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Resolução casos práticos

Caso 1

i. Pressupostos processuais

A ação executiva deve obedecer certos pressupostos processuais, condições formais,


como título executivo válido, legitimidade processual, competência interna e patrocínio
judiciário. A legitimidade processual está prevista no art. 53º e 54º CPC e diz-nos que o
exequente e o executado na ação executiva é quem consta no título executivo como
credor e devedor. A resposta da legitimidade está sempre no título. No nosso caso, a
legitimidade ativa quem tem é o banco, credor que consta no título executivo, no
contrato de mútuo, e o devedor é António que consta também no contrato. Isso é o que
nos diz o art. 53º. No entanto, há exceções previstas no art. 54º, nomeadamente a n2 nos
interessa para o caso. Foi dado como garantia real um bem de terceiro, e se o exequente
quiser fazer valer da sua garantia real, deve também executar o terceiro. Se quisesse
poderia executar apenas A, mas assim não poderia fazer valer da sua garantia real.

No entanto, no momento da propositura da AE, há 6 meses atrás, os donos do imóvel


não eram mais Berto e Carla, seus pais, mas sim Daniel, que adquiriu o imóvel em
2016. Desse modo, se o banco quisesse fazer valer a sua garantia, deveria executar
António e Daniel e não Beto e Carla. Temos uma ilegitimidade processual, exceção
dilatória segundo o 578º. O agente de execução deveria nesse caso, pedir a intervenção
do juiz no caso, e este indeferir liminarmente o requerimento executivo, segundo art.
726º/3. Poderia ainda os executado, ainda que ilegítimo, Beto e Carla, deduzir embargos
de executado, segundo art. 729º/c, alegando a falta de pressuposto processual.

Em relação a competência interna, para determinarmos qual o tribunal competente


temos que olhar para 5 requisitos: (1) a competência material geral dos tribunais
judiciais – critério atribuição positiva, segundo o qual são da competência dos tribunais
judiciais as ações executivas que estiverem em causa a não realização de uma prestação
e critério residual, em que só não serão da competência dos tribunais judiciais essa
matéria se for atribuída por força de lei a outro tribunal. (2) competência internacional –
art. 59º não vamos aprofundar. (3) competência em razão da hierarquia – art. 67º em
que são competentes os tribunais de 1ª instancia nessa matéria. (4) competência em
razão da matéria – art. 64º, temos que saber dentro da comarca competente, qual juízo é
o competente para julgar a matéria. Remete-nos ao art. 129º/1 LOSJ que diz que os
juízos de execução, se existirem, possuem competência exclusiva para julgar AE. No
entanto, o n2 traz exceções, dependendo do caso concreto, o tribunal que julga é o
competente. Por fim (5) competência em razão do território – art. 85º e 89º, qual
comarca é a competente. Como temos um título extrajudicial, vamos olhar para o art.
89º. Temos uma dívida com garantia real, logo, o n2 diz que o tribunal competente é o
lugar onde a coisa se encontra, logo, Aveiro.

Posto isto, o tribunal e juízo competente no nosso caso seriam o juízo de execução do
tribunal da comarca de Aveiro. Temos por isso uma incompetência relativa, art. 102º
CPC. Estamos no âmbito do processo sumario, art. 550º/2, e por isso, a questão de falta
dos pressupostos deve ser suscitada pelo agente de execução ao juiz, que vai proferir um
despacho – 726º. Executado ainda poderia sempre suscitar essa questão segundo o
729º/c.

Sobre o patrocínio judiciário, art. 58º, temos um valor da causa que excede o valor da
alçada dos tribunais da relação, 30 mil euros, logo, era obrigatória a constituição de
advogado segundo o n1 desse artigo. Temos uma exceção dilatória que pode ser suprida
com um despacho de aperfeiçoamento segundo o 734º. Também exceção dilatória.

ii. Não transferência salário pela entidade patronal

Art. 738º bens parcialmente impenhoráveis.

