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Direito da Família

Teóricas
Setembro 2022

Direito da família é um ramo de direito privado comum e direito civil. A relevância deste ramo resulta da própria
relevância da instituição família e da sua autonomização no panorama social e jurídico. Demarca-se por uma
pouca autonomia privada, predomínio das normas injuntivas, o que leva alguns autores (ML não concorda) a
considerarem que este ramo deveria integrar-se no direito público, todavia existem uma igualdade entre as partes
(contrariamente ao que sucede no direito público)

Art. 1576º CC – fontes das relações jurídicas da família: casamento, parentesco, adoção e afinidade. Esta
definição mostra-se redutora pois que também pela união de facto se pode considerar família e efetivamente
essa relação é, geralmente, mais forte e predominante do que a afinidade por exemplo. Esta enumeração está
também errada pois que a verdadeira forma como se origina uma família é antes através do casamento, adoção
e procriação, sendo o parentesco o vinculo que resulta da procriação e a afinidade = casamento + procriação.
Deste modo a posição preferível para este artigo será elencar as relações familiares e não as possíveis formações
de relações.

Art. 36º CRP – direito fundamental a constituir família. /3 – princípio da igualdade de direitos e deveres dos
progenitores. /5 – previsão dos deveres e direitos dos progenitores
Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade. 2. A lei regula
os requisitos e os efeitos do casamento e da sua dissolução, por morte ou divórcio, independentemente da forma
de celebração. 3. Os cônjuges têm iguais direitos e deveres quanto à capacidade civil e política e à manutenção
e educação dos filhos. 4. Os filhos nascidos fora do casamento não podem, por esse motivo, ser objecto de
qualquer discriminação e a lei ou as repartições oficiais não podem usar designações discriminatórias relativas
à filiação. 5. Os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos. 6. Os filhos não podem ser
separados dos pais, salvo quando estes não cumpram os seus deveres fundamentais para com eles e sempre
mediante decisão judicial. 7. A adopção é regulada e protegida nos termos da lei, a qual deve estabelecer formas
céleres para a respectiva tramitação.

Núcleo fundamental da família: arts. 1576º, 1587º e 1973º

Princípios que pautam o direito da família

 Autonomia familiar: a intimidade da vida familiar (art. 80º) e os assuntos relativos às famílias devem
ser tratados pelas famílias e não pelos poderes públicos (art. 36º/6 CRP), apenas em casos excecionais
quando está em causa a proteção dos menores e dos seus interesses.
 Solidariedade familiar: expressa-se através da obrigação de alimentos (conceito amplo), descrito nos
arts. 2003º e ss.
 Igualdade e não discriminação: anteriormente a instituição família assentava em vetores
discriminatórios (homem > mulher; filhos fora do casamento <), atualmente há igualdade entre todos.
 Proteção dos interesses dos menores

Art. 1577º: para o prof Menezes Leitão trata-se de um contrato, logo um negócio jurídico e não um ato jurídico,
porque se procede à preservação das posições legais individuais existentes antes desta nova relação, e ainda
pode haver o mínimo de estipulação no regime em que se vai dar o casamento.

Art. 1580º: linhas de parentesco – linha reta: um dos parentes descende do outro (avô-pai-neto); linha colateral:
nenhum dos parentes descende um do outro, mas há um progenitor em comum no passado (tios, sobrinhos,
irmãos, primos). Os graus de parentesco completam-se de forma diferente das linhas (art. 1581º). “Parentes em

1
x grau de linha x”. Não existem parentes em 1º grau de linha colateral e em linha reta há tantos parentes quanto
pessoas.

Art. 1582º: efeitos do parentesco produzem-se em linha reta até ao sexto grau, já para efeitos sucessórios releva
apenas até ao 4º grau. Para as relações de afinidade (sogros, cunhados…) aplica-se o mesmo raciocínio das
linhas.

CASAMENTO
Tem de ser celebrado conforme os termos expressos nos artigos 1596º e ss. A qualificação enquanto contrato
releva para a declaração negocial, ou seja se não há vontade bem expressa e inequívoca, não há casamento.

Perspetiva histórica – não era conhecidos formas de casamentos civis, Alexandre Herculano defendia esta tese
e que o único casamento que existia era o católico, assim regido exclusivamente pelo direito canónico. Quando
surge o primeiro código civil em Portugal, 1867 isto revelou-se uma questão fraturante. Mais tarde o registo
civil abre apenas para os não católicos. A situação altera-se com a revolução republicana que se demarcava por
um total anticlericalismo, assim é publicada anos mais tarde a lei do casamento a 25/12/1910 que implicava o
não reconhecimento católico pela República, ou seja só era válido o civil. Anos mais tarde foram proibidos os
registos de casamentos paroquiais e também quaisquer celebrações paroquiais do casamento, estando sujeita a
multa de 10 mil reis.

Concordata entre estado português e Santa Sé, a 7 de maio de 1940 que obriga Portugal a reconhecer efeitos
jurídicos de cariz civil casamento católico, desde que este seja transcrito no registo civil, todavia estes
casamentos não poderiam estar ao abrigo da lei do divórcio, querendo isto dizer que este processo era remetido
para o tribunal eclesiástico. Esta concordata foi tida como uma norma de direito interno e por isso é que o
casamento católico se tornou insolúvel. Esta concordata foi substituída pela concordada de 18 de maio de 2004,
que alterou o regime do casamento católico para o do CC, mas passou a sujeitar as decisões de remissão para o
tribunal eclesiástico para os civis. Art. 1790º CC revogado pelo DL 277/2005 que permitiu o divórcio católico.

Para o casamento católico podem ser requisitados requisitos extra aqueles que são pedidos o civil, por exemplo
batizado.

Celebração do casamento católico, nos termos do art. 1597º (processos preliminares)

Impedimentos matrimoniais são impedimentos que obstam à capacidade de contrair matrimónio, ou seja a não
verificação dos requisitos necessários para contrair casamento. Art. 1601º: impedimentos matrimoniais,
dirimentes absolutos (quando impedem uma pessoa concreta) e dirimentes relativos (quando impedem as
duas pessoas naquela situação) e ainda, art. 1604º impedientes. Suscetibilidade de dispensa de impedimentos,
ou seja proibição de casamento está enumerada no art. 1609º

Promessa de casamento: contrato pelo qual duas pessoas se comprometem a contrair casamento (1591º), por
exemplo pedido de casamento, outorga de convenção antenupcial na qualidade de nubente, etc. É um contrato-
promessa do casamento, pelo que na falta de disposições especificas (1591º-95º) se aplicam as regras gerais do
contrato promessa e, de seguida, a dos negócios jurídicos.

Assim, o art. 410º estabelece a aplicação ao contrato promessa das disposições legais relativas ao contrato
prometido. À luz deste preceito, a capacidade exigida para a promessa de casamento é a mesma que se requer
para a celebrar o casamento, estabelecidos nos arts 1600º e ss.

Relativamente ao consentimento a promessa está sujeita às regras gerais dos negócios jurídicos, visto que as
regras especiais do casamento em matéria de falta ou vícios da vontade se destinam a garantir a estabilidade de
um matrimónio que já foi celebrado. Contrariamente ao casamento em si, a promessa pode ser submetida a

1591º "não dá lugar a direito de celebrar


o casamento", porque prometibilidade 2
fraca, não há lugar à execução
específica, pois que o cariz pessoal
deste contrato pressupõe um animus
donandi na sua celebração.
condição ou termo. O objeto da promessa de casamento deve ser legalmente possível (280º/1). A validade da
promessa não depende de observância de forma especial, nem se impõe uma declaração expressa (219º e 217º)

Efeitos: mediante a promessa as partes ficam vinculadas a casar uma com a outra, no entanto esta obrigação de
casar não implica uma execução especifica da promessa (1591º e 830º/1 fim), e assim no caso de incumprimento
é apenas conferido o dto às indemnizações já estipuladas no art. 1594º.

Estas indemnizações são devidas pelo contraente que romper a promessa sem justo motivo, que culposamente,
der lugar à retração do outro ou que dolosamente contribuir para a própria incapacidade matrimonial. Os
beneficiários da indemnização podem ser o esposado, os pais deste ou terceiros que tenham agido em nome dos
pais

A obrigação de indemnizar restringe-se às despesas feitas e às obrigações contraídas na previsão do casamento


e só é indemnizável uma parte dos danos patrimoniais emergentes, o que representa um limite à extensão da
obrigação geral de indemnizar, que inclui danos emergentes, lucros cessantes e danos não patrimoniais. Este
limite surge no contexto de salvaguardar, dentro do possível, a liberdade matrimonial das partes (é divergência?)

Rutura da promessa: cada um dos contraentes é obrigado a restituir os donativos que o outro ou terceiro lhe
tenha feito em virtude da promessa e na expectativa do casamento, segundo o estipulado para a nulidade e
anulabilidade do NJ (1592º/1). A obrigação de restituição dos donativos é livre de culpa.

No caso de extinção da promessa por morte, cabe ao promitente sobrevivente optar entre conservar os donativos
do falecido ou exigir aqueles que lhe tenha feito (1593º/1). Há certos donativos, devido ao seu cariz intimo,
estão subordinados a um regime especial – o sobrevivente pode reter a correspondência e retratos pessoais do
falecido e exigir a restituição das cartas e retratos pessoais que lhe tenha oferecido (1593º/2).

A ação destinada a exigir restituição dos donativos caduca no prazo de um ano, a contar da data do rompimento
da promessa ou morte (1595º)

Formalidades do casamento: não se cingem à respetiva cerimónia, é normal distinguir-se entre formalidades
preliminares, de celebração e subsequentes (registo). Variam consoante a modalidade (civil ou católico), forma
(civil ou religioso), local de celebração (Portugal ou estrangeiro) e nacionalidade dos nubentes.

Formalidades casamento civil sob forma civil

Preliminares do casamento civil sob forma civil comum (não urgente) são reguladas pelos arts. 1610º-1614º. O
casamento celebrado sem precedência do processo preliminar de casamento é válida, mas considera-se contraído
sob o regime imperativo de separação de bens (1720º/1 al.a). Este processo preliminar destina-se à verificação
da existência de impedimentos e é organizado por qualquer conservatória de registo civil e tem inicio com a
declaração para casamento

Declaração para casamento é feita pelos nubentes pessoalmente ou através de procurador, numa conservatória
de registo civil, em que se comunica a intenção de contrair matrimonio e requerem a instauração do processo
de casamento (135º CRC). A declaração deve constar de documento com aposição do nome do funcionário do
registo civil ou de documento assinado pelos nubentes. Deve conter os elementos indicados no art. 136º CRC e
devem ainda ser apresentados os documentos de identificação dos nubentes bem como a certidão de convenção
antenupcial no caso de existir. Depois de todas as diligências necessárias, o conservador tem 1 dia a contar da
última diligencia para proferir despacho final. No caso de existir algum impedimento o processo é suspenso até
que o impedimento cesse, seja dispensado ou julgado.

Autorizado o casamento, este deve ser celebrado dentro de 6 meses (1614º) e as formalidades para tal celebração
estão estipuladas nos arts 1615º e 1616º. O dia, hora e local devem ser acordadas entre os nubentes e o
conservador, sendo que qualquer conservador do registo civil é competente para a celebração do casamento

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independentemente do local da cerimónia (153º CRC). É indispensável para a celebração a presença dos
nubentes, ou de um deles e do procurador do outro, e do conservador. A ausência de um ou ambos os contraentes,
ou do procurador de um deles implica a inexistência do casamento (1628º al.c), tal como a ausência do
conservador (1628º al.d), a não ser que casamento celebrado perante quem, sem ter competência funcional para
o ato, exercia publicamente as correspondentes funções, salvo se ambos os nubentes, no momento da celebração,
conheciam a falta daquela competência. É ainda obrigatório a presença de duas testemunhas quando exigido
por lei (1631º al.c), todavia a ausência destas apenas pode levar à anulação do casamento se invocada pelo MP
(1642º) e só dentro do ano posterior à celebração do casamento.

Do art. 155º CRC resulta que o contrato de casamento adota uma forma oral e particularmente solene.

Registo do casamento (formalidade subsequente). O art. 1651º indica quais os casamentos que devem ser
registados obrigatoriamente (nr1) e aqueles que podem ser registados mas não devem obrigatoriedade de registo
(nr2). Forma do registo (1652º) consiste no assento que é lavrado por inscrição ou transcrição em suporte
informático. O assento lavrado por inscrição é um registo direto, já o assento lavrado por transcrição tem por
base o assento de uma cerimonia feita por uma entidade que não desempenha funções de registo civil ??? ver
CC anotado.

Por inscrição são lavrados os assentos de casamento civil não urgente celebrado por forma civil em
território português ou realizado no estrangeiro perante agente diplomático ou consular português

Por transcrição todos os restantes. Divisão assente no art. 53º CRC

Formalidades do casamento civil celebrado por forma religiosa: existem aqui formalidades da própria
religião, visíveis na cerimonia do casamento e formalidades civis, que não podem ser preteridas em benefício
das religiosas. Importa o art. 19º da Lei de Liberdade Religiosa

O processo preliminar do casamento deve ser também apresentado na conservatória do registo civil e a
declaração para casamento que o inicia pode ser apresentada na conservatória pelos nubentes ou por intermedio
de procurador, com indicação da forma religiosa a adotar e do ministro do culto credenciado para o ato, ou pelo
ministro do culto mediante requerimento por si assinado.

Findo os preliminares, sem que se tenha verificado a existência de impedimentos, o conservador autoriza o
casamento e passa o respetivo certificado. O certificado deve conter a menção de que os nubentes têm
conhecimento do dispostos nos arts 1577º, 1600º, 1671º e 1672º, deve também conter o nome e credenciação
do ministro do culto. O certificado é remetido oficiosamente ao ministro e se posteriormente o conservador vier
a tomar conhecimento de impedimentos deve comunicar ao ministro do culto, com vista a que seja suspensa a
celebração.

Registo: o ministro deve lavrar imediatamente o assento e enviar à conservatória competente, dentro de três dias
o duplicado do assento. O conservador deve efetuar a transcrição do duplicado no prazo de um dia e comunica-
lo ao ministro do culto até ao termo do dia imediato àquele em que foi feita. O conservador pode e deve recusar
a transcrição do casamento civil por forma religiosa se, no momento da celebração for oponível a este
matrimonio algum impedimento dirimente. (mais em J. Pinheiro Duarte, p. 421)

Casamento urgente: sob forma civil é aquele cuja celebração é permitida independentemente do processo
preliminar de casamento e sem a intervenção do funcionário do registo civil (1622º), mas também é reconhecida
eficácia civil ao casamento católico urgente, estabelecido pelo art 1599º e que para alem de não precisar de
preliminar, não necessita também de passagem de certificado para casamento.

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Na ausência de funcionário do registo, ministro católico ou de outro culto, aplica-se direta e analogicamente o
art. 1590º - “é havido por católico ou civil segundo a intenção das partes, manifestada expressamente ou
deduzida das formalidades adotadas, das crenças dos nubentes ou de quaisquer outros elementos.”
O casamento civil urgente está sujeito a requisitos de fundo e formalidades comuns à forma civil e religiosa,
são eles o fundado receio de morte próxima de um dos nubentes ou iminência de parto. As especialidades e
formalidades do casamento urgente são distintas e simplificadas (alguns casos):

 Desnecessidade do processo preliminar de casamento – resume-se à proclamação oral ou escrita de que


vai celebrar-se o casamento
 Dispensa-se a presença do conservador do registo civil ou ministro do culto
 Declaração expressa do consentimento dos nubentes
 Obrigatório a presença de quatro testemunhas – duas das quais não podem ser parentes sucessíveis dos
nubentes
 Redação de uma ata do casamento com assinatura por todos os intervenientes e após apresentada ao
conservador este decide se é homologado ou não (1623º)
 Fase de formalidades subsequentes à celebração, fase de homologação prévia à do registo
Mais sobre formalidades dos casamentos diversos em J.Pinheiro Duarte p. 423 e ss
Casamento por procuração: (art. 1616º, 1619º e 1620º) é possível celebrar um casamento por procuração, mas
apenas por um dos nubentes. Se ambos os nubentes se fizerem representar por procurador o casamento é
inexistente nos termos do art. 1628º al.c). Isto configura uma exceção ao princípio do caracter pessoal do
consentimento (?? Discussão Pinheiro Duarte, p. 409)

A procuração para casamento tem de ser outorgada por documento autenticado, instrumento público ou
documento escrito e assinado pelo representado, com reconhecimento presencial da assinatura (art. 43º/2 CRC).
A inobservância da forma legal exigida determina a nulidade da procuração (art. 220º), que não chega a conferir
poderes de representação e o casamento celebrado com base em tal procuração é inexistente por força do art.
1628º al. d).

A procuração ad nuptias deve conter os poderes especiais para o ato, designação expressa do outro nubente e
indicação da modalidade do casamento (art. 1620º).

Se faltar os poderes especiais ou a designação expressa do outro nubente a procuração e o consequente


casamento são nulos.

Se, por outro lado, faltar a indicação da modalidade do casamento, tendo em conta o princípio da
tipicidade (delimitativa) das causas de inexistência jurídica ou de anulabilidade presente no art. 1627º,
dá-se uma mera irregularidade que não prejudica nem a existência nem a validade do casamento

Extinção da procuração: revogação ou caducidade (1621º). Naturalmente é inexistente o casamento celebrado


por intermédio de procurador com a procuração extinta. A revogação pode ser feita a qualquer momento até à
celebração do casamento, e põe termo aos efeitos da procuração no momento exato, não dependendo de eficácia
extintiva do conhecimento da revogação pelo procurador. Todavia o constituinte é responsável pelo prejuízo
que causar se, por culpa sua, não revogar a tempo de evitar a celebração do casamento. Caduca a procuração
com a morte do procurador ou do constituinte.

Há certos requisitos para a dissolução/anulação de casamento: a não consumação do casamento pode ser causa
para dissolução do casamento católico, desde que declarada pelos tribunais eclesiásticos. A igreja não aceita o
divorcio mas aceita muito mais facilmente a anulação.

Casos para inexistência do casamento: art. 1628º e ss. por falta de vontade…

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O casamento não é a única forma de formar uma família e mesmo sem filhos implica um conjunto de deveres
tipificados para os cônjuges estipulados no art. 1672º e ss., alguns podem ser limitativos dos dtos individuais.
A violação dos deveres estipulados por lei pode levar à anulação do casamento. O casamento é um contrato com
liberdade de estipulação relativamente aos efeitos patrimoniais, mas apenas de celebração face aos efeitos
pessoais. A união de facto não é equiparável ao casamento, não se aplica o mesmo regime, não há vinculação
jurídica e há uma maior liberdade de estipulação face às obrigações do contrato.

A dissolução do contrato de casamento é o divórcio, anulação (1631º), todavia alguns dos efeitos produzidos
ficam salvaguardados, nomeadamente a paternidade (1827º)

Efeitos pessoais do casamento: são efeitos que se produzem de modo a vincular ambos os cônjuges, são
deveres de carácter recíproco (1672º). Há discussão relativamente a se os deveres do casamento são fechados
ou não; a profª Neuza Lopes acredita que não há abertura e que não devem ser considerados mais do que os
previstos, ou seja para efeitos de responsabilidade só são tutelados os interesses tipificados. Responsabilidade
civil pela violação dos deveres conjugais – divergência doutrinária – todavia a violação tem definitivamente
consequências. Tratam-se de deveres subjetivos exigidos pela contraparte e há nexo de causalidade sempre que
se admita que há dano pela violação do dever. Considerando que os pressupostos estão preenchidos, então há
lugar para responsabilidade civil. Para a doutrina que descredibiliza esta opção, a violação de um dever não
conjugal não conduz à responsabilidade civil.

Deveres dos cônjuges. Dever de respeito – violação compreende qualquer comportamento ofensivo de bons
costumes. Dever de fidelidade – relação sexual com terceiros no seu sentido mais estrito, todavia numa
perspetiva mais ampla pode ser considerada qualquer interação, “flirt”. Dever de coabitação – existe em três
vertentes: comunhão de mesa, é expectável que os cônjuges organizem em conjunto a sua vida económica,
existe liberdade de estipulação e decisão; comunhão de leito; comunhão de habitação. Dever de cooperação
e de assistência (art. 1674º e 1675º) – prende-se com as possibilidades de cada um. A obrigação de alimentos
só tem eficácia no caso de separação, pois que na vida de casados isso liga-se ao dever de assistência.

Casamento putativo: casamento celebrado indevidamente de boa-fé, ou seja, um "casamento imaginário" que
se imaginava ser verdadeiro, por ter preenchido todos os requisitos de existência, validade e produção de efeitos,
no entanto, posteriormente, verificou-se um vício, suscetível de anulação. O art. 1647º estabelece a diferença
entre o casamento celebrado de boa fé por ambos os cônjuges (nr1) e o celebrado de boa fé apenas por um dos
cônjuges (nr2).

Efeitos patrimoniais: o que ocorre no âmbito do casamento a nível patrimonial é o seguinte – bens comuns –
copropriedade, art. 1403º e ss., todavia o regime da comunhão matrimonial afasta-se muito deste regime, há
antes uma nomeação dos bens comuns; regime especial de administração e disposição de bens – cônjuges têm
algumas limitações; regime especial em relação às dívidas dos cônjuges

Convenções antenupciais: interfere no conteúdo do casamento, uma vez que incide sobre aspetos da vida
pessoal e em especial patrimonial. É um negócio jurídico que antecede o casamento, e tem como objetivo
principal estipular um regime de bens para o casamento, ainda que o seu conteúdo se possa estender a outras
matérias.

Se não for definida uma convenção antenupcial, os nubentes casam com o regime de bens supletivo de
comunhão de adquiridos e só se altera esse regime em sede de convenção antenupcial.

Art. 1698º - liberdade de convenção: pode-se escolher o regime de bens se não estiver sujeitos a um regime
imperativo estipulado pelo art. 1720º (regimes que não podem ser alterados por meio de convenção em que há
uma cautela nos interesses sucessórios). Há possibilidade de escolher um regime misto

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Art. 1699º - matérias impedidas de ser reguladas por convenção antenupcial. O número 2 deste artigo aponta no
sentido de uma tutela sucessória dos filhos, visto que proíbe a comunhão geral para quem tenha filhos. E se os
filhos forem dos dois nubentes?

Relevantes ainda os arts. 1708º a 1713º

A convenção deve ser celebrada por declaração no registo civil. De qualquer das formas estão sempre sujeitas
a registo civil para produzir efeitos. (“só são válidas se forem celebradas por declaração prestada perante
funcionário do registo civil ou por escritura pública.”)

Em princípio as convenções são imutáveis, como prevê o art. 1714º/1, exceto quando a lei determinar o
contrário, estabelecido no art. 1715º. Principio da imutabilidade dos bens no casamento, leva a que as pessoas
contem com o regime do casamento, pelo que não é possível alterar nem a convenção nem o regime depois da
celebração do casamento. A lei também conta a proibição de compra e venda entre casados, mas não proíbe a
doação. Casos em que a imutabilidade é excluída: separação judicial de bens, separação judicial de pessoas e
bens…

Art. 1712º - pode haver uma modificação ou até revogação da convenção antes da celebração do casamento.

