossauro e o automóvel revela a
dominação da natureza pelo homem.
d) a mudança de roupagem demonstra a superação do fim
trágico do homem pré-histórico.
e) o contraste entre os quadros maiores resulta numa
apologia da revolução industrial.
RESOLUÇÃO:
Não há equivalência de tempo entre a formação do petróleo e o
desenvolvimento da civilização humana.
Resposta: B

 (FUVEST-transferência – 2020) – Se traduzida verbal-


mente, a estrutura do cartum seria adequadamente recuperada
em um discurso
a) lírico.
b) narrativo.
c) ensaístico.
d) dramático.
e) dissertativo.
RESOLUÇÃO:
Na tirinha, há uma ação que se desenvolve no tempo, por meio da
ação dos personagens, o que caracteriza a tipologia narrativa.
Resposta: B

Quino, Bien, gracias. Y usted? Buenos Aires: Leia a charge de Laerte para responder a questão .
Ediciones de la flor, 2006, p. 15.
GARÇON!
FORMIGAS PRA MIM
NA MINHA TAMBÉM!
SOPA!
(FUVEST-transferência – 2020) – A respeito do cartum, é
correto afirmar que ele
a) representa o sentido evolutivo da História, por meio da
contraposição entre os dois quadros maiores.
b) simboliza o aspecto visionário da Humanidade em sua
(Folha de S.Paulo, 02.06.2016. Adaptado.)
evolução por meio do homem com óculos.
c) revela o instinto de sobrevivência do homem por utilizar
 (FAMECA) – O efeito de humor da charge implica
recursos naturais como combustível.
reconhecer que o tamanduá entende a fala do homem da
d) apresenta duas linhas históricas, à esquerda e à direita,
seguinte forma:
com os mesmos pontos de partida e de chegada.
a) Garçon! Você colocou formigas na minha sopa!
e) estrutura-se de forma labiríntica, sugerindo múltiplas
b) Garçon! Menos formigas na minha sopa!
direções de leitura, sem alterar o seu significado.
c) Garçon! Dispenso formigas na minha sopa!
RESOLUÇÃO:
No primeiro tempo da narrativa, um dinossauro ataca um ser d) Garçon! Há formigas na minha sopa!
humano. Os quadrinhos menores demonstram a passagem do e) Garçon! Quero formigas na minha sopa!
tempo, o corpo do dinossauro se tornando petróleo, enquanto os RESOLUÇÃO:
humanos avançam em sua civilização e tecnologia. Num segundo O efeito de humor da charge implica reconhecer que o tamanduá
momento de ação, o carro, invenção humana, mas que usa o entende a fala do homem como um pedido para que sejam
petróleo como combustível, ataca um ser humano, repetindo colocadas formigas em sua sopa, já que elas fazem parte da dieta
assim, os pontos de partida e de chegada originais. do tamanduá.
Resposta: D Resposta: E

142 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 143

COLÉGIO

Prática de Redação 11
51 e 52

Nome legível __________________________________________________________________


Unidade ______________________________________________________________________
Ano/Classe _____________________________________ Data _________________________
Matrícula –

Empatia: capacidade de se colocar no lugar de outra


pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria
ou agiria nas mesmas circunstâncias. Aptidão para se
identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o
que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende etc.
Psicologia: processo de identificação em que o
indivíduo se coloca no lugar do outro e, com base em suas
próprias suposições ou impressões, tenta compreender o
comportamento do outro.
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)

“Empatia” deriva do grego e significa “sentir” ou “sentir-se


em”, sendo um dos componentes da compaixão. É algo
passivo e tolerante, que leva a uma conexão profunda e mútua
de intimidade e reconhecimento da vulnerabilidade do próximo.
Desenvolver empatia é reconhecer e compreender,
sem reservas ou julgamentos, o sofrimento do outro. É um IMAGEM DA SEMANA
profundo apreço pelo que realmente é estar na situação de Ana Júlia Costa Sabino, 9, fotografada na quarta (13) por
uma pessoa, a partir da perspectiva dela. empresário em avenida do Rio com cartaz pedindo alimento em
troca de máscaras; a imagem viralizou e mobilizou uma campanha
http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=
para ajudar a menina e sua família.
BioeticaParalniciantes&id=23 (Folha de S. Paulo, 17 maio 2020)

Com base nas definições dadas, escreva uma narração em 1.a pessoa, monólogo interior (fala interior da
personagem), em que a personagem é a garota que aparece na foto acima. Coloque-se no lugar dela, capte seus
pensamentos, seus sonhos e conte-os como se você fosse ela. O fluxo de consciência (monólogo) da personagem
pode ser relatado em linguagem simples, mas no padrão culto da língua. Dê um título a seu texto.

PORTUGUÊS 143
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 144

Observações do(a) corretor(a): Nome: _______________________

O aluno deve selecionar os dados que comporão a tessitura narrativa. O professor deve lembrar ao aluno que se trata de um
monólogo – conversa da pessoa consigo mesma – registrando o fluxo de consciência da personagem, seu mundo interior;
portanto, um texto em 1.a pessoa.
O uso da norma culta não contraria o critério de verossimilhança, como uma análise mais superficial poderia supor, pois se trata
de um exercício redacional em que o aluno exercita a alteridade, ou seja, coloca-se no lugar da garota que troca máscaras por
comida em termos de pensamentos e vivências, mas, obviamente, não em termos linguísticos.

144 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 145

Leitura Proposta de Redação


Obrigatória Unicamp 2022

Você tem 15 anos e tem conta em redes sociais desde os 13 anos. Há seis meses, contudo, seu
número de seguidores quintuplicou e alcançou a marca de quase um milhão. Desde que se tornou um/a
digital influencer, vários parentes e amigos passaram a alertar seus pais sobre os perigos de sua
superexposição na internet, enfatizando a importância de eles (seus responsáveis legais) acompanharem
todas as postagens e todos os comentários recebidos nas suas redes. Seus pais foram até mesmo
aconselhados por alguns amigos a fecharem as contas que você mantinha, sob a alegação de que a
atividade poderia configurar um tipo de trabalho infantil (isto é, uma atividade que envolve crianças com
idade inferior a 16 anos). Outros não viram problema com a sua fama e até perguntaram se seus pais já
tinham se informado sobre como “monetizar” os seus perfis.
Após refletir sobre essas opiniões divergentes, você decide escrever, em um de seus perfis, um
extenso post (“textão”) a respeito. No seu texto, você a) narra a sua trajetória até se tornar digital
influencer e b) relata suas impressões acerca dessa experiência, assumindo um posicionamento sobre o
fato de crianças e adolescentes atuarem como digital influencers.
Para escrever seu post, leve em conta a coletânea de textos a seguir:

1. Cyberbullying é o bullying realizado por meio das tecnologias digitais. Pode ocorrer nas mídias sociais,
plataformas de mensagens, plataformas de jogos e celulares. É o comportamento repetido, com intuito de
assustar, enfurecer ou envergonhar aqueles que são vítimas.
(Disponível em https://www.unicef.org/brazil/cyberbullying-o-que-eh-e-como-para-lo.
Acessado em 13/09/2021.)

2. Apesar de a maior parte das plataformas exigir idade mínima de 13 anos para a criação de um perfil, não
há um controle rígido, o que faz com que o acesso de crianças e adolescentes às redes sociais seja livre.
E é justamente por isso que o papel das famílias e das escolas é crucial para protegê-los e conscientizá-
los dos riscos da superexposição. A premissa de que as novas gerações “nascem sabendo” lidar com a
tecnologia é totalmente enganosa e mascara a fragilidade delas perante os inúmeros riscos e perigos que
as mídias sociais escondem. Os jovens precisam de controle parental, acompanhado de diálogo, para
desenvolverem uma relação saudável com as redes. Controlar o uso não significa proibi-lo, mesmo porque
o universo digital é parte fundante da cultura e sociabilidades juvenis contemporâneas. Entre os conteúdos
deliberadamente nocivos e os construtivos, há uma gama imensa de riscos implicados, como os próprios
comentários de estranhos – diversas plataformas, inclusive, já permitem que o usuário não receba
mensagens de desconhecidos.
(Adaptado de Mariana Mandelli, Morte de adolescente reacende debate sobre exposição digital. 05/08/2021. Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/08/morte-de-adolescente-reacende-debate-sobre-exposicao-digital.shtml.
Acessado em 13/09/2021.)

PORTUGUÊS 145
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3.

A. C.
Celebridade brasileira do
YouTube que ficou conhecida
por seu canal “Vida de Amy”,
onde posta desafios, vídeos de
brinquedos e vlogs, a adoles-
cente A. C. ganhou mais de
550.000 inscritos e ainda foi
reconhecida como a primeira
YouTuber surda oralizada do
Brasil.
Antes da Fama
Aos três meses, ela começou a
ser treinada por fonoaudiólogos,
e aprendeu a falar e escrever em português.

Curiosidades
Em julho de 2014, ela postou o vídeo “Novos presentes para minha boneca Reborn”, que teve mais de
4 milhões de visualizações logo depois de postado.
(Texto adaptado. Imagem editada. Disponível em https://pt.famous
birthdays.com/people/amanda-carvalho.html. Acessado em 20/11/2021.

4. A ampliação do acesso de crianças e adolescentes a celulares, tablets e outras telas portáteis criou uma
nova modalidade de trabalho infantil: os youtubers mirins. Nessa atividade, crianças e adolescentes
gravam vídeos periodicamente em seus canais no YouTube e são remunerados por fabricantes de
produtos para os quais fazem propagandas, ou são remunerados pela própria rede social, quando há
anúncios inseridos ao longo do vídeo. A atividade é prejudicial tanto para a criança ou adolescente que
mantém o canal, quanto para o público infantojuvenil que o assiste. A advogada do Programa Criança e
Consumo do Instituto Alana, Livia Cattaruzzi, lista o consumismo e o materialismo, a diminuição de brinca-
deiras criativas, a obesidade infantil, a erotização precoce, a violência e a segregação de gênero como
algumas consequências da exposição à publicidade infantil.
(Adaptado de Cristina Sena, Matéria originalmente publicada no site do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho
Infantil (FNPETI). Disponível em https://livredetrabalhoinfantil.org.br/noticias/ reportagens/youtubers-mirins-forum-nacional-discute-
nova-modalidade-detrabalho-infantil/. Acessado em 11/09/2021.)

146 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 147

COLÉGIO

Prática de Redação 12
55
Nome legível __________________________________________________________________
Unidade ______________________________________________________________________
Ano/Classe _____________________________________ Data _________________________
Matrícula –

Comentário à proposta de redação

A primeira proposta da Unicamp pediu ao candidato para desenvolver um “textão”, ou seja, uma postagem nas redes sociais,

posicionando-se como um(a) digital influencer de 15 anos com um milhão de seguidores. Nesse texto, o candidato deveria narrar sua

trajetória, podendo relatar experiências que serviriam de base para o desenvolvimento de posicionamentos sobre os perigos e as

vantagens (profissionais, financeiras e pessoais) dessa exposição.

Para guiar o desenvolvimento temático, foram apresentados textos que abordam os impactos negativos da superexposição, como o

cyberbulling, o incentivo ao consumismo e, até mesmo, a erotização precoce. Além desses aspectos, poderiam ser citados o

desenvolvimento de depressão, baixa autoestima na formação do jovem e até aparecimento de pensamentos suicidas diante de

comentários negativos.

Outro ponto relevante à temática e que caberia na proposta é o papel dos pais no controle da vida virtual dos filhos: a atenção às

publicações e aos comentários dos seguidores é vital para assegurar a saúde mental desses jovens.

Ao desenvolver a narração, o candidato poderia relatar os vídeos ou conteúdos de suas primeiras postagens, o número inicial e final

de seus seguidores e até evidenciar experiências positivas ou negativas dentro da família, da escola ou em outros campos sociais.

Junto com esse relato, o candidato poderia desenvolver análises críticas, utilizando-se de estratégias argumentativas para evidenciar

e comprovar os pontos negativos e/ou positivos das vivências narradas, ressaltando (a) a importância dos pais na carreira dos influencers

mirins, (b) o aspecto profissional e financeiro e (c) o impacto dessa carreira no desenvolvimento emocional da infância e da juventude.

É importante atentar às características do gênero proposto: a manutenção da interlocução com os seguidores, a linguagem acessível e

a concisão do texto.

PORTUGUÊS 147
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 148

Observações do(a) corretor(a): Nome: _______________________

148 PORTUGUÊS
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Leitura
Preconceito e intolerância
Obrigatória

O preconceito é uma forma enviesada de se perceber o outro. Tal sentimento reside no homem e pode eliminar
sonhos e inibir vidas. É lamentável perceber que o preconceito se manifesta em todo ser humano, em graus variados. Em
alguns casos, funciona como estratégia de defesa a algo que não lhe convém. Em outros, como forma de desrespeito às
diferenças e às minorias. O preconceito leva à discriminação, que não é outra coisa senão a prática da exclusão.
(CARNEIRO, Neri de Paula. Cruéis são todos os preconceitos.
Disponível em: <http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090526171345AAIlDe4>.

A intolerância nas redes é resultado direto de desigualdades e preconceitos sociais em geral, não é uma invenção
da internet. O ambiente em rede facilita que cada um solte seus demônios, ao dar a sensação de um pretenso
anonimato. O mundo virtual é, portanto, mais uma forma de os intolerantes se manifestarem e ampliarem seu alcance.
Vejamos: o Brasil lidera as estatísticas de mortes na comunidade LGBT (dado da Associação Internacional de Gays
e Lésbicas); mata muito mais negros do que brancos (Mapa da Violência); aparece em quinto lugar em homicídios de
mulheres (Mapa da Violência); registrou aumento de 633% nos casos de xenofobia (Ouvidoria Nacional dos Direitos
Humanos); e 6,2% dos seus empregadores confessam não contratar pessoas obesas (site de recrutamento).
(BOB VIEIRA DA COSTA)

GUERRA SANTA

Eu até compreendo os salvadores profissionais


DALTONISMO
Sua feira de ilusões
Só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz
olhe de novo:
não existem brancos,
Deixa o outro vender limões
não existem amarelos,
não existem negros,
Um vende limões, o outro vende o peixe que quer
somos todos arco-íris.
O nome de Deus pode ser Oxalá, Jeová, Tupã, Jesus, Maomé
(Ulisses Tavares)
Maomé, Jesus, Tupã, Jeová, Oxalá e tantos mais
Sons diferentes, sim, para sonhos iguais
(Gilberto Gil)

(Disponível em: <https://imgs.jusbrasil.com/publications/ (Disponível em:<https://porta204.files.wordpress.com/


artigos/images/preconceito-jpg.jpg>. Acesso em: 22 dez. 2017) 2015/09/duq8sm.jpg>. Acesso em: 22 dez. 2017)

PORTUGUÊS 149
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 150

Rascunho

150 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 151

COLÉGIO

Prática de Redação 13
60 e 61

Nome legível __________________________________________________________________


Unidade ______________________________________________________________________
Ano/Classe _____________________________________ Data _________________________
Matrícula –

Depois da leitura atenta dos textos da proposta, escreva uma crônica narrativa ou reflexiva.

Crônica narrativa: Conte uma história que envolva um(a) personagem adolescente, que, com suas
atitudes preconceituosas e intolerantes, ofende, magoa e prejudica outras pessoas. Narre também as
consequências dessa conduta. Dê um título a seu texto.

Crônica reflexiva: Registre suas reflexões sobre atitudes preconceituosas e intolerantes mais comuns
entre adolescentes, que podem levar ao bullying, excluindo ou humilhando outros jovens. Trate também
do prejuízo emocional para a vítima e o que deve ser feito para se evitar que adolescentes manifestem
julgamentos discriminatórios. Tema: Época triste é a nossa em que é mais difícil quebrar um
preconceito do que um átomo. (Albert Einstein) Dê um título a seu texto.

PORTUGUÊS 151
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 152

Observações do(a) corretor(a): Nome: _______________________

Para a crônica narrativa, considerar na avaliação o texto bem redigido, coeso, com progressão temporal, além da uma
história bem articulada e criativa. Observar se o aluno conseguiu cumprir a proposta narrativa.
Para a crônica reflexiva, considerar na avaliação o texto bem redigido, em norma culta, em que o aluno apresentou
reflexões sensatas e bem articuladas sobre o tema.

PARA O PROFESSOR COMENTAR EM AULA:


A Declaração de Princípios sobre a Tolerância (1995) define o significado de tolerância como respeito, aceitação e apreço da
riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa
qualidade de seres humanos. Portanto, em seu significado profundo e atual, tolerância é aceitar a diversidade e combater todas as
formas de opressão e de desigualdades sociais. Em síntese, tolerância é a atitude de solidariedade entre indivíduos, grupos, povos,
nações e, também, dos seres humanos para com a natureza em geral.

http://www4.faac.unesp.br/extensao.convdiversidade/cartilha.pdf

152 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 153

Leitura
Viagens espaciais
Obrigatória

VIAGEM AO ESPAÇO DEIXA DE SER FICÇÃO PARA SE TORNAR REALIDADE


Governos e empresários correm para viabilizar missões tripuladas a Marte,
hotel próximo à Lua e passeios em gravidade zero

O sonho de desbravar o universo sempre esteve presente nos filmes e na literatura de ficção
científica, mas, ao longo das últimas décadas, sempre se desfez diante de incontornáveis limitações
tecnológicas.
Vivemos hoje em um tempo no qual essas barreiras parecem finalmente estarem caindo,
principalmente porque empresas privadas como a SpaceX, do bilionário Elon Musk, da Tesla; a Blue Origin,
de Jeff Bezos, da Amazon, e a Virgin Galactic, de Richard Branson, decidiram acelerar seus foguetes e
entrar para valer na corrida pelo turismo espacial.
O caminho rumo ao espaço não mais é uma exclusividade de governos, pois, ainda que EUA, Rússia,
China, Índia, Comunidade Europeia, Emirados Árabes Unidos, entre outros, também estejam lançando ou
reativando seus programas, a exploração espacial em larga escala só irá acontecer em parceria com o setor
privado.
A chamada Missão Marte já está em andamento. Recentemente, Emirados Árabes, China e EUA
pousaram novas sondas no planeta vermelho. No entanto, colocar humanos em solo marciano em
condições habitáveis é outra história.
(https://estudio.folha.uol.com.br/johnnie-walker/2021/02/
viagem-ao-espaco-deixa-de-ser-ficcao-para-se-tornar-realidade.shtml)

CHEGADA DO PERSEVERANCE ABRE CAMINHO


PARA O RETORNO DE AMOSTRAS DE MARTE

Agora que o rover Perseverance está seguro e saudável na superfície de Marte, vários grupos de
trabalho espalhados pelo mundo podem respirar aliviados e pensar nos passos futuros do programa de
exploração marciana, que vai agora focar seus esforços no cobiçado retorno de amostras de volta à Terra.
Em 2026, parte de um módulo de pouso com um pequeno foguete, de menos de três metros,
instalado a bordo, projetado e construído pela Nasa, pousaria próximo ao local onde desceu o
Perseverance. E aí, talvez partindo do próprio módulo, um pequeno rover produzido pela ESA encontraria
as amostras e as instalaria no interior do foguete. Em meados de 2029, o foguete seria disparado (o
primeiro lançamento feito de outro planeta!), colocando a cápsula com as amostras em órbita marciana.
Lá ela se acoplaria ao orbitador europeu, que por sua vez traria o conteúdo de volta à Terra, em 2031. A
empreitada toda custaria cerca de US$ 5 bilhões, sem contar os US$ 2,7 bilhões empenhados na missão
do Perseverance.
(Salvador Nogueira
folha.com/mensageirosideral – adaptada)

PORTUGUÊS 153
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154 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 155

COLÉGIO

Prática de Redação 14
64
Nome legível __________________________________________________________________
Unidade ______________________________________________________________________
Ano/Classe _____________________________________ Data _________________________
Matrícula –

Escolha um dos temas abaixo:

❏ TEMA A – Escreva uma crônica narrativa cujo enredo ficcional conte a história de alguém que
ganha uma passagem para visitar Marte. Uma parte da história deve se passar no
planeta vermelho. Dê um título a seu texto e não ultrapasse 30 linhas.

❏ TEMA B – Escreva uma crônica reflexiva sobre o seguinte tema: Viagens espaciais, qual é o
propósito? Dê um título a seu texto e não ultrapasse 30 linhas.

PORTUGUÊS 155
C3_1A_VERMELHO_PORT_JR_2022.qxp 25/03/2022 14:46 Página 156

Observações do(a) corretor(a): Nome: _______________________

O aluno deve colocar um X no tema escolhido (A ou B). O aluno que escolher a narração deve fazer uma pesquisa rápida sobre
o planeta Marte ou usar seus próprios conhecimentos adquiridos em aulas de outras matérias para criar o enredo de sua história
que deve se passar em parte no planeta vermelho. O professor pode tecer alguns comentários sobre Marte: o nome foi dado em
homenagem ao deus da guerra. É um planeta muito frio, rochoso e árido. Sua temperatura máxima é de aproximadamente 25°C,
com uma média de –60°C, que pode chegar até cerca de –140°C durante à noite. Muitas vezes é descrito como o “Planeta
Vermelho”, porque o óxido de ferro predominante em sua superfície lhe dá uma aparência avermelhada. Sua gravidade (3,721
m/s2) é menor do que a da Terra (9,807 m/s2).
Quanto à crônica reflexiva, o tema pode levar o aluno a defender a ideia de que a exploração de Marte representa um grande
avanço tanto científico quanto tecnológico. A descoberta de água subterrânea em Marte pode ser de vital importância para
nosso planeta, já que estamos destruindo os ecossistemas da Terra e talvez esse achado seja imprescindível, no futuro, para
nossa sobrevivência. As pesquisas feitas pelos vários países que participam dessa exploração propiciam também ampliação e
aplicação de conhecimento em várias outras áreas.
O aluno pode também achar que não há propósito nessas viagens espaciais, já que o mundo está passando por uma séria
crise sanitária que, além das mortes, gerou desemprego, fome e miséria. O aluno pode usar as cifras com essa expedição a
Marte, pelos menos os 5 bilhões de dólares que ainda vão ser usados nessa empreitada, para questionar a falta de atitude
humanitária para com os países mais pobres e/ou mais atingidos pela pandemia.

156 PORTUGUÊS
C3_1A_VERMELHO_PORT_GK_2021.qxp 26/05/2021 13:01 Página 157

PORTUGUÊS:
ARCADISMO – ROMANTISMO
Módulos 38 –
A Pastoral Moderna
33 – Arcadismo: concepção 39 –
Bocage
burguesa da vida 40 –
Romantismo: características gerais
34 – Manuel Antônio de Almeida: 41 –
Almeida Garrett e
Memórias de um Sargento de Alexandre Herculano
Milícias: o narrador 42 – Camilo Castelo Branco
35 – Rousseau: o “bom selvagem” 43 – Gonçalves Dias: poesia
36 – Memórias de um Sargento de indianista
Milícias: o protagonista 44 – Um clássico romântico: a
37 – Arcadismo: a inconstância e “Canção do Exílio” de
fugacidade da vida Gonçalves Dias
Jean-Jacques Rousseau

Palavras-chave:
Arcadismo: concepção • Arcadismo
• Poesia árcade
33 burguesa da vida • Carpe diem
• Aurea mediocritas

Texto para os testes  e . Pasmados te ouvirão; eu, entretanto, Resolução


Ainda o rosto banharei de pranto. O eu lírico, ao projetar-se em uma situação a
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro, que aspira (“se a Fortuna volta, / Se o bem,
Fui honrado Pastor da tua Aldeia; Quando passarmos juntos pela rua, que já perdi, alcanço e provo”), descreve
Vestia finas lãs e tinha sempre Nos mostrarão c’o dedo os mais como gostaria que fosse sua vida, com
A minha choça do preciso cheia. Pastores, esposa e filhos, vivendo confortável e
Tiraram-me o casal e o manso gado, Dizendo uns para os outros: “Olha os moderadamente. Esse ideal de vida
Nem tenho, a que me encoste, um só nossos corresponde a uma concepção burguesa da
[cajado. Exemplos da desgraça e sãos amores.” vida ou, em outras palavras, a “ideais de
Contentes viveremos desta sorte, família burgueses”.
(...) Até que chegue a um dos dois a morte. Resposta: A
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.
Ah! minha bela, se a Fortuna volta, Salvador: Progresso, 1956. p. 136-138.)
Se o bem, que já perdi, alcanço e provo;  (UEFS – modificado – MODELO ENEM)
Por essas brancas mãos, por essas faces  (UEFS – modificado – MODELO ENEM) – – É traço árcade presente no texto:
Te juro renascer um homem novo; Como era comum no Arcadismo, escola a) caráter didático e doutrinário.
Romper a nuvem, que os meus olhos literária a que Tomás Antônio Gonzaga era b) referência ao ambiente pastoril.
[cerra, vinculado, os ideais clássicos foram adaptados c) preocupação com a moral.
Amar no céu a Jove, e a ti na Terra! ao contexto histórico-social do século XVIII. É d) idealização da Natureza.
por isso que, no poema acima, o eu lírico e) predomínio da razão.
(...) desenvolve uma temática ligada a Resolução
a) ideais de família burgueses. Ao longo dos versos, há inúmeras referências
Nas noites de serão nos sentaremos b) inconstância infeliz da sorte. ao ambiente pastoril, tais como: “pastor”,
C’os filhos, se os tivermos, à fogueira; c) preocupação obsessiva com a morte. “finas lãs”, “choça”, “casal”, “manso gado”,
Entre as falsas histórias, que contares, d) defesa emotiva contra acusações. “cajado” etc.
Lhes contarás a minha verdadeira: e) discurso de elogio à amada. Resposta: B

PORTUGUÊS 157
C3_1A_VERMELHO_PORT_GK_2021.qxp 26/05/2021 13:01 Página 158

Exercícios Propostos

Textos para as questões de  a . Goza, goza da flor da mocidade,


Que o tempo trata a toda ligeireza,
Texto 1
E imprime em toda a flor sua pisada.
SONETO A UMA SENHORA DO RIO DE JANEIRO,
ONDE SE ACHAVA ENTÃO O AUTOR Oh não aguardes que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Já, Marília1 cruel, me não maltrata Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada!
Saber que usas comigo de cautelas,
Que inda te espero ver, por causa delas, (MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 338.)
Arrependida de ter sido ingrata:

Com o tempo, que tudo desbarata, destrói  Explique as seguintes metáforas que Basílio da Gama
Teus olhos deixarão de ser estrelas; utiliza para representar o envelhecimento:
Verás murchar no rosto as faces belas, a) “Teus olhos deixarão de ser estrelas”;
E as tranças d’ouro converter-se em prata. RESOLUÇÃO:
A perda do brilho dos olhos indica a perda da beleza, da juventu-
de, da vitalidade, da energia de vida.
Pois se sabes que a tua formosura
Por força há de sofrer da idade os danos,
Por que me negas hoje esta ventura? felicidade

Guarda para seu tempo os desenganos, desilusões,


Gozemo-nos agora, enquanto dura, [decepções
Já que dura tão pouco a flor dos anos.

(GAMA, Basílio da. Obras Poéticas de Basílio da Gama.


Ensaio e edição crítica de Ivan Teixeira.
São Paulo: Edusp, 1996. p. 353.) b) “Verás murchar no rosto as faces belas”;
RESOLUÇÃO:
1 – Na primeira edição desse poema (1811), Marília é o nome da O vigor e o aspecto jovem do rosto desaparecerão, dando lugar
amada a quem se dirige o eu lírico. Já o editor que publicou esse texto a rugas e outras marcas físicas da senectude.
em 1830 alterou-o para Marfiza, crendo que assim evitaria confusão
com a já famosa Marília de Tomás Antônio Gonzaga. Essa mudança se
consagrou, mas era desnecessária, pois Marília era um nome muito
comum em quase todas as obras poéticas do século XVIII.

Texto 2

A MARIA DOS POVOS,


SUA FUTURA ESPOSA

c) “E as tranças d’ouro converter-se em prata”.


Discreta e formosíssima Maria,
RESOLUÇÃO:
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Os cabelos loiros embranquecerão.
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol e o dia:

Enquanto com gentil descortesia


O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança brilhadora,
Quando vem passear-te pela fria:

158 PORTUGUÊS
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(MODELO ENEM) – O primeiro texto pertence ao  (MODELO ENEM) – Os dois sonetos pertencem a duas
Arcadismo, enquanto o segundo faz parte do Barroco. Como é escolas literárias que, de maneira geral, apresentam ideais
comum à sua forma poemática, o soneto, esses poemas opostos. Ainda assim, como em grande parte dos poemas que
apresentam teor desenvolvem o mesmo tema, para convencer a destinatária a
a) lógico-reflexivo. aceitar o convite que lhe é feito, apresenta-se como argumento
b) narrativo-fabulista. a) a aceitação serena da velhice como fato inevitável.
c) alegórico-místico. b) o contraste entre a postura masculina e a feminina.
d) crítico-político. c) o tempo como destruidor da beleza e da juventude.
e) irônico-depreciativo. d) o rebuscamento da linguagem por meio de metáforas.
RESOLUÇÃO: e) a valorização da vida em contato com a natureza.
Os dois poemas apresentam uma organização lógica de ideias, o RESOLUÇÃO:
que inclui a relação de causa e consequência (o tempo passará e, Os dois sonetos trabalham a ideia de que o tempo
com isso, chegará o envelhecimento, não se poderá mais fazer o inevitavelmente passa, destruindo a beleza e a juventude, o que
que se fazia antes), de maneira a convencer a destinatária da impediria, na visão do eu lírico de ambos os poemas, de se
mensagem a tomar uma atitude. A abordagem, portanto, dá-se de aproveitar a vida. Esse fato funciona como argumento para que se
maneira lógico-reflexiva. [Competência 1, Habilidade 1 e aproveite com urgência o momento presente. [Competência 5,
Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.] Habilidade 17 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: A Resposta: C

 (MODELO ENEM) – Os dois sonetos, por pertencerem a


momentos literários distintos, apresentam diferenças na
linguagem e na visão de mundo. Ainda assim, coincidem ao
provocarem uma movimentação de ideias com o objetivo de
a) valorizar o contato com a natureza.
b) defender a simplicidade social.
c) incentivar a fruição do presente.
d) enaltecer a beleza feminina.
e) relativizar os males da velhice.  (MODELO ENEM) – Na produção de um texto, diversos
RESOLUÇÃO: expedientes linguísticos são utilizados para a realização de
O tópos abordado nos dois sonetos é o carpe diem (“colhe o dia”, determinados objetivos. Nos dois sonetos em análise, em
expressão do poeta latino Horácio, séc. I a.C.), ou seja, a defesa da
fruição do momento presente. [Competência 5, Habilidade 17 das
nome de sua proposta persuasiva é empregado procedimento
Matrizes do ENEM.] gramatical ligado a(à)
Resposta: C a) concordância ideológica.
b) verbos no imperativo.
c) presença de reticências.
d) advérbios de negação.
e) interlocutor inacessível.
RESOLUÇÃO:
Os verbos no imperativo (“Guarda para seu tempo os
 Destaque um trecho de cada poema que comprove o tema desenganos” e “Gozemo-nos agora” no texto 1 e “Goza, goza da
identificado no teste anterior. flor da mocidade” e “Não aguardes” no texto 2) permitem
perceber que os sonetos utilizam a função conativa da linguagem,
RESOLUÇÃO:
o que serve de estratégia de convencimento, de persuasão do
Os trechos que deixam patente o tema do carpe diem são
destinatário da mensagem, as respectivas amadas. [Competência 6,
“Gozemo-nos agora” (texto 1) e “Goza, goza da flor da mocidade”
Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
(texto 2).
Resposta: B

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Texto para as questões de a . c) vincular as competências artísticas ao local em que são


desenvolvidas.
LIRA I d) contrastar os ideais da burguesia capitalista aos da classe
rural pobre.
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, e) associar a riqueza do agronegócio à felicidade nas relações
Que viva de guardar alheio gado, amorosas.
De tosco trato, de expressões grosseiro, RESOLUÇÃO:
Dos frios gelos e dos sóis queimado. O eu lírico se envaidece de sua autossuficiência, já que mora em
Tenho próprio casal e nele assisto; propriedade rural – casa própria e tudo o que come, bebe e veste vem de suas
propriedades. Envaidece-se também de não ser uma pessoa rude,
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; [moro
grosseira. Além disso, elogia sua boa forma, seus dotes artísticos
Das brancas ovelhinhas tiro o leite e o respeito que lhe têm os demais pastores. Enfim, fala mais de
E mais as finas lãs, de que me visto. si mesmo do que daquela que procura conquistar. [Competência
6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Graças, Marília bela,
Resposta: B
Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte, rosto


Dos anos inda não está cortado;
Os Pastores que habitam este monte
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
O que quer dizer o refrão “Graças, Marília bela, / Graças à
Que inveja até me tem o próprio Alceste: minha Estrela!”?
RESOLUÇÃO:
Ao som dela concerto a voz celeste harmonizo, acompanho
Por meio do refrão, o eu lírico expressa o fato de que ele se
Nem canto letra que não seja minha. [de forma harmoniosa considera uma pessoa de sorte, favorecida por sua boa sina.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura, sorte


Só apreço lhes dou1, gentil pastora,
Depois que o teu afeto me segura
Que queres do que tenho ser Senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte e prado; campo
Porém, gentil pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.
Graças, Marília bela,
(MODELO ENEM) – O eu lírico demonstra, de maneira
Graças à minha Estrela!
insistente, a consciência que tem dos seus bens e dotes.
Ainda assim, considera que a valorização positiva (o apreço) de
(...) tudo o que possui depende
a) da extensão de seu rebanho, suficiente para cobrir monte e
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.
prado.
In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos Inconfidentes.
b) do reconhecimento de sua superioridade como a de um
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 573.)
monarca.
c) do fato de Marília desejar ser “Senhora” de tudo o que
1 – Só apreço lhes dou: só lhes dou valor.
pertence a ele.
d) da capacidade de seus bens e dotes garantirem uma vida
(MODELO ENEM) – O poema apresentado é exemplar de confortável.
um fato marcante da lírica de Tomás Antônio Gonzaga: a e) da possibilidade de uma vida dedicada ao trabalho dar bens
maneira com a qual o eu lírico aborda a amada na intenção de valiosos.
conquistá-la. Tal fenômeno se percebe pelo fato de o RESOLUÇÃO:
enunciador O eu lírico condiciona o apreço aos seus bens e dotes à sua união
amorosa com Marília. Em outras palavras, a valorização positiva
a) considerar superior sua realidade rural à da amada, que é
dos bens do eu lírico depende de Marília querer tornar-se
urbana. “Senhora” de tudo o que ele tem. [Competência 6, Habilidade 18
b) falar mais de suas qualidades do que dos dotes do alvo de das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C
sua afeição.

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Viagem a Citera (1717), de Antoine Watteau (1684-1721). Óleo sobre tela, 1,29 x 1,94 m, Museu do Louvre, Paris. – Fotografia:
G. DAGLI ORTI / DEA / Album / Fotoarena.

Antoine Watteau, inserido no seu tempo, produziu uma arte com valores de sua época. É o que se percebe em Viagem a Citera, que retrata a ilha
que é morada de Vênus, a deusa romana do amor. Nesse ambiente bucólico, as diferentes figuras da pintura podem entregar-se aos deleites bem
ao gosto da cultura greco-romana. No entanto, o vestuário refinado que utilizam revela não só a frivolidade que marcou o período, mas também a
adaptação dos ideais clássicos ao contexto social do século XVIII. Esse procedimento também é detectável nos poemas do Arcadismo, como os de
Marília de Dirceu (1792), de Tomás Antônio Gonzaga.

José BASÍLIO DA GAMA (1741-1795): Nasceu em São José do Rio das Mortes (depois
São José del Rei, hoje Tiradentes), Minas Gerais, e faleceu em Lisboa, Portugal. Estudou
no colégio de jesuítas do Rio de Janeiro, a grande escola que havia então no Brasil. Não
chegou a ordenar-se padre, pois, antes que isso ocorresse, houve a expulsão dos
jesuítas, ordenada por Pombal, em 1759. Em 1760, viajou para a Itália, onde teve a
proteção dos jesuítas (vistos como inimigos por Pombal). Indo para Portugal, onde
pretendia estudar na Universidade de Coimbra, foi expulso de lá para Angola, acusado
de “jesuitismo”. Com um epitalâmio (poema que celebra um casamento) dedicado à
filha de Pombal, conseguiu chamar a atenção do Marquês, que lhe perdoou e o nomeou
funcionário da Secretaria do Reino. Basílio converteu-se ao pombalismo, foi fiel ao
Marquês mesmo quando, com a morte de D. José e a subida ao trono de D. Maria I, em
1777, o poderoso ministro caiu em desgraça. Cultivou tanto a poesia lírica quanto a épica. Seu poema O Uraguai é
a primeira tentativa, em língua portuguesa, de produção do gênero épico não inspirada em Os Lusíadas.

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Manuel Antônio de Almeida: Memórias Palavras-chave:


• Dessacralização romântica
34 de um Sargento de Milícias: o narrador • Tipos sociais do Rio Colonial

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e . d) irônico, podendo ser substituída, sem pre- que o vemos empossado e que exercia, como
juízo do sentido original, por “não desem- dissemos, desde tempos remotos. Mas viera
O major era pecador antigo, e no seu penhava nenhuma atividade assistencial”. com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê,

tempo fora daqueles de que se diz que não e) denotativo, apontando para a seguinte uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das

deram o seu quinhão ao vigário: restava-lhe praças de Lisboa, saloia2 rechonchuda e


ideia a respeito do major: “não reconhecia
bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça,
ainda hoje alguma cousa que às vezes lhe seus erros perante o pároco”.
não era nesse tempo de sua mocidade mal-
recordava o passado: essa alguma cousa era a Resolução
apessoado, e sobretudo era maganão3. Ao sair
Maria-Regalada, que morava na prainha. A referência da expressão “dar o seu quinhão
do Tejo, estando a Maria encostada à borda do
Maria-Regalada fora no seu tempo uma ao vigário” é, na origem, de ordem religiosa,
navio, o Leonardo fingiu que passava distraído
mocetona de truz1, como vulgarmente se diz: mas, tal como empregada no texto, é de
por junto dela e, com ferrado sapatão,
era de um gênio sobremaneira folgazão, vivia ordem apenas moral, comportamental, como
assentou-lhe uma valente pisadela no pé
em contínua alegria, ria-se de tudo e, de cada confirma o exemplo apresentado (o “pecado”
direito. A Maria, como se já esperasse por
vez que se ria, fazia-o por muito tempo e com do major era Maria-Regalada).
aquilo, sorriu-se, como envergonhada do
muito gosto; daí é que vinha o apelido — Resposta: A
gracejo, e deu-lhe também, em ar de disfarce,
regalada — que haviam ajuntado a seu nome.
Isto de apelidos era no tempo destas his-
 (MACKENZIE – adaptado – MODELO
um tremendo beliscão nas costas da mão
esquerda. Era isto uma declaração em forma,
ENEM) – Um texto é mais do que um
tórias uma cousa muito comum; não estra- segundo os usos da terra: levaram o resto do
conjunto de frases e orações — é a ordenação
nhem, pois, os leitores que muitas das per- dia de namoro cerrado; ao anoitecer, passou-
desses elementos de maneira que a relação
sonagens que aqui figuram tenham esse se a mesma cena de pisadela e beliscão, com
entre eles acabe dando sentido à mensagem.
apêndice ao seu nome. a diferença de serem desta vez um pouco
Coerente com esse quesito, a frase que, no
(Manuel Antônio de Almeida, mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois
contexto, pode ser corretamente entendida
Memórias de um Sargento de Milícias) amantes tão extremosos e familiares, que
como uma consequência é:
pareciam sê-lo de muitos anos.
1 – De truz: de primeira ordem, magnífica. a) “... essa alguma cousa era a Maria-Regalada...”
(Manuel Antônio de Almeida,
b) “... Maria-Regalada fora no seu tempo uma
 (MACKENZIE – adaptado – MODELO mocetona de truz...”
Memórias de um Sargento de Milícias, cap. I)

ENEM) – Com um estilo bastante expressivo, c) “... era de um gênio sobremaneira


1 – Algibebe: vendedor de roupas ordinárias.
Manuel Antônio de Almeida apresenta, por folgazão...”
2 – Saloia: camponesa, aldeã.
meio de uma linguagem intensamente d) “... fazia-o por muito tempo e com muito
3 – Maganão: namorador, gracejador.
colorida, sua visão a respeito das gosto...”
e) “... não estranhem, pois, os leitores...”
personagens. Seguindo esse costume, o autor
Resolução
 (FUVEST) – O trecho “fazendo-se-lhe
utilizou a oração “não deu o seu quinhão ao justiça” mantém com o restante do período
A consequência expressa no trecho transcrito
vigário” em sentido em que aparece uma relação de
na alternativa e tem como causa a afirmação
a) figurado, de maneira que ela deve ser a) causa.
de que, na época, os apelidos eram comuns.
entendida assim: “não agia em b) consequência.
Resposta: E
conformidade com a moral e os bons c) tempo.
costumes”.
Texto para o teste . d) contradição.
b) pejorativo, para levar à compreensão do e) condição.
seguinte traço pecaminoso da Resolução
Sua história tem pouca coisa de notável.
personagem: recusava-se a pagar o dízimo. O sentido condicional do gerúndio fica
Fora Leonardo algibebe1 em Lisboa, sua
c) metafórico, com a qual o narrador pátria; aborrecera-se, porém, do negócio e explícito quando o desenvolvemos em “se lhe
caracteriza o traço de incredulidade da viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe fizer/fizermos justiça”.
personagem com relação à fé católica. por proteção de quem, alcançou o emprego de Resposta: E

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Exercícios Propostos

Texto para as questões de  a . b) revela os preconceitos sociais do escritor, que retrata de


maneira cômica as classes populares, mas de maneira
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo respeitosa a aristocracia e o clero.
algibebe1 em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém, do c) rebaixa as relações sentimentais, submetendo-as a seus
negócio e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por aspectos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames
proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos defendidos pelo Arcadismo.
empossado e que exercia, como dissemos, desde tempos d) opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das
remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer relações amorosas, predominante na prosa do Romantismo
o que, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças brasileiro.
de Lisboa, saloia2 rechonchuda e bonitota. O Leonardo, e) evidencia a brutalidade naturalizada das relações inter-
fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua raciais, própria do contexto colonial escravista do Brasil.
mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão3. Ao RESOLUÇÃO:
sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Memórias de um Sargento de Milícias é um romance notório pelo
Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela e, com seu distanciamento das características convencionalmente
atribuídas às obras românticas, como, por exemplo, a idealização
ferrado sapatão, assentou-lhe uma valente pisadela no pé dos protagonistas ou, ainda, a visão maniqueísta. [Competência
direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se, 5, Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também, em ar Resposta: D
de disfarce, um tremendo beliscão nas costas da mão
esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os
usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao
 (MODELO ENEM) – Um romance pode ser avaliado pela
anoitecer, passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão,
relação que mantém com a tradição literária, que pode ser
com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes;
tanto de obediência quanto de subversão. Nesse sentido, a
e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos
oração que inicia o trecho em análise revela que Memórias de
e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
um Sargento de Milícias
Quando saltaram em terra, começou a Maria a sentir
a) retomou da poesia romântica os processos estilísticos na
certos enojos; foram os dois morar juntos; e daí a um mês
caracterização do estabelecimento de uma relação
manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do
amorosa.
beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidá-
b) associou os fatos narrativos a eventos históricos, como a
vel menino de quase três palmos de comprido, gordo e
vinda da Família Real Portuguesa, que alterou a sociedade
vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo
brasileira.
depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar
c) desvalorizou os eventos da realidade (história) em nome da
o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que
fantasia idealizadora romântica (estória), mais encantadora.
temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de
d) rejeitou o padrão romântico, ao deixar claro de antemão que
quem falamos é o herói desta história.
a narrativa a ser apresentada lida com acontecimentos
prosaicos.
(Manuel Antônio de Almeida,
e) qualificou a cultura europeia como superior à brasileira, já
Memórias de um Sargento de Milícias, cap. I)
que era marcada por fatos até então dignos de serem
narrados.
1 – Algibebe: vendedor de roupas ordinárias, mascate.
2 – Saloia: camponesa, aldeã. RESOLUÇÃO:
3 – Maganão: namorador, gracejador. A tradição literária, principalmente no Romantismo, procurava
temas envolvendo grandes feitos heroicos, histórias
extraordinárias, com eventos surpreendentes. A frase que inicia o
texto em análise (“Sua história tem pouca coisa de notável”)
 (FUVEST – modificado – MODELO ENEM) – Em um mostra que se irá falar de uma personagem cuja biografia
texto, muitas vezes o sentido é garantido pelo jogo entre subverte o padrão romântico, pois tal biografia não apresenta
acontecimentos surpreendentes. [Competência 5, Habilidade 16
informações implícitas e explícitas. Assim, no excerto acima, o das Matrizes do ENEM.]
modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Resposta: D
Leonardo e Maria
a) manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que
enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao
refinamento dos brasileiros.

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Aclamação de D. João VI no Rio de Janeiro (1839), de Jean-Baptiste Debret (1768-1848). Litografia, 24,4 x 35,3 cm
em f. 52,6 x 34,6, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

Tanto o desenho de Debret quanto a narrativa de Manuel Antônio de Almeida são registros da mesma
sociedade gerada pela chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, fato que provocou alterações profundas
em nosso país. A mudança dos portugueses Leonardo Pataca e Maria Hortaliça para terras brasileiras, enfocada
no texto desta aula, faz parte dessa dinâmica.

 (MODELO ENEM) – A maneira como os elementos de um  (MODELO ENEM) – Memórias de um Sargento de Milícias
texto são organizados e combinados ajuda no estabelecimento é classificado como romance de costumes “do tempo do rei”
de sentidos tanto explícitos quanto implícitos. Assim, os (1808-1821), pois sua narrativa permite entrever o mecanismo
trechos “O Leonardo fingiu que passava distraído por junto de funcionamento da sociedade carioca do início do século XIX
dela”, “A Maria, como se já esperasse por aquilo” e “sorriu-se, e hábitos brasileiros que perduram nos dias atuais. É o que se
como envergonhada do gracejo” revelam um costume social comprova no trecho “não se sabe por proteção de quem”,
segundo o qual que, tendo em vista o contexto, permite inferir
a) a discriminação sexista se volta para a satisfação masculina. a) a alienação como constante no comportamento brasileiro.
b) a conquista amorosa se dá por meio de um jogo de b) o misticismo como ferramenta de explicação do meio.
encenação. c) a caridade cristã como manifestação de solidariedade.
c) o aspecto cômico se torna obstáculo para a união afetiva. d) o apadrinhamento como forma de obtenção de sustento.
d) o encontro casual se transforma em vexame quando em e) a ignorância como obstáculo para o desenvolvimento social.
público. RESOLUÇÃO:
e) a violência social se mascara na relação entre metrópole e O trecho “não se sabe por proteção de quem” indica que
Leonardo Pataca obteve seu cargo, seu emprego, graças ao apoio,
colônia. à intervenção de alguém e não por mérito profissional próprio.
RESOLUÇÃO: Configura-se aqui o mecanismo do apadrinhamento, ou seja, do
Nos trechos destacados no enunciado, expressões como “fingiu”, favorecimento, da proteção, o empenho de alguém. [Competência
“como se já esperasse” e “como envergonhada” mostram que a 5, Habilidade 15 das Matrizes do ENEM.]
conquista amorosa, fato relatado no primeiro parágrafo do texto Resposta: D
em análise, é feita não de maneira direta, mas por meio de um
processo marcado por fingimento, encenação: Leonardo Pataca
fez de conta que andava sem perceber a presença de Maria Saloia
(na verdade, já estava interessado nela); ela, por sua vez,
percebendo as intenções do cortejador (“como se já esperasse”),
fez de conta que estava envergonhada, o que serviu para disfarçar
o que no livro é tratado com certo humor: a indisposição da
cortejada para a fidelidade. [Competência 5, Habilidade 15 das
Matrizes do ENEM.]
Resposta: B

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 (FUVEST – adaptado – MODELO ENEM) – A qualidade No trecho lido, o narrador aponta como fato mais
de um texto literário pode ser verificada pela coerência que se importante entre os apresentados
estabelece entre os diferentes elementos que o compõem. É a) a maneira como o meirinho Leonardo recebeu o apelido de
o que se nota no excerto em análise, pois o narrador, ao relatar Pataca.
fatos pitorescos e humorísticos, emprega palavras com essas b) o beliscão que Maria da Hortaliça aplicou na mão de
mesmas características populares, como se verifica em Leonardo Pataca.
a) “aborrecera-se porém do negócio”. c) o nascimento de Leonardo, filho de Leonardo Pataca e
b) “de que o vemos empossado”. Maria Hortaliça.
c) “rechonchuda e bonitota”. d) a atividade dos oficiais de justiça no Rio de Janeiro à época
d) “envergonhada do gracejo”. de D. João VI.
e) “amantes tão extremosos”. e) o casamento do português Leonardo Pataca com Maria da
RESOLUÇÃO: Hortaliça.
O gosto que Leonardo Pataca teria pela exuberância e por outros RESOLUÇÃO:
encantos femininos é apresentado, na lógica do texto, como algo A resposta a este teste pode ser comprovada na passagem: “E
cômico e de extração popular. Coerente com esse fato, a este nascimento [o de Leonardo] é certamente de tudo o que
expressão “rechonchuda e bonitota” imprime um caráter temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem
igualmente pitoresco e saboroso ao evento narrado, ao contrário falamos é o herói desta história.”
das outras expressões consignadas nas demais alternativas, que Resposta: C
não têm essa característica. [Competência 6, Habilidade 18 das
Matrizes do ENEM.]
Resposta: C

 (FUVEST – adaptado – MODELO ENEM) – A observação


do ponto de vista assumido pelo enunciador é tarefa importante
para a análise de um romance. Assim, atentando-se, no trecho
apresentado, para os elementos descritivos, o vocabulário e,
especialmente, a lógica da exposição, verifica-se que a posição
do narrador frente aos fatos narrados caracteriza-se pela
atitude
a) crítica, em que os costumes são analisados e submetidos a
julgamento severo.
b) lírico-satírica, apontando para um juízo moral pressuposto.
c) cômico-irônica, com abstenção de juízo moral definitivo.
d) analítica, em que o narrador onisciente prioriza seu
afastamento do narrado.
e) imitativa ou de identificação, que suprime a distância entre
o narrador e o narrado.
RESOLUÇÃO:
Memórias de um Sargento de Milícias é, como quer a melhor
crítica, um romance sem culpa e, também por isso, excêntrico à
tradição heroica e galante do Romantismo. O narrador onisciente
neutro observa e retrata, divertido, tipos que compõem o Rio no
tempo do Rei. [Competência 5, Habilidade 16 das Matrizes do
ENEM.]
Resposta: C

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O protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias é (MODELO ENEM) – Todo texto, inclusive o literário, é
caracterizado por seu próprio pai, Leonardo Pataca, como “filho eficiente quando mantém uma relação coerente entre o todo e
de uma pisadela e de um beliscão”. Com base no texto em as partes que o compõem. Nesse sentido, a expressão “filho
análise, justifique tal caracterização. de uma pisadela e de um beliscão” é coerente com o tom
RESOLUÇÃO: assumido por boa parte de Memórias de um Sargento de
Leonardinho é caracterizado dessa maneira porque foi assim que Milícias porque revela
seus pais se aproximaram e mantiveram um relacionamento
amoroso, por meio dessa “declaração em forma”, que consistiu,
a) a origem cômica e vulgar do protagonista.
como era dos “usos da terra”, em uma pisadela e em um beliscão: b) o repúdio às questões de linhagem e riqueza.
“Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela e, com c) o destaque de padrões sociais burgueses.
ferrado sapatão, assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito.
d) a idealização da cultura antiga popular.
A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se, como
envergonhada do gracejo, e deu-lhe também, em ar de disfarce, e) a representação da violência doméstica.
um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda.” Essa RESOLUÇÃO:
pisadela e beliscão foram o primeiro ato para gerar Leonardinho. A expressão usada por Leonardo Pataca para caracterizar seu filho
faz referência ao evento cômico em que os progenitores do
protagonista se conheceram e, unidos, geraram a personagem
principal de Memórias de um Sargento de Milícias. Essa
passagem expõe o fato de que a origem de seu filho não foi nada
nobre, mas vulgar, ou seja, inserida em eventos comuns,
corriqueiros, comezinhos. [Competência 6, Habilidade 18 das
Matrizes do ENEM.]
Resposta: A

MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA (1831-1861): Nasceu no Rio de Janeiro, onde foi jor-
nalista, cronista, romancista e crítico literário. De junho de 1852 a julho de 1853 publicou,
anonimamente e aos poucos, os folhetins que compõem Memórias de um Sargento de
Milícias, reunidos em livro em 1854 (1.° volume) e 1855 (2.° volume), assinados com o
pseudônimo “Um Brasileiro”. O seu nome apareceu apenas na 3.a edição, póstuma, em
1863. Faleceu próximo à cidade de Macaé, Rio, no naufrágio do vapor Hermes, quando
viajava a Campos, em campanha eleitoral.

