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Inês De Oliveira Soares

Resolução Exames Direito Processual Civil III – Processo Executivo

01/06/2020

A agência da Caixa Geral de Depósitos de Coimbra emprestou, em 2010, a quantia de


60.000,00 euros a António, solteiro, cozinheiro num restaurante e residente em
Coimbra, tendo as partes realizado um contrato de mútuo, por meio de escritura
pública, pelo qual António se obrigou a pagar o capital e os juros ao longo de 20 anos.
Para garantia desta obrigação os pais de António, Berto e Carla, também residentes
em Coimbra, constituíram uma hipoteca a favor do referido banco de um apartamento
situado em Aveiro, que estes haviam adquirido na constância do casamento. Hipoteca
que foi logo sujeita a registo.

Este apartamento foi, entretanto, vendido a Daniel, em 2016.

Sucede que, perante a falta de pagamento de várias prestações por conta do mútuo
(referentes ao capital e aos juros), a Caixa Geral de Depósitos resolveu o referido
contrato e exigiu a António o pagamento da totalidade da quantia ainda em dívida, ou
seja, 45.000,00 euros, o qual não pagou voluntariamente.

Perante isto, há 6 meses, o dito banco instaurou ação executiva contra António, Berto
e Carla no juízo de execução da comarca de Coimbra1. O requerimento executivo foi
subscrito por um solicitador, tendo sido penhorado o referido apartamento.

1) Analise os pressupostos da legitimidade processual, da competência interna e do


patrocínio judiciário; sua verificação; não verificação; consequências, justificando
sempre as respostas. (6 Val.)

No domínio de uma ação declarativa, o conceito de pressuposto processual traduz-se em


todas as condições formais, de natureza processual, de cuja verificação depende o
conhecimento do mérito da causa. Ora, na ação executiva, há pressupostos gerais que não
têm qualquer especialidade em relação à ação declarativa, designadamente o pressuposto
da capacidade judiciária, da personalidade judiciária, da representação em juízo e da
sujeição à jurisprudência portuguesa. No entanto, há pressupostos gerais que não gozam
de um regime jurídica idêntico ao regime previsto para as ações declarativas, tendo,
portanto, um regime diferente. Ora, na questão concreta é-nos pedida a análise dos
pressupostos gerais da legitimidade processual, da competência interna e do patrocínio
judiciário. Os pressupostos em causa gozam, precisamente, de um regime distinto em
comparação com o regime da ação declarativa. Na ação executiva propriamente dita, os
pressupostos processuais gerais traduzem-se nas condições de natureza formal para que
estas, uma vez verificadas e só quando estiverem verificadas, os atos executivos possam
prosseguir.

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Relativamente à legitimidade processual esta determina-se, na ação executiva, com maior


simplicidade face à ação declarativa. Na ação declarativa o autor é parte legitima quando
tem interesse direto em demandar e o réu é parte legitima quando tem interesse direto em
contradizer (artigo 30º CPC). Este interesse direto em demandar ou em contradizer,
apura-se pela vantagem ou desvantagem que um e outro, do ponto de vista económico,
possam vir a ter no final da ação declarativa. Subsidiariamente, têm interesse direto em
demandar e interesse direto em contradizer os sujeitos na ação material controvertida. No
fundo, a legitimidade processual numa ação declarativa exprime a posição da parte
perante o objeto de litigo, perante o pedido e a causa de pedir, em termos de se poder
dizer que o autor e o réu têm, perante o pedido e a causa de pedir, uma relação jurídica
próxima. Por sua vez, no âmbito da ação executiva, a indagação a fazer resolve-se no
confronto entre as partes e o título executivo. Assim sendo, tem legitimidade como
exequente quem no título executivo figura como credor e tem legitimidade como
executado quem no título executivo figura como devedor. Tal significa que na ação
executiva – que tem a regra geral no artigo 53º/1 – a legitimidade processual exprime uma
posição puramente formal, na medida em que só é parte legítima ativa (exequente) a
pessoa cujo nome figura no título executivo na qualidade de credor e só é parte legítima
passiva (executado) a pessoa cujo nome esteja mencionado no título executivo na
qualidade de devedor. Então, mesmo que outras pessoas sejam titulares da ação material
controvertida da qual resulta a obrigação exequenda, se o nome delas não constar no título
executivo na qualidade de devedoras ou de credoras, então essas pessoas não são partes
legítimas. Note-se ainda que mesmo que outras pessoas sejam mencionadas no título
executivo, se não o forem na qualidade de devedores ou de credores da ação exequível,
não são partes legítimas. Dito isto, sabemos já que para analisar a legitimidade processual,
importa desde já atender ao título executivo. No nosso caso estamos perante um título
executivo extrajudicial. Note-se que quer os documentos autênticos quer os documentos
particulares autenticadas são títulos executivos se e quando deles contar a constituição ou
o reconhecimento de qualquer obrigação. No caso sub judice, está em causa a constituição
de uma obrigação. Relativamente à exequibilidade destes documentos, atente-se no artigo
707º CPC. Vejamos: no contrato de mútuo não é suficiente para a perfeição e eficácia do
negócio o acordo de vontade, sendo ainda necessário que a instituição bancária transfira
as disponibilidades bancárias para António. Só a partir deste ato real do mutuante é que
o mutuante (banco) pode alegar o incumprimento de António, exigindo as prestações em
dívida. Então, sendo este um negócio jurídico real quanto à constituição, é necessário que
haja ainda um outro documento particular com força executiva própria que demonstre
que o banco transferiu as quantias mutuadas para o património de António. Então,
respeitando o contrato de mútuo o formalismo do artigo 707º, temos título executivo
extrajudicial. Como tal, é já possível concluir que o Banco tem legitimidade processual
ativa (exequente) uma vez que figura no título executivo na qualidade de credor e
António, sendo mencionado no título executivo como devedor, tem legitimidade
processual passiva. Já Berto e Carla não têm legitimidade processual. Ora, Berto e Carla
transmitiram o imóvel dado em garantia a Daniel e esta transmissão ocorreu antes da

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execução. Logo, não sendo proprietários do bem dado em garantia, nem constando do
título executivo com a qualidade de devedores, Berto e Carla não desfrutam da
legitimidade passiva para serem executados. Repare-se ainda que tendo sido vendido o
bem dado em garantia, este bem foi vendido onerado. Com efeito, Daniel é titular do bem
onerado com a hipótese. Na verdade, uma vez que se transmitiu o imóvel onerado a Daniel
então, o Banco exequente pode fazer valer o direito real de garantia contra Daniel (arts.
54º/2 e 735º/2).
Nos termos do artigo 550º/2/c estamos perante uma ação executiva para pagamento de
quantia certa (artigo 10º/6) que deve seguir o processo sumário. Assim, devemos atender
ao artigo 855º/1 CPC que é um preceito relativa à tramitação do processo comum na
forma sumária e nos termos do qual o requerimento executivo – que tem que obedecer
aos requisitos do artigo 724º/1 – e os documentos que o acompanham são dirigidos à
secretaria do tribunal competente e esta envia-os imediatamente por via eletrónica, sem
precedência de despacho judicial, ao agente de execução. Porém, nos termos do artigo
855º/2/b o agente de execução deve suscitar a intervenção do juiz, remetendo-lhe o
requerimento executivo e os documentos que o acompanhem se afigurar provável a
ocorrência de algumas das situações previstas no artigo 726º. Então, o agente de execução
deve suscitar a ilegitimidade passiva ao juiz, devendo este proferir, por esse motivo, um
despacho de indeferimento liminar parcial. Neste sentido, veja-se o artigo 726º/3,
segundo o qual se admite o indeferimento parcial. Tal significa que há uma admissão
parcial e uma rejeição parcial. Na verdade, estando apenas o nome de António
mencionado no título executivo, o juiz determina que a ação executiva prossiga contra
António. Porém, a ação executiva não pode prosseguir contra Berto e Carla pois estes não
têm legitimidade processual passiva. O juiz, tendo António legitimidade passiva, não
indefere totalmente pois tal seria contra as regras da economia processual e, deste modo,
consegue-se o aproveitamento de atos processuais. Então, precisamente porque nem todos
os sujeitos carecem de legitimidade, a solução adequada é o juiz indeferir parcialmente.
Então, a ação executiva prossegue conte António. Caso a falta deste pressuposto não seja
suscitada pelo agente de execução ou conhecida pelo juiz, B e C podem deduzir embargos
de executado e aí alegar a falta de legitimidade processual (artigo 729º/c). Além disso,
até ao início das diligências para a transmissão dos bens, esta questão pode ser conhecida
oficiosamente pelo juiz (artigo 734º/1). A falta de legitimidade é uma exceção dilatória
de conhecimento oficioso (artigo 577º/e). Repare-se que o Banco pode requerer a
intervenção principal de Daniel na execução, a fim de poder penhorar licitamente o bem
penhorado cuja propriedade fora transmitida para este.

