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REPUBLICA DE MOCAMBIQUE TRIBUNAL ADMINISTRATIVO SEGUNDA SECCAO Processo n.° 14/99 ACORDAO N.° $3 /2016-2.2 Acordam, em conferéncia, na Segunda Sece&o do Tribunal Administrativo: SET — Sociedade de Exploragéo Turistica, Lda., com os demais elementos de identificagao constante dos autos, inconformada com o Despacho proferido pelo Juiz do Juizo Privativo das Execucao Fiscais de Maputo, que se julgou competente para executar a divida que esta tem com 4 LAM- Linhas Aéreas de Mocambique, SARL, interpds recurso de agravo neste Tribunal, louvando-se, na integra, nos seguintes argumentos: “A LAM ~ LINHAS AEREAS DE MOCAMBIQUE, SOCIEDADE ANONIMA DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, intentou uma accao executiva, acgdo essa que a ora recorrente desconhece gual © seu ntimero ¢ ano, junto do Tribunal Privativo de Execucées Fiscais para que a ora recorrente the pagasse a Guantia de setecentos ¢ quarenta e nove milhdes, setenta quatro mil cento e cinquenta meticais. A ora recorrente tomou conhecimento de que Ihe havia sido instaurada a acco acima teferenciada em Margo de 1999. De imediato, a ora recorrente requereu junto daquele tribunal @ extingéo do referido proceso, por entender que o tribunal nao era 0 competente, conforme documento que junta sob o n° 1 (Doe. 1). A ora recorrente requereu a extingéo da instancia, com fundamento no Decreto n.° 69/98, de 23 de Dezembro, por forca do qual a LAM foi transformada em sociedade anénima, tendo também 9 mesmo diploma legal revogado o Decreto n° 8/80, de 19 de Novembro, que a havia considerado sociedase de direito publico. Estatui expressamente 0 artigo sétimo do Decreto mtimero 69/98, ‘cima melhor identificado, que cessam eventuais Privilégios de natureza fiscal, aduancira ou cambial que, atendendo 4 sua natureza de empresa estatal, lhe tenham side atribuidos. Conclui no seu requerimento, a ora recorrente que, em virtude Ga transformacao da sociedade, o tribunal nao ¢ competente, ols a ofa recorrente tomou conhecimento do proceso depois da transformecao da sociedade. © Tribunal Privativo das Execucdes Fiscais ignoron pura ¢ simplesmente o requerimento da ora recorrente ¢ proferiu despacho, considerando que o tribunal é 0 competente porque as dividas em questao respeitam aos anos de 1994, 1995, 1996 € 1997, conforme documento que se junta sob ntimero >. (Doc. 2). Nao pode a ora recorrente conformar-se com tal despacho, ois nos termos do disposto no artigo 63.° do Cédigo de Processo Civil e no artigo 9 da Lei Organica do Tribunal Administrative, a competéncia fixa-se “ne momento da propositura da causa, sendo irrelevantes as tmodificagdes de facto ocorridas posteriormente. Se for suprimido o tribunal a que a catisa estave afecta, ou se deixar ce ser incompetente em razao da matériae da hierarquia, ou the for atribuida competéncia de que inicialmente carecesse, para o conhecimento da causa, Nao tem raz&o o Juizo Privativo das Execugées Fiscais, quando afirma que aquele tribunal é competente, pelo facto das dividas terem sido contraidas antes da transformacao da LAM, por violagao frontal ao disposto nos normativos legais “... Com efeito foi instaurado, em 1999, por este Juizo Fiscal 0 Processo de Execug&o Fiscal acima referenciado. © executado (SET) foi citado, tendo assinado o respectivo Mandado de Citagao no dia 09 de Marco de 1999 para Este, ao invés de pagar, fez uma exposi¢éo em que aceita, em parte, 0 valor da divica, assumindo 0 seu pagamento em Prestagoes directamente & credora e, por consequeéncia, o arquivamento do processo executivo fiscal, A aludida exposieao foi rejeitada cin limines pelo Juiz Fiscal, conforme Despacho que lhe fora notificado a 30.03.99, Nao obstante, sem recorrer do despacho referido, insiste a executada em requerer a extingéo do process executivo, alegando a incompeténcia do Juizo Fiscal, socorrendo-se do disposto no artigo 7 do Decreto n.