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Resumo:
Direito Patrimonial da
Família e Sucessões
| 2020/2021
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Maria Eduarda de Toledo Chiarelli
➔ Número 2:
Os efeitos da dissolução do casamento são os mesmos, seja por morte ou
por divórcio. Não há um regime diferente para os efeitos patrimoniais, a
não ser os entorses que existem no casamento civil facultativo na segunda
modalidade. Isto não afeta aqui os efeitos patrimoniais.
➔ Número 3:
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➔ Número 4:
Não discriminação dos filhos nascidos dentro e fora do casamento, o que
gerou implicações importantíssimas ao nível sucessório. Não há mais a
denominação de filhos ilegítimos, o que acarretou uma evolução até
mesmo em níveis sociais.
CONVENÇÕES ANTENUPCIAIS
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| Princípio da liberdade
O princípio da liberdade envolve que os nubentes possam escolher qualquer
um dos regimes previstos na lei; podem estipular o que melhor lhes convir; ou,
ainda, deixar que seja o casamento regido pelo regime supletivo.
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ARTIGO 1720.º
(Regime imperativo da separação de bens)
A alínea a), por sua vez, existe pelo facto de o legislador ter levantado
suspeita de que algum dos nubentes tenha sido determinado a contrair o
casamento por puro interesse econômico.
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Com isso, podemos criticar ambas as alíneas tendo por base a valorização
constitucional da autonomia individual e do livre desenvolvimento da
personalidade, conforme art. 26.º da CRP, inclusive porque não há qualquer
interesse claro que justifique as referidas restrições às liberdades negociais.
Artigo 1699.º
(Restrições ao princípio da liberdade)
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A PGR já afirmou que esse preceito não se aplica quando os filhos sejam
comuns aos nubentes. Ou seja, a ratio do referido artigo não se aplica quando isto
ocorre.
• Alínea b): evitar o poder marital, tentando impedir que se introduzisse por
via de um acordo entre os cônjuges aquilo que o legislador quis afastar
para se impor o princípio de igualdade entre os cônjuges. Trata essa alínea
de evitar estipulações que consagrem poderes exclusivos de um cônjuge na
direção da vida familiar comum;
• Alínea c): antes de 77 o marido tinha o poder sobre a administração dos
bens do casal, principalmente sobre os bens da mulher. Vale aqui
mencionar que a lei proíbe a alteração em convenção, mas não proíbe por
mandato, pois o cônjuge que ceder os poderes de administração ao outro
está sempre a tempo de os recuperar através da revogação do referido
mandato;
• Alínea d): se até no regime mais comunitarista esses bens não podem
entrar no patrimônio comum, não pode ser possível estipular a
comunicabilidade desses bens no referido regime, mesmo se criado pelos
cônjuges. Tratam-se de bens irredutivelmente próprios.
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| Princípio da imutabilidade
Por outro lado, existe o princípio da imutabilidade, o qual é uma
especificidade portuguesa. Diante deste princípio, entendemos que fora dos casos
previstos na lei não se pode alterar a convenção antenupcial realizada (art.
1714.º).
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• Insolvência;
• Situações em que se dá a separação dos bens do casal no âmbito do
processo executivo (artigo 1740.º do C.C.).
Cabe perguntar por que razões a alteração não lhes é permitida... A favor da
imutabilidade das convenções antenupciais invocam‐se a sua natureza de
pactos de família, o receio de que um dos cônjuges exerça sobre o outro lhe
permita locupletar‐se à custa dele, através de uma modificação do regime de
bens, e ainda a proteção de terceiros.
Rita Xavier defende que a regra da imutabilidade se tem justificado pela força
de um princípio geral do nosso ordenamento que proíbe a ocorrência de
enriquecimentos injustificados de um dos cônjuges à custa do outro.
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| Características da convenção
Além dos princípios mencionados, admite-se a condição à termo, mas há ainda
uma regra específica para o regime da capacidade, nomeadamente prevista no
art. 1708.º do C.C.
Artigo 1708.º
(Capacidade para celebrar convenções antenupciais)
1. Têm capacidade para celebrar convenções antenupciais aqueles que têm capacidade para contrair casamento.
2 - Aos menores só é permitido celebrar convenções antenupciais com autorização dos respetivos representantes
legais.
3 - Aos maiores acompanhados, quando devam ser representados para a realização de atos de disposição entre
vivos ou quando os mesmos dependam de autorização, só é permitido celebrar convenções antenupciais com o
acordo expresso do acompanhante.
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| Comunhão de adquiridos
É o regime supletivo desde a entrada em vigor do Código atual (desde 67), sendo
importante para muitos efeitos sucessórios, uma vez que a partilha é feita de
acordo com o regime de bens >> é então necessário em um caso prático
analisar se o casamento foi celebrado antes ou depois de 67.
Pode valer (1) como regime supletivo para casamentos celebrados depois
de 31 de maio de 1967; (2) ou como regime convencional se estipulado em
convenção antenupcial.
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Dessa forma, veremos surgir aqui uma nova figura, a figura da comunhão
sem quotas (artigo 1767.º do C.C.), a qual é diferente da compropriedade.
Explicaremos a seguir.
Não tem, pois, cada um deles algum direito de que possa dispor ou que
lhe seja permitido realizar através da divisão do patrimônio comum.
