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Lição 4 – Resguardando-se de sentimentos ruins

TEXTO ÁUREO
 

“Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
ajuntou não separe o homem.” (Mt 19.6)

VERDADE PRÁTICA
 

A vontade de Deus para o casamento é que ele seja vitalício. Na


continuidade do Sermão do Monte, Jesus condena o adultério.

INTRODUÇÃO COMENTÁRIO
 

No Sermão do Monte, em que Jesus evidencia a justiça e o caráter


do discípulo acima da postura dos escribas e fariseus, a
preservação do casamento foi muito bem destacada. Ao evocar o
sétimo mandamento, “não adulterarás” (Êx 20.14), a intenção do
Mestre é colocar o casamento no seu devido lugar, como foi designado
pelo próprio Deus (Gn 2.24). Na continuidade do seu ensino, Jesus expressa
que tudo começa no coração. Assim, cai por terra as teorias quanto ao divórcio,
as evasivas criadas por aqueles que pensam em se separar de seu cônjuge,
visto que, os que realmente são dominados pelos valores ensinados por Cristo,
procuram, em tudo, a preservação da pureza, da vida conjugal (Hb 13.4) e do
verdadeiro lar cristão. Em Mateus 5.27-32, Jesus esclarece que não há espaço
para uma moral dupla, como deseja uma sociedade degenerada.

COMENTÁRIO

 Ao lermos Mateus 5.27-32, estamos diante do segundo discurso de Cristo em


relação ao que a Lei dizia: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém,
vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no
coração, já adulterou com ela” (Mt 5.37).
Novamente, Jesus vai confrontar os ensinos dos escribas e dos fariseus quanto
a esse mandamento mosaico, para os quais o pecado em si estaria
simplesmente atrelado à sua prática, ou seja, o ato físico consumado.

Mais uma vez podemos notar que a forma como os escribas e os fariseus
atentavam para a Lei estava ligado tão somente à letra, jamais para o seu real
espírito. Nisso consistia sua morte (2Co 3.6). A Lei sempre procurou ressaltar
algo muito além do que apenas o literal.

Isso se comprova muito bem no caso da ordem de não adulterar, pois, quando
se lê Êxodo 20.17, o Senhor atentou para o lado interno do homem dizendo:
“Não cobiçarás a mulher do teu próximo”. Com isso estava destacando a
importância do que havia dentro do coração.

Compreendemos que a Lei de Deus nas Escrituras era clara quanto à


penalidade para quem cometesse o adultério, todavia, conforme acima
dissemos, ainda no Antigo Testamento podemos ver que era condenável
também o pecado cometido com os olhos e com o coração (Jó 31.1-7), o que
foi menosprezado pelos intérpretes antigos, que de modo bem forte agora será
tratado por Cristo.

Lendo Romanos 7.7, Paulo diz que deixou de compreender a Lei tão somente
no sentido da prática. Sua nova concepção nasce quando compreende que a
ordem divina do “Não cobiçarás”, em sua real natureza, estava mostrando que
o pecado da concupiscência começa do lado de dentro. Assim, a interpretação
judaica era muito mecanicista.

Pela leitura que se faz do sétimo mandamento (Êx 20.14), é notável que Deus
desejava preservar o casamento de relações sexuais ilícitas entre pessoas
casadas. É interessante observar que antes mesmo da Lei tal prática já não era
permitida, pois era considerada como pecado hediondo (Gn 39.9), e os casos
de poligamia e divórcio, como aconteciam dentro do contexto mosaico, eram
resultados da dureza do coração do homem, jamais foi uma concessão divina,
posto que seu propósito sempre foi a monogamia, como bem ensinado por
Jesus (Mt 19.4-8).

Quando Jesus realça o sétimo mandamento está dando grande valor ao


casamento e mostrando que o adultério é um pecado que começa no coração.
É triste dizer, mas muitos estão querendo fugir de suas responsabilidades da
vida a dois buscando simplesmente explicações psicológicas, questões de
temperamentos, fragilidades humanas, sem levar em consideração sua
natureza pecaminosa (Sl 51.5).
Estamos vivendo hoje em uma sociedade que tolera tudo, e o mais triste é que
isso está penetrando no meio do povo de Deus, em especial nas academias,
em que se procura justificar essas questões de modo delicado. Todavia, se não
atentarmos realmente para o que é o pecado, nunca iremos entender de fato o
que é a salvação e um viver em santidade. Jesus foi incisivo quanto ao
adultério porque sabia muito bem que a monogamia sempre foi o projeto do
Pai, por isso intensificou muito mais a questão.

Para uma sociedade sem Deus, as respostas para as mais diversas crises no
casamento são dadas como evasivas, mas é bom lembrar que, desde o
momento em que o homem pecou, ele sempre tem procurado dar respostas
que não assumem seus pecados, mas transferindo suas culpas a outros e a
determinadas circunstâncias, como fez Adão (Gn 3.11-13). Por esse motivo,
recorrem às filosofias, às concepções humanas, aos argumentos racionais.
Isso aumenta cada vez mais o seu o pecado, pois o não reconhecimento de
sua prática e males são sempre desastrosos (Rm 6.23). A única saída é
confessar os pecados, sejam eles em atos ou em pensamentos, para receber
de Jesus o perdão (Pv 28.13; 1Jo 1.7,9).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 86-88.

 Jesus observou um contraste entre a tradição dos rabinos e seu próprio


entendimento da lei a respeito do homicídio, e podemos constatar a mesma
abordagem elíptica aqui no mandamento que proíbe o adultério. A proibição
abrange todos os aspectos que fazem parte do contexto mais amplo deste
pecado específico. Mais uma vez, Jesus inicia contrapondo os pontos de vista
da tradição e sua própria visão: Ouvistes que foi dito: Não adulterarás (v. 27).

Antes de analisarmos especificamente 0 que Jesus disse, observemos a


autoridade com que ele o faz. Em outro texto, nosso Senhor declara: “Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18) e “Porque eu não tenho
falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o
que dizer e o que anunciar” (Jo 12.49). Portanto, o pronunciamento que Jesus
faz aqui em Mateus 5 é nada menos do que um pronunciamento do próprio
Deus.

Sproul., RC. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora


Cultura Cristã. pag. 93.

 Em seu ensino sobre a cobiça, Jesus atinge literalmente o cerne da questão
ao explicar que o pecado começa no coração. Com uma linguagem forte, Jesus
descreveu como seus seguidores devem se libertar desse pecado. Embora não
sejamos capazes de ficar completamente isentos de pecados até que
finalmente nos encontremos com Cristo, nesse ínterim devemos prestar
atenção aos nossos pensamentos, motivos e tentações. Quando encontrarmos
um hábito ou um padrão de pensamento que sejam devastadores,
precisaremos nos livrar deles.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a


Impressão: 2010. Vol. 1. pag. 41.

Palavra-Chave: CASAMENTO

I- A CONDENAÇÃO DO ADULTÉRIO

1- Definição de adultério.

 No grego temos o verbo moichéuo, “cometer adultério”, “ser um adúltero”, “ter
relação ilícita com a mulher de outro”; da mulher: “permitir adultério, ser
devassa”. Biblicamente, o adultério é definido como uma relação sexual que
um homem casado tem com uma mulher que não é sua esposa ou vice-versa.
A idolatria era chamada, figuradamente, de adultério (Jr 3.8,9; Ez 23.37).
Jamais se deve pensar que as ordens divinas em relação ao adultério fossem
pesadas demais; na verdade, por meio dessas prescrições da Lei, o que se
colimava era preservar o casamento, a fidelidade conjugal, a família. O
mandamento “não adulterarás” trata-se de um dique que preserva a fidelidade
conjugal e a família, a célula mater da sociedade.

COMENTÁRIO

 Atentando para a Palavra de Deus quanto a esse assunto, compreendemos


que o adultério fala de um tipo de coabitação entre uma pessoa que é casada
com outra que não seja seu cônjuge. À luz de 1 Coríntios 5.1, isso é
denominado de fornicação, que do grego é o substantivo feminino porneía, que
significa ter relação sexual ilícita.

Adultério, fornicação, homossexualidade, lesbianismo, relação sexual com


animais, relação sexual com parentes próximos (Lv 18), relação sexual com um
homem ou mulher divorciada (Mc 10.11,12). No aspecto metafórico, fala da
adoração a ídolos, da impureza que se origina na idolatria, na qual se incorria
ao comer sacrifícios oferecidos aos ídolos.

As Escrituras Sagradas se posicionam firmemente contra o adultério porque no


propósito divino isso jamais deveria ser praticado, para que o casamento e a
família fossem preservados e para que a santidade no lar se desenvolvesse
cada vez mais (Êx 20.14; Dt 5.18). Quando lemos Levítico 18.20, novamente
se nota que o Senhor proibia um homem de se deitar com a mulher do seu
próximo, quem fizesse isso estaria cometendo pecado grave perante Deus, o
qual prontamente deveria ser morto (Lv 20.10; Jo 8.5).

Interessante observar que no Antigo Testamento não ficou esclarecido como


deveria ser a execução (Dt 22.22), todavia, pelo texto de João 8.5,
possivelmente ela se dava por meio de apedrejamento (Ez 16.40; 23.43-47).

Apesar de toda exigência divina para rejeitar a prática do adultério, tendo-o


como algo condenável, podemos notar que muitos se envolviam nesse pecado
hediondo, não respeitando a Palavra de Deus (Jó 21.9-11; Pv 7.5-22). Um
exemplo lamentável de uma pessoa conhecida na Bíblia que o praticou,
envolvendo um homicídio, foi o rei Davi. Ele, mesmo tendo se arrependido,
pagou um alto preço por causa de seus pecados (Sl 51.1-5).

O certo é que quando atentamos para Êxodo 20.14, com tal ordem divina o
Senhor desejava colocar uma cerca no casamento e na família para que não
fossem atingidos, isso porque quem procurasse fugir do adultério e da
prostituição estava desejando desenvolver uma vida de santidade para com
Deus, pois não se tratava apenas de uma questão de conduta, mas uma real
prova de uma pessoa que tinha em seu coração sentimentos e desejos puros.

Amados, não podemos tratar a questão do adultério como algo normal, uma
simples falha. Ele jamais deve ser praticado como também nem se deve alojar
em nosso coração a cobiça, mas devemos ser vigilantes sempre fazendo um
exame meticuloso para saber se de fato estamos vivendo à luz da Palavra de
Deus, para realmente sabermos se estamos alicerçados na fé (2Co 13.5),
assim, preservaremos nossos casamentos e famílias.
Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do
Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 89-90.

 ADULTÉRIO Relação sexual entre uma pessoa casada e outra que não é seu
cônjuge. Geralmente o adultério era perdoado nas culturas pagãs,
particularmente quanto à parte do homem que, embora fosse casado, não era
acusado de adultério a não ser que coabitasse com a esposa de outro homem
ou com uma virgem que estivesse noiva.

O adultério é estritamente proibido tanto no AT (o sétimo mandamento, Ex


20.14; Dt 5.18; punível sob a lei com morte por apedrejamento, Lv 20.10; Dt
22.22ss.) quanto no NT (Rm 13.9; G1 5.19; Tg 2.11). O Senhor Jesus estendeu
a culpa pelo adultério da mesma forma como fez para outros mandamentos,
incluindo o propósito ou o desejo de cometê-lo ao próprio ato em si (Mt 5.28).

Tecnicamente, o adultério se distingue da fornicação, que é a relação sexual


entre pessoas que não são casadas. Entretanto, a palavra grega pormia,
uniformemente traduzida como “fornicação”, inclui toda lascívia e irregularidade
sexual (cf. MM; e Vine, EDNTW). Por essa razão, muitas igrejas consideram
que os textos em Mateus 5.32 e 19.9 permitem o divórcio e o novo casamento
nos casos em que o casamento anterior tenha sido dissolvido por causa de
adultério. Outros se recusam a reconhecer qualquer base válida para um novo
casamento depois do divórcio e, são da opinião de que tudo resulta em
adultério aos olhos de Deus. Entretanto, não se pode chegar a essa conclusão
por essa exceção estar ausente dos paralelos nos Sinóticos, da analogia de
Paulo em Romanos 7.2,3, ou de seu tratamento da questão em 1 Crónicas
7.10-11. Ela pode ter sido tão universalmente reconhecida que não precisaria
de uma reafirmação toda vez que o divórcio e um novo casamento fossem
mencionados.