Vejamos agora o pressuposto processual relativo à competência interna. Tal como na ação
declarativa, a competência material dos tribunais judicias para a ação executiva
determina-se por um duplo critério: um critério de atribuição positiva e um critério de
competência residual. Segundo o critério de atribuição positiva, cabem na competência
dos tribunais judicias todas as ações executivas baseadas na não realização de uma
prestação devida segundo as normas do direito privado. Como tal, uma vez que no nosso

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caso está em causa o incumprimento de uma obrigação decorrente de um contrato de


mútuo estamos, de acordo com o critério da atribuição positiva, no âmbito da competência
material dos tribunais judiciais. No que toca à competência interna dos tribunais judicias,
temos que atender a quatro critérios cumulativos: matéria, território, hierarquia e valor.
O Banco instaurou a ação executiva no juízo de execução da comarca de Coimbra,
cumprindo-nos agora saber se esse é efetivamente o tribunal competente. Nos termos da
LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se em juízos, que podem ser de competência
especializada, de competência genérica e de proximidade. Entre os juízos de competência
especializadas, temos os juízos de execução (artigo 81º/3/j LOSJ). Quando haja juízo de
execução, estes têm competência exclusiva (artigo 129º/3 LOSJ) para as ações executivas,
salvo nos casos previstos no nº2 do respetivo preceito. Então, é competente um juízo de
execução, sendo assim irrelevante atender ao critério do valor. Relativamente à
hierarquia, apenas os tribunais de 1º instância têm competência executiva. Atendendo à
competência territorial e estando em causa um título executivo extrajudicial, importa
atender ao artigo 89º. Ora, de acordo com o preceito, a regra geral é a de que é competente
o tribunal do domicílio do executado. De acordo com a regra geral, uma vez que António
reside em Coimbra, parece que a ação foi intentada no tribunal competente. Todavia, tal
não é verdade pois nos termos do artigo 89º/2, no caso de dívida provida com garantia
real, é competente o tribunal do lugar da situação dos bens onerados. Assim, o juízo de
execução da comarca de Coimbra é incompetente em razão do território. O juízo
competente é juízo de execução da comarca de Aveiro uma vez que o exequente quer
fazer valer a garantia real de um bem situada na comarca de Aveiro. A incompetência em
razão do território gera incompetência relativa (artigo 102º) e, de acordo com o artigo
104º/1, é de conhecimento oficioso. Sendo este um processo executivo que tramita sob a
forma sumária, o agente de execução suspeitando deste exceção dilatório, deve suscitar a
intervenção do juiz da execução a fim deste apreciar a eventual falta deste pressuposto
processual. O juiz poderia remeter o processo para o juízo competente se o exequente o
requeresse e se os executados não oferecessem oposição fundada. Se o agente de
execução não suscitasse a questão e a intervenção do juiz, então o executado teria sempre
a possibilidade de alegar em sede de oposição à execução por meio de embargos de
executado esta mesma questão, com fundamento no artigo 729º/c.

Relativamente ao patrocínio judiciário, este só é pressuposto processual se for


obrigatório. Nos termos do artigo 58º CPC, o patrocínio judiciário é obrigatório nas ações
de execuções de valor superior à alçada da Relação. Com efeito, uma vez que a alçada da
Relação é 30.000 euros e no nosso caso a execução vale 45.000 euros a constituição de
advogado é obrigatório. Na medida em que não houve constituição de advogado e esta é
obrigatório, estamos perante uma exceção dilatória de conhecimento oficioso. Esta falha
é sanável e, portanto, o agente de execução deve suscitar a intervenção do juiz e este deve
determinar um despacho de aperfeiçoamento para que assim o exequente junto aos autos
uma procuração forense. Para tal, o exequente terá que cumprir um prazo geral de 10 das
– que é o prazo geral para a prática de atos processuais (artigo 149º/1).

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Foi também penhorado uma parte do salário de António. Ele aufere 900,00 euros
líquidos mensais, tendo a entidade patronal sido notificada para transferir a quantia
de 300,00 euros para o agente de execução, todos os meses. A entidade patronal do
executado, que reconheceu a existência do crédito, não fez, até ao momento, qualquer
transferência. Quid iuris? Justifique (4 Val.).

Há interesses gerais, interesses vitais do executado e interesses de terceiro que o sistema


jurídico entende que se devem sobrepor aos interesses do credor exequente. Como tal, há
situações de impenhorabilidade absoluta e total (os bens não podem, na sua totalidade,
ser penhorados, seja qual for a dívida exequenda); situações de impenhorabilidade
relativa (os bens não podem ser penhoradas apenas em determinadas circunstâncias ou
para pagar certas dívidas); e os casos de impenhorabilidade parcial (os bens só podem ser
penhorados em certa parte). A penhora do salário, enquanto penhora de créditos, tem que
respeitar a imposição do artigo 738º, sendo um caso de impenhorabilidade parcial. Como
tal, o salário não é um bem totalmente penhorável, estando aqui presente uma ponderação
entre os interesses do credor e os interesses vitais do executado, nomeadamente a garantia
indispensável ao seu sustento e subsistência. Nos termos do artigo 738º, 2/3 do salário
ilíquido são impenhoráveis e, a contrario, concluímos que é penhorável 1/3 do salário.
Esta é a regra geral, mas temos que atender ao nº3 do artigo 738º. Na verdade, podemos
ter um executado com um salário bastante avultado, assim como podemos ter um
executado com um salário mais baixo e esta circunstância não é indiferente ao nosso
legislador. Assim sendo, quando os 2/3 representem um valor superior a três ordenados
mínimos, admite-se que se penhore mais do que 1/3 do salário, desde que se garanta o
valor de três salários mínimos nacionais ao executado. No fundo, nos casos em que os 2/3
do salário são superiores a três salários mínimos nacionais, já não estamos ao abrigo do
nº1 do artigo 738º, mas sim ao abrigo do seu nº3. Tal significa que nessas hipóteses se
pode penhorar mais do que 1/3, desde que se garanta o montante correspondente a três
salários mínimos ao executado. Além destas situações, há também um limite mínimo a
respeitar que releva nas situações nas quais o executado aufere rendimentos baixos. Assim
o executado tem sempre que ficar com um montante disponível equivalente ao montante
líquido do salário mínimo nacional. Então, há situações nas quais, não obstante a regra
ser a de que se deve penhorar 1/3 do salário, se deve penhorar menos do que esse 1/3. Se
assim não fosse o executado poderia ficar a receber menos do que o ordenado mínimo
nacional. No fundo, se a penhora de 1/3 do salário levar a que o executado receba menos
do que um salário mínimo nacional, então tem que se penhorar menos de 1/3.
Ora, quando há penhora de salários, tal implica que o devedor do executado, isto é, a
entidade patronal. também seja atingido pela execução. Na verdade, impõe-se à entidade
patronal obrigações de informação e colaboração com o agente de execução. Além destas
obrigações declarativas há ainda uma obrigação de prestação de facto, pois o devedor do
executado é obrigado a reter na fonte parte a parte penhorável deste salário e a transferi-
las para uma conta aberta pelo agente de execução à ordem deste processo. Então, o
exequente pode exigir nos próprios atos desta – e não numa execução autónoma – a

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execução forçada das quantias em falta no património da entidade patronal, tornando-as


executada e, se for caso disso, penhorando alguns bens da entidade patronal. Então, nos
termos do artigo 777º/3 CPC esta outra execução que é realizada nos próprios autos da
ação primitiva, pode assim ser igualmente instaurada contra a entidade patronal, que deste
modo se torna co executada. Tal significa que estamos perante um título executivo que se
forma no próprio processo. É, no fundo, um título executivo contra o devedor do
executado e que não existia no início da ação executiva. Este é um exemplo de um título
executivo previsto por força de lei especial (artigo 703º/1/d).

Imagine que o agente de execução penhorou, ainda, um automóvel a Berto e Carla.


Podem estes reagir contra esta penhora? Justifique (5 Val.)

O nosso sistema jurídico concede quatro meios de reação contra uma penhora ilegal:
oposição por simples requerimento; incidente de oposição à penhora; embargos de
terceiro e ação de reivindicação. No nosso caso, Berto e Carla, embora não tenham
legitimidade passiva, eles são partes passivas da execução e até se aferir da sua falta de
legitimidade, são executados. Então, podem deduzir o incidente de oposição à penhora.
O incidente de oposição à penhora é um meio de oposição privativo do executado. O
tramite deste incidente segue o artigo 785º e os os fundamentos para o incidente de
oposição à penhora estão previstos no artigo 784º. Assim, não sendo Berto e Carla
devedores e não tenso sido o automóvel dado em garantia ao exequente para cumprimento
da obrigação exequenda, Berto e Carla devem fundamentar a oposição à penhora com a
alínea c) do artigo 784º, segundo o qual a penhora incide sobre bens que não respondendo,
nos termos do direito substantivo, pela dívida exequenda, não deviam ter sido atingidos
pela diligência. Dado que estamos no domínio do processo executivo sumário para
pagamento de quantia certa, esta oposição à penhora deve ser cumulada com a oposição
à execução por meio de embargos do executado (artigo 856º/3). Mediante os embargos
do executado, Berto e Carla devem alegar que são partes ilegítimas. Ora, se os embargos
de executado forem julgados procedentes por falta de legitimidade processual, então a
oposição à penhora é obviamente julgada procedente e a penhora do automóvel será
levantada, bem como cancelado o respetivo registo da penhora. De acordo com o artigo
785º/1 do CPC, a oposição – que é um incidente de natureza declarativa que tramita por
apenso à ação executiva – é apresentada pelo executado no prazo de 10 dias a contar da
notificação do ato da penhora.

António entende que o contrato de mútuo é anulável por causa de erro sobre os motivos
(art. 252.º/1 CC), pois ele e o banco terão reconhecido que a quantia mutuada seria
para a instalação de um café junto a um monumento dependente de aprovação do
Ministério da Cultura, o que não veio a suceder. Pode ele suscitar esta questão, a fim
de extinguir a execução? Justifique (5 Val.)

