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Aula de Processo Civil I

11/01/2022

Casos Práticos:

Dia 10/12/2021, A, argentino, residente em Lisboa, celebrou com B, brasileiro,


residente em Marrocos, um contrato de compra e venda de uma propriedade
rustica cita em Évora. O contrato foi concluído por escrito particular naquela
cidade.

A pretendia desenvolver aí um empreendimento turístico e, acreditando nas


afirmações de B, pensou que a propriedade possuía já a licenças urbanísticas e as
autorizações administrativas necessárias à execução do projeto. Todavia, assim não
era, pois, o terreno encontrava-se em área de reserva ecológica e
consequentemente de construção proibida, pelo que A decidiu intentar uma ação
contra B, peticionando a anulação do negócio.

 Determine qual o tribunal competente para conhecer e julgar a ação.

A competência dos tribunais pode ser interna ou internacional, consoante a relação


jurídica que se encontre em contacto com uma única ordem jurídica ou com uma
pluralidade de ordens jurídicas. No 1º caso, a relação jurídica diz-se interna, implicando,
por isso, que a determinação do tribunal concretamente competente para o
conhecimento do litígio seja apurada do ponto de vista interno. No 2º caso, a relação
jurídica diz-se plurilocalizada, o que implica que o apuramento do tribunal competente
para o conhecimento da causa seja do ponto de vista internacional.

Neste caso, estamos perante uma relação jurídica plurilocalizada, visto que estamos em
contacto com mais do que uma ordem jurídica.

Assim, torna-se necessário determinar qual a jurisdição internacionalmente competente


para a apreciação da relação jurídica litigiosa.

No direito interno português, a competência internacional dos tribunais esta regulada


nos art.º 59,62,63 e 94º. No entanto, a mesma encontra-se igualmente estabelecida em
regulamentos europeus e em outros instrumentos internacionais, os quais prevalecem
sobre as normas de direito interno por força do art.º 8 da CRP. Ora, a competência
judiciaria, o reconhecimento e a execução de decisões encontra-se atualmente
disciplinada no Regulamento nº 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de
12 de dezembro de 2012.

Para se saber se o Regulamento se aplica neste caso, torna-se necessário analisar os seus
âmbitos objetivos, subjetivo e temporal.

Na situação em analise, o reu tem sede em Marrocos, ou seja, num pais que não
pertence a EU. Ora, de acordo com o art.º 6, nº1, do regulamento, se o requerido não
tiver domicílio num Estado-Membro, é sem prejuízo do art.º 18, nº1, do art.º º21, nº2 e
dos art.º 24 e 25, regida pela lei desses Estado-Membro. Significa isto que, não se
verificando nenhuma competência exclusiva (art.º 24 do regulamento), ou convencional
(art.º 25 do regulamento), nem dizendo respeito a uma relação de consumo ou de
trabalho (art.º 18, nº1 do regulamento), o Regulamento nº1215/2012, 12 de dezembro,
não se aplica.

Deste modo, teremos de nos socorrer do nosso regime interno - visto que o autor tem
sede em Portugal (o que implica o não preenchimento de um dos requisitos). Torna-se
necessário analisar as regras de competência internacional previstas no CPC nos art.º
59, 62, 63 e 94.
A luz do nosso direito interno e tendo em conta as regras da competência internacional
poderá aplicar-se a alínea b) do art.º 62, de acordo com o Critério de Causalidade.
Tal critério permitira ao autor anular a celebração do contrato. Esta alínea permite fazer
com que os tribunais portugueses sejam internacionalmente competentes.
Uma vez fixada a competência internacional dos tribunais portugueses, pode-se assim
aferir qual será o tribunal português concretamente competente para julgar ou conhecer
a ação.
Âmbito da Competência Interna:
Art.º 60 nº2 – Razão da matéria, razão do valor da causa, hierarquia judiciaria e
território.
Matéria:
Valor da Causa: Se a ação tivesse valor a 5000 euros
Hierarquia Judiciaria:
Território: 80º nº3
Seria demandado no domicílio do autor, em Lisboa.
Comarca de Lisboa.
Visto que não temos o valor de ação, temos de analisar se a ação seria superior ou não a
50000 euros.
 Suponha que em sede de contestação, B alegou que celebrou um negócio em
nome da sociedade “Supervendas, Lda.”, com sede no Brasil e sucursal no
Porto e por essa razão é parte ilegítima, podendo ser absolvido da instância.
Quid Iuris?
Estamos perante um caso de legitimidade singular porque só temos um autor e um reu -
art.º 30.
B invoca que o contrato foi celebrado em nome da sociedade e não em nome dele. Será
procedente?
Art.º 30, nº3 - “Na falta de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do
interesse relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida,
tal como é configurada pelo autor.”
Ou seja, aceita-se a configuração do autor (A). O reu será sempre quem o autor quiser
demandar – legitimidade singular. A argumentação de B é improcedente.

 Imaginemos que B volta a alegar que é casado com C. Quid Iuris?


Duas figuras da legitimidade plural: Litisconsórcio e
Neste caso estamos perante litisconsórcio passivo necessário e conjugal. Art.º 34, nº3 -
regime do litisconsórcio conjugal. O que sucederia? Estaríamos perante uma exceção
dilatória – art.º
Esta legitimidade passiva e sanável pela intervenção do próprio cônjuge e ...

 De acordo com o enunciado, indique os meios de prova de que as partes


deveriam lançar mão e o momento ou momentos da sua apresentação/
alteração/ aditamento.

Meios de Prova -
A (autor) - Temos um contrato celebrado por escrito (prova documental), prova
testemunhal, em relação ao prédio em si uma prova pericial, declarações de parte (factos
de que tenham conhecimento direto) e depoimento de parte (o autor deve requerer
porque ai pode ter a confissão de que o prédio não tinha as licenças urbanísticas e as
autorizações administrativas necessárias à execução do projeto.)
B - prova documental
Momento ou momentos -
A – Na Petição inicial art.º 552º, nº6, podendo ser alterado na Replica.
Prova testemunhal – 598º, pode ser alterado antes da audiência previa.

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