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Tribunal Tributário de Lisboa

Unidade Orgânica 2
Processo n.º ----/20.0BELRS

Exmo Senhor Juiz de Direito

Paulo ..., Oponente melhor identificado no processo em referência, notificado da douta


sentença proferida nos autos, não se podendo conformar com a mesma, pretende dela
interpor recurso de apelação, o que vem fazer ao abrigo do disposto no artigo 280.º, n.º 3
do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT) e do artigo n.º 629.º, n.º 3,
alínea c) do Código de Processo Civil (CPC), recurso este que tem efeito suspensivo,
com subida imediata e nos próprios autos, para o Tribunal Central Administrativo do
Sul, apresentado para esse efeito as respectivas motivações e conclusões.

O Patrono,
Tribunal Central Administrativo do Sul
Processo n.º .../20.0BELRS

Venerandos Juízes Desembargadores

Paulo …, Recorrente com os demais sinais dos autos, notificado que foi da douta
sentença proferida no processo em referência, não se podendo conformar com a mesma,
vem interpor recurso de apelação, artigo 280.º, n.º 3 do Código de Procedimento e de
Processo Tributário (CPPT) e do artigo n.º 629.º, n.º 3, alínea c) do Código de Processo
Civil (CPC), apresentando para o efeito as seguintes

ALEGAÇÕES


O Recorrente, ao abrigo do disposto nos artigos 203.º e 204.º do Código de
Procedimento e Processo Tributário (CPPT), deduziu oposição aos processos de
execução fiscal n.º ………... e apensos, do Serviço de Finanças de Lisboa – 5,
instaurados para cobrança coerciva de taxas de portagem.

2.º
Por douto despacho proferido em 29-05-2020 foi formulado convite ao Oponente para
apresentar petição inicial aperfeiçoada no prazo de 10 dias (cfr. fls. 32 dos autos, cujo
teor se dá por integralmente reproduzido);

3.º
Tendo o mesmo sido notificado do referido despacho (numa segunda tentativa, visto a
primeira notificação não ter sido realizada para a morada do Recorrente constante dos
autos – cfr. fls. 33) através da carta datada de 18-06-2020 (mas registada no dia 22) cfr.
fls. 36 dos autos.

4.º
Em 10-07-2020 o Recorrente enviou para o Tribunal a quo um requerimento (cfr. fls. 32
dos autos, cujo teor se aqui dá por integralmente reproduzido);

5.º
No qual, para além de justificar o motivo pelo que só nessa data pode apresentar tal
requerimento, pelo facto de ter estado ausente do país durante mais de um mês devido às
restrições impostas pela Covid-19,

6.º
E mais do que solicitar a “prorrogação de prazo até à constituição de mandatário”,
como se refere na douta sentença recorrida,

7.º
O Recorrente informa que requereu protecção jurídica junto da Segurança Social,
juntando o respectivo documento comprovativo,

8.º
De onde resulta ter efectivamente apresentado tal pedido, nas modalidades de “dispensa
de taxa de justiça e demais encargos com o processo”, bem como, de “nomeação e
pagamento da compensação de patrono”,

9.º
Terminando a requerer que “o prazo de resposta seja estendido até que a Segurança
Social dê resposta ao meu requerimento, e seja atribuído o respetivo mandatário”.

10.º
Em 28-10-2020 foi proferido novo despacho a formular convite ao Oponente para
apresentar petição inicial aperfeiçoada (cfr. fls. 59 dos autos, cujo teor se dá por
integralmente reproduzido),

11.º
Sem que o Recorrente nada tivesse vindo dizer ou requerer ao processo.

12.º
Em 29-12-2020, foi proferida a sentença sub judice, que indeferiu liminarmente a
oposição do Recorrente, por este não ter dado cumprimento aos convites formulados ao
aperfeiçoamento, .com fundamento nas alíneas a) e f) do n.º 1 do artigo 552.º do Código
de Processo Civil [aplicável ex vi artigo 2.º alínea e) do CPPT] - (cfr. fls. 62 e seguintes
dos autos, cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido).