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Palavras-chave:
Rousseau: o “bom selvagem” • Rousseau • Voltaire
35 • Iluminismo • “Bom selvagem”

Exercícios Resolvidos

Texto para o teste . e) A realidade de atraso social, político e eco- Resolução


nômico do Brasil Colônia está Segundo o texto, o homem civil é uma
Torno a ver-vos, ó montes: o destino representada esteticamente no poema unidade fracionária do homem natural (“o
Aqui me torna a pôr nestes outeiros, pela referência, na última estrofe, à inteiro absoluto”), “que se liga ao
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros transformação do pranto em alegria. denominador, e cujo valor está em sua relação
Pelo traje da Corte, rico e fino. Resolução com o todo”. Além disso, o texto afirma que
A oposição cidade-campo, lugar-comum da “as boas instituições sociais são as que
temática árcade, é assimilada, no caso de Cláudio melhor sabem desnaturar o homem”.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Manuel da Costa, à oposição Metrópole-Colônia. Portanto, conclui-se que o homem civil é
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
O poeta, que viveu longamente em Portugal, “formado a partir do desvio de sua própria
Vendo correr os míseros vaqueiros
onde experimentou a civilidade lisboeta, voltando natureza”, como declarado na alternativa a.
Atrás de seu cansado desatino.
ao Brasil confrontou-se com a aspereza dos Resposta: A
“montes” e “outeiros” de sua Minas natal, que
Se o bem desta choupana pode tanto,
tematiza em seus poemas bucólicos. Texto para o teste .
Que chega a ter mais preço e mais valia
Resposta: B
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto. A passagem do estado de natureza para o

Aqui descanso a louca fantasia,


Texto para o teste . estado civil determina no homem uma
mudança muito notável, substituindo na sua
E o que até agora se tornava em pranto O homem natural é tudo para si mesmo; é conduta o instinto pela justiça e dando às suas
Se converta em afetos de alegria. a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só ações a moralidade que antes lhe faltava. E só
(COSTA, Cláudio Manuel da. se relaciona consigo mesmo ou com seu então que, tomando a voz do dever o lugar do
In: PROENÇA FILHO, Domício, semelhante. O homem civil é apenas uma impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o
A Poesia dos Inconfidentes. unidade fracionária que se liga ao homem, até aí levando em consideração
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 78-79.)
denominador, e cujo valor está em sua relação apenas sua pessoa, vê-se forçado a agir,

 Considerando o soneto de
com o todo, que é o corpo social. As boas
instituições sociais são as que melhor sabem
baseando-se em outros princípios e a consultar
a razão antes de ouvir suas inclinações.
Cláudio Manuel da Costa e
desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência (ROUSSEAU, J-J. Do Contrato Social.
os elementos constitu- Trad. Lourdes Santos Machado.
absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir
tivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção São Paulo: Nova Cultural, 1999. p.77.)
o eu para a unidade comum, de sorte que
correta acerca da relação entre o poema e o
cada particular não se julgue mais como tal, e
momento histórico de sua produção.
sim como uma parte da unidade, e só seja
 (UEL – modificado – MODELO ENEM) –
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados Com base no texto, assinale a alternativa correta.
percebido no todo.
na primeira estrofe, são imagens relacio- a) O homem civil adquire uma liberdade
(ROUSSEAU, J-J. Emílio ou da Educação.
nadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde natural e um direito ilimitado.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.)
o poeta se vestiu com traje “rico e fino”. b) O homem no estado de natureza age
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole,  A visão de Rousseau em segundo uma razão natural.
como núcleo do poema, revela uma relação à natureza huma- c) No estado civil, dever e direito sobrepõem-se
contradição vivenciada pelo poeta, dividido na, conforme expressa o a impulso físico e apetite.
entre a civilidade do mundo urbano da texto, diz que d) A liberdade natural é guiada pelo senso de
Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia. a) o homem civil é formado a partir do desvio dever e justiça.
c) O bucolismo presente nas imagens do de sua própria natureza. e) A conduta dos homens no estado civil são
poema é elemento estético do Arcadismo b) as instituições sociais formam o homem os impulsos e apetites.
que evidencia a preocupação do poeta de acordo com a sua essência natural. Resolução
árcade em realizar uma representação c) o homem civil é um todo no corpo social, A resposta a este teste encontra-se nos
literária realista da vida nacional. pois as instituições sociais dependem trechos: “A passagem do estado de natureza
d) A relação de vantagem da “choupana” so- dele. para o estado civil determina no homem uma
bre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formu- d) o homem é forçado a sair da natureza para mudança muito notável (...), tomando a voz do
lação literária que reproduz a condição se tornar absoluto. dever o lugar do impulso físico, e o direito o
histórica paradoxalmente vantajosa da e) as instituições sociais expressam a natureza lugar do apetite”.
Colônia sobre a Metrópole. humana, pois o homem é um ser político. Resposta: C

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Exercícios Propostos

Texto para os testes de  a .  (MODELO ENEM) – No pensamento filosófico, a análise


de um tema é feita de maneira a estabelecer uma relação
Enquanto os homens se contentaram com suas caba- lógica entre as diversas partes de um raciocínio. Dessa forma,
nas rústicas, enquanto se limitaram a costurar com Rousseau apresenta em seu texto duas condições existenciais
espinhos ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitar-se para a produção de uma série de conclusões marcada pela
com plumas e conchas, a pintar o corpo com várias cores, relação de
a aperfeiçoar ou embelezar seus arcos e flechas, a cortar a) adição e proporcionalidade.
com pedras agudas alguns instrumentos grosseiros de b) crítica e aceitação.
música — em uma palavra: enquanto só se dedicaram a c) causa e consequência.
obras que um único homem podia criar, e às artes que não d) condição e concessão.
solicitavam o concurso de várias mãos, viveram tão livres, e) adição e temporalidade.
sadios, bons e felizes quanto o poderiam ser por sua RESOLUÇÃO:
natureza, e continuaram a gozar entre si das doçuras de um Rousseau apresenta em seu texto uma extensa enumeração de
exemplos que pertencem a dois grupos opostos: o primeiro
comércio independente; mas, desde o instante em que um
refere-se a ações de homens autossuficientes e independentes, e
homem sentiu necessidade do socorro de outro, desde que o segundo refere-se a feitos de homens dependentes de outros.
se percebeu ser útil a um só contar com provisões para dois, Esses universos constituirão causas para duas consequências
desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o opostas: para o primeiro caso, a felicidade humana; para o
segundo, a infelicidade. [Competência 6, Habilidade 18 das
trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas transfor- Matrizes do ENEM.]
maram-se em campos aprazíveis que se impôs regar com o Resposta: C
suor dos homens e nos quais logo se viu a escravidão e a
miséria germinarem e crescerem com as colheitas.

(ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Origem


e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens.
Tradução de Lurdes Santos Machado. In: Os Pensadores.  (MODELO ENEM) – No encadeamento de suas ideias,
São Paulo: Editora Abril, [s.d.]. vol. 6, p. 264-265.)
Rousseau organiza o pensamento de forma a expressar de
maneira lógica e convincente a sua interpretação da realidade.
 (MODELO ENEM) – Determinados termos assumem Dessa forma, o filósofo argumenta na defesa de seu ponto de
num texto a função de contribuir para a progressão de ideias. vista a respeito da superioridade do homem primitivo em
É o que ocorre no excerto de Rousseau quando, para introduzir relação ao civilizado, por meio da oposição entre
o resumo de uma enumeração de exemplos, o autor utiliza a a) natureza / técnica / artesanato x artificialidade /
expressão conhecimento / industrialização.
a) “enquanto”. b) instinto / sobrevivência / rudeza x intelectualidade /
b) “em uma palavra”. solidariedade / refinamento.
c) “quanto o poderiam ser”. c) paz / harmonia / civilidade x conflito / desarmonia / feiura.
d) “entre si”. d) independência / liberdade / igualdade x dependência /
e) “a um só”. submissão / desigualdade.
RESOLUÇÃO: e) utilidade / realidade / tecnologia x inutilidade / falsidade /
O texto inicia-se com uma sequência de exemplos de felicidade originalidade.
do “bom selvagem”: morada em cabanas rústicas, roupas feitas RESOLUÇÃO:
de pele e costuradas com espinhos ou cerdas, enfeite com Rousseau crê que o homem primitivo seria superior, pois era
plumas e conchas, pintura corporal, uso de arcos e flechas, uso de autossuficiente, produzia tudo o de que precisava, o que lhe
pedras agudas para a confecção de instrumentos musicais garantia a liberdade de não depender dos outros. A partir do
rústicos. A expressão “em uma palavra” introduz o resumo dessa instante em que o homem se civilizou, seu estilo de vida perdeu a
enumeração, ou seja, o que ela em suma representa: o simplicidade, o que o tornou dependente de outros homens e
contentamento obtido pela autossuficiência e consequente submisso a eles. Foi nesse instante que surgiu o costume de se
independência do homem, o que vem indicado logo a seguir no acumular provisões, ou seja, que surgiu a noção de propriedade.
trecho “se dedicaram a obras que um único homem podia criar”. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
[Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.] Resposta: D
Resposta: B

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 (MODELO ENEM) – Como filósofo, Rousseau procura c) irônica, pois, ao dirigir-se de forma polida ao autor da defesa
analisar de maneira crítica a realidade que o cerca. Por meio da volta à vida natural, discorda desse ideal.
desse procedimento, consegue identificar que a gênese da d) divergente, pois, ao desmoralizar o ponto de vista
desigualdade entre os homens está rousseauniano, deixa clara uma predileção por ideais
a) na escassez de alimentos naturais. semelhantes aos do Arcadismo.
b) no esgotamento dos recursos minerais. e) condescendente, pois, ao demonstrar uma postura
c) no desejo de acúmulo de provisões. simpática ao mito do “bom selvagem”, revela a crença na
d) no comércio de caráter independente. salvação do mundo moderno.
e) na severidade dos meios geográficos. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: A forma polida com a qual Voltaire se dirige a Rousseau é
A resposta a este teste está na passagem: “desde que se percebeu ser percebida em expressões como “senhor”, “vosso”, “agradeço-vos
útil a um só contar com provisões par dois, desapareceu a igualdade”. a remessa”. É também captada quando o enunciador chama o
[Questão interdisciplinar, pois está ligada à área das Ciências receptor de espirituoso. Tais expressões preparam o caminho
Humanas: Competência 4, Habilidade 18 das Matrizes do Enem.] para outras, irônicas, como a declaração de que o livro
Resposta: C rousseauniano inspira uma vontade de andar de quatro, desejo
impossibilitado por se tratar de um costume abandonado “há
Texto para as questões  e . cerca de sessenta anos”. Todo esse procedimento linguístico
serve para veicular a discordância de Voltaire em relação aos
ideais de Rousseau, que deram origem ao mito do “bom
Quando enviou a Voltaire o seu Discurso sobre a selvagem” e influenciaram tanto o Arcadismo como o
Origem da Desigualdade, com seus argumentos contra a Romantismo. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do
civilização, as letras e a ciência, e a favor do retorno à ENEM.]
Resposta: C
condição natural tal como vista em selvagens e animais,
Voltaire respondeu: “Recebi, senhor, vosso novo livro
contra a espécie humana, e agradeço-vos a remessa. (...)
Ninguém foi tão espirituoso como vós ao tentar nos
transformar em animais; ler o vosso livro faz com que
sintamos vontade de andar de quatro. No entanto, como
abandonei essa prática há cerca de sessenta anos, acho  Para Voltaire, o “homem é, por natureza, um animal de
que me é infelizmente impossível voltar a adotá-la”. (...) rapina”. E para Rousseau?
Voltaire estava convencido de que toda aquela denúncia RESOLUÇÃO:
da civilização era um absurdo infantil; que o homem estava Rousseau constrói o mito do “bom selvagem”, segundo o qual o
homem é bom por natureza, sendo depois corrompido pela
incomparavelmente em melhor situação na civilização do sociedade, tornando-se, assim, um opressor.
que na selvageria; ele informa a Rousseau que o homem é,
por natureza, um animal de rapina, e que a sociedade civili-
zada significa um acorrentamento desse animal, uma mitiga-
ção de sua brutalidade e a possibilidade do desenvolvimen-
to, através da ordem social, do intelecto e de seus deleites.

(DURANT, Will. História da Filosofia.


Tradução de Luís Carlos do Nascimento Silva.
In: Os Pensadores. São Paulo:
Nova Cultural, 1996. vol. 1, p. 240.)

 (MODELO ENEM) – Assim como Rousseau, Voltaire foi


filósofo do Iluminismo francês, movimento do século XVIII que
se caracterizou por intensa produção e circulação de ideias.
Essa efervescência intelectual estimulou o contato entre
diferentes pensamentos, o que possibilitou o discurso de
Voltaire (reproduzido acima), por meio do qual expressa, diante
dos postulados de Rousseau, uma postura
a) conciliadora, pois, em nome da liberdade de expressão,
procura enxergar aspectos positivos e negativos na defesa
da vida primitiva.
b) relativizante, pois consegue ver fundamento na existência
campesina quando atrelada à busca das ferramentas
primordiais de economia.

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Texto para as questões de a . RESOLUÇÃO:


O poema apresenta linguagem rebuscada, o que se comprova
Quem deixa o trato pastoril, amado1, pela necessidade de haver sete notas explicativas para tornar
algumas de suas passagens mais claras ao leitor comum. Além
Pela ingrata, civil correspondência2, disso, o soneto utiliza, de maneira intensa, as antíteses, que
Ou desconhece o rosto da violência, representam a oposição entre a realidade positiva do campo e a
Ou do retiro a paz não tem provado3. realidade negativa da cidade (amado x ingrata, paz x violência,
inocência x dissimulação, sinceridade x traição, verdade x
mentira, rico x pobre). [Competência 5, Habilidades 16 e 17 das
Que bem é ver nos campos trasladado Matrizes do ENEM.]
No gênio do Pastor, o da inocência4! Resposta: A
E que mal é no trato, e na aparência,
Ver sempre o cortesão dissimulado5!

Atente para o grupo de palavras abaixo, extraídas do soneto
em análise:

Ali respira amor, sinceridade; violência – dissimulado – sinceridade – traição –


Aqui sempre a traição seu rosto encobre; mentira – amado – verdade – paz – ingrata –
Um só trata a mentira, outro a verdade. inocência – variedade – bem – mal

Ali não há fortuna que soçobre6; a) Quais são os vocábulos e expressões que se referem ao
Aqui quanto se observa é variedade7: mundo urbano?
RESOLUÇÃO:
Oh! ventura do rico! Oh! bem do pobre!
São as palavras: violência, dissimulado, traição, mentira, ingrata,
variedade, mal.
(COSTA, Cláudio Manuel da. Obras.
In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos Inconfidentes.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 57.)

b) Quais são as palavras que se referem ao universo rural?


1 – O trato pastoril amado: a agradável convivência com os pastores, RESOLUÇÃO:
isto é, a vida campestre. São as palavras: sinceridade, amado, verdade, paz, inocência,
2 – Civil correspondência: as relações urbanas, isto é, a vida da bem.
cidade.
3 – Verso 4, ordem direta: Ou não tem provado (=não provou) a paz
do retiro.
4 – Versos 5-6: Como é bom ver o caráter da inocência transportado
para os campos no caráter do pastor. Em outras palavras: o “gênio do
pastor” é o próprio “gênio da inocência”. Que relação se pode estabelecer entre o pensamento de
5 – Cortesão dissimulado: o fingido homem da corte. A corte é a Rousseau e o soneto de Cláudio Manuel da Costa?
cidade.
RESOLUÇÃO:
6 – Verso 12: No campo, toda fortuna (riqueza ou felicidade) é
Tal como para Rousseau, para Cláudio Manuel da Costa há uma
segura, não sujeita a soçobrar, ser destruída, reduzida a nada.
relação de oposição entre a cidade (civilização) e o campo (natu-
7 – Verso 13: Na cidade, tudo o que se vê é variedade, ou seja, uma
reza). A vida urbana é condenada por sua mentira, falsidade,
multiplicidade de coisas que variam, mudam, não são seguras.
traição, enquanto o campo é celebrado como lugar de since-
ridade, inocência e felicidade.

(MODELO ENEM) – Cláudio Manuel da Costa, autor do


soneto apresentado, foi o responsável por inaugurar, em 1768,
o Arcadismo brasileiro, com a publicação de Obras Poéticas. É
natural, portanto, que sua poesia apresente a concomitância de
padrões estéticos tanto árcades quanto barrocos. Da primeira
escola, há no poema, por exemplo, a valorização da realidade
rural e o ataque ao universo urbano, ao passo que, da segunda,
se destacam
a) a linguagem rebuscada e o uso intenso de antíteses.
b) o emprego do soneto e a crítica seguindo a moral
contrarreformista.
c) o tom inflamado e o espírito revolucionário.
d) a defesa da natureza e a oposição ao progresso.
e) a valorização do amor e a da realidade pastoril.

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Leia a seguir um breve comentário acerca da ideologia rousseauniana do “bom selvagem”:

Neles [nos discursos Sobre as Ciências e as Artes e alimentação e sexo sem maiores dificuldades, e não é
Sobre a Origem da Desigualdade] Rousseau desenvolve a atingido pela angústia diante da doença e da morte. As
antítese fundamental entre a natureza do homem e os necessidades impostas pelo sentimento de autopreservação
acréscimos da civilização. As obras posteriores levam às — presente em todos os momentos da vida primitiva e que
últimas consequências esse pensamento que, mais do que impele o homem selvagem a ações agressivas — são contra-
simples ideia abstrata, é um sentimento radical. balançadas pelo inato sentimento de piedade que o impede
Em síntese, a civilização é vista por Rousseau como de fazer mal aos outros desnecessariamente. Desde suas
responsável pela degeneração das exigências morais mais origens, o homem natural, segundo Rousseau, é dotado de
profundas da natureza humana e sua substituição pela livre-arbítrio e sentido de perfeição, mas o desenvolvimento
cultura intelectual. A uniformidade artificial de comporta- pleno desses sentimentos só ocorre quando estabelecidas
mento, imposta pela sociedade às pessoas, leva-as a ignorar as primeiras comunidades locais, baseadas sobretudo no
os deveres humanos e as necessidades naturais. Assim grupo familiar. Nesse período da evolução, o homem vive a
como a polidez e as demais regras da etiqueta podem idade de ouro, a meio caminho entre a brutalidade das
esconder o mais vil e impiedoso egoísmo, as ciências e as etapas anteriores e a corrupção das sociedades civilizadas.
artes, com todo seu brilho exterior, frequentemente seriam Esta começa no momento em que surge a propriedade
máscaras da vaidade e do orgulho. privada.
A vida do homem primitivo seria feliz porque ele sabe
viver de acordo com suas necessidades inatas. Ele é (ARBOUSSE-BASTIDE, Paul. In: Os Pensadores
amplamente autossuficiente porque constrói sua existência (Prefácio). Tradução de Lurdes Santos Machado.
no isolamento das florestas, satisfaz as necessidades de São Paulo: Editora Abril, [s./d.]. vol. 6, p. XIII.)

Jean-Jacques ROUSSEAU VOLTAIRE (pronúncia aproxi-


(pronúncia aproximada: jã mada: voltérr; 1694-1778):
jáque ruçô; 1712-1778): Nas- Esse era o pseudônimo de
cido em Genebra, na Suíça, foi François-Marie Arouet (pro-
filósofo, escritor, teórico políti- núncia aproximada: françuá
co e compositor musical auto- marrí arruê). Foi poeta, ensaís-
didata. Uma das figuras mar- ta, dramaturgo, filósofo e histo-
cantes do Iluminismo francês, riador iluminista francês. Ata-
Rousseau é também conside- cou com veemência todos os
rado um precursor do Roman- abusos praticados pelo Antigo
tismo. Foi uma das principais Regime. As ideias presentes
inspirações ideológicas da segunda fase da Revolução em seus escritos estruturam uma teoria coerente, que
Francesa. Sua obra Do Contrato Social (1762) inspirou em muitos aspectos expressa a perspectiva do
muitos dos revolucionários e regimes nacionalistas e Iluminismo. Defendia o respeito ao domínio da lei e
opressivos subsequentes a esse período, por toda a baseava-se em sua convicção de que o poder devia ser
Europa continental. A crítica à organização da exercido de maneira racional e benéfica. Para ele, a
sociedade tal como estava constituída foi tema do sociedade devia ser reformada mediante o progresso
ensaio Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da da razão e o incentivo à ciência e tecnologia. Lutou por
Desigualdade entre os Homens (1755), em que a várias reformas na França, defendendo a liberdade de
desigualdade e a injustiça são apresentadas como fru- imprensa, um sistema imparcial de justiça criminal,
tos da competição e da hierarquia mal constituída. tolerância religiosa, tributação proporcional e redução
Rousseau ainda escreveu, entre outras obras, o dos privilégios da nobreza e do clero. Contribuiu para a
romance Nova Heloísa (1761), que serviu de modelo a Enciclopédia e é autor do Dicionário Filosófico (1764),
muitos romances posteriores, como Werther (Goethe, além de várias obras notáveis, entre as quais a divertida
1774), e o ensaio pedagógico O Emílio ou da Educação sátira Cândido ou o Otimismo, em que ridiculariza, com
(1762). Teve uma vida errante e buscou o isolamento, muito humor, a filosofia otimista de Leibniz (pronúncia
vindo a falecer em Ermenonville, perto de Paris. aproximada: láibnits).

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Memórias de um Sargento Palavras-chave:


• Anti-herói romântico
36 de Milícias: o protagonista • Tipos sociais do Rio Colonial

Exercícios Resolvidos

Texto para o teste . Resolução Texto para o teste .


Uma das características marcantes de Memó-
Os leitores estarão lembrados do que o rias de um Sargento de Milícias é a retratação
compadre dissera quando estava a fazer das classes sociais menos favorecidas. A Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de
castelos no ar a respeito do afilhado e pensan- excentricidade da obra reside, em grande bonita como de movediça e leve; um
do em dar-lhe o mesmo ofício que exercia, isto parte, em retratar a vida da arraia-miúda, o soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar,
é, daquele arranjei-me, cuja explicação prome- “zé-povinho”, cujo cotidiano está relatado no outro de igual natureza a fazia revoar, e voava
temos dar. Vamos agora cumprir a promessa. excerto. Em tal ambiente, a situação familiar e revoava na direção de quantos sopros por
Se alguém perguntasse ao compadre por do compadre não era atípica. ela passassem; isto quer dizer, em linguagem
seus pais, por seus parentes, por seu nasci- Resposta: D
chã e despida dos trejeitos da retórica, que ela
mento, nada saberia responder, porque nada
sabia a respeito. Tudo de que se recordava de Texto para o teste . era uma formidável namoradeira, como hoje
se diz, para não dizer lambeta, como se dizia
sua história reduzia-se a bem pouco. Quando Se algum ponto do Novo Mundo merece, por naquele tempo. Portanto não foram de modo
chegara à idade de dar acordo da vida, achou-se sua situação e condições naturais, tornar-se um algum mal recebidas as primeiras finezas do
em casa de um barbeiro que dele cuidava, dia teatro de grandes acontecimentos, um foco
Leonardo, que desta vez se tornou muito mais
porém que nunca lhe disse se era ou não seu de civilização e cultura, um empório do comércio
desembaraçado, quer porque já o negócio
pai ou seu parente, nem tampouco o motivo mundial é, ao meu ver, o Rio de Janeiro.
(POHL, Johann Emanuel. Viagem no Interior do
com Luisinha o tivesse desasnado, quer
por que tratava da sua pessoa. Também nunca
Brasil Empreendida nos Anos de 1817 a 1821. porque agora fosse a paixão mais forte,
isso lhe dera cuidado, nem lhe veio a curio-
Trad. Milton Amado e Eugênio Amado. embora esta última hipótese vá de encontro à
sidade de indagá-lo.
Rio de Janeiro: INL, 1951. p. 38.) opinião dos ultrarromânticos, que põem todos
Esse homem ensinara-lhe o ofício, e por
os bofes pela boca pelo tal primeiro amor: no
inaudito milagre também a ler e a escrever.  (UFG – adaptado – MODELO ENEM) – O exemplo que nos dá o Leonardo, aprendam o
Enquanto foi aprendiz, passou em casa do relato de viagem transcrito, tomado como
seu... mestre, em falta de outro nome, uma quanto ele tem de duradouro.
fonte pela História, e a representação ficcional
vida que por um lado se parecia com a do sobre o Rio de Janeiro da época de D. João VI, (Manuel Antônio de Almeida,
fâmulo1, por outro com a do filho, por outro no romance Memórias de um Sargento de Memórias de um Sargento de Milícias)

com a do agregado, e que afinal não era senão Milícias, de Manuel Antônio de Almeida,
vida de enjeitado, que o leitor sem dúvida já revelam pontos de vista  (FGV-SP – modificado – MODELO
adivinhou que ele o era. A troco disso, dava-lhe a) análogos, porque promovem imagens pos- ENEM) – Memórias de um Sargento de
o mestre sustento e morada, e pagava-se do itivas desse período, ressaltando o desen- Milícias destaca-se, entre outras caracte-
que por ele tinha já feito. volvimento social da capital da colônia. rísticas, por ser um romance de costumes,
b) complementares, pois o fragmento projeta pois relata aspectos do funcionamento da
(Manuel Antônio de Almeida,
Memórias de um Sargento de Milícias)
um futuro promissor para o Rio de Janeiro, sociedade carioca do início do século XIX.
e o romance confirma essa ideia. Esse retrato, ainda que ficcional, manifesta-se
1 – Fâmulo: empregado, criado. c) imparciais, na medida em que inclusive no campo da linguagem, já que na
representam um quadro despretensioso narrativa são incorporados termos
 (FUVEST – MODELO ENEM) – Nesse da sociedade carioca do “tempo do rei”.
a) da linguagem popular da época.
excerto, mostra-se que o compadre provinha d) díspares, pois o registro histórico positivo
b) do falar lusitano dos imigrantes.
de uma situação de família irregular e ambígua. desse período se opõe ao retrato caricatures-
co do Rio do “tempo do rei”, no romance. c) do jargão jornalístico romântico.
No contexto do livro, as situações desse tipo
a) caracterizam os costumes dos brasileiros, por e) satíricos, visto que promovem uma visão d) da idealização da crônica moderna.
crítica do Brasil colonial, retratado pelas e) da prosa elevada do Primeiro Reinado.
oposição aos dos imigrantes portugueses.
falhas morais de sua sociedade.
b) são apresentadas como consequência da Resolução
Resolução
intensa mestiçagem racial, própria da A linguagem de que se vale Manuel Antônio
O fragmento do relato de Johann Emanuel
colonização. de Almeida é permeável ao que se falava no
Pohl, do início do século XIX, apresenta um
c) contrastam com os rígidos padrões morais prognóstico bastante otimista e, portanto, Rio de Janeiro no início do século XIX.
dominantes no Rio de Janeiro oitocentista. positivo a respeito do Rio de Janeiro. Nas “Lambeta”, “desasnado”, “que põem todos
d) ocorrem com frequência no grupo social Memórias de um Sargento de Milícias, o retrato os bofes pela boca” são exemplos dessa
mais amplamente representado. que se faz do Rio do “tempo do rei” é caricatu- aproximação com o registro coloquial.
e) começam a ser corrigidas pela doutrina e resco e, de um certo modo, depreciativo. Resposta: A
pelos exemplos do clero católico. Resposta: D

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Exercícios Propostos

Texto 1

Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde


o nascimento e batizado do nosso memorando1 e vamos
encontrá-lo já na idade de sete anos. Digamos unicamente
que durante todo este tempo o menino não desmentiu
aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a
vizinhança com um choro sempre em oitava alta; era
colérico2; tinha ojeriza3 particular à madrinha, a quem não
podia encarar, e era estranhão até não poder mais.
Logo que pôde andar e falar, tornou-se um flagelo4;
quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. (...)
(...)
 (MODELO ENEM) – Na descrição que faz de Leonardinho,
o narrador destaca, além do comportamento travesso, certo
Umas vezes sentado na loja, divertia-se em fazer caretas
traço psicológico da personagem, no que diz respeito à sua
aos fregueses quando estes se estavam barbeando. Uns
atitude em relação ao sofrimento alheio. Essa índole do
enfureciam-se, outros riam sem querer; do que resultava protagonista é evidenciada na expressão
que saíam muitas vezes com a cara cortada, com grande a) “atormentava a vizinhança com um choro (...) em oitava
prazer do menino e descrédito do padrinho. Outras vezes alta”.
escondia em algum canto a mais afiada navalha do b) “divertia-se em fazer caretas aos fregueses”.
padrinho, e o freguês levava por muito tempo com a cara c) “ele ria-se furtiva e malignamente”.
cheia de sabão mordendo-se de impaciência enquanto este d) “atirava pedras aos telhados dos vizinhos”.
a procurava; ele ria-se furtiva e malignamente. Não parava e) “sentado à porta (...), entendia com quem passava”.
RESOLUÇÃO:
em casa coisa alguma por muito tempo inteira; fazia andar
Na expressão “ele ria-se furtiva e malignamente”, é possível
tudo numa poeira; pelos quintais atirava pedras aos entrever certa crueldade no caráter de Leonardinho, que se
telhados dos vizinhos; sentado à porta de rua, entendia5 divertia à custa do sofrimento ou aborrecimento alheio.
com quem passava e com quem estava pelas janelas, de [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C
maneira que ninguém por ali gostava dele. O padrinho,
porém, não se dava conta disto e continuava a querer-lhe
sempre muito bem.

(Manuel Antônio de Almeida,


Memórias de um Sargento de Milícias, cap. II e III)

1– Memorando: memorável; digno de ser lembrado.


2– Colérico: raivoso.
3– Ojeriza: antipatia profunda.
4– Flagelo: castigo, suplício.
5– Entender: discutir, altercar.

 A caracterização que se faz de Leonardinho com sete


anos de idade focaliza elementos positivos ou negativos?
Justifique sua resposta.
RESOLUÇÃO:
O perfil que o narrador constrói de Leonardinho destaca aspectos
negativos, pois o enunciador do romance afirma categoricamente Entrudo (1823), de Jean-Baptiste Debret (1768-1848).
que o protagonista continua a ser chorão e, pior, colérico, um Aquarela sobre papel, 18 x 23 cm, Museu da Chácara
verdadeiro flagelo, de quem ninguém gostava; capaz de ter
do Céu, Rio de Janeiro.
ojeriza à sua madrinha e de realizar alguns atos de “vandalismo”,
como quebrar telhados de vizinhos e discutir com os transeuntes.
A sociedade que Manuel Antônio de Almeida retratou, o Rio de
Janeiro na época de D. João VI, é a mesma que Debret registrou em
suas gravuras, nas quais, como nas Memórias de um Sargento de
Milícias, há uma presença significativa do povo, da “arraia-miúda”,
com suas festas e costumes.

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Texto 2  Tanto o texto 1 quanto o texto 2 apresentam uso intenso


do pretérito imperfeito do indicativo. Tendo em mente que os
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino dois excertos foram retirados de romances que se intitulam
diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais como memórias, explique a utilização expressiva dessa forma
malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e verbal.
voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma RESOLUÇÃO:
escrava, porque me negara uma colher de doce de coco Uma das funções do pretérito imperfeito do indicativo é expressar
que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei hábitos do passado, ações que se repetem, o que calha bem às
intenções de um texto memorialista. A prova desse fenômeno é o
um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da fato de que as ocorrências dessa forma verbal nos dois textos
travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que servem para relatar ações corriqueiras, que os protagonistas
estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. exerciam no passado, mais precisamente em sua infância.
Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos
os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos
queixos, à guisa de freio1, eu trepava-lhe ao dorso, com
uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e
outro lado, e ele obedecia, — algumas vezes gemendo, —
mas obedecia sem dizer palavra, ou quando muito um —
“ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: — “Cala a boca,
besta!” — Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de
papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras,
dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas
façanhas deste jaez2, eram mostras de um gênio indócil,
mas devo crer que eram também expressões de um
espírito robusto, porque meu pai tinha-me grande
admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente,
fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me
beijos.  (MODELO ENEM) – Em um texto, determinadas palavras
ou expressões ajudam na progressão das ideias que estão
(MACHADO DE ASSIS, J. M.
sendo transmitidas. Um exemplo desse fenômeno é o termo
Memórias Póstumas de Brás Cubas. “flagelo”, que, no texto 1, sintetiza as características de
Cotia (São Paulo): Ateliê Editorial, 1988. p. 87-88.) Leonardinho. A expressão que assume essa mesma função,
no texto 2, é
1 – À guisa de freio: como freio. a) “cinco anos”.
2 – Jaez: tipo, natureza. b) “alcunha”.
c) “menino diabo”.
 No texto 2, é a própria personagem, Brás Cubas, quem d) “mais malignos”.
nos apresenta e descreve a sua infância e, por consequência, e) “nhonhô”.
a si mesmo. Podemos afirmar que essa caracterização lhe RESOLUÇÃO:
exalta traços positivos ou negativos? Explique. A palavra flagelo, que primeiramente significa “chicote” e, por
RESOLUÇÃO: extensão, significa “grande desgraça”, sintetiza de maneira
Brás Cubas constrói um perfil negativo de si mesmo. O próprio hiperbólica, e por isso humorística, o que Leonardinho foi em sua
narrador, já da perspectiva de adulto, afirma que desde os cinco infância: uma criança que atormentava a todos. A expressão que
anos merecera a alcunha de “menino diabo” e, mais do que isso, assume esse mesmo jaez, no texto de Memórias Póstumas de
aceita para si tal definição. Brás Cubas, é “menino diabo”, pois resume o que Brás Cubas foi
nos anos iniciais de sua vida: um menino que praticava
constantemente ações malignas. [Competência 6, Habilidade 18
das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C

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 (MODELO ENEM) – Apesar de Memórias de um Sargento


(MODELO ENEM) – Memórias de um Sargento de Milícias
de Milícias e Memórias Póstumas de Brás Cubas pertencerem vem a público como folhetim em 1852/53. Já Memórias
a momentos literários que costumam ser vistos como opostos Póstumas de Brás Cubas surge em 1881. A comparação entre
(o primeiro romance é do Romantismo e o segundo, do os protagonistas dessas obras permite perceber a introdução,
Realismo), suas narrativas apresentam muitos pontos em na tradição da literatura e da cultura brasileira, do/da
comum. Um deles é o comportamento do adulto responsável a) romance romântico, ou seja, do relato das aventuras infantis
pelos protagonistas enquanto crianças, que se caracteriza que formaram a personagem principal.
como b) figura do vilão, isto é, da entidade narrativa que tem a
a) ineficiente nas intervenções disciplinadoras. função de atrapalhar as ações do protagonista.
b) condescendente diante da molecagem. c) figura do anti-herói, ou seja, da personagem que não
c) crítico quanto à precoce malignidade infantil. demonstra magnanimidade ou atitudes exemplares.
d) afetivo com intenção disfarçada de educação. d) figura do tutor, isto é, do indivíduo que ampara e orienta os
e) dissimulado com relação aos meninos. desvalidos durante os primeiros anos de vida.
RESOLUÇÃO: e) relato memorialista, ou seja, da construção idealizada ou
O Barbeiro, responsável por Leonardinho quando Leonardo realista de um romance de caráter memorialista.
Pataca abandona o filho, ama demais o traquinas, a ponto de
sempre lhe perdoar as estripolias. O mesmo acontece com Luís RESOLUÇÃO:
Cubas, que, se adverte Brás Cubas, somente o faz na frente dos Mesmo quando crianças, ambos os protagonistas são capazes de
outros, ou seja, para manter as aparências em nome do decoro realizar atos bastante cruéis, além de não demonstrarem
social. Fora do olhar alheio, mima sua criança. Os dois magnanimidade, virtudes morais ou atitudes que possam ser
responsáveis pelos menores assumem, portanto, postura ditas exemplares ou sobre-humanas. Na verdade, podem ser
condescendente. [Competência 7, Habilidade 22 das Matrizes do considerados exatamente o contrário do que seria um herói, ou
ENEM.] seja, são anti-heróis. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes
Resposta: B do ENEM.]
Resposta: C

(MODELO ENEM) – O capítulo do qual foi retirado o


excerto machadiano em análise tem como título “O Menino é
Pai do Homem”. Aplicando essa frase ao conteúdo dos textos
1 e 2, infere-se a tese de que
a) a imaturidade dos tutores provoca o mau comportamento
dos protagonistas na meninice.
b) a criança que sofre uma educação errada torna-se mimada
a ponto de dominar seus responsáveis.
c) a sociedade dá mais atenção aos valores da juventude,
terminando por desprezar ética e responsabilidade.
d) a personalidade que o indivíduo apresenta na infância é a
gênese do que ele se tornará quando adulto.
e) a preservação da inocência e simplicidade da infância é a
essência de um homem pleno e realizado.
RESOLUÇÃO:
Para se compreender a frase que dá título ao capítulo, é preciso
ter em mente que pai é, conotativamente, aquele que produz um
comportamento. Assim, quando se diz que o menino é pai do
homem, deve-se entender que o comportamento que a criança
apresenta ou desenvolve antecipa o caráter que ela terá quando
se tornar adulta — o que, de fato, aconteceu tanto com
Leonardinho quanto com Brás Cubas. [Competência 6, Habilidade
18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: D

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Palavras-chave:
Arcadismo: a inconstância • Poesia árcade

37 e fugacidade da vida • Tomás Antônio Gonzaga


• Marília de Dirceu • Carpe diem

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e . São estes os sítios?  (MODELO ENEM) – O poema apresentado
São estes; mas eu é de Tomás Antônio Gonzaga, um dos nomes
LIRA V mais importantes do Arcadismo brasileiro.
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas? Coerente com a escola literária a que está filiado,
Acaso são estes
Espera, que eu vou. seu texto, ao apresentar a descrição dos “sítios
Os sítios formosos,
formosos”, associa-se ao tema clássico da
Aonde passava a) fruição do momento presente (carpe diem).
Os anos gostosos? Minha alma, que tinha
b) busca do equilíbrio dourado (aurea
São estes os prados, Liberta a vontade, mediocritas).
Aonde brincava, Agora já sente c) valorização do lugar agradável (locus
Enquanto pastava Amor e saudade. amoenus).
O manso rebanho, Os sítios formosos, d) aceitação da realidade urbana (fugere urbem).
Que já me agradaram, e) fugacidade do tempo (tempus fugit).
Que Alceu me deixou?
Ah! não se mudaram; Resolução
Mudaram-se os olhos, O cenário descrito no texto é bucólico e inclui
São estes os sítios?
De triste que estou. o lugar-comum do locus amoenus (“lugar
São estes; mas eu
ameno”).
O mesmo não sou.
Resposta: C
Marília, tu chamas? São estes os sítios?
Espera, que eu vou. São estes; mas eu
O mesmo não sou.
 (MODELO ENEM) – Os versos
apresentam um elemento pré-romântico, que
Marília, tu chamas?
(...) consiste no fato de o eu lírico projetar no
Espera, que eu vou.
mundo exterior seu mundo interior. Esse
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. aspecto é observável no trecho:
Aqui um regato
In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). a) “Acaso são estes / Os sítios formosos, /
Corria sereno,
A Poesia dos Inconfidentes. Aonde passava / Os anos gostosos?”
Por margens cobertas Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 580-582.)
b) “São estes os prados, / Aonde brincava, /
De flores e feno;
Enquanto pastava / O manso rebanho, /
À esquerda se erguia
Que Alceu me deixou?”
Um bosque fechado;
c) “Os sítios formosos / Que já me agradaram,
E o tempo apressado, / Ah! não se mudaram; / Mudaram-se os
Que nada respeita, olhos, / De triste que estou.”
Já tudo mudou. d) “Existem as fontes / E os freixos copados;
/ Dão flores os prados, / E corre a cascata,
São estes os sítios? / Que nunca secou.”
São estes; mas eu e) “À esquerda se erguia / Um bosque
O mesmo não sou. fechado; / E o tempo apressado, / Que
Marília, tu chamas? nada respeita, / Já tudo mudou.”
Resolução
Espera, que eu vou.
A projeção do mundo interior sobre o mundo
exterior revela-se no fato de a paisagem parecer
Mas como discorro?
triste porque o eu lírico está triste, como fica
Acaso podia
evidente nos versos transcritos na alternativa c.
Já tudo mudar-se Resposta: C
No espaço de um dia?
Existem as fontes Os Felizes Azares do Balanço (1767-68), Jean-Honoré Fragonard
E os freixos copados; (1732-1806). Óleo sobre tela, 81 x 64 cm, Wallace Collection,
Londres. Suaves idílios campestres, perpassados de malícia e
Dão flores os prados,
sensualidade, constituíam um tema constante na poesia, na pintura
E corre a cascata, e na tapeçaria do século XVIII. Graça, leveza e elegância convivem
Que nunca secou. com boa dose de afetação, frivolidade e convencionalismo.

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Exercícios Propostos

Texto para as questões de  a .  “... Se vem depois dos males a ventura, / Vem depois dos
prazeres a desgraça”. Que figura de linguagem aparece duas
Minha bela Marília, tudo passa; vezes nos versos transcritos? Mencione as palavras que
A sorte deste mundo é mal segura; compõem cada uma das duas ocorrências da figura.
Se vem depois dos males a ventura, felicidade RESOLUÇÃO:
Vem depois dos prazeres a desgraça. A figura de linguagem empregada de maneira expressiva na
Estão os mesmos Deuses próprios estrofe é a antítese, que ocorre entre “males” e “prazeres” e
entre “ventura” e “desgraça” (as antíteses podem ser, também,
Sujeitos ao poder do ímpio Fado: impiedoso Destino
entre “males” e “ventura” e entre “prazeres” e “desgraça”). Há
Apolo já fugiu do Céu brilhante, também a inversão sintática, hipérbato, pois o sujeito “ventura”
Já foi Pastor de gado. e o sujeito “desgraça” vêm depois do verbo.

(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.


In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos Inconfidentes.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 597.)

 Essa estrofe é a primeira de um extenso e belíssimo


poema em que Dirceu faz um convite a sua amada, Marília.
Para tanto, submete o seu texto a uma progressão temática
rigorosamente construída. Utilizando o roteiro abaixo,
identifique os versos em que ocorre cada um dos passos do
raciocínio do eu lírico e explique a ideia desenvolvida em cada
um deles:
a) a tese universal;
b) o alcance da tese em esfera sobre-humana;
c) o exemplo desse alcance em esfera sobre-humana.
RESOLUÇÃO:
a) Verso 1: tudo passa, tudo é efêmero.
b) Versos 5 e 6: a sorte muda até mesmo para os deuses.
c) Versos 7 e 8: Apolo deixou o céu (Olimpo) e virou pastor.
[Observação para o professor: Apolo tinha desobedecido a  Qual é, em síntese, o sentido dessa estrofe?
Júpiter, por ter flechado os Ciclopes. Buscou refúgio então na RESOLUÇÃO:
Tessália, passando a cuidar do rebanho do rei desse local, Nesta vida, nada é duradouro e o destino é incerto inclusive para
Admeto.] os deuses.

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Texto para as questões de  a .  Faça uma síntese do sentido da estrofe.


RESOLUÇÃO:
A devorante mão da negra Morte A ideia central da estrofe é a de que até depois da morte nosso
Acaba de roubar o bem que temos; destino é incerto: uns repousam no túmulo familiar, outros ficam
abandonados no campo de batalha, sujeitos a todos os azares.
Até na triste campa não podemos túmulo
Zombar do braço da inconstante sorte;
Qual fica no Sepulcro, um – sepultura
Que seus avós ergueram, descansado;
Qual no campo, e lhe arranca os frios ossos outro
Ferro do torto arado.

(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.


In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos Inconfidentes.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 597.)

 (MODELO ENEM) – O texto poético caracteriza-se por


utilizar a linguagem de forma estética, de maneira a torná-la
expressiva, chamativa. É o que ocorre no trecho “o bem que
temos” (verso 2), em que ocorre um processo linguístico por
meio do qual Texto para o teste .
a) uma ideia é apresentada de forma vaga, configurando uma
metáfora. Ah! enquanto os Destinos impiedosos
b) um conjunto de palavras substitui uma só, constituindo Não voltam contra nós a face irada,
uma perífrase. Façamos, sim, façamos, doce amada,
c) uma expressão literal é entendida pelo seu oposto, Os nossos breves dias mais ditosos. felizes

caracterizando-se por ironia. Um coração que, frouxo,


d) um substantivo concreto está no lugar de um abstrato, A grata posse de seu bem difere, adia

formando antítese. A si, Marília, a si próprio rouba,


e) um elemento valioso (vida) é reduzido a bem material, E a si próprio fere.
gerando um eufemismo.
RESOLUÇÃO: (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.
O “bem que temos” é uma expressão que substitui a palavra In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos Inconfidentes.
vida. Esse recurso corresponde a uma figura de linguagem Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 597.)
chamada perífrase. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes
do ENEM.]
Resposta: B (MODELO ENEM) – A estrofe apresentada desenvolve
um tema caro ao Arcadismo: a importância de se aproveitar o
 (MODELO ENEM) – É característica comum da linguagem momento presente. Para convencer sua amada a acreditar
poética a manipulação das palavras de forma a produzir efeitos nisso, o eu lírico apresenta como argumento a ideia de que
expressivos. É o que se nota nos dois últimos versos da a) o avanço do tempo impõe obstáculos para a fruição da
estrofe, quando a sonoridade é trabalhada de maneira artística existência.
para sugerir b) a criminalidade crescente do mundo da época torna a vida
a) o passado sobrevivendo no presente. indefinida.
b) a fusão da sensação auditiva com a visual. c) o adiamento dos prazeres da vida é prejudicial ao próprio
c) o som do arado remexendo a terra. sujeito.
d) a inevitabilidade do fim da vida. d) a preocupação com a posse de bens impede que se veja o
e) a frequência de ações repetitivas. essencial.
RESOLUÇÃO: e) o misticismo torna o indivíduo limitado em seu livre-arbítrio.
Os dois últimos versos apresentam a aliteração de /r/
RESOLUÇÃO:
(“... aRRanca os fRios ossos / feRRo do toRto aRado”). Esse
Para convencer a amada a aproveitar a vida, o eu lírico apresenta
procedimento é muito sugestivo, pois associa-se ao movimento,
nos quatro últimos versos a ideia de que o indivíduo (“um
ao barulho e à brutalidade do arado a revolver os ossos de quem
coração”) que adia os prazeres da vida (“a grata posse de seu
foi enterrado ou abandonado no campo em que morreu. (Supõe-se
bem difere”) acaba por prejudicar a si mesmo (“a si próprio
que tenha morrido lutando e que, em tempos de paz, o campo de
rouba, / E a si próprio fere”). [Competência 7, Habilidades 21 e 24
batalha se tenha transformado em plantação cultivada pelo
das Matrizes do Enem.)
agricultor.) [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C
Resposta: C

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Texto para o teste


. Texto para o teste .
Com os anos, Marília, o gosto falta, Que havemos d’esperar, Marília bela?
E se entorpece o corpo já cansado; Que vão passando os florescentes dias?
Triste, o velho cordeiro está deitado, As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E o leve filho sempre alegre salta. E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
A mesma formosura própria Ah! não, minha Marília,
É dote que só goza a mocidade: Aproveite-se o tempo, antes que faça
Rugam-se as faces, o cabelo alveja, O estrago de roubar ao corpo as forças,
Mal chega a longa idade. E ao semblante a graça!

(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.
In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos Inconfidentes. In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos Inconfidentes.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 598.) Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 598.)


(MODELO ENEM) – Nessa estrofe, o eu lírico alerta a sua (MODELO ENEM) – Essa estrofe é a última de um
amada da necessidade de se aproveitar a vida enquanto é extenso e belíssimo poema em que Dirceu conclama sua
possível. Para convencê-la, lança mão de uma alegoria amada, Marília, a seguir o ideal do carpe diem. Esse tema,
(metáforas encadeadas) baseada na similaridade entre muito associado ao Arcadismo, mas que não se limita a essa
a) o gosto pela vida e o entorpecimento. escola literária, está sintetizado no trecho
b) o ritmo do campo e o envelhecimento. a) “havemos d’esperar”.
c) a beleza animal e a humana. b) “vão passando os florescentes dias”.
d) a formosura e a longa idade. c) “As glórias, que vêm tarde, já vêm frias”.
e) o cordeiro e as fases etárias. d) “mudar-se a nossa estrela”.
RESOLUÇÃO: e) “Aproveite-se o tempo”.
O alerta que o eu lírico faz a respeito da necessidade urgente de RESOLUÇÃO:
se aproveitar a vida leva em conta o fato de que o tempo passará O tema do carpe diem pode ser traduzido como “colhe o dia”,
e, consequentemente, se perderá a capacidade de fruir a subentendendo-se que esse momento passará e não poderá mais
existência. Para tanto, o enunciador lança mão de uma alegoria ser aproveitado. A expressão na estrofe que o sintetiza (tanto no
que estabelece uma similaridade entre as diferentes idades de que possui de explícito quanto de implícito) e até funciona como
um cordeiro e as diversas fases da vida: o jovem tem disposição uma tradução livre é “aproveite-se o tempo”. [Competência 6,
e, por isso, é feliz (“o leve filho sempre alegre salta”), ao contrário Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
do idoso, que, por não ter mais forças, é infeliz (“Triste, o velho Resposta: E
cordeiro está deitado”). [Competência 7, Habilidades 21 e 24 das
Matrizes do Enem.]
Resposta: E

Vila Rica (1820), de Arnaud Julien Pallière (1784-1862). Óleo sobre tela, 36,50 x 96,80 cm, Museu da Inconfidência, Ouro Preto.

Ouro Preto, a antiga Vila Rica, amparou os primeiros sonhos de independência dos inconfidentes, testemunhou os amores de Dirceu (Tomás Antônio
Gonzaga) e Marília (Maria Joaquina Doroteia de Seixas) e viu anjos e santos nascendo em mãos de gangrena e lepra de Aleijadinho. Suas treze igrejas e
seus casarões constituem hoje o maior conjunto homogêneo de arquitetura barroca do mundo, declarado pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade.

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Palavras-chave:
A Pastoral Moderna • Pastoral moderna
38 • Bucolismo • Paródia modernista

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e .  Assinale a alternativa que apresenta uma Vejo ao longe com alegria meus pianos
análise correta dos versos. Recortarem os vultos monumentais
CIDADEZINHA QUALQUER a) O título do poema e as construções sintá- Contra a lua.
ticas paralelas (“Um homem vai devagar. /
Casas entre bananeiras Um cachorro vai devagar. / Um burro vai Acompanhado pelas rosas migradoras
mulheres entre laranjeiras devagar.”) evidenciam, respectivamente, o Apascento1 os pianos: gritam
pomar amor cantar tom afetivo do eu lírico e a harmonia do E transmitem o antigo clamor do homem
espaço retratado.
Um homem vai devagar. b) Na mudança dos sujeitos (“Um homem”, Que reclamando a contemplação,
Um cachorro vai devagar. “Um cachorro”, “Um burro”), marca-se Sonha e provoca a harmonia,
Um burro vai devagar. uma distinção entre a rotina de seres Trabalha mesmo à força,
Devagar... as janelas olham. racionais e a rotina de seres irracionais. E pelo vento nas folhagens,
c) Em “as janelas olham”, ocorre a Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Eta vida besta, meu Deus. passagem de ações mecânicas (“vai”, nos Pelo amor e seus contrastes,
(ANDRADE, Carlos Drummond de. três versos anteriores) para ações Comunica-se com os deuses.
Alguma Poesia. In: Poesia Completa. reflexivas (“olham”). (Murilo Mendes, in As Metamorfoses)
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 23.)
d) As repetições na segunda estrofe
1 – Apascentar: vigiar no pasto; pastorear.
sugerem a disciplina e harmonia presentes
 (MODELO ENEM) – O poema acima foi no cotidiano da cidadezinha. Não há
publicado em Alguma Poesia (1930), primeiro variações bruscas e tudo segue o ritmo da  (UNESP – adaptado) – O crítico literário
livro de Carlos Drummond de Andrade. O Antônio Cândido caracterizou esse poema
Natureza na vida provinciana.
caráter humorístico do texto não o impede de como uma “pastoral fantástica”. É fantástica
e) No último verso do poema (“Eta vida
captar aspectos da realidade nacional, como porque contém o ilógico, o nonsense, com
besta, meu Deus.”) está implícita a
a) a economia brasileira assentada na cultura elementos visionários e oníricos, e é pastoral
ideologia das grandes cidades, com vida
e exportação de banana. porque
moderna, informação rápida, valores
b) a alienação do trabalhador diante dos a) apregoa valores morais superiores.
dinâmicos, portanto o avesso da mesmice
processos de modernização. b) apresenta visão mística da vida.
da “cidadezinha qualquer”.
c) o fato de a mão de obra rural c) envolve a crença em Deus.
Resolução
desqualificada ser composta de mulheres. d) aborda o tema pastoril.
O modo como o ambiente provinciano é
d) a banalidade das regiões afastadas dos e) enaltece o espaço urbano.
descrito — como um ambiente monótono —
grandes centros urbanos. Resolução
sugere a ideologia das grandes cidades, com
e) a resistência de setores campestres à O gênero pastoral, que remonta à Antiguidade
sua “vida moderna, informação rápida, valores
adoção de máquinas agrícolas. Clássica, sendo depois retomado,
dinâmicos”, como afirma a alternativa e.
Resolução principalmente, pelos poetas árcades,
Resposta: E
O aspecto da realidade nacional representado consiste na abordagem da vida de pastores,
no poema é a vida nas pequenas cidades do
Texto para o teste . como no poema do modernista Murilo
interior, com cotidiano bastante simples, Mendes, ainda que este o faça segundo uma
bucólico (“bananeiras”, “laranjeiras”, leitura surrealista, “fantástica”, como se
O PASTOR PIANISTA
“pomar”), com lirismo singelo (“pomar amor comprova nos versos “Vejo ao longe com
cantar”), e a monotonia decorrente dessa Soltaram os pianos na planície deserta alegria meus pianos / Recortarem os vultos
rotina (“Um homem vai devagar”). Onde as sombras dos pássaros vêm beber. monumentais / Contra a lua”.
Resposta: D Eu sou o pastor pianista, Resposta: D

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Exercícios Propostos

Pastoral: um gênero  Para sugerir a pequenez do Retiro, o poeta enfatiza a


imensidão do espaço exterior. Que expressão ele usa para
A poesia bucólica ou pastoril, também chamada pastoral, tem
essa vastidão? Comente o sentido dessa expressão.
origem antiga. O poeta grego Teócrito, que viveu no século III a.C., RESOLUÇÃO:
é considerado o inventor desse gênero, caracterizado pela A expressão é “oceanomundo”, um neologismo criado pelo
representação de pastores que, em monólogos ou diálogos, poeta. A imagem do oceano (ou do mar) sugere a ideia da
contam histórias e tratam de grandes temas da vida em belas grandeza do mundo — o que é uma ilusão, pois o oceano é parte
do mundo e, portanto, menor do que ele. Ocorre, porém, que o
paisagens campestres. Esses temas, que reaparecem na pastoral oceano, sendo estranho aos habitantes do Retiro, sugere uma
ao longo dos séculos, podem ser o amor e seus sofrimentos, a imensidão da qual eles sequer poderiam ter ideia.
paz e simplicidade do campo em confronto com a agitação
complicada da cidade, a preferência pela moderação e a rejeição
do excesso, a passagem do tempo e a necessidade de aproveitar
o momento. Entre os poetas que cultivaram o gênero pastoral ou
bucólico, destacam-se o romano Virgílio; entre os portugueses,
Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro e Ricardo Reis (heterônimo de
Fernando Pessoa); entre os brasileiros, Cláudio Manuel da Costa e
Tomás Antônio Gonzaga. Os poemas bucólicos desses autores
são geralmente chamados églogas ou éclogas.
O poema que se lerá a seguir, de Carlos Drummond de
Andrade, é uma pastoral moderna, pois qualquer poema que
se refira ao campo tem como pano de fundo a tradição antiga
do gênero pastoral. A canção “Casa no Campo”, que vimos no
caderno 2, também adere a essa tradição.

