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Faculdade de Direito da Universidade do Porto- 2023/2024

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Nota Prévia
Estes são os apontamentos semanais de DIREITO PROCESSUAL CIVIL, disponibilizados
pela Comissão de Curso dos alunos do 3º ano da licenciatura em Direito da Faculdade de Direito
da Universidade do Porto, para o mandato de 2023/2024.
Foram elaborados pela aluna Raquel Azevedo tendo por base as aulas e documentos
disponibilizados pela docente Brígida Malheiro.
Salienta-se que estes apontamentos são apenas complementos de estudo, não sendo dispensada,
por isso, a leitura das obras obrigatórias e a presença nas aulas.
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Índice
Caso prático 1........................................................................................................................4
As ações declarativas ..........................................................................................................4
Servidões legais de passagem ............................................................................................5
Caso prático nº2 ................................................................................................................... 7
Objeto do processo ............................................................................................................. 7
Modalidades de defesa .....................................................................................................10
Caso prático nº3 ................................................................................................................. 11
Hipótese A ....................................................................................................................... 11
Hipótese B ....................................................................................................................... 12
Hipótese C ....................................................................................................................... 13
Caso prático nº4 .................................................................................................................. 15
Caso prático nº5 ................................................................................................................... 19
Caso prático nº6 .................................................................................................................. 22
Caso prático nº7 .................................................................................................................. 26
Caso prático nº8 .................................................................................................................. 31
Pergunta suplementar ........................................................................................................ 37
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PRÁTICA

CASO PRÁTICO Nº1


Alínea a)
As ações declarativas encontram a sua classificação no artigo 10º nº1, 2 e 3 CPC (definição de
cada tipo de ação). Estas podem dividir-se em ações declarativas:
 De simples apreciação (modalidades: positiva ou negativa);
 Condenatórias ou de condenação (modalidade: ação inibitória);
 Constitutivas (diferentes efeitos na ordem jurídica – criar uma relação jurídica, modificar uma
relação jurídica ou extinguir uma relação jurídica).
Temos uma ação de reivindicação, nos termos do artigo 1311º do CC – ação de defesa da
propriedade. É uma ação de reivindicação de dupla vertente, porque, simultaneamente, pede-se o
reconhecimento do direito de propriedade, o que é típico de uma ação declarativa de simples
apreciação positiva, e também a restituição da coisa. Portanto, quando isso acontece aproxima a ação
a uma ação declarativa condenatória.
Temos de olhar para o fim principal que se pretende extrair desta ação. Ora, o fim principal é
a restituição da coisa, ou seja, o direito do autor só é satisfeito pela restituição da coisa. Neste sentido,
o que prevalece nesta ação é o pedido condenatório de restituição da coisa.
Alínea b)
Em referência ao artigo 10º nº3 alínea b) do CPC, estamos perante uma ação declarativa
condenatória, pois pretende-se que se pague as faturas anteriores e as que vençam no decurso da ação.
Quanto às faturas dos meses anteriores elas já se venceram e, portanto, é uma ação declarativa
condenatória pura. Relativamente às faturas que se venham a vencer no decurso da ação é um pedido
particular, porque ainda não se venceram, logo, o réu ainda não as tem de pagar neste momento. O
autor quer poupar tempo e, por isso, estamos perante uma ação que corresponde à ideia de economia
processual. Temos um pedido particular, previsto no artigo 557º nº1 1 do CPC – prestações vincendas
(futuras).
O vencimento das faturas futuras não ocorre com a ação condenatória, ou seja, o réu não tem
de pagar tudo no momento. No entanto, essas faturas passam a ser exigíveis. Se o réu não cumprir no
futuro o pagamento das faturas, o autor avança para a ação executiva.
Nota: o vencimento é diferente, e não deve ser confundido com a exigibilidade. Ora, o vencimento não
ocorreu pela interposição da ação e dedução do pedido. Por outro lado, a exigibilidade da obrigação
existe quando pela sentença condenatória que seja proferida, o credor passa a dispor de título executivo
– artigo 703º nº1 alínea a) do CPC e artigo 713º CPC.
Alínea c)
Uma servidão legal de passagem é um dos tipos de servidões legais previstas no CC, em
concreto no artigo 1550º nº1. Existe um direito potestativo constitutivo para quem tem o direito de
pedir uma servidão legal de passagem. Para o sujeito que nada pode fazer, ou seja, tem de ceder a
passagem, encontra-se num estado de sujeição. Ora, depois de constituída a servidão legal de passagem
o sujeito passa a ter um direito subjetivo e o proprietário do prédio vizinho tem um dever jurídico.
Nesta ação o que se pede é que o proprietário vizinho não o impeça de passar, embora a servidão
legal de passagem já tenha sido constituída. Num primeiro cenário (que não é o nosso), se o autor
pedisse a constituição da servidão legal de passagem tínhamos uma ação declarativa constitutiva.
No nosso caso, temos uma ação declarativa de condenação, na modalidade de ação inibitória,
nos termos do artigo 10º nº3 alínea b) do CPC. Pretende-se que o réu não faça nada, non facere, ou
seja, temos uma prestação de um facto negativo, a abstenção de um comportamento por parte do réu.

1
Remissão para o artigo 300 do CPC
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Antes de constituída a servidão Depois de constituída a servidão


Proprietário beneficiário da servidão: direito
Proprietário do prédio “encravado”: direito
subjetivo / absoluto, direito real de gozo (cuja
potestativo constitutivo
violação importa R.C)
Proprietário vizinho: encontra-se num “estado Proprietário vizinho (onerado com a
de sujeição” servidão): dever jurídico
Alínea d)
Estamos perante uma ação declarativa condenatória na modalidade de tutela inibitória –
artigo10º nº3 alínea b) do CPC. Novamente pretende-se que aquela empresa se abstenha de um certo
comportamento, non facere, é uma prestação de um facto negativo. Este tipo de ações têm uma função
cautelar, mas de carácter definitivo (diferentemente do que sucede com as providências cautelares que
são de natureza provisória).
Fala-se de cláusulas contratuais gerais (contratos de adesão), sendo estas reguladas pelo DL
nº446/85 de 25 de outubro.
Alínea e)
A simulação está prevista nos artigos 240º e ss. do CC. Ora, nos termos do artigo 240º nº1 e 2,
o negócio simulado é nulo.
Temos uma ação declarativa de simples apreciação positiva, segundo o artigo 10º nº3 alínea a)
do CPC, porque a nulidade opera ipse iure, ou seja, por força do direito. Existindo a simulação, esse
facto justifica a nulidade, sendo esta declarada por sentença do tribunal – artigo 286º CC. Os efeitos
da nulidade estão previstos no artigo 289º CC. A nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer
interessado e pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal. No regime de nulidade, o negócio nunca
produziu quaisquer efeitos.
Alínea f)
O contrato de mútuo está previsto nos artigos 1142º e ss. do CC. É um contrato real quanto à
constituição porque, por força do artigo 1144º do CC, a entrega da coisa mutuada é um elemento
performativo do próprio contrato. Os efeitos da anulabilidade estão previstos no artigo 289º do CC.
No entanto, o regime da anulabilidade encontra-se previsto no artigo 287º do CC. Ora, a anulabilidade
tem de ser arguida, suscitada pela parte interessa e, portanto, não é de conhecimento oficioso. Em
consequência, se não é de conhecimento oficioso, se tem de ser arguida e se há um prazo para isso
mesmo (caso não seja cumprido existe a sanação do vício), isto diz-nos que a ação é uma ação
constitutiva com efeitos extintivos, nos termos do artigo 10 nº3 alínea c) do CPC.
Alínea g)
O contrato promessa está previsto no artigo 410º e ss. do CC. O contrato promessa é o contrato
pelo qual as partes, ou uma delas, se obriga a celebrar novo contrato - o contrato definitivo. O contrato
promessa em si próprio tem em vista o contrato prometido, neste caso, o contrato de compra e venda.
Temos uma ação de execução específica do contrato promessa – artigo 830º do CC. Não é uma
ação executiva, mas sim uma ação declarativa. É uma ação declarativa constitutiva (cria uma nova
relação na ordem jurídica – artigo 10º nº3 alínea c) do CPC), porque pede-se ao tribunal que se
substitua ao promitente-comprador faltoso. Assim, pela sentença, o tribunal vai suprir a falta de
vontade do promitente comprador, tendo o efeito da celebração do contrato prometido.
Nota: a maior parte dos autores entende a ação executiva específica como ação declarativa constitutiva.
No entanto, para o prof. Antunes Varela é uma ação declarativa condenatória, porque o promitente-
comprador faltoso seria condenado pelo tribunal a emitir a declaração negocial em falta. No entanto,
existem críticas a esta teoria através do artigo 830º do CC que diz que a sentença produz o efeito da
declaração negocial em falta. Ou seja, o promitente-comprador pode não fazer nada porque a sentença
é suficiente para criar uma nova relação jurídica.
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Alínea h)
O autor vai interpor uma ação de impugnação pauliana, prevista no art.610º do CC. Temos uma
ação declarativa constitutiva com efeitos modificativos, pois pretende-se a alteração de uma relação
jurídica – artigo 10º nº3 alínea c) do CPC.
O que se questiona é a ineficácia do negócio e não a sua validade. Nos termos do artigo 616º
do CC, os atos impugnados são válidos, mas ineficazes perante o credor. Ora, nesta ação de
impugnação pauliana, o património de terceiro (que não é o devedor) vai abrir-se para a satisfação do
crédito do credor. O terceiro será, ainda assim, tutelado consoante a sua boa ou má -fé, considerada a
natureza onerosa ou gratuita do ato celebrado com o devedor (artigos 616º e 617º do CC).
Alínea i)
Temos uma ação declarativa de simples apreciação negativa – artigo 10º nº3 alínea a) do CPC.
Estas ações invertem o ónus da prova, nos termos do artigo 343º nº1 do CC – provocatio ad agendum.
Ora, por regra, e, nos termos do artigo 342º do CC, se o autor tem um direito de ação tem de demostrar
os factos constitutivos. Por outro lado, o réu vai alegar os factos extintivos, impeditivos e modificativos
do direito de ação. No entanto, no caso prático teremos o contrário, pois o ónus da prova vai inverter-
se.
Neste caso, quem vai alegar factos constitutivos é o réu, que vai demonstrar que o autor assinou
o documento. Por outro lado, o autor vai dizer que não assinou, alegando factos extintivos, impeditivos
ou modificativos. Ora, tratando-se de uma ação de simples apreciação negativa, há lugar a “réplica” –
artigo 584º nº2 do CPC.
Alínea j)
Os direitos de preferência podem ser de fonte legal ou convencional (acordo das partes).
Existem alguns direitos de preferência legais, previstos no artigo 1380º e no artigo 1091º do CC. No
caso prático, trata-se de um direito de preferência legal, previsto no artigo 1380º do CC. Ora, o direito
de preferência é um direito real de aquisição, dá prioridade na aquisição de um certo bem.
Neste caso, a ação de preferência é uma ação declarativa constitutiva com efeitos de
modificação da relação jurídica, nos termos do artigo 10º nº3 alínea c) do CPC. É constitutiva porque
pretende uma alteração na ordem jurídica, concretizando-se na modificação subjetiva de uma relação
jurídica já existente. Ora, a relação jurídica já existente é o contrato de compra e venda celebrado entre
os réus. Neste caso opera uma modificação subjetiva porque os nossos autores pretendem ocupar a
posição de adquirentes do terreno, mas o contrato mantém-se.
Esta ação qualifica-se por referência do artigo 1410º do CC. Este artigo não era aplicado neste
caso prático, mas prevê a definição de uma ação de preferência.
Alínea k)
A usucapião, prevista nos artigos 1287º e ss. do CC, é uma forma de aquisição originária, pois
existe um facto que permite adquirir a propriedade de um determinado bem. O facto é a posse de um
determinado bem, com certas características, durante um certo lapso de tempo. Para além disso, o
poder de requerer o exercício dessa posse pode durar 20 anos.
Por referência ao artigo 10º nº3 alínea a) do CPC, temos uma ação declarativa de simples
apreciação positiva. A usucapião só tem de ser declarada pelo tribunal, pois é a posse sobre um
determinado bem que me permite adquirir a sua propriedade, ou seja, a sentença não vai fazer com
que o bem se torne meu, o facto aquisitivo já se verificou, então o tribunal apenas reconhece esse facto,
que eu adquiri. Ou seja, não há nenhuma mudança na ordem jurídica existente, o tribunal apenas
reconhece que o sujeito é proprietário do bem, por via da usucapião.
Alínea l)
Temos uma ação declarativa de condenação, nos termos do artigo 10º nº3 alínea b) do CPC.
Ora, o pedido é um elemento essencial de uma ação. Por regra, o pedido de condenação do réu
traduz-se em algo concreto, isto é, se for uma quantia, esta é logo determinada. A ação do caso prático
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é uma exceção do pedido de condenação certo, pois é um pedido de condenação genérica – artigo 556º
do CPC. Nestes casos, não é possível ao lesado, no momento do pedido, determinar todos os danos
patrimoniais ou não patrimoniais, nos termos do artigo 556º nº1 alínea b) do CPC.
Quando deve ser quantificado o pedido? Por referência ao artigo 556º nº2 do CPC articulado
com o artigo 358º do CPC, faz-se a quantificação do pedido até antes do início da fase de audiência e
discussão de julgamento, sendo possível. No entanto, se não for possível, depois de proferida a
sentença o autor pode vir a deduzir o incidente de liquidação, tornando certo o pedido, que até ao
momento não o era. Em regra, com a sentença o juiz esgota o seu poder de apreciar da causa. No
entanto, neste caso vai reabrir-se a ação, única e exclusivamente, para tornar certo o pedido.
Alínea m)
O autor está a pedir alimentos ao pai. Esta obrigação de alimentos encontra-se prevista no artigo
1874º nº2 do CC, sendo desenvolvida depois nos artigos 1878º a 1880º do CC.
Temos no caso prático uma ação declarativa constitutiva segundo o artigo 10º nº3 alínea c) do
CPC. Pretende-se uma alteração na ordem jurídica, que se traduz na criação da relação de alimentos
entre pais e filhos. Ora, é preciso sentença para se criar a obrigação exigível de alimentos e, por isso,
é que se trata de uma ação declarativa constitutiva e não de um dever que decorre da lei.
Imaginando que os alimentos já estavam constituídos, mas o pai incumpria essa obrigação, se
o filho quisesse reclamar esses alimentos teríamos uma ação declarativa de condenação.
Associada a esta ação de constituição de alimentos pede-se uma providência cautelar,
designada por providência cautelar de “alimentos provisórios” (artigos 384º a 387º do CPC). Esta
providência é especificada, ou seja, tem nome e regime próprios. Assim, até ser paga a primeira
prestação definitiva de alimentos, o obrigado (pai) a esses alimentos assegura o mínimo ao seu filho.

