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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

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TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
PLENÁRIO

Processo n.º 22/2007/P

ACÓRDÃO N.º 01/2017

Zelma Graciete Retagi de Vasconcelos, com os demais


elementos de identificação nos autos, inconformada com a
decisão proferida pela Segunda Secção deste Tribunal, nos
autos do Processo n.º 49/2006, através do Acórdão n.º
11/2007-2.ª, de 3 de Maio de 2007, que julgou
improcedente o pedido de suspensão de eficácia do
despacho ordenando a penhora dos seus bens, proferido
pelo Juiz do Juízo das Execuções Fiscais de Maputo,
auxiliando-se nos argumentos constantes do requerimento,

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a folhas 30 e 31 dos autos e seus anexos, donde se lê o
seguinte:

“É desgastante tomar conhecimento de tal decisão,


porquanto a Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho no n.º 1 do
artigo 109, impõe que se verifiquem CUMULATIVAMENTE
os seguintes requisitos:
a) Que a execução do acto cause provavelmente um
prejuízo de difícil reparação para a recorrente ou
interesse que defende no recurso em apenso;
b) Que a suspensão da eficácia do presente acto fiscal
não determine grave lesão do interesse público; no
caso vertente o interesse público encontra-se
salvaguardado por dois meios, designadamente,
através do IRPS indevidamente descontado no valor
de 149.325,14MT (cento e quarenta e nove mil e
trezentos e vinte e cinco Meticais e catorze centavos),
cujo reembolso a recorrente aguarda e pela penhora
decretada sobre 2 (dois) veículos titulados pela
recorrente.
c) Não resultem do processo fortes indícios da
ilegalidade da interposição do recurso.

Esta é a base legal para se submeter um pedido de


SUSPENSÃO DE EFICÁCIA da presente execução fiscal.
Efectivamente, foram estes e unicamente estes, os

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pressupostos de que a recorrente se socorreu para
fundamentar a presente pretensão, ora indeferida.
Salvo melhor entendimento, a recorrente entende que os
Exmos Senhores Juízes Conselheiros da Segunda Secção,
usaram como fundamento ‘…manifesta falta de base
legal…’ alegadamente assente na falta da recorrente ao não
usar de ‘… meio processual idóneo, nos termos da lei, para
se opor à penhora dos seus bens…’. É evidente que este
fundamento não tem enquadramento em nenhuma das
alíneas do citado n.º 1 do artigo 109.
Parece à recorrente que os Senhores Juízes Conselheiros
da Segunda Secção estão a enveredar parcialmente, no
mérito da causa, a qual vem discriminada no requerimento
do recurso n.º 115/2006-1ª, de que a presente providência
é um meio acessório!
Só por pura cortesia a recorrente envia cópia do
requerimento tempestivamente, apresentado junto do
Tribunal Fiscal e outras autoridades tributárias, em
cumprimento do artigo 164º do C. das Execuções Fiscais
citado por V.Exas.
A recorrente tem consciência e reconhece que não possui
completo domínio técnico-jurídico quer do C. das
Execuções Fiscais quer da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho.
Porém, diligenciou estudar ambos os diplomas, e,
honestamente, envidou toda a experiência adquirida nestes
anos de experiência na barra dos tribunais, para,
correctamente, apresentar o diferendo à V.Exas, na
expectativa da reposição do direito e do estabelecimento da
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justiça. Lamentavelmente a expectativa foi gorada. A
recorrente não se furta confessar que se sente
decepcionada e frustrada com a qualidade do douto
acórdão.
Deve, portanto, ser revogado o aliás, douto acórdão
recorrido, e, consequentemente, devem os Senhores Juízes
Conselheiros da Segunda Secção desse tribunal observar
estritamente o parecer do M.º P.º e o preceituado na
segunda parte do n.º 1 do artigo 118º, conjugado com o
imperativo contido no artigo 119º todos da Lei do Processo
Administrativo Contencioso, como é evidente”.