Texto para as questões de  a .


FAZENDA

Vejo o Retiro: suspiro


no vale fundo.
Retiro ficava longe
do oceanomundo.
(MODELO ENEM) – Retiro é um lugar isolado, afastado do
mundo, como sugere de maneira peculiar o trecho “Retiro
Ninguém sabia da Rússia
ficava longe / do oceanomundo”. Outra expressão que
com sua foice1.
também sugere isolamento ou afastamento é
A morte escolhia a forma
a) “suspiro”.
breve de um coice.
b) “no vale fundo”.
Mulher, abundavam negras c) “forma breve de um coice”.
socando milho. d) “Rês morta”.
Rês2 morta, urubus rasantes e) “azul do pasto”.
logo em concílio. assembleia, conselho, reunião RESOLUÇÃO:
A expressão “no vale fundo” implica a noção de profundidade
O amor das éguas rinchava
geográfica afastada. Transmite, portanto, a ideia de isolamento ou
no azul do pasto. afastamento. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do
E criação e gente, em liga, animais de criação ENEM.]
tudo era casto. Resposta: B

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Lição de Coisas.


In: Poesia Completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2002. p. 459.)

1 – A Rússia integrava então a União Soviética, país comunista cujo


símbolo era a imagem da foice (representando os camponeses)
associada ao martelo (representando os operários).
2 – Qualquer animal quadrúpede que se abate para alimentação humana.

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 (MODELO ENEM) – Os textos poéticos costumam  (MODELO ENEM) – “Fazenda” apresenta um painel da
expressar, implícita ou explicitamente, o contexto histórico- vida no campo que destoa do lirismo árcade. Prova dessa
social em que estão inseridos. É o que se percebe em diferença está no enfoque das relações das éguas com os
“Fazenda”, publicado em 1962, pois o trecho “Ninguém sabia cavalos, como se percebe em “O amor das éguas rinchava / no
da Rússia / com sua foice” faz referência à azul do pasto”. Nesse sentido, a palavra ou expressão com que
a) violência no campo gerada pela má distribuição de terra. o poeta se refere às relações em que “tudo era casto”, tanto
b) ignorância gerada pelo sistema educacional ineficiente. entre animais quanto entre pessoas, é
c) tensão política crescente provocada pela Guerra Fria. a) “socando milho”.
d) xenofobia brasileira provocada pelo nacionalismo ufanista. b) “urubus rasantes”.
e) mortalidade galopante gerada pela miséria na zona rural. c) “logo em concílio”.
RESOLUÇÃO: d) “azul do pasto”.
A época em que “Fazenda” foi publicado foi um dos momentos e) “em liga”.
mais críticos da Guerra Fria, tensão política entre Estados Unidos,
RESOLUÇÃO:
capitalista, e União Soviética, socialista, mas, em Lição de Coisas,
A palavra liga significa “união”, que, no contexto do poema, é
retomam-se aspectos existenciais de Drummond (1902-1987) na
sexual, o que é uma subversão, pois carnaliza a pastoral, o
sua vida anterior. Há alusão ao final da adolescência na zona rural
panorama rural de “Fazenda”. [Competência 6, Habilidade 18 das
mineira. [Competência 5, Habilidade 15 das Matrizes do ENEM.]
Matrizes do ENEM.]
Resposta: C
Resposta: E

 (MODELO ENEM) – A linguagem literária, principalmente


na poesia, marca-se pela construção de expressões ao mesmo
tempo inusitadas e sugestivas. É o que acontece em
“Fazenda” quando, por exemplo, a morte em Retiro é
associada ao
a) suspiro no vale, que sugere a tristeza profunda do luto.
b) movimento da foice, que sugere rapidez e violência.
c) coice de um animal, que sugere um gesto seco e breve.
d) cadáver no campo, que sugere a insignificância da vida.
e) concílio de urubus, que sugere a trama do destino.
RESOLUÇÃO:
O poeta exprime, por meio da imagem do coice de um animal,
rápido e seco (“breve”), a forma como morriam muitos habitantes
do Retiro. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C

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 As subversões que “Fazenda” apresenta com relação à (MODELO ENEM) – Por ser altamente sugestiva, a poesia
tradição lírica fazem-no um típico poema modernista. Ainda privilegia o uso da linguagem conotativa. O que não impede
assim, seu ritmo é regular, com versos de duas medidas e que utilize também linguagem denotativa, com se nota em
rimas distribuídas com regularidade. Quais as medidas dos a) “Retiro ficava longe / do oceanomundo”.
versos e como são distribuídas as rimas? b) “Ninguém sabia da Rússia / com sua foice”.
RESOLUÇÃO: c) “Mulher, abundavam negras / socando milho”.
Em “Fazenda”, os versos ímpares têm sete sílabas métricas d) “A morte escolhia a forma / breve de um coice”.
(redondilhos maiores ou heptassílabos) e os pares, quatro. Os
versos pares, de dois em dois, rimam entre si; os ímpares não são
e) “O amor das éguas rinchava / no azul do pasto”.
rimados. RESOLUÇÃO:
Nas alternativas a, b, d e e, há linguagem figurada: metáfora (a),
metonímia (b), prosopopeia ou personificação (d e e) e metonímia
(e, na expressão “azul do pasto”, em que “azul” representa o
céu). [Habilidade 6, Competência 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C

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(UNICAMP) – O poeta Vinícius de Moraes, apesar de
modernista, explorou formas clássicas como o soneto abaixo,
em versos alexandrinos (12 sílabas) rimados:

SONETO DE INTIMIDADE

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.


Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais


Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume


Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve


Nós todos, animais, sem comoção nenhuma b) Como os quartetos anunciam a identificação do eu lírico
Mijamos em comum numa festa de espuma. com os animais? Como os tercetos a confirmam?
RESOLUÇÃO:
Os quartetos exprimem a identificação do eu lírico com os
(MORAES, Vinícius de. Antologia Poética.
animais, apresentando-o em ações mais comumente esperadas
São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 86.)
deles: mastigar capim (v. 3), andar sem roupa (v. 3), beber água na
fonte dos rios (v. 6), comer amoras direto das árvores e cuspi-las
a) Essa forma clássica tradicionalmente exigiu tema e em torno dos currais (vv. 7-8). A confirmação dessa identificação
vem nos tercetos de forma inusitada, na menção ao
linguagem elevados. O “Soneto de Intimidade” atende a congraçamento do eu lírico com os bois e as vacas na satisfação
essa exigência? Justifique. de uma necessidade fisiológica comum.
RESOLUÇÃO:
Nem o tema nem a linguagem desse soneto são elevados. Com
efeito, o tema é baixo (o “congraçamento fisiológico” com os
animais) e a linguagem não evita o vulgar (“cheiro bom de
estrume”), chegando a beirar o chulo (“uma mijada ferve”,
“mijamos em comum numa festa de espuma”).

Paisagem com Touro (1925), de Tarsila do Amaral


(1886-1973). Óleo sobre tela, 52 x 65 cm,
Coleção Particular.

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Palavras-chave:
• Arcadismo • Neoclassicismo
Bocage
39 • Poesia árcade
• Poesia pré-romântica

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes de  a . Resolução Resolução


O bucolismo, na perspectiva árcade, A conjunção adversativa mas, no penúltimo
Olha, Marília, as flautas dos pastores representa uma natureza convencional como verso, indica uma ressalva do eu lírico ao tom
Que bem que soam, como estão cadentes1! cenário que emoldura a vida serena dos
enaltecedor da descrição do cenário, que só
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes pastores, o que é claramente exemplificado no
com a presença da amada poderia produzir os
Os Zéfiros2 brincar por entre as flores? verso “Que alegre campo! Que manhã tão
efeitos devidos às suas qualidades.
clara!”; já a valorização da cultura greco-romana
Resposta: D
Vê como ali, beijando-se, os Amores3 remete, entre outros aspectos, à presença da
Incitam nossos ósculos4 ardentes. mitologia grega, exemplificada em “Amores”,
Ei-las de planta em planta as inocentes, no verso transcrito na alternativa e.  (UNIFESP – modificado) – A descrição
As vagas5 borboletas de mil cores. Resposta: E que o eu lírico faz do ambiente é uma forma
de mostrar à amada que o amor
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
 (MODELO ENEM) – O Arcadismo ou
a) acaba quando a morte chega.
Neoclassicismo tem como lema a exaltação
Ora nas folhas a abelhinha para, b) tem pouca relação com a natureza.
da simplicidade da vida campesina. Tal postura
Ora nos ares, sussurrando, gira. c) deve ser idealizado, mas não realizado.
foi uma resposta a um momento histórico
d) traz as tristezas e a morte.
marcado pelo
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
a) aparecimento de grandes latifúndios. e) inspira tudo o que os rodeia.
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
b) crescimento de centros urbanos. Resolução
Mais tristeza que a morte me causara.
c) fortalecimento do valor nacional. Enfaticamente afirma o poeta: “Mas ah! Tudo
(Bocage)
d) enaltecimento de fatores regionais. o que vês, se eu te não vira / Mais tristeza que
e) surgimento de questões ligadas à
a morte me causara”, ou seja, a visão do
1 – Cadente: harmonioso, melódico, musicalmente Contrarreforma.
concertado. mundo exterior subordina-se ao sentimento
Resolução
2 – Zéfiros: personificação clássica das brisas, dos do eu poemático; beleza e fealdade
ventos. No século XVIII, modernizavam-se as cidades,
3 – Amores: personificação pagã do amor e da dependem de uma só condição: a presença
cresciam os conglomerados urbanos e
sensualidade. ou ausência da amada, do amor. Assim, o
intensificavam-se os problemas decorrentes
4 – Ósculo: beijo.
amor inspira tudo o que rodeia o eu lírico.
5 – Vago: errante, vagueante. desse crescimento. A vida rural representava,
pois, uma alternativa para esse ambiente Resposta: E

 (UNIFESP – modificado – MODELO caótico dos centros urbanos.


ENEM) – O soneto de Bocage é uma obra do Resposta: B  (MODELO ENEM) – Marília é uma figura
Arcadismo português. Apresenta, entre suas convencional de pastora utilizada por vários
características, o bucolismo e a valorização da  (UNIFESP – modificado) – O penúltimo poetas do Neoclassicismo. Isso indica que a
cultura greco-romana, que estão exemplifi- verso introduz um elemento que se contrapõe
poesia desse movimento se marcou pela
cados, respectivamente, em ao bem-estar do ambiente descrito, permi- a) aceitação do plágio como técnica literária.
a) “Tudo o que vês, se eu te não vira” – tindo entender que b) afirmação da importância da subjetividade.
“Olha, Marília, as flautas dos pastores”. a) a ausência da mulher amada pode levar o c) exaltação da figura encantadora da amada.
b) “Ei-las de planta em planta as inocentes” – eu lírico à morte. d) submissão aos modelos femininos clássicos.
“Naquele arbusto o rouxinol suspira”. b) a morte é uma forma de o eu lírico deixar e) utilização de padrões a serem imitados.
c) “Ora nas folhas a abelhinha para” – “Ora de sofrer pela mulher amada. Resolução
nos ares, sussurando, gira”. c) a mulher amada morreu e, por essa razão, Marília é uma ficção lírica, uma musa
d) “Mais tristeza que a morte me causara” – o eu lírico sofre. recortada das convenções neoclássicas.
“Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes”. d) todo o belo cenário só tem tais qualidades Dessa forma, a utilização que vários poetas
e) “Que alegre campo! Que manhã tão se a mulher amada fizer parte dele. fazem dessa figura convencional revela o ideal
clara!” – “Vê como ali, beijando-se, os e) o eu lírico sofre toda manhã pela ausência clássico de imitação de modelos.
Amores”. da mulher amada. Resposta: E

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Exercícios Propostos

Textos para o teste .  (MODELO ENEM) – Os dois textos apresentados são de


Bocage, o nome mais importante do Arcadismo português
Texto 1 (1756-1825). Sua temática permite vinculá-los a um gênero
conhecido como
AUTORRETRATO a) épico, pois dedicam-se à divulgação de fatos heroicos, o
que estava em voga no século XVIII.
Magro, de olhos azuis, carão moreno, b) poesia encomiástica, pois concentram-se na elaboração de
Bem servido de pés, meão na altura, mediano discurso enaltecedor, inclusive autoelogioso.
Triste de faxa, o mesmo de figura, facha, rosto c) sátira, pois veiculam uma crítica humorística, atingindo a
Nariz alto no meio, e não pequeno; tudo e a todos, inclusive o próprio enunciador.
d) crônica de costumes, pois relatam hábitos de uma época,
Incapaz de assistir num só terreno, residir, no caso o conflito entre ciência e religião.
Mais propenso ao furor do que à ternura, [permanecer e) dramático, pois põem em campo um confronto constante
Bebendo em níveas mãos por taça escura entre ações e visões de mundo diferentes.
De zelos infernais letal veneno; ciúme – mortal RESOLUÇÃO:
Nos dois textos, o eu poemático deixa de lado o tom sério para
Devoto incensador de mil deidades, tecer críticas, no texto 1, a hipócritas e frades, abordando também
o aspecto moral de si mesmo, e, no texto 2, para ironizar seu
(Digo de moças mil) num só momento; próprio aspecto físico. Vinculam-se, portanto, ao gênero satírico.
Inimigo de hipócritas e frades:1 [Competência 5, Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C
Eis Bocage, em que luz algum talento; brilha
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou cagando ao vento.2

(BOCAGE, Manuel du. Antologia de Poesia Erótica.


Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2017. p. 84.)

1 – Há uma variação mais suave desse verso: “E somente no altar


amando os frades” (Cf. BOCAGE, Manuel du. Sonetos. 2. ed. São
Paulo: Martin Claret, 2003. p. 64.)
2 – Existe uma versão mais amena desse verso: “Num dia em que se
achou mais pachorrento.” (Ibidem.)

Texto 2

Nariz, nariz e nariz,


nariz que nunca se acaba,
nariz que se lhe desaba
fará o mundo infeliz;
nariz que Newton não quis
descrever-lhe a diagonal;
nariz de massa infernal
que, se o cálculo não erra,
posto entre o Sol e a Terra
faria eclipse total.

(BOCAGE, Manuel du. In: BRAGA, Teófilo (org.). Gravura de Bocage feita em 1798. – Fotografia:
Obras Poéticas de Bocage. Album / Prisma / Fotoarena.
Porto: Editora Tavares Cardoso & Irmão,
1875-1876. vol. 3, p. 302.) “Camões, grande Camões, quão semelhante / Acho teu fado ao meu,
quando os cotejo!”, diz Bocage, comparando sua vida atribulada à do
poeta quinhentista.

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Texto para as questões  e . b) faça um breve comentário sobre o que representa o título com
relação ao conteúdo dessa obra.
RECREIOS CAMPESTRES RESOLUÇÃO:
NA COMPANHIA DE MARÍLIA Marília de Dirceu é um conjunto de poemas que relatam o
relacionamento amoroso entre o pastor Dirceu e a pastora
Marília.
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes! ritmadas
Olha o Tejo1 a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros2 brincar por entre as flores?

Vê como ali beijando-se os Amores


Incitam nossos ósculos ardentes! estimulam – beijos
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores! que vagueiam,
[passeiam
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha para,
 (UNESP) – Dois versos seguidos desse poema,
contrastados com outros doze, revelam que o poeta pode ter
Ora nos ares sussurrando gira:
duas reações diferentes e opostas ante a paisagem que
descreve, de acordo com a ocorrência ou não de um
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
determinado fato. Partindo desse dado, responda:
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira, visse
a) Quais os dois versos a que nos referimos?
Mais tristeza que a morte me causara. causaria
RESOLUÇÃO:
Os versos em que o eu lírico confessa a variabilidade de suas
(BOCAGE, Manuel du. Obras de Bocage. reações são os dois últimos.
Porto: Lello & Irmão Editores, 1968. p. 152.)

1 – Tejo: principal rio de Portugal.


2 – Zéfiro: personificação mitológica do vento que sopra do Ocidente,
pouco antes da primavera.

 (UNESP) – Podemos afirmar, sem exagero, que esse


soneto de Bocage, pelas características formais e pelo
conteúdo, poderia ser assinado por poetas do Neoclassicismo
brasileiro. Encontra-se no poema, aliás, uma palavra que
remete ao título de um livro de poemas de um dos mais
b) O que nos revela o poeta neles?
destacados neoclássicos do Brasil. Depois de avaliar, no
RESOLUÇÃO:
soneto de Bocage, o dado que mencionamos,
O eu poemático declara, nos versos 13 e 14, que a maneira de ele
a) aponte o nome do poeta e da obra do Neoclassicismo enxergar a natureza a seu redor dependerá de ele ter visto ou não
brasileiro a que nos referimos; sua amada. Se a viu, a paisagem lhe traz alegria; se não a viu, isso
RESOLUÇÃO: provoca mais tristeza que a morte.
O nome Marília, utilizado por Bocage, faz lembrar o poeta árcade
Tomás Antônio Gonzaga, que se consagrou com a obra Marília de
Dirceu.

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Texto para as questões  e .  “(...) O meu tormento / leve me torne sempre a terra
dura.” – Explique esse trecho.
Já Bocage não sou!... À cova escura RESOLUÇÃO:
Meu estro vai parar desfeito em vento... gênio criador O eu lírico exprime o desejo de que seu sofrimento (“tormento”)
faça que a morte (“a terra dura”) seja menos terrível (seja “leve”)
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento. ofendi gravemente para ele.
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura


Em prosa e verso fez meu louco intento. projeto, objetivo
Musa... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse pura!1

Eu me arrependo; a língua quase fria


Brade em alto pregão à mocidade, grite – divulgação,
Que atrás do som fantástico corria: [geralmente aos gritos

Outro Aretino2 fui!... A santidade


Manchei... Oh, se me creste, gente impia3,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

(BOCAGE, Manuel du. Sonetos. 2. ed.


São Paulo: Martin Claret, 2003. p. 94.)

1 – Ordem direta: Se seguisse um raio da pura razão. Em outras


palavras: minha obra poderia ter algum mérito, se eu não tivesse sido
tão desvairado, tão irracional.
2 – Pietro Aretino foi um poeta italiano do século XVI, célebre por suas
obras libertinas e obscenas.
3 – Impia aqui é o mesmo que ímpia, com acento na primeira sílaba.
Significa “não pia”, “sem fé”, “herege”.

 (MODELO ENEM) – No soneto apresentado, Bocage


confessa arrepender-se de ter ofendido a religião, o sagrado
(“Eu aos céus ultrajei!”), e de não ter submetido sua obra ao
crivo da razão. Esse tom lamurioso desvia o poeta do
Arcadismo, aproximando-o do Romantismo, o que se percebe
também pela rejeição à vida manifesta na
a) crítica à poesia erótica.
b) defesa do misticismo.
c) obsessão pela morte.
d) expressão da vaidade.
e) ênfase nos preceitos da razão.
RESOLUÇÃO:
No soneto em análise, a rejeição à vida é notada pela obsessão
da morte, detectada nas expressões “cova escura”, “desfeito em
vento”, “terra dura” e “língua quase fria”. Trata-se de um tema
muito comum no Romantismo, o que faz de Bocage um poeta
pré-romântico. [Competência 5, Habilidade 17 das Matrizes do
ENEM.]
Resposta: C

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Texto para o teste . RESOLUÇÃO:


O eu lírico manifesta o desejo de que a Razão deixe de persegui-lo,
Importuna Razão, não me persigas; que incomoda,
visto que ela o “acusa”, mas não é capaz de poupá-lo do
sofrimento da paixão amorosa. O curioso é que, para expressar
Cesse a ríspida voz que em vão murmura; [perturba essa ideia, o eu poemático escreve um soneto com versos
Se a lei de Amor, se a força da ternura decassílabos e esquema regular de rimas, ou seja, uma forma
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas: alivias marcada pelo racionalismo em sua construção. [Competência 5,
Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C
Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura.
Importuna Razão, não me persigas.

(BOCAGE, Manuel du. In: MOISÉS, Massaud.


A Literatura Portuguesa Através dos Textos.
29. ed. São Paulo: Cultrix, 2004. p. 245.)

 (MODELO ENEM) – Bocage é considerado um poeta pré-


romântico porque sua arte apresenta a concomitância de
elementos de rigor formal do Arcadismo com aspectos da
emotividade do Romantismo. Esse fenômeno é captável nas
duas quadras acima, que iniciam um soneto de Bocage, pois
nelas o eu lírico
a) pede que a Razão o livre da “loucura” amorosa em que se
vê mergulhado.
b) condena a Razão, pois ela o perturba, fazendo-o apaixonar-se
loucamente.
c) despreza a Razão, mas usa uma forma poemática marcada
pelo racionalismo.
d) deseja livrar-se de dois males que perturbam sua
existência: a Razão e a paixão.
e) considera a Razão inferior ao amor e, por isso, a condena
de forma enfática.

Manuel Maria Barbosa du BOCAGE (1765-1805): O Arcadismo teve, em Portugal,


diversos representantes notáveis: Correia Garção, Cruz e Silva, a Marquesa de Alorna
e, sobretudo, Filinto Elísio. Mas o mais prestigiado, conhecido e popular dos poetas
árcades portugueses é Bocage. Isso se deve tanto a sua poesia inflamada e, muitas
vezes, desbocada, quanto a sua personalidade exuberante e sua vida instável e
aventureira. Em Portugal, Bocage tornou-se figura tão popular que mesmo quem
jamais leu qualquer um de seus versos sabe contar algumas anedotas que o tomam
como personagem. Descendia, pelo lado materno, de um marinheiro francês. Com
dezoito anos ingressa na Academia Real dos Guardas-Marinhas e inicia sua vida
literária e boêmia. Em 1786 embarca para a Índia. Já poeta “do amor e da morte”,
promovido a tenente, foge para Macau, na China. Leva vida extremamente
acidentada em diversas cidades do Oriente, mete-se em amores arriscados e
rivalidades perigosas. Finalmente, com o auxílio de admiradores, volta a Portugal em
1790, onde passa seus últimos tempos, até a morte prematura, aos quarenta anos.

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Palavras-chave:
Romantismo: • Romantismo • Pintura

40 características gerais Romântica • Características


românticas • Géricault

Exercícios Resolvidos

Textos para os testes  e . Está correto somente o que se afirma em Ou quando o morto, impressa no ataúde,
a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) I e III. Guias ao cemitério;
Texto 1 Resolução Amo-te, ó cruz, até quando no vale
No poema de Garrett, nada há que revele a Negrejas triste e só,
Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados, Núncia do crime, a que deveu a terra anun-
sensualidade do amor. Este é um sentimento
Um garbo senhoril, nevada alvura, Do assassino o pó: [ciadora
tenso, não utópico, que está destruindo o
Metal de voz que enleva de doçura,
sujeito lírico. Essas considerações desqua-
Dentes de aljôfar, em rubi cravados. Porém quando mais te amo,
lificam as afirmações II e III. Ó cruz do meu Senhor,
Resposta: A É, se te encontro à tarde,
Fios de ouro, que enredam meus cuidados,
Antes de o Sol se pôr.
Alvo peito, que cega de candura,
 (UNIFESP – modificado – MODELO (Alexandre Herculano)
Mil prendas; e (o que é mais que formosura)
ENEM) – No processo de comunicação, a
Uma graça, que rouba mil agrados.
linguagem pode assumir diferentes funções.  Entre as características românticas a
Considerando esse dado, é correto dizer que, seguir, qual delas pode ser encontrada no
Mil extremos de preço mais subido poema de Herculano?
nos versos de Garrett, predomina a função
Encerra a linda Márcia, a quem of’reço a) evasão na natureza.
a) metalinguística, com o jogo entre o
Um culto, que nem dela inda é sabido. b) idealização da figura feminina.
espiritual e o profano.
c) sentimento religioso.
b) conativa, com a abordagem de uma
Tão pouco de mim julgo que a mereço, d) evasão na ideia de morte e libertação.
manifestação suavizada de amor.
Que enojá-la não quero de atrevido e) retorno ao passado medieval.
c) referencial, com o privilégio da expressão
Coas penas que por ela em vão padeço. Resolução
de maneira racional.
(Filinto Elísio, poeta árcade) O poema “A Cruz Mutilada”, como o próprio
d) emotiva, com a preocupação em dar vazão
título indica, versa sobre um dos símbolos
ao subjetivismo.
Texto 2 mais expressivos do Cristianismo, eviden-
e) fática, com a ênfase aos recursos sonoros
ciando-se o apego religioso de Herculano.
ESTE INFERNO DE AMAR para manter a comunicação.
Resposta: C
Resolução
Este inferno de amar — como eu amo! — O eu lírico extravasa seus sentimentos e emo-  Sobre o poema transcrito, assinale a
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi? ções, representados graficamente pela exclama- alternativa incorreta.
Esta chama que alenta e consome, ção, reticências e a interjeição “ai”, no último a) Na primeira estrofe, os versos ímpares
Que é a vida — e que a vida destrói — verso. O subjetivismo também é marcado pela têm dez sílabas métricas, ao passo que os
Como é que se veio a atear, escolha lexical — “inferno de amar”, “que a vida pares têm seis.
destrói”, “atear” —, que exprime descome- b) São frequentes as inversões na posição
Quando — ai quando se há de ela apagar?
dimento na expressão do sofrimento amoroso. dos termos das frases (hipérbato); por
(Almeida Garrett, poeta romântico)
Resposta: D exemplo: “no vértice firmada / De

 (UNIFESP) – Considere as afirmações:


esplêndidas igrejas”.

I. No poema de Almeida Garrett, o amor é Texto para os testes  e . c) Todos os versos pares rimam, ainda que
com sonoridade diversificada, e os versos
apresentado como um sentimento que A CRUZ MUTILADA ímpares são brancos (sem rima).
acontece na vida de alguém independen- (fragmentos) d) Em “Ou quando o morto, impressa no
temente de sua vontade.
ataúde, / Guias ao cemitério”, ocorre
II. No poema de Filinto Elísio, vê-se que o Amo-te, ó cruz, no vértice firmada personificação (ou prosopopeia) da cruz.
amor não se realiza fisicamente; no de De esplêndidas igrejas; e) O eu lírico expressa seu amor à cruz,
Garrett, explora-se o amor pelo seu Amo-te quando à noite, sobre a campa, dirigindo-se a ela (“ó cruz”); esse recurso
aspecto físico e sensual. Junto ao cipreste alvejas; de invocação do interlocutor corresponde à
III. Tanto no poema de Filinto Elísio quanto no Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos, figura de linguagem chamada apóstrofe.
de Almeida Garrett, há uma linha tênue As preces te rodeiam; Resolução
entre o utópico e o real, resultando numa Amo-te quando em préstito festivo procissão Os versos pares são rimados, mas as rimas
visão de amor sôfrega e intensa, prestes a As multidões te hasteiam; variam (o verso 2 rima com o 4; o 6 com o 8,
tomar formas plenas na realidade vivida Amo-te erguida no cruzeiro antigo, o 10 com o 12...).
pelos amantes. No adro do presbitério, pátio Resposta: C

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Exercícios Propostos

O quadro ao lado, A Jangada da Medusa,


pintado pelo francês Théodore Géricault entre
1818 e 1819, é um típico representante do
Romantismo. Faz referência a um dos
momentos mais dramáticos da história da
marinha de seu país: em 26 de junho de 1816,
a fragata Medusa, que levava soldados e
colonos para o Senegal (então colônia da
França), naufragou por incompetência de seu
capitão, um aristocrata que havia chegado ao
seu posto graças a influências políticas e que
se salvou num dos poucos botes salva-vidas,
abandonando 149 homens e 1 mulher, por ele
considerados inferiores socialmente. Os
passageiros desprezados construíram então
uma jangada, em que ficaram à deriva por 13
dias, nos quais ocorreu toda sorte de tragédia,
até canibalismo. O instante representado por
Géricault é o clímax do episódio, em que os A Jangada da Medusa (1818-1819), de Théodore Géricault (1791-1824). Óleo sobre tela, 4,91 x 7,16 m,
náufragos avistam o navio Argus, que os Museu do Louvre, Paris.
resgatou. Com base nessas informações e nos
seus conhecimentos, observe a obra com
atenção e responda ao que se pede.

 (MODELO ENEM) – Entre as regras da pintura estava a  (MODELO ENEM) – Há quem chame o Romantismo de
preocupação em apresentar como temas episódios tanto da “Escola de 89”, pois é fruto não só das esperanças quanto à
mitologia clássica quanto da Bíblia, ou então retratos (o que Revolução Francesa, deflagrada em 14 de julho de 1789, mas
incluía autorretratos). Numa categoria menos nobre se também da decepção em relação ao cumprimento dos ideais
encontrava a retratação de paisagens. Nesse aspecto, apregoados por esse movimento político-social. A Jangada da
A Jangada da Medusa mostra-se inovador por Medusa pode ser visto como uma representação desse tempo
a) fundir a mitologia à paisagem marítima e ao retrato de porque metaforiza
pessoas. a) a crítica à diferenciação de classes.
b) expor um exemplo de como os fatos históricos são b) o tumulto das transformações políticas.
manipuláveis. c) a derrocada dos sonhos de uma época.
c) diminuir a influência da mitologia e da história na arte d) o retorno dos ideais do liberalismo.
pictórica. e) a falência do sistema monárquico.
d) enfocar um acontecimento verídico, do mundo real e RESOLUÇÃO:
Uma interpretação mais imediata qualificaria essa obra como
imediato.
uma metáfora da derrocada do corrupto e ineficiente Estado
e) misturar o plano pessoal do artista ao do contexto de sua francês, após a queda de Napoleão. Entretanto, uma análise mais
sociedade. aprofundada possibilitaria uma interpretação mais ampla,
RESOLUÇÃO: atribuindo ao trabalho de Géricault a capacidade de representar o
A inovação de A Jangada da Medusa está na sua liberdade momento romântico, época em que a civilização europeia, à
temática, pois trata-se de um quadro que enfoca um deriva, sentia o “naufrágio”, o desmanche de seus sonhos, de
acontecimento verídico, do mundo real e imediato, bem diferente seus ideais. [Competência 4, Habilidade 13 das Matrizes do
dos temas bíblicos ou clássicos, considerados mais nobres, mas, ENEM.]
em contrapartida, distantes do universo concreto do apreciador. Resposta: C
(É interessante lembrar que, antes desse quadro, outros foram
feitos que retratavam naufrágios também, mas nenhum deles
ousou destacar esse tema com tanta grandiosidade, como fez a
obra de Géricault, nas dimensões de 4,91 m x 7,16 m.)
[Competência 4, Habilidade 13 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: D

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 (MODELO ENEM) – Na metade direita do quadro, há um  (MODELO ENEM) – Na metade inferior esquerda,
acúmulo de figuras humanas, compondo uma forma chamada encontra-se um velho de costas para toda a agitação da cena e
Pirâmide da Esperança. Tal nome se justifica pelo fato de essa segurando o cadáver de seu filho. No contexto do quadro, esse
construção apresentar indivíduos que reúnem suas últimas gesto simboliza
forças para chamar a atenção do navio Argus. Quando se tenta a) a incapacidade de análise e a dedicação a questões
localizar essa embarcação salvadora, percebe-se a ideia políticas.
comum ao Romantismo de que a esperança é b) a emotividade sóbria e o estereótipo do conflito de
a) fruto do acúmulo dos esforços coletivos. gerações.
b) marcada pelo caráter entre possível e ilusório. c) a recusa ao presente e ao futuro e o mergulho na
c) premiada pelo trabalho contínuo e tenaz. melancolia.
d) sustentada pela morte de vítimas e heróis. d) a oposição ao clássico e o fracasso dos ideais modernos.
e) resultado de períodos mergulhados em crises. e) a materialização do passado e a anulação do contexto
RESOLUÇÃO: histórico.
Um dos aspectos mais dramáticos e angustiantes do quadro é
RESOLUÇÃO:
que ele enfoca a esperança, representada pelo navio Argus, como
O fato de a personagem estar de costas para a agitação do
algo possível, que facilmente pode ignorar os náufragos — como
episódio representa claramente um gesto de recusa ao que está
já havia acontecido dias antes —, ou seja, escapar, fugir do
acontecendo. A perda do filho mergulhou-o numa situação tal de
alcance deles. É algo ilusório, quase irreal, pois mal pode ser vista
desespero, que o faz ignorar a possibilidade de salvação. Opondo-se,
no horizonte. [Competência 4, Habilidade 13 das Matrizes do
portanto, ao presente e ao futuro, seu olhar desliga-se do
ENEM.]
momento imediato e perde-se nostalgicamente talvez para a
Resposta: B
época feliz em que seu filho estava vivo. [Competência 4,
Habilidade 13 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C

 (MODELO ENEM) – Há ainda uma segunda composição,


na metade esquerda do quadro, orientada pelas cordas que
sustentam o mastro. Tal pode ser denominada Pirâmide do
Destino, a qual, quando associada à vela inflada, serve para  (MODELO ENEM) – Géricault fez que sua arte assumisse
compor uma representação dramática um sentido revolucionário e combativo. Dentro desse espírito,
a) da agitação política da Europa naquele período. o fato de a figura que acena para o Argus ser um negro indica
b) da oposição entre o universo da colônia e o da metrópole. a intenção do pintor de
c) do embate entre forças progressistas e retrógradas. a) vincular o futuro à força da mão de obra servil.
d) da alienação da emotividade com relação ao contexto social. b) apoiar o avanço dos ideais abolicionistas.
e) do caráter frio, desumano e frustrante do Destino. c) validar a necessidade de luta constante pelo bem-estar.
RESOLUÇÃO: d) simbolizar a ingenuidade constante dos desfavorecidos.
A Pirâmide do Destino não tem figuras humanas em sua e) refutar a tese da pureza racial no ambiente europeu.
composição, o que a torna inumana, desumana. Sua vela, inflada, RESOLUÇÃO:
indica que o vento está empurrando a jangada numa direção O fato de um negro ser colocado em destaque na cena, fazendo
diferente da apontada pela Pirâmide da Esperança. Assim, pode-se sinal para o Argus e, portanto, possibilitando o salvamento dos
entender esse conjunto de elementos como uma alegoria do náufragos da Medusa, parece indicar em Géricault um porta-voz
caráter frio, desumano do Destino, que força frustrantemente a dos ideais abolicionistas, que já estavam em voga desde meados
um rumo diferente daquele que a Esperança aponta. do século XVIII. [Competência 4, Habilidade 13 das Matrizes do
[Competência 4, Habilidade 13 das Matrizes do ENEM.] ENEM.]
Resposta: E Resposta: B

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Diante de tudo o que foi discutido nesta aula a respeito de


Com base em tudo o que se apresentou sobre a arte do
A Jangada da Medusa, é possível perceber algumas Romantismo, identifique a alternativa em que todos os termos
características do Romantismo. Quais são elas? se refiram a esse movimento estético.
RESOLUÇÃO: a) liberdade temática – espírito revolucionário – imitação de
A Jangada da Medusa permite perceber as seguintes modelos
características românticas: liberdade temática e formal, b) emotividade exagerada – carpe diem – bucolismo
desencanto e inadaptação em relação ao momento presente, a
c) recusa ao presente – inconformismo – mitologia grega
noção de esperança e salvação como algo instável ou ilusório, a
concepção do destino como cruel, insensível e desumano, o d) ideais clássicos – apego ao passado – visão dramática da
saudosismo ou fuga para o passado, defesa de ideais existência
revolucionários, como o abolicionismo. e) escapismo – nacionalismo – idealização
RESOLUÇÃO:
Os erros das alternativas de a a d são: em a) imitação de
modelos; em b) carpe diem e bucolismo; em c) mitologia grega;
em d) ideais clássicos.
Resposta: E

Théodore GÉRICAULT (pronúncia aproximada: têodór gericô, 1791-1824): Em


seus primeiros quadros, Géricault é obediente aos cânones estéticos neoclássicos.
Dedicou-se a copiar Rubens, Velázquez e Caravaggio. Depois de fazer o serviço militar
como mosqueteiro imperial na armada real, Géricault viajou para a Itália, onde estudou
profundamente as obras de Michelangelo e Rafael. Na volta, em 1817, o pintor iniciou
aquela que seria sua obra-prima, A Jangada da Medusa. Embora o tema do naufrágio
seja coerente com o desespero romântico, o certo é que com esse quadro Géricault
se identificava com a crítica ao regime. Sabe-se que sua obsessão chegou a levá-lo a
falar com os sobreviventes nos hospitais e inclusive a fazer esboços dos mortos no
necrotério. A doença, a loucura e o desespero passaram então a ser uma constante
em seus quadros. O efeito do claro-escuro, que o pintor tanto admirava em
Caravaggio, inspiraram-no a criar ambientes patéticos e de intenso sofrimento.

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Palavras-chave:
Almeida Garrett e • Romantismo em Portugal
41 Alexandre Herculano • Prosa romântica portuguesa

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e . Resolução Na maior paixão, no mais acrisolado afeto


A poesia lírica é aquela em que, como nos do homem que não é poeta, entre sempre o
Saudade! gosto amargo de infelizes, versos transcritos, uma subjetividade se seu tanto de vil prosa humana: é liga sem que
Delicioso pungir de acerbo espinho, expressa, manifesta seus sentimentos. não se lavra o mais fino do seu oiro. A mulher
Que me estás repassando o íntimo peito Resposta: C não; a mulher apaixonada deveras sublima-se,
Com dor que os seios d’alma dilacera, idealiza-se logo, toda ela é poesia, e não há
— Mas dor que tem prazeres — Saudade! Texto para o teste . dor física, interesse material, nem deleites
Misterioso númen que aviventas sensuais que a façam descer ao positivo da
À esquerda do vale, e abrigado do norte existência prosaica.
Corações que estalaram, e gotejam
pela montanha que ali se corta quase a pique, Estava eu nestas meditações, começou
Não já sangue de vida, mas delgado
está um maciço de verdura do mais belo viço e um rouxinol a mais linda e desgarrada cantiga
Soro de estanques lágrimas — Saudade!
variedade. A faia, o freixo, o álamo, entrelaçam que há muito tempo me lembra de ouvir.
(GARRETT, Almeida. Camões.
os ramos amigos; a madressilva, a musqueta Era ao pé da dita janela!
2. ed. Porto: Editorial Domingos Barreira, [s.d.]. p. 19.)
penduram de um a outro suas grinaldas e (...)
festões; a congossa, os fetos, a malva-rosa do O arvoredo, a janela, os rouxinóis... àquela
 (MODELO ENEM) – O fragmento
valado vestem e alcatifam o chão. hora, o fim de tarde... o que faltava para
transcrito é uma espécie de “invocação” à completar o romance?
Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se
saudade, que o autor colocou no início de seu por entre um claro das árvores a janela meio (Almeida Garrett,
poema Camões (1825), obra que inaugurou o aberta de uma habitação antiga mas não Viagens na Minha Terra, cap. X)
Romantismo em Portugal. Garrett invoca a dilapidada — com certo ar de conforto  (FAAP)
saudade, pedindo a ela que o inspire para grosseiro, e carregada na cor pelo tempo e I. A mais forte manifestação de subjetivismo
narrar a vida e os amores do poeta Camões, pelos vendavais do sul a que está exposta. A romântico, neste texto, é, com toda a
por isso utiliza marcas gramaticais próprias de janela é larga e baixa; parece-me mais ornada certeza, a visão da Mulher. O narrador,
uma fala dirigida a alguém, como se vê em e também mais antiga que o resto do edifício enfeitiçado pela janela da casa do vale,
a) “Delicioso pungir do acerbo espinho.” que todavia mal se vê... entrevê um vulto por detrás de uma
b) “Que me estás repassando o íntimo peito.” Interessou-me aquela janela. “cortina branca” (símbolo de pureza),
naquele recanto paradisíaco, ao fim da
c) “Com dor que os seios d’alma dilacera.” Quem terá o bom gosto e a fortuna de
tarde, no meio dum arvoredo onde há
d) “Corações que estalaram e gotejam.” morar ali?
rouxinóis que cantam ao desafio.
e) “Soro de estanques lágrimas — Saudade!” Parei e pus-me a namorar a janela.
II. E este conjunto não pode deixar de nos
Resolução Encantava-me, tinha-me ali como num
remeter para o ideal romântico da mulher
No verso da alternativa b, a forma verbal na feitiço.
angelical, cuja beleza e pureza terão de ser
segunda pessoa do singular (“estás repas- Pareceu-me entrever uma cortina branca... sobrevalorizadas e inseridas num quadro
sando”) demonstra que o eu lírico se dirige a e um vulto por detrás. Imaginação decerto! Se natural adequado.
o vulto fosse feminino!... era completo o III. Esta figura feminina, simplesmente
um interlocutor, a saudade, no caso.
romance. esboçada, aliás, as referências à “mulher
Resposta: B
Como há de ser belo ver pôr o sol daquela namorada” e ao “romance”, o “arvoredo, a

 (MODELO ENEM) – Os textos costu-


janela!...
E ouvir cantar os rouxinóis!...
janela, os rouxinóis... àquela hora, o fim de
tarde” (a personagem, o espaço e o tempo)
mam ser classificados em gêneros, conforme
E ver raiar uma alvorada de maio!... são elementos indicadores da novela
as características de sua construção e o sentimental. O próprio narrador o afirma na
Se haverá ali quem a aproveite, a deliciosa
objetivo que pretendem atingir. O fragmento interrogação retórica final “... o que faltava
janela? ... quem aprecie e saiba gozar todo o
transcrito, por se tratar de poesia na qual prazer tranquilo, todos os santos gozos de para completar o romance?”
prevalece a presença de um eu que manifesta alma que parece que lhe andam esvoaçando Está correto o que se afirma em
sua interioridade, ainda que fictícia, associa-se em torno? a) I e II, apenas. b) II, apenas.
ao gênero Se for homem é poeta; se é mulher está c) I e III, apenas. d) II e III, apenas.
a) dramático. namorada. e) I, II e III.
b) épico. São os dois entes mais parecidos da Resolução
c) lírico. natureza, o poeta e a mulher namorada; veem, Os itens I, II e III apresentam características
d) romanesco. sentem, pensam, falam como a outra gente do Romantismo presentes no texto.
e) epistolar. não vê, não sente, não pensa nem fala. Resposta: E

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Exercícios Propostos

Texto para as questões de  a .  (MODELO ENEM) – Os textos costumam ser


classificados em gêneros, conforme as características de sua
BARCA BELA construção e o objetivo que pretendem cumprir. “Barca Bela”,
portanto, tendo em vista sua forma e seu conteúdo,
Pescador da barca bela, assemelha-se a
Onde vás pescar com ela, vais a) uma canção trovadoresca.
Que é tão bela, b) um poema barroco.
Ó pescador? c) um poema árcade.
d) um poema clássico.
Não vês que a última estrela e) uma canção popular.
No céu nublado se vela? esconde RESOLUÇÃO:
Colhe a vela, A simplicidade temática e formal do poema faz dele um bom
Ó pescador! exemplo do gosto romântico pela canção popular. [Competência
1, Habilidade 1 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: E
Deita o lanço com cautela, lance (de rede)
Que a sereia canta bela...  (MODELO ENEM) – O repertório cultural popular é
Mas cautela, formado de determinadas formas poéticas que se tornaram
Ó pescador! tradicionais ao longo do tempo. Prova desse fenômeno é a
versificação do poema, que apresenta
Não se enrede a rede nela, a) redondilhos menores.
Que perdido é remo e vela b) trissílabos simples.
Só de vê-la, c) decassílabos.
Ó pescador! d) dodecassílabos.
e) redondilhos maiores.
Pescador da barca bela, RESOLUÇÃO:
Inda é tempo, foge dela, Advindo da Idade Média, o verso redondilho, tanto o maior
Foge dela, quanto o menor, tornou-se a métrica mais popular nas literaturas
de língua portuguesa. O poema “Barca Bela” vincula-se a essa
Ó pescador!
tradição, como comprova a escansão dos dois primeiros versos:

(GARRETT, Almeida. Folhas Caídas. Pes / ca / dor / da / bar / ca / be(la)


2. ed. Mem Martim Codex (Portugal): 1 2 3 4 5 6 7
Publicações Europa-América, [s.d.]. p. 95.)
On / de / vás / pes / car / com / e(la)
1 2 3 4 5 6 7

 (MODELO ENEM) – O Romantismo desenvolveu uma Deve-se notar, ainda, que os dois últimos versos de cada estrofe,
tendência nacionalista voltada para a cultura popular. Tal pode que funcionam como refrão, podem ser entendidos como um só,
ser percebida em “Barca Bela” não só pela presença de uma tornando-se também um redondilho:
personagem pertencente a um estrato social humilde, como Que é / tão / be / la Ó / pes / ca / dor
também pelo uso de linguagem 1 2 3 4 5 6 7
a) medievalizante, com formas verbais arcaicas.
Trata-se, no caso, de redondilhos maiores, pois os versos têm sete
b) simples, com traços próximos do padrão coloquial.
sílabas métricas.
c) clássica, com muitas referências à mitologia greco-romana.
d) musicalizada, com utilização de rimas variadas. [Competência 5, Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
e) regional, com léxico característico do campesinato. Resposta: E

RESOLUÇÃO:
Não se nota, em “Barca Bela”, um largo emprego, por exemplo,
de hipérbatos e metáforas, elementos comumente associados à
poesia. Ao contrário, a linguagem é simples, próxima da fala do
povo, o que atende à proposta de valorização da cultura popular.
[Competência 5, Habilidade 16 e Competência 8, Habilidade 26
das Matrizes do ENEM.]
Resposta: B

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 (MODELO ENEM) – O aproveitamento de elementos do  As sereias aparecem pela primeira vez na literatura no
repertório popular não impede que “Barca Bela” apresente um poema Odisseia, de Homero, do século VIII ou VII a.C. Nesse
trabalho sofisticado com a linguagem. Essa elaboração refinada poema, o herói, Ulisses, tendo de passar com seu navio ao
pode ser percebida por meio de figuras de linguagem do lado da ilha das sereias — seres terríveis, que seduzem os
campo sonoro, como homens com seu canto, atraem e destroem-nos —, faz que
todos os seus marinheiros tapem os ouvidos com cera. Quanto
a) onomatopeia e refrão.
a si mesmo, Ulisses manda que o amarrem ao mastro do
b) rima e ausência de ritmo.
navio, com os ouvidos livres. Qual a diferença entre a atitude
c) aliteração e paronomásia.
de Ulisses e aquela que o eu lírico do poema de Garrett
d) assonância e antítese. recomenda ao pescador?
e) metáfora e personificação. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: Ulisses quer ouvir o canto das sereias, chegando o mais próximo
Existe aliteração em “Barca Bela, não se enReDe a ReDe nela / que possível delas, mas evitando o perigo de ser arrastado pela
perDiDo é Remo e vela” e paronomásia (= trocadilho) em “se sedução, pois toma o cuidado de fazer que o amarrem ao mastro.
vela” / “colhe a vela” e “enrede” / “rede”. [Competência 6, No poema de Garrett, o conselho é para que o pescador nem se
Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.] aproxime do perigo que a sereia representa, não devendo, assim,
Resposta: C expor-se à beleza de seu canto. Porém, ao que parece, o pescador
vai ao encontro da atraente e perigosa sereia.

 No poema, duas coisas são designadas com o adjetivo


bela, a barca e a sereia, o que estabelece uma relação de
atração da primeira (ou do pescador, seu dono) pela segunda.
Considerando a conexão entre esses dois seres, explique o
sentido simbólico, existencial do poema.
RESOLUÇÃO:
A sereia representa o fascínio que se tem pela beleza, ou de certa
beleza misteriosa e encantadora, que atrai e destrói.

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Texto para as questões de a . 1 – Algures: em algum lugar.


2 – Jogral: artista medieval que ganhava a vida cantando e recitando
A DAMA DO PÉ DE CABRA poesia.
3 – Estevais: plantação de estevas, arbustos de grandes folhas e
frutos aromáticos.
1
4 – Porco montês: javali.
5 – Assomada: elevação.
[A]ssentai-vos aqui ao lar, bem juntos ao pé de mim, e
6 – Semel: linhagem, estirpe.
contar-vos-ei a história de D. Diogo Lopes, senhor de 7 – Folgança: divertimento.
Biscaia. 8 – Espanha: Península Ibérica.
E não me digam no fim: — “não pode ser.” — Pois eu 9 – Rico-homem: título de nobreza.
sei cá inventar coisas destas? Se a conto, é porque a li 10 – Arras: dote.
num livro muito velho. E o autor do livro velho leu-a
algures1 ou ouviu-a contar, que é o mesmo, a algum O que a linda mulher pede a D. Diogo é que ele esqueça
para sempre algo que sua mãe lhe ensinou sempre, até na hora
jogral2 em seus cantares.
de morrer. Trata-se do sinal da cruz. O cavaleiro aceita e eles se
(...)
casam. À noite, quando em seu castelo ele despe a mulher e
Silêncio profundíssimo; porque vou principiar.
lhe contempla a beleza, nota que ela tem “pés forcados como
os de cabra”. Ela é, pois, como mais tarde se verá, um ser
2 demoníaco — o próprio diabo. Apesar disso, ele vive e tem
filhos com ela, sem pressupor os acontecimentos terríveis que
D. Diogo Lopes era infatigável monteiro: neves da depois ocorrerão.
serra no inverno, sóis dos estevais3 no verão, noites e
madrugadas, disso se ria ele. (MODELO ENEM) – A palavra tradição traz, desde sua
Pela manhã cedo de um dia sereno, estava D. Diogo origem, que é o latim, a ideia de algo que se carrega e se
em sua armada, em monte selvoso e agreste, esperando transmite ao longo do tempo. No texto de Herculano, esse
um porco montês4, que, abatido pelos caçadores, devia sentido é expresso literalmente no trecho:
sair naquela assomada5. a) “[A]ssentai-vos aqui ao lar, bem juntos ao pé de mim, e
Eis senão quando começa a ouvir cantar ao longe: era contar-vos-ei a história de D. Diogo Lopes.”
um lindo, lindo cantar. b) “Se a conto, é porque a li num livro muito velho. E o autor
Levantou os olhos para uma penha que lhe ficava do livro velho leu-a algures ou ouviu-a contar, que é o
fronteira: sobre ela estava assentada uma formosa dama: mesmo, a algum jogral em seus cantares.”
era a dama quem cantava. c) “D. Diogo Lopes era infatigável monteiro: neves da serra no
O porco fica desta vez livre e quite, porque dom Diogo inverno, sóis dos estevais no verão, noites e madrugadas,
Lopes não corre, voa para o penhasco. disso se ria ele.”
“Quem sois vós, senhora tão gentil; quem sois, que d) “Levantou os olhos para uma penha que lhe ficava fronteira:
logo me cativaste?” sobre ela estava assentada uma formosa dama: era a dama
“Sou de tão alta linhagem como tu, porque venho do quem cantava.”
semel 6 de reis, como tu, senhor de Biscaia.” e) “Guarda as tuas terras, dom Diogo Lopes, que poucas são
“Se já sabes quem eu seja, ofereço-vos a minha mão, para seguires tuas montarias, para o desporto e folgança do
e com ela as minhas terras e vassalos.” bom cavaleiro que és.”
“Guarda as tuas terras, dom Diogo Lopes, que poucas RESOLUÇÃO:
são para seguires tuas montarias, para o desporto e O processo requerido no enunciado do teste ocorre na alternativa
folgança7 do bom cavaleiro que és. Guarda os teus b, que se refere a uma narrativa que o enunciador leu num livro
muito antigo, cujo autor, por sua vez, a tinha lido em outro lugar
vassalos, senhor de Biscaia, que poucos são eles para te
ou ouvido de algum um jogral. [Competência 6, Habilidade 18 das
abaterem a caça.” Matrizes do ENEM.]
“Que dote, pois, gentil dama, vos posso eu oferecer Resposta: B
digno de vós e de mim, que, se a vossa beleza é divina, eu
sou em toda a Espanha8 o rico-homem9 mais abastado?”
“Rico-homem, rico-homem, o que eu te aceitara em
arras10 coisa é de pouca valia; mas, apesar disso, não
creio que mo concedas, porque é legado de tua mãe, a
rica-dona de Biscaia.”