Doações no casamento – só pode ser feita em sede de convenção antenupcial (1756º) e obter os requisitos de
forma para produzir efeitos:

 Têm de ser feitas a um dos esposados ou ambos e tendo em conta o seu casamento (1753/1);
 Um nubente pode fazer ao outro e terceiros podem fazer aos nubentes;
 Não se pode ser doações de nubentes a terceiros, pois tal é exógeno aos interesses do casamento;
 Sendo doação feita para casamento não é revogável unilateralmente (975º/a) e não se submete à
ingratidão do donatário cujo regime geral é do art. 974º, mas tem de ser doação para casamento
 Caduca se o casamento for invalidado (1760), pois perdeu-se o sentido jurídico do negócio principal,
este outro deixa de produzir efeitos na ordem jurídica

Doações mortis causa – na convenção antenupcial podem celebrar-se pactos sucessórios, quer seja nomeando
nubentes, herdeiros ou legatários, todavia dependem de aceitação (1701º/1). Pode ser terceiros aos esposados,
e está sujeito a requisitos de forma; razão de ser é o beneficio patrimonial dos futuros membros da comunidade
conjugal – entre esposados não são revogáveis por mutuo consentimento, mas as de terceiros sim (1758).

Alteração da convenção – o regime de bens pode mudar consoante a condição ou o termo. Requisitos:

 Tem de ser ditada por fatores aleatórios e não pela vontade dos cônjuges posterior! ao casamento
 As condições e os termos devem estar independentes da simples vontade dos cônjuges, deste modo não
se poderá alterar o regime de bens se os cônjuges o quiserem

A imutabilidade do regime foi ponderada no acórdão do STJ 16/5/1993. Pode-se alterar caso haja revogação
das doações mortis causa. Se uma cláusula da convenção é inválida, não significa que toda a convenção o seja,
pelo princípio do aproveitamento dos negócios jurídicos.

A convenção antenupcial depende do casamento e caduca se este não for celebrado e dissolve-se com o
casamento putativo.

Regimes de bens no nosso ordenamento jurídico: art. 1717º e ss. – comunhão de adquiridos, comunhão geral
e separação de bens. Antes havia o regime total, mas foi abatido em prol da igualdade dos cônjuges. O regime
supletivo é o da comunhão de adquiridos (até 1966 era o da comunhão geral de bens), mas mesmo sendo este o
regime supletivo há um regime imperativo de separação de bens previsto no art. 1720º que estipula as situações
em que o casamento é sempre celebrado num regime de separação total de bens

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1) Comunhão de adquiridos – art. 1722º: estabelece quais são os bens próprios de cada cônjuge. Cada alínea
estipula o regime para os diferentes bens de diferente natureza.
Art. 1723º prevê o tratamento dos bens sub-rogados no lugar dos bens próprios, para se manter a qualidade
de bens próprios (A tinha dinheiro no banco antes de casar, e depois de casar compra uma casa com esse
dinheiro, essa casa fica como bem próprio, desde que seja bem claro que foi usado com o dinheiro existente
antes do casamento).
Art. 1724º al. a): mesmo neste regime, cada um administra o seu próprio;
Art.1726º/1: casos de aquisição com bens comuns e próprios, a natureza do bem é a da prestação mais
valiosa, sendo que os bens adquiridos serão parcialmente próprios e parcialmente comuns. Bem comum e
adquirido parcialmente com bens próprios, a lei reconhece que o cônjuge lesado pode ser compensado pelo
património comum, esta compensação é feita no momento da eventual dissolução e partilha da comunhão;
Arts. 1727º-1729º: outras situações em que os bens considerados próprios de um dos cônjuges;
Art. 1730º: meação é um compósito de bens sucessíveis de divisão
Art. 1736º/1: tende a proteger a confiança e celeridade do comércio jurídico para se saber a titularidade do
bem
2) Comunhão geral – estipulada sempre por convenção antenupcial e nem esse acordo pode estabelecer
comunicabilidade dos bens previstos no art. 1733º. Aplicam-se as disposições da comunhão de adquiridos
por força do art. 1734º (exemplo art. 1726º)
3) Separação total de bens – cada membro do casal mantém a titularidade dos seus bens. Não há meação no
regime de separação e o que se admite é a titularidade pelos cônjuges de bens em compropriedade (arts.
1735º e ss.)

Administração de bens: atos que se destinam à frutificação ou conservação e que não alteram a substância da
coisa, tendo em consideração a repercussão económica do ato no estatuto do casal, são estes atos de
administração ordinária. A administração é extraordinária no caso dos arts. 1682º/1 e 3 al.a) + 1678º/2 ler
Guilherme de Oliveira

Regime de bens primário (administração e dívidas conjugais) ≠ secundário (qual o regime de bens que rege
as relações entre os cônjuges: saber se determinado bem é comum ou próprio). Esta classificação não significa
que exista uma hierarquia, na verdade as regras sobre a administração aplicam-se independentemente do
regime de bens e daí serem primárias:

 Sistematicamente, vem regulado antes do regime de bens secundários, isto é as regras de administração
precedem, pois que a sua aplicação não depende do regime de bens escolhidos pelos cônjuges
 (alguém, acho que é a outra regente) discorda da sistematização, isto porque é preciso primeiramente
saber se é bem comum ou próprio, por isso é determinante quanto a saber a quem responde pelas dívidas
e quem pode administrar. As regras de conhecimento pressupõem o conhecimento e prévia aplicação
das regras do regime de bens

As regras de administração e dívidas não podem ser alteradas nem em convenção antenupcial, visando evitar
que um dos cônjuges, que possa ter ascendência sobre outro ao ponto de o implicar de um regime muito mais
oneroso do que aquele que resulta da lei. O legislador tenta evitar a que se perpetre abusos devido ao controlo.

Administração não tem nada a ver com propriedade, mas sim com a possibilidade de alienar, usar, dispor, etc…
é o exercício de atuação sobre o bem

Art. 1678º/2: b) entende-se que estes bens são rendimentos intuitu personae; c) administra quem levou,
independente da caracterização como comum; d) quando exlcui o outro cônjuge da liberalidade; e) alarga à
administração ao outro cônjuge independentemente de ser próprio ou comum; f) atuação supletiva para garantir
interesse do ausente, representação tolerada; g) contrato mandato

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Faz sentido, relativamente a bens comuns, que qualquer cônjuge tenha a capacidade de administração ordinária.
Os de administração extraordinária só com autorização de ambos

Violação das regras de administração – art. 1681º (prestação de contas, no caso de dolo na administração de
bens, o mau administrador responde na medida do que prejudicou e do dolo), art. 1687º (âmbito de aplicação
mais restrito, alienação e oneração, relaciona-se com a validade dos atos de disposição ou oneração, não se
cinge à regulação das relações entre os cônjuges, mas implica também na relação com terceiros).

A titularidade de bens e a possibilidade conferida pelo legislador à administração de bens são regimes
pressupostos, mas não andam dissociavelmente ligados. Esta regra é justificada com base na igualdade conjugal
– espaço de autonomia patrimonial na sociedade conjugal.

Arts. 1678º+1681º estabelece que o cônjuge administrador de bens comuns não é obrigado a prestar contas ao
outro cônjuge, mas pode responder por atos praticados em prejuízo do casal ou do outro cônjuge.

Uma má administração de bens é valorada pelo legislador e pode levar à separação judicial de bens (art. 1767º
+ 1769º). Passa a valer esse regime de bens e procede-se à partilha como se o casamento tivesse sido dissolvido
(art. 1770º/1)

É também possível que um dos cônjuges aliene legitimamente moveis próprios ou comuns que administre (art.
1678º e 1682º/2):

 Alguns necessitam de consentimento comum (art. 1682º/3 e 4), sendo que os demais atos de alienação
indevida são anuláveis pelo art. 1687º
 Pedido de autorização do cônjuge para alienar imóvel, art. 1682º-A, reforçado pelo acórdão do STJ
 Ideia ampliada pelo art. 1682º-B

Curso Dto da Família, Guilherme de Oliveira

Se cada um dos cônjuges fosse dono dos bens que adquirisse e, se cada um dos donos administrasse os bens que
lhe pertencessem não haveria necessidade de prever um regime especial sobre a administração dos bens dos
cônjuges. Os bens do casal não são necessariamente de um de outro cônjuge, nem pertencem a ambos em
compropriedade, são antes bens comuns, isto supõe um regime especifico para a sua administração, mesmo
quando os bens pertencem a um ou outro cônjuge, pois que a comunhão de vida, a que os cônjuges se submetem
faz com que seja aconselhável que um dos cônjuges tenha poder de administração sobre os bens do outro, ou
poderes exclusivos sobre bens que são dos dois.

As regras de administração dos bens do casal são imperativas!!, logo não podem ser alteradas pelos nubentes
em convenção antenupcial (1699º/1c). Esta imperatividade não exclui que um cônjuge ceda ao outro todos ou
parte dos seus poderes sobre bens próprios ou comuns, desde que o faça por mandato (1678º/2g), que é
livremente revogável livremente.

Entende-se que o que legislador quis na verdade, foi proibir a concessão de poderes em convenção
antenupcial, que vincularia o cedente até uma revogação por mutuo consenso, sendo certo que esta
revogação poderia tornar-se impossível por causa do principio da imutabilidade das convenções e por
falta de colaboração do outro cônjuge.

1678º, regras da administração dos bens do casal – administração de bens próprios vs de bens comuns:

 Bens próprios: o nr1 estabelece que cada cônjuge administra os seus bens próprios, todavia são
introduzidas algumas exceções a esta regra
o Quando se trate de moveis que, embora pertencentes ao outro cônjuge, são exclusivamente
usados como instrumento de trabalho pelo cônjuge administrador, al.e);

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o Ausência ou impedimento do outro cônjuge, al.f);
o Mandato conferido pelo outro cônjuge e livremente revogável dos respetivos poderes de
administração, al.g)
o Também parece ser possível que os dois cônjuges administrem um bem próprio de qualquer
deles, desde que o dono tenha concedido poderes de administração ao seu cônjuge, por
mandato. Na verdade, se é permitido ceder a totalidade dos poderes de administração, também
é licito ceder parte deles, instaurando uma coadministração sobre um bem próprio
 Bens comuns: há que ter em consideração as disposições constitucionais e do próprio CC relativamente
à igualdade dos cônjuges, assim está consagrado no 1678º/3 segunda parte, a regra da administração
conjunta, ou seja ambos os cônjuges são administradores do património comum. É exceção deste
principio a concessão de poderes de administração ordinária a qualquer dos cônjuges (1678º/3 primeira
parte) – o legislador deve ter pretendido tornar mais leve o regime quando se tratasse de praticar atos
que são mais frequentes, rotineiros, e em que se pode presumir que os dois cônjuges se puseram
antecipada e reiteradamente de acordo. Naturalmente que um regime deste pode dar aso a conflitos e
atos contraditórios dos cônjuges, que serão dirimidos pela regra geral que dá prevalência ao primeiro
ato.
o Desvio à regra da administração conjunta: caso de bens que, apesar de serem comuns, devem
ser administrados por um dos cônjuges porque (1) têm uma ligação privilegiada com esse
cônjuge, ou porque (2) o outro está ausente ou impedido de os administrar, ou ainda (3) tenham
sido conferidos poderes de administração por mandato.

No seguimento desta ideia, embora se tratem de bens comuns, a lei (1678º/2) atribui a cada um dos cônjuges a
administração exclusiva de

a) proventos que receba pelo seu trabalho, embora sejam comuns por força do regime que vigora no
casamento (1724º, 1734º);

b) direitos patrimoniais de autor, pois que os pessoais são estritamente pessoais e administrados pelo
titular, nos termos do 1733º;

c) bens que levou para o casal ou adquiriu depois do casamento a título gratuito e dos sub-rogados
em lugar deles. Aqui a lei não menciona os rendimentos destes bens. Mas parece razoável incluir os
rendimentos neste regime, com base em dois argumentos: a “identidade de razão” com a alínea que se
refere ao produto do trabalho e a sugestão que se retira do art. 1696.º, n.º 2, al. a), que manda responder
os rendimentos ao lado dos bens levados para o casal ou posteriormente adquiridos a título gratuito, por
dívidas da exclusiva responsabilidade do titular, “indiciando assim a respetiva administração;

d) doados ou deixados a ambos os cônjuges com exclusão da administração do outro cônjuge, salvo
se se tratar de bens doados ou deixados por conta da legítima desse outro cônjuge;

e) moveis comuns por ele exclusivamente usados como instrumento de trabalho. Aqui o legislador
pretende que o cônjuge utilize os instrumentos de trabalho com a liberdade própria de um administrador
de bens do casal, isto é, com legitimidade para tomar, sozinho, decisões que podem ser de administração
extraordinária, e até de disposição (1682.º, n.º 2). Mas, salvo erro, um cônjuge não pode iniciar a
utilização exclusiva, no âmbito do exercício da sua profissão, de bens que não lhe pertencem. A
disposição inicial de começar a utilizar um móvel comum como instrumento de trabalho requer a
colaboração do outro titular do bem — o outro cônjuge. Esta decisão tem de ser tomada por ambos, no
quadro da decisão dos atos da vida conjugal comum

f) todos os bens do casal, se o outro cônjuge se encontrar ausente ou impedido de administrar. O texto
da lei refere-se apenas aos bens próprios do outro cônjuge; mas deve permitir-se igualmente, por maioria

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de razão, a administração exclusiva dos bens comuns. Pode o cônjuge ausente deixar procuração a um
estranho para administração? SIM, parte final da alínea abre essa possibilidade. No entendimento do
profº Guilherme de Oliveira, esta solução não é boa no que toca a administração de bens comuns, pois
que parece estranho que o cônjuge presente partilhe com um estranho a administração dos bens comuns,
ou fique sujeito à administração exclusiva de um estranho no que respeita aos bens comuns de que o
cônjuge ausente tinha a administração exclusiva.

g) todos ou parte dos bens do casal se conferido por mandato revogável. Apesar desta alínea tratar só
dos bens próprios do outro cônjuge, deve admitir-se, por maioria de razão, que um cônjuge confira ao
outro, por mandato revogável, os seus poderes de administração sobre bens comuns. A cedência por
mandato, que é revogável, satisfaz o interesse que um cônjuge tenha de não exercer os poderes de
administração que a lei lhe dá, porque não quer ou porque não sabe, sem correr o risco de os perder para
sempre. Mais sobre isto em Guilherme de Oliveira, pág. 445 e ss.

Poderes do cônjuge administrador, responsabilidade pela administração

Os poderes do cônjuge administrador vão além da mera administração (1682º/2), abrangendo poderes de
disposição dos moveis comuns ou próprios do cônjuge administrador. Poderes desta amplitude não são dados
aos administradores de bens alheios.

Responsabilidade pelo exercício da administração – art. 1681º estabelece que o cônjuge administrador nos
termos do 1678º (ou seja por força da lei) não é obrigado a prestar contas da sua administração, mas responde
pelos atos intencionalmente praticados em prejuízo do casal ou do outro cônjuge. Com este regime de relativa
impunidade pretende-se evitar que os cônjuges se envolvam em ações de responsabilidade que “podem perturbar
seriamente, quando não irremediavelmente, as relações”.

Não podem fundamentar pedidos de indemnização os atos meramente culposos, mas quando se trata de
administração fundada em mandato expresso ou tácito, ou de uma administração de facto, sem titulo, não parece
possível limitar as obrigações de indemnizar aos casos de atuação dolosa, esquecendo as violações culposas do
dto do titular do bem, mais sobre isto pág. 445.

Pode ainda haver responsabilidade, conforme o nr2 e 3 do 1681º, este artigo estabelece uma responsabilidade
ampla, de modo geral pode dizer-se que o administrador de bens comuns ou próprios do outro cônjuge é
obrigado a prestar contas da sua administração por aplicação das regras do mandato (1161º/1d). A lei estabelece
uma diferença no fim do 1681/2, em que o administrador só é obrigado a prestar contas e a entregar o saldo dos
últimos cinco anos. Esta diferença parece assentar na ideia de que o cônjuge administrador não terá uma
contabilidade organizada, mas este regime não parece prejudicar o cônjuge interessado na prestação de contas,
já que este pode pedir de 5 em 5 anos, vendo o seu interesse satisfeito.

Em segundo lugar, o administrador responde pelos atos e omissões nos termos em que um mandatário responde,
nos termos gerais do incumprimento das suas obrigações. Responde mesmo como possuidor de má fé, ou seja
pela perda da coisa mesmo que tenha agido sem culpa (1269º), devendo restituir os frutos que não colhei, mas
que um proprietário diligente poderia ter obtido (1271º) e perde, em qualquer caso, as benfeitorias voluptuárias
que tenha feito.

Pedido de responsabilidades a um cônjuge administrador  necessário decidir se o crédito de indemnização é


próprio ou comum, ou seja onde é que se deu o dano.

 Dano num bem próprio – o crédito será incomunicável por força da lei (art. 1733.º, n.º 1, al. d), aplicável
por maioria de razão a qualquer outro regime de comunhão). Mas talvez deva afirmar-se que a parte da
indemnização relativa à delapidação de frutos, que são comuns, ou à falta de perceção deles, deve seguir
as regras que ficarem estabelecidas para os créditos por danos no património comum.

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 Dano num bem comum
o Crédito integral pertence ao património comum – esta forma reconhece ao cônjuge autor a
qualidade de defensor da comunhão, protege mais o património comum como um todo,
restabelece o valor total do património; mas pode parecer estranho que o cônjuge lesado pague
indemnização no que diz respeito ao prejuízo total e, portanto, mesmo no que diz respeito à sua
metade no património comum, embora esta solução interesse bastante aos credores comuns que
veem a sua garantia restabelecida
o Crédito corresponde a metade do dano e pertence ao cônjuge meeiro que se achou prejudicado
– esta forma só tem sentido se o cônjuge credor puder considerar o crédito (correspondente à
sua metade do dano) como um bem próprio; de facto, não tem sentido considerar este crédito
(de metade do dano) como um valor comum, sujeito a partilha

Qual é o momento em que se pode exigir o pagamento de um crédito destes? Imediatamente ou só no momento
da partilha? O art. 1697º + harmonia do sistema levam a que se prefira o segundo momento. A prescrição não
corre entre cônjuges (318º).

Quando a administração seja ruinosa, a ponto de o cônjuge não administrador estar em risco de perder o que é
seu, a lei dispõe a faculdade de requerer a simples separação judicial de bens, conforme o 1767º e ss..

Em face do regime vigente de responsabilidade pela má administração, que deixa de fora situações de lesão ou
perigo para o património do outro cônjuge, e atendendo a que a separação judicial de bens é para casos
excecionais, pensa-se que há um conjunto de situações que carecem de tutela legal e de intervenção judicial.

Poderes do cônjuge não administrador: segundo o art. 1679.º, “o cônjuge que não tem a administração dos
bens não está inibido de tomar providências a ela respeitantes, se o outro se encontrar, por qualquer causa,
impossibilitado de o fazer, e do retardamento das providências puderem resultar prejuízos” Visam-se aqui
apenas os casos de impedimento ou impossibilidade temporária, ficando o cônjuge não administrador com
poderes de administração mas só para o efeito de poder requerer as providências a que se refere este artigo.

Pode fazer-se um paralelismo com a gestão de negócios (464 e ss.), mas o cônjuge não administrador só está
legitimado para intervir nos termos do art. 1679.º se “do retardamento das providências puderem resultar
prejuízos”, enquanto o gestor pode atuar não apenas para evitar um prejuízo iminente, mas também para garantir
uma vantagem ao dono do negócio.

Ilegitimidades conjugais nos regimes de comunhão, mais em Guilherme de Oliveira, pág. 454 e ss.: trata-se
essencialmente de saber o que os cônjuges não podem fazer em relação aos bens

Poderes dos cônjuges relativamente aos bens que integram as várias massas patrimoniais

Poderes de disposição inter vivos, há que distinguir entre moveis e imóveis, e ainda situar em cada regime:

Comunhão(ões) Separação
Imóveis Cada um dos cônjuges não pode Cada um dos cônjuges pode
dispor dos seus bens próprios nem dispor livremente dos seus bens
dos comuns sem o consentimento do próprios (1682ºA), mas não
outro sob pena de anulabilidade pode dispor dos bens do outro
(1682ºA). Não pode também dispor sob pena de nulidade do ato
(892º e 1687º/4)

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dos bens do outro, sendo nula a
disposição (892º e 1687º/4)
Móveis Cada cônjuge pode dispor livremente Cada um dos cônjuges pode
dos seus bens próprios e dos comuns dispor livremente dos seus bens
se os administrar, salvo nos casos do próprios se os administrar,
1682º/3 al.a). A alienação de bens por salvo os casos referidos na al.a)
um dos cônjuges, que não os do 1682/3, mas não pode dispor
administre é anulável (1687º/1). Não dos bens do outro sob pena de
podem também dispor de bens do nulidade
outro, quer esteja ou não na
administração desses bens, sob pena
de anulabilidade ou nulidade, exceto
se for um “ato de administração
ordinária”

Poderes de disposição mortis causa: cada um dos cônjuges só pode dispor, para depois da morte, dos seus bens
próprios e da sua meação no património comum (art. 1685.º). Cada cônjuge é livre de fazer disposições por
morte, são feitas em vida dos cônjuges mas só produzem efeitos depois da morte do disponente, a morte tem
ainda a consequência de dissolução do matrimónio.

O único limite imposto é de que cada cônjuge só pode dispor do que é seu, logo os seus bens próprios + a sua
metade do património comum. Sendo que o cônjuge não pode saber, antes da partilha, quais são os bens
concretos que vão preencher a sua meação no património comum, qualquer disposição sobre um bem concreto
que pertença ao património comum, antes da partilha, não pode produzir os efeitos normais. A disposição de
um bem concreto que pertença ao património comum poderia ter sido considerada nula, por se tratar de uma
disposição de coisa que não pertencia ao património do disponente

Responsabilidades dos cônjuges pelas dividas, pág. 476 e ss.

Aula teórica

Responsabilidade por dívidas

Principio da liberdade de cada cônjuge contrair dívidas sem o consentimento do outro (não se aplica às uniões
de facto) – art. 1690º/1

Art. 1691º - responsabilidade de ambos os cônjuges, que sofre de extensão no regime de comunhão de bens, em
que qualquer dívida antes do casamento em proveito do casal é responsabilidade de ambos.

 1/c) tem de ser para proveito comum do casal e dentro dos poderes de administração, não podendo
exorbitar esses poderes, senão não respondem ambos cônjuges
 1/d) dívidas contraídas por qualquer um dos cônjuges no âmbito do comércio, salvo se se provar que
não havia consentimento do outro, caso haja consentimento responsabiliza-se ambos. Um dos cônjuges
é comerciante; ressalva do regime de bens é argumento para que não se aplique este regime às uniões
de facto onde não vigora regime de bens; não se presume proveito comum do casal, tem de se provar
(art. 1691º/3)
 /2 dívidas comunicáveis. Qualquer dívida mesmo sem autorização de um dos cônjuges, na comunhão
geral. Não se pode fazer refletir este regime de dívidas às uniões de facto. Numa situação em que o
regime de bens não existe não se pode fazer saber sobre quem impende as dívidas

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Art. 1692º - responsabilidade exclusiva de um dos cônjuges, são dividas contraídas antes ou depois do
casamento, provenientes de crimes e sobre bens próprios (remete para o 1694/2, todavia se der frutos são
considerados com rendimentos comuns – rendas de imoveis, o imposto sobre esse rendimento onera ambos os
cônjuges)

Art. 1693 – dívidas que oneram heranças e doações. São consideradas comunicáveis pelo que respondem ambos
os cônjuges (remete para o 1691/e)

Que bens respondem pelas dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges ou ambos?

Art. 1695º - casal, responde à cabeça os bens comuns e subsidiariamente os bens próprios, isto representa a
solidariedade e a obrigação solidária que existe no casamento.

Art. 1696º - um cônjuge, em que podem responder alguns bens comuns. Responde à cabeça os bens próprios e
subsidiariamente a meação nos bens comuns (não vale para a separação de bens, porque nesse regime não há
meação).

