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LICENCIATURA EM DIREITO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL DECLARATIVO

1º TESTE PARCELAR – 28.02.2023 – 16H

Grelha de Correção:
Grupo I
(10 valores)

1. Que espécie e tipo de ação deveria ser proposta por Mirita? Tente formular em concreto o pedido desta ação? (3
valores):
® O artigo 10.º, n.º 1, do CPC prevê que as ações podem ser declarativas ou executivas;
® Nos termos do disposto no artigo 10.º, n.º 2, do mesmo Diploma legal, as ações declarativas podem ser de
simples apreciação, de condenação ou constitutivas;
® No caso em apreço, e por força do vertido no artigo 10.º, n.º 3, al. b), do CPC, deve ser intentada uma ação
declarativa de condenação, já que o autor pretende obter o ressarcimento do prejuízo que lhe coube por via
do conserto do seu veículo automóvel, no valor de € 50.000,00;
® No concerne ao pedido, e atendendo ao facto de que a questão alude inequívoca e somente à tentativa de
formulação do mesmo, dever-se-á considerar a capacidade do aluno para circunscrever o meio de tutela
jurisdicional pretendida pelo autor, i.e., esclarecer com precisão, o que pretende aquele do tribunal; por
outras palavras, que concreto efeito jurídico pretende obter com o recurso à ação; assim, Mirita deveria
requerer: i) Fosse a ação julgada totalmente procedente, por provada e, em consequência, o tribunal
condene Emmanuel no pagamento ao autor da quantia de € 50.000,00, valor desembolsado para a
necessária reparação dos danos causados na viatura sinistrada deste último, conforme alegado na sua
petição inicial.

2. Os tribunais portugueses seriam internacionalmente competentes para a apreciação do enunciado litígio? Em


caso afirmativo, qual o tribunal internamente competente para o julgamento de tal demanda? (5 valores):
® Na situação em análise, está em causa uma relação jurídica plurilocalizada, já que a relação litigiosa está
em contacto com mais do que um ordenamento jurídico (no caso, Portugal, Itália e França);
® Nos termos dos artigos 59.º do CPC e 8.º da CRP, bem como à luz do princípio do primado, o Direito da
União Europeia prevalece sobre o direito interno, razão pela qual a competência internacional dos tribunais
portugueses deve ser analisada à luz do Regulamento (UE) n.º 1215/2012, de 12 de dezembro de 2012,
o qual disciplina a competência judiciária, o reconhecimento e a execução de decisões em matéria civil e
comercial;
® Para que este regulamento seja aplicável, têm de estar preenchidos três âmbitos: temporal, objetivo e
subjetivo (necessária indicação/discriminação prévia de tais âmbitos);
® Imperiosa referência ao facto daqueles âmbitos (temporal, objetivo e subjetivo), ínsitos no Regulamento (UE)
n.º 1215/2012 (“Regulamento”) se encontrarem preenchidos, nos termos e para os efeitos do disposto
nos artigos 1.º, n.º 1, 4.º, 62.º e 66.º, e 81.º, todos do Regulamento.
® Por força do disposto no artigo 5.º, do Regulamento, é possível demandar o réu nos tribunais de um outro
Estado-Membro por aplicação das regras enunciadas nas secções 2 a 7, do capítulo II, do Regulamento;
® Forçosa indicação de que, por via da aplicação do disposto nos artigos 4.º, 5.º, n.º1 e 7.º, n.º 2 do
Regulamento. os tribunais portugueses não se poderão considerar internacionalmente competentes para a
apreciação da causa sob julgo.
® No caso em concreto, por aplicação dos citados artigos, verifica-se um fórum sbopping, razão pela qual
serão competentes, à escolha do autor, os tribunais franceses ou os tribunais italianos.

3. Imagine que, instaurada a competente ação, e após serem os autos conclusos ao juiz do processo, o mesmo
constata que não havia sido junta, com a petição inicial do autor, a procuração forense que habilitava o advogado
de Mirita para a prática de tal ato, razão pela qual a secretaria notifica aquele mandatário, na data de 27 de
março de 2023, do despacho proferido pelo juiz, convidando o mesmo a proceder à junção da sobredita
procuração. Quando terminaria o prazo para o Advogado de Mirita proceder à junção da procuração forense??
(2 valores)
® À luz do artigo 248.º, n.º1, do CPC, os mandatários presumem-se notificados no 3.º dia posterior ao da
elaboração da notificação ou no 1.º dia útil seguinte a esse, quando o não seja;
® Tendo em conta que o tribunal procedeu à notificação do mandatário judicial de Mirita no dia 27 de março
de 2023, o mesmo presume-se notificado no terceiro dia posterior ao da elaboração, ou seja, no dia 30 de
março de 2023;
® Nos termos do disposto no artigo 279.º, alínea b), do CC, o dia em que ocorre o evento – neste caso, a
notificação – não se conta, razão pela qual o prazo para praticar o ato devido começa a correr no dia
imediatamente seguinte;
® Assim, e de acordo com o consagrado no artigo 138.º, n.º 1, do CPC, o prazo conta-se de forma contínua,
ou seja, conta-se durante todos os dias, sejam eles úteis ou não, suspendendo-se, no entanto, durante as
férias judiciais, salvo se a duração do prazo for igual ou superior a seis meses ou se tratar de atos a praticar
em processos que a lei considere urgentes.
® As férias judiciais decorrem, designadamente, entre os dias 2 e 10 de abril (artigo 28.º, da LOSJ);
® Nessa conformidade, o prazo - que na enunciada hipótese prática, é de 10 (dez) dias (artigo 149.º, do CPC)
- começa a correr no dia 31 de março de 2023 e termina, sem multa, no dia 18 de abril de 2023;
® Com multa, o prazo termina no dia 21 de abril de 2023 (artigo 139.º, n.º 5, do CPC).
Grupo II
(10 valores)