CASO PRÁTICO Nº2


O objeto do processo
O objeto do processo delimita-se em 3 elementos, onde um deles é subjetivo – as partes – e
dois são objetivos – o pedido e a causa do pedido. Estes 3 elementos estão referidos no artigo 581º nº1
do CC.
Quando é que devemos falar de exceção de caso julgado e da exceção de litispendência? Ora,
as duas exceções são dilatórias, nos termos do artigo 577º alínea i) do CPC. As exceções dilatórias
distinguem-se de exceções perentórias. As dilatórias relacionam-se com a relação processual. Por outro
lado, as perentórias estão relacionadas com a relação material controvertida. Por força disto, se existir
uma exceção dilatória o réu vai ser absolvido da instância (artigo 278º do CPC). Se existir uma
exceção perentória e o tribunal entender que de facto ela existe, o réu vai ser absolvido do pedido.
As noções de exceção de litispendência e de caso julgado encontram-se previstas nos artigos
580º e 581º do CPC. Em ambas as exceções existem a repetição de uma causa, mas como vemos se
uma causa se repete? Ora, por referência ao objeto processual, que se delimita aos 3 elementos – partes,
pedido e causa do pedido.
Na litispendência existe uma repetição de duas ações, com objeto processual idêntico, embora
em nenhuma das ações tenha existido ainda uma decisão transitada em julgada – artigo 580º nº1, 1ª
parte do CPC. Deste modo, duas ações versam sobre um objeto processual idêntico quando existir
tríplice identidade – partes, pedido e causa de pedir (artigos 5º e 552º nº1 alínea d) do CPC) –, nos
termos do artigo 581º do CPC.
Por outro lado, no caso julgado instaura-se uma nova ação sobre cujo objeto processual já foi
proferida decisão transitada em julgado, prevista no artigo 580º nº1, 2ª parte do CPC. Assim, existe
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um juízo de (in)compatibilidade entre a decisão já transitada em julgado e a decisão que possa ser
proferida, na 2º ação.
Portanto, a litispendência e o caso julgado distinguem-se pelo momento processual em que se
deteta a repetição de uma causa. Desta forma, se a repetição ocorre ainda antes de qualquer uma das
ações ser decidida por sentença transitada em julgado estamos perante a litispendência. Contudo, se a
repetição ocorre já depois de uma das causas ter sido decidida por sentença transitada em julgado (e
se se estabelecer um juízo de incompatibilidade) estamos perante uma exceção de caso julgado, que
pressupõe a formação de um caso julgado material, na 1ª ação – artigo 619º do CPC. Ou seja, para que
seja invocada a exceção do caso julgado na 2ª ação, pressupõe-se que na 1ª ação se tenha formado um
caso julgado material (reconhecimento do mérito da pretensão do autor).
Bloco A
O objeto processual das duas ações é o mesmo, pois temos as mesmas partes, o mesmo pedido
e a mesma causa de pedido – artigo 581º nº2, 3 e 4 do CPC, respetivamente. Na segunda ação, B pode
invocar a exceção de caso julgado, porque existe tríplice identidade, ou seja, as ações repetem-se,
sendo que uma delas já havia sido decidida por sentença transitada em julgado.
Para que o B na segunda ação invocasse exceção de litispendência e não a exceção do caso
julgado, a sentença não podia ter transitado em julgado. Na verdade, ainda não teria existido sentença,
mas sim duas ações que estariam a decorrer ao mesmo tempo.
A litispendência e a exceção do caso julgado distinguem-se pelo momento processual em que
se deteta a repetição de uma causa. Assim, se a repetição ocorre ainda antes de qualquer uma das ações
ser decidida por sentença transitada em julgado, estamos perante a litispendência. Se a repetição ocorre
já depois de uma das causas ter sido decidida por sentença transitada em julgado e se se estabelecer
um juízo de incompatibilidade, estamos perante a exceção de caso em julgado (que pressupõe a
formação de um caso julgado material, na 1ª ação – artigo 619º do CPC). Ou seja, para que seja
invocada a exceção do caso julgado na 2ª ação, pressupõe-se que na 1ª ação se tenha formado um caso
julgado material (reconhecimento do mérito da pretensão do autor).
No artigo 619º temos a definição de caso julgado material que nos diz que a decisão proferida
vincula não só as partes, mas também terceiros. Por outro lado, no artigo 620º temos o caso julgado
formal, onde a decisão só tem força dentro do processo, ou seja, entre as partes.
Para concluir, ter-se-ia de invocar a exceção de caso julgado na 2ª ação, que era inadmissível.
Assim, B seria absolvido da instância na 2ª ação, nos termos dos artigos 580º nº1, 2ª parte, 577º alínea
i) e 278º nº1 alínea e) do CPC.
Bloco B
Se existir repetição da causa, em abstrato, invocamos a litispendência – artigo 577º alínea e)
do CPC –, pois não há referência a nenhum caso transitado em julgado. Há repetição da uma causa
quando se aprecia o objeto do processo e existe identidade de partes, identidade de pedido e identidade
da causa do pedido.
Ora, há identidade de partes (artigo 581º nº2 do CPC) independentemente da posição processual
que um e outro ocupam em cada uma das ações. Na primeira ação, A é autor e B é réu. Já na segunda
B é o autor e A é réu.
Para além disso, existe identidade de pedido (artigo 581º nº3 do CPC). Na primeira ação A
pede para ser reconhecido pelo bem X e ser restituído. Na segunda ação, B pede para ser reconhecido
pelo mesmo bem. Ora, os pedidos são incompatíveis entre si. Ou seja, se o tribunal considerar que A
é o proprietário do bem, B já não o poderá ser, e vice-versa. Assim, quando os pedidos são
incompatíveis considera-se que existe identidade do pedido, porque são o inverso um do outro.
Relativamente à identidade de causa de pedido (artigo 581º nº4 do CPC) esta também existe,
pois os factos que suportam a pretensão de A na 1ª ação e B na 2ª ação são idênticos, respeitam a
mesma relação jurídica.
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Neste sentido, a 2ª ação seria inadmissível, podendo o A invocar a exceção de litispendência,


nos termos do artigo 582º do CPC. Para além disso, a litispendência deve ser deduzida na ação proposta
em segundo lugar, ou seja, na ação para o qual o réu foi citado posteriormente. Assim, o A seria
absolvido da instância, no que respeita à 2ª ação, segundo os artigos 577º alínea i) e 278º nº1 alínea e)
do CPC.
Bloco C
Havendo repetição da causa estaríamos perante uma exceção de litispendência ou exceção do
caso julgado. Uma vez que nenhuma das causas foi decidida por sentença transitada em julgado,
estando, portanto, duas ações a decorrer em simultâneo, existe exceção de litispendência.
Ora, por referência ao objeto do processo – partes, pedido e causa do pedido – verificamos se
houve ou não repetição da causa.
Neste caso, existe identidade partes, nos termos do artigo 581º nº2 do CPC. Quanto à identidade
de pedido (artigo 581º nº3 do CPC) esta não é igual nas duas ações, pois na 1ª ação pede-se a entrega
do automóvel e na 2ª ação pede-se o pagamento de uma quantia por parte de B. O efeito jurídico
(entrega do automóvel) da 1ª ação é distinto do efeito jurídico da 2ª ação (pagamento da quantia).
Assim sendo, os pedidos são diferentes entre si. No que toca à identidade de causa de pedir, esta está
verificada, pois os factos essências de uma e outra ação são os mesmos – artigo 581º nº4 do CPC.
No entanto, A podia reunir numa mesma ação os dois pedidos, já que existe compatibilidade
dos pedidos – artigo 555º do CPC.
Para concluir, seria admissível a 2ª ação, porque não há exceção de litispendência, uma vez que
não há identidade de pedido e, portanto, as causas não se repetem.
Bloco D
Houve sentença transitada em julgado, logo caso existisse exceção invocável na 2ª ação seria
a exceção do caso julgado. Teríamos de ver se há repetição da causa, avaliando o objeto do processo
– partes, pedido e causa do pedido.
Existe identidade de partes, nos termos do artigo 581º nº2 do CPC.
Ora, o usufruto é um desdobramento do direito de propriedade, ou seja, é melhor ser
proprietário do que ser usufrutuário. Se o A já foi reconhecido como proprietário da 1ª ação, não tem
interesse em ser reconhecido como usufrutuário na 2ª ação. Portanto, o efeito jurídico na 1ª ação já
compreende o efeito jurídico da 2ª ação. Assim sendo, existe identidade do pedido (artigo 581º nº3 do
CPC), pois os pedidos são nominalmente diferentes e o efeito jurídico prosseguido pela 1ª ação absorve
o da 2ª ação.
Para além disso, existe também identidade de causa do pedido, nos termos do artigo 581º nº4
do CPC, já que os factos nas duas ações seriam os mesmos.
Ora, existindo esta tríplice identidade e tendo a ação já transitada em julgado, ter-se-ia de
invocar a exceção de caso julgado na 2ª ação, fazendo com que esta não fosse admissível. A exceção
do caso julgado é uma exceção dilatória e, portanto, B seria absolvido da instância na 2ª ação (artigos
580º nº1 2ª partes, 577º alínea i) e 278º nº1 alínea e) do CPC).
Bloco E
A existir repetição da causa, invocaríamos a exceção de litispendência, pois nada se diz sobre
sentença transitada em julgado. Assim, para saber se houve repetição da causa, teríamos de avaliar o
objeto do processo – partes, pedido e causa do pedido.
Nos termos do artigo 581º nº2 do CPC, existe identidade de partes. Quanto à identidade do
pedido, esta existe. Ora, se A pede a nulidade do contrato numa ação, não pode pedir o cumprimento
do mesmo contrato numa segunda ação, sendo os pedidos incompatíveis entre si – artigo 581º nº3 do
CPC. Para além disso, existiria identidade da causa de pedido, nos termos do artigo 581º nº4 do CPC.
Em conclusão, a 2ª ação seria inadmissível, podendo B invocar a exceção de litispendência,
segundo o artigo 582º do CPC. Para além disso, a litispendência deve ser deduzida na ação proposta
em segundo lugar, ou seja, na ação para o qual o réu foi citado posteriormente. Assim sendo, o B seria
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absolvido da instância, no que respeita à 2ª ação, nos termos dos artigos 577º alínea i) e 278º nº1 alínea
e) do CPC.
Bloco F
A existir repetição da causa, invocaríamos a exceção de litispendência, pois nada refere se
houve ou não sentença transitada em julgado. Para sabermos se houve repetição da causa, teríamos de
avaliar o objeto do processo – partes, pedido e causa do pedido.
Ora, existe identidade de partes, nos termos do artigo 581º nº2 do CPC. Quanto à identidade
do pedido esta não está preenchida (artigo 581º nº3 do CPC), pois os pedidos são, nominalmente,
diferentes e o efeito jurídico prosseguido por uma e outra ação é diferente, fazendo com que não sejam
incompatíveis ente si. Relativamente à identidade de causa de pedir, os pedidos seriam os mesmos e,
por isso, haveria identidade de causa do pedido nos termos do artigo 581º nº4 do CPC.
Para concluir, a 2ª ação seria admissível. Neste sentido, não haveria exceção de litispendência,
porque não há tríplice identidade e, portanto, as causas não se repetem.
Bloco G
A existir repetição da causa, invocaríamos a exceção de litispendência, pois nada se diz se
houve ou não sentença transitada em julgado. Temos de ver se há repetição por referência ao objeto
do processo, que se delimita às partes, pedido e causa do pedido. Para haver repetição tem de haver
tríplice identidade.
Quanto à identidade de partes esta está verificada, segundo o artigo 581º nº2 do CPC. No que
toca à identidade do pedido (artigo 581º nº3 do CPC), o efeito jurídico prosseguido por uma e outra
ação é o mesmo, ainda que um dos pedidos seja genérico e o outro esteja quantificado. Neste sentido,
existe identidade de pedido. Para além disso, a identidade de causa de pedir também está preenchida,
nos termos do artigo 581º nº4 do CPC.
Em suma, a 2ª ação seria inadmissível, podendo B invocar a exceção de litispendência, nos
termos do artigo 582º do CPC. Para além disso, a litispendência deve ser deduzida na ação proposta
em segundo lugar, ou seja, na ação para o qual o réu foi citado posteriormente. Neste sentido, o B seria
absolvido da instância, no que respeita à 2ª ação, nos termos dos artigos 577º alínea i) e 278º nº1 alínea
e) do CPC.
MODALIDADES DE DEFESA – ARTIGO 571º DO CPC
Como é que o réu pode reagir ao processo? Ora, este deve concentrar a sua defesa na
contestação – artigo 573º nº1 do CPC. A contestação é procedida da citação do réu e o prazo para
contestar é de 30 dias (prazo perentório) – artigo 569º nº1 do CPC. Contudo, existem dilações que
alteram este prazo.

Modalidades de defesa – art.571º do CPC

Defesa por impugnação de facto Direta


Defesa por impugnação – artigo (artigo 574º do CPC) Indireta
571º nº2, 1ª parte do CPC
Defesa por impugnação de Direito

Defesa por exceção dilatória – “[...] quando alega factos


artigos 576º nº2, 577º e 578º do que obstam à apreciação do
Defesa por exceção – artigo CPC mérito da causa”
571º nº2, 2ª parte do CPC
Defesa por exceção perentória – “[...] ou que, servindo de
artigos 576º nº3 e 579º do CPC causa impeditiva,
modificativa ou extintiva do
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Direito invocado pelo


autor”.

No artigo 574º do CC está previsto o ónus de impugnação dos factos. Por regra, os factos têm
de ser impugnados pelo réu, caso assim não seja são admitidos por acordo. Na defesa por impugnação
de facto direta, o réu contradiz frontalmente a versão factual dos factos alegados pelo autor. Por outro
lado, na defesa por impugnação de facto indireta, o réu não contradiz diretamente, mas apresenta
outros factos que contradizem os alegados pelo autor.
Na defesa por impugnação de Direito, o réu questiona os efeitos jurídicos, por exemplo, de
um determinado instituto ou regime legal invocado pelo autor.
Na defesa por exceção dilatória, o réu questiona a relação processual. Por outro lado, na
defesa por exceção perentória, o réu está a atacar a relação material controvertida, o mérito da causa.
Por regra, se existir uma exceção dilatória o réu vai ser absolvido da instância (artigo 278º do CPC).
Se existir uma exceção perentória e o tribunal entender que de facto ela existe, o réu vai ser absolvido
do pedido. No entanto, o artigo 105º nº3 do CPC diz que isto nem sempre é assim, como, por exemplo,
a incompetência relativa em função do território.
A classificação no CPC é de exceções dilatórias e perentórias. No entanto, há uma classificação
doutrinal destas exceções. As exceções dilatórias são designadas como exceções processuais, uma vez
que atacam a relação processual. Por outro lado, as exceções perentórias, doutrinalmente, são
chamadas por exceções materiais, pois atacam o mérito da causa.
Ora, por vezes, o réu pode atacar o mérito da causa e a consequência direta não ser a absolvição
imediata e total do réu do pedido. Ou seja, “[...] sem deixarem de conduzir à absolvição do pedido,
têm como efeito, não a improcedência definitiva da ação, mas a sua paralisação enquanto
determinado requisito não se verificar”.2 Quando isto acontece estamos perante uma exceção material
dilatória – artigos 428º do CC e 610º do CPC. Por outro lado, quando o réu atacar o mérito da causa e
a consequência direta for a absolvição imediata e total do réu do pedido temos uma exceção material
perentória. Ou seja, a verificação da exceção conduz à improcedência definitiva da ação, sem mais
(exemplo: pagamento da obrigação, caducidade, prescrição do direito de ação).
A prescrição e a caducidade são exceções perentórias. No entanto, Lebre de Freitas considera
que estas são factos preclusivos, que são equiparados a factos extintivos. Ou seja, se, por exemplo, o
direito caducou e o tribunal reconhecer isso, afasta-se o conhecimento de saber se de facto o direito
existiu ou não. Assim, designa isto de facto preclusivo, enquadrando-se nos factos extintivos (artigo
576º nº3 do CPC).

CASO PRÁTICO Nº3


Hipótese A
Processualmente, foi instaurada uma ação declarativa condenatória (artigo 10º nº3 alínea b) do
CPC), ao pagamento de 100 mil euros por danos patrimoniais.
Substancialmente, a relação substantiva de A e B é um contrato de empreitada, previsto nos
artigos 1207º e ss. do CC (particularmente, relevantes ao caso os artigos 1218º a 1224º do CC). Como
se designam as partes neste contrato? Por empreiteiro (Bernardo) e o dono da obra (Adelaide). Ora,
com base nos defeitos praticados por B, que não foram corrigidos, A resolveu o contrato.
Factos alegados na petição inicial:
 Ponto a: relaciona-se com o previsto nos artigos 1218º nº1 e 4 do CC e, em especial, o artigo
1220º nº1 do CC, nos termos do qual “O dono da obra deve, sob pena de caducidade dos direitos
conferidos nos artigos seguintes, denunciar ao empreiteiro os defeitos da obra dentro dos trinta
dias seguintes ao seu descobrimento”. Ora, A diz que comunicou os defeitos no prazo de 13 dias
após o descobrimento dos mesmos.

2
Um aspeto vai ser decidido posteriormente (paralisação)
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 Prontos b e c: relacionam-se com o previsto no artigo 1222º nº1 do CC, nos termos do qual “não
sendo eliminados os defeitos ou construída de novo a obra, o dono pode exigir a redução do
preço ou a resolução do contrato, se os defeitos tornarem a obra inadequada ao fim a que se
destina”. Ora, B não viu o email e, portanto, não corrigiu os defeitos.
Nota: veja-se, ainda, o artigo 1223º do CC, sobre qual o dono da obra funda o seu pedido, na presente
ação: “o exercício dos direitos conferidos nos artigos antecedentes não exclui o direito a ser
indemnizado nos termos gerais”.

Quais os meios de defesa invocados pelo réu?