 Lei prevê mecanismo de compensação quando apenas um dos cônjuges respondeu por dívidas da
responsabilidade de ambos – o cônjuge que efetuou a prestação torna-se credor do outro na medida em
que tenha efetuado uma prestação que exorbite a que lhe competia fazer
 Compensação apenas devida no momento da partilha dos bens do casal
 Se for separação, o crédito é exigível a todo o tempo (1697/1)

Regime de dívidas dos cônjuges não se aplica às uniões de facto, pois que o estatuto patrimonial dos cônjuges
(regime de bens, etc.) não se aplica em bloco aos unidos – esse regime de casamento é mais formal e união de
facto é mais informal

Simples separação judicial de bens

Art. 1767º - um dos cônjuges tem má administração dos bens ou em insolvência (é requisito). Um dos cônjuges
está em risco de perder os seus bens. Serve para todos os tipos de regimes e apenas ocorre por ação litigiosa, só
pode ser efetividade se for intentada por um cônjuge contra o outro (art. 1768). Quem tem legitimidade para
pedir é o cônjuge lesado, ou se interdito, o seu representante legal.

Esta é uma separação restrita aos bens, que deixa imperturbados os efeitos pessoais do casamento, ou seja os
cônjuges continuam a ter os direitos e deveres previstos no CC.

Sabemos que os poderes de administração dentro do casamento são muito amplos, já porque o cônjuge
administrador, em princípio, não é obrigado a prestar contas da administração que faz, já porque a sua atividade
de administrador não é circunscrita à prática de atos de mera ou simples administração, mas vai muito além
dela. Ora o recurso à simples separação de bens representa a defesa que a lei dá ao cônjuge não administrador
em face dos tão latos poderes conferidos ao outro cônjuge. É claro que estamos a referir-nos à separação judicial
pedida para defesa dos interesses patrimoniais do cônjuge lesado (art 1769º) – separação judicial «autónoma».

Só pode ser decretada por ação intentada por um dos cônjuges contra o outro (1768º), revestindo assim carácter
judicial, distinguindo-se assim do divórcio e da separação judicial de bens e pessoas, que são decretados pelo
conservador do registo civil, sendo assim de caracter administrativo. Tem ainda carácter litigioso, como resulta
do 1768º, não sendo admitido uma simples separação judicial de bens por mútuo consentimento. Nenhum dos
cônjuges pode renunciar por qualquer forma ao direito (potestativo) de requerer a simples separação judicial de
bens.

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Pressupostos

 Cônjuge esteja em «perigo» de perder o que for seu. O conceito de «perigo» deve remeter para uma
gestão de bens sistematicamente mal conduzida e que, com grande probabilidade, vá causar o prejuízo
que se receia, a situação deve assim revestir alguma gravidade. Não pode o perigo já estar consumado
ou desencadeado, pois que a separação tem um caracter preventivo, supondo uma ameaça e não a
consumação dessa ameaça;
 Em risco de «perder o que é seu», ou seja refere-se aos bens próprios do requerente de que o outro
cônjuge tenha a administração ou aos bens comuns de que o outro cônjuge tenha a administração
exclusiva nos termos do 1678º;
 O perigo do autor perder o que é seu tem de resultar da má administração do outro cônjuge e não de
quaisquer outras causas. O que é a «má administração»? Prática reiterada de atos que diminuam os bens
próprios do outro cônjuge ou os bens comuns; endividamento excessivo que comprometa diretamente
o património comum (prática comercial deficitária por atos do cônjuge comerciante que responsabiliza
ambos os cônjuges)
 Culpa e talvez dolo? Profº GdO assume que este pressuposto estará preenchido sempre que tenha havido
uma «conduta errada» ou seja, sempre que o cônjuge administrador se tenha desviado reiteradamente
daquilo que faria um administrador médio em idênticas circunstancias.

O processo a seguir é o comum, uma vez que não está previsto qualquer processo especial. A partilha depois do
transito em julgado da sentença que decrete a separação de bens será feita como “se o casamento se tivesse
dissolvido”, 1770º/1. O nr2 estabelece que caso haja acordo das partes, pode a partilha ser feita nos cartórios
notariais.

A simples de bens opera uma modificação do regime de bens do casamento e, portanto, uma modificação, no
plano dos bens, do estado de casado, ficando os cônjuges, embora casados, no “estado de separados de bens”,
passando assim o regime o da separação de bens – os bens do casal passam a integrar-se em duas massas
patrimoniais, os bens próprios do marido e bens próprios da mulher. Perde todo o sentido que continuem a
praticar-se os “desvios” que a lei admite, no art. 1678.º, n.º 2, relativamente à regra geral dos n.ºs 1 e 3,
permitindo que um cônjuge administre bens do outro ou administre sozinho bens comuns. A separação judicial
de bens levará à partilha dos bens comuns e à entrega, ao requerente, de todos os poderes de administração
exclusiva dos seus bens – dos que deixaram de ser comuns e dos que já eram próprios mas eram administrados
pelo outro cônjuge. Estes efeitos são irrevogáveis! Não é permitido restabelecer o regime de comunhão anterior
à separação judicial de bens, nem por convenção nem por nova decisão judicial (art. 1771.º). O legislador terá
entendido que a técnica do mandato (art. 1678.º, n.º 2, al. g)) serve os interesses do cônjuge que queira
restabelecer os poderes de administração nas mãos do outro: o mandato confere poderes ao outro cônjuge e a
circunstância de o contrato ser revogável dá ao mandante um meio simples de os recuperar, no caso de o
mandatário reincidir na “má administração”

Separação judicial de pessoas e bens

Aplica-se à separação judicial de pessoas e bens o regime do divórcio (art. 1794º), tal separação não dissolve o
casamento, mas extingue os deveres conjugais (exceto o direito a alimentos e o respeito – obrigação de
alimentos). O vínculo matrimonial não se extingue com esta separação, mas é na verdade muito enfraquecido
uma vez que nem se reconhece a existência de deveres.

Pode-se terminar a separação a todo o tempo (art. 1795ºB), havendo reconciliação (1795ºC) ou dissolução do
casamento. A separação judicial de pessoas e bens é revogável, ou seja pela reconciliação os cônjuges voltam a
estar juntos, mas qual o regime de bens que se aplica aos reconciliados? Prof Margarida Silva Pereira defende
que se deve aplicar o regime anteriormente aplicável por analogia da imutabilidade da convenção antenupcial.

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O profº Antunes Varela defende que se aplique o regime de separação de bens. Há quem defenda que se aplique
o supletivo

Este regime é muito mais profundo do que a simples separação de bens, havendo uma modificação na relação
matrimonial. Os cônjuges continuam casados!! e assim nenhum deles pode contrair novo casamento sob pena
de bigamia, subsistem ainda o dever da fidelidade conjugal e os deveres de conjugação e respeito (1795-A).

Todos os casamentos (civil ou católico) se podem dissolver por divórcio, a separação é uma «antecâmera» do
divórcio, e pode ser convertida neste a requerimento de ambos os cônjuges ou um deles (1795-D), passado um
ano da sentença transitada em julgado que decidiu sobre a separação, podendo ser requerida por qualquer um
dos cônjuges a sua conversão em divórcio.

Duas modalidades: sem consentimento de um dos cônjuges; por mútuo consentimento

 Sem consentimento de um dos cônjuges – pressupõe um litigio, sendo portanto pedida por um dos
cônjuges contra o outro e funda-se numa causa determinada. Regime aplicável é o do divorcio (1781)
 Mutuo consentimento – não implica nenhum litígio, sendo requerida por ambos os cônjuges de
comum acordo e sem indicação de causa porque é pedida. Regime aplicável é o mesmo do divórcio
por mútuo consentimento.
o Judicial – decretada pelo tribunal
o Administrativa – decretada pela conservatória do registo civil

Atualmente, a separação de pessoas e bens por mútuo consentimento é hoje da exclusiva competência das
conservatórias do registo civil, exceto no caso de acordo obtido no âmbito de processo de separação litigiosa e
quando os cônjuges não conseguiram formar algum dos acordos exigidos pelo art. 1775/1, ou atingiram um
acordo que não mereceu homologação

»» parece que a lei é indiferente à escolha dos cônjuges pela separação ou divórcio, mas na verdade a lei prefere
o divórcio, como demonstra o regime da conversão. A figura da separação surge do que parece ser o
entendimento de que, não existe inconveniente quando os cônjuges preferiam os dois a separação ao divórcio,
como por vezes sucede dado o facto do divórcio ser contrária às convicções e aos sentimentos religiosos.
Quando, porém, um dos cônjuges prefere a separação e o outro o divórcio, então os interesses dos cônjuges
equilibram-se, e vem à luz o interesse social de que seja pela via do divórcio que a crise conjugal se resolva.
Por isso a lei permite a qualquer dos cônjuges requerer a conversão.

A proposta ação de divórcio, poderá o réu pedir a separação judicial de pessoas e bens em reconvenção; ou
poderá deduzir pedido reconvencional de divórcio quando tenha sido intentada contra ele ação de separação
judicial de pessoas e bens? O art. 1795 responde afirmativamente, tutelando o interesse particular de cada
cônjuge. Esta tutela não pode satisfazer os dois pedidos, ou seja um cônjuge divorciado e o outro separado e
por isso surge o nr2 que dispõe que o pedido de divorcio deve proceder.

Efeitos, «estado de separado de pessoas e bens»: afeta tanto as pessoas, como os bens, pelo que terá efeitos
nestes dois campos

A separação destina-se a solucionar uma crise matrimonial, pelo que é preciso relaxar o vínculo conjugal, mas
a separação não é o divórcio pelo que também não se pode autorizar os cônjuges a exercer antecipadamente
direitos dependentes da dissolução de matrimónio – se o vínculo conjugal se mantém e os cônjuges mantêm
esse estado (art. 1795.º-A), hão de manter-se todos os efeitos do casamento que lhe são absolutamente
essenciais, de tal forma que o casamento não possa conceber-se sem eles (não podem casar), tal afrouxamento
do vinculo impediria a reconciliação, o que a lei deve encorajar. Mantém-se assim o dever de fidelidade
conjugal, os deveres recíprocos de respeito e cooperação (embora o conteúdo respetivo se modifique, por
exemplo mantém-se o lado negativo do dever de respeito, não ofender…), dever de alimentação (1794, 1795ª e

16
2016). Cessa o dever de coabitação (1795A) e o dever de contribuir para os encargos da vida familiar [inclui-se
no dever de assistência, 1675º].

Patrimoniais: os efeitos são mais amplos do que os pessoais, como dispõe o 1795-A, “relativamente aos bens,
a separação produz os efeitos que produziria a dissolução do casamento”, cada cônjuge não pode, na partilha,
receber mais do que receberia se o casamento tivesse sido celebrado segundo o regime da comunhão de
adquiridos (1790), perdendo ainda todos os benefícios recebidos ou a receber do outro cônjuge ou de terceiro
em vista do casamento ou em consideração do estado de casado (art. 1791.º)

Além disso, o cônjuge que tenha pedido a separação com o fundamento do art. 1781.º, al. b) (alteração das
faculdades mentais), deve reparar os danos não patrimoniais causados ao outro cônjuge pela separação
decretada, devendo o pedido de indemnização ser deduzido na própria ação de separação (arts. 1792.º e 1794.º)

Reconciliação dos cônjuges separados de pessoas e bens: lei encoraja e protege a reconciliação dos cônjuges
separados. É uma das duas causas (a outra é a conversão) que podem pôr termo à separação de pessoas e bens
entre os cônjuges. Refere-se à reconciliação o art. 1795.º-C – nos termos deste preceito, podem os cônjuges a
todo o tempo restabelecer a vida em comum e o exercício pleno dos direitos e deveres conjugais (nr1). O
processo é da exclusiva competência das conservatórias do registo civil. Os cônjuges que pretendam reconciliar-
se devem formular o pedido, devidamente fundamentado, em requerimento entregue em qualquer conservatória
A reconciliação, que pode ser requerida a todo o tempo (art. 1795.º-C, n.º 1, CCiv), efetua-se por acordo dos
cônjuges, que o conservador deve homologar se verificar que estão preenchidos os pressupostos legais, para o
que pode determinar a prática de atos e a produção de prova.

Regime de bens que vigora depois da reconciliação? Não contendo o art. 1795.º-C disposição semelhante,
parece dever entender-se que a reconciliação dos cônjuges repõe em vigor o mesmo regime de bens que vigorava
antes da separação, conforme o princípio geral enunciado no nr1. Mas não deveria permitir-se aos cônjuges
escolher livremente o regime de bens do casamento? A lógica desta solução assenta na premissa da reconciliação
valer como um «segundo casamento», pelo que pelo que a convenção que os cônjuges celebrassem sobre o
regime de bens que valeria depois da reconciliação seria ainda, de alguma maneira, uma convenção
“antenupcial”, não havendo pois, verdadeiramente, derrogação ao princípio geral da imutabilidade das
convenções antenupciais. Aliás, dispondo o art. 1795-A in fine, que a separação, relativamente aos bens, “produz
os efeitos que produziria a dissolução do casamento”, os regimes da separação de pessoas e bens e do divórcio
viriam assim a coincidir neste ponto, pois é sabido que, no divórcio, os divorciados que voltem a casar um com
o outro podem escolher livremente o regime de bens do segundo casamento

Extinção da relação matrimonial: por dissolução – morte ou divórcio, o direito português reconhece ainda
uma forma de dissolução específica do casamento católico – “a dispensa do casamento rato e não consumado”

Morte como causa de dissolução do casamento, direitos do cônjuge sobrevivo: a declaração de morte
presumida não dissolve casamento, mas o cônjuge do ausente pode contrair novo casamento, dissolvendo-se o
primeiro com a celebração do segundo. Se o ausente regressar ou houver noticias de que era vivo quando foram
celebradas novas núpcias, considera-se o primeiro matrimónio dissolvido por divórcio à data da declaração de
morte presumida (115-116º CC). Com a morta extingue-se o casamento e todos os efeitos pessoais e
patrimoniais, todavia há efeitos de casamento que não caem mesmo depois desta extinção da relação.

O cônjuge sobrevivo continua a poder usar apelidos do outro que tenha adotado (1677-D), antes mantinha-se a
relação de afinidade. A lei atribui também direitos ao cônjuge viúvo, que ainda se podem considerar efeitos do
casamento – o cônjuge sobrevivo tem direito de exigir partilha se for herdeiro ou meeiro dos bens do casal (art.
2101.º, n.º 1); tem direito à legítima ou a parte dela como herdeiro legitimário do falecido (arts. 2157.º-2161.º)
e integra a 1.ª ou a 2.ª classe de sucessíveis como seu herdeiro legítimo (art. 2133.º); sucede no direito ao
arrendamento para habitação se tinha residência no locado (art. 1106.º, n.º 1, al. a), CC); se tiver necessidade de

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alimentos, tem direito a ser alimentado pelos rendimentos dos bens deixados pelo falecido (art. 2018.º); pode
ter direito a pensão de sobrevivência e a subsídio por morte

Divórcio: significa dissolução do casamento, é o modo jurídico de pôr fim ao casamento. Difere da invalidade
do casamento pois nesses casos o casamento não produziu efeitos a partir da data de celebração, excetuando os
casos de boa fé no casamento putativo. Difere também da separação de pessoas e bens pois nesses casos o
casamento mantém-se e apenas se suspende a produção de efeitos, podendo pôr-lhe um fim com a dissolução
ou voltar à situação matrimonial antecedente.

Modalidades do divórcio

 Divórcio por mútuo consentimento/acordo – resulta de acordo dos cônjuges de se pôr fim à sociedade
conjugal (arts 1775 e ss) e acautela os interesses sociais fundamentais como os alimentos, casa de
morada de família, responsabilidades parentais e etc. (1776ª e 1778ª). O Estado intervém na mediação
familiar (1774º)
 Divórcio litigioso – quando um dos cônjuges interpõem uma ação contra o outro, alegando violação
culposa de deveres conjugais. A culpa enquanto juízo de censurabilidade sobre a conduta do cônjuge,
apreciação de desvalor que resulta da atuação do cônjuge num caso concreto em que incumpriu um
dever conjugal. Segue sempre a via litigiosa. Este conceito foi substituído pela figura do divórcio sem
consentimento de um dos cônjuges – abole a culpa como fundamento do divórcio e fundamenta o
divórcio na rutura de casamento, ou seja verificação da existência de fatores que determinam
insustentabilidade da vida comum (arts 1779º e ss.)
o Art 1779 obedecendo aos fundamentos do art 1781 – primeiro tenta-se o divórcio pacífico e
depois é que se segue o litigioso
o Divórcio sem consentimento é precedido de tentativa de conciliação, e quando não resulta o
juiz procura o divórcio por mútuo consentimento preocupando-se em evitar conflitualidade no
final do casamento – art. 1779º

Art. 1781 al d) – incompatibilidade para continuar com a vida conjugal para a generalidade das pessoas, critério
de aferição social que reside também no critério de decisão do juiz. Divórcio pode ser requerido a todo o tempo
e obedece ao princípio da judicialidade

Não é passível aplicar-se sanções a nenhum dos cônjuges e não importa à lei qual dos cônjuges tenha
culposamente dado origem à rutura da vida conjugal. Os danos provocados a um dos cônjuges pelo outro são
apreciados em processo autónomo à ação de divórcio – exceto os do art. 1792º/126 e 1781º/b – não é uma
compensação por culpa, mas sim a determinação rigorosa de um dano não patrimonial que advém duma opção
nefasta para o réu com a decisão de divórcio pelo autor da ação.

Partilha pelo art 1790º em que nenhum dos cônjuges poderá receber mais do que lhe competiria receber nos
casos em que o regime de bens estipulados seja o da comunhão de adquiridos – não frustra expetativas de casais
idosos casados em comunhão geral?

Profº GdO

Situações de crise que pela sua gravidade justificam uma modificação do regime normal do casamento. Na
separação há um relaxamento da relação matrimonial; no divórcio há uma rutura completa da relação, da qual
os cônjuges ficam desvinculados.

Divórcio: dissolução do casamento decretada pelo tribunal ou conservador do registo civil, a pedido de
um dos cônjuges ou de ambos, nos termos autorizados por lei. A evolução demonstra o desaparecimento
dos requisitos de maturidade, convicção e responsabilidade, também no divórcio litigioso, a evolução mostra a
coexistência de uma violação culposa dos deveres conjugais em paralelo com a rutura objetiva do matrimónio

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e o movimento para a consagração de uma via única fundada na rutura definitiva do casamento por qualquer
motivo.

Modalidades de divórcio: sem consentimento de um dos cônjuges e por mútuo consentimento, 1773º/1

 Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, 1773º/3 – pedido por um dos cônjuges contra o
outro e com fundamento em determinada causa
 Divórcio por mútuo consentimento, 1773º/2 – pedido por ambos os cônjuges de comum acordo e sem
indicação da causa por que é pedido. Pode ser judicial ou administrativo, conforme é requerido e
decidido no tribunal ou na conservatória do registo civil. O administrativo não é frequente.

Com o Decreto-lei n.º 272/2001, que não teve o cuidado de modificar o art. 1773º/2, o processo de divórcio por
mútuo consentimento passou a ser de competência exclusiva das conservatórias do registo civil, só podendo
revestir carácter judicial no caso de os cônjuges, em processo de divórcio litigioso, acordarem em se divorciar
por mútuo consentimento. De acordo com a Lei n.º 61/2008, o divórcio por mútuo consentimento continua a
ser pedido na conservatória do registo civil, em princípio, mas alargou-se a competência dos tribunais para esta
modalidade de divórcio. Para além do caso já conhecido de os cônjuges, em processo de divórcio sem
consentimento de um cônjuge, acordarem em se divorciar por mútuo consentimento, os tribunais também são
agora competentes quando os cônjuges estiverem de acordo acerca do divórcio, mas não conseguirem fazer
acordo sobre algum dos temas previstos no art. 1775º, ou quando o acordo apresentado não for considerado
razoável, o processo é apresentado no tribunal ou é para ele enviado. O juiz decretará o divórcio por mútuo
consentimento, depois de ter determinado as consequências do divórcio que os cônjuges não conseguiram
combinar

O direito ao divórcio sem consentimento ou por mútuo consentimento é um direito potestativo, pessoal e
irrenunciável.

a) Potestativo – não se traduz no poder de exigir qualquer prestação ou comportamento de outrem, mas no
poder de produzir determinado efeito jurídico
b) Pessoal – a lei atribui exclusivamente aos cônjuges ou a um deles. Intransmissível (inter vivos e mortis
causa), não é admitida a representação voluntária, só em situações excecionais, mas pode haver
representação legal (1785)
c) Irrenunciável – quer a lei quer o cônjuge têm sempre a faculdade de decidir com inteira liberdade e em
face das circunstancias atuais, sobre a oportunidade de divórcio ???

Art. 1775º, requisitos para o acordo do divórcio com mutuo consentimento: pensão de alimentos, casa de
morada de família, exercício das responsabilidades parentais (jurisprudência tem apontado para os casais
divorciados que vão viver em união de facto não é necessário haver acordo sobre isto), animais

Direito à alimentos: não é obrigatória, nem definitiva. O carácter é essencialmente alimentar mas não
exclusivamente. Cessa a partir do momento em que o próprio se pode suportar.

Mediação familiar, art. 1774º: visa diminuir os conflitos familiares.

Erro e vícios no casamento são causas que podem levar à dissolução do casamento por outra via que não o
divórcio, ou seja anulação. O erro deve recair sobre a pessoa com quem se realiza o casamento e versar sobre
uma qualidade essencial dessa pessoal ou seja há duas limitações que relevam para o erro – ser sobre a pessoa
do outro contraente, sobre as suas qualidades; em segundo lugar, não são quaisquer qualidades que se tomam
em conta para o efeito, mas só as qualidades essenciais.

Requisitos do erro (cumulativos!!!!!)

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 Essencialidade: recair sobre as qualidades essenciais da pessoa com quem se realiza o casamento. São
qualidades essenciais as qualidades consideradas importantes para o outro cônjuge querer contrair
matrimonio com aquela pessoa em concreto. Prof Guilherme de Oliveira defende que a essencialidade
não pode ser apenas subjetiva, tem também de ser objetiva, ou seja aquela qualidade que induziu em
erro era determinante para casar (ver jurisprudência!!). Na prática, o que os tribunais têm feito é olhar
para o código anterior e retirar os erros que não fazem sentido nos dias de hoje, existem exemplos de
qualidades essenciais que estavam nas versões anteriores e hoje se mantêm (estado civil, condição
religiosa, prática de um crime infame, deformidades físicas graves, doenças incurável contagiosas ou
hereditárias) existem outras qualidades que estão na jurisprudência mas não são essenciais, logo não
podem ser invocadas para anulabilidade (personalidade terrível, desperdício de dinheiro conjunto para
jogo, casar por dinheiro). O erro tem de ser determinante subjetivamente (como na generalidade dos
negócios jurídicos, arts 247º, 251º), mas isso não basta, tem de existir uma dimensão essencialidade
objetiva, ou seja «há de ser legitimo, razoável, em face das circunstancias do caso e à luz da consciência
social dominante», que na determinação da vontade de casar tenha sido decisiva a circunstancia sobre
que versou o erro, sendo preciso que se mostre que sem este erro o casamento não teria sido celebrado.
Os motivos para casamento não se integram neste preceito do 1636º
 Desculpabilidade: erro não desculpável, ou seja à luz da bitola do homem-médio uma pessoa não
poderia perdoar esse erro nem cairia nesse erro.
 Propriedade do erro: o erro tem de ser próprio. Não há de recair sobre qualquer requisito legal de
existência ou de validade do casamento. Por exemplo, se um dos cônjuges supunha erradamente que o
outro já atingira a idade nupcial, ou que o outro era divorciado quando ainda era casado, o erro será
impróprio. O casamento será anulável, não propriamente por erro, mas sim, e independentemente do
erro, por falta do requisito legal a que o erro diz respeito. A exigência da propriedade do erro não é feita
expressamente na lei, mas resulta dos princípios gerais sobre o concurso de normas: as normas sobre o
erro são consumidas pelas normas referentes ao requisito legal em questão.
 Ocorre antes do casamento: o erro tem de ser originário
 “Sem ele o casamento não teria sido celebrado”: o erro há de versar sobre uma circunstancia que
tenha sido crucial na decisão de casar, na medida em que se o erro não existisse e se o sujeito soubesse
da situação por completo não teria querido casar

Coação (1638º): é também fundamento para anulação. É um vício da vontade que consiste no «receio ou temor
ocasionado no declarante pela cominação de um mal, dirigido à sua própria pessoa, honra ou fazenda ou de
um terceiro». O mal que se receia há de ter sido cominado com intenção de extorquir o consentimento do
declarante para o negócio que se trata (255º). Condições gerais de relevância da coação que também se exigem
para o casamento, na ótica de Guilherme de Oliveira, dependendo de quem coage, a contraparte ou um terceiro

Coação exercida pelo outro contraente – requisitos cumulativos!!!