(HERCULANO, Alexandre. Lendas e Narrativas.


Rio de Janeiro: W. M. Jackson Inc., 1949. p. 217-218.)

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(MODELO ENEM) – Em “Barca Bela”, Almeida Garrett, (MODELO ENEM) – Muitas das narrativas de cunho
autor do Romantismo, resgatou elementos da cultura popular. popular costumam apresentar uma moral, uma intenção de
Em “A Dama do Pé Cabra”, Alexandre Herculano, outro ensinamento. Nesse aspecto, “Barca Bela” e “A Dama do Pé
romântico, também realizou essa retomada, mantendo uma de Cabra” se assemelhariam, pois funcionariam como uma
relação com a literatura de transmissão oral, como se vê na advertência sobre a possibilidade de
referência ao jogral e também, na exposição do texto, na a) a relação entre homem e mulher mostrar-se instável.
personagem que se caracteriza pela b) o sobrenatural conseguir atrapalhar uma união amorosa.
a) realidade do ato da fala. c) o encanto provocado pela beleza feminina ser danoso.
b) pontuação expressiva. d) o desprezo às regras religiosas levar à perdição da alma.
c) crença no sobrenatural. e) a sabedoria adquirida pelos antigos revelar-se falível.
d) exaltação da nobreza. RESOLUÇÃO:
e) argumentação em diálogo. “A Dama do Pé de Cabra” representa a beleza sedutora,
misteriosa e destrutiva que, no poema de Garrett, é simbolizada
RESOLUÇÃO: na figura da sereia. Portanto, os dois textos servem como
A realidade da transmissão de uma tradição por meio da literatura advertência a respeito dos perigos que a encantadora beleza
oral é percebida já no início do excerto apresentado (“[A]ssentai-vos feminina pode provocar. [Competência 7, Habilidade 22 das
aqui ao lar, bem juntos ao pé de mim, e contar-vos-ei”), em que se Matrizes do ENEM.]
imita uma situação de fala. Outro trecho em que esse fenômeno Resposta: C
se repete é o final da primeira parte, em que o narrador pede
silêncio: “Silêncio profundíssimo; porque vou principiar.”
[Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: A

João Batista da ALEXANDRE HERCULANO de


Silva Leitão de Carvalho e Araújo (1810-1877):
ALMEIDA GARRETT Era de origem pobre e não pôde
(1799-1854): Foi o cursar a universidade, tornando-se,
primeiro escritor assim, autodidata. A situação
romântico em Por- política portuguesa levou-o ao
tugal. Formou-se exílio na França, em 1830. Volta a
dentro do espírito Portugal, em 1833, com a vitória
neoclássico, publicou do liberal D. Pedro IV (que é o
poemas de caráter mesmo D. Pedro I do Brasil) sobre seu irmão
árcade e participou da absolutista D. Miguel. Em meio a seus trabalhos de
Revolução Liberal de 1820. Depois do golpe de Estado bibliotecário no Porto, dirigiu uma das mais importantes
reacionário de 1823, exilou-se na Inglaterra e na França. revistas de cultura que houve no país, Panorama, na
Nesses países tomou contato com o novo espírito e a qual publicou as narrativas — romances, contos e
nova arte do Romantismo. De volta a Portugal, teve novelas — que escreveu em sua fase mais intensa de
atuação destacada na vida cultural e política, chegando produtividade literária. Além de literato, foi um dos
a ocupar o posto de Ministro da Cultura. Também maiores historiadores de Portugal, desvendando
escreveu romances, entre os quais Viagens na minha obscuridades do passado e dando focalização mais
Terra, e peças de teatro, com destaque para Frei Luís rigorosa à análise histórica. Escreveu, entre outros,
de Sousa. Eurico, o Presbítero, O Bobo e Lendas e Narrativas.

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Palavras-chave:

Camilo Castelo Branco • Romantismo em Portugal

42 • Poesia romântica portuguesa


• Amor de Perdição

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e .  (MACKENZIE) – De acordo com o texto,  (MACKENZIE) – Assinale a alternativa
a) o amor de Simão e Teresa é visto pelo correta.
Amava Simão uma sua vizinha, menina de narrador como uma brincadeira de criança. a) A analogia presente no terceiro parágrafo
quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita b) o amor de Simão e Teresa, caracterizado corresponde a um argumento do narrador para
e bem-nascida. Da janela do seu quarto é que como “amor à primeira vista”, foi intenso provar a afirmação “Enganam-se ambos”.
ele a vira pela primeira vez, para amá-la sempre. no início, mas não durou muito. b) A analogia presente no terceiro parágrafo
Não ficara ela incólume da ferida que fizera no c) Teresa, aos quinze anos, amava como uma contradiz a afirmação “Enganam-se ambos”.
coração do vizinho; amou-o também, e com “avezinha que ensaia o voo fora do ninho”. c) A analogia presente no terceiro parágrafo
d) o caso de amor entre Simão e Teresa
mais seriedade que a usual nos seus anos. retoma e confirma a afirmação feita por
quebrou as expectativas do narrador com
Os poetas cansam-nos a paciência a fala- poetas e prosadores.
relação a namoros de juventude.
rem do amor da mulher aos quinze anos, d) O último parágrafo do texto exemplifica a
e) o amor de Simão e Teresa é prova de que
como paixão perigosa, única e inflexível. analogia usada pelo narrador no terceiro
os poetas e prosadores estão enganados
Alguns prosadores de romances dizem o parágrafo.
com relação aos relacionamentos juvenis.
mesmo. Enganam-se ambos. e) O último parágrafo contesta, ironicamente,
Resolução
O amor dos quinze anos é uma a afirmação feita pelo narrador no primeiro
No terceiro parágrafo, o narrador descreve o
brincadeira; é a última manifestação do amor parágrafo.
que seria a norma para os namoros de juven-
às bonecas; é a tentativa da avezinha que Resolução
tude: uma brincadeira. No último parágrafo,
ensaia o voo fora do ninho, sempre com os porém, ele apresenta o amor de Teresa como A analogia, caracterizadora do amor dos quinze
olhos fitos na ave-mãe, que a está da fronde exceção à regra dos superficiais e passageiros anos como uma brincadeira, reforça a afirma-
próxima chamando: tanto sabe a primeira o amores “dos quinze anos” — ideia, aliás, já ção, no parágrafo anterior, “Enganam-se
que é amar muito, como a segunda o que é anunciada no final do primeiro parágrafo. ambos”, que refuta a opinião de poetas e pro-
voar para longe. Quebram-se, portanto, “as expectativas do sadores segundo a qual o amor de juventude
Teresa de Albuquerque devia ser, porven- narrador com relação a namoros de seria “paixão perigosa, única e inflexível”. Tal
tura, uma exceção no seu amor. juventude”. símile serve, portanto, como argumentação.
(Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição) Resposta: D Resposta: A

Exercícios Propostos

Texto para o teste . chamando: tanto sabe a primeira o que é amar muito, como
Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze a segunda o que é voar para longe.
anos, rica herdeira, regularmente bonita e bem-nascida. Teresa de Albuquerque devia ser, porventura, uma
Da janela do seu quarto é que ele a vira pela primeira vez, exceção no seu amor.
para amá-la sempre. Não ficara ela incólume da ferida que
(BRANCO, Camilo Castelo. Amor de Perdição.
fizera no coração do vizinho; amou-o também, e com
Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.]. p. 21-22.)
mais seriedade que a usual nos seus anos.
Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor
da mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única  (MODELO ENEM) – Camilo Castelo Branco é um escritor
e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o bastante peculiar porque, ao mesmo tempo em que segue as
mesmo. Enganam-se ambos. convenções do Romantismo, o que lhe garantiu sucesso entre
O amor dos quinze anos é uma brincadeira; é a última o grande público, soube também quebrá-las. É o que se
manifestação do amor às bonecas; é a tentativa da percebe no texto transcrito, quando o narrador
avezinha que ensaia o voo fora do ninho, sempre com os a) adota um estilo emotivo, que o faz dispensar a lógica na
olhos fitos na ave-mãe, que a está da fronde próxima exposição de argumentos.

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b) ataca a veracidade de um ideal de amor juvenil nos livros e RESOLUÇÃO:


o assume como verossímil na protagonista. Provérbio é uma frase curta, sonora, que transmite um
ensinamento. Um exemplo dessa forma de expressão é “De hora
c) relativiza a força do amor sentido pela mulher, comparando-o a hora Deus melhora”. [Competência 5, Habilidade 16;
ao sentido pelo homem. Competência 6, Habilidade 18 e Competência 8, Habilidade 26 das
d) apresenta a relação afetiva como fruto de uma escolha Matrizes do ENEM.]
Resposta: B
fortuita dos apaixonados.
e) elabora uma hierarquia de valores que coloca a emoção
acima da razão.
RESOLUÇÃO:
O narrador de Amor de Perdição desqualifica o ideal, caro ao
Romantismo, do primeiro amor, dizendo que não deve ser levado
a sério. No entanto, destaca sua protagonista justamente por ela
se enquadrar nessa teoria. [Competência 5, Habilidade 16 das
Matrizes do ENEM.]
Resposta: B

 (MODELO ENEM) – Os provérbios fazem parte do


Texto para os testes  e . repertório cultural de um povo e assumem determinadas
funções quando inseridos no ato de comunicação. Na cena em
A filha do ferrador deu o recado, e sem alteração de análise, esse gênero textual foi utilizado com a finalidade de
palavra. Simão escutara-a placidamente até o ponto em que a) favorecer a transmissão de conhecimento pertencente ao
lhe ela disse que o primo Baltasar a acompanhava ao Porto. folclore.
— O primo Baltasar!... — murmurou ele com um riso b) convencer o interlocutor sobre a necessidade de se ter
sinistro. — Sempre este primo Baltasar cavando a sua paciência.
sepultura e a minha!... c) adaptar fato da realidade popular ao universo das classes
— A sua, fidalgo! — exclamou João da Cruz. — Morra privilegiadas.
ele, que o levem trinta milhões de diabos! Mas vossa d) mostrar o conhecimento do enunciador sobre temas
senhoria há de viver enquanto eu for João. Deixe-a ir para o místicos.
Porto, que não tem perigo no convento. De hora a hora e) revelar a importância da aceitação dos eternos preceitos
Deus melhora. O senhor doutor vai para Coimbra, está por bíblicos.
lá algum tempo, e às duas por três, quando o velho mal se RESOLUÇÃO:
precatar, a fidalguinha engrampa-o, e é sua tão certo como João da Cruz utiliza o provérbio para convencer Simão a não se
esta luz que nos alumia. precipitar, a não tomar uma atitude desesperada diante de uma
adversidade e ter paciência, pois, de acordo com o aconselhador,
com o tempo todas as dificuldades seriam vencidas.
(BRANCO, Camilo Castelo. Amor de Perdição. [Competência 7, Habilidade 21 das Matrizes do ENEM.]
Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.]. p. 66.) Resposta: B

 (MODELO ENEM) – Camilo Castelo Branco é um dos


melhores prosadores da literatura portuguesa, o que se revela
por meio da maestria com que manipula a linguagem. Essa
capacidade pode ser percebida na criação da personagem
João da Cruz, homem simples e de maneiras pouco polidas.
Sua fala reflete a língua viva do povo, repleta de imagens como
“que o levem trinta milhões de diabos!”. Faz parte também
desse esforço de valorização da cultura popular, bem ao gosto
do Romantismo, a utilização de provérbios, como se vê em
a) “Sempre este primo Baltasar cavando a sua sepultura”.
b) “De hora a hora Deus melhora”.
c) “O senhor doutor vai para Coimbra”.
d) “quando o velho mal se precatar”.
e) “a fidalguinha engrampa-o”.

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Texto para as questões de  a


.  (MODELO ENEM) – Outra característica do Ultrarroman-
tismo presente na carta de Simão Botelho é a inadaptação em
“Não esperes nada, mártir — escrevia-lhe ele. — A luta relação à existência. Como era comum na literatura produzida
com a desgraça é inútil, e eu não posso já lutar. Foi um atroz por essa vertente, a solução vislumbrada para essa crise é
engano o nosso encontro. Não temos nada neste mundo. a) a submissão a uma entidade religiosa superior.
Caminhemos ao encontro da morte... Há um segredo que b) a obediência à vontade expressa dos mais velhos.
só no sepulcro se sabe. Ver-nos-emos? c) a descrença na vida e a valorização da morte.
Vou. Abomino a pátria, abomino a minha família; todo d) a confiança no triunfo do amor com a união dos jovens.
este solo está aos meus olhos coberto de forcas, e quantos e) a resignação diante do fato de não ser correspondido
homens falam a minha língua, creio que os ouço vociferar amorosamente.
as imprecações do carrasco. Em Portugal, nem a liberdade RESOLUÇÃO:
com a opulência, nem já agora a realização das esperanças Trechos como “Caminhemos ao encontro da morte” e “a
que me dava o teu amor, Teresa! felicidade é a morte”, entre outros, revela o tema típico do
Ultrarromantismo de que a morte seria a solução para a crise
(...) existencial vivenciada pela personagem. [Competência 5,
Salva-te, se podes, Teresa. Renuncia ao prestígio dum Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
grande desgraçado. Se teu pai te chama, vai. Se tem de Resposta: C
renascer para ti uma aurora de paz, vive para a felicidade desse
dia. E, se não, morre, Teresa, que a felicidade é a morte, é o
desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor, é o
esquecimento que salva das injúrias a memória dos
padecentes.”

(BRANCO, Camilo Castelo. Amor de Perdição.


Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.]. p. 111.)

 (MODELO ENEM) – O fatalismo, ou seja, a concepção de


que os acontecimentos de nossa vida se dão em virtude de  O que Simão quis dizer com “é o desfazerem-se em pó as
uma força maior, sem que nada possa impedi-los, é caro ao fibras laceradas pela dor, é o esquecimento que salva das
Romantismo, principalmente ao Ultrarromantismo, vertente à injúrias a memória dos padecentes”? Explique, com suas
qual se filia Camilo Castelo Branco. No texto acima, a carta que próprias palavras, o pensamento da personagem, mantendo-se
Simão dirige a sua amada, Teresa, essa visão trágica da fiel ao contexto do qual foi retirado.
existência aparece no trecho RESOLUÇÃO:
a) “Abomino a pátria”. No trecho citado, de acordo com o contexto em que está inserido,
b) “A luta com a desgraça é inútil”. Simão Botelho declara acreditar que com a morte, quando o
homem se desfaz em pó, acaba o sofrimento, ou seja, as fibras
c) “Foi um atroz engano o nosso encontro”.
que compõem a carne param de ser laceradas, isto é, castigadas.
d) “Salva-te, se podes, Teresa”. Declara ainda que o fim da vida proporciona o esquecimento que
e) “Se teu pai te chama, vai”. salva a memória daquele que sofre de ser exposto a mais injúria.
RESOLUÇÃO:
O fatalismo, como explicado no enunciado da questão, submete
a existência ao controle de uma força contra a qual não se pode
lutar. Essa ideia comparece no trecho consignado na alternativa
b, que revela a crença do protagonista de que é inútil lutar contra
os maus acontecimentos que se abateram sobre sua vida, pois
teriam sido determinados pelo destino inexorável. [Competência 5,
Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: B

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(MODELO ENEM) – Outra inadaptação que Simão Botelho Leia um trecho do prefácio da quinta edição portuguesa do
demonstra em sua carta diz respeito aos grupos sociais a que romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, e
ele deveria estar vinculado. Essa propensão para a responda à questão :
inadequação é captada em
a) “eu não posso já lutar”. (...) Eu não cessarei de dizer mal desta novela que tem a
b) “Há um segredo que só no sepulcro se sabe”. boçal inocência de não devassar alcovas, a fim de que as
c) “Abomino a pátria, abomino a minha família”. senhoras a possam ler nas salas, em presença de suas
d) “todo este solo está aos meus olhos coberto de forcas”. filhas ou de suas mães, e não precisem de esconder-se
e) “nem a liberdade com a opulência”. com o livro no seu quarto de banho. Dizem, porém, que o
RESOLUÇÃO: Amor de Perdição fez chorar. Mau foi isso. Mas agora,
Quando Simão declara que abomina a pátria e a família, ele revela como indenização, faz rir: tornou-se cômico pela seriedade
que não se sente parte dessas duas instituições sociais básicas. antiga (...).
Mostra-se, portanto, um inadaptado. [Competência 5, Habilidade 16
das Matrizes do ENEM.] E por isso mesmo se reimprime. O bom senso público
Resposta: C relê isto, compara com aquilo e vinga-se barrufando1 com
frouxos de riso2 realista as páginas que há dez anos
aljofarava3 com lágrimas românticas.

1 – Barrufar: borrifar.
2 – Frouxo de riso: ataque de riso prolongado que não se consegue
conter.
3 – Aljofarar: salpicar com pequenas gotas.

(UNICAMP – adaptada) – Como você pode notar, o autor


faz referência a dois gostos literários para explicar como Amor
de Perdição produziria no público leitor, por ocasião de sua
reimpressão, uma reação completamente diferente daquela
produzida ao ser publicado pela primeira vez. Considerando tal
afirmação, como se explica uma reação tão diferente por parte

(MODELO ENEM) – O espírito romântico é marcado por dos leitores dessas duas edições?
um mal-estar, uma sensação de desajuste tanto social quanto
RESOLUÇÃO:
existencial. Como a carta de Simão claramente demonstra, as A reação diferente dos leitores é determinada por uma radical
obras desse período apontam como saída para essa condição mudança no gosto, resultado da grande transformação de
crítica princípios estéticos que ocorre na passagem do Romantismo
para o Realismo. Leitores com uma expectativa realista tendiam
a) o subjetivismo, ou seja, o mergulho nas questões interiores. a achar ridículos os arroubos românticos que comparecem em
b) o saudosismo, isto é, a valorização de um passado feliz. quase todas as páginas de Amor de Perdição.
c) o satanismo, ou seja, o destaque de posturas perversas.
d) o escapismo, isto é, a fuga da realidade opressora.
e) o cinismo, ou seja, a rejeição amoral dos valores sociais
vigentes.
RESOLUÇÃO:
Simão Botelho é um inadaptado socialmente, por isso abomina a
pátria e a família — em resumo, não quer fazer parte dessas duas
instituições. Por isso deseja a morte. A personagem revela então
uma postura escapista, típica do Romantismo. [Competência 5,
Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: D

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O prédio histórico em que atualmente funciona o Centro Português de Fotografia, no Porto, antigamente era
a Cadeia da Relação. Camilo Castelo Branco esteve preso nela por ter seduzido e raptado aquela que tempos
depois se tornaria sua esposa: Ana Augusta Vieira Plácido.

CAMILO Ferreira Botelho CASTELO BRANCO (1825-1890): Teve uma vida


bastante “romântica” e acidentada. Casou-se aos 16 anos com uma camponesa.
Depois de abandonar mulher e filha, fez os estudos secundários e envolveu-se em
várias aventuras amorosas, uma delas com uma freira. De uma de suas paixões
lhe nasceu outra filha. Teve algumas crises místicas. Seu caso mais rumoroso deu-se
com Ana Plácido de Castro Osório, mulher de alta posição na sociedade do Porto,
que abandonou o marido e fugiu com o escritor. O casal foi preso e processado.
Absolvidos, em 1861, retiraram-se, em 1864, para uma propriedade no campo
herdada por Ana Plácido. Para sustentar a mulher e três filhos, Camilo, que vivia
da profissão de escritor, teve de escrever muito mais do que de fato poderia. Foi
afligido por doenças e, por fim, pela cegueira. Como escritor, dedicou-se ao romance, ao teatro e à crítica literária.
Reconstituiu em suas obras o panorama dos costumes e dos caracteres do Portugal de seu tempo, quase sempre
com uma profunda sintonia com as maneiras de ser e sentir do povo português. Suicidou-se aos 65 anos de idade.

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Palavras-chave:
Gonçalves Dias:
• Poesia romântica brasileira
43 poesia indianista • Indianismo • “I-Juca Pirama”

Exercícios Resolvidos

Resolução Eu sob a copa da mangueira altiva


A única característica comum à pintura e ao Nosso leito gentil cobri zelosa
texto é apontada na alternativa c. Erros: a) Com mimoso tapiz de folhas brandas,
“tristeza e melancolia... movimento Onde o frouxo luar brinca entre flores.
romântico”; b) “o texto é apenas fantasioso”;
d) não se vê “contraste entre a cultura Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
europeia e a cultura indígena” no quadro de Já solta o bogari mais doce aroma!
Eckhout; e) “forte direcionamento religioso”. Como prece de amor, como estas preces,
Resposta: C No silêncio da noite o bosque exala.

Texto para o teste . Brilha a lua no céu, brilham estrelas,


Correm perfumes no correr da brisa,
O indianismo dos românticos (...) denota A cujo influxo mágico respira-se
tendência para particularizar os grandes Um quebranto de amor, melhor que a vida!
temas, as grandes atitudes de que se nutria a
literatura ocidental, inserindo-as na realidade A flor que desabrocha ao romper d’alva
local, tratando-as como próprias de uma Um só giro do sol, não mais, vegeta:
tradição brasileira. Eu sou aquela flor que espero ainda
Índio Tapuia, de Albert Eckhout (1610-1666)
(Antônio Cândido, Doce raio do sol que me dê vida.
(Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br.
Formação da Literatura Brasileira) (Gonçalves Dias)
Acesso em: 15 maio 2020.)

A feição deles é serem pardos, maneira  (FATEC – adaptado – MODELO ENEM) –  (FATEC – modificado – MODELO ENEM) –
d’avermelhados, de bons rostos e bons A literatura brasileira, de uma forma ou de As escolas literárias não são categorias
narizes, bem feitos. Andam nus, sem outra, sempre manteve relação com a estanques, ou seja, radicalmente separadas
nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma europeia. Por causa disso, de acordo com o entre si. Por isso, é natural que o poema
cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E texto, o indianismo, em nossas letras, acima, do Romantismo, apresente também
estão acerca disso com tanta inocência como a) procurou ser uma cópia dos modelos euro- características do
peus. a) Barroco, pela metaforização cultista obtida
têm em mostrar o rosto.
b) adaptou a realidade brasileira aos modelos na referência a “luar”, “vales”, “bosque”
(Pero Vaz de Caminha, A Carta.
europeus. e “perfumes”.
Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
c) depreciou a literatura ocidental para
Acesso em: 15 maio 2020.) b) Trovadorismo, pela retomada do tema da
valorizar a tradição brasileira.
espera amorosa, típico das cantigas de
 Ao se estabelecer uma
d) deformou a tradição brasileira para adaptá-la
à literatura ocidental.
amigo medievais.
relação entre a obra de c) Classicismo, pela maneira platônica com
e) procurou adaptar os modelos europeus à
Eckhout e o trecho do que é trabalhada a saudade que o eu lírico
realidade local.
texto de Caminha, conclui-se que Resolução sente da pessoa amada.
a) ambos se identificam pelas características O texto de Antônio Cândido refere-se à inserção d) Neoclassicismo, pela referência a uma
estéticas marcantes, como tristeza e de temas e atitudes da literatura romântica natureza agradável que permite o ideal do
melancolia, do movimento romântico das ocidental na realidade local, tratando-os como carpe diem.
artes plásticas. próprios de uma tradição brasileira. Segundo o e) Arcadismo, pela valorização de um
b) o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, crítico, a realidade local foi subordinante e os universo alheio às mudanças provocadas
representando-o de maneira realista, ao modelos europeus foram adaptados a ela. A pela urbanização moderna.
passo que o texto é apenas fantasioso. alternativa b, que pode ter confundido o aluno, Resolução
c) a pintura e o texto têm uma característica inverte a relação subordinante-subordinado, A alternativa b é a única que contempla
como proposta no fragmento transcrito. corretamente uma característica relevante do
em comum, que é representar o habitante
Resposta: E poema gonçalvino: a presença de um eu lírico
das terras que sofreriam processo
feminino — à maneira das cantigas de amigo
colonizador.
d) o texto e a pintura são baseados no
Texto para o teste . da tradição medieval portuguesa — que
aguarda o retorno do amado. Mas,
contraste entre a cultura europeia e a LEITO DE FOLHAS VERDES diferentemente da espontaneidade dos
cultura indígena.
cantares de amigo, o poema de Gonçalves
e) há forte direcionamento religioso no texto Por que tardas, Jatir, que tanto a custo Dias resulta de uma sofisticada elaboração
e na pintura, uma vez que o índio À voz do meu amor moves teus passos? imagética, ocultando, sob o ritmo prosaico dos
representado é objeto da catequização Da noite a viração, movendo as folhas, versos brancos, requintados jogos sonoros.
jesuítica. Já nos cimos do bosque rumoreja. Resposta: B

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Exercícios Propostos

“I-Juca Pirama”1 exemplifica perfeitamente, na obra de (MODELO ENEM) – Os versos de Gonçalves Dias
Gonçalves Dias, a idealização heroica do selvagem. O poema marcam-se pelo ritmo ágil e pela linguagem precisa; pela
narra a história de um guerreiro tupi que, aprisionado pelos brevidade e pela cadência fortemente marcada; pelo equilíbrio
Timbiras, deve morrer em uma cerimônia antropófaga. Os entre expressão e construção, entre forma e conteúdo. Um
seguintes versos fazem parte de seu canto de morte, momento dos fatores que contribuem para esse efeito estético é a
métrica, que apresenta
em que o prisioneiro, preparado para sua morte — com a cabeça
a) sete sílabas métricas (heptassílabos).
raspada e o corpo pintado —, revela quem é a seus algozes:
b) cinco sílabas métricas (pentassílabos).
c) oito sílabas métricas (octossílabos).
IV
d) quatro sílabas métricas (tetrassílabos).
Meu canto de morte, e) cinco e seis sílabas métricas (pentassílabos e hexassílabos).
Guerreiros, ouvi: RESOLUÇÃO:
Sou filho das selvas, Os versos são redondilhos menores (cinco sílabas), com
Nas selvas cresci; tonicidade na segunda e quinta sílabas. [Competência 5,
Habilidade 16 das Matrizes do ENEM.]
Guerreiros, descendo Resposta: B
Da tribo Tupi.

Da tribo pujante, poderosa


Que agora anda errante
Por fado inconstante,

destino
(MODELO ENEM) – A tragédia surgiu na Grécia Antiga e
Guerreiros, nasci:
veio de um canto que um indivíduo proferia antes de ser
Sou bravo, sou forte,
sacrificado. A semelhança que o canto de morte apresentado
Sou filho do Norte; assume com o antigo gênero clássico permite entender que a
Meu canto de morte, poesia indianista
Guerreiros, ouvi. a) aplicou ao universo indígena a grandiosidade atribuída a
elementos da cultura europeia.
(GONÇALVES DIAS, J. Últimos Cantos.
b) revelou ao leitor brasileiro a universalidade dos valores
Rio de Janeiro: Tipografia de F. de Paula Brito, 1851. p. 18.)
advindos da literatura greco-romana.
c) provou ao público europeu a superioridade do elemento
1 – I-Juca Pirama: tupi; aquele que é digno de morrer.
primitivo em relação aos colonizadores.
d) divulgou ao Brasil a necessidade de proclamação da
 O indianismo forneceu à jovem nação brasileira o traço independência em relação a Portugal.
característico que a diferenciava de qualquer outra. O poeta e) engrandeceu a simplicidade das comunidades primitivas
romântico deu ao país uma identidade, sobretudo heroica. americana e europeia.
Considere os versos e responda: RESOLUÇÃO:
a) Quais expressões permitem associar o texto ao indianismo? O indianismo foi a vertente do Romantismo que escolheu o índio
RESOLUÇÃO: como herói nacional, como mito. Para isso, como era de costume
São as seguintes: “Sou filho das selvas”; “Nas selvas cresci”; nesse estilo literário, a grandiosidade dessa personagem foi, de
“tribo Tupi”; “tribo pujante”; maneira idealizada, associada a padrões da cultura europeia. O
primeiro deles, mais facilmente lembrado, está na associação que
se faz do heroísmo do índio ao do cavaleiro medieval. O outro
seria o engrandecimento do drama de I-Juca Pirama ao nível da
tragédia clássica — de fato, Gonçalves Dias, pertencente ao início
do Romantismo, carrega em sua arte resquícios da tradição
clássica. [Competência 5, Habilidades 16 e 17 das Matrizes do
ENEM.]
Resposta: A
b) Quem aparece idealizado no texto?
RESOLUÇÃO:
Tanto o eu lírico como sua tribo são idealizados: o índio é
“bravo”, “forte” e sua tribo é “pujante”.

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No canto de morte, entretanto, o guerreiro chora, prome- RESOLUÇÃO:


tendo voltar após o falecimento do pai cego, que precisava O texto possui um enunciador, o narrador, que vai apresentando,
de maneira sequenciada, as ações (“diz o chefe”, “Os guerreiros
dele. murmuram”) e também as falas de duas personagens, o chefe
Timbira e I-Juca Pirama. Trata-se, portanto, de uma narração.
V [Competência 1, Habilidade 1 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C

Soltai-o! — diz o chefe. — Pasma a turba; Espanta-se a


Os guerreiros murmuram: mal ouviram, [multidão
Nem pôde nunca um chefe dar tal ordem!
Brada segunda vez com voz mais alta,
Afrouxam-se as prisões, a embira cede, tipo de corda
A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.

— Timbira, diz o índio enternecido,


Solto apenas dos nós que o seguravam:
És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste,
Nem sofres que, transposta a natureza,  De que maneira a atitude do prisioneiro foi entendida pelo
Com olhos onde a luz já não cintila, chefe timbira?
RESOLUÇÃO:
Chore a morte do filho o pai cansado,
O choro do índio tupi foi interpretado como covardia diante da
Que somente por seu na voz conhece. morte.
— És livre; parte.
— E voltarei.
— Debalde. Em vão
— Sim, voltarei, morto meu pai.
— Não voltes!
É bem feliz, se existe, em que não veja,
Como seu filho chora: és livre; parte.
— Acaso tu supões que me acobardo, acovardo
Que receio morrer!
— És livre; parte!
— Ora não partirei; quero provar-te
Que um filho dos Tupis vive com honra,
E com honra maior, se acaso o vencem,
Da morte o passo glorioso afronta.
 O Timbira liberta o cativo porque os antropófagos acredi-
— Mentiste, que um Tupi não chora nunca, tavam que, ao se alimentarem da carne de um valente, assimi-
E tu choraste!... parte; não queremos lariam suas forças e, em contrapartida, ao ingerirem a carne de
Com carne vil enfraquecer os fortes. desprezível, um fraco, se contaminariam com sua fraqueza. Quais as
[indigna palavras do chefe que justificam esse conceito?
(...) RESOLUÇÃO:
“... não queremos / Com carne vil enfraquecer os fortes.”

(GONÇALVES DIAS, J. Últimos Cantos.


Rio de Janeiro: Tipografia de F. de Paula Brito, 1851. p. 22-23.

 (MODELO ENEM) – Os textos podem ser classificados


em diferentes gêneros, de acordo com o estilo. Tendo em
mente esse aspecto, o texto transcrito é classificado como
a) crônica, pois relata fatos do cotidiano indígena.
b) dissertação, pois expressa a opinião do enunciador.
c) narração, pois sequencia um conjunto de acontecimentos.
d) teatro, pois foi feito com o propósito de ser encenado.
e) didático, pois veicula ideais morais do autor ao público.

206 PORTUGUÊS
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Humilhado, o índio da nação Tupi volta para o pai que, tocan- RESOLUÇÃO:
do sua pele e seu crânio, descobre que o filho fora libertado da A ideia de que homem não deve chorar de medo em qualquer
situação, principalmente diante de estranhos.
morte heroica por sua causa. Ambos retornam à presença dos
Timbiras, pois o pai deseja que prossigam no ritual, a fim de
que o filho morra como um valente. No entanto, fica sabendo
que o rapaz fora rechaçado porque chorara como um covarde.
O pai, então, lança uma terrível maldição sobre o filho:

VIII

“Tu choraste em presença da morte?


Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.

“Possas tu, isolado na terra,


Sem arrimo e sem pátria vagando, apoio
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado; fantasma odiado,
Não encontres amor nas mulheres, [amaldiçoado
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz! enganadora

(...)

“Um amigo não tenhas piedoso


Que o teu corpo na terra embalsame, envolva em
Pondo em vaso d’argila cuidoso [bálsamos
Arco e frecha e tacape a teus pés1! flecha
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.”

(GONÇALVES DIAS, J. Últimos Cantos.


Rio de Janeiro: Tipografia de F. de Paula Brito, 1851. p. 29-31.)

1 – Pondo em vaso d’argila cuidoso / Arco e frecha e tacape a teus


pés!: forma de se enterrar os índios, com honra — em vaso de argila,
com as armas a seus pés.

Na época do Romantismo, havia poucos estudos etnográ-


ficos sobre os nativos. Assim, Gonçalves Dias contempla
características indígenas de fato — como a antropofagia —, ao
mesmo tempo em que idealiza a personalidade do índio com
valores considerados heroicos pela cultura ocidental,
característicos do cavaleiro medieval europeu. Qual valor da
cultura europeia está implícito nas palavras do pai
O Sinal de Combate (Coroados), c. 1827, de Jean-Baptiste Debret
decepcionado com o filho? (1768-1848). Litografia.

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Após a maldição, sozinho, o pai tenta se afastar, tateando


Por que o pai não admitiu as lágrimas do filho, mas, cho-
as trevas, envergonhado, mas ouve o grito de guerra do filho, rando, afirmou que suas próprias lágrimas não o desonravam?
que ataca repentinamente os Timbiras, até que: RESOLUÇÃO:
O pai não chora por algo que o possa envergonhar, como o medo,
IX mas por extremo orgulho do filho valente que tem.

(...)

— Basta! Clama o chefe dos Timbiras,


— Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste, muito
E para o sacrifício é mister forças. — necessário

O guerreiro parou, caiu nos braços


Do velho pai, que o cinge contra o peito, abraça
Com lágrimas de júbilo bradando: extrema alegria –
“Este, sim, que é meu filho muito amado! [gritando
“E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
Corram livres as lágrimas que choro,
Estas lágrimas, sim, que não desonram.”

Um velho Timbira, coberto de glória,


Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: — “Meninos, eu vi!”

(...)

(GONÇALVES DIAS, J. Últimos Cantos.


Rio de Janeiro: Tipografia de F. de Paula Brito, 1851. p. 33-34.)

Antônio GONÇALVES DIAS (1823-1864): Nasceu no Maranhão e era filho de um comerciante


português e de uma mestiça (cafuza). Estudou Direito em Coimbra, onde entrou em contato,
por volta de 1840, com as obras de Almeida Garrett e Alexandre Herculano. De volta ao Brasil,
em 1845, dedicou-se ao magistério, no Colégio Pedro II, e aproximou-se do grupo de Gonçalves
de Magalhães, obtendo a proteção imperial, a qual não mais lhe faltaria. Entre outras funções,
exerceu a de oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Após uma expedição ao
Amazonas, como etnógrafo, retornou doente, buscando cura na Europa, onde permaneceu de
1862 a 1864. Morreu na viagem de regresso, no naufrágio do navio Ville de Boulogne, já bem
próximo da costa do Maranhão. Considerado pela crítica o primeiro poeta autêntico de nosso Romantismo, os
temas predominantes em sua obra são o amor, a natureza, Deus e o índio. Foi grande idealizador deste último,
tomando como matéria de poesia o mito do “bom selvagem” (formulado pelo pensador pré-romântico
Jean-Jacques Rousseau), tingindo-o com tons medievalizantes.

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Palavras-chave:
Um clássico romântico: a “Canção • Canção do exílio gonçalvina

44 do Exílio” de Gonçalves Dias • Poesia romântica


• Ufanismo romântico

Exercícios Resolvidos

Textos para os testes  e . Texto 2 d) Nos textos 1 e 2, há o reconhecimento de


que a terra estrangeira é pródiga e
Texto 1
prazerosa.
CANÇÃO DO EXÍLIO e) A terceira estrofe do texto 1 e a última oração
do texto 2 traduzem sentimentos distintos.
Minha terra tem palmeiras, Resolução
Onde canta o Sabiá; Não há, no texto 1, “reconhecimento de que a
As aves que aqui gorjeiam terra estrangeira é pródiga e prazerosa”.
Não gorjeiam como lá. Resposta: D

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
 Quando escreveu a “Canção do Exílio”,
Nossos bosques têm mais vida, em 1841, Gonçalves Dias estava em Portugal.
Nossa vida mais amores. Assinale a alternativa inaceitável em relação
ao texto.
(...) a) O pronome mais é empregado sempre
para valorizar as coisas do Brasil, em
Minha terra tem primores,
(PAIVA, Miguel; SCHWARCZ, Lilia. relação às de Portugal.
Que tais não encontro eu cá;
Da Colônia ao Império: um Brasil para b) O eu lírico sente-se exilado, com saudades
Em cismar — sozinho, à noite — inglês ver... São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 11.)
da pátria.
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,  (UFF) – Nos textos 1 e 2, há um distan- c) O advérbio cá refere-se ao Brasil.
Onde canta o Sabiá. ciamento da terra natal. Assinale a alternativa d) Os advérbios lá e aqui referem-se,
que não corresponde aos textos. respectivamente, ao Brasil e a Portugal.
Não permita Deus que eu morra, a) No texto 2, há referência à chegada do e) O poema é estruturado através de
Sem que eu volte para lá; colonizador, à miscigenação do branco comparações entre o Brasil e Portugal.
Sem que desfrute os primores com o negro e à exploração da terra. Resolução
Que não encontro por cá; O advérbio cá refere-se ao local em que o eu
b) No texto 2, os elementos caracterizadores
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
da terra natal encontram-se na expressão lin- lírico se encontra, ou seja, o exílio. Ele fala,
Onde canta o Sabiá.
guística, nos trajes e no meio de transporte. portanto, da perspectiva de quem está fora da
(GONÇALVES DIAS, Antônio.
Poesia e Prosa Completa Escolhida. c) A terra natal da personagem do texto 2 e a pátria. O advérbio lá refere-se ao Brasil.
Rio de Janeiro: José Aguilar, 1959. p. 103.) do eu lírico do texto 1 são diferentes. Resposta: C

Exercícios Propostos

Por que clássico? Esse é o caso da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.


Trata-se de um texto clássico por excelência, pois superou o
Chamam-se clássicos, em sentido estrito, textos escritos no seu tempo e as circunstâncias em que foi escrito, inseriu-se
estilo do Classicismo. No sentido amplo da palavra, porém, são profundamente na cultura brasileira e pode-se dizer que é
chamados clássicos textos de qualquer estilo que superam os conhecido por todos os brasileiros, mesmo por quem nunca o
limites da sua época — isto é, superam os gostos, as modas e as leu diretamente. Por quê? Porque o leu ou o conhece indireta-
opiniões de seu tempo, que são passageiros — e são lidos em mente, já que está presente no Hino Nacional, se tornou
outras épocas e lugares sem perder seu sentido e sua atualidade. símbolo do País, foi imitado, parodiado ou parafraseado por
Um clássico é, essencialmente, um texto que nunca lemos muitos poetas e compositores, foi tema de histórias em
de fato pela primeira vez, pois antes de o ler já o conhecíamos quadrinhos etc.
de alguma forma, e é, ao mesmo tempo, um texto que nunca Quando compôs o famoso poema, Gonçalves Dias tinha
paramos de ler, pois, mesmo que não o leiamos mais, apenas 19 anos e estudava em Coimbra. Incluiu-o depois em
continuamos a encontrá-lo em outros textos, em outras obras seu livro de estreia, Primeiros Cantos, publicado em 1846.
de arte e em diferentes áreas da cultura.

PORTUGUÊS 209
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A seguir, leia a “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias e res-  Faça a escansão dos quatro versos da segunda estrofe.
ponda ao que se pede. Quantas sílabas métricas elas possuem?
RESOLUÇÃO:
Texto para as questões de  a . No sso céu tem mais es tre
1 2 3 4 5 6 7
CANÇÃO DO EXÍLIO No ssas vár zeas têm mais flo
1 2 3 4 5 6 7

Kennst du das Land, wo die Zitronen blühn, No ssos bos ques têm mais vi
1 2 3 4 5 6 7
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühn,
No ssa vi da mais a mo
Kennst du es wohl?
1 2 3 4 5 6 7
— Dahin, dahin!
Möcht’ich... ziehn1.
Os versos são redondilhos maiores ou heptassílabos.
(Goethe)

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam cantam

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar — sozinho — à noite,


Mais prazer encontro eu lá;  (MODELO ENEM) – “Canção do Exílio” está entre os
Minha terra tem palmeiras, poemas mais famosos da literatura brasileira. Um dos motivos
Onde canta o Sabiá. de sua notoriedade deve-se ao fato de desenvolver dois temas
recorrentes e caros na cultura brasileira, que são
Minha terra tem primores, coisas de qualidade
a) a xenofobia e a sorte.
b) a natureza e o homem.
Que tais não encontro eu cá; [superior, excelentes
c) a natureza e a civilização.
Em cismar — sozinho — à noite — pensar, refletir
d) a saudade e o nacionalismo.
Mais prazer encontro eu lá;
e) a tristeza e a religião.
Minha terra tem palmeiras,
RESOLUÇÃO:
Onde canta o Sabiá. O tema da “Canção do Exílio” é a saudade da pátria. Assim, o
poema desenvolve dois temas caros e constantes na cultura e
identidade brasileiras: a saudade e o nacionalismo. [Competência 6,
Não permita Deus que eu morra, Habilidade 20 das Matrizes do ENEM.]
Sem que eu volte para lá; Resposta: D
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

(GONÇALVES DIAS, Antônio. Primeiros Cantos.


Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1846. p. 9-10.)

1 – “Conheces a região onde florescem os limoeiros? / Laranjas


douradas ardem no verde-escuro da folhagem. / Conheces bem? —
Para lá, para lá! / Eu desejaria ir.” Esses versos iniciam o célebre
poema “Mignon”, de Goethe, no qual se fala de um país fabuloso,
completamente idealizado.

210 PORTUGUÊS
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 No texto, há contraposição entre dois advérbios: cá e lá. O  (MODELO ENEM) – Epígrafe é uma breve citação
que significa cada um desses lugares para o eu lírico? colocada no início de um texto e que tem como função resumir
RESOLUÇÃO: ou situar o que se vai ler. Em “Canção do Exílio”, ela se
O advérbio “lá” é a pátria (ou o Brasil), lugar de existência configura na utilização de versos do poeta alemão Goethe,
exuberante; o advérbio “cá” representa o exílio (ou Portugal),
marcado pela carência e pela saudade.
preparando o leitor para a aceitação da ideia de que
a) a pátria cantada no poema é fabulosa.
b) a cultura alemã se assemelha à brasileira.
c) a literatura europeia valida a americana.
d) a civilização moderna eliminará a natureza.
e) a idealização romântica repele o sonho.
RESOLUÇÃO:
A epígrafe utilizada por Gonçalves Dias apresenta um país dos
sonhos, um lugar fabuloso. Serve, portanto, para antecipar ao
leitor a abordagem que o eu poemático fará em “Canção do
Exílio”: a pátria, da qual sente saudade, é um local fantástico, em
que os céus têm mais estrelas, as várzeas têm mais flores, os
bosques têm mais vida, a vida tem mais amores. [Competência 6,
Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: A

 (MODELO ENEM) – Um processo bastante curioso na


arte romântica é a capacidade do artista de, ao falar de sua
própria experiência pessoal, extravasar para o campo coletivo.
 Quase todas as palavras envolvidas nas rimas da “Canção Esse fenômeno ocorre em “Canção Exílio” no momento em
do Exílio” acentuam determinado som que funciona como um que o eu lírico
eco de lamento por todo o texto. Que tipo de acentuação têm a) abandona o discurso emotivo e parte para o racional.
essas palavras? Qual o som que se espalha pela leitura? b) rejeita sua melancolia e se entrega à crença religiosa.
RESOLUÇÃO: c) troca a primeira pessoa do singular pela primeira do plural.
As rimas são bem marcadas pela palavra oxítona “sabiá” e por
dois monossílabos tônicos, “lá” e “cá”. O som que ecoa pela
d) subordina a métrica fixa à oscilação das emoções.
leitura é um “Ah”, que corresponde ao suspiro de saudade de que e) vincula a rima ao sentimentalismo do eu lírico.
falam os versos. RESOLUÇÃO:
A abordagem pessoal, particular, é captada em “Canção do Exílio”
por meio do emprego da primeira pessoa do singular: “Minha
terra tem palmeiras”. O enfoque torna-se coletivo no momento
em que a primeira pessoa do plural passa a ser usada: “Nosso céu
tem mais estrelas, / Nossas várzeas têm mais flores, / Nossos
bosques têm mais vida, / Nossa vida mais amores”. [Competência 6,
Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: C

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Texto para as questões e


. RESOLUÇÃO:
Pode-se considerar o poema de Casimiro de Abreu uma imitação
CANÇÃO DO EXÍLIO da “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, tantos são os elementos
dela, a começar pelo título. O tema é o mesmo nos dois poemas:
a saudade da pátria (um tema antigo), assim como a imagem
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, dominante: o sabiá. Em relação à forma, Casimiro fez uso, na
Meu Deus! não seja já; primeira e na última estrofe, da rima em -á, característica do
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, poema de Gonçalves Dias. [Competência 1, Habilidade 1 das
Matrizes do ENEM.]
Cantar o sabiá! Resposta: B

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro,


Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!

O país estrangeiro mais belezas


Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces d’uma mãe!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava,


Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!

(...)
O poema de Gonçalves Dias sempre foi valorizado por sua
economia, sua sobriedade e contenção emocional. O mesmo
não acontece no poema de Casimiro de Abreu, que é
Quero sentar-me à beira do riacho
“derramado”, ou seja, não é nada “enxuto” ou econômico.
Das tardes ao cair,
Entre os pontos mais fracos do poema, podem-se mencionar:
E sozinho, cismando no crepúsculo, 1) uma cacofonia, ou combinação de sons desajeitada, na
Os sonhos do porvir! primeira estrofe e na última, e 2) uma rima que, no Brasil, fica
um pouco ridícula, pois depende de as palavras que participam
(...) dela serem pronunciadas à maneira lusitana. Indique os
trechos do texto correspondentes aos dois pontos indicados.
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, RESOLUÇÃO:
Meu Deus! não seja já; 1) “... seJA JÁ” (primeira e última estrofes) e 2) “tem” / “mãe”,
~ ~
pronunciadas tá l e má l (terceira estrofe). [O leitor percebe que
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
essas palavras devem rimar porque os versos 2 e 4 rimam em
Cantar o sabiá! todas as estrofes.]

(ABREU, Casimiro de. As Primaveras.


Porto: Tipografia do Jornal do Porto, 1866. p. 19-20.)

Os textos literários são fenômenos sociais, o que muitas


vezes permite que se construa uma conexão entre eles.
Assim, o poema de Casimiro de Abreu é, em relação à
“Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, uma
a) paródia, pois incorpora elementos do texto original,
satirizando-os.
b) imitação, pois retoma ingredientes de forma e conteúdo do
texto-fonte.
c) carnavalização, pois apresenta palavras jocosas em relação
à pátria.
d) atualização, pois troca termos antiquados por outros
modernos.
e) intervenção, pois elimina referências equivocadas à
natureza brasileira.

212 PORTUGUÊS
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Exercícios-Tarefa

Módulo 49 – Advérbio (II) c) A palavra literalmente costuma ser mal empregada por
muita gente.
d) Estão caminhando mal as reformas políticas no Brasil.
Texto para as questões de  a . e) Mal refeito da gripe, entrou em campo debilitado.

Inocência não aparecia.  (BARRO BRANCO) – Na primeira vez em que se dirige a


Mal saía do quarto, pretextando recaída de sezões: Nossa Senhora, a protagonista usa um tratamento e, na
entretanto, não era seu corpo o doente, não; a sua alma, sim, segunda, outro. Uma das explicações é que, na segunda vez,
essa sofria morte e paixão; e amargas lágrimas, sobretudo à ela
noite, lhe inundavam o rosto. a) usou verbos que devem ser conjugados de modo
— Meu Deus, exclamava ela, que será de mim? Nossa diferente do verbo empregado em sua primeira fala.
Senhora da Guia me socorra. Que pode fazer uma infeliz b) encontrava-se agoniada, devido ao momento porque
rapariga dos sertões contra tanta desgraça? Eu vivia tão estava passando, por isso empregou mal os verbos.
sossegada neste retiro, amparada por meu pai... que agora c) estava repetindo uma oração que devia saber de cor, já
tanto medo me mete... Deus do céu, piedade, piedade. que era muito religiosa.
E de joelhos, diante do tosco oratório alumiado por d) intercalou em sua oração flexões verbais típicas da
esguias velas de cera, orava com fervor; balbuciando as preces linguagem regional.
que cos- tumava recitar antes de se deitar: e) pretendeu tornar seu pedido mais convincente, dando-lhe
Uma noite, disse ela: — Quisera uma reza que me um tom mais solene e respeitoso.
enchesse mais o coração... que mais me aliviasse o peso da
agonia de hoje...  (BARRO BRANCO) – O verbo no tempo mais-que-perfei-
E, como levada de inspiração, prostrou-se murmurando: — to do indicativo pode ser empregado em frases optativas, isto
Minha Nossa Senhora mãe da Virgem que nunca pecou, ide é, que exprimem desejo. É o que ocorre no trecho do texto:
adiante de Deus. Pedi-lhe que tenha pena de mim... que não a) essa sofria morte e paixão.
me deixe assim nesta dor cá dentro tão cruel. Estendei a vossa b) Meu Deus, exclamava ela.
mão sobre mim. Se é crime amar a Cirino, mandai-me a morte. c) Quisera uma reza.
Que culpa tenho eu do que me sucede? Rezei tanto, para não d) que me enchesse mais o coração.
gostar deste homem! Tudo... tudo... foi inútil! Por que então e) A paixão punha-lhe o peito em fogo.
este suplício de todos os momentos? Nem sequer tem alívio
no sono? Sempre ele... ele! (...) Texto para as questões  e .
Quando a lembrança de Cirino se lhe apresentava mais
viva, estorcia-se de desespero. A paixão punha-lhe o peito em O BRASIL NA FOSSA
fogo...
(Visconde de Taunay, O Imperador dom Pedro II iniciou a construção de esgotos
Inocência) no Brasil em 1857. Só a inglesa Londres e a alemã Hamburgo
dispunham, então, de sistemas de coleta de dejetos. O Rio de
 (BARRO BRANCO) – O trecho do texto onde o pronome Janeiro, a capital imperial, tornou-se a terceira cidade do
oblíquo sublinhado tem sentido de posse é: mundo a investir nessa infraestrutura. O pioneirismo nacional
a) e amargas lágrimas (...) lhe inundavam o rosto. no quesito saneamento terminou aí. Mais de 150 anos depois,
b) Nossa Senhora da Guia me socorra. 45% dos domicílios brasileiros ainda permanecem
c) que agora tanto medo me mete. desconectados do sistema de escoamento. Nesses lares, 90
d) Pedi-lhe que tenha pena de mim. milhões de pessoas usam fossas sépticas ou, pior, despejam
e) estorcia-se de desespero. seus excrementos em valas a céu aberto ou diretamente nos
rios e no mar.
 (BARRO BRANCO) – No trecho Mal saía do quarto, pre- (Veja)
textando recaída de sezões, o advérbio mal foi empregado na
mesma acepção que na seguinte frase:  (BARRO BRANCO) – A estratégia usada pelo redator para
a) Mal chegou da viagem de férias, teve de trabalhar. atrair a atenção do leitor foi dar ao texto um título
b) Como não queria parecer indiscreto, mal tocou no a) contraditório, opondo na fossa (negativo) a fossas sépticas
assunto. (positivo).