 Ponto a: temos uma defesa por exceção dilatória (ou, doutrinalmente, exceção processual), pois
questiona-se a formalidade da relação processual, já que falta a competência do tribunal. Quanto
à incompetência relativa (por violação das regras da competência em razão do território), vejam-
se os artigos 102º e ss. do CPC. Quanto à sua qualificação como exceção dilatória, vejam-se os
artigos 577º alínea a) e 578º do CPC.
Observação: a consequência da procedência da exceção dilatória por incompetência relativa não é a
absolvição do réu da instância. Relativamente a isto, veja-se o disposto no artigo 105º nº3 do CPC
(remessa dos autos para o tribunal competente).
 Ponto b: o réu diz que o direito do autor a resolver o contrato caducou, porque a denúncia dos
defeitos foi feita 45 dias após o seu conhecimento e não nos 30 dias previstos na lei.
Ora, quanto à caducidade temos uma defesa por exceção perentória (doutrinalmente
classificada por exceção material perentória, pois o réu seria absolvido do pedido de forma definitiva).
A caducidade é um facto preclusivo (artigo 1220º nº1 do CC), que é equiparado a um facto extintivo
e, por isso, classificado como uma exceção perentória. Para este efeito, vejam-se os artigos 576º nº3 e
579º do CPC.
Para além disso, o réu também contraria, frontalmente, a realidade factual alegada pela A,
arguindo que esta apenas denunciou os defeitos após 45 dias do recebimento da obra, e não após 13
dias, conforme havia legado a A. Neste sentido, teríamos também uma defesa por impugnação de facto
direta (artigo 571º nº1 e 2, 1ª parte do CPC).
 Ponto c: neste ponto o réu apresenta uma defesa por impugnação de facto direta, na medida em
que o réu contradisse, frontalmente, a realidade factual alegada pela A.

Hipótese B
Substancialmente, Catarina tem um direito potestativo, pois pode pedir a divisão da coisa
comum, nos termos dos artigos 1412º nº1 e 1413º do CC.
Processualmente, este direito de divisão processa-se através de uma ação declarativa de divisão
de coisa comum. Assim, temos uma ação declarativa constitutiva modificativa (objetiva – o bem tinha
uma composição e agora tem outra - e subjetiva da relação de compropriedade – alteram-se os sujeitos).
Ora, esta ação de divisão de coisa comum é uma das ações inseridas no Livro V do CPC. É, portanto,
uma ação de processo especial previsto, em concreto, nos artigos 925º a 930º do CPC.
A respeito do tribunal onde deu entrada a ação (e a título de mera curiosidade, porque vamos
estudar esta matéria mais adiante), o tribunal era incompetente, em razão do território (artigo 70º nº1
do CPC). Para além disso, o valor da causa seria definido no artigo 302º nº2 do CPC. No entanto,
veremos, no momento oportuno, que tipo(s) de incompetência estariam em causa e as suas
competências.
 Ponto a: os réus alegaram que o tribunal era incompetente, sendo que esta incompetência era
absoluta.
Neste caso temos uma defesa por exceção dilatória (doutrinalmente designada por exceção
processual). Ora, quanto à incompetência absoluta, vejam-se os artigos 96º e ss. do CPC, em particular
(por violação das regras da competência em razão da matéria) o artigo 96º alínea a) do CPC. Quanto à
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sua qualificação (incompetência relativa e absoluta) como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577º
alínea a) e 578º 1ª parte do CPC. Se, de facto, existisse incompetência absoluta do tribunal, ter-se-ia
como consequência a absolvição do réu da instância. A respeito da absolvição do réu da instância,
veja-se o artigo 278º nº1 alínea a) do CPC.
 Ponto b: os réus consideram que outros sujeitos também deveriam ter sido chamados para o
processo.
A legitimidade é um pressuposto processual. Quando falta este pressuposto há uma defesa por
exceção dilatória (doutrinalmente, designada por exceção processual). A legitimidade processual está
prevista nos artigos 30º a 39º do CPC. Relacionado com a legitimidade, refiram-se, entre outros, os
incidentes de intervenção de terceiros – artigos 311º e ss. do CPC – que é um mecanismo que pretende
sanar a ilegitimidade.
Quanto à qualificação como exceção dilatória, esta está prevista nos artigos 577º alínea e) e
578º 1ª parte do CPC.
Se a falta de legitimidade não for sanável, ou seja, se não fossem chamados os 3 sujeitos à ação
sendo necessários, a consequência seria a de que os réus seriam absolvidos da instância, pois faltava
um pressuposto processual – artigo 278º nº1 alínea d) do CPC.
 Ponto c: os réus dizem que a autora não é comproprietária do bem imóvel, mas sim a sua mãe
que faleceu
A defesa pode assumir duas modalidades:
o Defesa por exceção dilatória (doutrinalmente, designada por exceção processual)
Os réus invocam que falta legitimidade ativa da autora, estando, portanto, perante uma defesa
por exceção dilatória (doutrinalmente, designada por exceção processual). Ora, a legitimidade é um
pressuposto doutrinal, que está prevista nos artigos 30º a 39º do CPC. Relacionado com a legitimidade,
refira-se, ainda, o incidente de habilitação (artigos 351º e ss. do CPC), que seria de admitir, aqui,
excecionalmente (mas, à partida, não seria esta hipótese o campo preferencial de aplicação do artigo
351º nº1 do CPC, porque a Rita faleceu antes de existir a ação e não na sua pendência).
Quanto à qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577º alínea e) e 578º 1ª parte
do CPC.
O que acontece no incidente de habilitação é que não se faz entrar na ação um terceiro, uma
parte nova. O que se pretende é que uma parte, que no caso era a autora da ação, tendo falecido na
pendência da mesma, seja substituída por uma filha. É a mesma parte, mas com uma nova pessoa.
Deste modo, não se aplica o artigo 351º do CPC, porque a Rita não tinha morrido na pendência
da causa. Assim sendo, existe falta de legitimidade da sua filha e isso determina a absolvição dos réus
da instância – artigo 278º nº1 alínea d) do CPC. No entanto, poderia propor-se uma nova ação contra
parte legítima aproveitando-se os efeitos civis da primeira ação (artigo 279º nº2 do CPC).
o Defesa por impugnação de facto direta
Também podemos estar perante uma defesa de facto direta (artigo 571º nº1 e 2, 1ª parte do
CPC), na medida em que os réus contradisseram, frontalmente, a realidade factual alegada pela autora,
negando que esta fosse comproprietária do bem imóvel, a título pessoal.

Hipótese C
Substancialmente, estamos perante uma coação moral, enquanto causa de anulação do contrato
(e não de nulidade), prevista nos artigos 255º e 256º do CC. Ora, a Glória identificou mal a
consequência de existir coação moral, pois invoca a nulidade, sendo que a consequência da coação
moral é a anulabilidade do negócio.
Deste modo, teríamos em causa uma errada qualificação jurídica da Glória. Seria aplicável o
artigo 5º nº3 do CPC? Segundo este artigo, o tribunal pode dar diferente enquadramento jurídico a
factos já alegados, desde qua a qualificação certa não se afaste do pedido. Para ser aplicado este artigo
temos de saber se estamos dentro do pedido e da causa de pedido. Assim, no nosso caso prático, se
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estivermos perante o pedido e a causa do pedido, o tribunal pode conhecer da anulabilidade do negócio.
Caso não estejamos perante o pedido ou causa do pedido, o tribunal não pode conhecer a anulabilidade.
Ora, com a anulabilidade pretende-se extinguir o negócio. Também com a nulidade pretende-
se que o negócio não tenha efeitos. Ou seja, nos dois regimes o objetivo é a inutilização do negócio.
Segundo isto, e como os regimes têm o mesmo objetivo (inutilização do negócio), o tribunal
utiliza os factos já alegados, aproveita a causa do pedido, mas qualifica corretamente em termos
jurídicos. Ou seja, estão demostrados os factos da coação moral, e estes são aproveitados pelo tribunal,
e a consequência é a anulabilidade, e não a nulidade. Não esquecer que a anulabilidade tem prazo para
ser invocada, que não poderia ter caducado para o tribunal poder corrigir o regime jurídico.
 Ponto a: Diogo alega que Glória necessitava de acompanhamento
Substancialmente, estaríamos no quadro dos maiores acompanhados, previsto nos artigos 138º
a 156º do CC. Uma das medidas para colmatar a falta da capacidade jurídica é a necessidade do
acompanhado ser representado (artigo 145º do CC), mas nem todos os maiores acompanhados carecem
de representação – artigo 145º nº2 alínea b) do CC.
Quando é que pode faltar capacidade a um maior acompanhado? Numa hipótese como no caso
prático, em que a Glória carecia de representação e intervém na ação sem o seu acompanhante.
Processualmente, a ação para acompanhamento de maiores é uma ação de processo especial,
prevista nos artigos 891º a 905º do CPC, que visa o decretamento da medida de acompanhamento.
Assim, estaríamos perante uma defesa por exceção dilatória (doutrinalmente, designada por
exceção processual), pois falta um pressuposto processual que é a capacidade judiciária. A capacidade
judiciária está prevista nos artigos 15º e ss. do CPC. No caso prático importa particularmente o artigo
19º do CPC que diz: “Os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação podem
intervir em todas as ações em que sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus,
sob pena de se verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que tenha sido citado o
acompanhante”.
Quanto à qualificação da falta de capacidade judiciária como defesa por exceção dilatória, esta
está prevista nos artigos 577º alínea c) e 578º 1ª parte do CPC.
Embora a Glória necessita-se de representação para atuar, o réu não seria absolvido da
instância, pois a falta de representação é algo sanável, chamando-se à ação o acompanhante da Glória
– artigo 27º nº1 e 28º do CPC. No entanto, se o acompanhante não fosse chamado à ação, teríamos a
absolvição do réu da instância – artigo 278º nº1 alínea c) do CPC.
Quando há absolvição do réu da instância não se conhece o mérito da causa. No entanto, isto
não funciona sempre assim, existem exceções – artigo 278º nº3 do CPC. Ora, se existisse uma mera
absolvição do réu da instância, poderia a Glória, acompanhada do seu acompanhante, instaurar uma
nova ação contra o Diogo. No entanto, e para evitar estas situações, se o tribunal, no momento da
absolvição, tivesse conhecimento do mérito da causa, e sendo esse mérito favorável a uma das partes,
a exceção dilatória não deve impedir o tribunal de conhecer o mérito. Assim, o Diogo seria absolvido
do pedido.
 Ponto b: Diogo alega que a Glória deveria ter advogado, e como não tem deveria ser absolvido
da instância
Estamos perante uma defesa por exceção dilatória (doutrinalmente, designada por exceção
processual).
Ora, o patrocínio judiciário corresponde ao exercício de poderes de representação por
profissionais na área. Assim, quando é obrigatória a constituição de advogado, esta funciona como um
pressuposto processual. Tratando-se de uma ação declarativa, veja-se os artigos 40 a 52º do CPC. Por
outro lado, quando se trata de uma ação executiva, veja-se o artigo 58º do CPC.
A falta de advogado não gera sempre uma exceção dilatória, porque a falta de constituição de
advogado só gera uma exceção dilatória quando seja obrigatória essa constituição (exemplo: ações em
que se discute a cessação de um contrato de arrendamento), e nem sempre é obrigatório constituir
advogado.
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Quanto à qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577º alínea h) e 578º 1ª parte
do CPC.
Admitindo que era obrigatório constituir advogado, o tribunal, à partida, detetando esta falta,
dava um prazo (10 dias, normalmente) à autora para constituir advogado – artigo 6 nº2 do CPC. A este
propósito é importante ver o artigo 41º do CPC que diz: “Se a parte não constituir advogado, sendo
obrigatória a constituição, o juiz, oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, determina a
sua notificação para o constituir dentro de prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da instância,
de não ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa.”
Imaginando que a Glória não sanava a falta de advogado, o réu seria absolvido da instância –
artigo 278º nº1 alínea e) do CPC. Se a falta de constituição de advogado fosse imputada ao réu, após
o prazo dado pelo tribunal, este não será absolvido da instância.
 Ponto c
Estamos perante uma defesa por impugnação da matéria de facto direta – artigo 571º nº1 e 2,
1ª parte do CPC -, na medida em que o réu contradisse, frontalmente, a realidade factual alegada pela
autora.
 Ponto d
Estamos perante uma defesa por impugnação da matéria de Direito (artigo 571º nº2 do CPC,
na parte “ou quando afirma que esses factos não podem produzir o efeito jurídico pretendido pelo
autor [...].”).
É importante também fazer referência ao artigo 5 nº3 do CPC. Segundo este artigo, o tribunal
pode dar diferente enquadramento jurídico a factos já alegados, desde que a qualificação certa não se
afaste do pedido. Para ser aplicado este artigo temos de saber se estamos dentro do pedido e da causa
de pedido. Assim, no nosso caso prático, se estivermos perante o pedido e a causa de pedido, o tribunal
pode conhecer da anulabilidade do negócio. Caso não estejamos perante o pedido ou causa de pedido,
o tribunal não pode conhecer a anulabilidade.
Ora, com a anulabilidade pretende-se extinguir o negócio. Também com a nulidade pretende-
se que o negócio não tenha efeitos. Ou seja, nos dois regimes o objetivo é a inutilização do negócio.
Segundo isto, e como os regimes têm o mesmo objetivo (inutilização do negócio), o tribunal
utiliza os factos já alegados, aproveita a causa do pedido, mas qualifica corretamente em termos
jurídicos. Ou seja, estão demostrados os factos da coação moral, e estes são aproveitados pelo tribunal,
e a consequência é a anulabilidade, e não a nulidade. Não esquecer que a anulabilidade tem prazo para
ser invocada, que não poderia ter caducado para o tribunal poder corrigir o regime jurídico.
Em relação a este artigo surge uma divergência doutrinal. Por um lado, José Lebre de Freitas
considera que o tribunal não poderá conhecer da anulabilidade do negócio, uma vez que esta não é de
conhecimento oficioso. Por outro lado, o professor Tiago Ramalho considera que nestes casos o
tribunal pode conhecer da anulabilidade, desde que estejamos ainda dentro do pedido ou da causa de
pedir e que ainda não tenha sido ultrapassado o prazo de caducidade para arguir a anulabilidade.

CASO PRÁTICO Nº4


Pergunta 1 – Caracterize os elementos fundamentais da causa
Os elementos fundamentais da causa são os elementos delimitares do objeto do processo, sendo
eles: o pedido, as partes e a causa de pedir – artigo 58º nº1 do CPC.
Assim sendo, as partes são a Vox editora, Lda. (autora) e a sucursal de Faro da Maia Som, Lda.
(ré). Quanto à pretensão da autora (pedido) é que a ré seja condenada ao pagamento de 12.876,00€, a
que acrescem os juros que se venceram até à reparação integral dos prejuízos causados (pedido
condenatório). Quanto à causa de pedir a relação material controvertida é um contrato de fornecimento
celebrado entre as partes, que foi incumprido, alegadamente, pela Maia Som, Lda

Pergunta 2 – Qual forma de processo segue a presente ação?


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Tínhamos uma ação declarativa de condenação e, por isso, estava em causa o artigo 10º nº3
alínea b) do CPC.
Há dois artigos muito importantes em relação à forma do processo – artigos 546º e 548º do
CPC. O artigo 546º do CPC diz que o processo pode ser comum ou especial, sendo que o especial está
previsto expressamente por lei (artigos 878º e ss. do CPC) e se nada disser aplica-se o processo comum.
O artigo 548º do CPC diz que o processo comum de declaração segue forma única.
Para além disso, o Código do Processo Civil é resultado de uma reforma de 2013. Até esse ano
o processo comum de declaração seguia 3 formas: ordinária, sumária ou sumaríssima. Era através do
valor da ação que se distinguia qual das formas se usava. Entretanto, o código foi alterado em 2013 e
foi dada uma nova redação ao art.548º do CPC. Ora, já não há as 3 formas, mas sim forma única. No
entanto, isso não deixa de fazer com que o código preveja certas exceções para certas ações quanto ao
seu valor. Estas podem estar no próprio código ou fora dele. O maior desvio ao artigo 548º do CPC, e
que está fora do código, é o Decreto Lei nº269/98, de 1 de setembro. Este prevê uma ação especial
para cumprimento de obrigações pecuniárias resultantes de contratos não superiores a 15 mil euros.
Contudo, existem outros desvios, mas presentes no código como os artigos 511º e 597º do CPC.
Não obstante, e considerando o valor da nossa causa – 12.876€ - teríamos de ter algum cuidado
quanto à forma de processo. Podemos comprovar o valor da nossa causa, como sendo 12.876€, através
do artigo 297º nº1 do CPC. Teríamos de ver se face ao valor da causa se era aplicável o Decreto Lei
nº269/98. Este Decreto Lei prevê uma ação especial para o cumprimento de obrigações pecuniárias
não superiores a 15 mil euros, mas resultantes de contrato. Se fosse pelo valor da ação o requisito
estava preenchido, pois era inferior. No entanto, não aplicamos este DL, porque a obrigação de pagar
os 12.876€ não emergiu do programa contratual das partes, resultou antes do incumprimento contratual
por uma das partes – responsabilidade contratual. Assim, a presente ação declarativa de condenação
seria de processo comum seguindo forma única – artigos 546º e 548º do CPC.
Sem prejuízo, vejam-se os artigos 597º e 468º nº5 do CPC. O artigo 468º nº5 diz que “nas
ações de valor não superior a metade da alçada da Relação, a perícia é realizada por um único perito,
aplicando-se o disposto no artigo 467º”. Ou seja, em ações de valor inferior a metade da alçada da
Relação, é obrigatório ser apenas um único perito.
Neste sentido, estudamos este artigo, porque como o valor da ação, que era inferior a 15 mil
euros, seguia o processo comum de forma única, mas com desvios nos termos do artigo 568º nº5 do
CPC, sobretudo no que toca à prova pericial. Há também um desvio quanto à face posterior aos
articulados, segundo o artigo 597º do CPC.
Nota: o valor da alçada do Tribunal da Relação é de 30 mil euros, nos termos do artigo 44º da LOSJ.