Assim, antes de estar dissolvido o casamento ou de ser decretada a
separação de pessoas e bens entre os cônjuges, não podem estes dispor
da sua meação nos bens comuns, assim como não lhes é permitido pedir
a partilha dos mesmos bens antes da dissolução do casamento >> mão
comum (essa posição não é livre de críticas).
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Artigo 1730.º
(Participação dos cônjuges no património comum)
1. Os cônjuges participam por metade no activo e no passivo da comunhão, sendo nula qualquer estipulação em
sentido diverso.
2. A regra da metade não impede que cada um dos cônjuges faça em favor de terceiro doações ou deixas por conta
da sua meação nos bens comuns, nos termos permitidos por lei.
De acordo com esse artigo cada cônjuge tem direito ao valor da metade do ativo
comum, do ativo ou do passivo. O valor em causa é o da metade do patrimônio
comum globalmente considerado, o que significa que não se admite cláusulas de
estipulação de partilha desigual (ideia de colaboração no esforço patrimonial do
casamento). Não se trata de cada cônjuge ter um direito a metade de cada bem
concreto do patrimônio comum; o direito a metade é, assim, um direito ao valor
de metade.
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Não é o que ocorre, por exemplo, nos países de commom law, visto que a
partilha se faz até mesmo em termos desiguais para responder às necessidades
de cada um > inequality distribution. Um dos motivos para essa distribuição tem
a ver com a casa de morada, visto que se permitiu que o cônjuge responsável pela
vivência dos filhos ficasse com a casa de morada de família. Em Portugal há uma
solução igual prevista em lei, mas sem passar pela distribuição desigual, pela
cláusula de partilha desigual – precisamos pensar globalmente.
Artigo 1722.º
(Bens próprios)
d) Os bens adquiridos no exercício de direito de preferência fundado em situação já existente à data do casamento.
Quanto aos bens havidos por sucessão e doação (alínea b)): não integram o
patrimônio comum, com a exceção em que o testador tem essa vontade e quer
que integre o patrimônio comum (artigo 1729.º), desde que não fira o princípio
da intangibilidade da legítima. Se há cláusula de comunicabilidade a legítima fica
diminuída já que o cônjuge terá direito à metade do valor do bem, sendo que há
este limite.
Quanto à alínea c): o número 2 já traz exemplos. São valores que já existiam no
patrimônio antes do casamento > direitos anteriores, bens de usucapião, reserva
de propriedade, bens adquiridos no exercício do direito de preferência.
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Exemplo 2: carro está velho e vai ser trocado, o preço recebido vai para o
patrimônio próprio do cônjuge antigo dono do carro.
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O Doutor Pereira Coelho entende, por outro lado, que não estando em
causa o interesse de terceiros, mas única e simplesmente o dos cônjuges, nada
parece impedir que a conexão entre os valores próprios e o bem adquirido seja
provada por qualquer meio.
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Além disso, o art. 212.º prevê a definição de frutos, diante da qual podemos
retirar que os frutos têm qualidade de bens comuns apesar de serem provenientes
de bens próprios.
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➔ Bens comuns
Estão presentes nos artigos 1724.º a 1726.º do C.C., sendo que podemos retirar
então que são bens comuns:
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A regra geral é então que tudo entra no bolo comum, sendo que as exceções
constam do art. 1733.º.
Sendo assim, podemos dizer que não há aqui bens comuns, mas claro que
pode haver, e normalmente haverá, bens que pertençam a ambos os cônjuges
em compropriedade, e em relação aos quais, portanto, qualquer deles pode
pedir a divisão a todo tempo (art. 1412.º), através do processo de divisão de
coisa comum. A lei ainda estabelece a presunção de compropriedade dos móveis
(art. 1736.º/2).
Por fim, o art. 1734.º ainda estipula que à comunhão geral de bens são
aplicadas as disposições relativas à comunhão de adquiridos. Isto significa que as
matérias tratadas de forma mais densa na comunhão de adquiridos relevam aqui
no regime da comunhão geral.
3) Separação de bens
Tanto no regime da comunhão de adquiridos quanto no regime da comunhão
geral temos 3 patrimônios diferentes (3 massas patrimoniais): um patrimônio em
comum, um patrimônio de um cônjuge e outro patrimônio de outro cônjuge. O
patrimônio em comum é objeto de tratamento específico do sistema jurídico.
Quando chegamos ao regime da separação de bens isto não ocorre, pois nele só
temos dois patrimônios: o patrimônio de um cônjuge e de outro, não há aqui
qualquer patrimônio comum (art. 1735.º).
Diante deste regime podemos dizer que os cônjuges querem ser tratados
como se estranhos fossem do ponto de vista patrimonial.
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Assim, há aqui uma ideia de separação de bens, pois os bens que vão ao
casamento e os adquiridos posteriormente continuam na titularidade de cada
cônjuge. Além disso, ainda há uma ideia tendencial de poder livremente dispor
dos respectivos bens.
Ab initio, vale mencionar que algumas das posições atuais do Código Civil são
posições relativamente ao regime passado anterior a 1967 em que o marido era o
administrador dos bens do casal, inclusive os da mulher. Este critério se tornou
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Assim, vale dizer que essas regras são imperativas e envolvem a concessão
de poderes de administração por via do mandato. Contudo, essa concessão de
poderes não pode ser irrevogável (legislador proíbe concessão irrevogável). O
receio foi que entrasse pela via da concessão a possibilidade de administração de
bens sem respeito ao princípio da igualdade dos cônjuges.