° 69/98, de 23 de Dezembro. © Juiz Fiscal, julgando pela nao incompeténcia da instancia, Sob 0 fundamento de que as dividas objecto do processo Shino ae wes do Estado, assim, a cobranca das dividas pelo Juizo das Execuedes Fiscais tivesse 0 seu suporte legal no que Preceltua © § tanico do artigo 1.° do Cédigo das Execuches Fiscais, aprovaco pelo Decreto n.° 38:088, de 12 de Derernbne de 1950, ainda em vigor, tendo nestes termos indeferide Pelicdo da executada para extingao do processo executive” Como contra-interessada, foi notificada a empresa LAM — linhas Aéreas de Mogambique, $.A.R.L., ora recorrente, nos autos de execugéo que correm seus termos no Juizo Puivative das Bxecucées Fiscais de Maputo, para se promunciar. tendo, esta, deduzido seu posicionamento a fils. 16 a 18 dos presentes autos, do seguinte teor: “() 1° Do ‘recurso apresentado, depreende-se desde logo, que a recorrente procura encetar uma manobra dilatéria para uma vez mais chamar a si razao que nao possui. Sendo vejamos: 2° A recorrente alega que LAM, $.A.R.L., intentou uma aceao da qual a recorrente desconhece 9 seu mimero ¢ ano. Ora, admitide que seja verdade, ndo se pode estabelecer nenhum nexo de causalidade para que se possa imputar tal responsabilidade 4 LAM, S.A.R.L., pois como é sobejamente atribuicdes. 3° Com efeito, a LAM baseou-se na matéria de facto que se consubstancia na cobranga de divida para junto do recorrido, Juizo Privativo das Execucées Fiscais, Proceder-se A execugdo 4° De resto, a quantia exequenda que constitui a divida é referente aos anos de 1994, 1995, 1996 e 1997. 5° B assim que, n&o nos parece defensavel o argumento invocado bela recorrente, segundo o qual o Juizo das Execugoes Flocaie de Maputo nao ¢ competente para executar a divida, porque como se pode depreender, as dividas em causa forum Contraidas numa fase em que a LAM era empresa estatal « nesta condicao, afigura-se claro que 0 Juizo Privativo das Exccucdes Fiscais ¢ competente para dirimir a questie sup as 62 Por outro lado, igualmente, ndo se consegue entender porque razao a recorrente se contradiz nos argumentos que aduz. Ora vejamos; 7° A recorrente alega no seu recurso que o processo apresentava- se sem identificagao numérica, e adiante, afirma que accao foi instaurada em Margo de 1999. A questa que urge colocar com que base a recorrente faz esta ultima afirmagéo? 3° Ademais, a recorrente invoca sem éxito 0 artigo 7 do Decreto n.° 69/98, de 23 de Dezembro, que transforma a LAM, E.E. em S.A.RL., que na esteira do qual «cessam os privilégios de natureza fiscal, aduaneira, cambial, que atendendo @ sua natureza de empresa estatal, the tinham sido atribuidose. 9° Esta € mais uma demonstracao evidente de que a recorrente tenta partir em busca de argumentos para se desenvencilhar da sua obrigacao de pagar a divida que tem para com a LAM. 10.° De salientar que a recorrente na qualidade de executada, fez uma exposicao na qual afirmara que aceitava parcialmente o valor da divida e assumia o seu pagamento em prestagées que foi rejeitado in limine e, ao invés de pagar como era sua obrigacéo, comegou a questionar alegando a incompeténcia do Juizo, e depois procurou interpretar de forma errada a lei supracitada numa atitude de desespero e aflicao”. Presentes os autos ao Dignissimo Magistrado do Ministério PUblico, este, exarou a sua promocao de fis. 21 e verso dos autos, nos seguintes termos: “Visto. P. prossigam os ulteriores termos processuais”. os - Loonve Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir Mostram os autos que a recorrente celebrou um contrato com acumulande dividas na ordem de 749.074.150,00MT (setecentos e quarenta e nove mith6es, setenta e quatro mil, cento ¢ cinquenta meticais, da antiga feanilia), tendo esta side uansformada em sociedade anénima, através do Decreto ne 69/98, de 23 de Dezembro. Assiin, a empresa LAM, 8.A.R.L., em Mareo de 1999, intentou dima accao executiva no Juizo Privativo das Wxecugdes Fiscais de Maputo para cobranca coerciva do montante em mora, No entanto, a recorrente alega que “desconhece qual o seu numero € ano”, contudo, da andlise de folhas 4 que compéemn Man gxo AbenS© aos autos, com particular destaque para o Mandado