 Essencial ou determinante da vontade: sem o receio/temor do mal possível, o casamento não se teria
dado
 Intenção de extorquir a declaração
 Injusta, ilícita: o mal ameaçado pode corresponder ao exercício de um direito de quem coage e mesmo
assim essa cominação pode ser injusta, será injusta se o cominante quiser obter uma vantagem anormal,
desproporcionada ou sem qualquer relação com o seu direito

De modo geral lei não exige dos negócios jurídicos, que o mal cominado seja grave, nem que o mal seja
iminente, nem a gravidade da própria ameaça em si mesma. Exigências que não são feitas em todas as
legislações mas correspondem à tradição romanista.

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Coação proveniente de terceiro – acrescenta aos enumerados supra mais dois, (1) iminência e gravidade do
mal (2) gravidade da própria ameaça, isto é um receio justificado da sua consumação

Relativamente ao casamento é indiferente a origem da coação. Nos termos do 1638º/1 é «anulável o casamento
celebrado sob coação moral contanto que seja grave o mal com que o nubente é ilicitamente ameaçado e
justificado o receio da sua consumação». A coaçao é relevante mesmo que a ameaça vise interesses
patrimoniais, e, quando se dirija a terceiro, qualquer que seja a relação, familiar ou outra, entre esse terceiro e o
declarante coagido

Venda entre casados (profº Guilherme de Oliveira)

Conforme o art. 1714.º, n.º 2, “consideram-se abrangidos pelas proibições do número anterior os contratos de
compra e venda (…) entre os cônjuges…”. O legislador entendeu que, se as vendas fossem válidas, os cônjuges
podiam fazer um ao outro, sob a aparência de vendas, verdadeiras doações, com as quais facilmente iludiriam
o princípio da livre revogabilidade das doações entre casados.

O fundamento do princípio do art. 1714.º, n.º 2, é, pois, o mesmo que justifica a imutabilidade das convenções
antenupciais, visando-se evitar que um dos cônjuges abuse da influência ou do ascendente que exerça sobre o
outro.

Segundo o entendimento restrito que adotamos do princípio da imutabilidade — que só abrangeria as alterações
do regime de bens convencionado ou aplicado supletivamente — a proibição da compra e venda entre cônjuges
não resultaria do art. 1714.º, n.º 1, pois este negócio apenas incidiria sobre um bem concreto, transferindo a sua
propriedade. Daí que o legislador tivesse sentido a necessidade de prever o disposto no n.º 2. Quem atribuir ao
princípio da imutabilidade um alcance maior — que impeça toda a alteração das massas patrimoniais dos
cônjuges ou mesmo toda a alteração do “estatuto patrimonial” dos cônjuges — dirá que a proibição da compra
e venda já resultaria do n.º 1, pois esse negócio implica uma transferência de um bem entre dois patrimónios

Pressupostos para a nulidade estabelecida no artigo: (1) contrato celebrado entre os cônjuges é uma verdadeira
venda e não uma simulação; (2) vendedor e comprador são casados no momento de conclusão do contrato

O art. 1714.º, n.º 2, abre, porém, uma exceção para os casados separados de pessoas e bens, exceção cuja
justificação é elementar. Estando os cônjuges separados, certamente que a razão da proibição legal já não vale
nesse caso.

Uma outra exceção será a venda executiva, conforme defendem os profs GdO e Jorge Duarte Pinheiro. A razão
desta não proibição assenta no facto de ser um terceiro a estabelecer o preço.

Doações entre casados (profº GO)

Em todos os sistemas jurídicos as doações entre casados têm reservas, isto por razoes justificativas legitimas.
Por um lado, haverá o receio de que a doação resulte do ascendente ou influência dum dos cônjuges sobre o
outro; a comunhão de vida, de um modo geral, e o sentimento de que os bens doados “ficam na família” podem
levar um deles a beneficiar o outro irrefletidamente, tudo com prejuízo da liberdade e espontaneidade do ato.
Por outro lado, também os interesses de terceiros, nomeadamente dos credores dos cônjuges, estarão contra a
possibilidade de eles fazerem doações um ao outro, transformando bens comuns em bens próprios ou bens
próprios em bens comuns.

O sistema português (à semelhança do francês) permite as doações mas considera-as livremente revogáveis
como as disposições testamentárias, como resulta do 1765º. Valerão aqui integralmente as regras gerais, como
se de vulgares doações se tratasse.

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Quanto à capacidade, há a notar porém que o nosso direito contém uma proibição genérica de os cônjuges
fazerem doações um ao outro em todos os casos de regime de bens imperativo (art. 1762.º) – deste modo se
afasta uma maneira indireta de tornear ou iludir a imposição do regime pela lei

Forma: as doações entre cônjuges se regem pelos princípios das doações em geral (art. 947.º), com duas
especialidades:

 Doação de coisas móveis, mesmo quando acompanhada de tradição tem de ser reduzida a escrito
(1763/1), pois que a tradição (de modo geral), tem o valor de publicitar a transmissão do domínio da
propriedade, e esta função não fica preenchida quando a tradição opera de um cônjuge para outro, dentro
da mesma casa;
 Os cônjuges não podem fazer doações reciprocas no mesmo ato (1763º/2), e as razoes de proibição são
as mesmas que valem para a proibição de testamentos de mão comum, pois que:
o A lei quer preservar a liberdade e espontaneidade da vontade do doador e tem receio das
influências e pressões entre os codoadores poderiam exercer-se no caso de as doações serem
feitas no mesmo ato;
o A lei assegurar a livre revogabilidade da doação, e pensa que o facto de as doações serem feitas
no mesmo instrumento funda uma aparência de reciprocidade, aparência que se imporá aos
próprios cônjuges, em termos de a revogação pôr a cada um deles difíceis problemas de
consciência

FILIAÇÃO
Art. 1796º, 1586º, 60º/1 CC. Art. 36º CRP

Principio do superior interesse da criança ou do menor, é isto que rege a filiação. Algumas decisões podem
por isso ser tomadas pelo juiz de acordo com o interesse do filho. As responsabilidades parentais são exercidas
no interesse dos filhos, 1878º. Art. 36º/6 CRP, os filhos podem ser separados dos pais caso estes não cumpram
os seus deveres. Também a adoção visa este interesse superior da criança, conforme o 1974º (36º/7 CRP).

No entanto, “interesse superior da criança” é um conceito indeterminado comportando assim algum relativismo,
por exemplo para o legislador será do maior interesse da criança ter duas figuras parentais, daí que se prefira
isto a uma adoção singular, 1979º CC

Tem uma expressão objetiva, o conhecimento da identidade genética da pessoa é matéria de interesse geral e de
interesse público.

Sentido estrito – espécie de relação de parentesco, definindo-se como relação juridicamente estabelecida
entre as pessoas que procriam e as que foram geradas, é este o sentido em que aponta o art. 1796º

Sentido amplo – relação jurídica familiar constituída pela procriação quer a relação que, não origina da
procriação, produz efeitos jurídicos semelhantes (adoção, 1586º, o legislador considera que a adoçao é
uma imitação da relação decorrente da procriação, pelo que a atribuição de efeitos ao vinculo da adoção
são em tudo iguais aos da filiação biológica)

Modalidades de filiação

Filiação biológica: decorre da procriação, identifica-se com o parentesco no 1º grau da linha reta e é uma relação
familiar nominada, 1578º. Nos termos do 1797º, a constituição do vínculo da filiação tem eficácia retroativa,
produzindo efeitos entre os sujeitos desde a data do nascimento do filho (estabelecimento paternidade e
maternidade tardio!). Esta modalidade divide-se em (1) procriação por ato sexual, (2) procriação medicamente
assistida [PMA] homóloga.

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Filiação adotiva: constitui-se independentemente dos laços de sangue e por sentença judicial proferida no
âmbito do processo de adoção. É também uma relação familiar nominada, nos termos do 1586º. Não tem caracter
retroativo.

Filiação por PMA heteróloga: constitui-se mediante o consentimento da parte que irá assumir a posição jurídica
de pai, independentemente dos laços de sangue e sem que tenha havido uma sentença de adoção. O legislador
acredita que o consentimento prestado seja suficiente para criar um vínculo de filiação entre o marido da mãe e
a criança, ainda que não exista qualquer ligação biológica entre eles. Tem caracter retroativo.

PMA, procriação medicamente assistida

Há uma lei própria que regula esta modalidade, a LPMA. No seu artigo 20º estabelece que a constituição da
filiação decorrente de PMA tende a ser designada como estabelecimento da parentalidade.

Esta está de facto sujeita a um regime muito distinto da filiação por ato sexual, que é designado como
estabelecimento da filiação. Nesta modalidade, que é a mais comum, a filiação pode-se constituir relativamente
a uma pessoa que não tenha tido vontade de procriar nem de assumir a qualidade de progenitor (reconhecimento
judicial), tendo por base a biparentalidade heterossexual. Por sua vez, na filiação decorrente de PMA, só se pode
constituir se existir consentimento para a procriação e para a relação parental. Admite-se também a
biparentalidade homossexual ou monoparentalidade, pois que é assim, em principio, incompatível com uma
averiguação oficiosa da paternidade.

A PMA agrupa o conjunto de técnicas destinadas à formação de um embrião humano sem a intervenção do ato
sexual, sendo ainda definida como “o método de causar gravidez sem ser através do coito”. No âmbito destas
técnicas deve-se separar

 Processos de procriação sexuada – pressupõe recurso a dois componentes genéticos, um masculino e


um feminino. Iremos focar-nos nesta modalidade, em que se distingue a fecundação in vivo (dentro do
organismo materno) e in vitro (fora do organismo). Dentro desta [sexuada] distingue-se ainda em razão
da proveniência das células reprodutoras
o PMA homóloga – provêm do casal
o PMA heteróloga – as células não provêm do casal, havendo recurso a um dador, alguém que é
exterior ao casal. Pode ser total ou parcialmente heteróloga, consoante as células provenham
de nenhum ou de um deles. Na IIU o esperma introduzido na mulher não pertence ao marido
 Processos de procriação assexuada – podem ser efetuadas apenas com recurso a um componente
genético, cujo sexo de onde provem é indiferente

Em Portugal as técnicas de PMA usadas reduzem-se à IIU (inseminação intrauterina), FIV (fecundação in vitro)
e ICSI. O decreto 6/2006 de 29 dezembro, no seu artigo 5º determina que se deve privilegiar a IIU a não ser que
exista razão clinica que fundamente o recurso a outra.

Art. 1839º/3 não permite a impugnação de paternidade com fundamento em inseminação artificial ao cônjuge
que nela consentiu. Art. 67º/2 CRP é incumbência do Estado a proteção da família, regulamentar a procriação
assistida em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa humana. Os princípios do dto da personalidade e
do dto da família são os fundamentais do sistema jurídico e os aplicáveis à PMA, sendo que o primeiro desses
princípios é o da dignidade da pessoa humana (CRP: 1º, 26/3, 67/2). O dto de constituir família,
constitucionalmente previsto (36º) abarca o dto de procriar, que confere ao titular a liberdade de procriar ou
não, liberdade essa que está limitada pelo interesse da futura criança; e ainda o dto de constituir um vínculo
de filiação, que se traduz no dto de ver reconhecida juridicamente a qualidade de pai ou filho de certa pessoa.

O nosso sistema de constituição de filiação centra-se na procriação decorrente de ato sexual, assim para as
situações em que a procriação ocorre sem ato sexual exige-se uma declaração de vontade da pessoa que

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juridicamente virá a ser pai ou mão (1839º/3). A declaração de vontade do candidato a progenitor é um elemento
mínimo e indispensável da constituição do vínculo de filiação que não resulte da prática de um ato sexual.

Motivos de recurso à PMA: princípio da subsidiariedade, este método é subsidiário e não alternativo, ou seja,
o recurso à PMA só pode ser encarado quando a forma de procriação normal não constitua uma autentica opção,
nomeadamente em situações de esterilidade. Mas outras razões podem também valer como querer evitar o
aparecimento e desenvolvimento de anomalias genéticas; evitar a transmissão de doenças graves (SIDA); para
tratamento de doença grave, por exemplo irmão que precisa de transplante.

Beneficiários do acesso: divergência doutrinária

Acesso de pessoas sós, solteiras – há quem defenda que o dto de procriar é reconhecido a todos e não só aqueles
que são casados, vivem em união de facto ou que a lei prevê poderem adotar singularmente. Há de facto famílias
monoparentais. Todavia há quem discorde destes argumentos

Acesso de pessoas integradas em casais – o dto de procriar é limitado pelo interesse da criança, portanto é
possível sustentar que seja dada preferência ao seu exercício por aqueles que estão em melhores condições de
proporcionar à criança vindoura «um ambiente familiar normal», que seria biparental 69º/2 CRP.

É verdade que existem muitas famílias monoparentais, e que a lei permite a sua formação por sentença de
adoção, todavia na adoção estamos perante uma criança que já existe e não tem pais, logo é melhor um do que
nenhum. No caso da PMA a criança não existe, logo custa a aceitar que se afetem recursos médicos num
contexto em que se desencadeiam ponderosas questões éticas e jurídicas que não se cingem à questão da mono
ou biparentalidade. Mais sobre estas questões e admissibilidade, etc. na sebenta da sofia pág. 64 e ss.

A gestação ou maternidade de substituição pág. 65 sebenta Sofia!

A PMA post mortem: será admitida? À primeira vista a resposta deve ser negativa, pois que um filho que
nascerá já órfão de pai representa uma secundarização do interesse da criança relativamente ao interesse do
progenitor (interesse este que é indevidamente privilegiado) que tanto poderá ser o interesse do defunto ou do
membro sobrevivo. A LPMA estabelece claramente esta proibição nos artigos 22º, 26º e 47º, apesar de existir
consentimento do membro falecido.

Filiação na PMA: a filiação decorrente de PMA é necessariamente constituída por consentimento do


beneficiário, e este consentimento pressupõe uma dupla intenção

 Intenção dirigida à admissão da procriação


 Intenção ulterior de constituição do vinculo de filiação

A LPMA regula o consentimento para o recurso à PMA, sendo este livremente revogável por qualquer dos
beneficiários até ao inicio dos processos terapêuticos. O consentimento para a constituição da filiação decorrente
de PMA insere-se num negócio jurídico que carece de disciplina própria suficiente e por isso este consentimento
é regido subsidiariamente por (1) princípios subjacentes às regras atinentes ao consentimento em outros
negócios que também são fonte de relações jurídicas familiares (1600º-1645º, normas sobre impedimentos
dirimentes absolutos, falta da declaração de vontade e falta ou vícios da vontade); (2) atos não negociais
constitutivos da relação de filiação nos quais o aspeto volitivo é particularmente valorizado, como a perfilhação
e a adoção.

No momento da constituição do vinculo é suficiente a exibição de documento comprovativo da prestação de


consentimento à PMA, documento este que cria uma presunção ilidível de consentimento para a constituição
do vinculo da filiação.

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A filiação por PMA heteróloga: a relação entre a criança e o beneficiário que não tiver contribuído para a PMA
com células reprodutoras respetivas corresponde a uma relação familiar inominada, contrariamente à filiação
por PMA homóloga, que se enquadra no parentesco descrito no 1576º. Assim, o vínculo de filiação por PMA
heteróloga define-se por exclusão de partes – é a modalidade de filiação que não é biológica nem adotiva!

Art. 1839º/3: ao atribuir a impugnação de paternidade com fundamento em inseminação artificial ao cônjuge
que nela consentiu, a disposição legal atribui a paternidade ao marido da mãe que foi sujeita a inseminação,
mesmo que o esperma seja de terceiro. Divergência doutrinária

Uma parte da doutrina opõe-se a este entendimento, alegando que se estava perante uma simples proibição de
venire contra factum proprium. Assim, o filho resultante da inseminação poderia impugnar a paternidade do
marido da mãe, por não estar entre as pessoas que consentiram o ato de PMA.

Por outro lado, o prof JDP entende que estamos aqui perante um domínio marcado pelo interesse público, o que
afasta o abuso de direito. Há um inerente interesse público na constituição do vínculo da filiação, em especial
relativamente ao filho menor, que justifica por vezes, a relevância pura e simples da vontade de ser pai.

Havendo outrem que queira assumir as responsabilidades parentais com reais vantagens para a criança, a lei
abdica do critério biológico quando: (1) não se confirma ou é pouco provável que se venha a confirmar a
expectativa ou presunção de maior aptidão dos pais biológicos para o exercício das responsabilidades parentais;
ou (2) progenitores falecerem ou são desconhecidos – torna-se assim viável a constituição de um vinculo de
filiação adotiva ou por PMA heteróloga.

Estabelecimento da maternidade vs paternidade

O art. 1797º estabelece esta distinção. A filiação da mãe resulta do facto do nascimento e estabelece-se nos
termos dos arts. 1803º a 1825º, isto é por declaração de maternidade ou reconhecimento judicial. O nr2 dispõe
que a paternidade se presume em relação ao marido da mãe e fora do casamento pelo reconhecimento.

Estabelecimento MATERNIDADE – segue o «sistema da filiação», a maternidade jurídica resulta do facto do


nascimento, regra que tem em vista a situação comum, em que a mãe genética e a mãe de gestação são a mesma
pessoa. O parto é o elemento que torna patente a ligação biológica do filho à mãe.

O art. 1796º estabelece os únicos dois modos de estabelecimento da maternidade: declaração de maternidade
(1803º) e reconhecimento judicial (1814º). A averiguação oficiosa não constitui um modo de estabelecimento
de maternidade, mas antes uma atividade imposta por lei com o objetivo de conduzir a tal estabelecimento por
um dos dois modos referidos supra.

Declaração de maternidade: 124º CRC, pode ser em sentido estrito (indicação da maternidade efetuada pela
própria mãe) ou em sentido amplo (feita por um terceiro, 1804º/2 e 1805º CC). Em regra faz-se por menção
desta no registo de nascimento do filho, é a «menção de maternidade». Está normalmente conexa com a
declaração do nascimento, ou seja o declarante do nascimento deve indicar a mãe quando possível (112º CRC
e 1803º).

O nascimento é um facto sujeito a registo obrigatório e quando ocorre em território português deve ser
declarado, dentro dos 20 dias imediatos – art. 1º/1 e 96º CRC. Art. 97º CRC, a quem compete declarar, 99º para
nascimento ocorrido a mais de um ano.

Nascimento ocorrido há menos de um ano (113º/1 CRC e 1804º CC) – considera-se estabelecida a maternidade
indicada por uma das pessoas indicadas no 97º/1 registo civil, ou por qualquer pessoa que possa exibir prova de
declaração de maternidade feita pela mãe em escritura, testamento ou termo lavrado em juízo.

25
Há mais de um ano (114º CRC e 1805º CC) – a maternidade indicada considera-se estabelecida se for a mãe a
declarante, se ela estiver presente no ato de registo, se for nele representada por procurador com poderes
especiais ou se for exibida prova da declaração de maternidade feita pela mãe em escritura, testamento…

1805º/2: não se verificando nenhum destes casos, a pessoa indicada como mãe será notificada pessoalmente
para, no prazo de 15 dias, vir declarar se confirma em auto a maternidade sob a cominação do filho ser havido
como seu. 1805º/3: caso a pretensa mãe negue a maternidade ou não possa ser notificada, a menção da
maternidade fica sem efeito. Se confirmar a maternidade ou, se tendo sido notificada, nada declarar, a
maternidade considera-se estabelecida. Mais na sebenta Sofia pág. 32

A mãe não perfilha!! declara maternidade. A declaração de maternidade em sentido estrito é a figura homologa
da perfilhação. Assim aplicam-se disposições estipuladas no capítulo da perfilhação, nomeadamente a forma
que pode assumir (1853º), entre outras. São todavia inaplicáveis à declaração de maternidade os arts 1850º,
1860º e 1861º por estarem associados à perfilhação enquanto declaração de consciência.

1807º: pode ser impugnada, com base em declaração somente quando a maternidade indicada não for a
verdadeira.

Reconhecimento judicial da maternidade: dá-se através de uma ação autónoma especialmente intentada para
o efeito de investigação de maternidade. O tribunal deve comunicar a qualquer conservatória do registo civil a
decisão que reconhecer a maternidade, para que seja feito o averbamento da filiação estabelecida (78º CRC).

1815º: não é admissível o reconhecimento judicial da maternidade contrário ao que consta no registo, para tal
suceder tem de existir uma impugnação prévia da maternidade registada.

A ação de investigação de maternidade pode ser

 Comum/simples – incide apenas no plano de estabelecimento da maternidade


 Especial/complexa – destina-se a reconhecer a maternidade de filho nascido ou concebido na constância
do matrimónio da pretensa mãe, 1822º e tem também repercussões na paternidade.

Legitimidade passiva – deve ser intentada pelo filho contra a pretensa mãe, 1814º, ou no caso de falecimento
contra o cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e também contra os descendentes, ascendentes
ou irmãos ou ainda ao curador especial, 1819º

Legitimidade ativa – o filho, ou estende-se ao cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens ou aos
descendentes do filho, se o filho não tiver intentado a ação e morrer antes de terminar o prazo em que o podia
fazer (prazo esse definido pelo 1817º). Entende-se também, no 1818º segunda parte, que estes o podem fazer se
o filho tiver intentado e morrido durante.

Averiguação oficiosa da maternidade: sempre que a maternidade não esteja mencionada no registo de
nascimento, deve o funcionário do registo civil remeter ao tribunal, se as houver, a certidão integral do registo,
acompanhada de cópia do auto de declarações – 1808º CC, 115º e 116º CRC. Tem caracter secreto de instrução,
incumbindo ao MP [onde se lê tribunal deve entender-se ministério público]. Não pode haver averiguação nos
casos enumerados no 1809º - parentesco afim em linha reta ou de 2º grau linha colateral entre o pai perfilhante
e a pretensa mãe; passados dois anos do nascimento.

Estabelecimento PATERNIDADE – afasta-se o «sistema da filiação» (por falta de um elemento como parto) e
assim recorre-se ao «sistema da presunção» para os filhos nascidos dentro do casamento e o «sistema do
reconhecimento ou do decreto» para os demais. A paternidade presume-se em relação ao marido da mãe e nos
casos de filiação fora do casamento estabelece-se pelo reconhecimento. Então há assim 3 modos: presunção,
perfilhação, reconhecimento judicial

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Novamente aqui, a averiguação oficiosa não constitui um modo de estabelecer ou reconhecer paternidade.

