Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Prefácio
[Texto completo do livreto de mesmo nome publicado por esta editora]
Este livreto não é obra de um só escritor. Também não é, porém, uma obra anônima,
escrita por alguém que não tem a coragem de assumir o que escreveu. Numa tentativa
sincera de oferecer um estudo amplo sobre este assunto tão delicado e doloroso,
compilamos este livreto de escritos e anotações de vários irmãos, tais como James Jardine
(João Pessoa), Samuel R. Davidson (Santarém), Severo M. de Oliveira (Paranavaí) e
Ronald E. Watterson (Descalvado). Os irmãos mencionados acima trabalharam em
conjunto, sendo que o irmão Ronald foi o responsável pela redação final do texto.
Nosso desejo e nossa oração a Deus é que este simples livreto possa chegar em tempo
nas mãos de jovens que estão contemplando o casamento, e também de casais que estão
contemplando o divórcio, para que sejam orientados e ajudados por Deus, a fim de evitar
as indescritíveis dores deste trágico acontecimento.
E para aqueles aos quais este livreto chegar tarde demais para evitar o divórcio, pedimos
ao Deus de toda consolação que ainda possa servir de encorajamento para buscar a Deus
e a Sua Palavra nesta situação tão triste.
Dt 22:13-19. O homem casou e acusou falsamente a mulher, dizendo que não era
virgem. Neste caso ele seria castigado, pagaria cem siclos de prata ao pai da moça, e ela
lhe seria por mulher. Além disto, ele nunca poderia divorciá-la.
Dt 22:20-21. O homem casou e logo descobriu que sua esposa não era virgem.
Neste caso, não haveria divórcio, pois a mulher seria apedrejada e morta.
Dt 22:22. Num caso de adultério não haveria divórcio, pois ambos seriam mortos.
Dt 22:23-27. Fornicação.
i) No caso duma virgem desposada. Se acontecesse na cidade, ambos seriam
mortos, pois ela não gritou pedindo socorro; logo não haveria divórcio.
ii) Se acontecesse no campo, somente o homem seria morto, pois a moça gritou e
não houve quem a socorresse.
iii) Dt 22:28-29. No caso duma virgem não desposada. O homem daria ao pai da
moça 50 siclos de prata e ela lhe seria por mulher, e ele nunca poderia divorciá-la.
iv) Dt 24:1-4. Se um homem casasse com uma mulher e esta “não achar graça aos
seus olhos, por nela achar coisa feia”, ele poderia dar-lhe uma carta de repúdio, e ela
estaria livre para casar com outro. Se, porém, seu segundo marido falecesse ou lhe
repudiasse, ela não poderia casar-se novamente com o seu primeiro marido.
Sem entrarmos em detalhes, podemos perceber um fato importante para o nosso estudo. O
divórcio foi permitido na Lei de Moisés, mas não em caso de adultério. Este pecado seria
punido com a morte. Algum outro motivo deveria ser a base do divórcio.
Há mais algumas referências ao divórcio no VT que não afetam este estudo, e outras que
serão mencionadas mais adiante. Nesta altura, basta notar como o VT encerra este
assunto: “… ninguém seja desleal para com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor,
Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio …” (Ml 2:15-16).
É claro que nenhuma das anomalias que temos considerado representa a vontade de Deus
para a humanidade. Apesar da tolerância da bigamia, da poligamia e do divórcio, o
propósito de Deus para a raça humana continua sendo uma união monogâmica que só
poderá ser desfeita pela morte de um dos cônjuges.
“qualquer que repudiar sua mulher … faz que ela comete adultério”;
“qualquer que casar com a repudiada comete adultério”.
Estas consequências levantam uma pergunta importante — uma pergunta cuja resposta é
fundamental ao nosso estudo. Se a repudiada tem uma carta de repúdio que lhe dá o
direito de casar com outro (veja as leis de Deuteronômio), como é que o divórcio faz com
que ela cometa adultério? A mesma pergunta surge no final do versículo; se ela tem esta
carta de repúdio, e exerce o seu direito de casar com outro, como é que este comete
adultério?
Só pode haver uma resposta. Apesar de um divórcio legal, Deus ainda considera o primeiro
casamento como válido; o divórcio não o desfez.
A cláusula de exceção
A cláusula de exceção (“a não ser por causa de prostituição”), no entender de muitos,
modifica a situação, dando legitimidade ao divórcio. Mas veja bem que nesta passagem o
Senhor Jesus não estava falando da legitimidade, e sim das consequências do divórcio.
Veremos isto outra vez, com ainda mais clareza, quando considerarmos Mateus cap. 19.
Vejam as consequências que o Senhor mencionou, levando em conta agora a cláusula de
exceção. Se o divórcio foi concedido por qualquer outro motivo que não seja a prostituição,
isto faz com que a repudiada cometa adultério quando casar com outro. A culpa é daquele
que a repudiou, a não ser em caso de prostituição. Se o divórcio aconteceu por infidelidade
sexual, ela já é adúltera; não será o repúdio que a faz adúltera; o primeiro marido não é
culpado disto.
b) Mateus 19:3-12
As perguntas dos fariseus
Os fariseus também interrogaram o Senhor sobre o divórcio, mas não com qualquer desejo
de aprender; perguntaram, tentando-O.