de Notificacao, consta © carimbo ¢ a tibues da Mae ttnte no verso, assumindo que foi notificado no dia 09 de Marco de 1999 ¢, nesse documento vishimbra-se 0 nimero do processo de execuicdo com a designacao (001 /GAB/Juiz/99). Assim, a alegacao da recorrente no é de se acolher, pois, as evidéncias nos autos provam, justamente, o contrario A recorrente admitiu em parte a existéncia da divida, mas nao Se conforma com 0 foro para dirimir a questao controvertida, pois, segundo a mesma, o Tribunal a quo é incompetente, porquanto, a LAM, E.B., (empresa Estatal), em 1968. fo; transformada em Sociedade Anénima de Responsabilidade Limitada (S.A.R.L.), pelo que, no seu entender, a materia deve ser dirimida nos tribunais comuns. Para tal entendimento, a recorrente socorre-se do disposto no artigo 7 do Decreto n.° 69/98, de 23 de Dezembro, ¢ no artigo 63." do Codigo de Processo Civil (C.P.C.), conjugado como artigo 9 da Lei n.° 5/92, de 6 Maio, Lei Organica do Tribunal Administrativo, designada, abreviadamente, por LOTA, em vigor na data dos factos. Ora, da anélise a0 artigo 7 do Decreto n.° 69/98, retro citado, que dispde que “/...) cessam os eventuals privilégios de natureza fiscal, aduaneira ou cambial que, atendendo a sua natureza de empresa estatal, Ihe tenham sido atribuidos”, nao S¢ refere as dividas que eventualmente a sociedade enquanto de direito estatal/ptiblico, tinha o direito de cobras Com isto pretendemos dizer que, a luz deste preceito, o onus de cobrar as dividas nao se encontra extinto, mas sim, neste Praga comercial do pais, Rote-se que, deste mesmo decreto que transforma a LAM, E.E., cm S.AR.L., no seu artigo 2, parte final, consiata se que com 0 referido processo de transformagio, a nova sociedade conservolul a universalidade do respectivo patrimdnio constituido por todos os bens, direitos e obrigagoes legais e contratuais integrantes, ou seja, do activo e passive da mesma. Nesta conformidade, a LAM, 8.A.R.L., ao ter adquirido todos os direitos, assumiu, igualmente, o poder de efectuar a cobranga do montante que a recorrente tem em mora com » antiga fimpresa, Mais ainda, conchii-se que 0 proprio Estado so tansformar a LAM de empresa estatal para uma SARL. ¢ tansmitirine todos direitos e obrigacdes, permitin que também smigrassem as dividas para a nova sociedade e, consequentemente, os seus litigios passassem a ser dirimidos pos tribunais comuns, porquanto, as mesmas deixaramn de constituir rendimentos no ambito do preconizado no § Unies do artigo 1.° do Cédigo das Execugdes Fiscais, aprovado pelo Decreto n,° 88:088, de 12 de Dezembro de 1950, Alias, importa referir que quem intenta a accdo € a LAM, SARL, € ndo a LAM, E.E., portanto, uma sociedade dc direito privado, nao obstante, parte do seu capital social Eeriencer ao Estado mogambicano conforme dispae 0 artigo 3 do Decreto 2.° 69/98, de 23 de Dezembro. E neste sentido, estipula 0 artigo 2 do mesmo diploma que: “A LAM reger-se- pelo presente decreto, pelos seus estatutos e subsidiariamente pelas normas aplicéveis as sociedades anénimos” Destarte, as dividas da LAM- Linhas Aéreas de Mogambique, SARL, que nao sejam de natureza tributaria, em caso de litigio, devem ser dirimidas pelos tribunais comuns, por nao ser da competéncia da jurisdigao administrativa, fiscal e aduaneira. Jpso facto, os Juizes Conselheiros desta Seceao, acordam em dar provimento ao recurso interposto pela SET Sociedade de Exploracao Turistica, Lda., ©, consequentemente, decretar a aneompeténcia do Juizo de Execucses Fiscais de Maputo, para dirimir 0 litigio sub judice, nos termos do disposto no artigo ©3.° do Cédigo de Processo Civil, aplicavel por forca do Preceituado na alinea a) do n.° 3 do artigo 2, da Lei n° 2/2006, de 22 de Marco. Sem custas. Registe-se ¢ notifique-se, Maputo, 12 de Maio de ‘O16. Aboobacar Zainadine pau Changa - Relator Isabel Cristina #edro Filipe VY Ly bp David ZefaniaS'Sibambd “ Pelo Ministério Publico, Pui presente Seve de ne Mins Irene da Oragao Afonso Procuradora-Geral Adjunta

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