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I

Enunciado

1. Em 06/01/2020, a sociedade CONSTRÓI, Ld.ª (autora), propôs contra


Bento (réu), casado em comunhão geral de bens com Carlota, uma ação declarativa,
sob a forma de processo comum, alegando, em resumo, que:
- A autora, na sua atividade de revenda de materiais de construção civil,
forneceu ao réu a mercadoria discriminada na fatura junta aos autos, emitida em
07/06/2018, no montante total de € 15.000,00 (quinze mil euros).
- Apesar das sucessivas solicitações da autora, o réu esquivou-se, inicialmente, a
pagar aquele valor, invocando dificuldades económicas.
- Por fim, o réu acabou por negar, perante a autora, que fosse devedor daquela
importância, invocando que a referida mercadoria fora fornecida não a si próprio, mas a
uma empresa dele entretanto extinta.
Nesta base, a autora pediu que o réu fosse condenado a reconhecer o direito
daquela a exigir deste o pagamento da referida quantia de € 15.000,00.
2. Tendo o réu sido citado para a ação, pessoal e regularmente, em 03/02/2020,
não apresentou contestação.
3. Em face disso, o tribunal da causa, considerando confessados os factos
alegados na petição inicial, nos termos do artigo 567.º, 1, do CPC, proferiu sentença a
julgar a ação totalmente procedente, condenando o réu no pedido formulado.
4. Transitada em julgado a sobredita sentença em 02/03/2020, a sociedade
CONSTRÓI, Ld.ª, agora na qualidade de exequente, instaurou, em 10/03/2020, junto
do competente juízo de execução, contra Bento e sua mulher Carlota, como
executados, uma ação executiva, sob a forma de processo sumário conforme o previsto
no artigo 550.º, n.º 2, alínea a), do CPC, a pedir a satisfação coativa do pagamento da
quantia de € 15.000,00, acrescida de juros de mora, à taxa anual de 7%, desde a data da
emissão da mencionada fatura (07/06/2018) até efetivo pagamento, tendo procedido, no
requerimento executivo, ao cálculo aritmético dos juros vencidos até a data da
propositura da execução.
Pediu ainda que se procedesse à prévia penhora dos bens dos executados, nos
termos do artigo 855.º, n.º 3, do CPC.

Questão prática

Supondo que o agente de execução, perante dúvidas sobre a exequibilidade da


sentença em referência, suscitou a intervenção do juiz, ao abrigo do artigo 855.º, n.º 2,
alínea b), do CPC, equacione as questões que devem ser ponderadas pelo juiz e
exponha as soluções a dar-lhes.

II

Questão teórico-prática

Suponha que António, em sede de ação declarativa instaurada contra Bernardo,


obteve uma sentença, já transitada em julgado, a reconhecer-lhe o direito de propriedade
sobre uma disputada parcela de terreno e a condenar o réu a demolir um muro por este
erigido sobre aquela parcela.
Com base na referida sentença, António instaurou uma execução contra
Bernardo, a pedir a citação deste para proceder à demolição do sobredito muro no

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prazo de 30 dias e que fosse fixada uma sanção pecuniária compulsória no valor de €
200,00 para cada dia de atraso nessa demolição a contar do termo final daquele prazo,
ao abrigo dos artigos 868.º, n.º 1, parte final, e 874.º, n.º 1, do CPC, conjugados com o
disposto no artigo 829.º-A, n.º 1, do CC.
Aprecie a viabilidade desta pretensão executiva.