Os embargos de executado (artigo 728º e ss.) consistem numa ação declarativa tramitada
por apenso à ação executiva (seja em processo ordinário seja em processo sumário para
pagamento de quantia certa). Os embargos de executado visam destruir a próprio
execução. Tal significa que este mecanismo processual não tem que ver com a

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(i)legalidade das penhoras, tendo apenas em vista a extinção da própria execução, sendo
então um objetivo mais profundo. Esta oposição visa assim destruir o acertamento
negativo da própria execução. Então, o pedido (efeito jurídico pretendido) é que a
execução seja extinta. O artigo 729º prevê quais os fundamentos em que se pode basear
a oposição à execução, no caso do título executivo ser uma sentença. No nosso caso o
título executivo não se baseia numa sentença condenatório, sendo o título executivo
extrajudicial. Quando assim é, além dos fundamentos de oposição especificados no
artigo 729º, podem ser alegados quaisquer outros que possam ser invocadas como
defesa no processo de declaração. Tal significa que os embargos à execução baseada
num título extrajudicial podem fundar-se em qualquer causa que fosse lícito deduzir como
defesa no processo de declaração. Compreende-se facilmente o porquê desta solução. Na
verdade, o executado não teve oportunidade nem ocasião de, em ação declarativa prévia,
se defender amplamente da pretensão do exequente. Como tal, o executado poderá agora
exercer o contraditório amplamente. A questão do erro sobre os motivos que o executado
pretende alegar pode ser suscitada por este na ação declarativa de oposição à penhora por
meio de embargos de executado, já que um dos fundamentos é precisamente o da alínea
g) do art. 729.º do CPC, aplicável aos embargos de executado fundados em título
extrajudicial (art. 731.º CPC). Embora a anulabilidade (fundada em erro) seja um facto
impeditivo da obrigação exequenda, deve entender-se sujeito ao mesmo regime aqueles
factos que integrem exceções em sentido próprio.
Relativamente à tramitação, nos termos do artigo 732º, concluímos que fase inicial dos
embargos de executado e o seu tramite é diferente do das ações declarativas com processo
comum. À luz do respetivo preceito, há desde logo lugar a despacho liminar do juiz.
Então, o juiz toma logo contacto com a petição inicial para verificar se esta foi deduzida
dentro do prazo de 20 dias (artigo 728º/1) a contar da citação no caso de processo
ordinário ou a contar do ato de penhora no caso de estarmos perante um processo sumário.
Assim sendo, o juiz irá analisar se o fundamento se ajusta aos fundamentos dos artigos
729º, 730º e 731º ou se o fundamento é manifestamente improcedente. No caso de o
fundamento ser manifestamente improcedente, não se avançará para a contestação. Como
sabemos em regra, numa ação declarativa comum, o juiz não atenta nesta fase à petição
inicial e a não ser que o legislador o imponho, o juiz só irá atender à petição inicial depois
da fase dos articulados. Caso o juiz verifique que a petição inicial foi deduzida no prazo
imposta por lei e que o seu fundamento respeita os fundamentos taxativamente previstos
na lei, então a fase seguinte é a fase da contestação e o exequente é notificado para
contestar. Nesta ação declarativa que tramita por apenso, o réu é o exequente e é este
quem possuiu legitimidade processual passiva para contestar no prazo de 20 dias. Note-
se que não há aqui lugar a réplica, mas a ação segue nos termos do processo comum
declarativo. Por fim, acrescente-se que se o exequente não contestar, nos termos do artigo
732º/3 é aplicável o disposto no nº1 do artigo 567º, ou seja, efeitos da revelia. Porém,
apesar de a regra ser a de que em caso de revelia operante os factos se consideram
confessados, se no requerimento executivo houver factos alegados pelo exequente que
estão em oposição com os factos alegados nesta ação declarativa, não se têm estes factos
como confessados. Compreende-se esta solução pois se o exequente já alegou factos que
estão em contradição com os factos agora alegados pelo executado, não faria sentido que

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estes se considerassem confessados. Relativamente à força de caso julgado , estabelece o


artigo 732º/6 que se houver uma decisão de mérito relativa à existência, validade e
exigibilidade da obrigação exequenda, então forma-se caso julgado e não pode haver uma
outra ação declarativa entre as duas partes em que se discutam de novo questões sobre a
validade e existência da obrigação. Quanto à exigibilidade a situação pode ser diferente,
isto é, a sentença declarativa forma caso julgado material quanto à exigibilidade, mas a
alteração de circunstâncias pode determinar a caducidade desse caso julgado.

15/06/2020

João, empresário em nome individual, é casado com Maria, há 10 anos, no regime da


comunhão de adquiridos, residindo ambos no Porto. Sucede que João foi condenado,
em outubro de 2019 (só ele foi condenado, pois a ação declarativa de condenação fora
proposta contra ele), a pagar a quantia de 75.000,00 euros à sociedade COSMÉTICA
DO NORTE, Lda., com sede na mesma cidade, a título de indemnização por perdas e
danos decorrentes da contrafação de várias marcas comerciais tituladas pela autora da
referida ação, na sequência da atividade comercial de João. A sentença condenatória
foi proferida pelo Tribunal da Propriedade Intelectual, instalado em Lisboa.

Perante a falta de pagamento voluntário por parte de João, que não interpôs recurso
de apelação da sentença condenatória, a COSMÉTICA DO NORTE instaurou ação
executiva, há seis meses, no 1.º Juízo de Execução da Comarca do Porto1. A execução
foi proposta contra João, tendo o requerimento executivo sido subscrito por um
solicitador.

1) Aprecie os pressupostos da legitimidade processual, da competência interna e do


patrocínio judiciário; sua verificação; não verificação; consequências. Se João
tivesse interposto recurso de apelação, poderia a COSMÉTICA DO NORTE
executar a referida sentença na pendência do recurso contra ela interposto?
Justifique. (6 Val.)

No domínio de uma ação declarativa, o conceito de pressuposto processual traduz-se em


todas as condições formais, de natureza processual, de cuja verificação depende o
conhecimento do mérito da causa. Ora, na ação executiva, há pressupostos gerais que não
têm qualquer especialidade em relação à ação declarativa, como por exemplo o
pressuposto da capacidade judiciária e da personalidade judiciário. No entanto, há
pressupostos gerais que não gozam de um regime jurídica idêntico ao regime previsto
para as ações declarativas, tendo, portanto, um regime diferente. Ora, na questão concreta
é-nos pedida a análise dos pressupostos gerais da legitimidade processual, da competência
interna e do patrocínio judiciário. Estes pressupostos têm, precisamente, um regime
distinto do regime da ação declarativa. Na ação executiva propriamente ditas, os
pressupostos processuais gerais traduzem-se em condições formais para que, uma vez
verificadas e só quando verificadas, se permita que os atos executivos possam prosseguir.

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Relativamente à legitimidade processual, esta determina-se na ação executiva com mais


simplicidade relativamente à ação declarativa. Na ação declarativa o autor é parte legitima
quanto tem interesse direto e o réu é parte legitima quando tem interesse direto em
contradizer (artigo 30º CPC). Este interesse direto em demandar ou contradizer apura-se
pela vantagem ou desvantagem que um e outro, do ponto de vista económico, possam vir
a ter no final da ação declarativa. Subsidiariamente têm interesse direto em demandar e
interesse direto em contradizer os sujeitos na ação material controvertida. No fundo, a
legitimidade processual numa ação declarativa exprime a posição da parte perante o
objeto do litígio, perante o pedido e causa de pedir, em teros de se poder dizer que o autor
e o réu têm, perante o pedido e a causa de uma pedir, uma relação jurídica próxima. Por
sua vez, no âmbito da ação executiva, a indagação a fazer resolve-se no confronto entre
as partes e o título executivo. Assim sendo, tem legitimidade como exequente quem no
título executivo figura como credor e tem legitimidade como executado quem no título
executivo figura como devedor. Tal significa que na ação executiva – cuja regra geral
relativa à legitimidade está prevista no artigo 53º/1 CPC – a legitimidade processual
exprime uma posição puramente formal, na medida em que só é parte legítima ativa
(exequente) a pessoa cujo nome figura no título executivo na qualidade de credor e só é
parte legítima passiva (executado) a pessoa cujo nome esteja mencionado no título
executivo na qualidade de devedor. Então, mesmo que outras pessoas sejam titulares da
ação material controvertida da qual resulta a obrigação exequenda, se o nome delas não
estiver mencionado no título executivo na qualidade de credoras ou devedoras, não são
partes legítimas. Do mesmo modo, mesmo que outras pessoas estejam mencionadas no
título executivo, se não o forem a título de devedoras ou de credoras da ação exequível,
não são partes legítimas. Então, para analisarmos a legitimidade processual, importa
desde logo atender ao título executivo. No nosso caso diz o enunciado expressamente que
houve uma sentença condenatória, sendo esta sentença o nosso título executivo. Note-se
que a sentença condenatória só é título executivo depois do trânsito em julgado (não é
suscetível de recurso ordinário nem de reclamação – artigo 628º), salvo se o recurso
contra ela interposto tiver efeito meramente devolutivo. Ora, nesta sentença condenatória
foi João condenado a pagar uma quantia de 75.000 euros e esta obrigação não foi
voluntariamente cumprida. Então, a COSMÉTICA DO NORTE (credora) pode exigir
judicialmente o cumprimento da obrigação. Neste sentido, atendendo ao título executivo,
João tem legitimidade passiva e a COSMÉTICA DO NORTE tem legitimidade
processual ativa. Deste modo, está verificado o pressuposto processual da legitimidade
processual.

Vejamos agora o pressuposto da competência interna. Tal como na ação declarativa, a


competência material dos tribunais judicias para a ação executiva determina-se por um
duplo critério: critério de atribuição positiva e critério de competência residual. Segundo
o critério da atribuição positiva, cabem na competência dos tribunais judicias todas as
ações executivas baseadas na não realização de uma prestação devida segundo as normas
do direito privado. Como tal, uma vez que no caso sub judice está em causa o

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incumprimento de uma prestação devida, são materialmente competentes os tribunais


judicias. Quanto à competência interna dos tribunais importa atender a quatro critérios
cumulativos: matéria, hierarquia, território e valor. Nos termos da LOSJ, os tribunais de
comarca desdobram-se em juízos que podem ser de competência especializada, de
competência genérica e de proximidade. Entre os juízos de competência especializada,
temos os juízos de execução (artigo 81º/3/j). Ora, quando haja juízos de execução, estes
têm, regra geral, competência exclusiva (artigo 129º LOSJ). Porém, importa atender ainda
ao nº2 do artigo 129º. Retiramos do nº2 do respetivo preceito que nem sempre as ações
executivas vão ser tramitadas num juízo de execução, mesmo que esteja na comarca
competente instalado um juízo de execução. O nº2 do artigo 129º estabelece que no caso
de o processo ser atribuído a um tribunal de propriedade intelectual, então, é nesse
tribunal que vai tramitar o processo e não no juízo de execução. O tribunal de propriedade
intelectual é um tribunal de competência – especializada – territorial alargada (artigo
85º/1 CPC). A incompetência em razão da matéria gera incompetência absoluta (artigo
96º/a CPC). Estando nós perante um processo executivo que tramita sob a forma sumária,
o agente de execução deve suscitar a questão ao juiz a fim deste apreciar a falta deste
pressuposto processual (artigo 855/2/b). O juiz, sendo este um caso de incompetência
absoluta, deve indeferir liminarmente o requerimento executivo (artigo 99º/1) ou se o
exequente requerer, enviar o processo para o tribunal competente e desde que não haja
oposição justificada do executado a esta remessa. Os restantes critérios aferidos de
competência interna estão verificados, sendo o critério do valor para o casso irrelevante
e relativamente à hierarquia, apenas os tribunais de 1º instância tem competência
executiva.