13.º
Ora, com o devido respeito, face aos elementos constantes dos autos, não se nos afigura
que assista razão ao M.mº Juiz a quo, como tentaremos de seguida demonstrar.

14.º
Com efeito, a Constituição da República Portuguesa (CPR), assegura o acesso ao direito
e a tutela jurisdicional efectiva como direitos fundamentais de todos os cidadãos (vide
art. 20.º da CRP),

15.º
Não podendo ser denegada a Justiça por insuficiência de meios económicos e estando
assegurado a todos, nos termos legais, a informação e consulta jurídicas e o patrocínio
judiciário, conforme resulta dos n.ºs 1 e 2 do referido artigo constitucional.

16.º
Para concretização de tal desiderato, aprovou o Legislador o Regime de Acesso ao
Direito e aos Tribunais (RADT), constante da Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, com a
sua redacção actual conferida pela Lei n.º 2/2020, de 31 de Março.

17.º
Cujas finalidades e objectivos se encontram explicitas no seu artigo 1.º:
“1 - O sistema de acesso ao direito e aos tribunais destina-se a assegurar que a
ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua condição social ou cultural, ou
por insuficiência de meios económicos, o conhecimento, o exercício ou a defesa dos
seus direitos.
2 - Para concretizar os objectivos referidos no número anterior, desenvolver-se-ão
acções e mecanismos sistematizados de informação jurídica e de protecção jurídica.”

18.º
Sendo que nos termos do artigo 2.º do mesmo regime, “O acesso ao direito e aos
tribunais constitui uma responsabilidade do Estado, a promover, designadamente,
através de dispositivos de cooperação com as instituições representativas das profissões
forenses.“ (n.º 1) e que “O acesso ao direito compreende a informação jurídica e a
protecção jurídica.” (n.º 2).

19.º
Por sua vez, o artigo 6.º estabelece que o âmbito da protecção jurídica “reveste as
modalidades de consulta jurídica e de apoio judiciário,” e que esta “é concedida para
questões ou causas judiciais concretas ou susceptíveis de concretização em que o utente
tenha um interesse próprio e que versem sobre direitos directamente lesados ou
ameaçados de lesão. “

20.º
No âmbito do apoio judiciário, o artigo 16.º n.º 1 estabelece as respectivas modalidades,
nomeadamente e no que ao caso concreto interessa, a) Dispensa de taxa de justiça e
demais encargos com o processo; e b) Nomeação e pagamento da compensação de
patrono.

21.º
Por sua vez, quanto ao âmbito de aplicação do apoio judiciário dispõe o artigo 17.º n.º 1
que “O regime de apoio judiciário aplica-se em todos os tribunais, qualquer que seja a
forma do processo, nos julgados de paz e noutras estruturas de resolução alternativa de
litígios a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.”

22.º
E por fim, refere o artigo 24.º deste regime legal, norma que se nos afigura essencial
para a análise da situação em apreço nos autos, que:
4 - Quando o pedido de apoio judiciário é apresentado na pendência de acção judicial e
o requerente pretende a nomeação de patrono, o prazo que estiver em curso interrompe-
se com a junção aos autos do documento comprovativo da apresentação do
requerimento com que é promovido o procedimento administrativo.
5 - O prazo interrompido por aplicação do disposto no número anterior inicia-se,
conforme os casos:
a) A partir da notificação ao patrono nomeado da sua designação;
b) A partir da notificação ao requerente da decisão de indeferimento do pedido de
nomeação de patrono.

23.º
Sendo também certo que a norma constante do n.º 5 al. a) deste último artigo, com o
sentido de que o prazo interrompido por aplicação do n.º 4 do mesmo artigo se
inicia com a notificação ao patrono nomeado da sua designação, quando o requerente
do apoio judiciário desconheça essa nomeação, por dela ainda não ter sido notificado,
foi considerada, com força obrigatória geral, inconstitucional, conforme resulta do
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 515/2020 (publicado no Diário da República, 1.ª
série, n.º 225, de 18 de novembro de 2020.