➔ Bens próprios
Quanto aos bens próprios cada um dos cônjuges possui a sua administração
(regra), contudo, há exceções:
Artigo 1678.º
(Administração dos bens do casal)
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Exemplo: um dos cônjuges é artista plástico e trabalha com uma pensa que o
outro cônjuge levou ao casamento. O bem é próprio de um cônjuge, mas
administrado por outro.
➔ Bens comuns
Vigora nesse caso a regra da administração conjunta, diante da qual ambos os
cônjuges administram os bens comuns. A regra é a da administração conjunta
prevista no art. 1678.º/3.
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• Casos em que o cônjuge tem poder, por força da lei, para administrar
bens que não são seus (art. 1678.º/2/a/b/c/d/e/f).
Artigo 1681.º
(Exercício da administração)
1. O cônjuge que administrar bens comuns ou próprios do outro cônjuge, ao abrigo do disposto nas alíneas
a) a f) do n.º 2 do artigo 1678.º, não é obrigado a prestar contas da sua administração, mas responde
pelos actos intencionalmente praticados em prejuízo do casal ou do outro cônjuge.
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2. Quando a administração, por um dos cônjuges, dos bens comuns ou próprios do outro se fundar em
mandato, são aplicáveis as regras deste contrato, mas, salvo se outra coisa tiver sido estipulada, o cônjuge
administrador só tem de prestar contas e entregar o respectivo saldo, se o houver, relativamente a actos
praticados durante os últimos cinco anos.
Nesse caso não há uma base no mandato, por isso podemos falar em casos de
administração abusiva, diante da qual teremos que distinguir aquela que é
tolerada pelo outro cônjuge e aquela que é feita em oposição ao outro cônjuge. Se
for tolerante aplica-se o regime do mandato e há prestação de contas, mas só
relativamente aos últimos 5 anos. Se for uma administração abusiva sem a lei
prever, sem mandato e com oposição do outro cônjuge, o cônjuge administrador
abusivo irá responder por má fé (regras de má fé de direito das coisas > restituir
os frutos, perde direito às benfeitorias etc.).
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Por fim, precisamos referir também a situação dos poderes do cônjuge não
administrador (art. 1679.º). Existe essa possibilidade apenas para situações
temporárias e pontuais e que se aproxima muito da figura da gestão de negócios.
ILEGITIMIDADES CONJUGAIS
| Introdução
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confirmação expressa ou tácita, mas são inválidos. Quem tem legitimidade para
arguir a anulabilidade é o cônjuge que não deu o consentimento ou os herdeiros.
| Poderes de disposição
➔ Bens imóveis
1. No regime de comunhão:
• Os cônjuges no podem dispor dos seus bens próprios nem dos bens
comuns sem consentimento do outro (art. 1682.º-A/1/) – anulabilidade
(art. 1687.º/1);
• Nõ podem dispor dos bens do outro – nulidade (art. 892.º e 1687.º/4).
2. No regime da separação:
➔ Bens móveis
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1. No regime da comunhão
• Livre disposição dos bens próprios e dos bens comuns que administre,
salvo nos casos do art. 1682.º/3/a;
• Alienação de móveis próprios/comuns que não administre + bens do art.
1682.º/3/a – anulabilidade (art. 1687.º/1);
• Não pode dispor de bens próprios do outro – nulidade/anulabilidade,
salvo art. 1682.º/3/b.
2. No regime da separação
Cada um dos cônjuges tem faculdade de dispor, para depois da morte, quer dos
bens próprios, quer dos bens comuns de acordo com a sua meação. Contudo, há
casos que os cônjuges não sabem quais são os bens que integrarão a sua meação,
pelo que teremos que ver regras especiais. Há aqui uma liberdade plena com
limite de que cada um só pode dispor do que é seu.
| Introdução
Temos aqui um regime especial face ao direito comum, porque um dos cônjuges
pode ser responsabilizado pela dívida que é do outro.
O art. 1690.º é o propulsor neste capítulo, sendo que prevê que qualquer
um dos cônjuges detém legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento
do outro cônjuge (Lei 9/2010). A data relevante é a do facto que deu origem à
dívida. No entanto, podemos ter ainda dívidas contraídas com o consentimento
do outro.
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Dessa forma, é preciso aqui existir uma intenção objetiva de proveito comum.
Não é suficiente a intenção subjetiva do agente. É preciso invocar o padrão de
uma pessoa média. Assim, uma dívida que é contraída pelo cônjuge
administrador no limite dos seus poderes de administração e no proveito comum
do casal é uma dívida que responsabiliza ambos os cônjuges, independentemente
do consentimento do outro.
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Para que o legislador tenha levado a cabo essa tutela do comércio foi preciso
sacrificar os interesses do cônjuge do comerciante, que ficou sujeito a riscos.
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civil e estejam abrangidos pelo art. 1691.º/1 ou 2 >> factos praticados por um dos
cônjuges em administração e em proveito comum do casal.
Exemplo: um dos cônjuges contrata serviços para ajuda doméstica de uma
pessoa, a qual se lesiona na prática do trabalho doméstico. Responsabilidade
meramente civil que foi contraída em proveito comum do casal.
2.3. Dívidas que oneram bens próprios de qualquer dos cônjuges (art.
1692.º)
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dívida seja comum (art. 741.º CPC). O executor tem o interesse que a dívida seja
comum e não própria por conta de haver uma garantia mais ampla.