Relativamente ao patrocínio judiciário, este só é pressuposto processual se for


obrigatório. Nos termos do artigo 58º CPC, o patrocínio judiciário é obrigatório nas ações
de execução de valor superior à alçada da Relação. Ora, uma vez que a alçada da Relação
corresponde a 30.000 euros e no nosso caso o valor da execução supera esse valor (75.000
euros), então a representação por advogado é obrigatória. Assim sendo, uma vez que não
houve constituição de advogado e esta é obrigatório, estamos perante a ocorrência de uma
exceção dilatória de conhecimento oficioso. O agente de execução deve suscitar a
intervenção do juiz e este deve proferir um despacho de aperfeiçoamento/convite,
convidando o exequente a juntar nos autos procuração forense. Para tal, o exequente terá
que respeitar o prazo geral para a prática dos atos processuais, ou seja, 10 dias (artigo
149º/1).

2) Poderá o executado, João, alegar e obter a comunicabilidade desta dívida à


pessoa do seu cônjuge, Maria? Justifique. (4 Val.)

Está em causa saber se é possível suscitar o incidente de comunicabilidade da dívida,


alargando a execução ao cônjuge do devedor – Maria.
A comunicabilidade da dívida é um incidente declarativo enxertado no processo e está
previsto no artigo 740º e 741º. Ora, no caso de a dívida ser de responsabilidade de ambos

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Inês De Oliveira Soares

os cônjuges pelo direito subjetivo, mas apenas houver título executivo contra um dos
cônjuges, este incidente permite alegar que a dívida é comum e, deste modo, que se
alargue a execução ao cônjuge do devedor. No entanto, para que o incidente de
comunicabilidade da dívida ser procedente, preciso é que o título executivo contra apenas
um dos cônjuges seja um título executivo extrajudicial. Então. no caso sub judice o
incidente de comunicabilidade da dívida exequenda ao cônjuge do executado é inviável
e processualmente inadmissível, pois o título executivo é uma sentença condenatória.
João deveria na ação declarativo ter suscitado a intervenção principal provocado do seu
cônjuge (artigo 311º) a fim de, caso a ação declarativa fosse julgada procedente, o alcance
subjetivo do caso julgado decorrente da sentença condenatória também abrangesse Maria.
Na verdade, o chamamento à intervenção principal do cônjuge não demandado constitui
um verdadeiro ónus do cônjuge demandado na ação declarativa, cuja inobservância
preclude a invocação da comunicabilidade da dívida. Assim sendo, uma vez que João
está impedido de invocar a comunicabilidade da dívida na ação executiva (princípio da
eventualidade ou preclusão) a dívida é considerada da sua exclusiva responsabilidade,
sem prejuízo do apuramento ulterior entre os cônjuges (artigo 1697º/1 CC) e da
possibilidade de o credor propor nova ação declarativo contra o cônjuge do condenado.
Com efeito, pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem
os bens próprios do devedor e só na sua falta ou insuficiência é que responde a sua meação
dos bens comuns (artigo 1696º CC).

3) Suponha que foi penhorado um apartamento, do qual João é comproprietário, há


15 anos, juntamente com o seu irmão, Carlos. Poderia este prédio urbano ter sido
penhorado? Como pode Carlos reagir, na eventualidade de esta penhora ser ilegal?
Justifique. (5 Val.)

Sabemos que à penhora só estão sujeitos bens do executado, seja este o próprio devedor
ou seja um terceiro nos casos excecionais em que a lei substantiva admite a penhora de
bens de pessoa diversa do devedor. No nosso caso João e o seu irmão Carlos são
comproprietários de um imóvel e, como tal, João não é proprietário singular. Com efeito,
não se pode penhorar o bem em compropriedade, sendo o objeto da penhora apenas a
quota do comproprietário executado – João. Neste sentido, veja-se o artigo 743º, segundo
o qual não pode ser penhorado o bem compreendido no património comum. Como já foi
supramencionado, o objeto da penhora pode ser apenas a quota do sócio no bem indiviso.
Ora, esta quota é objeto de venda executiva, tendo Carlos direito preferência (artigo 1409º
CC). Logo, uma vez que o objeto da penhora incidiu sobre o bem em compropriedade,
essa penhora é ilegal e Carlos pode deduzir com êxito embargos de terceiro (artigo 342º/1
CPC). Vejamos: nos termos do artigo 342º no caso de a penhora atingir direitos ou a posse
de terceiro que não devia atingir, este terceiro – que não é parte na causa – pode deduzir
embargos de terceiro. Com efeito, tem legitimidade ativa o terceiro que viu os seus
direitos atingidos pela penhora e que não é parte da ação executiva e tem legitimidade
passiva o executado e o exequente (parte primitivas da ação executiva artigo 348º/1).
Quanto ao pedido – efeito jurídico que autor desta ação pretende obter através

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Inês De Oliveira Soares

dela/pretensão processual – é que a penhora seja levantada e que o registo da penhora seja
cancelado se o bem penhorado estiver sujeito a registo – é o caso uma vez que os bens
imóveis estão sujeitos a registo. No nosso caso o objeto da penhora ofende o direito real
de gozo de Carlos enquanto comproprietário da coisa e é nesta circunstância que se
fundamenta a causa de pedir – ocorrências da vida real, à luz de determinada norma, que
alicerçam o efeito jurídico pretendido (levantamento da penhora e o cancelamento do
registo da penhora pelo serviço de registo competente). Os embargos de terceiro são ações
declarativas autónomas, embora estejam funcionalmente dependentes da ação executiva.
O terceiro tem a possibilidade de deduzir embargos de terceiro com eficácia repressiva
nos 30 dias subsequentes à penhora ou à data que o terceiro teve conhecimento da
penhora. Acrescente-se que na iminência da apreensão, o terceiro, sabendo que a penhora
está iminente pode evitá-la mediante embargos de terceiro com efeito preventivo (artigo
350º) solicitando ao juiz que este determine que o agente de execução não pode realizar
a penhora. Caso a penhora fosse legal, isto é, se tivesse incidido apenas sobre o quinhão
ou quota na coisa comum, Carlos deveria ser notificado pelo agente de execução para
contestar a existência do direito penhorado ou fazer dele outras declarações pertinentes
(artigo 781º/2/5), podendo neste caso declarar que pretendia que a venda executiva
incidisse sobre o bem em compropriedade e depois que lhe fosse entregue metade do
preço dessa venda.

Na fase introdutória dos embargos, há lugar a despacho liminar por parte do juiz, onde
este vai apreciar a petição inicial de modo a verificar se os embargos forem deduzidos
dentro do prazo e se o motivo dos embargos é procedente ou improcedente. Ora, numa
ação com processo comum, na sequência da entrada em secretaria da petição inicial e
distribuição, há citação do réu e a sua contestação, podendo ainda haver réplica. Já no
âmbito da tramitação dos embargos de terceiro, nos termos do artigo 348º, a expressão
“recebidos os encargos” significa que há desde logo o despacho liminar, devendo o juiz
analisar a petição de embargos – diferente do que sucede no âmbito do artigo 590º. Então,
o juiz desde logo irá analisar a petição dos embargos, para deste modo apurar se este foi
deduzido a tempo e para precisar liminarmente se os factos narrados levam à
improcedência imediata ou se o motivo dos embargos é procedente. Se juiz admitir
liminarmente os embargos, isto é, se considerar que os fundamentos quanto ao seu mérito
podem ser objeto de apreciação e julgamento e que foram deduzidos a tempo, as partes
primitivas são chamadas para contestar e a partir daí o processo segue-se nos termos do
processo comum.

4) Suponha, agora, que o dito apartamento penhorado foi objeto de venda por meio
de propostas em carta fechada. O comprador foi Paulo. Todavia, este prédio
encontra-se validamente arrendado a Rui, desde junho de 2016, pelo prazo de 5
anos renovável. O referido arrendatário, Rui, pretende saber se, na decorrência
desta venda executiva, a sua posição jurídica no contrato de arrendamento

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Inês De Oliveira Soares

caduca automaticamente e ele tem que desocupar o dito apartamento, ou não.


Quid iuris? Justifique. (5 Val.)