A atitude de Jesus em relação à mulher surpreendida em situação de adultério,


como foi registrado em João 8.1-11, tem sido questionada com o argumento de
que essa passagem está ausente do antigo e melhor manuscrito e, onde ela
realmente aparece, suas interpretações são extremamente variadas.
Entretanto, “está fora de qualquer dúvida que ela faz parte da tradição
autêntica da igreja” (A. J. MacLeod, “John”, NEC). O Senhor Jesus Cristo não
foi conivente com o pecado da mulher, nem a condenou à morte por
apedrejamento como seus acusadores haviam sugerido. “A verdade, que
estava nele, repreendeu a mentira dos escribas e fariseus. A pureza que
estava nele condenou a lascívia que estava nela” Missiort and Message of
Jesus, p. 795) e Ele disse à mulher que partisse e que não voltasse a pecar.
Na Bíblia Sagrada, o termo adultério (em hebraico na’aph e em grego
moicheia) é muitas vezes utilizado como uma metáfora para representar a
idolatria ou apostasia da nação e do povo comprometido com Deus.

Exemplos disso podem ser encontrados em Jeremias 3.8,9; Ezequiel 23.26,43;


Oséias 2.2-13; Mateus 12.39; Tiago 4.4. Esse uso está baseado na analogia do
relacionamento entre Deus e o seu povo, que é semelhante ao relacionamento
entre o marido e a sua esposa, uma característica comum tanto do AT (Jr 2.2;
3.14; 13.27; Os 8.9) como do NT (Jo 3.29; Ap 19.8,9; 21.2,9). O casamento,
que envolve ao mesmo tempo um pacto legal e um vínculo de amor, representa
um símbolo muito adequado do relacionamento entre Cristo e a sua igreja (Ef
5.25-27).

A poligamia, como uma relação legalizada entre o homem e várias esposas e


concubinas a ele subordinadas, era permitida na época do AT, mas proibida no
NT (por exemplo, 1 Tm 3.2,12). Ela não envolvia o pecado do adultério.

Apesar das rigorosas proibições bíblicas, o adultério foi amplamente difundido


em diferentes épocas e tornou-se particularmente ofensivo como parte do culto
cananeu de adoração aos Baalins, que incluía a prostituição “sagrada”.
Indicações de uma lassidão moral são encontradas em referências como Jó
24.15; 31.9; Provérbios 2.16-19; 7.522; Jeremias 23,10-14. O caso de Davi foi
especialmente notório e deu aos inimigos de Deus ocasião para blasfemar (2
Sm 11.2-5; 12.14). Essa lassidão moral generalizada prevaleceu durante o NT
e pode ser claramente observada em Marcos 8.38; Lucas 18.11; 1 Coríntios
6.9; Gálatas 5.19; Hebreus 13.4 e em mais de 50 referências feitas no NT ao
conceito de fornicação (porneia, porneuo, porne, pomos).

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 35-36.

 ADULTÉRIO. O termo adultério é empregado nas Escrituras para designar


relação sexual, com consentimento mútuo, entre um homem, casado ou
solteiro, e a esposa de outro homem. Semelhantemente, o termo é usado para
descrever o relação sexual, com consentimento mútuo, entre uma mulher
casada e um homem que não seja seu marido.

O termo é usado no NT para descrever o conceito expresso pelo termo nã’aph,


ou “adultério” no AT. No antigo Israel, o significado primário do termo era o ato
físico de infidelidade conjugal. Entretanto, gradualmente o termo foi empregado
para designar adoração idólatra e falta de fidelidade para com Deus. O
significado do ato e as conotações do termo parecen ter-se aprofundado e
ampliado com o tempo.
No antigo Israel, o adultério era expressamente proibido (Ex 20.14; Dt 5.18) e
era punível com a morte (Lv 18.20; 20.20; Dt 22.22-24). Em poucas nações,
tais como a França, a legislação, mesmo no século 20, prescreve que o
adultério seja considerado crime. Em 1955, o Instituto Americano de Leis
decidiu não incluir a infidelidade conjugal em seu modelo de código penal.

Nos primórdios da história de Israel, o ato físico do adultério era severamente


condenado. A morte, aparentemente por apedrejamento, era a punição
prescrita, tanto para homens como para mulheres apanhados em adultério. A
pena de morte era aplicada no caso de adultério cometido não somente pelas
mulheres casadas, mas também as que fossem noivas ou comprometidas (Lv
20.10; Dt 22.22-25).

A legislação judaica requeria que o adultério fosse claramente comprovado (Jo


8.4 e a Mishna Sota I, 4; V, 1 e VI, 1 e 25). Se uma esposa fosse acusada de
adultério, tinha de provar sua inocência, mediante o ritual da “água amarga”
(Nm 5.11-30 e Mishna Sota I, 4 e VI, 25). Esse ritual não era prescrito para
todas as mulheres acusadas de adultério em Israel, mas somente para as
israelitas legítimas (e algumas delas, ao que parece, eram isentas desse
processo). No ritual, a mulher tinha de beber uma porção inócua de água
purificada, misturada com o pó do chão do Templo (ou tabernáculo) e com a
tinta usada para escrever o juramento recitado pela mulher durante o ritual. Se
a acusada fosse inocente, supostamente a ingestão da poção não lhe causaria
nenhum dano. Este processo era realizado diante do Sinédrio (Sotah I, 4);
exigia-se a presença de duas testemunhas do suposto ato de adultério, antes
da mulher ser convocada. Se a mulher fosse considerada culpada com base
em provas circunstanciais, o marido era compelido a se divorciar e a acusada
perdia todos os direitos provenientes do casamento. Além do mais, a adúltera
não tinha permissão de casar com o amante {Sotah, V, 1). Originalmente, esse
tipo de julgamento era destinado a mulheres culpadas, mas aos poucos foi
sendo abolido devido ao relaxamento moral entre a população masculina de
Israel. Por volta do ano 30 d.C., a pena de morte por adultério caiu em Israel,
juntamente com outras formas de pena capital.

Além disso, o primeiro significado do termo adultério foi usado no AT para


descrever o culto idólatra e apostasia da religião (Is 57.3; Jr 3.8,9; Ez 23.43).
Oséias descreveu Israel como a mulher adúltera de Yahweh, devido à sua
apostasia religiosa (Os 2.2).

No NT, Cristo enfatizou o ensino de que o pensamento pecaminoso ou adúltero


era equivalente ao ato do adultério. Alguns acreditam que esses ensinos, e
outros similares, mostravam que ele concordava com a interpretação mais
estrita da lei, corrente em seus dias (Mt 5.17). Cristo também ensinou que, sob
certas circunstâncias, o casamento dissolvido pelo divórcio culminava em
adultério (5.27-32). O adultério é mencionado no NT como um dentre vários
pecados, que, na falta de arrependimento, excluiriam o indivíduo do Reino de
Deus (ICo 6.9; G1 5.19-21). O adultério foi proibido por Cristo (Mt 19.3-12; Jo
8.4) e pela Igreja Primitiva. Advertências severas eram feitas aos ofensores,
para que tais práticas não se repetissem (ICo 5.6). Além disso, o adultério
espiritual, ou a conformação do cristão com o sistema do mundo, ou de
religiões não cristãs, é claramente proibido no NT (Tg 4.4; Ap 2.20-23).

Tanto no Antigo, como no Novo Testamento, o adultério é expressamente


proibido, no sentido físico e espiritual.

Lambert

MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1.


pag. 132-133.

2- A posição de Jesus quanto ao adultério.

Para Jesus, a gênese do adultério está no coração, começando com um olhar


cobiçoso e pensamentos impuros que levam à prática sexual ilícita. O
posicionamento do Mestre vai além de tudo o que, no Antigo Testamento, era
permitido ao homem: divorciar-se de sua mulher (Dt 24.1). Cristo vai ao cerne
da questão, e fala de um coração profano e contaminado, capaz de olhar
cobiçosamente para uma mulher e, sem motivo, conceder carta de divórcio à
esposa. No seu Sermão, Jesus evidencia a importância de homens e mulheres
absterem-se de pensamentos impuros, tanto fora como dentro do casamento,
pois é dessa forma que se consegue manter a pureza em três níveis: sexual,
moral e social. Precisamos ter a consciência de que, perante Deus, com o bem
expressou Cristo, uma intenção errada é tão pecaminosa quanto um ato, por
isso, devemos sempre buscar pensamentos puros e bons (Fp 4.8).

COMENTÁRIO

 Dissemos anteriormente que a citação do sétimo mandamento feita pelos


opositores de Cristo, os escribas, não estava errada. O problema consistia na
exposição que faziam sobre ele, a qual era defeituosa. É possível que fizessem
apenas a citação de Êxodo 20.17 e Deuteronômio 5.18, não ligando o assunto
com o décimo mandamento, no qual estava bem claro: “Não cobiçaras a
mulher do próximo”. Caso tivessem feito essa ligação, teriam compreendido o
que Jesus vai ressaltar, ou seja, que é do coração que procede tudo, inclusive
o adultério (Mt 15.19).

A aplicação do sétimo mandamento feita pelos judeus era totalmente legalista.


Eles apelavam apenas para os atos exteriores, e, por vezes, valiam-se da
prática da Lei para consecução de seus intentos malignos, como no caso da
mulher que foi apanhada em ato de adultério (Jo 8.1-11). Ao contrário deles,
Jesus faz menção ao antigo mandamento da Lei, mas destaca que o adultério,
assim como o homicídio, tem sua gênese nos desejos maléficos que nascem
no coração.

O posicionamento de Jesus contra o adultério é algo que está bem explícito,


conforme ensinou, um simples olhar para uma mulher com um desejo impuro
no coração já era considerado adultério. O Senhor não deu qualquer abertura
para a prática do adultério, quando perdoou a mulher pecadora. Antes que ela
fosse embora ordenou: “Vá e não peques mais” (Jo 8.11).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag.

 Os rabinos limitavam o adultério apenas à infidelidade sexual. Jesus, porém,


amplia o significado desse pecado para o olhar lascivo e o coração impuro.
Embora os homens não possam julgar o olhar adúltero e o coração impuro,
Deus, que sonda os corações, condena a intenção como se pecado
consumado fosse. Não basta ir para a cama do adultério para quebrar o sétimo
mandamento; basta ter a intenção de arrastar para a cama a pessoa
ilicitamente desejada.

Concordo com Warren Wiersbe quando ele diz que o desejo e a prática não
são idênticos, mas, em termos espirituais, equivalentes. O “olhar” que Jesus
menciona não é apenas casual e de relance; antes, é um olhar fixo e
demorado, com propósitos lascivos. Portanto, o homem descrito por Jesus olha
para a mulher com o propósito de alimentar seus apetites sexuais interiores,
como um substituto para o ato sexual em si. Não é uma situação acidental,
mas um ato planejado.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag.


201.

 No Novo Testamento, percebe-se que Deus mudou o seu tratamento para com
a questão da fidelidade conjugal. Nos Evangelhos, não há uma só referência à
poligamia, à bigamia, ou a qualquer outro tipo de arranjo para o casamento,
com aprovação do Senhor Jesus Cristo.

Quando ele responde aos fariseus, acerca do divórcio (Mt 19.1-12), o Mestre
vai buscar, na origem de tudo, a base para a união conjugal, reafirmando o
plano original do Criador (Gn 2.24). Uma só carne não é uma união emocional,
espiritual, em que com as orações um santifica o outro. É a relação sexual
entre o esposo e a esposa. Deus vê, no ato conjugal, uma união tão completa,
que a define como sendo “uma só carne”. Através desta é que o cônjuge crente
santifica o outro, mesmo que este não seja um cristão (1 Co 7.14). O texto
refere-se à santificação do corpo apenas.

Em sua doutrina sobre o divórcio, no mesmo texto, Ele mostra a monogamia, a


união heterossexual, e o valor da fidelidade conjugal: “Eu vos digo, porém, que
qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e
casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também
comete adultério” (Mt 19.9 — grifo nosso). A expressão sublinhada “sua
mulher” e casar “com outra” é a reafirmação de Cristo quanto ao casamento
monogâmico. Ele não diz “suas mulheres”, ou casar com “outras mulheres”, o
que reforça a visão sobre a união conjugal.

Mesmo havendo o divórcio, Ele confirma que aquele que “casar com outra”
comete adultério, se não for por infidelidade.

Esse texto mostra, de igual modo, o efeito espiritual, moral, ético e social do
adultério. E uma quebra tão terrível da aliança do casamento, que destrói os
laços espirituais e morais do matrimônio. Quando há infidelidade, quando há
adultério, se não houver o perdão, se não houver o arrependimento sincero do
cônjuge infiel, se não houver condição emocional para a convivência, o
casamento acaba; a aliança é rompida.

Só um milagre no coração do cônjuge traído pode fazer com que aceite a


restauração dos laços emocionais e espirituais, estraçalhados por um ato (ou
muitos) de infidelidade por parte do seu cônjuge.

