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FRENTE AO DIVÓRCIO
(Estudo elaborado em face de haver o autor sido indicado em Plenário da União de
Ministros Batistas Conservadores, como membro comissão para estudar o assunto e
apresentar conclusões, visando posteriores deliberações de Assembléia Geral da mesma
Ordem)
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Antes de discutir o assunto, é necessário saber com clareza do que estamos tratando.
Segundo Guy Duty(1), que cita os mais abalizados intérpretes do Hebraico, o termo
mosaico para divórcio, é kerithuth, que significa rompimento.
Deus criou o ser humano como macho e fêmea e os uniu através do matrimônio em uma
só carne, numa fusão vitalícia.
Com o advento do pecado e sua conseqüência maior, a morte, esta, no ideal divino, seria
a única causa para a dissolução do casamento.
Entretanto, o pecado trouxe não só a morte, mas toda a gama de desgraças que
conhecemos e até as que nem imaginamos. Entre elas, a dureza de coração.
A dureza de coração(), embora sempre tenha sido mais evidente nos
homens, não lhes é privilégio exclusivo: tanto pode ser do homem que repudia sua
mulher por qualquer motivo, como da mulher que se torna infiel à castidade e à seu
marido.
Parece que nos tempos patriarcais o divórcio não era tão comum entre a família
eleita. O homem casado que desejasse qualquer outra moça, podia casar-se
paralelamente com ela, ou tomá-la como concubina, sem que isso se considerasse errado
ou pecaminoso.
Por outro lado, a mulher que se mostrasse infiel era condenada à morte, por
quem sobre ela tivesse autoridade.. Tamar, achando-se grávida em sua viuvez, Judá. Seu
sogro, mandou trazê-la para que fosse queimada (Gn 38.24).
A Lei, séculos depois, viria determinar que, não só a mulher, mas também os
homens que adulterassem, fossem apedrejados.
Assim, em caso de adultério, não havia divórcio. A mulher que rompesse o pacto
conjugal era morta e, o viúvo, sem problemas, estava livre para novo casamento.
Quanto ao significado da coisa feia não iremos entrar nessa pugna que vem
confundindo os eruditos há mais de 3.000 anos!
Neste tópico temos que distinguir entre a situação que o Senhor Jesus Cristo
encontrou e o que ele ensinou para vigorar na Igreja que ele estabeleceria.
Sem nos ocuparmos com os gentios, entre os judeus era rotineira a ocorrência do
divórcio, principalmente partindo dos homens. As convicções - ou conveniências -
dividiam-se entre as escolas dos rabinos Hillel e Shammai, que viveram alguns decênios
atrás.
Hillel advogava ampla liberdade para o homem abandonar sua esposa, desde que
cumprisse a formalidade de conferir-lhe a competente carta ide divórcio. Shammai
admitia como causa única a infidelidade da mulher. Esta disputa foi levada ao Senhor
Jesus quando, tentando-o, os fariseus lhe perguntaram: É licito ao homem repudiar a
mulher por qualquer motivo?(Mt 19.3).
Quer dizer: o homem não tem o direito de separar o que Deus ajuntou. Assim como
não tem o direito de matar, de roubar, de se prostituir. No entanto, o homem tem
transgredido todos os não farás ditados por Deus. Assim como mata, rouba e se
prostitui, também separa o ajuntado por Deus, mesmo sabendo que a transgressão é
pecado que acarretará condenação. Na oportunidade, o Senhor deixa claro que não
existe justificativa para o divórcio, a não ser a prostituição(pornéia - ). Caso
esta ocorra, configura justa causa para o repúdio da parte infiel.
4. As conotações do amor
Quando o Senhor coloca que nenhum motivo há para o divórcio, senão as relações
sexuais ilícitas, ele não está necessariamente exigindo que ocorra o repúdio. Ele
perdoou nossos pecados e ensinou que igualmente devemos perdoar os que pecarem
contra nós. Perdoou a adúltera de João 8, sob a condição de que não pecasse mais.
Assim, quando o infiel se arrepende, por mais duro que seja para o inocente, perdoar é o
ideal do Senhor. Isto embora pareça que ele não esteja obrigando o(a) traído(a) a
perdoar a parte culpada.
Há ocasiões em que, mesmo que a parte inocente se disponha a perdoar, nem mesmo
o perdão mais sincero restaura o relacionamento. O que geralmente ocorre, não é
meramente um ato de adultério, mas o estabelecimento de uma relação adulterina
contínua, com o abandono definitivo do cônjuge traído.
Unindo-se com sua mulher, o homem se torna um com ela. Se unir-se à uma
meretriz, faz-se igualmente um com esta(1 Co 6.16). E, no relacionamento conjugal,
não há lugar para três-em-um. Ao fazer-se “um “ com outra mulher, o homem - a meu
ver - quebrou o vínculo unitário com sua esposa. De igual modo, a mulher adúltera
quebra o pacto de fidelidade mútua com que se ligara ao marido. A união foi adulterada;
não é mais a mesma. Isto legitima o divórcio, porque a anulação espiritual já ocorreu. É
como escreveu Martyn Lloyd-Jones:
O cônjuge que se fez culpado de infidelidade rompeu esse laço ao unir-se com
uma terceira pessoa. O elo se quebrou, não existe mais uma só carne, e, por esse
motivo, o divórcio é perfeitamente legítimo.(3).