Como sabemos, o direito de arrendamento é para alguns autores um direito real, para
outros autores um direito meramente obrigacional e para outros um direito pessoal de
gozo com um estatuto misto, gozando de características quer de direitos reais quer de
direito de crédito. De todo modo, quando estamos perante direitos pessoais de gozo, o
terceiro não pode invocar que tem um destes direitos sobre um bem penhorado pois os
direitos pessoais de gozo não têm em regra oponibilidade em relação a terceiros, não
tendo características de sequela e da inerência. Então verdadeiramente, a posição do
comodatário, do depositário ou do parceiro pensador, decai perante a ação executiva, isto
é, caduca com a venda executiva. É fácil compreender esta solução uma vez que estes
direitos não gozam de eficácia erga omnes, não podendo como tal ser oponíveis a
terceiros. Porém, o contrato de arrendamento (direito pessoal de gozo) não caduca com a
venda executiva do prédio penhorado, uma vez que foi celebrado antes do registo da
penhora. Resulta da aplicação do artigo 824º/2 CC que o direito do arrendatário emergente
da sua posição jurídica no contrato de arrendamento produz efeitos em relação a terceiros
independentemente de registo. Dito isto, se o contrato de arrendamento for anterior ao
registo da penhora, o contrato não caduca automaticamente com a venda executiva. Por
conseguinte, o adquirente do imóvel, isto é, aquele que comprar ao agente de execução o
prédio em causa, irá suceder na posição contratual do senhorio, que era o executado. Deste
modo protege-se o inquilino e este não fica prejudicado com a penhora do bem sobre o
qual ele exerce o direito de gozo, não sendo assim obrigado a desocupar o prédio. O
inquilino pagará as rendas nas mesmas condições, mas o senhorio será outro. Nesta linha,
veja-se o artigo 1057º CC, nos termos do qual se estabelece a regra da transmissão da
posição de locador ao adquirente do prédio (emptio non tollit locatum). Esta regra aplica-
se assim à alienação por meio de venda executiva (ou adjudicação). Dito isto, apenas a
relação locatícia constituída após o registo de arresto ou de penhora (para alguns autores
também após o registo de hipoteca cujo credor tenha reclamado créditos) é que é
inoponível ao comprador do imóvel em sede de venda executiva, na medida em que após
a concretização desta venda a relação locatícia caduca automaticamente. Por fim, no caso
em apreço, uma vez que o contrato de arrendamento foi celebrado antes do registo da
penhora do imóvel Rui não tem que se preocupar e sua posição jurídica no contrato de
arrendamento não caduca, não tendo como tal que desocupar o prédio. O contrato de
arrendamento perdurará pelo menos até 2021 e o adquirente do prédio penhorado não
pode pôr termo ao contrato antes de acabar o seu prazo.

6/07/2020

António era casado com Berta no regime de comunhão de adquiridos e ambos são
agora residentes em Coimbra. Divorciaram-se sem consentimento, há um ano e meio,
por meio de sentença proferida pelo 1.º Juízo de Família e Menores da Comarca de
Coimbra.

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Inês De Oliveira Soares

Sucede que António, nessa mesma ação de divórcio, foi condenado a pagar a Berta
uma pensão de alimentos na quantia mensal 350 euros, por esse 1.º Juízo de Família e
Menores da Comarca de Coimbra. António casou, entretanto, com Carla.

Face ao não pagamento voluntário da quantia em causa, Berta, instaurou ação


executiva por alimentos no Juízo de Execução da Comarca de Coimbra, em
15/1/2020(1) contra António e a nova esposa, Carla. A obrigação exequenda de
alimentos vencidos e não pagos já ascende a 5250 euros. O requerimento executivo foi
subscrito por um solicitador. Responda às perguntas que seguem.

1) António entende que o tribunal onde a execução foi instaurada, para nele tramitar,
é incompetente; que Carla não tem legitimidade processual para ser executada
nesta execução; e que o requerimento executivo não podia ter sido subscrito por
um solicitador. Quid Iuris? Justifique (6 Val.).

No domínio de uma ação declarativa, o conceito de pressuposto processual traduz-se em


todas as condições formais, de natureza processual, de cuja verificação depende o
conhecimento do mérito da causa. Ora, na ação executiva, há pressupostos processuais
gerais que não têm qualquer especialidade em relação à ação declarativa, como por
exemplo o pressuposto processual da capacidade judiciária e da personalidade judiciária.
Ora, na questão concreta é-nos pedida a análise do pressuposto processual da competência
interna dos tribunais, da legitimidade processual e do patrocínio judiciário. Estes
pressupostos têm, precisamente, um regime distinto em comparação com o regime da
ação declarativa. Na ação executiva propriamente dita, os pressupostos processuais gerais
traduzem-se naquelas condições formais para que estas, uma vez verificadas e só quando
estiveram verificadas, permitam o prosseguimento dos atos executivos.

Relativamente à competência interna note-se, antes de mais, que tal como na ação
declarativa a competência material dos tribunais judiciais determina-se por um duplo
critério: atribuição positiva e competência residual. Ora, segundo o critério da
competência positiva, cabem na competência dos tribunais judicias todas as ações
executivas baseadas na não realização de uma prestação devida segundo as normas do
direito privado. No caso sub judice, uma vez que está em causa uma ação executiva que
se baseia no não pagamento da pensão de alimentos, pelo critério da atribuição positiva,
são competentes os tribunais judicias. Berta instaurou a ação no juízo de execução da
comarca de Coimbra, cumprindo-nos agora saber se esse é efetivamente o juízo
competente. O tribunal em que a execução foi proposta tem que ser competente à luz de
quatro critérios: competente em razão de matéria, de território, hierarquia e valor.
Nos termos da LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se em juízos que podem ser de
competência especializada, de competência genérica ou de proximidade. Entre os juízos
de competência especializada, temos os juízos de execução (artigo 81º/3/j). Nos termos
do artigo 129º LOSJ, quando haja juízos de execução, estes têm competência exclusiva.
Porém, importa atender ao nº2 do mesmo preceito. Retiramos do respetivo número que

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Inês De Oliveira Soares

nem sempre as ações executivas vão ser tramitadas num juízo de execução, mesmo que
esteja na comarca competente instalada um juízo de execução. Tal significa que há várias
ações que não tramitam nos juízos de execução. Da leitura do nº2 concluímos então que
uma sentença condenatória proferida pelo juízo de família e menores – como no caso em
apreço – se não for cumprida voluntariamente será executada também no juízo de família
e menores. Em suma, o artigo 129º/2 excluiu da competência dos juízos de execução a
execução de sentenças proferidas pelos juízos de família e menores. Uma vez que a
competência é então do juízo que proferiu a sentença condenatória e a ação foi instaura
no juízo de execução da comarca de Coimbra ocorre uma incompetência absoluta (artigo
96º CPC). Ora, quando a obrigação exequenda se traduz no pagamento de uma quantia
certa, o processo executivo pode tramitar sob forma de processo especial ou sob forma de
processo comum. No caso em apreço estamos perante uma ação executiva que trama sob
processo especial (artigo 933º CPC). Nos termos do artigo 933º/5 o executado é sempre
citado depois de efetuada a penhora, havendo dispensa de despacho liminar – o que
aproxima esta tramitação especial da tramitação das execuções com processo sumário
para pagamento de quantia certa. Ainda assim, nos termos do artigo 551º/4, às execuções
especiais aplicam-se subsidiariamente as disposições do processo ordinário. Ora, uma vez
que no processo especial de execução por alimentos a penhora ocorre antes do executado
ser citado, então, não haveria despacho liminar no qual o juiz pudesse conhecer desta
exceção dilatória (artigo 726º/2/b). Assim sendo o agente de execução deve, tal como nas
execuções sumárias com processo comum para pagamento de quantia certa, suscitar a
intervenção do juiz. Se o juiz não se apercebesse desta exceção dilatória, ela poderia ser
arguida pelo executado em sede de oposição à execução por meio de embargos de
executado (artigo 729º/c), sendo ainda fundamento de rejeição oficiosa da execução
(artigo 734º/1). Então, o juiz poderia, até ao ato de transmissão dos bens penhorados,
conhecer oficiosamente esta exceção dilatória.

Relativamente à legitimidade processual, esta determina-se na ação executiva com mais


facilidade relativamente à ação declarativa. Na ação declarativa o autor é parte legítima
quando tem interesse direto em demandar e o réu é parte legítima quando tem interesse
direto em contradizer (artigo 30º CPC). Este interesse direto em demandar ou em
contradizer apura-se pela vantagem ou desvantagem que um e outro, do ponto de vista
económico, possam vir a ter no final da ação declarativa. Subsidiariamente, têm interesse
direito em demandar e interesse direto em contradizer os sujeitos na ação material
controvertida. No fundo, na ação declarativa, a legitimidade processual exprime a posição
da parte perante o objeto do litígio, perante o pedido e causa de pedir, em termos de se
poder dizer que o autor e o réu têm, perante o pedido e a causa de pedir, uma relação
jurídica próxima. Por sua vez, no âmbito da ação executiva a indagação a fazer resolve-
se pelo confronto entre as partes e o título executivo. Assim, tem legitimidade como
exequente quem no título executivo figura como credor e tem legitimidade como
executado quem no título executivo figura como devedor. Tal significa que na ação
executiva – que tem a regra geral relativa à legitimidade processual no artigo 53º - a

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Inês De Oliveira Soares

legitimidade exprime uma posição puramente formal, na medida em que só é parte


legítima ativa (exequente) a pessoa cujo nome figura na qualidade de credor e só é parte
legítima passiva (executado) a pessoa cujo nome esteja mencionado no título executivo
na qualidade de devedor. Então, para apurar a legitimidade processual é necessário
atender ao título executivo e ver quem lá consta como devedor e quem lá consta como
credor. No nosso caso, o título executivo é uma sentença condenatório, que condena
António ao pagamento de uma pensão de alimentos no valor de 350 euros mensais, sendo
Berta credora. Então, António tem legitimidade passiva e Berta tem legitimidade ativa.
Já Carla, que não consta no título executivo como devedora, não tem legitimidade
processual passiva. Então, Berta só pode instaurar a ação executiva contra António e não
contra Carla. Como tal, o juiz do processo executivo deve conhecer oficiosamente, no
despacho liminar, esta exceção dilatória. Este despacho liminar deve indeferir
parcialmente o requerimento executivo, uma vez que manda prosseguir a execução contra
António, mas impede que esta ação prossiga também contra Carla. Nos termos do artigo
726º/3 admite-se então o indeferimento parcial, havendo uma admissão parcial e uma
rejeição parcial. O juiz não deve indeferir totalmente pois tal seria contra as regras de
economia processual e deste modo permite-se o aproveitamento dos atos processuais.
Caso a falta deste pressuposto processual não seja suscitada pelo agente de execução ou
conhecida pelo juiz, Carla pode deduzir embargos de executado e aí alegar a falta de
legitimidade processual (artigo 729º/c). Além disso, até ao início das diligências para a
transmissão dos bens, esta questão pde ser conhecida oficiosamente pelo juiz (artigo
734º/1).
Relativamente ao pressuposto do patrocínio judiciário, este só é pressuposto processual
se for obrigatório. Nos termos do artigo 58º CPC o patrocínio judiciário é obrigatório nas
ações executivas de valor superior à alçada da Relação (30.000 euros) e nas ações com
um valor superior à alçada do tribunal de 1º instância e inferior ao da Relação o patrocínio
judiciário é obrigatório, mas pode o executado fazer-se representar por advogado,
advogado estagiário ou solicitador. Então, o requerimento executivo pode ter sido assim
subscrito por um solicitador. No entanto, se houver lugar a algum procedimento
declarativo que deva ser apensado a esta execução, passa a ser obrigatória a representação
por advogado inscrito na Ordem dos Advogados.