PORTUGUÊS 213
C3_1A_VERMELHO_PORT_GK_2021.qxp 26/05/2021 13:01 Página 214

b) enigmático, usando uma frase nominal, o que é incomum c) O narrador admite sua fragilidade e timidez em oposição à
na linguagem jornalística. segurança e destemor a Capitu.
c) crítico, apesar de o texto conter pelo menos dois elogios d) O último parágrafo reforça, por meio de antíteses, as
ao Brasil. atitudes contrastantes das personagens.
d) cômico, baseado na comparação entre a capital imperial e e) Os tempos verbais indicam que os fatos narrados são
duas cidades europeias. reminiscências da juventude do narrador.
e) ambíguo, tendo em vista os sentidos denotativo e
conotativo da expressão na fossa.  Há no fragmento de Machado de Assis exemplos de
prosopopeia. Verifica-se o emprego dessa figura de linguagem
 (BARRO BRANCO) – Considerado o contexto, o advérbio na personificação do termo
então pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido, pela a) beijo.
expressão b) palavras.
a) nesse caso. c) silêncio.
b) naquela época. d) coração.
c) nesses lugares. e) artigo.
d) consequentemente.
e) realmente.  O trecho “eis aqui um que não fará grande carreira no
mundo, por menos que as emoções o dominem...” é exemplo de
Classifique os advérbios ou locuções adverbiais das frases a) discurso direto.
que se seguem. Sublinhe a palavra ou oração que o advérbio b) discurso indireto.
ou locução adverbial está modificando. c) discurso indireto livre.
a) Indubitavelmente, o fato abalaria a pacata cidade. d) monólogo interior.
b) O encontro era muito esperado, pois acontecia raramente. e) discurso dramático.
c) Seus sucessos se tornariam absolutamente impossíveis
diante das circunstâncias aterradoras. Texto para as questões  e .
d) “Passava-se isto na Rua da Lapa, em 1870.” (Machado de
Assis) Olhou as células arrumadas na palma, os níqueis e as
e) “E foi por ali, no mesmo tom zangado, fuzilando pratas, suspirou, mordeu os beiços. Nem lhe restava o direito
ameaças...” de protestar. Baixava a crista. Se não baixasse, desocuparia a
terra, largar-se-ia com a mulher, os filhos pequenos e os
cacarecos. Para onde? Hem? Tinha para onde levar a mulher e
Módulo 50 – Personagens e fala interior da os meninos? Tinha nada!
personagem (Graciliano Ramos, Vidas Secas)

Texto para as questões de  a .  Assinale a alternativa correta quanto ao texto acima:


a) Trata-se de uma narração em que o narrador reproduz a
Como eu quisesse falar também para disfarçar o meu fala da personagem em discurso direto.
estado, chamei algumas palavras cá dentro, e elas acudiram de b) As frases em discurso indireto mostram a personagem
pronto, mas de atropelo, e encheram-me a boca sem poder preocupada com seu futuro e o de sua família.
sair nenhuma. O beijo de Capitu fechava-me os lábios. Uma c) O trecho “Nem lhe restava o direito de protestar”
exclamação, um simples artigo, por mais que investissem com comprova que a personagem dialoga com quem o explora.
força, não logravam romper de dentro. E todas as palavras d) Os trechos finais são exemplos de discurso indireto livre:
recolheram-se ao coração, murmurando: “eis aqui um que não “Para onde? Hem? Tinha para onde levar a mulher e os
fará grande carreira no mundo, por menos que as emoções o meninos? Tinha nada!”.
dominem...” e) O monólogo interior da personagem, nos trechos finais,
Assim apanhados pela mãe, éramos dois e contrários, ela está em discurso indireto.
encobrindo com a palavra o que eu publicava pelo silêncio.
(Machado de Assis)  No fragmento dado, o problema enfrentado pela
personagem só não é de ordem
 Assinale a alternativa incorreta sobre o fragmento acima: a) financeira.
a) Narração em primeira pessoa em que o narrador se detém b) religiosa.
mais nos fatos do que nas reflexões. c) existencial.
b) O narrador falha no seu intento de disfarçar o ocorrido d) emocional.
entre ele e Capitu. e) social.

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Texto para a questão . Módulo 53 – Preposição (I)

Por que surgem em mim essas sedes estranhas? A chuva Leia o trecho do conto “As caridades odiosas”, de Clarice
e as estrelas, essa mistura fria e densa me acordou, abriu as Lispector, para responder às questões de  a .
portas de meu bosque verde e sombrio, desse bosque com
cheiro de abismo onde corre água. E uniu-o à noite. Aqui junto Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu
à janela, o ar é mais calmo. Estrelas, estrelas, rezo. A palavra passava pela rua depressa, emaranhada nos meus
estala entre meus dentes em estilhaços frágeis. Porque não pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu
vem a chuva dentro de mim, eu quero ser estrela. Purificai-me vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha saia.
um pouco e terei a massa desses seres que se guardam atrás Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura.
da chuva. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno
(Clarice Lispector, davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no
Perto do Coração Selvagem) degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas
palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente
 (ESPM – adaptada) – O trecho dado apresenta como aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes
característica: de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida
a) a introspecção psicológica tradicional que apresenta, de eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que
forma linear no espaço e no tempo, a interiorização do me ceifara os pensamentos.
universo mental da personagem. – Um doce, moça, compre um doce para mim.
b) o monólogo interior que introduz, de forma lógica e Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de
coerente, uma descrição minuciosa e objetiva dos estados encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu
da alma. cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para
c) o fluxo da consciência que quebra os limites espaço- qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar
temporais, cruzando planos narrativos, sem preocupação
a sede de quem queria uns goles de água.
com a lógica ou a ordem.
Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer
d) o discurso indireto que veicula, através do narrador, as
espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum
falas das personagens.
conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com
e) o discurso indireto livre que funde o pensamento da
uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para o
personagem com a narrativa em terceira pessoa.
menino.
(A descoberta do mundo, 1999)
Texto para a questão .

Uma hora o Dito chamou Miguilim, queria ficar com


 (FAMERP) – “Foi quando meu vestido me reteve: alguma
coisa se enganchara na minha saia. Voltei-me e vi que se
Miguilim sozinho. Quase que ele não podia mais falar. –
tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino
“Miguilim, e você não contou a estória da Cuca Pingo-de-
a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de
Ouro...” – “Mas eu não posso, Dito, mesmo não posso! Eu
pele.” (1.° parágrafo)
gosto demais dela, estes dias todos...” Como é que podia
A passagem narra o momento inicial do encontro da narradora
inventar a estória? Miguilim soluçava.
(Guimarães Rosa, Manuelzão e Miguilim)
com seu interlocutor. Tal momento é caracterizado
a) pela aparição e humanização gradativa do menino, referido
(MACKENZIE) – A frase em destaque representa: sucessivamente como “coisa”, “mão” e “menino”.
a) uma mistura da voz do narrador com o pensamento do b) pela reação violenta da mulher ao ser incomodada em
personagem, num momento de extrema emoção. seus pensamentos.
b) a fala do personagem Miguilim, explicando por que não c) pela revelação de uma grande verdade como
entendia os próprios limites. consequência de um fato trivial.
c) a fala do personagem Dito, que gostava demais de uma d) por um desgosto da mulher em relação à sujeira do
certa narrativa fabulosa e, neste momento terminal, queria menino que a abordara.
ouvi-la. e) por uma reflexão da mulher, uma crítica social em relação
d) a voz exclusiva do narrador, que se distancia da cena às condições dos menos favorecidos.
narrada, compungido pela dor dos personagens e solidário
com ela.  (FAMERP) – “assim como uma grande chuva pode matar
e) a confissão da própria impotência, feita por Dito, num tom a sede de quem queria uns goles de água.” (3.° parágrafo)
de rebeldia. A imagem literária presente nessa passagem exprime uma

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comparação baseada Texto para a questão .


a) numa redundância.
b) numa ironia. Que pode uma criatura senão,
c) numa desproporção. entre criaturas, amar?
d) numa atenuação. Amar e esquecer,
e) num paradoxo. Amar e malamar,
Amar, desamar, amar?
 (FAMERP) – “Sem olhar para os lados, por pudor talvez, Sempre e até de olhos vidrados, amar?
sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente
algum conhecido tomava sorvete” (4.° parágrafo) (UEL) – A palavra até, no texto de Carlos Drummond de
A preposição destacada assume valor semântico semelhante Andrade, tem o mesmo valor semântico que em:
ao que se verifica na frase: a) O marinheiro chegou até o porto ao amanhecer.
a) A crítica tem Machado de Assis por um grande autor. b) A polícia, até agora, não conseguiu capturar os fugitivos.
b) Há ainda algumas questões por fazer. c) As apurações estaduais foram suspensas até segunda
c) Ficaremos na Europa por cinco dias. ordem.
d) Saveiro Geração III. Resiste a tudo, até a você.
d) As tropas cercaram os inimigos por terra e por mar.
e) 12 até 18 dias sem juros no cheque especial. Tarifas que
e) Muitas pessoas vão cedo para casa por medo.
podem chegar a zero.

 (FAE) – “O novo funcionário veio de Pernambuco. Ele



(UFPA) – No trecho: “(O Rio) não se industrializou, deixou
viajou de ônibus. Lá, vivia sem dinheiro e morava em um
explodir a questão social, fermentada por mais de dois milhões
lugarejo distante da Capital.”
de favelados, e inchou, à exaustão, uma máquina
As preposições destacadas, no texto acima, assumem, administrativa que não funciona…”, a preposição a (que está
respectivamente, os valores de contraída com o artigo a) traduz uma relação de
a) origem, meio e causa. a) fim
b) origem, meio e matéria. b) causa
c) origem, meio e lugar. c) concessão
d) origem, meio e companhia. d) limite
e) modo
 (INATEL) – Assinale a alternativa em que a relação entre a
palavra sublinhada e a função apontada dentro dos parênteses
está errada. Módulo 54 – Gêneros textuais: conto,
a) A proposta foi feita durante o almoço. (tempo) miniconto, biografia, diário e
b) A criança tremia de frio. (modo) piada
c) A ponte está em obras. (estado)
d) Quero trabalhar para comprar um sítio. (finalidade) Texto para as questões de  a .
e) Descanse em paz. (modo)
QUE SE CHAMA SOLIDÃO
 (INSPER) – Num título de uma notícia veiculada no Portal
UOL em março de 2014, com conteúdo de O Estado de S. Chão da infância. Algumas lembranças me parecem
Paulo, lê-se “Vereador de SP lava até BMW particular com fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe
dinheiro público”. O uso do “até” no contexto leva a pressupor fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho
que de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a
a) é inesperado lavar carros particulares com dinheiro viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que
público. meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria
b) é aceitável usar dinheiro público para lavar carros dizer instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e
nacionais. gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse tipo de homem
c) nem carros oficiais devem ser lavados com dinheiro não consegue parar muito tempo no mesmo lugar e por isso
público. estava sempre sendo removido de uma cidade para outra
d) os vereadores de SP pagam todas as suas despesas com como promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais
dinheiro público. cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. E
e) os vereadores de SP usam somente BMWs como carros depois, arrumar as malas.
oficiais. — Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai

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mesmo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no Texto para as questões  e .


quintal chupando os gomos de cana que ela ia descascando.
Não respondi e ela fez outra pergunta: Sua tia vive falando que O tio Sabino, paramentado de rico, fez ainda sair da maleta
agora é tarde porque a Inês é morta, quem é essa tal de Inês? de couro uma espécie de saco de lona com fechos de correias.
Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota Debaixo da cama, por esquecimento, tinham ficado as
resmungou cuspinhando o bagaço. (...) alpargatas do Carvalhosa. O tio Sabino calçou-as, as suas
— Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida: narinas palpitavam. Correu o fecho da porta cautelosamente,
Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!, foi até ao escritório do Carvalhosa e sacou da gaveta do
ficou resmungando enquanto começou a procurar em redor, contador uns rolinhos de libras; de passagem pelo toilette
estava sempre procurando alguma coisa e eu saía atrás arrecadou o cofre de joias, os anéis e a caixa de pó de arroz; de
procurando também, a diferença é que ela sabia o que estava cima da banquinha de noite desapareceu a palmatória de prata
procurando, uma manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha dourada e tudo foi arrecadado no saco.
perguntado ao meu pai o que era isso, escravidão. Mas ele Fechou destramente o saco, tendo-lhe metido primeiro a
soprou a fumaça para o céu (dessa vez fumava um cigarro de camisa de chita que despira, a fim de não tinirem dentro os
palha) e começou a recitar uma poesia que falava num navio metais. E de chapéu à banda e cachimbo na boca saiu, o saco
cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando pendente, fechando a porta e tirando-lhe a chave. Ninguém
por Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz que estava no corredor; Maria do Resgate engomava na saleta; as
sim com a cabeça e fui saindo, Agora já sei. crianças na cozinha cortavam papagaios, chilreando.
(Lygia Fagundes Telles, — Até logo, minha sobrinha, até logo.
Invenção e Memória.) Ela veio correndo, com o seu riso afetuoso.
— O jantar é às cinco, sim? Mas, querendo, dá-se ordem
 (UNIFESP) – De acordo com o texto, entende-se que o para mais tarde.
chão da infância da narradora é marcado — Qual! Não temos precisão de incômodos. Às quatro e
a) pela incômoda viuvez da tia. meia estou.
b) pela ausência do pai. E com a mala pendente, o lenço escarlate fora do bolso do
c) pelo convívio com família e pajens. fraque e bengala debaixo do braço, desceu a escada
d) pelo medo da escravidão. cantarolando.
e) pela indiferença das pajens. Eram seis horas da tarde e nada do tio Sabino.
Sete horas, e Maria do Resgate acaba de notar a porta da
 (UNIFESP) – Entende-se que a relação da narradora com alcova fechada. Diabo...
a pajem baseia-se No dia seguinte a polícia andava em campo para descobrir
a) na tolerância entre elas, embora a narradora quase não o larápio, que com tamanha pilhéria roubara a família
consiga conter sua raiva com os descasos da pajem. Carvalhosa.
b) na tensão entre elas, embora a pajem deva respeito à (Fialho de Oliveira, O Tio da América.
narradora, pois tem uma relação profissional com a família. Em: Contos. Adaptado)
c) na indiferença entre elas, pois tanto a narradora deixa de
responder como a pajem deixa de atender-lhe o pedido.  (BARRO BRANCO) – Carvalhosa e Maria do Resgate
d) na rivalidade entre elas, fato que se comprova pela recebem em Portugal o tio Sabino, morador do Pará, no Brasil.
agressividade da pajem que sonhava estar no lugar da Este, estando fora da atenção da sobrinha e das crianças,
narradora. a) vestiu-se com rigor e saiu a roubar pela cidade.
e) na proximidade entre elas, pois a pajem, por exemplo, b) resolveu guardar os seus bens e fugir da casa.
externa seus sentimentos de desagrado, quando se vê c) foi chamar a polícia para prenderem o ladrão.
incomodada por algo. d) aproveitou para roubar a casa dos sobrinhos.
e) retirou-se da casa, onde fora mal recebido.
 (UNIFESP) – Na resposta enfurecida da pajem à narradora,
repete-se a forma verbal pensa. Essa resposta permite  (BARRO BRANCO) – No penúltimo parágrafo, a frase –
entender que ela Diabo… – indica que Maria do Resgate
a) não pretende mais cortar cana naquele momento. a) notou que havia alguém escondido na alcova.
b) se vê na obrigação de atender o pedido. b) pensou que a porta da alcova fora trocada.
c) está, na verdade, fazendo uma brincadeira. c) percebeu que havia algo de errado acontecendo.
d) não compreendeu ao certo o que lhe foi pedido. d) esqueceu o tio Sabino trancado na alcova.
e) se dispõe a atender o pedido com prontidão. e) pensou que uma das crianças estava na alcova.

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Módulo 56 – Preposição (II) e Interjeição  (UNISA) – As expressões em destaque no texto indicam,


respectivamente, ideia de
Texto para a questão . a) posição, direção, instrumento.
b) tempo, lugar, finalidade.
“A fumaça que sai da ponta acesa do cigarro possui as c) lugar, posição, referência.
mesmas substâncias daquela que o fumante inala, porém d) modo, direção, lugar.
algumas encontram-se em concentrações maiores: 50 vezes e) lugar, modo, instrumento.
mais alcatrão e até 5 vezes mais nicotina e monóxido de
carbono”.  “O filme Central do Brasil conta a história de uma
professora que escrevia cartas para analfabetos.” (O Estado de
 (UEL) – Com relação ao fragmento, considere as S. Paulo)
afirmativas a seguir. A manchete acima, da forma como foi redigida, apresenta
I. Os termos “daquela” e “algumas” referem-se, duplo sentido.
respectivamente, às palavras “fumaça” e “substâncias”. a) Aponte e explique o trecho ambíguo.
II. A conjunção “porém” inicia oração que estabelece ideia b) Reescreva a manchete, desfazendo a ambiguidade.
de conclusão com a anterior.
III. O trecho logo após os dois pontos tem função de aposto  (ESPM) – Leia as frases:
explicativo referente à expressão “ponta acesa do cigarro”. 1. O presidente almoçou com os sindicalistas.
IV. A preposição “até” estabelece um limite para o número 2. O presidente cortou o pão com a faca.
de vezes em que certas substâncias estão concentradas. 3. O presidente ficou irritado com as críticas.
Assinale a alternativa correta. 4. O presidente falou junto com o ministro.
a) Somente as afirmativas I e III são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. As preposições destacadas traduzem, respectivamente, ideia
c) Somente as afirmativas II e III são corretas. de
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. a) companhia, instrumento, causa, simultaneidade.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. b) companhia, modo, modo, simultaneidade.
c) simultaneidade, causa, companhia, modo.
Texto para as questões  e . d) lugar, instrumento, causa, modo.
e) companhia, instrumento, modo, modo.
O mestre Hipócrates (século IV a.C.) dominou as escolas
médicas e os médicos de seu tempo. Elevou-se acima da  (FATEC) – “...só ele via a insígnia imperial, pesada de
medicina sacerdotal e reuniu em sua pessoa, idealizada através ouro, rútila de brilhantes.” (Machado de Assis)
dos séculos, todos os conhecimentos do passado.
Caminhando para novas investigações e conceitos, por meio No contexto, as expressões em negrito exprimem, respec-
de seus métodos e doutrina, ele se impôs como o pensamento tivamente, ideia de:
médico mais complexo da civilização ocidental. Com o fulgor a) causa e causa.
de uma estrela, sempre fez jus ao título de “pai da medicina”. b) causa e instrumento.
(Revista Ser Médico – Adaptado)
c) matéria e meio.
d) modo e modo.
 (UNISA) – Predomina nesse trecho o tempo verbal e) intensidade e intensidade.
empregado no
a) presente, como em — A grande reputação de Hipócrates Complete com a ou há:
deve-se às suas obras, reunidas pelos seus discípulos.
b) pretérito perfeito, como em — A crítica histórica pôde, nas a) Daqui ________ uma semana o senhor deve procurar um
últimas décadas, distinguir autores de escritos médicos de especialista.
épocas e escolas diversas. b) Só a procurava de ano ________ ano.
c) subjuntivo, como em — Na história da Antiguidade, é c) Ele nunca perdeu as esperanças e _______ muito ansiava
impossível separar a medicina dos outros ramos do por aquele momento.
pensamento. d) O avião caiu ________ poucos metros da estrada.
d) pretérito imperfeito, como em — No período áureo da e) O vendedor convenceu o comerciante ________ não
Grécia, a medicina também surgia amalgamada na grande entregar a madeira.
renovação filosófica. f) O Projeto Ambiental foi implantado ___________ mais de
e) futuro, como em — Seria a medicina de hoje devedora do três anos.
grande pensamento hipocrático? g) ______ cerca de dois meses comemoramos o Natal.

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Sobre as interjeições, é incorreto afirmar que  (MACKENZIE – corrigida) – Assinale a alternativa correta
a) exprimem emoções e sentimentos repentinos. sobre o efeito de humor presente no texto.
b) podem apresentar, em contextos diferentes, sentidos a) Concentra-se nas especificidades de pronúncia das perso-
variados. nagens.
c) são simples emissões de voz e não têm significado. b) Constrói-se a partir da exploração de dois dos significados
d) são palavras invariáveis.
do objeto (complemento) do verbo “tocar”.
e) podem substituir frases logicamente organizadas.
c) Compõe-se a partir do significado que, nas áreas rurais do
Brasil, se atribui ao verbo “entender”.
Associe as colunas, traduzindo a palavra sublinhada, e
d) Deriva do fato de Rosinha dominar, melhor do que Chico
indique a alternativa correta.
I. ( ) Psiu! Não faça barulho. Bento, a língua portuguesa.
II. ( ) Puxa! Como você é forte! e) Constrói-se a partir da ridicularização do falar e da cultura
III. ( ) Oh! Ainda bem que você se lembrou! do homem do campo.
IV. ( ) Hem? Ela finalmente conseguiu o emprego?
V. ( ) Socorro! Caí em um buraco!  (MACKENZIE) – Além da pronúncia “ocê”, é possível
encontrar, entre os diferentes grupos de falantes do português
a) “É notável” do Brasil, as formas “cê” e “você”. Considere os enunciados
b) “Silêncio” abaixo e assinale a alternativa correta a respeito deles.
c) “Acudam-me” I. “Você vem conosco?”
d) “O que você está dizendo?”
II. “Trouxe este presente para você.”
e) “Que bom!”

a) Na fala popular e informal, “ocê” e “cê” poderiam


a) I – D; II – A; III – C; IV – B; V – E.
substituir você tanto em I quanto em II.
b) I – C; II – B; III – D; IV – A; V – E.
c) I – B; II – C; III – A; IV – E; V – D. b) Em usos informais da língua, “cê” poderia ser encontrado
d) I – B; II – A; III – E; IV – D; V – C. apenas em I.
e) I – A; II – D; III – E; IV – B; V – C. c) Em ambientes rurais, como o de Chico Bento, as formas
“você” e “cê” jamais ocorrem em I e em II.
d) Em usos coloquiais da língua, especialmente no meio
rural, “ocê” aparece apenas em II.
Módulo 57 – Ambiguidade
e) A gramática normativa aceita as três variantes (“cê”,

Texto para as questões de  a . “ocê” e “você”), na escrita e na fala.

 (MACKENZIE) – “O qui é qui eu tô tocando?”


Sobre a construção destacada acima, é correto afirmar que
a) foi empregada por Mauricio de Sousa para evidenciar que
a pergunta é uma espécie de charada ou enigma.
b) complementa o verbo “estar”, utilizado como transitivo
direto na pergunta.
c) é semelhante, na linguagem informal, a outras
construções usadas em interrogações (“como é que”,
“por que é que”, “onde é que” etc.).
d) apresenta dois pronomes relativos, com função de sujeito.
e) seria preservada se invertêssemos a ordem da pergunta,
iniciando-a por eu tô tocando.

 Em uma conversa ou leitura de um texto,


corre-se o risco de atribuir um significado
inadequado a um termo ou expressão, e
isso pode levar a certos resultados inesperados, como se vê
nos quadrinhos a seguir.

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já cantava, porque a denúncia de José Dias [...] foi dada


principalmente a mim.”, a conjunção destacada expressa
conclusão.
IV. No trecho “A mim é que ele me denunciou.”, há uso
inadequado da norma padrão da língua portuguesa.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

 (UNICENTRO) – Sobre a classe gramatical das palavras


dispostas no texto, relacione a coluna da esquerda com a da
direita.
(SOUSA, Mauricio de. Chico Bento. (I) perda a) adjetivo
Rio de Janeiro, Ed. Globo, no. 335, Nov./99.) (II) muita b) advérbio
(III) porque c) conjunção
Nessa historinha, o efeito humorístico origina-se de uma situa- (IV) depois d) pronome
ção criada pela fala da Rosinha no primeiro quadrinho, que é: (V) mim e) substantivo
a) Faz uma pose bonita!
b) Quer tirar um retrato? Assinale a alternativa que contém a associação correta.
c) Sua barriga está aparecendo! a) I-B, II-A, III-D, IV-C, V-E.
d) Olha o passarinho! b) I-B, II-D, III-E, IV-A, V-C.
e) Cuidado com o flash! c) I-C, II-B, III-A, IV-E, V-D.
d) I-E, II-A, III-C, IV-B, V-D.
e) I-E, II-B, III-A, IV-D, V-C.
Módulo 58 – Conjunção (I)
 (UNICENTRO) – Quanto ao tipo de texto, assinale a
Texto para as questões de  a . alternativa correta.
a) É informativo, com presença de objetividade marcada nos
Que é demasiada metafísica para um só tenor, não há verbos.
dúvida; mas a perda da voz explica tudo, e há filósofos que são, b) É argumentativo, pois lança uma tese e a defende com
em resumo, tenores desempregados. Eu, leitor amigo, aceito argumentos.
a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, c) É prescritivo, uma vez que revela passo a passo como
que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se fazer algo.
casa bem à definição. Cantei um duo terníssimo, depois um d) É descritivo, marcado pela descrição das ações sem
trio, depois um quatuor ... Mas não adiantemos; vamos à passagem temporal.
primeira tarde, em que eu vim a saber que já cantava, porque e) É narrativo, marcado por verbos no passado e progressão
a denúncia de José Dias, meu caro leitor, foi dada temporal.
principalmente a mim. A mim é que ele me denunciou.
(ASSIS, M. Aceito a teoria. In: Dom Casmurro. Texto para as questões  e .
Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1980.
cap.X. p.34. Coleção Os Grandes Clássicos) “Fabiano estava contente e esfregava as mãos. Como o
frio era grande, aproximou-as das labaredas.
 (UNICENTRO) – Acerca dos recursos linguístico-semân- Relatava um fuzuê terrível, esquecia as pancadas e a
ticos, considere as afirmativas a seguir. prisão, sentia-se capaz de atos importantes.
I. No trecho “Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho O rio subia a ladeira, estava perto dos juazeiros. Não havia
Marcolini, ...”, o termo destacado é um vocativo. notícia de que os houvesse atingido – e Fabiano, seguro,
II. Em “Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um baseado nas informações dos mais velhos, narrava uma briga
quatuor ... Mas não adiantemos; ...”, a palavra em de que saíra vencedor. A briga era sonho, mas Fabiano
destaque tem sentido adversativo. acreditava nela.”
III. Em “vamos à primeira tarde, em que eu vim a saber que (Graciliano Ramos, Vidas Secas)

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 (UNIP) – Em “Como o frio era grande, aproximou-as das Módulo 59 – Gênero textual: crônica
labaredas”, a primeira oração indica circunstância adverbial de
a) causa. Texto para o teste .
b) condição.
O JIVARO
c) concessão.
d) comparação.
Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à
e) conformidade.
América do Sul, conta a um jornal sua conversa com um índio
jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela
 (UNIP) – Transformando-se o período composto por
ficar bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações,
coordenação “A briga era sonho, mas Fabiano acreditava nela” e o índio lhe disse que exatamente ele tinha contas a acertar
em composto por subordinação, obtém-se, mantendo as com um inimigo.
relações lógicas: O Sr. Matter:
a) Desde que não acreditassem nela, a briga era sonho. — Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de
b) Apesar de Fabiano acreditar nela, a briga era sonho. um macaco.
c) Já que acreditava nela, a briga era sonho. E o índio:
d) A briga era sonho quando Fabiano acreditava nela. — Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal!
e) Conforme Fabiano acreditava nela, a briga era sonho. (Rubem Braga)

Textos para a questão .  O assunto de uma crônica pode ser uma


experiência pessoal do cronista, uma infor-
mação obtida por ele ou um caso imaginário.
POBRE ALIMÁRIA
O modo de apresentar o assunto também varia: pode ser uma
descrição objetiva, uma exposição argumentativa ou uma
O cavalo e a carroça
narrativa sugestiva. Quanto à finalidade pretendida, pode-se
Estavam atravancados no trilho
promover uma reflexão, definir um sentimento ou tão somente
E como o motorneiro se impacientasse
provocar o riso. Na crônica O jivaro, escrita a partir da
Porque levava os advogados para os escritórios reportagem de um jornal, Rubem Braga se vale dos seguintes
Desatravancaram o veículo elementos:
E o animal disparou
Assunto Modo de apresentar Finalidade
Mas o lesto carroceiro
Trepou na boleia caso
a) descrição objetiva provocar o riso
E castigou o fugitivo atrelado imaginário
Com um grandioso chicote. informação
b) narração sugestiva promover reflexão
(Oswald de Andrade) colhida
informação definir um
c) descrição objetiva
 (FATEC) – Ainda sobre o texto, assinale a alternativa colhida sentimento
correta, com relação à estrutura sintática e de significação dos experiência
d) narrativa sugestiva provocar o riso
versos E como o motorneiro se impacientasse! / Porque levava pessoal
os advogados para os escritórios / Desatravancaram o veículo! experiência exposição
e) promover reflexão
/ E o animal disparou. pessoal argumentativa
a) Há uma relação de causa e efeito entre a impaciência do
motorneiro e o ato de desatravancar o veículo.
Textos para os testes  e .
b) Na oração “como o motorneiro se impacientasse” há uma
comparação que se completa com a ideia da pressa dos MAR (FRAGMENTO)
advogados, na oração seguinte.
c) A oração “porque levava os advogados para os escritó- 01 A primeira vez que vi o mar eu não estava sozinho.
rios” é consequência da impaciência do motorneiro. 02 Estava no meio de um bando enorme de meninos. Nós
d) Na oração “E o animal disparou” há uma relação de oposi- 03 tínhamos viajado para ver o mar. No meio de nós havia
ção, estabelecida pela conjunção. 04 apenas um menino que já o tinha visto. Ele nos contava
e) As orações “E como o motorneiro se impacientasse” e “E 05 que havia três espécies de mar: o mar mesmo, a maré,
o animal disparou” indicam relações de adição entre esses 06 que é menor que o mar, e a marola, que é menor que a
dois fatos. 07 maré. Logo a gente fazia ideia de um lago enorme e duas

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08 lagoas. Mas o menino explicava que não. O mar entrava Módulo 62 – Conjunção (II)
09 pela maré e a maré entrava pela marola. A marola
10 vinha e voltava. A maré enchia e vazava. O mar às vezes Texto para as questões de  a .
11 tinha espuma e às vezes não tinha. Isso perturbava ainda
12 mais a imagem. Três lagoas mexendo, esvaziando e O IMPÉRIO DAS FESTAS
13 enchendo, com uns rios no meio, às vezes uma porção E AS FESTAS DO IMPÉRIO
14 de espumas, tudo isso muito salgado, azul, com ventos.
(Rubem Braga) 1 O Brasil do século XIX, excluindo-se a primeira e a
2 última década, conviveu intensamente com a realeza. De
 (MACKENZIE) – O texto de Rubem Braga pertence ao 3 1808 a 1889, os brasileiros acostumaram-se a ter um rei à
gênero da crônica. A partir dessa informação, considere as 4 frente da cena política. Mas se D. João, D. Pedro I, D.
5 Pedro II e a princesa Isabel – esta, quando da ausência de
seguintes afirmações:
6 seu pai – ocuparam o espaço formal do mando executivo,
I. [...] trata-se de uma tipologia literária ligada à vida
7 no dia a dia interagiram com outros reis e rainhas.
quotidiana, publicada nos veículos de comunicação, que
8 Estamos falando de uma série de personagens que
revela ao mesmo tempo uma natureza interpretativa, 9 lideravam as festas populares e que, provenientes de
podendo ter ou não valor noticioso. (Ana Maria de Sousa) 10 reinos distantes – presentes na memória dos escravos
II. [...] apresenta um texto inscrito de natureza conativa, ou 11 africanos ou nas lembranças dos saudosos colonos
seja, corresponde a uma mensagem enviada de um 12 portugueses −, povoaram o nosso assoberbado calendário
emissor a um receptor, com uma linguagem composta de 13 de festas. Oriundo de tradições diversas e de cosmologias
símbolos comuns aos asseclas. (Roger Ribeiro da Silva) 14 particulares, esse puzzle* ritual fez do Brasil o país das
III. [...] é, em sua essência, uma informação valorativa e 15 festas, o depositário de um arsenal de símbolos,
interpretativa de fatos noticiosos, atuais ou atualizados, 16 costumes e valores. Contudo, mais do que isso, tal qual
onde se narra algo ao mesmo tempo em que julga o que 17 um caleidoscópio, essas tradições não foram apenas se
18 reproduzindo, como o movimento rotineiro de um motor.
está sendo narrado. (Martin Vivaldi)
19 Ao contrário, dinamicamente, acabaram por criar festas
20 próprias e leituras originais de um material que lhes era
Assinale a alternativa correta.
21 anterior. Nesses rituais, teatralizava-se um grande jogo
a) Estão corretas as afirmações I e II. 22 simbólico e, entre outros figurantes, a realeza era
b) Estão corretas as afirmações I e III. 23 personagem frequente, porém não sempre principal.
c) Estão corretas as afirmações II e III. 24 (...)
d) Todas as afirmações estão corretas. (Lilia M. Schwarcz, Valéria M. de Macedo,
e) Nenhuma das afirmações está correta. in: As barbas do imperador: D.Pedro II,
um monarca nos trópicos.)
 (MACKENZIE) – Sobre o texto “Mar”, todas as * puzzle: confusão; quebra-cabeça.
alternativas estão corretas, exceto em:
a) O mar entrava pela maré e a maré entrava pela marola. A  (FUVEST-transferência) – Com a leitura do texto, infere-
marola vinha e voltava. A maré enchia e vazava (L. 10), se que a realeza, no Brasil do século XIX,
percebe-se um ritmo na construção da crônica que remete a) cedia espaço ao povo, na representação teatral e,
ao movimento do mar. consequentemente, no poder.
b) A primeira vez que vi o mar eu não estava sozinho L. 01), b) estava presente nas festas populares, representando
evidencia-se o princípio de uma narrativa de memória realezas fictícias.
marcada pelos verbos no pretérito perfeito e no imperfeito c) esforçava-se para fazer do país um território de festas de
do indicativo. diferentes tradições.
c) No meio de nós havia apenas um menino que já o tinha d) induzia o povo a participar das manifestações culturais,
visto (L. 03-04), a partícula o reforça o tom de memória e que se tornavam oficiais.
compartilhamento, pois ela se refere exclusivamente ao e) era representada pelo rei, príncipes e princesas, que
menino que já conhecia o mar. comandavam a corte e as festas.
d) Ele nos contava que havia três espécies de mar: o mar
mesmo, a maré, que é menor que o mar, e a marola, que  (FUVEST-transferência) – Considerada no contexto,
é menor que a maré (L. 04-07), o cronista vale-se da funciona como um substantivo coletivo a palavra
gradação para evidenciar a diferença entre as espécies de a) “cena” (L. 4).
mar. b) “mando” (L. 6).
e) Estava no meio de um bando enorme de meninos. Nós c) “arsenal” (L. 15).
tínhamos viajado para ver o mar (L. 02-03), depreende-se d) “costumes” (L. 16).
que as personagens não são moradoras de região praiana. e) “rituais” (L. 21).

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 (FUVEST-transferência) – No texto, as palavras c) Os sentimentos do personagem 35 são tão fortes como


“assoberbado” (L. 12) e “depositário” (L. 15) assumem, os do poeta, de “Cidade prevista”.
respectivamente, os sentidos de d) O poeta aspira tanto a contribuir para a transformação
a) categórico / fiador. social quanto outros escritores.
b) altivo / multiplicador. e) Sua solidão era tamanha que não pôde mais esconder as
c) diferenciado / organizador. razões de sentir-se mal.
d) sofisticado / idealizador.
e) rico / mantenedor.
(VUNESP) – Assinale a alternativa em que a oração em
negrito indica causa.
a) Como eu havia prometido, venho trazer-lhe um
 (FUVEST-transferência) – A respeito do uso dos
presente.
travessões no texto (L. 5, 6, 10), é correto afirmar que
b) Candidatei-me à prefeitura como quem se propõe
a) introduzem pensamentos à margem da discussão dos
participar de uma festa.
fatos narrados.
c) Como todos apoiavam as minhas ideias, resolvi
b) acrescentam dados indispensáveis para a compreensão
candidatar-me a prefeito.
do assunto tratado.
d) O candidato falou tanto que perdeu a voz.
c) intercalam informações do narrador sobre expressões
e) Se você vier a minha casa, traga um baralho e muito
imediatamente anteriores.
vinho.
d) sinalizam as mudanças de narrador na exposição de
acontecimentos secundários.
Fischer – “À medida que as pessoas começaram a usar o e-
e) organizam as ideias de modo a torná-las coerentes com o
mail em vez de falar pessoalmente ou pegar o telefone, os mal-
restante do texto.
entendidos foram se multiplicando.”

 (FUVEST-transferência) – No trecho “Contudo, mais do (UNISANTOS – adaptada) – A locução conjuntiva “à


que isso, (...) essas tradições não foram apenas se medida que” estabelece com a oração seguinte relação de
reproduzindo, como o movimento rotineiro de um motor” (L. a) conformidade.
16-18), as expressões grifadas estabelecem, respectivamente, b) concessão.
relações lógicas de c) causa.
a) conclusão / proporção / comparação. d) proporção.
b) concessão / alternância / conclusão. e) tempo.
c) condição / modo / explicação.
d) causa / contraposição / concessão.
e) contraposição / comparação / modo. Módulo 63 – Análise de crônica narrativa

 (FUVEST-transferência) – Os radicais que constituem o Texto para as questões de  a .


segundo elemento estrutural das palavras “cosmologia” e
“caleidoscópio” significam, respectivamente, LUTO DA FAMÍLIA SILVA
a) conhecimento e construção.
b) sabedoria e ordem. A Assistência foi chamada. Veio tinindo. Um homem
c) descrição e aparelhamento. estava deitado na calçada. Uma poça de sangue. A Assistência
d) ciência e visão. voltou vazia. O homem estava morto. O cadáver foi removido
e) interpretação e desenvolvimento. para o necrotério. Na seção dos “Fatos Diversos” do Diário de
Pernambuco, leio o nome do sujeito: João da Silva. Morava na
(FATEC) – A relação de sentido que há entre as orações do rua da Alegria. Morreu de hemoptise.
período abaixo (...)
João da Silva — nunca nenhum de nós esquecerá seu
“Foi uma nova sensação tão desagradável que ele deu de nome. Você não possuía sangue azul. O sangue que saía de
andar quase fugindo.” sua boca era vermelho — vermelhinho da silva. Sangue de
nossa família. Nossa família, João, vai mal em política. Sempre
está igualmente presente em: por baixo. Nossa família, entretanto, é que trabalha para os
a) "O palácio dava ideia de uma fortaleza enfeitada, entrar lá homens importantes. A família Crespi, a família Matarazzo, a
dentro eu!" família Guinle, a família Rocha Miranda, a família Pereira
b) Tanto quanto ele, os outros operários fingiam participar, Carneiro, todas essas famílias assim são sustentadas pela
mas estavam andando sem rumo. nossa família. Nós auxiliamos várias famílias importantes na

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América do Norte, na Inglaterra, na França, no Japão. A gente Texto para as questões de  a


.
de nossa família trabalha nas plantações de mate, nos pastos,
nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, A PROVERBIAL
nos balcões, no mato, nas cozinhas, em todo lugar onde se SABEDORIA HUMANA
trabalha. Nossa família quebra pedra, faz telhas de barro, laça
os bois, levanta os prédios, conduz os bondes, enrola o tapete Quem tem boca vai a Roma. Sebastião de Souza e Silva
do circo, enche os porões dos navios, conta o dinheiro dos tinha boca, enorme e desdentada boca, nem por isso fora
bancos, faz os jornais, serve no Exército e na Marinha. Nossa a Roma. Diga-se, a favor dele e de seu destino, que jamais
família é feito Maria Polaca: faz tudo. tencionara ir a Roma ou a qualquer outra parte.
Apesar disso, João da Silva, nós temos de enterrar você é 5 Mas a vida ─ a dele em especial ─ era uma luta que os
mesmo na vala comum. Na vala comum da miséria. Na vala fracos abate e os fortes e os bravos só pode exaltar. Viver
comum da glória, João da Silva. Porque nossa família um dia há não era lutar e não adiantava lutar para viver. Quem semeia
de subir na política... ventos colhe tempestades. Sebastião de Souza e Silva
(BRAGA, Rubem. Luto da Família Silva (1935).
nunca semeou tempestades por aí, sobretudo naquela fa-
In: Para Gostar de Ler. 4. ed.
10 mosa inundação de 1986, quando as cataratas do céu se
São Paulo: Ática, 1984, v. 5, pp. 44-5.)
abriram e choveu durante 20 dias e 20 noites, e um
deslocamento de terra soterrou o restaurante onde o
 (UFSCar) – A leitura da crônica permite afirmar que o deixavam dormir.
autor O fato é que Sebastião de Souza e Silva desta vez
a) quis desqualificar as famílias não importantes, como a 15 emplacou e teve não cinco minutos, mas 15 segundos de
Silva. glória, quando a repórter da TV perguntou-lhe como tinha
b) pretendeu enaltecer a tradição de famílias importantes na sido o acidente. Sua enorme e desdentada boca foi vista,
história brasileira. a cores, via satélite, em alta definição, por 120 milhões de
c) explicitou a submissão dos países da América do Sul aos pessoas. Perguntaram-lhe se tinha perdido tudo com o
da América do Norte. 20 temporal e ele só disse uma frase: “Foi sim senhora”, e
d) propôs uma reflexão sobre diferenças sociais, sugeridas naquele dia ganhou um sanduíche de um dos bombeiros.
também pelos nomes de família. Dispondo de enorme e desdentada boca, Sebastião de
e) enfatizou a importância de se melhorarem os Silva para Souza e Silva desconfiou que com ela poderia ganhar
entrarem na política. um sanduíche todos os dias, desde que todos os dias
25 houvesse inundações e deslocamentos de terra. E todos
 (UFSCar) – No texto, a expressão “vermelhinho da silva” os dias, ele olhava o céu esperando que o céu olhasse por
traduz a ideia de ele. Mas assim na terra como no céu nada queriam com
a) intensidade. ele. Com sua enorme e desdentada boca, Sebastião de
b) carinho. Souza e Silva nem comeu o pão que o diabo amassou.
c) pequenez. (Adaptado de Carlos Heitor Cony,
d) ironia. Folha de S.Paulo)
e) desprezo.
 (FUVEST-transferência) – “... nem por isso fora a
 (UFSCar) – O texto estrutura-se na oposição entre os Silva Roma.” (L. 2-3). O pronome destacado no trecho refere-se ao
e as demais famílias. Essa relação revela-se em fato de Sebastião de Souza e Silva
a) “vai mal em política” e “há de subir na política”. a) ter boca.
b) “em todo lugar onde se trabalha” e “a gente de nossa b) não possuir dentes.
família trabalha nas plantações de mate”. c) não ter ido a Roma.
c) “vermelhinho da silva” e “sangue azul”. d) ter o destino a seu favor.
d) “vala comum da miséria” e “vala comum da glória”. e) não querer ir a outra parte.
e) “vermelho” e “vermelhinho da silva”.
 (FUVEST-transferência) – De acordo com o que se lê no
 (UFSCar) – A oração “faz tudo”, em destaque no texto, texto, o título deve ser interpretado como
assume a função de a) uma alusão às verdades universais dos provérbios
a) resumir e comentar informações anteriores. reveladas de forma inequívoca nas situações cotidianas.
b) retomar e sintetizar informações anteriores. b) um apelo ao significado dos provérbios para explicar as
c) expandir e explicar informações anteriores. verdadeiras razões das vitórias e fracassos do
d) explicar e comentar informações anteriores. personagem.
e) retomar e explicar informações anteriores. c) uma definição dos conhecimentos que o homem adquire

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ao basear suas atitudes nos ensinamentos dos provérbios. xingamentos de seu tempo e de sua condição: professor,
d) um resumo de alguns provérbios originados das quem sabe? leitor de Camilo Castelo Branco.
experiências humanas e que se prestam a orientar a vida Os velhos xingamentos. Pessoas havia que se recusavam
do cidadão. a usar o trivial das ruas e botequins, e iam pedir a Rui Barbosa,
e) uma ironia em relação à diferença entre o que pregam os aos mestres da língua, expressões que castigassem
provérbios e o que realmente ocorre no dia-a-dia. fortemente o adversário. Esse material seleto vinha esmaltar
artigos de polêmica (polemizava-se muito nos jornais do
(FUVEST-transferência) – Na primeira estrofe da começo do século), discursos políticos (nos intervalos do
“Canção do Tamoio”, de Gonçalves Dias, lê-se: estado de sítio, é lógico) e um pouco os incidentes de calçada.
A maioria, sem dúvida, não se empenhava em requintes.
Não chores, meu filho;/ Não chores, que a vida/ É luta renhida: (Carlos Drummond de Andrade.
Viver é lutar./ A vida é combate,/ Que os fracos abate,/ Que os “Modos de xingar”. As palavras que ninguém diz, 2011.)
fortes, os bravos/ Só pode exaltar.
(FGV) – As passagens “— O quê?” (2.o parágrafo) e
No texto “A proverbial sabedoria humana”, ao aludir a esses “professor, quem sabe?” (6.o parágrafo) são empregadas no
versos de Gonçalves Dias (L. 5-6), o narrador texto para indicar, respectivamente:
a) equipara a situação de Sebastião de Souza e Silva à dos a) um comentário ofensivo e uma dúvida infundada.
bravos guerreiros exaltados no poema. b) uma demonstração de incompreensão e uma conjectura.
b) inverte o sentido que o poeta atribui à vida, pois, no caso, c) uma dúvida fundamentada e uma constatação.
o personagem não tinha razões para ter esperança. d) uma hipótese improvável e uma retificação.
c) critica a falta de iniciativa e de vontade de lutar de e) um revide intolerante e uma ironia.
Sebastião de Souza e Silva, por meio do apelo aos
conselhos do poeta. (FGV) – Analisando-se os modos de organização do texto,
d) busca argumentos consistentes para descrever a vida de conclui-se que prevalecem as sequências tipológicas da
um homem qualquer, sofredor, desprovido de coragem. a) narração, com a crítica no penúltimo parágrafo.
e) valoriza a situação de um homem comum e sugere a b) descrição, com o relato no penúltimo parágrafo.
possibilidade de conduzi-lo do anonimato à consagração. c) narração, com a reflexão no penúltimo parágrafo.
d) descrição, com o comentário no penúltimo parágrafo.

(FUVEST-transferência) – “... ele olhava o céu esperando e) dissertação, com o detalhamento no penúltimo parágrafo.
que o céu olhasse por ele” (L. 26-27). Depreende-se desse
trecho que, se o céu olhasse por Sebastião de Souza e Silva,  (FGV) – A frase do último parágrafo do texto “A maioria,
este sem dúvida, não se empenhava em requintes” está reescrita,
a) ganharia um sanduíche todos os dias. em conformidade com a norma-padrão e com o sentido do
b) não veria mais inundações e desabamentos. texto, em:
c) comeria o verdadeiro pão que o diabo amassou. a) A maioria provavelmente não se sujeitava a requintes.
d) não precisaria dispor da enorme e desdentada boca. b) A maioria talvez não se obrigava à requintes.
e) teria dentes para comer o pão que o bombeiro lhe dera. c) A maioria realmente não se rendia em requintes.
d) A maioria certamente não se dedicava a requintes.
Texto para as questões de a . e) A maioria evidentemente não se comprometia em
requintes.
MODOS DE XINGAR
 (FGV) – Na oração “— Traduzo coisa nenhuma” (5.o
— Biltre! parágrafo), o termo sublinhado pertence à mesma classe de
— O quê? palavras do termo sublinhado em:
— Biltre! Sacripanta! a) O lugar certo onde ocorreu a batida entre o Ford e o fusca
— Traduz isso para português. eu não lembro agora.
— Traduzo coisa nenhuma. Além do mais, charro! Onagro! b) O senhor do Ford proferia ofensas ao jovem do fusca,
Parei para escutar. As palavras estranhas jorravam do pensando estar fazendo o certo.
interior de um Ford de bigode. Quem as proferia era um senhor c) Para muitos, não era certo ofender com palavras simples,
idoso, terno escuro, fisionomia respeitável, alterada pela tinham que castigar.
indignação. Quem as recebia era um garotão de camisa d) Em um bate-boca, ninguém acaba falando certo, já que as
esporte; dentes clarinhos emergindo da floresta capilar, no ofensas prevalecem.
interior de um fusca. Desses casos de toda hora: o fusca bateu e) Na fala do senhor idoso, o jovem identificou certo termo
no Ford. Discussão. Bate-boca. O velho usava o repertório de que desconhecia.

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Módulo 65 – Conjunção (III) Com a reformulação sintática, a frase com asterisco só não
altera substancialmente o sentido de sua correspondente em
Texto para as questões de  a . a) I e II. b) II e III. c) III e IV.
d) I e III. e) II e IV.
Hoje, as famílias que vivem na cidade de São Paulo
gastam uma fatia maior do orçamento com ração para o Quadrinho para a questão .
cãozinho ou o gato de estimação (0,55%) do que com o feijão
(0,39%), um alimento básico. Em contrapartida, o desembolso
com aluguel caiu pela metade nos últimos dez anos, porque OS TEMPOS TIVE QUE E ONDE
ESTÃO MUITO ARRUMAR VOCÊ
um número crescente de famílias teve acesso à casa própria. DIFÍCEIS, HAGAR! UM OUTRO TRABALHA?
Também o peso da prestação do carro zero nas despesas, EMPREGO,
DE NOITE!
triplicou no período.
(O Estado de S. Paulo – Adaptado)

 (FGV) – A relação de sentido que se estabelece entre os


dois primeiros períodos do texto seria mantida, se a expressão
em contrapartida fosse substituída por
a) todavia. b) embora. c) uma vez que.
d) tanto que. e) se bem que.
NA PIZZARIA, CORTANDO AS

 (FGV) – Embora trate de aumento de despesas, a exemplo


PIZZAS EM FATIAS!

da primeira frase do texto, e não de redução, como a segunda,


a frase Também o peso da prestação do carro zero nas
despesas, triplicou no período não poderia vir logo depois da
primeira, devido a um dos termos que nela ocorrem, ou seja,
a) também. b) prestação. c) despesas.
d) triplicou. e) período.

 (FGV) – Ao se adaptar o texto, foi introduzida uma vírgula


que contraria as normas da língua escrita padrão.
 Há, entre essas duas primeiras falas do primeiro
quadrinho, respectivamente, uma relação semântica de
Ela ocorre em:
a) causa e conformidade.
a) Hoje, as famílias.
b) conformidade e comparação.
b) feijão (0,39%), um alimento básico.
c) comparação e causa.
c) Em contrapartida, o desembolso com aluguel.
d) causa e consequência.
d) nos últimos dez anos, porque um número.
e) consequência e conformidade.
e) nas despesas, triplicou no período.

 Indique as relações semânticas expressas pelos


 (UPF) – A frase marcada com um asterisco reformula a
elementos de ligação destacados no texto abaixo:
anterior.
I) Como os amigos não vieram, ele fechou a casa e foi dormir.
“Os vestibulares selecionam os melhores candidatos?
* Os amigos não vieram, então ele fechou a casa e foi
Hoje há sérias dúvidas quanto a isso, não tanto pelos que
dormir.
entram, mas por alguns que ficaram de fora e mereciam
II. Recebeu-nos com tanto afeto e carinho, que ficamos
também a sua oportunidade. Um livro recente... discute, entre
emocionados.
outras, a seguinte questão: por que alunos excelentes,
* Ficamos emocionados, por ele nos ter recebido com
segundo os padrões habituais de aferição, fracassam em suas
tanto afeto e carinho.
carreiras, enquanto outros, considerados maus alunos pelos
III. Ele estudou muito, de sorte que foi recompensado com
mesmos critérios, se saem surpreendentemente bem?”
uma excelente classificação.
(Roberto Macedo. O Estado de S. Paulo)
* Ele foi recompensado com uma excelente classificação,
mas só depois estudou muito. a) tanto:
IV. O professor era demasiadamente exigente e os alunos b) mas:
não lhe dirigiam a palavra. c) também:
* Os alunos não dirigiam a palavra ao professor, o que o d) segundo:
fazia demasiadamente exigente. e) enquanto:

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Módulo 66 – Gêneros textuais: cartuns,  (UEL) – Em relação à charge, é correto afirmar:


tiras, histórias em quadrinhos a) Trata-se de texto marcado por gírias, o que faz com que
e charges haja um desacordo entre a imagem e o título.
b) O sentido da palavra “rotina”, na charge, é contraditório,
 Leia a tirinha e marque a alternativa correta. pois ela está se referindo a práticas sociais incomuns.
c) A expressão “mané” resume, no texto, o desejo manifes-
tado pelo bandido de ter uma atividade mais emocionante.
d) Trata-se de texto não-verbal que idealiza o papel do
trabalhador nas mais diferentes esferas da sociedade.
e) A figura do personagem da charge reproduz fielmente o
profissional de segurança dos grandes centros urbanos.

 (UFPB) – A charge de Lila pode ser compreendida como


um discurso dialógico que

Preto no Branco. Allan Sieber. Disponível em:


http://talktohimselfshow.zip.net/arch2012-07-01_2012-07-
31.html

a) O sentido cômico do texto acontece por meio do desfecho Jornal da Paraíba, 14 de maio de 2011.
no último quadrinho em relação à ação da ex-mulher do
personagem. a) representa uma perspectiva equivocada sobre a
b) A comicidade é ocasionada pelo uso da imagem de um manutenção da reserva florestal no Brasil.
personagem que atende aos recursos linguísticos b) simplifica a temática ambiental sobre a polêmica do novo
sugeridos em cada quadrinho. código florestal.
c) A tira explora a contradição entre o jogo das palavras c) critica a atitude humana, em relação à preservação
“andar a pé”, “andar mancando” e “voltar correndo”. florestal do território brasileiro.
d) O sentido de humor na leitura da tirinha é provocado pelo d) humoriza o tema do novo código florestal, em relação à
equívoco da imagem do terceiro quadrinho, que apresenta exploração da vegetação no mundo inteiro.
o personagem sem a perna enfaixada. e) defende por meio da linguagem não verbal as garantias do
e) O humor da tira se deve à intertextualidade entre os direito à propriedade rural.
comandos verbais em relação ao “jogo da vida dura” e ao
modelo de um jogo popularmente conhecido. A questão  refere-se à charge abaixo.