Quadro de Soluções

Questão prática – questões a ser equacionadas pelo juiz de


execução

Estamos no âmbito de uma execução fundada em sentença para pa-


gamento da quantia de € 15.000,00, acrescida de juros de mora, à taxa
anual de 7%, desde 07/06/2018, nos termos da pretensão deduzida junto do
competente juízo de execução (conforme consta do enunciado) pela socie-
dade CONSTRÓI, Ld.ª, contra Bento e sua mulher Carlota.
Assim, essa execução segue a forma sumária por força do disposto
no artigo 550.º, n.º 2, alínea a), primeira parte, conjugado com o disposto
nos artigos 85.º, n.º 2, do CPC e 129.º, n.º 1 e 3, da Lei n.º 62/2013, de 26-
08, na redação dada pela Lei n.º 40-A/2016, de 22-12 (LOSJ). Não obsta a
tal forma de processo o facto de o pedido de juros ser ilíquido, já que
depende de simples cálculo aritmético, situando-se, por isso, fora do âmbito
de aplicação do disposto na alínea b) do n.º 3 do artigo 550.º do CPC, tendo
a própria exequente procedido a esse cálculo aritmético, conforme o
preceituado no n.º 1 do art.º 716.º do mesmo Código.
É neste quadro que o agente de execução, a coberto do disposto nos
artigos 723.º, n.º 1, alínea d), e 855.º, n.º 2, alínea b), do CPC, suscitou a
intervenção do juiz de execução, aludindo a dúvidas sobre a exequibilidade
da sentença, muito embora sem fazer a especificação que lhe competia.
Todavia, em tais circunstâncias, cumpre ao juiz de execução indagar
da eventual ocorrência de motivo que justifique a prolação de despacho
liminar com a latitude resultante do disposto no artigo 726.º, n.º 2 a 7, do
CPC.
Posto isto, debruçando-nos agora sobre o teor que vem dado da
sentença exequenda no confronto com a pretensão executiva deduzida,
em especial com o respetivo petitório, divisam-se, desde logo, as seguin-
tes questões:
i) – Saber se a aquela sentença deve ser considerada como sentença
condenatória nos termos e para os efeitos dos artigos 10.º, n.º 5, e
703.º, n.º 1, alínea a), do CPC;
ii) – Se assim for, saber se os juros de mora peticionados estão
abrangidos pelo âmbito de exequibilidade dessa sentença, à luz do
disposto no n.º 2 do citado artigo 703.º;

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iii) – Por fim, ajuizar sobre a legitimidade passiva da executada
Carlota, posto que não figura como devedora no título invocado.

Quanto à questão i)

Antes de mais, importa ter presente que, tal como se preceitua no n.º
5 do artigo 10.º do CPC, toda a execução deve ter por base um título, em
função do qual se determinam o fim e os limites objetivos e subjetivos da
ação executiva.
Por sua vez, do n.º 1 do artigo 703.º do mesmo Código consta um
elenco taxativo de espécies de títulos executivos, em que figuram, logo à
cabeça, as sentenças condenatórias.
Por sentença condenatória deve considerar-se aquela em que o
demandado tiver sido condenado a realizar uma prestação de coisa,
incluindo o pagamento de quantia pecuniária ou uma prestação de facto
positivo ou negativo, fungível ou infungível, ainda que se trate de sentença
proferida em ação diversa das típicas ações de condenação previstas no n.º
3 do art.º 10.º do CPC.
Com particular relevo para a questão aqui em foco, a doutrina e a
jurisprudência correntes têm vindo a entender que relevam, como sentenças
condenatórias para os efeitos da alínea a) do n.º 1 do artigo 703.º do CPC,
aquelas de que se possa extrair um segmento condenatório implícito, a
partir do dispositivo da sentença, ainda que imperfeita ou incompletamente
expresso, em conjugação inequívoca com a respetiva fundamentação. Por
outras palavras: importa que do dispositivo da sentença, atento o
contexto constante da respetiva fundamentação, se infira um comando
concreto com o sentido e alcance de uma condenação do réu numa
prestação de dare ou de facere em termos tais que não haja nada mais
a discutir sobre uma tal determinação. Este é, pois, o critério de aferição
da uma sentença condenatória implícita.
É o que sucede, por exemplo, no âmbito de uma sentença constitu-
tiva ou, embora com mais raridade, de uma sentença, literalmente, de
simples apreciação, mas de cujo teor dispositivo resulte como consequência
necessária a emergência de uma prestação obrigacional a realizar ao autor
(credor) por parte do réu (devedor).
No caso vertente, no âmbito da ação declarativa em que se formou a
sentença exequenda, a ali autora CONSTRÓI, Ld.ª, pediu, textualmente,
que o réu Bento fosse condenado a reconhecer o direito daquela a exigir
deste o pagamento da quantia de € 15.000,00, face ao que, em virtude da
revelia operante do mesmo réu, na sentença final, a ação foi julgada
procedente, condenando-se o réu no pedido formulado.
Desde logo, a expressão petitória de que o réu fosse condenado a
reconhecer o direito da autora a exigir o pagamento de € 15.000,00 é