2) Suponha que o António tem um salário mensal líquido de 1000 euros e que o agente
de execução ordenou a penhora de parte do salário de António, no montante de 650
euros por mês, notificando esta penhora à entidade patronal de António. Pode ser
penhorada uma parte tão considerável do salário de António nesta execução
especial por alimentos? Quid iuris se a entidade patronal não transferir os
montantes penhorados para a conta bancária aberta pelo agente de execução?
Justifique (5 Val.).

Há interesses gerais, interesses vitais do executado e interesses de terceiro que o sistema


jurídico entende que se devem sobrepor aos interesses do credor exequente. Como tal, há

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Inês De Oliveira Soares

situações de impenhorabilidade absoluta e total (os bens não podem na sua totalidade ser
penhorados, seja qual for a dívida exequenda); situações de impenhorabilidade relativa
(os bens podem ser penhorados apenas em certas circunstâncias ou para pagamento de
certas dívidas) e casos de impenhorabilidade parcial (os bens só podem ser penhorados
em certa parte). A penhora do salário enquanto penhora de créditos tem que respeitar a
imposição do artigo 738º, sendo um caso de impenhorabilidade parcial. O salário não é
um bem totalmente penhorável e tal compreende-se mediante uma ponderação entre os
interesses do credor e os interesses vitais do executado, nomeadamente a garantia
indispensável ao seu sustento e subsistência. Nos termos do artigo 738º, 2/3 do salário
líquido são impenhoráveis o que significa a contrario que é penhorável 1/3 do salário.
Esta é a regra geral, porém temos que atender ao nº3 do mesmo artigo. O nº3 estabelece
um limite mínimo de impenhorabilidade. O executado tem sempre que ficar com um
montante disponível equivalente ao montante líquido do salário mínimo nacional. No
fundo, se retirando 1/3 do salário do executado o remanescente for inferior ao salário
mínimo nacional, então não se pode penhorar 1/3 e tem que se penhorar menos que isso.
Ou seja, há situações nas quais, não obstante a regra ser a de que se penhora 1/3 do salário,
se deve penhorar menos do que esse 1/3 pois se assim não fosse o executado receberia
menos do que um salário mínimo nacional. Então, à primeira vista podemos ser levados
a crer que a penhora no caso em apreço é ilegal. Todavia, no nosso caso está em causa
um processo executivo especial sobre obrigação de alimentos. Ora, nos termos do artigo
738º/4/5 não se aplica o limite mínimo de impenhorabilidade do nº3, ou seja, nas
execuções por alimentos não a vale a regra segundo a qual ao executado não pode ser
penhorado valor global correspondente ao salário mínimo nacional. Nestas hipóteses, o
executado pode receber um valor inferior ao salário mínimo nacional. Compreende-se
esta solução pois há interesses fundamentais que baseiam a obrigação alimentícia, ou seja,
está em causa a vida e a integridade psicofísica do credor da pensão de alimentos. O nº4
estabelece que nestes casos é impenhorável a quantia equivalente à totalidade da pensão
de alimentos social do regime não contributivo (211,79 euros). A pensão social do regime
não contributivo é a pensão que recebe alguém que nunca descontou para a segurança
social. Então, António não pode com sucesso deduzir o incidente de oposição à penhora.

Ora, quando há penhora de salários tal implica que o devedor do executado, ou seja, a
entidade patronal, também seja atingido pela execução. Na verdade, impõe-se à entidade
patronal obrigações de informação e colaboração com o agente de execução. Além destas
obrigações declarativas, surge também uma obrigação de prestação de facto pois a
devedor do executado é obrigado a reter na fonte as quantias penhoradas e a transferi-las
para uma conta aberto pelo agente de execução à ordem do processo. Então, o exequente
pode exigir nos próprios autos desta execução (e não numa execução autónoma) a
execução forçada das quantias em falta no património da entidade patronal, tornando-a
executada e, se for caso disso, penhorando alguns bens da entidade patronal. Assim, nos
termos do artigo 777º/3 esta outa execução, que é realizada nos próprios autos da ação
primitiva, pode assim ser igualmente instaurada contra a entidade patronal que deste

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Inês De Oliveira Soares

modo se torna co executada. Tal significa que estamos perante um título executivo que
forma no próprio processo. É, no fundo, um título contra o devedor do executado e que
não existia no início da ação executiva. O artigo 773º relativo à penhora de créditos prevê
que deve notificar-se o devedor no sentido de que o crédito fica à ordem do agente de
execução e de que cumpre ao devedor declarar se o crédito existe.
Este é um exemplo de um título executivo previsto por força de lei especial (artigo
703º/1/d).

3) O executado, António, tem um contracrédito contra Berta relativo à compensação


prevista no art. 1697.º do CC, pois pagou com valores próprios, dele, uma dívida da
responsabilidade de ambos quando eram casados. Pode, nesta execução, António
invocar este contracrédito? De que maneira. Justifique ( 3 Val.).

Os embargos de executado (artigo 728º e ss.) consistem numa ação declarativa tramitada
por apenso à ação executiva. Os embargos de executado visam destruir a própria
execução. Tal significa que este mecanismo processual não tem que ver com a legalidade
ou ilegalidade das penhoras, tendo apenas em vista a extinção da própria execução. Este
é um objeto mais profundo do que a oposição à penhora. O pedido (efeito jurídico
pretendido) é que a execução seja extinta. O artigo 729º prevê taxativamente quais os
fundamentos em que se pode basear a oposição à execução no caso do título executivo
ser uma sentença. António tem um contracrédito contra Berta e pretende invocá-lo. Ora,
a alínea h) do respetivo preceito prevê precisamente a invocação do contracrédito como
fundamento de oposição à execução por meio de embargos de executado. Repare-se que
para certa doutrina (TEIXEIRA DE SOUSA) a compensação somente pode ser deduzida
por meio de reconvenção e nos embargos de executado não é permitida a dedução de
reconvenção. Hoje não restam dúvidas e o legislador prevê de forma autónoma a
possibilidade de invocação da compensação por parte do embargante na ação declarativa
de embargos de executado. Foi a nova qualificação processual que se pretendeu dar à
compensação no artigo 266/2/c que levou à sua autonomização como fundamento de
embargos de executado. Para o Dr. JOSÉ LEBRE DE FREITAS, a compensação continua
a constituir uma exceção perentória e a nova lei estabelece, quando muito, um ónus de
reconvir na ação declarativa cuja observação é suporte necessário da invocação exceção.
A nova norma tem utilidade de deixar claro que, seja como for, a compensação até ao
montante da obrigação exequenda pode constituir fundamento de embargos de executado.
Ao alegar a compensação o executado pretende apenas fazer valer um facto extintivo do
direito exequendo na ação declarativa de embargos de executado, não está em causa
executar aí o contracrédito. Ora, a consideração do fundamento da compensação em
alínea diversa da dos restantes factos extintivos da obrigação exequenda liberta o
executado do ónus de provar através de documentos, quer o facto constitutivo do
contracrédito quer a declaração de querer compensar (artigo 847º/ 848º). Discute-se se o
contracrédito deveria ter sido invocado na ação declarativa de divórcio e, como tal,
precludia-se o direito do executado o poder invocar na execução, em sede de embargos
de executado (tal como na alínea g) do artigo 729º). Ora, uma vez entendido que o titular

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Inês De Oliveira Soares

do contracrédito tem hoje o ónus de reconvir, o momento preclusivo recua à data da


contestação. Vejamos: a reconvenção não pode ser deduzida em articulado superveniente
e, como tal, a invocação da compensação só não será admissível quando já era
possível à data da contestação da ação declarativa e só assim é possível a harmonizar
o regime da alínea h) com o regime da alínea g) do artigo 729º.