A questão  refere-se à charge abaixo.

(O Pasquim) VEIGA, D. Disponível em: http://dirceuveiga.com.br.

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 Considerando que a internet influencia os Assinale a alternativa que contém a sequência correta.
modos de comunicação contemporânea, a a) F – F – V – V – V
charge faz uma crítica ao uso vicioso dessa b) F – V – F – V – F
tecnologia, pois c) V – F – V – V – F
a) gera diminuição no tempo de descanso, substituído pelo d) V – V – F – F – V
contato com outras pessoas. e) V – F – V – F – V
b) propicia a continuação das atividades de trabalho, ainda
que em ambiente doméstico.  (UPE) – No Arcadismo brasileiro, encontram-se textos
c) promove o distanciamento nos relacionamentos, mesmo épicos, líricos e satíricos. Com base nessa afirmação, leia os
entre pessoas próximas fisicamente. textos a seguir:
d) tem impacto negativo no tempo disponível para o lazer do
casal. Texto 1
e) implica a adoção de atitudes agressivas entre os membros
de uma mesma família. Pastores, que levais ao monte o gado,
Vede lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver-se o meu rosto magoado:
FRENTE 2
Eu ando (vós me vedes) tão pesado;
Módulo 33 – Arcadismo: concepção E a pastora infiel, que me faz guerra,
burguesa da vida É a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martírio tão cansado.
 (UPE) – Sobre a produção do Arcadismo no Brasil, analise
as afirmativas a seguir e coloque V nas verdadeiras e F nas Se a quereis conhecer, vinde comigo,
falsas. Vereis a formosura, que eu adoro;
I. ( ) Tomás Antônio Gonzaga é considerado, ao lado Mas não; tanto não sou vosso inimigo:
de Cláudio Manuel da Costa, ícone da Literatura
Árcade. Contudo, os dois iniciaram suas Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro;
produções poéticas de modo diverso: o primeiro Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
como poeta árcade e o segundo ainda dentro Chorareis, ó pastores, o que eu choro.
dos preceitos do Barroco. (Cláudio Manuel da Costa)
II. ( ) A obra poética de Tomás Antônio Gonzaga tem
a obra poética pertencente a duas fases: a Texto 2
primeira é árcade e a segunda tem traços
românticos. Além disso, foi poeta satírico, em [...]
Cartas Chilenas, e lírico, em Marília de Dirceu. Enquanto pasta alegre o manso gado,
III. ( ) Como poeta árcade, o presumido autor de minha bela Marília, nos sentemos
Cartas Chilenas utiliza o pseudônimo de Dirceu, à sombra deste cedro levantado.
que nutre amor pela musa Marília. Envolvido Um pouco meditemos
com o movimento dos Inconfidentes, é na regular beleza,
degredado para a África, apenas regressando ao que em tudo quanto vive nos descobre
Brasil no final da vida. a sábia Natureza.
IV. ( ) O autor de Liras de Dirceu revela [...]
sentimentalismo e emotividade em seus (Tomás Antônio Gonzaga)
poemas, apontando, assim, para o Pré-
Romantismo, que antecede a fase do Texto 3
Arcadismo.
V. ( ) Tendo Tomás Antônio Gonzaga sido preso como [...]
inconfidente, continuou a escrever poemas mais Amigo Doroteu, não sou tão néscio,
emotivos e pessimistas, passando a falar de si Que os avisos de Jove não conheça.
mesmo e lastimando sua condição de Pois não me deu a veia de poeta,
prisioneiro. A poesia que produz nesse período é Nem me trouxe, por mares empolados,
a que mais contém características do A Chile, para que, gostoso e mole,
Romantismo. Descanse o corpo na franjada rede.

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Nasceu o sábio Homero entre os antigos,  (UCS) – As obras literárias marcam diferentes visões de
Para o nome cantar, do grego Aquiles; mundo, não apenas dos autores, mas também de épocas
Para cantar, também, ao pio Eneias, históricas distintas. Reflita sobre isso e leia os fragmentos dos
Teve o povo romano o seu Vergílio: poemas de Gregório de Matos e de Tomás Antônio Gonzaga.
Assim, para escrever os grandes feitos
Que o nosso Fanfarrão obrou em Chile, Arrependido estou de coração,
Entendo, Doroteu, que a Providência de coração vos busco, dai-me abraços,
Lançou, na culta Espanha, o teu Critilo. abraços, que me rendem vossa luz.
[...]
(Tomás Antônio Gonzaga – Cartas Chilenas) Luz, que claro me mostra a salvação,
a salvação pretendo em tais abraços,
Sobre eles, analise os itens seguintes: misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
I. Os três poemas são árcades e nada têm que possamos (MATOS, Gregório. Pecador contrito aos pés do Cristo
considerá-los pertencentes a outro estilo de época, uma crucificado. In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura
vez que seus autores só produziram poemas líricos e com brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna,
características totalmente arcádicas. Além disso, todos 1988. p. 66.)
eles trazem referências à mitologia clássica mediante o
uso de termos tais como “monte”, “Natureza” e “Jove”,
respectivamente, nos textos 1, 2 e 3. Minha bela Marília, tudo passa;
II. Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa são a sorte deste mundo é mal segura;
poetas árcades, embora o primeiro tenha-se iniciado como se vem depois dos males a ventura,
barroco, daí os trechos dos dois poemas de sua autoria vem depois dos prazeres a desgraça.
revelarem traços desse momento da Literatura. De outro Estão os mesmos deuses
modo, Cláudio Manuel da Costa, no poema de número 1, sujeitos ao poder do ímpio fado:
se apresenta como pré-romântico, razão pela qual sua Apolo já fugiu do céu brilhante,
produção se encontra dividida em dois momentos já foi pastor de gado.
literários. (GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas.
III. A referência a Critilo, sendo espanhol, é um dado falso que Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl.
tem por finalidade ocultar a nacionalidade do autor mineiro São Paulo: Moderna, 1988. p. 77.)
e, ao mesmo tempo, corroborar a camuflagem da autoria,
em decorrência do tom satírico e agressivo da epístola em Em relação aos poemas, analise a veracidade (V) ou a falsidade
versos. Contudo, o desejo de ocultação não foi alcançado, (F) das proposições abaixo.
porque Tomás Antônio Gonzaga foi preso e deportado, por ( ) O poema de Gregório de Matos apresenta um sujeito
ter sido atribuída a ele a autoria das referidas Cartas. lírico torturado pelo peso de seus pecados e desejoso
IV. O tema do amor se faz presente nos poemas 1 e 2. de aproximar-se do divino.
Ambos apresentam bucolismo, característica do ( ) Tomás Antônio Gonzaga, embora pertença ao mesmo
Arcadismo, contudo existe algo que os diferencia: o período literário de Gregório de Matos, revela neste
pessimismo do eu poético no texto 1 e a reciprocidade do poema um sujeito lírico consciente da brevidade da
sentimento amoroso no 2. vida.
V. O texto 3, apesar de satírico, nega, pelos aspectos ( ) Em relação às marcas de religiosidade, a visão
temáticos e formais, qualquer característica do Arcadismo, antagônica que se coloca entre os dois poemas reflete,
pois o poeta se preocupa, de modo especial, com os no Barroco, a influência do Cristianismo e, no
acontecimentos históricos e exime-se de preocupação Arcadismo, a da mitologia grega.
estética, revelando desconhecimento da produção épica
de poetas gregos e latinos. Assinale a alternativa que preenche corretamente os
parênteses.
Está(ão) correto(s), apenas, o(s) item(ns) a) V – V – V
a) I, II e III. b) V – F – F
b) I e IV. c) V – F – V
c) II, IV e V. d) F – F – F
d) IV. e) F – V – F
e) I.

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 Faça a escansão do verso: Misericórdia, amor, Jesus, a) “Flores canoras, pássaros fragrantes,” (3.ª estrofe)

Jesus. b) “À margem de uma fonte, que corria,” (1.ª estrofe)


c) “Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,” (4.ª estrofe)

Leia o soneto “A uma dama dormindo junto a uma fonte”, do d) “Dominava o silêncio entre as flores,” (2.ª estrofe)

poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para responder e) “O céu seus horizontes de mil cores;” (2.ª estrofe)

às questões de  a .

(UNIFESP) – Assinale a alternativa em que o trecho do

À margem de uma fonte, que corria, soneto está reescrito em ordem direta, sem alteração do seu

Lira doce dos pássaros cantores sentido original.

A bela ocasião das minhas dores a) “Não dão o parabém à nova Aurora / Flores canoras,

Dormindo estava ao despertar do dia. pássaros fragrantes” → A nova Aurora não dá o parabém
às flores canoras e aos pássaros fragrantes.

Mas como dorme Sílvia, não vestia b) “Calava o mar, e rio não se ouvia” → O mar se calava e

O céu seus horizontes de mil cores; não ouvia o rio.

Dominava o silêncio entre as flores, c) “não vestia / O céu seus horizontes de mil cores” → O

Calava o mar, e rio não se ouvia. céu não vestia seus horizontes de mil cores.
d) “Tudo a Sílvia festeja, tudo adora” → A Sílvia festeja tudo,

Não dão o parabém à nova Aurora adora tudo.

Flores canoras, pássaros fragrantes, e) “A bela ocasião das minhas dores / Dormindo estava ao

Nem seu âmbar respira a rica Flora. despertar do dia” → Ao despertar do dia, estava dormindo
a bela ocasião de minhas dores.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,


Tudo a Sílvia festeja, tudo adora Texto para a questão .
Aves cheirosas, flores ressonantes.
(Poemas Escolhidos, 2010.) Predomina neste movimento uma tônica mais
cosmopolita, intimamente ligada às modas literárias da Europa,

 O que significa, no texto, a expressão “dois diamantes”? desejando pertencer ao mesmo passado cultural e seguir os
mesmos modelos, o que permitiu incorporar os produtos
intelectuais da colônia inculta ao universo das formas

 (UNIFESP) – No soneto, a seguinte expressão é superiores de expressão. Ao lado disso, tal movimento

empregada pelo eu lírico em lugar de sua musa Sílvia: continuou os esboços particularistas que vinham do passado

a) “Flores canoras, pássaros fragrantes”. local, dando importância relevante tanto ao índio e ao contato

b) “À margem de uma fonte, que corria”. de culturas, quanto à descrição da natureza, mesmo que fosse

c) “O céu seus horizontes de mil cores”. em termos clássicos.

d) “A bela ocasião das minhas dores”. (Antônio Cândido.

e) “Aves cheirosas, flores ressonantes”. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

Texto para a questão . (UNIFESP) – Tal comentário refere-se ao seguinte


movimento literário brasileiro:

A sinestesia consiste em transferir percepções de um a) Romantismo.

sentido para as de outro, resultando um cruzamento de b) Classicismo.

sensações. c) Naturalismo.

(Celso Cunha. Gramática Essencial, 2013.) d) Barroco.


e) Arcadismo.

(UNIFESP) – Verifica-se a ocorrência desse recurso no


seguinte verso:

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Módulo 34 – Manuel Antônio de Almeida: a) acreditava que a vida no Brasil poderia ser tão interessante
Memórias de um Sargento de quanto a de Portugal.
b) saiu de Portugal em companhia de sua namorada, Maria
Milícias: o narrador
da Hortaliça.

Textos para as questões de  a . c) buscava um ofício lucrativo e agradável no Brasil, como o


que tinha em Portugal.
d) veio ao Brasil em razão de seu enfado com a vida que
TEXTO 1
levava em Portugal.
e) via o Brasil como um lugar de raras chances de êxito pessoal.

 (UNIFESP) – Com base nas informações verbais e visuais,


é correto afirmar que o beliscão de Maria representa
a) a cumplicidade na situação de aproximação desencadeada
pela pisadela.
b) o desdém da quitandeira frente à intenção de aproximação
de Leonardo.
c) a condenação à atitude de Leonardo, por supor uma
intimidade indesejada.
d) o repúdio da quitandeira à situação, vendo Leonardo como
homem desprezível.
e) a aceitação de uma amizade, mas não de uma
aproximação íntima entre ambos.

 (UNIFESP) – Analise as afirmações sobre Memórias de


um Sargento de Milícias.
I. Esse romance incorpora, dentre outros valores do
Romantismo, a idealização da mulher e do amor.
II. O protagonista da história, Leonardinho, filho de Leonardo
e Maria da Hortaliça, afasta-se do perfil de herói romântico,
e sua história desenvolve-se numa narrativa em que se
denunciam as mazelas e pobrezas sociais.
III. A obra retrata a alta sociedade carioca do século XIX,
criticando o jogo de interesses sociais.

Está correto apenas o que se afirma em


a) I.
b) II.
(Releitura de uma passagem do início do romance c) III.
Memórias de um Sargento de Milícias. d) I e III.
Em www.fotolog.terra.com.br.biradantas. Adaptado.) e) II e III.

TEXTO 2  (FUVEST) – Considerando-se o intervalo entre o contexto


em que transcorre o enredo da obra Memórias de um Sargento
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e a época de sua
enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês publicação, é correto afirmar que a esse período corresponde
manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do o processo de
beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho (...) E este a) reforma e crise do Império Português na América.
nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais b) triunfo de uma consciência nativista e nacionalista na
nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói colônia.
desta história. c) Independência do Brasil e formação de seu Estado
(Manuel Antônio de Almeida, nacional.
Memórias de um Sargento de Milícias.) d) consolidação do Estado nacional e de crise do regime
monárquico brasileiro.
 (UNIFESP) – Com base nas informações do texto 1, é e) Proclamação da República e instauração da Primeira
correto afirmar que Leonardo República.

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Texto para a questão . pacificamente em tudo sobre que era lícito conversar: na vida
dos fidalgos, nas notícias do Reino e nas astúcias policiais do
Era no tempo do rei. Vidigal. Entre os termos que formavam essa equação meirinhal
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor pregada na esquina havia uma quantidade constante, era o
e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse Leonardo-Pataca. Chamavam assim a uma rotunda e
tempo — O canto dos meirinhos —; e bem lhe assentava o gordíssima personagem de cabelos brancos e carão
nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os avermelhado, que era o decano da corporação, o mais antigo
indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena dos meirinhos que viviam nesse tempo. A velhice tinha-o
consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a tornado moleirão e pachorrento; com sua vagareza atrasava o
sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei: esses eram negócio das partes; não o procuravam; e por isso jamais saía
gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam da esquina; passava ali os dias sentado na sua cadeira, com as
um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia pernas estendidas e o queixo apoiado sobre uma grossa
todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre bengala, que depois dos cinquenta era a sua infalível
nós um elemento da vida: o extremo oposto eram os companhia. Do hábito que tinha de queixar-se a todo o instante
desembargadores (...). de que só pagassem por sua citação a módica quantia de 320
réis, lhe viera o apelido que juntavam ao seu nome.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo
 (ALBERT EINSTEIN) – O trecho acima inicia o romance
algibebe2 em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do
Memórias de um Sargento de Milícias, escrito em forma de
negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por
folhetim entre 1852 e 1853 por Manuel Antônio de Almeida.
proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos
Deste romance como um todo, é correto afirmar que
empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos
a) reveste-se de comicidade, na linha do pitoresco, e
remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o
desenvolve sátira saborosa aos costumes da época, que
quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de
atinge todas as camadas sociais, em particular os políticos
Lisboa, saloia3 rochonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-
e os poderosos.
se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal
b) apresenta personagem feminina, Luisinha, cuja descrição
apessoado, e sobretudo era maganão4.
fere a caracterização sempre idealizada do perfil de mulher
dentro da estética romântica. 1 meirinho: espécie de oficial de justiça.
c) é um romance histórico que pretende narrar fatos de 2 algibebe: mascate, vendedor ambulante.
tonalidade épica e heroica da vida brasileira, ambientados 3 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
no tempo do rei e vividos por seus principais 4 maganão: brincalhão, jovial, folgazão, divertido.
protagonistas.
d) configura personagens populares que, pela primeira vez,
 (UNESP) – Em Memórias de um Sargento de Milícias, o
comparecem no romance brasileiro e que se tornam
narrador não participa da ação, mas se intromete na narrativa.
responsáveis pelo desprestígio da literatura brasileira junto
Transcreva do excerto dois pequenos trechos em que a
ao público leitor da época.
intromissão do narrador é mais explícita. Justifique sua
resposta.
Leia o excerto do romance Memórias de um Sargento de
Milícias de Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) para (FGV) – Já na frase de abertura das Memórias de um
responder à questão . Sargento de Milícias — “Era no tempo do rei.” —, que remete
ao mesmo tempo à abertura-padrão dos contos da carochinha
Era no tempo do rei. e ao período joanino da história do Brasil, manifestam-se as
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor duas modalidades do tempo presentes nessa obra: uma, de
e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse caráter lendário e intemporal e, outra, de caráter histórico bem
tempo — O canto dos meirinhos1 —; e bem lhe assentava o determinado.
nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os O convívio dessas duas modalidades do tempo indica que, do
indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena ponto de vista dessa obra, a história brasileira caracterizou-se
consideração). [...] pela conjunção de
Mas voltemos à esquina. Quem passasse por aí em a) mudança e imobilismo.
qualquer dia útil dessa abençoada época veria sentado em b) realismo e alucinação.
assentos baixos, então usados, de couro, e que se c) religiosidade e materialismo.
denominavam — cadeiras de campanha — um grupo mais ou d) liberdade e opressão.
menos numeroso dessa nobre gente conversando e) localismo e cosmopolitismo.

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(UDESC) – Relacione as colunas abaixo, em relação ao Módulo 35 – Rousseau: o “bom selvagem”
romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel
Antônio de Almeida, e a texto de um crítico.  (UNIFESP) – Leia o poema de Ricardo Reis, heterônimo
de Fernando Pessoa.
Relacione as colunas abaixo:
Coroai-me de rosas,
1. Ausência de ( ) “Em certas casas os agregados Coroai-me em verdade
traço idealizante eram muito úteis, porque a família De rosas —
feminino tirava grande proveito de seus serviços, Rosas que se apagam
e já tivemos ocasião de dar exemplo Em fronte a apagar-se
disso quando contamos a história do Tão cedo!
finado padrinho de Leonardo; outras Coroai-me de rosas
vezes porém e estas eram em maior E de folhas breves.
número, o agregado, refinado vadio, era E basta.
uma verdadeira parasita que se prendia
(As Múltiplas Faces de Fernando Pessoa, 1995.)
à árvore familiar, que lhe participava da
seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o
O tema tratado no poema é a
que é mais ainda, chegava mesmo a
dar cabo dela, [...] Em qual dos dous a) necessidade de se buscar a verdadeira razão para uma
casos estava ou viria a estar em breve vida plena.
o nosso amigo Leonardo? O leitor que b) fugacidade do tempo, remetendo à ideia de brevidade da
o decida pelo que se vai passar”. (p. 85) vida.
c) busca pela simplicidade da vida, representada pela natureza.
d) brevidade com que o verdadeiro amor perpassa a vida das
pessoas.
2. Traço da prosa ( ) “Leonardo ao entrar lançou logo os e) rapidez com que as relações verdadeiras começam e
romântica olhos para a sobrinha de Dona Maria; terminam.
porém, sem saber por quê, não teve
desta vez mais vontade de rir-se;
entretanto a menina continuava a ser
 (UFSM) – A beleza da forma física feminina constituiu
assunto predileto da poesia arcádica brasileira. Leia as
feia e esquisita; nesse dia estava ainda
pior do que os outros. Dona Maria tinha seguintes estrofes da Lira 27 de Marília de Dirceu, de Tomás
tido pretensões de asseá-la; vestira-lhe Antônio Gonzaga:
um vestido branco muito curto, pusera-
lhe um lenço de seda encarnado ao Vou retratar a Marília,
pescoço, e penteara-a de bugres”. (p. a Marília, meus amores;
54) porém como? se eu não vejo
quem me empreste as finas cores:
3. O anti-herói, ( ) “Afinal de contas a Maria sempre dar-mas a terra não pode;
o picaresco era saloia, e o Leonardo começava a não, que a sua cor mimosa
arrepender-se seriamente de tudo que
vence o lírio, vence a rosa,
tinha feito por ela e com ela. E tinha
o jasmim e as outras flores.
razão, porque, digamos depressa e sem
mais cerimônias, havia ele desde certo
tempo concebido fundadas suspeitas Ah! socorre, Amor, socorre
de que era atraiçoado”. (p. 13) ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
4. Possível ( ) A obra se encerra com um “final Traze-me as tintas do céu.
triângulo feliz”, o que se observa já no título dos [...]
amoroso dois últimos capítulos: “A morte é juiz” Entremos, Amor, entremos,
(cap. 47) e “Conclusão feliz” (cap. 48). entremos na mesma esfera;
Assinale a alternativa correta, de cima para baixo. venha Palas1, venha Juno2,
a) 1 – 3 – 4 – 2 Venha a deusa de Citera3.
b) 2 – 4 – 3 – 1 Porém, não, que se Marília
c) 2 – 3 – 1 – 4 no certame4 antigo entrasse,
d) 4 – 1 – 2 – 3 bem que a Páris5 não peitasse,
e) 3 – 1 – 4 – 2 a todas as três vencera.

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Vai-te, Amor, em vão socorres Quais estão corretas?


ao mais grato empenho meu: a) Apenas I.
para formar-lhe o retrato b) Apenas III.
não bastam tintas do céu. c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
1Palas: deusa da mitologia romana, presidia a guerra e) I, II e III.
2Juno: deusa da mitologia romana, esposa de Júpiter
3Deusa de Citera: Afrodite, deusa do amor  (UFLAVRAS) – Considere as seguintes proposições.
4Certame: disputa I. “O momento ideológico, na literatura dos Setecentos,
5Páris: príncipe troiano, responsável por escolher a deusa mais bela do traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e
Olimpo do clero.”
II. “O momento poético, na literatura do Arcadismo, nasce
O Arcadismo volta aos princípios clássicos greco-romanos e de um encontro, embora ainda amaneirado, com a
renascentistas. Nesse sentido, a estética árcade cria e segue natureza e os afetos comuns do homem.”
um grupo de preceitos herdados do Classicismo. Assinale o III. “Façamos, sim, façamos, doce amada,
trecho poético de Marília de Dirceu que corresponde ao Os nossos breves dias mais ditosos.”
preceito em negrito. A característica que está presente nestes versos de
Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, é o “carpe
a) “Verás em cima da espaçosa mesa/altos volumes de
diem” (“gozar a vida”).
enredados feitos;/ver-me-ás folhear os grandes livros,/e
decidir os pleitos.” — Fugere urbem.
Marque
b) “Enquanto pasta alegre o manso gado,/minha bela Marília,
a) se só a proposição I é correta.
nos sentemos/à sombra deste cedro levantado./Um pouco
b) se só a proposição II é correta.
meditemos/na regular beleza,/que em tudo quanto vive c) se só a proposição III é correta.
nos descobre/a sábia Natureza.” — Locus amoenus. d) se só são corretas as proposições I e II.
c) “Se não tivermos lãs e peles finas,/podem mui bem cobrir e) se todas as proposições são corretas.
as carnes nossas/as peles dos cordeiros malcurtidas,/e os
panos feitos com as lãs mais grossas./Mas ao menos será
Texto para a questão .
o teu vestido/por mãos de amor, por minhas mãos
cosido.” — Tempus fugit
Onde estou? Este sítio desconheço:
d) “Pela Ninfa, que jaz vertida em Louro,/o grande Deus
Quem fez diferente aquele prado?
Apolo não delira?/Jove, mudado em Touro/e já mudado em
Tudo outra natureza tem tomado;
velha não suspira?/Seguir aos Deuses nunca foi
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
desdouro./Graças, ó Nise bela,/graças à minha Estrela!” —
Carpe diem. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
e) “Quando apareces/Na madrugada,/Mal-embrulhada/Na De estar a ela um dia reclinado.
larga roupa,/E desgrenhada/Sem fita, ou flor;/Ah! que Ali em vale um monte está mudado:
então brilha/A natureza!/Então se mostra/Tua beleza/Inda Quanto pode dos anos o progresso!
maior.” — Aurea mediocritas.
Árvores aqui vi tão florescentes,
 (UFRGS) – Leia as afirmações abaixo sobre o Arcadismo Que faziam perpétua a primavera:
brasileiro. Nem troncos vejo agora decadentes.
I. Os poetas árcades colocavam-se como pastores para
realizarem, dessa forma, o ideal de uma vida simples em Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
contato com a natureza.
Meus males, com que tudo degenera!
II. O Arcadismo brasileiro, embora tenha reproduzido muito
(Cláudio Manuel da Costa. “Sonetos (VlI)”.
dos modelos europeus, apresentou características
In: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Intr., sel. e notas):
próprias, como a incorporação do elemento indígena e a
POESIA DO OUTRO – ANTOLOGIA.
sátira política.
São Paulo: Melhoramentos, 1964. p. 47.)
III. O tema do “Carpe diem”, em que o poeta expressa o
desejo de aproveitar intensamente o momento presente,  (UFSCar) – O estilo neoclássico, fundamento do
fugaz e passageiro, foi ignorado pelos árcades brasileiros, Arcadismo brasileiro, de que fez parte Cláudio Manuel da
excessivamente racionalistas. Costa, caracteriza-se pela utilização das formas clássicas

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convencionais, pelo enquadramento temático em paisagem a) comente como o emprego de pronomes pessoais serve
bucólica pintada como lugar aprazível, pela delegação da fala para ilustrar a opção pela norma padrão, na fala das
poética a um pastor culto e artista, pelo gosto das personagens;
circunstâncias comuns, pelo vocabulário de fácil entendimento b) identifique, na última fala de Jandira, dois exemplos do
e por vários outros elementos que buscam adequar a uso mais formal ou artificial de um dos tempos verbais ali
sensibilidade, a razão, a natureza e a beleza. Dadas estas ocorrentes.
informações,
a) indique qual a forma convencional clássica em que se (UNESP) – No trecho transcrito de Ubirajara, o ambiente
enquadra o poema. retratado é o pano de fundo que permite relacionar a obra a
b) transcreva a estrofe do poema em que a expressão da uma importante característica do romance indianista, que o
natureza aprazível, situada no passado, domina sobre a inscreve de modo marcante no Romantismo.
expressão do sentimento da personagem poemática. a) Identifique essa característica, atendo-se explicitamente
ao cenário em que se movem as personagens.
Textos para as questões de  a
. b) Explique como as comparações existentes no trecho
servem para confirmar essa característica.
UBIRAJARA


(UNESP) – O diálogo travado entre Jandira e Ubirajara
Uma estrela brilhante listrava o céu, como uma lágrima de
deixa evidentes diferentes interpretações das personagens,
fogo, e Ubirajara pensou que era o rasto de Araci, a filha da luz.
quanto a uma eventual união conjugal entre elas. Ao empregar
A juriti arrulhou docemente na mata e Ubirajara lembrou-
as palavras noiva e esposo, Jandira parece considerar definida
se da voz maviosa da virgem do sol.
a sua união com o chefe dos araguaias. Com base nessas
(...)
considerações,
Seu passo o guiava sem querer para as bandas do grande
rio, onde devia ficar a taba dos tocantins. a) explique como Ubirajara revela frustrar essa intenção
É assim que os coqueiros, imóveis na praia, inclinam para explícita da índia, quanto à união entre ambos;
o nascente seu verde cocar. b) aponte um advérbio, repetido duas vezes na última fala de
Ubirajara ouviu o rumor de um passo ligeiro através da Ubirajara, que confirma essa quebra de expectativa de
mata; de longe conheceu Jandira que o procurava. Jandira e ratifica a indecisão do guerreiro.
A doce virgem achara à porta da cabana o rasto do
guerreiro e o seguira através da floresta.
— Que mau sonho aflige Ubirajara, o senhor da lança e o Módulo 36 – Memórias de um Sargento de
maior dos guerreiros, chefe da grande nação araguaia, para que Milícias: o protagonista
ele se afaste de sua taba e esqueça a noiva que o espera?
— A tristeza entrou no coração de Ubirajara, que não sabe  (ALBERT EINSTEIN) – Considerando as situações
mais dizer-te palavras de alegria, linda virgem. amorosas que se mostram no romance Memórias de um
— A tristeza é amarga; quando entra no coração do Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, é correto
guerreiro, o enche de fel. Mas Jandira fará como sua irmã, a afirmar que
abelha, ela fabricará em seus lábios os favos mais doces para a) há um relacionamento amoroso desinteressado entre
seu guerreiro; suas palavras serão os fios de mel que ela
José Manuel e Luisinha que se efetiva por um casamento
derramará na alma do esposo.
feliz e duradouro.
— Filha de Majé, doce virgem, ainda não chegou o dia em
b) cresce uma paixão entre Vidinha e Leonardo que resulta
que Ubirajara escolha uma esposa; nem ele sabe ainda qual o
em união estável, consumada em casamento aprovado
seio que Tupã destinou para gerar o primeiro filho do grande
por todos, mesmo tendo o herói tomado gosto pela vida
chefe dos araguaias.
de vadio.
O lábio de Jandira emudeceu; mas o peito soluçou.
c) renasce em Luisinha o sentimento adormecido que nutria
(...)
por Leonardo e, após a decepção da primeira união
Ela sabia que os guerreiros amam a flor da formosura,
conjugal, casa-se com ele em bodas festivas e amparadas
como a folhagem da árvore; e que a tristeza murcha a graça da
em herança recebida e na promoção às fileiras das Milícias
mais linda virgem.
(José de Alencar, Ubirajara. 1.ª edição: 1874.) no posto de sargento.
d) resulta do casamento feliz de Leonardo-Pataca com Maria
 (UNESP) – Ubirajara apresenta uma linguagem culta, das Hortaliças, o nascimento de um menino, fruto de uma
mesmo ao focalizar a fala de indígenas, como Ubirajara e pisadela e de um beliscão e que será a felicidade de todos
Jandira. Relendo o texto, porque nunca será malsinado.

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 (UFRGS) – Assinale a alternativa correta a respeito de II. O livro é narrado em primeira pessoa por Leonardo: trata-
Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de se de suas memórias desde o abandono da terra natal —
Almeida. Lisboa — até a nomeação como Sargento de Milícias no
a) Leonardinho é filho de agricultores portugueses, Rio de Janeiro.
imigrantes que vieram para o Brasil junto com D. Manuel. III. Personagens como o compadre, a comadre e a vizinha são
b) O compadre e a comadre representam o trabalhador da representantes da classe popular — a base constitutiva do
indústria que nascia na organização econômica brasileira. romance — que, além do mais, está escrito em tom
c) O anti-herói Leonardo é excêntrico em relação aos humorístico.
romances do Romantismo e não deixa de antecipar tipos
como Firmo, de O Cortiço, e Macunaíma, do romance Quais estão corretas?
homônimo.. a) Apenas I.
d) O romance não apresenta definição de coordenadas b) Apenas II.
temporais e espaciais, pois sua ação pode ocorrer tanto no c) Apenas III.
Rio de Janeiro quanto em Salvador. d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
Texto para a questão .
Textos para as questões de  a .
O segredo que a Maria-Regalada dissera ao ouvido do
major no dia em que fora, acompanhada por D. Maria e a Era a comadre uma mulher baixa, excessivamente gorda,
comadre, pedir pelo Leonardo, foi a promessa de que, se fosse bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até
servida, cumpriria o gosto do major. outro; vivia do ofício de parteira, que adotara por curiosidade, e
Está pois explicada a benevolência deste para com o benzia de quebranto; todos a conheciam por muito beata e pela
Leonardo, que fora ao ponto de não só disfarçar e obter perdão mais desabrida papa-missas da cidade. Era a folhinha mais
de todas as suas faltas, como de alcançar-lhe aquele rápido exata de todas as festas religiosas que aqui se faziam; sabia de
acesso de posto. cor os dias em que se dizia missa em tal ou tal igreja, como a
Fica também explicada a presença do major em casa da hora e até o nome do padre; era pontual à ladainha, ao terço, à
Maria-Regalada. novena, ao setenário; não lhe escapava via-sacra, procissão,
Depois disto entraram todos em conferência. O major nem sermão; trazia o tempo habilmente distribuído e as horas
desta vez achou o pedido muito justo, em consequência do fim combinadas, de maneira que nunca lhe aconteceu de chegar à
que se tinha em vista. Com a sua influência tudo alcançou; e igreja e achar já a missa no altar. De madrugada começava pela
em uma semana entregou ao Leonardo dois papéis: — um era missa da Lapa; apenas acabava ia à das oito na Sé, e daí saindo
a sua baixa de tropa de linha; outro, sua nomeação de Sargento pilhava ainda a das nove em Santo Antônio. O seu traje habitual
de Milícias. era, como o de todas as mulheres de sua condição e esfera,
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta de uma saia de lila preta, que se vestia sobre um vestido qualquer,
seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do que lhe um lenço branco muito teso e engomado ao pescoço, outro na
deixara seu padrinho, que se achava religiosamente intacto. cabeça, rosário pendurado no cós da saia, um raminho de
(Manuel Antônio de Almeida, arruda atrás da orelha, tudo isto coberto por uma clássica
Memórias de Um Sargento de Milícias. mantilha, junto à renda da qual se pregava uma pequena figa
Cotia: Ateliê Ed., 2000) de ouro ou de osso. (...) a mantilha era o traje mais conveniente
aos costumes da época; sendo as ações dos outros o principal
cuidado de quase todos, era necessário ver sem ser visto. A
 (UNICAMP) mantilha para as mulheres estava na razão das rótulas para as
a) Que diferença significativa pode ser estabelecida entre a casas; eram o observatório da vida alheia.
condição inicial do herói do romance e sua condição final, ....................................................................................................
reproduzida no trecho acima? Nesta ocasião levantava-se a Deus, e as duas beatas
b) Essa condição foi alcançada por mérito de Leonardo? interromperam a conversa [sobre o afilhado da comadre] para
Justifique. bater nos peitos.
Era uma delas a vizinha do compadre, que prognosticava
 (UFRGS) – Considere as seguintes afirmações sobre o mau fim ao menino, e com quem ele prometera fazer uma
romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel estralada: a outra era uma das que tinham estado na função do
Antônio de Almeida. batizado.
I. O romance está integrado à estética romântica: o A comadre, apenas ouviu isto, foi procurar o compadre;
protagonista, Leonardo, é um herói nacional virtuoso e não se pense porém que a levara a isso outro interesse que
sem desvios de caráter. não fosse a curiosidade; queria saber o caso com todos os

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detalhes; isso lhe dava longa matéria para a conversa na igreja, Módulo 37 – Arcadismo: a inconstância e
e para entreter as parturientes que se confiavam aos seus fugacidade da vida
cuidados.
(Manuel Antônio de Almeida, Texto para as questões  e .
Memórias de um Sargento de Milícias)
Finalmente, a bandeira. Tiradentes propôs que fosse
 (UNESP) – O sincretismo religioso, isto é, a “fusão de adotado o triângulo representando a Santíssima Trindade, com
diferentes cultos ou doutrinas religiosas” (cf. Dicionário alusão às cinco chagas de Cristo crucificado, presente nas
Houaiss) era comum em nossa cultura, na época retratada na armas portuguesas. Já Alvarenga propôs a imagem de um
obra de Manuel Antônio de Almeida. A descrição da comadre, índio quebrando os grilhões do colonialismo, com a inscrição
feita com vivacidade pelo enunciador do texto, permite afirmar “Libertas quae sera tamen” (Liberdade, ainda que tardia), do
que ela é dada a essa prática? Justifique sua resposta, com poeta latino Virgílio, e que foi adotada e consagrada.
base em uma passagem do texto. (MOTA, Carlos Guilherme e LOPEZ, Adriana.
História do Brasil: uma interpretação.
 (UNESP) – Ao referir-se ao fato de a comadre procurar o São Paulo, Ed. 34, 2015, 4. ed. p. 261)
compadre, a fim de conversar sobre o afilhado, o enunciador
fornece a mesma explicação dada à razão de ela abraçar o  (PUCCAMP) – A referência ao poeta latino Virgílio faz
ofício de parteira. Identifique essa explicação, relacionando-a lembrar que
com os costumes da época, especialmente com o uso da a) entre os nossos poetas românticos, os ideais clássicos
mantilha pelas mulheres. ganharam novo alento.
b) Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga
(UNESP) – A comadre é apresentada, entre várias opuseram-se aos artifícios clássicos.
características, como uma mulher que cumpria rigorosamente c) as lutas nacionalistas do século XIX deveram muito aos
os horários. Transcreva duas passagens do fragmento em que pensadores do Classicismo.
essa qualidade está explícita, referindo-se à participação da d) a religiosidade medieval incorporou-se às lutas libertárias
personagem nas missas. do século XVIII.
e) nossos árcades e inconfidentes mostraram-se sensíveis
Texto para a questão
. aos valores da poesia clássica.

Inimigo da riqueza e do trabalho, amigo das festas, da  (PUCCAMP) – A proposta formulada por Alvarenga, de se
música, do corpo das cabrochas. Malandro. Armador de colocar na nova bandeira a imagem de um índio quebrando os
fuzuês. Jogador de capoeira navalhista, ladrão quando se fizer grilhões do colonialismo ajuda a entender que
preciso. a) os românticos da última geração foram os mais ingênuos
(Jorge Amado, Capitães da Areia) defensores do indianismo.
b) antes dos poetas árcades, artistas do barroco já
propugnavam por ideais nativistas.

(FUVEST) – O tipo cujo perfil se traça, em linhas gerais,
c) os inconfidentes alinhavam-se aos abolicionistas em duas
neste excerto, aparece em romances como Memórias de um
frentes de libertação popular.
Sargento de Milícias, O Cortiço, além de Capitães de Areia.
d) os escritores ilustrados, ainda no século XVIII, já se
Essa recorrência indica que
mostravam sensíveis aos valores nativistas.
a) certas estruturas e tipos sociais originários do período
e) antes mesmo dos sentimentos nativistas, ideais
colonial foram repostos durante muito tempo, nos
nacionalistas moviam os inconfidentes mineiros.
processos de transformação da sociedade brasileira.
b) o atraso relativo das regiões Norte e Nordeste atraiu para
elas a migração de tipos sociais que o progresso expulsara
Textos para a questão .
do Sul/Sudeste.
SONETO VI
c) os romancistas brasileiros, embora críticos da sociedade,
militaram com patriotismo na defesa de nossas
Brandas ribeiras, quanto estou contente
personagens mais típicas e mais queridas.
De ver-vos outra vez, se isto é verdade!
d) certas ideologias exóticas influenciaram negativamente os
Quanto me alegra ouvir a suavidade,
romancistas brasileiros, fazendo-os representar, em suas
Com que Fílis entoa a voz cadente!
obras, tipos sociais já extintos quando elas foram escritas.
e) a criança abandonada, personagem central dos três livros,
Os rebanhos, o gado, o campo, a gente,
torna-se, na idade adulta, um elemento nocivo à sociedade
Tudo me está causando novidade:
dos homens de bem.

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Oh! como é certo que a cruel saudade  (UFSM) – O poeta árcade Cláudio Manuel da Costa valeu-
Faz tudo, do que foi, mui diferente! se, em alguns momentos, da natureza brasileira para compor
sua poesia, fugindo, assim, pelo menos em parte, do
Recebi (eu vos peço) um desgraçado, convencionalismo neoclássico. A partir dessa ideia, leia o
Que andou até agora por incerto giro, poema a seguir.
Correndo sempre atrás do seu cuidado:
LVIII
Este pranto, estes ais com que respiro,
Podendo comover o vosso agrado, 1Altasserras, 3que ao Céu estais servindo
Façam digno de vós o meu suspiro. De muralhas, que o tempo não profana,
(Cláudio Manuel da Costa) Se Gigantes não sois, que a forma humana
Em duras penhas foram confundindo;
SONETO
Já sobre o vosso cume se está rindo
Estes os olhos são da minha amada, O 4Monarca da luz, que esta alma engana;
Que belos, que gentis e que formosos! Pois na face, que ostenta, soberana,
Não são para os mortais tão preciosos O rosto de meu bem me vai fingindo.
Os doces frutos da estação dourada.
Que alegre, que mimoso, que brilhante
Por eles a alegria derramada Ele se me afigura! Ah qual efeito
Tornam-se os campos de prazer gostosos. Em minha alma se sente neste instante!
Em zéfiros suaves e mimosos
Mas ai! a que delírios me sujeito!
Toda esta região se vê banhada.
Se quando no Sol vejo o seu semblante,
Em vós descubro, 2ó penhas, o seu peito?
Vinde olhos belos, vinde, e enfim trazendo
Do rosto do meu bem as prendas belas,
Acerca do poema, assinale a alternativa incorreta.
Dai alívio ao mal que estou gemendo.
a) O poema é um soneto composto de versos decassílabos
heroicos, com rima intercalada nos quartetos e cruzada
Mas ah! delírio meu que me atropelas! nos tercetos.
Os olhos que eu cuidei que estava vendo, b) O eu lírico tem como interlocutor de seu poema as “Altas
Eram (quem crera tal!) duas estrelas. serras” (ref. 1), às quais se dirige diretamente também ao
(Cláudio Manuel da Costa) final, em “ó penhas” (ref. 2), caracterizando assim o uso
de apóstrofes.
 (MACKENZIE) – É traço relevante na caracterização do c) O eu lírico emprega algumas inversões sintáticas no
estilo de época a que pertencem os poemas de Cláudio poema, como em “[...] que ao Céu estais servindo! De
Manuel da Costa, exceto muralhas” (ref. 3), a que se chama de hipérbatos e que
a) a valorização do locus amoenus. remetem mais ao estilo barroco que ao árcade.
b) a poesia bucólica. d) O eu lírico compara o Sol, a que chama de “Monarca da
luz” (ref. 4), ao rosto de sua amada, o que caracteriza uma
c) a utilização de pseudônimos pastoris.
personificação.
d) a busca da aurea mediocritas.
e) Ao olhar o Sol sobre as serras, o eu lírico enxerga uma
e) a repulsa à tradição clássica da poesia.
imagem de sua amada, cujo peito seria composto então
pelas penhas, visão essa que enche sua alma de alegria.
 (MACKENZIE) – Na composição poética árcade, a natureza
é tratada:  (UPE) – No Arcadismo brasileiro, encontramos textos
a) como uma lembrança da pátria da qual foram exilados. líricos, épicos e satíricos. Sobre isso, é correto afirmar que
b) como um refúgio da vida atribulada das metrópoles do a) Caramuru e O Uraguai são poemas líricos com traços de
século XIX. épico, pois, em ambos, o ponto central das narrativas é a
c) como um prolongamento do estado emocional do poeta. história de amor entre dois casais de culturas diferentes.
d) como um local em que se busca a vida simples, pastoril e b) A Lira Marília de Dirceu, de autoria de Tomás Antônio
bucólica. Gonzaga, apresenta versos rigidamente metrificados,
e) como uma fonte para o retrato crítico às desigualdades tendo como tema o amor entre a musa Marília e o jovem
sociais. pastor Dirceu.

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c) As Cartas chilenas são poemas satíricos que circularam Módulo 38 – A Pastoral Moderna
em Vila Rica pouco antes da Inconfidência Mineira. As 13
cartas são assinadas por Critilo e endereçadas a Doroteu. As questões de números  a  tomam por base o poema
d) Vila Rica é um poemeto épico em que Cláudio Manuel da Soneto, do poeta romântico brasileiro José Bonifácio, o Moço
Costa fala da grandeza do atual Estado de Minas e alega a (1827-1886), e o poema Visita à Casa Paterna, do poeta
necessidade de seus habitantes lutarem pela parnasiano brasileiro Luís Guimarães Júnior (1845-1898).
Independência do Brasil, tema central da poesia de todos
SONETO
os poetas inconfidentes.
e) A poesia de Tomás Antônio Gonzaga, por tratar do amor de Deserta a casa está... Entrei chorando,
Dirceu por Marília, foge por completo das normas árcades De quarto em quarto, em busca de ilusões!
ao negar o bucolismo e exagerar o sentimentalismo, Por toda a parte as pálidas visões!
característica que fundamenta a poesia romântica. Por toda a parte as lágrimas falando!

Leia o soneto XLVI, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), 5 Vejo meu pai na sala, caminhando,
para responder às questões e
. Da luz da tarde aos tépidos clarões,
De minha mãe escuto as orações
Na alcova, aonde ajoelhei rezando.
Não vês, Lise, brincar esse menino
Com aquela avezinha? Estende o braço
Brincam minhas irmãs (doce lembrança!...),
Deixa-a fugir, mas apertando o laço
10 Na sala de jantar... Ai! mocidade,
A condena outra vez ao seu destino.
És tão veloz, e o tempo não descansa!

Nessa mesma figura, eu imagino Oh! sonhos, sonhos meus de claridade!


Tens minha liberdade, pois ao passo Como é tardia a última esperança!...
Que cuido que estou livre do embaraço, Meu Deus, como é tamanha esta saudade!...
Então me prende mais meu desatino. (José Bonifácio, o Moço. Poesias. São Paulo:
Conselho Estadual de Cultura, 1962)
Em um contínuo giro o pensamento
Tanto a precipitar-me se encaminha, VISITA À CASA PATERNA
Que não vejo onde pare o meu tormento.
Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Mas fora menos mal esta ânsia minha,
Eu quis também rever o lar paterno,
Se me faltasse a mim o entendimento.
O meu primeiro e virginal abrigo:
Como falta a razão a esta avezinha.
(Domício Proença Filho (org). 5 Entrei. Um Gênio carinhoso e amigo,
A poesia dos Inconfidentes, 1996.) O fantasma, talvez, do amor materno,
Tomou-me as mãos, — olhou-me, grave e terno,
(UNESP) – O tom predominante no soneto é de E, passo a passo, caminhou comigo.
a) resignação.
Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
b) nostalgia.
10 Em que da luz noturna à claridade,
c) apatia.
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto
d) ingenuidade.
e) inquietude. Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,

(UNESP) – No soneto, o menino e a avezinha, Chorava em cada canto uma saudade.
mencionados na primeira estrofe, são comparados, (Luís Guimarães Junior, Sonetos e Rimas)
respectivamente,
a) ao eu lírico e a Lise.  (UNESP) – Em nota de rodapé ao Soneto de José
Bonifácio, o Moço, os organizadores da edição mencionada,
b) a Lise e ao eu lírico.
Alfredo Bosi e Nilo Scalzo, fazem o seguinte comentário:
c) ao desatino e ao eu lírico.
“Talvez tenha-se inspirado neste soneto o parnasiano Luís
d) ao desatino e à liberdade.
Guimarães Jr., ao compor o famoso ‘Visita à casa paterna’.”
e) a Lise e à liberdade.
Releia os poemas atentamente e, em seguida,

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a) enuncie o tema comum aos dois textos; Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem
b) indique dois aspectos da forma poemática (versifica-ção, [conquistas
rimas, estrofes) em que haja identidade entre os dois Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
poemas. 10 Das ciências, das artes, da civilização moderna!

 (UNESP) – Uma das semelhanças mais notáveis entre os Que mal fiz eu aos deuses todos?
dois poemas está justamente nas personagens evocadas: pai,
mãe, irmãs. Com base nesta informação, Se têm a verdade, guardem-na!
a) estabeleça a diferença entre Soneto e Visita à Casa Paterna
quanto ao modo de aludirem ao pai de família; Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
b) aponte, no poema de Luís Guimarães Jr., uma per-
sonagem que não é referida no de José Bonifácio. Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
15 Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
 (UNESP) – Para atender a necessidades de ritmo e de
rima, os poetas praticam com naturalidade e frequência inver- Não me macem, por amor de Deus!
sões e deslocamentos no padrão de disposição dos termos na
oração (sujeito, verbo, complementos). Partindo desta Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
constatação, analise a estrutura sintática das frases “Brincam Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
minhas irmãs na sala de jantar” e “Chorava em cada canto uma Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
saudade” e, logo após, 20 Assim, como sou, tenham paciência!
a) reescreva-as na ordem que seus termos apresentariam de Vão para o diabo sem mim,
acordo com o padrão mencionado; Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
b) demonstre as identidades que há entre as duas orações Para que havemos de ir juntos?
no que diz respeito às funções sintáticas dos termos que
as constituem. Não me peguem no braço!
25 Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
 (UNESP) – José Bonifácio, o Moço, era um poeta Já disse que sou sozinho!
romântico, enquanto Luís Guimarães Jr. era um parnasiano Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
com raízes românticas. Os dois poemas apresentam
características que servem de exemplo para tais observações. Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Levando em conta este comentário, Eterna verdade vazia e perfeita!
a) identifique um traço típico da poética romântica presente 30 Ó macio Tejo ancestral e mudo,
nos dois poemas; Pequena verdade onde o céu se reflete!
b) aponte, em Visita à Casa Paterna, um aspecto carac- Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
terístico da concepção parnasiana de poesia. Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...


As questões de números  a tomam por base o poema
35 E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Lisbon Revisited, do heterônimo Álvaro de Campos do poeta
(Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio/4:
modernista português Fernando Pessoa (1888-1935), e a letra
poesias de Álvaro de Campos)
da canção Metamorfose Ambulante, do cantor e compositor
brasileiro Raul Seixas (1945-1989).
METAMORFOSE AMBULANTE
LISBON REVISITED
(1923) Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Não: não quero nada. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Já disse que não quero nada. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Não me venham com conclusões! 5 Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
A única conclusão é morrer. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
5 Não me tragam estéticas! Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Não me falem em moral! Sobre o que é o amor
Tirem-me daqui a metafísica! 10 Sobre que eu nem sei quem sou

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Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou (UNESP) – Atentando para o fato de que a função conativa
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
da linguagem é orientada para o destinatário da mensagem,
Lhe tenho amor
a) identifique o modo verbal que, insistentemente em-
Lhe tenho horror
pregado pelo eu poemático, torna muito intensa a
15 Lhe faço amor
orientação para o destinatário no poema de Fernando
eu sou um ator...
Pessoa;
É chato chegar a um objetivo num instante b) considerando que, no verso de número 12, Raul Seixas,
Eu quero viver nessa metamorfose ambulante adotando o uso popular, empregou os pronomes te e lhe
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo para referir-se a uma mesma pessoa, apresente duas
20 Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo alternativas que teria o poeta para escrever esse verso
segundo a norma culta.
Sobre o que é o amor
Sobre que eu nem sei quem sou Texto para a questão
.
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
ESTRADA
25 Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Lhe faço amor
Interessa mais que uma avenida urbana.
eu sou um ator...
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente.
Eu vou desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes
30 Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo Cada criatura é única.
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo Até os cães.
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Do que ter aquela velha velha velha velha opinião Andam sempre preocupados.
[formada sobre tudo... E quanta gente vem e vai!
35 Do que ter aquela velha velha opinião formada sobre tudo... E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo... Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
(Raul Seixas, Os grandes sucessos de Raul Seixas) [bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos
 (UNESP) – O poema Lisbon Revisited (1923) e a canção [símbolos,
Metamorfose Ambulante (1973) identificam-se por alguns as- Que a vida passa! que a vida passa!
pectos formais e por focalizarem como tema a atitude de rebeldia E que a mocidade vai acabar.
do indivíduo aos modelos e padrões culturais que lhe são (BANDEIRA, M. O Ritmo Dissoluto.
impostos. Releia-os com atenção e, a seguir, Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.)
a) servindo-se de uma escala em cujos extremos estejam
atitude eufórica (sensação de bem-estar e de alegria) e

A lírica de Manuel Bandeira é pautada na
atitude disfórica (sensação de mal-estar, ansiedade,
apreensão de significados profundos a partir
inquietação), demonstre qual dos dois textos está mais
de elementos do cotidiano. No poema
próximo do polo da atitude disfórica;
Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade
b) explique em que medida o verso de número 16 de Me-
aponta para
tamorfose Ambulante sintetiza o conteúdo da canção.
a) desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos
 (UNESP) – Tanto no poema de Fernando Pessoa como na centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à
canção de Raul Seixas se observa o recurso intenso às cidade.
repetições. Ciente deste fato, b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela
a) localize o verso de Metamorfose Ambulante que apre- observação da aparente inércia da vida rural.
senta repetição insistente de uma mesma palavra e defina c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como
o efeito expressivo obtido pelo autor com essa repetição; possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
b) considerando que o advérbio não é uma das palavras mais d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta
repetidas ao longo de Lisbon Revisited, estabeleça a gera insegurança.
relação semântica que a repetição dessa palavra tem com e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca
a atitude do eu poemático ante os padrões sociais. da morte.