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atos ou factos que se encadeiam num processo mais ou menos longo (fenômeno
sucessório).
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Podemos sim por um lado dizer que são conceitos que exprimem a mesma
realidade, contudo, não são conceitos plenamente coincidentes. Podemos
analisar a situação através de um ponto de vista dinâmico por parte do direito e
estático por parte dos sujeitos, diante do qual o direito se transmite de A para B,
o direito se desliga de uma titularidade e se prende à outra titularidade para assim
ser adquirido. É o que ocorre na aquisição derivada translativa.
Além disso, também não estamos a falar da sucessão em vida, que existe
quando a modificação subjetiva se opera ainda em vida de titular por força de um
ato jurídico translativo do direito (normalmente negócio jurídico outorgado entre
o antigo e o novo titular), sendo o que ocorre no caso da compra e venda, por
exemplo. Há uma modificação subjetiva que se verifica em vida do anterior titular
através de um ato jurídico translativo do direito ou da obrigação, normalmente
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um negócio jurídico outorgado entre o antigo e o novo titular. Podemos dizer que
o comprador, o cessionário e o legatário são meros adquirentes.
Na sucessão por morte, por sua vez, a modificação subjetiva ocorre apenas
após a morte do respectivo titular do direito, sendo que enquanto está vivo não
há qualquer transferência. O grande problema surge no limbo da esfera do
instituto da doação, diante da qual se faz de extrema importância a distinção
entre doação em vida e doação em morte.
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Com isso, devemos nos assentar na sucessão por morte como modificação
subjetiva que se opera depois da morte do antigo titular da relação jurídica (existe
alguns problemas de distinção com as doações – art. 946.º do C.C. – embora
não sejam admissíveis as doações por morte no ordenamento jurídico português).
Precisamos então encontrar critérios de distinção:
Não se trata de pacto sucessório porque os bens são doados em vida, não
são deixados pelo doador e não fazem parte da sua herança. A partilha não é da
herança, mas de determinados bens presentes. E, como qualquer doação em vida,
a doação produz aqui imediatamente os seus efeitos, podendo, pois, o beneficiário
ou beneficiários da liberalidade dispor dos bens doados ainda em vida do doador.
Não é um pacto sucessório porque os bens não integram a herança, a partilha não
é a da herança e sim de bens presentes e, ainda, produz imediatamente os seus
efeitos.
Estes bens são restituídos à massa da herança para igualação da partilha (art.
2104.º/1)? Quando há doação por parte dos ascendentes para os seus
descendentes parte-se do princípio de que não há intenção de beneficiar o
descendente e por isso é preciso restituir os bens à massa da herança. Então, esses
bens não irão entrar no cálculo dos bens da massa da herança, conforme art.
2162.º do C.C.
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3) Modelo socialista: conexão com o Estado que faz com que haja uma posição
sucessória reconhecida ao Estado em última linha, ou seja, se não existirem
herdeiros legitimários e legítimos. Nesse caso a herança é declarada vaga e a favor
do Estado.
| Espécies de sucessão
Há dois critérios para classificarmos as espécies de sucessões: critério da fonte da
vocação sucessória e critério do objeto da sucessão.
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Aqui é preciso distinguir entre a sucessão legal (cujo título é a lei) e a sucessão
voluntária (cujo título é o negócio jurídico). A sucessão legal (art. 2026.º) é
dividida em legítima e legitimária. A legitimária diz respeito aos herdeiros
legitimários, sendo que se a lei reserva uma parte da sucessão a esses herdeiros e
esta parte não pode ser afastada, sendo então normas imperativas. A legítima
envolve a parte que poderia ser disposta pelo de cujus e este não o fez.
Exemplo: Antônio falece, deixa duas filhas e não dispõe da sua quota disponível.
Suas filhas serão chamadas como herdeiras legitimárias porque são descendentes
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(parte da herança que lhes são destinadas), de acordo com disposições legais
imperativas, mas também como herdeiras legítimas, porque Antônio não dispôs
da sua quota disponível. Na quota disponível Antônio pode fazer o que quiser,
sendo que se nada fizer as filhas serão chamadas como herdeiras legitimárias por
lei imperativa e, supletivamente, como o pai nada fez, serão chamadas como
herdeiras legítimas. Se Antônio dispor da sua quota a um amigo Jerônimo,
teremos um terceiro chamado enquanto legatário testamentário e duas pessoas
como herdeiras legitimárias.
Exemplo 2: Antônio faz um testamento em que deixa uma joia a uma das filhas,
mas relativamente ao restante da quota não diz nada. São chamadas como
herdeiras legitimárias, são chamadas como legítimas pela parte que o pai não
dispôs e, ainda, uma das filhas é chamada como legatária testamentária.
A sucessão legitimária é definida por lei, não pode ser afastada pelos de
cujus e faz referência à porção de bens da herança que o de cujus não pode dispor.
Quando temos sucessão legitimária temos que considerar: quota legitimária,
quota indisponível ou legítima (todos sinônimos para tratar da porção de bens
que não se pode dispor) – sendo que a lista dos herdeiros legitimários está
prevista no art. 2157.º do C.C.
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Agora iremos olhar para a sucessão voluntária que tem como título um
negócio jurídico, ou seja, não decorre da lei e sim de uma manifestação de
vontade que pode ser unilateral ou bilateral. Essa sucessão pode ter lugar a todos
os bens quando não haja herdeiros legitimários.