Relativamente à tramitação, nos termos do artigo 732º, concluímos que fase inicial dos
embargos de executado e o seu tramite é diferente do das ações declarativas com processo
comum. À luz do respetivo preceito, há desde logo lugar a despacho liminar do juiz.
Então, o juiz toma logo contacto com a petição inicial para verificar se esta foi deduzida
dentro do prazo de 20 dias (artigo 728º/1) a contar da citação no caso de processo
ordinário ou a contar do ato de penhora no caso de estarmos perante um processo sumário.
Assim sendo, o juiz irá analisar se o fundamento se ajusta aos fundamentos dos artigos
729º, 730º e 731º ou se o fundamento é manifestamente improcedente. No caso de o
fundamento ser manifestamente improcedente, não se avançará para a contestação. Como
sabemos em regra, numa ação declarativa comum, o juiz não atenta nesta fase à petição
inicial e a não ser que o legislador o imponho, o juiz só irá atender à petição inicial depois
da fase dos articulados. Caso o juiz verifique que a petição inicial foi deduzida no prazo
imposta por lei e que o seu fundamento respeita os fundamentos taxativamente previstos
na lei, então a fase seguinte é a fase da contestação e o exequente é notificado para
contestar. Nesta ação declarativa que tramita por apenso, o réu é o exequente e é este
quem possuiu legitimidade processual passiva para contestar no prazo de 20 dias. Note-
se que não há aqui lugar a réplica, mas a ação segue nos termos do processo comum
declarativo. Por fim, acrescente-se que se o exequente não contestar, nos termos do artigo
732º/3 é aplicável o disposto no nº1 do artigo 567º, ou seja, efeitos da revelia. Porém,
apesar de a regra ser a de que em caso de revelia operante os factos se consideram
confessados, se no requerimento executivo houver factos alegados pelo exequente que
estão em oposição com os factos alegados nesta ação declarativa, não se têm estes factos
como confessados. Compreende-se esta solução pois se o exequente já alegou factos que
estão em contradição com os factos agora alegados pelo executado, não faria sentido que
estes se considerassem confessados. Relativamente à força de caso julgado , estabelece o
artigo 732º/6 que se houver uma decisão de mérito relativa à existência, validade e
exigibilidade da obrigação exequenda, então forma-se caso julgado e não pode haver uma
outra ação declarativa entre as duas partes em que se discutam de novo questões sobre a
validade e existência da obrigação. Quanto à exigibilidade a situação pode ser diferente,
isto é, a sentença declarativa forma caso julgado material quanto à exigibilidade, mas a
alteração de circunstâncias pode determinar a caducidade desse caso julgado.

4) Imagine que, em 15.2.2020, foi ainda penhorada a propriedade plena de um prédio


rústico, que vale 5000 euros, situado em Coimbra, inscrito no registo predial em nome
do executado, António, que havia sido por ele adquirido antes de casar com Berta.

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Inês De Oliveira Soares

O registo da penhora tem essa mesma data (15.02.2020), mas sobre esse prédio incide
uma hipoteca constituída e registada a favor do Banco Santader, S.A., em 24/05/2014,
e um direito de superfície, constituído e registado em 2/03/2011, a favor de Daniel,
irmão de António.

Após a venda executiva deste prédio rústico, que direitos se mantêm (sobre o dito
prédio) e que direitos caducam? Justifique (6 Val.).

Para responder à questão importa desde logo atender ao artigo 824º do CC. Nos termos
do respetivo preceito “os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os
oneram, bem como os demais direitos que não tenham registado anterior ou de qualquer
arresto, penhora ou garantia, com exceção dos que que, constituídos em data anterior,
produzem efeitos em relação a terceiros independentemente de registo”. Da letra da lei
resulta que os direitos reais de garantia caducam e a coisa em venda executiva é vendida
sempre livre dos direitos reais de garantia, mesmo que o titular não tenha vindo à ação
executiva exercer as suas prerrogativas. É fácil entender a ratio desta solução. Ora, o
titular do direito real de garantia sobre um bem penhorado não é titular de nenhum direito
incompatível com a penhora, na medida em que a própria ação executiva lhe permite
exercer o seu direito real de garantia, reclamando o seu crédito. Por essa mesma razão o
titular do direito real de garantia tem satisfação no sistema da ação executiva, não fazendo
sentido considerar esse direito incompatível com a penhora. Em bom rigor, os direitos
reais de garantia são os mais compatíveis que existem com a penhora e os terceiros irão
reclamar os seus créditos para serem pagos com o valor resultante da vens dos bens sobre
os quais têm esse direito real de garantia. Como tal, a hipoteca voluntária constituída a
favor do Banco Santander caduca. O valor da hipoteca (o crédito hipotecário) transfere-
se para o produto da venda e o credor hipotecário será paga em primeiro lugar já que a
penhora obtida pelo exequente tem data posterior.

Note-se que Menezes Cordeiro entende que o direito de retenção do promitente-


comprador com tradição da coisa – que é um direito real de garantia – não caduca.

Relativamente ao direito de superfície, este é um direito real de gozo constituído e


registados antes do registo da penhora sobre o mesmo prédio rústico. Como tal, o direito
de superfície sobrevive à transmissão dos direitos que foram objeto de penhora. Ora, uma
vez que foi penhora e irá ser vendida ou adjudicada a propriedade plena desse prédio o
terceiro titular do direito de superfície poderá, se o entender, propor ação de
reinvindicação contra o futuro adquirente. Claro é que o objeto da penhora for reduzido
à nua propriedade, então nessa hipótese o direito de superfície não é de qualquer modo
afetado. A ação de reivindicação é perfeitamente autónoma da ação executivo e não tem
que ser ajuizada no prazo de dedução dos embargos de terceiro. O superficiário poderá
sempre opor o seu direito levado a registo em data anterior ao registo da hipoteca invocada
na execução e da penhora do mesmo prédio.

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Inês De Oliveira Soares

Ora, uma vez que o direito de superfície não caduca a penhora não abrange a propriedade
plena. Porém, nos termos da lei o bem transmite-se livre do direito real. Temos aqui um
verdadeiro desfasamento entre o objeto da penhora e o objeto da venda. Como tal, a
doutrina propõe uma interpretação restritiva a neste caso o direito de superfície não
caduca porque não é abrangido pela penhora. Porém, isto pode trazer prejuízos para o
credor reclamante – Banco porque a sua hipoteca recai sobre a propriedade plena, mas a
venda judicial não a abrange. Então, deve o banco intentar uma nova ação executiva sobre
o titular do direito de superfície para pagar o remanescente do seu crédito – a soma dos
direitos parcelares é normalmente inferior à venda da propriedade plena. Assim, quando
citado o credor para reclamar os seu crédito, deverá requerer a extensão da penhora ao
objeto da sua garantia, abrangendo a propriedade plena.

22/06/2020

António, empresário, é casado com Maria, sendo ambos residentes em Madrid,


Espanha. António e Maria também vivem em Coimbra uma parte do ano.
Sucede que António e Maria foram réus no Juzgado de Primera Instancia de lo
mercantil n.º 94, em Madrid, numa ação de incumprimento contratual instaurada
contra eles por Pepe.
Esta ação terminou com uma transação (transacción judicial: art. 19, n. 2, da Ley de
Enjuciamiento Civil espanhola), em 3/02/2020, a qual foi homologada pelo juiz
espanhol. De acordo com esta transação, António e Maria obrigaram-se a pagar a Pepe
a quantia de 55.000 euros.

Para garantir o pagamento deste montante, António e Maria constituíram a favor de


Pepe, em 3/02/2020, uma hipoteca de um prédio urbano localizado em Coimbra
adquirido na constância do casamento, a qual foi imediatamente levada a registo.

Perante a falta de pagamento da referida quantia, Pepe instaurou uma ação executiva
no Juízo Cível Central da Comarca de Coimbra. A execução foi instaurada apenas
contra António e o requerimento executivo foi subscrito por um advogado estagiário.

António entende que os tribunais portugueses são incompetentes para esta execução e
que a execução deveria ter sido também instaurada contra Maria.

1) Aprecie os pressupôs da competência internacional, competência interna,


legitimidade processual e patrocínio judiciário; sua verificação; não verificação;
consequências. Justifique (7 Val.).

No domínio de uma ação declarativa, o conceito de pressuposto processual traduz-se em


todas as condições formais, de natureza processual, de cuja verificação depende o
conhecimento do mérito da causa. Ora, na ação executiva há pressupostos gerais que não
têm qualquer especialidade em relação às ações declarativa, como por exemplo o

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Inês De Oliveira Soares

pressuposto da capacidade judiciária e da personalidade judiciária. No entanto, há


pressupostos gerais que não gozam de um regime idêntico ao regime previsto para as
ações declarativas, tendo, portanto, um regime diferente. Ora, na questão concreta é-nos
pedida a análise dos pressupostos gerais da competência internacional, competência
interna, legitimidade processual e patrocínio judiciário, que são precisamente
pressupostos gerais com um regime distinto face ao regime da ação declarativa. Na ação
executiva propriamente dita os pressupostos gerais traduzem-se naquelas condições
formais para que uma vez verificadas e só quando verificadas, possam prosseguir os atos
executivos. O nosso caso tem conexão com mais do que um ordenamento jurídico –
Portugal e Espanha. Como tal, temos de saber como se determina a competência do
tribunal e se os tribunais portugueses são ou não são competentes para a respetiva ação
executiva. Há dúvidas na doutrina relativamente a esta questão. Ora, parte da doutrina
entende que os critérios gerais de atribuição de competência internacional previstos no
artigo 62º se aplicam às ações executivas. No regulamento 1215/2012 não há nenhum
critério atributivo de competência internacional no quadro das ações executivas. O artigo
24º/5 do mesmo diploma estabelece que em matéria de execução de decisões, têm
competência exclusiva os tribunais do Estado-Membro do lugar da execução. Na
Convenção de Lugano também não encontramos qualquer norma atributiva de
competência internacional direta para as ações executivas, estabelecendo apenas o
dipoma que a ação executiva deve tramitar no lugar da execução. Então, podemos
concluir que o legislador da EU não definiu um critério claro para o lugar da execução e
parece-nos que tal foi propositado. Na verdade, o legislador da UE pretendeu que o lugar
da execução fosse determinado por critérios de cada Estado-Membro. Como tal, a
competência internacional é assim reenviada para o disposto nos Códigos de Processo
Civil dos Estados Membros. No CPC português encontramos um reenvio intencional no
artigo 63º/d, segundo o qual os tribunais portugueses são exclusivamente competentes em
matéria de execuções sobre imóveis situados em território português. Decorre da leitura
do preceito o afloramento de uma regra geral e comumente aceite pela maioria da
doutrina, segundo a qual se e quando os bens ou direitos penhoráveis ou a apreender
estejam localizados num determinado território soberano estadual, serão os tribunais
desse Estado exclusivamente competentes. Assim sendo, uma vez que o exequente quer
fazer valor o direito de real garantia constituído sobre um imóvel localizado em Portugal,
o lugar da execução é Portugal. Acrescente-se, contudo, que há uma outra posição
doutrinária (posição minoritária) segundo a qual o artigo 62º CPC trata e geral dos
critérios de competência internacional direito dos tribunais portugueses, devendo para os
defensores desta tese aplicar-se o artigo 62º tanto às ações declarativas como às ações
executivas. No entanto, esta tese é praticamente inexercitável. Se assim fosse, o juiz
português teria que, mediante sucessivas cartas rogatórias, pedir aos juízes estrangeiros a
prática de atos executivos. Tal não seria praticável na medida em que o mecanismo das
cartas rogatórias apenas traduz um pedido de um juiz de um Estado a um juiz de um outro
Estado no sentido deste praticar atos processuais. Porém, isto não se traduz numa ordem,
mas sim num pedido. Com efeito, o juiz do Estado em cujo território se pede a prática de