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tecnicamente incorreta ou inadequada, porquanto um juízo condenatório, à
luz do disposto no art.º 10.º, n.º 3, alínea b), do CPC, só pode ter por objeto
uma prestação de coisa, incluindo quantia pecuniária, ou facto, prevendo ou
pressupondo a violação de um direito.
Para esse efeito, uma prestação traduz-se num comportamento
humano com repercussão ou incidência material no mundo exterior, não
compreendendo, pois, as meras atitudes mentais e anímicas de adesão a
uma realidade exterior ou da sua rejeição.
Nesta linha, o juízo de reconhecimento judicial de existência ou de
inexistência de um direito, perante uma situação litigiosa de incerteza, é um
juízo assertivo, por parte do tribunal, que, como tal, vincula os seus
destinatários, independentemente da atitude mental ou anímica destes, não
tendo por objeto, nessa medida, qualquer comportamento de prestação
obrigacional.
Assim sendo, o enunciado do dispositivo da sentença exequenda
exprime, literalmente, um juízo de reconhecimento do invocado direito a
exigir ao réu o pagamento da quantia peticionada.
No entanto, dos fundamentos da ação, transpostos para a sentença, o
que se verifica, nuclearmente, é a ocorrência de uma situação de não cum-
primento da obrigação de pagar a quantia pecuniária em causa, por parte do
réu, como preço emergente do alegado contrato de compra e venda. Na
verdade, foram alegadas e, como tal, assumidas na fundamentação da
sentença exequenda, sucessivas solicitações que a autora fez ao réu para o
pagamento da quantia em causa e a que este se esquivou.
Neste contexto, o formalmente pretendido e declarado reconheci-
mento do peticionado direito a exigir o pagamento da referida quantia não
pode deixar de ser, quando corretamente interpretado, como condenação,
no mínimo implícita, na prestação do pagamento daquele preço.
A este propósito, convém ter presente que, no domínio das
pretensões declarativas de prestação obrigacional, em princípio, o
reconhecimento do direito de crédito reconduz-se precisamente ao coman-
do concreto de cumprimento coativo da respetiva prestação. Diversamente
sucede no quadro das pretensões reais, em que esteja em causa um
direito real incidente sobre uma coisa com a correspondente obrigação
passiva universal e a emergência de uma obrigação específica de prestação
por violação ou ameaça de violação desse direito (subjetivação da obri-
gação passiva universal), só assim fazendo sentido desdobrar, formal-
mente, o juízo de reconhecimento daquele direito real e o juízo de
condenação nesta prestação específica.
Em suma, nas pretensões de prestação obrigacional, o dito pedido de
reconhecimento judicial de exigir a prestação mais não é, substancialmente,
do que um pedido de cumprimento desta prestação, ou seja, de condenação
do devedor nesse cumprimento.

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De resto, verificado que seja o incumprimento do direito de crédito à
correspetiva prestação, nada mais haveria que discutir sobre a exigência
dessa prestação.
Nesta conformidade, a formulação incorreta, por parte da autora,
duma pretensão obrigacional de prestação sob a expressão literal de ser de-
clarado o direito a exigir o seu cumprimento deve ser corrigida, mesmo
oficiosamente à luz do disposto no art.º 5.º, n.º 3, do CPC, mediante
interpretação do petitório no sentido de uma pretendida condenação nesse
cumprimento, sem que tal envolva sequer uma condenação em objeto di-
verso do pedido nos termos do artigo 609.º, n.º 1, do mesmo Código. E
mesmo que o tribunal o não tenha feito em sede declarativa, ainda assim,
no âmbito da execução da sentença, deverá o tribunal de execução proceder
a uma tal interpretação corretiva do dispositivo da sentença.
Termos em que se conclui, no caso presente, estarmos perante
uma sentença condenatória, no limite implícita, nos termos e para os
efeitos do artigo 703.º, n.º 1, alínea a), do CPC.

