Você está na página 1de 3

01/01/24, 13:56 Sentenças de Julgados De Paz

Jurisprudência de Julgados de Sentença de Julgado de Paz


Paz
Processo: 683/2014-JP
Relator: MARIA JUDITE MATIAS
Descritores: INCUMPRIMENTO CONTRATUAL
Data da sentença: 31-12-2014
Julgado de Paz de : LISBOA
Decisão Texto Integral: SENTENÇA
Processo n.º 683/2014-JP
Matéria: incumprimento contratual.
(alínea i) do n.º 1, do art. 9º, da Lei n.º 78/2001, de 13 de Julho na redacção que lhe foi
dada pela Lei n.º 54/2013 de 31 de Julho).
Objeto: Incumprimento contratual.
Valor da ação: € 4.866,00.
Demandante: A, Rua -------------------------------------------- Lisboa.
Mandatária: Dra. B, advogada, com domicílio profissional no ----
------------------------ Lisboa.

Demandados:
1- C , Av.ª -------------------------------------------------------- Lisboa;
2 - D, Av. ------------------------------------------------------------- Lisboa;
3 - E, estrada da --------------------------------------------------- Lisboa;
4 - F, Estrada da --------------------------------------------------- Lisboa;
5 - G , Rua ----------------------------------------------------------- Lisboa;
6 - H , Rua --------------------------------------------------------- Lisboa.

Do requerimento inicial: de fls.1 a fls.2.


Pedido: a fls.1 e.2
Junta:.7 documentos
Contestações:
- 1.ª e 2.ª demandadas a fls. 62 e segs;
- 3.ª e 4.º demandados a fls. 145 e segs; 5.º e 6.º demandados,
a fls. 125 e seg.
Tramitação:
Em 30 de junho de 2014, foi realizada mediação não tendo as
partes logrado obtenção de acordo, susceptível de pôr fim ao
litígio pelo que foi marcada audiência de julgamento para o dia
02 de outubro de 2014, pelas 15h e 30m, sendo as partes
notificadas para o efeito.
A audiência decorreu conforme ata de fls.
***
Questão prévia.
Do alegado litisconsórcio necessário.
Nos presentes autos vem a demandante pedir a condenação
solidária dos demandados no pagamento da quantia total de
€4.866,00, a título de rendas vencidas e não pagas e respectiva
indemnização.
Para tanto alega, em síntese, que em 28 de maio de 1981
celebrou com “diversos advogados” um contrato de
arrendamento, com renda mensal, à época, de Esc.12.00,00 (cfr.
doc 1, fls. 4 a 7V, cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido) sendo que, por virtude dos sucessivos aumentos,
www.gde.mj.pt/cajp.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/4a0c4995870d957580257e4d003417cb?OpenDocument 1/3
01/01/24, 13:56 Sentenças de Julgados De Paz

em julho de 2012 correspondia a €308,00 mensais; a partir de


agosto de 2012 passou a ser €318,00; mais alega que por via de
sucessivas denuncias em dezembro de 2013 o arrendamento se
encontrava reduzido aos 3.º e 4.º demandados, e que desde
2012 que a renda não é paga atempadamente, estando em falta
as quantias que descrimina no artigo 15.º do requerimento
inicial.
A parte demandada apresentou contestações, conforme supra
referido.
As 1.ª e 2.ª demandadas, por exceção, invocam a ilegitimidade,
sustentando que está em causa uma relação locatícia plural que
obriga à intervenção de todos, sendo por isso uma situação de
litisconsórcio passivo necessário, não observado pela
demandante na medida em que não demandou a Dra. I,
igualmente arrendatária.
Cumpre apreciar e decidir.
Ouvidas as partes e compulsados os autos, dúvidas não temos
de que estamos perante um litígio subsumível aos normativos
que regem o contrato de arrendamento plural para o exercício
de profissão liberal, no que ambas as partes estão de acordo.
Resulta dos termos desse contrato, em particular cláusula quarta
(fls. 6V) que os seis advogados subscritores se obrigam
“simultaneamente e em conjunto” a proceder ao pagamento da
renda. Ou seja, atento o teor do artigo 236.º e 238.º, ambos do
Código Civil, resulta do teor da referida cláusula que a obrigação
de pagamento da renda é indivisível. Em causa está o
cumprimento desse contrato, relativamente ao pagamento da
renda, concretamente o pagamento da mesma no montante
aferido com os respectivos aumentos legalmente previstos.
É consabido que são dois os critérios orientadores do
litisconsórcio necessário: critério da disponibilidade plural do
objecto do processo, que tem expressão no litisconsórcio legal e
convencional; o critério da compatibilidade dos efeitos
produzidos, que tem expressão no litisconsórcio natural. O
litisconsórcio necessário legal é o que é imposto pela lei (art.º
33.º nº 1 e 34.º do Código de processo Civil, na redacção dada
pela Lei n.º 41/2013 de 26 de junho, doravante CPC). Deste
modo, há que aferir a espécie de obrigação em causa, obrigação
que a demandante alega não estar a ser cumprida e por isso
vem requerer a condenação dos demandados no cumprimento
da mesma.
Já ficou dito que estamos perante um contrato de arrendamento
plural, ou uma relação locatícia plural, relativamente à parte
locatária, e que entendemos, por aplicação das regras da
interpretação da declaração negocial, que o pagamento da
renda constituía uma obrigação indivisível. A regra no direito civil
é a das obrigações com pluralidade de sujeitos constituírem
obrigações parciárias, ou conjuntas, ou seja, aquelas em que é
necessária a intervenção de todos credores ou devedores para a