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Inês De Oliveira Soares

atos processuais não é obrigado a cumprir e tem discricionariedade judicial para, à luz
das regras processuais pré-existentes nesse outro Estado, não cumprir.
Concluindo que os tribunais portugueses têm competência internacional, cumpre-nos
agora analisar a competência interna. Desde logo note-se que nas ações executivas, tal
como nas ações declarativas, a competência material dos tribunais judiciais se determina
por um duplo critério: critério da atribuição positiva e critério da competência residual.
Segundo o critério da atribuição competência, cabem na competência material dos
tribunais judicias todas as ações executivas baseadas na não realização de uma prestação
devida segundo as normas do direito privado. No nosso caso, uma vez que está em causa
a falta de pagamento, pelo critério da atribuição positiva são competentes os tribunais
judiciais. Relativamente à concreta competência interna dos tribunais judicias, o tribunal
competente tem que ser competente à luz de quatro critérios cumulativos: matéria,
território, hierarquia e valor. Nos termos da LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se
em juízos de competência especializada, de competência genérica e de proximidade. De
entre os juízos de competência especializada, temos os juízos de execução (artigo 81º/3/j
LOSJ). Ora, quando haja juízos de execução estes têm competência exclusiva (artigo 129º
LOSJ), salvo se esta for excluída pelo nº2 do mesmo preceito. Então, uma vez que a
execução foi instaurada no juízo cível central ao invés de ser instaurada no juízo de
execução da Comarca de Coimbra, deteta-se aqui uma incompetência em razão da
matéria. Ora a incompetência em razão de matéria é uma incompetência absoluta (artigo
96º/a). Estando nós perante um processo executivo que tramita sob a forma sumária, o
agente de execução deve suscitar a questão ao juiz a fim deste apreciar a falta deste
pressuposto processual (artigo 855/2/b). O juiz, sendo este um caso de incompetência
absoluta, deve indeferir liminarmente o requerimento executivo (artigo 99º/1) ou se o
exequente requerer, enviar o processo para o tribunal competente, desde que não haja
oposição justificada do executado a esta remessa. Os restantes critérios aferidos de
competência interna estão verificados, sendo o critério do valor para o caso irrelevante e
relativamente à hierarquia, apenas os tribunais de 1º instância tem competência executiva.
Ora, não obstante estarmos perante uma sentença – ainda que estrangeira – e a fase
introdutório do processo como tal seguir a forma de processo sumária, se se concluir que
é necessária notificação à pessoa contra a qual a execução é requerida nos termos do
artigo nº1 do artigo 43º, então a forma aproxima-se da forma de processo ordinário na sua
fase introdutória. Como tal, se se aferir pela necessidade de notificação e esta não for
realizada, esta falta procedimentos é constitui fundamento para que o executado possa
deduzir embargos de executado com sucesso. Então, este vício constitui uma exceção
dilatória consubstanciadora da falta de um pressuposto processual suscetível de ser
invocada em sede de embargos de terceiro pelo artigo 729º/c. Relativamente à
competência em razão de território, a execução deve ser instaurada nos termos do artigo
89º/2 na comarca de Coimbra. Relativamente à hierarquia, apenas os tribunais de 1º
instância têm competência e verifica-se a competência do juízo de execução da comarca
de Coimbra. No caso, o critério do valor é irrelevante.
Relativamente à legitimidade processual esta determina-se de modo mais simples no

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Inês De Oliveira Soares

âmbito da ação executiva face à ação declarativa. Na ação declarativa o autor é parte
legítima quando tem interesse direto em demandar e o réu é parte legítima quando tem
interesse direto em contradizer (artigo 30º CPC). Este interesse direto em demandar e em
contradizer apura-se pela vantagem económica que um e outro, do ponto de vista
económica, possam vir a ter no final da ação declarativa. Subsidiariamente, têm interesse
direito em demandar e em contradizer os sujeitos na ação material controvertida. No
fundo, a legitimidade processual numa ação declarativa exprime a posição da parte
perante o objeto do litigio, o pedido e a causa de pedir, em termos de se poder concluir
que o autor e o réu tem perante o pedido e a causa de pedir uma relação jurídica próxima.
Já no âmbito da ação execução a indagação a fazer resolve-se pelo confronto entre as
partes e o título executivo. Assim, tem legitimidade como exequente quem no título
executivo figura como credor e tem legitimidade como executado quem no título
executivo figura como devedor (artigo 53º/1). Tal significa que na ação executiva a
legitimidade processual exprime uma posição puramente formal, na medida em que tem
legitimidade ativa (exequente) a pessoa cujo nome figura no título executivo como credor
e legitimidade passiva (executado) a pessoa mencionada no título executivo na qualidade
de devedor. No nosso caso é então claro que Pepe tem legitimidade processual ativa.
Relativamente à legitimidade processual passiva, uma vez que na sentença homolgatória
– que é o nosso título executivo – surgem como credores tanto António como Maria,
ambos têm legitimidade processual passiva. No entanto, apesar dos dois cônjuges
constarem no título executivo na qualidade de devedores, o credor exequente está livre
de apenas instaurar execução contra um deles, renunciando, nesta parte, à
responsabilidade patrimonial imputável ao outro cônjuge. Na perspetiva do curso, em
regra, não há litisconsórcio necessário nas ações executivas. Como tal, para o Dr.
REMÉDIO MARQUES e o Dr. LEBRE DE FREITAS, não estamos perante uma situação
que exija a verificação de litisconsórcio necessário nos termos do artigo 34º/3/2º parte.
Seja como for, a ação é movida contra pessoa que figura no título executivo na qualidade
de devedor – António.

Relativamente ao patrocínio judiciário, este só é pressuposto processual quando


obrigatório. Nos termos do artigo 58º CPC quando o valor da execução é superior ao valor
da alçada da Relação é obrigatória a representação por advogado. A inobservância deste
pressuposto gera uma exceção dilatória sanável, devendo o juiz, mediante um despacho
de aperfeiçoamento convidar o exequente a juntar aos autos procuração forense.

2) Pepe está convencido que a sentença homologatória espanhola está sujeita ao


trâmite previsto no art. 978.º e segs. do CPC português, a fim de poder ser título
executivo em Portugal. Terá razão? Justifique (4 Val.).

O reconhecimento e execução da sentença homologatória espanhola não está sujeita ao


processo especial previsto no artigo 978º e ss. do CPC. As decisões proferidas por
países da UE são reconhecidas automaticamente e são executadas sem que seja

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Inês De Oliveira Soares

necessário requerer declaração de executoriedade. A execução subordina-se ao disposto


no artigo 59º do Regulamento 1215/2012 (e não da convenção de Lugano) o qual manda
aplicar as regras de execução respeitantes aos documentos autênticos previstos no artigo
58º.

À PARTE – AULA DE DÚVIDAS

740º - só um dos cônjuges é executado e o agente de execução penhora também bens comuns, citando
imediatamente o cônjuge do executado para requerer a partilha dos bens comuns, sob pena da penhora
prosseguir sobre todos os bens comuns

343º - embargos de terceiros do cônjuges; quando há ilicitude numa penhora quando só há titulo contra
um e não houve incidente da comunicabilidade da dívida e se penhoram bens comuns e não se cita o
cônjuge do executado para salvar a sua metade nos bens comuns ou quando se penhoram bens próprios.
Este artigo permite que o cônjuge do executado se defenda de penhoras ilegais contra bens dele.

824º - os direitos reais de gozo que têm registo sobre o mesmo bem anterior de qualquer penhora, arresto
ou garantia não caducam com a venda executiva. Se tiveram registo posterior então caducam.
Se a hipoteca tiver registo anterior, então o direito real de gozo caduca. Veja-se:
Na venda executiva, se o prédio for vendido livre de quaisquer ónus vai valer mais. Há uma hipoteca
anterior ao arrendamento e essa hipoteca tem um credor, esse credor tem o ónus de reclamar créditos.

Os direitos reais de garantia, todos eles caducam. Todas as garantias reais que incidem sobre o bem
penhorado, caducam.

Direitos reais de aquisição – contrato promessa com eficácia real e pacto de preferência com eficácia real,
o titular desses direitos pode ficar com esses bens então em princípio não são incompatíveis. Então, se o
promitente-comprador não quiser comprar o bem

O promitente-comprador não pode ser obrigado a comprar já se a data da celebração do contrato


prometido não é para já. Então, o agente de execução deve suspender a venda executiva desse bem e
quando decorrer esse prazo a partir do qual ele tem que celebrar o contrato prometido, ele tem que
celebrar o contrato prometido. A data da celebração do contrato comprometido não é agor

O preferente – ele pode exercer o direito de preferência e ficar com o bem. Então se não exercer esta
preferência perde o direito que tem. A podia comprar, se não quis então o seu direito nasce quando há
intenção de venda e quando há clausulas do contrato venda estabelecidas

Há direito de preferência quando o obrigado à preferência quer vender o prédio, no momento da venda
executiva nasce e realiza-se a obrigação de preferência. O beneficiário da preferência tem o direito
potestativo de adquirir.

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