Pergunta 3 – Verifica-se a incapacidade judiciária da ré com base no fundamento por ela


invocado?
A capacidade judiciária enquanto pressuposto processual está previsto nos artigos 15 a 29º do
CPC. Contudo, a personalidade jurídica também pode ser entendida como suscetibilidade de estar, por
si, em juízo (artigo 15º nº1 do CPC), tendo por base a capacidade jurídica de exercício de direitos (nº2
do mesmo preceito).
A ré, ao invocar a sua incapacidade judiciária, defendeu-se através da exceção dilatória
(doutrinalmente, designada por exceção processual) – artigos 577º alínea c) 2ª parte do CPC e artigo
578º 1ª parte do CPC.
Na verdade, o facto de a ré ser uma “simples sucursal sem poderes decisórios a nível da
empresa” revelaria não ao nível da sua eventual incapacidade judiciária, mas sim, e antes, da sua
personalidade judiciária – artigos 11º a 14º do CPC.
Artigo 11º do CPC – Conceito e medida da personalidade judiciária
1 - A personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte.
2 - Quem tiver personalidade jurídica tem igualmente personalidade judiciária.
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No entanto, existem casos em que há entidades com capacidade judiciária sem terem
personalidade jurídica, são desvios ao princípio de equiparação. Um desses casos é o artigo 13º do
CPC, onde a lei estende a personalidade judiciária a entidades desprovidas de personalidade jurídica
– sucursais (órgãos de entidades que se descentralizaram).
Artigo 13º do CPC – Personalidade judiciária das sucursais
1 - As sucursais, agências, filiais, delegações ou representações podem demandar ou ser demandadas
quando a ação proceda de facto por elas praticado.
2 - Se a administração principal tiver a sede ou o domicílio em país estrangeiro, as sucursais,
agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal podem demandar e ser
demandadas, ainda que a ação derive de facto praticado por aquela, quando a obrigação tenha sido
contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal.
Ora, aqui não se aplicava o artigo 13º nº1 do CPC, porque o contrato de fornecimento foi
celebrado com a Administração Principal (sediada na Maia). Também não se aplicava o nº2 do artigo
13º do CPC, porque a sede não era no estrangeiro.
Neste sentido, faltava, portanto, personalidade judiciária à sucursal ré para figurar como parte
na ação (não se tratava, pois, de uma questão de incapacidade judiciária, como alegou a ré). Neste
caso, a falta de personalidade judiciária consubstancia uma exceção dilatória sanável.
De que forma a falta era sanada? Ora, através do artigo 14º do CPC, que diz que a
Administração Principal podia ser chamada à ação. Deste modo, dá-se hipótese às partes para que
procedam ao saneamento da exceção dilatória em causa, no despacho pré-saneador (artigo 590º nº2
alínea a) do CPC), que ocorre quando da fase da gestão inicial do processo. Nos termos do artigo 6º
nº2 do CPC, o juiz deve promover todas as diligências para que se proceda à regularização da instância.
Deve o tribunal proceder à citação da Administração Principal, para que esta, chamada à ação, ratifique
o processado ou não o fazendo, este se repita desde o início.
Caso a falta não seja sanada e, portanto, falte um pressuposto processual, haveria absolvição
do réu. Assim, o juiz irá conhecer da exceção dilatória (por falta de personalidade jurídica) no
Despacho Saneador (artigo 595º nº1 alínea a) do CPC), julgando-a procedente: “conhecer das
exceções dilatórias e nulidades processuais que hajam sido suscitadas pelas partes, ou que, face aos
elementos constantes dos atos, deva apreciar oficiosamente”.
Nota: a propósito do artigo 590º do CPC, em regra, não há despacho liminar. No entanto, a lei pode
prever despachos liminares, como o exemplo do artigo 226º nº4 do CPC.

Pergunta 4 – A circunstância de a autora se encontrar em liquidação interfere com a legitimidade


ativa para ação em curso?
A questão de estar ou não em liquidação não suscitava problemas ao nível da legitimidade da
autora, mas sim ao nível da personalidade judiciária.
A noção de sociedade de liquidação encontra-se prevista no Código das Sociedades
Comerciais. Uma sociedade considera-se em liquidação logo que se considere dissolvida, tal como
consta do artigo 146º do CSC.
Quando é que uma sociedade se dissolve? Mal seja declarada a sua insolvência e se decida pela
liquidação da sociedade. Quanto às causas de dissolução imediata da sociedade, vejam-se os artigos
141º e ss. do CSC. Ora, é diferente uma sociedade estar dissolvida ou estar extinta. Quando se
considera uma sociedade extinta? Segundo o artigo 160 do CSC, quando se procede ao registo do
encerramento definitivo da liquidação.
No caso estamos perante uma sociedade em processo de liquidação (já havia sido dissolvida,
mas ainda não estava extinta, por referência ao artigo 160º nº2 do CSC). A sociedade em liquidação
mantém a sua legitimidade ativa para ser parte na ação? A sociedade era titular de um contrato de
fornecimento independentemente de agora estar em liquidação, ou seja, é titular da relação material
controvertida. Assim sendo, isto não interfere com a sua legitimidade.
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A verdade é que a questão não é de legitimidade, mas sim de personalidade judiciária. Assim,
o importante é saber se a sociedade mantém a sua personalidade judiciária para ser parte de uma ação,
sendo que se encontra em liquidação. Nos termos do artigo 146º nº2 do CSC, a sociedade em liquidação
mantém a sua personalidade jurídica e, por força disso, mantém também a sua personalidade judiciária.

E quando a sociedade se extinguir, pelo registo do encerramento da liquidação? Ora, a


personalidade judiciária cessa, mas, nos termos do artigo 162º do CSC, mesma extinta a sociedade, a
ação irá se manter, porque a sociedade será substituída pelos seus sócios.

Pergunta 5 – Em que fase do processo deve o juiz pronunciar-se sobre a defesa apresentada por
Maia Som, Lda.?
Recordando o que a ré alegou, na contestação: “arguiu a sua (da ré) incapacidade judiciária,
visto tratar-se de uma simples sucursal sem poderes decisórios a nível da empresa, e também a
ilegitimidade da autora, por se tratar de uma sociedade comercial em liquidação, logo, sem poderes
para conduzir o processo”.
Ora, o juiz deve pronunciar-se na fase intermédia do processo, designada de “fase da gestão
inicial do processo”. Ou seja, o conhecimento das modalidades de defesa invocadas pela ré dá-se nesta
fase – artigos 590º a 598º do CPC.
Quanto à questão da alegada falta de capacidade judiciária, já atrás dissemos que tratar-se-ia
de falta de personalidade judiciária (que é uma exceção dilatória, neste caso sanável, devendo o juiz
convidar à sanação quando do despacho pré-saneador e conhecer, afinal, no despacho saneador).
Quanto à pretensa ilegitimidade da autora, não se tratava de ilegitimidade, mas sim, a ocorrer,
de falta de personalidade judiciária da sociedade da autora, em liquidação (que não se verifica).
Também seria conhecida pelo tribunal, quando do despacho saneador (artigo 595º nº1 alínea a) do
CPC).

Pergunta 6 – Será possível a sanação de algum dos aspetos em que essa defesa se fundamentou?
Recuperando o que se disse atrás sobre a 1ª modalidade de defesa expedida na contestação
“arguiu a sua (da ré) incapacidade judiciária, visto tratar-se de uma simples sucursal sem poderes
decisórios a nível da empresa (...)”.
Na verdade, o facto de a ré ser uma “simples sucursal sem poderes decisórios a nível da
empresa” relevaria não ao nível da sua eventual incapacidade judiciária, mas sim, e antes, da sua
personalidade judiciária (artigos 11º a 14º do CPC).
Ora, faltava personalidade judiciária à sucursal ré para figurar como parte na ação e, por isso,
não se lhe aplicava o artigo13º do CPC. Estando em falta o pressuposto da personalidade judiciária,
tal consubstancia numa exceção dilatória (neste caso) sanável.
Por via do artigo 14º do CPC, a falta do pressuposto da personalidade judiciária era sanável,
mediante a chamada à ação da Administração Central.
Neste sentido, nos termos do artigo 6º nº2 do CPC, o juiz deve promover todas as diligências
para que se proceda à regularização da instância (artigo 590º nº2 alínea a) do CPC). Deve o tribunal
proceder à citação da Administração Principal, para que esta, chamada à ação, ratifique o processado
ou não o fazendo, este se repita desde o início.
Caso a falta não seja sanada e, portanto, falte um pressuposto processual, haveria absolvição
do réu. Assim, o juiz irá conhecer da exceção dilatória (por falta de personalidade jurídica) no despacho
saneador (artigo 595º nº1 alínea a) do CPC), julgando-a procedente: “conhecer das exceções dilatórias
e nulidades processuais que hajam sido suscitadas pelas partes, ou que, face aos elementos constantes
dos atos, deva apreciar oficiosamente”.

Pergunta 7 – Imagine que a autora moveu a ação contra Artur Marques, gerente de Vox Editora,
Lda. Quais são as partes da ação?
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A autora era a Vox Editora, Lda. e o réu seria o gerente, Artur Marques.
Note-se que não foi intentada ação contra Maia Som, Lda., mas sim contra o gerente da dita
empresa, a título pessoal (não está aqui em representação). Ora, se Artur estivesse em representação,
teríamos uma hipótese de representação orgânica, sendo que a parte era a representada (a sociedade
Maia Som, Lda.).

Pergunta 8 – A ação é admissível?


O Artur Marques não é sujeito na relação material controvertida, tal como foi configurada pela
autora. A autora configurou a relação material entre si e a Maia Som, Lda. – contrato de fornecimento.
Assim, aqui, Artur, não estava a atuar como representante da empresa, pelo que se verifica a
existência de uma exceção dilatória (doutrinalmente, designada por exceção processual), por falta de
legitimidade passiva.
Neste sentido, Artur deveria ser absolvido da instância, porque a exceção dilatória era
insanável, nos termos do artigo 278º nº1 alínea d) do CPC.

CASO PRÁTICO Nº5


Pergunta 1. Caracterize os elementos fundamentais da causa
Quando se fala dos elementos fundamentais da causa refere-se aos elementos delimitares do
objeto do processo, ou seja, pedido, partes e causa de pedir.
As partes nesta ação são Confeções, T. Lda. (autora) e Unixa, S.A (ré). A este propósito, é
importante ver o artigo 30º nº3 do CPC, onde se fala dos “sujeitos da relação controvertida, tal como
é configurada pelo autor”. Neste sentido, a autora identificou como ré a Unixa, S.A. No entanto, por
vezes, a autora pode configurar mal os sujeitos da relação material, porque uma coisa é como a autora
indica (legitimidade processual – artigo 30º nº3 do CPC), outra coisa é saber se essa identificação dos
sujeitos foi bem feita (legitimidade material).
O tribunal apurou perante a prova produzida que os sujeitos da relação material controvertida
(no contrato) eram, na verdade, Confeções, T. Lda. (autora) e outra sociedade que não a indicada pela
autora. Assim, os sujeitos da relação material controvertida, segundo apurado pelo tribunal, após
produzida prova, eram Confeções, T. Lda. (autora) e Vortex, S.A., sociedade espanhola (ré).
Quanto ao pedido, a autora pedia que a ré fosse condenada ao pagamento de 134.738,00€, ao
qual acrescem juros de mora contados à taxa legal, a partir da citação da ré e até ao pagamento integral
do montante da condenação.
Quanto à causa de pedir, temos de olhar para os factos essenciais que suportam a pretensão da
autora, ou seja, saber qual era a relação material controvertida. Estes factos remetiam-se ao contrato
de fornecimento celebrado entre as partes, que foi incumprido, alegadamente pela Unixa, S.A.

Pergunta 2. A absolvição da instância fundada na ilegitimidade processual pode ter lugar na


sentença final ou deve essa decisão ser proferida em fase processual anterior?
Sim, pode conhecer-se da falta de legitimidade processual na sentença, nos termos do artigo
608º nº1 do CPC. Mas será que estávamos perante um problema de falta de legitimidade processual?
Ora, o tribunal decidiu mal, porque estava em causa a falta de legitimidade material e não a falta de
legitimidade processual como este indicou.
A legitimidade processual é o verdadeiro pressuposto processual (artigos 30º a 39º do CPC).
Ora, a defesa da ré consubstanciou, no entender do tribunal, uma defesa por exceção dilatória (artigo
577º alínea e) do CPC), de conhecimento oficioso (artigo 578º 1ª parte do CPC). Neste caso, a falta de
legitimidade é insanável e, por força disso, absolveu a ré da instância (artigo 278º nº1 alínea d) do
CPC).
Contudo, o tribunal decidiu mal, porque não estava em causa a legitimidade processual. Assim,
a ré tem legitimidade processual, pois que, nos termos do artigo 30º nº3 do CPC, se diz que “Na falta
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de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do interesse relevante para o efeito da
legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal é configurada pelo autor”.
Mas será que a ré tinha legitimidade material? A legitimidade material respeita quem são,
efetivamente, os sujeitos da relação material controvertida. Ora, na legitimidade material determina -
se, nos termos das regras do direito, quem são efetivamente os sujeitos. Já na legitimidade processual
é a autora quem identifica os sujeitos da ação.
O tribunal chega à conclusão de que as partes desta ação são a autora e a sociedade espanhola.
Portanto, ainda que a ré tenha legitimidade processual (indicada pela autora), não tinha legitimidade
material e isso ficou demonstrado pela prova produzida (contrato de fornecimento).
Com efeito, e sendo um problema de falta de legitimidade material, e não processual, pois que,
conforme configurada a relação material controvertida pela autora, a Unix, S.A era nela sujeito dessa
relação (artigo 30º nº3 do CPC), o tribunal decidiu mal quando absolveu a ré da instância. Isto porque
a absolvição da instância justificar-se-ia em falta de legitimidade processual, que é aqui o pressuposto
processual a que se reporta o artigo 30º do CPC, mas este pressuposto não estava em falta.
Na verdade, o que faltava à ré era legitimidade material por não ser sujeito na relação material
controvertida (conclusão a que o tribunal chegou depois de produzida e valorada a prova). Como tal,
a ré deveria ter sido, integralmente, absolvida do pedido (a legitimidade material articula -se com a
questão de fundo, o mérito, tratando-se de uma condição da ação, ao passo que a legitimidade
processual está no plano da admissibilidade da ação).
Ora, se se tratasse de falta de legitimidade processual (que não é o caso), o tribunal poderia
conhecer dela, em termos meramente abstratos / teóricos, na sentença, nos termos do artigo 608º nº1
do CPC. Ainda que, por regra, o conhecimento das exceções dilatórias e perentórias tem lugar quando
do despacho saneador (artigo 595º nº1 alínea a) do CPC), na fase da gestão inicial do processo (fase
intermédia).
Até porque a existir falta de legitimidade processual seria um caso de ilegitimidade processual
singular, só teria de estar do lado passivo a sociedade espanhola. Assim, não faria qualquer sentido só
se absolver a ré da instância na sentença final, nos termos do artigo 608º nº1 do CPC. Ter-se-ia
admitido a prática de todos os atos processuais, ter-se-ia admitido toda a tramitação processual para
nada!
Note-se que, aqui, não haveria lugar a despacho pré-saneador (com fundamento e para os
efeitos do artigo 590º nº2 alínea a) do CPC), visto que a exceção dilatória, que o tribunal entendeu ter
sido invocada pela ré, a verificar-se, era insanável.
No nosso caso, a exceção dilatória é insanável, mas porque houve um erro na identificação do
lado passivo e trata-se de uma hipótese de ilegitimidade processual singular.
Por último, o facto de a ré ser parte na relação material controvertida é facto constitutivo do
direito da autora (artigo 342º nº1 do CPC), sendo ela quem deve demonstrar este facto, pois se não o
conseguir fazer o seu direito de crédito não existe. Daí que, chegando-se à conclusão pela prova
produzida que tal não se verifica, deve a ré ser absolvida do pedido, pois estava em causa uma falha
da relação material do contrato.
Para estas situações existe um instrumento processual que visa acautelar casos em que o autor
não sabe identificar a contraparte. Assim, se a autora tivesse dúvida sobre quem era parte na relação
material controvertida, poderia recorrer à figura da pluralidade subjetiva subsidiária – artigo 39º do
CPC. Ou seja, a autora formula um pedido contra uma pessoa a título principal e um a título subsidiário
contra outra pessoa. Assim, se se recorresse ao artigo 39º, e depois se viesse a apurar que o sujeito da
relação material controvertida era a ré face ao qual deduziu um pedido subsidiário, já estariam
assegurados os efeitos da ação. Isto é, a ação iria proceder quanto à sociedade espanhola, embora a
outra empresa tivesse sido absolvida do pedido.
Artigo 39º CPC – Pluralidade subjetiva subsidiária
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“É admitida a dedução subsidiária do mesmo pedido, ou a dedução de pedido subsidiário, por autor
ou contra réu diverso do que demanda ou é demandado a título principal, no caso de dúvida
fundamentada sobre o sujeito da relação controvertida”.
Atenção: o artigo 39º do CPC não se aplica a situações em que a legitimidade é plural (exemplo:
litisconsórcio).
Nota: quando há uma falta de legitimidade processual e ela é insanável, a consequência será, à partida,
a absolvição do réu da instância. Por outro lado, quando há falta de legitimidade material, a
consequência é a absolvição do réu do pedido.