1. Poderá fazê-lo? Justifique legalmente a sua resposta, indicando e desenvolvendo o pressuposto processual que
está em causa nesta questão. (4 valores)
® Identificação do pressuposto processual em causa - interesse processual (delineamento básico do conceito,
significado ou função deste pressuposto em particular); ponderação de ser ou não um pressuposto
processual;
® Indicação da regra geral que conduziria à negação do pressupostos por falta de vencimento da obrigação;
subsunção da situação em causa no atrigo 557.º, do CPC - condenação in futurum (razão de ser desta
exceção autorizada expressamente e baseada neste artigo acrescida da relação com o direito de ação
conforme decorre do artigo 20.º, CRP e 2º CPC); explicação sobre se os pressupostos previstos no preceito
em causa se verificavam ou não em face dos dados fornecidos pelo enunciado (prejuízo - avaliação de
prejuízo considerável se não tiver o titulo executivo na data do vencimento da obrigação); Indicação de que
a sentença, se procedente, condenará para o futuro, ou seja, não antecipa a data de vencimento da
obrigação de entrega da casa livre de pessoas e bens, devendo o aluno concluir que, Hipólito, tem interesse
processual para intentar a ação com aqueles 2 (dois) pedidos.

2. Esclareça se tal informação tem algum relevo para intentar a ação. Justifique legalmente. (4 valores)
® Identificação do problema que se coloca nesta questão: no fundo saber se há litisconsórcio necessário
passivo, em virtude de a casa a entregar na ação, muito embora tendo sido apenas arrendada a Sara,
corresponder à casa de morada de família desta com Octacílio; identificação do problema eventual de
ilegitimidade passiva plural e consequências da sua violação.
® Problematizar: parece não ser um caso de litisconsórcio necessário legal em face do artigo 34.º do CPC,
uma vez que não são cônjuges, sendo certo que a hipótese da norma que protege a casa morada de família
estabelece litisconsórcio nestes casos implica um casamento (cônjuges), o que apontaria sem mais para a
legitimidade passiva singular de Sara, porque a legitimidade seria aferida pela titularidade da relação
material controvertida (contrato entre Hipólito e Sara); isto, apesar da ação em causa poder ter como
desfecho a perda da casa morada de família caso venha a verificar-se a condenação na entrega da casa e
validação da não renovação do contrato.
® Contudo a proteção da casa morada família (que é independente da propriedade do imóvel) faz com que
Octacílio possa ter interesse em contradizer essa ação devendo questionar o aluno se seria uma mera
possibilidade de litisconsórcio ou uma necessidade do mesmo. A mesma parece dever ser protegida mesmo
que não se trate de relação conjugal, para ser coerente com o regime legal dos undos de facto.
® Tratando-se da casa morada família e sendo a união de facto análoga neste ponto ao casamento os alunos
deveriam optar por considerar este um caso de litisconsórcio necessário legal por analogia de situações
previstas no artigo do 34.º CPC ou, em alternativa, considerando que para garantir o efeito útil se verifica
um caso de litisconsórcio necessário natural. O fundamento mais correto para resposta seria o primeiro.
® O aluno deveria, portanto, perceber que há uma lacuna que precisava de ser integrada por analogia ou, pelo
menos, referir que na interpretação sistemática da norma em causa deveríamos estender a proteção da
casa morada de família a unidos de facto.

3. Poderá fazê-lo? (2 valores)


® Identificação do pressuposto em falta: patrocínio judiciário (noção, funções e regras);
® Considerar que, no caso concreto, e atento o valor da ação, só um advogado poderia patrocinar esta causa,
pelo que o hipólito não tendo essa qualidade tem de entregar o patrocínio da ação a um advogado sob pena
de faltar o pressuposto processual previsto no artigo e se verificarem as consequências previstas no artigo.

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