24.º
Feito este enquadramento, em face do requerimento enviado aos autos pelo Recorrente
em 10.07.2020, devidamente acompanhado do documento comprovativo da
apresentação do requerimento com que é promovido o procedimento administrativo,

25.º
Do qual resulta que o apoio judiciário foi requerido nas modalidades previstas nas
alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 16.º do RADT, isto é, de dispensa de taxa de justiça e
demais encargos com o processo; e de nomeação e pagamento da compensação de
patrono, afigura-se-nos que o processo deveria aguardar a nomeação de patrono ao
Recorrente ou a notificação a este da decisão de indeferimento do pedido de nomeação
de patrono por si apresentado.

26.º
Assim, o prazo de 10 dias concedido pelo douto despacho de 28.10.2020, estaria
interrompido até à nomeação do subscritor, reiniciando-se com a notificação ao
Recorrente dessa nomeação.

27.º
Sucede contudo que, entretanto, ao arrepio do referido regime legal e desconsiderando
totalmente os respectivos efeitos legais, veio a ser proferida a sentença sub judice, a
qual, em nosso entender, viola, portanto, os supra referidos n.ºs 4 e 5 do artigo 24.º do
RADT, aprovado pela Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, com a redacção conferida pela
Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto,

28.º
Bem como viola o supra referido artigo 20.º, n.ºs 1 e 2 da CRP,

29.º
Pelo que, deve a mesma ser revogada, ordenando-se o prosseguimento dos autos.

EM CONCLUSÂO:

A) Em 10-07-2020 o Recorrente enviou para o Tribunal a quo um requerimento em


que informa que requereu protecção jurídica junto da Segurança Social, juntando
o respectivo documento comprovativo, do qual resulta ter apresentado tal pedido
nas modalidades de “dispensa de taxa de justiça e demais encargos com o
processo”, bem como, de “nomeação e pagamento da compensação de patrono”.

B) Em 28-10-2020 foi proferido novo despacho a formular convite ao Oponente para


apresentar petição inicial aperfeiçoada, sem que o Recorrente nada tivesse vindo
dizer ou requerer ao processo.

C) Em 29-12-2020, foi proferida a sentença sub judice, que indeferiu liminarmente a


oposição do Recorrente, por este não ter dado cumprimento aos convites
formulados para o aperfeiçoamento, .com fundamento nas alíneas a) e f) do n.º 1
do artigo 552.º do Código de Processo Civil [aplicável ex vi artigo 2.º alínea e) do
CPPT].

D) a Constituição da República Portuguesa (CPR), assegura o acesso ao direito e a


tutela jurisdicional efectiva como direitos fundamentais de todos os cidadãos
(vide art. 20.º da CRP),

E) Requerido apoio judiciário nas modalidades previstas nas alíneas a) e b) do n.º 1


do artigo 16.º do RADT, isto é, de dispensa de taxa de justiça e demais encargos
com o processo; e de nomeação e pagamento da compensação de patrono, o
processo deveria aguardar a nomeação de patrono ao Recorrente ou a notificação
a este da decisão de indeferimento do pedido de nomeação de patrono por si
apresentado.

F) Assim, o prazo de 10 dias concedido pelo douto despacho de 28.10.2020, estaria


interrompido até à nomeação do subscritor, reiniciando-se com a notificação ao
Recorrente dessa nomeação.

G) Contudo, veio entretanto a ser proferida a sentença sub judice, a qual desconsidera
totalmente os efeitos legais do pedido de apoio judiciário apresentado pelo
Recorrente, violando assim o disposto nos n.ºs 4 e 5 do artigo 24.º do RADT,
aprovado pela Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, com a redacção conferida pela Lei
…..,

H) Bem como viola o supra referido artigo 20.º, n.ºs 1 e 2 da CRP,

I) Pelo que, deve a mesma ser revogada, ordenando-se o prosseguimento dos autos.

Nestes termos,

E nos demais demais de Direito, com o douto suprimento


de V. Exas, deve o presente recurso de apelação merecer
provimento, revogando-se a sentença recorrida e
ordenando-se o prosseguimento dos autos,

Assim se fazendo Justiça!

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