Pergunta 3. Como aprecia a decisão do tribunal proferida na sentença?


Conforme referido na pergunta anterior, a decisão do tribunal pela absolvição da ré da instância
foi errada, porque a ré era parte (legítima), ou seja, tinha legitimidade processual, nos termos do artigo
30º nº3 do CPC. Na verdade, o que faltava à ré Unix, S.A. era legitimidade material, pois pela prova
produzida, concluiu-se que não era sujeito da relação material controvertida.
Ora, sendo a qualidade da ré - de sujeito da relação material controvertida - facto constitutivo
do direito de ação da autora caberia a esta o ónus de alegá-lo e demonstrá-lo (artigo 342º nº1 do CC).
Caso se dê por não provado esse facto, a consequência seria a absolvição da ré do pedido, porque o
problema é de mérito.
Em suma, o tribunal esteve mal, não em conhecer a falta de legitimidade processual na sentença
(artigo 608º nº1 do CPC), mas sim a entender que faltava legitimidade processual quando, na verdade,
faltava legitimidade material.

Pergunta 4. Teria UNIX, S.A. interesse processual na interposição de um recurso?


Nos termos do artigo 631º nº1 do CPC, por regra, quem tem legitimidade para recorrer é quem
fica vencido na ação – critério do vencimento. A parte vencida não é sempre o réu ou os réus!! Ora
vejamos, se uma ação improcede a parte vencida é a autora. Para além disso, em algumas situações,
tanto a autora como o réu são partes vencidas.
Artigo 631º - Quem pode recorrer
“1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, os recursos só podem ser interpostos por quem,
sendo parte principal na causa, tenha ficado vencido.”
Repare-se que a ré, na contestação, ao invocar ser mera intermediária no contrato de
fornecimento, concluiu pedindo que fosse absolvida do pedido, tendo sido apenas absolvida da
instância.
Neste sentido, a Unix, S.A teria interesse processual na interposição de recurso, pois que ao ser
absolvida da instância tal origina a formação de um caso julgado meramente formal (artigo 620º do
CPC). Na verdade, a UNIX, S.A não era parte na relação material controvertida e, por isso, deveria ter
sido absolvida do pedido, formando-se um caso julgado material (artigo 619º do CPC).
Em conclusão, a UNIX, S.A teria interesse processual na interposição de recurso (artigo 631º
nº1 do CPC), pois foi parte vencida, no sentido em que foi absolvida da instância, quando o que
pretendia era ser absolvida do pedido.

Pergunta 5. De que forma poderia CONFECÇÕES T, Lda. garantir o efeito útil daquela
concreta ação?
Na ação, a ré foi absolvida da instância erradamente. Assim, depois de transitada em julgado a
decisão proferida, formava-se um caso julgado formal, que não funciona, numa futura ação que venha
a ser interposta, como exceção dilatória de caso julgado (artigo 577º alínea i) do CPC). Isto porque, a
exceção dilatória de caso julgado só pode ocorrer quando se tenha formado um caso julgado material
e não formal.
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Consequentemente, a autora poderia intentar a mesma ação, com a mesma causa de pedir e
formular pedido idêntico, apenas corrigindo quem indicava na parte passiva, aproveitando de certos
efeitos resultantes da 1ª ação – artigo 279º nº2 e 3 do CPC.
Artigo 279º do CPC – Alcance e efeitos da absolvição da instância
“1 - A absolvição da instância não obsta a que se proponha outra ação sobre o mesmo objeto.
2 - Sem prejuízo do disposto na lei civil relativamente à prescrição e à caducidade dos direitos, os
efeitos civis derivados da proposição da primeira causa e da citação do réu mantêm-se, quando seja
possível, se a nova ação for intentada ou o réu for citado para ela dentro de 30 dias a contar do
trânsito em julgado da sentença de absolvição da instância.
3 - Se o réu tiver sido absolvido por qualquer dos fundamentos compreendidos na alínea e) do nº1 do
artigo anterior, na nova ação que corra entre as mesmas partes podem ser aproveitadas as provas
produzidas no primeiro processo e têm valor as decisões aí proferidas.”

CASO PRÁTICO Nº6


Pergunta 1. Analise o pedido, as partes e a causa de pedir
Pergunta 1.1. Como se qualifica o pedido ou os pedidos dirigidos contra o réu?
Estamos perante uma ação de reivindicação, prevista no artigo 1311º do CC. Esta ação é
caracterizada por ter dois pedidos. Por um lado, temos o pedido de reconhecimento do direito de
propriedade, que é uma ação declarativa de simples apreciação, e a condenação do réu à entrega do
imóvel, que é a ação principal e trata-se de uma ação declarativa de condenação. Neste sentido, a ação
de reivindicação é uma ação declarativa de condenação, nos termos do artigo 10º nº3 alínea b) do CPC.
Acessoriamente for formulado um pedido de cancelamento de registo que se encontrava em
favor de G.
Nesta ação temos como autor o F e como réu o G.

Pergunta 1.2. Em que consiste a causa de pedir? Qual o critério seguido pelo legislador na sua
definição? Identifique este elemento da instância na hipótese apresentada.
A causa de pedir, em termos abreviados, é um elemento delimitador do objeto do processo,
sendo a fundamentação de factos (essenciais) do pedido. Ou seja, reporta-se aos factos essenciais /
constitutivos sobre que a pretensão do autor se funda.
Segundo Lebre de Freitas, a causa de pedir “[...] corresponde, grosso modo, ao conjunto de
factos que integram a previsão da norma ou das normas materiais que estatuem o efeito jurídico
pretendido.” (cfr. anotação ao art. 552º do CPC anotado de Lebre de Freitas e Isabel Alexandre) ou
dito de outra forma, “ao núcleo fáctico essencial tipicamente previsto por uma ou mais normas como
causa do efeito de direito material pretendido.” (cfr. pág. 50 do manual “Ação Declarativa Comum”,
de Lebre de Freitas).
O legislador adotou a Teoria da Substanciação (adotada pelo nosso código) que se opõe a
outra que também vale para a causa de pedir que é a Teoria da Individualização. Na Teoria da
Individualização bastaria ao autor identificar o efeito jurídico (por exemplo: ser reconhecido como
proprietário), formular basicamente o pedido. O autor nesta teoria não teria de fundamentar os factos
essenciais que serviam de base ao pedido, ou seja, não teria de explicar por que razão era proprietário
(por usucapião, por exemplo).
Nos termos do artigo 552º nº1 alínea d) do CC aplica-se a Teoria da Substanciação, onde para
além de formular o pedido ou pedidos, identificarmos o efeito jurídico, temos de fundamentá -lo,
partindo de factos essenciais. Para além disso, temos de fundamentar de facto e de direito o pedido.
Neste sentido, a causa de pedir, ao ser este conjunto de factos essenciais que fundamenta o pedido ou
pedidos, exerce uma função concretizadora do pedido.
No nosso caso prático, o autor formula o pedido e também o fundamenta, pois diz que é
proprietário com base na usucapião.
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Esta ação de reivindicação discute matéria dos direitos reais, o reconhecimento do direito de
propriedade do bem imóvel. Nos termos do artigo 581º nº4 do CPC, existe um pormenor nas ações
reais onde se diz que “nas ações reais, a causa de pedir é o facto jurídico de que deriva o direito
real”. Aqui o facto jurídico é a usucapião.
Assim, cabia ao autor alegar os factos tendentes a demonstrar a aquisição daquele prédio por
usucapião (artigo 1287º e ss. do CC). A usucapião é um facto aquisitivo originário.
Pergunta 1.3. Como se qualifica a presente ação: petitória ou possessória?
Esta ação de reivindicação é uma ação petitória (classificação referida por Pires de Lima e
Antunes Varela), porquanto se pede a restituição / entrega da coisa com base na titularidade do direito
de propriedade pelo autor.
Assim, na ação petitória pretende-se a defesa da posse invocando-se a propriedade dessa coisa.
Já a ação possessória tem “[...] por único fim a protecç ão da posse; não protegem o próprio direito;
permitem ao possuidor obter do juiz que ponha fim à perturbaç aõ , sem ter de averiguar se o
demandante é titular do direito real que exerce.”

Pergunta 2. Qual a fase do desenvolvimento da ação em que se integra o despacho proferido a


25/9/2019? Que função lhe está destinada dentro da instância?
O despacho foi proferido na fase intermédia do processo que se denomina por “fase da gestão
inicial do processo e da audiência prévia” – artigo 590º e ss. do CPC. Doutrinalmente, esta fase
designa-se por “fase de condensação e saneamento do processo”. A fase anterior a esta referida é a
fase dos articulados.
Nesta fase, o juiz assume um papel de direção do processo e apura-se da regularidade da
instância e identificam-se as questões de facto e de direito em causa, sobretudo no contexto da
audiência prévia e nos despachos que se seguem a esta fase, despacho saneador e despacho de
identificação do objeto do litígio e identificação dos temas da prova (artigo 596º do CPC).
Neste sentido, a fase da gestão inicial do processo inicia-se com o despacho pré-saneador
(artigo 590º nº2 do CPC) e termina com o despacho saneador (artigo 595º do CPC) ou, prosseguida a
ação para julgamento, termina com o despacho previsto no artigo 596º do CPC.
No caso prático temos um despacho pré-saneador, onde se concretiza uma das funções desta
fase da gestão inicial do processo, que é a tentativa da regularização da instância.

Pergunta 3. Como se determina a legitimidade ativa na ação sob análise?


A legitimidade em causa era a processual, que é pressuposto processual (artigos 30 a 39º do
CPC). Como se apura a legitimidade processual? Apura-se com o que foi alegado pelo autor na petição
inicial. Nessa alegação, o autor terá identificado os sujeitos da relação material controvertida (artigo
30º nº3 do CPC).
Estamos perante uma ação de reivindicação (artigo 1311º do CC), nos termos da qual “O
proprietário pode exigir judicialmente de qualquer possuidor ou detentor da coisa o reconhecimento
do seu direito de propriedade e a consequente restituiç ão do que lhe pertence.”
Ou seja, tem legitimidade processual ativa quem invoca a condição de proprietário. Na petição
inicial o autor invoca essa condição de proprietário, logo tem legitimidade processual.

Pergunta 4. Em que termos se afere a legitimidade passiva, quanto ao pedido de condenação


formulado por F?
Considerando, o disposto no artigo 1311º do CC, a legitimidade passiva caberá àquele que,
segundo a alegação do autor, se afigure possuidor ou detentor da coisa. Assim, vista a alegação do
autor, quem estava na posse da coisa era o réu, G. Deste modo, quem tinha legitimidade passiva era
G.
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G alega que quem devia estar na parte passiva era H. No entanto, H não estava no uso do
imóvel, logo não era possuidor nem detentor. Ou seja, não exerce poderes de facto sobre o imóv el.
Assim, o que alega G é errado.
Nota: A ação de reivindicação pode ser proposta contra o possuidor ou contra detentor da coisa.
Consoante, nós autores façamos uma ou outra coisa, discutir-se-ia nesta ação questões diferentes. Ora,
se instaurarmos esta ação contra o possuidor, o tribunal vai discutir a restituição da coisa e a
propriedade sobre a coisa (quem é o proprietário). Se, por outro lado, for apenas contra o mero detentor
da coisa (aquele que exerce poderes de facto sobre a coisa, mas não enquanto proprietário nem com a
intenção de o ser) o tribunal apreciaria apenas somente a restituição da coisa, sem discutir sobre quem
é o proprietário da mesma.

Pergunta 5. A contestação apresentada por G altera o modo como deve ser aferida a sua
legitimidade para a ação?
Na contestação, G alega que não tem legitimidade passiva, quem a tem é H. Contudo, isto não
altera a legitimidade passiva para este ser réu. Nos termos do artigo 1311º do CC, juntamente com o
artigo 30º nº3 do CPC, a legitimidade cabe ao possuidor ou detentor da coisa e H não era uma coisa
nem outra, pois não exerce poderes de facto sobre a mesma.
Na contestação, G introduz novos elementos que permitem o ingresso de uma nova parte na
ação, H. Contudo, não assiste razão a G, dado que H não tem legitimidade enquanto parte principal.

Pergunta 6. Perante os termos em que a questão se apresenta após a contestação, que incidente
de intervenção principal se mostra adequado para acautelar os direitos que G refere no seu
articulado de defesa? De que mecanismo ou mecanismos processuais dispõe G para assegurar os
direitos que invoca na contestação?
O que alegou G na sua contestação? Recordando, “adquir[iu] validamente a H o referido
imóvel, mediante escritura pública (art. 875º CC) lavrada em 20 de novembro de 2018, pelo qual
pagou o preç o de € 225 600, 00, mostrando-se efetuado a favor do adquirente o registo da
propriedade. Por conseguinte, a aç ão devia ter sido proposta contra a pessoa que vendeu o prédio ao
R., ou seja, contra o indicado H, uma vez que foi este quem invocou a qualidade de proprietário do
imóvel em questão, conforme se alcanç a do teor da escritura pública junta à contestaç ão e que faz
prova plena quanto a esse facto. Logo, o R. (G) devia ser absolvido da instância, visto a legitimidade
passiva pertencer a H, pois, no caso de aç ão proceder, é sobre ele que recai a obrigaç ão de restituir
ao comprador (G) o preç o recebido (art. 894º nº1 CC) e o dever de indemnizá-lo dos prejuízos
causados (art. 898º a 900º CC).”
Ora, H não era possuidor nem detentor da coisa, não tendo legitimidade processual. Assim, não
pode ser chamado à ação como parte principal. No entanto, também existem partes acessórias, que são
partes que não tem legitimidade para serem partes principais.
Assim, H pode ser chamado como parte acessória, sendo deduzido o incidente da intervenção
acessória provocada, pois era uma das partes que o chamava (artigos 321º e ss. do CPC), de modo que
a sentença vincule H, chamado, que assume a posição de “assistente” (artigo 332º ex vi artigo 323 nº1
e 4 do CPC). Assim, e caso a ação proceda, o G, estando H na ação enquanto chamado / assistente,
poderá opor-lhe o caso julgado que se forme, que será relevante para efeitos de responsabilidade civil
do H por danos causados a G (isto é igual ao exercício de direito de regresso do G sobre o H).
Artigo 321º nº1 do CPC: “O réu que tenha ação de regresso contra terceiro para ser indemnizado
do prejuízo que lhe cause a perda da demanda pode chamá-lo a intervir como auxiliar na defesa,
sempre que o terceiro careça de legitimidade para intervir como parte principal.”
Muitas vezes os meios de defesa da parte acessória estão condicionados à ação processual da
parte principal, por isso é que é acessório, pois não tem os mesmos poderes que uma parte principal.
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Nota: estamos perante o chamamento acessório do H, que foi provocado. No entanto, a parte acessória
vai ter o estatuto de assistente, mesmo tendo sido chamado para ação, tal como acontece se ele se
voluntariasse para ser parte acessória da ação.

Pergunta 7. Qual o prazo de que G dispõe para a respetiva dedução?