1826º estabelece a presunção de paternidade para o filho da mãe casada, já o 1871º estabelece as presunções de
paternidade para o filho de mãe não casada, todavia estas presunções últimas não constituem modos de
estabelecer a paternidade – ver a divergência doutrinária sobre isto, sebenta Sofia pág.37

Momento da conceção: o filho concebido na constância do matrimónio. Perfilhação do nascituro só é válida


depois da conceção (1855º). Várias das presunções do 1871º têm como referencia temporal o período legal de
conceção. É também este momento que delimita o âmbito de aplicação das situações de cessação da presunção
de paternidade e da ação oficiosa de investigação da paternidade com base em processo crime (1828, 1829,
1831º).

Presume, nos termos do 1798º, que o momento da conceção ocorre nos primeiros 120 dias dos 300 que precedem
o nascimento, e aí o filho beneficia de duas presunções – conceção verificou-se em qualquer um dos primeiros
120 dias dos 300 anteriores ao seu nascimento; gestação não foi superior a 300 dias nem inferior 180 dias. Esta
presunção é ilidível pelo 1800º que admite ação judicial para provar e fixar o contrário.

Presunção de paternidade: a regra do 1826º, pater is est, inclui os casos de (1) conceção e nascimento dentro
do casamento; (2) conceção antes do casamento desde que nascido durante o matrimónio; (3) concebido durante
o casamento mesmo que nascido depois.

1826º+1827º = nos casamentos civis anulados a presunção pater is est vigora até ao transito em julgado da
sentença de anulação, nos católicos vigora até ao registo civil da sentença de declaração de nulidade.

Esta presunção é obviamente ilidível por impugnação judicial.

Cessação da presunção de paternidade (1828,1829 e 1832) – em certos casos, em que não é exigido impugnação
judicial, a lei afasta a vigência da presunção, embora o filho tenha nascido ou sido concebido na constância de
matrimónio da mãe. Todavia, a presunção que cessou nos termos dos artigos supra pode renascer (1831º - por
decisão judicial) ou reiniciar (1830º - recupera efeitos ipso jure para o futuro).

Havendo bigamia ou casamento sucessivo da mãe em desrespeito pelo prazo internupcial, surge um conflito de
presunções de paternidade que se resolve pelo 1834º, prevalecendo a presunção de que o pai é o segundo marido,
se for impugnada (com sucesso) renasce a presunção relativo anterior marido da mãe, 1834º/2

Perfilhação: ato pelo qual o homem declara livremente que tal pessoa é seu filho, coincidindo com o
reconhecimento voluntário da paternidade. Caracteriza-se por ser pessoal, livre, solene, irrevogável.

Em aula

Pode ser constituída por uma destas modalidades, taxativamente: reconhecimento voluntário, reconhecimento
judicial e/ou presunção

1. Reconhecimento judicial: ação de investigação da maternidade e ação de investigação da paternidade.


Recurso a uma ação judicial com vista a obter uma sentença que constitua o vínculo de parentesco entre
duas pessoas (pai ou mãe – filho(a))

Incube ao filho intentar a ação, nos termos do art. 1814º, porque se não há uma presunção. A maternidade é
atípica, pode ser a mãe a pedir a sentença para que funcione a presunção de paternidade para o seu marido
(1826º-1831º) e a criança não poderá considerar-se filha do perfilhante, mas sim do marido da mãe.

Pode propor a ação todos os nomeados no art. 1819º. Prazos (1817º) servem para a paternidade e maternidade,
por força do art. 1873º. Sebenta DNB, p. 30 posição da prof Margarida Silva Pereira

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O filho deve provar que nasceu da pretensa mãe (1816º). Paula Costa e Silva admite que o tribunal pode requerer
exames de ADN, todavia são levantadas questões na doutrina e Guilherme de Oliveira duvida que possa haver
imposição coerciva.

Há presunção de paternidade e maternidade (1869º e 1816º)

2. Reconhecimento voluntário – declaração de maternidade e perfilhação: declaração por parte


daquele que se assume progenitor de certa pessoa, prestada perante autoridade pública, e não sujeita a
um regime unívoco de forma, à qual a lei confere o efeito de estabelecimento da filiação da pessoa a
quem se refere.

Declaração de fixação de maternidade, estipulada nos arts. 1803º-1807º. No caso do nascimento se ter dado
há menos de 1 ano art. 1804º, no caso de ser há mais de um ano releva o art 1805º, nos termos do nr2 a mãe
deve declarar a maternidade quando notificada. Art. 1806º caso de omissão do registo quanto à maternidade, a
mãe pode declarar.

Declaração de fixação de paternidade – perfilhação, arts. 1849º-1863º. É um ato pessoal e livre. Se for
perfilhada por pessoa diferente do marido da mãe, só prevalecerá se for afastada a presunção de paternidade
(1823º/2)

Critério biológico e critério social/afetivo. Muitas vezes o legislador afastou-se do princípio da verdade
biológica, por exemplo ao introduzir prazos de caducidade (1817, 1873 e 1842º)

Efeitos da filiação: estipulação dos deveres mútuos entre pais e filhos (art. 1874º), os pais e os filhos devem-
se mutuamente auxilio (no quadro da comunhão familiar), respeito e assistência (a situação expressamente
referido no âmbito do nr2 do mesmo artigo – dever de prestar alimentos e contribuir para os encargos da vida
comum). Relativamente ao dever de assistência e sustento, os filhos estão sujeitos às responsabilidades
parentais, embora seja mútuo, que é assim um dever ainda mais intenso por parte dos pais

Art. 1875º e 1876º - escolha do nome, pode usar apelidos de um dos cônjuges ou dos dois. Em falta de consenso
entre os pais cabe ao juiz escolher, mas regra geral é um direito dos pais. Quando não está estabelecida a
paternidade pode ser atribuído os apelidos do cônjuge da mãe, e no caso de ser estabelecida mais tarde, podem
ser retirados e substituídos pelos do pai biológico.

Responsabilidades parentais (antes «poder paternal») – a partir do momento que se estabelece a filiação,
surgem estas responsabilidades. Estas não se “exercem”, “assumem-se” ou “constituem-se”. Prof Menezes
Leitão opta pela expressão “competências parentais”, não se sabe se são direitos, deveres ou poderes funcionais.
Os pais podem exercer estas competências atribuídas pela ordem jurídica sempre no interesse dos filhos

Art. 1877º - os filhos estão sujeitos às responsabilidades parentais até à maioridade, exceção é a emancipação.

Conteúdo: art. 1878º - devem os pais zelar pela vida dos filhos, pela saúde e segurança (pode levar a
responsabilidade criminal), dirigir a sua educação, etc, e representá-lo ainda quando nascituro e administração
dos bens.

O dever de assistência e sustento varia consoante a situação dos cônjuges e dos próprios filhos art. 1879º, por
exemplo se o filho já for capaz de se sustentar, os pais deixam de ter esse dever.

Despesas posteriores à maioridade e emancipação, art. 1890º.

Art. 1882º - os pais não podem renunciar às responsabilidades parentais. E a adoção? Dar um filho para adoção
é renunciar às responsabilidades?

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Proibição de introdução de um filho concebido fora do matrimonio no lar conjugal, sem consentimento do outro
(cornudo), art. 1883º. Esta solução serve também para proteção do filho, pois que incorre no risco de não ser
bem tratado pelo outro cônjuge não seu pai. Se o filho nascer dentro do matrimónio presume-se que o pai é o
marido da mãe.

Responsabilidades parentais relativamente aos bens dos filhos: art. 1888º e ss.

Pode haver lugar à exclusão da administração, ou seja os pais não têm essa responsabilidade, o art. 1888º/1 al.
c) estabelece que há uma exclusão da administração dos pais face aos bens dos filhos sob os bens deixados ou
doados com a expressa indicação; al. d) os bens do maior de 16 anos adquiridos pelo seu trabalho.

Tirando estas exceções os pais administram todos os bens dos filhos, são assim atos de administração ordinária
e por isso a lei exige autorização do tribunal para a validação dos atos que extravasem essa área ordinária de
administração – 1889º. Houve uma relativamente a este artigo e que conduziu a que esta autorização não fosse
feita pelo tribunal mas sim pelo MP!!

Regime de aceitação e rejeição de liberalidades, art. 1890º: não precisa de ser aceite no caso de doação pura
(951º/2).

Artigos importantes: 1892º, 1893º, 1895º ( exclusão 1336º), 1896º, (1920º), 1900º (fim da administração
quando atinge maioridade ou emancipação)

A administração dos bens dos filhos deve ser feita pelos pais como se tratasse da administração dos seus próprios
bens, ou seja contrariamente adota-se o critério da culpa em concreto, contrariamente à diligência do homem-
médio, frequentemente usada, art. 1897º.

Administradores de negócios alheios – prestação de caução de administração (623º e ss.) e obrigação de


prestação, no fim da administração pode acontecer que seja obrigado a prestar contas sobre o seu desempenho
– estas situações não se coloca com os pais, porque é uma situação distinta, mesmo que os negócios não sejam
seus. Se for exigida a prestação de contas e o resultado for desfavorável a sanção imposta é a do artigo 1470º,
sob prejuízo de perda dos bens. Os pais não são obrigados a prestar contas salvo o estipulado no 1920º.

Exercício das responsabilidades parentais

Art. 1903º, em caso de impedimento, ausência ou incapacidade de um dos pais decretado por sentença judicial,
cabe ao tribunal decretar um novo responsável pela ordem estipulada no artigo.

Exercício conjunto das responsabilidades parentais apenas pelo único progenitor e pelo seu cônjuge ou unido
de facto: não sendo o cônjuge o progenitor também ele pode ser responsável, mas o prof Menezes Leitão
considera que é um caso grave e raro pelo que faria mais sentido a adoção e obriga à intervenção do tribunal.
Em caso de divórcio, separação judicial de pessoas e bens, etc. aplica-se o mesmo regime como se fossem 2
progenitores.

Inibição e limitações ao exercício das responsabilidades parentais (1913º e ss.)

Existe inibição de pleno direito, que não isenta do exercício das responsabilidades parentais, e existe inibição
do exercício das responsabilidades parentais. Em nenhum caso há isenção de alimentar o filho! No caso da
primeira inibição, pode cessar nos termos do 1914º e a segunda pode ser levantada

Art. 1918º: esta norma era antes vista como uma cláusula geral, para proteção de filhos mesmo que não houvesse
a medida drástica de inibição das responsabilidades parentais. Atualmente esta medida está regulada na Lei de
Proteção de Crianças e Jovens em perigo (147/99 1 de setembro)

Tutela

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Administração de bens no caso de tutela é exercida por tutor + conselho de família, art. 1924º

O tutor é estabelecido nos termos. Pode ser designado pelos pais (1927º e 1928º) ou pelo tribunal de menores
(1931º). Quando os pais não tenham designado compete o tribunal de menores, ouvindo o conselho de família
(1951º e ss.). É ainda estabelecido que os irmãos devem ficar à tutela da mesma pessoa, sempre que possível.

Há pessoas, estipuladas no 1933º que não podem ser nomeadas tutoras, caso sejam nomeadas considera-se
ineficaz. Diferente é o caso previsto no 1934º quem podem escusar-se da tutela, pois que a tutela é obrigatória
exceto para os nomeados neste artigo.

Direitos e obrigações do tutor (as suas competências): tem os mesmos direitos e obrigações do que os pais,
e deve o tutor exercer a tutela com as mesmas diligencias que o bom pai de família, mas não se aplica a situação
do tutor ter de administrar os bens do tutelado como se administrasse o seu (como se obriga aos pais), neste
caso exige-se apenas que os administre de acordo com o homem médio. Há atos proibidos (1937º), atos que
carecem de autorização, não do tribunal como diz o artigo, mas desde 2001 do MP (1938º). Pode dar-se a
nulidade (1939º) ou outras sanções (1940º) dos atos praticados pelo tutor. Há a obrigação de prestar contas
(1944º) e pode haver lugar à responsabilidade do tutor.

Termo da tutela: dá-se sempre por qualquer das razoes indicadas no 1961º

Tutela de menores confiada a estabelecimento de educação ou assistência dá-se em situações excecionais


nos termos do art. 1962º.

Práticas

Saber posições do prof Menezes Leitão (fiel ao CC) e do Duarte Pinheiro (mais revolucionário e fora do CC)

Família: é um conceito evolutivo, aquilo que consideramos família está em constante mutação. Pressupõem-se
uma comunhão de vida, embora não necessária é frequente, aplicamos a ideia de sistema móvel, mesmo que
não se cumpram todos os pressupostos, se existirem pressupostos reunidos, podem prevalecer.

Fontes de relações familiares: art. 1576º - casamento, parentesco, afinidade e adoção. Prof Menezes Leitão
defende que se deve incluir também a filiação (procriação)

Casamento – é contrato? O contrato obriga à existência de liberdade de estipulação? Não, por exemplo contratos
de adesão, posição defendida pelo prof M.Cordeiro, que afirma que por existir uma liberdade de estipulação
muito restrita não se pode assumir que exista efetivamente um contrato. Neste caso, a liberdade de estipulação
está extremamente limitada, por razões de tutela familiar, é possível ainda assumir que é efetivamente um
contrato. Noção jurídica de casamento?

Caso prático 1: Kim e Kanye. Kanye West lança um novo álbum, denominado “Winning Kimmy”. Ao exibir, de
surpresa, este novo álbum, numa festa, Kim Kardashian aceita (voltar a) contrair casamento, no ano de 2022,
com Kanye, ao som do seu novo single “Kimestry”.Kanye oferece, após um mês, o seu relógio de ouro com as
inscrições “KK” e um coração dourado, como prenda de noivado por já saber que “os anéis de noivado só
dão má sorte”. Após 5 meses, Kim envia uma mensagem a Kanye afirmando que “em setembro, o mercúrio
retrógado lhe indicava que não deveriam contrair casamento dado que era Libra”, pelo que, tinha vendido o
relógio e doado o dinheiro para uma fundação que ajuda “gatos de rua”. Kanye West, ao som de “Gold
Digger”, coloca-se à porta de sua casa gritando que não aceita o fim do noivado, dado que “o signo dela não
era apenas esse, as promessas são para cumprir” e que “queria o seu relógio de volta”. Quid juris?

Art. 1591º, promessa de casamento; art. 1592º, restituição; art. 1594º, indemnização, mas apenas para despesas
feitas ou obrigações contraídas na previsão do casamento, com o prazo de 1 ano para pedir. Há ainda que ver a

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conceção objetivista os motivos para romper a promessa de casamento, que não se encontram reunidos neste
caso, pois que mercúrio retrógrado não o é. A questão relevante deste caso é qual o destino dos bens? E execução
especifica do contrato?

Se num contrato promessa não forem cumpridos os requisitos de validade para o contrato definitivo, torna-se
inválido?

R.: o tipo de contrato aqui presente é uma promessa de casamento (explicar e justificar a existência da figura)
(1591-1595, disposições que regulam esta situação). Qual a capacidade exigida para o contrato definitivo, que
à partida não existiria. Este tipo de contratos é extremamente atípica porque não obriga à execução. Qual a
sanção jurídica deste contrato? Como é que posso executar para obter a recompensa merecida? Se uma promessa
de casamento pudesse ser executada juridicamente, isto é o tribunal obrigasse ao casamento, era uma coisa, mas
neste caso há liberdade à renuncia do contrato e há espaço para não querer. A indemnização não é calculada nos
termos habituais, é antes regulada pelo art. 1594º. Como já referido este contrato não obriga a execução
especifica, mas pode dar lugar a indemnização, pelo que esta resultaria do crédito advindo do objeto em questão,
que foi doado.

Havendo uma oferta dos bens à KIM ela passa a dispor deles e pode fazer com eles o que entender, no âmbito
do direito da propriedade. Na medida em que existiu uma doação, deu-se um tradição da coisa, e a Kim tem o
direito a dispor da coisa. Art. 1592º, com remissão para o regime da anulabilidade e nulidade. Houve uma
alienação onerosa da coisa, pelo que se aplica o art. 289º/1. Ou seja, se já não existe o bem deve-se restituir o
bem. Assim os pontos relevantes deste caso são: promessa de casamento, execução específica.

Caso 2: Micaela Gomes tinha um sonho desde pequenina, casar com o astro-rei da seleção portuguesa
Cristiano Ronaldo. Micaela sabia que tinham os dois bastante em comum: ambos tinham nascido na Madeira
e gostavam de futebol, pelo que, “estavam destinados”. Uma amiga sua, advogada, Joana Castelo Claro, liga-
lhe entusiasmada avisando que o Ronaldo, desgostoso com a sua má época, procurava uma nova mulher e que
tinha ficado encantado quando viu uma foto de Micaela. Micaela, rapidamente, através de uma procuração,
casa-se com Ronaldo. Sentindo-se nas nuvens, passado uma semana, Micaela viaja para Ibiza para se
encontrar com o “amor da sua vida”, já casada. Ao chegar a Espanha, descobre que não tinha casado com o
famoso jogador Cristiano Ronaldo mas, sim, com um homem de 36 anos, em má forma física e desempregado,
caça fortunas, que tinha o mesmo nome. Quid juris?

Devem estar presentes no casamento quem estabelecido no art. 1616º, assim define-se que existe um casamento
por procuração, permitido no art. 1620º, neste caso Micaela é representada pela advogada. Art. 1618º, 1619º e
1627º relativamente aos preliminares, aceitação dos efeitos e capacidade para contrair casamento.

Anulabilidade, nos termos do art. 1631º al. b). Erro na formação da vontade? Vício de falta de vontade, art.
1635º al. b), visto que o nome é mesmo, existindo apenas um erro na identidade física. Dolo de terceiros poderá
estar em causa, por parte da advogada representante de M.

R.: referir regime da capacidade dos nubentes e excluir os impedimentos, como laços familiares, menoridade,
etc (art. 1600º e ss.). Falta ou vício de vontade? Aplicar-se-ia o artigo 1635º al. b) fala de identidade física
(imagem em que uma pessoa se forma a partir de suas várias características físicas, como seu nível de atletismo,
a figura ou imagem), tendo em conta esta definição podemos de facto concluir que existe um vicio por falta de
vontade, pelo que o casamento pode ser anulável nos termos deste artigo.

Uma alteração do comportamento posterior ao casamento não se consubstancia como um erro porque são
posteriores à vontade de contrair de casamento.!!!!! Mais sobre erros da vontade na celebração do casamento
em J. Duarte Pinheiro, p. 410 e ss.

31
Doutrina, CC anotado Pires de Lima e Antunes Varela, vol. IV: erro acerca da identidade física do outro nubente.
Existira sempre dolo do CR falso, e da procuradora?

Caso 3: Paula Iloodidah, de 15 anos, e Simon Leviev, de 30 anos, herdeiro de Lev Leviev, um bilionário
israelense do ramo do comércio de diamantes, após um ano sem se verem por causa da pandemia e
perdidamente apaixonados, decidem casar-se. Numa cerimónia que dura “toda a noite”, ao som de Toy,
decidem unir as suas vidas, ficando Paula com o apelido de Simon. Dois meses depois, Vanessa, mãe de Paula,
a qual sempre se opôs a este casamento, dado já ter sido também ela casada com Simon, conta à filha que
Simon não passa de um “Golpista do Tinder”. Paula, desconsidera os comentários da mãe, sabendo que com
a idade ela se tinha tornado uma “velha invejosa” e porque bem sabia serem rumores plantados pelos rivais
da indústria de diamantes. Só dois anos mais tarde descobre a verdade aterradora, numa sessão de Netflix.
Simon já tinha sido condenado pelo crime de fraude, mas ocultara-o, por saber que Paula jamais casaria com
ele se conhecesse o seu histórico de golpista do Tinder. Quid juris?

Impedimento dirimente absoluto, art. 1601º al. a), é causa de anulabilidade pelo art. 1631º. Declaração de
impedimentos prevista no 1611º. Menor núbil é idade compreendida entre os 16 e os 18. Validação do
casamento, art. 1633º al. a) dá-se a sanação. Prazos para anulação fundada em impedimento dirimente, que é
neste caso a idade nos termos do 1643º

Impedimento – não verificação dos requisitos do casamento. Requisitos – vontade livre e atual de contrair
casamento. Não existência de nenhuma das situações enumeradas no art. 1601º por diversas razões a) idade
mínima para ter consciência do ato; b) não aproveitamento de outrem; c) não permitir situações de bigamia.
Podem vir a ser reconhecidos efeitos a um casamento que tenha sido celebrado por um menor não núbil, a nível
civil.

Ainda pode existir um impedimento relativo, por haver uma relação de parentesco em linha reta, nos termos do
1602º, isto porque sendo Simon outrora casado com a mãe de Vanessa, faz com que em certa altura houve uma
relação de afinidade em linha reta de 1º grau (1580º, 1584º e 1585º) entre os dois nubentes, todavia não se pode
admitir este impedimento, pois que o art. 1585º a contrario induz a que se conclua que a relação de afinidade
se extingue com o divórcio, pelo que não há de facto o impedimento previsto no art. 1602º al. a)

Requisitos do erro

1) Essencialidade: recair sobre as qualidades essenciais da pessoa com quem se realiza o casamento. São
qualidades essenciais as qualidades consideradas importantes para o outro cônjuge querer contrair
matrimonio com aquela pessoa em concreto. Prof Guilherme de Oliveira defende que a essencialidade
não pode ser apenas subjetiva, tem também de ser objetiva, ou seja aquela qualidade que induziu em
erro era determinante para casar (ver jurisprudência!!). Na prática, o que os tribunais têm feito é olhar
para o código anterior e retirar os erros que não fazem sentido nos dias de hoje, existem exemplos de
qualidades essenciais que estavam nas versões anteriores e hoje se mantêm (estado civil, condição
religiosa, prática de um crime infame, deformidades físicas graves, doenças incurável contagiosas ou
hereditárias) existem outras qualidades que estão na jurisprudência mas não são essenciais, logo não
podem ser invocadas para anulabilidade (personalidade terrível, desperdício de dinheiro conjunto para
jogo, casar por dinheiro). Os motivos para casamento não se integram neste preceito do 1636º
2) Desculpabilidade: erro não desculpável, ou seja à luz da bitola do homem-médio uma pessoa não
poderia perdoar esse erro
3) Propriedade do erro: o erro tem de ser próprio (ver Guilherme de Oliveira)
4) Ocorre antes do casamento: o erro tem de ser originário

“Sem ele o casamento não teria sido celebrado” -

32
Anulabilidade vs divórcio – porque é que se invoca a anulabilidade? Na anulabilidade o casamento passa como
se fosse contra a lei e é como se “desaparecesse” ou nunca existisse e a pessoa volta a ser solteira em vez de
divorciada.

Caso 4: Hannah Neshiah e Simon Leviev, um conhecido golpista do Tinder, combinam casar-se para que este
adquira a nacionalidade portuguesa. Simon está a ser investigado por ter defraudado o anterior marido de
Hannah, também ele um vigarista, razão pela qual a Hannah “deixou que o Simon lhe roubasse a nacionalidade
também”, mas ambos julgam que não terão quaisquer dificuldades em casar-se, uma vez que Simon foi apenas
pronunciado pelo crime e ainda não houve qualquer condenação no processo. Quid juris?

R.: casamento simulado, é aquele que há falta de consenso entre os cônjuges e que o fim dos nubentes não seja
celebrar o casamento e viver em comunhão de vida (1578º), mas sim outro qualquer. Esta figura configura-se
como razão de anulabilidade por falta de vontade nos termos do art. 1631º com remissão para o 1635º al.d). O
regime seguido para este vício está no art. 1640º. O facto de quererem casar para o Simon requerer
nacionalidade, o que se configura numa simulação nos termos dos arts. 1635º al.d), de facto nubentes não têm
uma vontade expressa de assumir uma plena comunhão de vida, o que o torna anulável. Deve ser proposta uma
ação de anulação, nos termos do art. 1632º por um dos cônjuges ou terceiro prejudicado com o casamento – há
quem entenda que o terceiro prejudicado por um casamento simulado é o Ministério Público, pois que este
representa o interesse público e este está a ser posto em causa por um casamento simulado, e assim os tribunais
admitem esta possibilidade. Poderia ser anulado, conforme o art. 1644º nos 3 anos subsequentes à celebração
ou nos 6 meses após o conhecimento.