Entre os que radicalmente se opõem ao divórcio estão os que alegam que este separa corpos
e bens, mas não anula o casamento. Mas esta tese é insustentável, uma vez que divórcio
significa exatamente a anulação do conjúgio. Isto tanto em bom Português, como o
define qualquer dicionário, quanto nas línguas originais da Bíblia.
O ex-padre Aníbal Pereira Reis joga toda a força de sua argumentação em cima dos dois
termos aqui usados. Defende que pornéia - em sua ótica apenas fornicação(relação entre
solteiros, ou mancebia), refere-se a pecado sexual ocorrido antes do casamento. Quer
dizer: Jesus aprovaria apenas quando o marido encontrasse a noiva já desvirginada. Este
fato(o anterior defloramento da moça), quando ignorado pelo marido, seria o motivo
válido para a anulação do casamento, desde que o marido o denunciasse imediatamente.
Qualquer outra causa para separação(apolyo), faria que a mulher se tornasse
adúltera(moixális) se contraísse novas núpcias, o mesmo ocorrendo com o
adúltero(moixós).(4) Mas neste caso está claro, na Bíblia, que a determinação divina era
o apedrejamento, e não, o divórcio.
O Dr. William C.Taylor, um dos mais proeminentes mestres do Grego Bíblico que o
Brasil conheceu, wnsina, em seu Vocabulário do NT Grego:
Pornéia não é sempre limitada a união sexual entre pessoas não casadas, mas
aplica-se também às casadas, como 1 Co 5.1 e Am 7.17... (4)
O Autor cita abalizados autores mais recentes, mas reporta-se a antigos pais
como Teofilato, Jerônimo, Apolinário e, além de outros, Crisóstomo, de quem diz: “Por
certo sabia o grego”, os quais dão, com conhecimento de causa e da língua, cobertura à
versão Atualizada: Relações sexuais ilícitas.
Resumindo: O Senhor determina que, a não ser em caso de relações sexuais ilícitas, não
há o que justifique o divórcio para o cristão. Mas se estas ocorrerem, a parte traída tem
o direito, ainda que não a obrigação, de repudiar a infiel.
OBS. Alguns intérpretes vêem outra brecha para o divórcio em 1 Co 7.15, onde Paulo
ensina que a pessoa que se converte não deve abandonar o cônjuge incrédulo. Se o fizer,
que fique sem casar. Mas afirma que, se por causa da conversão do parceiro, a parte
inconversa se apartar( – xorizoo - separar... nos papiros termo técnico para
divórcio. Taylor), que se aparte, liberando seu cônjuge para casar com quem quiser,
conquanto que seja no Senhor. Como sublinhado acima, alguns intérpretes assim o
entendem. Não estamos, aqui, entrando no mérito.
Quando convertido era, muitas vezes, estimado por pastores e igrejas, que lhes
recebiam os dízimos e ofertas, aceitavam que as “meio-irmãs”, ou “quase-irmãs”,
ajudassem nas ocupações do Departamento Feminino e os “meio-irmãos” na construção
e em outras áreas em que fossem úteis. Mas não os batizavam nem lhes davam a Ceia. E
ensinavam-nos a buscar e incentivavam-nos a receber o batismo no Espírito Santo!
Alguns pastores até postulavam que estes casais deviam se separar. Mas... Como
separar uma família, não raro numerosa, com crianças, adolescentes, jovens, unida e
solidamente estabelecida???
Instituído o divórcio
CONCLUSÕES
Penso que o Senhor não exige que o(a) irmão(ã) traído(a) tenha de sofrer o castigo de
permanecer solitário, até porque o mesmo Senhor declara que não é bom que o homem
esteja só. Isaías, 50.1 e Jeremias, 3.8, falam do próprio Deus, por motivo de
infidelidade, repudiando sua esposa Israel e dando-lhe o competente libelo de divórcio.
PROPOSTA
Considero válida e posição tomada pela UMBI, como acima descrito. Proponho, pois,
que a mesma seja analisada e adaptada, ou ampliada, e aplicada, conforme seja possível
ou conveniente.
Não somos divorcista. Reconhecemos os males que advêm do divórcio, qualquer que
sejam suas causas ou formas. Principalmente para os filhos. É um da mais lamentáveis e
degradantes tipos de desagregação, a epidemia fatal que assola este fim dos tempos.
Verdadeira praga, oriunda da degradação do caráter humano. O ideal é o divino,
repetimos. Em primeiro que não existissem as infidelidades.. Por segundo, que
pudessem ser perdoadas. O que raramente acontece...
O que intentamos neste trabalho, além cumprir com mandato de Assembléia da OMBC,
é enfatizar que, segundo nosso ver, quem já foi “castigado” com a perfídia de uma
infame traição, não precisa ser ainda “castigado” com todas as demais conseqüências de
uma dolorosa separação, quando irreparável. Fica toda uma gama de seqüelas a sofrer.
Inclusive de caráter sentimental e sexual. E, se ao solteiro é dito que é melhor casar do
que viver abrasado, e que se não podem se conter, que casem-se, não vejo porque o
mesmo princípio deva ser negado ao divorciado, principalmente quando vítima de uma
situação que não procurou e não pôde evitar.
Citações Bibliográficas
1. DUTY, Guy. Divórcio e Novo Casamento, pp. 36-41; 2a. Ed.. Betânia. Belo Horizonte,1979.
3. JONES, Martyn Lloyd. Estudos sobre o Sermão do Monte. P.242. Fiel. (?.?)
4. REIS, Aníbal Pereira. Jesus e o Divórcio. Pp.44-50. Caminho de Damasco. São Paulo, 1977.