literatura
apostila 02
Abapuru - Tarsila do Amaral - Modernismo Brasileiro.
O PRÉ-MODERNISMO (1902-1922)
Euclides da Cunha, Graça Aranha,
Lima Barreto, Augusto dos Anjos
e Monteiro Lobato
Contexto Histórico
Os ventos pré-modernos anunciavam uma Europa
prestes a declarar a 1ª Grande Guerra (1914-1918). O
homem começa a sofrer a consciência de um mundo
cada vez mais populoso e fragmentado como um quadro
cubista. As denúncias realistas não foram suficientes para
acordar e modificar o status quo.
O Brasil começa a viver, a partir de 1894, um novo
período de sua história republicana: A posse do paulista
Prudente de Morais, primeiro presidente civil, desfecha a
“República da Espada” dos marechais Deodoro e Floriano.
Instaura-se então a “República do Café-com-Leite”.
São Paulo e Minas Gerais se revezam na presidência
do Brasil, numa sucessão de governos atrelados aos
ricos cafeicultores e proprietários rurais, os mesmos que
apoiaram o fim da monarquia, e logo após rejeitaram
Deodoro, acertando-se com Floriano.
É a época da vinda dos Imigrantes (italianos,
japoneses, alemães etc.) para trabalharem nas fazendas
de café, economia única e central do Brasil. Inicia-se o
ciclo da borracha na adormecida Amazônia. São Paulo e
Rio de Janeiro se urbanizam e crescem cada vez mais.
São Paulo enfrenta greve operária reivindicando a jornada
de 8 horas, durante reprimida pela polícia.
Eclode a Guerra do Contestado, conflito armado
ocorrido na região situada entre os estados de Santa
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Trabalhadores do Brasil - Tarsila do Amaral.
Catarina e Paraná (1912 a 1916), onde camponeses
liderados por um homem de nome José Maria, que se
dizia profeta, revoltam-se contra a República e por ela são
combatidos até a morte. No Nordeste, o grito de guerra
dos esquecidos pela nova república. Na Bahia ocorre a
Revolta de Canudos, tema de Os Sertões, de Euclides
da Cunha. No Ceará padre Cícero lidera seu rebanho
contra as forças do governo. O sertão vive a hora e a
vez de Lampião.
Na realidade, Pré-modernismo é um termo genérico
que designa uma vasta produção literária que abrangeria
os primeiros vinte anos deste século. Nesse período
conviverão autores das mais variadas tendências e estilos
literários, desde os poetas parnasianos e simbolistas a
escritores realistas, naturalistas e impressionistas.
O despertar e a preocupação com o esquecido
interior do país dão origem a um novo regionalismo, mais
realista e mais nacional, revelando um Brasil pitoresco e
marginalizado pelos centros políticos e culturais do Rio
de Janeiro e São Paulo.
Essa revelação crítica acaba mostrando também
um Brasil rico e autêntico culturalmente. A gente e as
coisas do nosso país, não mais só a faixa litorânea,
desenvolvida, mas também o sertão, servirão de grande
inspiração e bandeira aos ditos modernos de 1922. Será
também o momento da exploração de uma linguagem
mais nacional e mais cotidiana, que começa a afastar-se
em definitivo da linguagem lusitana e formal do século
XIX. Por isso a designação desse período literário de
PRÉ-MODERNISMO.
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Principais Autores e Obras
EUCLIDES Rodrigues Pimenta DA CUNHA: Nascido
em Cantagalo, no Rio de Janeiro em 1866. Órfão, foi criado
por tias na Bahia. Estuda na Escola Militar, mais tarde, de
volta ao Rio. Positivista e republicano, após a proclamação
forma-se em Engenharia Militar e Ciências Sociais. Como
jornalista é enviado a Canudos para reportar sobre a
revolta de Antônio Conselheiro, que o governo pretendia
monarquista para justificar o massacre. Lá chegando,
Euclides da Cunha conheceu a verdadeira razão de tanta
revolta: não se tratava de ressaca monarquista, mas sim
de fome, miséria e precárias condições de vida.
Os Sertões é de vital importância pela denúncia
contida na revelação deste pedaço de Brasil esquecido.
Aliás, esta será a bandeira mais alta dos pré-modernistas:
Revelar a qualquer preço o interior do país, do jeito
precário em que ele se encontrava, e criticar esteticamente
os responsáveis por tal. Com características também
naturalistas e cientificistas, Euclides faz um verdadeiro
trado sobre a raça e o meio da gente de Canudos em
Os Sertões, denunciando, registrando e divulgando o
acontecido para o resto do país.
Afonso Henriques de LIMA BARRETO: Nasceu no Rio
de Janeiro em 1881. Filho de português com escrava,
sofreu o preconceito da cor e da condição social. Atrás de
um sonho de seu pai, tentou estudar e quase se formou.
Parou para trabalhar e sustentar a família quando o pai
adoecera mentalmente e fora internado. Trabalhou no
funcionalismo público e como jornalista, defende sua visão
socialista de mundo. Frustra-se no seu primeiro romance,
Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909),
condenado pela crítica pela aparente falta de cuidado do
autor com as relações evidentemente autobiográficas com
as personagens do romance.
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A vida difícil e a falta de sucesso na literatura lhe
causaram duas internações por alcoolismo. Em 1911
publica em folhetins sua obra-prima, Triste Fim de
Policarpo Quaresma, que só sairá em livro em 1915.