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O herdeiro, nesse caso, não sucede em bens determinados, sendo que pode
suceder em remanescente ou em quota ideal. Quando dizemos que se sucede
numa quota ou numa quota abstrata/ideal do todo estamos a falar numa fração
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determinados, isto é, somente em certos bens e não nos outros, mas o seu direito
estende-se, real ou pelo menos virtualmente, à totalidade da herança - ou duma
quota-parte dela.
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Nesse sentido, a prova da morte envolve não somente a prova de que esta
ocorreu, mas também a prova do momento em que se verificou.
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nos termos do art. 2058.°. Pelo contrário, se foi B que faleceu em primeiro
lugar e não deixou descendentes, a disposição testamentária terá
caducado (art. 2317.°, al. a)), sendo chamados à sucessão os herdeiros
legítimos de A, nos termos gerais (art. 2131.°). O problema da morte
simultânea não interessa apenas no âmbito da sucessão testamentária
ou da sucessão legítima, mas mesmo fora do âmbito das sucessões.
Assim, v. g., na hipótese de doação com pacto de reversão em caso de pré-
morte do donatário (cfr. art. 960.°). Se doador e donatário morrem no
mesmo desastre ou no mesmo dia, para que os herdeiros do doador
possam pedir aos herdeiros do donatário a restituição dos bens doados é
preciso que façam prova da pré-morte do donatário. O problema da
morte simultânea interessa, assim, em todos os casos em que alguém
pretende fazer valer um direito que dependa da pré-morte de uma pessoa
a outra pessoa.
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ABERTURA DA SUCESSÃO
Depois, iremos perceber que esse momento será importante para outros
efeitos, nomeadamente para o cálculo da legítima (art. 2162.º) e do valor dos bens
doados para efeitos de colação (art. 2109.º).
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Já sabemos, desde logo, os títulos de vocação sucessória, que pode ser lei,
testamento ou contrato. Assim, a designação sucessória se converte na aprovação
sucessória antes da morte do de cujus, sendo então feita antes da morte. É um
momento prévio relativamente à vocação e até a quem denomina a vocação com
designação efetiva (concretização da vocação, quando se fixa, tudo para).
Para isso, temos que ter em conta que podemos ter várias designações. No
entanto, relativamente à mesma relação jurídica apenas pode haver um
chamamento em que se converte essa designação sucessória. Podemos ter várias
designações porque temos títulos diversos, mas não podemos chamar diversas
pessoas à titularidade da mesma relação jurídica.
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Com isso, é o art. 2031.º que nos indica o local de abertura da sucessão,
segundo o qual se estabelece que a sucessão se abre no lugar do último
domicílio do seu autor. Para isso vale a residência habitual do autor e se
residisse em vários locais ao mesmo tempo vale então qualquer um deles. Ainda
dispõe a lei que na falta de residência habitual irá ser considerada a sua residência
ocasional e, se esta não puder ser determinada, no lugar onde se encontrar o de
cuiús.
| Vocação sucessória
Antes de prosseguir à enunciação da matéria propriamente dita, é preciso
clarificar alguns conceitos bases de acordo com a doutrina do Doutor Guilherme
Oliveira:
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| Designação sucessória
Novamente temos de qualificar a designação sucessória como indicação de um
sucessível feita antes da morte do autor da sucessão, sendo então um momento
prévio à vocação (espécie de vocação virtual).
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Por isso que dizemos que há meras esperanças (não podemos sequer falar
de expectativas jurídicas) por parte dos herdeiros testamentários e legítimos,
visto que não possuem a certeza de virem a receber os bens do autor da sucessão,
pois este pode ainda em vida dispor livremente de uma parte dos seus bens, quer
a título oneroso, quer a título gratuito. Mesmo os legitimários não possuem a
certeza de que irão receber a legítima, visto que pode o autor da sucessão contrair
dívidas ao ponto de não haver remanescente do seu patrimônio para ser
distribuído aos herdeiros.
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Em relação aos donatários, podemos também dizer que não ficam com
quaisquer direitos aos bens ou sobre os bens doados. O donatário é herdeiro do
doador e nada mais, ou seja, tem apenas a expectativa devir a receber os bens
doados, expectativa essa que é juridicamente tutelada. Para esse aspecto é preciso
ainda distinguir duas situações:
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| Conteúdo da vocação
O referido tópico irá tratar da posição jurídica que é atribuída ao chamado por
força da vocação, sendo que aqui temos duas teorias importantes:
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| Pressupostos da vocação
Agora é chegada a hora de nos questionarmos acerca de quais condições são
necessárias para que uma pessoa seja chamada à sucessão. Os pressupostos são
três e estão todos contemplados na referida frase: destinatário da vocação é o
titular da designação sucessória prevalente no momento da morte do de cuiús,
contanto que, nesse momento, exista e tenha capacidade sucessória.
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2. Existência do chamado
O chamado precisa existir enquanto pessoa jurídica no momento da abertura da
sucessão. É necessário também que tenhamos a existência do chamado. O
chamado tem de ter personalidade jurídica no momento da morte do autor da
sucessão: ainda há de existir e já haverá de existir no momento da morte,
justamente porque a personalidade jurídica das pessoas singulares se extingue
com a morte >> ainda há de existir no momento da morte do autor da sucessão e
já há de existir no referido momento.