Ainda a este propósito, poderia alvitrar-se a dúvida sobre o trânsito


em julgado da sentença exequenda, ante o facto de a citação do réu para a
ação declarativa ter ocorrido em 03/02/2020 e a sentença ter transitado em
02/03/2020, não se percebendo bem como poderia ter decorrido, entretanto,
o prazo de 30 dias para interposição do recurso para a Relação, recurso que
seria admissível, atento o valor da causa e da sucumbência, superior ao
valor da alçada do tribunal da 1.ª instância (€ 5.000,00).
De qualquer modo, sendo dada, como está, a data daquele trânsito
em julgado em 02/03/2020, não dispõe o juiz de execução, sem mais, de
elementos seguros que lhe permitam pôr em causa tal informação, sem
prejuízo de o próprio executado poder suscitar tal questão em sede de
embargos, ao abrigo do disposto no artigo 729.º, alínea a), conjugado com
o artigo 704.º, n.º 1, 1.ª parte, do CPC, invocando a inexequibilidade da
sentença dada à execução por carência do trânsito em julgado.
Com efeito, a presumida certificação do trânsito em julgado feita
pela secretaria do tribunal que proferiu a sentença exequenda pode estar
errada ou ser falsa, mas, neste caso, incumbirá então ao executado, em sede
de embargos, arguir a falsidade desse ato processual de certificação, ao
abrigo do art.º 451.º, n.º 2, do CPC conjugado com o preceituado no artigo
372.º, n.º 1 e 2, do CC, em ordem a demonstrar a inexequibilidade da
sentença nos termos do disposto nos artigos 704.º, n.º 1, 1.ª parte, e 729.º,
alínea a), 2.ª parte, do CPC. Nem se divisa, no presente caso, que o juiz de
execução tivesse elementos indiciários seguros para conhecer, oficiosa-
mente, em sede liminar, da falsidade de tal certificação nos termos do n.º 3
do artigo 372.º do CC, não se tratando sequer de uma impossibilidade legal,
posto que o trânsito em julgado pode bem verificar-se antes de decorrido o

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prazo para interposição do recurso, mais precisamente se tiver havido
renúncia ao recurso nos termos do artigo 632.º, n.º 1 a 3, do CPC.
Por outro lado, a eventual inobservância das garantias de defesa em
sede da ação declarativa ficarão absorvidas pelo efeito de caso julgado for-
mal da sentença (art.º 620.º, n.º 1, do CPC), sem prejuízo de o réu revel
poder também, mediante embargos de executado, deduzir oposição à exe-
cução com fundamento em qualquer das situações previstas na alínea e) do
artigo 696.º ex vi da alínea d) do artigo 729.º do CPC, não competindo,
pois, ao juiz de execução tomar conhecimento disso em sede do despacho
liminar previsto no artigo 726.º, n.º 2, alíneas a) e b), a 5, do mesmo Códi-
go.

Quanto à questão ii) – exequibilidade da sentença relativamente


aos juros moratórios peticionados

Na ação declarativa não foram pedidos os sobreditos juros de mora


nem os mesmos foram objeto da sentença exequenda.
Ponto é saber se a exequente os poderá pedir nos termos em que o
fez, ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo 703.º do CPC.
Deste normativo decorre que estão abrangidos pelo título executivo
os juros de mora, à taxa legal, da obrigação daquele constante. Trata-se de
uma extensão legal do âmbito de exequibilidade de qualquer das espécies
de títulos executivos previstas no n.º 1 do indicado artigo 703.º, bastando,
para tanto, que tais juros sejam devidos em face da natureza e vencimento
da obrigação nos termos ali constantes.
No caso em foco, estamos perante um crédito de que é titular uma
empresa comercial – a sociedade autora -, sendo que esse crédito se traduz
no direito ao preço emergente de uma venda de materiais de construção
civil, no exercício da atividade de revenda da própria autora, venda essa
que, por isso, é objetivamente comercial nos termos do artigo 463.º, n.º 3.º,
do Cod. Comercial, ainda que o não seja a correspetiva compra por parte do
réu.
Tal qualificação é quanto basta para que lhe seja aplicável a taxa
anual de juro moratório supletiva de 7% preconizada no artigo 102.º, § 3.º,
do Cod. Comercial e conforme o Aviso n.º 1568/2020, de 02-01, publicado
no DR II Série, de 30/01/2020, pela DGTF.
Ora, não sofre dúvida de que, face ao preceituado no n.º 2 do artigo
703.º do CPC, o credor pode exigir, em sede de execução de sentença, os
juros moratórios respeitantes à obrigação pecuniária em que o devedor
tenha sido condenado e que se vençam desde o respetivo trânsito em
julgado, mesmo que não tenham sido objeto de condenação.
Questão é saber se, nesse caso, o exequente poderá também exigir,
em sede de execução, os juros porventura vencidos antes daquele trânsito