Renovato. Elinaldo,. A Família Cristã e os Ataques do Inimigo. Editora


CPAD. 1ª edição: 2013. pag. 68.

 3- Os males do adultério.

 O adultério sempre é prejudicial para a estrutura familiar, e qualquer


infidelidade no relacionamento a dois sempre será ruim, pois gera
desconfiança, feridas emocionais, desvalorização, desrespeito, fraqueza e
queda na vida espiritual. Por isso, é importante evitar tanto a prática do ato
como os pensamentos indevidos. Além disso, os prejuízos espirituais são ainda
maiores. Não havendo pureza em seus pensamentos, nem havendo lealdade
com seu cônjuge, o relacionamento entra em perigo e deturpam a mente do
cristã o que, tendo a mente de Cristo, só deve pensar coisas bobas (1Co 2.16).
O adultério deve ser evitado a todo custo, pois suas consequências são
devastadoras; além de ser pecado, fere a santidade de Deus (Pv 5.3-8)

COMENTÁRIO

Todo cristão deve ser consciente de que a prática do adultério, quer seja por
parte do esposo, quer seja por parte da esposa, é sempre algo ruim e que traz
consequências desastrosas para a vida a dois. É bom lembrar também que
qualquer ato de infidelidade no casamento já está ferindo o sétimo
mandamento.

O que cada cônjuge deve considerar é que para a vida a dois caminhar bem e
em total harmonia, em uma relação social gloriosa, é preciso que entre ambos
haja respeito, consideração e honra. A inclusão do sétimo mandamento no
Decálogo busca salvaguardar a vida do casal e da família. O casal deve
procurar viver em oração e santidade, e evitar toda e qualquer relação sexual
ilícita, inclusive o adultério na mente, procurando sempre manter o matrimônio
e o leito puros (Hb 13.4; Lv 20.10).

Pelo sétimo mandamento, o Senhor Deus desejava manter a sacralidade do


casamento, e também destaca a família como uma unidade social, mostra que
não pode haver ditadura do corpo físico, e todo pensamento impuro já constitui
uma infidelidade contra o cônjuge.

Quando o adultério entra no relacionamento conjugal, não se pode mensurar


as desagradáveis consequências que irão sofrer. A primeira coisa que
acontece é a queda na vida espiritual, desmoralização, quebra da lealdade,
colocando em jogo o amor, a alegria, o respeito, a comunhão com os filhos,
parentes e demais familiares.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 92-93.

Porque os lábios da mulher adúltera destilam favos de mel. A fraqueza do


homem diante dos pecados sexuais é notória, mas a mulher adúltera, que
provavelmente significa a mulher (talvez casada por uma vez) agora prostituta,
desenvolve uma linguagem atraente que garante que um jovem seja levado
pela sua concupiscência. O impulso sexual do homem é excitado por quase
tudo: pela visão, pela fala, pelo toque, pelo odor, pelos sons e pelo paladar. Ver
as notas sobre Pro. 2.16 quanto à mulher estranha (prostituta). A fala dela é
doce para o homem ouvir, porquanto o sexo é algo doce, e ela sabe que
linguagem usar para excitar o homem.

Os sonhos podem retratar o sexo, metaforicamente, como comer doces, pelo


que a metáfora do autor é aprovada por Freud, sendo veraz para com aquilo
que sabemos sobre a simbologia dos sonhos. O mel era a coisa mais doce que
os antigos conheciam, pelo que o autor usa isso para falar do sexo. Então a
boca da mulher torna-se mais suave do que o óleo, e as palavras rolam de
seus lábios de maneira gentil e convincente. Os homens, que já são vítimas de
sua própria biologia, facilmente caem diante de qualquer provocação. A mulher,
esperta em seu negócio de sedução, não se arrisca a perder, e derruba o
jovem com um potente golpe. Somente grande dose de sabedoria salvará o
homem da conversa suave e doce de uma mulher, na hora crítica da tentação.
Algumas das palavras atraentes que a mulher pode empregar são dadas em
Pro. 7.13-21. “Ela usa da linguagem mais enganadora, lisonjeadora e atrativa,
que cai de sua boca como o mel cai do favo, e sua fala, tal como o mel, é a
mais suave de todas” (Adam Clarke, in loc.).

A Omissão, conspícua por Sua Ausência. Em todas as passagens que


escreveu sobre o sexo ilícito, o autor sacro falou somente sobre a mulher
sedutora, quando, obviamente, os homens quase sempre falam de maneira
doce e sedutora. Obter o sexo ilegítimo era tão fácil para um homem em Israel
que talvez os homens, no antigo povo de Israel, se mostrassem menos
sedutores que os homens atuais, pelo que a maior parte da sedução era
efetuada pelas mulheres, quer fossem elas esposas, ex-esposas ou prostitutas.
Contudo, é difícil acreditar nisso. Parece haver certo preconceito contra as
mulheres, não somente no livro de Provérbios, mas também na maior parte da
literatura de sabedoria, quando esses livros abordam questões sexuais. Ver no
Dicionário o artigo chamado Sedução.

Mas o fim dela é amargoso como o absinto. O autor sagrado estava pintando
um “quadro doce” sobre o jogo do sexo. De súbito, porém, começa a advertir-
nos sobre os tremendos resultados de continuar esse jogo. Uma mulher
sedutora é extremamente doce no começo da conquista amorosa, mas, no fim,
a coisa toda torna-se em um absinto amargoso. Presumivelmente, ele está
dando a entender alguma espécie de julgamento, interno e externo, resultante
do ato de adultério. Principalmente, porém, o autor sacro temia que um bom
aprendiz, que estivesse progredindo em seus estudos, seria desviado do reto
caminho, abandonando a vereda da sabedoria, que o mestre, tão
laboriosamente, havia conseguido fazer o aluno seguir. O versículo que se
segue nos dá a advertência mais urgente sobre essa questão toda.
Absinto. Antigamente era o elemento mais amargo conhecido pelos homens.
Isso posto, o jogo da sedução começa como a coisa mais doce possível (o
mel), porém termina como a coisa mais amarga possível (o absinto).

Agudo como a espada de dois gumes. Esta metáfora fala do poder destruidor
do sexo ilícito. A espada de dois gumes matou muitos homens, e era um mui
temido instrumento de matar. O versículo seguinte (vs. 5) intensifica a questão,
trazendo ao quadro o sheol. Uma espada de dois gumes podia cortar em duas
direções ao mesmo tempo; e, por igual modo, a prostituta podia prejudicar o
corpo e a alma. “Esse é o contrário de sua fala suave e doce” (John Gill, in ioc).

Os seus pés descem à morte. Encontramos aqui um paralelismo no qual a


morte e o sheol se referem à mesma coisa. Deve haver poucos versículos, nos
livros de Salmos e Provérbios, que deixam entendido que o sheol é mais do
que o sepulcro. Ver Sal. 88.10; 139.8 e 148.7, e Pro. 2.18. Mas se o autor
sagrado queria fazer do sheol aqui mais do que a morte física, não se esforçou
para deixar seu ensinamento claro. A doutrina do sheol (hades) era semelhante
a muitas outras, passando por um longo período de crescimento. A maior parte
das referências ao sheol, no livro dos Salmos, aponta somente para a
sepultura. O primeiro passo para longe dessa ideia simplista foi encarar o sheol
como um lugar onde espíritos destituídos de mente vagueavam ao redor como
fantasmas, mas sem consciência pessoal ou memória. Aparentemente é nesse
ponto que encontramos a doutrina, em Sal. 88.10. Em seguida, os fantasmas
tornaram-se espíritos que tinham consciência, mas o próprio hades continuava
como um único grande compartimento, tanto para almas boas quanto para
ruins. Em seguida, o lugar foi dividido em dois compartimentos. Um deles era
um lugar de juízo, ao passo que o outro era um lugar de bem-aventurança. Luc.
16 é o ponto onde encontramos essa situação. Então havia o conceito de
missões de misericórdia no hades, conforme encontramos em I Enoque (livro
pseudepígrafo do período intermediário entre o Antigo e o Novo Testamento) e
também em I Ped. 3.18-4.6. Avançando um pouco mais, temos os evangelhos
de Nicodemos e de Pedro, que dão uma distorção universalista à missão
remidora, tendo Cristo limpado completamente o hades, aplicando assim ao
diabo um golpe de morte, pois assim ele perdeu todos os seus súditos. Ver na
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia os artigos chamados Hades e
Descida de Cristo ao Hades.

No que tange a Pro. 5.5, supomos que a doutrina do sheol ainda estava no
primeiro estágio. Aí, o sheol representava somente o sepulcro. Mas alguns
estudiosos supõem que está aqui entendida, se não mesmo declarada, a idéia
de punição no sheol para os que se afastaram da vereda da sabedoria.
Contudo, calculo que a ameaça é a padronizada, a morte física prematura, um
terror para a mente dos hebreus.
Este versículo tem sido cristianizado para apontar para os tormentos dos
condenados no inferno, mas sem dúvida isso é um anacronismo.

Pode haver aqui uma alusão ao tipo de prostituta que buscava os cemitérios,
reunia-se ali com seus clientes, ou os levava até ali, e tinha seus prazeres
ilícitos entre os sepulcros. Essas prostitutas eram chamadas de bustuariae
boechae (Vid. Turnebi Advesar. 1.13.cap. 19). Sem dúvida, isso envolvia
alguma espécie de patologia, não sendo improvável que o autor do livro de
Provérbios tivesse em mente um costume tão mórbido.

Ela não pondera a vereda da vida. O vs. 5 deste capítulo, falando sobre os
passos da prostituta que conduzem ao sheol, já se referia à vereda da
iniqüidade. Agora, porém, o vs. 6 deixa explícita a alusão. Um bom estudante,
entretanto, deveria ponderar os seus passos (ver Pro. 4.26). E também
precisaria ver se, por um momento de prazer, valeria a pena arriscar uma
morte prematura. Deveria ele seguir na vereda da mulher, ou deveria
permanecer na vereda da sabedoria do mestre? A vereda da mulher ímpia é
tortuosa (Revised Standard Version), é errante (nossa versão portuguesa). Por
certo essa vereda não segue o caminho da vida (Pro. 4.18), antes, é uma
vereda onde os homens tropeçam e descem para as trevas (Pro. 4.19). O
original hebraico não é muito claro, mas fica evidente é que a prostituta se
lançou por uma vereda precipitada, com resultados incertos. Ela desce de
cabeça para baixo sem atender a nenhum apelo, e outro tanto acontece às
suas vítimas. A mulher toma o dinheiro do homem (vs. 10), e ele pode terminar
apanhando uma doença venérea (vs. 11), que pode estar mencionada ou não
nesse versículo. O que é claro é que o jovem sofrerá de algo muito pior do que
uma doença venérea.

O Preço da Infidelidade (5.7-14)

Agora, pois, filho, dá-me ouvidos. Aqui, uma vez mais, o mestre convida seu
estudante a ouvir cuidadosamente. Cada novo assunto abordado merece uma
nova chamada para ouvir atentamente, apurando bem os ouvidos. O ensino é
agora generalizado. O jovem continua sofrendo a sua tentação. Aqui o mestre
chama à ordem os seus filhos, toda a sua escola de disciplina, os seus filhos
espirituais. Ele fez uma aplicação geral do que vinha dizendo a seu filho. Já
havia dado muitas instruções e agora estava em meio a uma importante
instrução acerca da conduta sexual. Todos os seus alunos deveriam estar
sofrendo tentações nessa área, pelo que todos precisavam ouvir, para seu
próprio bem. “Não será suficiente ouvir, a menos que se ponha em ação
apropriada as minhas palavras” (T. Cartwright, in loc.).

Afasta o teu caminho da mulher adúltera. O jovem havia sido convencido pela
conversa adocicada e suave da prostituta. E agora a acompanhava à casa
dela. Mas mesmo assim, ainda não era tarde demais. Ele ainda podia virar-se e
fugir. Mas se ela conseguir fazê-lo entrar na casa dela, ele estará perdido.
Portanto, enquanto segue caminho, ele deve tomar a sua decisão. Ele olha
para a mulher, tão jovem, tão bela, tão desejável. E olha para um caminho
lateral, pelo qual poderia escapar. Ele olha e olha, pois a cada passo aproxima-
se mais da armadilha armada por ela. Ele já caiu na teia daquela mulher, e,
como se fosse uma viúva-negra, ela se aproxima para matá-lo. A voz do
mestre é ouvida em seu coração: “Foge! Não continues a acompanhá-la por
outro passo!”. Ele continua indeciso. É nesse ponto que se encontra a maior
parte dos homens, quanto a essa questão.