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➔ Casos particulares
Esses casos envolvem situações em que são chamadas à sucessão pessoas que
ainda não existam no momento da abertura da sucessão, nomeadamente os casos
de sucessão de nascituros já concebidos (legítima, testamentária e contratual),
nascituros ainda não concebidos (testamentária e contratual) e de pessoas
coletivas ainda não reconhecidas.
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Por outro lado, em relação aos nascituros ainda não concebidos o art.
2033.º/2/a vem afirmar que é possível a capacidade sucessória dos mesmos em
sucessão testamentária ou contratual desde que sejam filhos de pessoa
determinada viva ao tempo da abertura da sucessão.
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A lei não descurou este ponto, pois, no art. 2240.°, n.º 1, mandou aplicar
às heranças deixadas aos nascituros ainda não concebidos146 as
disposições dos arts. 2237.° a 2239.°, relativas à administração da
herança deixada sob condição suspensiva147 , e, no art. 2239.°, dispôs
que os direitos e obrigações dos administradores de herança deixada sob
condição suspensiva são os mesmos que pertencem ao curador provisório
dos bens do ausente (cfr. supra, n.º 20). A herança deixada a nascituro
ainda não concebido é, pois, posta em administração, nos termos do art.
2237.°, e assim se conserva até que nasçam os instituídos ou haja a
certeza de que o nascimento não se dará.
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➔ Resumo
Relativamente aos nascituros já concebidos, a lei no art. 2033.º usa a expressão
de capacidade sucessória no sentido de reconhecer que podem ser chamados os
nascituros já concebidos quer a título de sucessão legítima, testamentária ou
contratual (podem ser chamadas todas as pessoas nascidas ou concebidas). Aqui
temos que ter em conta o cruzamento com outras regras.
3. Capacidade sucessória
É preciso que o chamado à sucessão seja capaz de suceder o de cuiús no momento
da morte deste. Podemos então qualificar a capacidade sucessória como
idoneidade para ser chamado a suceder, como herdeiro ou legatário.
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respeito à situação de deserdação (art. 2166.º e 2167.º). Veremos então quais são
esses atos:
| Modos de vocação
O chamamento sucessório pode ser feito de modos diferentes: a vocação pode
ser originária ou subsequente, pura e simples ou condicionar, direta ou indireta.
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Imagine que A morre e tem dois filhos. Ambos são chamados, preenchem
os pressupostos da vocação sucessória, mas um dos filhos repudia e não quer
aceitar a herança. O art. 2032.º diz que serão chamados os subsequentes.
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Há aqui duas figuras muito próximas e que por vezes suscitam confusões:
direito de representação e transmissão do direito de aceitar ou repudiar a
herança. Nas situações de pré-morte em que se dá o direito de representação
podemos ter aqui similitudes do ponto de vista factual com situações em que o
chamado falece sem exercer o direito de aceitar ou repudiar.
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Exemplo: A morre, mas seu filho B já tinha pré-falecido, sendo que uma semana
depois a filha C também morre sem exercer seu direito de aceitar ou repudiar a
herança. Porém, B e C possuem dois filhos cada. Há aqui um esquema em que
temos filhos, uma situação em que todos já morreram e que temos o mesmo
número de netos. A diferença é que em um dos casos se dá o direito de
representação e no outro irá se dar a transmissão do direito de aceitar ou repudiar
a herança.
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Veremos ainda que a lei considera que a representação tem lugar, ainda
que todos os membros das várias estirpes estejam, relativamente ao autor da
sucessão, no mesmo grau de parentesco ou exista uma só estirpe. Uma estirpe é
um agrupamento familiar composto por um progenitor e seus descendentes
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(imagine que A morre, tem dois filhos que faleceram e tem netos). O direito de
representação se justifica quanto à parentes de diferentes graus sucessórios,
parentes em igualdade de graus sucessórios e, ainda, existência de uma única
estirpe.
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Por fim, uma terceira hipótese envolve uma situação em que temos
igualdade de graus sucessórios com pluralidade de estirpes. Relevante
aqui é saber quem irá conferir relativamente a uma doação que tiver sido
feita. Se temos uma doação feita a um filho, este irá ter de conferir e
relativamente aos bens deixados o B terá de receber ainda só metade da
doação, visto que teremos a importação da doação que foi feita ao seu pai.
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➔ Unidade de estirpe
A questão da existência de direito de representação no caso de unidade
de estirpe era muito discutida na vigência do Código de Seabra, mas o
Código de 1966 resolveu-a no art. 2045.°, ao dispor que a representação
tem lugar “ainda que exista uma só estirpe”. Nem importará que essa
estirpe única tenha um só ou vários membros: a lei não distingue e não
há razão para distinguir.
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Posto tudo isso, podemos então afirmar que a finalidade maior do direito de
representação é a de evitar que as circunstâncias fortuitas e imprevistas venham
alterar a disciplina normal da sucessão. As pessoas fazem os seus planos de vida
na previsão da normalidade das coisas, e não seria justo que eventos ocasionais
e fortuitos frustrassem essas previsões e expectativas, dos herdeiros
legitimários e até de terceiros donatários; na ideia da lei, circunstâncias
imprevisíveis como a pré-morte do filho ao pai, a ausência, a indignidade, a
deserdação ou o repúdio não devem repercutir-se no modo como se opera ou
desenvolve a sucessão.
| Momentos eventuais
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HERANÇA JACENTE
Com isso, o art. 2046.º estipula que diz jacente a herança aberta, mas
ainda não aceita nem declarada vaga para o Estado. A herança jacente é
regulamentada pelo art. 2046.º, sendo que o conceito de herança declarada
vaga para o Estado vem previsto no art. 2155.º: reconhecida judicialmente a
inexistência de outros sucessíveis legítimos... A Doutora afirma que quando o
autor da sucessão não dispõe dos seus bens de outra forma e não há sucessíveis a
herança será também declarada vaga – quando já não existe ninguém, nem
chamado a título legal e nem a título de natureza voluntária (art. 2133.º).