Quando há penhora de salários há um dever de cooperação da entidade patronal e


colaboração com o agente de execução. O mesmo vai abrir uma conta em seu nome para
onde o dinheiro será enviado. O exequente pode exigir na mesma AE a execução
forçada dos pagamentos em falta da entidade patronal, tornando-a executada. Art.
777º/3. Temos um título executivo novo que se forma no próprio processo contra o
devedor do executado – 703º/1d.

iii. Penhora ilegal

Penhora dos executados ilegítimos. Berto e Carla são executado, mas não são partes
legitimas da ação executiva. Desse modo, pare reagirem contra a penhora ilegal feita
sobre seus bens, podem deduzir oposição à penhora, segundo art. 784º. No nosso caso,
está em causa a al. c) desse artigo. Juntamente com a oposição a penhora podem
cumular o pedido de embargos do executado alegando a ilegitimidade das partes,
segundo art. 856º/3. Se este último for considerado procedente, então obviamente a
oposição a penhora também será.
Caso 2

i. Joao se quisesse, e se tivesse um título extrajudicial poderia suscitar a


comunicabilidade da dívida, segundo o 742º. Mesmo que tivéssemos um dívida comum,
o exequente sempre pode apenas executar um dos cônjuges, não é obrigatório o
litisconsórcio necessário. Isso se tivéssemos dois condenados na ação declarativa. Na
ação executiva, o exequente pode executar apenas um deles, mesmo que a dívida seja
comum. No nosso caso, temos uma sentença, título judicial, logo, não pode suscitar a
comunicabilidade da dívida. Poderia se fosse título diverso de sentença e, neste caso, o
outro cônjuge deveria declarar se aceita ou não a comunicabilidade.

Se o título for contra apenas um e a dívida de ambos, esse incidente permite chamar o
outro cônjuge para responder juntamente pela dívida, dívida comum.

Joao, se quisesse, deveria ter suscitado essa comunicabilidade na própria ação


declarativa, que é quando teria propriamente lugar. Como não o fez e agora já não pode,
a dívida é de sua exclusiva responsabilidade.

ii. O objeto de execução a penhora está previsto no art. 735º CPC. Podem ser
penhorados os bens do devedor, de terceiros se tiverem sido dados como garantia real.
O agente de execução poderia penhorar somente a quota do prédio em compropriedade
com Carlos, seu irmão, apenas a quota de Joao seria penhorável. Carlos poderia, deste
modo, reagir contra a penhora ilegal deduzindo embargos de terceiro, segundo art. 342º.
Pode deduzir embargos de terceiro aquele que se ver prejudicado com a penhora do
bem, pois tem um direito subjetivo sobre o mesmo bem, que é o nosso caso. Assim, se o
agente de execução quisesse, poderia penhorar apenas uma parte da propriedade,
relativamente a parte de Joao e Carlos, proprietário da outra parte, teria o direito de
preferência para a compra do bem.

iii. O art. 824º diz-nos que os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que o
onerem. Se tivéssemos uma hipoteca, por exemplo, e o credor não viesse reclamar seu
crédito na pendencia da ação, seu DR garantia caducaria com a venda executiva. No
entanto, os DR de gozo não caducam com a venda executiva, como usufruto, direito de
uso e habitação, etc. Já os direitos pessoais de gozo caducam com a venda, visto que
não são gozam de oponibilidade em relação a terceiros. O arrendamento, que é um
direito pessoal de gozo, possui um estatuto misto e também não vai caducar com a
venda executiva se tiver registro anterior a penhora, ou seja, mesmo que o bem seja
vendido, o arrendamento se mantém, mudando apenas o arrendatário. É o que nos diz o
art. 1057º CC. Sendo assim, o contrato de arrendamento de Rui vai manter-se até o
final, mesmo que o novo arrendatário queiram pôr fim ao contrato, não pode o fazer.

Se o arrendamento tivesse registro posterior a penhora, então caducaria


automaticamente.

*comodato, parceiro pensador, depositário, vão todos caducar com a venda executiva.

Caso 3

5250 os

i. Competência, 5 pressupostos, competência material geral, competência internacional,


competência em razão do território, matéria e hierarquia.

Segundo o art. 129º/2 LOSJ, os processos atribuídos aos juízos da família e dos menores
são os competentes em matéria executiva, é uma exceção do 129º/1 LOSJ. Desse modo,
temos uma incompetência absoluta em razão da matéria, art. 96º, temos uma exceção
dilatória segundo o art. 577º CPC e assim, o agente de execução vai suscitar a
intervenção do juiz e o mesmo irá indeferir liminarmente o requerimento executivo,
segundo o art. 726º CPC. O executado poderia ainda, por meio de embargos do
executado, suscitar o art. 729º/c.