Porque a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas para o reino das
sombras da morte.

(Provérbios. 2.18)

“Os homens não devem enveredar pelo caminho da tentação, confiando nas
próprias forças. Pois poderão ser envolvidos e vencidos antes que tenham
consciência disso” (John Gill, in loc.). “A grande salvaguarda em todas essas
tentações, conforme todos os moralistas concordam, a uma só voz, é: foge!”
(Ellicott, in loc.).

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por


versículo. Editora Hagnos. pag. 2558-2559.

Um apelo de pai para filho (vv. 1-6)

Como temos feito notar, a Sabedoria assume aqui o papel de pai comum, mas
sabemos que se trata da divina Sabedoria, encarnada em Cristo. Logo, o seu
conselho não é tanto o de um bom pai que quer evitar a perdição do filho, mas
de Deus, que sabe dos perigos que decorrem de tais situações sociais. A
advertência é que os lábios dessa mulher adúltera destilam mel, e as suas
palavras são mais suaves que o azeite, mas o fim dela é amargoso como o
absinto (vv. 3, 4). As figuras são patéticas e verdadeiras. A mulher blandiciosa
usa de palavras suaves, trejeitos, apenas para atrair o incauto, que cai na
ratoeira como rato guloso; o fim é amargo como o absinto. Esta especiaria é
usada no Velho Testamento como símbolo de sofrimento (Deut. 29:18; Jer.
9:15). É um bálsamo amargoso como fel. O gozo do pecado é assim, amargo
no final. Mas não é só fel (absinto), é ainda espada de dois gumes, que corta
em qualquer direção (v. 4). Esta espada é usada em muitas passagens para
indicar a sua perigosa utilidade, pois corta de um lado e do outro (Apoc. 1:16;
19:15, 21). É mencionada no Velho e Novo Testamentos 36 vezes. Os pés
dessa mulher levam ao inferno, assim traduzido aqui, mas Seol no hebraico.
Em o Novo Testamento é Hades. Tanto num caso como no outro significam o
lugar dos mortos. Portanto, tais práticas levam à morte, e quantos morrem
antes do tempo por causa delas. Basta ser um pecado contra a ordem divina,
contra a sociedade e contra a família, para ser de terríveis conclusões. As
doenças venéreas, já referidas noutro lugar, estão assolando a mocidade em
diversos países, onde há estatísticas a esse respeito. A sífilis, de tão
negredada lembrança, é uma das suas consequências. Então, filho meu,
conserve discrição (v. 2). Não te enleies com essa gente. Essa mulher não
pondera a vereda da vida, anda como vagabunda, sem o saber. O verbo
ponderar, já examinado noutro passo, é sinônimo de pesquisar ou examinar.
Uma tradução oferecida por um notável comentador, D. Winston Tomas, diz:
“Para que ela não venha a examinar o caminho da vida; seus caminhos são
instáveis e ela não o sabe.” A versão que estamos usando diz: Ela não pondera
a vereda da vida, ande errante nos seus caminhos, o não o sabe. Parece-nos
uma tradução perfeita. Uma mulher vagabunda é o que significa não conhecer
o seu próprio caminho. É uma mulher sem noção das coisas; irresponsável no
seu trajeto pecaminoso.

O assunto é de tal magnitude, que o pai sente-se constrangido a dobrar o


apelo, usando outros argumentos, mais solenes e imperiosos. Afasta essa
mulher do teu caminho (v. 8). É uma adúltera, uma pecadora. Não te aproximes
da porta de sua casa. Passa de largo, procura outra rua, outra vereda, para
que não dês a outrem a tua honra, nem os teus anos a cruéis (v. 9).

Mesquita. Antônio Neves de,. Provérbios. Editora JUERP.

SINOPSE I

O Senhor Jesus condena claramente a prática do adultério.

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

Jesus e a dimensão prática do divórcio

“No subsequente estado adúltero da mulher que se casa com novo


companheiro, a falta é colocada aos pés do primeiro homem que, de acordo
com Jesus, obtém um divórcio frívolo. Ele precipita um estado adúltero da
mulher que se casa outra vez (que então pode não ter tido voz ativa no
segundo matrimônio, dado seu estado social). Mais tarde, quando Jesus
insistiu nesta visão estrita do divórcio, os fariseus perguntaram: ‘Então, por que
mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?

Ele respondeu que Moisés tolerou essa prática ‘por causa da dureza do vosso
coração. Jesus manteve a posição anterior exarada pela lei natural quando
instruiu o povo que o Criador designou que o marido e a esposa fossem uma
só carne e nunca se separassem (Mt 19.4-11). Na passagem em foco, Jesus
diz que o homem que se divorcia da esposa por qualquer razão, exceto por
infidelidade patrimonial, e se casa com outra mulher, comete adultério. A
vontade de Deus é a permanência do matrimônio nesta terra. Assim, Malaquias
escreve que Deus diz que o casal é um a carne e que Ele ‘aborrece o repúdio
[ou odeia o divórcio]’, sobretudo por causa dos efeitos sobre os filhos (Ml 2.14-
16). (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.46-47).

II – O QUE REGE O CORAÇÃO REGERÁ O CORPO

1- O que procede do coração.

O pecado não está restrito apenas ao ato, mas também a pensamentos


impuros, malignos, cuja fonte é o coração (Mt 15.19). Do hebraico, “coração”;
lebab, fala do homem interiormente, vontade, alma, inteligência. Trata-se do
lugar dos desejos, das emoções e paixões. No seu aspecto figurativo, o
coração refere-se ao caráter moral. Um cristão que tem o coração
transformado tem um viver totalmente diferente, visto que seu coração é regido
pela Palavra (Cl 3.16).

COMENTÁRIO

Quando nos detemos ao estudo da antropologia teológica, em especial na


parte que trata sobre a constituição da natureza humana, passamos a entender
que o homem é um ser constituído tanto de parte material como imaterial. Essa
verdade é compreensiva a partir do momento que se lê Gênesis 2.7. Dessa
formação surge um ser singular, formado de matéria-prima, sendo que a vida
vem pelo sopro de Deus. Do lado material, o homem é um ser com artérias,
cérebro, músculos, cabelo, e, na parte imaterial, estão a alma, o espírito,
coração, emoções, vontade, mente, consciência.

Pelo relato bíblico, o homem foi feito por Deus em um estado de perfeição, sem
pecado, porém, como tinha liberdade para escolher, decidiu então pecar, o que
trouxe consequências terríveis para ele e para toda a humanidade. O ser que
outrora era perfeito, tornou-se doente por causa do pecado.

Desde o momento em que o homem peca, ele fica separado de Deus. Não
somente isso, tanto a parte material como a imaterial passaram a estar
corrompidas, por isso que em Gênesis 6.5 é dito que a maldade se multiplicava
sobre a face da terra, posto que os propósitos do seu coração eram maus. O
profeta Isaías mostra que a doença chamada pecado se alastra no homem e o
contamina por completo (Is 59.1-3). O apóstolo Paulo diz que na terra não
havia um justo sequer (Rm 3.10).

Diante desse cenário, compreende-se que não havia como esperar coisas
perfeitas de homens imperfeitos, cujos corações estavam dominados pelos
desejos pecaminosos, ou seja, a carne reinando completamente. Daí a
necessidade de um novo nascimento e uma nova mente, o que só seria
possível por meio de Jesus Cristo (2Co 5.17; Rm 12.2; 1Co 2.16).

Em Mateus 12.34 está escrito que a boca fala do que o coração está cheio.
Com isso podemos compreender que, desde o momento em que o pecado
entrou no mundo, aqueles que não nasceram de novo, que não foram
transformados por Cristo Jesus, têm corações maléficos com desejos
pecaminosos, de modo que seus pensamentos e atitudes não podem ser
diferentes. Podemos facilmente conhecer as árvores pelos seus frutos, não é
diferente com a natureza humana, como bem ensinado por Jesus (Mt 7.20).

O que falamos expressa o que pensamos, isso porque quando analisamos a


questão do pecado, ele também atingiu a mente do homem. No aspecto
veterotestamentário, a palavra mente é compreendida como coração, de modo
que ela carrega no seu bojo o sentido de pensamento, entendimento,
inteligência, percepção.

Corações maus vão pensar e produzir coisas más. Note que os que não
nasceram de novo em Cristo Jesus têm mentes reprováveis diante de Deus
(Rm 1.28). Como a mente está corrompida e cega pelo pecado, jamais pensará
aquilo que é bom, perfeito, santo, justo e verdadeiro (Ef 4.17,18; Tt 1.15; 2Co
4.4). Não há como árvores más produzirem frutos bons.
Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do
Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 93-95.

O coração do homem é o laboratório onde o pecado é processado.

Do coração emana aquilo que, de fato, contamina o homem. O coração é um


solo crivado de ervas daninhas. De acordo com Tasker, as palavras de um
homem, que sobem do coração, são muitas vezes expressões de pensamentos
assassinos, adúlteros, falsos e difamadores que constituem a mola mestra das
suas más ações. Nessa mesma linha de pensamento, Spurgeon diz que
assassinatos não começam com o punhal, mas com a maldade do coração.
Adultérios e prostituições são primeiramente entretidos no coração antes de
serem efetuados pelo corpo. O coração é a gaiola de onde essas aves impuras
voam. Todos esses males terríveis fluem de uma fonte, o coração do homem.

Jesus arremata o assunto, deixando meridianamente claro que a contaminação


não vem de comer sem lavar as mãos.

A contaminação não vem de fora, mas procede de dentro; emana do coração.


O coração é o laboratório onde o pecado é processado. O coração é a fonte
poluidora da vida. Jesus aponta o coração como a fonte dos sentimentos,
aspirações, pensamentos e ações dos homens. Essa fonte é, também, a fonte
de toda contaminação moral e espiritual.

Jesus não tinha ilusões sobre a natureza humana como alguns teólogos
liberais e mestres humanistas da atualidade.

Mateus cita sete pecados que brotam do coração contra doze pecados
mencionados por Marcos (Mc 7.21,22). O remédio é um novo coração. É mais
difícil ter um coração limpo do que mãos limpas.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag.


482-483.

 Mas o que sai da boca…» O coração é a fonte dos pensamentos (isto é, é


usado como símbolo), das ações interiores do homem, da mente e do caráter
espiritual. D o in te rio r do homem é que procedem as coisas que realmente
contaminam o homem à vista de Deus. E possível que Jesus tenha indicado
aqui que as «ações» do coração são reveladas pelas palavras, isto é, que a
boca profere as palavras que indicam nossa natureza. Podemos compreender,
pela conversa de uma pessoa, qual o estado geral de sua alma qual o seu
progresso ou retardamento na vida espiritual, e quais condições pecaminosas
prevalecem em sua vida. As palavras representam os pensamentos, os
desejos e as ações dos homens. Adam Clarke diz sobre essa questão: No
coração do homem não regenerado escondem-se as sementes de todos os
pecados. A iniquidade sempre é concebida no coração, antes da palavra ou da
ação. Há alguma esperança de que o homem possa abster-se do ato real do
pecado em seu próprio coração, essa fonte abominável de corrupção,
enquanto não fique totalmente limpo? Penso que não.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo


por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 434.

2- O homem é o que pensa.

É sabido por todos que o homem é o que ele pensa ou sente. Os pensamentos
e ideias que estão no seu “ homem interior” são os motores que colocam em
ação todo o seu corpo e são determinantes para sua conduta. Desse modo, o
homem colherá aquilo que semear (Gl 6.7). O que semeia o pensamento da
cobiça, desejo outra mulher, não demorará para que concretize isso na prática.
A cobiça é algo que começa no coração, é como uma pequena semente
plantada que vai gerar o fruto do pecado. Cada um é engodado por sua própria
cobiça, a qual dará luz ao pecado, que sendo consumado, leva à morte (Tg
1.14,15).

O Senhor Jesus falou que aquilo que rege o coração se evidenciará no viver
diário de uma pessoa por meio de seus atos (Mt 15.19; Lc 6.45), o que foi
muito bem explicado por Paulo, quando chamou de obras da carne as ações
produzidas por um coração pecaminoso (Gl 5.19-21). Ninguém está isento de
tentações, mas é preciso revestir-se do novo homem interior produzido por
Cristo para jamais cometer os atos pecaminosos por meio do corpo (Ef 4.24;
Rm 6.12,13). A saída é pedir para Jesus fazer a transformação e nos dar um
novo coração (Ez 11.19; 18.31).