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Por outro lado, a herança vaga será aquela deferida ao Estado, por o de
cuiús ter falecido sem testamento e não haver herdeiros legítimos das categorias
ou classes sucessórias anteriores – sendo que a inexistência de outros sucessíveis
deve ser reconhecida judicialmente para que a herança seja então declarada vaga
para o Estado, conforme art. 2155.º.
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ACEITAÇÃO SUCESSÓRIA
| Necessidade de aceitação
A aquisição sucessória só se opera pela aceitação, ou seja, pela resposta afirmativa
ao chamamento. Assim, a aceitação serve para que se verifique a aquisição
sucessória, contudo, não é obrigatória para o chamado, porque representa ato
livre para qualquer herdeiro ou legatário no âmbito da sucessão testamentária e
da sucessão legal (com exceção do art. 2154.º – sucessão do Estado enquanto
herdeiro legítimo).
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Por outro lado, a herança pode ser aceita pura e simplesmente (aceitação
pura e simples) ou pode ainda ser aceita a benefício de inventário (art. 2052.º).
• Pura e simples: permite que na parte possa haver uma confusão entre o
patrimônio do herdeiro e do de cujus, o que se torna essencial para saber
quais bens irão responder pela herança. O ônus da prova recai sobre os
herdeiros, o que acaba por gerar muitas implicações práticas;
• A benefício de inventário: estando inventariados os bens que
compõem a herança, caberá aos credores o ônus da prova de que há outros
bens.
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Como a aceitação é um ato livre, pode não haver aceitação > repúdio (art.
2062.º). Também no repúdio os seus efeitos retroagem-se à abertura da
sucessão, ou seja, à data da morte do autor. Mesmo quem foi chamado será visto
como não tendo sido desde o momento da abertura da sucessão, com exceção da
representação. A pessoa considera-se não chamada, a não ser que ela própria terá
um filho, pelo que funcionará o direito de representação e o filho tomará o lugar
da pessoa. Se não tiver descendente, considera-se como não chamado e a sua
parte irá acrescer a do irmão, por exemplo.
1. Aceitação expressa
O sucessível chamado à herança declara em algum documento escrito que a aceita
ou assume o título de herdeiro com a intenção de a adquirir. A aceitação nesse
caso pode ser pura e simples ou, ainda, em benefício de inventário (art. 2052.º e
art. 2053.º/1).
2. Aceitação tácita
Resulta de factos concludentes, conforme art. 217.º/1. Deve ter-se em conta,
porém, que “os actos de administração praticados pelo sucessível não implicam
aceitação tácita da herança” (art. 2056.°, n.º 3), o que bem se compreende, pois
os herdeiros podem praticar esses actos sem pretenderem comprometer-se no
sentido da aceitação.
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REPÚDIO DA HERANÇA
| Noção
O repúdio é o ato pelo qual o sucessível responde negativamente a herança, pelo
qual será então considerado não chamado. Assim, é a partir dessa ideia que se
definem os efeitos do repúdio, que irão retroagir ao momento da abertura da
sucessão, conforme art. 2062.º.
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PETIÇÃO DA HERANÇA
ALIENAÇÃO DA HERANÇA
ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
LIQUIDAÇÃO DA HERANÇA
| Encargos da herança
Na maioria das vezes a herança encontra-se onerada com encargos, sendo então
necessário proceder à sua liquidação. Em primeiro lugar, é preciso mencionar que
os encargos não são as mesmas coisas que as dívidas da herança, pois englobam
para além das dívidas do falecido as despesas com o funeral e os sufrágios do seu
autor, bem como os encargos com a testamentária, administração e liquidação do
patrimônio hereditário e cumprimento dos legados (art. 2068.º).
PARTILHA DA HERANÇA
IMPORTANTE! A lei aceita, por uma espécie de ficção legal, que cada um dos
herdeiros é considerado, desde a abertura da herança, sucessor único dos bens
que lhe foram atribuídos” (art. 2119.°)219, e parece assim dar à partilha
carácter declarativo e não atributivo ou translativo. Cada herdeiro adquire os
bens do seu lote, não dos outros compartilhantes, mas directamente do autor da
sucessão, tudo se passando como se esses bens (e só esses) tivessem sido sempre
seus. Uma consequência prática que costuma ligar-se a esta construção teórica
é a da validade dos actos de disposição praticados por um dos co-herdeiros
sobre bens que venham a ser-lhe adjudicados na partilha, mas a solução já
resultaria do art. 895.º.
1. Partilha judicial
Existe em processo de inventário, quando a mesma for requerida por algum dos
interessados > inventário facultativo. No entanto, há casos de inventário
obrigatório da partilha judicial previstos no art. 2053.º em que a lei exige
aceitação beneficiária da herança e ainda os casos em que algum dos herdeiros
não possa, por motivo de ausência ou incapacidade permanente, outorgar em
partilha extrajudicial, conforme art. 2102.º/2.