O prazo que G tem para chamar o H como parte acessória à ação está disposto no artigo 322º
nº1 do CPC, H seria chamado na própria contestação. Se G não apresentasse contestação, podia
apresentar um requerimento autónomo no mesmo prazo. Por regra, o prazo é de 30 dias após a citação,
tal como consta no artigo 569º nº1 do CPC.
Artigo 322º nº1 do CPC: “O chamamento é deduzido pelo réu na contestação ou, não pretendendo
contestar, em requerimento apresentado no prazo de que dispõe para o efeito, justificando o interesse
que legitima o incidente.”
Artigo 569º nº1 do CPC: “O réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da citação, começando
o prazo a correr desde o termo da dilação, quando a esta houver lugar; no caso de revogação de
despacho de indeferimento liminar da petição, o prazo para a contestação inicia-se com a notificação
em 1.ª instância daquela decisão.”

Pergunta 8. Que apreciação lhe merece a análise do problema da legitimidade passiva feita no
mencionado despacho de 25-09-2019 e a solução que lhe foi dada?
Recordando:
“Em despacho proferido no dia 25 de setembro de 2019, o Tribunal suspendeu a instância e
ordenou à secretaria que promovesse a citação de H para vir ao processo ocupar a posição de co-réu,
junto de G.
Na fundamentação desse despacho invoca-se, como argumento central, que o caso presente
envolve, do lado passivo, uma situação de litisconsórcio necessário resultante de a decisão a proferir
só poder regular definitivamente as questões da validade da venda, da restituição do preço e da
indemnização se G e H ocuparem simultaneamente a posição de Réus.”
Resolução:
A decisão do tribunal vertida no despacho padece de diferentes vícios.
Ora, não haveria litisconsórcio necessário passivo, porquanto, o lado passivo estaria perfeito /
completo, apenas com a presença do possuidor ou mero detentor da coisa, sendo G possuidor. Tanto
mais que H não tinha legitimidade processual para ser parte (principal), dado que não era possuidor,
nem detentor da coisa. Caso H fosse chamado como corréu, isso pressuponha uma legitimidade plural.
Acresce que, mesmo que H tivesse legitimidade processual para intervir como parte principal,
e estivesse em causa um litisconsórcio necessário passivo (que não está), não poderia o tribunal ordenar
à secretaria que promovesse a citação de H. Tal iniciativa tem de provir das partes.
A ilegitimidade de H, por preterição de litisconsórcio necessário passivo (a verificar-se, que
não se verifica no caso), consubstanciaria uma exceção dilatória sanável, por intervenção / iniciativa
das partes (e não de sanação oficiosa). Assim, nos termos do artigo 6º nº2 do CPC, o tribunal deveria
convidar as partes a regularizar a instância, ou seja, existindo uma legitimidade plural passiva, o autor
chamava o H. Este convite ao suprimento da falta de pressuposto processual devia ocorrer no despacho
pré-saneador, mas não era o tribunal oficiosamente que devia ordenar que o H fosse citado, mesmo
que existisse uma legitimidade plural passiva, precisava da colaboração da parte interessada.
Sublinhe-se ainda que, por meio desta ação de reivindicação, não se discutiriam questões como
a restituição do preço pago por G a H e a indemnização devida por H, mesmo que estivesse na ação
como parte acessória. São questões que extrapolam o efeito jurídico prosseguido pela ação de
reivindicação. Ou seja, o caso julgado que se forma é delimitado pela causa de pedido, pelos factos
essenciais desta, que não se confundem com a relação que tem de existir entre o G e o H.
Qual é o interesse do G que H fosse chamado à ação? É que o caso julgado que se forme vai
ser oponível no que releva no exercício do direito de regresso. Isto é, H tinha vendido uma coisa alheia,
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se a ação procedesse, o tribunal reconhecia G como proprietário. Assim, estava demonstrado que o H
vendeu algo que era de outrem e também estava demonstrada a culpa e a ilicitude (2 pressupostos do
direito de regresso).
Ora, o tribunal na ação não se vai pronunciar pela restituição do preço nem pelo valor da
indemnização que o H tem de pagar ao G. Essa questão vai ser discutida na ação de regresso. Assim,
era necessário que G interpusesse uma ação contra H.

Pergunta 9. Admitindo que G era menor e que havia sido citado em exclusivo para a ação, que
decisão deveria proferir o tribunal?
Estávamos perante uma questão de menoridade como causa da capacidade jurídica e judiciária
de G. A capacidade judiciária é um pressuposto processual, previsto nos artigos 15º e ss. do CPC. No
artigo 15º nº2 do CPC prevê-se um princípio da equiparação entre capacidade jurídica e capacidade
judiciária. A capacidade jurídica caracteriza-se por se uma capacidade de exercício de direito. Para
além disso, a menoridade, por regra, é uma causa de incapacidade jurídica em que os menores precisam
de estar representados.
No lugar do G, à partida, deveriam ser citados para ação, nos termos do art.16º do CPC, os pais
que exercessem as responsabilidades parentais - ambos deveriam ser citados (pai e mãe), nos termos
do artigo 16º nº3 do CPC.
Artigo 16º - Suprimento da incapacidade
1 - Os menores e os maiores acompanhados sujeitos a representação só podem estar em juízo por
intermédio dos seus representantes, exceto quanto aos atos que possam exercer pessoal e livremente.
2 - Os menores cujo exercício das responsabilidades parentais compete a ambos os pais são por estes
representados em juízo, sendo necessário o acordo de ambos para a propositura de ações.
3 - Quando seja réu um menor sujeito ao exercício das responsabilidades parentais dos pais, devem
ambos ser citados para a ação.
O facto de a lei exigir, nos termos do artigo 16º nº3, que ambos os pais sejam citados, isso
representa uma situação de litisconsórcio necessário passivo? Não, porque o litisconsórcio define-se
por ser uma pluralidade de partes face a uma única relação jurídica (≠ de coligação – pluralidade de
partes com pluralidade de relações jurídicas). Os pais estão apenas a representar a parte que é o G, a
parte continua a ser o G. O réu é o representado e não os representantes.
Os artigos 27º e 28º também estão relacionados com a capacidade judiciária.
Artigo 27º: Suprimento da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação
1 - A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a intervenção
ou a citação do representante legítimo do incapaz.
2 - Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vício não
existisse; no caso contrário, fica sem efeito todo o processado posterior ao momento em que a falta
se deu ou a irregularidade foi cometida, correndo novamente os prazos para a prática dos atos não
ratificados, que podem ser renovados.
Artigo 28º: Iniciativa do juiz no suprimento
1 - Logo que se aperceba de algum dos vícios a que se refere o artigo anterior, deve o juiz,
oficiosamente e a todo o tempo, providenciar pela regularização da instância.
2 - Incumbe ao juiz ordenar a citação do réu em quem o deva representar, ou, se a falta ou
irregularidade respeitar ao autor, determinar a notificação de quem o deva representar na causa
para, no prazo fixado, ratificar, querendo, no todo ou em parte, o processado anterior, suspendendo -
se entretanto a instância.

CASO PRÁTICO Nº7


Pergunta 1 – Como se qualifica a ação proposta por A contra D, em atenção ao critério utilizado
no artigo 10º nº3 do CPC?
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O A arroga-se titular do direito legal de preferência (tem eficácia real), previsto no artigo 1380º
nº2 alínea a) do CC. Assim, A pretende instaurar uma ação de preferência. No CPC não há uma noção
de ação de preferência e mesmo o CC não apresenta uma noção para todas as ações de preferência. No
entanto, no artigo 1410º do CC ex vi artigo 1380º nº4 do CC temos um exemplo de uma ação de
preferência.
Artigo 1410º nº1 do CC – Ação de preferência
1. O comproprietário a quem se não dê conhecimento da venda ou da dação em cumprimento tem o
direito de haver para si a quota alienada, contanto que o requeira dentro do prazo de seis meses, a
contar da data em que teve conhecimento dos elementos essenciais da alienação, e deposite o preço
devido nos 15 dias seguintes à propositura da acção.
Esta ação classifica-se como uma ação declarativa constitutiva, com efeitos modificativos –
artigo 10º nº3 alínea c) do CPC – cujo objetivo é o de operar uma alteração subjetiva na posição jurídica
de adquirente do imóvel. No caso A quer ser sub-rogado no lugar de D. Assim, esta ação opera uma
sub-rogação pessoal na posição do adquirente.
Podíamos confundir esta ação com uma outra, pois os pedidos formulados eram os pedidos da
ação de reivindicação, que é uma ação declarativa de condenação.
Aparentemente, tínhamos uma oposição entre os pedidos formulados (ação de reivindicação) e
os factos essenciais alegados pelo autor (ação de preferência). Os factos essenciais definem-se pela
causa de pedido. A existir esta oposição a petição inicial seria inepta – artigo 186º nº2 alínea b) do
CPC. Sendo a ineptidão o vício mais grave que afeta a petição inicial, não teríamos este vício, porque
a sua invocação é excecional e olhando para os factos essenciais, nós conseguíamos perceber qual era
efetivamente o objetivo do autor – preferir na venda, ocupar a posição de adquirente.
Só quando face à contradição entre pedidos e causa de pedido, seja impercetível qual o objetivo
do autor, por força desta contradição, é que podemos invocar a ineptidão. Aqui não seria invocável,
pois é possível perceber o objetivo.
O tribunal perante esta aparente contradição podia e devia reagir. O despacho pré-saneador não
serve apenas para suprir a falta de pressupostos processuais, serve ainda para convidar as partes ao
aperfeiçoamento dos articulados – artigo 590º nº2 alínea b) do CPC. Quando a petição inicial seja
inepta, não pode o tribunal fugir a esta e convidar as partes ao aperfeiçoamento dos articulados.
O artigo 1380º nº4 do CC prevê que há direito de preferência entre proprietários de prédios
confinantes, prédios esses que têm de ser de dimensão inferior à unidade mínima de cultura (definida
por portaria e varia consoante as regiões do país).
O fundamento invocado pelo autor para preferir na venda era o artigo 1380º nº2 alínea a) do
CC. Este artigo prevê que sendo vários os preferentes, cabe o direito de preferência com prioridade
àquele que esteja onerado com uma servidão legal de passagem. O artigo 1410º apenas se aplica a
comproprietários, mas por força de remissão do artigo 1380º nº4 também se aplica ao direito de
preferência entre proprietários de prédios confiantes.

Pergunta 2. A que figura processual dá origem a ilegitimidade plural ativa?


A legitimidade processual está prevista nos artigos 30 a 39º do CPC e é um dos pressupostos
processuais. Ora, apenas se fala em ilegitimidade plural ativa quando se tenha preterido um
litisconsórcio (pluralidade de partes face a uma única relação jurídica ≠ coligação) necessário ativo.
Assim, do lado ativo devia existir uma situação de litisconsórcio necessário ativo. Se este falta,
processualmente isto traduz-se numa exceção dilatória (doutrinalmente designada por exceção
processual) – artigo 577º alínea e) do CPC - que era sanável e de conhecimento oficioso (artigo 578º
1ª parte do CPC). No entanto, não é de sanação oficiosa, pois carece da vontade das partes em
regularizar a instância, chamando quem nela falte, ou seja, através do incidente de intervenção de
terceiros – artigo 261º nº1 CPC.
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Ora, não se trata de uma sanação oficiosa, pois não é o tribunal que cita quem falta, apenas
convida as partes a regularizarem a instância quando toma conhecimento da exceção dilatória, nos
termos do artigo 590º nº2 alínea a) do CPC e artigo 6º nº2 do CPC.
Se esta falta não for sanada, o tribunal ao conhecer da exceção dilatória no despacho saneador
– artigo 595º nº1 alínea a) do CPC - deveria julgar a exceção procedente, absolvendo o réu da instância
– artigo 278º nº1 alínea d) do CPC.
Desta decisão, da absolvição do réu da instância proferida no despacho saneador, colocar-se-ia
um fim na ação, cabendo recurso de apelação autónomo ao tribunal da relação – artigo 644º nº1 alínea
a) do CPC.

Pergunta 3. Se não houver recurso da decisão proferida no despacho saneador, que tipo de caso
julgado se produz?
Da decisão de conhecimento da exceção dilatória por falta de legitimidade plural ativa,
proferida no despacho saneador, de procedência da referida exceção, poderia recorrer-se para o
Tribunal da Relação, por via de um recurso de apelação autónomo, nos termos do artigo 644º nº1 alínea
a) do CPC.
Se não se interpusesse recurso, a decisão ao transitar em julgado (artigo 628º do CPC) daria
lugar a um caso julgado formal (artigo 620º do CPC), com força limitada àquele concreto processo,
porquanto a decisão do tribunal incidiu sobre a relação processual (e a sua admissibilidade) e não sobre
o mérito. Isto significa que o autor não fica impedido de propor uma nova ação sobre o mesmo objeto.

Diferentemente, se tivesse existido uma decisão de mérito, transitando esta em julgado, formar-
se-ia um caso julgado material, que produz efeitos dentro e fora daquele processo – artigo 619º do
CPC.
Por regra, não se conhece do mérito no despacho saneador. No entanto, existem exceções,
previstas no artigo 595º nº1 alínea b) do CPC. Nestes casos dá-se o nome de despacho saneador
sentença.

Pergunta 4. Perante os elementos fornecidos, existirá na situação presente ilegitimidade ativa?


Conforme referido anteriormente, o A pretende preferir na venda do prédio rústico que o R
tinha adquirido a C. Tínhamos, portanto, uma ação de preferência, que é uma ação declarativa
constitutiva de efeitos modificativos, pois visa-se uma modificação subjetiva do lado do adquirente –
artigo 1410º do CC aplicado analogicamente.
No entanto, os pedidos formulados pelo A na ação aproximavam-se de uma ação de
reivindicação (artigo 1311º do CC).
Ora, se tivéssemos perante uma ação de reivindicação (que não estamos), não era necessário
que estivessem do lado ativo como autores todos os comproprietários, bastava que um interpusesse a
ação de reivindicação – legitimidade extraordinária.
Aos demais comproprietários, ser-lhes-ia aproveitado o caso julgado quando favorável e, por
isso, estaríamos perante um “caso julgado secundum eventum litis”. No entanto, se não lhes fosse
favorável, o caso julgado não abrangeria os demais comproprietários.
Deste modo, se a ação improcedia, o caso julgado era desfavorável ao autor e, portanto, o caso
não podia ser invocado pelo réu contra os outros comproprietários, porque o desfecho da ação tinha
sido desfavorável. Para que o réu visse definitivamente julgada a ação, deveria chamar os outros
comproprietários, através de incidentes de intervenção principal provocado – artigo 316º do CPC.
No entanto, estamos perante uma ação de preferência com fundamento no artigo 1380º nº2
alínea a) do CC. Ora, resulta do artigo 419º do CC o seguinte:
Artigo 419º do CC: Pluralidade de titulares
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1. Pertencendo simultâneamente a vários titulares, o direito de preferência só pode ser exercido por
todos em conjunto; mas, se o direito se extinguir em relação a algum deles, ou algum declarar que
não o quer exercer, acresce o seu direito aos restantes.
2. Se o direito pertencer a mais de um titular, mas houver de ser exercido apenas por um deles, na
falta de designação abrir-se-á licitação entre todos, revertendo o excesso para o alienante.
Assim sendo, o artigo 419º do CC prevê uma hipótese de litisconsórcio necessário por expressa
previsão legal ativo – artigo 33º nº1 do CPC e artigo 419º nº1 do CC.

Pergunta 5. Se a resposta for afirmativa, que decisão devia proferir o tribunal e em que
momento?
De facto, verificava-se uma situação de legitimidade plural ativa, decorrente de litisconsórcio
necessário (ativo) por expressa previsão legal (artigo 419º nº1 do CC e artigo 33º nº1 do CPC).
Assim, o tribunal podia e devia convidar as partes a sanar a falta do referido pressuposto
processual, regularizando a instância, aquando do despacho pré-saneador (artigo 590º nº2 alínea a) do
CPC que remete para o artigo 6º nº2 do CPC). O despacho pré-saneador, quando proferido, tem lugar
na fase da gestão inicial do processo (e da audiência).
Ora, a falta seria, aqui, sanada por via de um incidente de intervenção de terceiros,
nomeadamente o do artigo 316º nº1 do CPC, pois trata-se de um incidente de intervenção principal
provocada. Neste sentido, veja-se, a propósito, o artigo 318º nº1 alínea a) do CPC, nos termos do qual:
Artigo 318º do CPC: Oportunidade de chamamento
1 - O chamamento para intervenção só pode ser requerido:
a) No caso de ocorrer preterição do litisconsórcio necessário, até ao termo da fase dos articulados,
sem prejuízo do disposto no artigo 261º;
Poderia, ainda, tentar sanar-se a falta (por preterição de litisconsórcio necessário ativo) por via
de um outro incidente de intervenção de terceiros, a saber o incidente de intervenção principal
espontânea – artigo 311º do CPC.