COMENTÁRIO
A partir do momento em que o ser humano passa a estar em Cristo, ele recebe
uma nova mente (1Co 2.16), e o Senhor assume controle de sua vida, usando-
o e ajudando-o a compreender a sua vontade e a sua Palavra (Lc 24.45; 1Co
14.14,15). A mente do cristão caminha sempre para a perfeição, desejando
compreender a vontade do Senhor (Ef 5.17), a santidade (1Pe 1.13) e no
desejo de viver cada vez mais no amor do Senhor (Mt 22.37).

Como nova criatura, o cristão pensa como Cristo Jesus, pois tem uma nova
mente, e segue o conselho de Paulo: “Finalmente, irmãos, tudo o que é
verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo
o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum
louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8, ARA). Ele
ainda acrescenta que tudo é puro para os puros (Tt 1.15). Essa pureza de vida
foi destacada nas beatitudes de Cristo: os limpos de coração (Mt 5.8). O cristão
salvo tem seus pensamentos cativos em Cristo Jesus (2Co 10.5).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 95.

[..] as palavras revelam o que está no coração. O coração é como um tesouro


bom ou mau. O homem bom tira do bom tesouro o bem; o homem mau tira do
mau tesouro o mal. De mesma forma, o homem tira do coração suas palavras,
pois a boca fala do que está cheio o coração. Tentar encobrir a sujeira do
coração com palavras bonitas é consumada hipocrisia. E o mesmo que tentar
encontrar as virtudes mais nobres nos abismos mais profundos da iniquidade.
John Charles Ryle diz corretamente que a conversa de um homem revela o
estado de seu coração. Nossas palavras desvendam as profundezas da nossa
alma. Nossas palavras trazem à luz as camadas abissais do nosso interior.

Hendriksen diz: “Se o que está no coração é bom, o excedente que vaza será
bom; se o conteúdo do ser interior é ruim, o que vaza pela boca será também
ruim”.

LOPES. Hernandes Dias. Lucas Jesus o Homem Perfeito. Editora Hagnos. 1


Ed 2017.

 O coração é o tesouro, e as palavras e as ações são os frutos ou o produto


desse tesouro, v. 45. Já vimos isso em Mateus 12.34,35. O amor de Deus e de
Cristo reinante no coração define um homem como um bom homem; e um
homem poder realizar aquilo que é bom, consiste em um bom tesouro. Mas
onde reina o amor do mundo e da carne existe um mau tesouro no coração, a
partir do qual um homem perverso está continuamente gerando aquilo que é
mau; e através daquilo que é exposto você pode saber o que está no coração,
assim como pode saber o que está em um recipiente (água ou vinho, por
exemplo), pelo que é tirado dele, João 2.8. “Da abundância do coração fala a
boca” – o que normalmente fala a boca, fala com gosto e prazer, geralmente
concorda com o que é íntimo e mais elevado no coração: aquele que fala da
terra é da terra, João 3.31. Isto não significa que um homem bom não possa
deixar escapar uma palavra má, e um homem mal intencionado não possa
fazer uso de uma palavra boa para servir a um propósito mau. Mas, na maioria
das vezes, o coração é como as palavras que são proferidas: fútil ou sério. Em
vista disso, estamos interessados em ter os nossos corações cheios, não
apenas com o bem, mas com a abundância do bem.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS


A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 568.

3- Sujeitando o corpo ao Espírito Santo.

O caminho para que o cristão possa dominar bem o corpo é viver na


dependência do Espírito Santo (Gl 5.16). Jesus fez uso de figuras de
linguagem e de modo hiperbólico para mostrar como se deve fazer para vencer
os instintos sexuais. Ao sugerir “ Se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o
e atira fora para longe de ti” (Mt 5.29a), Cristo não tinha a intenção de incitar
alguém a praticar a mutilação dos membros do corpo. O uso aqui é totalmente
metafórico, dando ênfase de como o cristã o pode crucificar a carne com suas
paixões e sujeitar o seu corpo ao Espírito para que não seja instrumento do
pecado (Gl 5.24; Tt 3.3-5). Jesus não estava falando de cortar algum membro
do corpo, pois nada disso valeria enquanto o coração ainda estivesse cheio de
pecado. Um coração transformado pelo poder de Cristo mostrará atitudes de
sacrifício que visam glorificar a Deus (Rm 12.1; 1Co 6.20).

COMENTÁRIO

Teologicamente, quando falamos do corpo humano, podemos dizer que ele é o


veículo por meio do qual o Espírito trabalha, pode ser denominado como
Tabernáculo. Mear Pearlman afirma que se trata da bainha da alma, o que é
imaterial passa a ter contato com o material, físico através do corpo, assim,
pelo corpo é que se pode tocar, sentir, ver, apalpar, resumindo, ter contato com
o mundo exterior.
Aquilo que vem do lado de fora por parte do corpo só tem valor e sentido
quando é reconhecido pelo espírito humano. O ser capaz de perceber e
pensar, a consciência e a direção, como tratamos antes, fazem parte do
imaterial, portanto, como bem pontuou Raimundo Ferreira de Oliveira15: “O
espírito é o agente, enquanto o corpo é a agência”.

O corpo foi criado por Deus e tem seu propósito, todavia, é bem verdade que
depois do pecado ele se torna instrumento para a prática da iniquidade. Apesar
disso, quando o homem nasce de novo em Cristo Jesus e oferece esse corpo
para glória de Deus (Rm 6.13), passa a ser santuário (naos) do Espírito Santo.

Vivendo ainda com esse corpo mortal, que ainda não passou pelo processo de
transformação, o cristão precisa estar cheio do Espírito Santo para que as
obras carnais não venham a sobressair (Gl 5.16-20).

Nas palavras de Donald Guthrie (1999, p.173) aqueles que andam no Espírito
certamente não satisfarão à concupiscência da carne. Esse é um resultado
garantido pelo Espírito.

O cristão que vive no Espírito não terá seu corpo sujeito aos desejos
pecaminosos; primeiramente, porque conhece a Palavra de Deus; em segundo
lugar, sabe que um destino melhor o aguarda na eternidade, a qual poderá ser
com Deus ou sem Ele. Aqueles que praticam o pecado serão lançados com
todo o seu corpo no inferno, por essa razão o ser humano deve sempre viver
para agradar a Deus em tudo. Jesus nos ensina que não se deve brincar com o
pecado, esse mal tem que morrer em nossa vida (Cl 3.5), e, quando estivermos
diante de uma tentação, a melhor coisa a se fazer é erradicá-la de uma vez,
não procurando falsas explicações, meias verdades, concepções filosóficas ou
psicológicas. O certo é fazer como José: fugir (Gn 39). A recomendação
paulina continua altissonante: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa
santificação: que vos abstenhais da prostituição” (1Ts 4.3).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 96-97.

A vida cristã é um campo de batalha. Trava-se nesse campo uma guerra sem
trégua entre a carne e o Espírito. O Espírito e a carne têm desejos diferentes, e
é isso o que gera os conflitos.

Destacamos aqui três pontos importantes.

Em primeiro lugar, como vencera batalha interior. “Digo, porém: andai no


Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (5.16). A “carne”
representa o que somos por nascimento natural, e o “Espírito”, o que nos
tornamos pelo novo nascimento, o nascimento do Espírito. A carne tem desejos
ardentes que nos arrastam para longe de Deus, pois os impulsos da carne são
inimizade contra Deus. Os desejos da carne levam à morte. A palavra
grega epithumia, traduzida por “concupiscência”, é geralmente usada no
sentido de ansiar por coisas proibidas. A única maneira de triunfar sobre esses
apetites é andar no Espírito. Se alimentarmos a carne, fazendo provisão para
ela, fracassaremos irremediavelmente. Porém, se andarmos no Espírito, jamais
satisfaremos esses apetites desenfreados da carne.

Adolf Pohl diz que todos os povos conhecem bem a ideia de que a vida é como
um caminho que precisa ser trilhado.

O movimento básico da vida humana, portanto, é o passo da caminhada. Trata-


se de mais do que um mecânico “esquerda-direita, esquerda-direita”. Todo
caminho inclui um “de onde” e um “para onde”. Podemos desviar-nos do
caminho. Assim o “andar” constitui um movimento com sentido, direção e, por
conseguinte, qualidade. Da parte da carne surgem pressões transversais.
Contra elas Paulo faz valer agora forças pneumáticas. Andem no Espírito.

A carne tem uma inclusão para aquilo que é sujo.

Somente pelo Espírito de Deus podemos caminhar em santidade. Warren


Wiersbe ilustra isso da seguinte maneira: A ovelha é um animal limpo, que
evita a sujeira, enquanto o porco é um animal imundo, que gosta de se revolver
na lama (2Pe 2.19-22). Depois que a chuva cessou e que a arca se encontrava
em terra firme, Noé soltou um corvo, mas a ave não voltou (Gn 8.6,7). O corvo
é uma ave carniceira, portanto deve ter encontrado alimento de sobra. Mas,
quando Noé soltou uma pomba (uma ave limpa), ela voltou (Gn 8.8-12).
Quando soltou a pomba pela última vez e ela não voltou, Noé soube, ao certo,
que ela havia encontrado um lugar limpo para pousar e que, portanto, as águas
haviam baixado. A velha natureza é como o porco e o corvo, sempre
procurando algo imundo para se alimentar. Nossa nova natureza é como a
ovelha e a pomba, ansiando por aquilo que é limpo e santo.

LOPES, Hernandes Dias. GALATAS A carta da liberdade cristã. Editora


Hagnos. pag. 238-240.

Paulo dá um imperativo novo, mas relacionado: Digo, porém: Andai em Espírito


(16). O verbo grego traduzido por andai (peripateo) é termo comum no Novo
Testamento. Nos Evangelhos Sinóticos é usado exclusivamente em sentido
literal; no Evangelho de João, Apocalipse e Atos tem geralmente o significado
literal. Nos escritos de Paulo sempre é usado em sentido figurado, significando
“viver” ou “portar-se”, “conduzir-se”. Para viver essa vida de amor, os gálatas
têm de viver pelo15 Espírito. Neste contexto, Espírito (pneuma) não se refere
ao espírito humano nem ao Espírito divino do ponto de vista independente um
do outro, mas ao Espírito divino quando Ele habita o espírito humano. O
homem interior do crente tem de estar sob a força motivadora e capacitadora
do Espírito Santo. Isto está em contraste diametral com a vida anterior, que era
motivada pelos desejos da carne.

Esta vida nova vivida permanentemente debaixo do Espírito é possibilitada pela


apresentação da crise pessoal a Deus (ver comentários em 2.20). Antes de
viver em tal relação, a pessoa tem de primeiro entrar nela. Esta é a dupla
preocupação de Paulo.

O apóstolo preferiu declarar a consequência negativa do andar pelo Espírito: E


não cumprireis a concupiscência da carne (16). Quando o homem de fé vive e
anda pelo Espírito, duas coisas acontecem: a) A concupiscência (luxúria,
“desejos”, BAB, BJ, CH, NTLH, NVI)16 da carne (pecaminosa, cf. BV) não se
cumpre, ou seja, não é satisfeita.17 É porque o homem de fé não vive de
acordo com a carne. Paulo descreve vividamente os desejos satisfeitos da
carne como “as obras da carne” (19-21). b) A segunda coisa que acontece
quando o crente anda pelo Espírito é o resultado positivo: A vida do crente
produz o fruto do Espírito (começando com o amor). O contexto (15) indica que
o problema imediato era a falta desta frutificação de amor entre os irmãos
gálatas.

E. Howard. Comentário Bíblico Beacon. Galatas Editora CPAD. Vol. 9. pag.


68.

SINOPSE II

O que procede do coração que permeia o pensamento do homem de


terminarão seu comportamento

III- A INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO

1- O casamento na perspectiva bíblica.

Sabemos que o casamento é mais fundamental em todas as instituições


sociais (Gn 1.28; 2.24). Na perspectiva divina, o casamento deve ser uma
união permanente, em que homem e mulher entram em uma aliança a fim de
construir uma união única na mais perfeita intimidade. Não querendo jamais
que os votos do casamento fossem quebrados, Deus deu a ordem: “Não
adulterarás” (Êx 20.14). A singularidade dessa maravilhosa união foi destacada
por Cristo quando falou do vínculo conjugal, expressando que não são mais
dois, mas uma só carne (Mt 19.6). Paulo via essa união de maneira tão cândida
que comparou o amor de Cristo, que se sacrificou pela Igreja, ao amor do
marido para com a sua esposa (Ef 5.25).