Em relação a legitimidade processual, o ponto de partida é o próprio título executivo, ou


seja, quem constar no título como devedor e credor serão executado e exequente na ação
executiva. Temos um título judicial, uma sentença condenatória, que só consta o nome
de A. Posto isto, Carla não tem legitimidade passiva para ser parte nessa ação, temos
uma exceção dilatória segundo o 577º, também vamos chamar a intervenção do juiz
para indeferir parcialmente o requerimento executivo segundo o 726º. Carla poderia
ainda, caso o agente não suscitasse, embargar de executado, mesmo não sendo legitima,
e invocar o art. 729º/c.

Patrocínio judiciário, 5250 euros, não é obrigatória constituição advogado, podendo ser
advogado estagiário ou solicitador. No entanto, se houver na pendencia da ação
embargos ou ações declarativas por apenso, etc., a constituição de advogado será
obrigatória segundo o art. 58º.

ii. Impenhorabilidade relativa em relação ao salário, art. 738º, impenhorabilidade


parcial. Está em causa o n4 desse artigo, em que não vamos aplicar esse limite mínimo
da penhora do n3, só será impenhorável a quantia da totalidade da pensão social, logo,
350 euros. Nessas hipóteses, ele pode ficar com menos do que um salário mínimo
nacional. De 1000 euros, foram penhorados 650, sobrando exatamente o valor da
pensão. Sendo assim, temos uma penhora legal.

Deste modo, a entidade patronal tem um dever de cooperação, informação e


colaboração com o agente de execução, surge uma obrigação de prestação de facto para
enviar o dinheiro para uma conta em nome do agente de execução, que ele abriu apenas
para penhorar o salário. Se a entidade se recusar, ela vira devedora do executado e
vamos ter um novo título executivo contra ela, que se forma dentro da própria ação
executiva – art. 777º/3 e 703º/d. O exequente pode na própria execução exigir as
quantias em falta.

iii. António pode, nesta execução, invocar o contra crédito através dos embargos de
executado, previstos no art. 728º e 729º CPC. Os embargos do executado são ações
declarativas que tramitam por apenso a ação executiva, um meio de defesa do executado
na ação. Aqui, o executado quer acabar com a ação executiva, diferente do que ocorre
com a oposição à penhora, em que quer o fim da própria penhora. Há uma alínea no 729
que prevê exatamente essa situação, nomeadamente al. h). Invocando esse fato, o
executado quer fazer valer um fato extintivo da execução.

iv. Segundo o art. 824º CC, com a venda executiva, os bens são transmitidos livres de
qualquer DR de garantia que o onerem, ou seja, todos os DR de garantia caducam com a
venda executiva. Isso acontece, pois os credores com registro são chamados, após feita a
penhora, pelo agente de execução para reclamarem seus créditos. Os credores com
registro anteriores a penhora são chamados na pendencia da ação executiva e podem
ainda embargar de terceiro para fazerem valer seu crédito. Após a venda executiva, se
não tiverem reclamado seus créditos, perdem o direito de o fazer.

*Hipoteca vai caducar, sobrando um crédito hipotecário para o credor, que será pago em
primeiro lugar, pois o registro é anterior ao da execução.

Isso ocorre para os DR garantia e os direitos pessoais de gozo, como comodato, por
exemplo. No entanto, os direitos reais de gozo e o arrendamento possuem estatuto
diferente, pois estes não caducam com a venda executiva do bem, pelo contrário,
continuam existindo mesmo após a venda executiva. Isso se tiverem registro com data
anterior a penhora. Mas, apenas poderá ser penhorada a nua propriedade e não a
propriedade plena, se não teremos uma penhora ilegal e o titular desse direito poderia
recorrer a ação de reivindicação. Temos um direito de superfície, que é um direito real
de gozo, com registro anterior a penhora. Sendo assim, esse direito se mantem após a
venda executiva e a penhora não pode abranger a propriedade plena.

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