Para simplificar o estudo desta passagem devemos notar que tudo gira em torno de duas
perguntas. Os fariseus perguntaram: “É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer
motivo?” Esta pergunta é sobre a legitimidade do divórcio. E a resposta do Senhor foi clara
e terminante. Ele baseou-se no propósito original de Deus, e citou as palavras que Deus
falou naquela ocasião, e terminou exortando a todos; “o que Deus ajuntou, não o separe o
homem” (Mt 19:6).
Esta resposta deixou claro que o divórcio não é lícito aos olhos de Deus, e ninguém deve
separar o que Deus ajuntou.
Isto deveria ter encerrado o assunto, mas os fariseus ainda fizeram mais uma pergunta:
“Então por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?”
A razão desta permissão (note a mudança de palavra — eles disseram que Moisés
mandou; o Senhor disse que Moisés permitiu) foi a dureza dos seus corações. Não foi o
propósito de Deus, e consequentemente o Senhor lhes fala novamente do propósito de
Deus: “Ao princípio não foi assim” (Mt 19:8).
Tendo dito, em resposta à primeira pergunta, que não é lícito ao homem repudiar a sua
mulher, e tendo mostrado em resposta à segunda pergunta, que a concessão mencionada
por Moisés não representava uma mudança nos propósitos de Deus, Ele prossegue,
mostrando as consequências nefastas de tal ato.
É aqui que aparece outra vez a “cláusula de exceção”. Como aconteceu no cap. 5,
acontece aqui também. Esta cláusula faz parte daquilo que o Senhor falou sobre as
consequências do divórcio, e não aparece quando Ele fala da sua legitimidade. Há, porém,
uma diferença aqui. Em Mateus cap. 5 o Senhor falou da repudiada cometendo adultério
depois de divorciada, mas aqui é aquele que repudia que comete adultério ao contrair
segundas núpcias.
Isto parece claro.
Já temos visto no cap. 5 que a repudiada comete adultério se casar com outro, e qualquer
que casar com ela também comete adultério, porque o divórcio não desfaz o primeiro
casamento. Aqui, no cap. 19, é a “parte inocente” que está em vista, pois “qualquer que
repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete
adultério”. Com a cláusula de exceção, este texto está dizendo que a “parte
inocente” comete adultério se casar com outra, tendo repudiado a sua esposa por qualquer
motivo que não seja a prostituição. Se o repúdio foi por causa da prostituição, é
subentendido que ele está livre para casar-se com outra.
Isto parece estranho.
Pode a cláusula de exceção deixar livre o cônjuge “inocente” para casar-se com outra? Se
ele pode repudiar a sua mulher e ainda estar livre perante Deus para casar-se com outra, é
porque o divórcio desfez o primeiro casamento. Mas já temos visto no cap. 5 que a
repudiada comete adultério se casar com outro, e qualquer que casar com ela adultera,
portanto o primeiro casamento não é desfeito pelo divórcio. Precisamos examinar a
cláusula de exceção para descobrir a solução desta aparente contradição.
Pornéia e Moichéia
Vamos começar examinando as palavras traduzidas “prostituição” e “adultério” no v. 9. A
palavra traduzida “prostituição” (porneia), e o verbo cognato, ocorrem 34 vezes no NT. A
palavra traduzida “adultério” (moicheia) e suas cognatas ocorrem 24 vezes.
Quando porneia aparece sem qualquer menção de moicheia, ela parece ter um significado
bem abrangente, referindo-se a qualquer ato sexual ilícito (veja I Co 5:1; Ef 5:3; I Ts 4:3;
etc.), mas quando encontramos as duas palavras juntas no mesmo versículo ou contexto,
então é lógico que tem que haver uma distinção.
Considere, por exemplo: “do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios
(moicheia), prostituição (porneia) …” (Mt 15:19). Não seria correto traduzir isto como: “do
coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, adultérios …”. É claro que a
palavra porneia aqui tem que ter o seu significado primário, ou seja, fornicação. Este é o
caso na cláusula de exceção. Devemos ler: “Qualquer que repudiar sua mulher, a não ser
por causa de fornicação, faz que ela cometa adultério”.
Ou seja, a exceção mencionada pelo Senhor é infidelidade sexual duma virgem desposada,
mas ainda não casada. Portanto, este versículo não apresenta uma contradição. A cláusula
de exceção não se refere ao adultério, mas sim à fornicação. O adultério, portanto, não
desfaz o casamento e não deixa “a parte inocente” livre para casar-se com outra. Esta
cláusula refere se à infidelidade sexual duma virgem desposada. Esta fornicação desfaz o
compromisso do desposado, deixando-o livre para casar com outra. Para remover a
dificuldade que surge na mente de alguns, precisamos ver o que significava ser desposada
naqueles dias, em Israel.