COMENTÁRIO

No que tange à ética sexual no casamento é significante que o cristão atente


bem para o que a Bíblia diz sobre o assunto, para viver esse ideal não segundo
os pareceres de homens e mulheres cultos que não têm o temor de Deus e que
tratam desse tema sem qualquer temor ou reverência. A ética sexual cristã
quanto ao casamento não segue os moldes de uma cultura na qual tudo é
liberal em nome do prazer, do amor, mas, como dito antes, o cristão verdadeiro
sabe que tudo o que fizer deve ser para glória de Deus (1Co 10.31).

Na perspectiva bíblica, o casamento é feito entre um homem e uma mulher


debaixo da ordem divina (Gn 2.24). Isso é muito sério e tem que ser levado em
consideração. Paulo disse que não podemos nos conformar com o modelo ou
estilo de vida dessa sociedade (Rm 12.1,2). Por exemplo, é dito para os jovens
hoje que antes de se casarem podem experimentar o sexo para ver se
combinam com seu parceiro, contudo, a Bíblia ensina justamente o oposto.

O livro de Cantares, que é o livro do amor da vida a dois, mostra como deve
ser o amor do esposo e da esposa no relacionamento eros (amor sexual), e em
Provérbios é dito como o prazer entre ambos pode ser desenvolvido (Pv
5.18,19). Por meio da passagem de Gênesis 29.11,18, vemos que Jacó como
homem sentiu atração sexual por Raquel, mas ela só foi possuída por Ele
quando seguiu todo o costume da época, no momento em que foi entregue
pelo seu pai.

Ainda que de modo bem primitivo, as famílias tratavam sobre a união de duas
pessoas, e nessas tratativas havia a questão do dote e da cerimônia. Somente
quando tudo isso fosse cumprido era que se concebia a união a dois. Podemos
ler no livro do profeta Oseias 2.19,20 sobre o contrato de casamento, por meio
do documento da Comunidade Elefantina do século V a.C. Nele constava a
seguinte frase: “Ela é minha mulher e eu o seu marido desde este dia e para
sempre”.

A Bíblia relata que essa união deve ser marcada pela alegria e pelo prazer
conjugal (Ec 9.9; Pv 5.18,19), e na apreciação do corpo masculino e do
feminino, como bem exposto por Salomão em Cantares e por Paulo em 1
Coríntios 7.4. Pelas passagens citadas, compreendemos que o casamento era
tanto para a procriação como para o prazer da vida a dois (Dt 24.5).
Interessante observar que no Novo Testamento há duas figuras celibatárias
que darão grande valor e ensino ao casamento. O primeiro é Jesus, o segundo
é o apóstolo Paulo, que viu a relação entre o homem e a mulher semelhante à
relação entre Cristo e a Igreja (Ef 5.21-33).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 97-99

Myer Pearlman, na cerimônia de casamento em seu Manual do Ministro, afirma


o seguinte: “No jardim do Éden, Deus instituiu essa união a partir do primeiro
casal humano, a fim de tomar feliz toda a humanidade. Desde então os seres
humanos o têm praticado e, para dar-lhe consistência, o têm legalizado.

Pode-se dizer que o casamento é o contrato jurídico de uma união espiritual”.


Essa declaração é confirmada na Bíblia e na História.

As Escrituras Sagradas mostram que o casamento foi instituído por Deus no


jardim do Éden (Gn 2.18-25) e sancionado pelo Senhor Jesus em sua presença
nas bodas de Caná da Galileia (Jo 2.1-11). O propósito, entre outros, é a
felicidade, o companheirismo mútuo do casal e a procriação, a maneira legítima
da multiplicação dos seres humanos sobre a Terra.

Soares. Esequias,. Casamento, Divórcio E Sexo A Luz Da Bíblia. Editora


CPAD. pag. 13-14.

Os dois primeiros versículos são muito significativos em seu conteúdo, pois


informam sobre a última e decisiva ida de Jesus a Jerusalém. Essa ida a
Jerusalém representa para o Senhor o caminho para a sua morte na cruz.
Provavelmente ele ainda se encontra além do rio Jordão, porque vai
expressamente na direção dos seus inimigos.

A circunstância da ida a Jerusalém confere às palavras seguintes de Jesus


uma importância especial e séria. Jesus dá respostas para três questões
importantes, que mostram como deve ser a atitude de seus discípulos. Nelas
verificam-se linhas de ligação com o sermão do Monte, mas agora elas
recebem uma elaboração maior. São as questões do matrimônio, da
propriedade, e do agir humano em relação à graça.

O Senhor da comunidade é o Senhor da vida toda, singularmente do dia-a-dia.


É digno de nota que são justamente os fariseus que propõem a Jesus a
pergunta sobre o matrimônio, e que o fazem na forma de pergunta pelo
divórcio. Com ela retomam a questão que Jesus já havia respondido no sermão
do Monte (5.31ss; cf. ali o exposto sobre o assunto, especialmente sobre a
prática judaica do divórcio e suas consequências). Essa pergunta leva ao
questionamento da importância da lei como tal e do uso que dela fazia o
judaísmo. É a pergunta sobre se podemos nos tornar justos ou não diante de
Deus cumprindo a lei ao pé da letra. A resposta de Jesus é um não radical a
essa pergunta, quando o judeu piedoso tinha o maior interesse que fosse
respondida afirmativamente. Assim como no sermão do Monte Jesus já tinha
passado do cumprimento formal dos mandamentos para o cumprimento deles
“no coração”, apontando para esse cumprimento como sendo o verdadeiro
sentido dos mandamentos, assim Jesus afirma aqui que o mandamento de
Moisés sobre a carta de divórcio nesse caso nada mais é que uma concessão
ao maldoso coração humano, mas que desde o início não foi assim. A lei já
possui em si a marca de que Deus, desde o dilúvio, desistiu de um verdadeiro
cumprimento de sua vontade. Nesse caso, pois, a lei é uma norma cuja única
função ainda é evitar que o convívio das pessoas caia numa desordem total.
Entretanto, quem pergunta realmente pela vontade de Deus, precisa ir além
dela, reconhecendo: “Deus quer ir até o fundo do coração” (M. Lutero).

No judaísmo também havia uma compreensão mais rigorosa, a da escola do


rabino Shammai, em contraposição à prática mais liberal da de Hillel. Na
primeira a separação do matrimônio era permitida somente depois de um
exame minucioso dos motivos, admitindo como causa da separação somente o
adultério.

Provavelmente por trás da intenção de tentar o Senhor (v. 3) por parte dos
fariseus havia o sentido de que os interrogadores supunham que, por causa
das duas tendências distintas no judaísmo (Hillel e Shammai), os adeptos de
uma das linhas com certeza ficariam revoltados com a resposta de Jesus.
Contudo, Jesus vai muito além das duas opiniões, porque rejeita radicalmente
um segundo matrimônio no tempo de vida do primeiro cônjuge, por ser
adultério. Isso tinha de causar revolta no povo, pois parecia impraticável e
desmedidamente rigoroso. Com as palavras: Não foi assim no princípio, Jesus
quer expor novamente diante dos discípulos a ordem original. Para eles precisa
ser determinante a pura vontade de Deus, sem fazer concessões e sem
considerar leis estatais e civis. – A diferença entre a palavra de Jesus e a
escola rigorosa dos fariseus (do rabino Shammai) está em que Jesus preserva
por princípio a indissolubilidade do matrimônio por ser uma criação de Deus, e
em que considera também a situação em que o divórcio seria concedido como
sendo uma transgressão da vontade de Deus. Esta transgressão, porém, já
aconteceu por ocasião da incontinência, no adultério. O divórcio tão somente
revela que o matrimônio já foi rompido. Em contraposição, o judaísmo partia do
ponto de vista de que, mesmo quando procedia com rigor, a possibilidade de
uma dissolução do matrimônio era um princípio legal instituído por Deus.

As passagens paralelas Mc 10.11s e Lc 16.18 não falam dessa possibilidade


do divórcio, mas designam qualquer separação como adultério. Isso não é uma
posição contrária ao texto de Mateus, nem temos de ver em Mateus um
eventual abrandamento. Pelo contrário, o texto paralelo de Marcos e Lucas
ensina que o adultério (a incontinência) não concede uma viabilidade do
divórcio, mas que rompe e destrói a ordem de Deus. Entretanto, se colocarmos
ao lado deles Mt 5.28, veremos que o verdadeiro matrimônio, tal como Deus o
planejou ao criar o mundo, está além de nossas capacidades. Jesus, porém, o
proclama como dádiva, dada a nós de forma nova por meio do reino dos céus
trazido por ele.

Em todo lugar onde realmente se cumpre a vontade de Deus, onde acontece o


verdadeiro matrimônio, ali está o reino de Deus, o governo de Deus.
Conduzindo corretamente sua vida matrimonial, os cristãos dão testemunho da
irrupção do reino trazido por Jesus.

Segundo a ordem da criação de Deus e a ordem da salvação de Cristo,


portanto, o matrimônio é indissolúvel, razão pela qual não se permite que uma
pessoa divorciada torne a se casar.

Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora


Evangélica Esperança.

2- O que fazer para que o casamento seja para sempre?

Um casal que vive a vida a dois, em amor, irá construir a mais bela e perfeita
união, ainda que enfrente lutas e reveses nesta vida. O casamento deve ser
construído com base em respeito, amizade, bom tratamento, carinho,
dignidade, entre outros. Como bem disse o apóstolo Pedro (1Pe 3.7), se tudo
isso estiver presente no casamento ele será para sempre. O casal cristão tem
conhecimento de que no aspecto espiritual ambos são iguais (Gn 1.27; Gl 3.28;
Cl 3.10,11), e na vida a dois há obrigações distintas e específicas a serem
cumpridas (1Co 7.3).

A união sexual é outro fator preponderante que deve ser levado em


consideração no casamento. Ele deve ser desfrutado pelo homem e pela
mulher, casados, em uma intimidade mais profunda. O verbo “coabitar” fala de
relação sexual dentro do casamento (Gn 4.25), tratada pela Bíblia como algo
digno (Hb 13.4). O casal cristão é consciente de que jamais deve usar o sexo
como fazem os ímpios, sem amor, carinho, respeito, tão somente para dar
vazão às suas lascívias (1Ts 4.3-7). Portanto, o casal que deseja que seu
casamento dure para sempre, deve estar em comunhão com Deus, e ter uma
união marcada pelo amor e uma vida sexual regrada e sadia.
COMENTÁRIO

Deus formou dois seres que em sua constituição humana são espirituais e
materiais. Por isso, entendemos que a vida sexual envolve ambas as partes,
espírito e corpo, de modo que a entrega para esse ato do casamento além de
mútua é uníssona. Deus criou o casamento com o propósito de essa união
permanecer para sempre, porém, desde que o pecado entrou no mundo, afetou
também esse relacionamento. Isso se confirma muito bem por meio do povo de
Deus, Israel, o qual deixou de seguir o padrão divino para amoldar-se aos
costumes de outros povos pagãos.

Entendemos, pela Bíblia, que a união deve ser para sempre. É isso que consta
em Gênesis 2.24 (ARA): “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua
mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Há muitas coisas a serem
analisadas nessa citação bíblica, por intermédio dela podemos compreender o
que o casal deve fazer para viver a vida a dois.

Quem se casa deve entender que está tomando um novo caminho e deve ter
sempre a atitude de olhar para a frente, pois, se ficar dividido entre a velha e a
nova vida, as coisas não irão funcionar. Deus não está dizendo que os filhos
devem esquecer tudo o que os pais fizeram; cuidar deles e servi-los deve ser
para sempre, mas é preciso que o casal saiba que doravante começará uma
nova vida com uma pessoa que estará ao seu lado por toda a vida. A ordem de
Deus é que nessa nova construção pelo casamento haja maior intimidade entre
os cônjuges, mais do que entre pais e filhos. Daí a expressão uma só carne.
Agora não são mais dois corpos separados, mas um só. Isso fala de comunhão
em todos os aspectos, sendo que não há direitos separados, nem um poderá
viver independente do outro. Tudo será compartilhado entre ambos, os dois
têm os mesmos ideais, propósitos, alvos, objetivos, pois são uma só carne.

Como são uma só carne, vivem para o prazer e multiplicação, o que é uma
ordem divina (Gn 1.28). Apesar de serem dois corpos diferentes,
espiritualmente estão amalgamados, de modo que essa unidade não permite a
poligamia, o adultério, o divórcio, como também qualquer outro ato de
imoralidade ou imundícia.

No casamento, há deveres tanto a serem cumpridos pelo homem como


também pela mulher, como bem ensinou o apóstolo Paulo.