Artigo 311º do CPC – Intervenção de litisconsorte


Estando pendente causa entre duas ou mais pessoas, pode nela intervir como parte principal aquele
que, em relação ao seu objeto, tiver um interesse igual ao do autor ou do réu, nos termos dos artigos
32º, 33º e 34º.
O momento para proferir decisão sobre a falta ou não da legitimidade processual ativa seria no
despacho saneador, conforme atrás referido – artigo 595º nº1 alínea a) do CPC.
Ora, se houvesse lugar, nesta ação, a despacho liminar – artigo 590º nº1 e artigo 226º nº4 alínea
d) do CPC – deveria suspender-se a instância e caso não fosse regularizada, proferir-se-ia despacho de
indeferimento liminar. Quanto a este despacho veja-se o artigo 629º nº3 alínea c) do CPC.

Pergunta 6. Não houve recurso do despacho saneador em que D foi absolvido da instância. Será
ainda possível a regularização do pressuposto processual que o tribunal considerou encontrar-
se em falta?
Ora, o que aconteceu foi que correu o prazo para se interpor recurso e nenhuma das partes o
interpôs. Quando isto ocorre forma-se um caso julgado formal, pois o despacho saneador conhecia da
falta de um pressuposto processual – artigo 620º do CPC.
Não obstante este caso julgado formal, é possível regularizar o pressuposto em falta? Sim,
através de um regime específico para estes casos – artigo 261º do CPC – porquanto está em causa a
preterição de um litisconsórcio necessário. Não se aplica o artigo 261º nº1 do CPC, mas sim o artigo
261º nº2 do CPC, porque a decisão proferida no despacho saneador, da qual não se interpôs recurso,
já teria transitado em julgado.
Artigo 261º do CPC – Modificação subjetiva pela intervenção de novas partes
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1 - Até ao trânsito em julgado da decisão que julgue ilegítima alguma das partes por não estar em
juízo determinada pessoa, pode o autor ou reconvinte chamar essa pessoa a intervir nos termos dos
artigos 316.º e seguintes.
2 - Quando a decisão prevista no número anterior tiver posto termo ao processo, o chamamento pode
ter lugar nos 30 dias subsequentes ao trânsito em julgado; admitido o chamamento, a instância extinta
considera-se renovada, recaindo sobre o autor ou reconvinte o encargo do pagamento das custas em
que tiver sido condenado.

Pergunta 7. Como se caracteriza a legitimidade processual prevista no artigo 1405º nº2 do CC?
O tribunal considerou que que por analogia se podia aplicar o artigo 1405º nº2 do CC. Ora, este
artigo diz que “Cada consorte pode reivindicar de terceiro (ação de reivindicação – artigo 1311º do
CC) a coisa comum, sem que a este seja lícito opor-lhe que ela lhe não pertence por inteiro”. Este
artigo não prevê um litisconsorte necessário ativo, mas sim que cada consorte pode por si revindicar a
coisa comum, não tendo de estar todos os comproprietários do lado ativo.
Neste sentido, temos uma legitimidade extraordinária, porque alguém, um dos
comproprietários da coisa, que é um dos titulares da posição jurídica, pode sozinho revindicar a coisa
comum.

Pergunta 8. Quais limitações decorrem dessa legitimidade, no que respeita à eficácia da decisão
final de mérito?
O artigo 1405º nº2 prevê um caso de legitimidade extraordinária e, por isso, se fosse uma ação
de reivindicação cada um dos comproprietários podia revindicar a coisa sozinho.
Imaginando que eram 5 comproprietários e só um deles era autor. Se a ação procedesse, o
desfecho desta ação era favorável ao autor e também aos restantes comproprietários que não estavam
na mesma. Se a ação improcedesse, o caso julgado não podia ser aplicado aos restantes
comproprietários que não estavam na ação.
Isto é uma hipótese de caso julgado “secundum eventum litis” – o caso julgado só seria oponível
pelos terceiros comproprietários que não tinham estado na ação se o desfecho fosse favorável. Se o
desfecho da ação fosse desfavorável ao comproprietário autor, o que acontecia era que o réu não podia
opor o caso julgado aos demais comproprietários que não tinham estado na ação.

Pergunta 9. Terá sido correta a invocação do argumento da analogia para nele se fundamentar
a inexistência do litisconsórcio necessário ativo?
Neste despacho saneador, o tribunal entendeu que o A podia estar sozinho na ação,
fundamentando a decisão na aplicação analógica do artigo 1405º nº2 do CC.
Recordando que estávamos perante uma ação de preferência e não de reivindicação, aplicar -
se-ia o artigo 419º nº1 do CC, que prevê um litisconsórcio necessário ativo por expressa previsão legal.
Ora, o artigo 1405º nº2 do CC aplica-se expressamente a uma ação de reivindicação, onde se
verifica uma hipótese de legitimidade extraordinária. Neste sentido, justifica-se a aplicação analógica?
Havia alguma lacuna a suprir? Não.
Deste modo, a aplicação analógica do artigo 1405º nº2 do CC a este caso era errada, porque
não havia nenhuma lacuna e exigia-se um litisconsórcio necessário ativo, quanto à ação de preferência.
Segundo a ação de preferência era necessário que o A e o B estivessem em simultâneo no lado ativo.
Assim, imponha-se um litisconsórcio necessário ativo e existe um artigo que expressa isso mesmo,
artigo 419º do CC.

Pergunta 10. Que tipo de ilegitimidade estava em causa? Que fundamento legal se podia invocar
nesse sentido?
Esta foi uma questão que sempre levantou dúvidas na jurisprudência e na doutrina, mas foi
sempre consensual que pelos menos do lado passivo tem de estar o adquirente da coisa, como réu. Isto
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é assim, porque numa ação de preferência o autor pretende ocupar a posição do aquirente da coisa. Já
quanto ao vendedor é que surgiam dúvidas.
No entanto, segundo a doutrina maioritária, tanto o adquirente como o vendedor têm de estar
do lado passivo da ação – litisconsórcio necessário passivo. Estes autores entendem que o vendedor
está obrigado a notificar para preferência, neste caso, o autor e daí que a jurisprudência entenda que o
vendedor também tem de ser chamado à ação como réu.
Esta conclusão é possível e fundamentada através do Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
de 14.05.1991, processo nº079701, onde se refere: “II - Nas acç oẽ s de preferência existe litisconsórcio
necessário passivo, uma vez que o alienante tem de ser demandado por ser ele o autor do facto ilícito
de que deriva o exercício da acç ão de preferência, e o adquirente deve também ser demandado por
ter já o imóvel na sua esfera patrimonial através da escritura publica”.
Ora, no mesmo sentido, entre outros, o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de
29.06.2006, processo nº0633488 menciona que: “Numa acç ão de preferência existe um litisconsórcio
necessário passivo entre o alienante e o adquirente”.

CASO PRÁTICO Nº8


Pergunta 1.
A competência é um pressuposto processual e para resolvermos este tipo de casos, competência
interna – artigos 37º nº1 e 38º da LOSJ -, temos de olhar para 4 critérios de competência:
1) competência em razão da hierarquia – artigos 67º a 69º do CPC e artigos 33º e 42º da LOSJ
2) competência em razão da matéria – artigos 64º e 65º do CPC e artigos 40º, 81º, 111º a 116º e
117º da LOSJ
3) competência em razão do valor da causa – artigo 66º do CPC e artigo 41º da LOSJ
4) competência em razão do território – artigos 70º e ss. do CPC e artigo 43º da LOSJ
1) Normalmente, a competência mais fácil de apurar é a competência em razão da hierarquia,
porque as ações cíveis dão entrada num tribunal judicial de 1ª instância.
2) Quanto à competência em razão da matéria temos várias particularidades. Podemos ter
tribunais de comarca ou tribunais de competência territorial alargada. Os tribunais de comarca estão
divididos em juízos de competência especializada, juízos de competência genética e juízos de
proximidade – artigo 81º nº1 da LOSJ. Ora, os juízos de competência especializada estão previstos na
LOSJ no artigo 81º, em específico no nº3 e, nos termos deste artigo, podemos ter o juízo central cível,
juízo local cível, juízo de família e menores, juízo de trabalho, juízo de comércio e juízo de execução.
O professor Lebre de Freitas e outros autores fazem uma pequena distinção em relação a estes
juízos. Ora, dizem que existem juízos de competência puramente especializada e juízos que sendo de
competência especializada não são puramente especializados. Dos mencionados acima não são
puramente especializados os juízos de central e local cíveis.
Face a esta ação do caso prático qual seria o tribunal competente? Dos juízos do artigo 81º nº3
importaria ver o juízo central ou local cível, pois seriam os mais prováveis para aplicar neste caso.
Para sabermos qual o juízo aplicar teríamos de ver os artigos 117º e 130º LOSJ. Nos termos do artigo
117º nº1 da LOSJ são necessários 2 requisitos cumulativos para o juízo central cívico ser competente:
 ação ser processo comum
 ter simultaneamente um valor superior a 50 mil euros
Primeiramente temos de saber distinguir processos comuns de especiais e depois a segunda
dificuldade é saber como se determina o valor de uma ação.
A ação declarativa do nosso caso prático seguia o processo comum. Para além disso, esta ação
teria o valor de 52 mil euros, pois está prevista uma quantia pecuniária (quantia mutuada entre as duas
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pessoas) então, esta ação teria o valor definido pelo artigo 297º nº1 do CPC. Neste sentido, estavam
preenchidos os 2 requisitos para que o juízo central fosse competente.
3) Em relação à competência em razão do valor da causa só é relevante quando estivermos em
dúvida entre o juízo central cível e o juízo local cível.
4) Os artigos relevantes em relação à competência em razão do território são os 70º e ss. do CPC,
mas nem todas as regras desta competência estão no CPC. Há uma norma especial da competência em
razão territorial quando estejamos perante uma ação para cumprimento de obrigações pecuniárias –
artigo 71º do CPC. Nos termos do artigo 71º nº1 1ª parte do CPC, é competente o tribunal do domicílio
do réu. O artigo 71º nº1 2ª parte confere uma opção ao autor que depende de alguns requisitos.
Por fim, recorrendo ao Decreto Lei 49/2014, teríamos de ir ao Tribunal da Comarca do Porto
e ver se existia algum juízo central cível que abrangesse o Porto. Assim, o tribunal competente para
este caso era o juízo central cível do Porto do Tribunal Judicial da Comarca do Porto.

Pergunta 2.
A competência é um pressuposto processual e para resolvermos este tipo de casos, competência
interna – artigos 37º nº1 e 38º da LOSJ -, temos de olhar para 4 critérios de competência:
1) competência em razão da hierarquia – artigos 67º a 69º do CPC e artigos 33º e 42º da LOSJ
2) competência em razão da matéria – artigos 64º e 65º do CPC e artigos 40º, 81º, 111º a 116º e
117º da LOSJ
3) competência em razão do valor da causa – artigo 66º do CPC e artigo 41º da LOSJ
4) competência em razão do território – artigos 70º e ss. do CPC e artigo 43º da LOSJ
Em relação à competência por razão da hierarquia são competentes os tribunais judiciais de 1ª
instância.
Quanto à competência em razão da matéria temos várias particularidades. Podemos ter
tribunais de comarca ou tribunais de competência territorial alargada. Os tribunais de comarca estão
divididos em juízos de competência especializada, juízos de competência genética e juízos de
proximidade – artigo 81º nº1 da LOSJ. Ora, os juízos de competência especializada estão previstos na
LOSJ no artigo 81º, em específico no nº3 e, nos termos deste artigo, podemos ter o juízo central cível,
juízo local cível, juízo de família e menores, juízo de trabalho, juízo de comércio e juízo de execução.
No nosso caso estava em causa um tribunal judicial de comarca, em concreto um juízo de competência
especializada: juízo de família e menores – artigo 81º nº3 alínea g) da LOSJ e artigo 122º nº1 alínea c)
da LOSJ.
Ora, como se trata de um juízo puramente especializado, não releva a competência em razão
do valor da causa.
Quanto à competência em razão do território teríamos de analisar o artigo 72º do CPC e
concluiríamos que o tribunal competente era o do domicílio ou da residência do A, no caso o tribunal
do Porto. Era, portanto, necessário ver o DL 49/2014 e avaliar se existe o juízo de família e menores
no Porto. Uma vez avaliado, o tribunal competente era o Juízo de família e menores do Porto do
Tribunal Judicial da Comarca do Porto.
Contudo, a ação deu entrada no juízo local cível e, por isso, há uma violação em razão da
matéria, porque interpôs-se a ação num juízo de competência especializada, mas não no juízo
puramente especializado que era competente. Neste sentido, temos uma incompetência absoluta do
tribunal – artigo 96º alínea a) do CPC.
Assim sendo, estamos perante uma exceção dilatória de conhecimento oficioso e insanável –
artigos 571º, 576º nº1 e 2, 577º alínea a) e 578º 1ª parte todos do CPC – que conduziria à absolvição
do réu da instância – artigo 578º nº1 alínea a) do CPC -, formando-se um caso julgado formal – artigos
279º e 620º do CPC.
Nota: o juízo local cível do Porto só poderia, no limite, ser competente para apreciar a ação caso
inexistisse juízo de família e menores na comarca do Porto e, mesmo nesse caso, por exclusão do artigo
117º nº1 alínea a) parte final da LOSJ. Isto acontece porque o juízo local cível é subsidiário – artigo
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130º da LOSJ. Quanto à forma de processo da ação, vejam-se os artigos 931º e 932º do CPC e, ainda,
quanto ao valor da ação, o artigo 303º nº1 do CPC (30.000,01€). Assim o valor da ação de divórcio
era inferior ao requisito para estarmos perante um juízo central cível, logo este não se aplicaria.

Pergunta 3.
A competência é um pressuposto processual e para resolvermos este tipo de casos, competência
interna – artigos 37º nº1 e 38º da LOSJ -, temos de olhar para 4 critérios de competência:
1) competência em razão da hierarquia – artigos 67º a 69º do CPC e artigos 33º e 42º da LOSJ
2) competência em razão da matéria – artigos 64º e 65º do CPC e artigos 40º, 81º, 111º a 116º e
117º da LOSJ
3) competência em razão do valor da causa – artigo 66º do CPC e artigo 41º da LOSJ
4) competência em razão do território – artigos 70º e ss. do CPC e artigo 43º da LOSJ
Em relação à competência por razão da hierarquia são competentes os tribunais judiciais de 1ª
instância.
Quanto à competência em razão da matéria temos várias particularidades. Podemos ter
tribunais de comarca ou tribunais de competência territorial alargada. Os tribunais de comarca estão
divididos em juízos de competência especializada, juízos de competência genética e juízos de
proximidade – artigo 81º nº1 da LOSJ. Ora, os juízos de competência especializada estão previstos na
LOSJ no artigo 81º, em específico no nº3 e, nos termos deste artigo, podemos ter o juízo central cível,
juízo local cível, juízo de família e menores, juízo de trabalho, juízo de comércio e juízo de execução.
No nosso caso estava em causa um tribunal judicial de comarca, em concreto um juízo de competência
especializada: juízo de comércio – artigos 81º nº3 alínea i) e 128º nº1 alínea a) da LOSJ.
Relativamente ao valor da causa, não se aplica, porquanto é, materialmente, competente o juízo
de comércio que é um juízo de competência puramente especializada.
Em relação à competência em razão do território, a maior parte das regras consta dos artigos
70º e ss. do CPC. Neste caso, isto não acontece. O próprio CIRE (Código de Insolvência e Recuperação
de Empresas) apresenta no seu artigo 7º nº1 uma norma especial para estes casos, dizendo que o
tribunal competente é o da sede ou do domicílio do devedor. A devedora neste caso é a sociedade
comercial que tinha sede na Maia.
Deste modo, teríamos de verificar no DL 49/2014 qual era o juízo de comércio competente na
zona da Maia. Após verificado, constatávamos que a própria Maia não tem juízo de comércio e é
abrangida pelo juízo de comércio de Santo Tirso. Assim, o tribunal competente é o juízo de comércio
de Santo Tirso que faz parte do Tribunal Judicial da Comarca do Porto.