Dúvida: propriedade do erro? Um erro próprio não é um requisito de validade do casamento.

Caso 5: No dia 9 de Outubro de 2022, Gollum conheceu Galadriel, na rua da Oura, por quem se apaixonou à
primeira vista. Galadriel, que tem um problema de vício em guerra, ficou a dever € 100.000,00 à máfia
Algarvia, a qual a auxiliou no combate contra Sauron, mas que agora a ameaça de morte se não pagar o que
deve. Aproveitando-se da situação, Gollum promete que paga os € 100.000,00, poupando Galadriel às
represálias da máfia, se a sua “my precious” se casar com ele utilizando um anel muito especial. Desesperada,
Galadriel acede ao pedido e celebra casamento com Gollum sem processo preliminar, dada a urgência em se
casar e continuar a “guerra contra as forças do mal”. Oito meses mais tarde, Galadriel descobre que Gollum
é um criminoso procurado por roubo de joias. Quid juris?

R.: coação moral, 1638º/2 – casamento em troca da ilibação da máfia. Casamento coagido é anulável nos termos
do 1631º al.b). A vontade para casar está assim viciada. A legitimidade para invocar anulabilidade é de
Galadriel, o nubente coagido, 1641º. Prazo de seis meses nos termos do 1645º.

Invalidade por impedimento dirimente absoluto, nos termos do art. 1601º al. b), demência por ser “viciada em
guerra”? Acórdão do STJ admite a prodigalidade como equiparável à demência.

Erro que vicia a vontade, que recai sobre as qualidades essenciais, 1636º, neste caso Gollum ser um criminoso
procurado. Requisitos: antes do casamento, ou seja originário, essencialidade objetiva e subjetiva, próprio,
desculpabilidade (homem médio).

Casamento urgente? Não! Não pode existir um casamento urgente, neste caso, apenas quando um dos cônjuges
está em risco de vida, ou então, em vias de ter um filho. (1622º e ss.). Como não obedeceu a pressupostos
fixados no CC, não é casamento em sentido técnico-jurídico, é inexistente (art. 1628º), sendo assim destituídos
de efeitos – inexistência pode ser invocada a todo o momento e não depende de declaração judicial (art. 1630º).
Falta de formalidade sujeita-os a homologação própria (art. 1623º). Casamento não subsiste se não for

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homologado (art. 1628º/b). Sujeita a regime imperativo de separação de bens – proteção patrimonial (art. 1720º)
do procedimento preliminar não terminado. Também pode haver casamento católico urgente (art. 1599º) e em
âmbito mais vasto.

Caso 6: Neil Patrcik Harris, conhecido ator, apaixona-se por David Burtka, não tão conhecido ator, decidindo
os dois celebrar uma convenção antenupcial por saberem que não há nada tão romântico como elaborar
convenções antenupciais:

a) Neil será exclusivamente responsável pelas dívidas contraídas para ocorrer aos encargos normais da vida
familiar, dado que é o ator mais conhecido.
b) Que será nulo qualquer contrato mediante o qual um cônjuge venda ao outro bem imóvel, porque o amor
não deve ter raízes.
c) O casal terá relações sexuais, pelo menos, uma vez por mês, sendo ambos os cônjuges livres de violar o
dever de fidelidade uma vez por ano, na noite da “Liberdade”.
d) O casamento terminará se o David não conseguir celebrar contratos com um grande estúdio de Hollywood
até 2025.
Quid juris?

R.: o art. 1698º prevê que os cônjuges são livres de estipular «o regime de bens do casamento, quer escolhendo
um dos regimes previstos neste código, quer estipulando o que a esse respeito lhes aprouver, dentro dos limites
da lei.» - princípio da liberdade. Ainda o art. 1708º releva, no sentido de que indica quem tem capacidade para
celebrar convenções antenupciais, sendo, no âmbito do nr1 do artigo, todos aqueles que tenham capacidade para
contrair casamento, à luz das disposições do código que estabelecem os impedimentos, e verificando que não
há nenhum, podemos então comprovar que tanto N como D têm capacidade para contrair casamento, logo
podem também celebrar esta convenção.

As convenções antenupciais só são válidas se celebradas perante funcionário do registo civil ou escritura
pública, conforme o art. 1710º. Consideremos que tais diligências foram tomadas, visto que nada em contrário
é dito e que a convenção é válida. Art. 1711º publicidade das convenções, o que faz com que a sua eficácia (para
terceiros) está dependente da publicação. A celebração da convenção caduca no prazo de um ano, caso o
casamento não seja celebrado, art. 1716º.

Uma vez que nada foi expressamente dito relativamente ao regime de bens, aplica-se o regime supletivo, a
comunhão de adquiridos nos termos do 1717º.

A-restrição à liberdade convencional, nos termos do art. 1699º/1 al.b), pois que é um dever de cooperação e
assistência (1672º+1674º1675º/1) o pagamento solidário, ou seja a divisão, das dívidas contraídas para os
encargos da vida familiar. Cláusula nula

B-esta cláusula é válida nos termos do art. 1714º/2 que proíbe a compra e venda entre os cônjuges. Contratos
que repetem o que a lei diz, isto é explicável por vários motivos e não tem qualquer problema nisso. Há alguma
utilidade em fazer isto na prática e não há nenhuma proibição.

C- na primeira parte desta cláusula há uma estipulação que não merece qualquer tutela jurídica e no limite, até
poderia ser proibida, pois que não se pode ser judicialmente exigível e até pode dar aso a abusos. Art. 1671º/2
igualdade dos cônjuges, acordo sobre a vida em comum. Divergência doutrinária sobre a natureza jurídica desta
matéria!!! Profº Jorge D. Pinheiro afirma que não sendo jurídica, é indiferente ser tutelado pela convenção.

Na segunda parte desta cláusula, o art. 1699º prevê as limitações ao principio da liberdade na convenção,
relativamente ao objeto da convenção, nomeadamente a alteração de deveres conjugais, como prevê a alínea b)
da convenção acordada entre os dois nubentes, em que há a possibilidade de violar o dever de fidelidade uma
vez por ano. Ora, este dever de fidelidade está expressamente indicado no art. 1672º como sendo um dever que

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vincula reciprocamente ambos os cônjuges, pelo que esta alínea por um lado viola esta disposição, como viola
também o art. 1699º/1 al.b) que não permite que uma convenção antenupcial interfira com os deveres dos
cônjuges. Neste modo, a cláusula é nula nos termos do 294º, pois que viola o 1699º/1 al.b) e assim a cláusula
considera-se não escrita. Releva ainda o art. 1618º! Pode haver uma modelação do dever fidelidade a esta
cláusula?

D- nesta alínea da convenção, é imposta uma termo (resolutivo), que estipula que o casamento acabará se D não
celebrar contrato com o estúdio até 2025. Na verdade, o CC permite a introdução de condições ou termos, como
diz o art. 1713º/1, mas para a convenção não para o casamento. Mas, também o art. 1618º fala também sobre
isto, assim o art. 9º/3 presume-se que o legislador consagrou as soluções mais acertadas.

»» convenção antenupcial é o momento em que os cônjuges estipulam como vão regular a vida conjugal após
o casamento. Podem ser regulados outros direitos e deveres para alem da questão monetária. Da mesma forma
que há uma liberdade há também uma restrição muito forte a esta liberdade que foi idealizada para proteger as
partes. Nos termos do art. 189º CRC as convenções têm de ser celebradas nas instalações do registo civil!!

»» Bens próprios vs bens comuns. Para os bens próprios existe um cônjuge administrador, que é o titular do
bem. No caso dos bens comuns, há uma necessidade de consentimento de ambos para efeitos de administração
dos bens (se um cônjuge quiser vender um bem comum, tem de perguntar ao outro e só pode fazê-lo com o
consentimento)

»» bens incomunicáveis são bens que não são partilháveis/comunicáveis, nem no regime de comunhão geral
de bens, são típicos e estão previstos no 1733º

»» impõe o art. 1699º uma restrição à alteração do dever de fidelidade? Na verdade, o dever de fidelidade
é um dever conjugal, todavia o art. 1699º não especifica concretamente este dever, o profº Guilherme de Oliveira
indica que este artigo não trata uma tipologia taxativa: “a enumeração do art. 1699.º não pretende naturalmente
ser taxativa. Sempre que a estipulação dos nubentes vá contra disposição legal imperativa será nula, conforme
o princípio do art. 294.º”. O dever de fidelidade é uma norma imperativa que vincula ambos os cônjuges por
via do 1672º.

»» princípio da imutabilidade das disposições: não podem ser alteradas depois da celebração do casamento
as disposições da convenção, exceto aquelas previstas por lei que são sobre aspetos patrimoniais do casal. A
pergunta coloca-se relativamente a aspetos pessoais do casamento que são acordados na convenção, como é a
situação do caso 6, terão de ficar os cônjuges ad eternum, vinculados a esse conteúdo?

»» separação judicial de pessoas e bens: não é a mesma coisa no sentido do regime. O art. 1795º-A fala
relativamente aos efeitos desta separação judicial, em que há quase uma dissolução do casamento, e o vinculo
está muito enfraquecido.

Caso 7: Manuel Goucha e Ricardo Araújo Pereira decidem unir as suas vidas para construírem um império
televisivo como nunca visto. A ideia era a de terem um talk show humorístico “Casados à primeira entrevista”
que deixasse todos os portugueses “colados” ao ecrã. A convenção antenupcial tinha o seguinte conteúdo:

a) Daqui a 10 anos o regime passará a ser o da separação de bens;


b) Todos os bens que os nubentes tiverem ao tempo do casamento não se comunicam, sendo comuns todos os
demais;
c) Nenhum dos cônjuges terá de cumprir o dever de coabitação, bastando que vão juntos às cerimónias
televisivas ao fim de semana;
Quid juris?

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R.: 1698º e ss., convenção antenupcial, requisitos, forma, publicidade… 1710º as convenções são válidas se
celebradas perante funcionário do registo civil ou por escritura pública. Prazo da celebração vale por 1 ano após
a sua celebração, 1716º

A- apesar do principio da imutabilidade das convenções antenupciais consagrado no art. 1714º, define que não
se pode modificar a convenção após o casamento, mas esta alteração já se encontra prevista antes do casamento,
pelo que na verdade se trata de uma convenção sob condição, o que é válido nos termos do 1713º. O profº Jorge
Duarte Pinheiro afirma que é admissível a estipulação da vigência sucessiva de regimes de bens para um mesmo
casamento. A previsão da convenção sob condição ou termo não limita o principio da imutabilidade, pois
novamente esta alteração foi prevista e estabelecida antes do casamento, através de cláusulas acessórias. O
professor acrescenta ainda que a incerteza associada à condição “torna aconselhável a introdução de uma norma
que contemple a obrigatoriedade do registo civil do preenchimento da condição”. Aqui trata-se de uma
convenção sobre termo certo (278º)
B- estabelece o regime de comunhão de adquiridos. Não havendo indicação expressa do regime adotado, e pela
descrição da alínea b) podemos concluir que se trata de comunhão de adquiridos, art. 1721º. Os nubentes querem
ter um regime atípico misto de tipo modificado, basicamente no regime da comunhão de adquiridos há bens que
são próprios e comuns (1722º), e os nubentes foram longe mais nos termos do 1733º/1 e 1699ª71 al.b), pelo que
a cláusula é inválida.
C- restrição à liberdade convencional nos termos do art. 1699º/1 al.b) pela alteração dos deveres conjugais, neste
caso o dever de coabitação previsto nos termos do 1674º. Convivência essencial para o casamento, visto que o
casamento é uma comunhão plena de vida. Cláusula nula porque dispõe da alteração dos deveres conjugais.
Acordo sobre a vida comum (1671º), é uma regulação sobre núcleo considerado inatingível da convenção
antenupcial, mas visto que há uma alteração dos deveres conjugais (1678º, 1699º) a cláusula é nula. Há que ter
em atenção que os cônjuges podem alterar a qualquer momento estas estipulações definidas em convenção
antenupcial, atualmente entende-se que não se pode estipular isto.

Casamento simulado? Se eles querem fazer um talk show, qual o objetivo de celebrar o casamento, parece-nos
que não se coaduna com o objetivo do casamento? MG tem mais de 60 anos, o que obriga ao casamento ser
celebrado imperativamente no regime da separação de bens, nos termos do 1720º.

Caso 8: Max Verstappen e Lewis Hamilton, decidem iniciar uma nova corrida que irá mudar as suas vidas. A
sua rivalidade continua fora das pistas, e após alguns dates com uma das suas artistas favoritas, ambos se
apaixonam por Billie Eilish. Quando Verstappen ouve as recentes declarações públicas de Hamilton, sobre
Eilish, decide desafiá-lo para uma corrida, a qual “iria ganhar ao velho piloto”. A Ferrari e a Mercedes não
podiam ter ficado mais entusiasmadas com a ideia ao saber que estavam perante um dos “eventos mais
mediáticos de 2022, com músicas da jovem cantora e a presença da F1 racing”, a “Billie Eilish F1 Racing”,
com dois dos maiores pilotos da atualidade, onde quem ganhasse iria a uma viagem à volta do mundo, com
tudo pago, e acompanhado por Billie Eilish. Fernando Alonso, vai ter com Max Verstappen, avisando-o de que
“ele era jovem e não sabia bem no que se estava a meter”, questionando-o “se ele sabe quais são as
consequências patrimoniais de se apaixonar e celebrar o casamento?”. Alonso termina a conversa,
relembrando Verstappen que “os títulos dele valem mais do que os de Hamilton e para que ele tenha cuidado
com a mulher que escolha. No caso dele, a sua ex-mulher Raquel del Rosario, a qual até murros em pumas dá,
portanto ele que imagine os estragos no património dele”.

Os pilotos decidem ligar, então, a vários alunos do 2.º ano de Direito da Família, da maior faculdade de Direito
de Portugal, para que lhes expliquem quais é que seriam as opções que poderiam escolher no direito português
(regimes típicos e atípicos).

R.:. atos que produzem efeitos no nosso património. Pode haver uma estipulação antenupcial

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Regimes típicos são os que se encontram previstos na lei. 3 tipos de regimes típicos – comunhão geral de bens;
separação de bens e comunhão de adquiridos

1. Comunhão de ADQUIRIDOS (1721º e ss.) – é um regime hibrido. Há ou pode haver bens comuns e
bens próprios de cada um dos cônjuges. No regime da comunhão de adquiridos nem os bens levados
para o casal nem os adquiridos a título gratuito se comunicam. Só se comunicam os bens adquiridos
depois do casamento a título oneroso. É a ideia de só tornar comum aquilo que exprime a colaboração
de ambos os cônjuges no esforço patrimonial do casamento.

Vigora como regime supletivo, na falta de convenção antenupcial ou no caso de caducidade, invalidade ou
ineficácia da convenção (1717º)

Natureza jurídica da comunhão – de quem são os bens comuns? De uma pessoa jurídica nova, de algum dos
cônjuges ou dos dois? Que relação existe entre o património comum e o património de cada um deles? Depende
se o património próprio é autónomo (ou não) e em que grau. Profº Guilherme de Oliveira responde no sentido
da propriedade coletiva, afirmando que os bens comuns constituem uma massa patrimonial a que, em vista da
sua especial afetação, a lei concede certo grau de autonomia, e que pertence aos dois cônjuges, mas em bloco,
podendo dizer-se que os cônjuges são, os dois, titulares de um único direito sobre ela.

»» património coletivo vs compropriedade. O primeiro demarca-se por ser um património que pertence em
comum a várias pessoas, mas sem se repetir entre elas por quotas ideias. O segundo assenta numa comunhão
por quotas. Comunhão conjugal = propriedade coletiva. Primeiro o cônjuge adquire (individualmente) o bem e
depois comunica-o ao outro cônjuge.

Antes do casamento estar dissolvido ou de ser decretada a separação de pessoas e bens entre os cônjuges, não
podem estes dispor (venda, doação…) da sua meação nos bens comuns, tal como não é permitida a partilha dos
mesmos bens antes da dissolução do casamento.

Autonomia dos bens comuns face aos bens próprios de cada um dos cônjuges: é uma autonomia limitada e
incompleta. Seria um património verdadeiramente autónomo (completa e totalmente) se tivesse dividas próprias,
ou seja o conjunto de bens comuns responde única e exclusivamente pelas dívidas comuns. (1) os bens comuns
não respondem só pelas dívidas comuns, também (excecionalmente) por dívidas próprias. A lei destina o
património comum à satisfação das necessidades do casal e ao pagamento das dívidas comuns, mas, não sendo
o sistema rígido, a lei permite que, subsidiariamente, os bens comuns também paguem pelas dívidas próprias
(1696º); também (2) não são só os bens comuns que respondem pelas dívidas comuns, os bens próprios de
qualquer um dos cônjuges responde subsidiariamente pelas dívidas (1695º/1)

Proibição da comunicabilidade de bens na convenção antenupcial (1699º), ou seja tem de respeitar os limites
do art. 1733º. A incomunicabilidade é imperativa

Participação dos cônjuges no património comum: art. 1730º/1 atribui a cada cônjuge o direito a metade do valor
do património comum (ativo e passivo), sendo consideradas nulas todas as estipulações em contrário. No
entanto, a lei não é insensível ao modo como se constituiu o património comum, como se prova ao admitir
compensações em favor de cada cônjuge quando o seu património próprio foi sacrificado, ela não foi ao ponto
de fazer depender o valor da quota do valor das contribuições concretas de cada um, em bens comuns. O 1730º/2
admite que cada cônjuge faça doações ou deixas da sua meação nos bens comuns a favor de terceiros.

Bens próprios

 Bens que os cônjuges levam para o casamento, ou seja cujo título de aquisição seja anterior à data do
casamento, art.1722º/1 al.a). Há casos duvidosos, por exemplo a compra feita antes do casamento sob
condição suspensiva que se realiza depois

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 Bens que advierem a cada cônjuge por sucessão ou doação, art. 1722º/1 al.b), não resulta, de esforço
partilhado dos cônjuges. Mas podem entrar na comunhão se o doador/testador assim o tiver determinado,
entendendo-se que essa é a sua vontade se a liberalidade for feita em favor dos dois cônjuges conjuntamente
(1729º/1)
 Bens adquiridos na constância de matrimónio por direito próprio anterior, artt.1722º/1 al.c), sobre
patrimónios ilíquidos partilhados depois dele
 Bens sub-rogados no lugar de bens próprios, art. 1723º. Os bens adquiridos tomam o lugar dos anteriores,
fazendo as vezes deles, por aplicação do princípio da sub-rogação real, que supõe que de um desses
patrimónios saíram determinados bens, mas outros entraram nele, e que houve uma conexão entre a perda
e a aquisição. A sub-rogação real admite-se expressamente nos casos de troca direta (al. a)) e de alienação
de bens próprios quanto ao respetivo preço (al. b)); no que se refere aos bens adquiridos ou às benfeitorias
feitas com dinheiro ou valores próprios de um dos cônjuges exige-se que a proveniência do dinheiro ou
valores seja devidamente mencionada no documento de aquisição ou em documento equivalente (p. ex. um
título de empreitada), com assinatura de ambos os cônjuges (al. c)). Se não for devidamente mencionada a
proveniência do dinheiro ou dos valores com que foram adquiridos os bens ou efetuadas as benfeitorias,
estes bens ou benfeitorias serão comuns.
 Bens adquiridos em parte com dinheiro ou bens próprios de um dos cônjuges, e noutra parte com dinheiro
ou bens comuns, se aquela for a prestação mais valiosa, art. 1726º. ???? Guilherme de Oliveira, pág. 618
 Bens indivisos adquiridos em parte por um dos cônjuges que deles já tinha uma outra parte, art. 1727º. Na
verdade, na falta deste regime a parte adquirida no bem indiviso pertenceria ao património comum, enquanto
a parte que o cônjuge adquirente já detinha cabia no seu património próprio. Ora, se já são conhecidos os
inconvenientes da compropriedade — inconvenientes que justificam os direitos de preferência recíprocos
na alienação de cada parte — ainda seria pior que o domínio sobre o bem indiviso ficasse repartido pelo
património próprio de um cônjuge e pelo património comum do casal, sujeito a uma administração de
contornos indefiníveis e suscitando dificuldades de partilha, assim com este regime, a parte adquirida junta-
se à parte que o cônjuge adquirente já detinha, simplificando-se, quanto possível, a propriedade sobre o bem
indiviso.
 Bens adquiridos por virtude da titularidade de bens próprios e que não possam considerar-se como frutos
destes, art. 1728º/1
 Bens considerados próprios por natureza, por vontade dos nubentes ou por disposição da lei. Ex.: distinções
honorificas, medalhas, diplomas, direitos de autor, a incomunicabilidade impõe se como expressão dos dtos
de personalidade; considerados incomunicáveis em convenção antenupcial; todos aqueles que a lei
estabelece imperativamente como próprios (1733º)

Bens comuns

 Produto do trabalho dos cônjuges, art. 1724º al.a), são todos os proventos auferidos por trabalho dependente
ou independente, regular ou esporádico, pago em dinheiro ou géneros, bem como as prestações retribuídas
com prémios de produtividade laboral e ainda os prémios ou gratificações que não resultem de pura sorte,
isto é, que impliquem uma contraprestação de esforço, destreza, ciência ou de outra aptidão de qualquer dos
cônjuges, como as que se realizam nas competições desportivas ou em concursos televisivos. Também conta
o que substitua o salário, como pensões…
 Bens adquiridos na constância do matrimónio, que não sejam executados por lei, art. 1724º al.b)
 Frutos e rendimentos dos bens próprios e o valor das benfeitorias úteis feitas nestes bens
 Moveis
 Bens sub-rogados no lugar de bens comuns, em regime de comunhão de adquiridos, todo o bem que entra
no casal em substituição de um bem anterior presume-se comum

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 Bens adquiridos em parte com dinheiro ou bens próprios de um dos cônjuges e, noutra parte, com dinheiro
ou bens comuns, se esta for a prestação mais valiosa

2. Comunhão GERAL – determina que são bens comuns todos os bens dos cônjuges, presentes e futuros,
pelo que são bens comuns todos os que não são considerados incomunicáveis.

Comunhão geral de bens pelo facto de o património comum ser “constituído por todos os bens presentes e
futuros dos cônjuges que não sejam excetuados por lei” (art. 1732.º). Comunhão não só de domínio, mas também
de posse e de administração.

Este regime vigora quando for estipulado pelos nubentes na escritura antenupcial ou no auto lavrado perante o
conservador do registo civil, e só nesse caso. Todavia, por força do art. 15.º do Decreto-lei n.º 47 344 (que
aprovou o Código Civil), o regime da comunhão geral vigora ainda quanto a todos os casamentos celebrados
até 31 de maio de 1967.

Art. 1734º considera que se aplicam as disposições relativas à comunhão de adquiridos, com as necessárias
adaptações, à comunhão geral.

São comuns, no regime de comunhão geral, “todos os bens presentes e futuros dos cônjuges que não sejam
excetuados por lei” (art. 1732.º); só os bens que a lei excetua da comunhão é que são portanto próprios, e são-
no imperativamente, como vimos (art. 1699.º, al. d).

3. SEPARAÇÃO de bens (1735º e ss.) – separação absoluta e completa entre os bens dos cônjuges.

A separação não é só de bens, mas também de administrações, mantendo os cônjuges uma quase absoluta
liberdade de administração e disposição dos seus bens próprios, pelo que cada um dos cônjuges conserva o
domínio e a fruição de todos os seus bens presentes e futuros, de que pode dispor livremente. No entanto, esta
liberdade não é absoluta, mas antes constrangida pela lei, deste modo a prática de atos que impliquem a privação
total ou parcial da casa de morada da família carece do consentimento (1682ºA/2). Mesmo que o bem pertença
exclusivamente a um dos cônjuges, o proprietário não pode dispor dele livremente.