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Módulo 39 – Bocage  (UEL) – Assinale a alternativa que enumera corretamente


as características do Arcadismo brasileiro presentes no poema
Texto para a questão . de Tomás Antônio Gonzaga.
a) A presença do ambiente rústico; a transmissão da palavra
LIRA 83 poética ao autor; a celebração da vida familiar; a
engenhosa elaboração pictórica do poema de maneira a
Que diversas que são, Marília, as horas,
dominarem as figuras de linguagem.
que passo na masmorra imunda e feia,
b) A presença do ambiente nacional; a supressão da palavra
dessas horas felizes, já passadas
poética; a celebração da vida familiar; a construção
na tua pátria aldeia!
pictórica do poema de maneira a dominarem as figuras de
linguagem.
Então eu me ajuntava com Glauceste;
c) A presença do ambiente urbano; a transmissão da palavra
e à sombra de alto cedro na campina
poética ao autor; a celebração da vida rústica; a elaboração
eu versos te compunha, e ele os compunha
predominantemente hiperbólica do poema.
à sua cara Eulina.
d) A presença de ambiente bucólico; a delegação da palavra
poética a um pastor; a celebração da vida simples; a
Cada qual o seu canto aos astros leva;
clareza, a lógica e a simplicidade na construção do poema.
de exceder um ao outro qualquer trata;
e) A presença do ambiente nacional; a delegação da palavra
o eco agora diz: Marília terna;
poética a um pastor; a celebração da vida em sociedade; a
e logo: Eulina ingrata.
construção racional do poema enfatizando o decoro e a
discrição.
Deixam os mesmos sátiros as grutas:
um para nós ligeiro move os passos,
 (UNIFESP) – Assinale a alternativa na qual se pode
ouve-nos de mais perto, e faz a flauta
detectar nos versos do poeta português Manuel Maria Barbosa
cos pés em mil pedaços.
du Bocage (1765-1805) uma ruptura com a convenção arcádica
do locus amoenus (“lugar aprazível”).
— Dirceu — clama um pastor — ah! bem merece
da cândida Marília a formosura.
a) “Olha, Marília, as flautas dos pastores
E aonde — clama o outro — quer Eulina
Que bem que soam, como estão cadentes!
achar maior ventura?
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?”
Nenhum pastor cuidava do rebanho,
enquanto em nós durava esta porfia;
b) “O ledo passarinho que gorjeia
e ela, ó minha amada, só findava
Da alma exprimindo a cândida ternura,
depois de acabar-se o dia.
O rio transparente, que murmura,
E por entre pedrinhas serpenteia:”
À noite te escrevia na cabana
os versos, que de tarde havia feito;
c) “Se é doce no recente, ameno Estio
mal tos dava e os lia, os guardavas
Ver tocar-se a manhã de etéreas flores,
no casto e branco peito.
E, lambendo as areias e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio;”
Beijando os dedos dessa mão formosa,
banhados com as lágrimas do gosto,
d) “A loira Fílis na estação das flores,
jurava não cantar mais outras graças
Comigo passeou por este prado
que as graças do teu rosto.
Mil vezes; por sinal, trazia ao lado
As Graças, os Prazeres e os Amores.”
Ainda não quebrei o juramento;
eu agora, Marília, não as canto;
mas inda vale mais que os doces versos e) “Já sobre o coche de ébano estrelado,
a voz do triste pranto. Deu meio giro a Noite escura e feia;
(GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas. Que profundo silêncio me rodeia
São Paulo: Ática, 1997. p. 126-127.) Neste deserto bosque, à luz vedado!”

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Texto para a questão .  (UEPA) – A leitura do soneto bocageano permite afirmar


que há entre a subjetividade do poeta e as questões sociais de
Camões, grande Camões, quão semelhante Portugal uma ampla interação comunicativa. Marque a
Acho teu 1fado ao meu quando os cotejo! alternativa que comprova este comentário.
Igual causa nos fez perdendo o Tejo a) O eu lírico pede ao país que tenha, como ele, paciência
2Arrostar co sacrílego gigante (...) para suportar o despotismo.
b) A pátria personificada que desmaia, é comparável ao eu
Ludíbrio, como tu, da sorte dura, lírico frio e mudo.
Meu fim demando ao Céu, pela certeza c) O despotismo é a redenção muito esperada pelo eu lírico
De que só terei paz na sepultura (...) e pela sociedade portuguesa.
(Bocage) d) A saudade é representada no poema pelas imagens do
cárcere e do poeta preso por grilhões.
1fado = destino e) O eu lírico e a pátria celebram a chegada da liberdade
2arrostar = encarar, afrontar como um sol que surge no horizonte.

 (ESPM) – Assinale a afirmação correta sobre o poema. O  (UEPA) – O poema de Bocage organiza uma situação
eu lírico comunicativa interna em que se verificam os seguintes elementos
a) expressa inveja de Camões por não ter tido igual fundamentais da comunicação: emissor, receptor (contido no
sepultura. próprio texto) e referente. No poema estes elementos são:
b) compara-se a Camões, fazendo um desabafo enfático da a) eu lírico, liberdade e crítica ao despotismo.
amargura pela infelicidade ao longo de uma existência. b) poema, liberdade e crítica ao despotismo.
c) segue o princípio clássico do relatar experiências humanas c) eu lírico, povo português e crítica ao despotismo.
negativas aplicáveis a todos. d) eu lírico, liberdade e língua portuguesa.
d) alterna versos alexandrinos (ou dodecassílabos) com e) eu lírico, leitor e crítica ao despotismo.
versos decassílabos.
e) dirige-se ao “Céu” e ao “Tejo” com a intenção de aliar-se Texto para a questão .
aos elementos da natureza.
FOGO FRIO
Texto para as questões  e . O Poeta
A névoa que sobe
Liberdade, onde estás? Quem te demora? dos campos, das grotas, do fundo dos vales,
Quem faz que o teu influxo em nós não caia? é o hálito quente da terra friorenta.
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já na esfera de Lísia1 a tua aurora? O Lavrador
Engana-se, amigo.
Da santa redenção é vinda a hora Aquilo é fumaça que sai da geada.
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh!, venha... Oh!, venha, e trêmulo descaia O Poeta
Despotismo feroz, que nos devora! Fumaça, que eu saiba,
somente de chama e brasa é que sai!
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade, O Lavrador
E em fingir, por temor, empenha estudo. E, acaso, a geada não é
fogo branco caído do céu,
Movam nossos grilhões tua piedade; tostando tudinho, crestando tudinho, queimando tudinho,
Nosso númen2 tu és, e glória, e tudo, sem pena, sem dó?
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade! (FORNARI, E. Trem da Serra.
(Bocage) Porto Alegre: Acadêmica, 1987.)

1Lísia = Portugal  Neste diálogo poético, encena-se um


2Númen ou nume = ser ou potência divina embate de ideias entre o Poeta e o Lavrador,
em que
(MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através dos a) a vitória simbólica é dada ao discurso do lavrador e tem como
Textos. São Paulo: Cultrix, 2006. p.239.) efeito a renovação de uma linguagem poética cristalizada.

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b) as duas visões têm a mesma importância e são equivalentes Módulo 40 – Romantismo:


como experiência de vida e a capacidade de expressão. características gerais
c) o autor despreza a sabedoria popular e traça uma
caricatura do discurso do lavrador, simplório e repetitivo. Texto e imagem para a questão .
d) as imagens contraditórias de frio e fogo referidas à geada
compõem um paradoxo que o poema não é capaz de organizar. É ela! é ela! — murmurei tremendo,
e) o discurso do lavrador faz uma personificação da natureza para e o eco ao longe murmurou – é ela!
explicar o fenômeno climático observado pelos personagens. Eu a vi... minha fada aérea e pura —
a minha lavadeira na janela.
Texto para as questões e
.
Dessas águas furtadas onde eu moro
Olha, Marília, as flautas dos pastores eu a vejo estendendo no telhado
Que bem que soam, como estão cadentes! os vestidos de chita, as saias brancas;
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes eu a vejo e suspiro enamorado!
Os Zéfiros brincar por entre flores?
Esta noite eu ousei mais atrevido,
Vê como ali, beijando-se, os Amores nas telhas que estalavam nos meus passos,
Incitam nossos ósculos ardentes! ir espiar seu venturoso sono,
Ei-las de planta em planta as inocentes, vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
As vagas borboletas de mil cores.
Como dormia! que profundo sono!...
Naquele arbusto o rouxinol suspira, Tinha na mão o ferro do engomado...
Ora nas folhas a abelhinha para, Como roncava maviosa e pura!...
Ora nos ares, sussurrando, gira: Quase caí na rua desmaiado!
(AZEVEDO, Álvares de. É ela! É ela! É ela! É ela.
Que alegre campo! Que manhã tão clara! In: Álvares de Azevedo. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 44.)
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.
(Bocage)

(UNIFESP) – O emprego de Mas, na última estrofe do


poema, permite entender que
a) todo o belo cenário só tem tais qualidades se a mulher
amada fizer parte dele.
b) a ausência da mulher amada pode levar o eu lírico à morte.
c) a morte é uma forma de o eu lírico deixar de sofrer pela
mulher amada.
d) a mulher amada morreu e, por essa razão, o eu lírico sofre.
e) o eu lírico sofre toda manhã pela ausência da mulher amada.


(UNIFESP) – Leia os versos e analise as considerações
sobre as formas verbais neles destacadas.
I. Olha, Marília, as flautas dos pastores... — Como o eu lírico
faz um convite à audição das flautas dos pastores, poderia
ser empregada a forma Ouça, no lugar de Olha.
II. Vê como ali, beijando-se, os Amores... — A forma verbal,
no imperativo, expressa um convite do eu lírico para que a
amada se delicie, junto a ele, com o belo cenário.
III. Mas ah! Tudo o que vês... — A forma verbal, também no
imperativo, sugere que, neste ponto do poema, a amada
já viu tudo o que o seu amado lhe mostrou.
MARTIN-KAVEL, François. Sem título. Disponível em:
Está correto o que se afirma apenas em <http://7dasartes.blogspot.com.br/2012/05/romanticas-e-
a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) I e III. encantadoras-pinturas-de.html>. Acesso em: 14 mar. 2016.

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 (UEG) – Tanto a pintura quanto o excerto apresentados Enquanto revolver os meus consultos,
pertencem ao Romantismo. A diferença entre ambos, porém, tu me farás gostosa companhia,
diz respeito ao fato de que lendo os fastos da sábia, mestra História,
a) no fragmento verifica-se o retrato de um ser idealizado, ao e os cantos da poesia.
passo que no quadro tem-se uma figura retratada de modo (Tomás A. Gonzaga, Marília de Dirceu.)
pejorativo. 1casal: pequena propriedade rural.
b) na pintura tem-se o retrato de uma mulher de feições 2assisto: resido, moro.
austeras, ao passo que no poema nota-se a descrição de 3bateia: utensílio empregado no garimpo; espécie de gamela.

uma mulher sofisticada. 4altos volumes: referência a processos judiciais.

c) no excerto tem-se a descrição que percebe a fada e a


lavadeira, oscila entre a percepção ideal e real, ao passo  (FGV-RJ) – A configuração que o tema do amor recebe,
que na pintura retrata-se uma mulher pertencente à nos versos do excerto,
estrato economicamente superior. a) será retomada pelo movimento indianista do século XIX,
d) na imagem tem-se uma moça cuja caracterização é especialmente em Iracema e O Guarani, de José de
abstrata, ao passo que no poema tem-se uma mulher cujo Alencar.
aspecto é burguês e requintado. b) antecipa a concepção natural e fisiológica do amor que
e) no quadro constata-se a imagem de uma moça simplória, será preconizada pelo Naturalismo.
ao passo que no poema nota-se a caracterização de uma c) contrasta com o amor concebido como passional, muito
donzela de vida airada. próprio do Romantismo.
d) equivale, já, à banalização do amor que se consumará no
Texto para a questão . Modernismo, particularmente Macunaíma de Mário de
Andrade.
[4] e) prefigura as relações conjugais desencantadas e
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, materialistas que serão objeto de análise no Realismo,
que viva de guardar alheio gado, especialmente nos romances machadianos da
de tosco trato, de expressões grosseiro, maturidade.
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio 1casal e nele 2assisto; Texto para a questão .
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite, Há no Romantismo nacional uma expressão evidente do
e mais as finas lãs, de que me visto. culto da nacionalidade, o qual, tomado num sentido mais
Graças, Marília bela, amplo, se manifesta também em lutas pela afirmação da
graças à minha estrela! liberdade política e determina a exaltação de valores e
(...) tradições. Esse sentimento é tomado também nos seus
aspectos sociais, sob o apanágio dos direitos do homem livre,
[5] razão de ser do movimento abolicionista e matéria para o
Tu não verás, Marília, cem cativos romance, para o teatro e para a poesia da época.
tirarem o cascalho e a rica terra, (Adaptado de: CÂNDIDO, Antônio e CASTELLO, José
ou dos cercos dos rios caudalosos, Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira I. Das origens ao
ou da minada serra. Romantismo. São Paulo: DIFE, 1974. p. 207-208)

Não verás separar ao hábil negro


do pesado esmeril a grossa areia,
 (PUCCAMP) – Deve-se depreender do texto que, no
século XIX,
e já brilharem os granetes de oiro
a) há uma relação de causa e efeito entre a eclosão do
no fundo da 3bateia.
movimento abolicionista e a do indianismo.
(...)
b) a poesia abolicionista do Romantismo integra a
Não verás enrolar negros pacotes
valorização que então se empresta à luta pelos direitos
das secas folhas do cheiroso fumo;
humanos.
nem espremer entre as dentadas rodas
c) a riqueza do teatro, da ficção e da poesia da época é
da doce cana o sumo.
integralmente devedora do sentimento nacionalista.
Verás em cima da espaçosa mesa d) é a retomada de valores e tradições do século anterior que
4altos volumes de enredados feitos; dá base às conquistas do Romantismo.
ver-me-ás folhear os grandes livros, e) os ideais abolicionistas foram decisivos para a estabiliza-
e decidir os pleitos. ção dos gêneros da poesia, do teatro e da ficção no Brasil.

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 (FGV-RJ) – Caracteriza o Romantismo, na literatura TRILHOS URBANOS


brasileira,
I. o desejo de exprimir sentimentos como orgulho patriótico, O melhor o tempo esconde
considerado, então, algo de primordial importância; Longe, muito longe,
II. a intenção de criar uma literatura independente, diversa, Mas bem dentro aqui,
de identidade bem marcada; Quando o bonde dava a volta ali.
III. a percepção da atividade literária como parte indispensável No cais de Araújo Pinho,
da tarefa patriótica de construção nacional. Tamarindeirinho,
Nunca me esqueci
Está correto o que se afirma em Onde o Imperador fez xixi.
a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. Cana doce, Santo Amaro,
d) II e III, somente. e) I, II e III. O gosto muito raro
Trago em mim por ti,
Texto para a questão . E uma estrela sempre a luzir.
Bonde da Trilhos Urbanos
SONETO Vão passando os anos
E eu não te perdi:
Já da morte o palor me cobre o rosto, Meu trabalho é te traduzir...
Nos lábios meus o alento desfalece, (Caetano Veloso, Cinema Transcedental.
Surda agonia o coração fenece, LP 6349 436, PolyGram, 1979.)
E devora meu ser mortal desgosto!
VIAGENS NA MINHA TERRA
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece Às vezes, passo horas inteiras
O corpo exausto que o repouso esquece... Olhos fitos nestas braseiras,
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! Sonhando o tempo que lá vai;
E jornadeio em fantasia
O adeus, o teu adeus, minha saudade, Essas jornadas que eu fazia
Fazem que insano do viver me prive Ao velho Douro, mais meu Pai.
E tenha os olhos meus na escuridade.
Que pitoresca era a jornada!
Dá-me a esperança com que o ser mantive! Logo, ao subir da madrugada,
Volve ao amante os olhos por piedade, Prontos os dois para partir:
Olhos por quem viveu quem já não vive! Adeus! Adeus! É curta a ausência,
(AZEVEDO, A. Obra Completa. Adeus! – rodava a diligência
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.) Com campainhas a tinir!

 O núcleo temático do soneto citado é típico E, dia e noite, aurora a aurora,


da segunda geração romântica, porém Por essa doida terra fora,
configura um lirismo que o projeta para além Cheia de Cor, de Luz, de Som,
desse momento específico. O fundamento desse lirismo é Habituado à minha alcova
a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade Em tudo eu via coisa nova,
da morte. Que bom era, meu Deus! que bom!
b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante
da perda. Moinhos ao vento! Eiras! Solares!
c) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade. Antepassados! Rios! Luares!
d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. Tudo isso eu guardo, aqui ficou:
e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento. Ó paisagem etérea e doce,
Depois do Ventre que me trouxe,
As questões de números  e se baseiam num fragmento do A ti devo eu tudo que sou!
poema-canção Trilhos Urbanos, do artista Caetano Veloso, e numa Só (1892).
passagem de Viagens na Minha Terra, do simbolista Antônio
Nobre (1867-1900), escritor que retoma princípios estéticos do (in: NOBRE, Antônio. Poesia. – Nossos Clássicos.
Romantismo português, sendo precursor da modernidade. Rio de Janeiro: Agir, 1959. p. 45-6.)

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 (UNESP) – Os textos em pauta atualizam um tema muito a) a mulher deve conservar uma assepsia que a distingue de
frequente no Romantismo, e recorrente na literatura de todos homens, que podem se jogar na lama.
os tempos. Levando-se em consideração que se trata de b) a palavra “fogo” é uma metáfora que remete ao ato de
poemas autobiográficos, releia com atenção os versos de cozinhar, tarefa destinada às mulheres.
Caetano Veloso e Antônio Nobre e, a seguir, c) a luta pela igualdade entre os gêneros depende da
a) responda qual é a temática dominante em ambos os textos; ascensão financeira e social das mulheres.
b) explique a significação conotativa do signo traduzir, em d) a cama, como sua “alvura e enxovais”, é um símbolo da
Trilhos Urbanos. fragilidade feminina no espaço doméstico.
e) os papéis sociais destinados aos gêneros produzem
(UNESP) – O estilo simbolista, do qual Antônio Nobre é efeitos e graus de autorrealização desiguais.
um dos principais representantes na Literatura Portuguesa,
costuma extrair efeitos poéticos através da utilização de
recursos gráficos: emprego de iniciais maiúsculas em Módulo 41 – Almeida Garrett e
substantivos comuns, palavras grafadas com letras em itálico e Alexandre Herculano
negrito. Esses procedimentos — acreditavam os simbolistas
— ajudariam a enriquecer o sentido simbólico das palavras no Textos para a questão .
contexto. Tendo em vista este comentário,
a) interprete a significação do substantivo “Ventre” (grafado com Texto I
inicial maiúscula), na última esfrofe de Viagens na Minha Terra;
b) responda se é possível estabelecer uma relação de (...) plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra,
identidade simbólica entre o advérbio aqui (em itálico), no *macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, construí
poema de Antônio Nobre, e “aqui”, na primeira estrofe de passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas
Trilhos Urbanos. horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa
como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que
Texto para a questão
. a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai: reduzi tudo a
cifras, todas as considerações deste mundo a equações de
DAS IRMÃS interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. — No fim de tudo
isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas
os meus irmãos sujando-se poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos
na lama economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o
e eis-me aqui cercada número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao
de alvura e enxovais trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à
ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta,
eles se provocando e provando para produzir um rico?
do fogo (Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra.
e eu aqui fechada São Paulo: Ateliê Editorial, 2012. p.77.)
provendo a comida *Macadamizar: pavimentar.

eles se lambuzando e arrotando Texto II


na mesa
e eu a temperada Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias;
servindo, contida tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices.
(Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra.
os meus irmãos jogando-se São Paulo: Ateliê Editorial, 2012. p.190.)
na cama
e eis-me afiançada  (UNICAMP) – Vários discursos organizam a estrutura
por dote e marido narrativa do romance Viagens na Minha Terra, de Almeida
(QUEIROZ, S. O Sacro Ofício. Garrett. Isso permite afirmar que a visão de mundo desse
Belo Horizonte: Comunicação, 1980.) excerto
a) compartilha exclusivamente dos valores éticos dos ricos e

O poema de Sônia Queiroz apresenta uma é demagógica com a miséria social, marca inconfundível
voz lírica feminina que contrapõe o estilo de do romance de Garrett.
vida do homem ao modelo reservado à b) relativiza posições dogmáticas sobre a vida social, cultural
mulher. Nessa contraposição, ela conclui que e política, permitindo vários ângulos de observação.

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c) denuncia as condições sociais injustas dos pobres da  (UNIFESP) – Da leitura do poema, depreende-se que se
sociedade, o que indica o caráter panfletário do romance
trata de obra do
de Garrett.
a) Barroco, no qual se identifica o escapismo psicológico.
d) divide o mundo entre ricos e pobres e não leva em
b) Arcadismo, no qual se identifica a contenção do
consideração que uma vida justa depende da riqueza
sentimento.
produzida na sociedade.
c) Romantismo, no qual se identifica a idealização da mulher.
d) Realismo, no qual se identifica o pessimismo extremo.
Texto para a questão .
e) Modernismo, no qual se identifica a busca pela liberdade.
Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as
considerações deste mundo a equações de interesse corporal,  (FGV) – Escreveu poesia, prosa de ficção, historiografia e
comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a ensaios. Sua historiografia, profundamente revolucionária, tem
espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de suas origens no Romantismo de Victor Hugo e Walter Scott.
homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos Foi, porém, na prosa de ficção que _______________________
moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é mais contribuiu para a literatura portuguesa do séc. XIX. No
forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à “Monasticon”, que compreende dois romances históricos,
desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça __________________________ e __________________________,
invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? — Que consegue reunir seus dotes de historiador e ficcionista quando
lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas põe em conflito a paixão amorosa e a vida religiosa.
comissões de inquérito, já deve de andar orçado o número de
almas que é preciso vender ao diabo, o número de corpos que
O autor e as obras referidos estão na alternativa:
se têm de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um
a) Antônio Feliciano de Castilho – Cartas de Eco a Narciso –
tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um
A Noite no Castelo.
banqueiro, um granjeeiro – seja o que for: cada homem rico,
b) Camilo Castelo Branco – O Santo da Montanha – Amor de
abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.
Perdição.
(Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra)
c) Júlio Dinis – Os Fidalgos da Casa Mourisca – As Pupilas do

 (FUVEST)
Sr. Reitor.
d) Almeida Garrett – O Arco de Santana – Um Auto de Gil
a) Destas reflexões feitas pelo narrador de Viagens na Minha
Terra, deduz-se que ele tinha em mente um determinado Vicente.
ideal de sociedade. O que caracteriza esse ideal? Explique e) Alexandre Herculano – Eurico, o Presbítero – O Monge de
resumidamente. Cister.
b) Identifique nesse excerto de Viagens na Minha Terra, o
tipo social sobre o qual, principalmente, irá recair a crítica Texto para a questão .
presente nas reflexões do narrador. O que caracteriza esse
tipo social? Muito me pesa, leitor amigo, se outra coisa esperavas das
minhas Viagens, se te falto, sem o querer, a promessas que
Texto para a questão . julgaste ver nesse título, mas que eu não fiz decerto. Querias
talvez que te contasse, marco a marco, as léguas das
Seus olhos estradas?
Seus olhos – se eu sei pintar (Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra.
O que os meus olhos cegou –
São Paulo: Ateliê Editorial, 2012. p. 218.)
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
 (UNICAMP) – No trecho acima, o narrador garrettiano
E o fogo que a ateou
admite que traiu as expectativas do leitor. Tal fato deveu-se
Vivaz, eterno, divino,
a) à descrição pormenorizada da natureza e dos monu-
Como facho do Destino.
mentos históricos das cidades portuguesas.
Divino, eterno! – e suave
b) ao caráter linear do relato ficcional, que se fixou nos
Ao mesmo tempo: mas grave
detalhes do percurso realizado durante a viagem a
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi, Santarém.
Queimar toda alma senti... c) ao caráter digressivo do relato ficcional, que mesclou
Nem ficou mais de meu ser, vários gêneros textuais.
Senão a cinza em que ardi. d) às posições políticas assumidas pelo narrador, que propõe
(Almeida Garrett) uma visão conservadora da história de Portugal.

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Texto para as questões  e . Módulo 42 – Camilo Castelo Branco

D. João I fala a Afonso Domingues, arquiteto do Mosteiro  (UNICAMP) – Sabe-se que Coração, Cabeça e Estômago
de Santa Maria: é uma obra atípica na produção ficcional de Camilo Castelo
“Houve um tempo em que nós ambos fomos pelejadores: Branco. Em relação a essa obra, assinale a alternativa em que
eu tornei célebre o meu nome, a consciência mo diz, entre os todas as características listadas são corretas.
príncipes do mundo, porque segui avante por campos de a) Inclusão da edição do livro como parte do jogo narrativo;
batalha; ela vos dirá, também, que a vossa fama será perpétua, sátira da poesia e das motivações espirituais;
havendo trocado a espada pela pena com que traçastes o caracterização do herói como alguém incapaz de amar.
desenho do grande monumento da independência e da glória b) Paródia da vida romântica e natural; espiritualização das
desta terra. Rei dos homens do aceso imaginar, não necessidades do corpo; transformação do herói ao longo
desprezeis o rei dos melhores cavaleiros, os cavaleiros da narrativa.
portugueses! Também vós fostes um deles; e negar-vos-eis a c) Descrição da formação do indivíduo; caricatura dos valores
prosseguir na edificação desta memória, desta tradição de e sentimentos românticos; impossibilidade de adaptação
mármore, que há de recordar os vindouros a história de do herói à vida social.
nossos feitos? Mestre Afonso Domingues, escutai os ossos de d) Caricatura das questões relacionadas ao espírito e à
tantos valentes que vos acusam de trairdes a boa e antiga posição social; elogio irônico das motivações fisiológicas;
amizade. Vem de todos os vales e montanhas de Portugal o ridicularização do herói.
soído [som] desse queixume dos mortos; porque, nas
contendas da liberdade, por toda a parte se verteu sangue e Texto para a questão .
foram semeados cadáveres de cavaleiros! Eia, pois: se não
perdoais a D. João I uma suposta afronta1, perdoai-a ao Em 2004, Ronald Golias e Hebe Camargo protagonizaram
Mestre2 de Avis, ao vosso antigo capitão, que, em nome da na TV uma versão humorística da obra Romeu e Julieta, de
gente portuguesa, vos cita para o tribunal da posteridade, se William Shakespeare. Na história do poeta e dramaturgo inglês,
refusais [recusais] consagrar outra vez à Pátria vosso mara- Romeu e Julieta são dois jovens apaixonados, cujo amor é
vilhoso engenho, e que vos abraça, como antigo irmão nos impedido de concretizar-se pelo fato de pertencerem a famílias
combates, porque, certo, crê que não querereis perder na inimigas. Impossibilitados de viver o amor, morrem ambos.
vossa velhice o nome de bom e honrado português.”
(Alexandre Herculano)  (UNIFESP) – Na literatura romântica, as personagens que
vivem história semelhante à das personagens de Shakespeare
1 – Suposta afronta: referência à substituição de Mestre Afonso são
Domingues por outro arquiteto na direção das obras do Mosteiro, em a) Joaninha e Carlos, em Viagens na Minha Terra, de Almeida
virtude de ele ter ficado cego. Garrett.
2 – Mestre: título dado a chefes de ordem militar ou religiosa, ou a b) Iracema e Martim, em Iracema, de José de Alencar.
pessoas peritas ou versadas numa arte ou ciência. Mestre de Avis era c) Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, em Amor de
o próprio D. João I, rei de Portugal de 1385 a 1433, filho de Pedro, o Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Cruel. d) Leonardo Pataca e Maria da hortaliça, em Memórias de
um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
 Do que trata o fragmento? e) Eurico e Hermengarda, em Eurico, o Presbítero, de
Alexandre Herculano.
Com o auxílio de um dicionário, explique as seguintes
imagens destacadas do texto: Texto para questões de  a .
a) “homens do aceso imaginar”;
b) “[d]esta memória”, “[d]esta tradição de mármore”; AMOR DE SALVAÇÃO
c) “queixume dos mortos”;
Escutava o filho de Eulália o discurso de D. José, lardeado
d) “contendas de liberdade”;
de facécias, e, por vezes, atendível por umas razões que se lhe
e) “foram semeados cadáveres de cavaleiros”;
cravavam fundas no espírito. As réplicas saíam-lhe frouxas e
f) “maravilhoso engenho”.
mesmo timoratas. Já ele se temia de responder coisa de fazer
rir o amigo. Violentava sua condição para o igualar na licença da
ideia, e, por vezes, no desbragado da frase. Sentia-se por

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dentro reabrir em nova primavera de alegrias para muitos  (FGV) – Certas características da visão que o Romantismo
amores, que se haviam de destruir uns aos outros, a bem do tem da mulher estão presentes na carta enviada por Teodora a
coração desprendido salutarmente de todos. A sua casa de Afonso de Teive. Assinale a alternativa que confirma essa
Buenos Aires aborreceu-a por afastada do mundo, boa afirmação.
tão-somente para tolos infelizes que fiam do anjo da soledade a) Objetividade e fragilidade.
o despenarem-se, chorando. Mudou residência para o centro b) Sentimentalismo e religiosidade.
de Lisboa, entre os salões e os teatros, entre o rebuliço dos c) Depressão e agressividade.
botequins e concurso dos passeios. Entrou em tudo. As d) Espontaneidade e altivez.
primeiras impressões enjoaram-no; mas, à beira dele, estava e) Senso de humor e rebeldia.
D. José de Noronha, rodeado dos próceres da bizarriz (sic),
todos porfiados em tosquiarem um dromedário provinciano,  (FGV) – Afonso repelia a visão da mãe e de Mafalda
que se escondera em Buenos Aires a delir em prantos uma porque:
paixão calosa, trazida lá das serranias minhotas. Ora, Afonso de a) Teodora não se dava bem com elas.
Teive antes queria renegar da virtude, que já muito a medo lhe b) O convívio com o grupo de D. José o induzia a abandonar
segredava os seus antigos ditames, que expor-se à irrisão de os valores familiais.
pessoas daquele quilate. É verdade que às vezes duas c) Elas queriam impedi-lo de ser o poeta que a sociedade
imagens lagrimosas se lhe antepunham: a mãe, e Mafalda. lisboeta apreciava.
Afonso desconstrangia-se das visões importunas, e a si se d) Ele censurava o comportamento inoportuno de ambas.
acusava de pueril visionário, não emancipado ainda das e) Outras mulheres, mais belas, ocupavam o seu
crendices do poeta inesperto da prosa necessária à vida. pensamento.
Escrever, porém, a Teodora, não vingaram as sugestões
de D. José. Porventura, outras mulheres superiormente belas,  (FGV) – Na carta dirigida a Afonso, nota-se que Teodora
e agradecidas às suas contemplações, o traziam preocupado e procura:
algum tanto esquecido da morgada da Fervença. Mas, um dia, a) Persuadi-lo e apela para emoções, sentimentos e valores
Afonso, numa roda de mancebos a quem dava de almoçar, culturais.
recebeu esta carta de Teodora: b) Irritá-lo, apoia-se na lógica e argumenta com relações de
“Compadeceu-se o Senhor. Passou o furacão. Tenho a causa e efeito.
cabeça fria da beira da sepultura, de onde me ergui. Aqui estou c) Dissuadi-lo e utiliza argumentos que têm por base
em pé diante do mundo. Sinto o peso do coração morto no generalizações.
seio; mas vivo eu, Afonso. Meus lábios já não amaldiçoam, d) Intimidá-lo, e sua argumentação baseia-se em fatos
minhas mãos estão postas, meus olhos não choram. O meu concretos.
cadáver ergueu-se na imobilidade da estátua do sepulcro. e) Castigá-lo e argumenta com linguagem lógica e impessoal.
Agora não me temas, não me fujas. Para aí onde estás, que as
tuas alegrias devem ser muito falsas, se a voz duma pobre Texto para as questões de  a
.
mulher pode perturbá-las. Olha... se eu hoje te visse, qual
foste, ao pé de mim, anjo da minha infância, abraçava-te. Se A maior injustiça que eu ainda vi desenfreada e às soltas
me dissesses que a tua inocência se baqueara à voragem das na face da terra foi a que prendeu os senhores Almeida e
paixões, repelia-te. Eu amo a criança de há cinco anos, e Manuel Caetano, a propósito de uma tentativa de roubo ao
detesto o homem de hoje. senhor Lobo da Reboleira.
Serena-te, pois. Esta carta que mal pode fazer-te, Afonso? Vinham aqueles inofensivos cidadãos pelo seu caminho,
Não me respondas; mas lê. À mulher perdida relanceou o mansos e quietos, e desprendidos de cobiça. Passaram à porta
Cristo um olhar de comiseração e ouviu-a. E eu, se visse passar do capitalista no momento em que o senhor Lobo escorregava
o Cristo, rodeado de infelizes, havia de ajoelhar e dizer-lhe: nas escadas íngremes e oleosas de sua casa, gritando que
Senhor! Senhor! É uma desgraçada que vos ajoelha e não uma andavam ratoneiros lá dentro. O senhor Almeida, quando tal
perdida. Infâmias, uma só não tenho que a justiça da terra me ouviu, receou que o tomassem por um dos salteadores e
condene. Estou acorrentada a um dever imoral, tenho querido estugou o passo. O senhor Manuel Caetano, menos
espadaçá-lo, mas estou pura. Dever imoral... por que, não, amedrontado das suspeitas, mas temeroso de ser chamado
Senhor! Vós vistes que eu era inocente; minha mãe e meu pai como testemunha, fugiu também. Os vizinhos do senhor Lobo,
estavam convosco.” vendo fugirem dois homens e ouvindo os gritos da criada do
(Camilo Castelo Branco. Amor de Salvação. milionário, correram atrás deles e, auxiliados pela guarda do
São Paulo: Martin Claret. 2003. pp. 94-95) Banco, apanharam-nos. São o queixoso e sua criada

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convidados a reconhecer os ladrões, e não os conhecem. São Módulo 43 – Gonçalves Dias:


chamados os vizinhos, que os perseguiram, e asseveram a poesia indianista
identidade das pessoas.
Aqui está a história contada pelos presos, únicos, a meu Textos para a questão .
ver, que a podem contar como ela foi.
Mais haverá de oito meses que eles estão esperando que CANÇÃO DO EXÍLIO CANTO DO REGRESSO
os julguem. Tomou cargo de defesa Marcelino de Matos. À PÁTRIA
Se o júri provar a inocência destes dois homens, qual é o
artigo da lei que impõe ao ministério público o sacratíssimo Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem palmares
Onde canta o Sabiá; Onde gorjeia o mar
dever de os indenizar?
As aves que aqui gorjeiam, Os passarinhos daqui
(Camilo Castelo Branco,
Não gorjeiam como lá. Não cantam como os de lá
Memórias do Cárcere – II.
Lisboa: A. M. Pereira, 1966. p. 130-131.)
Nosso céu tem mais estrelas, Minha terra tem mais rosas
Nossas várzeas têm mais flores, E quase que mais amores
 (UNESP) – No excerto apresentado, há pelo menos duas Nossos bosques têm mais vida, Minha terra tem mais ouro
palavras que não são comuns no português coloquial brasileiro: Nossa vida mais amores. Minha terra tem mais terra
ratoneiro e estugar. O contexto, no entanto, permite entender
o que significam. Releia o texto de Camilo e, a seguir, indique: [...] [...]
a) os sentidos das duas palavras;
b) os elementos contextuais que permitem reconhecer tais Não permita Deus que eu morra, Não permita Deus que eu morra
sentidos. Sem que eu volte para lá; Sem que volte pra São Paulo
Sem que desfrute os primores Sem que veja a Rua 15

(UNESP) – Neste fragmento, Camilo Castelo Branco


Que não encontro por cá; E o progresso de São Paulo.
Sem qu’inda aviste as palmeiras, (Oswald de Andrade,
rememora uma curiosa história que ouviu na prisão. Releia o
Onde canta o Sabiá. Pau-Brasil)
texto apresentado e, a seguir, aponte:
(Gonçalves Dias,
a) os motivos pelos quais Almeida e Manuel Caetano
Primeiros cantos)
fugiram;
b) os captores de ambos.  (FUVEST)
a) Considerando que os poemas foram escritos, respec-
tivamente, em 1843 e 1924, caracterize seus contextos

(UNESP) – Sem perder de vista o contexto, leia históricos sob os pontos de vista político e social.
atentamente a frase: “São chamados os vizinhos, que os b) Comparando os dois poemas, indique uma diferença
perseguiram, e asseveram a identidade das pessoas.” estética e uma diferença ideológica entre ambos.
Justifique por que Camilo colocou:
a) “são chamados” e “asseveram” no presente do Texto para a questão .
indicativo;
b) “perseguiram” no pretérito do indicativo. José de Alencar retratou o seu herói goitacá em prosa, a
exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito com os
Texto para a questão . cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar
um mítico passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros
medievais de Scott, o índio seria o modelo de que Alencar
A desgraça afervora ou quebranta o amor? Isto é que eu
lançaria mão. (...) O índio entrara como tema na literatura
submeto à decisão do leitor inteligente. Fatos e não teses é o
universal por influência das ideias dos filósofos iluministas e
que trago para aqui. O pintor retrata uns olhos, e não explica as
,especialmente, da obra de Jean-Jacques Rousseau (...). As
funções ópticas do aparelho visual. teses de Rousseau sobre o “bom selvagem”, por sua vez,
(Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição) bebiam na fonte das narrativas de viajantes do século XVI, os
primeiros europeus que haviam colocado os pés no chão
Alguns escritores pretenderam, em seus romances, americano. Foram esses viajantes os responsáveis pela
apresentar uma dissecação científica do caráter humano. Com propagação do juízo de que, do outro lado do oceano, existia
base no texto transcrito, você diria que Camilo Castelo Branco um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...).
parece concordar ou discordar dessa pretensão cientificista? (NETO, Lira. O Inimigo do Rei. Uma Biografia
Justifique sua resposta. de José de Alencar. São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167)

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 (PUC) – A corrente romântica indianista, além da ficção de Está correto apenas o que se afirma em:
José de Alencar, encontrou também alta expressão a) I.
a) na poesia de feitio lírico ou épico, como nos cantos de b) II.
Gonçalves Dias. c) I e II.
b) na crônica de costumes, como as frequentadas pelos d) I e III.
missionários do século XVI. e) II e III.
c) no teatro popular, como o desenvolvido por Martins Pena.
d) na épica de recorte clássico, como a concebeu Tomás  (UFPA) – Gonçalves Dias foi considerado um dos maiores
Antônio Gonzaga. expoentes da literatura romântica brasileira. Procurando seguir
e) na crítica satírica, como a elaborada por Gregório de Matos. os preceitos do Romantismo, produziu uma poesia capaz de
exprimir a independência literária do Brasil. Na condição de
Texto para a questão . poeta, dedicou-se a vários gêneros literários, entre eles à
poesia lírica e à poesia épica indianista. Leia atentamente as
Um sabiá
estrofes 4, 5, 6 e 7 do canto IV do poema I-Juca Pirama, de
na palmeira, longe.
Gonçalves Dias:
Estas aves cantam
um outro canto.
Andei longes terras, Aos golpes do imigo
O céu cintila Lidei cruas guerras, Meu último amigo,
sobre flores úmidas. Vaguei pelas serras Sem lar, sem abrigo,
Vozes na mata, Dos vis Aimorés1; Caiu junto a mi!
e o maior amor. Vi lutas de bravos, Com plácido rosto,
Vi fortes – escravos! Sereno e composto,
Só, na noite, De estranhos ignavos2 O acerbo6 desgosto
seria feliz: Calcados aos pés. Comigo sofri.
um sabiá,
na palmeira, longe. E os campos talados3, Meu pai a meu lado
E os arcos quebrados, Já cego e quebrado,
Onde é tudo belo E os piagas4 coitados De penas ralado,
e fantástico, Já sem maracás5; Firmava-se em mi:
só, na noite, E os meigos cantores, Nós ambos, mesquinhos,
seria feliz. Servindo a senhores, Por ínvios7 caminhos,
(Um sabiá, Que vinham traidores, Cobertos d’espinhos
na palmeira, longe.) Com mostras de paz. Chegamos aqui!

1Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da Bahia e do


Ainda um grito de vida e
voltar Espírito Santo;
2Ignavos: fracos, covardes;
para onde é tudo belo
3Talados: devastados;
e fantástico:
4Piaga: pajé, chefe espiritual;
a palmeira, o sabiá,
5Maracá: chocalho indígena utilizado em festas religiosas e cerimônias
o longe.
(Carlos Drummond de Andrade, Nova Canção do Exílio) guerreiras;
6Acerbo: terrível, cruel;
 (UPF) – Considere as afirmações abaixo em relação ao 7Ínvios: intransitáveis.
poema “Nova Canção do Exílio”, de Carlos Drummond de
Andrade.
I. O poema retoma, de forma intertextual, o conhecido texto Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto afirmar
da “Canção do Exílio”, do poeta romântico Gonçalves Dias. que
II. A estrutura repetitiva do poema deve-se, exclusivamente, a) o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o
à influência do texto de Gonçalves Dias, uma vez que a colonizador europeu.
repetição não é um procedimento comum no autor de A b) o ritual antropofágico é representado como uma
Rosa do Povo. manifestação da barbárie indígena.
III. O exílio a que se refere o título do poema assume ao longo c) a submissão das nações indígenas pelo homem branco é
do texto uma dimensão que ultrapassa o aspecto considerada um processo natural e desejável para o
geográfico, assumindo um caráter existencial. progresso da nova nação independente.

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d) o ponto de vista a partir do qual se elabora o poema é o do  (UNESP) – Tendo em mente o fato de que é usual a
europeu português, que condena as práticas bárbaras e retomada de um mesmo tema por artistas de épocas
violentas das nações indígenas brasileiras. diferentes, explique o que há de comum entre a letra de
e) as práticas colonizadoras portuguesas que levaram ao Saudade de Minha Terra e a Canção do Exílio, do poeta
quase extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto de romântico Gonçalves Dias, cujos primeiros versos são: Minha
vista do próprio índio. terra tem palmeiras / onde canta o sabiá. / As aves que aqui
gorjeiam, não gorjeiam como lá.
A questão a seguir toma por base a letra de uma guarânia dos
compositores sertanejos Goiá (Gerson Coutinho da Silva, 1935- Texto para as questões  e .
1981) e Belmonte (Pascoal Zanetti Todarelli, 1937-1972).

SAUDADE DE MINHA TERRA IV

De que me adianta viver na cidade, Meu canto de morte,


Se a felicidade não me acompanhar? Guerreiros, ouvi:
Adeus, paulistinha do meu coração, Sou filho das selvas,
Lá pro meu sertão eu quero voltar; Nas selvas cresci;
Ver a madrugada, quando a passarada, Guerreiros, descendo
Fazendo alvorada, começa a cantar. Da tribo tupi.
Com satisfação, arreio o burrão,
Cortando o estradão, saio a galopar; Da tribo pujante,
E vou escutando o gado berrando, Que agora anda errante
Sabiá cantando no jequitibá. Por fado inconstante,
Por Nossa Senhora, meu sertão querido, Guerreiros, nasci;
Vivo arrependido por ter te deixado. Sou bravo, sou forte,
Nesta nova vida, aqui da cidade, Sou filho do Norte;
De tanta saudade eu tenho chorado; Meu canto de morte,
Aqui tem alguém, diz que me quer bem, Guerreiros, ouvi.
Mas não me convém, eu tenho pensado,
E fico com pena, mas esta morena Já vi cruas brigas,
Não sabe o sistema em que fui criado. De tribos imigas,
Tô aqui cantando, de longe escutando, E as duras fadigas
Alguém está chorando com o rádio ligado. Da guerra provei;
Que saudade imensa, do campo e do mato, Nas ondas mendaces
Do manso regato que corta as campinas. Senti pelas faces
Ia aos domingos passear de canoa Os silvos fugaces
Na linda lagoa de águas cristalinas; Dos ventos que amei.
Que doces lembranças daquelas festanças, Andei longes terras
Onde tinha danças e lindas meninas! Lidei cruas guerras,
Eu vivo hoje em dia, sem ter alegria, Vaguei pelas serras
O mundo judia, mas também ensina. Dos vis Aimorés;
Estou contrariado, mas não derrotado, Vi lutas de bravos,
Eu sou bem guiado pelas mãos divinas. Vi fortes – escravos!
Pra minha mãezinha, já telegrafei, De estranhos ignavos
Que já me cansei de tanto sofrer. Calcados aos pés.
Nesta madrugada, estarei de partida
Pra terra querida que me viu nascer; (Gonçalves Dias, I-Juca Pirama)
Já ouço sonhando o galo cantando,
O inhambu piando no escurecer, 1 – Pujante: poderosa.
A lua prateada, clareando a estrada, 2 – Fado: sorte.
A relva molhada desde o anoitecer.
Eu preciso ir, pra ver tudo ali,  Quem é a figura idealizada no texto?
Foi lá que nasci, lá quero morrer.
(Goiá em duas vozes – o compositor interpreta suas músicas. Qual é a métrica usada pelo autor e o que ela representa
Discos Chororó. CD n.º 10548, s/d.) neste poema?

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Texto para as questões


e . Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
X Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Um velho Timbira, coberto de glória, [...]
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi! Minha terra tem primores,
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava Que tais não encontro eu cá;
Do que ele contava, Em cismar — sozinho, à noite —
Dizia prudente: — “Meninos, eu vi!” Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras
“Eu vi o brioso no largo terreiro Onde canta o Sabiá.
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci: Não permita Deus que eu morra,
Valente, como era, chorou sem ter pejo; Sem que eu volte para lá;
Parece que o vejo, Sem que desfrute os primores
Que o tenho nest’hora diante de mi. Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
“Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo! Onde canta o Sabiá.
Pois não, era um bravo; (DIAS, G. Poesia e Prosa Completas.
Valente e brioso, como ele, não vi! Rio de Janeiro: Aguilar, 1998.)
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto, Texto 2
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!”
CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA
Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória Minha terra tem palmares
Do moço guerreiro, do velho Tupi. Onde gorjeia o mar
E à noite nas tabas, se alguém duvidava Os passarinhos daqui
Do que ele contava, Não cantam como os de lá
Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”.
(Gonçalves Dias, I-Juca Pirama) Minha terra tem mais rosas
E quase tem mais amores

De acordo com o que se depreende do texto, de que Minha terra tem mais ouro
forma a história do grande guerreiro era transmitida às novas Minha terra tem mais terra
gerações?
Ouro terra amor e rosas
Qual o recurso utilizado pelo velho Timbira para dar Eu quero tudo de lá
credibilidade ao que ele conta? Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Módulo 44 – Um clássico romântico: a Não permita Deus que eu morra


Sem que volte pra São Paulo
“Canção do Exílio” de
Sem que eu veja a rua 15
Gonçalves Dias E o progresso de São Paulo
(ANDRADE, O. Cadernos de Poesia do Aluno Oswald.
Textos para a questão .
São Paulo: Círculo do Livro, s/d.)

Texto 1
 Os textos 1 e 2, escritos em contextos
CANÇÃO DO EXÍLIO históricos e culturais diversos, enfocam o
mesmo motivo poético: a paisagem brasi-
Minha terra tem palmeiras, leira entrevista a distância. Analisando-os, conclui-se que
Onde canta o Sabiá; a) o ufanismo, atitude de quem se orgulha excessivamente
As aves, que aqui gorjeiam, do país em que nasceu, é o tom de que se revestem os
Não gorjeiam como lá. dois textos.

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b) a exaltação da natureza é a principal característica do texto NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO


2, que valoriza a paisagem tropical realçada no texto 1. À Josué Montello
c) o texto 2 aborda o tema da nação, como o texto 1, mas
sem perder a visão crítica da realidade brasileira. Um sabiá
d) o texto 1, em oposição ao texto 2, revela distanciamento na palmeira, longe.
geográfico do poeta em relação à pátria. Estas aves cantam
e) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem um outro canto.
brasileira.
O céu cintila
 (PUC) – Para responder à questão, analise as afirmativas sobre flores úmidas.
que seguem. Vozes na mata,
I. Gonçalves Dias e Oswald de Andrade, a partir de uma e o maior amor.
visão romântica da natureza, compõem duas versões de
“Canção do Exílio” ricas em imagens e regularidade Só, na noite,
rítmica. seria feliz:
II. Em “Canção do Exílio”, Gonçalves Dias tematiza a um sabiá,
saudade da pátria, através da representação da natureza, na palmeira, longe.
sempre mais bela do que a portuguesa.
III. Oswald de Andrade retoma o poema “Canção do Exílio”, Onde tudo é belo
de Gonçalves Dias, recriando-o ludicamente dentro da e fantástico,
estética modernista. só, na noite,
IV. Gonçalves Dias, um dos expoentes do Romantismo seria feliz.
brasileiro, tem na natureza grande fonte de inspiração para (Um sabiá,
poemas de cunho lírico e indianista. na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida
Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas voltar
apenas para onde tudo é belo
a) I e III. e fantástico:
b) II e IV. a palmeira, o sabiá,
c) I, II e III. o longe.
d) I, II e IV. (“A Rosa do Povo”, em Carlos Drummond de Andrade,
e) II, III e IV. “Poesia e Prosa”. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. p.117.)

a) Além de expatriação, a palavra exílio significa também


 (PUC) – Leia o trecho a seguir. “lugar longínquo” e “isolamento do convívio social”.
Quais palavras expressam estes dois últimos significados
Os versos do famoso poema “Canção do Exílio” evi- no poema de Drummond?
denciam um grande amor à pátria, simbolizada por sua b) Como o eu lírico imagina o lugar para onde quer voltar?
natureza. Criado por _____________________________________
e pertencente à escola _________________________________, o  (PUC) – O poema “Nova Canção do Exílio” integra a obra
poema revela, em tom ________________________________, “Rosa do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade. Deste
um eu lírico que exterioriza sua __________________________. poema, como um todo, é incorreto afirmar que
a) é uma variação do tema da terra natal, espécie de atuali-
A alternativa correta para o preenchimento das lacunas acima zação moderna de uma idealização romântica da pátria.
é: b) estabelece uma relação intertextual com a “Canção do
a) Gonçalves de Magalhães – árcade – bucólico – solidão Exílio”, de Gonçalves Dias, e se mostra como uma
b) Gonçalves Dias – romântica – ufanista – saudade espécie de paráfrase.
c) Gregório de Mattos – barroca – contraditório – ironia c) evidencia que o poeta se apropriou indevidamente do
d) Casemiro de Abreu – indianista – regionalista – poema de Gonçalves Dias e manteve os esquemas de
nacionalidade métrica e de rima do texto original.
e) Castro Alves – condoreira – emancipatório – liberdade d) traduz na palavra “longe”, o significado do “lá”, lugar do ideal
distante, caracterizador de visão de uma pátria idealizada.
 (UNICAMP) – Carlos Drummond de Andrade reescreve a e) utiliza a imagem do sabiá e da palmeira para sugerir um
famosa “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, na qual o poeta espaço “onde tudo é belo e fantástico” e, afastado do
romântico idealiza a terra natal distante. qual, o poeta se sente em exílio.

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Texto para as questões  e .  A “Canção do Exílio”, de Gonçalves dias, se tornou


símbolo da Literatura Brasileira e inspirou a Hino Nacional. Que
CANÇÃO DO EXÍLIO semelhança há entre a visão do poema e do hino a respeito da
natureza do Brasil?
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá; Que elementos do texto são mais expressivos da natureza
As aves que aqui gorjeiam tropical do Brasil?
Não gorjeiam como lá.

(UNIFESP-SP) – Os versos da “Canção do Exílio” são
Nosso céu tem mais estrelas, construídos nos moldes da redondilha maior, com predomi-
Nossas várzeas têm mais flores, nância dos acentos de intensidade nas terceiras e sétimas
Nossos bosques têm mais vida, sílabas métricas. Um verso que não segue esse padrão de
Nossa vida mais amores. tonicidade é:
a) “Minha terra tem palmeiras”.
Em cismar, sozinho, à noite, b) “As aves que aqui gorjeiam”.
Mais prazer encontro eu lá; c) “Nosso céu tem mais estrelas”.
Minha terra tem palmeiras, d) “Em cismar, sozinho, à noite”.
Onde canta o Sabiá. e) “Onde canta o Sabiá”.

Minha terra tem primores, (UNIFESP-SP – modificado) – Entre as figuras de lin-


Que tais não encontro eu cá; guagem, como recursos que um autor emprega para obter
Em cismar — sozinho, à noite — maior expressividade, existe a zeugma. A zeugma consiste na
Mais prazer encontro eu lá; supressão de um vocábulo, já enunciado em frase anterior. No
Minha terra tem palmeiras, poema de Gonçalves Dias, a zeugma ocorre em:
Onde canta o Sabiá. a) “Sem qu’inda aviste as palmeiras”.
b) “Em cismar, sozinho, à noite”.
Não permita Deus que eu morra, c) “Que tais não encontro eu cá”.
Sem que eu volte para lá; d) “Nossa vida mais amores”.
Sem que desfrute os primores e) “Nosso céu tem mais estrelas”
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Gonçalves Dias, Primeiros Cantos)

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Resolução dos Exercícios-Tarefa

FRENTE 1 constitui discurso direto.