Pergunta 4.
Esta ação de revisão de sentença estrangeira é de processo especial, previsto nos artigos 978º e
ss. do CPC. Para esta ação não é competente um tribunal judicial de 1ª instância, mas sim o Tribunal
da Relação da área em que esteja domiciliada a pessoa contra quem se pretenda fazer valer a sentença
– artigo 979º do CPC.
A pessoa contra quem se pretende fazer valer a sentença é B, que tem domicílio na Lousada.
Assim, temos de ver qual é o Tribunal da Relação que tem competência na Lousada. Quanto aos
tribunais da Relação importa ver a LOSJ e, em concreto, os anexos I e II. Nos termos do anexo II,
Lousada faz parte da comarca de Porto Este e, portanto, o tribunal competente é o Tribunal da Relação
do Porto.
Esta ação deu entrada no juízo local cível de Lousada. Ora, o juízo local cível de Lousada faz
parte de um tribunal judicial de 1ª instância. Assim, foram violadas as regras da competência em razão
da hierarquia. A ação deveria ter dado entrada de imediato no Tribunal da Relação e não num tribunal
de 1ª instância.
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Neste sentido, estamos perante uma incompetência absoluta – art.96º alínea a) do CPC. Sendo
incompetente, era uma exceção dilatória de conhecimento oficioso (artigos 571º, 576º nº1 e 2, 577º
alínea a) e 578º 1ª parte todos do CPC), portanto, o réu seria absolvido da instância (artigo 278º nº1
alínea a) do CPC). Transitando esta decisão em julgado, formar-se-ia um caso julgado formal – artigos
279º e 620º do CPC.

Pergunta 5.
A competência é um pressuposto processual e para resolvermos este tipo de casos, competência
interna – artigos 37º nº1 e 38º da LOSJ -, temos de olhar para 4 critérios de competência:
1) competência em razão da hierarquia – artigos 67º a 69º do CPC e artigos 33º e 42º da LOSJ
2) competência em razão da matéria – artigos 64º e 65º do CPC e artigos 40º, 81º, 111º a 116º e
117º da LOSJ
3) competência em razão do valor da causa – artigo 66º do CPC e artigo 41º da LOSJ
4) competência em razão do território – artigos 70º e ss. do CPC e artigo 43º da LOSJ
Em relação à competência por razão da hierarquia são competentes os tribunais judiciais de 1ª
instância.
Quanto à competência em razão da matéria temos várias particularidades. Podemos ter
tribunais de comarca ou tribunais de competência territorial alargada. Os tribunais de comarca estão
divididos em juízos de competência especializada, juízos de competência genética e juízos de
proximidade – artigo 81º nº1 da LOSJ. Ora, os juízos de competência especializada estão previstos na
LOSJ no artigo 81º, em específico no nº3 e, nos termos deste artigo, podemos ter o juízo central cível,
juízo local cível, juízo de família e menores, juízo de trabalho, juízo de comércio e juízo de execução.
No nosso caso estava em causa um tribunal judicial de comarca, em concreto um juízo de competência
especializada – artigo 81º nº3 alíneas a) e b) da LOSJ.
O artigo 117º nº1 alínea da LOSJ não é aplicável, porque a ação de divisão de coisa comum é
uma ação de processo especial (artigos 925º e ss. do CPC) e, portanto, já não é competente o juízo
central cível. À partida seria competente o juízo local cível (artigo 130º nº1 da LOSJ), que tem
competência subsidiária e, por isso, para apreciarmos o valor da ação teríamos de verificar o artigo
302º nº2 do CPC.
No que toca à competência em razão do território, as regras encontram-se no CPC, mais
concretamente nos arts.70º e ss., sendo que aplicaríamos o artigo 70º nº1 do CPC (este artigo é próprio
das ações reais). Assim, teríamos de ir ao DL 49/2014 ver qual o tribunal que abrangia a Trofa. Após
verificação, concluiríamos que o tribunal competente seria o juízo local cível de Santo Tirso do
Tribunal Judicial da Comarca do Porto.
Ora, a ação deu entrada num outro tribunal – juízo central cível da Póvoa de Varzim. O que
aconteceu foi que o autor quando interpôs a ação identificou mal a forma de processo, pois entendeu
que a ação de divisão de coisa comum era uma ação de processo comum e não de processo especial.
Ora, tanto no artigo 96º do CPC, relativo à incompetência absoluta, como no artigo 102º do CPC,
relativo à incompetência relativa, não vemos o erro da forma de processo como fundamento de
incompetência, seja ela absoluta ou relativa.
Contudo, o tribunal considerar-se-ia relativamente incompetente, nos termos dos artigos 102º
e ss. do CPC, pois numa das redações do CPC, a incompetência fundada no erro sobre a forma de
processo estava expressamente prevista como causa de incompetência relativa. Entretanto o CPC foi
alterado e isso foi retirado, mas aplica-se por analogia. Sendo assim, perante a incompetência relativa
do tribunal, haveria a remessa dos autos para o tribunal competente – artigo 105º nº3 do CPC.
Pergunta 6.
A competência é um pressuposto processual e para resolvermos este tipo de casos, competência
interna – artigos 37º nº1 e 38º da LOSJ -, temos de olhar para 4 critérios de competência:
1) competência em razão da hierarquia – artigos 67º a 69º do CPC e artigos 33º e 42º da LOSJ
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2) competência em razão da matéria – artigos 64º e 65º do CPC e artigos 40º, 81º, 111º a 116º e
117º da LOSJ
3) competência em razão do valor da causa – artigo 66º do CPC e artigo 41º da LOSJ
4) competência em razão do território – artigos 70º e ss. do CPC e artigo 43º da LOSJ
Em relação à competência por razão da hierarquia são competentes os tribunais judiciais de 1ª
instância.
Quanto à competência em razão da matéria temos várias particularidades. Podemos ter
tribunais de comarca ou tribunais de competência territorial alargada, onde se incluem o tribunal
marítimo, propriedade intelectual e concorrência e regulação. No caso prático aplicar-se-ia o tribunal
de competência territorial alargada, mais concretamente o Tribunal Marítimo – artigo 83º nº3 alínea
c) da LOSJ. Para além disso, o artigo 113º da LOSJ intensifica a competência do tribunal marítimo e
aplica-se ao nosso caso prático.
Ora, a ação foi instaurada no juízo local cível da Póvoa de Varzim e, portanto, temos uma
incompetência em razão da matéria. Deste modo, estamos perante uma incompetência absoluta do
tribunal – artigo 96º alínea a) do CPC. Esta incompetência traduz-se numa exceção dilatória de
conhecimento oficioso insanável (artigos 571º, 576º nº1 e 2, 577º alínea a) e 578º 1ª parte todos do
CPC). Isto daria lugar à absolvição do réu da instância (art.278º nº1 alínea a) do CPC) e a um caso
julgado formal – artigos 279º e 620º do CPC.

Pergunta 7.
Por um lado, temos os tribunais judiciais e, por outro lado, temos os tribunais administrativos
e fiscais. No caso, teríamos presente os tribunais administrativos e fiscais. Nos termos do artigo 4º nº1
alínea f) do ETAF são competentes estes tribunais para apreciar ações de responsabilidade civil
extracontratual das pessoal coletivas de direito público.
Ora, a ação foi instaurada perante um tribunal judicial (juízo local cível de Vila Nova de Gaia)
e, portanto, temos uma incompetência em razão da matéria – artigo 96º alínea a) do CPC -, pois a ação
tinha de se instaurada num tribunal administrativo. Assim, tínhamos uma incompetência absoluta que
é uma exceção dilatória de conhecimento oficiosa insanável – artigos 571º, 576º nº1 e 2, 577º alínea
a) e 578º 1ª parte do CPC -, tendo como consequência a absolvição do réu da instância – artigo 278º
nº1 alínea a) do CPC. Após esta absolvição forma-se um caso julgado formal – artigos 279º e 620º do
CPC.

Pergunta 8.
A competência é um pressuposto processual e para resolvermos este tipo de casos, competência
interna – artigos 37º nº1 e 38º da LOSJ -, temos de olhar para 4 critérios de competência:
1) competência em razão da hierarquia – artigos 67º a 69º do CPC e artigos 33º e 42º da LOSJ
2) competência em razão da matéria – artigos 64º e 65º do CPC e artigos 40º, 81º, 111º a 116º e
117º da LOSJ
3) competência em razão do valor da causa – artigo 66º do CPC e artigo 41º da LOSJ
4) competência em razão do território – artigos 70º e ss. do CPC e artigo 43º da LOSJ
Em relação à competência por razão da hierarquia são competentes os tribunais judiciais de 1ª
instância.
Quanto à competência em razão da matéria temos várias particularidades. Podemos ter
tribunais de comarca ou tribunais de competência territorial alargada. Os tribunais de comarca estão
divididos em juízos de competência especializada, juízos de competência genética e juízos de
proximidade – artigo 81º nº1 da LOSJ. Ora, os juízos de competência especializada estão previstos na
LOSJ no artigo 81º, em específico no nº3 e, nos termos deste artigo, podemos ter o juízo central cível,
juízo local cível, juízo de família e menores, juízo de trabalho, juízo de comércio e juízo de execução.
No nosso caso estava em causa um tribunal judicial de comarca, em concreto um juízo de competência
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especializada: juízo de família e menores – artigo 81º nº3 alínea g) da LOSJ e artigo 122º nº1 alínea f)
da LOSJ.
Ora, como se trata de um juízo puramente especializado, não releva a competência em razão
do valor da causa.
Quanto ao território, verificado o artigo 80º nº1 do CPC, vemos que o tribunal competente, por
regra, é o do domicílio do réu. Perante isto, teríamos de ir ao DL 49/2014 e ver a comarca que abrange
Baião, que no caso é Porto Este. Ora, não há um juízo de família e menores em Baião, nem um juízo
de família e menores da respetiva comarca que abrange Baião.
Neste sentido, perante esta ação era competente ou um juízo central cível ou um juízo local
cível. Como existe esta dúvida, é necessário averiguar o valor da causa, segundo o artigo 298º nº3 do
CPC. No caso, a nossa ação é de 30 mil euros (500 x 12 = 6.000 [x5] = 30.000€) e para que fosse
competente um juízo central cível era preciso que a ação fosse de processo comum e que o valor fosse
superior a 50 mil euros – artigo 117º nº1 alínea a) da LOSJ. Uma vez que a ação do caso é inferior a
este valor, seria competente o juízo local cível.
Contudo, não existe nenhum juízo local cível com competência sobre família e menores e,
portanto, restava um juízo de competência genérico, no caso de Baião.

Pergunta 9.
Estamos perante um caso de arbitragem voluntária, porque por vontade das partes recorrem-se
a outros tribunais que não os tribunais estaduais, mas sim arbitrais. Os tribunais arbitrais funcionam,
normalmente, com 3 elementos, sendo que cada uma das partes escolhe um árbitro e esses dois árbitros
escolhidos elegem um terceiro (árbitro presidente).
Uma convenção de arbitragem é o contrato / acordo pelo qual as partes aceitam recorrer à
arbitragem e não aos tribunais estaduais. A convenção pode assumir duas modalidades: cláusula
compromissória e compromisso arbitral. A diferença é que quando se fala de uma cláusula, as partes
acordam recorrer à arbitragem quanto a litígios que advenham da execução de um contrato (litígios
futuros). No compromisso arbitral as partes acordam recorrer à arbitragem quanto aos litígios atuais,
pendentes.
As partes, no caso prático, impuseram uma cláusula compromissória no contrato de compra e
venda. Não obstante esta cláusula, as partes instauraram uma ação num local cível do Porto. Então,
temos uma incompetência absoluta por preterição de tribunal arbitral voluntário (artigos 96º alínea b)
e 97º nº1 do CPC). Assim, temos uma exceção dilatória que não é de conhecimento oficioso (artigo
578º 2ª parte do CPC). Deste modo, o réu seria absolvido da instância (artigo 278º nº1 alínea a) do
CPC) e formar-se-ia um caso julgado formal – artigos 279º e 620º do CPC.
Pergunta 10.
Aqui as partes não tinham atribuído competência a um tribunal arbitrário, mas a um concreto
tribunal de juízo local cível da Maia. A isto dá-se o nome de pacto de aforamento – as partes atribuem
uma concreta competência a determinado tribunal. Este pacto é admitido, mas dentro de limites muito
restritivos – artigo 95º nº1 do CPC.
Artigo 95º - Competência convencional
1 - As regras de competência em razão da matéria, da hierarquia e do valor da causa não podem ser
afastadas por vontade das partes; mas é permitido a estas afastar, por convenção expressa, a
aplicação das regras de competência em razão do território, salvo nos casos a que se refere o artigo
104º.
Ora, segundo este artigo as regras relativas à hierarquia, matéria e valor da causa não podem
nunca ser afastadas pela vontade das partes. No entanto, as partes podem afastar, por convenção
expressa, a aplicação das regras de competência em razão do território, salvo nos casos a que se refere
o artigo 104º do CPC.
Assim, o que estava em causa era a competência em razão do território. Ora, será que o juízo
local cível da Maia era competente para esta ação? Nos termos do artigo 71º nº1 1ª parte do CPC, “A
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ação destinada a exigir o cumprimento de obrigações, a indemnização pelo não cumprimento ou pelo
cumprimento defeituoso e a resolução do contrato por falta de cumprimento é proposta no tribunal
do domicílio do réu”. O réu residia no Porto. Assim, se não tivesse havido acordo quanto ao tribunal
competente, a regra seria este artigo mencionado supra.
Mas será este artigo ultrapassável por vontade das partes, por via do pacto? Não, a 1ª parte não
o é. Analisando o artigo 104º nº1 alínea a) do CPC (através de remissão do artigo 95º nº1),
concluiríamos que existe uma violação da competência relativa. Assim, teríamos uma exceção dilatória
de conhecimento oficioso – artigo 104º nº1 alínea a) do CPC.
Em conclusão, este pacto não era válido, pois as partes não se podiam afastar do artigo 71º nº1
1ª parte e, por isso, seria competente o juízo local cível do Porto e deveria haver a remessa dos autos
para este tribunal competente – artigo 105º nº3 do CPC.

PERGUNTA SUPLEMENTAR
Suponha que estávamos perante uma ação de despejo no valor de 5 mil euros. Seria obrigatória
a constituição de advogado?
Esta pergunta está relacionada com o patrocínio judiciário e está previsto nos artigos 40º e ss.
do CPC. É um pressuposto processual com características próprias, porque a sua falta não tem sempre
a mesma consequência (consoante a falta seja imputável ao autor ou consoante a falta seja imputável
ao réu).
O artigo 40º do CPC 3 diz que “É obrigatória a constituição de advogado nas causas de
competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso ordinário”.
Segundo o artigo 629º nº1 do CPC, “O recurso ordinário só é admissível quando a causa tenha
valor superior à alçada do tribunal de que se recorre e a decisão impugnada seja desfavorável ao
recorrente em valor superior a metade da alçada desse tribunal, atendendo-se, em caso de fundada
dúvida acerca do valor da sucumbência, somente ao valor da causa”. Temos dois critérios: alçada e
sucumbência.
As alçadas dos tribunais estão previstas no artigo 44º da LOSJ. O valor de alçada do Tribunal
de 1ª instância é de 5 mil euros e a alçada do Tribunal da Relação é de 30 mil. O Supremo não tem
alçada. Normalmente, as ações dão entrada nos tribunais de 1ª instância e, portanto, o valor da ação
tem de ser superior a 5 mil euros.
Nos termos do artigo 40 nº1 alínea a) do CPC articulado com o artigo 629º nº1 do CPC, não
seria obrigatório a constituição de advogado, porque o valor da ação de despejo não era superior à
alçada do tribunal de que se recorre, mas sim igual.
No entanto, o artigo 40 nº1 alínea b) 4 do CPC diz que “É obrigatória a constituição de
advogado nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor”. Neste
sentido, temos de articular com o artigo 629º nº2 e 3 do CPC. O nº2 prevê que independentemente do
valor da causa e da sucumbência é sempre admissível recurso (para o Tribunal da Relação ou
Supremo), desde que as hipóteses estejam previstas nas suas alíneas. Já no nº3 especifica-se o recurso
para a Relação.
A nossa ação encontra-se prevista no artigo 629º nº3 alínea a), pois a ação de despejo pretende
por fim ao contrato de arrendamento. Portanto, nos termos do artigo 40º nº1 alínea b) do CPC e artigo
629º nº3 alínea a) do CPC, era obrigatória a constituição de advogado.
E se faltasse o advogado, sendo obrigatório – artigo 41º do CPC? Consoante a falta seja
imputável ao autor, o réu vai ser absolvido da instância, caso o autor nada faça para suprir a falta de
mandatário (artigo 6º nº2 do CPC). Caso a falta fosse imputável ao réu, a consequência é a contestação

3
remissão do artigo 40 nº1 alínea para o artigo 629º nº1 do CPC – respeita às causas em que admissível a interposição de
recurso ordinário
4
Remissão para o artigo 629º nº2 e 3 do CPC
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deste ficar sem efeito, ou seja, é ineficaz a sua defesa, no limite de o réu não suprir a falta de mandatário
(artigo 6º nº2 do CPC).

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