Muitos dizem que estar desposada em Israel nos dias quando o Senhor Jesus esteve aqui
era semelhante ao noivado que nós conhecemos. Isto é apenas uma meia-verdade. Alfred
Edersheim, um reconhecido erudito em assuntos judaicos, escreveu:
Desde o momento em que foi desposada, uma mulher foi tratada como se estivesse, de
fato, casada. A união não poderia ser desfeita, senão por meio dum divórcio normal;
infidelidade era considerado adultério; as propriedades da mulher passavam a pertencer ao
seu desposado …” (Sketches of Jewish Social Life in the Days of Christ).
Confirmando esta interpretação, notamos:
Um cristão não pode levar outro cristão “a juízo perante os injustos” (I Co 6:1-6).
Para conseguir um divórcio, portanto, o cristão teria de desobedecer esta passagem das
Escrituras.
O Senhor Jesus disse: “O Meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros,
assim como Eu vos amei” (Jo 14:12). O Espírito Santo manda: “sede uns para com os
outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos
perdoou em Cristo” (Ef 4:32). O cristão teria de desobedecer estas, e muitas outras
passagens semelhantes, para obter um divórcio.
Deus aconselha: “alegra-te com a mulher [singular] da tua mocidade … pelo seu
amor sê atraído perpetuamente. E por que, filho meu, andarias atraído pela estranha …”
(Pv 5:18-20). “Ninguém seja desleal para com a mulher [singular] da sua mocidade. Porque
o Senhor, Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio” (Ml 2:15-16).
O primeiro casamento foi constituído quando Deus apresentou Eva a Adão e este
disse: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne”. Aceitando Eva como
sua, nesta cerimônia formal, Adão e Eva se tornaram esposo e esposa — uma só carne.
Isto está implícito na seguinte citação: “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela
concebeu …” (Gn. 4:1). Não diz: “Adão conheceu Eva, assim fazendo-a sua mulher”. Eva
não passou a ser a esposa de Adão através dum ato físico, mas Adão a conheceu porque
ela já era a sua esposa. Muitos outros casos nas Escrituras confirmam isto, mas citaremos
apenas o caso de José e Maria. “José … fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e
recebeu a sua mulher; e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito” (Mt
1:24-25). José recebeu a sua mulher, não como desposada, mas como esposa, mas a
primeira relação física aconteceu várias meses depois.
Alguns, que percebem que o divórcio não é permitido entre cristãos, acreditam que o
caso de pessoas que se divorciaram antes de serem salvas é diferente. Dizem que até
assassinos, viciados, adúlteros e todo o tipo de pecador recebe um pleno perdão quando,
arrependido, crê no Senhor Jesus. Argumentam ainda que se o Senhor recebeu estes,
sabendo que eram divorciados, por que razão a igreja não poderia recebê-las? Esta
colocação, a primeira vista, parece correta. Pessoas divorciadas podem ser salvas, e
devemos pregar o Evangelho a elas como a qualquer outra pessoa; não há diferença. E
damos graças a Deus pelo fato de Ele ter salvado muitos divorciados que vivem com outro
cônjuge. Quando o pecador é salvo, o seu pecado é perdoado, e Deus jamais se lembrará
dele. Mas o problema que impede a recepção daquele que é divorciado e novamente
casado não está no passado, e sim, no presente. O problema é que ele está vivendo com
quem não é a sua esposa ou esposo. E isto é pecado. Confirmando isto, veja Marcos 6:17-
18. “Herodes mandara prender a João e encerrá-lo, maniatado no cárcere, por causa de
Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto tinha casado com ela”. Alguns
argumentam que João não estava condenando o divórcio e segundo casamento de
Herodias e sim, o pecado de Herodes conforme Levítico 18:16. Mas observe bem: Herodes
tinha casado com ela, mas ainda ela é chamada “a mulher de Filipe”. Isto sugere que o
pecado que João condenou não foi principalmente a violação da lei de Levítico 18:16, mas
o fato que ele possuiu a “mulher de Filipe”. Aos olhos de Deus, ela ainda era a “mulher de
Filipe”, e não de Herodes.
É importante notar que nenhum apóstolo citou a chamada cláusula de exceção. Ela
não faz parte da doutrina dos apóstolos. É importante lembrar que o casamento foi
instituído na Criação, e portanto é aplicável a toda a humanidade, quer cristãos quer não.
Não é uma ordenança cristã como batismo ou a ceia do Senhor.
Os irmãos e irmãs casados devem lembrar-se das exortações dadas às esposas e aos
esposos em Efésios 5:22-33, e praticá-las para que seu casamento tenha a estabilidade e
felicidade que Deus deseja que tenha. Observando estas admoestações eles terão a
verdadeira paz num ambiente de amor, espiritualidade e confiança mútua.
Os jovens que ainda são solteiros devem ser orientados sobre o perigo do jugo desigual
para que busquem a orientação do Senhor na escolha do seu marido ou esposa, sabendo
que o casamento é indissolúvel enquanto ambos os cônjuges vivem.