Resposta: A

Módulo 49 – Advérbio (II)  O monólogo interior da personagem misturado ao


discurso do narrador sem verbos de elocução (disse, falou,
 A pensou etc.) configura o discurso indireto livre.
 “mal” significa “pouco”. Resposta: D
Resposta: B  O trecho revela as preocupações da personagem Fabiano:
 E falta de opção de vida e de dinheiro, condição social
 C degradante, perturbação emocional. Só não há no texto
 E nenhuma referência a problemas de ordem religiosa.
 B Resposta: B
a) indubitavelmente: advérbio de afirmação, modifica toda  Trata-se de um recurso literário em que o personagem
a oração. verbaliza ou conversa consigo mesmo de forma
b) muito: advérbio de intensidade, modifica o adjetivo incoerente.
esperado. raramente: advérbio de tempo, modifica o Resposta: C
verbo acontecia. Trata-se de discurso indireto livre, que registra o monólogo
c) absolutamente: advérbio de intensidade, modifica o
interior do personagem.
adjetivo impossíveis.
Resposta: A
d) na Rua da Lapa: locução adverbial de lugar, modifica o
verbo passava.
Módulo 53 – Preposição (I)
em 1870: locução adverbial de tempo, modifica o verbo
passava.
 A narradora, ensimesmada e desatenta, percebe aos
e) ali: advérbio de lugar, modifica o verbo foi.
poucos a presença da criança: primeiro é uma coisa que
no mesmo tom zangado: locução adverbial de modo,
lhe puxa o vestido, depois é uma mão “pequena e
modifica o verbo fuzilando.
escura”, para depois se revelar no menino que pede um
doce.
Módulo 50 – Personagens e fala interior
Resposta: A
da personagem
 A relação comparativa entre uma “grande chuva” e “uns
goles de água” é desproporcional, porque quem quer
 O narrador personagem relata um fato, mas prioriza as
apenas matar a sede não precisa de um grande volume de
reflexões sobre seu comportamento nessa situação.
água.
Resposta: A
 Prosopopeia ou personificação é uma figura em que se
Resposta: C

emprestam sentimentos humanos e palavras a seres


 A preposição “por” estabelece entre as palavras relação
de causa: por causa do pudor, não olhava para os lados. A
inanimados ou animais. É o caso de palavras em “E todos
mesma relação se estabelece em “por medo”: por causa
as palavras recolheram-se ao coração, murmurando...”.
Resposta: B do medo, as pessoas vão mais cedo para casa.

 Como o termo palavras está personificado no texto, elas Resposta: E

murmuram, ou sejo, falam baixinho, e este diálogo  C

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 Em “tremia de frio” a relação é de causa.  O primeiro parágrafo descreve como tio Sabino surrupia
Resposta: B objetos da casa da sobrinha, o que se confirma no último
 Até tem, na frase em questão, o sentido de inclusão, parágrafo: “roubara a família Carvalhosa”.
indicando que lavar carros particulares é mais um dos Resposta: D
abusos praticados pelos vereadores com dinheiro público.  A interjeição de Maria do Resgate sugere preocupação.
Como se trata de prática condenável, que não se espera Resposta: C
de pessoas honestas, pode-se admitir como correta a
alternativa a, mesmo porque não há melhor.
Resposta: A Módulo 56 – Preposição (II) e Interjeição
Até, no enunciado, significa inclusive, como na alternativa
d. Em a, significa limite no espaço; em b, c e e, limite no  B
tempo.  No trecho, predominam verbos no pretérito perfeito
Resposta: D (“dominou”, “elevou-se”, “reuniu”, “impôs”, “fez”), com

D exceção das formas nominais “idealizada” (particípio) e
“caminhando” (gerúndio). A forma verbal “pôde” é um
Módulo 54 – Gêneros textuais: conto, exemplo de verbo no pretérito perfeito. Lembrando que o
miniconto, biografia, homônimo “pode”, indica presente do indicativo.
diário e piada Resposta: B
 No texto, a expressão acima de indica “posição superior”;
 A alternativa é confirmada pelo texto, logo no início: para, “destino, direção”; por meio de, “fazendo uso de”,
“Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão portanto “instrumento”.
movediço (a infância), as minhas pajens”. Seguem-se as Resposta: A
menções a “Minha mãe”, “tia Laura”, “meu pai”,  a) O termo ambíguo é para, que pode indicar direção ou
compondo o quadro familiar. substituição (por eles). “Escrevia cartas para analfa-
Resposta: C betos” é ambíguo porque não se sabe se a professora
 A intromissão da pajem nas questões familiares (“ — escrevia cartas endereçadas a analfabetos ou se
Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mesmo?”), escrevia a pedido deles.
e o esboço de protesto (“...levantou-se enfurecida: Pensa b) Há várias possibilidades de resposta.
que eu sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!”) 1. O filme Central do Brasil conta a história de uma
induzem à noção de proximidade ou, minimamente, de professora aposentada que escrevia cartas em
tolerância, já que a narradora aceita essas atitudes, na nome dos analfabetos.
inocência de quem sequer sabia o que significava o termo 2. O filme Central do Brasil conta a história de uma
“escravidão”. professora aposentada que prestava serviço aos
Resposta: E analfabetos, escrevendo cartas.
 O gesto de recusa, citado na alternativa a, pode ser 3. O filme Central do Brasil conta a história de uma
subentendido nesta passagem do texto: “Pensa que eu professora aposentada que escrevia cartas a
sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!”, seguida pedido dos analfabetos.
da mudança de atividade – em vez de cortar roletes de  A
cana, passa a procurar talvez uma manga madura, talvez  Os dois adjuntos adverbiais destacados indicam causa:
jabuticaba, com a tácita aprovação da memorialista, ou da pesada por causa do ouro, rútila (resplandecente) por
criança que sua memória recria. causa dos brilhantes.
Resposta: A Resposta: A

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a) a Módulo 58 – Conjunção (I)


b) a
c) há  Em I, “leitor amigo” é vocativo, pois se trata de uma

d) a expressão alheia à oração, usada para interpelar o leitor.

e) a Em II, “mas” é conjunção adversativa e estabelece uma

f) há relação de oposição com a oração anterior. Em III, a

g) Há conjunção “porque” expressa causa. Em IV, o trecho está


C de acordo com a norma culta da língua portuguesa.

D Resposta: A
 “Perda” é substantivo, vem precedido de artigo “a”;
Módulo 57 – Ambiguidade “muita” é adjetivo e modifica o substantivo “vez”;
“porque” é conjunção causal; “depois” é advérbio de
 A interrogação “o qui é qui eu tô tocando?” instaura a tempo; “mim” é pronome oblíquo de primeira pessoa do
ambiguidade que é a geradora do humor. O que se singular e se refere ao próprio narrador.
pergunta é “que música eu estou tocando?”, que a Resposta: D
interlocutora compreende, erroneamente, como “que  Trata-se de um texto narrativo marcado por verbos no
instrumento musical eu estou tocando?”. Daí a sua pretérito perfeito (“cantei”, “vim”, “foi”, “denunciou”),
inesperada resposta. que estabelecem uma sucessão temporal, juntamente
Resposta: B com o advérbio de tempo “depois”.
 O emprego popular da forma “cê” caberia na frase I: “cê Resposta: E
vem conosco?”, mas não seria possível usá-la na frase II,  A
porque não se emprega essa forma reduzida quando  B
precedida de preposição (no caso, a preposição para).  A oração “como o motorneiro se impacientasse” indica
Resposta: B circunstância de causa e “desatravancaram o veículo” é a
 A construção “o qui é qui” contém a expressão “é que”, consequência.
expletiva ou de realce, encontrada em outras construções Resposta: A
utilizadas, na linguagem coloquial, em frases interrogativas
(“como é que”, “por que é que”, “onde é que” etc.).
Resposta: C Módulo 59 – Gênero textual: crônica
 A fala que se omitiu no primeiro quadrinho é a expressão que
os fotógrafos converteram em lugar-comum, como apelo ao  O assunto do texto não é um “caso imaginário” (alter-

fotografado, visando a um melhor enquadramento diante da nativa a) nem uma “experiência pessoal” (alternativas d e

câmara: “Olha o passarinho!”. (Trata-se de um e). Trata-se, evidentemente, da “informação colhida”

remanescente dos primeiros tempos da fotografia). A (alternativas b e c) – colhida, como informa o enunciado do

situação humorística decorre da reação inesperada e teste, na “reportagem de um jornal”. O modo de

inadequada de Chico, que deu ao termo “passarinho” outra apresentação é, claramente, narrativo, tratando-se de uma

conotação, de uso popular, designativa da genitália história sugestiva, ou seja, que sugere significação que vai

masculina, e dirigiu seu olhar para a sua, provocando a além do que é contado. Portanto, trata-se de um texto cuja

reação irritada de Rosinha. O último quadrinho deixa claro finalidade é “promover reflexão” – no caso, reflexão

que Chico continuou sem entender o apelo, justificando com acerca da visão das relações humanas e da justiça contida

uma ponta de preconceito “machista” a reação da menina. na fala.

Resposta: D Resposta: B

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 A afirmação II é falsa, pois a crônica não é um gênero “de


Em a, como indica conformidade; em b, comparação; em
natureza conativa” e nem é “composta de símbolos d, consequência; em e, condição.
comuns aos asseclas” (= os que fazem parte de Resposta: C
determinado grupo). A partir de um fato cotidiano, o D
cronista interpreta de maneira mais abrangente a vida e os
valores da sociedade.
Resposta: B Módulo 63 – Análise de crônica narrativa
 O pronome pessoal do caso oblíquo “o” retoma a palavra
“mar”, não faz referência ao substantivo “menino”.  O confronto entre o nome comuníssimo (João da Silva) e
Resposta: C os nomes de prestígio é, essencialmente, uma
contraposição entre desfavorecidos e privilegiados ou, em
outros termos, entre pobres e ricos.
Módulo 62 – Conjunção (II) Resposta: D
 Uma das funções do diminutivo é expressar intensidade
 No final do texto, a autora explica que a realeza era (vermelhinho quer dizer “muito vermelho”). O sintagma
personagem frequente nas festas populares. “da Silva” é usado com a mesma função intensificadora,
Resposta: B na linguagem coloquial popular.
 Arsenal foi empregado com o sentido de “grande Resposta: A
quantidade de algo, conjunto”.  Os dois qualificativos aplicados a sangue significam,
Resposta: C respectivamente, sem e com “nobreza”, ou seja, indicam
 Assoberbado no contexto significa “rico, cheio, repleto”; posição social “inferior” e “superior”.
depositário, “aquele que mantém a guarda de bens”. Resposta: C
Resposta: E  Todas as múltiplas e variadas ações atribuídas “à família”
 As frase nos travessões explicam, respectivamente, os Silva são retomadas e resumidas em “faz tudo”.
antecedentes princesa Isabel e reinos distantes. Resposta: B
Resposta: C  A
 A conjunção coordenativa contudo estabelece relação de  E
oposição ao que foi dito anteriormente; a expressão mais B
do que é comparativa; e a expressão como o movimento
A
rotineiro de um motor exprime circunstância de modo. O “garotão de camisa esporte” não entende os termos
Resposta: E empregados pelo proprietário do “Ford de bigode”, o que
 O radical grego –logia significa “tratado, ciência, confirma a “demonstração de incompreensão”. A
discurso”; do grego kalós “belo”+ eidos “forma”+ “conjuntura” fica por conta da possibilidade, segundo o
skopeîn “olhar”. autor da crônica, de que o velho que usa termos arcaicos
Resposta: D seja “professor”.
No período dado, a relação entre as orações é de causa e Resposta: B
consequência, relação formulada pela correlação entre O texto pertence ao gênero narrativo (crônica narrativa),
uma palavra intensiva na oração principal (tão) e a pois há discurso direto, personagens e ações que
conjunção consecutiva (que). A mesma estrutura se desenrolam no tempo. No último parágrafo, o autor faz
encontra no período da alternativa e, com o mesmo tipo uma reflexão sobre o fato de a linguagem popular não
de correlação (...tamanha...que). comportar uso de expressões arcaicas.
Resposta: E Resposta: C

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 A circunstância dada pela expressão “sem dúvida” é Módulo 66 – Gêneros textuais: cartuns,
reproduzida de acordo com a norma-padrão pelo advérbio tiras, histórias em quadrinhos
“certamente”, que modifica o verbo “dedicar”, o qual
e charges
rege a preposição “a”.
 Neste caso, o humor decorre da quebra da expectativa do
Resposta: D
leitor: normalmente quando se avança em um jogo, mais
 Tanto “nenhuma” quanto “certo” pertencem à mesma
a vitória se aproxima. Na tira, quanto mais o personagem
classe gramatical, são pronomes indefinidos. Em a, certo
avança, atendendo aos comandos da regra, mais ele
é adjetivo, em b, “o certo” é substantivo; em c, “certo” é
enfrenta problemas.
adjetivo; em d, “certo” é advérbio, no sentido de
Resposta: E
racionalmente.
 B
Resposta: E  A etiqueta com o código de barras no cabo do machado
sugere uma cruel ironia entre a atitude mercantilista atual
– que transforma árvores em produtos – e a natureza a ser
Módulo 65 – Conjunção (III) preservada, uma vez que o cabo do instrumento que
derrubou a árvore também deriva dela.
 A conjunção adversativa é apropriada porque há contra- Resposta: C
posição entre o primeiro e o segundo períodos do texto,  A charge ironiza o uso desmedido de tecnologia da

indicando o segundo algo que, em relação ao primeiro, comunicação, provocando o distanciamento nos

ocorre “em compensação” ou “por outro lado”. relacionamentos humanos.

Resposta: A Resposta: C

 O adjunto adverbial “no período” implica a ocorrência

anterior da expressão “nos últimos dez anos”, à qual se


FRENTE 2
refere e que consta da segunda frase. Portanto, a frase em

questão, por uma exigência de coesão, tem de vir depois


Módulo 33 – Arcadismo: concepção
da segunda frase, não da primeira.
burguesa da vida
Resposta: E

 A vírgula é indevida porque separa o sujeito “o peso da  I. Verdadeiro. Tomás Antônio Gonzaga, desde o
prestação do carro zero”, do verbo “triplicou”. princípio, apresenta uma linguagem inovadora,
Resposta: E enquanto Cláudio Manuel da Costa reproduz aspectos
 A formais, como o cultismo, e o conflito de ideias,
 A segunda oração, “tive que arrumar um outro emprego, próprios do período barroco.
de noite”, é a consequência dos tempos difíceis a que se II. Verdadeiro. A obra Marília de Dirceu apresenta

refere o personagem. características predominantemente árcades; já a

Resposta: D segunda fase de sua obra apresenta traços

 a) intensidade românticos como a temática da subjetividade e da


morte.
b) oposição
III. Falso. Embora as primeiras informações da
c) acréscimo, inclusão
proposição sejam válidas, o poeta não falece no
d) conformidade
Brasil, mas sim em Moçambique, exilado pelo
e) tempo
império português.

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IV. Falso. Tomás Antônio Gonzaga apresenta Em “flores canoras, pássaros fragrantes”, mesclam-se as
características pré-românticas na segunda fase de sensações auditiva (“canoras” = cantantes) e olfativa
sua produção. O Arcadismo precede o Romantismo. (“fragrantes” = perfumados).
V. Verdadeiro. Costuma-se atribuir elementos pessoais à Resposta: A
produção do poeta após a sua prisão e degredo.
A frase “O céu não vestia seus horizontes de mil cores”
Resposta: D está em ordem direta, isto é, apresenta a seguinte
 São falsas as proposições [I], [II], [III] e [V], pois: organização: sujeito + verbo + complemento verbal.
[I] A literatura árcade reproduz características de Resposta: C
movimentos antecedentes, como o classicismo e a O comentário refere-se com clareza aos aspectos mais
literatura clássica. Além disso, Tomás Antônio importantes do Arcadismo ou Neoclassicismo: “à
Gonzaga compôs obra satírica e Cláudio Manuel da descrição da natureza, (…) em termos clássicos”; “a
Costa escreveu um poema épico, Vila Rica. importância relevante tanto ao índio e ao contato de
[II] Há uma inversão nas informações apresentadas culturas”, como pode ser observado em Caramuru, de
sobre os autores, pois Cláudio Manuel da Costa Santa Rita Durão e em O Uraguai, de Basílio da Gama.
apresenta características barrocas no início de sua Resposta: E
produção que não deixam de antever o pessimismo
pré-romântico, e Tomás Antônio Gonzaga antecipa
características românticas na segunda fase de sua Módulo 34 – Manuel Antônio de Almeida:
produção. Memórias de um Sargento de
[III] A prisão teve como causa a conspiração política Milícias: o narrador
contra o império luso, isto é, um crime considerado
traição ao rei de Portugal. Na época, o autor de Cartas  Leonardo – conforme o texto da adaptação – “aborrecera-
Chilenas não foi identificado, ninguém sabia quem era se e viera ao Brasil”.
Critilo, o emissor. Resposta: D
[V] Pelo contrário ao apresentado na proposição, o texto  Que se trata de “cumplicidade na situação de aproximação
apresenta aspectos formais clássicos, além de desencadeada pela pisadela” é confirmado pelas
recorrer a imagens mitológicas como referência indicações de que Maria engravidou.
literária. Além disso, nesses versos, há a preocupação Resposta: A
com a estética, como evidencia, entre outros  Embora publicado em pleno Romantismo, o romance de
elementos, a regularidade métrica. Manuel Antônio de Almeida afasta-se dos padrões da
Resposta: D ficção romântica por não idealizar as personagens
 Tomás Antônio Gonzaga é um autor do período árcade; femininas nem as relações amorosas, por retratar as
Gregório de Matos pertence à escola barroca. camadas “baixas” da sociedade e por apresentar como
Resposta: C protagonista um “anti-herói” na tradição da literatura
 Mi / se / ri / cór / dia, a / mor, / Je / sus / Je / sus. picaresca (que, em sua adaptação brasileira, resultou no
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
que o crítico Antônio Cândido classificou como “romance
Os versos são decassílabos. malandro”). O examinador exagerou quando empregou a
 Essa expressão conota os olhos de Sílvia. expressão “denunciam as mazelas e pobrezas sociais”.
 A musa Sílvia, no soneto, é referida por meio da perífrase Resposta: B
ou circunlóquio (rodeio de palavras): “A bela ocasião das  Considerando que o “contexto em que transcorre o
minhas dores”. enredo” de Memórias de um Sargento de Milícias (período
Resposta: D do Brasil Reino, 1808-21, dentro da Época Joanina) e “a

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época de sua publicação” (1852-53), pode-se admitir que


O primeiro fragmento da coluna discorre sobre o
esse espaço de tempo tenha assistido ao “processo da comportamento de Leonardo, personagem “malandro”, já
Independência do Brasil e formação de seu Estado antecipando o agregado vadio, anti-herói, picaresco. O
nacional”. Com efeito, foi nesse espaço de tempo que os segundo trecho descreve Luisinha como uma moça “feia
acontecimentos evoluíram para a emancipação do País e, e esquisita”, revelando a ausência de traço idealizante. No
subsequentemente, para as convulsões políticas que, uma terceiro fragmento, Leonardo Pataca considera um
vez superadas, resultaram na consolidação do Estado possível triângulo amoroso concernente a Maria Hortaliça.
Nacional Brasileiro. E no quarto, o “final feliz” em “Memórias de um sargento
Resposta: C de Milícias” indica um traço característico da prosa
 Em Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel romântica.
Antônio de Almeida afasta-se da idealização e rompe, com Resposta: E
os padrões românticos, ao apresentar, por exemplo, a
figura feminina sem os encantos convencionais. Luisinha
é descrita como “alta, magra, pálida, andava com o queixo Módulo 35 – Rousseau: o “bom selvagem”
enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas, e
olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo,  O tema do poema é a efemeridade do tempo e da própria
cortado, dava-lhe apenas até o pescoço, e como andava vida, como evidenciam os versos “Rosas que se
mal penteada e trazia e cabeça sempre baixa, uma grande apagam/Em frente a apagar-se/Tão cedo!”. A fugacidade
porção lhe caia sobre a testa e olhos, como uma viseira”. do tempo é tema recorrente na poética de Ricardo Reis,
Resposta: B herdeiro da tópica clássica do “carpe diem” (aproveita o
 Embora o narrador não participe do relato, a sua tempo).
intromissão é perceptível quando se emprega a primeira Resposta: B
pessoa do plural em “como dissemos”, “o vemos  O conceito árcade do locus amoenus refere-se ao local
empossado” e a primeira pessoa do singular em “não sei fora dos centros urbanos, onde haja contato com a
fazer o quê”. natureza e um estilo de vida simples e tranquilo, conforme
Costuma-se classificar Memórias de um Sargento de expresso em “nos sentemos/à sombra deste cedro
Milícias como um romance “sem culpa”, em que as levantado./Um pouco meditemos/na regular beleza,/que
personagens agem conforme sua vontade, o que remete em tudo quanto vive nos descobre/a sábia Natureza”.
ao caráter fantasioso dos contos da carochinha. Elas vão Resposta: B
tentando driblar a lei e as imposições “do certo e do  A terceira proposição está incorreta pois o carpe diem
errado” da sociedade joanina (1808-1821), algo imóvel também é um dos temas centrais da produção árcade no
politicamente. Considerando-se a “história brasileira”, a Brasil.
resposta é mudança e imobilismo. Considerando-se o Resposta: C
estudo literário dessa narrativa, existe liberdade e  O Arcadismo está associado aos valores burgueses e ao
opressão, conforme estudo canônico de Antônio Cândido, Racionalismo do século XVIII, que vão se contrapor aos
Dialética da Malandragem. O crítico afirma que na interesses da nobreza e superestimam a natureza e o
sociedade joanina misturam-se a ordem e a desordem, há conceito do carpe diem.
um jogo constante entre a liberdade das personagens e a Resposta: E
opressão, que é representada pelo major Vidigal, o  a) O texto obedece à forma clássica do soneto,
símbolo da ordem relativa, manipulada pelo tráfico de convencionada em dois quartetos e dois tercetos.
influências. b) O poema descreve a natureza de forma aprazível na
Resposta: A terceira estrofe: “Árvores aqui vi tão florescentes, /

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Que faziam perpétua a primavera: /Nem troncos vejo Módulo 36 – Memórias de um Sargento de
agora decadentes.” Milícias: o protagonista
 a) Jandira dirige-se ao interlocutor, Ubirajara, de forma
algo cerimoniosa e distante, usando o pronome na  No final da narrativa, Luisinha, já viúva de José Manuel,
terceira pessoa do singular (“para que ele se afaste de casa com o seu primeiro amor, Leonardo, que, após a
sua taba e esqueça a noiva que o espera”). Ubirajara, providencial intervenção de Maria Regalada, torna-se
ao falar com Jandira, emprega o pronome na segunda liberto da prisão e, mais tarde, oficial, sargento de milícias.
pessoa do singular (“que não sabe mais dizer-te Resposta: C
palavras de alegria”), de conotação mais íntima ou  Leonardo é o primeiro malandro da prosa brasileira e
informal. Finalmente, Ubirajara, ao fazer referência a si precursor de vários outros, como Firmo e Macunaíma,
mesmo, emprega, de maneira formal e até hierática, a ainda que de romances de escolas literárias diferentes.
terceira pessoa do singular (“nem ele sabe ainda”). Resposta: C
b) O uso do futuro do presente em sua forma sintética  a) Leonardo, “filho de uma pisadela e de um beliscão”,
(“fará”, fabricará”, “serão”, “derramará”) é próprio de apresenta-se em boa parte da narrativa como uma
linguagem “mais formal ou artificial”. O registro da fala personagem sem formação ou profissão, sendo
dos índios na obra de Alencar é sempre bastante artificial, caracterizado pelo narrador como “vadio-mestre”, “vadio-
sem qualquer traço de realismo. Os índices de tipo”, o que em muito exasperava seu padrinho, pois o
verossimilhança não se encontram na gramática, mas sim jovem dava sinais de que não contaria com meios dignos
no léxico, pleno de indigenismos, em geral tupinismos. de sobrevivência. Era, portanto, o típico representante do
a) Trata-se de uma apresentação humanizada da natureza, eixo social da desordem, conforme célebre estudo de
num processo de personificação correspondente à Antônio Cândido (“Dialética da malandragem”). No final
figura chamada prosopopéia. A natureza é, ao mesmo da narrativa, ascende ao eixo da ordem, ao sair da prisão,
tempo, refúgio dos grandes sentimentos, elemento de receber baixa da tropa de linha, ganhar promoção a
pitoresco (tropical e paradisíaco) e motivo de exaltação sargento de milícias, casar-se com moça de boa condição
nacionalista. (Esta última característica, marcadamente social (Luisinha) e receber a herança de seu padrinho.
romântica, não está, porém, presente no fragmento b) Leonardo não obtém sua nova condição social por mérito
transcrito.) próprio. Ele conta com a ajuda das relações sociais que
b) As comparações (“Uma estrela brilhante listrava o céu, possui, destacando-se, entre elas, a figura da Comadre,
como uma lágrima de fogo”; “Jandira fará como sua que age como uma espécie de fada-madrinha à procura
irmã, a abelha”; “... os guerreiros amam a flor da de pessoas influentes para eliminar as dificuldades por
formosura, como a folhagem da árvore”) e também as que passa o protagonista. No caso do excerto destacado,
metáforas: (“... os coqueiros ...inclinam para o nascente por exemplo, ela recorre à amante do Major Vidigal para
seu verde cocar”, “... ela fabricará em seus lábios os livrar o “memorando” do castigo (chibatada) e da prisão,
favos mais doces para o seu guerreiro; suas palavras obtendo-lhe promoção e o habilitando à ascenção social
serão fios de mel...”) — tais comparações e metáforas com que é brindado no fim da narrativa.
associam o natural e o humano, configurando ou  Os itens I e II são incorretos, pois I Leonardinho não
reforçando a visão personificada da natureza. reflete a estética do herói virtuoso, mas sim a do anti-

a) Ubirajara afirma que ainda não chegou para ele o dia de herói, próximo do picaresco, segundo Mário de Andrade,
escolher esposa e que não se sabe que mulher foi afeito à malandragem como forma de vida. Em II, o livro
designada pelo deus Tupã para ser a mãe do seu segue a tradição folhetinesca, portanto, é um romance de
primeiro filho. costumes sociais narrado em 3.ª pessoa.
b) É o advérbio “ainda”. Resposta: C

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 No trecho “... e benzia de quebranto; todos a conheciam Módulo 37 – Arcadismo: a inconstância e


por muito beata e pela mais desabrida papa-missa da fugacidade da vida
cidade” (primeiro parágrafo), percebe-se, na
caracterização da Comadre, o sincretismo religioso, ou  Mesmo que engajados nas causas históricas e políticas de

seja, a fusão de práticas religiosas diferentes, pois a seu tempo, expressando contemporaneidade, os poetas

personagem tanto fazia rezas para afastar supostas árcades valorizavam conceitos e símbolos clássicos para

influências de espíritos malignos (“benzia de quebranto”), traduzir seus ideais.

uma atividade que a ligava à feitiçaria, quanto frequentava Resposta: E

com grande assiduidade as festas e os rituais ligados à  O fragmento sugere que os escritores do séc. XVIII já se

Igreja Católica (missas, ladainhas, terços, novenas, via- sensibilizam com impasses pertinentes à cultura e vida

sacra, procissão, sermão). local, em detrimento aos interesses sociais e econômicos

 Tanto o ofício de parteira que a Comadre adotara quanto a da metrópole.


sua ida à casa do Compadre tinham o mesmo motivo: a Resposta: D
curiosidade, ou seja, a preocupação em buscar todos os  Cláudio Manuel da Costa enquadra-se no Arcadismo
detalhes sobre a vida alheia. Para isso, a mantilha, peça do brasileiro, período que se caracteriza pela retomada dos
vestuário muito comum no tempo da narrativa e que valores clássicos, o que permite também a nomeação de
consistia em uma faixa de tecido que cobria como um véu Neoclassicismo para o movimento literário.
o rosto das mulheres, permitia que elas vissem os outros Resposta: E
sem serem vistas. É o que pode ser confirmado por meio  O Arcadismo resgata os temas clássicos do locus
do trecho que encerra o primeiro parágrafo: “a mantilha amoenus, inutilia truncat e fugere urbem, que estabe-
era o traje mais conveniente aos costumes da época; lecem com a vida campesina o ideal de harmonia,
sendo as ações dos outros o principal cuidado [preocu- simplicidade e tranquilidade possíveis, longe dos centros
pação] de quase todos, era necessário ver sem ser visto”. urbanos.
Os trechos que comprovam a pontualidade da Comadre Resposta: D
em relação a missas são os seguintes (todos retirados do  A última estrofe relaciona o peito da amada às penhas em
primeiro parágrafo): (1) “sabia de cor os dias em que se tom interrogativo. Além disso, ela se inicia com uma
dizia missa em tal ou tal igreja, como a hora e até o nome conjunção adversativa “Mas ai! a que delírios me sujeito”,
do padre”; (2) “trazia o tempo habilmente distribuído e as que exprime ideia de contrariedade ao sentimento de
horas combinadas, de maneira que nunca lhe aconteceu alegria afirmado na estrofe anterior.
de chegar à igreja e achar já a missa no altar. De Resposta: E
madrugada começava pela missa da Lapa; apenas acabava  As alternativas [A], [B], [D] e [E] são incorretas, pois
ia à das oito na Sé, e daí saindo pilhava ainda a das nove [A] O Uraguai, além do conflito épico entre europeus e
em Santo Antônio”. índios, narra a história de amor entre dois perso-

O pícaro (segundo Mário de Andrade) ou o malandro nagens que representam a cultura indígena: Lindoia
(segundo Antônio Cândido) que protagoniza o romance de e Cacambo;
Manuel Antônio de Almeida seria, nos termos deste teste, [B] a estrutura métrica das liras não é rígida. Percebe-se
semelhante a personagens como Firmo, de O Cortiço, ou a forma da redondilha menor, a da redondilha maior
Gato e Boa Vida, de Capitães da Areia, correspondendo e a do decassílabo;
todos a “tipos sociais originários do período colonial”, que, [D] O poema Vila Rica foi publicado em 1773, anterior à
como as estruturas sociais a que pertencem, recorreriam Inconfidência Mineira, episódio de 1789.
“nos processo de transformação da sociedade brasileira”. [E] Embora, de fato, apresente características pré-
Resposta: A românticas, a obra é árcade, na primeira parte, nas

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referências à natureza e à vida pastoril e no Jr., a provável (“talvez”) personificação do amor


predomínio da razão. materno na figura de “Um gênio carinhoso e amigo… /
Resposta: C (que) Tomou-me as mãos, – olhou-me, grave e terno, /
Embora esse soneto seja de um autor árcade, não há E, passo a passo, caminhou comigo.” Tal “fantasma”
nesse texto o equilíbrio emocional da maioria dos poemas distingue-se da figura materna, explicitamente evocada
dessa escola. Nota-se a inquietude de quem ama, como ao verso 11. O fantasma do amor materno não aparece
explicita a passagem no fecho do poema: “Mas fora no texto de José Bonifácio.
menos mal esta ânsia minha”. Esse desequilíbrio  a) “Minhas irmãs brincam na sala de jantar”; “Uma
emocional mostra não só a influência da poética saudade chorava em cada canto”.
camoniana, como também a da barroca nos textos de b) Ambas as orações apresentam palavras com as
Cláudio Manuel da Costa. seguintes funções sintáticas: predicado — sujeito —
Resposta: E adjunto adverbial de lugar (que integra o predicado). A

O menino e a avezinha são, respectivamente, comparados diferença entre elas, quanto à distribuição dos termos,
a Lise, a dominadora, e ao eu lírico, aprisionado está em que o adjunto adverbial se encontra no fim da
amorosamente pela musa. primeira oração e no meio (entre o verbo e o sujeito) da
Resposta: B segunda.
 a) A índole romântica evidencia-se já no tema que serve
de eixo aos dois sonetos: a saudade da infância,
Módulo 38 – A Pastoral Moderna representada à exaustão na lírica de quase todos os
nossos românticos. Outras características românticas
 a) Os dois sonetos têm como tema a saudade da infância, são abundantes: o subjetivismo, presente na imposição
relacionada às recordações que o eu lírico reteve das de um “eu” que fala de si, pontuando o tom
figuras familiares e da casa paterna. confessional dos dois sonetos; o sentimentalismo (que
b) Ambos os textos configuram, pela disposição das beira a pieguice) e se projeta na intensidade emocional
estrofes, a forma fixa do soneto, semelhante à forma enfatizada pela pontuação expressiva (exclamações,
que adotaram os clássicos quinhentistas portugueses, a interjeições e reticências) e na seleção vocabular, que
partir da influência italiana. Seguem também na nos remete ao universo semântico dos textos
disposição das rimas (interpoladas ou opostas nos ultrarromânticos (“Entrei chorando”, “ilusões”,
quartetos e alternadas ou cruzadas nos tercetos) a “pálidas visões!”, “lágrimas”, no primeiro texto e, no
tradição consagrada desde o século XVI. Ainda dentro segundo, nessa mesma direção, “O pranto / levou-me
desse modelo, valem-se dos versos decassílabos. em ondas”, “Uma ilusão gemia”, “Chorava”), sem
 a) No soneto de José Bonifácio, o Moço, a evocação do pai falarmos na abundância de personificações, hipérboles,
é explicitada em “Vejo meu pai na sala, caminhando, / Da comparações e da atmosfera fantasmagórica que
luz da tarde aos tépidos clarões”; a imagem paterna envolve os dois textos.
precede à dos demais membros da família, talvez b) Ainda que seja em quase tudo romântico, o soneto de
reverenciando a hierarquia que se impunha às antigas Luís Guimarães Jr. guarda algumas práticas que nos
famílias, herdeiras do patriarcalismo. remetem ao culto parnasiano da perfeição formal. A
Luís Guimarães Jr. não relembra diretamente a imagem forma do soneto, a métrica decassilábica com acento
de seu pai, não se refere a ele e sim à “casa paterna”, predominantemente sáfico, a disposição da rima já foram
ao espaço que se associa à saudade. anotadas no quesito “b”, da questão 4. Pode-se
b) Além do pai, personagem que já foi objeto do quesito acrescentar: a seleção das rimas, predominantemente
anterior, cabe observar, no soneto de Luís Guimarães ricas e algumas raras como “há-de” e “saudade”; o

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torneio sintático de gosto clássico, com várias inversões, Módulo 39 – Bocage


além do vocabulário castiço.
 a) O poema Lisbon Revisited está mais próximo do polo da  O autor, vinculado à estética do período árcade, valoriza a
atitude disfórica, pois o eu lírico revela várias vezes o imagem do pastor, delegando-lhe a voz poética e o
desânimo diante da vida, como por exemplo ocorre nos inserindo na natureza bucólica. Além disso, a linguagem
versos “a única conclusão é morrer” e “E enquanto tarda reflete os valores setecentistas da simplicidade formal.
o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho”. Quanto à Resposta: D
letra de Raul Seixas, ela não revela a aporia presente em  Nesses versos, nota-se o locus horrendus, isto é, um
Lisbon Revisited; nela nota-se apenas o desejo constante ambiente lúgubre, escuro, que se relaciona com a
do eu lírico de transformar-se. destruição, a morte do eu lírico. A convenção arcádica do
b) O verso “eu sou um ator” sintetiza plenamente o locus amoenus (“lugar aprazível”) não aparece nesses
conteúdo da canção, pois o ator deve, a cada nova versos, antecipadores do passionalismo romântico.
montagem teatral, assumir um novo papel, uma nova Resposta: E
personagem. Essa transformação de personalidade é  Ao indicar um cotejo entre o fado de Camões e o seu
também desejada pelo eu lírico (“Eu prefiro ser essa próprio, o poeta designa a si um destino de “sorte dura”
metamorfose ambulante”). e, portanto, a sua paz seria apenas obtida na sepultura.
 a) O verso a que se refere o quesito é o 34, no qual a Resposta: B
palavra “velha” é repetida quatro vezes. A função  A pátria indicada na expressão “esta parte do mundo”
expressiva dessa repetição fica evidente quando se está em condição de desmaio por conta do despotismo.
considera que a letra de Raul Seixas é uma defesa De forma similar, o eu lírico, identificado na terceira estrofe
obsessiva da transformação, ou seja, da inovação, com como “mortal”, apresenta-se “frio e mudo”.
a consequente rejeição enfática do velho, que se opõe Resposta: B
à inovação.  O voz poética, identificada pelo eu lírico, dirige-se
b) A atitude do eu lírico, em Lisbon Revisited, é de rejeição diretamente à liberdade no primeiro verso: “Liberdade,
– rejeição enfática de tudo que lhe é proposto, seja pela onde estás? Quem te demora?”. Já a temática (referente)
cultura, seja pela sociedade, seja pelas pessoas do soneto é a indignação com o despotismo.
próximas. Nenhuma palavra sintetiza melhor essa atitude Resposta: A
do que o advérbio de negação, não.  No diálogo poético, a visão do lavrador, embora mais
a) O modo verbal conativo por excelência é o imperativo, pragmática, parece traduzir, também em horizontes
repetidamente empregado em Lisbon Revisited, quer poéticos, a relação entre a natureza e a linguagem de
em sua forma afirmativa (“Tirem”, “guardem”, “vão”, forma mais cabal.
“deixem”), quer em sua forma negativa (“Não me Resposta: A
venham”, “Não me tragam”, “Não me falem”, “Não A conjunção adversativa mas, no penúltimo verso, indica
me apregoem” etc.). uma ressalva do eu lírico ao tom enaltecedor da descrição
b) “Se hoje eu te odeio amanhã tenho amor a ti” (melhor do cenário, que só com a presença da amada poderia
do que cometer o cacófato “te tenho amor”, que, produzir os efeitos devidos a suas qualidades.
contudo, seria gramaticalmente aceitável). “Se hoje eu Resposta: A
o (ou a) odeio amanhã lhe tenho amor”.
A forma verbal no imperativo, no fragmento do item II, e o

A vida rural desperta no eu lírico a reflexão sobre a verso seguinte “Incitam nossos ósculos ardentes”
fugacidade da vida. comprovam o convite do eu lírico para que a amada
Resposta: B participe do deslumbramento causado pelo cenário.

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Estão incorretas: adeus, o teu adeus, minha saudade, / Fazem que insano
– I, pois Marília é tratada na 2.ª pessoa, e portanto a do viver me prive/ E tenha os olhos meus na escuridade”.
forma verbal “Olha” não poderia ser alterada para Nota-se, portanto, que a rejeição amorosa traz o desejo de
“Ouça”, 3.ª pessoa. morte para o eu lírico.
– III, pois a forma verbal “vês” é do presente do indica- Resposta: D
tivo e não imperativo, como consta na afirmação.  a) Ambos os textos são saudosistas, ou seja, neles a
Resposta: B temática dominante é a saudade, a nostalgia da terra
natal.
Caetano Veloso faz referência ao lugar em que nasceu
Módulo 40 – Romantismo: (Santo Amaro da Purificação) e Antônio Nobre alude, já
características gerais no próprio título (“Viagens na minha Terra”), à região de
onde proveio: O Douro, norte de Portugal.
 O poema de Álvares de Azevedo representa uma Há vários versos em que se evidencia a nostalgia,
lavadeira, captando-a como fada e como um ser sem como, dentre outros: “Sonhando o tempo que lá vai”
idealização. Esse último aspecto do poema ironiza o (Antônio Nobre); “O melhor o tempo esconde” /
subjetivismo romântico. Já a pintura retrata uma figura “Longe, muito longe”. (Caetano Veloso). Note-se ainda
feminina que reflete a classe alta e, consequentemente, que, no título de Antônio Nobre, há também referência
os valores positivos atribuídos ao seu papel social. a uma grande obra do Romantismo português: a novela
Resposta: C homônima de Almeida Garrett.
 As estrofes destacam os recursos materiais e intelectuais b) Traduzir, na canção de Caetano Veloso, significa “dar
envolvidos na relação entre o eu lírico e a amada. Tal expressão artística”, “transformar em arte”, “exprimir
relação racional se opõe à experiência amorosa recorrente através de canções”. Trata-se de metamorfosear em
no Romantismo de caráter passional. linguagem artística as experiências marcantes do
Resposta: C passado, celebradas na letra de canção transcrita.
 A arte romântica tem como inspiração os valores de a) A maiúscula alegorizante é um recurso tipográfico de
liberdade individual preconizados pela Revolução Francesa uso frequente em todas as épocas literárias,
e a produção intelectual decorrente de tal fato histórico. especialmente no Simbolismo. Esse recurso visa a dar
Na conjuntura brasileira, por sua vez, a abolição da ao termo grafado com a inicial maiúscula uma carga
escravidão é uma tópica emergente na obra de Castro semântica mais significativa, conferindo a ele um valor
Alves. absoluto, ou transformando-o em símbolo, alegoria,
Resposta: B através da personificação.
 As três proposições estão corretas, pois, no plano Ventre, grafado com a maiúscula alegorizante, refere-
histórico, o Romantismo corresponde ao período da se à mãe, reverenciada como a maior credora do eu
Independência do Brasil e de uma formação intelectual da lírico. A relação metonímica parte pelo todo ou causa
identidade nacional. Assim, observa-se, na literatura do pelo efeito traduz a evocação quase religiosa da
século XIX, uma preocupação em estabelecer uma concepção e da maternidade como os fatos fundantes
atividade literária que representasse traços característicos da vida.
da pátria brasileira em contraposição à ex-Metrópole, b) A relação de identidade simbólica do advérbio aqui, nas
Portugal. duas ocorrências em questão, deve-se a que o lugar
Resposta: E que indicam é a interioridade. Em Caetano: “o tempo
 O fundamento do desejo de morrer é a desilusão esconde / Longe, muito longe, / Mas bem dentro
amorosa, como evidenciam, dentre outros, os versos “O aqui,”. Sentido equivalente tem o advérbio em Antônio

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Nobre: “Tudo isso eu guardo, aqui ficou:”. Em ambos  Alexandre Herculano, escritor romântico, é um importante
os casos, significa “em mim”, “dentro de mim”. nome da poesia e prosa portuguesa e as temáticas da

O poema apresenta o ponto de vista “das irmãs” (como paixão amorosa e da religiosidade são caras à sua
anuncia o título) sobre “os papéis sociais destinados aos produção.
gêneros”. A limitação do espaço e das ações atribuídos à Resposta: E
mulher (“fechada”, “provendo”, “servindo”), assim como  A narrativa de Viagens na Minha Terra não é linear, mistura
a dependência desta em relação ao masculino (“afiançada gêneros textuais e histórias. O narrador volúvel interrompe
/ por dote e marido”) sugerem “graus de autorrealização várias vezes o relato para fazer digressões de caráter
desiguais”, como consta da alternativa de resposta. histórico-cultural e filosófico. Esse estilo frustra a
Resposta: E expectativa do leitor acostumado à narrativa linear.
Resposta: C
 O fragmento traz o apelo de D. João I, dirigido a Afonso
Módulo 41 – Almeida Garrett e Domingues, para que este esqueça um antigo ressenti-
Alexandre Herculano mento e reassuma a direção das obras do Mosteiro de
Santa Maria.
 Em Viagens na Minha Terra, misturam-se histórias e
a) Homens de imaginação viva, de grande imaginação.
gêneros literários, havendo, assim, “vários ângulos de
b) O próprio Mosteiro de Santa Maria, edificado para
observação”, apesar de os textos arrolados pelo
comemorar célebres e gloriosos feitos históricos.
examinador não deixarem de ser panfletários.
c) Reclamação dos mortos.
Resposta: B
d) Lutas para conquista da liberdade.
 a) O narrador de Viagens na minha terra deixa entrever um
e) Morreram tantos cavaleiros que seus corpos se
ideal de sociedade orientado pelas utopias geradas no
misturaram à terra como sementes.
contexto político e filosófico do século XVIII e que se
f) Grande talento.
disseminaram pelo século XIX (Iluminismo, Liberalismo,
Revolução Francesa). Trata-se do sonho de um mundo
em que imperariam a justiça e a igualdade social, sem o
Módulo 42 – Camilo Castelo Branco
enriquecimento exorbitante atrelado à exploração e à
miserabilidade extremas. Houve uma degeneração da
 Em Coração, Cabeça e Estômago, Camilo Castelo Branco
ideologia da época contemporânea, pós Revolução
constrói uma narrativa que rompe com os padrões dos
Francesa
folhetins românticos por meio de forte crítica ao
b) A crítica de Viagens na minha terra recai sobre o
sentimentalismo, caracterizando a trajetória de Silvestre
burguês, que no romance é chamado de barão. Esse
da Silva em sua busca por conquistas amorosas, sociais,
tipo social é condenado por assumir um
econômicas e intelectuais. A ironia, recurso
comportamento pragmático ao extremo, voltado para o
frequentemente empregado pelo autor, percorre o
lucro, a especulação financeira, como se vê nos trechos
romance, rebaixando personagens, instituições sociais e
“reduzi tudo a cifras” e “comprai, vendei, agiotai”.
religiosas, comportamentos sentimentais, atividades
 O texto é caracteristicamente romântico, seja na
jornalísticas e políticas, culminando no interesse exclusivo
idealização da figura feminina, seja na expressão intensa,
da personagem central de se dedicar aos prazeres do
exacerbada da paixão amorosa. O autor é o iniciador do
estômago, perpetuação única da felicidade e paz de
Romantismo em Portugal, com a obra Camões (1825).
espírito de Silvestre da Silva.
Resposta: C
Resposta: D

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 No romance de Camilo Castelo Branco desenvolve-se porque estava temeroso de ser chamado como

história semelhante à da peça de Shakespeare: amor testemunha de um roubo. A atitude defensiva das duas

impossível em razão de inimizade entre famílias. personagens fez com que, ironicamente, elas fossem

Resposta: C consideradas ladrões pelos vizinhos do capitalista.

 O sentimentalismo evidencia-se na intensidade emocional b) Eles foram capturados pelos vizinhos do senhor Lobo,

que a remetente pretende transmitir, valendo-se de auxiliados pela guarda do Banco.

recursos como hipérboles, apóstrofes ansiosas,


a) O narrador usa o presente “são” e “asseveram” em

reiterações, pontuação expressiva, além do léxico que lugar do pretérito perfeito “foram” e “asseveraram”

associa sentimentos (“coração”, “meus olhos não para realçar e dar vivacidade a um fato passado.

choram”, “Eu amo ... detesto” “desgraçada”, “perdida”), b) O pretérito perfeito indica que o fato narrado (a

religião (“Cristo”, “anjo”, “Senhor”) e morte (“sepultura”, perseguição) ocorreu no passado, anteriormente à

“coração morto”, “sepulcro”). Amor, religião e morte são chamada dos vizinhos para identificar os perseguidos e

temas que balizam a experiência humana que a visão testemunhar contra eles.

romântica valoriza. Ao afirmar “O pintor retrata uns olhos, e não explica as

Resposta: B funções ópticas do aparelho visual”, Camilo Castelo

 O narrador informa que “Afonso de Teive antes queria Branco deixa transparecer, de forma irônica, sua discor-

renegar da virtude... que expor-se à irrisão (zombaria) de dância dessa pretensão de alguns autores.

pessoas daquele quilate” — isto é, ele preferia


“abandonar os valores familiares”, que representavam “a
virtude”, a ficar mal aos olhos de seus amigos elegantes
de Lisboa.
Módulo 43 – Gonçalves Dias:
Resposta: B
poesia indianista
 A carta de Teodora tem o objetivo de “converter” Afonso,
“salvá-lo” da vida de “alegrias... muito falsas” a que o via
 a) Quanto aos contextos políticos, em 1843, há a etapa de
superação da crise do Período Regencial e encami-
entregue. Para tanto, descreve o seu estado com grande
nhamento para a consolidação do Estado Nacional
intensidade emocional, procurando tocar Afonso, invoca
Brasileiro, tal como se definiu no período de 1850-70
Cristo e assume o papel de “pobre mulher” — ou seja,
(apogeu do Segundo Reinado). Já no contexto do
apela a valores culturais como a religião e a submissão
século XX, em 1924, há a crise da República
social da mulher.
Oligárquica, manifestada desde 1922 em eventos como
Resposta: A
 a) Ratoneiro: ladrão que faz pequenos furtos; salteador, a fundação do PCB, a eleição presidencial competitiva

assaltante. Estugar: apressar; aligeirar o passo. entre Artur Bernardes e Rui Barbosa e o Levante dos 18

b) No contexto, podem-se deduzir os sentidos por meio do Forte, marcando o início do movimento tenentista –

das passagens: “... receou que o tomassem por um cujo ápice ocorreria em São Paulo, com a Revolução de

dos salteadores e estugou o passo”; “O senhor 1924 e a subsequente Coluna Miguel Costa – Prestes.

Manuel Caetano... fugiu também”; “Os vizinhos do Contextos sociais: Em 1843, há a sociedadade

senhor Lobo... correram atrás deles... e apanharam- aristocrática escravista, predominantemente rural, com

nos”. marginalização/exclusão dos segmentos populares. Em

a) Almeida fugiu para que não fosse tomado como 1924, a sociedade é predominantemente burguesa em

salteador, tentando evitar um mal-entendido à porta do processo de urbanização, com crescente inserção das

capitalista Lobo, que tinha gritado que havia ratoneiros camadas trabalhadoras urbanas e grande afluxo de

dentro de sua propriedade. Manuel Caetano fugiu imigrantes.

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b) Quanto às diferenças estéticas, o poema de Gonçalves Os versos são redondilhos menores (5 sílabas poéticas) e,
Dias possui rima, tem como tema principal o neste poema, representam a marcha do guerreiro indígena
saudosismo da pátria e a exaltação da Natureza heroico, típico da poesia indianista brasileira.
brasileira e constitui uma obra matriz das que lhe
A história dos grandes guerreiros era passada às novas
seguiram nessa tópica, no Brasil. Já o poema de gerações pela tradição oral: um velho guerreiro contava
Oswald de Andrade não possui rima, tem como tema para os meninos a vida do grande herói.
principal a saudade do mundo urbano e constitui uma O velho Timbira afirma que viu a história que conta, ou
paródia dos versos de Gonçalves Dias. Quanto às seja, ele usa do seu próprio testemunho para dar
diferenças ideológicas, o poema de Gonçalves Dias, credibilidade ao seu relato.
pertencente à escola romântica, caracteriza-se pelo
nacionalismo ufanista. Já o poema de Oswald de
Andrade, pertencente ao movimento modernista, Módulo 44 – Um clássico romântico: a
caracteriza-se pelo ufanismo paulista/paulistano, o que “Canção do Exílio” de
constitui revisão intertextual da Canção do Exílio. Gonçalves Dias
 A poesia indianista foi um dos movimentos artísticos mais
expressivos a fim de definir uma identidade ao Brasil na  O poema de Oswald de Andrade dialoga com o afamado
primeira metade do século XIX e, para tal, a figura do texto de Gonçalves Dias, porém a intertextualidade
indígena idealiza uma origem inocente e guerreira, proposta pelo modernista dialoga com elementos
imagem recorrente nos poemas líricos e épicos do autor histórico-sociais do Brasil ao salientar, por exemplo, o ouro
romântico, Gonçalves Dias. e a terra do país.
Resposta: A Resposta: C
 A proposição II está incorreta, pois o recurso expressivo da  Embora o poema de Oswald de Andrade, que evoca A
repetição é recorrente em diversos poemas de Carlos canção do exílio, possua métrica regular, apresenta
Drummond de Andrade como, por exemplo, No Meio do originalidade nas rimas e a sua produção não é afeita aos
Caminho, Visão 1944, Quadrilha, entre outros. preceitos românticos de idealização da natureza.
Resposta: D Resposta: E
 O poema expressa a voz do indígena sobre a espoliação  Gonçalves Dias é um dos principais expoentes da
cultural e material desse povo pelo europeu, e os versos produção romântica brasileira e fez parte da chamada
conferem um juízo de valor negativo a respeito da ação 1ª geração do período, que exaltava a imagem do indígena
cruel e violenta do branco. como símbolo nacionalista.
Resposta: E Resposta: B
 O tema — saudade da terra natal — é comum aos dois  a) A ideia de exílio como “lugar longínquo” está presente
textos. Em ambos, são exaltadas as belezas do lugar de no termo longe, que aparece no poema seja como
origem, em contraste com o que o eu lírico experimenta advérbio (estrofes 1, 3 e 4), seja como substantivo
no “exílio” a que as circunstâncias o levaram. Além do (estrofe 5). Já o sentido de “isolamento” se encontra
tema, há entre os dois textos alguma semelhança formal, no adjetivo só (estrofes 3 e 4).
pois ambos são compostos em versos curtos de larga b) Ao caracterizar o local para onde quer voltar como um
tradição popular: redondilhos maiores, no poema de lugar “onde tudo é belo / e fantástico”, o eu lírico o
Gonçalves Dias, e redondilhos menores, dispostos aos imagina como fora do comum, ideal, pródigo no que se
pares, na letra de Goiá e Belmonte. refere aos aspectos positivos ligados à Natureza (“O
 O texto idealiza o índio guerreiro, herói nacional segundo céu cintila”) e à emotividade (“maior amor”). Eleva-o,
ótica romântica. pois, a um nível mítico ou arquetípico, cujo caráter ideal

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e inalcançável é resumido na expressão “o longe”, que


fecha o poema.
 Não se trata de plágio, nem de apropriação indevida do
poema de Gonçalves Dias. Como inúmeros outros poetas,
Drummond “revisita” o texto capital do lirismo saudosista
romântico para extrair dele sugestões temáticas e formais
para o seu próprio poema, que é modernista, elípitico,
alusivo, contido, “drummondiano”. É um trabalho artístico
que “dialoga” com o texto original por procedimentos de
jogo intertextual. Não se reproduzem no poema
modernista a métrica e a rima que, pela cadência das
redondilhas maiores e pelas rimas agudas em á, fizeram
da “Canção do Exílio” um dos poemas mais
mneumônicos do cancioneiro nacional.
Resposta: C
 Tanto o Hino Nacional quanto a “Canção do Exílio”
assumem uma visão bastante idealizada da natureza
brasileira. Em ambos, o Brasil é descrito como uma
espécie de paraíso natural.
O texto reforça a imagem de um paraíso tropical, os
elementos que reforçam esta ideia são: a Sabiá, o bosque
e as palmeiras.

Notar a tonicidade padrão fraca-fraca-forte: mi-nha-TER-ra,
em contraste com a tonicidade fraca-forte: as-A-ves.
Resposta: B
A elipse por zeugma ocorre em “Nossa vida mais
amores”, em que se subentende a forma verbal “tem”, já
presente em orações anteriores.
Resposta: D

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