Presentes os autos ao Digníssimo Magistrado do Ministério


Público, este pronunciou-se nos termos constantes de fls.
39, proferindo que: “Tudo visto:
1. Ex vi do art.° 2 do Código das Execuções Fiscais:
‘Serão regulados pelas disposições do Código das
Execuções Fiscais todos os recursos em processos
executivos que corram pelos respectivos tribunais, seja
qual for a proveniência da dívida’.
2. O art.° 7 do mesmo código consagra ispis verbis:
‘Ficam substituídas pelo Código das Execuções Fiscais,
aprovado por este diploma, todas as disposições sobre
execuções fiscais. Nos casos omissos observar-se-á o
disposto no Código do Processo Civil…’

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2.1. O art.º 12, da Lei n.º 12/2004, de 21 de Janeiro,
prevê outras disposições subsidiárias.
Nestes termos,
O instituto jurídico exposto pela recorrente, constituindo
fundamento para à interposição de recurso, reveste-se
de âmbito de aplicação residual, visto vigorarem na
ordem jurídica, o regime estabelecido pelas normas
especiais, deduzidas nos n.ºs 1 e 2, prevendo
especificidades, à espécie que contempla.
Em conformidade, promovo:
A. Confirmação, se bem que com fundamentação não
inteiramente coincidente, do constante, do acórdão
impugnado.
B. Rectificação nos termos do art.º 667 do C.P.C, da
redacção constante na 2.ª parte do ante-penúltimo
parágrafo, fls 3 do acórdão, das expressões ‘Por
manifesta falta de base legal’, por outras,
consentâneas e exactas”.

Atesta-se que, por Acórdão n.º 11/2007-2.ª, datado de 3 de


Maio de 2007, proferido nos autos do Processo n.º
49/2006, o tribunal negou provimento ao pedido da
suspensão da eficácia do acto praticado pelo Juiz do Juizo
das Execuções Fiscais de Maputo, através do qual ordenou
a penhora dos bens da recorrente, por falta de base legal.
É desta decisão que a apelante interpôs recurso.

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A competência do Tribunal Administrativo é, de entre
outras, a de apreciar os pedidos de suspensão de eficácia,
preceito este que já vem desde a Lei n.º 5/92, de 6 de Maio,
culminando no artigo 108 da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho
(Lei do Processo Administrativo Contencioso), lei em vigor
na altura dos factos.

Porém, para o caso em apreciação, mostra-se necessária a


observância de regras próprias, ou seja, a figura da
execução fiscal é regida por uma lei específica, isto advém
dos artigos 2.º e 7.º do Decreto n.º 38.088, de 12 de
Dezembro de 1950, onde se estabelece que os recursos
sobre as execuções fiscais serão reguladas pelo Código das
Execuções Fiscais e, só nos casos omissos, poder-se-á
aplicar, subsidiariamente, o Código de Processo Civil, a
Portaria Ministerial n.º 9.677, de 30 de Outubro de 1940 e
a tabela dos emolumentos judiciais.
Acontece, todavia, que a Recorrente enveredou pelo
caminho do pedido da suspensão da eficácia previsto nos
artigos 116, 117, 118 e 119 da Lei n.º 9/2001, de 7 de
Julho, conforme consta da sua petição a folhas 4 e verso
dos autos.
O artigo 164.º do Código das Execuções Fiscais estabelece
que o executado poderá opor-se à execução por simples
requerimento ou embargo, sendo que o fundamento para a
oposição deverá ser o estipulado nos artigos 169.º a 179.º
do código acima referido e, do despacho que resultar a
rejeição à oposição, será notificado ao executado no prazo
de quarenta e oito horas.

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Nestes termos, e por inadequação do meio utilizado pela
recorrente e, consequentemente, por falta de base legal,
nos termos em que se pronunciou a instância a quo, os
Juízes Conselheiros do Tribunal Administrativo, reunidos
em Plenário, acordam em negar provimento ao recurso sub
judice impetrado por Zelma Graciete Retagi de
Vasconcelos.

Registe-se e notifique-se.

Custas, que se fixam em 1.000,00MT (mil Meticais).

Maputo, 10 de Abril de 2017.

Machatine Paulo Marrengane Munguambe, Presidente

Januário Fernando Guibunda (Relator)

Filomena Cacilda Maximiano Chitsonzo

Amílcar Mujovo Ubisse

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José Luís Maria Pereira Cardoso

David Zefanias Sibambo

Aboobacar Zainadine Dauto Changa

João Varimelo

José Maurício Manteiga

Isabel Cristina Pedro Filipe

Rufino Nombora

Pelo Ministério Público,


FUI PRESENTE

Edmundo Carlos Alberto


(Vice-Procurador Geral da República)

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