Quando ambos são conscientes dessas verdades, a vida a dois poderá ser
bem vivida e desenvolvida como Deus quer, e desse modo essa união será
para sempre.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 99-101.
Paulo destaca a completa mutualidade dos direitos conjugais (7.3,4). Paulo
vivia em uma sociedade de profunda influência machista, mas ele quebra
esses paradigmas da cultura prevalecente e afirma a igualdade dos direitos
conjugais. Diz Paulo: “O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e
também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido” (7.3). O imperativo
presente “conceda” indica o dever habitual. Paulo está falando do
relacionamento sexual. A mesma Bíblia que condena o sexo antes do
casamento, o pecado da fornicação, e também o sexo fora do casamento, o
pecado do adultério, está dizendo que a ausência de sexo no casamento é
pecado. O marido deve conceder à esposa o que lhe é devido e
semelhantemente à esposa ao seu marido. Ambos, marido e mulher, têm
direitos assegurados por Deus de desfrutarem a plenitude da satisfação sexual
no contexto sacrossanto do matrimônio.

LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios Como Resolver Conflitos na


Igreja. Editora Hagnos. pag. 130.

Deveres sexuais no casamento. O contexto desta declaração (versículos


quarto em diante) mostra-nos que aquilo que é «… devido…» ao marido pela
mulher, e vice-versa, é, principalmente, uma razoável e satisfatória relação
sexual, porquanto assim a «fornicação» é evitada. A «tentativa» de obter a
compatibilidade nas questões sexuais faz parte, portanto, dos «deveres» das
pessoas casadas. As mulheres inclinam-se mais por errar nesse sentido do
que os homens, pois as mulheres, por natureza, geralmente são muito menos
intensas do que os homens quanto a essa questão. Não obstante, deve
procurar a mulher ser uma companheira satisfatória para o seu marido. Em
caso contrário, estará convidando dificuldades, conforme fica comprovado pela
grande maioria dos casos de casamentos malsucedidos.

«Esta declaração defende as relações sexuais entre os casados, contra os


rigoristas, tal como a declaração do primeiro versículo recomenda o celibato,
contra os sensualistas». (Findlay, in loc.).

«…o que lhe ê devido…» são palavras que representam um eufemismo para
«relações conjugais», e que Paulo usou para suavizar o sentido, embora o
significado da frase seja perfeitamente claro. Algumas traduções dizem «…a
devida benevolência…», mas é melhor a tradução que diz «direitos conjugais»,
ou, melhor ainda, a tradução literal do texto grego, conforme temos na versão
portuguesa que serve de base textual para este comentário.

Variante Textual: Alguns manuscritos dizem «devida benevolência» ou «devida


bondade», como KL e as versões siríacas, além da maioria dos manuscritos
gregos posteriores. Porém, o simples «o que lhe é devido» aparece nos mss
P(46), Aleph, ABCDEFGPQ, 17, na Vulgata latina e nas versões cópticas,
armênias e etíope, o que serve de evidência textual esmagadora em favor do
texto mais simples. Crisóstomo citou este texto sob a forma de «honra devida».
Tais alterações, incluindo aquela que diz «devida benevolência», são apenas
eufemismos para esconder a alusão direta ao «sexo», que há neste versículo.
Mas tais eufemismos têm apenas obscurecido o texto, ao invés de melhorá-lo.
Naturalmente que as relações matrimoniais requerem a devida benevolência e
honra, a fim de que possa haver harmonia no casal. Contudo, essa não é a
principal interpretação deste versículo, embora possamos compreender tal
verdade como implicação secundária do versículo.

 O «contrato» matrimonial dá direito ao homem ou mulher de obter satisfação


sexual. Se essa verdade fosse regularmente observada, isso ajudaria a
diminuir a incidência de várias formas de imoralidade, comuns neste mundo.
Isso é o que Paulo queria dizer, afinal.

John Gill, um dos principais eruditos no campo dos estudos sobre os costumes
judaicos, em sua época, informa-nos que os rabinos judeus, conforme se
aprende no Talmude e em outros escritos literários antigos, eram muito
exigentes quanto à realização correta da dívida conjugal. A esposa que não
fosse cuidadosa nesse ponto era considerada rebelde.

Consideremos a seguinte citação, extraída de escritos judaicos antigos: «A


mulher que restringe o seu marido no uso do leito é chamada ‘rebelde’. E
quando lhe perguntarem por que ela se rebela, se ela responder: Porque isso
me repele, e não posso deitar-me com ele. Então forçam-no a desfazer-se dela
diretamente, e sem qualquer direito a dote; e ela não pode levar consigo
qualquer coisa de seu marido, nem mesmo as correias das sandálias, e nem
um laço de cabelo. Porém o que seu marido não lhe deu, isso ela pode levar
consigo. E se ela se rebelar contra o seu marido propositadamente, a fim de
afligi-lo, e age com a finalidade de desprezá-lo, enviam uma comissão do
Sinédrio, a qual lhe diz: Sabes que se continuares em tua rebelião, não
prosperarás? E depois disso publicam o seu caso nas sinagogas e nas escolas
por quatro semanas, uma após outra, e dizem que tal mulher se rebelou contra
o seu marido. E após tal publicação, mandam-lhe dizer: Se continuares em tua
rebelião, perderás o teu dote. E lhe dão o prazo de doze meses, durante os
quais não recebe sustento de seu marido. E ela será despedida, no fim dos
doze meses, sem dote algum, devolvendo ao seu marido tudo quanto pertence
a ele». (Mosis Kotsehsis Mitzvot Tora, pr. neg. 81; e, similarmente, Hilch. Ishot.,
cap. 14, secções 8-10. Mishnah Cetubot, cap. 5, secção 7; e Maimonides e
Bartenora em ib.).

Paulo refletia aqui a atitude judaica sobre a questão, aplicando-a tanto ao


marido como à mulher, embora se tenha de admitir que usualmente é a mulher
que causa perturbações, nesse aspecto do matrimônio.
Este versículo, a despeito de mostrar os deveres de ambos os cônjuges, no
que concerne às suas obrigações sexuais, também mostra que nada existe de
pecaminoso, nem no sexo e nem nas relações matrimoniais em si, o que sem
dúvida era o ponto sobre o qual insistiam erroneamente os ascetas, em seu
zelo distorcido em prol do celibato.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo


por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 95.

3- Casamento: uma união indissolúvel.

Na discussão de Jesus com os líderes religiosos, Ele destacou os ideais


divinos sobre o casamento, isto é, como Deus o havia projetado a fim de que
fosse permanente (Mc 10.9). Há exegetas que gastam tempo e muitas letras
para provar que o divórcio era permitido; buscam elementos históricos nas
duas escolas rabínicas de Shammai e Hillel, sendo que a primeira destacava a
questão da impureza no aspecto mosaico a partir do adultério, permitindo a
carta de divórcio. A segunda era mais liberal, e dizia que qualquer desagrado
da parte do marido poderia dissolver o casamento.

Contudo, o melhor seria que tais estudiosos gastassem mais o tempo para falar
do casamento conforme o propósito eterno, atentando para o princípio de tudo.
Para Jesus, o casamento é uma união indissolúvel, e por isso deixou claro que,
quanto ao divórcio, não era um mandamento de Moisés, mas sim uma
concessão devido à fraqueza humana, por causa do pecado (Mt 19.8), pelo
padrão baixo e desmoralizante em que muitos estavam vivendo. Enquanto a
Lei permitia o divórcio (Dt 24.1-3), Jesus salienta que isso significava legalizar
o adultério. Sempre é doloroso falar sobre divórcio, visto que já se trata da
destruição de um casamento. Porém, como servos de Deus, precisamos dizer
que a comunidade de salvo s que quer viver o padrão do Reino de Deus, com
suas bem-aventuranças, precisa entender que o ideal divino é ainda
indissolubilidade da vida a dois, tanto física como espiritualmente, seguindo o
padrão divino do Éden: os dois serão uma só carne (Gn 2.23,24).

COMENTÁRIO
Não podemos jamais duvidar que o propósito de Deus para o casamento é que
seja uma união indissolúvel. Isso se confirma muito bem por meio da citação de
Gênesis 2.24, inclusive a que Jesus fará sobre o assunto é baseada nela (Mt
19.5). É compreensível também que, pela citação de Marcos 10.9, está claro
que Deus ajunta, mas o homem é quem separa.

A leitura de Marcos 10.1-12 nos ajudará a compreender melhor que o


casamento é uma união que deveria ser indissolúvel, porém, é preciso
entender que Deus jamais nos daria algo que fosse problemático, ruim. Isso
porque, pela exposição de Gênesis, esse relacionamento figura como algo bom
(Gn 1.31). A grande questão é que desde o momento em que o pecado entrou
no coração humano os pensamentos se tornaram maléficos, e veja que o
primeiro homem a quebrar o padrão de Deus para a vida a dois é Lameque (Gn
4.19).

Desde então o povo de Deus, Israel, passou a querer viver e imitar as nações
cujas práticas eram reprováveis pelo Senhor. O contrário disso é que os
israelitas deveriam viver segundo a vontade soberana do Senhor (Lv 20.23).

Muitos problemas orbitavam sobre o casamento e o divórcio desde épocas


bem antigas, como também nos dias de Jesus Cristo. A pergunta dos fariseus
sobre o divórcio não era com o desejo de encontrar uma solução, mas tratava-
se de uma sutileza sagaz, pois o objetivo era testar Jesus no tocante à Lei de
Moisés para que trouxesse alguma coisa contra Ele perante o povo.

Olhando para o texto de Deuteronômio 24.1, ao homem era permitido divorciar-


se de sua mulher mandando-a embora no caso de ele desagradar-se dela ou
se a mulher realizasse algo indecente. Nesse particular, os debates eram
infindáveis e divisíveis, pois no que diz respeito ao verbo desagradar, para os
que eram da escola de Shammai isso envolvia algo que fosse grandemente
vergonhoso, ou seja, o adultério. Para os que seguiam a escola de Hillel, o
divórcio poderia ser permitido por qualquer coisa banal, por exemplo, a esposa
deixar a comida queimar.

A grande questão na pergunta formulada pelos êmulos de Cristo é que


buscavam interesses para si mesmos. Isso se confirma muito bem pela
maneira da colocação, permitido ou lícito (Mc 10.2,4). Por outro lado, Cristo
procura falar do que a Lei dizia por duas vezes, que nesse caso buscava dar
prioridade à Palavra do Senhor (Mc 10.3.5). Observe que os fariseus não
falaram nada quando Jesus mencionou a Lei, apenas disseram que Moisés
permitiu a carta de divórcio e o repúdio.
Os fariseus, procurando justificar o divórcio, passaram a tomar como base o
texto de Deuteronômio 24.1-4, criando normas a fim de que o divórcio se
tornasse aceitável diante de algumas circunstâncias.

Jesus não age contra a Lei de Moisés, mas a interpreta de forma correta (Mc
10.7,10), e ainda diz o motivo pelo qual tal concessão foi feita: “Pela dureza do
vosso coração vos deixou ele escrito esse mandamento” (v. 5). Não
perceberam os fariseus que Jesus, ao citar tal expressão dita por Moisés,
estava falando que os judeus estavam procedendo em pecado, pois não
atendiam aos mandamentos divinos. Assim, o que veio por meio de Moisés foi
um ato de julgamento de Deus quanto ao procedimento rebelde dos que
procediam daquela maneira.

Moisés, querendo frear o pecado e na intenção de evitar que coisas piores


acontecessem, passou a anuir com a fraqueza humana, de modo que
procedendo assim a tal provisão tinha como propósito proteger a mulher,
dando-lhe libertação do contrato de casamento.

Jamais se deve pensar que o ideal de Deus para o casamento fosse a


separação, o divórcio. Essa abertura na Lei veio por causa do pecado, e tal
concessão, ainda que permitida pelo Senhor, não vem dEle, pois seu desejo e
padrão tem algo muito melhor para a vida a dois.

A resposta verdadeira que Jesus dá aos fariseus sobre o assunto não é em


tom de hipóteses e interpretações de escolas, mas volta para a Palavra de
Deus, que relata como o Senhor criou o homem e a mulher, e seu objetivo para
com eles. Podemos compreender aqui a grandeza e a sabedoria de Jesus. Ele
jamais procurou tratar dessa concessão da Lei, falar do divórcio, mas destacou
o ideal divino para a vida a dois, a grandeza do casamento.

Quando se atenta para Mateus 5.32, era fácil pela interpretação dos líderes
judeus separar-se e contrair um novo casamento, porém, para Jesus, a união
de um casal era sagrada e não poderia ser quebrada.

Quem se casasse com alguém depois do divórcio estaria cometendo adultério.