Morreu pobre e não reconhecido como grande escritor
que fora. Obras: Recordações do Escrivão Isaías Caminha
(1909); Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915); Numa
e Ninfa (1915); Vida e Morte de M.J. Gonzaga (1919); Os
Bruzundangas (1923); e Clara dos Anjos (1948), esses
dois últimos com publicação póstuma.
José Pereira GRAÇA ARANHA: Nasceu em São Luís
do Maranhão. De família rica, foi advogado, professor,
magistrado e diplomata na Europa. Inicia também o Pré-
modernismo com a obra Canaã (1902), revelando outro
episódio histórico neste início de século no Brasil: a vida
dos imigrantes europeus em suas colônias, seus valores
e conflitos com a nova terra.
Mais tarde irá integrar o elenco modernista, rejeitando
sua cadeira na Academia de Letras por considerá-la
retrógrada e conservadora.
José Bento MONTEIRO LOBATO: Natural de Taubaté,
interior de São Paulo, nascido em 1882. Formou-se
advogado trabalhando na promotoria pública em Areias,
na região do vale do Paraíba paulista. Em 1911 herda
uma fazenda do avô, passando a dedicar-se à agricultura.
Homem inteligente e astuto, percebeu os problemas do
agricultor, tais como queimadas prejudiciais à saúde da
terra, realizadas, em ignorância, pelo próprio homem da
terra. A falta de saúde deste — subnutrição, ligada à parca
higiene e cuidados básicos — serão percebidas pelo
escritor que as denunciará através da famosa personagem
Jeca Tatu, no livro Urupês.
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Como um autêntico pré-moderno, se interessará pelas
coisas do nosso folclore interiorano. Nascerão daí as
histórias e personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Viverá nos EUA algum tempo, suficiente para o criador
de Emília perceber e defender veemente a necessidade
de se explorar o petróleo no Brasil, o “combustível do
modernismo”. Será combatido pelas multinacionais que
dominavam o mercado do ouro negro e também pelos
brasileiros comprometidos com essas empresas.
Funda a Editora Monteiro Lobato & Cia, a primeira
editora nacional. Mais tarde fundaria a Companhia Editora
Nacional e a Editora Brasiliense. Empresário e escritor, a
princípio amargou a chegada do Modernismo não entendo
bem a proposta esteticamente revolucionária. Cansado
de não ser ouvido e considerado pelo adulto, passa a
dedicar-se à literatura infantil, respeitando a criança em
sua inteligência e capacidade de entender e modificar o
mundo.
AUGUSTO DOS ANJOS: Mesclando alguma visão
simbolista com expressões retiradas do cientificismo
reinante na época, o paraibano Augusto dos Anjos
destaca-se por uma produção única, marcada pela
amargura e pelo pessimismo. Tuberculoso, falece em
Minas Gerais em 1914, aos 30 anos de idade, e tendo
publicado apenas um livro, EU, em 1912.
VERSOS ÍNTIMOS
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta Pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga
Apedreja esta mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
MODERNISMO - 1ª FASE:
A GERAÇÃO DE 22
Oswald de Andrade, Mário de Andrade
e Manuel Bandeira
Contexto Histórico
O Brasil crescia. As questões sociais tornavam-se mais
complexas com a industrialização crescente, sobretudo
em São Paulo. Em 1907, por exemplo, contávamos com
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3.358 indústrias no país. Em 1920 tínhamos 13.336.
Com isto aumenta o operariado, surge e consolida-se o
pequeno burguês, acompanhado pelos comerciantes, os
funcionários públicos, militares e profissionais liberais.
A esta sociedade brasileira acrescenta-se o número
aproximado de 1,5 milhão de imigrantes aqui chegados,
constituindo-se em operários rurais e urbanos até o
início da 1ª Grande Guerra. São Paulo vive greves e
o socialismo russo começa a ser defendido pelo meio
sindical, a princípio apenas anarquista sob o comando
dos imigrantes italianos. Em março de 1922 é fundado o
Partido Comunista do Brasil.
Arthur Bernardes, mineiro (que representava as
oligarquias do café-com-leite), disputa as eleições
para presidente com Nilo Peçanha (representante das
oligarquias de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul), contrariando o sucessivo domínio dos
paulistas e mineiros. Bernardes ganha a presidência, sob
protestos armados e violentos pelo país, liderados por
jovens militares que a ele se opunham.
Ocorre a rebelião dos tenentes no Forte de Copacabana,
episódio conhecido com “Os 18 do Forte”. Em São Paulo
os tenentes se revoltam, dois anos depois, e lutam contra
o governo, exigindo voto secreto, justiça e o fim da
corrupção. Em 1924, rebeldes militares organizam-se no
Rio Grande do Sul e formam a famosa Coluna Prestes,
liderados pelo capitão Luís Carlos Prestes. Esta tropa
pretendia dar continuidade a luta iniciada pelos tenentes.
Chegou a reunir 1000 homens. Percorreu, deste o Rio
Grande do Sul, cerca de 24.000 km pelo país, acabando
internada na Bolívia pelo exército brasileiro.
A Semana de Arte Moderna
O Modernismo chega ao Brasil com a Semana de Arte
Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, nos
dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, sob o comando e
organização de um grupo de artistas e intelectuais, que