Este regime vigora imperativamente nos casos previstos no 1720º/1 e, como regime convencional quando
acordado em convenção antenupcial.

Não há bens comuns, mas há antes bens que pertençam ambos os cônjuges em compropriedade, e são assim
bens que qualquer dos cônjuges pode pedir a divisão a todo o tempo, através do processo de divisão de coisa
comum. A lei permite e presume a compropriedade dos moveis, admitindo que os nubentes estipulem na
convenção antenupcial cláusulas de presunção sobre a respetiva propriedade com eficácia extensiva a 3os, mas
em prejuízo de prova em contrário.

Regimes atípicos: participação de adquiridos (previsto no BGB). Podem os nubentes estipular o que quiserem
no âmbito da autonomia privada? Não, 1699º (1733º); e outros que podem ser criados pelas partes desde que
respeite os limites legais.

Caso 9: Harry Styles e Olivia Wilde casaram-se em 2022, numa cerimónia extremamente mediática, mas sem
a celebração de convenção antenupcial dado que “o amor não tem regras”, tendo ido viver para uma bonita
mansão da Olivia Wilde, em Venice, Los Angeles. Após vários meses de lua de mel, Harry Styles começa a
ficar preocupado com os gastos excessivos de Olivia Wilde, a qual sendo uma acérrima defensora da causa
vegan e da Fair Food, canaliza, para uma fundação que visa promover o consumo de vegetais e frutas
denominada “Watermelon Sugar”, todo o seu tempo e dinheiro. Olivia Wilde planeia mesmo vender a sua
vivenda em Los Angeles para converter em contribuições para esta causa e para doar a alguns meios de
comunicação social que elogiaram a performance de Harry no seu filme mais recente. Harry Styles, embora se

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considerasse capaz de “atravessar o próprio fogo por ela, dado que a adora” opõe-se à venda da mansão e
pretende proteger o seu património da gestão, que entende desastrosa, da Olivia Wilde. Faça o enquadramento
legal dos factos descritos, referindo, em particular, o regime de bens aplicável ao casal, a titularidade da
vivenda e o regime a que está sujeita a sua venda.

R.: processo preliminar, impedimentos. Não tendo existido convenção antenupcial aplica-se da comunhão de
adquiridos, nos termos do 1717º. A mansão onde o casal vive, era já de Olivia Wilde, sendo um bem anterior
ao casamento, assim nos termos 1722º/1 al.a) é um bem próprio. 1724º, 1681º/1

Pode Olivia dispor, uma vez que é proprietária única do bem, no entanto sendo habitação de família, nos termos
do 1682ºA nr2 é necessário que outro o cônjuge consinta na venda, assim a oposição expressa de H é impossível
que O venda a casa. 1722º/1 al.a) a casa é um bem próprio, pois que Olivia já a detinha antes do casamento,
todavia habitação de família… 1673º devem os cônjuges escolher em conjunto a residência de família.

Administração dos bens comuns cabe aos dois cônjuges, nos termos do 1671º/2 e 1678º/2 al.g), mas bens
próprios (como é o caso) pode-se passar a administração por contrato de mandato ou por conhecimento sem
oposição expressa do outro cônjuge. Pode não ser preciso a apresentação do mesmo, nos termos do 1671º/3.
Assim, querendo H proteger o seu património, pode proceder à transferência da administração dos bens, neste
caso da casa de família, por um dos meios acima indicados

Doação de O para a fundação WS. Uma doação é uma alienação gratuita, aplicando assim o regime do 1678º, e
estando em causa a habitação familiar é necessário o consentimento de ambos, logo H pode anular a doação
(por analogia da venda). É para o bem comum do casal? Há consentimento?

Harry pode requerer a separação judicial de pessoas e bens caso veja que está em risco de perder os seus bens,
1767º e ss, pois que pode querer continuar casado. A separação judicial de bens e pessoas é uma exceção ao
princípio da imutabilidade.

»» alienação da casa de morada de família, 1682ºA nr2: defender a estabilidade da habitação familiar no
interesse dos cônjuges e eventualmente dos filhos, no decurso da vida conjugal. Mais concretamente: a lei
pretende proteger cada um dos cônjuges contra atos de disposição sobre a casa de morada da família praticados
pelo outro cônjuge e que possam pôr em perigo a estabilidade da habitação familiar. Se o regime adotado for o
da separação de bens, o cônjuge proprietário pode livremente vendê-la, doá-la….

»» administração dos bens: os cônjuges têm a liberdade de alterar as regras sobre administração de bens através
da celebração de contratos de mandato (art. 1678.º, n.º 2, al. g)) atingindo por esta via o resultado que lhes fora
impossível alcançar, antes do casamento, através da convenção. Na verdade, a lei proíbe a alteração em
convenção mas não a proíbe por mandato. A razão desta disparidade está no facto de o mandato ser livremente
revogável; deste modo, o cônjuge que ceder os poderes de administração ao outro está sempre a tempo de os
recuperar, revogando o mandato

Dívidas dos cônjuges

Para saber se a divida é de um ou de ambos os cônjuges, vemos o 1691º - legitimidade para contrair dívidas.
Qualquer um dos cônjuges tem legitimidade para contrair dividas sem o consentimento do outro (1690º), mas
não significa que isto automaticamente responsabilizem os dois. Importa perceber cada alínea

a) Se no caso concreto há uma união entre as duas vontades, até que ponto é que há um consentimento por
parte do outro cônjuge. Pode ser um consentimento tácito, ou seja um consentimento que se deduza de
factos com toda a probabilidade

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b) Encargos normais da vida familiar, é uma expressão que deve ser entidade literalmente, ou seja vai
depender consoante a família em questão. A expressão “disposições de pequeno valor”, depende
naturalmente para as posses do casal. Ronaldo e Georgina é diferente de um casal com salário mínimo
c) Cônjuge administrador (1678º) , à partida a administração pertence aos dois. “Em proveito comum do
casal”, não se deve olhar para o resultado (porque este pode não ser para o proveito comum), mas sim
deve-se atender ao modo como foi feito o processo de decisão, qual a informação que tinha na altura,
uma decisão livre (sem coação) e racional (parâmetros que tinha nesse momento decisório). Isto porque
todas as decisões que tomamos envolve risco económico, logo por isso é que importa saber se a decisão
foi livre, esclarecida, racional conforme os parâmetros do homem-médio. Há também que presumir que
o outro cônjuge beneficiaria disso.
d) Direito comercial, o que é que é ou não o exercício do comércio. Regras próprias.
e) Remete para o 1693º/2

Caso 10: Tatiana Boa Nova e Rúben Boa Nova casaram-se, sem celebrar convenção antenupcial, em 2017.
Como ambos sempre gostaram de reality shows, Rúben decide vender, por achar “bastante engraçado”,
metade da mobília da casa onde residem, bem como contrair um avultado empréstimo, para irem ao Brasil
assistir a vários programas, em especial um episódio do famoso BBB. Ainda pensando no amor do casal pelos
reality shows, Rúben decide restaurar a estátua dedicada à família Kardashian, situada no jardim da casa onde
residem, comprada pelo casal após o casamento, com os “rendimentos dos dois”. A obra terá um custo de 50
000€. Pronuncie-se sobre a responsabilidade pela dívida contraída por Rúben para a realização da viagem,
bem como sobre a venda da mobília, que deixou Tatiana com um dos seus famosos ataques de mau humor
matinais. Sabendo ainda que a Tatiana entende que Rúben não pode decidir sozinho renovar a estátua e que a
deve consultar, indique, fundamentando, se a Tatiana tem razão ou se o Rúben poderá prosseguir com a
renovação.

Casamento pressupõe capacidade para o celebrar, nos termos do art. 1600º, ou seja que não se verifique nenhum
dos impedimentos nos artigos seguintes. Tal não se verifica, logo pode o casal contrair matrimónio. Na falta de
estipulação em convenção antenupcial, o regime de bens que vigora é a comunhão de adquiridos, enquanto
regime supletivo nos termos do art. 1717º. Este regime (estipulado nos arts. 1721º e ss.) pressupõe que são bens
comuns todos aqueles adquiridos depois da celebração do casamento, à exceção dos que forem adquiridos por
virtude de direito próprio anterior, ou outras situações criadas antes do casamento. A morada da residência de
família, considera-se como bem comum? »» se para vender a casa de família é necessário o consentimento do
outro cônjuge, também será necessário para vender a mobília da mesma. Art. 1725º presunção de
comunicabilidade na dúvida de bens móveis,

Art. 1682º/1 e nr3 al.a) carece do consentimento de ambos os cônjuges a alienação ou oneração de moveis
usados no quotidiano do casal. Não é o caso de dívidas, mas sim de (má) administração, em que R não tinha
legitimidade para vender a mobília. Tatiana pode requerer a anulabilidade nos termos do 1687º/1

Ruben tinha legitimidade para fazê-lo nos termos do 1690º/1. Relativamente à responsabilidade, apesar de no
Dto das Obrigações apenas responder pela dívida quem a contraiu, a situação é diferente no caso do direito da
família, em que pode responder o património de ambos os cônjuges. O critério não é o da estrita necessidade
(encargos normais da vida familiar) mas também não é o de “ser bom para os dois”, tem de ser um meio termo.
1691º:

A) Não parece ter existido consentimento (forma do consentimento…)


B) Encargos normais da vida familiar, não parece mas possível de enquadrar

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C) Limites dos poderes de administração, há de facto uma excedência dos poderes de administração, o
que se pode aqui verificar, pelo que não respondem ambos os cônjuges, mas apenas Ruben, os seus
bens próprios e a sua meação nos bens comuns!!!

A resolução deve seguir pelo 1692º al.a)  1696º. Caso fossem usados bens comuns para responder à dívida,
há direito de compensação 1697º

A estátua – não há consentimento, não foi para proveito comum. Visto que a obra terá um custo de 50 mil euros,
e se trata de um bem na casa de família, que foi sujeito a uma benfeitoria voluptuária (216º/3). 1691º/1 al.b) a
contrario sensu, na medida em que integraria um encargo da vida familiar se fosse necessária ou útil. Neste
caso a dívida responsabiliza apenas R. 1724º adquirido na constância do matrimónio com o consentimento de
ambos. 1726º pois que foi adquirido com os rendimentos dos dois

»» classificação do bem (comum, próprio). Administração (ordinária, extraordinária). Neste caso, seria um bem
comum de administração extraordinária pois que há um dispêndio bastante elevado, logo responsabilizaria
apenas R. Art.1678º/3 + consentimento para ser divida dos dois. Se a administração for extraordinária, é
necessário o consentimento, devido ao grande montante gasto.

Sociedade entre cônjuges – empresas ou sociedades familiares

Art. 1714º/2  art. 8º CSC, que permite desde que apenas um dos cônjuges assuma responsabilidade ilimitada.

A e B são casados e têm uma sociedade por quotas, com C (filho de AB). Nas sociedades comerciais, a
propriedade é distinta do administrador  problema de agência. Como é que se conjuga o CC (dto da família)
com o CSC?

Consentimento do cônjuge

Presunção de consentimento do cônjuge no art. 1691º/1 al.d) – a partir do momento em que o cônjuge está no
exercício do comércio, entende-se que os seus atos são para proveito comum do casal, logo há também uma
presunção de consentimento do outro cônjuge, pelo que tem de se provar que este não consentiu, caso seja
assim.

Há uma discussão sobre a forma que o consentimento deve ter:

 A doutrina mais antiga (Castro Mendes), entende que para dar consentimento de ato da dívida, o
consentimento deve também obter essa forma (se for uma venda do imóvel, o consentimento deve
também constar de escritura pública). Art. 262º e 684º/2 (revogado)
 A outra ideia (mais recorrente), é que o consentimento não tenha de obedecer à mesma forma, uma vez
que a lei não especifica tal obrigação, logo aplica-se o principio da liberdade de forma (219º)

Tem de ser anterior ao negócio? Profº Maria Margarida Pereira indica que é indiferente o momento do
casamento.

Caso 11: A Benedita e o Carlos, conheceram-se, em 2021, quando Carlos se decide candidatar à presidência da AAFDL.
Embora o Carlos sempre se tenha considerado um “homem do povo” e afastado do que considera o elitismo presente no
bar novíssimo, a verdade é que, num café, ao fazer o convite para a Benedita integrar a sua lista como suplente de Direção,
fica com o coração rendido ao ver um dos doces sorrisos pela qual esta menina do novíssimo era conhecida. Esta paixão
tórrida, avança de tal modo nos convívios pré-eleitorais, que leva o casal a casar ainda antes do começo da campanha
para a AAFDL, em dezembro de 2021. Benedita começa a sentir-se uma verdadeira primeira-dama, sabendo que podia
ser apenas uma suplente de Direção, mas “era a titular do coração de Carlos” (chegando alguns a alegar que era ela a
verdadeira presidente da Lista). A semana anterior às eleições da associação leva o casal do céu ao inferno.
Contrariamente às suas expetativas e à “lista de votos no excel”, no dia 10/11/2022, os votos na lista (segundo Carlos,

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“apoiada, mas totalmente independente”) W- We Will Rock You do pedagógico só permitem eleger dois efetivos, numa
derrota estrondosa de todas as listas com os Marretas. Estes resultados levam a um ataque de raiva de Carlos que tece
comentários afirmando que a culpa da sua derrota era do NEE (Núcleo de Estudantes de uma determinada Etnia), os
quais foram gravados e partilhados em grupos de whatsapp, pelo que, o seu principal financiador, o tio autarca de Carlos,
lhe disse que já não o apoiava e, porque um mal nunca vem só, Maria, uma colaboradora da Lista W, vem a público
afirmar que o seu filho recém-nascido era, na verdade, de Carlos. Carlos, decide para limpar a sua imagem, apostar tudo
nos brindes eleitorais e num giveaway, no instagram da página da sua Lista W- (Yes) We Can, com vários prémios como
o de uma viagem à volta do mundo com tudo pago, durante 15 dias, no verão, vender materiais da Lista W a Benedita (a
qual doou, também, alguns milhares de euros para Carlos investir na lista) e assume, também, o filho que tinha tido com
Maria, para passear com ele pela faculdade, “funcionando o pequeno como uma espécie de mascote da lista para atrair
votos”. Benedita, vem a correr ter com os seus amigos do segundo ano (que já estavam a ter aulas de Direito da família)
para saber se, correndo a próxima semana do mesmo modo desastroso, teria de pagar mais algumas das elevadas dívidas
que o seu Carlos tinha contraído durante a época eleitoral e se tinham mesmo de ter o recém-nascido lá em casa, a chorar
a noite toda, “com os dois” já que nem filho dela era. Para responder à Benedita, que “já não se lembra se assinou alguma
coisa antes de se casar” coloque a hipótese de serem recém-casados sob o regime de separação de bens e, também, a do
regime aplicável ser o supletivo. Aproveite, também, para esclarecer Maria, sobre o que é “a filiação” e se é verdade que
o facto de não estar casada com Carlos significa mesmo que “ele não tem de dar nada”.

Casados em regime de separação de bens previsto no art. 1735º e ss., demarca-se por não haver bens comuns,
ou seja todos os bens são próprios de um ou outro cônjuge, sem prejuízo de existirem bens em compropriedade
(são os dois titulares do dto de propriedade sobre a mesma coisa, é um bem que numa parte é próprio de um
deles e que noutra parte é próprio do outro). A separação não é só de bens, mas também de administrações,
mantendo os cônjuges uma quase absoluta liberdade de administração e disposição dos seus bens, conforme o
1735º

Como sabemos, cada cônjuge tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do outro (1690º),
todavia nem todas as dívidas responsabilizam os dois cônjuges. No presente regime, os conjugues estão
vinculados aos deveres de cooperação e assistência pelo que respondem ambos em certos casos por dívidas que
foram contraídas por um só deles, tal como dispõe o art. 1691º, mas com a particularidade de que neste a
responsabilidade não é solidária tal como previsto no 1695º/2, e é concebível que a administração dos bens
próprios de um conjugue seja exercida em exclusivo pelo outro (1678º/2/e), f) e g)). Neste caso, as dívidas
contraídas por Carlos para a campanha, não seriam da responsabilidade de ambos, mas apenas de Carlos nos
termos do 1691º/1 al.a), pois que Benedita não demonstrou consentimento, logo responde apenas C às dívidas
contraídas. Pode-se problematizar a questão de B ser também parte da lista e assim, esta dívida ser também do
seu interesse, todavia, não foi demonstrado consentimento algum, pelo que se presume não comunicabilidade
da divida, nem proveito comum do casal pelo 1691º/3

Divisão em dois momentos temporais – antes do vídeo ser gravado e altura em que B parecia apoiar bastante C;
e depois do vídeo ser gravado e a situação de C piorar. O que parece mais razoável é assumir que inicialmente
existiria consentimento e depois disso não existe. A consequência seria que as dívidas contraídas no primeiro
momento seriam da responsabilidade dos dois e no segundo não. Isto com a atenuante, de no regime de
separação de bens, não haver responsabilidade solidária (1695º/2)

»» responsabilidade solidária: pagar tudo?

Venda entre casados (de materiais a B) é proibida nos termos do 1714º/2, exceto quando separados
judicialmente de pessoas e bens, o que não se verifica, logo a venda é nula. Ver doc teóricas sobre isto!. De
modo a evitar esta proibição basta constituir uma sociedade comercial, que afasta este artigo (CSC). A venda é
nula por força do art. 294º CC (nulo o negócio contra disposições imperativas), que na prática se traduz na
devolução do dinheiro e dos materiais.

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Doação entre casados (de B para C) regida pelo 1761º e ss. O art. 1762º do código considera nula a doação
entre casados se vigorar imperativamente este regime, logo, sabendo que tal não acontece por leitura do 1720º,
entende-se que a contrario sensu, a doação é válida, sabendo que só podem ser doados bens próprios do casal,
conforme o 1763º/1, tal também se verificou. Ver art. 940º/2, usos sociais!

No caso da comunhão de adquiridos, ou seja o regime supletivo previsto 1717º, em que são bens comuns os
estipulados no art. 1722º/1 al.a) e b) e ainda do 1724º. Não tendo sido feita uma convenção antenupcial onde os
nubentes estipulam o regime de bens que será aplicável, aplica-se o regime supletivo da comunhão de
adquiridos, previsto no art.º 1717. Neste regime, a regra é a de que são bens comuns o produto do trabalho dos
cônjuges e os bens adquiridos por eles na constância do matrimónio a título oneroso (art.º 1724 e 1722, nº1,
alínea a) e b), e todos os demais bens tendem a ser próprios.

Porém, os nubentes podiam ter procedido à elaboração de uma convenção antenupcial, em que estipulavam o
regime de separação de bens que lhes seria aplicável. No caso de terem estipulado o regime da separação de
bens, haveria uma separação absoluta e completa entre os bens dos cônjuges. Nos termos do art.º 1735, cada
um dos cônjuges conservaria o domínio e a fruição de todos os seus bens presentes e futuros, de que pode dispor
livremente. A separação aqui não seria só de bens, mas também de administrações, mantendo os cônjuges uma
quase absoluta liberdade de administração e disposição dos seus bens próprios. As limitações a esta liberdade
quase absoluta são: (1) a prática de atos que impliquem a privação total ou parcial da casa de morada de família,
que carece do consentimento de ambos (art.º 1682 – A, nº2); (2) os móveis utilizados conjuntamente na vida do
lar ou como instrumento comum de trabalho e os que pertençam exclusivamente ao cônjuge que não os
administra (art.º 1682, nº3), casos em que, ainda que o bem pertença exclusivamente a um dos cônjuges, o
proprietário não pode dispor dele livremente

Neste regime, apesar de não haver bens comuns, pode haver bens que pertençam a ambos os cônjuges em
compropriedade, em relação aos quais qualquer deles pode pedir a divisão a todo o tempo (art.º 1412), através
do processo de divisão de coisa comum (art.º 925 e seguintes do Código de Procedimento Civil). A lei estabelece
a presunção de compropriedade dos móveis no art.º 1736, nº2, mas no nº1 admite-se que os nubentes estipulem
na convenção antenupcial cláusulas de presunção sobre a respetiva propriedade, com eficácia extensiva a
terceiros, mas sem prejuízo de prova em contrário. Assim, neste regime, as ilegitimidades conjugais têm muito
menor amplitude.

FILIAÇÃO é no seu sentido estrito do art. 1796º uma espécie da relação de parentesco, definindo-se como “a
relação juridicamente estabelecida entre as pessoas que procriaram e aquelas que foram geradas”, mas no
sentido mais amplo pode entender-se também a relação que, não tendo origem no fenómeno da procriação,
produza efeitos similares, como por exemplo a adoção ou PMA (1586º).

O estabelecimento da filiação no caso de procriação através de ato sexual distingue-se., nos termos do 1796º
em relação à mãe e ao pai. A perfilhação tem obrigatoriamente de assumir uma forma, conforme o 1853º, todavia
a mãe não perfilha, declara a maternidade. Distingue-se a perfilhação = declaração de consciência vs
declaração de maternidade = declaração de ciência

O casamento importa vários deveres, de assistência, cooperação e fidelidade. Ora, no presente caso, deu-se uma
violação do dever de fidelidade de Carlos para com Benedita, pois que o filho deste com Maria foi concebido
já na constância do matrimónio, pois que o casal contraiu casamento em 2021, e o filho de Maria nasceu em
2022 (explicar contas!). Art. 1883º, não fica B obrigada a ter o filho lá em casa, pois que é preciso o
consentimento do cônjuge “traído”. Pode ainda enquadrar-se um dever de cooperação no casamento.

Responsabilidades parentais de C, tem de dar alguma coisa? Claro que tem. Art. 1877º e ss. e nos termos do
1884º/1 há a obrigação de prestar alimentos no período da gravidez e durante o primeiro ano de vida, nos anos
seguintes aplica-se a norma geral, prevista no art. 1905º??

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Dissolução dos laços de casamento/divórcio

»» violação do dever de fidelidade: para existir indemnização no âmbito desta violação, tem de haver também
uma cessação do vínculo de matrimónio? Tendo sido eliminado pela Lei nº 61/2008, de 31.10, o sistema do
divórcio-sanção baseado na violação dos deveres conjugais, mantiveram-se os referidos deveres conjugais cuja
violação não se sanciona hoje pela via da ação de divórcio mas que nem por isso deixam de merecer a tutela
do direito conforme previsto no art. 483 do C.C., por força do disposto no nº 1 do art. 1792 do mesmo Código.
Há responsabilidade contratual no âmbito desta violação, sendo que há uma afetação dos direitos de
personalidade de MARIA, nomeadamente

Caso 12: Chega o dia das eleições e a Lista W, apesar de todos os brindes oferecidos e esforço, perde. Benedita,
após chorar durante alguns dias, afirma que “não se tinha casado com um derrotado”, pelo que, pretende
“acabar com o casamento”. Carlos concorda por amar a mãe do seu filho, Maria, com quem pretende ir viver,
mas afirma que necessitará de uma pensão de alimentos. Benedita dirige-se aos seus amigos do segundo ano,
mais uma vez, para que eles lhes digam como é que ela se poderá divorciar e pergunta-lhes se terá mesmo de
pagar uma “pensão de alimentos” ao Carlos.

[introdução do divórcio, possibilidade de todos os casamentos serem suscetíveis de rutura]

Direito a alimentos, 2003º define que se entende como alimentos tudo o que é indispensável ao sustento,
habitação e vestuário. Art.2004º/1 estipula que deve haver um juízo de proporcionalidade neste acordo. Art.
2006º desde quando são devidos.