Para muitos estudiosos do Novo Testamento houve da parte de Cristo uma
exceção para o divórcio: a infidelidade marital. Nesse caso, o divórcio era um
tipo de reconhecimento pela quebra da união que envolveu outra pessoa.

Ainda que a infidelidade de um dos cônjuges fosse a causa para se pedir o


divórcio, abrindo possibilidades para o novo casamento, não quer dizer que
prontamente o divórcio deveria acontecer. O que era e continua sendo
recomendável é que se um dos cônjuges descobrir a infidelidade do outro,
deve buscar o perdão e a reconciliação com o propósito de restaurar o
casamento.

Não podemos em momento algum achar que Moisés era a favor do divórcio.
Sua concessão por parte divina dava-se apenas por causa da natureza
pecaminosa e para o bem da mulher. Todavia, devemos considerar que a
expressão coisa indecente, se analisada pelo prisma de Deuteronômio 24.1-4 e
Mateus 19.3, revela que Moisés e toda a Escritura é contra o divórcio. A alusão
ao divórcio feita por Moisés é de relance, que pode ser vista como uma
advertência. William Hendriksen nos explica isso muito melhor:

A regra dos primeiros quatro versículos desse capítulo pode ser assim
resumida: “Maridos, pensai bem antes de rejeitardes vossas esposas. Lembrai
que uma vez a tiverdes mandado embora, e ela se tornar esposa de outro, não
podereis recebê-la de volta; nem mesmo se o outro marido também a rejeitar
ou vier a morrer”. […] Entretanto, os escribas e fariseus, como Mt 5.31 o indica,
punham toda a ênfase nesse certificado. Jesus (32) pôs a ênfase no lugar
apropriado. Eles exageravam demais a importância da exceção, o que tornava
o divórcio possível. Eles estavam sempre debatendo a esse respeito (cf 19.3-
9). Ele, por seu turno, enfatiza o princípio, ou seja, que o marido e a mulher são
e devem permanecer sendo um.

Ainda que o versículo 32 (ARA) seja muito debatido, e que não entremos no
mérito da questão, pela frase que é dita (“…a expõe a tornar-se adúltera; e
aquele que casar com a repudiada comete adultério”), podemos crer que seja
uma antecipação, de modo que, pelo ensino de Cristo nesse sentido, aquele
que se divorciasse de sua esposa, a não ser por causa da “infidelidade”,
deverá ser responsável por sua decisão, pois uma mulher exposta ao
abandono se tornará vulnerável à tentação de casar-se com outro. Por esse
motivo, o marido deve pensar muito bem e corrigir seu pecado, falta e voltar
para sua amada esposa.

Amados irmãos, somos conscientes de que esse assunto é por demais sério e
que cada caso é um caso, porém, não podemos deixar de lado a Palavra de
Deus, a qual nos mostra que o casamento é para sempre e que só acaba com
a morte (Rm 7.1; 1Co 7.39). Tal seriedade ainda pode ser notada em (Ef
5.31,32; Hb 13.4; Mt 19.3-9). E nos ensinos de Cristo, ainda que suas palavras
pareçam fortes demais, seu objetivo era preservar o casamento da baixa moral
de um mundo sem Deus, visto que uma grande maioria das pessoas não
valoriza o casamento como algo sagrado.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do


Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 101-106.
É do Antigo Testamento que vem o significado do termo “divórcio”.

Na verdade, o assunto é tratado com escassez na Bíblia. As poucas


referências bíblicas dificultam elucidar o tema e deixam margem a muitas
interpretações. Tudo isso revela que se trata de algo que não é da vontade de
Deus.

1 Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então, será que,
se não achar graça em seus olhos, por nela achar coisa feia, ele lhe fará
escrito de repúdio, e lho dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. 2 Se ela,
pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem, 3 e se este último
homem a aborrecer, e lhe fizer escrito de repúdio, e lho der na sua mão, e a
despedir da sua casa ou se este último homem, que a tomou para si por
mulher, vier a morrer, 4 então, seu primeiro marido, que a despediu, não
poderá tornar a tomá-la para que seja sua mulher, depois que foi contaminada,
pois é abominação perante o SENHOR; assim não farás pecar a terra que o
SENHOR, teu Deus, te dá por herança (Dt 24.1-4).

Aqui está o ponto de partida para compreendermos o assunto em foco.


Primeiro, o divórcio não foi instituído por Deus nem é mandamento divino, já
existindo na época de Moisés. O termo “quando” (v. la) mostra ser uma prática
social à qual o grande legislador dos hebreus deu forma jurídica ao escrever:
“Ele lhe fará escrito de repúdio, e lho dará na sua mão” (v. lb). O termo
hebraico usado aqui para repúdio é keríthüth, “rompimento (de relações),
demissão, divórcio”, do verbo kãrath, “cortar fora” (DITAT, pp. 751, 752). Esse
significado é o mesmo nas línguas semitas cognatas (GESENIUS-
TREGELLES, 1982, p. 414; BAUMGARTNER, vol. I, 2001, pp. 497, 500). A
LXX usa o termo grego apostasion, “certificado de divórcio” (BALZ &
SCHNEIDER, vol. I, 2001, p. 423), o mesmo que aparece no Novo Testamento
(Mt 5.31).

A expressão “escrito de repúdio” é, em hebraico, sêpher kenthüth, “carta, livro,


escrito, termo, documento de divórcio, de repúdio”. Essa carta de divórcio era
um documento público reconhecido pelas autoridades judaicas, que liberava a
mulher para se casar novamente com outro homem. A LXX emprega biblion
apostasiou, expressão grega para designar a carta de divórcio (Dt 24.1,3). A
expressão reaparece também em Isaías: “Onde está a carta de divórcio de
vossa mãe, pela qual eu a repudiei?” (50.1), em Jeremias: “A rebelde Israel
despedi e lhe dei o seu libelo de divórcio” (3.8) e em duas ocorrência do Novo
Testamento: “Por que Moisés mandou dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la”
(Mt 19.7) e “Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar” (Mc 10.4). A
ARA traduz por “termo de divórcio”.
Assim, o conceito de divórcio em toda a Bíblia, no Antigo e no Novo
Testamento, é de ruptura do casamento, o fim e o corte do relacionamento
conjugal.

O texto sagrado continua: “Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com
outro homem” (Dt 24.2). Essa mesma mulher, em quem foi encontrada “coisa
feia”, motivo que deu causa à separação, tem a permissão da lei para contrair
novas núpcias, pois o divórcio é o fim e a ruptura definitiva do casamento. A
sociedade israelita naquela época aceitava essa situação, e ninguém era
considerado adúltero por causa disso. Não há indícios, nem aqui nem em
qualquer outra parte do Antigo Testamento, que provem ser proibido um
divorciado casar-se pela segunda vez. Jamais, na história de Israel, alguém
ousou considerar adúltera uma mulher divorciada, ou vice-versa, que contraiu
novas núpcias. O que a legislação mosaica proibia, naqueles dias, era o
retorno da esposa ao seu primeiro marido, caso ela fosse divorciada ou viúva
do segundo marido (vv. 3, 4).

A base para a realização do divórcio ficou sem solução nesse texto até a vinda
do Messias. A expressão “Se não achar graça em seus olhos, por nela achar
coisa feia” (v. 1), ou “coisa indecente” (ARA), é muito vaga e foi ponto de
discussão ao longo dos séculos.

Essa mesma expressão aparece também em Deuteronômio 23.14, mas não


nos ajuda a compreender a passagem em apreço. Isaías 50.1 nada de novo
acrescenta. Jeremias 3.8 dá a entender que o adultério justifica o divórcio.

O clímax desses debates aconteceu pouco antes do nascimento de Cristo.


Havia nos dias de Herodes, o Grande, dois rabinos que fundaram escolas: um
deles chamava-se Shammai, extremamente radical, e o outro, Hillel, liberal.
Eles discutiram sobre o assunto.

Shammai insistia dizendo que o divórcio seria legítimo somente em caso de


adultério. A Mishná afirma que Shammai interpretava a expressão “coisa
indecente” como pecado imoral (Gittin IX. 10). Ainda há muitos que pensam
dessa maneira, acreditando que tal expressão diz respeito ao pecado pré-
marital. O adultério era punido com a morte: “Também o homem que adulterar
com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo,
certamente morrerá o adúltero e a adúltera” (Lv 20.10); “Quando um homem for
achado deitado com mulher casada com marido, então, ambos morrerão, o
homem que se deitou com a mulher e a mulher; assim, tirarás o mal de Israel”
(Dt 22.22). Se ambos, adúltera e adúltero, deviam ser apedrejados, logo não
havia espaço para o divórcio. Visto que essa mesma lei se aplicava também ao
pecado pré-marital: “Porém, se este negócio for verdade, que a virgindade se
não achou na moça, então, levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os
homens da sua cidade a apedrejarão com pedras, até que morra; pois fez
loucura em Israel, prostituindo-se na casa de seu pai; assim, tirarás o mal do
meio de ti” (Dt 22.20,21), tal interpretação é inconsistente.

Hillel, por outro lado, insistia que o divórcio podia ser aprovado por qualquer
razão apresentada pelo marido. Relacionava a expressão “coisa indecente” a
qualquer coisa de que o marido não gostasse na mulher. O rabino Akiva
(falecido em 132 d.C.) interpretava a referida “expressão” como tendo o homem
direito de se divorciar de sua mulher, caso encontrasse outra mais bonita.
Alfred Edersheim, citando a Mishná, diz que “coisa indecente” para Hillel era
“no sentido mais amplo possível, e declarava que havia base para o divórcio,
se uma mulher perdia o jantar do seu marido” (EDERSHEIM, vol. 2, 1989, p.
280). Por exemplo, continua Edersheim, se passasse a achar feia a sua
mulher, isso era considerado “coisa indecente”. Se a comida preparada por ela
já não o agradasse, era também tido como “coisa indecente”. Assim, o homem
se divorciava quando quisesse.

Soares. Esequias,. Casamento, Divórcio E Sexo A Luz Da Bíblia. Editora


CPAD. pag. 36-39.

SINOPSE III

Na perspectiva bíblica, o casamento é uma união indissolúvel.

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

Para restringir a falta grave

“Jesus aborda novamente um dos Dez Mandamentos e afirma sua maior


autoridade para interpretá-lo. Como alguns dos seus contemporâneos, Ele vai
às minúcias para restringir esta falta grave. Alguns fariseus fechariam os olhos
ou andariam com a cabeça inclinada para não olhar uma mulher. Mas Jesus
identifica o coração como a principal parte ofendida do ser humano, pois o
coração é a sede da vontade, da imaginação e da intenção da pessoa, embora
os olhos tenham sua parte. Jesus não está condenando a atração sexual
natural, mas a luxúria ou desejo lúbrico (v. 28). A mensagem de Jesus é clara:
Se a pessoa tratar da intenção do coração, então os olhos cuidarão de si
mesmos” (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário
Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.46).

CONCLUSÃO
Pela Palavra de Deus, compreendemos que o casamento é para sempre, mas
sua construção depende de uma vivência com Deus em um relacionamento
marcado pelo amor. Frente aos problemas que possam surgir, o caminho não é
o divórcio. Os cônjuges devem agir com boa vontade e sacrifícios, buscando
sabedoria divina para que se volte à verdadeira harmonia, com a presença de
Jesus.

VOCABULÁRIO

Cândida: que apresenta pureza e inocência.

Colimava: tinha em vista; visava a; objetivava, pretendia.

Hiperbólico: ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística


exagerada.

REVISANDO O CONTEÚDO

1– Para Jesus, onde está a gênese do adultério?

Para Jesus, a gênese do adultério está no coração, começando com um olhar


cobiçoso e pensamentos impuros que levam à prática sexual ilícita.

2- No seu Sermão, Jesus evidencia a importância de homens e mulheres


absterem-se de quê?
Jesus evidencia a importância de homens e mulheres absterem-se de
pensamentos impuros, tanto fora como dentro do casamento, pois é dessa
forma que se consegue manter a pureza em três níveis: sexual, moral e social.

3- Como Jesus via o casamento?

Para Jesus, o casamento é uma união indissolúvel, e por isso deixou claro que,
quanto ao divórcio, não era um mandamento de Moisés, por causa do pecado
(Mt 19.8), pelo padrão baixo e desmoralizante em que muitos estavam vivendo.

4- De forma figurada, a idolatria também era chamada de quê?

A idolatria era chamada, figuradamente, de adultério (Jr 3.8; Ez 23.37).

5- De acordo com a lição, perante Deus, com o bem expressou Cristo, uma
intenção errada é tão pecaminosa quanto um ato.

O que fazer para não cair neste mal? Devemos sempre buscar pensamentos
puros e bons (Fp 4.8).

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