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em julgado e que não tenham sido oportunamente pedidos na ação decla-
rativa e sujeitos a oportuna defesa contraditória.
Há quem sustente que o poderá fazer, desde que da sentença resulte o
vencimento dessa obrigação.
Porém, a solução mais seguida é a de que, nessas circunstâncias, o
credor-exequente só poderá exigir os juros após o referido trânsito em jul-
gado, na medida em que a extensão legal de exequibilidade estabelecida no
artigo 703.º, n.º 2, do CPC supõe precisamente a formação do título
sentença e este só ocorre com o respetivo caso julgado. A este propósito,
veja-se MARCO CARVALHO GONÇALVES, in Lições de Processo Civil
Executivo, Almedina, 2.ª Edição, 2018, pags. 53-54, com indicação de
jurisprudência e doutrina na nota de rodapé 132.
Posto isto, para quem defenda a 1.ª solução, no caso presente, pode-
ria a autora exigir os juros moratórios vencidas a partir da citação do réu
para a ação declarativa, mas nunca desde a emissão da fatura, uma vez que
esta não revela, por si só, o vencimento da obrigação nem está provada uma
data certa de interpelação extrajudicial.
Já para quem sustenta a 2.ª solução – a mais corrente - só serão
atendíveis, em execução, os juros a partir do trânsito em julgado da sen-
tença exequenda.
Além disso, será ainda devido o acréscimo de juros compulsórios
impostos pelo no n.º 4 do artigo 829.º-A do CC, independentemente de
serem deduzidos pelo exequente, nos termos do artigo 716.º, n.º 3, do CPC,
sendo ½ para o credor e metade para o Estado (art.º 829.º-A, n.º 3, CC).
Nesse quadro, seria de indeferir o requerimento executivo, nos ter-
mos do artigo 726.º, n.º 2, alíneas a), e n.º 3, do CPC, consoante a solução
que for adotada, ou quanto aos juros pedidos anteriores à citação do réu
para a ação declarativa (1.ª solução) ou aos juros moratórios anteriores ao
trânsito em julgado da sentença exequenda, devendo prosseguir a execução
para a penhora pelo montante do capital de € 15.000,00, acrescida dos juros
de mora, à taxa anual de 7%, desde a referida citação ou desde o trânsito
em julgado da sentença exequenda, consoante a solução que for perfilhada,
bem como pelos juros compulsórios.

Quanto à questão iii)

Quanto à legitimidade da executada Carlota, é manifesto, em face da


sentença exequenda, que ela não figura ali como devedora, sendo, portanto,
parte ilegítima nos termos do artigo 53.º, n.º 1, do CPC, o que determina o
indeferimento liminar parcial do requerimento executivo, ao abrigo do
artigo 726.º, n.º 2, alínea b), e n.º 3, do mesmo Código.
Nem tão pouco haveria que ponderar qualquer situação de litiscon-
sórcio necessário à luz do artigo 34.º do CPC, sendo sabido que, no do-

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mínio das dívidas comunicáveis entre cônjuges, mesmo em sede de ação
declarativa, não ocorre uma situação de litisconsórcio necessário.

Conclusão sobre a questão do caso prático


Em síntese, no quadro das questões acima equacionadas e pelas
razões expostas, com a adoção da solução mais corrente relativamente
à extensão da exequibilidade da sentença aos juros moratórios, o juiz
de execução deveria proferir despacho liminar a indeferir o reque-
rimento executivo:
a) – na parte respeitante aos juros de mora peticionados refe-
rentes ao período decorrido até ao trânsito em julgado da sen-
tença exequenda, nos termos conjugados dos artigos 10.º, n.º 5,
703.º, n.º 2, e 726.º, n.º 2, alínea a), e n.º 3, do CPC;
b) – quanto à executada Carlota, por ilegitimidade passiva nos
termos dos artigos 53.º, n.º 1, e 726.º, n.º 2, alínea b), do CPC.
E, em face disso, ordenar o prosseguimento da execução contra o
executado Bento para a realização da penhora sem prévia citação des-
te, nos termos do n.º 3 do artigo 855.º do CPC, com vista ao pagamento
do capital de € 15.000,00, acrescido de juros de mora, à taxa anual de
7%, e dos juros compulsórios, à taxa anual de 5%, impostos pelo n.º 4
do artigo 829.º-A do CC, uns e outros a contar do data do trânsito em
julgado da sentença exequenda, destinando-se estes juros compulsórios
na proporção de metade para o credor e metade para o Estado.