R.: direito à alimentos 2009º/1 al. a) e 2016ª/2 – a regra entre os cônjuges é a que cada cônjuge deve prover à
sua subsistência, mas deve-se atender à “balança” entre a capacidade e a necessidade que remete para o 2004º/1.
A pensão não serve para manter o estilo de vida anterior (2009º/1a) e 2016º/3 pode ser este dto negado.

Razões manifestas de equidade, é fácil entender que a violação do dever de fidelidade preenche este conceito.

União de facto entre C e MARIA, aplicação do art. 2019º. A jurisprudência entende a união de facto nos mesmos
termos da lei – pode se ter um entendimento mais extensivo (que começa no momento em que se une as vidas)
ou um entendimento mais literal, que deriva da própria lei, ou seja que a cessação do dever de alimentos se dá
quando há comportamentos indignos de moral.

Deve-se aplicar todas as disposições para o divórcio sem consentimento, uma vez que não consenso em todos
os aspetos que deve haver acordo, pois que apesar de C ter consentido não se deu acordo entre estes aspetos
sobre os quais incide o 1775º.

Constituição do direito de alimentos, art. 2016º/3, tem de atender a razões de manifesta de equidade, o juiz vai
olhar para o divórcio e perceber se existe alguma razão para que não seja prestado, por exemplo violação do
dever de fidelidade – presunção de que cada cônjuge provém à sua própria subsistência, art. 2016º/2. O
direito aos alimentos é não obrigatório (2016º) e não definitivo!!!!! Deve na verdade ser excecional.
Constituição vs cessação

DIVÓRCIO SEM CONSENTIMENTO

Art. 1781º - fundamentos para divórcio sem consentimento, são requisitos objetivos

a) Separação de facto por um ano consecutivo. Na ótica da profº Margarida Silva Pereira, que é mais
liberal, há certos eventos “mais banais” não são relevantes para afastar este requisito, ou seja este
requisito só seria afastado se houver um animus para uma reconciliação. Este fundamento pode colidir

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os dtos de personalidade. Tem um requisito objetivo (inexistência de vida comum há mais de um ano)
e um subjetivo (propósito de não reestabelecer a vida comum)
b) Alteração das faculdades mentais há mais de um ano e comprometa a vida comum
c) Ausência de um cônjuge por mais de 1 ano
d) Quaisquer outros factos que, independentemente de culpa, mostrem rutura definitiva do casamento –
conceito aberto, dá grande discricionariedade do juiz, doutrina não tem bem certeza, ao que parece.
Critério social e objetivo, tem de demonstrar que há uma incompatibilidade da continuação da vida em
comum, socialmente entendida. Tem de ser uma conduta socialmente incompatível com a vida em
comum.

Art. 1779º: principio da ultima ratio. Art. 1785º/2: principio da judicialidade.

Ideia de que o divórcio não serve para aplicar sanções. Art.1792º/2 e 1781º al.b)

Caso 13: Cristiano Ronaldo, após uma jornada épica onde consegue ganhar o Mundial com a seleção
portuguesa, decide mudar de vida e começar a jogar por outro clube. A mudança para Portugal, com Georgina
Rodriguez, que parecia boa para o casal começa a ter alguns obstáculos. Georgina odeia todos os pratos com
bacalhau, o que lhe causa problemas com a sogra, Georgina não sabe falar português, o que lhe causa
problemas com os filhos, Georgina confunde o Sporting com o Benfica, o que lhe causa problemas com uma
nação inteira. Ronaldo, após outra entrevista a Piers Morgan (Uncensored, como não podia deixar de ser),
lança uma revelação bombástica ao País. Cristiano irá pedir o divórcio, considerando que não teria mais
capacidade para continuar casado. Cristiano refere que a Georgina, para além dos problemas referidos,
recusa-se a participar em todas as tarefas domésticas e terá tido uma relação extraconjugal. Cristiano realça
nunca ter chegado a recorrer à violência física, mas confessa que, em desespero, a tem avisado constantemente
das consequências do seu comportamento, limita as saídas de casa e após ter estado a vigiar os seus
movimentos, descobriu a relação extraconjugal. Georgina sabendo que a casa onde moram é de Cristiano, e
sem ter casa própria nem meios de subsistência suficientes, sente que seria uma catástrofe o divórcio.

Divórcio sem consentimento, art. 1779º. Desrespeito pela cultura do Ronaldo pode servir como fundamento
para o divórcio (não falar a língua, comida, ignorar algo que é relevante para o outro cônjuge, art. 1781º al.d)
por interpretação extensiva, que não contempla a culpa do cônjuge). Deve ser feita uma avaliação objetiva destes
últimos argumentos. Violação do dever de fidelidade e de cooperação, por parte de Georgina.

Será que não falar português é um “deal breaker”? É um não falar de todo, ou apenas não fala português? É de
facto um problema a nível legal?

R.: enquadramento, Cristiano pretende dissolver o casamento por via do divórcio, há duas modalidades… arts
1779º e ss., requisitos: a violação do dever conjugal, da fidelidade é um sólido fundamento para divórcio. Uma
pessoa querer um determinado estilo de vida é um critério muito difícil de ser fundamento para divórcio. Dever
de colaboração (G recusar-se a participar nas tarefas domésticos), dever de contribuir para os encargos da vida
familiar – trabalho no lar, manutenção e educação nos filhos – mas há que ter atenção ao estatuto
socioeconómico do casal, pois que, neste caso, o casal dispõe de empregados para as tarefas domésticas.
Todavia, mesmo sabendo que há tais empregados, há que gerir tal staff, isso é também uma tarefa do lar. Mas
há que atentar também na particularidade do art. 1676º, que diz «ou», pelo que se se entender que Georgina não
participa para a educação dos filhos, há também fundamento para divórcio.

Art. 1671º/2 prevê indemnização em caso de divórcio, no caso de um dos cônjuges ficar prejudicado durante o
casamento, por se ter dedicado mais à casa e à família e menos à carreira.

Preocupações de Georgina: art. 2016º, os cônjuges devem prover ao seu próprio sustento, mas em caso de
necessidade o outro pode sustentar, mas não tem Ronaldo de prover o mesmo estilo de vida, do casal casado

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(fatores usados para o cálculo: capacidades de informação, condição de empregada ou desempregada, filhos,
idade, Relativamente à casa de família, (possibilidade de ser arrendada, ainda que fosse bem próprio de Cristiano
1793º).

Ofensa à honra de Georgina por difamação na entrevista. Violência doméstica, pelas ameaças, limitação das
saídas… consubstancia-se de facto na violência doméstica apesar de não ter havido violência físico, pode dar
lugar a indemnização nos termos da responsabilidade civil (483º) – duas posições relativamente ao
ressarcimento dos danos causados:
 Não basta a violação de um dever conjugal (1672º), precisa de existir uma especial crueldade e uma
violação predominante dos direitos de personalidade …
 A mera violação de um dever conjugal leva a indemnização

Património: 1790º, a lei dá uma medida para os cônjuges decidirem o que querem, mas não pode nenhum deles
exceder o que teriam em regime de comunhão de adquiridos. Pode um cônjuge deixar tudo, em divorcio por
mutuo consentimento, ao outro cônjuge? NÃO! por via de acordo de divórcio, ainda que exista uma vontade
livre e esclarecida, não se pode violar o teto do art. 1790º. Pode acontecer posteriormente por doação.

Art. 1699º/2 impede casamento por outro regime sem ser a separação e impede ainda a comunicabilidade dos
bens.

Pensão de alimentos: 2003º e ss. os alimentos são devidos desde a proposição da ação. 2007º alimentos
provisórios. Quando é que é a proposição de ação? Depende, a pensão de alimentos provisórios pode ser pedida
antes da propositura da ação (2007)

Responsabilidades parentais no âmbito do divórcio: há que distinguir entre questões de particular


importância e os atos correntes da vida do menor. As restrições que possam existir têm sempre de ter em conta
o melhor interesse da criança (1901º e ss.)

Crédito compensatório ao cônjuge, art. 1671º/2: cabe a cada casal definirem as tarefas da vida comum, mas
pode dar-se que um dos cônjuges fique prejudicado por ter abdicado da carreira profissional e mais tarde pode
ter dificuldades a reentrar no mercado de trabalho. Requisitos, 1676º
 Contribuição consideravelmente superior
 Renuncia excessiva
 No momento da partilha (1689º) a não ser que vigore o regime da separação de bens

Deve ser feita uma análise da vida comum e das suas vicissitudes, depois uma conta corrente da vida do casal.
A profº Margarida Silva Pereira recorre ao instituto do enriquecimento sem causa.

Caso 14: Shakira e Gerard Piqué, apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se, sem ter previamente celebrado
convenção antenupcial, ao som de “Hips don´t lie”. Após alguns anos, o casal não resiste às traições por parte
de Piqué, as quais deixam Shakira a sentir-se “loca”, pelo que decide pedir a separação judicial de pessoas e
bens, visto que não se queria divorciar, para tentar evitar “la tortura” que é aparecer nos jornais. Piqué
concordou e separaram-se em 2021. Entretanto, Gerard Piqué conheceu Clara Chia com quem se pretende
juntar. Gerard e Clara vivem durante um ano e seis meses juntos, partilhando uma mansão luxuosa, a que
chamam a “mansão do amor”. Após esse ano e meio de intensa felicidade do casal, Piqué, por força do seu
novo contrato de trabalho, desloca-se a Espanha, onde permanece durante sete meses, tempo necessário ao
lançamento da sua carreira enquanto treinador de futebol, mantendo a ligação com Clara através de
videochamadas e encontrando-se ambos com bastante frequência para manter a chama da sua relação bem
acesa. Gerard queria saber se existia alguma forma de reaver o imóvel que doou a Shakira, por ocasião dos
seus dez anos de casamento, para aí viver com Clara. Infelizmente, quando Gerard Piqué se preparava para
voltar a morar com Clara, morre num acidente de viação a 300 km/h na A1. Clara, chorosa, pretende ter direito

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a pensão de sobrevivência e não quer ir para nenhuma das suas casas dado que precisa de permanecer na
“Mansão do amor”, a qual era propriedade de Piqué, por um período de cinco anos, não deixando a “chama
eterna do amor” apagar-se antes disso.

Separação judicial de pessoas e bens vs divórcio [explicar diferença]

UNIÃO DE FACTO. Divergência doutrinária relativamente à contagem do prazo – o casal tem de estar unido
durante dois anos para se considerar união de facto. Os meios de prova, com vista a demonstrar a existência da
relação (art. 2º-A).

O prof JDP defende que os membros da união de facto deixarem de habitar, o prazo suspende-se voltando a
correr o prazo quando estes regressem a coabitar. Outra parte da doutrina observa ainda que todos os outros
aspetos ?????? ler sobre isto

Lacuna  analogia. No casamento sabe-se que se as duas pessoas estiverem casadas, e uma delas estiver ausente
não deixa de existir casamento por causa disso. Entendendo que há analogia entre as duas situações, percebemos
que há uma lacuna na união de facto, que deve ser integrada por analogia. O art. 1º/2 Lei UF «condições análogas
à dos cônjuges» por analogia legis, do art. 10º CC.

Em caso de separação judicial de pessoas e bens o dever conjugal que se mantem é o da pensão de alimentos,
de outro modo, se admitirmos que os outros deveres se mantêm, seria insustentável assumir a união de facto
quando uma das partes estiver separada. A separação de pessoas e bens extingue os deveres conjugais, exceto
o dever de respeito e de alimentos. O dever de respeito não advém exclusivamente do casamento, mas antes da
conduta geral da sociedade, assim é quase indiferente dizer que cessa um dever de respeito com o casamento,
pois que está intimamente aos direitos de personalidade. O que ocorre no casamento é uma intensificação do
dever de respeito derivado dos direitos de personalidade, muito por causa da relação entre os cônjuges ser dotada
de maior proximidade.

Doação (Gerard e Shakira): relativamente ao imóvel doado, é de notar que não são permitidas as doações sem
reservas. Está prevista a livre revogabilidade das doações, nos termos do art. 1765º, pelo que seria de facto licito
Gerard reaver o imóvel doado. Motivos que levam à caducidade da doação estão previstos no art. 1766º, todavia
nenhum deles se enquadra na situação deste casal. Se a doação foi realizada na constância do matrimónio, há
que verificar se se aplica o previsto no 1791º, que importa para a caducidade da doação.

Divergência doutrinária relativamente à culpa na dissolução do casamento – se entendemos que a lei 61/2008
veio expurgar a culpa enquanto fator para a dissolução do casamento, devemos também entender que a parte
final do 1766º/1 al.c).

Caducidade (pressupõe o decorrer de um prazo, em que o prazo finda logo acaba) vs revogação (pressupõe uma
declaração de uma das partes ou mutuo acordo)

Pode haver uma união de facto quando as pessoas estão separadas? Pode, nos termos do art. 2º al.c) da Lei
7/2001, ao determinar que não podem estar em união de facto as pessoas casadas, salvo se decretada a separação
de pessoas e bens, o que sucedeu entre Shakira e Gerard.

Caso de morte de um dos “unidos”, art. 2º-A/4. Destino da casa de morada de família no caso de morte, art. 5º
da mesma lei, que dispõe no seu numero um que o membro sobrevivo tem um direito real da habitação e um
direito de uso do recheio durante cinco anos, pelo que pode Clara permanecer na “mansão do amor” nos cinco
anos subsequentes à morte de Gerard, tal como pretende. Caso a união de facto existisse há mais de cinco anos,
o direito de permanência na morada de familia seria igual ao tempo da relação (nr2). Este raciocínio não é válido
porque existe o art. 5º/6, e o enunciado expressa que Clara tem outras casas!!

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Clara tem ainda direito, nos termos do art. 3º al.e), f) e g) da mesma lei, a certos benefícios em caso de morte
do outro membro da união, assim t em direito à pensão nos termos da alínea e) que prevê pensão de
sobrevivência em caso de morte do beneficiário, neste caso Gerard. Remete para o art. 6º, regime de acesso às
prestações por morte.

RESPONSABILIDADES PARENTAIS, 1877 e 1878: conjunto de situações jurídicas que, normalmente,


emergem do vinculo de filiação, e incumbem aos pais com vista a proteção e promoção do desenvolvimento
integral do filho menor não emancipado.

As responsabilidades parentais não se circunscrevem ao poder de representação e ao poder-dever da


administração dos bens. Englobam outras situações jurídicas, como: o poder-dever de guarda, o dever de prover
ao sustento e o poder-dever de dirigir a educação.

Estatuário, indisponibilidade e irrenunciabilidade, funcionalidade acentuada, eficácia perante terceiros


(ergaomnes), tipicidade, tutela reforçada,

Caso 15: Angelina Jolie e Brad Pitt, pais de Knox Léon, de 14 anos, pretendem divorciar-se dado que Angelina,
encontrou um recém-nascido num contentor do lixo junto de sua casa e decidiu declarar o respetivo nascimento
no registo, identificando-se a si própria como mãe. Ao tomar conhecimento do que aconteceu, o marido, Brad,
que casara com Angelina contactou um advogado dado ser este mais um dos comportamentos que integravam
a demência notória de Angelina. O acordo, em relação ao filho de ambos (Knox), declarava o seguinte: “Knox
residirá exclusivamente com o pai, com quem sempre se deu melhor, podendo a mãe vê-lo apenas nos dias de
estreia dos seus filmes”. Depois do divórcio dos pais, Knox, sente-se angustiado e decide fugir para ir ter com
um amigo da família. Por este motivo, Knox decide fugir de casa e ir viver para a casa de George Clooney,
com 61 anos de idade. Apesar dos pedidos sucessivos dos seus pais, Knox recusa-se a voltar para casa até que
eles “voltem a ficar juntos”. Pronuncie-se, pelo menos, sobre a filiação do recém-nascido, a homologação do
acordo sobre o exercício das responsabilidades parentais e a fuga de Knox de casa.

A filiação tem de ser, sob pena de não produzir efeitos


1. Legalmente constituída, 1797º;
2. Registada, art. 1º al.a) e c) e 2º CRC, só podendo ser invocada depois de registada, sendo exceção o art.
1603º CC relativamente a impedimentos dirimentes relativos.

A filiação biológica e a filiação por PMA produz efeitos desde o momento do nascimento do filho (1797º/2). A
filiação adotiva constitui-se ex novo por sentença e os efeitos produzem-se a partir do trânsito em julgado da
decisão judicial (1973º/1).

ADOÇÃO, que nos termos do 1586º é a adoção é o vínculo que, à semelhança da filiação natural, mas
independentemente dos laços de sangue, se estabelece legalmente entre duas pessoas nos termos dos
artigos 1973º e seguintes. Aqui trata-se de adoção porque não é filho biológico, pelo que nos termos do art.
1973º deve ser este vinculo estabelecido por sentença judicial, respeitando os requisitos do 1974º - superior
interesse da criança, motivos legítimos, não prejudique os restantes filhos. O nr2 deste artigo parece proibir a
atuação de Angelina, pois que dispõe que o adotando deve estar ao cuidado do adotante durante prazo suficiente
antes de se constituir o vínculo. Não pode ainda, o adotando estar num vinculo adotivo com outra pessoa
(1975º/1), o que não é o caso.

A presente situação enquadra-se, aparentemente, na alínea a) e c) do art. 1978º/1. Atendendo ao art. 1973º/1, de
onde se deduz que a filiação só produz efeitos a partir do momento do transito em julgado da decisão judicial,
e uma vez que não são fornecidas informações sobre tal processo, podemos então concluir que não há um
vinculo entre Angelina e o recém nascido que encontrou.

Contempla duas modalidades: internacional e interna

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 Interna – conjunta vs singular
o Há uma preferência pela adoção conjunta, refletindo assim a noção legal de adoção presente no
1586º, de modo a conceber como uma imitação da filiação natural, privilegiando assim as
situações de biparentalidade adotiva.
 Internacional – implica uma mudança da residência habitual da criança para outro Estado. Pode
também ser plural vs singular

[George Clooney não poderia adotar Knox, nos termos do art. 1979º/3, que estipula que só pode adotar quem
não tiver mais de 60 anos à data que a criança lhe tenha sido confiada e estabelece ainda que, a partir dos 50
anos não pode ser a diferença entre adotante e adotando superior a 50 anos, exceto se encaixar na previsão do
nr4]

Relativamente a Knox, sendo este filho biológico de Angelina e Brad, e considerando que a filiação está dentro
dos moldes legais, surgem então deveres nos termos do art. 1874º em que os pais e filhos se dever mutuamente
respeito, auxilio e assistência, estando os filhos sujeitos às responsabilidades parentais até à maioridade ou
emancipação (1877º), que deve ter sempre subjacente o maior interesse dos filhos (1875º). Os filhos devem
obediência aos pais, devendo estes ter em consideração a sua opinião. Arts 1885º e ss.

Divórcio por mutuo consentimento, com fundamento na demência de um dos cônjuges. Ora, se estão
divorciados de verdade, significa que passa a existir um exercício das responsabilidades parentais nos termos
do art. 1905º e 1906º, devendo este ficar estipulado por acordo dos cônjuges nos termos do art. 1775º/1 al. b) e
c), como tal aparenta ter sucedido. Novamente, o acordo deve sempre respeitar o interesse do menor, podendo
ser recusado pelo tribunal (1905º/1). Mesmo em caso de divórcio, as responsabilidades devem continuar a ser
exercidas por ambos os progenitores como vigoravam durante o casamento, excetuando os casos de manifesta
urgência em que qualquer um pode agir sozinho, devendo prestar informações ao outro – é um exercício
conjunto mitigado das responsabilidades parentais em que ambos decidem em matérias de particular
importância. Relativamente aos atos da vida corrente, cabe ao progenitor com quem reside habitualmente tomar
a decisão, neste caso seria Brad, tendo Angelina o direito a ser informada.

Discussão sobre o desequilíbrio da partilha, que se justifica pela demência. Art. 1903º, caso de impossibilidade
de assunção das responsabilidades parentais por um dos progenitores, tal seria o caso de Angelina?

Filiação do recém nascido: a filiação, nos termos do 1796º, resulta do facto do nascimento, mas pode registar o
filho nos termos do 1804º, podendo então Brad impugnar tal maternidade por ter claramente um interesse na
situação como dispõe o 1807º e é logo presumido como pai. O problema aqui reside no facto da maternidade
(1) ser efetivamente reconhecida; (2) ser verdadeira; (3) dar-se uma presunção de paternidade por estarem
casados, 1826º/1; (4) capacidade de Angelina estando demente para perfilhar.

Ora, no ultimo problema levanta-se a questão de se o homem precisa de estar na posse das suas capacidades
plenas para perfilhar (1850), porque é que a mulher não precisa de ter tais requisitos verificados para poder
perfilhar? Faz então sentido aplicar analogicamente esta norma? NÃO porque o estabelecimento de maternidade
é uma declaração de ciência, pelo que não faz sentido.

A maternidade constituiria uma presunção de paternidade, por serem casados, mas através de uma impugnação
nos termos do 1807º que destruiria os efeitos retroativamente, mas aqui teria de existir uma destruição e
afastamento da presunção ou através de uma impugnação judicial prevista no 1839º, que também destruiria os
efeitos retroativamente, poderia Brad. A diferença reside no facto de, no primeiro caso tem de ser o funcionário
a retirar a presunção de paternidade, o que parece, na prática, ser difícil, pelo que se recorre mais à impugnação
judicial.

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Homologação do acordo sobre responsabilidades parentais: 1905º/1, 1906/3, 4 e 5. O acordo das
responsabilidades parentais não pode estabelecer a residência exclusivamente com o pai, atendendo ao regime
das visitas e claro, ao superior interesse da criança (40º/3 Regime Geral Tutelar Civil). Visitas – 1906/5 reforça
a importância das visitas para manter um vinculo afecional com o outro progenitor.

Responsabilidades parentais (em particular a situação da residência e das visitas): um menor não emancipado
há uma situação de fragilidade que implica uma tutela, normalmente exercida pelos pais biológicos, o importante
é que exista alguém a zelar pelo interesse da criança, sendo essencialmente isto as responsabilidades parentais.
Um menor emancipado está apenas sujeito a administração dos bens por parte dos pais/tutor.

Quando existe uma dissolução do casamento surge um problema, pois que os pais já não estão a viver juntos,
pelo que releva o 1906º. Reconhece-se a opinião do menor e a sua autonomia, que deve ser adaptada à medida
que vão crescendo. Relativamente às despesas, 1879º. Ver as questões relativas à educação, religião…

Ora, no presente caso sendo Knox menor e não emancipada, cujos pais estão divorciados deve-se aplicar o 1906º
que se traduz no seguinte: residência vs visitas. Residência exclusiva à partida contraria o 1906/6, existe uma
preferência pela residência alternada e admite-se que esta possa ser alterada pelo tribunal, tendo em vista o
superior interesse da criança e o desenvolvimento de um vinculo com os dois progenitores. Artigo muitas vezes
invocável, 1906/3!! O facto de se dar melhor com o pai, há uma tendência para considerar que, também existindo
uma disposição que aconselha neste sentido, do acordo ser homologado. Todavia, as visitas da mãe pela pouca
frequência com que surgem, apontam no sentido de tal interesse não ser acautelado, pelo que leva a crer que
seria alterada tal parte do acordo.

Fuga de Knox: art. 1887º/2, os pais podem “reclamá-lo”, requerendo se necessário a entrega judicial do menor.
Não há presunção de maus tratos!! Quando há um abandono do lar, aplica-se 1887, e o menor não pode
abandonar o lar porque deve obediência aos pais (1878/2), razão pela qual se pode reclamar, o processo é
estabelecido pelos arts. 49º e 51º RGPTC

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