2. Partilha extrajudicial
Ocorrerá de forma extrajudicial se houver acordo de todos os interessados,
precisando então que este acordo revista a forma de escritura pública se existirem
coisas imóveis deixadas pela herança.
que ajuda). Há casos previstos no art. 2113.º que o legislador presume essa
dispensa.
Para além das doações, há também outra categoria que integra o objeto da
colação. Está sujeito à colação tudo quando o falecido tiver dispendido
gratuitamente em proveito dos descendentes, conforme art. 2104.º. Esse artigo
pode causar certas complexidades, sendo por isso que o n.º 2 é importante para
excetuar uma série de despesas que não estão sujeitas à colação, tais como as
despesas com o casamento, alimentos, estabelecimento e colocação dos
descendentes, na medida em que se harmonizem com os usos e com a condição
social e econômica do falecido.
Com isso, são objeto de colação as doações e as despesas (com exceção das
referidas no art. 2110.º/2).
➔ Regime supletivo
O primeiro regime é o supletivo previsto no art. 2108.º, pois se aplica quando o
autor da sucessão nada diz e nada declara. A colação vai se fazer aqui pela
imputação do valor da doação ou da importância das despesas na quota
hereditária, sendo que se não houver na herança bens para igualar os herdeiros,
nem por isso são reduzidas as doações.
Exemplo: X morre e deixa 90 mil euros de massa da herança. Tem dois filhos,
A e B. Isso significa que 2/3 são a quota indisponível, logo, 60 mil euros. Temos
uma legítima subjetiva de 30 mil euros para cada um. Se X fizer uma doação de
25 mil euros a A e nada disser, teremos uma doação omissa. A doação será
imputada subjetivamente, pelo que terá direito de receber 5 mil euros de legítima
(25 + 5 = legítima). Contudo, se a doação for de 40 mil euros, imputaremos 30
mil do lado da legítima, mas os restantes 10 mil terão de ser imputados do lado
da quota disponível. No regime supletivo o legislador pretende que haja a
igualação possível. Cada um recebe 30 mil, mas Ana recebe mais 10 mil porque
aquela doação ultrapassou a sua legítima subjetiva se ainda tivermos valor
suficiente para igualação. Se a doação for de 60 mil euros, teremos 30 mil do lado
da quota indisponível e 30 mil da quota disponível, não havendo bens para
igualar o irmão. Vigora o art. 2108.º/2 e a Ana irá manter a doação de 60 mil
euros e o irmão receberá sua legítima subjetiva de 30 mil já que não há bens
suficientes para igualar > nada se faz.
SUCESSÃO LEGÍTIMA
| Introdução
A sucessão legítima irá ser aberta na falta de testamento, ou seja, quando o
falecido não tenha “disposto válida e eficazmente, no todo ou em parte, dos bens
que podia dispor para depois da morte” (art. 2131.°). Também é aberta a
sucessão legítima quando o testamento disposto pelo testador for inválido ou
dispor de somente parte dos bens.
Nos termos do art. 2133.°, a ordem por que são chamados os herdeiros,
sem prejuízo do disposto no título da adopção, é a seguinte: a) Cônjuge e
Dessa forma, a classe dos sucessíveis vem prevista no art. 2133.º, que
representa uma prova de como as relações familiares são fortes para o DPFS. Há
aqui uma valorização dos círculos mais próximos, aproximação esta que não é
técnica somente.
Podemos ter ainda uma regra especial quando temos a concorrência entre
irmãos germanos e uterinos ou consanguíneos (art. 2146.º). Quando temos
irmãos consanguíneos falamos em irmãos na linha paterna e irmãos uterinos são
irmãos nas linhas maternas; enquanto os germanos são irmãos nas duas linhas.
Assim, o 2146.º diz que se A morrer e deixar 3 irmãos (um germano, um uterino
e um consanguíneo) somente e uma herança de 4000 euros, o irmão germano
recebe o dobro do que recebem os irmãos unilaterais.
| Sucessão
Diz agora a lei no art. 1707.º-A que a renúncia pode ser condicionada à
sobrevivência ou não de sucessíveis de qualquer classe, bem como de outras
pessoas.
5. Sucessão do Estado
Finalmente, na falta de cônjuge e de todos os parentes sucessíveis é chamado o
Estado (art. 2152.°), que tem, relativamente à herança, os mesmos direitos e
obrigações de qualquer outro herdeiro (art. 2153.°). Já conhecemos a
particularidade mais importante da sucessão do Estado, que é a de a vocação não
lhe conceder, como nos outros casos, o direito de aceitar ou repudiar a herança.
Para o cálculo da legítima devemos atender a uma série de elementos. Temos que
avaliar os bens deixados, deduzir as dívidas da herança, realizar uma restituição
fictícia dos bens doados e das despesas sujeitas à colação para no fim haver
imputação das liberalidades feitas por conta da legítima.
É preciso olhar para a forma como será prosseguida a redução, sendo que
não é permitida a renúncia do autor (art. 2170.º).
O testamento é:
• Um negócio unilateral e não receptício;
• Negócio pessoal (não admite representação e exprime a vontade do
testador);
• Negócio individual;
• Mortis causae;
• Livremente revogável;
• Formal ou solene;
• Estranho ao comércio jurídico.
SUCESSÃO LEGITIMÁRIA
Dessa forma, a legítima representa dois terços ou um terço ode uma massa
de cálculo assim obtida, sendo que o cálculo da legítima é feito conforme as
seguintes operações:
FIM!!