Solução da questão teórico-prática

Quanto à viabilidade da pretensão executiva para prestação de


facto

Estamos no âmbito de uma execução de sentença condenatória, já


transitada em julgado, para prestação de facto positivo como é a pretendida
demolição de um muro erigido pelo réu/executado numa parcela de terreno
pertencente ao autor/exequente, nos termos regulados nos artigos 868.º a
873.º do CPC.
Do enunciado resulta que, na referida sentença, não foi fixado prazo
para a realização dessa prestação, tendo o exequente requerido a citação do
executado para proceder a tal demolição no prazo de 30 dias e que fosse
fixada uma sanção pecuniária compulsória no valor de € 200,00 para cada
dia de atraso nessa demolição a contar do termo final daquele prazo, ao
abrigo dos artigos 868.º, n.º 1, parte final, e 874.º, n.º 1, do CPC, conju-
gados com o disposto no artigo 829.º-A, n.º 1, do CC.
Assim, a prestação a satisfazer contém-se dentro dos limites
objetivos da sentença exequenda, sendo necessário, no entanto, fixar,

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preliminarmente, o respetivo prazo nos termos consignados nos artigos
874.º, n.º 1, e 875.º, n.º 1, do CPC.
Porém, no respeitante à pretendida aplicação de sanção compulsória,
importa ter presente que, segundo o preceituado no n.º 1 do artigo 829.º-A
do CC, só há lugar a ela nos casos de prestação de facto subjetivamente
fungível, salvo naquelas que exigem especiais qualidades científicas ou
artísticas do obrigado.
A finalidade da referida sanção compulsória é a de compelir o deve-
dor à realização da prestação em espécie, em detrimento da execução por
equivalente pecuniário. Assim sendo, é lógico que tal sanção compulsória
não tenha cabimento quando a prestação possa ser efetuada por outrem,
alcançando-se, por esta via, o cumprimento específico da mesma.
Será, pois, com este alcance ditado pela norma substantiva que se
terá de interpretar a faculdade, conferida ao exequente pelos artigos 868.º,
n.º 1, parte final, e 874.º, n.º 1, parte final, do CPC, de requerer, em sede
preliminar da execução para prestação de facto positivo, a fixação da sobre-
dita sanção.
De resto, no âmbito da execução para prestação de facto positivo
subjetivamente fungível, em caso de o executado, uma vez citado, não se
dispor a realizar a prestação, assiste ao exequente, alternativamente, o direi-
to de optar ou por uma indemnização substitutiva, a liquidar nos termos do
artigo 869.º do CPC, ou pela realização da prestação por outrem, requeren-
do a avaliação do seu custo mediante perícia, nos termos do artigo 870.º do
mesmo Código, servindo a execução para obter o pagamento desse custo,
através da penhora de bens do devedor, prosseguindo-se então os termos da
execução para pagamento de quantia certa.
Ora, no caso em apreço, a prestação de demolição do muro, tal como
consta da sentença exequenda, afigura-se, indubitavelmente, como sendo
subjetivamente fungível, ou seja, suscetível de ser realizada por outrem que
não o devedor, para mais quando o muro sem encontra erigido no terreno
pertencente ao próprio exequente.
Nestas circunstâncias, a pretensão de aplicação da referida sanção
compulsória é ilegal por colidir com o preceituado no n.º 1 do artigo 829.º-
A do CPC, a contrario sensu, devendo o requerimento executivo ser inde-
ferido nessa parte.
Posto isto, o juiz deverá proferir despacho liminar no sentido de
indeferir o requerimento executivo, na parte respeitante à pretendida
fixação de sanção pecuniária compulsória, com fundamento na sua
manifesta inviabilidade, por aplicação subsidiária do disposto no artigo
590.º, n.º 1, com as necessárias adaptações, ex vi do artigo 551.º, n.º 1,
do CPC.
No mais, deverá o juiz ordenar a citação do executado para,
querendo, no prazo de 20 dias, se pronunciar sobre a requerida fixa-

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ção de prazo, devendo, no mesmo prazo, se o pretender, deduzir oposi-
ção à execução, nos termos do artigo 874.º, n.º 1, 1.ª parte, e n.º 2, do
CPC.

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