www.gde.mj.pt/cajp.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/4a0c4995870d957580257e4d003417cb?OpenDocument 2/3
01/01/24, 13:56 Sentenças de Julgados De Paz

execução integral da prestação; a solidariedade, segundo a qual


o credor pode exigir de qualquer dos devedores a totalidade da
prestação ou quando um dos credores pode exigir por si só a
prestação do devedor (art.º 512.º do CC), apenas é admitida
quando a lei a imponha ou as partes o convencionem, o que não
está previsto para o regime do contrato de locação, com
pluralidade de locadores ou de locatários.
O litisconsórcio necessário natural é o imposto pela realização
do efeito útil normal da decisão do tribunal (art.º 33 nº 2 do
CPC). De harmonia com a definição legal, o efeito útil normal da
decisão é atingido quando “não vinculando os restantes
interessados, possa regular definitivamente a situação concreta
das partes relativamente ao pedido formulado” (art.º 33 nº 3 do
CPC. Resulta assim, em nosso entender, que há litisconsórcio
natural, quando sem a participação de todos os interessados,
não é possível uma composição definitiva dos seus interesses.
É, seguramente, o caso do cumprimento da obrigação de
pagamento da renda emergente de uma relação locatícia. A lei
exige, neste caso, a presença de todos na lide, nos termos do
art.º 33.º, n.º 1, do CPC, por a prestação da efectivação do
pagamento da renda não ser divisível por cada um dos
locatários (sabe-se lá em que proporções), havendo
que seguir tais obrigações a regra do art.º 535.º, n.º 1, do CC,
segundo a qual, sendo a prestação indivisível e sendo vários os
devedores, só de todos pode o credor exigir o cumprimento da
prestação. Ora, a preterição de litisconsórcio necessário gera
ilegitimidade processual, conduzindo esta à absolvição da
instância, nos termos dos artigos 576º, nº 2 e 577º, alínea e) do
CPC, independentemente da possibilidade decorrente do artigo
39.º da Lei 78/2001, de 13 de julho (LJP), na redacção dada pela
Lei 5472013, de 31 de julho, figura que, além de ter sido
invocada, deve o tribunal conhecê-la oficiosamente (578.º
CPC).
Ora sendo certo que no exercício do contraditório a demandante
não refutou a qualidade de arrendatária da Dra. I invocada pelas
1.ª e 2ªdemandadas, respectivamente C e D, nem impugnou o
documento por estas apresentado como doc. 8, junto com a
contestação de fls. 69 e segs., é de concluir a mesma é
arrendatária, na relação locatícia em apreço, devendo ter sido
igualmente demandada.
Face a todo o exposto, declaro ilegítima a parte demandada,
ficando a mesma absolvida da instância (artigos 578.º e 576º,
alínea e), nº 2 do Código de Processo Civil.
Julgado de Paz de Lisboa, em 31 de dezembro de 2014
A Juíza de Paz
Maria Judite Matias

www.gde.mj.pt/cajp.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/4a0c4995870d957580257e4d003417cb?OpenDocument 3/3

Você também pode gostar